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Funções executivas

Cristeane de Lira Sampaio Ananias


Neuropsicóloga - Psicopedagoga
CRP: 02/12998
Funções Executivas

As funções mentais superiores, ou seja, a aprendizagem, a memória e a linguagem,


até meados do século XIX, foram estudadas apenas pela Psicologia e pela Fisiologia
experimental invasiva.

Em 1861 foi dado o primeiro grande passo para a compreensão dos mecanismos
neurais dessas funções, quando Pierre Paul Broca descobriu que a fala é controlada
por uma área específica do lobo frontal esquerdo.
Funções Executivas

Apesar do avanço dos estudos neurológicos a fisiologia dos lobos frontais


permanecia como uma incógnita, tendo sido denominados de “lobos silenciosos”.
Funções Executivas

As Funções Executivas (FE) se estruturam no decorrer da vida, obedecendo a uma


sequência que se desenvolve:

- da menor para a maior complexidade;


- da dependência inicial para a autonomia;
- de forma proporcional a idade do indivíduo.

Não nascemos com esta capacidade e nem esta se estrutura automaticamente.

Será necessário que essa capacidade se organize durante o processo de


desenvolvimento pela interação que a criança terá com o seu entorno.
Funções Executivas

Conceito Tradicional:

Capacidades mentais que possibilitam a uma pessoa se engajar com sucesso em um


comportamento com propósito, independente, autônomo, eficaz e socialmente
adaptado.
Funções Executivas
Vídeo – Funções executivas
Funções Executivas

Processos mentais relacionados diretamente ao funcionamento do córtex pré-


frontal (CPF).

Conjunto complexo de processos cognitivos


necessários para que possamos gerenciar nosso
comportamento em diferentes situações.

Estas funções orientam e gerenciam funções cognitivas, emocionais e


comportamentais.
Funções Executivas

São consideradas funções mentais complexas ou superiores e são responsáveis pela


capacidade de autogerenciamento.

Quando falamos em avaliação neuropsicológica das FE pensamos nos componentes


como:

 Atenção seletiva

 Controle inibitório (seletividade de estímulos)

 Planejamento

Organização

Flexibilidade cognitiva

 Memória operacional
Funções Executivas

Diante da importância das FE para uma vida bem sucedida e adaptada a investigação
em torno desse tema é fundamental.

A avaliação neuropsicológica infantil torna-se


essencial:

• para o acompanhamento do desenvolvimento cognitivo da criança

• auxiliar na identificação PRECOCE de alterações cognitivas e/ou comportamentais


decorrentes de lesões cerebrais, patologias ou distúrbios do desenvolvimento.
Funções Executivas

O desenvolvimento das FE representa um importante marco adaptativo na espécie


humana.

Essas habilidades são importantes diante de


situações que exijam:

-Ajustamento
- Adaptação
- Flexibilidade

Como, por exemplo, a situação de aprendizagem escolar.


Funções Executivas

Anatomicamente, as FE possuem um sistema neural distribuído, em que o córtex


pré-frontal (CPF) desempenha um papel fundamental no funcionamento executivo.

Porém, é mais apropriado falarmos que as funções executivas são resultado da


atividade de diferentes circuitos neurais.

Sendo necessária a participação do cérebro na sua


totalidade para o funcionamento eficaz das FE.
Funções Executivas

O CPF apresenta níveis de especialização funcional.

Cada um dos seus sistemas neurais está envolvido com aspectos cognitivos e
comportamentais específicos.

O CPF é a última porção cerebral a atingir o ápice maturacional.

Esse desenvolvimento tardio aponta para a complexidade das atividades funcionais


desempenhadas pelo lobo frontal.

Característico dos humanos – lobo frontal é considerado o “órgão da civilização”


Funções Executivas

Por muito tempo houve uma tendência entre neurocientistas de considerar o córtex
pré-frontal como tendo uma função única.

Estudos vêm demonstrando a necessidade de subdividir as funções do córtex pré-


frontal:
 Córtex motor primário: relacionadas a motricidade

 Áreas pré-frontais: controla as funções cognitivas, comportamentais e afetivas.


Dividi-se em córtex pré-frontal dorsolateral, orbitofrontal e ventromedial.
Funções Executivas

As FE chegam a ser divididas por alguns teóricos em dois grandes grupos: as


funções executivas “frias” e “quentes”.

