OPINIÃO PESSOAS

A demissão > Miguel Leónidas

de Costa Rocha Líder
de operações
— e o que da Arrow
se segue
4 220 205 2007 2 -- B

Global
JOÃO SILVESTRE, Portugal Apartamentos, Arrendamento, M x

RICARDO REIS,
     

E28
FRANCISCO ENCONTRE RAPIDAMENTE
LOUÇÃ, TUDO O QUE LHE
JOÃO DUQUE,
ENCHE AS MEDIDAS
LUÍS MARQUES
E DANIEL BESSA
E2,3,8,10e31 > Dicas Como
escapar a recrutadores-
-fantasma E28

ECONOMIA IMOBILIÁRIO
& EMPREGO
2663
10 de novembro de 2023
expresso.pt

Trabalhadores mais Efacec

encolheu à
espera de ser
€560
milhões em
empréstimos
qualificados duplicam privatizada fora da banca

numa década Menos receita, mais

dívida e capitais próprios
negativos é o retrato da
empresa que o Estado
quis salvar em 2020
O Estado entrou na Efacec
para evitar o colapso financeiro
Emprego em Portugal ultrapassa a barreira dos cinco milhões no e dar nova vida à empresa. Só à
segunda tentativa e depois de
terceiro trimestre pela primeira vez desde 2009. Mas há mais do €200 milhões a fundo perdido,
a que se somam mais €160 mi-
dobro das pessoas com ensino secundário e superior a trabalhar E24 lhões, encontrou novo dono. E11
Detetor de agiotas, que
cobram juros usurários
pelos empréstimos, foi
lançado há um ano e meio,
mas só agora foi afinado
Base de dados para detetar
‘agiotas’, gerida pelo Banco de
Portugal, recebeu 4103 comu-
nicações desde março de 2022.
Os contratos de crédito cele-
brados fora do sistema bancá-
rio totalizam €560 milhões. E4

OS NEGÓCIOS SUSPEITOS QUE PROVOCARAM UMA CRISE POLÍTICA

> Lítio, hidrogénio e centro de
dados na mira do Ministério Público
> Chefe de gabinete e amigo de António
Costa entre os principais suspeitos
> Juros da dívida não reagem mas
subida do rating pode ser adiada
> Saiba como ficam as pensões,
os salários, a TAP e o PRR E6a8
FOTO TIAGO PETINGA/LUSA

Revolução O ANO DA “GERINGONÇA” Paulo Azevedo

Isabel Vaz: “É importante a luta Em 2016, uma solução política
que está a ser feita pelos médicos” na Avenida inédita coloca o PS no poder,
com o apoio da esquerda.
aposta nas
CEO da Luz Saúde alerta para risco de reforma do Serviço
da Boavista, Começa a caminhada
profissões
Nacional de Saúde que não inclua o sector privado E5 no Porto E18 até ao superávite E16 do futuro E9
2 ECONOMIA Expresso, 10 de novembro de 2023

Utilidade Web Summit 2023
Marginal em contagem
decrescente
João Silvestre
jsilvestre@expresso.impresa.pt
Arranca na próxima
segunda-feira a edição deste
ano da Web Summit, que ficou
envolvida em grande polémica
por causa das declarações do seu
fundador, Paddy Cosgrave, sobre
a guerra no Médio Oriente.
Várias empresas — como a
Google ou a Meta — cancelaram
a participação e houve até quem
10
PREÇO DO AZEITE
DISPARA
Afinal, vamos ter azeite a
€10 por litro, como já está
a acontecer em Espanha?
Esta semana, Patrícia Falcão
Duarte, secretária-geral da
Fenazeites, admitiu que sim,
em declarações ao “Jornal de
Negócios”. Mariana Matos,
secretária-geral da Casa do
Austeridade monetária
by Fundo Monetário Internacional
O Fundo Monetário Internacional
(FMI) é categórico: o Banco
Central Europeu (BCE) deve
manter a sua política monetária
restritiva (leia-se, juros altos) até
que a inflação na zona euro chegue
ao objetivo de 2%. Segundo as
projeções do próprio FMI, isso só
deve acontecer na parte final de
2025. Portanto, até lá, a equipa
dirigida por Christine Lagarde
não deve cair na tentação de
para a zona euro feita pelos
economistas do Fundo revela
que “uma subestimação na
persistência da inflação” por
parte dos decisores do euro pode
provocar a perda de um ponto
percentual no PIB no médio prazo.
A teimosia da inflação obrigaria
o BCE a fazer um segundo ciclo
de aperto monetário com maior
impacto negativo no crescimento.
O FMI diz mesmo que o BCE

Diz solução
colocasse a possibilidade de
o evento não se realizar. Mas
vai realizar-se, com algumas
desistências e convidados que
Azeite, não confirma esse
valor, junto do consumidor.
No entanto, explica que
o preço que está a ser pago
à produção se situa no valor
cortar juros, avisou esta semana deve manter o aperto monetário
o Relatório Económico Regional para ter margem para reagir
sobre a Europa, que inclui a zona a “surpresas negativas” que
euro, apresentado pelo FMI possam surgir, como mais inflação

À
hora que escrevo estas linhas,
na tarde de quarta-feira, des-
conhece-se ainda a decisão do
Presidente da República sobre
a demissão de António Costa. Quando
este texto lhe chegar às mãos, caro leitor,
já saberá o que aconteceu: se Marcelo
não faziam parte do programa
original. Pelos palcos da Web
Summit vão passar políticos,
empresários, celebridades,
atletas e, claro, muita gente
ligada à tecnologia e à internet.
histórico de €8,5 por quilo,
ao que há que juntar o
custo do embalamento,
do transporte e as margens
da própria distribuição.
em Bruxelas. O custo de aliviar
demasiado cedo a austeridade
monetária, começando a cortar
prematuramente nas taxas
diretoras do BCE, “é substancial”,
avança o relatório. Uma simulação
provocada pela geopolítica
(escalada nas guerras), por desvios
na consolidação orçamental nos
países do euro e até por aumentos
dos salários acima da inflação e da
produtividade.

ORÇAMENTO DO ESTADO A SER DEBATIDO

Rebelo de Sousa convidou o PS a formar
novo Governo a partir da maioria parla-
mentar (o cenário menos provável) ou

E O GOVERNO A SER DEMOLIDO

avançou para a dissolução do Parlamento
(o cenário mais provável). E se, optando
pela segunda, terá permitido a aprovação
do Orçamento do Estado. Tudo dúvidas
que muito debate alimentou por estes
dias. É natural que assim seja: sempre
sucede em momentos de grande incer-
teza. No entanto, ao contrário de outras
crises políticas passadas, esta vive-se em
tempos de elevada certeza orçamental.
Em que até a inércia ajuda.
A primeira grande certeza tem a ver
com as contas de 2023. Com ou sem Or-
çamento, Portugal vai chegar ao final
deste ano com um excedente orçamen-
tal. E uma dívida pública perto de 100%
do PIB. É isso que explica porque é que,
com todas as notícias internacionais da
demissão de António Costa associado
a um caso de corrupção no Governo, o
ponteiro dos juros da dívida pública qua-

ILUSTRAÇÃO PAULO BUCHINHO

se não mexeram (ver página 8). As contas
deste ano estão praticamente fechadas e
mesmo para 2024 o caminho está traça-
do: com Orçamento do Estado aprovado
haverá um ligeiro estímulo orçamental
que não impedirá novo excedente; se não
houver Orçamento sequer e entrarmos
em duodécimos, a política ainda poderá
ser mais restritiva. Em qualquer caso,
numa Europa onde há vários países com
défices elevados — a começar em Itália,

Com ou sem Orçamento,

a política orçamental não
mudará no curto prazo. No
futuro logo se verá. É o que
os mercados e os ratings
estão a tentar perceber

que é, uma vez mais, um dos riscos a pai-

rar sobre o futuro da zona euro —, é uma
vantagem enorme que acontece mesmo
sem ninguém ao volante.
Quer isto dizer que a crise política nada
afeta? Claro que não. Mesmo que o Or-
çamento avance tal qual foi desenhado.
Estavam vários ministros a preparar-se para uma semana de debates na especialidade dos seus orçamentos quando António Costa anunciou a
demissão e pôs em causa o futuro da política orçamental do Governo. Viveram-se momentos estranhos no Parlamento: deputados a debaterem
com normalidade o Orçamento do Estado enquanto, cá fora, o país acompanhava expectante a crise política. A verdade é que o calendário foi
alterado mas a discussão na especialidade continuou. Até porque, à hora de fecho desta edição no final do dia de quarta-feira, não se sabia se o
Presidente da República iria deixar o Orçamento ser aprovado. Por isso, mesmo com a demissão de Costa, o show parlamentar tinha de continuar.

Porque é a política que tudo decide e,
para um país com uma dívida de 100% do
PIB como Portugal, não bastam certezas
sobre alguns meses. Reduzir a dívida é
um esforço de anos. Compromete vários
governos consecutivos. O que agora se
indagada nos mercados financeiros — e
nas agências de rating que até tem estado
a subir as avaliações portuguesas — é o
que irá o futuro Governo fazer. Manterá
a trajetória de consolidação e o foco nas
“contas certas” que vinha de Centeno,
Leão e Medina, ou irá ser mais moderado
na dose? Seja qual for o partido do novo
Governo. Recordo-me sempre das várias
reuniões que fui tendo com equipas das
agências de rating que visitam Portugal.
Chegam com os números na ponta da
língua e conhecem ao detalhe as condi-
ções da economia portuguesa. Mas em
política orçamental há um lado político
que determina a vontade e o empenho em
reduzir défices e dívida. É isso que não do-
minam. E que os preocupará nesta fase.
Durante o programa da troika, a questão
recorrente era se a coligação PSD-CDS
sobreviveria, principalmente nos meses
da crise do irrevogável. Nos anos da ‘ge-
ringonça’, queriam tentar perceber até
que ponto o apoio parlamentar do PCP e
Bloco poderia ruir. Agora estarão certa-
mente expectantes quanto do futuro Go-
verno e ao compromisso que terá com a
consolidação das contas públicas. Aquilo
que Marcelo decidir importará bastante.
Mas falta saber tudo o que se seguirá.
PSI
Em pontos
6,4
6,3
6,2
6,1
26 27 30 31 1 2 3 6
OUT. NOV.
FONTE: INVESTING.COM
CARROSSEL NA BOLSA
COM QUEDA DO GOVERNO
A sessão de terça-feira foi de
quedas na Bolsa de Lisboa. O
índice PSI esteve em queda
toda a manhã, quando já havia
notícias de buscas e detenções,
e tocou no mínimo do dia
precisamente às 14h30, quando
António Costa anunciava ao
país a sua demissão. Acabou
por fechar com uma queda
de 2,54%, uma das maiores
descidas diárias do ano. Galp e
Mota foram as mais penalizadas
porque, dizem os analistas, são
empresas com mais projetos
ligados ao Estado. Quarta-feira
o PSI recuperou ligeiramente,
com uma subida de 0,06%.
Ronaldo já é dono
da Cofina Media.
Siiiiii! Ou não
6,242
Está marcado mais um golo por
Cristiano Ronaldo: desde quarta-
-feira, o jogador do Al-Nassr é
7 8 oficialmente um dos donos de
meios de comunicação social
como o “Correio da Manhã”,
CMTV, “Negócios”, “Record” e
“Sábado”, entre outros. Porque
se juntou Ronaldo a um conjunto
de quadros e gestores, assim
como de atuais acionistas da
Cofina que decidiram manter
participações no capital,
para comprar um grupo de
comunicação social que atua
num sector que já viu melhores
dias é algo que só o tempo dirá.
Mas a Cofina Media, que agora
se chama Expressão Livre, diz
que, apesar de consciente das
dificuldades que a indústria dos
media atravessa e dos desafios,
“os exemplos de superação
registados em momentos difíceis
da história deste grupo animam-
-nos e motivam-nos a acreditar
que é sempre possível vencer”.
31
MUNICÍPIOS COM MAIOR
PODER DE COMPRA
Lisboa, Oeiras e Porto
registaram em 2021 os
valores mais elevados de
poder de compra per capita
nos municípios em Portugal.
Os dados são do Instituto
Nacional de Estatística e
indicam que em 31 dos 308
municípios do país esse poder
de compra era superior à média
nacional. Onde se localizam?
A maioria pertence às Áreas
Metropolitanas de Lisboa (10 em
18 municípios) e do Porto (cinco
em 17). Destacavam-se também
municípios coincidentes com
capitais de distrito, como,
Coimbra, Aveiro, Faro e Évora.
Segundo o INE, “apenas 23
câmaras concentravam 50%
do poder de compra nacional”.
E, em conjunto, as duas áreas
metropolitanas concentravam
mais de metade (51%) do poder
de compra, o que compara com
44,5% da população do país.
Petróleo
em mínimos
desde julho
O preço do barril de petróleo
Brent (que serve de referência
para Portugal) negociava
abaixo de 80 dólares, à hora
do fecho desta edição, na
passada quarta-feira, pela
primeira vez desde julho. Fontes
do mercado atribuem esta
quebra no preço do barril aos
receios de um abrandamento
económico que afete a procura
global. No final de junho, o
petróleo Brent estava a ser
negociado ligeiramente acima
dos 74 dólares por barril.
No entanto, durante o verão
registou uma subida, depois
de a Organização dos Países
Exportadores de Petróleo
(OPEP) ter anunciado cortes
na produção, enquanto a
procura continuava a aumentar,
sobretudo devido à economia
chinesa. O Brent alcançou o
nível mais alto deste ano no
passado dia 27 de setembro,
quando chegou a 96,55 dólares.
NotíciasFlix

Expresso, 10 de novembro de 2023 ECONOMIA 3

É um choque ter um inquérito de corrupção dentro da residência do primeiro-ministro

quando ainda não acabámos de julgar o processo de corrupção de outro primeiro-ministro A semana
E M 2 M I N U T O S

Corrupção e austeridade LÍTIO A Savannah Resources, que

cessão de casos que atravessam o po-
der local. Outros, por fim, apontam
para o descontrolo de um Ministério
Público lesto a fazer buscas na resi-
dência oficial do primeiro-ministro
ou na sede do PSD em menos de seis
meses, mas depois lento a levar os
julgamentos a termo, permitindo
R ao Quadrado fugas de informação das escutas pelo
Uma coincidência, ou talvez não,
deste escândalo é ele acontecer
quando o Estado está no auge da
distribuição de dinheiro público as-
sociado ao PRR. Dois economistas
italianos, Giommoni e Daniele, há
dois anos publicaram um estudo em
que olhavam para a incidência da
corrupção nos municípios italianos.
exploração de lítio de Boticas, con-
Giommoni e Daniele compararam
municípios em tudo parecidos, mas
em que um tinha ligeiramente mais
do que cinco mil habitantes, e por
isso teve de impor as regras orça-
mentais, enquanto o outro ficou na
mesma, porque tinha pouco menos
de cinco mil habitantes. Comparan-
do os dois, eles tentam isolar o efeito
está a desenvolver o projeto de
tratou o Barclays para selecionar
novos parceiros estratégicos para
o seu investimento em Portugal.
O anúncio foi feito na mesma se-
mana em que a Savannah foi alvo
de buscas do Ministério Público
no âmbito da investigação aos
negócios do lítio e do hidrogénio
que levou o primeiro-ministro a
demitir-se.

meio. Seja qual for a mistura destas
Ricardo Reis três explicações a mais adequada,
rquadrado.expresso@gmail.com não podemos esquecer quão grave é
termos um primeiro-ministro de um
A corrupção era medida através do
número de processos de inquérito
abertos em cada município, tal como
o que foi aberto esta terça-feira em
50%
que a austeridade tem na corrupção.
As suas estimativas não são mui-
to precisas, mas apontam para que
a austeridade tenha levado a uma

À
hora a que escrevo, Portugal
não tem primeiro-ministro,
mas ainda não é claro se terá
eleições em breve. As buscas
a São Bento, a detenção do chefe
de gabinete do primeiro-ministro
e a constituição de dois ministros
como arguidos num processo cri-
minal foram um enorme choque.
Num país em que o anterior primei-
ro-ministro socialista (José Sócra-
tes) está há anos a ser investigado e
eventualmente julgado por suspeita
de corrupção e em que o anterior
líder da oposição (Rui Rio) ainda há
uns meses dizia com convicção na
televisão que o Ministério Público
está a destruir a democracia, é difí-
cil aceitar que temos agora de viver
com suspeições criminais sobre um
primeiro-ministro que formou três
Governos, presidiu à Câmara de Lis-
boa e está nos mais altos cargos da
política portuguesa há três décadas.
Simplesmente isto não é normal nem
é admissível.
Lendo os comentadores políticos
para perceber o cerne do problema,
uns veem nisto o reflexo da “heran-
ça socrática” da qual o PS nunca se
Governo estável com maioria abso-
luta a ter subitamente de se demitir
por causa de suspeitas de envolvi-
mento em casos criminais.
Para a economia portuguesa, estas
são, obviamente, más notícias. Portu-
gal ganhou na última década uma re-
putação internacional de ser um país
estável e pacato, para onde, apesar de
problemas e de estagnação econó-
mica, era confortável emigrar, pelo
menos para a reforma. Ter agora nas
notícias por todo o mundo que um
primeiro-ministro em funções teve
de se demitir por causa de um caso
de corrupção só pode trazer descon-
fiança sobre as nossas instituições.
Ainda bem que passámos a última
década, com muito custo, a estabili-
zar as contas públicas. Por isso, ape-
sar de o rácio da dívida pública em
relação ao PIB ainda estar acima do
que estava em 2010, não tem havido
grande preocupação acerca de uma
crise de dívida soberana. Mas, não se
sabendo que tipo de Governo tere-
mos nos próximos anos ou se ele terá
a responsabilidade orçamental dos
últimos Governos, há razão para que
quem empresta ao Estado português
fique apreensivo. Ainda mais quando
Lisboa. Ora, em 2013 os problemas
financeiros do Estado italiano leva-
ram a que fossem impostas medi-
das de austeridade sobre todos os
municípios com mais de cinco mil
habitantes. O designado Pacto de
Estabilidade Doméstica colocava
regras orçamentais estritas sobre a
despesa pública ao nível municipal.
Os municípios que tiveram de as se-
guir reduziram as despesas de forma
acentuada, sobretudo no investimen-
to público, por exemplo a consertar
estradas.
Uma coincidência,
ou não, deste escândalo
é ele acontecer
no auge da distribuição
de dinheiro público
quebra nos processos por corrupção
entre 6% e 30%. O efeito é tão grande
que, mesmo olhando para o rácio Foi quanto caiu o investimento em
de processos de corrupção por euro imobiliário comercial em Portugal
gasto em despesa municipal, esse nos primeiros nove meses do ano,
rácio caiu. Ou seja, a corrupção não para €1050 milhões, segundo um
caiu só porque, sem gastos públi- relatório divulgado esta semana
cos, havia menos oportunidade para pela consultora JLL. O mercado
desviar dinheiro. A corrupção caiu de escritórios foi
mesmo por cada euro gasto. particularmente afetado,
A última vez que tivemos forte in- de acordo com a JLL.
vestimento público em Portugal foi
durante o Governo de José Sócrates.
A Operação Marquês, investigan-
do essa época, levou a que Sócrates
fosse investigado por corrupção pas-
siva em casos que envolviam obras
públicas do grupo Lena, trabalhos
da Parque Escolar, a adjudicação do
TGV ou negócios nas telecomunica-
ções. Agora que estamos a ter uma
nova onda de investimento públi-
co surgem logo suspeitas de novos COMPRA A Visabeira anunciou a
favorecimentos dentro do círculo aquisição da HCI Construções,
do poder, associadas à exploração empresa cuja faturação anual
do lítio e à produção de hidrogénio ultrapassa os €100 milhões, e que
verde. Provavelmente é tudo uma se juntará agora à Edivisa, subsidi-
coincidência. Mas, num país onde o ária do grupo de Viseu para a área
estado dos serviços públicos está tão da construção. O valor da compra
em baixo, é preocupante pensar que não foi revelado.
investimento que é necessário para

6,1%
terá livrado. Outros acham que o nos lembramos do que aconteceu resolver esse problema tem de ser
problema de corrupção é transversal quando o anterior primeiro-ministro limitado senão iria causar um outro
a todos os partidos e relembram a su- socialista se demitiu. grave problema, o da corrupção.

Não há notícia mais chocante do que uma investigação sobre corrupção de membros Foi a taxa de desemprego no
terceiro trimestre em Portugal,
do Governo que nos deviam dela proteger, exceto a de uma condenação segundo o Instituto Nacional de
Estatística. A taxa ficou

A maioria absoluta foi tóxica, ou tinha dúvidas? inalterada face ao segundo

de membros do Governo que nos de-
viam dela proteger, exceto a de uma
condenação. A surpresa do primeiro
tipo é mais frequente do que a certe-
za do segundo, o que sugere desde já
uma precaução. Acrescento um outro
cuidado, que repito sempre que as no-
tícias são ocupadas por casos judiciais:
Estado da Noção nem todos os casos são suportados
por factos, dado que a publicitação da
Francisco Louçã justiça gerou comportamentos que, à
francisco.lou66@gmail.com falta de melhor, são comunicacionais.
A multiplicação de fugas ao segredo
dessas horas extraordinárias e cha-
mar-lhe “reforma da organização”.
Tóxico foi a ministra da Segurança
Social ter apresentado um documen-
to falso para anunciar aos reforma-
dos que, se a lei não fosse modificada
para que as pensões deixassem de ser
ajustadas pela inflação, reduzindo o
seu valor real, o sistema perderia 13
anos de sustentabilidade, e tóxico foi
o primeiro-ministro repetir a mentira,
até ter percebido que perdia demasia-
dos votos com esta coisa. Tóxico foi o
trimestre. O número de pessoas
empregadas aumentou 0,5% em
relação ao trimestre anterior,
para 5,02 milhões, mas o número
de desempregados cresceu
também 0,5%, para 326 mil,
habituadas a dominar Governos, ao hi- informou o INE.
drogénio verde, uma sofisticada lenda
para distrair o país sobre o défice de
investimento público, até à estranhí-
ssima venda da TAP (um colega de
Governo competiu no ranking com a
operação Efacec), aquele ministério
sugeria que nada é o que parece. A
política foi reduzida a uma farsa.
E eleições para quê?
O problema para o centro não é então RENOVÁVEIS O mais recente estudo

