OPINIÃO PESSOAS

Eucalipto, > João Velez

por onde de Lima é o
responsável
andaste pelo escritório
no verão? do Porto da
FRANCISCO GOMES Vieira de
DA SILVA E29 Almeida E28

Uma penada
que destrói qualquer
Nós a vê-los política de habitação > Dicas Bom demais
passar FRANCISCO LOUÇÃ E3 para ser real? Seis indícios
JOÃO DUQUE E8 de que a oferta é falsa E28

ECONOMIA IMOBILIÁRIO
& EMPREGO
2623
3 de fevereiro de 2023
expresso.pt

Governo preocupado
com guerra comercial
entre Europa e EUA Ana Mendes Godinho
Ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social

Na próxima semana, os líderes europeus encontram-
-se numa reunião extraordinária para debater um dos
temas que, neste momento, mais agita a agenda euro-
peia: como garantir que os investidores não tocam em
retirada para os EUA, seduzidos pelo generoso pacote
de apoios de Joe Biden. Tiago Antunes, secretário de
Estado dos Assuntos Europeus, diz ao Expresso que o
Governo está a fazer “uma monitorização dos efeitos
“Já ninguém
do IRA (Inflation Reduction Act) nos vários sectores
de atividade”. “Há empresas que obviamente estão a
não serão fáceis — estão, aliás, “muito efervescentes”
—, mas há objetivos comuns. Um deles é o de manter é contra
olhar, andam a considerar os benefícios que os EUA
estão a conceder”, mas “estão expectantes para saber
um bom relacionamento com os EUA: “Ninguém tem
interesse numa guerra comercial. Estamos a fazer a subida
qual vai ser a resposta da Europa. Elas sabem que
haverá uma resposta europeia e não vão tomar uma
decisão antes”, acredita. Com economias desiguais
tudo para evitá-la.” Para os empresários, esta é uma
preocupação central. Acham que o Governo deve
bater-se por uma política de reindustrialização, sem
do salário
e interesses desalinhados, as negociações europeias afrontar os EUA. E10 mínimo” E6

PORTUGAL É DOS PAÍSES ONDE OS POBRES SOFREM MAIS COM A INFLAÇÃO E5

Compradas Gestores
13 casas com das empresas
criptomoedas públicas vão
em 2022 ter prémios

Notários fizeram mais de Onze empresas, incluindo

uma dezena de escrituras a NAV, esperam posição do
com moedas digitais. Governo sobre propostas
Lisboa e Algarve de contratos de gestão
lideram transações E4 que preveem prémios E11

Dinamarca
tem projeto de
€8 mil milhões
para Portugal E12

POLÍTICOS GESTORES UM ANO NEGATIVO Qual a melhor

Na Mota-Engil, Paulo
DE GESTÃO PÚBLICA forma de
FOTO LUÍS BARRA

Portas é o exemplo mais

recente. Especialistas
discutem prós e contras
NO HOSPITAL DE LOURES E8 proteger
destas contratações E14 a sua casa? E18
2 ECONOMIA Expresso, 3 de fevereiro de 2023

Utilidade
Marginal
Fidelidade sim,
mas de menor REGRESSO AO NORMAL: PORTUGAL
CHEIO DE TURISTAS EM 2022
duração
João Silvestre
jsilvestre@expresso.impresa.pt
A Anacom recomendou ao
Governo a redução dos prazos
de fidelizações nos contratos
de telecomunicações para
um máximo de seis meses,
em vez dos atuais 24 meses.
João Cadete de Matos,
presidente do regulador das
telecomunicações, recordou
que em Espanha o serviço mais
barato de rede de fibra ótica
E se o Banco custa 20 euros mensais e tem
fidelização máxima de três
de Portugal meses. Em Portugal, o serviço
de fibra ótica comercializado
der prejuízo? sem ser em pacote custa 30
euros mensais e exige 24 meses

A
de fidelização.
política monetária hiperexpan-

6,7%
sionista dos últimos anos foi um
enorme balão de oxigénio para as
famílias e empresas que pagaram
juros muito mais baixos do que alguma
vez sonharam. Foi também um excelente
negócio para os bancos centrais e para os
Estados que os detêm. Na década anterior
à chegada da política de quantitative easing
(QE), em 2015, os dividendos pagos pelo DESEMPREGO VOLTA A
Banco de Portugal só por duas vezes — uma SUBIR EM DEZEMBRO
delas tangencial — ultrapassaram os €200 A taxa de desemprego em
milhões. Nos últimos seis anos, a média Portugal subiu em dezembro
foi mais do dobro. É uma diferença brutal pelo segundo mês consecutivo,
que ajudou a consolidar as contas públicas. atingindo 6,7%. Em novembro
Agora tudo vai mudar. O “Público” aler- estava nos 6,5% e em outubro
tava recentemente para o risco de vários nos 6,1%, indicam os dados do
bancos centrais — Banco de Portugal in- Instituto Nacional de Estatística
cluído — terem prejuízo este ano. Mário (ajustados da sazonalidade).
Centeno tem reconhecido que os lucros É um sinal de alerta sobre o
vão encolher, mas não acredita, para já, mercado de trabalho nacional,
que o tombo seja suficiente para lançar cuja resiliência em 2022 — num
as contas no vermelho. Não se conhecem contexto de incerteza por causa
ainda as contas do Banco de Portugal de da guerra, elevada inflação e
2022. A expectativa é que tenha lucros a alta dos juros — foi destacada
rondar €300 milhões, tendo em conta o pelos economistas.
dividendo de €240 milhões estimado no
Orçamento do Estado em 2023. Em 2021,
o lucro foi de €508 milhões e o dividendo
de €407 milhões. A descida já foi grande Nova greve à vista
e continuará este ano.
É difícil, para não dizer impossível, que o na TAP. Data: 15
banco central de uma economia relevante de fevereiro
possa ir à falência. Diferente é ter prejuízo.
É sempre possível que num determinado
ano as contas fiquem negativas. Com as
devidas distâncias, o negócio de um banco O Sitava avançou com um

ILUSTRAÇÃO PAULO BUCHINHO

O Estado encaixou muitos
milhões com lucros
do banco central nos
últimos anos. Isso acabou.
Se não perder dinheiro
já não é mau
central é semelhante ao de um banco co-
mercial: ganha tanto mais quanto maior
a diferença entre os juros que recebe e
aqueles que paga. Com a subida das taxas,
os bancos centrais começam a pagar mais
pelos depósitos sem que, para já, haja uma
contrapartida do lado dos ganhos.
Uma parte relevante dos ativos dos ban-
cos centrais da zona euro está em títulos de
pré-aviso de greve às horas
extraordinárias a partir do dia
15 de fevereiro. E o sindicato dos
trabalhadores de terra tem já
marcado um plenário também
para dia 8 de fevereiro, onde
os trabalhadores irão discutir
formas de luta. Contestam o
facto de terem recebido em
janeiro deste ano o salário com
um corte de 25%, quando a Os dados preliminares conhecidos esta semana sobre o turismo em 2022 confirmam a tendência que já
expectativa dos trabalhadores era conhecida: estamos a voltar ao ‘normal’ no turismo, quase ao nível de 2019, o ano pré-pandemia, no
era que fosse de apenas 20%, que diz respeito ao número de hóspedes e dormidas. Foram, no total, 26,5 milhões de hóspedes em 2022,
como tinha sido discutido o que representa um crescimento de 83,3% face a 2021, ano muito marcado pela pandemia de covid-19. E
com a administração desde foram 69,5 milhões de dormidas, um crescimento de 86,3%, anunciou o Instituto Nacional de Estatística
novembro. Em debate no (INE). A inevitável comparação com 2019 mostra que os hóspedes registados em 2022 diminuíram 2,3% e as
plenário estará também o facto dormidas desceram 0,9% face a esse ano. Nas dormidas, houve um aumento de 8,6% nos residentes (com
de a administração não ter aumentos em todas em regiões) e uma diminuição nos não-residentes. No caso dos não-residentes, Açores
contemplado um aumento de 5% (+5,1%), Madeira (+4,5%) e a região Norte (+4,3%) tiveram os maiores crescimentos. As maiores diminuições
para mitigar a subida da inflação. aconteceram no centro (-13,1%) e Algarve (-11,3%).

dívida pública e em operações de cedência
de liquidez ao sistema financeiro de prazo
alargado. Os primeiros foram adquiridos
com rentabilidades (yields) muito baixas
ou até negativas. As segundas foram reali-
zadas a taxas ‘zero’. Pior, nenhuma destas
rubricas vai ter a sua rentabilidade au-
mentada nesta fase. Ao mesmo tempo, os
bancos centrais começam a ter de pagar
mais pelos depósitos dos bancos. A taxa
foi negativa entre junho de 2014 e julho
de 2022 quando regressou a zero. Desde
setembro que está em 0,75%. Em vez de
ganharem com os depósitos — em 2021
foram €147 milhões a entrar nas contas
do Banco de Portugal — passam a pagar.
E a tendência é para este custo subir em
paralelo com a taxa diretora que terá au-
mentado novamente na reunião de ontem
do Banco Central Europeu (já depois do
fecho desta edição).
O Banco de Portugal nem é dos que mais
sofrem nesta fase de aperto da política
monetária. Portugal nunca teve yields tão
baixas quanto economias como a da Ale-
manha, por exemplo. Mas as contas pú-
blicas perdem uma ajuda relevante num
país que tem das maiores dívidas da zona
euro. A política de QE permitia o Estado
financiar-se a taxas reduzidas e, ao mes-
mo tempo, receber parte dos juros pagos
como dividendos do Banco de Portugal.
Isso acabou. E não vai voltar. As contas do
banco central são apenas mais um dos sin-
tomas de que o mundo dos juros ‘zero’ che-
gou ao fim. É melhor acostumarmo-nos.
ECONOMIA PORTUGUESA COM RECUPERAÇÃO
MAIS FORTE DA PANDEMIA DO QUE A ZONA EURO
Dono da Impala
Índice, com 2019 = 100 processa quatro
100
103,2
102,3
empresas de media
Portugal
95
Jacques Rodrigues, proprietário
90 do grupo editorial Impala,
que, entre outras revistas,
85 detém a “Maria”, “Nova Gente”
Zona euro e “TV7Dias”, avançou com
80 processos judiciais contra quatro
empresas de comunicação
75 social, reclamando €30.000,01 a
2000 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 cada uma. Deram todos entrada
Valores para 2022 calculados a partir das taxas de crescimento anuais divulgadas na estimativa
a 10 de janeiro. Por ordem de
rápida do Eurostat e do Instituto Nacional de Estatística chegada, foram processadas a
FONTE: EUROSTAT, INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA E CÁLCULOS EXPRESSO
Swipe News, que detém o jornal
digital “Eco”, a Cofina Media
(“Negócios”), a Media9par
PORTUGAL CRESCE MAIS DO QUE A ZONA EURO DESDE 2019 (“Jornal Económico”) e a Work
O tombo português em 2020 foi mais grave do que na zona euro. A Media (“Meios e Publicidade”).
pandemia de covid-19 levou o Produto Interno Bruto (PIB) português Os diretores destes meios
a encolher 8,3%, o que compara com uma queda de 6,1% no espaço da também foram processados.
moeda única. Mas desde então a recuperação da economia portuguesa Em causa estão notícias sobre
foi mais forte. Impulsionado pela recuperação do turismo — que tinha a insolvência de uma empresa
afundado em 2020 —, o PIB cresceu acima da zona euro em 2021 — do grupo, a Descobrirpress. Os
um avanço de 5,5% contra 5,3% — e a tendência reforçou-se no ano alvos dos processos não querem
passado. Em 2022, a economia portuguesa cresceu 6,7%, conforme o comentar, pelo menos para
Instituto Nacional de Estatística, o que compara com os 3,5% da zona já, estas ações judiciais. Já a
euro, segundo o Eurostat. Tudo somado, o PIB português fechou o ano advogada da Descobrirpress não
passado 3,2% acima de 2019, antes da crise pandémica. Um crescimento respondeu às questões colocadas
superior ao da zona euro, que se ficou por 2,3%. pelo Expresso.
114,7
DÍVIDA PÚBLICA DESCE
EM 2022
A dívida pública portuguesa
fechou o ano passado em
114,7% do PIB, revelou o Banco
de Portugal, É um valor que fica
abaixo da estimativa de 115%
fixada em outubro pelo Governo
no Orçamento do Estado para
2023. Apesar da descida em
percentagem do PIB, no valor
nominal a dívida continuou
a crescer num ano em que o
défice irá também ficar abaixo
da meta de 1,9% de Fernando
Medina. Para já existem apenas
dados da execução orçamental
em contabilidade pública,
divulgada pela Direção-Geral
do Orçamento, e o apuramento
final é da responsabilidade do
Instituto Nacional de Estatística.
Mas há margem de €1600
milhões face aos objetivos que
permitirão trazer o défice para
um valor bastante inferior ao
projetado. Deverá ficar abaixo
de 1,5% do PIB.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
A pílula foi a maior revolução no mercado de trabalho no século XX, com impactos
em tudo na nossa economia. O trabalho à distância promete ter esse efeito no século XXI
A nova revolução no mercado laboral
R ao Quadrado
Ricardo Reis
rquadrado.expresso@gmail.com
E
m 1999, depois de um deba-
te aceso, a redação da revista
“Economist” escolheu como
principal inovação no século XX
a invenção da pílula anticoncecional.
Além do seu impacto na liberdade,
na igualdade e nas oportunidades no
mundo ocidental, ao permitir que as
mulheres tivessem carreiras, a pílula
mudou para sempre a composição do
emprego e dos salários. Mais do que
os sindicatos, os salários mínimos ou
a substituição de empregos indus-
triais por empregos nos serviços, não
houve maior mudança no mercado de
trabalho do que a entrada de metade
da população na economia de mer-
cado formal e paga. Nos últimos dois
anos tenho escrito muitas vezes nesta
coluna sobre o trabalho à distância.
Surpreende-me que outros em Portu-
gal não façam o mesmo ou que o tema
não seja mais discutido nas políticas
públicas. Desde a pílula, parece-me
que estamos a viver a maior revolução
no emprego, com implicações profun-
das em toda a economia.
Inicialmente, podia-se supor que o
trabalho remoto seria um fenómeno
passageiro, que desapareceria com
o fim da pandemia. Hoje, os dados
A realidade é avassaladora: 80% das famílias compraram casa, a maioria continuará
a pagá-las por eternidades mas os filhos não podem comprar nem arrendar casa
Uma penada que destrói
qualquer política de habitação
Estado da Noção
Francisco Louçã
francisco.lou66@gmail.com
A
rregaçar as mangas, uma
atitude firme, o prazo é uma
linha vermelha, vai por aí
uma valentia nunca vista na
política de habitação, a tal ponto que
o primeiro-ministro anunciou um ul-
timato à ministra da Habitação: tem
três meses para apresentar “novos
instrumentos”, mesmo que “provi-
sórios”. Vai ser no glorioso dia 16 que
conheceremos os detalhes dos tais
“instrumentos”, que entretanto o pri-
meiro-ministro elencou na entrevista
da semana, tal vai a pressa. Não é para
menos. A habitação tem sido tratada
pelo Governo com a mesma displicên-
cia com que tratou qualquer problema
estrutural e a promessa de resolver
as carências urgentes teve a mesma
sorte que a de garantir a cada pessoa
um médico de família, só que o apo-
drecimento da questão fez disparar os
alarmes. Na sondagem do Expresso,
89% dos inquiridos apontavam a falha
de investimento na habitação. Como
isto de sondagens está mal, o gover-
no decidiu criar “instrumentos”. Não
serve de nada.
Uma longa série
de malabarismos
No programa eleitoral de 2019, o PS
propôs “uma meta muita clara: erra-
já mostram que não será assim. Por
exemplo, entre janeiro e setembro
de 2020, o número de patentes nos
EUA dedicadas a melhorar as video-
conferências ou a interatividade
remota duplicaram. Desde então,
só aumentaram mais. Visitar hoje
Silicon Valley é encontrar dezenas
de empresas com aplicações para
melhorar a “realidade aumentada”,
para podemos ter reuniões com pes-
soas em diferentes pontos do mundo
como se estivéssemos na mesma sala.
Olhando para a fração dos empre-
gos americanos com componente
remota, era menos de 5% em 2019 e
saltou para 60% durante a pandemia.
Caiu nos últimos dois anos, mas os
dados mais recentes mostram cerca
de 30% ainda à distância, parcial ou
totalmente (e cerca de 20% na União
Europeia). A mudança foi persistente
e acelerada, só semelhante ao empre-
go ocupado por mulheres durante e
após a II Guerra Mundial.
Outra característica importante dos
dados que já temos é que a maioria
destes empregos é parcialmente à dis-
tância. Ou seja, na maioria dos casos,
as pessoas trabalham no escritório
dois ou três dias por semana e o res-
to do tempo em casa. São poucos os
empregos pós-pandemia totalmente
à distância, e neles a produtividade pa-
rece cair, juntamente com o bem-estar
dos trabalhadores, talvez porque lhes
falta a socialização no local de traba-
lho e a possibilidade de aprender com
os colegas na sua presença. Já nas me-
didas que temos de produtividade de
quem trabalha parcialmente de forma
remota, ela parece ficar praticamente
na mesma. Ao mesmo tempo, os tra-
balhadores gostam, o ritmo a que se
despedem cai quase 30%, e exigem
dicar todas as carências habitacionais
até ao 50º aniversário do 25 de Abril,
em 2024” (p. 79). Seriam 25.762 as
famílias a precisarem de nova casa
ou da sua reabilitação, o que custaria
€1501 milhões. Como seria de esperar,
apareceram nos orçamentos seguin-
tes só €600 milhões, que aliás ficaram
no papel. Para melhorar o fandango,
o primeiro-ministro contrariou os nú-
meros num debate do Parlamento,
subindo o custo por cada fogo para
€113 mil, o que elevaria a conta para
€2900 milhões. Execução, nada.
Em 2022 houve novas eleições e lá
veio a mesma promessa, com a parti-
cularidade muito típica de que o prazo
para as 26 mil casas era 2024 na pági-
na 72 do programa do PS e passava a
ser 2026 na página 64. E estava tudo
salvo, graças ao maná PRR: €2400
milhões para a habitação. Houve
quem acreditasse, chegou o dinheiro.
As contas, claro está, valem o que va-
liam as anteriores: os estudos recentes
afirmam que, afinal, as necessidades
mínimas de casas são €60 mil; Costa
tinha elevado o custo para a parcela já
prometida para €2900 milhões e nem
o PRR lá chega; e agora o Governo
recuperou outra promessa, esquecida
desde 2017 no generoso programa
“Novas Gerações de Políticas de Ha-
bitação”, que subiria para 170 mil os
fogos a construir (o que, ainda nas
contas do primeiro-ministro, signi-
ficaria um investimento de €19.210
milhões, só seis vezes aquela rubrica
do PRR). Mais uma vez, continuamos
na promessa dos médicos de família
— vai haver, não pergunte nem como,
nem quando, nem se.
A habitação estrangula as cidades
O ultimato do primeiro-ministro à
ministra, que felizmente se vai resol-
ver a bem com os tais “instrumentos”,
estas condições quando têm ofertas
de emprego ou discutem salários. A
grande poupança e uma fonte de ale-
gria para o trabalhador está nas horas
que deixa de passar no trânsito para o
local de trabalho.
Quais são algumas implicações
destes factos para o mercado de tra-
balho? As pessoas vão querer viver
em habitações mais espaçosas, com
quartos para trabalhar e mais lon-
ge dos empregos, onde só têm de
ir ocasionalmente. Vão crescer as
cidades a uma ou duas horas de dis-
tância do Porto e de Lisboa. A quebra
de receitas nos serviços públicos de
transportes vai pôr enorme pressão
sobre os orçamentos das Câmaras de
Lisboa e do Porto. Ainda no urbanis-
mo, no centro das cidades, vai surgir
um novo desafio para a construção
civil na reconversão de edifícios de
escritórios em locais de habitação ou
de comércio (o que não é fácil).
No ensino, as escolas de gestão vão
ter de responder a uma procura pelos
seus serviços. Gerir pessoas à distân-
cia é muito difícil. Aliás, uma corre-
Os trabalhadores
gostam, o ritmo a que
se despedem cai 30%,
e exigem estas condições
quando discutem salários
resulta da perceção de que, se não se
fizer nada, mais vale parecer. O cer-
to é que a realidade é avassaladora:
80% das famílias compraram casa,
a maioria continuará a pagá-las por
eternidades (e os juros crescentes já
representam 70% do custo mensal),
mas os filhos não podem comprar
(o salário médio permitiria comprar
uma casa de 50 m2 em Lisboa, com
sorte; os preços subiram 19% em
2022) nem arrendar casa (as rendas
subiram 7,6% em 2022). Por isso, em
Portugal os jovens e já não tão jovens
vivem em casa dos pais, em média, até
aos 34 anos, um desastre geracional.
As famílias têm casa, pagam cada vez
mais por ela e os jovens não podem ir
para lado nenhum, não conseguem
nem alugar nem comprar.
Ao mesmo tempo, o mercado imo-
biliário está pujante. Os preços sobem
em Portugal enquanto descem em
Itália, Alemanha, Suécia (menos 17%
em 2022!) ou Dinamarca. A econo-
mia imporia que descessem, dado que
os juros aumentaram — mas nada,
o poder das empresas imobiliárias
permite-lhes vencer a realidade do
país, pela simples razão de que têm
a procura estrangeira: 12% das casas
vendidas em Lisboa, 30% no Porto,
Para o poder imobiliário,
o desastre social que
está a ser multiplicado
na habitação é
um bom negócio
lação forte nos dados é que, quanto
mais sénior é a pessoa numa empre-
sa, menos gosta do trabalho à distân-
cia. Descobrir, aprender e ensinar
novas técnicas de gestão à distância
vai ser um desafio e uma prioridade.
Como o trabalho remoto permite
mais facilmente trabalhar em part-
-time, pode levar a um aumento na
idade a que as pessoas se querem re-
formar. Está bem documentado que
o maior desafio que o Estado Social
enfrenta nas próximas décadas é a
diminuição do número de trabalha-
dores e o aumento dos aposentados.
É plausível que, com o alargamento
do trabalho a distância, a idade da
reforma possa aumentar considera-
velmente, melhorando a sustentabi-
lidade da Segurança Social.
A desigualdade salarial pode au-
mentar, numa nova dimensão. Po-
dem desaparecer muitos postos de
emprego sólidos de classe média, ou
média baixa, no sector dos serviços
no centro das cidades, que tem como
clientes os trabalhadores. São os tra-
balhos mais abstratos que podem
beneficiar mais com esta revolução,
porque por um lado pagam melhor e
por outro são mais facilmente feitos à
distância, agravando a desigualdade.
Nada do que descrevi acima é fic-
ção científica. Já está a acontecer e
é de esperar que se torne mais forte
e intenso nos próximos cinco a dez
anos. É uma observação comum que
a estagnação económica do nosso
país nos últimos 20 anos parece ter
produzido uma apatia e resignação
na população. Talvez por isso tantos
estejam desatentos a esta revolução.
Mas não deviam, porque com ela vêm
grandes mudanças e oportunidades
que podemos e devemos agarrar.
que é indiferente às aflições nacionais.
As casas são mais caras em Lisboa do
que em Milão, Madrid e Barcelona e,
entretanto, a capital tem desde há três
anos mais alojamento local por habi-
tante do que qualquer outra cidade
europeia. Para o poder imobiliário, o
desastre social que está a ser multipli-
cado na habitação é um bom negócio.
Eis os “instrumentos”
Ora, chegam então os “instrumentos”
do mágico dia 16. Noutros países, têm
sido tomadas medidas de emergência:
em Amesterdão e Berlim, 25% das
casas são disponibilizadas a rendas
controladas; os liberais do Canadá
suspenderam a compra de habitação
por investidores estrangeiros; nas Ba-
leares discute-se a mesma medida.
Aqui, anuncia o primeiro-ministro, o
ultimato à ministra seguirá o que se
esperaria, oferecer incentivos fiscais
e terrenos públicos aos empreiteiros.
E, para manter a tampa na panela de
pressão, mais subsídios para rendas
de jovens, um remendo que se perce-
be que é provisório. E o investimento
para as 170 mil casas em 2026? Será o
milagre das rosas e pelos mesmos san-
tos que sobem os preços em Portugal,
enquanto descem na Europa.
Para melhorar as coisas, com uma
penada do ministro das Finanças tudo
isto desaba. Com os vistos gold e o
regime de residentes não-habituais
(e as centenas de milhões de perdas
em IRS), ou a parolice dos “nómadas
digitais” (serão milhares no final deste
ano), os preços continuarão a subir. O
que se fizer para controlar preços será
desfeito num ápice pelo Ministério
das Finanças com prendas fiscais à es-
peculação. Pois essa é a única política
consistente do Governo e do seu pilar
de apoio, as imobiliárias. E dela não
desiste, nem com ultimatos.
ECONOMIA 3
A semana
E M 2 M I N U T O S
GALP A Galp Energia verá os seus
resultados do quarto trimestre
penalizados em €160 milhões
devido à constituição de uma
imparidade de €100 milhões na
rede de retalho e uma provisão de
€60 milhões em Matosinhos. A
produção petrolífera da Galp no
quarto trimestre cresceu 5% em
termos homólogos, para 128,6 mil
barris por dia, revelou a empresa
na segunda-feira.
8,3%
é o valor estimado para a inflação
de janeiro pelo INE. Em dezembro
a inflação tinha sido de 9,6%. O
principal contributo para o
abrandamento no primeiro mês
do ano foi a desaceleração dos
preços da energia,
contrabalançada por um
agravamento dos preços dos
produtos alimentares
MOTA-ENGIL Os acionistas da Mo-
ta-Engil aprovaram esta semana,
em assembleia-geral, o aumento
da administração de 15 para 17
elementos, incluindo a entrada
do antigo vice-primeiro-ministro
Paulo Portas. E confirmaram tam-
bém a nomeação de Carlos Mota
dos Santos para a presidência da
construtora.
6,7%
foi quanto cresceu o Produto
Interno Bruto (PIB) português em
2022, o maior crescimento
económico desde 1987, segundo o
INE. No quarto trimestre o PIB
cresceu 3,1% em termos
homólogos e 0,2% em cadeia.
O país fechou ainda 2022 com
uma dívida pública equivalente a
114,7% do PIB, o valor mais baixo
desde 2011
INQUÉRITO O Partido Socialista
assumiu esta quarta-feira que irá
votar favoravelmente a proposta
de uma comissão parlamentar de
inquérito sobre a TAP, apresen-
tada pelo Bloco de Esquerda, em
detrimento da proposta no mesmo
sentido do Chega. Há um mês o PS
tinha indicado que se iria abster.
DESEMPREGO A taxa de desem-
prego em Portugal em dezembro
ascendeu a 6,7%, mais 0,2 pontos
percentuais do que em novembro,
segundo o INE.
SOLAR A Iberdrola e a Prosolia
obtiveram a licença ambiental
para construir a Central Solar
Fernando Pessoa, em Santiago do
Cacém. Com 1,2 gigawatts e um
investimento de €800 milhões,
será a maior central fotovoltaica
da Europa.
NAVIGATOR A Navigator anunciou
esta semana a compra da espanho-
la GC Consumer por €85 milhões,
numa transação que tornará a em-
presa portuguesa o segundo maior
produtor de papel tissue, usado no
fabrico de lenços de papel, rolos de
cozinha e papel higiénico.
4 ECONOMIA
ALTOS
Fernando
Medina
Ministro
das Finanças
Portugal teve em 2022 o maior
crescimento económico desde 1987
(6,7%). E no quarto trimestre cres-
ceu ligeiramente (0,2%) face ao tri-
mestre anterior, o que confirma o
abrandamento previsto, mas ainda
assim cresceu —atendendo à crise
inflacionista e à alta dos juros que
estamos a viver, é uma boa notícia
digna de registo, embora se mante-
nham as debilidades conhecidas da
economia portuguesa.
Carlos
Mota Santos
Presidente
da Mota-Engil
Na semana em que foi confirmado
como novo presidente da Mota-En-
gil — os acionistas aprovaram em
assembleia-geral a sua designação
— viu a empresa que agora lidera
manter o bom desempenho que
tem caracterizado este início de
ano na Bolsa: as ações não param
de subir e desde o início do ano até
quarta-feira acumulavam um gan-
ho de 47,17%. Numa entrevista ao
“Negócios” fez questão de posicio-
nar a sua empresa como incontor-
nável nas grandes obras públicas
em Portugal: tem um consórcio
português formado para concorrer
ao projeto da alta velocidade ferro-
viária e já se posicionou também
para o novo aeroporto de Lisboa.
Pansy
Ho
Presidente
da Estoril Sol
Com a assinatura do contrato de
concessão para a exploração de jo-
gos de fortuna e azar nos casinos
do Estoril e de Lisboa, esta semana,
a Estoril Sol garante a exploração
destes espaços até 31 de dezembro
de 2037. Isto depois de ter assistido
à concorrência de uma entidade es-
panhola desconhecida — a Bidluck
— que levantou dúvidas e que aca-
bou por ser excluída, apesar de ter
apresentado uma proposta finan-
ceira significativamente superior.
egor.pt
Otimizar
o presente
e explorar
o futuro
E BAIXOS
Miguel
Cabrita
Deputado do PS
Foi a voz dos socialistas a justifi-
car a oposição à audição do pre-
sidente da Federação Portuguesa
de Futebol, Fernando Gomes, no
Parlamento, para explicar os con-
tratos de trabalho do antigo e do
novo selecionador nacional aten-
dendo às suspeitas de fuga ao Fis-
co. O PS foi o único partido a votar
contra o requerimento do BE — o
PSD absteve-se e todos os outros
partidos votaram a favor.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
Papel
Navigator
expande-se
para
Espanha
Navigator alarga a sua presença
no papel tissue, que serve para
papel higiénico e guardanapos,
com aquisição da empresa
espanhola GC Consumer
A Navigator vai passar a ter fábricas
em Espanha. É este o resultado da
aquisição anunciada na quarta-feira
e que a papeleira pretende concluir
até ao fim deste mês. A marca Gomà-
-Camps Consumer (GC Consumer)
encontra-se atualmente nos papéis
higiénicos que vão passar a ser produ-
zidos no grupo Navigator. O negócio
consiste na aquisição pela Navigator,
antiga Portucel, das ações da espa-
nhola GC Consumer, que tem também
uma empresa em França e é especiali-
zada no papel tissue, de guardanapos,
rolos de cozinha e papéis higiénicos.
A GC Consumer obteve um volume
de vendas de €116 milhões no ano
Negócios Maioria das casas pagas em
criptomoedas está no Algarve e em Lisboa
Bitcoin e ethereum foram
as cripto usadas nas
transações imobiliárias.
A maior parte dos negócios
fez-se a sul do Tejo
A curiosidade sobre como fazer ne-
gócios imobiliários pagando em ati-
vos virtuais tem sido grande, mas os
negócios concretizados não são até
agora expressivos. No ano passado,
os notários fizeram 13 escrituras de
compra e venda de imóveis e recu-
saram sete intenções de pagamento
com criptomoedas, segundo núme-
ros avançados ao Expresso pela Or-
dem dos Notários.
A maior parte dos negócios fez-se
no Sul, com Lisboa e a região do Al-
garve à cabeça, seguidas de Cascais.
Mas também em Braga há imóveis
comprados com bitcoin ou ethereum,
as duas criptomoedas usadas como
meio de pagamento nas transações
imobiliárias.
Desde abril do ano passado que os
notários têm instruções sobre como
lidar com os investidores que querem
comprar e vender imóveis em cripto-
moedas e, se já viabilizaram 13, tam-
bém já deixaram alguns negócios pelo
caminho. Em 2022 foram recusadas
sete escrituras ou porque os clientes
não cumpriam os requisitos em maté-
ria de prevenção do branqueamento
de capitais, ou porque não tinham
conhecimento tecnológico suficiente
para consumarem a transação, ape-
sar da intenção de investimento, ou
por dúvidas dos notários sobre as re-
gras fiscais a aplicar-lhes.
“Os números refletem que existem
pessoas com vontade em realizar
negócios com criptomoedas, mas
que existe também muito trabalho
a fazer para termos um quadro le-
gislativo mais claro e global”, diz
ao Expresso Jorge Batista da Silva,
bastonário da Ordem dos Notários.
No ano passado, perante o crescente
número de perguntas de cidadãos, a
Ordem fez chegar aos cartórios um
conjunto de instruções sobre como
realizar estas operações, que, até
agora, terão sobretudo origem “em
cidadãos que estão a testar o modelo
de negócio”.
Quem quiser fazer uma transação
imobiliária em ativos virtuais (sem a
sua conversão em euros) terá de fazer
chegar ao notário dados detalhados
de identificação, do preço e do tipo
de criptomoeda envolvida. São ainda
exigidas cópias de registos desde a
passado, o que permitirá à Navigator
registar um crescimento superior a
50% face às vendas que vem obtendo
neste segmento de negócio, que se
situam nos €200 milhões anuais.
“A integração desta nova fábrica
permitirá à Navigator posicionar-se
como o segundo maior produtor ibé-
rico de tissue, adicionando 35 mil
toneladas de capacidade de produção
anual de papel tissue, que passam a
um total de 165 mil toneladas anuais,
e aumentando a capacidade anual de
converting [conversão da matéria-
-prima noutros produtos] em 60 mil
toneladas, que passam assim para
180 mil toneladas anuais”, de acordo
com a nota da companhia de pasta e
papel que integra a Semapa. O líder
na Península Ibérica é a sueca Essity.
Plano de desenvolvimento
A Navigator, presidida por António
Redondo, teve de fazer dois comu-
nicados por conta da transação. Não
havia nenhum valor no primeiro co-
municado que foi enviado, mas uma
segunda nota à CMVM deu a informa-
ção de que o “entreprise value desta
aquisição ascende a €85 milhões”.
Este indicador aponta para o valor
da empresa que foi considerado na
operação, mas não quer dizer que
seja o montante gasto pela Navigator,
tendo em conta que inclui também o
cálculo de dívida ou outras rubricas.
aquisição da cripto até ao momen-
to do negócio, bem como as wallets
(carteiras de armazenamento) en-
volvidas. Esta bateria de dados terá
de ser fornecida até cinco dias antes
da assinatura da escritura, para que
os notários os façam chegar ao De-
partamento Central de Investigação
e Ação Penal (DCIAP) e à Unidade de
Informação Financeira, que despis-
tam os riscos de lavagem de dinheiro.
A este dever de comunicação prévia
Crise das criptomoedas
aumenta riscos dos
negócios, considera
a Ordem dos Notários.
Formação dos
profissionais
será reforçada
Esta compra, adianta a Navigator
num outro comunicado de imprensa
enviado às redações, “enquadra-se
no plano ambicioso de crescimento e
diversificação do Grupo Navigator”.
Esta é, segundo a mesma nota, “a
mais moderna operação (criada em
2005 e ampliada em 2018) pertencen-
te a uma das mais antigas e prestigia-
das empresas familiares espanholas,
com mais de 260 anos de história na
produção de papel”.
A Navigator, comandada por An-
tónio Redondo, tem atualmente pre-
sença industrial em Setúbal, Figueira
da Foz, Aveiro e Vila Velha de Ródão,
sendo que é nas duas últimas fábricas
que tem a capacidade produtiva de
papel tissue. A compra da AMS em
Vila Velha de Ródão foi feita em 2015
e a gestão da altura queria vir a ser
NÚMERO
85
milhões de euros foi o valor da GC
Consumer que foi tido em conta
na operação, segundo o comunicado
à CMVM, ainda que a Navigator
não tenha referido quanto
é que efetivamente pagou
acresce um segundo. Sempre que os
negócios ultrapassem os 200 mil eu-
ros, a operação é novamente comuni-
cada às autoridades. Dada a grande
oscilação da cotação deste tipo de
ativos, os notários têm também de
comparar o valor das criptomoedas
à data do contrato-promessa e o seu
valor à data da escritura, para despis-
tar eventuais suspeitas de lavagem
de dinheiro. Já se o negócio envol-
ver criptomoedas que sejam conver-
tidas em moeda fiduciária (euros,
por exemplo) na data da escritura,
então o processo segue os trâmites
normais, como se de um tradicional
negócio imobiliário se tratasse.
Nove meses depois, a Ordem dos
Notários lançou um inquérito aos
seus associados para saber quan-
tos negócios tinham realizado até
aqui, as suas características prin-
cipais e, sobretudo, para perceber
as necessidades de formação nesta
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
líder em quatro anos na Europa. Pas-
sados oito anos, não aconteceu ainda
essa liderança, mas torna-se agora
no segundo maior operador ibérico
do papel tissue com a nova aquisição.
A compra da empresa com sede em
Saragoça é a primeira internacionali-
zação a nível industrial da Navigator,
que, fora do país, só tem o projeto de
florestação em Moçambique.
Na empresa espanhola operam
151 trabalhadores, que se vão juntar
aos 415 funcionários que trabalham
na Navigator no segmento tissue. É
um aumento de um terço da força
de trabalho nesta área. Ao todo, a
empresa portuguesa conta com 3218
funcionários.
A Navigator, do grupo Semapa, es-
pera concluir a operação até ao fim
deste mês, mas primeiro a GC Consu-
mer terá de livrar-se de responsabi-
lidades que constam do seu balanço,
para que a empresa portuguesa não
as assuma. “Este contrato encontra-se
sujeito às condições suspensivas que
são comuns neste tipo de contratos,
as quais deverão estar cumpridas até
ao dia 28 de fevereiro, que dizem res-
peito designadamente ao pagamento
de passivo e à libertação de garantias
que impendem neste momento sobre
as ações da GC Consumer”, diz o co-
municado. A empresa portuguesa não
respondeu sobre este tema.
Diogo Cavaleiro
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
Criptoativos
a recuperar
de múltiplas crises
O ano de 2022 foi de convulsão no
sector dos criptoativos, afetados
pela normalização da política
monetária, abrandamento do
crescimento económico e inflação
em alta. A primeira grande crise
foi a quebra da stablecoin
TerraUSD, que mantinha a
paridade com o dólar através de
um complexo algoritmo cujo
funcionamento quebrou em maio.
O colapso deste criptoativo
significou uma destruição de
riqueza na ordem dos €55 mil
milhões e provocou a falência de
entidades cripto expostas à
TerraUSD, como o fundo Three
Arrows ou a financeira Celsius.
Aquele que na primavera fora
chamado de “momento Lehman”
do ecossistema cripto acabaria
por ser menorizado em
comparação ao que viria a
acontecer meses mais tarde.
A falência da corretora cripto
FTX em novembro fez com que
ficasse a dever um montante
ainda não calculado a quase 9,7
milhões de credores que tinham
fundos na plataforma.
Pedro Carreira Garcia
área. E as respostas não deixaram
dúvidas. “Vamos avançar com ações
de formação tecnológica dos notá-
rios, para saberem como se realizam
estas operações”, “formação sobre
como fiscalizar adequadamente os
negócios” em matéria de prevenção
do branqueamento de capitais e for-
mação sobre o novo enquadramento
fiscal introduzido no Orçamento do
Estado para 2023, explica Jorge Ba-
tista da Silva.
O reforço dos conhecimentos dos
notários torna-se mais premente
numa altura em que, devido a suces-
sivas fraudes, as criptomoedas estão
na mó de baixo. “Estamos numa altu-
ra de pânico. Pode haver pessoas que
querem converter cripto em ativos
físicos, fazerem negócios abaixo do
preço de mercado”, considera. “Pre-
cisamos de ter cuidado.”
Elisabete Miranda
emiranda@expresso.impresa.pt
Expresso, 3 de fevereiro de 2023 ECONOMIA 5

