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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

SEGUNDA LICENCIATURA EM EDUCAÇÃO ESPECIAL

MIRELA CAROLINE BUSQUETI GONÇALVES

A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE


CRIANÇAS AUTISTAS

A IMPORTÂNCIA DA LUDICIDADE NO PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO DE


CRIANÇAS AUTISTAS

SÃO JOSÉ DO RIO PRETO


2021

Mirela Caroline Busqueti Gonçalves 1

Declaro que sou autor(a)¹ deste Trabalho de Conclusão de Curso. Declaro também que o mesmo
foi por mim elaborado e integralmente redigido, não tendo sido copiado ou extraído, seja parcial ou
integralmente, de forma ilícita de nenhuma fonte além daquelas públicas consultadas e corretamente
referenciadas ao longo do trabalho ou daqueles cujos dados resultaram de investigações empíricas por
mim realizadas para fins de produção deste trabalho.
Assim, declaro, demonstrando minha plena consciência dos seus efeitos civis, penais e
administrativos, e assumindo total responsabilidade caso se configure o crime de plágio ou violação aos

1
E-mail: mirelabusqueti@gmail.com
direitos autorais. (Consulte a 3ª Cláusula, § 4º, do Contrato de Prestação de Serviços). “Deixar este texto
no trabalho conforme se apresenta, fonte e cor vermelha”.

RESUMO- A presente pesquisa tem como tema principal mostrar a importância do lúdico no
desenvolvimento do aluno autista incluso na educação infantil. A pesquisa apresenta procedimentos de
referencial bibliográfico que é desenvolvido a partir de material já elaborado, constituído principalmente
de livros e artigos científicos e material eletrônico. Sabemos que muitas escolas ainda sofrem em relação
à inclusão dos alunos autistas, pois muitos discutem e planejam a sua socialização em coletivos, mas
poucos conseguem aplicar, sendo que o brincar pode auxiliar no processo de inclusão e também mostrar
que os jogos e brincadeiras servem de instrumento para o processo de ensino aprendizagem na escola.
Os jogos, brinquedos e brincadeiras são atividades fundamentais da infância, pois o brincar pode
favorecer a imaginação, o desenvolvimento da linguagem, do pensamento, da criatividade e da
concentração, sendo fundamental que o professor organize os tempos e espaços, ocupando o papel de
mediador entre a criança e o brincar. Por isso faz-se necessário essa pesquisa que trata de mostrar a
importância do lúdico no desenvolvimento do aluno autista incluso na educação infantil.
PALAVRAS-CHAVE: Inclusão, Lúdico, Jogos, Aprendizagem
INTRODUÇÃO

O presente estudo tem como objetivo Investigar como elas aprendem, o que trazem
consigo, como se relacionam com seus pares e as condições do meio em que vivem,
devem ser preocupações constantes do professor no contexto escolar; bem como as
situações que passam para chegar a determinados níveis de conhecimento e serem
capazes de estabelecer relações cada vez mais avançadas, desenvolvendo também a
sua autonomia
A atividade lúdica norteia um trabalho pedagógico que visa o desenvolvimento
significativo do educando, pois a brincadeira e o jogo constituem um veículo privilegiado
de educação e favorecem o processo de ensino-aprendizagem. Eles fazem parte da
infância, possibilitando que a criança ultrapasse o mundo real, transformando-o em
imaginário. Além disso, a brincadeira é uma das formas encontradas para expressar
sentimentos e desejos, expor as emoções, além de reforçar os laços afetivos e elevar o
nível de interesse da criança com a brincadeira. O interesse em pesquisar a
importância da atividade lúdica como ferramenta de ensino em sala de aula, em
especial com crianças com necessidades educativas especiais, partiu da observação
em sala de aula e do querer fazer mais, ou seja, conduzir as crianças progressivamente
para níveis maiores de independência, autonomia e capacidade de aprender.
A pesquisa se baseia em análise de dados e revisão
biliográfica, através de artigos, dissertações e teses pertinentes ao tema. No dia a dia
da escola, observa-se que os educandos não são iguais, não há um tipo único de
aluno. Por isso, quando se consegue detectar as necessidades específicas e individuais
de cada um, o trabalho do educador torna-se muito mais eficaz e satisfatório.
Neste sentido, a escola desempenha um papel
importante pois, por meio da ludicidade, favorece a interação em diferentes situações,
ao considerar a brincadeira um instrumento agregador no processo de ensino-
aprendizagem. Isto é, a atividade lúdica está indissociável do processo de ensino-
aprendizagem. Entretanto, crianças com necessidades educativas especiais, como os
que foram diagnosticados com Transtorno do Espectro Autista (TEA), têm frequentado
escolas regulares, mas ainda falta suporte pedagógico voltado para ludicidade.

