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Revista Brasileira de Psiquiatria. 2013;00:00–00

- 2013 Associação Brasileira de Psiquiatria
doi:10.1590/1516-4446-2013-1162

Revised Reading the Mind in the Eyes Test (RMET) –

versão brasileira
Breno Sanvicente-Vieira,1Bruno Kluwe-Schiavon,1Luis Eduardo Wearick-Silva,1Giovanna
Lopes Piccoli,1Lílian Scherer,2Hélio Anderson Tonelli,3Rodrigo Grassi-Oliveira1
1Centro de Estudos e Pesquisas em Estresse Traumático, Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
(PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.2Grupo de Estudos em Neurolinguística e Psicolinguística, Programa de Pós-Graduação em Linguística, PUCRS, Porto Alegre, RS,
Brasil.3Instituto de Psiquiatria do Paraná, Curitiba, PR, Brasil.

Objetivo:Traduzir e adaptar para o português brasileiro o Revised Reading the Mind in the Eyes Test
(RMET), nas versões papel e lápis e computadorizada. O RMET é um instrumento bem aceito para
avaliação da Teoria da Mente (ToM), um componente importante da cognição social. Métodos:Seguindo
uma diretriz de tradução de material para populações clínicas, este estudo teve três fases principais: 1)
tradução formal e adaptação semântica para o português brasileiro; 2) um teste de aceitabilidade com
profissionais de saúde como juízes avaliando a correspondência entre imagens e palavras; e 3) um ensaio
utilizando as versões papel e lápis e computadorizada (experimentos construídos no software E-Prime
2.0.10) com participantes saudáveis para testar se o instrumento apresenta saídas semelhantes às
esperadas em versões em outros idiomas.
Resultados:O RMET foi adequadamente adaptado para o português brasileiro. Essa versão apresentou
aceitabilidade e saídas semelhantes às versões do instrumento em outros idiomas, inclusive o original.
Mantivemos o mesmo número de imagens da versão original em inglês.
Conclusões:Considerando a escassez de instrumentos de avaliação cognitiva adequadamente adaptados
ao português e a importância da cognição social em muitos transtornos psiquiátricos, este trabalho
acrescenta um importante recurso à pesquisa brasileira e é administrável nas versões papel e lápis e
computadorizada.

Palavras-chave:Mentalizando; Teoria da mente; autismo; esquizofrenia; cognição social; testes