FE Frias FE Quentes
Envolvidas com componentes lógicos e Estruturalmente ligadas aos circuitos
abstratos relacionados à região pré-frontal orbitofrontais e possuem relação com:
dorsolateral: - Aspectos emocionais
- Aspectos motivacionais e interpretativos
-Planejamento e resolução de problemas
dos quadros de alterações abruptas da
- Memória operacional
personalidade.
- Atenção
- Dificuldade em inibir comportamentos
- Flexibilidade cognitiva
impróprios e impulsivos
- Abstração
- Dificuldade em considerar consequências
- Julgamento
de longo prazo.
Funções Executivas

Desenvolvimento das Funções Executivas

Ao longo do desenvolvimento, as crianças tornam-se capazes de controlar suas


ações e pensamentos e direcioná-los a um objetivo.

Esse grau de maturação cerebral inicia-se nos primeiros


anos de vida.

Reforçando a importância desse período para a compreensão do desenvolvimento


das FE.

O controle executivo na infância é variável, frágil e dependente de estímulos


externos.
Funções Executivas

Na primeira infância, os circuitos das regiões pré-frontais são modificados,


esculpidos , consolidados em função das experiências da criança.

Nas fases seguintes da vida esses circuitos continuam a amadurecer até o início da
fase adulta.

A formação ocorrida na primeira infância é determinante de todo o


desenvolvimento posterior.
Funções Executivas

O CPF é a região mais intimamente ligada às FE.

A mielinização das conexões pré-frontais desenvolvem-se


de forma gradual durante a infância e a adolescência.

MARCO DESENVOLVIMENTAL

A mielinização permite uma transmissão mas rápida e eficaz dos impulsos nervosos.

Resultando na melhoria do processamento de informação e ampliando a integração


entre processos cognitivos.
Funções Executivas

As diferentes habilidades executivas e suas respectivas trajetórias de


desenvolvimento tem início na infância e continuam na adolescência, chegando até a
idade adulta.

É possível identificar comprometimentos nessas


funções em bebês de 9 a 12 meses

As FE desenvolvem-se intensamente entre os seis e oito anos.

Atingem seu ápice de maturação neurológica por volta dos 20 anos de idade.
Funções Executivas

As funções executivas atingem sua maturidade tardiamente ao compararmos com as


demais funções cognitivas.

Esse tempo prolongado permite que a interação da


criança com o seu meio molde as redes neuronais
que sustentam o funcionamento executivo.

Mesmo apresentando maturação tardia, o desenvolvimento dessas funções se


inicia no primeiro ano de vida.
Funções Executivas

O cérebro não está pronto assim que a criança nasce!

Sua formação pode ser comparada a construção de uma casa.

A base para o desenvolvimento do cérebro seria o equivalente à construção do chão


e das paredes da casa e ocorre nos primeiros anos de vida.

Essa “construção” depende essencialmente das experiências vivenciadas.

Essa primeira etapa é fundamental para todo


o desenvolvimento posterior.
Funções Executivas

As regiões pré-frontais possuem interconexões importantes com outras áreas do


cérebro.

O sistema límbico, por exemplo, é fundamental


no processo de formação das funções executivas.

Situações desencadeadoras de medo e estresse,


excessivo e recorrente, podem comprometer o desenvolvimento das funções
executivas.
Funções Executivas

Respostas que envolvem planejamento dependem da região pré-frontal.

Lembram que esta área possui um amadurecimento tardio?

As crianças apresentam reações mais emocionais do que os adultos como morder e


bater.

Com o desenvolvimento, a interação entre os dois


sistemas modifica-se em função do amadurecimento
das áreas pré-frontais.

O comportamento torna-se mais complexo.


Funções Executivas

Ao longo do desenvolvimento as crianças tornam-se gradativamente capazes de


controlar suas ações e pensamentos.

Levando em consideração esse longo processo de amadurecimento das habilidades


associadas às funções executivas, é IMPORTANTE perceber que:

-As crianças são extremamente sensíveis a


experiências, desde bem cedo na vida,
que possam dificultar ou reforçar suas
habilidades.
Funções Executivas

O estresse, por exemplo, pode ser tão prejudicial às funções executivas de uma
criança pequena a ponto de levar a um diagnóstico errôneo de TDAH.

Algumas estratégias como:


- Experiências reforçadoras
- Manter uma relação pais-filhos positiva

Ajudam a proteger as crianças contra os efeitos negativos que circunstâncias


estressantes causam.

