N.

º 51 l abril de 2021 l Diretor Filipe Alves l Preço €0,95 (Madeira) l Mensal, sai às sextas

ACIF quer 170 milhões

EMPRESAS
EEM vai investir
35,5 milhões com

de euros para apoiar

destaque para
renováveis e cabo
submarino ● P10

empresas da região ZONA FRANCA

Associação
de trabalhadores
Câmara do Comércio e Indústria da Madeira sugere fundo de recapitalização e reafetação de verbas para do CINM satisfeita
a iniciativa privada no Plano de Recuperação e Resiliência. Já a vice-presidência do Governo Regional com entendimento
quer investimento no sector portuário madeirense contemplado na versão final do documento. ● P2 e 3 entre PS e PSD ● P4 e 5

ENTREVISTA

Homem de Gouveia/Lusa
“A UMa está ainda
mais subfinanciada
do que a
Universidade
dos Açores” ● P8 e 9

FUTEBOL

Madeira arrisca
Sílvio Fernandes
Reitor da Universidade da Madeira

ficar ‘fora de jogo’

PANDEMIA
Enfermeiros só vão
receber em maio
na próxima Liga pelo trabalho
acrescido iniciado
em março
Maus resultados do Marítimo e do Nacional deixam ambas as
Sindicato dos Enfermeiros, que fi-
equipas em elevado risco de despromoção. Região pode ficar cou de fora do acordo com o Servi-
sem representantes na primeira divisão pela primeira vez desde ço Regional de Saúde que prevê 42
horas semanais devido à pande-
1985, o que teria forte impacto nos clubes e no turismo. ● P7 mia, critica atraso. Outros sindica-
tos dizem que está tudo bem. ● P6

Hoteleiros defendem certificados sanitários

para ajudar a relançar turismo madeirense
Grupos Pestana e Fourviews consideram que a criação de documento digital para vacinados e imunizados poderá ser importante
para criar confiança no Destino Madeira entre os turistas estrangeiros. Mas também admitem que a retoma será lenta. ● P4
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2 | Económico Madeira, 1 abril 2021

PERSPETIVA

Medidas
essenciais
para não
descer
de divisão

LEONARDO RALHA
Subdiretor

As dez jornadas que separam o

futebol madeirense do abismo
que resultaria da despromoção
do Marítimo e do Nacional po-
derão até correr melhor do que
as projeções que apontam para
a forte probabilidade de a Ma-
deira ficar excluída da primeira
divisão pela primeira vez desde
1985, quando o agora candida-
to do PSD à Câmara de Vila
Nova de Gaia, António Olivei-
ra, pendurou de vez as chutei-
ras para se dedicar por inteiro à
missão de treinar o Marítimo.
Sendo certo que os dois clu-
bes já optaram pela receita ha- PROGRAMA DE RECUPERAÇÃO E RESILIÊNCIA

Madeira reivindica
bitual em momentos de aper-
to, substituindo os respetivos
treinadores na esperança de
que a “chicotada psicológica”
surta efeito a tempo, mais

170 milhões de euros

complexos se afiguram os de-
safios enfrentados pela Região
Autónoma da Madeira consi-
derada no seu todo.

para apoio a empresas

Tal como no futebol, no qual
assenta grande parte da sua
promoção, tanto no resto de
Portugal como no estrangeiro,
devido à forte ligação a Cristia-
no Ronaldo – algo inevitável a
partir do momento em que um
melhor do mundo a fazer o que
faz é natural do Funchal –, ou-
tras ameaças de “descida de di-
visão” exigem medidas urgen-
tes que juntem decisores polí-
ticos e iniciativa privada no
objetivo comum de evitar que
o impacto económico e social
da pandemia de Covid-19 rele-
gue a Madeira para um fosso
no qual é muito mais fácil cair
do que conseguir sair.
Evitar que isso aconteça im-
plica fazer tudo para criar con-
dições de confiança dos merca-
dos emissores no turismo ma-
deirense, mas também assegu-
rar condições para a atração de
empresas que mantenham em-
pregos qualificados e bem re-
munerados – preferencial-
mente criando mais alguns.
Entendimentos como aquele
que o PS e PSD fizeram em
prol da Zona Franca da Madei-
ra serão essenciais para não dar
o “passo em frente” quando se
está perante o abismo. ●
Ideia da Câmara do Comércio e Indústria da Madeira está integrada nas propostas de alteração
ao Programa de Recuperação e Resiliência, que foi apresentado pelo Governo da República.
mento apresentado pelo Executivo produto interno bruto da região pelo menos, não serão mais ani-
RUBEN PIRES nacional, sendo diversas medidas voltasse aos valores verificados em madores”, alerta a ACIF, relativa-
rpires@jornaleconomico.pt destinadas às empresas, no valor 2005, com um decréscimo na eco- mente ao turismo, um dos sectores
de 170 milhões de euros, e apoios nomia de 1,4 mil milhões de euros, de maior relevo na economia re-
O Plano de Recuperação de Resi- para a operação portuária algumas e um aumento da dívida. gional.
liência (PRR) entrou em discussão das propostas avançadas. “Em termos globais, em 2020 as
pública entre 15 de fevereiro e 1 de A ACIF defende um novo rumo dormidas equivaleram apenas a ACIF defende nova visão
março de 2021. A Câmara do Co- de modo a recuperar a economia um terço das verificadas em 2019 estratégica para a Madeira
mércio e Indústria da Madeira da região, reforçando que essa mu- (menos 66,1%), rondando os 2,7 Face a este cenário, a ACIF enten-
(ACIF) e a vice-presidência do dança é essencial para fazer face milhões, valor mais baixo dos últi- de que a região “necessita de uma
executivo Madeirense foram algu- aos efeitos da pandemia da Covid- mos 35 anos. Lamentavelmente, nova visão estratégica” que permi-
mas das entidades da Região Autó- -19. Entre os impactos negativos é atendendo ao atual cenário de ta a recuperação da economia,
noma da Madeira que entregaram destacada a perda de 26% de rique- confinamento, os números relati- “sendo fundamental fortalecer as
propostas de alteração ao docu- za na Madeira, levando a que o vos ao primeiro semestre de 2021, empresas, por forma a relançar o
FICHA TÉCNICA
Publicado mensalmente na primeira sexta-feira de cada mês. Propriedade – Megafin Atlantic - Sociedade Editora SA. Registo na ERCS nº. 126936. NIPC 514101989. Nº Depósito Legal:
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Grajal, Venda Seca, 2739-511 Agualva, Cacém. Tiragem – 10.500. Nenhuma parte desta publicação, incluindo textos, fotografias e ilustrações, pode ser reproduzida por quaisquer meios sem
prévia autorização do editor. Estatuto Editorial disponível em www.economicomadeira.pt

