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Resumo
A temática da ansiedade tem sido um dos assuntos mais discutidos nos últimos tempos. Sendo
foco de artigos em revistas, periódicos, livros, trabalhos acadêmicos e outras literaturas, o
termo ansiedade tem alcançado prestígio e tornando-se uma das grandes vilãs do mundo
moderno. Mesmo sendo essencial para a sobrevivência, será visto aqui que a ansiedade
conquistou a fama de atrapalhar relações interpessoais, o desempenho profissional e a
capacidade de resolver conflitos externos e internos de maneira satisfatória. Os transtornos
de ansiedade estão entre as principais causas de consultas médicas em todo o mundo. É a
partir de vários fatores que hoje é possível pensar na ansiedade e seus transtornos
decorrentes como o mal do século, visto que causa um grande sofrimento psicológico às
pessoas afetadas. A partir disto, este trabalho tem por finalidade abordar alguns aspectos
históricos deste termo tão difundido nos dias atuais, como também alguns conceitos e
reflexos desde a infância até a vida adulta.
Introdução
Segundo um artigo divulgado no jornal “Empresas & Negócios” (2011), dos pacientes
atendidos no Pronto-Socorro especializado de São Paulo, 25% deles têm diagnóstico de
depressão ou de transtorno de ansiedade, o que consta que é um número muito elevado, o que
nos fazer pensar que em todo o Brasil a ansiedade é algo muito comum entre as pessoas.
De acordo com estudos realizados por Lopes (2007), a ansiedade produz uma
estrangulação íntima, pois a palavra em sua origem traz a ideia de estrangulamento, que seria
como ficar sufocado. É como cortar o oxigênio de uma pessoa e tirar dela a capacidade de
respirar. A ansiedade rouba a energia da pessoa levando-a a sofrer por antecipação, ou seja, a
ansiedade esgota as forças antes do problema antes mesmo dele chegar. E quando o problema
chega, a pessoa já está fragilizada.
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Já Warren Wiersbe (2006), diz que a ansiedade significa ser puxado em diferentes
direções, produzindo uma fragmentação existencial na pessoa, ficando como que rasgada ao
meio.
A palavra ansiedade tem sua origem no latim clássico com o verbo angere, o qual
significa no sentido literal apertar, comprimir, estrangular, esganar, sufocar.
Há quem diga que na antiguidade não havia estress, que as doenças ligadas à emoção
eram raras e que quando havia disturbios emocionais, estes eram tratados pela Medicina
egipcia e grega como possessão demoníaca.
O que difere a ansiedade moderna da antiguidade são os fatores que desencadeiam a
doença, fatores que podem ser externos ou internos. Nossos antepassados viviam debaixo de
extrema opressão (fatores externos), devido às guerras constantes por disputa de terras e
poder, epidemias, fome, miséria e catástrofes. As epidemias, por exemplo, foram motivos de
muita preocupaçao, pois as doenças se espalhavam rapidamente dizimando populaçoes
inteiras, mudando o curso da história. Essas epidemias eram chamadas de pestes. Na Idade
média, a peste bubônica foi a causa do extermínio de muitas pessoas da população européia,
ficando conhecida como peste negra. A fome causada pela seca, pelas pragas que devastavam
plantações inteiras, pelos ataques de povos inimigos que destruíam ou saqueavam as colheitas
e que, muitas vezes também destruíam os povoados e incendiavam as cidades, são fatores que
podem ser classificados como externos.
Na era cristã, um proeminente apóstolo e escritor do cristianismo primitivo, cujas obras
compõem parte no NT, em uma de suas cartas endereçadas aos cristãos em Corinto, relata os
perigos que estava enfrentando naqueles dias. É interessante perceber a natureza das
preocupações expressas pelo apóstolo Paulo, das quais podemos notar nitidamente que sua
origem era com o sofrimento pela inflluência de fatores externos e posteriormente suas lutas
internas. Vejamos alguns trechos encontrados nesta carta do NT das Escrituras Sagradas:
“Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a tribulação que nos Sobreveio na Ásia, pois que
fomos sobremaneira agravados mais do que podíamos suportar, de modo tal que até da vida
desesperamos.”(1995, p.276).
