OPINIÃO PESSOAS

De Sines > Ricardo Rocha

para a Meninice é o novo
de coro para diretor-geral
Alemanha? da Noesis
LUÍS MIRA uma trapaça para os
AMARAL E29 FRANCISCO LOUÇÃ E3
EUA E27 Casa com quartinho
para mais um
Atrasado
para Abra uma nova página
na sua vida.
a aula > Dicas Quatro regras
JOÃO para lidar com a
DUQUE E6 ‘ansiedade financeira’ E27

ECONOMIA IMOBILIÁRIO
& EMPREGO
2602
9 de setembro de 2022
www.expresso.pt

INFLAÇÃO COSTA SÓ USA UM

TERÇO DA FOLGA NA RECEITA
FISCAL PARA APOIAR AS FAMÍLIAS
Resposta do Governo ao disparo da inflação marcou a
semana. Subida dos juros vai provocar uma recessão? E8A11

PENSÕES €125 PARA A CLASSE POUPAR NA SENHORIOS INFLAÇÃO

ENGORDAM EM MÉDIA. €50 PARA ESTRADA E CONTRA AJUDA
OUTUBRO E FAZEM TODAS AS CRIANÇAS NO GÁS MAS TRAVÃO À DESCIDA DA FOTO NUNO FOX

DIETA EM 2024 E8 E JOVENS E8 POUCO NA LUZ E8 NAS RENDAS E18 DÍVIDA PÚBLICA E11

Bruxelas
apresenta
medidas para
Governo Banco de
Portugal
vence no BES
a energia

Onde estão
E4

quer acelerar e Montepio

e perde
na KPMG
as jovens
‘promessas’
da Gestão E16
privatização da TAP Supervisor perdeu batalha
jurídica contra auditora,
mas arrecada coimas
no BES e no Montepio

O Tribunal Constitucional recu-

Vilamoura sou os recursos intentados nas
contraordenações aplicadas pelo
vai ter cinco > Venda deverá arrancar ainda este ano > Conversas com Lufthansa, Banco de Portugal nos casos do
BES e do Montepio, colocando
novos projetos Air France/KLM e IAG têm avançado e está a ser testado assim um ponto final nestes pro-
cessos. Já quanto ao da KPMG
imobiliários E22 o modelo mais favorável à manutenção do hub da TAP em Lisboa E6 acabou por perder. E12e13
 2 ECONOMIA Expresso, 9 de setembro de 2022

CTT ATRIBUI CULPA DAS QUEIXAS

ÀS REGRAS ALFANDEGÁRIAS
ILUSTRAÇÃO PAULO BUCHINHO

Os CTT reconhecem que têm “muitas reclamações”, admitem
que os últimos dois anos foram especialmente difíceis,
mas atribuem o “grosso” das queixas às novas regras de
desalfandegamento de encomendas extracomunitárias. A
dificuldade em contratar trabalhadores adensa o problema.
Dados da ANACOM revelam que o Algarve é o campeão
das queixas (com um índice de 14,4 reclamações por 10
mil habitantes), seguido de Setúbal e Lisboa. João Bento, o
presidente dos CTT, reconheceu, terça-feira, no Parlamento,
que os Correios têm mais reclamações do que gostaria, mas
está a trabalhar para melhorar. Sem quantificar, assegurou
que a maioria das queixas resulta das novas regras tributárias
para o desalfandegamento das encomendas vindas de
países de fora da União Europeia, que em Portugal são mais
complexas, burocráticas e exigentes do que na generalidade
dos países. O gestor alertou inclusive para a perda de
competitividade do país, menos atrativo do que países como
Espanha e Holanda.

Ataque informático
impede edição
impressa do jornal ‘i’
“Danos nos servidores
impossibilitam edição do jornal
‘i’ esta quarta-feira.” Foi assim
que este jornal comunicou que
não ia para as bancas nesse
dia. A culpa é dos “repetidos
ataques informáticos” de que
o “i” e o “Nascer do Sol” têm
sido alvo. “Nos últimos dias, os
servidores do ‘i’ e do ‘Nascer do
Sol’ têm sofrido repetidos ataques
informáticos, que inviabilizam o
trabalho da redação e de todos
os departamentos da empresa.
A edição online mantém-se,
não obstante poderem vir a
verificar-se algumas limitações”,
refere o comunicado, adiantando
que “já foi feita participação às
entidades competentes, depois de
uma primeira queixa feita à Polícia
Há mais pessoas a andar de avião,
comboio, barco e metro
O número de passageiros
movimentados pelos aeroportos
nacionais praticamente
quadruplicou no segundo trimestre
face ao período homólogo,
mas ainda aquém dos valores
comparáveis pré-pandemia,
segundo dados do Instituto Nacional
de Estatística (INE) divulgados
esta semana. Os aeroportos
portugueses movimentaram 16
milhões de passageiros em abril,
maio e junho, mais 299,2% face
ao período homólogo, mas menos
4,3% face ao segundo trimestre de
2019, o último trimestre comparável
sem os efeitos da pandemia da
covid-19. No transporte ferroviário,
os passageiros movimentados por
comboio no segundo trimestre
foram 43,4 milhões, ao passo
que por metropolitano foram
54,9 milhões, o que significa
aumentos homólogos de 51%
e 67,2%, respetivamente. Só o
transporte de comboio é que
superou em passageiros os
valores pré-pandemia, 0,9%
acima do número referente ao
segundo trimestre de 2019, com
os passageiros de metro ainda
19,8% aquém desse período. Por via
fluvial, o transporte de passageiros
cresceu 62,5% no segundo trimestre
face ao período homólogo, num
total de 4,8 milhões de passageiros
movimentados, ainda 11,5% abaixo
dos valores do segundo trimestre de
2019. O transporte de mercadorias
no segundo trimestre deste ano viu
um aumento homólogo de 22,5%
das toneladas transportadas por via
aérea, e 8,8% acima dos valores do
segundo trimestre de 2019.
93,1%
O VOLUME DE
CONCURSOS DE
EMPREITADAS DE
OBRAS PÚBLICAS
CAIU, NOS PRIMEIROS FOI A OCUPAÇÃO MÉDIA,
POR QUARTO, NO ALGARVE
SETE MESES DE 2022, EM AGOSTO
14,7% EM TERMOS A ocupação média por quarto
no Algarve foi de 93,1% em
HOMÓLOGOS, agosto, o que representa 0,2 e
TENDO AINDA 12 pontos percentuais acima do
registado no mesmo período
DESCIDO 43% de 2019 e 2021, respetivamente,
segundo a Associação de Hotéis e
NO MONTANTE Empreendimentos Turísticos do
DE CONTRATOS Algarve (AHETA). É, assim, uma
melhoria face aos indicadores que
CELEBRADOS E tinham sido registados em 2019,
REGISTADOS NO antes do início da pandemia de
covid-19. Nos dados provisórios
PORTAL BASE. DE da ocupação do mês anterior
ACORDO COM A divulgados pelo seu gabinete de
estudos, a AHETA sublinhou que
ASSOCIAÇÃO DOS o volume de vendas aumentou
INDUSTRIAIS DA 12,1% face ao mesmo mês de 2019.

Judiciária na sequência de um CONSTRUÇÃO CIVIL

primeiro ataque de ransomware
no passado mês de junho”.
Mário Ramires, diretor destes
jornais, solicitou, entretanto, uma
audiência urgente ao Ministério
da Cultura, que tem a tutela da
comunicação social.
CLARA RAPOSO SALTA
DO BCP PARA O SUPERVISOR
O BCE deu luz verde à
administração do BCP eleita
em maio. De fora ficou, por
motivos pessoais, Clara Raposo,
administradora não-executiva do
banco liderado por Miguel Maya.
O motivo não foi esclarecido mas
tudo indica que Clara Raposo,
que tem funções não-executivas
em várias empresas — é
presidente do ISEG —, possa
ser vice-governadora do Banco
de Portugal, ocupando o lugar
de Elisa Ferreira que saiu em
2019 para o cargo de comissária
europeia.
Montepio: MP pede redução de coimas no caso
ligado à antiga PT. Em novembro há sentença
O Ministério Público pediu
a redução e suspensão da
coima aplicada pelo Banco de
Portugal ao Banco Montepio
por incumprimentos relativos a
investimentos relativos à antiga PT.
Fê-lo durante as alegações finais do
julgamento dos recursos interpostos
no Tribunal da Concorrência,
Regulação e Supervisão (TCRS),
em Santarém, pelo banco Montepio
e três ex-gestores, entre os quais
o ex-presidente Tomás Correia e
os ex-gestores Jorge Barros Luís
e João Neves. Pediu também a
suspensão de coimas parciais e
no caso do ex-administrador João
Neves apenas uma admoestação.
Ao banco condenado por sete
contraordenações a título doloso
e que desistiu do recurso de uma
delas pagando €100 mil dos €475
mil de coima, o procurador pediu
a redução para €350 mil e uma
suspensão parcial do pagamento de
€250 mil. Já o Banco de Portugal
alegou terem ficado provados
os factos, deixando ao tribunal a
ponderação das coimas a aplicar.
Em causa neste processo estão
investimentos ligados à antiga PT no
montante de €75 milhões em março
de 2014 que o BdP considerou
não estarem devidamente
contabilizados, em particular pelo
risco da operação. Tomás Correia
foi alvo de uma coima de €70 mil
quando era ainda presidente do
banco, os ex-administradores Jorge
Barros Luís e João Neves foram
condenados a coimas de €50 mil
e €25 mil, respetivamente. A juíza
Mariana Machado marcou a leitura
da sentença para 10 de novembro.
E OBRAS PÚBLICAS
Interior cria mais
(AICCOPN), “O de 4 mil empregos
NÚMERO DE FOGOS
EM CONSTRUÇÃO
Mais de 4 mil postos de trabalho
NOVOS LICENCIADOS foram criados no interior do
PELAS CÂMARAS país, em três anos, na sequência
de medidas do Programa de
MUNICIPAIS NOS Valorização do Interior (PVI),
PRIMEIROS SEIS revelam dados disponibilizados
pelo Governo. O Ministério da
MESES DE 2022, Coesão Territorial assegura que
TOTALIZOU 15.558, O até ao final de junho o eixo do PVI
“Captar Investimento e Pessoas
QUE CORRESPONDE para o Interior” permitiu a criação
A UM AUMENTO de 4060 postos de trabalho, 274 dos
quais em regime de teletrabalho.
DE 4,4% FACE AOS A maior ‘fatia’ ficou a cargo do
programa +CO3SO Emprego, que
14.897 ALOJAMENTOS possuía uma dotação inicial para
LICENCIADOS NO o interior do país de €60 milhões,
com a criação de 1100 postos de
MESMO PERÍODO trabalho, mas que foi reforçado
DO ANO ANTERIOR”. para mais do dobro (€135,8
milhões), levando à criação de 2670
postos de trabalho.
Expresso, 9 de setembro de 2022
Reformar regulamentos e o funcionamento do Estado com vista a reduzir as tantas barreiras
que colocam à atividade económica já faria a diferença: ficam aqui cinco sugestões
Reforminhas
R ao Quadrado
Ricardo Reis
rquadrado.expresso@gmail.com
H
á uma necessidade urgente de
reformar o nosso país, para
ultrapassar a estagnação eco-
nómica e o êxodo de portugue-
ses para o estrangeiro. Uma reação
natural a esta conclusão é propor e
discutir revoluções na estrutura da
nossa sociedade. Mesmo que o país,
no total, fique a ganhar com grandes
mudanças, quase todas elas trazem
alguns perdedores. As discussões têm,
por isso, uma componente inevita-
velmente política, porque todos os
partidos têm pequenos grupos em
posições-chave nas suas bases de
apoio que irão lutar contra qualquer
reforma que lhes imponha perdas. Por
sua vez, não há receitas mágicas, mas
uma inescapável incerteza sobre os
efeitos de uma grande reforma. Logo,
surgem discordâncias legítimas que
resultam de diferentes perspetivas
e preconceitos ideológicos sobre o
que funciona. Com um Governo que,
apesar de ter uma maioria absoluta
na Assembleia da República, é inca-
paz de delinear estratégias de longo
prazo e tomar escolhas de fundo, de
acordo com a maioria dos comentado-
res políticos, tudo combina para uma
paralisia asfixiante.
Outro lado, mais positivo, dos Go-
vernos de António Costa será a sua
Os liberais de antigamente eram assim, desabridos, snobes e violentos,
pelo que o seu ressurgimento tem vindo a clarificar a política
Meninice de coro para uma trapaça
Estado da Noção
Francisco Louçã
francisco.lou66@gmail.com
N
as vésperas da sua escolha
pelos membros do Partido
Conservador para o cargo de
primeira-ministra, que her-
dou de Boris Johnson, Liz Truss foi
interpelada por um jornalista do “The
Guardian” sobre o seu plano para bai-
xar impostos. O jornalista mostrou-
-lhe um estudo que demonstra que o
plano dá 7 libras a quem tem menores
rendimentos e 1800 a quem tem os
maiores, cerca de 250 vezes mais, e
perguntou-lhe se achava justa essa
disparidade. Truss não hesitou e res-
pondeu que “sim, é justo”, e que “não
podemos analisar os impostos pelas
lentes da redistribuição”. Isto é uma
liberal a sério. A sua política agrava
a desigualdade e tem orgulho nisso.
Ela não quer justiça, mesmo que use a
palavra, o que quer é dinheiro para os
seus. Há nesta candura uma arrogân-
cia social que é todo um programa,
mas que é raro encontrar em políticos
que vivem emaranhados em subtile-
zas de meninice de coro, entre meias
palavras, silêncios e cálculos sobre a
melhor trapaça.
A genealogia não engana
Os antepassados políticos de Truss,
em contraste com estas modernas
capacidade para resolver problemas
concretos e o seu pragmatismo e efi-
cácia. Felizmente (ou não), os pro-
blemas da economia portuguesa são
tantos que há reformas imediatas
que podiam já fazer grande diferença
na produtividade. Acima de tudo,
o Governo pode tornar os serviços
que oferece mais eficientes e céleres.
Aqui ficam cinco exemplos.
O primeiro vem do estudo coorde-
nado por Fernando Alexandre para
a Fundação Francisco Manuel dos
Santos “Do made in ao created in”.
O Banco Mundial produz um índice
de desempenho logístico de cada país
no comércio internacional. Portugal
está em 23º lugar. Olhando para os
componentes do índice, o nosso pior
desempenho vem das alfândegas, no
35º lugar. Para quem prefere palavras
a números, experimente falar com um
empresário que exporte muito. Vai
ouvir histórias de atrasos na alfândega
que fazem perder muitos negócios.
Não há razão ideológica, grupo de in-
teresse relevante, falta de dinheiro ou
outra desculpa para não melhorar a
eficiência da autoridade aduaneira. É
uma missão simples de exprimir, com
pouco dinheiro e alguma capacidade
de gestão: reduzir em metade o tempo
de processamento na alfândega.
Uma segunda reforma relacionada
tem a ver com o trabalho à distância e
com a fuga de cérebros. Portugal pode
e deve atrair pessoas qualificadas para
viver no nosso país, combatendo a
nossa localização periférica. Um fator
para reter portugueses qualificados
é tornar mais fácil que estrangeiros
qualificados se mudem para o nosso
país. Em Portugal, contava-me uma
empresária, espera-se entre 6 e 12
meses para obter um visto de trabalho
para um alto quadro. De acordo com
as notícias, o Serviço de Estrangei-
vacilações retóricas, não hesitavam.
Há toda uma genealogia de empresá-
rios que dispuseram dos seus países a
bel-prazer e que se exprimiram com
a mesma nitidez da agora nomeada
primeira-ministra do Reino Unido. As
gerações dos barões-ladrões dos Esta-
dos Unidos destacam-se nessa história
(em 1882, o magnate dos caminhos de
ferro William Vanderbilt dizia a quem
o queria ouvir: “Que se lixe o público!
Gostamos de fazer tudo o que seja
possível para benefício da humanidade
em geral, mas em primeiro lugar tra-
tamos de nos certificar de que somos
os primeiros a beneficiar.”).
Um dos que chegou ao Governo foi
o banqueiro Andrew Mellon, porven-
tura o mais rico do seu tempo e que foi
secretário do Tesouro do Presidente
Herbert Hoover, cabendo-lhes res-
ponder à grande crise de 1929. Conta
Hoover nas suas “Memórias”, publica-
das no recato dos anos 50, que Mellon
lhe propôs uma solução radical para
corrigir a recessão: “Liquidar o traba-
lho, liquidar as ações, liquidar os cam-
poneses, liquidar o imobiliário. Isso
purgará a podridão do nosso sistema.
O alto custo de vida e a vida opulenta
cairão. As pessoas trabalharão mais
e viverão uma vida moral. Os valores
serão ajustados e as pessoas empreen-
dedoras apanharão os destroços das
pessoas menos competentes.” Segun-
do o Presidente, Mellon “insistiu em
que, quando as pessoas apanharem
uma tempestade cerebral de infla-
ção, a única forma de a tirarem do seu
sangue será deixar cair a economia”
e, “mesmo um pânico, não é de todo
uma coisa má”. Como não se trata
de descartar responsabilidades, dado
que Hoover seguiu o conselho, a reve-
lação só demonstra franqueza. Ora, já
ninguém fala neste tom, mesmo que a
solução liberal para as crises seja ain-
ros e Fronteiras está em processo de
implosão. Outra missão de grande
impacto: resolver a crise do SEF e
fixar como alvo que todos os vistos
para pessoas qualificadas sejam pro-
cessados em menos de três meses.
Uma empresa de sucesso no mer-
cado internacional não sobrevive se
o seu Estado cria barreiras e impõe
custos muito maiores do que os seus
concorrentes. Em Portugal, hoje, uma
empresa que esteja constantemente
a vender e a comprar em divisas dife-
rentes e que use para isso serviços fi-
nanceiros fintech internacionais pode
contar com frequentes inspeções das
finanças e requerimentos administra-
tivos infindáveis do seu banco (vindos
do Banco de Portugal). Outra refor-
ma: uma comissão que em três meses
reveja os regulamentos financeiros
e fiscais e as exigências de reporte à
É uma missão simples:
reduzir em metade
o tempo
de processamento
na alfândega
da esta, liquidar partes da economia.
Nada se cria nem se perde, tudo se
transforma.
Os liberais de antigamente eram
assim, desabridos, snobes e violen-
tos, pelo que o seu ressurgimento tem
vindo a clarificar a política, mesmo
que tal fidelidade de classe se misture
necessariamente, como em Trump,
com discursos e práticas afirmada-
mente autoritárias, o caminho que
seguem todos os seus émulos. Há uma
diferença, vai ter que convir, com os
liberais de hoje, que têm vergonha do
seu programa e até já aplaudem a pos-
sibilidade de saída do mercado liberali-
zado de gás (então a liberalização não
era mesmo para fazer subir os preços e
os lucros?) ou que se acotovelam para
pedir subsídios ao Estado, temendo
anunciar a “liquidação” de empresas
e de trabalho.
A espiral inflacionista
Ora, as medidas que o Governo por-
tuguês anuncia, se bem que tempe-
radas por donativos, como noutros
países e por mais pequeninos que
sejam, comungam desta filosofia li-
beral com um descaramento que só
pode impressionar quem não sente
Fica um cofre recheado
para medidas avulsas
e discricionárias,
como prefere o Governo
luz das necessidades das empresas
exportadoras, para depois simplificar
e agilizar procedimentos.
Para que as nossas empresas pos-
sam crescer e triunfar, elas têm de
abrir e fechar instalações de forma
rápida, quando estão expostas à vola-
tilidade da procura internacional. No
entanto, os planos diretores de muitos
municípios já não são atualizados há
muitos anos. Alguns estão ainda domi-
nados pelas preocupações legítimas de
impedir a sobre-expansão do turismo
de pouca qualidade ou prevenir a po-
luição de indústrias transformadoras,
mas acabam hoje por bloquear as em-
presas do sector dos serviços, em que
se apoia uma economia moderna.
Claro que a maior reforma de todas
seria a da justiça, que tantos custos
impõe sobre os agentes económicos,
ou a da floresta, que impeça a cala-
midade anual dos incêndios. Mais
simples, barato e exequível seria gas-
tar (poucos) milhões de euros a usar
drones e instrumentos de geolocali-
zação para mapear todo o território
nacional, ao mesmo tempo que são
digitalizados os registos de proprieda-
de das conservatórias espalhadas pelo
país, cruzando depois esses registos
com os pagamentos dos impostos de
propriedade. Se o Estado souber com
alguma precisão quem detém cada
hectare de terreno em Portugal, será
possível aplicar políticas florestais
e poupar tantos recursos gastos em
disputas de terreno nos tribunais.
Acredito que uma ou duas destas
pequenas reformas, ou reforminhas,
sejam mais difíceis do que parecem.
Tenho a certeza de que quem conhece
Portugal melhor do que eu consiga
listar outras cinco (ou 10) ainda supe-
riores. Mas o que me recuso a aceitar
é que pouco ou nada se faça quando há
tanto por fazer.
este cheiro dos tempos. Toda a filo-
sofia se baseia no pressuposto de que
não se pode aumentar os salários (ou
as pensões) de modo a compensar a
inflação, dado que isso “alimenta-
ria a espiral inflacionista”. Dito em
bom português, o argumento é que
para minorar a subida dos preços,
que realmente existe, se deve impor
uma redução do valor real dos rendi-
mentos salariais, aproveitando assim
para impor um imposto camuflado.
Há várias formas de o conseguir, e
o Governo mobilizou as duas prin-
cipais: dar por certo que no ano de
2022 pouco se pode fazer (ficam os
125 euros para os não-pensionistas,
menos de 1% de recuperação do sa-
lário médio nacional) e o contador
vai a zeros em 1 de janeiro, prome-
tendo-se que no próximo ano só se
perderá o diferencial de inflação de
2022 para 2023; reduzir o aumen-
to estrutural do valor das pensões
para impor poupança futura através
do malabarismo da antecipação do
pagamento de meio mês de pensão
neste outubro e mudando a lei das
pensões. Chamar a isto “as famílias
primeiro” é uma homenagem do
vício à virtude.
Como não dá ponto sem nó, o
Governo preanuncia que os funcio-
nários públicos, escarnecidos em S.
Bento como um ente político inexis-
tente, receberão alguns 2% no próxi-
mo ano, depois de perderem cerca de
5% este ano, ficando então submeti-
dos, como toda a gente, às vagas dos
preços que se levantarem. E fica um
cofre recheado para medidas avul-
sas e discricionárias, como prefere o
Governo. Assim, se se perguntar ao
primeiro-ministro se esta queda dos
rendimentos, ou “liquidação”, é a boa
política, ele poderá responder como
Truss: “Sim, é justa.”
ECONOMIA 3
A semana
E M 2 M I N U T O S
BCP O Banco Central Europeu
deu luz verde ao Conselho de
Administração do BCP, que havia
sido aprovado pelos acionistas na
assembleia-geral de 4 de maio. A
equipa para o quadriénio de 2022
a 2025 continuará a ser liderada
por Miguel Maya. De fora da
lista aprovada em maio ficaram
apenas Clara Raposo e Teófilo da
Fonseca, que entretanto comu-
nicaram a sua indisponibilidade
para os cargos.
17%
foi quanto aumentou o lucro da
Greenvolt no primeiro semestre
deste ano, com a empresa de
energias renováveis a alcançar um
resultado líquido atribuível a
acionistas de €1,2 milhões. As
receitas até junho ascenderam a
€113 milhões, com um
crescimento de 170% em termos
homólogos
INFLAÇÃO O primeiro-ministro
apresentou segunda-feira um
pacote de medidas para mitigar o
impacto da inflação nas famílias.
O plano, denominado Famílias Pri-
meiro, terá benefícios de €2,4 mil
milhões este ano, que acrescem a
outros €1,6 mil milhões de apoios
concedidos desde o início do ano,
de acordo com António Costa.
0,8%
foi quanto cresceu o Produto
Interno Bruto (PIB) da zona euro
no segundo trimestre, face ao
trimestre anterior, no qual tinha
crescido 0,7% em cadeia. Em
termos homólogos, o PIB da zona
euro cresceu 4,7% no segundo
trimestre, desacelerando face aos
5,4% do período de janeiro a
março, segundo o Eurostat
ENERGIA A presidente da Comis-
são Europeia, Ursula von der
Leyen, anunciou quarta-feira um
conjunto de cinco propostas que
serão discutidas esta sexta-feira
no Conselho Extraordinário de
Ministros da Energia da União
Europeia. Entre as medidas estão
uma redução do consumo de
eletricidade, limites de preços a
alguns produtores elétricos, uma
taxa às petrolíferas e limite ao
preço do gás russo.
REPSOL A petrolífera espanhola
acordou vender 25% do seu negó-
cio de exploração de petróleo e gás
à norte-americana EIG por €4,8
mil milhões, admitindo vir a cotar
essa divisão em bolsa nos Estados
Unidos a partir de 2026.
AQUILA A Aquila Clean
Energy assegurou um financia-
mento de €1000 milhões para
desenvolver uma carteira de
projetos de energias renováveis
em Portugal e Espanha que soma
2,6 gigawatts. O Banco Europeu
de Investimento avançará €400
milhões e um consórcio de sete
bancos comerciais disponibilizará
outros €600 milhões.
4 ECONOMIA
ALTOS
Clara
Raposo
Futura
vice-governadora
do Banco de Portugal
Estava previsto que fosse para
a administração do BCP, como
não-executiva, cargo para o qual
manifestou indisponibilidade. Fi-
cou depois a saber-se que a presi-
dente do ISEG vai afinal integrar
a administração do Banco de Por-
tugal como vice-governadora.
Miguel
Maya
Presidente-executivo
do BCP
O BCP foi notícia por desligar os
letreiros das mais de 400 sucur-
sais que tem em Portugal — uma
medida simbólica para poupar
energia nestes tempos de escas-
sez energética, mas que também
permitirá poupar algum dinheiro
ao banco, por entre outras medi-
das de sustentabilidade já adota-
das ou em curso. Isto numa altura
em que a administração foi apro-
vada pelo Banco Central Euro-
peu, mantendo Miguel Maya a li-
derança executiva e Nuno Amado
a não-executiva.
João
Bento
Presidente-executivo
dos CTT
Assumiu claramente esta sema-
na os problemas evidentes de
organização nos CTT, que ga-
rante estarem a ser resolvidos
com investimento em “pesso-
as e ferramentas”, o que está a
fazer baixar as reclamações, a
maior parte das quais relacio-
nadas com as novas regras tri-
butárias em relação ao desal-
fandegamento das encomendas
vindas de países de fora da Uni-
ão Europeia e que em Portugal
são mais complexas do que na
generalidade dos países.
egor.pt
Projetos
de avaliação
psicológica
E BAIXOS
António
Costa
Primeiro-ministro
Tardio, insuficiente quando com-
parado com o de outros países
e com a habilidade de reduzir o
aumento estrutural do valor das
pensões com a antecipação de
meio mês de pensão em outubro,
sem o ter assumido claramente
— eis um pequeno resumo das
críticas ao pacote de medidas
anti-inflação destinadas às famí-
lias anunciado na segunda-feira
à noite pelo primeiro-ministro,
que ainda teve de ouvir o Pre-
sidente da República elogiar o
PSD por ter apresentado um pa-
cote de medidas mais cedo.
Pedro Lima
plima@expresso.impresa.pt
EM DESTAQUE
Gás França
deixa Espanha
a ver o MidCat
por um
canudo
Divergências entre Madrid e
Paris em torno das interligações
de gás pode aquecer o debate
em Bruxelas
Durou menos de um mês o entusi-
asmo ibérico em torno da possibili-
dade de Portugal e Espanha virem
a ter um reforço das suas interliga-
ções de gás natural com o Centro da
Europa. Depois de, a 11 de agosto, o
chanceler alemão, Olaf Scholz, ter
manifestado o seu apoio a um pro-
jeto que ligasse o terminal da REN,
em Sines, à Alemanha, essa hipótese
foi recebida com regozijo em Lisboa
Energia Bruxelas propõe artilharia pesada.
Mas precisa da Europa alinhada (outra vez)
Os 27 discutem esta sexta-feira
uma mão cheia de propostas da
Comissão Europeia para fazer
face à crise energética
A presidente da Comissão Europeia,
Ursula von der Leyen, apresentou
quarta-feira um ambicioso pacote de
medidas para a Europa atacar (outra
vez) a crise energética. E o plano pre-
cisa (outra vez) que os 27 alinhem as
suas vontades, para que as iniciativas
avançadas possam sair do papel.
É um arsenal de intervenções de
emergência, com um menu diversifi-
cado de medidas para serem servidas
à mesa do Conselho de Ministros da
energia desta sexta-feira em Bruxe-
las. Mas o Expresso sabe que as mais
polémicas, como a imposição de um
limite máximo ao preço do gás russo,
estão muito longe de reunir apoio.
A reunião está desenhada para ser
só de debate, sem qualquer expec-
tativa de decisões ou acordo final. A
poucas horas do encontro ministerial,
Ursula von der Leyen avançou com
uma mão cheia de propostas.
A primeira delas passa por obter
um compromisso dos 27 para a re-
dução do consumo de eletricidade
na União Europeia (UE), replicando
o acordo de julho para a redução da
procura de gás natural. Segundo um
documento de trabalho a que o Ex-
presso teve acesso, a Comissão previa
um regulamento no qual cada Estado-
-membro devia “procurar reduzir o
seu consumo líquido de eletricidade,
com uma meta de redução de pelo
menos 10% do consumo mensal”.
Adicionalmente, cada país deveria
trabalhar soluções para reduzir obri-
gatoriamente em pelo menos 5% o vo-
lume de eletricidade consumida nas
horas de ponta do seu sistema elétri-
co. Porém, num novo documento de
trabalho da Comissão distribuído aos
jornalistas já após o anúncio de Von
der Leyen, o executivo comunitário
explicava a proposta de redução de
consumo, mas sem especificar quais-
quer valores de redução.
A Alemanha acabou por preferir
não se atravessar já com metas de
redução, mantendo apenas a polé-
mica sugestão do corte vinculativo.
Porém, de acordo com as informações
recolhidas pelo Expresso, esta opção
não reúne o apoio dos Estados-mem-
bros, que, no máximo, estarão para já
dispostos a considerar uma redução
voluntária.
Aliás, na reunião de quarta-feira
com os embaixadores dos 27, a Co-
missão nem sequer falou do corte
obrigatório que Von der Leyen anun-
ciou à imprensa. Mas o apoio tem
uma outra medida também avançada
pela presidente da Comissão, que nos
e Madrid. Mas Paris falou mais alto,
arrasando a perspetiva ibérica de vir
a exportar mais gás para o resto da
Europa através de França.
Na passada segunda-feira, o Presi-
dente francês, Emmanuel Macron,
foi bastante claro na sua visão sobre
o projeto do gasoduto MidCat (que
parecia ter ressuscitado depois das
declarações de Scholz). “Não per-
cebo que problema de curto prazo é
que resolveria”, comentou Macron.
“Precisamos de mais interligação
elétrica. Mas não estou convencido
de que necessitemos de mais inter-
ligação de gás, cujas consequênci-
as, em particular no ambiente e no
ecossistema, são mais importantes”,
comentou o chefe de Estado fran-
cês. E disse ainda ser “factualmente
falso” que seja preciso um novo ga-
soduto, pois nem hoje, com a neces-
sidade de redução de dependência
do gás russo, as interligações entre
Espanha e França estão a ser explo-
radas na máxima capacidade.
Já na terça-feira a Comissão Eu-
ropeia recusou intrometer-se na di-
vergência entre Espanha e França
em torno do MidCat. Um distanci-
amento que não foi bem recebido
Sector elétrico é um dos alvos das novas propostas da Comissão FOTO JOÃO CARLOS SANTOS
cálculos preliminares dos técnicos
europeus passa por limitar a €200
por megawatt hora (MWh) as receitas
dos produtores de eletricidade que
não recorram ao gás natural, mas
que estejam a ser remunerados pelos
preços cobrados pelas centrais a gás.
O presidente da Apren — Associa-
ção Portuguesa das Energias Renová-
veis, Pedro Amaral Jorge, sublinhou
ao Expresso que esta medida, a avan-
çar, “terá um efeito muito limitado
em Portugal”, já que a maior parte
da produção renovável está cober-
ta por preços garantidos de venda
Os 27 discutem
esta sexta-feira
uma mão cheia
de opções para fazer
face à crise energética
em Madrid. A ministra espanhola
da Transição Ecológica, Teresa Ri-
bera, salientou quarta-feira, numa
conferência organizada pelo jornal
“InfoLibre”, o que classificou como
“incoerência” da Comissão, já que,
ao mesmo tempo que defende ser
crucial um uso mais inteligente das
infraestruturas (e um reforço das
interligações), evita pronunciar-se
sobre o MidCat.
O polémico gasoduto foi estudado
durante vários anos, até o projeto
cair em 2019, devido aos elevados
custos que lhe estariam associados.
Mas o objetivo da União Europeia
de reduzir a dependência energética
da Rússia reavivou o debate sobre
as interligações entre a Península
Ibérica e o resto da Europa, já que
Espanha tem seis terminais aptos a
receber gás natural liquefeito (GNL)
de diversas origens, que pode ser ex-
portado para o resto da Europa caso
haja mais capacidade de transporte.
Os Pirenéus sempre foram uma
barreira natural para o reforço das
interligações (quer de gás, quer de
eletricidade). Mas a isso juntou-se
o desinteresse francês em apoiar
esse reforço, devido à abundância de
à rede e contratos de longo prazo,
não aproveitando a subida do preço
grossista da eletricidade provocada
pelos custos mais altos das centrais a
gás natural.
Ursula von der Leyen também
anunciou uma terceira proposta, que
assenta numa “contribuição solidá-
ria” a cobrar às petrolíferas, devido
aos lucros que vêm somando nos últi-
mos meses. A receita que daí resultar
deverá ser aplicada na redução de
custos das empresas e famílias em
dificuldades, bem como na promoção
de energias renováveis, defendeu a
presidente da Comissão, sem entrar
em pormenores sobre os termos des-
sa contribuição.
Recorde-se que o Reino Unido já
avançou com um imposto especial de
25% sobre os ganhos das petrolíferas,
continuando a opção dos windfall
taxes (impostos sobre ganhos ines-
perados) a gerar divisões na Europa.
Em Portugal, o Governo já afastou
a cobrança desse tipo de imposto às
elétricas (por já serem objeto do me-
canismo ibérico de desacoplamento
do custo do gás que arrancou a 15
de junho), mas não recusou liminar-
mente a possibilidade de o aplicar no
sector petrolífero.
Mais discreta, mas igualmente im-
portante no quadro dos mercados eu-
ropeus, é a proposta da Comissão de
Expresso, 9 de setembro de 2022
eletricidade nuclear na matriz ener-
gética gaulesa. As posições que nas
últimas semanas têm sido transmi-
tidas pelos governantes de Espanha
e França sobre este dossiê poderão
tornar ainda mais quente o Conse-
lho Extraordinário de Ministros da
Energia que decorrerá esta sexta-
-feira, 9 de setembro, em Bruxelas.
Na terça-feira, à margem da apre-
sentação do plano anti-inflação, o
ministro do Ambiente, Duarte Cor-
deiro, foi questionado sobre o tema
das interligações energéticas. “Nós
subscrevemos o que foi dito pelo
Governo espanhol. Este é um tema
europeu. Importa que a Europa
aprenda que não pode estar vira-
da apenas para leste”, comentou,
acrescentando que o reforço das
ligações de gás “é um investimento
estrutural europeu, que não deve
ser pago pelos consumidores portu-
gueses, podendo ser financiado por
fundos comunitários”. Duarte Cor-
deiro desvalorizou a posição france-
sa de recusa do MidCat, lembrando
a alternativa de se avançar com uma
ligação entre Espanha e Itália. “Se é
por Itália ou França, logo se verá”,
afirmou. M.P.
disponibilizar mais liquidez a comer-
cializadores de energia que enfren-
tem dificuldades devido ao disparo
dos preços grossistas de eletricidade
e gás. Na Alemanha, por exemplo, a
energética Uniper já foi alvo de ajuda
pública.
A quinta medida que Von der Leyen
quer ver discutida pelos 27, e que pro-
mete mais tempo de debate, envolve a
fixação de um preço máximo para as
compras de gás à Rússia. É um passo
delicado, pois a partir do momento
em que a Europa unilateralmente
altere as condições de aquisição do
gás russo Moscovo poderá fechar to-
talmente a torneira.
Von der Leyen notou que no início
da guerra a Rússia era responsável
por 40% do gás importado pela Eu-
ropa, e agora essa quota encolheu
para 9%. Ao que o Expresso apurou, a
maioria dos Estados-membros rejeita
para já qualquer iniciativa para limi-
tar o preço pago a Moscovo pelo gás.
No geral, o debate a 27 está ainda
longe de um entendimento. A reunião
desta sexta servirá para perceber o
que é exequível, para que Von der
Leyen possa avançar de novo com pro-
postas — desta vez concretas —na pró-
xima quarta-feira, durante o discurso
do Estado da União, em Estrasburgo.
Miguel Prado e Susana Frexes
mprado@expresso.impresa.pt
Expresso, 9 de setembro de 2022 ECONOMIA 5

