OPINIÃO PESSOAS

Um > Nuno Sousa

QUEM COMPRA E QUEM VENDE, Governo é vice-presidente
NA MESMA PÁGINA. da área de Saúde
acossado e Administração
LUÍS Pública da
MARQUES E8
Accenture em
Portugal E27

A taxa
batata E se fosse preciso uma licença > Dicas Como mudar
JOÃO de florista para vender flores? de carreira quando
DUQUE E6 LUÍS CABRAL E31 nunca fez outra coisa E27

ECONOMIA IMOBILIÁRIO
& EMPREGO
2631
31 de março de 2023
www.expresso.pt

Preço da eletricidade Reformas:

peritos
estudam IVA

no valor mais baixo das faturas

nas pensões

em nove anos Pedro Ginjeira

do Nascimento
Secretário-geral da Associação
Business Roundtable Portugal
Propostas finais para
a sustentabilidade da
Segurança Social serão
entregues em julho.
Equipa já sofreu baixa
“70% dos E se ao pedir uma fatura com
fundos do número de contribuinte esti-
> Custo da eletricidade no cabaz do INE contraria a inflação e cai Portugal 2030 ver a reforçar o pé de meia
para a reforma? A ideia está
6% num ano > Índice é o mais baixo desde final de 2013 > Próximos deviam ser para a ser estudada pela equipa a
quem o Governo encomen-
meses podem ainda trazer reduções adicionais na fatura elétrica E11 as empresas” E16 dou o ‘livro verde’. E5

Inflação
‘rouba’ até
8,6% a salários
do Estado
Nova subida de 1%
não evita quebra
salarial da Função O QUE ESTÃO
Pública. Remunerações
ficam abaixo de 2021 A FAZER AS
A atualização salarial adicional AUTARQUIAS
de 1% anunciada pelo Governo
soma-se aos aumentos de ja-
neiro. Mas, mesmo assim, con-
PELA HABITAÇÃO?
siderando os anos de 2022 e
2023, os funcionários públicos
perdem poder de compra. E8

Empresas
sofrem
sem acordos
FOTO NUNO FOX

fiscais
Convenções com Suécia IMOBILIÁRIO As Câmaras de Lisboa, Porto, Sintra, Almada, Barreiro, Braga e Gaia investiram mais de €157 milhões no ano passado para melhorarem o
e Finlândia para evitar acesso à habitação a custos controlados. Com ritmos e orçamentos diferentes, as estratégias vão da construção à reabilitação, passando pela compra de
a dupla tributação imóveis existentes. A empreitada de realojamento no Bairro da Boavista, em Lisboa (na foto), com fundos do PRR, é um dos exemplos. E18
acabaram e o comércio
perdeu competitividade
TAP NO PARLAMENTO CÓDIGO DO TRABALHO
As relações comerciais entre
Portugal, Suécia e Finlândia
Impacto A comissão de inquérito
Supervisores Redução ou extinção
tem sido afetadas pela inexis-
tência de acordos fiscais. Em-
do IVA em arrancou com mais política dos EUA tentam do período experimental
do que aviação. O inspetor- ameaça contratação
presas queixam-se de que estão
a perder terreno. Governo diz
Espanha divide -geral de Finanças foi
conter danos de jovens. Empresas
estar a negociar. E6 especialistas E9 o primeiro a ser ouvido E4 na banca E30 já se estão a adaptar E24
PUB | MAR2023

É TÃO BOM QUE MERECE MAIS QUE UM RODAPÉ.