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A seguir, o escritor aponta alguns fatores externos, os quais ele mesmo descreve como
“lutas por fora” ou ainda “coisas exteriores”.
Além das lutas por fora, o escritor refere-se também a temores (phobias) por dentro, isso
revela um estado emocional bastante abalado. Tudo indica que o apóstolo foi acometido de
um profundo estado de ansiedade e depressão em sua viagem para a Ásia: “Porque, mesmo
quando chegamos à Macedônia, a nossa carne não teve repouso algum; antes, em tudo fomos
atribulados: por fora combates, temores por dentro.” (1995, p.282, grifo do autor).
Interessante notar, que o mesmo escritor, agora endereçando sua carta a outro grupo de
pessoas habitantes de uma colônia romana chamada Filipos, os orienta quanto à ansiedade,
dizendo: “[...] não estejais ansiosos por coisa alguma [...]” (p.309). E logo apresenta uma
receita de como livrar-se desse mal, ensinando como poderiam substituir seus pensamentos a
fim de alcançarem a paz. Isso nos leva a perceber que ele acreditava que a ansiedade estava
diretamente ligada com a forma a qual as pessoas gerenciam seus pensamentos:
vez no século XIX, onde Sigmund Freud, a partir dos quadros patológicos definiu como
“estados ansiosos”. Somente a partir do século XX é que o termo “ansiedade” passou a ser
disseminado e a ganhar proeminência na Psiquiatria.
Para Freud (1969), a ansiedade funciona como um alerta das ameaças contra o ego, e
assim, definiu três tipos de ansiedade: A ansiedade objetiva , a ansiedade neurótica e a
ansiedade moral. Sendo as duas últimas derivadas da ansiedade objetiva.
A ansiedade objetiva surge do medo dos perigos reais, caracterizando um conflito
entre o ego e a realidade. A ansiedade neurótica está relacionada com o medo da punição
devido a algum comportamento indiscriminado dominado pelo id, ou seja, é um conflito entre
o id e o ego. E por fim, a ansiedade moral, a qual surge a partir do medo da consciência
quando ocorre a expressão de um impulso do id contrário aos valores morais, levando o
indivíduo a sentir culpa ou vergonha. É um conflito entre o id e o superego.
A ansiedade causa tensão excessiva a ponto de o indivíduo fazer qualquer coisa para
diminuir o sofrimento psíquico. Com isso, segundo Freud, o ego desenvolve um sistema de
proteção chamado “mecanismos de defesa”, que consistem nas negações inconscientes ou
distorções da realidade. Esses mecanismos de defesa nada mais são que estratégias
irracionais, inconscientes e elaboradas para defender o ego.
O termo conhecido hoje como Transtorno de Pânico era antigamente conhecido por
neurastenia cardiocirculatória, cujos sintomas Freud também descreveu e classificou como
neurose ansiosa.
De acordo com o médico psiquiatra Augusto Cury (2014), hoje, uma criança de sete
anos provavelmentre tem mais informações do que tinha um imperador no auge da Roma
antiga e do que tinham Pitágoras, Sócrates, Platão, Aristóteles e outros pensadores da Grécia
Antiga.
Há várias teorias sobre a ansiedade, porém, todos os estudiosos estão em concordância
de que a ansiedade é uma emoção. Sendo o medo, integrante das cinco emoções básicas, ou
seja, aquelas que se desenvolvem nos primeiros seis meses de vida após o nascimento, ao lado
da tristeza, felicidade, raiva e nojo, as palavras medo e ansiedade podem ser usadas como
sinônimos.
