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Psicanálise com crianças - Teresinha Costa Esse foi um momento teórico muito importante no
desenvolvimento da teoria psicanalítica, no qual o relevante
O conceito de infância
não são mais os fatos da infância, mas a realidade psíquica,
constituída pelos desejos inconscientes e pelas fantasias a ela
Na Idade Média, a criança era vista como um pequeno adulto, vinculadas, tendo como pano de fundo a sexualidade infantil.
sem características que a diferenciam, e desconsiderada como Ocorre também uma modificação no conceito de infância,
alguém merecedor de cuidados especiais. Isso não significava que deixa de ser vista a partir de um registro genético e
que as crianças fossem até então desprezadas ou cronológico para ser abordada pela lógica do inconsciente.
negligenciadas, mas sim que não se tinha consciência de uma
série de particularidades intelectuais, comportamentais e
emocionais que passaram, então, a ser consideradas como
inerentes ou até mesmo naturais às crianças.
Sintoma da criança. atualização do processo constitutivo concepção, segundo a autora, não há motivo para o trabalho
com os pais da realidade
parental?
Anna Freud, refere que uma das especificidades da análise da Para Klein (1964), a análise de uma criança deveria prescindir
criança diz respeito à transferência. Visto que os pais da de toda vinculação com os pais, com sua história ou com
realidade estão presentes no cotidiano da criança e visto que a qualquer obstáculo concreto que fosse alheio à situação
criança não dissolveu seu complexo de Édipo, a transferência analítica.
na clínica com crianças cumpre outra função.
Por ser não-diretiva e acreditar na capacidade positiva de Respeito ao ritmo pessoal – O terapeuta não tenta abreviar a
cada um, favorece que a criança entre em contato com seus duração da terapia
sentimentos, no momento em que se sentir em condições,
com disposição e segurança para isso (Axline, 1982).
Não antecipar preocupações – Estabelecer somente as espaço e naquela relação, ajudando-a a não julgar seu
limitações necessárias para fundamentar a terapia no mundo processo nem desprezar ou alienar aspectos de si mesma.
da realidade e fazer a criança consciente de sua
responsabilidade no relacionamento.
TEXTO 4
O processo psicoterapêutico em Gestalt-Terapia com O papel da confirmação em psicoterapia
crianças
Se estivermos trabalhando, por exemplo, com uma criança
extremamente introjetiva, o que nossos elogios poderão
O processo terapêutico em Gestalt-terapia com crianças tem gerar? Se ela tem um padrão relacional básico que tende
o objetivo de resgatar o curso satisfatório do desenvolvimento para a introjeção sem discriminação, em que ela funciona
da criança, propiciando oportunidades, conforme diz com base no que é estabelecido como certo e errado pelo
Oaklander (1992), de reencontrar a vivacidade e o contato outro, possivelmente vai prestar atenção naquilo que agrada
pleno com o mundo por meio da desobstrução de seus ao psicoterapeuta, e como tem a necessidade de ser
sentidos. “boazinha”, “certinha”, “a melhor cliente” acabará tentando
reproduzir os comportamentos elogiados para ganhar a
A metodologia empregada é a fenomenológica que se aprovação dele.
caracteriza pelo uso de linguagem descritiva.
Por outro lado, ao confirmar a criança, o psicoterapeuta lhe
permite ter uma noção exata da sua potência a cada
momento e daquilo que ela ainda pode conseguir. Vejamos
que, com o auxílio de técnicas facilitadoras, visa proporcionar o exemplo de um menino de 7 anos que não sabia amarrar o
uma maior awareness (tomada de consciência dos problemas cadarço do tênis e sempre pedia ajuda ao psicoterapeuta,
para si, retirando-o de terceiro para enfrentá-lo no setting argumentando que não sabia fazer aquilo nem ia conseguir,
terapêutico) da criança a respeito de si mesma e do mundo, pois era “muito difícil”. Confirmar é acolher seu pedido de
expandindo e flexibilizando suas possibilidades de contato e, ajuda, assinalando que ele ainda não pode amarrar o tênis,
com isso, criando outras formas de ser e estar no mundo. mas à medida que vai experimentando e tentando de outras
formas ele criará condições para que isso aconteça.
Esse processo pode ser caracterizado como semidiretivo.
