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CURSO DE NOÇÕES BÁSICAS DO PAPEL DO EDUCADOR SOCIAL EM PROJETOS

SOCIOEDUCATIVOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

 Módulo I: INFRAÇÃO

A lei 8.069 de 13.07.1990 – Estatuto da Criança e Adolescente estabelece as


diretrizes para a responsabilização do adolescente infrator. São consideráveis penalmente
inimputáveis os menores de 18 anos, art. 228 da CF/88 e art. 27 do Código Penal.

A questão, porém é bastante complexa, pois variáveis podem intervir na abordagem


do tema sobre adolescência e adolescente infrator. Sendo necessária uma reflexão
sociojurídico. Importante contextualizar a problemática, mostrar um panorama do
adolescente, como os fatores intrínsecos e extrínsecos influenciam na formação do
adolescente e como estes fatores podem ser determinantes para que o adolescente possa a vir
praticar um ato infracional.

Abordar o histórico jurídico da infanto-adolescência, as leis anteriores que


culminaram na elaboração do Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto este que
promoveu garantias constitucionais antes não abordadas em leis anteriores. O artigo tem
como principais referenciais teóricos OSORIO, ABERASTURY, PINSKY, GOMES, ERIKSON, VOLPI,
TEIXEIRA, RIZZINI, PRIORE, LIBERATI e SARAIVA.

 Módulo II: VIOLÊNCIA

Atualmente a Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do


Adolescente (ECA) é quem regulamenta os crimes que envolvem adolescentes menores de
dezoito anos, os quais são chamados pelo Código Penal Brasileiro penalmente inimputáveis.

O índice de violência, principalmente em casos que envolvam jovens em atos


infracionais, gera na sociedade grande impacto, provocando inúmeros questionamentos em
relação à responsabilidade dos adolescentes.

Com o aumento dos casos expostos pela mídia no que se refere à prática de atos
infracionais por adolescentes o tema abre ampla discussão já que muitos são os estudos
demonstrando que a punição é tão importante quanto à prevenção.

Portanto, é importante pesquisar, analisar para promover um processo de reflexão


sobre o tema, verificar quais os limites e possibilidades dos adolescentes, para que a última
alternativa em relação aos jovens seja aplicação de uma medida socioeducativa, mas sim,
aumentar a qualidade vida, principalmente das comunidades mais carentes, visando propiciar
ao adolescente uma melhor integração e um maior fortalecimento pessoal.

Necessário então, tentar contextualizar a problemática sobre a origem do


desequilíbrio instalado, verificar as causas e buscar alternativas de solução, analisando
possíveis meios para minimizar a crise atual.

Desta forma, o trabalho pretende apresentar um panorama do adolescente e o ato


infracional. Expõe fundamentos teóricos do ponto de vista jurídico, psicológico e fisiológico
acerca da adolescência, pois a adolescência caracteriza-se por ser um processo do
desenvolvimento marcado períodos de bastantes contradições, sendo de grande confusão
para o adolescente já que as transformações do adolescente nesse período são marcantes.
Discorre ainda, sobre o ato infracional praticado pelos adolescentes, considerando
fatores sociais e individuais de interferência. Os fatores que levam um adolescente a se tornar
infrator são muitas vezes complexos e variados, são os chamados fatores intrínsecos:
biológicos, genéticos, psicológicos e emocionais e os fatores extrínsecos: a família, os amigos, a
televisão, a escola, os grupos sociais e a comunidade em que vivem, interferindo na formação
do adolescente e o que podem produzir danos individuais e para a sociedade, se ocorrer
alguma falha durante o processo de amadurecimento do adolescente.

Traz um breve percurso histórico-jurídico da criança e adolescente no país,


mostrando o processo que culminou com a elaboração e aprovação do Estatuto da Criança e
do Adolescente. O Estatuto da Criança e do Adolescente tratou-se de uma evolução das leis
anteriores de responsabilização do adolescente quando pratica um ato infracional.

De acordo com autores que serão discutidos aqui a questão da adolescência violência
não deve ser analisada isoladamente. É necessário entender o contexto social, cultural, político
e econômico em que está inserido o adolescente e como esses fatores irão influenciar nas
características psicológicas do jovem e na construção de sua identidade pessoal.

