OPINIÃO PESSOAS

O milagre > Hélder

das Martins
é o diretor-
exportações -geral
LUÍS MARQUES E11 do Hyatt
Regency
Lisboa
Perspetivas E28

para o
mercado
> Dicas Questões a que
automóvel A rebelião de Paris em 1832 e as eleições deve responder antes
HÉLDER PEDRO E29 em Portugal em 2022 RICARDO REIS E3 de mudar de carreira E28

ECONOMIA IMOBILIÁRIO
& EMPREGO
2568
14 de janeiro de 2022
www.expresso.pt

POLÍTICA ABSORVE
500 FUNCIONÁRIOS
PÚBLICOS POR ANO
Trabalhadores na esfera do Estado podem
mudar de emprego por tempo ilimitado.
ESTADO
Regressam quando querem e podem voltar DESPERDIÇA
a sair. Política e licenças sem vencimento MAIS DE 30%
com ausências mais longas E16 DA DESPESA
E18

MARIA LUÍS PORTUGAL QUER

ALBUQUERQUE SAIR DO CLUBE DOS
CORTOU VÍNCULO MAIS ENDIVIDADOS
COM O ESTADO DA ZONA EURO
EM DEZEMBRO E19
E16

Recorde no azeite
17
Como a Empregados
Peugeot se mais
tornou líder colaborativos
do mercado E13
empurra produção são menos
produtivos
para Espanha
mil
Pego: fundos
europeus 85% do tempo de
atraem trabalho é gasto em
tarefas colaborativas.
projetos de Especialistas dizem
que desempenho
€266 milhões E4
é penalizado Faltam 17 mil camas para
seniores, mas este ano
Ser um colega disponível serão criadas apenas 927,

Quais foram os > Falta de lagares obriga produtores a fazer para ajudar os outros é uma
virtude, mas tem custos. Rob
num investimento
de €73,7 milhões em vários
investimentos azeite em Sevilha > Produção atinge novo Cross, professor do Babson
College, diz que essa atitude
pontos do país. O custo
mensal por cama começa
mais rentáveis máximo de 180 mil toneladas > Exportações penaliza a produtividade e é
um rastilho para problemas
nos €1200 no privado
e nos €1175 nas
em 2021? E8 devem chegar pela primeira vez a €700 milhões E6 de saúde mental. E25 instituições públicas E22
2 ECONOMIA Expresso, 14 de janeiro de 2022

15,7%
Utilidade
Marginal
João Silvestre
jsilvestre@expresso.impresa.pt
EXPORTAÇÕES ACELERAM
EM NOVEMBRO
As exportações portuguesas
de bens cresceram 15,7%
em termos homólogos em
novembro de 2021 (2,8% em
outubro), com as importações
a subirem 32,3% (17,6% em
outubro). As exportações
ficaram 15,1% acima do registado
em novembro de 2019, antes da
crise pandémica, destacando-se
o acréscimo nos fornecimentos
As pessoas industriais, apesar das
disrupções nas cadeias de
não recebem abastecimentos globais. Entre
janeiro a novembro de 2021, as
salários exportações aumentaram 5,2%
face ao mesmo período de 2019 e
médios as importações subiram 0,9%.
António Ramalho tem a idoneidade Preço da
na mira do BCE e do Banco de Portugal eletricidade no
valor mais alto
As conversas entre o presidente desde o Natal
do Novo Banco, António
Ramalho, e Luís Filipe Vieira, um
dos seus maiores devedores, estão O preço grossista da eletricidade
a ser investigadas na Justiça, por no mercado ibérico alcançou
uma alegada “concertação de terça-feira o valor mais alto desde
posições” antes de declarações o Natal, ao alcançar um preço
perante o Parlamento. Mas diário de €223,16 por megawatt
as averiguações também hora (MWh). O custo grossista
acontecem nos supervisores. aliviou ligeiramente nos dois dias
“Estamos a seguir o caso e seguintes, mas manteve-se acima
estamos atualmente a investigar dos €200 por MWh, com a menor
a matéria”, declarou o Banco disponibilidade eólica dos últimos
Central Europeu, depois de o dias a puxar pela produção das
Banco de Portugal ter sublinhado
que é de Frankfurt a principal
centrais a gás. Os contratos
futuros no mercado ibérico,
competência para avaliar a
idoneidade de Ramalho, embora
contudo, mostraram sinais de
descompressão, com os contratos
sublinhando que a idoneidade para 2023 a recuar na quarta-
se afere com base em “factos feira para €100,5 por MWh, o
objetivos”. valor mais baixo numa semana.

VIDA DA FUNDAÇÃO BERARDO

N
inguém recebe o salário médio.

EM VIAS DE SER EXTINTA…

É uma estatística. Quando An-
tónio Costa ou Rui Rio falam em
aumentá-lo, estão, na verdade,

AOS 33 ANOS
a dizer que os salários devem subir em
geral. Qualquer aumento salarial, seja
em que nível for, eleva sempre a média.
O PS tem insistido muito no tema e no
programa eleitoral prevê um incentivo
fiscal para o fazer. Benefícios para levar
as empresas a pagarem mais aos traba-
lhadores. Sem ter todos os pormenores
é difícil interpretar na perfeição tudo
o que está em causa. Mas há algumas
coisas que sabemos sobre salários.
A primeira é que as empresas não
podem pagar salários acima da produ-
tividade, sob pena de colapsarem. Há
um limite até onde podem ir e isso, sem
alterações estruturais ou investimentos,
não muda da noite para o dia. Não são
mexidas no IRS ou no IRC que alteram
a produtividade do trabalho no curto
prazo. Dizer isto não significa, no entan-
to, que não haja margem para aumen-
tar salários. Há sempre uma diferença
entre aquilo que as empresas podem
pagar e o que pagam efetivamente. Esta

Estímulos fiscais para

subir salários são sempre
medidas de curto
prazo. Não resolvem
o problema de fundo

ILUSTRAÇÃO PAULO BUCHINHO

distância é tanto maior quanto maior
for o poder de mercado da empresa. Se
é a única que emprega determinados
profissionais, se é um sector concen-
trado em poucas empresas (ou apenas
uma) ou se há conluio para não disputar
trabalhadores, esta margem tende a
aumentar. Pior ainda quando não há
suficiente representação sindical e/ou
os mecanismos de contratação coletiva O Governo já está a dar passos para extinguir a Fundação Berardo, os bens arrestados e corre agora o risco de ficar sem a Fundação. O
são limitados ou inexistentes. Quando o criada em novembro de 1988 na Madeira. O desfecho será a liquidação processo, segundo o “Observador”, terá sido iniciado a 5 de janeiro de
salário mínimo sobe sem consequências do património da Fundação. Em causa está a promoção de negócios 2022. Foi já pedido um parecer ao Conselho Consultivo das Fundações,
no emprego, a explicação também passa (compra de ações, entre outros) que não estão previstos nos estatutos um passo necessário para serem notificados os interessados para uma
por aqui. para que foi criada, segundo um relatório da Inspeção-Geral de audiência prévia a que se segue a decisão final. É neste enquadramento
E o que sabemos sobre isto? Sabemos, Finanças. O advogado de Joe Berardo, Paulo Saragoça da Matta, disse que Saragoça da Matta poderá apresentar argumentos contrários
desde logo, que as empresas estran- ao Expresso que aguarda ter acesso ao processo, mas já admitiu a esta decisão. Se houver uma decisão final de extinção segue-se a
geiras, mais expostas à concorrência contestar. Este é mais um imbróglio num conjunto de processos abertura de um processo de liquidação do património. Os bancos,
internacional, pagam salários, em mé- complexos que envolvem o comendador Berardo. A par do processo confirmou o Expresso, estão a analisar o processo enquanto credores
dia, 40% superiores às nacionais: pa- de execução dos bancos CGD, Novo Banco e BCP por dívidas de cerca acautelando que a extinção da Fundação não coloca em causa a
gam €1414 por mês a cada trabalhador, de €1000 milhões, Berardo tem sido executado por outras dívidas, tem execução que corre contra Berardo.
quando as nacionais se ficam por €1010.

1,9%
Há naturalmente uma parte desta di-
ferença que tem a ver com produtivi-
dade, mas também há muito de poder CMVM aplica PREÇOS NO CONSUMIDOR DE INFLAÇÃO SUBJACENTE
de mercado. Um estudo de Sónia Félix
e Pedro Portugal, publicado pelo Ban- coima de €1 milhão Taxa de variação homóloga e média dos últimos 12 meses, em %

co de Portugal em 2016, concluiu que a Ricardo Salgado 2,5

uma “fração considerável das empresas
portuguesas pode classificar-se como
monopsonista” e que com o reforço do
poder de mercado das empresas — por
cada desvio-padrão face à média — os
salários perdem cerca de 2%.
Borlas fiscais para aumentar salários,
a funcionarem, apenas terão impacto
nesta margem. Em alguns casos, são au-
mentos que aconteceriam de qualquer
forma. Subir salários a sério só mes-
mo com maior produtividade. Demora,
mas é o único caminho. E os resultados
chegam no longo prazo. No imediato,
pouco mais há a fazer do que estimular
ao máximo a concorrência e corrigir os
desequilíbrios de forças entre empresas
e trabalhadores na negociação. Baixar
impostos ajuda a aliviar a pressão, e
pode ser uma boa notícia, mas não re-
solve o problema de fundo. Não é o que
nos trará os salários dos países mais
ricos da Europa. Seja o médio ou outra
estatística qualquer.
O regulador do mercado de capitais
condenou Ricardo Salgado e mais
quatro ex-administradores do BES
no processo relativo ao aumento
de capital do banco, que ocorreu
dois meses antes da resolução
em agosto de 2014. Em causa,
na acusação da CMVM, está a
omissão de dados relevantes sobre
a situação financeira do BES e do
GES, enganando os investidores
que foram ao aumento de capital
de €1045 milhões, em junho de
2014. Salgado, condenado a uma
coima de €1 milhão, vai recorrer
da decisão para o tribunal. Amílcar
Morais Pires foi condenado ao
pagamento de €600 mil. Rui
Silveira e José Manuel Espírito
Santo foram condenados a coimas
de €400 mil cada e Joaquim Goes a
€300 mil.
2,0
IPC (taxa var. homóloga)
RENDAS DE CASA
1,5
IPC (taxa var. média dos últimos 12 meses) MANTÊM TENDÊNCIA
DE AUMENTO
1,0
Viver numa casa arrendada
está mais caro em todo o país,
0,5
sobretudo no Algarve. As rendas
das casas por metro quadrado
0
aumentaram 1,9% em dezembro
face ao mesmo mês de 2020, um
-0,5
valor idêntico ao registado nos
três meses anteriores, segundo
Inflação subjacente (taxa var. homologa)
-1,0
o INE. A variação média anual
considerando toda a área útil
DEZ. MAR. JUN. SET. DEZ. MAR. JUN. SET. DEZ. MAR. JUN. SET. DEZ. MAR. JUN. SET. DEZ.
2017 2018 2019 2020 2021 foi de 1,8% no conjunto de 2021.
FONTE:
“Todas as regiões apresentaram
variações homólogas positivas
INFLAÇÃO CONTINUA A SUBIR EM PORTUGAL A variação das rendas de habitação, tendo
homóloga do Índice de Preços no Consumidor (IPC) em Portugal voltou o Algarve registado o aumento
a aumentar em dezembro de 2021, atingindo 2,7%, (2,6% em novembro), mais intenso (2,2%)”, nota o
ainda assim, bem abaixo dos 5% registados na zona euro INE. Quanto ao valor médio
(medidos pelo Índice Harmonizado de Preços no Consumidor). das rendas, a subida mensal
Entre as maiores subidas destacam-se os transportes (6,7%). registada foi de 0,1%
Expresso, 14 de janeiro de 2022
Em junho de 1832, um surto de cólera motivou uma rebelião famosa nas ruas de Paris; hoje, uma
pandemia global não parece sequer levar a uma mudança de ocupante no palacete de São Bento
“Les Misérables”
R ao Quadrado
Ricardo Reis
rquadrado.expresso@gmail.com
P
ortugal vai a votos pouco
mais de dois anos depois das
últimas eleições legislativas. O
que mudou desde então? Mui-
to, mas quase tudo associado a um
só evento: a pandemia que atingiu
Portugal logo nos primeiros meses
do Governo atual. Parece provável
que o voto seja em parte guiado pela
avaliação que os eleitores farão da
competência do Governo em lidar
com a pandemia.
Em termos económicos, os últi-
mos dois anos foram maus. O comi-
té de datação dos ciclos económicos
da FFMS para Portugal determinou
oficialmente que o início da reces-
são foi logo no princípio de 2020.
Mesmo antes de haver casos de co-
vid em Portugal já o comércio in-
ternacional se tinha retraído de for-
ma violenta. Embora a recessão de
2020 tenha sido curta, foi também
a mais violenta desde a revolução,
com a economia a cair 19% entre o
fim de 2019 e meados de 2020. A re-
cuperação depois foi acelerada, mas
logo no início de 2021 tivemos outro
soluço, com a variante Delta. Por
isso, Portugal ainda não recuperou
Quem participa no Rendimento Básico Incondicional, como participa,
quanto tempo dura, quais são os protocolos, os incentivos e os
critérios de avaliação da “experiência”, isso fica no segredo do “cientista”
Uma chuva de dinheiro
cai na campanha eleitoral
Estado da Noção
Francisco Louçã
francisco.louca66@gmail.com
S
empre achei a proposta de
um Rendimento Básico In-
condicional (RBI) uma fraude.
Choca-me que políticos sérios
venham a uma campanha eleitoral,
num país com dois milhões de pobres
(após transferências públicas), pro-
meter um maná dos céus, uma chuva
de dinheiro (“rendimento”), que as-
segurará o essencial de uma vida boa
(“rendimento básico”) para toda a
gente sem exceção (“incondicional”).
Em inglês, o nome é Rendimento Bá-
sico Universal, e é isso mesmo, toda a
gente receberá do Estado o suficiente
para viver. Para as pessoas necessita-
das, esta promessa é fabulosa: ficaria
assegurada a sua vida com o mínimo
de conforto e segurança. Não é uma
prestação para proteger da pobreza,
do desemprego ou da doença, é uma
garantia de vida para todos, para todo
o sempre. Rendimento, Básico, In-
condicional.
Há mesmo uma filosofia new age
na base desta conversa: deve ser
incondicional porque é mais sim-
ples e não tem burocracia, paga-se
e pronto, simplesmente porque cor-
responde a um direito adquirido ao
nascer. E deve ser generoso, para
o nível de rendimentos que tinha na
altura da eleição anterior.
Em termos de comparações inter-
nacionais, a revista “Economist”, no
início do ano, tentou fazer um ran-
king do desempenho económico
durante a pandemia entre os países
avançados. Em termos de quebra no
rendimento das famílias, Portugal
está em 19º lugar entre 23. Com-
binando diferentes indicadores,
Portugal surge em 17º lugar, benefi-
ciando de a subida na dívida pública
não ter sido tão grande como na
maioria dos outros países, embora
desta vez não seja claro que isso
seja um triunfo ou antes um sinal da
falta de apoio que um Estado endi-
vidado pôde dar a quem precisava.
Normalmente, quando há uma
crise económica, o Governo é casti-
gado nas urnas. A maioria das vezes
não é culpa dele, porque o choque
foi externo. Mas, justa ou injusta-
mente, os eleitores mudam de Go-
verno após as crises. Entre 2009 e
2011 houve mudança de poder em
muitos países europeus. Desta vez,
no entanto, não se está a ver este
castigo, incluindo em Portugal. Isto
não quer dizer que a crise económi-
ca não possa vir a custar a António
Costa as eleições, mas não está a ter
o efeito devastador nas intenções
de voto em Portugal ou na maioria
dos outros países. Talvez algum do
crescimento dos votos no Chega
nas sondagens seja explicável pelo
desempenho económico. Um dos
legados da crise financeira foi o voto
em partidos mais populistas e extre-
mistas, sobretudo nas regiões em
que o desemprego mais subiu.
O efeito da pandemia vê-se numa
forma mais extrema de participação
garantir que possamos viver conso-
ante o nosso prazer. É encantador.
Não deixa por isso de ser espantoso
que quem apresenta uma proposta
deste tipo em eleições, naturalmen-
te como razão para um voto, fique
incomodado com a pergunta lógica:
e faz a fineza de me explicar como é
que isso se paga?
Assistir à resposta de Inês Sousa
Real e de Rui Tavares a esta questão
tão banal tem sido penoso. As suas
estratégias são simplesmente tocar
e fugir. Sousa Real diz que esse ren-
dimento é para vítimas de violência
doméstica (ou seja, é uma prestação
condicional, replicando um apoio
que, aliás, já existe) ou para pessoas
desajustadas ao seu emprego, e que,
assim sendo, não é incondicional.
Tavares diz que é uma “experiência”
para pouca gente, tão pequena que
qualquer autarquia a possa financiar,
embora o seu programa eleitoral
assegure que se trata de “testar, com
vista à implementação faseada, um
rendimento básico incondicional que
distribua a riqueza nacional produzi-
da e garanta um rendimento a qual-
quer cidadão, independentemente
da sua condição, dos pagamentos
do Fundo de Desemprego ou de ou-
tros programas de apoio social”. Leu
bem, isto é para “distribuir a riqueza
nacional produzida” e a toda a gente,
somos 10,5 milhões de pessoas em
Portugal. A partir daí, fica tudo ainda
mais estranho e ouve-se que é para
ver como se comportam os desem-
pregados, ou que a “experiência” é
o método científico para descobrir
o que as pessoas farão com o dinhei-
ro. Quem participa, como participa,
quanto tempo dura, quais são os pro-
tocolos, os incentivos e os critérios
de avaliação da “experiência”, isso
política: os protestos. Dois economis-
tas do FMI, Philip Barrett e Sophia
Chen, usaram algoritmos sobre mi-
lhares de artigos de jornal por todo o
mundo para procurar notícias sobre
“protestos”, “tumultos” ou “revo-
luções” e construir um “índice de
inquietação social” para cada país
que cobre os últimos 40 anos. Du-
rante este período, diferentes países
foram expostos a diferentes desas-
tres naturais, incluindo muitas epi-
demias. Estatisticamente, os dados
mostram que a inquietação social
hoje cai, e muito, depois de uma epi-
demia, e 2020-21 não foi exceção.
Talvez esta paz social seja o resultado
de um sentimento de solidariedade
A inquietação social hoje
cai, e muito, depois de
uma epidemia, e 2020-21
não foi exceção
nacional. Mas quando há outros de-
sastres, como cheias, incêndios, ou
terramotos, a inquietação social sobe
e muito. Ao invés, Barrett e Chen
argumentam que foram os confina-
mentos e os isolamentos voluntários
que levaram à calma social do último
ano. Nos dados, quando os casos de
covid subiram rapidamente numa re-
gião, a probabilidade de protestos ou
manifestações caiu imediatamente
em mais de metade. Nos últimos dois
anos, as liberdades individuais têm
caído a pico pelo mundo fora, e isto
tem vindo de mãos dadas com a que-
da nos protestos contra o Governo.
O famoso livro de Victor Hugo
“Les Misérables” imortalizou a re-
fica no segredo do “cientista”. Acon-
tece ainda que, antes do resultado
da “experiência”, a proposta escrita
no programa tem o objetivo que o
nome diz, o Estado distribuirá a toda
a população a “riqueza nacional” por
via de um rendimento básico. Não
deixa de ser um grandioso objetivo,
mas não pergunte nem como nem
quando.
Pensemos então no que poderia
acontecer depois do triunfo da “ex-
periência” ou quando a prestação vier
a ser incondicional. Chegará esse dia
mágico em que o Estado terá de pa-
É óbvio que os promotores
da ideia fizeram a conta e
estão numa encruzilhada:
ou propõem um
pagamento muito pequeno
(100 euros a cada pessoa, e
já seria mais do que o custo
total do SNS) ou que não se
aplique a toda a gente
gar a toda a gente. Como os propo-
nentes não apresentam a conta, e até
suspeito que nunca o farão, sugiro a
quem lê que a faça: imagine que o ren-
dimento “básico” são os 900 euros de
salário mínimo que Tavares propõe (e
que aplica a 12 meses). Portanto, isso
dá 900 x 12 meses = 10.800 euros
anuais por pessoa. Pode ser menos,
mas se assim for já não é “básico”,
pois não? Use-se então aquele valor.
Como somos 10,5 milhões, o Estado
tem de pagar anualmente 10.800 eu-
ros x 10,5 milhões de pessoas = 113,4
mil milhões de euros. Acontece que
esse valor é mais do que o total do
ECONOMIA 3
A semana
EM2MINUTOS
GREENVOLT A empresa de
energias limpas liderada por
João Manso Neto anunciou esta
semana a entrada no mercado dos
belião de junho de 1832 em Paris. Estados Unidos, com a compra da
Ela teve origem no surto de cólera californiana Oak Creek Energy
que matou cerca de 20 mil dos 650 Systems, alargando a presença
mil habitantes de Paris, sobretudo geográfica da Greenvolt, que já
nos bairros do centro da cidade. opera em Portugal, Espanha,
Neles viviam pobres trabalhadores Polónia e Inglaterra, entre
fabris, nas condições insalubres e outros mercados.
miseráveis associadas a esta altura
48,6
da Revolução Industrial que Victor
Hugo tão bem retratou. O desastre
humanitário combinado com a desi-
gualdade extrema levou os pobres a
culpar os ricos. Circulavam rumores
de que os ricos estavam a envenenar
milhões de euros foi quanto a
os mais pobres. Depois do funeral
do general Lamarque, vítima de Corticeira Amorim acordou
cólera e crítico da atuação do rei pagar para comprar os 50% do
para conter a doença, uma grande grupo italiano SACI que
demonstração popular levou a bar- pertenciam à família alemã
ricadas e confrontos armados nas Perlich. A SACI produz
ruas de Paris. principalmente muselets, os
Em 2020 e 2021, houve alguns componentes de arame que
protestos pontuais contra os confi- cobrem as rolhas das garrafas de
namentos na Europa (não em Por- espumante
tugal), mas nenhum deles foi par-
ticularmente relevante ou durou
sequer mais do que umas horas. O
mais que se viu foi a raiva inconse-
quente nas redes sociais dirigida a
um rico e famoso, o tenista Novak
Djokovic. Talvez a pobreza e a an-
gústia social dos últimos dois anos
esteja contida, para ser solta na
cabina de voto. Mas tudo indica que
isso não aconteça. O mundo não
tem hoje miseráveis como Cosette,
oprimidos como Valjean, oficiais EXPORTAÇÕES As vendas
de saúde obcecados que imponham portuguesas ao exterior
a sua determinação como Javert, cresceram 15,7% em novembro,
nem mesmo jovens idealistas e re- após, em outubro, terem
beldes como Marius. Pacificamen- apresentado um crescimento
te, os portugueses vão votar, ava- homólogo de 2,8%, revelou o
liando o desempenho do Governo Instituto Nacional de Estatística.
com muitas facetas, interpretações Mas as importações subiram
e opiniões. ainda mais, aumentando 32,3%
em termos homólogos, numa
aceleração face à variação de
17,6% de outubro. O ministro da
Economia, Siza Vieira, classificou
como “impressionantes” os
resultados das exportações.
3000
milhões de euros foi quanto
o Estado português colocou no
mercado esta semana, numa
nova emissão de dívida pública,
com obrigações de longo prazo,
Orçamento do Estado. Seria preciso a 20 anos. A operação foi feita
mais do que duplicar o Orçamento com uma taxa de 1,185%,
para pagar isto, ou seja, que o Estado atraindo uma procura
cobrasse quase 100% do PIB (ou que, de €20 mil milhões
não mudando os impostos, cortasse
toda a sua despesa). Reconhecendo
que os promotores da ideia já apre-
sentam isto há seis anos e tiveram
tempo para pensar no assunto, é ób-
vio que fizeram esta conta e estão
numa encruzilhada: ou propõem um
pagamento muito pequeno (100 eu-
ros a cada pessoa, e já seria mais do
que o custo total do SNS) ou que não
se aplique a toda a gente. Ou seja, que
deixe de ser ou incondicional ou bási-
co. Como isto equivaleria à curiosa es- TAP A companhia aérea
tratégia de tentar convencer alguém portuguesa anunciou esta semana
com o argumento de que não deve que irá encerrar as operações da
levar a sério a proposta, a conversa TAP Manutenção e Engenharia
é evitada, como se fosse insultuoso Brasil. A subsidiária, nas mãos da
perguntar a quem promete dinheiro TAP há duas décadas, tem 500
se vai mesmo pagar. trabalhadores. A decisão faz parte
Resta ainda o melhor dos argu- do plano de reestruturação da
mentos: é que isto já existe. A pro- companhia portuguesa.
va do pudim foi mesmo anunciada
com fanfarra. Como é que alguém
se atreveu a duvidar? O RBI existe no
Alasca, onde são distribuídos lucros
do petróleo (e cada pessoa recebe
Empresas que se
o equivalente a 70 euros por mês),
ou em Macau, onde são distribuídos distinguem no mercado
lucros do jogo (e cada pessoa recebe
cerca de 90 euros por mês). Mas
leu bem os valores? O que é que isto
tem de “básico”? O pitoresco da re- 2021
ferência ao Alasca ou a Macau é que
nunca serão citados os valores em SCORING
causa ou a sua origem irrepetível em TOP 5%
Portugal, que não tem petróleo no MELHORES PME
PORTUGAL
Beato nem casinos suficientes.
A chegada do Alasca à nossa cam-
panha eleitoral tem destes efeitos,
pois mostra que, afinal, a cura para
os males da sociedade não vem de scoring.pt
um milagre.
4 ECONOMIA Expresso, 14 de janeiro de 2022

ALTOS
António Rios
Amorim
Presidente da
Corticeira Amorim
A Corticeira Amorim anunciou es-
ta semana o regresso às compras
com a tomada de uma participação
de 50% na italiana Saci, por €48,66
milhões. Esta operação permite ao
grupo corticeiro cimentar a sua
posição de liderança mundial, ao
mesmo tempo que tem acesso a
novas soluções técnicas desenvol-
vidas pelas 17 empresas que cons-
tituem a Saci, fortalecendo assim
um dos poucos negócios em que
Portugal é líder mundial.
Aníbal
Campos
Presidente da
Associação
dos Industriais
Metalúrgicos, (AIMMAP)
A indústria do metal teve em
novembro de 2021 o melhor
mês de sempre no que respeita
a exportações, com as vendas
ao exterior a atingirem €1964
milhões, ultrapassando o
anterior máximo que tinha
sido atingido em março (€1926
milhões). Os desempenhos
em países extracomunitários,
como o Japão, China, Austrália,
Marrocos, Turquia ou Austrália,
ajudam a explicar o recorde, que
se torna ainda mais ‘saboroso’
no contexto das restrições
provocadas pela pandemia e com
a subida dos preços da energia,
das matérias-primas e dos custos
de transporte.
egor.pt
EM DESTAQUE
Oitante
Leão
ajuda
a devolver
dívida ao
Santander
Estado e Fundo de Resolução
já só têm de garantir dívida
de €39 milhões do veículo
herdeiro do Banif
O Ministério das Finanças ajudou
a Oitante, veículo que ficou com
os despojos do Banif, a reduzir o
valor que tem em dívida perante o
Santander em Portugal, que está
garantida pelo Fundo de Resolu-
ção e contragarantida pelo Estado.
No final de novembro, veio a
quase totalidade dos €33 milhões
que estavam bloqueados à espera
de uma autorização de João Leão.
A diretriz veio depois de Miguel
Barbosa, presidente da Oitante,
Pego Fundo para a Transição Justa
atrai projetos de €266 milhões
ter alertado nesse mês, em entre-
vista ao Expresso, para a ausência
de luz verde, que, a par dos efeitos
da pandemia de covid-19, estava a
atrasar os planos de reembolso.
Ao longo do ano, o veículo her-
deiro do Banif reembolsou €160,5
milhões. Em comunicado, a Oi-
tante frisou que “acumula, em seis
anos, um total de amortizações de
€707 milhões, o que representa
uma redução de 94,8% face ao
valor inicial do empréstimo obri-
gacionista, com vencimento em
dezembro de 2025”.
Sendo assim, já só faltam €39
milhões. O valor inicial do finan-
ciamento era de €746 milhões e a
Oitante acredita que poderá fazer
o reembolso total ao Santander
ainda este ano — após o previsto
pela administração, mas três anos
antes da maturidade.
A gestão de Miguel Barbosa pre-
tende continuar a vender e a liqui-
dar ativos para gerar valor e ter
condições para pagar novamente
dividendos ao acionista, o Fundo
de Resolução (em 2020 pagou €15
milhões). Tendo em conta o traba-
lho de recuperação, o presidente
acredita que a Oitante poderá até
continuar a viver para lá do seu
período de vida inicial (10 anos),
para gerir ativos de outras enti-
dades ou até na esfera do Estado.
Diogo Cavaleiro
e Isabel Vicente
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
PRR Empresas públicas
já têm €155 milhões.
Empresários nem um
Sector público dominou
primeiros pagamentos do PRR
em 2021. Ensino superior, ciência
e terceiro sector ainda a zeros
O Plano de Recuperação e Resiliência
(PRR) pagou €360 milhões em 2021,
dos quais €155 milhões a empresas pú-
blicas e €140 milhões a outras entidades
públicas. Escolas e autarcas também
receberam €30 milhões e €16 milhões,
respetivamente.
Instituições da economia solidária
e social, do sistema científico e tec-
nológico e do ensino superior nada
receberam em 2021. Os pagamentos
aos empresários portugueses tam-
bém se ficaram por um valor residual
— próximo dos €100 mil — no “ano
zero” do PRR.
Os números constam do mais recente
balanço da estrutura de missão Recupe-
rar Portugal, que encara 2022 como o
verdadeiro “ano 1 do PRR”.
Às famílias já foi pago um total de €19
milhões ao abrigo do popular concurso
para tornarem as suas casas mais efi-
cientes. E os pagamentos às empresas
também deverão acelerar à medida que
os concursos são lançados e as candida-
turas aprovadas. À data de 31 de dezem-
bro de 2021 o PRR colocara a concurso
€3438 milhões, sobretudo para apoiar
famílias, empresas e o terceiro sector.
Em 2021, o PRR aprovou €3520 mi-
lhões, dos quais 99% para empresas pú-
blicas (€1614 milhões), outras entidades
públicas (€1536 milhões), escolas (€228
milhões) e autarcas (€120 milhões).
Em causa estão os organismos dire-
tamente responsáveis pela execução
das obras e medidas do PRR. Para a
concretização dos investimentos pú-
blicos no terreno estão a ser lançados
concursos públicos para a elaboração
de projetos, empreitadas, aquisição
de equipamentos e fornecimento de
demais bens e serviços.
As empresas podem assim aceder
ao PRR por duas vias. Uma é submeter
a normal candidatura aos fundos da
‘bazuca’ europeia. Outra é posiciona-
rem-se como fornecedoras dos investi-
mentos públicos lançados.
Joana Nunes Mateus
economia@expresso.impresa.pt

Aviso para apoiar

investimentos na região centro
que compensem o fecho
Especialistas da central a carvão do Pego
recebeu 24 manifestações
em recrutamento de interesse
desde 1986
A antecipação de verbas do Fundo
para a Transição Justa (FTJ) para a
região centro, nomeadamente para
apoiar projetos que mitiguem o im-
pacto do encerramento da central a
carvão do Pego, está a suscitar forte
interesse de diversas empresas. Ao
que o Expresso apurou, a CCDR —

E BAIXOS
Comissão de Coordenação e Desenvol-
vimento Regional do Centro recebeu
24 manifestações de interesse cujos
projetos somam investimentos de
€266 milhões.
António A soma dessas propostas empresari-
Ramalho ais para a região centro do país excede
Presidente-executivo largamente o envelope financeiro que
do Novo Banco deverá ser disponibilizado para proje-
tos que dinamizem a economia local
após o encerramento da termoelétrica
do Pego. Esse envelope ronda os €30 Central a carvão do Pego fechou em novembro. Empregava 150 pessoas FOTO NUNO BOTELHO