Introdução de outros. Estudos de ToM são agora amplamente conduzidos em

Achados psicológicos cognitivos iniciais1em relação aos
transtornos mentais sustentam que os pacientes têm crenças
pessoais sobre o mundo e sobre si mesmos, que são expressas
comportamentalmente por meio de sintomas (por exemplo,
agressividade, delírios, responsabilidade). Além disso, há
evidências sugerindo ligações entre autoesquemas e fundo
cognitivo,2que também está relacionado a várias condições
psiquiátricas.3Nesse sentido, o papel da cognição tem se
destacado na psiquiatria, abrangendo não apenas funções
clássicas (por exemplo, memória, linguagem), mas também
aquelas relacionadas ao manuseio de estímulos do ambiente
social (por exemplo, reconhecimento facial de emoções, Teoria
da Mente [ToM], julgamento moral).4Este campo da ciência
cognitiva é conhecido como cognição social, que tem sido
considerado um novo alvo para intervenções terapêuticas.5
Uma das principais questões abordadas na cognição social,
juntamente com o reconhecimento de emoções faciais, é a ToM. ToM é a
capacidade de ''mentalizar'' - raciocinar sobre nossos próprios
pensamentos, sentimentos e intenções, bem como aqueles
Correspondência: Rodrigo Grassi-Oliveira, Pontifícia Universidade
Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Av. Ipiranga, 6681, prédio
11, sala 936, CEP, 90619-900, Porto Alegre, RS, Brasil.
E-mail: rodrigo.grassi@pucrs.br
Enviado em 04 de maio de 2013, aceito em 16 de junho de 2013.
humanos, embora o termo tenha se originado em pesquisas com
primatas.6Nas idades de 4 a 6 anos, as crianças são capazes de
retratar estados mentais em histórias de crenças falsas (um
paradigma de avaliação da ToM); aos 7 anos já são capazes de
compreender metáforas; e na idade de 9 a 11 anos, eles
executavam ToM de forma semelhante aos adultos. No entanto, o
curso da ToM não depende de outras habilidades cognitivas, pois
os pacientes com síndrome de Down ou síndrome de Williams não
apresentam prejuízos na cognição social.7
Em adultos, as condições psiquiátricas estão relacionadas a
prejuízos na ToM. Por exemplo, comparações entre participantes
com transtornos de humor,8abusadores de álcool,9e demência10e
controles saudáveis mostraram diferenças a favor dos controles.
No entanto, as condições com as evidências mais fortes em relação
aos prejuízos ToM são a esquizofrenia11e autismo.12Considerando a
esquizofrenia e suas associações com o desempenho de ToM, Frith
argumentou que a doença leva a um prejuízo na capacidade de
ToM, o que poderia fazer com que crenças falsas levassem a
conclusões falsas, aumentando assim os sintomas delirantes.13No
entanto, dados sobre deficiências em ToM também estão
disponíveis em pessoas de alto risco
de psicose.14Portanto, ainda não está claro se o
funcionamento de ToM pode ser um traço ou estado de
esquizofrenia. Além disso, também não se sabe se ToM
pode ser um ''endofenótipo social'' para psicose ou um
efeito colateral sociocognitivo da psicose.15
 B Sanvicente-Vieira et al.
A primeira estratégia metodológica utilizada para avaliar a
ToM na pesquisa da esquizofrenia foi o paradigma da falsa
crença, baseado em vinhetas que forneciam informações
contextuais e exigiam que o participante respondesse o que os
personagens da história estavam pensando.16Este método
ainda é utilizado, mas já se sente a influência de outro método
e de resultados enriquecedores: o Reading the Mind in the Eyes
Test (RMET). O RMET avalia a capacidade de ler as intenções/
sentimentos/pensamentos dos outros através
expressões faciais, especificamente na região dos olhos.
17,18
O RMET foi descrito pela primeira vez por Baron-Cohen et al.,19
que perceberam que a informação sobre o contexto por si só
não é suficiente para descobrir as intenções de outras pessoas.
Eles argumentaram que as pessoas usam recursos de
expressões faciais para construir ideias sobre seus sentimentos
e desejos. A interpretação de tais signos deveria ser
representada mentalmente de acordo com as características
individuais, e essa representação mental caracterizaria os
estados mentais dos outros. Achados como esses levaram ao
entendimento atual de ToM, que combina input apropriado
(captura de vários estímulos), reconhecimento e representação,
implicando, portanto, na adoção de recursos do conhecimento
prévio.20No entanto, o aparato completo pode ser abreviado se
for necessária uma resposta imediata; portanto, ToM
provavelmente funciona em dois modos – um controlado e
outro implícito.21
A primeira versão do RMET contém fotos da região ocular
e duas opções; o participante deve então escolher a opção