DESCODIFICADOR

Aeroporto:
Preços Em 20 países da UE, as famílias com menos rendimentos enfrentam uma inflação mais quantos são,
alta do que as que têm maiores rendimentos. Portugal é um deles e o diferencial tem aumentado quantos
são?
Famílias mais pobres
enfrentam inflação mais alta Até março, a
Comissão Técnica
Independente poderá
juntar outras opções
às localizações
já listadas na
região de Lisboa

1 Há
Sónia M. Lourenço

D
novas
e que forma é que a localizações
escalada dos preços
na União Europeia
em estudo?
(UE) desde meados Sim. Beja e Alverca entraram na
de 2021 está a afetar lista de localizações a estudar
diferentes grupos da para a instalação, juntando-se a
população de forma Alcochete, Montijo e Santarém. A
diferenciada? É esta decisão foi tomada na sequência
pergunta que dá o de propostas feitas à Comissão
mote ao estudo “Inflation inequality in Técnica Independente (CTI),
the European Union and its drivers”, entidade responsável pela Avaliação
publicado pelo bruegel, um think tank Ambiental Estratégica (AAE). A lista
sediado em Bruxelas e especializado poderá não acabar por aqui, já que
em temas de economia europeia. E até ao final de março poderão entrar
a conclusão a que os autores chegam para a análise novas localizações. É,
não deixa margem para dúvidas: na porém, pouco provável.
grande maioria dos países da UE, as

2 Opode
famílias com menores rendimentos
enfrentam uma taxa de inflação mais processo
alta do que os agregados com maiores
rendimentos. Portugal é um desses
atrasar?
países e no caso nacional o diferencial A entrada de Beja e Alverca nas

FOTO NUNO FOX

tem mesmo vindo a aumentar.
A explicação para as famílias en-
frentarem taxas de inflação diferen-
tes prende-se com padrões de con-
sumo diferenciados. As autoridades
estatísticas nacionais e o Eurostat
calculam a taxa de inflação de um
país, em cada momento, com base
num cabaz de consumo médio. Só
que os padrões de consumo podem
variar muito entre os agregados, no-
meadamente em função do seu ren-
dimento. Como resultado, variações
de preços em diferentes categorias de
produtos têm impactos diferenciados
sobre as famílias.
Para ultrapassar este problema os
autores usaram os inquéritos aos
orçamentos familiares para estimar
A subida dos preços dos alimentos, tal como da energia, penaliza mais as famílias com menores rendimentos
precisamente aqui que a escalada dos
preços tem sido mais aguda.
Mais ainda, em Portugal este dife-
rencial tem vindo a agravar-se nos
últimos meses. Em setembro do ano
passado era de apenas meio pon-
to percentual, mas no final do ano
rondava os 2,2 pontos percentuais.
Uma evolução que “o agravamento
dos preços da eletricidade em Por-
tugal nos últimos meses pode ajudar
a explicar”, nota o economista. Mas
Portugal não é caso único. Segundo
o estudo do bruegel, em nove dos 20
países da UE onde no final de 2022 as
famílias com menores rendimentos
enfrentavam uma taxa de inflação
mais alta do que os agregados com
maiores rendimentos esse diferen-
cial agravou-se em dezembro. Já em
países como Espanha e França, por
exemplo, as famílias mais pobres
enfrentavam uma taxa de inflação
mais baixa do que as mais abastadas.
Em ambos os casos “são países onde
os preços da energia já estão a cair
em termos homólogos. Não é ainda
a situação de Portugal”, remata Gré-
gory Claeys.
slourenco@expresso.impresa.pt
localizações a estudar não foi
uma surpresa total, já que os seus
defensores têm apelado a que estas
localizações se mantenham em
cima da mesa e entrem na análise
comparativa, mas não deixa de
causar receio de que possa atrasar
o trabalho da CTI, que deverá estar
concluído até ao final deste ano.
O último estudo comparado de
localizações foi em 2007, feito pelo
LNEC, estavam em análise apenas
Alcochete e Ota, e o estudo foi
feito em seis meses, num tempo
considerado recorde, e com os
custos cobertos pela ANA, que fez
contratos por ajuste direto para
poder acelerar.

cabazes de consumo das famílias por
escalões de rendimento. Conclusão:
em dezembro de 2022 (último mês
com dados detalhados disponíveis),
em 20 dos 27 países da UE as famílias
que se encontravam entre as 20%
com menores rendimentos do res-
petivo país enfrentavam uma taxa
de inflação mais alta do que as fa-
mílias que se encontravam entre as
3 Há
PORTUGAL PERTO DO MEIO DA TABELA DA UE NA DIFERENÇA
ENTRE A TAXA DE INFLAÇÃO DOS MAIS POBRES E DOS MAIS RICOS Inflação volta a alguém
Variação homóloga do Índice Harmonizado de Preços no Consumidor em dezembro de 2022,
em percentagem, e diferença entre as taxas de inflação das famílias entre as 20% com menores descer em janeiro melhor
rendimentos e das famílias entre as 20% com maiores rendimentos, em pontos percentuais
posicionado?
À partida, não, e a CPI tem de
8 Diferença entre as taxas de inflação do primeiro e do quinto quintis O arranque do ano ficou marcado ser independente, como o nome
Itália Letónia por nova descida da inflação, tanto indica. Aliás, não será a Comissão a
7 em Portugal como na zona euro. A escolher, só a classificar.
estimativa rápida do Instituto