As conversas vindas a público entre
António Ramalho e Luís Filipe Vi-
eira em torno da audição do ex-pre-
sidente do Benfica na Comissão
Parlamentar de Inquérito ao Novo
Banco levantaram dúvidas sobre
o relacionamento entre os dois. E
levaram o Banco de Portugal a co-
locar ao Banco Central Europeu
(BCE) a questão de uma eventual
reavaliação da idoneidade de Ra-
malho. O BCE já fez saber que está
milhões, dinheiro que será antecipado
pelo Estado enquanto não chega a
Portugal, efetivamente, o dinheiro do
Fundo para a Transição Justa.
O aviso de submissão de propostas
de investimento para a região do Mé-
dio Tejo esteve aberto nas primeiras
duas semanas de dezembro. Foram
apresentados cinco projetos de maior
dimensão, cada um com um investi-
mento próximo dos €25 milhões.
Um desses projetos é da Tejo Ener-
para a região do Médio Tejo largos
milhões de euros. A 1S1 Energy pre-
tende instalar em Abrantes uma fábri-
ca de eletrolisadores com capacidade
para 300 MW por ano, que implicará
um investimento de €21 milhões. Já
a Caima quer investir €20 milhões
numa fábrica de ácido acético (um
componente do vinagre) com recurso
a subprodutos da madeira. A GMF
Railway Maintenance quer criar no
tamento de resíduos da produção de
colchões, por exemplo.
Mais de €240 milhões de apoios
Os €30 milhões que serão disponibili-
zados a alguns destes projetos empre-
sariais no Médio Tejo são apenas uma
parte dos recursos que o FTJ deverá
alocar a Portugal para mitigar os efei-
tos negativos da transição energética,
242
milhões de euros é quanto
o Fundo para a Transição Justa,
da União Europeia, canalizará
para Portugal, para projetos
que compensem os efeitos
negativos da transição energética

a investigar o assunto com base em
“dados bastante recentes”.
Ricardo
Salgado
Ex-presidente do BES
Mais coimas para Ricardo Salgado
e para outros ex-administradores
do BES, desta feita aplicadas pela
Comissão do Mercado de Valores
Mobiliários (CMVM), sendo que
a mais pesada (€1 milhão) foi para
Salgado. Em causa está o aumento
de capital feito em 2014, através do
qual o banco obteve mais de €1000
milhões.
pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
gia (a dona da central do Pego) e visa
produzir pellets a partir de biomassa
florestal (em substituição do carvão
que era queimado na termoelétrica).
Outro é do grupo Smartenergy, que
quer criar uma unidade de produção
de hidrogénio verde com 10 mega-
watts (MW) de capacidade de eletró-
lise, servida por uma central fotovol-
taica. Um terceiro grande projeto é
da Medway, empresa de transporte
ferroviário que quer apostar num cen-
tro de manutenção e fabrico de vagões
de mercadorias. E há ainda dois ou-
tros projetos de €25 milhões: um da
empresa CME (cujos pormenores não
foi possível apurar) e outro da EMI
Modular Facade (para uma fábrica de
fachadas modulares e painéis térmi-
cos para a construção).
A listagem de interessados, a que
o Expresso teve acesso, inclui ainda
outros projetos que podem canalizar
Entroncamento novas oficinas de fa-
brico de vagões e locomotivas, num
projeto de €14 milhões.
Há também uma proposta de quase
€13 milhões para um centro de aba-
te de aves e processamento de carne
da empresa Aviários de São Matias,
bem como um projeto da EPAL para
aplicar €12 milhões na produção de
reagentes verdes para desinfeção da
água e de hidrogénio para a mobilida-
de. Já a espanhola Iberdrola tenciona
concorrer às verbas do FTJ com um
projeto de €11 milhões para produzir
hidrogénio verde. E a empresa portu-
guesa PRF propõe investir quase €8
milhões no fabrico de eletrolisadores.
Entre as manifestações de interesse
recebidas pela CCDR Centro estão
também projetos para uma nova fá-
brica de embalagens de cartão, para
uma unidade de produção de gás sin-
tético em Vila de Rei e para o aprovei-
90
como o desemprego ligado ao fecho
das centrais a carvão do Pego e de
Sines e o encerramento da refinaria
de Matosinhos.
O FTJ distribuirá a Portugal €242
milhões, mas em novembro do ano
passado o Governo decidiu antecipar milhões de euros foi o montante
€90 milhões, a repartir igualmente que o Governo decidiu antecipar,
pelas regiões do Alentejo, centro e no final do ano passado, para
norte. Ao que o Expresso apurou, o mitigar o impacto do fecho
Governo tem já planos para reservar das centrais a carvão
parte das verbas do FTJ para outros e da refinaria de Matosinhos
territórios do país que poderão vir a
sofrer problemas no futuro: uma des-
sas regiões será a de Leiria e Marinha
Grande, onde o encarecimento do gás
natural e das licenças de emissão de
dióxido de carbono poderá penalizar
algumas indústrias, como a cerâmica,
e obrigar a investimentos em soluções
de descarbonização.
Miguel Prado
mprado@expresso.impresa.pt
Expresso, 14 de janeiro de 2022
Aviação Compromissos com Bruxelas já começaram a ser executados.
Manutenção do Brasil já absorveu €600 milhões desde 2010, e a sangria vai continuar
TAP vai fechar o Brasil,
e os custos vão ser pesados
A
Anabela Campos
TAP avança a pas-
sos largos para a
concretização dos
compromissos
assumidos com a
Comissão Euro-
peia. Mais cedo do
que se esperava, e
menos de um mês
após receber a luz verde de Bruxelas
ao plano de reestruturação, a trans-
portadora decidiu que irá fechar o
negócio da Manutenção e Engenha-
ria do Brasil, a M&E Brasil (antiga
VEM), adquirida há duas décadas à
Varig. Um dossiê que poderá causar
fricções diplomáticas e que irá cer-
tamente ter custos pesados. Quan-
to ninguém diz ou sabe, mas fontes
conhecedoras do processo admitem
que ultrapassará a centena de mi-
lhões de euros.
Christine Ourmières-Widener, a
presidente da TAP, anunciou ao mer-
cado a decisão de fechar a operação
na quarta-feira, assumindo-a como
“não sendo fácil” e sublinhando que
é tomada depois de várias tentativas
de venda falhadas. Porque não foi
considerada a opção de venda em vez
de fecho não foi possível esclarecer.
O Governo, sabe o Expresso, já co-
municou a decisão ao Executivo bra-
sileiro. Desconhece-se, porém, como
este terá reagido e se são esperadas
algumas consequências naquele que
é o maior mercado da TAP, respon-
sável por 25% a 30% das receitas da
companhia.
O ministro das Infraestruturas,
Pedro Nuno Santos, admitiu já que
os custos de uma venda ou fecho
do Brasil seriam sempre elevados.
E disso ninguém tem dúvidas. As
contingências futuras com os cerca
de 500 trabalhadores que a empresa
ainda tem será um dos problemas
que o Estado terá de enfrentar — e a
TAP, apesar de ter ganho até agora
a generalidade dos processos em
tribunal, ainda carrega às costas in-
demnizações que se arrastam desde
o tempo da Varig. Há também ainda
pendências tributárias e fiscais para
resolver, herdadas da compra da an-
tiga transportadora brasileira. Ape-
sar de a M&E Brasil ter sido sempre
usada com parcimónia na manuten-
ção das aeronaves da TAP, alguns avi-
ões de longo curso da transportadora
eram vistoriados no Rio de Janeiro
— agora as manutenções terão de
ser feitas todas em Lisboa, onde o
espaço para as executar escasseia.
A TAP assegura, porém, que a M&E
Brasil não está neste momento a fa-
zer manutenção dos seus aviões, sen-
do ela toda feita na Europa. Fontes
sindicais afirmam que Lisboa está
limitada no crescimento e lembram
que havia uma expansão prevista an-
tes da privatização, deixada cair nos
últimos anos. Contudo, desdramati-
zam e dizem que a redução da frota e
o facto de haver aviões novos permite
que Lisboa, no curto a médio prazo,
tenha capacidade suficiente para a
manutenção.
Financeiramente, a M&E Brasil
tem sido um pesadelo para a TAP
e é um dos principais responsáveis
pelos prejuízos históricos da compa-
nhia. Esta operação abriu as portas
do mercado brasileiro à TAP, mas ati-
rou-a para o vermelho. Os custos têm
sido elevadíssimos: entre 2010 e 2017
recebeu de injeções financeiras €538
milhões (em valores nominais), um
ano depois, em 2018, beneficiou de
uma transferência de €30 milhões.
É a TAP SGPS que tem acomodado
perdas e arcado com imparidades do
Brasil, que serão próximas de €800
milhões, segundo fontes sindicais.
A M&E Brasil, garantiu a presiden-
te da TAP, será encerrada de forma
gradual e apenas depois de todos os
contratos de manutenção estarem
concluídos.
COMPROMISSOS
^ Entre 2010 e 2017, a TAP
Manutenção & Engenharia (M&E)
Brasil recebeu de injeções financeiras
€538 milhões (em valores nominais).
Depois disso, em 2018 beneficiou
de uma transferência de €30 milhões
^ A TAP M&E Brasil tem cerca de 500
trabalhadores, dos quais 400 estão
no ativo. Chegou a ter mais de mil,
mas com o encerramento da fábrica
em Porto Alegre, já nas mãos
de David Neeleman, o número ficou
reduzido a metade
^ O Brasil é o maior mercado da TAP,
responsável por entre 25% a 30%
das receitas da companhia,
e com 11 destinos disponíveis
^ O fecho da TAP M&E Brasil
é um dos compromissos assumidos
com a Comissão Europeia. Os outros
são a venda da Groundforce
e da Cateringpor. Concluídas
estas operações, e a passagem
da Portugália para a TAP SA,
a TAP SGPS pode ser extinta
Iniciou-se o processo
de encolhimento da TAP. Fecho
da Manutenção e Engenharia
do Brasil é o pontapé de saída
FOTO ANDRÉ KOSTERS
A venda do Brasil é um passo em
frente no caminho de separação
entre a TAP SGPS e a TAP SA, em-
presa onde está toda a atividade
operacional da companhia e onde os
acionistas privados — trabalhadores e
Humberto Pedrosa — ficaram já sem
qualquer participação. A sua posição
já tinha sido diluída em meados de
2021, aquando do aumento de capital
de €462 milhões, mas com o último
reforço, no final do ano passado, fi-
cou reduzida a zero na TAP SA, onde
o Estado passou a controlar 100%
do capital. O empresário Humberto
Pedrosa, que entrou na TAP em 2015
como o rosto português que fazia
parceria com o norte-americano Da-
vid Neeleman, fica não só afastado da
operação como arrisca perder parte
do investimento que fez, já que tudo
aponta para que no futuro — assim
que estiverem vendidas a Groundfor-
ce, a Cateringpor e a M&E Brasil — a
TAP SGPS seja dissolvida.
Quanto verdadeiramente investiu o
dono do Grupo Barraqueiro na TAP
não é claro nem é esclarecido pelo
próprio, que entrou empenhado na
companhia, chegando a dizer que
gostaria de ter outra vez 40 anos,
tal era a dimensão do desafio. “Sei
que sou o patrão que vai entusiasmar
todos os trabalhadores para que a
TAP seja uma empresa com futuro”,
disse numa entrevista ao Expresso,
recusando a ideia de que seria um
testa de ferro. Certo é que não de-
verá receber os €169 milhões com
que ficou de prestações acessórias,
depositadas na TAP SGPS, quando o
Estado comprou a posição de 22,5%
de David Neeleman por €55 milhões.
De mãos a abanar deverão ficar tam-
bém os 603 trabalhadores que em
2017 investiram cerca de €778,5 mil
para comprar 5% do capital. Nem
Pedrosa nem os trabalhadores têm
protestado com o esvaziamento das
suas posições.
acampos@expresso.impresa.pt
ECONOMIA 5
DESCODIFICADOR
Jovem,
tem um
projeto?
Este apoio
é para si
O Governo lançou
o Empreende XXI:
apoiará jovens
sem trabalho
com subsídios
e empréstimos
sem juros
1 Em que
consiste
o programa
Empreende
XXI?
É uma medida de apoio à criação
e desenvolvimento de novos
projetos empresariais por jovens
à procura do primeiro emprego
e desempregados inscritos
no Instituto do Emprego e da
Formação Profissional (IEFP).
Destinada a jovens entre 18 e 35
anos que nunca tenham tido um
contrato sem termo ou que estejam
desempregados, a medida será
executada pelo IEFP, em parceria
com a associação Startup Portugal.
2 Que apoios
vão estar
disponíveis
O apoio ao investimento cobrirá até
85% do custo de arranque de uma
nova empresa, sendo 40% a fundo
perdido (que podem aumentar
para 70% caso o empreendedor
seja do género sub-representado
nessa área de atividade) e 45% em
empréstimos a cinco anos sem
juros. Há ainda um apoio à criação
do próprio emprego (até 15 vezes
o indexante dos apoios sociais, ou
seja, um limite de €6648). A medida
dará ainda formação e consultoria
em empreendedorismo.
3 Que despesas
são elegíveis e
não elegíveis?
Para o apoio ao investimento são
elegíveis despesas de €175 mil por
projeto, a realizar em 12 meses
após a disponibilização dos apoios,
mas esse montante não pode
incluir aquisições de imóveis nem
a construção de edifícios. Também
não serão elegíveis despesas cuja
relevância para a realização do
projeto não seja fundamentada.
Além disso, não são elegíveis custos
com a aquisição de participação
numa empresa já existente.
4 Opreciso
que é
para
ter acesso
aos apoios?
A nova empresa tem de se registar
no portal da Startup Portugal.
A candidatura, a apresentar
no portal Empreende XXI, será
avaliada em 45 dias. Se aprovada,
recebe do IEFP um termo
de aceitação, que deve devolver
em 30 dias. Depois, num prazo
de dez dias a empresa recebe
65% do apoio ao investimento
(os outros 35% serão pagos
após verificação da totalidade
das despesas).
Miguel Prado
mprado@expresso.impresa.pt
6 PRIMEIRO CADERNO
“Confusion
de Confusiones”
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt
Linhas
vermelhas
S
e o rendimento de um
país for 100 unidades
monetárias (u.m.) e se
esse rendimento for tri-
butado à taxa de 40%, vamos
retirar 40 u.m. ao rendimento
disponível do país para financi-
ar o Estado nas suas funções.
Se precisarmos de 45 u.m.
para fazer face às despesas do
Estado, temos duas maneiras
de o conseguir sem recorrer
à dívida: aumentando a taxa
de imposto para 45% ou au-
mentando o rendimento para
112,5 u.m., mas mantendo a tri-
butação nos 40%. E ainda se
pode fazer melhor: conseguir
aumentar o rendimento para
150 u.m., tributando-o à taxa
de 30%! Porém, dá muito mais
trabalho fazer crescer das 100
para as 112,5 ou para as 150
u.m. do que aumentar a taxa.
As propostas políticas calacei-
ras, e não raras vezes invejosas,
optam pela primeira estratégia.
Ainda há marcas no mercado
da frase de Mariana Mortágua:
“A primeira coisa que temos de
fazer é perder a vergonha de ir
buscar dinheiro a quem está a
acumular dinheiro.” Taxem a
formiga porque a cigarra pre-
cisa de comer. E façam-no sem
vergonha.
Num recente debate, a diri-
gente do Bloco de Esquerda,
Catarina Martins, foi interpe-
lada sobre como financiar as
medidas que ela propunha. E a
resposta foi, pasme-se, que isso
não era tema do seu interesse.
Quando as minhas filhas eram
crianças e íamos ao restauran-
Quando as minhas filhas
eram crianças e íamos
ao restaurante, também não
se preocupavam com a conta,
pois sabiam que alguém
pagava. Mas eu preocupava-
-me, e de que maneira!
te, também não se preocupa-
vam com a conta, pois sabiam
que alguém pagava. Mas eu pre-
ocupava-me, e de que maneira!
Num país que, em 2020, co-
brou €80 mil milhões em im-
postos e contribuições para a
Segurança Social num PIB de
€200 mil milhões ter o arrojo
de afirmar que não importa de
onde pode vir o financiamento
de mais despesa pública é não
ter o mínimo de sensibilidade
para a dificuldade de quem tem
de convencer os outros a com-
prarem o que produzimos.
No seu programa eleitoral, o
BE ameaça com mais impostos:
um aumento de taxas de IRS mais
progressivas, um englobamento
de fontes de rendimento para tri-
butar mais o que rende, e até vai
ao ponto de querer tributar o que
se poupou! Além de afiar o den-
te às grandes empresas… O PCP
também apresenta propostas se-
melhantes: mais impostos sobre
a globalidade do rendimento do
último escalão do IRS ou sobre
as grandes empresas.
Ora, num país sem capital e
sem grandes empresas, como é
que querem atrair investimento
externo com este tipo de ame-
aças?
Nós prevemos que nem o BE,
nem o PCP vão ganhar as elei-
ções. Mas é preciso perguntar
ao PS que linhas vermelhas não
ultrapassa em matéria fiscal no
caso de necessitar de apoios à
esquerda.
AGROALIMENTAR
Produção recorde
‘empurra’
AZEITE
para Espanha
Falta de lagares e de
transformadores
de bagaço de
azeitona
está a levar
produtores
para a zona
de Sevilha,
num ano de
forte produção
em Portugal.
E o cenário
irá piorar
Vítor Andrade
A campanha de azeite que agora está a
terminar vai registar níveis recorde em
Portugal. Pela primeira vez, serão produ-
zidas em território nacional mais de 180
mil toneladas de azeite, muito acima das
100 mil do ano passado e além das 150 mil
inicialmente estimadas para este ano.
Os dados são avançados pela Casa do
Azeite, organização que congrega pratica-
mente toda a fileira do olival, e ainda pela
Olivum — Associação dos Olivicultores do
Sul, onde se concentra 85% da produção
nacional. Os cálculos são feitos com base
nas estimativas do Instituto Nacional de
Estatística recentemente publicadas para
a produção de azeitona.
Aqueles valores recorde de produção de
azeite poderiam ser ainda mais elevados
caso alguns olivicultores nacionais não
tivessem tido a necessidade de ir processar
as suas azeitonas e o bagaço de azeitona
a Espanha, a alguns lagares da região de
Sevilha. É que, sendo feito em Espanha,
aquele azeite não é registado como produ-
zido em Portugal.
Ou o Governo licencia novas
unidades de transformação ou
os produtores terão de ir cada
vez mais a Espanha processar
a azeitona e o bagaço, o
que, além de apresentar
custos elevadíssimos para os
agricultores, também se traduz
numa maior pegada ambiental
Tudo porque a capacidade de transfor-
mação dos lagares instalados em território
nacional está a esgotar-se, assim como a
das três empresas processadoras do bagaço
de azeitona situadas no Alentejo.
‘A bola está do lado do Governo’
Chegados a esta situação, os olivicultores
só veem duas soluções: ou construir novas
unidades industriais ou aumentar a capa-
cidade de produção das que já existem. “A
bola, agora, está claramente do lado do Go-
verno, que emite as autorizações. Ou licen-
cia novas unidades ou teremos de ir cada
vez mais a Espanha processar a azeitona e
FOTO GETTY IMAGES
o bagaço, o que, para além de apresentar
custos elevadíssimos para os agricultores,
também se traduz numa maior pegada
ambiental, pois tudo terá de ser transpor-
tado em camiões”, explica Gonçalo Simões,
diretor-executivo da Olivum.
João Cortez de Lobão, proprietário da Her-
dade Maria da Guarda, em Serpa, e um dos
maiores produtores de azeite em Portugal,
confirma aquele cenário e diz que contacta
regularmente alguns desses olivicultores
que tiveram de ir a Espanha fabricar o seu
azeite e que entre eles reina a insatisfação
face à incapacidade nacional para “dar conta
do recado”. Explica ainda que a campanha
em curso — que arrancou a 15 de outubro
de 2021 — acabou por se concentrar num
período de 40 dias, e isso traduziu-se numa
acumulação de matéria-prima nos lagares.
Mas o pior cenário foi o que se viveu —
e ainda decorre — junto das três únicas
empresas de processamento do bagaço de
azeitona (também conhecidas por bagacei-
ras). “Claramente, foram insuficientes para
as necessidades e ficaram rapidamente
sem, sequer, capacidade de armazenagem
para tanta quantidade de bagaço.”
O que fazer com
o bagaço de azeitona?
O bagaço de azeitona é um subproduto
que resulta da extração do azeite que não
é mais do que o que resta da azeitona es-
magada e dos seus caroços. A verdade é
que daqui ainda é processada biomassa
para pellets (exportados sobretudo para
os países nórdicos), óleos industriais para
máquinas e alguns óleos alimentares de
segunda categoria.
Ora, acontece que as bagaceiras, duran-
te a sua laboração, acabam por produzir
um fumo denso e libertam alguns odores
intensos, que acabam por ter impacto nas
povoações mais próximas, o que já mere-
ceu a condenação de algumas organizações
ambientalistas. Perante este cenário, as
autarquias da região alentejana onde se
concentra a maior parte da produção na-
cional de azeite também já estão a reagir
negativamente não só à presença das atu-
ais bagaceiras como à possibilidade de se
virem a construir novas unidades.
A verdade é que, segundo Mariana Matos,
secretária-geral da Casa do Azeite, se tornou
óbvia, este ano, a falta de capacidade das fá-
bricas que processam os bagaços de azeitona
para receberem este subproduto gerado nos
lagares, “o que teve como consequência que
alguns tiveram de parar, pois não é possí-
vel continuar a laborar se não se retirar o
bagaço (subproduto) gerado pelo processo
de extração de azeite” — e note-se que por
cada 100 kg de azeitona que entra no lagar
apenas cerca de 16 kg são azeite. Ou seja, 84
kg são restos de polpa, caroço, água, etc., o
tal bagaço de azeitona que, segundo aquela
responsável, “atinge volumes enormes”.
Tal como a Olivum, também a Casa do
Azeite reconhece que para obviar àquele
cenário de constrangimento total no sector
Expresso, 14 de janeiro de 2022
alguns lagares enviaram bagaços para Es-
panha e certos produtores optaram mesmo
por enviar a azeitona para ser laborada em
lagares espanhóis, “com o inerente aumen-
to de custos, que teve que ser suportado
pelos produtores”.
A pressão dos ambientalistas
Aqui chegados, “estamos claramente peran-
te uma questão política, ou seja, como existe
uma pressão mediática muito negativa sobre
as extratoras de óleo de bagaço de azeitona
por parte de alguns grupos ambientalistas e
de alguns partidos, como o PAN, ninguém
parece ter coragem política para autorizar
novas fábricas ou o aumento da capacidade
das fábricas existentes, e o problema vai-se
arrastando”, frisa ainda Mariana Matos.
As bagaceiras, durante a sua
laboração, acabam por produzir
um fumo denso e libertam
alguns odores intensos que
acabam por ter impacto nas
povoações mais próximas,
o que já mereceu a condenação
de algumas organizações
ambientalistas
Esta responsável estima que, como a
próxima campanha vai ser de contrassafra
[por oposição à campanha de safra — ou
seja, muito produtiva — que ainda decorre],
não se irá colocar o problema, “mas daqui
a dois anos estaremos seguramente numa
situação ainda pior caso nada seja feito
entretanto para solucionar esta questão”.
E na verdade, segundo ela, existem al-
guns “projetos interessantes” para valo-
rização dos bagaços através de compos-
tagem, numa lógica de economia circular,
“mas como estamos a falar de volumes gi-
gantescos de bagaços produzidos de forma
muito concentrada na altura da colheita,
essa solução terá que ser sempre comple-
mentar a outras”, caso contrário, estima, o
problema continuará por resolver.
Para já, e apesar dos constrangimentos,
certo é que o sector está a viver um perío-
do de euforia, com quantidades de azeite
nunca dantes vistas numa só campanha.
E como se tudo isso não bastasse, há ain-
da a certeza, segundo as organizações da
fileira do olival, de que os preços pagos ao
produtor ficarão acima dos praticados na
campanha anterior. Já quanto às exporta-
ções de azeite, a Olivum estima que atinjam
os €700 milhões, acima dos €650 milhões
da campanha anterior.
vandrade@expresso.impresa.pt
Expresso, 14 de janeiro de 2022
BANCA
EuroBic inverte perdas com venda à vista
Banco assegura que cumpre todos os indicadores exigidos pelo Banco de Portugal
Diogo Cavaleiro
e Isabel Vicente
Em pleno processo de venda, o
EuroBic conseguiu regressar aos
lucros ainda no decorrer de 2020
e inverter os prejuízos que vinha
registando na sequência do Lu-
anda Leaks e da pandemia. Esta
é uma evolução positiva num mo-
mento em que a venda continua
a arrastar-se: no final de 2020
havia já auditorias aprofundadas
a serem feitas por interessados;
no início de 2022 continua tudo
ainda por fechar. O Abanca e o
Novo Banco são nomes em cima
da mesa, mas o calendário é mais
favorável ao primeiro.
O dossiê EuroBic tem-se
atrasado e isso abre a porta ao
Novo Banco — o presidente-
-executivo, António Ramalho,
assumiu publicamente que
havia interesse, mas havia um
problema, que foi também su-
blinhado pelo governador do
Banco de Portugal, Mário Cen-
teno: o plano de reestruturação
que durou até ao final do ano
impedia a aquisição de bancos.
Sem essas amarras, se o cum-
primento do plano for avalizado
pela Comissão Europeia (a res-
posta só virá dentro de alguns
meses), o banco da Lone Star
pode fazer compras. Mesmo
assim, o tempo corre contra o
Novo Banco, já que o grupo es-
panhol Abanca também está
na corrida. Fonte próxima do
processo afirmou ao Expres-
so que a nova investida poderá
acontecer antes de haver outros
interessados no banco liderado
por José Azevedo Pereira. O
tempo, neste caso, joga a favor
do Abanca, que chegou a ter
um acordo para a compra do
EuroBic, entretanto abortado.
O grupo espanhol não faz co-
mentários sobre este assunto.
Prudência é palavra
de ordem
Enquanto a venda não aconte-
ce, a gestão de Azevedo Pereira
PORTUGAL 2020
€300 milhões
para autarcas
que investiram
em fundos
Pode concorrer quem tem
obras em curso na saúde,
educação, regeneração
urbana ou património
Os autarcas que arriscaram
pôr em marcha obras munici-
pais sem o apoio dos fundos
comunitários poderão agora
candidatar-se a um prémio de
última hora do Portugal 2020.
A ministra da Coesão Terri-
torial, Ana Abrunhosa, anun-
ciou ao Expresso a intenção
de colocar a concurso — ain-
da este mês — cerca de €300
milhões de fundos europeus
dos programas operacionais
regionais (POR) do Portugal
2020 para apoiar investimen-
tos em curso nos domínios da
saúde, educação, regeneração
O EuroBic ficou numa situação periclitante aquando do Luanda Leaks, no início de 2020 FOTO TIAGO MIRANDA
tem tentado manter o banco em
funcionamento, sem precisar
de novo capital e sem levantar
os alarmes junto da autoridade
bancária. Até setembro (não há
ainda contas finais do ano), o
banco de que Isabel dos Santos
continua a ser a principal acio-
nista obteve um lucro de €9,28
milhões, quando até junho teve
prejuízos de €7,4 milhões.
A evolução até setembro mos-
tra que haverá um resultado
anual melhor do que o anteci-
pado: “É expectável que o resul-
tado do corrente ano fique além
do orçamentado”, respondeu
fonte oficial do banco.
urbana ou património cultural
e natural.
Os apoios destinam-se a obras
no terreno. “Será sobretudo
para municípios e, na área da
saúde, também para entidades
públicas empresariais. A obra
deve ter passado por concur-
so público, não pode ser ajuste
direto”, explica a governante
que tutela os POR do Algarve,
Alentejo, Lisboa, Centro e Norte
2020.
Overbooking condicionado
É de €7753 milhões o envelope
de fundos europeus que os POR
têm de aplicar entre 2014 e
2023. A dois anos do final do
prazo, estão executados €4773
milhões (62% do envelope) e
A mesma fonte não dá uma
explicação sobre o que motivou
esta variação de €16,71 milhões
entre junho (prejuízo de €7,43
milhões) e setembro (lucro
de €9,28 milhões), permitin-
do esta inversão para terreno
positivo do banco, que empre-
gava, no final de 2020, 1475
trabalhadores e que contava
com 184 agências bancárias.
De acordo com a demons-
tração dos resultados dispo-
nibilizada no site, a rubrica
de imparidades e provisões
terá ajudado. “O EuroBic tem
pautado o seu posicionamento
no mercado por uma extrema
aprovados €8592 milhões
(111%). “Temos este overboo-
king de 11 pontos percentuais
— €839 milhões — porque es-
tamos a contar com quebras”,
explica Ana Abrunhosa sobre
a tradicional prática de apoiar
projetos a mais para acautelar
aqueles que falham.
A governante antecipa que
mais fundos serão libertados
nos próximos anos, decorrentes
de projetos que não se executa-
rão na totalidade ou pelo valor
previsto, de eventuais rescisões
e desistências ou por razões fi-
nanceiras em resultado de audi-
torias na fase de encerramento
do Portugal 2020. Daí que tenha
decidido abrir já estes concursos
“em overbooking condicionado,
para que não fique nem um cên-
timo por aproveitar”.
Nesta nova fase do Portugal
2020 os projetos aprovados não
terão financiamento comunitá-
rio automaticamente garanti-
do: “Ficam em lista de espera e
serão financiados à medida que
iremos libertando verbas.”
Porque os fundos não po-
dem apoiar obras acabadas,
esta solução permite aos au-
tarcas candidatarem-se a um
eventual prémio do Portugal
2020 enquanto as concluem
prudência, face à incerteza ad-
veniente da conjuntura econó-
mica atípica que temos vindo
a viver e dos desafios naturais
que emanam do seu contexto
específico”, justifica o banco,
que no ano passado tinha car-
regado nestas perdas potenci-
ais para se precaver para o fu-
turo. “Tal posicionamento tem
tradução natural quer na sua
abordagem à gestão de risco,
quer na forma como prepara e
leva em conta potenciais con-
tingências negativas.” A mes-
ma fonte diz que “é expectável
que o banco alcance ou supe-
re os objetivos que se propôs,
PROGRAMAS REGIONAIS
DO PORTUGAL 2020
Fundos executados em milhões de euros
Meta total
8000
6000
4773
6512
4000
2000
3217
1572
2268
972
Municípios
0 gramas do Portugal 2020, cuja
2016 17 18 19 20 21
FONTE: MINISTÉRIO DA COESÃO TERRITORIAL
no terreno. E o país fica com
uma “almofada” de projetos ca-
paz de prevenir qualquer perda
de fundos. “Este montante de
€300 milhões até pode aumen-
tar de 2022 para 2023”, diz a
ministra.
Neste regime de overbooking
condicionado, será crucial sa-
ber quem fica à frente de quem
na fila de espera pelos derradei-
ros fundos do Portugal 2020.
“As regras serão iguais para
todo o território e transparen-
tes. Isto é muito importante”,
avisa Ana Abrunhosa sobre a
análise do mérito e da maturi-
dade das obras municipais. “A
hierarquização das operações
quer em termos comerciais,
quer em termos da implemen-
tação dos seus planos de trans-
formação internos”.
A entidade bancária diz tam-
bém que “não espera incum-
prir nenhum dos indicadores
com os quais se encontra com-
prometida com o regulador”.
Uma das exigências europei-
as que tinha, de obtenção de
fundos próprios ou de dívida
que obrigava a ir ao mercado
financiar-se junto dos inves-
tidores, foi adiada para 2024,
conforme noticiou o Expresso.
Ir ao mercado num momento
turbulento como o que tem vi-
aprovadas terá de ser pública,
conhecida, para que todos sai-
bam qual é o próximo a sair do
overbooking.”
7753
Pé no acelerador
Em 2021, os POR conseguiram
injetar €1556 milhões de fun-
2700
dos europeus na economia e
acelerar a taxa de execução de
41% para 62%. Contudo, per-
manecem atrás de outros pro-
22 2023 execução já superou os 70%.
Para 2022, o objetivo dos POR
é injetar mais €1739 milhões
para entrarem no derradeiro
ano de 2023 já com 84% dos
fundos executados.
Um terço deste envelope de-
pende das obras municipais
que finalmente dispararam na
regeneração urbana, escolas,
saúde, etc. Em 2021, a taxa de
execução destes fundos saltou
de 36% (€972 milhões) para
58% (€1572 milhões) e a meta
é chegar aos 84% (€2268 mi-
lhões) em 2022. Os autarcas
precisam então de aplicar €696
milhões este ano. Em 2021 já
conseguiram €600 milhões,
contra €287 milhões em 2020.
Joana Nunes Mateus
jmateus@expresso.impresa.ptpt
ECONOMIA 7
vido não seria fácil e teria cus-
tos elevados.
Enquadramento “adverso”
Mas as contas trazem otimismo
para um banco que tem vivido
um período difícil nos últimos
dois anos. Foi em janeiro de
2020 que eclodiu o Luanda Le-
aks, que afetou a sua principal
acionista, Isabel dos Santos, a
que se juntou, dois meses de-
pois, a pandemia de covid-19.
Houve uma fuga de depósitos
(€620 milhões em quatro me-
ses), obrigando a realizar de-
pois uma operação para obten-
ção de liquidez, para ter mais
financiamento disponível junto
do Banco Central Europeu. O
banco teve de reduzir a expo-
sição a clientes de geografias
mais arriscadas. Além disso,
tinha operações com os bancos
com estrutura acionista idênti-
ca: BIC Angola, BIC Cabo Verde
e BIC Namíbia.
Foi um “enquadramento que
dificilmente poderia ser mais
adverso”, como descreveram
Pedro Maia, presidente da ad-
ministração, e Azevedo Pereira,
presidente-executivo, no relató-
rio e contas de 2020. No mesmo
documento, ambos diziam que
“tudo aponta para que a estru-
tura de participações sociais do
banco se venha a alterar”.
Até agora, nada. A primeira
tentativa de venda da quase tota-
lidade do capital foi ao Abanca,
que ganhou peso em Portugal
com a compra do retalho do
Deutsche Bank. Falhou por di-
vergências de preço. Depois, os
acionistas com 52,5% do capi-
tal do banco (sem contar com
Isabel dos Santos) iniciaram
um concurso de alienação das
posições no final de 2020. Na
altura, havia já uma fase de aná-
lise aprofundada do EuroBic (a
chamada due dilligence) para “a
apresentação de propostas fir-
mes de aquisição”. Sem sucesso
por agora. Este é um tema que o
EuroBic não comenta.
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
Superministra
da Economia?
“Essa é uma pergunta que
terá de fazer ao futuro
primeiro-ministro, que eu
espero que seja,
naturalmente, António
Costa”, responde Ana
Abrunhosa sobre a
especulação em torno de
uma eventual ascensão a
“superministra da
Economia” num futuro
Governo. A atual ministra
da Coesão Territorial e
cabeça de lista do PS por
Castelo Branco diz-se
“totalmente empenhada”
na dupla missão que tem
até às legislativas. O “ECO”
noticiou recentemente que
António Costa “tem dado
sinais de que quer rever a
orgânica da Economia e
uma das possibilidades
é mesmo uma fusão dos
ministérios e a criação
de uma espécie de
superministério. Ana
Abrunhosa é um dos
nomes em cima da
mesa”. J.N.M.
8 ECONOMIA Expresso, 14 de janeiro de 2022

MERCAD OS

Finanças pessoais O ano positivo para as bolsas reflete-se no desempenho das aplicações financeiras

Quanto rendeu
o seu dinheiro
em 2021?