Filhos de pais que utilizam métodos brandos de disciplina tendem a ter melhores
habilidades da função executiva.
Funções Executivas

O comportamento típico de crianças nos primeiros anos de vida é caracterizado


por:

-traços de impulsividade

- pensamento concreto (lócus de controle externo)

- facilmente guiado por estímulos

Ao longo do desenvolvimento tornam-se capazes de:

- avaliar múltiplos aspectos de um problema

- detectar possíveis erros na execução dessas ações e corrigi-los

- manter um planejamento dirigido ao futuro e adiando gratificações


Funções Executivas

Um nível mais elevado de funcionamento executivo está vinculado a diversos


aspectos positivos, tais como:
- competência nos domínios social, emocional e escolar.

Seria um prognóstico do êxito nos primeiros anos de escolaridade, mais do que a


inteligência e a aprendizagem precoce de leitura e aritmética.

As habilidades das funções executivas permitem que as crianças lidem melhor


com seu ambiente em constante mudança.
Funções Executivas

Segundo Goldberg (2002):

“As funções executivas são resultado da atividade dos lobos frontais


(especificamente da região pré-frontal). Essas funções atuam como uma espécie de
diretor executivo do funcionamento da atividade mental humana.”

O autor faz uma analogia dessas funções com


uma espécie de maestro ou general que
coordena as estruturas e sistemas neurais.
Funções Executivas

Essas funções são necessárias para gerenciar o comportamento humano.

Incluem planejamento, controle inibitório, tomada de decisões, flexibilidade


cognitiva, memória operacional e atenção, categorização e fluência.

Quando falamos em inteligência não podemos deixar de mencionas as FE’s.

As FE’s são essenciais na resolução de problemas; capacidade de abstração para a


resolução de problemas do nosso cotidiano.
Funções Executivas

A todo momento o nosso cérebro envia informações para o frontal e esse, em


especial com as FE’s, organiza as idéias, pensamentos e atividades.

Desta forma responderá de forma mais coerente, adaptada e flexível ao ambiente.

As FE’s seriam a ‘fonte’ que faz com que a inteligência ocorra como uma boa
resposta adaptativa ao ambiente.

Déficits nas funções executivas têm sido referidos com o termo “síndrome
disexecutiva”.
Funções Executivas

Pacientes com a síndrome disexecutiva geralmente apresentam:

- Alterações cognitivo-comportamentais

- Dificuldade na seleção de informações

- Dificuldade na tomada de decisão

- Fácil distração

- Problemas de organização

- Perseveração

- Comportamento esteriotipado

- Dificuldade para estabelecer novos repertórios comportamentais

-Prejuízos na abstração

- Prejuízo na capacidade de antecipação de consequências de uma ação


Funções Executivas

É possível considerar três habilidades consideradas componentes centrais das


funções executivas:

Memória de trabalho: relacionada à habilidade de manter a informação em mente e


manipulá-la ou atualizá-la. Sem essa capacidade não nos lembraríamos do que
estávamos fazendo.

Controle inibitório: capacidade para inibir comportamentos inapropriados,assim


como para manter o foco atencional na presença de distratores e do próprio
pensamento, estando associado a atenção seletiva.

Flexibilidade cognitiva: ajuste do comportamento às demandas ambientais,


incluindo a habilidade de estabelecer prioridades ou diferentes possibilidades na
resolução de conflitos.
Funções Executivas

Atenção – Mecanismos inibitórios

A função atencional tem um papel fundamental no desempenho das FE

Deve ser considerada como parte integrante desse sistema funcional

Sua participação é condição básica para a realização dos objetivos determinados.

Os mecanismos inibitórios ajudam na exclusão dos estímulos que não interessam ao


objetivo atual.
Funções Executivas

Memória Operacional

Memória – capacidade funcional do sistema nervoso para codificar, classificar,


armazenar e evocar eventos acontecidos.

Elemento básico para o aprendizado e organização do pensamento.

Para seu bom desempenho precisa de:

- boas condições de atenção

- capacidade de concentração

- adequado estado emocional.


Funções Executivas

Memória Operacional

Memória de trabalho ou operacional compõe-se de um conjunto de sistemas


cognitivos que funcionam como um espaço de trabalho onde os dados são mantidos
apenas para a realização da tarefa proposta.

É um fator determinante para o desempenho eficiente das FE.

Funciona como um banco de dados.

Permanece em conexão com a memória de longo prazo permitindo evocar dados


anteriores.
Funções Executivas

Memória Operacional

É essencial para o processo de aprendizagem e para


a compreensão de textos.

Dificuldades na interpretação textual, boa parte das vezes, estão relacionadas a


déficits na memória operacional.