As emoções foram objeto de estudo do naturalista britânico Charles Darwin, o qual em
seu famoso livro intitulado “A expressão das emoções no homem e nos animais” (1872)
descreve as emoções como comportamentos expressivos inatos e não adquiridos como:
mudanças fisiológicas, expressões faciais e atitudes automáticas e inconscientes.
saúde mental, os quais irão associar as experiências das pessoas com um dos seis tipos de
transtorno de ansiedade: fobias, fobia social, síndrome do pânico, transtorno de ansiedade
generalizada, transtorno obcessivo-compulsivo, transtorno de estresse pós-traumático.
A ansiedade pode ter causas familiares, ou seja, uma pessoa propensa à ansiedade
grave provavelmente tem pais ou avós com o mesmo problema. Pode ser herdada
geneticamente ou pode ser aprendida pelo convívio com parentes mais próximos.
ANSIEDADE INFANTIL
A ameaça à saúde mental, com a qual a criança ansiosa convive, desencadeia uma
resposta de fuga dos fatores estressantes. Com isso, ela passa a não querer mais entrar na
escola, não apresentar trabalhos ou ler em voz alta para os colegas da sala e ter medo de
avaliações. Nestes momentos, a criança fica sob controle de suas reações fisiológicas e pode
sentir dor de cabeça, sudorese, dores abdominais, taquicardia e até mesmo vômitos.
Quando a criança evita interagir com outras crianças, não gosta de participar dos
trabalhos em equipe, não consegue responder à perguntas em sala de aula, normalmente é
descrita como tímida, quando na realidade ela pode estar sendo acometida por ansiedade
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social ou fobia social. Este tipo de ansiedade se dá ao medo e a apreensão em situações onde é
necessário que a criança venha a interagir com outras pessoas ou se tornar o foco das
atenções.
A ansiedade infantil como já vimos anteriormente, pode ser hereditária, pode sofrer
interferência do meio em que vive através do exemplo da família e também de fatores
estressores.
CONCLUSÃO
Sabemos que a ansiedade considerada normal é tão benéfica quanto qualquer outra
emoção. Por outro lado, quando levamos em conta a duração e a intensidade dessas sensações,
pode ser extremamente prejudicial e tornar-se um quadro patológico, normalmente
acompanhado por sintomas psicossomáticos, diminuindo progresivamente a qualidade de vida
do indivíduo. Inata ou adquirida, deve ser tratada desde as primeiras manifestações na
infância.
Hoje, a inteligência emocional é um assunto que tem se difundido na área educacional,
por isso, vários projetos podem ser desenvolvidos nas escolas com a finalidade de trabalhar as
emoções nas crianças, principalmente a capacidade de perceber suas próprias emoções e a
autorregulação, através de atividades específicas para desenvolver a atenção e o esforço de
controle.
REFERÊNCIAS:
PEREIRA, M.E.C. Mudanças nos conceitos de ansiedade. In: HETEM, L.A.B.; GRAEFF,
F.G. (Editores). Ansiedade e transtornos de Ansiedade. Rio de Janeiro: Editora Científica
Nacional, 1997.
STONE, M. H. Healing the mind: A history of Psychiatri from antiquity to the presente.
Nova Iorque: Norton, 1997.
Darwin, C (1872). A expressão das emoções no homem e nos animais. Trad. Leon de Souza
Lobo Garcia. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009.
Ansiedade: o que é, os principais transtornos e como tratar; Daniel Freeman, Jason Freeman:
tradução Janaína Marcoantonio. – 1. Ed – Porto Alegre, RS: L&PM, 2014.
Asbahr FR. Anxiety disorders in childhood and adolescence : clinical, and neurobiological
aspects. Jornal de Pediatria. 2004; 80 (2): S28-34.
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Lopes, Hernandes Dias. Filipenses: a alegria triunfante no meio das provas; São Paulo:
Hagnos, 2007.
Freud, Sigmund (1969), Standard Edition das Obras Psicológicas Completas de Sigmund
Freud. Editora Imago, Rio de Janeiro.
A Biblia Sagrada, Traduzida em português por João Ferreira de Almeida. Revista e Corrigida.
Ed de 1995. São Paulo: Sociedade Bíblica do Brasil, 1995.