Merece a sua visita em bancomontepio.pt
CAIXA ECONÓMICA MONTEPIO GERAL – caixa económica bancária, S.A., designada por Banco Montepio, registado junto do Banco de Portugal com o n.º 36
2 ECONOMIA
Utilidade
Marginal
João Silvestre
jsilvestre@expresso.impresa.pt
Os preços vão
mesmo baixar
com IVA zero?
D
urante meses ouvimos António Costa e
Fernando Medina a afastar descidas de
IVA. Na alimentação, nomeadamente.
O caso espanhol servia de mau exemplo
— ainda que haja estudos a dizer o contrário
(ver pág. 9). Costa não o referiu, mas, bem
mais perto, temos outro péssimo exemplo de
dinheiro deitado à rua com a descida do IVA
da restauração em 2016: os preços subiram,
o Estado perdeu milhões de euros em receita
fiscal e apenas os restaurantes beneficiaram.
Entretanto, não se sabe bem porquê, tudo se
alterou, e eis que o IVA zero chega aos bens ali-
mentares. O que mudou? Na visão do Governo
sobre a ineficácia da medida, desconhecemos.
Mudou, isso sim, o contexto económico e po-
lítico. A inflação foi de 7,8% em 2022 e, tudo
indica, poderá ficar perto de 6% este ano. Não
fazer nada torna-se difícil e a contestação nas
ruas está aí para o lembrar. Mais ainda depois
de sabermos que o défice ficou bem abaixo
da meta do Governo. Era preciso recuperar a
iniciativa política, e ela está aí, mesmo que com
medidas que sejam a negação dos princípios
enunciados durante meses.
O IVA zero na alimentação — ou em parte
dela — tem, pelo menos, dois problemas. O pri-
meiro é de equidade: todos comprarão os bens
a 0%, sejam ricos ou pobres. O que torna a me-
dida desfocada no apoio às famílias de menores
rendimentos e dispendiosa face aos resultados
alcançados. Diga-se, em defesa do Governo,
que há outras medidas no pacote — como os
apoios diretos ou o reforço das prestações
sociais — que corrigem este efeito. Mas talvez
o custo do IVA zero pudesse ter servido para
É quase impossível que
os preços reflitam a 100%
a descida do IVA. O passado
já o demonstrou. O pior
é que talvez nunca
saibamos o que aconteceu
reforçar estes apoios. Ganharia em eficácia e
combate à pobreza. O IVA é, por definição, um
imposto regressivo: paga proporcionalmente
mais quem menos tem, porque o consumo tem
maior peso no rendimento. Por isso, anular
uma taxa de IVA tem um efeito progressivo:
beneficia proporcionalmente mais os meno-
res rendimentos. O que, sendo verdade, não
elimina o facto de se estarem a gastar €410
milhões para beneficiar todos os portugueses
— com muitos milhões a chegar a quem deles
não precisa — e de não haver foco nos mais
necessitados. E, pior, sem certezas de que o
benefício lá chegue.
Este é o segundo problema: não há garantias
de que a descida do IVA tenha efetivo impacto
nos preços. As empresas são livres de fixar o
preço dos produtos que vendem e, desde que
a taxa seja 0%, mesmo que com um valor base
mais alto, nada estão a incumprir. Para contor-
nar esta limitação, o Governo fechou um acor-
do com a distribuição e os produtores — por-
que também há ajudas para estes — e espera
ver a descida do IVA refletida nos preços com
base num “acordo de cavalheiros”. A verdade
é que, como em quase tudo na economia, é a
concorrência que esmaga as margens e limita
os abusos na fixação de preços. E nada disso
se altera. Até pode ser possível, no momento
zero, assegurar que os preços têm a descida
do IVA, mas a partir daí é completamente
impossível. Será a ASAE, que ainda está a
tentar perceber as margens de meia dúzia de
produtos em 2022, a conseguir monitorizar
em tempo real a dinâmica de milhares de pre-
ços? Quantos funcionários irá contratar? Ou a
Autoridade da Concorrência a verificar se os
preços estão certinhos e devidamente concer-
tados com o IVA zero, que é precisamente a
antítese da sua função? Não tenhamos ilusões.
Os preços vão subir, vão descer, vão ficar na
mesma. Nuns casos serão variações justifica-
das, noutros aproveitamentos ou até abusos. E
o debate vai continuar. Já nós continuaremos
sem nada saber. A ver o IVA passar.
PORTUGUESES FOGEM DOS DEPÓSITOS E CANALIZAM
POUPANÇAS PARA OS CERTIFICADOS DE AFORRO
As baixas taxas dos depósitos bancários em Portugal têm levado os portugueses a fugir em força destas aplicações. Em fevereiro, mostram os
últimos dados do Banco de Portugal, houve uma saída de €2,1 mil milhões. Uma tendência, aliás, semelhante à que se vive na zona euro. Dizia
esta semana o “Financial Times” que, nos últimos meses, saíram dos bancos dos países da zona euro €214 mil milhões. Nem tudo são saídas
motivadas pela busca de alternativas mais rentáveis. Mas muitas são. Por cá, uma das opções mais procuradas são os Certificados de Aforro
cujo stock tem batido sucessivos recordes. O total ultrapassa já os €25 mil milhões e, só no mês passado, entraram mais €2,6 mil milhões.
Estes impostos
davam um livro
Roma criou um imposto sobre
a urina, a Prússia um sobre
as perucas e Inglaterra e a
Rússia outro sobre as barbas,
todos famosos e citados nas
histórias da fiscalidade, mas, em
originalidade, Portugal não lhes
fica atrás. Só no último século
lançaram-se por cá taxas sobre
gafanhotos, boîtes e cabarets,
isqueiros, tratamentos de
beleza e enfeites natalícios, a
estada na prisão ou a farolagem.
Uns tributavam frivolidades,
consumos supérfluos e sinais de
riqueza, outros a circulação, a
propriedade, outros protegiam
sectores de atividade e ajudavam
o erário público. Uns tiveram
vida curta, outros, embora
recauchutados, sobrevivem até
hoje, e todos estão sumarizados
no “Grande Dicionário dos
Pequenos Impostos”, um livro
da autoria de Sérgio Vasques,
lançado esta
semana pela
Almedina.
Ao todo são
meia centena
de exemplos
de impostos
exóticos
pela base de
incidência,
de bagatela
pela receita que amealharam,
que permitem uma leitura
fresca e divertida sobre a
fiscalidade e os impostos do
nosso descontentamento.
Mas representam mais do
que isso. “É um livro que traz
tanto de humor, quanto de
ensinamentos”, descreveu
Agostinho Pereira de
Miranda, que teve a cargo a
apresentação. Um ensinamento
que Sérgio Vasques regista
é que a fiscalidade viveu
sempre de improvisos, erros,
contestações — não é de agora.
Outro exemplo: faz-se de
luta entre poderes públicos e
muita disputas de interesses
particulares. O livro deu ao autor
“um gozo do caraças” a fazer, e
também ao leitor, a ler.
BCP dá a trabalhadores e gestores,
mas não remunera acionistas
O BCP decidiu que não vai
distribuir os seus lucros
(de €207,5 milhões) pelos
acionistas, optando por não
pagar dividendos para conservar
capital. Porém, vai distribuir
cerca de €10 milhões pelos
trabalhadores, concluindo
assim a compensação que foi
acordada por ter cortado os
salários em 2014, na altura da
10,6
RENDAS SOBEM EM 2022
A renda mediana dos novos
contratos de arrendamento
aumentou 10,6% no quarto
trimestre de 2022, para
€6,91 por metro quadrado,
registando a variação homóloga
mais elevada desde o segundo
trimestre de 2021, divulgou o
INE. De outubro a dezembro, o
número de novos contratos de
arrendamento foi 3,3% menor
do que o registado no mesmo
trimestre de 2021 (23.394 novos
contratos) e 6,5% inferior ao do
trimestre anterior.
Acordo de rendimentos vai sobreviver?
É uma espécie de tema tabu: a
questão existe, todos falam nela,
mas ninguém quer ter o ónus
de ter dado o primeiro passo.
Governo e parceiros sociais
reconhecem que os princípios
que sustentam o acordo de
rendimentos firmado em outubro
já não traduzem a realidade.
Os patrões foram os primeiros
a puxar o tema “revisão”, na
sequência das alterações à lei
laboral. Agora foi a vez de a
UGT o admitir, perante a nova
atualização de 1% para a Função
ajuda financeira do Estado.
Fechando esse dossiê, no futuro
pode retomar os dividendos.
Para já, o que é certo é que a
gestão recebeu prémios que
permitiram que três gestores —
incluindo o presidente executivo,
Miguel Maya — tivessem uma
remuneração anual superior a €1
milhão. No ano anterior nenhum
tinha ultrapassado tal valor.
Maria João
Carioca sai da
CGD para a Galp
A atual administradora
financeira (CFO) da Caixa
Geral de Depósitos vai sair
do banco público no final do
mês e rumar à administração
da Galp, segundo o “Jornal de
Negócios”. A informação foi
divulgada ao mercado quarta-
feira ao final do dia. A gestora
estava na administração do
banco desde 2017. Vai ser
substituída interinamente
por Francisco Cary que é
atualmente membro executivo
da administração da CGD.
Pública, que deixa de fora o
privado. Ninguém tinha ainda
avançado com o pedido, ainda
que à saída da última reunião
de concertação social, António
Saraiva, presidente cessante
da CIP, o tenha descartado por
completo. Os restantes patrões
admitem haver razões para uma
revisão, estão disponíveis para
negociar se “alguém” o solicitar,
e a UGT quer ouvir os sindicatos
antes de avançar. O Governo
garante que “não fecha as portas”
à discussão.
Expresso, 31 de março de 2023
ILUSTRAÇÃO PAULO BUCHINHO
100
RECIBOS VERDES QUE
SÓ TÊM UM CLIENTE
Mais de 100 mil trabalhadores
independentes em Portugal,
15,1% do total, tinham em 2021
a sua atividade dependente de
um só cliente, que representou
75% ou mais do seu rendimento.
Os dados são avançados pelo
Instituto Nacional de Estatística.
Pinho saberá
a 14 de abril se
irá a julgamento
O antigo ministro da Economia
Manuel Pinho acusou a
juíza titular da instrução do
processo em que é acusado de
corrupção, branqueamento e
fraude fiscal de o manter preso
preventivamente com base
em “falsidades”. Declarações
feitas ao Expresso depois de
ser fixada para 14 de abril a
leitura da decisão da juíza
Gabriela Assunção sobre se o
processo, em que também é
acusado Ricardo Salgado, irá a
julgamento ou será arquivado.
O inquérito corre desde 2012.
RECORDE TODA
A HISTÓRIA
DO PROCESSO
EM EXPRESSO.PT
Expresso, 31 de março de 2023
Agnès Callamard, Jon Stewart, Fernando Medina e jornalistas a cobrir o ChatGPT
tiveram esta semana momentos de confusão mental que são fáceis de expor e esclarecer
Confusões
R ao Quadrado
Ricardo Reis
rquadrado.expresso@gmail.com
H
á semanas em que se ouvem
e leem algumas políticas, opi-
niões ou peças jornalísticas
tão confusas que se torna di-
fícil escolher uma para comentar, es-
clarecer ou criticar. Ao mesmo tempo,
porque cada uma delas é tão simples,
só é preciso dedicar um parágrafo ao
assunto, em vez de um texto inteiro.
Primeiro, o mais chocante é o vídeo
com que a Amnistia Internacional
decidiu lançar o seu relatório anual
de 2022/23 na terça-feira à noite. É
uma intervenção tão aberrante que
até é saudável não lhe dedicar mais
de um parágrafo por uma questão
sanitária. Em 88 segundos, a presi-
dente, Agnès Callamard, faz o seu
papel habitual e meritório, apontando
para as violações dos direitos huma-
nos em Israel, na Arábia Saudita, na
Etiópia ou no Iémen. Mas ela decide
começar o vídeo criticando o mundo
ocidental por intervir robustamente
na Ucrânia enquanto não resolve os
problemas nestes outros locais, ela
afirma que os Estados não deviam
escolher proteger as vidas dos ucra-
nianos se não intervêm ao mesmo
tempo para salvar outros e ela insinua
O Estado está degradado por décadas de incúria, incompetência e modorra. E se fosse só isso. O
problema mais profundo é mesmo a escolha: as políticas públicas são destroçadas por estratégia
Como atrofiar um país com papas e bolos
Estado da Noção
Francisco Louçã
francisco.lou66@gmail.com
S
uponho que não haverá alma
alguma entre nós que não
sinta os sucessivos episódios
do NRP Mondego como uma
metáfora das dificuldades do país e
da fanfarronice com que são tantas
vezes tratadas. Nem mesmo a mais
sinistra das conspirações — e já ti-
vemos algumas insinuações sobre
essas forças maléficas — conseguiria
conjugar uma novela tão sumarenta,
em que há um navio degradado, uma
tripulação cansada, um almirante
que entende que lhe basta alguma
notoriedade televisiva para que o
país clame por ele como salvador e
que afirma, logo a que jornal, que
todo o assunto é uma nervoseira
com a sua popularidade, fazendo um
garboso discurso para as televisões,
que depois declara ser um corretivo
interno à Marinha, tudo terminando
na apoteose de uma viagem de um
par de milhas e um rebocador — um
rebocador! — a ter que carregar o
navio de volta ao porto. Isto foi as-
sim pela triste razão de que é assim.
Deprimente fábula sobre o descon-
certo e a vã autoritas da prosápia,
esta história nem se resgata com as
pressurosas tentativas de vencer a
maldição despachando vistorias, es-
pecialistas e referências poéticas a
incidentes técnicos. Já lá está tudo
o que desmente um simples azar:
temos uma nau à deriva no mar, a
que isto se deve à proteína dos seus
egoístas “interesses”. É um exercício
de whataboutism chocante, que podia
ter saído da boca de Vladimir Putin ou
dos putinistas que todas as semanas
na imprensa nacional tentam defen-
der a invasão ilegítima da Ucrânia ou
tentam salvar a face de Putin da sua
decisão catastrófica. Callamard talvez
pense que está a espevitar a nossa
indignação contra os abusos dos di-
reitos humanos impelindo-nos a agir
para os resolver. Mas está tão confusa
que não vê que o vídeo faz o oposto,
levando antes à conclusão, no estilo
realpolitik, que com tantas injustiças
no mundo devíamos era estar calados
quando vemos Putin a matar milhares
de ucranianos.
A segunda confusão está noutro ví-
deo, do famoso comediante, apresen-
tador e comentador Jon Stewart, no
seu programa da Apple TV da semana
passada, em que discute, com o econo-
mista Larry Summers, “O problema
com o nosso-nada-livre mercado” (tí-
tulo do programa, tradução minha).
Stewart é muito amado pelos seus
anos à frente do “The Daily Show” e
Larry Summers é fácil de odiar pela
sua arrogância e capacidade invulgar
que tem de irritar pessoas quando dis-
cute com elas. Com o enorme poder
que tem para conduzir o guião e de-
pois editar o programa e colar excer-
tos, é claro que Stewart acha que saiu
a ganhar, e a primeira reação emotiva
do espectador vai nesse sentido. Mas
basta alguns minutos de reflexão para
perceber que Summers oferece vários
argumentos racionais que conseguem
explicar o mundo, enquanto o que
sobra dos argumentos de Stewart é
pouco mais do que emoção guiada
ordem do comando reduzida a uma
farsa, a chefia desaparecida depois
de ter feito voz grossa, a ambição po-
lítica de chefiar o país apoucada pela
demonstração no convés da corveta,
é tudo demasiado pequeno para não
parecer uma caricatura. Há tanta
gente humilhada por estas encena-
ções de mandonismo e de presteza,
enquanto o povo sente o desgosto
com piadas que se exibem perante
os seus olhos, que só se pode con-
cluir que nem a vergonha contém o
frenesim do autoelogio das contas
governamentais, que estavam tão
certas ao longo de tanto tempo que a
corveta voltou arrastada por um cabo
depois de morrer à vista da costa.
Esta demonstração trágico-marítima
é simplesmente um refrão. É assim
que vai o Estado.
Diz-me, espelho meu
O líder parlamentar do PS encheu-se
de brios e respondeu a esta triste no-
vela. Está contente, a coisa corre bem,
até houve umas audições de membros
do Governo que a maioria consentiu
(passará pela cabeça de Brilhante
Dias que a norma da maioria absoluta
seja que a prestação de contas é favor
ao Parlamento?) e, desde que os spin
doctors assim o determinaram, a mai-
oria passou a chamar-se “dialogante”
e conseguiu o feito histórico de “con-
ciliar os portugueses com a ideia de
maioria absoluta”. Tem notado essa
fremente conciliação que arrebata
manifestações de júbilo e enchen-
tes de carinho governista pelas ruas?
Será só mal dos portugueses, sempre
macambúzios, que se perguntam se
isto não podia ser diferente ou até se
ao rebocador não deviam ser dadas as
missões de guerra e paz?
É nisto que está o Estado, degrada-
do por décadas de incúria, incompe-
tência e modorra. E se fosse só isso.
O problema mais profundo é mesmo
por uma convicção conspirativa que
“os ricos” são uns batoteiros e tudo
no mundo se explica pelo seu desejo
maquiavélico de explorar “os pobres”.
Terceiro, os avanços na inteligência
artificial provocaram uma nova onda
de artigos de jornalistas. Com o Cha-
tGPT a ser capaz de escrever textos
ou programas de computador que
demorariam horas a um humano,
surgem as habituais previsões tecno-
ludistas de desemprego em massa. O
ChatGPT tem um potencial enorme
de substituir textos ou programas ro-
tineiros, mas tal como a calculadora
substituiu atividades rotineiras no
uso da álgebra ou os computadores
e as impressoras substituíram ativi-
dades rotineiras na escrita de cartas
e documentos formais. Nem um nem
outro reduziram o número de pes-
soas cujo emprego usa a matemática
ou a escrita. Antes pelo contrário, os
empregos técnicos e administrativos
aumentaram e hoje dominam o mer-
cado de trabalho. O meu exemplo
preferido é a contabilidade e as folhas
de cálculo. Entre o lançamento do
Lotus 1-2-3, em 1983, e do Excel, em
1987, o número de contabilistas que
faziam registos nos EUA (bookkeepers
Será a Autoridade da
Concorrência a garantir
que a concorrência
diminui, o que é absurdo
a escolha: as políticas públicas são
destroçadas por estratégia. O líder
parlamentar do PS bem o reconhe-
ceu, “o Estado social precisa de mo-
dernização, mais eficiência e eficácia.
Porque o pior que pode acontecer aos
olhos do cidadão é a perceção de que
o Estado social se degrada”, só que a
sua solução é insistir. Ora aí está, vai
haver investimento, uma torrente,
e eis uma lágrima furtiva a deslizar
pela face do povo reconciliado com
a maioria absoluta. Assim sendo, os
deputados do PS vão estar atentos
aos gastos do PRR (já foi com essa
do PRR que foram eleitos), prome-
tem mais, melhor, prazos apertados,
execuções comoventes. Ainda o Mon-
dego não se tinha tentado aventurar
pelo mar adentro e já havia mais di-
nheiro para reparações, dito por um
governante que, prudência a quanto
obrigas, agora prefere calar-se. O
país, deslumbrado com a maioria
Os episódios
do NRP Mondego
são uma metáfora
das dificuldades
e da fanfarronice.
Temos uma nau à
deriva no mar, a ordem
do comando reduzida
a uma farsa e a chefia
desaparecida depois
de ter feito voz grossa
ou clerks, em inglês) atingiu o seu má-
ximo nos dois milhões, restando hoje
pouco mais de um milhão. Mas nestas
quatro décadas o número de “gestores
financeiros”, “analistas” e “auditores”
cresceu de 1,7 milhões de americanos
para quatro milhões. São as mesmas
pessoas (mas mais ainda) que hoje
usam as folhas de cálculo para prestar
serviços superiores, porque deixaram
de passar oito horas por dia a escrever
números com caligrafia comercial em
livros pesados e bafientos.
Quarto, em Portugal temos o Go-
verno a anunciar uma descida do IVA
que será eficaz a reduzir os preços ao
consumidor, porque Fernando Me-
dina coordenou as medidas com as
empresas de distribuição e vai pôr a
Autoridade da Concorrência a vigiar
o que se passa. Que confusão. Quando
o Governo junta os empresários de
um sector e lhes diz para coordena-
rem entre si, o resultado inevitável
é que eles vão competir menos. De
uma forma ou de outra, mais cedo
ou mais tarde, esta diminuição da
concorrência vai levar a preços mais
altos. Dizer que será a Autoridade da
Concorrência a garantir que a con-
corrência diminui é a cereja em cima
do bolo, um daqueles absurdos que
revelam um nível de confusão que
nem a desculpa de haver pressa em
fazer alguma coisa pode justificar. Há
uma discussão interessante sobre se
descer o IVA sobre alguns produtos é
uma boa medida quer para controlar a
inflação quer para a economia, e essa
discussão tem argumentos a favor e
contra. Já promover a concertação en-
tre concorrentes usando a Autoridade
da Concorrência não requer mais do
que um parágrafo.
absoluta, respira de alívio e sabe que
a fé move mundos.
Só aí é que não pode ser
Haverá então investimento. Só nos
hospitais é que não pode ser. Entre-
tanto, aguentemos o tempo que for
reconciliados com hospitais centrais
em mosteiros centenários ou em edi-
fícios de meados do século passado e
deixemos andar, pois não há remédio,
dado que, como o primeiro-ministro
garantiu com indignação num debate
eleitoral, o PS não faz concorrência
aos privados. Na saúde o pouco in-
vestimento será para sobreviver. É o
Estado a esquecer o país.
Mas vai haver dinheiro. Há um jor-
ro de milhões para baixar o IVA de
44 produtos até outubro, o que virá
depois será curioso de ver. Mas, mes-
mo que esta medida resulte e não
haja novos aumentos determinados
pela distribuição, a cebola ainda fi-
cará 68% acima do preço de há um
ano. Esclareça-se que a cebola não é
importada da Ucrânia e que os cus-
tos de produção nem subiram um
quinto daquele valor, alguém ganha
a diferença. Por isso, sem surpresa,
é secreto o acordo do Governo com
os cavalheiros contra quem mandou
a ASAE há duas semanas. O povo
tem que acreditar nos resultados sem
conhecer a medida, mesmo tendo a
certeza de que já está a perder, e que
se um empresário passa um raspane-
te ao governo e este se encolhe, isso é
o Estado a funcionar.
Como o Governo acredita na feliz
reconciliação popular com a maioria
absoluta, milagre costista, ao invés
das “cavaquices” que menospreza,
não tem nenhuma razão para pensar
que a funesta degradação do Estado
seja sequer um problema. A corveta,
os hospitais, os preços especulati-
vos, tudo isso foram azares. Nossos,
é bom de ver.
ECONOMIA 3
A semana
E M 2 M I N U T O S
HABITAÇÃO A avaliação bancária
das casas caiu em fevereiro, na
primeira redução em quatro
meses do valor com que os bancos
avaliam os imóveis habitacionais.
O valor mediano de fevereiro foi
de €1478 por metro quadrado,
menos €7 do que em janeiro.
O valor representa, no entanto,
um aumento em termos
homólogos de 12,5%.
0
por cento será a taxa de IVA
de um conjunto de 44 produtos
alimentares selecionados pelo
Governo. A lista, anunciada na
segunda-feira, inclui pão, batata,
massa, arroz, tomate, alface,
cenoura, várias frutas, alguma
carne e pescado, entre outros
produtos. A isenção de IVA será
válida durante seis meses
MECANISMO Os governos
de Portugal e Espanha aprovaram
esta semana a extensão, até
ao final do ano, do mecanismo
ibérico para proteger o preço
grossista da eletricidade do efeito
de eventuais disparos nas cotações
do gás natural. O mecanismo,
que arrancou em junho de 2022,
terminaria no próximo mês
de maio. Até janeiro já beneficiou
os consumidores portugueses em
€570 milhões, segundo o Governo.
6
anos passará a ser o tempo
necessário para progredir
na carreira na Função Pública,
em vez dos atuais 10, segundo
a proposta feita esta semana
pelo Governo aos sindicatos,
a acrescer à atualização salarial
suplementar de 1%
TAP Arrancaram na quarta-feira as
audições da comissão parlamentar
de inquérito sobre a TAP,
começando pela Inspeção-Geral
de Finanças. Na próxima semana
serão ouvidas a presidente
executiva cessante, Christine
Ourmières-Widener, e a
ex-administradora Alexandra Reis.
BANCA Em 2022 e no início
de 2023, os bancos tiveram de
devolver €3 milhões aos seus
clientes, a esmagadora maioria
dos quais por terem cobrado
indevidamente comissões, revelou
esta semana o Banco de Portugal
no seu relatório de supervisão
comportamental.
EDP Através da Kronos Solar,
a EDP Renováveis iniciou
a construção dos seus primeiros
projetos fotovoltaicos nos Países
Baixos com duas centrais
que somarão uma capacidade
de 20,6 megawatts.
SONAE O administrador financeiro
da Sonae, João Dolores, assegurou
na quarta-feira que o grupo não
irá rever em alta o preço da oferta
pública de aquisição lançada sobre
a Sonaecom, de €2,50 por ação.
4 ECONOMIA
ALTOS
Nuno
Sebastião
Presidente
da Feedzai
Portugal teve um novo recorde de
registo de patentes no Instituto
Europeu de Patentes no ano pas-
sado. Foram 312 no total, com um
crescimento de 7,6% face ao ano
anterior. No topo da lista surgem
o unicórnio Feedzai, especializa-
do em segurança dos pagamen-
tos bancários, e a Universidade
de Aveiro, com 20 patentes regis-
tadas cada.
André
Antunes
Diretor
da Fusion Fuel
A Fusion Fuel assinou esta sema-
na um importante contrato com a
britânica Hydrogen Ventures pa-
ra fornecimento de hidrogénio
verde durante 10 anos a partir de
Évora. Está prevista a entrega de
30 toneladas anuais. A empresa,
cotada na Nasdaq e que teve pre-
juízos no ano passado, posiciona-
-se assim cada vez mais no mer-
cado do hidrogénio verde, crucial
para a transição energética.
egor.pt
Otimizar
o presente
e explorar
o futuro
E BAIXOS
António
Costa Silva
Ministro
da Economia
O ministro da Economia come-
çou com palavras duras sobre as
margens da distribuição, admi-
tindo até controlo de preços. Mais
tarde recusaria esta solução para
agora vir mostrar certeza de que
os preços vão baixar com o IVA a
zero na alimentação.
Manuel
Pinho
Ex-ministro
da Economia
Na abertura do debate instrutório
do chamado processo EDP, o ex-
-ministro viu a juíza revalidar-lhe
a prisão domiciliária. Mais uma
derrota de Manuel Pinho, que foi
detido em dezembro de 2021 e
que saberá a 14 de abril se vai a
julgamento.
António Ferreira
dos Santos
Inspetor-geral
de Finanças
Dizer que a CEO da TAP não foi
ouvida na auditoria sobre a saída
de Alexandra Reis da administra-
ção da companhia aérea porque
“não fala a língua” parece, no mí-
nimo, uma péssima desculpa. A
menos que seja piada.
João Silvestre
jsilvestre@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
Energia
Norueguesa
Statkraft
entra em
Portugal
Após ter falhado a compra das
barragens da EDP no Douro, a
Statkraft fez nova investida,
contratando a energia de três
centrais solares em Portugal
A Statkraft, elétrica detida totalmen-
te pelo Estado norueguês, instalou-se
em Portugal. A empresa, que já tinha
em 2019 tentado entrar no mercado
português, concretizou agora o seu
primeiro negócio, ao firmar um con-
junto de contratos de aquisição de
energia (PPA, na sigla em inglês) para
comprar a eletricidade que será pro-
duzida em três centrais solares que
estão a ser construídas pela britânica
NextEnergy Capital nos concelhos de
Santarém e do Cartaxo.
Os PPA agora fechados cobrirão a
energia gerada pelas três centrais,
com uma potência de 210 megawatts
(MW) e uma produção esperada de
Parlamento Comissão de inquérito da TAP
arranca com mais política do que aviação
Partidos assacam
responsabilidades ao gestor
financeiro e aos ministros.
Já IGF defende-se
de acusações da CEO da TAP
Já foi dado o tiro de partida da Comis-
são Parlamentar de Inquérito (CPI) à
gestão da TAP e à saída com um pré-
mio de €500 mil de Alexandra Reis
e ficou claro, pelo tom dominante no
arranque, que será mais de política
do que de aviação que ali se irá tratar.
Num caso em que os objetivos de PS
e PSD são diametralmente opostos,
isso ficou visível logo na primeira au-
dição, a do líder da Inspeção-Geral de
Finanças. Se o socialista Carlos Perei-
ra colocou questões que visavam ilibar
de responsabilidades os ministros das
Infraestruturas e das Finanças, o so-
cial-democrata Hugo Carneiro colo-
cou perguntas para demonstrar que
as conclusões da IGF, que considera-
ram irregular aquela indemnização,
eram frágeis e um “fato à medida”.
Os partidos da oposição mostraram
que estão disponíveis para irem além
das conclusões da auditoria da IGF
(que imputou responsabilidades ape-
nas aos presidentes da TAP — Chris-
tine Ourmières-Widener e Manuel
Beja — por terem sido eles a assinar a
saída de Alexandra Reis). Praticamen-
te todos se uniram para atacar o gestor
financeiro Gonçalo Pires, e à direita
muitas foram as críticas por não terem
sido responsabilizados os ministros,
sobretudo Pedro Nuno Santos, que es-
tava nas Infraestruturas e se demitiu.
Mas na CPI não se falou só de políti-
ca, também se esmiuçou os meandros
que levaram ao relatório. Foi a barrei-
ra linguística que levou a IGF a ouvir
por escrito Ourmières-Widener. Isso
mesmo foi assumido pelo inspetor-ge-
ral — a quem foi perguntado pelos de-
putados porque não contrataram um
tradutor. A CEO não fala português, e
a IGF considerou que ambos ficariam
mais protegidos se a presidente da
TAP respondesse por escrito. “É uma
prorrogativa só dada a altos cargos”,
frisou a inspetora Carla Santos.
A questão não é de somenos, pois
a gestora, que se viu exonerada da
presidência da TAP na sequência
do relatório da IGF, que considerou
“nulo” o acordo de saída, vai contestar
a decisão — e um dos argumentos que
irá usar é o de que não foi ouvida pre-
sencialmente, como Alexandra Reis,
Manuel Beja, Gonçalo Pires e o ex-se-
cretário de Estado das Infraestruturas,
341 gigawatts hora (GWh) por ano,
equivalente ao consumo médio de 98
mil famílias. Tiago Thomaz, diretor
da área de PPA da Statkraft na Pe-
nínsula Ibérica, avançou ao Expresso
que se trata de contratos a oito anos,
nos quais a empresa norueguesa será
um intermediário, tomando a eletrici-
dade das fotovoltaicas mas acabando
por revendê-la a um comercializador.
João Schmidt, diretor de Desenvol-
vimento de Negócio da Statkraft em
Portugal, comentou, por seu turno,
que “Portugal é atrativo pela estabi-
lidade regulatória”, indicando que
a estratégia do grupo no mercado
nacional passa por adquirir projetos
de energia solar em fase embrionária,
assumindo algum risco, mas também
comprar projetos de energia eólica
em terra em fases mais avançadas (e
seguras) de desenvolvimento.
As três centrais solares objeto do
PPA entre a NextEnergy e a Statkraft
deverão ficar operacionais no quarto
trimestre deste ano. A Statkraft, re-
corde-se, tinha participado em 2019
no processo de compra de seis bar-
ragens da EDP no Douro, mas o ven-
cedor acabou por ser um consórcio
liderado pela francesa Engie. Agora o
foco em Portugal será a energia solar
e eólica, embora a empresa admita
também olhar para oportunidades na
área hidroelétrica.
Miguel Prado
mprado@expresso.impresa.pt
O inspetor-geral da IGF, António Ferreira dos Santos, não ouviu presencialmente a presidente da TAP
Hugo Mendes. Mas o inspetor-geral
assegurou que a CEO da TAP não pe-
diu para ser ouvida em pessoa.
Ferreira dos Santos sacudiu a
responsabilidade política do atual e
do anterior ministro das Finanças ao
sublinhar que, pelo que apurou, nem
João Leão nem Fernando Medina
estavam a par da indemnização de
Alexandra Reis nem do formato
jurídico escolhido para a sua saída
— um acordo negociado, que não
Christine Ourmières-
-Widener só respondeu
por escrito à IGF, mas
soube da demissão
presencialmente
está previsto no Estatuto do Gestor
Público. Não escamoteou, porém,
que Hugo Mendes e Pedro Nuno
Santos estavam a par do montante
da indemnização, anuíram no valor e
na decisão da sua saída.
CEO despedida presencialmente
Exonerada do cargo de presidente a
6 de março, no dia em que chegou às
Banca Escudos ajudam
Banco de Portugal a dar
ainda dividendos ao Estado
Não haverá mais dividendos
do Banco de Portugal nos
próximos anos e até deverá
ser preciso usar provisão
para cobrir prejuízos
Ao contrário do Banco Central Euro-
peu, que não apresentou resultados
positivos devido à inversão da sua
política monetária, o Banco de Portu-
gal ainda apresentou lucros em 2022,
pelo que haverá dividendos dirigidos
ao Estado. Uma das grandes ajudas
veio dos escudos.
Como ficaram milhões de notas de
escudo por trocar após 20 anos fora
de circulação, estas prescreveram, e
já não é possível trocá-las por euros;
a autoridade bancária pôde assim
anular uma provisão que tinha consti-
tuído anteriormente, de cerca de €94
milhões, para fazer face ao possível
encargo.
Essa anulação deu um impulso posi-
tivo às contas anuais de 2022, segun-
do sabe o Expresso, ajudando a que o
Banco de Portugal venha a entregar
ao Estado cerca de €240 milhões em
Finanças e às Infraestruturas o relató-
rio da IGF, Christine Ourmières-Wi-
dener soube pouco tempo antes da
conferência de imprensa que, afinal,
não iria continuar como presidente
da companhia. A informação foi-lhe
dada pessoalmente pelo menos pelo
ministro das Infraestruturas, João
Galamba, soube o Expresso. A ges-
tora não foi despedida em direto na
televisão.
Surpreendida pela decisão, a ges-
tora irá, tudo indica, litigar contra a
decisão da IGF. Deverá sair no início
de abril e, segundo Galamba, não irá
ver acionada a cláusula que lhe daria
um salário mensal de €18 mil durante
quatro meses para não ir trabalhar
para a concorrência, como noticiou o
“Correio da Manhã”.
Com uma duração prevista de 90
dias, a CPI vai ser palco de uma dura
luta política, desencadeada por uma
secretária de Estado do Tesouro re-
lâmpago, que por escassos 26 dias
passou de uma empresa da tutela de
Pedro Nuno Santos (a NAV) para o
seu rival político, Fernando Medina.
Um movimento por parte de Alexan-
dra Reis, que, sabe o Expresso, Pedro
Nuno Santos não apreciou.
Anabela Campos e D.C.
acampos@expresso.impresa.pt
Expresso, 31 de março de 2023
dividendos: era essa a previsão no
Orçamento do Estado, e o Expresso
sabe que o resultado ficará alinhado.
Porém, nos próximos anos, a expec-
tativa é que não haja qualquer entre-
ga de lucros da autoridade monetária
ao Estado (que é sempre 80% do re-
sultado). Isto porque o agravamento
das taxas a pagar aos bancos que ali
aplicam dinheiro vai intensificar o
desequilíbrio nas contas.
Os resultados operacionais deverão
ser negativos, mas o supervisor pre-
sidido por Mário Centeno tem uma
provisão para riscos gerais de pelo
menos €3677 milhões — era este o
seu montante entre 2018 e 2021 —,
que será utilizada para “abatê-los”, ou
seja, será consumida à medida que for
preciso cobrir prejuízos, para que os
resultados apresentados anualmente
sejam zero. Não se sabe por quanto
tempo esta situação poderá manter-
-se, mas será sempre mais agravada
quanto mais exigente se tornar a po-
lítica monetária do BCE.
Diogo Cavaleiro
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
FOTO ANTÓNIO PEDRO FERRREIRA
307
é o número de documentos
pedidos a 20 entidades e
personalidades pela Comissão
Parlamentar de Inquérito (CPI)
da TAP, a segunda em
23 anos. Foi preciso levantar
o sigilo profissional,
e há documentos secretos
60
é o número de entidades que
serão ouvidas — desde logo os
principais envolvidos no processo
de saída, mas também antigos
e atuais gestores da TAP,
governantes e ex-governantes,
advogados, consultores
e sindicatos. A CPI será
formada por 17 deputados
Expresso, 31 de março de 2023
Segurança Social Peritos estudam panóplia
de soluções para complementar as pensões.
Plafonamento em avaliação, mas não avança
E se pedir fatura
ajudar a compor
a sua reforma?
Peritos estudam
impacto
P
Textos Elisabete Miranda
edir fatura com nú-
mero de contribuinte
é uma forma de obter
descontos no IRS e de
ajudar a combater a
evasão fiscal mas, no
futuro, poderá ter uma
vantagem acrescida:
reforçar o valor das
pensões de reforma. A ideia tem vindo
a germinar no grupo de peritos a quem
o Governo encomendou o estudo sobre
a sustentabilidade da Segurança Social
e, dependendo do seu impacto orça-
mental, poderá vir a fazer parte da lista
final de propostas que no final de julho
chegará ao Ministério do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social.
A quatro meses do final do calendá-
rio, os peritos ainda estão longe de um
esboço definitivo do ‘livro verde’ que
entregarão a Ana Mendes Godinho
mas é certo que, além de propostas
para reforçar o sistema previdencial
(o que resulta dos descontos diretos
dos trabalhadores) avançarão também
com sugestões para incentivarem cida-
dãos, empresas e Estado a apostarem
nos regimes complementares — isto
é, em soluções para reforçar o valor
da pensão ‘oficial’. Uma das ideias em
cima da mesa, sabe o Expresso, passa
por desviar uma parte do IVA para
uma conta individual, ficando o valor
a capitalizar até à altura da reforma.
Quando vão às compras os consu-
midores podem optar por pedir fatura
com ou sem número de contribuinte.
Alguns consumos (como a saúde, ho-
telaria e restauração, cabeleireiros,
mecânico) dão direito a descontos no
IRS, outros dão apenas a garantia de
que os comerciantes comunicarão as
vendas ao Fisco, pagando impostos
sobre a totalidade do que faturam. A
ideia dos peritos é que uma pequena
‘LIVRO VERDE’
PARA A REVISÃO DAS
REGRAS DAS PENSÕES
SERÁ ENTREGUE EM
JULHO. REGIMES
COMPLEMENTARES
TAMBÉM ESTÃO
EM ESTUDO
percentagem dos valor do IVA que os
cidadãos ajudam o Estado a recuperar
sirva, também, para reforçar a sua
pensão futura. O valor seria transfe-
rido dos cofres do Estado para uma
conta individual, que ficaria a render
num fundo de pensões ou no PPR do
Estado.
Os efeitos orçamentais estão a ser
estudados e são determinantes para
os peritos decidirem se devem for-
malizar a proposta no livro verde.
Uma medida desta natureza poderia
ter como vantagem despertar a preo-
cupação, sobretudo nos mais jovens,
com a pensão futura. Mobilizaria mais
cidadãos para o esforço de redução da
subfaturação e da economia paralela,
que, por cá, será uma das mais altas
da Europa. E reforçaria o contributo
do orçamento geral do Estado para as
pensões. Como desvantagens surgem
as implicações orçamentais, uma vez
que, ao contrário das consignações
como o adicional ao IMI e parte do
IRC, que são neutros, por saírem do
orçamento geral do Estado para o
Fundo de Estabilização Financeira,
esta medida implicaria uma redução
efetiva da receita pública. E as poten-
ciais desigualdades que pode criar, ao
beneficiar quem mais consome (logo,
quem tem mais rendimentos).
Plafonamento nos estudos,
mas fora das propostas
O polémico plafonamento das pen-
sões — a ideia de desviar uma parte da
taxa social única (TSU) para contas
individuais, em vez de fazer parte
do ‘bolo’ global — está também a ser
estudado. Os peritos querem saber
quanto custaria no curto e médio
prazo avançar com um modelo desta
natureza, mas os trabalhos deverão
ficar-se pelas simulações. Num grupo
heterogéneo, onde alguns têm sim-
patia teórica por um modelo misto
de financiamento das pensões, como
o badalado modelo sueco, os peri-
tos reconhecem que com uma dívida
pública acima dos 100% do PIB e as
projeções de sustentabilidade a in-
dicarem que, algures na década de
2030, o sistema previdencial enfren-
ta alguns anos de défices persistentes,
o plafonamento não seria praticável.
Mais simples e desejável, no enten-
der da comissão, seria, por exemplo, a
criação de incentivos públicos robus-
tos para que as empresas reforcem os
descontos para planos de pensões dos
seus trabalhadores. E que o Governo
reveja os benefícios fiscais aos pro-
dutos de poupança, como os planos
poupança reforma, que se tornaram
tão abrangentes que tanto podem ser
aproveitados por quem realmente faz
um pé de meia para a reforma como
Com ou sem número
de contribuinte? Faturas
poderão vir a ter outras
vantagens, além do IRS
FOTO GETTY IMAGES
PREOCUPAÇÕES EM ANÁLISE
SUSTENTABILIDADE
A “comissão para a sustentabilidade
da Segurança Social” vai apresentar
ao Governo meios alternativos de
financiamento que garantam que o
sistema de pensões (o previdencial,
que depende dos descontos) é
sustentável a prazo. É aqui que se
enquadra a ideia da “taxa sobre os
robôs”, isto é, por as empresas mais
intensivas em capital a pagar uma
espécie de taxa social única.
ADEQUAÇÃO
As últimas revisões tornaram o
sistema financeiramente mais
equilibrado mas ditam uma quebra
nas taxas de substituição (relação
entre pensões e último salário). Os
especialistas vão propor formas de
complementar a pensão (ver texto).
NOVAS REALIDADES
As novas formas de trabalho na era
digital desafiam as relações laborais e
também a Segurança Social. Peritos
querem garantir que todos chegam
ao fim da vida com uma pensão digna.
por quem procura mais rendibilidade
nas aplicações financeiras.
Para já, no final desta semana, o
grupo de peritos prepara-se para en-
tregar um relatório intercalar ao Go-
verno, mas já com uma baixa de peso.
Teresa Garcia, professora do Institu-
to Superior de Economia e Gestão
(ISEG), demarcou-se, por considerar
que o grupo está a extravasar as suas
competências, desviando foco do es-
sencial e estrutural do sistema.
O Governo mandatou os especialis-
tas para elaborar “um livro verde so-
bre o sistema previdencial do sistema
de Segurança Social” o que, segundo
Teresa Garcia, os obriga a cingirem-
-se ao regime redistributivo. Isto é,
a análise devia centrar-se em fontes
alternativas de financiamento e de
adequação do sistema previdencial, a
espinha dorsal das pensões. O estudo
sobre regimes complementares, de
reforço de instrumentos privados,
tanto a nível profissional como a ní-
vel individual, seria outro trabalho.
A maioria, coordenada por Mariana
