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A interface da avaliação

pedagógica

Joicelane Silva - Professora de Apoio Pedagógico | Esp. Neuropsicopedagogia


Qual a importância de avaliar?
Avaliação Inicial

Levantamento de informações a respeito de um indivíduo, com o


propósito de avaliar e encaminhar, podendo ser colhidas
informações e observar as características como inteligência,
personalidade, interesse, linguagem, escolaridade e
funcionalidades. É um processo técnico e científico realizado por
profissionais de acordo com cada área do conhecimento. Esta
avaliação segue critérios de acordo com manuais e escalas do
desenvolvimentos. (MALLOY-DINIZ,2018)
O cérebro é a fonte biológica da
aprendizagem,
a ele cabe todo o
processamento, conservação
e expressão das informações.
(Neuroeducacão e fundamentos da
aprendizagem,2019)

O NEURODESENVOLVIMENTO INFANTIL
A neuropsicologia cognitiva está relacionada especificamente ao
estudo, investigação e intervenção das habilidades cognitivas, e assim
sendo, é parte essencial de qualquer área vinculada ao
desenvolvimento humana em especial a APRENDIZAGEM,
COMPORTAMENTO E FUNCIONALIDADE.
Desta forma avaliação pedagógica identifica e compreende quais
habilidades cognitivas estão preservadas e quais estão em deficit, no
processo de avaliação dos transtornos do Neurodesenvolvimento.
Definindo um perfil cognitivo de cada sujeito, baseado no processo de
aprendizagem individual.
Por muito tempo o foco da educação esteve voltado para ensino mecânico
e direcionado a um grupo homogêneo de alunos, sem dar a devida atenção à
especificidade, a individualidade e a forma com que cada um aprende.
O processo de aprendizagem não se dá da mesma forma em cada
indivíduo, cada um tem seu ritmo, cada um tem sua habilidade, sua modalidade
de aprendizagem; além das influências externas que podem ser decisivas
nesse processo.
O processo de ensino/aprendizagem é bem mais complexo do que se
pensava há algumas décadas. Hoje, temos a disposição uma infinidade de
recursos, além de estudos e pesquisas científicas que podem nortear a prática
pedagógica.
A Neurociência é um desses valiosos recursos para os educadores
compreenderem o processo de aprendizagem.
Sabemos que o cérebro é a fonte biológica da aprendizagem, a ele cabe todo o
processamento, conservação e expressão das informações. Assim, podemos afirmar
que, sem uma organização cerebral integrada, não é possível uma aprendizagem
normal. De acordo com Luria (1981), a Neurociência busca compreender o funcionamento
do sistema nervoso, na simultaneidade de suas diversas funções (movimento,
sensação, emoção, pensamento etc.). Sabe-se que o sistema nervoso é plástico, ou seja, é
capaz de se modificar sob a ação de estímulos ambientais. Esse processo,
denominado de plasticidade do sistema nervoso, ocorre graças à formação de novos
circuitos neurais, à reconfiguração da árvore dendrítica e à alteração na atividade
sináptica de um determinado circuito ou grupo de neurônios. É essa característica de
constante transformação do sistema nervoso que nos permite adquirir novas habilidades
motoras, cognitivas e emocionais, e aperfeiçoar as já existentes. (Neuroeducacão e fundamentos da
aprendizagem,2019)
ALEXANDER LURIA (1) – A BASE BIOSSOCIAL DAS
FUNÇÕES PSICOLÓGICAS | NEUROPSICOLOGIA
A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a
memória, o esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo, o humor, a
afetividade, o movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das
imagens que fazemos mentalmente, as imagens que formam o pensamento e
o próprio desenvolvimento infantil. Os neurônios espelho, que possibilitam a
espécie humana progressos na comunicação, compreensão e no aprendizado.
A plasticidade cerebral, ou seja, o conhecimento de que o cérebro continua a
desenvolver-se, a aprender e a mudar, durante a vida. ( MARICATO,2021)
Avaliação Diagnóstica
É um processo técnico realizado com profissionais de acordo com
cada área de atuação e requer metodologias baseadas em evidências
científicas. Esta avaliação segue critérios Segundo o Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and
Statistical Manual of Mental Disorders – DSM), em sua 5ª edição
(AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION, 2014), a definição de
Deficiência Intelectual, segundo a Associação Americana sobre
Deficiência Intelectual do Desenvolvimento AAIDD e a Organização
Mundial da Saúde. CID-10 Classificação Estatística Internacional de
Doenças e Problemas Relacionados à Saúde. 10a ver,1997. vol.1.
Avaliação multidisciplinar:
A multiprofissionalidade diz respeito à atuação conjunta de
várias categorias profissionais. O processo avaliativo requer uma
ação articulada nas diferentes áreas do conhecimento: Pedagogia,
Psicologia, Fisioterapia, Fonoaudiologia,Terapeuta Ocupacional,
Serviço Social e áreas médicas, utilizando instrumentos
padronizados e técnicas específicas baseadas em evidências
científicas. É importante que nessas relações haja trocas efetivas
e significativas de saberes e práticas, motivadas pelo diálogo e a
valorização dos diferentes conhecimentos. PEDUZZI, 2001.
No modelo multiprofissional o objeto é resultante de uma
soma de “olhares” e métodos provenientes de diferentes disciplinas
ou práticas, quer normativas ou discursivas, colocadas por
diferentes profissionais. (LUZ, 2009)
Contribuições Fundamentais da Neurociência para Avaliação
Pedagógica

