Sexta-feira, 1 de Maio de 2020 | Número 572 | Director João Armando | Preço 900 Kz | www.expansao.co.

ao

CONFIANÇA DOS EMPRESÁRIOS CENTRALIDADE ZANGO 5 SIMPLIFICAÇÃO NA BANCA

Comércio e construção Entrega das casas Informais já podem
são os mais pessimistas retomada para evitar abrir contas com
no IV trimestre de 2019 ocupações ilegais pagamento multicaixa
| P. 02 | P. 08 | P. 19

EXPERIÊNCIA NO SECTOR É OBRIGATÓRIA | P. 18

IVANILSON MACHADO

Fim dos
BNA reforça subsídios aos
combustíveis
pode estimular
poder para vetar novos
investimentos

administradores
dos bancos
Em Grande Entrevista ao Expan-
■ Já existe norma de suporte são, o recém nomeado CEO da Pu-
mangol fala sobre os desafios do
■ Exigência de cadastro limpo downstream em Angola e subli-
nha que a parceria com a Sonan-
■ Autovaliação dos candidatos gol vai permitir poupanças ao
País. Sobre a crise actual, o gestor ,
■ Compromisso de honra e de idoneidade que entrou no ranking dos 100 jo-
vens líderes económicos africa-
nos, diz que é tempo para reinven-
■ Decisão pelo comité de nomeações tar a economia angolana. | P. 14

PUB
AVIAÇÃO CIVIL EM ÁFRICA TRANSPORTES EM ANGOLA

Perda de 6 mil Receitas

milhões USD na do sector caem
receita de bilhetes 55% com perdas
ameaça 2 milhões próximas dos 754
de empregos mil milhões Kz
As restrições nas viagens internacionais No global o sector tinha estimado re-
ameaçam uma indústria que, em 2019, ceitas para este ano de 1,4 biliões Kz
contribuiu com 56 mil milhões USD (2,5mil milhões USD), sendo que no
para o PIB africano, segundo relatório global terá uma quebra nas receitas
da Organização Internacional da Avia- de 55% e aponta para receitas globais
ção Civil. Em termos mundiais, a IATA de 609 mil milhões Kz (1,1 mil mi-
antecipa uma quebra nas receitas das lhões USD). O transporte aéreo tem
companhias aéreas na ordem dos 314 mil sido fortemente afectado pela crise
D.R.

milhões USD em 2020. | P. 12 da pandemia. | P. 06

2 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
DESTAQUE CONJUNTURA ECONÓMICA
Dificuldades financeiras, falta de encomendas e um stock quase que inexistente penalizam o desempenho das empresas
INDICADOR DE CLIMA ECONÓMICO DO INE NO IV TRIMESTRE DE 2019
Confiança dos empresários em
terreno negativo há cinco anos,
mas pessimismo está a diminuir
As perspectivas da economia no curto prazo, no IV trimestre de 2019 melhoraram ligeiramente,
tendo recuperado 3 pontos, embora permaneçam em terreno negativo. A construção continua
o mais pessimista, enquanto a indústria extractiva e a comunicação melhoraram positivamente.
Martins Chambassuco
O pessimismo dos empresários e
gestores empresariais, medido
pelo Indicador de Clima Econó-
mico (ICE) do INE, recuou três
pontos percentuais (pp) nos úl-
timos três meses de 2019, saindo
dos -7 pp, no III trimestre, para
os -4 pp nos últimos três meses
do ano passado, influenciado
pela melhoria do indicador de
confiança da indústria extracti-
va e da comunicação, comparati-
vamente ao período homólogo.
O ICE corresponde à média dos
Índice de Confiança (IC) dos sete
sectores de actividade considera-
dos no inquérito de Conjuntura
Económica do INE nomeada-
mente: Indústria Transformado-
ra, Construção, Comércio,
Transportes, Indústria Extracti-
va, Turismo e Comunicação. Os
IC sectoriais reflectem a opinião
dos empresários e gestores dos
sectores sobre as perspectivas de
desempenho do respectivo ramo
de actividade no curto prazo.
Os -4 pp negativos do ICE cor-
respondem ao saldo das respos-
tas extremas, isto é, a diferença
entre as avaliações positivas e
negativas dos empresários e ges-
tores sobre as perspectivas de
evolução da economia. Nos últi-
mos três meses de 2019, em mé-
O pessimismo no
sector da construção
já se arrasta desde
2012 e a situação
tende a piorar por
falta de encomendas
dia, a percentagem de empresá-
rios que tem perspectivas nega-
tivas sobre a marcha da econo-
mia nacional no curto prazo ex-
cedia apenas em -4 pp a percen-
tagem dos que tinham perspec-
tivas positivas.
O inquérito é de âmbito nacio-
nal e envolveu 1.638 empresas,
das quais 907 são do sector do
Comércio.
Construção mais pessimista,
comunicação em alta
Em termos sectoriais, destaque
para o IC da Indústria Extracti-
va que em 2019, registou uma
marcha positiva tendo fechado o
ano nos 5 pp, depois de ter en-
cerrado 2018 nos -7 pp (ver pági-
na 4). Essa evolução positiva é
justiçada com a nova política
adoptada para o sector dos pe-
tróleos e diamantífero e o au-
mento dos investimentos.
No sentido inverso, continuou
o sector da construção que está
ARQUIVO | EXPANSÃO
em terreno negativo desde o III
INDICE DE CONFIANÇA trimestre de 2012, tendo atingi-
DOS EMPRESÁRIOS do os mínimos de todos os tem-
pos no IV trimestre de 2015,
quando o indicador se fixou nos
-38 Pontos
É o indicador de confiança
-74 pp. Este é o sector mais pessi-
mista, tendo terminado a mar-
cha, no ano passado, nos -35 pp.
na Construção O desempenho negativo do sec-
tor da construção é atribuído à
reduzida carteira de encomen-
das, actividade actual e perspec-
-33 Pontos
Comércio é o segundo
tivas de emprego. A confiança
dos gestores do sector do comér-
cio, que já estava em terreno ne-
indicador mais pessimista gativo, caiu a pique para -33 pon-
tos, uma queda de 12 pp.
O sector mais optimista é o da
Comunicação, mostrando-se o
46 Pontos
É ovalor da Comunicação,
resistente à conjuntura econó-
mica do País, que passa pela
quarta recessão consecutiva.
o mais optimista de todos
Pagamento de atrasados
do Estado
Em termos gerais, a melhoria da
confiança dos patrões no IV tri-