A
demissão de António Costa
termina um ciclo político. No
contexto, era inevitável, e não
deixa de ser um sarcasmo his-
tórico que o epicentro seja Galamba, o
ministro tornado mais irremodelável
por uma extravagância do primeiro-
-ministro. E agora ninguém sabe o
que se vai passar. A dúvida não é tanto
sobre a resposta institucional: escre-
vendo dois dias antes da publicação
deste jornal, suponho que o Presiden-
te, convocando eleições, as definirá,
permitindo ao PS realizar o seu con-
gresso e escolher entre Fernando Me-
dina e Pedro Nuno Santos. A questão é
como se vai redefinir o mapa político,
na certeza de que Montenegro chefia-
rá o PSD, radicalizará o seu discurso
no caminho da extrema-direita, des-
mentindo e preparando um acordo
com a IL e o Chega; que o PS chegará
às eleições na situação em que a sua
anterior vitória absoluta se tornou o
seu cadastro, e a esquerda tem pela
frente uma escolha difícil para a mo-
bilização de uma alternativa imediata
e consistente.
Duas prevenções
Não há notícia mais chocante do que
uma investigação sobre corrupção
de justiça, com a divulgação de peças
metodicamente manipuladas para
provar o ponto de vista do divulgador
do segredo, tornou-se tão banal que já
não imaginamos como poderia a justi-
ça cumprir o seu papel sem ser viciada
por estes ataques. Isso tem-me levado
a suspeitar dos inícios estrondosos
de processos. Não deixarei de o fazer
agora. Mas pergunto, face aos sinais
dos anos recentes: e se este problema
for pior ainda?
Sobrou alguém?
O que os últimos dois anos provaram
é que a maioria absoluta é tóxica, e
não porque estas alegações se pro-
vem verdadeiras, o que só saberemos
algum dia. Ela foi tóxica para a vida
política e social nacional desde o seu
primeiro dia.
Tóxica foi a sua negociação na saúde.
Recusar aos profissionais da saúde a
recuperação do seu poder de compra
era absurdo e não podia deixar de se
chocar com o facto de o Governo feste-
jar um sucesso orçamental que o fazia
nadar em dinheiro. Era igualmente
tóxico impor salários baixos para for-
çar centenas de horas extraordinárias
e supor que isso é uma estrutura ade-
quada para o SNS. Pior do que tóxico
foi impor o aumento do número legal
teimoso esforço para evitar que uma
grande empresa pagasse o imposto
devido pelo maior negócio da década
em Portugal, a venda da concessão de
barragens; só a persistente pressão
pública conseguiu que o Governo re-
cuasse. E tóxica foi a política para o
aumento do preço da habitação, com
os vistos gold, os nómadas digitais e
os favores aos fundos financeiros. No
que o Governo ganhou, o país perdeu.
Veja-se o exemplo do uso dos servi-
ços secretos, pelo motivo porventura
esquecido que era a revelação de uma
reunião no ministério de Galamba,
elevando-se depois a comédia até ao
encerramento do debate do Orçamen-
to. O facto é que do negócio do lítio,
um apetitoso avanço por empresas
Só vencerá a direita uma
esquerda que seja mais
exigente do que nunca
como responderá à camuflada conver-
gência das direitas. O medo funcionou
uma vez, terá uma derrota autoconfir-
mada se lhe surgir a tentação de repe-
tir o truque, pois o que não pode pedir
de forma alguma é uma nova maioria
absoluta, seria insultar a experiência
das pessoas. O problema será preci-
samente o contrário: como assegurar
que, tendo perdido a maioria absoluta,
se compromete a fazer o contrário do
que o trouxe aqui.
Em contrapartida, as esquerdas
podem lembrar que a ‘geringonça’
foi o remédio que protegeu o país da
bolha autoritária que é uma maioria
absoluta. É certo, mas isso não fará
uma política, pois a história não se
repete. O facto de agora ser necessário
não a substituição de um Governo de
direita, mas antes assegurar a respos-
ta estrutural a problemas criados ou
agravados pelo Governo cessante, na
política de industrialização, de investi-
mento e de salários ou na organização
dos bens comuns da democracia que
fazem o bem-estar do povo, incluindo
saúde, habitação, educação e política
ambiental, exige agora um programa
mais profundo e detalhado do que
em qualquer momento do passado.
A minha conclusão é que só vencerá
a direita uma esquerda que seja mais
exigente do que nunca.
da Deloitte para a Apren — As-
sociação de Energias Renováveis
estima que em 2022 as energias
limpas geraram uma poupança
anual de até €1600 para cada
família na sua fatura de eletricida-
de, influenciando positivamente o
preço grossista da energia.
TELETRABALHO No terceiro tri-
mestre deste ano 877 mil traba-
lhadores exerceram funções em
regime remoto, uma quebra de
3,5% face ao trimestre anterior,
segundo os dados publicados esta
semana pelo INE.
VISTA ALEGRE A empresa obteve
nos primeiros nove meses do ano
um lucro de €5,1 milhões, que
compara com o prejuízo de €290
mil registado no ano passado. O
volume de negócios, no entanto,
recuou 7,2%, para €95,4 milhões.
COFINA A Cofina SGPS concluiu
na quarta-feira a venda da Cofina
Media (dona do “Correio da Ma-
nhã”) à Expressão Livre, empresa
controlada por vários quadros da
empresa de media e que tem entre
os seus investidores o futebolista
Cristiano Ronaldo.
4 ECONOMIA
ALTOS
Nuno
Terras
Marques
Presidente executivo
da Visabeira
A compra da maioria da HCI
Construções permite à Visabeira
reforçar a sua presença no sector
da construção civil e das obras pú-
blicas, dando-lhe escala para po-
der concorrer a empreitadas de
maior dimensão e tornar-se um
grupo relevante nesta área.
Paulo
Azevedo
Presidente
da administração
da Sonae
Dedicou-se à missão de promover
a requalificação dos trabalhado-
res na Europa e os resultados es-
tão à vista em alguns dos países
onde a iniciativa já avançou, inclu-
indo Portugal, onde a ambição é
estendê-la às pequenas e médias
empresas.
A má
comunicação
interna gera
mais problemas
do que a ausência
da comunicação
E BAIXOS
António
Costa
Ex-primeiro-ministro
Foram oito anos de governação
com altos e baixos, em que conse-
guiu um acordo inédito à esquer-
da e enfrentou uma pandemia e
agora duas guerras às portas da
Europa. Consegue deixar o pa-
ís com um excedente orçamental
importante, mas com uma terrível
falta de esperança no futuro.
João
Galamba
Ministro das
Infraestruturas
Arrisca ficar na história como o
ministro das Infraestruturas da
pancadaria com um assessor, des-
prezado pelo Presidente da Repú-
blica — que tentou correr com ele
do Governo — e que acabou por
sair na sequência de suspeitas de
favorecimento em negócios liga-
dos ao lítio e ao hidrogénio, sem
ter anunciado ou concretizado ne-
nhuma obra digna de registo no
seu mandato.
Diogo
Lacerda
Machado
Advogado
Nos últimos anos era visto como
um nome incontornável nos negó-
cios em Portugal dada a sua rela-
ção de amizade com António Cos-
ta. Disse em abril de 2016 ao Ex-
presso que era um “homem com
certidão de presunção de malan-
dro”. Foi um dos detidos esta ter-
ça-feira no âmbito das suspeitas
de favorecimento em negócios em
Sines.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
Emprego
Teletrabalho
recua, mas
mantém-se
para 877 mil
Número de profissionais em
teletrabalho recuou no terceiro
trimestre de 2023, depois de
dois trimestres a aumentar
Os trabalhadores querem mais tele-
trabalho, mas os dados mostram que
a estratégia das empresas é a inversa.
Contrariando a tendência que se vi-
nha afirmando desde o 4º trimestre
de 2022, o número de profissionais
em teletrabalho no país caiu pela pri-
meira vez no 3º trimestre deste ano.
Segundo os dados divulgados esta
quarta-feira no módulo ad hoc do In-
quérito ao Emprego do Instituto Nacio-
Empréstimos Detetor de agiotas
só agora foi afinado
Houve €560 milhões em créditos
que não passam pelos bancos
comunicados ao Banco de
Portugal. Plataforma
informática arrancou há um mês
Esperava-se uma grande base de da-
dos, com todos os contratos de crédito
diretos entre particulares e empresas
que não passassem pelos bancos, para
apanhar agiotas que estivessem a co-
brar juros usurários a quem estivesse
em apertos financeiros. Contudo, só
mais de ano e meio após a sua con-
sagração em letra de lei é que estão a
ser dados passos mais concretos para
a sua efetiva operacionalização. Até
há um mês, tudo era comunicado por
Excel, só agora há uma plataforma.
Advogados, notários, solicitadores:
desde março de 2022 todos passaram a
ser convocados a comunicar ao Banco
de Portugal (BdP) a informação sobre
escrituras ou documentos autenticados
relativos a créditos, confissões de dívida
ou compra e venda de imóveis. As três
classes profissionais começaram a cum-
prir, embora a níveis diferentes, e até
ao momento foram reportados 4103
atos jurídicos ao supervisor, totalizan-
do aproximadamente €568 milhões,
adiantou a autoridade bancária em
respostas ao Expresso. Para se ter uma
ideia, a carteira de crédito à habitação
concedido pela banca nacional ascende
a quase €100 mil milhões (excluindo
outros empréstimos a particulares e a
empresas).
Só agora há plataforma
Até há um mês as comunicações foram
sendo feitas de forma mais rudimentar,
já que só a 20 de setembro deste ano o
supervisor publicou um aviso em que
determinou os moldes em que, efetiva-
mente, tudo deve ser transmitido pelos
visados. “Os notários foram fazendo
comunicações, embora as condições
não tenham sido as ideais. Não havia
plataforma informática que permitis-
se a comunicação e o envio em Excel
não está de acordo com a boa prática
da proteção de dados”, respondeu ao
Expresso Jorge Batista da Silva, basto-
nário da Ordem dos Notários.
Segundo o BdP, os notários foram
responsáveis por 50% do montante
dos atos jurídicos reportados, acima
dos 40% dos solicitadores e dos 10%
dos advogados, embora em número as
posições se invertam: os solicitadores
foram responsáveis por 60% dos atos
jurídicos reportados, acima dos 29%
dos notários e dos 11% feitos pelos
advogados. Em silêncio ficaram os
responsáveis das Ordens dos Advoga-
dos, Fernanda de Almeida Pinheiro,
e dos Solicitadores, Paulo Teixeira,
que, contactados pelo Expresso, não
nal de Estatística, relativo ao “Trabalho
em Casa”, entre julho e setembro deste
ano 877.300 profissionais exerceram
funções em regime remoto, total ou
parcialmente. São menos 31 mil (3,5%)
do que no trimestre anterior. Ainda
assim, a franja de trabalhadores a exer-
cer funções em regime de teletrabalho
representa 17,5% do total da população
empregada.
Em Portugal, as grandes empresas
não querem abrir mão do regime de
trabalho híbrido e entre os recruta-
dores não há grandes dúvidas de que
empresas que recusam aos trabalha-
dores modelos de trabalho remoto
terão maiores dificuldades de contra-
tação. Mas depois de no 2º trimestre
do ano o número de profissionais a
exercer funções em regime de tele-
trabalho (total ou parcial) ter estado
muito próximo dos níveis registados
na pandemia — com 908.900 profis-
sionais (19,3% do total da população
empregada no país) —, a tendência
inverteu-se no 3º trimestre de 2023.
Será necessário esperar pelos dados
do próximo trimestre para perceber
se as empresas estão efetivamente
a recuar no que ao teletrabalho diz
respeito ou se se trata de um abran-
Legislação tenta travar atividade financeira não autorizada FOTO GETTY IMAGES
deram explicações sobre esta exigên-
cia de reporte de que são alvo, e sobre
a eficácia desta legislação.
Para já, tanto o BdP como a Ordem
dos Notários acreditam que daqui em
diante é que é. “Com a entrada em
vigor do Aviso n. 6/2023 teremos da-
dos ainda mais fiáveis e possibilidades
acrescidas de exploração de forma
mais imediata dos dados reportados”,
espera o supervisor. “Com a platafor-
ma informática em funcionamento,
e com formação, que é indispensá-
vel, ficam reunidas as condições para
entrarmos em velocidade cruzeiro”,
antecipa o bastonário da Ordem dos
Notários.
As práticas suspeitas
O receio de que a base de dados para
identificar agiotas se transforme num
grande depósito de informação inútil
é real, mas continua a ser cedo para
fazer um balanço. “Há muitas opera-
ções registadas que não têm relevân-
cia, como empréstimos dos pais aos
filhos. É importante que o tratamento
informático dos dados permita identifi-
car operações de concessão de crédito
ilegais, porque há muitas formas de
disfarçar operações fraudulentas”, diz
Jorge Batista da Silva, que aspira a que,
“no futuro, a nossa plataforma infor-
mática [da Ordem dos Notários] faça
damento pontual, uma vez os dados
trimestrais do INE não são ajustados
de sazonalidade. Mas o que os núme-
ros divulgados esta quarta-feira pelo
INE mostram é que, entre julho e
setembro deste ano, o número de pro-
fissionais em teletrabalho caiu 3,5%
em cadeia, ou seja, face ao trimestre
anterior, para 877.300 pessoas.
Apesar desta quebra, que em ter-
mos absolutos corresponde a menos
31.600 profissionais abrangidos por
este modelo, 17,5% do total da popula-
ção empregada continua a ter acesso
à possibilidade de trabalhar remota-
mente, seja de forma permanente ou
alguns dias por semana.
Segundo os dados do INE, no 3º tri-
mestre do ano, do total de 877.300
trabalhadores em teletrabalho, 26,9%
(235.800) estavam em trabalho exclu-
sivamente remoto, 37,4% (327.800)
praticavam o chamado regime híbri-
do, que combina trabalho presencial
com trabalho remoto. A estes jun-
tam-se ainda 16,1% (140.900) dos que
exerceram funções em teletrabalho
pontualmente durante o período de
tempo considerado e 19,1% (167.400)
que trabalharam a partir de casa mas
fora do seu horário de trabalho.
comunicação direta das operações à do
Banco de Portugal, de forma automati-
zada, deixando de haver intermediação
humana”.
Emprestar dinheiro de forma dissi-
mulada ou cobrar juros usurários pode
fazer-se de várias formas, e as autori-
dades estão atentas a alguns indícios.
Há falsos contratos de arrendamento,
para os juros serem disfarçados de
rendas. Há contratos de crédito que
são celebrados por valor acima do em-
préstimo, com os juros disfarçados de
capital. E há empréstimos disfarçados
de contratos de compra e venda, por
preço inferior ao de mercado. Como
detetar estes casos é o desafio. “A cir-
cunstância de os mesmos intervenien-
tes surgirem frequentemente identifi-
cados, seja como mutuantes seja como
mutuários, em múltiplos atos jurídicos
reportados ou a circunstância de esta-
rem em causa intervenientes (mutuan-
tes ou mutuários) com designações
que remetam para o desenvolvimento
de formas de atividade financeira”,
aponta o supervisor.
O BdP garante que, quando deteta
os indícios de atividade não autoriza-
da emite determinações, faz alertas
e, no limite, pode abrir contraordena-
ções — havendo crimes, comunica-os
às autoridades.
Diogo Cavaleiro e Elisabete Miranda
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
Expresso, 10 de novembro de 2023
Os indicadores conhecidos esta
quarta-feira mostram ainda que, em
média, cada profissional trabalhou
33 horas semanais a partir de casa e
que o número médio de dias de tra-
balho remoto foi de três. Os dados
por género mostram que o recurso
ao teletrabalho se reparte de forma
muito equilibrada entre homens e
mulheres, com os homens em ligeira
vantagem. Durante o 3º trimestre do
ano, 442.700 profissionais do sexo
masculino estiveram em teletrabalho,
face a 434.700 do sexo feminino.
É entre os profissionais com mais
de 45 anos que o teletrabalho tem
mais adeptos em Portugal. Do total
que beneficiou deste regime, quase
metade (49,5%) estava nesta faixa
etária. Logo a seguir vêm os profissio-
nais entre 35 e 44 anos (25,1%) e os
que estão entre 25 e 34 anos (21,5%).
Do total de 877.300 profissionais
que se encontravam em teletrabalho
no país, durante o 3º trimestre deste
ano, 570.400 tinham um vínculo con-
tratual sem termo com o empregador.
A esmagadora maioria (725.900) per-
tencia ao sector dos Serviços.
Cátia Mateus
cmateus@expresso.impresa.pt
52 sites e perfis
a remover
O combate à atividade financeira
ilícita abriu a porta a que os
supervisores financeiros (BdP,
CMVM e ASF) ganhassem um forte
poder: bloquear sites que a
estivessem a promover. O supervisor
bancário diz que desde 1 de janeiro
de 2022 (quando entrou em vigor a
Lei 78/2021) já “desenvolveu ações
para remoção de 52 sites/perfis de
redes sociais que publicitavam
atividade financeira não autorizada”.
Na autoridade dos mercados de
capitais, ainda que assegurando que
está preparada para isso, “não foi
até ao momento determinado o
takedown ou bloqueio de sítios
eletrónicos, na medida em que têm
sido aplicadas pela CMVM medidas
alternativas consideradas mais
apropriadas a cada situação”.
Notificar o responsável pelos
conteúdos e alertas no site da
CMVM são essas hipóteses, já que
defende que o bloqueio deve
obedecer a “critérios de
proporcionalidade e de eficácia”. A
ASF não respondeu até ao fecho
desta edição.
Expresso, 10 de novembro de 2023 ECONOMIA 5

Saúde o Executivo, sem deixar de sinalizar

que “é importante a luta que está a ser
tais são organizados, do ponto de vista
assistencial”.

Reforma do feita pelos médicos a nível nacional”.

Porque, vinca, “não podemos gerir os
desafios que temos hoje para o país
Ter “urgências completas à porta da
casa de toda a gente” é um cenário que
a presidente da Comissão Executiva
SNS “não pode com as ferramentas e os modelos do
passado”.
da Luz Saúde não vê como exequível
no futuro, “porque não vão chegar os
ignorar sector A visão que tem do Serviço Nacional
de Saúde (SNS) é a de “uma instituição
profissionais para isso”. O Estado, diz,
“tem de mudar, de perceber que não

privado” absolutamente fundamental para a

Isabel Vaz, CEO da Luz Saúde,
alerta para risco de reforma que
exclua privados e considera luta
dos médicos “importante”
“Nenhuma reforma séria [do Serviço
Nacional de Saúde] pode ignorar que
o sector privado existe.” É Isabel Vaz,
presidente da Comissão Executiva da
Luz Saúde, quem lança o alerta em
entrevista ao podcast do Expresso, “O
CEO É o Limite”. A gestora que há 23
anos pôs de pé a Espírito Santo Saúde,
que esteve na origem da Luz Saúde,
admite que vê com “apreensão” o atu-
al braço de ferro entre os médicos e
coesão social”. Mas Isabel Vaz admite
que “é com muita pena que face ao
que o sector privado fez nos últimos
20 anos — que foi um grande exercício
de profissionalização e qualidade — se
continuem a anunciar reformas em
que se ignora o papel do sector da sa-
úde privada”.
Numa luta que diz estar “muito longe
de ser só uma luta salarial” dos mé-
dicos, sendo sobretudo “um grito de
alerta para um modelo organizacional
[do SNS] que não pode continuar a ser
este”, a CEO da Luz Saúde recorda que
“o sector privado vale quase 40% do
financiamento do sector da Saúde em
Portugal”. Por isso, numa mensagem
dirigida a Fernando Araújo, diretor-
-executivo do SNS, sublinha que “não
é possível ignorar o sector privado [na
estratégia de reorganização do SNS]
Isabel Vaz lidera os destinos da Luz Saúde há 23 anos FOTO NUNO FOX
quando 50% das pessoas em Portugal
têm, neste momento, já uma dupla
cobertura, o que já de si é uma coisa
altamente ineficiente, mas que cria
incentivos no mercado que não podem
ser ignorados”.
Numa conversa onde recorda o mo-
mento de lançamento da Espírito San-
to Saúde, o colapso do Grupo Espírito
Santo e a relação com Ricardo Salgado
que lhe colocou nas mãos “aos 33 anos,
€150 milhões para criar a Espírito San-
to Saúde”, Isabel Vaz fala dos desafios
de gerir equipas e projetos na área da
Saúde, onde “não há chefias, há lide-
rança ou então não se chega a lado
nenhum”, vinca. E é por isso que não
tem dúvidas de que mudar e resolver
o impasse atual “implica ter todas as
lideranças envolvidas: os sindicatos na
função que têm, a Ordem dos Médicos
na função de regulação da profissão
que tem e a ajudar de facto a que se
possa mudar a forma como os hospi-
pode gerir igual ao que geria há 20 anos,
por muito bom que tivesse sido, ou há
40 anos, quando o SNS foi criado”. Para
tentar resolver o braço de ferro com os
médicos no curto prazo, a CEO da Luz
Saúde começava por recuperar a confi-
ança “dos principais líderes de opinião
hospitalares de direção — direções clíni-
cas, de serviço de urgência, de cirurgia,
de anestesiologia, de medicina interna
—, aqueles que numa lógica de liderança
influenciam a opinião de outros”. Por-
que, vinca, “não se fazem reformas na
saúde sem as lideranças clínicas”.
Cátia Mateus
cmateus@expresso.impresa.pt
OUÇA OS EPISÓDIOS
DO PODCAST
“O CEO É O LIMITE”
EM EXPRESSO.PT

Descodificador por Diogo Cavaleiro

Moratória nos créditos

não é igual para todos
Quem aderir à fixação temporária da prestação terá um desconto por dois
anos deste encargo. Um desconto que poderá variar consoante o cliente.
Mas todos vão acabar a pagar mais juros: essa é uma certeza

1 Como se calcula
o desconto?
Desde a semana passada que é possível
aos clientes com crédito à habitação
solicitarem aos seus bancos a fixação
temporária da sua prestação. O objetivo
é que haja um desconto mensal nesse
encargo, um alívio quando os valores
a pagar pelos créditos disparou com a
abrupta subida de taxa de juro do Banco
Central Europeu, que influenciou as
Euribor (a que está indexada a maioria
dos créditos à habitação). A nova
prestação dos clientes que aderirem
ao auxílio resulta do cálculo de 70% da
taxa Euribor a seis meses que esteve
em vigor no mês anterior ao pedido, a
que se soma ainda o spread negociado
com cada cliente, ou seja, o desconto
será de 30% no valor do indexante. A
ideia é que por 24 meses essa prestação
FOTO GETTY IMAGES

fique estática (mantendo-se o capital

em dívida, mas aliviando os juros pagos),
sendo que é nos restantes anos de
contrato que se compensará os juros
não pagos. Mas a prestação não ficará
fixa em todos os casos.