Ribeiro, tendo em conta o “rendi-

Textos Ana Batalha Oliveira

N
mento muito baixo” dos produtos de
capital garantido, como é o caso dos
o ano de 2021 con- depósitos a prazo.
seguiram-se largos Fora os investimentos mais típicos,
ganhos no mundo as criptomoedas também ganharam
financeiro, tendo o seu espaço, ao valorizarem muito
em conta o ano glo- significativamente em 2021 — os ga-
balmente positivo nhos chegam aos 400%. No entanto,
nos mercados aci- a tendência pode alterar-se entretan-
onistas — mas nem to, avisam os analistas.
tudo foi um mar de Independentemente de como
rosas. Os produtos de capital garan- corre cada ano, é importante ter
tido mantêm rentabilidades baixas em mente as regras básicas na
ou próximas de zero e a inflação está hora de investir — as opções cer-
a torná-los menos interessantes. Veja tas dependem do perfil de cada Obrigações
aqui como correu o ano olhando as vá- investidor e há a chamada re-
rias opções de investimento e perceba gra de ouro: a diversificação. Certificados
o que deve ter em atenção em cada
uma delas, ao mesmo tempo que lhe
“A diversificação permite
alcançar níveis de renta-
de Aforro e O ano foi negativo para a dívida de
qualidade no mundo porque as
são dadas algumas perspetivas. bilidades superiores sem do Tesouro taxas soberanas subiram, indica
“No ano que agora termina, a expo- aumentar o nível de risco. Filipe Silva, do Banco Carregosa. A
sição a classes de ativos com maior Esta é forma mais eficiente rentabilidade da dívida
risco compensou os investidores que de se alcançar uma boa rela- Dois produtos de poupança que o portuguesa com maturidade para
optaram por assumir esse risco acres- ção entre risco e retorno nos Estado criou, que fazem parte da 2030, cotada na Euronext, caiu
cido. Os produtos com exposição aos investimentos”, indica Mário dívida pública, introduz o analista 3,6% e a alemã, com
mercados acionistas terão tido glo- Carvalho Fernandes. financeiro da Deco Proteste, António aproximadamente o mesmo
balmente um desempenho positivo. O “Doutor Finanças” aconse- Ribeiro, ao mesmo tempo que fala de prazo, caiu 3,2%.
Essa recompensa não ocorre todos lha a que as famílias comecem um “cenário desolador” para quem A forma mais simples de um
os anos, mas no médio e longo prazo por constituir um fundo de emer- investiu nestes produtos em 2021. investidor a retalho investir em
tende a verificar-se”, explica Mário gência, que não é mais do que um Isto porque têm um rendimento obrigações é através de fundos de
Carvalho Fernandes, responsável de pé de meia, com um valor equiva- próximo de zero, aquém da inflação, obrigações ou ETF, diz o Banco
Investimento do Banco Carregosa. No lente ao total de despesas durante pelo que o dinheiro perde o valor real. Carregosa. A título de exemplo, o
ano que passou, as classes com maior seis a 12 meses. A partir daqui, se so- ETF Se a médio e longo prazo o fundo de obrigações NB
risco beneficiaram da recuperação da brar dinheiro, podem-se equacionar rendimento é muito próximo entre Obrigações Europa caiu 2,24% e o
atividade económica. outras opções. “O mais importante é ambos, a diferença está na forma de IMGA Dívida Pública Europeia
Já na exposição às obrigações, com- sabermos que riscos estamos a correr, ETF é a sigla em inglês usada para cada um destes produtos. Os — Categoria A desvalorizou
pleta o mesmo analista, 2021 foi “algo o que implicam e o que pode aconte- designar os fundos negociados em Certificados de Aforro pedem mesmo 4,42%. Os principais
misto”. As classes mais defensivas cer às nossas poupanças”, continua a bolsa, ou seja: em vez de serem entregas de pequeno montante, a índices de obrigações terminam o
acabaram por ter um ano negativo, mesma fonte. A quem não saiba o que subscritos num banco, partir de 100 euros e depois dos ano com rentabilidades entre os
dada a materialização do risco de taxa fazer, mas queira entrar mais a fundo movimentam-se em bolsa como primeiros três meses pode resgatar- -5% e os +5%, complementa Mário
de juro. “2021 foi um ano bastante no mundo financeiro, deve consultar se se tratassem de uma ação. se a quantia em qualquer altura. Têm Carvalho Fernandes.
mau para a poupança”, acrescenta especialistas. “Geralmente são para maturidade de dez anos e, ao longo No campo das empresas,
o analista da Deco Proteste António aboliveira@expresso.impresa.pt.pt investidores que pretendem ser do tempo, vão capitalizando os juros, sobretudo desde que a nova
mais ativos”, afirma Jorge Duarte, isto é, os juros vão sendo integrados regulação (DMIF II) entrou em
analista financeiro da Deco no investimento em vez de serem vigor, têm-se dirigido as emissões
COMPORTAMENTO DE ALGUMAS CLASSES DE ATIVOS FINANCEIROS Proteste, já que a gestão é pagos, de três em três meses. O de obrigações sobretudo a
Rentabilidade em 2021
passiva. Uma vantagem é que rendimento é dado pela taxa base, investidores institucionais, indica
CLASSE DESEMPENHO PRODUTO/ATIVO normalmente os custos, sendo que está nos 0,3%, e depende da Filipe Silva, pelo que os fundos são
MELHOR 51,6% iShares US Property Yield UCITS ETF USD apenas associados à negociação, Euribor a três meses. Os Certificados de novo uma solução. O Euro
ETF
PIOR -23,5% iShares MSCI Turkey UCITS ETF USD são “muito baixos”, entre os 0,4 e do Tesouro exigem um mínimo de Aggregate, que contém dívida
Fundos de MELHOR 50,9% Neuberger Berman US Real Estate Securities USD A os 0,5% ao ano, ou até menos — 1000 euros e pedem um ano antes de corporativa europeia de elevada
Investimento PIOR -23,6% BNPP Turkey Equity Cap N dependem do banco ou da poder resgatar. Pagam os juros qualidade, caiu 2,85% no conjunto
Depósitos MELHOR 1,1% Best Bank (a três meses) corretora. O mesmo aconselha anualmente ao longo do prazo de do ano passado.
a prazo 0,06% Média um investimento de horizonte sete anos, a uma taxa fixa que vai Sobre o futuro, Steven Santos,
MELHOR 28,9% BPI Reforma Global Equities PPR/OICVM mais alargado, de três a cinco crescendo dos 0,5% aos 1,2%. A partir analista do BiG, afirma que “o
Fundos PPR
PIOR -2,1% Santander Poupança Prudente FPR anos. Não há garantia de capital. do terceiro ano, acresce ainda um contexto é desafiante para esta
400% Ethereum Em termos do desempenho no prémio em função do crescimento do classe de ativos”, visto que as
Criptomoedas
60% Bitcoin ano passado, foi em tudo produto interno bruto. Ambos expectativas de inflação são altas
6,4% Dólar semelhante ao dos fundos de podem ser subscritos nas estações e a Reserva Federal norte-
Câmbio -7% Euro investimento: ganhou o dos CTT ou online através do sítio americana já anunciou a redução
-44% Lira turca imobiliário norte-americano Aforronet, do IGCP — Agência de das compras mensais de
98% CTT (mais de 50%), o foco na Turquia Gestão da Tesouraria e da Dívida obrigações. A ActiveTrades
36,5% Índice S&P500 (EUA) deu as maiores perdas (na ordem Pública. Para a Deco Proteste, uma acredita que as obrigações terão
Ações
13,7% PSI-20 dos 23%) e uma escolha mais subida na rentabilidade destes tendência a diminuir de valor,
-14,08% Índice Hang Seng (China) diversificada rondou os 35% de produtos em 2022 não é certa e, a uma vez que os juros que estão
FONTE: DECO PROTESTE; APFIPP; XTB rendibilidade. verificar-se, será ligeira. indexados terão tendência a subir.
Expresso, 14 de janeiro de 2022
Ações
Para as ações, “2021, foi um ano
muito generoso”, resume o analista
da Deco Proteste João Sousa. As
bolsas americanas foram das que
mais subiram, com o índice de
referência em Nova Iorque, o
S&P500, a somar 36,5%. Na Europa,
por exemplo, Paris e Zurique
subiram mais de 25% e Lisboa foi
das praças que menos subiu, com o
PSI-20 a valorizar 13,7%. Das 142
ações nacionais e internacionais
acompanhadas pela Deco Proteste,
a dos CTT foi a que mais valorizou,
98%.
Já os mercados acionistas
emergentes apresentaram um ano
negativo, com perdas próximas de
5%, em grande parte fruto das
perdas nos mercados chinês e
brasileiro, indica o Banco
Carregosa. O Hang Seng, de Hong
Kong, perdeu 14,08% em 2021 e o
brasileiro Ibovespa caiu 17,95%,
afetados pela pandemia e
problemas de governação, justifica
João Sousa.
Os ganhos são na generalidade
elevados, mas atenção: não se
devem tirar conclusões com base
num ano apenas e “se não houver
diversificação no investimento
corremos o risco de perder parte ou
todo o nosso dinheiro”, aponta o
“Doutor Finanças”. Investir
diretamente em ações (em vez de
fundos de ações ou ETF), explica
João Sousa, implica ter de
acompanhar de perto os
investimentos, informar-se sobre os
mercados e empresas em que se
aposta. E há sempre o peso da
comissão de compra e de venda, e
por vezes outras comissões de
guarda de títulos, a ter em conta.
Sobre 2022, João Sousa afirma que
“não é de prever que o otimismo
dos investidores permaneça tão
favorável como aconteceu este
ano”, pelo que os ganhos se
preveem mais modestos.
Criptomoedas
As criptomoedas “estão sempre a
surgir”, explica Henrique Tomé,
da XTB, mas, olhando para
aquelas que têm maior valor de
mercado, “a Ethereum é, sem
sombra de dúvidas, a
criptomoeda a registar o melhor
desempenho ao longo dos últimos
tempos”. Só em 2021, disparou
400%. Embora o preço seja
inferior ao da Bitcoin, ao longo
dos últimos 9 anos a Ethereum
tem ultrapassado quase sempre o
desempenho da criptomoeda
mais popular, que valorizou pouco
mais de 60% ao longo de 2021. “As
criptomoedas são um segmento
onde a previsibilidade
fundamental é uma lotaria, no
entanto, é de realçar que com o
fim da injeção de liquidez no
sistema, por parte dos bancos
centrais, é de esperar um abanão
nesse mercado”, vaticina Mário
Martins, da ActiveTrades.
Depósitos a prazo
Os depósitos a prazo renderam
uma média de 0,06% em 2021. Uma
vez que têm capital garantido, o
mínimo de ganhos foi mesmo zero.
Não perdem. Mas com a
maturidade de seis meses a um ano,
as mais comuns, a melhor
rendibilidade dentro do
levantamento da Deco Proteste foi
de 0,7%, no Banco Invest, e 0,5%, no
Banco BAI Europa, respetivamente.
Nos depósitos a três meses, o Best
Bank ainda ofereceu 1,1%. “Há taxas
melhores em bancos mais
pequenos ou bancos online, e
também para se captarem novos
clientes ou novos montantes”,
assinala António Ribeiro. Ainda
assim, cumprem a sua função,
ressalva Mário Carvalho Fernandes,
do Banco Carregosa: servem como
reserva em horizontes mais curtos
de até 2 anos, para situações de
necessidade de gastos ou
oportunidades de investimento e
para reduzir o nível de risco da
carteira. Daqui para a frente, há
que observar a evolução das taxas
de juro dos bancos centrais para ter
pistas sobre a rentabilidade dos
depósitos a prazo. Não se espera
que o Banco Central Europeu
avance para subidas no curto prazo,
mas de qualquer forma, avisa
António Ribeiro, mesmo que BCE o
faça, os bancos comerciais podem
demorar algum tempo a reagir, já
que costumam ser “muito mais
lentos a subir do que a descer”.
Independentemente dos
vencedores e perdedores de
2021, o seu futuro desempenho
é incerto FOTO GETTY IMAGES
Fundos de
investimento
Nos fundos de investimento, há um
pouco de tudo. Fundos de ações, de
obrigações, do mercado
monetário… e também podem
especificar a geografia onde
investem, o sector ou se têm em
conta fatores de sustentabilidade
na carteira. Assim, o risco varia
grandemente — e as rendibilidades
também. Têm a vantagem de ter
uma gestão profissional, o que
pode trazer valor acrescentado,
mas neste caso os custos sobem
geralmente acima do 1%, e serão
tanto maiores quanto mais
específico o mercado, indica a Deco
Proteste. Mas a maior parte não
tem custos de subscrição e de
resgate. Em 2021, os fundos de
investimento que mais ganharam
(entre os 4000 acompanhados pela
Deco Proteste) foram aqueles que
investiram em ações do sector
imobiliário norte-americano —
um ramo considerado muito
específico, cuja rendibilidade
chegou aos 50%. O único custo que
não está aqui refletido é o
imposto: no ano de venda há uma
tributação dos ganhos de 28%. No
entanto, também se registaram
largas perdas, acima de 23%, num
fundo focado no mercado turco,
que foi o pior desempenho. Um
investimento mais diversificado
entregou ganhos acima de 30%. “O
ano 2021 foi excecional para os
fundos portugueses,
particularmente os fundos
mobiliários”, indica a APFIPP —
Associação Portuguesa de Fundos
de Investimento, mas “tanto a
rendibilidade como o risco
histórico não são, de modo algum,
um indicador de rendibilidade e
risco futuros”. Assim, indica
apenas que as rendibilidades de
2022 dependerão do desempenho
dos mercados financeiros e da
evolução das taxas de juro.
ECONOMIA 9
PPR
Os Planos de Poupança Reforma
(PPR) são indicados para
constituir poupanças de longo-
prazo, como é o caso da reforma.
Há PPR na forma de seguro, que é
o mais comum em Portugal, já
que garante o capital, mas
também os há na forma de fundo.
O “Doutor Finanças” refere-se
aos primeiros como uma
alternativa aos depósitos a prazo
e indica que os segundos
funcionam como um fundo de
investimento. De acordo com a
Deco Proteste, um seguro PPR é
recomendado para quem está a
dez anos ou menos da reforma.
Quem ainda está muito longe,
tem os PPR na forma de fundo
como a melhor opção. “Pode
haver um ano ou outro que o
rendimento é negativo, mas a
longo prazo compensa”, garante o
analista António Ribeiro.
De acordo com o levantamento da
Deco Proteste, em 2021 os
seguros PPR ganharam uma
média de 3,1%, enquanto os
fundos PPR ganharam uma média
de 5% — “o que a longo prazo vai
fazer uma grande diferença”.
Nos fundos PPR, o Santander
Poupança Prudente FPR teve o
desempenho mais negativo, de
-2,1%, e o BPI Reforma Global
Equities PPR/OICVM ganhou
28,9%, beneficiando de ser
constituído maioritariamente por
ações num ano de recuperação
das bolsas. Cada um deverá ter
tido um desempenho em 2021
alinhado com as rentabilidades
das classes em que cada veículo
investiu, ponderadas pelo seu
peso, balança Mário Fernandes.
Fora as rentabilidades, importa
conhecer as comissões, que no
caso dos seguros costumam ser
mais altas, indica a Deco Proteste.
E, como aponta a APFIPP, nos
PPR, há a vantagem adicional da
fiscalidade: as aplicações podem
ser deduzidas à coleta de IRS,
em 20% e até um limite máximo
de 400 euros anuais, além de que
a tributação, no momento do
resgate, é “significativamente
reduzida”, atingindo os 8%
quando o reembolso aconteça
na idade de reforma e tenham
decorrido pelo menos 5 anos
das entregas objeto desse
reembolso.
Câmbio
No mercado de câmbio, as duas
divisas com melhor rentabilidade
em 2021 foram o dólar (+6,4%) e o
chinês yuan (+2,7%), quando
avaliadas na forma de índice e
comparadas a um cabaz de
moedas de referência, avança
Nuno Mello, da XTB. O dólar, conta
a ActiveTrades, beneficiou da
perspetiva do fim do programa de
estímulos e do aumento dos juros
por parte do Reserva Federal
norte-americana, que começou a
ser antecipado pelo mercado em
meados de 2021. No sentido
oposto, o euro (-7%), e o iene
japonês (-10,2%) tiveram os piores
desempenhos face ao mesmo
cabaz. A lira turca viveu uma
derrocada de 44%, por causa das
dificuldades do Presidente
Erdogan em estabilizar a situação
económica e monetária do país. Na
escolha das divisas para comprar
ou vender deverá ser tida em conta
a política
monetária do respetivo banco
central, a evolução do emprego e
da inflação e os dados
macroeconómicos respeitantes a
cada economia. Tudo isso
contribui para criar expectativas
nos investidores, e é isso que
depois faz mover o mercado,
aponta Nuno Mello. Para Mário
Martins, o futuro deste mercado
depende da postura do Banco
Central Europeu nos próximos
meses.
10 ECONOMIA
FINANCIAMENTO
Estado paga juros
mais altos pelas
emissões de dívida
Portugal conseguiu pagar mínimos
nos dois primeiros anos de pandemia,
mas o aperto na política monetária
em 2022 ameaça esse privilégio
Cristina Casalinho, que dirige o IGCP desde setembro de 2014, inaugurou o ano com uma operação que registou uma procura de €20 mil milhões FOTO ANTÓNIO COTRIM/LUSA
Jorge Nascimento
Rodrigues
O custo de financiamento das
emissões de dívida em 2022
deverá aumentar dos mínimos
que registou em 2020 e 2021,
em virtude de as taxas de juro
já estarem a subir no mercado.
Portugal gozou de dois anos
especiais, durante a pandemia,
com o juro médio das novas
emissões a descer para um mí-
nimo de 0,5% em 2020. Mas já
subiu ligeiramente para 0,6%
no ano passado, segundo da-
dos publicados pela Agência
de Gestão da Tesouraria e da
Dívida Pública (IGCP).
As projeções disponíveis
para a dívida a 10 anos apon-
tam para a duplicação da taxa
até final do ano, de 0,6% atual-
mente para mais de 1% no final
deste ano, segundo o portal
World Government Bonds (ver
gráfico). Nos outros prazos,
a subida também será certa,
tendo em conta a pressão que
vai ser exercida pelo aperto da
política monetária por parte da
Reserva Federal dos Estados
Unidos (Fed), com um impacto
global nos mercados financei-
ros, e do próprio Banco Central
Europeu (BCE). Apesar da es-
tratégia “passo a passo” ga-
rantida por Christine Lagarde,
a persistência do surto infla-
cionista na zona euro poderá
obrigar o BCE a abandonar o
gradualismo e a ser contagiado
pelos norte-americanos.
Para uma economia como a
portuguesa, em que mais de
30% da dívida é detida pelo
BCE, sendo o principal credor
do país, as alterações nas aqui-
sições de títulos no mercado
secundário pelo banco central
são matéria muito sensível
para a gestão da sustentabili-
dade da dívida. A trajetória de
subida dos juros da dívida de-
verá ser, no entanto, gradual, o
que permitirá ao IGCP colocar
boa parte do seu programa de
emissão em 2022 ainda com
taxas historicamente baixas.
Investidores correm
à primeira operação do ano
Nesse quadro, Portugal re-
gressou ao mercado esta se-
mana, tendo colocado €3000
milhões em dívida de longo
prazo com uma procura su-
perior a €20 mil milhões. Foi
a primeira operação do ano
realizada pela Agência diri-
O IGCP colocou esta
semana €3000 milhões
em dívida a vencer
em 2042 pagando
uma taxa de 1,185%
gida por Cristina Casalinho,
lançando uma nova linha de
obrigações a 20 anos, vencen-
do em 2042, que passa a ser o
segundo prazo mais longo na
carteira da dívida portuguesa.
O Tesouro pagou uma taxa
de remuneração de 1,185%,
que se situa a meio entre os
0,9% para os títulos que ven-
cem em 2037 e os 1,47% para
as obrigações que vencem
em 2052, segundo as yields
que se registavam na quarta-
-feira, no dia da operação, no
mercado secundário onde se
transacionam os títulos entre
os investidores.
A aposta em emitir dívida de
mais longo prazo, enquanto
ainda são possíveis taxas de
remuneração historicamen-
te baixas, é apontada como
“eficiente” por analistas de
mercado. Recorde-se que,
em janeiro de 2019, a taxa no
mercado da dívida a 20 anos
estava no dobro do que agora
Expresso, 14 de janeiro de 2022
foi pago. “Tendo em conta as meçou por uma sindicação de
previsões de uma subida das muito longo prazo, lançando,
taxas de juro, nomeadamente em fevereiro, a obrigação com
mais significativa nos prazos o prazo mais longo da carteira
mais longos, faz sentido emitir de dívida portuguesa, o título a
dívida com maturidades mais vencer em 2052.
longas enquanto os custos fo- A operação de financiamen-
rem baixos”, refere-nos Filipe to desta semana foi feita no
Silva, diretor de Investimentos mercado de emissão — desig-
no Banco Carregosa. Para o nado como mercado primário
economista Abel Mateus, que — através de uma operação
prevê que “o Banco Central sindicada a seis bancos e não
Europeu (BCE) seja obriga- por via de leilão. No mesmo
do pela pressão inflacionista a dia, o Tesouro espanhol rea-
acabar de vez com o quantitati- lizou uma operação similar,
ve easing [com todos os progra- colocando €10 mil milhões em
mas de compra de ativos] no obrigações a vencer em 2032,
decorrer de 2022”, o Tesouro com uma procura de mais de
“deveria emitir dívida em todas €63 mil milhões, pagando uma
as maturidades para beneficiar taxa de 0,753%, que é superior
das baixas taxas enquanto não à registada para as obrigações
sobem”. Até 5 anos, as taxas no portuguesas a 10 anos.
mercado secundário são ainda
negativas — ou seja, os investi- Credores oficiais
dores ainda pagam para deter têm mais de 50% da dívida
os títulos em carteira.
Filipe Silva acha positivo que Com esta primeira operação
a Agência dirigida por Cristina sindicada, o IGCP concretizou
Casalinho tenha “surpreendi- os primeiros 17% do seu plano
do” o mercado começando por de emissão de obrigações no
uma operação sindicada a 20 valor de €17,7 mil milhões. É
anos, em vez do esperado lan- um valor de emissão bruta que
çamento de uma nova referên- é superior em mais de €3000
cia (benchmark) na dívida a 10 milhões ao plano concretiza-
anos. Na realidade, também do em 2021, que se ficou por
no ano passado, o IGCP co- €14,6 mil milhões. Apesar do
JUROS DUPLICAM
ATÉ FINAL DO ANO O Tesouro vai emitir
Yields das obrigações a 10 anos em %
€17,7 mil milhões em
obrigações em 2022
1
tendo de amortizar 13,4
0,75
mil milhões em dívida
0,50
maior volume de emissão bru-
0,25 ta de obrigações, as necessida-
des líquidas de financiamento
0 do Estado em 2022 vão ser
31 DEZ. 31 DEZ. 31 DEZ. 10 JAN. JUN. DEZ.
inferiores em €2,5 mil milhões
2019 2020 2021 2022 2022* 2022* em relação ao ano passado,
* Projeções do World Government Bonds pois o défice será inferior,
Nota: Taxas no mercado secundário mas as amortizações de dívi-
FONTES: INVESTING.COM E WORLD GOVERNMENT BONDS da vão ser superiores em 800
milhões.
Apesar da perspetiva de su-
CUSTO DA DÍVIDA
bida das taxas nas novas emis-
EM QUEDA
Juro médio do stockk de dívida em %
sões, o custo anual do stock
de dívida continuará a descer
até final da nova legislatura,
3 segundo as previsões do atu-
al Governo: de 2,6% em 2021
2,5 para 1,8% em 2025 (ver grá-
fico). Recorde-se que mais de
2 50% da dívida atual está nas
mãos de credores oficiais: o
1,5 BCE, os dois fundos de resgate
do tempo da troika e a União
1 Europeia (agora, nomeada-
2019 2020 2021 2022* 2023* 2024* 2025* mente, através dos emprésti-
mos no âmbito do Fundo de
* Projeções
Recuperação e Resiliência).
FONTE: IGCP (APRESENTAÇÃO INVESTIDORES DE 9/12/2021) economia@expresso.impresa.pt
Expresso, 14 de janeiro de 2022
BANCA
Quer os lesados do
Banif quer os lesados
emigrantes do BES
querem uma solução
idêntica à dos lesados
do papel comercial
do GES FOTO ANTÓNIO
PEDRO SANTOS/LUSA
Governo retoma negociação com
lesados do BES e chama os do Banif
Investidores esperam que solução prometida seja finalmente posta em prática,
dois anos depois do início das negociações com o Governo
Textos Isabel Vicente
O Governo retomou as ne-
gociações com os lesados
emigrantes do BES dois anos
depois de as ter iniciado. Na
reta final do ano foi criado
um grupo de trabalho que in-
clui não só estes investidores
como também os lesados do
Banif. O objetivo é minorar
as perdas de que foram alvo
com as vendas de produtos
de investimento, que foram
consideradas irregulares, ina-
dequadas ao seu perfil de in-
vestidores não-qualificados.
Estes lesados procuram
uma solução à semelhança
da que foi adotada para os
lesados do papel comerci-
al do GES. O Governo tem
avançado pouco, pois quer
assegurar-se de que qualquer
garantia que seja dada para
a criação de um fundo de re-
cuperação não prejudica o
erário público.
Para que se chegasse aqui
foi preciso que os investimen-
tos destes clientes fossem
considerados venda enganosa
por uma comissão de peritos
da Ordem dos Advogados, de-
pois de uma recomendação
da Assembleia da República,
em 2018, para atender a estes
casos que ficaram fora de ou-
tras soluções.
No início de 2020 estavam
a ser agendadas as primeiras
reuniões com lesados emi-
grantes do BES, que a pande-
mia acabou por protelar para
o verão desse ano, depois para
o final de 2020 e depois para
o primeiro semestre de 2021,
mas só a 17 de dezembro
ocorreu a primeira reunião
do novo grupo de trabalho, do
qual fazem parte não só o Mi-
nistério das Finanças como
também o Banco de Portugal,
a Comissão do Mercado de
Valores Mobiliários (CMVM)
e as associações de lesados
(ver cronologia).
O advogado Nuno Vieira,
que representa este conjunto
de lesados dos dois bancos,
disse ao Expresso que enviou
um pedido de informação ao
Governo e ao grupo de tra-
balho mas até ao fecho des-
ta edição não tinha havido
resposta. O Governo, dizem
as associações, está ago-
ra empenhado em arranjar
uma solução, como parecia
ter estado há dois anos, mas
tudo está a começar do zero
e em período eleitoral não é
expectável que haja avanços,
só promessas.
“A nossa luta não é
política, mas a decisão
é política”, diz Jacinto
Nunes, representante
dos lesados do Banif
Nuno Vieira vai apresentar
uma proposta de solução re-
lativamente ao perímetro —
número de pessoas cuja situa-
ção fundamenta a inclusão no
fundo. A comissão de peritos
da Ordem dos Advogados já
validou que houve venda en-
ganosa no final de 2019. Estes
lesados querem uma solução
idêntica à que foi dada aos
lesados do papel comercial
do GES/BES em função dos
investimentos com patama-
res de recuperação a definir.
O objetivo das negociações
é que seja criado um fundo
com garantia do Estado para
que os lesados recuperem
parte do seu investimento, à
semelhança do que aconte-
ceu com os lesados do papel
comercial do GES. Durante
meses verificou-se o jogo do
empurra: o Ministério das Fi-
nanças passou a bola ao Ban-
co de Portugal, pois queria
saber se haveria recuperabi-
lidade do fundo a criar.
Lesados querem
compromisso de quem
ganhar as eleições
Será desta que avançará a
criação do fundo com aval do
Estado? Francisco Carvalho,
da Associação de Defesa dos
Clientes Bancários (ABESD),
diz ao Expresso que “este gru-
po de lesados do BES aguarda
ansiosamente as decisões des-
te grupo de trabalho, o qual,
independentemente da situa-
ção política atual, irá legitima-
mente continuar a realizar o
seu trabalho técnico”. Fazem
parte desta associação 70 le-
sados em cerca de €45 mi-
lhões, “todos atestados pela
Ordem dos Advogados”.
Jacinto Silva, da Associação
dos Lesados do Banif (AL-
BOA), acredita que “poderá
haver este mês mais uma re-
união para avançar na solu-
ção”, acrescentando que “a
nossa luta não é política, mas
a decisão é política. Quer seja
o atual primeiro-ministro a
ganhar as eleições quer seja
outro, quem as ganhar tem
de assumir o compromisso
agora firmado com os lesados,
também muito por influência
do Presidente da República”.
São cerca de 2500 os lesados
do Banif em investimentos de
mais de €220 milhões.
Sara Freitas, da Associação
de Lesados Emigrantes Por-
tugal Venezuela (ALEPV), re-
corda que o Governo “já tinha
prometido uma solução aos
lesados emigrantes do BES
(Venezuela e outras sucursais,
entre as quais a da Suíça) em
2019”, mas não tem dúvidas
de que até às eleições será di-
fícil chegar a alguma conclu-
são. Além do mais, será uma
decisão para quem ganhar as
eleições e depende se quem
ganhar vai assumir o que se
retomou agora.
Francisco Carvalho, da
ABESD, refere ainda: “Relem-
bramos com firmeza que to-
dos os partidos políticos com
assento parlamentar em 2017
aprovaram na Assembleia da
República a lei que nos trou-
xe a este momento, pelo que
estamos certos de que ao fim
de mais de sete anos de espera
nenhum partido político irá
querer ficar do lado errado
da história e interromper a
solução há muito aguardada
e incompreensivelmente adi-
ada até hoje.”
ivicente@expresso.impresa.pt
CRONOLOGIA
2014: Resolução do BES
provoca centenas de clientes
lesados com investimentos
que tinham feito. Dois anos
depois acontece o mesmo
com o Banif
2019: Depois de os lesados do
papel comercial do BES terem
sido indemnizados, os outros
lesados conseguem que haja
uma resolução da Assembleia
da República que recomenda
ao Governo medidas para
minimizar as suas perdas.
É criada uma comissão
de peritos da Ordem dos
Advogados, que conclui que
foram alvo de venda enganosa
2020: Agendam-se reuniões
entre os lesados emigrantes do
BES e o Gabinete do Primeiro-
Ministro, que foram adiadas
por causa da pandemia. O
Ministério das Finanças diz
que o Banco de Portugal tem
de validar se o fundo a criar
consegue recuperar os valores
garantidos pelo Estado, mas
o Banco de Portugal não
responde e a solução não
avança
2021: O Governo promete
retomar as negociações em
julho, e em agosto o ministro
das Finanças, João Leão,
promove a criação do grupo
de trabalho, mas diz que a
garantia do Estado depende
da recuperação de dinheiro
e de uma avaliação do Banco
de Portugal, para proteger
o erário público. Só a 17 de
dezembro é criado o grupo de
trabalho
ECONOMIA 11
Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt
O milagre
das
exportações
O
s programas eleitorais do
PS e do PSD escondem
o mesmo segredo para a
promessa comum de um
verdadeiro milagre económico. Os
socialistas pretendem aumentar
o peso das exportações para 53%
do PIB até 2030, enquanto os so-
cial-democratas, mais ambiciosos
ainda, querem subi-lo para 60% do
PIB no mesmo período. Em qual-
quer dos casos, as promessas sig-
nificam uma alteração profunda
do perfil da economia portuguesa,
com implicações que António Cos-
ta e Rui Rio ainda estão a tempo de
explicar bem aos eleitores.
Uma tal mudança, a concreti-
zar-se, significaria uma economia
antes de 2030 e outra depois de
2030, qualquer que fosse o valor
conseguido. Provavelmente, outro
país. Certamente, outra realidade.
Em relação ao valor registado em
2019, antes da pandemia, os so-
cialistas prometem aumentar o
peso das exportações no PIB em
10 pontos percentuais, enquanto
os social-democratas propõem 16.
O PS quer fazer em oito anos mais
ou menos o mesmo que foi conse-
guido na última década, ajustando
o efeito pandemia. No caso do
PSD, tal aumento só foi consegui-
