OPINIÃO PESSOAS

Nós e o > José

Governo Tavares
MANUELA
é o novo
FERREIRA LEITE diretor de
E31 Operações
da SAP
Portugal
E28

Confissão Abra uma nova página

de um na sua vida.
banqueiro > Dicas Cinco conselhos
JOÃO DUQUE
JMJ, a Igreja Católica e o Papa para atingir objetivos
E6 FRANCISCO LOUÇÃ E3 e progredir na carreira E28

ECONOMIA IMOBILIÁRIO
& EMPREGO
2649
4 de agosto de 2023
expresso.pt

Taxas e multas dão Novo Banco

pagou em
impostos o
ACT notifica
empresas
para integrar
€2 mil milhões ao equivalente a
3% dos lucros
precários
inexistentes

Estado em seis meses Banco beneficia de

descontos fiscais devido a
prejuízos passados, o que
também ajuda a explicar
os resultados elevados
O Novo Banco lucrou €225
> A receita pública com taxas, multas e outras penalidades cresceu milhões e pagou €800 mil
em impostos desde 2021, uma
11% no primeiro semestre e atingiu soma recorde > Na estrada, proporção muito inferior ao
intervalo entre 30% e 50% da
as multas subiram 27% face ao ano passado, segundo a DGO E4 concorrência. E7
80 mil empresas
foram notificadas para
regularizar contratos
que estão, em muitos
casos, “regulares”
Em causa estão 350 mil contra-
tos a termo cujo limite legal, diz
o Governo, foi excedido. Mas as
notificações de regularização
estão a abranger trabalhadores
que já são efetivos. E5

BANCOS QUINTUPLICAM DINHEIRO POSTO DE LADO PARA COBRIR CRÉDITOS EM RISCO

Imparidades para crédito atingem €370 milhões no primeiro semestre, mas banqueiros não veem incumprimento generalizado E6

EXPRESSO
1973.2023
PREÇOS DOS TERRENOS
2002 Alqueva: AGRÍCOLAS DUPLICAM
a obra que
transformou EM DOIS ANOS
o Alentejo E16
A escassez de terrenos cultiváveis,
sobretudo em zonas de regadio, está
a originar pressão da procura sobre
Quais são a oferta, e em certas zonas do Alentejo
já se pagam €40 mil por um hectare E22
os cursos
que pagam
melhor? E24

QUARTOS PARA
ESTUDANTES Em
Lisboa estão 19% mais
caros que há um ano E18

Vitacress
faz alimentos
com água
FOTO D.R.

reciclada E13
2 ECONOMIA Expresso, 4 de agosto de 2023

E TUDO O VENTO LEVOU: COMO UM PARQUE EÓLICO VOOU Quase 80% das
cativações de 2023
DE MONCORVO PARA SINES (E VAI LIMPAR 1821 SOBREIROS) ainda bloqueadas

Desde 2019 que o Orçamento do

Estado não previa um valor tão
elevado de cativações, ou seja,
da parte da despesa pública que
está prevista e orçamentada,
mas que só pode de facto ser
gasta mediante autorização do
Ministério das Finanças. Em
2023, as cativações iniciais
(incluindo a chamada reserva
orçamental) eram de €1242,1
milhões e, segundo os últimos
dados da síntese de execução
orçamental da Direção-Geral do
Orçamento (DGO), publicados
esta semana, até maio quase
80% desse valor estavam por
desbloquear. Ainda assim, é
uma percentagem inferior à
indicada pelos números da DGO
na mesma altura do ano passado,
quando chegava quase aos 90%.
Para 2024, o ministro das
Finanças, Fernando Medina,
prometeu acabar com as
cativações, que foram um dos
instrumentos que permitiram
aos Governos de António
Costa fazer brilharetes nas
contas públicas. Mas o ministro
das Finanças tem outros
instrumentos disponíveis
para exercer algum controlo
sobre a execução da despesa.
Além da reserva orçamental
— habitualmente incluída na
análise das cativações —, conta
com a dotação provisional

ILUSTRAÇÃO PAULO BUCHINHO

(dotação orçamental do
Ministério das Finanças
para fazer face a despesas
não previstas e inadiáveis), e
dotações centralizadas para
fins específicos, alocadas ao
Ministério das Finanças, que
as gere diretamente. Acresce
que a lei dos compromissos e
pagamentos em atraso obriga os
O parque eólico de Morgavel instalará 15 torres em Sines, mas pelo da Natureza e das Florestas. É o longo caminho de um projeto que nasceu serviços e organismos públicos
caminho levará à frente 1821 sobreiros. O Governo declarou esta semana em 2009, na fase C do concurso eólico do Governo Sócrates: o parque a terem fundos disponíveis para
a “imprescindível utilidade pública” do projeto, autorizando a EDP estava previsto para Torre de Moncorvo, mas os obstáculos ambientais poderem assumir compromissos
Renováveis a abater aquelas árvores. A empresa, que nota que 75% levaram o promotor a migrar o empreendimento para Sines. Em 2022, a de despesa. Sem essa capacidade
são sobreiros jovens, lembrou que em compensação vai plantar 30 mil EDP anunciou a compra do projeto. É um dos mais longos licenciamentos não o podem fazer. E aqui a
sobreiros numa área já aprovada pelo ICNF — Instituto da Conservação de parques eólicos em Portugal. última palavra cabe às Finanças.

6,4%
A ASSEMBLEIA Greve
GERAL DE na Portway
OBRIGACIONISTAS atrasa voos
DA EFACEC,
QUE ESTAVA DESEMPREGO MANTÉM-SE
ESTÁVEL EM JUNHO Depois de uma greve com uma
MARCADA PARA A taxa de desemprego em adesão de 30% dos trabalhadores,
7 DE AGOSTO, Portugal foi de 6,4% em junho, a 30 e 31 de julho, causando
valor que se mantém inalterado atrasos na maioria dos voos,
FOI ADIADA PARA face ao apurado em maio segue-se uma nova paralisação
deste ano, mas que continua da Portway a 5 e 6 de agosto. Os
12 DE SETEMBRO. a representar um aumento de trabalhadores da empresa de
FOTO MILOS DIMIC/ GETTY IMAGES

EM CIMA DA MESA 0,4 pontos percentuais (p.p.) handling e a ANA mantêm um

comparativamente ao mês braço de ferro sobre os acordos
ESTÁ A ALTERAÇÃO homólogo de 2022, ou seja, junho de empresa, com o pagamento
DOS TERMOS do ano passado. Os últimos das horas extraordinárias a
indicadores do Instituto Nacional revelarem-se um dos fatores de
E CONDIÇÕES DAS de Estatística (INE), divulgados desentendimento. Os sindicatos
OBRIGAÇÕES NO esta semana e ainda provisórios,
indicam que o mês de junho
acusam a concessionária
de ter mudado as regras
ÂMBITO DA VENDA fechou com um total de 336,5 mil unilateralmente depois de ao
DA EMPRESA desempregados contabilizados, longo de oito meses terem
mais 26,3 mil desempregados do respeitado a lei pagando as horas
À MUTARES. Indústria vai de férias em agosto dividida que há um ano. extraordinárias por inteiro.
entre o otimismo e a preocupação

9,9%
FOI QUANTO O MERCADO
AUTOMÓVEL CRESCEU EM
PORTUGAL EM JULHO
O mercado automóvel
em Portugal registou um
crescimento de 9,9% em julho,
em comparação com o mesmo
mês de 2022, o que, segundo
a Associação Automóvel de
Portugal (ACAP), “representou
uma forte desaceleração
relativamente ao crescimento
médio de 45,4% que se verificou
no primeiro semestre do ano”.
E continua 15% aquém dos
valores registados em julho de
2019. A Peugeot foi a marca
mais vendida, quer no mês quer
no conjunto dos primeiros sete
meses do ano.
Entre as indústrias exportadoras
o sentimento é comum: “As
coisas estão a abrandar na frente
externa”, resume a APICCAPS,
a associação do calçado, um
sector dependente da conjuntura
internacional, penalizado pela
subida das taxas de juro, pela
retração do consumo e pelo
arrefecimento na Alemanha,
motor da economia europeia, onde
fecharam 1500 sapatarias num ano.
Na metalurgia, a registar recordes
no desempenho mensal de 2023
face ao histórico de cada mês e um
crescimento de 13,9% até maio,
o otimismo ainda domina, mas,
apesar da confiança num recorde
nas vendas ao exterior no fim do
ano, a AIMMAP, associação do
sector, sabe que há empresas “a
sentir abrandamento na procura”.
“O ritmo de crescimento perdeu
intensidade e a subida das taxas
Em Off
Iberdrola
de juro para controlar a inflação leva “chumbo”
não está a ajudar”, comenta a no Algarve Agosto, para que te quero
AFIA, a associação setorial dos Para férias — é para isso que os
componentes para automóvel, gestores querem agosto (e o último
apesar de estar a acelerar há 13 dia de julho, já agora). A semana
meses consecutivos e prever um A Iberdrola viu a Agência passada voltou a protagonizar uma
recorde nas vendas ao exterior em Portuguesa do Ambiente forte corrida ao site da Comissão
2023. O cenário na alimentação (APA) emitir uma decisão do Mercado de Valores Mobiliários:
é idêntico, com a PortugalFoods desfavorável ao projeto da central é para lá que as empresas mandam
a falar de crescimento das solar de Estoi, no Algarve. O os comunicados de resultados e
exportações, mas também de empreendimento, que teria foi o que aconteceu com as contas
“abrandamento no segundo uma potência de 87 megawatts do primeiro semestre deste ano,
semestre”. Com quebras homólogas (MW), estava a ser desenvolvido terminado em junho. Esta é uma
na exportação, têxteis e calçado no âmbito do lote ganho pela cena repetida todos os anos por
sublinham que o problema afeta Iberdrola no leilão solar de 2020. esta altura e foi assim que, de
a generalidade dos produtores, e A elétrica espanhola terá agora quarta a sexta-feira passada, se
não apenas a indústria lusa. Já o de se concentrar nos restantes soube o desempenho semestral
mobiliário está confiante numa projetos que tem em Portugal, de 17 empresas, desde a Jerónimo
trajetória de crescimento a dois incluindo outras centrais solares Martins à EDP, do BCP ao Novo
dígitos e, tal como a fileira da moda, ganhas no leilão de 2019, a Banco, da Vista Alegre à Impresa.
aguarda as feiras internacionais megafotovoltaica de 1,2 gigawatts Galp e Corticeira Amorim só o
de setembro para definir o estado em Santiago do Cacém e a fizeram esta semana, mas têm
de alma da procura e o futuro terceira central hidroelétrica do de acelerar para o ano, para
próximo. complexo do Tâmega. aproveitarem mais férias.
Expresso, 4 de agosto de 2023
Durante muito tempo a Igreja Católica atraiu fiéis em busca da capacidade de controlar
os fenómenos naturais, mas hoje foi ultrapassada por outros grupos nestas promessas
A religiosidade e o ambiente
R ao Quadrado
Ricardo Reis
rquadrado.expresso@gmail.com
A
s discussões sobre as vanta-
gens e inconvenientes para
Portugal em receber as Jor-
nadas Mundiais da Juventude
continuam, de forma aparentemente
infindável. Do outro lado, era impor-
tante para a Igreja Católica ter este
grande evento em Portugal. A Igreja
está em acentuado declínio no nosso
país. Usando os dados da European
Value Survey, a percentagem de por-
tugueses que se dizem católicos caiu
de 76% em 2008 para 69% em 2020.
Em todos os países, e há muito tempo,
os mais jovens são menos religiosos.
Em 2008, entre os portugueses com
18 a 29 anos, só 69% pertenciam a
uma religião, contra 84% entre as pes-
soas com mais de 50 anos. Mas nos 12
anos que se seguiram essa diferença
aumentou a um ritmo acelerado. En-
quanto ainda 81% das pessoas com
mais de 50 anos se descrevem como
católicos, apenas 42% dos com 18 a 29
anos o faziam em 2020. Para além dis-
so, mesmo entre os católicos, apenas
20% hoje dizem ir frequentemente à
igreja e entre os que têm menos de
29 anos são apenas 10%. Hoje, 63%
dos que se descrevem como católicos
só o praticam em eventos sociais ou
nunca; entre os mais jovens, são 82%.
Ao mesmo tempo, quando se pergun-
Está incrustada no Vaticano uma cultura que, para além da crença religiosa, é uma potência.
Francisco quer mudar os pontos cardeais da sua casa. É o que lhe devemos
O problema do Papa é a sua Igreja
Estado da Noção
Francisco Louçã
francisco.lou66@gmail.com
C
umprindo um festival concebi-
do, como é tão notório, por João
Paulo II, de cuja herança se
quer afastar, o Papa Francisco
veio aqui deixar mais uma mensagem
do fim do seu pontificado. Entretanto,
agitou-se o país e os sinais locais deste
empreendimento têm sido comenta-
dos: o custo extravagante e especu-
lativo, o financiamento público (que
Espanha evitou), alegando-se que esta
é a missão do Estado (queria ver o mes-
mo num festival muçulmano), a sátira
de Bordalo II e a fatwa que sofreu, o
frenesim político-eleitoral. Tivemos de
tudo. Falta ouvir o Papa e saber o que
nos diz sobre a sua Igreja.
O Papa mais popular
O Papa não é o mais popular pelo
contraste com o seu antecessor, nem
sequer só pela afabilidade que demons-
tra. Ele é querido por ter aberto as
portas aos pobres, por ter condenado
a finança “que mata”, por ter dado um
passo de aproximação aos homosse-
xuais e, sobretudo, por ter condenado a
pedofilia praticada, ocultada e porven-
tura cultivada em sectores tão amplos
da sua Igreja. Com argúcia política,
tem vindo a nomear cardeais refor-
madores e alguns são personalidades
ta às pessoas se acreditam em Deus,
os mesmos 81% dizem sim, quer em
2008 quer em 2020. A Igreja Católica
não está a conseguir atrair seguidores.
Durante muitos séculos a Igreja
atraía fiéis convencendo-os de que ela
podia intervir nos fenómenos naturais
que determinavam o seu bem-estar.
Na economia agrícola portuguesa de
há 100 anos (e antes) a frequência
com que chovia determinava a qua-
lidade da colheita na vinha e nos ce-
reais. Maus anos implicavam fome,
emigração e morte, não só em Por-
tugal como na maioria do mundo.
Dependendo da geografia de cada
local, nalguns sítios a probabilidade
de chover aumenta com o número de
dias sem ter chovido, noutros ela dimi-
nui e noutros ainda não faz diferença.
Hoje conseguimos mostrar isto com
bastante precisão estatística e expli-
cá-lo cientificamente. Mas até recen-
temente a população analfabeta tinha
dificuldade em detetar estes padrões
previsíveis. A Igreja Católica, durante
muitos séculos, na Europa promoveu
o estudo sistemático da natureza e
a transmissão do conhecimento en-
tre os membros do clero. Por isso era
bastante mais provável ser o padre
da zona a perceber a regularidade na
chegada da chuva.
Nas alturas de seca, nas zonas em
que a probabilidade de chover aumen-
ta com os dias de seca, o padre inicial-
mente podia dizer que havia pouco
a fazer. Ao fim de algumas semanas,
ele podia pedir que se rezasse a Deus
que trouxesse chuva. Por cada dia que
passava sem chover o padre pedia
que se rezasse mais intensamente.
Porque, estatisticamente, a probabi-
lidade de chover aumentava todos os
dias, aumentar o fervor da reza levava
a que ao longo dos anos surgisse uma
correlação positiva entre rezar e cho-
culturais vibrantes. Meticulosamente,
tem procurado mudar a doutrina e
virá-la para o povo. Tem contra ele
uma construção imponente que é o seu
palácio, a Igreja Católica.
O cardeal Tolentino Mendonça, na
sua “Metamorfose Necessária” (2022),
em que analisa a figura de Paulo, apre-
senta uma explicação que ajuda a per-
ceber o paradoxo de Francisco. Paulo,
10 anos mais novo do que Jesus, que
não deve ter conhecido, foi, no entanto,
o primeiro contemporâneo a escrever
sobre aquela pregação. As suas cartas
primam pela ausência (não apoiam
dogmas que depois seriam declarados
fundamentais) e mais pelo que dizem,
descrevendo a vida das primeiras co-
munidades cristãs. Essas comunidades
eram assembleias que se reuniam na
casa dos crentes (pp. 152-3). Não havia
um poder sacerdotal, nenhum dos dis-
cípulos de Jesus se chamou sacerdote.
O teólogo Veiga Torres (“Desafios aos
Cristãos”, 2018, pp. 73, 84) sublinha o
exemplo da assembleia de Jerusalém,
cerca de 20 anos depois da crucificação
(e referida no Novo Testamento), em
que esteve Pedro, mas presidida por
Tiago, irmão de Jesus, que não fora seu
discípulo. Algumas assembleias eram
dirigidas por mulheres. Não se tratava,
portanto, de uma nova religião, mas de
um movimento de eclésias, ou assem-
bleias. O padre Anselmo Borges (“Re-
ligião — Opressão ou Libertação?”,
2004) afirma o mesmo: Jesus não quis
fundar uma igreja (p. 157), nomeada-
mente por acreditar num horizonte
apocalíptico da chegada iminente do
Reino.
Assim, só no século III se definiu
uma ordem eclesiástica, consolidada
pela intervenção política do imperador
Constantino no século seguinte, ao
impor o cristianismo como religião
oficial de Estado e decidir sobre os
ver. Segundo esta estratégia, o padre
convencia os fiéis de que a reza trazia
a chuva, convertendo-os à prática re-
ligiosa. Dois economistas, Espin-San-
chez e Ryan, juntamente com um geó-
grafo, Gil-Guirado, usaram os dados
diários da pluviosidade e das práticas
religiosas na província espanhola de
Múrcia entre 1600 e 1836 para testar
esta hipótese. Eles mostram que rezar
para trazer chuva num mês aumenta
em 71% a probabilidade de chover no
mês seguinte. Este poder de antecipa-
ção está associado inteiramente aos
padrões do tempo.
De seguida, os autores combinaram
dados de 1208 grupos étnicos pelo
mundo fora e as suas práticas de “fa-
zer chuva”, incluindo as danças dos
cherokees à tradição no Irão de as
mulheres raptarem os animais dos
vizinhos só os libertando quando cho-
Rezar para trazer chuva
num mês aumenta em
71% a probabilidade de
chover no mês seguinte
seus conflitos internos. Foi o impera-
dor, que não era batizado, que deu o
ceptro à Sé de Roma, que convocou
o Concílio de Arles (314) e presidiu
ao Concílio de Niceia (325). Assim,
coube ao poder temporal de Roma
fazer a Igreja: o processo que instituiu
o poder do Vaticano derrotou a tradi-
ção das comunidades de Jesus, afastou
as mulheres, consagrou uma classe
sacerdotal e submeteu-a ao interesse
político, couraçado por dogmas que
Jesus ignorou.
Uma história de infâmia
Ao longo de quase dois mil anos este
poder afirmou-se como uma treva.
Esteve subordinado a imperadores e
reis, favoreceu intrigas e guerras, pro-
moveu o colonialismo e foi cúmplice
do fascismo. Foi encabeçado por figu-
ras sinistras: o Papa Sérgio III mandou
assassinar os dois antecessores, o Papa
Bonifácio VIII limitou-se a encarcerar
o antecessor. Durante séculos reina-
ram as conveniências nas nomeações:
O Papa é querido
por ter aberto as portas
aos pobres, por ter
condenado a finança
“que mata”, por
ter dado um passo
de aproximação
aos homossexuais e,
sobretudo, por ter
condenado a pedofilia
praticada na sua Igreja
ver. Não é surpreendente que estas
práticas sejam mais prevalentes nas
regiões em que a população se dedica
mais à agricultura e por isso está mais
dependente da chuva para sobreviver.
Mais interessante é que é precisamen-
te nas zonas em que a probabilidade de
chover aumenta com o tempo de seca
que são mais prevalentes os rituais de
fazer chuva. Ou seja, não foi só a Igreja
Católica em Múrcia a usar este padrão
climatológico. De uma forma ou de ou-
tra, diferentes grupos com diferentes
religiões, ao longo dos séculos, foram
adotando práticas religiosas de uma
forma instrumental, consistente com o
desejo de controlar a natureza de que
dependia a vida destas pessoas. Se a
Igreja Católica era mais eficaz do que
outras religiões a detetar os padrões
meteorológicos e a usá-los para satisfa-
zer os desejos dos fiéis é uma pergunta
que fica em aberto.
Durante o último século, a nossa
economia tornou-se menos agrícola
e por isso a nossa qualidade de vida
dependeu menos do clima. Mas na
última década o aumento na inci-
dência de desastres climáticos, como
as vagas de calor e incêndios, têm
relembrado muitos de como o seu
bem-estar depende dos fatores natu-
rais. Não é por isso de surpreender
que tenham vindo a crescer novos
movimentos quasi-religiosos dentro
do ambientalismo que exigem alte-
rações radicais na nossa sociedade e
economia para supostamente domar
o clima. Apesar da ótima ciência que
existe sobre as alterações climáticas,
há também muita superstição no dis-
curso público que tem como suporte
uma aversão ideológica ao capitalis-
mo, à democracia e à liberdade. A
Igreja deixou-se ultrapassar por estes
movimentos, mas eles continuam
bem vivos.
Bento IX, Papa por três vezes, a pri-
meira das quais aos 14 anos, vendeu
o seu título; o Papa Leão X foi cardeal
aos 13 anos; João XII foi Papa aos 17 e
Gregório V aos 24 anos. O dogma da
infalibilidade papal é uma pantomina
trágica. Mil anos depois, esse poder ar-
rogava-se a representação divina por
mandato direto e, ainda no primeiro
terço do século XIX, a tradução da Bí-
blia em línguas nacionais era proibida
para preservar o poder sacerdotal; até
à década de 50 as freiras não podiam
ler o texto sagrado.
A Inquisição para impedir as outras
religiões ou o pensamento, o comér-
cio das indulgências, a obsessão pelo
controlo da sexualidade e a pedofilia
não foram, portanto, patologias deste
caminho, mas sim o resultado de uma
história de poder que impunha a Igreja
sobre o povo. Houve também neste
longo tempo luzes cintilantes, bispos
que se opuseram à escravatura, ho-
mens e mulheres dedicados ao respei-
to pelos outros, vozes pela liberdade de
culto, padres que morreram nos cam-
pos de concentração e na resistência
antifascista, tolerância que foi demo-
cracia, mas era contra aquele edifício
majestoso que se batiam. Como escre-
veu o teólogo Alfred Loisy no início do
século XX, “Jesus anunciou o Reino e
o que veio foi a Igreja”. Diga-se como
se disser, Francisco é respeitado por
querer abalar tantos dos pilares dessa
história de poder absoluto.
Conseguirá fazê-lo? Não. Roma e
Pavia não se fizeram num dia; o Vati-
cano não se fez num milénio. Está nele
incrustada uma cultura que, para além
da crença religiosa, é uma potência.
Vive do misticismo, como se vê, mas
Francisco impõe-lhe um brilho que faz
pensar. É o seu maior atrevimento e
com ele quer mudar os pontos cardeais
da sua casa. É o que lhe devemos.
ECONOMIA 3
A semana
E M 2 M I N U T O S
BES A decisão instrutória está
tomada: Ricardo Salgado vai ser
julgado por 65 crimes relacionados
com o Banco Espírito Santo (BES)
e as perdas superiores a €11,8 mil
milhões geradas com o colapso
da instituição. Salgado não está
sozinho. O julgamento conta com
um total de 17 acusados a título
individual (além de três empresas
do GES), num processo que fez os
primeiros arguidos em 2014.
3,1
por cento foi a inflação em julho
em Portugal, segundo a primeira
estimativa do INE, abaixo dos
3,4% de junho. Esta semana o
INE também revelou que a
economia no segundo trimestre
cresceu 2,3% em termos
homólogos, com uma variação
em cadeia nula. O desemprego
manteve-se inalterado
nos 6,4% em junho.
GALP A petrolífera liderada por
Filipe Silva teve um lucro de €508
milhões no primeiro semestre,
mais 21% do que no mesmo
período do ano passado. A Galp
viu os seus ganhos recuarem na
divisão de exploração e produção
de petróleo, pressionada por
cotações mais baixas, mas
compensou-os com uma melhoria
do resultado na área industrial,
em que se inclui o negócio da
refinação e a venda de gás.
1,8
mil milhões de euros foi o
excedente orçamental do Estado
nos primeiros seis meses do ano,
ficando acima dos €1,2 mil
milhões de superávite registado
em igual período de 2022,
segundo os dados publicados esta
semana pelo Governo.
DÍVIDA O rácio de dívida pública
face ao PIB recuou 2,7 pontos
percentuais no segundo trimes-
tre, para 111,2%, o nível mais
baixo desde o primeiro trimestre
de 2011, confirmando a trajetória
de redução prevista pelo ministro
das Finanças, Fernando Medina.
ENERGIA Em julho, a energia solar
em Portugal representou pela
primeira vez 10% do consumo de
eletricidade no país, revelou na
quarta-feira a REN.
EDIA A gestora do
empreendimento de fins
múltiplos do Alqueva vai realizar
um novo aumento de capital, no
montante de €12,8 milhões.
AUTOMÓVEIS As vendas de carros
em Portugal cresceram 9,9% em
julho, face ao ano passado, mas,
segundo a ACAP — Associação
Automóvel de Portugal, ainda
estão aquém dos números pré-
-pandemia.
CORTIÇA A Corticeira Amorim
lucrou €51,4 milhões até junho,
mais 8% do que no ano passado.
4 ECONOMIA
ALTOS
Paulo
Macedo
Presidente executivo
da Caixa Geral
de Depósitos (CGD)
Nos recentes testes de stresse
que a Autoridade Bancária Euro-
peia levou a cabo, a CGD não só
foi o banco que teve o melhor de-
sempenho entre os portugueses
como se destacou também pela
positiva entre os principais ban-
cos da União Europeia. O objeti-
vo era avaliar o nível de prepara-
ção do sector financeiro europeu
para enfrentar crises profundas,
e a Caixa teve o terceiro melhor
resultado relativo ao rácio de ca-
pital com que os bancos ficariam
em 2025, no cenário adverso, e
na diferença desse rácio face ao
do fim de 2022.
Jorge Rebelo
de Almeida
Presidente
da Vila Galé
A Vila Galé acaba de inaugurar
dois hotéis em Portugal, no Alen-
tejo, e tem planos para abrir mais
sete, quatro no país, um em Es-
panha e dois em Cuba. São inves-
timentos que acontecem apesar
da conjuntura desfavorável pro-
vocada pela subida dos preços da
construção e pela subida das ta-
xas de juro.
egor.pt
Otimizar
o presente
e explorar
o futuro
E BAIXOS
Ricardo
Salgado
Ex-presidente
do Banco Espírito
Santo (BES)
Mais uma derrota no longo per-
curso que tem sido percorrido
para punir os responsáveis pelo
que se passou no Grupo Espírito
Santo e que há precisamente no-
ve anos levou à resolução do BES:
o juiz de instrução decidiu que Ri-
cardo Salgado vai mesmo a jul-
gamento, “nos exatos termos da
acusação”, pelos 65 crimes que
lhe são imputados. Mas a acom-
panhá-lo estarão mais 16 pessoas
e algumas empresas.
Alejandra
Reyna
Diretora da Iberdrola
Renováveis Portugal
A Iberdrola queria construir uma
central solar em Estoi, no Algarve,
mas o projeto, resultante de um
dos lotes adjudicados no leilão so-
lar feito em 2020, não teve decisão
favorável da Agência Portuguesa
do Ambiente (APA), que conside-
rou que ele “induz impactos nega-
tivos diretos e indiretos, muito sig-
nificativos, irreversíveis, não mi-
nimizáveis nem passíveis de com-
pensação”. O chumbo segue-se a
outro aplicado recentemente pela
APA a um projeto de central solar
da Greenvolt e da Alpac Capital.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
Investigação
Aperta-se o
cerco na Altice
e avançam
suspensões
Apertado por uma dívida de
€60 mil milhões, numa aparição
rara, Drahi vai responder
a perguntas dos investidores
Tocam os alarmes no quartel-general
da Altice em Paris, a inquietação é
grande junto dos quadros de topo da
casa-mãe do grupo cofundado por
Patrick Drahi e o seu sócio Armando
Pereira foi detido em Portugal no dia
13 de julho e retido uma semana para
inquérito judicial, na sequência das
investigações por alegada corrupção,
branqueamento de capitais e fraude
fiscal que envolvem o antigo acionista
Estado Taxas e multas cobradas no primeiro
semestre somam recorde de €2 mil milhões
O Estado aumentou em 11%
a receita da primeira metade
do ano com taxas e multas.
No caso dos automobilistas,
o encaixe subiu 27%
O Estado encaixou no primeiro se-
mestre deste ano uma cifra recorde
na rubrica de taxas, multas e outras
penalidades, cuja receita, no conjunto
das Administrações Públicas, chegou
a €2014 milhões, mais 11% do que em
igual período do ano passado. É um
valor recorde para a primeira metade
do ano, de acordo com o levantamen-
to feito pelo Expresso nas sínteses de
execução orçamental publicadas pela
Direção-Geral do Orçamento (DGO).
A rubrica de taxas, multas e outras
sanções, que a partir do primeiro se-
mestre de 2012 passou os mil milhões
de euros, foi tendo uma evolução as-
cendente ao longo dos anos, alcan-
çando um pico de €1,6 mil milhões na
primeira metade de 2019. Contudo, a
pandemia fez o valor arrecadado pelo
Estado encolher substancialmente:
em 2020 e 2021 o encaixe até junho,
em ambos os anos, rondou os €1,3 mil
milhões. Mas em 2022 a receita até
junho disparou para €1812 milhões.
E agora, em 2023, voltou a crescer.
A síntese de execução orçamen-
tal publicada esta semana pela DGO
destaca a subida das receitas da ad-
ministração local, com ênfase para “o
aumento na cobrança de taxas especí-
ficas das autarquias locais pelo muni-
cípio de Lisboa”, bem como “as taxas
diversas cobradas pelo Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras” associadas
ao aumento da entrada de cidadãos
estrangeiros no pós-pandemia, à con-
cessão de autorizações de residência
e aos vistos gold. Também pesou o
acréscimo da taxa de segurança co-
brada pela Autoridade Nacional de
Aviação Civil (ANAC), além das porta-
gens, juros compensatórios do Fisco e
multas aos automobilistas.
No capítulo da receita do Estado,
os juros de mora e compensatóri-
os arrecadados até junho cresceram
20% face ao ano passado, para €47
milhões. As multas do Código da Es-
trada também somaram €47 milhões,
crescendo 27%. Na Segurança Social,
por exemplo, a receita com taxas,
multas e outras penalidades subiu
14%, para €50,5 milhões.
Globalmente, este tipo de receita é
apenas uma pequena parte de toda a
arrecadação das Administrações Pú-
blicas, que no primeiro semestre as-
cendeu a €53,08 mil milhões, subindo
14,1% em termos homólogos (numa
base ajustada, eliminando os efeitos
ligados à transferência do Fundo de
Pensões da Caixa Geral de Depósitos,
a receita teria crescido 7,7%).
e o empresário a que este tem estado
ligado, Hernâni Vaz Antunes. Têm-se
sucedido suspensões de funções em
cadeia em Portugal, nos EUA e agora
em França.
O influente jornal francês “Le Fi-
garo” chama o assunto à primeira
página na sua edição de quarta-fei-
ra, afirmando que o grupo Altice
enfrenta uma “tempestade”, provo-
cada pelas suspeitas de corrupção
em Portugal, enquanto tem de lidar
com um “muro de dívida” contraída
para construir o império Altice, e
que ascende atualmente a 60,5 mil
milhões de euros. A pressão é grande
com a subida das taxas de juro, e os
credores, que já não tinham gostado
do aumento da participação da Alti-
ce na British Telecom para 25% na
primavera, olham com desconfiança
para o assunto.
Amiga de Armando suspensa
Enquanto faz uma investigação inter-
na às relações com os fornecedores,
as suspensões vão aumentando e já
ultrapassam uma dezena. A Altice
France, noticiou na quarta-feira a
Bloomberg, suspendeu Tatiana Ago-
Até junho, o excedente do Estado bateu em €600 milhões o desempenho de 2022 FOTO GETTY IMAGES
No quadro da receita fiscal, o cres-
cimento foi de 8,4%, para €28,2 mil
milhões. Nos impostos diretos, a co-
brança de IRS subiu quase 15% face
ao primeiro semestre do ano passado,
para €6,42 mil milhões, ao passo que
a receita de IRC avançou 11,4%, para
€3,54 mil milhões. Nos impostos in-
diretos o Estado faturou menos 12%
com o ISP (€1,41 mil milhões arre-
cadados até junho), mas engordou
o encaixe de IVA em 9% (para €11,13
mil milhões). Às contribuições sociais
Na primeira metade do
ano o Estado aumentou
a receita de IRS em quase
15% e a de IRC em cerca
de 11%
o Estado foi buscar €13,4 mil milhões
até junho, mais 11,3% do que no pri-
meiro semestre de 2022.
Uma rubrica de encaixe em que
os cofres públicos se ressentiram foi
a dos rendimentos de propriedade:
a receita afundou 44% face ao ano
passado, para €697 milhões, o que se
explica sobretudo pela descida dos di-
videndos do Banco de Portugal e por
um maior volume de dividendos rece-
bidos da Caixa Geral de Depósitos em
2022, bem como por uma quebra dos
rendimentos do Fundo de Estabiliza-
ção Financeira da Segurança Social.
Expresso, 4 de agosto de 2023
va-Bregou, administradora executiva
responsável pela área dos conteúdos,
vestigar e irá “desmantelá-la”. Com
funções suspensas está também o
aquisições e parcerias. E que nas es-
cutas que o Ministério Público fez
presidente do Conselho de Adminis-
tração da Altice USA e ex-presidente
aparece como tendo uma relação ín- da Altice Portugal, Alexandre Fonse-
tima com Armando Pereira, como já ca, e o diretor de compras nos EUA,
noticiou a “Sábado”. A acusação, re- Yossi Benchetrit, genro de Armando
fere a revista, aponta para a compra Pereira. Em Portugal foi também sus-
de um apartamento em Neuilly-sur- penso o administrador executivo com
-Seine para Tatiana Agova-Bregou,
pago por uma empresa de Hernâni
Antunes. No cargo desde 2019, Ta-
a área do imobiliário, João Zúquete,
e mais três diretores.
Numa raríssima aparição pública,
tiana foi o primeiro quadro da Altice como noticiou o Expresso na sex-
France a ser colocada de licença. ta-feira e o “Financial Times” esta
Desde que Armando Pereira foi de- semana, Patrick Drahi vai estar nos
tido em Portugal, a Altice já suspen- dias 7 e 8 de agosto, na apresentação
deu contratos com cerca de 60 for- dos resultados semestrais da Altice,
necedores e avançou com auditorias a responder às perguntas dos inves-
internas. Os números são referidos tidores internacionais. A pressão é
pelo “Le Figaro”, que trata Armando grande. Drahi tem tentado aparecer
Pereira como o ex-braço direito de à margem dos acontecimentos em
Drahi, explicando que este sempre Portugal, e a grande questão que se
teve como missão dentro do grupo coloca é a de saber até que ponto
tratar das relações com os fornecedo- o patrão da Altice tinha ou não co-
res. E cita o presidente do Conselho nhecimento daquilo que se passa-
de Administração da Altice France, va. As autoridades portuguesas têm
Arthur Dreyfuss, antigo porta-voz salientado os seus assessores, não
do grupo, admitindo que há pessoas ligam para já o seu nome às suspeitas
na equipa da Altice que podem estar de corrupção.
ligadas à alegada teia de corrupção, Anabela Campos
avançando que o grupo está a in- acampos@expresso.impresa.pt
1,41
Globalmente, numa base ajusta-
da (ou seja, expurgando o efeito do
Fundo de Pensões da CGD), as Ad-
ministrações Públicas obtiveram na
primeira metade do ano um saldo or-
çamental positivo de €1810 milhões,
que compara com o superávite de mil milhões de euros foi a receita
€1211 milhões do primeiro semestre de ISP até junho, apresentando
do ano passado. uma redução de 12% face ao
Esta melhoria beneficiou do facto primeiro semestre do ano
de a receita ter crescido mais do que a passado, devido aos descontos
despesa pública efetiva, que avançou que ainda vigoram neste imposto
11,1
6,5% em termos homólogos, para
€48,26 mil milhões: o Estado gastou
mais 7,7% com pessoal, mas conse-
guiu limitar a 1,4% o agravamento do
encargo com juros e também contou
com um corte de 3,8% nos custos com
subsídios. mil milhões de euros foi quanto
No passado fim de semana, o secre- o Estado encaixou em IVA
tário de Estado das Finanças, João na primeira metade do ano,
Nuno Mendes, admitiu, em entrevista ou seja, mais 9% do que em igual
ao “Jornal de Negócios” e Antena período de 2022, de acordo com
1, que o Governo conta conseguir já os dados da síntese de execução
em 2024 que a dívida pública fique orçamental de junho
abaixo de 100% do Produto Interno
Bruto (o Programa de Estabilidade
e Crescimento apenas previa que tal
acontecesse em 2025). No segundo
trimestre deste ano, segundo revelou
terça-feira o Banco de Portugal, a
dívida pública cifrou-se em 111,2% do
PIB, menos 2,7 pontos percentuais do
que no primeiro trimestre e o rácio
mais baixo desde 2011, ano da entrada
da troika em Portugal.
Miguel Prado
mprado@expresso.impresa.pt
Expresso, 4 de agosto de 2023 ECONOMIA 5