PRR Governo “Para este pedido, os 20 marcos e

metas previstos são repartidos em
desembolso, devidamente justificado,
e observando todas as condições pre-

pede este mês dois grupos: o primeiro composto por

18 marcos e metas respeitantes à par-
cela de subvenções e os restantes dois
vistas nos documentos assinados com
a CE”, explica a fonte governamental.
“Após comprovar documentalmente
novo cheque marcos dizem respeito à parcela de
empréstimos”, diz fonte do gabinete
que todos os marcos e metas foram
cumpridos de forma satisfatória, a
de €1820 da ministra da Presidência, Mariana
Vieira da Silva.
EMRP apresentará o segundo pedido
de pagamento até ao final do terceiro

milhões A parcela das subvenções pode

ascender a €1711 milhões mediante
o avanço de múltiplas medidas, da
saúde aos transportes, da habitação
às florestas. Já a parcela de €109 mi-
lhões de empréstimos depende da
Ao cumprir, Portugal capitalização do Banco Português de
conseguirá elevar para €5,1 mil Fomento. Mas esta e outras medidas
milhões os fundos recebidos sofreram atrasos nos últimos meses.
da ‘bazuca’ europeia O Expresso questionou o Governo
sobre a hipótese de vir a submeter
A Estrutura de Missão Recuperar Por- novo pedido de pagamento sem cum-
tugal (EMRP) já está a recolher as pro- prir todos os marcos e metas. “O Go-
vas que confirmam o cumprimento dos verno tem vindo a garantir a concreti-
20 marcos e metas previstos no Plano zação de todos os marcos e metas com
de Recuperação e Resiliência (PRR) os quais se comprometeu, nos prazos
para o primeiro semestre de 2022. O estabelecidos para a verificação do seu
objetivo é pedir, ainda este mês de se- cumprimento”, responde esta fonte
tembro, um novo cheque na ordem governamental.
dos €1820 milhões de subvenções e O PRR português arrancou com
empréstimos ao Mecanismo de Recu- €16.644 milhões, dinheiro que a Co-
peração e Resiliência, vulgo ‘bazuca’. missão Europeia (CE) desembolsará
Se não cumprir todas as metas, António Costa receberá só parte
do cheque de Ursula von der Leyen FOTO HORÁCIO VILLALOBOS/GETTY IMAGES
em prestações semestrais à medida
que o país cumpre os 341 marcos e me-
tas que provam o avanço das reformas
e investimentos acordados até 2026.
Até ao momento, o país já recebeu
€3321 milhões (um quinto do PRR) re-
partidos por €2159 milhões de adianta-
mento logo em agosto de 2021 e mais
€1162 milhões em maio de 2022, o
que corresponde ao cumprimento dos
primeiros 38 marcos e metas.
“A EMRP está a recolher todas as evi-
dências necessárias para demonstrar o
cumprimento das condições previstas
nos respetivos mecanismos de verifica-
ção, de forma a apresentar o pedido de
trimestre deste ano”, acrescenta.
Bruxelas terá depois dois meses
para fazer a avaliação. E só o cumpri-
mento integral permite o desembolso
da totalidade. “Se a CE concluir que
nem todos os marcos e metas associa-
dos a uma prestação foram cumpridos
de forma satisfatória, poderá fazer um
pagamento parcial”, sublinha o porta-
-voz da CE ao Expresso. Nesse caso,
o pagamento restante da tranche —
sejam subvenções ou empréstimos
— fica suspenso. Se tal acontecer, Por-
tugal poderá continuar a implementar
o PRR e tem seis meses para concluir
os objetivos em atraso. Caso contrário,
“o montante global da subvenção e, se
aplicável, do empréstimo, seria pro-
porcionalmente reduzido”, acrescenta
fonte da CE.
Joana Nunes Mateus e Susana Frexes
economia@expresso.impresa.pt

Descodificador por Anabela Campos

Aeroporto em Santarém
O quê, quem, onde, como e porquê?
Autarquias e primeiro-ministro já conhecem mais uma proposta para
localização do novo aeroporto, um investimento financiado por privados
e que tem entre os promotores Humberto Pedrosa, ex-acionista da TAP

1 Há uma nova
proposta
de localização
para o futuro
aeroporto?
Sim, a nova localização é no concelho
de Santarém, como avançou o Expresso
a 19 de agosto, e, se tudo correr como
desejado pelos promotores, será uma
das hipóteses estudadas na Avaliação
Ambiental Estratégica. Fica a 80
quilómetros de Lisboa, próxima da
estação de serviço de Santarém na
A1 e a cerca de cinco quilómetros da
Linha ferroviária do Norte, que fica
a 40 minutos da Estação do Oriente,
em Lisboa. Entre os trunfos que os
promotores dizem ter está o facto de
FOTO JOSÉ CARLOS CARVALHO

necessitar apenas de investimentos

marginais nas acessibilidades, não
ter limitações de espaço para futura
expansão e afetar com ruído um
número reduzido de pessoas. Alegam
também não ter problemas ambientais,
situação que dizem ter amplamente
estudado durante os três anos em que
estiveram a preparar o projeto.

as linhas gerais 3 os promotores 4 para andar?

2 Quais são Quem são Vai ter pernas

da proposta? e investidores? Essa é a chamada questão de um

É um projeto de iniciativa O receio de tornar o caso demasiado milhão de dólares. O projeto já foi
exclusivamente privada, sem mediático antes de os decisores apresentado pelos promotores ao
necessidade de capital público, políticos conhecerem a proposta fez primeiro-ministro e terá, segundo a SIC,
e que pode arrancar com um com que a discrição em torno dos a adesão de grande parte das câmaras
investimento inferior a mil milhões ‘pais’ da ideia fosse a palavra de ordem. da região, maioritariamente PS e PSD.
de euros. Se for necessário, poderá Apresenta-se como uma proposta A discussão à volta do tema
começar como um aeroporto regional, independente e há entre os promotores nos últimos anos mostra, no entanto,
podendo transformar-se em nacional e investidores capital nacional e que Santarém como localização
e evoluir para internacional à medida estrangeiro disponível para investir ainda terá um longo caminho
que a procura for aumentando, e gerir a infraestrutura. Chegam de a percorrer. Os promotores asseguram
substituindo então o Aeroporto diversas áreas da economia. O grupo que tem potencial de desenvolvimento
Humberto Delgado. Inicialmente Barraqueiro, de Humberto Pedrosa, é económico e capacidade de geração
poderá ter apenas uma pista, um dos principais rostos portugueses de emprego (direto, indireto e induzido)
com capacidade para 10 milhões deste projeto, sabe o Expresso, para cerca de 170 mil pessoas.
de passageiros, mas tem espaço informação que o próprio não confirma. O espaço, defendem, acautela
para crescer até mais de 100 milhões Pedrosa, que foi, juntamente com David e possibilita os investimentos
de passageiros por ano e ter três Neeleman, acionista de controlo da necessários para a evolução da aviação
pistas. Será financiado através das TAP e saiu da transportadora no final sustentável e tem potencial para
tarifas aeroportuárias. Segundo de 2021 — cerca de um ano e meio se criar à volta um importante centro
os promotores, a localização em depois do parceiro norte-americano logístico para a Europa. A Vinci,
Santarém não colide com o contrato e sem receber nada —, agora quer que tem defendido Montijo
de concessão da ANA — Aeroportos de expandir-se para as infraestruturas como a mais forte possibilidade
Portugal, porque fica fora da área de aeroportuárias. Um projeto para para o novo aeroporto,
exclusividade da concessionária, que é adicionar à aposta nos comboios para já mantém o silêncio
de 75 quilómetros. de alta velocidade. sobre o assunto.
 6 ECONOMIA
“Confusion
de Confusiones”
João Duque
jduque@iseg.ulisboa.pt
Atrasado
para
a aula
P
“
or definição, um profes-
sor nunca pode chegar
atrasado à aula porque
a aula só pode começar
com o professor!” Esta era
uma das tiradas que um anti-
go professor universitário da
nossa praça costumava dispa-
rar quando chegava atrasado
à aula.
Na sua costumada retórica es-
quiva, António Costa, declarou
que as medidas agora anuncia-
das não estão atrasadas porque
foram pronunciadas quando
ele disse que iria dizer. Todos
sabemos que o atraso de que
falamos não era esse. Mas o que
era importante para o gover-
nante era o momento da TV e
não a verdade. Se para ele, para
os seus ministros e assessores
não há atraso nas anunciadas
medidas mitigadoras do impac-
to da inflação, para a carteira
dos portugueses, ela chega bem
depois do que desejariam.
Imagine-se que em dezembro
passado um português ganhava
€1000 líquidos por mês e con-
sumia €900. Se nessa data ele
comprava um cabaz que aumen-
tou 0,3% em janeiro, então se
quisesse ter mantido o consumo
igual ao de dezembro teria de
Apoiam-se as famílias
com €2.400 milhões
de euros, mas com
uma só empresa,
a TAP, gastam-se €3.200
milhões. Critérios
gastar mais €2,38 em janeiro
do que gastou em dezembro.
E mais €6,54 em fevereiro do
que em dezembro para manter
intacto o tal cabaz de compras.
E teria gastado mais €29,90 em
março do que em dezembro e
por aí fora... Ao todo, soman-
do estas diferenças de janeiro a
agosto, já teria gastado €364,61
só para não perder poder de
compra! E ainda lhe faltaria o
resto do ano! O Governo apoia
com um cheque de €125, mas
a diferença seria de €239,61.
Ou seja, a inflação não mitigada
pelo Governo já lhe roubou um
quarto de um salário líquido, até
à data de hoje. Quem não tem
poupança para manter o nível
de consumo que aperte o cin-
to! Apoiam-se as famílias com
€2400 milhões, mas com uma
só empresa, a TAP, gastam-se
€3200 milhões. Critérios.
Nas pensões de reforma o
problema é idêntico. Mas os
pensionistas, que até podem
ficar a ganhar no imediato, te-
rão a “fava” em janeiro: serão
aumentados menos do que se-
riam se a lei anterior vigorasse,
prejudicando os aumentos pos-
teriores a 2024. E essa era a lei
que o próprio António Costa, há
umas semanas, parecia querer
cumprir. Palavra dada, palavra
honrada?
A partir de agora sabemos que
os aumentos das pensões passa-
ram a estar ao abrigo do arbítrio
dos Governos e, claro, dos ci-
clos eleitorais. Aposto que sem
eleições os pensionistas ficarão
prejudicados, mesmo depois de
Costa garantir que, no futuro,
vão ser atualizados à inflação.
Para os pensionistas que mor-
rerem em 2023, esta mudança
é irrelevante. Mas cuidado dr.
Costa, esses já não votarão.
AVIAÇÃO
Privatização da TAP acelera, em
disputa entre franceses e alemães
Governo quer arrancar com venda de mais de 50% da transportadora este ano
Textos Anabela Campos
A crise pandémica veio ace-
lerar o processo de concen-
tração entre as companhias
aéreas europeias e a TAP, uma
das poucas transportadoras
que não faz parte de qualquer
grupo internacional e que será
uma peça ativa neste proces-
so. O Governo está empenha-
do em avançar com a priva-
tização da companhia aérea
ainda este ano, para a poder
concluir nos primeiros meses
de 2023, avançou ao Expresso
fonte do Executivo.
Em janeiro, durante a cam-
panha eleitoral, António Cos-
ta não escondeu que a TAP,
S.A., totalmente nacionaliza-
da, iria voltar ao mercado e
seria para privatizar acima
de 50%, um processo para
avançar depois do plano de
reestruturação, que estará
concluído no final de 2024.
Na altura, Costa admitiu que
“felizmente já havia compa-
nhias interessadas”. Em cima
da mesa estará a privatização
de pelo menos metade da TAP,
mas dentro do Executivo há
quem admita que não have-
rá resistência em vender uma
percentagem perto dos 100%.
A companhia está a revelar-se
um dossiê difícil para o Go-
Vinci e Aena
agigantam-se no Brasil
Vinci é o maior operador
de aeroportos em língua
portuguesa e a expansão
poderá não ficar por aqui
Estão a agigantar-se as ges-
toras aeroportuárias mun-
diais, numa disputa em que a
francesa Vinci, concessioná-
ria da ANA — Aeroportos de
Portugal, e a espanhola Aena
têm dado cartas. O Brasil, que
tem estado a privatizar os ae-
roportos nos últimos meses,
através de leilões competiti-
vos, tem sido palco do interes-
se de expansão daquelas que
verno, com muita exposição
mediática, críticas à gestão e
contestação sindical na rua.
A que se soma um sector cuja
subida dos combustíveis e a
rapidez da retoma acabou
por tornar vítima da falta de
trabalhadores em vários pon-
tos da cadeia, lançando o caos
em todo o mundo no início
do verão. Entre as favoritas
à compra da TAP continua a
Conversas entre o
Governo, assessores
financeiros e
as companhias
candidatas têm
decorrido nos últimos
meses com discrição
alemã Lufthansa e o grupo
que junta a francesa Air Fran-
ce e a holandesa KLM. A IAG,
liderada pela britânica British
Airways e a espanhola Iberia,
também sinalizou junto do
Governo o interesse na com-
panhia portuguesa, mas será
uma hipótese a descartar pela
ameaça que seria para o hub
de Lisboa.
Tanto a Lufthansa como a
Air France/KLM têm prós
e contras. O grupo liderado
pelos franco-holandeses tem
são hoje duas das gigantes in-
ternacionais. Com o número
de passageiros transportados
a bater recordes, a gestão ae-
roportuária tem-se revelado
um negócio atrativo, já que as
receitas vêm não só das taxas
aeroportuárias e do handling
(logística) como também do
arrendamento do espaço
para lojas e estacionamento,
entre outros.
A expectativa de que o ne-
gócio é rentável — e a ANA
tem sido uma prova disso para
a Vinci — levou inclusive um
grupo de investidores portu-
ganho adeptos dentro do Go-
verno e da TAP, porque, além
de os respetivos Estados man-
terem uma participação no
capital, a sua lógica de con-
centração tem sido manter as
empresas autónomas — ha-
vendo quem acredite que na
tensão que por vezes existe
entre a gestão da Air France
e da KLM a companhia portu-
guesa pudesse funcionar como
árbitro. Também é verdade
que a TAP seria o elo mais
frágil desta aliança, que tem
como acionista minoritário a
norte-americana Delta, que no
último verão fez uma grande
aposta no mercado português.
Já a Lufthansa, que o Expresso
sabe que não faz questão de ter
alguém na gestão executiva se
vier a tornar-se acionista da
TAP, tem como política trans-
formar as suas parceiras em
subsidiárias, que usa para ali-
mentar os seus dois hubs, em
Berlim e Frankfurt. A única
que escapou a esta lógica foi
a Swiss. A companhia alemã
é olhada com alguma reserva
pelos sindicatos mais ligados
à manutenção, uma vez que o
grupo Lufthansa é muito forte
nesta área e tende a desinves-
tir no segmento, concentrando
a atividade na Alemanha. A
seu favor, a Lufthansa tem o
facto de o investimento histó-
Lufthansa e Air France/KLM são os
candidatos mais fortes à aquisição da
TAP. Iberia está na corrida, mas o risco
para o hub afasta-a dos favoritos
gueses e internacionais a jun-
tarem-se para propor a cons-
trução de um novo aeroporto
em Portugal, com localização
em Santarém. Um projeto que
propõem que avance sem in-
vestimento público e financia-
do apenas por taxas aeropor-
tuárias, conforme o Expresso
já noticiou (ver página 5).
Marcar território
Voltando à Aena e à Vinci,
cujo salto se deu sobretudo
na última década, o operador
espanhol é público, o francês
é privado. A Vinci tornou-se
concessionária da ANA em
2013 — era então dona ape-
nas de concessões de aeropor-
tos secundários em França e
no Camboja —hoje detém o
maior número de aeroportos
Expresso, 9 de setembro de 2022
SATA também
é para vender
A curto prazo, Portugal
poderá vir a ter duas
companhias aéreas em
privatização. É que a venda
da açoriana SATA Azores
Airlines poderá arrancar
também nos próximos
meses. No quadro do plano
de reestruturação do grupo
SATA foi assumido o
compromisso de
privatização da maioria da
Azores Airlines. E Luís
Rodrigues, presidente da
empresa, já recomendou
ao Governo Regional dos
Açores que o processo
avance o mais depressa
possível. Ainda não houve
desenvolvimentos, só
conversas preliminares.
“Penso que depois do verão
as coisas vão começar a
mexer”, afirmou Luís
Rodrigues em entrevista ao
Expresso, na semana
passada. O gestor está
convencido que a
privatização será bem
sucedida e admite que a
islandesa Iceland Air,
candidata em 2018, poderá
voltar a estar na corrida.
FOTO GETTY IMAGES
de língua portuguesa: 10 em
Portugal, dois em Cabo Ver-
de e oito no Brasil (entre eles
Salvador da Bahia, Amazonas,
Curitiba e Santa Catarina). E
é hoje o maior gestor aero-
portuário privado do mundo,
presente em 11 países e com
mais de 50 aeroportos sob
gestão. O objetivo da Vinci
é expandir-se nos mercados
em que haja oportunidades
de crescimento com racional
Corrida à compra de
aeroportos no Brasil
mostra dinamismo
de um negócio
que se tem revelado
muito atrativo
rico germânico em Portugal
ser considerado gerador de
riqueza para o país.
Air France e Lufthansa
alternam favoritismo
O favoritismo dentro do Go-
verno vai saltitando entre a
Lufthansa e a Air France/
KLM, mas não será apenas
o Executivo de Costa a esco-
lher — as circunstâncias e a
vontade dos candidatos pesam
bastante. E há um dado novo
na equação: a privatização da
ITA, a antiga Alitalia. Se até
há algumas semanas era a
Lufthansa que parecia estar à
frente nas negociações, as últi-
mas notícias dão conta de que
é a Air France quem irá ser o
novo acionista da companhia
italiana. E, se assim for, será
mais difícil à companhia fran-
cesa lançar-se sobre a TAP.
As conversas entre o Go-
verno, os seus assessores fi-
nanceiros e as companhias
candidatas têm decorrido nos
últimos meses com alguma re-
gularidade e muita discrição.
A decisão está longe de estar
tomada, mas o Expresso sabe
que todos os cenários, virtudes
e ameaças das potenciais par-
cerias estão a ser estudados e
equacionados pelo gabinete do
ministro das Infraestruturas,
Pedro Nuno Santos. Inegociá-
vel é a manutenção do hub da
TAP em Lisboa.
Muita água vai correr ainda
por baixo da ponte, mas pare-
ce ser evidente que a concen-
tração e a racionalização da
rede são um foco dominante
na estratégia das companhias
aéreas neste período pós-co-
vid. E a concorrência será fe-
roz, inclusive para a TAP: em
agosto a IAG comprou 20%
da espanhola Air Europa, que
estava a fazer mossa à Iberia,
e muitos acreditam que vai
tentar atacar o mercado do
Brasil. Certo é que qualquer
um dos candidatos é gigante
ao pé da TAP, tanto em frota
como em número de passagei-
ros transportados, em receitas
e em músculo financeiro. São
cinco a sete vezes maiores que
a transportadora portuguesa,
têm mercados internos mais
fortes e maior capilaridade.
Cobiçam a TAP pelo seu posi-
cionamento geográfico e as li-
gações ao Brasil, a África e aos
EUA, e ninguém quer perder
para a concorrência. O jogo já
começou.
acampos@expresso.impresa.pt
económico, e o presidente da
ANA, Thierry Ligonnière, não
exclui continuar a investir em
países de língua portuguesa.
A aposta da empresa estatal
espanhola Aena no mercado
brasileiro é grande, já tem 11
concessões e surpreendeu re-
centemente a concorrência
com uma proposta milionária
(2,45 mil milhões de reais)
para arrebatar a concessão,
durante 30 anos, do aero-
porto de Congonhas, em São
Paulo. A Aena, que se tornou
recentemente mediática em
Portugal porque é acionista
da empresa que iria fazer o es-
tudo de Avaliação Ambiental
Estratégica para a escolha do
futuro aeroporto nacional — a
INECO —, é o maior operador
do mundo, com cerca de 70
aeroportos sob gestão.
Expresso, 9 de setembro de 2022 ECONOMIA 7