do em duas décadas, tendo passa-
do de 28,4% do PIB em 2000 para
43,7% em 2019, ou seja, quase 16
pontos a mais.
A dificuldade aumenta se olhar-
mos para a evolução deste indi-
cador. Entre 2001 e 2010, o peso
das exportações no PIB aumentou
3,3% ao ano. De 2010 a 2015 su-
biu para 5,9%. Depois desceu, de
novo, para 3,5% do PIB. Por muito
que custe aos seus detratores, o
grande impulso das exportações
foi conseguido durante o Governo
de Passos Coelho. Neste período,
2011 a 2015, o peso das exporta-
ções subiu 6 pontos percentuais,
passando de 35% para 41% do PIB.
Entre 2015 e 2018 o aumento foi
de apenas 2,7 pontos percentuais.
Passou de 41% para 43,7%, tendo
estagnado em 2019. Para agravar
este quadro, a pandemia mostrou
a dependência do turismo nas ex-
portações, que caíram para 36,7%
do PIB em 2020.
Em seis anos, os Governos da
‘geringonça’ conseguiram menos
de metade do obtido no Governo
de Passos Coelho, facto que pode
ajudar a explicar as opções de
António Costa. O líder socialista
sabe que com o PCP e BE jamais
conseguirá efetuar as reformas
necessárias para concretizar a pro-
messa eleitoral. Os dois programas
são, aliás, bastante vagos quanto a
medidas concretas para concreti-
zar estas promessas. Em matéria
fiscal, o PSD é mais preciso, ao
propor uma descida do IRC para
17% até 2024, uma daquelas me-
didas com impacto direto na vida
das empresas e na captação de in-
vestimento. O PS é mais cauteloso,
e mais ambíguo, certamente para
não assustar o eleitorado de es-
querda. Eleitorado a quem acena
com a semana de quatro dias, uma
proposta claramente eleitoralista.
A mudança que tanto PS como
PSD estão a propor não vai lá com
ambiguidades. Só é possível com
reformas profundas que facilitem
a vida às empresas, que atraiam
investimento nacional e estran-
geiro, que olhe para a frente e não
para trás, que promova a inovação
e esqueça os ‘elefantes brancos’. O
que os dois partidos estão a pro-
meter é um milagre económico.
É certo que os milagres não se ex-
plicam. Mas António Costa e Rui
Rio ainda estão a tempo de tentar.
12 ECONOMIA
NEGÓ CIOS
Esta empresa
nasceu
na Suíça mas
está a crescer
em Portugal
A Mocoffee, fundada pelo inventor
das cápsulas monodose,
investiu €6 milhões na Azambuja
Textos Margarida Cardoso
A Mocoffee nasceu na Suíça,
há 30 anos, pela mão de Eric
Favre, o inventor da cápsula
monodose de café e primeiro
presidente executivo da Nes-
presso, mas agora é controlada
pelo português Ricardo Flo-
res, que investiu €6 milhões
na Azambuja e já antecipa um
novo ciclo de expansão no valor
de €4 milhões para aumentar
a produção de 33 milhões até
120 milhões de cápsulas no ho-
rizonte de 2023.
“Sempre quis investir em
Portugal”, diz o empresário
que já criou um centro de de-
senvolvimento, liderado pelo
português Marco Miranda, no
país. A escolha é ditada pelo co-
ração, mas também pela razão:
“A localização de Portugal para
produzir café é melhor do que
a da Suíça, considerando que
o Brasil é um dos maiores pro-
dutores, tal como África. E na
Suíça tudo é mais caro, demora
a conseguir uma licença indus-
trial porque tem de haver uma
consulta ao cantão”, explica.
Foi assim que esta empresa de-
dicada ao café de especialida-
de para outras empresas (com
origem numa única fazenda)
criou 20 postos de trabalho na
Azambuja e espera empregar
50 pessoas em 2023.
Na lista de clientes, liderada
pela Suíça, pontuam também
Reino Unido, Espanha, Suíça,
Austrália e Indonésia, entre 17
países. “É uma tendência nova
e um negócio em expansão. Em
Portugal, um mercado ainda
embrionário, há atualmente
22 empresas a trabalhar com
este tipo de café, e há três anos
Ricardo Flores espera faturar €4,6 milhões na Azambuja FOTO ANA BAIÃO
era apenas uma. Em Londres,
Paris ou Frankfurt estamos a
falar de 60% do mercado de
café. Em Portugal, a quota ain-
da está nos 3%”, comenta.
A trabalhar num segmento
de nicho, Ricardo Flores acre-
dita na “descentralização da in-
dústria, numa oferta à medida
de cada cliente, na desinterme-
diação”, sabendo que “quem
está no negócio do café prefe-
re clientes grandes a uma pe-
quena e média empresa, uma
loja ou uma rede de lojas com
uma pequena marca própria
desenhada para quem já tem
o paladar desenvolvido e quer
alternativas”.
“No entanto, a grande dis-
tribuição também começa a
querer ter a sua oferta”, refere
o empresário, que já faz uma
marca para os alemães do Lidl,
na Suíça, está a entrar no Sel-
fridges através de um cliente
no Reino Unido, trabalha com
a Unilever na Suíça, com a Ca-
fés Richard (França), a Vittoria
Coffee (Austrália) e a Kapal Api
(Indonésia).
Inovar e patentear
No modelo de negócio da Mo-
coffee, tudo começou pela
produção e licenciamento de
tecnologia, traduzido em inú-
meras patentes. A oferta, além
do café, combina, máquinas
para tirar café e cápsulas em
alumínio ou compostáveis em
casa, a par da monodose de
café com o menor rácio de em-
balagem (peso inferior a um
grama), havendo mais novida-
des prometidas para breve.
A entrada no mercado naci-
onal está a ser estudada, mas
na Austrália e na Indonésia
COMPETIÇÃO
Ferramenta de aprendizagem
na área da gestão
A Fidelidade tem centrado
a sua aposta no Global
Management Challenge
em equipas de quadros
e estudantes
Um programa que permite
testar conhecimentos, treinar
competências e trabalhar em
equipa é como Frederico Con-
treiras, responsável pela área
de talento e desenvolvimento
da Fidelidade, define o Global
Management Challenge. Anu-
almente, a aposta da segurado-
ra na prova tem-se centrado no
apoio à participação de equipas
de estudantes e quadros.
“A credibilidade e as provas
dadas no panorama nacional
e internacional dão-nos toda
a confiança para incorporar o
Global Management Challenge
como peça de aprendizagem e
crescimento das nossas pesso-
as”, explica. No que respeita às
equipas de quadros, por norma
estas integram “elementos de
diferentes direções, para pro-
mover uma diversidade de vi-
sões e complementar cada equi-
pa com diferentes valências,
que, em conjunto, trabalham
para a solução de cada desafio
semanal. É uma aprendizagem
que fica com quem participa e
enriquece a sua vida profissi-
onal”, frisa. Acrescenta ainda
que esta iniciativa é um bom
veículo para simular processos
de tomada de decisão, gestão de
informação e liderança.
Expresso, 14 de janeiro de 2022
tudo passou por parcerias es-
tratégicas locais e, no caso da
fábrica em Itália, vingou a sub-
contratação.
A diferença entre um café de
especialidade e um café normal?
“Será algo como uma cerveja
artesanal e uma cerveja indus-
trial”, responde numa altura
em que espera faturar €4,6 mi-
lhões na Azambuja, cumprindo
a meta inicial de 33 milhões de
cápsulas de café, e garante que
“esta é mesmo uma empresa
portuguesa”. “A Mocoffee nas-
ceu na Suíça, mas o dono é por-
tuguês e a holding está sediada
em Portugal”, sublinha o empre-
sário, com um volume de negó-
cios consolidado de €10 milhões,
presente no restrito grupo de
membros da Swiss Food & Nu-
trition Valley, e que já a projetar
uma fábrica no Brasil.
mmcardoso@expresso.impresa.pt
Frederico Contreiras, da Fidelidade,
acredita no potencial formativo desta competição
Já o apoio a estudantes surge no
âmbito das relações da segura-
dora com a comunidade acadé-
mica. Segundo Frederico Con-
treiras, a Fidelidade “valoriza
perfis que demonstrem inicia-
tiva e capacidade de adaptação
e que tragam uma ‘história de
vida’ para contar. A participa-
ção em iniciativas como esta é
mais uma forma de enriquecer
conhecimentos e adquirir expe-
Na competição,
as equipas têm de
responder a situações
imprevistas e resolver
problemas
RICARDO FLORES O
GESTOR QUE QUERIA
SER INDUSTRIAL
Aos 37 anos, vive entre
Lisboa, Zurique e Vitória-
-Espírito Santo, no Brasil,
apostado em “consolidar a
Mocoffee como uma
multinacional de café de
alta qualidade”. Entrou no
negócio por razões
familiares e um empurrão
do destino. Estudou
Administração e Marketing,
mas aos 20 anos decidiu
formar-se em “Master
Delta Cafés” para apoiar a
família na gestão de uma
cadeia de cafetarias e ao
entrar pela primeira vez na
fábrica de Rui Nabeiro, em
Campo Maior, percebeu
que queria “ser industrial”.
Desempenhou vários
cargos de gestão. Passou
por startups e
reestruturação de
negócios em
desenvolvimento antes de
aterrar na Mocoffee como
presidente executivo via
Brasil, onde foi responsável
pela operação da DeltaQ
local e transitou, depois,
para a Wine.com.br, o
maior e-commerce de
vinhos da América Latina.
Em 2015, quando Eric Favre
vende a Mocoffee à Wine.
com.br, torna-se presidente
executivo da nova unidade
e, em 2018, faz um MBO
com o apoio de um
business angel e prepara a
expansão de olhos postos
em Portugal.
FOTO D.R.
riências que são valorizadas na
hora de contratar”.
Neste início de ano, que corres-
ponde a uma nova edição da
prova, o responsável pela área
de talento aconselha os futuros
participantes a “trabalharem
em equipa, maximizando as
mais-valias de cada um dos seus
membros”. Devem ainda estar
preparados para o imprevisto.
“Uma das grandes vantagens
desta competição é a capacidade
que o simulador tem de gerar
situações imprevistas e forçar à
reação ágil e criativa por parte
das equipas. Conseguir traba-
lhar sob esta imprevisibilidade
em ambiente controlado de si-
mulação é uma boa aprendiza-
gem para gerir o contexto cada
vez mais ambíguo em que todos
temos de viver nestes novos tem-
pos”, finaliza.
Maribela Freitas
mfreitas.externo@impresa.pt
Expresso, 14 de janeiro de 2022
MERCAD O AUTOMÓVEL
Como a Peugeot chegou ao primeiro lugar
Nos últimos 12 anos a marca tem vindo a aumentar sempre a sua quota no mercado nacional
Textos Vítor Andrade
Depois de 23 anos de liderança
da rival Renault, a Peugeot su-
biu ao primeiro lugar do pódio
nas vendas de automóveis em
Portugal.
A marca do leão, que integra
o grupo multinacional francês
Stellantis, liderado pelo portu-
guês Carlos Tavares, terminou
o ano de 2021 com 17.595 uni-
dades vendidas, contra 15.439
da também francesa Renault. A
primeira viu as vendas aumen-
tarem 11%, face ao ano anterior,
enquanto a segunda registou
uma quebra de 17,1%.
Podem ser várias as explica-
ções para esta troca de posi-
ções, mas há uma que se des-
taca entre todas as outras: a
Renault tirou o pé do acelera-
dor na venda de frotas a em-
presas e a Peugeot agarrou-se
a esse segmento de forma de-
terminada. “A nossa faturação
A Peugeot terminou o ano
de 2021 com 17.595 unidades
vendidas, contra 15.439 da
também francesa Renault
FOTO VLADIMIR SIMICEK/GETTY IMAGES
Porque é que se
vendem tantos BMW
em Portugal?
O ano passado
foi o melhor dos últimos
oito para aquela marca
germânica em Portugal,
com 11.263 carros
vendidos
“Dá estatuto e isso ainda é
uma questão cultural, que
não se altera de um dia para
o outro. Além disso, os por-
tugueses gostam mesmo da
BMW.” É assim que Massimo
Senatore, diretor-geral da
aumentou muito com as vendas
de frotas a empresas e o peso
desta componente é muito for-
te nos segmentos superiores da
nossa gama de produtos”, nota
Jorge Magalhães, responsável
pela comunicação da Peugeot
e do grupo Stellantis em Por-
tugal.
Magalhães deixa claro, nesta
conversa com o Expresso, que
a estratégia que vem sendo se-
guida pelo grupo é a de “privi-
legiar os canais mais rentáveis.
Sempre. Afinal, uma venda é
mais uma matrícula”.
O culminar de uma
estratégia de gestão
Mas o responsável da Peugeot
explica ainda que nos últimos
12 anos a marca tem vindo a
aumentar a sua quota no mer-
cado nacional e que esta subi-
da ao primeiro lugar do pódio
acaba por ser o culminar de
um processo que já vinha de-
marca germânica de carros
topo de gama para Portugal,
explica o sucesso da BMW,
que em 2021 cresceu 8% em
vendas, num mercado que
caiu mais de 30% no seu todo
— face a 2019. O ano passado
foi, aliás, o melhor dos últi-
mos oito anos para aquela
marca automóvel em Por-
tugal, com 11.263 unidades
vendidas — segundo dados
da Associação Automóvel de
Portugal (ACAP).
trás. E acrescenta que “um dos
pontos forte é a diversidade e
a qualidade da nossa gama de
produtos — o que é reconhe-
cido pelos clientes — e, além
disso, sempre assumimos que
queríamos ser a primeira mar-
ca generalista do mercado”.
Já a rival Renault tinha de-
cidido, logo no início do ano
passado, que iria apostar em
menos volume de vendas, mas,
em contrapartida, mais valor
e mais receita. “Assumimos
que seríamos menos ‘frotistas’
e também decidimos que não
estaríamos tanto no mercado
do rent-a-car”, explica Hugo
Barbosa, assessor de impren-
sa da marca. Por outro lado, a
Renault intensificou as vendas
diretas a particulares, com uma
especial aposta na ‘eletrifica-
ção’ dos seus modelos.
“Conseguimos ser pioneiros
na democratização do acesso aos
carros elétricos, com o lança-
mento do Dacia Spring [marca
Outro dado relevante, segun-
do Massimo Senatore, é que a
venda de carros elétricos e hí-
bridos pela BMW em Portugal
representou 36% do total, mui-
to acima dos 26% que a marca
conseguiu alcançar na totalida-
de do mercado europeu. Aliás,
depois dos países nórdicos, da
Holanda e da Bélgica, Portugal
já é o país europeu onde se ven-
dem mais carros elétricos ou
eletrificados (híbridos).
Esta tendência irá continu-
ar, de acordo com o diretor-
-geral para Portugal, sendo
que em 2023 a marca espera
ter 25 dos seus modelos eletri-
ficados, dos quais 12 totalmen-
te elétricos. O sucesso neste
segmento é de tal ordem que
o novo grand coupé desporti-
vo BMW i4, elétrico, a lançar
apenas em março deste ano, já
vendeu mais de 500 unidades.
Além da adesão à mobili-
dade elétrica, há ainda outro
que integra o portefólio do grupo
Renault] a partir de €17 mil, e
ainda com os modelos Twingo,
Zoe e Kangoo”, sensivelmente
na mesma gama de preços, nota
o responsável da marca.
A Renault tirou o pé do
acelerador na venda
de frotas a empresas,
enquanto a Peugeot fez
o contrário
Já quanto à apetência dos
consumidores pelos carros da
Peugeot, Jorge Magalhães su-
blinha que a marca dispõe de
dois pontos fortes: o estilo, que
acaba por ser o primeiro fator
de compra, e o design, algo em
que a marca se empenha de
forma muito particular.
E há ainda outro pormenor: o
volante. Sim, a Peugeot reivin-
dica ser a marca com os volan-
“Especializámo-nos
na venda de
experiências
de condução
e não apenas na venda
do ‘fator preço’”, diz
Massimo Senatore
tes mais pequenos do mercado.
O que é que isso importa no
momento da compra? “Dá aos
carros um ar mais desportivo, o
que quase toda a gente aprecia
e, por outro lado, proporciona
um maior controlo do veículo e
uma condução mais intuitiva.”
70% da gama eletrificada
No capítulo da eletrificação,
a Peugeot está como peixe na
água. Dispõe já de 70% de toda
a sua gama eletrificada e termi-
nou o ano de 2021 como a mar-
ca mais vendida no segmento
dos elétricos. Mas, como se isso
não bastasse, o modelo Peu-
geot 2008 elétrico foi o mais
vendido do mercado, segundo
a marca.
Além do reconhecimento
da marca pelos consumidores
(nove anos consecutivos eleita
como a melhor marca pelos
clientes), a Peugeot conseguiu
ter vários dos seus modelos
fator que está a impulsionar
as vendas da marca em Portu-
gal. Trata-se da forte adesão
das empresas à compra de fro-
tas da marca para atribuir a
cargos de administração e de
direção. “O segmento empre-
sarial tem aqui um peso muito
importante, não o podemos
negar. As empresas têm bene-
fícios fiscais e, por outro lado,
é uma forma de irem disponi-
bilizando carros elétricos topo
de gama às suas chefias”, nota
Massimo Senatore.
Este responsável explica
ainda que, em 2021, um ano
fortemente marcado pela
pandemia e pela falta de se-
micondutores no mercado,
a estratégia da marca para a
digitalização acabou por ser
acelerada e antecipada. “As
nossas equipas foram muito
rápidas a reagir e criámos so-
luções como, por exemplo, ir
levar um carro a casa do cli-
ECONOMIA 13
como líderes no mercado nos
respetivos segmentos. Um dos
que mais se tem destacado é
o Peugeot 308, que este ano
irá receber uma nova cara e
novas motorizações, com des-
taque para o motor elétrico.
No entanto, a marca vai dispo-
nibilizar este modelo ainda nas
versões a gasolina e — note-
-se — a diesel, apesar de uma
grande parte do mercado re-
mar em sentido contrário, com
anúncios sucessivos do fim de
modelos a diesel.
Para a notoriedade conquis-
tada junto dos consumidores
terá contado muito, também,
segundo Jorge Magalhães,
“uma forte aposta em publici-
dade e marketing, com especial
ênfase em televisão, imprensa
escrita e redes sociais”. O ano
de 2021 também foi escolhido
pela marca para o refresca-
mento do seu velho logótipo
do leão estilizado.
vandrade@expresso.impresa.pt
ente para fazer um test drive,
oferecer uma wallbox para o
carregamento do carro, se a
opção fosse pela compra de
um elétrico. Enfim, especia-
lizámo-nos cada vez mais na
venda de experiências de con-
dução e não apenas na venda
do ‘fator preço’.”
Uma das conquistas de
2021 para a marca e para
Portugal em particular é que,
“atualmente, mais de meta-
de da tecnologia a bordo de
um BMW (sensores de voz,
câmaras vídeo, sistemas de
navegação, apoio ao cliente,
sensores para alguns níveis
de condução autónoma, etc.)
é desenvolvida em Portugal,
numa parceria com a Critical
Software”, que se traduz da
criação da Critical TechWorks
e que, em três anos, já gerou
mais de 1300 empregos na
área do digital em Lisboa e
no Porto.
14 ECONOMIA
PROJETOS EXPRESSO INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL
Prémio Em 2015, Daniela Braga fundou uma startup que ensina os robôs a falarem melhor, em várias
línguas e até sotaques. Algo que poucos sabiam que iam precisar, mas que agora quase todos querem
“A minha vida podia
ser fazer dicionários”
Daniela Braga, fundadora e CEO da Defined AI, foi escolhida como Empresário do Ano 2021 dos Prémios Economia do Expresso FOTO D.R.
Textos Ana Baptista
M
esmo que não
tenha um iPhone
de certeza que já
ouviu falar na
assistente Siri a
quem podemos
perguntar, por
exemplo, que ho-
ras são, que tem-
po vai estar ou que música estamos a
ouvir na rádio. Ora, mais do que uma
voz num telefone, a Siri é um robô, um
cérebro digital que reconhece a nossa
voz, que a percebe e que consegue
responder às perguntas que lhe são
feitas. Mas, para isso, alguém teve de
criar os dados que a fazem reconhecer
a voz humana e falar, em diferentes
línguas e, mais recentemente, em dife-
rentes sotaques. É isso que a Defined
AI de Daniela Braga faz e vende às
empresas que estão a produzir Inte-
ligência Artificial (IA): os dados que
ensinam os robôs a perceber e a falar
como os humanos.
“Os cérebros humanos funcionam
com o processamento de experiên-
cias que depois se transformam em
respostas. Os cérebros artificiais fun-
cionam da mesma forma, mas em
vez de um input de experiências têm
um input de dados. Nós treinamos
os cérebros artificiais com dados e
fazemos o mapeamento de todas as
possibilidades de respostas”, conta ao
Expresso Daniela Braga, fundadora e
CEO da Defined AI. Um trabalho que,
em 2015, quando a empresa foi criada
em Seattle, nos EUA, ainda poucos
PRÉMIOS ECONOMIA
Os Prémios Economia do
Expresso – em parceria com
a Caixa Geral de Depósitos
– escolhem anualmente os
melhores empresários e
empresas nacional, tendo
como base os indicadores
e a análise da Informa DB
e da Deloitte. A escolha do
Empresário do Ano é da
responsabilidade do Expresso.
sabiam que ia ser uma necessidade
tão grande. Até porque casava duas
áreas que nem sequer costumavam
namorar: a linguística — a primeira es-
pecialidade de Daniela — à engenharia
e programação de dados. “Nos últimos
três a quatro anos, apareceram muitos
mais players que tomaram a IA nas
suas próprias mãos e o nosso mercado
começou a alargar-se mais e mais.”
E alargou-se tanto que, hoje, quan-
do se fala em Inteligência Artificial e
reconhecimento de voz um dos pri-
meiros nomes a surgir é o de Daniela
Braga e da Defined AI. Por exemplo,
em 2020, Daniela foi nomeada pelo
Fórum Económico Mundial como es-
pecialista em IA e em 2021 foi esco-
lhida pela Casa Branca para integrar
o grupo de trabalho que vai definir
a estratégia para a Inteligência Ar-
tificial dos EUA. Nomeações que se
juntam a muitos outros prémios (ver
textos nesta pág.) e que são uma das
razões para ter sido escolhida como
Empresária do Ano de 2021 dos Pré-
mios Economia do Expresso.
Uma IPO à vista?
Se há empresa com futuro assegurado
é a Defined AI. Por um lado, porque
há cada vez mais empresas e sectores
a recorrerem à IA, como a indústria,
banca ou saúde. Daí que esteja agora
a apostar no recém-criado “super-
mercado virtual” de dados e mode-
los de voz. E por outro lado, porque
esta tecnologia está sempre a evoluir,
e o objetivo da Defined AI é que as
máquinas falem como as pessoas e
entendam cada vez mais as diferentes
nuances da linguística. Por exemplo,
o ano passado, a Defined AI lançou
modelos de voz em inglês com sotaque
espanhol para que os assistentes vir-
tuais percebam melhor os 35 milhões
de hispânicos e seus descendentes que
vivem nos EUA. Para Daniela Braga é
uma forma de melhorar a tecnologia
e de combater o preconceito racial.
Depois, há as metas financeiras.
Como a Defined AI ainda tem o esta-
tuto de startup, uma delas é chegar a
unicórnio (empresa avaliada em mais
de mil milhões de dólares) e a ideia é
que seja por crescimento e não através
de uma ronda de investimento, como
acontece com quase todas as startups
que se tornam unicórnios. Mas, “ago-
Expresso, 14 de janeiro de 2022
ra já não posso dizer que não vamos
chegar lá por rondas de investimento,
seja normal, seja uma IPO (oferta pú-
blica inicial)”, diz, sorrindo. Daniela
não esconde o desejo de entrar em
bolsa, ainda mais sendo uma empresa
liderada por uma mulher, mas tem
noção do momento. “Uma empresa
demora uma média de dez a 12 anos
a chegar a um IPO. Nós ainda vamos
no ano seis.”
O começo
Esta ambição e vontade de mudar o
mundo não são de agora. Se fosse, não
teria chegado aqui aos 42 anos. Ainda
mais depois de ter passado de uma
licenciatura em Línguas e Literaturas
Modernas na Universidade de Letras
do Porto, onde nasceu, para engenhei-
ra doutorada e especialista em dados e
Inteligência Artificial. “Estava no ramo
científico do meu curso e a minha vida
podia ser fazer dicionários, mas calhou
ir parar à Universidade de Engenharia
do Porto como bolseira. Estavam a
contratar linguistas. E assim começa
a minha saga pelo mundo a fazer siste-
mas de regras”, conta. Daí saltou para
um doutoramento de tecnologias de
voz na Universidade de Corunha, em
Espanha, e depois para a Microsoft que
a contratou “à frente de qualquer enge-
nheiro, porque a interdisciplinaridade
era algo que eles não tinham”. E foi à
boleia da Microsoft que andou a viajar
pelo mundo e que foi parar a Seattle,
onde decidiu ficar e fundar, sozinha e
com “30 e tais anos”, a Defined Crowd,
agora rebatizada Defined AI.
economia@expresso.impresa.pt
RECONHECIMENTO
A NÍVEL MUNDIAL
DISTINÇÃO Daniela Braga e a
Defined AI somam prémios. Em
nome próprio foi, por exemplo,
nomeada pelo World Economic
Fórum como ‘Expert in AI’ e,
recentemente, integrou a lista
da Goldman Sachs dos empre-
sários mais intrigantes de 2021.
E a Defined AI integra várias lis-
tas do World Economic Forum;
Nações Unidas; da “Forbes”, da
“Wired” e da Deloitte.
1
único empregado era o que
tinha a Defined AI, em agosto
de 2015, quando Daniela
Braga fundou a empresa — a
própria Daniela Braga. Hoje
são mais de 200 nos quatro
escritórios da empresa em
Seattle, Lisboa, Porto e
Tóquio (onde há uma forte
indústria robótica). Além
disso, garantem que, ao ritmo
que a startup está a crescer,
estão sempre a contratar
“OLHAVAM
PARA MIM COMO
SE NÃO FOSSE
ENGENHEIRA,
QUANDO JÁ ESTAVA
A FAZER UM
DOUTORAMENTO
EM ENGENHARIA”
Daniela Braga
Fundadora e CEO da Defined AI
TRABALHAR COM
EMPRESAS DE TOPO
CLIENTES A maioria dos clientes
da Defined AI não podem ser
revelados publicamente, mas há
alguns que escapam a esses acor-
dos de confidencialidade e que
são grandes empresas interna-
cionais. É o caso da Yahoo, Sony,
Toshiba, Voci, Bose, Canon, Mi-
crosoft, Randstand ou Salesfo-
re. Além disso, são parceiros da
IBM, Amazon e Microsoft.
63,4
milhões de dólares foi a
quantia angariada pela
Defined AI, nas três rondas
de investimento em que
participou, desde a sua
criação, em Seattle. Na
primeira ronda, em 2016,
conseguiu 1,1 milhões de
dólares. Seguiu-se outra,
em julho de 2018, onde
somou 11,8 milhões de
dólares, e mais uma, em
maio de 2020, de 50,5
milhões de dólares
“ESTAMOS
A CONSTRUIR
UM MERCADO DE
DADOS E MODELOS
PARA COBRIR
AS NECESSIDADES
DO MUNDO E
DEMOCRATIZAR
A IA”
Daniela Braga
Expresso, 14 de janeiro de 2022 ECONOMIA 15

POD CAST

“Redução da carga fiscal é a medida mais estrutural”

Carlos Guimarães Pinto, dirigente do crise. Garantido está “um nível tendo em conta o contexto
Iniciativa Liberal, foi o convidado desta de isenção” até ao qual nada é económico e o custo de vida.
semana do “Money, Money, Money” pago e isenções adicionais por “Viver em Baião ou em Lis-
no primeiro de vários episódios sobre filho, seja de um casal ou só de boa tem custos diferentes”,
os programas económicos dos partidos uma pessoa”. exemplifica o candidato, para
No programa do IL “ninguém quem o mesmo salário “pode
Uma “redução substancial do contrariar a perda de com- irá pagar mais” impostos, ga- não garantir um estilo de vida
IRS e do IRC para atrair inves- petitividade de Portugal, que rante o dirigente. digno”. À semelhança do que
timento”, criar valor e tornar a “tem vindo permanentemente O partido propõe ainda um acontece com vários países da
economia mais competitiva, de- a baixar no rendimento per ca- “salário mínimo municipal”, União Europeia.
fende Carlos Guimarães Pinto. pita”, ultrapassado por vários à semelhança do que acontece Lisboa “tem um PIB próximo

FOTO MIGUEL A. LOPES

No programa do Iniciativa Li-
beral constam ainda a privatiza-
ção da Caixa Geral de Depósitos
e a simplificação da burocracia,
porque “o custo administrativo
de cobrar taxas é maior que a
receita que o Estado tem”. E
esta será, caso o IL chegue ao
Governo, a “primeira medida a
tomar, não a mais importante,
mas a que tem menos custos e
traz benefícios imediatos”.
Mais estrutural será a “re-
dução da carga fiscal”, para
NÚMERO
países. Um “alívio imediato nos
rendimentos do trabalho” com
uma taxa única do IRS que no
“curto prazo beneficia quem
ganha mais”, mesmo que o efei-
to nos salários mais altos possa
originar “acréscimos de pou-
pança”. Porém, avisa, “é pre-
ciso contrariar a ideia de que
deixar de gastar é prejudicar a
economia”. Portugal tem “es-
cassez de capital e precisa de
poupança”, mesmo em fases de
crescimento económico. E “um
sobreaquecimento adicional da
economia seria compensado
com a diminuição na despesa
pública”.
Uma das medidas emblemáti-
cas do IL é a taxa plana de IRS.
com as regiões autónomas,
de França”, e há regiões do país,
no Norte e no Centro, com ren-
dimentos “ao nível da Bulgária
ou da Roménia”. E “determinar
um salário mínimo pode não
trazer dignidade a quem vive
em Lisboa e causar desempre-
go em Baião”, exemplifica.
O Iniciativa Liberal quer estando “blindada a influên- trabalho péssimo”. Pelo que
ainda privatizar a CGD, ape- cias políticas é indiferente se “não há razões” para que o
sar de o banco público estar é pública ou privada”. Se o Es- maior banco comercial esteja
“blindado” com a supervisão tado precisa de uma institui- nas mãos do Estado.
europeia. Mas não há garantia ção financeira “tem o Banco Amadeu Araújo
de que seja sempre assim, e de Fomento, que tem feito um economia@expresso.impresa.pt

100
Guimarães Pinto explica como
vai funcionar: “O objetivo da
taxa única é aliviar salários en- PLANO DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA

é o número de medidas
detalhadas e explicadas que
constam do programa do IL
RECUPERAR
tre os €2 mil a €4 mil da classe
média e que já se encontram
perto do último escalão.” E
aponta países como a Hungria
e a Eslováquia, que “simplifi-
caram o sistema fiscal” e não

AGORA
sofreram uma redução de recei-
tas, antes “um aumento”. Ad-

15%
é a taxa plana de IRC
proposta que elimina ainda
a derrama estadual
mite que, no curto prazo, haja
alguns efeitos negativos, mas
a prazo o impacto é favorável.
O prazo de transição para
a taxa plana, na proposta do
IL, “depende dos efeitos do
crescimento económico”, mas
a intenção “é reter talento”.
Justifica o dirigente que “man-
ter um engenheiro ou um eco-
nomista no país tem efeitos

6%
é a redução do IVA na
construção imobiliária para
habitação, atualmente nos
23%, e o fim do adicional ao
Imposto Municipal sobre
Imóveis
reprodutivos na economia” e
afirma que nos países que apli-
cam uma taxa plana no IRS
“baixou a desigualdade e não
diminuiu a despesa em saúde
ou educação”. E isto porque “o
rendimento extra que ficou no
bolso das pessoas” gerou mais
investimento, mais consumo e
o “aumento das receitas fiscais
noutras áreas”. Em suma, “a
receita total não diminuiu, ou
manteve-se ou subiu, menos
na Lituânia, em 2009”, ano de

JERÓNIMO MARTINS FATURA

€20,9 MIL MILHÕES
DISTRIBUIÇÃO As vendas da Jerónimo Martins cresceram 8,3% no
ano passado, face a 2020, para €20,9 mil milhões. “Todas as insígnias
contribuíram para este sólido desempenho, permitindo ao grupo
registar um LFL [like-for-like, ou seja, vendas em lojas que operaram
sob as mesmas condições no período em análise] de 8,0%”, adiantou
a empresa. No último trimestre de 2021, “as vendas aumentaram
11,5% (+13,7% a taxas de câmbio constantes), cifrando-se em €5,7 mil

BPIEmpresas
milhões com um LFL de 10,5%”, acrescenta, apontando que “o forte
crescimento de volumes no período foi também acompanhado pelo
aumento da inflação nos cabazes” das suas áreas de negócio.