20% com maiores rendimentos. Ou
seja, na grande maioria dos Esta-
dos-membros da UE a escalada de
preços está a penalizar sobretudo os
mais pobres.
Portugal é um desses países. “O que
descobrimos em Portugal é que os
agregados familiares com menores
rendimentos enfrentam uma taxa de
inflação bem mais alta do que os agre-
gados com maiores rendimentos”,
salienta ao Expresso Grégory Claeys,
coautor deste estudo e economista
do bruegel. Em dezembro, a taxa de
inflação homóloga das famílias no
primeiro quintil (20% com menores
rendimentos) atingia 12,2%, o que
comparava com 10% no quinto quintil
(20% com maiores rendimentos). Ou
seja, o diferencial de inflação ronda-
va os 2,2 pontos percentuais. Era o
décimo mais elevado da UE, numa
lista liderada por Itália, onde atingia
7,9 pontos percentuais.
Energia e alimentação
penalizam mais pobres
No caso de Portugal — e também em
outros países europeus — este dife-
rencial “é em grande medida resul-
tado de duas categorias de despesa:
energia e alimentação”, aponta Gré-
gory Claeys. Isto porque “as famílias
com menos rendimentos gastam uma
fatia maior do seu orçamento” nestes
produtos, explica. Como resultado, os
aumentos destes bens essenciais afe-
tam sobretudo os mais pobres. Ora, é
4 Quais
6 Nacional de Estatística publicada
esta semana indica que a variação os prós
5 Lituânia
Hungria
homóloga do Índice de Preços no
Consumidor (IPC) em Portugal
e contras?
4 baixou em janeiro, pelo terceiro Todas as propostas têm defensores e
Bulgária mês consecutivo, para 8,3%. Este opositores. Há uma que se distingue
Irlanda
3 Roménia valor compara com 9,6% em das outras na questão financeira:
dezembro e com o pico de 10,1% Santarém apresenta-se como um
2 Portugal Croácia Estónia
Eslováquia em outubro de 2022. Acresce que o projeto totalmente privado. Tanto a
Eslovénia indicador de inflação subjacente localização Montijo como Alcochete
Chipre Polónia
1 (que exclui os produtos já foram estudadas, a primeira
Malta Áustria
alimentares não-transformados e tem uma Declaração de Impacto
Grécia Bélgica P. Baixos Chéquia
0 energéticos, com preços mais Ambiental (DIA) válida, a do segundo
Dinamarca
França voláteis) também diminuiu para 7% caducou em 2021. Alcochete tem
-1 Lux. Finlândia (7,3% em dezembro), reforçando a um grupo de defensores alargado,
Espanha Alemanha perspetiva dos economistas de que entre eles o antigo presidente
-2 Suécia o pico da inflação já ficou para trás. do LNEC e os bastonários das
5 10 15 20 25 Quanto à zona euro, a variação Ordens dos Engenheiros e dos
IHPC homóloga do Índice Harmonizado Economistas. Montijo tem sido
de Preços no Consumidor (IHPC) uma opção defendida pela ANA,
DIFERENÇA ENTRE AS TAXAS DE INFLAÇÃO DOS MAIS POBRES também diminuiu em janeiro, pelo por ser, segundo a concessionária,
E DOS MAIS RICOS EM PORTUGAL ESTÁ A AUMENTAR terceiro mês consecutivo, para a opção mais rápida, mais barata
Taxas de inflação homóloga das famílias entre as 20% com menores rendimentos e das famílias entre
8,5%. Em dezembro de 2022 estava e sem necessidade de grandes
as 20% com maiores rendimentos, em percentagem
nos 9,2%. Apesar do recuo, a acessibilidades. Os defensores de
Taxa de inflação inflação no espaço da moeda única Alcochete falam na construção
12 do primeiro quintil mantém-se muito acima da fasquia de um aeroporto internacional,
dos 2%, a referência para o Banco com capacidade de expansão, e
9 Central Europeu (BCE), que tem a afirmam que se fosse construído
Taxa de inflação estabilidade dos preços inscrita no por fases não seria mais caro do
6 do quinto quintil seu mandato. Além disso, o que o Montijo nem mais demorado
indicador de inflação subjacente a construir. Sobre Beja é apontada
3 registou ainda uma ligeira subida, como fragilidade a distância (180 km
passando de 6,9% em dezembro de de Lisboa). Alverca parece ser a que
0 2022 para 7% em janeiro deste ano. levanta mais dúvidas, pois a pista
Evolução que mantém a pressão teria de ser feita no Mouchão, com
-3 sobre Frankfurt para subir os juros. uma orientação que entraria em
JAN. JUN. JAN. JUN. JAN. JUN. DEZ. O conselho do BCE reúne esta conflito com a pista da Portela.
2020 2021 2022 semana, já após o fecho desta Anabela Campos
FONTE: “INFLATION INEQUALITY IN THE EUROPEAN UNION AND ITS DRIVERS”, BRUEGEL edição. S.M.L. acampos@expresso.impresa.pt
6 ECONOMIA
ENTREVISTA
Ana Mendes Godinho Ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social
“Não nos
interessa ter
atividades que
não garantem
direitos laborais”
Textos Cátia Mateus
e Rita Dinis
Foto Nuno Botelho
Foi até ao fim, de adiamento em adia-
mento. E na semana em que se espera-
va que o dossiê das alterações à legis-
lação laboral iniciado ainda em 2020,
no âmbito da Agenda para o Trabalho
Digno, fosse a votação esta sexta-feira,
o PCP ditou uma nova derrapagem na
aprovação das novas regras, ao pedir
um adiamento à votação da norma que
viabiliza a emissão de baixas médicas
sem intervenção de clínicos. Em entre-
vista ao Expresso, a ministra do Tra-
balho, Ana Mendes Godinho, avalia a
proposta final como um documento de
consensos que introduz ferramentas
poderosas de combate à precariedade
e vinca que a condição para uma em-
presa manter atividade em Portugal é
respeitar os direitos laborais.
P A Agenda para o Trabalho Digno ain-
da não ficou fechada esta semana, mas
as alterações que introduz ao Código
do Trabalho (CT) já são conhecidas.
Que balanço faz do documento final?
R Este processo foi desencadeado em
julho de 2020, com o “Livro Verde
para o Futuro do Trabalho”, precisa-
mente para evidenciar as áreas críti-
cas que a pandemia demonstrou que
precisavam de uma resposta diferente.
Na altura estávamos preocupados com
a regulação das relações laborais nas
plataformas, até porque a pandemia
tinha mostrado a quantidade de pes-
soas que trabalhavam desprotegidas
e desenquadradas pela regulação das
formas tradicionais de trabalho, por
serem novas formas muito associadas
ao mundo digital. É inequívoco que
este foi um processo longo, muito par-
ticipado, discutido...
P Mas sem consenso com os parceiros
sociais...
R Eu acredito que esta é uma agenda
poderosa e forte, que introduz altera-
ções profundas no mercado de traba-
lho, e por isso é mais difícil encontrar
unanimidade em torno de todos os
seus temas. Mas agora, na Comissão
de Trabalho, foi intensamente deba-
tida e foram introduzidas alterações
que permitiram um amplo consenso.
P Por exemplo?
R Uma matéria que pode ser funda-
mental para a nossa capacidade de
olhar para a regulação do mercado
de trabalho de uma forma mais inte-
ligente, ágil e eficaz, recorrendo às
tecnologias, é a interconexão de dados.
Esta medida foi uma das 61 (em mais
de 300 votadas) que teve unanimidade
na sua votação, por se reconhecer a
sua importância enquanto mecanismo
de regulação. Em concreto, a norma
permitirá a partilha e o cruzamento
de dados, de forma regular, entre o
Instituto da Segurança Social (ISS)
e a Autoridade para as Condições de
Trabalho (ACT), possibilitando iden-
tificar quase em tempo real contratos
a termo cujo limite de renovações já
foi excedido e notificar de imediato os
empregadores para a regularização
destes casos.
P Só pode ser feito com esta medida?
R Só. Ao viabilizar esta interconexão
de dados permanente entre o ISS e a
ACT, a Agenda para o Trabalho Digno,
quando estiver em vigor, vai permitir
a sinalização rápida e a monitoriza-
ção constante de todas as situações
de ilegalidade contratual, notificando
de forma imediata as empresas para
corrigir situações como a de cerca de
300 mil contratos a termo cujo limite
legal de renovações já foi ultrapassado.
Mas vai também identificar casos de
renovação sucessiva de contratos a
termo, com o mesmo trabalhador e na
mesma função, em empresas distintas
do mesmo grupo.
P Esse número inclui os trabalhado-
res temporários?
R Sim. Mas o que isto demonstra é
o nosso consenso, enquanto socieda-
de, em não aceitarmos situações de
eternização da precariedade sem fun-
damento. Uma coisa são contratos a
HÁ CERCA DE 300
MIL CONTRATOS A
TERMO CUJO LIMITE
DE RENOVAÇÕES JÁ
FOI ULTRAPASSADO
NÃO TEMOS
INFORMAÇÃO SOBRE
O NÚMERO DE
TRABALHADORES
DAS PLATAFORMAS.
A LEGISLAÇÃO
VEM DETERMINAR
A OBRIGAÇÃO
DE PRESTAÇÃO
DA INFORMAÇÃO
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
termo que servem para responder a
situações que a lei admite, porque são
necessários, outra é o recurso reitera-
do a este tipo de vínculos ao longo da
vida dos trabalhadores.
P Uma das normas menos consen-
suais desta agenda é a que regula as
relações laborais nas plataformas
digitais, que acabou por contemplar
a figura do intermediário. Cedeu ao
lóbi das plataformas, como acusou a
oposição?
R Não. Nós procuramos estar alinha-
dos com tendências europeias nes-
ta matéria, seja na jurisprudência,
seja na própria proposta de diretiva
apresentada pela Comissão Europeia.
Aliás, Portugal juntou-se a Espanha,
Bélgica e alguns países para impedir
uma alteração à proposta de diretiva
que desvirtuava o princípio que quise-
mos assegurar: não há trabalhadores
diferentes só porque trabalham em
plataformas, porque esses direitos
não são renunciáveis. Enquanto dis-
cutíamos as alterações, foi concluída a
avaliação do regime dos TVDE. Dessa
avaliação resultou a necessidade de
enquadrar esse regime no CT, preven-
do a contratação direta às plataformas
ou, como prevê a lei TVDE, através
dos operadores. O que procurámos
fazer foi garantir que a regulação dos
TVDE era também enquadrada no
CT, para salvaguardar que estes traba-
lhadores têm os mesmos direitos que
os demais: férias, descanso, proteção plataformas que permita estimar esse
social, licenças para acompanhar os universo. Pedimos várias vezes, sem
filhos, estar doente... sucesso. Com esta legislação passa-
P A norma remete para os tribunais a
remos a ter, porque ela determina a
obrigação de prestação da informação
O PRÓPRIO ESTADO,
decisão final sobre quem é o emprega- e o dever de transparência por parte NA CONTRATAÇÃO,
TEM DE SER
dor. Isto não complica um mecanismo das plataformas.
que deveria ser simples?
R Não, o que consagrámos foi que a P Noutros países, quando se tentou
UM INDUTOR
relação de laboralidade é, em primeira legislar, as plataformas responderam
linha (e não existindo nada em con-
trário), presumida com a plataforma,
com a suspensão da atividade. O Go-
verno está preparado para isso? DE MUDANÇA
admitindo que ela possa ocorrer com R Penso que as empresas querem tra-
um intermediário, como no caso dos balhar num mercado que salvaguarde
TVDE. Ou seja, reconhecemos à par-
tida que há uma relação de um con-
os interesses dos seus trabalhadores.
Portanto, acho que as soluções que ISTO DEMONSTRA
trato de trabalho dependente com a
plataforma. Naturalmente, esta pode
encontrámos são equilibradas e res-
peitam os direitos dos trabalhado- O NOSSO
ser elidida, porque também temos de
consagrar a adaptação às situações
res, condição que é crítica para atuar
em Portugal. Não nos interessa ter
CONSENSO,
reais do mercado previstas na lei, mas
caberá à plataforma fazê-lo, porque o
atividades que não salvaguardem a
vida e os direitos irrenunciáveis dos
ENQUANTO
que assumimos é que há contrato com trabalhadores. Isso é condição para SOCIEDADE,
EM NÃO ACEITARMOS
a plataforma. Por outro lado, se vier a termos qualquer atividade económi-
ser demonstrado que o vínculo é com ca no país. Naturalmente, acredito
SITUAÇÕES
o operador, a plataforma não deixa de que estas empresas são as primeiras
ser solidariamente responsável pelo a reconhecer que a valorização dos
trabalhador, garantindo que este tem
os mesmos direitos constitucionais
direitos dos trabalhadores é também
crítica para o seu modelo de negócio. DE ETERNIZAÇÃO
que os restantes. Se não o considerarem, têm outras
alternativas certamente. DA PRECARIEDADE
P Quantos trabalhadores serão
abrangidos? P O combate à precariedade é uma SEM FUNDAMENTO
R Não temos qualquer informação das grandes bandeiras do Executivo.
sobre o número de trabalhadores das Os últimos dados mostram que o re-
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
curso a recibos verdes no Estado au-
mentou em 2022, com o seu ministério
a responder pelo maior aumento ab-
soluto de precários nos seus serviços.
Isso não é um contrassenso?
R Aqui, no Ministério do Trabalho,
temos duas dimensões de contratação
a termo, por natureza. Uma está rela-
cionada com a contratação de médicos
no âmbito das juntas de verificação
de incapacidade, que são prestações
de serviços, funções que nunca serão
substituídas por um contrato de traba-
lho permanente. E temos outra dimen-
são, relacionada com os formadores do
IEFP, que é uma situação em que há
razões que justificam que alguns dos
formadores sejam contratados com re-
curso a prestação de serviços, em vir-
tude de serem situações de formação
esporádicas. A nossa preocupação é
que todas as situações que configurem
um quadro de trabalho permanente
sejam reconhecidas como tal. É essa a
orientação que dou aos serviços.
P Prevê que a integração destes pro-
fissionais aumente?
R Não, o que eu prevejo é que não se-
jam contratadas pessoas noutras mo-
dalidades de contrato de trabalho se
tal não se justificar. O próprio Estado,
na contratação, tem de ser um indutor
de mudança.
cmateus@expresso.impresa.pt
“Já ninguém diz que é contra
a subida do salário mínimo”
O grupo de trabalho criado
para monitorizar o cumpri-
mento do acordo de rendimen-
tos reuniu-se pela primeira vez
esta semana. Cerca de dois
terços das medidas que cons-
tam do plano para quatro anos
estão já em fase de implemen-
tação. O grupo dará prioridade
à monitorização regular da evo-
lução dos salários no país.
P Tem algum indicador sobre
o cumprimento do acordo de
rendimentos? As atualizações
salariais de pelo menos 5,1%
estão a ser aplicadas?
R Talvez só no final de feve-
reiro. O que temos feito com a
Concertação Social é monito-
rizar a implementação das me-
didas. Neste momento temos
cerca de dois terços das medi-
das que constam do acordo de
rendimentos, que é para quatro
anos, em implementação. Na
última reunião partilhei com
os parceiros sociais uma avalia-
ção da evolução do mercado de
trabalho e dos salários desde
2015, para passarmos a ter um
conjunto de indicadores base
a monitorizar, para perceber
o impacto do acordo ao longo
do ano.
P E o que é que mostram?
R Se olharmos para o salário
mínimo, em 2023 temos um
aumento de 50% face a 2015,
que é uma evolução muito ex-
pressiva, mesmo considerando
a evolução acumulada da infla-
ção. Isto mostra também que
se quebrou um tabu: hoje em
dia já é difícil encontrar quem
seja contra a subida do salário
mínimo. Há alguns anos havia
o grande receio de que aumen-
tar o salário mínimo induzisse
o aumento do desemprego.
Hoje já ninguém diz que é con-
tra a subida do salário mínimo,
porque se demonstrou que ele
aumentou e o desemprego di-
minuiu.
P E os salários médios, um dos
focos do acordo?
R Se olharmos para o salário
médio, aumentou 29% face a
2015 em termos globais e 40%
no caso dos jovens. O que mos-
tra que o mercado de traba-
lho está a começar a dar sinais
“Houve erros neste Governo?
Naturalmente”
No Governo desde 2015, Ana
Mendes Godinho não nega que
na atual legislatura, que tinha
tudo para ser estável, se come-
teram erros que não devem ser
repetidos.
P É uma das ministras que está
há mais tempo no Governo,
desde 2015. Sente que só agora
está a implementar medidas
estruturais, que não sejam uma
resposta à crise?
R Sinto-me uma caminheira
deste percurso. Este ministério
esteve na linha da frente na ges-
tão da pandemia, com a mobili-
zação de mecanismos de apoio
extraordinário direcionados ao
financiamento do emprego e à
resposta ao desemprego. Mas
também lançámos em plena
pandemia medidas estruturais,
como o investimento em equi-
pamentos e respostas sociais,
em junho de 2020. Diria que
temos procurado caminhar
de valorização do salário dos
jovens, o que é uma condição
crítica para contratar e reter
talento.
P Como é que comparamos
com os outros países?
R Estamos muito atrás, mas
é um bom sinal este que o
mercado de trabalho começa
a dar de mudança de menta-
lidade. Em números, isto sig-
nifica que o salário médio dos
jovens em Portugal passou de
€740 em 2015 para €1040
em 2022. Ainda está abaixo
do salário médio em Portugal,
que se encontra na ordem dos
€1300. O caminho tem de ser
acelerado, e essa valorização
dos salários dos jovens é uma
das áreas-chave do acordo de
rendimentos. Neste momento,
vários países competem pelos
nossos jovens e nós temos de
conseguir não os desperdiçar.
É crítico, no momento em que
vivemos. As empresas têm de
ter a capacidade de aumentar
os salários à entrada no mer-
cado de trabalho. Em 2022 ti-
vemos três vezes mais jovens
a entrar no mercado de tra-
balho do que em 2015. Temos
de garantir que têm condições
para decidir ficar no país. O
que consta da Agenda para o
Trabalho Digno também aju-
da neste sentido, porque, se
tiverem contratos de trabalho
permanente, a desvantagem
salarial de 20% associada aos
contratos a termo desaparece
logo. A precariedade também
tem um valor económico asso-
ciado. Há um estudo europeu,
divulgado recentemente, sobre
a perceção que os jovens têm
da maneira como o mercado de
trabalho os trata. Pergunta-se
aos jovens porque não têm um
contrato de trabalho perma-
nente e é horrível olhar para
aqueles números. Em Portu-
gal, cerca de 80% dizem que
não encontram um contrato de
trabalho permanente no mer-
cado. Na Alemanha, a taxa é de
14%. É este o sinal que damos
aos jovens, e as empresas têm
de perceber isto.
P Como é que a Agenda para
o Trabalho Digno soluciona o
problema dos jovens?
em dois carris paralelos: o do
investimento estrutural e o da
resposta à emergência.
P Estas medidas foram mais
fáceis de adotar agora, sem as
amarras dos partidos à esquer-
da e sem a ‘geringonça’?
R A Agenda para o Trabalho
Digno passou várias fases. A
discussão final na Assembleia
da República acabou por confir-
mar como transversais muitas
das prioridades que assumimos
e que foram sendo discutidas
ao longo de dois anos. Isto tem,
por um lado, o problema de
existirem medidas que seria
fundamental colocar rapida-
mente no terreno e ainda não
estão. Mas tem o aspeto positi-
vo que é a legitimidade que esse
debate alargado lhe confere.
P O Governo assinalou esta se-
mana um ano de maioria abso-
luta. É o seu terceiro Governo.
R É um instrumento que visa
garantir a capacidade de va-
lorizar os jovens no mercado
de trabalho e assegurar que a
evolução que fizemos nos úl-
timos anos na taxa de preca-
riedade vai ainda mais longe.
Passámos de uma taxa de pre-
cariedade de 22% em 2015 para
16% em 2022, e a verdade é que
ela ainda está acima da média
europeia. E se olharmos para a
taxa de precariedade entre os
jovens, ela também está bas-
tante acima da média europeia.
P Qual é o objetivo?
R Passar dos atuais 16% de taxa
de precariedade para 10% em
2030. O pilar europeu dos direi-
tos sociais está focado nesse ho-
rizonte. Ou seja, procurar que
todas as medidas que estamos a
colocar no terreno tenham esta
meta em consideração.
P Por exigência europeia...
R Por exigência e urgência nos-
sa. Eu diria que reduzir a taxa
de precariedade é uma necessi-
dade de futuro coletivo. A taxa
de precariedade não é, diria eu,
um problema em si. Ela é um
problema pelas consequências
naturais que tem. Um jovem
— e digo jovem, porque são os
mais afetados pela precarieda-
de — que não tenha um contra-
to de trabalho permanente difi-
cilmente tem a possibilidade de
comprar casa, dificilmente tem
a opção de ter crianças, sem ter
uma situação que lhe garanta
alguma segurança do ponto de
vista financeiro. Um jovem com
um contrato precário ou a ter-
mo recebe em média, segundo
as estatísticas, menos 20% do
que um que tenha um contrato
permanente.
P Esta agenda responde a es-
sas questões?
R Tem medidas importantes
para resolver aquilo que nós,
como sociedade, não podemos
aceitar e procura, de alguma
forma, distinguir os bons em-
pregadores, com boas práti-
cas, dos incumpridores e que,
muitas vezes, recorrendo a ir-
regularidades de contratação,
acabam por ter vantagens. Por-
tanto, valoriza as empresas que
valorizam os trabalhadores.
O que mudou internamente
para este Governo, que tinha
mais condições de estabilidade
à partida, ter tido um primeiro
ano tão conturbado?
R Vivemos tempos de uma
intensidade imensa pós-pan-
demia. Achávamos que íamos
entrar numa fase de recupera-
ção — e temos níveis históricos
de emprego —, mas a verdade é
que a inflação e os seus efeitos
na vida das pessoas as deixou
numa situação de incerteza. Por
outro lado, também faz tudo
parte de aprendizagens contí-
nuas e de reajuste das medidas
às necessidades.
P Houve erros de origem neste
Governo?
R Naturalmente. É evidente
que tem havido situações indis-
cutíveis que nos levam a apren-
der e a olhar para trás para ga-
rantir que situações idênticas
não voltam a acontecer.
ECONOMIA 7
O QUE MUDA NA LEI
Limites à contratação
temporária ou a termo
Empresas que cessem contrato
com o trabalhador (por motivo
que não lhe possa ser
imputado) não poderão voltar
a contratar a termo, em regime
temporário ou a recibos verdes
para o mesmo posto, nem para
a mesma atividade profissional,
sem que tenha decorrido pelo
menos um terço da duração do
contrato. O trabalho
temporário também terá uma
duração mais curta passando
das atuais seis renovações
possíveis para apenas quarto.
Teletrabalho alargado
O regime de teletrabalho vai
ser alargado aos pais com
filhos com deficiência ou
doença crónica,
independentemente da idade.
Além disso, os contratos de
trabalho vão passar a prever
um valor fixo para a
comparticipação de despesas.
Criminalização do trabalho
não declarado
Foi aprovado um aditamento
ao Regime Geral das Infrações
Tributárias que determina que
a não declaração de
trabalhadores, num prazo de
seis meses, passa a ser
considerada crime com pena
de prisão.
Compensações por
despedimento aumentam
O aumento do valor das
compensações por
despedimento, nos casos de
despedimento coletivo e por
extinção de posto de trabalho,
vai aumentar dos atuais 12 dias
de retribuição base e
diuturnidades para 14 dias, por
cada ano completo de
trabalho. A norma não terá,
contudo, efeitos retroativos.
Redução do período
experimental
O atual período experimental
de 180 dias será reduzido ou
mesmo eliminado para os
jovens à procura de primeiro
emprego e desempregados de
longa duração. Basta para isso
que o anterior contrato de
trabalho a termo, estabelecido
com outro empregador, tenha
tido uma duração igual ou
superior a 90 dias.
Trabalhadores não poderão
abdicar de créditos
Os trabalhadores deixam de
poder abdicar dos créditos que
lhes são devidos, e que são
irrenunciáveis por lei, como os
subsídios de férias ou de Natal,
horas extraordinárias ou
formação não realizada,
quando são despedidos ou
quando o contrato termina.
Presunção de contrato
direta às plataformas
Presunção de contrato de
trabalho vincula os
trabalhadores diretamente às
plataformas digitais. A lei
prevê, no entanto, que a
plataforma possa contestar a
decisão cabendo-lhe, nesse
caso, provar judicialmente que
a relação de laboralidade é
com o intermediário. Ainda
assim, a plataforma continuará
a responder solidariamente
pela garantia dos direitos
laborais.
Alargamento de licenças
O período de licença de
parentalidade exclusiva do pai
é alargado dos atuais 20 para
28 dias. Além disso, é criada a
possibilidade de falta por luto
gestacional (três dias) e
aumenta a licença por
falecimento do cônjuge, dos
atuais cinco para 20 dias.
8 ECONOMIA
“Confusion
de Confusiones”
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt
E nós
a vê-los
passar
A
cabo de regressar de Ma-
drid e ainda estou inco-
modado.
Lado a lado erguem-
-se cinco arranha-céus, quatro
deles empresariais e um outro
de uma universidade privada, a
IE University. As torres são ocu-
padas por empresas, embaixa-
das, um hotel. No ar respira-se
modernidade e cosmopolitismo,
mas também o sentimento de
que há crescimento, há geração
de rendimento e futuro. Há es-
perança.
Pode haver muita suspeita so-
bre a sustentabilidade de muitos
daqueles projetos e até sobre a
forma como a cidade se desen-
volveu por ali, mas há arrojo e in-
vestimento. Há desenvolvimento
que parece ser equilibrado com a
vida humana. No meio daquelas
torres, a olhar para o céu, senti-
-me um saloio, e não gosto.
Espanha está a disparar em
termos de desenvolvimento. O
crescimento faz-se sustentada-
mente em muitas áreas e com
visão de futuro.
Neste momento, na ambição
do seu projeto de reindustriali-
zação, Espanha quer desenvol-
Espanha está a disparar em
termos de desenvolvimento.
O crescimento faz-se
sustentadamente em muitas
áreas e com visão de futuro
ver 11 gigafábricas nos próximos
anos com a expectativa de ter
três a funcionar em 2030.
As gigafábricas são unidades
industriais gigantes que se de-
dicam à produção de baterias
elétricas, essenciais, nomeada-
mente, para a transformação da
mobilidade automóvel, tendo o
termo sido criado pelo pai da
Tesla, Elon Musk.
A Europa tem planos para a
construção de 38 destas gigafá-
bricas, mas nenhuma está pre-
vista para Portugal. As razões
para a sua localização prendem-
-se com a proximidade da maté-
ria-prima (lítio, por exemplo), ou
pela existência de ferrovia para
ligação rápida, segura e barata
aos centros de produção auto-
móvel.
Portugal pretende isolar-se da
Europa mantendo-se, teimosa-
mente, a construir e a recuperar
linhas em via única e bitola ibé-
rica. Os espanhóis estão a re-
cuperar as suas grandes linhas
em via dupla e bitola europeia
porque sabem que vai ser o meio
de transporte do futuro. E quem
conseguir colocar as baterias a
baixo custo em cima dos carris
de bitola europeia vence a ba-
talha comercial. Assim, poderá
pagar melhor aos seus trabalha-
dores, enquanto nós insistimos
numa economia de serviço de
bicas e limpeza de quartos de ho-
tel ou Airbnb. Podem proteger as
empresas portuguesas do sector
do caminho de ferro, mas darão
cabo da nossa economia.
O espaço das torres madrilenas
começou a sua construção em
2004 e foram inauguradas cinco
anos depois, em 2009. Há sete
anos que António Costa gover-
na. Que obra tem António Costa
para mostrar ao fim deste tempo
de Governo?
Deixo um conselho aos mem-
bros do Executivo: vão passar
um fim de semana a Madrid.
SAÚDE
O Hospital de Loures
foi construído e gerido,
durante dez anos,
por privados
FOTO JOSÉ FERNANDES
Gestão O Hospital Beatriz Ângelo, em Loures, está há um ano
nas mãos do Estado e somam-se queixas de degradação do serviço
A vida de uma
PPP depois de
deixar de o ser
Textos Ana Sofia Santos
O
Hospital Beatriz
Ângelo (HBA), em
Loures, serve 278
mil pessoas, esteve
no centro do furacão
da pandemia, foi edi-
ficado e gerido, du-
rante dez anos, por
privados e tem sido
notícia por falhas no serviço à popu-
lação, em particular na urgência. No
passado dia 18 de janeiro fez um ano
que terminou a parceria público-pri-
vada (PPP) no HBA, até então gerida
pela Luz Saúde e a realidade mudou.
A unidade foi transformada em En-
tidade Pública Empresarial (EPE) —
como tinha acontecido nos hospitais
de Braga e de Vila Franca de Xira, que
saíram da esfera da CUF — e foi ‘con-
taminada’ pelos problemas que afetam,
de uma forma transversal, o Serviço
Nacional de Saúde (SNS), como ur-
gências encerradas e a funcionar em
rotação, falta de médicos especialistas,
défice de enfermeiros e milhares de
horas contratadas a tarefeiros.
“Há uma degradação evidente na
qualidade e quantidade dos serviços
prestados à população”, confirma o
secretário-geral do Sindicato Indepen-
dente dos Médicos, Jorge Roque da
Cunha, que dá consultas no Centro de
Saúde de Camarate, em Loures, uma
das unidades que referencia doentes
para o HBA. Há problemas, sobretudo,
nos tempos de espera não só na urgên-
cia — “cujas equipas estão muito redu-
zidas” —, mas também nas consultas
e nas cirurgias. As dores da passagem
de PPP para EPE sentem-se de forma
transversal, com greves de trabalha-
dores — enfermeiros, auxiliares, admi-
nistrativos, técnicos de diagnóstico — a
marcarem 2022, numa contestação
contra, por exemplo, as 40 horas se-
manais de trabalho, quando na função
pública a regra são as 35 horas.
Uma médica que faz urgência no HBA
e que esteve na PPP diz que a diferença
é enorme. “Corria tudo muito bem”,
até que as pessoas “começaram a sair
TEM HAVIDO
CONTRATAÇÕES
DE MÉDICOS E NÃO
É FÁCIL REPOR
“A PERDA DE
DIFERENCIAÇÃO”
porque deixaram de se identificar com
o projeto”. Faltam profissionais para
fazer escalas e perdeu-se o funciona-
mento em equipa, com turnos preen-
chidos por prestadores de serviços. A
PPP podia remunerar melhor os profis-
sionais e, assim, atraía e retinha talento,
mas um EPE não dispõe dos mesmos
mecanismos. “Vivemos o absurdo de
podermos fazer horas extra no Hospital
de Santa Maria [Lisboa], com contrato
de prestação de serviços, e os colegas de
lá vêm completar turnos no HBA”, co-
menta a médica. A este respeito, a presi-
dente do Conselho de Administração do
HBA, Rosário Sepúlveda, esclarece que
“as regras da administração pública não
permitem o duplo vínculo” e que se tem
tentado “encontrar soluções internas”,
entre as quais “a atividade adicional,
onde se incluem os programas de recu-
peração de listas de espera, em que as
equipas, além do seu horário, podem
fazer horas adicionais e recebem de
uma forma diferente”.
Tarefeiros custam €5 milhões
A presidente do HBA concorda que o
facto de os tarefeiros receberem mais
do que os médicos da casa (são maiores
os encargos do hospital e os descontos
fiscais) é um incentivo perverso e la-
menta a criação de “uma espiral infla-
cionista que estimula as saídas porque
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
as pessoas ficam com uma flexibilidade
diferente e uma gestão mais fácil”. Ao
todo, o HBA gasta cerca de €5 milhões
por ano em horas pagas a médicos e
enfermeiros tarefeiros, o que daria
“para muitos contratos individuais de
trabalho — chegava, seguramente, para
suprir necessidades. Mas são opções
políticas”.
Rosário Sepúlveda foi nomeada para
estar à frente do novo EPE cerca de um
mês e meio antes da reversão da gestão
e faz notar que várias razões concorre-
ram para as dificuldades na operação do
hospital. Em primeiro lugar a saída de
profissionais, a que se soma o rescaldo
de dois anos de pandemia, que trouxe de
volta os doentes na expectativa de terem
os cuidados que lhes faltaram durante
a pandemia — e que, agora, padecem,
muitas vezes, de quadros mais graves,
dado o aumento da carga de doença
junto da população portuguesa.
Em 2021, segundo o Portal da Trans-
parência do SNS, a PPP realizou 137.311
episódios de urgência, 2295 partos,
262.223 consultas e 13.934 cirurgias,
indicadores que tinham desempenhos
bastante superiores no ano anterior
à chegada do vírus SARS-CoV-2: em
2019, o HBA fez 200.519 urgências,
2757 nascimentos, 286.618 consul-
tas e 15.606 operações. Em 2022, de
acordo com dados da administração,
praticamente todos os indicadores es-
tão abaixo da realidade em ambos os
anos: foram atendidas 152.405 pes-
soas na urgência (a exceção face 2021)
e realizaram-se 1961 partos, 223.186
consultas e 10.676 cirurgias. Rosário
Sepúlveda sublinha que “mesmo com
todas as vicissitudes tivemos uma taxa
de concretização perto dos 90%”.
Não só o desempenho atual do HBA
não pode ser olhado sem o filtro da
pandemia, como também não é possí-
vel comparar diretamente os valores
de financiamento da PPP e do EPE,
já que, respetivamente, o contrato de
gestão e o contrato-programa con-
templam uma produção distinta. Por
exemplo, os pagamentos dos trata-
mentos dos doentes com VIH/sida,
esclerose múltipla ou o internato mé-
dico estavam de fora do contrato — o
Estado foi condenado, entretanto, a
reembolsar a Luz Saúde em €18,2 mi-
lhões pelo VIH. E, agora, toda esta
atividade faz parte do compromisso do
HBA com a Administração Regional
de Lisboa e Vale do Tejo (ARS LVT).
A PPP custou €103,3 milhões ao erá-
rio público, em 2021, em linha com o
valor de 2019. Rosário Sepúlveda indica
que em 2022 o hospital teve um orça-
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
mento de cerca de €130 milhões e terá,
este ano, €136 milhões. “Não podemos
fazer uma comparação direta com o
contrato de gestão, em vigor para a
PPP, com o valor do atual contrato-pro-
grama porque há linhas que entram
num e não no outro”, sublinha a pre-
sidente do HBA. O último balanço da
Unidade Técnica de Acompanhamento
de Projetos (UTAP), a entidade encar-
regada de monitorizar todas as PPP,
divulgado em março de 2020, revelou
que, entre janeiro de 2012 e dezembro
de 2017, o Estado poupou €167 milhões
com a PPP em Loures. Mesmo assim os
técnicos da UTAP não recomendaram
ao Governo a renovação do contrato,
mas sim o lançamento urgente de um
novo concurso público, já que o modelo
de parceria tinha provado ser eficiente
e gerador de benefícios para as contas
públicas. Este cenário teve a aprovação
do Conselho de Ministros, mas os traba-
lhos não chegaram a avançar.
A crise dos anestesistas
A falta de médicos anestesistas mar-
cou, de forma muito negativa, a ati-
vidade do hospital em 2022. Alguns
destes profissionais deixaram o HBA
ainda antes da saída da Luz Saúde,
indica Rosário Sepúlveda. “Na anes-
tesia tivemos, como se soube, uma
fase muito crítica, em maio. Mas já
herdámos uma situação complicada,
pois a grande saída de anestesistas foi
prévia à reversão, eu já não os conhe-
ci”, afirma. Na PPP trabalhavam cerca
de 30 anestesistas, “porém quando
chegámos eram apenas 19 e estavam
cinco em licença de maternidade, ou
seja, tínhamos cerca de metade dos
profissionais que era suposto, quan-
do esta é uma especialidade muito
transversal e impactante em todo o
hospital. Não é só nas cirurgias, mas
também nos serviços de diagnóstico”.
Entretanto, no concurso nacional, o
HBA conseguiu preencher cinco vagas
CONSELHO DE
MINISTROS APROVOU
UMA NOVA PPP
EM LOURES, MAS
O CONCURSO
NÃO AVANÇOU
NÚMEROS
2012
é o ano que marca a abertura do
hospital de forma faseada, entre 19
de janeiro e 27 de fevereiro, data em
que abriu o muito aguardado pela
população serviço de urgência geral
278
mil pessoas estão na área de
influência do hospital, que serve os
concelhos de Loures, Mafra, Odivelas
e Sobral de Monte Agraço
para anestesistas, está a ser finalizada
a contratação de mais uma médica
da especialidade e regressaram as
licenças. “Ainda não temos os 30, mas
a partir de 1 de fevereiro teremos 23
profissionais (18 especialistas e cinco
internos de formação específica). Não
chega, mas continuamos a trabalhar”,
indica Rosário Sepúlveda.
Também saíram cirurgiões e obste-
tras, embora, a presidente do hospital
ressalve que esta contabilidade deve
ter em conta “as horas dedicadas ao
hospital, pois nem sempre um pro-
fissional corresponde a um horário
completo. Alguns cirurgiões que saí-
ram tinham horários de 20 horas ou
15 horas e herdámos vários casos de
médicos no quadro com horários in-
completos”. Hoje, “habitualmente,
contratamos por 40 horas semanais”.
Apesar do esforço para repor os qua-
dros de pessoal, a gestora reconhece
que não é fácil contornar “a perda de
diferenciação”. “Mas não desistimos
e não baixamos os braços e, hoje, já
podemos dizer que temos pessoas que
nos procuram e querem integrar-se
no nosso projeto”, frisa, adiantando
que “começamos a ter algumas boas
notícias, o hospital está a voltar a ser
atrativo pela diferenciação, pelos pro-
fissionais que aqui trabalham e pelas
condições tecnológicas que tem”.
assantos@expresso.impresa.pt
Loures
Rosário Sepúlveda Presidente do Conselho
de Administração do Hospital Beatriz Ângelo
e Odivelas
“Tomara os gestores dão
públicos terem as benefício
facilidades dos privados” da dúvida
Foi uma contratação em contrarre-
lógio e quando o convite lhe chegou,
Rosário Sepúlveda não pensou que
fosse para liderar o Conselho de Ad-
ministração do Hospital Beatriz Ân-
gelo (HBA). Na reunião na Adminis-
tração Regional de Lisboa e Vale do
Tejo (ARS LVT) “perguntei com quem
[faria equipa], já que não percebi logo
que o convite era para ser presidente”.
É licenciada em Economia e fez um
bacharel em enfermagem, profissão
que exerceu no início da carreira no
Instituto Português de Oncologia de
Lisboa, onde era diretora do serviço
de planeamento, análise e controlo
de gestão quando aceitou ir para o
HBA. Fez carreira na gestão hospi-
talar nos sectores público e privado
(Grupo CUF).
P O HBA tinha sido uma parceria
público-privada (PPP). Isso pesou na
decisão de aceitar o convite?
R Não. Obviamente que ser um hos-
pital com diferenciação, com profis-
sionais de qualidade e ser novo pesou
na decisão, mas não o facto de ter um
histórico de PPP. Aliás, isso até torna
tudo mais difícil porque existe toda
uma cultura que é distinta da realida-
de da administração pública.
P Tinha noção de que seria difícil?
R Em termos das áreas de gestão im-
plica um investimento muito grande.
P Como foi a passagem dos dossiês?
R Muito trabalho já tinha sido feito
com a ARS LVT. Entrámos em dezem-
bro [a Luz Saúde saiu a 18 de janeiro
de 2022], no meio de férias e feria-
dos, naquele que não é um mês muito
produtivo. Houve muitas limitações e
reconhecidamente podia ter sido feito
de forma diferente, mas agora não
vale a pena lamentar. Temos de andar
para a frente e fazer as coisas.
P Tem experiência nos sectores pri-
vado e público. Quais são as grandes
diferenças?
R As regras não são comparáveis. O
objetivo de uma empresa privada é o
lucro e numa empresa pública é o ser-
viço público que prestamos. A gestão
tem objetivos, regras e condicionantes
completamente distintas num e nou-
tro. Tomara os gestores públicos, às
vezes, terem algumas das facilidades
dos gestores privados.
P Pode ser-se eficiente numa Entida-
de Pública Empresarial?
R É sempre possível trabalharmos
numa lógica de eficiência, de fazer
mais com menos. O problema é, so-
bretudo, de financiamento porque as
regras não acompanham a evolução
da tecnologia em saúde e as novas
respostas.
P O HBA tem constrangimentos gra-
ves na urgência. Tem reunido com o
diretor-executivo do Serviço Nacional
de Saúde, Fernando Araújo?
R Já tivemos uma reunião de hospital
e do grupo [de unidades hospitalares]
onde se integra o HBA e estamos a
participar nos trabalhos no âmbito
da urgência metropolitana de Lisboa,
nas diversas especialidades. Estamos
todos a trabalhar para este funcio-
namento em rede, que tranquilize
as pessoas e que garanta o acesso os
cuidados.
P Os tempos para cirurgia e para con-
sultas aumentaram.
R A prioridade para 2023 é o aces-
so, não só a consultas, mas também
às cirurgias. Estamos a trabalhar
para se concretizarem as respostas
dentro do programado, dentro do
adicional e, até, eventualmente, com
recurso ao sector privado — no final
ECONOMIA 9
Executivos camarários
sinalizam pior serviço do
HBA, mas esperam que
a gestão pública consiga
apresentar melhorias
Os executivos camarários de
Loures e de Odivelas acompa-
nham de perto o Hospital Bea-
triz Ângelo e reconhecem que
o serviço à população piorou no
último ano, embora concordem
que a atual administração tem
feito o possível dentro das regras
do sector público. O presidente
da Câmara Municipal de Lou-
res, Ricardo Leão (PS), diz que
FOTO NUNO FOX
a sua equipa tem acompanhado
“a diferença” da gestão privada
e da nova gestão pública, que
tem menos flexibilidade para
lidar, por exemplo, com a pres-
são da procura sobre o hospital,
de 2022 contratámos salas de bloco que obriga a trabalhar com uma
com anestesistas no Hospital da Cruz eficiência enorme. “A densidade
Vermelha, em Lisboa, para podermos geográfica é grande e os rácios e
operar mais. indicadores que resultavam da
gestão público-privada, embora
P Há profissionais do HBA que lamen- com algumas deficiências, eram
tam a ausência, pela administração, positivos, estou a falar, por exem-
do reconhecimento dos problemas plo, de tempos de espera”, indica
que existem e a falta de comunicação Ricardo Leão, enquanto ressalva
de um plano para os ultrapassar. que não culpabiliza a administra-
R É uma novidade. Ainda hoje reuni ção, “que faz o que pode, mas o
com todos os colaboradores de um modelo de gestão é diferente”.
serviço e digo sempre que tenho uma Aliás, “o que está a acontecer em
gestão de porta aberta. Porém, esta Loures é a realidade dos outros
casa tem cerca de 2 mil profissionais, e hospitais do Serviço Nacional de
naturalmente que quando o conselho Saúde (SNS)”.
de administração quer passar uma
mensagem recorre, por vezes, ao ple-
nário, mas em regra os nossos inter-
locutores são os diretores de serviço. Loures tem em marcha
Por outro lado, há pessoas avessas à cinco novos centros de
mudança e que aproveitam a ‘rádio- saúde, com um modelo
-alcatifa’ para passarem as coisas más
e nós temos muitas coisas boas para
de gestão mais flexível
comunicar.
P A administração faz passar uma Também o presidente da Câ-
mensagem de que está tudo bem? mara Municipal de Odivelas,
R Temos de ser realistas, mas também Hugo Martins (PS), faz notar que
temos de ser otimistas. Temos de ser “é natural” que a mudança da
nós a defender o hospital e a torná-lo gestão para a esfera do Estado
mais atrativo, apelativo e interessan- “acarretasse inevitáveis cons-
te, com os novos projetos e as coisas trangimentos”, já que um sis-
boas que tem. Mesmo com todas as tema de administração pública
dificuldades em 2022, temos núme- tem “regras distintas e um mo-
ros dos quais nos devemos orgulhar. delo de contratação mais exigen-
Nunca escamoteámos os problemas te e menos maleável a circuns-
na urgência ou a falta de anestesistas. tâncias imprevistas”. Somado a
um cenário pós-pandemia e de
P O projeto de saúde mental é uma saídas de profissionais de saúde
das boas notícias? formou-se “todo um contexto”
R Sim, mas quando começámos apa- que “afetou o serviço prestado
receu logo quem dissesse que não aos utentes”, acrescenta.
havia recursos. Hoje estão 57 profis- Ricardo Leão afirma que
sionais dedicados a este projeto [15 “nada me move do ponto de
psiquiatras, seis internos de formação vista ideológico, sobre se a ges-
e psiquiatria, oito psicólogos, três pe- tão deve ser privada ou pública.
dopsiquiatras, três pedopsicólogos, Tem é que se prestar um serviço
três terapeutas e 19 enfermeiros]. Va- de qualidade e isso não está a
mos abrir o primeiro polo em Loures, ser feito”, porém, considera que
está previsto um segundo polo para ainda é cedo para se concluir
Odivelas e contamos, daqui a um ano, que o modelo atual do HBA não
ter à volta de 250 doentes acompanha- serve a população. Odivelas tem
dos na comunidade. mantido, tal como Loures, “uma
relação de proximidade e de
P Como estão em termos de forma- parceria” com o hospital, realça
ção e de investimento em tecnologia? Hugo Martins, “mas também de
R Tivemos 21 mil horas de formação, exigência e temos manifestado
82 artigos publicados, 20 projetos o nosso descontentamento”. Re-
de investigação, 180 internos (140 conhece, também, “o esforço e o
em formação específica), 42 ensaios empenho da atual direção para
clínicos em diferentes fases. Em 2022 superar as dificuldades”.
foi feito um investimento grande em
equipamento, para substituir o que
Entretanto, a Câmara de
Loures tem em marcha um
ao fim de dez anos estava obsoleto,
sobretudo em 11 novos ecógrafos.
plano de abertura de cinco
novos centros de saúde, num
Gastámos cerca de €1 milhão no ano
passado, o que incluiu também um
reforço nos cuidados de saú-
de primários, que vai aliviar o
raio-X transportável e um laser para a HBA da procura por doentes
ginecologia. Em 2023 estão previstos não urgentes. O investimento
€2,5 milhões para renovarmos uma por unidade ronda €3 milhões
ressonância magnética — mas está e é financiado pela autarquia e
dependente do Portugal 2030. pelo Ministério da Saúde.
10 ECONOMIA
Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt
António
Costa
tem um
problema
N
o primeiro ano de maioria
absoluta, o primeiro-mi-
nistro, António Costa, deu
duas entrevistas a televi-
sões de sinal aberto. A primeira
foi à TVI, no dia 12 de setembro
de 2022. A segunda aconteceu
na passada segunda-feira, à RTP,
dia em que perfazia um ano sobre
as eleições que lhe deram o tão
desejado como inesperado resul-
tado. Vale a pena olhar para as
audiências destas duas entrevis-
tas. Na primeira, António Costa
foi visto por 949.200 espectado-
res. Na segunda, a desta semana,
apenas 732.500 espectadores o
sintonizaram. A entrevista ficou
num modesto sétimo lugar na lis-
ta dos programas mais vistos do
dia. Quatro meses e meio depois,
o primeiro-ministro “perdeu”
216.700 espectadores. Será que
está a perder mais do que isso?
A entrevista seguiu-se a uma
sondagem, conhecida na semana
passada, que dava a popularidade
de António Costa em queda, o
PSD à frente e a direita, como um
todo, com mais intenção de voto
do que a esquerda. Não correu
bem. É claro que nem as sonda-
gens nem as audiências de tele-
visão são uma ciência exata. São
uma técnica que permite uma
aproximação à realidade. E essa
realidade mostra que uma parte
significativa dos portugueses está
zangada com António Costa ape-
nas um ano depois de lhe terem
dado a maioria absoluta. Não se-
rão todos os mesmos, mas muitos
serão. Ora, isso é um problema.
Um problema que não pode ser
subestimado.
Há um ano, foi o Presidente da
República o primeiro a dizer que
a maioria absoluta era uma vitó-
ria pessoal de António Costa que
o responsabilizava para toda a le-
gislatura. O longo rol de trapalha-
das que marcou o primeiro ano
do Governo de maioria absoluta
é responsabilidade política de
António Costa. Ele montou o Go-
verno como quis. Escolheu quem
quis. Alimentou equívocos, com
Pedro Nuno Santos, por exem-
plo. Não exerceu o poder, quando
tinha o dever de o fazer. Perdido
na gestão errática de “casos e
casinhos”, fecha o primeiro ano
desgastado e arranca o segundo
isolado. O poder sempre foi ele,
mas disfarçava. Agora não.
O problema de António Costa
é como recuperar a confiança
perdida dos portugueses. Não
será possível governar um povo
zangado, desconfiado e cansado
de tanta trapalhada durante mais
quatro anos. Com Marcelo a fazer
cenários. Com a oposição a exigir
eleições. A entrevista à RTP foi
uma oportunidade perdida. As
grandes bandeiras de António
Costa continuam a ser as “contas
certas” e os resultados económi-
cos, que, em larga medida, não
dependem da ação do Governo.
António Costa ultrapassa Passos
Coelho pela direita, tal o fervor
com que fala do sucesso no con-
trolo fiscal. Ainda bem, mas para
um Governo de esquerda, com
sete anos atrás, é pouco. Muito
pouco.
Problemas é o que não falta a
António Costa. Tem um Governo
a desfazer-se, com graves mani-
festações de incompetência e sem
rumo conhecido. Mas o problema
prioritário é o seu. Ele é o pri-
meiro-ministro. É ele que tem de
mudar. Os portugueses, que têm
problemas a sério, continuam à
espera. Irritados, como se vê.
PLANO INDUSTRIAL
Para Tiago Antunes,
secretário de Estado
dos Assuntos Europeus,
“é claro e indiscutível
que vamos chegar a
acordo quanto a uma
estratégia europeia”.
Se será robusta ou
poucochinha, é cedo para
dizer FOTO TIAGO MIRANDA
“Estamos a fazer tudo
para evitar uma guerra
comercial” com os EUA
Governo está a monitorizar os efeitos do programa americano nos
diversos sectores de atividade. Debate europeu está “efervescente”
Textos Elisabete Miranda
Na próxima semana os líderes
europeus encontram-se numa
reunião extraordinária para
debaterem um dos temas que,
neste momento, mais agita
a agenda europeia: como ga-
rantir que os investidores não
tocam em retirada para os Es-
tados Unidos, seduzidos pe-
los generosos apoios lançados
por Joe Biden, e como evitar
que as empresas que cá ficam
percam competitividade nas
exportações. Para já, apesar
de alguma acrimónia com um
parceiro histórico, todos con-
cordam que não há vantagem
em abrir uma guerra comer-
cial com os norte-americanos.
E todos estão de acordo que é
necessária uma resposta eu-
ropeia. Mas na hora de definir
que resposta será essa cavam-
-se trincheiras.
“Há neste momento um
debate muito efervescente”,
descreve o secretário de Es-
tado dos Assuntos Europeus,
mas “no início é sempre as-
sim. Há posições mais extre-
madas e elas vão-se aproxi-
mando”. Tiago Antunes diz
ao Expresso que o Governo
está a fazer “uma monito-
rização dos efeitos do IRA
[Inflation Reduction Act, o
pacote de apoios norte-ame-
ricano] nos vários sectores
de atividade” e que, para já,
“não temos ainda conheci-
mento de intenções firmes
de deslocalização”. “Há em-
presas que obviamente estão
a olhar, estão a considerar
os benefícios que os EUA es-
tão a conceder”, mas “estão
expectantes para saber qual
vai ser a resposta da Europa.
Elas sabem que haverá uma
resposta europeia e não vão
tomar uma decisão antes dis-
so”, acredita.
Que resposta será essa,
como será financiada e quan-
do e em que termos será pos-
ta em prática são as grandes
incógnitas. A Comissão Eu-
ropeia apresentou esta quar-
ta-feira um primeiro esboço
do que batizou de “Plano In-
dustrial do Pacto Ecológico”
para discussão no próximo
conselho europeu extraordi-
nário de 9 e 10 de fevereiro,
mas deixa várias pontas em
aberto.
Europa dividida
Ursula von der Leyen aposta
na simplificação da regulação
de sectores estratégicos e na
aceleração dos licenciamen-
tos dos chamados “negócios
verdes”, indo ao encontro das
Empresários alerta
O famoso IRA (Inflation
Reduction Act) já está no
radar dos empresários
portugueses. Receando
perder quota de
exportações para os EUA,
pedem ao Governo que se
bata na Europa por uma
política de
reindustrialização robusta
— mas sem afrontar os
norte-americanos.
Um dos sectores
potencialmente mais
afetados com a nova vaga
da política “America First” é
o automóvel. José Couto,
presidente da AFIA
(Associação de Fabricantes
para a Indústria Automóvel),
considera que “o programa
pode significar uma quebra
de investimentos na Europa,
com as empresas a
relocalizarem os seus
investimentos”, e, mais
ainda, pode ser uma
machadada na quota de
mercado exportadora que
as empresas já
conquistaram. Do lado da
CIP — Confederação
queixas de muitos empre-
sários, para quem as regras
europeias são um grande que-
bra-cabeças. Propõe uma fle-
xibilização das ajudas de Esta-
do, de modo a permitir que os
Estados-membros concedam,
até 2025, mais apoios às suas
empresas, via subsídios ou
benefícios e isenções fiscais.
Mas ainda está a “explorar
avenidas” para conseguir
fazer chegar mais financia-
mento europeu às empresas,
um instrumento que é indis-
pensável para países como
Portugal e França, mas que
arrepia os nórdicos e os países
do Centro da Europa. Para já,
será discutida a forma de rea-
Empresarial de Portugal, a
análise é semelhante. “A
deslocalização é um risco.
Pode haver uma corrida aos
subsídios [dos EUA], que
têm elementos claramente
discriminatórios”, aponta o
economista Pedro Capucho,
coordenador do
departamento de assuntos
económicos da CIP.
A solução passa por uma
resposta europeia rápida e
firme, mas, de preferência,
sem desafiar os EUA,
disseram esta semana numa
conversa com o Expresso,
que pode ser encontrada na
nossa edição digital.
“Qualquer resposta
europeia que promova o
conflito com os Estados
Unidos será naturalmente
negativa e com
consequências muito
graves, que vão levar ao
empobrecimento das
economias europeias”,
alertou Rui Miguel Nabeiro,
presidente da Câmara de
Comércio e Indústria
Portuguesa (CCIP).
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
locar dinheiro já disponível
em fundos como o REPower-
EU, InvestEU ou Inovation
Fund, e mais tarde, lá para
o verão, tentará chegar-se a
acordo para a criação de um
“fundo europeu de soberania”
para financiar tecnologias re-
levantes para a transição ver-
de e para tecnologias ligadas à
microeletrónica, computação
quântica e inteligência artifi-
cial e biotecnologia.
Segundo o jornal “Político”,
a proposta da Comissão Eu-
ropeia já foi classificada por
um diplomata holandês como
“Marx com esteroides”, mas
para Portugal acaba por fi-
car aquém das ambições (ver
caixa). Ainda assim, Tiago
Antunes não dá a batalha por
perdida.
O primeiro patamar está em
andamento. Tiago Antunes
lembra que estão em curso
negociações com os EUA para
tentar mitigar alguns efeitos
do IRA ao nível da regulamen-
tação e que uma vitória já foi
conseguida: “Já foi possível
conceder à União Europeia
tratamento idêntico ao que
é concedido ao México e Ca-
nadá.” Outras investidas se
seguem.
Quanto ao segundo pata-
mar, a resposta europeia logo
se verá. “É prematuro dizer”
se a Europa terá poder de
fogo semelhante aos €360 mil
milhões que o plano de Joe
Biden injeta na economia até
2032, tal como é prematuro
saber se, na ausência de um
instrumento de financiamen-
to comum, o Governo portu-
guês admite abrir os cordões
à bolsa, com benefícios fis-
cais e subsídios às empresas.
“Neste momento estamos a
discutir o contexto europeu” e
“ainda vamos no início do de-
bate”. Certo é que “ninguém
tem interesse numa guerra
comercial. Estamos a fazer
tudo para evitá-la”.
emiranda@expresso.impresa.pt
O QUE QUER PORTUGAL
AJUDAS DE ESTADO, SIM,
MAS COM MUITOS TRAVÕES
Com a subida das taxas de
juro e uma dívida pública
acima dos 100% do PIB,
Portugal é um dos países que
menos margem tem para
abrir mão de receita
orçamental. Por isso, “sim
senhor, concordamos que
alguma coisa deve ser feita
em matéria de ajudas de
Estado, mas ela deve ser
limitada no tempo e no
âmbito. Deve ter um conjunto
de salvaguardas”, diz Tiago
Antunes em conversa com o
Expresso. Na posição que já
fez chegar à Comissão
Europeia com contributos
para o debate, o Governo
defende, por exemplo, que
uma empresa que receba
uma ajuda de Estado na
Alemanha deve ficar
impedida de reduzir a sua
capacidade instalada em
Portugal ou noutro país.
Defende ainda uma
majoração de apoios que
tenham natureza
transfronteiriça,
nomeadamente que
envolvam Estados grandes e
pequenos. E que deve haver
valorização de projetos
constituídos sob a forma de
consórcio entre indústrias e
centros de investigação,
seguindo a lógica das agendas
mobilizadoras nacionais,
explica o secretário de
Estado.
GRANDES EMPRESAS
COM ACESSO A FUNDOS
Para o Governo português, é
importante que as grandes
empresas não fiquem
arredadas dos fundos
europeus. “Há Estados-
-membros que têm
capacidade orçamental para
financiar as suas grandes
empresas, mas os que não a
têm ficam muito limitados”,
lembra Tiago Antunes.
Flexibilizar as regras do
Portugal 2030 e do Portugal
2020 para que as grandes
empresas possam
candidatar-se é outra das
propostas que já chegou à
mesa das negociações que se
iniciam na próxima semana,
num conselho europeu
extraordinário, e que deverão
prolongar-se até março.
MAIS DINHEIRO EUROPEU,
E PARA JÁ
As ajudas de Estado devem ser
complementadas “com
instrumentos
verdadeiramente europeus
que garantam a coesão”, o tal
fundo europeu de soberania,
defende Portugal. Mas como
este é um debate mais
estrutural (e polémico), “nós
dizemos que é preciso haver
uma solução intermédia,
porque não pode haver um
desfasamento temporal entre
a flexibilização das ajudas de
Estado, de que alguns países
podem beneficiar muito, e os
instrumentos
verdadeiramente europeus,
que ficam à disposição de
todos. Os dois braços têm de
andar a par e passo”, opina
Tiago Antunes. A proposta da
CE prevê esta ponte defendida
por Portugal ao propor que
REPowerEu, InvestEu e
Inovation Fund sejam
redirecionados, embora não
entre em grandes detalhes.
“Entendemos que tem de ser
dinheiro novo, porque o
reshuffling será sempre em
detrimento de outras
prioridades. É preciso saber
quais. É um debate
complicado, teremos de ver”,
diz o governante.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
ESTAD O
Empresas preparam prémios para gestores
Para já, onze empresas públicas estão a propor ao Governo contratos que preveem remuneração variável
Diogo Cavaleiro
Numa altura em que a TAP é no-
tícia pelo prémio de €2 milhões
destinado à presidente executi-
va, Christine Ourmières-Wide-
ner, caso seja cumprido o plano
de reestruturação, as restantes
empresas públicas estão a pre-
parar-se para virem a atribuir
remuneração variável aos seus
gestores.
As empresas encontram-se a
desenhar as metas a cumprir
e que, atingidas, poderão dar
direito aos prémios. O Gover-
no, que tem de autorizar os
objetivos inscritos, já tem nas
suas mãos as propostas de pelo
menos 11 empresas públicas.
Contratos de gestão, são eles
que permitem aos gestores de
sociedades do sector empresa-
rial do Estado definirem metas
que, sendo alcançadas, se re-
fletem num prémio. Contratos
que agora estão a ser prepa-
rados, em bloco, por empre-
sas públicas à luz da legislação
atualizada no final de 2021.
A NAV — Navegação Aérea
de Portugal, a Parvalorem, a
Infraestruturas de Portugal e
a Docapesca são algumas das
11 empresas que já entregaram
à Unidade Técnica de Acompa-
nhamento e Monitorização do
Sector Empresarial do Estado
(UTAM), do Ministério das Fi-
nanças, as respetivas propos-
tas de contratos de gestão. A
Bónus ‘milionário’ da
TAP não chega à SATA
Christine Ourmières-
-Widener pode receber
dois milhões de prémio,
Luís Rodrigues fica
de mãos a abanar
Dois pesos e duas medidas. Se
há muito em comum entre a
TAP e o grupo açoriano SATA,
atualmente, já que ambas as
companhias são públicas e es-
tão sobre um doloroso plano
de reestruturação e resgate —
vigiado a partir de Bruxelas —,
também há muito que as sepa-
ra. Christine Ourmières-Wide-
ner, a presidente executiva da
TAP (CEO), tem sido alvo de
notícias nos últimos dias devido
a um prémio de gestão de €2
milhões que receberá no final
do plano de reestruturação se
cumprir as metas acordadas.
Um processo totalmente dis-
tinto dos Açores, onde a SATA,
também sob um idêntico plano
de reestruturação, não irá pa-
gar qualquer prémio ao presi-
dente, Luís Rodrigues, ou ao
seu conselho de administração,
afirmou fonte oficial da compa-
nhia açoriana.
Sobre prémios e contra-
tos da administração, a TAP
mantém o silêncio. O Expres-
so sabe, porém, que a compa-
nhia já enviou para as tutelas
— Finanças e Infraestruturas
— os contratos de gestão dos
administradores, nomeada-
mente de Ourmières-Widener.
Nestes contratos estarão de-
senhadas as metas a cumprir,
que sendo atingidas poderão
dar direito a prémio. Não foi
possível apurar de que forma
se ajusta o novo contrato de
gestão da CEO da TAP, com o
contrato assinado inicialmen-
te. O prémio de €2 milhões
foi noticiado pelo “Correio da
ECONOMIA 11
UTAM tem de avaliar tais pro- está associada ao reconheci- desse contrato foi confirmada
postas e depois tem de haver mento e incentivo da boa gestão na primeira carta que os res-
um despacho governamental a das empresas públicas”. Os ob- ponsáveis da TAP enviaram a
aprová-las. jetivos podem ser estratégicos, Fernando Medina e a Pedro
Alexandra Reis, quando era seguindo a orientação do Gover- Nuno Santos, trazendo dúvi-
presidente da NAV, foi das pri- no, setoriais e ainda individuais, das legais sobre a ligação à
meiras gestoras a ver a propos- conforme o cargo. empresa.
FOTO TIAGO PETINGA/LUSA
ta de contrato de gestão avalia- Na prática, podia já haver Neste momento, a antiga
da, que, porém, tendo em conta prémios — ainda que não fosse gestora das empresas públicas
que saiu para ir para o Governo a prática frequente em empre- está sob avaliação da Inspe-
(de que já se demitiu), já não sas públicas —, mas não havia ção-Geral de Finanças devido
será posta em prática. um desenho transparente so- à indemnização de €500 mil
Segundo o balanço consul- bre como seriam distribuídos. brutos que foi atribuída para
tado pelo Expresso, já houve a saída de funções sem desti-
pareceres da UTAM relativa- TAP por esclarecer tuição. A legislação portugue-
mente a 20 gestores de sete Alexandra Reis sem contrato de gestão na TAP sa impede que os contratos
empresas, mas só houve des- Alexandra Reis propôs o con- de gestão prevejam indemni-
pacho governamental relati- seguindo objetivos que constam “condições rigorosas, exigentes trato de gestão na NAV, mas zação para a cessação de fun-
vamente aos três gestores da do Plano de Recuperação e e transparentes para a composi- nunca o teve na TAP, onde ções, mas não foram eles que
NAV, em que se encontra Ale- Resiliência (PRR). A portaria ção, determinação e atribuição foi administradora de 2020 a estiveram na base na saída de
xandra Reis (agora desatualiza- definiu a minuta que as empre- aos gestores públicos da parcela 2022 — ou seja, antes da porta- Alexandra Reis.
do), mas não se sabe qual o sen- sas devem seguir e estabeleceu da remuneração variável que ria governamental. A ausência dcavaleiro@expresso.impresa.pt
tido do Governo (se aprovou ou
pediu novas metas).
A assessoria de imprensa
da NAV indicou que “não tem
conhecimento do parecer da
UTAM” nem “de qualquer des-
pacho sobre a matéria”, subli-
nhando que entregou os contra- CAIXA GESTÃO DE ATIVOS
tos de gestão apenas em outubro
de 2022, porque só agora há le-
gislação que define como devem
ser elaborados. O Ministério das
Finanças não respondeu às dúvi-
das colocadas pelo Expresso ao
longo das últimas semanas.
Embora previstos há anos,
pelo menos desde que o Esta-
Respire
fundos
tuto do Gestor Público os con-
figurou, em 2007, a regulamen-
tação só veio no fim de 2021, já
e invista.
Para contribuir para um futuro sustentável,
os Fundos de Investimento da Caixa Gestão
de Ativos incorporam nas suas decisões
de investimento fatores ambientais, sociais
Manhã” já depois de a CEO e de governo societário.
da TAP ter estado no Parla-
mento sem abrir o jogo sobre
o bónus.
SRS assessora
Alexandra Reis
Já na NAV, e depois de ter saído Iniciativas integradas na estratégia de sustentabilidade da
da TAP com uma indemnização Caixa Gestão de Ativos
de €500 mil, Alexandra Reis,
antiga administradora da com- Saiba tudo em cgd.pt.
panhia e ex-secretária de Esta-
do do Tesouro, voltou a cruzar-
-se com a SRS, prestadora de
serviços jurídicos na gestora de
tráfego aéreo, e a assessora do
seu contrato de saída da trans-
portadora, pelo lado da empre-
sa — onde alegadamente terá
falhado no enquadramento
do estatuto do gestor público.
Em agosto de 2022, enquanto
presidente da NAV, Alexandra
Reis pede apoio jurídico à SRS,
escritório de advogados de Pe-
dro Rebelo de Sousa — quer
assessoria no preenchimento
O investimento em Fundos de Investimento não tem garantia de rendimento e
da declaração patrimonial para pode implicar a perda do capital investido, pois não existe garantia de capital.
entregar no Tribunal Constitu-
cional. Supervisionado pelo só- Sociedade Gestora: Caixa Gestão de Ativos, SGOIC, S.A. (Grupo Caixa Geral de
Depósitos) | Av. João XXI, 63 - 1000-300 Lisboa | Capital Social: 9.300.000 € | NIPC 502
cio José Luís Moreira da Silva, 454 653 | Banco Depositário e Entidade Comercializadora: Caixa Geral de Depósitos, S.A.
a SRS faz também um parecer | Sede Social: Av. João XXI, 63 - 1000-300 Lisboa | Capital Social: 3.844.143.735 € | NIPC
sobre os deveres, obrigações, 500 960 046
impedimentos e sanções dos Para mais informações relativas às iniciativas de sustentabilidade consulte
www.caixagestaodeativos.pt
gestores públicos. Apesar do
patrocínio jurídico, a gestora
comete erros quando entregou
a declaração de rendimento, ao
não justificar a indemnização
da TAP. Foi obrigada a corrigi-
-la em janeiro, depois de notícia
do “Público”. A gestora atri-
bui a responsabilidade do erro
“aos técnicos”, e os técnicos são
a SRS. Questionada pelo Ex-
presso, a NAV diz que os admi- Caixa. Para todos e para cada um.
nistradores podem solicitar os Caixa Geral de Depósitos, S.A.,
serviços jurídicos da empresa. registada junto do Banco de Portugal sob o n.º 35
Anabela Campos
acampos@expresso.impresa.pt
12 ECONOMIA
ENERGIA
Fundo da
Dinamarca
tem projeto de
€8 mil milhões
para Portugal
O projeto Nortada levará à Figueira
da Foz capital nórdico para um
parque eólico de 2 gigawatts
Miguel Prado
É um dos mais ambiciosos
projetos eólicos em águas por-
tuguesas: a dinamarquesa Co-
penhagen Offshore Partners
(COP) está a desenvolver um
projeto de 2 gigawatts (GW)
para instalar ao largo da Fi-
gueira da Foz, que irá implicar
investimentos da ordem dos €8
mil milhões, revelou ao Expres-
so o diretor de mercado da COP
para Portugal, Afonso César
Machado.
O investimento de €8 mil mi-
lhões contemplará a construção
do parque eólico, mas segundo
o gestor as operações de manu-
tenção ao longo da vida útil da
infraestrutura irão custar mais
€4 mil milhões. “Existe uma
CAMPANHA EXCLUSIVA 50 ANOS
Subscreva o Expresso digital por 50 semanas por apenas 50€
componente forte de criação
de emprego, com milhares de
postos de trabalho criados pelo
projeto”, indicou Afonso César
Machado, estimando que mes-
mo após a construção o parque
eólico mantenha entre 450 e
500 postos de trabalho, asso-
ciados às atividades de manu-
tenção e gestão de ativos e aos
prestadores de serviços.
“Temos grandes planos para
Portugal”, apontou Afonso Cé-
sar Machado, na mesma sema-
na em que arrancou a consulta
pública para as áreas marítimas
que o Governo tenciona disponi-
bilizar para energias renováveis
no mar. “Queremos que o nosso
projeto seja parte da transfor-
mação estrutural do país”, re-
feriu o responsável da COP, um
veículo do fundo Copenhagen
APROVEITE A CAMPANHA
50 ANOS EXPRESSO
Infrastructure Partners criado
especificamente para apostar
nas eólicas offshore.
Notando que a COP quer fa-
zer do seu projeto “o mais por-
tuguês possível”, ou seja, com
o máximo de incorporação na-
cional, Afonso César Machado
adiantou que a sua empresa já
está a preparar este parque eó-
lico em Portugal há mais de um
ano, tendo apresentado o seu
projeto, designado Nortada, ao
Governo português no segundo
semestre do ano passado.
A COP é um dos dois promo-
tores que manifestaram ao Go-
verno a intenção de desenvol-
ver parques eólicos no mar sem
tarifas garantidas de venda de
energia à rede elétrica. O outro
é a alemã BayWa, que tem um
projeto de até 600 megawatts
(MW), ou 0,6 GW, com um in-
vestimento previsto de €2 mil
milhões, a concretizar ao lar-
go de Viana do Castelo. Mas a
BayWa tem o seu projeto numa
fase mais avançada, tendo já so-
licitado um título de utilização
do espaço marítimo.
É ainda incerto se estes dois
promotores conseguirão desen-
volver os seus projetos à mar-
gem do leilão que o Governo
português tenciona lançar até
ao final deste ano. Esse leilão,
recorde-se, visa licitar os direi-
tos à exploração de até 10 GW
de potência eólica no mar. E é
esse o potencial identificado
nas cinco áreas marítimas que
estão a ser discutidas em con-
sulta pública até 10 de março.
Serão mais de 3 mil quilóme-
tros quadrados de espaço ma-
rítimo para as eólicas offshore,
que permitirão instalar até 4
GW ao largo da Figueira da
Foz, 2 GW em Viana do Castelo,
1,5 GW perto de Leixões, 1 GW
ATÉ FEVEREIRO
euros
84,99€
Projeto da COP recorrerá a eólicas flutuantes FOTO D.R.
no eixo Ericeira-Sintra-Cascais
e 1,5 GW em Sines.
Segundo Afonso César Ma-
chado, a COP estima precisar
de até dois anos para construir
o parque ao largo da Figueira
da Foz, mas antes disso terá de
assegurar os direitos de uso do
espaço marítimo. Vários pro-
motores de eólicas offshore têm
revelado alguma ansiedade
quanto às decisões do Gover-
no português. “O potencial de
crescimento offshore é muito
grande em todo o mundo. E
existe concorrência [de proje-
tos] dentro do nosso portefólio
na COP”, alertou o gestor por-
tuguês, tentando sensibilizar os
decisores políticos para a neces-
sidade de rapidamente definir
em que moldes serão licencia-
dos os parques eólicos no mar.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
Embora desenhado para
atingir os 2 GW, o projeto da
COP poderá ser ajustado para
a eventualidade de não conse-
guir área suficiente para essa
dimensão. Mas Afonso César
Machado sublinhou que a ca-
pacidade de os projetos eólicos
flutuantes se tornarem mais
competitivos dependerá em
larga medida das economias
de escala associadas à criação
de uma fileira industrial para
concretizar as infraestruturas.
Nesse sentido, menos que um
gigawatt tornar-se-á uma esca-
la desinteressante para a COP.
Caso avance, o projeto deverá
vir a contar com aerogerado-
res de 18 a 20 MW e com um
diâmetro do rotor (ou seja, o
diâmetro varrido pelas pás eó-
licas) de mais de 270 metros.
Serão colossos com torres eó-
licas de cerca de 150 metros
de altura.
O objetivo da COP é vir a fir-
mar vários contratos de venda
de energia para os 2 GW pro-
jetados. Parte da produção de-
EÓLICAS NO MAR
verá especificamente abastecer
projetos de hidrogénio verde e
outra parte será colocada no
mercado elétrico.
“Temos grandes “Para nós o importante é as
planos para coisas andarem rápido”, afir-
Portugal. Queremos mou ao Expresso Afonso César
Machado, gestor que trabalha
que este projeto há 10 anos em Copenhaga e
seja parte da que passou entre 2015 e 2021
transformação pela dinamarquesa Vestas, um
estrutural do país” dos maiores fornecedores do
mundo de turbinas eólicas. No
Afonso César Machado final de 2021 ingressou na COP,
Diretor de mercado da Copenhagen
Offshore Partners para Portugal
com responsabilidade sobre
vários mercados, mas uma von-
tade especial de que a empresa
invista em Portugal. “A nossa
costa tem condições ideais para
eólica flutuante”, realçou.
mprado@expresso.impresa.pt
Expresso, 3 de fevereiro de 2023 ECONOMIA 13