Embora a criança seja fluente na leitura, não é capaz de reter e associar


informações dos parágrafos lidos.
Funções Executivas

Flexibilidade Cognitiva

Utilizando-se da organização da memória operacional e do conjunto de funções


corticais superiores, a criança poderá planejar para realizar determinada tarefa.

Flexibilizar as suas escolhas para atingir um determinado objetivo.

Exemplo: tênis molhado - sapato


Funções Executivas

A partir dessas três dimensões das funções executivas são construídas as funções
executivas de ordem superior.

As funções executivas de ordem superior envolvem:

• Capacidade de raciocínio

• Solução de problemas

• Planejamento
Funções Executivas

São importantes para o desenvolvimento das funções executivas:

- Herança genética

- Fatores ambientais

- Sensibilidade da criança frente aos estímulos

As pessoas nascem com um potencial genético que, para ser


desenvolvido, necessita de interações sociais adequadas e saudáveis.
Funções Executivas

Um ambiente favorável ao desenvolvimento das funções executivas na primeira


infância é fundamental para que o potencial genético possa ser alcançado
posteriormente, na fase adulta.

A capacidade de tomar decisões com autonomia, refletir e gerenciar


comportamento NÃO é inata.

É construída pela criança a partir das interações


sociais adequadas.
Funções Executivas

Filme goleman
Funções Executivas

Formar pessoas que tenham autonomia e sejam capazes de pensar crítica e


criativamente é um desafio de toda a sociedade.

A primeira infância constitui um momento


fundamental para o desenvolvimento do ser
humano.

Nesta etapa da vida são moldadas diversas habilidades, entre as quais destacam-se
as relacionadas ao funcionamento executivo.
Funções Executivas

O CPF tem um papel privilegiado na mediação das FE.

Porém, as FE são resultado da atividade de diferentes circuitos neurais que


envolvem o cérebro em sua totalidade.

As áreas pré-frontais exercem controle das funções cognitivas, comportamentais e


afetivas.

A área pré-frontal é dividida em regiões:


- Orbitofrontal
- Dorsolateral
- Ventromedial
Funções Executivas

Córtex pré-frontal orbitofrontal

Relacionado ao comportamento socialmente orientado.

Modifica o comportamento em resposta às interações com os outros.

Esse circuito é responsável por:

- Inibição de respostas emocionais


- Tomada de decisões
- Regulação de resposta emocional e comportamental
Funções Executivas

As conexões desta região com o sistema límbico são a base do seu envolvimento no
comportamento emocional.

Lesões nesta área:


- Alterações emocionais e comportamentais. Ex: caso de Phineas Gage

A região orbitofrontal proporciona condições do indivíduo interagir de maneira


intencional com o ambiente.
Funções Executivas

Córtex pré-frontal dorsolateral

As regiões dorsolaterais são responsáveis pela capacidade de:

- Selecionar estímulos

- Capacidade de inibição de interferências

- Memória de trabalho

- Planejamento

- Capacidade de resolução de problemas

- Motivação

- Focalização da atenção
Funções Executivas

Uma importante consequência do comprometimento do circuito dorsolateral é a


dificuldade em recuperar livremente um material aprendido. (testes de Memória de
reconhecimento)

- Empobrecimento das estratégias de busca mnésica

- Perseveração

- Falta de flexibilidade
Funções Executivas

Circuito do cíngulo anterior

Mediador entre a memória operacional e a de longo prazo.

Integram informações

Sustenta a atenção em situações conflitantes


(stroop test)

Inibem informações menos relevantes


Funções Executivas

Neuroquímica dos circuitos pré-frontais

Do ponto de vista neuroquímico percebemos a importância do funcionamento de


diferentes sistemas de neurotransmissão para o desempenho das funções
executivas.

Destacam-se os sistemas:

- Dopaminérgicos

- Serotoninérgico

- Noradrenégico
Funções Executivas

Vias dopaminérgicas

São importantes na modulação do movimento e da cognição.

Alterações na atividade dopaminérgica


prejudicam a atividade funcional dos
circuitos pré-frontais.
Funções Executivas

Vias dopaminérgicas

Em patologias que envolvem alterações na atividade dopaminérgica dos circuitos


pré-frontais (ex: esquizofrenia, TDAH), são comuns as dificuldades relacionadas a:

Memória operacional Atenção

Controle inibitório Planejamento

Flexibilidade cognitiva Tomada de decisão


Funções Executivas

Vias serotoninérgicas

São importantes na modulação de funções fisiológicas básicas (ex: sono e apetite),


do humor e também do controle de impulsos.

