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Neuropsicologia das

funções executivas e da
atenção
Profª Jéssica Queiroga
Funções executivas
Um conjunto de habilidades que, de forma integrada, permitem ao indivíduo direcionar
comportamentos a metas, avaliar a eficiência e a adequação desses comportamentos, abandonar
estratégias ineficazes em prol de outras mais eficientes e, desse modo, resolver problemas imediatos,
de médio e de longo prazo.

Essas funções são requisitadas sempre que se formulam planos de ação e que uma sequência
apropriada de respostas deve ser selecionada e esquematizada
Funções executivas
Para a realização bem-sucedida de diversas tarefas cotidianas, o indivíduo deve identificar
claramente seu objetivo final e traçar um plano de metas dentro de uma organização hierárquica
que facilite sua consecução. Em seguida, deve executar os passos planejados, avaliando
constantemente o sucesso de cada um deles, corrigindo aqueles que não foram bem-sucedidos e
adotando novas estratégias quando necessário.

Ao mesmo tempo, o sujeito deve manter o foco da atenção na tarefa que está realizando,
monitorar sua atenção e integrar temporalmente os passos que já foram realizados, bem como
aquele que está sendo executado e os seguintes
Modelos teóricos

Construto Componentes
Se as funções executivas são um Quais são os componentes das funções
construto único ou vários construtos executivas
paralelos e integrados
Modelos teóricos
Vários modelos teóricos sustentam a proposta de que as funções executivas correspondem a um
construto único, ex.: divisões funcionais de Luria.

Outros autores consideram que as funções executivas compreendem diversos processos


relativamente independentes, os quais interagem entre si em uma estrutura hierárquica ou
simplesmente paralela. Seriam, dessa forma, uma espécie de guarda-chuva que abarca diversos
processos, como memória operacional (ou memória de trabalho), planejamento, solução de
problemas, tomada de decisão, controle inibitório, fluência, flexibilidade cognitiva e
categorização.
Modelos teóricos
Lezak, Howieson,
01 Barkley (2001) 02 Bigler e Tranel (2012)
Múltiplos processos executivos
operando de forma hierarquizada e Sugerem a existência de um processo
sequencial composto por etapas sucessivas e
interdependentes
Bechara e Van Der
03 Zelazo e Müller (2002)
Linden (2005)
circuitos cerebrais a elas
04 Funções executivas quentes e frias
relacionados.

05 Miyake e colaboradores (2000)


memória operacional, inibição e flexibilidade cognitiva
01
AS FUNÇÕES
EXECUTIVAS NO
CICLO DA VIDA
Em termos filogenéticos, as funções
executivas atingiram seu ápice em
nossa espécie.

O desenvolvimento das funções


executivas é um importante marco
adaptativo na espécie humana.
Considerando o desenvolvimento
ontogenético, as funções executivas
atingem sua maturidade mais
tardiamente se comparadas às demais
funções cognitivas.
Funções executivas
Inicia-se no 1º ano de
vida

Ápice entre 6 e 8 anos

É possível identificar
comprometimentos nesse progresso
em bebês de 9 meses
Final da adolescência e
início da vida aulta
Funções executivas

O desenvolvimento inicial das funções executivas é de crucial importância para a adaptação social,
ocupacional e mesmo para a saúde mental em etapas posteriores da vida.

Embora não tenham tanto valor do ponto de vista de diferenciar síndromes neuropsiquiátricas
entre si, são cruciais para determinar o risco de aparecimento de vários transtornos infantis.
Funções executivas
Embora as disfunções executivas não sejam condições necessárias (ou suficientes) para o
surgimento de psicopatologias como o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e o
autismo, a presença inicial de disfunção executiva aumentaria o risco para a configuração do
transtorno (e até mesmo para aumento de sua gravidade) na medida em que ela diminui

1. a possibilidade de reorganização dos sistemas neurais compensatórios e

2. 2. a capacidade de lidar com as adversidades em situações cotidianas

O desenvolvimento inicial de algumas funções executivas parece estar diretamente relacionado ao


sucesso em diversas áreas da vida.
Funções executivas
Após sua maturação ao final da adolescência, as funções executivas passam por um período de
relativa estabilidade durante a idade adulta, tendendo a diminuir a eficiência de forma natural ao
longo do processo de envelhecimento.