CONCORRÊNCIA

Todos contra a banca no Luxemburgo

Comentários recebidos pelo Tribunal da UE são desfavoráveis aos interesses dos bancos no caso do “cartel”
Textos Diogo Cavaleiro
À exceção das defesas dos pró-
prios bancos, são genericamente
desfavoráveis todos os comen-
tários que foram entregues no
Tribunal de Justiça da União
Europeia (TJUE), sediado no
Luxemburgo, no âmbito do pro-
cesso conhecido como “cartel da
banca”, que havia sido remetido
pelo Tribunal de Santarém em
abril do ano passado.
Tal como tinha feito o Governo
português, através do Ministério
dos Negócios Estrangeiros, os
representantes dos Governos
de Itália, Hungria e Grécia apre-
sentaram as respetivas posições
no tribunal europeu e conside-
raram que os factos dados como
provados em Santarém —– troca
de informação sobre créditos,
como spreads, entre 11 bancos
nacionais, como a CGD e o BCP,
durante mais de uma década
— configuram uma violação do
Tratado de Funcionamento da
União Europeia.
Nos comentários enviados
pelos três países, apesar de ha-
ver variações, fica escrito que
os factos que foram indicados
pelo Tribunal de Concorrência
opõem-se ao descrito na legis-
lação. Até aqui, não houve mais
comentários de países da União
Europeia. Os Estados-membros
podem pronunciar-se, dando a
sua opinião antes de ser fixada a
leitura efetiva sobre a legislação,
por vezes por poderem enfren-
tar situações idênticas.
Por exemplo, Itália defende
que há uma violação do tratado
quando há trocas de informação
entre concorrentes semelhantes
à do caso português. O advogado
do Estado italiano refere, no seu
parecer, que os seus tribunais
administrativos já confirmaram
que há “natureza ilegal” quando
há “intercâmbio de informações
se este for suscetível de eliminar
ou atenuar o grau de incerteza
quanto ao comportamento dos
concorrentes”.
Os três países juntaram-se,
assim, às pronúncias já feitas
pela Comissão Europeia e até
pelo Estado português, também
desfavoráveis aos interesses dos
bancos, como já tinha noticiado
o jornal “Público”.
Dúvidas de Santarém
Em causa está a dúvida do Tribu-
nal de Santarém de que a troca
“de informação sobre condições
comerciais (vg spreads e variá-
veis de risco, atuais e futuras) e
valores de produção (mensais,
individualizados e desagrega-
dos) com cobertura abrangente
e frequência mensal”, que ocor-
reu entre 2002 e 2013 entre os
bancos nacionais, configura uma
“restrição da concorrência por
objeto”. Isto é, se há problemas
concorrenciais sem terem sido
medidos os efeitos da prática, e,
neste caso em específico, mesmo
Margarida Matos Rosa, da AdC FOTO TIAGO PETINGA/LUSA
que as informações tenham sido
trocadas sem uma prática con-
certada típica de cartel (apesar
de o caso ter ficado conhecido
com essa menção).
No Tribunal de Concorrência,
em Santarém, a juíza Mariana
Machado deu como provados
os factos apontados pela Auto-
ridade da Concorrência (AdC),
e que geraram coimas de €225
milhões, mas não proferiu uma
sentença por querer ter a certe-
za de que tais factos violavam a
legislação da concorrência. Por
essa razão, pediu uma posição
formal ao TJUE, algo que alguns
dos bancos visados já tinham
pedido no início do julgamento.
Foram enviadas duas questões,
que ainda aguardam resposta
— pelo meio, podem ser feitos
os referidos comentários por
terceiros.
Na prática, o tratado europeu
indica que “são incompatíveis”
e “proibidos” os “acordos entre
empresas” e “práticas concer-
tadas que sejam suscetíveis de
afetar o comércio entre os Es-
tados-membros e que tenham
por objetivo ou efeito impedir,
restringir ou falsear a concor-
rência no mercado interno”. São
Os 11 bancos
condenados
O caso da AdC sobre a troca
de informação sensível entre
bancos apanha praticamente
todo o sector: CGD (coima de
€82 milhões), BCP (€60
milhões), Santander (€35,65
milhões), BPI (€30 milhões),
Banco Montepio (€26 milhões,
cortada a metade por
participar na clemência),
BBVA (€2,5 milhões), BES
(€700 mil), BIC (€500 mil),
Crédito Agrícola (€350 mil),
UCI (€150 mil) e Barclays (zero,
por ter denunciado o caso). Em
relação ao Deutsche Bank, o
processo já prescreveu.
tipificadas, no artigo, algumas
das práticas ilegais, mas o tri-
bunal português quis ter a cer-
teza se havia algo na legislação
que impedia a consideração dos
factos como restringindo a con-
corrência.
As defesas dos 11 bancos
condenados pela AdC que re-
correram para o Tribunal de
Santarém também fizeram co-
mentários ao TJUE e dizem que
os dados trocados ou eram pú-
blicos ou eram incapazes de alte-
rar, em tempo útil, as condições
comerciais dos créditos. Aliás,
muitos consideram que as per-
QUEM SE OPÕE À BANCA
^ Autoridade
da Concorrência
^ Ministério Público
^ Itália
^ Hungria
^ Grécia
^ Governo português
^ Órgão de fiscalização
da EFTA
^ Comissão Europeia
guntas foram mal feitas e que
devem merecer reformulação.
Argumentam ainda que, com
base na experiência, não houve
danos sérios à concorrência.
Não há data para a decisão
final dos juízes do TJUE, que
deverá vir este ano, mas antes
haverá uma posição do advo-
gado-geral, que sugere uma so-
lução, mas não tem qualquer
carácter vinculativo. Após a pro-
núncia do TJUE, o caso regressa
ao Tribunal de Santarém para
sentença final — que pode ser
alvo de recurso.
dcavaleiro@expresso.impresa.pt

AVIAÇÃO

O’Leary diz que “a TAP

já se destruiu a si própria”
Defensor da compra da
TAP pela IAG, o CEO da
Ryanair defende que a
Ibéria não acabará com o
hub pois este já não existe
Aberto, sem medo das palavras
e sempre de baterias apontadas
à TAP, o presidente executivo
da Ryanair, Michael O’Leary,
não perde uma oportunidade
para dizer que a transportado-
ra portuguesa “é mal gerida”, e
que não cresce mais em Portugal
porque não pode usar os slots
(faixas horárias para aterrar e le-
vantar voo) que a companhia na-
cional desperdiça. Controverso,
afirma que o melhor comprador
para a TAP seria o grupo IAG
(Ibéria+British Airways). “Das
três óbvias candidatas, temos a
inútil KML/Air France, a Luf-
thansa, uma companhia que não
se compromete com o tráfego da
América Latina, e sobra a IAG,
comprometida com a América
Latina, que quererá crescer em
Madrid e Lisboa”, afirma o presi-
dente e acionista da Ryanair, em
entrevista ao Expresso, assegu-
rando que não tem informação
privilegiada sobre o negócio.
“A IAG é a mais profissional e a
mais bem gerida dos três gran-
des grupos”, sentencia.
E seria melhor para quem,
para a Ibéria? Rejeitando a
provocação, O’Leary afirma ca-
tegórico: “Seria melhor para a
TAP e para os contribuintes por-
tugueses”, lembrando os €3,2
mil milhões de ajudas públicas.
Descartando a ideia de que o
Presidente da Ryanair
defende a abertura rápida
do Montijo e apela ao fim
de localizações “malucas”
hub de Lisboa seria destruído
pela Ibéria, O’Leary graceja: “A
TAP já se destruiu a si própria.
E destruiu o hub. Ontem aterrei
em Lisboa e havia vários aviões
no chão. Não vejo por que razão
comprariam a TAP para a fazer
colapsar, porque é que não po-
dem crescer ambas? Vendam-na
com o compromisso de que a
farão crescer 50% nos primeiros
cinco anos. Lisboa é uma boa
porta de entrada na Europa e
isso não mudará.”
Recusa a ideia de que seria bom
para a Ryanair, pois libertaria slo-
ts. “Vim anunciar mais quatro
aviões em Portugal, dois no Porto
e dois em Faro. Continuamos a
crescer em Portugal apesar das
limitações em Lisboa”, esclarece.
O’Leary brinca com a ideia de
comprar a TAP, admitindo que
até gostaria, mas não o deixariam.
“Seríamos bloqueados. Tentei
comprar a Air Lingus três vezes,
foi a única operação na Europa
que foi bloqueada. Os alemães
e os franceses podem comprar
tudo, mas os pobres irlandeses
não podem comprar nada.”
E admite que vai perder todos os
processos que interpôs em Bru-
xelas contra as ajudas de Estado,
desvalorizando a questão.
Portela é ineficiente
Considera ainda que “é uma
piada” dizer que a Portela não
tem espaço para ter mais slots.
“A Portela podia crescer mais.
A ANA e ANAC podiam gerir a
questão dos slots de forma mais
eficiente. Há um grande espaço
de separação entre os aviões, em
Dublin e em Gatewick é meta-
Ganha um MBA
de. A Portela tem de ser mais
eficiente e o Montijo tem de ser
aberto. Sempre que venho a Por-
e abre uma porta
tugal, há um plano maluco sobre
um novo aeroporto. Não percebo
o impasse, quando têm um se-
para o teu futuro.
gundo aeroporto aqui mesmo ao
lado. Abram o Montijo, e nós te- Se és finalista de mestrado em Gestão, Economia ou Engenharia
remos mais cinco a dez milhões e tens menos de 26 anos, podes ganhar um MBA numa Business
novos passageiros em Lisboa em
cinco anos”, apela. Frisa ainda:
School de referência.
“Têm um segundo aeroporto do
outro lado do Tejo, mas está pro- Inscrições até 12 de fevereiro de 2023
tegido pelos militares.” Sabe mais em premioprimusinterpares.pt
O’Leary antecipa uma subida
dos preços de 5% a 10% no verão, Uma iniciativa do Santander e do Expresso.
para uma média de €44 por bi- Com o apoio de:
lhete, fruto de uma grande procu-
ra para uma oferta limitada. Mas
considera que as viagens dentro
da Europa não serão afetadas.
Anabela Campos
acampos@expresso.impresa.pt
14 ECONOMIA
EMPRESAS
O antigo líder do CDS e
ex-ministro dos Negócios
Estrangeiros, Paulo
Portas, é consultor da
Mota-Engil desde 2016
FOTO TIAGO MIRANDA
O ex-vice-primeiro-ministro que abre Portas
Paulo Portas é o sexto ex-governante na administração de empresas na ‘montra’ da bolsa portuguesa.
Especialistas discutem que benefícios traz mais um ex-ministro na Mota-Engil, onde Portas já era consultor
Diogo Cavaleiro
e Helder C. Martins
A Mota-Engil tem mais um
político na sua administra-
ção: Paulo Portas subiu esta
semana à cúpula da empresa,
cumprindo uma tradição que a
construtora tem seguido. Entre
os especialistas de governo de
empresas com que o Expresso
falou, não há dúvidas sobre as
competências e contactos que o
antigo ministro da Defesa, dos
Negócios Estrangeiros e vice-
-primeiro-ministro pode trazer,
mas também há alertas sobre
os problemas reputacionais.
Não há nada que impeça ex-
-políticos, sobretudo um que
saiu do Governo há já oito anos,
como é o caso Paulo Portas, de
assumir cargos na administra-
ção de empresas — os impedi-
mentos legais são por três anos
e apenas para entidades que
tenham beneficiado da ação
governamental.
João Moreira Rato, que pre-
side ao Instituto Português de
Corporate Governance (IPCG),
admite que não há regras que
desaconselhem essa presença,
mas alerta que há códigos de
boas práticas para respeitar —
até porque há investidores que
por elas se interessam.
Novos não-executivos
Os administradores que, como
Portas, exerçam funções não-
-executivas devem exercer
“uma função fiscalizadora e
de desafio à gestão executiva”,
segundo as recomendações
do IPCG. Esta é uma forma
de olhar para o cargo que tem
vindo a mudar com o tempo e
que Portas terá de respeitar.
“Havia ideia de que o não-
-executivo não tinha muita
responsabilidade, tal como
se aceitavam cargos de mem-
bros de conselhos fiscais sem
saber muito bem. Hoje em
dia há mais a noção de que,
mesmo sendo não-executivos,
têm responsabilidades, fiscais,
e solidárias com as delibera-
ções tomadas em conselhos
de administração. Obriga-os a
ter alguma cautela”, diz Paulo
Bandeira, sócio de corporate do
escritório de advogados SRS.
Duarte Pitta Ferraz, profes-
sor de corporate governance na
Nova School of Economics, fala
em três fases da evolução de
administradores não-executi-
vos: na primeira, serviam para
“dar prestígio à instituição, não
faziam praticamente qualquer
trabalho de supervisão”; na se-
gunda, eram “angariadores de
negócios, pessoas que abrem
portas e a quem se responde
às chamadas telefónicas”; na
terceira, que “emergiu após a
crise de 2010, a legislação e as
melhores práticas impõem res-
ponsabilidades de supervisão”.
Portas passa a não-executi-
vo, com a missão de orientar
a gestão do novo presidente
executivo, Carlos Mota Santos,
depois de ter sido consultor
da empresa desde 2016. Paulo
Bandeira considera que passa a
poder ter um “papel mais ativo
em termos de representação
externa”. O “papel de consultor
não é chapéu que permita apre-
sentar-se como uma contrapar-
te com autoridade, como com o
cargo de administrador”, diz.
Os primeiros-ministros
não abraçaram
empresas do PSI;
foram para lugares
no estrangeiro
Deve haver “cautela” legal
nesta transição à luz da inde-
pendência: se nos três anos
anteriores trabalhou para a
empresa, não pode ser con-
siderado um administrador
não-executivo independente,
sublinha João Moreira Rato,
que desde o ano passado lidera
o instituto que “promove boas
práticas do governo societário”.
Seja como independente ou
não, Portas foi político, e Duar-
te Pitta Ferraz defende que a
empresa tem de “assegurar que
as situações de conflito de inte-
resses são protegidos em temas
em que o ex-ministro tenha es-
tado envolvido”. Uma matéria
que tem de ser discutida pela
administração e pelo departa-
mento de ética e compliance
(conformidade) das empresas.
O impulso para a Mota
Paulo Portas entrou para a ad-
ministração da Mota-Engil, le-
vando a sua experiência políti-
ca para a construtora da família
Mota, hoje numa parceria com
a construtora chinesa CCCC.
Não é inédito na empresa, já
que o falecido antigo ministro
Jorge Coelho foi seu presiden-
te executivo anos após deixar
o Governo — foi o primeiro
de fora da família a assumir
aquele cargo. Por lá está outro
ex-governante, Francisco Sei-
xas da Costa, ex-secretário de
Estado dos Assuntos Europeus
de António Guterres, e esteve
Luís Parreirão, que também foi
secretário de Estado de Guter-
res, com vários pelouros, entre
os quais as Obras Públicas.
“A Mota-Engil, sendo uma
empresa multinacional, de di-
mensão significativa, precisa
de ter no seu board pessoas
que entendam de geopolítica
e geoeconomia: duas compe-
tências que entendo que Paulo
Portas tem”, comenta Duarte
Pitta Ferraz.
“Portas, com a experiência
de ministro dos Negócios Es-
trangeiros, pode trazer uma
perspetiva de mercados em
que se deve apostar ou evitar”,
sintetiza Filipe Morais, profes-
sor de governance e reputação
na Henley Business School, na
Universidade de Reading, no
Reino Unido. “É de uma rele-
vância extraordinária alguém
que consegue ter uma leitura
geopolítica de determinados
mercados”, indica também
Paulo Bandeira, sublinha que
é “relativamente comum em
multinacionais estrangeiras”
ter responsáveis pela análise
e condicionantes políticas que
percebam dos mercados onde
a empresa opera.
Reputação afetada?
A Mota-Engil tem negócios
em países da América Lati-
na (Peru, Colômbia, Brasil) e
África (Angola, Moçambique,
Malawi, Uganda, etc.), muitos
deles países com um forte peso
do Estado. O que tem também
problemas, de envolvimentos
com portas giratórias, e por,
como refere Filipe Morais, “o
sector da construção lidar di-
retamente com Governos e ter
um potencial de risco grande”,
nomeadamente com suspeitas
de corrupção no sector.
“Nota-se em muitos investi-
dores profissionais e em private
equity, em sectores regulados,
a preocupação na contratação
de ex-governantes. Uma preo-
cupação reputacional: investi-
dores que querem minimizar o
risco de ter ex-governantes no
sector regulado, para não haver
mal-entendidos”, acredita João
Moreira Rato.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
“A Mota-Engil tem um pa-
drão na contratação de ex-po-
líticos e, neste caso, pode haver
uma penalização reputacional,
mas a Mota-Engil, como é B2B
[business-to-business, em que o
negócio se dirige a outras en-
tidades e não ao consumidor
final], será menos do que numa
empresa de distribuição, que é
B2C [business-to-consumer, em
que o negócio se dirige ao con-
sumidor final]”, lembra Filipe
Morais.
Não foi possível obter uma
posição de Paulo Portas sobre
o seu novo papel. A Mota-En-
gil também não quis respon-
der a questões relativas à nova
administração.
Menos políticos?
Não há estudos quantitativos
sobre a evolução do número
de ex-governantes em em-
presas cotadas em Portugal.
Neste momento há seis ex-go-
vernantes em seis cotadas do
PSI: Paulo Portas, na Mota, o
ex-ministro José Luís Arnaut,
na REN, e quatro ex-secretá-
rios de Estado (Adolfo Mes-
quita Nunes e Luís Todo Bom,
na Galp; Francisco Seixas da
Costa, na Mota e Jerónimo
Martins; e Luís Palha da Sil-
va, na EDP). Em 2019, havia
dez empresas do antigo PSI-20
com ex-governantes nas suas
administrações, segundo um
trabalho do “Dinheiro Vivo”.
A EDP, por exemplo, na remo-
delação de 2021, quis afastar
A Mota-Engil
tem-se especializado
em chamar
ex-políticos para
as suas lideranças
um pouco o foco do mundo
político, saindo Luís Amado,
Eduardo Catroga, Celeste Car-
dona, Augusto Mateus e Braga
de Macedo do conselho geral e
de supervisão.
Sublinhando não ter dados
concretos, Paulo Bandeira
acredita que há um maior es-
crutínio e que “isso, necessa-
riamente, a partir do momento
que há uma certa devassa da
vida privada, pode naturalmen-
te desaconselhar pessoas a en-
trar neste tipo de cargos”.
Filipe Morais considera que
é certo que “há cada vez me-
nos políticos na administração
de empresas. Veja-se o caso da
EDP, muito por questões repu-
tacionais, e em Portugal, o mer-
cado de ex-políticos começa a
esgotar-se”, considera. Além
disso, “o político português tem
cada vez menos influência, por-
que a maioria das decisões são
tomadas em Bruxelas”.
O político que foi o rosto do
CDS-PP recebeu, em 2013, o
cargo de vice-primeiro-minis-
tro, que não existia desde os
anos 80, mas antecessores,
como Eurico de Melo, Rui Ma-
chete e Ricardo Bayão Horta,
também tinham feito a tran-
sição para a administração do
mundo empresarial.
O mundo das portas girató-
rias tem envolvido também
ex-primeiros-ministros, mas,
no mundo recente, não assu-
miram lugares em empresas
cotadas portuguesas, optan-
do por estar em companhias
do estrangeiro. Durão Bar-
roso seguiu do Governo para
a Comissão Europeia e daí
para o Goldman Sachs (num
caso que causou grande ce-
leuma em Bruxelas), e José
Sócrates foi para consultor da
Octapharma.
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
Expresso, 3 de fevereiro de 2023 ECONOMIA 15