que melhor representa o sentimento expresso. Mais tarde,
Baron-Cohen et al.19atualizou a versão original, adicionando
duas opções para cada item. Os resultados do uso desse
método apoiaram sua teoria sobre a incapacidade de uma
pessoa autista em captar diferenças sutis na expressão de
emoções nessa região da face.18Essa nova versão (Revised
RMET) facilitou avanços na pesquisa psiquiátrica, pois
possibilitou combinar o RMET com técnicas de imagem.
Agora, os resultados são discutidos no que diz respeito às
consequências comportamentais. No autismo, por
exemplo, as dificuldades em entender com precisão os
sentimentos dos outros podem causar efeitos de
isolamento e a manutenção da evitação do contato visual
com os outros.22
O RMET pode ser preenchido usando papel e lápis ou como
uma versão computadorizada. É simples e sua administração
não se restringe a profissionais especializados. A versão
original revisada contém 36 fotos, todas em preto e branco e
da mesma região do rosto (no meio do nariz até logo acima da
sobrancelha), mais uma para ser usada em uma condição de
treinamento. Cada imagem é cercada por quatro palavras
sobre estados mentais. Os participantes devem escolher a
palavra que retrata corretamente o estado mental expresso na
imagem. O teste também inclui um glossário, que é uma lista
de todas as palavras que o teste contém, sinônimos
apropriados para cada uma e um exemplo de seu uso em uma
frase. O glossário deve ser apresentado antes do início da
prova, procedimento adotado para evitar vieses de linguagem.
O RMET é frequentemente interpretado em termos de
pontuação total; no entanto, alguns estudos adicionaram
subescalas ao original
Rev Bras Psiquiatr. 2013;00(0)
versão. A subdivisão mais comum consiste em dividir os
itens em emoções positivas, negativas e neutras,23embora
as propriedades psicométricas deste procedimento não
tenham sido oficialmente reconhecidas.24
O RMET foi traduzido para vários idiomas, incluindo
francês e alemão (consulte o site da ARC para obter mais
informações: http://www.autismresearchcentre.com/
arc_tests) e possui um processo de validação documentado
para o turco25e italiano24versões, com consistência interna e
externa adequada. No entanto, é importante notar
discrepâncias nas comparações culturais, que podem
produzir um efeito de familiaridade devido a questões
étnicas entre os atores nas fotos. Por exemplo, quando o
desempenho de participantes americanos foi comparado
ao desempenho de participantes japoneses em duas
versões do RMET (a versão original e uma versão com fotos
representando atores asiáticos), os autores encontraram
um importante efeito de familiaridade.26
Considerando os pontos fortes do RMET e a falta de
instrumentos em português do Brasil para avaliação da ToM,
buscamos traduzir e adaptar o RMET original em inglês para o
português do Brasil e para a realidade brasileira. Embora uma
versão inicial do RMET tenha sido previamente traduzida para o
português do Brasil por um dos autores deste artigo (HAT),
essa primeira versão não incluiu todas as etapas de validação
semântica e, portanto, estava repleta de problemas de
linguagem não controlados. Para superar essas questões,
realizamos a tradução e validação de conteúdo do RMET para o
português brasileiro nas versões papel e lápis e
computadorizada.
Método
A versão brasileira do RMET inclui 37 itens, assim como
o teste original.18Com relação às questões materiais e
legais, entramos em contato com o Autism Research
Center (Autism Research Center/ARC, Cambridge, Reino
Unido) e obtivemos sua autorização formal para realizar
a adaptação do instrumento para o português brasileiro.
A versão final foi organizada por meio de procedimentos
padronizados de tradução. Atenção especial foi dada a uma
adaptação semântica válida para a realidade sociolinguística
brasileira.27A primeira etapa consistiu em traduções semânticas
e conceituais e retrotradução. A segunda etapa buscou verificar
se as palavras-alvo traduzidas para o português brasileiro
estavam corretamente pareadas com as expressões faciais das
figuras (teste de aceitabilidade). Por fim, a terceira etapa foi um
estudo piloto, conforme preconiza o ARC. Cada procedimento é
ilustrado na Figura 1.
Tradução semântica e conceitual
Dois profissionais independentes da linguagem traduziram
a versão original do teste para o português brasileiro. As
duas versões foram submetidas à avaliação semântica e
conceitual por uma pesquisadora da psicologia para
verificar o significado geral dos termos à luz do modelo
teórico.27Esses procedimentos levaram à construção de
uma versão de consenso pelos autores (versão 1).