O adolescente contesta, se rebela e desencadeia verdadeiras lutas, quando está em


busca de suas necessidades, desejos, conquistas e realizações. No desenvolvimento dessas
lutas surge a delinquência juvenil, que o estigmatiza perante a sociedade como uma das
“pragas sociais” de nossa época. Estando, portanto, a delinquência dos adolescentes mais
ligada a questão do problema social do que legal.

 Módulo II: Situando A Adolescência

O termo menor derivado do latim é explicado por De Plácido e SILVA na obra


intitulada Vocabulário Jurídico, em gramática é um adjetivo que comparativo de pequeno.
Como termo técnico-jurídico é um substantivo que designa aquele que não atingiu a
maioridade, não tem atingido a idade legal para a maioridade, sendo considerada incapaz ou
isenta da responsabilidade para praticar atos regulados pela idade legal.

Segundo Luiz Carlos Osório, a adolescência é uma etapa distintiva do homem, sendo marcada
por diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, que é influenciada por fatores
sociais e culturais e pode ser definida como:

... uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano. Nela culmina todo o processo
maturativo biopsicossocial do indivíduo (...) não podemos compreender a adolescência
estudando separadamente os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Eles são
indissociáveis e é justamente um conjunto de suas características que confere unidade ao
fenômeno da adolescência.

Na adolescência o corpo do jovem passa por intensas alterações físicas e biológicas,


que podem alterar o humor, o comportamento e suas relações, pois estas mudanças podem
abalar a autoestima e o estado emocional do adolescente. Nesta fase o jovem mostra-se mais
vulnerável as alterações sociais. O período da adolescência é marcado por transformações,
transição e ebulição, “... de contradições, confuso, doloroso”.
Existe um conflito básico da adolescência, pois o jovem deixa de ser criança para
passar a uma condição de maior responsabilidade, sendo que Arminda ABERASTURY defini:

“... entrar no mundo dos adultos – desejado e temido – significa para o adolescente a
perda definitiva de sua condição de criança. É um momento crucial na vida do
homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento que
começou com o nascimento.”

Em face disto o adolescente se defronta com muitas pressões, principalmente por ter
que definir seu papel na sociedade, seja devido aos estudos, a profissão, a um emprego, as
relações familiares e sociais entre outras. Muitas vezes busca soluções mágicas para resolver
seus problemas, até mesmo a criminalidade. Para Ilana PINSKY e Marco Antonio BESSA, esta
fase pode ser definida como:

“A adolescência é uma fase de metamorfose. Época de grandes transformações, de


descobertas, de rupturas e de aprendizados. É, por isso mesmo, uma fase da vida que
envolve riscos, medos, amadurecimento e instabilidades. As mudanças orgânicas e
hormonais, típicas dessa faixa etária, podem deixar os jovens agitados, agressivos,
cheios de energia e de disposição em um determinado o momento. Mas, no
momento seguinte, eles podem acometidos de sonolência, de tédio e de uma
profunda insatisfação com seu próprio corpo, com a escola, com a família, com o
mundo e com a própria vida.”

A adolescência é uma fase com características bastante peculiares é um período de


contradições, confuso, ambivalente, caracterizado por atritos com meio familiar e social é
quando o adolescente se depara com diversas mudanças quando inicia seu processo de
individualização.

A adolescência deve ser entendida como uma fase importante da evolução, deixa de
ser vista como uma síndrome, período de confusão e desordem. Esta evolução é marcada por
conflitos, mas com intenso potencial de crescimento e reorganização e afirmando:

“...só com a adolescência o indivíduo desenvolve os requisitos preliminares de


crescimento fisiológico, amadurecimento mental e responsabilidade social para
experimentar e atravessar a crise de identidade. De fato, podemos falar de crise de
identidade como o aspecto psicossocial do processo do adolescente.”

A palavra crise refere-se a um período de crescente vulnerabilidade e potencialidade


e não uma ideia de desestruturação, a crise surge de uma necessidade de uma escolha entre
tendências, para o pesquisador uma tendência é ao desenvolvimento e evolução e outra
tendência à desestruturação e regressão.