POD CAST

Banif e Isabel dos Santos voltam ao debate político

Isabel Vicente e Diogo Cavaleiro,
jornalistas do Expresso, estiveram no
“Money Money Money” para falar sobre
as respostas do primeiro-ministro ao PSD
em relação às acusações de Carlos Costa
O Banif teve uma resolução em António Costa, que respon-
finais de 2015, a lei sobre a blin- deu agora às questões do PSD,
dagem dos estatutos que serviu recusa a acusação de interfe-
para desbloquear o impasse aci- rência, dá a entender que Isa-
onista no BPI foi feita em 2016 e bel dos Santos fez chantagem
sublinha Isabel Vicente. Na opi-
nião da jornalista, “com a que-
bra nos depósitos, o banco fica
numa situação frágil, em vias de
ser liquidado ou vendido, e o que
se discute é quem está na causa
desta fuga de informação?”
Diogo Cavaleiro lembra que
havia posições divergentes “so-
bre a melhor solução, até Ma-
ria Luís Albuquerque, ministra
tinha uma ideia diferente do
Banco de Portugal, que queria
dinheiro público sem o fundo
de resolução”. Certo é que a
venda do Banif “deixou de ser
possível” e, passados estes anos
e perante a troca de acusações
entre Governo e governador,
“é difícil provar-se” quem fez
o quê, resume Isabel Vicente.
Diogo Cavaleiro anota, con-

FOTO RUI DUARTE SILVA

o império de Isabel dos Santos,
apanhada no Luanda Leaks,
começou a ruir em 2020. Passa-
dos estes anos, o tema ganhou
nova atualidade com o livro “O
Governador” do jornalista Luís
Rosa sobre o ex-governador
do Banco de Portugal, Carlos
Costa, e as acusações que fez a
António Costa: interferência do
primeiro-ministro no proces-
so de idoneidade de Isabel dos
Santos na banca e de ter pre-
cipitado a resolução do Banif.
NÚMEROS
com o Governo e garante que
o supervisor sempre concor-
dou com a solução para o Ba-
nif. Isabel Vicente reconhece
que no BPI “Isabel dos Santos
nunca facilitou um acordo de
acionistas e o Governo teve de
fazer uma lei para desblindar
os estatutos”, pois estava-se
num impasse, com uma eleva-
da exposição a Angola e com a
exigência do BCE para reduzir
a presença naquele mercado.
Já o Banif, “um tema diferen-
te”, foi intervencionado em 2013
com €1100 milhões e chega “a
novembro de 2015 sem compra-
dor interessado”, recorda Isa-
bel Vicente. A jornalista anota a
“desconfiança” com que o BCE e
das Finanças de Passos Coelho,
tudo, que “o PSD fez 12 per-
guntas ao Governo”, que as
transformou numa resposta
única, “sem esclarecer as tro-
cas de acusações que aconte-
cem desde 2015”. O jornalista
lembra que “Isabel dos Santos
não podia continuar no BIC,
hoje EuroBic, porque havia chantagem de Isabel dos San- defende Cavaleiro. Mas antes,
necessidade de haver mais ad- tos, Isabel Vicente diz que “o diz o jornalista, é preciso co-
ministradores independentes”. Governo cedeu”. Passados oito nhecer as respostas “às novas
Perante as respostas do pri- anos continua a haver respostas perguntas que o PSD vai fazer”.
meiro-ministro, que chegou a por conhecer e que “justificam Amadeu Araújo
sugerir o entendimento de uma uma comissão de inquérito”, economia@expresso.impresa.pt

€150
a União Europeia olharam para
a “viabilidade do banco, que era
praticamente público”, precisa-
va de uma reestruturação e de

Melhor do que
um comprador, “sob pena de
em 2016, com as novas regras
milhões foi o preço do Mecanismo de Resolução, ser
de venda do Banif ao liquidado ou vendido”.
Santander em 2015 É neste impasse que “acontece
a notícia da TVI de que haveria
ser Banco do ano,
€2,25
uma fuga de depósitos, sinal de
uma resolução”, frisa Isabel Vi-

mil milhões foi o custo

cente, para quem “o banco ficou
com um problema grave”. Neste
contexto, António Costa, quan-
do escreve às instituições euro-
peias, “assume que a situação
é evoluir consigo.
da resolução do Banif do Banif se tinha degradado”,
O BPI FOI ELEITO BANCO DO ANO 2022,
EM PORTUGAL, PELA REVISTA THE BANKER,
COMPETIÇÃO DO GRUPO FINANCIAL TIMES.
O BPI agradece esta distinção e dedica-a especialmente
a todos os seus Clientes e Colaboradores.

Prova com inscrições

abertas para 2023
O objetivo da organização
do Global Management
Challenge para este ano é
ultrapassar as 400 equipas
Estão abertas as inscrições
para a 44ª edição do Global
Management Challenge que
arrancará em maio. Depois de
em 2022 a competição ter con-
tado com a participação de 345
equipas, o objetivo este ano é
ultrapassar as 400.
Nas últimas edições deste de-
safio, organizado pelo Expres-
so e a SDG, têm participado
mais equipas de estudantes do
que de quadros. “É uma situa-
ção resultante da conjuntura
macroeconómica dos últimos
anos. Esperamos que em 2023
as empresas comecem a voltar
a investir no talento e no de-
senvolvimento de competên-
cias dos seus quadros”, explica
João Matoso Henriques, CEO
da SDG. Acrescenta que o fac-
to de “o Global Management
Challenge ser uma experiência
que permite gerir uma empresa
lidando com todas as áreas fun-
cionais desta, permite, de uma
forma muito eficaz, a quem par-
ticipa, entender como as várias
áreas se complementam e tra-
balham em conjunto para os
objetivos da empresa e também
o tipo de dificuldades e cons-
trangimentos que outras áreas
que não a sua, enfrentam no
seu dia a dia”.
Nesta iniciativa, cuja primei-
ra edição arrancou em 1980,
compete-se em equipa, sejam
elas formadas por universitá-
rios, quadros ou mistas (envol-
vem estudantes e quadros). A
competição divide-se em duas
voltas e apenas oito equipas
chegam à final nacional, onde é
selecionada a vencedora dessa
edição. No caso dos estudantes
e na perspetiva de João Mato-
so Henriques, os que estudam
economia e gestão encontram
nesta prova “uma oportuni-
dade de testar conhecimentos
e aplicar na prática a teoria
que aprenderam”. Já para os
estudantes de outras áreas “a
aprendizagem foca-se mesmo
nos conceitos e boas práticas
de gestão que irão ser um com-
plemento importante para as
outras matérias que estudaram
na universidade”, frisa.
No que respeita a soft skills
e independentemente da sua
formação académica e se estu-
dam ou trabalham, os partici-
pantes aprendem “dinâmicas de BANCO BPI, S.A. registado junto do Banco de Portugal sob o n.º 10.
trabalho em equipa, liderança,
tomada de decisão sob pressão,
gestão de tempo e de conflitos”,
Este prémio é da exclusiva responsabilidade
finaliza João Matoso Henriques. da entidade que o atribuiu.
Maribela Freitas
mfreitas.externo@impresa.pt
16 ECONOMIA Expresso, 3 de fe

EXPRESSO
1973.2023
Jorge Nascimento Fiasco O primeiro Governo Constitucional tentou que chegasse um ‘grande emprést

A
Rodrigues
Mas a injeção de milhões só veio nos dois anos seguintes e custou dois acordos com o

1976 Soares à espe

grave crise política
de 1975 e a primeira
recessão desde 1940
tinham ficado para
trás. Com a nova or-
dem constitucional
democrática, havia a

do miniplano Marsh
esperança de a eco-
nomia regressar aos
carris. Uma expectativa otimista que
dominou tanto o VI Governo Provisó-
rio com Salgado Zenha como ministro
das Finanças, como depois, na segunda
metade do ano, com o primeiro Gover-
no Constitucional chefiado por Mário
Soares e com Medina Carreira na pasta
das Finanças. Havia ainda outra espe-
rança: a de que os amigos americanos e
europeus financiassem com muitas cen-
tenas de milhões de dólares os buracos
externo e orçamental, os dois défices
gémeos malditos.
Zenha e Silva Lopes, então gover-
nador do Banco de Portugal, ainda
captaram mais de 5% do PIB em fi-
nanciamento dos amigos americanos e
europeus e do Fundo Monetário Inter-
nacional (FMI) durante a gestão do VI
Governo Provisório, o último da transi-
ção após o 25 de abril, segundo dados
do estudo “A Long IMF intervention:
Portugal 1975-1979”, dos professores
Luciano Amaral, Álvaro Ferreira da
Silva e Duncan Simpson. Mas Soares e
Medina viram o prometido “miniplano
Marshall para Portugal” borregar. Na
segunda metade do ano, o primeiro
governo constitucional não chegou a
receber 1% do PIB da parte dos amigos
da Casa Branca, do Banco Europeu de
Investimento (BEI) e do Conselho da
Europa. O chamado ‘grande emprésti-
mo’, congeminado em setembro entre
Soares e Frank Carlucci, o embaixador
norte-americano, viveu várias peripé-
cias e não chegou a aparecer até final
do ano.

Os défices gémeos
O otimismo ficou-se pelo Produto Inter-
no Bruto (PIB), que até cresceu 2,3%,
depois de ter quebrado mais de 5% no
ano anterior, segundo a série do Insti-
tuto Nacional de Estatística no portal
Pordata. Mas tornara-se evidente que
o principal desafio político era, agora,
controlar as contas externas.
O relatório do Banco de Portugal
dizia-o claramente: “Há a impossibi-
lidade de se aceitar com carácter de
permanência o atual desequilíbrio ex-
terno da economia portuguesa.” Os
resultados no final do ano foram alar-
mantes: o défice da balança corrente e
de capital agravou-se em 79% medido
em milhões de contos. O peso deste
défice no PIB saltou de 4,8% para 6,9%,
segundo dados do Banco de Portugal
(BdP). Ao mesmo tempo, segundo os
cálculos da época, refletidos nos rela-
tórios anuais do BdP, o défice gémeo,
nas contas públicas, chegou a 8,6% do
PIB em 1976, o segundo mais alto na
Mário Soares governou em
minoria em 1976 e quando
se coligou em 1978 não
escolheu Sá Carneiro
FOTO ARQUIVO A CAPITAL
desde 1837, o défice efetivo engordou
67% em milhões de contos em 1976.
Estudantes do MIT agitam águas
O verão de 1976 colocaria em destaque
uma visita de estudantes de doutora-
mento em Economia do Massachusetts
Institute of Technology (MIT), de Bos-
ton, a convite de Silva Lopes, governa-
com 23 anos — e o português Miguel
Beleza — então com 26 anos. O primeiro
viria a ser Prémio Nobel em 2008 e o se-
“ALGUNS MINISTROS gundo passaria pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI), por governador
TINHAM A MANIA QUE do Banco de Portugal e ministro das
Finanças de Cavaco Silva.
SABIAM DE ECONOMIA… Os ‘rapazes’ do MIT colocaram o
dedo na ferida. Nas conclusões que
EMBORA NÃO apresentaram no verão de 1976 diziam
no Instituto Superior de Economia,
em Lisboa, mandou os alunos estuda-
rem o relatório que, dois anos depois,
daria origem a um artigo académico
publicado no “Journal of Development
Economics”.
Mas o Governo ainda não estava
mentalmente preparado para a mexida
indispensável. As medidas de fundo
acabaram por ser adiadas pela equipa

SOUBESSEM”,
Europa Ocidental, depois da Itália, dor do Banco de Portugal, que queria que a situação da balança de pagamen- de Soares para 1977 e 1978. “Havia opo-
que estava nos dois dígitos. No levan- um modelo Keynesiano de análise da tos era insustentável. Manuela Ferrei- sição da parte do Governo. Alguns mi-

REVELOU SILVA LOPES

tamento histórico feito por uma equipa economia portuguesa. No grupo vi- ra Leite, então assistente de Cavaco nistros tinham a mania que sabiam de
do ISEG à execução orçamental anual nham os jovens Paul Krugman — então Silva na cadeira de Economia Pública economia... embora não soubessem. E

Revisão da legislação laboral no centro das ate

A regulamentação dos contratos
a prazo foi um dos marcos do
Governo PS em 1976. Hoje, a
Agenda para o Trabalho Digno é
uma das medidas emblemáticas
do Governo de António Costa,
visando combater a precariedade
“Vencer a crise. Reconstruir o país” foi
o lema do programa do Governo com
que o PS de Mário Soares se apresen-
tou a eleições e chegou ao Governo — o
primeiro constitucional do país após a
Revolução de Abril de 1974 — em 1976.
Com a inflação perto dos 20%, a econo-
mia com crescimento anémico depois
da recessão de 1975, o desemprego a
subir e a chegada de milhares de retor-
nados das antigas colónias africanas,
as preocupações sociais eram grandes,
bem como com o emprego.
Após o ano ‘quente’ de 1975, lia-se no
documento que “o Governo promoverá,
após ampla audiência das organizações
representativas dos trabalhadores, a re-
visão da legislação laboral, criando con-
dições para um clima de trabalho e de
paz social”. O subsídio de desemprego,
criado em 1975, estava ainda numa fase
embrionária. Seria necessário esperar
quase uma década, até à criação da Lei
de Bases da Segurança Social, para que
O PS de Soares apresentou-se
às eleições de 1976 propondo
rever a legislação laboral.
O mesmo aconteceu
com o PS de Costa em 2022
o país conhecesse um modelo de sub- verno Constitucional de Mário Soares, de não o renovar. Mais: nestas condi-
sídio de desemprego mais próximo do na área laboral, foi a regulamentação ções, a caducidade do contrato não con-
atual: calculado em função do salário e dos contratos de trabalho a prazo (atra- feria direito a qualquer indemnização,
da carreira contributiva. vés do Decreto-Lei nº 781/76, de 28 de ao contrário do que acontece hoje.
Com o desemprego a subir em força outubro). Podendo ser renovados até Quase cinco décadas depois, a preca-
— dados da altura contabilizavam mais um limite máximo de três anos, a legis- riedade no mercado de trabalho portu-
de 500 mil desempregados no país em lação estabelecia que estes contratos guês — de que os contratos a prazo são
1976, apesar do número nas “Séries caducavam no termo do prazo acordado uma das faces mais visíveis, a par do
Longas para a Economia Portuguesa”, desde que a entidade patronal comuni- trabalho temporário e de novas formas
publicadas pelo Banco de Portugal e casse aos trabalhadores, até oito dias de relação laboral, como o trabalho nas
pelo Instituto Nacional de Estatística, antes de esse prazo expirar, a vontade plataformas digitais — foi uma das preo-
uniformizado tendo em conta os atuais cupações com que o PS de António Cos-
critérios, ser da ordem dos 223 mil —, ta se apresentou às eleições legislativas
dinamizar o emprego e a contratação antecipadas, de janeiro de 2022, e das
de trabalhadores era uma das grandes A regulamentação dos quais saiu com uma maioria absoluta. A
preocupações do Executivo na altura. contratos de trabalho a prazo Agenda para o Trabalho Digno foi uma
foi uma das medidas mais das bandeiras do programa eleitoral do
Regulamentar os contratos a prazo partido para essas eleições, sob o lema
emblemáticas do Governo “Juntos seguimos e conseguimos”. E
É neste contexto que uma das medidas de Soares, em 1976 que depois constituiu a base do progra-
legislativas mais emblemáticas do I Go- ma do atual Governo.
evereiro de 2023 ECONOMIA 17

cretário de Estado Henry Kissinger,

timo’. aprovou “uma espécie de miniplano RESGATE EXTERNO A PORTUGAL 1976 EM REVISTA
o FMI Marshall” para Portugal. EM 1976
Valor dos empréstimos em % do PIB
1976: ECONOMIA
O plano tinha três fases. A primeira
PORTUGUESA

ra
era uma linha de crédito norte-ameri- Ao VI Governo Provisório Apoios negociados
cana que viria efetivamente em 1977.
A segunda era a ideia de um grande
Emp. ao Banco de Portugal
Fundo Monet. Internacional
4,03
1,08
A 26 de janeiro iniciam-se
conversações entre
COM DIVERSOS
consórcio formado pelos EUA, pela Empréstimos dos EUA 0,08 Portugal e EUA para a SINAIS DE ALERTA
Europa Ocidental e pelo Japão que po- Ao 1º Governo de Soares concessão de apoio
deria ir até a 1,5 mil milhões de dólares. Banco Europeu de Invest. 0,41 económico e confirma-se
A terceira fase era o recurso ao finan- Empréstimos dos EUA 0,35 o apoio de urgência da CEE.

hall
ciamento de capitais privados e a um Conselho da Europa 0,12
acordo stand by (SBA, no acrónimo Regulamentar pornografia ECONOMIA VOLTA A CRESCER,
FONTE: “A LONG IMF INTERVENTION: PORTUGAL, 1975-1979”,
em inglês) com o FMI para enfrentar LUCIANO AMARAL, ÁLVARO F. SILVA, DUNCAN SIMPSON, 2020
O Governo decide MAS POUCO
Taxa de variação real do produto interno bruto, em %
os desequilíbrios externos. Não seria a regulamentar o negócio
primeira vez que Portugal recorria ao AFUNDAMENTO DA BALANÇA da pornografia, conta
Fundo. Em 1975, no IV e no VI Governo o Expresso na edição 10
EXTERNA
Provisório financiou-se por três vezes e Saldo da balança corrente e de capital de 14 de fevereiro.
em 1976 duas vezes, durante o VI Go- em milhões de euros 5
verno Provisório. Ao todo, em 1975 e Não ao nuclear 1,7
1976, o FMI injetou perto de 7 milhões “Projeto de central nuclear 0
0
de contos, segundo dados do estudo de provoca contestação”, diz
Luciano Amaral já referido. o Expresso a 6 de março. -5
-100
Mas os amigos europeus roeram a 1972 73 74 75 76 77 78 79 80 81
corda e o processo estendeu-se para -200
Reforma Agrária
1977. Em abril desse ano, Soares reuniu- O Conselho de Ministros
DÉFICE DAS CONTAS PÚBLICAS
-se com o chanceler Helmut Schmidt, -300
discutiu o mapa da Reforma
AGRAVA-SE
que lhe disse logo que colocaria como Agrária, lê-se a 13 de março. Saldo anual das finanças públicas, em % do PIB
1972 73 74 75 76 77 78 79
condição o aval do FMI. Depois, em ju-
Nota: Conversão de escudos para euros nas “Séries Longas
nho, numa reunião em Paris, envolven- para a Economia Portuguesa”, 2021 Nascem gigantes
do 14 países, a condição foi reafirmada. A 26 de março nascem as 0
FONTES: BANCO DE PORTUGAL; “SÉRIES LONGAS
Soares e Medina Carreira acabariam PARA A ECONOMIA PORTUGUESA”, INE/BdP, 2021 empresas públicas Petrogal —
por recorrer duas vezes ao Fundo em Petróleos de Portugal e -4
1977, uma delas com a assinatura em DESCALABRO DA EXECUÇÃO Cimpor — Cimentos de -4,2
abril de um primeiro SBA que injetaria Portugal. A 30 de junho é -8
ORÇAMENTAL
2 milhões de contos, 0,3% do PIB desse Défice efetivo em milhões de contos criada a Eletricidade de
ano. Mas as injeções externas em 1977 Portugal (EDP) e a 14 de julho a -12
acabariam por ser inferiores às de 1976. Empresa de Celulose e Papel 1972 73 74 75 76 77 78 79 80 81
-40
Pesariam 5,5% do PIB. de Portugal (Portucel).
-80
CEE e retornados DESEMPREGO EM PORTUGAL
‘Grande empréstimo’ só em... 1978 VOLTA A SUBIR
A 27 de março o Expresso Taxa de desemp. da população com 16 e mais anos, em %
-120
O verdadeiro ‘grande empréstimo’ ha- noticia que os novos
veria de aparecer em 1978, o ano em 1972 73 74 75 76 77 78 79 protocolos entre Portugal
que o segundo Governo de Soares caiu Nota: Um conto valia 1000 escudos. O escudo era a unidade e a CEE “são sinal de boa 6 6,1
monetária portuguesa antes da integração no euro
em agosto. As injeções externas vale- vontade” e que os
FONTE: “OS ORÇAMENTOS DO ESTADO PORTUGUÊS 1837-2001”, 4
riam 7,2% do PIB para todo o ano. Um INE/ISEG, 2006
“retornados terão de sair dos
segundo SBA foi assinado, então, com hotéis de 5 e 4 estrelas”.
o FMI em junho desse ano, mas Portu- 2
gal acabaria por não recorrer à verba DESEMPREGO ULTRAPASSA Divisas a esgotar-se
aprovada. OS 500 MIL Notícia de 29 de maio: 0
Em milhares
O financiamento externo viria de um “As reservas portuguesas 1972 73 74 75 76 77 78 79 80 81
consórcio de bancos (conhecido como 508,7 de divisas duram
crédito do acordo de Paris), dos EUA, 400 396 mais três semanas”.
do Conselho da Europa, do Reino Unido INFLAÇÃO SOBE E ATINGE
e do Banco Internacional para a Re- 200 199,5 Mais austeridade QUASE 20%
Taxa de variação anual de preços no consumidor, em %
construção e o Desenvolvimento, num Na edição de 25 de junho são
total de cerca de 14 milhões de contos. 0 elencadas algumas medidas
O acordo com o FMI serviu para impor 1974 1975 1976 de austeridade que “deverão 30
ou legitimar uma receita de medidas de Nota: Estes números não condizem com os registados nas “Séries ser tomadas a muito curto
Longas para a Economia Portuguesa”, 2021. Os números incluíam
austeridade. prazo: aumento de preços de 20 19,9
120 mil retornados sem emprego em 1975 e 126 mil em 1976
O balanço final de 1976 foi muito ne- FONTE: “RELATÓRIO DO BANCO DE PORTUGAL”, GERÊNCIA DE 1976
alguns produtos alimentares
gativo. Os salários, pela primeira vez e industriais, restrições à 10
desde o 25 de Abril, caíram em termos circulação dos veículos
reais, ou seja, subiram nominalmente SEGUNDO MAIOR DÉFICE automóveis, redução do 0
abaixo da inflação. O PIB por habitante NA EUROPA OCIDENTAL consumo de eletricidade para 1972 73 74 75 76 77 78 79 80 81
Défice orçamental em % do PIB em 1976
continuou na trajetória de queda desde uso doméstico, comercial e
1975. O desemprego, incluindo os re- industrial, dificuldades na
havia o mito do ouro e o mito do escudo. tornados da ex-colónias sem emprego, Itália 10,8 obtenção de licenças de RÁCIO DA DÍVIDA PÚBLICA
Estes mitos eram defendidos por gente ultrapassou meio milhão, na contagem Portugal 8,6 importação”. CONTINUA A AUMENTAR
Noruega 5,7 Dívida bruta consolidada das Administrações
que se dizia de esquerda. Ignorantes!”, da altura refletida nos relatórios anuais Públicas, em % do PIB
revelou Silva Lopes anos mais tarde. do Banco de Portugal. A inflação subiu R. Unido 5,5 Indemnizações
O Governo de Soares socorreu-se da para 19,5% e a desvalorização do escudo Bélgica 4,8 “Fixado o critério das
ajuda de uns 5 milhões de contos vindos somou 15%. A dívida pública direta au- Áustria 4,7 indemnizações aos acionistas 30
Grécia 26 2
26,2
do BEI, de Washington e do Conselho mentou 51% e o Banco de Portugal teve 3,9 das nacionalizadas”, noticia
da Europa, que tinham destinos espe- de continuar a fazer o papel de principal Holanda 3,6 o Expresso a 3 de julho. 20

cíficos. Alimentou, então, a esperança credor. A carteira de títulos públicos R .F. Alemã 2,7
de que os amigos americanos, graças no BdP aumentou 110% e representava Espanha 2,1 Indícios de petróleo 10

às diligências de Carlucci, ajudassem 36% de toda a dívida pública. Uma fatia Suíça 1 A 9 de julho o Expresso
na criação de um grande consórcio de de 36% das reservas em ouro estava França 0,9 diz que “há novos indícios de 0

financiadores. Em novembro, a Casa afeta aos empréstimos externos. petróleo ao largo da Figueira”. 1972 73 74 75 76 77 78 79 80 81
Branca, com o empenhamento do se- economia@expresso.impresa.pt FONTE: “RELATÓRIO DO BANCO DE PORTUGAL”, GERÊNCIA DE 1977

Teste ao Governo INDICADORES DEGRADAM-SE

“Leis dos despedimentos Dois anos depois da Revolução de
e da contratação serão Abril de 1974, os sinais de alerta