INTELIGÊNCIA:
Facilidade de
COGNIÇÃO: conhecer ,compreender e
aprender. Capacidade de
É o conjunto de saberes
baseados em experiências adaptar-se a novas situações
sensoriais, representações,
pensamento e lembranças. É o
processamento destes saberes
que promovem a interligação INTELECTUALIDADE:
das redes cerebrais. Atividade pensante inerente a
condição humana, capaz de
conferir sentido, ordem,
medida ao universo.
Clay Brites, 2020.
FUNÇÕES EXECUTIVAS

As funções executivas são habilidades que,


integradas, capacitam o indivíduo a tomar decisões avaliar
e adequar seu comportamentos e estratégias, buscando a
resolução de um problema. Dessa forma, essas
habilidades permitem ao indivíduo perceber e responder
de modo adaptativo aos estímulos, responder frente a um
objetivo complexo proposto, antecipar objetivos e
consequências futuras, e mudar planos de ação de modo
flexível. (SEABRA et al.,2013,p34)
 

AS PRINCIPAIS FUNÇÕES EXECUTIVAS:

Memória de trabalho: A capacidade de


manter as informações na mente, onde elas
podem ser manipuladas. Essa habilidade é
Controle inibitório: A capacidade de
necessária para realizar tarefas cognitivas,
resistir à uma tentação para poder
tais como estabelecer uma relação entre
fazer aquilo que é certo. Essa
dois assuntos, fazer cálculos apenas com a
capacidade ajuda as crianças a prestar
mente e estabelecer uma ordem de
atenção, agir menos impulsivamente
prioridade entre várias tarefas. (SEABRA
e a manter a concentração numa
et al.,2013, p.36)
tarefa. (SEABRA et al.,2013,p.36)

Flexibilidade cognitiva: A capacidade de usar


o pensamento criativo e ajustes flexíveis para
se adaptar às mudanças. Essa habilidade
auxilia as crianças a utilizar sua imaginação e
criatividade para resolver problemas.
(SEABRA et al.,2013,p.35)
Vídeo Funções executivas

Funções Executivas: Habilidades


Para a Vida e Aprendizagem
Avaliação Pedagógica
A avaliação pedagógica visa investigar os fatores biopsicossociais
que interferem na aprendizagem, identificando neste processo, os níveis
do desenvolvimento cognitivo, as modalidades de aprendizagem, as
potencialidades e dificuldades relacionadas à inclusão escolar indicando,
assim, os serviços educacionais necessários.

“A aprendizagem é responsável pela inclusão da pessoa ao mundo


cultural fazendo com que a mesma se aproprie de conceitos, técnicas, formando
representação simbólica em seu interior. Tudo envolve aprendizagem, não
necessariamente aprendizagem escolar. A avaliação pedagógica é uma área de
conhecimento e de atuação dirigida que surgiu da necessidade de compreensão do
processo de aprendizagem humana”.

Luciana Brites

® NeuroSaber
Avaliação Pedagógica:
Um leque de possibilidades

A avaliação pedagógica é a investigação do processo de aprendizagem do indivíduo


visando entender a origem da dificuldade e/ou atraso apresentado.