Para o art. 2º ECA compreende-se como adolescência o período segundo o critério


cronológico, estabelecido com início aos 12 anos e término aos 18 anos. Porém, em seu
parágrafo único estabelece que nos casos expressos em lei, que se aplica excepcionalmente às
pessoas entre 18 e 21 anos de idade.
A adolescência é uma fase de transição, em que há um constante questionamento
dos jovens, estes apresentam muitas incertezas sobre o que escutam e acabam se rebelando.
Neste período da vida, diversos fatores intrínsecos – biológicos, emocionais e genéticos e
também os extrínsecos – a família, escola, os amigos e a comunidade onde vivem, tornam-se
determinantes na sua formação, e caso haja falhas neste processo de amadurecimento, as
consequências tornam complexas e podem produzir danos individuais e para a sociedade. A
autora ressalta que no processo de construção de sua identidade o jovem, busca referências
naqueles de seu convívio, os seus pares. Por isso, o adolescente tem necessidade de um
intenso convívio em grupos, que se aproximam por motivos diferentes, em diversos espaços
sociais, devido a diferentes temas e propósitos.

Normalmente o adolescente é contrário à maioria dos dogmas do mundo adulto, ele


expressa sua crítica às regras, crenças e atitudes dos adultos. Há sempre uma rebeldia com
relação às atitudes dos adultos, é no período da adolescência que o comportamento desafia a
todo o momento os mais velhos.

Outra característica do mundo dos adolescentes é o imediatismo, pois acaba sendo estimulado
pelo consumismo exacerbado, que incentiva deve haver um acúmulo de bens materiais e
culturais no menor prazo possível. Esta ideia acaba criando nos adolescentes uma sensação de
ansiedade e frustração, o que gera um processo de exclusão social da maioria dos jovens.

A exigência de uma mudança de postura, com a imposição de assumir


repentinamente uma posição responsável para assumir um trabalho, tornando-se responsável
por si mesmo é fato gerador dos conflitos e tensões atribuídos a esta fase de desenvolvimento.
O momento mais difícil da vida do homem é a adolescência, pois necessita de
liberdade adequada, mas sempre com a segurança das normas ajudando-o adaptar-se as
mudanças sem gerar conflitos graves com seu ambiente e a sociedade.

Os adolescentes provenientes de classes menos favorecidas são muitas vezes levados


a pular a etapa da adolescência, pois devem assumir responsabilidade de adultos tornando-se
responsável muitas vezes pelo sustento da família. Momentos de crise ocorrem em várias
etapas de amadurecimento e crescimento do homem.

Na adolescência, esta crise é de identidade, revestindo-se de maior vulnerabilidade,


pois as estruturas sociais na concepção do jovem não está definida. Sendo assim, para a
constituição da adolescência são decisivas as relações sociais, históricas, culturais e
econômicas. Para isso, é necessário que todos os direitos atribuídos aos jovens sejam
observados, propiciando um pleno desenvolvimento das pessoas nesta fase da vida.

 Módulo IV: O Adolescente E O Ato Infracional

A expressão ato infracional foi o termo criado pelos legisladores na elaboração do


ECA. Não se diz que o adolescente é autor de um crime ou contravenção penal, mas que ele é
autor de ato infracional, para isso o art. 103 do ECA definiu que:

“Art. 103: considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou


contravenção penal”. O ECA considera autores de infração apenas os
adolescentes - 12 a 18 anos - e os jovens de 18 a 21 anos, nos casos expressos
em lei (art. 2° do ECA).
Diante disto, todos os atos infracionais praticados por adolescente são equiparados
aos crimes tipificados no Código Penal e nas leis extravagantes, bem como na Lei de
Contravenções Penais.

A privação de liberdade, na percepção do adolescente estabeleceu-se um estudo


sobre os mitos que condicionam a questão dos atos infracionais praticados por adolescente,
sendo eles: hiperdimensionamento do problema; da periculosidade e o da irresponsabilidade.

