Você está na página 1de 4

Adolescência, Interações Sociais e a Psicanálise.

Sem sombra de dúvidas é importante compreendermos os aspectos que


envolvem a adolescência, o que estaremos considerando como interação
social desse personagem e como esses aspectos estão inseridos na
psicanálise.
Não se tem aqui a pretensão de apresentar uma revisão de conceitos e
noções sobre adolescência, nem tão pouco definir como devem ser suas
interações no meio social. Ainda seria pretensão, diante de tantos estudos já
apresentados no campo da Psicanálise, discutir ou questionar essas noções já
tão criteriosamente pesquisadas, estudadas, desenvolvidas na prática e
presentes no dia a dia clínico.
O que se deseja é uma reflexão sobre o tema, considerando o papel das
interações sociais no desenvolvimento dos adolescentes, seu perfil como
indivíduo e seus possíveis conflitos psíquicos dentro de um fluxo de
consciência social, ainda que seja vista com pouca importância ou destaque ou
até mesmo de maneira “alienada” por muitos componentes da sociedade.
Inevitável darmos algum enfoque ao momento atual em que o mundo se
encontra devido a constante modificação e ajustes sociais derivados da
pandemia provocada pelo Covid-19 e seus reflexos econômicos e sociais.
Vale considerar aqui a participação dos jovens adolescentes nesse
quadro, onde se destaca como “vítima” de mudanças ocasionadas pela
alteração em suas rotinas de estudo, pelas suas possibilidades de convívio
presencial com seus amigos, maior convivência doméstica com pais e demais
familiares e tão ainda pela mudança nos hábitos sociais proveniente dessas
imposições.
Ainda que seja motivo de pouca importância para muitos componentes
da sociedade, a adolescência tem se tornado cada vez mais um tema de
grande interesse para diversos pesquisadores, incluindo-se aí os profissionais
que se dedicam à Psicanálise.
Sintomas contemporâneos (ou nem tão contemporâneos) como o uso de
drogas, a violência entre jovens, “bulling” e opções sexuais, dentre tantos
outros temas, justificam a atenção e interesse e a vidência quanto aos estudos
e reflexões.

1
A necessidade de se considerar esses tópicos nos faz refletir sobre esse
personagem.
Na origem da Psicanálise, considerando o “pai da psicanálise”, Freud já
demonstrava interesse e relevância quando ao tema, onde podemos citar
inclusive sua obra “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”.
Seguindo ainda a linha de importância quanto ao tema, destacam-se
outros autores e pesquisadores que abordaram o tema como Winnicott, Klein e
Jung e outros tantos mais contemporâneos, mesmo que de escolas diferentes
da Psicanálise.
Iremos considerar aqui o conceito de Adolescência como sendo uma
passagem do status social da infância para a fase adulta, caracterizado pelos
impulsos em seu desenvolvimento físico, sexual, mental e emocional.
A Organização Mundial da Saúde – OMS define o limite cronológico da
adolescência entre os 10 e os 19 anos de idade e a Organização das Nações
Unidas – ONU estabelece como sendo dos 15 aos 24 anos; critérios esses
utilizados principalmente para fins estatísticos e políticos (fonte:
adolescenciaesaude.com).
O ambiente social em que se encontram esses jovens é formado por
uma verdadeira “teia” de situações e ambientes dos mais amplos, seja por sua
estrutura cultural, econômica, física ou emocional.
Esse adolescente vem de uma experiência social, mesmo que possa ser
considerada por seus poucos anos de vida em sua cronologia, mas ainda
assim repleta de histórias vividas. Histórias essas que podem carregar traumas
precoces (graves ou não) e uma carga de relações paternas, educativas e
referenciais apresentadas no dia a dia desse personagem.
Winnicott (1896-1971), no campo da Psicanálise, já mencionava sobre
essa relação quando de seus estudos no desenvolvimento gradual das fases
dependentes na relação do “Eu” dentro da família. Destacamos aqui o que nos
presenteia sobre o Desenvolvimento Psíquico da Criança em sua proposta de
que o indivíduo apresenta a tendência inata para amadurecer, desde que
esteja num “ambiente facilitador”, sendo esse período onde se formam bases
da personalidade e da saúde psíquica.
Sendo assim, esse adolescente vem interagindo de diversas formas com
a sociedade, incluindo aí os indivíduos da mesma idade.

2
Essas relações podem implicar em uma continuidade de trocas de
conhecimentos recíprocos entre os pares, suas memórias interativas e a
construção de expectativas futuras quanto às experiências que estão por vir.
Tais expectativas são construídas tanto pelo adolescente, quanto pelos
demais componentes desse ambiente social. Expectativas essas que envolvem
vastos ambientes desde sua participação laboral no campo econômico,
aspectos comportamentais, sexuais e emocionais.
Historicamente a relação entre pares registra alterações quanto a essas
expectativas e resultados apresentados e suas consequências, alterações
essas que mostram altos e baixos também no interesse de estudiosos sobre o
tema, provavelmente motivados por fatores sócio-políticos, hegemonia cultural
e de modelos construídos em base de conceitos e pré-conceitos ideológicos
sociais.
A literatura sobre desenvolvimento social de crianças e jovens apresenta
uma coleção de fatores nesse processo de socialização, que reconhecem nas
interações entre seus pares uma oportunidade para desenvolver suas
competências de comunicação, interatividade e sociabilidade, mesmo que na
adoção de um “papel” comportamental que não contempla o seu “eu”.
A adoção deste “papel” enquanto personagem nesse mundo social se
faz necessário, dentro do contexto consciente ou inconsciente do adolescente,
justificado pelo processo de atração e aceitação interpessoal ou mesmo para
distinguir-se no quadro social.
Processos como o da construção de amizades e popularidade podem
mover para ações impulsivas, não tão pensadas, que acarretam numa perda
de sentido quanto ao que é considerado como certo e errado, seja em base de
seus próprios conceitos e pré-conceitos, ou construídos pela sociedade na qual
está inserido.
Sendo assim, torna-se relevante considerar e analisar o adolescente
pelo campo da psicanálise dentro da necessidade inevitável de sua interação
social. Análise essa que não deve deixar de considerar os primórdios estudos
realizados por Freud e seus contemporâneos; sendo esse tema motivo para
estudos frequentes e aprofundados que levem em consideração as
interferências globais, atuais e inovadoras que interferem no cotidiano social.

3
Cotidiano esse em que se baseia o adolescente repleto em seus recalques,
necessidades e expectativas.

Gilnei Gibeili da Silva


Junho, 2021

Você também pode gostar