mestre é justificada com o
cocktail de alguns financiamen-
tos disponibilizados à economia,
a recuperação do investimento
público e também pelo paga-
mento dos atrasados do Estado.
Para o empresário Manuel
Pinto de Andrade não há fórmu-
las mágicas para a sobrevivência
das empresas, sublinhando que
“tudo passa por baixar os custos
dos factores de produção, incen-
tivos fiscais para quem produz e
para a indústria transformadora
destes mesmos bem produzi-
dos”. O empresário defende ou-
tras medidas para catapultar a
economia nacional como “po-
tenciar o ‘feito em Angola’ ou
por angolanos, garantindo o
acesso aos pontos de venda mo-
dernos como os hipermercados,
supermercados ou os canais tra-
dicionais como forma de poten-
ciar escala na produção e distri-
buição”. Defende ainda incenti-
vos fiscais para a actividade eco-
nómica, desburocratização do
processo de exportação da pro-
dução ou transformação local.
Por outro lado, o economista
José Lopes diz que houve um es-
forço do Governo em tentar rea-
nimar a economia, mas alerta
para o aumento das dificuldades
este ano. “Primeiro o acesso às
divisas deu um certo fôlego à
banca que já conseguiu disponi-
bilizar algum financiamento à
economia, mas o lançamento do
PIIM foi uma lufada de ar fresco
para muitas empresas, mas a cri-
se com a Covid - 19 veio encurtar
o caminho de muitas empresas”,
afirma José Lopes.
A marcha
positiva do sector
da indústria
extrativa contribuiu
na quebra
do pessimismo
dos empresários
em Angola
“A falta de financiamento no
sector produtivo levou vários
empresários a recorrerem ao co-
mércio para sobreviver. Os últi-
mos dados do INE sobre a demo-
grafia de empresas e estabeleci-
mentos, apontava que 50% das
empresas angolanas são do sec-
tor do comércio”, disse o econo-
mista. Para este ano, José Lopes
deixa o alerta: “Há que estabele-
cer um programa mais eficiente
de apoio às empresas e uma ban-
ca mais proactiva para que haja
disponibilidade e financiamen-
to da actividade empresarial no
País”, refere. O economista
avançou ainda que a crise com a
Covid 19 veio revelar as fragili-
dades da economia angolana. “O
Governo suspendeu todos pro-
jectos sem financiamentos ga-
rantidos e mesmo para aqueles
que tem, ainda há que estabele-
cer prioridades porque vamos
assistir ao colapso do funciona-
lismo público porque não haverá
salários”, concluiu.
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 3
SUBVENÇÃO DO ESTADO
3 PERGUNTAS A
MANUEL P. DE ANDRADE
Empresário
Empresários defendem apoios
financeiros para as Micro,
Pequenas e Médias Empresas
Homens de negócios acreditam que vão chegar dias difíceis para as
empresas e as famílias. A recuperação passa pelo estímulo ao consumo
e a definição de políticas de defesa das empresas.
“A COVID-19 Empresários e gestores de dife- sas, particularmente para as cando o desenvolvimento e a ge-
VEIO ACELERAR rentes sectores defendem medi- MPME, quer por via do alívio fis- ração de empregos por via da ac-
AS DEBILIDADES das concretas e sem burocracia cal, reduzindo e prorrogando a tividade empresarial.
para a manutenção dos níveis mí- execução dos impostos, injectan- Estimular o consumo e redu-
DA NOSSA nimos da actividade das Micro, do liquidez quer por via de crédito zir a despesa pública corrente
ECONOMIA” Pequenas e Médias Empresas do bancário bonificado. É também que não impacte nas condições
sector produtivo, admitindo que importante que, de forma alguma, sociais são factores críticos que
Em 2019, o pessimismo as medidas do Governo para miti- não seja restringindo o consumo e poderão minimizar a quebra do
dos empresários reduziu. gar os efeitos da pandemia nas para isso não devem ser suspensas crescimento económico. Por
Considera que 2020 será empresas são insuficientes. isso defende ser importante es-
o mais difícil da nossa his- Os homens de negócios con- timular o sector produtivo.
tória? E o que fazer no tactados pelo Expansão, dizem Por outro lado, Manuel Pinto
pós-Covid 19? que há um excesso de burocracia de Andrade diz ser “urgente co-
O ano de 2019 economica- na disponibilização dos finan- “O momento meçar já a transformar os pres-
mente não foi muito positi- ciamentos. supostos em que queremos que a
vo para as empresas nem Segundo o Ministério da Eco- exige do Governo nossa economia se construa”.
para as famílias. Muitas em- nomia e Planeamento (MEP), os concretizar várias Assegura que a diminuição dos
presas fecharam as portas, financiamentos a disponibilizar medidas de apoio custos dos factores de produção
assistimos à quebra do po- a empresas são provenientes do pode incentivar o investimento e
der de compra sobretudo Fundo de Apoio ao Desenvolvi- às empresas, a industrialização, adequação da
pelo impacto cambial. As mento Agrário (FADA), do Banco particularmente carga fiscal com base na realida-
principais reformas imple- de Desenvolvimento de Angola as MPME”, diz de económica do País e respecti-
mentadas foram no sentido (BDA) e do Fundo Activo de Capi- vos incentivos, descentralização
de tentar aumentar a arre- tal de Risco (FACRA), e estão ins-
Galvão Branco do poder local para potencial o
cadação de receitas do Es- critos num ‘pack’ de medidas que desenvolvimento social, econo-
tado para se financiar. A ‘valem’ 488 mil milhões Kz. mia colaborativa, acesso facilita-
atracção do investimento O MEP tem vindo a anunciar a do ao conhecimento, tecnologia
directo estrangeiro não se adesão dos empresários ao pro- e inovação, integração dos agen-
fez sentir. Penso que a Co- grama, mas ainda não fez uma despesas de capital como foi o caso tes transformadores da econo-
vid-19 só veio acelerar as apresentação pública dos finan- de algumas empreitadas de obras mia, investimentos públicos e
consequências das debili- ciamentos disponibilizados. Foi públicas, acrescenta. abertura para os privados dos
dades da nossa economia. a olhar para a situação e para a Galvão Branco acredita que o sectores controlados pelo Esta-
crise que está a afectar as empre- mercado vai ser bastante afecta- do, como energia e águas.
Como apoiar as empresas? sas que os empresários lançam o do, adivinhando-se dias difíceis Os homens de negócios acre-
É um momento extrema- apelo a agilização da burocracia. no pós-Covid para a vida dos an- ditam que o apoio financeiro às
mente desafiante quer Para o consultor Galvão Branco, golanos resultante de uma signi- MPME vai estimular o poder de
para as empresas quer “o momento exige” do Governo ficativa redução na receita fiscal, compra das famílias.
para o Governo, sobretudo várias medidas de apoio às empre- com reflexo na despesa, prejudi- M.C.
porque o Estado não tem
dinheiro para subsidiar o
impacto do estado de
emergência na economia.
Mas penso que a redução
da carga fiscal, como o
parcelamento e diminui-
ção do imposto industrial
e IRT seriam algumas das
medidas a adoptar.
O sector da construção foi
o mais pessimista em
2019. Que empresas tere-
mos depois da Covid-19?
O sector da construção em
Angola terá pela frente anos
muito desafiantes. É um
sector fortemente suporta-
do pelos investimentos pú-
blicos cujo principal contra-
tante é o Estado e este tem
escassez de recursos e difi-
culdades de se financiar. Por
outro lado, como as pes-
soas estão mais pobres, te-
nho dúvidas de que este
sector para já construa, por
iniciativa própria, para
vender no mercado, a me-
nos que as principais maté-
CÉSAR MAGALHÃES
rias utilizadas para a cons-
trução possam ser produ-
zidas localmente com cus-
tos muito mais baixos.
O estímulo ao consumo pode minimizar a contracção da economia
4 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020

DESTAQUE CONJUNTURA ECONÓMICA

Infografia: Expansão
Fonte: INE

Como os patrões avaliam a economia

O clima económico melhorou no IV trimestre de 2019. Os sectores da construção e do comércio, dos sete inquiridos,
são os mais pessimistas, enquanto a comunicação tem o indicador de confiança mais optimista.

