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Neuropsicologia da

linguagem
Prof Jéssica Queiroga
Introdução
A neuropsicologia da linguagem é uma área ampla que investiga as bases
neurobiológicas da linguagem:

• A aquisição da linguagem;
• O processamento cognitivo-linguístico (oral e escrito);
• Os déficits linguísticos, adquiridos ou do desenvolvimento;
• A avaliação; e a reabilitação
Introdução
1. A linguagem é uma habilidade cognitiva bastante complexa, importante para
a socialização e a comunicação humana.

2. Portanto, os distúrbios de linguagem adquiridos geralmente interferem de


forma significativa nas habilidades comunicativas, sociais, laborais e de
(re)integração a sociedade.
Introdução

“compreensão” receptiva e de
decodificação do input linguístico
(“compreensão verbal”), inclui
audição e leitura
A linguagem manifesta- se na forma de

Codificação expressiva e produção,


que inclui fala, escrita e sinalização
Componentes da linguagem

Refere-se ao significado das palavras ou


Semântico
ideias veiculadas

Compreende a natureza física da produção e da


Fonético percepção dos sons da fala humana.

Fonológico Corresponde os sons da fala (fonemas)

Diz respeito às unidades de significado – palavras ou


Morfológico partes de uma palavra.
Componentes da linguagem

envolve compreensão e produção de


Lexical
palavras

Refere-se às regras de estrutura das frases, às


Sintático funções e às relações das palavras em uma oração.

Compreende o modo como a linguagem é usada e


interpretada, considerando as características do
Pragmático falante e do ouvinte, bem como os efeitos
de variáveis situacionais e contextuais

Integra a habilidade de reconhecer, compreender e


produzir significado afetivo ou semântico com base
Prosódico na entonação, na ênfase e em padrões rítmicos
Introdução
Uma vez que a linguagem envolve
todos esses níveis, os modelos de
processamento abordam desde o
reconhecimento e a produção de
palavras até a compreensão e
expressão do discurso na
modalidade oral e escrita.
Afasias
Entre as alterações adquiridas de linguagem, as afasias são as mais estudadas. A
afasia é definida como a perda ou a deficiência da linguagem expressiva e/ou
receptiva, provocada por um dano cerebral, geralmente no HE.

Além disso, outros processos cognitivos relacionados a linguagem, como


memoria, categorização, atenção e funções executivas, podem estar
prejudicados
Afasias
O diagnostico de afasia e realizado a partir do desempenho do paciente em
tarefas de linguagem oral e escrita que avaliam compreensão, expressão,
nomeação e repetição nos níveis da palavra, da sentença e do discurso.

O prognostico da afasia depende da gravidade inicial dessa manifestação


clinica, da extensão e do local da lesão cerebral
Afasias

Afasias fluentes são caracterizadas por fala fluente e articulação relativamente


normal, mas dificuldades em compreensão verbal e repetição e presença de
parafasias.

Nas afasias não fluentes, a compreensão verbal está relativamente preservada,


mas ha problemas na produção da linguagem e articulação
Tipos de afasias
01 02 03 04
Broca Global Transcortical mista
Transcortical motora

05 06 07 08
Sensorial
Wernicke Condução Anômica
transcortical

Legenda: Não fluente/ Fluente


Afasia de Broca
É caracterizada pela emissão de fala não fluente, mal-articulada e agramática
(tanto o discurso espontâneo quanto a repetição), com uma compreensão de
palavras relativamente preservada.

Frequentemente, coocorrem dificuldades na associação fonema-grafema na


leitura e na escrita de palavras não familiares e maior dificuldade em nomear
verbos do que substantivos, dificuldades essas que não podem ser explicadas
por um único déficit subjacente.

*O fonema é a unidade sonora que usamos para formar e diferenciar palavras, enquanto o grafema é a
representação gráfica do fonema, ou seja, a escrita.
Afasia de Broca
Nas afasias de Broca, apesar do déficit de expressão da linguagem ser mais
preponderante, ha também dificuldades na compreensão de sentenças, que
podem estar relacionadas aos processos léxico-semânticos

* Processamento léxico-semântico : relações com reconhecimento visual de palavras e


compreensão de leitura textual.
Afasia transcortical motora
A afasia transcortical motora É identificada nos pacientes que apresentam
melhor desempenho na repetição de sentenças do que na linguagem
espontânea.

Geralmente, a fala e lenta, com pouca iniciativa, estando a compreensão


preservada. A leitura pode apresentar pouco ou nenhum déficit, enquanto à
escrita mostra-se lentificada, tal como a fala.

