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FUNDAMENTOS DA
NEUROPSICOPEDAGOGIA
CONTEXTUALIZANDO
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vida. Contudo, em contraste com aquelas crianças que já aos 4 anos conseguiram
inibir seus impulsos, sabe-se que, em geral, as funções executivas e suas
estruturas neurológicas amadurecem lentamente, ou seja, o curso natural do seu
desenvolvimento relaciona-se mais àquelas crianças que não conseguiram inibir
os impulsos. Em complemento, sabe-se também que o desenvolvimento e a
maturação dessas funções estão diretamente relacionados à interação com o
meio ambiente, ou seja, os fatores socioambientais poderão favorecer ou
prejudicar o desenvolvimento das funções executivas, evidenciando a crucial
importância da educação para o desenvolvimento integral das crianças, jovens e
adultos.
Mas estaria a escola desenvolvida para estimular esse desenvolvimento?
Qual a sua opinião sobre isso?
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durante toda a realização da tarefa e esse armazenamento temporário
deve ficar protegido do efeito de distratores1, p.115.
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2.2 Em busca de uma síntese
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inibitório1,11. Mas, para outros autores, aparece como elemento distinto,
relacionado as funções executivas mas não fazendo parte delas 3,8.
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Figura 1 – Córtex pré-frontal orbitofrontal e dorsolateral
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avaliadas, para que intervenções possam corrigi-las. As dificuldades de avaliação
são imensas, dada a complexidade do que se avalia, a imaturidade do
conhecimento teórico sobre as funções executivas e ainda, em fases mais tenras,
como na idade pré-escolar ou na infância, há uma multiplicidade de variáveis
intervenientes, como o grau de maturidade neurológica, a variabilidade típica
dessas fases e a forte influência psicossocial, que inclui processos educativos
inapropriados ou ineficazes. Informações adicionais podem ser obtidas nas
seguintes referências 1, 3, 4, 6, 7, 8, 10 e 11, listadas ao final do texto.
Pode-se afirmar que o exame ou avaliação neuropsicológica baseia-se em
três elementos: a) entrevista clínica, b) avaliação comportamental/funcional e c)
as escalas ou testes neuropsicológicos (4).
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encefálico e traumatismo craniano encefálico) e e) avaliação da relação dos
sintomas e os diferentes contextos onde se manifestam bem como o impacto dos
mesmos sobre a vida do paciente3, p.96-97.
É importante que a entrevista seja desenvolvida com o paciente e seus
familiares em conjunto. Ela também permite a observação do comportamento do
paciente na sala de espera do consultório. O comportamento não verbal do
paciente precisa ser considerado seriamente, visto que pode mostrar situações
importantes, não verbalizadas4,5,10,12. Várias questões precisam ser consideradas
na entrevista, conforme pode ser visto em Malloy-Diniz e colaboradores4, p.55-58.
Durante a entrevista alguns aspectos precisam ser observados no paciente:
nível de alerta, aparência, habilidades verbais, funcionamento sensorial e motor,
habilidades sociais, nível de ansiedade, padrão da fala, expressão emocional,
conteúdo do pensamento e memória4, p.27.
Informações dessa natureza devem também ser observadas nos familiares
do paciente e em particular na qualidade das suas relações. Conflitos familiares
podem gerar estresse e sintomas desexecutivos. Experiências clínicas sugerem
que 70% de quadros de depressão e demência não tem etiologia degenerativa, e
sim problemas emocionais, ligados a desentendimentos familiares, estresse por
problemas pessoais ou por outra doença. A avaliação nutricional também é
importante, visto que a deficiência vitamínica pode indicar algum problema (ex.
falta de vitamina B12 tem como sintomas de memória, falta de concentração).
Exames hormonais devem também ser considerados. Por exemplo, pacientes
com hipotireoidismo mostraram pior desempenho na flexibilidade cognitiva e na
capacidade de manter atenção sustentada.
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incluindo inteligência, idade e gênero. Para facilitar essa avaliação, um modelo de
sete elementos foi proposto por Malloy-Diniz3, p.103, apresentando os componentes
a serem avaliados, suas definições e questionamentos a serem feitos ao paciente.
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b. Impulsividade atencional – respostas descontextualizadas em decorrência
da falta de controle sobre a atenção – usualmente medida por provas que
requerem o controle e a sustentação da atenção ao longo do tempo.