1. O CONCEITO DE APRENDIZAGEM

Piaget (2002) se dedicou a elaborar uma classificação de jogos através de


observações e registros, em sua casa, na escola, na rua. Para o autor há três
categorias e cada uma delas corresponde a um estágio mental da criança: sensório
motor, simbólico e jogo de regras. Faremos um breve estudo a cerca de cada uma
delas:
a) Sensório Motor, um estágio em que as atividades surgem como simples exercício
motor e que vai depender da maturidade do aparelho motor da criança.  É
caracterizado entre 0 a 2 anos. Nesta fase, a criança começa a construir o seu eu e
já diferencia o mundo externo do seu corpo. Neste estágio, os exercícios da criança 
são repetitivos, apalpa objetos, produz sons e ruídos, monta e desmonta. Embora
especifico dos dois primeiros anos de vida, ele reaparece durante toda a infância e
até mesmo em adulto, quando repetimos uma determinada conduta lúdica até que
uma nova capacidade seja adquirida. Por exemplo, uma criança de 7 anos que tenta
andar de bicicleta ou um adulto que começa a dirigir um carro.
b) Simbólicos:  compreendido entre 2 a 6 anos, se manifesta como ficção,
imaginação, imitação. Surge a metamorfose, a criança transforma o irreal em
realidade e assim sente prazer e pode ser um meio para que resolva conflitos,
compensação de necessidades não satisfeitas. Ela vai para um mundo de faz de
conta e fantasias; pois brincando de casinha, representa diferentes papéis, imitando
pai, mãe, filho; ao brincar de escolinha vai representar o aluno ou o papel do
professor. E muitas vezes, ela imita para fugir da realidade tentando eliminar
barreiras que poderiam levá-la ao fundo do poço. Esse faz de conta é um elemento
válido até que não ultrapasse valores presentes em nossa sociedade. Já que o real
sempre estará presente quando a criança voltar de suas fantasias. Nesse estágio, a
criança poderá desenvolver atitudes autoritárias ou liberais, carinhosas ou
agressivas, dependendo da convivência com o adulto.
c) Jogos de Regras: começa a se manifestar por volta de cinco anos, no entanto, se
caracteriza principalmente entre 8 a 19 anos e poderá perdurar durante toda vida.
São combinações que podem ir do sensório – motor como jogos de bola até aos
intelectuais como o xadrez. São caracterizados por regras, ordem e relações
sociais. Este tipo de jogo começa quando a criança se socializa, abandona o
egocentrismo, adquire o espírito de cooperação e isto é muito importante na escola.
Desta forma, conclui-se que é preciso, neste estágio, desenvolver em nossas
crianças o sentimento de solidariedade, companheirismo, pois assim estaremos
desenvolvendo um espírito coletivo em que todos se ajudarão e a escola terá realmente
cumprido seu papel, educando, socializando e preparando-o para a vida.