ACT Patrões Trabalho, Ana Mendes Godinho. Mas

os advogados ouvidos pelo Expresso
Os advogados confirmam que as em-
presas que representam estão a remeter

chamados a denunciam que os empregadores estão

a ser notificados para “regularizar con-
tratos que estão, na prática, regulares”
à Segurança Social “cópias de contra-
tos” e, em alguns casos, “simplesmente
da informação que já consta da Segu-
“regularizar e sobre os quais a Segurança Social tem
informação atualizada.
rança Social, onde é comprovado o não
fundamento da notificação”, sinaliza
contratos São essencialmente contratos a ter-
mo que há muito se converteram em
Ângela Afonso. Ainda que admitam
que a ação permitirá corrigir a situa-

regulares” efetivos e trabalhadores reformados,

Empresas notificadas para
integrar precários inexistentes.
Governo fala em regularização
voluntária de informação
Mais de 80 mil empresas foram notifica-
das pela Autoridade para as Condições
de Trabalho (ACT), no final do mês de
julho, para proceder à conversão dos
contratos a prazo de 350 mil trabalha-
dores em vínculos permanentes, tendo
até 10 de setembro para o fazer junto
da Segurança Social. Em causa estarão
contratos a termo cujo limite máximo
de renovações previsto na lei foi ex-
cedido, como explicou a ministra do
para os quais não existe limite máximo
de renovação para contratos a termo,
mas que agora são apontados como
estando em situação de precariedade,
denuncia a advogada Ângela Afonso,
associada sénior da área de laboral da
Cuatrecasas. “A ACT está a exigir que
as empresas regularizem quando não
há irregularidade”, diz ao Expresso,
sinalizando que foi esse o caso das várias
notificações recebidas pelas empresas
clientes da sociedade.
E lamenta que a ação desencadeada
“obrigue os empregadores a despender
recursos humanos e financeiros para
se defenderem, num curto espaço de
tempo e em período de férias, de uma
acusação gerada por mero automatis-
mo cego e em muitos casos manifesta-
mente infundada” e que, frisa, ignora a
presunção de inocência.
80 mil empresas foram notificadas para corrigir contratos FOTO GETTY IMAGES
Ainda que reconheça que “a inten-
ção é boa, porque, efetivamente, há um
uso abusivo da contratação a termo em
Portugal”, a advogada lamenta que não
tenha existido um controlo prévio das
notificações enviadas. Pedro da Qui-
téria Faria, sócio da Antas da Cunha
Ecija, confirma: “Às empresas está a ser
pedido que regularizem situações que
não estão irregulares, obrigando-as a
enviar documentação de prova relativa
a milhares de trabalhadores num prazo
de tempo recorde e em período de fé-
rias, num imenso enredo burocrático.
E alerta que, provavelmente, muitas
situações de contratação a termo ilícitas
escaparão à ação de fiscalização, já que
“a ACT está a analisar a duração dos
contratos a termo, não o motivo. A dura-
ção pode ser lícita mas o motivo ilícito”.
ção de muitos trabalhadores precários,
lamentam que o mecanismo utilizado
seja cego e lance a suspeição sobre os
empregadores de forma generalizada.
Questionado pelo Expresso sobre a
ação em curso, o Ministério do Traba-
lho, Solidariedade e Segurança Social
(MTSSS) explica que se trata de um
pedido de regularização voluntária de
informação. “Até 10 de setembro de
2023 estas empresas podem, de for-
ma voluntária, fazer a regularização
das situações identificadas através da
Segurança Social Direta.” Decorrido
este prazo, garante o MTSSS, “a ACT
procederá a nova verificação da regula-
ridade do vínculo e da manutenção do
posto de trabalho, dando início à ação
inspetiva para garantir o cumprimento
da legislação”.
Cátia Mateus
cmateus@expresso.impresa.pt

Descodificador por Miguel Prado

Agosto a começar e o
combustível a queimar
Esta semana, a gasolina atingiu o preço mais alto em oito meses
e meio e o gasóleo está num máximo de quase seis meses.
As cotações, a taxa de carbono e o câmbio ajudam a explicar a subida

1 subiram
Quanto
os
combustíveis?
Esta semana, segundo os dados da
Direção-Geral de Energia e Geologia
(DGEG), o preço médio da gasolina
95 simples a nível nacional está
em €1,809 por litro, enquanto o do
gasóleo simples é de €1,626 por litro.
Correspondem a aumentos de 8,6 e de
8,8 cêntimos por litro, respetivamente,
face aos preços médios que se
verificavam na sexta-feira da semana
passada. Mas em comparação com
os valores dos combustíveis de há
um mês, os preços atuais configuram
agravamentos de 13,6 cêntimos por
litro no gasóleo e de 14,5 cêntimos
na gasolina. O gasóleo está com o
preço mais alto em quase seis meses,
enquanto a gasolina alcançou um
máximo de oito meses e meio, de
FOTO NUNO FOX

acordo com o histórico de preços

médios dos combustíveis publicado
pela DGEG no seu portal na internet
dedicado a acompanhar a evolução
deste mercado.

2 Porque subiram
os preços 3 Como
comparamos 4 Onasquepróximas
esperar

desta forma? com a Europa? semanas?

O agravamento de quase 9 cêntimos
por litro tanto na gasolina como no
gasóleo tem três explicações. Por um
lado, o Governo está a descongelar a
atualização da taxa de carbono, tendo
introduzido no passado fim de semana
um agravamento, a vigorar no mês
de agosto, de perto de 2 cêntimos
por litro. O resto do aumento sentido
pelos portugueses desde segunda-
feira tem que ver sobretudo com a
subida das cotações do petróleo e dos
refinados (gasolina e gasóleo). E um
terceiro fator foi a desvalorização da
semana passada do euro, encarecendo
os refinados face às suas cotações
internacionais em dólares. O principal
fator, a subida das cotações, está
associado principalmente aos cortes
de produção que vêm sendo decididos
pela OPEP — Organização dos Países
Exportadores de Petróleo, num quadro
em que a procura global deste produto
continua a subir.
Até 24 de julho o “Weekly Oil Bulletin”
da Comissão Europeia (que ainda não
havia sido atualizado até ao fecho
desta edição) colocava Portugal
como o nono mercado mais caro da
União Europeia na gasolina e o 11º no
gasóleo. Mas em ambos os casos o
preço médio em Portugal (já incluindo
impostos) estava abaixo da média
europeia: até à semana passada os
portugueses pagavam menos três
cêntimos por litro na gasolina e menos
seis cêntimos no gasóleo. Contudo,
estávamos também a pagar mais
13,4 cêntimos que os consumidores
espanhóis no caso da gasolina e 7,4
cêntimos no gasóleo, de acordo com
os dados publicados pela Comissão
Europeia. A gasolina mais cara da
Europa está nos Países Baixos, com
€1,998 por litro, enquanto o gasóleo
mais dispendioso é vendido na Suécia,
a €1,938 por litro, segundo a mesma
fonte.
A evolução do preço final dos
combustíveis é muito volátil.
Depois da subida da semana passada,
a cotação do Brent, o petróleo
de referência no mercado europeu,
voltou a subir no início desta semana,
o que poderá contribuir para novos
agravamentos nos próximos dias
(impossíveis de estimar até ao fecho
desta edição). Na segunda-feira
o crude alcançou um máximo desde
13 de abril, passando os 85 dólares
por barril. Com a Agência
Internacional de Energia a perspetivar
que este ano a procura global de
petróleo atinja um novo recorde de
102,2 milhões de barris por dia,
os maiores produtores mundiais
de petróleo têm estado a limitar a sua
produção, de forma a evitar quedas
na cotação e nas suas receitas, uma
estratégia que continua a pressionar
o valor a que o crude tem sido
transacionado.
6 ECONOMIA Expresso, 4 de agosto de 2023

BANCA

“Confusion
de Confusiones”
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt

Confissão

O
banqueiro oscilava entre
a sensação de culpa e a
de inocência. Mas, deter-
minado, avançou para o
Parque do Perdão em busca de
consolo. Procurou um confessi-
onário disponível na descrição
da imensidão dos pequenos ca-
sulos, sentou-se, e começou a
desabafar.
— Padre, eu pecador me con-
fesso...
— Então, meu filho? Que se
passa?
— Sou banqueiro...
— Isso não é pecado.
— Mas “vivo” dos juros, coisa
que a Igreja já considerou pe-
caminosa na Idade Média... E
no primeiro semestre de 2023
tivemos lucros invulgares...
— “Invulgares” ou “excessi-
vos”, meu filho?
— Bem, invulgares... Sabe, pa-
dre, de 2011 a 2017, durante sete
anos seguidos, qual praga do Egi-
to, a banca somou prejuízos ano,
após ano, após ano, acumulando
€13.715 milhões de perdas. Teve
de recorrer a muitas ajudas dos
contribuintes para sobreviver.
Depois disso lá foi pagando al-
guns dos empréstimos, limpan-
do os balanços, e agora, apesar
de acumular sucessivos ganhos
desde 2018, mesmo tomando

O banqueiro oscilava
entre a sensação de culpa
e a de inocência. Confessou-
-se, mas não garantiu
que não voltaria a pecar

em consideração estes lucros de

2023, ainda está em perda, pois
só recuperou €10.340 milhões!
— Mas não estás a querer recu-
perar depressa demais à custa de
quem não pode? Imparidades Bancos multiplicam montantes cros, mas este ano voltou a pressionar:

destinados a cobrir incumprimentos

— Padre, é certo que ainda há €106,5 milhões de lado, resultando
mantemos as taxas e comissões de novas imparidades e das recupera- IMPARIDADES PARA CRÉDITO
ao nível dos anos em que as ta- ções de crédito. O banco explica, no

Há €370
xas de juro eram negativas e que comunicado de apresentação de resul-
atualizámos as taxas de juro que tados, que “o reforço da imparidade
cobramos à medida que o BCE de crédito reflete [uma] abordagem CGD
nos pedia e forçava, embora fos- preventiva” para “fazer face à incer- Rubrica deu impulso positivo de €150
semos muito lentos a atualizar teza que marca a economia em 2023”. milhões no primeiro semestre de
as taxas de juro dos depósitos “O complexo contexto económico, 2022, agora pesou €106,5 milhões.

milhões
que recebemos. Mas para que de inflação persistente e de taxas de
é que queríamos mais liquidez? juro estruturalmente mais elevadas, BCP
Dinheiro tínhamos nós a mais! assim como de subida moderada do Foi o único a baixar as novas
Desde 2008 até 2018, em média, desemprego, requereu a continua- imparidades para crédito, passando
a nossa liquidez andava entre os ção de uma política conservadora de de €189 milhões para €145 milhões.

para cobrir
2% e os 3% do ativo, com máxi- monitorização dos riscos de crédito,
mos de 5%. De repente, come- materializada no montante de -€35,0 Santander
çámos a receber depósitos sem milhões da imparidade líquida de ati- O Santander pôs €35 milhões de lado
lhes conseguirmos dar aplica- vos financeiros ao custo amortizado”, na rubrica que no semestre homólogo
ção, porque até a dívida pública é o que explica, por seu lado, o Santan- até gerou €1,2 milhões.
rendia taxas negativas! E chegá- der em Portugal. São €35 milhões ne-

créditos
mos aos 14% de liquidez no total gativos que comparam com o impulso Novo Banco
dos ativos da banca em 2022! positivo de €1 milhão no semestre De €19,3 milhões para €47,9 milhões:
Remunerar depósitos seria como homólogo. foi assim que evoluiu a rubrica no
pedir ao dono de um deserto que No Novo Banco, a imparidade para banco presidido por Mark Bourke.
comprasse areia! E, além disso, crédito mais do que duplicou e no BPI
como gestor, tenho obrigação também cresceu. O BCP, que já tem BPI
de remunerar os proprietários um nível de provisionamento superior Gestão de Oliveira e Costa optou
do capital. E olhe que o Estado é aos restantes bancos, registou uma por constituir €37 milhões em
o maior deles! Entre a CGD e os variação oposta, com uma redução imparidades para crédito, mais
25% que ainda tem no Novo Ban- das imparidades para crédito: ainda do que os €26 milhões homólogos.
co, é o maior proprietário em assim, totalizam as mais fortes: €145,5
banca em Portugal. E o IRC que milhões. A redução deveu-se também
vai cobrar sobre estes lucros? A rubrica de imparidades para cré- porque houve recuperação de exposi- de crédito estejam já todas revistas
Textos Diogo Cavaleiro

— Mas não sentes nenhum ar-
rependimento meu filho?
— Bem, em boa verdade, o 2º
semestre não será como o pri-
meiro. As remunerações dos de-
pósitos estão a subir, e há cada
vez menos pessoas a pedir di-
nheiro à banca para comprar
casa ou empresas para investi-
mento... E o BCE não nos vai
remunerar os depósitos obriga-
tórios que lá temos...
— Vai meu filho, mas não voltes
a pecar.
— Não consigo!
A
dito — o montante que fica congela-
do para cobrir eventuais créditos em
Banca portuguesa incumprimento — totalizava €371,9
quintuplicou o di- milhões no fim do primeiro semes-
nheiro que tem de tre deste ano no conjunto dos cinco
lado para cobrir maiores bancos portugueses (CGD,
eventuais riscos com BCP, Santander, Novo Banco e BPI).
créditos nos próxi- No mesmo período do ano passado, as
mos tempos. Apesar imparidades para crédito das mesmas
de não anteciparem instituições bancárias consumiam
uma grande quanti- €73,5 milhões.
dade de incumprimentos, os banquei- A Caixa Geral de Depósitos (CGD) é
ros estão a ser mais conservadores do um dos que mais pesa nesta tendência:
que até aqui, à luz da subida dos juros e no ano passado, a rubrica até deu um
do seu reflexo nos empréstimos. contributo positivo, ajudando aos lu-
ções não produtivas “relevantes”.
Tendo em conta a subida generali-
zada das imparidades, houve um agra-
vamento do custo do risco de crédito
(que mede o peso das imparidades no
total da carteira de crédito). No caso
da CGD, o custo do risco de crédito no
fim de junho (0,4%) era o mais elevado
dos últimos anos.
Incumprimentos sem disparar
Apesar deste posicionamento, não há
até aqui grandes sinais de alarme, ain-
da que só no próximo ano as carteiras
em alta, com as prestações atualiza-
das aos indexantes de mercado. Para
já, o peso dos ativos não produtivos
na carteira destes bancos (conhecido
por NPE, na sigla inglesa), em que se
incluem os créditos malparados, estão
ainda contidos e até se reduziram em
alguns dos casos (mas também num
enquadramento em que a própria car-
teira de crédito emagreceu).
“Até ao final do primeiro semestre,
essa alteração de contexto, contudo,
não teve ainda reflexos sobre a qua-
lidade da carteira de crédito, com o
rácio de NPE a situar-se em 2,1% (uma
Expresso, 4 de agosto de 2023
redução homóloga de 0,1 pp)”, exem-
plifica o Santander.
Na semana passada, Miguel Maya,
do BCP, já assumiu que acredita que
haverá dificuldades em créditos, tendo
em conta o novo panorama nos juros,
mas não transversais: “Olhando para o
todo, não há problema. Olhando para
casos concretos, a nossa obrigação é
no segmento de famílias, como em-
presas, procurar encontrar soluções,
fazer com que grande parte dessas
situações possam ser ultrapassadas.
É uma ficção pensar que ninguém fica
para trás, há sempre uma ou outra
situação.”
O problema virá “se as taxas conti-
nuarem a subir e se se mantiverem de
forma prolongada”, disse o presidente
da CGD, Paulo Macedo, porque “ha-
verá agravamento das situações até
agora acomodadas”. O Banco Central
Europeu (BCE) colocou a taxa de juro
diretora em 4,25% este mês, e mesmo
que haja uma pausa na subida poderá
não ser definitiva; há um ano estava
em zero.
Os bancos dizem-se prontos a rene-
gociar com os clientes e, como calcu-
lou a agência Lusa com base nos dados
transmitidos pelas entidades, já houve
renegociação de mais de 62 mil crédi-
tos para melhoria das suas condições.
Este aumento nas imparidades para
crédito não impediu que este fosse um
semestre de lucros há muito não vistos
na banca, graças sobretudo à subida
dos juros: no primeiro semestre deste
ano, os bancos conseguiram tanto
em margem financeira (diferença de
juros cobrados nos créditos e pagos
nos depósitos) como em todas as ru-
bricas de receitas no mesmo período
de 2022. O lucro dos cinco grandes da
banca portuguesa chegou aos €1999
milhões, 58% acima de um ano antes
e mais do dobro do que no primeiro
semestre de 2021.
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
Novo Banco paga em impostos
o equivalente a 3% dos lucros
Banco pagou €35,5
milhões em impostos com
lucros de €1118,5 milhões
desde 2021. Proporção é
bem maior nos restantes
A fatura que o Novo Banco
teve com impostos nos últimos
dois anos e meio correspon-
de a apenas 3% dos lucros que
apresentou nesse período. Em
números mais concretos, dos
€1118,5 milhões em lucros que
registou desde o arranque de
2021 foram pagos em impostos
€35,5 milhões, incluindo não
só o IRC como a Contribuição
sobre o Sector Bancário.
Uma diferença muito subs-
tancial face ao custo dos con-
correntes, em que a fatia que
seguiu para a esfera do Estado
por via de impostos se situou
entre 30% e 50% dos resulta-
dos. Os números foram calcula-
dos pelo Expresso a partir das
apresentações de resultados do
banco do primeiro semestre e
dos anos anteriores.
Olhando especificamente
para os primeiros seis meses
deste ano, o Novo Banco pa-
gou €1,6 milhões em impos-
tos sobre lucros (€700 mil até
março, €800 mil no segundo
trimestre), sendo que suportou
ainda no primeiro trimestre
€34,1 milhões da Contribui-
ção sobre o Sector Bancário.
Ao todo foram €35,8 milhões
num semestre em que o lucro
atingiu €373,2 milhões; a fatu-
ra fiscal no semestre equivale,
portanto, a quase 10%.
Em comparação, nos res-
tantes grandes bancos (e cen-
trando apenas na atividade em
Portugal), os impostos corres-
ponderam a percentagens mais
elevadas dos lucros obtidos nos
primeiros seis meses deste ano:
Miguel Maya
(BCP), Paulo
Macedo (CGD),
Ação de €750
milhões do GES
Pedro Castro
e Almeida
(Santander),
João Oliveira
e Costa (BPI)
e Mark Bourke
(Novo Banco) prestes a cair
Pharol acredita que
há apatia por parte
da Espírito Santo
International. Queda
do BES foi há nove anos
O Banco Espírito Santo (BES)
caiu há nove anos (3 de agosto
de 2014), depois da derroca-
da do Grupo Espírito Santo
(GES), e a luta pelos despojos
deste universo ainda se faz,
com destaque para três fren-
tes: Portugal, Luxemburgo e
Suíça. As liquidações têm de-
morado, têm sido alvo de críti-
cas, há guerras entre elas, e as
reclamações de crédito são em
muito superiores ao dinheiro
que há para pagar.
Mas há uma empresa portu-
guesa que vê agora um aspeto
positivo no impasse. Trata-se
da Pharol, a antiga Portugal
Telecom, que é uma das prin-
cipais entidades com prejuízos
empatados pela queda do GES.
A PT tinha €897 milhões em-
prestados à Rioforte (uma das
empresas de topo do universo
liderado por Ricardo Salgado)
e está a reclamá-los no Luxem-
burgo, onde aquela holding ti-
nha sede e está em liquidação.
A Pharol — entidade que restou
da PT — reclama esse valor à
CGD, 49%; BCP, 39%; Santan-
der, 50%; e BPI, 45%. Percen-
tagens que não mudam muito
analisando 2021 e 2022.
No conjunto de 2021 e de
2022, o que o Novo Banco pa-
gou na Contribuição sobre o
Sector Bancário foi na prática
compensado pelo facto de o
saldo em sede de IRC ter-se re-
velado num desconto da fatura
fiscal. É daí que, ao somar os
dois anos e meio, se chega ao
lucro de €1118,5 milhões com
impostos de €35,5 milhões.
Uma proporção de 3% no caso
da instituição que tem a Lone
Star como principal acionista.
Impostos diferidos explicam
Ao Expresso, o banco presidido
por Mark Bourke responde que
“paga todos os impostos devi-
dos, incluindo as contribuições
para os fundos de resolução
[nacional e único]”. “O montan-
te calculado em cada ano tem
em consideração a posição de
DTA”, sublinha a instituição.
DTA são, na sigla inglesa,
ativos por impostos diferidos.
Os prejuízos passados (e hou-
ve perdas volumosas desde a
constituição, há exatos nove
anos, até 2021) permitiram ao
Ativos por impostos
diferidos são os
responsáveis por que
o Novo Banco esteja
a conseguir relevantes
descontos na fatura
fiscal
massa liquidatária da Rioforte,
mas só espera já receber 5,79%
do investimento, ou seja, €51,9
milhões. Ainda não há qualquer
lista de reconhecimento de cré-
ditos da Rioforte, e os processos
judiciais têm sido “marcados
nos últimos anos por penosa
lentidão”, como indica a em-
presa portuguesa no relatório
e contas do primeiro semestre.
Só que do Luxemburgo veio
há anos, em 2017, uma surpresa
para a Pharol: outra empre-
sa de topo do GES, a Espíri-
to Santo International (ESI),
ali em insolvência, anunciara
um processo de €750 milhões
contra a antiga PT. Conside-
rava a ESI que a Pharol — que
ali investira antes de aplicar
em papel comercial da Riofor-
te — tinha recuperado €750
milhões no início de 2014 de
forma irregular: “O pagamento
Suíço Banque
Privée espera
este ano novidades
das liquidações
de entidades do GES
no Luxemburgo
NÚMERO
1,6
milhões de euros foi o custo
com impostos sobre lucros
que o Novo Banco registou até
junho, mais €34,2 milhões da
contribuição sobre a banca
banco ir contabilizando ativos
que podem ser abatidos nos
impostos a pagar (ativos por
impostos diferidos), e é isso que
tem vindo a acontecer, porque
estes reduzem os resultados
tributáveis futuros.
Aliás, foi por conta destes ati-
vos, e do regime especial que
flexibilizava a sua contabiliza-
ção, que o Estado acabou por
assumir uma posição acionista
direta (através da Direção-Ge-
ral do Tesouro e Finanças) no
Novo Banco, hoje em dia de
11,96%, mas que ainda poderá
subir a 15%, deixando o Fundo
de Resolução apenas com 10%.
Na prática, estes são descon-
tos nos encargos perante o Fis-
co para o banco, que acumula
capitalizações superiores a €8
mil milhões desde a sua consti-
tuição, em 2014, protagoniza-
dos pelo Fundo de Resolução,
veículo que integra o perímetro
orçamental. Ainda há um valor
adicional de €485 milhões que
podem ser solicitados a este
veículo, já que há processos nos
tribunais judiciais e arbitrais
a decorrer e que, no caso de
vitória do banco sobre o Fun-
foi anormal, porque a ESI não
tinha os necessários fundos,
a Pharol estava consciente do
estado de insolvência da ESI,
e o pagamento fez parte de um
esquema fraudulento.”
Ora, o processo avançou,
mas os advogados da Pharol
no grão-ducado (a sociedade
Schiltz & Schiltz) consideram
que o desfecho será a “total
improcedência”. Mas não só,
e daí a boa notícia na ótica da
empresa presidida por Luís
Palha da Silva: “Este proces-
so, segundo a mesma Schiltz &
Schiltz, encontra-se numa fase
embrionária e poderá nem se-
quer chegar a julgamento por
falta de impulso processual
pela ESI-Sociedade em Liqui-
dação.” Ou seja, há crença de
que pode cair antes de avançar.
Não foi possível até ao fecho
desta edição obter uma respos-
ta das comissões liquidatárias
da ESI e da Rioforte sobre o
andamento desse processo ju-
dicial nem das liquidações. A
Pharol também não quis fazer
considerações adicionais.
Dificuldades e bloqueios
Sem esse dinheiro, as comis-
sões liquidatárias daquelas
duas sociedades continuam a
tentar recuperar ativos para
limitar as perdas de quem in-
vestiu no GES. Por exemplo, a
ESI conta com €172 milhões no
banco, quando as reclamações
ali registadas ascendem a 8 mil
milhões — e isto sem contar
com valores contestados pelo
Banque Privée Espírito Santo
na Suíça. O processo contra a
Pharol iria engordar os bens
depositados, mas, acredita esta
ECONOMIA 7
do, terão de ser pagos à luz do
chamado mecanismo de capita-
lização contingente.
Com esta fatura fiscal, o Novo
Banco consegue apresentar
lucros mais fortes e, daí, tem
vindo igualmente a reforçar os
seus rácios de solidez, ou seja, o
peso dos melhores fundos pró-
prios face ao risco do negócio.
O rácio mais exigente, conhe-
cido por CET 1, por se designar
em inglês Common Equity Tier
1, fixou-se em 15,1%, mais dois
pontos percentuais do que no
fim do ano passado. O banco
acredita que este ano ainda vai
reforçar-se mais este rácio.
Aliás, esta geração de novo
capital pelo Novo Banco des-
de o início do ano é uma das
razões por si avançadas para
desdramatizar o facto de ter
sido o banco português que
apresentou o pior desempe-
nho nos testes de stresse que
foram realizados pela Autori-
dade Bancária Europeia e pelo
Banco Central Europeu: era
a entidade nacional que mais
rácio de capital perderia num
cenário de grandes dificulda-
des económicas, e este iria cair
abaixo dos 8%. “O Novo Ban-
co não espera que o resultado
deste teste de stresse tenha um
impacto negativo nos seus re-
quisitos de capital”, defendeu
o banco em comunicado à Co-
missão do Mercado de Valores
Mobiliários (CMVM), ou seja,
não acredita que lhe sejam im-
postas exigências adicionais
pelo supervisor bancário por
conta deste desempenho.
Um aviso ao mercado quando
o banco anda a testá-lo para,
em 2024, os acionistas pode-
rem vir a pôr parte do capital
em Bolsa, como assumiu Mark
Bourke ao “Eco”.
empresa portuguesa, tal já não
deverá ocorrer.
Entre as liquidações da Suíça
e do Luxemburgo não está tudo
a correr bem, com reclamações
não aceites, processos e acor-
dos entre as partes. O Banque
Privée, em liquidação, queixa-
-se de ainda não haver decisão
por parte dos responsáveis por
acompanharem o fim de vida
da ESI e da Rioforte, mas tam-
bém das antigas Espírito San-
to Financial Group e Esfil. No
caso do suíço Banque Privée,
em que já está a haver paga-
mentos a credores, espera-se
que as relações entre entidades
do antigo GES fiquem resolvi-
das este ano.
A justiça também ali faz blo-
queios, e não só em Portugal. A
Rioforte tem €177 milhões no
banco, dos quais €29 milhões
arrestados no Luxemburgo,
€42 milhões congelados pelos
tribunais portugueses e ainda
quase €1 milhão na Suíça. No
caso português, a Justiça tem
obrigado a que o dinheiro con-
seguido com a venda de ativos
fique entregue à guarda dos
tribunais nacionais para poder
vir a ser utilizado em ressarci-
mento a lesados.
Em Portugal, o BES continua
em liquidação, com o Fundo
de Resolução já com o crédi-
to privilegiado reconhecido
pelos tribunais portugueses,
o que deixa margem nula aos
restantes credores (só os credo-
res seniores têm esperança de
poderem ser ressarcidos pelo
Fundo até 31,7% do investimen-
to protegidos pela lei, que diz
que não podem perder numa
resolução mais do que numa
liquidação).
8 ECONOMIA Expresso, 4 de agosto de 2023