O mito do hiperdimensionamento:

 Refere-se ao fato da veiculação de notícias seja por meios de comunicação,


autoridades ou profissionais da área de que cada vez mais jovens estão
envolvidos na criminalidade. Porém, observa-se que muitas vezes as
declarações de que há um aumento do número de adolescentes que
praticam atos infracionais não vem acompanhada de dados estatísticos
confiáveis. Considerando que a privação de liberdade é a medida
socioeducativa aplicada aos adolescente cujos atos infracionais sejam graves,
é possível concluir que a dimensão do problema é menor do que a sensação
e o temor social que produzem.

Periculosidade:

 Está relacionado ao fato que a tendência é que sejam cada vez mais graves
os delitos praticados por adolescentes. Porém, Mário VOLPI mostra que
estudos realizados no país que os atos infracionais praticados por
adolescentes são em maioria aqueles relacionados ao patrimônio.

Quanto ao mito da irresponsabilidade:

 Este está relacionado à ideia de que os adolescentes não seriam realmente


punidos, já que a legislação é extremamente branda no tratamento aos
adolescentes comparando-se com os adultos. Porém, deve-se lembrar que
inimputabilidade penal é diferente de impunidade.

O fato de um adolescente ser considerado inimputável penalmente não significa que


o exime de sua responsabilização com medidas socioeducativas, podendo inclusive ser privado
de liberdade por até três anos. E segundo o autor, em relação ao agravamento das penas, não
está comprovado por nenhuma sociedade mesmo aqueles que adotam a pena de morte, que
reduziria a prática de delitos.

Importante Conceituar Imputabilidade E Impunibilidade:

Imputabilidade:

 Derivado de imputar, do latim imputare (levar em conta, atribuir, aplicar),


exprime a qualidade do que é imputável. Nestas condições, seja nos
domínios do Direito Civil, Comercial ou Penal, a imputabilidade revela a
indicação da pessoa ou do agente, a que se deve atribuir ou impor a
responsabilidade, ou a autoria de alguma coisa, em virtude de fato
verdadeiro que lhe seja atribuído, ou de cujas consequências seja
responsável. Desse modo, a imputabilidade mostra a pessoa para que se lhe
imponha a responsabilidade, e, assim, é condição essencial para a evidência
da responsabilidade, pois que não haverá esta quando não se possa imputar
à pessoa o fato de que resultou a obrigação de ressarcir o dano ou responder
pela sanção legal.

Imputabilidade

 Portanto, antecede à responsabilidade. Por ela, então, é que se chega à


conclusão da responsabilidade, para aplicação da pena ou imposição da
obrigação. Deve-se ainda conceituar impunidade para não confundir com
inimputabilidade, o primeiro refere-se a não punição e segundo é quando
não há culpa. Do latim impunitas, de impunis – in e poena (não punido),
exprime o vocabulário a falta de castigo ao criminoso ou delinquente. Há por
qualquer motivo, ausência de punição do criminoso, negligência da
autoridade, falta de aplicação da pena pelo crime ou falta cometida. É, pois, a
ausência de punição ou falta de sanção penal, indicada na própria lei, em
face de imputação criminosa feita a pessoa. A impunidade pode decorrer do
fato de não ter sido possível a aplicação da penalidade imputável à pessoa,
como pelo indulto ou perdão.

As circunstâncias que levam a um adolescente a se tornar infrator são muitas vezes


complexas e variadas. Donald Woods WINNICOTT relaciona a negligência e a privação familiar
com fatores responsáveis pelo cometimento de delitos. Pois, a maioria dos jovens possuem
família, mas no entanto esta é ausente, não cria um vínculo para assumir realmente seu papel,
não há uma figura que represente autoridade, seja por situações de maus-tratos, abandono,
privações materiais, alcoolismo ou drogas.

Porém, não só a estrutura familiar pode ser apontada como fator determinante no
ingresso de um adolescente no cometimento de ato infracional, mas estrutura social também,
as políticas sociais básicas, a saúde, a escola, o lazer, o estado e a sociedade são fatores que
interferem no contexto. Para Maria de Lurdes Trassi TEIXEIRA situações de violência fazem
com que um adolescente venha a se torne infrator.