1.1. Vygostky e a teoria socio-interacionista

Para Vygotsky, a brincadeira é fundamental para o desenvolvimento infantil,


principalmente porque oportuniza interações. Vygotsky defende que jogar e brincar atua
na zona de desenvolvimento proximal do individuo, criando condições para que
determinados conhecimentos sejam consolidados. Vygotsky defende uma teoria sócio
interacionista, onde primeiro o individuo aprende para depois se desenvolver, e a zona
de desenvolvimento proximal é justamente um período onde a pessoa já possui certa
potencialidade para começar a desenvolver determinada habilidade, mas que ainda não
se consolidou.
A teoria de Vygotsky enfatiza ainda mais a responsabilidade do professor no
desenvolvimento do aluno. É fundamental que os professores, em suas práticas
pedagógicas e metodologias de ensino, insiram jogos e brincadeiras com fins
educativos, para que possam propiciar aos alunos excelentes experiências para que
possam se desenvolver e aprender com maior facilidade. O brincar desenvolve a
função simbólica e a linguagem e trabalha com os limites existentes entre o imaginário
e o concreto. Nas palavras do autor:

‘’O uso dos jogos proporciona ambientes desafiadores, capazes de


“estimular o intelecto” proporcionando a conquista de estágios mais
avançados de raciocínio. Quando o professor propõe situações de jogos
na sala de aula, ocasiona momentos de afetividade entre a criança e o
aprender, tornando a aprendizagem mais significativa e prazerosa. ‘’
(PIAGET, p. 73, 2002)
Portanto, jogos e brincadeiras combinados ao processo de ensino, são uma
excelente oportunidade de aprendizagem, além de propiciar as crianças
desenvolvimento físico, motor, intelectual, psicológico, aprimorar as habilidades sociais,
a interação e o raciocínio. Acreditamos que as brincadeiras de outras décadas que
fizeram crianças felizes e permanecem em alguns lugares são: a pipa, a bicicleta e a
bola.

2. O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O desenvolvimento psicomotor esta atrelado ao desenvolvimento biológico e


cognitivo infantil. Piaget (2002) divide o desenvolvimento infantil em quatro estágios,
sendo sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal. O
primeiro estágio, sensório motor, que vai do nascimento até os 2 anos é caracterizado
pela evolução da percepção e desenvolvimento da motricidade. Este estágio é dividido
em seis substágios:

1) 1. 0 a 1 mês: comportamento baseado no reflexo como a sucção e a apreensão.


2) 2. 1 a 4 meses: desenvolvimento da reação circular primária, iniciadas ao acaso
tendo relação com o meio físico e social e da repetição de movimentos simples.
Exemplo: chupar o dedo, virar a cabeça na direção do ruído, seguir um objeto
em movimento. Nesse período os reflexos vão dando lugar aos esquemas, ou
seja, os ciclos de reflexos vão se aprimorando por acaso.
3) 3. 4 a 8 meses: reação circular secundária começa aparecer a intencionalidade
nos movimentos, como balançar o chocalho para ouvir o barulho. D
4) 8 a 12 meses: caracterizada pela coordenação de esquemas. A criança passa a
associar o movimento com a visão e passa a empurrar objetos que atrapalham
sua visão.
5) 5. 12 a 18 meses: desenvolvimento dos gestos intencionais denominado como
reação circular terciária. Nesse período a criança desenvolve coordenação
flexível de esquemas secundários, e passa a experimentar novos meios que a
levam a um objetivo, puxar a toalha para ver o que tem em cima da mesa, subir
na cadeira para alcançar algum objeto.
6) 6. 18 a 24 meses: neste estágio ocorre a coordenação de movimentos que
resultam na elaboração do espaço, mostrando a relação entre o
desenvolvimento motor e a inteligência senso motora. A criança começa a
desenvolver a representação, imita coisas que acontecem ao seu redor e passa
a compreender que o objeto não some na sua ausência. (PIAGET, 2002)
Outras características desse estágio são a
centralidade, a irreversibilidade e o egocentrismo, características que indicam
uma percepção de mundo interno. Nesta fase ocorre interiorização dos
esquemas de ação, a capacidade de classificação de objetos por categorias, o
surgimento e consolidação da linguagem, do simbolismo e da imitação de ações.
O terceiro estágio vai dos 7 aos 11 anos,
denominado operatório-concreto e sua característica mais marcante é o
desenvolvimento de habilidades como a reflexão, a interiorização, o pensamento,
a coordenação e equilíbrio. A criança tem mais facilidade para resolver
problemas, mas ainda depende de um objeto de apoio, desenvolve a capacidade
de seriação, do pensamento reversível e da noção de espaço.