É preciso considerar cada caso para que se proceda adequadamente no processo avaliativo.
Contudo, em todas as situações, faz-se necessário iniciar a Avaliação Pedagógica pela Triagem,
onde contém a anamnese, que é a primeira etapa da avaliação (gestação, etapas do
desenvolvimento infantil). Podemos dizer que a segunda etapa deste processo é a análise
documental (Quando iniciou o processo de escolarização, Escola atual, História de repetência,
Rotina escolar, Atendimentos especializados, Relatório pedagógico da instituição escolar, Laudos
anteriores). Em continuidade ao processo avaliativo se realiza a observação clínica ((Linguagem
expressiva e compreensiva, Interação, Atenção e Concentração Comportamento sócio afetivo).
Após estas etapas o avaliador pode aplicar as atividades dirigidas sejam elas tarefas,
protocolos ou testes (baseados em evidências) de acordo com a idade do sujeito (Noções de
conceitos básicos (grandeza, espacial, temporal), Esquema corporal, Percepção visual e auditiva,
Memória e atenção, Noções acadêmicas (leitura, escrita, interpretação e conceitos matemáticos),
Elaboração conceitual.

Por fim depois de coletar todos estes dados o pedagogo juntamente com a equipe
multidisciplinar realizam o estudo de caso e descreve o seu relatório avaliativo.
Sugestões de testes e
protocolos:

Figura: FONTE: MEMNON (2020)


Figura: FONTE: ETHOSPSICOTESTES (2020)
Figura: FONTE: MEMNON (2020)

Figura: FONTE: MEMNON (2020)

Figura: FONTE: PSICOVITA (2020)

Figura: FONTE: ETHOSPSICOTESTES (2020)


Figura: FONTE: ETHOSPSICOTESTES (2020)
Figura: FONTE: MEMNON (2020)
Algumas sugestões de testes para serem utilizados na
avaliação pedagógica:
Avaliação neuropsicológica cognitiva (SEABRA, 2013): linguagem oral ;
Avaliação neuropsicológica cognitiva: (SEABRA, 2013): leitura, escrita e aritmética;
Avaliação neuropsicológica cognitiva, (SEABRA, 2012):: atenção e funções executivas;
Tarefas para avaliação neuropsicológica (FONSECA,2016): Avaliação de Linguagem e Função Executiva em
Crianças;
Tarefas para avaliação neuropsicológica, (FONSECA,2017): Avaliação de Linguagem e Função Executiva em
Adultos;
Inventário Portage de Desenvolvimento Infantil, (WILLIANS, 2001): desenvolvimento Infantil;
Sistema PROTEA – R,2018 : avaliação da suspeita do Transtorno do Espectro Autista;
Instrumento de Avaliação do Repertório Básico para a Alfabetização – IAR: aspectos básicos para efetiva
alfabetização, como percepção espaço temporais, visuais e auditivas;
TDE 2: Teste de Desempenho acadêmico , Stein, 2019: melhor teste de desempenho acadêmico, já revisado e
atualizado para os nove anos do Ensino Fundamental.
Método de Investigação de Conceitos de Luria (1986):
Método de Determinação de Conceitos, Comparação, Quarto Excluído e Classificação Livre.
Este método fornece indícios de como o pensamento se organiza pela palavra no processo de elaboração de
conceitos.
Avaliação para Intervenção

Plano de Desenvolvimento Individual


(Módulo III)
AVALIAÇÃO PROCESSU AL
A avaliação processual ocorre durante toda a implementação do
planejamento, observando os indicadores de melhoria, isto é, se o
comportamento do indivíduo sugeri uma apropriação dos objetivos propostos,
ou ao contrário, ele não está atingindo estas metas educacionais. Desta forma,
cabe ao professor, verificar a consolidação da aprendizagem, caso esta não
esteja ocorrendo, o mesmo deverá reavaliar o seu planejamento para que o
indivíduo consiga atingir os objetivos propostos. (MINAS GERAIS, 2018)
Após a avaliação processual, é indicado verificar se as estratégias estão
promovendo uma adequada transição entre os conhecimentos.

É fundamental que se tenha uma


planejamento para que ocorra a
avaliação processual, com prazos,
objetivos, metodologias e registros
diários ou semanais.
A avaliação processual deve incluir informações relativas ao PDI ou
ao planejamento proposto:

Aos dados recolhidos durante o processo de intervenção que


retratem a
situação, motivação, desejos e capacidades educando.

Explicitação detalhada quanto aos objetivos atingidos ou não.