Para a autora, quando a criança ou adolescente, é exposto a situações de extrema


violência, elas poderão responder com condutas também violentas, o delito, provando desta
forma imensos prejuízos na formação de sua identidade, nas relações que trava consigo
mesmo e com outros.

Muitos fatores de risco podem ser associados aos adolescentes infratores, para
Simone Gonçalves de ASSIS, fatores como: círculo de amigos, consumo de drogas,
determinados tipos de lazer, valores do que é certo e do que é errado, autoestima dos
adolescentes, se há na família vínculos afetivos, o número e a posição entre irmãos, a escola e
a dor e o sofrimento devido à violência sofrida pelos pais.

Muitos delitos praticados por adolescentes está associado ao consumo de drogas, o


mundo das drogas durante muito tempo se restringiu ao mundo dos adultos, porém nos
últimos 30 anos passou a fazer parte dos mundos das crianças e adolescentes que acabaram se
tornando os maiores usuários.

O jovem tem necessidade natural de sempre estar experimentando os limites sociais


de seu comportamento, como forma de assimilar o mundo, por isso, muitos tem o desejo de
experimentar drogas. Sendo que os primeiros contatos com a droga está associado aos
instintos naturais de um ser “em fase peculiar de desenvolvimento: curiosidade, imitação, auto
afirmação, etc.” (...) “há também outras causas, relacionadas a processos psicológicos
autodestrutivos de origem individual, familiar ou social, como a vontade de transgredir, a
revolta contra todos, a opressão social ou econômica ou até mesmo deficiências mentais”.

Diante desta realidade, diversos estudos demonstram que a maioria dos usuários de
drogas já esteve em contato com a justiça penal, pois a probabilidade de que usuários de
drogas pratiquem atos ilícitos do que não-usuários, e destaca os principais crimes cometidos:

 Crimes cometidos sob influência de drogas: lesões corporais, roubo, furto,


dano (vandalismo e pichação), desacato, ameaça, etc.
 Crimes cometidos para alimentar o vício: crimes patrimoniais (como roubo e
furto), tráfico de drogas, etc.
 Crimes cometidos no âmbito do funcionamento dos mercados ilícitos:
formação de quadrilha, homicídios, lesões corporais, etc.

Tendo como orientação esses referenciais sobre a criminalidade vinculado ao uso ou


tráfico de drogas, é importante que o profissional esteja atento aos atos infracionais (crimes)
praticados por adolescentes, pois ele podem indicar um possível envolvimento com drogas.

Sendo assim, muitos são os fatores que levam um adolescente ao cometimento de delito,
fatores que independem de classe econômica, pois muitas vezes esses delitos estão associados
à formação em geral do indivíduo, já que é a adolescência o período de transformação e
formação da identidade do jovem.

 Módulo V: Histórico Jurídico Da Infanto-Adolescência

A violência contra a infanto-adolescência remonta a séculos de silêncio sobre normas


protetivas e há anos de regras repressivas. No mundo romano o pai exercia poder absoluto
sobre o filho, sendo que a situação começou a se modificar com os imperadores romanos, com
os primeiros sinais de preservação da preservação da personalidade dos jovens, como o direito
à vida e à integridade física.

As primeiras leis que tratavam da infância e adolescência surgiram no Brasil Império,


à independência do país em 1822. Porém foi no Código Criminal de 1830 que houve interesse
jurídico em relação a questão dos menores de idade, sendo que as crianças e jovens eram
severamente punidos não diferenciando seu tratamento em relação aos adultos.

“Até o início deste século, não havia legislação específica sobre a criança e o
adolescente. A referência a eles está no Primeiro Código Penal (1890), onde fica
determinado a inimputabilidade dos menores de 9 anos completos, daqueles de
9 a 14 anos que obrassem sem discernimento”

E, era atenuante para o delito possuir menos de 21 anos.

Desde o início do período colonial, a sociedade brasileira é marcada por diferenças


gritantes de distribuição de renda e poder, o que propiciou a emergência de infâncias
diferentes em classes sociais distintas. A autora aponta que: “para uma sociedade certamente
injusta na distribuição de suas riquezas, avara com o acesso à educação para todos e vincada
pelas marcas do escravismo”.