Cristina Bernardo
crescimento com metas ambicio-
sas, através do apoio à tesouraria,
da capitalização das empresas, da
modernização tecnológica e utili-
zando as melhores técnicas e as
melhores práticas internacionais,
para evitar uma nova crise econó-
mica e financeira”.
Entre as medidas sugeridas pela
ACIF para o PRR estiveram o re-
forço do capital produtivo das
empresas. “De modo a convergir
com os pilares definidos pela Co-
missão Europeia, a capitalização
das empresas e a aposta na inova-
ção são fundamentais e premen-
tes, pelo que devem ser criadas
condições imediatas para o efeito.
O Plano de Recuperação e Resi-
liência deve ter como prioridade a
recuperação das empresas e da sua
capacidade produtiva, e a criação
de condições para o relançamento
da atividade e o retorno dos tra-
balhadores ao ativo”, salienta a
ACIF.
Apoios por mais
tempo ao turismo
A ACIF defendeu também que as
empresas do sector do turismo,
onde se incluem hotelaria, agên-
cias de viagens, animação turística,
alojamento local, restauração e si-
milares, devem ter apoios durante
mais tempo.
“Lamentavelmente, no PRR re-
centemente apresentado, consta-
tamos que o apoio às empresas é
relegado para segundo plano, ha-
vendo uma alocação diminuta de
verbas para o efeito. De igual for-
ma, no que concerne ao PRR para
a região, lamentamos a inexistên-
cia de investimentos públicos com
impacto significativo na resiliência
e competitividade do sector turís-
tico”, sublinha a ACIF.
A Câmara do Comércio e Indús-
tria da Madeira defendeu a inclu-
são de medidas específicas para a
recuperação e transformação do
turismo na região autónoma. “Sem
o turismo, será muito mais doloro-
sa qualquer recuperação da econo-
mia regional”, refere. A ACIF diz
que o turismo pode também ser o
“indutor do desenvolvimento e
transformação de outros sectores,
como o sector agroindustrial, o
sector energético e o sector tecno-
lógico, e ainda um catalisador da
economia circular”.
A ACIF reivindicou ainda a dis-
ponibilização de mais recursos
para o apoio à tesouraria das em-
presas e também a extensão de ou-
tras medidas como a extensão dos
prazos de pagamento de emprésti-
mos, reembolsos de sistemas de
incentivo, impostos e moratórias,
entre outros, “imprescindíveis”
para a manutenção do emprego e
para evitar a insolvência de em-
presas.
“Além das necessidades premen-
tes de tesouraria, há que ter em
conta a importância do apoio à
manutenção e expansão da capaci-
dade instalada, nomeadamente no
sector do turismo, bem como o re-
forço da produtividade dos diver-
sos sectores da atividade económi-
ca, aspetos basilares do programa
de crescimento económico”, sa-
lienta a ACIF.
Fundo de 170 milhões de euros
para apoio a empresas
A ACIF quer ainda que seja criado
um fundo de 170 milhões de euros
para o apoio direto e indireto às
empresas, através de programas de
apoio direto à capitalização, inves-
timento, qualificação e investiga-
ção e desenvolvimento (I&D).
“A este investimento propomos
ainda a realocação de cerca de 60
milhões de euros de investimento
público em projetos com forte im-
pacto no sector turístico, em parti-
cular na melhoria do produto tu-
rístico, acessibilidade e mobilidade
no território”, diz a ACIF.
A ACIF sugere ainda que sejam
realocados 230 milhões de euros,
através do reajuste de verbas em
outras áreas do PRR, que estão
alocadas para a região (consultar
tabela).
Já o Governo da Madeira apelou
a que a região tenha assento nos
três órgãos do modelo de governa-
ção do PRR: órgão Estratégico de
Coordenação Política, órgão de
Acompanhamento e órgão da
Coordenação Técnica e de Moni-
torização. O executivo madeirense
vê também o sector marítimo-
PROPOSTAS DA ACIF PARA REAFETAR INVESTIMENTOS PREVISTOS NO PRR
Ajustes
A1- Habitação - programa de subsidiação à reabilitação
de habitações próprias e promoção imobiliária a custos controlados
A2 - Residências (programa de reconversão edifícios/hotéis)
A3 - Transição digital da Administração Pública
A4 - Plano de eficiência e reforço hídrico dos sistemas de abastecimento e regadio
A5 - Potenciação da eletricidade renovável no arquipélago da Madeira
Totais
fonte: Associação Comercial e Industrial da Madeira/Câmara do Comércio e Indústria da Madeira (ACIF)
-portuário como uma área de in-
vestimento prioritária.
A vice-presidência do executivo
regional, tutelada por Pedro Cala-
do, considera que se deve centrar
em Portugal – e mais especifica-
mente na Madeira – e não nas
ilhas Canárias um ponto de amar-
ração e serviços para os iates que
cruzam o Atlântico.
O executivo sublinhou que entre
as prioridades identificados pela
região, e que deveriam ser incluí-
das no PRR, figura a necessária in-
tervenção no sector marítimo-
-portuário. Nesse sentido, o Go-
verno da Madeira disse que viu
com “grande surpresa” o afasta-
mento do financiamento deste
projeto no PRR apresentado pelo
Governo da República.
“Não se entende esta opção, pois
no próprio PRR é estabelecido o
desígnio de reforçar a coesão terri-
torial, em particular através do re-
forço da conetividade dos territó-
rios e da atividade económica, va-
lorizando o capital natural”, salien-
ta a vice-presidência.
O executivo regional diz ainda
que a nível nacional foram direcio-
nados vários investimentos para,
por exemplo, infraestruturas (re-
des interiores, missing links e liga-
ções transfronteiriças), mobilidade
sustentável, mais especificamente
Atribuição de verbas para os metropolitanos de Lisboa e
do Porto, tal como no caso dos
para sector marítimo Açores para a rede viária, sendo
e portuário foram apenas negada à Madeira a possi-
bilidade de investimento no sector
outras reivindicações portuário.
apresentadas “As regiões ultraperiféricas
constituem-se como centralidades
pela Madeira, quando avaliado o seu posiciona-
no âmbito mento geoestratégico no contexto
das propostas da bacia do Atlântico, com as
oportunidades que isso potencia
de alteração ao Plano para o país, no desígnio de erigir
de Recuperação uma grande plataforma do Atlân-
tico. É de salientar que este é um
e Resiliência fator importantíssimo para a com-
PROPOSTAS DA ACIF PARA REFORÇAR INVESTIMENTO
Medidas
M1 - Fundo de apoio à capitalização de empresas
M2 - Programa de formação e (re)qualificação das empresas
M3 - Programa de modernização e integração de toda a cadeia
de valor de produção e consumo local de produtos alimentares
M4 - Programa de qualificação do produto turístico: desenvolvimento e recuperação
de percursos, trilhos e infraestruturas para a prática de atividades na natureza
M5 - Programa de melhoria das acessibilidades
M5.1 - Melhoria das condições de operacionalidade do aeroporto da Madeira
M5.2 - Aeroporto Madeira + 1:
M5.3 - Apoio ao investimento num novo
navio para a ligação entre a Madeira e o Porto Santo
M6 - Fundo de investimento para a descarbonização energética das empresas
M7 - Mobilidade sustentável - Aceleração da implementação
do Plano Estratégico Regional para a Mobilidade Sustentável
M8 - Fundo de aceleração para empresas 4.0
M9 - Dinamização do Madeira Digital Innovation Hub
Total
Fonte: Associação Comercial e Industrial da Madeira/Câmara do Comércio e Indústria da Madeira (ACIF)
Indicadores/ objetivos
1422 fogos (novos e reabilitados)
1139 novas camas
Económico Madeira, 1 abril 2021 | 3
petitividade da Região e para o
fortalecimento de uma mobilidade
intranacional que reforça a coesão
do todo nacional, sendo que o con-
junto de investimentos previsto
ambicionam melhorar o sistema
portuário e das chamadas autoes-
tradas do mar. Acresce o contribu-
to, simultâneo para a descarboni-
zação do sector dos transportes”,
salientou a vice-presidência do
executivo regional, dizendo ainda
que os investimentos no sector
portuário “são, tão ou mais, im-
portantes para a região” como os
outros investimentos são para as
duas grandes áreas metropolitanas
de Portugal e para os Açores.
“Os portos regionais represen-
tam um dos dois únicos meios de
acessibilidade possíveis à nossa
Região – que além de insular, é ul-
traperiférica – e convergem dire-
tamente para vários desígnios,
como a garantia da continuidade
territorial, melhoria das acessibili-
dades externas, tanto ao nível das
pessoas como das mercadorias,
bem como o aumento da competi-
tividade”, refere a vice-presidência
do executivo regional.
Algumas destas reivindicações já
terão tido resposta do Executivo
de António Costa. O “Diário de
Notícias da Madeira” avançou que
iriam ser garantidos 135 milhões
de euros por via do acesso das em-
presas regionais a linhas a criar a
nível nacional. Terá sido também
acordado que as verbas de apoio às
empresas seriam alvo de um me-
morando de entendimento para
definir as regras de acesso.
A mesma publicação sublinhou
que foi acordado um total de 775
milhões de euros para a recupera-
ção da crise provocada pela pande-
mia e que a Região faria parte da
Comissão Nacional de Acompa-
nhamento e asseguraria a função
de Organismo Intermédio de Ges-
tão e Fiscalização. ●
Investimento Proposto
100M€
20M€
5M€
20M€
30M€
(5M€)
(5M€)
(20M€)
20M€
10M€
15M€
10M€
230M€
Investimento Proposto Poupança
42M€ 94M€
37M€ 46M€
28M€ 50M€
51M€ 19M€
48M€ 21M€
206M€ 230M€
4 | Económico Madeira, 1 abril 2021
REGIÃO
ATIVIDADE TURÍSTICA
Certificados
sanitários vistos
como boa medida
para relançar turismo
Possibilidade de reabertura do Reino Unido pode levar ao relançamento
da atividade hoteleira a partir de maio. Diretor-geral de Operações
do Fourviews diz que a Madeira tem de aproveitar a oportunidade.
RUBEN PIRES
rpires@jornaleconomico.pt
O turismo é uma grande peça no
complexo puzzle que a região está a
tentar montar de modo a acelerar a
recuperação económica da Madeira,
mas a solução para desbloquear todo
este emaranhado parece ainda estar
num horizonte bem distante. O sec-
tor tem sofrido um grande abalo da
pandemia de Covid-19, evidenciado
nos dados de 2020 da Direção Re-
gional de Estatística (DREM). Hou-
ve quebras de 66% nas dormidas,
para os 2,7 milhões, e uma descida
de 68% nos proveitos totais, para os
129 milhões de euros, na Madeira.
Contudo, parece existir uma rés-
tia de esperança na União Europeia,
que está a dar os primeiros passos na
criação de uma espécie de passapor-
te/certificado sanitário, com o obje-
tivo de acelerar a circulação de mais
pessoas dentro do seu território.
Esta solução colhe a simpatia do
sector turístico da Madeira, que de-
sespera por começar a atrair mais
turistas para a região.
Fonte oficial do Pestana Hotel
Group, o maior grupo hoteleiro na-
cional, considera que a concretizar-
-se a ideia de um certificado digital
sanitário, “isso seria benéfico” para
todo o sector, na medida em que o
turismo depende muito das viagens.
A mesma fonte sublinha que na
União Europeia está a ser pondera-
do esse certificado digital sanitário,
“através do qual seja possível saber
se a pessoa está imunizada, porque
tem anticorpos, se está vacinada, se
já foi infetada ou se ainda não foi in-
fetada nem vacinada”.
É ainda dito que se discutem
também as regras dentro da União
Europeia “para a livre circulação
de pessoas em face do certificado
digital, por exemplo, no que toca à
exigência ou isenção de testes PCR
anteriores à deslocação, ou qua-
rentenas à chegada aos destinos.
Estas regras seriam comuns a to-
dos os territórios da União Euro-
peia, e o objetivo é abrir as frontei-
ras e criar confiança sobre exata-
mente o que cada um pode encon-
trar quando viajar”.
Já o grupo Fourviews, quando
questionado sobre a possibilidade
de se avançar para este passapor-
te/certificado sanitário, disse que
esta possibilidade faz sentido “até
por uma questão de segurança” do
Destino Madeira.
“Se a União Europeia conseguis-
se arranjar consenso sobre um pas-
saporte sanitário seria muito mais
fácil para viajarmos. Acho que, do
ponto de vista das pessoas, estas es-
tão dispostas a ser vacinadas e a ter
um passaporte para viajar. Disso
não tenho dúvidas”, explica Sérgio
Costa, diretor-geral de Operações
do grupo Fourviews.
O mesmo responsável refere ainda
que a suspensão da administração da
vacina da AstraZeneca, durante al-
guns dias, “veio colocar mais um tra-
vão” neste processo que era essencial
ser rápido. “E os testes claramente
são também muito importantes”,
acrescenta o diretor-geral de Opera-
ções do Fourviews.
Fora da lista vermelha
dos voos do Reino Unido
Outra medida vista como positiva e
com impacto no Destino Madeira
foi a retirada de Portugal da lista
vermelha do Reino Unido, relativa
aos voos, ocorrida a 15 de março.
Sérgio Costa destaca o “trabalho
extraordinário” que o Reino Uni-
do tem feito na sua campanha de
vacinação contra a Covid-19, o
que traz “benefícios para a região”,
face à importância deste mercado
no Destino Madeira.
“A Madeira, não sendo excluída
do corredor verde, será um desti-
no muito apetecível para o merca-
do britânico”, explica.
Operação hoteleira pode ser
relançada a partir de maio
Sérgio Costa tem a expectativa de
que em maio e junho, com a possí-
vel reabertura do mercado do Rei-
no Unido, exista uma retoma da
operação hoteleira, “mesmo que
O turismo da Madeira
teve quebras de 66%
nas dormidas e de
68% nos proveitos
totais em 2020
esta seja lenta” em relação ao pré-
-Covid, criando “uma janela de
oportunidade e uma luz ao fundo
do túnel” para a região.
“A retoma será lenta. Não vamos
ser ingénuos ao ponto de pensar
que se chega a esta altura e se
abrem os hotéis todos e os restau-
rante enchem. Isso ainda não irá
acontecer. Mas será já um ponto
positivo da retoma”, reforçou.
Sérgio Costa referiu também que
a retirada de Portugal da lista ver-
melha do Reino Unido “ainda não
teve reflexo” em termos das reser-
vas que têm sido recebidas. “Esta-
mos a ter mais reservas do merca-
do nacional e algumas também de
Espanha para os meses de verão do
que propriamente um pick up nas
reservas do Reino Unido”, subli-
nhou.
Entre as explicações avançadas
por Sérgio Costa para estes serem
os territórios com mais reservas, o
diretor-geral de Operações do
Fourviews diz que, “a exemplo do
ano passado, o mercado nacional
trabalhou bem”. “E vai novamente
optar pela Madeira porque é uma
extensão do território. O sistema CENTRO INTERNACIONAL DE NEGÓCIOS
de saúde é igual, e há alguma con-
fiança de que caso ocorra alguma
coisa estão protegidos. Isso dá uma
Entendimento que
certa segurança a quem viaja. E de-
pois, em relação aos restantes mer- viabiliza Zona Franca
agrada à APCINM
cados, à medida que a vacinação
vai progredindo, penso que vão
tendo confiança em viajar e vamos
ter reservas em cima da hora”,
acrescenta.
Sérgio Costa sublinha que se
tem assistido a um fenómeno de
reservas em cima da hora. “Temos Acordo alcançado entre PS e PSD na Comissão
reservas praticamente oito dias
antes, temos pick ups de 3 a 4% para
de Orçamento e Finanças deve permitir retoma
a semana seguinte. A tendência do licenciamento de novas empresas.
tem sido muito ‘última hora’. O
ano passado isso acontecia. Nos A Associação dos Profissionais do com efeitos retroativos a 1 de ja-
mercados inglês e holandês, mer- Centro Internacional de Negócios neiro de 2021.
cados que trabalharam bem, acon- (APCINM) mostrou-se satisfeita O vice-presidente da APCINM,
tecia isso. Eram reservas feitas com o entendimento alcançado Carlos Santos, diz que este entendi-
num dia para dois ou três dias de- entre o PS e o PSD, na Comissão mento entre PS e PSD “é uma boa
pois. Todo o contexto era diferen- de Orçamento e Finanças (COF) notícia”, pois os dois partidos anda-
te. É difícil prever o que vai acon- da Assembleia da República, que vam “meio divorciados” nos últi-
tecer”, realça. vai permitir encontrar uma solu- mos tempos. “Este entendimento,
O Fourviews Monumental está ção estável para o Centro Interna- e esta coincidência de opinião so-
aberto, o Fourviews Oasis deve cional de Negócios (CINM), ou bre o CINM, e sobre a importância
reabrir a 1 de junho, e a abertura Zona Franca da Madeira. Isto vai do mesmo, e de trazer alguma cla-
do Fourviews Baía vai depender permitir também a retoma dos li- rificação na lei, é importante. Ago-
da evolução das obras.● cenciamentos de novas empresas ra também é importante perceber