EMPREENDED ORISMO

Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt

Da Expo’98
à JMJ

H
á uma crónica do saudoso
Vasco Pulido Valente (VPV)
que me vem à memória
sempre que oiço Carlos
Moedas garantir que teremos uma
outra Lisboa depois da Jornada
Mundial da Juventude (JMJ). Com
a sua genial verrina, VPV antecipa-
va um terrível desastre para a inter-
venção na zona oriental de Lisboa
promovida pela Expo’98. Via uma
cidade deserta, casas sem ninguém,
escritórios sem empresas, ruas fus-
tigadas pelo vento sem vivalma nos
passeios, sem carros a circular, um
cenário fantasmagórico e alucinan-
te. Uma utopia transformada numa
distopia às portas da capital.
As coisas não foram como VPV
as previu, confirmando que mes-
mo os grandes talentos por vezes
também erram. Não foi o único,
é necessário dizê-lo. É provável
que a maioria, onde eu próprio me
incluía, fosse a dos que duvidavam 26 jovens aprenderam a resolver problemas e a criar o seu negócio na Innovation Summer School FOTO NUNO BOTELHO
do sucesso de um projeto que na

Um programa de verão que deixa

altura parecia megalómano. Não
era. A Expo deu origem a uma
nova centralidade, transformando
uma zona degradada, uma enorme

nos jovens o ‘bichinho do unicórnio’

lixeira, numa moderna e atraente
malha urbana, procurada por uma
nova classe média que emergiu
durante o chamado cavaquismo.
O rigor de Cardoso e Cunha e a
inesgotável criatividade de Mega
Ferreira fizeram um verdadeiro
milagre. Sim, eles mudaram a ci-
dade. Uma parte dela, é certo, mas
uma parte importante.
Portugal é um dos países
da Europa com maior taxa
de desemprego nos jovens
até aos 25 anos. Dos que
trabalham, 57% estão em
empregos temporários
No curso de verão da ‘fábrica de unicórnios’, 26 jovens respiraram empreendedorismo
Rita Robalo Rosa
Os grupos estavam feitos, as
ideias pairavam no ar. Numa
sala colorida, jovens entre os
13 e os 18 anos preparavam-se
para a derradeira prova final:
o pitch — a apresentação que
iriam fazer ao júri das ideias
que tiveram durante o progra-
de Carvalho), “por ser do SAS Aliás, todos já pensaram
[Serviços de Ação Social] e ter minimamente no futuro,
boas notas” e admite que, se mesmo que não saibam ain-
não fosse esta oportunidade, da muito bem o que querem,
provavelmente não teria ca- como Vika, que sente que este
pacidades financeiras para programa a direcionou para
fazer parte do curso. a carreira em gestão ou em
Vika, diminutivo de Vikto- marketing.
riia, é ucraniana e chegou a
Portugal em 2018, devido à O espírito empreendedor
degradação económica do seu que falta em Portugal
FOTO NUNO BOTELHO

