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A imigração > Jordi ENCHE AS MEDIDAS

como arma Cassany

é o novo
eleitoral diretor-geral
LUÍS
MARQUES E8 da In-Store
Media Faça a sua simulação
Portugal E28 e conheça as soluções
de Crédito Habitação BPI
O CERN,
a ciência > Dicas O que deve
e o futuro Mesa sem pão é mesa de vilão
analisar quando
ANTÓNIO pondera uma carreira
COSTA SILVA E29 JAIME PIÇARRA E29 internacional E28

ECONOMIA IMOBILIÁRIO
& EMPREGO
2677
16 de fevereiro de 2024
expresso.pt

Exportações Chegada
da Digi
pressiona
de azeite atingem preços das
comunicações

novo máximo Jorge Batista da Silva

Bastonário da Ordem
dos Notários

“Todos falam
Entrada do operador
romeno agitará mercado
com ofertas de baixo
custo vocacionadas para
o mercado jovem
no combate A Digi deverá entrar no merca-
à corrupção, do em abril com uma estratégia
dirigida ao segmento residen-
> Subida de quase 60% no preço ajudou a passar pela primeira mas ninguém cial e apostando em serviços
low cost, abanando o sector,
vez a fasquia dos €1000 milhões de vendas ao exterior sabe o que que tem mantido ofertas com
preços idênticos entre os três
> Consumo de azeite em Portugal recuou 11% no ano passado E4 fazer” E10 grandes operadores. E6

O segredo
do maior COMO ARRANJAR
lucro de CASA NUM MERCADO
sempre
da Galp
ONDE OS PREÇOS
NÃO PARAM
Empresa alcançou em
DE SUBIR Compra do
“JN”, TSF e
2023 um lucro recorde
de €1002 milhões, após
duas décadas a acelerar
A habitação “O Jogo” será
é o tema
a produção de petróleo E8
do primeiro em março
de uma série
de trabalhos
Reformados sobre o país “Investir nos media foi
de 2023 sem que vai a votos
a 10 de março
um impulso, mas com
consciência”, diz Diogo
aumentos E16 Freitas, que vai comprar
parte da Global Media E9
de pensões E4

OBRAS EM CASA Saiba Portugal

que cuidados deve
ter antes de avançar paga juros
para a remodelação abaixo
ILUSTRAÇÃO TIAGO PEREIRA SANTOS

do seu imóvel E18

de Espanha
ACT vai
fiscalizar Dívida nacional tem o
spread mais baixo dos
quotas de países periféricos. Estado
emitiu €1784 milhões em
deficientes E24 Obrigações do Tesouro E5

SOLUÇÕES HABITAÇÃO
PUB | FEV2024

DEVOLVEMOS O SPREAD. SIMULE EM BANCOMONTEPIO .PT

CAIXA ECONÓMICA MONTEPIO GERAL – caixa económica bancária, S.A., designada por Banco Montepio, registado junto do Banco de Portugal com o n.º 36
2 ECONOMIA Expresso, 16 de fevereiro de 2024

Utilidade
Marginal SALÁRIOS, HABITAÇÃO, IGUALDADE, APOIOS SOCIAIS,
João Silvestre
PENSÕES: ESTAS PROPOSTAS DAVAM UM BLOCO CENTRAL
jsilvestre@expresso.impresa.pt

A estatística
é a que uma
pessoa quiser

S
ão escassas as oportunidades que
temos para esmiuçar metodologias
estatísticas. É pena porque, num
país onde a literacia matemática está
longe de impressionar, seria um excelente
contributo. Devemos, por isso, agradecer
ao Ministério da Educação, que nos deu um
motivo com os dados do Instituto Nacional
de Estatística (INE) sobre o abandono esco-
lar. A história conta-se em poucas linhas: o
INE divulgou na semana passada os resul-
tados do inquérito trimestral ao emprego.
Juntamente com indicadores tradicionais
para os três últimos meses de 2023 e para o Os programas eleitorais do PS e da AD têm muito a o rendimento entre salário e pensão, e ambos querem reforçar
conjunto do ano, como a população ativa ou dividi-los mas também comungam de vários mínimos o complemento solidário para idosos (CSI), para tirar os idosos
a taxa de desemprego, publicou também es- denominadores comuns. Ambos querem chegar a 2028 da pobreza. O bloco central também funciona na simplificação dos
timativas para a taxa de abandono escolar, com o salário mínimo nos €1000 e ambos querem que os apoios sociais. Garantias públicas para créditos à habitação de jovens,
que cresceu para 8% no ano passado depois salários médios continuem a subir, alcançando nos anos mais apoios às start-ups e aposta na inteligência artificial são outros
de dois anos a descer e sempre abaixo de mais próximos os €1700. Os dois partidos querem permitir que os exemplos. Leia mais sobre as propostas na nossa edição online
7%. Na nota de avaliação aos números que trabalhadores mais velhos se reformem a tempo parcial, dividindo (usando o QR Code), e no Primeiro Caderno do semanário.
publicou, o Ministério da Educação decidiu

omitir 2021 e 2022 e comparar 2023 dire-
tamente com 2020 para assegurar que a
descida se mantinha. E fê-lo por questionar
a validade das estatísticas do INE, “tendo
em conta que o método de recolha, apenas
por telefone”, “terá levado a uma subesti-
mação do valor”. Dando a ideia, sem o dizer,
que, se bem calculadas as taxas, o abandono
escolar até teria continuado a crescer.
Esta argumentação tem, pelo menos,
dois problemas. Primeiro, o próprio INE
reconheceu atempadamente as insufi-
ciências nas entrevistas telefónicas que
realizava — por terem elevadas taxas de
não resposta — e corrigiu-as de forma
a manter a comparabilidade das séries.
As taxas de abandono de 6,7% e 6,5%,
respetivamente em 2021 e 2022, são já os
Analisar dados estatísticos
é normal e legítimo.
Questionar o INE de forma
grosseira, como o Ministério
da Educação, nem por isso
valores revistos. Embora maiores do que
as estimativas originais, não há qualquer
dúvida de que o abandono escolar se agra-
vou no ano passado. Segundo, o ‘rigor’ es-
tatístico do Ministério da Educação parece
TAP entre
“chantagem”
e “mentiras”
A saída de Christine Ourmières-
-Widener da transportadora
nacional continua a fazer correr
tinta. A ex-presidente da TAP
acusou, em entrevista à CNN, o
ministro das Finanças, Fernando
Medina, de a ter despedido “por
motivos políticos”, alegando que
este a “chantageou” e “ameaçou”,
apesar de reconhecer que
“não tinha feito nada de mal”.
Medina não gostou e reagiu
dizendo que as declarações de
Ourmières-Widener são “falsas e
lamentáveis”. A gestora francesa
foi dura. “Aconselhou-me
veementemente a demitir-me.
Chamo a isso chantagem e estar
a ameaçar-me, foi o que ele fez”,
disse a ex-presidente da TAP. O
governante refuta as acusações.
“As afirmações da ex-presidente
[da TAP] relativamente aos
motivos e procedimento do
O adeus do ‘pai’ da Quinta do Lago:
André Jordan morreu aos 90 anos
André Jordan foi o principal
pioneiro do turismo qualificado no
país, colocando o Algarve no radar
das elites internacionais. Ficará
sempre conhecido como o ‘pai’ da
Quinta do Lago, empreendimento
que criou no Algarve num terreno
baldio que visitou pela primeira
vez em 1970, e que hoje
ainda se destaca na
Europa como tendo o
metro quadrado mais
valorizado em resorts.
Foi também promotor do
1%
Vilamoura XXI e do Belas Clube
de Campo. Faleceu aos 90 anos, e AUMENTO DO NÚMERO DE
até ao fim da sua vida sempre se FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
dedicou a pensar em estratégias Em 31 de dezembro de 2023,
de futuro para Portugal. No seu “o emprego no sector das
último livro, escrito aos 86 anos, administrações públicas
deixou expresso que o saldo situava-se em 745.406 postos
que fez de todos os projetos que de trabalho, refletindo um
empreendeu, sobretudo aumento de 0,4% em termos
em Portugal, foi o do homólogos e de 1% face ao
“sentimento de dever trimestre anterior”, revelou a
cumprido”. Leia mais na Síntese Estatística do Emprego
nossa edição online, através Público (SIEP), elaborada
do QR Code. pela Direção-Geral da
Administração e do Emprego
Público (DGAEP) e noticiada
quarta-feira pela agência
Lusa. O crescimento face ao
terceiro trimestre refletiu
essencialmente a criação de
6560 postos de trabalho na
administração central, segundo
a mesma fonte.
FOTO JOSÉ CARLOS CARVALHO

ser recente, já que, há dois anos, quando
a taxa de abandono caiu para 5,9% em
2021 (entretanto revista para 6,7%), não
parecia incomodado com metodologias e
dizia, sem pudor: “O país está de parabéns
[...]. Não só porque é um reflexo do bom
trabalho das nossas escolas e dos seus pro-
fissionais mas também porque é o fruto de
uma sociedade que não se conforma com
a ideia de que apenas alguns têm direito
seu despedimento são falsas Lisgráfica
e lamentáveis”, afirma em
comunicado à Lusa. “Todos os entrega plano
esclarecimentos foram por mim de recuperação
prestados em sede de Comissão
Parlamentar de Inquérito e
sê-lo-ão, se necessário, de novo,
na ação judicial em curso”, A Lisgráfica apresentou quarta-
esclarece o ministro. feira um plano de recuperação
ao Juízo do Comércio de Sintra

à educação, assumindo que o combate às
desigualdades é uma missão coletiva.”
Fica sempre mal a qualquer Governo
questionar sem critério as autoridades
estatísticas e tentar manipular, de forma
tão grosseira, os dados. Vimo-lo na Grécia
no auge da crise da dívida. Vemo-lo com
frequência em países como a Turquia, a
Venezuela ou a Argentina. Claro que a
pandemia foi atípica. Todos nós sabemos,
todos nós passámos por isso. Uma coisa é
ler os dados TODOS e interpretá-los à luz
dessa realidade. Outra diferente é questio-
nar os métodos do INE, ainda mais com
argumentos que caem por terra à primeira
verificação dos factos. Só falta o ministro
da Educação começar a questionar o pro-
cesso de amostragem, usado em sondagens
políticas e em tantas coisas que regem as
nossas vidas, para tentar demonstrar que
o abandono escolar continuou a diminuir
mesmo quando subiu. É verdade, justiça
seja feita, que João Costa acabou por desva-
lorizar — com atraso — os ‘bons’ resultados
de 2021 e 2022 precisamente por serem
anos atípicos. Mas não deixou de voltar à
carga agora que os números não lhe con-
vêm e, recorde-se, estamos a menos de um
mês de eleições. As estatísticas podem ser
o que uma pessoa quiser?
7
MIL MILHÕES DE DÓLARES
EM AÇÕES DA UBER
A Uber anunciou esta semana o
seu primeiro plano de recompra
de ações próprias: irá adquirir
aos investidores títulos no valor
de 7 mil milhões de dólares, o
equivalente a €6,5 mil milhões,
ao câmbio atual. “A autorização
do nosso primeiro programa de
recompra de ações é um voto
de confiança no forte momento
financeiro da empresa”, disse
o administrador financeiro da
Uber, Prashanth Mahendra-
-Rajah, citado pela Reuters. A
empresa passou de um prejuízo
de 9,1 mil milhões de dólares
em 2022 para um lucro de 1,8
mil milhões de dólares. Foi o
primeiro lucro desde que entrou
em Bolsa, em 2019.
no Tribunal Judicial da Comarca
de Lisboa Oeste, depois de
INFLAÇÃO SUBIU EM JANEIRO À ‘BOLEIA’ DOS ALIMENTOS ter anunciado em dezembro
O INE confirmou esta semana que a inflação subiu para 2,3% em ter apresentado insolvência,
janeiro, mais um ponto percentual que em dezembro (1,3%). O segundo um comunicado
aumento dos preços dos alimentos é um dos principais responsáveis enviado à Comissão do Mercado
por esta subida, assim como o fim da medida IVA Zero. Já a inflação de Valores Mobiliários (CMVM).
subjacente, que exclui os produtos alimentares não transformados e Em 20 de dezembro, a Lisgráfica
energéticos e ajuda a estimar a tendência de longo prazo dos preços, apresentou-se à insolvência,
abrandou para os 2,4% em janeiro (2,64% em dezembro). dando conta nessa altura
de que todo o plano de ação
referente à perda de estatuto
A INFLAÇÃO E A INFLAÇÃO SUBJACENTE
Variação homóloga em %
de sociedade aberta definido
na assembleia-geral de junho
de 2022, ficaria suspenso. A
10 empresa registou prejuízos de
Var. homóloga €571 mil na primeira metade
8 de 2023, inferiores aos de
€1,2 milhões verificados no
6 mesmo período do ano passado,
segundo anunciou a empresa em
4 setembro. Segundo o relatório
Inflação subjacente e contas do primeiro semestre,
2 citado pela Lusa, as vendas da
Lisgráfica, Impressão e Artes
0 Gráficas atingiram €4,08
milhões no primeiro semestre do
-2 ano passado, menos 20% do que
2020 2021 2022 2023 2024 no mesmo período de 2022 (€5,1
FONTE: INE milhões).
NotíciasFlix

Expresso, 16 de fevereiro de 2024 ECONOMIA 3

Os debates, ou mesmo as eleições, podem demorar muito tempo até produzirem

boas escolhas para um país. Faltam as forças de mercado, com a sua disciplina impiedosa A semana
E M 2 M I N U T O S

Votar com os pés GREENVOLT A empresa portuguesa

melhor não mudar, continue o se-
nhor na mesma à frente do balcão.”
Infelizmente, ou felizmente, com
poucos clientes, o café perde di-
nheiro todos os dias. Com os bolsos
vazios, o homem acaba por ter de
Quer uns quer outros votaram com
os pés. Deixaram de ir ao café que
servia mal ou venderam as ações de
uma empresa mal gerida. Podemos
discutir se o processo demorou de-
masiado tempo e como torná-lo
procura a exceder em 12% a oferta,
as queixas legítimas e as mudanças
exequíveis. Jornalistas e analistas
escrevem muito, mas misturam-se
factos e opiniões, e não há opções
que não tenham algumas virtudes
ou alguns ganhadores, permitindo
de energias renováveis fechou o
seu primeiro empréstimo obriga-
cionista aberto ao retalho com a
no montante de €100 milhões.
Subscreveram os títulos de dívida
2914 investidores, informou a
Greenvolt, em comunicado, na
segunda-feira.

ceder à mulher.
Noutro extremo, imagine uma
R ao Quadrado empresa razoavelmente bem ge-
rida e com muitos acionistas, que
Ricardo Reis estão muito dispersos. Do nada,
rquadrado.expresso@gmail.com surge uma investidora que pro-
mete uma revolução e um futu-
mais eficaz. Mas ele aconteceu.
A governação de um país é mais
difícil. Quem fica, como no caso
do café, tem mais medo das mu-
danças, porque depende muito
do dinheiro distribuído pelos go-
vernantes. Diaria mente, no Par-
1002
que tudo seja defensável quando
é forte a ideologia ou o desejo de
ficar no poder ou chegar a ele.
Pior, no caso de um país, votar
com os pés pode tornar tudo pior
no curto prazo, porque quem fica
é quem vota. Pode demorar muito milhões de euros foi quanto

I
magine um pequeno café de
vizinhança que até há pouco
tempo estava sempre cheio.
Entretanto, a qualidade dos
produtos e do serviço piorou. Os
mais novos começaram a prefe-
rir tomar pequeno-almoço perto
do trabalho. As vendas caíram e a
mulher do proprietário disse-lhe
que estava preocupada. Mas, disse
ele: “Está tudo bem, quem cá vem
gosta e não ouço queixas.” Mesmo
depois de surgirem as primeiras
reclamações, o proprietário igno-
rou, e essas pessoas deixaram de
vir. Por isso ele continuou a dizer à
mulher: “Quem vem regularmente
gosta de cá vir!” Apesar de cada vez
haver mais mesas vazias, há um
grupo de clientes, mais idosos, que
ia, até porque não havia alternativa
perto.
Um dia, chateado com as críticas
que a mulher persistia em fazer, ele
gritou do balcão: “Quem gosta do
nosso café?” As poucas pessoas que
restavam levantaram todas o bra-
ço. “E quem prefere que a minha
mulher, com as suas ideias novas,
tome conta das operações daqui
em diante?” Os clientes responde-
ram: “Bem, nós gostávamos que
ro glorioso, com novos mercados
a desbravar, novas tecnologias
miraculosas a explorar e novos
fluxos de capital de investidores
estrangeiros com bolsos fundos.
Os jornalistas e analistas mostram
que as propostas são um disparate
irrealizável. Os investidores profis-
sionais nem querem prestar-lhes
atenção. Mas a investidora é caris-
mática, boa a debater e usa o poder
da internet para seduzir pequenos
investidores com memes, fotos de
quando era criança e acusações de
que quem a critica é ou machista,
ou ideólogo do género, ou racista,
ou terrorista, ou o que quer que
for que cause indignação nas redes
sociais.
Ela consegue ganhar por pouco
a eleição para novo CEO. Não de-
mora mais que uns dias para se
confirmar a impreparação da nova
gestora. Os grandes investidores
vendem as suas ações. O seu pre-
ço cai. Os pequenos investidores
ficam mais pobres. Inicialmente,
podem culpar tudo numa conspira-
ção. Mas, mais cedo ou mais tarde,
e sobretudo quando os resultados
confirmam a má gestão, quem fi-
cou na empresa arranja forma de
a despedir.
lamento, nos media ou nas redes tempo até que quem ficou sinta as
sociais, há quem critique o estado consequências das suas más esco-
do país, tornando difícil perceber lhas nas eleições. O país definha,
mas demora uma década até as
pessoas verem claramente o fosso
No caso de um país, na sua riqueza em relação aos vi-
zinhos. Demora ainda mais tempo
votar com os pés até que nem dinheiro reste para
pode tornar tudo pagar as pensões dos idosos que
pior, porque quem ficaram.
fica é quem vota Um artigo recente de cinco eco-
nomistas, Bellodi, Docquier, Iando-
lo, Morelli e Turati, usou os dados
das eleições municipais em Itália
entre 2006 e 2020 para perceber
o que aconteceu depois de subidas
inesperadas na votação de partidos
extremistas, ou mesmo da eleição
de um dos seus membros para pre-
sidente da câmara. A população
caiu nos meses e anos seguintes.
Sobretudo os jovens, as mulheres
e aqueles com mais anos de esco-
laridade saem desses municípios.
Por sua vez, são menos os italianos
de fora que imigram para esses lo-
cais. Preocupante, os economistas
notam que, com estas mudanças
de população, torna-se mais difícil
derrotar os populistas nas eleições
seguintes.
Com uma economia estagnada
na última década, os jovens portu-
lucrou a Galp em 2023, no ano em
que teve o seu resultado ajustado
mais alto de sempre. O EBITDA
(resultado antes de juros,
impostos, depreciações e
amortizações), no entanto,
recuou 8%, para €3,56 mil
milhões. A empresa projeta para
este ano um EBITDA de €3,1 mil
milhões
MOTA-ENGIL A construtora lidera-
da por Carlos Mota Santos voltou
a ganhar uma obra internacional,
desta vez no Peru, onde assinou
um contrato de €115 milhões com
a empresa que explora a mina de
cobre Las Bambas, a 560 quiló-
metros de Lima, para construir
tanques de resíduos. A empreitada
terá uma duração máxima
de 50 meses.

2,3
os filhos e netos cá viessem, mas Quer num caso quer no outro, gueses emigraram em massa. Dos
eles agora vão a outro café no cen- não foram as críticas acertadas, os que têm ficado, muitos votaram
tro da cidade, com o qual o nosso debates e discussões nem os votos durante anos na extrema-esquerda
modesto bairro não pode competir. formais que trouxeram a mudança e ameaçam agora votar em massa
De qualquer forma, não está muito ou que castigaram as más esco- na extrema-direita. Não sei bem
mal assim, e temos medo que a mu- lhas. Foi antes o “mercado”, no como será, mas não perco a espe-
lher retire aquilo de que gostamos comportamento dos clientes e dos rança de que o “mercado” comece por cento foi a taxa de inflação de
e a que nos habituámos. Por isso é acionistas, que impôs o inevitável. a funcionar em breve. janeiro, confirmada na
segunda-feira pelo Instituto
Nacional de Estatística, acima dos
1,4% de dezembro. O aumento de
As famílias e o Estado, numa lógica de promoção do seu bem-estar, tendem preços da alimentação,
eletricidade e restauração e
a interferir nas escolhas dos idosos, quando não os substituem nessas escolhas hotelaria contribuíram para a

Este país não é para velhos

aceleração do índice de preços no
primeiro mês do ano

pelo Estado, quando define uma
escolaridade obrigatória, ou en-
tão tomada por outros que não o
aluno. De facto, são os pais que
tomam grande parte das decisões
associadas à frequência da escola
pelos seus filhos, e esta situação
replica-se noutros contextos — as
Opinião Marginal crianças e adolescentes procuram
cuidados de saúde, na maior parte
Sílvia Sousa dos casos, por iniciativa e acompa-
economia@expresso.impresa.pt nhados dos pais. Aliás, são os pais
que tomam grande parte das deci-
que assegura a oportunidade ao in-
divíduo de, a partir de determinado
momento, tomar as suas decisões e
que decorre da sua emancipação,
acompanhada, mesmo se numa
fase posterior, de uma autonomia
económica.
Curiosamente, também motivado
pela perceção de uma nova fra-
gilidade, as famílias e o Estado,
numa lógica de promoção do seu
bem-estar, tendem a interferir nas
escolhas dos idosos, quando não
de reforma é pouco mais de 66 anos
—, atingir essa idade não é acompa-
nhada de uma qualquer inversão da
emancipação ou autonomia eco-
nómica do indivíduo. Aliás, estas
perduram num tempo indefinido.
Ainda assim, são vários os exem-
plos em que as famílias ou até mes-
mo o Estado, sem uma regra cla-
ramente estabelecida, interferem
nas escolhas dos idosos, decidindo
quando têm de ir ao médico, deixar
de conduzir, deixar de habitar nas
TURISMO As receitas totais do tu-
rismo em Portugal totalizaram €6
mil milhões no ano passado, mais
20,1% do que em 2022 e um novo
recorde, revelou o INE, indicando
também que nunca passaram
pelos aeroportos nacionais tantos
passageiros como em 2023.