Isso é confirmação em psicoterapia. Descrever um pouco do
O método descritivo da Gestalt-terapia possibilita à criança, processo do menino, mostrando-lhe sua resistência em
por meio das intervenções descritivas do psicoterapeuta, experimentar, assinalando sua escolha por arriscar, as
construir gradativamente o significado do material que traz tentativas que não foram bem-sucedidas e finalmente o
para a sessão, sem a interferência de qualquer “a priori” do momento em que ele conseguiu. Assim, o papel do
terapeuta. psicoterapeuta na confirmação é de funcionar como um
“espelho”, descrevendo à criança seu processo e
PRINCÍPIOS TERAPÊUTICOS BÁSICOS - A POSTURA confirmando suas potencialidades
FENOMENOLÓGICA
A RELAÇÃO TERAPÊUTICA
Denominamos de postura fenomenológica a atitude do
psicoterapeuta de abertura e interesse genuíno pelo que a Seja qual for o recurso lúdico escolhido pela criança ou a
criança traz, de forma verbal e não verbal, sem nenhum a técnica utilizada pelo psicoterapeuta, o ponto central de
priori. qualquer processo terapêutico é a relação que se estabelece
Utilizando o método fenomenológico, o psicoterapeuta entre eles.
acompanha a criança ao longo da sessão, sem direcioná-la,
sem sugerir atividades nem recursos, sem iniciar assuntos ou Para que ela se estabeleça, é preciso adotar uma atitude
encaminhar a discussão para um ou outro tema, facilitando dialógica caracterizada pela presença genuína do
com isso a obtenção de awareness por parte da criança a psicoterapeuta na relação, pela sua inclusão, ou seja, pela
respeito de sua experiência naquele momento, naquele sua capacidade de se pôr no lugar da criança e de confirmar
a ela seu potencial (Jacobs, 1997)
OS RECURSOS TÉCNICOS
Essas características permitem que o processo terapêutico
seja regido pelos princípios básicos da aceitação, da Denominamos técnica aquilo que podemos “fazer com isso”
permissividade e do respeito pela criança. para mobilizar “aquilo”. Assim, quando falamos de desenho,
por exemplo, não estamos nos referindo a uma técnica, mas a
uma atividade realizada com alguns recursos lúdicos, que
ACEITAÇÃO, RESPEITO E PERMISSIVIDADE poderia inclusive acontecer em outros ambientes
frequentados pela criança que não o espaço terapêutico.
O caráter terapêutico da aceitação foi amplamente descrito
por Rogers (2001) e Axline (1984, 1986) e desenvolvido na Do ponto de vista fenomenológico da Gestalt-terapia, a
Gestalt-terapia na forma da teoria paradoxal da mudança técnica serve para facilitar, fomentar, fazer emergir e
(Beisser, 1980). Ela se refere não só à aceitação do cliente por desenvolver o material oferecido pelo desenho.
parte do psicoterapeuta, mas também da aceitação do
próprio cliente como a grande possibilidade de mudança. Ela Também é importante não confundir técnica com recursos
sublinha que mudar não é tentar vir a ser algo diferente do lúdicos: a argila, por exemplo, não é uma técnica, mas um
que somos, mas exatamente aceitar aquilo que podemos ser recurso que pode ser utilizado de diversas formas pela criança
a cada momento, com nossos limites e possibilidades.
Da mesma forma, a técnica poderá incidir sobre a linguagem
O psicoterapeuta deve estabelecer um clima de aceitação e verbal da criança, sobre seu comportamento total na sessão
permissividade no seu relacionamento com a criança, de terapêutica, sobre sua relação com o psicoterapeuta ou com
forma que ela sinta-se livre para expressar por completo seus os responsáveis. Conforme já apontamos, ela incidirá sempre
sentimentos sobre o conteúdo e a forma na sessão terapêutica, em um
ininterrupto movimento de figura e fundo.
A questão da permissividade implica a real possibilidade de a
criança ser o centro de sua psicoterapia, escolhendo aquilo Para utilizar as técnicas, precisamos paradoxalmente
que quer fazer e os recursos que vai utilizar para isso e esquecê-las, deixá-las no fundo, de forma que possam
opinando a respeito da participação ou não do emergir de modo criativo nos contextos em que sua presença
psicoterapeuta na atividade. Ele precisa ficar bastante atento se fizer necessária para que o psicoterapeuta e a criança
ao que é permitido a fim de emitir mensagens claras para a continuem caminhando juntos, em direção à expansão das
criança e poder honrar aquilo que foi dito fronteiras da criança.