Pode dizer-se que 25 anos depois
a JMJ concluiu a recuperação de
uma parte da zona oriental, nas
duas margens do Trancão, que a
Expo’98 deixou por fazer. Mas, no
plano físico, são realidades total-
mente distintas. Não são compa-
ráveis, nem o devem ser. A enorme
capacidade transformadora da
JMJ, de que fala Carlos Moedas,
é espiritual. Reside na energia de
uma juventude vibrante. Na fé ecu-
ménica que a mobiliza. Na esperan-
ça que transmite à sociedade e ao
futuro. Na reconciliação da Igreja
com ela própria. Será Lisboa capaz
de reter nem que seja uma pequena
parte desta força espiritual para
fazer da capital uma cidade melhor,
a começar pelos jovens?
Um estudo divulgado esta sema-
na pela Pordata, da Fundação Fran-
cisco Manuel dos Santos, mostra a
dimensão do desafio. Portugal é um
dos países da Europa com maior
taxa de desemprego nos jovens até
aos 25 anos. Dos que trabalham,
57% estão em empregos temporá-
rios. Aumentou o número de jovens
que vive em casa dos pais. Eram
86% em 2004, são 95% agora. Um
em cada quatro está em situação de
pobreza ou exclusão social. Estão
mais bem preparados, é certo, mas
com dificuldade de encontrar em-
pregos correspondentes. Portugal
está a desperdiçar uma parte da
energia dos seus jovens, que pro-
curam no estrangeiro a qualidade
de vida que não têm cá.
Nenhum novo parque poderá dis-
farçar que Lisboa não é uma cidade
para jovens, expulsos para a peri-
feria pelos preços exorbitantes da
habitação. Que há uma cidade para
os ricos e outra para os restantes.
Na próxima segunda-feira, quan-
do a JMJ acabar, não há milagre
que altere esta realidade. A cidade
acordará como antes. A outra, com
que sonha Carlos Moedas, veremos.
ma de férias sobre empreen-
dedorismo, onde aprende-
ram as bases para criar uma
empresa e, quiçá, o próximo
unicórnio português.
O programa de verão foi or-
ganizado pela Unicorn Fac-
tory Lisboa e a Startup Lisboa
e decorreu entre 17 e 28 de
julho, com aulas — teóricas,
mas mais práticas — no LACS
e no ISEG (Instituto Superior
de Economia e Gestão da Uni-
versidade de Lisboa). Com o
nome Innovation Summer
School, esta iniciativa tem
também parceria com a em-
presa norte-americana Co-
-Created, que tem um progra-
ma semelhante para jovens
em Nova Iorque e que chegou
este ano a Portugal. Os seus
criadores vieram ajudar os
jovens portugueses (e não só).
Entre o ‘barulho’ silencio-
so de várias cabeças a pensar
estava Pedro, um dos alunos
inscritos no programa. Se a
maioria dos 26 jovens presen-
tes neste curso de verão de
duas semanas se inscreveu
por sugestão dos pais, ou de
outros familiares, a motivação
de Pedro foi outra: “Eu inscre-
vi-me porque tive de fazer um
trabalho sobre isto. A meio do
ano letivo tínhamos de criar
uma startup. Eu gostei e quis
aprender mais sobre o tópico
e quando me apareceu pensei
que mais valia entrar”, con-
tou, ao Expresso, numa das
várias escadas do LACS (espa-
ço de trabalho compartilhado
em Lisboa) onde estava a trei-
nar a sua apresentação final.
Além de Pedro, também
Vika e Beatriz representam
casos particulares neste cur-
so. Beatriz foi selecionada na
sua escola (Maria Amália Vaz
país. Foi selecionada, dentro
dos mesmos moldes, através
da escola ucraniana que fre-
quenta em Portugal graças ao
Projeto Amarelo/Azul.
O grupo de Pedro concebeu
um projeto ligado ao volunta-
riado para a WTF (tarifário
móvel da NOS direcionada
para jovens e uma das parcei-
ras do programa), marca para
a qual todos os grupos cria-
ram algum tipo de conceito,
serviço ou produto.
Mas foi apenas um dos cinco
projetos concebidos durante
estas duas semanas de férias.
Além de voluntariado, os as-
suntos abordados pelos pro-
jetos dos jovens focavam-se na
acessibilidade à internet em
locais públicos, saúde mental,
cibersegurança e ainda sus-
tentabilidade.
E todas as apresentações ti-
nham a estrutura em comum:
uma ideia, uma história, a im-
portância e os números (esta-
tísticas relevantes, bem como
previsões de retorno com o
projeto). Talvez porque estes
tópicos são importantes ao
fazer-se a apresentação de um
negócio a potenciais investi-
dores. Mas não só.
Na última aula do curso —
que se focou no treino das
apresentações, em melhorá-
-las e na arte de saber fazer
um pitch —, um dos instru-
tores deixou conselhos que
estes jovens levam consigo
para a vida, seja ao criarem
um negócio no futuro, seja
para motivos pessoais. Então,
o que está por trás de um pi-
tch que nem sempre vemos?
apoio dos familiares e ami-
gos, confiança e postura, e até
mesmo a estratégia populari-
zada pela frase inglesa “fake it
Grupo que apresentou o projeto sobre cibersegurança
com o seu mentor e um dos fundadores do programa
untill you make it” (“finge até Recolha de informação, pes-
conseguires”). Mas saber fa- quisa, estatística, vender uma
zer um pitch não é tudo o que ideia e venderem-se a si mes-
os jovens empreendedores mos enquanto profissionais
levam destas duas semanas. foram outras das questões
mencionadas pelos jovens. E,
A capacidade no geral, enalteceram a dife-
de resolver problemas rença em comparação com o
ensino tradicional. No grupo
Se tivéssemos de resumir o que criou um serviço ligado
que todos os jovens retiraram à sustentabilidade, os alunos
deste curso, podíamos fazê-lo que estudam em Portugal
em três palavras: lidar com focaram a prática exercida
problemas. neste curso, e Tiago, um dos
“A coisa que mais me im- jovens do grupo, caracterizou
pressionou foi a gestão dos este método como um “am-
problemas. Tivemos de perce- biente de trabalho diferente
ber quais eram, dividi-los em [da escola tradicional], mais
partes pequenas e criar várias livre”.
soluções para chegarmos de- No grupo com um produto
pois à nossa ideia final”, disse relacionado com a cibersegu-
Adriana, com todo o seu gru- rança já se pensa no futuro.
po em concordância. Salomé disse que aprendeu
“novas formas de pensar” que
vão além do nível profissional
mas que podem ser também
“Em Portugal, aplicadas à vida pessoal — e
a cultura não é tão tenciona fazê-lo.
direcionada para o Já Manuel contou que des-
empreendedorismo cobriram “várias experiências
como nos EUA”, disse de startups de pessoas dife-
rentes”. “Ouvimos os seus ca-
Gil Azevedo, CEO minhos, os obstáculos e tam-
da Startup Lisboa bém todas as ajudas que nos
pudessem dar no futuro, caso
queiramos fazer o mesmo” —
e esse é mesmo um dos seus
objetivos. Mas não é o único:
foram vários os jovens que
referiram ter curiosidade em
criar o seu próprio negócio.
Uma das motivações para a
Startup Lisboa trazer este
programa para Portugal foi,
segundo o diretor executivo
Gil Azevedo, “criar o mindset”
de empreendedorismo nos jo-
vens portugueses e “dar-lhes
uma experiência imersiva de
empreendedorismo que pos-
sam levar para o futuro, seja
para construir um negócio ou
na sua futura carreira”.
“Acho que as escolas, e en-
tidades como nós, têm um
importante papel para criar
este mindset [de espírito
empreendedor]” disse, em
conversa com o Expresso.
Isto porque, “em Portugal, a
cultura não é tão direcionada
para o empreendedorismo”
como por exemplo nos Esta-
dos Unidos, de onde é oriun-
do o programa.
Apesar de, na ótica do res-
ponsável da Startup Lisboa,
não haver essa cultura em
Portugal, os instrutores do
programa mostraram-se “im-
pressionados” com a capaci-
dade dos jovens e com a sua
curiosidade de ir mais além
do que lhes era pedido.
E, de forma geral, o “pro-
grama excedeu as expectati-
vas” da organização. Gil Aze-
vedo contou que “esperava
ter dificuldade em preencher
todos os lugares, mas foi exa-
tamente o oposto”, e “num
curto período de tempo o
número de candidaturas já
era mais do dobro das vagas”.
Por esse motivo, acredita que
há espaço para novas edições
do curso e até está a pensar
levar um programa seme-
lhante para as universidades
portuguesas.
rrrosa@expresso.impresa.pt
Expresso, 4 de agosto de 2023
MACROECONOMIA
Crescimento do PIB em 2023 sob pressão
Segundo trimestre ficou abaixo do esperado e dados apontam para um arrefecimento da atividade em julho
Sónia M. Lourenço
Depois de sucessivas melhorias
das projeções de crescimento
em 2023, a economia portugue-
sa arrisca agora um movimento
contrário, de revisão em bai-
xa. O segundo trimestre ficou
aquém do esperado pela maio-
ria dos economistas — muito
por causa das exportações, num
contexto de estagnação econó-
mica da União Europeia (UE),
com os juros em forte alta devi-
do à política do Banco Central
Europeu (BCE) para contrariar
a inflação. E os primeiros dados
sobre o terceiro trimestre apon-
tam para um arrefecimento adi-
cional da atividade. Conseguir
crescer acima dos 2,5% este ano
ficou mais difícil e mais longe.
Os economistas ouvidos pelo
Expresso sobre o comporta-
mento da economia portu-
O indicador diário de
atividade económica
do BdP sugere uma
contração no arranque
do terceiro trimestre
guesa no segundo trimestre
apontavam, em média, para
um crescimento de 2,5% em
termos homólogos (na compa-
ração com o mesmo período de
2022), e de 0,2% em cadeia (em
relação ao trimestre anterior).
Mas, os dados da estimativa
rápida do Instituto Nacional
de Estatística (INE), publica-
dos esta semana, ficaram pe-
los 2,3% homólogos e zero em
cadeia.
Números que colocam o país
entre os que mais cresceram
na UE face a 2022 (conside-
rando os Estados-membros já
com dados disponíveis), em-
bora ficando muito pior clas-
sificado na comparação com o
primeiro trimestre. Mas, que
significam uma forte travagem
da economia portuguesa face
aos primeiros três meses do
ano, quando o crescimento
chegou aos 3,5% homólogos
e aos 1,6% em cadeia (ver grá-
ficos). Ainda assim, uma nota
de análise da Católica-Lisbon
aponta que “não deve ser in-
terpretado como uma paragem
no processo de crescimento em
curso, mas como uma possível
correção do registo surpreen-
dentemente bom do primeiro
trimestre do ano”.
Exportações arrefecem
A explicação para esta trava-
gem está, sobretudo, na frente
externa. Ainda não há deta-
lhes, mas o INE adianta que o
contributo positivo da procura
externa líquida para o cresci-
mento homólogo do Produto
Interno Bruto (PIB) foi inferior,
com um abrandamento das ex-
portações mais marcado que o
das importações. Em sentido
inverso, o contributo positivo
da procura interna aumentou,
graças a uma redução menos
pronunciada do investimen-
to, já que o consumo privado
abrandou. Quanto à variação
em cadeia do PIB, o contributo
da procura externa líquida foi
negativo — tinha sido positi-
vo no primeiros trimestres —,
por causa das exportações. O
que contrariou o aumento do
contributo da procura interna,
refletindo a aceleração do con-
sumo privado.
Este enfraquecimento das ex-
portações “resulta, muito pos-
sivelmente, de uma queda nas
vendas de bens ao exterior”,
aponta uma nota de análise do
BPI, lembrando que a “infor-
mação da balança corrente (va-
lores nominais) indica contra-
ção das exportações de bens,
mas continua a indicar forte
crescimento das exportações
de serviços, nomeadamente
turismo”. Isto quando a eco-
nomia europeia continua em
dificuldades. A UE representa
mais de 70% das exportações
portuguesas de bens e estag-
nou em cadeia no segundo
trimestre. E não se esperam
grandes melhorias para breve,
dada a inflação ainda elevada e
a trajetória de subida dos juros.
ECONOMIA 9
o seu reflexo nas vendas a re-
ECONOMIA COM FORTE ATIVIDADE ECONÓMICA talho. Em sentido contrário, “é
TRAVAGEM NO 2º TRIM. ARREFECE EM JULHO Inflação recua visível um abrandamento no
Taxa de variação real do Produto Interno Taxa de variação homóloga da média
Bruto trimestral, em percentagem móvel semanal do indicador diário de pelo nono turismo”.
A informação disponível
atividade económica, em percentagem
Homóloga
mês seguido sobre o terceiro trimestre é
ainda escassa, destacando-se
15 30
os indicadores de confiança
Depois do pico de 10,1% em apurados pelo INE. E o que
10 20
outubro de 2022, a trajetória nos dizem é que a confiança
da inflação em Portugal tem dos consumidores continua a
5 10
sido sempre a descer. Julho foi recuperar, apoiada no baixo
2,3 o nono mês consecutivo de desemprego, mas a confiança
0 0
0 recuo na variação homóloga dos empresários retrocedeu
do Índice de Preços no ligeiramente. “Os dados são
-5 -10
20 Julho Consumidor, que baixou para consistentes com uma econo-
-3,4 3,1% (3,4% em junho), mia a crescer, mas de forma
-10 -20
segundo a estimativa rápida moderada”, diz Rui Constanti-
Em cadeia do Instituto Nacional de no. João Borges de Assunção,
-15 -30
Estatística. Os preços dos professor da Católica-Lisbon,
produtos energéticos é mais conservador, conside-
-20 -40
continuaram a cair (-15%) e a rando que os dados “têm saído,
1996 00 2005 2010 2015 20 23 2020 2021 2022 2023 subida nos produtos em, geral, bastante fracos”. E
alimentares não destaca que o indicador diário
FONTE: INE FONTE: BANCO DE PORTUGAL transformados voltou a de atividade económica, calcu-
abrandar (6,9%). Também o lado pelo Banco de Portugal,
indicador de inflação “sugere até a possibilidade de
PORTUGAL É O SEGUNDO ... MAS CAI PARA SÉTIMO subjacente (exclui produtos uma contração”.
QUE MAIS CRESCE NA UE NA COMPARAÇÃO COM O alimentares não Para António Ascensão Cos-
EM RELAÇÃO A 2022... PRIMEIRO TRIMESTRE
transformados e energéticos, ta, “na segunda metade do ano,
Variação homóloga do Produto Interno Variação em cadeia do Produto Interno
com preços mais voláteis) o crescimento do PIB terá de
Bruto no segundo trimestre de 2023, em % Bruto no segundo trimestre de 2023, em %
abrandou, para 4,7% (5,3% em ter maior peso da procura in-
junho). Na zona euro, a terna, nomeadamente investi-
Irlanda 2,8 Irlanda 3,3 variação homóloga do Índice mento”. Caso contrário “dificil-
Portugal 2,3 Lituânia 2,8 Harmonizado de Preços no mente atingirá cerca de 2,5%”
Espanha 1,8 França 0,5 Consumidor — a referência no conjunto de 2023, defende.
Bélgica 0,9 Espanha 0,4 na Europa — baixou para E lembra que um crescimento
França 0,9 Zona euro 0,3 5,3% (5,5% em junho), só baseado na procura externa
Lituânia 0,9 Bélgica 0,2 segundo a estimativa rápida líquida, como aconteceu em
Zona euro 0,6 Chéquia 0,1 do Eurostat. E o indicador de Portugal no primeiro trimestre
Itália 0,6 UE 0 inflação subjacente recuou de deste ano, “é um caso invul-
UE 0,5 Alemanha 0 6,8%, para 6,6%. Descida que gar”. Ainda assim, “pode acon-
-0,1 Alemanha Portugal 0 pode ser insuficiente para tecer que as Jornadas Mundiais
-0,3 Áustria -0,3 Itália travar nova subida dos juros da Juventude acabem por ge-
-0,5 Letónia -0,4 Áustria pelo Banco Central Europeu. rar um contributo do mesmo
-0,6 Chéquia -0,6 Letónia Tudo dependerá dos números tipo” no terceiro trimestre.
-2,4 Suécia -1,5 Suécia de agosto. S.M.L. Tudo somado, a Católica-Lis-
FONTE: EUROSTAT bon mantém a sua projeção
de crescimento da economia
“O caso mais problemático é pesa sobre outros países clien- ção, em especial considerando portuguesa este ano nos 2,4%.
a Alemanha”, salienta António tes de Portugal”, vinca o eco- que em 2022 já houve máximos O ISEG não mexe na previsão
Ascensão Costa, professor do nomista. “Dificilmente, se um pós-2019”, aponta, por sua vez, de 2,5%, mas António Ascen-
ISEG. O motor da economia período de estagnação ou fraco Rui Constantino, economista- são Costa aponta “incerteza”.
europeia continua gripado, crescimento se prolongar na -chefe do Santander em Por- Quanto ao Santander, que
com um crescimento zero em Alemanha, ele não se traduzi- tugal. aponta para 2,6%, Rui Constan-
cadeia no segundo trimestre, rá em menor crescimento em tino avisa que os dados sobre
depois de dois trimestres con- Portugal”, alerta. Sinais mistos para o segundo trimestre “teriam
secutivos de contração. “Isto Ao mesmo tempo, “as expor- o segundo semestre como impacto uma revisão li-
é mau para a economia portu- tações turísticas alcançaram geira em baixa”. Mas “iremos
guesa, diretamente através de e superaram o nível de 2019 e Olhando para a segunda me- aguardar pelos detalhes, e por
exportações, e indiretamente agora o seu crescimento come- tade do ano, Rui Constantino informação mais concreta so-
porque o crescimento alemão ça a desacelerar”, aponta Antó- considera que os sinais são bre a atividade no decurso do
nio Ascensão Costa. “Apesar do “mistos”. Pela positiva, destaca terceiro trimestre”, diz.
bom momento das exportações os baixos níveis de desemprego Para o BPI, os números do
de bens e de serviços, começa — a taxa de desemprego man- segundo trimestre “colocam
a observar-se uma desacelera- teve-se inalterada em junho alguma pressão” sobre a pro-
nos 6,4% —, “reflexo de uma jeção de 2,6%, até porque “o
economia a operar no pleno indicador diário de atividade
emprego”, a recuperação da do Banco de Portugal aponta
confiança dos consumidores e para uma desaceleração signi-
ficativa da atividade em julho”,
lê-se numa nota de análise.
Acresce a “expectativa de que
o endurecimento das condi-
ções de financiamento pesa-
rão nas decisões dos agentes
económicos durante o resto do
ano”, aponta a mesma nota,
salientando, pela positiva, que
“o mercado de trabalho con-
tinua robusto, dando algum
suporte ao consumo privado,
e o comportamento da ativida-
de turística”. Recorde-se que
a Comissão Europeia aponta
para 2,4%, a Organização para
a Cooperação e o Desenvolvi-
mento Económico para 2,5%,
o Fundo Monetário Interna-
cional para 2,6% e o Banco de
Portugal para 2,7%.
slourenco@expresso.impresa.pt
10 ECONOMIA
DÍVIDA
Nível de endividamento de Portugal
já é inferior ao de Espanha
A dívida pública subiu em junho para 280,1 mil milhões de euros, avançou esta semana o Banco de Portugal.
Mas no que conta nas comparações na zona euro desceu para 111,2% do PIB no segundo trimestre
Jorge Nascimento
Rodrigues
A dívida pública portuguesa
fechou o primeiro semestre de
2023 em €280,1 mil milhões,
segundo os dados publicados
esta semana pelo Banco de
Portugal, apurados de acordo
com os critérios de Maastricht.
Apesar do aumento do stock
da dívida em €100 mil milhões
em junho, o nível de endivida-
mento desceu para 111,2% do
Produto Interno Bruto (PIB)
no final do segundo trimestre
do ano. Na corrida com Espa-
nha, o rácio de endividamento
é já inferior. Segundo os dados
oficiais mais recentes do nos-
so vizinho, a dívida espanhola
em maio deste ano subiu para
113,3% do PIB.
Depois de terem atingido
no ano passado níveis de en-
dividamento muito próximos
— 113,9% do PIB para Portu-
gal e 113,2% para Espanha —,
as metas políticas para 2023
apresentadas em Bruxelas nos
Programas de Estabilidade
apontam para o fecho do ano
em 107,5% para a dívida portu-
guesa e 111,9% para a espanho-
la. A concretizarem-se estes
Expresso, 4 de agosto de 2023
são os mais baixos do grupo dos
GOVERNOS PS REDUZEM A DÍVIDA
periféricos do euro, que engor- PRÉMIOS DE RISCO JUROS DA DÍVIDA
EM 20 PONTOS DO PIB
dou dos quatro tradicionais do DA DÍVIDA NA ZONA EURO A 10 ANOS
Dívida pública trimestral em % do PIB Spread em pontos-base Yield em %
tempo da troika (Grécia, Itália,
Portugal e Espanha) para os
15 10 que o formam atualmente Países Baixos 35 2 ago. 2023 2,5
Alemanha
(incluindo agora quatro econo- Irlanda 42 Dez. 2023 2,32
10 mias do Leste no euro e mais as França 56 2,85
Países Baixos
ilhas de Chipre e Malta). Finlândia 60 2,76
5 Se a posição portuguesa for Áustria 63 2,92
Irlanda
avaliada em termos de prémio Bélgica 67 2,66
0 de risco, o spread exigido pelos Zona euro 74 3,1
2º trim. Finlândia
investidores é atualmente igual Portugal 74 2,92
111,2 Eslovénia 87 3,1
-5 ao da média da zona euro (74 França
2015 16 2017 2018 2019 2020 2021 2022 23 pontos-base) e inferior ao de Es- Espanha 105 2,95
FONTE: BANCO DE PORTUGAL panha e de mais sete economias Chipre 114 3,13
Áustria
do euro com prémios superiores Eslováquia 118 2,92
objetivos, Portugal deixa de ser os três Governos chefiados por a 100 pontos-base (1 ponto per- Malta 120 3,17
Bélgica
o terceiro mais endividado da António Costa já reduziram o centual de diferença em relação Croácia 129 3,05
zona euro, depois da Grécia e rácio de endividamento em 20 ao custo da dívida alemã). Grécia 130 3,24
Portugal
Itália, e cede o lugar a Espanha. pontos percentuais. Projetando para dezembro Lituânia 150 2,91
Apesar do aumento da dí- deste ano, com base no algorit- Itália 167 3,37
Eslovénia
vida para mais de €280 mil mo do portal financeiro World 2,95
Portugal afasta-se Notas: Estónia, Letónia e Luxemburgo não 3,56
milhões, não se trata de um do clube dos periféricos Government Bonds, os juros têm dívida a 10 anos. O spread é apurado Espanha
máximo histórico na curva do da dívida portuguesa a 10 anos 3,42
pela diferença entre os juros a 10 anos
endividamento português. Em A trajetória descendente no (2,91%) estarão no clube dos 3,8
da dívida alemã que serve de referência e Grécia
junho do ano passado chegou nível de endividamento a par- mais baixos da zona euro, de- os juros respetivos de cada país naquele 3,01
a €280,66 mil milhões. O pico tir de meados de 2021 tem-se pois da Alemanha (2,3%), da prazo. Cada 100 pontos-base equivalem a 4,16
Itália
de endividamento registou-se traduzido numa mudança da Irlanda (2,7%) e dos Países Bai- um spread de 1 ponto percentual. 3,82
no primeiro trimestre de 2021, perceção dos investidores in- xos (2,75%). Áustria, Bélgica, 4,65
Lituânia
com a dívida a atingir 138,2% ternacionais sobre Portugal. Finlândia e França, economias FONTES: BCE; INVESTING.COM (2/08/2023) 3,38
do PIB. O rácio atual de 111,2% No mercado secundário da dí- típicas do ‘centro’ do euro, re- Nota: Projeções do algoritmo
do PIB representa um ‘regres- vida (onde se transacionam os gistarão juros mais altos do que na abertura 2/8/2023
so’ a níveis de endividamento títulos entre os investidores), Portugal (e, por consequência, FONTES: INVESTING.COM (ABERTURA DA SESSÃO
anteriores ao resgate da troika, os juros (yields) das Obrigações spreads mais altos). DE 2/8/23); WORLD GOVERNMENT BONDS
em maio de 2011. Desde 2016, do Tesouro português a 10 anos economia@expresso.impresa.pt (PROJEÇÕES PARA DEZEMBRO DE 2023)
Expresso, 4 de agosto de 2023
VIDEOJO GOS
Sony acusada
de abuso de
concorrência
em Portugal
Associação de defesa do consumidor Ius Omnibus
pede indemnização de €235 milhões
Hugo Séneca
A associação de defesa do con-
sumidor Ius Omnibus iniciou a
meio desta semana um proces-
so contra a Sony no Tribunal
de Santarém com o objetivo de
compensar consumidores por-
tugueses e alterar as práticas
concorrenciais alegadamente
abusivas. No processo, a Ius
Omnibus pede uma indemni-
zação para compensação dos
consumidores portugueses que
ascende a €235 milhões. “O
processo não se esgota no pedi-
do de indemnização. Queremos
também que a Sony corrija o
seu comportamento”, explica
Daniela Antão, secretária-geral
da associação.
Para já, a marca PlayStation,
que pertence ao grupo Sony,
não tece comentários sobre o
processo.
A indemnização foi estimada
tendo por base um período de
comercialização de consolas
que vai da estreia da PlaySta-
tion 4, em 29 de novembro de
2013, a junho de 2023, a fim
de abarcar igualmente as ven-
das da PlayStation 5. O valor
exigido em tribunal resulta da
análise dos dados de vendas
reportados pelo grupo Sony
dentro e fora de Portugal.
Segundo a Ius Omnibus, o
“ecossistema” PlayStation pro-
moveu uma política de coor-
denação de preços, “a nível re-
talhista e a nível grossista”, ao
impor os valores finais que têm
de ser praticados por produtores
e editores junto dos consumido-
res. “Em virtude das práticas
concorrenciais, registou-se um
aumento de preços, num merca-
do em que a Sony é dominante”,
explica Daniela Antão.
Na lista de práticas alegada-
mente abusivas figuram ainda
o impedimento de venda de jo-
gos em segunda mão por parte
dos consumidores e também
taxas aplicadas a conteúdos e
ferramentas complementares
que podem ser usadas dentro
dos videojogos. Uma outra ale-
gação refere que a gigante ja-
ponesa condiciona, através de
contratos, o desenvolvimento
dos jogos.
Esta posição de força é subli-
nhada pela Ius Omnibus ao re-
As consolas de videojogos da Sony motivaram um processo da Ius Omnibus FOTO D.R.
cordar que a Sony pode a qual-
quer momento expulsar uma
produtora de jogos do “ecos-
sistema” PlayStation e limitar
a venda de jogos em suporte
digital aos canais PlayStation
Plus Essential ou PlayStation
Network. A associação refere
ainda que o lançamento de
uma PlayStation 5 sem leitor de
DVD e as limitações que impe-
dem os produtores de jogos de
escolher meios de pagamento
alternativos têm por objetivo
a supressão da concorrência.
“Este comportamento afeta
outros intervenientes que tra-
balham com consolas PlayS-
tation, e que tanto concorrem
com a Sony como precisam de
estar presentes nas consolas da
Sony. Com este cenário, a Sony
fica mais poderosa e tem me-
nos incentivos para baixar pre-
ços”, descreve Daniela Antão.
Ecossistemas perigosos
O controlo de ecossistemas tec-
nológicos está longe de ser con-
sensual — e já levantou disputas
legais em outros pontos do glo-
bo. Nos EUA, a Apple conheceu
uma vitória parcial num proces-
so movido pela produtora de
videojogos Epic Games contra
as taxas de 30% do preço que
são aplicadas pela loja App Sto-
re aos produtores de videojogos
para iPhone e iPad.
Além de impedir que produ-
tores e editores proponham
meios de pagamento alterna-
tivos, a Apple também aplica
taxas de 30% às compras que
os consumidores efetuam den-
tro de um jogo ou de uma app.
Ao abrigo da lei estadual da Ca-
lifórnia, a Apple deverá parar
de impedir que os produtores
de apps comuniquem com os
consumidores. Nesta apreci-
ação divulgada em abril, após
recurso, os juízes concluíram
que a Apple não deve ser con-
Sony é acusada
de ter promovido
uma política de
coordenação de preços
“a nível retalhista
e a nível grossista”
siderada monopolista à luz da
lei federal dos EUA.
Na Europa, num processo
que também pretende evitar
abusos dos “ecossistemas” con-
trolados por uma única marca,
a Spotify já fez chegar igual-
mente uma queixa à Comissão
Europeia contra a Apple. O
processo ainda está em curso,
mas, caso o perca, a Apple ar-
risca uma penalização máxima
de 10% da faturação. No merca-
do mundial, uma eventual pe-
nalização da Apple poderia ser
tomada como um “terramoto”
capaz de fazer ruir os “ecossis-
temas” liderados por Google,
Sony ou Nintendo, entre outras
marcas que obrigam à partilha
de receitas.
Entre os queixosos que se
insurgem contra os alegados
desmandos das grandes tec-
nológicas figura igualmente a
empresa portuguesa Aptoide,
que já foi chamada a testemu-
nhar em processos movidos
nos EUA e na UE. As queixas
da Aptoide estão relacionadas
com práticas potencialmente
abusivas na loja de apps Play e
no sistema operativo Android,
que lidera por larga margem
nos telemóveis. Num dos pro-
cessos movidos na UE, o grupo
Alphabet, que detém a Google,
já foi punido com uma multa
de €4,3 mil milhões — o atual
recorde nas penalizações apli-
cadas pela Comissão Europeia.
No processo que iniciou em
Santarém, a Ius Omnibus invo-
ca o direito europeu como fun-
damento da queixa. Para a as-
sociação, a Sony está a ferir os
artigos 101º e 102º do Tratado
de Funcionamento da UE. O
primeiro versa sobre medidas
que limitam o comércio entre
Estados-membros, enquanto
o segundo pretende garantir
que empresas dominantes não
enveredem por práticas abu-
sivas da concorrência. “Está
sobre a mesa a possibilidade
de expandirmos este caso para
lá das nossas fronteiras. Este
processo apenas abrange as
vendas de videojogos da PlayS-
tation em Portugal. Nos próxi-
mos tempos contamos entrar
em contacto com entidades de
outros mercados”, conclui Da-
niela Antão.
economia@expresso.impresa.pt
NOS Alive ganhou mais
vida com o 5G da NOS
Nem só de música vive o NOS Alive: na edição de 2023, a tecnologia
5G subiu ao palco para dar mais emoção ao festival. O 5G da NOS
trouxe mais dados partilhados, uma infraestrutura de comunicações
mais robusta e, acima de tudo, mais oportunidades de elevar a
paixão pela música a um novo patamar no NOS Alive ’23
As cordas que a música é capaz de tocar em
cada um de nós, não há tecnologia que replique.
Mas a tecnologia 5G pode, sim, ajudar a ampliar o
turbilhão de emoções que a música nos desperta
a todos – foi o que aconteceu na edição de 2023
do NOS Alive, onde a conectividade 5G foi “cabeça
de cartaz” ao longo dos três dias de festival.
Contando com a infraestrutura de comunicações
mais robusta de sempre, a edição deste ano do NOS
Alive gerou um volume global de dados de cerca de
20 terabytes, com 24% do tráfego a ser suportado
pelo 5G. Para proporcionar a melhor experiência de
comunicação a todos os festivaleiros, a capacidade
da rede móvel aumentou 20% face a 2022: as
comunicações móveis foram asseguradas por 89
antenas, 18 das quais 5G, permitindo uma velocidade
10 vezes mais rápida. Já a infraestrutura de rede
fixa desdobrou-se por mais de 1200 quilómetros
de fibra ótica ao longo dos 11 hectares do recinto.
A capacidade reforçada do 5G permitiu ainda
ao NOS Alive elevar a fasquia em matéria de
conectividade: em 2023, o volume de dados diário
bateu novo recorde com um aumento de 50% face
à edição anterior, rondando os 7 terabytes/dia. De
igual modo, o número máximo de utilizadores em
simultâneo aumentou 32% face ao ano anterior, com
quase 13 mil pessoas ligadas ao mesmo tempo.
Para suportar a megaoperação 5G no NOS
Alive ’23, o apoio técnico durante o evento foi,
por sua vez, equiparável ao de uma cidade de
média dimensão, com a alocação de mais de 100
profissionais da NOS para acompanhar a operação
de rede. Para apoiar a equipa nesta missão, foi
ainda implementado um sistema de sondas
remotas e autónomas para monitorizar a qualidade
de experiência das redes 4G e 5G, que foram
reforçadas na cidade de Algés neste período.
MEDIR AS REAÇÕES DO
PÚBLICO COM O 5G
Mas mais do que o aparato tecnológico, o 5G
propôs-se a instalar no NOS Alive uma rede de
emoções pronta a transformar a vivência da música.
E enquanto os olhos e os ouvidos dos festivaleiros
seguiam os artistas em palco, a NOS tomou o pulso
às reações do público com o auxílio do 5G.
Fiel ao seu compromisso de usar a tecnologia e
o 5G para proporcionar experiências mais ricas,
a NOS desenvolveu uma solução inovadora de
analítica de som apoiada por inteligência artificial
para medir a intensidade e o tom da reação da
audiência durante os espetáculos e testou-a pela
primeira vez no NOS Alive. Aferindo, em tempo real
e de forma automatizada, as reações sonoras do
público, identificando os momentos de maior êxtase,
a ferramenta pioneira Audio Mood Analysis recorreu
a um sistema de smartphones 5G e microfones para
recolher os sons emitidos pelo público durante
os concertos no palco NOS e palco Heineken.
Resultado? Ocupando o topo das performances,
os Queens of The Stone Age registaram o maior
número de aplausos da audiência, seguidos de Arctic
Monkeys e The Black Keys – os três concertos mais
ECONOMIA 11
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aplaudidos pelo público ao longo dos três dias do
festival. Já os concertos de The Black Keys e Carolina
Deslandes & Bárbara Tinoco foram aqueles que os
fãs mais acompanharam a cantar em sintonia com
os artistas. Na variável dos assobios, Lil Na X, Arctic
Monkeys e Black Keys assumiram o comando da
multidão, enquanto os fãs de Angel Olsen lideraram
a intensidade dos gritos de entusiasmo. Por sua
vez, Angel Olsen, Arctic Monkeys e Bombazine
protagonizaram as atuações que, durante os três
dias, geraram maior intensidade de reações entre
o público, revelou ainda o Audio Mood Analysis.
O PRIMEIRO “FESTIVALEIRO 5G”
Ao longo de três dias, o NOS Alive ‘23 juntou 160 mil
pessoas no Passeio Marítimo de Algés, mas contou
com o 5G para ir ainda mais longe e tornar o festival
acessível mesmo a quem não pode estar fisicamente.
Se a música não conhece fronteiras, o 5G da
NOS ajudou-a também a quebrar barreiras,
proporcionando uma experiência inesquecível
a um doente com esclerose lateral amiotrófica
(ELA) com mobilidade condicionada. José foi o
primeiro “Festivaleiro 5G”, tendo vivido todas as
emoções do festival, em direto, usando uns óculos
de realidade virtual. O doente pôde experimentar
o que é estar fisicamente no festival, passear pelo
recinto, assistir aos concertos, conhecer a sua banda
favorita, através de um meet and greet especial
com os Queen of The Stone Age e até subir ao
palco durante este concerto. Tudo enquanto era
guiado por Marta, a sua amiga e terapeuta, que,
munida de uma câmara 3600, transmitiu todo
este percurso, em tempo real, através de 5G.
“A NOS, como líder de 5G em Portugal, tem
transportado o NOS Alive a outra dimensão,
potenciando novas formas de viver a música. Este
ano, quisemos ir mais além e proporcionar uma
experiência única a uma pessoa que, de outra
maneira, não teria forma de a viver”, sublinhou,
a este propósito, Daniel Beato, administrador da
NOS. Para o responsável, este “é mais um exemplo
de como a tecnologia pode ser usada em prol do
bem-estar social e ter um impacto transformador
em casos de limitações físicas e geográficas”.
12 ECONOMIA
ENERGIA
Emanuel Proença Presidente executivo da Prio Bio
“A mobilidade precisa de mudar:
a pegada carbónica é considerável”
Textos Miguel Prado
Foto Nuno Botelho
Entre as cinco maiores gasolineiras
do país, a Prio lidera um dos consór-
cios que terão apoio do Plano de Re-
cuperação e Resiliência (PRR) para
construir uma fábrica em Setúbal,
que usará hidrogénio verde e resí-
duos para produzir biocombustíveis.
O presidente executivo da Prio Bio,
Emanuel Proença, falou ao Expresso
dos desafios desta indústria.
P A gestão da fiscalidade dos com-
bustíveis no nosso país tem sido equi-
librada?
R O Estado fez bem em reduzir o ISP.
Havia um encargo muito grande para
os portugueses e o Estado também
estava a beneficiar em sede de IVA.
P Há anos que as petrolíferas se quei-
xam de uma fiscalidade demasiado
pesada. Por outro lado, há necessida-
de de receita fiscal e de desincentivar
o consumo de produtos petrolíferos.
R A transição energética na mobilida-
de é particularmente desafiante. É um
sector muito complexo, com muitos
decisores. Precisa de mudar. A pegada
carbónica é muito considerável. Todas
as empresas deste sector têm à sua
responsabilidade produtos com pega-
das carbónicas muito elevadas e que
geram boa parte da pressão climática.
Nestes últimos 10 a 20 anos temos
vindo a trabalhar em soluções para
resolver este desafio que temos em
mãos, mas nos últimos três ou quatro
anos acelerámos muito o passo.
P Quais foram os principais marcos
dos últimos anos?
R Houve evoluções tecnológicas e
legislativas. O bloco europeu tem uma
ambição grande de descarbonizar a
mobilidade, mas em algumas coisas
até está ligeiramente atrasado. A mo-
bilidade elétrica escalou mais e mais
rápido na China do que na Europa.
Mas [na União Europeia] entrámos
na década de 2020 a 2030 com mais
soluções para trabalhar.
P A descarbonização da mobilidade
tem sido marcada por opções diferen-
tes, dos biocombustíveis aos veículos
elétricos, passando pelos veículos a
gás e a hidrogénio. Este conjunto tão
diverso joga a favor da descarboniza-
ção? Ou pode dificultar a tomada de
decisões?
R A resposta é dupla. Se procura
clareza para a opinião pública, joga
contra. Se procura soluções, joga to-
talmente a favor. O desafio é enorme.
Nós não temos noção, na sociedade,
da dimensão do sector da energia
para a mobilidade.
P Se os consumidores não estiverem
certos de que vale a pena mudar para
um carro elétrico, provavelmente vão
continuar com um motor de combus-
tão. Ou não?
R Não forçosamente. Acho que vão
cada vez mais tomar decisões racio-
nais para o seu uso e também em fun-
ção dos incentivos que são criados.
P O PRR (Plano de Recuperação e Re-
siliência) permitiu a várias indústrias
apresentarem projetos de grande es-
cala na área da descarbonização, para
ganharem acesso a apoios muito subs-
tanciais. Sem o PRR a Prio não avan-
çaria tão rápido na descarbonização?
R A Prio avançaria provavelmente
à mesma, mas mais devagar e com
menos parceiros. Outra coisa que o
PRR fez foi ajudar a criar conjuntos
de parceiros mais abrangentes.
P Em termos de execução, o que é
que a Prio fez até ao momento?
R O projeto da Prio [que junta nove
empresas, num investimento de €600
milhões, para uma fábrica de biocom-
bustíveis avançados em Setúbal] é um
dos maiores. Mas as empresas gran-
des têm taxas de apoio bastante mo-
destas no âmbito do PRR. A nossa taxa
de financiamento é de perto de 5%.
P Então qual é o benefício da partici-
pação da Prio nestes consórcios?
R Ajuda-nos a acelerar o trabalho dos
nossos parceiros e 5% continua a ser
um valor considerável, dinheiro que
respeitamos e que nos ajudará.
P O que se propõem fazer e com que
calendário?
R Outra fábrica de combustíveis ver-
des, com uma capacidade maior do
que a que já temos em operação, com
uma pegada carbónica ainda melhor
e produzindo maior quantidade de
diesel verde e de jet verde. A nossa
fábrica atual produz diesel verde mas
não jet.
P Diesel verde é uma forma de
greenwashing?
R É diesel não fóssil, não proveniente
de petróleo, mas sim de economia
circular: aproveita resíduos que não
tinham utilização válida e eram um
problema ambiental.
P Óleos alimentares usados?
R Esse é um deles, o mais conhecido,
mas é só o primeiro. Hoje já traba-
lhamos com 20 resíduos diferentes
e contamos com a outra fábrica para
trabalhar outros.
P Qual é a dimensão deste investi-
mento novo?
R O projeto, como um todo, ultrapas-
sará os €600 milhões de investimento.
P E qual é o calendário?
R O nosso objetivo é que esteja a ope-
rar em 2026.
P Têm este projeto de €600 milhões
para uma fábrica verde, mas também
outros projetos.
R Focámo-nos muito na componente
de resíduos oleosos, mas também terá
um eletrolisador de larga escala, pro-
duzirá muito hidrogénio verde.
P O hidrogénio verde que vão utili-
zar irá encarecer o produto que irão
comercializar?
R Estamos confiantes de que o bene-
fício que trará será muito maior do
que o custo.
P Estamos a pôr demasiado entusias-
mo no hidrogénio verde?
R O hidrogénio verde será mui-
to bom para algumas utilizações e
totalmente inútil para outras. Não
acredito que o hidrogénio direto nos
veículos venha a ser uma solução de
Expresso, 4 de agosto de 2023
Prio soma
270 postos
de combustíveis
e quer continuar
a expandir a rede
Atualmente, a Prio tem uma rede de
cerca de 270 postos de combustíveis
de norte a sul do país e, segundo
Emanuel Proença, é o quarto
operador do mercado, atrás da Galp,
Repsol e BP (dados do ano passado
da Apetro — Associação Portuguesa
de Empresas Petrolíferas colocavam
a Prio em quinto lugar, atrás da
Cepsa, com 264 postos). No ano
passado, a Prio faturou
aproximadamente €1,7 mil milhões.
“É um sector que fatura muito, mas
boa parte são impostos”, realça o
gestor. “Todos os anos tivemos
resultados líquidos positivos”,
acrescenta, garantindo que a
empresa vai “continuar a fazer
crescer a rede”. O administrador da
Prio nota que nos últimos meses a
empresa abriu vários postos de
abastecimento na Grande Lisboa e
diz ter uma carteira de
oportunidades “muito interessante”
para novas aberturas, embora não
se comprometa com um número
específico. Uma das apostas do
grupo está na sua vertente
industrial, produzindo
biocombustíveis. A Prio já está a
comercializar na sua rede um
gasóleo com 15% de incorporação
física de biocombustível, produzido
a partir de óleos alimentares usados
e de resíduos da indústria da
margarina, dos molhos e dos azeites.
larga escala. Agora, o hidrogénio
verde a alimentar grandes fábricas
e a descarbonizar a nossa indústria
poderá ser fantástico.
P Como vamos descarbonizar o
transporte pesado?
R Os combustíveis verdes, à partida,
serão a melhor solução. Em poucos
anos descarbonizámos parte da fro-
ta da Carris e da frota ao serviço da
Norauto.
P Portugal tem condições para pro-
duzir de forma endógena todo o vo-
lume para substituir o gasóleo hoje
consumido?
R Com alguns anos de bom trabalho
terá. Mas precisará de todas as tecno-
logias a trabalhar para conseguir lá
chegar. Precisaremos de combustível
biológico, renovável, sintético. E pre-
cisaremos de fábricas para produzir
isto tudo.
P Como vê a decisão de proibição de
venda de novos carros a gasóleo a
partir de 2035?
R É uma decisão política, tem prós
e contras.
P Em 2035 teremos combustíveis al-
ternativos com escala suficiente para
colmatar a saída dos novos carros a
gasóleo?
R Continuaremos a precisar de com-
bustíveis verdes para os camiões,
autocarros, navios, aviões e carros
ligeiros que ainda estarão nas estra-
das. Precisaremos dos combustíveis
verdes, da mobilidade elétrica e de
outras soluções.
mprado@expresso.impresa.pt
Expresso, 4 de agosto de 2023
AGRICULTURA
A Vitacress está a cultivar alimentos
no Alentejo com água reciclada
Empresa tem explorações a céu aberto em Odemira e também no Algarve e exporta 15% da produção
Vítor Andrade
O que é que uma empresa agrí-
cola faz quando já não conse-
gue mais terra para cultivar,
quando a água para a rega se
torna cada vez mais escassa e
num contexto em que não é
fácil encontrar mão de obra,
sobretudo se for especializada?
A resposta surge rápida e se-
gura: “É preciso inovar todos
os dias e fazer uma gestão efi-
ciente dos meios de produção
e, acima de tudo, da água, que
é um bem cada vez mais escas-
so”, explica Carlos Vicente, di-
retor-geral da Vitacress.
A empresa, que na verdade já
existe há quatro décadas mas
que agora completa 20 anos
com produtos da marca Vita-
cress, produz agrião-d’água,
rúcula, acelga, espinafre, ve-
getais mistos, folhas para sopa
(gama quente ou fria), ervas
aromáticas e batatas nas zonas
de Odemira, junto à costa alen-
tejana, e também em Almancil,
no Algarve.
Mas a firma gerida por Car-
los Vicente acabou por dar re-
centemente mais um passo em
frente em termos de inovação
na gestão e passou a vender
também saladas mistas e as
chamadas saladas-refeição.
No total, foram lançados pela
Vitacress 42 novos produtos
nos últimos cinco anos, sen-
do que estes representam já
20% das vendas da marca. E
comercializa, ao todo, cerca de
150 produtos alimentares di-
ferentes, alguns cultivados em
modo convencional e outros
em modo biológico.
A verdade é que, seja qual
for a forma de produção, para
colocar no mercado nacional
e internacional nove mil tone-
ladas de produtos frescos to-
dos os anos é preciso ter terra
para os cultivar, água para os
regar e muita mão de obra para
os tratar, colher, processar e
embalar.
Ora, sendo que a região de
Odemira, no Alentejo, está a
ser fortemente castigada pela
escassez de água (e de terra),
sobretudo para fins agrícolas,
pois a dependência da barra-
gem de Santa Clara é total, a Vi-
tacress teve de puxar pela ima-
ginação e começou a reutilizar
a água com que são lavadas as
saladas — antes de serem pro-
cessadas para embalamento —
para regar de novo os campos,
que estão permanentemente
a ser cultivados. Aliás, a título
de exemplo, o agrião dá vários
cortes por ano e a alface produz
todas as oito a 12 semanas.
A empresa fez investimen-
tos que permitiram a redução
do consumo de água por quilo
produzido na ordem dos 39%,
comparando 2022 com 2020.
A água usada, por exemplo,
no cultivo do agrião-d’água é
recirculada e passou a ser fei-
to o recrescimento de alfaces,
A Vitacress conseguiu
redução do consumo
de água por quilo
produzido na ordem
dos 39% em dois anos
Carlos Vicente considera-se um “homem do terreno”
e passa quatro dias por semana na quinta
tendo-se optado por espécies
vegetais mais adaptadas ao cli-
ma atual.
A Vitacress refere que destina
10% dos seus campos agrícolas
ao aumento da biodiversidade,
com plantas que produzem ali-
mento e abrigo para várias es-
pécies animais, nomeadamente
insetos, que são auxiliares natu-
rais no controlo de pragas. Além
disso, mantém os solos com
planos de rotação e com cultu-
ras que servem apenas para a
sua preservação natural (como
a mostarda-caliente, o nabo, a
ervilha ou o trigo-sarraceno).
Por outro lado, usa formas que
considera inovadoras e naturais
para eliminar espécies infestan-
tes no solo, como vapor de água,
e um falcão para reduzir a pre-
sença de aves que procuram as
sementes para se alimentarem.
A propósito da questão do
acesso à terra, o gestor explica
que até pode haver mais área
disponível noutros sítios, mas
é ali, na zona de Odemira, que
a Vitacress encontra uma com-
binação perfeita entre a qua-
lidade dos solos e o clima. E é
por isso que consegue produzir
o ano inteiro a céu aberto. O
recurso a estufas é reduzido e é
feito noutros locais.
Por serem tão escassos ou
quase não existirem mais dis-
poníveis para uso imediato, os
terrenos agrícolas podem atin-
gir ali preços da ordem de €40
mil por hectare, o que coloca
esta região no topo das mais
Para garantir a maior
frescura possível
das suas saladas, a
Vitacress só as embala
no país de destino
ECONOMIA 13
A gestão eficiente da
água (uma parte é
reciclada) é um fator
crítico para o sucesso da
produção FOTOS D.R.
caras a nível nacional, até acima
da área de regadio de Alqueva.
Ainda assim, a Vitacress cul-
tiva 320 hectares — apenas NÚMEROS
10% em estufa — e a maior par-
40
te destas terras é arrendada.
Para executar todo o tipo de
trabalhos associados ao ciclo
de produção, a empresa, que
não tem trabalho sazonal, conta
com mais de 420 empregados,
de 15 nacionalidades, sendo que milhões de euros foi a
muitos já trabalham nela há dé- quanto ascendeu a faturação
cadas. Ou seja, há uma relação da empresa em 2022.
que Carlos Vicente considera Só não produz mais
“sólida” entre a gestão e os cola- porque não consegue
boradores. 220 trabalham nos mais terra para cultivar
terrenos, 140 na fábrica e 60
420
são administrativos.
Uma parte significativa da
produção — cerca de 15% — é
exportada, sobretudo para In-
glaterra e Espanha. E é preci-
samente aqui, na colocação de
produtos no estrangeiro, que a trabalhadores estão
Vitacress também inovou. Em atualmente ao serviço
vez de embalar as saladas na da Vitacress. 230 estão
fábrica de Odemira, coloca as na quinta, 140 na fábrica
chamadas ‘folhas bebé’ de alfa- e 60 são administrativos
ce, agrião, rúcula, entre outras,
320
no camião logo após o corte
e só são embaladas já no país
de destino, 48 horas depois. A
data de validade, regra geral,
é de nove dias. Carlos Vicente
explica que “garantir a frescu-
ra é absolutamente fundamen- hectares é a área
tal, e esta é a melhor forma de cultivada pela Vitacress
conseguir esse objetivo”. em Odemira e em Almancil.
Em 2022, a empresa, cujo 90% daquela área é cultivada
capital é inteiramente nacional ao ar livre e a restante
— do grupo RAR —, faturou em estufa. A empresa,
€40 milhões e enfrenta um 100% portuguesa, vende
crescimento do seu mercado 150 produtos alimentares
da ordem dos 17% ao ano. O
gestor da Vitacress garante
que “se tivéssemos mais terra
e mais água, mais exportaría-
mos e maiores seriam as nos-
sas vendas”.
vandrade@expresso.impresa.pt
14 ECONOMIA
TELECOMUNICAÇÕES
Pedro Mota Soares diz que o país devia “ter orgulho” na qualidade das comunicações portuguesas FOTO JOSÉ FERNANDES
Apritel pede previsibilidade e
apela à proteção do investimento
Operadores querem na Anacom um presidente que conheça bem o sector
Textos Anabela Campos
Reclamando um papel relevan-
te na economia portuguesa,
responsável por 4% do inves-
timento anual feito no país, a
Apritel, associação do sector
das comunicações eletrónicas,
apela a que o próximo presi-
dente da Anacom, o regulador
das comunicações, seja mais
conhecedor do sector do que
era João Cadete de Matos quan-
do entrou. Puxa dos galões para
dizer que Portugal está no topo
da cobertura de rede da União
Europeia, quer na quarta (4G)
quer na quinta geração de rede
móvel (5G). E assegura que os
preços das comunicações recu-
aram 40% nos últimos 10 anos.
A relação dos operadores com
João Cadete de Matos, cujo
mandato chega ao fim este mês,
foi sempre tensa, mas agudi-
zou-se na altura do concurso
para o 5G, com a MEO, a NOS
e a Vodafone a contestarem o
modelo escolhido e o leilão —
chegando mesmo a pedir a sua
demissão.
A cumprir o segundo man-
dato, Pedro Mota Soares, elei-
to secretário-geral da Apritel
pela primeira vez em 2019, faz,
em entrevista ao Expresso, um
balanço do sector. Sem querer
deter-se demasiado no passado,
defende que “a próxima admi-
nistração da Anacom” deve ser
“mais dialogante”. E explica:
“Diálogo é ouvir e perceber
o que está em causa e, nesse
sentido, é importante termos
alguém que conheça o sector.”
Traça, inclusive, o perfil: “É es-
sencial ter alguém que tenha
uma visão estratégica sobre o
que deve ser o sector, e a médio
e longo prazo. O investimento é
sempre a longo prazo, nunca é
no imediato. Portugal não deve
ficar para trás, mas para isso
precisamos de formas de prote-
ger o investimento. Precisamos
de um regulador que consiga
equilibrar a concorrência, a sus-
tentabilidade do investimento e
o interesse dos consumidores.”
E prossegue: “Numa área que
é muito inovadora e entrega
muita tecnologia, é essencial
ter condições de estabilidade
no investimento.” Só assim é
possível fazer a transição para
o digital, considera.
“O mandato de João Cade-
te de Matos foi marcado por
objetivos populistas e de curto
prazo”, frisa Mota Soares. E
lamenta algumas das conclu-
sões de estudos divulgados pela
Anacom. “Muitas das coisas
que o regulador diz sobre o
tema dos preços é de alguém
que não conhece o sector que
regulou. Ouvi recentemente
o presidente da Anacom dizer
que, quando o regulador tem
o aplauso das empresas, não
está a fazer bem o seu papel.
Isto demonstra o preconceito
e o conflito que marcou o seu
mandato. Tentar, sistematica-
mente, dar uma imagem que
não corresponde à verdade é
negativo para todos.”
Investimento e qualidade
de mãos dadas
Portugal, defende o antigo
ministro da Segurança Social,
deve “ter orgulho” nas comu-
nicações. “Não há muitos secto-
res em que lideramos. Temos a
terceira maior taxa de penetra-
ção de serviços fixos da União
Europeia e a quarta maior taxa
de penetração de serviços mó-
veis. Temos uma cobertura de
94% das casas com redes de
alta velocidade”, exemplifica.
Salienta ainda que, apesar de
Portugal ter sido o penúltimo
país a ter ofertas de 5G, neste
momento já tem mais de 90%
da população coberta. “Temos
operadores com um enorme
dinamismo, enorme capacida-
de de inovar e de empreender.”
Por isso, devem-lhes ser dadas
condições de investimento.
Mota Soares avança que “nos
últimos seis anos o sector inves-
tiu cerca de €7 mil milhões. No
último ano, com o 5G, foram
investidos €1,6 mil milhões”.
“Precisamos de
um regulador que
consiga equilibrar
a concorrência,
a sustentabilidade
do investimento
e o interesse dos
consumidores”, diz
Pedro Mota Soares
É, diz, um investimento com
reflexo na qualidade e na capa-
cidade das comunicações em
Portugal, nomeadamente na
fibra ótica e na extensão das
redes. Num elogio rasgado às
metas alcançadas, defende
que o país deve “criar condi-
ções para que os operadores
possam continuar a investir e a
entregar uma tecnologia vital
para o país”.
Mota Soares nega que a cris-
pação dos operadores em torno
do 5G tenha sido exagerada. E
lembra que “o próprio primei-
ro-ministro reconheceu que o
leilão correu mal”. O concurso
atrasou-se, sublinha. “Acima
de tudo, os operadores tiveram
de entregar um valor ao Estado
que era exatamente o contrário
do que este pretendia.” Ainda
assim, os operadores já con-
seguiram cobertura de 90% e
muito em breve será de 95%,
frisa. Tudo graças ao esforço de
investimento.
Fundos comunitários
para as zonas brancas
Portugal, ao contrário de Es-
panha e Itália, excluiu o 5G do
Plano de Recuperação e Re-
siliência (PRR), mas a Apritel
espera que os fundos comu-
nitários sejam usados para a
construção de rede nas zonas
brancas (áreas remotas não co-
bertas do país), cujo concurso
está para ser lançado.
“É importante continuarmos
a trabalhar para cobrir as cha-
madas zonas brancas. Penso
que o concurso público terá
financiamento de fundos co-
munitários”, diz Mota Soares,
que salienta que “as estradas
do futuro são as estradas digi-
tais. Faz, por isso, sentido ter
fundos comunitários a finan-
ciá-las, sobretudo nas zonas em
que não há uma rentabilidade
comercial”. Parte do dinhei-
ro, frisa, vem de contribuições
já feitas pelos operadores,
nomeadamente no pagamento
de licenças 5G. “Fomos críticos
quando o dinheiro [entregue
pelos operadores] foi utilizado
para outras finalidades. A ga-
rantia do Governo foi de que
reporia essas verbas com o pró-
ximo quadro comunitário do
2030”, sintetiza.
acampos@expresso.impresa.pt
NÚMEROS
7
mil milhões de euros
foi quanto investiram
os operadores em Portugal
nos últimos seis anos
4%
do investimento anual feito
no país vem das comunicações
1000
milhões de euros foi quanto
o sector pagou em taxas
regulatórias nos últimos
11 anos
94%
das casas em Portugal têm
rede de alta velocidade
566
milhões de euros foi o
investimento dos operadores
no 5G, mais do que os €370
milhões que custou o 4G
25%
foi quanto as receitas
recuaram nos últimos 10 anos.
O sector entregou mais 32%
de serviços, pelo que os preços
caíram 40%, diz a Apritel
Sector paga €100
milhões em taxas
e queixa-se
Operadores apelam
a uma descida das taxas
regulatórias e afirmam
que a Anacom lucra
com provisões “ilegais”
Há muito que o sector das co-
municações contesta os custos
que a Anacom faz refletir sobre
os operadores. Uma batalha
que se mantém acesa é a do
valor cobrado em taxas regula-
tórias, que a Apritel afirma que
ultrapassam os €100 milhões
anualmente e que custaram
€1000 milhões nos últimos 11
anos. “É dinheiro que em vez
de ser gasto em inovação vai
engrossar os lucros do regula-
dor”, lamenta. E os valores, diz,
têm aumentado.
Pedro Mota Soares, presiden-
te da Apritel, exemplifica: “En-
quanto o leilão de 4G significou
um investimento na casa dos
€370 milhões, o leilão do 5G
subiu para €566 milhões. É di-
nheiro que não vai para inova-
ção, o desenvolvimento de re-
des, e não está a ir para o que o
país verdadeiramente precisa.
Não faz sentido um regulador
que se orgulha dos lucros que
apresenta, isso significa retirar
aos operadores capacidade de
investir no país. Há uma enor-
me perversão nesse sentido. Os
custos de contexto no sector
são muito elevados”, queixa-se.
E insiste: “O nível das taxas é
francamente elevado. Estamos
a falar de uma subida de taxas
na casa quase dos 40% nos úl-
timos 10 anos.”
São várias as taxas aplicadas
pela Anacom: a taxa de ativi-
dade, as provisões, a taxa de
espectro, a taxa de numeração.
Existem também outras taxas
para outros reguladores, como
o Instituto do Cinema e do Au-
Excluir Huawei
terá consequências
Prudente face à eventual
alteração dos poderes
da Anacom, a Apritel
avisa para os riscos do
afastamento da Huawei
Perante a possibilidade de
eventuais mudanças nos pode-
res da Anacom, nomeadamen-
te a retirada de competências
na área administrativa, sugeri-
da pelo ministro das Infraestru-
turas, João Galamba, a Apritel
mantém a distância, e Pedro
Mota Soares não sai do guião.
“Registamos as palavras do se-
nhor ministro e tenho a certeza
de que o Governo irá sempre
encontrar aquelas que serão as
melhores soluções para o país.
A definição do estatuto dos re-
guladores será sempre feita,
tenho a certeza, protegendo
os melhores interesses do país.
Vamos aguardar”, afirma.
Os operadores consideram
que a Anacom é um regula-
dor com demasiados poderes.
“A nossa maior queixa sobre
a Anacom tem sido a ausência
de compreensão do que é ver-
dadeiramente o sector”, escla-
rece o presidente da Apritel. E
preferiam que houvesse uma
direção-geral em vez de um
regulador? “Honestamente,
não parece que tenha sido isso
Expresso, 4 de agosto de 2023
diovisual (ICA) e a Entidade
Reguladora da Comunicação
Social. “É um sector que está
muito onerado e com muito in-
vestimento pela frente, temos o
desafio do 5G, temos de conti-
nuar a estender também o 4G.
Tem tudo de ser ponderado”,
sublinha Mota Soares.
Se as taxas são uma contes-
tação antiga, há outra que se
tornou visível mais recente-
mente. A Apritel apela a que
haja uma alteração de proce-
dimentos face à forma como a
Anacom exige provisões para
coimas aplicadas e que os ope-
radores pretendem contestar.
Algo de que os operadores já se
queixaram ao Governo e que-
rem ver corrigido. “Se alguém
quiser legitimamente contestar
uma decisão da Anacom, tem
de fazer uma provisão no valor
total da ação. É uma denegação
do acesso à justiça”, considera
Mota Soares. A Anacom, sus-
tenta, é o único regulador que
faz isto. E afirma que é um pro-
cedimento “ilegal”. Tudo isto,
sublinha, num contexto em que
as receitas recuaram — 25% nos
últimos 10 anos — e o sector
entregou mais 32% em servi-
ços. As pessoas consomem mais
internet e mais comunicações,
salienta. “O preço médio por
serviço caiu [na última década]
e caiu mais de 40%”, assegura.
E onde é que os operadores
vão buscar as margens, já que
não estão a dar prejuízo? Mota
Soares responde que as mar-
gens têm estado estáveis gra-
ças ao dinamismo do sector e
à concorrência. “Ainda no mês
passado tivemos um nível his-
tórico de consumo de internet
fixa. Sistematicamente prepa-
ramo-nos para poder entregar
mais aos portugueses.”
que estava em cima da mesa”,
comenta, apenas.
Sobre a previsível exclusão
da chinesa Huawei como for-
necedora de equipamentos
da rede base dos operadores,
Mota Soares fala da relevância
da previsibilidade das regras
e avisa para os riscos da falta
de planeamento. “Os investi-
mentos feitos são programados
no tempo. Garantir a previsi-
bilidade desse investimento é
muito importante em todas as
matérias, nomeadamente re-
lativamente aos fornecedores
de serviços”, defende. E alerta:
“Se vier a existir alguma deci-
são de substituição de fornece-
dores, é importante que o país
perceba que isso não se faz de
um dia para o outro. São coisas
que demoram tempo, não são
fáceis de fazer no imediato.”
A decisão cabe ao Governo,
e ainda se aguardam clarifica-
ções. Mota Soares avisa que as
autoridades “têm de perceber
que se houver mesmo neces-
sidade dessa substituição isso
desfoca o sector, nomeadamen-
te do investimento na inovação
dos produtos, na extensão da
cobertura de redes”. Mas sobre
o que os operadores irão fazer e
quanto poderá custar, a Apritel
não se pronuncia.
Expresso, 4 de agosto de 2023 ECONOMIA 15

