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Super Professor

1. (Ime 2023) Dentre os recursos semânticos utilizados no texto para exprimir vários
significados, assinale a opção correta relacionada à figura de linguagem encontrada na
expressão destacada no trecho abaixo:
“Era tanto o silêncio e tão leve o ar, que se alguém aguçasse o ouvido talvez pudesse até
escutar o sereno na Solidão” (ref. 1)
a) sinestesia
b) metáfora
c) paradoxo
d) personificação
e) antítese

2. (Ime 2022) Considere o excerto abaixo do texto:

“Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!


Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!” (ref. 3)

À luz da gramática normativa, considere as seguintes afirmações:

I. No trecho “Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!”, são usadas a antonomásia e a


onomatopeia, para sugerir a ideia de uma comunicação do eu lírico com as máquinas.
II. O vocábulo “fora (ref. 4) é uma expressão modificadora que denota uma circunstância de
lugar.
III. Os pontos de exclamação são empregados com a finalidade de exprimir o estado emocional
de surpresa do poeta.

Está(ão) correta(s) a(s) assertiva(s):


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) II e III, apenas.

3. (Ime 2022) Considere o excerto abaixo do texto:

“À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica


Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.” (ref. 1)

I. Nos versos acima, constata-se a utilização recorrente da figura de linguagem do quiasmo, no


intuito de enfatizar sentidos e de obter assonâncias.
II. No verso “À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica...” o poeta se refere aos
procedimentos usados para elaborar seus versos.
III. O vocábulo “fera” (ref. 2) é um substantivo que exprime a ideia de eficiência e excelência no
desempenho de uma atividade.

Está(ão) correta(s) a(s) assertiva(s):


a) I, apenas.
b) II, apenas.
c) III, apenas.
d) I e II, apenas.
e) I e III, apenas.

4. (Ime 2022) Entre os recursos semânticos utilizados no texto para a obtenção de diferentes

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efeitos de sentidos, assinale a opção correta relacionada à classificação da figura de linguagem


encontrada no trecho abaixo:

“[...] Ao entardecer, depois de ler um pouco o Sotero”. (ref. 1)

a) anáfora
b) metonímia
c) paronomásia
d) metáfora
e) personificação

5. (Ime 2021) No Texto 1, o autor utiliza figuras de linguagem relacionando o sertão ao mar. A
opção que evidencia o uso desse recurso expressivo é:
a) "(...) oferecendo a ambos a mesma penumbra ás emboscadas (...)" (ref. 6).
b) "Lampeja por momentos entre os raios do sol joeirados pelas árvores sem folhas (...)" (ref.
20).
c) "(...) entre as garras felinas de acúleos recurvos das macambiras..." (ref. 22).
d) "Distende-se pela orla da caatinga" (ref. 13).
e) "(...) e quando o sertão estua nos bochornos dos estios longos (...)" (ref. 28).

6. (Ime 2020) “Simão Bacamarte recebeu-o com a alegria própria de um sábio, uma alegria
abotoada de circunspeção até o pescoço.” (ref. 7)

A figura de linguagem construída no trecho em negrito é a(o)


a) ambiguidade.
b) apóstrofe.
c) sinestesia.
d) personificação.
e) hipérbato.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


O elefante

Fabrico um elefante
de meus poucos recursos.
Um tanto de madeira
tirado a velhos móveis
talvez lhe dê apoio.
E o encho de algodão,
de paina, de doçura.
A cola vai fixar
suas orelhas pensas.
A tromba se enovela,
é a parte mais feliz
de sua arquitetura.

Mas há também as presas,


dessa matéria pura
que não sei figurar.
Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.
E há por fim os olhos,
onde se deposita
a parte do elefante
mais fluida e permanente,
alheia a toda fraude.

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Eis o meu pobre elefante


pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê em bichos
e duvida das coisas.
Ei-lo, massa imponente
e frágil, que se abana
e move lentamente
a pele costurada
onde há flores de pano
e nuvens, alusões
a um mundo mais poético
onde o amor reagrupa
as formas naturais.

Vai o meu elefante


pela rua povoada,
mas não o querem ver
nem mesmo para rir
da cauda que ameaça
deixá-lo ir sozinho.

É todo graça, embora


as pernas não ajudem
e seu ventre balofo
se arrisque a desabar
ao mais leve empurrão.
Mostra com elegância
sua mínima vida,
e não há cidade
alma que se disponha
a recolher em si
desse corpo sensível
a fugitiva imagem,
o passo desastrado
mas faminto e tocante.
Mas faminto de seres
e situações patéticas,
de encontros ao luar
no mais profundo oceano,
sob a raiz das árvores
ou no seio das conchas,
de luzes que não cegam
e brilham através
dos troncos mais espessos.
Esse passo que vai
sem esmagar as plantas
no campo de batalha,
à procura de sítios,
segredos, episódios
não contados em livro,
de que apenas o vento,
as folhas, a formiga
reconhecem o talhe,
mas que os homens ignoram,
pois só ousam mostrar-se
sob a paz das cortinas
à pálpebra cerrada.

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E já tarde da noite
volta meu elefante,
mas volta fatigado,
as patas vacilantes
se desmancham no pó.
Ele não encontrou
o de que carecia,
o de que carecemos,
eu e meu elefante,
em que amo disfarçar-me.
Exausto de pesquisa,
caiu-lhe o vasto engenho
como simples papel.
A cola se dissolve
e todo o seu conteúdo
de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,
qual mito desmontado.
Amanhã recomeço.

ANDRADE, Carlos Drummond de. O ElefanteO. 9ª ed. - São Paulo: Editora Record, 1983.

7. (Ime 2019) Considere os versos 95 a 98 do poema, transcritos abaixo:

“e todo o seu conteúdo


de perdão, de carícia,
de pluma, de algodão,
jorra sobre o tapete,”

A figura de linguagem construída a partir de uma relação entre os campos semânticos


evocados pelo título do poema e de seus versos acima destacados é a (o)
a) ambiguidade.
b) apóstrofe.
c) antítese.
d) eufemismo.
e) metonímia.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


EXAUSTO

Eu quero uma licença de dormir,


perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o sono profundo das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.

PRADO, Adélia. Exausto. Disponível em <http://byluleoa-tecendopalavras.blogspot.com.br/>.