A diminuição na atividade serotoninérgica tem sido relacionada a:

-Aumento da agressividade e da impulsividade

- Dificuldades em tomada de decisão


Funções Executivas

Vias noradrenérgicas

Estão relacionadas a funções como:

- Atenção

- Memória

- Aprendizagem

- Motivação
Funções Executivas

O neurodesenvolvimento e a estruturação das FE

Parte importante do desenvolvimento cerebral ocorre antes mesmo do nascimento.

Aos 5 meses de gestação, o cérebro do feto possui quase a mesma quantidade de


neurônios que um cérebro adulto.

Ao nascer o bebê já tem seu cérebro razoavelmente


constituído, mas é dependente de todo tipo de
necessidade.
Funções Executivas

Um ser somatossensorial que depende de estímulos sensoriais e afetivos


provenientes da sua relação com o meio para organizar seu circuito cerebral.

Homem = biopsicosocial

É de extremo valor a relação que estabelecerá com o


primeiro cuidador, que, em geral é a mãe.

Relação esta que proverá as suas primeiras vivências afetivo-somatossensoriais


(holding).
Funções Executivas

Quando falamos em “holding” pensamos em competência materna para ser


continente e elaborar as angústias expressas pelo bebê.

Essas angústias provenientes das suas limitadas


condições de sobrevivência e dependência.

Falamos em desenvolvimento inicial do self

A relação entre os aspectos afetivos e o sistema nervoso e suas redes funcionais é


fundamental.
Funções Executivas

As vivências emocionais destes momentos iniciais de vida serão:

- determinantes do começo da organização das redes neuronais

- essenciais na expressão e adequação do comportamento e ações futuras.

Com o seguimento das semanas o bebê assimilará que a mãe é um outro indivíduo.

Passa a conviver com a sua falta, chora e tenta


se acostumar com a ausência temporária da mãe.
Funções Executivas

Sendo atendido momentos depois e vivenciando sentimentos de frustração inicial.

O equilíbrio nesse funcionamento irá estruturar a forma como o bebê reage a


situações de frustração.

Na medida que perceber a existência do outro (mãe)


que oferece o que necessita.

Mas nem sempre está disponível para atendê-lo


Funções Executivas

Estes são os primeiros aprendizados agregados ao acolhimento incluindo a regras e


disciplina.

Colocar limites além do aspecto educacional é fator importante da instauração da


vida psíquica e da capacidade mental da criança.

O desenvolvimento adequado prosseguirá com a organização e aquisição de


esquemas para quando houver tarefas de mais complexidade.
Funções Executivas

Desenvolvimento das FE

 7 e 8 meses – evidenciamos os primeiros sinais da memória de trabalho e do


controle inibitório.

 9 a 12 meses – podem atualizar o conteúdo de sua memória de trabalho.


a capacidade para manipular mentalmente desenvolve-se
lentamente.

 3 e 4 anos – ganhos relevantes no controle inibitório, memória de trabalho,


capacidade de postergar gratificações e na atenção sustentada.
Funções Executivas

 Por volta dos 9 anos – a memória de trabalho torna-se mais eficiente e menos
suscetível à interferência.

 Por volta dos 12 anos – se desenvolvem o pensamento estratégico, a fluência


verbal e a capacidade para resolver problemas.

A maturidade funcional desses processos cognitivos pode ser observada


somente no início da fase adulta.
Funções Executivas

FE e o aprendizado

O aprendizado é um processo contínuo de desenvolvimento.

Nele o indivíduo vai adquirindo informações


concomitantes e sucessivas.

Da mais elementar para a mais complexa.

Essas informações irão instrumentá-lo para a sua vida pessoal e profissional

Neste contexto podemos inserir o aprendizado escolar.


Funções Executivas

O aprendizado escolar necessita de alguns pré-requisitos funcionais:

- Adequada regulação do self

- Competência cognitiva

- Funções executivas (inserida nelas as funções atencionais)

A estruturação do self inicia-se no recém-nascido


a partir da relação dialógica estabelecida
entre ele e o seu cuidador. (Quase sempre a mãe)
Funções Executivas

Quando este cuidador não é continente para acolher e elaborar as angústias do


bebê desencadeiam-se mecanismos de desadaptação.

Podendo gerar altos níveis de ansiedade no par


dialógico mãe/bebê.

Consequentemente a iniciação do bebê sem a proteção materna poderá trazer


prejuízos para a instalação do seu psiquismo.
Funções Executivas

Essas vivências ansiosas iniciais do bebê não acolhidas de forma adequada


manteriam o núcleo amigdalóide funcionando de modo intenso (estresse).