Por volta dos 50 anos, já pode ser observado um declínio sutil no desempenho de funções como
categorização, organização, planejamento, solução de problemas e memória de trabalho.

Outras funções executivas, como a tomada de decisão afetiva e a teoria da mente, obedecem
padrão semelhante, porém seu declínio ocorre um pouco mais tarde
02
NEUROBIOLOGIA DAS
FUNÇÕES
EXECUTIVAS
As funções executivas seriam
totalmente mediadas pelo lobo
frontal.

As funções executivas (ou funções do


lobo frontal) atuam como uma espécie
de diretor executivo do
funcionamento da atividade mental
humana.
Circuitos Frontais
Seu
comprometimento esta geralmente
associado a comportamentos de
risco e alterações da
personalidade

Circuito Circuito do cíngulo


Circuito orbitofrontal
dorsolateral anterior
Um comprometimento causa Esse circuito e importante
dificuldade em recuperar Esse circuito tem sido associado a para a motivação, a
livremente um determinado aspectos do comportamento social, monitoração de
material aprendido. como comportamentos, o controle
empatia, cumprimento de regras executivo da atenção, a
sociais, seleção e o controle de
controle inibitório e auto monitoração.
respostas.
03
Baterias específicas para
avaliação das funções
executivas
Baterias
Existem baterias especificas para a avaliação das funções executivas, como a Behavioral
Assessment of the Dysexecutive Syndrome (BADS) e o Dellis-Kaplan Executive Functions
System (D-KEFS).

Nas avaliações neuropsicológicas, é comum o uso de vários instrumentos que avaliam funções
executivas agrupados em baterias flexíveis.

É importante salientar que a avaliação neuropsicológica das funções executivas envolve a


aplicação de diversos testes e escalas, os quais fornecem informações sobre diferentes
componentes desse grupo de processos cognitivos.
Baterias
Controle Tomada de
Planejamento
Inibitório Decisão

Flexibilidade Memória
Categorização
Cognitiva Operacional

Fluência
Planejamento

O planejamento consiste na capacidade de, a partir de um objetivo definido, estabelecer


a melhor maneira de alcançá-lo, levando em consideração a hierarquização de passos e a utilização de
instrumentos necessários para a conquista da meta.

Existem vários instrumentos destinados à avaliação das habilidades de planejamento, como os testes das torres
(p. ex., Torre de Londres e Torre de Hanói) e o teste dos labirintos.
Planejamento

Torre de Londres
Planejamento

Torre de Hanoí
Controle Inibitório

O controle inibitório consiste na capacidade de inibir respostas prepotentes (para as quais o


indivíduo apresenta uma forte tendência) ou reações a estímulos distratores que interrompam o
curso eficaz de uma ação, bem como interromper respostas que estejam em curso (Barkley, 2001).

Dificuldades relacionadas ao controle inibitório são geralmente associadas à impulsividade.


Controle Inibitório

Existem diversas provas neuropsicológicas que avaliam o controle inibitório, como os paradigmas
que utilizam o efeito Stroop. Nele se observa a dificuldade de processar informações simultâneas
com significado conflitante, mesmo quando uma dessas informações não é relevante para a tarefa.

O teste de Stroop, além de ser uma importante medida de controle inibitório, também é uma
medida de atenção seletiva

Tarefa - Efeito Stroop


Tomada de Decisão
A tomada de decisão e um processo que envolve a escolha de uma entre varias alternativas em
situações que incluam algum nível de incerteza(risco).

Nesse processo, o sujeito deve analisar as alternativas considerando diversos elementos, como
análise custo/benefício (considerado as repercussões da decisão em curto, médio e longo
prazo), aspectos sociais e morais (repercussão da decisão para si e para outras pessoas) e
autoconsciência (possibilidades pessoais para arcar com a escolha).