Acesso em 31/07/17.

8. (Ime 2018) O vocábulo raízes (verso 9) se contrapõe a


a) semente.
b) palha de um pequeno sonho.

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c) horas a fio.
d) licença.
e) perdão.

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A(s) questão(ões) refere(m)-se ao texto a seguir:

Texto

Achei que estava bem na foto. Magro, olhar vivo, rindo com os amigos na praia. Quase
não havia cabelos brancos entre os poucos que sobreviviam. Comparada ao homem de hoje,
era a fotografia de um jovem. Tinha 50 anos naquela época, entretanto, idade em que me
considerava bem distante da juventude. Se me for dado o privilégio de chegar aos 90 em pleno
domínio da razão, é possível que uma imagem de agora me cause impressão semelhante.
O envelhecimento é sombra que nos acompanha desde a concepção: o feto de seis
meses é muito mais velho do que o embrião de cinco dias. Lidar com a inexorabilidade desse
processo exige uma habilidade na qual nós somos inigualáveis: a adaptação. Não há animal
capaz de criar soluções diante da adversidade como nós, de sobreviver em nichos ecológicos
que vão do calor tropical às geleiras do Ártico.
Da mesma forma que ensaiamos os primeiros passos por imitação, temos que
aprender a ser adolescentes, adultos e a ficar cada vez mais velhos. A adolescência é um
fenômeno moderno. Nossos ancestrais passavam da infância à vida adulta sem estágios
intermediários. Nas comunidades agrárias o menino de sete anos trabalhava na roça e as
meninas cuidavam dos afazeres domésticos antes de chegar a essa idade.
A figura do adolescente que mora com os pais até os 30 anos, sem abrir mão do direito
de reclamar da comida à mesa e da camisa mal passada, surgiu nas sociedades
industrializadas depois da Segunda Guerra Mundial. Bem mais cedo, nossos avós tinham filhos
para criar.
A exaltação da juventude como o período áureo da existência humana é um mito das
sociedades ocidentais. Confinar aos jovens a publicidade dos bens de consumo, exaltar a
estética, os costumes e os padrões de comportamento característicos dessa faixa etária tem o
efeito perverso de insinuar que o declínio começa assim que essa fase se aproxima do fim.
A ideia de envelhecer aflige mulheres e homens modernos, muito mais do que afligia
nossos antepassados. Sócrates tomou cicuta aos 70 anos, Cícero foi assassinado aos 63,
Matusalém sabe-se lá quantos anos teve, mas seus contemporâneos gregos, romanos ou
judeus viviam em média 30 anos. No início do século 20, a expectativa de vida ao nascer nos
países da Europa mais desenvolvida não passava dos 40 anos.
A mortalidade infantil era altíssima; epidemias de peste negra, varíola, malária, febre
amarela, gripe e tuberculose dizimavam populações inteiras. Nossos ancestrais viveram num
mundo devastado por guerras, enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a
onipresença da mais temível das criaturas. Que sentido haveria em pensar na velhice quando a
probabilidade de morrer jovem era tão alta? Seria como hoje preocupar-nos com a vida aos
cem anos de idade, que pouquíssimos conhecerão.
Os que estão vivos agora têm boa chance de passar dos 80. Se assim for, é preciso
sabedoria para aceitar que nossos atributos se modificam com o passar dos anos. Que
nenhuma cirurgia devolverá aos 60 o rosto que tínhamos aos 18, mas que envelhecer não é
sinônimo de decadência física para aqueles que se movimentam, não fumam, comem com
parcimônia, exercitam a cognição e continuam atentos às transformações do mundo.
Considerar a vida um vale de lágrimas no qual submergimos de corpo e alma ao deixar
a juventude é torná-la experiência medíocre. Julgar, aos 80 anos, que os melhores foram
aqueles dos 15 aos 25 é não levar em conta que a memória é editora autoritária, capaz de
suprimir por conta própria as experiências traumáticas e relegar ao esquecimento
inseguranças, medos, desilusões afetivas, riscos desnecessários e as burradas que fizemos
nessa época.
Nada mais ofensivo para o velho do que dizer que ele tem “cabeça de jovem”. É
considerá-lo mais inadequado do que o rapaz de 20 anos que se comporta como criança de
dez. Ainda que maldigamos o envelhecimento, é ele que nos traz a aceitação das
ambiguidades, das diferenças, do contraditório e abre espaço para uma diversidade de
experiências com as quais nem sonhávamos anteriormente.

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VARELLA, D. A arte de envelhecer. Adaptado. Disponível em


<http://www1.folha.uol.com.br/colunas/2016/01/1732457> Acesso em: mai. 2017.

9. (Ita 2018) Em todas as opções, o autor vale-se de metáforas para construir sua
argumentação, EXCETO em
a) sombra que nos acompanha (parágrafo 2)
b) período áureo (parágrafo 5)
c) dores sem analgesia (parágrafo 7)
d) a mais temível das criaturas (parágrafo 7)
e) editora autoritária (parágrafo 9)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