TODOS OS SECTORES
indicador de clima económico, saldo de respostas extremas

31
25 26 24 25 25
20 18 18 19 19
17 16

2019 - I
14 12 13

2018-I
2016-l

2017-l
10 10 10 10 10 10 10 10 11 11
5 Média | 4
2

IV

IV

IV
lV

lV

III

III
lll

lll

lll

II

II
ll

ll
2008-lll

lV

2009-l

ll

lll

lV

2010-l

ll

lll

lV

2011-l

ll

lll

lV

2012-l

ll

lll

lV

2013-l

ll

lll

lV

2014-l

ll

lll

lV

2015-l

ll
-5 -4
-9 -9 -7
-14 -15 -16 -12
-17 -15
-20 -21
-24
-29
-34 -32 -33

INDÚSTRIA TRANSFORMADORA INDÚSTRIA EXTRACTIVA

Indicador de confiança, saldo de respostas extremas Indicador de confiança, saldo de respostas extremas

IC 31 IC

36 37 33 25
30 32 29 20
25 18 18 18
23 25 20 15 14
17
18 15 19 18
14 17 11
2019 - I

14 13 15 16 14 11

2018-I
2016-l
2015-l

2017-l
9
2016-I

2018-I
2017-l

12
2011-l

Média | 7 9 11 10 8
4 4 4 5
3 3

IV

IV
lV

lV

III
1

lll

lll

lll
IV

IV

IV
lV

lV
III

0
III

III
lll

II
lll

ll

ll

ll
II

II

II
ll

ll

0
2008-III
lV
2009-I
ll
III
lV
2010-I
ll
III
lV
2011-I
ll
III
lV
2012-I
ll
III
lV
2013-I
ll
III
lV
2014-I
ll
III
lV
2015-I

-3 -3 -1 Média | -2 -2 -4
ll
lll
lV
2012-l
ll
lll
lV
2013-l
ll
lll
lV
2014-l
ll
lll
lV

2019 - I
II
III
IV
-11 -14 -8 -9 -6 -7
-15 -13
-19 -17 -21 -17 -14
-23 -26 -17 -15 -16 -14
-29 -17 -20
-36 -37
-28 -28
-30 -31 -30 -29

CONSTRUÇÃO TURISMO
Indicador de confiança, saldo de respostas extremas Indicador de confiança, saldo de respostas extremas

IC IC
57 59 52 16 18 16

2019 - I
12 13

2018-I
2016-l
2012-l

2013-l

10 9 2017-l
33
2019 - I

IV

IV

IV
2
lV

lV

lV

lV

III

III
lll

lll

lll

lll
0
2010-I

2014-I

2016-I

II

II
2018-I
2015-I
2013-I

ll

ll

ll

ll

ll

ll
2017-l
2011-I

18 15 10
2011-l

lll

lll
lV
2014-l
ll
lll
lV
2015-l

-2 -2 -1
3 -4 -2
IV

IV

IV
lV

lV

lV

lV

lV

lV

lV
III

III

III

III

III

III

III

III
lll

lll

Média | -13
II

II

II
ll

ll

ll

ll

ll

ll

-6 -7 -8 -7
2008-III
lV
2009-I
ll
III
lV

2012-I
ll

-6 -4 -6 -14
-20-18 -15 Média | -33
-19 -19
-26 -23 -30-27-25
-20 -20 -20 -18 -21 -19 -19
-35 -34-33 -35 -30-35-38 -25 -27 -23
-40 -37 -39 -29 -28
-46 -45 -46
-52 -35
-59 -60-59 -58-55
-67-67 -66 -64 -43 -42
-74 -48
-55 -53

COMÉRCIO COMUNICAÇÃO
Indicador de confiança, saldo de respostas extremas Indicador de confiança, saldo de respostas extremas

24 24 23 IC 86 IC
21
18 76
15 17 15 14 13 16 16 17 15 16 17 73
12 12 12 13 14 12 12 12 66 66
2019 - I

9
2018-I
2016-l

2017-l

8 62
2 54
IV

IV

IV
lV

lV

III

III
lll

lll

lll

II

II
ll

ll

ll

43 46
2008-III
lV
2009-I
ll
III
lV
2010-I
ll
III
lV
2011-I
ll
III
lV
2012-l
ll
lll
lV
2013-l
ll
lll
lV
2014-l
ll
lll
lV
2015-l

Média | -1 36 Média | 33 37 35
27 26
-12 21 23
16 17 18 16 19
2016-l

-21 9
-25 -26-24 -24-27 0
4
ll

-30 -30 -29

-33 -33 -33
2013-lll

lV

2014-l

ll

lll

lV

2015-l

ll

lll

lV

lll

lV

2017-l

ll

lll

IV

2018-I

II

III

IV

2019 - I

II

III

IV

-37-40 -36-36 -2
-38 -6
-41

TRANSPORTES
Indicador de confiança, saldo de respostas extremas

54 IC
48
44 42 42
37 38
35 36 33 35
32 32 30
29
26 26 25 27 27 27
19 21 20 22 21
17
12 13
Média | 19
2018-I
2016-l

2017-l

7 5 5
1 2
IV
IV
lV

lV
lll

lll

II
ll

ll
2008-III
lV
2009-I
ll
lll
lV
2010-I
ll
lll
lV
2011-I
ll
lll
lV
2012-l
ll
lll
lV
2013-l
ll
lll
lV
2014-l
ll
lll
lV
2015-l
ll
lll