MISSION TO NEPTUNE

Disponível apenas em lojas Swatch selecionadas

8 ECONOMIA
FAMÍLIAS
Inflação Governo anunciou €2,4 mil milhões para as famílias. Receita com impostos, mantendo-se
Governo dá um terço A
a tendência registada até julho, pode ficar €7 mil milhões acima do previsto no Orçamento
da folga na receita
fiscal às famílias
PENSÕES
ENGORDAM
EM OUTUBRO,
FAZEM DIETA
EM 2024
Afinal, o que vai acontecer ao valor
das pensões? Aquilo que está a ser
antecipado agora vai ser cortado
depois? As reformas vão engordar
primeiro e encolher depois? Para já, o
Governo só se compromete com o
que vai acontecer em 2022 e 2023 —
um “aumento histórico” no
rendimento dos reformados, devido à
2,7
milhões de pensionistas vão receber
mais meia reforma
1000
milhões de euros é quanto
representa este “suplemento
extraordinário”. Os aumentos de
janeiro custam mais €1150 milhões
subida da inflação e do crescimento.
Para 2024 e daí em diante é preciso
esperar para ver. Mas se nada for feito
haverá menores ganhos para os
pensionistas. No próximo mês,
quando receberem a pensão de
outubro, todos os reformados com
pensões até €5316 (12 vezes o
indexante de apoios sociais) vão
receber mais meia pensão. O Governo
chama-lhe um “suplemento
extraordinário” e diz que serve para
ajudar os cidadãos a fazerem face ao
aumento acentuado dos custos de
vida. Meses depois, em janeiro, os
mesmos pensionistas receberão uma
atualização do valor das suas pensões:
quem ganha sensivelmente até €886
receberá mais 4,43%, quem ganha até
€2658 terá mais 4,07% e acima deste
valor mais 3,53%. Valores que,
contudo, seriam de 8%, 7,66% e 7,1%,
respetivamente, se não houvesse esse
‘suplemento’, e a regra de atualização
legal anual prevista na lei fosse
cumprida (os valores são aproximados
porque só podem ser apurados em
novembro). Mas, somado o
suplemento extraordinário deste ano
com a atualização em janeiro, no final
do próximo ano os pensionistas terão
no bolso exatamente o que
receberiam se o Governo tivesse
aplicado a regra habitual de
atualização de pensões, prevista na
lei. Em qualquer dos casos, as
transferências são automáticas, não
precisando os pensionistas de fazer
qualquer pedido especial. Qual é,
então, o problema? Um é de ordem
política, outro de ordem financeira.
Somando essas duas parcelas — o
“suplemento extraordinário” deste
ano e a atualização em torno dos 4%
em janeiro de 2023 — o valor que vai
ser entregue aos pensionistas é
exatamente o mesmo a que têm
direito tendo em conta a fórmula
prevista na lei, e que o primeiro-
ministro prometeu em junho que era
mesmo para aplicar (ver página 7 do
Primeiro Caderno). Logo, argumenta
a oposição, o Governo não pode dizer
que está a dar um bónus aos
pensionistas ao dar-lhes metade de
uma pensão em outubro. Está apenas
a antecipar. A outra questão entra
diretamente no valor das pensões.
Embora, com uma fórmula ou outra,
no conjunto de 2022 e 2023, os
pensionistas recebam o mesmo, o
valor base das reformas só sobe cerca
de metade do que subiria, como
resultado desta proposta do Governo.
O que compromete parte da pensão
nos anos futuros. O valor das pensões
não encolhe, mas vai ser mais magro.
O que é que isto representa? Segundo
simulações feitas pelo economista
Jorge Bravo, um reformado com 65
anos com uma pensão de €866
receberá, em média, menos €600 por
ano até ao fim da vida, pelo facto de a
lei não ser integralmente aplicada. No
total serão menos cerca de €13.400 se
a inflação no longo prazo for de 2%,
ou menos €15 mil caso seja um pouco
mais elevada, nos 3%. É “um corte
brutal de rendimento”, diz o professor
da Universidade Nova de Lisboa.
Mas, para o Governo, esta é uma
extrapolação falsa. Porquê? “O que vai
acontecer em 2024 será definido no
próximo ano em função da evolução
da economia e da inflação”, diz ao
Expresso Ana Mendes Godinho. Neste
momento, “ninguém consegue dizer o
que vai acontecer em 2024”,
argumenta a ministra do Trabalho,
Solidariedade e Segurança Social.
A dúvida fica no ar, mas, se para o ano
o Governo não devolver aos
pensionistas o aumento integral no
valor de base da sua pensão a que
teriam direito com o cumprimento
estrito da fórmula de atualização
prevista na lei, as pensões ficarão
mais magras para 2024 e daí em
diante. Praticamente certo é que, para
o futuro, as regras de atualização das
5,8
milhões de adultos não-pensionistas,
com rendimento bruto mensal até
€2700, receberão em outubro um
apoio extraordinário ao rendimento
730
milhões de euros é quanto o Governo
prevê gastar com esta medida
Expresso, 9 de setembro de 2022
Sónia M. Lourenço
pós semanas de in-
sistência da oposi-
ção — e com o PSD
a avançar primeiro
com uma propos-
ta de programa
de emergência so-
cial —, o Governo
de António Costa
apresentou o pacote de apoio às fa-
mílias, por causa da escalada dos pre-
ços, a que chamou Famílias Primeiro.
Com a receita fiscal a dar folga (e não
é pequena), o pacote soma €2,4 mil
milhões — cerca de 1,2% do Produto
Interno Bruto (PIB) — para responder
à forte subida da inflação. Somando
outras medidas de mitigação já adota-
das desde o início do ano, a conta dos
apoios ultrapassa €4 mil milhões (2,1%
do PIB), vincou o primeiro-ministro.
Entre as medidas anunciadas des-
tacam-se a entrega de €125 por pes-
pensões, que resultam da lei de 2008
do então ministro socialista Vieira da
Silva — e que será suspensa em 2023
—, é para ser estruturalmente
alterada.
Elisabete Miranda
e S.M.L.
€125 PARA A
CLASSE MÉDIA,
€50 PARA AS
CRIANÇAS
(INCLUINDO AS
RICAS)
Desde o início do conflito militar na
Ucrânia, o custo do cabaz de bens
alimentares essenciais já aumentou
12,4%. Abastecer o frigorífico e a
despensa custa esta semana €206,35,
menos quatro cêntimos do que há uma
semana (a 31 de agosto), mas mais
€22,72 do que a 23 de fevereiro, véspera
do início do conflito, indicam as contas
da Deco. O aumento sucessivo dos
preços causa cada vez maior pressão
na carteira dos portugueses que não
veem os salários acompanhar o
aumento do custo de vida. Depois de
muita pressão, de sindicatos, partidos
com assento parlamentar e até do
próprio Presidente da República,
tardou mas chegou. Para atenuar os
efeitos da escalada da inflação, o
Expresso, 9 de setembro de 2022
soa, a pagar em outubro, para quem
tenha um rendimento bruto mensal
até €2700, uma prestação de €50
por criança ou jovem até aos 24 anos
(aplicado a todos os dependentes)
para todas as famílias, também a pa-
gar em outubro, e o adiantamento de
parte do aumento que os pensionistas
iriam receber em janeiro do próximo
ano sob a forma de uma prestação
extraordinária no valor de meia pen-
são mensal, paga no mesmo mês. Esta
é uma das medidas mais controversas,
já que tem como reverso menores au-
mentos em 2023 do que ditaria a fór-
mula prevista na lei, com implicações
negativas sobre o valor das reformas
a partir de 2024. Consta ainda do pa-
cote a descida do IVA da eletricidade
de 13% para 6%, mas apenas numa
parte do consumo, o já anunciado me-
canismo de transição para o mercado
regulado do gás, o prolongamento das
medidas de apoio à redução dos pre-
ços dos combustíveis, a limitação dos
aumentos nas rendas a 2% e a manu-
Governo desenhou um apoio que passa
pelo pagamento, em outubro, de uma
prestação única de €125 a todos os
trabalhadores cujo rendimento bruto
mensal seja igual ou inferior a €2700.
Considerando que este montante visa
compensar os trabalhadores pelos
impactos sentidos desde março e os
que ainda se farão sentir com o
aumento do custo de vida até ao final
do ano — o novo Orçamento que
venha a ser aprovado poderá
contemplar outros apoios —, contas
feitas o Governo dá a cada português
que cumpra os requisitos para aceder a
este apoio o equivale a um adicional de
€12,5 mensais, cerca de €0,41 por dia.
Compensa o impacto da escalada da
inflação nos bens alimentares
essenciais? Considerando os cálculos
da Deco para a evolução do preço de
um cabaz de 64 bens essenciais, sim.
Em média, a variação mensal do custo
de um cabaz de bens essenciais, entre
março e final de agosto, oscilou entre
dois a quatro euros. Contudo, o
aumento do custo de vida foi além
destes bens e na carteira dos
portugueses tem pesado também o
aumento dos custos de energia,
combustíveis, esses com apoios
próprios. Terão direito ao apoio todos
os residentes em território nacional,
titulares de rendimentos ou prestações
sociais (desemprego, parentalidade,
doença e doença profissional,
rendimento social de inserção,
prestação social para a inclusão,
complemento solidário para idosos,
sem pensão atribuída ou subsídio de
tenção do preço dos passes urbanos.
Mas, da direita à esquerda, a opo-
sição foi unânime nas críticas. E não
foi suave nas palavras, recorrendo a
termos como “ilusão”, “truques” e
mesmo “fraude”. Críticas, pelo menos
em parte, partilhadas pelos econo-
mistas ouvidos pelo Expresso. É o
caso de Carlos Farinha Rodrigues,
professor do ISEG, que considera
o pacote “positivo” mas “curto em
relação a muitas famílias”. Salienta
ainda que “são medidas de emergên-
cia, pontuais, enquanto os efeitos da
inflação são duradouros”. Uma crítica
repisada por João Cerejeira, professor
da Escola de Economia e Gestão da
Universidade do Minho. E lembram
ainda que há questões que não foram
abrangidas pelo Governo. É o caso das
famílias com crédito à habitação, cuja
prestação mensal ao banco tem vindo
a subir de forma expressiva por causa
da subida dos juros.
Certo é que o Governo português —
tal como os outros pela Europa fora —
apoio ao cuidador informal), tendo
sempre como teto máximo um salário
bruto mensal declarado, em 2021 ou
2022, até €2700. Nota apenas para os
desempregados inscritos nos centros
de emprego: só terão direito ao apoio
se a sua condição de desempregados
não for voluntária, ou seja, se não se
tiverem despedido. Com esta medida o
Governo espera abranger 5,8 milhões
de adultos não-pensionistas, num
investimento global €730 milhões. Para
as famílias o Executivo avança ainda
com outro apoio, direcionado a
crianças e jovens até aos 24 anos, no
valor de €50, também pagos uma só
vez, em outubro. Contudo, neste caso,
tanto receberá uma criança cuja
família enfrente graves carências
económicas como uma oriunda de
90
milhões de euros é a perda de receita
de IVA na eletricidade ao longo de
um ano que o Governo estima
537
milhões de euros é o benefício para
os consumidores com mais três
meses de descontos no combustível
SE A RECEITA FISCAL SE
MANTIVER 20% ACIMA
DE 2021, COMO ATÉ
JULHO, FICARÁ ESTE
ANO CERCA DE €7 MIL
MILHÕES ACIMA DO
PROJETADO NO
ORÇAMENTO DO ESTADO
famílias abastadas. Este apoio
abrangerá 2,2 milhões de dependentes
e terá um custo estimado de €110
milhões. Qualquer um destes apoios
está isento de tributação. Importante
para que o dinheiro lhe chegue ao bolso
é que atualize junto da Autoridade
Tributária e da Segurança Social
o seu IBAN.
Cátia Mateus
ENERGIA:
POUPAR MUITO
NA ESTRADA E
NO GÁS, MUITO
POUCO NA LUZ
O pacote do Governo para mitigar o
impacto da inflação contemplou três
medidas na área da energia, que tem
sido um dos motores do aquecimento
de preços na economia. Por um lado,
foi aprovada uma diminuição do IVA da
eletricidade, por outro foi publicado o
decreto-lei que permite às famílias
voltar a ter tarifas reguladas no gás
natural e, finalmente, foi decidido
prorrogar até final do ano os apoios
que já existiam nos combustíveis. As
medidas têm impactos diferenciados. A
redução do IVA da eletricidade de 13%
para 6% (mas apenas para os primeiros
100 kWh de consumo mensal e para
clientes com potência até 6,9 kVA) terá
benefícios para as famílias (ou perda de
“tem aqui um jogo de equilíbrio com-
plicado: é preciso combater a inflação
e quando se dá muitos apoios alimen-
ta-se a inflação”, alerta Pedro Brinca.
€7 mil milhões de folga
Ao aguardar por setembro para apre-
sentar estas medidas, o Executivo de
António Costa tem muito mais infor-
mação sobre a evolução da economia,
logo da receita fiscal e da margem
disponível este ano, sem comprometer
as metas para a redução do défice e da
dívida pública, que, num contexto de
subida dos juros, continuam a ser uma
prioridade para o Governo, apesar de
as regras europeias sobre as contas
públicas continuarem suspensas.
Até julho, a receita fiscal aumentou
21,1% face ao mesmo período do ano
passado. São mais €5,49 mil milhões,
segundo os dados da Direção-Geral do
Orçamento, em contabilidade pública.
O principal empurrão veio do IVA, que
tributa o consumo e é o grande motor
Os ministros Pedro Nuno Santos, Ana Mendes Godinho,
Fernando Medina e Duarte Cordeiro detalharam as medidas
do Governo. Mas várias questões ficaram por responder
receita fiscal, consoante a perspetiva)
de €90 milhões num ano, segundo a
estimativa apresentada pelo Governo
na terça-feira. A atração de famílias ao
mercado regulado deverá permitir aos
portugueses poupanças de até 70%
face aos preços que o maior
comercializador de gás (a EDP)
praticará a partir de outubro. Num
cenário limite de todos os clientes
domésticos de gás aderirem às tarifas
reguladas, o Governo estima que
perderá num ano €112 milhões em IVA
(face ao que receberia se as famílias
permanecessem no mercado livre,
suportando tarifas mais altas). Nos
combustíveis, o prolongamento de
apoios (redução do ISP e congelamento
da taxa de carbono) até final do ano,
com uma redução de cerca de 30
cêntimos por litro, dará aos
consumidores benefícios estimados em
€537 milhões (o valor acumulado em
todo o ano, calcula o Executivo, é de
€1,49 mil milhões). A extensão dos
apoios nos combustíveis é a que terá
mais impacto nas contas do Estado.
Mas não necessariamente a que terá
mais impacto para as famílias, já que o
regresso às tarifas reguladas de gás
beneficiará um máximo de 1,3 milhões
de agregados, que podem poupar no
seu conjunto, e ao longo de um ano,
centenas de milhões de euros se
optarem pelo mercado regulado,
escapando aos agravamentos dos
comercializadores do mercado livre.
Mais modesta será a poupança das
famílias no IVA da eletricidade. A
Acemel — Associação dos
ECONOMIA 9
das receitas fiscais. Com a inflação a
ajudar — quanto mais sobem os pre-
ços, mais recebe o Estado —, o incre-
mento até julho é de 24,7% face a 2021.
Ora, no Orçamento do Estado para
2022 a estimativa de receita fiscal
no conjunto deste ano é de €54,75
mil milhões, mais 6,6% do que em
2021. Se o encaixe com impostos se
mantiver 20% acima do ano passado,
a receita fiscal este ano ficará perto
dos €62 mil milhões, mais de €10 mil
milhões acima de 2021 e cerca de €7
mil milhões acima do projetado no
Orçamento. Folga com que o Governo
conta, até porque o crescimento da
economia ajuda a baixar o défice, que
é medido em percentagem do PIB. No
Orçamento apontou-se para uma ex-
pansão do PIB de 4,9% este ano, mas
as projeções das principais organiza-
ções nacionais e internacionais que
acompanham a economia portuguesa
oscilam entre 5,4% e 6,5%.
Com Ana Sofia Santos
slourenco@expresso.impresa.pt
FOTO NUNO FOX
Comercializadores de Energia no
Mercado Liberalizado estima que num
perfil de consumo médio de uma
família com filhos a poupança mensal
com a descida do IVA será de apenas
€1,6 (menos de 2% numa fatura de €97
por mês).
Miguel Prado
PASSES E
RENDAS
CONGELADAS
‘Congelamento’ é a palavra que
melhor resume as medidas a cargo do
Ministério das Infraestruturas e da
Habitação. As rendas não poderão
aumentar mais de 2%, em vez dos
5,43% de aumento previsto por
aplicação do coeficiente anual de
atualização e os senhorios serão
compensados em sede de IRS ou de IRC
(ver texto na página 18). E na vertente
dos transportes o Governo decretou o
alívio nos bolsos dos contribuintes com
o anúncio do congelamento dos
bilhetes e dos passes da CP em 2023. O
ministro das Infraestruturas diz que
não foi aplicado o mesmo critério dos
2% porque “há um adicional: queremos
mesmo incentivar a utilização dos
transportes coletivos e por isso a
medida ainda é mais ambiciosa”. A CP
será compensada — “já é uma
empresa com muitas dificuldades”, diz
Pedro Nuno Santos.
Pedro Lima
10 ECONOMIA Expresso, 9 de setembro de 2022

INFLAÇÃO

Crise Nos 24 anos do euro não há registo de um disparo da inflação como o atual, nem de recessões provocadas pelo aperto
da política monetária do BCE. Mas desta vez pode ser diferente pela conjugação com outros fatores, como a crise energética

A subida dos juros vai

provocar uma recessão?
Texto Jorge Nascimento
Rodrigues
e Sónia M. Lourenço
Infografias Carlos Esteves
das posições relativamente à impor-
INFLAÇÃO E CRESCIMENTO DA ECONOMIA PORTUGUESA ECONOMIAS EM QUEDA
tação de gás natural da Rússia alia-
da às mais do que previsíveis subidas
Variações trimestrais em cadeia e homóloga do PIB português, e variação mensal homóloga do Índice OU FORTE ABRANDAMENTO
Harmonizado de Preços no Consumidor em Portugal, em % Variação do PIB em cadeia em %, em 2022
pronunciadas das taxas de juro são

O
-3 -2 -1 0 1 2 3 4
os principais fatores a sustentar estas Agosto
previsões.” António Ascensão Costa, 10 1º T
9,4 Índia
euro é uma divisa professor do ISEG, não destoa: a po- Homóloga Mensal homóloga IHPC 2º T Recessão
7,1
ainda jovem e é a lítica monetária mais restritiva “vem 0 técnica
0 EUA
primeira vez em 24 juntar-se a dificuldades já criadas pela Em cadeia
anos que o espaço pandemia e pela guerra na Ucrânia, -10 China
da moeda única pelo que parece difícil que a Europa
vive um surto infla- venha a escapar a uma recessão”. A -20 Polónia
cionista com a atual questão será “se essa recessão é mais 1996 2000 2005 2010 2015 2020 2022
dimensão, com su- ou menos profunda ou duradoura (e FONTE: INE
Estónia
bidas de preços no aí a política monetária poderá pesar
consumidor a ultrapassar os 9% em muito)”, salienta. Letónia
INFLAÇÃO E POLÍTICA MONETÁRIA
termos homólogos mensais. Não há Quanto a Portugal, “está um pouco
DESDE A CRIAÇÃO DO EURO Lituânia
registo histórico de um disparo as- menos exposto às questões da ener- Em %
sim, nem de recessões motivadas pelo gia”, nota Paula Carvalho. Contudo,
aperto da política monetária por parte “se se concretizar o arrefecimento Inflação homóloga da zona euro 9,1 Reino Unido
do Banco Central Europeu (BCE). na Europa, não deverá escapar incó- 8
Será que é desta? Vem aí uma recessão lume”. Acresce que o país “está mais Recessões 2,5
PORTUGAL
na zona euro por causa da linha de exposto ao aumento dos juros dado os 6 na zona euro 0
ação de Frankfurt? níveis de endividamento ainda eleva- Taxa diretora do BCE 0,5 Alemanha
Os economistas ouvidos pelo Ex- dos e a maior parcela de taxa variável 4
presso não vaticinam a inevitabilida- nos contratos”, nomeadamente no Bélgica
de de uma contração económica na crédito à habitação, alerta a economis- 2
sequência da subida das taxas de juro, ta. Contudo, um cenário de recessão México
mas admitem que a recessão possa técnica — dois trimestres consecuti- 0
estar à espreita pela convergência vos de queda em cadeia do Produto 0,7
Zona euro
de fatores negativos — que vão mui- Interno Bruto (PIB) — não é, para já, -2 0,8
to além do desempenho da equipa traçado pelos economistas. Até por- 1999 00 2005 2010 2015 2020 AGO. 22 Nota: Variação em relação ao trimestre anterior
chefiada por Christine Lagarde. Um que o Instituto Nacional de Estatística FONTE: FRED E BCE FONTES: EUROSTAT; OCDE, DESTATIS; INE

cocktail onde pontifica também a crise reviu em alta os números do segundo

energética e as disrupções nas cadeias
globais de abastecimento.
É o caso de Paula Carvalho, econo-
mista-chefe do BPI: “É uma pergun-
ta de difícil resposta. Direi que não
podemos excluir essa hipótese, mas
é prematuro confirmá-la.” Lembran-
do o crescimento positivo do Produto
Interno Bruto (PIB) da zona euro no
primeiro semestre, alerta que “há uma
clara tendência de enfraquecimento
dos indicadores durante o terceiro
trimestre”. Alemanha, a par da Itália,
“são os países onde a probabilidade de
recessão é maior”, vinca a economista,
salientando que “não é uma conse-
quência (apenas) do aumento de juros,
mas sim da elevada inflação e da forte
incerteza e pessimismo devido às dúvi-
das sobre o fornecimento de energia,
aos quais acrescem a subida dos juros”.
Pedro Brinca, professor da Nova
SBE, aponta um inquérito recente
da Bloomberg sobre a possibilidade
de haver uma recessão nos próximos
12 meses. “Em agosto, pela primeira
vez, foi superior a 50%. O extremar
trimestre do ano, apontando agora
para uma expansão de 7,1% em termos
homólogos e uma variação nula em
cadeia — e já não uma contração — e
o forte desempenho do turismo dá um
empurrão no terceiro trimestre. Mas
os indicadores “apontam claramen-
te para desaceleração”, avisa Paula
Carvalho, admitindo “a possibilida-
de de queda da atividade no quarto
trimestre”. Pedro Brinca aponta no
mesmo sentido: “Será principalmente
no quarto trimestre em que sem o tu-
rismo para ajudar e com os efeitos das
mais que prováveis subidas das taxas
de juro, poderemos ver um abranda-
mento mais significativo da econo-
mia.” Ainda assim, o pacote de ajuda às
famílias, anunciado esta semana pelo
Governo, dará uma ajuda à atividade
— nomeadamente ao consumo — nos
últimos três meses deste ano.
A geopolítica está a exercer um pa-
pel determinante, minorando o papel
dos bancos centrais, apostados em
reduzir a inflação à custa de “alguma
dor nas famílias e empresas” (nas pa-
lavras recentes de Jerome Powell, o
presidente da Fed, o banco central dos
Estados Unidos). A Gazprom russa
anunciou a interrupção, sem data de
reabertura, do gasoduto Nord Stream
1, o que “vai deteriorar ainda mais as
previsões na Alemanha e consequen-
temente no resto da União Europeia”,
avisa o economista Abel Mateus. Além
disso, a aliança entre o cartel da OPEP
(Organização dos Países Exportado-
res de Petróleo) e a Rússia vai cortar
100 mil barris por dia na produção a
partir de outubro. A pressão é explosi-
va sobre o preço do gás natural na Eu-
ropa, que já subiu 700% desde junho
de 2021, e é de esperar a inversão da
queda no preço do barril de petróleo,
voltando a ultrapassar os 100 dólares.
Inflação como nunca se viu
Em agosto passado a inflação na zona
euro atingiu 9,1%, com Portugal um
pouco acima da média (9,4%, em ter-
mos harmonizados usados pelo Eu-
rostat). Após meses de máximos his-
tóricos na variação de preços, o BCE
começou a subir a sua taxa diretora,
em julho, para 0,5%. Esta semana
deve voltar a fazê-lo (já depois do fe-
cho desta edição).
Antes do atual disparo, a economia
do euro sofreu dois surtos inflacio-
nistas, com picos de 3,1% em maio de
2011 e 4,1% em julho de 2008 (ver grá-
fico). As taxas de juro do BCE eram,
então, elevadas, tendo chegado a um
máximo de 4,75% durante o primeiro
surto e de 4,25% no segundo. Mas em
nenhum dos casos ocorreu um abran-
damento ou recessão posterior por
causa dos juros do BCE. A zona euro
sofreria um forte abrandamento em
2002 e 2003, com as taxas do BCE em
queda, de 3,25% para 2%, e em 2009
seria arrastada para uma recessão
global, num período em que os juros
do BCE caíram de 2% para 1%.
O caso de antologia em que a subida
dos juros para baixar a inflação pro-
vocou recessão ocorreu nos Estados
Unidos entre 1979 e 1982. A inflação
atingiu um pico de 14,2% em janeiro
de 1980 e caiu para 3,8% em dezembro
de 1982, depois de Paul Volcker, então
presidente da Fed, ter subido por qua-
tro vezes as taxas de juro, para 20%.
Acabou por conseguir vergar a inflação
à custa de uma recessão em 1980 e 1982
e um pico de desemprego de quase 11%.
Mas o temor de uma recessão e de
uma crise social fala mais alto, nomea-
damente na Europa. Apesar de o Fundo
Monetário Internacional pedir agora
austeridade na política monetária e na
orçamental, os governos têm pela frente
cenários pouco animadores e não que-
rem arriscar politicamente. Os dados
do segundo trimestre deste ano foram
um aviso em algumas grandes econo-
mias (ver gráfico). Os dados do terceiro
trimestre ainda não são conhecidos,
mas os governos não querem as suas
economias mergulhadas nos últimos
três meses do ano em crise económica
e social. Sinal disso são os pacotes de
apoio que têm vindo a ser anunciados na
Europa e de que o Governo português
foi exemplo esta semana.
economia@expresso.impresa.pt