2 Quem
desconto menor? 3 mais no fim?
tem Quem paga
Uma intenção do diploma (Lei nº
91/2023) é que não haja um aumento
do capital em dívida, pelo que pretende
assegurar que pelo menos a fatia de
juros do financiamento é sempre
saldada. Por isso há clientes que arriscam
não conseguir o desconto de 30% na
Euribor. Isto porque se o tal desconto
fizer com que a prestação a pagar ao
banco seja inferior ao montante de juros
devido no contrato não poderá ser dessa
dimensão; só haverá alívio na Euribor
desde que ele assegure que os juros
previstos, nas condições iniciais, são
todos pagos — o peso dos juros é mais
elevado nos créditos recentes. Nestes
casos, a prestação pode nem sequer ser
fixa, já que ela vai depender da evolução
das Euribor: “O indexante associado
às condições iniciais contratadas pode
sofrer alterações e o montante de juros
a pagar nas condições contratuais
iniciais pode variar e implicar uma
prestação mais elevada”, alerta o Banco
de Portugal.
Todos. Como referido, há clientes a
aderir a esta medida que terão um
desconto relativo inferior ao dos outros,
mas, seja qual for o caso, há uma
certeza: todos eles pagarão mais ao fim
dos 24 meses do que pagariam se não
tivessem entrado no regime. O Banco
de Portugal e os bancos comerciais
têm vindo a fazer esse alerta, para
que a adesão seja apenas em caso de
necessidade efetiva, já que no final do
período de moratória (enquanto houver
a fixação temporária da prestação)
os clientes vão ter maiores custos:
como na moratória é paga uma menor
parcela de capital a cada prestação,
ele é diferido, e esse adiamento paga
juros. Ou seja, comparando o plano de
reembolso do crédito inicial e o plano
de reembolso do crédito após a fixação
da prestação, o prazo e as condições
manter-se-ão, mas as prestações serão
mais gordas a partir do 25º mês. “O
montante total de juros a pagar será
sempre superior”, diz o supervisor.
4 Pagam-se
comissões?
Não; esta é uma resposta fácil porque
a prática do Governo tem sido a de
impedir comissões ou outros encargos
quando implementa medidas de auxílio
aos clientes com crédito à habitação,
e assim aconteceu com a fixação da
prestação. Ou seja, não há qualquer
comissão a pagar se o cliente conseguir
amortizar antecipadamente o
montante de capital que foi diferindo. O
cliente pode também procurar negociar
outras condições do empréstimo, como
o spread, e nada o impede de transferir
o crédito entre bancos, continuando
a beneficiar do desconto na Euribor.
Nos primeiros dias, como noticiou
o “Jornal de Negócios”, os bancos
privados receberam 4200 pedidos para
beneficiarem do congelamento da
prestação; a Caixa Geral de Depósitos
apresentará os seus números esta
sexta-feira. Os requerimentos aos
bancos para aderir a este regime
poderão ser entregues até 31 de março
de 2024.
6 ECONOMIA
CRISE POLÍTICA
Polémica Negócios do hidrogénio e do lítio Textos Hugo Franco
A
e Miguel Prado
alimentam inquérito do Ministério Público
que levanta suspeitas sobre vários decisores agenda de descar-
bonização de João
Como
Galamba na segun-
da metade de 2019
corria a todo o gás:
a 2 de julho daquele
ano, o então secre-
a transição
tário de Estado da
Energia recebia o
empresário holandês Marc Rechter,
que queria apresentar ao Governo
um ambicioso projeto para produzir
hidrogénio verde em Sines e expor-
energética
tá-lo para a Holanda. Um mês depois,
Rechter reunir-se-ia novamente com
Galamba, mas dessa vez também com
representantes da Embaixada da Ho-
landa. A 27 de novembro, nova reu-
nião com Rechter. E a 10 de dezembro
se tornou
outra. A ideia de um projeto de gran-
de escala de hidrogénio começava a
ganhar corpo. Mas Galamba estava
longe de adivinhar que os promissores
encontros com o empresário holandês
radicado em Portugal seriam o prin-
um caso
cípio de uma atribulada viagem que o
levaria a tornar-se o alvo principal do
Ministério Público. O hidrogénio, que
entretanto se tornou uma opção cen-
tral na agenda de descarbonização da
Comissão Europeia, transformou-se
de polícia
num caso de polícia.
Na manhã da passada terça-feira,
o Ministério Público (MP), auxilia-
do pela Polícia de Segurança Pública
e pela Autoridade Tributária, saiu à
rua, numa operação que horas depois
levaria o primeiro-ministro, António
Costa, a demitir-se. Foram 17 bus-
cas domiciliárias e outras 20 não do-
miciliárias. De São Bento à Câmara
Municipal de Sines, do Ministério do
Ambiente ao das Infraestruturas, a
ação do MP foi abrangente. No auto de
buscas incluía-se “anexos e dependên-
cias, armazéns, garagens, parquea-
mentos, arrecadações, jardins ou
logradouros”. E também o eventual
arrombamento. E a “administração
de substâncias adequadas à neutrali-
zação de animais”.
Centrada numa primeira parte nos
negócios do hidrogénio e do lítio, a
investigação do MP passou a contem-
plar também o projeto do centro de
dados da Start Campus em Sines, um
empreendimento que deverá atrair in-
vestimentos totais de €3,5 mil milhões
e posicionar Portugal como referência
europeia na economia de dados. Parte
da razão da escolha de Sines pela Start
Campus (detida pelos fundos Davidson
Kempner e Pioneer Point Partners) é
a transição energética: as multinacio-
nais tecnológicas precisam de centros
de dados alimentados com energia não
apenas barata mas também limpa. E a
facilidade de acesso à nova capacidade
solar fotovoltaica em Portugal foi um
trunfo para a Start Campus se estabe-
lecer em Sines, e em Lisboa, com um
escritório nas Amoreiras.
O escritório das Amoreiras terá sido
um dos locais onde o presidente exe-
cutivo da Start Campus, Afonso Sale-
ma, se reuniu com o chefe de gabinete
do primeiro-ministro, Vítor Escária,
INQUÉRITO DO
MINISTÉRIO PÚBLICO
SOBRE LÍTIO E
HIDROGÉNIO ARRANCOU
EM 2019 E TEM MAIS
DE 5 MIL PÁGINAS
Expresso, 10 de novembro de 2023
para alegadamente pedir uma acele-
ração do licenciamento do centro de
dados. Os dois tornaram-se suspeitos
aos olhos do Ministério Público numa
investigação assente em indícios de
corrupção, tráfico de influência, pre-
varicação e abuso de poder, que cruza
as polémicas concessões de explora-
ção de lítio em Montalegre e Boticas
com um controverso projeto de hi-
drogénio verde em Sines, tendo como
personagem central João Galamba.
O agora ministro das Infraestrutu-
ras foi durante os últimos anos um fir-
me defensor da aposta no hidrogénio
verde como vetor de descarbonização.
Mas depois das reuniões iniciais com
Marc Rechter, em 2019, João Galam-
ba procurou incluir os grupos EDP,
Galp e REN no megaprojeto de Sines,
de forma a conferir maior solidez e
credibilidade à iniciativa, para que
pudesse ser candidatada ao estatuto
IPCEI (projeto importante de inte-
resse comum europeu), que facilitaria
a futura atribuição de apoios públi-
cos. Só que em 2020 Marc Rechter
desentendeu-se com as energéticas
portuguesas, que não aceitaram que
o empresário holandês tivesse um pa-
pel de liderança no projeto. Foi assim
que em julho daquele ano, no fim do
prazo de manifestações de interesse
ao Governo, Rechter abandonou o
consórcio que tinha com os ‘tubarões’
nacionais e foi ‘nadar’ para um outro
consórcio concorrente.
O hidrogénio queima
Agora, o MP defende que João Ga-
lamba excluiu o projeto de Rechter
da possibilidade de integrar a candi-
datura portuguesa ao estatuto IPCEI
para beneficiar a candidatura da EDP,
Galp e REN. Em março de 2021, o Mi-
nistério do Ambiente justificou a não
aceitação do projeto do empresário
Expresso, 10 de novembro de 2023
João Galamba, pelos atos
praticados quando era
secretário de Estado
da Energia, e João Pedro
Matos Fernandes, enquanto
ex-ministro do Ambiente, são
dois dos alvos do Ministério
Público na investigação que
levou à demissão de António
Costa FOTO TIAGO PETINGA/LUSA
holandês por este ter alegadamente
usurpado um memorando de entendi-
mento com as empresas portuguesas
e por ter falhado o prazo dado pelo
Governo para corrigir a documenta-
ção entregue.
A história do conflito entre Marc
Rechter e o Governo tem já mais de
três anos, e a verdade é que o projeto
da EDP e da Galp em Sines nunca
chegou a obter o estatuto IPCEI. Mas
materializou-se num consórcio (deno-
minado Hytlantic e que inclui ainda
a Bondalti, Martifer, Engie e Vestas)
que já avançou com a fase preliminar
de licenciamento ambiental para um
eletrolisador de 96 megawatts (MW),
sendo o objetivo arrancar a produ-
ção de hidrogénio verde em 2026.
Este projeto garantiu até ao momento
apoios comunitários de €30 milhões.
O conflito de há três anos é agora
um dos pontos centrais da investi-
gação do MP. O inquérito, liderado
pelos procuradores Hugo Neto (que
também está no chamado “processo
EDP”, envolvendo Manuel Pinho),
João Paulo Centeno e Ricardo Correia
Lamas, traça uma teia de relações en-
tre vários decisores políticos e agentes
privados, retratando João Galamba e
o antigo ministro do Ambiente como
suspeitos de terem favorecido os in-
PROCURADORES
INVESTIGAM ALEGADOS
FAVORES POLÍTICOS
A VÁRIAS EMPRESAS
AO LONGO DOS
ÚLTIMOS ANOS
ECONOMIA 7
>>
teresses de várias empresas, como a
Lusorecursos e a Savannah (no lítio), a
EDP e a Galp (no hidrogénio) e a Start
Campus (no caso do centro de dados).
Os suspeitos na mira
E o lítio?
No caso do lítio, os procuradores
do Ministério Público
apontam baterias aos projetos da
Lusorecursos (em Montalegre) e da
Savannah Resources (em Boticas).
No primeiro caso suspeitando da atri-
MP investiga indícios sobre lítio, hidrogénio e centro de dados
buição “injustificada” da concessão
em março de 2019 ao empresário Ri-
cardo Pinheiro (que no passado João
Galamba já contestou, defendendo a
legalidade da concessão de exploração
de lítio pela empresa, que já tinha feito
a prospeção). No caso de Boticas, o
MP considera que Galamba tinha “a
intenção de interferir indevidamente
na decisão de outras entidades, como
a APA [Agência Portuguesa do Am-
biente] e o ICNF [Instituto da Conser- António Costa João Matos Fernandes João Galamba
vação da Natureza e das Florestas]”. Primeiro-ministro Ex-ministro Ministro das Infraestruturas
O lítio, recorde-se, é uma das áreas
em que o Governo tem apostado, ten- O comunicado da O antigo ministro do O MP atribui-lhe a “intenção de
do prometido lançar “nos próximos Procuradoria-Geral da Ambiente, que abandonou o interferir indevidamente na
meses” um concurso internacional República indica que o Governo em 2022, é apontado decisão de outras entidades,
para novas áreas de prospeção, bem Ministério Público (MP) teve pelo MP como suspeito de ação como a APA e o ICNF”, no
como um concurso para apoiar o in- “conhecimento da invocação concertada com João Galamba licenciamento ambiental do
vestimento em baterias. Em julho, no por suspeitos do nome e da e Rui Oliveira Neves para projeto de lítio da Savannah. No
Parlamento, a secretária de Estado autoridade do associar a Galp ao projeto de hidrogénio, é suspeito de não só
da Energia e Clima, Ana Fontoura primeiro-ministro e da sua lítio da Savannah Resources, ter imposto a inclusão da EDP,
Gouveia, revelou que as intenções de intervenção para desbloquear bem como de ter imposto que Galp e REN no projeto de Marc
investimento em Portugal na cadeia procedimentos”, o que levou a o empresário Marc Rechter Rechter como de mais tarde ter
de valor das baterias ascendem a €9 abrir um inquérito autónomo incluísse a EDP, Galp e REN no excluído a candidatura de um
mil milhões, podendo vir a criar 7 mil no Supremo Tribunal de projeto de hidrogénio verde projeto autónomo do
empregos. É agora incerto se alguns Justiça. O MP aponta contactos em Sines. O MP aponta ainda empresário holandês. O MP
desses projetos poderão ficar congela- de outros investigados, “contactos suspeitos” de refere ainda recurso aos
dos. O Governo tinha também previs- incluindo responsáveis da Start Matos Fernandes com Carlos motoristas para fins pessoais. E
to lançar uma estratégia nacional para Campus, com António Costa Martins, da Martifer (sem acusa Galamba (que é arguido)
o armazenamento de energia, crucial para a tomada de decisões especificar quais), e investiga a de ter almoçado e jantado com
no quadro da transição verde, sendo relativas ao projeto do centro aprovação de legislação no executivos da Start Campus
uma incógnita o que sucederá com a de dados de Sines. sector dos resíduos. para ajudar a empresa.
queda do Executivo.
O inquérito, cujos autos têm já mais
de 5 mil páginas, também aponta a
mira ao ex-ministro do Ambiente
João Pedro Matos Fernandes. Além
de o implicar no caso do projeto de
hidrogénio de Sines, o MP investiga
Matos Fernandes pela aprovação de
legislação na área dos resíduos, lem-
brando que após sair do Governo tra-
balhou com a Abreu Advogados. Mas
os procuradores também apontam o
dedo a Matos Fernandes por só ter Lacerda Machado Afonso Salema Nuno Lacasta
convocado a Comissão Permanente Consultor CEO da Start Campus Presidente da APA
da Seca dois dias depois das eleições
legislativas de 30 de janeiro de 2022: Diogo Lacerda Machado, amigo O presidente executivo da O MP suspeita que a Agência
o MP defende que “era sua obrigação” de António Costa, foi detido por Start Campus, Afonso Salema, Portuguesa do Ambiente (APA)
tê-lo feito antes, acusando Matos Fer- suspeitas de tráfico de foi detido devido aos contactos possa ter tido uma
nandes de ter deixado a reunião para influências, corrupção ativa e com o Governo sobre o projeto “intervenção ilícita” na
depois das eleições “para não prejudi- prevaricação relativamente ao do centro de dados. O MP avaliação ambiental do projeto
car o resultado do Partido Socialista”. centro de dados da Start refere que o gestor pagou da Lusorecursos Portugal
Campus em Sines. Segundo o jantares e almoços a João Lithium para a mina de
Arguidos, detidos MP, o consultor desde fevereiro Galamba e Nuno Lacasta para Montalegre. Nuno Lacasta é
e outros envolvidos de 2022 recebe €6555 mensais facilitar o avanço do projeto. igualmente visto como
da Start Campus e teria a Segundo o MP, a dispensa de “suspeito” de ter concertado
A investigação do MP arrancou em incumbência de se aproveitar avaliação de impacto com a Savannah a emissão da
2019, quando foi assinado o contra- da sua proximidade ao ambiental na primeira fase e a declaração de impacto
to do lítio da Lusorecursos e quando primeiro-ministro para acelerar aprovação da segunda fase ambiental favorável do projeto
foram dados os passos iniciais no hi- procedimentos relativos ao seriam algumas das matérias. de Boticas. E é visado ainda por
drogénio. As operações desta semana centro de dados (na área E é acusado pelo MP de ter ter aceitado refeições pagas
fizeram cinco detidos: Vítor Escária urbanística, junto da Câmara de acordado dar benefícios à pela Start Campus para,
(chefe de gabinete do primeiro-mi- Sines, e no licenciamento Câmara de Sines, incluindo alegadamente, favorecer os
nistro), Diogo Lacerda Machado (con- ambiental, via Agência cinco mil euros para o Festival interesses da empresa do
sultor da Start Campus e amigo de Portuguesa do Ambiente). Músicas do Mundo. centro de dados de Sines.
António Costa), Nuno Mascarenhas
(presidente da Câmara Municipal de
Sines), Afonso Salema (presidente
executivo da Start Campus) e Rui Oli-
veira Neves (advogado e administra-
dor da empresa do centro de dados).
O processo também levou João
Galamba a ser constituído arguido,
tal como o presidente da APA, Nuno
Lacasta. Mas esse não foi o caso do
primeiro-ministro: a PGR informou
que António Costa seria objeto de um
inquérito autónomo no Supremo Tri- Nuno Mascarenhas Vítor Escária Rui Oliveira Neves
bunal de Justiça, para investigar a sua Autarca Chefe de gabinete do PM Gestor da Start Campus
alegada intervenção para desbloquear
procedimentos. O presidente da Câmara O chefe de gabinete do O administrador da Start
Na terça-feira, a Savannah Resour- Municipal de Sines, Nuno primeiro-ministro, Vítor Campus, que também já foi
ces admitiu ter sido alvo de buscas, Mascarenhas, foi detido por, Escária, foi detido por ter diretor jurídico da Galp, surge
mas garantiu que nenhum seu funcio- alegadamente, ter aceitado contactado Lacerda Machado na investigação pelos
nário foi constituído arguido. A Start “vantagens indevidas” para a para intervir junto de contactos feitos com João
Campus, que também teve buscas e Câmara de Sines, membros do Governo, Galamba e Nuno Lacasta para
que é acusada de ter pago jantares nomeadamente o patrocínio incluindo o ministro do tentar favorecer os interesses
e almoços a João Galamba e contra- de cinco mil euros da Start Ambiente, Duarte Cordeiro, e da empresa do centro de dados
partidas à Câmara de Sines por uma
alegada aceleração do seu projeto
Campus ao Festival Músicas do
Mundo, um apoio (não
a secretária de Estado da
Energia, Ana Fontoura
no desenvolvimento mais
célere do projeto, sendo que o
na autarquia, defendeu “o seu total
compromisso com a transparência,
contabilizado pelo MP) ao
Clube de Futebol Vasco da
Gouveia, o ICNF e a Câmara de
Sines para “desbloquear”
MP também aponta a Rui
Oliveira Neves contactos com o
legalidade e integridade de todas as
suas operações”. E assegurou que o
Gama e outro donativo a um
projeto social da Câmara de
assuntos da Start Campus.
Segundo o MP, reuniu-se no
presidente da Câmara de Sines
para dar “andamento favorável
investimento em Portugal é para man- Sines a troco de “conferir seu gabinete, em São Bento, a pretensões em matéria de
ter. A empresa do centro de dados aco- andamento favorável e mais com Lacerda Machado e urbanismo”. O nome do
lheu os primeiros clientes há um mês. célere a procedimentos Afonso Salema, mas também advogado é ainda citado a
Agora foi a vez de receber a polícia. administrativos” relacionados na sede do PS e no escritório respeito da potencial ligação
hfranco@expresso.impresa.pt com o centro de dados. da Start Campus. da Galp à Savannah no lítio.
8 ECONOMIA
CRISE POLÍTICA
Demissão de Costa
não faz disparar os juros
da dívida pública
A primeira vítima da crise política pode ser a paragem da
melhoria do rating. A Moody’s avalia a dívida a 17 de novembro
Jorge Nascimento Rodrigues
A crise política provocada pelo pedi-
do de demissão de António Costa na
terça-feira ainda não beliscou a tra-
jetória de descida dos juros da dívida
pública que se está a registar desde a
última reunião do Banco Central Eu-
ropeu (BCE) a 26 de outubro. A queda
do primeiro-ministro não alterou a
tendência no mercado secundário da
dívida, com os juros no prazo a 10 anos
a caírem de 3,6%, antes da reunião do
BCE que decidiu a pausa na subida das
taxas diretoras, para 3,35% à hora de
fecho da edição do caderno de Econo-
mia (ver gráfico).
Os mercados continuam a consi-
derar que o motor principal do com-
portamento dos juros portugueses
— tal como dos restantes na zona euro
— depende da política monetária do
BCE, mais do que, por ora, da evolu-
ção da crise política em Portugal. “Um
aumento das taxas de juro da dívida
pública portuguesa teria de ser muito
provavelmente resultado de um novo
agravamento da inflação e de uma
política monetária mais restritiva pelo
BCE”, diz Paulo Rosa, economista
sénior do Banco Carregosa. Ora, a ex-
pectativa é que o BCE mantenha uma
O que fica e o que cai com fim do Governo
Mesmo sem saber o que
acontecerá ao Orçamento, cuja
decisão será anunciada depois
do fecho desta edição, há várias
coisas que sabemos
Sem Governo, há várias decisões que
já não vão acontecer e outras que se
manterão seja qual for a decisão do
Presidente da República sobre o Orça-
mento do Estado para 2024, algo que
só terá sido revelado ontem já depois
do fecho desta edição da Economia.
PENSÕES E PRESTAÇÕES SOCIAIS
O aumento das pensões no próximo
ano está salvaguardado. As regras de
atualização estão previstas em legis-
lação autónoma e, embora tenham
grande peso orçamental (mais €2
mil milhões de despesa anual), estão
pausa prolongada, a não ser que haja
surpresas na frente geopolítica que
impliquem novos surtos inflacionistas
que obriguem a equipa de Christine
Lagarde a subir ainda mais as taxas.
Rigor orçamental é fator crítico
A crise política poderá abalar a traje-
tória dos juros se os mercados perce-
cionarem que a política orçamental
portuguesa vai ser alterada depois
da saída de cena de António Costa.
“Se houver uma convicção que os ob-
jetivos orçamentais e o rigor serão
mantidos, então a crise política fará
pouca diferença”, sublinha Ricardo
Reis, professor na London School of
Economics e colunista do Expresso.
Mas avisa: “Se se começar a adivinhar
um Governo de coligação que tem de
abrir os cordões à bolsa para ‘com-
prar’ o apoio dos parceiros, então isso
terá um impacto.”
Filipe Garcia, presidente da consul-
tora Informação de Mercados Finan-
ceiros, acrescenta: “Em linhas gerais,
pode dizer-se que há um certo con-
senso entre os partidos que se pers-
petiva que possam formar Governo
em adotar uma linha orçamental con-
servadora, de respeito às diretrizes de
Bruxelas e de redução da dívida.”
excecionadas das regras dos duodé-
cimos. Além das pensões, sobem as
prestações sociais cujo valor depende
do indexante de apoios sociais (IAS),
como o abono de família e os valores
máximo e mínimo do subsídio de de-
semprego. O valor não está fechado,
mas tanto o IAS como a generalidade
das pensões deverão crescer em torno
dos 6,2%. Será, contudo, necessário
que o Governo em funções, no início
do próximo ano, publique uma porta-
ria com os valores de atualização.
SALÁRIOS
O aumento do salário mínimo nacional
e dos salários da função pública depen-
dem da publicação de portarias autó-
nomas do Governo e não da entrada
em vigor do Orçamento do Estado. No
caso dos salários do Estado, a dúvida
Os mercados esperam para
ver se a política de ‘contas
certas’ é mantida depois
da saída de Costa e Medina
FOTO TIAGO MIRANDA
Por ora, a indicação de trajetória
de descida dos juros vem do mercado
secundário, onde se transacionam
as obrigações do Tesouro entre os
investidores, já que a Agência de Ges-
tão da Tesouraria e da Dívida Pública
(IGCP) ainda não anunciou próximos
leilões de obrigações nem lançou ain-
da uma nova referência para a dívida
a 10 anos.
Apesar de os juros descerem, o
prémio de risco exigido pelos inves-
tidores subiu ligeiramente de menos
de 70 pontos-base (o equivalente a
um spread de 0,7 pontos percentuais)
para 74 desde o pedido de demissão de
Costa (ver gráfico).
No entanto, no horizonte de de-
zembro de 2024, já no quadro de um
provável novo Governo, as projeções
do portal World Government Bonds
(WGB) continuam a apontar para
uma descida do prémio de risco (para
64 pontos-base), apesar de os juros
portugueses aumentarem meio pon-
to percentual para perto de 4% (ver
tabela).
A concretizar-se esta trajetória
projetada pelo algoritmo do WGB,
os juros portugueses no final do pró-
ximo ano estarão abaixo dos regista-
dos para a Bélgica e França, e entre
os cinco mais baixos da zona euro
está na existência de cabimento orça-
mental caso se entre em duodécimos.
Uma questão que não se coloca na atu-
alização do salário mínimo que foi até
alvo de acordo na concertação social.
Em 2022, já com o Parlamento dissol-
vido, o entendimento do Governo de
António Costa foi de que um Executivo
em funções de gestão podia proceder a
ambos os aumentos.
CRÉDITOS E RENDAS
A fixação temporária da prestação do
crédito à habitação e a bonificação dos
juros continuarão a ser possíveis em
2024, seja qual for o cenário político.
O teto de atualização das rendas será
também de 6,94%. Já o reforço do
apoio extraordinário ao arrendatário,
feito em diploma autónomo do OE,
aguarda promulgação do Presidente.
JUROS DESCEM DESDE
REUNIÃO DO BCE...
Taxas em percentagem
3,5
3,35
3,2
25 OUT. NOV.
Nota: juros no mercado secundário da dívida; dados
de fecho às 16h30 de 8/11
... MAS PRÉMIO DE RISCO
SOBE DEPOIS DE DEMISSÃO
Spread em pontos-base
75
70
65
60
25 OUT. NOV.
Nota: o spread é calculado em relação ao juro
da dívida alemã a 10 anos; cada 100 pontos-base
correspondem a um prémio de 1 ponto percentual
FONTE: INVESTING.COM
JUROS INFERIORES AOS
BELGAS E FRANCESES
EM DEZEMBRO DE 2024
Taxas em percentagem
Espanha
França
Eslovénia
Bélgica
Chipre
Portugal
Finlândia
Irlanda
Países Baixos
Alemanha 3,29
Nota: projeções do algoritmo
em 8/11 pelas 16h30
FONTE; WORLD GOVERNMENT BONDS
(juntamente com a Alemanha, Países
Baixos, Irlanda e Finlândia).
Pausa na melhoria do rating
A primeira vítima política poderá ser o
processo de melhoria do rating da dí-
vida portuguesa que, este ano, já subiu
para o escalão A por decisão da agên-
cia canadiana DBRS (notação A), da
Fitch (A-) e da europeia Scope (A-). A
Standard & Poor’s e a DBRS já vieram
dizer que a crise política não represen-
ta riscos imediatos para o rating atual,
mas a situação mudará de figura se,
após esta crise política, houver “um
desvio do longo historial de prudência
orçamental de Portugal após 2014 e
um desacelerar da redução da dívida
pública”, como refere o relatório da
S&P publicado esta semana.
Há, ainda, uma avaliação programa-
da por parte da Moody’s para 17 de no-
vembro. Esta agência é a que pior nota
dá à dívida portuguesa, classificando-a
em BBB, abaixo do rating de BBB+
por parte da S&P. “Tendo em conta a
incerteza, faria sentido aguardar. Mas,
no que diz respeito à dívida soberana,
a Moody’s não tem um bom historial
de tomar ações com muito sentido”,
ironiza Ricardo Reis.
economia@expresso.impresa.pt
TAP E AEROPORTO
Haja ou não eleições antecipadas, o
processo de privatização da TAP e a
decisão da localização do novo aero-
porto vão derrapar, já que é necessário
um Governo em funções para decidir.
FUNDOS EUROPEUS
A Agência para o Desenvolvimento
e Coesão garante que irá tomar as
decisões necessárias para garantir
o encerramento do Portugal 2020
e operacionalizar o Portugal 2030.
No caso do PRR, o Governo não fica
limitado na execução dos fundos mas
o próximo cheque implica cumprir 40
marcos e metas. O que pode ser difícil.
Anabela Campos,
Diogo Cavaleiro, Elisabete Miranda
e Joana Nunes Mateus
acampos@expresso.impresa.pt
Expresso, 10 de novembro de 2023
“Confusion
de Confusiones”
3,35
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt
Pode,
8 NOV.
mas não é a
mesma coisa
C
74 om o ano a terminar, acaba-
ram-se os medicamentos à
dona Portugália. Foi ao cen-
tro de saúde, mas não teve
consulta porque o médico se demi-
tiu. A dona Portugália resolveu ir,
então, à farmácia procurar ajuda.
8 NOV. Ela fez exames recentemente e nos
relatórios há alterações sensíveis.
Os juros estão altíssimos! A inflação
não lhe dói tanto como lhe doía no
ano passado por esta altura, quando
o Índice de Preços no Consumidor
variava 10% ao ano, mas ainda não
passou. O crescimento do PIB, que
rondava os 4,8% no 3º trimestre de
2022, este ano já só cresceu 1,9%
no correspondente trimestre e esti-
ma-se uma aterragem contínua ao
4,44 longo do próximo ano...
4 Num ano, a saúde da dona Portu-
4 gália havia mudado muito.
3,97 Ao chegar à farmácia, a dona Por-
3,97 tugália pediu ajuda ao farmacêu-
3,93 tico por causa dos medicamentos
3,92 acabados. Também a informou o
3,69 farmacêutico de que as análises
3,66 mostravam alterações sensíveis
face ao ano anterior, quando o mé-
dico tinha prescrito a última re-
ceita. No entanto, como o médico
tinha faltado à consulta e ela pre-
cisava de medicamentos, sugeriu
ao farmacêutico que lhe aviasse
a receita antiga em duodécimos,
até ela ter uma nova consulta. O
farmacêutico, consciente, respon-
deu que isso não era solução e que
deveria tentar uma consulta o mais
rapidamente possível para ajustar o
novo Orçamento à nova realidade
do país.
Pode o país viver
sem Orçamento durante
uns meses de 2024?
Claro que sim, e isso
já sucedeu várias vezes.
Mas quando as condições
económicas mudam
muito, os Orçamentos
anteriores ficam
obsoletos e não ajudam
Pode o país viver sem Orçamento
durante uns meses de 2024? Claro
que sim, e isso já sucedeu várias
vezes. Mas quando as condições
económicas mudam muito, os Orça-
mentos anteriores ficam obsoletos e
não ajudam.
Havendo a expectativa de uma
rápida alteração da evolução do
PIB por quebra sensível das expor-
tações, o Governo previa compen-
sar isso com um crescimento da
procura interna via consumo. Para
isso era fundamental o aumento
dos salários e pensões inscritos no
Orçamento e uma redução do IRS e
das retenções. Para além de outros
apoios projetados para as famílias.
Com mais rendimento disponível,
elas poderiam consumir mais no
início do ano, mitigando, assim, os
efeitos da retração simultânea das
exportações, pelo menos no 1º tri-
mestre.
Sem Orçamento, as exportações
continuarão a retrair-se, mas não
existirão compensações. Pois até
ao nível do investimento público
se teme uma travagem: a execução
do PRR passa a ser uma incógnita e
os grandes investimentos, como o
aeroporto, a TAP ou outras infraes-
truturas, adiam-se.
Pode viver-se em 2024 sem o Or-
çamento aprovado? Poder pode,
mas não é a mesma coisa.
Expresso, 10 de novembro de 2023
ESTRATÉGIA
“Temos de acelerar na requalificação das
pessoas. O cenário de 2030 é assustador”
Paulo Azevedo lançou grupo europeu para preparar as pessoas para as profissões do futuro
Texto Margarida Cardoso
Foto Rui Duarte Silva
Quando olha para a Europa
que se quer verde e digital no
futuro próximo, Paulo Aze-
vedo, presidente do conselho
de administração da Sonae, o
maior empregador privado não
financeiro português, não tem
dúvidas: “O cenário de 2030 é
assustador” e a melhor respos-
ta a dar é “acelerar na requali-
ficação das pessoas”.
Os números dão uma ideia
do que temos pela frente. Será
preciso requalificar um milhão
de trabalhadores na Europa
até 2025 e 20 milhões no hori-
zonte de 2030. Portugal tem 5
mil para requalificar até 2025
e 400 mil até ao fim da década.
Pensar o problema e lançar
bases para a sua resolução
foi uma das missões de Pau-
lo Azevedo depois de passar a
presidência executiva da So-
nae à irmã Cláudia. E tudo se
concretizou através da Euro-
pean Round Table for Industry
(ERT), um fórum europeu para
promover a competitividade
e prosperidade na Europa e
onde, diz o gestor sem comple-
xos, “a Sonae só entrou porque
era preciso ter lá uma empresa
portuguesa”.
No ERT, fundou o R4E —
Reskilling 4 Employment,
dedicado à requalificação de
pessoas em idade ativa, ana-
lisando o mercado, anteven-
do necessidades, antecipando
funções e atividades que vão
ficar obsoletas, cruzando da-
dos, planeando, dando novas
competências para o futuro.
“Quem tem a informação ne-
cessária para tudo isto são as
grandes empresas que no seu
planeamento estratégico in-
cluem o plano das necessidades
profissionais para cumprir os
objetivos. No sistema de ensino
não há essa informação anteci-
padamente. Os provedores de
formação começam a prepa-
rar cursos quando já há falta
no mercado. É um sistema que
ATIVOS DIGITAIS
BPI aventura-se
na blockchain
O banco português
aposta numa plataforma
de compra e venda
de colecionáveis digitais
(e sem estar exposto
a criptomoedas)
O BPI lançou esta semana a
plataforma D-Verse, naque-
la que é a primeira aposta de
um dos incumbentes da banca
portuguesa nos ativos digitais.
O mercado de colecionáveis
— uma espécie de galeria de
ativos não fungíveis (non-
-fungible tokens, ou NFT, na
expressão em inglês) — é um
primeiro teste do BPI com a
tecnologia blockchain, que visa
criar capacidade tecnológica e
de gestão interna neste tipo de
projetos.
reage tarde e estamos na fase
de acelerar. A velocidade da
mudança é enorme”, comenta
ao Expresso.
Analisados os modelos de
formação interna e externa de
mais de 250 grandes empresas,
desenhado o processo, Paulo
Azevedo apresentou a proposta
com a sua equipa às cúpulas
da União Europeia. Recebeu
elogios, mas percebeu que a
iniciativa teria de ser das em-
presas. Avançou, então, para
um projeto piloto em alguns
países, para depois expandir.
“Começamos em Portugal,
Espanha e Suécia”, conta o
gestor que envolveu natural-
mente a Sonae a par da SAP e
da Nestlé. Em Espanha, tudo
começou com a SAP, a Tele-
fónica e a Iberdrola. na Suécia,
o arranque foi feito com Volvo
e a AstraZeneca. Entretanto,
O objetivo é preparar o banco
tendo em vista um futuro em
que uma série de ativos de todo
o tipo poderão ser comprados
e vendidos de forma imediata
(e tendencialmente barata ou
gratuita), com registo digital
da transação e da posse. É a
chamada ‘tokenização’, na qual
um ativo (como os financeiros,
o que inclui ações e obrigações,
os imobiliários ou até créditos e
direitos, entre outros) pode ser
representado por um token di-
gital facilmente transacionável.
Apesar de o mercado de NFT
ter crescido em paralelo com o
dos criptoativos, a plataforma
do BPI não quer estar, porém,
circunscrita a esse universo;
tendo sido concebida para evi-
tar que qualquer cliente poten-
Grécia e Alemanha juntaram-
-se à experiência. Finlândia e
Itália estarão no R4E até ao
fim do ano. Bélgica e França
preparam o arranque.
Empregabilidade nos 85%
Em causa estão competências
para técnicos de manutenção e
operação na indústria, técnicos
de instalação e eletricistas nas
renováveis, enfermeiros, técni-
cos de saúde e todas as profis-
sões médicas, técnicos ambien-
tais e agrícolas na agricultura,
programadores, inteligência
artificial, análise de dados e ci-
bersegurança, no sector digital,
técnicos comerciais, resume.
Do outro lado, a exigir requa-
lificação estão profissionais em
áreas automatizadas na indús-
tria, na logística, em tarefas
administrativas.
cial destes NFT tenha de ad-
quirir criptomoedas se quiser
comprar estes ativos digitais.
A D-Verse, desenvolvida com a
tecnológica portuguesa Celfo-
cus, foi criada para permitir que
a custódia seja feita na própria
plataforma, e não pelo próprio
cliente, e que os pagamentos se-
jam feitos em moeda fiduciária.
“As soluções que existiam no
mercado para os ativos digitais
não permitiam a democratiza-
ção destes ativos. Os clientes
teriam de ter uma carteira de
criptomoedas, entrar nesse
complexo e especulativo mun-
do e aceitar todos os riscos
inerentes”, segundo Francisco
Barbeira, administrador do BPI
com o pelouro da inovação, ao
Expresso. “Não existem cripto-
moedas em nenhum momento”
na D-Verse, frisa. Desta forma,
qualquer cliente do banco po-
derá comprar qualquer destes
NFT com euros — o que tam-
bém exclui o BPI de ficar dire-
tamente exposto a criptoativos.
“O banco não tem nenhum pla-
no para entrar na comercializa-
Se Paulo Azevedo foi surpre-
endido neste processo, foi pela
“forma como tudo correu bem
em Portugal, a destacar-se nos
resultados. Nenhum país teve
esta ligação ao Estado tão fácil,
célere e colaborativa, incluindo
o trabalho feito com o IEFP —
Instituto do Emprego e Forma-
ção Profissional ”, comenta.
É assim que o Pro-Mov, o pro-
grama nacional desta iniciativa
europeia, já lançou sete labora-
tórios e 14 cursos com um tempo
médio de formação de 8 meses,
entre sala de aula e ambiente de
trabalho. Nos três cursos já con-
cluídos a taxa de empregabilida-
de foi de 85%. Até ao fim do ano,
estarão formadas 500 pessoas
em Portugal em 72 empresas
aderentes, com um custo médio
per capita de €7 mil.
“Mas a partir de agora isto
tem de escalar. As necessidades
ção das criptomoedas”, vinca.
E enquadra este projeto, den-
tro no universo de atividade do
BPI, no domínio dos produtos
não financeiros. “A plataforma
estará disponível nesta fase ex-
clusivamente para clientes do
banco”, tendo os NFT “de ser
comprados com crédito, exata-
mente igual ao enquadramento
que temos nesses produtos”,
acrescenta.
Afonso Eça, diretor-executi-
vo de inovação do BPI, explica
ao Expresso que a plataforma
consiste em “smart contracts
[contratos inteligentes com re-
gras predefinidas executadas
de forma automática] sobre uma
blockchain pública em que sepa-
rámos a camada de pagamentos.
A D-Verse visa
criar capacidade
tecnológica e de
gestão em projetos
blockchain
O projeto está
a conquistar empresas
e países e “Portugal
está a destacar-se
nos resultados”,
diz Paulo Azevedo
são crescentes e queremos che-
gar a 5 mil pessoas até 2025”,
comenta Paulo Azevedo, subli-
nhando o interesse “de todos os
países europeus na experiência
nacional”. “Querem vir cá ver
como fazemos. E tornamo-nos
modelo numa coisa que nunca
diria, as parcerias público-pri-
vadas”, assume.
A assinatura do protocolo do
Pro-Mov com a CIP, esta se-
mana, promete ser uma forma
eficaz de aumentar a base em-
presarial, mas Paulo Azevedo
assume a ambição de juntar no-
vas bases de dados aos do IEFP
e alargar o projeto às PME, que
“não têm a mesma capacidade
de fazer isto e são parte funda-
mental do tecido empresarial
nacional”. Do lado do Pro-Mov,
a ambição é juntar nesta rede
mais de 500 empresas.
mmcardoso@expresso.impresa.pt
Esta, que era tradicionalmente
feita em ‘cripto’, fica de fora e é
substituída por moeda fiduciá-
ria”. A proposta não visa fazer
um “cordão sanitário” com o
mercado “cripto”, garante.
Esta é, para o executivo, “uma
questão de posicionamento
para nos prepararmos para a
contínua evolução que a eco-
nomia digital tem e que prova-
velmente vai ter nos próximos
anos. Vamos começar com a
arte, mas não nos vamos cin-
gir à arte, iremos expandir-nos
para outras indústrias”.
A primeira coleção da D-Verse
tem a curadoria da Ephemeral
Eternal, uma plataforma web3
associada à galeria lisboeta Un-
derdogs, de Alexandre Farto,
mais conhecido por Vhils, e será
composta por criações do artis-
ta francês Julien Raffin.
“É óbvio que reconhecemos
que há muito caminho a fazer na
tokenização de ativos e que esse
caminho nos espera. É o início
de um processo de aprendiza-
gem. O facto de termos investido
capacidade na construção de
ECONOMIA 9
TRÊS PERGUNTAS A
Paulo Azevedo
Presidente do conselho
de administração da Sonae
P Como se tornou o “pai” do
Reskilling 4 Employement?
R Somos a empresa mais peque-
na do ERT (European Round
Table for Industry) e assumi que
quando fosse presidente da Sonae
daria o meu contributo. Eles terão
percebido que era um dos mais
preocupados com a área social e
ambiental, convidaram-me para
liderar um grupo de trabalho de
impacto. Como gosto de coisas
com ambição, quis algo onde pu-
déssemos ter grande impacto. A
falta de pessoas qualificadas para
profissões de futuro numa Europa
que se quer verde e digital era um
problema urgente a resolver.
P A educação e a formação
também eram causas do seu
pai, Belmiro de Azevedo, que
dá nome à fundação onde es-
tamos...
R Sim. A Fundação está focada
na educação. Tenho muito orgu-
lho no que fazemos, apesar de
sermos uma pedrinha pequena.
P E o que anda mais a fazer?
R Estou na presidência da Sonae,
das empresas irmãs, da BA Glass,
da Efanor e da Fundação Belmi-
ro de Azevedo, ajudo no Espaço
T — Associação para o Apoio à
Integração Social e Comunitária,
fundei a associação de conser-
vação da natureza Viridia, com
projetos em Portugal e Angola,
presidi ao Comité de Instalação
do Biopolis e aceitei, agora, ser
professor catedrático das facul-
dades de Economia e de Ciências
da Universidade do Porto e do
Biopolis num grupo de investiga-
ção dedicado à compatibilidade
entre sistemas socioeconómicos
e o nosso planeta. São talvez mais
coisas do que seria sensato.
uma plataforma de blockchain é
óbvio que já estamos a avaliar e
a estudar eventuais novos casos
de uso”, admite o administrador.
O mercado de NFT atingiu o
seu pico (tanto em preço como
em popularidade) em 2022, com
várias coleções a alcançarem
valores superiores a milhões de
dólares. A destruição de valor
destes ativos foi colossal desde
o pico de janeiro de 2022, tendo
desaparecido, na comparação
com o registo de julho de 2023,
mais de 80% do valor mensal de
negociação, segundo um estudo
da DappRadar.
Sobre se as obras de arte digi-
tais à venda terão um mercado
secundário minimamente líqui-
do do outro lado, Afonso Eça diz
que “não há qualquer garantia
do banco nesse sentido”, mas
que “vão ser comunicados às
pessoas os riscos inerentes à
participação neste produto. A
liquidez no mercado secundá-
rio vai depender da adoção da
plataforma”.
Pedro Carreira Garcia