enções, tal como hoje

O país estava a sair do choque da pan-
demia de covid-19 e a recuperação eco-
nómica e social era a grande prioridade
destacada por Costa. Aliás, já um ano
antes, em janeiro de 2021, durante a
vaga mais mortífera da pandemia no
país, na inauguração de uma exposição
que recordava o partido precisamen-
te nessas eleições legislativas de 1976,
António Costa tinha salientado que “o
grande lema do programa do Governo
A Agenda para o Trabalho
Digno é uma das bandeiras
do Governo de Costa,
com o objetivo de combater
a precariedade laboral
do PS em 1976 era reconstruir o país.
Infelizmente, hoje estamos de novo con-
frontados com uma crise terrível, onde
aquilo que temos de ter como primeira
prioridade é mesmo a recuperação eco-
nómica e social do país”.
Revisão da lei laboral arrasta-se
há mais de dois anos
Mas o processo de revisão da legislação
laboral, enquadrado na Agenda para
o Trabalho Digno, arrasta-se há mais
de dois anos. Já conheceu avanços e
recuos e está atualmente na fase final
de votação na Assembleia da República
(ver página 6).
Entre as medidas mais emblemáticas
já aprovadas em sede de especialidade
contam-se a introdução de limites mais
apertados para a contratação temporá-
primeiro teste para
o Governo”, escreve
o Expresso a 27 de julho.
Crise confirmada
“Mário Soares falou 72
minutos ao país: trabalho,
ria ou a termo — caso, nomeadamente, Reforma Agrária, ensino
dos contratos a prazo. Outras são a nova (e alguma austeridade)
presunção de laboralidade para os tra- em tempo de crise
balhadores das plataformas digitais, a confirmada”, diz o Expresso
redução do período experimental nos a 10 de setembro.
contratos de trabalho, o aumento das
compensações por despedimento, a Sindicatos e gestor público
penalização do recurso abusivo a re- “Conselho de Ministros
cibos verdes e que as empresas com revoga unicidade sindical”
contratação coletiva dinâmica possam e “em marcha o estatuto
ser beneficiadas no acesso a apoios, do gestor público”, lê-se
nomeadamente europeus. na edição de 1 de outubro.
No foco do Executivo está hoje, sobre-
tudo, a precariedade entre os jovens, O grande empréstimo
que na esmagadora maioria dos casos “O grande empréstimo
entram no mercado de trabalho pela de 1,5 biliões de dólares
via da contratação precária, demoran- e as questões políticas que
do por vezes anos até conseguirem in- levanta”, lê-se na edição
verter a situação. de 17 de dezembro.
Cátia Mateus e Sónia M. Lourenço Pedro Lima
cmateus@expresso.impresa.pt plima@expresso.impresa.pt
sobre a economia portuguesa
acentuam-se. Após uma recessão,
em 1975, o Produto Interno
Bruto (PIB) volta a crescer, mas
é um crescimento anémico,
ainda para mais acompanhado
por um agravamento da taxa de
desemprego — sempre a subir
desde 1974. Ao mesmo tempo, a
inflação acelera mais uma vez,
ficando à beira dos 20%. Uma
evolução que se irá agravar ainda
mais no ano seguinte. Com a vaga de
retornados vindos das ex-colónias
africanas a pressionar a situação
social e económica no país, também
as contas públicas continuam a
degradar-se. Se à degradação
destes indicadores juntarmos o
rápido desvanecimento das reservas
de divisas do país — essenciais
para pagar as importações de que
Portugal dependia —, começa
a desenhar-se o cenário que
obrigaria o país a ter de fazer dois
acordos com o Fundo Monetário
Internacional nos anos seguintes.
18 ECONOMIA
IMOBILIÁRIO
Segurança Os portugueses têm cada vez mais
preocupações com a vigilância da habitação
Qual a
melhor forma
de proteger
a sua casa?
A
Textos Amadeu Araújo
casa, o maior in-
vestimento das fa-
mílias, ainda conti-
nua a ser um local
pouco protegido.
Assaltos, fugas de
gás, inundações
e incêndios são
apenas alguns dos
vários riscos dos lares portugueses.
Trata-se de incidentes que não ba-
tem à porta para entrar em casa e que
reclamam mais prevenção e investi-
mento em segurança para diminuir as
preocupações dos moradores.
“Estamos a falar do maior investi-
mento das famílias, mas nem sempre
as habitações estão preparadas para
minimizar os riscos, ou porque a casa
é num andar alto ou porque não tem
bens de valor”, sustenta Carlos Men-
des, diretor da empresa de sistemas
de segurança Strong Charon Alarmes.
Porém, o inesperado acontece, e só
em 2021, data do último “Relatório
Anual de Segurança Interna”, foram
registados 8420 assaltos a residências
através de arrombamento, escalamen-
to ou chave falsa e ainda com recurso
ao deslizamento de radiografias quan-
do as fechaduras estão no trinco.
E o responsável lembra que a “insta-
lação de um alarme, um sistema que
dá alerta de intrusão aos proprietári-
os, diminui os riscos”. Riscos esses que
começam na porta, “o ponto principal
de entrada para roubos e assaltos com
recurso a uma chave-mestra, sem fa-
zer barulho e enquanto os moradores
estão a dormir”. “Situações frequen-
tes”, a que acresce a entrada pelas
“janelas de correr, vulneráveis mesmo
com pessoas dentro de casa”. Sem
fazerem barulho, “entram em casa
e levam o que encontram”, descreve
o diretor. Ou os assaltantes estudam
as casas antes de realizarem os assal-
tos, e há mesmo “crime organizado,
grupos que nem sequer querem ser
vistos e fazem avaliações das rotinas
dos moradores antes de atuar”.
Para além do tradicional alarme, há
“medidas essenciais, como fechar sem-
pre a porta e não colocar fotografias
A PORTA É O PONTO
PRINCIPAL DE ENTRADA
PARA ROUBOS
E ASSALTOS COM
RECURSO A UMA CHAVE-
-MESTRA, ENQUANTO
OS MORADORES
ESTÃO A DORMIR
As famílias estão
a procurar soluções
para aumentar a
segurança em casa
e diminuir os perigos
FOTO GETTY IMAGES
nas redes sociais quando as famílias
se ausentam”, refere Carlos Mendes.
E as rotinas “representam 80% dos
movimentos das famílias que podem
ser acompanhados por alguém no
exterior que espere a melhor oportu-
nidade para agir”, afirma João Carva-
lho, diretor de Marketing da Prosegur
Alarms.
E não basta um simples alarme, pois
“em caso de arrombamento ou aber-
tura de uma porta, enquanto a sirene
dispara e não chegam as autoridades,
os ladrões conseguem vasculhar e
procurar valores à vontade”, lembra
Carlos Mendes. O ideal, acrescenta, “é
um alarme ligado a uma empresa com
central de segurança e alvará”. Com
€35 mensais já é possível “comprar
dois detetores e proteger a morada
de família”. “O paradigma mudou e
os clientes pagam uma mensalidade
conforme as soluções que desejam
ou que são aconselhadas”, explica o
responsável da Charon.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
Há alarmes que funcionam com decisões. Até porque “há coimas para
“três redes móveis, para garantir re- quem mantém o alarme a tocar sem o
dundância na ligação e certeza de que desligar”, vinca João Carvalho.
o pedido de socorro chega”. E acrescenta ainda que “a nova tecno-
João Carvalho avisa que não há siste- logia com reconhecimento facial é sufi-
mas infalíveis, mas “soluções capazes ciente para fazer prova judicial, desde
de mitigar o risco”. Um “ecossistema
digital, capaz de monitorizar a casa
na ausência ou quando os residentes
estão a dormir, com reconhecimen-
to de sons e movimentos capazes de
avisar para um vidro a partir ou uma PARA ALÉM DO
porta a abrir”, informa o responsável
da Prosegur Alarms. TRADICIONAL ALARME,
Há ainda sensores e câmaras de
vídeo, autorizados pela Lei da Segu- HÁ MEDIDAS
rança Privada e monitorizados numa
central. O “mínimo indispensável para
ESSENCIAIS,
poder alertar as autoridades policiais”
em caso de intrusão, indica Carlos
COMO FECHAR SEMPRE
Mendes. E também detetores que fa- A PORTA E NÃO
COLOCAR FOTOGRAFIAS
zem fotos dos intrusos ou transmitem
imagem em tempo real.
NAS REDES SOCIAIS
É nas centrais de segurança que os
alarmes são analisados e tomadas as
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
que a regulação seja cumprida e sejam
observadas as disposições legais”.
Por exemplo, “em caso de intrusão,
a central da Prosegur alerta a polícia
e envia um vigilante, mas a identifi-
cação do alegado criminoso só será
acessível com autorização judicial”.
“É uma tecnologia que não se vê e
que nos tira as preocupações, envol-
vendo bombeiros e polícias”, explica
o diretor da Prosegur. São sistemas de
segurança “capazes de fechar a água,
detetar uma fuga de gás ou um incên-
dio, incluindo fechaduras eletrónicas e
automatismos para alertar que saiu de
casa e se esqueceu de ativar o alarme”,
continua João Carvalho. Os sistemas
da Prosegur funcionam com “tripla
ligação, para prevenir que, em caso de
roubo, o alarme seja cortado”.
Trata-se de uma proteção acessí-
vel com o pagamento de uma taxa de
instalação, “que pode variar entre os
€150 e os €300”, e uma subscrição,
que varia de valor conforme o número
de detetores instalados. “Em média,
os clientes optam por dois detetores,
com um custo mensal que pode che-
gar aos €37.” E que “começam agora
a ter um crescimento nas vendas, sus-
tentado na perceção que as pessoas
têm de maior insegurança”, revela
João Carvalho, que lembra que Portu-
gal é um país “onde há muitos crimes
de ocasião, a chave que fica na porta,
a janela aberta…”.
Aumentam as vendas
de novas tecnologias
Também o diretor da Charon apon-
ta para um crescimento de vendas
nas novas tecnologias de segurança
e proteção de riscos, incluindo “uma
tomada inteligente para acender a
luz quando estamos fora de casa, ou
capazes de detetar a queda de uma
pessoa dentro da habitação, ou mes-
mo um botão de pânico em caso de
intrusão no domicílio”, enumera Car-
los Mendes.
E há ainda automatismos de seguran-
ça que incluem “deteção de incêndio,
inundações, abertura de porta quando
não está ninguém em casa e com con-
trolo total do residente”, conclui.
economia@expresso.impresa.pt
bpiexpressoimobiliario.pt
MITOS DA SEGURANÇA
^ A maioria dos assaltos realiza-se
aos fins de semana, altura de maior
ausência
de casa. Porém, os dados
da Prosegur Alarms mostram que os
dias da semana em
que foram registados mais alertas de
assalto nas casas portuguesas em
2022 foram segunda e quarta-feira.
^ Os assaltantes só assaltam
propriedades de luxo, mas
a verdade é que a maioria dos assaltos
ocorre em moradias localizadas em
bairros.
^ O verão é a estação
de eleição dos assaltantes. Porém, os
dados da Prosegur mostram que 36%
dos assaltos ocorrem no inverno.
^ Os alarmes são fáceis
de desativar com inibidores
de sinal e são deixados
incomunicáveis. No entanto, os
alarmes de nova geração funcionam
com redundâncias. Mesmo que as
linhas telefónicas sejam cortadas,
continuam a ser capazes de enviar
imagens para verificar
o incidente e notificar a polícia.
^ Os assaltos são cometidos por
pessoas desconhecidas.
Já não é assim, pois o uso crescente
das redes sociais pode dar pistas às
pessoas à nossa volta de que não
estamos em casa na altura e assim
podem aproveitar para invadir a nossa
privacidade para cometer o crime.
MEDIDAS DE SEGURANÇA
PARA INCIDENTES
^ Quando notar uma fuga
de água numa torneira, mande
reparar a avaria de imediato.
Em casos mais complexos, chame
um especialista.
^ Garanta a correta conservação
dos bicos e dispositivos de segurança
do seu fogão ou placa. Mantenha o
filtro do exaustor sempre limpo.
^ Mantenha cortinas, cobertores,
tecidos ou outros objetos facilmente
inflamáveis longe de fontes de calor,
como fogões, aquecedores ou
lareiras.
MEDIDAS DE SEGURANÇA PARA
PREVENIR ASSALTOS E ROUBOS
^ Feche sempre a porta
à chave, quer esteja fora
ou dentro da habitação.
^ Não abra a porta de casa
ou do prédio a ninguém
sem ter a certeza da respetiva
identidade.
^ Sistemas de alarme, detetores de
fumo e sensores de humidade ou
inundação podem ajudar a prevenir
assaltos, incêndios ou inundações.
^ Contrate um seguro que proteja o
recheio e a habitação.
GOVERNO
António Costa
promete pacote
de medidas
para a habitação
Primeiro-ministro anuncia Conselho
de Ministros temático para 16 de fevereiro
O PRR tem €2,7 mil milhões para investir em habitação FOTO NUNO BOTELHO
Vítor Andrade
O Governo vai apresentar um pacote
de medidas de apoio à habitação já no
próximo dia 16 de fevereiro. O objetivo
é fazer mais habitação pública e dina-
mizar o mercado de arrendamento,
sobretudo junto da classe média e dos
mais jovens em particular. A promessa
foi deixada esta semana, pelo primeiro-
-ministro, António Costa, na entrevista
que deu à RTP.
Sem entrar em pormenores, o pri-
meiro-ministro disse apenas que, em
Conselho de Ministros especial dedica-
do ao sector, dentro de duas semanas,
a nova ministra da Habitação, Marina
Gonçalves, irá revelar quais as medidas
concretas, que se concentram sobretu-
do em quatro eixos:
— Disponibilização de mais terrenos
públicos para construção de habitação;
— Criação de incentivos (designada-
mente fiscais) à construção de habitação
por promotores imobiliários privados;
— Criação de incentivos, para quem é
proprietário, para que coloque no mer-
cado de arrendamento habitações que
estejam com outro uso, ou que estejam
fora do mercado; e
— Apoios aos jovens no acesso ao
mercado do arrendamento.
António Costa explicou ainda que “as
políticas, como as casas, começam com
as fundações. Assim, começámos por
definir a nova estratégia das políticas
de habitação e, depois, aprovámos a lei
de bases”.
Além disso, notou também o primei-
ro-ministro, “dotámos o PRR de €2,7
mil milhões para investir, em conjunto
com os municípios, na construção de
oferta pública de habitação porque,
sem oferta pública de casas, não temos
capacidade de regular o mercado”.
Por outro lado, Costa acrescentou que
foi reforçado em 30%, no Orçamento do
Estado para este ano, o programa Porta
65, que visa apoiar o arrendamento de
casas às camadas mais jovens, “e com
este reforço conseguimos abrir todas as
candidaturas do ano passado” que esta-
vam paradas por falta de verbas.
O primeiro-ministro explicou tam-
bém que ao Governo coube definir a
estratégia nacional para a habitação,
ECONOMIA 19
da mesma forma que, aos municípios,
ficou entregue a responsabilidade de
definirem as suas estratégias locais de
habitação. E isso está a acontecer em
várias zonas do país.
Na terça-feira, António Costa esteve
no Seixal, onde, no âmbito da estratégia
local de habitação, explicou que “uma
das prioridades era o realojamento das
famílias que vivem no conhecido Bairro
da Jamaica. Há dois anos houve o realo-
jamento das famílias que viviam numa
das torres e agora vão ser realojadas as
famílias que vivem noutra das torres
daquele bairro”.
Sobre a promessa de novas medi-
das feitas pelo primeiro-ministro, o
Expresso falou com alguns agentes
do sector imobiliário que, no geral,
se congratulam. No entanto, e por-
que não se conhecem pormenores,
Hugo Santos Ferreira, presidente da
Primeiro-ministro
diz que as políticas,
como as casas, começam
com as fundações
Associação Portuguesa de Promotores
e Investidores Imobiliários (APPII),
nota que seria importante acelerar os
processos de licenciamento de novos
projetos de habitação. Por outro lado,
defende o fim do imposto adicional ao
IMI, assim como a redução da taxa de
IVA na construção de novas habitações
para a classe média.
Francisco Bacelar, vice-presidente da
Associação dos Mediadores do Imobi-
liário de Portugal (ASMIP), sublinha,
por seu turno, que “todo o tipo de me-
didas que venham dinamizar o sector
são bem-vindas”, mas fica por saber
se “todas serão eficazes”. O mesmo
responsável acrescenta, porém, que no
pacote a anunciar, também seria impor-
tante, por exemplo, a redinamização da
figura das ‘cooperativas de habitação’.
“Já foi muito importante nos anos 80
e 90, mas caiu no esquecimento, e po-
deria vir a ajudar a resolver muitos dos
problemas de falta de habitação que
entretanto se acumularam”.
vandrade@expresso.impresa.pt
20 bpiexpressoimobiliario.pt
URBANISMO
Porto quer
modernizar
Campanhã à boleia
da alta velocidade
O plano de urbanização tem prevista uma passagem
superior entre as linhas ferroviárias, de forma
a que estas deixem de ser uma barreira à mobilidade
Elisabete Soares
O projeto para a alta velocida-
de, que agora dá os primeiros
passos, poderá ser o motor que
vai permitir a profunda trans-
formação da zona de Campa-
nhã, na parte oriental da cidade
do Porto.
A autarquia do Porto, a In-
fraestruturas de Portugal (IP) e
o Governo consideram que esta
é a oportunidade para avançar
com uma verdadeira revolução
urbanística, permitindo que a
linha de caminho de ferro que
atravessa a freguesia de Cam-
panhã deixe de ser uma bar-
reira para se tornar no motor
da transformação desta zona
da cidade.
O Plano de Urbanização de
Campanhã está a ser desenvol-
vido por Joan Busquets, arqui-
Carro para levar os carrinhos
e as fraldas e as chupetas...
teto catalão, em conjunto com
a autarquia do Porto e a IP. Na
apresentação do projeto — que
decorreu recentemente nos
Paços do Concelho e contou
com a presença do ministro
das Infraestruturas, João Ga-
lamba, e com o vice-presidente
da IP, Carlos Fernandes —, e
segundo a versão apresenta-
da pelo arquiteto, o plano tem
prevista “uma passagem su-
perior entre as linhas ferro-
2018
foi o ano em que
foi desenvolvido
o masterplan
da freguesia
de Campanhã
Encontre justamente o que
procura e muito mais.
viárias”, mantendo todos “os
elementos existentes atuais e
permitindo o desenvolvimento
ligado à estação na parte nas-
cente”, referiu.
Joan Busquets acrescentou
que o projeto será um desafio
para toda a cidade: “Campanhã
será um lugar que terá muitas
mobilidades, bem implemen-
tadas. Irá ser uma centralidade
que vai jogar com outro tipo de
valências, numa espécie de anel
híbrido”, destacou.
Atração de investimento
Na altura, o presidente da au-
tarquia, Rui Moreira, reconhe-
ceu que o projeto para a alta
velocidade, associado ao plano,
vai operar uma profunda trans-
formação na zona oriental da
cidade. Apesar dos problemas
de coesão social e territorial,
Campanhã “é a freguesia com
mais potencialidades de desen-
volvimento da cidade do Porto”,
destacou o autarca.
Por isso “este projeto permi-
tirá eliminar barreiras físicas à
mobilidade, melhorar as acessi-
bilidades e estabelecer ligações
entre áreas verdes”. Este facto
vai permitir que esta zona se
torne “mais atrativa para o in-
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Expresso, 3 de fevereiro de 2023
vestimento público e privado cipal recente destaca-se, entre
em habitação, em comércio, outros, a conclusão do Termi-
serviços e startups, em inicia- nal Intermodal e a ampliação
tivas culturais ou em projetos do Parque Oriental, para além
ambientais”, frisou. da concessão ao grupo Mota-
E lembrou, a propósito, que -Engil do antigo Matadouro
em 2018 foi desenvolvido um Industrial, que prevê uma ver-
masterplan que define as li- tente empresarial mas também
nhas estratégicas de atuação do artística. Destaca-se ainda a
município na zona oriental da construção da futura Ponte D.
cidade. Na intervenção muni- António Francisco dos Santos,
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Expresso, 3 de fevereiro de 2023 bpiexpressoimobiliario.pt 21

Plano de Urbanização
de Campanhã,
desenvolvido
por Joan Busquets Edital n.º 21/2023
Hasta pública – Alienação de lote de terreno, designado
por “Lote 3”, com área de 4008 m2, destinado à construção
de um empreendimento turístico, sito no Complexo
Desportivo – Av. Cidade Hayward, em Faro

PARÂMETROS URBANÍSTICOS
LOTE 3
ÁREA DO LOTE 4008 m2
POLÍGONO DE IMPLANTAÇÃO 3081 m2
NÚMERO DE PISOS 1/5 + cave
visão que se tem para o futuro ALTURA DE EDIFICAÇÃO 21 m
desta zona”, vincou, adiantando
ÁREA DE CONSTRUÇÃO 14.070 m2
que o plano passará ainda por
“criar um pequeno Plano Dire- CONSTRUÇÃO ACIMA DO SOLO 11.974 m2
tor Municipal para as zonas de CONSTRUÇÃO EM CAVE 2196 m2
Bonfim e Campanhã”.
O ministro das Infraestrutu-
ras, João Galamba, deixou a
garantia de que “vai ser cria- Rogério Bacalhau Coelho, Presidente da Câmara Municipal de Faro, torna público que, de acor-
da cidade à volta da estação
do a deliberação da Assembleia Municipal em sessão extraordinária de 6 de outubro de 2022,
de Campanhã”, frisando que
sob proposta da Câmara Municipal n.º 342/2022/CM, deliberada em reunião ordinária pública
será “de ambos os lados da li-
nha férrea, numa nova centra- de 26 de setembro de 2022, ao abrigo do disposto no artigo 25.º n.º 1, alínea i), conjugado com o
lidade com diferentes usos e artigo 33.º n.º 1, alínea h) da Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, na sua atual redação, foi apro-
serviços, muito para além do vada a alienação, com recurso a hasta pública, do lote de terreno, designado por “Lote 3”, com
mero interface de transportes”. 4008 m2, destinado à construção de um empreendimento turístico, sito na Av. Cidade Hayward,
Acrescentou que “o projeto da na União das Freguesias de Faro (Sé e São Pedro), Concelho de Faro, descrito na Conservatória
alta velocidade, cuja execução do Registo Predial de Faro sob o n.º 5209/20220602 e inscrito na matriz predial urbana respe-
permitirá a requalificação da tiva sob o artigo n.º 10368, com o alvará de loteamento n.º 3/2021, emitido pelo Município de
zona de Campanhã, será a maior Faro em 23-09-2021.
que irá ligar Oliveira do Douro, transformação na ferrovia em As condições especiais encontram-se definidas nas Peças do Procedimento (programa de pro-
no lado de Gaia, a Campanhã, Portugal no último século”. cedimento e caderno de encargos) aprovadas em reunião de Câmara Municipal realizada no dia
A linha de caminho no lado do Porto. Em termos de prazos, o in- 14 de novembro de 2022.
de ferro de Campanhã Pedro Baganha, vereador do vestimento na transformação 1 – Objeto da alienação em hasta pública:
vai deixar de ser Urbanismo e Espaço Público, da estação de Campanhã vai Lote de terreno, designado por “Lote 3”, destinado à construção de um empreendimento turís-
uma barreira para considera que este foi “o primei- depender do avanço do projeto tico – Equipamento Complementar/Empreendimento Turístico (máximo 184 unidades de aloja-
se tornar o motor da ro minuto” do Plano de Urbani- de alta velocidade a cargo da IP. mento) – Complexo Desportivo, Av. Cidade Hayward, na União das Freguesias de Faro (Sé e São
zação de Campanhã. “É tempo Contudo, o cronograma apre- Pedro), Concelho de Faro, identificado em planta anexa, com as seguintes características: Área
transformação na zona de virar a página, o paradigma sentado pelo ministro aponta
oriental da cidade total do Lote: 4008,00 m2. Confrontações: norte – arruamento; sul – arruamento; nascente –
de desenvolvimento deste terri- para final desta década.
arruamento; poente – arruamento e Associação de Futebol de Faro.
tório alterou-se com uma nova economia@expresso.impresa.pt
Inscrição matricial: artigo n.º 10368 – União das Freguesias de Faro (Sé e São Pedro);
Descrição predial: n.º 5209/20220602 – União de Freguesia de Faro (Sé e São Pedro);
2 – Entidade alienante:
BREVES A entidade pública alienante é a Câmara Municipal de Faro, sita no Edifício dos Paços do Muni-
cípio, Largo da Sé, n.º 13, 8004-001 Faro, com contacto telefónico: 289 870 870, e o endereço de
correio eletrónico: geral@cm-faro.pt.
3 – Consulta do Procedimento:
As peças que instruem o procedimento estão disponíveis para consulta:
a) No Departamento de Gestão Administrativa e Patrimonial/Serviço de Património e Ca-
A PRESTAÇÃO HÁ 15 ANOS QUE NÃO HAVIA TÃO POUCAS dastro, sito no Edifício dos Paços do Município de Faro, Largo da Sé, n.º 13, 8004-001
DA CASA PAGA CASAS À VENDA EM PORTUGAL Faro, com horário de funcionamento, nos dias úteis, das 09:00 horas às 17:00 horas;
b) Na Loja do Munícipe, sita na Loja do Cidadão – Edifício do Mercado Municipal de Faro,
AO BANCO Largo Dr. Francisco Sá Carneiro, 8000-151 Faro, com horário de funcionamento, nos dias
HABITAÇÃO O número de casas à venda em Portugal caiu para
VOLTA A SUBIR mínimos de 15 anos. De acordo com um estudo da base de dados
úteis, das 09:00 horas às 17:00 horas;
c) E no sítio da internet com endereço: www.cm-faro.pt.
EM FEVEREIRO Confidencial Imobiliário divulgado esta semana, 2022 terminou 4 – Base de licitação e alienação:
com um registo de oferta residencial de 47.200 fogos para venda
NOS CONTRATOS em Portugal continental no quarto trimestre do ano — o valor mais 4.1 – O valor base de licitação é em €4.225.000,00 (quatro milhões duzentos e vinte e cinco mil euros).
4.2 – A alienação é efetuada segundo critério do mais elevado preço proposto.
A TAXA VARIÁVEL, baixo desde 2007. 5 – Apresentação das propostas:
SENDO NO A proposta deverá ser elaborada em conformidade com a cláusula 9.ª do programa de concurso.
6 – Normas de elaboração da proposta:
PRAZO A SEIS 6.1 – A proposta escrita será entregue até às 16 horas do dia 20 de março de 2023, pelo interes-
MESES ESPERADO sado ou seus representantes.
UM AUMENTO DE 6.2 – A proposta deverá ser remetida por correio, registado e com aviso de receção, em invólucro
opaco e fechado, dirigida ao presidente da comissão da hasta pública para a morada indi-
QUASE 200 cada nas peças do procedimento, ou entregue em mão pelos candidatos ou seu represen-
EUROS FACE ÀS tante, mediante recibo, no Departamento de Gestão Administrativa e Patrimonial/Serviço
de Património e Cadastro, sita no Largo da Sé, n.º 13, 8004-001 Faro, nos dias úteis, das
ÚLTIMAS 09:00 horas às 17:00 horas, ou na Loja do Munícipe, sita na Loja do Cidadão no Mercado
REVISÕES, Municipal de Faro, Largo Dr. Francisco Sá Carneiro, 8000-151 Faro, nos dias úteis, das
09:00 horas às 17:00 horas.
SEGUNDO A 6.3 – Os pedidos de esclarecimentos necessários à boa compreensão e interpretação do presente
SIMULAÇÃO DA programa do procedimento, devem ser dirigidos à Comissão, por escrito, até às 16 horas
do dia 27 de fevereiro de 2023.
DECO/“DINHEIRO 6.4 – As respostas e esclarecimentos serão prestados até às 17 horas do dia 9 de março de 2023.
PROCURA DE CRÉDITO À HABITAÇÃO EM QUEDA
& DIREITOS”. A procura de crédito à habitação diminuiu no último
6.5 – Simultaneamente com a comunicação dos esclarecimentos ao interessado que se tenha
pronunciado, procede-se à sua imediata divulgação através de edital, publicitado no sítio
trimestre do ano devido à menor confiança dos
oficial do Município de Faro: https://www.cm-faro.pt, para que todos os demais interessa-
consumidores e ao aumento das taxas de juro, segundo
dos tenham conhecimento.
o “Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito” de
janeiro do Banco de Portugal. Para os próximos meses os 7 – Visita ao imóvel:
bancos também esperam uma redução da procura por Durante o primeiro terço do prazo para apresentação das propostas, o interessado poderá vi-
particulares e que será “particularmente acentuada no sitar o local e realizar neles os reconhecimentos que entender indispensáveis à elaboração da
segmento da habitação”. FOTO TIAGO MIRANDA sua proposta, mediante agendamento prévio, requerido com dois (2) dias úteis de antecedência.
8 – Data, hora e local da Hasta Pública:

96
A hasta pública terá lugar no dia 24 de março de 2023 pelas 10 horas e decorrerá no Salão
KRONOS FICA COM GESTÃO Nobre dos Paços do Concelho de Faro, perante a Comissão designada para o efeito.

E DESENVOLVIMENTO DO PROJETO CROW 9 – Alienação:

O lote de terreno, designado por “Lote 3”, e identificado no ponto 1, será alienada de acordo com
a cláusula 15.ª do programa de concurso, disponível em: https://www.cm-faro.pt.
INVESTIMENTO A compra da carteira de imobiliário que estava 10 – Prazos de pagamento:
nas mãos dos bancos conhecida como Projeto Crow vai permi- fogos serão construídos pela O preço relativo à alienação é pago conforme estipulado na cláusula 16.ª do programa de concur-
tir ao promotor espanhol Kronos reforçar a sua operação em Câmara Municipal do Seixal, so, disponível em: https://www.cm-faro.pt.
Portugal. A Kronos Homes, enquanto parceiro operacional que comprou 12 lotes de
do consórcio comprador, vai gerir e desenvolver uma carteira terreno para o efeito. Serão Para constar e legais efeitos, se lavou o presente Edital e outros de igual teor, os quais vão ser afixados
de 14 projetos, dos quais sete são novos empreendimentos e colocados no mercado do nos lugares públicos de estilo, e no sítio da internet da Câmara Municipal de Faro: www.cm-faro.pt.
quatro projetos de imobiliário residencial. Os novos ativos do chamado arrendamento
Paços do Município de Faro, 20 de janeiro de 2023.
portefólio da Kronos incluem cerca de 750 propriedades já edi- acessível por valores entre
ficadas e 425 unidades a serem desenvolvidas. Entre os ativos €350 e €400 mensais, ou seja, O Presidente da Câmara Municipal de Faro
encontra-se o resort Vale do Lobo Golf & Beach, entre outros metade do que é atualmente Rogério Bacalhau Coelho
empreendimentos no Algarve. cobrado no concelho
22 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 3 de fevereiro de 2023

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&CASAS

DHL investe €25 milhões a norte

A VER NO PROGRAMA
DESTA SEMANA

Planos de expansão da empresa passam por Lisboa e podem somar €100 milhões até 2025
Margarida Cardoso
A DHL Express Portugal está a
investir €25 milhões para tripli-
car a sua capacidade logística
no aeroporto Francisco Sá Car-
neiro, onde opera diariamente
com três aviões para ligações
a Leipzig, Bruxelas e Londres.
“Em 10 anos, desde a inau-
guração do nosso terminal,
o volume de carga manusea-
da aumentou 184%, o que
nos obriga a expandir a área
útil, dos atuais 3752 m2 para
10.893 m2, e a aumentar o nú-
mero de cais de 68 para 102,
com possibilidade de chegar
aos 125”, diz ao Expresso José
Reis, diretor-geral da empresa,
sublinhando que “2021 e 2022
corresponderam a um ciclo de
grande expansão, com cresci-
mentos anuais de 35%, até pela
transferência de outras solu-
ções de transporte para carga
aérea, e pelo aumento brutal
das compras diretas online”.
No calendário das obras, com
arranque agendado para maio
e conclusão prevista para julho
de 2024, destaca “o licencia-
mento do projeto em quatro
meses, muito pela colaboração
da Câmara da Maia que enten-
de o papel de uma empresa
como a nossa no desenvolvi-
mento do tecido empresarial
da região”.
Já em Lisboa, a DHL “está há
oito anos a desenvolver esfor-
O diretor-geral, José Reis, quer triplicar a capacidade no aeroporto da Maia FOTO RUI DUARTE SILVA
ços para conseguir um termi-
nal de carga expresso junto ao
Aeroporto Humberto Delgado,
mas continua sem ver a luz ao
fundo do túnel”, refere.
Em causa está um investi-
mento de mais de €50 milhões
que prevê duplicar a área para
11.340 m 2 e criar 93 cais de
carga, “com ganhos na agili-
dade de processos e economia
de custos”, diz. “As instalações
atuais na zona de Lisboa, fora
do perímetro do aeroporto,
obrigam a um duplo proces-
samento de carga. E as condi-
ções na zona de carga do aero-
porto são muito deficitárias”,
explica.
Para a DHL Express, o inves-
timento na Portela, “com aces-
so direto à placa do aeroporto,
continua a ser uma prioridade,
independentemente de futuras
decisões sobre a construção do
novo aeroporto”, assume.
“Entre 2023 e 2025 investire-
mos facilmente 100 milhões de
euros em Portugal se o projeto
de Lisboa avançar”, adianta o
gestor que considera “funda-
mental haver o envolvimento
do sector da carga na discussão
no novo aeroporto” e estranha
ver uma “área crítica para a
economia nacional ficar fora
do debate”.
Multiplicar lojas no país
Quanto a Portugal, “está no pe-
lotão dos grandes da Europa
para a DHL e a sua rede de 220
mercados. A prova é a vontade
de investir aqui”, sublinha.
Edifício antigo
E a carga transportada refle-
te as diferenças entre o norte e reabilitado
o sul do país? “Claro que sim.
A norte, temos muitas peque- Instalado no centro histórico
nas e médias empresas como de Amarante, o espaço hote-
clientes e trabalhamos muito leiro Casa das Lérias resulta
com os sectores da moda e au- da recuperação de um edifí-
tomóvel, enquanto em Lisboa cio icónico desta cidade.
temos mais serviços”, refere.
Já nas encomendas online, para Casas no centro
clientes particulares, o desta-
que vai para os suplementos da capital
alimentares e abrange todo o
território. O projeto António Augusto
Com 750 trabalhadores no Aguiar 23, em Lisboa, com
país, a DHL Express já tem em traço do ateliê ARX Portugal,
território nacional duas lojas conta com 42 apartamentos
próprias, no Porto e em Lisboa, do T1 ao T4+1 duplex.
para serviços de transporte ex-
presso nacional e internacio-
nal, mas no curto prazo “pla-
Índice RE/MAX
neia abrir mais três, em Braga,
Leiria e Funchal, para facilitar O concelho de Vila Franca
o acesso e responder à crescen- de Xira apresenta oferta de
te procura desta solução por moradias.
parte de clientes empresariais
e não empresariais”, adianta.
Depois da disrupção das ca-
deias logísticas na pandemia e Espaços & Casas
do impacto da guerra na Ucrâ- na SIC Notícias
nia nos transportes à escala
global, José Reis acredita que Sábado às 10h45
o tempo é, agora, de “regresso Repetição Segunda às 9h45
a uma certa normalidade”. E
se a logística e os transportes Programa com o apoio de
são “um bom barómetro do an-
damento da economia”, como
acredita, “tudo indica que a
economia portuguesa está a
responder bem e a reagir à
pressão dos mercados”.
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24 ECONOMIA
PROJETOS EXPRESSO DISTINÇÕES
Crescimento A guerra, a inflação e as taxas de juro a subirem fizeram esquecer a pandemia relativamente depressa,
mas para as empresas o que aprenderam nessa altura foi tão valioso que foi aplicado em 2022 e continuará a sê-lo em 2023
Adaptação, a palavra de
ordem que veio para ficar
Os prémios Expresso PME foram entregues no dia 24 de janeiro, numa cerimónia no Porto, onde estiveram presentes quase todas as 24 empresas vencedoras desta quinta edição
Textos Ana Baptista
Fotos Rui Oliveira
M
edicamentos
para animais; va-
sos; transportes
de mercadorias;
construção, vi-
nho; plásticos...
as atividades das
vencedoras dos
prémios Expres-
so PME são, como sempre, variadas,
mas todas cresceram em 2021, ainda
um ano de pandemia, em que adap-
tação foi a palavra de ordem. Estas
são as histórias de algumas delas que
justificam, em parte, terem recebido
este prémio.
AGRICULTURA
É provável que o nome Sociedade
Agrícola Dom Diniz não lhe diga mui-
to, mas é aí que é produzido o Monte
da Ravasqueira, uma marca de vinho
que “nasceu, faz este ano, duas déca-
das”, conta o CEO, Filipe de Mello, e
que em 2021 viu a sua faturação dar
um salto de €13,9 milhões em 2020
para €18,4 milhões em 2021. “Foi um
ano desafiante que nos obrigou a en-
carar o mercado com um olhar mais
pragmático, algo que é a mais valiosa
aprendizagem da pandemia”, diz. Ti-
veram de se adaptar aos restaurantes
fechados e ao aumento do consumo
nas lojas: “Ultrapassar esses cons-
trangimentos deu-nos uma enorme
confiança.” Contudo, não nega que
hoje “o cenário é muito complexo e
imprevisível, com os custos a aumen-
tarem semanalmente” e com a em-
presa a ter de tomar decisões difíceis
como “deixar de vender para a Rússia
que era um mercado relevante e em
grande crescimento”.
GROSSISTA
Propecuária. O nome engana, mas
explica-se porque esta distribuido-
ra de medicamentos e produtos para
animais de companhia começou pela
explorações pecuárias. E para a atual
PRÉMIOS ECONOMIA
Os Prémios Expresso PME
— Caixa TOP distinguem as
Pequenas e Médias Empresas
que mais se desenvolveram
em Portugal em 2022. Nesta
5ª edição dos galardões, que
resultam de uma parceria
entre o Expresso e a Caixa
Geral de Depósitos, com o
apoio da Informa DB e da
Deloitte, foram premiadas 24
PME em oito categorias.
CEO, Alexandra Freitas — a filha de
Pedro Freitas que fundou a empresa
há 44 anos — o legado é importante.
Aliás, foi ainda sob a gestão do pai que
descontinuaram a pecuária, e que, em
2014, criaram uma marca de suple-
mentos, a Wepharm, que opera em
Portugal e exporta para 20 países. Mas
foi já sob a liderança de Alexandra,
CEO desde 2016, que as duas empre-
sas, a Propecuária e a Wepharm, tive-
ram de ultrapassar as “adversidades
da pandemia”. E fizeram-no sendo
“criativos nas soluções”, o que correu
bem, porque a faturação cresceu de
€41 milhões em 2020 para mais de
€48 milhões em 2021. Aliás, até deu
frutos para 2022, com o volume de
negócios a passar os €54 milhões, e
dará para 2023. “Este negócio tem
uma forte componente emocional. Os
animais de companhia não são objetos,
pelo que acreditamos que o sector será
resiliente, apesar de reconhecermos
as dificuldades que se avizinham”, diz.
TRANSPORTES
A história da Spedy Cargo começa
com a compra de uma empresa de
transitários que “faturava cerca de
€2,5 milhões e tinha oito funcioná-
rios”, conta o CEO Artur Moutinho.
Estávamos em 2008 e daí para a fren-
te, foi sempre a crescer, mas foi de
2020 para 2021 — o período avaliado
nesta edição dos prémios PME — que
a Spedy Cargo mais cresceu: o número
de clientes passou de 773 para 902
e a faturação subiu de cerca de €14
milhões para pouco mais de €24 mi-
lhões. Como? Com uma grande capa-
cidade de resposta rápida. Na altura,
os aviões “eram muito escassos” e os
barcos “estavam permanentemente
lotados”, mas era preciso continuar
a transportar as mercadorias. Então,
“fomos à procura de novas rotas, no-
vos locais de transbordo, usando o
serviço barco-camião” e na “via aérea,
utilizámos cargo charters, usando um
ponto de ligação por camião no centro
da Europa”, conta. “Esta flexibilidade
impressionou os clientes” e trouxe
outros de tal forma que os resultados
de janeiro de 2023 “apontam para
um crescimento de 15% face a janeiro
de 2022”.
CONSTRUÇÃO E IMOBILIÁRIO
Na gíria do sector a Construções Corte
Recto é conhecida por CCR. Fundada
em 2005 para fazer “trabalhos de al-
venaria de tijolo”, rapidamente passou
a empreiteiro geral e cresceu de um
colaborador para 180. Foi, contudo,
em 2021, que o crescimento foi mais
evidente, “com um aumento de 110%
da faturação face a 2020, para cerca
de €33 milhões”, conta o CEO, Fer-
nando Gonçalves. Parte disso deveu-se
a um mais baixo nível de restrições no
sector durante a pandemia e à con-
DESDE 2021, QUE
ESTE PRÉMIO INCLUI
NOS CRITÉRIOS
DE AVALIAÇÃO
A CAPACIDADE DE
REAÇÃO DAS EMPRESAS
ÀS ADVERSIDADES
sequente continuidade das obras já
decididas. Ainda assim, “o mercado
mudou”, e foi preciso adotar uma nova
estratégia que passou pelas obras de
reabilitação urbana do sector públi-
co, “que, na altura, representaram
cerca de 70% da atividade”, e também
pelas “obras particulares”. Aliás, é
neste último mercado que a CCR está
a apostar para 2023, ano em que an-
tecipa um “crescimento do volume de
negócios superior a 20%”.
INDÚSTRIA
A Isolago e a Componit fazem parte da
mesma empresa, mas ganharam dois
prémios porque produzem plásticos
diferentes. A Isolago, criada em 2001
pelo pai João Barros, fabrica grãos de
plástico que são depois usados para
fazer sacos ou etiquetas, por exem-
plo. A Componit, criada em 2013 pelo
filho Rodrigo Barros, faz compostos
termoplásticos usados, por exemplo,
em cabos elétricos. Negócios afeta-
dos pela pandemia “sobretudo pela
rutura das cadeias de abastecimento”,
diz Rodrigo Barros, CEO das duas
empresas. Mas que, com uma “rá-
pida adaptação” e com o facto de a
Isolago exportar para 15 geografias
e a Componit para 20, conseguiram
manter a produção e, em 2021, a fa-
turação da Isolago cresceu de €36
milhões para €46,6 milhões e a da
Componit, de €25 milhões para €38,3
milhões. Adaptação foi, também, a
palavra de ordem em 2022 quando,
perante uma nova quebra das cadeias
de abastecimento por causa da guerra,
decidiram fazer stock de materiais
para garantir a produção e o preço.
O plástico é também o negócio da Ar-
tevasi para o fabrico de vasos. Funda-
da em 2006, em Argoncilhe (Santa
Maria da Feira), hoje exporta para
mais de 50 países vasos de plástico,
cerâmica e terracota. Foi, aliás, esta
presença que os ajudou a superar a
pandemia e a subir a faturação de €19
milhões em 2020 para €29,4 milhões
em 2021, sempre mantendo os forne-
cedores “90% nacionais”, diz o CFO,
Joaquim Ferreira.
economia@expresso.impresa.pt
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
Os vencedores
LISTA DOS PREMIADOS
AGRICULTURA E
OUTROS RECURSOS NATURAIS
^ Soc. Agrícola Dom Diniz (produção
vinho Monte Ravasqueira)
^ JMPC (criação e venda de carnes)
^ Suinimoura (criação
e venda de leitões)
INDÚSTRIAS
^ Isolago (fabrico plásticos)
^ Componit (fabrico plásticos)
^ Artevasi (fabrico vasos)
CONSTRUÇÃO E IMOBILIÁRIO
^ Construções Corte Recto
^ Ecoarea (construção)
^ Atlântinível (construção)
TRANSPORTES
^ Spedy Cargo Transitários
^ Portugalenses
^ Orey Comércio e Navegação
RETALHO
^ Motorbus (peças para pesados)
^ Petroalva (distribuição
de combustíveis)
^ Castro Eletrónica
TECNOLOGIA
DA INFORMAÇÃO
E COMUNICAÇÃO
^ iStore (representante Apple)
^ Suprides XXI (produtos
e consultoria)
^ Boost It (consultoria)
GROSSISTA
^ BioPortugal (farmacêutica)
^ Propecuária (farmacêutica
veterinária)
^ DPP — Distribuição Produtos
Petrolíferos
SERVIÇOS
^ I-SETE (eficiência energética)
^ Avelab (análises clínicas)
^ Medicapilar (transplante capilar)
Expresso, 3 de fevereiro de 2023 ECONOMIA 25