FORTE FRAGMENTAÇÃO NA ZONA EURO TAXAS DE JURO EURIBOR CONTINUAM A SUBIR

Portugal está fora Spread em 6/9/2022 em pontos-base Valores em percentagem

1,75
12 meses 1,92

da zona de risco Luxemburgo

Países Baixos
Finlândia
25
32
45
1,5

6 meses 1,34
França 60 1,25
Áustria 63
Irlanda 63
Os investidores na dívida e estava em 125,6% no final do 1
Bélgica 65
portuguesa estão a exigir primeiro semestre de 2022, 3 meses 0,82
Eslovénia 105
um spread inferior ao apesar da queda de um máxi- 0,75
Eslováquia 106
de Espanha mo trimestral de 138,9% nos
Estónia 106 0,5
primeiros três meses de 2021.
Média zona euro 107
Os níveis de endividamento Quanto ao endividamento das
Portugal 108 0,25
das famílias, das empresas e do famílias — onde o crédito à ha-
Espanha 119
Estado ainda estão acima do bitação é determinante —, es-
Lituânia 141 0
registado antes da pandemia, tava nos 68,1% do PIB no final
Malta 145
em 2019. Mas os investidores de junho deste ano, segundo os
Letónia 169 -0,25
na dívida pública olham para dados do Banco de Portugal, em
Chipre 170
Portugal de um modo mais po- queda depois de ter atingido os
Itália 235 -0,5
sitivo do que para Espanha e 72,6% nos primeiros três meses
Grécia 269
colocam o país bem longe da de 2021, mas acima dos 65,4%
zona vermelha. registados no final de 2019. O -0,75
Nota: O spread é o diferencial em relação ao custo de financiamento da dívida a 10 anos;
No caso da dívida pública, si- mesmo se regista nas empresas valores na abertura do mercado a 6/9/2022 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022 6 SET.
tuava-se em 116,6% do Produto privadas. O endividamento de
Interno Bruto (PIB) em 2019 129,2% do PIB no final de junho FONTES: INVESTING,COM; BCE (ESTÓNIA E LUXEMBURGO); WORLD GOVERNMENT BONDS (LETÓNIA E LITUÂNIA) FONTE: EUROPEAN MONEY MARKETS INSTITUTE
Expresso, 9 de setembro de 2022
Inflação ajuda
descida da dívida
O disparo nos preços
veio dar uma mãozinha
inesperada ao objetivo
político de reduzir o
rácio de endividamento
português
O surto inflacionista tem um
efeito assimétrico. Está a pro-
vocar dois impactos contradi-
tórios na evolução da dívida
pública portuguesa.
Por um lado, começa a pena-
lizar o preço do financiamento
do novo endividamento públi-
co. O custo médio das novas
emissões de dívida entre ja-
neiro e julho deste ano já mais
do que duplicou em relação
ao ano passado (de 0,6% para
1,3%). Mas ainda está em níveis
baixos em relação ao período
de crise da dívida e de resga-
te (uma média de 4,5% entre
2010 e 2014). Também está
muito longe da linha verme-
lha. O ‘culpado’ da subida do
custo de financiamento este
ano é o Banco Central Europeu
(BCE), que, para responder à
alta inflação, iniciou um ciclo
de subida das taxas diretoras
em julho e descontinuou as
compras líquidas por parte dos
dois programas de aquisição
que estavam em curso e que
compraram até final de julho
55% do stock de obrigações do
Tesouro português.
Mas, no outro lado da moeda,
o surto de alta inflação aumen-
ta o valor do Produto Interno
Bruto (PIB), enche os cofres
do Estado, reduz o défice or-
çamental e as necessidades de
emissão de dívida. O resultado
desta convergência benéfica é
favorecer a trajetória de desci-
da do rácio da dívida pública,
medido em relação ao PIB em
termos nominais (leia-se, sem
ser desinflacionado). O nume-
rador (o montante de dívida)
pode encolher se o saldo orça-
mental exigir cada vez menos
financiamento de nova dívida,
reduzindo o seu stock em final
de ano, e o denominador (o va-
lor do PIB) está a engordar em
virtude do crescimento.
Inflação, mais impostos
No lado orçamental, a estima-
tiva para final deste ano, se-
gundo o Orçamento do Estado
para 2022, aponta para um
volume de receitas fiscais per-
to de €55 mil milhões, o valor
mais alto desde 2010, acima do
nível pré-pandemia e 1,3 vezes
superior ao “enorme aumento
de impostos” feito por Vítor
Gaspar, o ministro das Finan-
ças inicial da troika no período
do resgate (ver gráfico). E o
compara com 135,8% em março
de 2021 e 125% no final de 2019.
Neste contexto, o surto infla-
cionista tem obrigado a apertar
o cinto. Famílias e empresas so-
frem a pressão da subida das
taxas de juro Euribor, que no
prazo a seis meses saltaram de
terreno negativo (-0,55%) no
final do ano passado para mais
de 1,3% esta semana (ver gráfi-
co). O que, no caso das famílias,
“já se está a refletir na desace-
leração do consumo”, aponta o
economista Abel Mateus, consi-
derando que, como resultado do
desendividamento desde 2012,
“as empresas, excetuando casos
pontuais, estão melhor prepara-
das para enfrentar a subida dos
juros”. Quanto ao Tesouro, já viu
o custo médio de novas emissões
mais do que duplicar em relação
ao ano passado.
“A subida dos juros vai afetar
as economias mais endividadas,
o que inclui Portugal”, apon-
encaixe ainda pode ser maior
do que o previsto. Se o retorno
dos impostos se mantiver, em
média, 20% acima em termos
homólogos (em relação ao mes-
mo período do ano passado), o
saldo final ficará rente aos €62
mil milhões, quase €11 mil mi-
lhões acima do valor encaixado
em 2021 e €7 mil milhões acima
do orçamentado.
O FMI prevê que
o rácio da dívida
caia para menos
de 100% em 2026
Até julho, a receita fiscal das
Administrações Públicas au-
mentou 21,1%, para €31.510,4
milhões, face ao período homó-
logo do ano passado. Estamos a
falar de mais €5492,6 milhões
por comparação com os primei-
ros sete meses de 2021, segun-
do os dados da Direção-Geral
do Orçamento, em contabilida-
de pública. Em relação a 2019,
RECEITA FISCAL ULTRAPASSA A DO “ENORME
AUMENTO DE IMPOSTOS” DE VÍTOR GASPAR
Contabilidade pública, em milhões de euros
60.000
50.000
40.000
30.000
2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021 2022
*Estimativa
FONTE: ORÇAMENTO DO ESTADO PARA 2022 E CONTA GERAL DO ESTADO
CLUBE DOS MAIS ENDIVIDADOS DA ZONA EURO
Dívida pública em percentagem do PIB
2020
Grécia
2025*
Itália
Espanha
França
Bélgica
Portugal
Chipre
83
83
Áustria
73
69
Finlândia
69
80
Eslovénia
68
69
Alemanha
63
Nota: Rácio acima da regra de 60% do PIB
FONTE: FMI
ta João Borges de Assunção,
professor da Católica Lisbon,
salientando que “Grécia, Itália
e Espanha estão mais vulnerá-
veis”. Um aumento que “retira
margem de manobra ao Gover-
no para apoios às famílias ou
estímulos fiscais”.
Assiste-se a um agravamento
da ‘fragmentação’ no mercado
da dívida pública da zona euro.
Aquele palavrão técnico usado
pelo Banco Central Europeu
(BCE) significa que há uma dis-
paridade crescente entre os pré-
mios de risco (spreads) face ao
custo de financiamento alemão
exigido pelos investidores. Para
além da linha vermelha (spread
acima de 2 pontos percentuais)
estão duas economias, a Grécia
(apesar de três resgates desde
2010) e Itália (onde falhou a
gestão política por Mario Dra-
ghi), e oito membros do euro
estão acima da média da zona
euro. Portugal regista um spread
ECONOMIA 11
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antes da pandemia, o aumento
foi, mesmo assim, de 12,5%.
O principal empurrão veio do
IVA, que tributa o consumo e
é o mais importante motor das
receitas fiscais, com uma recu-
peração de 24,7% relativamen-
te a 2021.
Meta política para a dívida
Unilabs: Transformar
O surto inflacionista de 2022 foi
uma ‘ajuda’ inesperada para a
o futuro da saúde
trajetória de descida do rácio da
dívida pública, depois do pico
com 5G da NOS
histórico (de 135,2% do PIB)
atingido em 2020. O ministro Pioneira na adoção do 5G no seu laboratório central, a Unilabs
das Finanças pretende chegar assume ter encontrado nesta tecnologia disponibilizada pela NOS
ao final do ano com menos de uma garantia de comunicações mais robustas e eficientes para
121% do PIB e o Fundo Mone- continuar a inovar na prestação de cuidados de saúde.
tário Internacional (FMI) está
ainda mais otimista, apontando
para uma previsão de 115,8%.
FOTO UNILABS
O FMI projeta que o rácio,
no caso da dívida portuguesa,
desça para menos de 100% em
2026. Nas comparações das
dinâmicas de corte no rácio,
entre o pico de 2020 e 2025,
Portugal surge como o terceiro
com o maior esforço de redu-
ção do nível de endividamento
(depois da Grécia e de Chipre) e
consegue sair do clube de topo,
sendo ultrapassado pela Bélgi-
ca, França e Espanha, que se
juntam à Grécia e a Itália.
Ana Sofia Santos e J.N.R.
54.752*
É um pequeno passo para quem tem medo
FOTO UNILABS
de agulhas e um salto de gigante para a
transformação digital na área da saúde: na
Unilabs, há óculos e outros instrumentos de
realidade aumentada e realidade virtual (AR/VR)
que ajudam os mais reticentes em fazer análises
clínicas a ultrapassarem os seus receios. As
ferramentas que tornam a colheita de sangue mais
fácil e menos assustadora, disponíveis em quatro
Corte
(em pontos percentuais) das mais de mil unidades da empresa, já são uma
realidade desde 2018, mas as suas mais-valias
212
44 têm vindo a ser potenciadas com o advento do
168
155 5G. Luís Menezes, CEO da Unilabs, adianta que
9
146 a chegada da tecnologia 5G à companhia, no
120 início deste ano, tem permitido “tirar ainda melhor
6
114 partido” dos dispositivos de AR/VR e “melhorar a
115 experiência dos clientes”.
2
113 Para a Unilabs, contudo, os benefícios da adesão
113 ao 5G vão mais além. Procurando assumir
0
113 uma “posição de liderança” em matéria de
135 transformação digital e antecipando a “revolução”
25
110 acarretada pela nova geração de comunicações
115 móveis, a empresa foi pioneira ao dotar o seu
32
laboratório central, situado no Porto, com rede
5G, graças à parceria estabelecida com a NOS.
10
“Aumentar a disponibilidade e a resiliência
do serviço de comunicação no laboratório” e
0
dar uma “resposta mais eficiente” ao elevado
fluxo de informação gerido pela Unilabs foram rapidez dos serviços prestados pela Unilabs aos
12
os principais objetivos da implementação da seus milhões de clientes”, mas a solução pode
6 tecnologia 5G na unidade situada no Porto, valer por si só, segundo Luís Menezes. “Os testes
sublinha Luís Menezes. “A introdução do 5G que temos realizado demonstram que esta é
*Previsões para 2025
no dia a dia da Unilabs tem permitido melhorar uma solução que pode sobreviver sozinha, com
significativamente a qualidade dos serviços qualidade e fiabilidade na transmissão de dados”,
prestados, principalmente na gestão do grande aponta o líder da Unilabs.
volume de dados processados diariamente”, Com mais de 1000 unidades de atendimento
reforça o CEO da empresa. espalhadas por todo o país, a Unilabs tem
acima da média, mas melhorou também recorrido à tecnologia 5G em regiões
significativamente aos olhos dos ROBUSTEZ, SEGURANÇA onde persistem desafios na cobertura da rede
investidores, distanciando-se da
E EFICÁCIA COM 5G fixa, explica Luís Menezes. “Nestes locais,
vizinha Espanha e de outros pe-
Assegurando maior “robustez, segurança e estamos a trabalhar diretamente com o 5G,
riféricos mediterrânicos e bálti-
eficácia” nas comunicações, para já a tecnologia em vez das tradicionais estruturas físicas de
cos (ver gráfico).
A dívida portuguesa está a disponibilizada pela NOS é utilizada no laboratório telecomunicações”, esclarece o CEO da empresa,
beneficiar da flexibilização nos central da Unilabs como um instrumento de salientando que “o 5G vai continuar a crescer
reinvestimentos dos valores “redundância para garantir a qualidade e a dentro da Unilabs, num trabalho coordenado com
que chegam à maturidade na as equipas da NOS”.
carteira do BCE. Através deste Crente de que o 5G “vai transformar de forma
indelével a prestação de serviços de saúde”,
FOTO UNILABS
mecanismo, o banco comprou
em junho e julho €514 milhões Luís Menezes chama a atenção, em particular,
em títulos anteriormente adqui- para a capacidade desta tecnologia de “acelerar
ridos no âmbito do programa a entrega de cuidados de diagnóstico e de
PEPP (para responder à pande- cuidados médicos sem presença física, através de
mia) e €382 milhões de obriga- telemedicina”, graças à “extraordinária velocidade
ções que tem na carteira do pro- de transmissão de dados e redução da latência”
grama PSPP (mais antigo). Mas que permite alcançar. De olhos postos no que
o BCE tem centrado reinvesti- está para vir, a Unilabs assume ainda querer
mentos de milhares de milhões continuar a “transformar o futuro da saúde com o
de euros em Itália, Espanha e 5G” e avança que “em breve” haverá novidades,
Grécia, sem que o spread exigido a esse nível. “Estamos a desenvolver um projeto
pelos investidores saia da zona relacionado com dispositivos wearables em que o
vermelha para Itália e Grécia ou 5G vai ser essencial para assegurar a transmissão
de um nível acima da média em contínua e em mobilidade de dados.”
Espanha. J.N.R. e S.M.L.
12 ECONOMIA
PRO CESSOS
Salgado perde
em todas as frentes
Tribunal Constitucional coloca ponto final nos recursos
e mantém condenações nos quatro processos do BES
Isabel Vicente
Ricardo Salgado viu serem-lhe
negados os recursos apresenta-
dos em todas as instâncias, a úl-
tima das quais o Tribunal Consti-
tucional, relativos aos processos
de contraordenação movidos
pelo Banco de Portugal (BdP).
Três já transitaram em julgado
e há um quarto em que também
está quase a tornar-se definitiva
a condenação, e que diz respeito
às infrações cometidas no caso
BES/BESA e Eurofin, o último
processo a ser julgado e o últi-
mo recurso a ser rejeitado pelo
Tribunal Constitucional.
Até ao fecho da edição não foi
possível falar com a defesa do ex-
-presidente do BES sobre o fim
da linha de todas as condenações
atestadas pelos tribunais.
Todos estes processos, que in-
cidiram não só sobre Salgado
como também sobre outros ex-
-gestores do grupo Espírito San-
to, estão, assim, materialmente
fechados (ver cronologia).
O ex-banqueiro, que enfrenta
ainda decisões relativas a vários
processos-crime, tem mais de €8
milhões de coimas para pagar
por estas quatro condenações
do BdP confirmadas pelos tri-
bunais. Também o seu antigo
DECISÕES DEFINITIVAS
Comercialização do papel
comercial do GES
aos balcões do BES
Sentença do tribunal de
Santarém de 2018 já transitou
em julgado. Ricardo Salgado
condenado a pagar €3,7
milhões.
Prestação
de informação falsa
Depois de vários recursos
e da invocação de prescrição
rejeitada pelo Supremo
Tribunal de Justiça, Salgado
terá de pagar €75 mil.
Branqueamento de capitais
Corria o risco de prescrição a
27 de novembro e para as
infrações mais graves a partir
de 2023, mas está fechado.
Salgado terá de pagar €290
mil.
Exposição
do BES/BESA e Eurofin
A maior coima aplicada a
Salgado está quase a tornar-se
definitiva. São €4 milhões.
braço direito, Amílcar Morais
Pires, administrador financeiro
do banco, reclamou de todas as
condenações.
Tanto Salgado como Morais
Pires foram alvo da mão pesa-
da do BdP e em nenhuma das
condenações houve suspensão
parcial das coimas. Foram, na
sua maioria, consideradas in-
frações graves.
Ricardo Salgado não pagou
nenhuma das coimas até agora.
Diz não ter dinheiro por ter os
bens penhorados no âmbito dos
processos-crime. Já Morais Pires
tem pago algumas coimas.
Prazos ultracontestados
O risco de prescrição tem sido a
grande batalha dos tribunais jun-
tando processos do BdP e dando
marcha urgente a alguns julga-
mentos. Foi o que aconteceu no
universo do BES e do Montepio
por parte do Tribunal de Concor-
rência, Regulação e Supervisão
(TCRS), em Santarém.
E apesar de haver o entendi-
mento de que o alargamento dos
prazos de prescrição de algumas
infrações determinados em 2014
se aplicam a estes processos,
quer no caso do BES como no
do Banco Montepio (ver texto
pág. 13), os prazos das prescri-
ções gerais e das relacionadas
com a covid-19 foram contesta-
dos com frequência pelas defesas
dos arguidos. Consideram que
o alargamento dos prazos de
A condenação
do processo BES/BESA
e Eurofin está quase
a tornar-se definitiva
prescrição não deveria aplicar-se
a infrações cometidas antes das
novas normas das prescrições
aprovada em 2014, embora não
tenham tido sucesso. Quer a Re-
lação quer o Constitucional têm
Expresso, 9 de setembro de 2022
concordado com a aplicação dos
prazos de prescrição alargados
em 2014 nestes processos.
Ainda assim, segundo apurou
o Expresso, no caso do Monte-
pio, a defesa dos arguidos pode
avançar com um pedido de fixa-
ção de jurisprudência junto do
Supremo Tribunal de Justiça.
Último recurso
do Constitucional
A resposta ao último recurso no
âmbito das contraordenações do
BdP que subiu ao Tribunal Cons-
titucional data de 30 de agosto
e foi tomada por unanimidade.
Em causa está o indeferimen-
Ricardo
Salgado
já esgotou
os recursos das
condenações
do Banco
de Portugal
FOTO LUÍS BARRA
to da reclamação colocada por
Gherardo Petracchini, o respon-
sável pelo sistema de controlo
interno da Espírito Santo Finan-
tial Group (ESFG), no âmbito do
processo BES/BESA, junto do
Constitucional depois da confir-
mação da sentença do tribunal
de Santarém pela Relação.
O acórdão do Constitucional
diz que não foram avançados
argumentos novos: “Não se vis-
lumbra na reclamação qualquer
argumento ou raciocínio que
não tenha sido apreciado e de-
vidamente refutado na decisão
reclamada, com respeito à falta
de normatividade do objeto do
recurso e à ausência de corres-
pondência com os fundamentos
que ditaram a decisão recorrida.”
Antes disso já o Constitucional
tinha negado a reclamação de
Ricardo Salgado a 24 de agosto.
Em causa está a ocultação de
informação sobre a exposição do
BES ao BES Angola (Banco Eco-
nómico) com financiamentos su-
periores a €3 mil milhões e a prá-
tica de atos de gestão ruinosos
em detrimento de depositantes
e investidores relativa ao veículo
Eurofin. Uma condenação que
valeu uma coima de €4 milhões
a Salgado, €3,5 milhões a Morais
Pires e €150 mil a Petracchini.
ivicente@expresso.impresa.pt
Expresso, 9 de setembro de 2022 ECONOMIA 13

Banco de Portugal perde batalha contra KPMG

O supervisor da banca
foi até ao Constitucional
depois de três negas
mas auditora do BES
mantém absolvição
O Banco de Portugal (BdP) não
conseguiu reverter a decisão do
Tribunal da Concorrência, em
Santarém, quanto à absolvição
da KPMG e cinco dos seus as-
sociados, incluindo o seu antigo
presidente Sikander Sattar.
Na última instância de recur-
so, o Tribunal Constitucional
confirma a decisão do Tribunal
da Relação e não se pronuncia
sobre a necessidade de outro
tribunal superior poder avaliar
se houve algum erro na apre-
ciação da prova por parte do
tribunal de primeira instância,
como era pedido pelo BdP.
Este é o único processo do
universo BES que o BdP perde
em toda a linha. Embora tenha
tido sucesso nos processos con-
tra o BES e o Banco Montepio,
que têm refutado, de recurso
em recurso, as condenações do
supervisor da banca, a derrota
no caso da KPMG retira-lhe
poder em futuros processos
que envolvam auditoras, cujo
regulador direto é a Comissão
do Mercado de Valores Mobi-
liários (CMVM).
O que queria o supervisor?
O BdP queria que o Tribunal
Constitucional enviasse o pro-
cesso às instâncias inferiores
para que estas se pronuncias-
sem ou, não aceitando o recurso,
que pudessem concluir que seria
necessária uma clarificação so-
bre a norma do regime geral.
Não tendo isso acontecido
vai reforçar a legislação na
sequência do Código de Ativi-
dade Bancário (CAB) que está
por aprovar. O supervisor lide-
rado por Mário Centeno quer
que se mantenha viva a norma
do Regime Geral das Institui-
ções de Crédito e Sociedades
Financeiras (RGICSF), para
os revisores oficiais de contas
quanto ao seu dever de “co-
municar ao BdP, com a maior
brevidade”, os factos que pos-
sam “determinar a recusa da
certificação das contas ou a
emissão de reservas”. E tendo
perdido a batalha só lhe resta
mesmo avançar com o reforço
da legislação e obter do Gover-
no a sua aprovação.
O que estava em causa
na condenação?
Em causa neste processo esta-
va o incumprimento do dever
de prestação de informação e
prestação de informação falsa
por parte da KPMG sobre a
qualidade da carteira de crédi-
to do BES que abrangia a sua
exposição a Angola entre 2011
e 2014. Um processo que con-
duziu a condenações com uma
coima de €3 milhões à KPMG e
€2 milhões a cinco associados,
incluindo o seu antigo presi-
dente Sikander Sattar.
A juíza Vanda Miguel consi-
derou que a auditora e os seus
associados não tinham de limi-
tar-se a ser um mero “correio”
do BdP. Concluiu, ainda, que à
data o auditor não podia emi-
tir qualquer reserva às contas
consolidadas do BES por falta
de provas.
Desfecho diferente teve pro-
cesso idêntico da CMVM. De-
pois de a KPMG ter recorrido
para o Tribunal da Concor-
rência, em Santarém, a juíza
Mariana Machado apontava
para violações várias do tra-
balho de auditor da KMPG no
BES e sobretudo na ligação
ao BES Angola. Confirmou
as condenações do regula-
dor do mercado, consideran-
do ter havido, entre outras
Absolvição enfraquece
os únicos poderes do
BdP sobre as auditoras
irregularidades, “violação do
dever de emitir uma opinião
com reservas (por limitação
de âmbito ou por desacordo)
nos casos em que não lhe seja
possível obter prova de audito-
ria apropriada e suficiente”, e
“violação do dever do auditor
de manter um nível apropria-
do de ceticismo profissional”.
Recursos em cascata
A não condenação da KPMG é o
calcanhar de Aquiles do Banco
de Portugal e motivo de preocu-
pação. Atendendo à absolvição
do tribunal de Santarém, em
setembro de 2020, confirmada
pelo Tribunal da Relação em
janeiro de 2021 e recusado o
recurso pelo Supremo Tribunal
de Justiça em janeiro de 2022,
o Tribunal Constitucional deixa
tudo na mesma.
A decisão de absolvição à
KPMG e a concordância das
instâncias de recurso que a
confirmam limitam os poderes
do BdP sobre os auditores e vai
fazer jurisprudência.
Isabel Vicente
ivicente@expresso.impresa.pt