VISTOS GOLD EMBRAER VENDE É tempo de recuperar a economia. O BPI é o parceiro

CRESCEM 52%
EM DEZEMBRO
INVESTIMENTO O investimento
captado através dos vistos gold
aumentou 52% em dezembro,
face a igual período de 2020,
para €42,1 milhões, de acordo
com dados do Serviço de Es-
trangeiros e Fronteiras (SEF).
Em dezembro de 2020, o in-
vestimento ascendeu a €27,7
milhões. Face a novembro
de 2021 (€46,6 milhões), o
montante captado por via do
programa de Autorização de
Residência para Investimento
(ARI) caiu 9,6%.
FÁBRICAS da sua empresa no Plano de Recuperação e Resiliência.
EM PORTUGAL
AVIAÇÃO A fabricante de aerona-
ves Embraer vendeu duas subsi-
diárias em Portugal, localizadas
em Évora, à espanhola Aernno-
va Aerospace, por cerca de €151
milhões. O acordo, confirmado
num comunicado emitido aos
acionistas da Embraer, contem- Saiba mais em bancobpi.pt
pla a venda de todas as ações das
subsidiárias Embraer Portugal
Estruturas Metálicas (EEM) e
Embraer Portugal Estruturas BANCO BPI, S.A.
em Compósitos (EEC) à Aernno-
va, pelo valor de 172 milhões de
dólares (€151,2 milhões).
16 ECONOMIA
DESAFIOS DA ECONOMIA EFICIÊNCIA D O ESTAD O
Administração Pública A política absorve
quase 500 funcionários públicos por ano.
As licenças sem vencimento, via verde para o sector
privado, outro tanto. Regressam quando querem
e podem voltar a sair. É uma gestão eficiente?
Políticos
com
emprego
cativo
no Estado
Textos Diogo Cavaleiro
e Elisabete Miranda
T
Infografia Carlos Esteves
odos os anos saem do
Estado quase 500 fun-
cionários públicos para
a atividade política e
outros tantos com li-
cença sem vencimento,
também para o sector
privado. Quando os
mandatos políticos são
interrompidos ou se cansam das suas
escolhas profissionais, têm sempre um
lugar de recuo — uma garantia vitalícia
de emprego e salário. Assim funciona a
Administração Pública e estas são tam-
bém as práticas de entidades públicas
e reguladores, que se adaptam aos mo-
vimentos, muitas vezes pendulares, dos
funcionários.
Não são conhecidos dados exatos so-
bre quantos lugares estão vazios à espera
que os seus ocupantes decidam, um dia,
regressar nem qual a duração destas au-
sências (ver gráficos). Mas há vários casos
que ilustram o quadro de garantias que
o Estado e outras entidades de direito
público concedem aos funcionários que
se candidatam a cargos políticos, que vão
para gabinetes de assessoria ou fazem
outras incursões, entre as quais empresas
privadas. Por exemplo, Fernando Medina,
quando, em outubro, perdeu as eleições,
regressou à AICEP, onde ingressou em
2003 e esteve dois anos. Entre 2005 e
2021 exerceu cargos políticos e a eles de-
verá voltar após dia 30, já que faz parte da
lista de candidatos a deputados pelo PS.
Entretanto, o lugar na AICEP ficará à sua
espera. Antes dele, em 2019, Matos Rosa,
antigo braço direito de Passos Coelho,
regressou à Autoridade Tributária (AT).
Depois de 14 anos de atividade parlamen-
tar, voltou à sua posição de técnico de
administração tributária.
Mais atrás na escala de antiguidade, e
mostrando que os movimentos pendu-
lares com garantia de recuo não se cin-
gem à política, está, por exemplo, Carlos
Tavares. Depois de passar pelo Governo
de Durão Barroso, voltou à CGD, onde
estivera nos anos 90. Em 2005 assumiu a
presidência da Comissão do Mercado de
Valores Mobiliários, ali ficando até 2016.
Aí, regressa à CGD, como assessor da
administração, de onde entretanto saiu
para o Montepio.
Olhando para a frente, André Ventu-
ra, o líder do Chega, poderá voltar a ser
funcionário público se algum dia quiser
abandonar a política e regressar ao Es-
tado. Ainda assim, porque saiu com uma
licença sem vencimento de longa duração
numa altura em que ganhava popularida-
de na carreira de comentador de futebol,
tem uma garantia menos forte que a de
Ricardo Mourinho Félix. O antigo braço
direito de Mário Centeno nas Finanças
esteve cinco anos no Governo, regressou
três meses ao Banco de Portugal e voltou
a sair para o Banco Europeu de Investi-
mentos. Não se sabe se pretende voltar ao
regulador ou aspira a uma carreira mais
ambiciosa, mas, querendo fazê-lo, o seu
lugar está garantido. Ventura também
pode regressar, mas não necessariamente
ao Fisco (dependerá das vagas).
Estes casos são meramente exempli-
ficativos, mas, convocando a história ou
percorrendo os currículos de deputados
à Assembleia da República e de eleitos
autárquicos, membros de Governo e os
seus gabinetes de técnicos, assessores e
motoristas, as situações multiplicam-se.
Se analisarmos as estatísticas das licen-
ças sem vencimento, fornecidas ao Ex-
presso pelo Ministério da Modernização
do Estado e da Administração Pública,
FRASES
“A segurança, a
remuneração e a
autonomia do lugar de
origem dão independência
e podem poupar milhões
ao erário público.
Em termos de corrupção,
pode ter uma
importância brutal”
Nuno Cunha Rolo
Transparência internacional
“Não faz sentido que as
licenças sem vencimento se
prolonguem ad aeternum.
O caso dos cargos políticos
é mais delicado e também
não vejo grande utilidade.
Podemos criar o perigo
de afastar os melhores”
Paulo Veiga e Moura
Advogado, especialista em direito
administrativo e constitucional
“É muito bom que as
pessoas vão trabalhar
para fora, mas não pode
ser ad aeternum, porque
os lugares de recuo têm
um custo enorme para
a própria Administração
Pública. Seria sensato
introduzir um limite no
número de anos que as
pessoas podem estar fora”
Álvaro Santos Pereira
Ex-ministro da Economia
Maria Luís
abandonou
o Estado
Maria Luís Albuquerque
encontrava-se no IGCP quando foi
para o Governo de Passos Coelho
e Paulo Portas, onde esteve até
2015. Daqui passou para o
Parlamento, sendo que em 2016
assumiu funções de
administradora não-executiva no
grupo Arrow. Entretanto,
abandonou esse cargo e voltou
em 2021 ao seu lugar de origem, o
IGCP. Por pouco tempo.
Contactada pelo Expresso para
este trabalho, a ex-ministra das
Finanças informou que em
dezembro de 2021 saiu do IGCP e,
com esta saída, renunciou a
qualquer vínculo com o Estado.
Expresso, 14 de
o leque alarga-se mais (ver gráficos). As
situações estão previstas na lei e algumas
constitucionalmente protegidas.
Político não é profissão?
“Temos de dar lugar a outras pessoas. O
meu lugar não é aqui. A minha profissão
não é esta.” A declaração da ministra
da Justiça, Francisca Van Dunem, em
novembro, explicando por que ao fim de
seis anos de Governo é tempo para fazer
escolhas, traça uma fronteira entre a sua
profissão original e a atividade política
ou outras incursões. Mas nem todos defi-
nem um limite temporal a partir do qual
é preciso voltar ao lugar de partida, nem
tão-pouco a lei o exige.
No Estado existem várias formas de mo-
bilidade e de suspensão do contrato de tra-
balho. Quem vai para um cargo político e
público (deputado, governante, assessor)
tem o seu lugar de origem garantido. Já
quem pede uma licença sem vencimento
para ir estudar ou trabalhar no sector
privado perde o lugar de origem, mas
mantém o vínculo. Isto é, tem garantia de
reintegração, embora possa ter de ir para
outro departamento. Isto é válido para a
Administração Central, onde a legislação
protege os trabalhadores, e também é
praticado em entidades de direito público
(embora alguns reguladores não dêem
licenças de saída para o privado).
Estas suspensões não têm prazo e, se-
jam temporárias, sejam permanentes, o
chapéu de chuva do Estado mantém-se
sempre aberto. Para os especialistas ou-
vidos pelo Expresso, têm uma razão de
ser. Nos cargos políticos, ela é óbvia. “É
um direito que resulta da lei. Os cidadãos
têm direito à capacidade eleitoral ativa
e não podem ser prejudicados por isso”,
resume Paulo Veiga e Moura, advoga-
do de direito administrativo. As saídas
para o sector privado também podem
ser aceitáveis. “A mobilidade [interna ou
externa] é boa para o trabalhador e para
o Estado. Se as pessoas vão adquirir novos
conhecimentos, refrescar competências,
conhecer novos métodos, é muito positivo
e de incentivar”, considera Álvaro Santos
Pereira, diretor na OCDE. Menos óbvia
janeiro de 2022 ECONOMIA 17

>>

Quase 500 funcionários públicos

saem todos os anos para a política
REGULADORES ADMINISTRAÇÃO CENTRAL
E OUTRAS ENTIDADES
ASF* 8% A 12% DOS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS
ESTÃO FORA DO LUGAR DE ORIGEM
FUNCIONÁRIOS
Número de funcionários da Administração Central do Estado
231
FORA DA INSTITUIÇÃO
Em mobilidade para fora Em mobilidade interna
2 80.000
da Administração Central
1 empresas públicas
1 política (deputados,
funções executivas, gabinetes) 60.000

*Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões

40.000
A autoridade que supervisiona
os seguros garante só ter dois
trabalhadores fora. Não há uma
política definida para estas licenças, 20.000
dependendo da sua importância na
autoridade. Em média, os funcionários
ficam ausentes durante três anos. 0
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021*
BANCO DE PORTUGAL *Até setembro

FUNCIONÁRIOS
1170
FORA DA INSTITUIÇÃO
60
? não responde
O Banco de Portugal tem sido um
grande fornecedor de políticos.
Dos 1770 funcionários, 60 estão fora,
mas a instituição liderada por Mário
Centeno não detalha o seu destino.
É o único regulador financeiro a
recusar esta informação. Não há um
prazo médio para as ausências. Em
regra, o trabalhador volta para as
funções desempenhadas até à saída.
CMVM
FUNCIONÁRIOS
238
FORA DA INSTITUIÇÃO
14
9 empresas públicas
5 política (deputados,
funções executivas, gabinetes)
Na última década, entre 8% e 12% dos funcionários públicos saíram do seu
posto de trabalho. Na sua maioria circulam dentro da Administração Central
(AC — inclui direções-gerais, hospitais EPE, universidades). 2% a 5% saem para
fora deste perímetro (ver próximo gráfico). No terceiro trimestre de 2021, na
AC trabalhavam 546 mil pessoas: cerca de 42 mil estavam fora do posto de
origem, mas dentro do Estado Central, e quase 21 mil tinham saído. Em termos
líquidos, contudo, a mobilidade externa é menor: os quase 21 mil que saíram
nos primeiros nove meses de 2021 foram compensados com regressos de quem
estava fora e, em termos líquidos, eram 6650 os profissionais fora da AC.
SAÍDAS DA ADMINISTRAÇÃO CENTRAL: EMPRESAS PÚBLICAS
E AUTARQUIAS SÃO O DESTINO DOMINANTE...
Número de saídas da Administração Central, por destino
Administração Local
15.000 Cargos governativos
Licenças sem vencimento
12.000 (inclui para o sector privado)
Empresas públicas
Institutos públicos
9000
6000
3000

A CMVM tem um quadro de pessoal 0

semelhante à ASF, mas o número de 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021*
funcionários fora é muito superior. São *Até setembro
14 trabalhadores que guardam
o vínculo laboral, dois terços dos quais MAS A MAIORIA REGRESSA. LICENÇAS SEM VENCIMENTO
em empresas públicas. A duração E CARGOS POLÍTICOS MAIS TEMPO FORA
média da ausência é de 3,9 anos. % de funcionários públicos fora da Administração Central, em termos líquidos (média anual nos últimos 10 anos)
A gestão de recursos tenta que, apesar 100%
das ausências, não haja aumento 80
do número de trabalhadores.
50% lidade: podemos criar o perigo de afastar
40 os melhores dos cargos políticos”.
AICEP Administração 23% Já Álvaro Santos Pereira dá outro salto
0 Local 4%
FUNCIONÁRIOS em frente. “É muito bom que as pessoas
486 Empresas Institutos Cargos Licenças vão trabalhar para fora, mas não pode ser
FORA DA INSTITUIÇÃO -40 públicas públicos governativos s/ vencimento
ad aeternum, porque os lugares de recuo
6 têm um custo enorme para a própria Ad-
1 empresas públicas -80 ministração Pública.” Por isso, o ex-mi-
5 política (deputados, nistro da Economia considera “sensato
funções executivas, gabinetes) -120 -105% introduzir um limite no número de anos
que as pessoas podem estar fora”, como,
Na AICEP, a maioria sai para funções Ao longo da última década, todos os anos saíram em média 18 mil funcionários
públicos da Administração Central (AC). Os lugares de destino mais comuns
de resto, “acontece em várias instituições
executivas, em gabinetes ou no
foram as empresas públicas e a Administração Local (AL). Contudo, quando internacionais”. Estando em causa licen-
Parlamento. Habitualmente, os
se olha para os números em termos líquidos, isto é, considerando saídas e ças sem vencimento para o sector privado,
trabalhadores ficam entre três e seis
entradas, há uma percentagem significativa a regressar ao posto de origem. os cuidados devem ser redobrados: “É
anos fora. Em regra, os lugares não
Por exemplo, em termos líquidos, há mais pessoas a virem da AL para a AC do é a falta de limites, permitindo-se uma preciso garantir que não há conflito de
são preenchidos.
que ao contrário. Nas empresas públicas, só 27% dos funcionários acabam por eternização do afastamento. interesses, como em tempos houve, por
CGD ficar fora (73% regressam). A destoar deste movimento estão as licenças sem exemplo, entre reguladores e o sector
vencimento, onde só 50% regressam por ano — isto é, metade dos funcionários Impor limites: um pau de dois bicos regulado. Depois, o limite temporal deve
FUNCIONÁRIOS públicos fica fora durante bastante tempo (muitos no sector privado). ser cumprido mais à risca”.
6189 O número líquido de entradas e saídas para cargos governativos Para o vice-presidente da Transparên- Entre os rostos apontados como mera-
FORA DA INSTITUIÇÃO não nos foi fornecido, dada a longevidade dos cargos. cia Internacional não se justifica impor mente exemplificativos pelo Expresso,
47 limites. “Se apertamos muito a malha, Fernando Medina, André Ventura e Car-
18 estruturas sindicais pode ser contraproducente, e qualquer los Tavares não quiseram falar. Só Ma-
14 empresas públicas CARGOS PÚBLICOS E LICENÇAS SEM VENCIMENTO ABSORVERAM dia só temos pessoas do privado em fun- tos Rosa aprofundou a sua experiência.
13 autarquias QUASE MIL TRABALHADORES NO ANO PASSADO ções políticas [...], com risco de usarem o “Sempre tive para mim que ser deputado
1 Governo
1 privado Licenças sem vencimento cargo para ganhar poder de influência”, era uma coisa passageira. Sempre pensei
491 argumenta Nuno Cunha Rolo. “A segu- voltar ao antigo emprego”, conta-nos.
A maior parte dos 47 trabalhadores Cargos governativos Administração Local rança, a remuneração e a autonomia do Mas reconhece que acabou por ficar mais
491 1638
está em estruturas sindicais, mas lugar de origem dão independência e po- que o previsto. “Se calhar, não tinha pro-
Institutos públicos
também há um peso relevante 437
dem poupar milhões ao erário público. longado tanto a situação se não tivesse
em entidades públicas e em missão Número de Em termos de corrupção, pode ter uma o meu lugar de recuo.” Seja como for,
autárquica. A cedência oscila entre funcionários públicos importância brutal”. Reconhecendo di- “achei que eticamente devia voltar [em
três e quatro anos. A solução varia fora da Administração ficuldades que possam surgir na gestão vez de ir para o privado] e nunca ultrapas-
consoante a função e o perfil do Central, de recursos humanos, porque “muitas sei nem fui beneficiado na carreira na AT
em termos líquidos vezes [as pessoas] nem são substituídas por ser deputado”. Já Mourinho Félix,
trabalhador.
Empresas públicas porque há restrições ao recrutamento”, sem comentar a cedência, assumiu-se
4094
IGCP, RTP E LUSA no fim, “na verdade, quem está a pagar “muito honrado por ter sido convidado
é sempre o Estado”. para representar Portugal”. “Também
O IGCP não respondeu aos
Na última década saíram em média 1200 funcionários por ano com licença Paulo Veiga Moura ficaria a meio cami- representa uma oportunidade para Por-
sucessivos pedidos
sem vencimento. Uns voltam, outros mantêm-se fora do Estado, por tempo nho. “Do ponto de vista da gestão, não faz tugal ter um vice-presidente neste mo-
de informação do Expresso.
indefinido. Quem está mais de um ano fora perde o direito ao lugar, mas sentido que o Estado tenha de recorrer a mento histórico”, disse.
Igualmente impossível foi
mantém o vínculo ao Estado. Em termos absolutos, estes cerca de 1200 ao soluções temporárias para suprir quem Para já, as regras mantêm-se e o tema
obter dados sobre a RTP
ano representam entre 0,2% a 0,3% da Administração Central. Já em termos não voltará tão depressa”, considera. Mas não avulta nos programas eleitorais.
e a Lusa, via Ministério
líquidos, contando saídas e regressos, são cerca de 600 pessoas ao ano. Quem separa as licenças sem vencimento dos Quem quer candidatar-se a cargos po-
da Cultura.
vai trabalhar para o privado está neste bolo, embora os números da DGAEP cargos políticos. Nas primeiras, “não faz líticos pode fazê-lo, quer trabalhe no
não discriminem os valores. Para cargos governativos saem todos os anos sentido que se prolonguem ad aeternum”, público, quer no privado. Já manter o
quase 500 pessoas, entre 0,1% a 0,2% dos funcionários públicos. tal como não fazem sentido os “dirigentes posto de trabalho para a vida depende se
sindicais, que não põem os pés no serviço trabalha no Estado, onde é obrigatório,
NOTA: Cargos governativos incluem recrutamento, mobilidade, cedência, regresso de licença sem durante anos”. Já a situação dos cargos em entidades de direito público, que têm
remuneração ou de período experimental, comissão de serviço, outras situações políticos “é mais delicada, porque temos seguido as regras gerais do Estado, ou
FONTES: MINISTÉRIO DA MODERNIZAÇÃO DO ESTADO E DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA, A PARTIR DO SISTEMA DE INFORMAÇÃO DA de ter em conta os direitos constitucionais então da generosidade do patrão.
ORGANIZAÇÃO DO ESTADO. EXPRESSO, A PARTIR DA SÍNTESE ESTATÍSTICA DO EMPREGO PÚBLICO
FONTE: EMPRESAS dos eleitos, e também não vejo grande uti- dcavaleiro@expresso.impresa.pt
18 ECONOMIA
DESAFIOS DA ECONOMIA EFICIÊNCIA D O ESTAD O
Textos Ana Sofia Santos
e Sónia M. Lourenço
Infografias Carlos Esteves
P
ode o Estado em Portu-
gal usar menos despesa
para fornecer o mes-
mo nível de serviços
públicos? A resposta é
sim, indicam estudos
e economistas ouvidos
pelo Expresso. “Struc-
tural Tax Reforms and
Public Spending Efficiency”, da au-
toria de António Afonso, João Jalles
e Ana Venâncio, é uma das análises
mais recentes sobre este tema, com-
para os países da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Eco-
nómico (OCDE) e conclui que em 2017
Portugal podia gastar apenas 68% da
despesa efetuada e ter iguais valências
públicas. A poupança seria, portanto,
de 32%, ainda assim bem melhor do
que em 2011, quando o ‘desperdício’
de fundos atingia 52%. Números que
colocam Portugal na metade inferi-
or da OCDE, mas longe dos últimos
lugares. É ainda aferido que o nosso
país tinha um rácio de despesa pública
em relação ao Produto Interno Bruto
(PIB) em linha com a média da OCDE,
mas o desempenho do sector público
estava abaixo da média.
Áreas como a saúde e a edu-
cação, onde grande parte
dos orçamentos são gas-
tos, são cruciais. Um es-
tudo da OCDE de 2018
mostra a importância
da educação como
elevador social.
A escolaridade dos
pais é um dos prin-
cipais fatores que
explica o nível edu-
cativo dos filhos. Con-
tudo, “os países onde
a despesa pública tem
maior peso na economia
são aqueles em que o nível
educativo dos pais menos expli-
ca o dos filhos”, destaca Pedro Brinca,
economista e professor da Nova SBE.
“Portugal é onde essa mobilidade in-
tergeracional é mais baixa”, alerta.
Por isso, “mais do que investir mais na
educação, é importante perceber o que
estamos a fazer mal”.
“Parece haver lugar para melhori-
as na eficiência da despesa pública”,
vinca António Afonso, economista e
professor do ISEG, destacando a pos-
sibilidade de se “continuar a fornecer
os mesmos serviços com contenção de
recursos financeiros”.
Miguel St. Aubyn, economista, pro-
fessor do ISEG e membro do Conse-
lho das Finanças Públicas, reforça
que “é necessário e possível fazer me-
lhor”, mas não fecha a porta a “gastar
mais”, em particular na educação e na
saúde. Sublinha a evolução positiva na
educação e lembra que “a mera com-
paração da despesa em percentagem
do PIB pode ser simplista”. Há que
“ter em conta as variáveis condicio-
nantes”.
Céu Mateus, professora catedrática
de Economia da Saúde na Universi-
dade de Lancaster, no Reino Unido,
também recomenda cautela nas ex-
trapolações e lembra a inexistência
de consenso sobre os inputs e outputs
que devem ser comparados. “Apesar
de todos os problemas que identifi-
camos no nosso Serviço Nacional de
Saúde (SNS) temos uma esperança de
vida superior à média da União Euro-
peia (UE), uma das taxas de mortali-
dade infantil mais baixas da Europa e
conseguimos ser dos países do mundo
com uma das maiores percentagens
da população vacinada contra a co-
vid-19. Algumas coisas fazemos bem.”
O professor na Nova SBE e especia-
lista em economia da saúde Pedro Pita
Barros alinha na prudência com que
se olham os números. E dá o exemplo
do aumento da eficiência da despe-
sa em saúde durante a troika porque
os salários estiveram comprimidos.
Seguiu-se um pior desempenho, fru-
to da reposição das remunerações,
o que não gerou grandes diferenças
nos resultados de saúde. “O mesmo
efeito têm as alterações dos tempos de
trabalho semanais. Daí que a eficiência
agregada na área da saúde segundo os
indicadores habituais vai ter oscilações
que não correspondem à realidade no
terreno”, alerta.
Análise Portugal podia manter o mesmo nível de saúde ou de educação
com menos dinheiro. Parte da solução passa por contratar jovens
com melhor formação e por acabar com os jobs for the boys
Mais de 30%
da despesa
pública são
‘desperdiçados’
E
S D
Ambos concordam, porém, que há
margem para ganhos de eficiência.
“Se com os recursos que temos no SNS
se conseguisse aumentar o acesso aos
cuidados de saúde das populações
mais desprivilegiadas, nem que fosse
em 5%, isso já contribuiria bastante
para aumentar a equidade”, indica
Céu Mateus.
Função pública no papel principal
Como se aumenta a eficiência da des-
pesa pública? O antigo ministro da
saúde António Correia de Campos res-
ponde que está “tudo na Constituição”.
Ou seja, a resposta é “maior respon-
sabilidade de gestão, com prestação
regular de contas, recrutamento de
jovens com mais formação inicial para
rejuvenescer a demografia interna
da Administração Pública (AP), ava-
liação contínua premiando o sucesso,
“É ESSENCIAL TIRAR A
POLÍTICA DOS CARGOS
DIRETIVOS DA
ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA E ACABAR COM
A POUCA VERGONHA
DOS JOBS FOR THE
BOYS”, DIZ ÁLVARO
SANTOS PEREIRA
T O
retribuição parcial pelo desempenho,
prevenção do absentismo patológico”,
passando também por um regresso à
valorização do empenho, da ética, da
independência política e do rigoroso
cumprimento da lei.
António Afonso sinaliza igualmen-
te a “valorização justa do pessoal da
AP, promovendo sempre os melhores
currículos”. Porque ainda “vemos si-
tuações de opacidade e amiguismo
em muitas instituições, em vários sec-
tores”, nas quais “a escolha de pessoas
erradas para gerir leva a procedimen-
tos errados e ao desperdício gravoso
de verbas”.
Também Álvaro Santos Pereira, ex-
-ministro da Economia e diretor do
departamento de Economia da OCDE,
põe o dedo na ferida. “É essencial tirar
a política dos cargos diretivos da Ad-
ministração Pública e acabar com a
pouca-vergonha dos jobs for the boys.”
Enquanto Miguel St. Aubyn aponta
outro vetor: “Falta em Portugal uma
orçamentação por programas articu-
lada com um quadro plurianual de des-
pesa pública, que permita uma espe-
cificação dos objetivos e dos recursos
necessários.” Acresce que “a própria
avaliação da eficiência da despesa fica
em boa parte prejudicada pela ausên-
cia deste modelo, previsto na Lei de
Enquadramento Orçamental”.
Por sua vez, Pedro Brinca deixa mais
uma pista: “É importante promover
maior participação cívica, expandindo
os orçamentos participativos.” Os EUA
“têm um website (regulations.gov) que
permite aos cidadãos comentar cada
regulamento; os Office of New Urban
Mechanics, em Boston e Filadélfia,
analisam propostas de cidadãos para
projetos que vão ao encontro das ne-
A
cessidades públicas; e o challenge.gov
é usado por mais de 50 agências fede-
rais para divulgar desafios propostos à
sociedade com prémios em dinheiro”.
Já o economista Abel Mateus defen-
de que “os programas de melhoria da
eficiência e eficácia deveriam integrar
o Programa Nacional de Reformas e
o Orçamento Geral do Estado, todos
os anos”.
Estado penaliza competitividade
E a máquina do Estado é ou não ami-
ga da economia e dos negócios? Os
rankings internacionais, como o Ín-
dice Global da Competitividade, do
Fórum Económico Mundial, dizem
que não. Na edição de 2019 desta lis-
tagem, Portugal ocupou a 34ª posição
em termos globais, entre 141 econo-
mias. Nada mal. Contudo, ao nível da
performance do sector público, ficou
em 61º lugar.
“A desnecessária complexidade da
legislação fiscal, mas não só, a mo-
rosidade do sistema de justiça, ou a
excessiva burocracia em tomadas de
decisão pelos poderes públicos surgem
de forma sistemática como pontos
fracos nas caracterizações de Portu-
DESAFIOS DA ECONOMIA
Este é o quarto de seis artigos
de uma série dedicada
aos desafios da economia
portuguesa. Depois do
crescimento, das pensões, dos
salários e, agora, da eficiência
do Estado virão, nas próximas
semanas, a desigualdade
e a transição energética.
Expresso, 14 de janeiro de 2022
gal em contexto internacional”, vinca
Miguel St. Aubyn.
“A perceção que existe é que o Es-
tado pede ao cidadão e às empresas
declarações de várias repartições do
Estado que deveriam comunicar en-
tre si e não o fazem”, aponta, por sua
vez, Pedro Braz Teixeira, diretor do
Gabinete de Estudos do Fórum para
a Competitividade. E alerta: “Vemos
os progressos alcançados pelos paí-
ses de Leste, muito empenhados na
modernização das suas economias
e na atração de investimento direto
estrangeiro (IDE), e Portugal não
atribui importância a este tema.” O
economista destaca duas áreas de
ação prioritária, o licenciamento,
“passando a haver aprovação tácita,
com prazos curtos”, e a justiça, con-
siderando que “criam dificuldade à
atração de IDE, de que o país está tão
necessitado”.
João Vieira Lopes, presidente da
Confederação do Comércio e Servi-
ços de Portugal (CCP), reconhece que
“os programas Simplex têm ajudado
a diminuir a carga burocrática das
empresas na relação com o Estado”,
mas alerta que ela “ainda é bastante
grande”. E aponta questões críticas
para as empresas: “o funcionamento
da justiça é desastroso”, “os licencia-
mentos são complicados, sobretudo
se envolverem autoridades centrais,
locais e ambientais”, “a nível munici-
pal há uma multiplicidade de taxas e
taxinhas”, e na área fiscal “houve me-
lhorias em termos de procedimentos
e digitalização, mas a prepotência é
bastante grande ao nível das sanções e
ainda é muito complicado fechar uma
empresa se houver questões fiscais
envolvidas”.
Neste contexto, “esperar-se-ia
que o fortíssimo investimen-
to a ser realizado pelo Es-
tado consigo mesmo
na transição digital
ajudasse a corrigir
estes problemas.
No entanto, teme-
-se que haja uma
mera digitalização
dos atuais processos,
quando deveria haver
um repensar radical dos
próprios processos”, argu-
menta Braz Teixeira.
Pedro Brinca partilha esta preocupa-
ção. Vincando que “existe um grande
défice de organização e responsabili-
zação da máquina do Estado”, aponta
que “estão previstos mil milhões de
euros do Plano de Recuperação e Re-
siliência para modernização adminis-
trativa e finanças, mas, tanto quanto
sei, não existe nenhuma definição de
objetivos mensuráveis no tempo que
permitam fazer uma avaliação desse
investimento”.
A questão é crítica. Para Abel Mateus,
o impacto da baixa eficiência da má-
quina “é mais sério” do que os défices
de eficiência na despesa pública, pois é
necessário captar impostos para finan-
ciar o Estado, “e as distorções causadas
pelos impostos causam um impacto
ainda maior de redução do PIB, bem-
-estar e crescimento económico”.
“Os principais problemas da nossa
AP com incidência económica direta
estão na lentidão e nos enleios da Jus-
tiça, no centralismo que transforma
em nacionais os problemas regionais
e até os locais, na ausência de méto-
dos de Balcão Único para acelerar
o tratamento dos grandes projetos
económicos”, corrobora Correia de
Campos. Sobre a corrupção no Estado,
o ex-governante não hesita em afirmar
que, “ao lado da banca e do futebol, a
AP faz figura de menino de coro”.
No entanto, o ex-ministro defende
que a AP em Portugal modernizou-
-se muito mais rapidamente do que
noutros países. “Estamos já tão ha-
bituados à revolução do Simplex e
às Lojas do Cidadão que nem valo-
rizamos o que ganhámos: empresa
na hora, documento único de registo
automóvel, passaporte rápido, registo
criminal na hora, cartão único do ci-
dadão.” Mais: “Se tivermos em conta
que tudo isto foi alcançado por uma
AP mal paga, ainda que de emprego
estável, com habilitações médias que
só tardiamente chegaram a nível su-
perior, com sindicatos que recusam a
avaliação e qualquer retribuição por
desempenho (…) temos de reconhecer
que fazemos milagres.”
assantos@expresso.impresa.pt
Expresso, 14 de janeiro de 2022 ECONOMIA 19