A(s) quest(ões) a seguir refere(m)-se ao texto a seguir:
1
Vou confessar um pecado: às vezes, faço maldades. Mas não faço por mal. Faço o
que faziam os mestres zen com seus "koans". "Koans" eram rasteiras que os mestres
passavam no pensamento dos discípulos. Eles sabiam que só se aprende o novo quando as
certezas velhas caem. E acontece que eu gosto de passar rasteiras em certezas de jovens e
de velhos...
Pois o que eu faço é o seguinte. Lá estão os jovens nos semáforos, de cabeças
raspadas e caras pintadas, na maior alegria, celebrando o fato de haverem passado no
vestibular. Estão pedindo dinheiro para a festa! Eu paro o carro, abro a janela e na maior
seriedade digo: "Não vou dar dinheiro. Mas vou dar um conselho. Sou professor emérito da
Unicamp. 2O conselho é este: salvem-se enquanto é tempo!". 3Aí o sinal fica verde e eu
continuo.
"Mas que desmancha-prazeres você é!", vocês me dirão. É verdade. Desmancha-
prazeres. Prazeres inocentes baseados no engano. Porque aquela alegria toda se deve
precisamente a isto: eles estão enganados.
Estão alegres porque acreditam que a universidade é a chave do mundo. 4Acabaram
de chegar ao último patamar. 5As celebrações têm o mesmo sentido que os eventos iniciáticos
– nas culturas ditas primitivas, 6as provas a que têm de se submeter os jovens que passaram
pela puberdade. Passadas as provas e os seus sofrimentos, os jovens deixaram de ser
crianças. Agora são adultos, com todos os seus direitos e deveres. Podem assentar-se na roda
dos homens. Assim como os nossos jovens agora podem dizer: "Deixei o cursinho. Estou na
universidade".
Houve um tempo em que as celebrações eram justas. Isso foi há muito tempo, quando
eu era jovem. Naqueles tempos, um diploma universitário era garantia de trabalho. Os pais se
davam como prontos para morrer quando uma destas coisas acontecia: 1) a filha se casava.
Isso garantia o seu sustento pelo resto da vida; 2) a filha tirava o diploma de normalista. Isso
garantiria o seu sustento caso não casasse; 3) o filho entrava para o Banco do Brasil; 4) o filho
tirava diploma.
7
O diploma era mais que garantia de emprego. Era um atestado de nobreza. Quem
tirava diploma não precisava trabalhar com as mãos, 8como os mecânicos, pedreiros e
carpinteiros, que tinham mãos rudes e sujas.
Para provar para todo mundo que não trabalhavam com as mãos, os diplomados
tratavam de pôr no dedo um anel com pedra colorida. Havia pedras para todas as profissões:
médicos, advogados, músicos, engenheiros. Até os bispos tinham suas pedras.
(Ah! Ia me esquecendo: os pais também se davam como prontos para morrer quando o
filho entrava para o seminário para ser padre – aos 45 anos seria bispo – ou para o exército
para ser oficial – aos 45 anos seria general.)
Essa ilusão continua a morar na cabeça dos pais e é introduzida na cabeça dos filhos
desde pequenos. 9Profissão honrosa é profissão que tem diploma universitário. Profissão
rendosa é a que tem diploma universitário. Cria-se, então, a fantasia de que as únicas opções
de profissão são aquelas oferecidas pelas universidades.
Quando se pergunta a um jovem "O que é que você vai fazer?", o sentido dessa
pergunta é "Quando você for preencher os formulários do vestibular, qual das opções
oferecidas você vai escolher?". E as opções não oferecidas? Haverá alternativas de trabalho
que não se encontram nos formulários de vestibular?

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Como todos os pais querem que seus filhos entrem na universidade e (quase) todos os
jovens querem entrar na universidade, 10configura-se um mercado imenso, mas imenso
mesmo, de pessoas desejosas de diplomas e prontas a pagar o preço. Enquanto houver jovens
que não passam nos vestibulares das universidades do Estado, haverá mercado para a criação
de universidades particulares. É um bom negócio.
11
Alegria na entrada. Tristeza ao sair. Forma-se, então, a multidão de jovens com
diploma na mão, mas que não conseguem arranjar emprego. Por uma razão aritmética: o
número de diplomados é muitas vezes maior que o número de empregos.
Já sugeri que os jovens que entram na universidade deveriam aprender, junto com o
curso "nobre" que frequentam, um ofício: marceneiro, mecânico, cozinheiro, jardineiro, técnico
de computador, eletricista, encanador, descupinizador, motorista de trator... O rol de ofícios
possíveis é imenso. Pena que, nas escolas, as crianças e os jovens não sejam informados
sobre essas alternativas, por vezes mais felizes e mais rendosas.
12
Tive um amigo professor que foi guindado, contra a sua vontade, à posição de reitor
de um grande colégio americano no interior de Minas. Ele odiava essa posição porque era
obrigado a fazer discursos. 13E ele tremia de medo de fazer discursos. Um dia ele desapareceu
sem explicações. Voltou com a família para o seu país, os Estados Unidos. Tempos depois,
encontrei um amigo comum e perguntei: "Como vai o Fulano?". Respondeu-me: "Felicíssimo.
14
É motorista de um caminhão gigantesco que cruza o país!".

(Rubem Alves. Diploma não é solução, Folha de S. Paulo, 25/05/2004.)

10. (Ita 2016) Assinale a opção em que o segmento NÃO apresenta a figura de pensamento a
ele atribuída.

a) [...] às vezes, faço maldade. Mas não faço por mal. (referência 1) Paradoxo

b) [...] configura-se um mercado imenso, mas imenso mesmo (referência 10) Gradação

c) Alegria na entrada. Tristeza ao sair. (referência 11) Antítese

d) E ele tremia de medo de fazer discursos. (referência 13) Ironia

e) É motorista de um caminhão gigantesco que cruza o país (referência 14) Hipérbole

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


TEXTO
1
José Leal fez uma reportagem na Ilha das Flores, onde ficam os imigrantes logo que
chegam. E falou dos equívocos de nossa política imigratória. 2As pessoas que ele encontrou
não eram agricultores e técnicos, gente capaz de ser útil. Viu músicos profissionais, bailarinas
austríacas, cabeleireiras lituanas. Paul Balt toca acordeão, Ivan Donef faz coquetéis, Galar
Bedrich é vendedor, Serof Nedko é ex-oficial, Luigi Tonizo é jogador de futebol, Ibolya Pohl é
costureira. Tudo 15gente para o asfalto, “para entulhar as grandes cidades”, como diz o repórter.
6
O repórter tem razão. 3Mas eu peço licença para ficar imaginando uma porção de
coisas vagas, ao olhar essas belas fotografias que ilustram a reportagem. Essa linda
costureirinha morena de Badajoz, essa Ingeborg que faz fotografias e essa Irgard que não faz
coisa alguma, esse Stefan Cromick cuja única experiência na vida parece ter sido vender
bombons 11– não, essa gente não vai aumentar a produção de batatinhas e quiabos nem
16
plantar cidades no Brasil Central.
7
É insensato importar gente assim. Mas o destino das pessoas e dos países também é,
muitas vezes, insensato: principalmente da gente nova e países novos. 8A humanidade não
vive apenas de carne, alface e motores. Quem eram os pais de Einstein, eu pergunto; e se o
jovem Chaplin quisesse hoje entrar no Brasil acaso poderia? Ninguém sabe que destino terão
no Brasil essas mulheres louras, esses homens de profissões vagas. Eles estão procurando
alguma coisa12: emigraram. Trazem pelo menos o patrimônio de sua inquietação e de seu
17
apetite de vida. 9Muitos se perderão, sem futuro, na vagabundagem inconsequente das