A
ideia de um Estado Social
que apoia a população mais
frágil desde o nascimento
até à morte está na base da
proteção social oferecida na maio-
ria dos países desenvolvidos. A ava-
liação da intervenção do Estado,
seja em assistência social, saúde
ou educação, suscita uma reflexão
sobre a eficiência e equidade das
medidas propostas e/ou implemen-
tadas e, no caso da eficiência, uma
eventual análise custo-benefício.
Ora se, ainda que com alguma di-
ficuldade, é possível identificar e
calcular ou estimar os custos, os
benefícios tendem a implicar desa-
fios acrescidos.
No caso da educação, por exem-
plo, um dos desafios de se aferir a
eficiência da intervenção pública
é consensualizarmos o que é uma
“boa” educação e como é que esta
se mede. Um outro desafio decorre
do facto de a decisão sobre a quan-
tidade de escolaridade ser imposta
sões associadas à vida das crianças
e adolescentes no nosso país, com
um enquadramento legal que lhes
valida essa responsabilidade.
Enquanto sociedade, convivemos
bem com a realidade de até um
determinado momento, perfeita e
legalmente estabelecido, serem os
pais a tomarem as decisões pelos
filhos. Frequentemente, embora
emancipados, a inexistência de
uma autonomia económica suscita
o prolongamento desta circuns-
tância, que muitas vezes se traduz
num “enquanto viveres em minha
casa obedeces às minhas regras” e
que é também socialmente aceite
de forma natural. Ou seja, no início
das nossas vidas, enquanto somos
crianças, adolescentes ou jovens
adultos, é aceitável e até confortá-
vel, do ponto de vista da sociedade,
mas também do ponto de vista do
indivíduo, que outros tomem uma
série de decisões por nós — seja o
Estado, seja a nossa família. Con-
tudo, há um limite nesta situação
os substituem nessas escolhas. O
problema é que, se há uma idade a
partir da qual se é considerado ido-
so em Portugal — neste momento
será 65 anos, mas a idade mínima
A avaliação da
intervenção do Estado,
seja em assistência
social, saúde ou
educação, suscita
uma reflexão sobre
a eficiência e equidade
das medidas propostas
suas casas e, claro, quando insti-
tucionalizados e sujeitos às regras
das instituições, como ocupar o seu
dia, quando comer, o que comer e
quando dormir. Obviamente, em
alguns casos, a sua condição médi-
ca, profissionalmente diagnostica-
da, assim o exige, mas noutros não.
E se a sociedade vive serenamente
com a circunstância de tratar os
idosos como indivíduos incapazes
de realizar racionalmente as suas
escolhas na prossecução da sua
felicidade, o mesmo poderá não ser
verdade na perspetiva destes.
Quando e como é que a nossa
sociedade decidiu que é legítimo
condicionar indivíduos emanci-
pados e autónomos do ponto de
vista económico na sua liberdade
de escolha? Quando é que a nossa
sociedade decidiu ignorar o mote:
dê mais tempo a quem precisa? É
que não basta colocar passadeiras
e temporizadores de semáforos.
Economista
IGCP A agência de gestão da dívida
pública portuguesa voltou esta
quarta-feira ao mercado, emitindo
€1,78 mil milhões em três linhas
de Obrigações do Tesouro, com
juros inferiores aos de Espanha.
EDP A EDP Renováveis acordou
vender à Connor, Clark & Lunn
Infrastructure 80% de um projeto
eólico no Canadá, com 297 me-
gawatts, por cerca de 600 milhões
de dólares canadianos, o equiva-
lente a €414 milhões.
PIB A economia da União Europeia
cresceu 0,5% em 2023 e 0,3% no
quarto trimestre, com Portugal a
apresentar a terceira maior subida
trimestral, revelou o Eurostat.
BPI O banco vai pagar um “com-
plemento extraordinário” aos seus
trabalhadores com remuneração
fixa anual de até €40 mil.
4 ECONOMIA
ALTOS
Filipe
Silva
Presidente
executivo
da Galp
2023 foi um ano recorde pa-
ra a Galp a nível de lucros — fo-
ram €1002 milhões, mais 14% do
que em 2022. E a carteira de ati-
vos e projetos construídos ao lon-
go das últimas duas décadas traz-
-lhe boas perspetivas, tal como a
importante notícia, conhecida no
início do ano, de que o consórcio
que lidera encontrou petróleo ao
largo da Namíbia.
Gonçalo
Santos Andrade
Presidente
da Portugal Fresh
As frutas, legumes, flores e plan-
tas ornamentais produzidos em
Portugal continuam a conquis-
tar clientes fora de Portugal —
é o que resulta dos números do
Instituto Nacional de Estatística,
que mostram um crescimento de
11,4% das exportações no ano pas-
sado, para €2300 milhões, o va-
lor mais elevado de sempre.
José Couto
Presidente da
Associação de
Fabricantes para a
Indústria Automóvel
(AFIA)
As exportações de componentes
automóveis tiveram um bom de-
sempenho em 2023: aumentaram
13,7%, para €12,4 mil milhões, o
que também representa um no-
vo recorde, com Espanha a man-
ter-se como o principal mercado,
com 27,9% das exportações, se-
guida da Alemanha, com 22,6%.
O principal
objetivo
da avaliação
de desempenho
é a construção
dos planos
de formação das
organizações
E BAIXOS
Helena
Borges
Diretora-geral da
Autoridade Tributária
e Aduaneira (AT)
Contrariando o que tem sido a
orientação da AT no que respei-
ta às cauções das rendas, o Cen-
tro de Arbitragem Administrati-
va decidiu a favor de um contri-
buinte, determinando que essas
cauções estão isentas de IRS. Se-
gundo o “Jornal de Negócios”, o
contribuinte acabou por sair ga-
nhador do processo que colocou
contra o Fisco e recuperou €180
mil. A AT decidiu não recorrer.
Nota: na última edição, de 9 de fe-
vereiro, foi colocado nos ‘Baixos’
o nome e foto de Francisco Vila-
ça, diretor-geral da Uber em Por-
tugal, em vez de Diogo Aires Con-
ceição, diretor-geral da Uber Ea-
ts, a propósito da decisão do Tri-
bunal do Trabalho de Lisboa so-
bre a existência de um contrato
de trabalho entre um estafeta e a
plataforma Uber Eats. Pelo erro,
as nossas desculpas.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
Pensões Quem se reformou
em 2023 não teve aumento:
“O Governo criou uma
expectativa que agora falhou”
Aumento intercalar em julho
para todos os reformados,
sem exceção, criou um
precedente. Pensionistas que se
reformaram em 2023 querem
regras iguais para todos
Quem se reformou ao longo do ano
de 2023 chegou a janeiro de 2024 e
não recebeu os aumentos entre 5%
e 6% nas pensões. Entre surpresos,
desiludidos e revoltados, há muitos
pensionistas a queixar-se. A regra
está na lei e aplica-se desde sempre,
mas este ano os queixosos têm três
argumentos adicionais: a inflação, a
forma como os salários são valoriza-
dos para o cálculo das pensões, e o
facto de, em julho de 2023, o Gover-
no ter aplicado o aumento intercalar
a todos sem exceção, criando um
precedente e uma expectativa que,
agora, não se concretizou.
Exportações Vendas de azeite ultrapassam
pela primeira vez os €1000 milhões
Portugal exportou menos
quantidade mas, com a inflação,
acabou por registar um
aumento homólogo nas vendas
ao exterior em 2023
As exportações nacionais de azeite
ultrapassaram, pela primeira vez, a
barreira dos €1000 milhões.
De acordo com a Casa do Azeite,
organização que congrega pratica-
mente toda a fileira do sector — e que
baseia a sua análise nos dados divul-
gados pelo Instituto Nacional de Esta-
tística (INE) —, apesar da subida, em
valor, para os €1159 milhões (contra
€966 milhões em 2022), houve uma
quebra nas quantidades exportadas,
das 264 mil toneladas, em 2022, para
214 mil toneladas, no ano passado.
Na base daquele acréscimo no valor
das exportações está o aumento dos
preços do azeite pagos à produção,
visto que se passou de €3,4 por quilo
(no mercado do sector, as transações
são feitas em quilos. 1 kg = 1,1 litros,
sensivelmente), em junho de 2022,
para €8,5, em dezembro de 2023 —
valores médios para o azeite virgem
extra. Ou seja, um aumento de cerca
de 150% no espaço de um ano e meio,
segundo a base de dados espanhola
Poolred, que serve de referência ao
mercado mundial do sector.
O contexto de inflação elevada re-
gistado em 2023 acabou por estar
na origem do aumento dos valores
exportados em vários sectores, como
nas frutas e legumes (11,4%), nos
componentes automóveis (14%) e
também na metalurgia e metalome-
cânica (4,3%), em que foram batidos
recordes.
Quebra no consumo
No caso do azeite, há ainda a assi-
nalar um aumento médio de preços,
segundo a associação de defesa do
consumidor Deco, na categoria de
azeite virgem extra, da ordem dos
59%, no último ano e meio, junto do
consumidor.
A subida do preço do azeite está
já a provocar, de resto, uma quebra
no consumo deste bem essencial no
mercado nacional, segundo a Casa
do Azeite, da ordem dos 11%, na com-
paração de dezembro de 2023 com o
mesmo mês do ano anterior.
Numa pesquisa nos sites das princi-
pais marcas da grande distribuição é
fácil perceber que o preço do azeite já
ultrapassa os €10 por litro em muitas
As regras de atualização das pen-
sões ditam que todos os anos, em ja-
neiro, haja aumentos de acordo com
a inflação e o crescimento económico
de anos anteriores. Foram estas re-
gras que determinaram que a gene-
ralidade dos reformados tenha visto
a sua pensão subir entre 5% e 6% no
início de 2024. Contudo, as regras
também dizem que as atualizações
não se aplicam a quem se tenha re-
formado no ano imediatamente ante-
rior. Esta é uma regra que se repete
todos os anos, e não é exclusiva deste
processo de atualização. Contudo,
este ano muitos reformados terão
sido surpreendidos com a medida.
“Estão a chegar-nos muitas quei-
xas”, em “número muito elevado e
muitas das quais nem são dos nossos
associados”, diz ao Expresso Ma-
ria do Rosário Gama, presidente da
Apre! — Associação de Aposentados,
O azeite virgem extra está 59% mais caro junto do consumidor
das categorias, nomeadamente no
azeite virgem extra. Uma fonte ligada
à produção garante ao Expresso que,
com o preço ao produtor nos €8,5
por quilo, é muito provável que, junto
do consumidor, o custo do litro do
azeite virgem extra continue acima
dos €10, ou até mais. Isto porque ao
preço pago à produção, ainda há a
adicionar os custos de embalagem,
rotulagem, logística de transporte e
armazenamento e, naturalmente, as
margens da distribuição.
Ainda sobre as vendas ao exterior,
regra geral, e segundo a Casa do Azei-
te, são feitas a granel para Espanha e
Itália, países que representam cerca
de 60% a 65% do total das exporta-
ções nacionais. “O maior mercado
de destino para o azeite português
de marca (embalado) continua a ser
o Brasil, com cerca de 25% a 30% do
total das exportações nacionais”, nota
Pensionistas e Reformados. Porquê o
sobressalto, se a regra existe desde
sempre?
Desde logo, porque ela é injusta,
responde Maria do Rosário Gama.
“É certo que a regra sempre existiu,
mas antes não havia aumentos [tão
consideráveis]. Nos últimos anos,
com a inflação, as pessoas sentem
mais a diferença”.
Depois, acrescenta o economista
Eugénio Rosa, porque a regra encerra
um “duplo prejuízo”. “Se, por hipóte-
se, me reformei em fevereiro de 2023
não tenho atualização em janeiro de
2024. Contudo, os salários dos dois
últimos anos também não são reva-
lorizados.” Portanto, nem os salários
dos dois últimos anos de trabalho são
atualizados à inflação, nem a pensão
o é. Na prática, “são dois anos segui-
dos de pensões congeladas”, lamenta
o economista, para quem “é preci-
so alterar a disposição na portaria”.
“Pelo menos quem se reforma no
primeiro semestre deve ter direito
Reformados têm dupla
penalização, diz Eugénio
Rosa: nem veem os
salários revalorizados à
inflação, nem têm direito
à atualização da pensão
FOTO GETTY IMAGES
Mariana Matos, secretária-geral da-
quela organização. E refere ainda que
“todos estes dados são aqui referidos
em volume”.
Frutas, componentes automóveis
e metalurgia em alta
Igualmente em destaque estiveram
as exportações portuguesas de fru-
tas, legumes e flores que, em 2023,
bateram um recorde ao atingirem
O contexto de inflação
elevada registado em
2023 acabou por estar
na origem do aumento
dos valores exportados
em vários sectores
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
à atualização” ou deve fazer-se uma
“atualização proporcional aos meses
de reforma”, reclama.
“Iludiram as pessoas”
Um terceiro argumento na defesa da
necessidade de rever as regras centra-
-se na expectativa criada pelo Governo.
Apesar de a lei ter anos, em 2023, quan-
do anunciou o aumento intercalar de
3,57%, o Governo resolveu estendê-lo
a todos os reformados, sem exceção.
Segundo Rosário Gama, “o Governo
criou uma expectativa que agora fa-
lhou”. Eugénio Rosa concorda: com
o precedente em julho “iludiram as
pessoas”. O economista diz já ter
alertado os partidos com assento
parlamentar, sem sucesso. E desafia
as associações de reformados, como
a Apre! e a Murpi, a serem mais so-
noras no protesto.
A maioria dos reformados chegou
a 2024 sem perder poder de compra
e até a acumular ganhos acima da in-
flação, que nos últimos anos disparou.
Os aumentos reais variam consoante
os escalões de rendimento, mas um
reformado com uma pensão média,
que em 2021 recebia €500, chegou
a este ano com um ganho real (já
descontando o efeito da inflação) de
2,6%. Mas há casos particulares que
não acompanham esta tendência.
Elisabete Miranda
emiranda@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
) Componentes automóveis
Exportaram €12.433 milhões
em 2023, um crescimento
homólogo de 14%
) Frutas, legumes e flores
As exportações atingiram em
2023 um novo recorde de
€2300 milhões, um aumento
de 11,4% face a 2022
) Metalurgia e metalomecânica
Este sector exportou €24.017
milhões em 2023, mais 4,3%
que no ano anterior
( Vinho
As exportações de vinhos
portugueses recuaram para
€928 milhões no ano passado.
A quebra, só na UE, foi de 2,4%
( Têxtil e vestuário
As vendas ao exterior caíram
5,6% em 2023, para €5753
milhões, face ao recorde
do ano anterior
os €2300 milhões — um aumento
de 11,4% face a 2022, segundo a as-
sociação Portugal Fresh, que cita os
dados do INE. Espanha, França, Paí-
ses Baixos, Alemanha e Reino Unido
continuam a ser os principais merca-
dos deste sector, absorvendo a União
Europeia 80% do valor exportado.
Já as exportações de componentes
para automóveis subiram quase 14%
para um recorde de €12.433 milhões
de euros em 2023, de acordo com a
AFIA — Associação de Fabricantes
para a Indústria Automóvel.
O outro grande recordista das ex-
portações nacionais é o sector da me-
talurgia e metalomecânica, cujas ven-
das ao exterior atingiram, em 2023,
uma nova marca, que agora ultrapas-
sou os €24 mil milhões (€24.017 mi-
lhões, mais concretamente). Trata-se
de um aumento de 4,3% face a 2022.
Vítor Andrade
vandrade@expresso.impresa.pt
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
Medina prevê
€13,9 mil milhões
em emissões este ano
FOTO JOSÉ FERNANDES
Dívida pública IGCP emitiu esta semana
€1784 milhões em Obrigações do Tesouro,
a terceira colocação de dívida deste ano
Portugal paga
juros mais
baixos do
que Espanha
Jorge Nascimento
O
Rodrigues
Estado regressou
esta semana ao
mercado obriga-
cionista na zona
euro, tendo realiza-
do um leilão triplo
e emitindo dívida
no valor de €1784
milhões. Com esta
terceira operação do ano (depois de
uma colocação sindicada e um triplo
leilão em janeiro), a Agência de Ges-
tão da Tesouraria e da Dívida Pública
(IGCP) já emitiu 54% dos €13,9 mil
milhões em dívida obrigacionista pro-
gramados para 2024.
Os juros pagos foram de 2,656% na
dívida a amortizar em junho de 2029,
de 3,149% no prazo de outubro de
2034 e de 3,568% no vencimento em
abril de 2052. Em janeiro, na opera-
ção sindicada de lançamento da linha
de obrigações a vencer em outubro de
2034 (e que passou a ser referência
no mercado para o prazo a 10 anos),
o Tesouro pagou uma taxa inferior,
de 2,997%.
“Em janeiro, Portugal tinha rea-
lizado um leilão triplo com maturi-
dades diferentes das atuais [2028,
2042 e 2045], no entanto, o prémio
de risco do país subiu no último mês,
o que acaba por se traduzir em taxas
mais elevadas em todas as maturi-
dades e superiores às do leilão ante-
rior”, refere Filipe Silva, diretor de
investimentos do Banco Carregosa.
Mas nas emissões a vencer em 2034
e 2052 Portugal pagou juros mais
baixos do que as operações similares
realizadas em Espanha já este mês:
3,17% e 3,693%, respetivamente.
No detalhe das operações, o IGCP co-
locou €453 milhões a vencer em 2029
(referência do prazo a cinco anos)
com uma procura 1,53 vezes superior
à emissão e com taxa de 2,656%; nos
títulos a vencer em 2034 (referência
a 10 anos) colocou €800 milhões, com
uma procura de 1,29 vezes a oferta e
taxa de 3,149%, e na linha a 28 anos co-
locou €531 milhões, com uma procura
de 2,13 vezes a oferta e taxa de 3,568%.
O PRÉMIO DE RISCO
DA DÍVIDA PORTUGUESA
REDUZIU-SE DE 76 PARA
70 PONTOS-BASE ENTRE
O FINAL DE DEZEMBRO
E A PASSADA
QUARTA-FEIRA
O spread da dívida portuguesa bai-
xou de 76 pontos-base no final de
dezembro do ano passado para 70
pontos-base esta quarta-feira no mer-
cado secundário da dívida (onde se
transacionam os títulos entre os inves-
tidores), mas no mercado primário de
emissão as taxas pagas pelo Tesouro
estão em alta. O spread é o prémio de
risco exigido pelos investidores em
relação ao custo de financiamento da
dívida alemã, que serve de referência
na zona euro. O prémio da dívida por-
tuguesa tem sido o mais baixo entre
os países periféricos. Com spreads
superiores encontram-se Eslovénia,
Croácia, Espanha, Chipre, Grécia,
Eslováquia, Malta, Lituânia e Itália.
“O movimento da curva de taxas
de juro nacional está associado às ex-
pectativas de cortes de taxas de juros
do Banco Central Europeu. Depois de
um grande otimismo no final de 2023,
o mercado tenta agora encontrar a
taxa neutral à medida que os dados
económicos vão sendo divulgados.
As expectativas do mercado para os
possíveis cortes de taxas para este
ano têm vindo a mudar, o que acaba
por se refletir nos prémios de risco de
cada geografia. Não obstante esta su-
bida do risco nacional, a mesma está
alinhada com os movimentos de toda
a dívida soberana europeia. Portugal
tem vindo a conseguir reduzir o seu
nível de endividamento face ao PIB e
continua a ser o país da periferia com
o spread mais baixo face à Alemanha”,
acrescenta Filipe Silva.
Para Ricardo Marques, economista
da consultora Informação de Merca-
dos Financeiros, “apesar [de os lei-
lões] estarem em linha com os atuais
preços no mercado secundário, os
custos foram mais elevados do que os
valores registados na última semana,
refletindo a surpresa negativa de uma
redução da inflação em janeiro infe-
rior ao esperado nos EUA [a inflação
desceu de 3,4% em dezembro para
3,1%, mas os analistas esperavam
2,9%], o que levou a que as expectati-
vas para um primeiro corte de taxas
naquele país pela Reserva Federal
fossem adiadas, ajudando a uma su-
bida dos rendimentos das obrigações
quer no país quer a nível global”.
Portugal emitirá mais €4,5 mil
milhões do que em 2023
No programa de financiamento para
2024, o IGCP prevê colocar €13,9
mil milhões em dívida de médio e
longo prazo (Obrigações do Tesouro
e Notas de Médio Prazo), mais €4,5
mil milhões do que o executado no
ano anterior. A dívida obrigacionista
colocada em 2023 foi o valor mais
baixo desde 2019.
EMISSÃO DE OBRIGAÇÕES
DO TESOURO
Em mil milhões de euros
8 os bancos em risco. Depois, o
6
4 13,9
2 mais direcionado para a construção
-2
2019 2020 2021 2022 2023 2024*
*Previsão do programa de financiamento para
2024 do IGCP
FONTE: IGCP
PORTUGAL VAI PERDER
POSIÇÕES NO GRUPO
DOS JUROS MAIS BAIXOS
Projeção de juros da dívida a 10 anos
em junho de 2024
Alemanha
Países Baixos
Finlândia
França
Áustria
Irlanda
Bélgica
Grécia
Eslovénia
Chipre
Portugal
Croácia
Espanha
Eslováquia
Itália
Malta
Lituânia
Nota: não há dívida a 10 anos registada
para Estónia, Letónia e Luxemburgo
FONTE: ALGORITMO DO WORLD GOVERNMENT BONDS,
PROJEÇÕES EM 14/2/2024
A emissão de dívida atingiu um
pico de €27,2 mil milhões no ano da
pandemia. O stock da dívida pública
fechou em €251,7 mil milhões em
dezembro de 2023, uma redução de
quase €7 mil milhões em relação ao
final do ano anterior. E o rácio da
dívida pública desceu de 112,4% do
Produto Interno Bruto (PIB) no final
de 2022 para 98,7% no final de 2023,
o nível mais baixo desde o terceiro
trimestre de 2010 (97,7%).
Para setembro deste ano as proje-
ções do algoritmo do portal World
Government Bonds (WGB) apontam
para uma perda de posições de Por-
tugal no grupo dos países com juros
mais baixos na zona euro. As proje-
ções apontam para juros de 2,52%
para as obrigações portuguesas a 10
anos, face a 2,5% ou menos para Es-
lovénia, Chipre e Grécia.
economia@expresso.impresa.pt
ECONOMIA 5
DESCODIFICADOR
Como quer
a Europa
impedir
novos BES?
Afinar e simular
é um dos focos
do Conselho Único
de Resolução para
agilizar resoluções
na banca até 2028
1 Para que
serve o MUR?
A vigorar desde janeiro de 2016,
depois da resolução e venda do Banif
e do colapso do BES, o Mecanismo
Único de Resolução (MUR) integra o
Fundo Único de Resolução (de cariz
europeu) e serve para garantir “a
resolução ordenada dos bancos em
situação de insolvência com custos
mínimos para os contribuintes e
para a economia real”. Na Europa,
é o Conselho Único de Resolução
(CUR) que decide os programas
de resolução para os bancos em
risco ou situação de insolvência,
acompanhado das autoridades locais
(a nível nacional, Banco de Portugal).
2 Como
funciona?
O Banco Central Europeu, que
supervisiona diretamente os
bancos europeus de maior
dimensão no âmbito do Mecanismo
Único de Supervisão, sinaliza
CUR traça “as diversas fases de
planeamento e resolução dos
bancos transfronteiriços e da
União Europeia”, explica o Banco
de Portugal. Até 2023, o foco foi
de versões de planos de resolução
revistos anualmente, para saber
se os bancos conseguiam absorver
perdas, assim como a fixação do
requisito mínimo de fundos próprios
e passivos elegíveis (MREL).
3 Que
estratégia
até 2028?
Nos próximos cinco anos,
1,88 a autoridade europeia de
2,1 resolução, o CUR, tem como
2,25 prioridade estratégica o “reforço
2,3 da operacionalidade dos planos
2,32 de resolução”. Quer saber se os
2,33 bancos estão bem preparados
2,41 para aplicarem os planos traçados.
2,45 Para isso é preciso testar e fazer
2,46 simulações que testem a eficácia
2,5 dos planos, verificando se não
2,52 existem falhas em caso de bail-in
2,61 (resgate). A ideia é potenciar formas
2,66 de gerir crises de forma eficiente
3 e adaptadas a todos os desafios
3 externos emergentes. Assegurar
3,1 transparência e previsibilidade das
3,14 ações do CUR é outra prioridade.
4 Quais
os
objetivos?
A estratégia, denominada SRM
Vison 2028, foi realizada nos últimos
12 meses e pretende colocar no
terreno medidas e salvaguardas
adicionais que garantam a resolução
dos bancos em risco. “Até 2028, o
mais tardar, o Mecanismo Único
deverá ter planos de resolução
totalmente acionáveis”, disse o
Conselho Único de Resolução na
passada terça-feira, assim como
deve “monitorizar ativamente as
medidas” aplicadas aos bancos para
melhorar ou remover problemas. O
objetivo é “usufruir de um sistema
bancário estável e cada vez mais
sólido e capaz de resistir a eventuais
choques”, declarou o presidente
do Fundo de Resolução (nacional)
e vice-governador do Banco de
Portugal, Luís Máximo dos Santos.
Isabel Vicente
ivicente@expresso.impresa.pt
6 ECONOMIA
“Confusion
de Confusiones”
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt
Afinal,
as PPP
são boas
C
omo diz um amigo meu:
homem que se divorcia
e volta a casar é porque
gostou.
Até 2019 foram lançadas, em
Portugal, 55 Parcerias públi-
co-privadas: 5 por Governos
do PSD e 50 por Governos do
PS. Na área da saúde eram
exemplares as dos Hospitais
de Loures, Braga, Vila Franca
de Xira e Cascais. O Governo
do PS acabou com elas porque
cismou que deviam ser de ges-
tão pública.
Agora, porém, parece que o
PS já gosta das PPP na saúde.
Em 2017 já o Hospital de Lisboa
Oriental era prioritário, mas só
agora, numa corrida desenfrea-
da contra o tempo, para mostrar
serviço em vésperas de eleições,
avançaram. Reviram a decisão
do Conselho de Ministros de
2017 e assinaram o contrato
com o consórcio construtor.
Esta PPP é sui generis. Ao
contrário do que devem ser
as PPP em que o difícil para
o Estado, a gestão corrente,
é passado para os privados,
neste caso o Estado passou a
construção e o financiamento
iniciais e a manutenção da in-
fraestrutura ao longo dos anos,
isto é, do edifício e equipamen-
tos, mantendo a gestão futura.
Passamos a pagar uma renda
sobre algo que é nosso para es-
conder dívida pública que vai
ser assumida pelo consórcio
construtor. Mais um truque
simples que nos vai custar bom
O Governo do PS acabou
com elas porque cismou
que deviam ser de gestão
pública. Agora, parece
que o PS já gosta
das PPP na saúde
dinheiro só para que se façam
mais flores sem que, aparen-
temente, a dívida cresça mais
uns €250 milhões. O ministro
socialista brilhará ainda mais
entre os iliteratos financeiros.
Se o custo do capital é menor
para o Estado do que para os
privados e se essa diferença for
de 3% ou 4% acima do custo de
capital para a República, serão
entre €7,5 milhões a €10 mi-
lhões de adicional de despesa
anual só para pagar os encar-
gos financeiros que o consórcio
privado irá cobrar ao cliente
por não ser ele a financiar-se
diretamente! Admitindo que a
diferença é só esta! Para quem
tem um beta de 1,46, este di-
ferencial até é extremamente
benevolente. Ao fim de 27 anos
serão mais umas centenas de
milhões de euros que se pagam.
Para quê? Para esconder dívi-
da de hoje que vai passar em
discretas fatias anuais diluída
em despesa corrente, e fazen-
do-se maravilhas à custa das
gerações futuras. Ninguém fa-
ria este negócio se fosse com o
seu próprio dinheiro. Já com o
dos outros...
Acresce que as próprias es-
timativas para a obra também
cresceram €60,7 milhões face
a 2017. O valor atual dos paga-
mentos estimado em 2024 para
as projeções futuras, feitas à
taxa usada (4%), faz a obra cus-
tar €395,2 milhões, comparado
com €334,5 milhões de 2017.
O PS divorciou-se das PPP na
saúde! Agora voltou. Gostou.
TELECOMUNICAÇÕES
Concorrência acelera em abril
e o trunfo da Digi será o preço
Romena Digi usará estratégia aplicada em Espanha e apostará em serviços low cost
Desde o início do século que os preços oferecidos pelos três grandes operadores se mantêm idênticos entre si FOTO GETTY IMAGES
Textos Anabela Campos
A Digi, operador romeno que em
2021 veio ao leilão de licenças da
quinta geração de rede móvel
(5G), está finalmente a aquecer
os motores para se estrear no
mercado português. O plano,
sabe o Expresso, é arrancar em
abril, com ofertas em algumas
regiões, e depois expandir-se
com mais força em julho. Há
muito que o mercado português
aguarda a entrada da Digi, mas
o operador, que tem até janeiro
de 2025 para apresentar uma
oferta comercial, não quis até
agora avançar, para que não
caísse numa falsa partida.
Irá atacar apenas o mercado
residencial, com ofertas com
preços agressivos, à semelhança
do que aconteceu em Espanha,
onde o operador romeno agitou
a concorrência, obrigando os
operadores já existentes a sair
da sua zona de conforto, afir-
mam fontes conhecedoras do
projeto. O alvo será à partida as
camadas mais interessadas nas
ofertas low cost (de baixo custo).
Desde a entrada da Optimus
(hoje NOS) no mercado, em se-
tembro de 1998, que a concor-
rência em Portugal não sofre
um grande abanão. E isso é visí-
vel no tarifário, que se mantém
idêntico entre os três operado-
res dominantes — Meo, NOS e
Vodafone — desde os primeiros
anos do século XXI. O mercado
tem-se dividido entre estes três
operadores — e só teve um so-
bressalto quando, na sequência
da Oferta Pública de Aquisição
(OPA) da Sonae sobre a PT, em
2007, o operador histórico se
viu obrigado a desfazer-se da
operação de cabo, catapultando
a NOS para o segundo lugar. O
quarto operador, a Cabovisão,
teve sempre uma quota de mer-
cado marginal, focada no Sul do
país, um papel hoje reservado à
Nowo, que detém uma quota de
mercado de 2,5% — e está à es-
pera da autorização da Autori-
dade da Concorrência para que
se conclua a venda à Vodafone
Portugal. Um processo que está
em investigação aprofundada e
cujos compromissos — refor-
çados pela Vodafone nos últi-
mos dias — poderão beneficiar
a Digi.
Ainda sem porta-voz em
Portugal, e com a informação
a circular em circuitos restri-
tos, não é possível avançar com
os preços com que o operador
romeno irá arrancar. Mas em
Espanha, mercado que serve de
referência, a Digi tem ofertas de
serviços de internet, com minu-
tos ilimitados, abaixo dos €10.
Preços atrativos para as cama-
das mais jovens da população,
menos interessadas nas ofertas
de pacotes (Net, TV, móvel e
fixo), populares em Portugal,
mas que empurram facilmente
os preços mensais para valores
mínimos bem acima dos €30.
Investir para crescer
“Pelo que se soube na altura do
concurso 5G, a Digi terá uma
estratégia mais virada para
clientes que só queiram o mó-
vel, ou fibra sem televisão. Por
isso, a sua entrada em Portugal
poderá criar alguma pressão
concorrencial especialmente
no mercado dos mais jovens,
que estão na Netflix e não que-
rem a TV tradicional”, admite
Steffen Hoernig, professor da
Nova Businnes School, espe-
cialista na área das telecomu-
nicações. Hoernig prevê que
“a Digi traga pressão sobre os
preços, mas principalmente nos
segmentos mais baixos. Isto é,
Venda da Meo mais perto
O ano de 2024 promete ser
de mudança nas
telecomunicações, e não é só
por causa da entrada de um
novo concorrente — está em
cima da mesa também a
venda da Altice Portugal, o
líder do mercado. Há, ao que
tudo indica, três investidores
interessados em disputar a
Meo. Na corrida —
convidados para uma nova
fase por Patrick Drahi, o
acionista da Altice —
estarão a Saudi Telecom
Company, a Iliad, do
milionário francês Xavier
Niels, e o fundo Warburg
Pincus, que avança associado
a António Horta Osório. Para
trás, noticiou a Bloomberg,
ficam os fundos Apollo e
CVC. Serão todos candidatos
à compra da Altice Portugal
como um todo. Ninguém
MEO LIDERA EM TODOS OS SEGMENTOS
Quota de mercado, em percentagem
Rede móvel
48
41 41
31
MEO
FONTE: ANACOM
nas ofertas sem pacote ou com
pacotes mais pequenos”. Tem
sido o serviço e não o preço o
motor da concorrência em Por-
tugal, considera o economista,
conhecedor do mercado nacio-
nal. “Os operadores têm tido
uma política de maximização
de ARPU [receita média por
cliente], assumida há muitos
anos: vender pacotes com tudo,
a um preço elevado, e quando
há concorrência é nos conteú-
dos (mais uns canais, um novo
router) e não no preço, onde
estão todos alinhados”, explica.
Não obstante, Hoernig consi-
dera que o mercado português
é concorrencial, embora não
em todas as áreas. “Tem sido
uma estratégia assumida pelos
operadores de não concorrer
pode garantir neste
momento que o preço
oferecido pelos candidatos
agrade a Drahi ou que este
não opte por vender apenas
alguns negócios da Altice
Portugal. O preço que o
empresário definiu para os
ativos da Altice Portugal
— cerca de €8 mil milhões
— é um dos pontos que
estará a dificultar as
negociações, por ser
considerado alto. Quando
equacionou vender a
operação portuguesa, em
2022, Drahi não conseguiu
que alguém lhe oferecesse
os €6,5 mil milhões então
pretendidos. Porque espera
agora obter mais? A Meo é
a maior operação da Altice
Internacional, onde estão a
operação em Israel e na
República Dominicana.
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
Rede fixa/Net TV
37
34
22 19 21
VODAFONE NOS
pelo preço (não é uma opinião
minha, foi enunciada várias ve-
zes nos encontros da APDC),
mas sim pela qualidade e varie-
dade dos serviços”, sublinha. E
acrescenta: “A Anacom não se
cansa de apontar que os preços
são altos quando comparados
com os salários em Portugal.”
Em fevereiro, a Meo, a NOS e
a Vodafone aumentaram os pre-
ços em cerca de 4,3%, em linha
com o Índice de Preços no Con-
sumidor. Um ano antes, o tarifá-
rio tinha subido 7,8%, uma fatu-
ra pesada para os consumidores,
que viram os preços trepar mais
de 12% em dois anos. Ao Expres-
so, a Anacom sublinha que “a
taxa de variação média dos pre-
ços nos últimos 12 meses conti-
nua a evidenciar valores acima
Portugal contribuiu com
receitas de €2,630 mil
milhões em 2022, mais do
dobro da contribuição da
Altice Israel (€1,196 mil
milhões) e quatro vezes
mais do que a da República
Dominicana (€602 milhões).
Será a Saudi Telecom quem
estará disponível para fazer
a oferta mais generosa:
entre os €7 mil milhões e os
€9,5 mil milhões. Um
prémio que eventualmente
os sauditas poderão estar
interessados em pagar para
entrar num operador
histórico europeu, mercado
que começa a torcer o nariz
à entrada de empresas
controladas por Estados
extracomunitários — a STC
é controlada em 64% pelo
fundo soberano da Arábia
Saudita.
NÚMEROS
67
milhões de euros foi
quanto a Digi investiu na
compra das licenças 5G
4,3%
foi quanto aumentaram
em média os preços
dos três operadores em
fevereiro; um ano antes
tinham subido 7,8%
dos da União Europeia [UE] a
27. Em dezembro de 2023, de
acordo com o Eurostat, a taxa
de variação média foi superior à
verificada na UE em mais de 2,7
pontos percentuais”. Em Portu-
gal, prossegue o regulador das
comunicações, “nesse período,
os preços subiram 4,1%, enquan-
to na UE aumentaram 1,3%”. Os
operadores têm contestado os
números do regulador.
A marcar terreno
Lançada há 30 anos na Romé-
nia, e com presença em Espanha
e Itália, a Digi apresenta-se como
um operador low cost, com am-
bição. Em Espanha, onde inves-
tiu mil milhões de euros desde
2008, é o quarto operador, com
1,1 milhões de clientes na rede
fixa e 3,8 milhões no móvel. É o
grande desafiante do mercado
espanhol. Deverá fazer o mesmo
em Portugal.
A escassez de informação é
grande por parte da Digi, mas
o Expresso sabe que o operador
romeno já tem equipamento
instalado em 3 mil sites (torres)
móveis. E tem acesso a mais de
um milhão de casas com fibra.
Conhecedores do sector assegu-
ram que a Digi — cuja operação
portuguesa é conduzida pelo ad-
ministrador financeiro do gru-
po, Emile Grecu — tem grande
know-how no sector e músculo
financeiro. Conta, segundo o
“Eco”, com 400 trabalhadores
em Portugal, a maioria da área
técnica. Investiu cerca de €67
milhões na compra das licenças
5G e assinou no final de 2023
um acordo para o uso da rede
de fibra ótica da Vodafone Por-
tugal. Quanto investiu até agora
não é público. As telecomuni-
cações são um investimento de
capital intensivo, mas os inves-
tidores só entram em mercados
que acreditam que são rentáveis
e que têm margem e rentabili-
dade para explorar. Será essa a
crença da Digi.
Na UE a 27, cada operador tem
em média 5 milhões de clientes,
em Portugal com 10 milhões
de habitantes há três — e três
é apontado pela Comissão Eu-
ropeia como o número mínimo
para que haja concorrência nos
mercados, sendo o ideal quatro.
A Digi quer afirmar-se como o
quarto operador.
acampos@expresso.impresa.pt
8 ECONOMIA
Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt
A imigração
como arma
eleitoral
É
na fronteira com o México, e
não na Ucrânia ou no Médio
Oriente, que se decidem as
eleições nos Estados Unidos.
Segundo a revista “The Economist”,
a política de imigração pode custar
a reeleição a Joe Biden. Em França,
o Governo liberal de Emmanuel Ma-
cron está a tomar medidas altamente
restritivas à imigração para tentar
estancar o crescimento eleitoral da
senhora Le Pen, que lidera os estudos
de popularidade. Na Alemanha, os
grupos extremistas anti-imigração,
de direita e de esquerda, têm inten-
ções de voto situadas entre os 20%
e os 30%, consoante os Estados. A
imigração é o tema central de muitas
agendas eleitorais.
Não é o caso de Portugal. A última
sondagem realizada pela Universida-
de Católica mostra que os portugueses
estão maioritariamente preocupados
com o estado da saúde (72%), da edu-
cação (48%) e da habitação (20%). A
imigração não consta das 11 preocu-
pações referidas no estudo, sendo um
tema lateral da campanha eleitoral em
curso. Agitou o debate entre Mariana
Mortágua e André Ventura e pouco
mais. Até agora. A campanha ainda
não acabou e a demagogia também
não. Uma coisa é certa. Os ventos
que sopram da Europa chegarão cá,
como sempre acontece. E esses ventos
trazem consigo uma tempestade que
favorece o populismo, o extremismo
e a xenofobia.
Há muito que se sabia que
Portugal teria de importar
cerca de um milhão de
trabalhadores para repor
o equilíbrio no mercado
laboral. A demografia
não perdoa
O pior de tudo é subestimar o pro-
blema, como tem acontecido. Portu-
gal não estava, nem está, preparado
para o rápido aumento do número de
imigrantes, que representam atual-
mente quase 10% da população. Não
tem habitação suficiente e condigna.
Nem tem serviços hospitalares com
capacidade de resposta. Nem escolas.
Nem transportes públicos. Nem uma
política clara e eficaz de inclusão. Nem
fiscalização. Uma parte desta imigra-
ção é dominada por gangues, numa
nova e chocante forma de escravatura.
Ninguém com responsabilidade pode
invocar ignorância e muito menos
surpresa. Há muito que se sabia que
Portugal teria de importar cerca de
um milhão de trabalhadores para re-
por o equilíbrio no mercado laboral. A
demografia não perdoa.
Essas previsões estão a confirmar-
-se. Dos 980 mil estrangeiros a residir
em Portugal, 600 mil são trabalhado-
res. Representam 13% da população
empregada, segundo dados divulga-
dos por Fernando Medina. Pela pri-
meira vez em muitos anos, o número
de trabalhadores subiu, atingindo
agora cerca de cinco milhões de pos-
tos de trabalho. Sem essas pessoas,
alguns sectores teriam entrado em
colapso e outros não teriam o desen-
volvimento que têm hoje, como é o
caso da agricultura intensiva. Devem
ser recebidas com regras e tratadas
com dignidade.
A imigração comporta sempre ris-
cos e ameaças. Riscos económicos e
culturais. Ameaças à identidade e aos
padrões de vida. Ambos estão a agitar
os EUA e a Europa. Em Portugal, não
é um tema central nestas eleições.
Mas tem de ser central na próxima
governação. Para evitar que se trans-
forme numa futura arma eleitoral.
Pelas piores razões.
ENERGIA
Produção de petróleo
no Brasil é hoje o motor
dos ganhos da Galp
FOTO D.R.
Como a Galp cavalgou para
o maior lucro de sempre
Em 2023, a Galp lucrou como nunca antes tinha lucrado. As últimas duas décadas
ilustram o crescimento da petrolífera, à boleia de um disparo da produção no Brasil
Miguel Prado
“Na Namíbia não temos pressa.” A
frase é do presidente executivo da
Galp, Filipe Silva, para quem a des-
coberta de petróleo no início deste
ano pode bem ter sido um jackpot,
que a empresa portuguesa irá agora
gerir com calma, de forma a conseguir
os melhores resultados para os seus
acionistas. No mercado financeiro há
apetite por ganhos de curto prazo,
mas os investimentos em energia são
uma corrida de fundo, como ilustra,
aliás, a vida da Galp nas últimas duas
décadas. O arranque de 2024 foi mar-
cado pela promessa da Namíbia, mas
também pela publicação das contas
de 2023. Foi um ano de lucro recorde.
Mas o que andou a empresa para aqui
chegar?
O ano 2023 trouxe um lucro de
€1002 milhões, mais 14% do que em
2022. Uma marca histórica. Mas no
quarto trimestre o resultado líquido
ajustado da empresa subiu somente
4% em termos homólogos e o EBITDA
(resultado antes de juros, impostos,
depreciações e amortizações) enco-
lheu 24%.
Numa nota de análise divulgada na
segunda-feira, o banco de investimen-
to Goldman Sachs notava que a Galp
tinha reportado resultados trimestrais
abaixo do esperado pelo mercado: o
resultado operacional, por exemplo,
cifrou-se em €411 milhões de outubro
a dezembro, ficando 21% abaixo da
estimativa média dos analistas que
acompanham as contas da petrolífera
portuguesa.
O Goldman Sachs tem uma reco-
mendação neutra para as ações da
Galp (não defende nem a compra nem
a venda dos títulos), mas aponta um
preço-alvo de €16 por ação num hori-
zonte de 12 meses, o que confere aos
papéis da Galp um potencial de valori-
zação superior a 10% (na quarta-feira,
as ações fecharam em €14,1).
Mais do que refletir os resultados
passados, as reações do mercado de
capitais tendem a incorporar as ex-
pectativas de analistas e investidores
sobre a evolução futura das empresas.
Mas para obter o leque de resulta-
dos que agora apresentou para o ano
2023, a Galp construiu uma carteira
de ativos e projetos ao longo das úl-
timas duas décadas. No essencial, a
empresa vende-se ao mercado como
um grupo com capacidade de conti-
nuar a aproveitar o rendimento da
aposta no petróleo, em conjugação
com a aposta nas energias verdes, que
tenderão a ganhar espaço na matriz
energética global com a agenda da
descarbonização.
“Muitos investidores olham para a
Galp como uma história de transição”,
sublinhou o presidente executivo, Fili-
pe Silva, na conferência com analistas
na segunda-feira.
No que toca aos resultados de 2023,
porém, as renováveis são ainda uma
parcela minoritária nos ganhos da
empresa. O upstream (negócio de ex-
ploração e produção de petróleo e
gás, a montante da cadeia de valor do
sector) continua a ter a “fatia de leão”
no EBITDA do grupo.
Embora tenha tido um ano de lucro
recorde em 2023, a Galp não teve no
ano passado o seu melhor resultado de
sempre no que respeita ao EBITDA,
que recuou face a 2022, espelhando
uma conjuntura mais desafiante: o
preço do petróleo recuou, o do gás
natural também, a margem de refina-
ção também encolheu. Mas o resul-
tado líquido cresceu beneficiando de
menores encargos com depreciações,
amortizações e imparidades.
O EBITDA de 2023 foi, ainda as-
sim, o segundo maior de sempre. Para
2024, a empresa projeta um resultado
de €3,1 mil milhões, o que, a confir-
mar-se, representará o segundo ano
consecutivo de descida do resultado
(no histórico recolhido pelo Expresso
não há, desde 2005, nenhum registo
de dois anos seguidos com o EBITDA
em queda). Ao comentar as perspe-
tivas de curto prazo perante os ana-
listas, Filipe Silva admitiu que a Galp
COMO EVOLUIU A PRODUÇÃO
DE PETRÓLEO DA GALP
Valores em milhares de barris por dia
122
120
90
60
30
0 -400
2005 2010 2015 2020 2023
FONTE: GALP
mantém um perfil “conservador” e
“prudente”.
O resultado líquido do grupo nas
últimas duas décadas acompanhou
também a trajetória de crescimento
operacional da Galp. Mas com uma
diferença relevante: se em 2020 o
EBITDA do grupo encolheu, mas
manteve-se em terreno positivo, o
resultado líquido ajustado da Galp
nesse primeiro ano da pandemia foi
ao “vermelho”, com um prejuízo de
€42 milhões.
A queda das contas para terreno ne-
gativo em 2020 espelhou uma das vul-
nerabilidades da indústria petrolífera:
se o sector tem lucros substanciais à
boleia do consumo dos combustíveis
fósseis pelo mundo fora, a contração
da procura durante a pandemia tam-
bém pressionou as contas das empre-
sas do sector, ao afundar a cotação do
crude, os preços de venda dos combus-
tíveis e as margens.
Todavia, é a exploração de petróleo
que ainda confere à Galp uma confor-
tável almofada para enfrentar o futu-
ro. A aposta no Brasil, onde entrou em
1999, começou a dar frutos há cerca
de 10 anos, quando a produção petro-
lífera da Galp disparou, à medida que
os seus projetos (em consórcio com a
Petrobras e outras companhias) foram
saindo do papel.
A exploração de petróleo em águas
ultraprofundas no Brasil alimentou
a produção do negócio de upstream,
gerando uma fonte crescente de
cashflow. Essa libertação de receita
permitiu à Galp ir pagando o inves-
timento nos seus projetos ano após
ano, além de remunerar os acionistas.
Foi também essa fonte de ganhos que
ajudou a empresa a cortar o seu endi-
LUCRO RECORDE EM 2023
Resultado líquido ajustado da Galp
em milhões de euros
1200
1002
800
400
0 nua a consumir mais petróleo do que
2005 2010 2015 2020 2023
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
vidamento: o rácio de dívida face ao
EBITDA é de apenas 0,4 vezes, um
rácio reduzido quando comparado
com o de outras cotadas portuguesas
(a EDP, por exemplo, tem um rácio
de dívida líquida de 3,3 vezes o seu
EBITDA anual).
Mas depois de um pico de 128 mil
barris diários em 2020, a produção da
Galp tem conhecido um abrandamen-
to nos últimos anos. Em 2023 recuou
3%, para uma média anual de 122 mil
barris por dia (no quarto trimestre
chegou a 126,4 mil barris diários).
Para esta redução contribuiu a venda
da operação em Angola.
A Galp assume nas suas projeções
para os analistas que a produção de-
verá continuar a encolher este ano,
para cerca de 115 mil barris diários,
mas há um projeto no Brasil, deno-
minado Bacalhau, que está em fase
de lançamento, e quando ficar total-
mente operacional, em 2026, deverá
acrescentar 40 mil barris diários ao
volume produzido pela Galp.
A aposta na Namíbia, conforme o
Expresso já escreveu, promete am-
pliar a obtenção de receitas da Galp
no futuro, alimentando a expectativa
de cashflows seguros durante algumas
décadas. Na passada segunda-feira, na
conferência com analistas, o CEO da
Galp remeteu para o final de março
mais “visibilidade” sobre os volumes
que a descoberta da Namíbia pode
envolver.
As receitas do petróleo continua-
rão a sustentar um grupo que já se
comprometeu com a aposta nas re-
nováveis, nomeadamente na energia
solar. A Galp está a investir cerca de
mil milhões de euros por ano e estima
em 45% a fatia que vai para projetos
de baixo carbono. A produção de ele-
tricidade fotovoltaica é uma das apos-
tas, mas a produção de hidrogénio
verde e combustível sustentável para a
aviação em Sines também absorverão
recursos.
A chave do crescimento dos resul-
tados da Galp nos últimos anos está,
quase toda, nos hidrocarbonetos. O
desafio da próxima década será man-
ter a rentabilidade das suas apostas
num quadro em que o mundo conti-
alguma vez consumiu, mas os deciso-
res políticos mantêm-se empenhados
em exigir dos agentes privados inves-
timento em energias limpas.
mprado@expresso.impresa.pt
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
INDÚSTRIA
Das bolachas aos media, a partir do Minho
Grupo que fabrica as bolachas belgas e que vai entrar na Global Media tem vindo a diversificar negócios
Textos Pedro Lima
Fotos Rui Duarte Silva
Em poucos minutos, milhares
de madalenas de chocolate e de
bolachas belgas percorrem as
linhas de produção da fábrica
da Officetotal — Food Brands
em direção às embalagens que
as colocarão em caixas de car-
tão e depois ao armazém, de
onde serão expedidas para todo
o país. Estamos em Ponte de
Lima, no coração do Minho,
mais precisamente no parque
industrial da Gemieira, e o
cheiro, mal se entra na fábrica,
não engana: é de bolachas e
de bolos que ali se trata, desde
as famosas belgas, sob a mar-
ca Saborosa, às madalenas da
marca Aurora, passando tam-
bém por croissants, napolita-
nas e waffles.
“São aqui fabricados mil qui-
los de madalenas e 500 de bel-
gas por hora”, aponta Diogo
Freitas, o presidente da Office-
total. A empresa pertence à sua
família: são dele 60% do capi-
tal, os restantes 40% são do pai.
“Somos orgulhosamente por-
tugueses, com 100% do capital
na família, e assim queremos
continuar”, afirma. Mas há ou-
tros negócios no grupo Vitali-
ma, agrupados sob o chapéu da
OTI Investimentos, nas áreas
do imobiliário, dos seguros e
da agricultura. A Officetotal
detém 30% da OTI Investimen-
tos, enquanto Diogo Freitas, a
irmã Flávia e o pai, António,
têm cada um 20%, sendo que
a Delipoli — Representações
Alimentares, outra empresa
do grupo, tem os restantes 10%.
É a OTI Investimentos que
terá parte do capital da nova
empresa que vai ficar com al-
guns dos meios de comunicação
social da Global Media, nomea-
damente o “Jornal de Notícias”,
a TSF e “O Jogo”. É um negócio
em sociedade com outras três
empresas, uma operação que
catapultou este grupo empresa-
rial e Diogo Freitas, o seu rosto,
para as luzes da ribalta.
O empresário faz questão de
enaltecer o facto de ter a mais
moderna fábrica de bolachas e
bolos do país. É também a mais
eficiente, assegura. “Somos o
operador de bolos e bolachas
com maior eficiência por traba-
lhador em Portugal, com €240
mil de faturação por trabalha-
dor. Produzimos pelo menos
em dois turnos e há momentos
em que chegamos a produzir
durante 24 horas. A nossa fá-
brica é limpa e não tem janelas,
para permitir que a temperatu-
ra não seja demasiado quente
nem demasiado fria.”
A robotização é evidente ao
longo da fábrica e irá aumentar,
nomeadamente no armazena-
“Investir nos media
foi um impulso, mas
com consciência”
Diogo Freitas estima que
o negócio da Global Media
fique concluído em março.
A sua família terá 20%
a 25% da nova empresa
Aos 33 anos, Diogo Freitas lidera a Officetotal, a principal empresa do grupo fundado pelo seu pai quando ele tinha 18 anos
mento, mas isso não vai levar a
despedimentos, assegura: “Não
vamos despedir pessoas, vamos
realocá-las a outros serviços e
até pretendemos aumentar o
número de trabalhadores, mas
será um aumento muito ligeiro,
porque nós somos muito efi-
cientes.” Atualmente a empre-
sa conta com 62 empregados,
mas admite reforçar para os
79 este ano.
Expansão para Espanha
Foi algo conseguido com o in-
vestimento recente que trouxe
à fábrica novas linhas de pro-
dução. Algumas delas começa-
rão a funcionar em breve. Há
linhas para fazer bolachas do
tipo Maria e marinheiras, para
produzir madalenas mais pe-
quenas, para fazer panquecas
(um novo produto a acrescen-
tar à lista) e para a produção de
A expansão vai agora
passar por Espanha,
onde a Officetotal
quer comprar uma
unidade de produção
Foi a 12 de janeiro que surgiu
a hipótese de um grupo de in-
vestidores portugueses, repre-
sentados por Diogo Freitas,
comprar alguns dos meios de
comunicação social da Global
Media perante o enorme cli-
ma de incerteza que se vivia,
com uma guerra de acionistas
que opunha os minoritários ao
croissants, que era feita por ter-
ceiros. Ainda há junto à fábrica
mais dois mil metros quadra-
dos disponíveis caso mais tarde
haja necessidade de expandir
ainda mais a produção. Mas,
diz o líder da Officetotal, “neste
momento a expansão passa por
Espanha. Iniciámos a Officeto-
tal Espanha e a estratégia passa
por adquirir um operador para
fazer lá a produção. Já avaliá-
mos várias empresas, mas to-
das as que avaliámos ou estão
absolutamente obsoletas ou
então estão muito mal financei-
ramente, mas, mesmo assim,
os seus proprietários querem
valores muito altos. Tem de ser
uma solução justa, mas acho
que iremos encontrá-la”.
A exportação é quase inexis-
tente, representando apenas à
volta de 1% das vendas. “Para
nós, a exportação nunca foi
o foco. Agora, com Espanha,
vamos aumentar as vendas no
exterior. Os nossos produtos
estão no mercado da saudade,
em Angola, França, Macau, Es-
tados Unidos, Dubai, mas são
vendidos por distribuidores,
que os compram e depois fa-
zem a revenda.”
A Officetotal foi criada há
15 anos e, além da produção
fundo de investimento World
Opportunity Fund, que con-
trola a maioria do capital e está
agora de saída.
Um princípio de acordo para
a compra do “Jornal de No-
tícias” (“JN”), “O Jogo”, “JN
História”, “Notícias Maga-
zine”, “Evasões” e “Volta ao
Mundo”, assim como a maio-
ria do capital da Sociedade
Notícias Direct e a TSF, foi
alcançado no início deste mês.
“Acredito que passados todos
os procedimentos burocráticos
consigamos fechar o negócio
em março. Está dependente
da saída do fundo (ou da sua
autorização), da Autoridade
da Concorrência e da Entidade
Reguladora para a Comunica-
de bolachas e bolos, importa
e representa marcas interna-
cionais. Em 2014 comprou um
forno ao grupo norte-ameri-
cano Mondelez e começou a
produzir as belgas em 2015.
A organização ocupa o quarto
lugar do ranking nacional no
que respeita às bolachas. Nos
bolos ocupa o terceiro lugar,
mas ambiciona este ano che-
gar ao segundo. E recusa fazer
produtos para outras marcas.
O financiamento tem sido
quase sempre feito através de
capitais próprios. “Nunca tive-
mos acesso a fundos comunitá-
ção Social (ERC) no caso da
TSF”, adianta o presidente da
Officetotal. “Já estamos a tra-
balhar em conjunto para que
a passagem seja célere e bem
feita”, acrescenta.
Os acionistas minoritários
Marco Galinha, Kevin Ho, José
Pedro Soeiro e António Men-
des Ferreira continuarão como
acionistas da nova empresa a
criar para agregar os títulos da
Global que serão comprados.
Terão 30% do capital e haverá
mais 9% que serão distribuídos
aos trabalhadores. Os restantes
61% ficarão para os quatro no-
vos investidores: a OTI Inves-
timentos (empresa controlada
pela família de Diogo Freitas),
as empresas Parsoc — Investi-
rios”, afirma Diogo Freitas. E
recentemente a empresa obte-
ve €1,2 milhões através de papel
comercial com maturidade até
2026 e condições indexadas ao
objetivo de redução em 40% das
emissões de dióxido de carbono
e do aumento do salário médio
em 20% até 2026. “Temos uma
dívida muito baixa. A nossa dí-
vida não corrente [emprésti-
mos] no ano passado foi inferior
a 6% do volume de vendas.” Por
isso o aumento dos juros não
constituiu um problema.
“A inflação penalizou a mar-
gem, não as vendas”, explica.
mentos e Participações, com
negócios na distribuição, e Ilí-
ria — Serviços de Consultoria e
Gestão, que já foram sócias de
Marco Galinha na Global Me-
dia, e ainda a Mesosystem, que
atua no negócio da cosmética.
“Nós os quatro teremos sem-
pre a maioria, ou 61% ou no li-
mite 51% se abrirmos o capital
a outros investidores”, explica
Diogo Freitas. Nenhum dos
quatro terá a maioria da nova
empresa, onde a OTI Investi-
mentos terá 20% a 25%. “Co-
mecei a ouvir as notícias sobre
a situação na Global Media,
fiquei a pensar que podíamos
arranjar uma solução, nunca
tinha pensado investir numa
coisa destas, não tinha noção
ECONOMIA 9
“2023 foi o nosso melhor ano
de vendas e o nosso pior ano
de EBITDA [resultado antes de
juros, impostos, depreciações
e amortizações], pois nós não
aumentámos preços enquan-
to todo o mercado aumentou.
Entendo que se as pessoas não
têm dinheiro, eu, enquanto
empresário, tenho de fazer um
esforço e tirar à minha rentabi-
lidade, permitindo que as pes-
soas continuem a consumir. As
matérias-primas aumentaram,
mas nós não refletimos esse au-
mento nos preços, e isso limi-
tou a nossa margem, mas por
acaso vendemos mais porque
as pessoas escolheram os nos-
sos produtos”, explica o líder
da Officetotal.
Quanto à dinâmica do mer-
cado, “em Portugal o mercado
das bolachas está a perder, mas
nós estamos a crescer. No mês
passado crescemos 27% face a
janeiro de 2023”, afirma Diogo
Freitas. Em 2022, o lucro au-
mentou 61%, para €951,9 mil,
e as vendas passaram a ser de
€11,2 milhões, um crescimento
de 29% face a 2021. Em 2023 a
Officetotal terá registado ven-
das ligeiramente superiores a
€14 milhões.
plima@expresso.impresa.pt
absolutamente nenhuma” de
valores ou rentabilidade. Foi
na sequência de um contacto
que desenvolveu que foi apre-
sentado a estes investidores.
“Não conhecia nenhum, foi um
encontro de vontades. Posso
dizer que este investimento foi
um impulso, mas com cons-
ciência.” A 12 de janeiro o em-
presário disse ao “Jornal de
Negócios” que a transação não
deveria superar os €8 milhões.
Mas o “Observador” referiu na
semana passada um valor de
referência “da ordem dos €16
milhões”. “Não posso confir-
mar isso. O que posso dizer é
que foi mais do que €8 milhões.
Significativamente mais”, diz
Diogo Freitas.
10 ECONOMIA Expresso, 16 de fevereiro de 2024