As reações de estresse a qualquer ameaça


são importantes pois estabelecem mecanismos
de prontidão e defesa.

Sua atuação excessiva gera um estado emocional de apreensão, insegurança e


ansiedade.
Funções Executivas

Desta forma, as situações de estresse:

- Prejudicam e desorganizam a estruturação circuitária cerebral

- Desencadeiam prejuízos emocionais e comportamentais

- Interferem no desempenho do indivíduo na vida social, escolar e organização das


tarefas do dia a dia.
Funções Executivas

A permissividade dos familiares sem a devida colocação de limites favorece a


manutenção de comportamentos:

- Regredidos
- Incapaz de conviver com as perdas e frustrações

Esses comportamentos não favorecem o seu


desenvolvimento emocional.

A criança que tudo pode acredita que o mundo


funciona ao seu modo.

Apresentará dificuldades para lidar com regras escolares e sociais.


Funções Executivas

- Impulsividade tende a aumentar e piorar.

- Agressividade sem controle diante de frustrações banais.

- Atenção fragmenta-se tendo dificuldade em manter-se concentrada por tempo


prolongado.

- Apresenta dificuldade em se organizar no mundo.

- Tarefas simples como organizar a sua mochila com os materiais são feitas pelos
cuidadores.

- Atividades que exijam responsabilidade e maturidade são sempre feitas por


outras pessoas que convivem com a criança.
Funções Executivas

O comportamento inibitório é fundamental para o desempenho das FE.

Cria condições adequadas para:

- Manutenção do foco
- Controle motor
- Fluência das etapas planejadas
- Regulação do self
- Funcionamento adaptativo para obtenção do objetivo.

Nem todas as crianças com dificuldades escolares apresentam problemas com


FE.

Porém uma vez confirmada a dificuldade nas FE há grande probabilidade de


prejuízo escolar.
Funções Executivas

A atividade escolar é a solicitação na qual a criança precisará demonstrar um


conjunto de habilidades com:

- Independência
- Autonomia
- Estruturação cognitiva e comportamental prévias
- Solicitada a atender regras e disciplina, seja na relação com coleguinhas, como
atencionais.

Necessitará de um desempenho eficiente de suas FE.

No ambiente escolar que essas competências serão verificadas.


Funções Executivas

As funções executivas são complexas e frágeis.

São vulneráveis a condições negativas desde a fatores genéticos à adversidades no


ambiente vivenciado pela criança.

A exposição das crianças ao estresse afeta a dinâmica dos circuitos cerebrais e


prejudica tanto a aquisição de habilidades de funcionamento executivo, como a
utilização de capacidades já construídas.

Estudos comprovam menor desenvolvimento das capacidades de memória e controle


inibitório em crianças que vivem em ambientes estressantes.
Funções Executivas

A avaliação e orientação terapêutica

Aspectos importantes da avaliação das FE em crianças com dificuldades de


aprendizagem:
1) História de vida e o seu histórico escolar.
2) Como ocorreu o seu desenvolvimento do ponto de vista motor e linguagem
(compreensão e expressão)
3) Relacionamento em casa e na escola
4) Adaptação às rotinas, regras e limites
5) Participação dos pais no dia a dia

Atenção cuidadosa para a atuação dos pais – “aspecto fundamental e grande


moldadora do processo de desenvolvimento”.
Funções Executivas

Avaliação neuropsicológica para aferir esse sistema funcional

Avaliação neurológica e psicopedagógica

Testagens formais iniciando com a aplicação dos testes WAIS/WISC que oferece
uma visão ampla do desempenho da criança.

Essas funções estão relacionadas ao lobo frontal, portanto os testes utilizados


investigarão essas atividades para a compreensão do como estão as FE.
Funções Executivas

A bateria de testes utilizadas será estruturada de acordo com a experiência de


cada profissional e poderá incluir:

 Avaliação da atenção (tipos)


 Controle de impulsividade
 Controle sobre o tempo de espera
 Controle de interferência (Stroop Test)
 Flexibilidade cognitiva (Wisconsin)
 Velocidade psicomotora, flexibilidade cognitiva, atenção dividida, sequenciação e
habilidades visuais (Teste de Trilhas)

A indicação da orientação terapêutica dependerá dos resultados.


Funções Executivas

Muitas vezes é necessário um trabalho específico de treinamento em FE.

Esse trabalho é ESSENCIAL para que o indivíduo adquira competências


organizacionais necessárias que favoreçam seu aprendizado.

Através de atividades que ajudem a promover estratégias que favoreçam a


aquisição de melhores e mais adequadas habilidades para a realização de tarefas
complexas.