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cidades; uma mulher dessas talvez se suicide melancolicamente dentro de alguns anos, em
algum quarto de pensão. Mas é preciso de tudo para 18fazer um mundo; e cada pessoa
humana é um mistério de heranças e de taras. Acaso importamos o pintor Portinari, o arquiteto
Niemeyer, o físico Lattes? E os construtores de nossa indústria, como vieram eles ou seus
pais? Quem pergunta hoje, 10e que interessa saber, se esses homens ou seus pais ou seus
avós vieram para o Brasil como agricultores, comerciantes, barbeiros ou capitalistas,
aventureiros ou vendedores de gravata? Sem o tráfico de escravos não teríamos tido Machado
de Assis, e Carlos Drummond seria impossível sem uma gota de sangue (ou uísque) escocês
nas veias, 4e quem nos garante que uma legislação exemplar de imigração não teria feito
Roberto Burle Marx nascer uruguaio, Vila Lobos mexicano, ou Pancetti chileno, o general
Rondon canadense ou Noel Rosa em Moçambique? Sejamos humildes diante da pessoa
humana: 5o grande homem do Brasil de amanhã pode descender de um clandestino que neste
momento está saltando assustado na praça Mauá13, e não sabe aonde ir, nem o que fazer.
Façamos uma política de imigração sábia, perfeita, materialista14; mas deixemos uma pequena
margem aos inúteis e aos vagabundos, às aventureiras e aos tontos porque dentro de algum
deles, como sorte grande da fantástica 19loteria humana, pode vir a nossa redenção e a nossa
glória.

(BRAGA, R. Imigração. In: A borboleta amarela. Rio de Janeiro, Editora do Autor, 1963)

11. (Ita 2015) Assinale a opção em que há metonímia.


a) gente para o asfalto (ref. 15)
b) plantar cidades (ref. 16)
c) apetite de vida (ref. 17)
d) fazer um mundo (ref. 18)
e) loteria humana (ref. 19)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Moradores de Higienópolis admitiram ao jornal Folha de S. Paulo que 6a abertura de
uma estação de metrô na avenida Angélica traria “gente diferenciada” ao bairro. Não é difícil
imaginar que alguns vizinhos do Morumbi compartilhem esse medo e prefiram o isolamento
garantido com a inexistência de transporte público de massa por ali.
Mas 1à parte o gosto exacerbado dos paulistanos por levantar muros, erguer fortalezas
e se refugiar em ambientes distantes do Brasil real, o poder público não fez a sua parte em
desmentir que a chegada do transporte de massas não degrade a paisagem urbana.
Enrique Peñalosa, ex-prefeito de Bogotá, na Colômbia, e grande especialista em
transporte coletivo, diz que não basta criar corredores de ônibus bem asfaltados e servidos por
diversas linhas. Abrigos confortáveis, boa iluminação, calçamento, limpeza e paisagismo que
circundam estações de metrô ou pontos de ônibus precisam mostrar o status que o transporte
público tem em uma determinada cidade.
Se no entorno do ponto de ônibus, a calçada está esburacada, há sujeira e 7a
escuridão afugenta pessoas à noite, é normal que moradores não queiram a chegada do
transporte de massa.
8
A instalação de linhas de monotrilho ou de corredores de ônibus precisa vitaminar uma
área, não destruí-la.
9
Quando as grades da Nove de Julho foram retiradas, 2a avenida ficou menos tétrica,
quase bonita. Quando o corredor da Rebouças fez pontos muito modestos, que acumulam
diversos ônibus sem dar vazão a desembarques, 3a imagem do engarrafamento e da bagunça
vira um desastre de relações públicas.
4
Em Istambul, monotrilhos foram instalados no nível da rua, como os “trams” das
cidades alemãs e suíças. Mesmo em uma cidade de 16 milhões de habitantes na Turquia, país
emergente como o Brasil, houve cuidado com os abrigos feitos de vidro, com os bancos
caprichados – em formato de livro – e com a iluminação. Restou menos espaço para os carros
porque a ideia ali era tentar convencer na marra os motoristas a deixarem mais seus carros em
casa e usarem o transporte público.
Se os monotrilhos do Morumbi, de fato, se parecerem com um Minhocão*, o Godzilla
do centro de São Paulo, os moradores deveriam protestar, pedindo melhorias no projeto,
detalhamento dos materiais, condições e impacto dos trilhos na paisagem urbana. 5Se forem
como os antigos bondes, ótimo.

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Mas se os moradores simplesmente recusarem qualquer ampliação do transporte


público, que beneficiará diretamente os milhares de prestadores de serviço que precisam
trabalhar na região do Morumbi, vai ser difícil acreditar que o problema deles não seja a gente
diferenciada que precisa circular por São Paulo.

(Raul Justes Lores. Folha de S. Paulo, 07/10/2010. Adaptado.)

(*) Elevado Presidente Costa e Silva, ou Minhocão, é uma via expressa que liga o Centro à
Zona Oeste da cidade de São Paulo.

12. (Ita 2012) A possível instalação de uma estação do metrô na avenida Angélica e a reação
por parte de moradores de Higienópolis gerou muita polêmica e manifestações, que foram
veiculadas na mídia impressa e virtual. Assinale a opção, cuja manifestação não constitui uma
ironia.
a) “Só ando de metrô em Paris, Nova York e Londres” (cartaz que integrava uma manifestação
contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a avenida
Pacaembu).
b) “Nós queremos o metrô sim. Mas ele tem que ser condizente com o nível do bairro. Portanto,
exigimos uma ligação direta com Alphaville, Morumbi e Veneza, na Itália.” (frase de um
participante de uma manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida
Angélica para a avenida Pacaembu).
c) “É tão fácil resolver problema, gente: faz uma entrada social e uma de serviço.” (Luísa
Tieppo, no Twitter)
d) “Eu não uso metrô e não usaria. Isso vai acabar com a tradição do bairro. Você já viu o tipo
de gente que fica ao redor das estações do metrô? Drogados, mendigos, uma gente
diferenciada.” (moradora de Higienópolis, em reportagem da Folha, 13/08/2010).
e) “Não se esqueçam dos sacos de lixo. Somos diferenciados, mas somos limpinhos” (convite
virtual divulgado no Facebook para o “Churrascão da Gente Diferenciada”, uma
manifestação contra a mudança da futura estação do metrô da avenida Angélica para a
avenida Pacaembu).