Trigo Pereira, entendeu o contrário.
Propostas finais só em julho e certe-
zas só depois de o Governo fazer uma
seleção do que quer efetivamente
acolher e do que pretende deixar pelo
caminho.
emiranda@expresso.impresa.pt
ECONOMIA 5
DESCODIFICADOR
Vêm aí
novas
regras
na energia
A ERSE vai mudar
os regulamentos
da eletricidade
e abriu uma consulta
pública sobre
as propostas. Eis o
que está em causa
1 Oa ERSE?
que propõe
A Entidade Reguladora dos Serviços
Energéticos (ERSE) preparou uma
revisão regulamentar do sector
elétrico, reformulando as regras
aplicáveis às tarifas, relações
comerciais, operação de redes,
autoconsumo, entre outras áreas.
Será uma forma de adaptar o
sector ao fenómeno de crescente
produção para autoconsumo, de
aposta nas baterias e de reforço das
redes inteligentes, ao mesmo tempo
corrigindo aspetos que segundo a
ERSE precisavam de ser melhorados.
2 Como
será
a consulta
pública?
O regulador submeteu as
suas propostas de revisão de
regulamentos a consulta pública, na
qual qualquer interessado se pode
pronunciar até 15 de maio, podendo
consultar todas as propostas
de alteração no site da ERSE. A
entidade elaborará depois um
relatório e divulgará publicamente
os contributos (exceto os que forem
feitos solicitando o anonimato). Só
depois de avaliar esses comentários
é que a ERSE publicará a versão final
dos novos regulamentos.
3 Opara
que muda
os
consumidores?
Há dezenas de alterações propostas
pela ERSE, mas algumas terão um
impacto mais direto no consumidor
doméstico. Uma: os contratos com
fidelização não poderão ser sujeitos
a atualizações de preços a meio do
contrato. Outra: em caso de falha de
pagamento, o pré-aviso de redução
forçada de potência (que antecede
o corte) terá de ser feito com uma
antecedência de 10 dias, em vez dos
atuais cinco. Ainda outra: famílias
que até final de 2025 continuem nas
tarifas reguladas poderão ter os seus
contratos incluídos numa carteira
que o comercializador regulado
poderá transferir, após um processo
concursal, a um fornecedor do
mercado livre. E também será
criada a obrigação de fornecedores
com mais de 50 mil clientes
disponibilizarem preços indexados,
além dos fixos, e de empresas com
mais de 200 mil clientes terem
também tarifários dinâmicos
(preços variáveis de hora a hora).
4 Que
outras
alterações
haverá?
A ERSE propõe que os
comercializadores de eletricidade
facultem preços de referência para a
baixa tensão especial (um segmento
empresarial), como já fazem com
a baixa tensão normal (sobretudo
clientes domésticos). E o regulador
prevê também outras alterações de
cariz técnico. Uma delas é acabar
com as designações históricas
“produção de regime ordinário”
e “produção de regime especial”,
passando a vigorar “regime de
remuneração de mercado” e
“regime de remuneração garantida”.
Miguel Prado
mprado@expresso.impresa.pt
6 ECONOMIA
“Confusion
de Confusiones”
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt
A taxa
batata
F
oi, finalmente, anuncia-
da uma medida forte para
combater a inflação: a des-
cida da taxa de IVA apli-
cada a um cabaz de produtos de
primeira necessidade. Estes pro-
dutos, que já eram tributados a
uma taxa de IVA mais baixa, isto
é, a 6%, passam a ser tributados à
taxa de 0%. Uma batata.
A medida parece interessante,
pois acredita-se que permite bai-
xar os preços que afligem os con-
sumidores portugueses, no ime-
diato. Porém, há muitas questões
que se podem levantar...
Em primeiro lugar, a medida
é transversal, pois tanto baixa a
batata do pobre como a do rico,
e este não precisa de uma baixa
de preços para sobreviver. Até
os turistas que se abasteçam no
supermercado vão beneficiar!
Se um quilo de batata custar
€1,26, a baixa do IVA signifi-
ca uma redução de €0,07, e o
produto deverá passar a custar
€1,19. Se, ao fim do mês, uma
família gastar €318 na lista de
produtos em que a taxa baixa,
isso significa uma poupança de
€18. Quando se compara isto
com o ordenado mínimo nacio-
nal de €760, já são 2,4%. Mas,
admitindo que apenas 25% das
famílias necessitariam de ajuda,
não seria melhor entregar um
cheque mais generoso a estas
famílias do que estar a esbanjar o
benefício em quem pode pagar?
Se a medida tem por
objetivo a descida da
inflação, então esqueçam...
O peso dos produtos da lista
agora mexida representará,
na melhor das hipóteses,
11,12% do cabaz
Pelo lado do Governo, as con-
tas parecem-me modestas. Se
contam perder receita na casa
dos €460 milhões, e se há 4,149
milhões de famílias em Portu-
gal, então esperam vir a perder
€18,48 por família por mês nos
seis meses da campanha. Isso
significa que esperam que cada
família venha a gastar, em mé-
dia, €307,97 do cabaz de pro-
dutos já sem IVA. Imagine-se
que não baixavam o IVA mas
que dividiam o equivalente por
apenas 25% das famílias... Aí o
apoio seria bem mais generoso.
Poderiam entregar um cheque
mensal de €73,91 para apoiar
uma fatura de €326,45, o que
significa uma redução muito
maior.
Se a medida tem por objetivo
a descida da inflação, então es-
queçam... O peso dos produtos
da lista agora mexida represen-
tará, na melhor das hipóteses,
11,12% do cabaz de compras que
serve de medida à inflação. Mas
não é verdade, pois há muitos
mais produtos em cada catego-
ria além dos abrangidos. Que
seja metade... Isso significa que a
inflação estaria apenas a descer
0,3% dos 8,6% por este efeito.
Mas há mais. Tomemos somen-
te o caso da batata, que está na
lista. Mas qual batata? A branca?
A vermelha? A doce? A “espe-
cial” para cozer, assar ou fritar?
A “princesa”? A batata “ideal”,
que é premium? E as biológicas?
Numa grande superfície vi bata-
ta desde €0,96 a €2,99 por quilo.
Vai tudo corrido a 0%? A do po-
bre e a gourmet?
FISCALIDADE
Comércio com a Finlândia e a Suécia
prejudicado por falta de acordos fiscais
Portugal não tem convenções com os dois países e empresas perdem competitividade
Ana Sofia Santos
As Embaixadas da Finlândia
e da Suécia, a Câmara de Co-
mércio Luso-Sueca (CLS) e a
Agência para o Investimento
e Comércio Externo de Por-
tugal (AICEP) confirmam as
dificuldades vividas pelas em-
presas que têm trocas comer-
ciais entre Portugal e estes
dois países nórdicos desde que
acabaram as respetivas con-
venções para evitar a dupla
tributação (CDT). O Governo
português garante que “Por-
tugal está a envidar esforços
para a conclusão das negocia-
ções bilaterais em curso” com
vista a novos acordos fiscais,
realidade que as Embaixadas
da Finlândia e da Suécia não
confirmam.
Em causa estão tratados que
previnem a duplicação do pa-
gamento de impostos (e a du-
pla isenção) sobre os mesmos
rendimentos e, segundo infor-
mação enviada ao Expresso
pelos Ministérios das Finanças
e dos Negócios Estrangeiros,
estão “em curso negociações
com vista ao alargamento da
nossa rede de CDT”. Nos úl-
timos anos houve um desen-
tendimento entre Portugal, a
Finlândia e a Suécia por causa
do regime de residentes não
habituais, que permitia a dupla
isenção de IRS aos pensionis-
tas naturais destes países que
escolhiam Portugal para gozar
as reformas.
O desacordo levou ao fim
da CDT com a Finlândia a 1
de janeiro de 2019, enquanto
a Suécia terminou o acordo a
partir de 2022. Portugal tem
79 tratados em vigor com ou-
tras jurisdições, muitos dos
quais vêm das décadas de 70 e
80 e foram celebrados para dar
segurança aos operadores eco-
nómicos. O Executivo garan-
te que “Portugal atribui uma
grande importância à negocia-
ção e celebração de CDT”, que
ajudam a sedimentar “os laços
de cooperação bilaterais”. Po-
rém, os Governos finlandês e
sueco lembram que ainda es-
tão a aguardar que Portugal
ratifique os novos protocolos
entretanto assinados.
A Embaixada da Finlândia
sustenta que “não existem
negociações em curso para
um novo acordo tributário”
e indica que “a expectativa é
de que Portugal venha a rati-
ficar o acordo já assinado”. A
homóloga sueca faz notar que
“em 2019 a Suécia e Portugal
assinaram um protocolo que
alterava a CDT existente des-
de 2002, mas Portugal não
ratificou esse protocolo, o que
levou a Suécia a rescindir o
tratado”. A mesma fonte ofi-
cial sueca refere ainda que,
“devido às dificuldades em
chegar a um acordo aceitável
para ambos os Estados, atual-
mente não há negociações”.
Quanto às limitações nos
negócios, a Embaixada da
Suécia “está ciente de que a
situação está a afetar algumas
empresas suecas que operam
em Portugal”, enquanto a
homóloga finlandesa indica
que tem “conhecimento dos
desafios impostos a algumas
empresas”. No entanto, faz
notar que esses efeitos serão
“limitados, porque o acordo
incide sobre a tributação de
IRS de pessoas singulares”
e, na ausência de um acordo
Houve um desentendimento entre Helsínquia (na foto) e Portugal por causa do regime
de residentes não habituais português. O problema estendeu-se à Suécia FOTO GETTY IMAGES
tributário, são aplicáveis “as
diretrizes da União Europeia
sobre os royalties, juros e em-
presa-mãe ou afiliada”.
Preocupação nacional
Não é suficiente, considera a
portuguesa Visionref — Refrac-
tories, do sector da construção
civil, que, a partir de Alenquer,
exporta serviços (mão de obra
especializada) para a Finlândia
e estuda a entrada na Suécia.
Desde que findou a convenção
com a Finlândia, a empresa
perdeu competitividade face
aos concorrentes e tem vindo a
apelar, sem sucesso, para o pro-
blema junto das autoridades
nacionais. A entrada na Suécia
também está em banho-maria,
dada a complexidade de mon-
tar a operação sem o respaldo
de um protocolo internacional.
A Visionref faz montagem,
construção e ou reparação dos
revestimentos refratários (ma-
teriais que resistem a eleva-
das temperaturas) em fornos
industriais para siderurgias,
cimenteiras, petroquímicas ou
vidreiras. A empresa tem cerca
de 60 trabalhadores diretos
envolvidos na exportação de
O Governo garante
que dá uma grande
importância às CDT,
mas Finlândia e Suécia
lembram que Portugal
não ratificou os novos
protocolos
mão de obra e à volta de 40%
da sua atividade está na Fin-
lândia (por ano fatura cerca
de €4,5 milhões). Atualmente
“estamos sujeitos a retenção
na fonte de uma percentagem
significativa (13% sobre cada
fatura emitida), o que nos co-
loca numa desvantagem com-
petitiva face a empresas nossas
concorrentes vindas do espaço
europeu, com perda de negó-
cio e diminuição no emprego”,
faz notar fonte da Visionref.
A situação afetará inúme-
ros operadores. As vendas de
Portugal para estes dois terri-
tórios valem à volta de €2250
milhões e são feitas por qua-
se 1600 empresas nacionais.
Apesar dos constrangimentos,
o comércio com a Finlândia e
a Suécia tem vindo a crescer,
segundo a AICEP, o que refor-
ça a sua importância e poten-
cial (ver números). E destaca o
dinamismo do comércio entre
Portugal e o Norte da Europa,
indicando que “nos últimos
anos os países nórdicos têm
tido taxas de crescimento in-
teressantes na balança comer-
cial portuguesa”. Mesmo as-
sim, fonte oficial da AICEP
refere igualmente a existência
de constrangimentos, dizendo
que a agência “acompanha as
empresas portuguesas, parti-
lhando eventuais dificuldades
com as entidades competen-
tes”. Sublinha, porém, que não
está na sua mão, pois “estes
acordos são celebrados entre
Estados, através dos respeti-
vos Ministérios das Finanças”.
“Ao analisar globalmente
os dados estatísticos das ex-
portações relativamente a de-
zembro de 2021, a soma dos
quatro mercados nórdicos —
Suécia, Finlândia, Noruega
e Dinamarca — posiciona-os
como o 8º cliente de Portu-
gal”, frisa a AICEP. Aumentou
o número de empresas expor-
tadoras de bens para estes
países, com a exportação de
serviços também a registar
um crescimento constante.
Inibidor de investimento
Por sua vez, a CLS sinaliza
como “negativa” a inexistên-
cia de um tratado e fala em
várias empresas membros
da câmara, desde PME até
grandes companhias, que se
queixam e procuram ajuda. E
sinaliza que o sector das tec-
nologias de informação está
a ser afetado e que as empre-
sas suecas estarão a deixar
de contratar cá serviços de
consultoria.
A dimensão do problema
levou a CLS a fazer um in-
quérito (no início de 2022)
e percebeu que uma das im-
plicações imediatas ocorre
Expresso, 31 de março de 2023
NÚMEROS
833
milhões de euros foi quanto
valeram as exportações
de bens e de serviços de
Portugal para a Finlândia,
mais 28% do que no ano
anterior. Os dados, que são
da AICEP, tendo por base
as estatísticas do INE,
indicam ainda que a venda
de serviços por empresas
nacionais para este país
nórdico responderam por
€348 milhões, mais 54%
em termos homólogos.
Em 2021 existiam 1020
empresas portuguesas a
exportar para a Finlândia
1415
milhões de euros foi quanto
somaram as vendas
nacionais para a Suécia
em 2022, mais 35% do que
no exercício anterior. A
prestação de serviços entre
2021 e 2022 cresceu quase
74%, para os €426 milhões.
Em 2021, o INE contabilizava
1585 empresas exportadoras
para a Suécia
ao nível da tesouraria das
empresas, “uma vez que as
entidades devedoras de ren-
dimentos podem passar a
ter de efetuar retenção na
fonte sobre rendimentos pa-
gos ao outro país ou, caso já
se encontrassem obrigadas
a efetuar retenção na fonte
anteriormente, a taxa a apli-
car — e, consequentemente,
o valor da retenção na fonte
— aumenta”.
A subida dos preços para
incorporar estes custos é ou-
tro efeito adverso, a que se
soma, “sem dúvida o mais im-
portante, o facto de que estas
consequências, entre outras,
influenciarem as decisões de
investimento em Portugal por
parte de empresas suecas”,
que optam por não investir no
nosso país ou deslocalizam os
investimentos para outros ter-
ritórios com os quais a Suécia
mantenha uma CDT.
Rosa Areias, sócia da PwC
e líder da área de consulto-
ria fiscal, sublinha que a au-
sência destes tratados é “um
fator limitador do investi-
mento”. Sobre a Finlândia
e a Suécia, a fiscalista indi-
ca que, mesmo estando em
causa dois Estados-membros
da União Europeia e preva-
leçam para alguns tipos de
rendimentos (dividendos, ju-
ros e royalties) disposições
que eliminam a tributação
no Estado da fonte — fruto
da transposição de diretivas
comunitárias —, a denúncia
das convenções celebradas
com Portugal pela Finlândia
e pela Suécia “poderá ter tido
impacto negativo nas rela-
ções com Portugal”.
Em particular, confirma
a sócia da PwC, no “caso de
prestações de serviços de
empresas portuguesas a en-
tidades residentes em algum
daqueles países”. Se as CDT
estivessem em vigor, “esses
rendimentos apenas pode-
riam ser tributados no Estado
de residência dos beneficiá-
rios, no caso concreto em Por-
tugal. Não sendo essa a situa-
ção, a tributação no Estado da
fonte (Finlândia ou Suécia) irá
depender da legislação inter-
na desses países”.
Há que ter em conta, no en-
tanto, “que Portugal concede
crédito unilateral pelos impos-
tos pagos no estrangeiro, pelo
que o impacto acaba, em certa
medida, por ser minimizado”,
mas não deixa de existir um
efeito financeiro prejudicial,
“pois este crédito é obtido
mais tarde”.
O Expresso tentou, sem su-
cesso, obter uma reação da
Câmara de Comércio Luso-
-Finlandesa.
assantos@expresso.impresa.pt
Expresso, 31 de março de 2023 ECONOMIA 7
8 ECONOMIA
Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt
Um
Governo
acossado
P
assou discretamente pela
chamada agenda mediática
uma entrevista de Pedro
Soares do Santos ao “Pú-
blico” de domingo. Vale a pena
recuperá-la. A chamada de capa
diz tudo: “Diálogo é possível des-
de que o Governo se torne hones-
to”. No interior, o presidente do
Grupo Jerónimo Martins, dono
do Pingo Doce, é mais explíci-
to. Acusa o ministro da Econo-
mia e o secretário de Estado do
Turismo, Comércio e Serviços,
respetivamente António Costa
Silva e Nuno Fazenda, de serem
“desonestos intelectualmente”.
O diálogo, insiste, só é possível se
estas pessoas se tornarem “ho-
nestas nas discussões”. Há muito
que um Governo não era tratado
assim por um grande empresário
português. Talvez mesmo desde o
tempo de Alexandre Soares dos
Santos, pai de Pedro Soares dos
Santos.
Tão extraordinária como a
entrevista de Pedro Soares dos
Santos foi a reação do Governo.
Calou-se. Apelidado de desones-
to, com ministros acusados de
“desonestidade intelectual” e,
ainda assim, calou-se. O Governo
e os próprios. Calaram-se. Onde
está o Governo que o ano passa-
do por muito menos, desancou
na praça pública Nuno Ribeiro
da Silva, presidente da Endesa,
que estava cheio de razão? Onde
está o primeiro-ministro que pôs
o então secretário de Estado da
Energia, João Galamba, a con-
trolar os pagamentos do Estado
à empresa espanhola? Onde es-
tão os ministros indignados, em
defesa da honra, com críticas tão
demolidoras? Pois é. Mudam-se
os tempos, mudam-se as condi-
ções e mudam-se as vontades. O
Governo só é forte com aqueles
que acha que dele dependem. É
fraco com quem não precisa do
Governo para nada. Não há fatu-
ras para controlar.
Pedro Soares dos Santos tem
poder que o põe a salvo do
“quem se mete com o PS, leva”.
Nem todos têm esse privilégio.
Mas, mais importante do que
isso, tem razão. O Governo pro-
curou fazer das grandes superfí-
cies o bode expiatório do brutal
aumento de preços dos produtos
alimentares, usando o expedien-
te populista do ódio aos ricos e
aos chamados lucros excessivos.
Deu-se mal. A mentira tinha per-
na curta. Acabou por fazer o que
tinha jurado não fazer e que cin-
co vezes foi rejeitado na Assem-
bleia da República. A descida do
IVA em 40 produtos e os apoios
à produção parecem-se mais
com o desespero de um Gover-
no acossado do que com medidas
pensadas por quem sabe o que
está a fazer. Os próximos tempos
mostrarão que controlar preços
é muito mais difícil e complexo
do que aquilo que se pensa. Fácil
e simples é atirar culpas para
cima dos outros.
O recuo do Executivo não é
certamente indiferente às críti-
cas demolidoras de Pedro Soares
dos Santos e de Cláudia Azeve-
do, presidente da Sonae, o outro
grande grupo retalhista, à estra-
tégia do Governo. Uma novidade
na relação entre o poder político
e o sector empresarial, que faz
recordar os tempos áureos dos
respetivos progenitores. Uma boa
novidade, sublinhe-se. Quem tem
poder deve usá-lo para contrariar
os abusos do poder. É melhor um
Governo acossado do que um Go-
verno sem freio.
Expresso, 31 de março de 2023
INFLAÇÃO
Função Pública Atualização suplementar de 1%, a somar aos aumentos de janeiro, não evita perda de
Salários no Estado pe
Emprego Público (DGAEP), que já revista entre 2022 e 2023, com os res- riores. Mas também outras carreira,
Cátia Mateus incluem a atualização de remunera- petivos trabalhadores a beneficiarem por exemplo, na GNR e na PSP.
e Sónia M. Lourenço
A
ção realizada em janeiro, que oscilou de ganhos salariais mais expressivos Tudo somado, só os assistentes ope-
entre os 2% e os 8%, sendo mais ex- do que os restantes salários públicos. racionais (auxiliares de educação ou
s perdas são trans- pressiva para os salários mais baixos. Com destaque para as carreiras gerais de ação médica, motoristas, etc.), que
versais e atingem Além desses valores, o Expresso con- da Administração Pública, onde se recebiam salário mínimo — e, por isso,
também os baixos siderou ainda a atualização adicional incluem assistentes técnicos, assis- beneficiaram da sua atualização nos úl-
salários. Mesmo transversal a todos os funcionários tentes operacionais e técnicos supe- timos anos —, e os assistentes técnicos
com a atualização públicos de 1%, anunciada na semana
adicional de 1% passada.
anunciada pelo Resultados? Tendo em conta a pro-
Executivo — que, jeção do Banco de Portugal (BdP) Governo não fecha a porta
nas reuniões com
os sindicatos esta semana, o Governo
para a inflação este ano, 5,5%, que
se soma a uma escalada de preços
a rever acordo no privado
não quis clarificar se serão retroativos perto dos 8% em 2022, os salários da
a janeiro —, os salários da Função Pú- Função Pública vão perder em termos O Expresso já tinha sinalizado esta acordo, já justificava a sua revisão”.
blica vão perder poder de compra. Em reais, mesmo com este incremento. possibilidade em fevereiro, quando Com a decisão do Executivo de
termos acumulados, ou seja, conside- Considerando apenas a evolução da foram aprovadas as alterações à proceder a uma atualização intercalar
rando os anos de 2022 e 2023 (desde remuneração base bruta dos funcio- legislação laboral, levando os patrões dos salários da Função Pública e as
que a inflação disparou), as quedas nários públicos, os salários em 2023, a defender que a nova lei colocava em projeções do Banco de Portugal a
em termos reais podem chegar aos em termos reais, ficarão abaixo de causa o cumprimento do Acordo de anteciparem uma inflação de 5,5%
8,6%. Em valores absolutos, os cálcu- 2021, mesmo com este segundo au- Médio Prazo para a Competitividade em 2023, acima dos 5,1% de
los do Expresso indicam que há casos mento. As perdas acumuladas em e Rendimentos, subscrito, em atualização que constam do
onde as perdas podem ultrapassar os 2022 e 2023 são transversais às diver- outubro do ano passado, pelo compromisso, “é quase certo que o
€500 mensais. Apenas os assistentes sas carreiras e posições remunerató- Governo, confederações patronais e caminho será acionar a cláusula de
operacionais que ganhavam o salário rias, e podem chegar aos 8,6%. UGT. E foi precisamente a central salvaguarda do acordo e
mínimo e os assistentes técnicos no sindical a retomar o tema agora que o renegociá-lo”, diz. À saída da reunião
início da carreira terão em 2023 ga- Quem mais perde Governo anunciou um aumento desta quarta-feira com os parceiros
nhos salariais reais, face a 2021. Go- intercalar adicional de 1% para a sociais, a ministra do Trabalho, Ana
verno acena ainda aos trabalhadores Ainda que transversal, a ordem de Função Pública, que a UGT quer ver Mendes Godinho, não fechou a porta
com aumento do subsídio de refeição grandeza na perda de poder de com- refletido também nos salários do a uma eventual negociação,
e progressão mais rápida, no caso dos pra da função pública é diferenciada sector privado. Em declarações ao reforçando que “o Governo está
funcionários públicos afetados pelo por carreiras e nível de remuneração. Expresso, Sérgio Monte, dirigente da sempre disponível para negociar”.
congelamento de carreira. Até porque, além da atualização sala- UGT e deputado da bancada Mas recorda que o acordo está em
As contas do Expresso têm por base rial de janeiro ter sido diferenciada socialista, explica que, “por si, o facto vigor há apenas dois meses, sendo
os dados das tabelas, publicados pela consoante o nível da remuneração, a de a inflação em 2022 ter ficado nos fundamental acompanhar a evolução
Direção-Geral da Administração e do tabela salarial de várias carreiras foi 7,8%, acima dos 7,4% inscritos no das suas metas. C.M.
Preço do leite subiu,
já as margens...
Nos últimos 12 meses, lidade, I&D, comercialização e
o preço de venda de um PREÇO DO LEITE logística do lado da indústria,
pacote de leite aumentou NA PRODUÇÃO a par de custos promocionais
Em €/100 kg
68,6%, mas a margem e ainda custos logísticos e de
de lucro continua operação de loja do lado do
a ser residual 60 retalho”, resume a diretora
54,37 da ANIL.
Se for comprar um pacote de 50 O valor da margem de lucro
leite meio gordo UHT de marca não é revelado, mas “é reduzi-
da distribuição, é fácil perceber 40 do”, informa Cândida Marra-
que o preço na prateleira do maque, certa de que o aumento
supermercado ronda os €0,86. 30 do preço do leite é impulsio-
E é fácil perceber também que nado pela subida dos custos
está a pagar muito mais do que 20 de produção, dos cereais às
um ano antes. Está a pagar 2021 2022 2023 rações, da energia e transpor-
precisamente mais €0,35, ou tes. A escassez da oferta, trans-
seja, mais 68,6%. E em janeiro versal a quase toda a Europa,
O QUE MUDOU NO PREÇO
até estava a desembolsar mais também impacta aqui.
DE UM PACOTE DE LEITE
€0,2 em algumas insígnias, o Mas será mesmo verdade
MEIO GORDO UHT
que significa que a curva ascen- Em euros
que o lucro é residual? Fontes
dente do preço do leite, um dos que conhecem os sectores dos
44 alimentos que passam a ter IVA 6% laticínios e do retalho garan-
Ind. laticínios e distribuição
IVA zero no cabaz anunciado tem que sim. O leite na distri-
Leite no produtor
pelo Governo, “pode estar a ini- buição é um produto-âncora
ciar uma inflexão”, diz Cândida €0,86 para gerar tráfego na loja. A
€0,05
Marramaque, diretora-geral da rentabilidade obtém-se mais
€0,27
ANIL — Associação Nacional €0,51 pela quantidade e pelo facto
dos Industriais de Lacticínios. €0,03 de o consumidor levar no seu
€0,54 €0,14
Contas feitas, só a fatia carrinho outras produtos em
€0,34
correspondente ao preço no que a margem da superfície
produtor (€0,54 em feverei- FEV. 2023 FEV. 2022 comercial é maior. O foco em
ro) passou a ser superior aos FONTE: ANIL produtos básicos como o leite
€0,51 que pagava pelo paco- está no preço, mas a margem
te do mesmo leite no super- sobe noutros bens para com-
mercado um ano antes, como pensar. Aliás, a rentabilidade
mostra o gráfico ao lado. E se do leite UHT na indústria tam-
o preço do litro de leite no pro- bém é baixa, equilibrada por
dutor aumentou 58,8%, a fatia ganhos em produtos fabrica-
da indústria e distribuição dis- dos a partir da gordura extraí-
parou 92,8%. Em causa estão da do leite, como a manteiga
€0,27, onde cabem as margens ou as natas. E até a dedução
de lucro, o custo da embala- do IVA será limitada a €0,05
gem (€0,12 vs €0,10 em 2022) por pacote, quase impercetí-
e “custos relativos à recolha de vel no preço final.
leite, tratamento térmico e ou- Margarida Cardoso
tros fatores de produção, qua- mmcardoso@expresso.impresa.pt
 Expresso, 31 de março de 2023
poder de compra. Remunerações em 2023 ficam em termos reais abaixo de 2021
rdem até 8,6% em 2 anos
(pessoal com funções administrativas
e formação ao nível do ensino secun-
dário), no início da respetiva carrei-
ra, escapam às perdas reais no salário
base. Estes cálculos não têm em conta
o impacto do aumento do subsídio de
refeição, de €4,77 para €5,20, logo em
outubro de 2022, e, a partir de abril,
para €6,00, como anunciado pelo Exe-
cutivo. Também não são considerados
os efeitos da progressão na carreira, já
que estes são variáveis entre trabalha-
dores, com a maioria dos funcionários
públicos a demorar dez anos para avan-
çar uma posição remuneratória.
As contas indicam que mesmo os
salários baixos sofrem uma degra-
dação real entre 2021 e 2023. É o
caso dos assistentes operacionais cuja
remuneração estava acima do salário
mínimo e, por isso, não beneficiaram
da sua atualização, perdendo entre
3,8% e 4,9%. Já para militares da GNR
e agentes da PSP na base da carreira
a degradação é mais ligeira, ficando
pelos 0,4%. São os salários mais eleva-
dos que sofrem as maiores quedas em
termos reais. Enfermeiros, militares
da GNR, polícias, médicos, docentes
universitários e professores no topo
das respetivas carreiras sofrem uma
degradação real dos salários de 8,6%
em termos acumulados, no espaço de
dois anos. Em valores absolutos, isto
significa uma redução salarial em
termos reais que pode ultrapassar os
€500 mensais (ver infografia).
Resta agora a dúvida se o aumento
adicional de 1%, bem como a nova
atualização do subsídio de refeição,
terão efeitos retroativos desde o
início do ano. Essa é a exigência de
Fesap e STE, as estruturas sindi-
cais filiadas na UGT que em outubro
passado assinaram com o Governo
o acordo para a valorização salari-
al da Administração Pública. Inês
Ramires não fechou a porta, mas
também não se comprometeu. A
dúvida deverá ser desfeita na nova
reunião entre Governo e sindicatos,
na próxima quarta-feira. Já para a
Frente Comum, filiada na CGTP e
que ficou fora do acordo, esta atuali-
zação não responde às necessidades
dos trabalhadores.
Progressão mais rápida
Os trabalhadores da Administração
Pública afetados pelo congelamen-
EM DOIS ANOS,
A PERDA SALARIAL
EM TERMOS REAIS
PODE ULTRAPASSAR
OS €500 POR MÊS
to das carreiras entre 2005 e 2007
e, depois, com a troika, vão poder
avançar mais rapidamente na sua
posição remuneratória, ou seja, em
termos salariais. Uma progressão
que habitualmente demora dez anos
poderá vir a ser feita em seis anos.
Mas esta aceleração será válida uma
única vez para cada trabalhador, na
próxima progressão, a partir de 1
de janeiro de 2024. Ou seja, uma
vez usada, não se repete. A proposta
foi apresenta esta semana aos sin-
dicatos pela secretária de Estado
da Administração Pública, Inês Ra-
mires. E abrange os trabalhadores
cuja progressão na carreira resulta
dos pontos obtidos na sua avaliação
de desempenho (cerca de 65% dos
funcionários públicos).
De entre este universo, os trabalha-
dores que contam com mais de 18 anos
de carreira na Administração Pública
— e por isso foram penalizados pe-
los dois períodos de congelamento
— terão uma redução do número de
pontos necessários para avançarem
uma posição remuneratória. Em vez
de dez serão seis. Dado o sistema de
quotas em vigor na avaliação de de-
sempenho, 65% dos trabalhadores
da Administração Pública recebem,
no máximo, um ponto por ano. E,
por isso, demoram dez anos a avançar
uma posição. Com esta medida, serão
seis anos.
cmateus@expresso.impresa.pt
O preço do leite
no produtor subiu
58% num ano. E a
embalagem aumentou
20% FOTO RUI OLIVEIRA
ECONOMIA 9
>>
SALÁRIOS DA FUNÇÃO PÚBLICA PERDEM ATÉ 8,6%
DO PODER DE COMPRA FACE A 2021
Valores mensais em euros e percentagem
POSIÇÃO
COMPARAÇÃO
SALÁRIO COM 2021 (REAL)
CARREIRA/GRUPO 2023 ABRIL (€)
2023 21 E 22 € %
1ª 4ª Assistente operacional 769,2 12,69 1,7%
1ª* 5ª Assistente operacional 769,2 -30,7 -3,8%
4ª* 8ª Assistente operacional 908,8 -46,9 -4,9%
1ª Assistente técnico 869,8 70,0 8,7%
9ª Assistente técnico 1280,7 -31,4 -2,4%
2ª Técnico superior 1333,4 -37,6 -2,7%
14ª Técnico superior 3561,1 -277,4 -7,2%
1ª Enfermeiro 1280,7 -90,2 -6,6%
11ª Enfermeiro 3024,3 -285,5 -8,6%
1ª Guarda da GNR 908,8 -3,5 -0,4%
8ª Guarda da GNR 1280,7 -31,4 -2,4%
4ª Primeiro-sargento da GNR 1596,5 -126,9 -7,4%
2ª Tenente-general da GNR 4366,4 -412,2 -8,6%
1ª Agente da PSP 908,8 -3,5 -0,4%
7ª Agente da PSP (antiga 8ª) 1280,7 -31,4 -2,4%
1ª Subcomissário da PSP 1596,5 -126,9 -7,4%
2ª Superintendente-chefe da PSP 3883,2 -366,6 -8,6%
1ª Médico assistente 2863,2 -270,3 -8,6%
3ª Médico assistente graduado sénior 5279,0 -498,4 -8,6%
1ª Docente universitário leitor 2394,9 -219,8 -8,4%
4ª Docente universitário catedrático 5631,6 -531,7 -8,6%
1ª
10ª
Educador de infância
Professor do básico e secundário
1604,9 -127,9
3507,9 -331,2
-7,4%
-8,6%
(*) A tabela remuneratória da carreira foi reconstruída em 2023 por causa do aumento do salário mínimo
nos últimos anos, valores referem-se à remuneração-base em termos brutos. Valores da remuneração em
2023 tendo em conta a segunda atualização, de 1%, anunciada pelo Governo para todos os funcionários
públicos. Atualização dos valores de 2021 para 2023 feita com base no índice de preços do consumidor (para
2023 foi assumido o valor de 5,5% para a variação média anual do IPC, que corresponde à previsão do Banco
de Portugal
FONTE: DIREÇÃO-GERAL DA ADMINISTRAÇÃO E DO EMPREGO PÚBLICO, INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICA E CÁLCULOS EXPRESSO
Valeu a pena
descer o IVA
em Espanha?
Os analistas têm dito que mentação da medida”. Na com-
a medida não resultou, paração entre as plataformas
mas estudo da Comissão online de um supermercado
Europeia e do Banco de em Espanha e outro na Alema-
Espanha dizem que sim nha, o estudo também conclui
que, em geral, os artigos em
Entre abril e outubro, 44 pro- análise tiveram descidas de
dutos essenciais, escolhidos preços em Espanha e subidas
com base numa alimentação na Alemanha.
saudável e em função das pre- “Na verdade, a análise mostra
ferências dos portugueses, vão que apenas no caso do queijo a
ficar isentos de IVA. Espanha descida de preço em Espanha
também apostou, em janeiro, superou a descida do IVA. Nos
na descida do IVA para tor- outros artigos analisados (fruta,
nar alguns bens básicos mais vegetais, massa, leite e óleo), a
acessíveis às famílias, mas há descida de preços é inferior à
divergências sobre o resultado descida do IVA, e no pão baixou
prático da medida. claramente mais o IVA do que
Os analistas têm coincidido o preço ao consumidor”, diz ao
em afirmar que a medida não Expresso o economista Pedro
se traduziu num benefício para Brinca, da Nova SBE. O resul-
os consumidores, uma vez que tado não contraria a convicção
o retalho alimentar absorveu a geral de que, “quando temos
eliminação do imposto e os pre- uma descida do IVA, o preço
ços nas prateleiras continuaram ao consumidor não desce na
a subir. O Banco de Espanha mesma proporção”, comenta,
acaba de indicar o contrário: sem esquecer as teorias que de-
a medida permitiu abrandar o fendem que o IVA desce mais
ritmo de crescimento dos pre- do que o preço final.
ços face à zona euro e 90% da No caso deste trabalho, os
descida do IVA para zero terão próprios autores referem outros
sido incorporados nos preços estudos que seguem direções
finais. Um estudo da Comissão divergentes sobre as virtudes
Europeia concorda que o con- da descida da taxa de IVA. E,
sumidor saiu a ganhar. diz Pedro Brinca, apesar de a
“O reflexo nos preços foi em análise considerar diferenças
geral significativo e em muitos permanentes entre Espanha e a
casos próximo ou até ligeira- Alemanha que não comprome-
mente superior a 100%, com tem o resultado final da análise,
percentagens inferiores, mas o estudo compara valores no fim
ainda substanciais (30%-70%), de dezembro e no início de ja-
para pão, leite e óleo de cozi- neiro, “exatamente o momento
nha”, diz este trabalho, que de- em que há atualizações de pre-
fende “o sucesso do objetivo de ços, não refletindo o facto de os
redução de preço, pelo menos processos de indexação serem
imediatamente após a imple- diferentes nos dois países”. M.C.
10 ECONOMIA
INFLAÇÃO
Como vai funcionar
a taxa de IVA zero
na alimentação
Quando iremos ter
produtos a taxa zero nos
supermercados?
Na segunda quinzena de abril.
A versão final da proposta de
lei que vai reduzir de 6% para
0% a taxa de IVA num cabaz de
44 bens essenciais vai ser vota-
da no Parlamento a 6 de abril.
Segue-se a publicação em “Diá-
rio da República” e, depois, a
distribuição tem 15 dias para
refletir a taxa zero nas pratelei-
ras dos supermercados.
A fatura vai
mesmo descer?
No imediato, e a acreditar no ato
de “boa fé” dos intervenientes
que na passada segunda-feira
assinaram o acordo para o IVA
zero sobre o cabaz básico esco-
lhido em função das exigências
de uma alimentação saudável e
das preferências dos portugue-
ses, sim, mas em alguns pro-
dutos a poupança será apenas
de alguns cêntimos. Numa ida
às compras, estão em causa €6
em cada €100 a pagar, e isto se
o carrinho tiver apenas produ-
tos contemplados no cabaz que
resulta do acordo entre o Gover-
no, a CAP — Confederação dos
Subscreva o Expresso por 3 semanas por apenas €5,99
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Campanha válida até 30 de abril de 2023
Agricultores de Portugal, pela
produção, e a APED — Associ-
ação Portuguesa das Empresas
de Distribuição, pela distribu-
ição. Em média, a poupança
num carrinho que inclua os 44
produtos é de €8 e vale a pena
recordar que mesmo com taxa
de IVA de 0% alguns produtos
continuam a custar mais 60%
do que há um ano.
O cabaz é consensual?
Não. A oposição parlamentar
fala de uma medida de pou-
co impacto no bolso dos por-
tugueses e que deixa de fora
muitos produtos habituais no
carrinho de compras. Alguns
sectores defendem que para a
medida ter mais efeito devia
incluir também alimentos que
pagam taxas de IVA superiores
e a APIC — Associação Portu-
guesa dos Industriais de Carnes
apresenta o “estranho caso” da
sandes mista, composta por pão
e queijo a taxa zero e fiambre
taxado a 23%. Outro ponto con-
testado é a abrangência de pro-
dutos de diferentes preços, uma
vez que o IVA zero é extensivo
a famílias de produtos e abarca,
por exemplo, o azeite e o queijo
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mais baratos, mas também os
mais caros, por exemplo.
O cabaz só tem frescos?
Não, os legumes e produtos hor-
tícolas podem ser também refri-
gerados, secos, desidratados ou
congelados, ainda que previa-
mente cozidos, a carne inclui as
versões frescas e congeladas e
o peixe pode ser fresco, vivo ou
morto, refrigerado, congelado,
seco, salgado ou em salmoura,
ficando excluído o peixe fumado
ou em conserva, à exceção do
atum. No leite de vaca, a medida
abrange leite em natureza, este-
rilizado, pasteurizado, ultrapas-
teurizado, em blocos, em pó ou
granulado, deixando de fora o
leite fermentado.
Durante os seis meses
de duração deste acordo
os preços podem oscilar?
Sim. Basta que os custos dos
fatores de produção também
variem — para cima ou para bai-
xo — para que isso se reflita na
nossa carteira. Em contexto de
guerra na Europa, é impossível
prever qual será a evolução dos
custos energéticos ou do nível
de encargos com a logística
envolvida desde a produção à
distribuição de alimentos. Sen-
do certo, ainda, que a Ucrânia
continua a ser um dos principais
produtores de alimentos — no-
meadamente cereais — da Euro-
pa e um dos mais importantes a
nível mundial.
A longo prazo, vamos
pagar mais pela comida?
É praticamente garantido.
Ninguém sabe ao certo até onde
irá o cenário de inflação alta,
mas teremos cada vez mais
pessoas nas cidades e menos
nos campos a produzir e as
alterações climáticas vão
continuar a criar instabilidade
na produção de alimentos.
Quem tem alimentação
especial foi esquecido?
No cabaz há 28 alimentos aptos
para veganos e 75% dos bens
contemplados servem a alimen-
tação vegetariana, disse o se-
cretário de Estado Adjunto do
Primeiro-Ministro, Mendonça
Mendes, no Parlamento. Quan-
to a outras restrições alimenta-
res, não deu informação.
Como vai ser feita
a fiscalização?
A solução passará pela ASAE,
mas o Governo ainda não con-
cretizou o modelo a seguir.
Na discussão da proposta de
lei do Governo quase nada foi
adiantado, além da “base de
confiança” que junta as partes
envolvidas e uma referência à
apresentação, nos próximos
dias, da “chave de controlo”.
Para já, sabe-se apenas haver
uma comissão de acompanha-
mento que envolve oito entida-
des, entre as quais a ASAE, a
Autoridade da Concorrência e
a Autoridade Tributária.
A distribuição vai
mesmo pagar
imposto sobre lucros
extraordinários?
Cada caso é um caso. No que
respeita aos dois maiores ope-
radores em Portugal, a Sonae
(Continente) referiu que o va-
lor a pagar é “relativamente
marginal”, enquanto a Jeróni-
mo Martins (Pingo Doce) esti-
ma em €700 mil o montante a
pagar no âmbito da contribui-
ção especial sobre as empresas
de distribuição alimentar. A
ASAE, por seu lado, continua
a inspecionar margens.
O Governo mudou
de posição sobre
o IVA zero?
Sim. Começou por recusar a
medida, por não garantir uma
redução efetiva de preços no
consumidor. Agora, “confia”
no compromisso obtido com a
produção e distribuição para
repercutir efetivamente a des-
cida do IVA no preço final.
Como compara o cabaz
português e o espanhol?
O cabaz português, em vigor
entre o fim de abril e outu-
bro, contempla 44 alimentos
que têm a taxa de IVA de 6%
reduzida a zero. O cabaz es-
panhol tem alimentos a taxa
zero como o pão, leite, fruta e
legumes, além da massa e do
azeite, que viram o IVA descer
de 10% para 5%, mas exclui
carne, peixe e manteiga. Em
Espanha a medida entrou em
vigor em janeiro e terminará
em maio ou junho, dependen-
do da evolução da taxa de infla-
ção subjacente.
Margarida Cardoso
e Vítor Andrade
mmcardoso@expresso.impresa.pt
Expresso, 31 de março de 2023
44 NO CABAZ TAXA 0%
Cereais, derivados, tubérculos
Pão, batata, arroz, massas
alimentícias e pastas secas
similares, excluindo massa
recheada
Legumes e hortícolas
Cebola, tomate, couve-flor,
alface, brócolos, cenoura,
curgete, alho-francês, abóbora,
grelos, couve-portuguesa,
espinafres, nabo, ervilhas
Frutas no estado natural
Maçã, banana, laranja, pera,
melão
Leguminosas em estado seco
Feijão-vermelho, feijão-frade,
grão-de-bico
Laticínios
Leite de vaca, iogurtes, queijos
Carne e miudezas
Porco, frango, peru, vaca
Peixe, exceto fumado
ou em conserva
Bacalhau, sardinha, pescada,
carapau, dourada, cavala
Atum em conserva
Ovos
Gorduras e óleos
Azeite, óleos vegetais,
manteiga
VEJA EM
EXPRESSO.PT
O QUE FICA
FORA DO CABAZ
Expresso, 31 de março de 2023 ECONOMIA 11