figura 1 Fluxograma das etapas metodológicas da adaptação.
BT = retrotradução; FV = versão final; O = versão original; T
= tradução de dois pesquisadores; V1 = versão 1; V2 =
versão 2.
Seguindo as recomendações e diretrizes do ARC para
adaptações de teste,27uma retrotradução da versão 1 foi
realizada por um falante nativo de inglês bilíngue.
Posteriormente, para evitar palavras repetidas e realizar a
validação semântica, um linguista profissional examinou tanto
a versão 1 quanto a retrotradução. Quaisquer diferenças foram
analisadas e corrigidas; não houve conflitos conceituais. Apesar
desses procedimentos metodológicos rígidos, alguns
problemas de precisão ainda podem ser um problema (por
exemplo, algumas imagens podem não corresponder às
palavras-alvo). Para evitar isso, os autores realizaram uma fase
de julgamento para testar a aceitabilidade das palavras-alvo
finais e sua correspondência com as figuras correspondentes.
Procedimentos de aceitabilidade
Para testar a aceitabilidade da palavra-alvo versus a imagem, foi
realizado um teste de aceitabilidade. A prova foi computadorizada,
realizada em monitor colorido de 15 polegadas utilizando o
software E-Prime versão 2.0.28Os participantes sentaram-se em
frente à tela do computador de modo que seus olhos estivessem a
aproximadamente 50 cm do visor e todas as teclas de resposta
estivessem localizadas em um teclado QWERTY padrão. As mesmas
fotos da versão final de Baron-Cohen
RMET Português do Brasil
o RMET foram apresentados no centro da tela. Cada
imagem permaneceu na tela até que o participante
respondesse. A apresentação das opções foi randomizada
para evitar respostas com viés de lateralidade.
Dez avaliadores (seis mulheres, quatro homens), todos
profissionais de saúde mental, foram convidados a participar
do estudo de aceitabilidade. Este método baseia-se na escolha
entre duas palavras: a palavra-alvo e a palavra-folha. As
palavras foil foram selecionadas da lista do glossário, com o
único critério de ter um significado diferente da palavra-alvo. O
teste de aceitabilidade aqui apresentado é semelhante ao
adotado para a versão original do RMET, que continha apenas
duas opções de palavras.19Os resultados foram analisados
quanto à descritividade, procurando erros cometidos duas ou
mais vezes. Se os avaliadores ainda discordassem da
correspondência entre palavras-alvo e imagens após a
apresentação do erro, os itens incorretos eram revisados.
Depois que o teste de aceitabilidade foi concluído e todas as
correções foram feitas, os autores conduziram um estudo piloto
para procurar problemas nos resultados comportamentais do RMET
em uma amostra não clínica. O estudo piloto também foi uma
recomendação do ARC, conforme descrito anteriormente.
Estudo piloto
A versão final do RMET consistiu em um bloco com 37 itens
(sendo um item a tentativa de treinamento) programado no
software E-Prime 2.0. Cada item começava com uma
apresentação de 500 ms do sinal ''+'' no centro da tela, que
servia como uma dica de fixação. Imediatamente após o
término dessa exibição, os estímulos imagem (medindo
23,5 x 9,4 centímetros) eram apresentados e mantidos na
tela até que o participante respondesse (Figura 2). Ao
contrário do teste de aceitabilidade, a resposta foi obtida
usando a função DoHit Test do E-Prime, que é um
procedimento para obter respostas com o mouse.
O estudo piloto foi realizado com uma amostra de 10
indivíduos (cinco homens, cinco mulheres), cuja média de idade
foi de 26,19 anos (63,02) anos, o nível educacional médio foi
14.53 (62,86) anos, e a renda familiar mensal média foi de
US$ 5.206,77 (62110.07), que, na realidade brasileira, é
considerada uma classe socioeconômica alta. No estudo
piloto, foram apresentadas figuras com quatro opções, uma
em cada canto da figura (sendo uma a palavra-alvo e as
outras folhas), conforme ilustrado na Figura 2. As palavras
folha foram selecionadas para serem as correspondentes
da versão original . Assim, o participante deveria escolher
uma opção com o mouse.
A correção desta etapa foi baseada na adaptação turca do
RMET.25Assim como neste estudo, foram corrigidos os itens
que mais de 50% da amostra erraram ou aqueles em que 25%
dos sujeitos ou mais selecionaram incorretamente a mesma
opção de folha. Os conflitos remanescentes foram reavaliados
e testados novamente usando toda a amostra.
Resultados
Tradução semântica e conceitual
As etapas previamente planejadas foram todas concluídas, conforme
apresentado na Tabela 1, que mostra as palavras originais,
Rev Bras Psiquiatr. 2013;00(0)
 B Sanvicente-Vieira et al.
Figura 2Apresentação dos estímulos na versão para computador do RMET
versão 1, a retrotradução, versão 2 e a versão final
(concluída após o teste de aceitabilidade e estudo
piloto).
O processo, porém, foi conduzido com algumas dificuldades.
A grande questão era a necessidade de manter o mesmo
número de palavras, o que era crítico em alguns casos. Diante
dessa situação, os autores tiveram duas opções: a) utilizar
palavras que não eram tão comuns no português brasileiro
padrão; ou b) usar menos palavras do que a versão original do
RMET. Como as instruções permitiam que o entrevistado
utilizasse um glossário para reconhecer claramente as palavras,
optou-se pela opção ''a''. No entanto, as exceções
permaneceram devido ao número limitado de sinônimos em
português. Portanto, oito palavras foram repetidas na versão 1,
três na versão 2 e quatro na versão final.
Após a retrotradução, um linguista profissional
comparou as versões traduzida e original. Este processo
revelou alguns termos incompatíveis. Tais termos foram
revisados na forma portuguesa, por exemplo,
''desanimado'' e ''encorajador'', que corresponderam a
''humilhado'' e ''animado'' na versão retrotraduzida,
respectivamente. As correções foram concluídas e os
autores estabeleceram a versão 2, que foi usada para
conduzir os testes piloto e de aceitabilidade.
Procedimentos de aceitabilidade
Esse procedimento revelou uma série de padrões quanto a
erros em alguns itens. Entre os 37 itens, dois avaliadores
erraram seis itens (1, 4, 17, 25, 31, 36), três avaliadores
erraram um item (10) e mais de cinco avaliadores erraram
três itens (7, 9, 13). ).
Os resultados do estudo de aceitabilidade alertaram os
autores para outras questões; portanto, os itens 7, 9 e 13 foram
revisados, mudando as palavras ''inquieto'' para ''apreensivo''
Rev Bras Psiquiatr. 2013;00(0)
(7), ''nervoso'' a ''preocupado'' (9), e ''torcedor'' a ''aflito'' (13). Os
erros remanescentes foram analisados em conjunto com os
avaliadores que conduziram o julgamento. Nesses casos, os
avaliadores concordaram que os erros foram culpa deles, mas
uma vez que souberam a opção correta, foram capazes de
reconhecê-la. Portanto, os autores e avaliadores poderiam
rejeitar a hipótese de que os erros ocorreram porque a palavra
não se encaixava corretamente na imagem ou porque havia
muitas opções confusas. Concluída essa fase, o último
procedimento a ser realizado foi um ensaio piloto.
teste piloto
A execução de teste detectou poucos erros; portanto, os itens
8, 9, 10, 12, 17, 23 e 32 foram executados uma segunda vez,
pois a primeira tentativa detectou mais de 25% de erros em
uma mesma palavra folha. Por isso, esses itens foram
analisados e feitas modificações, principalmente nas palavras
foil. Por exemplo, no item 9, a palavra ''horrificado'' (traduzido
para ''amedrontado'') estava em conflito com a resposta certa
(''preocupado'' traduzido como ''preocupado''). No item 9, a
palavra foil foi substituída por outra palavra foil, ''aliviado'',
traduzido como ''aliviado''.
A Tabela 2 apresenta a frequência de respostas na
aplicação final do RMET para cada opção da tarefa. As
mudanças estão descritas na Tabela 1, com a versão final
na coluna da direita. O reteste foi feito com toda a primeira
amostra e, desta vez, os resultados não apontaram erros
nos itens 10, 17, 23, 32; no entanto, os itens 8 e 12 ainda
continham erros, que não atingiram 50% da amostra, nem
25% na mesma opção de palavra foil. Assim, esta foi
considerada a versão final da adaptação brasileira do RMET
Revisado. Dos 37 itens, cinco tiveram 100% de
concordância, 15 tiveram 90%, oito tiveram 80%, sete
tiveram 70% e dois tiveram 60%.
 RMET Português do Brasil