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Escravos da tecnologia
11
Não, não vou falar das fábricas que atraem trabalhadores honestos e os tratam de forma
desumana. Cada vez que um produto informa orgulhoso que foi desenhado na Califórnia e
fabricado na China, sinto um arrepio na espinha. Conheço e amo essas duas partes do mundo.
6
Também conheço a capacidade de a tecnologia eliminar empregos. 1Parece o sonho de todo
patrão: muita margem de lucro e poucos empregados. Se possível, nenhum! Tudo terceiro!

Conheço ainda como a tecnologia é capaz de criar empregos. 7Vivo há 15 anos num meio que
disputa engenheiros e técnicos a tapa, digo, a dólares. O que acontece aí no Brasil, nessa
área, acontece igualzinho no Vale do Silício: empresas tentando arrancar talentos umas das
outras. 8Aqui, muitos decidem tentar a sorte abrindo sua própria *start-up, em vez de encher o
bolso do patrão. Estou rodeada também de investidores querendo fazer apostas para... voltar a
encher os bolsos ainda mais.

Mas queria falar hoje de outro tipo de escravidão tecnológica. 12Não dos que dormiram na rua
sob chuva para comprar o novo iPhone 4S... Quero reclamar de quanto nós estamos tendo de
trabalhar de graça para os sistemas, cada vez que tentamos nos mover na Internet. 2Isso é
escravidão – e odeio isso.

Outro dia, fiz aniversário e fui reservar uma mesa num restaurante bacana da cidade. Achei o
site do restaurante, lindo, e pareceu fácil de reservar on-line. Call on OpenTable, sistema
bastante usado e eficaz por aqui. Escolhi dia, hora, informei número de pessoas e, claro, tive
de dar meu nome, e-mail e telefone.

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3
Dois dias antes da data marcada, precisei mudar o número de participantes, pois tive
confirmação de mais pessoas. Entrei no site, mas aí nem o site nem o OpenTable podiam
modificar a reserva on-line, pela proximidade do jantar. A recomendação era... telefonar ao
restaurante! Humm... Telefonei. Secretária eletrônica. Deixei recado.

No dia seguinte um funcionário do restaurante me ligou, confirmando ter ouvido o recado e tudo
certo com o novo tamanho da mesa. Incrível! Que felicidade ouvir um ser humano de verdade
me dando a resposta que eu queria ouvir! Hoje, tentando dar conta da leitura dos vários e-
mails que recebo, tentando arduamente não perder os relevantes, os imprescindíveis, os dos
amigos, os da família e os dos leitores, recebi um do OpenTable.

Queriam que avaliasse minha experiência no restaurante. 4Tudo bem, concordo que ranking de
público é coisa legal. 13Mas posso dizer outra coisa?

Não tenho tempo de ficar entrando em sites e preenchendo questionários de avaliação de cada
refeição, produto e serviço que usufruo na vida! Simples assim! Sem falar que é chato! Ainda
mais agora que os crescentes intermediários eletrônicos se metem no jogo entre o cliente e o
fornecedor.

Quando o garçom ou o “maitre” perguntam se a comida está boa, você fica contente em
responder, até porque eles podem substituir o prato se você não estiver gostando. Mas quando
um terceiro se mete nessa relação sem ser chamado, pode ser excessivo e desagradável.
9
Parece que todas as empresas do mundo decidiram que, além de exigir informações
cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus sistemas automáticos de
atendimento, tenho agora de preencher fichas pós-venda eletronicamente, de modo que as
estatísticas saiam prontas e baratinhas para eles do outro lado da tela, à custa do meu
precioso tempo!

Por que o OpenTable tem de perguntar de novo o que achei da comida? 14Eu sei. 16Porque
para o OpenTable essa informação tem um valor diferente. 10Não contente em fazer reservas,
quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que lista e traz avaliações dos clientes para
tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos restaurantes.

O Yelp, por sua vez, invadiu a praia do Zagat (recém-comprado pelo Google), tradicionalíssimo
guia (em papel) e restaurantes, que, por décadas, foi alimentado pelas avaliações dos leitores,
via correio.
15
As relações cliente-fornecedor estão mudando. Não faltarão “redutores” de custos e
atravessadores on-line.

(Marion Strecker. Folha de S. Paulo, 20/10/2011. Texto adaptado.)

* Start-up: Empresa com baixo custo de manutenção, que consegue crescer rapidamente e
gerar grandes e crescentes lucros em condições de extrema incerteza.

13. (Ita 2013) Assinale a opção em que no trecho selecionado NÃO se evidencia o recurso à
linguagem figurada.
a) Também conheço a capacidade de a tecnologia eliminar empregos. (ref. 6)
b) Vivo há 15 anos num meio que disputa engenheiros e técnicos a tapa, digo, a dólares. (ref.
7)
c) Aqui, muitos decidem tentar a sorte abrindo sua própria start-up, em vez de encher o bolso
do patrão. (ref. 8)
d) Parece que todas as empresas do mundo decidiram que, além de exigir informações
cadastrais, logins e senhas, e empurrar goela abaixo seus sistemas automáticos de
atendimento, [...]. (ref. 9)
e) Não contente em fazer reservas, quis invadir a praia do Yelp, o grande guia local que lista e
traz avaliações dos clientes para tudo quanto é tipo de serviço, a começar pelos
restaurantes. (ref. 10)