pcgarcia@expresso.impresa.pt
10 ECONOMIA
Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt
O poder
de um
comunicado
É
certamente um caso raríssimo
que o comunicado de um orga-
nismo de investigação criminal
tenha o poder de levar um pri-
meiro-ministro a demitir-se, ainda
por cima com maioria absoluta no
Parlamento. Em Portugal nunca tinha
acontecido. Aconteceu esta semana
com António Costa. E o que diz o co-
municado? Em síntese, que no âmbito
de uma investigação a pessoas próxi-
mas do primeiro-ministro o seu nome
foi referido, pelo que essa informação
foi enviada pelo Ministério Público
para o Supremo Tribunal de Justiça,
onde decorre um inquérito. Eminen-
tes juristas consideram que o proce-
dimento do Ministério Público foi o
adequado. Será mesmo verdade que
o comunicado tem assim tanto poder?
Ninguém sabe mais nada. Nem o que
está no inquérito a correr no Supre-
mo Tribunal de Justiça. Nem, muito
menos, se algum dia António Costa
será constituído arguido ou acusado,
embora o próprio tenha insinuado o
contrário quando anunciou o pedido
de demissão. Sabemos, apenas, que
o presidente do Supremo Tribunal de
Justiça, Henrique Araújo, validou uma
escuta a António Costa. E sabemos
ainda que o mesmo Henrique Araújo
deu uma entrevista a semana passada
onde traça um cenário negro sobre a
“corrupção instalada” no país. Para
concluir: “A Justiça não é uma prio-
ridade para o poder político.” É pro-
vável que o comunicado seja apenas a
ponta de um icebergue, e que seja esse
o seu verdadeiro poder.
Ninguém sabe o que
o futuro nos reserva,
mas ficámos a saber que
a habilidade e o talento
tático não chegam
para fazer um grande
primeiro-ministro
Lendo tudo o que lá está, e não ape-
nas a parte em que António Costa
é referido, é forçoso concluir que o
primeiro-ministro acaba por ser víti-
ma de si próprio. Foi ele que escolheu
para chefe de gabinete Vítor Escária,
uma personalidade pouco recomen-
dável para o exercício de cargos pú-
blicos. Foi ele que indicou o amigo
Diogo Lacerda Machado para missões
políticas, sabendo da sua condição de
“agilizador” de negócios. Foi ele que
manteve o ministro João Galamba,
contra todas as evidências de que a
criatura não tinha, nem tem, condi-
ções para o exercício do cargo. Foi ele
que manteve no seu círculo próximo
pessoas de alto risco político, num
exercício de teimosia e arrogância que
lhe custou caro. A responsabilidade é
dele e de mais ninguém.
Com este comunicado, o primeiro-
-ministro nunca teria condições para
continuar no cargo. A Justiça, que
tem muitas e óbvias falhas, será uma
vez mais o bode expiatório. Como foi
no caso Casa Pia. Ou com Sócrates.
Não se conhece ao Partido Socialista o
reconhecimento de um erro. A culpa
é sempre dos outros. António Costa
tinha tudo para correr bem. Uma mai-
oria absoluta. Dinheiro como Portugal
nunca teve. Prestígio internacional.
Uma oposição fragilizada. Tudo foi
desbaratado e não é de agora. Um
antigo candidato presidencial apoiado
pelo PS, Sampaio da Nóvoa, disse há
uns tempos que António Costa perdeu
a oportunidade de ser “um grande
estadista”. Ninguém sabe o que o fu-
turo nos reserva, mas ficámos a saber
que a habilidade e o talento tático não
chegam para fazer um grande primei-
ro-ministro.
TELECOMUNICAÇÕES
“Vodafone vai estar
cá nos próximos
30 anos”
Luís Lopes assegura que
a Vodafone Portugal não está
à venda e afasta comparações
com o mercado espanhol
Texto Anabela Campos
Foto Nuno Botelho
Otimista face ao futuro da Vodafone
Portugal, Luís Lopes, presidente da
operadora, não esconde alguma dece-
ção com o rumo do sector nos últimos
anos, mas, não obstante, assegura que
a empresa está no país para ficar mais
algumas décadas. “A Vodafone tem
30 anos em Portugal e acreditamos
que nos próximos 30 vamos cá estar.
Não temos a visão do ‘vamos investir
e queremos rentabilidade ao fim de
cinco anos’”, salienta em entrevista ao
Expresso, a primeira que dá desde que
assumiu a liderança da operadora, em
março, há nove meses.
Com uma carreira internacional
de quase uma década na Vodafone,
o gestor afasta o cenário de venda da
operação portuguesa, como aconteceu
recentemente com a Vodafone Espa-
nha, vendida ao fundo britânico Zegona
no final de outubro. “A operação espa-
nhola é completamente desligada da
portuguesa. São operações, mercados
e posições competitivas distintas. A
Vodafone Portugal tem um desempe-
nho distinto da operação em Espanha.”
Mas alerta que o que aconteceu em
Espanha “é um exemplo que mostra
que, num cenário extremo da indústria,
os acionistas não aguentam tudo e para
sempre. Há uma dada altura em que
podem querer sair”. Continua a ser in-
teressante investir em Portugal? “Já foi
mais”, desabafa. “No último Congres-
so da APDC disse que o sector estava
doente e não mudei de opinião. Há mais
CONCORRÊNCIA
Compra da Nowo
pendurada na AdC
O tempo que os reguladores demoram
a tomar decisões é identificado por
Luís Lopes como um ponto fraco
do país. E exemplifica: a Vodafone
Portugal está há um ano à espera da
aprovação da compra da Nowo pela
Autoridade da Concorrência (AdC). “É
difícil compreender que uma operação
do tamanho da Nowo demore tanto”,
aponta. E afirma que o arrastar do
processo está a penalizar a vida das
duas empresas. “Gostaríamos que
os reguladores funcionassem de
forma mais eficaz, mais eficiente,
mais célere. Temos vários exemplos
em que assim não é. O processo de
compra da Nowo surpreende-nos
pela demora. Pensámos que seria
rápido, estamos perante um operador
com 2,5% de quota, e a Vodafone é o
terceiro operador do mercado”, diz
de uma década o sector representava
quase o dobro no Produto Interno Bru-
to (PIB) do país. Era mais de 3% e agora
é menos de 2%. E, infelizmente, não
foi porque o PIB duplicou”, afirma. “O
sector encolheu. Mas os investimentos
nesta área não encolheram, aliás foram
reforçados: tivemos de reconstruir as
redes fixas [com fibra], construir uma
rede 4G e uma rede 5G. E a atividade
como fonte de receitas até diminuiu.”
E mostra algum desapontamento face
à forma como o sector tem sido trata-
do. “Se houvesse uma perspetiva de
retorno mais acelerada, não havia este
investimento, posso garantir-lhe. Dito
isto, a Vodafone tem um compromisso
de longo prazo com Portugal. Acredi-
tamos que o serviço que prestamos é
importante.”
Portugal muito à frente
Luís Lopes considera que o sector em
Portugal em algumas matérias está
“muito à frente”, inclusive, de vários
grandes países europeus, e uma delas
é a fibra. Inglaterra, por exemplo, “está
atrasadíssima” e a Alemanha também
começou mais tarde. “Portugal foi dos
primeiros países a ter fibra, temos três
redes de fibra. Sempre apostámos mui-
to na inovação. Em termos da evolução
da oferta de televisão, somos um dos
países mais avançados. No 5G só não
somos mais avançados pelo atraso no
leilão, mas até nessa matéria consegui-
mos, nos últimos dois anos, recuperar
algum do tempo perdido.”
O antigo presidente da Vodafone
Portugal Mário Vaz chegou a admitir
Luís Lopes. Mas o processo não foi
rápido e já não será, uma vez que a
AdC avançou para uma investigação
aprofundada. O regulador liderado por
Cunha Rodrigues justifica a demora
— que também lhe desagrada — com
a reconfiguração do mercado das
telecomunicações após a atribuição
das licenças de quinta geração
móvel. E ainda com a existência de
modelos de avaliação distintos entre
a Vodafone e a concorrência e a falta
de compromissos (remédios) robustos
por parte da operadora. “Tivemos
11 pedidos de informação da AdC,
julgo que é um recorde em Portugal”,
espanta-se o gestor. “A aprovação da
fusão da Sonaecom com a Portugal
Telecom [em 2006] teve uma duração
de 10 meses, este processo já vai em
12 meses”, estranha. Porém, Luís
Lopes ainda tem esperança de fechar
a operação este ano e diz que não
está em cima da mesa a desistência.
“Não gostaria de pensar nisso nesses
termos, porque tenho alguma
expectativa de que possa existir uma
decisão até ao final deste ano”, afirma.
LUÍS LOPES
Estudou engenharia física no
Técnico (IST), equacionou ser
académico, mas a veia
“pragmática” venceu. Esteve na
Procter & Gamble e passou
muitos anos na Mckinsey,
vivendo entre Lisboa e Londres.
Em 2004 entrou na PT e passou
por vários projetos, chegou à
administração da PT
Comunicações. Foi quem
iniciou o projeto da MEO. Em
2014 entra na Vodafone, onde é
envolvido em vários projetos
internacionais, o último foi a
instalação de uma empresa de
infraestruturas de fibra,
na Alemanha.
na fase mais conturbada do leilão do
5G que a Vodafone podia equacionar
desinvestir no país. Luís Lopes garante
que o trauma do 5G está ultrapassado.
E explica que a questão não foi tanto o
leilão, mas a assimetria de tratamento
dos candidatos às licenças. “Durante o
processo do 5G, o regulador criou con-
dições assimétricas para a entrada de
um novo entrante [no mercado]. Isso
levou os investidores, nomeadamente
o acionista da Vodafone, a questionar
o que se passa em Portugal. Não temos
problema nenhum em que entrem no-
vos concorrentes. Temos um problema
SEGURANÇA
Decisão na Huawei
é “agressiva”
A decisão da Comissão de Avaliação
de Segurança sobre a exclusão do
equipamento chinês Huawei nas
redes de 5G, por ser considerado
de alto risco, não “foi muito feliz”
e surpreendeu os operadores. “A
deliberação em Portugal foi das mais
agressivas em termos de âmbito e
de tempo [de aplicação]”, considera
Luís Lopes. “Tínhamos a expectativa
de que, existindo a necessidade de
substituição do equipamento, seria
feito num prazo, com uma forma
e um conteúdo com substância e
que não impactasse custos para os
operadores. É mais uma variável em
que o sector tem de investir. A famosa
deliberação da Comissão Europeia, o
5G Toolbox, tem como princípio dar
tempo para que, dentro do ciclo de
vida dos equipamentos, fosse feita
Expresso, 10 de novembro de 2023
Luís Lopes, presidente da
Vodafone Portugal, defende
que os investimentos nas
telecomunicações são
exigentes, hoje menos de 2%
do PIB FOTO NUNO BOTELHO
quando há um concorrente com con-
dições melhores do que os operadores
que já cá estão, porque provoca uma
destruição do mercado”, defende.
O novo concorrente é a romena Digi,
um operador com uma presença forte
em Espanha, onde conquistou mer-
cado e pressionou a consolidação no
sector. “O que acontece no mercado
espanhol não é 100% replicado no nos-
so. A questão não é ser o operador A,
B, C ou D, é existir um concorrente
com condições favoráveis para entrar
num mercado. O mercado português
é competitivo. Se olharmos para o que
se passa, vemos que os concorrentes
andam a tentar roubar clientes uns aos
outros todos os dias. É difícil aceitar o
argumento de que temos preços pare-
cidos, que não competimos”, salienta.
E acredita que tem de haver mais con-
solidação na Europa, onde o mercado
está muito fragmentado, com centenas
de operadores. “Na última década o
sector perdeu muito”, diz, salientan-
do ainda: “Nos mercados americano
ou asiático as telecomunicações são
mais atrativas. Na Europa fomos o
sector que menos rentabilidade teve
no mercado de capitais, abaixo da ban-
ca, da energia.” E porquê? “Porque os
investimentos não resultaram num
aumento de receitas. Se formos ver o
que aconteceu aos preços nos últimos
10 anos, vemos que basicamente, com
exceção de 2023 — pressionados pelo
aumento da inflação —, caíram em
todos os mercados. A inflação impac-
tou-nos praticamente toda a base de
custos", frisa Luís Lopes.
acampos@expresso.impresa.pt
uma substituição gradual”, salienta.
A Vodafone já começou a preparar
a substituição e está em fase de
conclusão de um plano operacional,
mas admite que não é fácil desenhar
um plano que não ponha em causa
a operação. “Estamos a trabalhar
de forma detalhada num plano
que queremos propor à Comissão
e à ANACOM. Um plano que seja
exequível e que permita avançar de
forma que não se ponha em risco a
operação. Se tentarmos transformar
as nossas redes de forma muito
célere, não será fácil”, diz. E explica:
“Pode não existir, por exemplo,
técnicos suficientes no mercado para
substituir os equipamentos de todos
os operadores no tempo previsto.”
A Vodafone, sublinha o gestor, tem
pouco equipamento da Huawei, e o
que tem é sobretudo na rede fixa, no
móvel quase não tem. “Quando saiu
o 5G Toolbox, a Vodafone fez uma
análise profunda das preocupações da
CE e tomou a decisão de não investir
em equipamento da Huawei nas redes
core do 5G em Portugal.”
Expresso, 10 de novembro de 2023
INDÚSTRIA
Efacec encolheu sob a batuta do Estado
A venda
derrapou, só
foi fechada
à segunda
tentativa e sete
dias antes
da demissão
do primeiro-
-ministro
Texto Anabela Campos,
Isabel Vicente
e Margarida Cardoso
A Efacec encolheu a seguir à
nacionalização e chegou a 31 de
outubro de 2023, quando final-
mente foi privatizada e compra-
da pelo fundo alemão Mutares,
a sobreviver graças à injeção
mensal de €10 milhões pela
Parpública, durante 20 meses.
Em quatro anos, as receitas caí-
ram a pique, a dívida aumen-
tou, os prejuízos agravaram-se
e as encomendas reduziram-se
para menos de metade.
Os números espelham a reali-
dade de uma empresa a piorar
resultados ano após ano. Em
2019, antes de ser nacionalizada
e quando era ainda controlada
por Isabel dos Santos, a Efacec
faturava €355,1 milhões, tinha
sensivelmente o mesmo valor
em encomendas (€355,2 mi-
lhões), o EBITDA [meios opera-
cionais libertos] era de €22,5 mi-
lhões, a dívida ascendia a €119,3
milhões, o prejuízo era de €73,3
milhões e tinha capitais próprios
de €259,6 milhões. Os anos que
se seguiram foram um mergulho
no vermelho; as contas deterio-
raram-se. Em 2022, as receitas
tinham caído para €160,9 mi-
lhões, o EBITDA tinha acen-
tuado as perdas e era de €90,6
milhões, as encomendas recuado
para €138,9 milhões, a dívida
subido para €267,3 milhões. E os
capitais próprios eram negativos
em €52,8 milhões — a empresa
estava em falência técnica.
Definhar ano após ano
num sector dinâmico
A Efacec é uma sombra do que
foi. O sector está dinâmico e há
empresas com ex-quadros a flo-
rescer à volta. A Hicharge, que
já é maior do que a Efacec em
mobilidade elétrica, é um bom
exemplo de uma empresa feita
por trabalhadores que saíram
depois da nacionalização dos
71,73% de Isabel dos Santos e
que tiveram sucesso.
Vítima dos Luanda Leaks, que
fecharam a torneira da banca, a
Efacec sofreu naturalmente os
efeitos da pandemia. E é a esses
dois fenómenos que o ministro
da Economia, António Costa Sil-
va, atribuiu os problemas da em-
presa, excluindo a existência de
falhanço da gestão. Sem o Esta-
do e o regresso do financiamento
bancário não teria sobrevivido,
defende um antigo gestor ouvido
pelo Expresso, e nesse sentido
essa era uma justificação válida
para salvar a empresa, que tinha
então 2500 trabalhadores, mais
425 do que no final de 2022.
Há, porém, vozes conhecedo-
ras da empresa e antigos qua-
dros a tecer críticas em relação
à gestão liderada por Ângelo
Ramalho, considerando que o
gestor não fez as opções certas,
nomeadamente no que diz res-
peito à gestão do novo crédito e
do pagamento aos fornecedores.
Houve em 2020, 2021 e até
2022 (foi noticiado na altura)
fábricas, nomeadamente as dos
transformadores, a trabalhar de
forma muito limitada por fal-
O ministro da Economia, António Costa Silva, e o secretário de Estado das Finanças
fizeram o último negócio desta legislatura: a venda da Efacec FOTO NUNO FOX
Quantas
vidas já teve
a Efacec?
A origem da Efacec
remonta a 1904, à
Moderna Serração
Mecânica, que em 1921
dá origem à
Electro-Moderna, que
se dedicava à produção
de “motores, geradores,
transformadores e
acessórios elétricos”.
É nesta empresa que o
negócio se desenvolve
entre sobressaltos,
mudanças de nome,
acionistas e até negócios
que chegaram a faturar
mais de mil milhões de
euros em mais de 70
países. Batizada várias
vezes, em 1948 tinha
como acionistas a
Electro-Moderna (20%),
os belgas da ACE (20%)
e a CUF (45%), entre
outros. Em 1962 os
acionistas belgas
tornam-se maioritários
e rebatizam-na como
Efacec. No final dos anos
60 é uma das primeiras
empresas portuguesas
cotadas na Bolsa de
Valores de Lisboa. Em
2006 muda de novo de
mãos, desta vez para os
grupos José de Mello e
Têxtil Manuel Gonçalves,
que numa OPA ficam com
o controlo da empresa.
É em 2015 que o controlo
passa para a Winterfell
Industries, de Isabel dos
Santos, altura em que
apresentava problemas
financeiros. Acusada de
alegados esquemas
financeiros no âmbito do
escândalo Luanda Leaks,
em janeiro de 2020 Isabel
dos Santos coloca os
71,73% que tem na Efacec
à venda. Sem sucesso, o
Estado nacionaliza a sua
posição em julho. Depois
da venda falhada à DST,
vai parar às mãos da
Mutares.
LEIA TAMBÉM
A OPERAÇÃO
DE VENDA DA
EFACEC EM “11
PERGUNTAS
E RESPOSTAS”
ECONOMIA 11
NÚMEROS
€355
milhões foi o montante
de encomendas da
empresa em 2019. Em
2022 caiu mais de metade,
para €138,9 milhões
€260
milhões de capitais
próprios em 2019
comparam com capitais
próprios negativos
de €52 milhões em 2022
€200
ta de material, fruto sobretudo mesmo de pagar para fechar o de ficar até ao fecho do negócio
da gestão deficitária da rela- acordo. Eu, como empresário, e que agora sai para se refor- milhões foi quanto o Estado
ção com os fornecedores e não sei que não é assim que se fa- mar. João Realinho de Matos, o já meteu e perdeu na
tanto da rutura das cadeias de
fornecimento.
zem negócios”, diz ao Expres-
so, rematando que “neste caso
novo presidente da Parpública,
sabe o Expresso, não queria
Efacec desde a nacionalização.
Vai meter mais €160
tudo escapa à lógica”. subir a presidente enquanto a milhões, que pode não
O Estado paga maior fatura A respirar de alívio com a venda não estivesse concluída. recuperar. Mutares injeta
venda da Efacec e a conclusão A nova administração foi eleita €15 milhões e €60 milhões
Os custos com nacionalização e da privatização está a Parpúbli- quarta-feira, um dia depois da para garantias
privatização da Efacec serão de ca e o agora ex-presidente, Jai- demissão de António Costa.
€513 milhões, divididos entre me Andrez, que acabou por ter acampos@expresso.impresa.pt
acionistas, bancos e obrigacio-
nistas e Estado. E a maior fatia
será paga pelo Estado, que vai
injetar mais €160 milhões na
empresa, montante que se jun-
ta aos €200 milhões que colo-
cou a fundo perdido nos últimos
anos. Um apoio que serviu para
fazer face à tesouraria e paga-
mento de salários, mas também
para indemnizar quadros que
saíram da empresa.
Houve, segundo a Iniciativa
Liberal, um antigo quadro que
recebeu uma indemnização de
€400 mil. Mas houve também
dinheiro a ser usado para re-
novar, com carros de alta ci-
lindrada, a frota automóvel
dos gestores e altos quadros.
E ainda para pagar faturas não
essenciais, segundo uma carta
de um ex-administrador, que se
despediu, citada pela IL.
Contas feitas, o balanço acaba
por ser favorável ao novo dono.
O fundo alemão Mutares irá me-
ter na companhia €75 milhões:
€15 milhões é o que irá pagar
de entrada, a que juntarão mais
€60 milhões, um empréstimo
que irá desembolsar em cinco
anos para assegurar garantias
bancárias. Não obstante, Antó-
nio Costa Silva considera que
foi melhor assim do que deixar
cair a empresa. O governante
defendeu esta semana no Parla-
mento que a falência da Efacec
custaria ao Estado entre €60 e
€65 milhões por ano, entre sub-
sídios de desemprego e perdas
de contribuições sociais, enal-
tecendo também a capacidade
da empresa em criar valor. Os
trabalhadores assumem algum
“entusiasmo”, mas com cautela:
dizem ter “pouca informação”.
Um ex-candidato derrotado
à privatização da Efacec consi-
dera "estranho um negócio em
que o Estado entrega €400 mi-
lhões para um fundo comprar
a empresa por €15 milhões”.
“Mas a partir do momento em
que escolhe o candidato antes
de fechar o negócio e depois
demora meses a negociar com
ele, o Estado coloca-se a jeito
de ver esse candidato encostar-
-lhe a faca ao peito e pedir mais
€160 milhões, acabando por ter
 Expresso, 10 de novembro de 2023
COMPETIÇÃO
Desafio às capacidades
de estratégia e gestão
Nesta prova, os quadros participantes testam
conhecimentos e trocam experiências
FOTO NUNO BOTELHO
Após a primeira volta, as equipas ainda têm de disputar
uma segunda, antes de chegarem à final nacional
Textos Maribela Freitas
Começou esta semana a segunda
fase da primeira volta do Global
Management Challenge 2023 e
as equipas em prova têm mais
quatro semanas para mostrar o
que valem na área da estratégia
e gestão. Para os quadros envol-
vidos, este desafio apresenta-se
como uma oportunidade para
testarem conhecimentos, apren-
derem novas competências e es-
treitarem relações com colegas.
David Lopes, Sérgio Lopes,
João Martins, Marta Jacob e Ma-
riana Ferrão formam a equipa
de quadros TAP/Caravelle. “O
nome é inspirado no modelo de
avião Caravelle, da Sud Aviation,
que equipou a frota TAP de 1962
a 1975, tendo sido um avião que
serviu de referência para mo-
delos que ainda hoje operam”,
explica David Lopes, chefe da
equipa. Com idades entre os 27
e os 47 anos e formações nas
áreas da engenharia mecânica,
aeronáutica, química e MBA,
estes cinco quadros esperam
ao longo das próximas sema-
nas “aprender novos conceitos.
Dentro da equipa temos diversas
áreas de especialidade e espera-
mos que exista essa passagem
de conhecimento entre pessoas.
Mais relacionado com a compe-
Uma perspetiva internacional
Participantes de vários
países onde esta simulação
de gestão portuguesa
está presente avaliam
a experiência, que
consideram formativa
A primeira edição do Glo-
bal Management Challenge
(GMC) realizou-se em Por-
tugal em 1980. De lá para cá,
esta competição de estratégia
e gestão internacionalizou-se
e está presente em mais de 30
países, espalhados pelo globo.
Participantes da Geórgia, Togo,
Equador, Uzbequistão e Macau
contam como foi integrar esta
competição e o que retiraram
deste desafio.
Guo Tianyi liderou a equipa
de estudantes que represen-
tou o território de Macau na
última final internacional des-
ta competição, realizada em
setembro, em Angola. Na sua
perspetiva, esta iniciativa de
estratégia e gestão permite
aplicar na prática o conheci-
tição, gostaríamos de aumentar
os nossos conhecimentos a nível
de gestão financeira de uma em-
presa e planeamento de recur-
sos humanos e potenciar o nosso
processo de tomada de decisão
perante fatores externos que
não dependem de nós”, avança
o líder.
Para já, e numa altura em que
tomaram apenas a primeira de
cinco decisões, o trabalho de
equipa tem sido mais de coo-
peração e aprendizagem de
conceitos. Dois dos elementos
A comunicação
e troca de opiniões
entre os membros
das equipas leva
a novas perspetivas
na tomada de decisão
desta formação são repetentes,
e foram eles que motivaram
os restantes a fazer parte des-
te processo, que, espera David
Lopes, “poderá criar laços e até
abraçar novas formas de pensar
que poderão ser úteis ao nosso
dia a dia”.
Da parte da DHL, e nesta fase
do Global Management Challen-
ge 2023, estão duas equipas de
quadros a competir. Uma delas,
a DHL Can Do, é formada por
José Francisco, Marta Mota,
Manuela Alexandra Rodrigues
e Inês Alexandre. Também aqui
a disparidade de idades é gran-
mento adquirido em sala de
aula. Outra das vantagens que
lhe aponta é “adicionar alguma
experiência ao nosso currículo.
Exercita a nossa capacidade de
olhar para a empresa como um
todo, de pensar sistematica-
mente e tomar decisões corre-
tas, o que será benéfico para a
nossa futura carreira”.
De outro ponto do globo, da
Geórgia, Dea Beria explica que
“participar no GMC é uma boa
maneira de nos desafiarmos
e ampliarmos o nosso conhe-
cimento e compreensão do
ambiente de negócios”. Acres-
centa ainda que a experiência
adquirida ajuda a crescer e a
desenvolver capacidades de
gestão, competências essas que
são sempre valorizadas pelo
mercado de trabalho.
Já Mireya Maldonado, estu-
dante do Equador, é de opinião
que a aprendizagem obtida
nesta prova pode ser aplicada,
na prática, no seu futuro pro-
fissional. “Aprendemos como
de, indo dos 26 aos 48 anos, e
as áreas de formação vão desde
a contabilidade e gestão aos re-
cursos humanos, passando pela
logística e gestão e ciências da
comunicação. Tendo em conta
esta diversidade, e para já, “tem
sido interessante perceber as
perspetivas de cada um e ajuda-
-nos a ver as situações de outro
ponto de vista”, refere Marta
Mota. Uma ideia corroborada
pela sua colega Inês Alexandre,
acrescentando que “ao longo da
nossa função e trajetória na em-
presa vamos sempre encontrar
opiniões diferentes, e há que ter
uma escuta ativa para podermos
aprender e evoluir com as parti-
lhas de outros”.
Já em relação ao desafio que
têm pela frente, o de dirigir uma
empresa, embora de forma vir-
tual, José Francisco encara-o
como uma oportunidade para
perceber que a gestão não é tão
simples quanto parece. “Espe-
ro perceber as dificuldades na
gestão, bem como a escolha de
estratégias que por vezes pos-
sam não correr assim tão bem”,
salienta. Manuela Alexandra
Rodrigues quer “ter uma forma
diferente de gerir o dia a dia e
aumentar a rapidez de resposta.
Com a partilha de novas ideias
é sempre possível testar a nos-
sa realidade para mais rápida e
eficazmente chegar à solução”.
Também da DHL chega a
equipa DHL Speed&Passion,
da qual fazem parte Sofia Ribei-
rete, Maria Margarida Gomes,
Tânia Silva e Lia Correia, com
idades entre os 26 e 38 anos e
formações nas áreas da gestão,
psicologia, gestão de recursos
humanos e tecnologias da infor-
mação. “Decidimos participar
nesta competição por toda a ex-
periência que envolve, porque
quando nos colocamos à prova
somos obrigados a sair da nossa
zona de conforto, motivando-
-nos a trabalhar a fim de nos
tornarmos cada vez melhores.
Assim, desenvolvemos as nossas
habilidades de liderança, traba-
lho de grupo, valores, resiliên-
cia, esforço e capacidade para
lidar com desafios”, refere Sofia
Ribeirete, líder desta equipa.
mfreitas.externo@impresa.pt
gerir uma empresa e o trabalho
de equipa que isso representa,
bem como que a comunicação
entre os membros é fundamen-
tal para a tomada de decisão e
para obter sucesso.” Defende
ainda que estes simuladores de
gestão são bastante úteis para
empreendedores.
De África, Sanni Kokou,
do Togo, revela que no GMC
aprende-se sobre espírito de
equipa, gestão, como gerir o
stresse e tomar decisões sob
pressão. Evidencia ainda que
quem integra uma competição
como esta mostra vontade de
obter novos conhecimentos e
competências, apostando na
formação de forma contínua.
“O GMC não só me deu habi-
lidades práticas de negócios
como também me incutiu uma
compreensão global dos prin-
cípios da gestão estratégica e a
sua aplicação no mundo real”,
refere Igor Gusev, do Uzbequis-
tão, um dos países que aderiu
recentemente a esta prova.
Smart cities: construir
o futuro das cidades
com o 5G
Mobilidade inteligente, gestão energética mais eficiente, abastecimento
de água mais sustentável, serviços mais ágeis, segurança acrescida:
não faltam exemplos de como o 5G está a moldar o futuro das
cidades. Mas o poder das smart cities vai muito para além dos
grandes centros: sabia que Ponta Delgada, nos Açores, já é uma
cidade inteligente potenciada pela rede 5G da NOS?
O futuro chegou às cidades potenciado pela rede
NOS 5G. Um pouco por todo o mundo – e Portugal
não é exceção –, as smart cities estão a conquistar
terreno, povoadas por soluções tecnológicas
inovadoras desenhadas para promover
infraestruturas mais robustas e serviços mais ágeis,
fomentando o bem-estar da comunidade.
A mobilidade é um dos campos onde o 5G continua
a acelerar. Graças ao 5G, os veículos inteligentes
vão comunicar entre si, com as pessoas e com
os outros dispositivos, para tomar decisões
instantâneas e seguras para todos. Prevenção
de acidentes, gestão de tráfego, controlo de
semáforos, indicação dos melhores trajetos
em tempo real, soluções de partilha de carro e
estacionamento mais acessíveis e a disseminação
dos veículos autónomos são algumas das
possibilidades que a tecnologia 5G acarreta em
matéria de transportes urbanos.
Num momento em que a eficiência energética
e a escassez de recursos estão na ordem do dia,
o 5G também ajuda a trazer um horizonte de
sustentabilidade mais efetivo para as cidades. A
era do 5G traz, por exemplo, o controlo em tempo
real do consumo de energia, da rega dos jardins, da
qualidade da água que bebemos ou do tratamento
de resíduos urbanos. Com a transformação 5G das
cidades podemos ajudar a reduzir a poluição e a
tornar a sociedade mais sustentável.
Com o 5G, a segurança dos cidadãos também
é reforçada. A análise de vídeo em tempo real,
a partilha da localização exata ou o envio de
informações e alertas contribuem para tornar o dia
a dia de todos mais seguro. Seja um salvamento no
mar, um acidente na autoestrada ou a identificação
de pessoas em risco durante catástrofes, o 5G
garante uma ação imediata em emergências.
PONTA DELGADA: UMA SMART CITY
COM O 5G DA NOS
Mas desengane-se quem pensar que só há cidades
inteligentes nos grandes centros urbanos. Sabia
que Ponta Delgada, nos Açores, já é uma smart city
potenciada pela rede NOS 5G?
Atualmente, o 5G da NOS já cobre todas as ilhas
dos Açores. Para além disso, Ponta Delgada já conta
com uma cobertura à volta de 98% da população
com 5G da NOS, o que abre o caminho para a
aceleração de uma série de soluções tecnológicas
de smart cities altamente inovadoras.
Para que seja muito mais fácil encontrar um lugar
vago para estacionar, os munícipes vão passar a
poder contar com informação, em tempo real, sobre
ECONOMIA 13
PUBLICIDADE
lugares disponíveis. Estes dados serão conseguidos
graças a uma série de sensores e de vídeo analítica,
que permitem validar a quantidade de lugares de
estacionamento e volume de entrada e saída de
veículos.
A solução de vídeo analítica instalada no concelho
permite analisar a mobilidade na cidade no seu
todo – controlo de tráfego, trajetos e horários
mais movimentados – para uma melhor gestão,
com base em dados reais, completamente
anonimizados. Para além de aumentarem a
eficiência da mobilidade, as aplicações de smart
cities permitem também melhorar a segurança da
cidade. De forma a evitar acidentes, a solução de
passadeira inteligente deteta peões na passadeira
e ativa, automaticamente, um sistema de alerta
aos condutores e peões, o qual imite dados que
posteriormente são tratados e incorporados na
solução de analítica de mobilidade da NOS.
Esta solução permite fornecer a contagem e
monitorização da mobilidade dos cidadãos
nacionais e estrangeiros, integrando todas as
fontes de dados numa plataforma única que
permita compreender quais os influenciadores
da dinâmica do território, para uma alocação
mais eficaz dos recursos no terreno, melhor
planeamento municipal, gestão de eventos,
comunicação endereçada à população nos locais
adequados e melhor serviço geral à população.
Toda a informação proveniente destas aplicações
é monitorizada numa sala de comando e controlo,
operada por uma equipa do município. Aqui,
uma plataforma agregadora permite uma visão
abrangente e transversal, para uma melhor análise
e representação gráfica em vários dashboards.
A elevada cobertura da região com 5G da
NOS apenas foi possível graças à duplicação
pela NOS do número das suas estações-base
no arquipélago, no último ano, através de um
investimento de mais de três milhões de euros.
Presente há mais de 30 anos nos Açores, a NOS
já investiu mais de 83 milhões de euros na região,
onde conta, neste momento, com quatro data
centres. Esta evolução da rede 5G da NOS nos
Açores está em linha com o investimento que
tem sido feito pela operadora, a nível nacional, e
que tem merecido a distinção de várias entidades
independentes, como, entre outras, Ookla, Open
Signal ou DECO, que assinalaram a qualidade e
velocidade da rede de última geração da NOS face
às das restantes operadoras.
14 ECONOMIA
PROJETOS EXPRESSO INOVAÇÃO
Jon Fath é cofundador e CEO
da Rauva, startup que venceu
o Tech Innovator in Portugal
Tecnologia Chama-se Rauva e é uma startup recém-nascida que quer impactar em mais de
99,9% das PME que operam em território nacional. Promete menos burocracia e mais eficiência
Superapp portuguesa
de negócios sai do berço
Textos Sara Fevereiro
S
Foto Tiago Miranda
e em abril deste ano —
mês em que a Rauva
foi lançada no merca-
do — tivessem dito a
Jon Fath, o seu CEO
e cofundador, que
somente três meses
depois, em julho, es-
taria a vencer o Tech
Innovator in Portugal e que este feito
o levaria a representar o país no maior
certame de tecnologia do mundo se-
guramente que Fath teria dificuldades
em acreditar.
Mas como o tempo nem sempre é
um fator determinante para o sucesso,
o que é certo é que a oportunidade de
cruzar fronteiras e mostrar em que
consiste o seu negócio acabou por
chegar cedo e, após vencer a com-
petição nacional, a Rauva marcará
presença no Global Tech Innovator
(GTI), iniciativa que juntará mais de
20 startups de todo o mundo (ver tex-
to ao lado) que disputarão o título
de empresa mais inovadora no ramo
tecnológico.
Ganhar a competição portuguesa
foi “uma oportunidade para a Rauva
se destacar e ser reconhecida pela
sua solução inovadora e disruptiva
no mercado nacional”, destaca Jon
Fath, antes de transmitir a felicidade
que lhe traz a sua startup. “Estamos
orgulhosos e muitos entusiasmados.”
O Global Tech Innovator, como o
próprio nome indica, é uma compe-
tição à escala global, que junta os
vencedores dos concursos feitos em
cada país. “Independentemente do
resultado, a oportunidade de partilhar
a nossa visão na Web Summit é uma
vitória em si e esperamos contribuir
GLOBAL TECH
INNOVATOR 2023
O Expresso é media partner
do Global Tech Innovator
2023, terceira edição da
competição à escala global
para encontrar o futuro líder
da inovação tecnológica.
Apresentamos nesta página
a startup que ganhou a
prova nacional e os outros
finalistas internacionais
da competição organizada
pela KPMG e cujo vencedor
mundial é conhecido este
mês na Web Summit.
para o ecossistema tecnológico em
Portugal”, conta o CEO.
A Rauva criou a primeira superapp
portuguesa para negócios, dirigida a
pequenas e médias empresas (PME)
e freelancers, que tem como objetivo
tornar o empreendedorismo acessí-
vel a todos. A empresa integra vários
serviços de gestão empresarial numa
única plataforma (daí... superapp). Por
exemplo: segundo os próprios, são a
única solução integrada em Portugal
que permite fazer pagamentos, emi-
tir cartões de débito, enviar faturas
em conformidade com a Autoridade
Tributária, ter o negócio monitoriza-
do por contabilistas para garantir o
total cumprimento dos regulamentos
e gerir despesas.
Com esta solução, a startup pre-
tende impactar “mais de 99,9% dos
negócios em Portugal” e ajudá-los a
manter o seu foco no crescimento e
não em questões administrativas e
burocráticas. Importante frisar que
99,9% corresponde ao peso das... PME
no tecido empresarial nacional.
Quando a Rauva põe os olhos no futu-
ro, os objetivos são claros. “Estamos a
trabalhar para que a app inclua também
serviços de concessão de crédito, uma
área em que se verifica uma acentuada
carência no mercado, especialmente
para as PME”, explica Jon Fath. Como
não existem bancos digitais dedicados a
este segmento, a Rauva está a trabalhar
para “construir” um para “colmatar
esta lacuna e ter um verdadeiro impac-
to junto destes empreendedores e da
economia”, acrescenta o CEO.
Atualmente, estão focados no mer-
cado nacional, mas o desejo é o de
expandirem a sua solução por essa
Europa fora, em países como Espa-
nha, França, Itália e Grécia.
Empreender não
significa prosperar
Mesmo que o empreendedorismo es-
teja a crescer em Portugal, as peque-
nas e médias empresas têm sempre
mais dificuldade em garantir investi-
mentos do que as de maior dimensão
e, mesmo que os investidores sejam
cada vez mais, o país ainda está aquém
das expectativas a este nível. Para Nas-
ser Sattar, chairman da KPMG Por-
tugal, o empreendedorismo “está no
nosso ADN”, mas ainda escasseiam as
condições e a promoção das empresas
porque “há falta de capital”.
As grandes empresas tecnológicas
têm de ter uma “grande capacidade de
inovação, endereçando necessidades
que ainda não estão preenchidas para
camadas grandes da população mun-
dial”, lembra Isabel Ucha, presidente
da Euronext Lisboa. No entanto, há
uma questão que diferencia radical-
Vencedora
a 15 de novembro
A finalíssima do Global Tech
Innovator (GTI) tem lugar em
plena Web Summit — que se
realiza mais uma vez em Lisboa
—, de 13 a 16 de novembro. O
penúltimo dia é o mais esperado
por todos os protagonistas do
GTI. É quando se saberá qual
é a startup vencedora desta
competição, que tem como fim
encontrar o próximo titã da
tecnologia mundial. São 23
finalistas, de vários sectores
e de várias partes do globo, que
mostrarão qual é o seu negócio
através de um pitch que só dura
alguns minutos. Na edição
anterior, o galardão foi entregue
à startup do Reino Unido com
o projeto HiiROC, uma solução
tecnológica de baixo custo,
zero emissões e escalável
para a produção de hidrogénio.
mente as grandes organizações das
pequenas e médias empresas: o supor-
te financeiro. “Todas as empresas tec-
nológicas globais são cotadas e usam o
mercado de capitais para crescerem e
para se financiarem”, esclarece Isabel
Ucha. É precisamente aqui que reside
a importância desta iniciativa, visto
que as pequenas organizações “não
têm acesso fácil a este reconhecimen-
to”, refere António Dias Martins. “Es-
tes prémios trazem as luzes da ribalta
às startups, mostrando aquilo que
elas estão a fazer”, acredita o diretor
executivo da Startup Portugal.
economia@expresso.impresa.pt
Expresso, 10 de novembro de 2023
OS OUTROS 22 FINALISTAS
África Meridional
^ Match Exchange Plataforma de
comércio de mercadorias agrícolas
para trabalhadores do sector.
Alemanha
^ Instagrid Constrói baterias
portáteis para substituir geradores
a gasolina e diesel.
Arábia Saudita
^ Netzero Ajuda empresas a reduzir
emissões de carbono através
de soluções baseadas na natureza.
Austrália
^ Sapia.ai Chat e plataforma
de recrutamento.
Brasil
^ Pix Force Produtos de inteligência
artificial que permitem aos
computadores interpretar imagens.
China
^ Phabuilder Empresa de
biotecnologia que cria novas
moléculas e materiais químicos.
Colômbia
^ Bia Energy Plataforma para
o sector energético centrada no cliente
e orientada por dados.
Dinamarca
^ HealthyCrop Cria culturas resistentes
a infeções fúngicas, utilizando
mecanismo de defesa das plantas.
EUA
^ Reveald Solução que capacita
empresas a adotar uma abordagem
proativa de segurança cibernética.
Filipinas
^ Peddlr App de contabilidade
digital com a missão de revolucionar
os processos tradicionais.
Finlândia
^ SemiQon Processadores quânticos,
poderosos e económicos,
que fornecem escalabilidade.
Gana
^ Motito Solução que dá financiamento
alternativo para bens essenciais
e permite pagamentos parcelados.
Índia
^ Lynkit Combina inteligência
artificial e outras tecnologias para
otimizar cadeia de fornecimento.
Irlanda
^ Nory Copiloto inteligente de
hotelaria, centraliza as operações
de um restaurante num único sistema.
Israel
^ Nanocarry Desenvolve terapias
para tratar cancros cerebrais
e doenças neurodegenerativas.
Japão
^ Pale Blue Visa desenvolver um
ecossistema espacial seguro para
humanos e para o ambiente circundante.
México
^ Leadsales Acompanhamento
automático para que empresas não
percam vendas e conversas com clientes.
Países Baixos
^ inPhocal Tecnologia ótica
que permite a marcação (a laser)
mais rápida de embalagens.
Reino Unido
^ Inovus Medical Melhora as
cirurgias através de treino e de práticas
conectadas com equipamentos.
Suécia
^ PlasticFri Transformação de
resíduos agrícolas em produtos
ecológicos para substituir plásticos.
Taiwan
^ Lypid Faz alimentos alternativos
com gordura sustentável, em vez
de usar, por exemplo, óleo de palma.
Vietname
^ DigiMe Soluções assentes em
dados de geolocalização que capacitam
as empresas a tomar decisões.
Expresso, 10 de novembro de 2023 ECONOMIA 15