CORRUPÇÃO E BRANQUEAMENTO DE CAPITAIS

Jorge Batista da Silva

Bastonário da Ordem dos Notários

“Todos falam
no combate à
corrupção, mas
ninguém sabe
o que fazer”

de Capitais, “já só falta criar cutivos transversais deve ter

Textos Elisabete Miranda
uma comissão de coordena- sob a sua alçada a prevenção
Foto Nuno Botelho
ção”, ironiza Jorge Batista da da corrupção e a prevenção do

M
ais falha, me-
nos falha,
Portugal apa-
rece habitual-
mente bem
classificado
nos rankings
internacionais de combate ao
branqueamento de capitais e
financiamento do terrorismo
e à corrupção. Mas, na prática,
“a máquina não funciona”. Os
organismos multiplicam-se,
por vezes atropelando-se, não
há uma voz de comando, com
políticas claras e estratégia de-
finida. A legislação também é
abundante, distribuindo res-
ponsabilidades por múltiplas
entidades, mas, no fim do dia,
“tudo está bem na aparência,
mas depois no terreno nada
acontece”.
Para a Ordem dos Notários
(ON), uma das entidades que
estão obrigadas a fiscalizar o
cumprimento das regras de
prevenção do branqueamen-
to de capitais e financiamento
do terrorismo (PBC), não era
difícil fazer melhor. Mas o bas-
tonário, Jorge Batista da Silva,
já leu as propostas dos partidos
que concorrem às legislativas
Silva.
“As comissões que servem
para fazer uma ou duas reuni-
ões por ano e responder a ques-
tionários são inúteis. Quando
criamos comissões é para im-
plementar políticas no terreno,
com objetivos mensuráveis”,
diz. O caminho, para o basto-
nário da ON, é fundir todos os
órgãos num só. “A proposta é
que haja unidade especializa-
da no âmbito do Estado, com
poderes reforçados e políticas
efetivas. Podem chamar-lhe o
que quiserem, comissão, meca-
nismo, o que bem entenderem,
o importante é que o Estado lhe
atribua poderes e capacidade
de, de forma coerciva, impor
políticas aos vários sectores”.
Aliar lavagem
de dinheiro e corrupção
Pela natureza dos crimes, o
organismo com poderes exe-
EM NÚMERO
DE ENTIDADES,
branqueamento de capitais,
juntas. Porquê? Nos processos
de investigação sobre suspei-
tas de corrupção, “no fim do
dia, o crime que acaba por ser
apurado é o do branqueamento
de capitais” e a fraude fiscal, ar-
gumenta Jorge Batista da Silva.
“O objetivo de alguém que é
corrupto é o recebimento da
vantagem económica. Se essa
vantagem económica normal-
mente não pode ser declara-
da, o combate à corrupção e
ao branqueamento de capitais
andarão sempre a par.” “Se já
sabemos que isso acontece,
porque não estabelecemos
procedimentos comuns, de
forma harmonizada, desde a
fase do controlo, passando pela
recolha de indícios, até à fase
repressiva?”
Dados, dados, dados
e orientações centrais
Em Portugal há um conjunto
alargado de sectores de ativida- tema informático central que estas características. Não faz
de que, por terem maior risco filtre os dados e mantendo-se sentido deixar isso nas mãos de
de serem usados em atividades o valor patrimonial tributário cada um de nós, que somos mi-
ilícitas, são obrigados a imple- tão baixo, pouco se pode espe- lhares, e não temos obrigação
mentar mecanismos de preven-
ção. Os bancos estão à cabeça,
rar. O problema é que “temos
neste momento um conjunto
DEVÍAMOS TER de ver televisão”.
Incontornável é também a
mas também há revisores de de políticas avulsas. Cada Or- UMA ESPÉCIE informatização. “Eu bato mui-