qual é a aplicabilidade desta legis-
lação por parte da Autoridade Tri-
butária (AT). O que estamos a re-
comendar é que as empresas que
tenham situações que não tenham
encontrado clarificação na lei que
solicitem opinião à AT para ela
opinar sobre cada caso em particu-
lar”, refere Carlos Santos.
Algumas das reivindicações fei-
tas pela APCINM foram tidas em
conta, “agora é importante saber
como vão ser aplicadas na prática
pela autoridade fiscal”, refere Car-
los Santos.
O vice-presidente da APCINM
diz que essas reivindicações in-
cluem a questão da localização geo-
gráfica da atividade não estar cen-
tralizada na Madeira, “porque isso
iria desvirtuar o CINM e acabava
por ser um mero centro de trocas
comerciais regionais”, e também a
não obrigatoriedade dos funcioná-
rios das empresas residirem na Ma-
deira. “Devem contribuir com IRS
e Segurança Social para a Madeira,
mas que possam deslocar-se livre-
mente pelo mundo e desempenhar
a atividade internacional que está
na génese do CINM”, referiu.
Cristina Bernardo
Entidades contribuíram
para encontrar solução
A COF promoveu uma série de
audições e recebeu vários parece-
res, de modo a reunir contributos
que permitissem encontrar uma
solução para a Zona Franca.
Entre as entidades ouvidas esti-
veram o secretário de Estado do
Orçamento e Finanças - audição
requerida por PS e PSD -, a Socie-
dade de Desenvolvimento da Ma-
deira (SDM), a Câmara do Comér-
cio e Indústria da Madeira (ACIF),
a APCINM - por requerimento do
PSD -, a Associação Portuguesa de
Fundos de Investimento, Pensões
e Patrimónios, solicitada pelo
CDS-PP, e a União dos Sindicatos
da Madeira, pedida pelo PCP.
Sobre a Zona Franca pronuncia-
ram-se ainda a Autoridade Tribu-
tária e Assuntos Fiscais da Região
Autónoma da Madeira e a Unidade
dos Grandes Contribuintes (por
requerimento do PSD), a Transpa-
rência e Integridade – Associação
Cívica (nesse caso requerida pelo
PAN) e o Governo Regional da
Madeira, cuja intervenção foi re-
querida pelo PS. ● RP
INFRAESTRUTURAS
Grupo de trabalho
faz progressos para
resolver problemas do
aeroporto da Madeira
Ministério das Infraestruturas discorda das reservas
apontadas pela Secretaria Regional do Turismo.
O grupo de trabalho que visa estudar
os problemas da operação aérea da
Madeira foi criado a 15 de dezembro
de 2020 e dele fazem parte três enti-
dades da região. Uma delas, a Secre-
taria Regional do Turismo e Cultu-
ra, já disse que “não há necessidade
de discutir o que já foi discutido”. O
Ministério das Infraestruturas e Ha-
bitação do Governo da República,
por seu lado, afirma que as entidades
que fazem parte deste grupo estão
“empenhadas e dedicadas” em resol-
ver os problemas da infraestrutura.
O grupo de trabalho integra três
entidades da região e seus represen-
tantes: Eduardo Jesus, secretário re-
gional do Turismo e Cultura, Filipe
Sousa, presidente da Câmara Muni-
cipal de Santa Cruz (município
onde se situa o aeroporto da Madei-
ra), e Idalino Vasconcelos, presi-
dente da Câmara Municipal do Por-
to Santo (onde se situa o outro aero-
porto da região).
A estas entidades junta-se ainda
Frederico Pinheiro, adjunto do mi-
nistro das Infraestruturas e da Habi-
tação, bem como João Brilhante e,
em substituição, Vítor Oliveira
Martins, respetivamente técnico es-
pecialista e adjunto do gabinete do
secretário de Estado Adjunto e das
Comunicações.
Do grupo constam ainda repre-
sentantes da Navegação Aérea de
Portugal – NAV Portugal, da
ANAC – Autoridade Nacional da
Aviação Civil e da ANA- Aeropor-
tos de Portugal.
“O grupo de trabalho está neste
momento a analisar todas as solu-
ções que têm sido referidas pelas
entidades participantes no mes-
mo. No final o processo será sinte-
tizado num relatório, tal como
previsto no despacho que cria o
grupo de trabalho”, sublinha fonte
oficial do Ministério das Infraes-
tuturas e da Habitação.
Este grupo de trabalho, com du-
ração prevista de seis meses e possi-
bilidade de prolongamento por ou-
tros seis, tem por objetivo identifi-
car os “principais constrangimentos
da operação aeroportuária no ar-
quipélago da Madeira, relacionados
com os ventos e a implicação que
têm na operação aeroportuária” e a
identificação de “possíveis soluções,
técnica e economicamente viáveis,
para o que elaborará um relatório
que sirva de base para a resolução
dos problemas identificados”, sendo
que a solução deverá integrar prefe-
rencialmente as infraestruturas e
recursos regionais.
A mesma fonte do Ministério das
Infraestruturas e da Habitação subli-
Económico Madeira, 1 abril 2021 | 5
BREVES
Dívida bruta
da Madeira atinge
novo máximo
A dívida bruta da Madeira
subiu para os 5,1 mil mi-
lhões de euros, no final do
quatro trimestre, o que
constitui um máximo, in-
dicam os dados da Direção
Regional de Estatística
(DREM), que possui regis-
tos desde 2007. O anterior
máximo era de 4,9 mil mi-
nha que os trabalhos “estão a decor- lhões de euros, atingidos
rer a um bom ritmo e têm sido muito no segundo trimestre de
produtivos”, acrescentando que é es- 2017. São mais 330 milhões
perado que até final do semestre “seja de euros, ou 6%, do que no
finalizado o relatório que servirá de trimestre anterior e mais
base à decisão em torno das políticas 446 milhões de euros, ou
públicas a serem adotadas para resol- 9%, face ao mesmo período
ver os problemas em causa”. do ano passado.
Contudo, este grupo de trabalho
já foi alvo de críticas por parte do
Governo da Madeira. O secretário Receitas da região
regional do Turismo e da Cultura, têm queda de 7,7%
Eduardo Jesus, aquando da primeira
reunião, realizada a 24 de fevereiro As receitas arrecadadas
de 2021, disse que “não há necessida- pelo Governo da Madeira
de de discutir o que já está discuti- caíram 7,7%, até final de fe-
do”, e que é preciso “validar as con- vereiro, face ao mesmo pe-
clusões de um grupo de trabalho de ríodo de 2020. O IRC re-
2019” que abordou assuntos ligados gistou uma quebra de
ao aeroporto da Madeira. 85,8% e o IVA caiu 7,3%,
Já a fonte oficial do Ministério das enquanto a componente
Infraestruturas e Habitação diz que fiscal apresentou um de-
“esses temas têm sido discutidos in- créscimo de 12,4%, segun-
terinamente no âmbito do grupo de do os dados da Direção Re-
trabalho. A nós cabe-nos, neste fase, gional do Orçamento e Fi-
realçar o empenho e a dedicação de nanças. As despesas do exe-
todas as partes, nomeadamente do cutivo regional registaram
Governo Regional, com o objetivo um aumento de 3,5% na
de melhorar as condições da opera- despesa com pessoal, uma
ção aeroportuária no arquipélago da subida de 3,2% e de 121%
Madeira”. na despesa com aquisição
Respondendo a uma pergunta do de serviços e com subsí-
Económico Madeira sobre a redun- dios. Registou-se igual-
dênciaa de criar mais um grupo de mente um aumento de 18%
trabalho sobre o aeroporto da Ma- no que diz respeito a trans-
deira, a mesma fonte oficial subli- ferências correntes e de
nhou que o grupo de trabalho ante- 115% nas despesas de in-
rior foi coordenado pela ANAC e vestimento.
circunscreveu a sua abordagem à
análise da necessidade de se adquiri-
rem instrumentos como o Radar-X Despesa destinada
e o Lidar. “O grupo de trabalho atual a inovação atinge
tem um objeto mais abrangente, 26 milhões de euros
como está clarificado no despacho
de criação e refletido nas entidades A Madeira atingiu uma
participantes. Estamos todos empe- despesa de 26,9 milhões de
nhados na resolução dos problemas euros com atividades de
da operação aeroportuária”, reforça. inovação entre 2016 e
O Ministério foi ainda questiona- 2018, o que corresponde a
do sobre desenvolvimentos relati- 1% do investimento feito
vos a uma possível passagem dos li- em Portugal, que atingiu
mites de vento de obrigatórios para um montante de 2,5 mil
recomendáveis, uma reivindicação milhões de euros, indicam
da Madeira, à qual o Ministério disse os dados da Direção Regio-
que “essa é uma temática regulatória, nal de Estatística (DREM).
na qual nem o Governo, nem o gru- Dos 26,9 milhões de euros
po de trabalho se intrometem”. ● RP gastos pela Madeira na ino-
vação, 43% foram destina-
dos a despesas de inovação
O grupo de trabalho (11,7 milhões de euros),
31% para despesas com
visa identificar I&D intramuros (8,4 mi-
os principais lhões de euros) e 25% para
despesas com atividades de
constrangimentos I&D extramuros (6,8 mi-
da operação lhões de euros), ainda se-
gundo os dados divulgados
aeroportuária da pela DREM.
região autónoma
6 | Económico Madeira, 1 abril 2021
REGIÃO
HABITAÇÃO
Mercado
imobiliário
manteve-se
estável
na região
Entre as zonas que despertam mais interesse
destacam-se Câmara de Lobos e Calheta, e nas
mais acessíveis estão São Vicente e Santana.
RUBEN PIRES
rpires@jornaleconomico.pt
O mercado imobiliário tem-se
mantido estável e resiliente aos
efeitos da pandemia, e na segunda
metade de 2021 é esperada uma rá-
pida recuperação nos preços de ar-
rendamento, na região, seguindo a
tendência nacional. Esta é uma das
conclusões de uma análise feita
pela Casafari, empresa que faz
agregação de dados sobre o sector.
“Retirando ligeiras correções
nos preços, o mercado da Madeira
não registou uma correção signifi-
cativa no sector imobiliário. So-
mente no mercado de arrenda-
mento, as correções rondam os
10%, dependendo da zona, devido
maioritariamente à oferta existen-
te no mercado, nomeadamente
imóveis no alojamento local e no
arrendamento de curta duração.
Antecipamos, por isso, que o mer-
cado imobiliário da Madeira veri-
fique uma rápida recuperação nos
preços de arrendamento, à seme-
lhança do resto do país, na segun-
da metade de 2021”, diz Nils Hen-
ning, cofundador da Casafari.
A Casafari sublinha que Câmara
de Lobos, no arrendamento e na
venda, é o concelho que apresenta
maior potencial, quando se analisa
os preços médios de apartamentos
e moradias, bem como a oferta dis-
ponível na Região Autónoma da
Madeira, tendo como base os pre-
ços médios verificados no passado
mês de fevereiro.
Os dados da Casafari indicam
que as zonas que geram mais inte-
resse são Câmara de Lobos (média
de 171.782 euros), Calheta
(139.278 euros), Santa Cruz
(125.899 euros) e Santana (81.975
euros), no caso da venda de aparta-
mentos, e Câmara de Lobos (mé-
dia de 206.513 euros), Porto Mo-
niz (120.938 euros) e Calheta
(302.255 euros) em relação às mo-
radias.
Relativamente ao mercado de
arrendamento, as zonas que se es-
tima despertarem maior interesse
são Câmara de Lobos (média de
571 euros), Ribeira Brava (554 eu-
ros), Santa Cruz (442 euros) e Ma-
chico (593 euros), relativamente a
apartamentos. No que toca ao ar-
rendamento de moradias, desta-
cam-se Câmara de Lobos (455 eu-
ros), Funchal (932 euros) e Santa
Cruz (723 euros).
Rendas baixas na Ponta do Sol
Em termos de zonas mais acessí-
veis na região, os dados da Casafa-
ri, quer para arrendamento quer
para venda, indicam que os conce-
lhos de São Vicente (55.200 eu-
ros), Santana (81.975 euros), Santa
Cruz (125.899 euros) e Machico
(127.910 euros) são os “que sur-
gem com os preços médios dos
apartamentos mais acessíveis”, en-
quanto nos preços médios das mo-
radias se observa que Porto Moniz
(média de 120.675 euros), Santana
(143.258 euros) e Machico
(184.459 euros) apresentam os
preços mais baixos.
Já no que respeita ao arrenda-
mento, Ponta do Sol (320 euros),
Santa Cruz (442 euros), Calheta
(462 euros) e Ribeira Brava (554
euros) registam os preços médios
de apartamentos mais baixos. Nas
moradias as rendas mais acessíveis
podem ser encontradas na Ponta
do Sol (339 euros), Calheta (367
euros), Câmara de Lobos (455 eu-
ros) e Ribeira Brava (514 euros),
sublinha a Casafari. ●
A Casafari estima que
o mercado imobiliário
da Madeira tenha
rápida recuperação
no segundo trimestre,
no que toca a preços
SAÚDE
Enfermeiros só vão
receber em maio
pagamento do
horário acrescido
Limite de 42 horas semanais visa reforçar luta
contra a Covid-19 e terá em conta necessidades
e verbas orçamentais disponíveis.
RUBEN PIRES
rpires@jornaleconomico.pt
O horário acrescido de 42 horas para
os enfermeiros, destinado a reforçar
a luta contra a Covid-19 e que previa
um acréscimo salarial de 37% da re-
muneração base desses profissionais,
entrou em vigor a 1 de março, mas
só será pago em maio. Resultante de
um acordo coletivo de trabalho
(ACT), assinado a 5 de fevereiro en-
tre o Serviço Regional de Saúde (SE-
SARAM), a vice-presidência do Go-
verno da Madeira, a Secretaria Re-
gional da Saúde e Proteção Civil, a
Associação Sindical Portuguesa dos
Enfermeiros (ASPE), o Sindicato dos
Enfermeiros da Região Autónoma
da Madeira (SERAM) e o Sindicato
Democrático dos Enfermeiros de
Portugal (SINDEPOR), esse com-
promisso está a ser considerado
cumprido pelas três organizações
que o subscreveram, mas desagrada
ao Sindicato dos Enfermeiros (SE),
que ficou de fora.
A delegada sindical do Sindicato
dos Enfermeiros (SE), Márcia Orne-
las, crtica que o pagamento referente
ao horário acrescido de 42 horas não
se tenha refletido já na folha salarial
de março. E garante que esta situação
tem gerado um “sentimento de in-
justiça” junto dos enfermeiros, pois a
compensação salarial possivelmente
“só terá reflexos” em maio.
Tal visão não é partilhada pelo
SINDEPOR e pelo SERAM, que
subscreveram o acordo. Os seus re-
presentantes dizem que até agora o
SESARAM “está a cumprir”.
Lusa
O presidente do SERAM, Juan
Carvalho, esclarece que o regime de
horário acrescido “teve início em
março, mas será pago em abril ou
maio, dependendo do enquadra-
mento orçamental que seja feito”.
“A informação do SESARAM é
que este não foi pago em março pre-
cisamente por uma regra de enqua-
dramento orçamental”, reforça Juan
Carvalho, que diz estar “vigilante a
situações pendentes”, como o des-
congelamento das carreiras, a transi-
ção para a categoria de enfermeiro
especialista e ainda o horário acresci-
do. “Se não houver do SESARAM o
cumprimento do que está estabeleci-
do em fevereiro, o SERAM será o
primeiro a intervir e a denunciar a si-
tuação”, garante o sindicalista.
De igual modo, o coordenador re-
gional do SINDEPOR na Madeiraa,
Evaristo Faria, diz que o pagamento
“será feito de acordo com o que está
acordado, e irá ser pago da mesma
forma que o trabalho suplementar”.
“Dois meses após o término do horá-
MÁRCIA ORNELAS
Delegada do Sindicato
dos Enfermeiros
rio acrescido também será paga essa
parte suplementar relativa ao horá-
rio acrescido”, sublinha.
“Os enfermeiros estavam a pensar
que iam auferir esse valor neste mês,
mas isso só irá acontecer daqui a
dois. Tal como auferimos o trabalho
suplementar extraordinário com
atraso de dois meses, no horário
acrescido será da mesma forma”, re-
força o coordenador regional do
SINDEPOR. Apesar disso, Evaristo
Faria considera que “não irá haver
perdas” para os enfermeiros e que es-
tes “não sairão prejudicados”.
SESARAM só paga depois
de confirmar horas
O SESARAM, após um pedido de
esclarecimentos do Económico Ma-
deira sobre o horário acrescido e res-
petivo pagamento, disse que esta
modalidade de horário de trabalho
“corresponde a um acréscimo remu-
neratório de 37% da remuneração
base, o qual só é devido em situação
de prestação efectiva de trabalho”.
Face a isto, sublinha o serviço regio-
nal de saúde madeirense, “o paga-
mento deste acréscimo só pode ocor-
rer após a confirmação da efetivida-
de de funções”.
O SESARAM reforça que nos ca-
sos em que o regime de horário
acrescido não seja assegurado pelo
período completo de um mês, “o
acréscimo remuneratório é propor-
cional ao número de horas que exce-
dam as correspondentes às 35 horas
semanais”.
“Estando ainda a correr o mês de
março de 2021, o pagamento só pode
ocorrer após a sua concretização. Si-
tuação semelhante acontece com o
pagamento do trabalho suplementar
que só ocorre, em toda a Adminis-
tração Pública, dois meses após a sua
execução. Ou seja, o trabalho suple-
mentar, incluindo este regime exce-
cional, que for realizado em março
só será pago em maio”, sustenta.
O SESARAM diz que o regime das
42 horas para os enfermeiros “é
transversal a todos os serviços e será
constantemente avaliado consoante
as necessidades, e levará também em
conta” a evolução da pandemia na
Região Autónoma da Madeira.
Situação a título excecional
e transitório
O serviço regional de saúde diz que
os critérios de elegibilidade para
acesso a este regime levarão em con-
ta “as necessidades de enfermeiros e
dotações seguras para responder às
necessidades do número de horas
necessárias aos cuidados de enferma-
gem, garantindo os postos de traba-
lho e tendo em vista a qualidade dos
cuidados e segurança”.
O SESARAM diz que este acordo
com os sindicatos visa “adotar para a
carreira especial de enfermagem a tí-
tulo excecional e transitório, em si-
tuações devidamente fundamenta-
das e mediante acordo do trabalha-
dor, o regime de horário acrescido,
com a duração de 42 horas semanais
e com o consequente acréscimo sala-
rial de 37%, o qual releva para efeitos
de subsídio de natal e de férias. Esta
solução enquadra-se no contexto de
plano de contingência ou período de
excecionalidade, segundo determi-
nação da autoridade de saúde legal-
mente competente para o efeito”. ●