Tomás Correia foi um dos arguidos que maior redução teve

na coima FOTO LUÍS BARRA

Montepio: recursos
foram colocados fora
do prazo, diz o TC
O maior processo do
Montepio movido pelo
Banco de Portugal está a
chegar ao fim. Defesa dos
arguidos equaciona reagir
Tomás Correia, ex-presidente
do Banco Montepio, e os res-
tantes ex-administradores vão
mesmo ter de pagar as coimas
a que foram condenados pelo
Tribunal da Concorrência, em
Santarém.
Depois de recorrerem para
a Relação e para o Supremo
Tribunal de Justiça (que não
aceitou os recursos), o Tribu-
nal Constitucional (TC) diz que
o prazo do recurso estava ul-
trapassado, num acórdão que
data de 29 de agosto. É neste
contexto que este processo está
mais próximo de uma decisão
definitiva.
Na grande maioria das con-
testações apresentadas estão
questões relativas a prescrições
e aos prazos aplicados decor-
rentes das normas determina-
das em 2014 (alargamento dos
prazos) e dos prazos de infra-
ções da covid-19.
Um dos advogados de defe-
sa no processo que condenou
o banco Montepio e os ex-ad-
ministradores, entre os quais
o ex-presidente do banco, To-
más Correia, a coimas de €2
milhões, afirma que entretanto
“houve mais prescrições, ainda
não invocadas”, e que poderá
haver a entrega de requerimen-
tos por isso. Contesta ainda a
legislação tida em conta na
contabilização dos prazos.
E acrescenta que face à re-
cusa do Constitucional poderá
equacionar-se avançar, junto
do Supremo Tribunal de Jus-
tiça, com a fixação de juris-
prudência relativamente ao
alargamento do prazo de pres-
crição determinado em 2014 e
aplicado a ilícitos anteriores.
Objetivo: assegurar segurança
jurídica.
Depois de recorrerem para o
Tribunal da Relação e deste ter
mantido a decisão de primeira
instância, embora com um voto
de vencido do juiz desembar-
gador Eurico Reis no final de
2021, os ex-gestores recorre-
ram para o Supremo Tribunal
de Justiça, que em maio não
aceitou os recursos. A seguir
recorreram para o Tribunal
Constitucional, que a 29 de
agosto recusou o recurso colo-
cando um ponto final na última
instância de recurso.
Ex-gestores recorreram
para o Tribunal
Constitucional,
que a 29 de agosto
recusou o recurso
No julgamento estiveram em
causa infrações como incum-
primento do dever de imple-
mentar um sistema de controlo
interno para gestão do risco de
crédito e controlo da origem
dos fundos dos subscritores de
unidades de participação quan-
do tivessem origem nas filiais,
concessão de crédito a parti-
cipadas, excedendo 10% dos
fundos próprios da instituição,
entre outras, ocorridas entre
2012 e 2014, bem como irregu-
laridades nos mecanismos de
prevenção de branqueamento
de capitais, registadas em 2015,
que foram apensas ao processo
principal. I.V.
14 ECONOMIA
Massa Crítica
Luís Marques
l.s.marques@sapo.pt
A falsa
moderação
de António
Costa
U
m país rico, como a Alema-
nha, pega em €65 mil mi-
lhões, cerca de um quarto
do PIB português, e faz do
combate à inflação uma batalha
épica. Um país atrevido e com um
primeiro-ministro em dificulda-
des, como Espanha, avança com
€30 mil milhões para enfrentar os
problemas. Um país que está pior
do que Portugal, como é o caso da
Grécia, faz um pequeno brilharete
e arranja €10 mil milhões. Depois
de muitos esforços e pedidos, ar-
rancado a ferros, o Governo de
António Costa apresentou final-
mente um pacote para combater
a inflação com uma dotação de
€2,4 mil milhões, mais ou menos
a verba que vai arrecadar só com
o aumento do IVA.
Qualquer que seja o termo de
comparação (população ou di-
mensão do PIB), os apoios dispo-
nibilizados pelo Governo perdem
para a generalidade dos países
europeus. Como, aliás, já tinha
acontecido durante a pandemia.
António Costa tornou-se um
exemplo de moderação, compara-
do com os “radicais” Olaf Scholz e
Pedro Sánchez, ambos da mesma
família política. A moderação do
primeiro-ministro português tem
um nome: dívida pública. Durante
cinco anos, António Costa aumen-
tou a despesa corrente do Estado
em €10 mil milhões. Em vez de
aproveitar uma conjuntura favo-
rável, piorou o que já era mau. Em
vez de reformar, cedeu aos seus
parceiros, esses, sim, verdadeiros
radicais. Quer fazer agora o que já
devia ter feito.
A moderação de António
Costa não é uma opção. É uma
obrigação. Não tem margem de
manobra para fazer diferente e
melhor. O que deixa o país numa
situação bizarra. Nunca teve tan-
to dinheiro e raras vezes teve tan-
to medo do futuro. Tem receitas
fiscais como nunca, um PRR que
é um verdadeiro Euromilhões
e, no entanto, vive atormenta-
do pela dívida. Nunca teve tanta
necessidade do Estado, e o Esta-
do, obeso e ineficiente, falha. A
moderação de António Costa é
uma falsa moderação, resulta de
políticas erradas. Daí o show off
de quem parece dar muito, mas
2
na realidade dá pouco.
Com exceção das pensões,
em prejuízo dos pensionis-
tas, todas as medidas apre-
sentadas segunda-feira são
conjunturais. O mesmo Governo
que andou nos últimos meses a
garantir que a inflação era tem-
porária continua a pensar que a
tempestade irá passar e tudo vol-
tará ao normal. Infelizmente, não
é verdade. O pior está para vir. A
recessão na Europa é inevitável.
O fim do gás russo terá, segundo
algumas projeções, um impacto
de 5,3% no PIB de Itália e de 3,3%
no PIB da Alemanha. O econo-
mista Wolfgang Munchau admite
que o choque na Alemanha pode
chegar aos 5%. Será um choque
económico superior ao da crise
petrolífera dos anos 70.
As medidas conjunturais ra-
pidamente serão engolidas nes-
te turbilhão que está a chegar.
Alguns países, como Espanha e
Alemanha, optaram por baixar
impostos, uma medida estrutural
com impacto perene no bolso dos
contribuintes. Portugal preferiu
outro caminho. Resultado: em
breve a moderação de António
Costa será de novo posta à prova.
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
Vítor Papão Diretor-geral da Gilead para Portugal
“Seremos a empresa que vai
curar o VIH e a hepatite B”
Textos Ana Sofia Santos
Foto Nuno Botelho
A Gilead Sciences tem ‘apenas’ 35
anos no mercado global dos medica-
mentos, porém a marca desta empre-
sa norte-americana é indelével. E as
polémicas também. O laboratório, que
em Portugal tem Vítor Papão como di-
retor-geral, soma reputação mundial,
em particular, na área da virologia.
A descoberta da cura para a hepati-
te C, aprovada em 2013 pela FDA, o
regulador do medicamento nos EUA,
colocou a Gilead na história das gran-
des conquistas em saúde.
Uma vitória que se antecipou à
(longa) jornada de investigação por
medicamentos capazes de eliminar
do corpo humano o VIH (vírus da imu-
nodeficiência humana) e de debelar
a hepatite B. Falta pouco? “É muito
difícil estimar se estamos perante um
horizonte de três ou dez anos. Pouco
a pouco, aproximamo-nos da certeza
de que seremos a empresa que vai
fornecer a cura funcional para estas
doenças”, afirma Vítor Papão. Note-
-se que a Gilead tem uma dimensão
‘modesta’ comparada com os colossos
desta indústria, mas figura entre as
20 biofarmacêuticas mais valiosas do
mundo, com uma capitalização em
bolsa na ordem dos 80 mil milhões
de dólares.
Quando o laboratório expandiu a
atividade para fora dos EUA, rumo à
Europa, Portugal foi um dos primeiros
países onde a biofarmacêutica se es-
tabeleceu, em 1996. Neste momento,
além de ter em curso vários ensaios
clínicos em instituições portuguesas,
também passa por cá o fabrico de dois
dos medicamentos mais emblemáti-
cos do laboratório, para a hepatite C e
para a covid-19. Segundo Vítor Papão,
a participação de Portugal na ativi-
dade da empresa tem potencial para
crescer, em particular na investigação
de novas moléculas, assim se reduza a
burocracia nos ensaios clínicos.
A produção do Remdesivir, um an-
tiviral desenvolvido para combater o
Ébola, que passou a ser usado no tra-
tamento da infeção por SARS-CoV-2,
passa duas vezes por cá e somos uma
plataforma de exportação do fármaco
já acabado e pronto a ser adminis-
trado, através da Hikma, parceira de
longa data da Gilead. A portuguesa
Hovione também fornece um com-
ponente-chave deste medicamento e
participa, igualmente, no fabrico do
tratamento para a hepatite C. Ambos
os medicamentos projetaram, a nível
global, o nome da Gilead – para o bom
e para o mau. A eficácia do Remdesivir
na covid-19 dividiu opiniões na comu-
nidade científica, mas a sua utilização
foi sendo alargada (incluindo em Por-
tugal), enquanto na hepatite C o ele-
vado custo da cura fez questionar qual
é o valor justo da inovação em saúde.
O preço da saúde
A história da Gilead tem sido feita sob
o escrutínio dos holofotes da opinião
pública. É o ‘preço do sucesso’? “Faz
parte daquilo que é o nosso trabalho:
chegar às melhores respostas e fazer
as melhores parcerias com as auto-
ridades de cada país, que permitam
que a introdução [de medicamentos]
nos mercados seja sustentável para os
sistemas de saúde e que quem precisa
tenha acesso”. No início de 2015, a ne-
gociação do tratamento da hepatite C
para Portugal foi tema na Assembleia
da República, numa sessão em que um
doente pediu para não morrer ao en-
tão ministro da Saúde, Paulo Macedo.
“Não podemos esquecer que a venda
dos medicamentos é que financia a
SE TEMOS
INVESTIGAÇÃO NO
PAÍS, HÁ INOVAÇÃO
MAIS CEDO PARA
OS DOENTES
NUNCA PODERÍAMOS
ESTAR ASSOCIADOS
A RESULTADOS QUE
NÃO SÃO ENTREGUES
investigação e desenvolvimento dos
novos fármacos”, enquadra o diretor-
-geral, realçando que “apesar de toda
a atenção mediática que houve sobre
a hepatite C fomos um dos primeiros
países a encontrarem uma solução
que permitiu o acesso a todos doentes
portugueses, independentemente da
gravidade da sua doença”. Cerca de
40 instituições de saúde nacionais,
públicas e privadas, acolhem nove
ensaios clínicos da Gilead, cinco de
terapias oncológicas, dois na área da
covid-19 e outros dois relativos a in-
flamação. Podem ser mais, sustenta o
diretor-geral, assim o Governo agilize
os procedimentos tornando Portu-
gal competitivo. O saldo será sempre
positivo, faz notar Vítor Papão: “Se
temos medicamentos em investiga-
ção no país trazemos inovação mais
cedo para os nossos doentes. Tam-
bém é uma forma de financiamento
dos hospitais, permite a retenção de
conhecimento nas instituições e é um
fator de atração de profissionais para
o Serviço Nacional de Saúde.”
Quanto aos novos modelos de finan-
ciamento da saúde, o gestor sustenta
que não existe um mecanismo único,
ou seja, depende muito do tipo de te-
rapia. No caso da hepatite C foi um
modelo de partilha de risco, em que
o Estado e a farmacêutica acordaram
as regras de remuneração perante a
falência terapêutica ou o seu sucesso.
É a melhor solução? “É, quando exis-
te maior incerteza e, em particular,
numa fase precoce dos medicamentos
em que ainda se está a aferir aquilo
que os ensaios clínicos mostraram. Ao
longo do tempo, pode deixar de fazer
sentido.” Hoje, há um preço fechado
por tratamento para a hepatite C. Ví-
tor Papão desdramatiza o impacto da
discussão de preços na Gilead.
“Claro que as negociações são difí-
ceis e é natural que assim seja”, diz,
frisando que “se nos focarmos sempre
no interesse dos doentes, que os me-
dicamentos sejam usados nos doen-
tes certos e no momento certo, isso
traz credibilidade e crédito ao nosso
trabalho”. Disso depende “a nossa
sobrevivência no longo prazo. Nun-
ca poderíamos estar conotados com
resultados que não são entregues — é
um capital de confiança que, muito
rapidamente, pode ruir”.
assantos@expresso.impresa.pt
Expresso, 9 de setembro de 2022
‘TIRO’ AOS VÍRUS
Índice Nasdaq
A Gilead é uma empresa
biofarmacêutica americana, com
sede na Califórnia, cuja génese é a
pesquisa e desenvolvimento de
medicamentos antivirais usados para
o VIH, hepatite B, hepatite C, gripe e
covid-19. Faz parte do índice Nasdaq
da Bolsa de Nova Iorque.
VIH e hepatites
“Ainda se chegou a olhar para outras
moléculas, mas rapidamente se
colocou o foco nesta área [da
virologia]. Duas doenças para as
quais olhámos logo foram o VIH e a
hepatite B, e os primeiros
medicamentos que viemos a
comercializar estavam associados a
condições decorrentes da infeção
por VIH. Como o caso de um
antifúngico”, esclarece Vítor Papão.
Pegada global
14 mil colaboradores em 38 países,
dos quais 64 colaboradores diretos e
10 indiretos em Portugal. Soma 16,5
milhões de doentes a receberem
terapias na área do VIH e quatro
milhões de pessoas tratadas para a
infeção pelo vírus da hepatite C.
Medicamentos
23 produtos comercializados em
Portugal: oito para VIH, oito para
hepatites víricas, quatro na área da
oncologia, dois para infeções fúngicas
e pulmonares e um para a covid-19.
Fazer história
“[Para conseguirmos a cura] no VIH
temos várias abordagens. Uma delas é
reforçar o sistema imunitário e
impedir que o vírus se instale ou que
se esconda nos ‘santuários’. Estamos a
fazer o mesmo na hepatite B”, indica o
diretor-geral da Gilead em Portugal.
Expresso, 9 de setembro de 2022 ECONOMIA 15

POD CAST

“Estado tem a função social de mitigar

efeitos em ciclos económicos difíceis”
Joaquim Miranda Sarmento, economista e
líder parlamentar do PSD, foi o convidado
desta semana do “Money Money Money”
para comentar a situação económica e
o pacote do Governo de ajuda às famílias
Um pacote para ajudar as fa- economias mundiais com si-
mílias, num contexto de infla- nais recessivos.
ção crescente, subida dos pre- O líder parlamentar do PSD
ços da energia e com o Estado considera que “as perspetivas
a ultrapassar a receita fiscal económicas são difíceis”, com
orçamentada. Uma folga de Portugal “estagnado” há duas
€7500 milhões, perante uma décadas e períodos de cresci-
despesa que cresceu apenas mento à boleia das economias
da inflação, prestação da casa
mais cara e mais impostos.
Com sinais recessivos, “sig-
nificativos”, Joaquim Miran-
da Sarmento concorda com a
“prudência” nas contas públi-
cas pedida pelo Presidente da
República. Mas recorda que
“o perfil da dívida pública não
se alterou”, nem viu alargadas
as maturidades.
O líder parlamentar do PSD
critica ainda o congelamento
das rendas que “esqueceu quem
tem crédito à habitação”. E no
caso dos proprietários, estes
vão perder dinheiro com o au-
mento das rendas. Mesmo com
a majoração de 9%, “que dá
apenas 2,5% de desconto numa
taxa de 28%” de IRS e IRC.
Com nova subida das taxas

FOTO NUNO BOTELHO

€142 milhões face a 2021.
Joaquim Miranda Sarmento
defende que “o Estado tem a
função social de mitigar efei-
tos em ciclos económicos difí-
ceis”, sobretudo numa altura
de crise e com as principais
NÚMEROS
europeia e mundial. de juro no horizonte, Sarmen-
E sustenta que o “Gover- to reclama “medidas que aju-
no poderia ir mais longe dem as famílias”, incluindo
no apoio às famílias”, com mexidas no IRS e subsidiação
um programa que “não vale das rendas.
2400 milhões”. Amadeu Araújo
Sarmento dá o exemplo das economia@expresso.impresa.pt
pensões, onde se verifica um
“efeito de curto prazo, com
uma antecipação de despesa
de €1400 milhões”. E que vai
impedir aumentos reais das
pensões nos próximos anos.
“O que os pensionistas vão

8429,2
receber em outubro, não vai
estar na base de cálculo do
aumento para 2024”, critica.
Numa pensão de €1000 em

milhões de euros é o valor

do saldo das administrações
públicas: central, local
e Segurança Social
4448,5
milhões de euros é o valor
do saldo primário, excluindo
juros da dívida pública
2022, com um aumento de
8%, atingiria €1080. “Com as
ajudas do Governo, recebe-
A proteção
rá €1040”, já com o aumento
previsto para o próximo ano.
Em 2024 serão “menos €40”.
que está sempre
“Um valor significativo de cor-
do seu lado
te de pensões, efetuado de for-
ma enganadora e desonesta”,
afirma.
Uma forma “encapotada” de
cortar nas pensões e que “con-
traria” as afirmações sobre a Conheça os Seguros BPI
sustentabilidade das contas da que o protegem a si e aos seus
Segurança Social.
O economista alerta para para uma vida mais tranquila.
um corte nas pensões em

17,3%
é o crescimento da receita,
fiscal e da Segurança Social,
em relação ao Orçamento
TV POR SUBSCRIÇÃO SATA TRANSPORTA
COM MAIS ASSINANTES MAIS PASSAGEIROS
TELEVISÃO O número de assi-
nantes de televisão por subs-
crição em Portugal cifrou-se
nos 4,4 milhões no primeiro
semestre deste ano, uma subi-
da de 3%, ou 130 mil, face ao
semestre homólogo, segundo a
Autoridade Nacional das Comu-
nicações (Anacom). A taxa de
crescimento foi inferior à regis-
tada nos anos anteriores (+3,5%
no primeiro semestre de 2021
e +3,8% no primeiro semestre
de 2020), diz o regulador, que
adianta que o crescimento do
serviço deveu-se às ofertas su-
portadas em fibra ótica.
2024 e defende as medidas
do PSD com um apoio de €40
mensais para pensões e salá-
rios até €1108.
Propostas que “não punham
em causa a sustentabilidade da
dívida pública”, que deveria ter
sido consolidada, “nos últimos
quatro anos de conjuntura eco-
nómica irrepetível”, com cres-
cimento de receitas vindas do
turismo e imobiliário, redução
das taxas de juro, com dividen-
dos do Banco de Portugal.
Sarmento rejeita contra-
dições e mantém que o PSD
defende “contas públicas
equilibradas”. Mas aponta à
execução orçamental, que até
julho acrescentou “mais €5
mil milhões” face ao previsto.
Com o programa de ajudas
do PSD avaliado em €1500 mi-
lhões “era possível fazer mais
para apoiar as famílias da clas-
se média e as mais carencia-
das”. Um excedente da receita
orçamental que permitiria evi-
tar “o esbulho fiscal que está a
asfixiar as famílias”, acrescida
Na sua qualidade de Agente de Seguros o Banco BPI não assume qualquer
responsabilidade na cobertura de riscos inerentes ao contrato de seguro, riscos
esses assumidos pelas Seguradoras.
Estes seguros são produtos da BPI Vida e Pensões – Companhia de Seguros, S.A. ou da
Companhia de Seguros Allianz Portugal, S.A., comercializados pelo Banco BPI, S.A., na
qualidade de Agente de Seguros n.º 419527591, registado junto da Autoridade de Supervisão
AVIAÇÃO As companhias aé- de Seguros e Fundos de Pensões em 21/01/2019, e autorizado a exercer atividade nos
Ramos de Seguro Vida e Não Vida. Informações adicionais relativas aos registos disponíveis
reas do grupo SATA, a SATA em www.asf.com.pt. O Banco BPI, S.A. não está autorizado a receber prémios nem
Air Açores e a Azores Airlines, a celebrar contratos em nome da BPI Vida e Pensões ou da Companhia de Seguros Allianz
transportaram 541.818 passa- Portugal, S.A. Esta informação não dispensa a consulta da informação pré-contratual
geiros em julho e agosto, o que e contratual legalmente exigida. Toda a informação relativa aos seguros pode ser obtida
representou “mais 100.886 via- junto dos Balcões e Centros Premier, bancobpi.pt ou em 800 221 022 (atendimento
personalizado dias úteis das 9h às 20h) linha gratuita se efetuada através de um telemóvel
jantes do que em igual período ou rede fixa do país de origem. A presente informação tem natureza publicitária.
de 2019”. A transportadora aço-
riana diz que este crescimento
se distribui por ambas as com-
panhias. A SATA Air Açores,
que assegura as ligações entre
as ilhas dos Açores, transpor-
tou mais 39.089 passageiros Banco BPI, S.A., Agente de Seguros registado junto da Autoridade de Supervisão de Seguros
e a Azores Airlines, com liga- e Fundos de Pensões sob o n.º 419527591.
ções ao exterior do arquipélago,
mais 61.797 pessoas.
 16 ECONOMIA
PRÉMIO
Percurso O Primus Inter Pares, que junta o Expresso e o Santander, já conta com 18 vencedores. O Expresso falou com muitos deles
O que é feito das jovens ‘prome
FOTOS TIRADAS PELOS PRÓPRIOS
INÊS BERNARDO
Vencedora 2003/04 MBA IESE (Barcelona)
Projetos de energias renováveis na Hanwha Energy
R
Teresa Amaro Ribeiro
econhecimento, valori-
zação académica, sensi-
bilidade cultural, desa-
fio e um abrir de portas
profissional e de rede de
contactos. O Expresso
falou com quase todos
os antigos vencedores
do prémio Primus Inter
Pares — iniciativa do Expresso e do San-
tander que procura os líderes em gestão
e lhes dá a oportunidade de fazer um
MBA (Master in Business Administra-
tion) internacional ou nacional — e as
suas respostas ligam-se em diversos
pontos, mas o principal é que o MBA os
valorizou, profissional e pessoalmente.
Não foi possível falar com um dos ven-
cedores e outro preferiu não participar
neste artigo.
Muitos deles estão empregados fora
do país, mas é comum a vontade de vol-
tar e retribuir aquilo que lhes foi dado
enquanto estudantes e trabalhadores
em Portugal.
O percurso até à final
Em primeiro lugar os candidatos são
submetidos a testes psicotécnicos de
onde é escolhido um grupo de 20 candi-
datos. São postos à prova com diversos
testes cognitivos, de raciocínio lógi-
co e introspetivos. Normalmente são
ANDRÉ CAMPOS
Vencedor 2011/12 MBA INSEAD
Diretor de estratégia na Sogrape
RAQUEL SEABRA
Vencedora 2004/05 MBA INSEAD (Fontainebleau)
Administradora-executiva da Sogrape e atual jurada do concurso
realizados durante um fim de semana
que passam num hotel fora de Lisboa,
aproveitando o ar livre para outros tipos
de atividades. Nos últimos dois anos, a
pandemia obrigou a que o concurso se
realizasse virtualmente.
Na última etapa são escolhidos os cin-
co finalistas que têm a oportunidade
de estar frente a frente com o júri, o
que, segundo os antigos vencedores,
constitui “um privilégio”. O júri é cons-
tituído pelo presidente do Conselho
de Administração do Grupo Impresa,
Francisco Pinto Balsemão, Pedro Cas-
tro e Almeida, presidente executivo
do Banco Santander Portugal, Estela
Barbot, international senior advisor da
consultora Roland Berger, Raquel Sea-
bra, administradora da empresa Sogra-
pe (e ex-finalista do concurso), e Miguel
Poiares Maduro, professor universitário
no Instituto Universitário Europeu em
Florença e ex-ministro Adjunto e do
Desenvolvimento Regional.
Madrid acolhe
duas das vencedoras
A primeira vencedora do concurso foi
Inês Bernardo, que se inscreveu no
prémio por já querer fazer um MBA
e encontrou no Primus a oportunida-
de de não estar vinculada a nenhuma
empresa. Vive em Madrid e trabalha
na Hanwha Energy há um ano, uma
empresa coreana de energia. Inês dá o
seu contributo na área de projetos de
PEDRO QUINAZ
Vencedor 2012/13 MBA — desistiu
Coordenador de inovação e supervisão no Banco de Portugal
PEDRO AMBAR
Vencedor 2005/06 MBA INSEAD
Desenvolvimento de negócios na Mastercard
energias renováveis: “Aplico tudo o que
aprendi no MBA, porque é um trabalho
que abrange muitas áreas e onde tenho
MUITOS TRABALHAM colegas de diferentes culturas.”
Na mesma cidade está também Caro-
FORA DE PORTUGAL, lina Monteiro, que diz lembrar várias
vezes as palavras de Francisco Pinto
MAS É COMUM Balsemão no ano em que concorreu:
“Este é um concurso que pretende pre-
A VONTADE miar bons cidadãos que querem fazer
DE VOLTAR
mais e melhor pelo nosso país.” Durante
o concurso dizia que o seu objetivo era
E RETRIBUIR AQUILO
trabalhar na Amazon, e conseguiu. Tra-
balha na área de retalho de livros, mais
QUE LHES FOI DADO direcionada ao digital. Apaixonada pela
leitura, o seu trabalho também se foca
ENQUANTO ESTUDANTES em influenciar os outros a ler.
Mas a Amazon “foi um objetivo curto”,
admitiu ao Expresso acrescentando que
agora pode pensar mais alto “inclusive
em empresas portuguesas, ou quem
sabe levar a Amazon para Portugal”.
A vencedora que se tornou júri
Raquel Seabra foi a segunda vencedora
e é hoje jurada do prémio. Admite ao
Expresso que se não tivesse concorrido
provavelmente a sua vida “teria sido
muito diferente, tanto a nível pessoal
como profissional”, tal como a sua visão
do mundo e a sua rede internacional. Foi
durante o MBA que conheceu o marido
e diz ser por isso que vive atualmente
no Porto. Entrou na Sogrape em 2015
e já passou por alguns cargos. Hoje é
administradora executiva e tem nas suas
MARTA PEREIRA
Vencedora 2016/17 MBA IE (a integrar em janeiro 2023)
Gerente de vendas ibéricas Ignition Program
Expresso, 9 de se
mãos diversas áreas neste grupo de cul-
tivo, produção e exportação de vinho.
Ao ser questionada sobre o tipo de
candidatos que chegam ao concurso,
nota que existe uma fraca mobilida-
de social em Portugal, sendo a maior
parte deles filhos de pais licenciados e
com contextos de vida favoráveis. Ao
longo dos anos como jurada, detetou
diferenças nos perfis dos candidatos,
como a vontade de sair de Portugal, nem
que seja por experiência, e quererem
gerir de forma mais emocional do que
racional.
Tal como Raquel Seabra, André Cam-
pos dá o seu contributo profissional na
Sogrape como diretor de estratégia.
Passou pelo Millennium BCP e pela
NOS. Durante o MBA aproveitou para
aumentar a sua rede internacional de
contactos através dos estágios que fez
em França, Singapura e Abu Dhabi e
disse ao Expresso: “A minha vida não
seria a mesma sem o prémio, acelerou
bastante a minha carreira.”
De Portugal para as Américas
No continente americano estão dois
dos antigos vencedores, um no Norte e
outro no Sul.
Pedro Ambar tem a sua vida e família
estabelecidas em Nova Iorque há seis
anos e Francisco Abreu está há três
anos em São Paulo.
Apesar de também ter vivido no Rio
de Janeiro e em São Paulo, Pedro Am-
etembro de 2022
s e sabemos agora o que conseguiram alcançar “os melhores entre os seus pares”
essas’ da Gestão em Portugal?
MIGUEL RAMOS
Vencedor 2006/07 MBA INSEAD
Gerente global de estratégia e operações na Google
bar vê Nova Iorque como a sua nova
casa, mas quando emigrou não pensou
que fosse por tanto tempo. Trabalha na
empresa de tecnologia e pagamentos
Mastercard num cargo de business de-
velopment. Pensa voltar, “mas não será
já nos próximos anos”.
Francisco Abreu foi apanhado pelo
Expresso em fase de mudança para
Londres. É gerente de projetos de estra-
tégia, marketing e vendas na consultora
de estratégia McKinsey & Company.
Apesar da mudança para o Reino Uni-
do, ficará com o mesmo emprego.
Para Francisco, o MBA teve um “peso
direto profissional”, ao contribuir para
o desenvolvimento da sua carreira. Mas
também sentiu que o fez crescer e refletir
mais cedo e mais rápido sobre o futuro.
Ao contrário da maior parte dos ven-
cedores, não tem como ambição criar
o seu próprio negócio. Apesar de sen-
tir que ainda está longe, sonha ter um
cargo de liderança na administração
pública.
Venceram,
mas não fizeram o MBA
José Salgado e Pedro Quinaz foram
vencedores, mas não chegaram a reali-
zar o MBA. Apesar disso, José Salgado
ganhou muito com o prémio. Cofun-
dou a empresa na qual hoje trabalha,
a Bizay/360imprimir, uma gráfica de
publicidade online. Os seus dois sócios
também são ex-concorrentes do pré-
FRANCISCO ABREU
Vencedor 2013/14 MBA IESE
Gerente de estratégia e marketing McKinsey & Company
GONÇALO VIDEIRA
Vencedor 2009/10 MBA INSEAD
Diretor de serviços de saúde e beleza na Wells
mio, um que concorreu no seu ano e
outro no ano anterior. Foi através do
Primus Inter Pares que se conheceram.
“Começámos com seis pessoas, ago-
ra somos uma equipa de mais de 150
trabalhadores baseados em Portugal e
operamos em mais de 20 países”, disse
ao Expresso. Foi por isso que decidiu
não fazer o MBA: “Não quis abdicar
daquilo que tinha na altura e penso que
foi uma boa decisão porque encontrar a
equipa certa para fazer um projeto não
é fácil e esta equipa parecia-me a certa,
depois de alguns projetos fracassados,
que eram ideias tão boas como a Bizay,
na minha opinião.”
As razões para Pedro Quinaz não
fazer o MBA foram semelhantes: “O
timing nunca foi adequado, visto que
exige custos e abandonar a atividade
profissional que estamos a exercer.” Diz
que tem pena, mas que tomou a decisão
certa, já que o próprio prémio foi uma
boa experiência que lhe colocou no cur-
rículo um “selo de referência”.
Quando foi vencedor estava a traba-
lhar no Banco de Portugal. Já passou
pelo Banco Central Europeu e pela
Caixa de Crédito Agrícola. Agora está
de volta ao Banco de Portugal como
coordenador de área de inovação e pla-
neamento de supervisão.
Várias voltas ao mundo
Também por Portugal está Gonçalo
Videira, mas já esteve fora quando
CAROLINA MONTEIRO
Vencedora 2014/15 MBA IE (Madrid)
Gerente de produtos na Amazon
JOSÉ SALGADO
Vencedor 2010/11 MBA — desistiu
Fundador e atual diretor de crescimento na Bizay/360imprimir
trabalhava na Procter & Gamble e na
Microsoft. Quis voltar e encontrou no
marketing da L’Oréal a sua oportuni-
JOSÉ SALGADO E PEDRO dade. Pouco depois foi abordado pela
Sonae: “Na Sonae lancei um programa
QUINAZ NÃO FIZERAM de emagrecimento e no ano passado
acumulei o negócio dos centros de
O MBA MAS estética da Wells.” Mas há pouco tem-
po mudou de funções, agora trabalha
A PARTICIPAÇÃO com o propósito de “identificar cate-
NO PRÉMIO TEVE
gorias para melhorar a nossa proposta
de valor e qualidade aos clientes do
UM IMPACTO CENTRAL Continente.”
O Reino Unido ganhou dois dos ven-
NA CARREIRA cedores do prémio: Miguel Ramos e
André Dias.
QUE ESTÃO A CONSTRUIR Para Miguel Ramos realizar o MBA
foi mais do que uma experiência aca-
démica — “foi uma experiência de vida
muito profunda e transformadora”.
Foi durante o MBA que conheceu
muitas pessoas diferentes e com ex-
periências distintas. Foi também lá
que encontrou a pessoa com quem
está casado.
Quando saiu do MBA começou a
trabalhar na Google e ainda hoje con-
tinua nessa empresa, onde já ocupou
vários cargos. Agora estrutura equi-
pas dentro da Google com o objetivo
de as ver funcionar da melhor forma
possível. Está no Reino Unido há oito
anos, mas não põe de parte a ideia de
regressar a Portugal.
André Dias concorreu ao prémio e
foi eliminado na primeira etapa, nos
testes psicotécnicos. Mas houve uma
ANDRÉ DIAS
Vencedor 2015/16 MBA IESE
Área de estratégia na Admiral Group
ECONOMIA 17
desistência e foi chamado a voltar por-
que era suplente. Acabou por vencer
a edição.
Durante o MBA fez três estágios e
acabou por ser convidado para ficar
na primeira empresa onde estagiou:
a Admiral Group, no Reino Unido,
onde está ainda hoje. Antes do MBA
esteve dois anos a dar aulas no ISCTE
e admitiu ao Expresso que gostava de
voltar a ensinar.
Por último, Marta Pereira que ainda
não realizou o MBA, mas tem a ida
para Madrid marcada para janeiro
de 2023. Inscreveu-se no prémio por
recomendação de colegas da universi-
dade Nova, onde era estudante. A sua
carreira está muito direcionada para
as startups, tendo feito um estágio
em Berlim numa startup, voltou para
a faculdade para integrar o departa-
mento de empreendedorismo e saiu
de lá à boleia com o seu chefe para
começar uma empresa de gap year,
que acabou por não resultar com a
chegada da covid-19. Agora trabalha
na Ignishan Program, uma empresa
de serviços de recursos humanos para
startups.
Questionada sobre qual planeia ser
o seu próximo passo depois de rea-
lizar o MBA, responde: “Gostava de
experimentar outras áreas como o
investimento e as fábricas de startups,
mas ligadas à saúde mental, uma das
causas que mais defendo.”
taribeiro@expresso.impresa.pt
18 ECONOMIA Expresso, 9 de setembro de 2022