FOLHAS DE PORDATA
e está convencido de que tudo contas, contabilistas, promo- dem, cada instituição vai dando to no digital, mas a verdade é
ficará sensivelmente na mes- tores, mediadores e vendedo- as suas orientações ou as suas que parte da solução para os

ma: “Todos falam no combate
à corrupção e ninguém sabe o
que fazer.”
A ON enviou aos partidos
um conjunto de sete propostas
para a próxima legislatura, fo-
cando-se em questões práticas,
entre as quais esta. Porque em
“número de entidades, folhas
de Excel e preenchimento de
papéis somos imbatíveis. Multi-
plicamos mecanismos formais
mas do que precisamos mesmo
é de mecanismos práticos”.
Não multiplicar,
escolher um organismo
DE EXCEL E
res de imóveis, casinos e casas
de jogo, advogados, notários e
PREENCHIMENTO comerciantes de bens de ele-
vado valor. A implementação
DE PAPÉIS destas regras é fiscalizada pelas
entidades supervisoras e, em-
SOMOS bora os notários estejam entre
os profissionais do sector não
IMBATÍVEIS. financeiro que mais vezes co-
municam operações suspeitas,
MULTIPLICAMOS Jorge Batista da Silva mostra-
-se condescendente com as pro-
MECANISMOS fissões que não o fazem.
Porquê? “A lei diz que temos
FORMAIS de dar 40 horas de formação
QUANDO
por ano. Nós damos. Mas isso
não resolve problema rigorosa-
formações, de uma forma um
pouco espontânea”.
Um organismo central re-
solveria parte do problema.
“É importante que todas as
entidades, sejam conservado-
res, advogados, solicitadores,
funcionários dos serviços das
Finanças, magistrados, rece-
bam formações cada vez mais
transversais, harmonizadas
e até conjuntas.” E quem diz
formação diz definição de
prioridades.
Por exemplo, “aqui há tem-
pos, um jornal noticiou que
os filhos de um oligarca rus-
DA LAVAGEM
problemas está lá.”
DE DINHEIRO Transparência
nas estatísticas
“Fazem falta mecanismos in-
ESTAMOS formáticos comuns, um único
sítio onde sejam apresentadas
NO SÉCULO XXI. as denúncias e onde tenhamos
ferramentas digitais para con-
TEMOS DE TER seguirmos identificar suspei-
tas”, de forma harmonizada e
FERRAMENTAS atualizada em cada momento.
“O combate ao branqueamen-
INFORMÁTICAS, to de capitais não é uma coisa
sexy, faz-se através de um tra-
CAPACIDADE
balho extremamente chato e

Entre Entidade para a Trans- PRECISAMOS É

parência, Mecanismo Nacional
Anticorrupção, Conselho de
Prevenção da Corrupção, Uni-
dade de Informação Financeira
e Comissão de Coordenação
das Políticas de Prevenção e
Combate ao Branqueamento
mente nenhum”, porque, “de-
pois, o combate ao branquea-
DE MECANISMOS mento é uma coisa abstrata,
muito pouco concreta”. Outro
PRÁTICOS exemplo: o imobiliário é um
dos sectores mais propensos à
lavagem de dinheiro e um dos
que menos suspeitas comuni-
cam, mas, não existindo um sis-
so estavam no Algarve a fazer
operações suspeitas. Ora, se as
entidades oficiais já o sabiam,
fazia todo o sentido que uma
entidade central emitisse uma
informação geral para que to-
dos os cartórios, advogados e
outros operadores passassem a
estar atentos a operações com
E DADOS. repetitivo e, hoje em dia, atra-
vés de sistemas informáticos
OS DADOS SÃO capazes de identificar as ope-
rações suspeitas. E faz-se com
FUNDAMENTAIS pessoas que estão treinadas
para definir prioridades, iden-
tificar operações concretas.
Agora, quando se diz à pessoa
que tem que se preocupar com
Expresso, 16 de fevereiro de 2024 ECONOMIA 11

EXPRESSO.PT A Ordem dos Notários fez chegar

aos partidos um conjunto de propostas para a
próxima legislatura. Leia-as aqui com mais detalhe

Pagamento de imóveis por debaixo da

mesa? “É dos casos mais fáceis de despistar”
Não é preciso recorrer
à inteligência artificial
para identificar anomalias
no mercado. O Fisco tem
todos os dados do seu lado
Os notários não têm noção
se há muitos negócios imobi-
liários com pagamentos por
debaixo da mesa, mas sabem
três coisas. Que atualmente,
prestações a 50 anos, ninguém
verifica se as prestações estão a
ser pagas”, podendo o negócio
ser uma forma de evasão fiscal
e/ou de branqueamento.
Política fiscal alinhada
com combate à corrupção
Fundamentada ou não, “vamos
sempre continuar com esta
to, aproximar-se dos valores
de mercado”, como, de resto,
prevê a lei. “Tendo avaliações
mais de acordo com o valor real
e baixando as taxas do imposto,
ajudaria no controlo das frau-
des”, sem agravar a fatura dos
proprietários.
Depois, criando uma base
de dados central com todas as
operações imobiliárias e pro-
a falar de operações de base, de
perguntas à base de dados) con-
seguíamos identificar aquilo
que são operações anómalas.”
Por exemplo, se no mesmo pré-
dio há um apartamento vendido
POSSO
por €100 mil e outro por €200
mil num curto espaço de tem-
po, “obviamente que há uma
operação anómala que o siste-
ma identifica. Pode haver uma
explicação e pode não haver
nenhuma”. Estes cruzamen-
tos, aliados a uma estratégia
concertada de identificação
de riscos e prioridades, a de-
senvolver uma entidade única,

DECLARAR QUE
com a falta de controlo, é fácil desconfiança enquanto não ti- gramá-la para detetar os casos seriam meio caminho andado
fazê-lo. Que o valor patrimonial vermos um sistema de controlo suspeitos. “Todos os dados das para encontrar pagamentos por

toda e qualquer operação, com
tudo e todos, esse tudo e todos
torna-se quase zero”, lamenta.
Na última avaliação que fez
a Portugal, o GAFI — Grupo
de Ação Financeira (uma en-
tidade internacional que coor-
dena políticas de combate ao
branqueamento) queixou-se
do facto de haver poucas es-
tatísticas e de não ser possível
acompanhar um processo do
início ao fim, quando tem lu-
gar a investigação. A Unidade
de Informação Financeira, a
funcionar junto da Polícia Ju-
diciária, publica informação
atrasada e escassa, ficando
muito aquém de várias congé-
neres internacionais. Para Jor-
ge Batista da Silva, essa devia
ser outra das prioridades. “A
informação estatística é fun-
damental para todos podermos
definir políticas”, mas, “se for
ao portal da Comissão de Com-
bate ao Branqueamento de Ca-
pitais, praticamente nenhuma
informação desta natureza
lá está. E temos documentos
extremamente densos”. Em
suma, “devíamos ter uma es-
pécie de Pordata da lavagem
de dinheiro”.
emiranda@expresso.impresa.pt
PAGO UM IMÓVEL
tributário (VPT) dos imóveis é eficiente”. E “o imobiliário é operações imobiliárias têm uma debaixo da mesa. “Não estamos
tão baixo que ajuda às fraudes. precisamente um dos sectores comunicação eletrónica. Todos. a falar de inventar um novo tipo
E que seria relativamente fácil
detetar os casos de subdeclara-
onde é mais fácil criar mecanis-
mos digitais para controlarmos
Os notários comunicam à AT
todas as operações, com indi- A PRESTAÇÕES, de comunicação eletrónica. Isto
são operações muito fáceis de
ção que fogem aos impostos ou
lavam dinheiro. Em conversa
isto”. Como? Desde logo, é pre-
ciso pôr a política fiscal alinha-
cação de vendedor, comprador,
preço, objeto, localização. Se MAS NINGUÉM identificar, há mecanismos di-
gitais para o fazer, porque essas
com o Expresso, o bastonário
da Ordem dos Notários (ON),
da com a política de habitação
e o combate à corrupção. “O va-
criarmos um mecanismo relati-
vamente simples (e nem estou a VAI FISCALIZAR operações são de comunicação
obrigatória”, garante Jorge Ba-
Jorge Batista da Silva, dá exem- lor patrimonial tributário dos falar de inteligência artificial e tista da Silva. O que é preciso
plos de situações em que é pos- imóveis deve, a cada momen- de algoritmos complexos, estou é “ter a máquina a funcionar”.
sível lavar dinheiro no imobi-
liário sem ninguém dar conta
e deixa sugestões sobre como
controlar mais o mercado.
Os dados oficiais são escassos.
Ao longo dos anos, a legisla-
ção foi sendo apertada e hoje
em dia os negócios têm de ser
detalhados, indicando valor,
meio de pagamento, número do
cheque ou da conta bancária, e
comunicados às autoridades. A
legislação também proíbe paga-
mentos em dinheiro vivo acima
dos €3000. Mas, na prática,
os pagamentos em numerário
continuam a fazer-se acima da
lei (segundo o IMPIC, regula-
dor do imobiliário, em seis anos
trocaram de mãos €42 milhões,
só nos casos declarados), e não
há informações sobre ações de
fiscalização e deteções de frau-
des por parte das autoridades.
A Autoridade Tributária (AT)
passa ao lado do tema no último
relatório anual de combate à
fraude e não presta esclareci-
mentos sobre o assunto. Leis
também existem, obrigando
vários profissionais a alertar
para operações suspeitas, mas
são escassamente cumpridas:
em 2022, um ano em que foram
vendidas praticamente 168 mil
casas, os agentes imobiliários
apenas comunicaram 30 casos
às autoridades.
Na ON, cujo sector é obrigado
a ter especial atenção à lavagem
de dinheiro, Jorge Batista da
Silva garante que os negócios
que levantam suspeitas são
encaminhados: os notários são
os profissionais do sector não
financeiro que mais comunica-
ções fazem à Unidade de Infor-
mação Financeira e ao DCIAP
(Departamento Central de
Investigação e Ação Penal). E
acrescenta que, existindo mui-
tos mais, é o próprio sistema
que está a facilitá-los. “Se, do
ponto de vista meramente do-
cumental, a pessoa vendeu o
imóvel acima do VPT, quem é o
notário para considerar que o
negócio tem um preço anóma-
lo? Se a AT avalia um imóvel
naquele valor, nós não podemos
O BPI, em colaboração com a Deloitte (Knowledge Partner), Expresso
dizer à pessoa que o negócio é
e SIC Notícias (Media Partner), organiza o Fórum BPI: o Futuro da Água,
muito baixo e que é suspeita de
pagar o resto em numerário.” no dia 22 de Fevereiro.
Outro exemplo: “Somos obri-
gados a identificar o meio de Um evento com especialistas nacionais e internacionais para se falar
pagamento e escrevemos lá do presente e futuro da água em Portugal.
‘através de cheque’ e coloca-
mos o número do cheque. Mas Onde é que mais necessitamos de água. Onde devemos investir.
neste momento ninguém verifi- Os exemplos nacionais e internacionais. Como reutilizar água e o seu custo.
ca se o cheque é depositado. As
pessoas podem sair da porta do Toda a informação em www.bancobpi.pt.
cartório e rasgar o cheque, pa- Acompanhe as conclusões do debate no Expresso e na SIC Notícias.
gar em dinheiro e conseguirem
branqueá-lo. O controlo só é
feito se a coisa correr mal, hou-
ver outro crime ou herdeiros
chateados. Ninguém verifica
efetivamente” a veracidade das
informações prestadas.
O mesmo é válido para paga-
mentos a prestações. “Se decla-
rar que vou pagar o imóvel em
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
PROJETOS EXPRESSO ESTUD O
Habitação Análise ao mercado conclui que as casas mais procuradas — em preço,
tipologia e localização — são as que há menos para venda. Por isso é que
os preços das habitações subiram e não se antecipa que desçam no curto prazo
Menos de 400 casas até
€200 mil à venda em Lisboa
Textos Ana Baptista
Foto João Girão
Q
uando começaram a
fazer o estudo “Ha-
bitação em Portu-
gal: O Que Mudou
nos Últimos Anos”,
a Century 21, a
Vida Imobiliária e a
Strategik B&F Con-
sulting fizeram um
levantamento das casas disponíveis
no mercado a nível nacional — e não
só na base de dados da mediadora —
e o resultado foi surpreendente. Por
exemplo, diz o CEO da Century 21,
Ricardo Sousa, “na cidade de Lisboa
há 400 casas à venda até €200 mil”,
o valor máximo que as famílias por-
tuguesas estão disponíveis para pa-
gar quando procuram casa, segundo
as conclusões do estudo (ver coluna
ao lado). “É mesmo muito pouco”,
repara, alertando ainda que, como
há sempre casas repetidas nos vários
portais de pesquisa, este número é
“seguramente” inferior.
Além disso, a maior parte destas
400 casas são T0 e T1 ou casas em
mau estado, ou seja, também não são
aquilo que os portugueses procuram
neste momento em termos de área e
tipo de imóvel. De acordo com o es-
tudo, a maior parte da procura recai
sobre T3 com 91 m2 a 150 m2 usados,
mas em bom estado.
“O nosso estudo põe em evidência
que o hiato entre oferta e procura é
cada vez maior”, frisa Ricardo Sou-
sa. E em tudo o que é relevante na
procura de casa: preço, localização,
tipo e estado do imóvel, caracterís-
DISCUTIR O PAÍS
“Habitação em Portugal:
O Que Mudou nos Últimos
Anos”, um estudo
desenvolvido pela
mediadora imobiliária
Century 21 — e apresentado
numa conferência a que
o Expresso e a SIC Notícias
se associaram —, faz um
retrato do mercado atual,
comparando-o com
o de 2018.
ticas e envolvente. Por exemplo, fo-
ram identificadas ofertas até €200
mil, “mas não é onde se quer”, o que
quer dizer que estão fora das cida-
des. Também encontram casas com
as áreas pretendidas nos subúrbios,
mas que custam mais de €300 mil. E
identificam ainda habitações novas,
tanto no centro como fora dele, que
custam mais de €200 mil e não têm
as características pretendidas.
“Constrói-se de uma forma um
pouco aleatória e sem olhar às ne-
cessidades das pessoas. A relação
com a casa mudou”, repara o CEO,
mas salientando que os promotores
também estão limitados naquilo que
podem fazer.
Não só porque os planos diretores
municipais (PDM) e o Regulamen-
to Geral das Edificações Urbanas
(RGEU), que data de 1951, “são an-
tigos”, mas também por causa da
burocracia excessiva. “Continuo a
ver que o receio dos promotores leva
a que comprem um terreno já com
projeto aprovado e que não o alte-
rem, porque qualquer mudança vai
demorar muito tempo a ser licencia-
da, pelo que optam pelo projeto que
está aprovado, mesmo sem estar ali-
nhado com a realidade atual”, nota.
Preços não descem
Com este desequilíbrio entre oferta e
procura, em que não só faltam casas
como as que existem não estão ade-
quadas ao que as famílias querem, a
perceção de quem trabalha no merca-
do é de que os preços não vão descer
no curto prazo. Porque tudo o que é
mais urgente leva tempo a fazer.
Desde logo “é preciso aproximar
as pessoas da oferta que existe, e isso
faz-se através de uma melhor rede de
transportes”, que exigem uma nova
política de mobilidade urbana. E é
preciso aumentar a oferta, porque só
se estão a construir 17 mil casas por
ano em Portugal, bem menos do que as
70 mil que se construíam nos anos 90.
Mas construir ou reabilitar uma
habitação leva vários anos, mesmo
com a aprovação do Simplex do
licenciamento de obras, que, entre
outras medidas, obriga as autarquias
a serem mais céleres e a darem as
licenças num prazo máximo de 200
dias. É que este pacote legislativo foi
aprovado em janeiro deste ano e só
entra em vigor a 4 de março, e por
isso “ainda vai demorar a produzir
efeitos”, repara o administrador do
Santander, Miguel Belo de Carvalho,
um dos participantes na conferência
que a Century 21 e a Impresa organi-
zaram em Lisboa.
Para Luís Marques
Mendes, a habitação em
Portugal precisa de um
“esforço de entendimento
alargado” e de políticas
que atravessem
várias legislaturas
Acresce ainda que fazer habitações
novas está mais caro, por via do au-
mento dos preços dos materiais e da
mão de obra. “O custo de construção
está nos €1300 por mero quadrado,
sem impostos nenhuns e sem custos
de contexto”, diz Ricardo Sousa.
Ou seja, só a obra de uma casa de
100 m2 custa €130 mil ao promotor,
e juntando o IVA sobre a construção,
a 23%, ultrapassa logo os €150 mil.
Mas, antes, esse promotor teve de
comprar o terreno e pagar impostos
sobre essa transação, teve custos com
licenças e projetos e tem de pagar
impostos pela propriedade do terreno
e ainda os custos do crédito pedido ao
banco, sujeito às atuais taxas de juro.
Tudo junto, só o custo de construção
pode chegar aos €200 mil e, portanto,
o promotor terá de cobrar mais para
poder ter lucro.
De acordo com o CEO do Confiden-
cial Imobiliário, Ricardo Guimarães,
o que se antecipa no curto e médio
prazo é uma estabilização dos preços
por via da descida das taxas de juro,
esperada já para este verão. Por ou-
tras palavras: com taxas mais baixas,
os promotores pagam menos pelo
crédito que pedirem para construir.
Ainda assim, para muitos dos agen-
tes do mercado uma das formas de
aumentar a oferta passa por aliviar os
impostos sobre a construção.
O programa Mais Habitação traz
medidas nesse sentido, mas tudo pode
mudar com o novo Governo que sair
das eleições de 10 de março. Por isso é
que, para Luís Marques Mendes, que
encerrou o Observatório do Imobiliá-
rio, o que devia haver “era um pacto
de habitação entre partidos”.
economia@expresso.impresa.pt
ECONOMIA 13
QUE TIPO DE CASA
PROCURAM
OS PORTUGUESES?
O estudo “Habitação em
Portugal: O Que Mudou nos
Últimos Anos” conclui que os
portugueses procuram moradias
ou apartamentos T3 — usados,
mas sem precisarem de obras.
Devem ter entre 91 m2 e 150 m2,
duas casas de banho, garagem,
arrecadação, terraço ou varanda
e custar entre €100 mil e €200 mil
ou ter uma renda de €500.
€331
mil é o valor médio das casas T3
e T4 com 91 m2 a 150 m2 (as que
os portugueses mais procuram),
mas ficam nos subúrbios, e as
famílias preferem casas no
centro. Por isso, acabam por
comprar um T2 com 51 m2 a 90
m2, mas com um preço muito
semelhante ao da casa dos
subúrbios: €325 mil em média.
Se for para arrendar, pagam, em
média, €821/mês pela casa mais
pequena no centro, quando nos
subúrbios a renda seria €689
QUE TIPO DE CASA
COMPRAM OS PORTUGUESES?
Pelo que já foi escrito acima, fica
claro que a casa que os
portugueses procuram não é a
casa que compram. É mais
pequena, só tem um casa de
banho em vez de duas, nem
sempre tem garagem e
arrecadação ou acesso a
transportes e a qualidade dos
materiais é inferior. Além disso, o
preço é semelhante ao da casa
desejada, que era maior.
73%
é a percentagem de pessoas
que, quando procuram casa,
querem ficar na mesma cidade
onde já vivem. Além disso, 49%
querem ficar no centro, o que
também faz com que tenham de
pagar quase o mesmo do que
por uma casa nos subúrbios,
mas mais pequena. A principal
razão para esta realidade é a
falta de uma rede de
transportes adequada que
chegue às zonas onde estão as
casas disponíveis e com
melhores preços
QUAL O FATOR QUE
MAIS LEVA A DESISTIR
DE COMPRAR CASA?
Uma das principais conclusões
do estudo é de que, neste
momento, 55% dos portugueses
desistem de comprar casa por
causa do preço. Não só porque
só querem gastar até €200 mil e
a maior parte das casas custa
mais, mas também porque só
podem ter uma taxa de esforço
de 33% quando pedem o
empréstimo.
14 ECONOMIA
CRIPTOATIVOS
Bitcoin atinge
máximo de
mais de dois
anos
A principal criptomoeda voltou
esta semana a valorizar-se, à boleia
do mercado de produtos derivados
Pedro Carreira Garcia
O bitcoin superou os 50 mil
dólares (cerca de €46,5 mil ao
câmbio atual) no início desta
semana. Esta marca fora alcan-
çada pela última vez em dezem-
bro de 2021, período em que se
iniciava uma trajetória de corre-
ção em forte baixa do preço do
principal criptoativo. A alicer-
çar estes ganhos estarão dois
fatores. Um deles diz respeito
à aprovação recente pelo regu-
lador norte-americano de deri-
vados financeiros com base no
preço do mercado à vista (spot)
do bitcoin, depois de um longo
período de recusas que culmi-
nou na barra dos tribunais e
numa decisão judicial favorável
a um dos fundos proponentes.
Os exchange-traded funds
(ETF) aprovados pela Securi-
Conversas e diretos - Entrevistas - Notas aos debates - Sondagens - Opinião - Análise às promessas
ties and Exchange Commission
são encarados como uma porta
de entrada para uma série de
fundos de dimensão relevante
e de grandes instituições finan-
ceiras (os chamados investido-
res institucionais) no mercado
dos criptoativos. Através de um
ETF que mimetiza a cotação do
bitcoin no mercado à vista estes
“institucionais” poderão estar
expostos ao principal criptoativo
através de produtos financeiros
oferecidos por terceiros, sem
correrem os riscos associados à
detenção direta de bitcoin.
Após terem sido admitidos à
negociação, a 11 de janeiro, o
fluxo de investimento nos dois
primeiros dias rondou os mil
milhões de dólares e só em três
ETF. No total, e tendo em con-
ta todos os que já foram lança-
dos, estes produtos financeiros
já captaram 9 mil milhões de
ELEJA O EXPRESSO
Tudo sobre as Legislativas 2024 por apenas 1,99€ 1,54€/semana
DEBATES
PERFIS
Subscreva o seu jornal e saiba tudo deste período eleitoral:
Mapas eleitorais - Painel de especialistas - Comparador de programas - Fact-checking -
Não perca toda a atualidade política em
dólares (€8,4 mil milhões de
euros) desde a sua aprovação,
segundo a Bloomberg.
O segundo fator está relacio-
nado com a própria mecâni-
ca do bitcoin, um criptoativo
concebido desde o início com
formas automáticas de limi-
tar o número de “moedas” em
circulação. Vem aí o próximo
halving do bitcoin — isto é, a
diminuição para metade das
recompensas extraídas pelos
mineradores em troco da vali-
dação de transações na block-
chain, o registo informático e
COTAÇÃO BITCOIN/DÓLAR
Em dólares
50.000
45.000
40.000
35.000
JAN.
FONTE: YAHOO FINANCE
OPINIÕES
SUBSCREVA
expresso.pt
permanente de todas as opera-
ções alguma vez efetuadas com
esta criptomoeda. A diminui-
ção deverá acontecer em abril
deste ano e deverá impulsionar,
dizem os analistas, a cotação a
breve prazo; já que os halvings
anteriores resultaram em for-
tes subidas de preço do bitcoin.
Na tarde de quarta-feira, 14
de fevereiro, a criptomoeda era
transacionada a mais de 51 mil
dólares (cerca de €47 mil), re-
cuperando de uma queda na
terça-feira, em reação a um in-
dicador macroeconómico de
51.635
FEV. 14 FEV.
ANÁLISES
NEWSLETTERS
SONDAGENS
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
grande importância para as
economias atuais e capaz de
afetar particularmente os ativos
de risco.
Anunciada na terça-feira, a
taxa de inflação norte-ameri-
cana para janeiro fixou-se nos
3,1%, menos do que em dezem-
bro mas ainda assim acima
da estimativa dos analistas, e
sugeriu que o ritmo de subida
de preços é mais resistente do
que o esperado, apesar da forte
contração das condições mo-
netárias dos últimos dois anos.
Algo que a Reserva Federal, o
banco central dos Estados Uni-
dos, poderá levar em conta nos
seus planos de médio prazo, te-
mendo-se que acabe por hesitar
no já esperado ajuste em baixa
dos juros, tido pelo mercado
como estando para breve.
Como funciona
a criptomoeda
Novos bitcoins são criados
como recompensa pela va-
lidação de transações. Estas
são efetuadas através de com-
plexos cálculos matemáticos
feitos por computador. Quem
faz essa validação, garantindo
que a transação entre as duas
partes é feita através de um bit-
coin legítimo, são os chamados
mineradores, num processo em
que competem entre si. Estes,
depois da confirmação bem-
-sucedida, são recompensados
com a geração de novos bit-
coins pelo seu labor.
Estes cálculos, à medida que
o tempo vai passando e que
o número de novas moedas
potenciais vai diminuindo (o
bitcoin está programado para
gerar um máximo inultrapas-
sável de 21 milhões de “moe-
das”), vão-se tornando cada
vez mais complexos, necessi-
tando de cada vez mais poder
computacional. Daí o grande
consumo energético associado
à mineração, que chega a ultra-
passar o de nações de média
dimensão.
De tempos a tempos (mais
especificamente de quatro em
quatro anos), o protocolo do
bitcoin baixa para metade a
recompensa dada aos minera-
dores pela validação das ope-
rações na blockchain: isto é, são
gerados menos bitcoins. Assim,
perspetiva-se uma redução da
oferta potencial em circulação,
com reflexo no preço.
Recorde-se que o bitcoin foi
criado após a crise financeira de
2008, que obrigou os governos
a ir em socorro de grandes ins-
tituições financeiras que, por
risco excessivo, ficaram subita-
mente em graves dificuldades.
Em resposta a esta crise, as au-
toridades monetárias globais
reduziram fortemente as taxas
de juro e inundaram os merca-
dos de estímulos. O bitcoin é
uma contestação explícita deste
sistema potencial gerador de
inflação, que degrada o valor
das poupanças dos particulares
em troco de onerosos resgates
do sistema financeiro.
O bitcoin tem, assim, como
objetivo garantir, em teoria,
que o valor das suas “moedas”
não se degrada: é um criptoati-
vo programado para impedir a
proliferação discricionária de
novos exemplares, estabele-
cendo mecanismos concretos
de produção de novas “moe-
das”. E define, no seu algorit-
mo, um máximo de “moedas”
que alguma vez poderão ser
produzidas que, em teoria, não
poderá ser ultrapassado.
pcgarcia@expresso.impresa.pt
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Expresso, 16 de fevereiro de 2024 ECONOMIA 15

POD CAST

Os bancos têm lucros excessivos?