Retrato de um Portugal quer

Estado ‘gordo’ sair do clube
e pouco eficiente mais endividado
No fim da legislatura, o emagrecimento desta carteira é
endividamento no PIB deverá sensível para a gestão da dívida pú-
Indicadores mostram que há caminho a percorrer na eficiência da ser inferior ao da Bélgica, blica portuguesa.
despesa pública e na capacidade da máquina do Estado em criar Espanha e França A trajetória descendente recebeu
um forte impulso em 2021, com o
ambiente favorável às empresas e negócios. Envelhecimento da O nível de endividamento público rácio a cair do pico de 135,2% do PIB
poderá cair mais de 20 pontos per- no ano anterior, do choque da pande-
Administração Pública não ajuda e necessidade de reduzir dívida centuais do Produto Interno Bruto mia, para 127%, segundo adiantou o
limita margem de manobra de atração de quadros para o Estado (PIB) entre o máximo histórico de Ministério das Finanças esta sema-
135,2%, registado em 2020, e o fim na. Na projeção para 2022, prevê-se
da nova legislatura que sair das elei- uma descida de mais cinco pontos
UMA LEGISLATURA PARA RECUPERAR FUNÇÃO PÚBLICA ESTÁ ENVELHECIDA ções de 30 de janeiro. As projeções percentuais, para 122%. De acordo
O NÍVEL PRÉ-PANDEMIA Peso de cada escalão etário nos postos de trabalho das do atual Governo apontam para 114% com o Programa de Estabilidade
Dívida pública em % do PIB Administração Públicas, a 31 de dezembro de 2020 do PIB em 2025, e o cenário alter- 2021-2025, o esforço de redução de-
nativo apresentado pelo PSD refere pois diminui, rondando três pontos
Pandemia >65 anos Até aos 24 anos
108,9% no ano seguinte. percentuais por ano, o ritmo que
140 3,1 2,1 Dos 25 aos 34 anos
135 O nível pré-pandemia (116,6% do Philip Lane, o economista-chefe do
10,6 PIB) deverá ser alcançado durante Banco Central Europeu, defendeu,
130 127 Projeções Dos 55 2025. Se essa trajetória descendente esta semana, como o ajustamento
do Ministério aos 64 anos
das Finanças
se materializar, Portugal sai do grupo “mais moderado” na descida do en-
120 27,6
Dos 35 dos cinco mais endividados da zona dividamento, que deverá ser introdu-
122 PESO NO aos 44 anos euro, com a Bélgica, Espanha e Fran- zido pela revisão das regras de ouro a
110 114 TOTAL 24,2 ça a registarem níveis de endivida- reentrarem em vigor em 2023.
mento no PIB superiores a Portugal,
100
Dos 45 segundo dados do Fundo Monetário
2015 16 17 18 19 20 21* 22 23 24 25 aos 54 anos Internacional. O grupo continuará a
32,4 ser liderado pela Grécia e pela Itália.
A perspetiva de saída
*Previsão do Ministério das Finanças
Num contexto de subida das taxas de Portugal do clube
FONTES: INE; MINISTÉRIO DAS FINANÇAS; IGCP FONTE: DIREÇÃO-GERAL DA ADMINISTRAÇÃO E DO EMPREGO PÚBLICO E EXPRESSO
de financiamento da dívida pública dos sobre-endividados
CORTE NA DÍVIDA Portugal pretende reduzir, ONDE ESTÃO OS JOVENS? Não é novidade, mas nos mercados internacionais e de é crucial para impedir o
no próximo quinquénio, o endividamento público o envelhecimento dos trabalhadores do Estado recuo das compras de títulos pelo regresso a ‘lixo financeiro’
para menos de 110% do PIB, de modo a sair não deixa de ser um problema. A idade média já Banco Central Europeu (BCE) a par- do rating da dívida
definitivamente do clube dos maus alunos da ronda os 48 anos e é de quase 49 anos caso não tir de março, a perspetiva de saída
dívida, cortando os laços com a Grécia, Itália, se conte com as Forças Armadas e de Segurança. de Portugal daquele clube de sobre- portuguesa
Bélgica, Espanha e França — que registarão em Entre 2010 e 2020, a percentagem de funcionários -endividados é crucial para impedir
2026 níveis acima de 116% do produto, segundo públicos com 55 ou mais anos duplicou de 16% a desgraduação do rating da dívida
as projeções do FMI para 30,7%. portuguesa — com o risco de regres- O esforço de redução da dívida em
sar a ‘lixo financeiro’ — e a pressão 2021 vai traduzir-se não só na quebra
especulativa dos investidores. de oito pontos percentuais do PIB
EFICIÊNCIA DA DESPESA PÚBLICA SECTOR PÚBLICO PENALIZA PORTUGAL A margem temporal de manobra no nível de endividamento como no
AUMENTOU DESDE 2012 NO RANKING DA COMPETITIVIDADE é curta, pois as regras de ouro do stock da dívida pública. O Ministério
Coeficiente de eficiência da despesa pública em Portugal, em % Posição de Portugal no Global Competitiveness Index de 2019 défice e da dívida regressam já em das Finanças avançou, esta semana,
entre 141 economias 2023 e o BCE poderá ser pressiona- que a dívida direta em 2021 calcu-
68
65 do pelo surto inflacionista, se este lada pela Agência de Gestão da Te-
INDICADOR POSIÇÃO persistir em 2023 e 2024, a subir souraria e da Dívida Pública (IGCP)
60 Índice Global mais cedo a taxa diretora e a iniciar deverá fechar o ano em €260,4 mil
34º um processo de emagrecimento do milhões. O stock de dívida apurado
de Competitividade
55 Performance próprio balanço (que já tem em car- pelo Banco de Portugal para o final
61º teira mais de €4 biliões em dívida do ano ainda não é conhecido, mas,
do sector público
50 Fardo das regulações pública). O BCE é o maior credor em novembro, caiu para €269,7 mil
96º da dívida portuguesa, com mais milhões, o nível mais baixo desde
do Governo
45 Eficiência do sistema legal de €85 mil milhões em títulos em dezembro de 2020.
113º carteira no final de 2021, deven-
na resolução de conflitos Jorge Nascimento Rodrigues
2006 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17
do ainda subir este ano. Qualquer economia@expresso.impresa.pt
Despesa pública considerando diversas funções prestadas pelo Estado E-participação 30º
nomeadamente administração, educação, saúde, infraestruturas,
distribuição (proteçao social), performance económica e estabilização
FONTE: ESTUDO “STRUCTURAL TAX REFORMS AND PUBLIC SPENDING EFFICIENCY” FONTE: FÓRUM ECONÓMICO MUNDIAL
DE ANTÓNIO AFONSO, JOÃO TOVAR JALLES E ANA VENÂNCIO PROPOSTAS DOS PARTIDOS
MARGEM PARA MELHORAR A eficiência O DIABO ESTÁ NOS DETALHES No que toca à
da despesa pública em Portugal tem vindo a competitividade, se olharmos para o país na sua
aumentar nos últimos anos, mas ainda há espaço globalidade não aparecemos mal na fotografia. Bloco de Esquerda Saúde: fim das cativações e das
para melhorar. Os dados para 2017 indicam um Porém, se nos detivermos no desempenho > Autonomia e responsabilização da nomeações políticas no SNS
coeficiente de 68%, o que significa uma poupança do Estado, o trambolhão no ranking que lista AP na execução dos orçamentos Educação: rever estatuto dos
potencial de 32% sem comprometer o nível 141 economias é significativo, muito por culpa > Revisão da tabela remuneratória da professores e modelo de avaliação e
de serviços públicos. Isto quando, em 2011, o do excesso de regulamentação e do mau AP; revogação do sistema de avaliação de concurso
‘desperdício’ ultrapassava os 50%. funcionamento da justiça. e de quotas nas progressões Justiça: reforçar juízes e funcionários
Saúde: subir o orçamento do SNS; dos tribunais
revogar o decreto-lei que permite
DESPESA PÚBLICA EM PORTUGAL EM LINHA COM A MÉDIA DA OCDE, novas PPP PAN
MAS PERFORMANCE DO SECTOR PÚBLICO FICA ABAIXO DA MÉDIA Educação: autonomia das escolas > Fim dos concursos por medida na
Valores em pontos, relativos a 2017 AP
1,50 Indicador de performance do sector público ajustado à média dos países da OCDE Chega > Função Pública atrativa para os
> Estado deve cumprir contratos e jovens, com revisão de salários e
prazos de pagamento reforma do estatuto dos técnicos
1,30 > Procurar a solução mais superiores
económica para satisfazer as > Recrutamento centralizado na AP
Irlanda Luxemburgo necessidades coletivas
1,10 > Orçamento de base zero PCP
Alemanha Saúde: incentivar a contratualização, > Revogação da Lei do Trabalho em
Áustria
Estónia Finlândia
PPP ou modelos de gestão por Funções Públicas e do sistema de
Lituânia Países Baixos França
0,90 Bélgica objetivos avaliação na AP
Eslováquia Eslovénia
PORTUGAL
Educação: autonomia das escolas > Revisão da tabela remuneratória
Letónia Itália da AP
Espanha
0,70 Iniciativa Liberal Saúde: opção de dedicação exclusiva
Grécia > Orçamento de base zero dos médicos e enfermeiros com a
> Portal único com as compras majoração da remuneração e tempo
0,50 Despesa pública sobre o PIB ajustada à média dos países da OCDE públicas de serviço; autonomia das unidades
> Salários competitivos na AP do SNS no recrutamento
0,50 0,70 0,90 1,10 1,30 1,50 Saúde: liberdade de escolha do
O indicator de performance avalia diversos serviços prestados pelo Estado nomeadamente administração, educação, saúde, infraestruturas, prestador; decisão das PPP nas PS
distribuição (proteçao social), performance económica e estabilização. Despesa Pública considerando as mesmas funções Finanças e na Saúde > “Simplex” para os fundos europeus
Valores resultam de um modelo simplificado, para poderem ser representados num gráfico bidimensional
FONTE: ESTUDO “STRUCTURAL TAX REFORMS AND PUBLIC SPENDING EFFICIENCY” DE ANTÓNIO AFONSO, JOÃO TOVAR JALLES E ANA VENÂNCIO
Educação: autonomia das escolas Educação: novo regime de
Justiça: meios alternativos de recrutamento
GASTOS MÉDIOS, MAS PIOR DESEMPEMPENHO Em 2017 o nível de despesa pública em Portugal resolução de litígios Saúde: regime de trabalho em
em percentagem do PIB ficou em linha com a média da OCDE. Contudo, a performance do sector dedicação plena e regime de
público ficou abaixo da média. Na União Europeia destacam-se as performances de países como Livre incompatibilidades; criar a Direção
a Irlanda e a Dinamarca, o primeiro com baixo nível de despesa e o segundo com elevado. > Recrutamento centralizado na AP Executiva do SNS, para coordenar a
> Programa de Avaliação e resposta assistencial e monitorizar o
Melhoramento dos Serviços Públicos desempenho
20 ECONOMIA Expresso, 14 de janeiro de 2022

IMOBILIÁRIO
Tendência A ocupação de armazéns cresceu mais do dobro em 2021, para 450 mil m2, revela a CBRE. Mas não foi acompanhada pelo

Oferta de armazéns não satisfaz pro

O
Helder C. Martins

sector da logística é
o grande vencedor
da pandemia, com a
tradicional procura
por armazéns a ser
ainda mais acentu-
ada pela expansão
do comércio eletró-
nico. Promotores e
investidores consultados pelo Expres-
so dão conta de um momento muito
dinâmico, com a procura a exceder a
oferta de armazéns disponíveis. Sali-
entam também que o volume de novos
armazéns em construção e em projeto
não vai dar resposta às necessidades
do mercado nos próximos dois a três
anos. A maioria dos projetos identi-
ficados pela consultora CBRE com
conclusão em 2022 são para ocupa-
ção própria, como as plataformas da
Aldi, Mercadona e Dachser Logistics
(ver quadro). A consultora diz que a
ocupação atingiu os 450 mil metros
quadrados em 2021, mais do dobro do
que em 2021. Os promotores avançam
com projetos “especulativos” (sem te-
rem ainda inquilinos garantidos), mas
as infraestruturas logísticas que saem
para o mercado já estão arrendadas
antes de se começar a construção. E
continua a ser difícil encontrar ar-
mazéns com qualidade para arrendar
na margem norte do Tejo, no eixo Al-
verca-Vila Franca de Xira-Azambuja, A pandemia acelerou as necessidades de armazenamento tanto para a logística tradicional como para as plataformas de comércio eletrónico FOTO GETTY IMAGES
onde estão concentradas as maiores
áreas logísticas do país. cathlon em Gaia, entre outros. Admi-
“O mercado está muito aquecido, PROJETOS DE LOGÍSTICA COM CONCLUSÃO PREVISTA PARA 2022 tem também que grandes platafor-
Área em m2
refletindo a enorme procura, que se mas de comércio eletrónico, como a
deve à necessidade de aumento da norte-americana Amazon ou a alemã
capacidade logística muito acentua- TIPO DE Zelando, por exemplo, e até outras de
NOME LOCALIZAÇÃO REGIÃO PROMOTOR ÁREA
da pela pandemia”, afirma Nuno Pe- CONSTRUÇÃO média dimensão que operam a partir
reira da Silva, responsável pela área Azambuja Green Logistics Park Azambuja Lisboa Aquila Capital 115.000 À medida de Espanha também se queiram insta-
industrial e de logística da consultora Plataforma Aldi Alhos Vedros Lisboa Aldi 52.000 À medida lar em Portugal, para darem resposta
CBRE. Grande parte das necessidades Plataforma Logifruit Póvoa de Varzim Porto Mercadona 50.000 À medida às entregas em menos de 24 horas.
da operação logística deve-se ao facto Centro Logístico Garland VNG V. Nova de Gaia Porto Não identificado 38.000 À medida Um estudo recente da Savills coloca
de se estar a inverter a tendência do Plataforma Logística Serzedo Serzedo Porto Não identificado 15.000 Especulativa Portugal entre os cinco destinos mais
que foi feito há uns anos na Europa Plataforma Logística Maia Maia Porto Não identificado 8500 Especulativa apetecidos para o investimento logís-
e em Portugal, em que se privilegia- Plataforma Dachser Logistics V. Franca de Xira Lisboa Dachser Logistics 7400 À medida tico europeu.
va um mínimo de stocks. “Agora é o FONTE: CBRE
inverso, e há necessidade de trazer Investimento vai disparar em 2022
para junto dos consumidores grandes
quantidades de produtos”, explica. O aumento das necessidades de apro- necessidade de dotar essas cidades com radores procuram espaços com certifi- O mercado imobiliário de logística
Pedro Figueiras, diretor industrial e visionamento faz com que haja uma infraestruturas de qualidade.” cações, devido à exigência dos clientes atingiu um nível recorde de ocupa-
de logística da Savills, acrescenta que a procura por mais espaços não só para E explica que o acentuar da procura finais”, salienta Pereira da Silva. ção em 2021, mas o volume de in-
disrupção das cadeias de abastecimen- os armazéns da grande logística tradi- com a pandemia veio agravar a pouca Os consultores adiantam que a pres- vestimento manteve-se reduzido
to levou fabricantes, distribuidores e re- cional, mas também para os dedicados oferta que existia, cuja maior parte é são na procura de armazéns deverá (ver quadros). Contudo, em 2022 o
talhistas a aumentar os níveis de stocks. ao comércio eletrónico, que obedecem composta por edifícios devolutos ou aumentar nos próximos anos, não só investimento no sector deverá dispa-
“A área disponibilizada pelos novos a requisitos algo diferentes. Nuno Perei- que não se coadunam com as novas a nível da logística tradicional como rar e atingir um novo máximo, nota
projetos só em 2023 ou 2024 é que irá ra da Silva refere ainda que há muitos exigências das atividades. É um parque a necessária ao comércio eletróni- Cristina Arouca, diretora de Pesqui-
chegar ao mercado e não vai ser su- armazéns a aparecer no interior do que exige grandes investimentos em co. Consideram que há cada vez mais sa da CBRE. Dados da consultora
ficiente, corresponde a menos de um país, como na Guarda, Castelo Branco, reabilitação e onde, a par das caracte- grandes operadores tradicionais a demonstram que o sector logístico
ano de procura”, acrescenta. Opinião Leiria, Coimbra ou Aveiro, devido à in- rísticas técnicas, os requisitos a nível olhar para Portugal para aqui insta- evidenciou uma ocupação superior a
que é secundada pela generalidade dos versão da tendência. “Como há poucas de sustentabilidade assumem também larem centros que servirão a Europa, 450 mil metros quadrados em 2021,
analistas. infraestruturas logísticas feitas, existe um papel importante. “Os grandes ope- dando como exemplo o centro da De- cerca do dobro do ano anterior e 40%
 Expresso, 14 de janeiro de 2022 ECONOMIA 21

ESPAÇOS
&CASAS
bpiexpressoimobiliario.pt

investimento, que deverá disparar em 2022, com a transação de portefólios avaliados em €500 milhões

cura nos próximos três anos A VER NO PROGRAMA

DESTA SEMANA

Casa antiga
vira escritório
Em Braga, uma casa anti-
ga, centenária, foi reabili-
tada para albergar a sede
acima do anterior máximo de 325 mil mais baratos do que os praticados do Castro Group. O projeto
metros quadrados registado em 2017. ÁREA CONCLUÍDA em Espanha, onde os custos de contempla ainda construção
Em contraste, o investimento não EM ATIVOS LOGÍSTICOS construção são mais baixos”. nova.
Em m2
acompanhou a pressão da procura, Exemplo disso são grandes pro-
tendo sido contabilizados cerca de Promoção especulativa motores, como a Merlin Properti-
€60 milhões em 2021, cerca de 2,5% 300 Construção à medida es, a VPG ou a Aquilla, avançarem Apartamentos
do montante investido no total do
200
com projetos especulativos (sem ter com vista
imobiliário comercial, quando na inquilinos), pois entre a obtenção
Europa o sector da logística responde de licenciamentos e o arranque das Instalado numa colina, o
por 20% do investimento do total do 100 obras encontram inquilino. empreendimento Graça Re-
imobiliário comercial, logo a seguir “Após a conclusão do VGP Park sidences resulta da recupe-
aos escritórios. A tendência em Por- 0 de Santa Maria da Feira, em 2021, ração de edificado antigo e
tugal deverá inverter-se este ano. 2017 2018 2019 2020 2021* temos as unidades de Loures e Sintra tira partido da vista sobre
*Previsão
“Ao contrário do que aconteceu nos a arrancar a construção. Há ainda Lisboa.
últimos cinco anos, vamos ter pela uma outra na margem sul do Tejo
primeira vez um volume significativo INVESTIMENTO cuja construção deverá arrancar
de transações em 2022”, diz Nuno EM IMOBILIÁRIO antes do final do ano”, afirma José Índice RE/MAX
Em m2
Nunes. O diretor de Investimento da Manuel Ferreira. O administrador Mesmo em tempos econó-
CBRE salienta que estão em nego- da belga VGP em Portugal adianta micos mais difíceis, há sem-
ciação cinco projetos que envolvem 300 que a empresa está a estudar outras pre procura por imóveis de
portefólios existentes e que, “na sua localizações na margem norte do luxo.
totalidade, representam mais de 700 200 Douro, junto ao Porto. “Há falta de
m2 de área bruta locável e represen- oferta e temos espaço para crescer
tam mais de €500 milhões de inves- 100 nos próximos cinco anos”, acrescen-
timento”. Um recorde absoluto face ta. A espanhola Merlin concluiu em Espaços & Casas
0
ao pico de €345 milhões registado
2017 2018 2019 2020 2021*
maio de 2021 a primeira fase da Pla- na SIC Notícias
em 2017. “Boa parte destas operações taforma Logística Lisboa Norte, em
são carteiras de investidores insti- *Previsão Castanheira do Ribatejo. “Estamos a Sábado às 10h45
tucionais nacionais, alguns do siste- avançar com a segunda fase, que in- Repetição Segunda às 9h45
ma financeiro, que estão a vender a promoção de raiz. Com a escassez clui mais dois armazéns, num total de
grandes operadores internacionais da oferta, as rendas começam a cerca de 65 mil metros quadrados”, Programa com o apoio de
de logística”, adianta. subir — até mais rápido do que os adiantou João Cristina, responsável
A entrada de grandes operadores custos de construção —, o que des- da empresa em Portugal. Este pro-
logísticos, conjugada com as neces- perta o interesse dos promotores”, jeto representa um investimento de
sidades da pandemia e um défice de acrescenta Nuno Nunes. E lembra €150 milhões e, quando concluído,
oferta, anima o mercado. que “a renda no mercado prime será o maior parque logístico naci-
“Até há pouco tempo a renda pra- ronda os €4/m2, com pressão para onal, com um total de 224.864 m2.
ticada na logística não justificava a subir, valores que são 25% a 30% hmartins@expresso.impresa.pt

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22 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 14 de janeiro de 2022

INVESTIMENTO

Faltam 17 mil camas para seniores

€1175 é o preço mínimo, por
mês, para ocupar uma vaga nas
estruturas para seniores
Amadeu Araújo
Portugal precisa de 17 mil ca-
mas para a população idosa. No
entanto, este ano serão cons-
truídas apenas 927, num inves-
timento que ascende a €73,7
milhões, reforçando uma área
que já atrai 19% do total do in-
vestimento imobiliário a nível
nacional.
Lisboa e Porto apresentam
as menores taxas de cobertura,
e é aqui que estão os grandes
projetos. Áreas metropolitanas
com pouca oferta são as locali-
zações procuradas pelos ope-
radores deste segmento: “Exis-
te quase que um pré-requisito
de localizações com mais de
30 mil habitantes”, sublinha
Cristina Arouca, diretora de
pesquisa da consultora CBRE.
Na Amadora, uma antiga
fábrica está a ser transforma-
da em residência para idosos,
num projeto do Centro Social
Ricardo Gameiro com 41 quar-
tos e 6 apartamentos, num in-
vestimento de €4 milhões.
Na Trofa, o Centro Comuni-
tário de Alvarelhos iniciou o
projeto de uma nova residên-
cia para 50 utentes e com um
investimento de €2,5 milhões.
Também na Lixa, o Grupo
Meireles está a construir uma
residência partilhada, gerida
pela Acolhimento Sénior, que
opera estruturas residenciais
para idosos. “Tendência” cada
vez mais presente, esclarece
Cristina Arouca, com os “inves-
tidores a adquirir residências
para seniores que celebram
contratos com operadores pro-
fissionalizados”.
Investimento nacional e in-
ternacional, como o dos belgas
da Promiris, que vão constru-
ir uma residência sénior no
centro de Vila Nova de Gaia.
Dois hectares de terreno para
construir um edifício com 126
apartamentos, ainda em licen-
ciamento.
A entrar no terceiro ano de
atividade em Portugal, os fran-
ceses da Orpea adquiriram o
campo de treinos do Futebol
Clube de Alverca para a cons-
trução de uma residência para
idosos. São dois hectares de
área no centro da cidade, para
onde já há projeto e pedido de
informação prévia. O valor do
investimento ainda não é co-
nhecido, reconhece Francisco
Vidal, diretor-geral do grupo.
Apenas se sabe que a nova re-
sidência terá capacidade para
120 idosos.
Os espanhóis da Thor têm
em carteira três novas residên-
cias em Guimarães, Setúbal
Os promotores vão investir €73,7 milhões em residências para idosos FOTO D.R.
e Algarve, €30 milhões para
criar mais 120 camas.
Cristina Arouca aponta para
“uma escassez de oferta gene-
ralizada em todas as regiões do
país”. Como Oeiras e Coimbra,
onde os novos projetos da rede
Círculo de Mestres totalizam
€16 milhões de investimento,
para servir 250 seniores. A in-
tenção do grupo é ter capacida-
de para em três anos atingir os
mil utentes.
Sinais que mostram um
crescimento da oferta, a que
se juntam movimentos de con-
centração. O Grupo Ferpinta
alienou à Vitálitas o Hotel Ida-
nha Natura, em Idanha-a-No-
va, numa reconversão orçada
em €1,5 milhões e que vai criar
64 camas.
No Fundão, a Misericórdia
vai investir €7,5 milhões na
adaptação do Hotel Príncipe
da Beira a lar para idosos com
40 camas.
O país regista 2,3 milhões
de portugueses com mais de
65 anos, revela a Pordata, e
“precisa de ter, até 2025, 17
mil camas em residências
para idosos”, revela o estudo
“The Senior Living Market”,
da consultora JLL, que ano-
ta que o investimento neste
segmento representou 19% do
mercado imobiliário em 2021,
com €65,5 milhões apenas no
primeiro semestre. Em 2020
foram €73,1 milhões. O que
aponta para um valor “estima-
do, por cama, entre €100 mil e
€110 mil”.
É este mercado que está a
chamar os investidores, como
na Guarda, onde o antigo ma-
tadouro será demolido para a
construção de uma residência
e centro de dia com 110 vagas
e um investimento de €10 mi-
lhões. O terreno é da autar-
quia, que receberá uma renda
anual de €11 mil.
Em Coruche, a Câmara li-
dera um investimento de €2,2
milhões para a construção do
Centro de Repouso da Fajarda.
As mensalidades variam con-
soante o grau de dependência
do residente, cuidados médicos
e serviços adicionais. O valor
base da prestação mensal,
revela a CBRE, começa nos
€1200 e pode ultrapassar os
€2 mil.
A Confederação Nacional das
Instituições de Solidariedade
Social explica que “o preço é
de livre fixação”. Já nas resi-
dências do sector social está
estabelecida uma mensalidade
máxima de €1175 por utente.
E não é expectável “uma
redução de valores de mensa-
lidades, pelo menos para já”,
antevê Cristina Arouca, devido
à “pressão ao nível da procura
por recursos humanos”.
A solução são os €300 mi-
lhões disponibilizados pela
Segurança Social — via PRR
— que poderão aumentar as
vagas destinadas à “popula-
ção de menores rendimentos”,
conclui Cristina Arouca.
O estudo da JLL mostra que
os investidores estão disponí-
veis para suportar taxas de es-
forço em reinvestimento entre
40% e 55% dos lucros gerados
por cada residência, num negó-
cio em que o rendimento anual
por unidade atinge 5,75%, con-
clui a consultora, que perspeti-
va uma subida do investimento
nestes ativos imobiliários.
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 Expresso, 14 de janeiro de 2022 bpiexpressoimobiliario.pt 23

HABITAÇÃO

Preço das Lisboa sentiu

em 2021 uma
pequena quebra
na procura de casas,

casas sobe em detrimento

da periferia
FOTO INÁCIO LUDGERO/VISÃO

12,2% em 2021

Em dezembro, os preços
acumularam uma subida de 13,7%
em comparação com o início
da pandemia
2019”, destaca ao Expresso Ri- parte dos investidores e das fa- visível na capital uma queda nos na promoção do país como um último trimestre do ano, com
Elisabete Soares cardo Guimarães, diretor da CI. mílias portuguesas, devido ao pedidos de licenciamento para destino seguro a privilegiar”. aumentos mensais superiores a
De acordo com estes dados, facto de o país ter mostrado que a construção de novos fogos. 1,0% e uma valorização trimes-
O mercado residencial termi- que resultam do Índice de Pre- estava a conseguir ultrapassar Desta forma, a valorização dos Subida de preços em maio tral que culminaria em 3,9%.
nou o ano de 2021 com uma for- ços Residenciais da CI, “em de- os efeitos da pandemia, e me- preços tem sobretudo a ver com O desempenho dos preços
te valorização, aproximando-se zembro de 2021 os preços acu- nos com a anunciada corrida à um fator confiança gerado pela Debruçando-se sobre o desem- nos últimos meses contrasta
dos valores registados nos dois mularam uma subida de 13,7% compra de imobiliário nos úl- sensação de que a situação pan- penho dos preços apenas ao com o comportamento obser-
anos anteriores à pandemia, face ao início da pandemia, em timos meses do ano em conse- démica estava controlada. “De- longo de 2021, a CI identifica vado na anterior crise, acres-
2018 e 2019. março de 2020”. Destaca-se quência da entrada em vigor, já pois do momento inicial de incer- dois momentos marcantes. centa Ricardo Guimarães. “No
De acordo com os dados da que grande parte desta valori- neste mês de janeiro, das novas teza, a abertura sentida a partir Por um lado, o primeiro tri- período em que o país esteve
Confidencial Imobiliário (CI) zação ocorreu nos últimos oito regras dos vistos gold. do segundo trimestre do ano foi mestre, influenciado por um sob intervenção da troika, no-
a que o Expresso teve acesso, meses, mais concretamente a De acordo com Ricardo Gui- a confirmação de que o mercado novo confinamento geral, deu meadamente entre maio de
o segundo ano do período de partir de maio de 2021, já que marães, a explicação é simples. tinha condições para enfrentar a ainda sequência à tendência 2011 e maio de 2014, a habita-
pandemia ficou marcado pela até abril a subida acumulada Grande parte da valorização situação de pandemia, sobretu- de estabilização dos preços de ção acumulou uma desvaloriza-
forte valorização da habitação, dos preços face ao início da dos preços deu-se “fora do pal- do através dos elevados níveis de venda das casas que se vinha ção de 7,4%.”
registando-se um crescimento pandemia mostrava-se pouco co de Lisboa”, que foi sempre vacinação”, destaca. fazendo sentir desde o início No final de 2021, o preço mé-
de 12,2% nos preços das casas robusta, ficando em 3,5%. o mercado privilegiado na co- Ricardo Guimarães acrescen- da pandemia. No final desse dio de venda das casas — apura-
em Portugal continental. “Tra- mercialização do imobiliário ta que este facto está também a trimestre registou-se um au- do no âmbito do SIR — Sistema
ta-se de um dos aumentos anu- Retoma da confiança destinado aos vistos gold. permitir uma “maior dinâmi- mento trimestral nos preços de Informação Residencial —
ais mais robustos do mercado Curiosamente, Lisboa sentiu ca na procura internacional”, de 1,2% e homólogo de 2,6%, o atingiu os €1822/m2, pratican-
desde 2007, igualando 2017 e A valorização dos preços das ca- em 2021 uma pequena quebra podendo mesmo considerar-se menos robusto dos últimos cin- do-se um valor médio de €2826/
sendo apenas superado pela sas deve relacionar-se, segundo na procura de casas, em detri- que as medidas tomadas em co anos. A partir de maio, a su- m2 na habitação nova e de
valorização de mais de 15% ob- aquele responsável, sobretudo mento da periferia, cujos pre- Portugal para controlar a pan- bida de preços intensificou-se, €1731/m2 na habitação usada.
servada quer em 2018 quer em com a retoma da confiança por ços valorizaram, sendo também demia são “um fator adicional destacando-se nesse período o economia@expresso.impresa.pt

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Expresso, 14 de janeiro de 2022 ECONOMIA 25

EMPREGO

Carreira Trabalho colaborativo monopoliza do mais de 85% do tempo de trabalho

semanal dos profissionais”. Números
-se mais longos, passam a ocupar as
noites e os fins de semana, aumentan-
mais de 85% da semana laboral. Estar sempre que a pandemia de covid-19, e a con-
AUMENTAR A PRODUTIVIDADE
do o risco de burnout [esgotamento
sequente migração para o trabalho re- profissional]”, vinca, acrescentando
disponível para ajudar tem custos moto, fez aumentar. Os profissionais que os profissionais mais colaborati-
gastam hoje em atividades colaborati- vos enfrentam maiores riscos.