POD CAST

Como deve um jovem escolher o seu curso?

Carlos Maia, diretor da Hays, e Cátia
Mateus, jornalista do Expresso,
analisaram as escolhas dos jovens na
altura das matrículas no ensino superior
e secundário no “Money Money Money”
Estamos na altura do ano em humanos aconselha um contac-
que milhares de jovens por- to mais próximo para os alunos
tugueses fazem as suas can- poderem ver o que é que existe,
didaturas ao ensino superior em que consistem as profissões
e outros mais novos, ainda no e as empresas. A escolha “deve
direito digital, já que a litigân-
cia nestas matérias tenderá a
aumentar no futuro”, antevê a
jornalista. A transição digital
implica que muitas das pessoas
que estão neste momento no
mercado de trabalho, em Por-
tugal e noutros países, fiquem
desajustadas.
Nas últimas vagas tecnológi-
cas “houve efetivamente uma
fissões mais repetitivas, mais
rotineiras, com uma transferên-
cia de postos de trabalho para
a área tecnológica”, sobretudo
entre 2011 e 2019, adianta. Com
a tecnologia a avançar a gran-
de velocidade, os empregos do
futuro vão depender “muito
mais da capacidade de profis-
sionais e empresas fazerem a
requalificação para profissões

FOTO GETTY IMAGES

ensino secundário, escolhem a
área que vão seguir. Tudo com
base nas suas preferências, nas
suas apetências, mas também,
em muitos casos, nas expecta-
tivas que têm sobre o mercado
de trabalho no futuro.
Mas a economia muda a gran-
de velocidade. Muitos dos em-
pregos futuros ainda não exis-
tem hoje. E não é fácil antecipar
tudo isto. Quais são as apostas
certas? Deve-se apostar numa
especialização ou é preferível
ter uma formação mais versátil,
transversal, que dê mais mar-
gem de manobra no mercado
de trabalho?
“Acho que o aluno deve ter
em conta a sua vocação e a vo-
cação ser muito abrangente;
muitas vezes estas decisões
tomam-se com caráter mais
emocional e a parte vocacional
por vezes não é tida em conta
ou pelo menos explorada”, de-
ser essencialmente vocacional, destruição de emprego nas pro- de maior valor acrescentado.
com base nos interesses e nas Mesmo depois de se tirar um
paixões”, reforça. curso, a necessidade de com-
Numa altura de pleno empre- petência não fica satisfeita e
go e profissões qualificadas, será sempre preciso atualizar
daqui a 10 anos serão estas es- conhecimentos”.
colhas as ideais? Carlos Maia “O sistema de ensino tem
aponta “profissões que vão ter evoluído de forma a comple- mais transferíveis entre em- ta Maia, para quem o “défice
sempre procura: matemática mentar a formação, o que aca- presas e funções”, aconselha de professores, em Portugal e
e engenharias e a cibersegu- ba facilitado pelo Processo de Carlos Maia. noutros países”, levará à neces-
rança são áreas que vão conti- Bolonha, e depois, à medida E profissões que “foram me- sidade de contratar mais profis-
nuar”. Tudo o que está “rela- que vão sendo colocados desafi- nosprezadas ou que não tinham sionais de ensino.
cionado com saúde e cuidados os pela mudança funcional, faz muita procura no mercado de Amadeu Araújo
primários, com o aumento da sentido adquirir competências trabalho” estão de volta, ano- economia@expresso.impresa.pt
esperança de vida”, também
vai continuar a ter impacto na
geração de emprego, aponta.
Já na gestão e no marketing,
dependem “da adaptabilida-
de e da fluidez destas áreas
de ensino, que podem derivar
para profissões que ainda não
existem”, antecipa o consultor,
para quem “a humanidade, en-
quanto trabalhadora, não irá
desaparecer”.

fende Carlos Maia. O diretor
da Hays aconselha ainda os jo-
vens a “manterem-se alheios a
pressões externas, familiares, e
tentarem perceber exatamente
o que é que gostariam de fazer”.
E isto porque, sublinha, “a
Estamos
Cátia Mateus acrescenta as
preocupações em torno da inte-
ligência artificial, que vai recla-
mar profissionais que de algum
modo vão ter algum poder de
decisão e reflexão sobre a ética
associada à inteligência artifi-

orientação vocacional amiúde
é muito centrada em testes,
em assessments [avaliação de
desempenho], e é no ensino
secundário que se tomam as
decisões mais importantes”.
Com pouco conhecimento do
contexto empresarial e fraca
exposição dos alunos às profis-
sões, o especialista em recursos
COMPETIÇÃO
convosco
cial, e esta será uma profissão
emergente”. Para a jornalista,
todas as profissões “ligadas à
área da saúde mental, do bem-
-estar, também vão continuar a
estar forçosamente na linha da
frente no futuro”.
Outra profissão em crescen-
do está na área jurídica, com
“advogados especialistas em
Força Navegadoras no Mundial 2023.

Luanda acolhe final

internacional
O evento realiza-se de
25 a 27 de setembro e vai
reunir os vencedores da
edição de 2022 do Global
Management Challenge
A cidade de Luanda, capital de
Angola, acolhe de 25 a 27 de
setembro a final internacional
da edição de 2022 do Global
Management Challenge, que
será disputada pelos vence-
dores dos países onde esta
competição se realiza. O país
anfitrião vai ser representado
por uma equipa de estudantes
de sistemas de informação, que
irá lutar para que o título fique
em casa.
“Este evento vai ser realizado
pela primeira vez em África, e
Luanda é o grande palco onde
tudo vai acontecer”, explica
João Pereira, da organização
da competição em Angola.
Acrescenta que os três univer-
sitários que venceram a edição
de 2022 irão representar o país
num evento que irá durar três
dias. “Serão de intensa com-
petição, mas também de uma
componente lúdica em que
daremos a conhecer Angola,
um destino seguro e parceiro
estratégico para a atração de
negócios e parcerias globais”,
frisa. Recomenda aos países
que irão aportar ao continente
africano e cujo número ainda
não está fechado visitarem “a
ilha de Luanda e as suas praias,
o Forte de S. Miguel e o Mu-
seu da Moeda”. Isto além de
poderem também explorar a
própria cidade.
Para João Pereira, “o Global
Management Challenge é a
maior e mais importante com-
petição mundial de estratégia e
gestão que a Soik Investments
representa e organiza em An-
gola desde 2007. É um desafio
exigente”. Entre os principais
benefícios para quem nela par-
ticipa aponta o “desenvolvi-
mento de gestão estratégica,
tomada de decisão, trabalho
em equipa e liderança”. Veja aqui
Os participantes passam o filme da
também a ter “uma visão dos campanha
fatores decisivos para o suces-
so empresarial e um conheci-
mento das diferentes áreas de
uma empresa e das suas intera- BANCO BPI, S.A.
ções”, finaliza.
Maribela Freitas
mfreitas.externo@impresa.pt
 16 ECONOMIA
EXPRESSO
1973.2023
Alqueva Barragem levou décadas a concretizar-se, mas acabou por mudar a vida dos alentejanos
2002 A obra que
transformou o Alentejo
É
Vítor Andrade
ramos um território
“ pobre e sem esperança
no final dos anos 90 do
século passado e ago-
ra somos um território
rico, em que se acre-
dita, e que ainda tem
muito a dar à economia
nacional.”
A frase é de Paulo Arsénio, presidente
da Câmara Municipal de Beja, que cum-
pre o seu segundo mandato à frente da
autarquia alentejana. Acompanhou de
perto uma grande parte do processo
que levou à construção da barragem
de Alqueva e foi um dos jovens que,
em abril de 1994, saiu com mais alguns
amigos de um acampamento da Juven-
tude Socialista, que então decorria em
Pedrógão, para pintar uma curta, mas
marcante, frase no muro da ensecadei-
ra erguido em 1976 — para desviar as
águas do Guadiana e, assim, dar anda-
mento às obras da barragem.
Ora, acontece que, depois de tantos
anos à espera, os jovens alentejanos
acharam que uma certa dose de irre-
verência também não podia fazer mal
a ninguém, e foi assim que nasceu a
famosa frase de profunda indignação:
“Construam-me, porra.” Que é como
quem diz: “Decidam-se, com o que que-
rem fazer com isto”, recorda o autarca.
Aquela frase, escrita num pequeno
muro em cima do curso do Guadia-
na, acabaria por chegar à capa da re-
vista “Grande Reportagem” e passou
a ser imagem frequente nas páginas
dos jornais e também nos noticiários
televisivos.
Em 1996, já com João Cravinho como
ministro do Planeamento e da Admi-
nistração do Território do Governo de
António Guterres, é assumido publica-
mente que a construção da barragem
de Alqueva iria avançar, com ou sem
financiamento comunitário, e é en-
tão adjudicada a empreitada principal
da obra. As comportas da barragem
haveriam de ser fechadas no ano de
2002, altura em que se deu início ao
enchimento da albufeira que agora
também é conhecida pelo Grande Lago
alentejano.
“Nunca mais faltou água
na torneira”
“Daí para cá, nunca mais faltou água
na torneira”, recorda ainda o edil de
Beja. E acrescenta que, “provavelmente,
esse foi o primeiro grande impacto que
os alentejanos desta região sentiram
depois da construção da barragem. As
interrupções no fornecimento de água
às populações deixaram de existir”.
A barragem de Alqueva, porém, é qua-
se um livro de história, e tudo remonta
ao ano de 1884, quando o Governo de
Fontes Pereira de Melo nomeou uma
comissão técnica para a realização de
um estudo sobre “a necessidade de levar
a água às terras alentejanas”. A comis-
são haveria de elaborar um relatório, de
que o engenheiro Almeida d’Eça foi re-
lator, publicado com o título “Memória
acerca do Aproveitamento de Águas no
Alentejo para o Fim dos Melhoramentos
Agrícola e Industrial da Província”.
E é vasta a literatura sobre o apro-
veitamento hidroagrícola do Baixo
Alentejo, tal foi a profusão de estudos
durante décadas a fio, até se chegar à
elaboração do Plano de Rega do Alen-
tejo, em 1957.
Primeiras obras em 1976
Onze anos depois é celebrado o con-
vénio luso-espanhol para a utilização
dos rios internacionais, que atribui a
Portugal a exploração hidráulica do
troço internacional entre as confluên-
cias do rio Caia e da ribeira de Cuncos.
E é já em 1976 que se dá início às obras
preliminares da ensecadeira, do túnel
de desvio do rio Guadiana e das demais
infraestruturas de apoio à grande obra
que então começava a ganhar forma.
No entanto, dois anos depois as obras
são interrompidas. E só em 1994 se
põe em marcha um estudo de impacto
ambiental.
O autarca de Beja lembra que, “na-
quele dia em que pintámos a tal frase
no muro da ensecadeira também ins-
crevemos uma igual noutro sítio, não
muito longe dali, só que essa não teria o
mesmo impacto, pois, passadas algumas
semanas, alguém colou uns cartazes por
cima a anunciar uma corrida de touros
numa terra aqui perto”.
Decorridos mais alguns anos na linha
do tempo, só em 1998 é que se dá início às
primeiras betonagens para a construção
do paredão da barragem de Alqueva. No
ano seguinte seria adjudicada a emprei-
tada da construção da nova Aldeia da
Luz, visto que a localidade original iria
ficar submersa pelas águas da albufeira.
Este terá sido um dos processos mais
dramáticos, do ponto de vista social, de-
corrente da construção da barragem.
A deslocação de uma povoação inteira
de um lugar para outro completamente
distinto não foi pacífica e ficou marcada
por cenas dramáticas de pessoas que
não queriam abandonar as suas casas.
CADA VEZ É MAIS
DIFÍCIL RECRUTAR,
POR EXEMPLO, TÉCNICOS
ESPECIALIZADOS
PARA FUNÇÕES
TÃO BÁSICAS (MAS
ESSENCIAIS) COMO
A DE TRATORISTA
A construção da nova Aldeia da Luz ficou envolta em polémica FOTO ANA BAIÃO
De acordo com fontes contactadas pelo
Expresso, houve mesmo algumas cenas
de violência, com as forças policiais à mis-
tura, e depois houve uma comoção cole-
tiva quando se transferiram também os
restos mortais dos familiares falecidos do
antigo cemitério para o novo, construído
junto à nova Aldeia da Luz.
No entanto, em termos de impacto
social, pela negativa, a construção da
barragem terá tido neste episódio o seu
expoente máximo. A partir daí tudo foi
mais pacífico e “rapidamente as pessoas
começaram a perceber que o seu nível
de vida iria começar a melhorar”, subli-
nha o autarca de Beja.
E nota que deixaram de ter terras
improdutivas e até votadas ao abando-
no para passarem a ter terras férteis,
convertidas em grandes produções
agrícolas, e atesta este argumento com
o facto de, em 2001 — antes do fecho
das comportas —, as exportações da re-
gião valerem apenas €5 milhões. “Em
2012 já se cifravam em €47 milhões e
atualmente rondam os €276 milhões.
Expresso, 4 de
E ainda temos muito potencial por
explorar.”
Isso mesmo é confirmado por José
Pedro Salema, presidente da EDIA —
Empresa de Desenvolvimento e Infraes-
truturas do Alqueva, S.A., criada em 1995
para a gestão de todo o empreendimento,
desde a construção da barragem até ao
regadio, que atualmente já chega aos 130
mil hectares. “O potencial deste projeto
é tanto que ainda vamos conseguir levar
água a mais 20 mil hectares até 2025”,
às zonas de Reguengos, Vidigueira, Mes-
sejana e Moura, explica o gestor, que
está há 10 anos aos comandos daquela
empresa pública. E realça ainda que a
expansão do projeto de regadio vai acon-
tecer porque a procura do Alentejo por
investidores do sector agroalimentar não
pára de aumentar.
Atualmente há investimentos agríco-
las com origem em 50 nacionalidades,
com destaque para Espanha, Estados
Unidos, França, Alemanha, Países Bai-
xos, Brasil, Chile, isto, naturalmente,
além de muito investimento nacional,
agosto de 2023
sobretudo no domínio do olival. Aliás,
cerca de 80% do azeite produzido em
Portugal tem origem no Alentejo.
Em termos de investimento global
realizado até hoje em Alqueva, José
Pedro Salema destaca, desde logo, que
o investimento público já ultrapassou
os €2,5 mil milhões, ao que se juntam
ainda outros €2,5 mil milhões de inves-
timento privado. Com os cerca de €500
milhões que o Estado ainda se propõe
ali realizar, mais os investimentos esti-
mados para as novas áreas de regadio,
“é muito provável que possamos estar
a falar de um investimento conjunto
total da ordem dos €6 mil milhões”,
sublinha o gestor.
Mas o impacto económico do rega-
dio de Alqueva não se mede apenas em
euros. O presidente da EDIA assegura
que foram já criados mais de 15 mil em-
pregos apenas de forma direta, “sem
contar com mais alguns milhares de
forma indireta, quer seja em empresas
que vendem fatores de produção, aloja-
mento, fornecimento de serviços vários,
como restauração, entre outros”.
E o presidente da autarquia de Beja
acrescenta ainda que nos últimos anos
dispararam os investimentos em pro-
jetos turísticos à volta do Grande Lago
“SE QUEREMOS
COMIDA NO PRATO,
TEMOS MESMO DE A
PRODUZIR NOS NOSSOS
CAMPOS, OU ENTÃO
MANDAMO-LA VIR DE
OUTROS PAÍSES”, DIZ
O PRESIDENTE DA EDIA
— esta semana abre mais um, do grupo
Vila Galé —, sendo que hoje, em toda a
região do Baixo Alentejo, um dos pro-
blemas com que os empresários em geral
se debatem é o da falta de mão de obra.
No entanto, reconhece que não ape-
nas se estancou o drama da decadência
demográfica que vinha ‘sangrando’ a
região até ao momento do fecho das
comportas da barragem, como agora
se recorre frequentemente à imigração
para suprir as necessidades de mão de
obra. E não se trata apenas de encon-
trar pessoal para os trabalhos sazonais.
“É muito difícil recrutar, por exemplo,
técnicos especializados para funções
tão básicas como a de tratorista. Não
há tratoristas no Alentejo, as empresas
têm de os ir buscar a outras paragens e
os ordenados estão a subir precisamente
devido à sua escassez no mercado de tra-
balho”, enfatiza o presidente da EDIA.
Explica também que atualmente “há
vários técnicos americanos e espanhóis,
por exemplo, a viverem no Alentejo,
pois as empresas com origem naqueles
países sentiram-se obrigadas a trazê-
-los para cá”. E diz que basta ir a um
qualquer café da mais remota povoação
daquela região alentejana para se sentir
o efeito do cosmopolitismo que, nos últi-
mos anos, foi tomando conta do Alente-
jo à medida que o regadio foi crescendo.
Nem tudo são rosas
Mas será que tudo são rosas neste pro-
cesso de transformação radical da pai-
sagem alentejana, que passou de um
amarelo-torrado para um verde intenso
e persistente? “Obviamente que não,
e é claro que os famosos campos dos
‘barros de Beja’, onde se cultivavam ce-
reais, agora estão cobertos de verdura.
E, sim, havia mais biodiversidade num
campo florido, embora muitas vezes
abandonado, do que num olival ou num
amendoal. Mas também reintroduzimos
várias espécies nestes habitats, como,
por exemplo, a águia-pesqueira, que
ALQUEVA EM NÚMEROS
1884
foi a data de realização dos primeiros
estudos, pelo Governo de Fontes
Pereira de Melo, para resolver o
problema da falta de água no Alentejo
5
mil milhões de euros foram já
investidos em Alqueva desde o início
da construção da barragem, em 1995,
entre investimento público e privado.
Mas em 2025 deverá ultrapassar
os 6 mil milhões de euros
15
mil postos de trabalho diretos foram
já criados pelo empreendimento
de fins múltiplos de Alqueva, que
inclui regadio, produção de energia,
abastecimento de água e turismo
50
nacionalidades já investiram
na zona de Alqueva
A água da barragem
de Alqueva trouxe
investimento e
emprego ao Baixo
Alentejo FOTO RUI OCHOA
tinha desaparecido destas paragens”,
vinca o presidente da EDIA.
O gestor sublinha ainda que muitos
dos investimentos que hoje se fazem
no perímetro do regadio de Alqueva
são ambientalmente sustentáveis e
que muitas das espécies animais aca-
bam por se adaptar ao novo tipo de
paisagem que vai surgindo com a água
da barragem. Além disso, José Pedro
Salema recorda que, apesar da sua ex-
tensão, o projeto de regadio de Alque-
va “ocupa apenas 10% do território
alentejano. Ou seja, é preciso termos a
noção do que dizemos quando falamos
sobre o impacto de um projeto destes
no território”.
O presidente da Câmara de Beja ano-
ta ainda que muitas associações am-
bientalistas temem o esgotamento dos
solos regados com a água de Alqueva e
que o uso de fitofármacos em excesso
acabe por se revelar danoso para todo
o ecossistema, assim como a predomi-
nância da monocultura, sobretudo do
olival e do amendoal. “Sem dúvida que
devemos ter tudo isso em conta, mas
o balanço global é largamente positi-
vo. Hoje vive-se melhor nesta parte do
Alentejo”, afirma Paulo Arsénio.
José Pedro Salema admite que não
se pode agradar a todos, mas também
tem a certeza de que “algumas críticas
apenas se explicam pela ignorância e
por algumas imagens que os mais arro-
gantes veem a partir da janela do carro.
A esses, como àqueles que ainda acham
que o Alqueva só se construiu para regar
campos de golfe — ainda que não sirva
para regar nenhum —, convido-os a vi-
sitarem-nos com calma e a acompanha-
rem com humildade e, obviamente, com
olhar crítico o trabalho que temos vindo
a fazer nesta região do Alentejo. Penso
que talvez venham a mudar de opinião.
É que, afinal de contas, se queremos
comida no prato, temos mesmo de a
produzir nos nossos campos, ou então
mandamo-la vir de outros países”.
vandrade@expresso.impresa,pt
2002 EM REVISTA
Euro físico
A 1 de janeiro são introduzidas
as moedas e notas de euro
em Portugal e em mais 11 países
europeus.
Saídas no BCP
O presidente do BCP, Jardim
Gonçalves, desvaloriza as saídas
na administração do banco:
“O BCP não ficou mais pobre”,
lê-se na edição de 12 de janeiro.
Salgado e branqueamento
Ricardo Salgado, presidente
do BES, diz ao Expresso que
“em Portugal há branqueamento
de capitais” — 19 de janeiro.
Alqueva avança
A 8 de fevereiro são encerradas
as primeiras comportas
da barragem de Alqueva.
TGV avança?
“O comboio de alta velocidade
(TGV) que ligará Portugal ao resto
da Europa vai mesmo avançar,
ao contrário do que chegou a ser
sugerido por responsáveis do atual
Governo e pelo PSD na campanha
eleitoral” — 27 de abril.
IVA sobe
“O aumento do IVA de 17%
para 19% é uma das medidas
do Orçamento Retificativo
para 2002”, lê-se a 4 de maio.
Medidas contra a crise
1 de junho: “Ministério
da Economia lança 40 medidas
contra a crise”.
EDP: a culpa é da ERSE
“Ministro da Economia culpa
ERSE pela queda na cotação
da EDP” — 29 de junho.
Stresse nas Bolsas
“As megafraudes contabilísticas
nos Estados Unidos em empresas
como a Enron ou a Worldcom,
aliadas a receios de novos ataques
terroristas, de uma recuperação
da economia norte-americana
mais lenta do que o esperado
e ainda de uma temporada de
resultados que se inicia em breve,
recheada de más surpresas, estão
a atirar os mercados de capitais
de todo o mundo para valores
não vistos há muito tempo”,
noticia a 6 de julho.
Efeito dominó
“Primeiro foi a Argentina. A crise
estalou no final do ano passado,
depois de meses de agonia. Já são
quatro anos de recessão e o país
não descola. Depois veio o
Uruguai” — 8 de agosto.
TAP precisa de dinheiro
“A TAP precisa de dinheiro e um
aumento de capital afigura-se
como crucial para a sua
sobrevivência” — 31 de agosto.
Semapa na pasta e papel
“Queiroz Pereira quer Portucel”,
é noticiado a 7 de setembro.
Stresse bolsista no BCP
“BCP admite deixar a Bolsa de
Nova Iorque” — 26 de outubro.
Lula não assusta
“Os grupos portugueses
com investimentos no Brasil
estão otimistas apesar da eleição
de Luís Inácio Lula da Silva”,
é noticiado a 1 de novembro.
Sonae sem Portucel
“Governo ‘trava’ Sonae na
Portucel: a Sonae não poderá
candidatar-se à privatização da
Portucel porque não preenche os
requisitos do concurso para a
venda de 25% da empresa”, diz o
Expresso a 9 de novembro.
Metro do Porto avança
A 7 de dezembro são
inaugurados os primeiros 12 km
do metro do Porto.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
ECONOMIA 17
2002 A
ESTAGNAÇÃO
DA ECONOMIA
PORTUGUESA
ECONOMIA PORTUGUESA
(QUASE) ESTAGNA
Taxa de variação real do PIB, em %
5
0,8
0
-5
1998 2002 2007
DÉFICE DAS CONTAS PÚBLICAS
DESAGRAVA-SE
Saldo anual das finanças públicas, em % do PIB
0
-4
-3,3
-8
1998 2002 2007
INFLAÇÃO ABRANDA E COMEÇA
CICLO DE DESCIDA
Taxa de variação anual de preços no consumidor, em %
10
3,6
0
1998 2002 2007
TAXA DE DESEMPREGO
COM FORTE AUMENTO
Taxa de desemp. da população com 16 e mais anos, em %
10
6,3
5
0
1998 2002 2007
RÁCIO DA DÍVIDA PÚBLICA
SOBE PARA OS 60% DO PIB
Dívida bruta consolidada das Administrações
Públicas, em % do PIB
60
60
30
0
1998 2002 2007
FONTE: “SÉRIES LONGAS DA ECONOMIA PORTUGUESA”
(INE E BANCO DE PORTUGAL)
CRESCIMENTO COM FORTE
TRAVAGEM, DESEMPREGO SOBE
O ano de 2002 foi de forte travagem
da economia portuguesa — o
Produto Interno Bruto (PIB) quase
estagnou, avançando apenas
0,8% — e de grande aumento da
taxa de desemprego — com uma
subida de 1,3 pontos percentuais,
para os 6,3%.
É o início de uma fase muito
complicada para a economia
portuguesa — marcada por
estagnação ou mesmo recessão
económica e desemprego elevado
—, que irá culminar, anos mais tarde
— em abril de 2011 —, no pedido de
resgate internacional, seguido da
chegada da troika ao país.
O ano é também de mudança do
ciclo político, com a chegada ao
Governo do PSD de Durão Barroso,
em coligação com o CDS/PP de
Paulo Portas, e que tem em Manuela
Ferreira Leite, ministra de Estado
e das Finanças, um dos seus nomes
fortes. Logo em 2002 é conseguida
uma melhoria do défice das contas
públicas, para os 3,3% do PIB. Mas
será um sucesso momentâneo. No
ano seguinte o défice agrava-se
para os 5,7% do PIB. E em 2004,
já com Santana Lopes à frente do
Governo e Bagão Félix nas Finanças,
ultrapassará os 6%.
Quanto ao rácio da dívida pública,
sobe para os 60% do PIB em 2002
e vai continuar a subir nos anos
seguintes. Em 2010 estará já acima
dos 100% do PIB.
Sónia M. Lourenço
18 ECONOMIA
IMOBILIÁRIO
Alojamento Faro, com aumentos de 25%, e Coimbra,
com 21%, são as cidades mais inflacionadas a nível nacional
Preços dos
quartos para
estudantes
em Lisboa
aumentam 19%
O
Elisabete Soares
s preços dos quar-
tos para estudantes
estão, em média,
19% mais caros do
que há um ano, na
cidade de Lisboa,
segundo os dados
apurados pela pla-
taforma imobiliária
ibérica BQuarto.
A mesma fonte conclui ainda que no
conjunto dos principais centros estu-
dantis a nível nacional os aumentos de
preços variam entre 12% a 15%.
Várias fontes do sector confirmam
ao Expresso que estamos perante uma
redução da oferta de quartos para
estudantes universitários e um au-
mento generalizado dos valores das
rendas praticados pelos proprietários
e operadores privados, no arranque do
novo ano letivo de 2023/24.
Esta situação é também confirmada
pelas duas maiores federações aca-
démicas do país, Lisboa e Porto, que
destacam que apesar das promessas
das entidades públicas de que a situa-
ção dramática que viveram muitos
estudantes no início do último ano
letivo, não voltaria a repetir-se, afinal
pouco ou nada se fez, e a situação vai
voltar a repetir-se. Isto porque algu-
mas das residências públicas estão a
realizar obras de remodelação e não
vão abrir no início do ano letivo e as
Casa com quartinho para mais um
novas residências que foram anuncia-
das vão disponibilizar pouca oferta,
sendo que a maioria ainda está em
construção, ou simplesmente ainda
nem avançaram.
“Efetivamente, prevemos que em
setembro não haja grande oferta de
quartos” e “não vemos grandes alter-
nativas para os estudantes”, destaca
Catarina Ruivo, presidente da Fede-
ração Académica de Lisboa.
A mesma ideia é transmitida por
Ana Gabriela Cabilhas, presidente da
Federação Académica do Porto — que,
tal como em Lisboa, representa as
associações dos principais estabeleci-
mentos de ensino superior. “O cenário
não é bom”, acaba por confessar Ana
Gabriela, destacando que “mais um
NO CASO DOS
PREÇOS MÉDIOS DE
ARRENDAMENTO POR
MÊS, LISBOA ASSUME
A LIDERANÇA COM
€438; FARO COM €363;
PORTO €354; AVEIRO
€333 E BRAGA €313
ano e novamente corremos o risco de
ter estudantes e não termos alojamen-
to para eles”.
Aliás, para Ana Gabriela, “neste do-
mínio, a execução do PRR (Programa
de Recuperação e Resiliência) não
merece nota positiva”, não apenas
nas medidas para a construção de
residências novas, mas também “na
baixa cobertura na requalificação das
existentes”.
Mas a sua preocupação estende-se
também ao programa Mais Habita-
ção, onde o segmento das residências
de habitação “ficou à margem”, bem
como no “programa de arrendamento
acessível”.
Catarina Ruivo complementa que,
“atualmente, a oferta da Universidade
de Lisboa é de 1155 camas, divididas
em 13 residências”, sendo que algu-
mas residências estão com obras de
remodelação “previstas terminarem
apenas em outubro”.
“O objetivo é a construção de 1360
novas camas até 2027 (segundo o pla-
no estratégico). Contudo, atualmente
em construção está apenas o “edifício
1 — de um complexo de 910 camas —
com uma oferta de 335 camas, que
está praticamente pronta”. A restante
oferta nova só será disponibilizada
mais tarde.
De destacar que a primeira fase do
Concurso Nacional de Acesso ao En-
sino Superior público — que abriu no
dia 24 de julho — terá 54.036 vagas
destinadas ao concurso nacional e
697 vagas destinadas aos concursos
de escolas locais, num número total
de 54.733 vagas. Segundo os dados
mais recentes, divulgados pela Dire-
ção-Geral de Estatísticas da Educação
e Ciência, em agosto do ano passado,
o número de inscritos no ensino supe-
rior — público e privado — atingiu o
maior valor de sempre, com 433.217
inscritos nas universidades e politéc-
nicos.
Apesar de a maioria dos estudantes
que concorreram ao ensino superior
ainda não saber o local exato onde
vão ser colocados — os resultados da
primeira fase têm prevista a publi-
cação no dia 27 de agosto — muitos
estudantes tentam nesta altura reser-
var um quarto. E este facto leva a que
O SECTOR QUEIXA-SE
DE QUE NO MAIS
HABITAÇÃO
O SEGMENTO DAS
RESIDÊNCIAS “FICOU
À MARGEM”, BEM COMO
NO ‘ARRENDAMENTO
ACESSÍVEL’
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Expresso, 4 de agosto de 2023
a procura seja já muito significativa,
visível nas dezenas de contactos relati-
vos aos anúncios que os proprietários
colocam nos sites de oferta de quartos.
Luísa (nome fictício da proprietária)
conta ao Expresso que cerca de duas
horas depois de colocar um anúncio
de “um quarto individual, numa casa
partilhada, localizada em Paranhos,
no Porto, por um valor de 250 euros
+ despesas,” tinha mais de 100 res-
postas — sendo que a maioria eram
de estudantes a pedir a reserva para
setembro.
De acordo com os dados fornecidos
ao Expresso pela plataforma BQuar-
to — site ibérico dedicado à colocação
de anúncios de oferta e procura de
quartos privados — os preços de ar-
rendamento apresentam aumentos
médios da ordem dos 12% a 25%, se
compararmos o primeiro semestre de
2022, com 2023.
Assim, de acordo com António Cos-
ta, gestor do BQuarto, Faro, com 25%,
Coimbra, com 21%, e Lisboa, com 19%,
são as cidades onde os preços dos
quartos têm apresentado maior cres-
cimento. Segue-se o Porto e Aveiro,
com 13%, e Braga com 12%.
No caso dos preços médios de arren-
damento por mês, Lisboa assume a
liderança com €438; Faro com €363;
Porto €354; Aveiro €333; Braga €313
e, por fim, Coimbra com €282.
Apesar de serem criticados porque
os preços das rendas praticados são
elevados, as residências privadas — a
Expresso, 4 de agosto de 2023
maioria de operadores internacio-
nais — acabam por ajudar a resolver
o problema da falta de alojamento
para estudantes no país. Pedro Bote-
lho Moniz — empresário que lidera a
StudYou, único player nacional com
presença neste mercado, adverte que
“depois de muitas promessas públicas
de que ia criar-se mais oferta de aloja-
mento, continuam a ser os privados a
resolver o problema”.
Com uma residência de 220 quartos
individuais, em operação desde se-
tembro de 2021, em Paranhos, Porto,
a StudoYou vai iniciar a construção
de um novo projeto em breve — loca-
lizado ao lado — com 320 quartos, e
iniciou o licenciamento de um novo
projeto na Alta de Lisboa.
Sobre os preços dos quartos na re-
sidência StudYou — gerida pelo CRM
Students —, iniciam-se nos €459/
mês, incluindo despesas, e são, na
opinião de Pedro Moniz, os adequa-
bpiexpressoimobiliario.pt
NÚMEROS
1155
é atualmente o número
de camas disponíveis para alunos
da Universidade de Lisboa
54.733
é o número total de vagas da
primeira fase do Concurso Nacional
de Acesso ao Ensino Superior público
As federações de estudantes
de Lisboa e Porto antecipam
um início de ano letivo muito
difícil para os estudantes
devido à falta de alojamentos
FOTO GETTY IMAGES
dos tendo em conta a atual conjuntu-
ra económica.
Outro dos grandes operadores, com
duas residências privadas de estudan-
tes, com mais de 1200 camas — que faz
com que seja o maior player na cidade
do Porto —, a Liv Student confirmou
que os “valores para o ano letivo 23/24
ECONOMIA 19
tiveram um incremento médio de cer-
ca de 7%”.
Carla Mendes, responsável da Liv
Student, destaca que “relativamente
aos preços, nos estúdios começam nos
€464/mês”. Já os quartos em aparta-
mentos partilhados — duplos ou indi-
viduais —, “podem contar com preços
a partir de €399/mês”. Acrescenta,
“em termos de ocupação, atualmente
estamos praticamente esgotados”.
Já a informação da Livensa Living
refere que “tendo em conta os au-
mentos do IPC (Índice de Preços no
Consumidor), dos custos de energia
e de pessoal associados a cada uma
das residências e ao serviço prestado,
tivemos de ajustar os nossos preços
em relação ao ano anterior”, destaca.
O operador tem um total de cinco
residências no país: duas em Lisboa,
no Marquês de Pombal, com 330 ca-
mas, e na Cidade Universitária, com
589 camas; duas no Porto, a Porto
Campus, com 723 camas (a maior resi-
dência Livensa da Península Ibérica),
e a Porto Boavista, com 382 camas, e
a Coimbra Rio, com 446 camas, em
Coimbra.
Sobre os preços nesta unidade de
Coimbra, a “título de exemplo”, o ope-
rador refere que “variam consoante o
tipo de quarto, a duração da estadia e
o momento da reserva”. Assim, acres-
centa que “uma cama num quarto
duplo começou por custar €302/mês,
no início da época de vendas relativa
à época de 2022/23, para um contra-
to de um ano inteiro, enquanto um
quarto single standard estava a €441/
mês, com os preços no final da época
a subirem até aos €935/mês para um
quarto individual premium para uma
estadia curta de menos de 3 meses”.
A cadeia Xior, com unidades no Por-
to, na Asprela e em Lisboa, no Lumiar,
Benfica, Alameda, Alvalade, destaca
que a atualização de preços vai dos 0%
até aos 15%, de acordo com as tipolo-
gias e as diferentes localizações.
economia@expresso.impresa.pt
20 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 4 de agosto de 2023