Isabel Vicente e Diogo Cavaleiro,
jornalistas do Expresso, estiveram
no “Money Money Money” para
analisar as contas dos bancos
e perspetivar o que pode ser 2024
A época de apresentação de recorde de lucros, que têm a ver
contas dos bancos ainda não com a subida dos juros, depois de
terminou, mas a polémica já vai um período de juros negativos,
longa sobre os seus lucros. Con- em que as margens dispararam
cos fizeram na última década,
o que reduziu o peso dos custos
na despesa”. Rácios de eficiên-
cia que “melhoraram bastan-
te”, afirma o jornalista, que
nota que “os bancos aprovei-
taram o momento de menores
custos para o disparo de recei-
tas”. Lucros “sonantes” a que
os banqueiros “contrapõem
exigidos aos clientes, que são
bastante elevados”. Acrescem
“os rácios entre depósitos e o
crédito concedido, num país
com clientes avessos ao risco”.
Rácio de transformação que
está desequilibrado e sem “in-
dicadores que mostrem que o
volume de depósitos venha a
cair ou que o crédito vá dispa-

FOTO GETTY IMAGES

tribui para isso o facto de estar-
mos em campanha eleitoral e
o tema ser sensível para mui-
tas famílias, que mensalmente
têm de pagar as prestações dos
créditos. Das contas já revela-
das, os lucros somam muitos
milhões de euros, e alguns são
mesmo recordes.
A margem financeira, que
mede a diferença entre juros
recebidos e pagos, continua a
crescer e a ser a grande respon-
sável pelos lucros dos bancos.
2023 pode mesmo ser “um ano
NÚMEROS
substancialmente”, refere Isabel
Vicente. Os lucros que os bancos
estão a ter não refletem “negócio
novo, antes encaixe de receitas
do crédito à habitação, sobre-
tudo em Portugal, que tinham
taxas variáveis e contribuíram
para aumentar as receitas”.
Subida de lucros e não de cus-
tos, com a remuneração dos de-
pósitos a permanecer baixa. “A
subida do crédito à habitação,
o que mais afeta as famílias, foi
uma escalada, mas a remunera-
ção dos depósitos começou ape-
nas no último trimestre de 2023,
e podemos observar já uma não
renovação de campanhas com
juros brutos acima de 3%, por-
que se antecipava a descida dos
juros do BCE”, acrescenta a jor-
rentabilidade”, destaca Cava-
leiro, que sublinha “os encargos
rar”, sublinha o jornalista. Em
termos políticos, “há propostas
para ajudar o crédito aos jovens
para comprar casa, que poderá
equilibrar os rácios, porque é
dinheiro que está parado”.
Com a redução do crédito
a empresas e particulares, os Os dois jornalistas conver- parar aos bancos europeus”.
bancos têm excesso de liqui- gem na opinião de “não taxar E isto porque se “têm maior
dez, e em Portugal “estão bem mais os bancos, mas ter em rentabilidade com pior enqua-
capitalizados”, destaca Isabel atenção as comissões cobra- dramento fiscal é preciso per-
Vicente. “Os bancos sem cres- das”. Porém, Diogo Cavaleiro ceber se estão a sobrecarregar
cimento de malparado estão a mostra “reservas” e alerta para os clientes”.
capitalizar as reservas e, claro, a necessidade de “estudar a ta- Amadeu Araújo
a distribuir dividendos.” xação dos bancos, para a equi- economia@expresso.impresa.pt

2297
nalista do Expresso.
A banca manteve os juros
elevados, devido ao contexto
geopolítico e à evolução da in-
flação, as margens aumenta-
ram e “os bancos estão caute-
milhões de euros são os lucros losos e até envergonhados dos

somados pelos bancos
Santander Totta, Novo Banco
e BPI, que já apresentaram
resultados relativos a 2023
Poupe para
lucros que estão a apresentar”.
Na apresentação dos resulta-
dos, acrescenta a jornalista, “os
bancos optam por destacar os
grandes impostos e taxas que

3% o que der e vier

é a taxa de juro média
dos novos depósitos
em Portugal; a média
europeia é de 3,3%
COMPETIÇÃO
pagam” para diminuir o impac-
to dos lucros, o que “confirma
como 2023 será recorde em
termos de lucros na banca e
também porque este cenário
poderá não se repetir em 2024,
devido às incertezas geopolíti-
cas”, assume a jornalista.
Diogo Cavaleiro lembra “o
controlo de custos que os ban- Faça uma poupança de forma segura
e tranquila para qualquer imprevisto.

Macau compete
com estudantes
A edição de 2023 da prova
neste território foi
disputada por 93 equipas
de estudantes e 13
de quadros e mistas
Quatro estudantes da Univer-
sidade Politécnica de Macau
venceram a final nacional da
edição de 2023 do Global Ma-
nagement Challenge neste ter-
ritório, realizada no início deste
ano. Esta equipa e as vencedo-
ras dos restantes países onde a
competição está presente irão
disputar a final internacional
agendada para o próximo ve-
rão, na Índia.
A edição de 2023 em Macau
envolveu 460 participantes,
distribuídos por 93 equipas de
estudantes e 13 de quadros e
mistas. Para Jodie Lam, da Ma-
cau Management Association,
entidade que organiza o Global
Management Challenge nesta
parte do mundo, a equipa ven-
cedora tem tudo para se sagrar
campeã internacional. “Possui
uma composição diversificada,
o que faz com que cada mem-
bro traga para o grupo com-
petências e perspetivas únicas,
que lhe permitem enfrentar
os desafios”, explica. A última
vitória de Macau numa final
internacional deu-se na edição
de 2019.
Para a organizadora macaen-
se, esta competição de estra-
tégia e gestão desempenha
um papel fundamental na for-
mação dos estudantes. “Aqui
podem aplicar na prática os
conhecimentos teóricos, num
ambiente de grande pressão”,
refere. Acredita que isto não só
reforça os seus conhecimentos
de gestão como também apri-
mora a sua capacidade de re-
solver problemas, de trabalhar
em equipa e de tomar decisões.
No caso dos quadros, “permi-
te-lhes perceber como podem
formular estratégias eficazes
em ambiente de negócios com-
plexo, a equilibrar o risco em
situações de incerteza, a me-
lhorar o trabalho em equipa e
as suas capacidades de lideran-
ça”, finaliza.
A edição de 2023 de Macau
contou com mais de 100 equi-
pas inscritas. O objetivo para
este ano é aumentar esse nú- Banco BPI, S.A. registado junto do Banco de Portugal sob o nº 10, junto da CMVM
mero com maior participação sob o n.º 300 e junto da ASF sob o nº 419527591 agente de seguros do tipo Vida/Não-Vida.
de equipas de quadros.
Maribela Freitas
mfreitas.externo@impresa.pt
16 ECONOMIA
LEGISLATIVAS
Casas Uns partidos querem incentivos fiscais, outros propõem travões aos preços, mas os especialistas consideram
Como vamos ter e pagar
que os instrumentos devem ser complementares. A conciliação é difícil quando o diagnóstico que fazem é tão distinto
casas para viver?
Textos Diogo Cavaleiro
D
e Helder C. Martins
esengane-se quem
imagina que a solu-
ção do problema da
habitação pode pro-
duzir efeitos numa
ou mesmo duas le-
gislaturas. Não só os
ciclos de construção
são longos, como a
capacidade produtiva do sector é uma
pálida imagem do que era há duas dé-
cadas. Há ainda o aeroporto e o TGV,
expansão de metros e ferrovia para
construir num contexto de mão de
obra escassa — faltam 80 mil traba-
lhadores, segundo a confederação
do sector. Além disso, a esquerda e
a direita só estão unidas num senti-
do: o diagnóstico de que o sector da
habitação tem mesmo um problema.
Os especialistas ouvidos pelo Expres-
so garantem que não há diagnósticos
nem respostas únicas.
A habitação tornou-se uma prio-
ridade no discurso político a partir
do momento em que deixou de ser
apenas um problema dos mais desfa-
vorecidos e chegou à classe média. A
exuberância de preços acentuou-se a
partir de 2017, afetando hoje não só
quem está no mercado — com hipote-
ca ou a pagar renda —, mas sobretudo
quem quer entrar no mercado, com
um agravamento substancial da si-
tuação devido à subida dos juros nos
últimos dois anos. E, como sublinham
especialistas ouvidos pelo Expres-
so, não é por falta de dinheiro que a
situação não se resolve, pois nunca
houve tanto para o sector, graças às
HABITAÇÃO
verbas do Plano de Recuperação e
Resiliência (PRR).
Os partidos de direita colocam o
enfoque numa estratégia assente em
construção nova e benefícios fiscais,
privilegiando a compra de casa. A es-
querda prioriza o primado do cresci-
mento da oferta pública de habitação
e do controlo de preços. Para os espe-
cialistas, as medidas que já estão em
curso, como a bonificação de juros ou
o controlo de rendas, são “paliativas”.
Podendo mitigar a pressão no imedia-
to, a médio prazo arriscam a revelar-
-se perniciosas, como terá acontecido
já no preço das novas rendas, que su-
biu 30% desde que foi conhecido o tra-
vão em 2022, ou o diminuto peso do
parque arrendado face à casa própria
provocada pela bonificação.
Estado limitado
“Oferta limitada de habitação nova”
e “inexistência de um stock [volume]
acumulado de casas disponíveis” é
uma caracterização de um recente
relatório do Banco de Portugal, pu-
blicado em novembro, e que reflete o
mercado. Não só é difícil atuar por aí,
como o papel público é limitado.
“Ao contrário da educação e da saú-
de, o Estado tem pouca margem de
manobra para influenciar o mercado,
com apenas 2% do parque público”,
nota Hugo de Almeida Vilares, pro-
fessor da Faculdade de Economia da
Universidade do Porto. “Os erros do
Ha bitação
passado, incluindo a falta de previsão
da atual crise, fazem com que não se
consiga arranjar respostas com im-
pacto no mercado antes de cinco ou
10 anos”, assegura. Há falta de ofer-
ta pública e privada face à procura
e ausência de crescimento em área
das cidades: “Metade dos terrenos
disponíveis em Lisboa são do Esta-
do. Construir a custos controlados
necessita de escala, até mesmo para
atrair investidores institucionais e
construção para arrendamento”, diz
o professor universitário. E estranha
que a política de habitação pouco fale
de transportes ou de onde se pode
construir com escala, embora o PAN
e o Livre o refiram, e que uma das
soluções passa por conseguir expandir
as zonas metropolitanas com rede
adequada de transportes.
Planeamento urbano é também o
que defende Gonçalo Antunes, geó-
grafo e professor na NOVA FCSH.
“Precisamos de medidas de cariz esta-
tal que não se restrinjam ao imediato e
sejam para o médio/longo prazo. É ne-
cessário agir em várias frentes e sem
esta visão sectorial e excessivamente
ideológica que é percetível no que está
a ser proposto pelos vários partidos.”
Há partidos que querem o alívio fiscal
para promover a entrada de investido-
res privados (a AD e a IL) e há quem
opte pelo agravamento (BE e PCP, por
exemplo) para os restringir. Há os que
pretendem parcerias público-privadas
(Chega), há outros que querem o Esta-
do a reforçar o fraco peso no mercado
habitacional. Para Luís Mendes, inves-
tigador do IGOT, as medidas consi-
deradas de esquerda e de direita “são
complementares” e não se excluem. “É
necessário um acordo de regime na As-
sembleia da República para dar origem
a soluções de compromisso duradouro
para a resolução do problema da habi-
tação”, vinca. De nada serve diabolizar
a oferta pública, a nova construção —
desde que com “zonamento inclusivo”
— ou o investimento estrangeiro, refor-
ça o especialista.
Dispensáveis são propostas “popu-
listas”, como as 250 mil casas que a
IL quer construir até 2028 — mais
que decuplicando o valor de 2023 — e
os €1200 milhões para construir 80
mil fogos propostos pelo Bloco de Es-
querda (€15 mil por casa), assinalam.
PRR e o país a duas velocidades
Quando se fala em habitação, fala-
-se em financiamento do PRR — todo
para arrendamento acessível —, em
que €1200 milhões são destinados ao
acesso à habitação (1º Direito), a fun-
do perdido. O objetivo previsto pelo
Estado mantém-se nas 26 mil famílias,
quando os municípios identificaram
FRASES
“É necessário um acordo
de regime em sede de
Assembleia da República
para dar origem a
soluções de compromisso
duradouro para a
resolução do problema
da habitação”
Luís Mendes
Investigador do IGOT
“Construir a custos
controlados necessita
de escala até mesmo
para atrair investidores
institucionais
e construção para
arrendamento”
Hugo de Almeida Vilares
Professor da Faculdade de Economia
da Universidade do Porto
“É preciso criar outros
territórios que sejam
atrativos, e a habitação
é a chave para
o problema”
Sílvia Jorge
Investigadora do CITUA,
do Instituto Superior Técnico
Expresso, 16 de fe
mais de 67 mil famílias em situação
de indignidade habitacional.
Sílvia Jorge, arquiteta investigadora
do CITUA (Centro para a Inovação
em Território, Urbanismo e Arquite-
tura) do Instituto Superior Técnico,
insiste na necessidade de respostas
combinadas para a habitação e frisa
que a execução do PRR mostra que
a solução para o problema da habita-
ção não é apenas financiamento. “Há
financiamento a fundo perdido e a
execução é muito baixa. O problema
é a operacionalização, a estratégia e
as prioridades.” A investigadora afir-
ma que o PRR veio introduzir uma
corrida ao financiamento que resulta
em fortes desequilíbrios territoriais,
com os concelhos mais ricos a obte-
rem o grosso do financiamento, o que
agrava o problema de concentração de
população nas áreas metropolitanas.
“É preciso criar outros territórios que
sejam atrativos e a habitação é a chave
para o problema”, diz, acrescentando
que “há mais vida para além do PRR”
e que os municípios mais pobres não
têm capacidade de endividamento
para além de 2026.
Aitor Varea Oro, investigador do
CEAU (Centro de Estudos de Arqui-
tetura e Urbanismo) da Faculdade de
Arquitetura da Universidade do Porto,
sublinha que se está a assistir a um
“fenómeno de litoralização do finan-
ciamento” do PRR, com os municípios
do interior a apresentarem muitas
mais dificuldades em aprovar candida-
turas (ver gráficos). Até ao momento,
cerca de 75% das operações realizadas
no âmbito do 1º Direito estão concen-
tradas na reabilitação, sem que seja
possível saber se os edifícios já eram
ou não habitação. “O que poderá estar
a comprometer o objetivo de aumento
do parque público”, afiança.
Já Sónia Alves, investigadora do
Instituto de Ciências Sociais (ICS) da
Universidade de Lisboa, lembra que
os dados do Censos 2021 mostram que
Portugal chegou a 2021 com menos
stock de habitação pública do que ti-
nha em 1991 (menos 11 mil unidades).
“Esta redução foi o resultado de uma
política de alienação de habitação por
parte do Estado ou dos municípios”,
garante.
E lembra que se assistiu em alguns
municípios ao desenvolvimento de
estratégia de construção de habitação
para venda em vez de arrendamen-
to, muito embora se reconheça que
Portugal precisa de expandir o sector
de arrendamento social e sem fins
lucrativos e de protegê-lo das lógicas
do mercado. Como exemplo destaca o
recente sorteio de venda de habitação
a custos controlados da Câmara de
Faro, situada numa das regiões mais
caras do país e que poderão ser vendi-
das passados 10 anos. As cooperativas
são referidas em programas eleitorais
distintos, do PCP à AD.
A resposta ao disparo nos preços é
distinta, com travões mencionados à
esquerda e apenas apoios direciona-
dos à direita. Mas a descida dos pre-
ços, a acontecer, não será imediata,
tem riscos (o Banco de Portugal tem
alertado para um eventual problema,
inclusive para os próprios bancos e
sistema financeiro), e contrabalança
com uma maior procura prometida
pelos partidos, que é transversal: em-
bora não sejam só elas, as duas princi-
pais forças querem o Estado a apoiar a
compra de casa aos jovens. Mas para
que oferta?
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
evereiro de 2024 ECONOMIA 17

LEGISLATIVAS 2024 Leia mais sobre

as eleições legislativas de 2024 no
Primeiro Caderno e em expresso.pt

O QUE JÁ FOI FEITO

Oferta insuficiente, acesso limitado, ^ O apoio extraordinário à renda chegou a 236.862 famílias, num
total de 258 mil pessoas. O subsídio mensal médio é de €113.

preços a disparar: o retrato do mercado ^ Através do Porta 65 Jovem foram apoiadas 24.928 famílias, num
total de 28.133 jovens. O valor médio de apoio ao arrendamento
foi de €210 por mês.

^ O Estado vai cobrir parte do crédito da habitação a quem tem

O problema da habitação não é um exclusivo nacional, mas Portugal, elevada taxa de esforço. Estão orçamentados apoios de €200
além de ser um país de proprietários privados, tem poucas novas casas milhões por ano.

PREÇOS SOBEM MAIS EM PORTUGAL OFERTA ESTÁ A CRESCER, ^ No âmbito do 1º Direito, um programa que se destina a famílias
DO QUE NA UNIÃO EUROPEIA MAS AQUÉM DE HÁ UMA DÉCADA em condições habitacionais indignas, há 15.936 casas
Média anual, 2015=100 Número de fogos
candidatas a obras. 7559 habitações já estão contratadas e
2087 já foram concluídas.
250 Hungria 30.000
^ No Parque Público de Habitação Acessível, em que o Estado
200 23.000 constrói habitação para arrendamento, existem 5600
Portugal 20.156 habitações em projeto ou em obra e 209 concluídas.
Alemanha
150 16.000
UE 27
Espanha
França AS PROPOSTAS DOS PARTIDOS
100 9000
Itália
50 2000
2010 2015 2020 2023 2011 2015 2020 2022 Partido Socialista oferta como da procura.
Os socialistas Incentivos fiscais para construir
FONTE: EUROSTAT FONTE: INE
argumentam que já e colocar casas para arrendar,
PREÇOS SOBEM, OFERTA NEM POR ISSO tomaram medidas reduzir o IVA na construção e
O índice de preços das casas está a subir em Portugal a níveis mais intensos do que no resto da União para aumentar a oferta, mas eliminar o IMT na compra de
Europeia: entre 2015 e 2023, os preços subiram 90%. O agravamento não é um exclusivo nacional, mas por cá que construir casas demora habitação própria são
vem acompanhado de outros fatores, um deles intimamente ligado à oferta: o licenciamento e a construção tempo a produzir efeitos (“a exemplos. A par da tributação,
têm avançado de forma contida e o número de fogos concluídos tem crescido de forma limitada e está médio prazo”, o objetivo é que há a simplificação da legislação,
abaixo do ritmo de há uma década. Em 2022 concluiu-se a construção de 20.156 fogos. 5% da habitação sejam com a eliminação de diplomas e
públicos, contra 2% atuais), e a sua consolidação no Código
HÁ DUAS REGIÕES SEM CANDIDATURAS UMA EM CADA CINCO CASAS por isso querem atuar na de Construção.
APROVADAS NO PROGRAMA 1º DIREITO ESTÃO ARRENDADAS regulação do mercado. Além de
Em percentagem de municípios da região com candidaturas aprovadas Número de arrendatários e total de alojamentos um novo cálculo da atualização Bloco de Esquerda
das rendas (que tenha em conta A utilização dos
1.379.430
a evolução dos salários quando impostos deve
A. M. de Lisboa 94,4 TOTAL a inflação supera os 2%), o PS servir para
Tâmega e Sousa 90,9 ARRENDATÁRIOS pretende aumentar a dedução desincentivar compras por
Alto Minho 90
das rendas em sede de IRS, criar grandes fundos, com a extinção
A. M. do Porto 88,2 1.191.363
uma “entidade fiscalizadora do de benefícios fiscais. O negócio
Alto Tâmega 66,7
arrendamento”, um novo também é para tributar mais,
Douro 52,6
código e um programa especial segundo o Bloco, com um novo
Médio Tejo 46,2 TOTAL para regularizar contratos por regime para mais-valias
Região de Aveiro 45,5
907.883 4.142.581 declarar. Também há um piscar imobiliárias e englobamento
Algarve 43,8
de olhos aos jovens, com a obrigatório dos rendimentos
Alentejo Litoral 40
garantia pública para a em IRS. O Estado deve assumir
Alto Alentejo 40
obtenção de empréstimos para a dianteira e construir o parque
Lezíria do Tejo 36,4
a compra de casa até aos 40 público de habitação, propondo
Viseu Dão Lafões 35,7
anos. As medidas no campo da um programa de reabilitação
Cávado 33,3
construção são menos de €6 mil milhões e a posse
Trás-os-Montes 33,3
concretas. administrativa de edifícios
Madeira 27,3
abandonados.
Beiras e Serra da Estrela 26,7
Aliança
Açores 26,3 290.644
347.994 Democrática CDU
Região de Coimbra 26,3 306.252
193.395 Apostada em Contra a “excessiva
Ave 25
mostrar que será a liberalização”, o
Região de Leiria 20 94.792 85.074
143.234 coligação a resolver o programa do PCP
Oeste 16,7
49.409 44.545 16.723 14.653 problema da habitação, a AD aponta para o alargamento da
Alentejo Central 7,1
promete reavaliar a legislação oferta pública de habitação,
Baixo Alentejo 0 Norte A. M. Centro Alentejo Algarve Madeira Açores
da habitação (revogar o Mais nomeadamente com posses
Beira Baixa 0 Lisboa
Habitação), apostando na administrativas de casas
FONTES: PORTAL MAIS TRANSPARÊNCIA (DEZ. DE 2023); AITOR VAREA ORO; CEAUP/FAUP FONTE: INE
eliminação do que considera devolutas, mas também de
LITORAL BENEFICIADO NO ACESSO À HABITAÇÃO serem entraves à iniciativa habitações nas mãos de fundos
94,4% dos municípios da Área Metropolitana de Lisboa têm pelo menos uma candidatura aprovada no privada. Propõe parcerias em zonas com “carência
âmbito do 1º Direito, o programa de apoio ao acesso à habitação. Um estudo do investigador Aitor Varea público-privadas para habitacional”. Propõe eliminar
Oro mostra o acesso diferenciado ao financiamento do PRR, havendo regiões sem candidaturas. É um construção e reabilitação em benefícios fiscais a fundos,
dos programas de acesso à habitação num país essencialmente de proprietários, em que o arrendamento larga escala e quer flexibilizar facilitar o apoio às rendas,
representa cerca de 20% dos alojamentos. O Estado, central e local, é dono de apenas 2%. regras e apoios fiscais (como dinamizar o sector cooperativo
um regime excecional para e desenvolver a construção de
PRESTAÇÃO MÉDIA DO CRÉDITO CRESCE ...MAIS €1,5 POR METRO QUADRADO reduzir os custos em obras). edifícios com elementos
MAIS DE 50% EM DOIS ANOS... NOS NOVOS CONTRATOS DE RENDA Sugere subsídios apenas para prefabricados.
Em euros Valor mediano das rendas, em €/m2, por trimestre arrendatários vulneráveis e
31 dez. 425 apoio à compra de casa para PAN
400 8
jovens até aos 35 anos É ao Estado que
(eliminação de encargos fiscais cabe o investimento
3º trim. 7,25
350 7
e garantia pública para crédito na habitação,
à habitação). incluindo a adaptação do
300 6
edificado às regras ambientais e
Chega promovendo bolsas
250 5
Abolir as medidas habitacionais entre municípios
decididas nos para proteger comunidades
31 DEZ. 31 DEZ. 31 DEZ. 2020 2021 2022 2023
2021 2022 2023 últimos anos, como vulneráveis. Muitas das medidas
o fim dos vistos gold ou a do PAN são destinadas aos
FONTE: BANCO DE PORTUGAL FONTE: INE
limitação do Alojamento Local, jovens, como os benefícios
CRÉDITO OU RENDA, A REGRA É SÓ UMA: PAGAR MAIS fazem parte das propostas do fiscais para quem arrendar
A evolução dos preços tem prejudicado tanto quem está a pagar um crédito, por via da subida Chega, que vê na burocracia casas acessíveis a esta camada
das taxas de juro, como quem é arrendatário, com a procura a deparar-se com reduzida oferta. um dos problemas na populacional ou a conversão de
No caso dos créditos, o agravamento já foi suficiente para mudar o tipo de taxa nos novos contratos, habitação: aponta, por isso, prédios públicos devolutos.
influenciando o peso na carteira. para a simplificação de
licenciamentos. A intervenção Livre
TAXA DE JURO ASSOCIADA À EURIBOR PERDE PESO, MAS AINDA DOMINA CRÉDITOS fiscal é outra aposta, com a Aposta no sector
Peso de cada taxa em percentagem dos contratos de crédito abolição do IMT (Imposto cooperativo,
Municipal sobre Transmissões) fomenta a
NOVOS TOTAL
na compra de habitação habitação pública e sugere
Variável permanente e isenção de IVA limites à especulação na
80 80
na construção de primeira habitação, com o aumento da
Mista
habitação. Pretende promover tributação das mais-valias e a
60 60
parcerias público-privadas no revisão de benefícios fiscais. O
imobiliário. É outro partido a IMI deve ser recalculado para
40 40
Variável apostar nos jovens, com reduzir os encargos, mas os
crédito bonificado. imóveis devolutos devem pagar
20 20 Mista mais. Para o Livre, o incentivo às
Fixa Fixa Iniciativa Liberal rendas deve passar por
0 0
As mexidas fiscais benefícios fiscais a contratos de
31 DEZ. 31 DEZ. 31 DEZ. 31 DEZ. longo prazo e por limites ao
2021 2023
são a forma
2021 2023
primordial que a IL valor máximo quando os
FONTE: BANCO DE PORTUGAL encontra para apoiar o proprietários recebem
mercado, tanto do lado da financiamento estatal.
18 ECONOMIA
IMOBILIÁRIO
Habitação A escassez de mão de obra para a realização de obras
de remodelação de casas está a levar a um aumento de burlas.
Os profissionais alertam para os cuidados a ter no momento da contratação
Vai fazer obras em
casa? Saiba quais
os cuidados a ter
Elisabete Soares
S
e está a pensar em
fazer obras em casa,
pense duas vezes an-
tes de contratar uma
empresa para lhe
prestar esse tipo de
serviço. É que estão a
aumentar as queixas
junto das associações
do sector vindas de proprietários víti-
mas de burlas por parte de empresas
de construção e profissionais ligados
a este ramo.
António Frias Marques, presidente
da ANP — Associação Nacional de
Proprietários, adverte que nos últi-
mos meses são raros os dias em que
“não há uma queixa de burla” contra
pessoas que se “dizem empreiteiros”,
mas que na realidade não o são. As
queixas mais frequentes referem-se
ao pagamento dos sinais pedidos para
a execução da obra, que em muitos
casos atingem os 50% do preço com-
binado para o serviço, sem contratos
ou recibos que os comprovem.
O combate à ilegalidade e à concor-
rência desleal é uma situação que a
AICCOPN — Associação dos Indus-
triais da Construção Civil e Obras Pú-
blicas sempre identificou como um dos
problemas desta área. A associação,
que é presidida por Manuel Reis Cam-
pos, destaca ao Expresso que “tem
sido desenvolvido um intenso trabalho
em articulação com as autoridades
competentes, em particular com o
Instituto dos Mercados Públicos, do
Imobiliário e da Construção (IMPIC)
(que supervisiona o sector) e a Auto-
ridade para as Condições do Trabalho
(ACT), com o objetivo de promover um
sector da construção e do imobiliário
cada vez mais seguro, competitivo e
devidamente capacitado”.
O Expresso falou com vários pro-
fissionais, que alertam para algumas
regras que devem ser respeitadas,
sobretudo por parte dos proprietá-
rios, quando equacionam avançar
com obras de remodelação das suas
habitações.
PRIMEIRA FASE
Planeamento da obra
Segundo Sérgio Cardoso, administra-
dor da Academia Doutor Finanças,
O PLANEAMENTO
DE UMA REMODELAÇÃO
É ESSENCIAL PARA
EVITAR SURPRESAS
DESAGRADÁVEIS
NO FINAL
4 220 205 2007
para quem quer avançar com uma
obra há várias fases determinantes,
como o planeamento (definir o que
pretendemos, o orçamento disponível
e os prazos), a escolha do fornecedor
(empresa que irá efetuar o trabalho) e
o acompanhamento da obra no local.
Na primeira fase, o planeamento —
que vai permitir definir até onde po-
demos ir —, deve-se garantir que não
são criados desafios financeiros para o
final e que são antecipados eventuais
constrangimentos.
Na opinião do responsável da Dou-
tor Finanças é determinante que
sejam pedidos vários orçamentos e
consultadas várias empresas. “Deve-
mos pedir referências das empresas,
nomeadamente pesquisando online
ou consultando páginas de avaliações
e reclamações, fatores que podem
ajudar a perceber qual a reputação de
determinada empresa”.
Outro aspeto importante, na sua
opinião, é pedir às empresas compro-
vativos de qualificações e certifica-
ções para desenvolver o tipo de obra
que está a ser pedido e o portefólio
de obras realizadas. “O ideal é mes-
mo tentar ver e experienciar espaços
construídos ou renovados pelas fir-
mas, com o intuito de percebermos a
qualidade do trabalho entregue.”
Ainda antes de escolher qual con-
tratar, deve-se assegurar que os orça-
mentos são detalhados, com os tipos
de materiais e valores discriminados,
assim como avaliar a capacidade de
Apartamentos, Arrendamento, M x
     