FUTEBOL
Madeira arrisca ficar fora da Liga
pela primeira vez neste século
Más épocas do Marítimo e Nacional dirigem os dois clubes para a despromoção. Descida de receitas seria inevitável, sobretudo
nos direitos televisivos, e haveria impacto no turismo de uma região que assenta grande parte da sua promoção no futebol.
LEONARDO RALHA
lralha@jornaleconomico.pt
Ainda faltam dez jornadas para o
final da Liga NOS, e nada está ga-
rantido quanto ao campeão (ape-
sar dos dez pontos de vantagem do
Sporting sobre o FC Porto), aos
qualificados para as competições
europeias e aos despromovidos,
mas não restam dúvidas de que o
futebol madeirense vive o seu pior
momento desde as últimas décadas
do século passado. O Nacional
ocupa a 16.ª posição, com 21 pon-
tos, precisamente os mesmos do
Marítimo, último classificado,
pelo que se o campeonato termi-
nasse agora o primeiro teria um
play-off com o terceiro da Segunda
Liga, enquanto o segundo ficaria
desde logo excluído da competição
em que participa consecutivamen-
te desde 1985/1986.
O risco de a Madeira ficar fora
da primeira divisão pela primeira
vez no século XXI é reforçado por
projeções e estatísticas. Para o site
norte-americano FiveThirtyEight,
do mago das sondagens Nate Sil-
ver – que atribui 89% de hipóteses
de fim de ‘jejum’ do Sporting –, o
Nacional é o clube com maiores
probabilidades de despromoção
(58%), seguindo-se o Marítimo
(53%). A ‘concorrência’ mais pró-
xima pelos lugares que ninguém
deseja inclui Boavista (37%), Fa-
rense (32%) e Famalicão (16%).
Para a projeção do site contribui
o valor intrínseco de cada equipa e
o histórico nos confrontos com os
rivais, o que não pode deixar des-
cansados os clubes madeirenses,
que têm compromissos difíceis nas
últimas dez jornadas da Liga NOS.
O Nacional, que recebe nesta sex-
ta-feira o também aflito Portimo-
nense, jogará ainda na Choupana
contra FC Porto, Vitória de Gui-
marães e Benfica, e visitará o Spor-
ting. Por seu lado, o Marítimo des-
loca-se aos estádios do Benfica (na
próxima segunda-feira) e do Spor-
ting (na última jornada, que se afi-
gura dramática), e receberá os mi-
nhotos do Sporting de Braga e Vi-
tória de Guimarães.
Para o pró-reitor da Universida-
de Europeia, Luís Vilar, especialis-
ta em Economia do Desporto,
além do forte impacto da eventual
dupla despromoção para os pró-
prios clubes, a Região Autónoma
da Madeira sofreria com um ano
sem contacto com os três grandes
do futebol nacional. “É importante
ter equipas na Primeira Liga. Ain-
da para mais quando a imagem de
Económico Madeira, 1 abril 2021 | 7
Impacto nas contas dos clubes
Foto cedida
O cenário de iminência de despro-
moção – que já levou o Marítimo a
contratar o treinador espanhol Ju-
lio Velázquez, substituindo Milton
Mendes (que assumira o comando
técnico após a saída de Lito Vidi-
gal) e o Nacional a promover o re-
gresso de Manuel Machado para o
lugar de Luís Freire – constituirá
também um descalabro financeiro
para os dois clubes.
“Os clubes têm as despesas mais
ou menos estabilizadas para as
duas ou três temporadas seguintes,
pois os orçamentos assentam entre
60% e 80% nos contratos dos joga-
dores. A despromoção implica um
corte substancial de receitas acom-
panhado por uma manutenção de
custos”, explica Luís Vilar, salien-
tando que “a preponderância das
receitas televisivas é tanto maior
quanto mais pequeno for o clube”.
O que não invalida que também as
receitas com patrocínios e bilhéti-
ca – nesse caso se a evolução da
pandemia de Covid-19 permitir
público nas bancadas na próxima
época – sofram com um calendário
em que os plantéis dos três ‘gran-
des’ não pisem o relvado dos está-
dios dos Barreiros e da Choupana.
A solução passaria, segundo o
pró-reitor da Universidade Euro-
peia, pela reestruturação das des-
pesas. Algo que envolve vender
passes de futebolistas – tarefa difi-
cultada pela má conjuntura do
mercado, o que faz com que o Ma-
rítimo tenha tido bom timing ao
negociar o avançado brasileiro
Rodrigo Pinho ao Benfica no mer-
cado de inverno – e aliviar a folha
salarial com rescisões amigáveis.
Mas também aí pode haver dificul-
dades, devido à habitual diferença
entre os contratos registados na
Liga, que Luís Vilar lembra esta-
rem já de si inflacionados pela ten-
dência histórica de os jogadores
quererem receber mais dinheiro
por irem viver para a ilha, e verbas
adicionais que recebem enquanto
prestadores de serviços – e que na-
turalmente quererão incluir no
Cristiano Ronaldo é usada para ‘bolo’ a pagar pelos clubes.
DEZ ÚLTIMAS TEMPORADAS DOS CLUBES MADEIRENSES promover a região. Para o turismo Tendo um orçamento de nove
MARÍTIMO NACIONAL UNIÃO é fatal”, salienta. milhões de euros, que é o sexto da
2010/2011 9.º 6.º 2.ª Liga Recuando até à temporada de Liga NOS, ao Marítimo deve pesar
2011/2012 5.º 7.º 2.ª Liga 2015/2016, a última em que Marí- ainda mais uma despromoção do
2012/2013 10.º 8.º 2.ª Liga timo, Nacional e União da Madei- que ao Nacional, que gasta metade.
2013/2014 6.º 5.º 2.ª Liga ra – hoje relegado ao Campeonato Tal como a experiência dos nacio-
2014/2015 9.º 7.º 2.ª Liga de Portugal – coincidiram no prin- nalistas na difícil missão de voltar
2015/2016 13.º 11.º 17.º cipal escalão do futebol português, a subir de divisão (assim o fizeram
2016/2017 6.º 18.º 2.ª Liga já havia alguns sinais de crise. Afi- por duas vezes desde 2018) leva a
2017/2018 7.º 2.ª Liga 2.ª Liga nal, desde 2013/2014 que nenhum que Luís Vilar considere que estão
2018/2019 11.º 17.º Camp. Portugal clube madeirense se apura para as mais bem preparados do que os
2019/2020 11.º 2.ª Liga Camp. Portugal competições da UEFA, cabendo ao maritimistas se o pior suceder na
Fontes: Liga de Clubes e FPF Nacional a última vez. última jornada. ●
8 | Económico Madeira, 1 abril 2021
REGIÃO
ENTREVISTA SÍLVIO FERNANDES Reitor da Universidade da Madeira (UMa)
“A UMa sofre por não
obter financiamento que
compense ultraperiferia”
Novo reitor da Universidade da Madeira defende que o subfinanciamento pode ser compensado através
de majoração ou por uma fórmula compensatória integrada na revisão da Lei das Finanças Regionais.
RUBEN PIRES
rpires@jornaleconomico.pt
A Universidade da Madeira (UMa)
teve eleições a 12 de março e Sílvio
Fernandes foi eleito o novo reitor
da instituição de ensino superior
madeirense. Entre as prioridades do
mandato de quatro anos do anterior
vice-reitor encontram-se o comba-
te ao subfinanciamento da institui-
ção de ensino superior, a aposta em
áreas estratégicas e a criação de con-
dições para que os investigadores
possam ter mais acesso a projetos
internacionais.
Quais serão as grandes linhas
orientadoras da sua ação
enquanto novo reitor da
Universidade da Madeira?
Destaco, de entre o conjunto de ob-
jetivos que defini para serem imple-
mentados no próximo quadriénio,
as seguintes linhas de ação. Em pri-
meiro lugar, combater o crónico
subfinanciamento da Universidade
da Madeira. Depois, continuar a
pugnar pela compensação decor-
rentes dos sobrecustos da situação
insular e ultraperiférica em que se
encontra a Universidade e que tem
vindo a afetar gravemente o seu
funcionamento, bem como a con-
cretização de um plano mais ambi-
cioso para o futuro da instituição,
com naturais reflexos no desenvol-
vimento da Madeira. Aumentar o
número de alunos, de ciclos de estu-
dos, de projetos de investigação, de
parcerias regionais, nacionais e in-
ternacionais, e apostar no desenvol-
vimento de áreas estratégicas como
o turismo, a saúde, o ambiente, o
mar, a biodiversidade, o big data, a
bioeconomia e a transformação di-
gital, entre outras, que se possam
posicionar no quadro do programa
de desenvolvimento da UMa. Refi-
ra-se que a aposta no turismo foi
bem-sucedida e que tem todas as
condições para se tornar um projeto
de importância decisiva para o futu-
ro desta área, não só na Universida-
de como ainda para a Madeira. O
mesmo se pode afirmar em relação
a muitas outras áreas, como a Medi-
cina, com o funcionamento, pela
primeira vez, do 3.º ano do curso na
Madeira, a partir de setembro de
2021; a Química, com a obtenção
recente da classificação de excelente
pelo Centro de Química da Madeira
(CQM), classificação essa que já ti-
nha sido atribuída a dois dos polos
da UMa: o polo de Plasmas e Fusão
Nuclear do Instituto Superior Téc-
nico de Lisboa, sediado no Departa-
mento de Física da Universidade da
Madeira, e o polo Nova-LINCS da
Universidade Nova de Lisboa, se-
diado no Departamento de Infor-
mática da Universidade da Madeira.
Além disso, valorizar as carreiras
dos docentes e dos funcionários não
docentes, aceder a fundos de finan-
ciamento no âmbito da moderniza-
ção administrativa, da transforma-
ção digital, da internacionalização, e
do restauro e modernização das in-
fraestruturas, bem como para a
construção de um edifício pedagó-
gico na Quinta de S. Roque e de
uma segunda residência universitá-
ria. E há que reforçar a formação de
professores, poic a Região Autóno-
ma da Madeira necessita de ver re-
solvida a carência de docentes em
várias disciplinas, carência essa que
tenderá a aumentar nos próximos
anos. Além disso, a UMa não pode
deixar de ter em conta a sua missão
de contribuir para a formação ao
O novo reitor da
Universidade da
Madeira tem ainda
entre as suas
prioridades o
aumento da
transferência de
conhecimento para as
empresas e o reforço
da ligação com os
países da Macaronésia
longo da vida e, nesse sentido, há de
continuar a reforçar as competên-
cias do Centro de Desenvolvimento
Académico (CDA) e criará a Escola
Sénior da Universidade da Madeira.
É preciso reforçar a interação com
instituições, empresas e demais or-
ganismos que mantêm ligações
com a Universidade, incrementar a
transferência de conhecimento
para as empresas, através da cria-
ção de um Gabinete de Transfe-
rência de Conhecimento, e refor-
çar a ligação ao espaço da Macaro-
nésia, aos países da lusofonia e à
diáspora madeirense.
Vários centros de investigação
da UMa já são referências
a nível internacional. Qual será
o plano que vai colocar em ação,
não só para manter esse nível
de excelência, mas também
para alavancar uma possível
internacionalização
da investigação da UMa
como um todo?
Não se pode internacionalizar a in-
vestigação como um todo. A ideia é
criar condições para que os investi-
gadores das diferentes áreas possam
participar em mais projetos inter-
nacionais e possam publicar mais.
No entanto, diferentes áreas de in-
vestigação respondem de forma di-
ferente aos incentivos que venham
a ser criados. A maior parte dos in-
vestigadores tem já a sua rede de
contactos internacionais com quem
coopera. Outra estratégia é a criação
de mais cursos, mestrados e douto-
ramentos, em áreas prioritárias para
a UMa, e que ainda não existam no
país, e com instituições de Ensino
Superior de outros países, de modo
a podermos atrair mais alunos in-
ternacionais. O laboratório de
Marketing Digital da UMa terá a ta-
refa de divulgar tudo isto e promo-
ver a atração de mais parcerias in-
ternacionais.
A atração e retenção
de investigadores é também
uma alavanca para tornar
as universidades mais
competitivas. Como pretende
atrair e reter investigadores
de excelência para a UMa?
A criação da carreira de investiga-
ção, que apresento como um dos
objetivos do meu programa, contri-
buirá para atrair e reter investiga-
dores de excelência para a UMa.
Mas obviamente que o incremento
da investigação em áreas emergen-
tes será um excelente chamariz.
Além disso, a Universidade, através
dos seus centros e polos de investi-
gação, e ainda através da relação in-
terinstitucional, nomeadamente
com a Agência Regional para o Des-
envolvimento da Investigação, Tec-
nologia e Inovação (ARDITI), po-
derá ainda promover outras formas
de atrair investigadores em áreas es-
tratégicas, proporcionando condi-
ções para que tanto a UMa quanto a
região beneficiem do aumento da
massa crítica tão necessária para o
crescimento da investigação e des-
envolvimento na Madeira e no país.
Num mundo globalizado
como se pode posicionar uma
universidade que se encontra
num território ultraperiférico?
A questão do posicionamento de
uma universidade num território
ultraperiférico tem constituído uma
preocupação constante das reitorias
da Universidade da Madeira. Todos
sabemos que as duas universidades
insulares e ultraperiféricas portu-
guesas - que são a Universidade da
Madeira e a Universidade dos Aço-
res (UAç) - sofrem por não obterem
financiamento que compense os
efeitos da sua falta de escala, fator
que não afeta a maioria das univer-
sidades portuguesas. A pequena di-
mensão das universidades sediadas
nas regiões autónomas e os orça-
mentos que, ao longo dos anos, lhes
são atribuídos não permitem com-
pensar aquela falta, nem tão-pouco
o conjunto dos sobrecustos decor-
rentes da sua situação insular e ul-
traperiférica. À parte o desenvolvi-
mento de âmbito estritamente fi-
nanceiro, em sede de transferências
do Orçamento do Estado, tenho a
referir que as Universidades da Ma-
deira e dos Açores só podem com-
pensar essa desvantagem através de
uma parceria estratégica com os
respetivos governos regionais, com
as autarquias onde se encontram
predominantemente sediadas, bem