tabela 1 Principais alterações nos termos do instrumento através do processo de tradução e adaptação
Original Versão 1 retrotradução Versão 2 Versão final

desanimado Desencorajado Tristeza Desencorajado abatido

acusando Acusador acusador Acusador Acusador
Antecipando Antecipação angustiado torcedor Aflito
confuso Incomodado Incomodado Incomodado Afobado
Alarmado alarme Alarmado alarmado alarmado
Aliviado alivio Aliviado aliviado aliviado
ameaçador Ameaça ameaçador Ameaçador Ameaçador
Horrorizado Aterrorizado Aterrorizado Aterrorizado Amedrontado
Amigável Amizade Amigável amigo Amigável
Ansioso Ansioso Ansioso Ansioso Ansioso
em pânico Em pânico em pânico Em pânico apavorado
Preocupado Apreensão Apreensivo Apreensivo Apreensivo
Inquieto inquietação Apreensivo inquieto Apreensivo
Apologético Desculpas Desculpe ''Desculposo'' arrependido
arrependido arrependido arrependido arrependido arrependido
Arrogante Arrogância Arrogante Arrogante Arrogante
Horrorizado Horrorizado Aterrorizado Aterrorizado Aterrorizado
perplexo confusão confuso Atrapalhado Atrapalhado
Brincadeira Brincadeira Brincalhão Brincalhão Brincalhão
Afetuoso Afetivo Afetivo afetuoso Carinhoso
Cauteloso Cautela Cauteloso cauteloso cauteloso
cético Descrição incrédulo Descrição Cético
Chateado chateado Chateado chateado chateado
horrorizado choque chocado Chocado Chocado
Ciúmes Ciúmes Ciúmes cimento cimento
Confiante Confiança Confiante Confiante Confiante
Reconfortante console Consolador Consolador Consolador
Envergonhado envergonhado Envergonhado Constrangido Constrangido
Contemplativo pensativo Contemplativo contemplativo contemplativo
Convencido Convencido Exibido condenado Convencido
Culpado Culpa Culpado Culpado Culpado
Curioso curiosidade Curioso curioso curioso
Decepcionado Decepcionado Frustrado Decepcionado Decepcionado
Decisivo decisivo Decisivo ''Decisivo'' decidido
Depressivo depressão Depressivo Deprimido depressivo
desafiador Desafiador Desafiador Desafiador Desafiador
desanimado Desencorajado desanimado Desanimado Desanimado
desconfiado Desconfiança Suspeito Desconfiado Desconfiado
Duvidoso Dúvida Duvidoso Duvidoso Descrição
Desejo desejo Wisher Com desejo Desejosa
Divertido Diversão Engraçado Divertido Divertido
Dominante dominante Autoritário Dominador Dominador
encorajando Encorajador encorajando Encorajador Encorajador
reconfortante Encorajador Encorajado Tranquilizador Encorajador
Entediado Tédio Entediado Entediado Entediado
Excitado Animação Entusiasmado Entusiasmado Entusiasmado
Envergonhado envergonhado Envergonhado envergonhado envergonhado
fantasiando Fantasia fantasiando fantástico fantástico
Grato Gratidão Grato Grato Grato
Aterrorizado Terror Horrorizado Horrorizado Horrorizado
Hostil hostilidade Hostil Hostil Hostil
Considerado pensativo imaginativo imaginativo imaginativo
Impaciente Impaciência Impaciente impaciente impaciente
provisório Cautela Cauteloso Incerto Incerto
Incrédulo Incrédulo incrédulo Incrédulo Incrédulo
Indeciso indecisão Duvidoso indeciso indeciso
Indiferente Indiferença Indiferente indiferente indiferente
insistindo insistente Insistente insistente insistente
Interessado interesse Interessado Interessado Interessado
intrigado intrigado Curioso intrigado intrigado
Incomodado Irritação Nervoso irritado irritado
Irritado Irritação Nervoso irritado irritado
Nervoso Nervosismo Nervoso nervoso nervoso
Paquerador Flerte observador paquerador paquerador
Pensativo pensativo Considerado pensativo pensativo
Desnorteado Perplexo Perplexo Perplexo Perplexo
Preocupado Preocupação Preocupado Preocupado Preocupado
Preocupado Preocupado Preocupado Preocupado Preocupado