As atividades propostas seguirão das mais simples às mais complexas.


Funções Executivas

Objetivo desse trabalho é capacitar o indivíduo ou expandir as competências já


existentes.

O neurodesenvolvimento não dá saltos muito largos.

É importante promover passo a passo as aquisições


necessárias para atingir o que se pretende.

É preciso remodelar essa atividade funcional como quem esculpe o circuito cerebral.

Trabalhar apenas a dificuldade escolar produz um resultado limitado. (apoio


pedagógico)
Funções Executivas

O indivíduo aprenderá a resolver de forma mecânica a tarefa proposta.

Ao ser solicitado de forma diferente ressurgirá a


dificuldade.

Observamos crianças e adolescentes extremamente


inteligentes, mas:

- Incapazes de dar conta das solicitações escolares


- Falhando em questões elementares
- Comportamento imaturo
- Narrativa pobre
- Não conseguem atuar cognitivamente de acordo com a idade cronológica por falta
de suporte emocional
Funções Executivas

Nesses casos é FUNDAMENTAL o atendimento psicológico com orientação aos pais.

Os pais são peça-chave nesse processo.

É importante salientar que o indivíduo


também pode apresentar déficits pedagógicos
por perda de conteúdo.

Nestes casos deverá ser trabalhado essa lacuna na aprendizagem com profissional
capacitado.
Funções Executivas

Avaliação neuropsicológica das funções executivas

As funções executivas são complexas e apresentam vários subdomínios.

Portanto, a avaliação neuropsicológica dessas funções envolve vários procedimentos.

Podem estar agrupados em:

- baterias formais especificamente desenvolvidas para medi-las

- baterias flexíveis em que os instrumentos são agrupados a partir de critérios


definidos pelo examinador.
Funções Executivas

Outros instrumentos de avaliação das funções executivas

É importante salientar que a avaliação neuropsicológica das funções executivas


envolve a aplicação de vários testes e escalas.

Fornecem informações sobre diferentes componentes desse grupo de processos


cognitivos.

A maioria dos testes neuropsicológicos envolve algum tipo de FE.

Incluem tarefas de funcionamento intelectual e acadêmico.


Funções Executivas

Exigem algum grau de planejamento, inibição ou monitoramento.

A avaliação das FE é necessária para detectar possíveis alterações executivas


provenientes de patologias ou de ordem emocional.

A avaliação das FE na infância é um desafio devido a escassez de instrumentos.


Funções Executivas

 Teste Wisconsin de Classificação de Cartas

Utilizado para avaliar crianças a partir de 6 anos e 6 meses.

É necessário desenvolver e manter uma estratégia apropriada de solução de


problemas por meio de condições de mudanças de estímulos.

Avalia as capacidades de:


- Planejamento
- Organização
- Controle inibitório
- Flexibilidade cognitiva
Funções Executivas

 Teste das trilhas

Mede flexibilidade cognitiva e a capacidade de inibição de uma tarefa automática

Utilizado para crianças de 6 a 15 anos.

Consiste em ligar números em ordem crescente (Parte A) sem tirar o lápis do papel.

Na Parte B do teste, a atividade continua sendo de ligar os pontos porém


intercalando números e letras.
Funções Executivas

 Stroop Test

A atividade depende do reconhecimento de palavras escritas tornando-se um


limitador para o uso em crianças pequenas.

Consiste na capacidade de inibir respostas prepotentes ou respostas a estímulos


distratores que interrompam o curso eficaz de uma ação.

 Figura Complexa de Rey

Observar a maneira como o indivíduo planeja e executa a tarefa.

Pode ser utilizada também para avaliar habilidade visuoespacial, memória visual,
planejamento e execução de ações.
Funções Executivas

 Teste de fluência verbal

Avalia a capacidade para a produção de palavras, sob condições dirigidas, no limite


de tempo.

Fluência verbal literal – solicita que o sujeito diga o máximo de palavras que
comecem com determinada letra no limite de tempo.

Fluência categorial – o sujeito deverá dizer o maior número de cores, alimentos ou


de animais no limite de tempo.

 Bateria Psicológica para Avaliação da Atenção (BPA)

Avalia a capacidade geral de atenção.


Funções Executivas

 Teste das Torres

Avaliam a capacidade de planejamento

Torre de Londres
São apresentados 12 problemas em ordem crescente de dificuldade que devem ser
resolvidos movimentando as bolas nas hastes.

O sujeito deve realizar a tarefa em menor quantidade


de movimentos possível.