HABITAÇÃO

Estão a chegar a Portugal as primeiras

casas impressas em 3D
No próximo mês uma impressora 3D vai trabalhar várias semanas para produzir o primeiro protótipo
Amadeu Araújo
Com a escalada dos preços na
habitação sem fim à vista, a Van-
guard Properties e a Ecosteel
formaram um consórcio para
industrializar a construção —
produção de módulos em fábri-
ca, por oposição à logística do
estaleiro —, aumentar a oferta
e reduzir os preços. O objetivo é
construir três mil casas por ano,
quando tudo estiver operacio-
nalizado.
“Pretendemos construir me-
lhor e mais rápido e em 2024
queremos ter 300 casas cons-
truídas, mas o grande objetivo
é ganhar escala e atingir as três
mil por ano”, aponta José Maria
Ferreira, da Ecosteel, que com
José Cardoso Botelho, da Van-
guard Properties, fundaram a
Holding Permanente.
Esta empresa adquiriu o an-
tigo estaleiro da Construtora
Lúcios e a atividade de carpin-
taria, como pilar para alavancar
o crescimento da construção
modular, em Portugal.
O consórcio pretende usar o
estaleiro para ali “criar um fac-
tory complex [complexo fabril]
para dotar este espaço de siner-
gias com o foco final da indus-
trialização da construção, seja
por via da construção modular,
seja por via do negócio arrojado
e recente, a impressão de casas
3D, que em Portugal é um pro-
jeto absolutamente pioneiro e
exclusivo”, destaca José Maria
Ferreira.
As condições do estaleiro,
que inclui ainda uma central
de betão e uma serralharia, per-
mitem que ali se implemente
também o novo projeto de im-
pressão de casas 3D, “que será
uma realidade, muito em breve,
em Portugal, destaca José Ma-
ria Ferreira.
É naquele estaleiro que, em
agosto, o consórcio terá “uma
impressora 3D a trabalhar, para
construir o primeiro protótipo
de habitação e poder mostrar
como é exequível”, adianta o
empresário.
A investigação e desenvolvi-
mento do projeto “conta com
parcerias com as faculdades
de Arquitetura do Porto e de
Engenharia do Minho”, desven-
da José Ferreira. “A edificação
desta casa é muito semelhante
aos trabalhos feitos por impres-
soras 3D comuns, as diferen-
ças estão nos materiais, betão e
plástico”, explica o administra-
dor do consórcio. “Se num ano
conseguirmos ter uma dúzia de
impressoras a trabalhar, vamos
conseguir construir três mil ca-
sas”, adianta.
Em vez da construção no estaleiro, as casas são feitas por módulos FOTO D.R.
A Holding Permanente ad-
quiriu, entretanto, ao Grupo
Saint-Gobain a totalidade do
capital da Companhia Vidreira
do Porto, a Covipor.
Condições que “permitem
verticalizar toda a cadeia de
construção, sem depender do
exterior, construir melhor e mais
rápido”. Para isso, realça, “é pre-
ciso escala, preço e materiais”.
O empresário anota que “os
jovens não conseguem sair de
casa dos pais, comprar sequer
um T1, por €200 mil”. E acre-
dita que “é possível vender ha-
bitação por metade do preço,
se acelerarmos os processos,
formos capazes de reduzir os
custos de mão de obra e sermos
inovadores”.
Para José Maria Ferreira, o
consórcio Holding Permanen-
te acontece fruto de uma es-
tratégia “pensada, no sentido
de projetar a construção para
um patamar que sirva as no-
vas necessidades do mercado
futuro e se adapte à evolução e
inovação”.
A Ecosteel e a Kozowood, em-
presas fundadas por José Maria
Ferreira, têm vindo a desenvol-
ver ao longo dos últimos anos
novas formas de abordagem
construtiva, como a mais recen-
te aposta na impressão a 3D,
projetando e reforçando a indús-
tria da construção em Portugal,
“aproximando-se do que já suce-
de em outros países europeus”,
reforça aquele empresário.
José Cardoso Botelho, admi-
nistrador da Vanguard Proper-
ties, considera que a operação,
“dependente da aprovação das
autoridades competentes, ci-
menta a aposta da divisão de
private-equity no sector da
construção industrial portugue-
sa, estratégico para o desenvol-
vimento dos projetos futuros e
em execução”.
Cardoso Botelho lembra que
entre 2021 e 2023, a Vanguard
Properties “investiu 55 mi-
lhões nas empresas Kozowo-
od e Ecosteel, para permitir o
avanço na construção industrial
portuguesa”.
E a aquisição da Covipor,
destaca José Maria Ferreira,
“é mais um passo no sentido de
reforçar a estratégia já pensada
e analisada há algum tempo,
para projetar o universo da
construção para um patamar
que sirva as necessidades do
futuro e se adapte à evolução e
inovação que vários outros sec-
tores têm alcançado”. Ou seja,
“assegurar a qualidade, eficiên-
cia e garantia dos projetos que
desenvolvem, com custos de
habitação mais baixos que os
atuais”, garante o empresário.
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explorações aumentaram a superfície cultivada
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O preço dos solos agrícolas
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de dois anos, de acordo com
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investimentos sobre desenvol-
vimento rural. Noutras geo-
grafias os aumentos atingem
um terço do preço praticado
em 2021.
Vários técnicos agrícolas
contactados pelo Expresso
dão conta de “variações signi-
ficativas de preços” em regi-
ões como, por exemplo, o Vale
da Vilariça, entre Alfândega
da Fé e Torre de Moncorvo,
onde um hectare custa atual-
mente 21 mil euros, quando
em 2021 esse valor oscilava
entre 5 mil e 10 mil euros. São
Casa para tomar
o pequeno-almoço
com vista
terras irrigadas por um siste-
ma de barragens e depósitos,
o que as torna nas mais férteis
do país.
Tal como na Cova da Bei-
ra, que engloba a campina
de Idanha-a-Nova, onde hoje
são precisos 35 mil euros para
comprar um hectare, quan-
do há dois anos bastavam, no
máximo, 15 mil euros, asse-
gura uma fonte local ligada
ao sector agrícola. E adianta
ainda que mesmo em solos de
minifúndio, como na Beira In-
Consultor imobiliário
rejeita que haja
“especulação” e diz
que o investidor
“paga o que a terra
pode gerar”
Encontre justamente o que
procura e muito mais.
terior, o preço do hectare pas-
sou dos 7500 euros para os 20
mil euros em solos com água e
eletricidade. Ou no Douro Sul,
que viu a terra em socalcos va-
lorizar dos 10 mil para os 22
mil euros, conforme revelam
alguns portais de comerciali-
zação de terrenos rústicos.
Já no Alentejo os valores
cresceram 33% no espaço de
dois anos e não há terra dispo-
nível, e aqui o preço do hectare
aumentou 10 mil euros no es-
paço de um ano.
A escassez de terra cultivá-
vel, a chegada ao país de in-
vestidores internacionais e a
maior rentabilidade da produ-
ção, com o aumento generali-
zado dos produtos agrícolas,
está a incentivar, segundo os
consultores agrícolas ouvidos
pelo Expresso, uma “forte pro-
cura” de terrenos para cultivo.
Há dois anos um grupo de
investimento internacional
Expresso, 4 de agosto de 2023
comprou dois mil hectares de vel”, revela um empresário que José Martino, consultor agrí-
regadio no Alentejo para um opera na região. cola da Espaço Visual e que
projeto frutícola. O valor pago Na área de Alqueva, o enorme introduziu em Portugal novas
foi de 20 mil euros por hectare. projeto de regadio que transfor- culturas, como o pistacho, con-
“Hoje um hectare de terra em mou a paisagem alentejana, “o firma: “No Alentejo do regadio
Odemira, no perímetro de rega preço de um hectare atinge os já não há terra disponível e o
do Mira e onde estão as grandes 30 mil euros, dada a forte pro- que se vende são participações
plantações de frutos vermelhos, cura e a inexistência de gran- em empresas que detêm a ter-
pode chegar aos 40 mil euros, des extensões de terra”, adianta ra.” E lembra que o valor da ter-
pela simples razão de que pra- uma fonte da empresa que gere ra “é ditado pelo rendimento
ticamente não há terra disponí- o empreendimento. líquido, o valor do que produz”.
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Expresso, 4 de agosto de 2023 bpiexpressoimobiliario.pt 23

“hoje não se encontra por me- elevado potencial produtivo

E a subida do preço dos ter-
renos agrícolas está em cres-
cendo desde há dois anos, do
Minho ao Algarve, impulsio-
nada também pela procura
internacional.
Thomas Teixeira da Mota,
diretor de agronegócio para
o Sul da Europa da consulto-
ra imobiliária internacional
CBRE, conta que “a escassez
A procura de solos agrícolas continua a impulsionar os preços, sobretudo em áreas
de regadio, e os mesmos duplicaram em muitas localizações FOTOS D.R.
de alimentos e a existência de
melhores preços de terrenos
agrícolas em Portugal, que
permitem produzir o mesmo
que noutros países com meno-
res custos, está na origem do
incremento da procura”.
O consultor exemplifica com
o amendoal, com um hectare
de solo agrícola a custar “60
mil euros na Califórnia, quan-
do em Portugal é metade do
preço, com menores custos de
mão de obra e de transporte, e
logo melhores retornos, como
está a acontecer em Idanha”,
na Cova da Beira.
E o executivo afasta qual-
quer “especulação”. O inves-
tidor “paga o que a terra pode
gerar”, sendo claro que “os
nos de 12 mil euros”, reconhe-
ce Luís Próspero, viticultor e
produtor de cortiça.
“Os terrenos de sequeiro
resistem com as chuvas que
caem entre o outono e a prima-
vera, que mantêm as culturas,
porém a pouca precipitação
dos últimos anos está a colocar
em risco este tipo de cultura”,
aponta José Martino. Já o re-
gadio “permite outras renta-
bilidades, com maiores pro-
duções e culturas, que geram
mais-valias bastante maiores”,
afirma.
Também na região Centro
os preços da terra estão a su-
bir. Rui Santos, presidente da
Cooperativa Agropecuária dos
Agricultores de Mangualde,
que se tem vindo a afirmar nos
frutos vermelhos, aponta para
um valor de hectare de “7500
euros, em solos com água e
eletricidade, que se pratica em
terrenos de maior dimensão”.
Há dois anos os terrenos
vendidos nesta região não ul-
pequenos agricultores terão sozinhos ou em sociedade com trapassavam os 3 mil euros
maiores dificuldades em ad- empresários internacionais e e José Martino aponta para
quirir terra, mas é tudo efeito que estão a plantar sobretudo outro valor: “Entre 10 mil e
da procura que se faz sentir”. olival e amendoal”. 20 mil euros, metade em pro-
Também João Fonseca, pe- Mesmo os terrenos de mon- priedades pequenas.” E a di-
rito avaliador de imóveis, ar- tado ou sequeiro também es- mensão é outro fator que está
gumenta que “o aumento do tão a valorizar-se. Em Portel, a fazer subir o preço dos solos
preço está relacionado com a onde um hectare de montado agrícolas.
atividade agrícola e não com a valia há dois anos 6 mil euros, Os dados do Instituto Na-
especulação por causa do pro- cional de Estatística (INE)
grama Mais Habitação, que apontam para um aumento
permite urbanizar alguns solos da área cultivada em “400 mil
rústicos”.
A escassez de hectares e um abrandamento
Paulo Tomé, especialista em terra já fez disparar dos processos de abandono”.
planeamento rural e presiden- os preços por E sustenta estes dados com
te da Associação de Regantes hectare, na zona “a extensificação associada
de Idanha-a-Nova, confirma. de Odemira, para ao aumento da superfície de
“Há quatro anos um hectare pastagens nas grandes explo-
de terra custava 6 mil euros,
os 40 mil euros rações e o aparecimento de
hoje pagam-se 35 mil.” Os in- novas explorações com for-
vestidores “são portugueses, te vocação para o mercado,
e com sistemas de produção
modernos e tecnologicamente
diferenciados”.
Hoje são as sociedades que
gerem “um terço da superfície
agrícola utilizada”, reforça o
INE, a par de um aumento de
“16,6% da superfície potencial-
mente regada”.
A produção de frutos de casca
rija foi outra forte aposta na
última década, “que levou pra-
ticamente à duplicação das áre-
as, +98,6%”, destaca o Instituto.
E “continua a faltar terra”,
lamenta Rui Santos. O presi-
dente da cooperativa de Man-
gualde, que lançou um banco
de terras, espera que “o levan-
tamento do cadastro, que tem
estado a ser feito, contribua
para um maior emparcela-
mento”. O mesmo desejo tem
José Martino, que acredita
que “um bom programa de
emparcelamento pode dupli-
car o produto interno bruto da
agricultura em poucos anos”.
A produção agrícola rendeu
no último trimestre €989 mi-
lhões, mais €2 milhões do que
no período homólogo.
Apesar de haver uma Bolsa de
Terras, a oferta é de 21.890 hec-
tares, “insuficiente para as ne-
cessidades”; o ideal, sugere José
Martino, “seria o financiamen-
to do emparcelamento com um
programa de crédito bancário
e simplificação de processos”,
o que permitira “aumentar a
área agrícola, ganhar escala e
esbater os custos fixos”.
Porém, além de faltar terra,
desconhecem-se os proprietá-
rios de muitos solos aráveis.
Em 308 municípios, 174 não
dispõem de qualquer tipo de
cadastro do território.
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24 ECONOMIA Expresso, 4 de agosto de 2023

EMPREGO

Formação Cursos de Tecnologias e Engenharia

estão entre os que garantem melhores salários
em início de carreira. Mas a maioria dos
jovens em Portugal ganha menos de €1000

Há salários
de €4000
em início
de carreira?
Há, mas
são poucos
remunerações praticada nos recruta-
Cátia Mateus

N
o país onde, em
2022, perto de 65%
dos jovens com me-
nos de 30 anos, a tra-
balhar por conta de
outrem, tinham um
rendimento mensal
inferior a €1000
brutos, segundo
dados do Ministério do Trabalho, há
também profissões onde, em início da
carreira, um licenciado pode ganhar
o quádruplo da média dos seus pares.
É o caso dos especialistas em ciberse-
gurança, em regra com formação na
área das engenharias e tecnologias
de informação, onde a remuneração
média bruta anual pode rondar os €60
mil (cerca de €4285 brutos mensais)
para um patamar de até cinco anos
de experiência. E é também o caso de
alguns perfis ligados à indústria farma-
cêutica, onde a formação base não tem
forçosamente de passar pela medicina,
farmácia ou ciências da vida.
Em época de candidaturas de acesso
ao ensino superior, o Expresso partiu
do Guia Salarial 2023, elaborado anual-
mente pela consultora de recrutamento
Hays, para identificar as profissões que
pagam melhor a quem entra no merca-
do de trabalho após terminar a forma-
ção superior, bem como os vários cur-
sos que podem qualificar profissionais
para estas carreiras. A análise incidiu
sobre um conjunto de 307 profissões,
de 13 sectores de atividade, cobrindo a
generalidade do tecido empresarial na-
cional. Foram considerados os salários
médios brutos anuais praticados em
território nacional para profissionais
em início de carreira (até cinco anos de
experiência). O resultado é uma lista
de 30 profissões que pagam acima da
média nacional (atualmente nos €1358)
para quem chega ao mercado de traba-
lho. Engenharias e tecnologias domi-
nam entre os cursos que garantem me-
lhores salários no país, mas há também
boas oportunidades para quem tem
mentos realizados pela consultora em
Portugal, nos últimos 12 meses.
O sector das Tecnologias da Infor-
mação (TI), tem sido dos que mais tem
beneficiado com a valorização dos sa-
lários nos últimos anos, não só na fase
inicial da carreira como ao longo de
todo o percurso. Isso mesmo demons-
tram os dados analisados pelo Expres-
so. Nas primeiras dez posições da lista
de profissões que garantem salários
brutos acima da média nacional em
início de carreira estão seis ligadas ao
sector tecnológico (ver infografia). “O
diferencial salarial que encontramos
associado às profissões tecnológicas
30 PROFISSÕES QUE PAGAM ACIMA DA MÉDIA À ENTRADA NO MERCADO
— cuja formação de base é sobretu- Remuneração média bruta mensal para profissionais com até cinco anos de experiência, em euros
do suportada por cursos nas áreas da
engenharia informática, engenharia
de sistemas, engenharia eletrónica e 1 Responsável de cibersegurança 4285,7
outras — resulta da escassez de oferta 2 Arquiteto de soluções CRM — customer relationship Management 3928,6
disponível no mercado e da elevada 3 Delegado hospitalar (indústria farmacêutica) 3678,6
procura por parte das empresas nacio- 4 Gestor de produto (farmacêutico) 3310,7
nais e internacionais”, explica Carlos 5 Arquiteto cloud 3214,3
Maia, diretor regional da Hays. 6 Engenheiro de inteligência artificial 3214,3
7 Responsável de e-commerce 3071,4
8 Analista de risco 3000
Engenharia, matemática 9 Scrum master (responsável projetos na metodologia scrum) 2857,1
e ciência de dados ganham valor
10 Programador mobile 2857,1
As carreiras na área da cibersegurança 11 Site reliability engineer 2857,1
são disso um exemplo: “A necessidade 12 Responsável de comunicação 2785,7
é muita e os perfis disponíveis e quali- 13 Gestor de produto (marketing) 2785,7
ficados são muitíssimo escassos”, ex- 14 Responsável de manutenção (energia) 2750
plica, acrescentando que isto faz com 15 Contabilista certificado 2678,6
que estes profissionais sejam muito 16 Especialista em market access (farmacêutico) 2575
valorizados em termos salariais e de 17 Clinical researcher (farmacêutico) 2575
benefícios, mas também com que che- 18 Atuário 2571,4
guem a funções de responsabilidade 19 Gestor de marca (marketing) 2571,4
muito cedo na sua carreira. Mas há, 20 Técnico de registo de assunto regulamentares (farmacêutico) 2571,4
explica o especialista da Hays, outras 21 Especialista em marketing digital (farmacêutico) 2500
carreiras, “essencialmente ligadas às 22 Auditor 2500
áreas da inteligência artificial, cloud, 23 Responsável de produção 2500
programação, mas também à ciência 24 Engenheiro de sistemas 2500
de dados, que têm vindo a registar uma 25 Engenheiro cloud 2500
elevada procura em vários sectores de 26 Responsável de produção 2500
atividade e, consequentemente, maior 27 Gestor de projeto (energia) 2500
valorização salarial, abrindo um novo 28 Especialista em marketing digital (farmacêutico) 2500
leque de oportunidades a quem tem 29 Especialista em farmacovigilância (farmacêutica) 2357,1
formação de base não só na área das 30 Especialista em trade marketing 2357,1
engenharias mais ligadas à tecnolo- Nota: Os valores apresentados têm como referencial os salários médios praticados no mercado nacional por profissão, para um nível de experiência até 5 anos.
gia, mas também à matemática, data Foram excluídos desta análise cargos de direção. Valores podem variar consoante a região do país
science, entre outras”. FONTE: GUIA DO MERCADO LABORAL — HAYS 2023; DADOS RECOLHIDOS PELO EXPRESSO

formação nas áreas ligadas à Gestão, De resto, as carreiras ligadas à tec-

Economia e Finanças.
O perfil de alguém sub-30 com uma
remuneração bruta mensal superior
a €4200 (excluindo outros benefícios
salariais associados) não é prática co-
mum em Portugal e pode até causar
espanto, tendo em conta o cenário
de baixos salários pelo qual o país é
conhecido. Mas é precisamente esta a
remuneração média associada à fun-
ção especialista/responsável de ciber-
segurança, nos primeiros cinco anos
nologia não só estão entre as que re-
gistam melhores salários à entrada no
mercado de trabalho como apresen-
tam o maior potencial de incremento
salarial resultante da progressão pro-
fissional, mostra a análise realizada
pelo Expresso às mais de 300 funções
analisadas. Em média, mostram os
dados, a maioria das funções da área
tecnológica regista um incremento
salarial na ordem dos 50% uma vez
ultrapassados os cinco anos de expe-
face à entrada no mercado de trabalho, mento ao cliente, marketing e vendas)
como é o caso dos administradores de —, especialistas de acesso ao mercado
sistemas ou dos engenheiros cloud. (market access), investigadores clínicos,
EMPRESAS VALORIZAM E não são apenas os cursos ligados
ao sector das TI que podem garantir
especialistas de regulamentação ou
outros, na área do marketing digital e
CADA VEZ MAIS a um recém-licenciado uma vantagem
salarial superior. Várias funções liga-
farmacovigilância, apresentam igual-
mente salários aliciantes.
COMPETÊNCIAS das à indústria farmacêutica, como os
delegados hospitalares, os gestores de
TRANSVERSAIS, produto — responsáveis por assegu-
Conhecimento
quer-se transferível
INDEPENDENTEMENTE
rar a sua gestão eficaz e rentabilidade,
envolvendo estrategicamente todas as Nesta indústria, como tem vindo a