OS RECURSOS LÚDICOS
brincadeira e desenvolvimento infantil: um olhar sociocultural reside no fato de esta atividade contribuir para a mudança
na relação da criança com os objetos, pois estes perdem sua
construtivista
força determinadora na brincadeira. “A criança vê um objeto,
mas age de maneira diferente em relação ao que vê. Assim, é
Para o autor, quando a criança brinca, além de conjugar alcançada uma condição que começa a agir
materiais heterogêneos (pedra, areia, madeira e papel), ela independentemente daquilo que vê.” (Vygotsky, 1998, p. 127).
faz construções sofisticadas da realidade e desenvolve seu
potencial criativo, transformando a função dos objetos para Para Vygotsky (1998), a criação de situações imaginárias na
atender seus desejos.Benjamin (1984). brincadeira surge da tensão entre o indivíduo e a sociedade e
a brincadeira libera a criança das amarras da realidade
A brincadeira das crianças evolui mais nos seis primeiros anos imediata, dando-lhe oportunidade para controlar uma
de vida do que em qualquer outra fase do desenvolvimento situação existente (Cerisara, 2002)
humano e neste período, se estrutura de forma bem diferente
de como a compreenderam teóricos interessados na Vygotsky chama a atenção quando afirma que definir “o
temática (Brougère, 1998). A partir da brincadeira, a criança brinquedo como uma atividade que dá prazer à criança, é
constrói sua experiência de se relacionar com o mundo de incorreto” (p. 105), porque para ele, muitas atividades dão à
maneira ativa, vivencia experiências de tomadas de decisões. criança prazeres mais intensos que a brincadeira: por
Em um jogo qualquer, ela pode optar por brincar ou não, o exemplo, uma chupeta para um bebê mesmo que isso não
que é característica importante da brincadeira, pois leve à saciação da fome. Ele destaca, ainda, que há
oportuniza o desenvolvimento da autonomia, criatividade e brincadeiras em que a própria atividade não é tão agradável,
responsabilidade quanto a suas próprias ações. como as que só agradam às crianças (entre cinco e seis anos
de idade) se elas considerarem o resultado interessante.
Fein (Spodek & Saracho, 1998) afirma que é muito “difícil
definir a brincadeira, mas, em certo sentido, ela se Assim, o prazer não pode ser visto como uma característica
auto-define” (p. 210). definidora da brincadeira (Cerisara, 2002). Entretanto, não se
deve ignorá-lo, pois ela preenche necessidades da criança e
Spodek e Saracho (1998) apontam que a dificuldade em se cria incentivos para colocá-la em ação, que é de
chegar a uma definição consensual sobre a brincadeira fundamental importância, uma vez que contribui para
advém da falta de critérios para se classificar uma atividade mudanças nos níveis do desenvolvimento humano.
como tal; assim, em alguns contextos ou momentos uma
atividade pode ser considerada brincadeira, e deixar de sê-lo
em outros, o que depende da relação que se estabelece Um esforço para compreender a importância da atividade do
com a situação, do significado que assume para quem brincar para o desenvolvimento infantil, numa perspectiva
brinca. co-construtivista, pode-se considerar que a criança, desde seu
nascimento, se integra em um mundo de significados
Vygotsky (1998), um dos representantes mais importantes da construídos historicamente. É por meio da interação com seus
psicologia histórico-cultural, partiu do princípio que o sujeito se pares que ela se envolve em processos de negociação,
constitui nas relações com os outros, por meio de atividades dentre os quais, os de significação e ressignificação de si
caracteristicamente humanas, que são mediadas por mesma, dos objetos, dos eventos e de situações, construindo
ferramentas técnicas e semióticas. Nesta perspectiva, a e reconstruindo ativamente novos significados.
brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a m
análise do processo de constituição do sujeito;
Desejo na Modernidade
A relação com os brinquedos no âmbito da fantasia e da
O brincar precisa ser compreendido como a expressão dos simbolização como fundamental para a apropriação da
modos atuais de organização da personalidade da criança e criança de seu mundo externo, bem como para a
um modo estruturante em relação às organizações mais organização de seu mundo interno, em seu processo de
tardias. constituição subjetiva.