EMPREGO

Remuneração Sectores turístico e tecnológico estão a atualizar salários para atualizações salariais aos seus aumentarem em linha com
trabalhadores que ficam em a inflação não vão conseguir
conseguirem contratar e reter profissionais, o que pode ditar um efeito de contágio linha ou mesmo acima dos travar a saída dos seus traba-
7,8% de inflação. Mais, o mes- lhadores nem atrair novos”,

Turismo e tecnologia mo estudo dá conta de que são

maioritariamente as pequenas
empresas a superar o valor da
inflação ou a igualá-lo nas suas
atualizações salariais, com
alerta Pedro Rocha e Silva,
acrescentando que “estamos
a assistir não apenas a esta
atualização, mas também à
procura de outras formas de

pagam acima da inflação 80% a fazê-lo.

Cátia Mateus
São os únicos dois sectores
onde a maioria das empresas
está a praticar atualizações sa-
lariais em linha com o valor
da inflação apurado em 2022,
7,8%, ou até acima desse mon-
tante. No caso do turismo, o
incremento não excede em
muito o valor da inflação, mas
no sector tecnológico as atua-
lizações salariais que em 2023
chegam aos bolsos dos profis-
sionais são da ordem dos dois
dígitos, conclui um estudo da
consultora Neves de Almeida
e do ISCTE Junior Consulting
a que o Expresso teve acesso.
“São as dinâmicas do merca-
do a funcionar”, sinaliza Pedro
Rocha e Silva, diretor-executivo
(CEO) da consultora Neves de
Almeida, que coordenou o es-
tudo que agrega a visão de 150
CEO sobre o que vai mudar na
gestão de pessoas em 2023. E se
no caso das tecnologias — não só
pelo patamar salarial praticado
no sector, mas também pela for-
te concorrência de recrutadores
internacionais a competir pelo
talento nacional — não espanta
que os empregadores estejam a
atualizar salários de forma mais
agressiva, “na casa dos dois dígi-
tos”, como explica Pedro Rocha
e Silva, o mesmo não acontece
no turismo.
Há muito que se tornou ób-
vio que os empregadores desta
área teriam que alterar pro-
fundamente as suas práticas e
TURISMO E TECNOLOGIAS COM ATUALIZAÇÕES
SALARIAIS MAIS EXPRESSIVAS EM 2023
Percentagem de empresas
Sem atualização
Indústria
TMT
Financeiro
Serviços
Retalho
Saúde e farmacêutico
Transp. e infraestruturas
Energia
Turismo
0 20
FONTE: NEVES DE ALMEIDA E ISCTE JUNIOR CONSULTING
incrementar salários para con- rantir maior previsibilidade e
seguir ultrapassar o que o CEO estabilidade. “Não se consegue
da Neves de Almeida designa trazer de volta estes profissio-
de “dores tremendas para con- nais que saíram do sector sem
tratar e reter profissionais”. O uma significativa atualização
sector foi fortemente impac- salarial face ao que era prática
tado pela pandemia e perdeu no mercado”, explica.
muitos dos seus trabalhadores, É o que parece estar a acon-
que abandonaram esta área tecer este ano, com o turismo
para se dedicarem a outras a destacar-se como uma das
atividades menos expostas à duas áreas onde a maioria das
sazonalidade e capazes de ga- empresas (60%) está a aplicar
Abaixo da inflação Igual à inflação Acima da inflação
66
5 35 41
57 19
57 29
6 61 11
6 72 11
17 42 25
71
40 40
40 60 80
Efeito de contágio
Mesmo que abaixo da inflação,
Pedro Rocha e Silva nota que
compensação aos trabalha-
dores”. Além dos prémios e
bónus, há uma nova tendência
a evidenciar-se nas empresas:
a política de benefícios perso-
nalizada.
este fenómeno generalizado “Não é uma prática que
de atualizações salariais no possamos dizer que esteja já
país não era visto há muito. implementada na maioria das
“Não me recordo de existir a empresas, mas é esse o cami-
nível nacional um movimen- nho que se está a fazer”, vinca.
to tão grande e generalizado “Não fará muito sentido a um
de atualizações salariais”, diz, profissional que está em tele-
sinalizando que, mesmo tra- trabalho ter carro de serviço
tando-se maioritariamente ou cartão de combustível. Mas
de aumentos abaixo do valor se calhar dá-lhe jeito converter
da inflação, “este movimento esse valor mensal num cheque
coloca uma pressão enorme para pagamento da creche ou
sobre as empresas que não o colégio dos filhos”, explica,
acompanharem”. sinalizando que “estes deta-
“As empresas que não ade- lhes são, cada vez mais, alvo
rirem a este movimento e não de ponderação por parte dos
gestores”.
Colocar com eficácia esta es-
PEQUENAS EMPRESAS tratégia no terreno pode impli-
VÃO ALÉM DA INFLAÇÃO car “ter uma espécie de gestor
Percentagem de empresas
de cliente, que assegurará na
empresa a gestão das neces-
100 sidades específicas de cada
50 17 14 10 colaborador”, nota o CEO da
28 6 80 27 consultora.
27 22
19 Em paralelo, os 150 CEO in-
24 60 quiridos no âmbito deste estu-
14 58 63
52 do identificaram como tendên-
22 40 30 cias de gestão o investimento
11 na formação e capacitação de
17 20 líderes, “que está a ser visto
29 20 como uma necessidade fun-
4 6
20 0 damental nas empresas”, e as
100 Pequena Média Grande Grande estratégias de captação e re-
<1000 >1000 tenção de talento.
cmateus@expresso.impresa.pt

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Coordenador Lean (m/f) Key Account Manager (m/f)

PORTO
EMPRESA
Empresa com presença no setor da saúde, forte aposta na inovação e a aumentar
a sua capacidade produtiva, de forma a dar resposta positiva às solicitações de
mercado.
CANDIDATO
O profissional a admitir será responsável pela Dinamização e execução do Plano
de Normalização, suportado pelas Matrizes de Responsabilidade e Competência.
Terá ainda sobre sua Gestão a coordenação das Equipas de intervenção, numa ótica
de funcionamento, gestão dos desafios, utilizando ferramentas normalizadas
para resolução dos mesmos. Intervindo ainda ao nível das Auditorias regulares,
na implementação de 5S (2.º Pilar) e na Conceção de Auditorias ao nível
de execução de Tarefas.
PERFIL
• Licenciatura em Engenharia e Gestão Industrial;
• Experiência mínima de 3 anos em função de cariz semelhante;
• Conhecimentos avançados de Microsoft Office e facilidade em utilização
de Softwares diversos;
• Domínio da língua inglesa.
Excelente oportunidade de desenvolvimento de profissional e retribuição
adequada, numa empresa de referência no seu setor.
LISBOA
EMPRESA
Conceituada empresa que opera no sector de telecomunicações e Soluções IT.
CANDIDATO
O candidato selecionado terá como principais funções:
• Elaborar planos de negócio por cada cliente com ações de controlo de churn
de forma a manter um crescimento sustentado do negócio;
• Reportar semanalmente as oportunidades em carteira e monitorização dos objetivos;
• Elaborar propostas, negociar e concretizar negócios, identificando
e posicionando as melhores soluções;
• Realizar prospeção de mercado e angariação de novos clientes;
• Gerir a carteira comercial dos clientes atribuídos.
PERFIL
• Formação superior na área das Tecnologias de Informação ou similares;
• Experiência mínima de 5 anos no setor;
• Sólidos conhecimentos em soluções de Cloud, CiberSegurança e ICT;
• Bons conhecimentos de inglês e espanhol;
• Forte apetência comercial e de capacidade de negociação.
Oportunidade de integração num projeto em forte crescimento, integração
numa empresa de referência no ramo, com pacote salarial e benefícios atrativos,
de acordo com a experiência evidenciada do candidato.

Engenheiro Metalúrgico e de Materiais (m/f) Diretor de Obra (m/f)

PORTO LOULÉ
EMPRESA EMPRESA
Empresa de referência no setor da indústria transformadora, com mais de 80 anos Prestigiada empresa que atua no setor da Construção Civil e Obras Públicas,
no mercado nacional. na zona de Loulé.

CANDIDATO CANDIDATO
O profissional a admitir terá como principais responsabilidades o apoio no O candidato selecionado terá como principais funções:
cumprimento da norma ISO 9001:2015, através da análise e tratamento de não • Coordenação e acompanhamento equipas de trabalho;
conformidades e da realização de ensaios laboratoriais, bem como dos respetivos • Organização e acompanhamento de toda a obra;
relatórios. • Gestão de orçamentos, planeamento e coordenação das atividades definidas.
PERFIL PERFIL
• Formação académica em Engenharia Metalúrgica e de Materiais ou áreas • Licenciatura em Engenharia Civil;
similares;
• Conhecimento da norma 9001:2015 (valorizado); • Membro da Ordem dos Engenheiros;
• Bons conhecimentos da língua inglesa. • Experiência mínima de 6 a 10 anos em Direção de Obra;
• Conhecimentos de SAP (Preferencial);
• Disponibilidade de deslocações.
Excelente oportunidade de integração em empresa sólida, que oferece
condições de remuneração compatíveis com experiência evidenciada. Oportunidade de integração num projeto em forte crescimento, remuneração base
anual atrativa e de acordo com a experiência demostrada, mais benefícios em vigor.

Conheça estas e outras oportunidades em

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26 ECONOMIA Expresso, 3 de fevereiro de 2023

EDITAL
Anúncio público da abertura do processo de candidatura ao cargo de DIRE-
TOR/A do ITQB NOVA – Instituto de Tecnologia Química e Biológica António
Xavier da Universidade NOVA de Lisboa.

1. O/A Diretor/a é o órgão de direção e representação do Instituto, no âmbito

das autonomias concedidas pela lei e pelos estatutos da Universidade Nova de
Lisboa. As suas competências estão descritas no artigo 44.º dos Estatutos da
Universidade NOVA de Lisboa, e no artigo 9.º dos Estatutos do Instituto de Tec-
nologia Química e Biológica António Xavier.

2. Podem candidatar-se ao cargo de Diretor/a do Instituto de Tecnologia Química

e Biológica António Xavier, verificando-se a situação prevista no art.º 8.º, n.º
3, al. b) dos Estatutos do Instituto de Tecnologia Química e Biológica António

Licença AMI 10092 | Cada agência é de propriedade e gestão independente

Xavier, os professores catedráticos, investigadores coordenadores, professores
associados ou investigadores principais da Universidade Nova de Lisboa ou de
outras instituições, nacionais ou estrangeiras, de ensino universitário ou de in-
vestigação.

3. O mandato de Diretor/a tem a duração de quatro anos, podendo ser reconduzi-

do/a uma única vez.

4. O cargo de Diretor/a é incompatível com a existência de vínculo laboral ou

pertença a órgão de governo ou de gestão de outra instituição portuguesa ou
estrangeira de ensino superior. O cargo de Diretor/a é exercido em regime de
dedicação exclusiva, sem prejuízo dos cargos que exerça por inerência.

5. As candidaturas são entregues ao secretariado do Conselho de Instituto, em

formato digital (secretariado.ci@itqb.unl.pt), com carta dirigida à Presidente do
Atitude Única2 + Marca Líder
Conselho, acompanhadas dos seguintes documentos, redigidos em língua por-
Formações Especializadas tuguesa ou inglesa: curriculum vitae e Programa de Ação, conforme o estipulado
no Regulamento da Eleição publicado na página do ITQB NOVA. Ficheiros maio-
res que 18 Mb devem ser enviados por plataforma online.

Crescimento Profissional! 6. O calendário eleitoral será o seguinte:

Data limite de apresentação de candidaturas: 09 de março de 2023 (17:00

horas)

Admissibilidade dos candidatos: 13 de março de 2023

CANDIDATE-SE AQUI!
Apresentação pública e eleição do/a Diretor/a: 17 de março de 2023
FALE COMIGO!
PAULO MARQUES Oeiras, 26 de janeiro de 2023
919 142 054 A Presidente do Conselho de Instituto
pamarques@remax.pt empregosporto.com
Dra. Vera Pires Coelho

GESTOR DE CLIENTES COMERCIAL (m/f)

Sabia que a AdC está entre uma das melhores 20 autoridades

COMÉRCIO INTERNACIONAL My Cute Pooch: Marca inovadora de Malas, produ-
zida a pensar numa Mulher moderna e sofisticada,
da concorrência a nível mundial? Mercado francófono baseada na sustentabilidade e no respeito de uma
Aceite o desafio e junte-se a uma equipa de profissionais dedicada à promoção moda consciente e ética.
da concorrência e que, diariamente, procura investigar mais, melhor e de forma
mais rápida, para entregar valor à sociedade, garantindo a aplicação das regras Descrição da função: Perfil:
da promoção e defesa da concorrência e respeitando o princípio da economia • Este profissional (m/f) irá fazer uma função mista entre Negó- • Experiência anterior na função
de mercado e de livre concorrência, no interesse das pessoas. cio, Comércio e Relações Internacionais. Ou seja, para além • Disponibilidade para viajar
da elaboração de propostas, gestão de (potenciais) clientes irá • Carta de condução
Candidaturas (m/f) até 6 de fevereiro de 2023 para: • Conhecimento de línguas estrangeiras (inglês é
também, quando necessário, gerir encomendas e ter disponibi-
obrigatório)
1 DIRETOR-ADJUNTO JURÍDICO E DO CONTENCIOSO lidade para fazer deslocações para fora do país. • Competências analíticas: análise de vendas e re-
Ref.ª REC/2022/8 latórios de acompanhamento comercial
O que necessita para ser bem-sucedido: • A residir preferencialmente no Porto/grande Porto
1 CHEFE DE UNIDADE DE PRÁTICAS RESTRITIVAS • Experiência profissional, boa comunicação, gestão de clientes e
Ref.ª REC/2022/9 Condições oferecidas:
capacidade de apresentar soluções. • Integração em equipa jovem e dinâmica
1 CHEFE DE UNIDADE DE RELAÇÕES • Gosto pela área técnica, comercial e administrativa (pref.) • Plano de carreira
• Será valorizado formação em engenharia eletrotécnica ou ex- • Remuneração, adequada às funções, com com-
INTERNACIONAIS periência técnica em gabinete de projeto ou arquitetura (pref.) ponente fixa e variável
Ref.ª REC/2022/10
• Excelentes conhecimentos de francês (obrigatório). Candidatura acompanhada de CV
1 TÉCNICO DE INFORMÁTICA FORENSE • Residente no Grande Porto, Santo Tirso, Trofa, Vila do Conde, (com fotografia) até 10 de fevereiro para
Ref.ª REC/2022/11 Famalicão e/ou Braga. careers@mypoochbags.com

Candidaturas (m/f) até 17 de fevereiro de 2023 para: O que a empresa lhe pode oferecer:
1 TÉCNICO ESPECIALIZADO • Possibilidade de fazer parte de um projeto onde desafiará as
suas competências técnicas e de gestão e lhe permitirá abraçar
EM RECURSOS HUMANOS um trabalho com possibilidade de crescimento. A Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos, em resul-
Ref.ª REC/2023/1 tado das necessidades decorrentes do cumprimento da sua missão,
pretende recrutar em regime de comissão de serviço, pelo período de
Fique atento às próximas oportunidades. Os candidatos deverão enviar o curriculum vitae para: três anos, com possibilidade de posterior garantia de emprego:

Mais informações em https://www.concorrencia.pt/pt/recrutamento drh9618@gmail.com DIRETOR(A) PARA O DEPARTAMENTO

DE SISTEMAS DE RESÍDUOS
COORDENADOR(A) PARA O DEPARTAMENTO
DE GESTÃO DE TECNOLOGIAS E INFORMAÇÃO

AUDITOR BRAND MANAGER

(m/f)
Admite-se para serviços de Auditoria Finan-
ceira (AF).
Perfil pretendido:
– Licenciatura em Gestão, Finanças, Con-
tabilidade, Economia ou equivalente.
– Média de curso igual ou superior a 12
valores.
– Experiência profissional na área.
– Conhecimentos sólidos nas áreas de Con-
tabilidade Financeira, Contabilidade de
Gestão, Fiscalidade e Direito Comercial.
– Disponibilidade para trabalhos fora da
Grande Lisboa.
Currículo e fotografia atual para o e-mail:
ab.sroc@abconsult.pt
Lisboa
Reportando à Direção de Marketing, o profissional (m/f) terá
PROJECT MANAGER
(m/f)
O respetivo anúncio, requisitos, perfil e critérios objetivos e específicos
de avaliação e seleção dos(as) candidatos(as) foram publicados em
www.ersar.pt.
Só serão admitidos a concurso os(as) candidatos(as) que cumpram os
como principais responsabilidades:
Funções: respetivos requisitos obrigatórios.
O prazo para a apresentação das candidaturas é até às 23h59m do dia
– Apoiar a Direção de Marketing na definição estratégica; • Gestão, coordenação técnica e licencia-
– Implementar o plano promocional e marketing de marca prioritária;
19 de fevereiro de 2023.
mento de projetos. O Presidente do Conselho de Administração
– Desenvolver parcerias que criem valor para a marca; Vera Eiró
– Desenvolvimento de relatórios de performance e de vendas; • Coordenação das atividades imobiliárias e
– Avaliar a competitividade das marcas em termos de posicio- de construção.
namento;
– Analisar tendências de mercado e concorrência para propor o • Gestão e acompanhamento de obra. Recrutamento de (m/f):
PROFESSOR
desenvolvimento de novas oportunidades de negócio.
Requisitos:
Perfil:
• Formação Superior em Gestão, Economia
DE INGLÊS
– Habilitações Literárias: Licenciatura em Marketing, Gestão ou
Economia; ou Engenharia.
– Experiência profissional mínima de 5 anos em Gestão de Marcas;
• Experiência no setor imobiliário e/ou cons-
– Forte compreensão de estratégias de marketing e planeamento; Somos um Colégio de referência sediado em
– Conhecimento avançado e utilizador de plataformas digital; trução superior a 3 anos.
Lisboa.
– Boa capacidade de comunicação, organização e resolução de
problemas;
• Facilidade de trabalhar em equipa, comu-
nicação, dinamismo e sentido de respon- – Procuramos um professor de Inglês, com dis-
– Um agente de mudança e inovação, com foco em resultados;
ponibilidade imediata, para lecionar no 3.º CEB
– Perfil altamente Dinâmico e Criativo; sabilidade.
– Conhecimentos avançados de MS Office; e Secundário.
– Fluência a Inglês (obrigatório); • Conhecimento de idiomas: inglês e/ou es-
– Valorização de experiências colaterais ligadas a Eventos, Sector panhol. Os interessados deverão enviar carta
Alimentar, Horeca, Trade Marketing.
de motivação e CV através do site:
Resposta através do site:
Envio de candidaturas e CV atualizado para www.expressoemprego.pt,
geral@emporspirits.com, com a ref.ª Brand Manager www.expressoemprego.pt até ao próximo dia 17 de fevereiro.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023 ECONOMIA 27

Tem paixão
pela nutrição?
DIRETOR COMERCIAL
A Pharma Nord é um dos maiores fabricantes europeus
de medicamentos preventivos e suplementos alimen-
tares em que a promoção de um estilo de vida saudável
Ref. 2023/1 é fundamental.
Estamos a recrutar um Representante de Produto para
A BCN conta com mais de 60 anos de experiência na comercialização, a zona norte do país. O nosso novo Representante de
consultoria, instalação e formação nas áreas de impressão, informática, Produto deverá ter um forte interesse na área da saúde e
multimédia e educação. bem-estar bem como a ambição de crescimento na função
Na área do Printing é parceiro Gold Xerox e Authorized Service Provider. e com a empresa; e deverá residir preferencialmente na
Na área da Educação, ao longo da sua existência, foi sempre pioneira na região do Porto.
introdução de novas tecnologias, ocupando atualmente um lugar de des- Descrição
taque neste segmento de mercado, disponibilizando soluções de realidade O candidato seleccionado terá como principal respon-
virtual, impressão 3D, programação e robótica, ensino híbrido, entre outras. sabilidade a promoção e formação sobre os suplemen-
tos BioActivo em farmácias.
Reconhecida como a antiga Beltrão Coelho (Porto), encontra-se neste mo- Requisitos pretendidos
mento a recrutar Diretor Comercial (m/f). • personalidade flexível, enérgica e orientada para a
resolução de problemas
Funções: • capacidade de trabalho e determinação em atingir
• Reporte à Direção-Geral os objectivos
• Definição de estratégia comercial, sua implementação e controlo • forte competência comercial
• Gestão da equipa comercial • fluente em inglês
• Coordenação da estratégia com o departamento de Marketing • ter capacidade de fazer apresentações e formação de
produtos
Perfil ideal: Representa uma clara vantagem ter experiência no canal
• Experiência na área comercial, em função equivalente farmácia ou background técnico relevante tais como en-
• Conhecimento profundo do mercado de Printing fermeiros, farmacêuticos ou nutricionistas.
• Iniciativa, dinamismo e foco em objetivos Envie o seu CV e carta de apresentação a explicar porque
• Capacidade de liderança e planeamento é o candidato ideal para Pharma Nord – Representante
• Organização, forte sentido de responsabilidade, proatividade e com for- de Produto, Avenida do Forte, 6-6A (Edifício Ramazzotti),
te orientação para o cliente P1-05, 2790-072 Carnaxide, antes de 28 de Fevereiro de
• Bom relacionamento interpessoal 2023.
• Bons conhecimentos informáticos na ótica do utilizador Para mais informações contacte Gonçalo Cravidão, pelo
• Domínio da língua inglesa telefone 214 131 130.

Vantagens: A Pharma Nord é um dos maiores fabricantes Europeus de su-

• Integração numa empresa sólida e sustentável, com uma forte estraté- plementos alimentares preventivos e de medicamentos à base
gia de expansão para novas áreas de negócio de plantas. A empresa desenvolve, fabrica e comercializa, com
base em documentação científica, suplementos alimentares e
• Remuneração compatível com a função e experiência demonstrada medicamentos à base de plantas assentes numa biodisponibili-
dade, segurança e documentação óptimas.
Envio de candidaturas para Para mais informação visite
recrutamento@bcnsistemas.pt www.pharmanord.pt