Colegas vas mais cinco a oito horas de trabalho

semanais do que antes da pandemia,
vinca o autor.
Estas solicitações, muitas vezes in-
Reserve tempo para pensar
Bloqueie na agenda tempo para refletir.
Isso pode significar começar o dia a
responder a e-mails e, em seguida, ter
Um cenário que a psicóloga or-
ganizacional ouvida pelo Expresso,
Liliana Dias, corrobora: “O excesso
de trabalho colaborativo aumenta a

que ajudam
visíveis aos olhos dos gestores, pe-
nalizam, na opinião de Rob Cross,
sobretudo os ditos “bons colegas”,
profissionais com perfis mais dispo-
níveis para ajudar. E não está só em
duas horas sem interrupções para
trabalho criativo, ou reservar blocos de
30 minutos ao longo do dia para
responder a e-mails e mensagens
ansiedade dos profissionais, a pressão
para a hiper-resposta (estar presente
em todas as frentes) e comporta um
risco efetivo de burnout e desgaste.” A
especialista relembra que “quando um

os outros causa a perda de produtividade de-

corrente da dispersão constante por
várias solicitações, está também em
causa uma degradação da saúde fí-
Filtre e-mails e solicitações
E-mails geram mais e-mails e a
tentação é querer responder rápido.
Mas os profissionais mais produtivos
profissional entra numa tarefa densa,
com maior exigência cognitiva, preci-
sa de pelo menos 20 minutos para se
concentrar”. Por isso, as solicitações

são menos
sica e mental destes profissionais e,
consequentemente, a “perda de agi-
lidade e capacidade de inovação das
empresas”, diz.
criam regras para evitar interrupções
constantes, por exemplo, desligando o
e-mail e outros canais de contacto em
alguns momentos do dia
constantes — regra geral em múltiplas
plataformas distintas — têm um forte
impacto na produtividade e na capaci-
dade de fazer trabalho relevante.
Liliana Dias sinaliza que a pande-

produtivos Tempo de reflexão é fundamental
Quer isto dizer que ser um profissional
disponível para trabalhar em equipa e
ajudar os outros é mau? Não, continua
a ser uma virtude. O problema, sugere
a investigação de Cross, é fazê-lo em
excesso, permitindo que as atividades
colaborativas monopolizem os dias de
trabalho retirando aos profissionais o
tempo para pensar e realizar trabalho
cognitivo, essencial para a sua motiva-
ça na Babson College (EUA), que há ção, desempenho e evolução.
Textos Cátia Mateus
Balize as reuniões
Evite reuniões longas e improdutivas,
preparando-as antes. Crie
documentos partilhados entre a
equipa com os tópicos da reunião,
para que todos deixem os seus
comentários e dúvidas antes.
Chegando à reunião, as intervenções
serão rápidas e direcionadas. Se a
reunião for presencial, faça-a de pé
mais vezes ao longo do dia. Um fator
mia agravou esta pressão sobretudo
porque, numa primeira fase, impôs
ao trabalho remoto as mesmas regras
do presencial, “com reuniões em vá-
rias horas do dia para garantir que os
trabalhadores estavam efetivamente
ligados”. Mas realça que “as empre-
sas começam a estar conscientes dos
riscos deste excesso de trabalho cola-
borativo para a retenção de talento”.
O gestor e mentor de carreiras, José
Bancaleiro, líder da Stanton Chase,
confirma: “As empresas começam

S
er aquele colega que
todos procuram quan-
do é preciso ajuda e
que está sempre pron-
to a colaborar com os
demais ou “aguentar
o barco” é bom para
uma carta de referên-
cia, mas tem custos
pessoais e empresariais elevados. E
a pandemia agravou-os. É o que con-
clui Rob Cross, professor de Lideran-
quase duas décadas vem estudando
o fenómeno do excesso de trabalho
colaborativo (collaboration overload)
nas organizações e os seus impactos.
No seu mais recente estudo, Cross,
que é também autor do livro “Beyond
Collaboration Overload”, destaca que
o trabalho colaborativo — tempo que
gastamos a ajudar colegas numa tare-
fa, esclarecer dúvidas, mas também
a responder a e-mails, mensagens,
telefonemas, videochamadas ou parti-
cipar em reuniões — “aumentou 50%
ou mais na última década, consumin-
Os estudos confirmam-no. Uma aná-
lise recente da consultora McKinsey
revela que o e-mail e outras platafor-
mas de colaboração internas repre-
sentam 42% do tempo de trabalho de
um trabalhador qualificado. Tempo
que é roubado ao trabalho individual,
realizado a solo, e com maior profun-
didade (carga cognitiva). Segundo a
consultora, o problema agravou-se
com a pandemia. Não basta virar-se
para o lado para esclarecer uma dúvi-
da com o colega. É preciso recorrer a
plataformas de comunicação remota
de distração adicional que, segundo
um estudo da Microsoft, se traduz
numa redução de 30% no chamado
tempo de concentração — período de
duas ou mais horas ininterrupto em
torno de uma tarefa — que tem uma
correlação direta com a produtividade
de um trabalhador.
Rob Cross relembra que quanto
mais tempo passamos a desempenhar
tarefas colaborativas, as outras, que
requerem maior concentração, demo-
ram mais tempo a concluir. Em conse-
quência, “os dias de trabalho tornam-
a definir regras no que respeita aos
tempos de trabalho, ao limite e dura-
ção das reuniões que são agendadas,
bem como ao intervalo entre elas”.
E vinca que “há estratégias que os
profissionais se podem impor para
se proteger deste excesso de solicita-
ções, sem deixarem de estar disponí-
veis”. Até porque o espírito colabora-
tivo e a capacidade de entreajuda são
aspetos valorizados num profissional.
Só é preciso garantir que existem na
dose certa.
cmateus@expresso.impresa.pt.pt

Engenheiro Civil – Projetista Madeiras (m/f) Diretor Administrativo e Financeiro (m/f)

VISEU LISBOA

EMPRESA
Empresa nacional, líder de mercado na Europa e
referência no mercado das madeiras. Apresenta
uma vasta gama de produtos disponíveis no
mercado nacional e internacional, em diversos
setores.
CANDIDATO
O profissional a admitir reportará ao Diretor
Técnico e será responsável pela elaboração de
projetos de estabilidade em estrutura de madeira,
assim como pela sua preparação e execução.
PERFIL
• Formação superior em Engenharia Civil;
• Experiência mínima de 2 anos em função similar;
• Domínio de software de cálculo robot e de
desenho CadWork;
• Sólidos conhecimentos de inglês (preferencial).
Excelente oportunidade de desenvolvimento
profissional num grupo de referência em forte
crescimento.
EMPRESA
Prestigiada empresa no sector da construção
civil que desenvolve a sua atividade na área da
construção de pistas de aeroportos e estradas.
CANDIDATO
• Demonstrações financeiras e contabilidade
analítica de acordo com as regulamentações
externas e internas da empresa;
• Gestão de tesouraria;
• Controlo e monitorização do CFO capex e
cobranças;
• Declarações fiscais;
• Gerir a relação entre auditores, instituições
financeiras, agência fiscal e administração
publica.
PERFIL
• Mestrado em Administração de empresas ou
similar;
• Conhecimentos de IFRS;
• Bons conhecimentos de SAP;
• Experiência profissional mínima de 4 anos em
função similar;
• Conhecimentos avançados em Excel e
Powerpoint;
• Fluente em inglês e espanhol.
Oportunidade de integração empresa sólida e
em crescimento, que oferece condições de
remuneração ajustadas ao nível de
experiência demonstrada.

Diretor de Marketing e Estratégia (m/f) Diretor Geral - Construção Civil (m/f)

PORTO ANGOLA

EMPRESA PERFIL EMPRESA PERFIL

Empresa de referência mundial, do setor
industrial e produtora de material sintético.
CANDIDATO
O profissional a admitir vai reportar diretamente à
Administração da Empresa e será responsável
pela Gestão Estratégica de Pricing e pela análise
global e económica, de forma a garantir a
liderança nos mercados onde atua. Será
igualmente responsável pela implementação do
CRM e pela adoção de políticas e procedimentos
comerciais garantindo o desenvolvimento e a
rentabilidade do negócio.
• Formação superior em Marketing ou Gestão;
• Experiência de 8 a 10 anos em função de cariz
semelhante com componente estratégica,
Marketing e Gestão de Produto;
• Valoriza-se experiência no setor industrial;
• Disponibilidade para deslocações
internacionais;
• Domínio da Língua inglesa (obrigatório).
Excelente oportunidade de desenvolvimento
profissional, em Indústria de relevo
internacional.
Prestigiada empresa que se dedica à área da • Formação superior em Gestão ou Engenharia Civil;
escavação, terraplanagens e construção de projetos, • Experiência em empresas com atividade na área da
está a desenvolver processos de recrutamento para construção civil e obras públicas;
várias funções especializadas, direcionadas a projetos • Experiência mínima de 8 anos em funções de
de grande envergadura a desenvolver na zona de responsabilidade de Direção Geral;
Angola. • Conhecimentos de inglês;
• Conhecimento de informática na ótica do utilizador
CANDIDATO (Excel, Word, Access, PowerPoint e Outlook);
O profissional a admitir será responsável pela Direção • Disponibilidade para residir em Angola.
Geral da empresa em Angola, assumindo a liderança e
coordenação de recursos, a negociação com entidades,
Oportunidade de integração em empresa sólida no seu
bem como o desenvolvimento de plano de negócio. Irá sector de atuação, que oferece condições de
remuneração atrativas e de acomodação em Angola.
participar no fecho mensal em cooperação com o
departamento de Planeamento e Controlo de Gestão,
proceder a análises de balanços e indicadores
económicos/financeiros, desenvolver relatórios, análises
e orientações proativas, maximizar o desempenho do
negócio e encontrar oportunidades para melhor
resultados.

Os candidatos considerados serão #sempreligados Conheça estas e outras oportunidades em

contactados num prazo máximo
de 10 dias úteis. www.egor.pt
26 ECONOMIA Expresso, 14 de janeiro de 2022

LICENCIADO(A) EM QUÍMICA
RECRUTAMOS PARA LAVRADIO / BARREIRO
Oferta:

Procedimento
Somos um Grupo Internacional líder no setor Químico Nacional e Interna-
cional, os nossos objetivos primeiros são elevados padrões ambientais, a
segurança e a qualidade dos produtos fabricados, a nossa sustentabili-

Concursal
dade é assegurada pela competência, capacidade de inovar e espírito de
missão dos nossos Recursos Humanos.

Requisitos:
• Licenciatura ou Mestrado em Eng. Química ou equivalente;
O Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana, • Experiência profissional relevante mínima de 3 anos em Indústria;
I.P. abre 10 procedimentos concursais com vista ao • Conhecimentos de Inglês e Espanhol falado e escrito;
• Domínio de ferramentas informáticas na ótica do utilizador;
recrutamento de 85 Técnicos Superiores, com ou sem • Preferência residência na área geográfica do Barreiro.
vínculo de emprego público, na modalidade de contrato
de trabalho em funções públicas a termo resolutivo Procuramos Candidatos com:
incerto, para as seguintes áreas de formação CNAEF: • Experiência profissional em Indústrias Químicas;
• Para coordenar e supervisionar setor produtivo e expedição de produto
acabado;
• Espírito de liderança e experiência em gestão de equipas;
•Di reito • Assertivo, bom domínio da comunicação interpessoal;
• Arquitetura e Urbanismo ou Construção Civil e • Capacidade de análise, tomada de decisões e implementação de ações
Engenharia Civil de melhoria;
• Gestão e Administração, Economia, Contabilidade e • Dinâmico, proativo, resiliente nos objetivos;
Fiscalidade, Finanças, Banca e Seguros • Promotor de cultura de segurança, conhecedor das normas de Seguran-
ça e Saúde no Trabalho e Ambiente em Indústrias Seveso.

Oferecemos:
Os interessados poderão encontrar informações sobre estes • Remuneração, compatível com experiência do Candidato;
procedimentos em • Carreira e desenvolvimento profissional, vínculo contratual com a empresa;
http://www.ihru.pt/web/guest/procedimentos-concursais-abertos • Regalias sociais, saúde, educação descendentes, outros;
https://www.bep.gov.pt • Empresa estável.

Serão apenas consideradas as candidaturas que cumpram os requisitos

acima mencionados, independentemente do género, religião, crença ou
raça. Caso não seja considerado, o seu CV será mantido em base de dados.

As candidaturas devem ser enviadas com CV, indicando REQS22, atra-

Seleciona em Regime de Contrato vés do site: www.expressoemprego.pt

Individual de Trabalho
A Fundação de Serralves tem como missão estimular o interesse e o conhecimento de públicos de diferentes origens e ida-

JURISTA(S) des, pela arte contemporânea, pela arquitetura, pela paisagem e por temas críticos para a sociedade e seu futuro, fazendo-o
de forma integrada, com base num conjunto patrimonial de exceção, no qual se destacam o Museu de Arte Contemporânea,
a Casa, o Parque e a Casa do Cinema Manoel de Oliveira.
Para integrar a equipa da Direção de Recursos e Projetos Especiais, estamos a recrutar (m/f):

INFORMÁTICO(S) TÉCNICO DE FINANCIAMENTOS

ENFERMEIRO(S)
Reportando ao Diretor da área, esta pessoa tem como missão apoiar técnica e administrativamente a direção em que se
insere no âmbito de conceção, realização e acompanhamento de candidaturas e projetos a fundos comunitários, com vista à
sua aprovação e adequada execução, aportando inovação aos projetos da Fundação de Serralves e aos processos de financi-
amento que contribuam para a sua sustentabilidade económico-financeira.

ASSISTENTE(S) OPERACIONAL(AIS) Principais Responsabilidades:

^ Conhecer as regras do financiamento público, pesquisar e estar a par dos programas e respetivas atualizações que possam
ter interesse para a Fundação;
^ Participar na interligação com as várias direções da Fundação, no sentido de recolher dados com vista à construção de
projetos elegíveis e à elaboração das respetivas candidaturas a programas de financiamento comunitário/prémios;
(m/f) ^ Redigir conteúdos de suporte à apresentação das candidaturas a financiamentos comunitários/prémios, mediante a consoli-
dação da informação necessária, em articulação com os serviços responsáveis pelas respetivas áreas de atuação;
^ Organizar os dossiers de candidatura e posteriores procedimentos de reporte, bem como apoiar a implementação/gestão dos
projetos cujas candidaturas tenham sido aprovadas;
Para mais informações, consultar o Site do CHLO: ^ Acompanhar as várias fases de candidaturas submetidas, com vista a identificar ações de melhoria, que visem potenciar os
resultados das mesmas e responder aos objetivos da Fundação;
https://www.chlo.min-saude.pt/index.php/centro-hospita- ^ Participar nas várias atividades da direção em que se insere, apoiando, sempre que necessário, bem como propor ações de
melhoria que visem uma maior eficiência dos processos.

lar/recrutamento Competências desejadas:

– Mestrado em Gestão, Economia ou similar;
– Experiência mínima de 5 anos de trabalho com candidaturas a financiamentos comunitários e/ou especialização profissional
específica relevante na área;
– Boa capacidade analítica e numérica;

DIREÇÃO DE EQUIPA COM REPRESENTAÇÃO

– Capacidade de estruturação de conteúdos e de expressão escrita;
– Bom contacto interpessoal e capacidade de argumentação e de negociação;
– Boa capacidade de organização e de gestão de projetos;
DISTRITO DE FARO – €5500 (previsto) – Capacidade de aportar inovação;
– Conhecimentos de inglês (falado e escrito);
A Veigas Portugal, organização com 24 anos, está a recrutar DOIS Diretores de Equipa (m/f) com representação da marca, – Bom domínio das ferramentas de análise, nomeadamente Excel.
para se implantarem no distrito de Faro (Sotavento e Barlavento) com abrangência de todos os concelhos do Algarve. Para apresentar candidatura a esta função, solicitamos o preenchimento do formulário de candidatura, acompanhado do seu
curriculum vitae e carta de motivação, na página www.serralves.pt, até ao limite do dia 21 de janeiro de 2022.
Pretendemos:
– Capacidade de liderança
– Boa comunicação
– Elevado nível de motivação
– Perfil comercial
– Espírito empreendedor
– Idade superior a 40 anos (preferencial)
– Com ou sem experiência na atividade
FARMACÊUTICO FARMACÊUTICO
Funções
– Gestão do negócio
– Definição de estratégia e objetivos (m/f) (m/f)
– Recrutamento
– Acompanhamento e motivação da equipa

Para Farmácia
– Garantir um atendimento com qualidade

Para Farmácias
– Análise da qualidade do serviço prestado aos clientes
– Medir resultados

Investimento da marca no candidato selecionado

– Formação inicial e contínua que garante a capacitação para o desempenho das funções de liderança
em no Algarve
Lisboa
– Formação inicial e contínua à equipa
– Pertencer a uma rede 100% nacional, reconhecida no mercado
– Acesso a software de gestão integrado, promotor de negócios
– Oferecemos excelentes condições de acesso
(Portimão e Lagoa)
As candidaturas
Benefícios de pertencer a uma rede
– Acompanhamento permanente
– Acesso a ferramentas tecnológicas inovadoras e promotoras de negócios As candidaturas
– Partilha de negócios
– Pertencer a uma rede de agências com espírito de entreajuda e carisma familiar deverão ser enviadas, deverão ser enviadas,
– Excelente ambiente organizacional
– Incentivo e reconhecimento
– Trabalho em equipa
com CV, para: com CV, para:
– Negócio com rentabilidade elevada