2.1. Aprendizagem e desenvolvimento

Vygotsky (2001, 2004, 2007) dedicou-se a postular as bases de uma nova


psicologia e propor um novo método que permitisse a investigação do
desenvolvimento do psiquismo de forma ampla. Pretendeu superar a limitação
existente à época que concebia o processo de desenvolvimento na condição de
uma alteração linear de comportamento imposta pelo outro social ou como um
resultado de mudanças exclusivamente de cunho biológico. As conclusões a que
o autor chegou são fruto da realização de quatro séries de investigações que
partiram do pressuposto de que os processos de aprendizagem e
desenvolvimento não são independentes e tampouco configuram um mesmo
processo, havendo entre eles uma complexa relação.
Na primeira série de experimentos, Vygotsky (2001) buscou identificar o
nível de maturidade das funções psíquicas que servia de subsunção ao ensino
das matérias escolares como leitura, escrita, aritmética e ciências naturais. O
experimento permitiu declinar as concepções dos teóricos piagetianos para
quem os ciclos de desenvolvimento antecedem os ciclos de aprendizagem.
Os resultados indicaram que, até o início do processo de
aprendizagem, nenhuma das crianças que participaram da investigação,
demonstrou maturidade tida como necessária para desencadear os processos
de aprendizagem, maturidade esta defendida pelos piagetianos.
Vygostky (2001) observou que, ao contrário, a aprendizagem
se apoiava em processos psíquicos imaturos, que apenas estavam iniciando o
seu círculo primeiro e básico de desenvolvimento. Certamente estes aportes
teóricos permitem pensar o processo de aprendizagem e desenvolvimento da
criança autista, porque esclarece que não há um momento único determinante
para se iniciar o processo.
Na segunda série de investigações de Vygotsky, os esforços
foram centrados na investigação temporal entre os processos de aprendizagem
e desenvolvimento. A conclusão dessa série de experimentos permitiu descobrir
que a aprendizagem está sempre à frente do desenvolvimento. Isto significa
dizer que a criança desenvolve hábitos e habilidades, numa área especifica,
antes de saber usá-los conscientemente.
A terceira série de investigações buscou analisar a
questão da disciplina formal, ou seja, a participação das disciplinas escolares no
desenvolvimento infantil. Para Herbart (apud VYGOTSKY, 2001), na instrução
formal, cada matéria ensinada na escola, especificamente, é importante para o
desenvolvimento geral da criança e que as várias matérias diferem, entre si, no
valor que possuem para produzir tal desenvolvimento geral. Elas habilitam uma
série de transformações cognitivas que resultam no desenvolvimento de
determinadas funções psicológicas, durante o período escolar, responsáveis pela
reflexão, pela consciência das aprendizagens que aí realizadas.
Vygotsky, entretanto, verificou que as disciplinas formais não
desenvolvem funções psicológicas diferentes entre si, pelo contrário, elas
interagem no processo de desenvolvimento da criança, assegurando a influência
de uma sobre a outra, por meio da interdependência e interligação de funções
psíquicas superiores.
Os resultados mostraram que o desenvolvimento intelectual da
criança não é distribuído nem realizado pelo sistema de matérias e que a
aprendizagem de uma forma peculiar de atividade possui pouca relação com
outras formas de atividade, mesmo que qualificação estas sejam muito
semelhantes à primeira. Diferentemente de outros teóricos, Vygotsky (2007)
conclui que aprendizado não é desenvolvimento, entretanto, a organização
adequada desse processo desencadeará vários processos de desenvolvimento.
O aprendizado é processo indispensável ao
desenvolvimento dos processos psicológicos históricos e culturalmente
organizados. Importante considerar ainda que os processos de desenvolvimento
não coincidem com os processos de aprendizado. O processo de
desenvolvimento acontece de forma mais lenta e sempre em momento posterior
ao processo de aprendizado, surgindo nesta dinâmica, a zona de
desenvolvimento proximal. Desvendar essa rede
interna no desenvolvimento das crianças é tarefa de elevada significância tanto
para área psicológica quanto educacional. Em se tratando do processo de ensino
e aprendizagem de crianças autistas, espera-se que promova o desenvolvimento
das formas superiores de pensamento, por meio da atuação efetiva do outro
social em seu processo de interação homem/mundo, de modo a criar novos
patamares de aprendizagem da linguagem, da capacidade de interação com os
pares e da imaginação.