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QUEM COMPRA E QUEM VENDE,
resposta da mesma: quando consegue
entregar a obra, por exemplo, e, sendo
possível, negociar penalizações por
atrasos que surjam, aconselha Sérgio
Cardoso. De salientar que a escolha
certa não passa necessariamente pelo
orçamento mais baixo. A capacidade
de resposta de uma empresa, o tipo de
materiais usados e a segurança ofere-
cida são questões a considerar.
Este é um trabalho preparatório que
é muito relevante e que pode prevenir
muitas situações que poderão vir a
acarretar problemas futuros.
SEGUNDA FASE
Contratar profissional acreditado
“A contratação de uma empresa de
construção não profissional poderá
trazer vários riscos e desafios, que
podem afetar negativamente a qua-
lidade e a segurança do projeto que
O PROPRIETÁRIO
DO IMÓVEL DEVE
AFERIR O HISTÓRICO
DAS EMPRESAS
QUE SE OFERECEM
PARA FAZER O SERVIÇO
+ Guarde a documentação
da sua casa e do recheio + polígonos
NA MESMA PÁGINA.
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
queremos realizar na nossa casa”,
considera Carlos Sanz, diretor-geral
do Habitissimo, uma das plataformas
de oferta de serviços na área da cons-
trução a atuar no nosso país e cuja
inscrição dos profissionais passa por
um processo de acreditação.
Refere que a verificação de um
profissional garante que este possui
as competências, a experiência e os
conhecimentos necessários para efe-
tuar o trabalho de forma eficiente e de
acordo com as normas exigidas. Além
disso, “contratar alguém não verifica-
do pode aumentar o risco de burla ou
fraude, uma vez que não há garantias
de que a pessoa ou empresa seja ge-
nuína”. E acrescenta que contratar
alguém que não é profissional pode
ainda resultar no incumprimento dos
códigos e normas de construção, o
que pode levar a problemas legais e
até estruturais.
No mesmo sentido vai a opinião da
Fixando, outra das plataformas online
a atuar no mercado nacional. “Infeliz-
mente, temos consciência de que exis-
tem algumas situações de burlas as-
sociadas a contratações informais no
mercado das obras e remodelações”.
Para se salvaguardarem, aconselha,
“os clientes devem sempre fazer uma
investigação online sobre a empresa
que estão a contratar, nunca pagar
adiantado e assinar sempre o contrato
antes do início da obra”.
A Fixando sobreavisa ainda que ou-
tro risco do recurso ao mercado de
Pesquisa por
simultâneos
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
forma menos profissional é a contra-
tação de pessoas e empresas que não
estão aptas para realizar o trabalho
proposto, resultando em trabalhos
de pouca qualidade e/ou atrasos nas
entregas.
Outra plataforma a atuar neste mer-
cado é a YourHero, que adverte para
as várias vantagens para os clientes
finais, nomeadamente na rapidez e
confiança, quando recorrem a este ser-
viço. “O constante acompanhamento
e filtro que fazemos junto dos profis-
sionais inscritos, com ações de for-
mação junto dos mesmos, ajuda-nos a
manter um repositório dos melhores
bpiexpressoimobiliario.pt
Quem pensa fazer obras
em casa deve preparar
um orçamento com
folga para imprevistos
FOTO GETTY IMAGES
técnicos”, diz Ricardo Borges, sócio
da YourHero.
TERCEIRA FASE
Pagamento parcelado
Depois de escolhida a empresa, é pre-
ciso determinar como vai ser paga a
ECONOMIA 19
ESPAÇOS
&CASAS
obra. “É aconselhável que no início
apenas avance com uma parcela do
valor total, que deverá dar para pa-
gamento de parte ou da totalidade de
materiais e pouco mais. À medida que
a obra avança, são libertadas novas
A VER NO PROGRAMA
tranches, reservando uma delas para DESTA SEMANA
após a conclusão da obra”, destaca a
informação do Doutor Finanças. Casas para
Situação semelhante acontece com
o pagamento do sinal. António Frias
estudantes no Porto
Marques vinca que é usual os proprie- O projeto António Granjo, no Por-
tários entregarem verbas superiores a to, resulta da reabilitação de edi-
10% para sinalizar as obras, o que não ficado industrial que está agora
deveria acontecer, bem como o facto de ocupado com uma residência de
não existirem comprovativos de paga- estudantes.
mento — de referir que o IVA na reabi-
litação é de apenas 6% — ou contratos
e cadernos de encargos onde constem Aproveitar
todas as informações sobre a obra e os
materiais a utilizar. Outro dos aspetos a energia solar
é o facto de estes profissionais também A iniciativa Bairros Solares EDP
não terem seguros. “Por incrível que — comunidades de autoconsumo
pareça, muitas vezes o proprietário a espalhadas pelo país — está a de-
única coisa que tem é um número do mocratizar o acesso das famílias e
telemóvel”, refere. negócios à energia solar.
QUARTA FASE
Acompanhamento da obra Índice RE/MAX
Fazer uma obra exige um acompa- O imobiliário da região do Algarve
nhamento próximo. “Dá trabalho, atrai as mais diversas nacionali-
mas pode fazer a diferença entre ter a dades.
obra concluída no tempo certo e com
a qualidade desejada. Assim, será ne-
cessário visitar regularmente a obra,
acompanhar a entrega dos materiais e Espaços & Casas
a sua colocação”, diz Sérgio Cardoso, na SIC Notícias
da Academia Doutor Finanças.
Apesar do planeamento e do acom- Sábado às 10h45
panhamento nas várias fases da obra, Repetição Segunda às 9h45
acontecem sempre imprevistos. Por
isso é necessário estar mental e fi- Programa com o apoio de
nanceiramente preparado. Com a
aprendizagem, algumas das ideias
iniciais mudam no decorrer da obra
e abrem-se outras opções. “Dizem
que quando terminamos uma casa
estamos prontos para começar outra,
e é bem verdade”, resume.
economia@expresso.impresa.pt
20 bpiexpressoimobiliario.pt
MAIS HABITAÇÃO
O que está
a mudar no
alojamento local?
O Mais Habitação entrou em vigor a 7 de outubro.
Saiba quais as principais questões que afetam o AL
Helder C. Martins
Durante o debate da Lei
56/2023, que regulamenta o
alojamento local (AL), a dis-
cussão focou-se sobretudo na
proibição de novos registos e na
Contribuição Extraordinária so-
bre o Alojamento Local (CEAL).
Agora, alerta o presidente da as-
sociação sectorial ALEP, Eduar-
do Miranda, há cerca de 39 mil
registos de AL que, apesar de
não terem feito prova de ativi-
dade dentro do prazo, arriscam-
-se a pagar a CEAL este ano. As
medidas do Mais Habitação, diz
Eduardo Miranda, “trazem mui-
tas penalizações a quem já está
no mercado”. Explicamos-lhe
quais as regras aplicáveis em 15
perguntas e respostas.
A quem se aplica a CEAL?
A CEAL aplica-se a todos
os AL instalados em frações
habitacionais autónomas de
Casa para tomar
o pequeno-almoço
com vista
edifícios localizados no litoral
do país, embora também se
aplique em alguns concelhos
que não estão na orla costeira.
O que acontece
se não pagar a CEAL?
A contribuição extraordinária é
uma questão fiscal. Caso não pa-
gue até 25 de junho, começam
a correr imediatamente juros
de mora, e a cobrança da dívida
é promovida pela Autoridade
Tributária e Aduaneira (AT). A
legislação permite obrigar os
proprietários do imóvel em que
se desenvolve a atividade de AL
a pagar a CEAL mesmo que te-
nham entregue a exploração do
imóvel a um terceiro.
Litoral é só praia?
Não. A ALEP alerta para que a
noção de litoral prevista na lei
é mais extensa e não se aplica
apenas a zonas balneares. In-
clui zonas rurais e pequenos
Encontre justamente o que
procura e muito mais.
concelhos mais para o interior.
Como exemplos surgem Mea-
lhada, Santa Maria da Feira,
Barcelos, Condeixa-a-Nova,
Pombal, Arruda dos Vinhos,
Alcanena, Santarém, Sobral de
Monte Agraço, Rio Maior ou
Cartaxo, entre outros. A defi-
nição de interior consta da por-
taria 208/2017 de 13 de julho.
Para o cálculo da contribuição e
para as localizações abrangidas,
a ALEP criou um simulador.
Como se calcula
a contribuição?
A contribuição extraordinária
é calculada pela aplicação do
coeficiente económico do alo-
jamento local e do coeficiente
de pressão urbanística à área
bruta privativa dos imóveis ha-
bitacionais. O coeficiente eco-
nómico prende-se com o rendi-
mento médio anual por quarto
disponível apurado pelo INE.
Já o coeficiente de pressão ur-
banística é calculado com base
em fatores como a localização e Se passar de AL
a subida das rendas desde 2015. para arrendamento
Segundo estimativas da ALEP, tradicional, há isenção
de impostos
um alojamento local de 100
metros quadrados em zona de até 2029?
menor pressão urbanística po- Sim. De acordo com a lei, fi-
derá pagar cerca de €1500 por cam isentos de tributação em
ano, mas numa zona de maior sede de IRS e de IRC os rendi-
pressão pode pagar €3000. mentos prediais decorrentes
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Expresso, 16 de fevereiro de 2024
de contratos de arrendamento
para habitação permanente
até 31 de dezembro de 2029
que transitem do AL. Porém,
para beneficiar destas isen-
ções, os contratos de arrenda-
mento têm de ser registados
nas Finanças até 31 de dezem-
bro de 2024.
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Expresso, 16 de fevereiro de 2024 bpiexpressoimobiliario.pt 21

Lisboa e Porto
representam 25% do
total de alojamento local
no país, onde existem
no coeficiente que faz parte
da fórmula de cálculo do IMI.
Na prática, todos os imóveis
em AL são considerados como
imóveis novos, mesmo que se-
apoio à habitação e outros ins-
trumentos urbanísticos.
Onde é que os novos AL
têm de ser aprovados
querer sair da sociedade pode-
rá vender a quota, mas todos
os registos serão cancelados.
NÚMEROS
E com as novas regras de sus-
pensão da emissão de novos

cerca de 120 mil unidades
registadas FOTO INÊS DUQUE
jam centenários.
Onde está suspensa a
emissão de novos registos?
A emissão de novos registos
de estabelecimentos de AL na
modalidade de apartamentos
e estabelecimentos de hos-
pedagem integrados numa
fração autónoma de edifício
fica suspensa em todo o terri-
tório nacional, com exceção
por unanimidade
do condomínio?
A necessidade de aprovação
prévia por unanimidade do
condomínio de um novo AL
inserido num prédio de habi-
tação aplica-se em todo o país.
Basta a oposição de um único
condómino para inviabilizar a
instalação.
Em que condições
25%
registos é provável que não
consiga registar-se novamente
e a empresa terá de fechar.
Há exceções à transmissão?
A única transmissão do registo é o peso relativo do AL
prevista na lei é por sucessão em Lisboa e no Porto,
em caso de morte do titular. com 29.773 das 119.552
unidades inscritas no Registo
Nacional de Alojamento Local
Para que serve a prova
(RNAL) a 31 de dezembro
de atividade?

dos territórios do interior e
regiões autónomas. A lei do
Mais Habitação define interior
na portaria 208/2017 de 13 de
julho (a mesma que é utilizada
para a aplicação da CEAL). Na
altura do anúncio, o Governo
disse que a suspensão “não se
aplicará aos 165 municípios
classificados de baixa densi-
dade, nem às 73 freguesias de
baixa densidade em 20 outros
municípios”.
pode o condomínio
encerrar o AL?
A decisão de encerrar uma uni-
dade de AL tem de ser tomada
por dois terços da permilagem
do condomínio, sem necessitar
que seja apresentado qualquer
motivo concreto para a justi-
ficar. A deliberação de cance-
lamento é enviada pelo con-
domínio à Câmara Municipal
competente e produz efeitos
após 60 dias.
39
A prova de atividade para um
universo de cerca de 120 mil
registos que existiam no ano
passado no alojamento local é
uma medida prevista no Mais
Habitação, com o objetivo de
acabar com “registos-fantas- mil é o número estimado pela
mas”, ou seja, licenças que não ALEP de unidades de AL que
têm qualquer atividade. O arti- estavam ativas no RNAL a 31
culado prevê que a não entrega de dezembro de 2023 e que,
do comprovativo implica o can- embora não tenham feito
celamento do registo. prova de vida, poderão ser
obrigadas a pagar a CEAL
E se não fizer prova de vida?

Um AL localizado
no interior tem
agravamento de IMI?
Sim. O agravamento do Im-
posto Municipal sobre Imóveis
(IMI) previsto abrange todos
os imóveis registados como
AL em todas as regiões do país
e em todas as modalidades
(fração autónoma, moradia,
prédio ou mesmo em regime
de quartos em residência pró-
pria). Isto independentemente
de o titular do AL ser o pro-
prietário do imóvel, inquilino
ou ter qualquer outra relação.
O agravamento consiste em
aplicar o valor máximo de 1
As Câmaras podem
autorizar novos registos?
Sim. Segundo a ALEP, as
autarquias, em tese, podem
autorizar novos registos em
certas freguesias, mas para
conseguirem têm de cumprir
condições cumulativas quase
impossíveis de reunir: devem
ter uma Carta de Habitação
aprovada, mostrar que alcan-
çaram o equilíbrio habitacio-
nal, e não podem ter decreta-
do carência habitacional em
nenhuma zona do território.
Segundo a associação, isso re-
sulta na perda de prioridade
para acesso a certos fundos de
Quem fiscaliza
a atividade?
Além da ASAE e da autarquia,
as juntas de freguesia também
passam a ter poder de fiscali-
zação. Às duas primeiras cabe
instruir os processos e aplicar
coimas ou sanções.
É possível transmitir
a licença de AL?
A legislação não permite a
transmissão de licença de AL.
O que abrange inclusivamente
casos de divórcio. A ALEP ex-
plica que no caso de um sócio
40%
A não entrega do comprovativo
de atividade poderá implicar o
cancelamento do registo. Po-
rém, antes de a autarquia proce-
der ao cancelamento definitivo,
terá de realizar uma audiência é o peso do AL nas dormidas
prévia para aferir a causa da turísticas em Portugal,
não entrega do comprovativo. quase metade das dormidas
As Câmaras terão de fazer a de Lisboa e mais de 60%
destrinça entre quem não en- das dormidas do Porto,
tregou por não estar ativo e segundo a ALEP
quem está isento do pagamento
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que exerçam a atividade até 120
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Expresso, 16 de fevereiro de 2024
REABILITAÇÃO URBANA
Habitação em Portimão,
num armazém já
reabilitado FOTO D.R.
A minha nova casa já foi um armazém
Há muitos armazéns devolutos que podem ser reconvertidos em habitação, uma solução procurada
por quem quer uma casa projetada à medida, ou procura uma solução residencial de baixo custo
Amadeu Araújo
Grandes áreas, luminosidade
e espaços abertos são algumas
das vantagens que decorrem da
transformação de um armazém
numa casa, uma solução para
a crise que se vive no mercado
do imobiliário residencial e que
é facilitada pelas alterações le-
gislativas recentes e pelo baixo
custo destes imóveis (normal-
mente fora dos centros urba-
nos), quando comparado com
a aquisição de uma habitação.
A mudança de uso do imóvel
pode ser morosa, mas os cus-
tos, segundo alguns especialis-
tas do mercado, compensam
a demora na burocracia. Os
armazéns “são edifícios com
enormes possibilidades, com
pé-direito alto, uma estrutura
que facilita o projeto e a obra, e
que se transformam em habita-
ção com facilidade”, conta Joa-
na Pinto, do ateliê Studioarte.
Esta arquiteta adquiriu um
velho armazém em Silves,
esquecido há vários anos e
equacionou a oportunidade
de “aproveitar o edifício para
habitação”.
No seu conjunto, o armazém,
que já tinha funcionado como
carpintaria, apresentava 180
metros quadrados de área,
“que se transformam quando
se abre as janelas, porque há
espaços exteriores que se ligam
à parte interna da habitação, o
que dá uma sensação de ser um
espaço mais amplo”, sublinha
Joana Pinto. Especializada em
transformar velhos edifícios ur-
banos em moradias, aquela res-
ponsável decidiu aproveitar as
áreas abandonadas e promover
aquilo que qualifica como “uma
habitação diferente”.
A arquiteta manteve a facha-
da e o telhado em madeira, de
quatro águas. Por dentro, mui-
ta área disponível que “permi-
tiu construir uma habitação
aberta e funcional, com espa-
ços definidos, abertos, em open
space, para tirar partido do pé
direito duplo”, conta a arquite-
ta ao Expresso.
E adianta que conseguiu uma
casa que permite usufruir de
todas as áreas, “rica em luz na-
tural, que é possível devido aos
grandes vãos do armazém e de
aberturas no piso superior”.
No rés do chão ficou a zona
social, com cozinha em open
space, um espaço multifunções
que se abre a um pátio exterior,
descreve a arquiteta. No piso
posterior, dois quartos e uma
instalação sanitária e o uso de
“mosaicos hidráulicos tradicio-
nais”, descreve.
Armazenou adubos
De Viana do Castelo chega
outro exemplo. Num antigo
armazém de adubos de uma
antiga fábrica, com três déca-
das, está a nascer um conjunto
de habitações, no âmbito de
um projeto promovido pela
empresa Reabilitar Viana.
O projeto permitiu desen-
volver duas dezenas de apar-
tamentos, em forma de U,
virado ao Oceano Atlântico e
com uma praça verde no inte-
rior. Um investimento de €9
milhões.
Uma pesquisa do Expres-
so detetou vários armazéns à
venda, “com potencial para
transformar em habitação”,
por valores entre €29 mil e
€240 mil. Situam-se em áreas
industriais, por exemplo na
margem sul do estuário do
Interior de um armazém, no Algarve, antes da realização das obras de reabilitação FOTO D.R.
Tejo, na circunvalação no
Porto ou o eixo Santarém —
Leiria. António Abrantes,
um empreiteiro que opera
no mercado da reabilitação,
sustenta que “estão à venda
por valores que compensam,
entre aquisição e obras, quan-
do comparado com os custos
Há armazéns à venda
por valores que
podem variar entre
€29 mil e €240 mil,
regra geral situados
em antigas
zonas industriais
de uma habitação nova”. Este
construtor destaca que “os
custos de transformação são
bastante reduzidos, porque
a estrutura está lá e a área é
ampla” mas, naturalmente
“podem variar consoante o
nível de acabamentos”.
O arquiteto Aires Mateus
projetou um espaço habitacio-
nal deste tipo, através da fusão
de dois antigos armazéns, em
Setúbal. Na memória descrita
desta casa renovada é apresen-
tado “um espaço intermédio
que controla a transição entre
a estrutura histórica e a nova
habitação, o exterior preserva
a aparência das ruínas e man-
tém vestígios visíveis do passa-
do”, descreve o arquiteto.
No entanto, estes são pro-
cessos que podem levar tempo
a legalizar. A arquiteta Joana
Pinto precisou de oito meses
para concluir o licenciamento.
A obra propriamente dita cus-
tou €180 mil.
Outra dificuldade surge no
crédito bancário, onde se pode
Em Viana do
Castelo um antigo
armazém de adubos
deu lugar a duas
dezenas de
apartamentos
virados para o mar
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deparar com condições dife-
rentes para a compra de fra-
ções não habitacionais.
O proprietário pode optar
por mudar a finalidade da obra,
na câmara municipal, requerer
licença de habitação e solicitar
um crédito hipotecário, ou en-
tão fazer a aquisição através de
um leasing imobiliário.
Há ainda a licença de ha-
bitação, que é o documento
emitido pela câmara municipal
do concelho onde o imóvel se
encontra localizado.
Se antes das alterações le-
gais do pacote Mais Habita-
ção, para alterar a afetação de
um imóvel — nos casos em que
não foram realizadas obras
ou após a realização de obras
isentas de licenciamento ou
comunicação prévia —, “era
seria necessário obter uma
nova autorização de utiliza-
ção”, para legalizar o imóvel,
segundo António Ferraz,
advogado especializado em
direito urbano, agora estas
exigências tornaram-se mais
simples, com o pacote Mais
Habitação que “facilita a con-
versão do uso de imóveis de
comércio ou serviços para uso
habitacional, sem que para
isso seja necessária licença
de utilização”, adianta aquele
advogado.
“O aumento dos preços no
mercado imobiliário, ditado
pela falta de casas, tem levado
à transformação de armazéns
em habitação”, assume a arqui-
teta Joana Pinto. O que explica
a maior apetência por estes
edifícios, usados para comba-
ter a crise na habitação ou para
promover uma residência di-
ferente, com áreas maiores e
mais baratas.
economia@expresso.impresa.pt
24 ECONOMIA
EMPREGO
Integração Empresas com mais de 75 trabalhadores têm de empregar
pessoas com deficiência. Primeiro balanço da Lei de 2019 será feito este ano.
Especialistas admitem que efeito prático possa ficar aquém do esperado
ACT vai
fiscalizar quotas
para pessoas
com deficiência
Textos Cátia Mateus
D
esde 2019, com a Lei
4/2019, de 10 de ja-
neiro, que algumas
empresas em Portu-
gal estão obrigadas
a cumprir um siste-
ma de quotas de em-
prego para pessoas
com deficiência, com
grau de incapacidade igual ou supe-
rior a 60%. A norma criada determina
que, findo o período de transição da lei
(1 de fevereiro de 2023 para empresas
com mais de 100 trabalhadores, e 1 de
fevereiro de 2024 para organizações
com 75 a 100 trabalhadores), estas
empresas passam a ter de integrar nos
seus quadros entre 1% e 2% de pessoas
com deficiência. E a Autoridade para
as Condições de Trabalho (ACT) pre-
para-se para fiscalizar o cumprimento
destas quotas.
O primeiro balanço da aplicação da
lei só poderá ser feito após a entrega
dos relatórios únicos pelas empresas,
em abril deste ano e do próximo, de-
clarando quantas pessoas com defi-
ciência efetivamente integraram. Em
2023 a ACT identificou 5 mil empre-
sas, potencialmente obrigadas a cum-
prir a lei de quotas e está pronta para
iniciar ações inspetivas no terreno a
partir deste ano. Especialistas ouvi-
dos pelo Expresso dizem que houve
avanços, mas vincam que ainda há um
longo caminho a percorrer até à apli-
cação efetiva da Lei e afirmam que as
quotas podem estar a subir pela via da
retenção e não de novas contratações.
Há um ano que as empresas com
100 a 250 trabalhadores estão obriga-
das a integrar nos seus quadros 1% de
trabalhadores com deficiência igual
ou superior a 60% (certificada por
atestado de incapacidade multiusos),
percentagem que aumenta para 2%
no caso das empresas com mais de
250 trabalhadores. As empresas com
mais de 75 trabalhadores passaram
a ter de cumprir quotas em fevereiro
deste ano. Os dados disponíveis até ao
momento não permitem ainda saber
quantas cumpriram a lei criada há
quatro anos. Apenas se sabe que ao
longo do ano passado a ACT notificou
um total de 5 mil empresas, relem-
brando-lhes que desde fevereiro de
2023 estavam obrigadas a cumprir a
lei de quotas para emprego de pessoas
com deficiência. Ao Expresso, Maria
Fernanda Campos, inspetora-geral
da ACT, realça que se trata apenas
de alertas a “empresas que cumprem
os requisitos formais para integrar
pessoas com deficiência”. E que as no-
tificações “não têm por base indícios
de incumprimento”, tanto mais que
“não foram ainda realizadas ações de
fiscalização nesta matéria”. Algo que
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
INSCRIÇÕES NOS CENTROS COLOCAÇÕES DE PESSOAS
DE EMPREGO AUMENTAM COM DEFICIÊNCIA ABAIXO
19,3% COM A LEI DE VALORES DE 2019
Pessoas com deficiência inscritas nos centros de Pessoas com deficiência colocadas em emprego
emprego, por tempo de inscrição através do IEFP
>12 meses 7955
8000 1550 1519
7000 1400
<12 meses 6388
6000 1250 remeteu para os dados disponíveis ciclo do ensino básico, embora a for-
no Instituto do Emprego e Formação mação superior tenha aumentado nos
5000 1100 Profissional (IEFP), mas estes abran- últimos anos.
gem apenas as pessoas com deficiên- Paula Pinto, coordenadora do
4000 950 cia inscritas nos centros de emprego. ODDH, destaca progressos na inte-
2015 16 17 18 19 20 21 22 2023* 2015 16 17 18 19 20 21 22 2023* E mesmo junto do IEFP, o Expresso gração de pessoas com deficiência,
conseguiu compilar apenas informa- mas reconhece que a aplicação da lei
NÚMERO DE INSCRITOS COM ENSINO SUPERIOR ção parcial. Quisemos saber o número poderá estar a fazer-se a um ritmo
AUMENTA 50,7% EM OITO ANOS de pessoas com deficiência colocadas inferior ao esperado e que tem “la-
Pessoas com deficiência inscritas nos centros de emprego, por nível de qualificação
através do IEFP entre 2010 e 2023 e cunas”. Embora os dados mostrem
Secundário 3º ciclo 2º ciclo 1º ciclo Nenhum Superior o número de pessoas com deficiência que em 2022 a taxa de emprego para
4000 (básico) (básico) (básico) nível instrução 4195 inscritas nos centros de emprego, com pessoas com deficiência – universo
3618 desagregação dos dados por tempo de total e não apenas aqueles com in-
3000 permanência em situação de desem- capacidade igual ou superior a 60%
prego, escalão etário, género, grau de – estava em Portugal acima da média
2000 2259 qualificação, bem como o número de dos países da União Europeia (com
1952
ofertas recebidas para estes trabalha- 58,7% e 50,3%, respetivamente), a
1000
1285
1034 dores entre 2010 e 2023. responsável do ODDH lança alguns
O IEFP limitou-se a disponibilizar sinais de alerta.
0 dados a partir de 2020, referindo que “Em 2021, apenas 0,6% do total de
2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 2023* “foram sinalizadas 2244 ofertas de em- trabalhadores das empresas com mais
prego em 2020, 4025 em 2021, 3664 de 10 funcionários eram pessoas com
ADULTOS COM MAIS PORTUGAL ACIMA em 2022 e 6016 em 2023” para pes- deficiência. Se estivermos a falar ape-
DE 25 ANOS SÃO A MAIORIA DA MÉDIA EUROPEIA soas com deficiência. No que respeita nas de pessoas com 60% ou mais de in-
DOS INSCRITOS NA EMPREGABILIDADE às colocações efetuadas no mesmo capacidade, a percentagem baixa para
Pessoas com deficiência inscritas Taxa de emprego de pessoas com deficiência,
nos centros de emprego, por idade em percentagem período (2020-2023) “foram preen- 0,5%”, aponta Paula Pinto, acrescen-
chidos 5472 postos de trabalho por tando que se trata de “uma prevalên-
>25 anos 12.870 58,7 pessoas com deficiência, através do cia muito abaixo do previsto”. Acresce
12.000 IEFP, concretamente 1031 em 2020, que, apesar de ter aumentado nos
1486 em 2021, 1436 em 2022 e 1519 últimos anos, o número de colocações
9000 50,3 em 2023”. registado através do IEFP em 2023
O instituto não fornece dados quanto (já com a lei em vigor e com o período
6000 à idade, género ou grau de qualificação de transição cumprido para muitas
dos inscritos. E no que toca ao tempo empresas) fica abaixo do registado em
3000 <25 anos 1473 de inscrição, restringe a informação 2019, ano da criação da lei.
aos inscritos há menos de um ano: E lança ainda outro sinal de alerta:
0 “cerca de 6300 pessoas em dezem- “os dados demonstram que a maioria
2015 16 17 18 19 20 21 22 2023* PORTUGAL MÉDIA UE bro de 2023”. Perante a insistência do das pessoas com deficiência integra-
*Dados para 2023 reportam apenas ao período Expresso em obter também os dados das pelas empresas tem 45 ou mais
entre janeiro e setembro, com exceção do gráfico Nota: Dados para Portugal processados pelo relativos aos inscritos há 12 ou mais anos”. Um contrassenso face ao con-
relativo às colocações, em que o IEFP forneceu ao projeto European Disability Expertise (EDE)
Expresso dados atualizados até dezembro meses, fonte oficial do IEFP respon- texto global do mercado: “As empre-
FONTE: RELATÓRIO DO OBSERVATÓRIO DA DEFICIÊNCIA E DIREITOS deu que aquela era “a informação con- sas tipicamente contratam jovens e,
HUMANOS COM BASE EM DADOS FORNECIDOS PELO IEFP FONTE: EU-SILC 2020 – VERSÃO ABRIL DE 2022 solidada disponível” na altura. Mas no caso das pessoas com deficiência,
os dados solicitados pelo Expresso a integração é de pessoas mais velhas.
a inspetora-geral confirma que deverá apontavam para o cumprimento de constam do mais recente relatório do Leva-nos a crer que são pessoas que já
acontecer assim que comecem a ser quotas entre 1% e 1,8%, ainda abaixo Observatório da Deficiência e Direitos estavam nas empresas e que em deter-
libertados dados que permitam fazer dos 2% que teriam de cumprir a partir Humanos (ODDH), relativo a 2023, e minado momento ficaram com uma
o cruzamento de informação. de fevereiro de 2023. foram fornecidos pelo próprio IEFP. incapacidade e a empresa reteve-os”,
Mas alguns indicadores já dão pistas Ainda que a informação não inclua explica. Ou seja, a contribuir para a
de que o caminho está a ser percorrido Sinais dúbios no mercado o último trimestre de 2023, é possí- estatística estará a retenção destes
pelas empresas lentamente. Um levan- vel perceber que em setembro do ano trabalhadores, mas não necessaria-
tamento realizado pelo Expresso aos Entre os organismos oficiais a quanti- passado estavam inscritas nos centros mente novas contratações “como é o
relatórios e contas das empresas que ficação também não parece ser fácil. de emprego 14.343 pessoas com de- espírito da lei”, realça.
compõem o PSI, o índice de referência O Expresso solicitou ao Ministério ficiência, e mais de metade (55,5%) A prova de fogo sobre o efeito práti-
da bolsa portuguesa, mostra que em do Trabalho (MTSSS) dados sobre o aguardavam colocação há 12 ou mais co da Lei 4/2019 será feita a partir de
2022 (últimos relatórios disponíveis) número de pessoas com deficiência meses. Os dados fornecidos ao ODDH abril deste ano, quando as empresas
sete faziam referência à lei de quotas integradas em empresas em Portugal, pelo IEFP mostram ainda que a esma- preencherem os relatórios únicos. É
para pessoas com deficiência, mas só entre os anos de 2010 e 2023, para gadora maioria dos inscritos (12.870) também disso que a ACT está à espera
quatro quantificam os seus progressos avaliar o impacto da lei e os avanços são jovens com mais de 25 anos, maio- para ir para o terreno fiscalizar e noti-
nesta matéria. A EDP Renováveis, Je- das empresas no seu cumprimento. O ritariamente com qualificações ao ní- ficar eventuais incumpridores.
rónimo Martins, NOS e Galp Energia ministério de Ana Mendes Godinho vel do ensino secundário ou terceiro cmateus@expresso.impresa.pt
Expresso, 16 de fevereiro de 2024 ECONOMIA 25