IMOBILIÁRIO
Habitação O limite imposto ao aumento das rendas e o abatimento fiscal atribuído
aos proprietários para compensar a perda de rendimento têm neutralidade fiscal

Senhorios dizem que

travão nas rendas não
aumenta despesa pública

A ser cumprida a regra em vigor, damento, que tende a pender para os da inflação. Valores de arrendamento

C
Amadeu Araújo
om a inflação crescen-
te, o Governo decidiu
limitar a 2% o aumen-
to das rendas de casa.
Os senhorios serão
compensados com
majorações no IRS e
IRC que atingem os
9% de redução nas ta-
xas a pagar. Mas estes cálculos podem
trazer compensações fiscais ao Estado,
sobretudo nos contratos de longa du-
ração, em que o imposto cresce apesar
dos benefícios dados aos proprietários.
Quem defende esta tese é a Asso-
ciação Portuguesa de Proprietários
(APP), que fez um estudo para ana-
lisar os efeitos do travão nas rendas.
Na prática, “o Estado acaba por ar-
recadar a mesma receita, apesar das
majorações fiscais agora anunciadas”,
diz António Frias Marques, presi-
dente daquela associação. A medida
“beneficia os inquilinos, discrimina os
proprietários e tem neutralidade para
as contas do Estado”, assume.
que fixava os aumentos de acordo
com o Índice de Preços no Consumi-
dor, um contrato de €500 teria um
aumento mensal de €25, valor que
serviria “de cálculo para a atualização
das rendas em 2024, o que faz com
que os proprietários percam 3,43%
de rendimento predial de forma du-
radoura”. Ou seja, “mesmo com o be-
nefício fiscal, os proprietários acabam
a perder dinheiro”, antecipa aquela
advogada.
Proprietários sugerem subsídios
aos inquilinos
Ricardo Guimarães, diretor da Con-
fidencial Imobiliário, defende antes
a subsidiação dos inquilinos, no que
é acompanhado pelos proprietários.
O presidente da APP sustenta que “o
Governo poderia atribuir um subsídio
de arrendamento, que está previsto
na lei desde 2019 e nunca foi regula-
mentado”. Ao “unificar as deduções
em sede de IRS, permite todo o tipo
de falcatruas”, acrescenta.
O Ministério das Infraestruturas e
inquilinos, a desfavor dos proprietá-
rios”, complementa Guimarães, que
defende que a compensação “deveria
ser dada aos inquilinos, em função
dos rendimentos e da taxa de esfor-
ço”.
Mas o travão nas rendas representa
o maior aumento destas nos últimos
10 anos. Em 2013, com a entrada em
vigor do Novo Regime do Arrenda-
mento Urbano, atingiu os 3,36%.
Contudo, as rendas estão a subir há
seis anos. Um crescimento de 0,51%
em 2020, 1,15% em 2019, 1,12% em
2018, 0,54% em 2017 e 0,16% em
2016. Aumentos que resultam das
atualizações automáticas em função
HÁ 20.445 FAMÍLIAS
COM RENDAS
SUPERIORES A €1000
E 84 MIL CASAS COM
que crescem em todo o país e que já
não são exclusivos de Lisboa e Porto.
Em Aveiro, alugar um T2 ronda os
€800. Em Viseu, um T3 tem um ar-
rendamento médio de €750.
Também o número de novos con-
tratos está a evoluir, revelam os dados
do Instituto Nacional de Estatística
(INE). No ano passado foram cele-
brados 87.349, mais 9,4% do que em
2020, quando se registaram 79.397
novos arrendamentos. A acompa- A redução da oferta disponível é atu-
nhar a procura está o crescimento almente, segundo o mesmo respon-
das rendas. O INE calcula em €6,04 sável, “o grande drama do mercado
a média de arrendamento por metro habitacional, traduzindo-se numa
quadrado. Lisboa e Porto concentram pressão para o aumento dos preços
a maioria, 52% do total dos novos con- e das rendas para os que estão agora
tratos e as rendas mais altas. Em Lis- a entrar no mercado”. Até porque
boa, este valor atinge €8,90 por me- há rendas ainda “congeladas”. Em
tro quadrado; Algarve fica nos €6,85 causa estão os contratos anteriores
e Porto com €6,51. Valores superiores a 1990, com rendas condicionadas e
à média nacional e que levam Ricardo
Guimarães, diretor da Confidencial
que no final do ano deveriam passar
para o regime livre, tal como pre-
Imobiliário, a apresentar reservas ao
travão no aumento das rendas impos-
visto no Novo Regime do Arrenda-
mento Urbano, que dispôs de regras
to pelo Governo. específicas para a atualização destes
contratos.
Apoio às famílias em dificuldades “É preciso compensar este efeito

RENDAS ABAIXO DOS

O coeficiente de apoio aos proprie- Habitação não respondeu às pergun- acumulado, até porque os proprietá-
tários, de 0,91%, será aplicado aos tas do Expresso sobre estas críticas. “O arrendamento é um desafio por rios e os investidores também sofrem

€50, NUM TOTAL DE

rendimentos prediais que estejam
englobados no IRS ou alvo de tributa-
ção autónoma, incluindo contratos de
longa duração. Está também prevista
a aplicação do coeficiente de apoio
aos contratos decorrentes de direito
real de habitação duradoura.
António Frias Marques, que conti-
nua a reclamar aumentos indexados
à inflação, aponta vários exemplos
para sustentar a “discriminação” dos
proprietários. Insiste na manutenção
dos aumentos previstos na lei, no que
é acompanhado por Clélia Brás, es-
pecialista em direito imobiliário da
sociedade de advogados Raposo, Sá
Miranda e Associados.
Já Alexandra Cachucho, advogada
que presta apoio jurídico à Associa-
ção dos Inquilinos e Condóminos do
Norte de Portugal, considera o travão
“um alívio para as famílias”.
A APP reforça as críticas e classifica
a medida de “embuste, com efeito
fiscal neutro e que beneficia algumas
clientelas”, denuncia António Frias
Marques.
Modelo semelhante é também “apli-
cado no aumento das pensões”, clas-
sifica Ricardo Guimarães, que serão
aumentadas em 2024 a partir dos
valores de 2022.
Uma “instabilidade fiscal que trava
o crescimento do mercado de arren-
realizar”, revela aquele analista.
Numa altura em que o país necessita
923 MIL CONTRATOS de estimular o crescimento da cons-
trução destinada ao arrendamento, o
DE ARRENDAMENTO Governo deveria deixar “o mercado
a funcionar”. Apesar das compensa-
ções aos senhorios, com majorações
fiscais, o foco deveria estar “no apoio
às famílias em dificuldades, não é a
penalizar os proprietários que o ar-
rendamento cresce”.
Ao proteger-se um grupo especí-
fico de famílias corre-se o risco de
aumentar as dificuldades das demais,
“devido à quebra na oferta que resul-
ta da perda de confiança dos proprie-
tários”, continua Ricardo Guimarães.
com os efeitos da inflação”, remata
Ricardo Guimarães.
Portugal tem 923 mil contratos de
arrendamento, 373 mil pagam valo-
res entre os €200 e os €399. Há ainda
194 mil famílias que pagam rendas
entre €400 e €649. No escalão entre
os €650 e os €900 o INE contabiliza
57 mil contratos. Há 20.445 famílias
com rendas superiores a €1000 e 84
mil casas com rendas abaixo dos €50.
Nas rendas anteriores a 1990 haverá
194 mil contratos, com valores que
não ultrapassam os €150, mostram
os dados do INE com as estatísticas
do arrendamento, que são ainda pro-
visórios.

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o pequeno-almoço
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procura e muito mais.
Expresso, 9 de setembro de 2022
Fátima Sol, investigadora em eco-
nomia bancária na Universidade de
Coimbra, adianta que a inflação e
a subida das taxas de juro trarão
“restrições ao crédito imobiliário”,
o que poderá ajudar ao crescimen-
to do mercado de arrendamento.
“Arrendar é uma forma de reagir às
dificuldades na obtenção de crédito,
não significa um dever de pagar uma
dívida, que tem maturidade muito
longa.”
Paulo Caiado, presidente da Associa-
ção dos Profissionais e Empresas de
Mediação Imobiliária, reconhece que,
apesar deste limite, o investimento na
compra para arrendamento irá conti-
nuar. “Em tempos de crise, o imobiliá-
bpiexpressoimobiliario.pt
rio é um porto seguro para as poupan-
ças”. E, apesar dos constrangimentos,
“haverá algum impacto, não será agluti-
nador, mas a atual crise irá permitir aos
pequenos aforradores continuarem a
investir no mercado de arrendamento”.
ECONOMIA 19
Senhorios dizem que, na
prática, a medida beneficia
os inquilinos, discrimina
os proprietários e tem
neutralidade para as contas
do Estado FOTO JOSÉ FERNANDES
Na próxima semana o INE irá apurar
o coeficiente de atualização de rendas
e o aumento será publicado em “Diário
da República”, até 30 de outubro, já
com o teto imposto pelo Governo.
economia@expresso.impresa.pt
20 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 9 de setembro de 2022

MERCAD O ESPAÇOS
&CASAS

Litoral lidera
na oferta A VER NO PROGRAMA
DESTA SEMANA

de casas com Um hotel com

toque vintage
O Pestana Vintage Lisboa,

três quartos de quatro estrelas, resulta

da recuperação de um imó-
vel dos anos 50 do século
XX e mistura vários estilos
na sua decoração.

FOTO GETTY IMAGES

No total do país, estão
em comercialização 23.141
apartamentos de tipologia T3
Maribela Freitas
Na altura de escolher uma habi-
tação, e dependendo do tamanho
da família que a irá ocupar, faz
diferença o número de quartos
existentes na casa a adquirir. Para
quem necessita de três quartos,
ou seja, de um apartamento de
tipologia T3, a disponibilidade
existente no bpiexpressoimobi-
liario.pt é de 23.141 imóveis. Em
apenas cinco distritos da faixa
litoral concentra-se 77,5% da
oferta total existente no país.
Porto, Lisboa, Setúbal, Faro
e Braga são os cinco distritos
com mais apartamentos de ti-
pologia T3 em venda no bpiex-
pressoimobiliario.pt, totalizan-
do 17.935 destes imóveis. A sua
oferta é variada, tanto no preço
como em área.
Só o distrito do Porto concen-
tra 5958 T3 à venda, um nú-
mero que o torna o líder neste
tipo de segmento. No concelho
da Trofa vende-se uma destas
casas, com três quartos, por
€210 mil, com 118 m2 de área
útil. Tem sala e cozinha em
open space e um dos quartos
é uma suíte. Na Invicta, está
em comercialização um apar-
tamento T3, com mais de 115
m2 de área útil, localizado em
Paranhos. O valor pedido é de
€420 mil e o imóvel está ainda
em construção, com conclusão
prevista para o final deste ano.
Descendo um pouco rumo à
capital, verificamos que exis-
tem 5913 destas casas à venda
no distrito de Lisboa. No con-
celho de Vila Franca de Xira,
na freguesia de Castanheira
do Ribatejo e Cachoeiras, ven-
O distrito do Porto é o que concentra mais oferta, com 5958 apartamentos T3 à venda
de-se um destes apartamentos
por €270 mil e com 125 m2 de
área útil. A casa, construída
em 2021, é duplex, com vista
para o rio Tejo, e está inserida
numa zona habitacional, perto
de serviços. Já em Lisboa, na
freguesia de Santo António,
é possível adquirir um destes
apartamentos, com 120 m2 de
área bruta, pelo qual é pedido
o valor de €750 mil. Usada, a
casa está próxima de serviços.
Oferta para todos os gostos
Neste top 5 de distritos com
maior oferta de casas com três
quartos surge ainda Setúbal,
na terceira posição. A oferta
que ostenta no bpiexpresso-
imobiliario.pt é de 2126 destas
habitações. Em Sesimbra está
em comercialização, por €230
mil, um apartamento com três
quartos. O imóvel teve obras
e conta com mais de 100 m2
de área útil, varanda e lareira.
No Montijo está à venda um
T3, com 117 m2 de área útil,
usado, pelo qual são pedidos
€220 mil.
A quarta posição vai para um
distrito do Sul. Em Faro estão
disponíveis 2052 destes imó-
veis. Um deles está ainda em
construção e irá custar €510
mil. Com mais de 100 m2 de
área útil, está integrado num
empreendimento com pisci-
na comum e vista mar. Já em
Armação de Pêra, no concelho
de Silves, está disponível um
apartamento T3, com 116 m2
de área útil, por €335 mil. Fica
perto da praia.
Rumando de novo ao Nor-
te, surge na quinta posição o
Preços das casas
em alta
Os preços de venda das
casas em Portugal conti-
nental cresceram 10,9% no
primeiro semestre deste
ano em relação ao semes-
tre anterior.
distrito de Braga, com 1886
destes imóveis. Em Vila Nova
de Famalicão é possível ad- Índice RE/MAX
quirir uma destas casas por
€152.500, localizada perto Na primeira linha de mar de
do centro da cidade. Tem 111 Matosinhos não há terrenos
m2 de área útil e garagem fe- disponíveis para construção.
chada. Por €135 mil pode ser
comprado um apartamento T3
em Guimarães, com 122 m2 de
área útil, em bom estado de Espaços & Casas
conservação. na SIC Notícias
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Sábado às 10h45
Repetição Segunda às 9h45
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ESTA INFORMAÇÃO É ALVO DE
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Expresso, 9 de setembro de 2022 bpiexpressoimobiliario.pt 21

Crescimento de 12,5% face a igual período

do ano passado

LUXO: RE/MAX COLLECTION

COM MOVIMENTO DE 692 M€ NA
PRIMEIRA METADE DO ANO

Imobiliária líder no segmento premium

somou 2.395 transações de imóveis de
luxo entre janeiro e junho

Transacionados imóveis Collection que

envolveram 51 nacionalidades estrangei-
ras. Reforço do peso dos clientes brasilei-
ros e norte-americanos.

Distrito de Lisboa mantém a preponde-

rância no conjunto do segmento, mas em
destaque o crescimento dos distritos do
Porto e de Aveiro.

Exemplo da romântica arquitetura Belle

Époque de Lisboa, o Edifício São Carlos
carateriza-se pela sua fachada exterior,
com as suas elegantes alvenarias em
torno das janelas, a par com a invulgar
altura dos tetos, que conduzem a uma
viagem pela época pombalina.

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22 bpiexpressoimobiliario.pt Expresso, 9 de setembro de 2022

INVESTIMENTO

A nova cara de Vilamoura

Estão previstos cinco projetos imobiliários, o alargamento da marina,
um condomínio para a população sénior e até um centro clínico
João Mira Godinho
Pouco mais de um ano depois
de adquirirem a Vilamoura
World, os novos proprietários
da empresa responsável pela
gestão imobiliária da localida-
de algarvia já têm definidos os
planos de desenvolvimento.
Em cima da mesa estão cinco
projetos imobiliários, que in-
cluem um condomínio para a
população sénior, a que se jun-
ta a criação de um centro clíni-
co completo e ainda a expansão
da marina, com lugares para
embarcações de grande porte.
“O balanço deste primeiro
ano é extremamente positi-
vo”, garante ao Expresso João
Brion Sanches, presidente exe-
cutivo da Vilamoura World.
“Neste momento, construído
já não existe nada para venda”,
continua, “conseguimos fazer
as coisas mais rapidamente do
que pensávamos, a empresa
está consolidada em termos de
estrutura humana e agora a
missão é fazer de Vilamoura o
melhor local no Algarve para
viver, passar férias e investir”.
O projeto imobiliário em fase
mais adiantada de execução é o
Vilamoura Parque, já em cons-
trução. Trata-se de um condo-
mínio fechado, no centro da
localidade, próximo da marina,
que inclui 40 moradias em ban-
da (V2 e V3), todas com piscina
e jardim privativo. “Cerca de
35% foram vendidas em plan-
ta”, refere João Brion Sanches,
“e em breve vamos estar nos
50% e o objetivo é termos tudo
vendido até ao fim do ano”.
Em fase final de licencia-
mento está o projeto Natura
Village, situado no antigo up-
town. Vão ser vendidos lotes
com moradias individuais e
em banda, “com um carácter
O projeto prevê
a inclusão de alguma
agricultura, sobretudo
com plantação
de alfarrobeiras
e laranjeiras
menos urbano, mais de resort,
de praia, de lazer, de golfe”,
explica o CEO, que acredita
que a construção, neste caso,
arranque em outubro.
Na lista de projetos imobi-
liários segue-se o The Nine, que
ganhou este nome por se situar
junto ao buraco 9 do campo
de golfe (próximo do Hotel
Anantara). Para o local estão
previstos 90 apartamentos em
condomínio fechado, com duas
piscinas. Os imóveis no rés do
chão vão incluir jardim priva-
tivo (com uma área entre 50
e 100 m2), os do topo vão ter
terraços (com mais de 20 m2).
As obras devem começar no
final de outubro ou no início de
novembro e prolongar-se por
18 meses.
O Zest também prevê a
construção de apartamentos,
mas neste caso os 80 T1 e T2
a edificar têm como mercado-
-alvo a população sénior. “É
um condomínio fechado, com
piscina, ginásio, cabeleireiro e
outros serviços, como os que
existem num hotel”, descreve
João Brion Sanches, “para pes-
soas com 70, 75 ou 80 anos que
sejam independentes, que quei-
ram conviver, manter uma vida
ativa”. Ao contrário dos outros
projetos, estes imóveis não
são para venda, mas sim para
arrendamento. A Vilamoura
World ainda está a negociar
com um operador, que ficará a
gerir o empreendimento, mas
o presidente executivo calcula
que os preços irão rondar os €2
a €3 mil por mês, “com todos os
serviços incluídos”.
Finalmente, junto ao parque
natural de Vilamoura vai nas-
cer o Springs. Um condomínio
turístico com “moradias de alto
nível, individuais e em banda”,
adianta o executivo. Todos os
imóveis vão ter piscina, mas
também haverá uma piscina
comum do condomínio. Neste
caso, a construção não se inicia-
rá antes de meados de 2023.
A juntar a estes projetos
imobiliários, e na perspetiva
de que a localidade não é ape-
nas um destino de férias, mas
também um local para se viver,
a Vilamoura World pretende
arrendar o edifício onde estava
localizada a sede da empresa
— entretanto todos os escritó-
rios foram transferidos para a
zona da marina — para a cria-
ção de uma clínica de saúde.
“Vilamoura tem uma marina,
tem uma escola, tem tudo, e
também deve ter uma unidade
de saúde”, defende João Bri-
on Sanches. “Será uma clínica
completa, mas sem interna-
mento, funcionará como um
hospital em ambulatório.”
Há ainda um plano para
ampliar a marina, com o apro-
veitamento da zona do porto
exterior — no canal de acesso
— para a criação de mais postos
de amarração. “Estamos em
negociações com as autorida-
des e acredito que vai avançar.
A ideia é criar 68 lugares para
embarcações com uma dimen-
são entre os 20 e os 40 metros,
algo que atualmente não existe
no Algarve”, diz o CEO.
Por definir está ainda o que
vai ser feito na zona para onde
os anteriores proprietários (o
fundo norte-americano Lone
Star) tinham prevista a cons-
trução da Cidade Lacustre —

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Expresso, 9 de setembro de 2022 bpiexpressoimobiliario.pt 23

Há um plano para ampliar

a marina, com o aproveitamento
da zona do porto exterior
para mais postos de amarração
FOTO GETTY IMAGES

projeto que foi abandonado pe- Todos estes projetos estão

los novos proprietários. “Ainda incluídos no plano global de
estamos a negociar o que ire- investimento, definido há
mos fazer. A ideia é construir sete anos, pelos atuais pro-
moradias, mas vamos reduzir prietários da empresa (um
a volumetria [que estava pre- grupo de empresários portu-
vista] e não iremos mexer com gueses que compraram a Vi-
a paisagem natural”, assegura lamoura World em conjunto
João Brion Sanches, que ga- com o fundo britânico Arrow
rante uma constante preocu- Global). O valor total de in-
pação com a sustentabilidade vestimento previsto ultrapas-
ambiental no plano de desen- sa os €400 milhões.
volvimento para Vilamoura. João Brion Sanches diz que,
até agora, o aumento das ta-
xas de juro ou da inflação não
Por definir está ainda se refletiu no mercado imo-
o que será feito na zona biliário em Vilamoura. E, na
linha do balanço positivo que
para onde o fundo faz do primeiro ano à frente
Lone Star tinha da empresa, acredita que as
prevista a construção perspetivas continuam a ser
da Cidade Lacustre positivas. “Os investidores não
vão ficar com o dinheiro no
banco se a inflação estiver a
Reflexo disso mesmo é um 9%, e o imobiliário é um inves-
estudo que a empresa tem em timento seguro em alturas de
curso, com a Universidade do crise, melhor do que o ouro,
Algarve, para reintroduzir pois pode usufruir-se ou ar-
a agricultura na localidade. rendar-se a casa”, argumenta.
“Estamos a analisar a capa- Em relação aos comprado-
cidade dos solos para ver o res que procuram imóveis na
que se poderá plantar, sejam localidade algarvia, cerca de
laranjeiras, alfarrobeiras, o 50% são portugueses, exis-
que for”, explica, “a agricul- tindo, depois, uma grande
tura fazia parte da realidade variedade de nacionalidades.
de Vilamoura e pretendemos Muitos britânicos, mas tam-
recuperar essa atividade”. A bém alemães, franceses, es-
ideia passa pela eventual con- panhóis ou brasileiros, entre
signação de terrenos para a outros.
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Expresso, 9 de setembro de 2022 ECONOMIA 25

EMPREGO

Gestão Há um novo movimento a emergir entre os trabalhadores. como objetivo o despedimento. Klotz
sinaliza como exemplos a insatisfação
Chamam-lhe ‘demissão silenciosa’, deixar de viver em função do trabalho profissional, falta de reconhecimento
REDESENHAR A CULTURA
para fazer “só o necessário”. Estarão as empresas preparadas? das chefias, objetivos de progressão
frustrados, salário ou condições de DAS EMPRESAS

O ‘amor à camisola’
trabalho pouco aliciantes, desmoti-
vação ou ansiedade constante com a
rotina laboral. Dignificação do trabalho
Na verdade, uma pesquisa recente Uma das bases para cimentar o
da consultora Zenger/Folkman, publi- compromisso dos trabalhadores com

tem os dias contados

cada na “Harvard Business Review”,
sinaliza que o movimento da demissão
silenciosa tem mais a ver com maus
chefes do que com maus trabalhado-
res que não estão dispostos a “dar o
litro”. A consultora, especializada no
desenvolvimento de lideranças, reu-
niu dados de 2801 gestores que foram
avaliados por 13.048 subordinados.
Focando-se no papel dos líderes
“amor à camisola”. Cumprem a fun- vidade das empresas. “O que os traba- e partindo da questão que diferen-
Textos Cátia Mateus
a empresa é garantir-lhes
previsibilidade na carreira e
estabilidade. Um precário não vai
trabalhar motivado.
Salários adequados
Salários justos para a exigência da
função e benefícios adequados às
necessidades dos trabalhadores são
ferramentas para combater a
tendência das demissões silenciosas.