DO CURSO SUPERIOR
de carreira, segundo o guia salarial riência profissional. E há mesmo casos áreas relacionadas com o produto (de- acontecer em vários sectores, torna-
da Hays, que tem por base a média de em que o salário mais do que duplica senvolvimento, implementação, atendi- -se claro que a área de formação já
Expresso, 4 de agosto de 2023
não é, em si, o que dita o futuro de um
profissional. “Cada vez mais os empre-
gadores valorizam uma certa trans-
versalidade e diversidade das áreas
de formação”, garante Carlos Maia. O
gestor de produto é disso um exemplo,
sendo possível encontrar nesta função
profissionais com formação académica
nas áreas das ciências da saúde, mas
também da gestão, marketing e até
alguns ramos de engenharia, como é
o caso da biomédica.
As funções, garante Carlos Maia,
“estão mais fluidas nas empresas”. E
o especialista em recrutamento até
dá o exemplo que encontra dentro
de portas, na equipa que compõe a
própria Hays: “Temos consultores
de recrutamento que vêm da enge-
nharia, das relações internacionais,
da gestão. Ou seja, não são o típico
consultor formado em Gestão, Re-
cursos Humanos, Psicologia das Or-
ganizações, Sociologia do Trabalho”.
E aponta que “há uma aposta cada vez
maior na reconversão e transferência
de conhecimentos de profissionais de
áreas com menor empregabilidade
para sectores onde há maior carên-
cia de profissionais e, naturalmente,
melhores salários”.
Segundo o especialista, além das en-
genharias de vocação tecnológica, “há
uma grande valorização salarial e pro-
cura de perfis de economia, gestão, fi-
nanças, maioritariamente absorvidos
pelas consultoras, mas agora também
pelos centros de serviços partilhados
que estão a investir em força no país,
com incrementos salariais em início
de carreira muito interessantes”.
A estes cursos, Carlos Maia acres-
centa ainda “todas as engenharias
com ligação direta à indústria — ele-
trotécnica, mecânica, de design in-
dustrial, de automação e automação
industrial, gestão industrial, automó-
vel — que continuam muito valoriza-
das. E, agora, as ligadas ao sector da
energia (engenharia das energias re-
nováveis e outras), onde a valorização
salarial é grande logo nos primeiros
patamares da carreira”. Carlos Maia
aponta ainda alguns cursos superio-
res muito procurados pelo sector da
logística, como a Engenharia de Ges-
tão Industrial e a Gestão de Transpor-
tes, entre outras.
Ainda que reconheça que é nas TI
que se concentram os salários mais
elevados logo no início da carreira,
Carlos Maia nota que o mercado está
a registar um fenómeno de polariza-
ção salarial que, “não sendo gene-
ralizado, pode acentuar-se”, se não
for corrigido. “Há várias profissões,
na gestão, finanças, contabilidade
e algumas engenharias onde, fruto
dos ajustes introduzidos pelo Gover-
no, tanto no salário mínimo como na
remuneração dos estágios, estamos
a assistir a uma valorização maior
dos salários nas posições de início
de carreira que não é acompanhada
pela equivalente evolução nos salá-
rios intermédios”, explica. Assim,
diz, “encontrarmos carreiras onde
os salários de um recém-licenciado
são muito próximos do que é pago a
um profissional com dez ou mais anos
de experiência”. Algo que, vinca, “é
preciso ir corrigindo”.
Apesar de existentes, os casos de jo-
vens recém-licenciados com salários
na ordem dos elencados são uma mi-
noria. No país, continuam a dominar
os baixos salários (ver texto ao lado)
e os últimos indicadores do Instituto
Nacional de Estatística (INE) fazem
soar alertas sobre uma nova vaga de
emigração jovem. No primeiro tri-
mestre deste ano, o emprego estava
perto de máximos históricos, com
4,925 milhões de pessoas. Porém, a
desagregação dos dados por qualifi-
cação mostra uma redução de quase
105 mil trabalhadores com formação
superior desde 2011, o que aponta no
sentido da emigração de trabalhado-
res portugueses qualificados, sobre-
tudo jovens, que procuram noutros
países melhores condições de vida e
de trabalho.
cmateus@expresso.impresa.pt
ANÁLISE
44% da geração Z
e 31% dos millennials
têm dois empregos
Mais de metade dos profissionais em Portugal temem não
conseguir pagar despesas, conclui estudo da Deloitte
A crescente preocupação com
o aumento do custo de vida
está a mudar a forma como os
jovens profissionais se posicio-
nam perante a carreira, op-
tando por acumular empregos
para conseguir garantir despe-
sas básicas. Em Portugal, 44%
dos profissionais da designada
geração Z (nascidos entre 1995
e 2004) e 31% dos millennials
(nascidos entre 1982 e 1994)
acumulam dois empregos (a
tempo parcial ou completo)
para conseguirem honrar com-
promissos financeiros. E, ainda
assim, a grande maioria não vê
que seja possível assumir gran-
des compromissos financeiros,
como comprar casa ou cons-
tituir família, se a economia
não melhorar nos próximos 12
meses. Os dados constam do
último “Gen Z and Millennial
Survey 2023”, o inquérito glo-
bal realizado pela consultora
Deloitte para avaliar o modo
como os acontecimentos dis-
ruptivos dos últimos três anos
estão a moldar a vida e as opini-
ões dos jovens, a que o Expres-
so teve acesso.
Em apenas um ano as con-
dições degradaram-se e o
número de profissionais em
Portugal que acumulam, pelo
menos, dois empregos aumen-
tou de 23% para 31%, no caso
dos millennials e de 32% para
44%, entre a Geração Z. Para
quase metade destes profissio-
nais (47% dos ‘Z’ e 46% dos
Profissionais de millennials), a opção justifica-
cibersegurança -se com a necessidade de obter
estão entre os uma fonte de rendimento adi-
mais bem pagos cional que garanta o cumpri-
do país, logo mento dos seus compromissos
no início da financeiros, revela o estudo da
carreira FOTO Deloitte.
GETTY IMAGES De acordo com as conclusões
do inquérito — que foi realizado
junto de 22.856 profissionais
em 44 países, 400 em Portugal
(200 ‘Z’ e 200 millennials) —, a
maioria dos empregos secun-
dários que representam uma
“tábua de salvação” para os
Quase metade dos
jovens trabalhadores
em Portugal
admite sentir
ansiedade e stresse
em permanência
profissionais portugueses con-
centram-se na chamada econo-
mia das plataformas (entrega
de bens ou transporte desca-
racterizado de passageiros),
atividades relacionadas com
desportos interativos (eSports),
restauração ou retalho, e venda
de produtos e serviços através
de plataformas online. Ainda
assim, aponta a Deloitte, “cerca
de metade — 53% da geração
Z e 51% dos millennials portu-
gueses — vive de ordenado em
ordenado e tem receio de não
conseguir fazer face a todas as
despesas”.
Os números alcançados em
Portugal não variam muito
dos indicadores apurados nos
restantes 43 países. Contudo,
entre os millennials, por exem-
plo, o número de profissionais
portugueses que admite o re-
ceio de não conseguir assegu-
rar o cumprimento dos seus
NÚMEROS
53%
dos profissionais
da geração Z e 51%
dos millennials portugueses
vivem com o “ordenado
contado” e receiam
não conseguir fazer face
a despesas básicas
72%
dos trabalhadores Z
inquiridos pelo estudo
em Portugal afirmam
que será muito difícil ou
mesmo impossível
tomarem decisões
económicas de fundo,
como comprar casa.
Entre os millennials a
percentagem é
ligeiramente inferior, 67%
46%
dos jovens da geração Z
em Portugal e 39%
dos millennials dizem
sentir-se stressados
e em esgotamento devido
à intensidade das suas
obrigações profissionais
encargos financeiros é quase
o dobro da média global re-
gistada nos vários países que
integram o estudo (51% em
Portugal contra 27% em ter-
mos globais). E este é, como
explica Diogo Santos, sócio
(partner) da Deloitte, um dos
aspetos críticos que resultam
deste estudo: “A preocupação
com o custo de vida é um pro-
blema global, mas em Portugal
era 25% superior à identificada
pelos profissionais dos restan-
tes países.” Os nossos jovens,
vinca, “sentem uma maior
preocupação no que ao custo
de vida diz respeito e isso tra-
duz-se também no aumento de
quase 10 pontos percentuais no
número dos jovens portugue-
ses que passaram a acumular
dois ou mais empregos, regis-
tado face a 2022”.
Impacto na saúde mental
Com o aumento do custo de
vida no topo das preocupações
para quase metade dos portu-
gueses destas gerações, o im-
pacto na saúde mental torna-se
também evidente. “Apesar de
se registarem algumas melho-
rias [face a edições anteriores
do estudo], os níveis de stres-
se e esgotamento continuam
elevados entre os profissionais
da geração Z e os millennials”,
aponta o estudo. Cerca de 46%
ECONOMIA 25
da geração Z e 39% dos millen-
nials inquiridos a nível global
afirmam sentir-se stressados
durante grande parte do tempo
ou em permanência. Núme-
ros que em Portugal são ainda
superiores: 49% na geração
Z e 43% quando falamos dos
millennials.
De acordo com o inquérito
conduzido pela Deloitte, em
Portugal, no topo das preocu-
pações que mais contribuem
para este quadro estão a sa-
úde mental (53% e 33%, res-
petivamente, para os ‘Z’ e os
millennials), a incerteza em
relação ao futuro financeiro
a longo prazo (52% e 48%), a
garantia de saúde e bem-estar
da sua família (52% e 46%) e
as finanças do dia a dia (48%
e 40%). Mais, “em Portugal,
um número elevado de jovens
— 46% dos ‘Z’ e 39% dos millen-
nials — afirma sentir-se muito
stressado e em esgotamento
devido à intensidade das suas
obrigações profissionais”, va-
lores que correspondem a um
aumento face aos apurados
pelo estudo em 2022.
O inquérito conduzido pela
Deloitte aponta que em Por-
tugal quase metade dos pro-
fissionais de cada uma destas
gerações desempenha funções
em regime de trabalho híbri-
do ou remoto e a esmagadora
maioria (68% dos ‘Z’ e 75% dos
millennials) admite que pro-
curaria outro emprego caso
o empregador requeresse a
presença física no escritório
todos os dias. “A flexibilidade
é um dos principais elementos
para os profissionais portu-
gueses”, sinaliza o estudo que,
no entanto, lança alguns sinais
de alerta: “18% da geração Z e
15% dos millennials sentem-se
excluídos ou prejudicados pe-
las chefias a favor de colegas
que passam mais tempo em
regime presencial e preocu-
pa-os que o modelo híbrido
ou remoto possa limitar a sua
Cerca de um quarto
dos profissionais
aponta dificuldade em
desligar do trabalho,
continuando a
responder a mensagens
carreira, isto porque 14% acre-
ditam que se torna mais difícil
estabelecer uma relação com
colegas”.
No estudo, a Deloitte aponta
ainda como sinal de alerta a
ansiedade causada pela dificul-
dade que muitos profissionais
têm em desligar-se dos deveres
profissionais após o dia de tra-
balho. Em Portugal, cerca de
um quarto dos inquiridos (23%
da geração Z e 25% dos mil-
lennials) admite responder a
e-mails e mensagens profissio-
nais fora do horário de traba-
lho, todos os dias. “A maioria
diz fazê-lo para se manter a par
dos últimos desenvolvimentos
ou por serem mensagens pro-
venientes da chefia ou supervi-
sores, mas um número elevado
dos jovens inquiridos afirma
sentir-se ansioso e ter dificul-
dade em desligar do trabalho”,
sinaliza o estudo. C.M.
26 ECONOMIA Expresso, 4 de agosto de 2023

PROCUREMENT & SUPPLY

CHAIN MANAGER
SERVIÇOS MUNICIPALIZADOS
DE ÁGUAS E SANEAMENTO DE MAFRA LUANDA – ANGOLA
Grupo empresarial sólido e de referência com sede em Luanda, na

AVISO área de retalho e com diferentes áreas de negócio, aceita candidatu-

ras para a função Procurement e Supply Chain Manager (m/f).

Principais Responsabilidades:
Procedimento concursal comum para recrutamento de • Procurement – compras nacionais
• Negociação fornecedores alimentação e bebidas
2 (dois) Técnicos Superiores para a Divisão de Projetos • Apoio na elaboração do catálogo Cabazes de Natal
e Fiscalização (m/f), área de engenharia civil e engen- • Apoio no cálculo do preço de custo de cada cabaz
haria do ambiente (sanitária), tendo em vista a consti- • Envio para o Marketing da Tipologia de cada Cabaz para elabora-
tuição de vínculo de emprego público por contrato de ção do catálogo de Cabazes
trabalho em funções públicas por tempo indeterminado. • Responsável aprovisionamento do armazém cabazes com ali-
mentação e bebidas
• Responsavel pela definição e implementação do processo logísti-
Nos termos do disposto no n.º 2 do artigo 11.º da Porta-
co desde:
ria n.º 233/2022, de 9 de setembro, faz-se público que os o Receção de mercadoria
Serviços Municipalizados de Águas e Saneamento de Mafra o Picking
– SMAS de Mafra, conforme deliberação do Conselho de o Produção
Administração de 17 de novembro de 2022, procederam à o Expedição
abertura de procedimento concursal comum pelo prazo de o Stock
10 dias úteis a contar da publicação integral do Aviso n.º
Requisitos necessários:
14425/2023, na 2.ª Série do Diário da República n.º 147, • Capacidade e experiência de liderança
de 31 de julho de 2023, para preenchimento de postos de • Experiência em trabalhar com ERPs, nomeadamente Primavera
trabalho, na modalidade de contrato de trabalho em funções • Experiência mínima 3 anos em cadeia de abastecimento
públicas por tempo indeterminado, da carreira/categoria de
Técnico Superior para desempenhar funções na Divisão de Residência, alimentação e outros benefícios incluídos e ordenado
compatível com experiência.
Projetos e Fiscalização.
Os candidatos devem enviar as candidaturas para
O Presidente do Conselho de Administração soangola@outlook.com, com referência “Procurement e Supply
Hélder Sousa Silva Chain Manager”, no “assunto” do e-mail

ÁGUEDA
Para Grupo industrial de referência a nível europeu, grande dimensão e noto-
riedade, sólido, inovador e fornecedor, entre outros, da indústria automóvel,
procura-se, para reforçar a sua capacidade de Investigação Operacional,

PROJECT LEADER DE I&D (m/f)

Que, reportando ao Diretor de Engenharia, analise a tipologia de materiais,

produtos e processos produtivos da empresa, identifique soluções existentes ou
em desenvolvimento pela concorrência, e estude a literatura científica e técni-
ca, para caracterizar oportunidades de desenvolvimento de produtos inovadores
quanto a materiais, desenho ou processo produtivo; conceba dossiers e mapas
de experiência dos novos produtos e coordene as diversas etapas, acompa-
nhando, em particular, simulações, ensaios, atividades de conceção e produção
de protótipos; elabore os respetivos relatórios, incluindo projeção de custos e
vendas, e documentação técnica para efeitos laboratoriais, fabris, de qualidade
e formação, bem como para eventual registo de propriedade intelectual.

São elementos relevantes para o perfil do novo colaborador: conhecimento

técnico-científico robusto de materiais metálicos, seu comportamento e apli-
cação em processos industriais; capacidade de investigação aprofundada, pla-
neamento e transposição de resultados para processos e produtos inovadores
e desejáveis pelo mercado; autonomia, atenção ao detalhe, espírito analítico e
de melhoria contínua, persistência, orientação por processos e para resultados,
A CHAVE PARA O formulação de soluções e resolução de problemas.

SUCESSO PROFISSIONAL Requer-se ainda Mestrado ou Doutoramento em Engenharia Mecânica, de

Materiais ou equivalente, experiência profissional superior a 5 anos, preferen-
cial com estampagem a frio e ou indústria automóvel, capacidade de comuni-
ESTÁ AQUI! cação escrita clara e eficaz, interação em cooperação, a todos os níveis, domí-
nio obrigatório de Inglês e preferencial de Espanhol e outras línguas.

Oferece-se rara oportunidade de carreira em Investigação Operacional, em

grupo apostado na inovação com soluções mais eficientes e económicas em
ESTAMOS A RECRUTAR toda a gama e, particularmente, com produtos patenteados geradores de mais
margem, quota e notoriedade nos segmentos de maior valor acrescentado (vg
CANDIDATE-SE AQUI!
indústria automóvel). Remuneração adequada à função e competências do ti-
DEP. DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO tular.
223 245 669 Agradece-se resposta com carta de motivação, acompanhada de CV
majestic@remax.pt
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Licença AMI 10092 | Cada agência é de propriedade e gestão independente
detalhado, para pedro@paisrodrigues.pt. Guarda-se sigilo.
Expresso, 4 de agosto de 2023 ECONOMIA 27

A H.B. Fuller, um dos maiores fabricantes de adesivos e selantes industriais do mundo, está a
recrutar em várias áreas e procura um DIRETOR/A DE PRODUÇÃO. Com forte presença em
Portugal, a multinacional americana conta com mais de 450 colaboradores e instalações no
Grande Porto, com um centro global de serviços em Finance, Customer Service, TI e RH, uma
unidade produtiva e laboratórios de I&D. A empresa trabalha com clientes em mais de 20
setores nas regiões da EIMEA, EUA e Ásia. www.hbfuller.pt

DIRETOR/A DE PRODUÇÃO
- Production Manager, Grande Porto -
Com reporte direto ao Diretor de Fábrica, o/a Diretor/a de Produção será o responsável por
garantir o correto planeamento e cumprimento do volume e dos custos de produção em linha
com KPIs, necessidades e previsões, inventário e prazos de entrega. Destaca-se ainda a:
Coordenação de recursos relacionados com a produção (pessoas, processos, equipamento
e materiais) com vista a atingir os objetivos e de especificações e instruções de segurança,
sustentabilidade e qualidade (ISO 14001 e 9001)
Participação na definição do orçamento para o departamento de produção, dos objetivos
anuais para as equipas e das necessidades de recrutamento
Gestão de projetos de engenharia com vista à otimização de processos e melhoria contínua

Requisitos
Requisitos
Licenciatura em Engenharia (Química ou Gestão Industrial – preferenciais)
Mínimo de 5 anos de experiência profissional e em funções semelhantes
Experiência prévia em ferramentas de melhoria contínua (5S e Lean 6 Sigma)
Experiência na indústria dos adesivos, química especializada e/ou outras
relacionadas (preferencial)
Domínio do Inglês (oral e escrito)

Faça parte de uma das 50 Melhores Empresas Para Trabalhar!

Esta e outras vagas aqui:

A Marques Ambiente encontra-se a recrutar

A nossa missão é proporcionar experiências inesquecíveis na degustação dos nossos produtos, em especial
cafés e vinhos, garantindo um serviço de excelência, satisfazendo as expetativas dos nossos clientes e pro-
porcionando uma gestão sustentável.
DIRETOR DE PRODUÇÃO
No grupo promovemos uma cultura de partilha e transparência no trabalho porque acreditamos que assim
atingimos melhores resultados. Construímos o futuro, pomos foco nos resultados e lideramos pelo exemplo.
(m/f)
Estamos à procura para reforço da nossa equipa (m/f):

ASSISTENTE DE LOGÍSTICA – EXPORTAÇÃO Funções a desempenhar:

Principais responsabilidades: • Controlo, planeamento e gestão das áreas ambientais e flores-
O/A profissional a admitir será responsável por tarefas administrativas essenciais ao bom funcionamento do
departamento onde ficará inserido, nomeadamente receção, registo e expedição de encomendas, bem como
tais;
toda a documentação inerente; assegurar todos os processos de interface com as entidades para obtenção • Gestão dos projetos em curso e em fase de lançamento;
da documentação necessária para a Exportação de mercadorias.
• Apoio à Direção-Geral.
Perfil do candidato:
o Ensino Secundário ou Formação superior nas áreas de Gestão, Economia ou áreas afins;
o Experiência em funções similares na área da exportação (fator preferencial);
o Bons conhecimentos de informática e conhecimento de SAP (preferencial); Requisitos:
o Boa capacidade de organização, autonomia, dinamismo e proatividade;
o Persistência e capacidade de trabalhar por objetivos;
• Licenciatura em Engenharia do Ambiente;
o Forte sentido de responsabilidade; • Domínio de ferramentas informáticas, nomeadamente Micro-
o Domínio falado e escrito da língua inglesa;
o Valorizamos conhecimentos de francês, espanhol e alemão (preferencial); soft Office®;
o Excelente capacidade de comunicação e relacionamento interpessoal;
o Residência preferencial na zona do grande Porto. • Domínio da língua inglesa;
Oferece-se: • Espírito de Equipa, Proatividade e Polivalência;
o Integração em Empresa sólida e dinâmica;
o Oportunidades de crescimento através de formação inicial e contínua;
• Disponibilidade imediata.
o Plano de benefícios praticado na empresa.
Agradecemos o envio de Curriculum Vitae, com a indicação da Ref. Assistente Logística – Exportação, para
Grupo JMV – Direção de Gestão de Pessoas, através do e-mail recrutamento@jmv.pt.
Envie a sua candidatura para drh@grupomarques.org

PARCERIA EMPRESARIAL CONTABILISTA

Empresa Referência no Frio Industrial
Procura (m/f)

ENGENHEIRO MECÂNICO NO RAMO DA ENGENHARIA (m/f)