II
III
IV
2019 - I

III

-3 -3 -3 -1
-9 -11 -9 -9
-17-20 -14
-18

GLOSSÁRIO: O indicador de clima económico (ICE) reflecte as expectativas dos empresários sobre a evolução da economia no curto prazo. É a média aritmética simples dos saldos de respostas extremas (SRE) das
variáveis que compõem o indicador de confiança (IC) de cada sector. O IC reflecte a percepção dos empresários de cada sector de actividade sobre o desempenho do respectivo sector de actividade no curto prazo
PUB
6 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
ANGOLA
O sector emprega mais de 177.000 trabalhadores, sendo que as estimativas apontam que, nas condições actuais, mais de 97.000 poderão ter o posto de trabalho em risco
IMPACTO DA COVID-19
Sector dos transportes perde
55% das receitas previstas
São cerca de 756 mil milhões Kz, que correspondem a 1,36 mil milhões USD, entre o sector público e privado.
Pedem-se medidas urgentes que passam por apoio à tesouraria, 200 milhões USD, alívio fiscal, adiamento
do pagamento e redução de alguns impostos, e corte do numero de trabalhadores nas empresas, entre 30 e 70%.
João Armando
O sector dos transportes em An-
gola será fortemente penalizado
pela situação actual. Uma análise
preliminar dá conta de perdas de
receitas no sector dos transportes
para este ano de 756 mil milhões
de kwanzas (1,36 mil milhões
USD), sendo que 40% são do sec-
tor empresarial público (302 mil
milhões kz) e 60% do sector priva-
do (454 mil milhões kz).
No global, o sector tinha estima-
do receitas para este ano de 1,363
biliões Kz (2,452 mil milhões
USD), sendo que terá uma quebra
nas receitas de 55% devido ao im-
pacto da pandemia da Covid-19.
Do valor das receitas previsto
para o ano, 66% está agregado ao
sector privado, 900 mil milhões kz,
e a previsão é que “faça” apenas
50% desse valor, 450 mil milhões
kz, e 34% para o sector público, 463
mil milhões, sendo que as previ-
sões apontam para uma quebra de
receitas de 66% (influenciada pela
quebra na TAAG), devendo rondar
153 mil milhões kz. O sector aponta
para receitas de globais de 463 mil
milhões Kz (1,1 mil milhões USD).
Numa apresentação feita às as-
sociações empresariais a semana
passada numa reunião entre os res-
ponsáveis do Ministério e os diver-
sos agentes do sector, foi também
feito o alerta para a perda de rendi-
mentos e de empregos devido a esta
pandemia. Cabe aqui acrescentar
que o sector rodoviário é o maior
empregador, um pouco mais de 164
mil trabalhadores (apenas 40% es-
tão registados na segurança social).
Segue-se a aviação, 5,5 mil, o sector
marítimo e portuário com quase
3,8 mil (85% registados no INSS), e
o ferroviário com um valor similar,
3,8 mil. Influenciado pelo sector ro-
doviário, o sector informal empre-
ga 56% do total dos trabalhadores
do sector dos transportes, enquan-
to 37% estão no sector privado e 7%
no sector público.
O impacto desta crise será
maior no sector informal e no sec-
tor rodoviário urbano, o que já se
nota nas principais cidades do
País, sendo que estão a circular
menos de metade dos táxis. Prevê-
-se que cerca de 70% da força de
trabalho já esteja ou venha a estar
no desemprego. Nos sectores da
aviação civil, marítimo e portuário
e ferroviário, que está quase exclu-
sivamente na esfera do Estado, a
questão também se coloca, embo-
ra com outros contornos.
As medidas para manter a activi-
dade do sector terão de ser funda-
mentalmente a três níveis – apoio à
tesouraria, alívio fiscal e redução
de pessoal. No sector empresarial
público, a aviação civil, onde as re-
ceitas baixaram entre 70% e 80% e
as despesas entre 25% e 35%, as
perdas estimadas rondam os 280
mil milhões Kz, sendo que a TAAG
é a que necessitará de maior apoio
por parte do Governo. De acordo
com o que conseguimos apurar, a
companhia precisará de um apoio
à tesouraria de 120 milhões USD
por um prazo de 12 a 18 meses e
uma taxa de juro máxima de 3,5%.
Precisa de adiar as suas obrigações
As perdas estimadas
para o sector da
aviação civil rondam
os 280 milhões kz.
As receitas devem
cair entre 70 e 80%
fiscais, beneficiar de isenção de
IVA nas aquisições e fornecimen-
tos externos, e avançar para a sus-
pensão temporária e imediata dos
contratos de trabalho (layoff ) de
70% do seu pessoal, cerca de 2.350
trabalhadores. Estima-se que nas
condições actuais, mais de 3.000
trabalhadores em todo este sub-
-sector tenham os seus empregos
em perigo nas actuais condições.
A isto junta-se, e não apenas
para a companhia de bandeira
mas também para os outros ope-
radores públicos e privados, a ne-
cessidade de flexibilizar a contra-
tação, ter um plano de reformas
CÉSAR MAGALHÃES
antecipadas, proceder ao outpla-
cement de pessoas e tercializar
serviços, retirando-os dos custos
fixos das empresas. Estas medi-
das têm carácter urgente se olhar-
mos para as percas estimadas do
sector empresarial público – ma-
rítimo e portuário (entre 12 a 18
mil milhões kz), ferroviário (1 a 1,5
mil milhões kz) e rodoviário (4,5 a
5,5 mil milhões kz). Ou seja, todas
as empresas do sector (públicas
ou privadas) necessitam de apoio
à tesouraria, no total serão neces-
sários cerca de 200 milhões USD
que devem ser suportados por
uma garantia do Estado, adia-
mento das obrigações fiscais (ao
que se pode juntar a redução do
Imposto Industrial, redução da
taxa do IVA ou a criação de incen-
tivos fiscais para amortização de
perdas registadas) e possibilidade
de reduzirem, em alguns casos
drasticamente, o número de tra-
balhadores (suspensão imediata
dos contratos de trabalho que os-
cilam em 30% e os 70% do total de
trabalhadores de acordo com a
realidade de cada empresa).