Lei nacional impõe quotas Uma lei, várias exceções

a travar a sua eficácia
de emprego para pessoas
com deficiência desde 2019
FOTO GETTY IMAGES

Empresas podem ser
dispensadas de cumprir
quota se fizerem prova
de que não encontraram
candidatos compatíveis
Positiva, mas com zonas cin-
zentas que podem limitar a
sua eficácia. É desta forma que
recrutadores e advogados ava-
liam a Lei nº 4/2019, que veio
impor quotas para integração
de pessoas com deficiência
em empresas com 75 ou mais
trabalhadores. Os processos
de recrutamento são demora-
dos e muitas vezes terminam
em nada. E as exceções pre-
vistas na lei fazem com que,
no entanto, o cumprimento de
quotas não se traduza numa
verdadeira criação de postos
de trabalho.
No ano passado a consultora
Michael Page criou uma área
de recrutamento autónoma
dedicada ao recrutamento de
pessoas com deficiência, a Abi-
lity. Pedro Reis, atleta de alto
rendimento na modalidade de
vela adaptada, lidera a unida-
de, conhece as dificuldades de
quem procura emprego com
uma incapacidade e refere que
a lei é um bom ponto de parti-
da, mas “deve ser melhorada”.
“Temos na nossa base de
dados cerca de 400 pessoas
com deficiência, 260 estão de-
sempregadas e à procura de
emprego. Ofertas ativas temos
12”, explica ao Expresso, acres-
centando que “estes processos
de recrutamento muitas vezes
prolongam-se durante meses
e às vezes terminam com as
empresas a alegar que não en-
contraram candidatos com as
competências necessárias para
a função”.
Exceções à regra
Segundo Pedro Reis, “a lei pre-
vê que uma empresa que abra
um processo de recrutamento
cumpra todas as etapas, entre-
vistando vários candidatos, e
Lei não exclui postos de
trabalho incompatíveis
com desempenho
por pessoa com
deficiência do cálculo
da quota a cumprir
quando acabe por não contra-
tar possa alegar perante a Au-
toridade para as Condições de
Trabalho (ACT) a ausência de
candidatos com as competên-
cias certas para a vaga, justi-
ficando o incumprimento da
quota”.
Susana Afonso, sócia de di-
reito do trabalho e fundos de
pensões da sociedade CMS Por-
tugal, confirma o problema e
acrescenta outras fragilidades
da lei: “Parte de um pressuposto,
a meu ver, errado, que é o de que
as empresas estão sempre em
processo de recrutamento”. E
acrescenta o desequilíbrio ge-
rado pela não exclusão dos pos-
tos de trabalho incompatíveis
no cálculo da quota a cumprir.
Exemplo: uma empresa com
dois mil trabalhadores teria de
cumprir uma quota mínima de
40 contratações. Se, dos dois
mil postos de trabalho, em 1900
a função não fosse compatível
com alguém com incapacidade,
restariam 100, e 40 teriam, na
mesma, de ser ocupados por pes-
soas com um grau de deficiência
superior a 60%. Mas se for uma
empresa com 100 trabalhado-
res, todos eles compatíveis, só
um posto de trabalho é que teria
de ser preenchido. “Há aqui um
claro desequilíbrio quando não
se exclui para a contabilização
da percentagem os postos de
trabalho incompatíveis.”
E alerta que “uma empresa
pode ter já ao seu serviço pes-
soas com grau de deficiência
superior a 60% e não ter co-
nhecimento”. A lei não obriga
a comunicação ao empregador.
Assim, a empresa “poderá es-
tar, alegadamente, em incum-
primento, mesmo tendo no seu
quadro de pessoal pessoas que
poderiam preencher a quota”.
A advogada antecipa que “várias
empresas venham a ser notifi-
cadas pela ACT por não terem
cumprido”. Resta saber, diz, “se
se lhes aplica alguma das exce-
ções previstas na lei”.

Talent Acquisition Solutions

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26 ECONOMIA Expresso, 16 de fevereiro de 2024

RESPONSÁVEL COMERCIAL E DE PRESCRIÇÃO

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RESPONSÁVEL DE OPERAÇÕES com mais de 20 lojas de norte a sul do país. Os 27 anos de experiência da Veigas Portugal tra-
duzem-se num crescimento contínuo e sustentado.

ÁREA DE RESTAURAÇÃO Na Veigas Imobiliária, asseguramos um investimento inicial baixo, oferecendo todo o apoio e
consultoria necessário até à abertura da sua agência. Não exigimos direito de entrada para iniciar
a sua própria agência, ao contrário de outros modelos de negócio no mercado imobiliário, que
frequentemente têm custos iniciais muito elevados.
O/a profissional a admitir terá como principais responsabilida-
des gerir e supervisionar as operações diárias das unidades de Este modelo de negócio único da Veigas oferece mais do que uma simples oportunidade para
empreender; proporciona um caminho seguro para alcançar o sucesso empresarial.
restauração da Empresa. Deverá desenvolver e implementar
estratégias operacionais, que impulsionem o crescimento e Garantimos não apenas um investimento inicial baixo mas também uma rentabilidade impres-
sionante de até 90%.
a rentabilidade das Unidades, supervisionar e aperfeiçoar os
VANTAGENS EM SER UM EMPREENDEDOR VEIGAS:
processos internos e gerir as equipas de trabalho. • Investimento rentável
• Reconhecida Imagem de marca
Requisitos: • Experiência e Know-How da Veigas
• Formação constante e atualizada
– Formação superior em Gestão, Turismo ou outra compatí- • Apoio no arranque e na continuação do negócio
• Parcerias com as mais variadas instituições bancárias
vel com a função a desempenhar; • Sistema de gestão de imóveis em rede
– Experiência comprovada na função ou em funções similares; • Oportunidade de usufruir de um modelo de gestão com êxito
• Larga experiência na mediação imobiliária
– Conhecimentos/habilidades comprovadas na área de ges-
tão; SERVIÇOS DE APOIO:
• Departamento de Crédito à Habitação
– Experiência em funções de liderança e de gestão de equipas; • Departamento de RH
– Bons conhecimentos da língua inglesa; • Apoio jurídico
• Instituto de Formação Veigas
– Bons conhecimentos de informática, particularmente do • Departamento de Marketing
• Departamento Financeiro
Microsoft Excel; • Mediação Imobiliária
– Boas competências de organização, planeamento e mé- • Gestão de Arrendamentos
• Certificação energética
todo; • Parcerias com várias entidades bancárias
– Foco nos resultados e orientação para o cliente;
O QUE VOCÊ PRECISA PARA SER UM EMPREENDEDOR VEIGAS?
– Carta de condução de ligeiros; • Transparência e seriedade
– Flexibilidade de horários. • Responsabilidade
• Espírito empreendedor
• Espírito de equipa
Integração numa Organização de elevada notoriedade. Opor- • Habilidades de gestão e liderança de equipas
• Habilidade de Comunicação e Negociação
tunidade de desenvolvimento de carreira e de valorização pro- • Ambição de alcançar e superar metas profissionais
fissional. • Motivação

Se pretender saber um pouco mais sobre este negócio e como se tornar um dos nossos repre-
Envio de CV com a referência da função para sentantes comerciais, entre em contacto connosco através do site: www.expressoemprego.pt.

info@goep.pt Junte-se a nós!