Redefinir ações específicas a desenvolver para que se


atinjam esses objetivos;

Objetivos, conteúdos, estratégias e recursos relativos às


diferentes áreas do desenvolvimento devem ser considerados na
avaliação processual para que o professor avalie se estão dando
conta da aprendizagem do educando.
A avaliação processual é contínua. Ocorre no dia a dia
utilizando-se do PDI, que além dos itens do seu roteiro
(Apêndice das Diretrizes do CAESP), o professor pode
também considerar outros aspectos relevantes que podem
ocorrer durante suas intervenções:
Autonomia
Independência
Responsabilidade
Postura
Aprendizado, no que se refere as habilidades e
competências trabalhadas no PDI.
Perceber na avaliação processual a
funcionalidade e registrar

• Dependência; quando é • Compreensão e Expressão; o


preciso do apoio de uma quanto este indivíduo entende
pessoa na supervisã o ou os comandos, as orientaçõ es,
assistência física para as instruçõ es. Se compreende
executar tarefas. a língua falada, visual, signos e
( alimentaçã o, higiene símbolos. É importante avaliar
pessoal, locomoçã o, uso do como ocorre a comunicaçã o
banheiro, entre outros) durante este processo, para
Relatar o grau deste apoio é verificar se necessita de
importante para o relató rio, facilitaçã o mínima, moderada
pois a pessoa que ler (ou o ou total. Da mesma forma
pró ximo professor) vai para expressã o.
compreender como
funciona este estudante.
Pode ser um apoio
facilitador, apoio moderado
ou até mesmo total.
Aprofundando a abordagem da avaliação processual

Segundo a concepção de Vygotsky, se a aprendizagem está em função não só


da comunicação, mas também do nível de desenvolvimento alcançado, adquire
então relevo especial – além da análise de processo de comunicação – a análise
do modo como o sujeito constrói os conceitos comunicados e, portanto, a
análise qualitativa das “estratégias” utilizadas, dos erros, do processo de
generalização. Trata-se de compreender como funcionam esses mecanismos
mentais que permitem a construção de conceitos e que se modificam em função
do desenvolvimentos. (LEONTIEV, et al, 1991)
RELATÓRIO PEDAGÓGICO
Sugestões
• Deve contemplar o registro do alcance ou não do seu
planejamento, dos objetivos propostos. O professor irá
descrever como está o desenvolvimento do seu educando
diante dos conhecimentos e propostas trabalhadas.
• Precisa relatar o nível de apoio para as áreas trabalhas
seja cognitivas (raciocínio, resolução de problemas,
planejamento, organização, funções executivas, entre outras),
ou para funcionais ( já apresentadas no slide anterior).
• Descrever sobre a interação social como participa das
atividades, dos eventos institucionais, se tem amigos, se
respeita as regras, se demonstra julgamento, se tem cuidado
com o ambiente na qual está inserido, entre outros pontos
trabalhados no planejamento.
CUIDADOS COM A ESCRITA DO RELATÓRIO
DA AVALIAÇÃO PEDAGÓGICA PROCESSUAL
Referências bibliográficas
• LEONTIEV, A; VYGOTSKY, L.,S.; LURIA, A., R., V.; et al. Psicologia e Pedagogia. Bases Psicológicas da
Aprendizagem e do Desenvolvimento. São Paulo: Ed. Morais, 1991.
• LURIA, A. R. Pensamento e Linguagem: as últimas conferências de Luria. Tradução de Diana Myriam
Lichtenstein e Mário Corso. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
• LUZ, M. Complexidade do campo da saúde coletiva: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e
transdisciplinaridade de saberes e práticas – análise sócio-histórica de uma trajetória paradigmática. Saúde
Soc.,2009.
• MALLOY-DINIZ, L. F. Avaliação Neuropsicológica. São Paulo,: 2ª edição, ARTMED, 2018.
• PDI. Plano de Desenvolvimento Individual do Estudante. Mais Educação, Minas Gerais, 2018.
• RUSSO, Rita Margarida Toler. Neuropsicopedagogia Clínica: introdução, conceitos, teoria e prática.Curitiba:
Ed. Juruá, 2015.
• SEABRA, A. G.; DIAS, N. M. Avaliação neuropsicológica cognitiva : atenção e funções executivas, volume
1 /– São Paulo : Memnnon, 2012.
• SEABRA, A. G.; DIAS, N. M. Avaliação neuropsicológica cognitiva: linguagem oral, volume 2 / São Paulo:
Memnon, 2012.
• SEABRA, A. G.; DIAS, N. M.; CAPOVILLA, F. C. Avaliação neuropsicológica cognitiva: leitura, escrita e
aritmética, volume 3/ São Paulo:.Memnon, 2013.
• VYGOTSKY, L.S. Pensamento e Linguagem. São Paulo, 2ª ed. Martins Fontes,1989.

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