POD CAST

Que negócios suspeitos são estes?

João Paulo Batalha, vice-presidente da
Frente Cívica, e Miguel Prado, jornalista
do Expresso, estiveram no “Money Money
Money”, para analisar os negócios que
provocaram a demissão de António Costa.
António Costa demitiu-se de- suspeitas por eventuais favores
vido às suspeitas nos negócios em termos de aceleração de
em torno do lítio, do hidrogénio licenciamento do projeto.
e do centro de dados em Sines O caso já levou à detenção de
que envolvem governantes, cinco pessoas, incluindo Vítor
onde a Administração Pública
pode ser um travão aos abusos
do poder político e aqui não é o
caso”, adianta.
João Paulo Batalha considera
que há sem dúvida questões de
natureza comercial que justifi-
quem o segredo, mas quando
falamos de operações destas,
“como o caso da Efacec, por
exemplo, devíamos ter uma
blico, que tem de ser defen-
dido, ganhos e custos para o
Estado deste tipo de negócios
que implicam licenciamentos,
apoios fiscais, capitalização e
subsídios”. E afirma que existe
“um ecossistema de corrupção
que permite que destes negó-
cios surjam muitas vezes con-
trapartidas para os partidos e
os líderes fecham os olhos ou

FOTO TIAGO MIRANDA

gestores e dirigentes da admi-
nistração pública. A investi-
gação do Ministério Público
tem três focos: as concessões
do lítio em Montalegre e Boti-
cas, que envolvem as empresas
Lusorecursos e Savannah Re-
sources; o hidrogénio e a forma
como o Governo terá alegada-
mente favorecido as maiores
empresas e, finalmente, o Start
Campus, um megacentro de
dados em Sines que já está a ser
construído e que terá levantado
NÚMEROS
Escária, chefe de gabinete do
primeiro-ministro, o empresá-
rio Lacerda Machado, um dos
melhores amigos de Costa, o
presidente da Câmara de Si-
nes e dois administradores da
sociedade Start Campus. Há
ainda mais dois arguidos: o
ministro das Infraestruturas,
João Galamba, e o presidente
do Conselho Diretivo da Agên-
cia Portuguesa do Ambiente,
Nuno Lacasta. António Costa
será investigado separadamen-
te pelo Supremo Tribunal de
Justiça, disse a Procuradoria-
-Geral da República sem deta-
lhar que suspeitas estão a ser
analisadas.
“Um dos pontos da investiga-
noção clara do interesse pú-
encorajam”.
Miguel Prado reconhece que
a transição energética não tem
“de ser suspeita”, porém alerta,
“o Ministério Público tem toda
a legitimidade para investigar,
mas é preciso ver a solidez que
estas investigações têm e os re-
sultados”. Com a energia envol- Batalha concorda, lembra ter ouvido “o presidente do
vida em projetos de “milhares que são “monopólios e con- Mecanismo Nacional Anti-
de milhões de euros, se os pro- cessões pródigos em sus- corrupção a explicar o que é
cessos acabam arquivados, tal é peitas” e apesar de muitas que falhou”.
preocupante para a economia”, leis, “invisíveis e inoperaci- Amadeu Araújo
justifica o jornalista. onais”. Lamenta ainda não economia@expresso.impresa.pt

€9
ção é tráfico de influências, uso
de conhecimentos e da proxi-
midade de Lacerda Machado e
Vítor Escária a António Costa
para levar o Governo e as en-
tidades públicas a agilizarem

mil milhões é o valor total
das manifestações de
interesse para explorar
lítio em Portugal
Transforme
procedimentos para estes ne-
gócios”, explica Miguel Prado,
jornalista do Expresso.
João Paulo Batalha, vice-pre-
sidente da Frente Cívica, consi-

€5,7
mil milhões de investimento
foram aplicados nos nove
edifícios do centro de dados
de Sines
dera que “estes contratos com
este Governo e com Governos
anteriores em torno de minas e
petróleo acontecem com enor-
me desconfiança por parte dos
cidadãos, podem não ter origens
os seus planos
em realidade
criminais, mas não são bem ex-
plicados à opinião pública e às
vezes aos próprios autarcas”.
Desconfiança agravada “com a
incapacidade do Governo em

€600
prestar contas e com a noção
de que tudo isto acontece em
Lisboa, longe das populações
locais e numa lógica de contac- Conheça as Soluções de Crédito Pessoal BPI
to direito entre os empresários
interessados e os decisores po- e pague sempre a mesma prestação.
milhões é o valor do lítio líticos e públicos”, aponta Bata-
exportado por Portugal lha. Este responsável destaca o Faça já uma simulação em bancobpi.pt
em 2022 “incómodo com o responsável
pela Agência Portuguesa do
Ambiente, que aparece como
facilitador dos eventuais crimes,
o que não serve para garantir a
legalidade mas não defende o
interesse público”. “Há países

18.900 PROCURAM UMA VAGA NO ESTADO

RECRUTAMENTO O processo de recrutamento centralizado que
o Governo abriu em outubro para recrutar mil técnicos supe-
riores para carreiras na Administração Pública (AP) registou
um total de 18.924 candidaturas, avançou o Ministério da
Presidência, que tutela a AP. O concurso, que decorreu online
no portal do Emprego Público, encerrou esta segunda-feira
e permitirá constituir uma reserva de candidatos nas áreas
jurídica, económica, financeira, de gestão patrimonial e de pla-
neamento e avaliação de políticas públicas. A média de idades
dos candidatos é de 35 anos. A lista final só será conhecida no
segundo trimestre de 2024.

MADRID QUER RENOVÁVEIS ‘CORTAM’

PROTEÇÃO EM 2024
ELETRICIDADE O Governo es-
panhol vai pedir à Comissão
Europeia uma nova autoriza-
ção para voltar a prolongar o
mecanismo ibérico no sector
elétrico, um instrumento que
visa proteger o preço grossis-
ta da eletricidade do efeito de
contágio de uma eventual es-
calada da cotação do gás natu-
ral. Segundo o diário “El País”,
Madrid irá pedir a Bruxelas a
extensão do mecanismo para
lá de 31 de dezembro deste ano,
depois de em abril a Comissão
ter autorizado o prolongamen-
to do instrumento até ao final
FATURA DA LUZ
ENERGIA As energias reno-
váveis geraram poupanças
anuais médias na fatura da
eletricidade de até €1600 nos
consumidores domésticos, em
2022, segundo um estudo da
Deloitte para a Associação
Portuguesa de Energias Re-
nováveis (APREN). O estudo
“Impacto da Eletricidade de
Origem Renovável” acres-
centa que, no ano passado, as
fontes de energia renovável
(FER) “geraram poupanças BANCO BPI, S.A. registado junto do Banco de Portugal sob o n.º 10.
anuais de até 160 mil euros
para um consumidor não do-
méstico”
16 ECONOMIA
EXPRESSO
1973.2023
Governo Solução política inédita colocou a esquerda no poder, numa
legislatura marcada pela aceleração da economia, descida do desemprego
2016
e consolidação orçamental. Mas o investimento público foi muito sacrificado
PS+BE+CDU=
GERINGONÇA
Textos Sónia M. Lourenço
F
oi uma solução política
inédita em Portugal que
colocou a esquerda à fren-
te dos destinos do país,
com o Executivo PS de
António Costa respaldado
por acordos com BE e com
PCP/PEV. O primeiro ano
completo de governação
foi 2016, mas, para contar esta história é
preciso recuar uns meses. Após os anos
da austeridade da troika, a coligação
PSD/CDS-PP, de Pedro Passos Coelho
e Paulo Portas — que tinha governado o
país nesses anos — vence as eleições de
outubro de 2015. Contudo, a esquerda
passa a ter a maioria no Parlamento.
Passos e Portas ainda formam Governo,
mas dura menos de duas semanas.
A 10 de de novembro de 2015, o PS as-
sina os acordos de governação com PCP/
PEV, por um lado, e com BE, por ou-
tro, e a esquerda aprova no Parlamento
uma moção de rejeição ao programa da
coligação de direita. E o Executivo cai.
Nesse dia, Paulo Portas apelida a nova
solução governativa de “‘geringonça,
um disparate de medidas para conciliar
o irreconciliável’”. A 26 de novembro
António Costa toma posse como pri-
meiro-ministro, e a ‘geringonça’, a que
muitos vaticinaram vida curta, dura
toda a legislatura — e até para lá de 2019,
embora com bases mais frágeis. A ex-
pressão ‘geringonça’ pegou. Foi mesmo
a palavra do ano de 2016, na tradicional
iniciativa da Porto Editora.
“Virar a página da austeridade” tinha
sido o lema da campanha socialista e
é também o mote para o programa do
Governo PS, que sai das negociações à
esquerda. A começar pela função pú-
blica. Logo em 2016 dá-se a reversão
completa dos cortes que ainda persistiam
nos salários — com descongelamento das
carreiras a partir de 2018 —, o regresso às
35 horas de trabalho semanais (em vez
das 40 horas) e o fim do regime de requa-
lificação/mobilidade especial. Mas não
se esgota na Administração Pública. Au-
menta o salário mínimo nacional — numa
trajetória que o levará aos €600 mensais
em 2019, subindo 19% em termos nomi-
nais e 15% em termos reais na legislatura
—, são repostos os feriados retirados nos
anos da troika, é reintroduzida a atuali-
zação anual das pensões — reforçada com
aumentos extraordinários para as pen-
sões mais baixas nos anos seguintes —, é
eliminada (entre 2016 e 2017) a sobretaxa
de IRS, são reforçadas várias prestações
sociais, e desce o IVA na restauração
para 13%. Também entre 2016 e 2017, o
Estado recupera a maioria do capital da
TAP. E, durante a legislatura, é revisto
o Código do Trabalho, limitando o uso
pelas empresas dos contratos a termo.
Mas o PS recusa mexer em áreas como
a caducidade das convenções coletivas,
ou as indemnizações por despedimento.
Já a redução temporária da Taxa So-
cial Única a cargo dos trabalhadores,
Expresso, 10 de n
que fora uma das bandeiras do grupo de
ECONOMIA ACELERA
economistas do PS liderados por Mário
NOS ANOS DA ‘GERINGONÇA’
Taxa de variação real do PIB, em percentagem
Centeno — e do programa eleitoral dos
socialistas —, ficou pelo caminho. A me-
2,7 dida não constou sequer do Orçamento
2 do Estado para 2016, marcado por exi-
Anos gências da Comissão Europeia sobre as
0 ‘geringonça’
metas orçamentais. Como resultado, “a
página da austeridade vira mas só para
-2 alguns”, escreveu o Expresso em feve-
reiro desse ano, quando o documento
-4 foi apresentado.
-6
Economia acelera, emprego em alta
2000 2005 2010 16 2019
Qual foi o impacto da ‘geringonça’ na
DESEMPREGO RECUA economia portuguesa? O produto inter-
ATÉ À CASA DOS 6% no bruto (PIB) acelera, avançando 2%
Taxa de desemprego da população
com 16 e mais anos, em % em 2016, com o crescimento a chegar
aos 3,5% em 2017, um valor que não era quando o Eurostat obriga à inclusão da “A novidade é que seja uma política vo-
visto no país desde o início do século, e a operação de recapitalização da Caixa luntariamente aplicada pelo PS e apoia-
15 manter-se perto dos 3% em 2018 e 2019 Geral de Depósitos no saldo orçamental, da à sua esquerda.” Já em traços mais
(ver gráficos). No mercado de trabalho, uma decisão com a qual Centeno discor- finos, aponta duas mudanças. Primeiro,
10 a taxa de desemprego, que ultrapassou dou veementemente. Até que em 2019 “a redução do défice à custa da redução
6,6 17% durante o resgate ao país, desce de é alcançado um superavit de 0,1% do do investimento público” e, segundo,
5 12,9% em 2015 para 11,5% em 2016 e bai- PIB, o primeiro excedente orçamental “uma aposta nos impostos indiretos”.
Anos xa até aos 6,6% em 2019, o valor mais da história da democracia portuguesa. Ora, “é uma novidade que uma política
‘geringonça’
0 baixo desde 2002. Ao mesmo tempo, o Nesta trajetória, Louçã destaca “uma com estas características seja apoiada
2000 2005 2010 16 2019 emprego no país aumenta em mais de combinação virtuosa dos efeitos na por três partidos de esquerda”, reforça
400 mil pessoas durante a legislatura. procura agregada da reversão da polí- Aguiar-Conraria.
CONTAS PÚBLICAS PASSAM Tanto no PIB, como no emprego, o tu- tica salarial contracionista e do efeito Terminada a legislatura, nas eleições
DE DÉFICE A SUPERAVIT rismo ajudou. “O emprego cresce muito de confiança que isso gerou”, com “os de outubro de 2019, o PS de António
Saldo orçamental, em percentagem do PIB
ligado aos sectores menos qualificados, efeitos perniciosos da continuação de Costa reforça a sua votação, mas con-
como os serviços ligados ao turismo, e em uma política de não execução do inves- tinua a precisar de apoios à esquerda.
0,1
0 profissões de baixo valor acrescentado. O timento público, sendo a variável de O resultado é uma ‘geringonça 2.0’,
resultado foi uma quase estagnação da ajustamento usada por todos os minis- mais periclitante, já que ao contrário
-4 produtividade”, refere João Cerejeira, tros das Finanças”. da primeira versão, não fica apoiada
professor da Escola de Economia e Ges- De facto, o reverso da medalha foi em acordos assinados de governação.
-8 tão da Universidade do Minho. o sacrifício do investimento público. Logo depois, a pandemia de covid-19
Anos “Houve uma recuperação da procura Em 2016 recua para 1,5% do PIB, um toma conta da agenda. E em outubro de
‘geringonça’
-12 agregada, depois de uma política de mínimo histórico em Portugal — abai- 2021, é chumbada a proposta do Orça-
2000 2005 2010 16 2019 recessão nos anos anteriores”, destaca xo até dos anos da troika. Mais ainda, mento para 2022. O Presidente dissolve
FONTE: AMECO Francisco Louçã, professor do ISEG. E bateu mínimos nunca vistos na União o Parlamento e nas eleições António
salienta a “recuperação do valor real de Europeia, segundo dados do Eurostat. Costa consegue maioria absoluta. Esta
INVESTIMENTO PÚBLICO EM salários e pensões, medidas que depois E não descolou até ao fim da legislatura, semana apresentou a demissão do cargo
MÍNIMOS COM A ‘GERINGONÇA’ foram intensificadas com reduções de mantendo-se sempre abaixo dos 2% do de primeiro-ministro.
Formação bruta de capital fixo da Administração
Pública, em percentagem do PIB passes sociais, propinas e outras formas PIB. Isto num contexto em que Centeno O balanço da ‘geringonça’ é, para
de salário indireto, além das arrastadas e a sua equipa nas Finanças mantiveram Aguiar-Conraria, “muito positivo” do
pelo aumento do salário mínimo”. João um controlo apertado sobre a execução ponto de vista orçamental. “As metas
5 Cerejeira também destaca a política de orçamental. Para isso, recorreram em foram atingidas. É uma condição neces-
Anos aumento do salário mínimo que “teve força às cativações — dotações orçamen- sária ao nosso desenvolvimento que os
‘geringonça’
4 efeitos significativos no poder de com- tais que serviços e entidades públicos só Governos tenham consciência de que o
pra de uma larga fatia de pessoas em podiam utilizar mediante autorização nosso endividamento público tem de bai-
3 Portugal e levou a uma diminuição da das Finanças —, que atingiram máximos xar. Esta foi a grande reforma estrutural
desigualdade salarial”. O fim do conge- durante os anos da ‘geringonça’. desde 2016”, diz. Mas critica “as grandes
2 1,8 lamento das portarias de extensão das Para Luís Aguiar-Conraria, professor diferenças entre despesas orçamentadas
convenções coletivas “também deu um da Escola de Economia e Gestão da Uni- e executadas. Várias áreas da Adminis-
1 contributo”, aponta. versidade do Minho, a política orçamen- tração Pública ficaram subfinanciadas
2000 2005 2010 16 2019 No plano orçamental, “houve a re- tal da ‘geringonça’, “em traços largos, foi sem que houvesse um compromisso po-
FONTE: AMECO versão da privatização dos transportes uma continuação da anterior”. E vinca: lítico claro nesse sentido”. Discordando
ferroviários suburbanos e da TAP e um da “estratégia das cativações e dos or-
RECORDE DE CATIVAÇÕES orçamento mais expansivo, para acele- çamentos fictícios”, admite que “talvez
NOS ANOS DA ‘GERINGONÇA’ rar a recuperação”, considera Francisco fosse a única forma de convencer o BE e
Cativações, em milhões de euros
Louçã, vincando que “os resultados fo- o PCP a votar os sucessivos orçamentos”.
1500
Cativações
iniciais
ram expressivos”.
Esta evolução é acompanhada por
INVESTIMENTO PÚBLICO Para Louçã “foram anos de viragem
da política económica e social e ainda
1000
Anos
‘geringonça’
1084 uma consolidação das contas públicas.
Com Mário Centeno à frente do Minis-
FOI SACRIFICADO NA de descompressão política, de que um
dos fatores foi o fim da presidência de
500
Cativações finais
444
tério das Finanças, e apesar das medidas
da reversão da austeridade, o défice das
‘GERINGONÇA’: CAIU Cavaco Silva e a eleição de Marcelo Re-
belo de Sousa”. E remata: “Mudou o
contas públicas desce de 4,4% do PIB PARA MÍNIMOS EM 2016 mapa da política portuguesa com efeitos
E NÃO DESCOLOU
0 em 2015 para 1,9% em 2016. Ficando de médio prazo, dado que o PS, depois
2015 16 17 18 19 20 21 22 abaixo do défice de 2,2% previsto no Or- da maioria absoluta, não repetirá esse
NA LEGISLATURA
NOTA: Valores incluem a reserva orçamental çamento. E continua a descer ao longo resultado.”
FONTE: CONSELHO DAS FINANÇAS PÚBLICAS da legislatura — com exceção de 2017, slourenco@expresso.impresa.pt
ovembro de 2023
Do cartão amarelo
da UE a presidente
do Eurogrupo
Bruxelas insistiu em
mais consolidação no
orçamento de 2016. Dois
anos depois, Mário Centeno
liderava os ministros
das Finanças do euro
Foi com muitas reservas que a
Comissão Europeia recebeu os
planos do primeiro Orçamento
do Estado (OE) da ‘geringonça’.
Em janeiro de 2016, conheci-
do apenas o esboço orçamental
desenhado pelo ministro das
Finanças, Mário Centeno, e a
sua equipa, Bruxelas enviou
uma carta a Lisboa — assina-
da pelo vice-presidente, Valdis
Dombrovskis, e pelo comissá-
rio, Pierre Moscovici — pedindo
explicações sobre a pretensão
portuguesa de fazer uma con-
solidação orçamental inferior
ao que ditavam as regras euro-
peias. Em causa estava o défice
estrutural (ou seja, corrigido do
ciclo económico e sem medidas
extraordinárias) — um indica-
dor que levanta dúvidas entre
os economistas quanto à forma
de cálculo, mas que está previsto
nas regras europeias, atualmen-
te em reformulação.
A Comissão Europeia acabou
por dar luz verde ao esboço or-
çamental, mas alertando para a
necessidade de medidas adicio-
nais para reforçar o ajustamento
das contas públicas. E o OE que
acabou por ser apresentado por
Centeno previa mesmo uma re-
dução do défice — tanto total
como estrutural — mais forte.
E ainda mais forte do que os
planos iniciais do Executivo. No
programa de Governo que saiu
das negociações com a ‘gerin-
gonça’, o défice (total) previsto
para 2016 era de 2,8% do Produ-
to Interno Bruto (PIB), baixou
para 2,6% no esboço orçamental,
e ficou nos 2,2% no OE 2016.
Fechadas as contas, o défice foi
ainda mais baixo, de 1,9% do PIB.
Um resultado onde pesou o sa-
crifício do investimento público,
e uma execução orçamental sob
controlo apertado das Finanças
(ver texto ao lado).
Para Francisco Louçã, pro-
fessor do ISEG, as exigências
de Bruxelas foram “um abuso
de poder da Comissão, sendo
sabido que Portugal escapou à
primeira sanção a ser imposta
por derrapagem orçamental de
algumas décimas, por um voto
de diferença”. E lembra que “a
França estava então em condi-
ções piores mas ‘la France c'est
la France’, dizia Juncker, então
presidente da Comissão Euro-
peia, e verificou-se depois no
acerto das contas que essa dife-
rença insignificante estava esta-
Wolfgang Schäuble,
ministro das Finanças
alemão, comparou
Mário Centeno a
Cristiano Ronaldo
tisticamente exagerada”. Para o
economista, “pode-se dizer que
a tragédia imposta à Grécia aca-
bou por impedir a Comissão de
lançar um segundo processo de
conflito com um país, e por uma
justificação tão absurda”.
Já Luís Aguiar-Conraria, pro-
fessor da Escola de Economia e
Gestão da Universidade do Mi-
nho, tem uma posição diferente,
considerando que a posição do
Governo face às exigências de
Bruxelas “foi muito importante
para acalmar os mercados inter-
nacionais relativamente à solu-
ção governativa encontrada em
Portugal”. Isto porque “mostrou
que o facto de o Governo ser su-
portado por partidos antitroika
não ia pôr em causa o cumpri-
mento das metas a que Portugal
estava obrigado”, argumenta.
Nos anos seguintes, com a eco-
nomia a crescer, o desemprego
a baixar e o emprego em alta, o
défice das contas públicas conti-
nuou a encolher. A exceção foi
2017, quando o Eurostat ditou a
inclusão no saldo orçamental da
recapitalização da Caixa Geral
de Depósitos — uma decisão com
que Centeno sempre discordou,
de forma veemente. Até ser al-
cançado, em 2019, o primeiro
excedente orçamental da demo-
cracia portuguesa.
Em maio de 2017, o ministro
das Finanças alemão, Wolfgang
Schäuble, compara Mário Cen-
teno a Cristiano Ronaldo, classi-
ficando-o como uma “estrela do
Ecofin”, o grupo dos ministros
das Finanças da União Euro-
peia. E no final desse ano (de-
zembro) Centeno é eleito pre-
sidente do Eurogrupo, o todo
poderoso grupo dos ministros
das Finanças da zona euro. Vai
ocupar o cargo entre janeiro de
2018 e julho de 2020, saindo
pouco depois de se demitir de
ministro das Finanças de Portu-
gal, com a intenção de regressar
ao Banco de Portugal, do qual é
atualmente governador.
2016 EM REVISTA
IVA da restauração desce
“Descida do IVA na restauração:
restaurantes não descem
preços mas admitem contratar”
— 30 de janeiro.
TAP: Estado recupera capital
“Governo e Neeleman fecham
acordo sobre a TAP: Estado
recupera 50% da companhia
aérea por €1,9 milhões.
Consórcio Gateway mantém
comissão executiva, mas
administração é paritária”, lê-se
a 6 de fevereiro.
Capital angolano no BPI
“BPI ameaça relações entre
Lisboa e Luanda; alterações do
Governo aos limites de voto no
BPI recebidas com desconfiança
em Angola” — 20 de fevereiro.
Panama Papers
“Mais de 240 portugueses nas
offshore”, lê-se a 9 de abril.
“Panamá ajudou a esconder
saco azul do Espírito Santo
durante 21 anos.”
Lacerda Machado “malandro”
“Amigo de António Costa
quebra silêncio: ‘Tenho certidão
de presunção de malandro’”, diz
Diogo Lacerda Machado ao
Expresso a 16 de abril.
Stresse no BPI; saco azul
no GES
“Angola faz lei de retaliação
contra Portugal” e “decreto
pode tirar poder do BPI no BFA”,
diz-se na edição de 23 de abril,
onde também se pode ler uma
notícia com o título “Lista do
saco azul do Grupo Espírito
Santo com avenças a políticos”.
Suspeitas no BIC
“Banco de Portugal arrasa
gestão do banco de Isabel dos
Santos” — 7 de maio.
António Costa
(PS), Catarina
Martins (BE)
‘Brexit’
“Estados desunidos na Europa:
o que se segue na vida dos
e Jerónimo de europeus depois de o Reino
Sousa (PCP) Unido ter mudado a História”
foram os rostos — 25 de junho.
da geringonça
FOTO ANTÓNIO
COTRIM/LUSA
Ligações Sócrates-GES
“Ministério Público suspeita:
€17 milhões do GES ligados a
Sócrates” — 16 de julho.
Recapitalização da Caixa
“BCE obrigou Governo a refazer
plano da Caixa; técnicos de
Frankfurt consideraram não
credível e irrealista o plano de
recapitalização” — 23 de julho.
Viagens polémicas
“Viagens polémicas da Galp:
Governo e PS irritados com
Rocha Andrade” — 6 de agosto.
Chineses nos media
“Chineses compram 30%
do ‘DN’, ‘JN’ e TSF” — 17
de setembro.
Centeno e o OE 2017
“Este é um Orçamento de
esquerda”, diz o ministro das
Finanças a 15 de outubro.
Web Summit em Lisboa
“Mais €200 milhões para as
startups”, escreve o Expresso a
5 de novembro. “Governo vai
anunciar reforço do apoio ao
ecossistema empreendedor
durante a Web Summit.”
Macedo na CGD
“Paulo Macedo entra na CGD
com €3 mil milhões de
prejuízo”, substituindo António
Domingues — 3 de dezembro.
Cada vez mais turistas
Ana Mendes Godinho,
secretária de Estado do
Turismo, diz a 23 de dezembro
que “50% do aumento turístico
do país foi fora da época alta”.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
ECONOMIA 17
2016 NOVO CICLO
POLÍTICO ANIMA
ECONOMIA
ECONOMIA COM O MAIOR
CRESCIMENTO DESDE 2007
Taxa de variação real do produto interno bruto, em %
5
2
0
-5
-10
2012 2016 2021
DÉFICE PÚBLICO RECUA PARA
VALOR MAIS BAIXO DESDE 1989
Saldo anual das finanças públicas, em % do PIB
0
-4 -1,9
-8
-12
2012 2016 2021
INFLAÇÃO MANTÉM-SE ABAIXO
DA FASQUIA DE 1%
Taxa de variação anual de preços no consumidor, em %
0 0,6
-10
2012 2016 2021
DESEMPREGO RECUA PELO
TERCEIRO ANO CONSECUTIVO
Taxa de desemp. da população com 16 e mais anos, em %
15
12
10
5
0
2012 2016 2020
RÁCIO DA DÍVIDA PÚBLICA
COM LIGEIRO AUMENTO
Dívida bruta consolidada das Administrações
Públicas, em percentagem do PIB
132
120
90
60
30
0
2012 2016 2021
FONTE: SÉRIES LONGAS DA ECONOMIA PORTUGUESA
(INE E BANCO DE PORTUGAL)
CRESCIMENTO ACELERA, DÉFICE
ORÇAMENTAL RECUA
Com a chegada ao poder do PS de
António Costa no final de 2015,
com o apoio dos partidos mais à
esquerda, inicia-se um novo ciclo
político em Portugal, com reflexos na
economia. O primeiro de governação
da ‘geringonça’ ficou marcado pela
reversão de cortes dos anos da
troika, aumento do salário mínimo
e das pensões e algum alívio no
IRS. Medidas que puxaram pela
economia, levando a uma aceleração
do crescimento. Em 2016, o Produto
Interno Bruto (PIB) avançou 2%, um
patamar que não era atingido desde
2007. Vai acelerar ainda mais nos
anos seguintes, com a ajuda do forte
crescimento do turismo em Portugal.
Esta aceleração da economia é
indissociável da recuperação do
mercado de trabalho, com a taxa de
desemprego a voltar a descer em
2016, para 11,5%. Irá descer ainda mais
nos anos seguintes.
Nas contas públicas, o tempo é de
consolidação orçamental. Com
Mário Centeno à frente do Ministério
das Finanças, o défice orçamental
recua para 1,9% do PIB. Trata-se do
valor mais baixo desde 1989, quando
Cavaco Silva era primeiro-ministro
e o PSD governava com maioria
absoluta. S.M.L.
18 ECONOMIA
IMOBILIÁRIO
A Avenida da Boavista,
no Porto, vai ganhar
em mobilidade e, por
arrastamento, na renovação
urbana em geral
FOTO RUI DUARTE SILVA
Urbanismo As novas acessibilidades vêm Elisabete Soares
A
trazer qualidade e rapidez na mobilidade urbana
linha de metrobus
da cidade, fatores considerados “determinantes” em construção nas
para o investimento no imobiliário Avenidas da Boa-
vista e Marechal
Gomes da Costa,
Metrobus no Porto, e a se-
gunda fase, que vai
ligar a Matosinhos,
estão a impulsio-
‘revoluciona’
nar o investimento imobiliário, em
especial nos segmentos de escritórios
e comércio, enquanto no mercado re-
sidencial está a originar a construção
de novos projetos, destinados sobre-
Avenida
tudo ao segmento mais endinheirado,
cujas vendas estão em alta.
Já no imobiliário residencial usado,
que constitui parte significativa da
oferta disponível nesta zona da cida-
da Boavista,
de, os preços apresentam uma valori-
zação muito expressiva, em algumas
localidades entre os 11% (Matosinhos)
e os 37% (freguesia de Aldoar/Porto),
de acordo com os dados da Confiden-
no Porto
cial Imobiliário.
Na opinião dos profissionais ouvidos
pelo Expresso, é visível uma maior
procura de espaços, sobretudo de es-
critórios, e a confirmação do avanço
de novos projetos e da renovação de
edifícios neste segmento.
João Leite Castro, diretor comer-
cial da Predibisa/Savills, confirma “o
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maior interesse e procura”, sobretu-
do em relação a espaços de escritó-
rios, e dá como exemplo a recente
transformação do edifício Boavista
Office Centre (BOC), na zona do Foco,
junto à Avenida da Boavista, num
empreendimento de “espaços parti-
lhados e coworking”, com uma área
total de 8500 m2 e com capacidade
para mais de 500 pessoas, gerido pela
LACS.
Esta situação é confirmada tam-
bém por Martim Botton, presidente
executivo da LACS, que destaca que
“o facto de sabermos que o metrobus
ir aí ter uma paragem em frente ao
edifício foi um dos fatores decisivos na
escolha do local”. Reforça ainda que
as “acessibilidades e a mobilidade ur-
NA ZONA DECORREM
JÁ VÁRIAS OBRAS
DE CONSTRUÇÃO DE
HABITAÇÃO DESTINADAS
AO SEGMENTO MAIS
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Expresso, 10 de novembro de 2023
bana são hoje fatores-chave” e o “ter
transporte à porta é cada vez mais um
requisito procurado pelos clientes”.
Gustavo Soares, diretor-geral da
Engel & Völkers Porto, considera
também que a modernização desta
via vai permitir que a Boavista se tor-
ne num dos “grandes business hubs da
cidade”. Com uma loja localizada na
Avenida da Boavista, no edifício Bur-
go, o responsável da Engel & Völkers
acredita que vai haver uma “atrati-
vidade cada vez maior da Boavista”,
permitindo que esta avenida regresse
“ao glamour que sempre teve”.
João Leite Castro alerta para ou-
tros investimentos previstos neste
segmento dos escritórios, sobretudo
com a renovação de edifícios antigos.
Novos projetos de habitação
No mercado da habitação assiste-se
à construção de vários empreendi-
mentos, destinados ao segmento
mais alto, que irão contribuir para
a renovação da Avenida da Boavista,
com destaque para duas zonas, uma
entre a Rua António Cardoso e o Foco
e uma segunda entre o Parque da
Cidade e o Castelo do Queijo. Em-
bora parte destes projetos estivesse
para ser iniciada já há alguns anos, a
construção das linhas de metro veio
impulsionar o seu avanço.
Na zona de António Cardoso e Foco
Pesquisa por
simultâneos
Expresso, 10 de novembro de 2023
destacam-se dois empreendimentos
em construção pela mão da Ferco-
por, um deles, o Prisma, em início de
obra, com 73 habitações, com áreas
interiores até 282 m2. O segundo em-
preendimento, o Enligth, localizado
próximo deste, apresenta 21 habita-
ções, já vendidas na totalidade, apesar
de se encontrar ainda em construção.
Também o promotor Nova Vaga
está a iniciar a construção de um pro-
jeto de habitação junto ao Foco, cons-
tituído por dois lotes de terreno para
habitação e retalho, que vai represen-
tar um investimento total superior a
28 milhões de euros.
Mais avançada está a construção do
projeto de moradias Camélias, no ter-
reno da Fábrica dos Ingleses, também
no Foco, constituído por 20 moradias
unifamiliares e promovido pelo grupo
galego Dmanán.
De acordo com Gustavo Soares, no
conjunto dos três projetos em fase
de comercialização é possível encon-
trar “apartamentos em penthouse
duplexes e moradias, em formato de
condomínio fechado”, uma oferta que
apresenta “tipologias entre T2 e T4+1
e valores médios de venda entre os
4500 e os 6400 euros por metro qua-
drado”.
Destaque também para a zona do
Parque da Cidade e o final da Avenida
da Boavista, onde se aguarda para
breve o início de construção de dois
outros projetos residenciais, cujos
preços de venda dos apartamentos
são dos mais elevados na Invicta.
Na venda de habitação usada os pre-
ços também aumentaram nas zonas
da cidade que vão beneficiar do me-
trobus, como é o caso da Boavista/Ra-
malde, Foz, Aldoar e Matosinhos Sul.
Concurso para ligação Boavista-
-Matosinhos avançará em breve
Numa altura em que a primeira linha,
Boavista-Praça do Império (Foz), se
encontra em fase avançada de imple-
mentação — tem previsão de conclu-
são para julho de 2024 —, a Metro
do Porto prepara-se para lançar o
concurso para a segunda linha — da
Boavista (junto ao cruzamento da
Avenida da Boavista com a Avenida
bpiexpressoimobiliario.pt
Marechal Gomes da Costa) até à Ro-
tunda da Anémona, em Matosinhos
—, confirmou ao Expresso fonte da
empresa.
No entanto, a segunda fase arran-
cará com um significativo atraso, já
que inicialmente o lançamento do
concurso desta fase estava previsto
para o 1º trimestre 2023.
Contudo, a Câmara Municipal do
Porto aprovou, em reunião de exe-
cutivo — realizada esta segunda-fei-
ra —, uma resolução segundo a qual
não poderá haver novas empreitadas
na cidade se não forem resolvidos os
constrangimentos nas atuais frentes
de obra. Uma situação que se prende
sobretudo com o início das obras de
construção da Linha Rubi — Boavis-
ta e Santo Ovídio, Gaia —, mas que
poderá também ter impacto no início
da segunda fase do metrobus, já que
as obras da primeira fase — sobretu-
do na Avenida Marechal Gomes da
Costa — apresentam um atraso de
alguns meses.
De referir que o investimento global
— que inclui a construção das duas
linhas e a aquisição de 12 autocarros
articulados e movidos a hidrogénio,
contribuindo assim para a neutrali-
dade carbónica e para o cumprimento
das metas das Nações Unidas — apon-
ta para os 66 milhões de euros, inte-
gralmente financiados pelo Programa
de Recuperação e Resiliência/Next-
GenerationEU. Para a construção dos
autocarros foi escolhido o consórcio
CaetanoBus/DST Solar/Dourogás Na-
tural/PRF/BrightCity.
Apesar de algumas vozes críticas,
incluindo a de alguns moradores da
zona da Foz, e, mais recentemente,
a posição da Iniciativa Liberal (AL),
que, em comunicado, considera que
o metrobus é “um erro colossal para
a mobilidade dos portuenses”, o es-
tudo da Metro do Porto conclui que o
projeto é um meio de transporte que
vem acrescentar “qualidade, rapidez
e flexibilidade”, resolvendo as atuais
ECONOMIA 19
ESPAÇOS
&CASAS
dificuldades de acessibilidade através
de transporte público, sobretudo para
a Foz e Matosinhos Sul.
Aliás, o Estudo de Procura, reali-
zado pela Metro do Porto, aponta
para que as duas linhas do metrobus A VER NO PROGRAMA
DESTA SEMANA
movimentem mais de 10 milhões de
utentes por ano, sendo que mais de
quatro milhões são conquistados ao Passeio pela natureza
automóvel.
Com prioridade sobre todos os ou- Os Passadiços do Mondego, no
tros modos de transporte (através concelho da Guarda, permitem
de um sistema de semaforização in- aos visitantes desfrutar de pai-
teligente), um canal exclusivo (ou sagem diversificada, ao longo
dedicado) e integrado no sistema de de 12 km de caminhos e pontes.
bilhética Andante, o metrobus do Por-
to está alinhado com a tendência de
outras cidades europeias no que toca
à mobilidade sustentável.
Escritórios com vista
A grande vantagem competitiva para o Tejo
do metrobus é, segundo a Metro do Dois edifícios com um traço ar-
Porto, “a rapidez e o fator fiabilida- quitetónico arrojado, ligados
de no cumprimento escrupuloso de por uma pala e com uma pra-
horários”. Assim, a “ligação Boavis- ça central, formam o Allo, um
ta-Império vai demorar apenas 12 hub de escritórios localizado
minutos e a viagem entre a Boavista na capital.
e a Anémona terá uma duração de 17
minutos”, projeta a empresa.
economia@expresso.impresa.pt
Índice RE/MAX
A maioria dos prédios adqui-
ridos na cidade do Porto desti-
nam-se a habitação e turismo.
RETIFICAÇÃO
A propósito de um trabalho publicado Espaços & Casas
na edição de 3 de novembro de 2023 na SIC Notícias
do Expresso Economia, intitulado
“Onze anos à espera de uma habitação Sábado às 10h45
social”, recebemos da Câmara Repetição Segunda às 9h45
Municipal do Porto (CMP) o
esclarecimento de que o atual Programa com o apoio de
presidente da CMP, Rui Moreira, nunca
prometeu construir 3000 casas, ao
contrário do que foi escrito no artigo. E
que “a cidade do Porto tem cerca de
13% de habitação social, quando a
média nacional é significativamente
mais baixa, inferior a 3%”. Pelo lapso,
apresentamos as nossas desculpas.
20 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 10 de novembro de 2023