O Código Criminal de 1830 estabelecia a responsabilidade aos menores a partir dos


14 anos, estabelecendo em seu art. 10 que:
“Se se provar que os menores de quatorze anos, que tiverem cometido crimes,
obraram com discernimento, deverão ser colhidos às Casas de Correção, pelo
tempo que o Juiz parecer, como tanto que o recolhimento não exceda a idade
de dezessete anos”.

De forma complementar nas primeiras décadas deste século, por influência do


debate internacional sobre o tema, os juristas e estudiosos do direito brasileiro concluíram que
deveria haver um direito específico para crianças e adolescentes, um direito substituísse a
punição pela educação.

Período do Império o que havia eram medidas de caráter essencialmente


assistencial, com um cunho religioso. A Igreja incumbia a responsabilidade pelas instituições de
menores, porém eram subsidiadas com o dinheiro público. O autor ressalta que “a legislação
reflete nítida associação existente entre os poderes públicos e a Igreja, na esfera política e
mesmo no âmbito mais estritamente jurídico”.

Nas leis penais da época do Império havia a intenção de reprimir a delinquência,


porém não se constituía uma ameaça que ultrapassasse o controle das autoridade policiais e
judiciárias.

Com o Brasil República surge a urgência da intervenção do Estado nas questões que envolviam
menores, para que promovesse a educação e correção do menores, para transformá-los em
cidadãos úteis e produtivos para o país, desenvolvendo assim uma sociedade moralmente
organizada. Em 1906, foi elaborado por Mello Mattos o projeto que visava entre outras
questões da regulamentação da idade criminal, que passou de “nove para doze anos, e, entre
doze e dezessete para os que obrarem sem discernimento. Os que agissem com discernimento
seriam recolhidos às chamadas escolas de reforma”.

A partir do final do Século XIX as discussões sobre a internação dos menores foram
mais intensas, contando com a participação de autoridades policiais no desenvolvimento de
vários projetos de lei. Segundo Irene RIZZINI criaram-se estabelecimentos para recolher os
menores:

Recolher os menores de acordo com uma cuidadosa classificação, visando a


prevenção (escolas premonitórias ou de prevenção de menores moralmente abandonados) e a
regeneração (escolas de reforma e colônias correcionares para os delinquentes, separando-os
de acordo com a idade, sexo e tipo de crime cometido/ se absolvidos ou condenados)”.

Em 1912, foi proposto por João Chaves um projeto de lei visando uma legislação
especial para os menores, em seu art. primeiro destacava que “para o efeito de serem
submetidos a conveniente regime hospitalar ou educativo, os menores de um ou outro sexo (...)
que tiverem delinquido”. Para a autora o projeto de Chaves inova ao propor que deveria haver
juízes e tribunais especiais para menores, promovendo uma maior afastamento da área penal,
já que propunha que não seriam objetos de procedimento penal os menores de dezesseis anos
de idade acusados de qualquer infração (delito ou contravenção).

Os vários projetos criados foram lentamente ao longo das próximas décadas dando
corpo para a criação de uma legislação especial para menores – O Código de Menores -
Decreto nº 17943, de 12 de outubro de 1927, com o objetivo de regulamentar a proteção e
assistência aos menores, sendo que diversas medidas de prevenção, proteção e assistência
foram observadas visando proteger à criança abandonada fisicamente ou moralmente e
delinquentes.

Para Wilson Donizete LIBERATI o Código de Menores tipificava duas categorias de


menores: os abandonados e os delinquentes, não fazendo distinção entre elas para verificar a
aplicação das medidas.