Testes: CPT-II – Tarefa de performance contínua de Conners1,3 (erros por
omissão). Teste de seleção de cartas do Wisconsin (WCST) – falhas na
manutenção do cenário (seleção de cartas) 3,6. Teste das Trilhas8. Teste de
Stroop de cores e palavras1.
c. Impulsividade por não planejamento – respostas imediatistas sem a
reflexão de suas consequências futuras. Tal impulsividade se relaciona a
tomada de decisão, que se caracteriza pela escolha de uma entre várias
alternativas em situações quem inclui algum nível de risco e incerteza.
Alternativas devem ser avaliadas em seus diversos
elementos, considerando o custo-benefício, ou seja, as consequências de
tal decisão em curto, médio e longo prazo. Também aspectos sociais e
morais devem ser considerados, ou seja, a repercussão da decisão para si
e para as outras pessoas, e ainda, autoconsciência, ou seja, a reflexão
sobre as possibilidades pessoais de arcar com a escolha1,3,6,17.
Teste de jogar a dinheiro Iowa (Iowa Gambling Test – IGT)3,6,17.
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Media a percepção, a memória de longo prazo e as respostas ao meio
ambiente3.
Modelo cognitivo de Baddley e Hitch – 1974/2003 – composto por um
sistema executivo central que trabalha em conjunto com dois outros sistemas
escravos3, p.105.
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5.6 Categorização1,3
5.8 Atenção
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ativação de regiões subcorticais como o tronco encefálico, o tálamo e o
diencéfalo. 2) Orientação / processos atencionais automáticos - [...]
sistema relacionado ao direcionamento do foco atencional diante de
estímulos ambientais. Envolvem a modulação dos recursos sensoriais e
de processamento com relação ao estímulo-alvo, além do uso de
esquemas fortemente consolidados pelo organismo, como a leitura e a
contagem. Esse segundo aspecto da atenção é muito associado as
regiões posteriores do córtex cerebral, sobretudo os lobos occipitais e
parietais. Além disso, esse sistema apresenta também conexões com
regiões dos lobos frontais relacionadas aos movimentos oculares e
manuais e à linguagem expressiva. 3) Atenção executiva / processos
atencionais controlados - [...] envolvem recursos de natureza
executiva, permitindo ao sujeito a mudança voluntária de foco, a
manutenção do tono atencional e a resolução de conflitos atencionais
em situações que demandam inibição, flexibilidade e alternância. [...]
associados as regiões anteriores do sistema nervoso central, incluindo
porções anteriores do giro cíngulo1, p.133-134.
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5. Sustentação ou atenção controlada – é capacidade de manter um mesmo
padrão de consciência e um mesmo foco da atenção por um tempo
prolongado.
Testes: Testes para fluência verbal fonética (FAS) ou semântica; Teste de
trilhas; Testes de Stroop; CPT-II – Tarefa de performance contínua de Conners;
Tavis-3; Teste de atenção por cancelamento – TAC7,8,19
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cognitiva, visto que aprende e ensina a conviver com a diversidade, com a
pluralidade!
No que se refere à memória operacional ou de trabalho, praticamente
todas as atividades (em especial as escolares) a estimulam, visto que é
necessária para todas elas. A categorização é igualmente valorizada e
estimulada na escola, visto ser essencial a todas as formas de aprendizado. Em
parte, a fluência verbal e comportamental também o são, principalmente a
verbal, em detrimento da não verbal, que é mesmo valorizada, como as produções
gráficas e artísticas.
E o que poderíamos refletir sobre a atenção?
Por favor, preste muita atenção a este item, pois ele é bem importante!
Se você seguir essa sugestão e aumentar seu nível de atenção a este tema,
estará utilizando atenção executiva, aquela que é considerada
predominantemente voluntária e consciente (coordenada de cima para baixo),
ainda que também possa ser afetada por processos motivacionais ou emocionais
não conscientes. Então, à medida que o córtex pré-frontal das crianças vai
amadurecendo, elas se tornam mais capazes de dirigir e sustentar sua atenção
em estímulos relevantes, por meio da seleção e exclusão daqueles irrelevantes.