TERCEIRA QUINZENA DO ESTADO DE EMERGÊNCIA
Transporte comercial
aéreo de passageiros já
é possível fora de Luanda
O terceiro período
de estado de emergência
no País retira algumas
limitações ao sector
dos transportes. Aviação
e circulação roodoviária
são as mais benefeciadas.
O decreto nº 160/20, de 27 de
Abril, vem aliviar as restrições na
prestação de serviços do sector.
No transporte aéreo já é possível
a realização de voos domésticos
de passageiros, comerciais ou
particulares, em todo o território
nacional com excepção da pro-
víncia de Luanda.
Os aviões que saem de Luanda
só podem ter a bordo a tripula-
ção, podem depois prestar servi-
ço de passageiros nas outras pro-
vinciais, aplicando-se a mesma
regra no retorno à capital. Existe
uma excepção, o transporte de
passageiros de apoio às activida-
des petrolíferas e mineiras, que
pode usar o aeroporto 4 de Feve-
reiro como base das operações.
Mantém-se a autorização de
voos de mercadorias e carga de
âmbito doméstico, regional e in-
ternacional. Tal como para o
transporte de doentes, voos hu-
manitários e de carácter oficial.
Os voos de regresso dos cidadãos
estrangeiros aos seus países de ori-
gem não podem ser de carácter co-
mercial e têm de ser tratados (e au-
torizados) a nível diplomático.
O transporte de
passageiros nas
cidades passa a ser
feito apenas entre
as 5 e as 18 horas e
com 50% da lotação
Os comboios de mercadorias interprovinciais voltaram a circular
No transporte marítimo e
portuário mantém-se a proibi-
ção do transporte de passageiros
para qualquer porto nacional,
com excepção dos trabalhadores
do sector petrolífero destacados
em sondas ou FFSO’s no offshore
nacional. Mantêm-se também
os serviços de transporte e carga
marítima, operações de carga e
descarga em todos os portos na-
cionais. No transporte ferroviá-
rio passa a ser permitido o trans-
porte de carga (ou actividade co-
nexa) em todas as linhas inter-
provinciais operadas pelas em-
presas de caminho de ferro de
Luanda, Benguela e Moçame-
des. O transporte de passageiros
continua proibido.
Foi também aberto o transporte
colectivo rodoviário interprovin-
cial de passageiros, com excepção
das rotas que saem e terminam em
Luanda, desde que para o exercício
de actividades de carácter econó-
mico. Este está limitado a um má-
ximo de 50% de lotação dos auto-
carros. Nos táxis urbanos, a taxa de
ocupação também passa a ser de
50% (já contando com motoristas
e cobradores), sete para veículos
de 15 lugares e seis para os de 12.
Para os táxis personalizados e os
chamados “gira-bairro”, a lotação
admitida são dois passageiros, no
banco de trás, mais o motorista. O
transporte urbano de passageiros
passa também a ter limitações de
horário, só poderá funcionar entre
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 7
CÉSAR MAGALHÃES
as 5 e as 18 horas. Continua proibi-
do o serviço de “moto-taxi” em
todo o território nacional.
Todos os veículos de passagei-
ros e mercadorias autorizados a
circular devem estar equipados
com máscaras cirúrgicas ou ar-
tesanais (uso obrigatório para
todos os ocupantes), luvas, solu-
ção antisséptica de base alcoóli-
ca para uso pessoal e de limpeza
do veículo, lenços de papel e sa-
cos de lixo identificados para a
deposição de resíduos poten-
cialmente contaminados. De-
vem também ter uma solução de
água com lixivia para pulverizar
o interior das viaturas e os locais
de embarque e desembarque.
J.A.
PUB
8 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
ANGOLA
APESAR DO ESTADO DE EMERGÊNCIA
Entrega de casas retomada
para evitar ocupações ilegais
na centralidade Zango 5
Um mês depois da paralisação, o processo de entrega das habitações
da centralidade do Zango 5 recomeçou esta semana, embora de forma
condicionada. O receio de ocupações antecipou o retomar das entregas.
Faustino Diogo
O processo de entrega dos imó-
veis da centralidade do Zango 5,
que foi interrompido devido ao
estado de emergência que vigora
desde o dia 27 de Março, recome-
çou, esta semana, por receio de
que viessem a ocorrer ocupações
ilegais, à semelhança do que acon-
teceu noutras centralidades.
A segunda prorrogação, que
estendeu o estado de emergência
até 10 de Maio, aligeirou algumas
medidas, permitindo o recome-
ço da actividade económica e pú-
blica, mantendo-se no entanto
algumas restrições. Aproveitan-
do o aligeiramento do confina-
mento social, a Imogestin reacti-
vou o processo de entrega de ca-
sas, embora de forma condicio-
nada, devido às limitações im-
postas pela quarentena.
“As entregas já recomeçaram
embora de forma mais lenta”,
disse uma fonte ao Expansão,
adiantando que a decisão foi mo-
tivada por receio de que viessem
a ocorrer invasões de casas.
A entrega dos 2.390 imóveis
da centralidade do Zango 5, que
começou no dia 13 de Março, de-
morou menos de 10 dias, com
Entrega das habitações no Zango 5 está a ser feita de forma condicionada pelo Estado de emergência
uma previsão de atendimento de
55 pessoas por dia, o que, no en-
tanto, não se verificou, porque
nem todos os cidadãos notifica-
dos por SMS para fazerem a
comprovação documental da
candidatura compareceram,
apurou o Expansão.
Cidadãos invadem imóveis
na centralidade do Capari
Mais de 100 apartamentos que
se encontravam fechados na
centralidade do Capari foram
invadidos, esta semana, por ci-
dadãos que habitavam em casas
nas redondezas.
Os imóveis, que estavam fe-
chados há mais de 5 anos, estão
localizados no lote 8 desta cen-
tralidade. Trata-se de aparta-
mentos de tipologia T3, cons-
truídos em unidades de um piso
e que começaram a ser ocupados
“indevidamente” por supostos
A entrega
dos 2.390 imóveis
do Zango 5, que
começou no dia 13
de Março, demorou
menos de 10 dias
funcionários públicos vindos de
outras zonas, comportamento
que rapidamente foi seguido por
residentes da localidade.
“Nem todos os que invadiram
vieram de fora. Há também pes-
soas que já moram aqui na centra-
lidade e que ocuparam aparta-
mentos”, explicou um funcionário
do corpo de segurança, situado à
entrada da centralidade do Capari.
“A polícia já esteve aqui, mas
as pessoas continuam nas casas.
E já passou quase uma semana”,
concluiu o segurança.
Entretanto, a sub-procurado-
ra geral da República da provín-
cia do Bengo, afirmou na quarta-
-feira, dia 29, que as pessoas que
invadiram as residências na cen-
tralidade do Capari, cometeram
o crime de usurpação de imóvel,
punível no código penal.
“Caso se comprove e haja ma-
téria suficiente, os ocupantes
poderão estar implicados no cri-
me de extorsão de imóvel, puní-
vel no artigo 445º do Código Pe-
nal, cuja pena a aplicar é de 2
anos de prisão correcional”,
adiantou Carla Correia.
O Expansão apurou também
que devido a constantes invasões
de imóveis do Estado, a Procura-
doria Geral da República (PGR)
está a ouvir testemunhos de res-
ponsáveis ligados aos processos
de venda das centralidades.
ADJALI PAULO
O pagamento do IPU será feito em quatro prestações
MEDIDAS DE ALÍVIO FISCAL DEVIDO À PANDEMIA
Pagamento do Imposto
Industrial adiado um
mês e IPU a prestações
Medidas de alívio
fiscal incluem crédito
fiscal de 12 meses no
IVA para as empresas,
na importação
de bens de capital
e de matéria-prima.
O prazo de pagamento do Im-
posto Industrial para as empre-
sas do Grupo B, que terminava
esta quinta-feira, 30 de Abril, foi
alargado um mês, no âmbito das
medidas de alívio ao impacto
económico da pandemia da Co-
vid-19, para aliviar a pressão so-
bre a tesouraria.
As empresas integradas neste
grupo, que são todas as que têm um
capital social inferior a 2 milhões
Kz ou proveitos anuais inferiores a
500 milhões Kz, têm até ao dia 30
de Maio para efectuar a liquidação
final das obrigações declarativas do
Imposto Industrial, conforme ins-
titui o Decreto Presidencial n.º
98/20 de 9 de Abril. As empresas do
Grupo A, com capital social igual ou
superior a 2 milhões de Kz ou pro-
veitos anuais de valor igual ou supe-
rior a 500 milhões Kz, têm até ao
dia 30 de Junho para pagar.
O governo decidiu ainda, no
âmbito das medidas para o sec-
tor produtivo, atribuir um crédi-
to fiscal de 12 meses para as em-
presas, sobre o valor do IVA a pa-
gar na importação de bens de ca-
pital e de matéria-prima. Este
crédito destina-se apenas a ma-
térias-primas que sejam utiliza-
das na produção dos 54 bens re-
feridos no Decreto Presidencial
n.º 23/19, de 14 de Janeiro, que
CÉSAR MAGALHÃES
compreende bens da cesta bási-
ca e produtos prioritários.
Num outro decreto, o n.º 96/20,
de 9 de Abril, o Presidente da Re-
pública, João Lourenço, isenta do
pagamento do IVA e dos direitos
aduaneiros as mercadorias impor-
tadas para fins de ajuda humanitá-
ria e doações. As mercadorias en-
quadradas nesta isenção, bem
como aquelas que forem produzi-
das localmente são consideradas
custos fiscalmente dedutíveis, nos
termos do artigo 19.º do Código do
Imposto Industrial, desde que de-
vidamente documentados. O mes-
mo acontece com os serviços e fun-
dos monetários disponibilizados
para o mesmo fim.
As empresas vêem também adia-
do o pagamento das contribuições
para a Segurança Social, referente
ao 2.º trimestre de 2020, que deve-
rá ser pago em parcelas mensais, de
Julho a Dezembro, sem juros.
As medidas de alívio fiscal apro-
vadas pelo Governo abrangem
ainda o Imposto Predial Urbano
(IPU), cujo pagamento é dividido
em quatro parcelas, a primeira
das quais venceu na quinta-feira,
dia 30 de Abril. A segunda parcela
terá de ser paga até final de Junho,
a terceira termina a 31 de Agosto e
a quarta terá de ser regularizada
até final de Outubro.
Isabel Costa Bordalo
As empresas vêem
também adiado o
pagamento das
contribuições para a
Segurança Social do
segundo trimestre
 1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 9