INVESTIMENTO

Espanhóis da Kronos
fazem 460 casas
de luxo no Algarve
Novo gestor de Vale do Lobo investe 500 milhões
de euros na expansão do empreendimento
Helder C. Martins
A imobiliária espanhola Kro-
nos Homes vai promover mais
460 unidades residenciais em
Vale do Lobo, Loulé, e começar
a partir de 2024 a expansão
do empreendimento de 450
hectares. Por outro lado, a em-
presa está prestes a concluir a
venda por €125 milhões à nor-
te-americana Arrow do resort
turístico de Palmares, na Meia
Praia em Lagos.
“O investimento total no de-
senvolvimento do Vale do Lobo
Golf&Beach Resort, incluindo
o custo de aquisição, deverá
rondar os €500 milhões nos
próximos 10 anos. Represen-
ta a fase 2.0 da empresa no
Algarve agora que vendemos
Palmares”, disse ao Expresso
Rui Meneses Ferreira, sócio
da Kronos Homes em Portu-
gal e diretor-geral ibérico. “Os
trabalhos de construção arran-
cam em 2024”, acrescentou,
sem contudo revelar o nome do
arquiteto internacional respon-
sável pelo projeto, que “será
divulgado em breve”.
A Kronos Homes é respon-
sável pela operação de Vale
do Lobo desde fevereiro deste
ano, na sequência da compra
do Projeto Crow — um por-
tefólio que estava nas mãos
dos bancos — pelo consórcio
liderado pela norte-america-
na Davidson Kempner Capital,
considerado o maior negócio
imobiliário de 2022 e avaliado
em €850 milhões.
O plano da Kronos prevê o
desenvolvimento imobiliário
de Vale do Lobo a dez anos. Das
460 unidades residenciais pre-
vistas — entre apartamentos,
Os trabalhos de
construção em Vale
do Lobo vão começar
em 2024, segundo
a Kronos Homes
moradias unifamiliares e lotes
de terreno —, 237 destinam-se
à nova fase de expansão deno-
minada Vale Real, outras 120
unidades destinadas à zona do
Vale de Santo António. Em pro-
jeto para o Vale Real está tam-
bém previsto um hotel de cinco
estrelas com 126 quartos e 30
residências de marca (Branded
Residences)”.
As restantes 103 unidades de
habitação serão desenvolvidas
dentro do existente empreen-
dimento de Vale do Lobo. O
investimento passa ainda pelo
reforço dos campos de golfe,
do centro desportivo de ténis
e paddle e de “tudo o que está
junto à praia”.
A última zona
de desenvolvimento
Meneses Ferreira destaca que
Vale de Santo António repre-
senta a “última zona” a desen-
volver em Vale do Lobo que a
Kronos pretende tornar “em-
blemática”. O responsável da

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Expresso, 10 de novembro de 2023 bpiexpressoimobiliario.pt 21

POD CAST

Kronos Homes acrescenta que drados de área. O negócio re-

Vale do Lobo conta o projeto de concept design (as presenta um potencial de mais
já com cerca de 1500 linhas gerais) já está em de- de €1000 milhões em vendas
NÚMEROS senvolvimento para os 80 mil de propriedades, segundo a
proprietários, dos quais
10% residem todo o ano metros quadrados. O investi- Kronos.

60
FOTO D.R.
milhões de euros só em
construção é o investimento
previsto pela Kronos para a
zona do Vale de Santo
António, em Vale do Lobo.
Nesta zona está prevista a
construção de 80 mil metros
quadrados e 120 unidades
residenciais
mento nesta zona representará
€60 milhões só em construção.
“É a última oportunidade de
marcar Vale do Lobo, e pela
sua localização e envolvente, os
dois empreendimentos serão
posicionados para o segmento
mais premium”, salienta. “Vale
do Lobo não é só um projeto
imobiliário. Tem mais de 60
anos, associa praia, golfe, la-
zer, todo um estilo de vida que
pretendemos preservar”, diz
Meneses Ferreira
Alda Filipe, diretora regional
da Kronos Homes e adminis-
“Vale do Lobo foi a mais
importante propriedade que
transitou para a gestão da Kro-
nos, mas há outras que embora
mais pequenas são de alguma
forma emblemáticas”, adianta
Alda Filipe.
Um dos exemplos são os em-
preendimentos na Herdade Retorno à normali-
dos Salgados, cuja frente de dade no mercado
praia já no concelho de Albu-
feira surge no prolongamento
de arrendamento
do areal de Armação de Pera. No próximo ano não vai ser
“Os Salgados é das zonas do aplicado um travão à atuali-
Algarve com mais alojamento zação das rendas que será de
turístico, cerca de 400 unida- 6,94% e os inquilinos com ren-

126
é o número de quartos
previstos para o hotel de cinco
estrelas que será construído
em Vale do Lobo,
acompanhado por 30
residências de marca
(branded residences)
tradora de Vale do Lobo, des-
taca que o resort, conhecido
pela praia e pelos dois campos
de golfe, tem uma componente
residencial importante, com
1500 residências e proprietári-
os de 35 nacionalidades. “Cer-
ca de 10% dos residentes de
Vale do Lobo, o equivalente a
150 famílias residem aqui todo
o ano e muitas outras passam
mais de seis meses”, explica,
acrescentando que 60% dos
residentes são de origem britâ-
des”, acrescenta. A empresa
está já a requalificar 160 uni-
dades existentes no Salgados
Palm Village e no Salgados Du-
nas Suites. “Parte destas uni-
dades serão para venda e outra
parte para exploração. Após a
requalificação, as unidades se-
rão colocadas no mercado em
2024 e 2025”, adianta Meneses
Ferreira.
A empresa vai ainda requali-
ficar outros empreendimentos
já existentes, como o Conrad
dimentos até ao sexto escalão
do IRS e taxa de esforço supe-
rior a 35% serão apoiados. Esta
medida agrada a proprietários
e inquilinos. Diana Ralha, di-
retora da Associação Lisbo-
nense de Proprietários, fala
neste episódio do “Expresso
Imobiliário” da “aplicação de
uma lei que está em vigor des-
de 1985” e que “é um retorno à
normalidade”. Pedro Ventura,
vice-presidente da Associação
de Inquilinos Lisbonense, aler-

150
famílias, o equivalente a 10%
dos proprietários, residem
em Vale do Lobo durante todo
o ano. No empreendimento
marcam presença 35
nacionalidades e a ocupação
é de 60% de britânicos
nica. “Sobretudo desde a pan-
demia, nota-se que as pessoas
vieram para ficar e que fazem
do Algarve a sua primeira ha-
bitação”, acrescenta a respon-
sável.
Reforço no Barlavento
A compra do Projeto Crow in-
cluiu um conjunto de ativos que
incluem cerca de 750 proprie-
dades já edificadas, sobretudo
entre Sagres e Faro, 425 uni-
dades a serem desenvolvidas
em mais de 102 mil metros qua-
Algarve (82 unidades) ou o ta para a necessidade de “es-
Monte Santo Resort, no Car- tabilidade no mercado”. Crí-
voeiro (72 unidades), entre ou- ticos da realidade que se vive
tras. Por outro lado, a Kronos já no arrendamento, reivindicam
está a comercializar desde abril um término no
as 114 moradias construídas no congelamento
Salema Beach Village, perto de das rendas e uma
Vila do Bispo. maior regulação
Quanto à fase 1.0 da Kronos, desta área.
iniciada há cinco anos, Rui
Meneses Ferreira lembra que Patrocinado por:
além da alienação de Palmares,
a empresa vendeu também este
ano ao grupo algarvio Rolear o
Amendoeira Golf Resort.
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22 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 10 de novembro de 2023

HABITAÇÃO

Portugueses Com o inverno à porta,

os portugueses viram-se
para a procura de soluções

preparam
eficientes e económicas,
para aumentar o conforto
no interior das suas casas
FOTO D.R.