Lembra afasia de Broca em sua fluência verbal diminuída, mas difere na capacidade
normal de repetição
Afasia transcortical motora
Os pacientes apresentam o estranho quadro de esforço para pronunciar as
palavras na conversação espontânea, mas de dizer facilmente as mesmas
palavras por repetição.

Aparentemente, a linguagem do indivíduo é estritamente normal, mas não a


pode utilizar de forma espontânea. As pessoas com afasia motora transcortical
não podem dizer o que querem dizer porque não conseguem formar as palavras.
Afasia transcortical mista
Maiores dificuldades em compreender sentenças e em nomeação, mas com
preservada capacidade de repetição. A expressão da linguagem mostra-se
prejudicada, sendo comuns as estereotipias e a ecolalia. As habilidades de
leitura e escrita mostram-se deficitárias
Afasia global
A fala espontânea consiste em estereotipias e persevera coes, em que a
compreensão mostra-se severamente prejudicada, podendo ser compreendidos
apenas comandos simples. Além disso, a repetição mostra-se comprometida,
embora algumas palavras possam ser corretamente repetidas

A afasia global é um dos mais graves quadros afásicos, havendo prejuízo severo
na expressão e na compreensão da linguagem, tanto oral quanto escrita
Afasia de Wernicke
caracteriza-se por linguagem expressiva espontânea e repetição fluentes, mas
desprovidas de sentido (jargão), além de comprometimento da compreensão de
palavras, sentenças e conversação.

Os prejuízos na compreensão da linguagem parecem refletir inabilidade de


acessar, usar ou manipular informações semânticas, mais do que uma perda nas
representações semânticas das palavras

Frequentemente, a produção escrita é semelhante a oral, e a compreensão de


leitura encontra--se preservada em grau semelhante a oral.
Afasia de condução
A afasia de condução é reconhecida por linguagem espontânea relativamente
fluente, adequada compreensão, mas dificuldade na repetição, que pode ser
observada de modo inconsistente.

Os pacientes com afasia de condução são geralmente conscientes de seus


problemas de fala, o que muitas vezes leva-os a repetitivas autocorreções
Afasia anômica
Na afasia anomia, a linguagem expressiva mostra-se fluente, com adequadas
compreensão, repetição e articulação, mas dificuldade na evocação lexical, que
ocorre geralmente na linguagem espontânea, e que pode ser menos evidente na
denominação por confrontação visual

Os afásicos com anomias não conseguem acessar a informação fonológica e/ou


ortográfica da palavra, apesar de acesso semântico intacto.

A escrita mostra-se semelhante a linguagem oral, com erros do tipo paragrafia,


enquanto a habilidade de leitura parece estar adequada
Afasia sensorial transcortical
mostram discurso fluente, com dificuldade na compreensão, sendo observadas
as parafasias semânticas, dificuldades em encontrar palavras (anomias) e
circunlóquios.

A repetição mostra-se preservada, podendo, as vezes, ocorrer perseverações. A


nomeação e a leitura de palavras são adequadas, embora o paciente possa não
compreender o que leu.
Avaliação da linguagem
A avaliação neuropsicológica da linguagem deve permitir a compreensão dos
déficits, em termos de manifestações superficiais, causas subjacentes e
componentes afetados, além de mostrar as potencialidades em todos os níveis
de descrição (funções linguísticas, atividades comunicativas e questões
psicossociais)

A avaliação deve ser direcionada pelas hipóteses formadas na observação,


sendo, portanto, um processo cíclico, em continua revisão de hipóteses, ate
fornecer bases suficientes para a reabilitação
Avaliação da linguagem
Na entrevista, é importante investigar hábitos de leitura e de escrita para além
do nível de escolaridade, buscando informações sobre fatores individuais e
socioculturais que podem impactar na comunicação.

As tarefas selecionadas para avaliar a linguagem oral e escrita geralmente


envolvem expressão (linguagem espontânea, linguagem automática, nomeação,
repetição) e compreensão, nos níveis de palavras, frases e discurso.
Conclusão
No Brasil, ainda há a necessidade de construir e/ou adaptar instrumentos que
avaliem a linguagem de forma ampla e completa, incluindo avaliações formais
e também ecológicas, para contribuir com o diagnóstico das afasias e outros
distúrbios de linguagem e propor melhores estratégias de reabilitação
neuropsicológica para os pacientes.

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