Durante o processo de tomada de decisão, outros processos cognitivos são envolvidos, como
memória de trabalho, flexibilidade cognitiva, controle inibitório e planejamento.
Tomada de Decisão

Diversas patologias neurológicas e psiquiátricas têm sido estudadas a partir desse paradigma.

Um padrão de escolhas desvantajosas (que leva a ganhos imediatos e perdas expressivas de


longo prazo) tem sido associado a um padrão específico de impulsividade, referido por
Bechara como “impulsividade cognitiva” ou por não planejamento, que reflete inabilidade em
planejar as ações tendo como referência suas consequências de curto, médio e longo prazo.
Flexibilidade Cognitiva

A flexibilidade cognitiva implica a


capacidade de mudar (alternar) o curso de
ações/ pensamentos de acordo com as
exigências do ambiente.

Ex.: Teste das Trilhas e o Teste de Seleção


de cartas de Winsconsin
Flexibilidade Cognitiva

Teste das Trilhas

O aumento da quantidade de tempo gasto


na parte B e de erros cometidos nessa
etapa do teste são indicativos de
inflexibilidade cognitiva.
Memória Operacional
A memória operacional é um sistema temporário de armazenamento de informações que
permite a monitoração e o manejo desses dados.

Esse componente das funções executivas é responsável por manter ativado um delimitado
volume de informações durante um determinado período de tempo, fornecendo, inclusive,
base para outros processos cognitivos.

Exemplo, a resolução mental de contas matemáticas ou a manutenção temporária de um


número do telefone para em seguida efetuar uma ligação.

As provas de repeticao de digitos (p. ex., das escalas Wechsler de Inteligencia)


Categorização

Um processo pelo qual agrupamos elementos que compartilham determinadas propriedades


(p. ex., banana e maçã categorizadas como frutas).

Essa habilidade está relacionada a formação de conceitos, raciocínio dedutivo, indutivo e


abstração.
Fluência

A fluência consiste na capacidade de emitir comportamentos (verbais e/ou não verbais) em sequência,
obedecendo a regras preestabelecidas, sejam estas explícitas ou implícitas.

A avaliação da fluência envolve provas verbais e não verbais. Entre os testes de fluência verbal, existem os
que avaliam o componente semântico e os que avaliam o componente fonológico.
Conclusão

As funções executivas consistem em um grupo de habilidades crucial para a adaptação do


indivíduo às rotinas do cotidiano, sendo também a base para o desenvolvimento de novas
habilidades.

Delas dependem o convívio social e o desempenho ocupacional competente. Déficits


nessas funções podem ser observados em diversas patologias neurológicas e psiquiátricas,
como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade, transtorno obsessivo-compulsivo,
esquizofrenia, demências
Conclusão

O comprometimento das funções executivas e também o principal fator cognitivo relacionado


a perda de autonomia e funcionalidade em pacientes de diferentes síndromes.

Os déficits nas funções executivas têm sido referidos com o termo “síndrome disexecutiva”
e geralmente ocorrem como consequência de um comprometimento envolvendo o córtex pré-
frontal ou os circuitos a ele relacionados
Conclusão
Pacientes com a síndrome disexecutiva costumam apresentar dificuldades no processo de
tomada de decisão traçando metas irrealistas e sem prever as consequências de suas atitudes
em longo prazo, passam a tentar solucionar seus problemas pelo método de tentativa e erro,
apresentam dificuldades em controlar os impulsos e tornam-se distraídos e insensíveis as
consequências de seus comportamentos.

As alterações do humor são frequentes e podem se traduzir por quadros de apatia, sintomas
depressivos, euforia e afeto descontextualizado. A síndrome disexecutiva não abriga,
necessariamente, todos esses sintomas ao mesmo tempo, sendo que sua apresentação clinica
depende de quais circuitos pré-frontais foram danificados.
Conclusão

Assim, compreender o funcionamento desse grupo de funções altamente especializadas é de


crucial importância para o desenvolvimento de estratégias de avaliação, estimulação,
habilitação e reabilitação.

Tais intervenções poderão ser destinadas tanto a casos de déficits do funcionamento anormal
do sistema nervoso como à estimulação em populações não clínicas
Obrigada
Profª Jéssica Queiroga de Oliveira

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