H
á vida além do tra-
balho e são cada
vez mais os profissi-
onais que recusam
ceder aos excessos
da vida profissional.
A pandemia deixou
ao mercado de tra-
balho vários legados.
Um deles foi a ideia de que é possível
trabalhar de outra forma, rompendo
com a prática das longas jornadas de
10 a 12 horas de trabalho no escri-
tório. Nos últimos meses uma nova
tendência tem vindo a ganhar dimen-
são no mercado. Os especialistas cha-
mam-lhe demissão silenciosa — quiet
quitting, na designação original — e a
tendência tornou-se viral através da
rede social TikTok.
Não se trata de uma demissão no
sentido formal do termo. Os traba-
lhadores não se recusam a trabalhar
nem são negligentes na execução das
tarefas, simplesmente impõem limi-
tes. Não fazem horas extra, não vão
além das funções para as quais foram
contratados, não trabalham mais por
ção para a qual foram contratados,
no horário estipulado. Vanda Brito,
diretora de recursos humanos da con-
sultora Kelly Portugal, defende que
esta mudança de mentalidade, cimen-
tada durante a pandemia, marca uma
rutura com a forma como nos relacio-
namos com o trabalho e o seu papel
nas nossas vidas. “É um caminho sem
retorno, este de mostrar que a nossa
carreira não nos define como pessoas
e não é o centro da nossa existência”,
que está a ser alavancado sobretudo
pelas novas gerações de profissionais,
mas “certamente que terá um efeito
de contágio às anteriores”.
Mas, para Vanda Brito, a grande
questão é: “As organizações estarão
preparadas para atingir objetivos
quando uma parte da sua força de
trabalho admite que só fará o míni-
mo e estritamente necessário?” E a
resposta é clara: “Não. As empresas
terão, forçosamente, de acompanhar
esta mudança de paradigma no que
diz respeito à forma como os profissio-
nais se relacionam com o trabalho.”
A forma como esse caminho é percor-
rido, diz, será crítica para a capacidade
de contratação, retenção e competiti-
lhadores nos estão a dizer, sobretudo
os mais jovens, é que gostam de tra-
balhar, querem trabalhar, mas não é o
trabalho que os define ou que domina
a sua vida”, explica, enfatizando que
“esta postura marca uma rutura com
as gerações anteriores, muito focadas
na carreira, na necessidade de reconhe-
cimento, na progressão e no sucesso”.
Anthony Klotz, professor da Facul-
dade de Gestão da Universidade de
Londres, que sinalizou também a ten-
dência recente da vaga de demissões
— conhecida como great resignation
—, que se iniciou quando as empresas
começaram a chamar os profissionais
de volta ao escritório, depois de quase
dois anos em teletrabalho, sinalizou
recentemente numa entrevista à BBC
que o menor compromisso dos tra-
balhadores com o empregador tem
vindo a ser estudado.
Maus chefes
ou maus profissionais?
São várias as razões que podem levar
um trabalhador a aderir ao movimen-
to da demissão silenciosa, e muitos
profissionais podem até ter mesmo
cia aqueles que encaram o trabalho
como uma prisão dos que sentem que Flexibilidade
o trabalho lhes dá um propósito, a Ninguém quer voltar a trabalhar
consultora concluiu que os gestores como antes da pandemia e as
avaliados como menos eficazes têm empresas têm de se adaptar ao novo
três a quatro vezes mais subordinados contexto para garantirem o
que se enquadram na chamada “de- compromisso dos seus trabalhadores.
sistência silenciosa”, por comparação
aos líderes mais eficazes. Reconhecimento
Argumentos que reforçam a convic- Reconhecer o mérito e gerir as
ção de Vanda Brito de que “esta é uma expectativas são determinantes para
oportunidade única para repensar a garantir a retenção e a motivação.
cultura das empresas e os modelos de
liderança”. Um bom líder, diz, “faz com Reforço da comunicação
que os colaboradores queiram estar na É fundamental manter hierarquias
empresa e se empenhem nos objeti- planas e comunicação clara
vos”. Mas para isso “é preciso criar um em toda a empresa.
ambiente justo e de reconhecimento”.
E o tema até é urgente. A braços
com uma crise económica, com a in-
flação a disparar e dificuldades de
contratação, as empregas precisam
da sua força de trabalho em “com-
promisso máximo” para não falhar
objetivos e garantir a sustentabilida-
de. Assim, sinaliza Vanda Brito, “este
movimento da demissão silenciosa
pode trazer problemas adicionais às
organizações”.
cmateus@expresso.impresa.pt

Contabilista Certificado (m/f) Responsável de Assistência Técnica (m/f)

PORTO LISBOA

EMPRESA PERFIL EMPRESA PERFIL

Empresa que presta serviços de assessoria
jurídica, consultoria tributária e serviços
de auditoria.
CANDIDATO
O profissional a recrutar, terá como principais
responsabilidades:
• Classificação e lançamento de documentos
de acordo com o SNC;
• Reconciliações de contas bancárias e correntes;
• Apoio no fecho de contas mensais e anuais;
• Elaboração de demonstrações financeiras;
• Tratamento de declarações fiscais;
• Revisão e análise de balancetes;
• Colaboração na elaboração de mapas
contabilísticos.
• Licenciatura em Gestão, Contabilidade,
Fiscalidade ou áreas similares;
• Inscrição na ordem dos Contabilistas Certificados
(obrigatório);
• Experiência profissional de 5 anos na área;
• Bons conhecimentos de Fiscalidade;
• Experiência na utilização do software Sage
será valorizada;
• Bons conhecimentos de Excel;
• Fluência em Inglês (obrigatório).
Oportunidade de fazer parte de um projeto
internacional, boas condições de trabalho
e remuneração compatível.
Pacote salarial atrativo em função da experiência
evidenciada: Remuneração enquadrados nos
valores de referência - 20.000€/25.000€
Empresa Multinacional líder no seu setor
de atividade.
CANDIDATO
O profissional a admitir será responsável por:
• Responsável Assistência Técnica - Área Bricolage
e Construção;
• Demonstrações da gama de produtos no ponto
de venda e exclusivamente para profissionais
ligados à construção;
• Assistência e tratamento de possíveis
reclamações oriundas de consumidores finais.
• Formação em Engenharia Química ou curso
técnico equivalente;
• Facilidade de comunicação com clientes finais
ou de Retalho;
• Disponibilidade para deslocações em todo
o País e estrangeiro.
Integração numa empresa de referência no ramo,
que trabalha diretamente com grandes players.
Pacote salarial atrativo em função da experiência
evidenciada: Remuneração base anual entre os
20.000€ e 25.000€.

Purchasing (m/f) Responsável Financeiro de Stocks (m/f)

PORTO CAMPO MAIOR

EMPRESA
Empresa de Indústria inserida em grupo
internacional.
CANDIDATO
O profissional a admitir terá como
responsabilidades:
• Monitorizar níveis de stock;
• Identificar necessidades de compra,
pesquisando potenciais fornecedores;
• Monitorizar pedidos e garantindo entregas
dentro do prazo;
• Identificar oportunidades de redução de custos
e melhoria de fornecimentos;
• Assegurar o registo de novos artigos de compra;
• Identificar melhorias contínuas dos processos
a seu cargo, na ótica do serviço prestado
aos clientes internos, dando suporte à
negociação/contratualização com fornecedores
e avaliação/qualificação de fornecedores.
PERFIL
Procuramos profissionais que possuam
os seguintes requisitos:
• Formação superior em Gestão, Economia
ou Engenharia;
• Experiência de 2 a 4 anos em função
de compras;
• Experiência profissional com um sistema ERP
e respetiva implementação, capaz de rastrear
margens por cliente e encomenda;
• Competências sólidas em Microsoft Excel,
Microsoft PowerPoint;
• Fluência em Inglês.
Proporcionamos integração em empresa sólida,
perspetiva de carreira, boas condições de
trabalho e remuneração compatível.
Pacote salarial atrativo em função da experiência
evidenciada: Remuneração enquadrados nos
valores de referência - 20.000€/22.000€
EMPRESA
Empresa de referência, no setor do retalho
que aposta na inovação e qualidade dos seus
produtos.
CANDIDATO
O profissional a admitir será responsável por:
• Correto reconhecimento financeiro dos stocks,
cmvmc e variação da produção;
• Processos de inventários e o seu correto
reconhecimento financeiro;
• Definição, interpretação e manutenção
dos sistemas de custeio.
PERFIL
• Licenciatura em Gestão, Economia,
Contabilidade ou similar;
• Experiência profissional mínima de 8 anos;
• Experiência profissional em contexto de grupos
empresariais e/ou serviços partilhados;
• Domínio de temas financeiros, contabilísticos
e de gestão de stocks;
• Domínio das ferramentas MS Office;
• Experiência de trabalho em SAP.
Integração numa empresa de referência no ramo,
que trabalha diretamente com grandes players,
com um pacote salarial atrativo (em função da
experiência evidenciada):
Remuneração base anual entre 45.000€
e 55.000€ + pacote de benefícios.

Os candidatos considerados serão #sempreligados Conheça estas e outras oportunidades em

contactados num prazo máximo
de 10 dias úteis. www.egor.pt
26 ECONOMIA
SARAIVA+ASSOCIADOS, empresa líder nacional com 26 anos de atividade, com
atuação nas áreas de Arquitetura e Design, Planeamento Urbano, Design de In-
teriores e Sustentabilidade, pretende recrutar (m/f):
CONTROLLER
O responsável pelo Controlo de Gestão (Controller) tem como missão a produção
e análise de informação de gestão que permita à Administração acompanhar o
desempenho de todas as empresas do Grupo, em todas as geografias, facilitan-
do e apoiando as tomadas de decisão.
Principais Funções / Responsabilidades:
• Elaboração de Relatórios mensais e anuais de gestão relativos ao processa-
mento do fecho de Contas das empresas do Grupo a nível nacional e interna-
cional;
• Elaborar análises de projeção de resultados das empresas do Grupo;
• Elaborar os Orçamentos de Atividade da empresa e efetuar o correspondente
controlo orçamental;
• Elaborar Painel de Controlo síntese (Tableaux de Bord) e Reports diversos;
• Gerir a relação com Contabilistas, Auditores, Instituições Financeiras e outras
entidades;
• Análise de Projetos de Investimento, apoio a transações e acompanhamento
de Programas de Investimento e Financiamento, em termos económicos e
financeiros;
• Apoio aos processos de investimento internacionais;
• Apreciação de documentos técnicos, resposta a questionários e outras ativida-
des inerentes às funções.
Requisitos / Perfil Pretendido:
• Licenciatura em Gestão, Economia ou Contabilidade;
• Experiência profissional relevante de pelo menos 5 anos em funções similares;
• Bons conhecimentos das normas contabilísticas nacionais (SNC) e internacio-
nais (IFRS), do processo integral de contabilidade e obrigações fiscais;
• Conhecimentos avançados de Microsoft Excel;
• Experiência de utilização de softwares de Contabilidade, nomeadamente do
ERP Primavera;
• Domínio de línguas estrangeiras, nomeadamente de inglês;
• Inscrito como Contabilista Certificado, como fator preferencial;
• Forte capacidade de comunicação, boas características de relacionamento e
capacidade para trabalhar de forma independente e inserido em equipa;
• Boa capacidade analítica, de planeamento e organização;
• Espírito de iniciativa, sentido crítico e proatividade;
• Capacidade de resolução de problemas, forte atenção aos detalhes e ao cum-
primento de prazos.
Candidaturas: Resposta com CV para: careers@saraivaeassociados.com
A AgdA – Águas Públicas do Alentejo, S.A.,
empresa do Setor do Ambiente, integrada
em Sólido Grupo Económico, pretende
recrutar para a seguinte função:
TÉCNICO SUPERIOR
DE COMPRAS
E LOGÍSTICA
(m/f)
Beja – Ref. 33/AgdA/2022
Candidaturas até ao dia 02/10/2022
Para informações detalhadas aceda a:
www.agda.pt/ofertas-de-emprego-bolsa-de-emprego
RESPONSÁVEL DO CONTROLO
DE QUALIDADE BIOLÓGICO
Grupo internacional instalado em Portugal desde 1966, que se dedica à produ-
ção de dispositivos médicos, procura para a sua unidade industrial, localizada na
área da Grande Lisboa, um(a) responsável para o departamento do controlo de
qualidade biológico para entrada imediata e que reúna os seguintes requisitos:
• Formação superior em engenharia ou área de ciências, preferencialmente áreas
de biologia;
• Conhecimentos de microbiologia;
• Experiência mínima de 2 anos em gestão de laboratórios e de equipas;
• Experiência na indústria de dispositivos médicos, farmacêutica ou áreas afins;
• Dá-se preferência a quem tenha conhecimentos do Regulamento (EU) 2017/745
relativo aos dispositivos médicos;
• Conhecimento e experiência em Sistemas de Gestão da Qualidade de dispositi-
vos médicos, norma EN ISO 13485. Em alternativa, conhecimento e experiên-
cia em sistemas de gestão da qualidade, ISO 9001;
• Competência e capacidade de liderança, organização, comunicação e espírito
de equipa;
• Conhecimentos de informática na óptica do utilizador;
• Fluente em inglês.
Se preenche os requisitos, envie o seu CV para o seguinte email:
recrutamento@codanportugal.pt
Expresso, 9 de setembro de 2022
ENGENHEIRO(A)
DE SOFTWARE
Local: Lisboa, Ocupação: Integral, Experiência Mínima: Licenciatura em
Eng.ª Informática.
Organização Autónoma do Estado procura jovens engenheiro(a)s em infor-
mática, para desenvolver os sistemas de informação internos e apoiar as
operações conforme as melhores práticas e arquiteturas de Cibersegurança
(By Design).
Quais as atividades e missão da função?
• Especificar requisitos, orientados a automação e maior eficiência dos pro-
cessos.
• Desenhar, desenvolver, testar, manter e melhorar os sistemas de informação.
• Apoiar o planeamento e a coordenação de atividades de tecnologia, entre
as equipas internas e externas.
• Promover políticas de segurança e apoiar os utilizadores internos nas me-
lhores práticas (Cibersegurança).
O que é necessário para integrar a nossa equipa?
• Conhecimento em ASP.Net MVC, C# ou C++; Bases de dados: MS SQL
Server, MySql.
• Boas Soft Skills; Atitude de Querer aprender e de fazer; Valorizar Autonomia.
• Formação Superior em Eng.ª Informática, de Computação ou similar.
• Preferencialmente, saber ou querer aprender:
o Java, OO, arquiteturas distribuídas.
o DevOps e promover automação (RPA, BPM).
o Infraestrutura Cloud: AWS, Azure, Google Cloud.
O que oferecemos:
• Possibilidade de integração dos nossos quadros, numa equipa em rejuve-
nescimento e de prestígio.
• Investimento em formação e apoio de membros seniores (Mentoring).
• Acordos com acesso a formação gratuita e especializações/certificações
complementares.
• Seguro de saúde e condições de acordo com a experiência.
• Oportunidade de trabalhar com profissionais com experiência internacional.
As candidaturas devem ser enviadas para o email:
recrutamentogeral123@gmail.com
e os candidatos serão avaliados em dois momentos de entrevista
Empresa de moldes metálicos, situada no concelho
English Teachers da Maia, seleciona (m/f):
(m/f)
ENGENHEIROS
Em regime de estágio profissional e integração nos
CAMBRIDGE SCHOOL
quadros, com vocação para as áreas de (i) gestão da
produção ou (ii) direção técnico-comercial.
• Formação superior em Engenharia Mecânica, Polí-
Large, private language school meros ou áreas afins;
requires full-time English teachers
• Aptidão para desenvolver o conhecimento em pro-
jeto de moldes e peças plásticas;
in Lisbon for the 2022/2023 • Na área da Gestão da Produção, assumir com-
petências no planeamento e organização da pro-
academic year. dução, melhorando os métodos e processos de
trabalho e a sequências de operações, seguindo
Candidates must meet the following métodos seguros e económicos na utilização do
requirements:
• Native speaker level
pessoal, materiais e equipamentos.
• Na área da Direção Técnico Comercial, capacidade
de análise de perfis de potenciais clientes e par-
ceiros de negócio e gosto pela negociação, orça-
• EU citizens or with authorisation to live mentação e discussão de projetos.
and work in Portugal Resposta através do site:
• University Degree www.expressoemprego.pt
• EFL qualification
Please send CV, recent passport-size photograph, CONTABILISTA/ESCRITURÁRIO
contact telephone number and copies of university DE CONTABILIDADE
Pretende-se admitir para escritório de contabilidade, na
qualification and EFL certificate to: zona de Loures, pessoa (m/f) para as seguintes funções:
info@cambridge.pt – Tratamento da documentação contabilística;
– Conciliações bancárias, de clientes e fornecedores;
– Apoio a clientes;
– Preenchimento e submissão de declarações fiscais.
DIRETOR(A) de OBRA Requisitos:
– Conhecimentos de base na área;
– Conhecimentos de legislação fiscal e laboral;
GRUPO AÇOREANO com sede na Ilha de São Miguel, desenvolvendo atividades
no domínio das Indústrias Extrativas, Transformadoras; Construção Civil e Obras
Públicas; Serviços de Saúde, Apoio a Idosos; Exportação e Investigação.
– Interesse, dinamismo e proatividade.
Dá-se preferência a candidatos com formação na área
da contabilidade e gestão.
PRETENDE RECRUTAR ENGENHEIRO(A) CIVIL PARA A FUNÇÃO DE DIRETOR DE Resposta através do site: www.expressoemprego.pt
OBRA COM O SEGUINTE PERFIL E REQUISITOS:
– Licenciatura ou bacharelato ou nível superior em ENGENHARIA CIVIL
ADVOGADO/A
– Experiência demonstrada no setor com experiência comprovada mínima de 3 anos
em DIREÇÃO TÉCNICA DE OBRA
– Inscrito na OE ou na ANET
– Capacidade de bom relacionamento e de trabalho em equipa
– Facilidade de integração em equipas dinâmicas
– Capacidade de gerir custos e otimizar resultados
Escritório de advogados de Lisboa
– Atitude proativa na prossecução de objetivos definidos pela Administração do Grupo procura advogado/a, inscrito/a
– Espírito dinâmico e aptidão de liderança
na Ordem dos Advogados
Os candidatos devem remeter os elementos pertinentes, indicando a sua residência há, pelo menos, cinco anos,
atual e disponibilidade para manter/fixar residência nos Açores, manifestar disponibili-
dade para deslocações para acompanhamento de obras nas várias Ilhas dos Açores ou
para integrar equipa que atua
em outros territórios e disponibilidade total e empenhamento para o acompanhamento predominantemente na área do
de obras em horários variados.
Direito do Trabalho.
O descritivo do curriculum vitae não deve exceder 4 páginas A4 e devem ser remetidas
ATÉ AO DIA 30 do mês de setembro de 2022, para o seguinte endereço eletrónico:
Candidaturas para:
do.engenheiria@gmail.com jorgepiresmiguel@sapo.pt
Expresso, 9 de setembro de 2022
OPINIÃO
Talento
Paula Baptista
A grande
desconexão
N
ão há dúvida de que
os recentes desafios
globais mudaram o
mercado de traba-
lho, a forma como olhamos
para ele e perspetivamos o
seu futuro. No entanto, a ra-
pidez com que estas trans-
formações aconteceram
não foi igualada pela ofer-
ta de talentos disponíveis,
principalmente nas funções
que exigem skills digitais.
Com base nisto, qual será
a solução? A formação e o
upskilling.
A atualização de conheci-
mentos (ou upskilling) e a for-
mação são a solução para esta
escassez de competências e
um asset extremamente im-
portante e valorizado pelos
profissionais no seu percurso
de carreira — mas será que as
empresas estão preparadas
para a exigência da formação?
Os resultados de um estudo
recente da Hays, o “Learning
Mindset Report 2022”, reve-
lam uma grande desconexão
entre as verdadeiras necessi-
dades e expectativas dos pro-
fissionais e dos empregadores.
Embora os dados revelem
que a maioria das organiza-
ções está preocupada com a
escassez de competências,
apenas metade dos profissio-
nais acredita que os recursos
de aprendizagem disponíveis
satisfazem as suas necessida-
des. Isto contrasta com 60%
dos empregadores que acredi-
tam que os recursos que ofere-
cem satisfazem as necessida-
des dos seus colaboradores.
A necessidade de aprender
novas competências é trans-
versal a todos os sectores e
profissionais — por exemplo,
quando questionados sobre
a frequência com que o seu
papel exige a aprendizagem
de novas competências, 64%
dos profissionais disseram
que ou precisam sempre, ou
frequentemente, de aprender
novas competências.
As organizações precisam
de assegurar que os seus co-
laboradores sabem quais os
recursos de aprendizagem dis-
poníveis, tal como precisam
de trabalhar para identificar
que competências do futuro
podem ser necessárias e enco-
rajar os profissionais a apren-
dê-las. A aprendizagem é do
interesse de ambas as partes.
As organizações precisam de
dar prioridade à atualização
da formação para preencher
lacunas de competências e
os profissionais precisam de
aprender constantemente
para garantir que as suas com-
petências se mantêm relevan-
tes no futuro da sua carreira.
Muitas vezes, a falta de co-
municação e feedback são dois
grandes motivos para esta
“desconexão”, que leva a um
aumento da insatisfação dos
profissionais, assim como dos
empregadores que sentem de-
sinteresse e falta de vontade
por parte dos profissionais.
A aposta num plano de for-
mação eficaz e à medida de
cada organização é a melhor
estratégia nestes cenários.
Diretora-geral da Hays Portugal
PESSOAS
Ricardo Rocha 43 anos, é o novo diretor-geral da Noesis para o mercado americano
“EUA são o segundo maior
mercado internacional da Noesis”
FORMAÇÃO
É licenciado em Comunicação
Social e Cultural pela
Universidade Católica e
pós-graduado em Gestão de
Marketing pelo IDEFE (ISEG)
MISSÃO
“Crescer e aumentar o
nosso volume de negócios
nos Estados Unidos. Esta
função não existia até
agora e a nossa operação
era gerida remotamente a
partir de Portugal. Com
esta nomeação será
possível gerir a nossa
operação localmente”
AMBIÇÃO DE CARREIRA
“Sempre fui apaixonado
pelos temas da gestão e
do marketing e a minha
ambição é continuar neste
caminho, em projetos que
me desafiem e que me
façam sentir realizado”
Texto Cátia Mateus
Foto Tiago Miranda
O diretor de Marketing e Co-
municação da Noesis vai tro-
car Portugal pelos EUA para
assumir o cargo de diretor-ge-
ral da consultora tecnológica
naquele mercado. O objetivo
é consolidar a operação no
mercado americano, onde, nos
últimos anos, o negócio da Noe-
sis cresceu a um ritmo consis-
tente, contando já com vários
clientes e projetos em curso.
“O principal objetivo é crescer
e aumentar o nosso volume de
negócios nos Estados Unidos”,
vinca Ricardo Rocha.
A função que vai assumir não
existia até agora. A operação
da empresa no mercado ameri-
cano, onde está presente desde
2017, era gerida remotamente,
a partir de Portugal. Mas o cres-
cimento do negócio justificou
DICAS QUATRO REGRAS PARA LIDAR COM A ‘ANSIEDADE FINANCEIRA’
Com a inflação a subir
sem que os salários a
acompanhem, a perda de
poder de compra é já uma
realidade para muitos
profissionais. Os psicólogos
sinalizam os riscos da
designada ‘ansiedade
financeira’ na saúde mental
dos trabalhadores e o peso
de trabalhar longas horas
e no fim do mês não ter o
suficiente para pagar as
contas. Na semana em que o
Governo anunciou um pacote
de medidas de apoio aos
trabalhadores e pensionistas,
partilhamos consigo as
dicas dos especialistas para
minimizar o desgaste mensal
da perda de poder de compra
e do aumentos dos preços.
a opção por uma gestão local. O novo diretor-geral da Noe-
“A Noesis registou um volume sis EUA defende que “uma ges-
de negócios de €49,5 milhões tão mais próxima da operação
em 2021, o que representou americana permitirá acelerar o
um crescimento de 12,1% face ritmo de crescimento” da con-
ao ano anterior. No que toca à sultora tecnológica e “explorar
operação internacional — que novas oportunidades de negó-
se divide por Espanha, Países cio”. “A operação nos Estados
Baixos, Irlanda, Estados Unidos Unidos está num ponto de ma-
e Brasil —, o volume de negó- turidade e de dimensão em que,
cios representou 35% da fatu- para continuar a crescer e dar
ração total”, sinalizando que “o um salto significativo, se torna
mercado dos Estados Unidos é necessário investir e garantir
o segundo maior mercado in- esta presença local mais efetiva.”
ternacional da Noesis”. Ricardo Rocha explica que,
além da nomeação de um líder
local, “no plano a curto prazo
(2023) está também previsto
“Aprendi a liderar o reforço da equipa comercial
on-the-job e com uma nos EUA, com a contratação
aptidão natural para de um recurso local dedicado
tal, mas só a partir ao desenvolvimento de negó-
de um determinado cio, assim como a realocação de
mais um colaborador da Noesis,
momento percebi que de perfil técnico, de Lisboa para
isso não é suficiente” os nossos escritórios em Ralei-
gh, na Carolina do Norte”.
1 ANALISE A SUA REALIDADE
CONCENTRE-SE EM SI PRÓPRIO
Antes de se focar no seu saldo bancário, foque-se em si e defina
prioridades. Não conseguirá colocar as finanças em ordem sem
ter um conhecimento realista dos seus hábitos de consumo.
PERCURSO
Iniciou a carreira há mais de
duas décadas, ligado à
modernização da
Administração Pública, no
Observatório para a Inovação
e Conhecimento, parte da
Unidade de Missão Inovação e
Conhecimento (UMIC). Antes
de integrar a consultoria
tecnológica e a equipa da
Noesis, em 2019, passou ainda
por agências de comunicação
e por consultoras, como a Gfi
Portugal, DigitalWorks ou
ThinkSmart
HOBBIES
Desporto e
leitura
LIVRO
“Vencer”,
de Jack
Welch
Formado em Comunicação
Social e Cultural pela Univer-
sidade Católica, Ricardo Ro-
cha soma um percurso de mais
de duas décadas nas áreas de
marketing, vendas e gestão.
Iniciou a carreira no sector da
modernização da Administra-
ção Pública, com um estágio
no Observatório para a Inova-
ção e Conhecimento, parte da
Unidade de Missão Inovação e
Conhecimento. Diz que apren-
deu a liderar on-the-job (no ter-
reno), mas que “só a partir de
um determinado momento na
carreira percebi que isso não
é suficiente”. Leu muito, for-
mou-se, desenvolveu aptidões
que considerou necessárias
para ser um bom gestor de pes-
soas e não hesita em assumir
que o ciclo não está fechado,
ou não fosse ele um adepto da
aprendizagem constante ao
longo da vida.
cmateus@expresso.impresa.pt
2 gastar mais do que deveria e
NÃO SE ISOLE
A ‘ansiedade financeira’ pode
fazer com que se isole da
família e amigos, para que
estes não percebam a situação
em que se encontra. Isso não
só agrava o stresse que a
situação lhe causa como limita
a sua capacidade para
encontrar soluções. Fale com a
sua família, amigos, partilhe
experiências. Várias cabeças
juntas funcionam melhor para
encontrar alternativas.
3 poupança. Liste todas as
Se tem mais dinheiro a sair da
sua conta do que a entrar
mensalmente, a primeira coisa
a fazer é identificar onde está a
ECONOMIA 27
Carolina
Afonso
> Tem 15 anos
de carreira
> É doutorada
em Marketing
Acaba de assumir o cargo de
diretora-executiva (CEO) da
Gato Preto. Carolina Afonso
soma um percurso profis-
sional de mais de 15 anos
ligado à gestão de marketing
e era desde 2021 diretora de
Marketing da empresa. Antes
de integrar a equipa da Gato
Preto passou pela AICEP,
BNP Paribas/Cetelem, ASUS
e Konica Minolta. É desde
2016 professora convidada de
Gestão e Estratégia no Insti-
tuto Superior de Economia e
Gestão (ISEG) e cocoordena-
dora de várias pós-graduações
e formações executivas. Na
liderança da Gato Preto terá
a seu cargo as 62 lojas que a
empresa detém em Portugal
e Espanha e uma equipa de
mais de 500 colaboradores.
Eduarda Carvalho
É a nova diretora de Relações
Públicas e Comunicação Em-
presarial (RP & Corporate
Communications) da Worten,
juntando-se à equipa de marca
e comunicação da empresa li-
derada por António Fuzeta da
Ponte. Eduarda Carvalho era
até agora responsável sénior de
comunicação e relações com os
media na plataforma de comér-
cio eletrónico Dott. Antes pas-
sou por vários grupos de media
e agências de comunicação.
Tiago Baleizão
> Tem 20 anos
de carreira
> É licenciado em
Microbiologia
e Genética
Vai assumir a direção da unida-
de de negócio de respiratório
e imunologia da AstraZeneca
Portugal, passando a integrar
a equipa de direção e reportan-
do diretamente a Sérgio Alves,
presidente da farmacêutica
em Portugal. Licenciado em
Microbiologia e Genética pela
Faculdade de Ciências da Uni-
versidade de Lisboa e com 20
anos de carreira em funções co-
merciais, de marketing, estra-
tégia e gestão geral em diversas
áreas e geografias globalmen-
te, Tiago Baleizão conhece bem
a indústria farmacêutica, tendo
passado pela Gilead Sciences,
Servier, Pfizer Portugal e In-
ternacional, Sandoz. Recen-
temente assumiu a posição de
diretor-geral na Stada.
onde pode poupar. Separe
despesas fixas e variáveis. Nas
primeiras é difícil cortar, mas
nas restantes pode tentar
reduzir gastos.
4
ELABORE UM ORÇAMENTO
Formatar-se para a
necessidade de reduzir custos
nem sempre é fácil, sobretudo
se nunca precisou de o fazer.
Elaborar um orçamento
mensal é a melhor forma de
criar uma mentalidade de
despesas fixas e variáveis,
acautele as imprevistas e
defina um objetivo de
poupança. A previsibilidade
dar-lhe-á maior tranquilidade.
28 ECONOMIA Expresso, 9 de setembro de 2022

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2018 • Diesel • 93.532 km 2018 • Diesel • 84.417 km 2020 • Gasolina • 40.463 km
ID: wf05-jy35-75u9 ID: wauj-r092-78u3 ID: vssl-r052-9u64