MECANISMO DE FACILITAÇÃO
DE NORTE A SUL

GOVERNO SUBSCREVE
80 MILHÕES USD
EM ACÇÕES DO BAD
O governo aprovou a subscrição
de 98.867 acções do Banco
Africano de Desenvolvimento
(BAD), no valor aproximado
de 80 milhões USD,
no âmbito do sétimo aumento
do capital social da instituição
financeira. Segundo o despacho
presidencial que aprova
a decisão, a subscrição
das acções enquadra-se no
âmbito da consolidação das
relações com as instituições
financeiras internacionais,
aumento da influência e poder
de voto, bem como facilidades
Aprovada Janela Única
para acelerar projectos
de Investimento
Acabar com a
burocracia e facilitar a
vida do investidor está
entre os objectos da
criação da Janela Única
do Investimento,
aprovada esta semana.
nido o cronograma de acção de
determinado investimento, ca-
berá à AIPEX garantir a docu-
mentação necessária para que o
mesmo seja cumprido, contra-
riamente ao que acontece hoje.
Especialistas entendem que o
correcto funcionamento da Ja-
nela Única do Investimento
conduz à simplificação dos ser-
viços do Estado, que vai reduzir
tempo e dinheiro e ajudar quem
pretende investir. Vai também
acabar, assim espera o governo,

QUINTILIANO DOS SANTOS

de acesso aos financiamentos
e assistência técnica.
ZONA DE COMÉRCIO
LIVRE AFRICANA DEVE
SER RECONFIGURADA
O ministro das Relações
Exteriores de Angola defendeu,
esta semana, que o processo de
criação da Zona de Comércio
Livre Continental Africana,
como outros no mundo, deverá
ser reconfigurado devido à
pandemia da Covid-19. Téte
António fez a observação
na Assembleia Nacional
de Angola, que viabilizou,
por unanimidade, o projecto
de resolução que aprova,
para ratificação, o Acordo que
cria a Zona de Comércio Livre
Continental Africana (ZCLCA).
DESMINAGEM
COM MEDIDA
DE DISTANCIAMENTO
As actividades de desminagem,
que haviam sido suspensas
no âmbito do estado
de emergência devido
à Covid-19, vão ser retomadas,
anunciou, esta semana,
a Comissão Nacional
Intersectorial de Desminagem
e Assistência Humanitária
(CNIDAH). Numa nota de
imprensa, salienta-se que cabe
às operadoras criar condições
propícias de transporte e
alojamento dos profissionais
no campo, que salvaguardem as
regras de distanciamento físico.
LANÇADO 2º
CONCURSO PÚBLICO DE
PRIVATIZAÇÃO DA ZEE
O Instituto de Gestão
de Activos e Participações
do Estado (IGAPE)
lançou o concurso público
de privatização de 13 unidades
industriais da Zona Económica
Especial (ZEE). Trata-se das
empresas Indupackage ,
Betonar, Galvanang, Inducarpin ,
Induplás indutive , Mangotal,
Pipeline, Telhafal, Transplas,
Vedatela Absor, Saciango,
Duplas. Estas 13 empresas
Os investidores interessados em
investir no País vão passar a contar
com o serviço designado Janela
Única do Investimento. O meca-
nismo, aprovado esta semana pela
Comissão Económica do Conse-
lho de Ministros, visa acelerar a
implementação dos projectos de
investimento, ao facilitar o pro-
cesso de análise e aprovação.
Este serviço, que ficará inte-
grado na Agência de Investi-
mento Privado e Promoção das
Exportações de Angola (AI-
PEX), vai substituir o investidor
no contacto com os serviços da
administração pública.
O objectivo do serviço, como
apurou o Expansão, passa ainda
por acabar com a burocracia nos
processos de investimento. Quem
pretender investir não terá mais
necessidade de deslocar-se a di-
versas instituições para, por exem-
plo, conseguir licença de constru-
ção ou outro documento necessá-
rio para o início da actividade.
Esta tramitação passará a ser
feita pela AIPEX, via Janela Úni-
ca do Investimento, que obterá
as autorizações necessárias para
o início da actividade.
Com a criação da Janela Única
do Investidor espera-se uma re-
dução do tempo de efectivação
dos projectos, uma vez que, defi-
com os pagamentos ilegais que,
muitas vezes, os investidores são
obrigados a pagar para a dinami-
zação dos seus projectos.
A comissão económica apro-
vou ainda o Plano de Acção do Propostas devem chegar até final de Maio
Programa Integrado de Desen-
volvimento do Comércio Rural
2020, que vai ser implementado PRIVATIZAÇÕES
de forma experimental nas pro-
víncias de Malanje, Cuanza Nor-
te, Cuanza Sul, Bié, Huambo, Sonangol vende
Benguela e Namibe, tendo em
conta a escala dos investimentos
e do desenvolvimento agrícola a
participações em
ser potenciado nestas regiões.
O programa pretende, entre
prestadoras de serviços
outros objectivos, aumentar a
produção nacional e reduzir os
níveis de importação, transfor- Em causa participações
mando o País num exportador
de produtos do campo. em 9 empresas
F.D. prestadoras de serviços
de referência, entre
as quais se incluem
a Sonamet, Petromar
A Janela Única do e a Paenal.
Investimento é uma
simplificação dos
serviços do Estado
A Sonangol vai alienar a partici-
que vai reduzir pações em 9 empresas de refe-
tempo e dinheiro rência na prestação de serviços à
indústria petrolífera, tendo lan-
çado os concursos públicos que
colocam o final de Maio como o
prazo para entrega de propostas.
Fruto da sua decisão de aban-
donar actividades não core
para se focar na exploração e
produção, a Sonangol colocou
no mercado as participações de
30% na Petromar, na Sonadiets
limitada e na Sonadiets Servi-
ce, de 40% na Sonamet Indus-
trial, e na Sonacergy, 51% na
Sonatide Maritime e Sonatide
Limitada, de 33% na SBM
Shypiard e 10% na Paenal.
A venda destas participações
em joint ventures com multina-
cionais respeitadas internacio-
nalmente a nível da prestação de
serviços à indústria petrolífera
em todo o mundo, como é o caso
das Holandesa SBM e Dietsman,
especializadas na manutenção
de centrais de petróleo e gás e
em serviços de engenharia, mar-
ca o início da saída da Sonangol
QUINTILIANO DOS SANTOS
serviços de engenharia. Am-
bas tiveram na fase de explo-
ração e desenvolvimento de
campos petrolíferos em Ango-
la um papel relevante, permi-
tindo que componentes de
plataformas petrolíferas fos-
sem produzidas localmente.
De acordo com o Economista
Afonso Chipepe, a saída da So-
nangol destes “gigantes” do
conteúdo local é uma oportuni-
dade para angolanos compra-
rem participações em empresas
de referência e apostarem na
prestação de serviços à Indús-
tria petrolífera. “A saída da So-
nangol destas parcerias pode
deixar o conteúdo local angola-
no mais pobre e resultar num
recuo na estratégia de inserção
de empresas angolanas na in-
dústria se estas participações
não forem compradas por em-
presários nacionais” refere.
Para Afonso Chipepe o facto de
a indústria petrolífera estar em
crise e de não existir exploração
constitui uma boa oportunidade
par adquirir estas participações a
bom preço. Mas reitera que quem
investir tem de ter capital para
aguentar até que regressem as li-
citações de blocos e a exploração
de petróleo uma vez que estão a
ser cancelados em todo o mundo.
Joel Costa
Sonangol desfaz-se
de participações