Cada problema apresenta uma quantidade


mínima de movimentos, que pode variar de dois
a cinco.
Funções Executivas

 Torre de Hanoi

A tarefa consiste em mover as peças de um pino a outro observando as seguintes


regras:

- As peças não podem ficar abaixo de outra que seja maior que ela

- As peças só podem se mover de um pino a outro

Um aumento no número de deslocamentos sugere não apenas um déficit de atenção,


mas também de memória de trabalho e na capacidade de planejamento.
Funções Executivas

 WISC-IV

Além de avaliar a inteligência geral, possui subtestes que avaliam FE já que


envolvem habilidades como:
- Atenção
- Flexibilidade mental
- Planejamento
- Memória imediata

 Neupsilin Inf

Avalia, de modo breve, componentes de oito funções neuropsicológicas em crianças


em idade escolar.
Funções Executivas

 Teste dos cinco dígitos - FDT

Avalia as funções cognitivas (executivas), em especial a atenção sustentada.

Tem como objetivo medir a velocidade de processamento cognitivo, a capacidade de


focar e de reorientar a atenção.
Funções Executivas

Programa de Intervenção em Autorregulação e Funções Executivas -


Piafex.

O programa reúne um conjunto de atividades que visam estimular o


desenvolvimento de habilidades em crianças pré-escolares e no início do Ensino
Fundamental, incluindo habilidades como organização, planejamento, inibição de
impulsos, atenção, memória de trabalho, metacognição e
regulação emocional.

Pode ser aplicado nos contextos clínico e escolar, como


ferramenta de reabilitação ou de intervenção precoce.
Funções Executivas

As funções executivas consistem em um grupo de habilidades crucial para a


adaptação do indivíduo às rotinas do cotidiano.

São também a base para o desenvolvimento de novas habilidades.

Compreender o funcionamento desse grupo de funções altamente especializadas é


de crucial importância para o:

- desenvolvimento de estratégias de avaliação

- reabilitação de pacientes que apresentam déficits oriundos do desenvolvimento


anormal do sistema nervoso ou adquiridos a partir de lesões.
Funções Executivas

Como estimular o desenvolvimento das funções executivas

 De 8 a 16 meses

- Jogos de esconder e achar: memória de trabalho; autocontrole (espera o adulto se


revelar)

- Jogos de imitação: quando os bebês imitam precisam manter o controle de suas


ações (atenção, memória de trabalho e autocontrole)

- Cantigas de roda: desenvolvem autocontrole, memória de trabalho e linguagem.


Funções Executivas

 De 18 a 36 meses

- Jogos ativos (gostam de desafios físicos): jogar bola, andar sobre uma trave de
equilíbrio, correr, saltar.

- Conversação e narração de histórias: ótima maneira de refletir sobre suas


experiências e exercitar a memória de trabalho.

- Jogos de classificação: classificar objetos por cor forma, tamanho fazendo


necessária a memorização da regra.

- Quebra-cabeça e jogos imaginários.


Funções Executivas

 Dos 3 aos 5 anos

- Jogos imaginários: o nível do jogo se eleva, as crianças já imaginam sequência


dentro de uma atividade, estabelecem papéis entre elas e os adultos. (caixinha de
fósforo pode se transformar em um carrinho).

- Contar histórias: com a prática vão desenvolvendo histórias mais complexas e


organizadas.

Todas as atividades tem como alicerce o desenvolvimento da linguagem e


necessitam da mediação de um adulto.
Funções Executivas

 Dos 5 aos 7 anos

- Jogos com regras: jogos com desafios e que estimulem diferentes habilidades.
(memória, dominó, Uno, charada, quest, desafio, perfil, imagem e ação, quebra-
cabeça)

 Dos 7 aos 12 anos

- Podemos continuar com os jogos citados acima, porém aumentar a dificuldade


proporcionando maiores desafios, sem tornar impossível.

- Jogos mais complexos que envolvem fantasia.

- Batalha naval, resposta mágica, nonsense, can-can, soletrando e rumikubi


Funções Executivas

 Para os adolescentes

Nesta fase as habilidades de função executiva estão com uma demanda intensa.

Adolescentes precisam se comunicar efetivamente em diferentes contextos.

Precisam aprender a gerenciar suas próprias atividades escolares e compromissos


extracurriculares.

Estimular o adolescente a manter em mente seus objetivos.

Fazer um calendário com ações para o mês e agenda de compromissos para


trabalhar planejamento.
Funções Executivas
Funções Executivas
Vídeo – Neurociência na aprendizagem escolar

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