como com outras instituições e or-
ganismos que se comprometam
com a investigação e com a forma-
ção que se faz nas universidades.
Atendendo a que o papel das uni-
versidades é crucial para o desen-
volvimento socioeconómico e cul-
tural das regiões onde se encontram
sediadas, só existe uma resposta a
 Económico Madeira, 1 abril 2021 | 9
esta questão: um compromisso cada
Foto cedida
vez mais estreito e colaborativo no
sentido de financiar projetos de in-
teresse comum, de modo a que a
Universidade forme, em primeiro
lugar, quadros especializados para
as necessidades da região (cobrindo
todas as modalidades de formação,
desde os cursos técnicos superiores
profissionais, passando pelas licen-
ciaturas, mestrados e doutoramen-
tos, e finalizando na oferta de pós-
-graduações e cursos breves e para
executivos). Em segundo lugar, as
referidas parcerias estratégicas de-
vem providenciar o aumento da in-
vestigação científica e da prestação
de serviços, bem como da transfe-
rência de conhecimento para a so-
ciedade e, em particular, para as em-
presas. Esperemos que, com o novo
quadro comunitário e com o Plano
de Recuperação e Resiliência, a
Universidade da Madeira, o Gover-
no Regional, as autarquias, as enti-
dades que a UMa integra, como a
ARDITI e a Startup Madeira, bem
como outras instituições e organis-
mos, públicos e privados, venham a
estabelecer os acordos necessários
para capitalizar e otimizar a capaci-
dade de investigação instalada e/ou
a instalar de modo a aumentar so-
bremaneira a dimensão da UMa em
Investigação e Desenvolvimento
(I&D). Este conjunto de objetivos
pode, na realidade, continuar a
combater a situação de uma univer-
sidade sediada num território ultra-
periférico. Estou, todavia, convicto
de que esta condição não deve ser
tomada no sentido de uma inexorá-
vel condenação à pequenez e à mi-
noridade, seja de que cariz for.
Deve, outrossim, ser considerada
uma oportunidade para usarmos as
tecnologias e vantagens do mundo
tecnológico globalizado. Podemos
produzir conhecimento, no âmbito
das nossas escolhas e singularidades,
com a qualidade exigida em qual-
quer parte do mundo. As publica-
ções científicas e os resultados de-
correntes da investigação realizada
na UMa são disso exemplo, tendo
vindo a crescer de forma sustentada
nos últimos anos.
O financiamento
das universidades é relevante
para poder desenvolver o plano
de ação de uma universidade.
Como se vai posicionar
nesta matéria?
A resolução deste problema esteve,
numa primeira fase em cima da
mesa, quando os reitores das Uni-
versidades da Madeira e dos Açores
tomaram a iniciativa de elaborar
um estudo que a Lei do Orçamento
de Estado de 2019 (artigo 72.º) pre-
via que fosse realizado pelo Gover-
no da República (“Compensação
dos sobrecustos da insularidade
para instituições públicas de ensino
superior das regiões autónomas.
Até ao final da sessão legislativa, o
Governo promove os estudos ne-
cessários, com vista à majoração do
financiamento das instituições pú-
blicas de ensino superior das regiões
autónomas, para compensar os so-
brecustos da insularidade e da ultra-
periferia e contribuir para o reforço
da coesão territorial e apresenta-os
à Assembleia da República.”). Uma
vez realizado o estudo, que mereceu
ampla divulgação e foi apresentado
pelos referidos reitores à Assem-
bleia da República, às assembleias
legislativas das respetivas regiões
autónomas e aos seus governos re-
gionais, bem como aos represen-
tantes da República e aos partidos
políticos, quantificou aquela com-
pensação, apontando, no caso da
Universidade da Madeira, para um
reforço anual do seu orçamento en-
tre quatro e sete milhões de euros.
Apesar da generalizada aceitação da
reivindicação das universidades
subscritoras do projeto de majora-
ção do seu orçamento anual, lamen-
tavelmente esse projeto não foi
aprovado em sede de discussão es-
pecializada do Orçamento do Esta-
do para 2020. Depois desta recusa,
ocorreu em fevereiro de 2020, a ce-
lebração de um acordo nos Açores,
no sentido de vir a ser assinado um
contrato-programa, que providen-
ciaria um reforço orçamental da
Universidade dos Açores no valor
de 1.2 milhões de euros anuais, du-
rante o quadriénio da atual legisla-
tura. Sem pôr em causa o referido
acordo (embora até ao presente ain-
da não haja informação que tenha
sido efetivado), a Universidade da
Madeira fez sempre saber, através
do seu reitor e do Conselho Geral,
por mim, nos artigos de opinião que
mantenho no “Diário de Notícias da
Madeira”, que exigia um tratamento
análogo ao que foi encontrado para
a Universidade dos Açores. Esta
nossa pretensão, já devidamente
enquadrada com as devidas contex-
tualizações, assenta no seguinte
pressuposto: a Universidade da Ma-
deira encontra-se ainda mais subfi-
nanciada do que a Universidade dos
Açores, pelo que o financiamento
previsto no referido contrato-pro-
grama é insuficiente para compen-
sar os sobrecustos decorrentes da si-
tuação insular e ultraperiférica da
Universidade da Madeira. Admito
que esta compensação possa come-
çar, numa primeira fase, pela cele-
bração de um contrato-programa,
mas tem necessariamente de evoluir
para outro tipo de compromisso,
mais estável e duradouro, que ga-
ranta, uma atempada, sólida e estru-
turada gestão dos meios orçamen-
tais para levar a bom termo o plano
estratégico de desenvolvimento da
Universidade. Nesse sentido, a re-
solução deste problema passaria por
duas das seguintes opções: majora-
ção do financiamento, via dotação
do Orçamento de Estado, seguindo,
com as devidas atualizações, a fór-
mula proposta no estudo elaborado
pelos reitores das Universidades da
Madeira e dos Açores; ou inscrição,
em sede da revisão da Lei da Finan-
ças Regionais, de uma fórmula
compensatória para o efeito. Isto a
par do acesso aos fundos, no âmbito
do novo quadro comunitário, espe-
cialmente destinados à internacio-
nalização, à modernização adminis-
trativa e à transformação digital, é
este o plano que julgo ser o mais
conveniente para resolver um pro-
blema que, ao longo de tantos anos,
vem agravando a saúde financeira
da Universidade da Madeira, im-
possibilitando-a de se desenvolver
convenientemente e de contribuir
para o desenvolvimento da Região
Autónoma da Madeira. ●
10 | Económico Madeira, 1 abril 2021
EMPRESAS & NEGÓCIOS
ENERGIA
EEM prevê ambicioso
plano de investimentos
para 2021
Entre o aumento da produção de energia renovável e o investimento feito no cabo submarino,
a Empresa de Eletricidade da Madeira conta investir 35,5 milhões de euros ao longo deste ano.
RUBEN PIRES
rpires@jornaleconomico.pt
A Empresa de Eletricidade da Ma-
deira (EEM), detida a 100% pelo exe-
cutivo madeirense, tem um extenso
plano de investimentos previsto para
2021. O investimento no aumento
da produção através de energia reno-
vável atinge os 20 milhões de euros,
e o cabo submarino é visto como
uma infraestrutura crucial para o
desenvolvimento da região.
No plano de investimentos da
EEM estão previstos a conclusão da
ampliação do aproveitamento hi-
droelétrico da Calheta, a conclusão
do projeto de execução e lançamen-
to de concurso para a remodelação
integral da central hidroelétrica da
Serra de Água, a instalação de uma
central de baterias na ilha da Madei-
ra, o upgrade do sistema de automa-
ção e monitorização da central tér-
mica do Porto Santo, a remodelação
da subestação da central térmica do
Porto Santo, o concurso e arranque
dos trabalhos da construção da su-
bestação do Lombo do Meio, a re-
modelação do andar de 60 kv da su-
bestação de Machico, o concurso e
arranque dos trabalhos da constru-
ção da subestação da Ponta Delgada,
o concurso e arranque dos trabalhos
da construção da linha Santo da Ser-
ra-Meia Serra, a instalação parcial
de rede de condutas para a futura li-
gação subterrânea Santa Quitéria-
-Palheiro Ferreiro, a beneficiação
de diversas linhas da rede de trans-
porte, o arranque da substituição de
contadores convencionais por con-
tadores inteligentes na ilha da Ma-
deira, a melhoria das redes de média
e baixa tensão e da iluminação pú-
blica, a remodelação do centro lo-
gístico do Porto Santo e ainda a
atualização dos sistemas de infor-
mação e comunicação, nas verten-
tes técnica, comercial e de gestão.
Aposta nas fontes renováveis
é para aumentar
A EEM tem também planos para au-
mentar a quota de produção de ele-
tricidade a partir de fontes renová-
veis. “Se atualmente num ano hidro-
lógico médio cerca de 30% da eletri-
cidade é de origem renovável, com o
projeto de ampliação do projeto hi-
droelétrico reversível da Calheta e
dos 25 MW de potência eólica insta-
lada, que lhe estão associados, esti-
ma-se atingir cerca de 40% de eletri-
cidade renovável”, diz o presidente
do conselho de administração da
EEM, Rui Rebelo.
O presidente da EEM diz ainda
que em 2021 está prevista a instala-
ção de uma central de baterias na ilha
da Madeira, infraestrutura que vai
permitir “um melhor aproveitamen-
to” das fontes de energia renováveis
existentes e, também, “aumentar a
capacidade de integração de mais po-
tência renovável intermitente”.
A previsão é que se possa aumen-
tar a potência fotovoltaica instalada
O cabo submarino,
um dos investimentos
da Empresa
de Eletricidade
da Madeira,
deve estar
operacional em maio,
garantindo “mais
e melhores serviços
a preços mais baixos”
Lusa
em cerca de 60 MW. “Com a conclu-
são do investimento da bateria e da
instalação desta potência fotovoltai-
ca (por privados) a produção de ele-
tricidade renovável deverá atingir
50% da produção total”, explica.
O presidente da EEM sublinha
que “nos próximos anos está já pla-
neado dotar o sistema elétrico de
maior capacidade de integrar mais
energia renovável intermitente,
permitindo, inclusive, operar o sis-
tema elétrico só com renováveis,
nomeadamente através da instala-
ção de nova bateria e de um com-
pensador síncrono, ficando criadas
as condições para um novo reforço
da potência instalada em renováveis
e, consequentemente, um novo re-
forço da contribuição das fontes de
energia renováveis na produção de
eletricidade limpa”.
Vinte milhões de euros
sobretudo para baterias
A EEM deve investir 20 milhões de
euros em 2021 para a produção a
partir de energias renováveis, sendo
que a maior parte do montante será
alocado para o projeto das baterias.
O presidente da EEM refere que
os investimentos em termos de pro-
dução de eletricidade renovável as-
sentam em duas vertentes: “Nos in-
vestimentos diretos em fontes de
energia renovável (hídrica, eólica,
fotovoltaica, outras) e nos investi-
mentos indiretos no sistema elétrico,
quer para garantir a capacidade de
escoamento da produção nas redes
(linhas, cabos, subestações, etc.),
quer para garantir a exploração segu-
ra do sistema elétrico (bombagem,
baterias, compensadores síncronos,
etc.)”, diz Rui Rebelo.
Cabo submarino implica
investimento de 15,6 milhões
O investimento no cabo submarino
chega aos 15,6 milhões de euros, e
deve estar a operar em maio. O pre-
sidente da EEM refere que o investi-
mento “é constituído por um par de
fibras óticas com capacidade de
transmissão de 13,5 Terabits e com
um período de vida útil não inferior
a 25 anos. Em janeiro ocorreu a
amarração do cabo submarino na
Praia Formosa, e este cabo deve estar
a operar em maio. A EEM tem in-
vestido neste cabo submarino Ella-
link, através da EMACOM, que é
detida em 100% pela Região Autó-
noma da Madeira. A ligação será fei-
ta entre o Funchal e Sines e é vista
como um instrumento para o desen-
volvimento regional”.
Rui Rebelo explica que já estão
concluídas as ligações submarinas e
amarração, assim como a ligação
terrestre entre a Praia Formosa e a
estação Terrestre (Cable Landing
Station), que se encontra estrutu-
ralmente pronta contígua à subes-
tação do Amparo.
“O que falta concluir é a receção
de alguns equipamentos e respetiva
instalação, não se antevendo qual-
quer dificuldade, embora tratando-
-se de operações complexas, que
tudo fique apto a operar em devido
tempo”, acrescentou.
Custos de manutenção devem
ascender aos 600 mil euros
Em termos de manutenção do cabo
submarino, é dito pelo presidente da
EEM que numa primeira fase a
EMACOM assumirá “um custo que
ronda os 600 mil euros/ano por 300
Gbits”, acrescentando que “os custos
de manutenção aumentarão de for-
ma marginal, associados ao aumento
da capacidade que o mercado regio-
nal vier a necessitar”.
O presidente da EEM diz que o
cabo irá trazer imensas vantagens
para a Madeira, entre as quais “pro-
porcionar a abertura do mercado
de telecomunicações com o exte-
rior, o aumento significativo da
competitividade do sector, servin-
do de instrumento fundamental
para a transição digital”.
É ainda dito que este novo cabo
submarino terá uma “grande rele-
vância para o desenvolvimento da
Madeira e para encurtar a sua ultra-
periferia, respondendo às atuais
preocupações do sector empresarial
e da população em geral, que irão
dispor de mais e melhores serviços a
preços mais baixos”, além desta futu-
ra conetividade trazer “muitos bene-
fícios para os operadores de teleco-
municações e para todos os madei-
renses, tanto pela redução de preço,
como pelo aumento da capacidade
de transmissão”. ●