fazem parte de um conjunto

de 195 activos detidos,
parcialmente ou totalmente,
pelo Estado que vão
ser alienados até 2022,
no âmbito do Programa
de Privatizações (Propriv).
da área da prestação de serviços. em joint ventures
A Sonangol larga igualmen- com multinacionais
te a parcerias com a WAPO e
Subsea 7, sendo a última com respeitadas
sede em Londres e registada internacionalmente
Investidores ganham um instrumento de incentivo ao investimento no Luxemburgo e focada em
10 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
ANGOLA
ANÁLISE | PARTE II
Angola precisa
de adoptar medidas
de economia de guerra
A principal preocupação deve ser evitar que a pobreza se transforme
em fome, recorrendo a medidas extraordinárias, mas que se justificam. País
vai ser obrigado a acelerar a diversificação da sua base produtiva e a reduzir
drasticamente a sua dependência do petróleo, baseando o seu novo modelo
de desenvolvimento no crescimento do consumo e do investimento interno.
JOSÉ MANUEL
SERRÃO
Economista, ex docente
da Faculdade de
Economia da Universidade
Agostinho Neto
PROPOSTAS PARA NOVA
ESTRATÉGIA DE ECONOMIA
DE GUERRA EM ANGOLA
É tempo de Angola deixar de
pensar a política macroeconó-
mica com preconceitos ideológi-
cos ultraliberais que tomaram
conta da economia em tempo de
paz e que, ano após ano, tem mos-
trado não ter capacidade para
melhorar a realidade social do
País. A terapia macroeconómica
que usa não está a produzir os
efeitos necessários e tem vindo a
agravar os problemas sociais e
económicos, a recessão prolon-
gou-se e transformou-se em de-
pressão e, agora, perante a entra-
da da economia em “coma indu-
zido” devido ao novo coronaví-
rus, não será certamente essa te-
rapia que irá servir de guia para
sair da depressão da economia.
Não se trata de uma afirmação
ideológica, não se sugere o re-
gresso ao estatismo e, muito me-
nos, à economia de direcção cen-
tral. Trata-se de enfrentar a reali-
dade com pragmatismo, recor-
rendo a medidas próprias de uma
situação de guerra e que prepare
Angola para a recuperação. É pre-
A única solução
realista é discutir
um novo Plano de
Desenvolvimento
Nacional para
iniciar em 2021 e
prolongar até 2027
ciso que, nesta fase, haja uma in-
tervenção decidida do Estado
para salvar vidas e diminuir a po-
breza, o que obriga a que sejam
adoptadas medidas activas e efi-
cazes no apoio às pessoas e às em-
presas, quer as que possam nestas
circunstâncias manter o empre-
go e produzir, quer não, mas que
importe manter prontas para re-
tomar a actividade.
Em situação de guerra, quan-
do um inimigo poderoso avança
é preciso cerrar fileiras e, com
os escassos recursos disponí-
veis, conter o seu avanço e con-
tra-atacar, tanto mais que, nes-
te momento, há que fazer face à
crise sanitária e social de emer-
gência e não esquecer que é ne-
cessário preparar a recupera-
ção da economia.
Medidas imediatas
para fazer face à crise
sanitária e social
As insuficiências de pessoal mé-
dico e de enfermagem e a falta de
meios nos hospitais e centros de
saúde obrigam o Estado a mobi-
lizar todos os meios possíveis e a
ajuda externa para acorrer a as
estas carências. É área de priori-
dade absoluta, sendo de reco-
nhecer que esta pandemia veio
criar a oportunidade para o Ser-
viço Nacional de Saúde benefi-
ciar de uma valorização mereci-
da e necessária que, em circuns-
tâncias ditas normais, nunca re-
ceberia, como o demonstra o re-
duzido peso que a área da saúde
tem recebido de dinheiros pú-
blicos. No entanto, salienta-se
que não são apenas necessários
mais recursos e mais pessoal sa-
nitário, pois também é impres-
cindível melhorar a gestão e efi-
ciência da organização geral e de
cada unidade de saúde.
Além disso, a situação de confi-
namento da população e de quase
paralisia das empresas e outras
unidades produtivas deixa uma
larga parte da população despro-
vida de meios de subsistência diá-
ria. O que pode o Estado fazer
para distribuir um rendimento
mínimo às famílias geralmente
numerosas que actualmente fica-
ram sem qualquer rendimento?
A principal preocupação deve ser
evitar que a pobreza se transfor-
me em fome para parte impor-
tante da população, recorrendo a
medidas absolutamente extraor-
dinárias, mas que se justificam
nesta situação.
No momento em que o Estado
vai avançar para a criação dos
municípios esta crise cria uma
oportunidade excepcional para
capacitar as actuais administra-
ções municipais e comunais
para uma acção social mais po-
derosa e abrangente, designada-
mente através de Centros de
Apoio Social Integrado, usando
o pagamento de transferências
sociais monetárias – por exem-
plo o estabelecimento de um
subsídio de alimentação, tipo
voucher alimentar – ou o forne-
cimento de merenda escolar
(mesmo com as escolas encerra-
das) ou de bens da cesta básica,
especialmente bens alimentares
e de higiene, devendo ser dada
total prioridade ao escoamento
de produtos produzidos no País
por pequenos agricultores,
como milho, mandioca ovos,
frangos, legumes, batatas, frutas
e outros, ou por empresas que
produzem sabão, gel, máscaras e
outros materiais de protecção
individual, cuja produção nacio-
nal deve ser estimulada. Pode
também o Executivo estudar o
estabelecimento de uma forma
simplificada de passe social para
distribuir pela população mais
carenciada para comparticipar
no elevado peso que os custos de
transporte representam para as
famílias que não podem deixar
de se deslocar para trabalhar ou
receber apoio, apesar do reco-
mendado confinamento.
Por outro lado, havendo deso-
cupação generalizada de mão-
-de-obra, devem as administra-
ções municipais e comunais,
principalmente nas grandes ci-
dades em cujos subúrbios se con-
centra uma grande parcela da
população, criar algum emprego,
ainda que precário, através da
constituição de brigadas munici-
pais de trabalhadores para faze-
rem trabalhos de interesse co-
munitário, como seja arranjo de
ruas, caminhos e estradas terciá-
rias, recolha de lixo e limpeza ur-
bana, desobstrução de valas, ser-
viço comunitário de ajuda e se-
gurança a idosos, deficientes e
crianças, e tantas outras possí-
veis acções de interesse social,
mediante o pagamento de um sa-
lário mínimo nesta fase tempo-
rária de emergência em que a ac-
tividade económica se encontra
muito reduzida e condicionada.
Além disso, não sendo agora
possível criar os novos postos de
BNA tem de ser chamado neste momento a desempenhar o papel fundamental de
A história mostra
que a origem dos
bancos centrais
está ligada
à necessidade
de financiar as
despesas de guerra
trabalho prometidos, deve-se
aproveitar esta alteração de cir-
cunstâncias para reforçar as bases
financeiras da Segurança Social,
para melhorar a sua capacidade de
pagamento de subsídios de de-
semprego, pois os efeitos desta cri-
se terão um impacto prolongado
nas empresas e na sua capacidade
de voltarem a criar emprego.
Entretanto, o Executivo anun-
ciou medidas imediatas de alívio
dos efeitos económicos e finan-
ceiros da Covid-19, mas trata-se
de medidas que, sendo aceitáveis,
são manifestamente insuficien-
tes e, acima de tudo, inspiradas
pela concepção de que não há di-
nheiro no OGE para apoiar a po-
pulação. Como é possível que se
qualifiquem como medidas de alí-
vio a prorrogação por alguns dias
dos prazos para entrega de decla-
rações fiscais? Como é possível
qualificar como medidas finan-
ceiras de alívio a consagração de
linhas de crédito, certamente
onerosas e condicionadas, às
PME´s produtivas? Como se pode
pensar que é um alívio para apoiar
as famílias e o sector informal
isentar as empresas de desconta-
rem 3% dos salários para a Segu-
rança Social durante 3 meses e as-
segurar que não haverá cortes de
fornecimento de água e electrici-
dade durante o mês de Abril ?
É evidente que a definição e a
dimensão das medidas está a ser
condicionada pela ideia de que
não há margem no OGE para
2020 para fazer mais e melhor,
pois prevalece a concepção ul-
traliberal de que a única forma
de financiar o OGE é através de
mais impostos ou mais dívida.
Ora, não tem de ser assim, como
se vê em todos os países que já
estabeleceram programas de
apoio ao sistema de saúde e à re-
toma da economia. No caso de
Angola há que recorrer ao Banco
Central – o BNA – que tem de ser
chamado a cumprir o seu papel
fundamental de prestamista de
última instância para financiar
as necessidades da economia,
seja através de refinanciamento
dos bancos comerciais, seja atra-
vés da subscrição directa ou in-
directa de dívida pública de
emergência, tanto mais que, nas
actuais condições dos mercados
financeiros internacionais, não
será possível esperar colocar os
3 mil milhões de Eurobonds que
necessita para cobrir o défice já
existente no OGE de 2020.
Naturalmente é necessário co-
meçar por rever profundamente
o OGE 2020, reorientando as
despesas públicas face à quebra