Freud (1920/1980), em Além do princípio do prazer, defende Entretanto, a relação da criança com os brinquedos na
que no decorrer da infância, a criança deve ir aprendendo a atualidade parece ser de outra ordem. Jerusalinsky (2007) fala
deixar paulatinamente o “princípio do prazer”, aprendendo a das crianças do ready made, que pouco ou nada se
considerar a realidade e postergar a satisfação imediata das interessam pelos brinquedos que já vêm prontos,
suas pulsões, equilibrando as agressivas e amorosas. A mola evidenciando isso através do tédio. Os meios eletrônicos,
propulsora dessa atividade infantil pode ser compreendida como a tv, videogame e computador, anestesiam os
como a compulsão de repetição, característica do movimentos corporais das crianças, que quando não estão
funcionamento da pulsão. Lacan (1982) defende, no diante dos mesmos acabam movendo-se em dobro, sendo
Seminário XI, que o que é fundamental e fundante do brincar facilmente rotuladas como hiperativas
na infância refere-se ao registro do real, que sua essência
repetitiva nos revela. Acredita ser um erro tomar o fortda TEXTO 8
simplesmente como exemplo de simbolização primordial:
o brincar como um recurso terapêutico para crianças em
“esse carretel não é a mãe reduzida a uma bolinha... é
alguma coisinha do sujeito que se destaca embora sendo saúde mental
dele, que ele ainda segura... o carretel, é ali que devemos
designar o sujeito” (LACAN, 1964, p. 63). As brincadeiras atuam como ferramentas para proporcionar
às crianças motivação, desenvolvimento da criatividade,
Freud (1908/1980) também aborda o brincar em Escritores desinibição, revisão dos conhecimentos e favorecimento e
criativos e devaneios, onde aponta que o trabalho está para fortalecimento da formação da personalidade (BERNARDES,
o adulto assim como o brinquedo está para a criança. Ele 2013).
compara o brincar ao trabalho criativo dos escritores, aos
sonhos e às fantasias, articulado a um desejo oculto como as Conforme Dohme (1998, p. 163) o fato da criança aprender a
demais formações do inconsciente. As crianças inventam a brincar, e “[...] a brincadeira está intimamente ligada a
realidade brincando; o ato de brincar institui um espaço comunicação com outros indivíduos e ao contato com suas
gerador de desejo. próprias emoções, o que favorece na criança o
desenvolvimento de sua autoestima e a formação de vínculos
Para Freud: (1908/1980, p. 152), “toda fantasia é a realização positivos com o mundo que a rodeia.” É através da
de um desejo, uma correção da realidade insatisfatória.” A brincadeira que as crianças soltem sua imaginação e
sublimação é um modo diferente de satisfação da produção criatividade, e desenvolvem a capacidade de
substitutiva, ou seja, do sintoma no recalque, uma vez que ela relacionamento interpessoal, o que, muitas vezes, são
marca o ato criativo, o surgimento de algo novo. Na esquecidas por causa do avanço tecnológico.
sublimação, enquanto ato criativo, o brinquedo surge como
representante do objeto ‘a’, perdido para sempre e O ato de brincar para Vygotsky (1991) cria a chamada “zona
contornado pelo circuito pulsional. E esse deve ser o objetivo de desenvolvimento proximal”, que impulsiona a criança para
do brincar na infância: que o brinquedo seja obra de seu além do estágio de desenvolvimento que ela já atingiu. Ao
criador e não apenas objeto de consumo! brincar, a criança se apresenta além do esperado para a sua
idade e mais além do seu comportamento habitual. Através
Segundo Pavone (2004, p. 259), ali onde o sintoma da criança da brincadeira a criança se liberta das limitações do seu
revela sua aderência imaginária ao objeto capaz de mundo real, visto que cria situações imaginárias. Além disso, é
responder ao ideal parental, é importante que o brincar uma ação simbólica essencialmente social, que depende das
encontre, nas vias da cadeia significante, um destino expectativas e convenções presentes na cultura.
