Você está na página 1de 22

Um time multiprofissional naturalmente

possui competências e mais condições de


indicar diferentes opções de abordagens,
adequadas ao paciente, seus familiares e à
realidade em que vivem.
Assim, esse time trabalha com o objetivo
de alcançar a melhora progressiva da
qualidade de vida do paciente, definindo as
condutas em conjunto e envolvendo a
família do autista frequentemente.

PRODUZIDO POR

Editora da Faculdade iPGS


Professora Dra. Francine Hartmann
@drafranhartmann
Introdução

Transtorno do espectro autista (TEA) e o autismo são


ambos termos gerais para um grupo de distúrbios
complexos de desenvolvimento do cérebro. Esses
distúrbios são caracterizados, em graus variados, por
diferenças na forma como uma pessoa interage com
outras pessoas ou se comunica, usando linguagem ou
gestos (como contato visual ou apontar). Pessoas com
autismo também podem se comportar de maneira
incomum, como ficar chateado quando as coisas mudam,
olhando para os brinquedos ou agitando os braços.

Muitos passos foram dados na compreensão do autismo


nos últimos anos. Estudos demonstram que os sinais de
autismo surgem entre os seis e os 12 meses. Agora temos
ferramentas eficazes para triagem de crianças para risco
de autismo a partir de um ano de idade. Diagnóstico pode
ser feito aos dois anos de idade. Apesar desses avanços,
no entanto, a idade média de diagnóstico é tipicamente
depois dos quatro anos.

Um diagnóstico tardio pode atrasar o início dos serviços e


apoios que podem ajudar a ensinar uma criança melhores
formas de se comunicar, interagir, brincar e aprender.
Alguns Dados

A prevalência de autismo, como observado, aumentou


acentuadamente nos últimos anos, passando de 2 em
10.000 em 1990 para 1 em 50 e 1 em 88 crianças em
2012. No relatório mais recente do Centro de Controle e
Prevenção de Doenças dos EUA, a taxa média de
prevalência para crianças foi de 1 em 54, com base em
uma amostra de crianças de 8 anos de idade; 1 em 44 em
2021 e de 1 em 36 em 2022.
Características

As características diagnósticas do autismo são prejuízos na


comunicação social e presença de comportamento restrito e
repetitivo.

A comunicação social inclui iniciações sociais (por exemplo,


iniciar brincadeiras ou conversas com outras pessoas),
reciprocidade social (por exemplo, troca de turno no diálogo),
sincronia (por exemplo, vincular significativamente a conversa
ao tópico) e entender e expressar um comportamento não
verbal apropriado, como gestos ou expressões faciais. Prejuízos
na comunicação social podem resultar em engajamento
limitado nas interações sociais com pares e no estabelecimento
de relações sociais.
Características

O comportamento restritivo e repetitivo (RRB) pode incluir


comportamento ou fala estereotipada, fixação ou interesses em
assuntos específicos (por exemplo, trens, dinossauros) e adesão
estrita a rotinas, horários ou ambientes, apresentando
desconforto quando elas mudam ou são alteradas.

Esses RRBs podem afetar a participação e o envolvimento de


indivíduos em casa, na escola e na comunidade. Na sua forma
mais grave, o RRB é expresso em comportamento auto-lesivo.
Nem todas as crianças e jovens com autismo têm todos esses
comportamentos, isto significa que o autismo se manifesta de
várias maneiras diferentes.

O autismo é uma condição de "espectro". De fato, no sistema


oficial de classificação de diagnóstico psiquiátrico nos Estados
Unidos, o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos
Mentais, Quinta Edição (DSM-5), usa o termo Transtorno do
Espectro do Autismo (TEA).

Cada criança se desenvolve de maneira diferente,


principalmente nos primeiros cinco anos de sua vida. No
entanto, existem certos marcos que uma criança com
desenvolvimento típico é esperado atingir em certas idades.

Veja nas próximas páginas como podemos acompanhar as fases


do desenvolvimento normal no início da infância:
Fases do
Desenvolvimento

Dos 3-4 meses


Observa rostos com interesse e segue objetos em
movimento
Reconhece objetos e pessoas familiares
Sorri ao som da voz de sua mãe
Vira a cabeça em direção aos sons

Aos 7 meses
Responde às emoções de outras pessoas
Gosta de jogar cara a cara
Pode encontrar objetos parcialmente escondidos
Explora com as mãos e a boca
Luta por objetos fora de alcance
Responde ao próprio nome
Usa a voz para expressar alegria e desprazer
Balbucia cadeias de sons
Fases do
Desenvolvimento