Continua na próxima página

Rev Bras Psiquiatr. 2013;00(0)

 B Sanvicente-Vieira et al.

tabela 1Contínuo
Original Versão 1 retrotradução Versão 2 Versão final

odioso Raiva Louco Raivoso Raivoso

reflexivo Reflexivo reflexivo Reflexivo Reflexivo
relaxado relaxado relaxado relaxado relaxado
Sarcástico ironia Irônico irônico Sarcástico
Contente Satisfação Satisfeito Satisfeito Satisfeito
Sério Seriedade Sério sério sério
simpático Solidário simpático Solidário Solidário
implorando Implorando Súplica suplicante suplicante
Suspeito Desconfiança Suspeito suspeito suspeito
Tímido Tı́mido Tímido Tı́mido Tı́mido
Confuso confusão Bagunçado confuso Transtornado
Brincalhão Brincadeira Palhaço piadista Travesso
As palavras originais são materiais protegidos por direitos autorais de propriedade da John Wiley & Sons, Inc.18

Discussão e adaptação do teste. Além disso, foram feitas adaptações

adicionais no instrumento para permitir sua administração por
Este projeto buscou construir uma versão brasileira do RMET, meio de recursos computacionais. Aqui, os métodos traduzidos
seguindo as etapas metodológicas recomendadas. Todos os foram atualizados e um esforço foi feito para seguir as
procedimentos foram concluídos com sucesso, resultando em uma diretrizes de tradução27e recomendações ARC (piloto em
versão brasileira final do RMET revisado. Acrescenta um método execução), para manter as propriedades do teste.
avançado à pesquisa de cognição social.29-31Assim, a principal Conforme observado acima, nossa adaptação do RMET
contribuição deste artigo é adicionar critérios para a tradução empregou métodos computadorizados. Ressaltamos que o uso de

mesa 2 Frequência de opção de item no estudo piloto (n=10)

Item Opções (% vezes selecionadas)