Empresa Industrial Química em Lavradio

pretende recrutar

TÉCNICO
EM INSTRUMENTAÇÃO
E AUTOMAÇÃO
ENFERMEIROS (m/f) Perfil do Candidato(a)/experiência
• Formação 12.º ano ou superior;
Para Lisboa e Algarve – Serviço Médico Cirúrgico, • Experiência mínima de 2 anos em manutenção de equipa-
mentos de controlo industrial;
Serviço Urgência e Bloco Operatório
• Conhecimentos de programação de PLCs/DCS, leitura e
interpretação de esquemas elétricos;
A Receive Talent, seleção e recrutamento, procura Enfer-
• Bons conhecimentos de Instrumentação Automatismos e
meiros com os seguintes requisitos:
Eletrónica e Sistemas de Controlo;
• Instalação, calibração e manutenção dos instrumentos e
Perfil:
equipamentos utilizados para controlo de processos in-
• Licenciatura em Enfermagem
dustriais;
• Inscrição na Ordem dos Enfermeiros, com selo anual válido
• Procedimentos de manutenção preventiva e corretiva de
• Suporte Básico de Vida
sistemas de controlo industriais;
• Disponibilidade para realização de turnos • Conhecimentos de inglês;
• Conhecimentos de Informática.
Contrato de Trabalho (40 horas semanais) ou Avença em Pres- • Sentido de Responsabilidade e Autonomia;
tação de Serviços (mínimo 16h semana). • Capacidade de Análise, Rigor e Organização;
• Disponibilidade de realizar prevenções.
Caso tenha interesse, envie por favor o seu CV para
recrutamento@receivetalent.pt Oferta
• Incorporação em grupo idóneo estável e solvente;
No seguimento do novo Regulamento Geral sobre a Proteção • Retribuição de acordo com conhecimentos e experiência;
de Dados Pessoais (RGPD), informamos que os dados pes- • Bom conjunto de benefícios sociais.
soais recolhidos serão tratados no âmbito do processo de can-
didatura indicado neste anúncio, garantindo que o tratamento Resposta ao www.expressoemprego.pt
dos dados recebidos é lícito e limitado à finalidade descrita. RECT202207
28 ECONOMIA
OPINIÃO
Talent Club
Álvaro Fernández
2023: que
tendências
na gestão
de talento?
N
o final de 2022 rea-
lizámos um estudo
junto dos nossos can-
didatos: “Quais as suas
resoluções profissionais para
2023?” Entre planos e dese-
jos, foi-nos revelado que 73%
dos inquiridos começaram o
novo ano com otimismo, ape-
sar dos desafios. Aumento de
salário, equilíbrio entre vida
profissional e pessoal, reco-
nhecimento, transparência
e possibilidade de formação
e progressão na carreira fo-
ram alguns dos aspetos mais
apontados.
Resultados em linha com
o que temos observado no
mercado de trabalho e que
marcam a tónica para as prin-
cipais tendências de 2023 na
gestão de talento. Destaco
a crescente importância do
employer branding e o foco
na experiência do colabora-
dor, a preocupação com a re-
muneração num cenário de
inflação, a exigência de uma
liderança ética, transparente
e baseada na inclusão, o reco-
nhecimento da contribuição
do colaborador e proteção
da sua saúde e bem-estar e,
por fim, a consolidação da re-
levância das soft skills num
mundo corporativo cada vez
mais fluido e centrado na in-
teligência emocional.
A maneira como
os profissionais
encaram o
emprego mudou
Depois de uma pandemia
global, da ascensão do teletra-
balho e de outras mudanças
na forma como trabalhamos, a
maneira como os profissionais
encaram o emprego mudou.
Têm sido sugeridas muitas
denominações sonantes para
descrever uma certa turbu-
lência no mercado laboral: a
“grande resignação”, a “gran-
de renúncia”… No entanto,
preferimos o termo “a grande
reflexão”, que capta a ideia de
que muitos profissionais qua-
lificados estão a reconsiderar
as suas carreiras, mesmo que
ainda não tenham agido com
base nessas considerações.
Estes e outros fatores altera-
ram fortemente o panorama
do mercado de trabalho. Em
muitas áreas, a procura por
talentos qualificados continua
a superar a oferta, embora
surjam no horizonte indícios
de que a situação poderá re-
verter a médio prazo. O que
trará consigo, claro, desafios
de outra natureza.
Perante um cenário de desa-
fios e incertezas, mas também
de oportunidades e inovação,
a questão fundamental é: está
preparado para competir pela
atração e retenção do melhor
talento? Porque com todas as
mudanças há uma certeza que
se mantém — ele é, e continua-
rá a ser, o mais valioso recurso
de qualquer empresa.
Diretor-geral
da Michael Page Portugal
PESSOAS
João Velez de Lima 45 anos, é o responsável pelo escritório do Porto da VdA
“Em equipa, implica saber
gerir-se a si e aos outros”
FORMAÇÃO
Licenciado em
Direito pela
Universidade
Católica do Porto
LEMA
“Procurar emoção e
felicidade na razão”
MISSÃO DE
CARREIRA
“Sentir que fui
bem-sucedido na
partilha constante
com os meus colegas
e clientes do
conhecimento que
fui adquirindo e, se
possível, na partilha
da felicidade e da
paixão com que
diariamente tento
encarar esta
profissão”
Ana Sofia Santos
Durante o curso trabalhou em
várias áreas distintas do direi-
to, mas João Velez de Lima
acabou por se dedicar às leis
fiscais. Começou na Arthur
Andersen, seguindo para a De-
loitte e depois para a Gonçal-
ves Pereira, Castelo Branco &
Associados, numa entrada no
mundo das sociedades de ad-
vogados onde acabou a fazer
carreira, com um salto, pelo
meio, para a KPMG.
Seguiram-se outras expe-
riências e depois de ter ru-
mado, em 2021, com parte da
equipa da PLMJ para a Vieira
de Almeida (VdA), no Porto,
assume agora a liderança do
escritório nesta geografia, su-
cedendo a Manuel Cavaleiro
Brandão, que continuará a sua
atividade enquanto sócio da
DICAS BOM DEMAIS PARA SER REAL? SEIS INDÍCIOS DE QUE A OFERTA É FALSA
Com a economia mundial
a atravessar momentos
de incerteza e a escalada
da inflação e dos juros a
pressionar a carteira dos
trabalhadores, muitos
estão a procurar segundos
empregos, preferencialmente
remotos, para equilibrar as
contas no final do mês. As
ofertas proliferam nas redes
sociais e nas plataformas de
recrutamento, mas atenção:
o número de ofertas de
emprego fraudulentas está
a aumentar. Se lhe parecer
bom demais para ser verdade,
não forneça dados sem
verificar a empresa, alertam
os especialistas do LinkedIn,
que dão várias dicas para
identificar ofertas falsas.
VdA. Num cargo de gestão que últimos 10 anos, dedicar uma
não é uma novidade e que o grande percentagem do meu
advogado pretende desempe- tempo à gestão de pessoas,
nhar em conjunto com a prá- ainda que mais focada em ad-
tica do direito fiscal. vogados fiscalistas e consulto-
“Hoje em dia, qualquer ad- res fiscais”.
vogado integrado numa so- Não considera que os advo-
ciedade de advogados e que, gados sejam uma categoria
portanto, trabalhe em equipa profissional mais difícil ou fácil
tem de saber gerir-se a si pró- de lidar por comparação com
prio e aos outros advogados”, as demais. “Sendo a VdA uma
indica João Velez de Lima so- organização de pessoas para
bre o desafio de estar à frente pessoas, num ambiente de
da equipa da VdA na Invicta, grande exigência, em que dia-
sinalizando que tem tido “a riamente temos de assegurar a
sorte de, principalmente nos satisfação dos nossos clientes,
e sendo os advogados pessoas,
estou convicto de que gerir
advogados é apenas gerir pes-
O escritório do Porto soas, com tudo o que de bom
é “um imperativo e de desafiante existe à volta
estratégico”, ligado à dessa realidade”, comenta.
Para João Velez de Lima, o
“ambição e dimensão escritório do Porto é, para a
nacional da firma” VdA, “um imperativo estra-
tégico”, ligado à “ambição e
1 4
REDAÇÃO DUVIDOSA
Uma oferta de emprego semelhante a uma má tradução, com
erros ortográficos e uma linguagem pobre, é um dos primeiros
sinais de alerta a que deve estar atento para evitar ser burlado.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
PERCURSO
“Iniciei a minha vida
profissional na área do direito
fiscal em 2001, na Arthur
Andersen, passei para a
Deloitte (sociedade que
integrou a Andersen em 2002)
e em 2004 fui convidado para o
departamento de fiscal da
Gonçalves Pereira, Castelo
Branco & Associados (mais
tarde fundiu-se com a
Cuatrecasas). Em 2006, em
conjunto com parte da equipa
com quem trabalhava, ajudei a
lançar no Porto o escritório da
Garrigues, onde fiquei até ao
final de 2012. Depois de ter tido
experiências muito
enriquecedoras na KPMG e
novamente na Cuatrecasas,
também no Porto, fui para a
PLMJ. Finalmente, em 2021 vim,
com a maior parte da nossa
equipa da PLMJ, reforçar a VdA
no Porto”
HOBBIES
Estar com a família.
Correr ao ar livre e
nadar no mar
ÚLTIMAS
LEITURAS
“Última Colheita”,
de Francisco Costa
(escritor sintrense
do século XX)
dimensão nacional da firma”,
numa aposta em que é reco-
nhecida “a importância do
contributo da região Norte
para a economia portuguesa”.
É estratégica esta proximida-
de aos clientes, não só aqueles
que fazem parte do tecido em-
presarial industrial localizado
nesta região, mas também os
competidores internacionais,
“dos mais variados sectores,
que identificam Portugal e o
Norte do país como um polo
de excelência para investirem
e instalarem os respetivos ne-
gócios”.
A VdA conta com cerca de
40 pessoas no Porto (de um
total que ronda os 500 cola-
boradores) e para 2023 “são
esperadas novas contratações,
de modo a assegurar os objeti-
vos estratégicos da sociedade
para este mercado”, adianta.
assantos@expresso.impresa.pt
2 contacto, mas se algo lhe
SALÁRIO IRREALISTA
Ofertas com salários muito
acima daquilo que é prática no
mercado para a mesma função
devem ser também um sinal de
alerta para os candidatos.
3 Ofertas que exigem
PEDIDO DE DADOS
Uma oferta que exija aos
candidatos dados bancários
para um suposto pagamento
do salário logo na primeira fase
do processo e antes da
entrevista é para descartar.
CONTACTOS SUSPEITOS
Verificar os contactos da oferta
é obrigatório. Nem todos os
anúncios indicam um nome de
Emília
Roseiro
> Integra a Bel
desde 2003
> É licenciada
em Gestão
Foi nomeada diretora de Re-
cursos Humanos da Bel para
a Europa do Sul e Turquia.
Emília Roseiro lidera desde
2015 os Recursos Humanos
da Bel Portugal, cargo que
desde 2022 passou a exercer
também em Itália. Licenciada
em Gestão e pós-gradua-
da em Gestão de Recursos
Humanos, soma no currículo
empresas como a Mars, a
Heineken e a Sara Lee Foods,
onde consolidou experiên-
cia em vendas e marketing
antes de integrar, em 2003,
a Bel Portugal. Na empresa
foi gestora de marcas locais
antes de se tornar diretora de
Marketing e, posteriormen-
te, de Recursos Humanos.
A sua nomeação acontece
numa altura em que a Bel
quer desenvolver as equipas
locais de recursos humanos,
dar visibilidade às melhores
práticas e procurar sinergias
com base nas competências
das equipas.
Patrícia Vinagre e Silva
Acaba de integrar a Andersen
Portugal como sócia, para li-
derar a área de direito público.
Patrícia Vinagre e Silva é mes-
tre em Direito Administrati-
vo, soma 20 anos de carreira
e transita da Gouveia Pereira,
Costa Freitas & Associados,
onde foi responsável pela mes-
ma área de prática por mais de
14 anos.
Ana Correia
> Soma mais
de 15 anos de
carreira
> É mestre em
Gestão de
Recursos
Humanos
Vai liderar a área de marca do
empregador (employer bran-
ding) da consultora Zühlke,
especializada em serviços de
engenharia de software para
projetos internacionais, que
abriu escritório no Porto em
2021. Ana Correia liderou os
recursos humanos do escritório
nacional até agora e no novo
cargo terá como missão defi-
nir e implementar um plano de
atração e retenção de talento,
dando destaque aos benefícios
e regalias mais valorizados pe-
los profissionais do sector tec-
nológico, nos centros globais
de engenharia da Zühlke em
Portugal, Sérvia e Bulgária.
parecer estranho (números de
telefone, correio eletrónico ou
domínios duvidosos), pesquise
online se há relatos de fraude.
5
EXIGÊNCIA DE DINHEIRO
investimento inicial (seja para
formação, equipamentos ou
produtos) são de duvidar. O
que procura é um rendimento
extra, não mais encargos.
6
EMPRESAS-FANTASMA
Poucas serão as empresas hoje
que não têm informação
online. Se já fez pesquisas e
não encontra referências à
empresa, não se candidate.
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
OPINIÃO
Capital de Risco por Rodrigo de Matos
O eucalipto, uma espécie por muitos abusivamente chamada de incendiária,
tem uma presença relativamente modesta no ranking da área de floresta ardida em 2022
Eucalipto, por onde
andaste no verão passado?
Francisco Gomes da Silva
A
pesar da chuva destes
últimos dois meses, o
ano de 2022 foi um ano
muito seco, como secos
já tinham sido os quatro
anos anteriores. Acres-
ce que, ao longo destes
cinco anos de seca, vastas áreas de
floresta e matos do nosso território,
nomeadamente as áreas ardidas em
2017 e 2018, foram completamen-
te abandonadas, agudizando-se vi-
sivelmente o problema da sua falta
de gestão. Assim, no final da última
primavera, as enormes quantidades e
as condições de humidade do combus-
tível acumulado em manchas muito
significativas do território nacional
levavam a que temêssemos o pior em
matéria de incêndios florestais. Cer-
tamente que muitos desejámos que o
verão fosse passar os meses seguintes
a outras paragens. Tal não aconteceu:
manteve-se a seca até setembro e che-
gámos ao fim de outubro com um total
de 111.860 hectares de área ardida,
entre áreas de floresta (50%), áreas
de matos (36%), áreas agrícolas e de
pastagens (11%) e outras áreas (3%).
Não nos iludamos; apesar de ter sido
possível limitar os danos em pessoas e
em alguns dos seus bens (e felizmente
que assim foi), ardeu muito mais área
do que é aceitável que arda. Foi área
a mais, porque se destruiu economia
de base florestal que demorará muitos
anos a repor. Foi área a mais, porque
se destruíram muitos valores naturais,
alguns deles dificilmente substituí-
veis. Foi área a mais, porque se deu
um passo atrás no contributo para a
descarbonização da economia, com
a floresta a comportar-se como uma
fonte emissora de CO2.
Concentremo-nos nos 55.710 hec-
tares de área de floresta que ardeu
em 2022 (os tais 50% da área total
ardida), que se discrimina no quadro
seguinte e do qual destaco alguns va-
lores, agrupando as espécies pela sua
semelhança:
— a área de pinheiros e outras re-
sinosas representou 53,7% da área
ardida (pinheiro-bravo com 48,8%);
— a área de sobreiros, azinheira,
outros carvalhos, castanheiros e ou-
tras folhosas representou 24,3% da
área ardida;
— a área de eucalipto representou
21,3% da área ardida.
Ou seja, o eucalipto, uma espécie
por muitos abusivamente chamada
de incendiária, tem uma presença
relativamente modesta neste ranking.
Quer isto dizer que o eucalipto arde
menos do que outras das espécies
referidas (algumas abusivamente cha-
madas de bombeiras)? Nem por isso.
O que quer dizer é que, com a ausên-
cia de gestão dos espaços florestais (e,
muito importante, nos espaços que
rodeiam as florestas), a acumulação
de combustível que ocorre (nomea-
damente combustível fino) faz com
que arda aquilo que estiver no terre-
no. Basta para isso que ocorra uma
circunstância meteorológica mais
desfavorável.
ÁREA DE FLORESTA ARDIDA EM 2022
Espécies referentes a 50% da área total ardida
TIPOS DE FLORESTA (COS 2018)
Florestas de sobreiro
Florestas de azinheira
Florestas de outros carvalhos
Florestas de castanheiro
Florestas de eucalipto
Florestas de outras folhosas
Florestas de pinheiro-bravo
Florestas de pinheiro-manso
Florestas de outras resinosas
Áreas dominadas por espécies invasoras
TOTAL
FONTE: BIOND
tar de forma “brutal” os níveis e a in-
O que é verdadeiramente tensidade de gestão da generalidade
importante é a urgente da floresta em Portugal.
Um exemplo disto mesmo (apenas
necessidade de se um exemplo, sem com ele querer pro-
aumentar de forma var o que quer que seja) é dado pela
“brutal” os níveis reduzida incidência de incêndios nas
áreas geridas pelas empresas associa-
e a intensidade de gestão das da Biond: em 2022 arderam 359
da floresta em Portugal hectares de povoamentos de eucalipto
geridos pela Altri e pela The Navigator
Company, o que representa uma in-
Que fique claro: não estou a utilizar cidência cerca de 10 vezes menor por
o exemplo deste ano para provar o comparação com os 11.886 hectares de
que quer que seja. Essa prova já a povoamentos de eucalipto que arderam
ciência produziu, e de forma sólida e em todo o país (0,18% contra 1,4%).
abundante. Estou apenas a chamar a Não percamos mais tempo; no in-
atenção para o tempo desperdiçado teresse de todos (sim, muito no inte-
ao longo dos últimos cinco anos (des- resse do país, dos recursos naturais
de os incêndios de 2017, para não re- e do clima), concentremos as nossas
cuar mais) a “perseguir” eucaliptos, energias e os nossos meios naquilo
qual D. Quixote na perseguição dos que poderá fazer a diferença efetiva
moinhos que tanto o atormentavam. na nossa floresta: intensificar os níveis
Foram tempo e energia duplamente de gestão daquilo que está no territó-
desperdiçados; por um lado, porque rio. Só a partir daí poderemos pensar
o eucalipto não é a causa dos incên- em (re)desenhar a nossa paisagem, o
dios (nem mais nem menos do que que quer que isso queira dizer. Flo-
qualquer outra espécie), por outro, restas com uma gestão ativa, onde se
porque não se deu atenção ao que faz a “limpeza” do mato (controlo da
é verdadeiramente importante (tal vegetação espontânea), têm menor
como a ciência o vem repetindo), que risco de incêndio. As áreas de flores-
é a urgente necessidade de se aumen- ta geridas têm um maior número de
caminhos e faixas com baixa carga
de combustível, permitindo que as
equipas de combate a incêndios atuem
rapidamente, impedindo a progressão
ÁREA ARDIDA (HA) EM % das chamas. É por isso que o relatório
2256 4,05 da comissão independente nomeada
219 0,39 pela Assembleia da República para
6619 11,88 analisar os incêndios de 2017 foi muito
1156 2,07 clara nas suas conclusões: os eucalip-
11.886 21,34 tais ou os pinhais, desde que devida-
3275 5,88 mente geridos, oferecem mais resis-
27.161 48,75 tência à propagação do fogo, sendo
1060 1,9 parte da solução e não do problema.
1700 3,05 Só falta assumirmos que assim é e
377 0,68 agirmos em conformidade.
55.710 100%
Diretor-geral da Biond
ECONOMIA 29
Fazer (bem)
as contas
à mobilidade
elétrica
Daniela Simões
O
Governo anunciou para este
ano um desconto de €0,1902
pelo carregamento de veícu-
los elétricos na rede de mobi-
lidade elétrica nacional, diminuindo
assim o apoio de €0,2614 praticado
em 2022. Com o financiamento do
Fundo Ambiental, trata-se de dar
continuidade a um incentivo para
uma maior utilização de veículos
elétricos, uma mudança fundamen-
tal para que se consigam cumprir
as metas de neutralidade carbónica
estabelecidas pela UE até 2050.
Muito se tem debatido sobre o pre-
ço da energia, os aumentos de 2022
e o impacto junto de todos. Como é
óbvio, estes aumentos mexem com
toda a economia e, consequente-
mente, com o sector da mobilida-
de elétrica, que tem vivenciado um
crescimento significativo, com ex-
celentes previsões de crescimento
para os próximos anos.
O valor do apoio apresentado é,
desta forma, a manutenção de um
incentivo para que a transição para a
mobilidade elétrica possa prosperar,
pois o preço da energia no merca-
do pode ser um fator determinante
para que os utilizadores de veículos
elétricos reduzam a quantidade de
viagens e carregamentos que fazem.
E a redução da tarifa de acesso às
redes de energia elétrica (TAR) para
valores negativos vem atenuar o efei-
to da subida dos preços da energia
no mercado, ajudando a trazer de
volta preços de energia competiti-
vos, uma excelente notícia para o
crescimento da mobilidade elétrica.
Paralelamente, a descida da tari-
fa da Entidade Gestora da Rede de
Mobilidade Elétrica (tarifa EGME)
por sessão de carregamento tam-
bém ajuda a atenuar os efeitos da
subida do preço da energia, embora
de forma menos significativa para
os utilizadores e apesar de existi-
rem CEME no mercado que nunca
cobraram essa tarifa, e assim o con-
tinuarão a fazer.
Com estas reduções, a verdade é
que o preço da energia para o carre-
gamento de carros elétricos na rede
pública nacional tem estado baixo e
os utilizadores que tenham acesso
a um CEME com o preço indexado
podem estar a carregar, em vários
períodos do dia, por valores desde
€0,08/kWh, o que se vai traduzir
num custo aproximado de €1,2 para
circular 100 quilómetros.
A transição para uma mobilidade
mais sustentável é real e necessária,
sendo importante que tanto o Go-
verno como os operadores do sector
façam os esforços necessários para
que continue a existir um interesse
crescente na adoção de elétricos,
pelo que a redução destas tarifas é
uma medida, na minha opinião, po-
sitiva e necessária. Além dos incen-
tivos de caráter monetário, reforço
também que é necessário continuar
o trabalho que tem vindo a ser rea-
lizado para que o carregamento na
rede pública se torne cada vez mais
prático, cómodo e intuitivo para o
consumidor.
Com as previsões a indicarem um
aumento de 57% nos carregamen-
tos na rede de mobilidade elétrica
este ano, é também expectável que
daqui em diante comecemos a ver
um maior número de empresas a
apostar em frotas elétricas. Esta mu-
dança acontece pela poupança de
custos e pela crescente adoção de
práticas ambientais das organiza-
ções — ações corporativas que são
cada vez mais valorizadas pelos con-
sumidores para uma maior empatia
e ligação com as marcas.
CEO da miio
30 ECONOMIA
MUND O
1 EUA
Powell
sobe juros,
mas com
moderação
Reserva Federal decidiu esta
quarta-feira abrandar a subida
dos juros, optando por aumentar
apenas 25 pontos-base
Jorge Nascimento
Rodrigues
Jerome Powell tocou, esta se-
mana, a mesma música que os
mercados, que apontavam para
um abrandamento significativo
do ritmo de aumento dos juros
da Reserva Federal (Fed). A
subida foi de apenas 25 pon-
tos-base (um quarto de ponto
percentual), a mais baixa desde
março do ano passado, quando
a Fed iniciou a vaga de aperto
monetário. A taxa diretora está
agora no intervalo entre 4,5%
e 4,75%, a segunda mais alta
nas economias desenvolvidas.
Acima só estão os juros do ban-
co central da pequena Islândia
(6%). A decisão foi tomada por
unanimidade, mas não significa
que a Fed esteja a dar um sinal
de que fará o mesmo em mar-
ço, quando se reúne de novo e
apreciará novas projeções ma-
croeconómicas.
Nas oito subidas desde março
do ano passado, Powell já enca-
receu o custo do financiamento
em dólares em 450 pontos-ba-
se. Ou seja, 4,5 pontos percen-
PROJEÇÕES
DESENCONTRADAS
Variação anual do PIB em %
1,5 1,4
1,6
1
FMI
0,5 0,5
Fed
0 monetária pode continuar a
2023
FONTES: FED (DEZEMBRO 2022); FMI (31 JANEIRO 2023)
INFLAÇÃO NOS EUA
DESACELERA
Variação do índice de preços PCE em %
5 A pressão para reduzir o aper-
4 eleições presidenciais no final
3 empurrão face à diminuição
2 junho. No índice de preços que
1
2018 19 20 21 22
Nota: Previsão para 2022 e projeções
da Fed para 2023-2025; PCE é o índice de
preços dos gastos pessoais de consumo
FONTES: KNOEMA; FED
CURVA INVERTIDA
DE JUROS
Taxas da dívida pública em %
6 meses
12 meses
2 anos
3 anos
5 anos
10 anos
30 anos
Nota: Yields no mercado secundário
FONTE: INVESTING.COM (31/1/2023)
tuais acima do que vigorou
até 15 de março de 2022, até
quando se manteve a política
expansionista posta em práti-
ca na resposta aos efeitos da
pandemia logo a 3 de março
de 2020.
Fed não prevê fazer pausa
Embalado por este abranda-
mento de ritmo, o mercado de
futuros está confiante em que a
Fed só fará mais um aumento de
mais 25 pontos-base na próxima
reunião, a 22 de março, e que
depois, a partir de maio, entra
num período de pausa quando
os juros estiverem em 5% no
limite superior. Mas na confe-
rência de imprensa realizada
após a reunião Jerome Powell
não deu qualquer sinal de que
está em sintonia com essa ex-
pectativa. “O comité [de política
monetária] não está a antever
decidir-se por uma pausa” no
ciclo de aumento dos juros.
Muitos analistas de mercado
continuam a achar que o risco
de uma recessão nos EUA está
no horizonte em 2023, pois a
curva dos juros da dívida está
invertida. Uma anomalia que
significa que os juros de curto
e médio prazos são superiores
aos de longo prazo. Os cole-
gas de Powell, na reunião de
dezembro passado, previam
que a economia, em 2023, só
crescesse 0,5%. O FMI, esta
1 semana, transpirou otimismo:
o crescimento será de 1,4%. O
presidente da Fed continua a
insistir, por isso, que a política
2024 apertar “sem que se caminhe
para um abrandamento subs-
tancial da economia” ou uma
degradação séria do mercado
de trabalho.
Desinflação não é geral
to, para mais a caminho de
de 2024, recebeu mais um
2,1 da inflação desde um pico em
é seguido pela Fed — o relativo
aos gastos do consumo pessoal
23 24 25 (PCE) —, a inflação desceu para
5% em dezembro. No entanto,
Powell chamou a atenção para
que a boa notícia não chega.
“Podemos dizer, pela primeira
vez, que há desinflação no sec-
tor dos bens de consumo”, mas
isso não é suficiente. Falta ver
a desinflação no amplo sector
dos serviços, excluindo os for-
necidos às famílias.
4,8 Só quando esse processo for
4,7 global a Fed poderá pensar em
4,2 fazer uma pausa. De qualquer
3,9 modo, Powell não prevê que a
3,6 Fed avance com cortes das taxas
3,5 este ano, invertendo o ciclo que
3,7 iniciou em 2022. De qualquer
modo, na reunião de março se-
rão analisadas novas projeções.
economia@expresso.impresa.pt
Expresso, 3 de fevereiro de 2023
2 EUA 3 REINO UNIDO
Vacina da covid
puxa lucros
da Pfizer
FOTO DAVID GRAY/AFP VIA GETTY IMAGES
A farmacêutica norte-americana
Pfizer anunciou um lucro líquido
de 31.371 milhões de dólares (cerca
de €29 milhões) em 2022, mais 43%
do que no ano anterior, sobretudo
devido às vendas da sua vacina con-
tra a covid-19. No ano passado, as
receitas cresceram 23%, para o va-
lor recorde de 100.330 milhões de
dólares (cerca de €92.596 milhões).
Por unidades de negócio, a divisão PROCURA DE OURO EM MÁXIMOS DE 10 ANOS
global de biofarmacêutica registou A procura global de ouro atingiu em 2022 o nível mais alto desde 2011,
receitas de 98,988 milhões de dó- impulsionada por compras recorde dos bancos centrais que mais do que
lares (€91.351 milhões), mais 24%, duplicaram num ano, segundo um relatório do Conselho Mundial do
com destaque para os 73.023 mi- Ouro publicado esta semana. A procura de ouro no conjunto do ano de
lhões de dólares (€67.283 milhões)
aportados pela área de cuidados pri-
2022 atingiu as 4740,7 toneladas, um aumento de 18% em relação a 2021,
impulsionado por um forte quarto trimestre.
mários, um incremento de 40%. No
quarto trimestre de 2022 as receitas
da Pfizer somaram 24.290 milhões
de dólares, quase metade das quais
resultantes da venda da vacina con-
tra a covid-19 Comirnaty e 1800 mi-
lhões de dólares do medicamento
Paxlovid, usado para tratar doentes
com covid-19.
12
57
6 CHINA
Pequim acusa
EUA do controlo
de exportações
8 BÉLGICA
ECONOMIA EUROPEIA
A CRESCER
3,6%
foi quanto cresceu a economia
da União Europeia em 2022,
7 EUA
segundo o Eurostat. A mesma
fonte nota que se for considerada
O Governo chinês criticou esta se- apenas a zona euro o crescimento
mana a imposição pelos EUA de res-
trições sobre as exportações de alta
Snapchat ganha foi de 3,5%. Em ambos os casos
acima do previsto. Na verdade,
tecnologia como uma violação co- clientes mas a estimativa rápida, divulgada
mercial, depois de o Japão e os Países esta semana pelo serviço
Baixos terem concordado em alinhar perde dinheiro estatístico europeu, revê em
com Washington. Em causa está o alta as mais recentes previsões
acesso a equipamento para fabricar da Comissão Europeia, que em
chips semicondutores avançados. Os novembro apontavam para um
EUA argumentam que aqueles com- A rede social Snapchat continua crescimento anual de 3,2% do
ponentes podem ser usados pela Chi- a ganhar utilizadores e a perder Produto Interno Bruto (PIB) da
na para fins militares e no aparelho dinheiro, indicam os resultados tri- zona euro e de 3,3% da UE. No
de vigilância doméstico. O Ministério mestrais publicados esta semana, o quarto trimestre de 2022, por
dos Negócios Estrangeiros chinês que é um mau augúrio para empre- seu lado, o crescimento do PIB
acusou Washington de abusar das sas do sector, como a Meta, dona do da zona euro abrandou para os
restrições sobre as exportações e de Facebook e Instagram. A Snapchat 1,9% na variação homóloga e os
coordenação com outros Governos conta com 375 milhões de utiliza- 0,1% na comparação em cadeia.
para “manter a sua hegemonia” e dores, mais 17% do que no fim de Entre os Estados-membros para
conter o desenvolvimento da Chi- 2021. Porém, o volume de negócios os quais há dados disponíveis,
na. Os EUA estão a impedir a China mantém-se nos 1,3 mil milhões de Portugal registou, nos últimos
de adquirir chips semicondutores e dólares no último trimestre de 2022 três meses de 2022, o segundo
tecnologia para a sua produção, o e os resultados líquidos caíram de maior crescimento homólogo do
que lhe permitiria modernizar a sua um lucro de 23 milhões de dólares PIB (3,1%) e o terceiro maior em
capacidade industrial. para um prejuízo de 288 milhões. cadeia (0,2%)
 Expresso, 3 de fevereiro de 2023 ECONOMIA 31

Pente Fino
Manuela
Ferreira Leite

4 EUROPA 5 EUA As aparências iludem

O FUNDO
MONETÁRIO
Lucros da petrolífera ExxonMobil
INTERNACIONAL mais do que duplicaram em 2022
(FMI) ESTÁ
LIGEIRAMENTE MAIS
OTIMISTA SOBRE
O CRESCIMENTO

FOTO BRANDON BELL/GETTY IMAGES

ECONÓMICO DA
ZONA EURO ESTE

FOTO NUNO BOTELHO

ANO E PREVÊ AGORA
UMA EXPANSÃO
DO PIB DE 0,7%,
MAIS 0,2 PONTOS
PERCENTUAIS. O FMI
DESCARTA TAMBÉM
O
s recentes casos públi- que implicassem um melhor
A ExxonMobil, a maior empresa pe- no ano passado, contra 5,39 dólares cos despertaram a opi- funcio namento com menos
UMA RECESSÃO NA trolífera norte-americana, registou (€4,98) por ação no ano anterior. Es- nião pública para uma despesa, como a maior qua-
ALEMANHA E ITÁLIA. lucros de 55.740 milhões de dóla-
res (€51.462 milhões), um aumento
tes resultados não incluem as impari-
dades de 3,4 mil milhões de dólares
realidade adormecida.
O que parecia pacífico passou
lificação dos funcionários e o
recurso à informatização dos
A REVISÃO EM de 142% face a 2021, num exercício do projeto Sakhalin-1, na Rússia, onde a ser rejeitado com veemência; serviços, para além de uma vi-
ALTA DEVE-SE AOS marcado pela recuperação da pro-
cura e oferta limitada, foi hoje anun-
a atividade da ExxonMobil foi afe-
tada pela invasão russa da Ucrânia.
o que era assunto de outros
passou a ser de todos nós.
são conjunta do funcionamento
dos diferentes sectores de pres-
EFEITOS DA RÁPIDA ciado. A multinacional, com sede em No total, a empresa faturou 413.680 A confiança nas instituições tação de serviços.
Irving, Estado do Texas, registou um milhões de dólares em 2022, acima tremeu e deu lugar à descon- A opção foi a mais fácil. Tudo
SUBIDA DAS TAXAS lucro 13,26 dólares (€12,24) por ação dos 285.640 milhões de dólares que fiança e à descrença, que tanto na mesma, mas com menos di-
DE JURO DO BANCO obteve em 2021. No último trimestre podem conduzir à indiferença nheiro. As despesas necessá-
do ano passado a petrolífera teve um como à revolta. Qualquer des- rias foram sendo orçamenta-
CENTRAL EUROPEU lucro de 12.750 milhões de dólares, tas situações é perigosa. Este das para calar os críticos, mas
E À EROSÃO DOS mais 43,7% do que no mesmo período sentimento originou sugestões foram congeladas para brilhar
do ano precedente, quando lucrou de vária ordem: umas primá- em Bruxelas. Daqui resultou
RENDIMENTOS 8870 milhões de dólares. rias, outras desadequadas. uma sistemática deterioração
REAIS, ENTRE Assistiu-se a um desfilar de dos serviços públicos, e isso,
preocupações traduzidas em sim, afecta o bem-estar dos
OUTROS FATORES perguntas de La Palisse, evo- portugueses.
luindo para hipóteses “moder- Foi um corte da despesa a
nas”, de carácter profissional, sangue-frio que atingiu todos
estilo exame para CEO de uma os serviços sem excepção, com
grande empresa. consequências dramáticas nos
Apesar deste anúncio públi- mais importantes sectores so-

9 co do perfil que se deseja para

quem anseia ser membro do
Governo, o que verdadeira-
3 mente continua a faltar é o pro-
jecto que esses seleccionados
irão abraçar.
O primeiro-ministro deve, se-
ciais, como a saúde e a educa-
ção.
Seria exigível que a estes
sectores não tivesse faltado o
investimento adequado duran-
te os últimos anos, ainda por
cima quando não foi por falta

8
guramente, ter um pensamen-
to estratégico para o país, mas
4 não o anuncia, que é a forma de
não desiludir.
Não pode estar conformado
de recursos.
Ninguém nega a importância
decisiva da redução do peso
da dívida no PIB, mas a ausên-
cia de crescimento económico

6
com o empobrecimento de Por- mais forte implicou que a re-
tugal, com a falta de perspecti- dução desse peso tivesse con-
vas que tem conduzido à emi- sequências mais duras.
gração dos jovens, com a carga
fiscal que supera o nível médio
dos restantes países europeus, Foi um corte da
com a falta de competitividade despesa a sangue-
das empresas portuguesas, com
o envelhecimento da população -frio que atingiu
e com a baixa taxa de natali- todos os serviços
dade, que não se resolve com sem excepção,
relatórios nem com grupos de com consequências
trabalho, mas com perspectivas
de condições de vida que permi- dramáticas nos
tam constituir família. mais importantes
No entanto, se o seu inconfor- sectores sociais
mismo existe, não se traduz em
acções, em reformas, em objec-
tivos, em metas, em prazos. Neste contexto, os índices de
Falta ambição. crescimento podem ser cele-
O que se anuncia como resul- brados, o equilíbrio das contas
tado muito positivo do Gover- públicas aplaudido, os indica-

9 NORUEGA
no é o crescimento económico,
dito “notável” e “histórico”, as
estatísticas do emprego e do
Fundo soberano perde mais de €150 mil milhões em 2022 desemprego que tranquilizam,
o défice orçamental, quase su-
peravit, o peso da dívida públi-
ca no PIB, que nos credibiliza
O fundo soberano da Noruega, o maior nos mercados financeiros.
do mundo, perdeu mais de €150 mil Os valores numéricos que
milhões em 2022 devido ao fraco de- sustentam estas afirmações são
sempenho do mercado financeiro im- verdadeiros, mas as estatísticas
pactado pela guerra na Ucrânia e pelo não são soluções, mas apenas o
enfraquecimento da economia global. sinal de que existem condições
“Os mercados foram afetados pela para que as políticas possam
guerra na Europa, pela inflação elevada resolver os reais problemas que
e pelo aumento das taxas de juro”, disse afligem os cidadãos.
o diretor do fundo gerido pelo banco Não repetirei a explicação
central norueguês, Nicolai Tangen, em do significado da taxa de cres-
comunicado, citado pela agência Fran- cimento do PIB quando se
ce-Presse (AFP). O fundo teve perdas compara com um valor muito
de 14,1%, o equivalente a 1,64 biliões baixo, mas reafirmo o que sig-
de coroas (€151 mil milhões), tendo nifica o valor do défice ao ser
terminado 2022 com um valor total de conseguido por uma carga fis-
12,43 biliões de coroas (cerca de €1,148 cal asfixiante para as famílias e
biliões). De acordo com o Banco da No- empresas, em parte disfarçada
ruega, a situação global tem tido “um pela anestesiante e reforçada
FOTO GETTY IMAGES
dores do desemprego elogia-
dos, que nada amenizará o mal-
-estar geral da população.
O Governo tem de perceber
que as estatísticas não resolvem
os problemas dos cidadãos.
Ou se define uma política
consistente e sustentável de
crescimento económico ou os
jovens continuarão a sair em
busca de um futuro mais ade-
quado às suas legítimas am-
bições.
Os mais velhos, que não po-
dem ajudar os jovens a perma-
necer ao pé deles, conformam-
-se com a solidão.
O que se pede a um Governo
de maioria absoluta é que de-
fina e abra o caminho realista
para um futuro de esperança e
que não se agarre às vicissitu-
des incontroláveis, como a co-
vid ou a guerra, para justificar
um país à deriva.

impacto negativo tanto no mercado de tributação indirecta. Economista

ações como no mercado obrigacionista, Era evidente que essa redu-
o que é muito invulgar”. Cerca de 69,8% ção só era possível, sem pôr
do valor do fundo representam ações, em causa o funcionamento e Manuela Ferreira Leite
enquanto 27,5% são obrigações e 2,7% a qualidade dos serviços públi- escreve de acordo
bens imobiliários. cos, com reformas adequadas com a antiga ortografia
32 ECONOMIA Expresso, 3 de fevereiro de 2023