Aos 12 meses - 1 ano


Gosta de imitar as pessoas e tenta imitar sons
Gosta de jogos sociais simples, como “Vou te pegar!”
Explora objetos e encontra objetos escondidos
Responde ao “não”
Usa gestos simples, como apontar para um objeto
Balbucios com mudanças de tom
Pode usar palavras isoladas (“dada”, “mama”,“uh-oh!”)
Volta-se para a pessoa que está falando, quando seu nome
é chamado

Aos 24 meses
Imita o comportamento dos outros
Fica entusiasmado com a companhia de outras crianças
Compreende várias palavras
Encontra objetos profundamente escondidos
Aponta para figuras e objetos nomeados
Começa a classificar por formas e cores
Começa uma brincadeira de faz de conta simples
Reconhece nomes de pessoas conhecidas e objetos
Segue instruções simples
Combina duas palavras para se comunicar com outros,
como “mais biscoito?”
Fases do
Desenvolvimento

Aos 03 anos
Expressa afeto abertamente e tem uma amplo repertório de
emoções
Faz os brinquedos mecânicos funcionarem
Brinca de faz de conta
Classifica objetos por forma e cor e combina objetos com
imagens
Segue um comando de duas ou três partes
Usa frases simples para se comunicar com outros, como
“sair, balançar?”
Usa pronomes (eu, você, eu) e alguns plurais (carros,
cachorros)
Mostra interesse em jogar em grupo

Aos 04 anos
Coopera com outras crianças
É cada vez mais inventivo em jogos de fantasia
Nomeia algumas cores
Compreende a contagem
Fala em frases de cinco a seis palavras
Conta histórias
Fala com clareza suficiente para estranhos entender
Segue comandos de três partes
Compreende “igual” e “diferente”
Fases do
Desenvolvimento

Aos 05 anos
Quer ser como seus amigos
Gosta de cantar, dançar e atuar
É capaz de distinguir a fantasia da realidade
Mostra maior independência
Consegue contar 10 ou mais objetos
Fala em frases com mais de cinco palavras e conta histórias
mais longas
Fases do
Desenvolvimento

Sinais de Alerta
Sem grandes sorrisos ou outras expressões calorosas e
alegres por seis meses ou depois
Sem compartilhamento de sons, sorrisos ou outras
expressões faciais por nove meses
Sem balbuciar aos 12 meses
Sem gestos de vaivém, como apontar,
mostrando, alcançando ou acenando por 12 meses
Sem palavras aos 16 meses
Sem frases significativas de duas palavras (não incluindo
imitar ou repetir) por 24 meses
Qualquer perda de fala, balbucio ou habilidades sociais em
qualquer idade
Nenhuma resposta ao nome por 12 meses

A Academia Americana de Pediatria (AAP) recomenda que


todas as crianças recebam triagem de autismo em 18 e 24
meses de idade. A lista de verificação modificada de Autismo
em Crianças (M-CHAT-R) é uma das ferramentas
recomendadas. O M-CHAT-R™ é uma lista de perguntas
cientificamente validada usada para triagem de crianças entre
16 e 30 meses de idade para avaliar seu risco para o
transtorno do espectro autista.
Sobre o Diagnóstico

O diagnóstico acontece por dados clínicos, ou seja,


observação. Não existe um exame específico. Com base na
análise da criança e dos marcadores de desenvolvimento, se
chega ao diagnóstico.

A avaliação em TEA pode ser realizada por terapeutas. Eles


apontam a hipótese, porém o diagnóstico fechado no Brasil só
pode ser dado por um médico, seja neuropediatra ou psiquiatra
infantil. Através da percepção dos profissionais e usando os
critérios de diagnóstico do DSM V eles chegam a uma
conclusão.

O psicólogo é um dos profissionais que mais avalia TEA,


acolhendo a família, aplicando testes padronizados e
instrumentos de rastreio, analisando comportamento e
direcionando para as intervenções específicas. Outro
profissional que mais atua na avaliação é o fonoaudiólogo, que
utiliza técnicas para avaliar e desenvolver habilidades de
linguagem – essa fundamental para a aquisição de
competências, principalmente de socialização.

No geral, a criança com autismo precisará de um longo


acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Equipe essa
formada por pediatras, neuropediatras, psicólogos,
fonoaudiólogos, fisioterapeutas, psicopedagogos, terapeutas
ocupacionais, psiquiatras, dentre outros. Todavia, o brincar
nesses casos é fundamental para estimulação de habilidades.
Sobre o Diagnóstico

Brincar é a linguagem central e inerente da infância. É


onde a criança expressa sua subjetividade, cria hipóteses,
aprende a negociar e exercita a sua capacidade criativa.