Para o Departamento de Estudos em Lisboa
O candidato deverá preencher os se-
guintes requisitos:
– Licenciatura/Mestrado em Eng. Mecânica.
– Experiência de pelo menos 5 anos no Frio
Industrial.
– Conhecimentos no dimensionamento de insta-
lações frigoríficas.
– Sentido de Responsabilidade.
– Desenho em CAD.
– Bons conhecimentos de Inglês.
– Bons conhecimentos de informática na ótica
do utilizador.
– Carta de condução.
Se te revês neste perfil, envia o teu CV
para: rhumanos@net.vodafone.pt
Lisboa
Empresa prestigiada de Engenharia pretende selecionar
um (m/f) parceiro de negócio (engenheiro empreendedor – Com experiência profissional na área ou mesmo na
função.
ou firma) para o segmento de mercado de Gestão e Fiscali-
zação de Obras, com os requisitos seguintes: – Formação superior em contabilidade ou finalista em
* Bons conhecimentos do sector AEC – Arquitetura, Engenha- contabilidade.
ria e Construção, nacional e internacional. – Já inscrito na Ordem dos Contabilistas Certificados
* Sólidos conhecimentos de gestão de projetos e de obras, ou com possibilidade futura a curto prazo para o
nomeadamente CCP – Código dos Contratos Públicos e Con- fazer.
dições FIDIC.
– De preferência experiência com software Primavera.
* Experiência mínima comprovada de 15 anos em empreendi- – Indicar ordenado pretendido.
mentos da construção, seja na coordenação de projetos seja
na execução de obras. Enviar CV com fotografia, comprovativos de habilita-
* Espírito empreendedor e comercial. ções, certificações, formações e experiências.
Agradece-se resposta para Responder ao email
parceriaengenharia@gmail.com recepcaodeanuncios@gmail.com
28 ECONOMIA
OPINIÃO
Visão 360
Raul Neto
A balança
quer-se
flexível
A
conciliação entre a vida
pessoal e profissional
(work-life balance) é
um tema recorrente
em revistas e redes sociais,
com opiniões e conselhos de
especialistas na matéria, sobre
o qual muito já foi dito, mas que
continua a ser de extrema im-
portância para os profissionais.
Confirmamos isto quando é um
critério que se mantém no top
3, durante seis anos consecuti-
vos, no estudo “Randstad Em-
ployer Brand Research”.
No entanto, ao falar de work-
-life balance, é preciso entendê-
-lo e a sua aplicabilidade no dia
a dia, devido a este equilíbrio
ser subjetivo e por isso distinto
na visão de cada profissional.
Para as organizações é uma
oportunidade para promover o
bem-estar dos profissionais ali-
ado à produtividade e à reten-
ção, mas para os profissionais
o tema tem um peso diferente,
se olharmos em detalhe para
o sector e função, e até para
a localização geográfica onde
a mesma é exercida, mais ou
menos densamente povoada,
mais ou menos urbana.
Não obstante, permitam-me
a observação, normalmente só
debatemos a flexibilidade num
ponto de vista de perfis white
collar, ou em português corre-
to, para profissões que envol-
vem um trabalho de escritório,
ou remoto. No entanto, é im-
perativo abordar também este
tema na perspetiva dos perfis
blue collar. Como é visto o tema
pelos profissionais em funções
que requerem trabalho manual
e 100% presencial? É preciso
também analisar como é que
a flexibilidade se aplica nestas
situações, porque acredito que
todos dão valor à flexibilidade,
qualquer que seja o formato em
que se possa aplicar.
A verdade é que a flexibili-
dade é tão importante para os
profissionais em funções que
envolvem trabalho presencial
e manual como qualquer ou-
tra. Para perfis blue collar, no
pulse survey do estudo Rands-
tad Workmonitor deste ano,
a nível global, 46% considera
a flexibilidade tão importante
como o salário e 40% acredita
ser possível ter flexibilidade no
trabalho, a nível de horários.
Também é relevante falar
da flexibilidade quando asso-
ciada às questões familiares,
e na crescente valorização do
tempo despendido em família.
O tempo pessoal, e mais espe-
cificamente em família, está na
ordem do dia, como comprova
o aumento do período da licen-
ça parental obrigatória do pai
(uma das medidas aprovadas
na agenda do trabalho digno).
Está mais do que comprova-
do que a flexibilidade é possível
em quase todos os contextos
profissionais, e deve ser usada
como forma de motivação e de
retenção de talentos. Por últi-
mo, devemos fomentar os pas-
sos já dados pelo Estado e pelas
organizações (e respetivos líde-
res), promovendo a flexibilida-
de como forma de atração de
talento, um dos grandes desafi-
os que encaramos atualmente.
Diretor executivo
da Randstad Portugal
PESSOAS
José Tavares 49 anos, é o novo diretor executivo de Operações da SAP Portugal
“O primeiro papel do líder
é ser um gestor de pessoas”
FORMAÇÃO
É licenciado em Informática
de Gestão, pela
Universidade do Minho
MISSÃO
“Garantir o sucesso da
estratégia de
crescimento da SAP em
Portugal, através da
supervisão e otimização
das suas operações”
HOBBIES
“Ler, ler, ler” e
jogar padel
Texto Cátia Mateus
Foto Nuno Botelho
Está há mais de duas décadas
ligado à SAP Portugal, onde li-
derava até muito recentemente
a direção de Soluções e Ino-
vação. A empresa colocou-lhe
agora nas mãos a responsabili-
dade pelas Operações. Na nova
função José Tavares será res-
ponsável por conduzir e otimi-
zar as operações em Portugal,
com enfoque no planeamento
e implementação da estratégia
de crescimento sustentado da
SAP no território nacional, mas
relembra que “o primeiro papel
de qualquer líder é ser um ges-
tor de pessoas”.
Formado em Informática de
Gestão pela Universidade do
Minho, José Tavares chegou a
ser professor de informática,
conquistando a sua indepen-
DICAS CINCO CONSELHOS PARA ATINGIR OBJETIVOS E PROGREDIR NA CARREIRA
As carreiras não são todas
iguais e nem todos têm
como meta chegar ao topo.
Mas, na essência, seja
qual for a meta definida
por cada profissional, há
similaridades no caminho a
percorrer. Definir objetivos,
manter o foco e alimentar
uma boa rede de contactos
são conselhos tão válidos
e benéficos para um jovem
profissional como para um
trabalhador experiente.
1 base de trabalho para um plano
DEFINA (MICRO)METAS
Nem todos os profissionais
conseguem traçar planos a
longo prazo. Se não sabe ainda
onde quer chegar, comece por
definir objetivos de curto prazo.
dência financeira com pouco o negócio SAP, como a Inova-
mais de 20 anos, ainda estu- ção, não só em Portugal como
dante. Mas foi na SAP que con- noutros mercados da Europa.
solidou quase toda a sua carrei- Sobre a maior exposição das
ra. Chegou à empresa em 1999, suas funções a mercados inter-
como líder de equipas e proje- nacionais diz que tem tido “o
tos de consultoria, apoiando privilégio de ser desafiado, em
vários clientes nacionais, nos diferentes períodos da vida,
sectores de telecomunicações, a desenvolver uma carreira
retalho, sector público, entre além fronteiras” com a qual
outros. tem aprendido a construir-se
Progrediu na empresa assu- como líder. Todas estas expe-
mindo diversos cargos de dire- riências, vinca, “moldaram-
ção em áreas estratégicas para -me enquanto profissional e
sei que me ajudaram, em larga
medida, a ultrapassar os de-
“Tenho o privilégio safios que se têm colocado ao
de ter sido desafiado, longo destes anos com o maior
em períodos diferentes sucesso”.
Aponta como grande ambi-
da vida, a desenvolver ção profissional “ultrapassar
uma carreira sempre os objetivos propostos
além-fronteiras” e sempre em equipa”. Talvez
por isso sinalize como princi-
pal ferramenta de gestão “a
motivação das pessoas”, acres-
FOTO GETTY IMAGES
2 conhece. Não deixe a sua rede
REFLITA SOBRE O SEU PROPÓSITO
Identificar o que o move e o que o faz sentir realizado é a base
para definir o caminho que o levará ao sucesso. Comece por riscar
da sua lista aquilo que não faria por dinheiro nenhum.
PERCURSO
Iniciou a carreira ainda
estudante, como professor de
informática durante os últimos
três anos da licenciatura. A
entrada no mundo corporativo
dá-se na Brain International,
como consultor de
desenvolvimento em projetos
internacionais da SAP. Dois
anos depois, em 1999, torna-se
consultor e líder de equipas e
projetos na SAP Portugal,
empresa onde nos últimos 24
anos tem desenvolvido a
carreira em cargos de
liderança nacional e
internacional. Antes de
assumir a liderança das
Operações SAP era diretor de
Soluções e Inovação da SAP
AMBIÇÃO DE CARREIRA
“A minha ambição
profissional é ultrapassar
sempre os objetivos
propostos e sempre
em equipa”
LEITURA
“Sapiens”,
de Yuval Noah
Harari
centando que “a qualidade e
sucesso de um líder é medida
apenas se contribuirmos para
a qualidade e sucesso das pes-
soas da nossa equipa”.
José Tavares assume a dire-
ção de Operações da SAP Por-
tugal no ano em que a empresa
celebra 30 anos de presença em
território nacional. O que, diz,
reforça a aposta da empresa
em “consolidar o crescimento
alcançado nos últimos anos ao
nível das nossas soluções para
a cloud”. Para o novo diretor de
Operações, o crescimento que
a empresa tem alcançado de-
monstra que a adoção da tecno-
logia SAP “alavanca a inovação,
o que resulta numa otimização
e automação de processos no
que concerne a novos modelos
de negócio, crescimento e in-
ternacionalização das empre-
sas nacionais”.
cmateus@expresso.impresa.pt
3 inicialmente tinha pensado
SECTOR, SALÁRIO E SUCESSO
Para quem não tem ainda
definido onde quer chegar na
carreira, começar por
identificar o sector onde
gostaria de trabalhar pode ser
um princípio. A partir daí, pode
passar à etapa seguinte e
elencar um conjunto de funções
onde sinta que trabalharia com
motivação. Defina o que seria o
salário ideal e como definiria o
sucesso nessas funções. Se
chegou aqui, tem a primeira
de carreira.
4 de contactos para trás.
EXPERIMENTE SEMPRE
Se recebeu uma proposta que
não se alinha com o que
Expresso, 4 de agosto de 2023
Leonor
Santos
> Soma mais
de duas
décadas
de carreira
> É licenciada
em Direito
A diretora jurídica e de rela-
ções Institucionais do BNP
Paribas Personal Finance —
Cetelem é a nova presidente
da direção da Associação de
Instituições de Crédito Es-
pecializado (ASFAC). Leonor
Santos é a primeira mulher a
presidir à direção da associa-
ção criada há 32 anos, foi elei-
ta por unanimidade e assume
o cargo até final do mandato
em curso, substituindo Pedro
Gouveia Alves, na função.
Leonor Santos faz parte da
Direção da ASFAC desde 2021
e ocupava até aqui o cargo
de vice-presidente, que passa
agora para as mãos de Inês
Medina, da Wizink. Fazem
ainda parte da direção da AS-
FAC, Susana Marques (Banco
Credibom), Carla Amorim
(Unicre) e Manuel Baptista,
agora membro efetivo repre-
sentando o Montepio Crédito,
na qualidade de vogais.
Ricardo Segurado
Vai integrar o conselho de admi-
nistração da Agência Europeia
de Controlo das Pescas (AECP)
da União Europeia (UE). Ri-
cardo Segurado é licenciado
em Direito e soma uma vasta
experiência na Administração
Pública e na gestão de Fundos
Comunitários. É atualmente
subdiretor-geral da Direção-
-Geral de Recursos Naturais,
Segurança e Serviços Maríti-
mos (DGRM), cargo que conti-
nuará a exercer em acumulação
com as funções que acaba de
assumir na Agência Europeia
de Controlo das Pescas.
Francisco Montenegro
> Tem 15 anos
de carreira
> É licenciado
em Economia
É o novo partner (sócio) da
consultora estratégica Bain &
Company para os mercados de
Espanha e Portugal. Francisco
Montenegro é especialista em
serviços financeiros e capital
privado, áreas em que tem li-
derado projetos de relevância
ao longo dos seus quase sete
anos na consultora. Além do
trabalho que desenvolve para
os clientes da firma, está mui-
to envolvido nas atividades de
recursos humanos e captação
de talento.
para si, não a descarte de
imediato, sobretudo se a ideia
o deixou a pensar. Muitas
vezes o caminho para a
realização profissional não é
exatamente aquele que
imaginámos e a vantagem de
não fechar portas é que, se
não for por ali, pode sempre
voltar à casa de partida.
5
ALIMENTE A SUA REDE
DE CONTACTOS
Quem conhece é tão
importante como o que
Alimente relações laborais nas
áreas pelas quais se interessa.
Elas podem abrir-lhe portas.
Expresso, 4 de agosto de 2023
OPINIÃO
Capital de Risco por Rodrigo de Matos
Libertar casas subocupadas pode ter um impacto maior do que construir novas
Atacar a “subocupação”
pode ajudar na crise imobiliária
Pedro Carvalho
U
ma viúva italiana de 70
e poucos anos vendeu
a casa e mudou-se com
duas amigas da mesma
idade. Depois de concor-
dar em como dividir as
contas, e que quadros
pendurar na sala de estar, passou a
desfrutar do tipo de partilha de casa
que muitos millennials estão desespe-
rados para escapar.
O downsizing oferece parte da solu-
ção para o que é agora uma crise habi-
tacional total em toda a Europa. O au-
mento das taxas de juro é assustador,
especialmente para os proprietários de
imóveis financiados com taxa variável
(quase todos em Portugal).
As subidas de juros vão pressionar
os inquilinos à medida que os senho-
rios repercutem o aumento dos custos
de financiamento. As novas gerações
perdem esperança à medida que os su-
cessivos governos lutam para construir
novas habitações — mas desesperam
com os processos e com os custos.
Se algumas das pessoas acima de 65
anos — que têm uma probabilidade
desproporcionada de possuir as suas
próprias habitações — venderem casas
de maiores dimensões, poderíamos
ajudar famílias jovens a acederem ao
mercado.
“Baralhar” o pacote de parque ha-
bitacional tem um impacto maior do
que construir novos, porque as novas
construções mal afetam o total (são
uma percentagem muito marginal).
A situação atual é muito ineficien-
te, com cerca de um terço das casas
subocupadas com dois ou mais quartos
que não estão em uso regular. A maio-
ria está em casa de reformados, cerca
de um quarto dos quais gostaria de
reduzir o seu tamanho (dados da CE).
Metade das pessoas com mais de 65
anos diz que gostaria de se mudar para
uma casa menor nos próximos cinco
anos. “Subocupação” é um termo pou-
co simpático, mas é uma realidade: o
espaço desperdiçado de uma pessoa
pode ser espaço aproveitado por outra.
Quartos são mantidos para “crianças”
que já estão licenciadas e nem vivem
em Portugal, cujos pais têm contas e
dívidas para pagar.
Com idosos já “acusados” de “blo-
quear camas” nos hospitais por causa
de falhas na segurança social, ninguém
quer uma guerra sobre os “açambarca-
mentos” de quartos.
Deveríamos fazer muito mais para
ajudar aqueles que querem mudar-se.
Cerca de 60% do parque habitacio-
nal na UE tem três ou mais quartos,
enquanto o número de agregados
familiares individuais está a aumentar.
Especialistas dizem que muito mais
quartos estão a ser libertados por jo-
vens que saem de casa do que os que
estão a ser adicionados por novas casas
construídas.
O mérito do downsizing — ou talvez
devêssemos chamá-lo de rightsizing —
é óbvio: as casas grandes são muitas
Menos de 1% dos
portugueses com mais
de 60 anos mudaram-se
para casas mais pequenas
em comparação com 20%
nos EUA. A fiscalidade
(e o Mais Habitação)
penaliza este processo
vezes caras para aquecer e arrefecer
e por vezes muito desconfortáveis. A
venda pode libertar capital para apoiar
os filhos e uma maior qualidade de vida
(viagens) e apoio na saúde na velhice.
Apartamentos novos e de menor di-
mensão têm melhores comodidades e
são mais eficientes. Finalmente, tam-
bém as comunidades de reformados,
residências seniores, oferecem uma
vida mais fácil e a oportunidade de
conhecer novas pessoas.
Ouvi dois “downsizers” felizes recen-
temente: um homem numa residência
sénior fora de Lisboa, sabendo que a
sua mulher doente estava a ser bem
tratada. Outro casal, que vendeu a sua
casa “de sempre” a uma jovem família
e se mudou para uma casa de campo
(mas mais pequena e funcional).
Não é psicologicamente fácil: é difícil
deixar a herdade/casa/apartamento
em que se viveu uma vida inteira. As
pessoas não podem fazer isso sozinhas.
Na Escandinávia, algumas autoridades
locais oferecem apoio com a logística
de deslocamento. Mas não é suficiente.
Outra barreira é o dinheiro e a com-
plexidade da transação. Para a maioria
de nós com a sorte de possuir uma
casa, é o nosso maior ativo, uma re-
serva de riqueza para os nossos filhos,
o que torna a venda especialmente di-
fícil. Casais que não trocam porque vão
pagar impostos e comissões para uma
nova compra (como IMT — o “imposto
mais estúpido do mundo” e mais-valias
sobre o valor que não é reinvestido
numa casa própria) — o nosso quadro
fiscal inviabiliza a reorganização do
parque habitacional.
Há razões para colocar os compra-
dores “seniores” (e a meu ver todo o
mercado) em pé de igualdade com os
compradores jovens quando se trata
de impostos — dando-lhes isenções
no IMT e mais-valias nas vendas: infe-
lizmente do Mais Habitação só temos
uma maior dificuldade a permutas de
imóveis do ponto de vista fiscal.
Estão a surgir algumas soluções
criativas: o Redbridge Council, em
Londres, oferece tanto aos inquilinos
de habitação social como aos pro-
prietários oportunidades de reduzir
a dimensão através de trocas mútuas.
Pela Europa fora, existe atualmente
todo um espectro de habitações para
idosos, desde alojamentos protegidos
a aldeias de reformados de luxo.
Nem todos se podem dar ao luxo de
viver em “habitações para seniores”,
nem todos querem. Mas a escolha é
demasiado limitada: menos de 2% dos
milhões de habitações em Portugal são
definidas como habitação de reforma.
Um estudo de 2011 concluiu que me-
nos de 1% dos portugueses com mais
de 60 anos se tinham mudado para
“casas de reforma”, em comparação
com 20% nos EUA e 18% na Austrália
e Nova Zelândia. Isto ocorre em parte
porque não temos planeamento nem
enquadramento fiscal, ao contrário de
alguns outros países.
Mudar de casa e/ou alugar um apar-
tamento pode ser uma perspetiva as-
sustadora depois de anos de proprie-
dade de uma casa, mas também pode
ser um novo sopro de vida. Há evidên-
cias de que alguns tipos de habitação
comunitária de “cuidados extra” me-
lhoram a saúde e reduzem a carga so-
bre o SNS porque os vizinhos cuidam
uns dos outros e evitam o isolamento.
O downsizing pode ser vantajoso para
todas as gerações — e quando se trata
de habitação, isso não é algo que ainda
se promova em Portugal.
Professor NOVA SBE,
CEO Tranquilidade Generali
ECONOMIA 29
Impacto de
Mais Habitação
— Ainda a
procissão
vai no adro
Nuno Sá Costa
O
Programa Mais Habitação
está concretizado na Pro-
posta de Lei nº 71/XV/1ª,
aprovada em Conselho de
Ministros, que visa estabelecer, entre
outras, um conjunto de medidas com
o intuito de garantir mais habitação.
O “alarme social” que esta maté-
ria tem tido junto da população em
geral (só comparável, nos tempos
recentes, ao impacto da nouvelle sé-
rie da Netflix, portuguesa de gema,
“Rabo de Peixe”) é a prova da impor-
tância do tema.
O Governo, bem, resolve intervir
no mercado habitacional (chame-
mos-lhe assim, por questões de fa-
cilidade), legislando em concreto
para o tentar regular. Já se ouviu de
tudo, mas, particularmente, uma crí-
tica tem sido comum: este programa
constitui um ataque à propriedade (e
iniciativa) privada.
O que faria depreender, portan-
to, estarmos perante uma questão
ideológica. Sabemos, no espectro
político português, que este tipo de
iniciativas legislativas agrada mais “à
esquerda” do que “à direita”.
Sabemos, contudo, que hoje vi-
vemos em Portugal uma fase de al-
gum estrangulamento habitacional,
consubstanciado em dificuldades de
arrendamento (por ser caro), falta
de mercado para o arrendamento
tradicional (por ser menos lucrativo
que o turístico), etc. Daí termos dito,
atrás, que o Governo fez bem em
intervir nesta matéria.
O cerne da questão tem a ver com
a forma, a intensidade e o (futuro)
impacto destas medidas. Que foram
intensas, já ninguém duvida. Acabar
com os vistos gold, proibir o AL em
locais de forte pressão urbanística,
entre outras, são medidas fortes.
Já quanto ao impacto das mesmas,
ainda a procissão vai no adro.
O sururu gerado aquando da
discussão pública e aprovação da
Proposta de Lei em Conselho de Mi-
nistros, é sabido, fez já abrandar o
investimento estrangeiro. Quem lida
com estas matérias já terá sido con-
frontado com recuos de investidores,
dúvidas de fundos imobiliários, entre
outros. Ou seja, o impacto já se faz
sentir, neste, bem como a outros ní-
veis. Mas a verdadeira história deste
pacote defendido pela ministra da
Habitação será feita mais à frente.
Como nem só de pão vive o homem,
também não só de investimento
estrangeiro (e algum cá do burgo)
pode viver um país.
Quando se nos encerra uma de-
terminada possibilidade, outras se
abrem, e os investidores (nesta e
noutras áreas) descobrem sempre
formas de (voltar a) investir.
É essa a “beleza” do capitalismo, a
tal ideologia que se funda (também)
na propriedade privada.
Esta proposta de lei surgiu na se-
quência de um período de desesta-
bilização dos mercados, provocada
pela pandemia de covid-19 e, mais
recentemente, da guerra da Ucrânia,
o que motivou uma subida da taxa de
inflação e, consequentemente, um
aumento significativo do custo de
vida das famílias.
As medidas propostas visam, aci-
ma de tudo, garantir que todos têm
acesso a uma habitação digna e ade-
quada aos rendimentos e à dimensão
dos diferentes agregados familiares.
Sem querer tomar partido, de uma
coisa estou certo: à ministra da Ha-
bitação (e ao Governo), ninguém
poderá acusar de não ter tentado
fazer alguma coisa.
E nos dias que correm, mesmo
relativamente a este Governo, isso
já não é pouco.
Advogado, sócio da Dower Law Firm
30 ECONOMIA
MUND O
1 ARGENTINA
China
dá ajuda a
Buenos Aires
frente ao FMI
Sem dinheiro disponível nas
reservas, a Argentina recorre
a um empréstimo transitório
com a ajuda de Pequim
Márcio Resende
Correspondente em Buenos Aires
Apenas uma hora antes da aber-
tura dos mercados na segunda-
-feira (31), data em que venciam
2700 milhões de dólares com o
FMI, o ministro da Economia da
Argentina e candidato à Presi-
dência, Sergio Massa, anunciou
uma arquitetura financeira de
emergência, fechada contra o
relógio, para evitar uma nova
moratória da dívida: o venci-
mento foi pago através de um
inédito empréstimo-ponte tran-
sitório da Corporação Andina de
Fomento (CAF) e de um novo
crédito da China.
“A Argentina não vai usar
nenhum dólar das suas reser-
vas para pagar o vencimento
de hoje”, anunciou o ministro
Massa, em tom épico de campa-
nha, como se a Argentina tivesse
essa alternativa. O anúncio, na
verdade, foi de um novo endivi-
damento para pagar dívida.
Com reservas líquidas disponí-
veis negativas em 11 mil milhões
de dólares, a Argentina rumava
a um novo default transitório da
dívida, à espera que a Diretoria
Executiva do FMI se reúna en-
tre 17 e 21 de agosto, depois das
férias de verão, em Washington.
Os mercados teriam castigado
o país durante esse período de
espera, que coincide com as elei-
ções primárias no país, em 13 de
agosto, nas quais Sergio Massa é
candidato a governar o país, ape-
sar de uma inflação acumulada
de 115,6% nos últimos 12 meses,
desde que começou a sua gestão.
“Tínhamos essa incerteza em
torno deste pagamento. Quero
transmitir tranquilidade: hoje, o
Banco do Povo Chinês e o Gover-
no da China decidiram permitir
o uso de yuans, equivalentes a
1700 milhões de dólares, para
completar o pagamento ao
FMI”, detalhou Massa, somando
o montante chinês ao crédito-
-ponte da CAF de 1000 milhões
de dólares.
É a primeira vez que a CAF,
um banco de desenvolvimento
que financia projetos de infraes-
truturas na região, autoriza um
empréstimo para um país pagar
dívida. Por sua vez, o emprés-
timo chinês faz parte de uma
linha de emergência de 10 mil
Expresso, 4 de agosto de 2023
2 BRASIL 3 MACAU
Brasília acorda
investimentos
com sauditas
FOTO CHRIS MCGRATH/GETTY IMAGES
Os Governos do Brasil e da Arábia
Saudita anunciaram esta semana
que vão retomar as negociações de
um acordo bilateral para impulsionar
os investimentos em áreas que vão
desde as energias renováveis até o
sector automóvel. O vice-presiden-
te do Brasil e ministro da Indústria,
Geraldo Alckmin, reuniu-se com o
ministro de Investimentos da Arábia
Saudita, Khalid Al Falih, no âmbito RECEITAS DO JOGO EM ALTA
de um encontro empresarial em São As receitas do jogo em Macau atingiram 16,7 mil milhões de patacas (€1,9
Paulo, no qual o país árabe assinou mil milhões) em julho, o valor mais alto desde janeiro de 2020, de acordo
26 acordos com empresas brasileiras. com dados oficiais. Apesar da recuperação em termos anuais, sendo
“Os investimentos sauditas podem mais de 40 vezes superior ao do ano passado (24,5 mil milhões de patacas
contribuir para o projeto de ‘neoin-
dustrialização’ do Brasil. A fim de
ou €2,8 mil milhões), o valor é cerca de 31% inferior aos montantes
contabilizados antes da pandemia de covid-19.
aumentar os fluxos de investimen-
tos, concordámos em relançar as
negociações de um acordo de inves-
timentos”, escreveu o vice-presidente
brasileiro, no Twitter. E acrescentou
que “empresários sauditas têm de-
monstrado interesse em investir no
Brasil em diversos sectores, como
mineração, energia renovável, ferti-
FOTO LUIS ROBAYO/GETTY IMAGES
lizantes e defesa”.
milhões de dólares, dos quais a
Argentina usou 60% nos últimos
três meses por não contar com
outra fonte de financiamento.
Diversos economistas de refe-
rência da Argentina acreditam
que o acordo com o FMI escon-
de o compromisso de desvalori-
zar o peso argentino, tal como
o FMI tem insistido desde abril.
“É altamente provável uma
desvalorização depois de 13 de 6
agosto”, acredita o economista
Carlos Melconian. “As metas 9
não podem ser atingidas sem
uma desvalorização. Suspeito
6 EUA
que haverá medidas do Gover-
no depois das primárias e antes
que a Diretoria do FMI aprove
o acordo. Será um mês muito
tenso”, prevê o deputado e ex-
‘X’ foi retirado
-ministro da Economia Ricardo do topo da sede
López Murphy.
Três dias antes, na sexta-feira do Twitter
(28), o Ministério da Economia
da Argentina e o FMI anuncia- 2
ram um acordo técnico pelo
qual a Argentina receberá 7500
milhões de dólares, previstos
para junho (até agora retidos)
e outubro, depois de a Diretoria
Executiva aprovar a negociação
técnica. A tranche será para a
1 8 REINO UNIDO
Argentina pagar a dívida ao pró- BP PASSA DO
prio FMI, contraída em 2018, PREJUÍZO AO LUCRO
9
de 44 mil milhões de dólares. O
FMI concedeu um novo crédito
em março de 2022, equivalente
à dívida anterior, mas com no-
vos prazos prolongados de paga-
7 JAPÃO
mento, trocando dívida velha de A estrutura em forma de ‘X’, o
curto prazo por dívida nova de novo símbolo do Twitter, instalada mil e 99 milhões de euros
médio prazo. Porém, desde mar- no topo da sede da rede social, foi foi quanto a petrolífera BP
ço passado, a Argentina deixou
de cumprir as metas, alegando
retirada após ordem da autarquia
de São Francisco, na mais recente
Desemprego conseguiu lucrar até junho deste
ano, depois de um prejuízo de
ter sido abalada por uma seca tensão entre Elon Musk e as au- cai para 2,5% 11.127 milhões de dólares (€10.114
histórica que afetou o equiva- toridades locais. A estrutura de milhões) no mesmo período de
lente a 20 mil milhões de dólares metal instalada na sexta-feira foi 2022. O prejuízo registado até
em exportações agrícolas, prin- desmontada esta segunda-feira, junho do ano passado deveu-
cipal motor da economia. segundo um jornalista da agência A taxa de desemprego no Japão se à saída da BP do capital da
Segundo o comunicado do France Presse (AFP), que presen- caiu uma décima em junho, para petrolífera russa Rosneft. Em
FMI, será exigido “um maior ciou o processo. O departamento de 2,5%, de acordo com dados oficiais comunicado enviado à Bolsa de
endurecimento da política fiscal planeamento da cidade confirmou divulgados esta semana pelo Minis- Londres, a petrolífera britânica
durante o segundo semestre”, a remoção e adiantou, através de tério do Interior e das Comunica- refere ainda que teve um lucro
em que “o Governo se compro- e-mail, que o proprietário do edifí- ções japonês. Em comparação com de 1792 milhões de dólares
meteu a aplicar firmemente um cio teria que pagar taxas pelas licen- o mesmo mês de 2022, cerca de 70 entre abril e junho deste ano,
pacote de políticas”. “Resta sa- ças de construção que deveria ter mil pessoas encontraram trabalho, menos 78,1% do que no trimestre
ber se Massa vai mesmo conter obtido e pelos custos de instalação. fazendo com que o número de de- anterior — janeiro a março —,
o gasto durante os próximos me- Um representante da ‘X’ recusou sempregados registados no Japão devido à queda dos preços do
ses de campanha, sem fazer uso o acesso ao edifício a um inspetor caísse 3,8% para 1,79 milhões em petróleo. Indica ainda que o seu
de um instrumento recorrente na sexta-feira e no sábado, limitan- junho. O número de pessoas com lucro antes de impostos atingiu
da política peronista de distri- do-se a dizer-lhe que se tratava de trabalho situou-se em 67,85 milhões os 15.341 milhões de dólares no
buir dinheiro para aumentar as um “placa de néon temporária para em junho, o que representa mais primeiro semestre deste ano,
chances eleitorais”, lança o ana- um evento”. À noite, a estrutura 260 mil indivíduos ou um aumento contra um prejuízo bruto de 3477
lista político Sergio Berensztein. ganhava vida com um jogo de luzes de 0,4% face a igual período do ano milhões de dólares no mesmo
economia@expresso.impresa.pt brilhantes. passado. período do ano passado.
Expresso, 4 de agosto de 2023 ECONOMIA 31

Pente Fino
Manuela
Ferreira Leite

4 MOÇAMBIQUE 5 REINO UNIDO Nós e o Governo

A PRODUÇÃO
DE OURO EM
Londres anuncia novas licenças
MOÇAMBIQUE de petróleo e gás no Mar do Norte
AUMENTOU 53%
NO PRIMEIRO
TRIMESTRE DO
ANO, FACE AO
MESMO PERÍODO
DE 2022, PARA 346,3
QUILOGRAMAS,

FOTO TIAGO MIRANDA

FOTO GETTY IMAGES
SEGUNDO
DADOS OFICIAIS.
GLOBALMENTE,
O GOVERNO

N
MOÇAMBICANO O primeiro-ministro britânico, Rishi emissões até 2050, um quarto das ne- o final do ano parla-
PREVÊ, NO PLANO Sunak, anunciou esta semana o com- cessidades energéticas do Reino Unido mentar tivemos a opor-
promisso de emitir centenas de novas virá do petróleo e do gás, segundo o tunidade de conhecer a
DE PRODUÇÃO licenças de petróleo e gás no Mar do comunicado oficial hoje divulgado. leitura que o Governo
DO SECTOR Norte, bem como um programa de Espera-se que a primeira série de li- faz da situação económica e
captura de carbono no nordeste da cenciamentos seja concedida no outo- social do país, não só através
DA INDÚSTRIA Escócia e de Inglaterra. Com estas no. Paralelamente, Sunak anunciou o do tradicional debate sobre o
EXTRATIVA PARA licenças, o Executivo procura evitar a projeto de captura de carbono Acorn, estado da nação, como pelas
dependência externa de energia, uma em St. Fergus (nordeste da Escócia), múltiplas entrevistas de res-
O ANO 2023, UM vez que, mesmo que o país atinja zero o primeiro do género na Escócia, que ponsáveis políticos sectoriais,
CRESCIMENTO DE permitirá o armazenamento de emis- com especial destaque para o
sões poluentes em condutas sob o Mar ministro das Finanças.
23,1%, SUPORTADO do Norte. Haverá outro projeto seme- Neste contexto, o Gover-
PELO AUMENTO lhante em Humber, no nordeste da no não apresentou novida-
Inglaterra. Ambos deverão envolver des, como vai sendo hábito,
DA PRODUÇÃO até 50 mil empregos, de acordo com socorreu-se dos indicadores
DE RUBIS, CARVÃO, Downing Street. económicos mais relevantes,
reflectindo-os em estatísticas,
AREIAS PESADAS sem as interpretar, o que, com
E GÁS NATURAL. frequência, significa enganar
com a verdade.
Desta forma, comunicaram-
-nos que a economia portu-
guesa é das que mais cresce
na União Europeia; que o em-
prego se aproxima de valores
5 nunca antes alcançados; que a
inflação está em declínio; que
8 as contas públicas estão per-
to do equilíbrio, e que apenas
a evolução das taxas de juro,
alheia à acção do Governo,
constitui o ponto negro de um
panorama inquestionavelmen-
te promissor.
Se tudo isto é verdade pura,
7 a dúvida que nos assalta é se o
país de que o Governo fala é o
mesmo em que nós vivemos.
Na verdade, se nos pedissem
3 a nós, cidadãos, o retrato do
nosso país, não falávamos de
números, mas destacaríamos
as dificuldades que enfrenta-
mos no nosso dia-a-dia.
Seria unânime a alusão à
quase impossibilidade de
obter, em tempo útil, uma
consulta médica, apesar das
madrugadoras filas de espe-
ra; aos impressio nantes re-
4 sultados negativos do sistema
educativo, comparados com
os anteriormente alcançados,
consequência de uma degra-
dação que não se soube evitar;
à paralisação da Justiça, aliada
a uma perigosa superactivi-
dade política; ao inferno dos
balhar, para obter uma remu-
neração com a qual possamos
consumir bens e serviços, para
viver de forma mais ou menos
aceitável.
São muitos os cidadãos que,
por sua iniciativa, dispõem
dos seus recursos para criar
empresas, emprego, produzir
bens para consumir cá dentro
ou para vender para fora.
São cidadãos estrangeiros
que, atraídos pelo sol, pelas
praias, pelas paisagens, pela
cultura, pela fama de um país
seguro, pela afabilidade dos
portugueses, contribuem de-
cisivamente para o tal cresci-
mento do PIB que o Governo
anuncia como obra sua.
Para este crescimento, a con-
tribuição que se esperaria do
Governo seria a que facilitasse
as nossas iniciativas, em vez
de as complicar; que nos in-
centivasse, em vez de nos criar
obstáculos.
É que o futuro constrói-se
com a criação de expectativas,
e não com remendos no que
temos no presente.
Se nos pedissem
a nós, cidadãos,
o retrato do nosso
país, não falávamos
de números, mas
destacaríamos
as dificuldades que
enfrentamos no
nosso dia-a-dia
Dir-se-á que para esse cres-
cimento do PIB também con-
tribuem as despesas públicas.
É verdade, mas essas despe-
sas também somos nós, cida-
dãos, que as pagamos com os
impostos que nos cobram. E,
neste contexto, o que se espe-
raria do Governo seria que nos
explicasse o critério na aplica-
ção desses nossos recursos.
A finalidade dos impostos é

9 EUA
transportes públicos, uma
das causas da dificuldade em
encontrar habitação; à im-
Biden quer restringir investimentos tecnológicos na China possibilidade em conseguir
de forma expedita quaisquer
documentos necessários para
viver em legalidade; ao nível
O Presidente dos Estados Unidos, Joe de remuneração dos profis-
Biden, planeia assinar, até meados de sionais qualificados que os
agosto, uma ordem executiva para empurra para fora do país; s
limitar investimentos de empresas manifestações públicas de inú-
norte-americanas na China envolven- meras classes profissionais re-
do tecnologia crítica, de acordo com clamando contra o empobre-
a agência Bloomberg. A ordem exe- cimento real que enfrentam.
cutiva, que irá visar semicondutores, Como conciliar estas duas
inteligência artificial e computação visões tão diversas?
quântica, não vai afetar nenhum in- A resposta só pode estar na
vestimento existente e apenas preten- errada atribuição das respon-
de proibir certas transações. Novos sabilidades aos respectivos
investimentos nesta área terão de ser actores.
aprovados pela Casa Branca. A ordem Assim, quando o Governo se
executiva deve ser emitida na segun- vangloria pelos resultados eco-
da semana de agosto, depois de ter nómicos, transmite a ideia de
sido adiada por várias vezes, segundo que não só esses resultados são
a agência Bloomberg, que cita fontes reais como são obra sua.
FOTO GETTY IMAGES
contribuir para uma mais justa
distribuição dos rendimentos,
através do fornecimento, a tí-
tulo gratuito ou a preços abai-
xo do custo, de bens e serviços
que garantam a igualdade de
oportunidades a todos os ci-
dadãos.
Sobre a gritante ineficácia
da brutal receita de impostos
o Governo não se pronuncia.
Limita-se a citar os montan-
tes que foram atirados para
cima dos serviços, mas não
justifica o descalabro dos mes-
mos, como lhe competia.
Neste silêncio está a explica-
ção da discrepância entre nós
e o Governo na forma de des-
crever a situação económica e
social do país.
O Governo vê o país do lado
de fora.
Nós vivemo-lo por dentro.

próximas do processo. As restrições Não, os resultados econó- Economista

só entrarão em vigor no próximo ano. micos, bons ou maus, não são
O desígnio exato da medida será de- obra do Governo.
finido após um período de comentá- São obra nossa, dos cidadãos. Manuela Ferreira Leite
rios, para que as partes interessadas Somos nós, os portugueses, escreve de acordo
possam avaliar a versão final. que saímos de casa para tra- com a antiga ortografia
32 ECONOMIA Expresso, 4 de agosto de 2023