Treinamento cimento - apavorado (100) Arrogante - Raivoso -

1 Brincalhão (80) Consolador (10) irritado - Entediado (10)
2 Horrorizado (10) chateado (90) Arrogante - irritado -
3 Brincalhão (10) Incomodado (10) Desejoso (70) Convencido (10)
4 Brincalhão (10) insistente (70) Divertido - relaxado (20)
5 irritado - Sarcástico - Preocupado (100) Amigável -
6 Chocado (10) fantástico (70) impaciente (10) alarmado (10)
7 arrependido - relaxado (10) Apreensivo (90) Desanimado -
8 abatido (80) aliviado - Tı́mido (20) Entusiasmado -
9 irritado - Hostil - aliviado (10) Preocupado (90)
10 cauteloso (70) insistente (10) Entediado - Chocado (20)
11 Horrorizado (10) Divertido - arrependido (80) paquerador (10)
12 indiferente (20) Constrangido - Cético (60) Desencorajado (20)
13 decidido - Aflito (90) Hostil (10) Tı́mido -
14 irritado (10) Decepcionado - depressivo - Acusador (90)
15 contemplativo (100) Afobado - Encorajador - Divertido -
16 irritado - pensativo (100) Encorajador - Solidário -
17 Descrição (70) afetuoso (20) Brincalhão - Chocado (10)
18 decidido (90) Divertido - Chocado - Entediado (10)
19 Arrogante (10) Grato (10) Sarcástico - Incerto (80) -
20 Dominador (10) Amigável (90) Culpado - Horrorizado -
21 Constrangido - fantástico (90) Transtornado (10) apavorado -
22 Preocupado (90) Grato - insistente - suplicante (10)
23 Satisfeito (20) arrependido (20) Desafiador (60) curioso -
24 pensativo (100) irritado - Entusiasmado - Hostil -
25 apavorado (10) Incrédulo (10) abatido - Interessado (80)
26 alarmado - Tı́mido (10) Hostil (80) Ansioso (10)
27 Brincalhão (10) cauteloso (70) Arrogante (10) Encorajador (10)
28 Interessado (90) Brincalhão (10) Carinhoso - Satisfeito -
29 impaciente (10) Chocado - irritado - Reflexivo (90)
30 Grato - paquerador (90) Hostil (10) Decepcionado -
31 envergonhado - Confiante (80) Brincalhão (10) Desencorajado (10)
32 sério (80) envergonhado - Perplexo - alarmado (20)
33 envergonhado (20) Culpado (10) fantástico - Preocupado (70)
34 Chocado - Transtornado (10) Desconfiado (90) Aterrorizado -
35 intrigado (10) nervoso (90) insistente - contemplativo -
36 envergonhado - nervoso - suspeito (90) indeciso (10)
Porcentagem de opções indicadas entre parênteses; palavras em negrito referem-se às opções corretas de cada item; ''-'' significa que nenhum dos participantes escolheu a
opção correspondente.

Rev Bras Psiquiatr. 2013;00(0)