Quando bebês apresentam alterações qualitativas no


desenvolvimento social, que incluem o sorriso social (exemplo:
sorriso dirigido às pessoas que falam ou brincam com o bebê), a
postura adequada de antecipação (exemplo: erguer-se quando
o adulto se aproxima), não apresentam comportamento de
apego nos padrões típicos e tendem a um fracasso em vincular-
se a uma pessoa específica.

Na idade escolar, fracassam em brincar com seus pares e fazer


amizades por não possuírem habilidades sociais adequadas e o
desenvolvimento da empatia.
Sobre o Diagnóstico

Com frequência associam-se ao autismo características como


inflexibilidade, perseveração, foco nos detalhes ao invés do
todo, dificuldade nos relacionamentos interpessoais e
dificuldades no brincar. Todas elas poderiam ser explicadas por
um comprometimento funcional no lobo frontal, e
consequentemente, nas habilidades das funções executivas.

As funções executivas começam a desenvolver-se nos


primeiros anos de vida e terminam seu processo de maturação
por volta do final da adolescência, sendo responsáveis pelo
processo cognitivo que inclui o planejamento e execução de
atividades como controle de impulsos, iniciação de tarefas,
memória de trabalho, atenção sustentada, entre outras. O
desenvolvimento dessas funções durante a infância
proporciona gradualmente a adequação e um melhor
desempenho para a iniciação, persistência e conclusão de
tarefas.

A região pré-frontal executa atividades a partir de informações


provindas das regiões posteriores do córtex. É responsável pelo
planejamento, pela coordenação entre a percepção e
organização de diferentes movimentos, isto é, a partir de
informações emocionais, atencionais e mnemônicas recebidas
do sistema límbico ou do cerebelo e das regiões posteriores
sensoriais. Essa região faz um planejamento de ações
complexas, soluciona problemas propostos pelo ambiente,
organiza e desencadeia as respostas motoras.
Formas de manifestação
das sensibilidades no
autista:

Visual – marcados, principalmente, por fontes de luz,


objetos que giram, cores e até dificuldade para reconhecer
expressões do rosto.

Auditiva – pode ocorrer surdez aparente (a criança não


atende a chamados), incômodo com alguns tipos de sons e
emissão de sons repetitivos.

Somatossensorial – perda ou excesso de sensibilidade ao


calor, ao frio e a dores físicas. Tem, também, atração por
coisas ásperas e repulsa a coisas que toquem a pele (como
contato físico e roupas).

Olfativas – o autista passa a não gostar de alguns cheiros, o


que impacta, principalmente, a alimentação.

Sensibilidade bucal/paladar – ocorre a seletividade


alimentar por recusa a algumas texturas, cheiros ou
sabores. A criança pode começar a explorar coisas não
comestíveis com a boca.

Vestibular – relativo aos movimentos de balanço e ao


equilíbrio, que passa a agir de forma errada.

Cinestésica – um porte desajeitado no andar ou andar com


a ponta dos pés.
Sintomas do Transtorno de
Processamento Sensorial

Sentirem que o tecido da roupa causa coceira ou ardor.


Se incomodarem com a claridade da luz;
Achar que sons são muito altos;
Reagirem a toques delicados como se fossem brusco;
Ânsia ao experimentarem comidas com texturas diferentes;
Apresentarem pouca habilidade motora e serem
desastrados;
Terem medo de brincar em balanços;
Possuírem problemas comportamentais.

Às vezes, esses sintomas podem estar ligados a dificuldades


motoras também. A criança pode apresentar dificuldade em
segurar objetos como canetas ou tesouras, por exemplo.

Por outro lado, em crianças mais velhas, esses sintomas podem


causar uma baixa autoconfiança, podendo levar a criança ao
isolamento social e até mesmo depressão. Por isso a
importância de uma observação cautelosa ao aparecimento dos
primeiros sintomas.
Sintomas do Transtorno de
Processamento Sensorial

Mas o que são crianças com hiposensibilidade?

Certamente, entende-se como crianças com pouca


sensibilidade, que apresentam os seguintes sintomas:

São inquietas;
Procuram estímulos intensos (gostam de pular, girar e se
aventurar por lugares altos);
Conseguem ficar rodando sem ficarem com tontura;
Mastigam coisas (incluindo as próprias mãos e roupas);
Procuram estimulação visual (como aparelhos eletrônicos);
Possuem problemas para dormir;
Não percebem quando estão com o rosto sujo ou o nariz
escorrendo, por exemplo.
Sintomas do Transtorno de
Processamento Sensorial

Alimentação!

Tudo aquilo que causa uma experiência sensorial pode impactar


no comportamento da pessoa com autismo. Por isso é
importante sabermos diferenciar birras de crises.
Aparentemente, o comportamento pode parecer semelhante,
mas há algumas diferenças.