ENERGIA

Miguel Prado
A eletricidade para consumidores do-
mésticos está entre os poucos produtos
e serviços em Portugal cujos preços
não só não acompanham a tendência
de inflação, como até estão mais baixos
do que os verificados há um ano. Os da-
dos do Instituto Nacional de Estatística
(INE) indicam que o índice de preços
da eletricidade em fevereiro estava 6%
abaixo do registado em igual período
de 2022. Além disso, estava no valor
mais baixo dos últimos nove anos, sen-
do preciso recuar a dezembro de 2013
para encontrar um índice de custo da
eletricidade mais baixo.
A metodologia do INE tem o ano
de 2012 como referência (base 100) e
o histórico do instituto mostra que o
índice de preços de eletricidade para
consumo doméstico fechou o ano se-
guinte nos 102,7 pontos (ou seja, pre-
ços 2,7% acima dos do ano anterior)
e entrou em 2014 nos 105,7 pontos.
Nos anos seguintes a fatura elétrica
das famílias portuguesas teve algumas
subidas e o ano de 2022 acabou por ser
o pior: os preços no verão chegaram a
estar mais de 40% acima da base de
referência de uma década antes. Só
que neste arranque de 2023 o preço
doméstico de eletricidade do cabaz do
INE afundou-se para os 108,8 pontos
em janeiro e 105,2 em fevereiro.
A capacidade da Europa para asse-
gurar as suas necessidades de gás pro-
vocou nos últimos meses uma queda
acentuada da cotação do combustível,
refletindo-se numa descida dos preços
grossistas da eletricidade. Além disso,
em Portugal, 2023 trouxe tarifas nega-
tivas de acesso à rede, levando vários
comercializadores a baixar os preços
ao cliente final.
Com efeito, a descida de 6% dos
Custo da eletricidade
das famílias em
mínimos de nove anos
com rendas, recolha de
lixo, combustíveis de uso
O índice de preço da eletricidade do INE
doméstico, entre outras
rubricas. Globalmente,
teve um forte recuo nos primeiros dois
na lista do INE são pou- meses do ano. É preciso recuar ao final de
cas as referências, além
da eletricidade, com uma 2013 para encontrar um nível mais baixo.
descida de preços em ter-
mos homólogos: aí podemos encontrar
E a descida pode não ficar por aqui
o calçado (-1,5%), serviços médicos
(-14%), bicicletas (-8,4%), combustíveis
rodoviários (-5%).
A descida da fatura elétrica medi-
da pelo INE (que considera nos seus
cálculos uma amostra de ofertas de
comercializadores de eletricidade e
dados da Entidade Reguladora dos
Serviços Energéticos) poderá intensifi-
car-se ainda mais, tendo em conta que
A inflação na classe
eletricidade para clientes domésticos de 50 mil clientes (é o caso
Habitação, em fevereiro, nunca chegou “sequer perto” dos cerca da EDP Comercial, com 3,9
era de 6,9%, segundo de €0,60 por kilowatt hora a que estão milhões de contratos) passem
o INE. Mas na eletricidade hoje os tarifários indexados. “Estes a ter de disponibilizar, além de
estava a cair 6% preços nunca existiram”, enfatiza o tarifários fixos (como os que já
gestor, sublinhando que acontecem têm), ofertas de preço indexado
sobretudo devido às tarifas negativas (que a EDP nunca quis lançar no
em abril as tarifas reguladas de eletri- de acesso às redes. mercado doméstico). Também quer
cidade irão descer 3% e as de outros É ainda incerto o efeito que os peque- que fornecedores com mais de 200
comercializadores no mercado livre nos comercializadores, com preços in- mil clientes disponibilizem tarifários
também vão cair (a Galp anunciou dexados historicamente baixos, terão dinâmicos (com preço diferente a cada
uma descida de 15%). no mercado de eletricidade e no cálcu- hora) para clientes que tenham con-
Os dados disponíveis no simulador da lo do índice de preços do INE. A EDP tadores inteligentes e interesse nesse
ERSE mostram, aliás, que a amplitude Comercial tem vindo a perder quota tipo de oferta. Ainda não é certo que
de preços das ofertas disponíveis para de mercado em Portugal, mas, apesar estas propostas do regulador sejam
as famílias se alargou este ano, com os de ter dos preços mais caros entre os vertidas na versão final dos novos re-
tarifários mais competitivos a assenta- fornecedores de grande dimensão, gulamentos, mas elas estão em linha
rem em preços indexados ao mercado optou por não mexer na sua oferta de com a proposta da Comissão Europeia
grossista. Segundo o regulador, é pos- eletricidade para já (tendo, no entanto, de redesenho do mercado e de propor-
sível contratar ofertas indexadas com anunciado uma descida de 20% dos cionar aos consumidores um maior
um custo estimado por kilowatt hora seus preços de gás natural a partir de 1 leque de opções de contratação, das
(kWh) na casa dos €0,06, como suce- de abril, a que a Galp respondeu com tarifas variáveis às fixas.
de com os comercializadores Luzboa, uma descida de 27%). A deflação na eletricidade poderá
Coopérnico, Plenitude e Yes Energy. Todavia, o regulador tem planos que persistir nos próximos meses, já que o
Um custo muito abaixo dos €0,1624 da podem agitar as águas. Esta semana, mercado de contratos futuros aponta

FOTO GETTY IMAGES

preços de eletricidade em termos ho-
mólogos contrastava, em fevereiro,
com a inflação de 6,9% no índice de
preços na classe Habitação como um
todo, subida pressionada pelos custos
tarifa regulada ou dos €0,1315 da líder
de mercado, a EDP Comercial. Pedro
Morais Leitão, fundador da Luzboa,
diz ao Expresso que desde a liberaliza-
ção do mercado, em 2007, o preço da
a ERSE lançou em consulta pública
uma proposta de novos regulamentos
para a eletricidade, e entre as altera-
ções apresentadas está a exigência
de que comercializadores com mais
nos próximos trimestres para preços
entre €100 e €125 por megawatt hora
(MWh), abaixo do preço médio de
2022, de €168.
mprado@expresso.impresa.pt

FINANÇAS

Crescem incumprimentos nos cartões de crédito

Nunca foram fechados
com sucesso tão
poucos processos
de regularização de
créditos ao consumo
Desde que a inflação começou
a intensificar o seu agravamen-
to, e desde que o Banco Central
Europeu começou a subir os ju-
ros na zona euro, que os bancos
têm vindo a ser confrontados
com mais falhas no pagamento
de prestações nos créditos ao
consumo — em que cerca de
metade (48%) dos casos se deve
a dívidas advindas dos cartões
de crédito.
À medida que 2022 foi avan-
çando, foi aumentando o nú-
mero de processos que são
integrados no regime de re-
gularização extrajudicial dos
incumprimentos, designado
de PERSI. Nos meses do pri-
meiro semestre foram inicia-
dos menos de 55 mil processos
PERSI por mês, em média; já
nos meses do segundo semes-
tre a média subiu para mais de
63 mil casos, segundo dados
divulgados esta semana pelo
supervisor.
No ano foram iniciados 710
mil processos do crédito ao
consumo neste regime, em que
os bancos e os clientes tentam
fechar o incumprimento com
um acordo, evitando a ida para
tribunais e as execuções judi-
ciais. Desde que o Banco de
Portugal divulga dados sobre
este regime que nunca tinha
havido um número tão eleva-
do. Aliás, o próprio supervisor
refere o facto de terem sido su-
perados os números pré-pan-
demia de covid-19.
Menos acordos
De acordo com os novos da-
dos, disparou também o peso
dos casos fechados em que os
bancos não chegaram a acordo
com os clientes para regula-
rizar os créditos — e especifi-
camente do primeiro para o
segundo semestre tal cresci-
mento também se verificou.
A regularização do incumpri-
mento pode ser feito por via do
pagamento dos juros em mora,
mas também de um acordo
como o refinanciamento, a con-
solidação de créditos, a conces-
são de novo empréstimo. No
último ano, foram mais de 400
mil aqueles que foram concluí-
dos sem sucesso. Em 2021 essa
regularização ocorreu em 43%
dos PERSI concluídos; no ano
passado esse peso desceu para
38%. Esta percentagem nunca
tinha baixado de 40% desde
a implementação deste regi-
me, na altura da intervenção
da troika.
“Em 36,4% dos processos
concluídos registou-se o paga-
mento dos montantes em mora
por parte do cliente, situação
menos frequente do que em
2021 (40,6%)”, acrescenta tam-
bém o relatório de supervisão
comportamental.
Normalmente, os créditos ao
consumo são os primeiros em
que se verificam problemas em
situações de maior exigência
financeira, porque as famílias
dão prioridade a manter regula-
rizados os créditos à habitação.
Aliás, também houve um au-
mento dos processos de PER-
SI de créditos à habitação que
foram iniciados em 2022, mas
não superaram os valores pré-
-pandemia (ao contrário do cré-
dito ao consumo). Também se
nota que há sempre um maior
espaço para entendimento entre
as partes neste tipo de crédito:
69,1% dos PERSI foram concluí-
dos com regularização, menos
do que os 70% do ano anterior.
Diogo Cavaleiro
dcavaleiro@expresso.impresa.pt
Já se pode pedir, mas
bonificação dos juros ainda
demora pelo menos um mês
Os bancos ainda estão a negociar com o Governo como é que
vão fazer chegar aos seus clientes a bonificação dos juros nos
créditos à habitação. A Associação Portuguesa de Bancos
tenta chegar ao acordo, mas o protocolo com a Direção-Geral
de Tesouro e Finanças (DGTF) será assinado por cada um dos
bancos. Por exemplo, é aí que ficará definido como será o
“processo de cálculo dos rendimentos para determinação da
taxa apurada pela AT na liquidação do IRS e da taxa de
esforço”, como admite o Santander. Esse protocolo tem de
existir até ao fim da segunda semana de abril, mas depois é
preciso atualizar os sistemas informáticos e operacionais dos
bancos. Enquanto isso, os clientes podem ir já pedindo o
acesso ao regime e preparando a documentação solicitada; o
Novo Banco até já disponibilizou um formulário para que os
clientes possam pedir a adesão. Porém, só lá para maio ou
junho é que a bonificação chegará aos clientes. “Em todo o
caso, em caso de elegibilidade a legislação prevê o pagamento
da bonificação a partir de janeiro de 2023”, lembra o BCP,
referindo-se aos retroativos. D.C.
12 ECONOMIA
EXPRESSO
1973.2023
Anomalia A economia portuguesa caiu
mais de 1% no ano em que a economia mundial
cresceu quase 5%. A ‘culpa’ foi dos impactos
das receitas do FMI aplicadas desde 1983
1984
A segunda
crise depois
do 25 de Abril
Jorge Nascimento
Rodrigues
A
recessão de 1984
em Portugal aca-
bou por ser um
acontecimento
atípico na época.
Enquanto a eco-
nomia mundial
cresceu 4,6% e os
países da Organi-
zação para a Cooperação e Desen-
volvimento Económico (OCDE) — de
que Portugal era membro fundador
— registavam um avanço de 5%, a
economia portuguesa encolhia 1,3%
e o rendimento por habitante ema-
grecia ainda mais, quase 2%. A nossa
vizinha Espanha cresceu 1,7%. Uma
década depois do 25 de Abril, Por-
tugal sofria uma segunda crise eco-
nómica. Não foi tão dura como a de
1975, quando a economia contraiu
mais de 3% e o PIB per capita enco-
lheu quase 7%. No quase meio século
de democracia, a recessão de 1984
acabou por ser das mais modestas.
Até à data, foi a segunda mais fraca.
A anomalia portuguesa deveu-se
aos efeitos da terapia acordada com
o Fundo Monetário Internacional
(FMI) desde 1983. O Governo de co-
ligação PS-PSD, chefiado por Mário
Soares, tinha ao leme das Finanças
Ernâni Lopes que conseguiu, em
dois anos, reduzir o buraco externo
para menos de metade. O défice da
balança de transações correntes —
então, o alvo da receita do FMI — caiu
de 14% do PIB em 1982 para 3,1%
dois anos depois. Ficou abaixo da
Irlanda (4,7%) e da Grécia (5,8%), os
periféricos da época com que mais
nos comparávamos. O ministro, cuja
imagem ficou célebre pelo cachimbo
que fumava, pôde congratular-se,
1984: PORTUGAL ENFRENTA UMA RECESSÃO
PIB CAI PELA 2ª VEZ DESDE
A REVOLUÇÃO DE ABRIL
Taxa de variação real do PIB, em %
10
5 -4
0 -8
-1,3
-5
-10
1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89
FONTE: SÉRIES LONGAS DA ECONOMIA PORTUGUESA (INE E BANCO DE PORTUGAL)
ESCALADA DOS PREÇOS ACELERA PARA NOVO MÁXIMO
O preço do ajustamento da economia portuguesa, na sequência do acordo assinado com o
Fundo Monetário Internacional (FMI) no ano anterior, sente-se em força em 1984. O Produto
Interno Bruto (PIB) sofre uma contração anual, a segunda desde a Revolução de Abril de 1974
(a primeira tinha sido em 1975), e o desemprego (quase) não cede terreno — no ano seguinte
voltará a aumentar.
Expresso, 31 de março de 2023
logo em junho de 1984, em uma nova
carta de intenções ao Fundo, que “o
principal esforço de estabilização em
1983, que consistia no reforço da ba-
lança de pagamentos, foi alcançado”
e prometia repetir a dose. Mas, logo,
naquele verão, reconhecia “um enfra-
quecimento da atividade económica
maior do que o previsto”.
Uma recessão atrasada
Muitos economistas sublinharam
que a recessão em Portugal surgiu
dois anos “atrasada” em relação ao
ciclo mundial. O solavanco na econo-
mia global ocorrera em 1982, com a
OCDE a recuar 0,3% e a recessão a UMA RECESSÃO DESFASADA CRISES DA ECONOMIA DESVALORIZAÇÃO
bater mais forte nos Estados Unidos, EM 1984 PORTUGUESA DESDE DO ESCUDO
a maior economia do mundo, que Variação do PIB real em % O 25 DE ABRIL Variação anual em % em relação ao dólar
recuou 1,8%, e sobretudo na América -5 0 5 10 15 Variação do PIB real em %
12,1
Latina, com uma quebra monumen- -1,3 Portugal 10
tal no Chile (13,6%) e uma bancarrota China 0
no México. EUA 0
Mas não foi só a economia que en- Brasil -2
colheu. Os salários reais dos portu- OCDE 5 -10
gueses quebraram 7,9%, um máximo Mundo 4,6 -4
anual desde o 25 de Abril. O relatório Japão -20
do Banco de Portugal sobre o ano de Índia -6
1984 destacava inclusive que a quebra H
Holanda -30
real acumulada dos salários em 1983 Itália -8
e 1984 (13%) foi mais importante para URSS -40
o ganho de competitividade externa R.F. Alemã -10 1974 1980 1986
do que o efeito cambial de depre- Reino Unido 2020 12 75 09 11 93 84 13
ciação monumental do escudo (39% Espanha
E
FONTES: SÉRIES LONGAS PARA A ECONOMIA PORTUGUESA, FONTE: “THE CONCISE ECONOMIC HISTORY OF PORTUGAL”, MARIA
em 1983 e 32% em 1984 face ao dó- França 2020; INE EUGÉNIA MATA E NUNO VALÉRIO, 2011
lar). O desemprego manteve-se perto FONTE: FMI
de 9%, praticamente como no ano
anterior. No mercado de trabalho, registados nos centros de emprego inflação), um palavrão técnico que po económico” e a denunciar que
90% das admissões de pessoal em recebiam subsídio de desemprego. tinha sido criado por um deputado os sucessos nas contas externas não
1984 foram com contratos a prazo, A atormentar ainda mais o poder britânico, Iain Macleod, em 1965, podiam “escamotear os flagelos do
o novo instrumento criado em 1976 de compra dos portugueses, a infla- e que se popularizou. Enfrentavam desemprego e da progressiva erosão
pelo primeiro governo constitucional ção atingiu um pico de 29%, acima pior: alta inflação (num máximo his- dos rendimentos familiares”. Mas
chefiado por Soares. Em meados do do objetivo (de 23%) com que o país tórico) com contração económica. não havia outra saída, então, recorda
ano registavam-se oficialmente quase se tinha comprometido com o FMI. A crise não agradava a uma parte o académico Daniel Bessa: “O acordo
100 mil trabalhadores com salários Os lares portugueses não viviam do próprio PS. Soares recebeu uma com o FMI tornou-se imperioso pelos
ou subsídios ou outras prestações em mergulhados numa mera estagfla- carta de 400 economistas a conde- défices existentes nas contas públicas
atraso e só 22% dos desempregados ção (estagnação económica com alta nar “uma retórica liberalista no cam- e nas contas externas e pela impos-
DÉFICE DAS CONTAS INFLAÇÃO ATINGE DESEMPREGO RÁCIO DA DÍVIDA PÚBLICA
PÚBLICAS AGRAVA-SE VALOR RECORDE EM PORTUGAL NÃO CEDE CONTINUA A SUBIR
Saldo anual das finanças públicas, em % do PIB Taxa de variação anual de preços Taxa de desemprego da população Dívida bruta consolidada das Administrações
no consumidor, em % com 16 e mais anos, em % Públicas, em percentagem do PIB
8,7
0 40 8 52
47,6
47 6
30 28,5 6 39
20 4 26
-8,6
-12 10 2 13
-16 0 0 0
1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89 1980 81 82 83 84 85 86 87 88 89
Ao mesmo tempo, a inflação atinge um novo recorde, nos 28,5%. É um valor que, desde então,
nunca mais voltou a ser atingido no país, e que vai penalizar os salários em termos reais,
levando a perdas do poder de compra dos trabalhadores.
Do lado das contas públicas, o objetivo de consolidação não é atingido, e o défice
orçamental volta a agravar-se, chegando aos 8,6% do PIB. E o rácio da dívida pública
mantém a trajetória de aumento sucessivo.
Expresso, 31 de março de 2023 ECONOMIA 13

1984 EM REVISTA

Angola revê relação Preço da batata se lê “Robôs: começou a Dona Branca

“A recente decisão do Governo
de Angola de excluir a Petrogal
da exploração petrolífera do
denominado Bloco 4 é apenas
um primeiro aviso às
autoridades portuguesas”,
lê-se no Expresso de 7 de
janeiro.
FMI preocupado
A 28 de janeiro é publicada
uma notícia com o título “FMI
em Lisboa em ambiente
‘preocupante’”.
Vêm aí despedimentos
“Governo prevê
despedimentos: 14 milhões de
contos para subsídios de
desemprego”, diz o Expresso a
11 de fevereiro.
Aumento de preços
“Receio de distúrbios adia para
Maio aumento dos preços”,
lê-se a 7 de abril.
Notícia de 21 de abril: “A
Direção-Geral da Inspeção
Económica considera que os
produtores de batata declaram
nos documentos de venda
preços superiores aos
praticados, permitindo assim
que o preço de venda ao
consumidor seja muito
superior ao que deveria
verificar-se se fossem
cumpridas as margens de
comercialização.”
Estado dá 27%
“A emissão de títulos do
Tesouro (FIP 84) proporcionará
um rendimento líquido de
impostos de 27%” é noticiado a
16 de junho.
Juros e robôs
O ministro das Finanças impôs
ao Banco de Portugal a descida
das taxas de juro, diz a edição
de 23 de junho, onde também
invasão”.
Ocupação histórica nos hotéis
A 30 de junho, o Expresso
escreve que “de janeiro a abril
deste ano a ocupação nos
estabelecimentos hoteleiros
do país atingiu 59%, uma meta
recorde”.
Contra a banca estrangeira
A 18 de agosto é noticiado
que a Confederação da
Indústria Portuguesa (CIP)
critica o Governo por causa
dos bancos estrangeiros: “Os
industriais portugueses não
podem deixar de lamentar
uma vez mais que as
autoridades do seu país nunca
percam uma ocasião para
louvar as vantagens do capital
estrangeiro e menosprezem,
sistematicamente, os
esforços da iniciativa
privada”.
“Confusão total em torno de D.
Branca” é o título de uma notícia
de 1 de setembro, onde se dá
conta dos problemas sentidos
no esquema de empréstimos de
Branca dos Santos, conhecida
como Dona Branca, “depois de o
Governo ter advertido os
depositantes do sério risco para
as suas poupanças e de o jornal
‘Tal & Qual’ haver anunciado o
estoiro”.
Aumentos rejeitados
“Função Pública não aceita
aumentos de 16% propostos
pelo Governo”, noticia o
Expresso a 29 de setembro.
Conflito nas pescas
“Diferendo Portugal-Espanha:
rei Juan Carlos intervém no
conflito das pescas”, lê-se a 29
de dezembro.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt

sibilidade de financiar estes défices 100 mil

sem recurso à ajuda do FMI, tendo trabalhadores
de ser aplicado, independentemente tinham salários CONCURSO PÚBLICO INTERNACIONAL
e subsídios em
das suas consequências recessivas.”
No PSD campeava a guerra entre atraso e só 22% PARA ALIENAÇÃO DE PARTICIPAÇÃO NO CAPITAL SOCIAL
fações e o PS acusava o partido de co-
ligação de ter “um pé dentro do Go-
dos desempregados
inscritos
DA SATA INTERNACIONAL- AZORES AIRLINES, SA.
verno e outro fora”. Os dois parceiros recebiam subsídio
de coligação ainda conseguiram um FOTO RUI OCHOA
armistício no final do ano que duraria
até junho do ano seguinte quando o A SATA Holding S.A, na qualidade de titular da totalidade do capital
PSD, que passou a ser liderado por social da companhia aérea SATA Internacional-Azores Airlines anuncia
Cavaco Silva, cortou com a coliga-
ção e depois o Presidente, general
o lançamento do CONCURSO PÚBLICO INTERNACIONAL N.º SATA-01/2023.
Ramalho Eanes, tirou o tapete ao
Governo convocando eleições anteci- O procedimento tem por objeto a alienação de ações representativas
padas para outubro e patrocinando o
Partido Renovador Democrático que de, no mínimo 51% e, no máximo, 85% do capital social da SATA
roubou parte do eleitorado socialista. Internacional - Azores Airlines, S.A..
O colapso da dona Branca
O caderno de encargos pode ser descarregado na plataforma eletrónica
As contas públicas, também, não cor- ACINGOV, disponível em https://www.acingov.pt, mediante registo.
reram bem. Ernâni Lopes conseguira
descer o défice para 5,3% do PIB em O caderno de encargos está ainda disponível para consulta nos
1983, mas, no ano seguinte, ele vol- serviços da SATA Holding, S.A., sitos em Rua Dr. José Bruno Tavares
tou a disparar, fechando em 8,6%, o
que não deixou o FMI contente. Nas Carreiro, n.º 6, 9.º piso, 9500-769 Ponta Delgada, das 9h00 às 15h00
finanças pessoais de muita gente, o (GMT-1).
esquema piramidal da dona Bran-
ca afundou-se. A tradicional ironia
portuguesa dizia que a ‘banqueira Podem participar deste Concurso, entidades nacionais e estrangeiras,
do povo’, que pagava 120% ao ano de de forma individual ou em agrupamento, desde que preencham os
juros, deveria substituir o ministro
do cachimbo nas Finanças. Mas foi requisitos mínimos de capacidade financeira, previstos no Anexo 1
Ernâni Lopes que começou por dar do referido Caderno de Encargos.
uma estocada mortal no esquema ao
recordar que era ilegal e que tinha
risco. Em outubro, Branca dos Santos O prazo para apresentação de proposta termina às 12h00 (GMT-1)
foi presa. O Natal de 1984 foi para- do dia 20 de junho de 2023, o que corresponde ao 90.º dia a contar da
doxal. Muita gente entrava nas lo-
jas, perguntava os preços, e saía sem data de envio do anúncio público do concurso para publicação no Jornal
comprar nada, correndo às feiras no Oficial da União Europeia.
mercado de rua paralelo, reportava o
Expresso. Entretanto alguns corriam
a comprar o brinquedo da moda, um A abertura das propostas terá lugar, em ato público, às 13h00
carro de polícia telecomandado que
custava 4 contos e meio, um terço do
(GMT-1) do dia 20 de junho de 2023, nos serviços da SATA Holding, S, A.,
salário mínimo. Mas uma vinda de sitos em Rua Dr. José Bruno Tavares Carreiro, n.º 6, 9.º piso, 9500-769
Alvin Toffler foi cancelada porque Ponta Delgada, São Miguel, Açores.
os organizadores de um congresso
de gestão não podiam pagar a verba
diária milionária ao futurólogo da
‘terceira vaga’, noticiava, também, o
Expresso.
Com as vicissitudes dentro da co-
ligação, as novas negociações com o
FMI, previstas para o outono de 1984,
ficaram em banho-maria e o Governo
só usou 58% da verba aprovada no
acordo assinado em 1983. O FMI fe-
chou a torneira em setembro de 1984.
economia@expresso.impresa.pt
14 ECONOMIA Expresso, 31 de março de 2023

COM O APOIO:

RETRATO
Logística emprega DO DISTRITO DA GUARDA
mais de nove mil CENSOS
pessoas na Guarda. 2011 2021
Há 241 empresas População
160.939 142.974
do sector na região residente
FOTO D.R. Jovens
11,3% 9,3%
até aos 15 anos
População em idade
67,3% 56,2%
ativa (15-64 anos)
Idosos
28,8% 34,3%
(65 ou mais anos)
Idosos por cada
254,2 368,1
100 jovens