a casa para comuns a redução do consumo

de água e de energia, “levando
uma parte a desligar os apare-

o inverno
A eficiência energética preocupa
cada vez mais as famílias, que estão
a investir no conforto térmico
Amadeu Araújo
O frio já se sente, a chuva trou-
xe humidade, as primeiras ne-
ves já caíram na serra da Es-
trela, o inverno está próximo e
os portugueses querem casas
quentes, confortáveis, mas
de forma tão eficiente quan-
to possível, para pouparem
tudo o que puderem na fatura
energética.
Na verdade, já estão a tirar
partido das verbas do Fundo
Ambiental — €104 milhões —
para edifícios de habitação,
unifamiliares ou apartamen-
tos, licenciados para habita-
ção até 31 de dezembro de
2006, inclusive.
Cada família pode benefi-
ciar de até €3900, atribuídos
em três vales, para melhorar
o desempenho energético da
habitação permanente. Eletri-
cidade, canalização, sistemas
de aquecimento, isolamento,
janelas e eletrodomésticos
são os investimentos mais
recorrentes.
Os dados da YourHero, uma
plataforma de serviços do-
mésticos que analisou o nú-
mero de pedidos recebidos,
mostram um crescimento de
52%, quando comparado com
os dados dos meses de agosto,
setembro e outubro deste ano
com o período homólogo do
ano passado.
Os serviços elétricos são os
que tem maior procura, com
pedidos para a instalação de
iluminação LED, tomadas in-
teligentes e sistemas de domó-
tica. As luzes LED permitem
consumir cerca de 85% menos
energia e duram oito vezes
mais. Por sua vez, as tomadas
inteligentes, que desligam os
aparelhos quando detetam que
não estão a ser utilizados, po-
dem resultar numa poupança
a rondar os €80 por ano, em
média. Finalmente, os sistemas
de domótica podem reduzir o
consumo de energia até 20%.
Canalização e sistemas de
aquecimento, com uma taxa
de crescimento de 89% e 150
pedidos por mês, são o segun-
do segmento mais procurado.
A instalação de aparelhos de
Dados do Portal da
Construção Sustentável
mostram que as pessoas
continuam a passar frio
dentro das suas casas
aquecimento eficientes e a
substituição de torneiras, chu-
veiros ou autoclismos encon-
tram-se entre os equipamentos
que recebem um maior inves-
timento. A instalação de um
aquecedor de água inteligente
pode permitir poupar até 15%
de energia.
As famílias procuram ainda
melhorar o isolamento das
suas casas, o que pode reduzir
a fatura energética em 20% ao
ano. Com forte procura está
a substituição de caixilharia
antiga por janelas eficientes
com caixilharia em PVC e vi-
dros duplos, que respondem
por uma poupança energética
de até 40%, além de melhora-
rem o isolamento acústico.
A instalação de eletrodo-
mésticos fecha o ranking da
YourHero sobre os cinco ser-
viços mais procurados com
impacto energético, registan-
do uma taxa de crescimento
na ordem dos 20%.
Cem Basaral, diretor em Por-
tugal da marca de eletrodo-
mésticos Beko, reconhece que
nas preocupações dos portu-
gueses está “o atual custo de
vida, que está a afetar todos
os agregados familiares e a
obrigar as pessoas a mudarem
os seus hábitos de consumo”.
E sustenta que “a tecnologia
pode tornar a eficiência ener-
gética das casas acessível a
um maior número de pessoas,
capazes de usarem soluções
modernas que se alinham com
a crescente consciência ambi-
ental dos consumidores.”
Um estudo desta empresa
mostra que os portugueses
têm como preocupações mais
lhos em standby”.
Os dados do Portal da Cons-
trução Sustentável mostram
que, depois de um 2022 “mar-
cado por preços da energia com
aumentos muito significativos,
superiores à inflação, as pes-
soas continuam a passar frio
dentro das suas casas por não
terem como fazer face ao au-
mento do custo da energia”.
Com efeito, 89% dos por-
tugueses consideram a casa
termicamente desconfortável,
enquanto apenas 11% dizem
habitar uma casa confortável,
sendo que, para isso, neces-
sitam de gastar energia em
climatização. Entre os inqui-
ridos, 88,4% assumem ter tido
um “aumento significativo”
do consumo de energia para
climatizar a casa e verificou-
-se ainda que em todos os dis-
tritos do país o desconforto
térmico é geral.
Dos financiamentos atribuí-
dos pelos fundos europeus, a
maioria apostou na compra
de novas caixilharias, seguida
de investimento em painéis
solares fotovoltaicos, ar con-
dicionado, bomba de calor,
recuperador de calor a pellets
e painéis solares térmicos.
Quem investiu na melhoria
energética, adianta aquele por-
tal, reconhece que o conforto
térmico melhorou.
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24 ECONOMIA
EMPREGO
Trabalho Número de pessoas a trabalhar
em Portugal ultrapassou os cinco
milhões em 14 anos. Emprego alterou-
-se: profissionais com ensino secundário
e superior mais do que duplicaram
Trabalhadores
com ensino
superior
duplicam
desde 2009
Textos Cátia Mateus
e Sónia M. Lourenço
É
uma fasquia que não
era atingida em Por-
tugal há 14 anos. No
terceiro trimestre de
2023, o número de pes-
soas a trabalhar no país
superou cinco milhões
pela primeira vez desde
o primeiro trimestre de
2009. O número exato de pessoas
agora empregadas em Portugal foi de
5,02 milhões, precisamente o mesmo
registado na altura. Contudo, a com-
posição do emprego no país mudou
muito, com uma reconfiguração das
qualificações. O número de trabalha-
dores com ensino secundário mais do
que duplicou e o mesmo aconteceu
com o número de profissionais com
formação superior. Em sentido con-
trário, o número de empregados com
formação no máximo até ao ensino
básico (9º ano de escolaridade) caiu
para cerca de metade.
O arranque de 2009 marca precisa-
mente o início de um período contur-
bado da economia nacional, marca-
da por crises sucessivas. Primeiro, a
grande recessão mundial que sucedeu
à crise financeira de 2008. Depois, a
crise das dívidas na zona euro, com
Portugal a ter de pedir ajuda inter-
nacional. A história é conhecida. A
economia portuguesa afundou, ar-
rastando o mercado de trabalho. No
primeiro trimestre de 2013 a taxa de
desemprego atingiu o seu pico, 18,5%.
Ou seja, quase 10 pontos percentuais
acima do registado quatro anos antes,
no início de 2009. De então para cá
verificou-se uma descida marcada
na taxa de desemprego, que apenas
a pandemia interrompeu. E, apesar
da degradação da conjuntura eco-
nómica ao longo de 2023, a taxa de
desemprego ficou em 6,1% no terceiro
trimestre, inalterada face aos três
meses anteriores e apenas 0,1 pontos
percentuais acima do terceiro trimes-
tre do ano passado.
Quanto ao emprego, caiu sucessi-
vamente desde 2009, chegando ao
mínimo de 4,09 milhões no primeiro
trimestre de 2013. Ou seja, perderam-
-se 930 mil empregos no espaço de
quatro anos. São precisamente esses
930 mil empregos que demoraram 10
anos a recuperar até aos 5,02 milhões
contabilizados no terceiro trimestre
deste ano.
Mas quando se analisam os dados do
INE, verifica-se que, apesar de termos
5,02 milhões de empregos, como em
2009, há poucas semelhanças entre
esses empregos, tendo-se verificado
alterações estruturais no mercado
de trabalho. A primeira delas passa
pelas qualificações dos trabalhadores.
No início de 2009, 68% da população
empregada no país tinha, na melhor
das hipóteses, o ensino básico, ou seja,
até ao 9º ano de escolaridade. Eram
3,43 milhões. Catorze anos depois,
no terceiro trimestre de 2023, o nú-
mero de colaboradores com baixas
qualificações tinha caído para cerca
de metade, ficando pelos 1,77 milhões.
E o seu peso no emprego total recuou
para 35%.
Em sentido inverso, verificou-se
um forte aumento dos trabalhadores
mais qualificados e também dos que
detinham qualificações intermédias
(ensino secundário e pós-secundário).
Em ambos os casos o seu número
mais do que duplicou. No terceiro
trimestre estavam empregados em
Portugal 1,62 milhões de pessoas com
formação superior e outros 1,62 mi-
lhões com qualificações ao nível do
ensino secundário. O peso do ensino
superior no emprego total passou de
16% em 2009 para 32% em 2023. E
o mesmo aconteceu com o peso do
ensino secundário e pós-secundário
no emprego total.
Saúde lidera aumento do emprego
A análise dos dados do INE por sec-
tores de atividade confirma esta re-
NÚMERO DE
TRABALHADORES
COM O ENSINO BÁSICO
NO PAÍS CAIU
PARA METADE ENTRE
2009 E 2023
Expresso, 10 de novembro de 2023
Saúde e apoio social lideram
crescimento do emprego
nos últimos 14 anos
FOTO ANTÓNIO PEDRO FERREIRA
configuração do emprego no país. Os
EMPREGO ULTRAPASSA TRABALHADORES POR CONTA
sectores onde o número de postos de
OS 5 MILHÕES PELA PRIMEIRA DE OUTREM POR TIPO DE
trabalho mais aumentou entre 2009 e
VEZ DESDE 2009 CONTRATO DE TRABALHO
2023 têm forte incidência de compe- População empregada em Portugal, Em %
tências de nível superior. em milhões de pessoas
O Expresso comparou o emprego Sem termo 82,5
nas várias atividades económicas no 80
5 3º trim. 5,02
país no terceiro trimestre de 2009 — e
não no primeiro trimestre desse ano, 60
4,5
3º trim.
para eliminar o efeito da sazonalidade
que podia distorcer os dados — e no 40
trimestre homólogo de 2023. Da aná- 4
Precário 17,5
lise resulta que as atividades de saúde 20
humana e apoio social registaram o 3,5
maior aumento de postos de traba- 2009 2015 2020 2023 0
lho — são mais 174,8 mil. O peso do 2009 2015 2020 2023
sector no emprego em Portugal subiu Contratos precários abrangem os contratos com
de 7% para 10%. Uma trajetória a que termo e outras situações, onde o INE inclui os
TAXA DE DESEMPREGO contratos de prestação de serviços
a pandemia de covid-19 que assolou
MANTÉM-SE PERTO DE
o país não é estranha. O número de
MÍNIMOS
profissionais de saúde foi reforçado,
nomeadamente no Serviço Nacional
Em percentagem TURISMO LIDERA AUMENTO
de Saúde (SNS). DO EMPREGO DESDE 2022…
Sectores com maiores variações no emprego
Seguem-se as atividades de consul- 16
entre o 3º trim. de 2022 e o 3º trim. de 2023
toria, científicas, técnicas e similares,
com as de comunicação e informação 12 ATIVIDADE VAR.
logo atrás. O incremento foi de 101,5 ECONÓMICA 23/22
3º trim. 6,1
mil empregos e de 90,5 mil postos 8 Alojamento, restauração
27,4
de trabalho, respetivamente. Em e similares
ambos os casos trata-se de sectores 4 Comércio por grosso e a
24,2
que empregam profissionais muito 2009 2015 2020 2023 retalho; reparação de veículos
qualificados. Atividades financeiras e de
NOTA: dados do INE do inquérito ao emprego 17,4
Em sentido inverso, o sector primá- seguros
têm uma quebra de série no final de 2010
rio (agricultura, produção animal, Administração Pública e Defesa;
-4,1
caça, floresta e pesca) perdeu 425 Segurança Social Obrigatória
mil trabalhadores entre 2009 e 2023, Eletricidade, gás, vapor,
BAIXAS QUALIFICAÇÕES COM -5,2
com o seu peso no emprego a baixar água quente e fria e ar frio
de 12% para apenas 3%. Segue-se na FORTE REDUÇÃO NO EMPREGO
Variação por nível de escolaridade entre os 3º trim. Indústrias transformadoras -23,6
lista a construção, com menos 140,1 de cada ano, em milhares de pessoas
mil postos de trabalho. Neste caso, o
peso do sector no emprego em Portu- … MAS O MAIOR AUMENTO
gal passou de 10% para 7%. A terceira 3426 DESDE 2011 PERTENCE À SAÚDE
1º trim. 2009 Sectores com maiores variações no emprego
maior redução verificou no pessoal de 3º trim. 2023 entre o 3º trim. de 2011 e o 3º trim. de 2023
serviço doméstico, com menos 51,1
mil empregos. ATIVIDADE VAR.
Também na precariedade laboral ECONÓMICA 11/23
houve alterações. No terceiro trimes- Atividades de saúde humana
174,8
tre deste ano, 17,5% dos trabalhadores 1769 e apoio social
1624 1622 Atividades de consultoria,
por conta de outrem (TCO) tinham 101,5
um contrato de trabalho precário
(contratos com termo e outras situa-
científicas, técnicas e similares
Atividades de informação
90,5
ções). Em 2009, essa parcela ronda-
va os 22%. Uma redução para a qual
799 792 e de comunicação
Atividades das famílias
-51,1
poderão ter contribuído as altera- empregadoras de pessoal doméstico
ções ao Código do Trabalho de 2019
-140,1
Construção
e de 2023, que introduziram maiores ATÉ SUPERIOR SECUNDÁRIO
AO BÁSICO E Agricultura, produção animal,
restrições ao recurso por parte das -425
(9º ANO) PÓS-SECUNDÁRIO caça, floresta e pesca
empresas empregadoras a este tipo
de contratos de trabalho.
cmateus@expresso.impresa.pt FONTE: INE E CÁLCULOS EXPRESSO
Expresso, 10 de novembro de 2023
Quem são os desempregados em
Portugal? Jovens e menos qualificados
Quase metade
dos desempregados no
país no terceiro trimestre
deste ano tinham até 34
anos de idade
Tinham menos de 35 anos, um
grau de qualificação baixo e es-
tavam sem trabalho há menos
de um ano. Era este o retrato
da maior fatia dos desempre-
gados portugueses no terceiro
trimestre de 2023. Os dados do
Instituto Nacional de Estatística
(INE), divulgados esta semana,
mostram que no período entre
julho e setembro, o país conta-
bilizou 326,1 mil pessoas sem
trabalho. O número não che-
ga para fazer mexer o ponteiro
da taxa de desemprego, que se
manteve estável nos 6,1% face
ao trimestre anterior, mas tra-
duz um agravamento de 4,4%
(13,7 mil) no número de desem-
pregados contabilizados face ao
trimestre homólogo de 2022, e
também face ao segundo trimes-
tre deste ano, ainda que mais
tímido (0,4%).
Mas quem são estes desem-
pregados, numa altura em que
apesar do cenário de incerteza
económica, a taxa de desempre-
go se mantém em níveis próxi-
mos do estrutural e o emprego
está em máximos desde 2009?
Olhando para os indicadores co-
nhecidos esta semana é possí-
vel perceber que o desemprego
está sobretudo concentrado na
população mais jovem. Quase
metade (47,2%) da população
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ECONOMIA 25
em análise. A desagregação dos
NÚMERO DE QUALIFICAÇÕES dados por nível de escolaridade
DESEMPREGADOS BAIXAS E INTERMÉDIAS ajuda a traçar um retrato ainda
COM SUBIDA CONTIDA REPRESENTAM 77% mais detalhado. Olhando para
População desempregada, em milhares DOS DESEMPREGADOS os números, é possível perce-
de pessoas População desempregada no 3º trimestre
de 2023 por nível de escolaridade, em % ber que é nos profissionais com
as qualificações mais baixas, ao
1000 nível do ensino básico (até ao 9º
39,8
37 ano de escolaridade), e de grau
800 intermédio (ensino secundário),
que se concentra maioritaria-
600 22,6
mente o desemprego. Juntos, es-
3º trim. 326
tes dois grupos respondem por
400 77% do total de desempregados,
número que compara com 22%
200 ATÉ SECUNDÁRIO SUPERIOR de desempregados com qualifi-
AO BÁSICO E PÓS-
2009 2015 20 2023
(9º ANO) -SECUNDÁRIO cação superior.
Quando a análise cruza a faixa
etária com o nível de qualifica-
JOVENS ATÉ AOS 34 QUALIFICAÇÕES
ção dos desempregados, os da-
ANOS REPRESENTAM BAIXAS E INTERMÉDIAS
dos mostram que independen-
QUASE METADE DOS REPRESENTAM 77%
temente da idade, o desemprego
DESEMPREGADOS DOS DESEMPREGADOS
População desempregada no 3º trimestre População desempregada no 3º trimestre entre os trabalhadores com en-
de 2023 por grupo etário, em % de 2023 por nível de escolaridade, em % sino superior tende a ser mais
baixo. Exceção apenas para a
24,7 Curta duração (até 11 meses) 63 faixa etária entre os 35 e os 44
22,4 60
anos, onde é maior a predomi-
17,7 16,9 18,3 nância de desempregados com
50 qualificação superior. Em sen-
Longa duração (12 e mais meses) tido contrário, os dados do INE
40 37
mostram que, nas várias faixas
etárias, o desemprego entre os
30 trabalhadores menos qualifica-
15-24 25-34 35-44 45-54 55-74
ANOS ANOS ANOS ANOS ANOS
3º T 4º T 1º T 2º T 3º T dos (até ao ensino básico) é mais
2022 2023
elevado face aos restantes níveis
FONTE: INE E CÁLCULOS EXPRESSO
de formação. Já em matéria de
duração do desemprego, os indi-
desempregada no terceiro tri- Acima deste escalão etário, o cadores sinalizam uma redução
mestre deste ano tinha menos desemprego afeta sobretudo a do desemprego de longa dura-
de 35 anos, com o grupo dos 15 população com mais de 55 anos, ção (12 e mais meses), que cai
aos 24 anos a responder por pra- que, de acordo com o INE, repre- de 41,9% do total no segundo
ticamente 25% do desemprego senta 18,3% do total de desem- trimestre deste ano para 37%
contabilizado. pregados no país no trimestre no terceiro.
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m/f Viana do Castelo
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• Analisar a implementação de melhorias de processos, equipamentos, tempos de ciclo
e rendimentos.
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• Bons conhecimentos em inglês.
condições de trabalho e de remuneração, em empresa de referência no seu setor.
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Empresa
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• Acompanhar as obras de construção e coordenar as equipas de subempreiteiros;
• Garantir a segurança e qualidade dos trabalhos executados;
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• Experiência em obras de betão e estacas;
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de trabalho, oportunidades de crescimento e de remuneração, em empresa de referência.
Siga-nos em
26 ECONOMIA Expresso, 10 de novembro de 2023

Estremoz

A Fundação Romão de Sousa (www.fundacaords.org) desenvolve, na Comu-

nidade Terapêutica em Saúde Mental Casa de Alba (www.casadealba.net),

CONVERSAS
em Estremoz, um projeto consolidado de intervenção, baseado em princípios
democráticos e relacionais, com relevante nível de eficácia na abordagem

AJESTOSAS
terapêutica e na integração social de pessoas com perturbações mentais
graves. Procura reforçar a sua equipa com a admissão imediata de

DIRETOR DE RESIDÊNCIA
UMA CONVERSA QUE TE VAI INSPIRAR
A DAR O CLIQUE NA TUA VIDA!
TERAPÊUTICA – SAÚDE MENTAL
(m/f)

Que, reportando ao Presidente do CA, assegure a gestão operacional da Casa

de Alba, implementando estratégias, coordenando e controlando a execução
do Orçamento e Plano de Atividades Anual, assegurando a gestão dos recur-
sos humanos e património da Casa, supervisionando as atividades de HACCP,
sistemas de informação e manutenção. Dirigirá diretamente os colaboradores
com funções de apoio e, com a colaboração do Diretor Técnico, o funcio-
LEIA O QRCODE namento e atividades da equipa técnica. Prestará o apoio organizacional
E DESCUBRA necessário às iniciativas da Casa e FRS (divulgação científica, angariação de
fundos,…) e assegurará em primeira linha a representação da FRS perante
entidades oficiais, fornecedores e prestadores de serviços que se dirijam ou
contactem a Casa de Alba.

Exige-se:
– Formação superior em Psicologia, Gestão geral, de Serviços ou equivalente,
com experiência mínima de 3 anos na direção de unidades terapêuticas
residenciais ou similares.
– Liderança de pessoas e equipas, organização, dinamismo, responsabili-
dade, objetividade e empatia/disponibilidade para o outro, são requisitos
essenciais para o bom desempenho da função – em regime presencial.

Oferece-se:
– Uma clara oportunidade de valorização e desenvolvimento profissional
numa organização orientada para a excelência, que aplica metodologia te-
rapêutica robusta e inovadora (Open Dialogue) e outros sistemas terapêu-
CANDIDATE-SE AQUI!
ticos contemporâneos. Remuneração e benefícios adequados à função e
DEP. DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO competências do titular.
223 245 669
majestic@remax.pt Agradece-se resposta com carta de motivação, acompanhada de CV
Licença AMI 10092 | Cada agência é de propriedade e gestão independente
empregosporto.com
detalhado, para: pedro@paisrodrigues.pt. Guarda-se sigilo.

IGS | Integral Group Solution

Somos uma empresa dedicada à comercialização e prestação de serviços de As-
sistência para consumo massivo e somos pioneiros no desenvolvimento de mode-
los de negócio baseados em serviços de valor acrescido para o cliente. Estamos,
atualmente, presentes em 20 países do continente americano, tendo dado início
ao nosso projeto de expansão EMEA, com abertura das novas filiais em Espanha
e Portugal.

RESPONSÁVEL DE OPERAÇÕES REPRESENTANTE DE MARCA

(m/f)
Rede de Prestadores de Serviços & Call Center
Responsabilidades da Função
* Selecionar, angariar e coordenar uma rede de prestadores de serviços;
* Angariar, avaliar e monitorizar os prestadores de serviços, segundo critérios e
meios operacionais predefinidos;
* Assegurar a manutenção e renovação dos prestadores dentro dos parâmetros
de qualidade exigidos e cumprindo com a formalização dos devidos acordos;
* Planear necessidades de recursos para uma correta gestão de toda a atividade
do Call Center – inbound e outbound;
* Assegurar uma correta integração a atribuição dos recursos às campanhas e
linhas em curso, usando os meios, métodos e processos instituídos;
* Analisar reportes de toda a atividade do Call Center de forma a tomar, em cada
momento, decisões efetivas e corretas;
* Definir e implementar estratégias que permitam melhorar o serviço, custos,
qualidade e eficiência;
* Reportar adequada e atempadamente informação e dados relevantes e co-
laborar com demais áreas internas de forma a assegurar cumprimento dos
acordos estabelecidos;
* Apoiar as demais áreas da empresa no processo de tomada de decisão e
cumprimentos de objetivos, contribuindo com informação e sugestões sobre
prestadores, custos, rentabilidade, sinistralidade, projeções, qualidade, áreas
de melhoria e oportunidades de negócio;
* Contribuir para a construção de um ambiente de trabalho inclusivo, colabora-
tivo e feliz.
(m/f)
A Veigas Portugal está no mercado desde 1997, sendo marca 100% nacional com
uma estratégia empresarial e plano de negócio únicos e diferenciados, o que tem
permitido a sua distinção no mercado de Mediação Imobiliária.
Os 25 anos de mercado da Veigas Portugal traduzem-se num crescimento contínuo
e sustentado, permitindo-lhe ultrapassar com sucesso vários ciclos socioeconómi-
cos distintos.
Se procura um negócio próprio que lhe traga as garantias de avançar de forma
sustentada, a Veigas é a solução para essa procura, sendo uma oportunidade para
empreendedores mais exigentes, apostando num modelo de negócio numa área
em expansão e onde pode maximizar o retorno do seu investimento.
Associar-se à Rede Veigas, é integrar uma marca sólida e integrada no mercado
Português, usufruindo da prestação de vários serviços, desde a formação, market-
ing, tecnologia, rede de contactos e muitos outros.
Se tem espírito empreendedor, venha integrar a rede Veigas e abra a sua própria
agência, investindo num negócio próprio e num modelo de gestão já comprovado.
Contacte-nos através do site www.expressoemprego.pt e saiba mais sobre
a Veigas Portugal e sobre este modelo de Gestão.

Perfil
* Licenciatura;
* Experiência profissional em funções semelhantes no setor Segurador/ IPSS, sediada no distrito de Setúbal, procura gestor qualificado para:
/Assistências;
* Bons conhecimentos em ferramentas de Office (Word, Excel, PowerPoint,
Teams);
DIRETOR-GERAL
* Conhecimentos em espanhol (preferencial) e inglês; (m/f)
* Capacidade de negociação e liderança;
* Analítico e proativo; São condições preferenciais:
* Capacidade de organização, planeamento e priorização; – Licenciatura adequada e experiência na função e na área, não inferior a
* Inovador e criativo; cinco anos.
* Capacidade de argumentação assertiva e eficaz.

Candidaturas para o email ligia@igroupsolution.com Caso tenha o perfil que procuramos, envie a sua candidatura para:
com referência ao anúncio: IGS PT Resp. Operações vagasdisponiveisrh2023@gmail.com
Expresso, 10 de novembro de 2023 ECONOMIA 27

Processo de acolhimento de manifestação de interesse individual

conducente ao recrutamento de

DIRETOR(A) DE SERVIÇO DE PEDIATRIA

1 – Enquadramento: nos termos do artigo 99.º do DL n.º 52/2022, de 4 de agosto,
faz-se público que, por deliberação do Conselho de Administração do Centro Hos-
pitalar Setúbal, EPE, de 26/10/2023, se encontra aberto pelo prazo de 15 dias
úteis, contados a partir da data da divulgação, um processo de acolhimento de
manifestação de interesse individual conducente ao recrutamento de Diretor(a) de
Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de Setúbal, EPE.
2 – Âmbito: podem materializar a manifestação de interesse individual os médicos com
inscrição em vigor na Ordem dos Médicos, vinculados a Instituição do Serviço Na-
cional de Saúde, detentores de todas as condições legais para o efeito e de um
curriculum profissional robusto e apropriado para o cargo de Diretor(a) do Serviço
de Pediatria, que, preferencialmente, inclua experiência ou evidência curricular em
gestão clínica.
3 – Conteúdo funcional e a remuneração: o conteúdo funcional e a remuneração são
os estabelecidos na carreira médica em vigor, bem como nos princípios e regras
aplicáveis às Unidades de Saúde que integram o Serviço Nacional de Saúde com a
natureza de entidade pública empresarial, conforme o Decreto-Lei n.º 52/2022, de
4 de agosto.
4 – Regime de trabalho: as funções serão exercidas em regime de comissão de serviço,
pelo período de 3 anos, com o horário de trabalho praticado na categoria que é de-
tentor ou outro que decorra da aplicação da legislação em vigor para a carreira mé-
dica e para as unidades hospitalares com natureza de entidade pública empresarial.
5 – Elementos: da manifestação de interesse individual constarão os seguintes elementos:
a) Requerimento de onde conste: Nome, naturalidade, data de nascimento, na-
cionalidade, número de cartão de cidadão ou bilhete de identidade, número da
cédula da Ordem dos Médicos, morada, código postal, telefone e endereço de
correio eletrónico.
b) Referência ao local onde se encontra publicado este aviso.
c) Dois documentos, impressos em suporte de papel:
– Súmula Curricular, com um máximo de 3 páginas (um exemplar devidamente
assinado);
– Um exemplar do Questionário de Motivação, conforme modelo disponibilizado
na página eletrónica do Centro Hospitalar de Setúbal, EPE, devidamente res-
pondido e assinado.
d) Declaração emitida pela entidade a que se encontra vinculado, comprovativa do
tipo de vínculo e categoria profissional.
6 – Formalização da candidatura – a candidatura deverá ser efetuada através de re-
querimento, dirigido ao Senhor Presidente do Conselho de Administração do Centro
Hospitalar de Setúbal, EPE, em suporte de papel e ser entregue pessoalmente no
Serviço de Gestão e Planeamento de Recursos Humanos, durante o horário normal
de expediente do serviço (09h00 às 13h00 e das 14h30 às 17h30), ou enviada
através de correio registado, com aviso de receção, para o endereço postal da Ins-
tituição, até à data-limite fixada na publicação.
O aviso pode ser consultado na íntegra na página eletrónica do Centro Hospitalar de
Setúbal, EPE em: https://www.chs.min-saude.pt/concursos/
O Presidente do Conselho de Administração
Pedro Nuno Miguel Baptista Lopes

CONTABILISTA CERTIFICADO
Principais responsabilidades:
(m/f)

– Tratamento e validação de toda a documentação com relevo contabilístico (organização,

ENGENHEIRO(A)
classificação, lançamento e conferência de documentos);
Lisboa
– Apuramento e cumprimento das obrigações fiscais e declarativas;
– Elaboração de relatórios contabilísticos e de demonstrações financeiras finais e intercala-
res (mensais); Grupo internacional instalado em Portugal desde 1966, que
– Controlling & Reporting (incluindo tesouraria); se dedica à produção de dispositivos médicos, procura para
– Processamento de salários;
– Apoio na gestão administrativa. a sua unidade industrial localizada na área da Grande Lis-
boa, um engenheiro de tecnologia de embalamento para
Perfil desejado:
– Licenciatura em Contabilidade, Gestão, Finanças ou Economia; entrada imediata, para exercer as seguintes funções:
– Experiência profissional mínima de 5 anos (pref.);
– Contabilista Certificado;
– Conhecimentos avançados de Excel; • gerir e desenvolver validações de combinações de em-
– Experiência em SAP (pref.); balagem;
– Forte capacidade analítica e espírito crítico, proatividade e resiliência;
– Perfil relacional, com capacidade de adaptação e experiência em seguros (pref.); • acompanhar o processo de embalamento;
– Boa capacidade de comunicação, planeamento, gestão de prioridades e organização; • identificar e implementar ações de melhoria contínua;
– Residência preferencial na zona: Famalicão, Trofa, Santo Tirso ou Braga.
• gerir e coordenar projetos envolvendo múltiplos depar-
Benefícios adicionais:
– Projeto desafiante e com exposição à decisão;
tamentos;
– Oportunidade de integrar num projeto em crescimento, numa equipa jovem e dinâmica • definir e gerir KPIs;
com boas perspetivas de evolução profissional.
• produção de relatórios e documentação de suporte aos
Para se candidatar, enviar CV para o email: porto6657@gmail.com
processos.