Acredite ou não, a alimentação é um comportamento humano


complicado. O comportamento alimentar depende do estado
de desenvolvimento de uma pessoa, questões médicas,
habilidades motoras etc. O gosto, o cheiro e a sensação dos
alimentos (questões sensoriais) e nossas experiências
relacionadas aos alimentos também afetam a alimentação.
Quando todas essas áreas funcionam bem, a alimentação vai
bem. Se houver problemas em uma dessas áreas, o
comportamento alimentar pode ser afetado.
Sintomas do Transtorno de
Processamento Sensorial

Alimentação!

A alimentação envolve todos os sentidos sensoriais (tato, visão,


paladar, olfato e audição). Muitas pessoas com TEA têm
dificuldades com o processamento sensorial e isso pode tornar
a ingestão de certos alimentos um desafio para elas. Autistas
também podem desenvolver problemas comportamentais na
hora das refeições. Por exemplo, as crianças podem aprender
que podem sair da mesa e brincar depois de recusarem um
alimento de que não gostam.

Problemas de alimentação em qualquer criança podem ser


estressantes tanto para os pequenos quanto para os pais.
Afinal, as crianças precisam de nutrientes e calorias adequados
para manter uma boa saúde e padrões de crescimento
adequados.
Sintomas do Transtorno de
Processamento Sensorial

Alimentação!

Tudo aquilo que causa uma experiência sensorial pode impactar


no comportamento da pessoa com autismo. Por isso é
importante sabermos diferenciar birras de crises.
Aparentemente, o comportamento pode parecer semelhante,
mas há algumas diferenças.

Acredite ou não, a alimentação é um comportamento humano


complicado. O comportamento alimentar depende do estado
de desenvolvimento de uma pessoa, questões médicas,
habilidades motoras etc. O gosto, o cheiro e a sensação dos
alimentos (questões sensoriais) e nossas experiências
relacionadas aos alimentos também afetam a alimentação.
Quando todas essas áreas funcionam bem, a alimentação vai
bem. Se houver problemas em uma dessas áreas, o
comportamento alimentar pode ser afetado.

A alimentação envolve todos os sentidos sensoriais (tato, visão,


paladar, olfato e audição). Muitas pessoas com TEA têm
dificuldades com o processamento sensorial e isso pode tornar
a ingestão de certos alimentos um desafio para elas. Autistas
também podem desenvolver problemas comportamentais na
hora das refeições. Por exemplo, as crianças podem aprender
que podem sair da mesa e brincar depois de recusarem um
alimento de que não gostam.
Conclusão

O autismo se manifesta e se desenvolve de formas diferentes


em cada caso. Por isso, cada pessoa terá características em
comum com o quadro geral, mas únicas como indivíduo, logo,
as opções de intervenção devem ser analisadas como únicas.
Assim, um time multiprofissional terá maior capacidade e
condições de analisar as diferentes opções de abordagens e as
que mais se adequem àquela pessoa, à sua família e ao
momento em que se encontram.

Desse modo, no tratamento do TEA por uma equipe


multiprofissional, o objetivo comum será a melhora progressiva
da qualidade de vida daquela pessoa, sendo cada área abordada
pelo profissional a que compete em sua especialidade, mas
todos definindo os objetivos juntos, discutindo cada passo e
adaptação que se fizer necessária.

Com uma equipe multiprofissional, a interação entre todos os


profissionais ajuda na concepção de um tratamento que integre
as especialidades, conforme as necessidades de cada pessoa.

Uma equipe multiprofissional, portanto, não é concebida


como um time fechado em si mesmo. Ela deve ser construída
de forma progressiva, de acordo com a identificação de
sintomas e possíveis intervenções, combinando os
conhecimentos dos profissionais como forma de
aprimoramento.
Referências

The First Concern to Action Tool Kit, 2018


Associação Americana de Psiquiatria [APA], 2013;
Organização Mundial de Saúde, 2015
Blumberg et al., 2013;
Centros de Controle e Prevenção de Doenças, 2018
CDC; Maenner et al., 2020;
KLIN, A. Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral.
Revista Brasileira de Psiquiatria, v.28, n.1 (suppl.), p.3-11,
2006.
DUNCAN, J. Disorganization of behavior after frontal lobe
damage. Cognitive Neuropsychology, v.3, p.271-290, 1986.
ANDERSON, V. Executive function in children. Child
Neuropsychology., v.8, p.69-70, 2002.
TEIXEIRA, G. H. Funções executivas. Disponível em:
http://fmail9.uol.com.br/cgi-
bin/webmail.exe/funções_executivas.htm.
Parent’s Guide to Feeding Behavior in Children with Autism;
Autism Speaks

Você também pode gostar