RESIDENTES POR MUNICÍPIO

Guarda
40.117
Seia
21.755
Gouveia
12.222
Sabugal
11.280
Trancoso
8413
Pinhel
8092
Celorico da Beira
6583
V. Nova de Foz Côa
6304
Almeida
5887
Aguiar da Beira
5231
Figueira de Castelo Rodrigo
5148
Mêda
4630
Mercadorias Investimento de €11 milhões no porto seco, que alivia a pressão sobre os portos Fornos de Algodres
4403
tradicionais, traz mais emprego até final do ano. Meta: fazer da região um centro logístico nacional Manteigas
2909

Guarda quer levar o mar

FONTE: INE, PORDATA

DESCENTRALIZAR
A FORMAÇÃO

para o interior do país APRENDIZAGEM O Instituto Poli-

técnico da Guarda tem vindo a
apostar na disponibilização de cur-
sos técnicos superiores profissio-
nais (CTeSP) em vários concelhos
do distrito. O objetivo é impedir
a fuga de jovens da região e criar
competências em áreas estraté-
gicas para o desenvolvimento do
território. Estes cursos têm uma
duração de dois anos e não confe-
Merkle. Luís Baptista assinala que o rem grau académico.
Textos Francisco de Almeida MELHORES FRASES apoio da instituição de ensino e do

H
Fernandes
abitação mais bara-
ta, melhor qualida-
de de vida e apoio ao
empreendedorismo
são argumentos do
município da Guar-
da para atrair talen-
to para a região. A
par da captação de
recursos, é fundamental evitar a fuga
dos jovens especializados que todos os
anos são formados pelo Instituto Po-
litécnico da Guarda (IPG). Para isso,
acredita o professor e investigador
André de Sá, é preciso “trazer empre-
sas mais competitivas” para o distrito,
por via da aposta na inovação, através
de projetos como o CoLab LogIN. Tra-
ta-se de um laboratório colaborativo
do IPG com o tecido empresarial para
investigação de ponta aplicada à lo-
gística, que conquistou €1,3 milhões
de financiamento da Fundação para
a Ciência e Tecnologia e que prevê a
criação de um observatório do sector.
“Vamos trabalhar assuntos da ferrovia
e tudo isso será explorado ao nível
da descarbonização e das tecnolo-
gias que podem mitigar as emissões
de carbono”, exemplificou durante a
conferência na Guarda que assinalou
o 50º aniversário do Expresso.
Entre as organizações que integram
CONFERÊNCIAS 50 ANOS
À boleia do roadshow
que fez pelo país, inserido
nas comemorações
do 50º aniversário, o
Expresso organizou várias
conferências para perceber
os desafios e as estratégias
de desenvolvimento das
diferentes regiões. Guarda
foi a última paragem, em
parceria com a sua Câmara
Municipal.
base tecnológica”, sublinhou Sérgio
Costa, presidente da câmara.
Para materializar esta intenção, o
município inaugurou, em novembro, o
Espaço Tecnológico no centro históri-
co da cidade, que será, garante o edil,
apenas um de muitos. No entanto, as
empresas precisam de trabalhadores
em quantidade e qualidade, missão
com a qual o Politécnico está com-
prometido. “Temos estado recetivos
às necessidades [formativas] do teci-
do empresarial”, assegura Joaquim
Brigas, que tem procurado “trazer o
município permitiu à empresa passar
de três para 82 colaboradores nos úl-
“Temos um timos quatro anos.
peso muito
forte do sector Logística é prioridade regional
logístico no Junto à fronteira com Espanha, a ci-
nosso concelho e a dade da Guarda tem uma localização
Guarda está, portanto, privilegiada para se afirmar “no pa-
norama logístico nacional e ibérico”,
melhor posicionada defende o presidente da câmara, com
para se afirmar no olhos postos no “mercado potencial de
panorama logístico 2,5 milhões de pessoas” em Castela e
nacional e ibérico” Leão. “A logística emprega cerca de
nove mil pessoas aqui na Guarda. É
Sérgio Costa um grande sector e muito importan-
Presidente da Câmara Municipal da Guarda
te”, assinala João Logrado, diretor-
-geral da Olano Portugal. Servida por
“Vão-se duas autoestradas, a capital de distrito
embora muito
tem à disposição a ferrovia, através
mais [jovens]
das Linhas da Beira Alta e da Beira
Baixa, fatores considerados essenciais
do que para a distribuição de mercadorias.
A estas infraestruturas vai juntar-se,
gostaríamos. Uma até ao final do ano, o Porto Seco da
das formas de os reter, Guarda — um centro logístico que será
e o Politécnico está capaz de aliviar a pressão dos portos
a fazer esse trabalho, de mar, como o de Leixões, e fazer a
ligação às plataformas logísticas. Será
é através da capacitação uma forma, acrescenta Sérgio Costa,
de recursos” de “alargar a área de influência dos
Joaquim Brigas portos de mar e promover mais coesão
Presidente do Instituto Politécnico da Guarda territorial”, mas também de aproxi-
mar “o mar do interior”.
A concessão foi atribuída à Adminis-
11,2
é a percentagem de residentes
que o distrito da Guarda perdeu
desde 2011, segundo o Censos
2021. O concelho de Almeida
foi o que mais encolheu em
população (18,7%), enquanto
Aguiar da Beira registou a menor
descida entre os 14 municípios.
Índice de envelhecimento
aumentou para 368 idosos
por cada 100 jovens.
COLABORAÇÃO
COM AS EMPRESAS
COMPETÊNCIAS Captar e fixar o
tecido empresarial tem sido uma
estratégia seguida no Instituto Po-
litécnico da Guarda para aumentar
a especialização dos alunos, mas
também para potenciar a sua em-
pregabilidade na região. A multina-
cional de cibersegurança Fortinet e
a consultora tecnológica Noesis são
exemplo de organizações que ali
abriram escritórios.

o projeto estão startups com soluções
para a previsão atempada, através
de algoritmos, de problemas mecâ-
nicos nas frotas logísticas ou para a
utilização de drones para o transporte
aéreo de mercadorias. A veia disrup-
tiva do concelho motiva investimen-
to da Câmara Municipal da Guarda,
que quer tornar a capital de distrito
“um verdadeiro hub do interior”, da
tecnologia e do empreendedorismo.
“[Queremos potenciar] a atração dos
nómadas digitais e das empresas de
saber prático para dentro da sala de
aula”. A estratégia do presidente do
IPG tem sido marcada pelo envolvi-
mento de empresas da região, como
a multinacional de cibersegurança
Fortinet ou a tecnológica Merkle, no
desenho dos currículos académicos.
“A parceria que temos com o Politéc-
nico é para a formação de pessoas nas
áreas tecnológicas que trabalhamos,
que não são dadas a nível académi-
co. Isto tem sido muito importante”,
refere o especialista em sales force da
300
“Estar na tração dos Portos do Douro, Leixões e
Guarda não Viana do Castelo, que vai investir €11
milhões neste projeto, que permitirá
foi negativo, foi duplicar o carregamento de contento-
diferenciador res. O Politécnico tem vindo a preparar
e positivo. Podemos ir cursos técnicos e licenciaturas em áreas
a Lisboa em duas horas como a análise de dados e inteligência milhões de euros é o montante
artificial para “antecipar” as necessida- total de investimento previsto
e meia ou a Madrid em des de recursos humanos do porto seco. para as obras da Linha da Beira
três horas” “Sou dos que acreditam piamente que a Alta até 750 metros, que deverá
João Logrado Guarda vai ser o maior centro logístico permitir reduzir o tempo de
Diretor-geral da Olano Portugal do país”, remata Joaquim Brigas. viagem e facilitar a circulação
economia@expresso.impresa.pt de comboios de mercadorias.
Expresso, 31 de março de 2023 ECONOMIA 15

POD CAST

Há especulação nos preços dos alimentos?

Vítor Andrade e Margarida Cardoso,
jornalistas do Expresso, estiveram
no “Money Money Money” para analisar
a polémica com as inspeções da ASAE
aos preços dos bens alimentares
Ficámos na semana passada a no aumento da inflação. Acusou
conhecer as contas anuais da também o Estado de ser quem
Jerónimo Martins, a empresa mais ganha com a inflação, atra-
que é dona do Pingo Doce, que vés dos impostos, sem apoiar a
teve lucros de €590 milhões, população.
mais 27,5% do que em 2021. A A resposta chega depois da
dos fertilizantes, muitos deles
oriundos da Rússia, que está sob
embargo”. A que se juntou “um
mau ano agrícola no Norte e no
Centro da Europa, que trouxe
os intermediários a comprar no
Sul, o que inflacionou os pre-
ços em Portugal e Espanha”,
sublinha Andrade. O jornalis-
ta exemplifica com a couve e o
tomate, produtos que tiveram
“aumentos de custos de produ-
ção superiores a 100% e 200%
nalguns casos”. E mesmo com a
descida dos preços dos combus-
tíveis, o custo dos fertilizantes
continua em alta.
Vítor Andrade lembra que se
não houver uma “forte subsidia-
ção aos agricultores, os produtos
alimentares não são acessíveis a
toda a população”. O que, aliás,
está subjacente aos apoios do
Governo aos produtores anunci-

FOTO GETTY IMAGES

maior parte dos lucros veio de
fora, da Polónia e da Colômbia,
onde a empresa tem relevantes
cadeias de hipermercados. Em
resposta à polémica do aumento
dos preços alimentares, o presi-
dente do grupo, Pedro Soares
dos Santos, acusou o Governo,
em particular o ministro da Eco-
nomia, de mentir sobre a acusa-
ção do aumento das margens
nos produtos alimentares e a
culpa imputada à distribuição
NÚMEROS
polémica com os números da ados já depois da gravação des-
ASAE, que encontrou margens te episódio do “Money, Money,
enormes de lucro em produtos Money”. Para o jornalista houve
como a cebola, a cenoura ou a “aproveitamento político desta
carne de porco e que o Governo situação: o Governo arranjou
usou para admitir a hipótese de uma maneira de atirar o aumen-
avançar com medidas drásticas, to da inflação para a distribui-
como tabelar preços ou limitar ção, porque margens brutas não que lucros excessivos podem es- os”. Até porque, conclui, “estão
margens. são lucro líquido”, sustenta. tar em causa”. Margarida Car- a comparar-se lucros deste ano
Margarida Cardoso assina- Sem colocar de parte a exis- doso recorda que as empresas com os dos anos da pandemia,
la que “falta informação para tência de abusos, Vítor Andra- de distribuição estão sujeitas a em que houve outros custos”.
compreender as margens bru- de diz que “é preciso conhecer uma taxa sobre lucros excessi- Amadeu Araújo
tas e o lucro, que tem fatores as margens líquidas para saber vos, “o que pode originar litígi- economia@expresso.impresa.pt
a considerar”. A ASAE deu a
entender que as pessoas “esta-
vam a ser roubadas”, mas vem
agora dizer que “os números
divulgados têm de ser analisa-
dos”. Com a apresentação de

20,1%
contas de vários retalhistas,
Margarida Cardoso faz notar
que “a margem de lucros antes
de juros, impostos, depreciação

foi o aumento homólogo
Melhor do que
e amortização (EBITDA) caiu e
houve perda de rentabilidade”.
Antes de se chegar aos lucros,
é preciso descontar custos de

ser Banco do ano,

em fevereiro do preço dos
produtos alimentares não
transformados, o mais
elevado desde 1990
logística, transporte, amorti-
zações e perdas. “Se houver
uma laranja estragada numa
caixa, em 24 horas destrói 20%
a 30% da caixa, custos que as

142
processos foram levantados
pela ASAE nos últimos seis
meses aos retalhistas — 51 por
especulação e 91 por multas
COMPETIÇÃO
é evoluir consigo.
cadeias de supermercados têm
de suportar e não se referem”,
acrescenta.
Vítor Andrade lembra que os
anos agrícolas dependem de
“fatores climáticos, preços dos O BPI FOI ELEITO BANCO DO ANO 2022,
fertilizantes, energia e combus- EM PORTUGAL, PELA REVISTA THE BANKER,
tíveis que não são referidos”.
E 2021 “foi um ano muito ad- DO GRUPO FINANCIAL TIMES.
verso, com o disparo no preço O BPI agradece esta distinção e dedica-a especialmente
a todos os seus Clientes e Colaboradores.

Equipa de quadros
vence na Índia
Na edição de 2022 deste
país participaram mais de
mil equipas formadas por
estudantes universitários
e quadros de empresas
Uma equipa formada por qua-
dros de empresas venceu a final
nacional da edição de 2022 do
Global Management Challenge
Índia que se realizou este mês.
Vão representar o país na final
internacional que se realiza-
rá em setembro, na cidade de
Luanda, em Angola.
Harshit Pratap, da equipa
vencedora, conta que não foi
fácil vencer este desafio, sendo
que só o conseguiram por uma
curta margem. Na sua perspe-
tiva e nesta prova “percebemos
as relações que se estabelecem
entre os vários departamentos
de uma empresa e o impacto
da concorrência no negócio”.
Os quatro quadros da equipa
indiana estão agora focados
na preparação da final inter-
nacional, evento onde são re-
petentes e esperam conseguir
um melhor desempenho, já
que na última final internaci-
onal, realizada em Santiago de
Compostela, ficaram na tercei-
ra posição.
Segundo Lav Agarwal, or-
ganizador do Global Manage-
ment Challenge Índia, a edição
de 2022 contou com 1202 equi-
pas, mais 170 do que em 2021.
A maioria dos participantes
são estudantes e as equipas de
quadros passaram de 32 em
2021 para 282, sendo neste
domínio que quer crescer nos
próximos anos. Acredita que
“para os estudantes este de-
safio é uma boa ferramenta
para testarem o conhecimento
académico adquirido. No caso
dos quadros, com diferentes
formações, torna-os gestores
mais eficientes”.
João Matoso Henriques, CEO
da SDG, confessa-se “muito
contente com a evolução da
competição na Índia que se ini-
ciou em pleno primeiro ano de
covid e que mesmo assim tem
crescido todos os anos. É o ter-
ceiro maior país em número de
equipas, só ultrapassado pela
China e Rússia”. Explica ainda BANCO BPI, S.A. registado junto do Banco de Portugal sob o n.º 10.
que tendo em conta “a sua di-
mensão e escala, a Índia é um
mercado estratégico para o Glo-
Este prémio é da exclusiva responsabilidade
bal Management Challenge”. da entidade que o atribuiu.
Maribela Freitas
mfreitas.externo@impresa.pt
16 ECONOMIA
PORTUGAL 2030
Pedro Ginjeira do Nascimento
Secretário-geral da Associação Business
Roundtable Portugal
“70% dos
fundos
deviam
ser para
empresas”
Textos Joana Nunes Mateus
A
Foto António Pedro Ferreira
Associação Business
Roundtable Portu-
gal (BRP) — que
representa 42 dos
maiores grupos em-
presariais em prol
de um país “mais
justo, mais próspe-
ro e mais sustentá-
vel” (ver caixa) — tem sete propostas
para aumentar o impacto dos €23 mil
milhões do novo quadro comunitário
Portugal 2030.
“A primeira proposta é: 70% dos fun-
dos do Portugal 2030 deviam ser aloca-
dos às empresas”, diz o secretário-geral
da ABP, Pedro Ginjeira do Nascimento
sobre o envelope que começa, agora, a
ser colocado a concurso.
Apesar do Governo ter anunciado
cerca de €6 mil milhões de apoios di-
retos e indiretos para as empresas (um
quarto do ‘bolo’ do Portugal 2030), a
BRP propõe que a ‘fatia’ suba aos €16
mil milhões (70%). “O histórico dos
fundos comunitários foi muito enfoca-
do no Estado. O Plano de Recuperação
e Resiliência (PRR) foi mais ainda.
Portanto, é necessário reequilibrar
essa balança no Portugal 2030 a favor
das empresas, de quem cria riqueza.”
O secretário-geral da BRP nota que
o Estado representa cerca de 45% do
PIB. “Queremos o quê? Incentivar a
criação de riqueza? Ou uma forma de
desorçamentação, tirar do Orçamen-
to do Estado (OE) para pagar com
fundos? São decisões importantes. Já
levamos 40 anos de fundos comunitá-
rios. Está na altura de dar prioridade
às empresas.”
Caso contrário, “fazemos um esforço
enorme de investimento, mas não cria-
mos oportunidades e as pessoas vão-se
embora. Somos o oitavo país do mundo
em termos de população emigrada. À
nossa frente, só países que tiveram ca-
tástrofes naturais ou conflitos graves,
como Palestina, Síria, ex-Jugoslávia…
Querem continuar com estes resul-
tados?”, questiona. “Temos a geração
mais qualificada de sempre. Agora
temos de lhes dar oportunidades.”
Regras iguais para todos
A BRP exige regras iguais para os
promotores públicos e privados do
Portugal 2030. “Atualmente o Estado
— enquanto “distribuidor” dos fundos
— cria regras muito mais restritivas
para os privados do que para os or-
ganismos públicos”, lê-se na propos-
ta da associação. Dois exemplos? Os
prazos mais curtos para candidaturas
dos particulares, aos quais também
é exigido o cumprimento de metas
com majorações ou penalizações em
função da performance.
“Tem havido muita discriminação”,
diz Pedro Ginjeira do Nascimento. “Os
fundos comunitários são desenhados
para alocar mais ao Estado e depois
têm regras ainda mais restritivas e
exigentes para as entidades privadas.
Não faz sentido existirem filhos e
enteados”.
Outro exemplo? A empresa vê o
acesso restringido ao Portugal 2030
ao exceder o limite comunitário dos
250 trabalhadores e dos €50 milhões
de volume de negócios anual das pe-
quenas e médias empresas (PME).
PAGAMENTO ÚNICO DOS
FUNDOS COMUNITÁRIOS
NO CASO DE PROJETOS
ATÉ €1 MILHÃO É OUTRA
DAS PROPOSTAS DESTA
ASSOCIAÇÃO DE 42
GRUPOS EMPRESARIAIS
Grandes empresas no país serão cerca
de 1300. “Mas as entidades públicas
continuam todas a poder aceder, in-
dependentemente da sua dimensão”,
nota o secretário-geral da BRP.
Aplicando o mesmo critério aos mu-
nicípios portugueses, “teríamos logo
mais 35 ‘grandes empresas’ em Por-
tugal só pela regra dos €50 milhões
de receita. E não estamos a falar só
de Lisboa e do Porto. Estamos a falar,
sem nenhum preconceito, de cidades
mais pequenas que seriam conside-
radas grandes empresas”. Pelas con-
tas da BRP, com base nos dados da
Pordata relativos a 2019, municípios
de menor dimensão — como Barce-
los, Lagos, Viseu, Portimão, Torres
Vedras, Vila do Conde ou Póvoa de
Varzim — já ultrapassariam o patamar
que limita os fundos às empresas.
Grandes empresas
“Esse patamar é muito baixo. Esta-
mos a criar um incentivo negativo ao
crescimento”, diz Pedro Ginjeira do
Nascimento. A BRP defende que as
empresas não podem ser discrimi-
nadas no acesso aos fundos pela sua
dimensão ou sucesso. Lembra que o
Governo se comprometeu a negociar
este ponto com Bruxelas, aproveitan-
do a discussão política em torno da
reação europeia ao pacote de incen-
tivos lançado pelos EUA para atrair
grandes empresas para o outro lado
do Atlântico: o Inflation Reduction
Act (IRA).
“Reflexo do momento que vivemos
no mundo, há um reconhecimento
de que a escala importa. Vemos o IRA
nos EUA, vemos a Europa a reagir ao
IRA.” Neste contexto, a BRP não vê
razão para o Estado português não po-
der apoiar as suas empresas, seja via
fundos europeus, fundos do Estado ou
incentivos fiscais. “O ministro da Eco-
nomia já disse, várias vezes, que não
podemos ter um Portugal dos peque-
ninos. O próprio primeiro-ministro
já veio reconhecer a importância das
grandes empresas e da escala para a
criação de riqueza”, diz. “Valia a pena
ter um bom diálogo com o Governo
sobre o que pode ser exequível.”
Calendário já
O Governo prometeu lançar os pri-
meiros concursos do Portugal 2030
até ao final deste mês de março e di-
vulgar um plano anual dos concur-
sos a partir de setembro. “Vamos ter
um calendário em setembro, mas os
concursos começam já. Quer melhor
exemplo de imprevisibilidade? Daqui
até setembro, o acontece? Que con-
cursos vão abrir? Como me preparo?
Tenho um investimento que está para
sair, será que espero?”, critica Pedro
Ginjeira do Nascimento.
A BRP pede a definição urgente do
calendário dos concursos do Portugal
2030 para que as empresas possam
gerir os planos de investimento em
conformidade e antecipar a prepara-
ção das candidaturas. Tal evitaria adiar
ou cancelar investimentos devido à im-
previsibilidade da chegada dos apoios.
Pagamento único
Entre as propostas de simplificação
administrativa propostas pela BRP, o
destaque vai para a aplicação do me-
canismo de pagamento único no caso
“QUEREMOS O QUÊ?
INCENTIVAR A CRIAÇÃO
DE RIQUEZA? OU TIRAR
DO OE PARA PAGAR COM
FUNDOS?” QUESTIONA
O SECRETÁRIO-GERAL
DA ASSOCIAÇÃO BRP
Expresso, 31 de
de projetos até um €1 milhão. O con-
trolo financeiro deve ser simplificado,
tomando como modelo o programa
Horizonte Europa.
Reduzindo o número de pedidos de
pagamento, reduzem-se os encargos
inerentes ao constante processo de
submissão e validação de faturas para
ambos os lados: empresas e Estado. E
se alguma empresa fugir com o dinhei-
ro? “Se alguém não cumpre, deve ser
apanhado e rapidamente julgado”, diz
Pedro Ginjeira do Nascimento. Não
podem é “os justos todos pagarem
pelos poucos pecadores, atrasando o
funcionamento da economia”
Marcas e consórcios
O Portugal 2030 deve incentivar os
intangíveis (marcas) e a união de es-
forços entre empresas portuguesas
(consórcios) para captarem mais ri-
queza dos mercados internacionais.
“Se queremos um país de produto-
res — para outros ganharem dinheiro
à nossa custa — fantástico! Continue-
mos a comprar só máquinas e a ser-
mos ótimos na operação. Mas isso tem
margens de 1%, 2%. É nas marcas que
estão margens de 20% e 30%”, alerta
o secretário-geral da BRP.
O modelo das Agendas de Inovação
Empresarial do Plano de Recuperação
e Resiliência (PRR) também pode ser
replicado no Portugal 2030. Mas em
versão melhorada, para os investi-
mentos dos consórcios empresariais
saírem mais depressa do papel.
Remata Pedro Ginjeira do Nasci-
mento sobre o potencial destes fundos
para o desenvolvimento do país: “Na
BRP, temos este sentido de urgên-
cia, do Portugal que sentimos estar
adiado, nestas décadas em que não
crescemos. A preocupação deve ser
fazer acontecer, sair do papel. E, para
isso, talvez seja preciso correr alguns
riscos... É que estamos tão seguros,
que não acontece nada. E depois os
outros ultrapassam-nos todo.”
economia@expresso.impresa.pt
março de 2023
Quem
é a BRP?
A Associação Business
Roundtable Portugal (BRP)
assume-se como instância
independente e de
exercício do dever de
cidadania das empresas
associadas, das suas
lideranças, e não de defesa
dos seus interesses, ainda
que legítimos. É composta
pelos 42 líderes das
seguintes empresas ou
grupos empresariais:
Siemens, Delta, Violas, BA,
Santander, Simoldes, CIN,
Bial, Altice, Pestana,
Vicaima, Semapa, TMG,
EDP, Feedzai, Sovena,
Logoplaste, REN, Sogrape,
Salvador Caetano, Sugal,
Lusialves, Millennium bcp,
Sodecia, Visabeira, Ibersol,
OutSystems, Bensaude,
Sonae, Hovione, BPI,
Talkdesk, Barraqueiro,
Jerónimo Martins,
Fidelidade, Mota Engil, José
de Melo, CTT, Galp,
Amorim, Altri e Nors. No
seu conjunto, só no ano de
2020, investiram perto de
€7 mil milhões e geraram
€82 mil milhões de receitas,
quase metade no
estrangeiro. Empregam
mais de 380 mil pessoas,
das quais acima de 200 mil
em Portugal, onde afirmam
pagar um salário quase
duas vezes superior à
média do sector privado.
Como concorrer
aos novos apoios?
O primeiro passo para se
candidatar aos €23 mil
milhões do novo quadro
Portugal 2030 é entrar
no Balcão dos Fundos
Nunca um quadro comuni-
tário arrancou com tantos
utilizadores registados na
plataforma que dá acesso aos
fundos europeus na internet.
Com o Portugal 2020 a ter-
minar e o Portugal 2030 a
arrancar, o Balcão dos Fun-
dos somava, no início da se-
mana, 288.604 utilizadores
nesta que é a porta de entrada
para submeter os projetos de
investimento e acompanhar
o estado das candidaturas e
dos pagamentos dos apoios
europeus.
No final de fevereiro, o Go-
verno anunciou o lançamento
dos primeiros concursos do
Portugal 2030 até ao final
deste mês de março. Desde
então, perto de cinco mil en-
tidades já atualizaram os seus
perfis no Balcão dos Fundos,
em balcaofundosue.pt.
A Agência para o Desenvol-
vimento e Coesão (AD&C) —
entidade gestora do Balcão
dos Fundos — deixa três di-
cas aos potenciais candidatos
aos primeiros concursos do
Portugal 2030: que cada en-
tidade tenha pelo menos um
superutilizador nomeado e
ativo, ou seja, com o processo
de registo no Balcão dos Fun-
dos concluído; que a entidade
esteja também ativa e com os
dados atualizados, incluindo a
leitura e aceitação da Declara-
ção de Consentimento, e que
cada utilizador leia e aceite os
novos Termos e Condições de
Utilização e Política de Priva-
cidade do Balcão dos Fundos.
Gestores foram a Fátima
Na passada sexta-feira, os Co-
mités de Acompanhamento
dos Programas Inovação e
Transição Digital (Compete
2030), dos programas regio-
nais (Norte, Centro, Lisboa,
Alentejo e Algarve 2030) e do
Programa de Assistência Téc-
nica (PAT 2030) reuniram-se
no Centro Pastoral Paulo VI,
em Fátima. Aprovados foram
os critérios de seleção dos pri-
meiros concursos do Portugal
2030: os apoios aos cursos
técnicos superiores profissio-
nais (TeSP) e à inovação pro-
dutiva de micro, pequenas e
médias empresas (PME).
À data de fecho desta edi-
ção, os grandes programas
temáticos — Compete 2030,
Sustentável 2030 e Pessoas
2030 — ainda preparavam
o lançamento dos primei-
ros avisos à apresentação de
candidaturas.
O Governo avançou, entre-
tanto, ao Expresso que o Pes-
soas 2030 – o maior programa
do Portugal 2030 com €5,7
mil milhões de apoios comu-
nitários à demografia, às qua-
lificações e à inclusão – será
gerido por Ana Coelho, que
transita das Infraestruturas
de Portugal.
O Ministério da Economia
já fez saber que o primeiro
concurso para inovação pro-
dutiva das PME deverá abrir
entre “o final deste mês e o
princípio do mês de abril”.
Em jogo estarão €400 mi-
lhões de fundos europeus. A
disputa promete ser renhi-
da, porque o último concur-
so do Portugal 2020 data de
junho de 2021. Ainda antes
de as candidaturas abrirem,
as PME já tinham manifes-
ECONOMIA 17
HELENA AZEVEDO
A “CR7”
dos fundos
Nomeada
pelo
Governo
como
presidente
da Comissão
Diretiva do
programa do Portugal
2030 dedicado à
ação climática e
sustentabilidade
(Sustentável 2030),
Helena Azevedo é uma
recordista na gestão
dos fundos europeus.
Enquanto Cristiano
Ronaldo (CR7) bate
recordes de jogos pela
seleção, a discreta gestora
prepara o seu quarto
quadro comunitário, sem
tempo para contabilizar
o número de ministros
de governos de cores
diferentes — ou de colegas
que rodaram pelos outros
programas comunitários
— com que lidou ao longo
dos últimos 21 anos. Em
maio de 2002 — ainda
CR7 jogava no Sporting —
assumiu a gestão dos €249
milhões do Programa
Operacional da Cultura do
QCA III, sigla do quadro
comunitário 2000/2006.
Em 2007 passou a gestora
dos €4,3 mil milhões do
Programa Operacional
para a Valorização do
Território do QREN
2007/2013. Desde 2014 tem
gerido os €2,2 mil milhões
do Programa Operacional
para a Sustentabilidade
e Eficiência no Uso de
Recursos do Portugal
2020, envelope que já
prometeu executar a 100%
até ao final de 2023. No
Portugal 2030 tem ainda
€3,1 mil milhões para
executar até 2029. Lida
com as obras públicas
pesadas, da energia aos
transportes.
tado 900 intenções de inves-
timento, no montante de €2
mil milhões.
Quem pode concorrer?
Podem beneficiar dos fundos
europeus do Portugal 2030
quaisquer pessoas, singula-
res ou coletivas, dos sectores
público, cooperativo, social
ou privado, com ou sem fins
lucrativos, bem como as en-
tidades previstas na regula-
mentação específica ou nos
avisos para apresentação de
candidaturas.
Obrigatório é cumprirem
os requisitos legais, designa-
damente terem a situação
regularizada quanto a impos-
tos, Segurança Social e outros
apoios europeus. Devem pos-
suir conta bancária em insti-
tuição legalmente habilitada
a atuar em território nacional,
apresentarem situação econó-
mica e financeira equilibrada e
demonstrarem capacidade de
financiamento da operação.
Entre vários outros requisi-
tos, as entidades beneficiárias
devem estar legalmente cons-
tituídas e devidamente regis-
tadas, incluindo no Registo
Central de Beneficiário Efeti-
vo (RCBE), relativamente às
pessoas que as controlem.
18 ECONOMIA
IMOBILIÁRIO
Habitação As câmaras entraram no contrarrelógio do PRR
para a habitação, com ritmos, estratégias e orçamentos diferentes
Autarquias
investiram mais
de €157 milhões
em habitação
Elisabete Soares
M
e Helder C. Martins
ais de €157,5
milhões foram
investidos em ha-
bitação em 2022
pelas Câmaras
de Lisboa, Porto,
Sintra, Almada,
Barreiro, Braga
e Vila Nova de
Gaia, segundo os dados enviados ao
Expresso pelas sete autarquias. Lis-
boa representa mais de metade (55%)
deste valor, com €87 milhões de in-
vestimento em habitação, incluindo a
construção e reabilitação de imóveis
e diversos subsídios e programas de
renda apoiada e acessível.
Sem contar com o investimento da
Sociedade de Reabilitação Urbana
(SRU) e da Gebalis, a empresa que
gere os bairros sociais, a autarquia
da capital investiu diretamente €24
milhões em reabilitação e €8,5 mi-
lhões em construção nova. Num ano
marcado pelo disparo do preços da
construção e pela falta de mão de obra,
as sete autarquias entraram no con-
trarrelógio do acesso aos fundos do
Plano de Recuperação e Resiliência
(PRR), que termina em junho de 2026.
Com os ritmos possíveis e orçamentos
que não são comparáveis.
A par da construção-reabilitação, al-
gumas Câmaras optaram por comprar
imóveis no mercado. “Estamos com o
pé no acelerador. Em 2022 lançámos o
pacote de €42 milhões para a Gebalis,
dos quais €17 milhões são para a reabi-
litação de 830 habitações que estavam
vazias”, diz a vereadora da Habita-
ção da Câmara Municipal de Lisboa
(CML). Filipa Roseta não esconde a
preocupação com a situação do mer-
cado e lembra a burocracia inerente ao
PRR, que não financia integralmente
os projetos. “Cada candidatura é feita
fogo a fogo”, explica. Em obra estão
862 fogos e 1618 em projeto. O número
de famílias apoiadas no ano passado
foi 1259, das quais 796 receberam ca-
sas e 563 subsídios de rendas. Dos €46
milhões pedidos no âmbito do PRR, a
CML já recebeu €24 milhões.
“Em 2023, Sintra reflete no orça-
mento municipal mais de €6,9 mi-
lhões para reabilitação de frações
habitacionais municipais e para aqui-
sição de novos fogos”, afirma Basílio
Horta, presidente da autarquia. “Um
investimento total, numa primeira
fase, através de fundos próprios da Câ-
mara, aguardando-se com serenidade
a operacionalização do financiamento
do PRR”, acrescenta. Em 2022, a Câ-
mara comprou 12 edifícios e mais 13 já
este ano. No total, a autarquia investiu
cerca de €20 milhões em habitação
e serviços coletivos, dos quais €1,2
milhões em habitação social e €967
mil no âmbito da Estratégia Local de
Habitação (EHL). A estratégia con-
tratualizada visa apoiar 3 mil famílias
e representa um investimento a seis
anos de cerca de €179 milhões finan-
ciados pelo PRR (€70 milhões), IHRU
(€67,5 milhões) e pela autarquia (€41
milhões).
“A Câmara de Almada prepara-se
para lançar a primeira empreitada
de quatro lotes e 107 fogos, avaliada
em cerca de €12 milhões e está igual-
mente a ultimar outra de construção
modular”, diz Inês de Medeiros, presi-
dente da autarquia. Destaca em 2022
a Vala 2º Torrão, a primeira operação
ALTOS PREÇOS DE
CONSTRUÇÃO, FALTA
DE MÃO DE OBRA E
BUROCRACIA SÃO OS
PRINCIPAIS DESAFIOS
DOS MUNICÍPIOS
Expresso, 31 de março de 2023
de realojamento do bairro que já rea-
lojou 58 famílias e atribuiu 77 fogos
municipais. “Em 2022, foram reabili-
tados 68 fogos, lançado o concurso de
projeto para a construção de 95 novos
fogos e iniciados os procedimentos
para a construção de 352 a 369 fogos”,
acrescenta.
Em 2022, a Câmara de Almada in-
vestiu €1,9 milhões na reabilitação
de 68 fogos e €800 mil no concurso
de projeto. Inês de Medeiros não des-
carta a possibilidade de ir ao merca-
do comprar casas, mas salienta que a
oferta existente é muito insuficiente
e adiantou ainda que há promotores
privados com terrenos que estarão em
condições de responder a uma consul-
ta prévia que a Câmara venha a fazer.
Em 2022, o município do Barrei-
ro avançou na execução da sua EHL,
adquiriu 17 novos fogos dispersos
para habitação social, finalizou várias
candidaturas projetos para apoios do sultadas. No entanto, é visível que a €6 milhões”. Trata-se, segundo a infor-
1º Direito/PRR, de onde se destaca a maioria dos investimentos que está a mação da autarquia, da reabilitação de
candidatura já aprovada para a rea- ser realizado terá impacto sobretudo 146 fogos no Bairro das Andorinhas e
bilitação do Bairro Alves Redol, que nos próximos dois a três anos. na Praceta Padre Sena de Freitas, cujas
conta com 92 fogos. Segundo a autar- É o caso do município de Gaia cujo obras começaram no início de 2023.
quia, até ao momento foram investidos investimento em reabilitação de ha- No caso do Porto, o montante de in-
cerca de €1,9 milhões, sendo que já bitação, lançado em 2022, foi de €6 vestimento global no conjunto de in-
foram aprovados mais €4,4 milhões milhões, sendo que €4,4 milhões fo- tervenções de reabilitação de edifícios
para a reabilitação do Bairro Alves ram feitos ao abrigo do PRR. “Nos do Parque Habitacional Municipal, que
Redol cujo concurso foi lançado em dois editais que lançámos para o 1º consistiu sobretudo na reabilitação das
fevereiro. Todo o investimento foi feito Direito/PRR conseguimos 40 frações coberturas e fachadas, foi de mais de
ao abrigo do PRR. existentes, num investimento superior €19 milhões. O total de investimento
a €5 milhões; sete já têm processo de em habitação rondou os €39 milhões.
Porto, Braga e Gaia aquisição fechado, as restantes en- Em 2022, ao abrigo do PRR, foi apro-
a diferentes ritmos contram-se em procedimento; foram vada uma candidatura de financia-
ainda contratualizadas cerca de 401 mento destinada aos projetos de renda
Porto, Braga e Vila Nova de Gaia são novas frações, estando a aguardar-se apoiada no montante de €646 mil.
três dos municípios a norte que mais aprovação das primeiras 36 e as res- A autarquia portuense destaca que,
investem nos programas de apoio à
habitação. Assim, num balanço so-
tantes 365 com o processo a decorrer”,
refere fonte da autarquia.
o ano passado, ao abrigo da renda
acessível, a SRU Porto Vivo, “foram
bre o que cada um dos concelhos fez
em 2022 para suprir as carências de
Também em Braga, apesar de em
2022 não ter avançado nenhum proje-
reabilitadas seis habitações cujo valor
de investimento foi de aproximada-
habitação, desde os programas de
apoio ao arrendamento social e ao
to financiado pelo PRR, a BragaHabit
contava no final do ano “com 12 con-
mente €600 mil”. Contudo, “através
de capitais próprios” a autarquia está
arrendamento acessível, bem como no tratos de comparticipação financeira também a concluir “a intervenção na
investimento na aquisição, construção assinados com o Instituto de Habita- Rua da Bainharia que disponibilizará
e reabilitação de imóveis, verificamos ção e Reabilitação Urbana no âmbito mais 11 habitações, um investimento
que houve uma aposta significativa do 1º Direito, tendo assegurado um de €1,3 milhões”.
nas matérias nas três autarquias con- financiamento de 100%, na ordem dos hmartins@expresso.impresa.pt
Expresso, 31 de março de 2023 ECONOMIA 19