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Super Professor

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


Véspera de um dos muitos feriados em 2009 e a insana tarefa de mover-se de um
bairro a outro em São Paulo para uma reunião de trabalho. Claro 11que a cidade já tinha
travado no meio da tarde. De táxi, pagaria uma fortuna para ficar parada e chegar atrasada,
6
pois até as vias alternativas que os taxistas conhecem estavam entupidas. De ônibus, nem o
corredor funcionaria, tomado pela fila dos 1mastodônticos veículos. Uma dádiva: eu não estava
de carro. Com as pernas livres dos pedais do automóvel e um sapato baixo, nada como viver a
liberdade de andar a pé. Carro já foi sinônimo de liberdade, mas não contava com o
congestionamento.
Liberdade de verdade é trafegar entre os carros, e mesmo sem apostar corrida,
observar que o automóvel na rua anda à mesma velocidade média que você na calçada. É
quase como 2flanar. Sei, como motorista, 12que o mais irritante do trânsito é quando o pedestre
naturalmente te ultrapassa. Enquanto você, no carro, gasta dinheiro para encher o ar de
poluentes, esquentar o planeta e chegar atrasado às reuniões. E ainda há quem pegue
congestionamento para andar de esteira na academia de ginástica.
Do Itaim ao Jardim Paulista, meia horinha de caminhada. Deu para ver que a Avenida
Nove de Julho está cheia de mudas crescidas de pau-brasil. E mais uma 3porção de cenas
13
que só andando a pé se pode observar. Até chegar ao compromisso pontualmente.
Claro 14que há pedras no meio do caminho dos pedestres, e muitas. 7Já foram inclusive
objeto de teses acadêmicas. Uma delas, Andar a pé: um modo de transporte para a cidade de
São Paulo, de Maria Ermelina Brosch Malatesta, sustenta que, 8apesar de ser a saída mais
utilizada pela população nas atuais condições de esgotamento dos sistemas de mobilidade, o
modo de transporte a pé é tratado de forma inadequada pelos responsáveis por administrar e
planejar o município.
As maiores reclamações de quem usa o mais simples e barato meio de locomoção são
os
“obstáculos” que aparecem pelo caminho: bancas de camelôs, bancas de jornal, lixeira, postes.
Além das calçadas estreitas, com buracos, degraus, desníveis. E o estacionamento de veículos
nas calçadas, mais a entrada e a saída em guias rebaixadas, aponta o estudo.
Sem falar nas estatísticas: atropelamentos correspondem a 14% dos acidentes de
trânsito. Se o acidente envolve vítimas fatais, o percentual sobe para nada menos 15que 50% -
o que atesta a falta de investimento público no transporte a pé.
Na Região Metropolitana de São Paulo, as viagens a pé, com extensão mínima de 500
metros, correspondem a 34% do total de viagens. Percentual parecido com o de Londres, de
33%. Somadas aos 32% das viagens realizadas por transporte coletivo, que são iniciadas e
concluídas por uma viagem a pé, perfazem o total de 66% das viagens! Um número bem
4
desproporcional ao espaço destinado aos pedestres e ao investimento público destinado a
eles, especialmente em uma cidade como São Paulo, onde o transporte individual motorizado
tem a 5primazia.
A locomoção a pé acontece tanto nos locais de maior densidade – caso da área
central, com registro de dois milhões de viagens a pé por dia –, como nas regiões mais
distantes, onde são maiores as deficiências de transporte motorizado e o perfil de renda é
menor. A maior parte das pessoas que andam a pé tem poder aquisitivo mais baixo. Elas
buscam alternativas para enfrentar a condução cara, desconfortável ou lotada, o ponto de
ônibus ou estação distantes, a demora para a condução passar e a viagem demorada.
9
Já em bairros nobres, como Moema, Itaim e Jardins, por exemplo, é fácil ver carrões
que saem das garagens para ir de uma esquina a outra e disputar improváveis vagas de
estacionamento. A ideia é manter-se fechado em shoppings, boutiques, clubes, academias de
ginástica, escolas, escritórios,10 porque o ambiente lá fora – o nosso meio ambiente urbano –
dizem que é muito perigoso.

(Amália Safatle. http://terramagazine.terra.com.br,


15/07/2009. Adaptado.)

14. (Ita 2011) Assinale a opção em que a expressão ou palavra grifada expressa exagero.
a) De ônibus, nem o corredor funcionaria, tomado pela fila dos mastodônticos veículos. (ref. 1)
b) É quase como flanar. (ref. 2)
c) E mais uma porção de cenas que só andando a pé se pode observar. (ref. 3)
d) Um número bem desproporcional ao espaço destinado aos pedestres [...]. (ref. 4)

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e) [...] onde o transporte individual motorizado tem a primazia. (ref. 5)

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:


São Paulo – Não é preciso muito para imaginar o dia em que a moça da rádio nos
anunciará, do helicóptero, o colapso final: “A CET1 já não registra a extensão do
congestionamento urbano. 4Podemos ver daqui que todos os carros em todas as ruas estão
imobilizados. 9Ninguém anda, para frente ou para trás. 5A cidade, enfim, parou. As autoridades
pedem calma, muita calma”.
“A autoestrada do Sul” é um conto extraordinário de Julio Cortázar2. Está em Todos os
fogos o fogo, de 1966 (a Civilização Brasileira traduziu). Narra, com monotonia infernal, um
congestionamento entre Fontainebleau e Paris. É a história que inspirou Weekend à francesa
(1967), de Godard3.
O que no início parece um transtorno corriqueiro vai assumindo contornos absurdos.
6
Os personagens passam horas, mais horas, dias inteiros entalados na estrada.
10
Quando, sem explicações, o nó desata, os motoristas aceleram “sem que já se
soubesse para que tanta pressa, por que essa correria na noite entre automóveis
desconhecidos onde ninguém sabia nada sobre os outros, onde todos olhavam para a frente,
exclusivamente para a frente”.
Não serve de consolo, mas faz pensar. Seguimos às cegas em frente há quanto
tempo? De Prestes Maia aos túneis e viadutos de Maluf, a cidade foi induzida a andar de carro.
Nossa urbanização se fez contra o transporte público. O símbolo modernizador da era JK é o
pesadelo de agora, 11mas o fetiche da lata sobre rodas jamais se abalou.
Será ocasional que os carrões dos endinheirados – essas peruas high-tech – se
pareçam com tanques de guerra? 12As pessoas saem de casa dentro de bunkers, literalmente
armadas. E, como um dos tipos do conto de Cortázar, veem no engarrafamento uma “afronta
pessoal”.
Alguém acredita em soluções sem que haja antes um colapso? 7Ontem era a crise
aérea, amanhã será outra qualquer. 13A classe média necessita reciclar suas aflições. 8E
sempre haverá algo a lembrá-la – coisa mais chata – de que ainda vivemos no Brasil. (SILVA,
Fernando de Barros. Folha de S. Paulo, 17/03/2008.)

