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Módulo I: INFRAÇÃO
Com o aumento dos casos expostos pela mídia no que se refere à prática de atos
infracionais por adolescentes o tema abre ampla discussão já que muitos são os estudos
demonstrando que a punição é tão importante quanto à prevenção.
De acordo com autores que serão discutidos aqui a questão da adolescência violência
não deve ser analisada isoladamente. É necessário entender o contexto social, cultural, político
e econômico em que está inserido o adolescente e como esses fatores irão influenciar nas
características psicológicas do jovem e na construção de sua identidade pessoal.
Segundo Luiz Carlos Osório, a adolescência é uma etapa distintiva do homem, sendo marcada
por diversas mudanças físicas, psicológicas e comportamentais, que é influenciada por fatores
sociais e culturais e pode ser definida como:
... uma etapa evolutiva peculiar ao ser humano. Nela culmina todo o processo
maturativo biopsicossocial do indivíduo (...) não podemos compreender a adolescência
estudando separadamente os aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Eles são
indissociáveis e é justamente um conjunto de suas características que confere unidade ao
fenômeno da adolescência.
“... entrar no mundo dos adultos – desejado e temido – significa para o adolescente a
perda definitiva de sua condição de criança. É um momento crucial na vida do
homem e constitui a etapa decisiva de um processo de desprendimento que
começou com o nascimento.”
Em face disto o adolescente se defronta com muitas pressões, principalmente por ter
que definir seu papel na sociedade, seja devido aos estudos, a profissão, a um emprego, as
relações familiares e sociais entre outras. Muitas vezes busca soluções mágicas para resolver
seus problemas, até mesmo a criminalidade. Para Ilana PINSKY e Marco Antonio BESSA, esta
fase pode ser definida como:
A adolescência deve ser entendida como uma fase importante da evolução, deixa de
ser vista como uma síndrome, período de confusão e desordem. Esta evolução é marcada por
conflitos, mas com intenso potencial de crescimento e reorganização e afirmando:
Outra característica do mundo dos adolescentes é o imediatismo, pois acaba sendo estimulado
pelo consumismo exacerbado, que incentiva deve haver um acúmulo de bens materiais e
culturais no menor prazo possível. Esta ideia acaba criando nos adolescentes uma sensação de
ansiedade e frustração, o que gera um processo de exclusão social da maioria dos jovens.
O mito do hiperdimensionamento:
Periculosidade:
Está relacionado ao fato que a tendência é que sejam cada vez mais graves
os delitos praticados por adolescentes. Porém, Mário VOLPI mostra que
estudos realizados no país que os atos infracionais praticados por
adolescentes são em maioria aqueles relacionados ao patrimônio.
Imputabilidade:
Imputabilidade
Porém, não só a estrutura familiar pode ser apontada como fator determinante no
ingresso de um adolescente no cometimento de ato infracional, mas estrutura social também,
as políticas sociais básicas, a saúde, a escola, o lazer, o estado e a sociedade são fatores que
interferem no contexto. Para Maria de Lurdes Trassi TEIXEIRA situações de violência fazem
com que um adolescente venha a se torne infrator.
Muitos fatores de risco podem ser associados aos adolescentes infratores, para
Simone Gonçalves de ASSIS, fatores como: círculo de amigos, consumo de drogas,
determinados tipos de lazer, valores do que é certo e do que é errado, autoestima dos
adolescentes, se há na família vínculos afetivos, o número e a posição entre irmãos, a escola e
a dor e o sofrimento devido à violência sofrida pelos pais.
Diante desta realidade, diversos estudos demonstram que a maioria dos usuários de
drogas já esteve em contato com a justiça penal, pois a probabilidade de que usuários de
drogas pratiquem atos ilícitos do que não-usuários, e destaca os principais crimes cometidos:
Sendo assim, muitos são os fatores que levam um adolescente ao cometimento de delito,
fatores que independem de classe econômica, pois muitas vezes esses delitos estão associados
à formação em geral do indivíduo, já que é a adolescência o período de transformação e
formação da identidade do jovem.
“Até o início deste século, não havia legislação específica sobre a criança e o
adolescente. A referência a eles está no Primeiro Código Penal (1890), onde fica
determinado a inimputabilidade dos menores de 9 anos completos, daqueles de
9 a 14 anos que obrassem sem discernimento”
Com o Brasil República surge a urgência da intervenção do Estado nas questões que envolviam
menores, para que promovesse a educação e correção do menores, para transformá-los em
cidadãos úteis e produtivos para o país, desenvolvendo assim uma sociedade moralmente
organizada. Em 1906, foi elaborado por Mello Mattos o projeto que visava entre outras
questões da regulamentação da idade criminal, que passou de “nove para doze anos, e, entre
doze e dezessete para os que obrarem sem discernimento. Os que agissem com discernimento
seriam recolhidos às chamadas escolas de reforma”.