Requisitos:
• formação superior em engenharia industrial/mecânica
A DLC precisa de um (m/f):
ou equivalente;
• experiência em gestão de processos industriais;
INFORMÁTICO/PROGRAMADOR • experiência em processos de embalamento peelpack
Com as seguintes competências:
• Domínio de PHP e/ou de frameworks; (fator preferencial);
• Otimização de base de dados (MySQL);
• Conhecimentos de usabilidade e frontend na ótica de LMS; • competência e capacidade de organização e espírito
• Conhecimentos sólidos de CSS e ou frameworks/libraries;
• Implementação de módulo SCORM para LMS; crítico;
• Domínio da língua portuguesa e/ou inglesa;
• Preferencialmente competências em UX/UI.
• foco no cliente e no detalhe;
– Pretendemos um consultor que trabalhe connosco em regime “freelancer” durante 6 meses em exclusividade, • fluente em inglês (falado e escrito).
renováveis se for caso disso, com a finalidade de fazer o desenvolvimento da nossa plataforma de educação para
cursos em e-Learning e m-Learning.
– O trabalho pode ser desenvolvido a distância, com reuniões presenciais esporádicas e outras em videoconferência.
– Caso esteja interessado, deve dirigir uma carta com o seu “CV” e respetivo portfólio de trabalhos já exe-
Se preenche os requisitos,
cutados, assim como a expetativa da remuneração mensal ou valor global dos 6 meses, para os seguintes envie o seu CV para o seguinte email:
contactos de email:
Ana Fernandes – dlc@dlc.pt – TM: 964 016 839 recrutamento@codanportugal.pt
Luís Rocha – luisrocha@dlc.pt
28 ECONOMIA
OPINIÃO
Talento
Paula Baptista
Estratégias
de
diversidade
e inclusão
A
temática da diversida-
de e inclusão no mun-
do corporativo não é
apenas uma moda ou
tendência passageira e veio
para ficar. A promoção de am-
bientes de trabalho inclusivos
e a valorização da diversida-
de são fundamentais para o
sucesso e a sustentabilidade
das organizações, uma vez
que resulta em equipas mais
representativas da socieda-
de e mais capazes de inovar,
criar soluções diferenciadas
e dar resposta a um mercado
em constante mudança. São
inúmeras as vantagens de im-
plementar medidas neste sen-
tido, e também inúmeras as
organizações que se propõem
atualmente a pensar este de-
safio de forma estratégica.
No entanto, passar da ideia
à prática pode ser desafiante,
dada a dimensão da tarefa. É,
por isso, fundamental come-
çar por identificar as áreas de
melhoria, que serão diferentes
de organização para organiza-
ção. Depois, há que definir e
comunicar metas específicas
que clarifiquem e quantifi-
quem os objetivos da organi-
zação nesta área. Só com este
tipo de transparência será
possível conseguir medir o
progresso e detetar falhas na
implementação, que possam
ser corrigidas em tempo útil.
Diversidade
e inclusão não
são conceitos
estáticos, mas
sim um processo
contínuo de
aprendizagem
e melhoria que exige
acompanhamento
e monitorização
É necessário também ter
em conta que a simples defi-
nição de metas não será su-
ficiente. Estas metas devem
ser sempre acompanhadas de
um plano de ação detalhado,
com deadlines e atribuição de
tarefas ou responsabilidades a
pessoas e equipas, idealmente
de diferentes áreas, de modo
a potenciar o envolvimen-
to de todos. A diversidade e
inclusão nas empresas deve
ser vivida como um objetivo
comum, não cabendo exclu-
sivamente a departamentos
de Recursos Humanos ou de
People & Culture a sua imple-
mentação.
Importa também recordar
que diversidade e inclusão não
são conceitos estáticos, mas
sim um processo contínuo de
aprendizagem e melhoria que
exige acompanhamento e mo-
nitorização. As organizações
devem, por isso, estar prepa-
radas para evoluir e adaptar a
sua abordagem à medida que
a sociedade muda e surgem
novos desafios.
Diretora-geral da Hays Portugal
PESSOAS
Miguel Leónidas Rocha 57 anos, chief operating officer da Arrow Global Portugal
“Incerteza e burocracias
afastam investidores”
FORMAÇÃO
Licenciatura em Direito e
pós-graduação em Estudos
Europeus e Direito
Comunitário pela Universidade
Católica de Lisboa, pós-
graduação em Gestão e
Fiscalidade pelo Instituto de
Estudos Superiores Financeiros
e Fiscais e frequência do curso
de preparação para exame da
Ordem dos Revisores
Oficiais de Contas
AMBIÇÃO DE CARREIRA
“Em termos mais transversais,
como na vida, tenho a ambição
de aprender todos os dias com
as pessoas com quem trabalho
e deixar no seu percurso de
crescimento algo de mim que
por elas seja valorizado”
HOBBIES
“Viajante de mota e de 4x4
pelo mundo, melómano
e audiófilo, poeta”
Ana Sofia Santos
A falta de confiança dos inves-
tidores no país é a pior conse-
quência do fim dos vistos gold
e do RNH — Regime do Resi-
dente Não Habitual (agora em
aberto, dado que esta medida
consta da proposta de Orça-
mento do Estado para 2024),
considera Miguel Leónidas
Rocha, o novo chief operating
officer (COO — administrador-
-geral de operações) da Arrow
Global Portugal, grupo que
atua, nomeadamente, no imo-
biliário e na indústria da hospi-
talidade. Com uma carreira de
mais de 30 anos na consultoria
fiscal, o novo COO da Arrow diz
que, a avançar a revogação do
RNH, “retira-nos atratividade
e competitividade fiscal, com
base num argumento falacioso
e não demonstrado de que é a
DICAS COMO ESCAPAR A RECRUTAD ORES-FANTASMA
É um aparente contrassenso
que numa altura em que
as empresas reportam
dificuldades de contratação
o chamado ghosting —
fenómeno em que o potencial
empregador/recrutador
deixa de dar notícias ao
candidato — esteja a
aumentar nos processos de
recrutamento. De acordo
com uma pesquisa recente da
plataforma de recrutamento
Glassdoor, o ghosting nos
processos de seleção mais
do que duplicou face ao
período pré-pandemia, com
os recrutadores a deixarem
cada vez mais candidatos sem
resposta. Saiba como evitar
este fenómeno e escapar aos
recrutadores-fantasma.
causa, ou uma das causas prin- dos investidores e diferentes
cipais, do atual panorama de stakeholders [partes interessa-
acesso à habitação”. das] internacionais que nos têm
Não duvida de que se trata contactado desde que a medida
de “uma má medida, que não foi anunciada”.
vai sequer contribuir para a re- Na sua opinião, “a incerteza,
solução do problema que ale- as burocracias legais e a ideo-
gadamente a justificou”. E so- logia política são aspetos que
bre o fim dos ‘vistos dourados’ afastam quem procura Portu-
afirma que, até ao momento, gal para investir”. “Para o pre-
“não teve um impacto práti- sente e futuro”, o responsável
co significativo nos negócios da Arrow antecipa a manuten-
da Arrow Global em Portugal, ção da “incerteza”, e com isso
mas o mesmo não podemos afastam-se investidores.
dizer em relação à incerteza A decisão de acabar com os
vistos gold terá um “impacto
modesto” no preço das casas,
“É triste iniciarmos faz notar o gestor, enquanto
as nossas conversas
reforça que a atividade do gru-
po Arrow Global em Portugal
com investidores a “não depende nem do regime
justificar porque é dos RNH nem dos vistos gold,
e segue o seu percurso de cres-
que ainda faz sentido cimento acentuado”. Porém,
investir em Portugal” para Miguel Leónidas Rocha
“é triste iniciarmos as nossas
1 3
PERGUNTE SEMPRE QUAL O PASSO SEGUINTE
Os candidatos ficam constrangidos em questionar sobre quais os
passos seguintes no processo após a entrevista. A pergunta tem de
ser feita, já que vincula o recrutador a dar retorno ao candidato.
Expresso, 10 de novembro de 2023
LEMA
De Pablo Picasso: “O sentido
da vida é encontrar o seu dom.
O objetivo da vida é dá-lo”
PERCURSO
Foi diretor executivo do World
Trade Center Lisboa, passou
pela BL&C — Auditores e
Consultores, como consultor
fiscal, e liderou, depois, a
divisão de consultoria fiscal da
Arthur Andersen, passando a
sócio do mesmo departamento
na Deloitte, que deixou agora
ÚLTIMAS
LEITURAS
“Liderança — Seis
Estudos sobre
Estratégia
Mundial”, de
Henry Kissinger, e
“Um Homem em
Busca de um
Sentido”, de
Viktor E. Frankl
conversas com investidores es-
trangeiros a justificar porque
é que, apesar de tudo, ainda
faz sentido investir em Portu-
gal, ao invés de apenas lhes
demonstrarmos porque faz
sentido investir em Portugal”.
A Arrow Global é uma ges-
tora de fundos de investimento
focada nas áreas do crédito e
do imobiliário e que está no
nosso país desde 2005. Aqui
tem crescido e diversificado
os negócios, com o imobiliário
“em franco crescimento”, em
que, através do grupo Norfin,
faz, por exemplo, a gestão do
grupo Vilamoura WorldMa-
rina. A hospitalidade é outro
segmento dinâmico, com o
primeiro negócio local a ser
a aquisição da Details Hotels
& Resorts, em 2022, que gere
oito unidades entre o Carvoei-
ro e Albufeira, no Algarve.
assantos@expresso.impresa.pt
2 referenciado por algum
CRIE UMA RELAÇÃO
Após a entrevista, envie uma
mensagem de agradecimento
ao recrutador, reforçando as
suas competências para a vaga.
Sublinhe que espera
informação sobre as próximas
fases do processo até à data
apontada na entrevista. Seja
assertivo, mas persistente. Se
construir uma relação com o
recrutador, é menos provável
que ele o deixe sem resposta
durante o processo de
recrutamento.
PROCURE REFERÊNCIAS
Uma das formas de minimizar
o risco de ser alvo de um
recrutamento fantasma é ser
Jorge
Libório
> Soma 12 anos
de carreira
> É licenciado
em Engenharia
Informática
É o novo responsável da
equipa de cibersegurança
da consultora EY para os
mercados de Portugal, Angola
e Moçambique. Com uma
carreira profissional de mais
de 12 anos, Jorge Libório lide-
rou e executou projetos em
diversos sectores — do sector
público à banca e energia — e
em diferentes geografias.
Nos últimos nove anos esteve
entre o Dubai e Singapura,
onde liderou equipas multi-
culturais e multidisciplinares.
Em julho regressou a Portugal
para integrar a equipa da EY,
assumindo agora a liderança
da área de cibersegurança.
O objetivo é aumentar e
desenvolver a atual oferta
da consultora em matéria de
cibersegurança, em estreita
articulação e colaboração
com a região da Europe West,
onde se insere Portugal.
Rui Nogueira
O cofundador e diretor executi-
vo do hub de comércio eletróni-
co DDUA — Diário de um Am-
bicioso é o novo responsável de
crescimento (head of growth)
da Portugal Jewels, a loja on-
line de ourivesaria tradicional
portuguesa. Com mais de cinco
anos de experiência no sector
do e-commerce, adquirida na
fundação de três projetos —
Hacktion, Eddirsrupt e Perfor-
mzai —, Rui Nogueira assume
o desafio de liderar a estratégia
de crescimento e rentabilidade
para a Portugal Jewels.
Maria Fernanda Carmo
> 68 anos
> Soma um
percurso de
quase 30 anos
de carreira
Foi nomeada sócia (partner)
da CH Consulting. Maria Fer-
nanda Carmo, que soma um
percurso de carreira de qua-
se três décadas, reforçará o
escritório do Porto, ficando
responsável pela liderança da
área de negócio especializa-
da em incentivos e benefícios
fiscais, onde se especializou
ao longo do seu percurso. A
executiva acumula um vasto
conhecimento dos sistemas de
incentivos nacionais e grande
experiência na condução de
projetos complexos e de gran-
de responsabilidade.
trabalhador da empresa. O
recrutador não vai arriscar
causar má impressão junto do
profissional que referenciou o
candidato. Crie laços com
profissionais das empresas
onde gostaria de trabalhar.
4
RESPONDA COM FOCO
Se for alvo de um
recrutamento fantasma,
lembre-se de que não pode
controlar o comportamento de
outros mas pode decidir o seu.
Não desista nem deixe de
procurar melhores
oportunidades de carreira.
Envie um e-mail de
agradecimento ao recrutador
que conduziu o processo.
Expresso, 10 de novembro de 2023
OPINIÃO
Capital de Risco por Rodrigo de Matos
Assumem especial relevo as orientações que a Comissão Europeia tem produzido para fornecer
o seu posicionamento face a novos e velhos desafios do comércio e da concorrência
Igualdade na concorrência:
o caso das alianças retalhistas
Miguel Gorjão-Henriques
U
ma economia madura permite
às empresas actuarem com con-
fiança no regular funcionamen-
to dos mercados, permitindo
uma concorrência livre e equilibrada
entre as empresas.
2. A igualdade é conceito da moda. E
mesmo na concorrência, em que a regra
é a diferenciação, o objectivo captar
clientes e aumentar a quota de mercado
ou os volumes de negócios. Qualquer
empresa quer vender mais ou melhor
do que o seu concorrente. Mas há uma
realidade incontornável: em geral, para
vender é preciso comprar.
3. O contexto regulatório é importan-
te. Quando se vê o presidente da AdC a
questionar-se sobre as regras que a sua
entidade deve seguir para exercer as
suas próprias competências e objectivos
estatutários, e o Tribunal Constitucional
a defender os direitos fundamentais e
a ser o juiz das liberdades, importa ter
reconhecer as dúvidas que também as
empresas têm: o que posso fazer?
4. As mudanças foram radicais, desde
2003. Do modelo centralizado em vigor
até ao grande alargamento da UE, que
dificultava a agilidade das empresas
mas conferia mais segurança jurídica
passou-se, a 1 de Maio de 2004, para
um modelo regulatório em que o foco
das empresas passou a ser a auto-re-
gulação do seu comportamento em-
presarial. Nesta arquitectura em rede,
sob coordenação implícita da Comissão
Europeia (CE), as empresas não fazem
depender as suas decisões comerciais
de actos administrativos permissivos
ou autorizativos. Cada uma avalia a
conformidade da sua conduta com as
regras de concorrência. Assumem por
isso especial relevo as orientações que
a CE tem produzido para fornecer o seu
posicionamento face a novos e velhos
desafios do comércio e da concorrência.
5. Recentemente, a CE publicou li-
nhas de orientação sobre acordos entre
concorrentes, com 168 páginas e 39 (leu
bem) exemplos práticos, que permitem
um mais fácil juízo sobre a pró ou an-
ticoncorrencialidade de uma conduta
colusiva. Longe de visões binárias, a
CE não afirmou a ideia (que por vezes
perpassa nos media das autoridades)
de que as empresas, para concorrerem
legitimamente entre si, têm de viver
isoladas, desconhecendo o que os outros
fazem. Pelo contrário! A concorrência
não existe na ilha de Robinson Crusoe.
Mesmo empresas que actuem no mes-
mo nível da cadeia económica de valor
podem coordenar comportamentos, v.g.
para melhorar o seu sourcing e, assim,
beneficiar os seus clientes, muitas vezes
os consumidores, ou seja, todos nós.
6. O valor da igualdade o impõe. Pe-
rante players globais, pode ser necessá-
rio para garantir uma melhor proposta
de valor para os consumidores. É o caso,
paradigmático, das alianças retalhistas.
Ao contrário dos soundbytes populistas
a que muitos inesperadamente cedem,
não há só um campo de batalha aonde
a concorrência se decide: nos mercados
de abastecimento, retalhistas e forne-
cedores, multinacionais globais e com
enorme poder de mercado (selling po-
wer), defrontam-se, e os consumidores
só têm a ganhar.
Em mercados
retalhistas extremamente
competitivos, como
o português, com novos
entrantes e uma dimensão
promocional dominante,
a pressão pela procura
de preços mais
baixos é enorme
7. Segundo o Eurocommerce, os fa-
bricantes PepsiCo, Nestlé ou Coca-Co-
la tinham em 2022, respectivamente,
315.000, 276.000 ou 83.000 funcioná-
rios, enquanto os retalhistas Ahold De-
laize, REWE ou Tesco tinham, respecti-
vamente, 414.000, 380.000 e 355.000.
Já quanto ao market capitalization,
aquelas tinham 223,91, 296,69 e 241,48
(mil milhões de €), enquanto as maiores
retalhistas tinham 29,85, 35,19 ou 21,14
(idem). Em 2023, os resultados oficiais
da Coca-Cola (2º semestre de 2023)
mostram um crescimento de receitas lí-
quidas de 6% e de 10% de price/mix. Em
suma, comparando os dois maiores de
cada fileira, a Coca-Cola tem M$43,004
contra M$86,984 da Ahold Delaize, mas
quase o triplo de operating income. E as
margens operacionais? Para 2021/2022
os números são esmagadores: 25,4%
(Coca-Cola) e 17,4%(Nestlé) versus 4,3%
(Ahold Delaize) ou 2,1% (REWE).
8. Entre as maiores alianças retalhis-
tas europeias contam-se a Coopernic
[criada em 2006, reúne E.Leclerc (Fran-
ça), REWE Group (Alemanha), Ahold
Delhaize (Países Baixos), Coop (Itália)
ou Colruyt Group (Bélgica)] ou a Epic
Partners [inclui a Edeka (Alemanha),
a Migros (Suíça), a Jerónimo Martins
(Portugal ou Polónia) a ICA (Suécia, Es-
tónia, Letónia e Lituânia), a Système-U
(França) ou a Picnic (Baixos e Bélgica)].
9. Desde que respeitados os pressu-
postos do direito da concorrência — (i)
ausência de concorrência significativa
dos membros nos mesmos mercados
geográficos de retalho; (ii) ausência de
domínio sobre o mercado retalhista ge-
ográfico em que opera; e (iii) cada mem-
bro da aliança contrate individualmente
com o fornecedor — é a concorrência e os
consumidores que beneficiam destas ali-
anças e das negociações conjuntas que
as mesmas potenciam. E mesmo que,
transitoriamente, algumas categorias
de produto possam faltar num retalhista,
os consumidores estão bem servidos: há
produtos substitutos nas prateleiras do
mesmo supermercado e podem obter
até aqueles — e porventura em melhores
condições — nas cadeias concorrentes.
10. Em mercados retalhistas extrema-
mente competitivos, como o português,
com novos entrantes e uma dimensão
promocional dominante, a pressão pela
procura de preços mais baixos é enorme.
Se mesmo em mercados extremamente
regulados (v.g., dos medicamentos) é
permitida a prática de descontos do fa-
bricante ao retalhista, na negociação
com grandes multinacionais é neces-
sário recordar um velho ensinamento
do direito da concorrência, hoje por
vezes esquecido: o objectivo do direito
é o bem-estar (Benjamin Cardozo) e, no
da concorrência é, em último termo, o
bem-estar dos consumidores (consumer
welfare). A política de concorrência deve
promover práticas que aumentem a
eficiência, atenuando o selling power de
grandes multinacionais ou o buying po-
wer de empresas dominantes. Também
assim se iguala as empresas na concor-
rência e permite uma maior pressão
por preços mais baixos, combatendo
também a inflação. E isso implica que,
se assegurada a concorrência dentro e
entre marcas, seja permitido até que
que se possa “credibly threaten to drop
his brand” (P. Gerhart, 1981), desde que
retalhistas, fornecedores e consumido-
res tenham alternativas.
11. A CE dá um bom exemplo das
nuances do fenómeno, num ápice da
livre concorrência, e é desassombrada
na luta pela igualdade de e na concor-
rência: em último termo, é o consumi-
dor quem beneficia e, com ele, todo o
mercado interno.
Doutor em Direito, professor
da Faculdade de Direito de Coimbra
Miguel Gorjão-Henriques escreve
de acordo com a antiga ortografia
ECONOMIA 29
Pré-
-fabricação
na construção
Bruno de Carvalho Matos
D
esde há mais de 100 anos
que praticamente a forma de
construir não tem mudado e
que a produtividade no sec-
tor da construção encontra-se três
vezes abaixo da da economia global.
Continuamos com um tipo de
construção essencialmente execu-
tada in situ; com operações manuais
nem sempre seguras, propícias a er-
ros e que requerem demasiada mão
de obra; com elevadas necessidades
de aprovisionamento e excessivos
desperdícios de materiais, energia
e água; e com demasiado potencial
impacto negativo no meio ambien-
te. Esta realidade gera várias inefi-
ciências, particularmente ao nível
do controlo de qualidade, custos e
prazos das obras, que raramente
cumprem o pretendido.
Ora, atendendo à crescente neces-
sidade de edifícios e infraestruturas
e à anunciada escassez de recursos,
urge agir para incrementar a produ-
tividade e a eficiência do sector, ado-
tando medidas de carácter multifa-
torial relacionadas com processos
de contratação, gestão, execução e
supervisão de projetos e obras, que
considerariam, pelo seu elevado
potencial produtivo (possivelmente
até 5 vezes mais face ao processo
tradicional), a pré-fabricação. A pré-
-fabricação consiste em fabricar ele-
mentos construtivos fora do local da
obra, em ambiente controlado, que
depois são transportados e mon-
tados in situ. No limite, podemos
ter partes de edifícios ou mesmo
edifícios inteiramente construídas
previamente, com possibilidade
para futura expansão, redução ou
relocalização.
Os potenciais benefícios passam
por reduzir as necessidades de mão
de obra; por racionalizar o uso de
materiais; por aumentar a quali-
dade, segurança e rapidez dos tra-
balhos; e por diminuir o impacte
Desde há mais de 100
anos que praticamente
a forma de construir
não tem mudado
ambiental. As limitações podem ser
de padronização e volume (quanti-
dade de formas ou unidades repe-
tidas é insuficiente para conseguir
economias de escala); planeamen-
to (difícil de adaptar tardiamente);
transporte e entrega (circulação,
armazenamento, elevação e coloca-
ção); normalização e competências
(défice de regulamentação especí-
fica e falta de know-how da cadeia
de valor); e perceção (preconceito
associado a soluções rígidas e de
baixa qualidade).
Para o sucesso deste método é
crucial que o Governo crie siste-
mas de incentivos para empresas,
promova a colaboração com uni-
versidades, no sentido de adaptar
os modelos de negócio e de ensino
à evolução do ambiente construído,
assim como estabeleça normas e
regulação. Nas organizações será
importante o apoio da gestão de
topo, passando por iniciativas intra
e interorganizacionais até atingir
um estágio de melhoria contínua.
Ao nível do empreendimento terão
de ser definidos os requisitos con-
tratuais e os incentivos financeiros
mais apropriados para promover a
integração de todas as fases e inter-
venientes no ciclo de vida.
Como em tudo na vida, não há so-
luções mas alternativas e custos de
oportunidade, podendo a pré-fabri-
cação apresentar-se como melhor
opção face às práticas tradicionais,
dependendo do contexto.
Engenheiro civil
30 ECONOMIA Expresso, 10 de novembro de 2023

MUND O

1 ESPANHA 2 EUA 3 POLÓNIA

Perdão de €15 Acordo

bipartidário
contra carros
mil milhões chineses
à Catalunha Um grupo de parlamentares repu-

gera protestos

FOTO GETTY IMAGES

blicanos e democratas pediram à
Administração de Joe Biden para
aumentar as tarifas sobre automó-
veis chineses e que crie formas de
impedir que empresas chinesas ex-
portem do México para os EUA.
O pedido, noticiado pela Reuters,
A medida faz parte do conjunto surgiu esta quarta-feira, 24 horas TRANSPORTADORAS BLOQUEIAM FRONTEIRAS COM UCRÂNIA
depois de a Casa Branca admitir Várias dezenas de transportadoras polacas bloquearam esta semana três
de cedências do Governo para a possibilidade de Joe Biden en- pontos de passagem entre a Polónia e a Ucrânia para protestarem contra
assegurar o apoio dos partidos contrar-se com o o seu homólogo
chinês, Xi Jinping, na cimeira do
o que classificam de concorrência desleal de empresas do país vizinho.
Quase todo o tráfego rodoviário foi bloqueado por camiões alinhados
independentistas Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico por manifestantes que atribuem a queda dos seus rendimentos à
(APEC em inglês) marcado para 15 liberalização das regras de transporte fronteiriço da União Europeia.
de novembro em São Francisco.
Um encontro que, a confirmar-se,
poderá servir para acalmar a tensão
entre os dois países. A Reuters cita
uma carta endereçada à Represen-
tante do Comércio dos EUA Kathe-
rine Thai em que os parlamentares
pedem um aumento da tarifa de
25% que recai sobre automóveis
chineses. Uma tarifa adotada
FOTO GETTY IMAGES

por Trump e cuja aplica-

ção foi prolongada por
Biden.

atravessou dificuldades de fi-

Ángel Luis de la Calle
Correspondente em Madrid
O pacto para que o partido
independentista Esquerra Re-
publicana de Catalunya (ERC,
esquerda soberanista modera-
da) preste os seus votos no Par-
lamento espanhol ao Partido
Socialista Operário Espanhol
(PSOE, centro-esquerda) para
facilitar a investidura de Pedro
Sánchez como presidente do
Governo tem muitos elementos
de um acordo mercantil. Para
conseguir o apoio da ERC, os
socialistas comprometeram-se a
perdoar uma parte importante,
nanciamento e a sua reclamação
de mais contribuição ao Estado
central tem sido permanente.
O sistema autonómico espa-
nhol é financiado mediante um
complicado sistema em que o
Estado arrecada impostos que
depois distribui às regiões para
o seu financiamento, em virtu-
de de uma série de parâmetros
objetivos (população, nível de
rendimento, desenvolvimento
setorial...). Os partidos inde-
pendentistas que governam a
Catalunha nos últimos anos cal- 27
cularam que a dívida histórica
do Estado para com a região
através desse sistema de redis-

20%, da dívida pendente que a
Catalunha tem com os instru-
mentos creditícios do Estado
espanhol.
Essa concessão despertou um
imediato sentimento de agravo
comparativo no resto das Comu-
nidades Autónomas (CCAA) em
que o país está organizado, mas
sobretudo naquelas que estão
a ser governadas pelo Partido
Popular (PP, centro-direita), o
principal partido da oposição.
O Governo, que se mantém em
6 ARÁBIA SAUDITA
tribuição de fundos ascende a
€456 mil milhões, sobretudo
em comparticipações sociais,
infraestruturas e pensões.
A Catalunha tem 7.680.000
Lucro da Aramco
habitantes e um PIB per capita cai 23%
(números de 2021) de €29.942.
O seu produto interno bru- no 3º trimestre
to representa 19% do total de
Espanha. As bases da sua eco-
nomia assentam na indústria
9
manufatureira, nos serviços —
sobretudo o turismo — e numa
notável atividade exportadora

funções até se resolverem as ne-
gociações com os secessionistas
catalães para desbloquear a in-
vestidura de Sánchez, prometeu
8 FRANÇA
que representa 35,1% do seu
PIB, com um montante total de
exportações em 2022 no valor PRODUÇÃO GLOBAL DE VINHO
de €100 mil milhões. As previ- CAI PARA NÍVEIS DE 1960

rever todas as situações.
A quitação que foi comprome-
tida com a ERC supõe um alívio
para os cofres da Catalunha de
cerca de €15 mil milhões, de um
total de €73 mil milhões que a
7%
sões assinalam que este ano a
Catalunha crescerá 2,6%.
Segundo um estudo do BBVA
Research, o forte incremento do
endividamento das autonomias
espanholas deve-se à sucessão

Catalunha deve a organismos
estatais, fundamentalmente o
FLA (Fundo de Liquidez Au-
tonómica). Este instrumento
financeiro foi criado em 2012
pelo Governo então presidido
pelo conservador Mariano Rajoy
como uma linha de crédito de
baixo custo para evitar que as
CCAA necessitassem de recor-
rer aos mercados externos para
se financiarem, no meio da gra-
ve sucessão de crises financeiras
daqueles anos e com reticências
dos prestamistas a aceitar títulos
emitidos pelo Governo catalão.
Com o desaparecimento desses
€15 mil milhões, a Catalunha
também poupará outros €1300
milhões em juros. O total da dí-
vida catalã supera os €84.300
milhões, e é a mais alta de Es-
panha.
Sendo a Catalunha a segunda
região, depois de Madrid, em
potencial económico, sempre
de crises económicas produzidas
nos últimos 15 anos e à deterio-
ração do saldo fiscal acumulado
pelas dificuldades financeiras
daí derivadas. Acontecimentos
circunstanciais como a pande-
mia contribuíram para agravar
a situação.
O Executivo em funções,
perante os protestos de várias
CCAA pelo suposto tratamen-
to de favor dado à Catalunha
nas suas obrigações financeiras,
comprometeu-se a perdoar a
dívida das regiões que possa ser
atribuída ao impacto negativo
do ciclo económico. Pelo lado
do PP, que tem vindo a exigir a
repetição das eleições para não
se fazerem mais concessões aos
separatistas catalães, continua-
-se a considerar que Pedro Sá-
nchez “está a comprar uma sua
investidura com o dinheiro de
todos os espanhóis”.
economia@expresso.impresa.pt
A gigante petrolífera saudita Aram-
co anunciou hoje uma queda, no
terceiro trimestre, de 23% no lucro
líquido relativamente ao período
homólogo, acompanhado por um
declínio nos preços e na produção
de petróleo. A empresa registou lu-
cros de 32,58 mil milhões de dólares
(€30,3 mil milhões), comparando
com 42,43 mil milhões de dólares
(€39,5 mil milhões) no período ho-
mólogo do ano passado. Estes resul-
tados refletem “o impacto da descida
dos preços do petróleo e do volume
de venda”, afirma a empresa, em
comunicado. A Aramco tinha visto
os seus lucros recuarem 19,25% no
primeiro trimestre do ano e 38% no
segundo, em comparação com os
mesmos períodos do ano passado.
No ano passado, a invasão da Ucrâ-
nia pela Rússia, em fevereiro, fez os
preços do petróleo dispararem para
mais de 130 dólares por barril.
7 EUA
Nem “Barbie”
salva Warner
da sombra
O filme “Barbie” foi o maior suces-
so da Warner Discovery e ajudou a
melhorar os resultados trimestrais,
mas duas greves em Hollywood e um
mercado publicitário fraco podem
pesar sobre os seus lucros no próxi-
mo ano, alertou esta semana Gunnar
Wiedenfels, diretor financeiro do
grupo. Os argumentistas já pararam
a greve de 148 dias, mas o sindicato
de atores continua a paralisação, in-
terrompendo a rodagem de filmes e
séries. O grupo registou 417 milhões
de dólares de prejuízo, contra 2,3 mil
milhões negativos no ano passado.
é a quebra homóloga esperada
para 2023 da produção mundial
de vinho, o seu mais baixo nível
em 60 anos. A estimativa é da
Organização Internacional da
Vinha e do Vinho (OIV), com
sede em Paris, que, nas suas
primeiras previsões para a
corrente campanha, adianta
que a produção global de vinho
se situará entre 241,7 e 246,6
milhões de hectolitros (mhl)
em 2023, com uma estimativa
média de 244,1 mhl. Este valor
representa uma queda no
volume de 7% em relação a
2022 e é o menor desde 1961,
quando caiu para 214 milhões de
hectolitros, informou a OIV. Um
hectolitro equivale a 133 garrafas
de vinho padrão. “Este cenário
negativo pode ser atribuído
a quedas significativas nos
principais países produtores de
vinho de ambos os hemisférios”,
explica a OIV.
Expresso, 10 de novembro de 2023
4 ALEMANHA 5 CHINA Tantas vezes vai
O FABRICANTE
Importações crescem e exportações o cântaro à fonte...
DE ARTIGOS caem pelo 6º mês consecutivo
DESPORTIVOS
ADIDAS REGISTOU
UMA QUEBRA
DE 72,9%, PARA
€304 MILHÕES,
NOS LUCROS
ATÉ SETEMBRO.
FOTO GETTY IMAGES
O VOLUME DE
NEGÓCIOS
RECUOU 4% PARA
L
€16.616 MILHÕES i e ouvi, durante as últi-
NO PERÍODO EM As importações da China denomi- revelaram um aumento das importa-
mas semanas, muita coisa
sobre a proposta de OE
ANÁLISE. JÁ O LUCRO nadas em dólares norte-americanos ções para 218,3 mil milhões de dóla- para o ano de 2024 sub-
OPERACIONAL CAIU aumentaram 3% em outubro, en-
quanto as exportações caíram pelo
res (€204 mil milhões), enquanto as
exportações caíram 6,4%, para 274,8
metida pelo Governo à AR. Li o
que outros escreveram e ouvi o
PARA €646 MILHÕES, sexto mês consecutivo, em termos mil milhões de dólares (€257 mil que outros disseram. O PS muito
homólogos, refletindo uma queda milhões). O excedente comercial, de contente e muito seguro de si,
ISTO É, MENOS na procura global, segundo dados 56,5 mil milhões de dólares (€52,8 apenas vagamente incomodado
53,6% EM TERMOS oficiais divulgados esta semana. Os mil milhões), diminuiu mais de 30%, pela proposta de aumento do
dados das alfândegas do país asiático em relação a setembro, fixando-se IUC sobre os carros mais anti-
HOMÓLOGOS. A no valor mais baixo nos últimos 17 gos, que lhe poderia retirar votos
MARGEM DE LUCRO meses. No seu conjunto, as trocas — por causa de um agravamento
comerciais entre a China e o resto de imposto de 2 euros por mês, o
OPERACIONAL CAIU do mundo entre janeiro e outubro que também diz alguma coisa so-
PARA 3%, CONTRA aumentaram apenas 0,03%, segundo bre o ambiente socioeconómico
os dados oficiais. em que vivemos. Os partidos da
8% EM TERMOS oposição anunciando votos con-
HOMÓLOGOS. tra, nem sempre se percebendo
porquê. O PR conformado (era o
que tinha, não parecendo capaz
de conseguir melhor) e condes-
cendente.
Os últimos dias foram passados
a ler os documentos. As 405 pági-
nas da proposta de lei. As 408 pá-
ginas do relatório. As 49 páginas
do PowerPoint de apresentação
pelo ministro das Finanças. As
60 páginas da análise do Conse-
lho das Finanças Públicas. As 122
páginas do relatório da UTAO.
Gostei do que li. Falo de pro-
4 3 fissionalismo: os documentos
estão bem feitos, bem organi-
8 zados, com informação bastan-
te — apoiados em tecnologia e
1 em processos que não param de
evoluir, para melhor. A análise
5 do Conselho das Finanças Pú-
blicas pareceu-me sólida e bem
fundamentada: ainda, e sempre,
6 os efeitos de uma dívida pública
excessiva, que limita o Governo,
qualquer que ele seja, num apoio
à economia que as circunstânci-
as aconselhariam que fosse mais
alargado; os riscos que ensom-
bravam a proposta de orçamen-
to, incluindo a possibilidade de
não se concretizar o cenário ma-
croeconómico subjacente, desde
logo um crescimento do PIB de
1,5%, altamente improvável.
Em termos políticos, a pro-
posta de OE apresentada pelo
Governo para o ano de 2024
era defensável. Só não me pa-
receu defensável o PowerPoint
apresentado pelo ministro das
Finanças — uma mistificação,
engalanando como magnífico
9 BRASIL
o que não passava do razoável.
Valorizando a redução do IRS
num orçamento em que, uma
Défice das contas externas caiu 80% em setembro vez mais, tanto a despesa como a
carga fiscal, através do aumento
dos impostos indiretos, atingiri-
am níveis recorde.
O défice das contas externas do Bra- Preparava-me para começar
sil caiu 80%, para 1,2 mil milhões de a escrever, ao início da tarde de
euros em setembro de 2023 face ao terça-feira, quando fui surpreen-
mesmo mês de 2022 (€6,4 mil mi- dido pela demissão do primeiro-
lhões), de acordo com o Banco Cen- -ministro. Tinha ouvido, logo ao
tral daquele país. Em dólares, moeda início da manhã, notícias da de-
adotada pelo Governo brasileiro para tenção do seu chefe de Gabinete
divulgar relatórios sobre as suas con- e daquele seu amigo e colabora-
tas externas, as transações corren- dor muito próximo, espécie de
tes da balança de pagamentos foram braço-direito, por causa de mais
deficitárias em 1,4 mil milhões em um caso judicial, mas nunca me
setembro passado perante o défice de ocorreu que, poucas horas de-
6,9 mil milhões registado em setem- pois, fosse o próprio primeiro-
bro de 2022. Para calcular o resulta- -ministro a demitir-se.
do das contas externas, o Governo Ouvi dizer ao presidente do PS,
brasileiro considera as transações Carlos César, que a demissão foi
correntes com dados de exportação muito digna. Não digo que não
FOTO GETTY IMAGES
e importação comercial de serviços mas continuo estupefacto, sem
e bens, remessas de dinheiro, ser- conseguir compreender intei-
viços adquiridos por brasileiros no ramente. António Costa alegou
exterior, remessas de juros, lucros e inocência no processo-crime que
dividendos realizados do Brasil para se encontra instaurado contra
outros países. si mas não invocou nem o seu
ECONOMIA 31
Só Sei Que
Nada Sei
Daniel Bessa
FOTO NUNO FOX
direito à presunção da inocência
nem o mantra do “à justiça o que
é da justiça; à política o que é
da política”, tantas vezes invoca-
dos em situações semelhantes.
Compreendo e admiro que não
tenha querido fazê-lo em seu be-
nefício. Esperaria que, chegada
a sua vez, fosse alguém, acima,
a invocá-los? Cansou-se? Caiu
na real e não gostou do que viu?
Continuando a não conseguir
compreender inteiramente, não
me ocorre mais do que o provér-
bio popular de que “tantas vezes
vai o cântaro à fonte”...
A demissão e sobretudo a for-
ma como foi comunicada (“esta
é uma etapa da vida que se encer-
ra”, recusando expressamente
nova candidatura à liderança do
PS e ao exercício das funções de
PM), acompanhada de todos os
antecedentes conhecidos, não
deixam ao PR outra solução que
não seja a dissolução da AR e a
convocação de eleições legisla-
tivas antecipadas — escrevo na
quarta-feira e quando me ler, na
sexta-feira, o leitor poderá con-
cluir se estou ou não enganado.
Salvo melhor opinião, morre
também, sem remédio, a pro-
posta de OE 2024 que já havia
sido aprovada na generalidade
pela AR.
Tendo de ser aprovada por
uma maioria parlamentar, não é
por acaso que a proposta de OE
é apresentada pelo Governo —
Com uma nova
maioria, um novo PM
e um novo Governo,
teremos de ter um
novo Orçamento.
Assim o exige a ética
republicana, tal como
a entendo
Governo que a apresenta para a
fazer aprovar, primeiro, e para a
executar, de seguida.
Parecer-me-ia exótico que a
discussão prosseguisse no caso
de se admitir a nomeação de um
novo PM, e de um novo Governo,
dando continuidade à legislatura
e mantendo a maioria parlamen-
tar — exótico porque, em qual-
quer caso, seriam outros, tanto
o PM como o Governo. Com a
convocação de eleições legisla-
tivas antecipadas, a continuação
da discussão da proposta de OE
pela AR é pura e simplesmente
um absurdo. Quem defenderia a
sua integridade na longa discus-
são na especialidade que haveria
de seguir-se? Porquê e para quê?
Com que legitimidade (política,
não meramente formal)?
Não sei quem vai ganhar as
próximas eleições legislativas.
Não sei sequer em quem vou vo-
tar — aguardo rostos e equipas
porque em programas eleitorais
não acredito. Podemos até ter de
novo o PS, muito provavelmente
sem maioria absoluta mas supor-
tado por nova ‘geringonça’. Com
uma nova maioria, um novo PM
e um novo Governo, teremos de
ter um novo Orçamento. Assim
o exige a ética republicana, tal
como a entendo.
Economista
32 ECONOMIA Expresso, 10 de novembro de 2023