3. O AUTISMO E SUAS CARACTERÍSTICAS

Para que haja um diagnóstico do autismo, é necessário que as áreas de


falha na interação, dificuldade na comunicação verbal e não verbal,
comprometimento da imaginação e comportamento e interesses repetitivos
sejam detectados no paciente , não sendo necessário que os sintomas sejam de
igual intensidade para cada criança que falam frases e crianças que não falam
nenhuma palavra.
Geralmente a dificuldade na comunicação não se restringe somente
a fala, se necessitar de algo, solicita ao adulto, pega na sua e o leva até onde
deseja, perante as alterações na comunicação, a criança parece estar em outro
mundo totalmente desligada do meio, sendo muito difícil chamar sua atenção
para algo que não lhe interessa. São extremamente capazes de ficar muito
tempo com sua atenção voltada em atividades sem sentido, como ficar muito
tempo observando um ventilador rodando.
Em alguns casos apresentam muita agitação e pavor diante
de alguns ruídos auditivos como (máquina de lavar, liquidificador, fogos de
artifícios) táteis (contato com alguns tecidos). Um simples ato de cortar unhas e o
cabelo , podem se transformar em grande transtornos e desencadear reações
adversas como agressões , gritos alucinantes e resistências fora de controle. É
impressionante a dificuldade em se socializarem, fazer amigos, interagir com
outras crianças, retribuir um sorriso e quase não fazer contato com o olhar,
resistem em sair de casa. Algumas se interessam por alguns objetos que giram e
escolhem como brinquedos simples como caixa de papelão, barbantes, rádio de
pilha, embalagens de presentes.
Manipulando estes objetos de forma repetitiva e obsessiva,
podendo permanecer horas sendo marcante a necessidade de seguir a rotina ou
seja brincar geralmente segui a mesma rotina . Os movimentos corporais são
geralmente repetitivos (estereotipados), como, por exemplo, balançar a cabeça ,
as mãos , o tronco para frente e para trás, bater palmas quando agitados e
ansiosos seja por alegria ou irritação. É importante reforçar que as
características cognitivas de cada criança autista dependem da sua faixa etária e
principalmente o grau e a presença ou não de um retardo mental severo.
É importante destacar que o
diagnóstico dos quadros autísticos se englobam outros distúrbios , como a
síndrome de Asperger , Rett entre outros não especificados , enfim não existe
ainda exame complementar capaz de comprovar o autismo , o diagnóstico se
firma em dados clínicos , ou seja a observação do comportamento.