ESPAÇOS
&CASAS
bpiexpressoimobiliario.pt

Empreitada
de realojamento CASAS ACESSÍVEIS
no Bairro da Boavista,
obra promovida pela A VER NO PROGRAMA
CML com recurso ao PRR DESTA SEMANA
FOTO NUNO FOX Lisboa
Lisboa investiu €87 milhões em
habitação em 2022, que vão desde Apartamentos
a construção e reabilitação
de imóveis até aos diversos subsídios virados para o mar
e programas de renda apoiada O projeto Villa Unika, no
e acessível. Em obra estão Monte Estoril, conta com 15
862 fogos e 1618 em projeto. apartamentos distribuídos
por três blocos, que gozam
Sintra de vista para o mar.
Em 2002, a Câmara comprou
12 edifícios e mais 13 já este ano. A
autarquia investiu cerca de €20 Armazém
milhões em habitação e serviços
coletivos, dos quais €1,2 milhões torna-se escritório
em habitação social e €967 mil Localizado em Matosinhos,
no âmbito da Estratégia Local um antigo armazém de pei-
de Habitação (EHL). xe congelado foi remode-
lado e transformado num
Barreiro espaço de trabalho.
O município do Barreiro adquiriu 17
novos fogos dispersos para habitação
social, finalizou várias candidaturas Índice RE/MAX
para apoios do 1º Direito/PRR.
A procura por terrenos para
Porto construção de habitação
O investimento global nos diversos tem-se mantido no pós-pan-
programas foi de €39 milhões, demia.
aplicados na construção
e na reabilitação de 557 casas
e no apoio às rendas. No total
foram apoiadas 14 320 famílias. Espaços & Casas
na SIC Notícias
Gaia
Foi concluída a reabilitação Sábado às 10h45
de 53 casas, num investimento Repetição Segunda às 9h45
de €4 milhões.
Programa com o apoio de
Braga
A autarquia recuperou
46 apartamentos, onde investiu
€912 mil. Apesar de não ter avançado
nenhum projeto financiado pelo PRR,
a BragaHabit tinha 12 contratos
assinados com o IHRU no fim de 2022.
20 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 31 de março de 2023

ALOJAMENTO

Crise
Amadeu Araújo
A crise na habitação está a pro-
vocar o aparecimento de novas
soluções habitacionais, como
Paulo Catalino, presidente
da autarquia, explica que estas
habitações vão “dar resposta
social habitacional a famílias
com carências financeiras”.
Espaços que são destinados

‘empurra’
as residências colaborativas
ou multifamiliares, em que os
espaços comuns são partilha-
dos e que possibilitam uma
redução dos custos do arren-
damento.
Todavia, a legislação atual
a “quem procura flexibilidade,
mas que ainda têm falta de en-
quadramento legal”, sinaliza
Maria João Andrade. Em causa
está “o ajustamento do mer-
cado a este modelo, que é um
processo lento, devido às bar-

famílias
ainda não consegue dar res-
posta a este modelo de residên-
cia e a solução tem sido utilizar
o conceito de unidades hote-
leiras, que tornam o processo
mais flexível.
reiras legais”. A Lei de Bases
da Habitação apenas menciona
“infraestruturas e equipamen-
tos coletivos”, mas não define o
conceito. Já o Regime Geral de
Edificações Urbanas, de 1951,

para partilha
Ao contrário do coliving, em não prevê espaços comuns
que “é normal a partilha de para uso privado.
casa, a habitação colaborati-
va permite a individualidade
dos residentes, que dispõem
de espaços comuns”, explica a
Além dos espaços
arquiteta Maria João Andrade, comuns da casa,

de habitação do Atelier MJARC. Cozinha,

sala e lavandaria “são comuns,
todas as outras áreas são indi-
viduais”, complementa.
Um destes espaços está a ser
construído no Barreiro e resul-
ta de um investimento de €300
é possível aceder
a piscina, ginásio ou
outros equipamentos

A alternativa tem sido erguer

mil feito pela autarquia com
recurso aos fundos comunitá-
rios. Estas habitações colabo-
rativas estão preparadas para
acolher 14 residentes, podendo
chegar a 37 moradores.
No país há outros exemplos,
como em Cabanas de Viriato,
no concelho de Carregal do
Sal, onde a Cooperativa Ha-
bitacional — Bairro Angelina
de Sousa Mendes se prepara
Apartamentos individuais, com uma parte para construir habitações para
32 pessoas, num investimento
comum, este é o conceito da habitação de €826 mil. No seu conjunto,
colaborativa, que está a surgir no mercado são oito edifícios destinados à
habitação, acrescidos de um
residencial pela mão do sector social e de privados edifício polivalente.
habitações colaborativas “para
respostas sociais ou como uni-
dades hoteleiras, que tornam
o processo de edificação mais
flexível”, explica a arquiteta.
“A economia colaborativa está
a alterar a noção de proprie-
dade, e esta é uma solução ca-
paz de dar resposta às muitas
carências habitacionais que
persistem, mas, no entanto, é
preciso alterar a legislação.”
Isto sobretudo para que a
habitação colaborativa, “pe-
quenos espaços residenciais,
possa responder à muita pro-
cura existente”, sustenta Ma-
ria João Andrade, que está a
preparar um projeto residen-
cial com estas características.
Habitações que “respondem
à evolução da sociedade e que
se adaptam a quem procura
alojamento de curta duração
ou uma residência para um
período mais alargado de tem-
po”, afirma.
Entre as vantagens deste mo-
delo estão o valor da renda, que
é mais baixo, e a partilha de
custos relativos à manutenção

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Expresso, 31 de março de 2023 bpiexpressoimobiliario.pt 21

POD CAS T

Os espaços comuns
são partilhados e NÚMEROS
possibilitam uma
redução dos custos

800
do arrendamento
FOTO GETTY IMAGES

é o número de residentes As mulheres no

das novas habitações sector imobiliário
colaborativas que estão a ser
construídas pelo sector social Filipa Arantes Pedroso, pre-
sidente da Wire Portugal,

20
hectares é a área que
vai ocupar o primeiro
projeto privado,
localizado em Palmela
uma associação de mulhe-
res profissionais da área da
construção e imobiliário, é
a convidada deste segundo
episódio do “Expresso Imo-
biliário”. A maioria das em-
presas destes domínios é li-
derada por homens, e a Wire
— que significa Women In
Real Estate — luta por uma
maior representatividade fe-

e benfeitorias, distribuídos por
todos os residentes em função
do espaço que ocupam. Com
outra vantagem, pois, além
dos espaços comuns da casa,
é possível dispor de “piscina,
ginásio ou outros equipamen-
tos”, exemplifica a arquiteta.
No país, os projetos de habi-
tação colaborativa estão a ser
desenvolvidos maioritariamente
por autarquias e por instituições
sociais. No seu todo, respondem
por 22 habitações, que irão per-
mitir alojar 800 pessoas, e cuja
construção é financiada com
fundos comunitários.
Porém, assinala Maria João
Andrade, este é “um modelo de
negócio que também se ajusta
aos investidores privados e que
pode dar um grande contribu-
to à crise na habitação”.
O único projeto privado de
habitação colaborativa está
a surgir em Palmela, onde a
Cooperativa das Formas pre-
tende construir habitações e
um edifício polivalente, com
cozinha, lavandaria, ginásio
e suítes para visitas, num ter-
reno de 20 hectares, mas que
ainda está em fase de projeto.
Investir em ‘usos'
alternativos
No último estudo para o mer-
cado residencial, a consulto-
ra imobiliária JLL prevê uma
“contração” no mercado re-
sidencial, porém assinala que
“continua a existir muita liqui-
dez e também um crescente
interesse em desenvolver e
investir em imobiliário de usos
alternativos”.
Também a consultora Savills,
na perspetiva global do sector
imobiliário para 2023, aponta
no mesmo sentido. Alexandra
Portugal Gomes reconhece
300
mil euros é o valor de um
investimento em habitação
colaborativa no Barreiro
que “o aumento dos custos de
financiamento está a criar um
desequilíbrio de expectativas
entre compradores e vendedo-
res”, porém, sustenta, haverá
“maior diversificação das car-
teiras como estratégia adotada
pelos investidores que desejem
equilibrar o seu grau de expo-
sição, tais como o investimento
em segmentos residenciais e
alternativos”.
economia@expresso.impresa.pt
minina em cargos de topo,
baseada não em quotas mas
sim no mérito. Presente nou-
tros países europeus e agora
também em Portugal, esta
associação quer que quan-
do se fala num CEO nestas
áreas não se pense automa-
ticamente num homem. As
mulheres têm visões dife-
rentes que enriquecem e
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Expresso, 31 de março de 2023
INVESTIMENTO
EDP vende imóveis no Porto por €26 milhões
Os edifícios históricos e de valor patrimonial da antiga central elétrica na Rua do Ouro, classificados
pela autarquia, têm de ser mantidos, mas está prevista construção nova nos terrenos vagos
Texto Elisabete Soares
Foto Rui Duarte Silva
O Fundo de Pensões do grupo
EDP colocou à venda os imó-
veis e terrenos, localizados na
Rua do Ouro, na primeira li-
nha da marginal do rio Douro,
próximo da Foz, sendo este um
dos locais mais valorizados pelo
mercado na cidade do Porto.
A proposta de venda, envia-
da pela EDP aos profissionais
do sector imobiliário, apresen-
ta um valor de referência de
€26 milhões e uma capacidade
construtiva de 41.500 m2, de
acordo com o documento a que
o Expresso teve acesso.
Este ativo contempla um con-
junto de quatro edifícios de valor
patrimonial histórico, classifi-
cados pela Câmara Municipal
do Porto, com cerca de 29.000
m2, que dispõem de três acessos
principais, pela Rua do Ouro (nº
151, 153 e 200), e ruas da Mocida-
de da Arrábida e do Aleixo.
A proximidade do rio Douro
e do oceano Atlântico, fazem
com que os imóveis tenham
“potencial para um projeto
premium diferenciador, con-
tribuindo decisivamente para a
redefinição urbana desta zona
da cidade”, destaca a EDP na
apresentação de venda.
De destacar que o conjunto
de imóveis do fundo da EDP
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ANUNCIE AGORA
POR APENAS
E POUPE 71.41€
3RUbDSHQDV
confina com os terrenos do
Aleixo, que resultaram da de-
molição das antigas ‘torres do
Aleixo’ e que agora pertencem
ao Invesurb — Fundo Especial
de Investimento Imobiliário,
detido pela Câmara do Porto e
por um conjunto de empresas
privadas, sendo, por isso, uma
das mais relevantes áreas de
desenvolvimento urbano da
cidade.
De acordo com o novo Pla-
no Diretor Municipal do Porto
(PDM), os imóveis inserem-se
na UOPG 5 Aleixo — Unida-
de Operativa de Planeamento
e Gestão, que tem prevista a
construção de habitação, mas
também de um espaço verde,
prevendo-se ainda a execução
de novos arruamentos e o alar-
gamento de outras.
O novo projeto urbanístico
para os terrenos do fundo da
EDP tem prevista a cedência
de algumas áreas para os equi-
pamentos previstos na UOPG,
contudo, o processo está a ser
acompanhado pelo departa-
mento de urbanismo da autar-
quia, disponível para prestar
informações aos clientes inte-
ressados.
Este projeto reveste-se de
algumas particularidades que
estão expostas também no do-
cumento de apresentação des-
tinado aos investidores. Ape-
sar de os edifícios históricos
*
$QXQFLHQRFDGHUQRbGHb(FRQRPLD
GRMRUQDO([SUHVVRGXUDQWHVHPDQD
Os imóveis localizam-se na primeira linha da marginal, perto da Foz do Douro
classificados da antiga central
de gás e eletricidade do Porto
terem de ser mantidos, o pro-
jeto permite construção nova
nos terrenos que os rodeiam,
com a aplicação de um índice
de construção elevado.
É que, de acordo com o do-
cumento, o projeto “benefi-
cia de um acordo celebrado
com o Município do Porto, em
29/01/2016 (expressamente
reconhecido no PDM, como
compromisso urbanístico) que
20€ (IVA incluído)
bpiexpressoimobiliario.pt 23
tos e alargamento de passeios
e da via pública, nas ruas do
Ouro e Mocidade da Arrábida,
incluindo a realização de um
conjunto de obras, como mu-
ros e novas entradas para as
suas instalações. A autarquia
comprometeu-se, entre outros
aspetos, a que “no terreno da
EDP, que lhe é confinante [na
Rua Mocidade da Arrábida] de
acordo com as Normas Provi-
sórias do Porto”, a dotar os
projetos “de uma capacidade
de construção significativa-
mente acrescida”.
“De destacar, ainda, que os
FOTO RUI DUARTE SILVA
imóveis agora em venda situ-
am-se numa antiga zona indus-
trial que foi edificada em duas
fases: a Companhia de Gás,
construída entre 1854 e 1856
no âmbito do projeto de Char-
les Duckers, e a Central Tér-
mica, construída entre 1907
e 1908, sendo que os antigos
teve subjacente o índice de mais de €8,4 milhões pelo in- gasometers da Companhia Por-
construção de 2,1 m2 (aplicado cumprimento de um protoco- tuense de Iluminação e Gás”
a parte do terreno) dado pelas lo celebrado com o município foram da autoria de Fernand
normas provisórias (anterior e com a APOR — Agência de Touzet, engenheiro especiali-
ao atual plano diretor)”. Modernização do Porto, em 11 zado em edifícios industriais.
Este facto está relacionado de dezembro de 2000. Funcionaram até 1923”, desta-
com um acordo, assinado já De acordo com o texto do ca a apresentação da EDP. No
pelo atual presidente da autar- referido protocolo, a que o início do século XX todo o com-
quia, Rui Moreira, destinado a Expresso teve acesso, trata-se plexo pertencia a Companhia
pôr um ponto final numa ação da realização da Empreitada do Gás do Porto, sendo uma
judicial que o grupo EDP colo- de Requalificação da Margi- das mais importantes centrais
cou no Tribunal Administra- nal do Douro, executada pela de gás e eletricidade do norte
tivo e Fiscal do Porto, a qual APOR, em que a EDP cede de Portugal.
pedia uma indemnização de terrenos para os arruamen- economia@expresso.impresa.pt
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24 ECONOMIA Expresso, 31 de março de 2023

EMPREGO

Regulação Nova lei laboral prevê a redução ou extinção do período de experiência para jovens e desempregados
de longa duração. Advogados admitem que esta medida pode ser um entrave à sua contratação

Período experimental ameaça jovens

tura da empresa e às suas práticas”, foi aprovada a revisão legislativa e,
Cátia Mateus

A
s alterações intro-
duzidas no Código
do Trabalho viabi-
lizam a redução,
ou até mesmo a
eliminação, do pe-
ríodo experimental
— tempo inicial do
contrato, durante
o qual trabalhador e empregador po-
dem avaliar a sua manutenção — nos
casos em que o contrato de trabalho
a termo, mesmo que celebrado com
outro empregador, tenha sido igual
ou superior a 90 dias, estando tam-
bém prevista a sua redução no caso
de estágios profissionais com duração
igual ou superior a 90 dias e realiza-
dos nos 12 meses anteriores. O Gover-
no apresentou esta medida como um
dos grandes trunfos para combater
a precariedade, sobretudo entre os
jovens. Mas os advogados ouvidos pelo
Expresso admitem que o efeito práti-
co pode ser “exatamente o contrário”.
Durante o período experimental,
trabalhador e empregador podem, a
qualquer momento, denunciar o con-
trato sem necessidade de invocar justa
causa. “O período experimental não
serve apenas para aferir a qualidade
do desempenho técnico do candidato,
mas também a sua adequação à cul-
explica Patrícia Perestrelo, sócia da
Abreu Advogados e cocoordenadora
da equipa de Direito do Trabalho e
Emprego da firma. Razão pela qual
“as empresas estão muito apreensivas
relativamente às novas regras que a
lei introduz ao período experimental,
prevendo a sua redução ou mesmo
extinção”, realça.
Receios que o advogado Pedro da
Quitéria Faria, sócio da Antas da Cu-
nha ECIJA, também partilha, acres-
centando que “o facto de o traba-
lhador ter uma experiência anterior
noutra empresa, ainda que nas mes-
mas funções, não significa que seja a
escolha certa para aquele empregador
ou que se adapte àquela empresa”. O
que o novo enquadramento faz é reti-
rar margem às empresas, quando “po-
deriam existir outras formas de evitar
abusos”, diz, admitindo impactos da
medida nas decisões de contratação.
Empresas já se protegem
Estes impactos, garante Patrícia Pe-
restrelo, já se notam no mercado.
“Há empresas que já estão a alterar os
seus formulários de candidatura, para
que passem a conter informação clara
sobre se o candidato já teve contrato
de trabalho ou se já realizou estágio
anteriormente e com que duração.” O
objetivo, vinca, “é perceber se naque-
Mexidas no período experimental limitam contratações FOTO GETTY IMAGES
le caso específico uma eventual con-
tratação eliminaria ou não o período
experimental”.
Quando promulgou as alterações
ao Código do Trabalho, o Presidente
da República fê-lo alertando para o
risco de algumas normas consagra-
das poderem “porventura vir a ter, no
mercado de trabalho, um efeito con-
trário ao alegadamente pretendido”,
sem, contudo, detalhar a que normas
se referia.
Para Patrícia Perestrelo, esta me-
dida é certamente uma das que pode
causar maior dano do que benefício:
“Temo que as empresas acabem por
excluir estes candidatos — sobretudo
os mais jovens — dos processos de
recrutamento, para não correrem o
risco de contratar sem período expe-
rimental ou com significativa redução
da vigência deste mecanismo.”
Os dois advogados ouvidos pelo
Expresso sinalizam que desde que
sobretudo, desde a sua promulgação,
na passada semana, pelo Presidente
da República, as empresas têm de-
monstrado grande preocupação com
o impacto da nova lei, procurando
adaptar as suas práticas.
Entre as principais preocupações
dos empregadores estão não só esta
questão da redução ou extinção do
período experimental, mas também a
maior rigidez que as limitações ao re-
curso ao outsourcing e trabalho tem-
porário colocam à gestão das empre-
sas, quando há lugar a despedimentos
coletivos ou por extinção de postos de
trabalho nos 12 meses anteriores.
Pedro da Quitéria Faria e Patrícia
Perestrelo apontam ainda outra nor-
ma “potencialmente adversa”: a que
diz respeito às remissões abdicativas.
Com a entrada em vigor da nova lei
laboral, os trabalhadores deixam de
poder abdicar dos créditos que lhes
são devidos por cessação de contrato,
podendo exigi-los até 12 meses após o
término do vínculo.
Apesar de se prever que as novas
regras laborais entrem em vigor no
primeiro dia útil de abril, para que isso
aconteça é necessário que o diploma
final seja publicado em “Diário da Re-
pública” até ao final deste mês. O que,
até ao fecho desta edição, na quarta-
-feira, ainda não tinha acontecido.
cmateus@expresso.impresa.pt

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Healthy & Safety Manager (m/f) Responsável Recursos Humanos (m/f)

PORTO LISBOA
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Multinacional de referência no setor de produtos e projetos de engenharia especializada. Conceituada empresa líder de mercado que atua na área da indústria.