CONSUMO
Efeitos da Covid-19 alargam
oferta de serviços no retalho
Alargamento da rede de produtores nacionais, compras online com recolha nas lojas e ‘takeaway’
foram algumas das soluções encontradas por Continente e Pingo Doce para enfrentar a pandemia.
RUBEN PIRES
rpires@jornaleconomico.pt
O Grupo Sonae possui 15 lojas
Continente Modelo e 11 lojas Meu
Super na Madeira, enquanto a Je-
rónimo Martins tem 14 lojas Pin-
go Doce, a que se juntam as lojas
Amanhecer. Em comum têm o
facto de a pandemia ter obrigado o
sector do retalho a reorganizar-se
por via das mudança de comporta-
mentos do consumidor. Os grupos
empresariais alargaram a oferta de
serviços e viram alterações no
comportamento dos clientes.
A Sonae MC refere que a pande-
mia exigiu “um conjunto de apren-
dizagens e desenvolvimento de so-
luções que temos vindo a aperfei-
çoar para, como sempre, garantir-
mos a melhor resposta possível a
outras situações de contingência
que possam ocorrer – tal passará
pela implementação das soluções
que demonstraram os impactos e
resultados mais positivos”.
O grupo diz que o foco no clien-
te “nunca mudou”, mas ganhou
outros contornos: “Desde as equi-
pas de reposição às áreas comer-
ciais e de logística, há procedimen-
tos sólidos que as nossas pessoas
sabem que não podem ser descura-
dos, pois são o garante do bem-es-
tar de todos – clientes e colabora-
dores – no dia a dia da nossa ope-
ração.”
Entre as medidas tomadas para
reduzir os impactos da pandemia
esteve a adaptação da comunicação
do Continente e o Meu Super, “de
forma a manter os clientes infor-
mados sobre o funcionamento das
lojas, as medidas de segurança e os
cuidados de proteção a tomar no
dia a dia e, em particular, na ida às
compras”.
Pandemia trouxe alteração
de comportamentos
A Sonae MC refere que a pandemia
e o confinamento provocaram “al-
terações repentinas” do comporta-
mento dos consumidores.
“Isto exigiu um processo de
adaptação muito rápido da nossa
capacidade de servir, com impacto
em inúmeros processos ou equipa-
mentos, em ambiente de forte in-
certeza”, reforça o grupo.
“O Continente, quer enquanto
líder, quer pelo mindset de inova-
ção que carateriza a Sonae MC, de-
monstrou ser o operador melhor
preparado para esse processo. Si-
multaneamente, na fase de emer-
gência nacional, o Continente alar-
gou a sua rede de produtores na-
cionais através da integração de
novos membros no Clube de Pro-
dutores Continente (CPC), para
ajudar os produtores portugueses
no escoamento de produtos essen-
ciais, além de ter criado um pro-
grama de pagamentos antecipados
aos pequenos produtores para aju-
dar nas condições de tesouraria dos
mesmos, por exemplo”, sublinha.
A Sonae MC diz ainda que atra-
vés da Missão Continente se tem
dado resposta “a vários pedidos de
apoio, distribuindo milhares de
Para 2021 o Pingo
Doce espera uma
enorme incerteza
no comportamento
dos consumidores
enquanto
o Continente
diz estar optimista
Reuters
bens alimentares, de higiene e EPI
(equipamentos de proteção indivi-
dual) por centenas de entidades,
nas quais se incluem hospitais, au-
tarquias e instituições de solidarie-
dade de todo o país, com o objetivo
de ajudar não só os mais vulnerá-
veis e em situação de doença, mas
também profissionais de saúde e
forças de segurança que conti-
nuam na linha da frente”.
O grupo sublinha que “mantém
as doações diárias de excedentes
alimentares a mais de mil institui-
ções de apoio social e a animais,
por todo o país”.
O diretor-geral do Pingo Doce
Madeira, Guilherme Sousa, refere
que de modo a reduzir os impactos
da pandemia têm sido lançados um
conjunto de serviços, que visam
dar “maior conforto e conveniên-
cia” aos clientes, nomeadamente o
serviço de compras online com en-
trega ao domicílio, feito com o
Mercadão, desde março de 2020.
Em dezembro, foi lançado o
Click and Collect que permite aos
Económico Madeira, 1 abril 2021 | 11
clientes fazer as suas compras onli-
ne e depois recolhê-las em loja, no
horário e data de sua preferência.
O takeaway foi também outra das
soluções encontradas pelo Pingo
Doce para reduzir os efeitos da
pandemia.
“Em junho de 2020, iniciámos o
serviço de entregas ao domicílio de
refeições do takeaway, em parceria
com a Bring Eat!. Uma vez mais,
este serviço pretende disponibili-
zar a maior comodidade aos nos-
sos clientes, ao terem acesso à co-
mida do nosso restaurante sem
sair de casa, de uma forma fácil, rá-
pida e conveniente”, sublinha Gui-
lherme Sousa.
Nas lojas físicas foi lançado um
serviço de encomendas de frescos
– Talho e Peixaria –, “para possibi-
litar aos nossos clientes a enco-
menda por telefone de carne e pei-
xe, ficando os produtos disponí-
veis para levantamento quatro ho-
ras mais tarde. Os nossos clientes
têm, assim, a possibilidade de fazer
uma visita mais rápida”.
Foi ainda alterado o modelo de
serviços nos restaurantes, “passan-
do de self-service para atendimento
pelo colaborador, tendo os nossos
clientes reagido muito bem a esta
mudança”.
Entre otimismo e incerteza
Para 2021, as perspetivas são de
“enorme incerteza no comporta-
mento dos consumidores, estando
tudo dependente da evolução da
pandemia”, refere o diretor-geral
do Pingo Doce Madeira.
Quanto a expectativas para 2021,
a Sonae MC diz estar otimista, su-
blinhando que estaria sempre à pro-
cura “de novas formas de acrescen-
tar valor ao serviço que prestamos
aos nossos clientes e, nesta fase isso
não só se tornou evidente, como ga-
nhou uma relevância acrescida”.
Isso passa por manter o investi-
mento no Continente e Meu Su-
per, que “têm vindo a crescer nos
últimos anos, fruto do investimen-
to que temos feito na qualidade dos
produtos, na oferta dos melhores
preços, na inovação e variedade das
gamas que oferecemos. Num pe-
ríodo de maior consumo e afluên-
cia aos supermercados, esta procu-
ra manteve a trajetória ascendente,
o que para nós é um sinal da con-
fiança dos consumidores”.
Em termos sociais, a Sonae MC
diz que a economia madeirense
deve continuar a atravessar tem-
pos desafiantes, pelo que estará
preparada “para continuar a adotar
as medidas necessárias de auxílio
àqueles que venham a precisar”. ●
BREVES
Inovação em 33%
das empresas
entre 2016 e 2018
Os dados da Direção Regio-
nal de Estatística (DREM),
que abarcam o período entre
2016 e 2018, indicam que
33% das empresas com mais
de 10 pessoas ao serviço com
sede na região tiveram ativi-
dades de inovação. Isto inclui
atividade de inovação “gera-
dora de despesa, sejam ativi-
dades de inovação de produ-
to ou processo completas,
atividades em curso até ao fi-
nal de 2018, atividades de
inovação abandonadas ou
atividades de investigação e
desenvolvimento (I&D) des-
envolvidas internamente, de
forma continuada ou ocasio-
nalmente, ou contrataram
I&D a outras empresas (in-
cluindo do seu grupo) ou a
organizações de investigação
públicas ou privadas”.
Atividade económica
quebrou 3,7%
A Madeira registou uma
quebra de 3,7% na atividade
económica, em dezembro,
segundo o Indicador Regio-
nal de Atividade Económica
(IRAE) da Direção Regional
de Estatística (DREM). Tra-
ta-se de uma ligeira subida
face à quebra de 3,5%, no
mês anterior, e marca a que-
bra da melhoria dos índices
de atividade económica da
região autónoma que se ini-
ciaram em julho. A ativida-
de económica da região está
a operar em terreno negati-
vo desde março de 2020. O
pico foi atingido em junho,
quando a economia regional
registou uma quebra de
10,1%, a única descida de
dois dígitos registada no
IRAE, desde março de 2006,
altura em que começaram a
ser efetuados registos deste
indicador.
Proveitos do turismo
caem 79%
O turismo da Madeira teve
uma quebra de 78,4% nas
dormidas, em janeiro, para
114.500, e de 79,1% nos pro-
veitos totais, para 5,2 mi-
lhões de euros, indicam os
dados da Direção Regional
de Estatística (DREM). Os
proveitos de aposento que-
braram 79%, para os 3,3 mi-
lhões de euros. Em janeiro
houve 43,8% dos estabele-
cimentos do alojamento tu-
rístico da região com movi-
mento de hóspedes, o que
corresponde a 55,3% da ca-
pacidade do alojamento tu-
rístico total.
12 | Económico Madeira, 1 abril 2021
OPINIÃO
Os Direitos Humanos e os
perigos da banalização do mal
ANA LEITE
Mestre em administração
Público Privada
EDUARDO LEITE
Ph.D. em Gestão e professor
na Universidade da Madeira
No passado dia 27 de janeiro de 2021
assinalou-se o Dia Internacional em
Memória das Vítimas do Holocaus-
to, recordando a data da libertação
dos sobreviventes de Auschwitz, na
Polónia. Há 76 anos o mundo passou
a conhecer a verdadeira dimensão
das atrocidades do Holocausto, pro-
vocada pelo regime nazi.
Desde então, os povos mobiliza-
ram-se na defesa dos Direitos Hu-
manos, onde as teorias dos direitos
naturais de John Locke e o trabalho
do advogado Raphael Lemkin, que
cunhou o termo “genocídio”; e, ain-
da, de Hersch Zvi Lauterpacht, Jacob
Blaustein, Maurice Perlzweig, Jacob
Robinson e Peter Solomon Benen-
son foram relevantes, não só para a
sua conceção, mas também asserção.
A luta pela universalidade dos Di-
reitos Humanos foi preponderante
A preparação para uma “aterragem suave”
JOÃO PAULO GOMES
Advogado CMS-RPA
Felizmente, nos tempos recentes,
temos vindo a verificar um decrés-
cimo de casos de novas infeções de
Covid-19 em Portugal, após os
enormes picos registados em ja-
neiro, sendo que, paralelamente,
avança também o processo de va-
cinação ao ritmo possível de acor-
do com a disponibilidade de vaci-
nas disponibilizadas pelas farma-
cêuticas produtoras, o que nos dá a
esperança que Portugal, caso con-
siga conter um novo pico de infe-
ções/novas medidas de confina-
mento, possa estar a caminhar len-
na conceção de dois convénios inter-
nacionais, um sobre os direitos civis
e políticos (que incluem o direito à
vida, à propriedade privada e à liber-
dade de pensamento, entre outros) e
outro sobre direitos económicos, so-
ciais e culturais (direitos ao trabalho,
à educação e à saúde, nomeadamen-
te). Ambos foram incluídos na De-
claração Universal de Direitos do
Homem das Nações Unidas, em
1948, base da Convenção Europeia
dos Direitos do Homem, em 1950; e,
posteriormente, da Carta Africana
dos Direitos Humanos e dos Povos,
em 1981, que adicionou o direito à
autodeterminação.
Seguiu-se a institucionalização
da preocupação de outros proble-
mas, como a situação das mulhe-
res, os direitos das crianças, a dis-
criminação racial e a liberdade de
informação. Em novembro de
1959, a Declaração dos Direitos da
Criança foi adotada pelas Nações
Unidas, por unanimidade.
O processo de afirmação e reco-
nhecimento dos Direitos Humanos
viria a consolidar-se na Conferência
Mundial de Direitos Humanos de
Viena, realizada em 1993. Nesta
data, instituiu-se a preocupação legí-
tima de toda a comunidade interna-
cional com a violação de Direitos
Humanos, em todos os lugares e a
qualquer momento.
Atualmente, a vivermos tempos
sem precedentes provocados pela
pandemia de Covid-19, e face ao
recrudescimento do populismo e
das posições extremadas, a
UNESCO solicitou aos governos
do mundo que, particularmente
este ano, se mobilizassem em ini-
ciativas de reforço da memória, no
combate ao esquecimento, nega-
cionismo e antissemitismo, entre
tamente para a sua atividade nor-
mal.
Por outro lado, neste mês de
março de 2021 registou-se um au-
mento significativo de casos de
Covid-19 em países como a Fran-
ça, Alemanha ou Holanda, o que
possa ser indiciador de um aumen-
to também de casos em Portugal
num período entre um a três me-
ses (em linha com padrões que
ocorreram no passado).
Ou seja, muito embora a tendên-
cia em Portugal seja neste momen-
to de estabilização do número de
casos e de um progressivo aproxi-
mar ao normal, a verdade é que
não podemos, de facto, ignorar o
espectro de que o número crescen-
te de casos em países europeus pos-
sa ainda, e outra vez, afetar Portu-
gal. Ou seja, utilizando a gíria da
aviação, podemos ter chegado à
nossa “altitude de cruzeiro”, mas
podemos ainda encontrar alguma
“turbulência” durante este “voo”.
Com base neste enquadramen-
outras formas de segregação e vio-
lação dos Direitos Humanos.
Com efeito, volvidos 76 anos, em
pleno século XXI, e não obstante as
lições da história, os Direitos Huma-
nos continuam seriamente ameaça-
dos, não apenas pelo contexto, mas
especialmente por conta de uma cer-
ta degradação do próprio homem e
da sua propensão para degenerar. De
facto, umas vezes por medo, outras
na esperança de concretização das
suas aspirações pessoais, o Homem
tende a desresponsabilizar-se, cen-
trando-se nos bodes expiatórios. i.e.,
responsabilizando inocentes pela
culpa que desconheciam e, de facto,
não têm. De resto, há muito que
Hobbes afirmou que o medo e a es-
perança são os instrumentos mais
eficazes no controlo das pessoas.
Destarte, o mal não é algo trans-
cendente ao homem. Muito pelo
contrário, o mal parece residir nas
pessoas, é comum, generalizou-se e
está por toda a parte. Por tudo isto, e
ao invés do que se poderia supor, são
mais aqueles que podem praticar o
mal do que os outros, tornando o fe-
nómeno banal.
O conceito de banalidade do mal
surgiu por Hannah Arendt, a propó-
sito do julgamento de Adolf Ei-
chmann, um adepto do nazismo cap-
turado pela Mossad na Argentina,
onde se havia refugiado logo após a
derrota nazi na Segunda Guerra
Mundial. Note-se que Adolf Ei-
chmann foi responsável pela logísti-
ca das deportações em massa dos ju-
deus para os guetos e campos de ex-
termínio das zonas ocupadas pelos
alemães no Leste Europeu durante a
Segunda Guerra Mundial.
Hannah Arendt analisou o com-
portamento de Eichmann ao longo
de todo o processo de julgamento,
to, é importante criar condições
para que, com segurança, possa-
mos fazer uma “aterragem suave” e
em segurança no caminho face à
retoma da vida em sociedade e da
atividade económica tal como
sempre a conhecemos, e no entre-
tanto, conseguir manter a nossa
economia à “tona de água”.
Um bom primeiro passo nesse
sentido, foi introduzido pela pu-
blicação do decreto-lei n.º 23, de
24 de março de 2020, que proce-
deu ao alargamento do âmbito da
resposta do lay-off simplificado e
do apoio extraordinário à retoma
progressiva da atividade, nomea-
damente prolongando a sua vigên-
cia até 30 de setembro de 2021,
alargando, novamente, os requisi-
tos de acesso ao lay-off simplifica-
do além das atividades que se en-
contravam encerradas ou as suas
atividades suspensas e o estabeleci-
mento de um novo incentivo à
normalização da atividade empre-
sarial. Estes serão basicamente os
caracterizando-o como sendo um
homem perfeitamente comum, nor-
mal, passivo e sem iniciativa. Ou seja,
na falta de uma ordem, ou regula-
mento, que o orientasse, Eichmann
sentia-se totalmente perdido, sem
saber muito bem o que fazer.
Desde logo, Hannah Arendt per-
cebeu que Eichmann usava um voca-
bulário técnico administrativo para
se expressar. Normalmente, socor-
ria-se de palavras como economia,
rotina, administração e evacuação -
imagine-se - para referir-se aos cam-
pos de concentração, às execuções e
ao extermínio de seres humanos,
como se de um trabalho normal se
tratasse. Enfim, um burocrata que
obedecia ao comando de uma qual-
quer voz imperativa que lhe dissesse
o que fazer. À vista disto, Hannah
Arendt refere-se a Eichmann como
inapto para pensar por si e para viver
independente de um amo, limitan-
do-se a servir, sem questionar. So-
bretudo, era incapaz de se colocar na
perspetiva de outra pessoa e refletir
criticamente sobre os seus atos e res-
petivas consequências.
Ademais, Hannah Arendt refe-
riu estar na presença de um fiel
cumpridor de ordens, seguidor, à
risca, das instruções superiores,
provenientes do Estado nazi; e, em
última instância, do seu perturba-
do líder Adolf Hitler.
Nesta aceção, os atos de maldade
cometidos por Adolf Eichmann
resultavam da irreflexão e da total
incapacidade para pensar e discor-
rer sobre o que quer que fosse,
muito menos com profundidade e
abstração. Não obstante, tinha ple-
na consciência das coisas que fazia
e das atrocidades cometidas pelo
regime nazi, mas ainda assim cola-
borava fazendo a sua parte.
Na prática, para Eichmann não
importava a moral, a ética ou a hon-
ra, antes o seu sucesso pessoal e a as-
censão na carreira profissional, en-
quanto trabalhador do regime. In-
crível como aquilo que para os ju-
deus e outras minorias era o terror
apoios com os quais vamos contar
até setembro de 2021.
Por outro lado, é importante
também notar que 31 de março de
2021 foi uma data importante na
medida em que foi nesta data que
terminaram as moratórias do cré-
dito hipotecário no regime priva-
do (embora esse regime represente
apenas 21,6% das moratórias da
casa, sendo as restantes do regime
público), ou seja, as famílias abran-
gidas por este regime retomam o
pagamento das suas prestações de
crédito hipotecário a partir de
abril de 2021, sendo que as famílias
que aderiram ao regime público
das moratórias podem usufruir da
moratória até 30 de setembro de
2021.
É um desafio para todos nós
conseguir criar condições para que
as famílias portuguesas possam re-
tomar o pagamento dos seus com-
promissos a partir de setembro de
2021 sem que exista um aumento
generalizado do incumprimento
do Holocausto para Eichmann si-
gnificava o sucesso no que referia
ser o seu trabalho.
Importa referir que Eichmann
não foi um caso isolado. Na verda-
de, os principais acusados do julga-
mento de Nuremberga comporta-
ram-se de forma semelhante, ale-
gando o cumprimento da lei e a
obediência a ordens emanadas da
autoridade competente.
Ora, isto remete-nos para ques-
tões mais complexas de direito e jus-
tiça e para o positivismo ideológico
que vigorou na Alemanha naquele
período. O regime nazi estabeleceu
um quadro legal que dava cobertura
às suas práticas flagiciosas, conside-
rando apenas a norma jurídica como
obrigatória a despeito do seu conteú-
do. i.e., desprovido de qualquer pro-
priedade axiológica, assente em leis
de estrutura puramente formal.
Diante disso, o mal de Eichmann
não emanava, afinal, de algo sobre-
natural ou de um ser excecional-
mente dotado, ainda que pudesse
usar para mal, mas sim de um ser
humano normalíssimo, medíocre
até, utilizado pelo regime como um
meio e não como um fim. Infeliz-
mente, este é um mal contemporâ-
neo. Um mal muitas vezes embuça-
do na sociedade, podendo, inclusi-
ve, advir de qualquer pessoa nor-
mal, com família, contribuinte, que
celebra com amigos e familiares e,
até, é bem capaz de professar uma
religião. Enfim, um mal que, não
sendo infinito, tem proporções
alarmantes e pode ser utilizado pe-
las diferentes formas de populismo.
Por tudo isto, são, portanto, o nor-
mal e a incapacidade de pensar que se
deverá combater. Por fim, não se tra-
ta de um problema difícil de detetar,
mas é, de facto, um desafio incomen-
surável. Portugal, infelizmente, tam-
bém não está livre disso. ●
Referências: Arendt, Hannah (1964).
Eichmann in Jerusalem: A Report on the
Banality of Evil. Rev. and enl. ed. New
York: Viking Press.
bancário e o crédito malparado, o
que teria consequências desastro-
sas para a nossa sociedade e a nossa
economia. E sobre este aspeto, to-
dos nós como portugueses, indivi-
dualmente, temos o dever de nos
prepararmos para o fim das mora-
tórias de uma forma responsável,
nomeadamente fazendo uma aná-
lise da nossa situação financeira
individual, conceber estratégias
para reduzir custos (caso seja pre-
visível que em setembro não se te-
nha ainda recuperado o nível de
rendimentos) e se for previsível
uma potencial situação de incum-
primento, contactar desde já a ins-
tituição bancária no sentido de se
encontrar alternativas/opções,
tudo na certeza que aguardarmos
por prolongamentos das morató-
rias ad aeternum simplesmente é
uma opção que não podemos nos
dar ao luxo de tomar e que só as-
sim conseguiremos fazer a nossa
“aterragem suave” nesta nossa
nova realidade económica. ●