(1) CET – Companhia de Engenharia de Tráfego.


(2) Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino.
(3) Jean-Luc Godard, cineasta francês, nascido em 1930.

15. (Ita 2011) Não há emprego de metáfora em


a) Ninguém anda, para frente ou para trás. (ref. 9)
b) Quando, sem explicações, o nó desata, os motoristas aceleram […]. (ref. 10)
c) […] mas o fetiche da lata sobre rodas jamais se abalou. (ref. 11)
d) As pessoas saem de casa dentro de bunkers, literalmente armadas. (ref. 12)
e) A classe média necessita reciclar suas aflições. (ref. 13)

16. (Ita 2002) Assinale a figura de linguagem predominante no seguinte trecho:

A engenharia brasileira está agindo rápido para combater a crise de energia.


a) Metáfora.
b) Metonímia.
c) Eufemismo.
d) Hipérbole.
e) Pleonasmo.

17- ITA 2019


Leia atentam ente o trecho destacado e assinale a alternativa incorreta.

Seu Ribeiro lia as cartas, conhecia os segredos, era considerado e major. [...] Todos
acreditavam na sabedoria do major. Com efeito, seu Ribeiro não era inocente. [...] Os outros
homens, sim, eram inocentes. [...] O major decidia, ninguém apelava. A decisão do major era

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um prego. Não havia soldados no lugar, nem havia juiz. E como o vigário residia longe, a
mulher de seu Ribeiro rezava o terço e contava histórias de santos às crianças. E possível que
nem todas as histórias fossem verdadeiras, mas as crianças daquele tempo não se
preocupavam com a verdade. [S. Bernardo, pp. 43-44].

Alternativas

A
A metáfora do prego sugere que as decisões do major eram inquestionáveis.
B
“Seu Ribeiro era considerado” pode ser substituído sem perda de sentido por “seu Ribeiro era
respeitado”.
C
O major e sua família eram, no local, a autoridade em questões legais, morais e religiosas.
D
A verdade tinha mais importância no local do que a autoridade do major.
E
A palavra “inocente” tem o mesmo sentido nas duas vezes em que ocorre no trecho.

18- IME 2016

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Ao Longo de todo poema Homem: As Viagens (Texto 2), o poeta usa exaustivamente como
recurso de expressão (estilo) a
Alternativas
A
adjetivação.
B
comparação.
C
repetição.
D
aliteração.
E

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Super Professor

personificação.

19- IME - 2014

(Manuel Bandeira)
Quando a Indesejada das gentes chegar
(Não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:
— Alô, iniludível!
O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta,
Com cada coisa em seu lugar.
Disponível em: <http://www.poesiaspoemaseversos.com.br> Acesso em: 29 Abr 2014.

Ainda no texto 3, ao utilizar a expressão “a Indesejada das gentes”, o autor faz uso da figura de
linguagem conhecida como:
Alternativas
A
hipérbole.
B
anacoluto.
C
antítese.
D
metonímia.
E
eufemismo.

20 2010 - IME -

O AÇÚCAR (Ferreira Gullar)


O branco açúcar que adoçará meu café
nesta manhã de Ipanema
não foi produzido por mim
nem surgiu dentro do açucareiro por milagre.

Vejo-o puro
e afável ao paladar
como beijo de moça, água
na pele, flor
que se dissolve na boca. Mas este açúcar
não foi feito por mim.

Este açúcar veio


da mercearia da esquina e tampouco o fez o Oliveira, dono da mercearia.
Este açúcar veio
de uma usina de açúcar em Pernambuco
ou no Estado do Rio
e tampouco o fez o dono da usina.

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Super Professor

Este açúcar era cana


e veio dos canaviais extensos
que não nascem por acaso
no regaço do vale.

Em lugares distantes, onde não há hospital


nem escola,
homens que não sabem ler e morrem de fome
aos 27 anos
plantaram e colheram a cana
que viraria açúcar.

Em usinas escuras,
homens de vida amarga
e dura
produziram este açúcar
branco e puro
com que adoço meu café esta manhã em Ipanema.

Disponível em: <http://acd.ufrj.br/~pead/tema04/valorizacaodaforma.htm> . Acesso em: 07 jun.


2010.

A respeito da figura de linguagem utilizada na última estrofe do texto , podemos afirmar que
Alternativas
A
é uma antítese e revela um contraste social.
B
é uma antonomásia e expressa as péssimas condições de trabalho dos canavieiros.
C
é um eufemismo e ressalta o valor dado por um elemento da classe média alta carioca ao
trabalho nos canaviais.
D
a cor branca e a pureza são metáforas que expressam a admiração do poeta pelo ato de
adoçar o café matutino.
E
há uma catacrese em “com que adoço meu café esta manhã em Ipanema” expressando parte
do ritual de tomar café.

Gabarito:

Resposta da questão 1:
[A]

A expressão “escutar o sereno” é composta por um verbo que faz referência ao sentido da
audição (escutar) e um complemento que faz referência ao sentido do tato (o sereno). Assim,
temos a mistura de dois sentidos distintos, o que configura uma sinestesia.

Resposta da questão 2:
[B]

[I] Incorreta: há a figura da onomatopeia em “r-r-r-r-r-r”, mas não há a figura da antonomásia no


trecho.
[III] Incorreta: os pontos de exclamação são utilizados para indicar a admiração e
encantamento do eu lírico.

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Resposta da questão 3:
[A]

[I] Correta: o quiasmo é construído a partir da repetição e inversão de estruturas (formadas por
palavras). Assim, repete-se a mesma estrutura de uma frase em outra, alterando apenas a
ordem. É isso que se observa, por exemplo, com o trecho “para a beleza disto”, que aparece
no final do 3º verso e, em seguida, no início do 4º, constituindo um quiasmo.
[II] Incorreta: na verdade, o eu lírico apenas caracteriza as circunstâncias de sua escrita, sem
se referir a procedimentos usados na elaboração de seus versos.
[III] Incorreta: na verdade, a palavra “fera” tem sentido de ferocidade, sensação motivada pelas
máquinas que serão descritas ao longo do poema e que têm a mesma postura “feroz” e
“selvagem” do eu lírico na sua escrita.