Nesse contexto, (FREUD, 1908; KLEIN, 1932, 1955 apud Atualmente existem diversos recursos que possibilitam o
MARQUES e EBERSOL, 2015), ressaltam a importância do trabalho no ludodiagnóstico, dentre eles estão: a observação
brincar como sendo uma forma de expressão da criança, no e a entrevista psicológica – que podem ser realizadas com a
qual ela elabora seus conflitos e demonstra seus sentimentos, criança, com os pais, ou com aqueles que o profissional julgar
ansiedades desejos e fantasias. necessário; os testes psicológicos - capazes de avaliar não só
a capacidade intelectual e seu desenvolvimento como
Ainda, Vygotsky (1991, p.126) acrescenta em sua teoria que é também possíveis comprometimentos neurológicos e
“[...] no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera limitações do indivíduo e a caixa lúdica – material
cognitiva, ao invés de uma esfera visual externa, dependendo tradicionalmente utilizado nos processos de ludodiagnóstico –
das motivações e tendências internas, e não dos incentivos que implica ao profissional o manejo da escolha dos
fornecidos pelos objetos externos”. O autor realizando uma brinquedos como facilitador para o processo.
distinção entre brincadeira e outras atividades infantis afirma
que na primeira existem as regras e a imaginação, tanto de ➔ O jogo é fundamental no psicodiagnóstico
forma implícita quanto explícita; compreensivo e interventivo e no tratamento
psicoterápico de crianças. Sua relevância e
Para Winnicott (1975, p. 79-80) “é no brincar, e talvez apenas abrangência ultrapassam os limites da clínica com as
no brincar, que a criança ou o adulto fruem na sua liberdade crianças (Affonso, 2012).
de criação” [...] “é no brincar, e somente no brincar, que o
indivíduo, criança ou adulto, pode ser criativo e utilizar sua Froebel (citado por Pickard,1975 & Affonso, 2012) destaca a
personalidade integral: e é somente sendo criativo que o importância da observação da fase de desenvolvimento
indivíduo descobre o eu (self)” cognitivo da criança para a realização do processo de
ludodiagnóstico e de psicoterapia.
O Brincar e o Desenvolvimento Afetivo
É importante que a escolha do brinquedo feita pelo
O ato de brincar, segundo Gomes et al (2006, p. 6), se psicoterapeuta seja coerente com a idade da criança, para
encontra presente “no ser humano desde o período fetal, evitar a mobilização de angústia perante a sua apresentação,
quando algumas atividades como sugar o dedo, chutar, entre pois poderá mobilizar frustrações pela falta de capacidade
outras, são realizadas.” cognitiva da criança em utilizar aquele brinquedo.
Conforme Conti e Souza (2010, p. 101) o ato de brincar desde O brinquedo por si só pode ajudar a criança a representar e
o início da vida, permite com que o bebê gradualmente tentar encontrar soluções para os próprios conflitos, mas
desenvolva a percepção de um outro significado, que é o somente a presença mental de alguém mais que brinque com
acolhimento das manifestações afetivas e o auxílio “na ela é o que permite que o jogo seja plenamente
discriminação entre fantasia e realidade”. transformador de angústias
O psicoterapeuta e a escolha do material no processo de na maneira de brincar, preparando devidamente o local que
será utilizado pela criança. O local deve permitir que a
ludodiagnóstico.
criança movimente-se, pinte a mesa ou a parede, jogue bola,
molhe com água, etc. de forma a permitir eventualidades,
Por meio da utilização de simbolismos, crianças e descontroles lúdicos e a reparação diante do descontrole.
adolescentes poderão expressar conteúdos inconscientes, Outro aspecto que o psicoterapeuta deve observar na
possibilitando que o psicoterapeuta identifique angústias e escolha do brinquedo é o seu tamanho - Klein (citada por
limitações que serão de suma importância serem trabalhadas Affonso, 2012) sugere que os materiais sejam pequenos,
para o desenvolvimento destes e para que seja possível a permitindo que a criança os manipule, ou seja, tenha controle
orientação de seus familiares a fim de facilitar o processo para sobre os mesmos, mas não tão pequenos que possam colocar
ambos. sua vida em risco. É importante que os materiais estruturados
sejam uma miniatura da realidade, para que a criança possa
encontrá-los e reconhecê-los como representantes da sua
realidade.