os computadores nos permitiram obter resultados mais precisos,
além de outros resultados (por exemplo, tempo de reação, tempo
de resposta, viés). A avaliação computadorizada também é um
método avançado em estudos de neuroimagem que investigam o
funcionamento da ToM.32,33No entanto, o teste também pode ser
aplicado com papel e lápis, pois o desenvolvimento desta versão
brasileira foi baseado em procedimentos padronizados para
tradução de instrumentos e escalas,27
incluindo métodos adicionais de adaptação linguística.
A versão brasileira revisada do RMET possui 36 itens mais
o item treinamento, preservando o formato da versão
original em inglês. As instruções para administração são
acessíveis a qualquer profissional de saúde treinado e
consistem em um glossário, que inclui todas as palavras
utilizadas no teste. Após a apresentação do glossário, o
avaliador orienta sobre o que deve ser respondido e a
necessidade de raciocinar com precisão sobre o estado
mental representado pelos olhos em cada foto. Uma
resposta de quatro opções é apresentada junto com a
imagem. Neste estudo, as respostas foram dadas por
mouse response, embora o método de resposta possa ser
adaptado às necessidades do investigador.
A apresentação do glossário buscou diminuir o viés de
limitação de vocabulário nos resultados do teste. As palavras
no glossário são acompanhadas por seus significados, bem
como sinônimos e exemplos fornecidos como declarações (o
glossário está disponível com os autores mediante solicitação).
No glossário, adaptamos algumas afirmações (por exemplo,
nomes de personagens) para corresponder à realidade
brasileira. Nosso glossário contém apenas as palavras que
usamos, omitindo traduções duplicadas, como ''aborrecido'' e
''irritado'' (ambos traduzidos como a palavra em português
''irritado'' na versão final).
Todas as etapas seguidas em nossa adaptação visaram alcançar
o significado mais adequado para as palavras traduzidas para
garantir o ajuste adequado à imagem correspondente. Além disso,
procurou-se evitar palavras conflitantes que pudessem confundir os
entrevistados; o estudo piloto foi realizado para identificar tais
casos. Em tais situações, os autores tiveram que realizar uma
análise teórica dos resultados mistos. Estas análises seguiram
sempre a procura de emoções com valência semelhante (por
exemplo, ''preocupado'' e ''nervoso'', ambas referentes a estados de
ansiedade).
Durante a tradução, surgiram limitações porque as faixas
de sinônimos são diferentes em diferentes idiomas e, em
alguns casos, por incompatibilidade entre as classes
gramaticais das palavras. Algumas das palavras originais,
fora de contexto, poderiam ser consideradas substantivos
ou mesmo verbos em português (por exemplo,
''reconfortante'' e ''decepcionado''). A primeira tradução
cometeu esse tipo de erro, que foi detectado logo no início
da retrotradução e evitado na versão final. Essa observação
revelou a necessidade de restringir as opções aos adjetivos.
Essa recomendação foi totalmente acatada, pois a tarefa
consistia em definir corretamente as emoções retratadas
nas fotos, adjetivando assim os olhos em cada foto.
O teste de aceitabilidade apresentado neste estudo recria
o artigo original de Baron-Cohen et al.,19onde o
respondente pode escolher entre duas opções para
descrever a expressão na imagem. No presente estudo, o
RMET Português do Brasil
o respondente tem tempo ilimitado para responder a cada item
do teste de aceitabilidade, enquanto no trabalho original as
imagens eram exibidas por 3 segundos, após o que
desapareciam e o participante era obrigado a escolher entre as
duas opções. O tempo de resposta infinito foi escolhido nessa
fase da adaptação porque o participante precisa utilizar outros
recursos, como memória de trabalho e atenção, para dar uma
resposta correta; portanto, limitar o tempo de resposta a 3
segundos é restritivo. Como a imagem deve permanecer na
mente enquanto o participante seleciona uma opção,34os
resultados podem ser tendenciosos. Os autores queriam evitar
qualquer viés potencial (especialmente porque foi feito em um
ambiente de teste de aceitabilidade) diminuindo as
interferências de outros processos cognitivos, pois pesquisas
anteriores já encontraram relações significativas entre funções
cognitivas complexas e ToM.20
Tendo detalhado os pontos fortes da metodologia deste
estudo, algumas limitações de relevância para a
interpretação deste trabalho devem agora ser apontadas. A
amostra apresentou alto nível de escolaridade, o que não é
representativo da realidade brasileira. Portanto, a
possibilidade de desconhecimento de algumas expressões
deve ser considerada, embora o glossário tenha procurado
minimizar esse efeito. Deve-se ter cuidado ao interpretar os
resultados devido à falta de uma avaliação da retrotradução
por um profissional de saúde falante nativo de inglês. No
entanto, um falante nativo de inglês ajustou a tradução
para fazer as correções necessárias, o que ajudou a
melhorar o controle linguístico dos estímulos.
Em conclusão, estudos futuros devem ter como objetivo
validar o REMT na população brasileira. Além disso, fotos de
brasileiros devem ser utilizadas no teste, pois efeitos de
familiaridade impulsionados pela cultura já foram registrados
em pesquisas anteriores.26A validação deve ser realizada em
amostras maiores, juntamente com amostras clínicas que
sabidamente refletem deficiências de ToM (por exemplo,
autismo, esquizofrenia), de modo a comparar os resultados do
RMET brasileiro com aqueles observados em dados
estrangeiros. Após a validação, a triagem ToM pode ser
adicionada às avaliações clínicas neuropsicológicas. O RMET
Brasileiro Revisado é uma versão de um método estabelecido,
elegante e sofisticado para avaliação da cognição social. Este
tema, negligenciado na maioria dos estudos psiquiátricos que
enfocam a cognição realizados em nosso meio, é uma exceção
aos trabalhos teóricos35e comentários.36
Além disso, tanto quanto sabemos, existe um trabalho de Jou e
Sperb,37que desenvolveu um instrumento (usando o paradigma
da falsa crença) para a avaliação de crianças. Além disso, uma
tradução de testes de falsas crenças foi recentemente realizada
por nosso próprio grupo.38
Finalmente, considerando pesquisas futuras, os instrumentos
ToM devem continuar sendo desenvolvidos e adaptados à realidade
brasileira para permitir uma compreensão mais profunda das
percepções errôneas sobre o ambiente social e sua relação com os
sintomas. Instrumentos que abordam outras teorias além da ToM
também devem ser considerados, bem como tarefas que avaliam
outras habilidades cognitivas sociais, como reconhecimento de
emoções, atribuição de valor social e regras sociais. Nesse sentido,
um instrumento comum em pesquisas recentes, mas ainda não
adaptado para o português,
Rev Bras Psiquiatr. 2013;00(0)
 B Sanvicente-Vieira et al.
é o Teste de Consciência de Inferência Social Revisado (TASIT).
Este teste tem excelente validade ecológica e compreende
questões visuais, verbais e não verbais, que outras tarefas/
testes não conseguem investigar.39O TASIT tem três partes, a
terceira das quais é considerada para avaliar o ToM por meio
de apresentações em vídeo. O avanço contínuo dos métodos de
avaliação da cognição social é necessário para lançar novas
perspectivas, cada vez mais consideradas como cruciais para as
mudanças na psiquiatria e, consequentemente, para o
aprimoramento dos tratamentos farmacológicos e não
farmacológicos e até mesmo das estratégias de prevenção dos
transtornos mentais.40
Reconhecimentos
Os autores gostariam de agradecer ao Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal
de Nível Superior (CAPES) pelo apoio.
Divulgação
Os autores informam que não há conflitos de interesse.
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