Bloco de Esquerda: da manha aos tachos
na Câmara Municipal do Funchal
TIAGO FREITAS
Especialista em Assuntos Europeus
Preparem-se meus amigos, e aqui
dirijo-me à meia dúzia de almas pa-
cientes que se dão ao trabalho de ler
os meus artigos: vou elogiar o ex-
-primeiro-ministro José Sócrates!
E só consigo me lembrar de uma
razão que me leve a cometer tal ato
que normalmente se confundiria
com um acesso loucura: o Bloco de
Esquerda.
Um partido que considero o ver-
dadeiro cancro do sistema político
nacional. Ainda que aparentemente
anestesiado por Costa, tenho-o para
mim como potencialmente mais
perigoso, nos dias que correm, por
se ter tornado mainstream.
Como lembrava e bem Margari-
da Bentes Penedo, em artigo publi-
cado anteontem, Francisco Louçã
confunde-se com o próprio regime
tal a multiplicidade de órgãos-refe-
rência do Estado, público e privado,
onde está inserido e manifesta a sua
radical e manhosa opinião.
E é esse perfil “manhoso” que se
afigurou extremamente relevante
no crescimento e consolidação do
Bloco de Esquerda, bebendo dire-
tamente da doutrina de Lenine,
quando postulou que “um revolu-
cionário deve, se for preciso, negar
ou defender o contrário dos objeti-
vos da revolução, desde que isso
seja benéfico para a própria revo-
lução”.
É sobre esta doutrina, mais do
que qualquer outra, que tem nave-
gado este partido nos seus infames
22 anos de história, ou lá o que é (
esta parte, um portuguesíssimo
“ou lá o que é “, serve para de-
monstrar o meu profundo despre-
zo por aquele projecto antidemo-
crático de arresto social).
Aqui entra José Sócrates, e o de-
bate moderado por Judite de Sousa
a 8 de setembro de 2009, prévio às
legislativas desse ano. Um debate
que deveria constar dos anais dos
confrontos políticos lusos, ao lado
dos lendários Soares-Cunhal de
novembro de 1975, ou Soares-
Ao mesmo tempo que
o BE hipocritamente
se coloca no papel
de defensor
das massas, anseia
por implementar
uma agenda
político-económica
que desgraçaria
o conforto
do cidadão médio
-Freitas de 4 de fevereiro (data cu-
riosa, se analisarmos algum do
conteúdo debatido) de 1986.
Os protagonistas de 2009 são in-
comensuravelmente menores que
os dos primórdios da III Repúbli-
ca, mas aquilo que foi debatido e,
principalmente, o resultado do
confronto, merecem maior digni-
ficação daquele ato político-eleito-
ral, que pode ser (re)visto em
https://videos.sapo.pt/
9H8sCcObmHyT9zhtyPCD .
Ainda que tenha sido divertido,
até mesmo profético, ouvir Sócra-
tes alegar que “o meu Governo é
honesto”, a pleiteia vale, sobretu-
do, por aquele que talvez tenha
sido o maior serviço prestado pelo
então primeiro-ministro ao país,
quando o alegado engenheiro in-
fligiu um nocaute glorioso a Fran-
cisco Louçã, atirando o Bloco de
Esquerda para uma longa travessia
no deserto que só terminou em
2015. Altura em que observámos,
estupefactos, a muito ingénuos e
esquecidos eleitores do centro e do
centro-direita a votarem em faná-
ticos(as) trotskistas.
As armas de Sócrates, nesse dia,
foram única e exclusivamente a lei-
tura de parcelas (não truncadas) do
programa eleitoral do BE. Aí po-
dia-se perceber que o partido que
dez anos antes defendia nas ruas da
Baixa pombalina figuras cimeiras
do terrorismo basco, era favorável
à total nacionalização da banca ,
dos seguros e do sector energético.
Imaginem se na década que se se-
guiu, até aos dias de hoje, tivésse-
mos de cobrir, não apenas os pre-
Económico Madeira, 1 abril 2021 | 13
juízos da pública Caixa Geral, e dos
nacionalizados BES/Novo Banco e
BANIF (para só nos centramos na
banca comercial) mas também os
défices de exploração do BCP, BPI
e tantos outros.
O filete estava guardado, porém,
para o momento em que Sócrates
lê, no programa do BE, que este
partido defende a extinção de todo
e qualquer benefício fiscal associa-
do aos PPR, saúde e educação, o
que atingiria que nem um raio,
mais fulminante do que os que as-
solaram a Madeira no sábado pas-
sado, a já então depauperada classe
média, inocente e desconhecedora
do que as duas décadas seguintes
lhes reservariam.
Louçã contra-argumentou que
essas despesas, a serem retiradas
do reembolso do IRS, iriam ter im-
pacto essencialmente naqueles que
recorrem exclusivamente aos ser-
viços privados.
Já de si uma narrativa falaciosa,
uma vez que boa parte da classe
média, e mesmo da classe média-
-baixa, recorre ao privado, tam-
bém por falta de resposta do servi-
ço público, sendo compensada
pelo sistema de reembolsos sociais
e fiscais (que Louçã também criti-
cou). Mas que direi eu, cujos meus
filhos sempre andaram em escolas
públicas, e que recorro em exclusi-
vo ao serviço público de saúde, e
que ainda assim tenho nas despesa
de educação e saúde a fatia de leão
do dinheiro que recebo de reem-
bolso do IRS (e que já anseio por
estes dias, deixem-me dizer)?
E os PPR, que nesse ano de 2009
tinham 415 mil famílias beneficiá-
rias, impelidas que foram a subs-
crevê-los para gozarem de spreads
mais baixos nos seus créditos à ha-
bitação? Que dizer ao intuito de
extinguir os benefícios fiscais a es-
tes associados? Não é uma loucura?
Até este vosso amigo, enquanto
escreve estas linhas, foi conferir os
PPR que teve de contratualizar, e
percebeu que goza de uma já es-
quecida poupança que muito jeito
lhe dará, um dia, com um juro as-
sociado de uns inimagináveis
3%(!!!). A classe média que o dou-
tor Louçã e o seu partido dizem
defender, alegando que só os mais
ricos podem fazer planeamento
fiscal associado à saúde, educação e
PPR(?!). Que outro produto finan-
ceiro tem essa mesma classe média
ao dispor que lhe garanta um ren-
dimento de 3%, se não forem os
tais PPR?
O pior de tudo isto é que a ver-
dadeira matriz programática do
BE é cuidadosamente escondida,
como bem denunciou Sócrates
nessa ocasião. Ao mesmo tempo
que hipocritamente se coloca no
papel de defensor das massas, an-
seia por implementar uma agenda
político-económica que desgraça-
ria o conforto do cidadão médio.
Enquanto mediaticamente tenta
assumir a vanguarda no combate à
corrupção e especulação, reserva
para si própria o pior dos defeitos
que sinaliza, como se viu no infa-
me caso Robles, oportunamente
denunciado pelo Jornal Económi-
co em julho de 2018.
É nesse jogo de sombras, nessa
abordagem “manhosa” da vida pú-
blica, que chafurdam e prosperam
o Dr. Louçã e o Bloco de Esquerda.
O episódio da semana passada,
em que no seu comentário na SIC
Notícias, o Dr. Louçã, com a cum-
plicidade da direção editorial da-
quela estação, transmitem um ví-
deo truncado, manipulado de uma
intervenção da deputada munici-
pal Aline Beuvink, em que esta re-
corre a um drama familiar para de-
nunciar as atrocidades do comu-
nismo estalinista, não são mais do
que a tentativa de, ridicularizando,
branquear os crimes do regime so-
viético, utilizando os mesmíssimos
meios que o sanguinário ditador
aplicava, nomeadamente quando
apagava fotografias.
Tachos na Câmara do Funchal
No Funchal, por exemplo, há
uma coligação que leva ao colo
este tipo de gente, mesmo depois
de o líder regional ter avisado que
faria parte dessa frente de esquer-
da e extrema-esquerda apenas e
só se lhe fossem garantidos luga-
res elegíveis na vereação, assem-
bleia municipal e empresas muni-
cipais! Como já foi anunciado que
fará parte da candidatura, e uma
vez que as suas palavras não fo-
ram contestadas, pressupõe-se
que as suas exigências foram
atendidas, o que constitui um es-
cândalo difícil de aceitar. Não há
sequer decência, decoro. Temos
neste caso a demonstração ine-
quívoca que a primeira priorida-
de da elaboração desta coligação é
a obtenção de tachos para ami-
gos. Voltarei ao tema. ●
14 | Económico Madeira, 1 abril 2021
CULTURA & LAZER
UNIDADE HOTELEIRA
EM SÃO VICENTE
PROMOVE EVENTO
DE GASTRONOMIA
O Solar da Bica vai promover a partir de 9 de
abril o evento SENTE-SE - Um Convite para
Redescobrir a Madeira.
A unidade hoteleira, em colaboração com a
Casa Gastronomia, vai realizar durante o mês
de abril jantares, almoços, degustações, provas e
vivências exclusivas, e receber chefs e profissio-
nais da gastronomia regional e continental.
Uma das convidadas será Aurora Goy, chef
luso-francesa, do restaurante Apego, no Porto.
LAZER
GALERIA MARCA DE ÁGUA
A Galeria Marca de Água tem exposta até 21 de
maio ‘Imersão – Fora do Tempo’ do artista
plástico madeirense Eduardo de Freitas, que
reúne mais de sete dezenas de obras de
pintura e desenho, com curadoria da artista
plástica Filipa Venâncio.
Esta é a segunda exposição da temporada
artística 2020/2021, após a exposição
‘Mulheres Artistas Madeirenses em Diálogo
com Sonia Delaunay’.
A Galeria Marca de Água refere que a
exposição ‘Fora do Tempo’ “nos oferece
mundos intangíveis, oníricos, metafóricos”.
“As pinturas elípticas e circulares, não se nos
afiguram como janelas, mas sim como lentes
ou espelhos côncavos e convexos que nos
impelem para dentro ou para fora, consoante
o olhar. O próprio suporte da pintura por vezes
é propositadamente intervencionado no seu
verso, e a pintura assume o lugar mágico
de uma caixa quadrada que contém outros
mundos no seu interior”, afirma Filipa Venâncio.
“Reconhecida no continente pela sua cozinha
autoral de conceito ‘farm to table’, ela vai assi-
nar o jantar degustação do primeiro fim de se-
mana, de 9 a 11 de abril, de experiências gastro-
nómicas e será ainda a anfitriã das mais de seis
atividades exclusivas ao longo dos três dias,
num momento de forte proximidade com os
convidados”, refere o promotor do evento.
As reservas podem ser feitas através de reser-
vas@solardabica.pt ou pelo 291 842 018. ●
A exposição ocupará os três andares da
galeria.
e museólogo Agostinho Santos, e é organizada
pela Artistas de Gaia – Cooperativa Cultural,
A diretora artística da Galeria Marca de Água, com o apoio da Câmara Municipal de Vila Nova
Raquel Fraga, agradeceu ao artista de Gaia. A exposição vai abrir ao público a 17
e à curadora pela “oportunidade de reforçar de abril e fica patente até 10 de julho.
a programação da galeria, tendo em vista
a sensibilização para a importância
de valorização da arte contemporânea e dos
artistas regionais”, sublinhando que “é tarefa
da arte contemporânea atuar na comunidade
em que se insere”.
EXPOSIÇÃO
O artista plástico madeirense Diogo Goes
estará presente em cinco novas exposições
coletivas, nacionais e internacionais, que estão
programadas para o segundo trimestre deste
ano.
Diogo Goes vai expor o seu trabalho em quatro
exposições da 4.ª Bienal Internacional de Arte
Gaia 2021, nos pólos de Vila Nova de Gaia,
Alfândega da Fé e Funchal.
A bienal tem direção artística do artista plástico
 Económico Madeira, 1 abril 2021 | 15