Resposta da questão 4:
[B]

No trecho, vemos uma metonímia, figura de linguagem caracterizada pela substituição de um


termo por outro a partir de uma relação de contiguidade. No caso, temos a substituição da obra
lida pela figura do autor. Em “depois de ler um pouco o Sotero”, a obra é substituída pelo seu
autor “Sotero”.

Resposta da questão 5:
[D]

No trecho, os termos “orla” e “caatinga” estabelecem relação entre o mar e o sertão, visto que o
primeiro vocábulo, mesmo usado normalmente para caracterizar um espaço próximo a mares e
rios, remente, neste caso, a uma margem de terra da caatinga.

Resposta da questão 6:
[D]

O trecho destacado apresenta a personificação do sentimento de alegria, uma vez que ela
assume característica humana de circunspecção, alguém que analisa algo.

Resposta da questão 7:
[C]

O termo “elefante”, animal grande e desengonçado, contrasta com os termos “carícia”, “suave”,
“pluma” e “algodão”, constituindo uma antítese. Assim, é correta a opção [C].

Resposta da questão 8:
[A]

O vocábulo “raízes” sugere, metaforicamente, o desenvolvimento do eu interior em contato com


o meio social em que está inserido, em estado latente, como a semente antes de “germinar”.
Ou seja, enquanto o vocábulo “raízes” pressupõe ação, “semente” sugere “inércia”,
configurando, assim, uma oposição de sentido entre eles. É correta a opção [A].

Resposta da questão 9:
[C]

[A] Incorreta. Há emprego de metáfora em “O envelhecimento é sombra que nos acompanha”,


conotando ameaça.
[B] Incorreta. Trata-se de metáfora, pois em “A exaltação da juventude como o período áureo
da existência humana” a expressão destacada conota momento de plenitude.

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[C] Correta. No trecho “Nossos ancestrais viveram num mundo devastado por guerras,
enfermidades infecciosas, escravidão, dores sem analgesia e a onipresença da mais
temível das criaturas”, a expressão apresenta seu sentido real, de dores sem possibilidade
de serem cessadas.
[D] Incorreta. Há emprego de metáfora em “Nossos ancestrais viveram num mundo devastado
por (...) a onipresença da mais temível das criaturas”, conotando o medo onipresente.
[E] Incorreta. Trata-se de metáfora, pois “a memória é editora autoritária” conota a opinião do
autor de que a memória é capaz de alterar recordações no homem.

Resposta da questão 10:


[D]

A alternativa correta é a [D]. O segmento apresentado não apresenta ironia, pois essa figura de
pensamento se caracteriza por dizer justamente o contrário do que se pensa, muitas vezes
como sátira, a fim de ridicularizar aquilo que se expressa. Ao afirmar que o reitor do colégio
americano “tremia de medo de fazer discursos”, o autor de fato estava descrevendo efeitos
corporais sentidos por seu amigo quando este tinha de falar em público.

Resposta da questão 11:


[A]

Metonímia é uma figura de retórica que consiste na substituição de um termo por outro, quando
entre ambos existe uma relação de contiguidade, ou seja, quando há uma relação de
proximidade de significado. Essa figura está presente na frase da opção [A], pois o termo
“asfalto” remete a espaço urbano, a cidade, como parte de um todo. Em [B], [C] e [E] há uso de
metáforas e em [D], hipérbole.

Resposta da questão 12:


[D]

Na opção [D] não existe ironia, pois a moradora de Higienópolis reproduz exatamente o que
pensa, ou seja, manifesta a sua profunda rejeição por “esse tipo de gente” que,
eufemisticamente, caracteriza como “diferenciada”.

Resposta da questão 13:


[A]

Apenas em [A] existe linguagem denotativa. Expressões como “disputa engenheiros e técnicos
a tapa”, “encher o bolso do patrão”, “empurrar goela abaixo” e “invadir a praia do Yelp”, das
opções [B], [C], [D] e [E], configuram recurso de linguagem figurada, como metáfora,
metonímia, hipérbole e metáfora, respectivamente.

Resposta da questão 14:


[A]

“Mastodôntico” significa “gigantesco”, “corpulento”, “colossal” e o seu uso, neste contexto,


configura uma hipérbole.

Resposta da questão 15:


[A]

Palavras e expressões como “nó desata”, “lata sobre rodas”, “bunkers” e “reciclar suas aflições”
substituem metaforicamente “fim do congestionamento”, “carro”, “automóveis blindados” e
“substituir suas preocupações”. Assim, apenas a opção a) apresenta linguagem denotativa,
pois a forma do verbo andar apresenta o seu significado literal: mover-se.

Resposta da questão 16:


[B]

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17- A
18-C
19-E
20- A

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Resumo das questões selecionadas nesta atividade


Data de elaboração: 06/02/2024 às 10:50
Nome do arquivo: Ime-aula-figuras_de_linguagem

Legenda:
Q/Prova = número da questão na prova
Q/DB = número da questão no banco de dados do SuperPro®

Q/prova Q/DB Grau/Dif. Matéria Fonte Tipo

1.............220597.....Média.............Português......Ime/2023..............................Múltipla escolha

2.............203394.....Média.............Português......Ime/2022..............................Múltipla escolha

3.............203393.....Elevada.........Português......Ime/2022..............................Múltipla escolha

4.............203402.....Média.............Português......Ime/2022..............................Múltipla escolha

5.............195988.....Média.............Português......Ime/2021..............................Múltipla escolha

6.............190263.....Baixa.............Português......Ime/2020..............................Múltipla escolha

7.............183648.....Baixa.............Português......Ime/2019..............................Múltipla escolha

8.............174580.....Baixa.............Português......Ime/2018..............................Múltipla escolha

9.............176229.....Média.............Português......Ita/2018................................Múltipla escolha

10...........153083.....Baixa.............Português......Ita/2016................................Múltipla escolha .

11...........137144.....Média.............Português......Ita/2015................................Múltipla escolha

12...........110888.....Baixa.............Português......Ita/2012................................Múltipla escolha

13...........123543.....Baixa.............Português......Ita/2013................................Múltipla escolha

14...........101574.....Média.............Português......Ita/2011................................Múltipla escolha

15...........101582.....Média.............Português......Ita/2011................................Múltipla escolha

16...........40563.......Não definida. .Português......Ita/2002................................Múltipla escolha

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