A partir do final do Século XIX as discussões sobre a internação dos menores foram
mais intensas, contando com a participação de autoridades policiais no desenvolvimento de
vários projetos de lei. Segundo Irene RIZZINI criaram-se estabelecimentos para recolher os
menores:
Em 1912, foi proposto por João Chaves um projeto de lei visando uma legislação
especial para os menores, em seu art. primeiro destacava que “para o efeito de serem
submetidos a conveniente regime hospitalar ou educativo, os menores de um ou outro sexo (...)
que tiverem delinquido”. Para a autora o projeto de Chaves inova ao propor que deveria haver
juízes e tribunais especiais para menores, promovendo uma maior afastamento da área penal,
já que propunha que não seriam objetos de procedimento penal os menores de dezesseis anos
de idade acusados de qualquer infração (delito ou contravenção).
Os vários projetos criados foram lentamente ao longo das próximas décadas dando
corpo para a criação de uma legislação especial para menores – O Código de Menores -
Decreto nº 17943, de 12 de outubro de 1927, com o objetivo de regulamentar a proteção e
assistência aos menores, sendo que diversas medidas de prevenção, proteção e assistência
foram observadas visando proteger à criança abandonada fisicamente ou moralmente e
delinquentes.
“Se o menor praticasse um ato que fosse considerado infração penal, receberia as
medidas mais gravosas, como a internação; se o menor fosse abandonado ou
carente, também poderia ser internado em asilo ou orfanato, conforme a
conveniência do Juiz”. Ficou assim estabelecido no Código de Menores de 1927:
O menor de 14 anos, autor de infração penal, não tem processo penal mas,
dependendo da gravidade do delito tem uma “punição”, o abrigo (as colônias
agrícolas);
O menor de 14 anos tem sanções penais, estabelecidas pelo juiz. Os menores de 14
anos a 18 anos “serão recolhidos para cumprimento da pena a prisões independentes
das dos condenados adultos ‟. Esta orientação permaneceria até construírem, escolas
de reforma “onde seriam cumpridas as penas educadoras”;
É atenuante, no julgamento do delito, a idade de 18 a 21 anos.
O internamento,
O perdão judicial (este associado a advertência) e
A liberdade vigiada (o juiz nomeava uma pessoa para proteger e assistir o
menor).
O primeiro Código foi substituído pelo novo Código de Menores - Lei n. 6.697, de 19
de outubro de 1979 - e segundo Wilson Donizete LIBERATI, a nova lei não trazia distinção entre
os abandonados e infratores. Nas palavras do autor “os menores não eram considerados
sujeitos de direitos, mas objetos de atividades policiais e das políticas sociais”.
Para Irene RIZZINI “optou-se por não se manter na lei a classificação tradicional de
menor abandonado e delinquente, substituindo-a por um sistema de descrição do estado
socioeconômico familiar dos menores”.
O Código de Menores traduzia em lei uma doutrina que concebia a sociedade sob
uma perspectiva funcionalista, em que cada indivíduo ou instituição tem seu papel a
desempenhar para assegurar o funcionamento harmônico da sociedade. Os problemas, as
injustiças sociais e a exclusão eram vistos como disfunções que deveriam ser atribuídas aos
desvios de conduta dos indivíduos envolvidos.
I. Advertência;
II. Entrega aos pais ou responsável, ou a pessoa idônea, mediante termo de
responsabilidade;
III. Colocação em lar substituto;
IV. Imposição do regime de liberdade assistida;
V. Colocação em casa de semiliberdade;
VI. Internação em estabelecimento educacional, ocupacional, psicopedagógico,
hospitalar, psiquiátrico ou outro adequado.
Sendo assim, surge o ECA o qual emergiu a partir da CF/88 de 1988, segundo Irene
RIZZINI, representou um marco divisório na questão da infância e juventude no Brasil pelos
avanços conquistados, entre eles, considerou crianças e adolescentes “sujeitos de direitos”
preconizando ampla garantia dos direitos pessoais e sociais.
Alguns pontos centrais devem ser considerados como avanço da legislação, por
exemplo, no que se refere à detenção dos menores em contraposição com o antigo Código,
que permitia a prisão cautelar a Lei declara que:
As leis internas e o sistema jurídico dos países que a adotam, devem garantir a
satisfação de todas as necessidades das pessoas até dezoito anos, não incluindo apenas o
aspecto penal do ato praticado pela ou contra criança, mas o seu direito à vida, à saúde, à
educação, à convivência familiar e comunitária, ao lazer, à profissionalização, à liberdade,
entre outros.
Com base no ECA aplicam-se medidas aos adolescentes que praticaram um ato
infracional. Medidas que vão desde as medidas de proteção até as medidas socioeducativas –
advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade
assistida, semiliberdade e internação, estas duas últimas aplicáveis quando o adolescente
pratica ato infracional passível de segregação.
A natureza jurídica das medidas socioeducativas aplicadas pelo ECA é dúplice, pois
serve tanto como retribuição ao ato infracional praticado como mecanismo capaz de promover
a socialização dos adolescentes (justiça restaurativa).
A visão do ECA não é somente de uma justiça retributiva, mas uma justiça
restaurativa. Pois, visa à socialização do adolescente infrator, busca a participação do jovem e
sua família no processo socioeducativo.
O ECA foi uma evolução das leis anteriores, pois promoveu garantias constitucionais
antes não abordadas em leis anteriores. Para Mário VOLPI, o processo de responsabilização
inaugurado com ECA “promoveu uma verdadeira ruptura com o arbítrio e o tratamento
discricionário dos adolescentes em conflito com a lei”.