Em contrapartida, os outros dois níveis de atenção (alerta/vigília e
orientação/processos atencionais automáticos) funcionam de forma automática,
sem a intervenção da consciência. São definidos de baixo para cima, sendo
praticamente controlados por circunstâncias externas, que se constituem nos
métodos e recursos didáticos e o professor em si. Como atenção executiva
depende da maturidade cerebral, até que ela se consolide como a principal fonte
de controle atencional, virá de fora e será definida de forma não voluntária, não
consciente. Então, vemos a necessidade da forma de ensinar ser apropriada
(estímulo ambiental significativo e prazeroso) para atrair e manter a atenção dos
estudantes.
Como ficariam as dificuldades e os transtornos de atenção se tais estímulos
não forem apropriados? Existem transtornos da atenção, mas talvez em número
bem menor que os diagnósticos e/ou avaliações do senso comum sugiram. Nesse
sentido, a avaliação da atenção requer muita atenção, visto que ela é afetada
por muitos fatores, como cansaço, sonolência, uso de substâncias psicoativas e
álcool, humor, ansiedade, motivação, nível de maturação cerebral, entre outros. A
atenção varia ao longo dos dias e até mesmo no mesmo dia. É fortemente afetada
ou depende do interesse e da necessidade em relação a tarefa. Aquelas que
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geram prazer (ativam o sistema de recompensa) atraem e mantêm a atenção mais
facilmente. Por exemplo, muitas crianças têm excelente atenção para videogames
ou outros jogos digitais, mas não conseguem tê-la para estudar. Isso pode ocorrer
por limitações da própria criança (deficiência atencional) ou a limitações do
método de ensino (dispedagogia), que não atraem e mantêm a atenção da
criança, como sugerem os estudos de neuroeducação3,21,22.
Várias funções cognitivas dependem da atenção e em especial a memória.
Suas disfunções se relacionam com vários transtornos, sendo o mais frequente
deles o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, com prevalência de 5%
em crianças e 4% em adultos. A atenção é frequentemente alterada por lesões
cerebrais, independentemente do local da lesão. Por vezes é o único efeito de
lesões sutis, como nos traumatismos crânio-encefálicos leves e também em
pessoas com disfunções cerebrovasculares e, ainda, naqueles com demências.
Suas alterações estão presentes na esquizofrenia, dislexia e transtornos invasivos
do desenvolvimento3.
FINALIZANDO
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Enfim, são aquelas com dificuldades ou transtornos de aprendizagem, ou ainda
com disfunções ou transtornos orgânicos precisão dê uma atenção especial.
Parece-nos que a educação ainda não integra em sua teoria e prática uma
forma de incluir essas crianças, de estimulá-las a desenvolver as funções
executivas, que as “tornarão efetivamente humanas”, utilizando ao máximo as
últimas capacidades filogeneticamente desenvolvidas na nossa espécie.
O que você pensa sobre isso? E o que você poderia fazer a esse respeito?
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REFERÊNCIAS
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15. ARMENTANO, C. G. D. C. et al. Estudo do desempenho na Bateria de
avaliação comportamental da síndrome disexecutiva (BADS) no espectro
indivíduos saudáveis, comprometimento cognitivo leve e doença de
Alzheimer: estudo preliminar. Dement. neuropsychol, v. 3, n. 2, p. 101-107,
2009.
16. ARMENTANO, C. G. D. C. Estudo do desempenho na Bateria de Avaliação
Comportamental da Síndrome Disexecutiva (BADS) no espectro
indivíduos saudáveis, comprometimento cognitivo leve amnéstico e
doença de Alzheimer. Tese (Doutorado), Universidade de São Paulo, São
Paulo, 2011.
17. SCHNEIDER, D.; PARENTE, M. A. O desempenho de adultos jovens e
idosos na Iowa Gambling Task (IGT): um estudo sobre a tomada de decisão.
Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 19, n. 3, p. 442-450, 2006.
18. LURIA, A. R. Fundamentos da neuropsicologia. São Paulo: EDUSP, 1981.
19. CALLEGARO, M. M. O novo inconsciente. Porto Alegre: Artmed, 2011.
20. HASSIN, R. R.; ULEMAN, J. S.; BARGH, J. A. (Ed.).The new unconscious.
New York: Oxford University Press, 2005.
21. COSENGA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação. Porto Alegre:
Artmed, 2011.
22. ARANHA, G.; SHOLL-FRANCO, A. Caminhos da Neuroeducação. 2. ed. Rio
de Janeiro: Ciências e Cognição, 2012.
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