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O candidato a admitir será responsável, entre outras tarefas, por:
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• Coordenar as atividades internas e externas de Prevenção de Riscos Profissionais;
• Elaborar todos os relatórios externos ou internos;
• Definir, supervisionar, controlar e implementar o Plano Anual de Prevenção;
• Planear e coordenar todas as atividades relacionadas com auditorias internas e externas;
• Assegurar a atualização da informação e o controlo da gestão dos diferentes
parâmetros e indicadores da Prevenção de riscos laborais.
PERFIL
• Formação em Engenharia ou área diretamente relacionada com HST;
• Especialização ou excelentes conhecimentos de Riscos Laborais;
• Fluente em inglês (obrigatório) e conhecimentos de Espanhol (facultativo);
• Experiência de pelo menos 5 anos na área de prevenção de riscos laborais, em indústria.
Proporcionamos integração em equipa jovem e dinâmica e possibilidade
de progressão de carreira.
CANDIDATO
O candidato selecionado terá como principais responsabilidades:
• Criação e gestão de um departamento de Recursos Humanos;
• Implementação e gestão de planos de carreira, condições salariais e benefícios;
• Gestão de processos de recrutamento;
• Criação e gestão da política de avaliação de desempenho;
• Gestão administrativa e contratual dos recursos humanos.
PERFIL
• Licenciatura em Gestão de Recursos Humanos, Psicologia Social do Trabalho
e das Organizações ou outro relevante;
• Pelo menos 5 anos de experiência em recursos humanos preferencialmente na área
dos facility services;
• Bons conhecimentos sobre legislação laboral;
• Conhecimentos de Espanhol.
Oportunidade de integração em empresa sólida do setor onde atua e em franca
expansão com oportunidade de desenvolvimento de carreira a curto prazo.
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Project Manager (m/f) Engenheiro de Processos de Injeção (m/f)

PORTO
EMPRESA
Empresa da indústria automóvel, que fornece soluções de Eletrónica e Energia,
com presença a nível internacional e mais de cinco décadas de existência.
CANDIDATO
O profissional a admitir será responsável por acompanhar o projeto junto dos clientes
desde o momento da adjudicação, transformando os requisitos do cliente em requisitos
internos, gerir os prazos do projeto respeitando as milestones (internas e do cliente)
e elaborar o respetivo planeamento e acompanhamento.
PERFIL
• Licenciatura em Engenharia de Polímeros ou Química;
• Experiência mínima de 3 anos em função similar, com conhecimentos de moldes
e processo de injeção plástica;
• Formação em ferramentas da qualidade (APQP; FMEA; PPAP; SPC; MSA; 8D,
5Why’s, Ishikawa, PDCA);
• Bons conhecimentos de MSOffice e MSProject;
• Domínio de inglês (eliminatório).
Excelente oportunidade de desenvolvimento de profissional e retribuição
adequada, numa empresa de referência no seu setor.
LISBOA
EMPRESA
Grupo nacional de referência no setor automóvel.
CANDIDATO
O candidato selecionado terá como principais responsabilidades:
• Assegurar a melhoria contínua dos resultados operacionais;
• Identificar e controlar as fontes de variação dos processos produtivos.
PERFIL
• Formação superior em Engenharia Química, Mecânica, Materiais ou similar;
• Experiência profissional mínima de 3 anos em ambiente fabril, na área da injeção
(preferencialmente indústria automóvel);
• Formação em Core Tools e 8D, IATF 16949:2016 e Processo VDA 6.3 (preferencial);
• Conhecimentos de injeção e fabrico de moldes;
• Bons conhecimentos de inglês falado e escrito;
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Oportunidade de integração em empresa sólida do setor onde atua e em franca
expansão com oportunidade de desenvolvimento de carreira a curto prazo.
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de vida, seguro de saúde, fundo de pensões.

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Expresso, 31 de março de 2023 ECONOMIA 25

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dedicada à promoção da concorrência e que, diariamente,
procura investigar mais, melhor e de forma mais rápida, para
entregar valor à sociedade, garantindo a aplicação das regras
da promoção e defesa da concorrência e respeitando o
princípio da economia de mercado e de livre concorrência, no
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cial na área das energias renováveis).
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Principais funções: tribuição de software para o sector de Hotelaria e Turis-
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– Boa capacidade de comunicação, argumentação e
Projetos implementados.
resiliência;
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– Facilidade de relacionamento interpessoal;
menda de equipamentos.
– Disponibilidade para deslocações;
Local: – Valorizam-se conhecimentos de inglês;
• Porto (com disponibilidade para deslocações em Por- – Carta de condução;
tugal). – Valorizam-se conhecimentos de Hotelaria.
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– Contrato de Trabalho e enquadramento salarial de
acordo com experiência;
Contratação Ortopedista – Salário-base + subsídio de refeições + prémios +
seguro de saúde;
Hospital, sediado no Porto, – Recursos necessários para o desempenho das funções;
– Formação em contexto específico da área de negócio.
pretende recrutar
CANDIDATURAS:

MÉDICO
Agradecemos o envio do CV atualizado para:
jobs@newhotel.com

ORTOPEDISTA
(m/f)
Resposta para o endereço
recrutamentoinstituicao64@gmail.com
acompanhada de CV e carta
de motivação
ANALISTA DE LABORATÓRIO
Zona Centro
Execução de ensaios físico-químicos para o Controlo da Qualidade
de matérias-primas, pré-misturas e alimentos.
Aplicação de técnicas analíticas por química clássica
e análise instrumental.
Atividade laboratorial no âmbito do referencial NP EN ISO/IEC 17025.
Perfil (m/f)
Formação superior em Química, Bioquímica, Agroalimentar,
Biotecnologia, Ciências Farmacêuticas e afins
(Licenciatura, Mestrado ou Doutoramento).
Experiência em atividade laboratorial e análise instrumental,
incluindo cromatografia (HPLC e GC) e espectroscopia atómica
e molecular (AA, UV/Vis e NIR).
Organização, ponderação, rigor e responsabilidade.
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Admissão imediata a full-time.
Integração em empresa inovadora e oportunidade de progressão.
Remuneração compatível com as funções e plano
de benefícios da empresa.
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Empresa há 50 anos no mercado pretende
recrutar colaborador para apoiar a nossa área
comercial/administrativa (com ou sem experiência).
Oferecemos estabilidade de emprego e remuneração
de acordo com o mérito e empenhamento.
Enviar curriculum vitae para o e-mail:
recrutamento@mendesirmaos.pt
ou WhatsApp: 969 732 044
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FARMACÊUTICO SUBSTITUTO
CONCELHO DE CASCAIS
Farmácia no concelho de Cascais está a recrutar Farmacêuticos (m/f)
para reforçar a sua equipa para as posições de farmacêutico e farma-
cêutico substituto.
Perfil:
– Licenciatura ou Mestrado Integrado em Ciências Farmacêuticas.
– Gosto pelo contacto com o público.
– Dinamismo e sentido de autorresponsabilidade.
– Boa capacidade de comunicação e relacionamento interpessoal.
Oferecemos:
– Trabalho em equipa profissional, dinâmica, com um bom ambiente e
com o principal compromisso de prestar um serviço de excelência aos
utentes da farmácia.
– Farmácia moderna, equipada com robot e Farmadrive.
– Boas condições de trabalho com um bom nível de remuneração.
– Bons Horários de trabalho.
Os interessados deverão enviar o seu CV resumido para
o seguinte email: j.cabrita@sapo.pt
26 ECONOMIA Expresso, 31 de março de 2023

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temporárias para eventos, com sede em Paços de Ferreira, delegações
em três continentes, líder nacional e de referência no mercado global,
inovadora, rentável e em crescimento, procura

DIRETOR DE OPERAÇÕES
LOGÍSTICA E MONTAGENS
(m/f)

Que, integrando a equipa de Direcção:

• Comunicará com a Produção e Engenharia Industrial para conhecer em
detalhe cada projeto e contribuir para a melhoria dos produtos standard.
• Assegurará a interpretação, orçamentação, planeamento e articulação dos
projetos e das equipas.
• Garantirá a fluidez da logística interna e externa para a execução de cada
projeto, cumprindo objetivos, orçamentos, prazos, padrões de qualidade,
de segurança e de rentabilidade.

Licença AMI 10092 | Cada agência é de propriedade e gestão independente

• Assegurará a supervisão e otimização da execução, correta afetação de
equipas, materiais e equipamentos, definição e operacionalização das su-
bempreitadas necessárias e da logística de transportes e alojamento.
• Coordenará a sua equipa, estabelecendo o cronograma geral e o plano
detalhado de cada projeto, gerindo eficazmente os elementos em fábrica e
as equipas e responsáveis em trabalho no terreno.

São, por isso, elementos relevantes no perfil do novo colaborador:

• Excelente capacidade de gestão de materiais, logística e equipas.
• Excelente capacidade de planeamento e gestão de obra ou projetos, pro-
cessos, fluxos e logística de montagem e desmontagem de estruturas.
• Experiência não inferior a 5 anos em funções similares, incluindo gestão de
obras com meios de elevação.
Atitude Única2 + Marca Líder • Competências relacionais que permitam gerar eficiência e eficácia através
de consensos e motivação na equipa, na empresa e na interação com
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DE CONTABILIDADE
Lisboa

Recrutamento de Legal Advisor (m/f) para assessoria à Administração da

empresa, a reportar diretamente ao CEO. Lisboa

Principais responsabilidades: Cadeia Hoteleira, com forte implantação no mercado nacional e interna-
• Elaboração de toda a documentação necessária no âmbito da atividade cional, está reforçar a sua equipa financeira com a contratação: Chefe
interna da empresa e no seu relacionamento com outras entidades de Contabilidade (m/f) para a sua Sede em Lisboa.
públicas e privadas;
• Articular e colaborar com advogados externos, nas diferentes áreas do Requisitos do Perfil:
Direito, assim como outros prestadores de serviços; • Formação superior em Contabilidade, Economia ou Gestão;
• Coordenação e acompanhamento de processos de licenciamento ur- • Inscrição ativa como Contabilista Certificado;
banístico; • 5 anos de experiência prévia na área da contabilidade, com respon-
• Preparação de respostas e requerimentos no âmbito dos processos de sabilidades nos fechos mensais;
licenciamento e em conexão com os mesmos; • Bons conhecimentos do ERP PHC;
• Preparação e acompanhamento de contratos promessa de compra e • Bom conhecimento do SNC e das IFRS;
venda e escrituras públicas diversas; • Conhecimentos avançados nas ferramentas de Microsoft Office;
• Elaboração de pareceres/informações solicitadas pelo Conselho de Ad- • Forte capacidade de relacionamento interpessoal e empatia;
ministração ou pelas diferentes áreas da empresa; • Atenção ao detalhe, capacidade analítica e sentido crítico;
• Corporate housekeeping; • Integridade e credibilidade;
• Qualquer outra função que seja requerida pela Administração e/ou que • Disponibilidade para deslocações pontuais às unidades hoteleiras
seja de acordo com a função e responsabilidades do posto. do Grupo;
• Boa capacidade de comunicar em inglês;
Requisitos da função: • Forte sentido de responsabilidade e rigor.
• Licenciatura/Mestrado em Direito;
• Inscrição ativa na Ordem dos Advogados; Principais Funções e Responsabilidades:
• Pelo menos 3 anos de experiência profissional pós-agregação; • Planear, supervisionar e coordenar a equipa de Contabilidade;
• Fluente em inglês; • Assegurar o cumprimento das normas contabilísticas;
• Experiência em Direito do Urbanismo, Direito Imobiliário, Direito dos • Garantir a submissão das declarações fiscais mensais e anuais, as-
Contratos e Direito Societário; segurando o cumprimento das obrigações fiscais nas várias empre-
• Valorizada experiência em contencioso. sas do Grupo;
• Elaborar as contas anuais individuais e consolidadas das empresas
Perfil do candidato: do Grupo;
• Capacidade de adaptação a diferentes tipos de interlocutores e contextos; • Construção e elaboração de mapas de controlo e reporte de KPI’s/
• Organização, método de trabalho e capacidade de gestão de prioridades; /informação de gestão;
• Rigor e foco no cumprimento de prazos; • Assegurar o encerramento mensal e anual atempadamente, de acor-
• Capacidade organizativa e de assumir liderança de projetos; do com os targets estabelecidos;
• Espírito de iniciativa e proatividade no relacionamento com clientes • Monitorizar o processo de auditoria externa;
internos, capacidade de negociação e de estabelecer boas relações • Revisão e implementação de ferramentas de controlo.
interpessoais.
Se procura um novo desafio e o seu perfil corresponde
Envio de candidaturas para o endereço: a esta descrição, envie a sua candidatura para:
recrutamento.legaladvisor@gmail.com Recrut.chefe.contabilidade@gmail.com
Expresso, 31 de março de 2023
OPINIÃO
Tech & Touch
José Miguel Leonardo
A conta,
por favor
C
omeço este texto com
uma notícia menos
boa para os habi-
tuais leitores. O tema
atualmente em discussão nas
empresas é a chamada “es-
cassez de talentos”, que, na
realidade, é a expressão sim-
plificada com que nos referi-
mos às atuais, e persistentes,
dificuldades em recrutar (e
reter) profissionais com per-
fis qualificados. Ora, a ver-
dade que partilho convosco
é que os profissionais quali-
ficados não negociam os cri-
térios que mais desejam nem
discutem benefícios. Pedem
a conta e vão embora, que é
como quem diz demitem-se,
encontrando uma oportuni-
dade que corresponda ao que
mais valorizam.
Vivemos um momento no
mundo das organizações em
que os perfis mais qualifica-
dos têm o poder de decisão
do lado deles, ou em portu-
guês tradicional, a faca e o
queijo. E atrevo-me a dizer
que esta é uma excelente no-
tícia para as empresas! Pelo
menos para as empresas que
têm uma estratégia de atra-
ção e retenção de talento à
prova de bala.
Não podemos, no entan-
to, como líderes, descansar
“à sombra da bananeira” e
esperar que estes profissio-
nais venham ter connosco,
porque uma boa estratégia
de employer branding não é
suficiente. O mundo do tra-
balho está em constante mu-
dança e as empresas devem
acompanhar e responder a
estas tendências.
Então, como podem as
organizações corresponder
a estas expectativas? A ver-
dade é que os critérios de-
sejados pelos profissionais
são mais que conhecidos. O
Randstad Employer Brand
Research de 2022 diz-nos
que a conciliação vida pes-
soal e profissional (67%), a
flexibilidade horária e de lo-
cal de trabalho, o ambiente
de trabalho agradável (67%),
a estabilidade (64%) e a pro-
gressão de carreira (64%)
são os mais valorizados. E a
flexibilidade horária (91%) e
do local de trabalho (83%)
estão em destaque no estudo
Workmonitor de 2023.
E o efeito de quem não
corresponde a estas expec-
tativas está à vista, quando
os profissionais portugueses
se demitiram de um emprego
por não permitir conciliar
com a vida pessoal (35%),
por falta de oportunidades
de progressão de carreira
(34%) e por considerarem o
ambiente de trabalho tóxico
(34%). (Workmonitor 2023).
Por isso, é necessário que
as organizações entendam
que os profissionais qualifi-
cados rapidamente trocam
de empresa se esta não lhe
proporcionar o que desejam
e por isso é mais importante
do que nunca entregar um
Employee Value Proposition
direcionado a corresponder a
estas expectativas.
Diretor-geral da
Randstad Portugal
PESSOAS
Nuno Sousa 46 anos, vice-presidente da área de Saúde e Administração Pública da Accenture Raul Neto
O digital vai ‘revolucionar’
o Estado e a saúde
FORMAÇÃO
Licenciado em Engenharia
Mecânica pelo ISEL, Nuno
Sousa conta com diversas
formações na área de gestão.
Recentemente fez o PADE
— Programa de Alta Direção
de Empresas, pela AESE
Business School
LEMA
“Work hard, play
harder” (algo como
“trabalha no duro,
diverte-te ainda mais”)
HOBBIES
Tem paixão pelo
automobilismo, não dispensa
uma semana de esqui por ano,
com a família, e pratica
wakeboard com os três filhos
AMBIÇÃO DE CARREIRA
“Dar o melhor e procurar
inspirar os outros, liderando
pelo exemplo. Ser capaz de
gerar resultados, de
acrescentar valor e de motivar
as pessoas com as quais
trabalho — e que são o maior
ativo de qualquer organização”
Ana Sofia Santos
Com duas décadas de experiên-
cia nas áreas de estratégia e de
consultoria, Nuno Sousa, que in-
gressou na Accenture em 2003,
como analista, passa a estar à
frente do Departamento de Saú-
de e Administração Pública da
consultora em Portugal.
Trata-se de um dos cinco
sectores onde a Accenture
desenvolve a sua atividade de
apoio à transformação das or-
ganizações — que vai desde a
definição de estratégias para
resolver os problemas mais
complexos, passando pela
adoção de soluções tecnológi-
cas, até à operacionalização de
processos — e um dos pilares
estratégicos para o crescimen-
to da companhia em Portugal.
Nuno Sousa, engenheiro
mecânico de formação, tra-
DICAS COMO MUDAR DE CARREIRA QUAND O NUNCA FEZ OUTRA COISA
Diz a sabedoria popular que
nunca é tarde para mudar.
E não é. Ajustar a rota é
sempre possível, mas exige
preparação, sobretudo
para quem quer deixar uma
carreira onde trabalhou
durante longos anos e
dedicar-se a algo que nunca
fez na vida. Desde a pandemia
que um número cada vez
maior de profissionais
está a redefinir a carreira,
ora porque o sector onde
trabalhavam não recuperou,
ora porque passaram a dar
prioridade a outros fatores,
como a conciliação familiar.
Abraçar o novo é possível,
mas não deve precipitar-se.
Reunimos algumas dicas para
o ajudar a escolher o caminho.
balhou em vários projetos de da Administração Pública e do
transformação, otimização de sector da saúde”.
custos, processos de negócio, Não duvida de que a tecno-
desenho de modelos operati- logia e o digital “são acelera-
vos e na definição de estraté- dores da mudança e da trans-
gias corporativas. Liderava a formação” e determinantes
consultoria da Accenture em para termos uma gestão pú-
território nacional e agora blica “mais ágil e capacitada
está entusiasmado com o novo para interagir com os cidadãos
desafio, em particular “num e as empresas”. Ferramentas
contexto pós-pandemia, onde a como a cloud (nuvem), data
aceleração do digital e a intro- (gestão de dados), inteligência
dução de novas tecnologias se artificial e cibersegurança “são
tornaram uma oportunidade essenciais para aproximar o
única para a transformação Estado das empresas e dos ci-
dadãos, encurtando tempos de
decisão e reduzindo custos de
contexto, podendo contribuir
“O digital e as novas para uma mais eficaz presta-
tecnologias são uma ção de serviços públicos”. Tudo
oportunidade única isto de uma “forma transver-
para transformar a sal”, frisa.
As novas capacitações tec-
Administração Pública nológicas e digitais trarão
e o sector da saúde” igualmente redução de custos
e aumento do acesso aos ser-
1 PLANEIE A TRANSIÇÃO
O QUE O MOTIVA A MUDAR?
Para decidir o que fazer a seguir é fundamental compreender o
que lhe desagrada na sua carreira atual. Para definir a próxima
paragem, comece por perceber o que o leva a querer mudar.
PERCURSO
Começou a carreira em 2000,
na Alstom Portugal, na área de
manutenção de centrais
termoelétricas, e foi para a
Accenture em 2003, como
analista. Anos mais tarde, foi o
responsável da consultora para
os sectores de indústria &
construção e automotive em
Portugal e em 2012 mudou-se
para o escritório de
Joanesburgo, na África do Sul,
onde liderou o desenvolvimento
dos sectores de indústria e
construção. Em 2016 regressou
a Portugal, para integrar a área
de strategy da Accenture e foi
responsável por diversos
projetos de transformação
digital, otimização de custos e
estratégia corporativa nos
sectores de infraestruturas,
indústria, construção, retalho e
consumo. Em 2020 assumiu a
área de consultoria da
Accenture em Portugal
ÚLTIMAS
LEITURAS
“How will you
measure your
life?”, de Clayton
M. Christensen,
e “O Perfume”,
de Patrick Süskind
viços clínicos, “com ganhos
imediatos para os cidadãos e
para a melhoria global da pres-
tação de cuidados de saúde”.
O responsável da Accenture
faz notar que os efeitos “são
visíveis de uma forma muito
clara, bastando olhar para o
crescimento de áreas como
a telemedicina, que permite
que profissionais de saúde e
doentes comuniquem remota-
mente, reduzindo as consultas
presenciais, algumas delas com
o único objetivo da renovação
de receitas”.
Além disso, estamos peran-
te “uma forma de aumentar a
transparência nos processos
de contratação, de melhorar
a eficácia no uso de dinheiros
públicos e de garantir uma uni-
versalidade efetiva no acesso a
todos aos cuidados”, acrescen-
ta Nuno Sousa.
assantos@expresso.impresa.pt
2 profissionais, a função que
PROCURE UM PROPÓSITO
Depois de compreender as
razões que o levam a mudar,
identifique o que o motiva. Há
profissionais com uma visão
mais empreendedora que
procuram funções onde sejam
diariamente chamados a
solucionar problemas, outros
que precisam que a sua
carreira seja dedicada a uma
causa, outros ainda dão
prioridade à estabilidade ou à
conciliação familiar.
3 gosta do chefe, não é uma boa
Agora que percebeu o que
gostaria de ter no futuro,
defina uma estratégia para lá
chegar. Para alguns
ECONOMIA 27
> Soma 28 anos
de carreira
> É licenciado
em Economia
e Gestão
Vai suceder a José Miguel
Leonardo na direção execu-
tiva da consultora Randstad,
em Portugal. José Miguel Le-
onardo liderava a operação
nacional da consultora de
recrutamento desde 2014 e
cessa funções a 31 de março,
para se dedicar a um projeto
pessoal. O novo CEO, Raul
Neto, assume o desafio de
“garantir a continuidade do
sucesso da transformação
da empresa, numa lógica de
crescimento, sustentabilida-
de e superação”. Raul Neto
conta com uma vasta experi-
ência comercial, financeira e
em gestão de empresas, em
contexto nacional e interna-
cional. Integrou a equipa da
Randstad Portugal em 2017,
como diretor financeiro.
Sónia Chagas Ratinho
É a nova diretora de Comuni-
cação e Relações Públicas do
Grupo Azevedos. Sónia Cha-
gas Ratinho tem formação de
base em Química Tecnológi-
ca, pelo Instituto Politécnico
de Setúbal, tendo concluído
depois uma licenciatura em
Marketing e Comunicação
Empresarial, na Universidade
Atlântica. Sónia Ratinho ini-
ciou a carreira na Labometer
Diagnósticos, como gestora
de contas, transitando depois
para a indústria farmacêutica,
primeiro na Pfizer como dele-
gada de informação médica e,
posteriormente, nos Labora-
tórios Azevedos, onde chegou
em 2004.
Rui Nascimento Alves
> Tem 30 anos
de carreira
> É mestre em
Gestão
Estratégica
de Recursos
Humanos
Acaba de assumir a lideran-
ça de Pessoas da BI4ALL,
empresa especializada em
serviços de Data, Analytics
e Inteligência Artificial. Li-
cenciado em Sociologia do
Trabalho e mestre em Gestão
Estratégica de Recursos Hu-
manos, Rui Nascimento Alves
tem desenvolvido carreira em
organizações multinacionais
e nacionais, com responsa-
bilidades locais, regionais e
globais, como Banco de Por-
tugal, Johnson & Johnson,
Novartis e SAP, onde exerceu
cargos de direção de recursos
humanos.
ambicionam exige uma
requalificação. Se é o seu caso,
convém perceber se consegue
conciliá-la com o emprego
atual e, não sendo possível, se a
sua situação financeira lhe
permite deixar de trabalhar
para investir em formação.
Faça contas.
4
UMA ALTERNATIVA NÃO
É UMA ESCAPATÓRIA
Mudar de carreira porque está
exausto, desmotivado ou não
opção. Esta é uma decisão que
exige grande ponderação e que
não deve ser tomada para
escapar à pressão, desgaste
ou à falta de motivação.
28 ECONOMIA Expresso, 31 de março de 2023

PROJETOS EXPRESSO ENERGIA

Eletricidade O projeto é da empresa que gere as redes de distribuição e o primeiro teste será já este verão. Regulador também
colocou em consulta pública o documento que revê as regras do sistema elétrico e permite avançar com este novo mercado

Vem aí leilão para consumidores

dispostos a reduzir consumo
Textos Ana Baptista

E
stá a nascer um novo
mercado dentro do sis-
tema elétrico nacional
onde os consumidores
vão ter um papel mais
ativo e ser pagos pelo
serviço prestado. Cha-
ma-se mercado local de
flexibilidade das redes
de distribuição, no qual é “pedido” aos
consumidores — indústrias, empresas
ou grupo de habitações — que consu-
mam menos eletricidade num deter-
minado período de tempo predefinido
e, em troca, recebam um valor pela
disponibilidade que apresentaram.
O projeto — chamado FIRMe — está
a ser desenvolvido pela E-REDES,
que gere as redes de distribuição de
eletricidade de baixa tensão, ou seja,

FOTO HORACIO VILLALOBOS#CORBIS/CORBIS VIA GETTY IMAGES

as que levam a eletricidade às casas,
empresas e indústrias, e que quer lan-
çar, já este verão, o primeiro leilão
para encontrar esses consumidores.
Aliás, na plataforma digital da em-
presa britânica Piclo, com a qual tem
uma parceria, já estão inseridas oito
zonas de Portugal onde há necessida-
des mais urgentes e 13 consumidores
registados. Contudo, como se trata de
um primeiro teste ao mercado, Pedro
Godinho Matos, um dos mentores
deste projeto na E-REDES, não des-
carta a hipótese de o leilão ficar vazio.
Se assim for, “temos de reformular
algumas coisas para ver como atrair
propostas”.

METAS E VANTAGENS
Um dos objetivos deste mercado é evi-
tar ou resolver de forma mais rápida
qualquer constrangimento que possa
surgir na rede, seja ele fruto do dia
a dia — por exemplo, por haver um
pedido de ligação de um novo cliente
cujo consumo venha sobrecarregar
a infraestrutura — ou porque há um
evento climático que provoca uma fa-
lha elétrica, seja porque, com a descar-
bonização, vá haver mais casas, em-
presas e indústrias a usar eletricidade,
mais carros elétricos a carregar, mais
edifícios com painéis solares, mais
produção através de renováveis e até
armazenamento de energia. É que até
agora, para resolver constrangimen-
tos, a E-REDES recorria à solução
tradicional: construir mais redes e/ou
substituir as antigas por redes inteli-
gentes. Obras que demoram a fazer,
porque, como são pagas por todos na
conta da luz, têm de ser aprovadas pelo
regulador e pelo Governo, explica Pe-
dro Godinho Matos. Com este merca-
do de flexibilidade local “conseguimos
cortar ou adiar alguns investimentos”,
explica. “E conseguimos solucionar
constrangimentos de forma mais rá-
pida”, acrescenta Rui Bento, também
da empresa que gere as redes de distri-
buição de eletricidade.
Para ambos — que estiveram na con-
ferência que a E-REDES organizou
na semana passada sobre este tema e
à qual o Expresso se associou — estas
são duas das principais vantagens des-
te novo mercado de flexibilidade. Mas
é também uma forma de “mostrar ao
consumidor que pode ser parte do
sistema e participar”, diz Filipe Pi-
Muitos carros elétricos a carregar em simultâneo podem sobrecarregar a rede de distribuição, mas o mercado de flexibilidade é uma solução
REDES
E-Redes, empresa responsável
pelas redes de distribuição
que levam a eletricidade às
casas e empresas, organizou
uma conferência sob o tema
“Acelerando os serviços de
flexibilidade nas redes de
distribuição de eletricidade”,
a que o Expresso se associou.
Veja todo o evento no
Expresso online.
to Superior Técnico (IST). Contudo,
como diz o presidente da Entidade
Reguladora dos Serviços Energéticos
(ERSE), Pedro Verdelho, este merca-
do não é natural, foi criado, e por isso
tem outras exigências.
O QUE FALTA FAZER
Do lado da ERSE, é preciso alterar o
quadro regulatório de forma a permi-
tir a criação deste mercado e a reali-
zação dos leilões, e um dos primeiros
passos foi dado esta semana, mais
precisamente na terça-feira, 28 de
março, com a colocação em consulta
pública, até 15 de maio, da Revisão
Regulamentar do Sector Elétrico. Do
é arranjar consumidores que estejam
dispostos a ceder a disponibilidade
de consumo”, nota John Bayard, da
Piclo. Ou seja, “as recompensas têm
de ser atrativas”, diz Ricardo Bessa, do
INESC-TEC, mas têm de ter um teto
máximo e este ser mais baixo do que a
alternativa, que é fazer o investimen-
to, repara Pedro Carvalho, do IST. De
acordo com Pedro Godinho Matos, o
valor a pagar “vai depender do produ-
to de flexibilidade que o consumidor
irá fornecer”, porque está previsto
haver “esquemas de remuneração
diferentes”, ou seja, pode ser um valor
fixo mensal, variável ou uma combina-
ção de ambos, “o que provavelmente
será a maioria dos casos”.
COMO FUNCIONA
Os detalhes ainda vão ser ajustados,
confirma Pedro Godinho, mas, se-
gundo um dos exemplos inseridos
na plataforma da Piclo, numa zona
específica de Beja a E-REDES precisa
PAUL MICALLEF,
CONSULTOR DA EY,
DIZ QUE “SE ESTÁ
A FAZER HISTÓRIA”
COM A CRIAÇÃO
de reduzir um total de 300 kW de
consumo de eletricidade entre 1 de
abril e 31 de maio de 2024, sendo que
essa redução só seria feita nos dias
úteis, durante um máximo de 45 mi-
nutos e entre a meia-noite e as 8h00.
Os interessados inscrevem-se na pla-
taforma, seja um consumidor único
ou um grupo de consumidores, isto
porque vai haver agregadores para
juntar clientes, principalmente resi-
denciais, porque têm menor consumo
individualmente. E, quando for o lei-
lão, fazem ofertas para o período em
que podem reduzir o consumo, sendo
que, neste caso, em vez de ganhar a
oferta mais alta, ganha a mais baixa.
Se fizer match, um pouco à seme-
lhança de uma aplicação de encon-
tros amorosos, faz um contrato com a
E-REDES para o período já definido
e pelo valor oferecido no leilão. Por
exemplo, “se for um contrato variável
e forem reduzidos 300 kWh, o bene-
fício a receber será o valor oferecido
no leilão multiplicado pela quantidade
de energia, ou seja, se tiver feito uma
oferta em que está disposto a receber
€100 por megawatt hora e for ativado
para os 300 kWh, receberá €30 de
cada vez que reduzir o consumo, que
podem ser “algumas horas por ano
ou por vários anos”, explica Pedro
Godinho Matos.
Depois é só começar a reduzir o
consumo, sendo que a E-REDES faz
o pedido com antecedência, mas,
num futuro próximo, será tudo digi-
tal, através de aplicações que emitem
Os países
que já adotaram
este mercado
Reino Unido é o país da Europa
mais avançado neste mercado
local de flexibilidade. Começou a
ser criado em 2017, e desde então
já foram realizados vários leilões.
Só na plataforma da Piclo, entre
2019 e 2021, foram feitos mais de
seis mil pequenos leilões,
contratados mais de 500 MW a
um valor total de 40 milhões de
libras (cerca de €45 milhões).
Itália é outro dos países onde o
processo está a andar de forma
célere. Já foram identificadas
zonas onde há mais necessidades
— Veneza é uma delas — e os
primeiros leilões estão previstos
para o verão de 2023, diz Serena
Ciannoti, da Enel, a empresa
italiana de produção e
distribuição de eletricidade e gás.
Em França há leilões desde 2020,
ainda que alguns tenham ficado
vazios, mas o objetivo é
continuar, porque, segundo
Hubert Dupin, da Enedis, a
gestora da rede de distribuição
de eletricidade francesa, “a
flexibilidade é a mais eficaz e a
melhor solução custo-benefício a
ser implementada”.