“Se o menor praticasse um ato que fosse considerado infração penal, receberia as
medidas mais gravosas, como a internação; se o menor fosse abandonado ou
carente, também poderia ser internado em asilo ou orfanato, conforme a
conveniência do Juiz”. Ficou assim estabelecido no Código de Menores de 1927:

 O menor de 14 anos, autor de infração penal, não tem processo penal mas,
dependendo da gravidade do delito tem uma “punição”, o abrigo (as colônias
agrícolas);
 O menor de 14 anos tem sanções penais, estabelecidas pelo juiz. Os menores de 14
anos a 18 anos “serão recolhidos para cumprimento da pena a prisões independentes
das dos condenados adultos ‟. Esta orientação permaneceria até construírem, escolas
de reforma “onde seriam cumpridas as penas educadoras”;
 É atenuante, no julgamento do delito, a idade de 18 a 21 anos.

No Código de Menores havia medidas educativas-disciplinares para os delinquentes:

 O internamento,
 O perdão judicial (este associado a advertência) e
 A liberdade vigiada (o juiz nomeava uma pessoa para proteger e assistir o
menor).

Foi observado que após um ano de promulgação do Código de Menores a


criminalidade envolvendo menores voltava a incomodar, o que exerceu pressão para fossem
instituídas leis mais severas. Diversos setores da sociedade se manifestaram, uns para
defender a necessidade de assistência e outros para defender a necessidade de
encarceramento dos adolescentes.

O Código Penal de 1940 (Lei n. 2.848 de 7 de dezembro de 1940) é o vigente no país,


e trouxe, no art. 27, o seguinte dispositivo: “Os menores de dezoito anos são penalmente
inimputáveis, ficando sujeitos às normas estabelecidas na legislação especial”. Com o Código
Penal, passou a discutir a necessidade da revisão do Código de Menores, embora essa
necessidade já fosse registrada em anos anteriores

O primeiro Código foi substituído pelo novo Código de Menores - Lei n. 6.697, de 19
de outubro de 1979 - e segundo Wilson Donizete LIBERATI, a nova lei não trazia distinção entre
os abandonados e infratores. Nas palavras do autor “os menores não eram considerados
sujeitos de direitos, mas objetos de atividades policiais e das políticas sociais”.

Para Irene RIZZINI “optou-se por não se manter na lei a classificação tradicional de
menor abandonado e delinquente, substituindo-a por um sistema de descrição do estado
socioeconômico familiar dos menores”.

Segundo Wilson Donizete LIBERATI o novo Código implantou a doutrina da situação


irregular, em que os menores passariam a ser objeto da norma:
Art. 2 dispõe sobre a “situação irregular” do menor, assim definida:

(...) III- em perigo moral devido a:

a) Encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costume;


b) Exploração em atividade contrária aos bons costumes; (...) V- com desvio de conduta,
em virtude de grave estado de inadaptação familiar ou comunitária; VI- autor de
infração penal.

Ao expor a doutrina da Situação Irregular, Mário VOLPI explicita que:

O Código de Menores traduzia em lei uma doutrina que concebia a sociedade sob
uma perspectiva funcionalista, em que cada indivíduo ou instituição tem seu papel a
desempenhar para assegurar o funcionamento harmônico da sociedade. Os problemas, as
injustiças sociais e a exclusão eram vistos como disfunções que deveriam ser atribuídas aos
desvios de conduta dos indivíduos envolvidos.

A existência de crianças desnutridas, abandonadas, maltratadas, vítimas de abuso,


autoras de atos inflacionais e outras violações era atribuída à sua própria índole, enquadrando-
se todas numa mesma categoria ambígua e vaga denominada situação irregular. Estar em
situação irregular significava estar à mercê da Justiça de Menores cuja responsabilidade
misturava de forma arbitrária atribuições de caráter jurídico com atribuições de caráter
assistencial.

As medidas aplicáveis aos menores no Código de Menores de 1979 iam da


advertência ao internamento, conforme disposto no art. 14:

Art 14. São medidas aplicáveis ao menor pela autoridade judiciária:

I. Advertência;
II. Entrega aos pais ou responsável, ou a pessoa idônea, mediante termo de
responsabilidade;
III. Colocação em lar substituto;
IV. Imposição do regime de liberdade assistida;
V. Colocação em casa de semiliberdade;
VI. Internação em estabelecimento educacional, ocupacional, psicopedagógico,
hospitalar, psiquiátrico ou outro adequado.