4. A LUDICIDADE COMO FERRAMENTA DE ENSINO/APRENDIZAGEM


Ao pensarmos sobre as capacidades de aprendizagem infantil, no
processo de educação formal atual com metodologias verbais e tradicionais se
torna cada vez mais importante se pensar na importância do lúdico e o que ele
pode contribuir e proporcionar no processo de educação dos alunos com
necessidades educacionais especiais especialmente os autistas. As atividades
lúdicas proporcionam e auxiliam no desenvolvimento de outras linguagens, pois
o lúdico facilita no desenvolvimento de aprendizagem.
O jogo é uma peça chave no desenvolvimento integral da criança, pois é
uma atividade que proporciona conexões sistemáticas com o que não é jogo, isto
é, com o desenvolvimento do homem em outros planos como são a criatividade,
a solução de problemas, a aprendizagem de papeis sociais, etc., isto é, com
numerosos fenômenos cognitivos e sociais. (GARAIGORDOBIL, 2005).
Na opinião de Garaigordobil (2005, p. 18), o jogo permite à criança
desenvolver seu pensamento, satisfazer necessidades, explorar e descobrir o
gosto de criar, elaborar experiências, expressar e controlar emoções, ampliar
horizonte de si mesma, aprender a cooperar, etc. Por tudo isso, a autora afirma
que estimular a atividade lúdica positiva, simbólica, construtiva e cooperativa na
escola é sinônimo de potenciar o desenvolvimento infantil. Para a autora, o jogo
contribui para todos os aspectos de crescimento e de desenvolvimento humano,
a partir dos seguintes pontos de vista:
 Intelectual: jogando se aprende, porque obtém novas experiências, porque é
uma oportunidade de cometer erros e acertos, de aplicar seus conhecimentos,
de solucionar problemas. O jogo estimula o desenvolvimento das capacidades
de pensamento, da criatividade infantil e cria zonas potenciais de aprendizagem.
 Social: através do jogo se entra em contato com seus iguais, e isso lhe ajuda a
conhecer as pessoas que o rodeiam, a aprender normas de comportamento e a
descobrir-se no quadro destes intercâmbios.
Segundo Piaget (2000) a atividade lúdica é o berço obrigatório das
atividades intelectuais da criança, ou seja, não sendo apenas diversão para
gastar energia das crianças, mas sim meios que contribuem e enriquecem
efetivamente o seu desenvolvimento intelectual:
“O jogo e o brincar, portanto sob as suas formas essenciais de exercício
sensório-motor e de simbolismo, proporciona uma assimilação da real a
atividade própria fornecendo a esta seu alimento necessário e transformando-o
real em função das necessidades múltiplas do eu . Por isso, os métodos ativos
de educação das crianças exigem todos que se forneça as crianças um material
conveniente , a fim de que , jogando e brincando ,elas cheguem a assimilar as
realidades intelectuais que sem isso, permanecem exteriores a inteligência
infantil.” (PIAGET, 2000,p160).

Devem ser dadas oportunidades os autistas para que estas tiverem


a chance de desenvolverem todo o seu potencial , seja em aspectos motores,
cognitivos, afetivos sociais e especialmente educacionais, respeitando sempre
seus ritmos e limitações. Sabemos que o autismo traz alguns obstáculos para a
inclusão social, mediante a este fator é importante e válido que se faça um
trabalho bem estruturado, permitindo que a ludicidade ajude aos alunos autistas
a interagirem com o mundo ao seu redor, com seus amigos e familiares,
tornando-os participativos que desenvolvam suas potencialidades.
Para Walter Benjamin ao refletirmos sobre as capacidades de
aprendizagem infantil, estão se perdendo neste processo de educação com
metodologias massacrantes, verbais e bem racionalistas, sendo de total
importância que o lúdico seja o diferencial na aprendizagem dos alunos com
necessidades especiais.
As atividades lúdicas irão proporcionar o desenvolvimento de varias
linguagens, possibilitando a um a abertura evidente a descoberta de novos
caminhos pedagógicos em uma perspectiva criadora, autônoma e mais
consciente.

3.1. O papel do professor

O professor assume um papel importante como mediador destas


atividades lúdicas, pois cabe a ele proporcionar, selecionar estímulos
apropriados para a criança autista, por meio deste processo de mediação a
criança vai se desenvolvendo gradativamente a cognição, formas e padrões de
comportamento que vão ajudar a construir a formação da sua capacidade
Os métodos e técnicas desenvolvidas pelo professor
no processo de aprendizagem do autista devem acontecer com adaptações, ao
se pensar em uma criança autista e no modo como ela vê e constrói seu mundo,
nos traz inúmeros questionamentos e dúvidas. Cada aluno autista exige um tipo
de recurso e material a ser utilizado, o professor através da mediação deve
destacar as habilidades que essas crianças possuem, e desconstruir a tendência
de olhar a falta a deficiência e valorizar e trabalhar com o potencial que essas
crianças possuem. As atividades lúdicas podem levar a criança autista a
descobertas, conhecimentos, experimentação de possibilidades, ou seja,
despertar o seu interesse. É importante que o professor nas
atividades enfatize estes aspectos lúdicos, a exploração sensorial e de materiais
com acento na exploração tátil e visual. A utilização de brinquedos pedagógicos
ou materiais sensoriais são de grande importância no processo educativo, um
exemplo é a utilização de materiais geométricos e encaixes que são articulados
em ordem de tamanho, espessura e peso, com o manuseio destas peças que
estimulam a cognição e aos poucos a criança vai aprender a encaixá-los
obedecendo a espessura, tamanho e peso. Segundo Rocha (2005, p. 44):