DESTES MERCADOS
nheiro, da Direção-Geral de Energia lado da E-REDES, um dos trabalhos a aviso e reduzem o consumo, sem o cli-
e Geologia (DGEG), e “um novo nível fazer é definir bem a forma e os valo- ente ter de fazer nada, remata Pedro

DE FLEXIBILIDADE
de liberdade dos operadores de rede”, res a pagar aos consumidores. Porque Godinho Matos.
considera Pedro Carvalho, do Institu- “a maior dificuldade que temos visto economia@expresso.impresa.pt
Expresso, 31 de março de 2023
OPINIÃO
Capital de Risco por Rodrigo de Matos
Organizações devem definir a sua estratégia de recrutamento com base em diferentes perfis
de candidatos. E analisar que benefícios procuram e de que forma lhes podem corresponder
Estarão os empregadores
preparados para recrutar?
Manuel Luiz
O
mercado do trabalho
vive momentos de in-
certeza devido a diver-
sas variantes globais,
inicialmente causadas
pela pandemia e atu-
almente pelo contexto
macroeconómico. Primeiramente,
a covid-19 provocou uma viragem
significativa na conjuntura laboral
ao despertar a comunidade profis-
sional para o seu valor de mercado.
Igualmente deu a descobrir todo um
universo de modelos de trabalho a
que esse cenário obrigou, hoje em
dia plasmado na flexibilidade que os
empregadores oferecem.
Desde logo é possível analisar as
três principais propostas: presencial,
em que os colaboradores têm de se
apresentar diariamente no escritó-
rio; híbrida, em que os empregadores
oferecem a possibilidade de se tra-
balhar presencial ou remotamente,
definindo o seu próprio registo de
presenças obrigatórias, sendo esta
a opção preferida por mais de 70%
da força de trabalho, segundo um
relatório desenvolvido pela BCG e
a NASSCOM (“Building Strong Cul-
ture and Changing Leadership Role
Are Paving the Way for Hybrid Work
Model”, in “BCG NASSCOM Future
of Work Report”); e o teletrabalho,
que causa tanto desagrado como
contentamento, em que os colabora-
dores desempenham as suas funções
unicamente de forma remota, algo
que até há três anos seria impensável
implementar. Tal motivou um senti-
mento de grande liberdade laboral
do lado dos recursos humanos, es-
tando cristalizado no facto de mais
de 80% das empresas de tecnologias
da informação e multinacionais com
equipas tecnológicas em diferentes
geografias apresentarem uma maior
probabilidade de adotar o modelo
híbrido em comparação com o resto
dos segmentos da indústria.
Esta conjuntura desencadeou o
fenómeno da ‘Great Resignation’ no
início de 2021, tendência que ainda
se faz sentir e que consistiu numa de-
missão voluntária em massa dos co-
laboradores. Por sua vez, o presente
abrandamento económico, origina-
do, maioritariamente, pela invasão
da Ucrânia, tem vindo a temerar os
trabalhadores, ainda que as taxas
globais de desemprego permaneçam
baixas.
Contudo, estes estão perfeitamente
conscientes da sua atratividade. De
acordo com o estudo desenvolvido
pela BCG em conjunto com a The
Network (“What Job Seekers Wish
Employers Knew”), 68% dos candi-
datos a nível global apresentam uma
posição de negociação forte quando
procuram um emprego, apesar de
apenas 52% dos portugueses parti-
lharem desta perceção. Este senti-
mento é normal, dada a dificuldade
de as organizações conquistarem o
melhor talento e o elevado contac-
to que estes profissionais recebem
— 66% dos profissionais em Portu-
gal são abordados várias vezes por
ano sobre novas oportunidades de
emprego e 33% mensalmente. Isto
reflete-se também na baixa taxa de
negociação das empresas — apenas
23% dos portugueses consideram
que são os potenciais empregadores
a deter as rédeas das negociações das
ofertas de emprego.
Como podem então as empresas
fazer face a um mercado em cons-
tante mutação, extremamente afe-
tado pela transformação digital e
que não tem à vista uma estagnação
do ponto de vista das exigências dos
colaboradores? E, considerando o
crescente job hopping da cena labo-
ral, que se pauta por uma mudança
de emprego frequente e voluntária
dos profissionais, qual é, do ponto de
vista do empregador, o custo-opor-
tunidade de investir em processos
de recrutamento e em potenciais
trabalhadores, caso estes decidam
estar vinculados apenas durante um
curto período?
A verdade é que o sucesso na es-
tratégia de atração e retenção de
talento começa mesmo no processo
O fenómeno da ‘Great
Resignation’, que começou
no início de 2021, ainda se faz
sentir e consiste numa demissão
voluntária em massa dos
colaboradores. Por sua vez,
o presente abrandamento
económico, originado,
maioritariamente, pela invasão
da Ucrânia, tem vindo a temerar
os trabalhadores, ainda que
as taxas globais de desemprego
permaneçam baixas
de recrutamento. O mesmo estudo
enaltece que para 63% dos inqui-
ridos portugueses a abertura para
negociar as condições após a apre-
sentação de uma oferta inicial é um
fator de elevada importância para o
talento em Portugal, tal como a ex-
periência positiva ao longo das dife-
rentes fases (64%), ambas tendências
alinhadas também a nível mundial.
Outros focos da estratégia passam
por tentar ir ao encontro das expec-
tativas e preocupações dos trabalha-
dores, já que a insatisfação com o
salário e benefícios (28%) e a falta de
oportunidades de progressão (24%)
são apontados como os principais
motivos que levam à procura proa-
tiva de outra empresa por parte de
47% dos profissionais.
Mas não só: 70% dos candidatos
portugueses afirmam valorizar mais
a empresa que lhe apresente a fór-
mula perfeita de equilíbrio entre a
vida profissional e a pessoal, e esta
impossibilidade poderá ser o fator
dissuasor para 34% na hora de con-
siderarem uma oferta de emprego.
Assim, é fundamental que as orga-
nizações definam a sua estratégia de
recrutamento com a construção de
diferentes perfis de candidatos. Com
base nessa pool de talento, poderão
analisar quais os benefícios que pro-
curam e perceber se têm a possibilida-
de de os oferecer e, em caso negativo,
que outras contrapartidas poderão
ser consideradas para alavancar este
processo. Estar na vanguarda do mer-
cado laboral é compreender quem o
compõe e integrar na sua estrutura
as soluções que melhor respondam
às necessidades do mesmo.
Managing director & partner
no Boston Consulting Group
ECONOMIA 29
Secretário-geral
da Câmara de
Comércio e Indústria
Luso-Chinesa
A importância
estratégica
de Macau
Bernardo Mendia
H
o Iat Seng, chefe do
Executivo da Região
Administrativa Espe-
cial de Macau, deslo-
ca-se a Portugal entre
os dias 18 e 22 de abril.
Macau foi administra-
do por Portugal cerca de 450 anos,
até 1999. O território faz por isso
parte da história comum de Portugal
e da República Popular da China, o
que é um ativo estratégico da relação
bilateral entre os dois países e coloca
Portugal numa posição privilegiada
para o diálogo de Bruxelas com Pe-
quim. Isto num contexto de rearranjo
geopolítico das dinâmicas de poder
entre nações, que vão ditar o futuro
económico das próximas gerações, e
em que a Europa necessita de canais
de comunicação para assegurar os
seus interesses e necessidades.
Por outro lado, comemora-se este
ano quer os 510 anos da chegada de
Jorge Álvares à China, mais precisa-
mente a Cantão, atual território da
Região Administrativa Especial de
Hong Kong, quer os 45 anos da funda-
ção da Câmara de Comércio e Indús-
tria Luso-Chinesa (CCILC), que tem
igualmente uma delegação em Macau
desde 1992, hoje chefiada por Carlos
Álvares, CEO do centenário Banco
Nacional Ultramarino, cujo acionista
é a Caixa Geral de Depósitos.
Terá lugar ainda este ano a inau-
guração da delegação da CCILC em
Xangai, bem como o 10º aniversário
da iniciativa de desenvolvimento de
infraestruturas de conectividade na
Ásia, Europa e África denominada
Nova Rota da Seda, e ainda os 20
anos do Fórum de Macau, uma en-
tidade impulsionada por Pequim e
constituída por todos os países de
expressão portuguesa com o objetivo
de promover as relações económicas
e comerciais com a China. Os marcos
históricos e as circunstâncias políticas
prolongam-se a 2024, ano em que se
celebram os 25 anos do bem-sucedido
processo luso-chinês de retrocesso do
território de Macau para administra-
ção chinesa, liderado de forma exem-
plar pelo general Vasco Rocha Vieira.
Ao dia de hoje, contudo, é a língua
portuguesa, os resquícios da nossa
cultura, o diálogo institucional e a
confiança entre os povos e Governos
dos dois países que tornam a relação
de Portugal com a China, através de
Macau, única no mundo. Bruxelas —
e mesmo Washington — poderá apro-
veitar e apoiar esta posição singular
ocupada por um dos seus pares, que
é também uma vantagem sua. Não é
por acaso que Ho Iat Seng se desloca
a Portugal. Efetivamente, nenhum
outro país ocidental tem tantos fato-
res de aproximação e convergência.
Se Bruxelas não souber aproveitar,
pelo menos faça-o Portugal, retiran-
do para as suas empresas e conse-
quente desenvolvimento económico
do país os proveitos de uma relação
de confiança e respeito mútuo.
A ação no terreno da CCILC pode
contribuir noutro plano, não deixan-
do de assegurar o fine tuning no diá-
logo institucional, quando necessário,
mas sobretudo intervindo junto dos
decisores económicos. Este será um
valor acrescentado da CCILC, ao con-
tribuir para superar custos de opor-
tunidade para as empresas, propor-
cionando um quadro e fórmulas que
facilitem acessos àqueles mercados e
contornando eventuais, porventura
temporárias, dificuldades noutros
patamares, sem deixar de servir os
interesses dos blocos onde nos inse-
rimos, mas sobretudo procurando
assegurar uma convivência baseada
no diálogo e desenvolvimento mútuo.
30 ECONOMIA
MUND O
1 EUA
Bancos
falidos,
trancas
à porta
Depois de um mês de loucos,
as autoridades americanas
têm trabalhado para reforçar
a supervisão e limitar danos
Os depósitos e os créditos do Silicon Valley Bank
foram adquiridos pelo banco First Citizens
Pedro Carreira Garcia
O mês de março foi pleno de
acontecimentos relevantes na
banca norte-americana e euro-
peia. Primeiro foram as reso-
luções do Silicon Valley Bank
(SVB) e do Signature; depois foi
a compra forçada e apressada
do Credit Suisse pelo concor-
rente UBS. Agora é o rescaldo,
e fazem-se contas.
Na semana iniciada a 8 de
março (dia do anúncio do au-
mento de capital do SVB) e com
fim a 15, fugiram 108 mil mi-
lhões de dólares em depósitos
no grupo de bancos norte-a-
mericanos, sem contar com as
25 maiores instituições; e en-
traram nos 25 maiores bancos
120 mil milhões de dólares em
depósitos, segundo dados da
Fed citados pelo Axios.
Apesar de o nervosismo dos
depositantes ter-se, de certa
forma, dissipado em todo o sis-
tema bancário, subsiste ainda
a crise no First Republic Bank,
periclitante depois de levanta-
mentos massivos de depósitos.
Em Bolsa, perdeu desde o iní-
cio do mês cerca de 90% do seu
valor de mercado.
A Reserva Federal dos EUA
estaria a estudar a possibili-
dade de alargar a mais insti-
tuições a linha de liquidez de
emergência, com o objetivo
de dar tempo para que o First
Republic encontrasse soluções
para a sua reestruturação e
para limitar a possibilidade
de mais contágios, avançou a
Bloomberg no fim de semana.
A Fed, entretanto, desenca-
deou uma investigação interna
sobre a sua própria ação du-
rante a crise bancária, cujas
conclusões deverão ser divul-
gadas em maio. Na terça-fei-
ra, prestando declarações à
comissão do Senado dos EUA,
o vice-presidente da Fed para
a área de supervisão, Michael
S. Barr, citado pelo “New York
Times”, disse que a Fed deverá
proceder a uma revisão da sua
própria supervisão, até aqui
feita de forma diferente con-
soante a dimensão dos bancos,
com um maior escrutínio às
grandes instituições.
Expresso, 31 de março de 2023
2 CHINA 3 CABO VERDE
Fornecimento de
gás russo quase
no máximo
A Gazprom está a aumentar o forne-
cimento de gás para a China e espe-
FOTO GETTY IMAGES
ra atingir em breve o nível máximo
planeado através de um gasoduto na
Sibéria, disse esta semana o presi-
dente da empresa estatal russa. Du-
rante um fórum económico que está
a decorreu na ilha de Hainan, no sul
da China, Viktor Zubkov afirmou
ainda que a Gazprom está a nego- RECORDE DE TURISTAS EM 2022
ciar com o país asiático um possível Os hotéis cabo-verdianos receberam em 2022 um recorde de 835.945
projeto de fornecimento adicional turistas, quase 31% dos quais do Reino Unido, e mais de quatro milhões
através da Mongólia. Zubkov decla- de dormidas, segundo dados anunciados pelo Instituto Nacional de
rou que a empresa está aberta para Estatística (INE). De acordo com o relatório de Movimentação de
atender outros mercados asiáticos. Hóspedes em Cabo Verde em 2022, com as estatísticas do turismo
O líder chinês Xi Jinping vê Mosco-
vo como um parceiro diplomático
produzidas pelo INE, o número de hóspedes ultrapassou no ano
passado o recorde anterior, que foi de 819.308 turistas em 2019,
crucial para contrapor ao domínio antes da pandemia.
dos EUA nos assuntos globais. Pe-
quim recusou criticar a invasão da
Ucrânia e pediu um cessar-fogo e
negociações, mas não uma retirada
russa. As importações chinesas da
Rússia, principalmente petróleo e
FOTO NOAH BERGER/AFP/GETTY IMAGES
gás, aumentaram 31,3%, em janeiro
e fevereiro, para 18,6 mil milhões de
dólares (€17,1 mil milhões).
Os despojos do SVB — os de-
pósitos e créditos que foram
transferidos para uma nova en-
tidade aquando da resolução
— foram adquiridos à FDIC, o
fundo norte-americano de ga-
rantia de depósitos, pelo banco
1
First Citizens. Apesar de o SVB
não ter colapsado pela má qua-
lidade do crédito, mas sim por
má gestão de risco de liquidez, 8
o First Citizens irá partilhar 9
3
com a entidade que protege os
depósitos (FDIC) — isto é, com
6 ALEMANHA
o erário público norte-ameri-
cano — eventuais perdas em
empréstimos anteriormente
concedidos pelo SVB.
As repercussões europeias
Confiança
desta crise bancária norte-a- empresarial
mericana foram além do defun-
to Credit Suisse, sugerindo-se a melhorar
até um contágio ao Deutsche
Bank. Mas, depois do pânico
da semana passada em Bolsa
devido a um encarecimento sú-
8 EUA
bito do preço do seguro contra
incumprimento da sua dívida
(CDS), o maior banco alemão BANCO MUNDIAL DIZ QUE O
deu sinais de recuperação esta CRESCIMENTO VAI ABRANDAR
2,2%
semana nos mercados.
As águas parecem estar mais
calmas; pelo que é uma boa al-
tura para arrumar a casa. Com-
prado o Credit Suisse, vem aí
um longo trabalho de incor-
poração da estrutura do banco é o crescimento de longo prazo
7
na do proprietário, o UBS. O da economia mundial, em média
megabanco tem um novo presi- BÉLGICA de 2,2%, até 2030, o que fará
dente executivo, o suíço Sergio A confiança empresarial na Alema- desta a década de mais fraco
Ermotti, desde quarta-feira,
que regressa assim ao banco
nha melhorou em março pelo quinto
mês consecutivo, com o índice do
Produtos crescimento desde o início do
século, segundo um relatório do
que ajudou a reestruturar em Ifo a subir para 93,3 pontos, o valor agrícolas na UE Banco Mundial (BM). O declínio
2011 e que deixou em 2020. mais alto desde fevereiro de 2022, do crescimento deve afetar tanto
E a cúpula do UBS já avisou: quando começou a invasão da Ucrâ- sobem 26% os países mais avançados como
a cultura do malogrado banco nia. Num comunicado divulgado esta os países em desenvolvimento
Credit Suisse não vai ter free semana, o Ifo (instituto de investiga- e emergentes, a começar
pass como dantes. ção económica de Munique) indica pela China, indica o relatório
Os fantasmas desta cultura que o índice atingiu 91,1 pontos em A subida anual dos preços dos pro- divulgado hoje pelo BM. Entre
continuam a emergir, num fevereiro deste ano. “Apesar da tur- dutos agrícolas abrandou, no quarto as causas do abrandamento no
aparente poço sem fundo de bulência em alguns bancos inter- trimestre de 2022, para os 26% na crescimento potencial mundial,
irregularidades. Esta semana, nacionais, a economia alemã está União Europeia (UE), face aos 30% o BM identifica os efeitos da
o Comité de Finanças do Sena- a estabilizar”, observou Clemens do anterior e aos 17,5% do homólo- pandemia, nomeadamente o seu
do norte-americano publicou Fuest, presidente do Ifo, para quem go, segundo dados hoje divulgados impacto na educação de crianças
um relatório no qual acusou o este desenvolvimento ascendente foi pelo Eurostat. De acordo com os e adolescentes e o efeito a longo
Credit Suisse de voltar a ajudar impulsionado principalmente pelas dados do serviço estatístico euro- prazo que isso terá na economia,
milionários norte-americanos expectativas comerciais, enquanto peu, entre outubro e dezembro de bem como a guerra na Ucrânia e
a fugir ao Fisco. Não era a pri- as empresas alemãs também avalia- 2022, o preço dos produtos agrí- as perturbações comerciais que
meira vez que o fazia a esta es- ram os seus negócios atuais como colas no seu conjunto (produção) envolve. O BM sublinha ainda
cala. A responsabilidade destas algo melhor. Em particular, a avalia- teve as maiores subidas na Hungria que o impacto no crescimento do
milionárias infrações recairá ção das empresas alemãs sobre o (52,9%), Polónia (44,2%) e Alema- atraso em termos de educação
agora sobre os seus novos pro- atual clima empresarial melhorou nha (38%), com Malta (3,8%), Fran- provocado pela pandemia “vai
prietários. para 95,4 pontos em março, contra ça (13,7%) e Chipre (14,5%) com os muito além do horizonte traçado
pcgarcia@expresso.impresa.pt 93,9 no mês anterior. menores aumentos. por este relatório”
Expresso, 31 de março de 2023 ECONOMIA 31

Incentivos
e Escolhas
Luís Cabral
lcabral@stern.nyu.edu

4 MOÇAMBIQUE 5 ARÁBIA SAUDITA

A Lei das Ordens
O COMITÉ
DE POLÍTICA
Demitiu-se presidente do Banco Nacional Profissionais
MONETÁRIA (CPMO) Saudita, acionista do Credit Suisse
DO BANCO DE
MOÇAMBIQUE
DECIDIU MANTER
A TAXA DE JURO
DE POLÍTICA

FOTO GETTY IMAGES

MONETÁRIA (TAXA
MIMO) EM 17,25%,
TAL COMO HAVIA
FEITO EM JANEIRO.
O presidente do Banco Nacional med Al Ghamdi, passa a ser a partir
“ESTA DECISÃO É Saudita, o maior acionista do Credit desta semana o novo presidente do
SUSTENTADA PELA Suisse antes da aquisição pelo UBS, conselho de administração, enquan-
no início do mês, renunciou ao cargo, to Talal Ahmed Al Khereiji ocupa-
MANUTENÇÃO anunciou hoje a entidade bancária, rá interinamente o cargo de diretor

FOTO PEDRO NUNES

DAS PERSPETIVAS num comunicado publicado na Bol-
sa de Valores de Riade. O comuni-
DE UMA INFLAÇÃO cado acrescenta que a renúncia de
DE UM DÍGITO NO Ammar Abdul Wahed Al Khudairy
ocorreu “por motivos pessoais” e foi
MÉDIO PRAZO, aceite pelo conselho de administração
NÃO OBSTANTE A
executivo. Algumas declarações de
Ammar Abdul Wahed Al Khudairy
espoletaram a crise que levou à venda
do Credit Suisse ao rival UBS. Um
dia depois, em declarações à CNBC,
o banqueiro árabe tentou acalmar

O
do Banco Nacional Saudita. A nota os investidores, ao defender que as
adianta que o até agora presidente suas palavras apenas repetiam a mes- Presidente da Repúbli-
MATERIALIZAÇÃO executivo do banco, Saeed Moham- ma mensagem que o Banco Nacional ca promulgou a Lei das
E O AGRAVAMENTO Saudita tem transmitido desde ou- Ordens Profissionais.
tubro passado e que foram usadas Devo dizer que não es-
DE ALGUNS RISCOS”, como desculpas para desencadear tou muito familiarizado com os
REFERIU O CPMO EM um pânico que, na sua opinião, era pormenores da lei, mas tenho
“totalmente injustificado”. algumas opiniões fortes sobre
COMUNICADO questões de princípio.
Vital Moreira, com quem nem
sempre concordo mas com
quem sempre aprendo alguma
coisa, identifica correctamen-
te o problema: escreve ele que
“as associações profissionais
representam um casamento
contranatura entre associa-
ções profissionais e regulação
pública”. Por um lado, temos os
interesses dos consumidores, o
que implica que haja algumas
regras. Por outro lado, temos
os interesses dos profissionais.
Sendo as regras criadas pelos
nal, o que está em causa é a
saúde, se não mesmo a vida, do
consumidor. O problema é que
o braço da regulação das acti-
vidades económicas se estende
muito além do que o interesse
público justifica. Que sentido
faz, por exemplo, restringir o
acesso ao “acto de economis-
ta” àqueles que estão inscritos
na Ordem dos Economistas?
Estarei eu a fugir à lei quando
publico artigos no caderno de
Economia do Expresso sem que
me tenha inscrito na Ordem?
Mais: segundo a Ordem, po-
dem inscrever-se os titulares
de um grau académico “na
área da ciência económica”.
Lembro-me de, há anos, Dio-
go Lucena se queixar de que,
como licenciado em Engenha-
ria Electrotécnica, não preen-

6 próprios profissionais, o confli- chia os requisitos necessários.

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to de interesses não poderia ser
maior: à falta de alguma inter-
venção de terceiros, a balança
2 Embora Portugal esteja
próximo dos extremos
(pelos padrões da
5 OCDE), não é
necessariamente o pior
caso. Esse prémio deve
ser atribuído ao estado
da Louisiana (EUA), que
exige que uma pessoa
tenha a devida licença
para ser um florista
E estamos a falar de uma das
figuras mais importantes na
construção da escola de eco-
nomia portuguesa com maior
projecção internacional.
Embora Portugal esteja próxi-
mo dos extremos (pelos padrões
da OCDE), não é necessariamen-
te o pior caso. Esse prémio deve
ser atribuído ao estado da Loui-
siana (EUA), que exige que uma
pessoa tenha a devida licença
para ser um florista. Para obter a
licença, há que passar um exame
escrito, sendo 114 dólares o preço
de inscrição no exame. Depois
de passar o exame, há ainda que
pagar 100 dólares pela licença
propriamente dita. Segundo a

4 sempre cairá a favor dos pro-

fissionais e em detrimento dos
consumidores.
Um caso interessante, que en-
tretanto e felizmente já mudou,
é o caso das farmácias. Até há
página da Comissão de Horti-
cultura da Louisiana, a licença
permite fazer e vender arranjos
de flores, bem como cortar flores
e plantas ornamentais.
Imaginem o perigo para o
consumidor de uma pessoa com

9 EUA
10 ou 20 anos, somente os licen-
ciados em Farmácia podiam ser
donos de uma farmácia. Devo
Twitter perde mais de metade do valor em cinco meses dizer que esta era uma regra da
Associação Nacional de Farmá-
cias, não da Ordem dos Farma-
cêuticos, mas, tanto quanto sei,
O dono do Twitter, Elon Musk, estima a pressão para a mudança le-
o valor atual daquela rede social em gislativa veio da Autoridade da
20.000 milhões de dólares, menos de Concorrência, não da Ordem.
metade do que quando a comprou há A minha colega de curso (de
cinco meses, segundo um documento Economia) Helena Quelhas,
interno consultado pelos media norte- para poder herdar a farmácia
-americanos. Na altura, a rede social da mãe, deixou uma carreira de
valia 44.000 milhões de dólares (qua- sucesso no BCP, regressou ao
se 41.000 milhões de euros, à taxa de 12º ano para preparar o acesso
câmbio atual). A AFP conta que soli- ao curso de Farmácia, passou os
FOTO BEATA ZAWRZEL/NURPHOTO/GETTY IMAGES
uma tesoura a cortar flores sem
possuir licença para o efeito!
E qual a melhor forma de
preparar o exame escrito? O
melhor é inscrever-se num cur-
so oferecido pela associação de
floristas, que, se bem me lem-
bro, custava várias centena de
dólares. Sem comentários.
Alan Krueger, um economista
que foi conselheiro do Presiden-
te Obama, estimou que as leis
de licenciamento levam a um
aumento do salário das profis-
sões em cerca de 15%. Isto pode
parecer uma coisa boa ... até re-
ceber a conta dos serviços pres-

citou através do endereço eletrónico cinco anos do curso, atingindo tados por estes profissionais.
dedicado à imprensa um comentário, assim o grau de licenciada em Meio século depois do Estado
tendo o Twitter gerado uma respos- Farmácia, o que lhe confere a Novo, um regime altamente cor-
ta automática contendo apenas “um possibilidade de ser proprietária porativista, uma parte importan-
emoji em forma de um monte de ex- de uma farmácia. Note-se que te da economia portuguesa conti-
crementos”. No documento interno, não estou falando da direcção nua condicionada aos interesses
Elon Musk justifica esta brutal contra- técnica da farmácia, para a qual de insiders. Espero que a nova lei
ção da valorização pelas dificuldades se justifica o requisito da licen- possa mudar esta situação.
financeiras vividas pelo grupo, um ciatura; estou simplesmente fa-
tempo à beira da falência, de acordo lando da propriedade da dita far- Professor da Universidade de Nova
com o próprio. Desde que assumiu o mácia. Não faz sentido nenhum. Iorque e colaborador na AESE
controlo da rede social, Musk reduziu Eu percebo que o interesse
o número de trabalhadores de 7500 social de regulação da activida-
para menos de 2000, recorrendo a de é importante em casos como Luís Cabral escreve de acordo
sucessivas vagas de despedimentos. a Medicina ou a Farmácia. Afi- com a antiga ortografia
32 ECONOMIA Expresso, 31 de março de 2023