A década de 1980 foi marcado pelo questionamento da prática de internar crianças


quando estas pertenciam à famílias de baixa renda, pois grande era o problema de meninos de
rua. Começaram a surgir participação comunitária, buscando o envolvimento de todos na
solução do problema que não se duvidava que tratava da origem eminentemente social.

 Módulo VI: Histórico Jurídico Da Infanto-Adolescência II

Diversos setores da sociedade civil, dos poderes públicos e organizações não-


governamentais, se mobilizaram em torno das graves questões da infância e juventude e
acabaram por garantir na nova constituição. No cenário político de 1980 surge a Constituição
de 1988, destacando o movimento “A Criança e Constituinte”, que garantiu a inclusão de um
artigo inusitado, o Art. 227, baseado na Declaração Universal dos Direitos da Criança, que
culminaria na formulação do ECA.
Art. 227

 É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à educação, ao lazer,


à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à
convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e
opressão.

A Constituição disciplinou em seu art. 228 que: “São penalmente inimputáveis os


menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial.”

A história da infância e juventude no Brasil pode ser dividida em dois momentos, o


antes e o depois do ECA, pois elevaram as crianças e adolescentes à categoria de cidadão,
abrindo caminho para uma nova realidade histórico-social, que possibilitou que os
adolescentes em conflito com a lei não viessem a ser tratados apenas como sujeitos de
direitos, mas como cidadãos.

Sendo assim, surge o ECA o qual emergiu a partir da CF/88 de 1988, segundo Irene
RIZZINI, representou um marco divisório na questão da infância e juventude no Brasil pelos
avanços conquistados, entre eles, considerou crianças e adolescentes “sujeitos de direitos”
preconizando ampla garantia dos direitos pessoais e sociais.

Alguns pontos centrais devem ser considerados como avanço da legislação, por
exemplo, no que se refere à detenção dos menores em contraposição com o antigo Código,
que permitia a prisão cautelar a Lei declara que:

Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de


ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade
judiciária competente (Art. 106). Parágrafo único. O adolescente tem direito
à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser
informado acerca de seus direitos.

Na prática há uma enorme distância entre os avanços alcançados proporcionados


pelo direito assegurado na lei e o realizado no cotidiano.

As leis internas e o sistema jurídico dos países que a adotam, devem garantir a
satisfação de todas as necessidades das pessoas até dezoito anos, não incluindo apenas o
aspecto penal do ato praticado pela ou contra criança, mas o seu direito à vida, à saúde, à
educação, à convivência familiar e comunitária, ao lazer, à profissionalização, à liberdade,
entre outros.

É importante mencionar que o ECA se distinguiu das leis anteriores e buscou a


responsabilização dos adolescentes de forma diferenciada. O cometimento do delito passou a
ser encarado como fato jurídico a ser analisado, assegurando garantias processuais e penais,
presunção de inocência, a ampla defesa, o contraditório, ou seja, os direitos inerentes a
qualquer cidadão que venha a praticar um ato infracional.

Com base no ECA aplicam-se medidas aos adolescentes que praticaram um ato
infracional. Medidas que vão desde as medidas de proteção até as medidas socioeducativas –
advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida, semiliberdade e internação, estas duas últimas aplicáveis quando o adolescente
pratica ato infracional passível de segregação.
A natureza jurídica das medidas socioeducativas aplicadas pelo ECA é dúplice, pois
serve tanto como retribuição ao ato infracional praticado como mecanismo capaz de promover
a socialização dos adolescentes (justiça restaurativa).

A visão do ECA não é somente de uma justiça retributiva, mas uma justiça
restaurativa. Pois, visa à socialização do adolescente infrator, busca a participação do jovem e
sua família no processo socioeducativo.

A justiça restaurativa deve ser utilizada como modelo alternativo de justiça,


sobretudo ao modelo retributivo.

O ECA foi uma evolução das leis anteriores, pois promoveu garantias constitucionais
antes não abordadas em leis anteriores. Para Mário VOLPI, o processo de responsabilização
inaugurado com ECA “promoveu uma verdadeira ruptura com o arbítrio e o tratamento
discricionário dos adolescentes em conflito com a lei”.

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