“a mediação pedagógica deve se constituir, portanto, para afetar o


processo de desenvolvimento dos alunos, e deve ter como objetivo
fundamental possibilitar o deslocamento do pensamento aderido a níveis
sensíveis, empíricos, concretos, particularizados da realidade, para níveis
cada vez mais generalizados, abstratos, de abrangência cada vez maior,
inseridos em sistemas de complexidade crescente; Transformaria, assim,
gradualmente, as possibilidades de compreensão e de representação da
realidade.”

Conclui-se que o lúdico contribui de forma positiva para o processo de


ensino/aprendizagem, a prática de atividades lúdicas desafia o conhecimento,
desperta a motivação e o interesse tornando o processo mais prazeroso
possibilitando que o sujeito tenha a oportunidade de criar realizar, desenvolver e
de construir o seu próprio conhecimento, propiciando a aquisição da autonomia
com muita alegria e prazer.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pensar no autismo e no modo de como a criança autista constrói seu


conhecimento, nos revela várias questões que perpassam o meio social e a
forma como compreendemos o mundo. A sociedade estabelece um padrão de
indivíduo e tenta enquadrá-los nesse padrão. Cada pessoa é um ser único
dotado de singularidades e potencialidades a serem descobertas. Assim, a
aprendizagem deve ser também diferenciada, configurada em um ambiente
estimulador, de interação com outros colegas, tornando-os todos participativos. A
ludicidade consegue favorecer essa interação, no qual o aluno é um ser que
descobre e constrói seus conhecimentos.
Algumas propostas político-educacionais nos dão a impressão que
as deficiências estão consolidadas nos indivíduos, ou seja, eles não teriam
capacidade de ler, escrever, se socializar, não conseguindo se desenvolver e
progredir. Dessa forma, faz com que a inclusão desses alunos não aconteça nas
instituições de ensino e seja valorizado apenas um ensino especializado,
individualizado e adaptado.
As atividades lúdicas quando presentes na vida das pessoas sejam elas
crianças ou adultas, deficientes ou não, incentiva, provoca e estimula a
aprendizagem e o desenvolvimento do indivíduo em qualquer fase da vida. O
brincar favorece aos seres humanos um desenvolvimento com confianças em si
mesmos e em suas capacidades, facilitando nas interações sociais, garantindo
um entendimento maior de comunicação, sentimentos, pensamentos e
diferenças existentes.
Portanto, o profissional que trabalha ludicamente com pessoas com
necessidades educacionais especiais, inclusive o Autista, deve buscar
constantemente, conhecer, entender e trabalhar com as dificuldades
encontradas no processo ensino aprendizagem dessas crianças, assim como
buscar atualizar suas práticas pedagógicas, visando acima de tudo oferecer uma
educação de qualidade, contribuindo assim para a melhoria do desenvolvimento
integral dessas crianças.
REFERÊNCIAS BILIOGRÁFICAS

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Loyola, 1999.
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educação - necessidades educacionais especiais: subsídios para atuação do
ministério público brasileiro. Brasília:MEC/SEESP, 2001
CUNHA, N. H. S. Brinquedoteca: um mergulho no brincar. 4. ed. São Paulo:
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Revista Mente e Cérebro, Col. Memória da Psicanálise: Melanie Klein, n. 4, 2. ed. São
Paulo: 2009.
GAUDERER, E. C. Autismo. 3. ed. São Paulo: Atheneu, 1993. ______. Autismo e
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LUCKESI, Cipriano Carlos. Educação, ludicidade e prevenção das neuroses
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Carlos (org.) Ludopedagogia - Ensaios 1: Educação e Ludicidade. Salvador: Gepel,
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PIAGET, J. A psicologia da criança . ED Rio de Janeiro: Bertrend Brasil, 1998
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ROCHA, Maria Sílvia Pinto de Moura Librandi da. Não brinco mais. Rio Grande do Sul:
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SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: Construindo uma sociedade para todos. Rio de
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