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Expresso, 9 de setembro de 2022
OPINIÃO
Capital de Risco por Rodrigo de Matos
Embora a política monetária tenha sido demasiado agressiva durante demasiado tempo, o provável
principal culpado da recente inflação elevada foi uma política fiscal extraordinariamente expansionista
Compreender a recente inflação dos EUA
Robert J. Barro
A
o pensar sobre a causa
do aumento acentuado
da taxa de inflação dos
Estados Unidos, entre
o final de 2020 e o pre-
sente, o meu instinto
inicial foi o de culpar
uma política monetária agressiva,
seguindo a famosa máxima de Milton
Friedman de que “a inflação é sem-
pre e em toda a parte um fenómeno
monetário”. Mas embora a política
monetária seja importante, neste caso
uma política fiscal agressiva pode ter
sido mais importante.
De março de 2020 a março de
2022, a Reserva Federal america-
na (Fed) manteve as taxas de juro
nominais de curto prazo a zero, ao
mesmo tempo que utilizou o quan-
titative easing para aumentar o seu
balanço de 4 biliões de dólares para
uns eventuais 9 biliões de dólares. É
agora geralmente reconhecido que
a Fed ficou para trás após o final de
2020, se não antes. Como só aumen-
tou a sua taxa de juro na primavera de
2022, não conseguiu manter as taxas
de juro nominais longe da inflação e,
por conseguinte, perdeu o controlo.
O problema com o argumento de
que a política monetária era a única
fonte da inflação recente é que a Fed
foi igualmente agressiva durante a
grande recessão e as suas consequên-
cias, a partir de 2008. As taxas de juro
nominais a curto prazo foram fixadas
em zero por um período de sete anos
(início de 2009 a final de 2015). O ba-
lanço da Fed aumentou de 900 mil
milhões de dólares em agosto de 2008
para mais de 4 biliões de dólares — o
que parecia ser um grande número
na altura. No entanto, a inflação man-
teve-se inalterada (com uma média
de cerca de 2% ao ano entre 2009 e
2019) e as expectativas de inflação
mantiveram-se fixadas com um valor
aproximadamente idêntico.
Por que razão os resultados da in-
flação foram tão diferentes de 2020
para cá? Uma diferença óbvia entre os
dois períodos é a dramática expansão
fiscal que teve início na primavera de
2020, em resposta à recessão rela-
cionada com a covid-19 e que incluiu
transferências federais que fizeram
com que as transferências associa-
das à grande recessão parecessem
pequenas.
Para ver como a expansão fiscal se
traduz na inflação, comecemos com
o volume de gastos federais desde o
segundo trimestre de 2020. Os dados
trimestrais até ao primeiro trimestre
de 2022 mostram o excesso acumula-
do de gastos federais (acima de uma
despesa inicial pré-covid de 5 biliões
de dólares por ano) de 4,1 biliões de
dólares — ou 18% do PIB de 2021. Os
principais aumentos de despesa (a
taxas anuais) refletem gastos de 9 bi-
liões de dólares no segundo trimestre
de 2020 e de 7 biliões de dólares no
terceiro trimestre de 2020, sob a pre-
sidência de Donald Trump, seguidos
de 8 biliões de dólares tanto no pri-
meiro como no segundo trimestres de
2021, sob a presidência de Joe Biden.
Para avaliar a forma como a infla-
ção respondeu a esta despesa, faço
referência à “teoria fiscal do nível de
preços”, que foi desenvolvida numa
pesquisa por John H. Cochrane da
Hoover Institution. Suponhamos que o
governo não planeia financiar nenhum
dos seus gastos adicionais cortando
outros gastos ou aumentando impos-
tos. Se não houver incumprimento
formal das obrigações do Tesouro, as
“receitas” têm de vir de uma inflação
acima do nível normal ou esperado,
o que, por sua vez, reduz o valor real
(ajustado pela inflação) das obriga-
ções do tesouro em dívida. Especifi-
camente, a inflação acima de 2% ao
ano desde meados de 2020 pode ser
pensada como acumulando a um im-
pulso inesperado no nível de preços, e
esta acumulação da inflação excessiva
dos preços ao consumidor de maio de
2020 a julho de 2022 acaba por ser de
cerca de 11%.
A dívida pública denominada nomi-
nalmente líquida corresponde aproxi-
madamente à parte da dívida detida
publicamente, que era de 21 biliões de
dólares em meados de 2020 — ou 91%
do PIB de 2021. Este conceito subtrai
à dívida bruta os montantes detidos
pelas agências e fundos fiduciários
federais, mas não as partes detidas
pela Fed, como é razoável porque as
participações do Tesouro e dos títulos
hipotecários da Fed são praticamente
O inesperado aumento
de 11% no nível de preços
reduziu o valor real
da dívida pública líquida
em 2,3 biliões de dólares
equilibradas pelas suas responsabili-
dades nominais. (Também se poderia
ajustar para a dívida federal indexada
ao IPC, mas este montante é de apenas
cerca de 7% do total.)
O inesperado aumento de 11% no
nível de preços reduziu o valor real da
dívida pública líquida em 2,3 biliões
de dólares (equivalente a um incum-
primento de 11% da dívida), o que cor-
responde a uma receita efetiva para o
governo federal. (Uma vez que o au-
mento do nível de preços foi uma sur-
presa, não deveria ter afetado as taxas
de juro nominais que o governo teve de
pagar sobre as suas obrigações.)
Para pagar o total de 4,1 biliões
de dólares de excesso de despesa,
o aumento inesperado do nível de
preços tem de ser maior, na faixa dos
19%, em vez dos 11% (embora mesmo
este número maior assuma, talvez
de forma demasiado otimista, que o
governo não terá mais aumentos de
gastos no futuro). A partir de julho de
2022, o nível de preços exigido pode
ser alcançado com uma inflação de
9,4% ao longo de um ano, uma infla-
ção média de 5,7% ao longo de dois
anos, ou uma inflação média de 3,5%
ao longo de cinco anos.
Todos estes intervalos são seguidos
por uma inflação de 2%. O resultado
para cinco anos não está longe da
atual taxa de inflação implícita do
mercado obrigacionista ao longo de
um horizonte de cinco anos. Ou seja, a
abordagem fiscal está de acordo com
as taxas de inflação esperadas, dedu-
zidas dos rendimentos de cinco anos
em títulos do Tesouro convencionais
e indexados.
Assim, um argumento plausível é
que o aumento da despesa federal pro-
vocado pelo choque da covid-19 levou a
um aumento permanente e inesperado
do nível de preços em cerca de 19%.
Este aumento do nível de preços é um
mecanismo de financiamento das des-
pesas extra relacionadas com a covid.
Num cenário razoável, a taxa de infla-
ção do IPC desce bastante rapidamen-
te do seu valor atual de 8,5% e tem uma
média de cerca de 3,5% nos próximos
cinco anos. Embora a taxa de inflação
acabe por voltar aos 2%, o aumento do
nível de preços é permanente.
A conclusão é que, embora a políti-
ca monetária tenha sido demasiado
agressiva durante demasiado tempo,
o provável principal culpado por trás
da recente inflação elevada foi uma
política fiscal extraordinariamente
expansionista.
Professor de Economia da Universidade
de Harvard, membro sénior não-residente
do American Enterprise Institute
e investigador associado do
National Bureau of Economic Research
Project Syndicate, 2022
ECONOMIA 29
Economia Real
Luís Mira Amaral
geral@forumcompetitividade.org
De Sines
para a
Alemanha?
O
chanceler alemão, acossado
pela trágica dependência
do gás russo, aceita, obvia-
mente, tudo o que permita
minimizar tal. O espanhol Sánchez
vendeu-lhe então o reforço das in-
terligações gasistas entre Espanha
e França através da construção do
primeiro troço do gasoduto Mid-
Cat (Midi-Catalonia Pipeline), que
levaria nove meses a executar, per-
mitindo a utilização dos seis ter-
minais espanhóis de gás natural
liquefeito (GNL) para abastecer
em gás natural (GN) a Alemanha.
O nosso primeiro-ministro apro-
veitou e vendeu-nos na silly season
um gasoduto de Sines à Alemanha,
fazendo crer que Sines salvaria
energeticamente a Alemanha, ao
mesmo tempo que tal permitiria
exportar o hidrogénio verde pro-
duzido em Sines, em substituição
da ideia inicial de o exportar para
os Países Baixos por via marítima.
Ora, não seria necessário um
novo gasoduto, mas apenas refor-
çar alguns troços, como o MidCat
referido, e fazer uma nova inter-
ligação Portugal-Espanha entre
Celorico da Beira e Vilar Formoso
(162 km, €244 milhões), continua-
da em Espanha até Zamora (86 km,
€110 milhões), em complemento
das atuais ligações em Rio Maior e
em Valença do Minho, lançadas no
nosso projeto de introdução do GN
em Portugal, as quais são perfeita-
mente suficientes para o funciona-
mento do mercado ibérico.
Mas Sines, por razões económi-
cas, estando os terminais espanhóis
mais subutilizados do que o nosso,
Sines não será
competitivo em relação
aos terminais espanhóis.
Será mais prático e
eficiente os metaneiros
descarregarem
em Bilbau e Barcelona
e geográficas, não será competiti-
vo em relação aos terminais espa-
nhóis. Será mais prático e eficiente
os metaneiros descarregarem em
Bilbau e Barcelona, e, a partir daí,
injetar o GN na rede europeia, do
que virem a descarregar em Sines.
O único porto praticamente à mes-
ma distância da rede francesa de
Sines será Huelva, todos os outros
terminais espanhóis estão mais per-
to. E no fim do ano esses barcos
até poderão vir a descarregar já
mais perto da Alemanha, em Wi-
lhelmshaven e Brunsbüttel, e em
2023 em Stade e Lubmin.
E os franceses, que nunca con-
cordaram com o MidCat, chamam
a atenção que será sempre mais
barato fazer terminais de GNL
mais perto do Centro da Europa
e da Alemanha do que investir nas
interligações referidas para levar
o GN da Península Ibérica para a
Alemanha e que, face às incertezas
que ainda existem na produção e
transporte do hidrogénio verde, é
prematuro redimensionar interli-
gações para fazer esse transporte.
Mas, numa perspetiva de reduzir
na energia a quase ilha ibérica, fará
sentido o reforço das interligações
gasistas e elétricas, estas priori-
tárias para nós, entre Espanha e
França.
Engenheiro (IST)
e economista (Msc NovaSBE)
30 ECONOMIA
MUND O
1 IRLANDA
Instagram
multado em
405 milhões
de euros
Autoridades irlandesas
assumem cada vez mais
protagonismo na fiscalização
das plataformas tecnológicas
Advogados e especialistas admitem que a coima possa ser
alvo de recurso FOTO AYTAC UNAL/ANADOLU AGENCY/GETTY IMAGES
Hugo Séneca
Corria o ano de 2019 quando
o Instagram lançou uma nova
geração de ferramentas de
contabilização de visitas. De
súbito, essas ferramentas fica-
ram acessíveis para 60 milhões
de utilizadores com menos de
18 anos — e a marca ‘irmã’ do
Facebook não tomou medidas
para impedir que os menores
enveredassem por contas pro-
fissionais que revelam, “por
defeito”, números de telefone
e endereços de e-mail.
A lacuna acabou por ter
custos. Esta semana, surgi-
ram as primeiras notícias que
indicam que a Comissão de
Proteção de Dados irlande-
sa (DPC) aplicou uma multa
de €405 milhões à empresa
Meta, que detém o Instagram.
Os detalhes só serão revela-
dos na próxima semana, mas
o Facebook já reagiu: “Este
inquérito está focado em fun-
cionalidades antigas que já fo-
ram atualizadas há cerca de
um ano, e desde então temos
lançado várias ferramentas
para manter os adolescentes
a salvo.”
Entre advogados e especialis-
tas não falta quem admita que a
coima possa ser alvo de recurso.
Até porque se trata da segunda
multa mais avultada que algu-
ma vez foi aplicada ao abrigo
do Regulamento Geral de Pro-
teção de Dados (RGPD) da UE
(no topo figura a multa de €746
milhões aplicada à Amazon no
Luxemburgo). Além disso, a
coima só alcançou o consen-
so dos vários supervisores da
privacidade da UE, depois de
debatida no Comité de Europeu
de Proteção de Dados.
Em Portugal, a Comissão
Nacional de Proteção de Da-
dos (CNPD) só deverá pronun-
ciar-se depois da publicação
oficial do processo pela DPC.
O debate pretende garantir que
as decisões tomadas por uma
autoridade de proteção de dados
de um país tem em conta os dife-
rentes Estados-membros, mas
não tira protagonismo à DPC
— precisamente, porque é na
Irlanda que se encontra grande
parte das sedes europeias das
empresas de tecnologias (Meta,
Microsoft e Google, etc.).
“No passado houve quem
questionasse a capacidade das
autoridades irlandesas. Max
Schrems (ativista que levou à
suspensão da livre circulação
de dados entre UE e EUA) foi
uma dessas pessoas. Depois
houve um reforço da equipa
e do orçamento, e penso que
a DPC já está preparada para
este tipo de investigações”, des-
creve Luís Neto Galvão, espe-
cialista em tecnologias da SRS
Advogados.
Os números confirmam que
a DPC tem estado atenta ao
grupo Meta: em 2021, foi apli-
cada coima de €225 milhões
ao WhatsApp; e em 2022 se-
guiu-se outra de €17 milhões ao
Facebook. Resultado: em dois
anos, a Meta foi multada em
€647 milhões devido a irregu-
laridades na proteção de dados.
Martim Bouza Serrano, advo-
gado da CCA Law Firm, rela-
ciona o protagonismo irlandês
com a captação de investimen-
tos ao longo dos anos, mas re-
corda que a existência de uma
autoridade de controlo evita a
complexidade das autorizações
solicitadas a cada um dos esta-
dos-membros. “Com algumas
exceções, deixou de ser preci-
so solicitar autorizações para
o tratamento de dados, mas
as empresas têm de garantir
que têm tudo de acordo com
o RGPD”, explica o advogado.
O Instagram tem vindo a dis-
putar o segmento juvenil com
o TikTok ao permitir registos
de utilizadores com mais de 13
anos. O que exige a aplicação de
proteções específicas para esse
segmento da população, mesmo
antes de qualquer tipo de fisca-
lização das autoridades. Neto
Galvão acredita que a coima do
Instagram pode servir de exem-
plo para outras plataformas que
lidam com dados de menores.
“Nos EUA já há a COPPA (Lei
da Proteção da Privacidade das
Crianças na Internet). Faria
sentido ter uma COPPA na UE,
devidamente adaptada ao RGPD
e com maior eficácia que a ame-
ricana”, conclui.
economia@expresso.impresa.pt
Expresso, 9 de setembro de 2022
2 FRANÇA
Inflação homóloga
na OCDE recuou
em julho
FOTO ISTOCKPHOTO/GETTY IMAGES
A inflação homóloga na OCDE dimi-
nuiu ligeiramente para 10,2% em julho,
face a 10,3% em junho, registando a
primeira quebra desde novembro de
2020, sobretudo devido ao abranda-
mento dos preços da energia, anunciou
esta semana aquela organização, com
sede em Paris. Em comunicado, a Or-
ganização para a Cooperação e Desen-
volvimento Económico (OCDE) refere
que, “enquanto a inflação homóloga lho, contra 6,5% em junho. Na área do os preços dos alimentos e energia) foi
caiu, entre junho e julho, em pelo me- G7, a inflação homóloga diminuiu para o principal contribuinte para a inflação
nos 0,5 pontos percentuais no Canadá, 7,6% em julho, face aos 7,9% de junho, geral no Canadá, Reino Unido e Esta-
Grécia, Luxemburgo e Estados Unidos, registando-se um abrandamento da dos Unidos, enquanto o efeito com-
o número de países com uma inflação subida dos preços da energia em todos binado dos preços de alimentos e da
de dois dígitos aumentou de 13 para
15”. Em julho, o aumento dos preços
os países abrangidos, exceto o Reino
Unido. Considerando este grupo de
energia foi o principal contributo para
a inflação global na França, Alemanha,
da energia na OCDE abrandou para países, a inflação subjacente (excluindo Itália e Japão.
35,3%, face a 40,7% em junho, com
quedas em 26 dos 38 países da OCDE.
No entanto, a subida dos preços dos ali-
mentos na OCDE continuou a acelerar,
atingindo 14,5% em julho de 2022, em
comparação com 13,3% em junho. Ex-
cluindo alimentos e energia, a inflação
homóloga aumentou para 6,8% em ju-
5 BRASIL
Apple multada
por danos
3
ao consumidor
5
7 ALEMANHA
O PRESIDENTE-
-EXECUTIVO DO
DEUTSCHE BANK,
CHRISTIAN SEWING,
EXORTOU OS
BANCOS CENTRAIS
6 ÁUSTRIA
A “AGIREM RÁPIDA
O Governo brasileiro proibiu a E DECISIVAMENTE”
Apple de continuar a vender o
iPhone sem carregador a partir de
OPEP+ reduz PARA
terça-feira e multou a empresa nor- produção diária CONTROLAREM
te-americana em 12,2 milhões de
reais (cerca de €2,3 milhões) por de petróleo A INFLAÇÃO,
danos aos consumidores. A deci- ADVERTINDO QUE A
são, adotada pelo Departamento de
Defesa do Consumidor, implica a ECONOMIA ALEMÃ
revogação da licença de venda para A Organização dos Países Exporta- ESTÁ A CAMINHO
todos os modelos do iPhone 12 e 13 dores de Petróleo e os seus aliados
que não tenham o carregador incluí- (OPEP+) decidiram esta semana re- DE UMA RECESSÃO.
do. A multa aplicada à Apple será duzir a produção a partir de outubro, “QUANTO MAIS
agravada diariamente caso a ordem face a possíveis impactos gerados
não seja cumprida, segundo o texto pela desaceleração da economia. Os A INFLAÇÃO
publicado pelo órgão de defesa do representantes da OPEP, com sede PERMANECER
consumidor no “Diário Oficial da em Viena, e os seus 10 aliados con-
União” do país. Para justificar a sua cordaram em “regressar às quotas ALTA, MAIOR SERÁ
decisão, aquele organismo consi- de agosto”, o que representa uma
derou que a Apple violou os direi- redução diária de 100 mil barris face
A TENSÃO E O
tos dos consumidores ao vender o ao ano passado, anunciaram em co- POTENCIAL DE
produto incompleto, frisando que o municado. A organização teme que
carregador é essencial para o bom uma desaceleração da economia a ní-
CONFLITO SOCIAL”,
funcionamento do aparelho. vel mundial possa reduzir a procura. AVISOU SEWING.
 Expresso, 9 de setembro de 2022
3 EUROPA
ECONOMIA EUROPEIA
A CRESCER
4,1%
foi quanto cresceu a economia
da zona euro, em termos
homólogos, no segundo
trimestre, sendo que no conjunto
da União Europeia (UE) a
economia acelerou 4,2%, segundo
o Eurostat. De acordo com o
serviço estatístico europeu, face
ao primeiro trimestre, entre abril
e junho, o Produto Interno Bruto
(PIB) da zona euro avançou 0,8%
na zona euro e 0,7% na média
dos 27 Estados-membros. Na
comparação com o segundo
trimestre de 2021, as maiores
subidas do PIB foram registadas
na Irlanda (10,8%), Malta (8,9%) e
Eslovénia (8,3%), tendo a Estónia
apresentado o menor avanço
(0,3%), seguida da Alemanha
e Eslováquia (1,7% cada). Já na
comparação em cadeia, os Países
Baixos (2,6%), a Roménia (2,1%)
e a Croácia (2,0%) apresentaram
as maiores subidas do PIB, com
as economias da Polónia (-2,1%),
Estónia (-1,3%), Letónia (-1,0%)
e Lituânia (-0,5%) a recuarem.
Em Portugal, o PIB registou um
aumento homólogo de 7,1% e
uma variação trimestral nula.
1 7
9 algumas delas, dirão que faltam
2 6
8 RÚSSIA
Putin não
quer cereais
ucranianos
na Europa
O Presidente russo, Vladimir Putin,
disse que vai falar com o seu homó-
logo turco, Recep Tayyip Erdogan,
para exigir que os cereais ucrania-
nos se dirijam para “os países mais
pobres” e não para a Europa. “Ex-
cluindo a Turquia como mediado-
ra, praticamente todos os cereais
que saem da Ucrânia não vão para
os países mais pobres, mas para a
Europa”, disse Putin. O Presidente
russo, que falava durante a sessão
parlamentar do VII Fórum Eco-
nómico Oriental, em Vladivostok,
disse que “apenas dois em 87 navios
foram para países em desenvolvi-
mento. Sessenta mil toneladas de
2 milhões. Vale a pena pensar em
como limitar os destinos de expor-
tação de cereais e outros alimentos
por esta rota. De certeza que falarei
sobre isso com o Presidente da Tur-
quia”, disse o líder russo.
4 RÚSSIA
Combustíveis fósseis rendem €158 mil
milhões a Moscovo em seis meses
A Rússia obteve €158 mil milhões em
receitas com exportações de combus-
tíveis fósseis em seis meses de guerra,
aproveitando a subida dos preços, de
acordo com um relatório de um cen-
tro de investigação independente que
defende sanções mais eficazes. “O au-
mento dos preços dos combustíveis
fósseis significa que as receitas atuais
da Rússia estão bem acima das dos
anos anteriores, apesar das reduções
nos volumes de exportação”, destaca
o relatório do Centro de Investigação
para a Energia e Ar Limpo (CREA,
sigla em inglês), com sede na Finlân-
dia. Os preços do gás subiram para
níveis históricos na Europa, enquan-
to os do petróleo dispararam no iní-
cio da guerra, antes de caírem mais
recentemente. Os números agora
citados pela agência France-Presse
são estimativas para os primeiros
seis meses de guerra após a inva-
são russa da Ucrânia, entre 24 de
4 efeitos da inflação — conferência
8 meu costume, resolvi ouvir com
9 ALEMANHA
GRUPO VOLKSWAGEN QUER PORSCHE NA BOLSA
O grupo Volkswagen anunciou que quer colocar em bolsa o fabricante
de automóveis desportivos Porsche AG no final de setembro ou início
de outubro e concluir operação até o final deste ano. O fabricante
automóvel quer colocar 25% das ações preferenciais sem direito a voto
da Porsche no mercado de ações.
Inteiramente de
acordo, no essencial
J
fevereiro e 24 de agosto. Neste perío- ulgo ser um dos críticos
do, o CREA estima que o principal mais persistentes da go-
importador de combustíveis fósseis vernação de António Cos-
russos foi a União Europeia (com ta. A falta de ambição e
€85,1 mil milhões), seguida da China de um desígnio para o país. A
e da Turquia. A UE decidiu um em- propaganda continuada, “ven-
bargo gradual às suas importações dendo” como sucesso resultados
de petróleo e produtos petrolíferos. económicos medíocres — pro-
Também já terminou com as suas paganda a que os portugueses
compras de carvão, mas o gás russo, respondem a seu modo, não
do qual depende muito, atualmente protestando mas indo-se embo-
não é afetado pelas sanções. O centro ra, como o demonstra, de for-
de investigação acredita, no entanto, ma magistral, o excelente artigo
que o embargo europeu ao carvão — de Ricardo Reis publicado no
implementado em 10 de agosto — deu Expresso do passado dia 26 de
frutos, com as exportações russas a agosto. A ausência da mais pe-
caírem para o nível mais baixo desde quena reforma em áreas da go-
a invasão da Ucrânia. vernação da maior importância
e em situação de pré-falência. O
Estado tomado de assalto pelo
partido.
Não é, no entanto, nenhum
dos temas acima que me traz
hoje. Traz-me a conferência de
imprensa de António Costa de
segunda-feira passada, em que
anunciou o pacote de medidas de
apoio às famílias para mitigar os
de imprensa que, contra o que é
a maior atenção.
As oposições dirão que as me-
didas são curtas, chegam tarde e,
as medidas de apoio às empre-
sas. Não me revejo em nenhuma
dessas críticas, a que António
Costa respondeu, em todos os
casos, de forma convincente. E
tenho de declarar a minha mais
profunda concordância com
tudo o que ouvi, no essencial.
Concordo com a prioridade
concedida às famílias (os apoios
às empresas virão de seguida,
por razões sobejamente expli-
cadas) e com as medidas enun-
ciadas, em linha, de resto, com
as que têm vindo a ser adotadas
na generalidade dos países da
União Europeia. Tomada em
conta a modéstia das condições
financeiras do Estado portu-
guês, a medida dos apoios pa-
receu-me generosa.
Concordo com a defesa que
foi feita do princípio da esta-
bilidade financeira do Estado,
única grande reforma da troika
e de Pedro Passos Coelho que
António Costa não reverteu.
Devidamente aggiornado (para,
por exemplo, uma economia de
endividamento privado, em que
as condições de financiamento
do Estado se tornaram decisivas
para a formação das taxas de
juro da dívida de famílias e em-
presas), 100 anos depois, Salazar
não teria dito melhor — e não se
veja nesta observação uma críti-
FOTO THOMAS NIEDERMUELLER/GETTY IMAGES
ca sibilina ou mordaz, que não
é. Foi impossível não recordar
muitos dos melhores discursos
de Salazar ao ouvir António Cos-
ta, segunda-feira passada.
Concordo, e trata-se de uma
questão essencial no contexto
de inflação que estamos a atra-
vessar e que temos de contrariar,
e de ultrapassar, com a recusa
da indexação como princípio de
ação — uma resposta natural, e
compreensível, que, como An-
tónio Costa tão bem notou, aca-
bará por se tornar contraprodu-
cente, sobretudo se, acrescento
eu, o BCE cumprir a sua missão,
como parece agora comprome-
tido, tarde e a más horas.
Há, claro, os detalhes, que
poderiam nem sequer ser para
ECONOMIA 31
Só Sei Que
Nada Sei
Daniel Bessa
FOTO NUNO FOX
aqui chamados. Sê-lo-ão, quase
como curiosidades, sem beliscar
o essencial.
Ao ouvir António Costa falar
na descida da taxa do IVA da
energia elétrica para 6%, e na
urgência da aprovação desta
medida pela Assembleia da Re-
pública, não me dei conta de
imediato de que não era para
mim — estão apenas em cau-
sa os primeiros 100 kWh de
consumo mensal nas potências
contratadas mais baixas, agora
tributados em IVA a 13%. Não
era para mim nem tinha de ser,
com inteiro respeito pela orien-
tação de concentrar os recursos
disponíveis, sempre poucos, no
apoio aos mais pobres.
A surpresa maior residiu, no
entanto, na decisão de atribuir,
já em outubro próximo, meio
mês de pensão a todos os pen-
sionistas — uma “esmola” que
me pareceu logo grande demais,
deixando-me desconfiado. Per-
cebi de seguida, quando Antó-
nio Costa anunciou o aumento
das pensões para o próximo ano
(anunciado desde já, porque as
pessoas precisam de segurança,
sabendo com o que contam...),
esclarecendo que, com o paga-
mento extraordinário a que pro-
cederá de imediato, será dado
cumprimento rigoroso (com a
vantagem da antecipação...) à
lei de atualização das pensões.
Foi impossível não
recordar muitos
dos melhores
discursos de Salazar
ao ouvir António
Costa, segunda-feira
passada
Não sei se o expediente foi
utilizado noutros países ou se se
trata de mais “um golpe do gé-
nio político” de António Costa
— permitindo-lhe assegurar que
vai cumprir escrupulosamente
a lei de atualização das pensões,
tal como a lei de atualização das
rendas (esta com compensação
prometida em sedes de IRS e de
IRC), no preciso momento em
que as enterrou. Pensionistas
e proprietários dar-se-ão conta
do logro, se é que ainda se não
deram, em 2024 e anos seguin-
tes, depois de verificarem que,
com estes expedientes, os seus
rendimentos foram reduzidos
em 3,5% a 4% para todo o sem-
pre, enquanto estas leis conti-
nuarem a “vigorar”.
Quero insistir em que se tra-
ta de um detalhe, de uma mera
questão de forma, porque, em
minha opinião, as indexações
estabelecidas nas leis de atualiza-
ção das pensões e das rendas se-
riam, nas atuais circunstâncias,
uma iniquidade e uma ofensa
aos titulares de todas as outras
categorias de rendimento. Não
posso, portanto, estar mais de
acordo com a quebra da indexa-
ção. Habituado a mais trans-
parência e também, digo eu, a
mais coragem, fá-lo-ia apenas de
outro modo, com mais verdade.
Falta-me o “génio político” de
António Costa.
Economista
32 ECONOMIA Expresso, 9 de setembro de 2022