TEATRO MUNICIPAL BALTAZAR DIAS CULTURA

RECEBE “OS QU’EMIGRARAM”

Entre 12 e 14 de abril, o Teatro Municipal Baltazar
Dias espera receber “Os qu’emigraRAM”. Trata-se de
um projeto de investigação-criação teatral “em torno
dos conceitos de emigração, diáspora e identidade ma-
deirenses, abordando-os na perspetiva daqueles que
ficaram, numa altura em que se verifica um retorno ao
arquipélago, forçado pelas incertezas numa solução
política para a Venezuela, assim como pelas dúvidas e
receios provocados pelo processo Brexit”, refere o
promotor do evento.
“Os qu’emigraRAM” é uma criação de Ricardo Brito,
com João Paiva, José Gregório Rojas e Sara Cíntia. A
sessão de 12 de abril está programada para arrancar na
sala de espetáculos funchalense às 21h00, a de 13 de
abril para as 21h00, e a de 14 de abril para as 18h00.
Este projeto recolhe testemunhos junto daqueles
que “ficaram, deixando os olhos postos no m(ar), pro-
pomos uma viagem pelo íntimo das veredas e cami-
nhos desta terra fértil, tentando perceber o que dela
brota, se ainda restam razões para sorrir... mesmo que
no mais recôndito impasse”, acrescenta o promotor. ●
Preço do bilhetes: Sete euros

TCHILOLI UNLIMITED | MIGRAÇÕES E COISAS

O Teatro Municipal Baltazar Dias expõe o trabalho de René Tavares,
intitulado “Tchiloli Unlimited | Migrações e Coisas”, até 16 de abril.
O promotor do evento sublinha que Migrações e Coisas “assume-se
como o tema principal de uma série de projetos em que René Tavares
busca na pintura, na fotografia e na escultura zonas inexploradas de
criação artística, estética e visual. Um percurso que o artista iniciou ao
abordar a questão da identidade crioula, ela própria um resultado destas
dinâmicas migratórias que se transformam invariavelmente em algo
novo e vivo, como é exemplo disso o Tchiloli, espetáculo tradicional
são-tomense abundantemente investigado, retratado e reinventado por
René Tavares nas suas obras”.
É ainda referido pelo promotor que é “no cruzamento entre o tradicional e
o contemporâneo, entre a memória e a reinterpretação da História, que o
artista faz a sua própria viagem. Um remix cultural e temporal a cada
obra. Um olhar urgente e actual que surge da vontade de preservar cada
fábula, cada conto, cada história como quem sabe que hoje, mais do que
nunca, é nessa memória que encontramos as pistas mais valiosas para
as coisas que nos definem e onde nos encontramos todos,
independentemente das distâncias, enquanto seres humanos”. ●

A bienal abre ao público no próximo dia 17 de
abril e ficará patente até 10 de julho.
Na bienal Diogo Goes vai apresentar trabalhos
de pintura de grandes formatos, intitulados ‘A
República Carrega a Constituição Adormecida -
Interpretação do Sonho da Razão Semeia
Monstros’, ‘Muito Bom Aluno: Keep Calm and
Study’ e ‘História de uma Discussão entre o
Céu e o Inferno’, entre outros.
Diogo Goes vai estar presente em ‘Fora de
Casa - Asas para a Liberdade’, uma exposição
coletiva internacional, que será realizada
em São Paulo, no Brasil.
A curadoria é de Fernando Durão e a
assessoria de Dalva Bertelli, e reúne cinco
dezenas de artistas oriundos de 24 países
confirmados. A exposição é organizada pela
UP’Art, e vai decorrer no Espaço Cultural
Instituto Cervantes, em São Paulo, com a
chancela da Embaixada de Espanha no Brasil.
Diogo Goes vai apresentar na exposição a sua
obra ‘Avião de Papel - Asas da Liberdade’.
ARTS ONLINE
O Arts Online é um projeto da Secretaria
Regional de Turismo e Cultura, desenvolvido
através da Direção Regional da Cultura, que é
emitido nas plataformas digitais da Secretaria
Regional, através do portal ‘Cultura Madeira’ e
das redes sociais Facebook, Instagram e
YouTube.
O projeto é constituído por 48 vídeos, de três
minutos cada, sendo protagonizado por 29
artistas das várias áreas da Cultura, incluindo
canto, teatro, dança, poesia e música. Esses
vídeos são apresentados de segunda-feira a
sexta-feira, a partir das 19h00.
ABRUTAMENTE
A Casa da Cultura de Santa Cruz, situada na
Quinta do Revoredo, tem exposto até 8 de maio
aBRUTAmente, obra da artista Cristiana Sousa.
O promotor da iniciativa refere que
aBRUTAmente é “uma analogia entre o papel
da mulher e o imaginário tradicional popular”.
“Como se de um conto feérico se tratasse,
vemos plasmada nas suas pinturas desenhadas
uma narrativa que resgata um tempo em que a
mulher de más condutas detinha a capacidade
(entre outras) de se transformar na mais brutal
e assustadora criatura”, realça.
A sinopse acrescenta que a artista pretende
“recuperar e reinterpretar nas suas obras, num
exercício de resistência e individualidade, um
grito que soa a liberdade e que convida ao jogo
dicotómico luz-escuridão. Em aBRUTAmente
somos transportados para um lugar quase
onírico, onde o medo e o deslumbramento nos
conduzem ao fantástico mundo das bestas em
que se podem tornar uma mulher”.
STREAMING SESSIONS
Está disponível no canal de YouTube Cultura
Madeira SRTC o projeto Streaming Sessions,
que envolve 44 músicos e cantores em 21
concertos, numa iniciativa da Secretaria
Regional do Turismo e Cultura. Nas sessões
disponíveis estão Sarah Borges e Amaro
Fernandes, Sofia Ferreira e Pedro Marques,
Luís Salvador, Sofia Almeida e João Freches,
Marina Trindade e Luis Cruz, Alexandra
Barbosa, Gualberto e Vitor Anjo, Tiago Silva e
Pedro Temtem, Flávio Martinho e Eduardo
Santana, Joaquim Machado e Williams Ramos.
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