Expresso, 16 de fevereiro de 2024
TÉCNICO DE SEGURANÇA
NO TRABALHO
(m/f)
Lisboa
Unidade industrial localizada na área da Grande Lisboa, que se dedica à pro-
dução de dispositivos médicos, necessita de um(a) Técnico(a) de Segurança no
Trabalho para entrada imediata.
Funções:
• Aplicar os instrumentos, metodologias e técnicas específicas para o
desenvolvimento das atividades de prevenção e proteção contra os riscos
profissionais;
• Respeitar os prazos de entrega da documentação SHT, obrigatórios por lei;
• Avaliar e assegurar a implementação de ações corretivas e preventivas
das não conformidades detetadas e controlar a eficácia das ações corre-
tivas e preventivas definidas;
• Identificar ações de melhoria contínua;
• Participar em auditorias;
• Colaborar nos processos de informação e formação dos trabalhadores e
demais intervenientes nos locais de trabalho;
• Analisar e investigar acidentes de trabalho e efetuar o respetivo acompa-
nhamento de medidas de correção e implementação;
• Desenvolver e manter atualizados os indicadores diversos SHT e elaborar
relatórios diversos;
• Manter atualizados os registos de acidentes, resíduos produzidos, fichas
de segurança, distribuição de EPI.
Requisitos:
• Qualificação mínima ao nível do 12.º ano de escolaridade;
• Certificação válida (nível IV ou VI) em segurança no trabalho;
• Conhecimentos de Microsoft Office;
• Bons conhecimentos de Inglês;
• Excelente capacidade de comunicação e de relacionamento interpessoal;
• Ótima capacidade de gestão de tempo e prioridades;
• Elevado sentido de responsabilidade.
Oferecemos:
• Vencimento de acordo com o perfil apresentado;
• Estabilidade de emprego;
• Reais possibilidades de carreira em empresa internacional;
• Formação adequada às funções a exercer.
Se preenche os requisitos, envie o seu CV (em português e em inglês) para o
seguinte email: recrutamento@codanportugal.pt
CONTABILISTA (m/f)
A Edgeway presta serviços de contabilidade, fiscalidade, gestão financeira e candi-
daturas a sistemas de incentivos financeiros e fiscais a grupos multinacionais que
operam em diversos sectores de atividade.
Pretendemos reforçar o nosso quadro de pessoal na área da Contabilidade, Fiscali-
dade e Incentivos com um Contabilista para a equipa de Lisboa, Saldanha.
FUNÇÕES
• Acompanhamento de carteira de clientes;
• Assegurar e verificar os registos contabilísticos;
• Realizar os procedimentos de fecho contabilístico mensal e anual;
• Preparação e entrega das declarações fiscais e controlo das obrigações fiscais;
• Preparação e análise de informação económico-financeira de suporte à gestão;
• Outras tarefas inerentes à função.
PERFIL
• Licenciatura ou Mestrado em Contabilidade, Finanças ou Gestão;
• Bons conhecimentos de Contabilidade e Fiscalidade;
• Experiência em software de contabilidade (preferencialmente Primavera);
• Domínio do Excel e utilização de ferramentas Office;
• Mínimo dois anos de experiência em funções semelhantes;
• Inscrição na Ordem dos Contabilistas Certificados (facultativa);
• Bom domínio do inglês falado e escrito;
• Boa capacidade de comunicação e relacionamento interpessoal;
• Capacidade de gestão do tempo e cumprimento de prazos;
• Forte capacidade de organização e analítica;
• Interesse pela aprendizagem contínua, investigação e resolução de questões;
• Sentido de responsabilidade, rigor e proatividade;
• Espírito de equipa.
OFERTA
• Proporciona-se integração num projeto ambicioso em crescimento;
• Formação contínua;
• Package salarial adequado às aptidões e experiência evidenciada;
• Local de trabalho: Lisboa, Saldanha.
Contacto e referência
Os/As candidatos/as interessados/as devem enviar candidatura e Curriculum Vitae
para recrutamento@edgeway.pt, indicando a referência Contabilista.
ECONOMIA 27
APFF – Administração do Porto da Figueira da Foz, S.A.
ADMISSÃO DE TÉCNICO SUPERIOR
ENGENHARIA CIVIL
(m/f)
(Ref.ª B-1-35)
Requisitos obrigatórios: Os constantes do Decreto-Lei n.º 421/99, de 21 de
outubro, designadamente:
Licenciatura ou Mestrado em Engenharia Civil;
Carta de Condução de Veículos Ligeiros;
Inexistência de impedimento legal;
Aptidão psicofísica a que se refere a alínea c) do artigo 6.º do Decreto-Lei n.º
421/99, de 21 de outubro.
A falta de requisitos obrigatórios implica a exclusão do concurso.
Requisitos preferenciais:
Experiência de 5 anos na área de projeto/fiscalização;
Conhecimentos de contratação pública
Bons conhecimentos de informática na ótica do utilizador
Capacidade analítica e de organização
Facilidade de relacionamento
Flexibilidade e Dinamismo
Capacidade de expressão escrita, bem como compreensão e fluência verbal elevadas
Em caso de empate, será dada preferência aos candidatos titulares de atesta-
do médico de incapacidade multiuso que avalie incapacidade igual ou superior a
60%, ao sexo menos representado na carreira, seguido da ordenação crescente
de idade.
O método de seleção a adotar será constituído por avaliação curricular, sendo com-
plementado por entrevista, aos/às candidatos/as melhor classificados/as.
O/A candidato/a selecionado/a para contratação será submetido/a a Exame Médico,
com carácter eliminatório.
A candidatura deverá ser formalizada, até ao dia 3 de março de 2024, para o se-
guinte e-mail: recursoshumanos@portodeaveiro.pt
acompanhada de Curriculum Vitae, devidamente detalhado, anexando cópia de Cer-
tificado de Habilitações.
Para mais informações, consultar www.portofigueiradafoz.pt.
Apenas serão consideradas as candidaturas que cumpram os requisitos do
presente Anúncio e contenham os comprovativos requeridos.
A nossa missão é proporcionar experiências inesquecíveis na degustação dos nos-
sos produtos, em especial cafés e vinhos, garantindo um serviço de excelência,
satisfazendo as expetativas dos nossos clientes e proporcionando uma gestão sus-
tentável.
No grupo promovemos uma cultura de partilha e transparência no trabalho porque
acreditamos que assim atingimos melhores resultados. Construímos o futuro, po-
mos foco nos resultados e lideramos pelo exemplo.
Estamos à procura para reforço da nossa equipa:
TÉCNICO DE VENDAS BEBIDAS
(m/f)
Principais Responsabilidades:
– Gestão de carteira de clientes e cumprimento de rota de visitas;
– Captação de novos clientes;
– Recebimento de encomendas e negociação de condições;
– Prospeção de mercado e agendamento de reuniões com clientes;
– Promover a fidelização e o relacionamento comercial personalizado;
– Apresentação de novos produtos;
– Realização de degustações e apresentações/provas de vinhos em clientes;
– Serviços administrativos e logísticos derivados da gestão comercial.
Perfil do candidato:
– 12.º ano de escolaridade ou formação superior;
– Experiência consolidada no setor comercial (preferencialmente no canal Horeca);
– Excelente capacidade de negociação, forte apetência comercial, boa capacidade
de negociação, argumentação e motivação;
– Gosto pela prospeção de novos clientes e mercados-alvo;
– Dinâmico/a, persistente e capaz de trabalhar por objetivos;
– Residência preferencial na Grande Lisboa (Margem Norte).
Oferece-se:
– Oferece-se integração em Empresa sólida e dinâmica;
– Remuneração compatível com as funções a exercer;
– Oportunidades de crescimento através de formação inicial e contínua;
– Plano de benefícios praticado na empresa.
Agradecemos o envio de Curriculum Vitae, com a indicação da Ref.ª Co-
mercial Bebidas Lisboa, para Grupo JMV – Direção de Gestão de Pessoas,
através do e-mail recrutamento@jmv.pt
28 ECONOMIA
OPINIÃO
Visão 360
Raúl Neto
A arte do
equilibrismo
H
oje num mercado de
trabalho caracterizado
por uma grande ampli-
tude geracional, feito
de profissionais cada vez mais
críticos, mais cientes do que
querem para a sua vida profis-
sional e mais preocupados com
o seu bem-estar, ser líder é ser
um acrobata a tentar equilibrar
dois mundos que antes já esti-
veram tão distantes e que hoje
estão interligados: o mundo
pessoal e o mundo profissional.
O que é certo é que as prio-
ridades dos profissionais mu-
daram. Tal é especialmente
marcante quando vemos que
o work-life balance ganha uma
importância ainda maior do
que a remuneração, com 97%
dos profissionais portugueses
a identificar o equilíbrio entre
a vida pessoal e profissional
como o fator mais importante,
segundo os dados do Work-
monitor 2024 da Randstad re-
centemente publicado, o que
representa uma profunda mu-
dança de paradigma no mer-
cado de trabalho e no que era
considerado como higiénico e
primário.
Ser líder é ser um
acrobata a tentar
equilibrar dois
mundos que antes
já estiveram tão
distantes e que hoje
estão interligados:
o mundo pessoal
e o mundo
profissional
E com isso, o tema de retenção
e atração de talento ganha uma
nova dimensão, face à intangi-
bilidade desse equilíbrio, ape-
lando à criatividade na procura
de soluções. O “eu” é predomi-
nante na esfera profissional,
na valorização da flexibilidade
como veículo para manter a
conciliação, na preocupação
com o desenvolvimento de
competências para assegurar
a sua relevância no futuro, ou
inclusive na afirmação de que
o bem-estar se sobrepõe a uma
promoção de carreira. E sem
alterar o grau de compromisso
perante a profissão ou as orga-
nizações. Tão somente é uma
nova priorização, o que signi-
fica que será sempre mais rele-
vante em termos de incentivo e
reconhecimento.
No fundo, trata-se de conse-
guir equilibrar a balança cujos
pratos onde se colocam os ní-
veis profissional e pessoal se
balanceiam de forma muito
aproximada. A arte do equili-
brismo que é agora exigida às
lideranças na gestão das suas
pessoas, como ouvem e inter-
pretam o que lhes é pedido, e
como alinham com as necessi-
dades das suas organizações,
assume maior relevância, o
que é uma excelente oportu-
nidade para poder elevar os
níveis de motivação, profun-
damente correlacionados com
a produtividade desses profis-
sionais, sendo o garante para
o sucesso.
Diretor-geral
da Randstad Portugal
PESSOAS
Jordi Cassany 31 anos, diretor-geral da In-Store Media Portugal
Consumidores querem
identificar-se com marcas
FORMAÇÃO
Administração e
Direção de Empresas
pela Universidad de
Navarra e Executive
MBA pelo IESE
AMBIÇÃO DE
CARREIRA
“Aprender e
crescer num
contexto
saudável no
qual cada um
possa desfrutar
do trabalho
que faço”
HOBBIES
“Futebol, com o
Girona no
primeiro lugar da
liga espanhola!”
Ana Sofia Santos
É cada vez mais difícil ligar os
consumidores às marcas e para
cativar os portugueses há que
ter em conta que valorizam a
qualidade e a autenticidade,
“mostrando preferência por
produtos que combinam tradi-
ção e inovação”, revela o espa-
nhol Jordi Cassany, que acaba
de assumir funções de diretor-
-geral da In-Store Media Portu-
gal, uma empresa especializada
em comunicação e marketing
para o sector do retalho.
“Cada vez mais, o consu-
midor procura que a marca
represente os valores em que
acredita, o que exige um es-
forço adicional para construir
relações genuínas e compro-
missos de longo prazo”, explica
o gestor, sublinhando que “o
ambiente digital fragmentou
DICAS O QUE TEM DE ANALISAR NUMA CARREIRA INTERNACIONAL
Há muitos profissionais que
anualmente deixam o país
em busca de oportunidades
de carreira mais aliciantes.
A decisão tem muitas
vezes por base a ambição
de um aumento salarial
significativo e melhores
condições de vida. Mas
para as novas gerações de
trabalhadores esse está
longe de ser o único critério
a sustentar a vontade de
emigrar. Mais do que um
bom salário, valoriza-se
a exposição a contextos
laborais mais competitivos,
que ampliam as hipóteses de
uma progressão mais célere.
Tome nota do que deve
analisar numa proposta de
trabalho fora do seu país.
os canais de comunicação, exi- O mais difícil na conceção da
gindo estratégias mais sofis- publicidade para o sector do
ticadas e personalizadas”. So- retalho é ser “eficaz e ter uma
bre os consumidores nacionais mensagem que se destaca e
diz que existe “uma crescente convence o consumidor no mo-
consciência sobre a sustenta- mento da decisão de compra”,
bilidade e o impacto ambien- revela o gestor, que é natural
tal dos produtos”. Além dis- de Girona, sinalizando que o
so, segundo Jordi Cassany, os objetivo é proporcionar uma
portugueses “são sensíveis ao boa experiência de compra seja
preço, mas dispostos a pagar numa loja online ou física.
mais por produtos que perce- A In-Store Media trabalha
bem como superiores ou que com marcas de consumo,
estão alinhados com os seus eletrónica, lar, beleza ou
valores pessoais”. perfumaria e, adianta Jordi
Cassany, em 2024, está a tra-
balhar muito perto de clientes
“Os portugueses “que, sem presença no ponto
de venda, confiam na nossa
são sensíveis ao gestão”, como companhias
preço, mas dispostos aéreas, seguradoras, bancos
a pagar mais por ou plataformas de conteúdo
visual (que fornecem serviços
produtos que de vídeo ou fotografia). A em-
valorizam” presa foi fundada em Espanha
em 1998 e, além de Portugal e
1 ANALISE OS REQUISITOS
O QUE SUSTENTA A SUA DECISÃO?
A primeira pergunta a que deve responder é o que o leva a
ponderar sair do país para trabalhar. Procura melhor salário,
crescimento profissional ou enriquecer o currículo?
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
LEMA
“Imagina o
quanto nos
riremos se isto
correr bem!”
PERCURSO
Mais de seis anos na
área de estratégia
em empresas
multinacionais como
a EY e a Coca-Cola,
seguido deste
desafio na In-Store
Media, primeiro em
Espanha e agora em
Portugal
ÚLTIMAS
LEITURAS
“As Lições
de Peter F.
Drucker”, de
P.F. Drucker
do país vizinho, tem presença
em França, Polónia, México,
Argentina, Chile e Filipinas.
O mercado publicitário em
Portugal “manteve-se pruden-
te” durante o primeiro semestre
de 2023, indica o diretor-geral
e isso foi “uma oportunidade”
para a In-Store Media apostar
no “investimento em espaços
digitais dentro do retalhista”.
A adoção de circuitos digitais
permitiu fechar o ano passado
“com grandes resultados”, re-
fere Jordi Cassany, sem revelar
números. Este ano a empresa
pretende continuar a levar ino-
vação aos pontos de venda para
fazer crescer uma rede que “já
conta com mais de 2 mil ecrãs”
e ganhar mais clientes retalhis-
tas. O objetivo é dar aos clientes
soluções de comunicação que
abarquem todos os pontos de
contacto com o consumidor.
assantos@expresso.impresa.pt
2 requisitos formais que os
A ESCOLHA DO DESTINO
Consoante o propósito e os
objetivos profissionais que tem
definidos, eleja um conjunto de
destinos possíveis. Por
exemplo, se o seu foco é
crescer na área financeira, o
Reino Unido é um destino
relevante, enquanto nas
tecnologias os Estados Unidos
continuam a ser uma ambição.
Tente perceber como se
adaptaria à cultura e hábitos
de cada país.
3 em conta não apenas o custo
Uma vez identificados os
destinos possíveis, deve
recolher o maior número de
elementos possível sobre os
Lourenço
Mayer
> Licenciado
em Gestão
e mestre em
Finanças pela
Nova SBE
> Deixou a ECS
Capital
Foi escolhido pela Lince
Capital, sociedade de capital
de risco portuguesa, para
liderar o fundo Growth Fund
I — em processo de captação
de investidores até setembro
de 2025, com um montante
inicial de subscrição de €20
milhões —, que irá investir em
PME portuguesas do sector
industrial e da economia cir-
cular, informa em comunicado
a empresa. Lourenço Mayer
tem experiência em private
equity (investimento priva-
do) e antes desta nomeação
teve diversas funções na ECS
Capital. Também passou pela
KPMG Portugal, onde partici-
pou em projetos nas áreas de
M&A (fusões e aquisições) e
de reestruturação financeira.
Cláudia Ferreira
> Formada
em Relações
Públicas e
em Recursos
Humanos
> 13 anos na
Novartis
Assumiu a função de diretora
de pessoas e organização na
Novartis Portugal, onde traba-
lha há 13 anos. Com formação
em Relações Públicas e uma
pós-graduação em Recursos
Humanos, Cláudia Ferreira
tem estado ligada à transfor-
mação organizacional e à ges-
tão da mudança, mas também
ao coaching, remuneração e
benefícios, gestão de talentos e
relações laborais.
Javier Álvarez Ballespín
É o novo diretor-geral para
Portugal e Espanha da BAT
— British American Tobacco,
substituindo Juan José Marco,
que passa a diretor de assuntos
públicos e relações institucio-
nais da empresa para a Euro-
pa Ocidental. Javier Álvarez
Ballespín era diretor-geral da
BAT para a Bélgica, Luxembur-
go e Países Baixos.
Assunção Cristas
e Miguel Ventura
Assunção Cristas integrou o
colégio de sócios da Vieira de
Almeida, depois de ter sido
responsável pela plataforma
de serviços integrados ESG
(áreas ambiental, social e de
governança) como conselheira
(of counsel). Miguel Ventura é
nomeado conselheiro e respon-
sável pela área de governança.
trabalhadores estrangeiros
estão obrigados a cumprir,
como sejam os vistos (e o seu
custo), seguros de saúde
específicos e outras normas.
4
AVALIE O SALÁRIO
Antes de tomar uma decisão
formal deve avaliar a proposta
salarial que tem em mãos (se
for caso disso) ou aferir a
média salarial do país para um
profissional nas suas
condições. E deve fazê-lo tendo
de vida local, os encargos com
habitação, mas também o
sistema fiscal em vigor. Só
assim perceberá se de facto
compensa a mudança.
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
OPINIÃO
Nas contas do que comemos:
os fatores de produção em evidência
Mesa sem pão
é mesa de vilão
Jaime Piçarra
S
em pão, não há razão. Sem
pão, a liberdade e a cultura
deixam de orientar esco-
lhas. Enquanto se apro-
xima a data das eleições
legislativas, façamos uma
reflexão sobre a nossa ca-
pacidade para tomar decisões, supos-
tamente, em liberdade.
Será que a temos se não tivermos
pão? Coloquemos alguns fatores em
evidência.
Acesso e disponibilidade de maté-
rias-primas: verificam-se disrupções
importantes. Primeiro, a pandemia
afetou a produção e depois o transpor-
te das mercadorias. Seguiu-se a invasão
da Ucrânia pela Rússia, um ataque ao
celeiro da Europa. Mais recentemente,
o intensificar dos conflitos no Médio
Oriente e a instabilidade no mar Ver-
melho colocam em causa 12% do co-
mércio mundial. Sendo o tráfego des-
viado para o cabo da Boa Esperança,
aumenta-se a distância dos trajetos, a
demora, os custos nas tarifas e os segu-
ros. O custo por contentor aumentou
entre €4570 e €7312, o que representa
duas a cinco vezes mais do que é nor-
mal para o início do ano. Felizmente,
as chamadas “vias de solidariedade”,
criadas pela União Europeia, permiti-
ram ultrapassar as limitações criadas
pelo fim do Acordo do Mar Negro, mas
os riscos continuam presentes.
A meteorologia: alterações climáti-
cas, de forma genérica, a nível mun-
dial. Consequência imediata no nosso
país é a limitação no uso da água para
os agricultores do Algarve e, natural-
mente, o agravamento dos preços no
As empresas que se tornam parceiras do CERN aumentam a sua capacidade de inovação e consolidam a sua cadeia de valor
O CERN, a ciência e o futuro
António Costa Silva
V
isitei na companhia da ministra
da Ciência e de responsáveis de
organismos públicos o CERN,
em Genebra, que é uma das
maiores máquinas de Ciência do mun-
do. É uma referência na área da física
das partículas, na física de alta energia,
na física médica, no estudo do Big Bang
e do espaço, na eletrónica e hardware e
nas ciências da computação.
No CERN compreendemos que o
Universo funciona com grande pre-
cisão e a composição dita a sua evo-
lução. A expansão do Universo é um
facto. O espaço é uma entidade em
evolução. Aprendemos que há per-
guntas que exigem mais investigação:
o Universo é infinito? Qual é o seu ta-
manho? Não sabemos. O que sabemos
é que o Universo tem 13.800 milhões
de anos de idade, que a Terra se for-
mou 9300 milhões de anos depois do
Big Bang e que a nossa galáxia, a Via
Láctea, é apenas um grão de poeira
no cosmos.
O CERN tem um modelo de gestão
que assenta numa cultura de abertura
e partilha em que relações simbióticas
entre instituições e cientistas produ-
zem o conhecimento como recurso.
A aposta é na flexibilidade, na gestão
própria das equipas de investigação, na
motivação e foco que funcionam de bai-
xo para cima e não estão submetidas a
lógicas hierárquicas rígidas. Isto cria
uma arquitetura da inovação focada
na resolução criativa de problemas
consumidor, seja porque é necessário
pagar mais para encontrar soluções
que permitam produzir com menos
água ou pela diminuição da oferta, que,
naturalmente, leva ao mesmo ocaso.
Aparentemente, a água estará na agen-
da europeia com o plano Rewater, mas
é sobretudo um problema que respeita,
para já, aos países do Sul.
Política, diplomacia e os compro-
missos internacionais: as conclusões
da COP 28 e o compromisso assumi-
do para a diminuição da utilização de
combustíveis fósseis. Este compro-
misso tem consequências nas relações
com os EUA, BRICS e membros do
Mercosul, países que devem alinhar-se
com os objetivos ambientais da UE e
os inerentes investimentos, sob pena
de ser o consumidor europeu a pagar
uma transição nos modos de produção
para a qual não tem capacidade e que,
sendo realistas, não produzirá efeitos
práticos para o planeta se a UE a fizer
sozinha. Além disso, eleições europeias
e presidenciais nos Estados Unidos. As
presidenciais nos EUA têm o potencial
de espoletar consequências imprevisí-
veis nos alinhamentos geoestratégicos
mundiais e na Europa corre-se o risco
de uma paralisação nos próximos me-
ses devido ao período de campanha
eleitoral, que decorrerá até junho, e
à posterior constituição de um novo
Parlamento e uma nova Comissão até
final do ano. Há ainda a fragilidade
das Nações Unidas, que se manifesta
na ausência de impacto político e eco-
nómico da Organização Mundial do
Comércio. No seu conjunto, estas situ-
ações significam desinvestimento dos
agricultores europeus, desencanto e,
provavelmente, desvantagens comer-
ciais face a outros blocos geográficos.
agregando grandes projetos, máquinas
e laboratórios. Este modelo tem feito o
seu caminho não só na física das par-
tículas, mas também na astronomia e
nas ciências da vida.
Os resultados são notáveis. Foi do
CERN que saiu a invenção da inter-
net com o trabalho pioneiro de Tim
Berners-Lee. Foi do CERN que saiu a
primeira prova da existência da anti-
matéria. Foi do CERN que saiu a des-
coberta do Bosão de Higgs, a chamada
“partícula de Deus”, que confere massa
às partículas elementares. É no CERN
que está instalado o maior acelerador
de partículas do mundo, o LHC.
É no CERN que se estuda o compor-
tamento de átomos híbridos compos-
tos por matéria e antimatéria e a possi-
bilidade de os usar noutras aplicações.
É no CERN que se fazem experiências
de colisão de partículas em ambientes
de alta energia e temperatura que pro-
curam reproduzir os instantes iniciais
do Universo e compreender de onde
viemos e para onde vamos. É no CERN
que se procura testar a teoria das in-
terações fortes, que têm lugar a altas
temperaturas e densidades em que as
colisões de iões pesados criam um plas-
ma de quarks e gluões, que os cientistas
acreditam ser o estado da matéria que
existia no início do Universo. Depois
da descoberta do Bosão de Higgs o
estudo da sua interação revelou o seu
decaimento em partículas invisíveis,
que podem ser um dos constituintes da
matéria escura. Isto abre caminho para
a compreensão de um dos maiores
segredos do Universo.
O mundo rural sente-se
desvalorizado. São
evidentes as ameaças
à produção e é bem
verdadeira uma das
frases de protesto,
“se o campo não planta,
a cidade não come”
Os agricultores: assiste-se, da par-
te dos países vizinhos da Ucrânia, a
continuadas manifestações de agri-
cultores contra os impactos das ex-
portações deste país no escoamento
dos seus produtos nacionais. A estes
juntam-se as manifestações de agri-
O paradoxo da ciência é que as ex-
plicações existentes, em particular do
modelo padrão da Física das partícu-
las, aplicam-se apenas a 5% do univer-
so, os átomos e partículas que conhe-
cemos. Mas ficam 95% por explicar e
isso tem a ver com a matéria escura e
a energia escura.
Tudo começou com a intuição de lor-
de Kelvin, quando em 1884 reparou
que a quantidade de massa necessária
para justificar a rotação da Galáxia
era muito superior à massa conhecida
das estrelas. Concluiu que a maioria
das estrelas era escura e que não eram
vistas. Continuamos em busca da ener-
gia escura, que preenche o vácuo do
espaço. Sabemos que o Universo está
em expansão acelerada. Isto significa
que o espaço é portador de uma enor-
A formação numa
das instituições
científicas mais avançadas
é um elemento central
na afirmação
do conhecimento
como motor da ciência
e da economia
FOTO GETTY IMAGES
cultores alemães contra o fim dos
subsídios à produção, em França e em
Espanha contra a limitação do uso de
pesticidas na UE, que são, por sua vez,
permitidos em países terceiros, e em
Portugal contra tudo isto e também
contra as reduções dos montantes dos
apoios à produção, designadamente
nos regimes ecológicos. Na realidade,
todos se manifestam contra tudo. O
mundo rural sente-se desvalorizado.
São evidentes as ameaças à produção
com o “garrote” legislativo com que
se confronta e é bem verdadeira uma
das frases de protesto, “se o campo
não planta, a cidade não come”. Para
já, os recuos de Bruxelas em relação
a algumas metas ambientais devem
ser entendidos como um travão a mo-
vimentos extremistas, apesar de o
bom senso nos continuar a dizer que
me densidade de energia que provoca
uma gigantesca pressão que expande
o universo. Esta densidade de energia
é expressa pela constante cosmológica
de Einstein que afinal parece não ser
um erro, como ele pensava, mas tem
um significado profundo e permite
quantificar a aceleração cósmica.
Uma visita ao CERN proporciona
debates interessantes com os cientis-
tas que estão a desvendar os segredos
do Universo. Mas serve também para
compreender que o CERN está a con-
tribuir para as ciências da saúde com o
papel das colisões de protões nas tera-
pias revolucionárias para o tratamento
do cancro. O trabalho do CERN está a
ter impacto nas novas tecnologias para
a mobilidade sustentável com a utili-
zação de magnetos supercondutores
para os novos aviões. É também im-
portante a contribuição do CERN para
o combate às alterações climáticas,
em particular para a compreensão da
génese e do crescimento dos aerossóis
e da sua interação com as nuvens, o
que aumenta a fiabilidade dos modelos
climáticos globais.
Para Portugal, a colaboração com o
CERN é compensadora. Portugal tem
60 funcionários no CERN, 38 fellows, 11
estudantes, 41 associados e 111 utilizado-
res. A formação numa das instituições
científicas mais avançadas do mundo
é benéfica para o país e é um elemento
central na afirmação do conhecimento
como motor da ciência e da economia.
O CERN faculta teses de doutoramento,
mestrados e estágios, e a participação
portuguesa em múltiplas experiências.
ECONOMIA 29
é possível compatibilizar agricultura
e ambiente.
O Governo de Portugal e os compro-
missos nacionais: apesar das medidas
incluídas no Plano Estratégico da PAC,
no Plano de Recuperação e Resiliência
e na Agenda Terra Futura, que, grosso
modo, apresentam apoios direcionados
à transição dos modos de produção para
uma atividade ambientalmente mais
responsável, não existem medidas ro-
bustas que compensem os agricultores
pela transição que todos desejam, mas
que exige investimentos estruturais.
Mais apoios e subsídios permitirão
resolver as tensões?
Certamente que sim, mas há um pro-
blema de fundo na UE: a incapacidade
para exigir às importações de países
terceiros as mesmas regras impostas
às explorações europeias. Mais apoios
minimizam o impacto de uma inflação
ainda alta e de um PIB em desacelera-
ção, contudo não bastam. Em Portu-
gal é urgente fazer da alimentação um
tema de governação. O sector requer
este reconhecimento. A atividade dos
agricultores e da indústria agroalimen-
tar resulta em produtos essenciais ao
ser humano, mas essa atividade é cada
vez mais diabolizada, promovendo o
abandono e a desertificação. Sem ela,
os alimentos encarecem e escasseiam.
Diz o ditado que “mesa sem pão é
mesa de vilão”. Não é difícil adivinhar
que o prenúncio de fome, no incerto
mundo atual, venha a ser mais um fator
de desgaste da nossa, ainda coesa, socie-
dade civil. É também isto que está em
jogo no dia 10 de março.
Secretário-geral da IACA — Associação
Portuguesa dos Industriais de Alimentos
Compostos para Animais
Essa participação é coordenada pelo
LIP, o laboratório de Instrumentação
e Física Experimental fundado pelo
professor José Mariano Gago e que tem
polos em Lisboa, no IST, e nas Universi-
dades do Minho e de Coimbra.
Portugal tem 54 contratos ativos e
207 fornecedores registados na plata-
forma do CERN. Há várias empresas
portuguesas que colaboram com o
CERN em áreas como a metalomecâ-
nica, a fabricação de máquinas e equi-
pamentos, a construção, a eletrónica,
o software. Esta colaboração é impor-
tante porque a experiência mostra que
as empresas que se tornam parceiras
do CERN aumentam a sua capacidade
de inovação e consolidam a sua cadeia
de valor. Este fator é importante para
aumentar a competitividade da econo-
mia portuguesa.
Numa altura em que estamos a exe-
cutar em Portugal o PRR e verifica-
mos que tudo aquilo que projetamos e
desenhamos está a acontecer no chão
de fábrica, nas empresas, no sistema
científico e tecnológico, mormente
com a execução das agendas mobiliza-
doras e do seu efeito transformador na
economia, é importante enfatizar que
tudo isso para ter efeitos prolongados
no tempo precisa de mais e mais ciên-
cia, mais e mais conhecimento, mais e
mais formação e mais e mais interna-
cionalização. As mudanças graduais
nunca chegam às primeiras páginas
dos jornais, mas são o alicerce da trans-
formação da economia e do país.
Ministro da Economia e do Mar
30 ECONOMIA
MUND O
1 TURQUIA
Porque caiu a
governadora do Banco
Central da Turquia?
Hafize Erkan foi governadora do banco central turco
durante pouco mais de meio ano. Intromissões do pai
e tensões políticas explicam a insólita queda
Em dezembro, a governadora queixou-se, em entrevista, dos preços do imobiliário em
Istambul. E mudou-se para casa dos pais FOTO SELAHATTIN SONMEZ/DIA IMAGES/GETTY IMAGES
Pedro Carreira Garcia
Hafize Gaye Erkan, governa-
dora do Banco Central da Tur-
quia desde junho de 2023 até
ao início de fevereiro, dizia que
a vida estava cara. Tão cara
que teve de se mudar para casa
dos pais. A gestora, de 44 anos,
com uma carreira no sector
financeiro norte-americano,
lamentou o estado do merca-
do imobiliário na cidade do
Bósforo. “Não conseguimos
encontrar uma casa em Istam-
bul. Tudo é muito caro. Mu-
dámo-nos para casa da minha
mãe”, disse Erkan ao diário
turco “Hürriyet”, citada pela
Lusa. E interrogava-se: “Como
é possível que Istambul seja
mais cara do que Manhattan?”
As palavras de uma gover-
nadora de um banco central
dizendo que teve de voltar ao
ninho parental devido à infla-
ção dos preços do imobiliário
espalharam-se rapidamente
pelo mundo. Não há registo,
que se saiba, de governadores
em dificuldades financeiras. E
não passou despercebida a iro-
nia de uma líder de uma auto-
ridade monetária a queixar-se
do descontrolo da inflação, a
principal responsabilidade dos
bancos centrais.
Erkan demitir-se-ia no dia
2 de fevereiro, alegando uma
campanha negra contra si.
“Como é do conhecimento do
público, foi recentemente orga-
nizada contra mim uma grande
campanha de assassínio de ca-
ráter. Para evitar que a minha
família e o meu filho inocen-
te, que não tem nem um ano
e meio de idade, sejam ainda
mais afetados por este proces-
so pedi a demissão”, disse na
rede social X, antigo Twitter.
Contudo, horas mais tarde, um
decreto presidencial apresenta-
va a governadora como tendo
sido demitida pelo líder turco,
Recep Tayyip Erdo an.
A história é mais complexa e
mostra as ‘costuras’ de um ban-
co central com discordâncias
internas e demasiado perto do
poder político para ser verda-
deiramente independente.
O pai, os ‘vices’ e o ministro
A proximidade familiar parece,
à partida, ter sido a grande res-
ponsável pelo fim do curto con-
sulado de Erkan, O jornal “Soz-
cu”, citado pela Bloomberg,
avançou que o pai da governa-
dora teria forçado o despedi-
mento de uma trabalhadora da
instituição, Busra Bozkurt, e
que teria tentado fazê-lo com
outros profissionais. O banco
turco não respondeu aos pedi-
dos de esclarecimento da agên-
cia, mas outros trabalhadores,
sob anonimato, corroboraram
a acusação. E foram ainda mais
longe: disseram que o pai de
Erkan, Erol Erkan, metia a sua
colher em todas as áreas de ati-
vidade do banco sem sequer ser
funcionário.
O pai de Erkan metia,
alegadamente, a sua
colher em todas as
áreas de atividade do
banco central. E nem
era funcionário
Uma reportagem da agência
Bloomberg de dia 7 trouxe no-
vas dimensões a esta história,
nomeadamente a política, su-
gerindo que Erkan tinha ambi-
ções além da sua área e notando
que se rodeou de uma equipa
com experiência na assessoria
de ex-ministros pouco depois
de ter assumido o cargo.
Janeiro, mês em que o ‘caso’
do pai da governadora reben-
tou, foi também mês de tensão
interna no banco central, se-
gundo a Bloomberg. Numa via-
gem aos EUA com o objetivo de
se reunir com investidores, não
houve harmonia na mensagem
a passar entre os membros do
comité de política monetária.
Os presentes na reunião, que
decorreu na sede do banco JP
Morgan, estavam perante duas
visões diferentes: Erkan suge-
ria-lhes que o ciclo de contração
estaria já no fim, mas os seus
vices, Fatih Karahan e Cevdet
Akcay, diziam o contrário.
A governadora terá também
entrado em rota de colisão com
o ministro das Finanças turco,
Mehmet Simsek, que se terá
mostrado desagradado com o
insólito papel do pai da governa-
dora e com a falta de consenso
dentro da cúpula do banco, tendo
pedido ao Presidente que a de-
mitisse por temer a descredibili-
zação da autoridade monetária.
Também fora criticada pelas
estranhas declarações na sua
entrevista de dezembro sobre
a dificuldade de encontrar uma
casa a preços acessíveis em
Istambul. Erkan fez carreira
na alta-roda da finança inter-
nacional, tendo chegado a ser
copresidente executiva do First
Republic Bank (que faliu em
2023, durante a minicrise ban-
cária dos EUA). Quando saiu
do banco, no início de 2022,
recebeu 23 milhões de dólares
de indemnização, segundo a
agência. O que, a somar ao seu
salário de governadora, daria
confortavelmente para adquirir
o que há de melhor em imobiliá-
rio na metrópole turca, subli-
nharam várias vozes críticas.
Erkan é a mais recente baixa
de um banco central, que já vai
com cinco governadores desde
2019. A instabilidade na lide-
rança da autoridade monetária
turca tem sido a regra, e não a
exceção, num país com uma
das maiores taxas de inflação
do mundo: a estimativa mais
recente é de 64,9% em janeiro.
Os meses da governadora ao
leme do banco central signifi-
caram um regresso a uma po-
lítica monetária mais alinhada
com a ortodoxia económica,
aumentando as taxas de juro
(de 8,5%, quando assumiu o
cargo, para 45% em janeiro)
e restabelecendo as reservas
de moeda estrangeira. Um dos
seus vices, Fatih Karahan, hoje
à frente do banco central tur-
co, deverá continuar a política
adotada pela sua antecessora.
pcgarcia@expresso.impresa.pt
2 REINO UNIDO
Economia britânica
baixa desemprego
para 3,8%
A taxa de desemprego no Reino Unido caiu
para 3,8% nos três meses até dezembro
de 2023, informou na terça-feira o Office
for National Statistics (ONS). A queda é
explicada pela diminuição do número de
desempregados de longa duração, de acor-
do com a informação divulgada, com a taxa
agora registada a comparar com os 3,9%
observados nos três meses até novembro.
Segundo os dados do ONS citados pela
agência Lusa, a taxa de emprego situou-
-se nos 75%, enquanto a percentagem de
pessoas economicamente inativas entre os
16 e os 64 anos foi de 21,9%. O número de
ofertas diminuiu em 26 mil, para 932 mil,
no período de três meses até janeiro, face
ao trimestre anterior, enquanto na compa-
ração homóloga há a registar um recuo de
209 mil, com o ONS a assinalar que se trata
do 19º mês consecutivo de queda. A direto-
ra de estatísticas económicas do ONS, Liz
McKeown, disse, no entanto, haver sinais
de que esta tendência de queda das ofertas
de emprego está a abrandar, assinalan-
do ser “evidente que o crescimento do
emprego abrandou no último ano”
no Reino Unido. Liz McKeown
observou ainda que há um
“número histórico de pes-
soas com doenças de
longa duração”.
3
7 ÁUSTRIA
OPEP desvaloriza
saída de Angola
do cartel
A procura mundial de petróleo deverá cres-
cer a bom ritmo este ano e em 2025, apon-
tam as previsões atualizadas esta semana
pela OPEP — Organização dos Países Ex-
portadores de Petróleo, com o consumo da
China e o dos combustíveis para transpor-
tes a serem os principais impulsionadores
desta tendência.
A entidade, com sede em Viena, Áustria,
também desvalorizou a decisão de Angola
de abandonar a organização, anunciada em
dezembro. “Não é a primeira vez que um
membro sai da organização”, comentou
o secretário-geral da OPEP, Haitham Al
Ghais, em declarações à agência Reuters.
“Já tivemos membros que saíram e ou-
tros que entraram, e outros que saíram
e regressaram, pelo que não estou muito
preocupado com isso”, referiu o mesmo
responsável à Reuters.
No relatório mensal sobre o mercado
petrolífero divulgado terça-feira, a OPEP
Expresso, 16 de fevereiro de 2024
3 ESTADOS UNIDOS
INFLAÇÃO RECUA NOS EUA, MAS
NÃO TANTO COMO ESPERADO
3,1%
foi a taxa de inflação homóloga em
janeiro nos Estados Unidos da América,
de acordo com o índice de preços no
consumidor divulgado terça-feira pelo
Departamento do Trabalho dos EUA.
Em dezembro a taxa de inflação tinha
sido de 3,4%. Apesar do abrandamento,
a taxa ficou acima da expectativa dos
analistas, que apontavam para menos de
3%. Na comparação mensal, o aumento
dos preços é de 0,3%, contra 0,2% em
dezembro, impulsionado sobretudo pela
habitação. A taxa de inflação subjacente
homóloga, que exclui os preços voláteis
dos alimentos e da energia, permaneceu
estável, em 3,9%
confirma a sua previsão de que a procura
aumentará 2,2% este ano, para 104,4 mi-
lhões de barris por dia, no que a organiza-
ção descreve como uma consequência do
“crescimento económico robusto esperado
para este ano”. Em 2025, esta tendência
manter-se-á, com “um saudável” aumento
de mais 1,7% e um volume total de consumo
de 106,6 milhões de barris por dia.
A OPEP recorda que os níveis de consu-
mo pré-covid-19 já foram ultrapassados
em 2022, o que provocou um colapso da
procura, e que em 2023 houve outra forte
recuperação quando abrandaram as restri-
ções que a China tinha mantido para conter
a pandemia. Os especialistas da OPEP, cita-
dos pela agência Lusa, indicam que a China
irá impulsionar o crescimento da procura
este ano, com um consumo previsto de
quase 17 milhões de barris diários, mais
do que todos os países industrializados da
Europa juntos.
Expresso, 16 de fevereiro de 2024 ECONOMIA 31

4 PAÍSES BAIXOS 5 BÉLGICA 6 EGITO

A COMISSÃO Número de navios que atravessa o
EUROPEIA canal do Suez caiu para metade
ANUNCIOU A
ADOÇÃO DE UM
REGULAMENTO
QUE PREVÊ UMA

FOTO JUSTIN SULLIVAN/GETTY IMAGES

ISENÇÃO PARA OS
AGRICULTORES
NO SENTIDO DE
OS ALIVIAR DAS

FOTO SAYED HASSAN/GETTY IMAGES

OBRIGAÇÕES
RELATIVAS À
GESTÃO DE TERRAS
EM POUSIO, REGIME
LUCRO DA HEINEKEN RECUA MAIS DE 14% EM 2023
O lucro da Heineken caiu 14,1% em 2023 face ao ano anterior, para os
QUE VIGORARÁ
€2,3 mil milhões, anunciou a cervejeira neerlandesa na quarta-feira, ATÉ AO FIM DESTE
14 de fevereiro, em comunicado ao mercado. O volume de venda de
cerveja decresceu 4,7% para os 243 milhões de hectolitros, com o
ANO, E COM EFEITO
mercado asiático e da região do Pacífico a dar o pior contributo para este RETROATIVO DESDE O número de navios que atravessou Monetário Internacional (FMI), des-
desempenho. Mesmo assim, a receita aumentou 4,9% no ano passado
para os €36,4 mil milhões, principalmente graças à subida dos preços
1 DE JANEIRO. o canal do Suez, uma das principais
vias marítimas do mundo, caiu 51,3%
de o dia 19 de novembro, quando o
grupo apoiado pelo Irão capturou o
de venda. Em média, o preço final ao consumidor entre os diferentes desde o início dos ataques dos re- cargueiro “Galaxy Leader”, a média
mercados cresceu 10,2% no ano passado. O resultado operacional foi de beldes hutis do Iémen, em novem- de carga transportada caiu dos 5,5
€3,2 mil milhões, o que significou uma queda homóloga de 24,6%. Para bro do ano passado. De acordo com milhões de toneladas diárias, para 2,1
este recuo contribuíram efeitos extraordinários relacionados com a a agência espanhola de notícias, a milhões de toneladas na última sema-
amortização de ativos intangíveis em aquisições e com uma imparidade EFE, que cita dados do observató- na, uma queda de 61,4% em menos
de €491 milhões na Heineken Beverages (que juntou as empresas Distell rio Port Watch, uma ferramenta da de quatro meses. O dia com menos
e Namibia Breweries à operação na África do Sul). Universidade de Oxford e do Fundo tráfego aconteceu a 23 de janeiro,
em que apenas atravessaram o canal
28 navios de mercadorias e seis tan-
ques com combustível. O chefe da
Autoridade do Canal do Suez, Osama
Rabie, reuniu-se há duas semanas
com representantes de 15 grandes
companhias de navegação, que lhe
garantiram que regressariam à rota
tradicional “quando as tensões termi-
narem”, segundo um comunicado da
Autoridade do Canal do Suez. Os nú-
meros são semelhantes na travessia
de Bab el Mandeb, a entrada do mar
Vermelho e onde os hutis atacam na-
2 vios que escalam ou se dirigem a por-
tos israelitas, uma ação que alegam
4 ser em defesa da causa palestiniana

5
e que provocou uma contraofensiva
7 1
de uma coligação militar internacio-
nal liderada pelos Estados Unidos.
O Egito arrecada cerca de 8 mil mi-
lhões de dólares por ano com o canal
8 do Suez, e tenta agora convencer as
companhias de navegação a voltarem
6 a transitar por aquele local.
9
9 ÍNDIA
A ÍNDIA FORMALIZOU
UM PEDIDO
PARA INTEGRAR
A AGÊNCIA
INTERNACIONAL DE
ENERGIA, REVELOU
ESTA SEMANA O
DIRETOR EXECUTIVO
DA AGÊNCIA, FATIH
BIROL, INDICANDO
QUE AGORA SE
8 CHINA INICIA O PROCESSO
DE AVALIAÇÃO. A
Consumo de gás natural na China aumentou ORGANIZAÇÃO,
QUE REALIZOU ESTA
O consumo de gás natural na China aumen- SEMANA A SUA
tou 7,6% em 2023, de acordo com a Comis-
são de Desenvolvimento e Reforma chinesa,
CIMEIRA ANUAL,
numa altura em que o país procura fontes de TEM 31 MEMBROS
energia alternativas ao carvão. A China con-
sumiu 394,5 mil milhões de metros cúbicos
(INCLUINDO
de gás natural no ano passado, disse aquela PORTUGAL), NA
comissão, citada pela agência de notícias
estatal chinesa Xinhua. Em dezembro, o
SUA MAIORIA
FOTO COSTFOTO/NURPHOTO/GETTY IMAGES

consumo cresceu 9,5% face ao mesmo mês OCIDENTAIS. OS

de 2022 e atingiu 37,7 mil milhões de metros
cúbicos. A China produziu 229,7 mil milhões
ÚNICOS PAÍSES
de metros cúbicos de gás natural em 2023, ASIÁTICOS NA
mais 5,8% do que no ano anterior. O Governo
chinês tem prometido reduzir a dependên-
AGÊNCIA SÃO
cia do carvão na produção de energia cuja O JAPÃO E A
procura continua a aumentar. No entanto,
a China “acelerou dramaticamente” em
COREIA DO SUL. A
2022 a aprovação de licenças para centrais ADESÃO IMPLICA O
a carvão, de acordo com um relatório do
Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo
CUMPRIMENTO DE
e do Global Energy Monitor. VÁRIOS REQUISITOS.
32 ECONOMIA Expresso, 16 de fevereiro de 2024