Processo de candidatura: Envio de CV, com indicação da disponibilidade, para dar inicio ao projeto através do email: grofarmacias2022@gmail.com grofarmacias2022@gmail.com
rh.sede@veigas.eu
Expresso, 14 de janeiro de 2022
A The Navigator Company assumiu o compromisso de
ter o seu processo industrial neutro em carbono em
2035, 15 anos antes dos objetivos nacionais e europeus.
The Navigator Company is committed to have its
industrial process carbon neutral by 2035, 15 years
ahead of national and European targets.
ANALISTAS DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
(PERFIL SENIOR)
(M/F) | REF. 1 – SETÚBAL | REF. 2 – FIGUEIRA DA FOZ
REF. 3 – AVEIRO | REF. 4 – VILA VELHA DE RÓDÃO
Pretendemos recrutar, para a Direção de Sistemas de Informação.
PRINCIPAIS RESPONSABILIDADES:
Desenvolvimento e manutenção aplicacional, com especial enfoque nas áreas
corporativas, produtivas e comerciais;
Análise de requisitos e respetivo desenho funcional, definição de modelos de
dados, prototipagem de soluções aplicacionais e respetiva produção de
documentação;
Gestão de projetos e participação no desenvolvimento de software.
PERFIL REQUERIDO:
Licenciatura pré-Bolonha ou Mestrado pós-Bolonha na área de Engenharia
Informática (ou equivalente);
Mínimo de 5 anos de experiência em análise de sistemas de informação e
desenho de soluções;
Conhecimentos de arquitectura SOA, cloud computing e desenho de soluções;
Experiência em contexto industrial no desenvolvimento de soluções para as
áreas de vendas, logística e financeiro (preferencial);
Conhecimentos de técnicas de programação, SQL, estruturas de dados
relacionais e arquiteturas orientadas para os serviços;
Proactividade, Dinamismo e Capacidade de Análise e Resolução de Problemas;
Conhecimento de inglês falado e escrito.
OFERECEMOS:
Integração em grupo económico de projeção internacional e pacote
remunerativo compatível com a experiência demonstrada;
Formação técnica e perspetiva de progressão. 
As candidaturas devem ser formalizadas, até ao dia 31 de Janeiro
de 2022, indicando a Refª a que se candidata e anexando
o CV detalhado, através do link https://bit.ly/3JWP4yx
Candidaturas para docente
Aceita-se candidaturas para a posição de:
PROFESSOR/A AUXILIAR
(Ou outra que esteja em conformidade com o curriculum vitae)
Em regime de tempo integral, com vista à integração imediata no 2.º semestre de 2021-2022. Os/as
docentes a recrutar devem apresentar um perfil adequado à docência, investigação e prática nas áreas
disciplinares indicadas abaixo.
A) Departamento de Ciências Sociais e do Comportamento: Área de Psicologia Forense/da Justiça.
As candidaturas deverão, preferencialmente, respeitar os seguintes requisitos:
– Perfil adequado para integração no Mestrado em Psicologia Clínica Forense – Intervenção com Agres-
sores e Vítimas;
– Possuir Doutoramento em Psicologia, com especialização nas áreas Forense, da Justiça, Clínica Fo-
rense, ou afins;
– Deter um número relevante de publicações científicas em revistas indexadas no JCR da Web of Science
e no SJR da Scopus, preferencialmente nos Quartis 1 e 2, na área da Psicologia Clínica, especialização
nas áreas Forense, da Justiça, Clínica Forense, ou afins;
– Ter experiência prática na área da Psicologia Clínica, nomeadamente nas áreas Forense, da Justiça, ou
afins (e.g., avaliação psicológica forense, avaliação psicológica ou intervenção psicológica com vítimas
e/ou agressores/ofensores);
– Ter conhecimentos e experiência relevantes na área das Metodologias de Investigação (utilização de
desenhos de investigação quantitativos, qualitativos ou mistos, e domínio diversificado de métodos
estatísticos avançados);
– Ser dotado/a de experiência de participação em equipas de projetos de investigação financiados, na-
cionais e internacionais;
– Competências e experiências pedagógicas relevantes.
B) Departamento de Ciências Sociais e do Comportamento: Área de Psicologia Escolar e da
Educação.
As candidaturas para esta área deverão, preferencialmente, respeitar os seguintes requisitos:
– Doutoramento em Psicologia na área específica da Psicologia Escolar;
– Um número relevante de publicações científicas em revistas indexadas no JCR da Web of Science e
no SJR da Scopus, preferencialmente nos Quartis 1 e 2, na área da Psicologia Escolar e da Educação;
– Um corpo de conhecimentos teóricos e experiência prática na área da Psicologia Escolar e Educacional
e da Avaliação e Intervenção em Contextos Educativos;
– Conhecimentos e experiência relevantes na área das Metodologias de Investigação (utilização de de-
senhos de investigação quantitativos, qualitativos ou mistos, e domínio diversificado de métodos es-
tatísticos avançados);
– Competências e experiências pedagógicas relevantes;
Processo de candidatura: Enviar candidatura para recrutamento@umaia.pt
As candidaturas deverão ser acompanhadas da seguinte documentação em suporte digital:
a) Carta de motivação;
b) Curriculum Vitae, contendo todas as informações pertinentes para a avaliação da candidatura tendo em consideração os requisitos de admissão;
c) Outros documentos que o/a candidato/a considere relevantes.
As candidaturas recebidas serão tratadas de modo confidencial e com o fim exclusivo desta candidatura. Caso o candidato assim o indique, os dados pessoais submetidos serão mantidos pela Maiêutica, CRL
(entidade instituidora da Universidade da Maia) com vista a futuros processos de contratação. Todos os direitos enquanto titular de dados pessoais poderão ser exercidos através do endereço dpo@maiêutica.pt
ECONOMIA 27
Escolher papel produzido a partir de florestas
geridas de forma sustentável é um gesto
ambientalmente consciente.
Choosing paper produced from sustainably managed
forests is an environmentally conscious action.
ANALISTAS DE SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
(PERFIL JÚNIOR)
(M/F) | REF. 1 – SETÚBAL | REF. 2 – FIGUEIRA DA FOZ
REF. 3 – AVEIRO | REF. 4 – VILA VELHA DE RÓDÃO
Pretendemos recrutar, para a Direção de Sistemas de Informação.
PRINCIPAIS RESPONSABILIDADES:
Colaborar no desenvolvimento e manutenção aplicacional com particular
enfoque nas áreas corporativas, produtivas e comerciais;
Participar na análise de requisitos e respetivo desenho funcional, definição de
modelo de dados, prototipagem de soluções aplicacionais e respetiva produção
de documentação;
Acompanhar a gestão de projetos com base na metodologia tradicional e ágil.
PERFIL REQUERIDO:
Mestrado na área de Engenharia Informática (ou equivalente);
Mínimo de 1 a 2 anos de experiência em análise de sistemas de informação e
desenho de soluções;
Conhecimentos básicos de arquitectura de soluções;
Alguma experiência em contexto industrial no desenvolvimento de soluções para
as áreas de vendas, logística e financeiro (preferencial);
Conhecimentos de técnicas de programação, SQL, estruturas de dados
relacionais e arquitecturas orientadas para os serviços;
Proactividade, Dinamismo e Capacidade de Análise e Resolução de Problemas;
Conhecimento de inglês falado e escrito.
OFERECEMOS:
Integração em grupo económico de projeção internacional e pacote
remunerativo compatível com a experiência demonstrada;
Formação técnica e perspetiva de progressão. 
As candidaturas devem ser formalizadas, até ao dia 31 de Janeiro
de 2022, indicando a Refª a que se candidata e anexando
o CV detalhado, através do link https://bit.ly/3zQuRFJ
– Experiência de participação em equipas de projetos de investigação financiados, nacionais e inter-
nacionais.
C) Departamento de Ciências Empresariais: Áreas de Gestão de Recursos Humanos; Empreen-
dedorismo e Inovação; Marketing; e Finanças.
Aceita-se a candidatura para as seguintes áreas:
– Gestão de Recursos Humanos;
– Empreendedorismo e Inovação;
– Marketing;
– Finanças.
Os requisitos preferenciais são:
– Doutoramento nas áreas em causa;
– Um número relevante de publicações científicas em revistas indexadas no JCR da Web of Science e no
SJR da Scopus, preferencialmente nos Quartis 1 e 2, nas áreas acima indicadas;
– Competências e experiências pedagógicas relevantes;
– Experiência de orientação de projetos de doutoramento;
– Dá-se preferência a candidatos/as com capacidade demonstrada de produção científica e de liderança
de equipas e projetos;
D) Departamento de Ciências da Educação Física e Desporto: Área de Gestão do Desporto
Em regime de tempo integral, com vista à integração imediata no 2.º semestre de 2021-2022, para a
área de Gestão do Desporto. O/a docente a recrutar deve apresentar um perfil adequado à docência,
investigação e prática na área da Gestão do Desporto.
O/A docente a recrutar deve apresentar um perfil adequado à docência, investigação e prática
na área da Gestão do Desporto. Os requisitos preferenciais são:
• Doutoramento na área em causa;
• Deter um número relevante de publicações científicas em revistas indexadas no JCR da Web of Science
e SJR da Scopus, preferencialmente nos Quartis 1 e 2, na área da Gestão do Desporto;
• Capacidade demonstrada de produção científica e de liderança de equipas e projetos de investigação;
• Experiência na docência no ensino superior na área da Gestão do desporto.
• Experiência de orientação de mestrados e projetos de doutoramento;
• Competências pedagógicas.
28 ECONOMIA
OPINIÃO
Emprego:
Presente
e futuro
Rui Teixeira
2022:
Talento e
Tecnologia
O
ano transacto foi
mais um de transfor-
mação no mundo do
trabalho. A escassez
de talento atingiu novos
máximos históricos, os traba-
lhadores confirmaram a sua
preferência por maior flexibi-
lidade e modelos de trabalho
híbridos e a digitalização das
empresas continuou a suce-
der a um ritmo acelerado,
concretizando-se como uma
das grandes alavancas das
mudanças que vivemos nos
últimos dois anos.
O impacto do digital na
transformação do mundo do
trabalho é hoje inquestionável
e três tendências ganham cada
vez mais tração e irão marcar
2022 e os próximos anos.
A primeira grande tendên-
cia prende-se com a crescente
valorização das competências
humanas. À medida que as
nossas vidas se tornam mais
tecnológicas, as ligações hu-
manas e a relação que as pes-
soas têm com os seus colegas
tornam-se cada vez mais re-
levantes como fontes de pro-
dutividade e criatividade. Ao
mesmo tempo, a tecnologia, e
em particular a IA (Inteligên-
cia Artificial), irão continuar a
libertar-nos de tarefas rotinei-
ras, o que nos permitirá um
maior foco em competências
como a empatia, a análise ou a
criatividade, ampliando assim
o valor da tecnologia.
Por outro lado, é expectá-
vel que os RH se posicionem,
de forma clara, no centro
da transformação digital. A
experiência acumulada nos
últimos anos mostra-nos que
uma transformação lidera-
da apenas pelo digital não é
uma garantia de sucesso. As
capacidades humanas e uma
cultura empresarial forte são
fundamentais na adoção da
tecnologia e na concretização
das novas oportunidades de
criação de valor, colocando, as-
sim, as pessoas e o talento no
centro dessa transformação.
Finalmente, a tecnologia
confirma-se também como
uma poderosa alavanca de
promoção da diversidade, em
resultado do crescente volume
de dados acumulados pelos
empregadores. O machine le-
arning e a smart people analy-
tics irão permitir, a empresas
e trabalhadores, prever o po-
tencial de desempenho futuro
numa função, otimizar a cor-
respondência entre candida-
tos e oportunidades e ajudar a
um melhor autoconhecimen-
to, traçando um caminho de
empregabilidade com mais
diversidade e equidade.
Em 2022, o mundo do traba-
lho continuará a mudar. Fe-
lizmente, a tecnologia conti-
nuará ao serviço das pessoas
como parte fundamental dessa
transformação, abrindo-nos
a oportunidade de um futu-
ro mais híbrido, diverso, co-
laborativo e gerador de mais
riqueza.
Diretor-Geral de Operações
do ManpowerGroup Portugal
PESSOAS
Hélder Martins, 41 anos, diretor-geral do Hyatt Regency Lisboa
“Lisboa é vibrante e tem
tudo para atrair clientes”
FORMAÇÃO
Curso profissional de
contabilidade e
especialização em Hotelaria
e Turismo. Várias formações
no sector da hospitalidade
CARREIRA
“Comecei a carreira num
negócio hoteleiro familiar.
Depois segui para o Porto
Palácio Congress Hotel &
Spa, mais tarde abracei um
novo projeto no Sheraton
Porto Hotel & Spa. Como
sempre, quis sair do país,
aceitei juntar-se à equipa
do Westin, em Guadalajara,
no México, depois fui para
o Sheraton Barra, no Rio
de Janeiro, e terminei o
percurso na América Latina,
no W Santiago, no Chile.
Dentro da cadeia Marriott
International, que já me
acolhia há muitos anos, fui
transferido para Londres para
trabalhar no Sheraton Skyline
como diretor de operações.
Gosto de desafios e isso
fez-me aceitar o convite para
liderar a reabertura do Hotel
Cardoso, em Maputo”
Ana Sofia Santos
A hotelaria esteve sempre pre-
sente na vida de Hélder Mar-
tins, primeiro com um negócio
familiar e, depois, em vários
cargos desempenhados em
marcas internacionais do sec-
tor da hospitalidade. Afirma
que tem como missão “servir”.
Dito assim, até parece fácil.
Porém, Hélder Martins quer
cumprir este desígnio como
diretor-geral do novo hotel de
luxo que vai abrir em Lisboa e
que marca a estreia da Hyatt
em Portugal, no próximo mês
de abril, época que se prevê
ainda estar bastante condici-
onada pela pandemia.
O Hyatt Regency Lisboa,
hotel de cinco estrelas, que
vai inaugurar em Belém
(Junqueira), conta com um
DICAS QUESTÕES A QUE DEVE RESPONDER ANTES DE MUDAR DE CARREIRA
A gestão e planeamento de
carreira não tem só a ver com
ambição. Resulta sobretudo
de uma reflexão sobre o
patamar em que está e onde
quer chegar. E este caminho
— defende a especialista
em gestão de carreira e
cofundadora da consultora
americana Next Step Partner,
Rebecca Zucker — exige
sobretudo proatividade e
introspeção. A especialista
identifica cinco questões
críticas a que qualquer
profissional deve responder
antes de mudar de carreira.
Trata-se de “dar um passo atrás
e refletir sobre o que pretende
com a mudança e se o caminho
que quer seguir é mesmo o
caminho certo para si”.
gestor pragmático. Não há E os dois anos de pandemia,
milagres, nem saltos de fé mais do que lhe imporem pers-
neste mercado, fortemente petivas conservadoras quanto
prejudicado pela atual crise ao futuro, levam-no a ter “ex-
económica. Hélder Martins pectativas conscientes”. “O
tem uma vasta experiência nosso sector foi e está a ser
no mercado hoteleiro de luxo muito afetado. Porém, a nos-
internacional, já passou pelas sa resiliência, capacidade de
principais marcas, e regressa inovar e adaptar são caracte-
agora a Portugal, depois de rísticas que nos identificam”,
ter estado em Maputo, onde indica o gestor, acrescentando
reabriu o icónico Hotel Car- que prevê melhorias em ciclos
doso. Ao todo, o profissional de seis meses. “Olho para 2022
já passou por três continentes com muito otimismo. Temos
e seis países. um hotel extraordinário para
inaugurar e operar”, afirma
Hélder Martins.
A nova unidade situada na
“O segmento de hotéis zona ribeirinha da capital re-
de excelência está em sulta de uma parceria entre a
crescimento à escala United Investments Portugal,
global e o nosso país membro do Al-Bahar Invest-
ment Group, e a cadeia hotelei-
não será exceção” ra internacional Hyatt Interna-
tional Corporation. Sobre se há
1 tem tomado o estão a valorizar
QUÃO REALIZADO ESTÁ?
Os seus valores e o que considera importante são a chave para
se sentir realizado e, em regra, mudam pouco com o tempo.
Liste nas suas atividades diárias o que o realiza e motiva.
Expresso, 14 de janeiro de 2022
ESTILO DE GESTÃO
“O meu foco assenta numa
cultura de trabalho onde a
exigência e o reconhecimento
são pontos fundamentais e
devem ser vividos diariamente.
Não só como gestor, mas
também como indivíduo, sou
focado nas pessoas, nas suas
necessidades e interesses.
Procuro fomentar o
desenvolvimento dos que
trabalham comigo, ao mesmo
tempo que cresço com eles.
Com isto, e com um trabalho
efetivo no aprimorar do nosso
business acumen [perspicácia
para os negócios], estamos
mais próximos de entregar
bons resultados nos diferentes
indicadores de performance
relacionados com a nossa
atividade”
HOBBIES
Atividades ao ar livre, com
destaque para a corrida
(“quando a agenda o permite”),
cinema, gastronomia, leitura e
iniciativas de cariz social
ÚLTIMAS
LEITURAS
“You Can’t Lead
with Your Feet on
the Desk”, de Ed
Fuller, e “Civilização
Quântica”, do
general Nuno
Lemos Pires
mercado para mais uma unida-
de de luxo em Lisboa, Hélder
Martins não hesita na resposta:
“Absolutamente. O segmento
de hotéis de excelência está em
crescimento à escala global e
o nosso país não será exceção.
Lisboa, em particular, é uma
cidade vibrante, que apresenta
as condições para atrair clientes
de lazer e de negócios.” Mais, na
sua opinião, trata-se de um des-
tino capaz de criar uma relação
de lealdade com quem a visita e
de oferecer experiências únicas
e personalizadas, “que é o que
todos procuramos, promoven-
do o sentimento de realização
pessoal e de que fazemos parte
de uma comunidade”. Existem,
em Lisboa, os ingredientes para
imprimir nos turistas uma vi-
vência singular. “Há história,
gastronomia, vida cultural.”
assantos@expresso.impresa.pt
2 4
ESTÁ A APRENDER E A
CRESCER?
A sua atividade atual e o seu dia
a dia dão-lhe oportunidades de
desenvolvimento contínuo ou,
sente-se estagnado,
desmotivado e sem futuro? Esta
reflexão é obrigatória.
3 QUE RELAÇÕES DEVE
ESTÁ A APRENDER?
Para saber se está mais perto ou
mais lounge de atingir os seus
objetivos, é preciso que consiga
avaliar regularmente onde está
e se as opções de carreira que
profissionalmente. O que quer
da sua vida em três a cinco anos,
sabe? E, o que fez nos últimos
dois anos aproximou-o disso?
Carlos
Martínez
> Soma mais
20 anos
de carreira
> É licenciado
em Gestão
de Negócios
Internacionais
Acaba de ser nomeado vice-
-presidente e diretor-geral
da ViacomCBS Networks
International para a Península
Ibérica, passando a liderar
toda a estratégia da empre-
sa que detém, entre outras
marcas, a MTV, Nickelodeon,
Nick Jr, em Portugal e Espa-
nha. Licenciado em Gestão
e Administração de Negó-
cios Internacionais, Carlos
Martínez tem um percurso de
mais de 20 anos de carreira ao
serviço da ViacomCBS. Antes
de integrar a empresa passou
pela Eurosport (Paris), a BBC
Worldwide (Londres) e a Blo-
omberg TV (Nova Iorque).
António Nunes de Sousa
O presidente da APCAP — As-
sociação Portuguesa das So-
ciedades Concessionárias de
Autoestradas ou Pontes com
Portagens foi recentemente
eleito presidente da Associa-
ção Europeia de Operadores
de Infraestruturas Rodoviárias
com Portagem (ASECAP), que
reúne 135 empresas de 20 paí-
ses, e da qual Portugal é mem-
bro fundador. Pedro Pinto, da
Ascendi, foi na mesma ocasião
escolhido pela assembleia-ge-
ral da ASECAP para coordenar
o grupo de trabalho de Porta-
gens, Cobranças, Taxas e Con-
cessões.
Diogo Antunes
> Soma 19 anos
de carreira
na área
tecnológica
> É licenciado
em Engenharia
Eletrotécnica
Vai liderar o centro de desen-
volvimento da Mollie, o uni-
córnio holandês da indústria
de pagamentos, em Lisboa.
Na empresa desde outubro
de 2020, como gestor sénior
de Engenharia, Diogo Antu-
nes assume agora a missão de
ajudar a crescer, nos próxi-
mos dois anos, uma equipa de
engenharia diversa e inclusi-
va, trazendo para Portugal a
certificação de Great Place to
Work (melhor empresa para
trabalhar) conquistada na sede,
em Amesterdão. No centro de
desenvolvimento de Lisboa,
a Mollie desenvolve soluções
centradas nos serviços de pa-
gamento, complementando o
trabalho da equipa holandesa
nos serviços financeiros.
QUE BASES DEVE CRIAR?
Analisar profissionais no cargo
que gostaria de ocupar é uma
boa forma de perceber que
bases deve criar para conseguir
chegar à mesma posição.
Faça-o regularmente.
5
CONSTRUIR?
As relações interpessoais são
fundamentais para o sucesso
profissional. Tendo em conta
os seus objetivos de curto,
médio e longo prazo, quem é
que o pode ajudar a chegar
onde quer? Não estão em
causa “cunhas”, mas sim
mentoria e desenvolvimento
pessoal.
Expresso, 14 de janeiro de 2022
OPINIÃO
Capital de Risco por Rodrigo de Matos
O Governo português, ao contrário de países como França, Espanha ou Itália, não implementou
qualquer plano de apoio e estímulo à retoma da procura do sector automóvel, o que levou a que
tivéssemos em 2020 uma das maiores quedas percentuais do mercado em toda a União Europeia
Perspectivas para o mercado automóvel
Hélder Pedro
O
sector automóvel é con-
siderado um sector ba-
rómetro da nossa eco-
nomia, pelo que, desde
o início da crise pandé-
mica, foi um dos sectores
económicos mais afecta-
dos. Desde logo, vários Governos de
países como França, Espanha ou Itália
implementaram planos de apoio e es-
tímulo à retoma da procura, os quais
tiveram um efeito positivo no sector
automóvel desses países, com a mini-
mização da queda dos mercados. Ao
contrário, o Governo português não
tomou qualquer medida semelhante,
o que levou a que tivéssemos em 2020,
uma das maiores quedas percentuais
do mercado em toda a União Europeia.
No ano de 2021, o mercado sofreu
uma queda de 32,7% face ao ano de
2019. Ou seja, e comparando com este
ano, o mercado fechou com a venda de
menos 80 mil veículos, só neste ano. E
comparamos com 2019 porque foi o
último ano antes da crise pandémica.
Por outro lado, e face ao ano muito di-
fícil de 2020, o mercado de 2021 ficou
praticamente com os mesmos valores
daquele ano.
Naturalmente que para 2022, as nos-
sas perspectivas só poderão ser de re-
cuperação do mercado para os valores
dos anos pré-crise. Todavia, e para que
tal aconteça, existem duas variáveis
que se revelam da maior importância.
Desde logo, a nível interno, é neces-
sário que exista estabilidade política
para que se inicie a desejada retoma
económica e para que sejam toma-
das medidas estruturais que possam
conduzir à necessária recuperação do
mercado automóvel.
Todavia, com a próxima realização
de eleições, estamos dependentes da
aprovação do Orçamento do Estado
para este ano, o que só deverá ocorrer
daqui a alguns meses!
Mas é urgente que o Governo, que
sair das próximas eleições, encare este
sector com a devida importância,
a qual decorre do peso que tem na
economia nacional. Este é o principal
sector exportador e é, por outro lado,
o maior contribuinte líquido sectorial
para a receita fiscal do país!
Assim, em coerência com esta reali-
dade, a ACAP propõe que o próximo
Governo proceda, antes de mais, à ne-
cessária e esperada reforma da fisca-
lidade automóvel, em duas vertentes.
Em primeiro, descontinuar a carga
fiscal que existe no momento da ma-
trícula (o ISV), passando o automóvel
a ser tributado apenas com o imposto
sobre a circulação (IUC).
Por outro lado, a estrutura do IUC
deverá ser reformulada, deixando de
existir um incentivo à propriedade de
veículos com idade avançada e, conse-
quentemente, mais poluentes. Esta
reforma deverá ser acompanhada de
um plano de incentivo ao abate de
veículos em fim de vida, para apoiar
a necessária renovação do parque
automóvel.
A nível externo, e como é sabido,
existe uma crise na produção de se-
micondutores, a qual tem afectado
significativamente as fábricas de auto-
móveis, com a redução da produção e
com o consequente aumento do prazo
de entrega dos veículos. Acresce a este
facto o aumento verificado nos custos
de transporte marítimo, assim como
nas matérias-primas, das quais conti-
nua a existir (tal como, por exemplo,
no magnésio) uma forte dependência
de países como a China. Nestas vari-
áveis externas, não existe qualquer
previsão de normalização da situação,
É urgente que o Governo,
ou se a mesma ficará mesmo regulari-
que sair das próximas zada ao longo deste ano.
eleições, encare este Por outro lado, e em consequência
sector com a devida da recente aprovação do chamado
importância, a qual plano “Fit for 55”, torna-se neces-
sário, entre outras medidas, reduzir
decorre do peso que tem ainda mais as emissões no mercado
na economia nacional. automóvel europeu. Ora, é sabido que
Este é o principal sector a indústria automóvel, tem-se apre-
sentado como parte da solução para
exportador e é, por outro atingir aqueles objectivos. E isto, inde-
lado, o maior contribuinte pendentemente de se considerar que
líquido sectorial para o caminho da União Europeia poderia
a receita fiscal do país! ter sido concebido de modo diferente.
Mas a realidade é esta e, na sequên-
cia da aprovação daquelas medidas,
consideramos que, além de todo o
progresso tecnológico já atingido pela
indústria, também os poderes públi-
cos terão de tomar medidas urgentes
para se atingir aqueles objectivos.
Por isso, propomos que sejam re-
forçados os incentivos à aquisição de
veículos eléctricos, assim como o au-
mento do número total de veículos a
abranger por aqueles apoios, tal como
aconteceu em Espanha, França, Itália
ou Alemanha.
Deverá, ainda, ser implementado
um plano realista de desenvolvimento
da rede de carregamento, com um
apoio directo mais robusto (através do
PRR) para a instalação destes pontos
em empresas, habitações e, tal como
a ACAP já propôs, nas instalações
dos concessionários de automóveis,
que têm uma cobertura completa do
território nacional.
Secretário-geral da ACAP
Hélder Pedro escreve de acordo
com a antiga ortografia
ECONOMIA 29
Economia Real
Luís Todo Bom
A ECONOMIA
EM
FEVEREIRO
N
o próximo dia 30 de janeiro,
o país vai eleger um novo go-
verno, liderado pelo PSD ou
pelo PS.
Os desafios que este governo terá
que vencer, repondo o país numa
trajetória de crescimento económico
sustentado, são enormes.
A redução da dívida pública, que
atingiu níveis insustentáveis; a redu-
ção da fiscalidade sobre as empresas,
de modo a possibilitar a atração de
investimento estrangeiro de quali-
dade; o crescimento em dimensão
e modernização tecnológica das
nossas empresas industriais, num
processo inteligente e europeu de
reindustrialização; o regresso a um
crescimento do PIB suportado no
investimento e nas exportações, e
não no comércio e turismo de baixo
valor acrescentado; a redução das
despesas correntes do Estado e o
incremento do investimento público.
Além destes temas urgentes, na
área empresarial e das políticas pú-
As reformas estruturais
prometidas por vários
governos e nunca
concretizadas exigirão
um acordo de princípio
entre os dois maiores
partidos nacionais, o PSD
e o PS, adotando uma
prática política
semelhante à alemã,
uma lição de cooperação,
que está na base do
sucesso económico
daquele país
blicas, o novo governo terá de me-
lhorar significativamente a gestão da
rede hospitalar pública, abandonan-
do os preconceitos ideológicos em
relação às PPP; requalificar algumas
poucas vias rodoviárias estruturan-
tes; desenvolver um projeto ferrovi-
ário coerente e de matriz europeia;
reduzir, drasticamente, os apoios
financeiros às empresas públicas,
tradicionalmente deficitárias.
Mas nenhuma destas reformas
estruturais terá sucesso se o nos-
so sistema judicial, em particular,
nas áreas ligadas às empresas, não
se modernizar e adotar critérios de
eficiência nos processos de decisão,
sem preconceitos ideológicos, sobre-
tudo nos processos administrativos
e fiscais, permitindo a atração de in-
vestimento estrangeiro de qualidade.
A economia portuguesa, em fe-
vereiro, pode começar a trilhar um
caminho de desenvolvimento e espe-
rança para os nossos quadros jovens
mais promissores e qualificados pe-
las nossas melhores universidades.
Mas, para que esse facto venha a
ser uma realidade, não podemos su-
bavaliar as dificuldades inerentes a
este processo de reformas estrutu-
rais, prometidas por vários governos
e nunca concretizadas.
Que exigirão um acordo de princípio
entre os dois maiores partidos nacio-
nais, o PSD e o PS, adotando uma prá-
tica política semelhante à alemã, uma
lição de cooperação, que está na base
do sucesso económico daquele país.
E, também, a disponibilidade e em-
penho de líderes políticos competen-
tes, honestos, frontais, verdadeiros,
sensatos, tranquilos e resilientes.
O país profundo agradecerá.
Gestor de empresas
30 ECONOMIA
MUND O
1 EUROPA
2021 anima
duelo entre
Airbus
e Boeing
A Airbus entregou mais aviões
do que a Boeing, mas o construtor
norte-americano conseguiu
mais encomendas
Helder C. Martins
Depois da crise brutal que afe-
tou a aviação em 2020, o con-
fronto entre a europeia Airbus
e a norte-americana Boeing ga-
nhou novo fôlego em 2021. A
transição de ano já o fazia adi-
vinhar, com a Airbus a ganhar
à rival as encomendas da aus-
traliana Qantas e da Air Fran-
ce-KLM, uma vitória que per-
deu brilho já em janeiro, com
a Boeing a ficar com a frota da
Allegiant Air, cliente que era da
Airbus. Se a Airbus ultrapassou
largamente a Boeing em entre-
gas de aviões, a Boeing obteve
quase mais de três dezenas de
encomendas, depois de um ano
em que a pandemia afetou bru-
talmente o transporte aéreo,
com as companhias a adiarem
ou a anularem os pedidos de
novos aviões devido às dificul-
dades financeiras.
Aproveitando a fraqueza in-
dustrial da Boeing, o construtor
aeronáutico europeu entregou
611 aviões em 2021, mais 8% do
que em 2020, ultrapassando
o objetivo fixado de 600 aero-
naves. Isto depois de um recuo
de 34% das entregas em 2020
devido à pandemia de covid-19,
um indicador importante para
os resultados das empresas,
ainda não divulgados, pois as
companhias só pagam o avião
no momento em que o rece-
bem. Números que, no entanto,
ainda estão longe dos regista-
dos no pré-pandemia. Já a Bo-
eing, que continua a refletir os
problemas que teve nos últimos
dois anos com o 737 MAX, en-
tregou um total de 347 aviões
durante o ano passado.
O bom desempenho da Air-
bus em 2021 leva o construtor
europeu a admitir um aumento
da cadência de produção este
ano. “Embora as incertezas
permaneçam, estamos no ca-
minho certo para aumentar a
nossa produção durante o ano
de 2022”, afirmou esta semana
o presidente executivo da Air-
bus, Guillaume Faury.
Desde o início da pandemia
de covid-19 que a Airbus tinha
reduzido a sua produção da
“família” A320 (que inclui os
modelos A319, A320 e A321) de
corredor único de 40 unidades
por mês contra as 60 unidades
que eram fabricadas anterior-
mente. Agora, a empresa admi-
te elevar a produção do forma-
to com corredor único — o mais
procurado pelas transportado-
ras — para 45 aviões por mês,
número que prevê aumentar
para 65 unidades mensais no
verão do próximo ano.
Já em relação às encomen-
das, a Airbus registou um au-
mento para 507 em 2021, um
terço abaixo do nível da pré-
-pandemia. “Tivemos o dobro
de encomendas de 2020. Estes
são os primeiros sinais de que
a recuperação e a procura são
reais”, acrescentou Guillaume
Faury. O grosso das encomen-
das, cerca de 75%, são para o
A321, a versão alongada do
A320, que permite transportar
mais passageiros.
Do outro lado do Atlântico, a
Boeing recebeu 535 encomen-
das, uma melhoria significati-
va se nos lembrarmos dos dois
anos anteriores, em que foram
mais os contratos anulados do
que os efetivamente realizados.
Mas ainda assim longe dos 893
aviões encomendados em 2018.
A política comercial adotada
pela Boeing em relação ao 737
MAX explica a melhoria da car-
teira face à Airbus, segundo os
analistas.
Tal como a Airbus, a produ-
ção da Boeing é essencialmen-
te dirigida ao chamado médio
curso, com o modelo 737 MAX
a responder por cerca de três
quartos da produção, com 263
aparelhos entregues. Um con-
traste profundo com os 483
aviões da família A320 pro-
duzidos pela rival europeia,
mas mesmo assim uma recu-
peração significativa face aos
problemas do 737 MAX. Este
modelo foi uma das principais
dores de cabeça do construtor
de Seattle, após dois acidentes,
em 2018 e 2019, que obriga-
ram a recolher as aeronaves,
que foram proibidas de voar
até que os problemas fossem
resolvidos. O que aconteceu
no final de 2020. As entregas
da Boeing foram também pe-
nalizadas pelos problemas no
787, avião de longo curso, que a
empresa teve de resolver.
hmartins@expresso.impresa.pt
Expresso, 14 de janeiro de 2022
2 VENEZUELA
Caracas sai da
hiperinflação com
taxa de um dígito
Ao fim de quatro anos e de um corte
de seis zeros no valor da moeda, a Ve-
nezuela saiu oficialmente do ciclo da
hiperinflação em que entrou em 2017,
segundo dados do Banco Central da
Venezuela (BCV). Porém, os analis-
FOTO GETTY IMAGES
tas insistem em que o país precisa
de medidas extras. De acordo com o
banco central, a Venezuela registou,
nos últimos 12 meses, uma média in-
flacionária inferior a 50% e valores
inferiores a um dígito nos últimos
quatro meses de 2021 (setembro 7,1%,
outubro 6,8%, novembro 8,4% e de- a 40 milhões de dólares (entre €26,4 de imprensa. Para ter uma economia
zembro 7,6%). Os preços dos produtos e €35,21 milhões) por semana para sólida, López salienta a necessidade
e serviços no país subiram oficial- estabilizar a taxa de câmbio, que é o de criar quatro milhões de empregos
mente 231,7% de janeiro a dezembro principal elemento que desencadeia e baixar os impostos nos produtos
de 2021, quase metade dos 408,7% a inflação”, afirmou em conferência produzidos no país, entre outros.
registados no período homólogo.
Segundo Tomás Sócias López, “é a
primeira vez, em muitos anos”, que
a inflação na Venezuela cai para um
dígito e se mantém durante quatro
meses consecutivos. O analista atribui
a descida à intervenção do BCV, que
“está a colocar (no mercado) entre 30
4
6
5 MACAU
2
Fitch dá nota
negativa a todos
os casinos
7 TAIWAN
A CRESCENTE
AMEAÇA DA CHINA
FAZ TAIWAN
CORRER ÀS ARMAS
O PARLAMENTO DA
6 EUA ILHA APROVOU UM
GASTO ADICIONAL
Face às incertezas da futura lei do
jogo e ao fim das concessões em me-
Banco Mundial vê PARA A DEFESA
ados do ano, a agência de notação África a crescer DE QUASE €7,55
financeira Fitch Ratings atribuiu
uma perspetiva de evolução negati- 3,6% este ano MIL MILHÕES.
va a todas as operadoras de casinos ESTE REFORÇO
em Macau. Considera que os opera-
dores de jogo do território adminis-
DA DESPESA A
trado “estão sujeitos a incerteza a O Banco Mundial prevê que as eco- CINCO ANOS PARA
curto prazo quanto ao contexto re- nomias da África Subsariana cres- MÍSSEIS E NAVIOS DE
gulamentar e operacional na região, çam 3,6% este ano e acelerem para
devido a alterações pendentes na lei 3,8% em 2023, após terem crescido GUERRA SOMA-SE
do jogo, antes da reabertura de con- 3,5% no ano passado. “A produção A UM ORÇAMENTO
cursos para concessões de jogo que na África Subsariana cresceu 3,5%
expiram a 26 de junho de 2022”. A em 2021, alimentada pela recupe- ANUAL RECORDE
maioria das opiniões expressas na ração no preço das matérias-pri- PARA A DEFESA DE
consulta pública sobre os concursos mas e por um abrandamento das
e revisão da lei do jogo defendeu um restrições”, lê-se no relatório. Mas €15 MIL MILHÕES,
total de seis concessões, em vez das o banco alerta que “a recuperação
atuais três, sem subconcessões e continua frágil e insuficiente” para
DEFINIDO PARA
com um contrato inferior a 20 anos. inverter o aumento na pobreza. 2022.
 Expresso, 14 de janeiro de 2022
3 SRI LANKA
COLOMBO PEDE À CHINA
REESTRUTURAÇÃO DA DÍVIDA
1000
milhões de euros é o volume
da dívida do Sri Lanka (antiga
Ceilão) à China e que agora
Colombo quer reestruturar.
Perante a crise económica
do país, o Presidente do Sri
Lanka pediu à China uma
reestruturação da dívida e acesso
a crédito preferencial para
importação de bens essenciais.
Durante uma visita do ministro
dos Negócios Estrangeiros chinês
ao país, o Presidente, Gotabaya
Rajapaksa, afirmou que seria
“um grande alívio para o país se
pudesse ser considerada uma
reestruturação dos reembolsos
da dívida” para responder à
crise provocada pela pandemia.
E pediu ainda ao MNE chinês
a concessão de uma linha de
crédito para importações e
permitir que as empresas possam
funcionar sem perturbações. A
China emprestou dinheiro ao Sri
Lanka para construir um porto
de mar e um aeroporto no sul
do país e uma ampla rede de
estradas
1 vel. Eram uma aspiração.
8 benefício do grupo ou grupos
8 FRANÇA
EDF volta a adiar
arranque de
central nuclear
A EDF anunciou um novo adiamen-
to de seis meses e um sobrecusto de
€300 milhões face às previsões de
2019 para a sua central nuclear
em Flamanville, na Mancha. A al-
teração do calendário deve-se “ao
estado de avanço das operações
e da preparação do arranque do
reator, num contexto industrial
dificultado pela pandemia de co-
vid-19”. O valor do projeto da elé-
trica francesa está agora estimado
em €12,7 mil milhões e o começo
da operação previsto para o se-
gundo trimestre do próximo ano.
A última previsão para a entrada
em funcionamento da Flammaville
3 era o final de 2022, num projeto
cuja entrada em funcionamento
está quase uma década atrasada
por motivos diversos.
4 EUA
Fed vai aumentar
quatro vezes os juros
Uma inflação alta conjugada com um
mercado de trabalho perto do ple-
no emprego deverá levar a Reserva
Federal dos Estados Unidos (Fed) a
alterar a sua política monetária mais
vezes do que o esperado, admitem
os analistas do Goldman Sachs. O
banco de investimento norte-ame-
ricano prevê agora que a Fed deva
aumentar quatro vezes as taxas de
juro em 2022, mais uma vez do que o
previsto, segundo um comunicado do
Goldman Sachs citado pela Bloom-
berg. A nota avança também que a
redução do balanço do banco central
norte-americano deverá começar o
mais tardar em julho. O economista-
-chefe do banco, Jan Hatzius, citado
no comunicado, prevê agora que a
Fed decrete aumentos de quatro pon-
tos percentuais em 2022 nas taxas
diretoras, numa atitude mais agres-
siva no controlo da inflação do que a
expressa um mês antes. E antecipa
3 políticos a que, julgo eu, aspira-
9 JAPÃO
SONY PROLONGA PS4 DEVIDO À FALTA DE CHIPS
A falta de chips no mercado comprometeu a ambição de uma transição
rápida da consola PlayStation 4 para a PlayStation 5. A Sony previa
encerrar a produção da PS4 no ano passado, mas as dificuldades
de abastecimento de componentes para a nova consola levaram o
fabricante japonês a prolongar por mais um ano a sua produção.
Segundo a Bloomberg, citando fontes internas, a Sony vai produzir mais
um milhão de PS4 em 2022.
agora o processo de redução de ativos
no balanço da Fed — atualmente nos
8,8 biliões de dólares, cerca de €7,7
biliões — de dezembro para julho e
prevê o aumento das taxas de juro de
referência em março, junho, setem-
bro e, adicionalmente, em dezembro.
O aumento adicional das taxas de
juro e o início da redução dos ativos
em carteira ocorre numa altura em
que a taxa de desemprego dos Es-
tados Unidos se cifrou nos 3,9% em
dezembro e que a inflação se aproxi-
ma dos 7%, em máximos de 40 anos,
principalmente devido ao disparo nos
preços da energia.
9 dirigente. Havia também os
5 subversão desse poder do Es-
7
Partidos políticos
V
ou aventurar-me, hoje,
em terrenos que não são
os meus. Temas como os
partidos políticos, o que
são e o que deveriam ser, ou a
experiência de diversos países
nesta matéria — temas, todos
eles, em que nada me qualifica,
mas em que, como cidadão, te-
nho o dever de refletir. Que essa
reflexão possa aproveitar aos
meus concidadãos, não estou
tão certo...
Todos nós somos o produto
das sociedades em que nas-
cemos, de um modo de vida e
de uma cultura, das nossas fa-
mílias, dos nossos amigos, das
nossas experiências, em ambi-
entes mais alargados ou mais
circunscritos.
Nasci e vivi durante anos num
país sem partidos políticos au-
torizados (havia um, único, mas
não é para aqui chamado) e sem
vida democrática. Sabíamos, no
entanto, que, noutros países,
estes partidos políticos não só
existiam como desempenha-
vam uma função que tínhamos
por virtuosa e, por isso, desejá-
Talvez os mais céticos os re-
lacionassem sobretudo com o
exercício do poder: a deten-
ção das rédeas do Estado em
representados por cada um
deles ou, pior, do seu pessoal
que, inspirados em ideologi-
as mais radicais, lutavam pela
tado, pondo-o ao serviço de
grupos ou classes sociais dele
alegadamente excluídos.
Não eram esses os partidos
vam os portugueses nesse tem-
po, em que os não tínhamos.
Aspirávamos, presumo eu, a or-
ganizações que, propondo-nos
diferentes prioridades para o
Estado e para o seu funciona-
mento, merecessem a nossa
maior ou menor preferência.
A visão dos partidos políticos
em que me revia e me revejo é
a das “grandes famílias políti-
cas” europeias ou da América
do Norte. Com matizes e com
colorações ditadas tanto pela
história de cada país como pelos
líderes partidários em cada mo-
mento, sabíamos o que era ser
conservador, democrata-cris-
tão, social-democrata, liberal,
socialista, comunista, para refe-
rir apenas as mais conhecidas.
Aspirávamos a poder escolher
entre republicanos e democra-
tas, como nos Estados Unidos;
entre conservadores, trabalhis-
tas e liberais, como em Inglater-
ra; entre cristãos-democratas,
sociais-democratas e liberais,
como na Alemanha; entre de-
mocratas-cristãos, socialistas
e comunistas, como em Itália;
entre republicanos, socialistas
e comunistas, como em França.
Poder escolher, em suma, entre
diferentes visões da organização
económica e social e do funcio-
namento da sociedade, no seu
conjunto, nomeadamente nas
matérias em que o Estado era e
é chamado a intervir.
Sendo seguramente muitos
os detalhes e os aspetos de por-
menor, éramos chamados a es-
colher entre grandes orienta-
ções, separando o essencial do
ECONOMIA 31
Só Sei Que
Nada Sei
Daniel Bessa
FOTO RALF GEITHE/ GETTYIMAGES
acessório, sob pena de ninguém
se entender e de se tornar im-
possível encontrar uma linha de
rumo, mesmo que esta tivesse
de ser uma bissetriz.
É certo que a escolha nunca
foi puramente ideológica e que
os próprios partidos políticos
iam evoluindo. Havia a ideolo-
gia e as experiências de governo
de cada um. Havia o carisma
e a competência dos líderes.
Éramos sensíveis a fenómenos
de corrupção e de atropelo das
regras de funcionamento de
um Estado de Direito. E muitos
de nós poderiam mudar o seu
sentido de voto, sempre cons-
cientes, em qualquer caso, de,
mais ou menos entusiasmados,
estarmos a votar em priorida-
des para o funcionamento da
sociedade no seu conjunto.
Os partidos políticos surgidos
em Portugal logo após o 25 de
Abril respeitavam esta lógica,
talvez com exceção do então
PPD (hoje PSD), cuja criação
é o resultado de circunstâncias
muito locais — o que não signi-
fica que não tivesse um ideário
e um programa, perfeitamente
identificáveis.
O evoluir dos tempos, e das
problemáticas, deu lugar a no-
vas linhas de fratura e a novas
causas, ainda relativas às socie-
dades no seu conjunto. Percebo
que a degradação do ambiente
tenha dado lugar a verdes, que
a globalização e o cosmopolitis-
mo tenham dado lugar a nacio-
nalistas, que a degradação da
O que não percebo,
e levo à conta de
degradação da
vida política, é o
nascimento dos
“partidos de causas”
vida pública e, em particular, a
corrupção tenham dado lugar a
visões de grande protesto, origi-
nando o populismo. Nos países
onde os sistemas políticos se
mostram mais resistentes (Es-
tados Unidos, Reino Unido), os
próprios grandes partidos fo-
ram capazes de incorporar es-
tas problemáticas e estas novas
linhas de fratura. Noutros casos
(Alemanha, por exemplo) assis-
tiu-se ao nascimento de novos
partidos, capazes, em qualquer
caso, de nos proporem novas
formas de funcionamento glo-
bal da sociedade.
O que não percebo, e levo à
conta de degradação da vida
política, e da própria vida so-
cial e cultural, é o nascimento
dos “partidos de causas”. Que
proibir uma tourada, castrar
quimicamente um pedófilo ou
mesmo proibir a entrada de um
imigrante possam ser, só por si,
determinantes de um sentido
de voto. Tem constituído moti-
vo de reparo, nos debates e nos
programas de comentário que
se lhes seguem, que o programa
de um destes “partidos políti-
cos” só tenha nove páginas. A
mim, pelo contrário, admira-
-me que tenha sido possível
encher nove páginas com tão
pouca coisa para propor...
Economista
32 ECONOMIA Expresso, 14 de janeiro de 2022

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