banco central e menos de supervisor e regulador dos bancos
das receitas e ao agravamento
das despesas em saúde pública e
em apoio social, para além de re-
ver seguramente planos de in-
vestimento público que possam
ser suspensos ou atrasados a fim
de ganhar alguma folga financei-
ra para fazer face a despesas pre-
mentes e inadiáveis. É também
urgente negociar uma moratória
imediata e pôr um prazo longo
aceitável do serviço da dívida aos
credores externos, com priorida-
de para a China, apelando à soli-
dariedade internacional que
neste momento deve ser conse-
guida, embora Angola não esteja
no grupo dos países mais vulne-
ráveis a quem o FMI já estabele-
ceu tal moratória.
Quanto poderão custar as me-
didas necessárias e onde se irá
buscar dinheiro para as pagar e
suprir o natural (nestas circuns-
tâncias) défice das contas públi-
cas? Não é certamente com li-
nhas de crédito bancário, nem
com a emissão de Obrigações do
Tesouro a taxas proibitivas, mas
sim com emissão monetária im-
posta ao BNA para subscrever, di-
recta ou indirectamente, uma
emissão extraordinária de Obri-
gações do Tesouro de muito lon-
go prazo, com taxa de juro inex-
pressiva e de montante adequado
para fazer face às necessidades fi-
nanceiras para apoiar o povo e a
economia, não podendo o BNA
esquecer que, entre as suas fun-
ções, é sua obrigação ser “presta-
mista de última instância”, de-
vendo encontrar solução jurídica
para ultrapassar a redacção que a
reforma da sua Lei Orgânica em
2010 impôs ao seu objecto social.
Tal não invalida, como é obvio,
que Angola, tal como aliás a União
Africana e todos os países de África,
não procure movimentar-se para
negociar algum financiamento ex-
terno adicional e alguma forma de
perdão parcial de dívida externa,
inclusive em ligação com a União
Europeia e o Banco Mundial, para
reforçar os meios de intervenção
do Estado a desviar para apoio à po-
pulação e ao emprego, havendo já
diligências em curso a nível inter-
nacional que importa aproveitar.
Medidas imediatas para
fazer face à recuperação
da economia
A queda brutal da procura e uma
profunda redução do preço do
petróleo acarretam uma enorme
perda de rendimento para Ango-
la. As condições de incerteza que
a pandemia da Covid-19 trouxe à
Não se pode
empurrar as
empresas para
aumentarem o
endividamento
(...) pelo que tal
medida é de
alcance muito
enganador
D.R.
economia global vai provocar
uma transformação sem prece-
dentes na organização mundial
dos fluxos de comércio e de in-
vestimento, o que muito afecta-
rá Angola e durante muito tem-
po, pois a economia não voltará
aos padrões anteriores após ter
terminado esta emergência.
Apesar de enfrentar condi-
ções adversas, Angola vai ser
agora obrigada a passar à prática
a diversificação acelerada da sua
base produtiva e a redução drás-
tica da sua dependência do pe-
tróleo, baseando o seu novo mo-
delo de desenvolvimento no
crescimento do consumo e do
investimento interno, o que im-
plica que seja igualmente sus-
penso o calendário de adesão à
Zona Continental de Comércio
Livre da União Africana, orien-
tação que parece deslocada nes-
te momento, pois pode pôr em
causa as perspectivas de desen-
volvimento endógeno do País.
As alterações de circunstân-
cias são tão profundas e com re-
percussões a tão longo prazo que
a única solução realista é discutir,
até ao final de 2020, um novo Pla-
no de Desenvolvimento Nacio-
nal para iniciar em 2021 e pro-
longar até 2027, para acertar
com os ciclos eleitorais normais,
concebendo um plano mais as-
sente na dinamização da produ-
ção e no estimulo à procura in-
terna e menos dependente das
infra-estruturas de capital in-
tensivas e fortemente dependen-
tes do financiamento externo.
O PAPEL DO SISTEMA BANCÁRIO
EM PERÍODO DE GUERRA
Quaisquer que sejam as escolhas
de medidas para fazer face à
emergência sanitária e social e
para fazer face à recuperação da
economia, o BNA tem de ser cha-
mado neste momento a desem-
penhar o papel fundamental de
banco central e menos de super-
visor e regulador dos demais
bancos. Nos últimos anos, mui-
tas vezes, se tem exigido que os
bancos comerciais aumentem a
concessão de crédito às empre-
sas para dinamizar a economia,
sem se falar da responsabilidade
de o BNA se envolver na conces-
são de crédito através do refi-
nanciamento dos demais ban-
cos. Compreende-se, mas lem-
bre-se que a capacidade do sis-
tema bancário conceder crédito
começa no papel que o BNA de-
sempenha, pois faz parte inte-
grante do sistema bancário
como “prestamista de última ins-
tância” e não como mero regula-
dor que se coloca acima e se limi-
ta a supervisionar. Neste mo-
mento, a principal função do BNA
tem de ser fornecer liquidez aos
bancos comerciais para poderem
conceder crédito à economia e
não atribuir maior importância à
tarefa de retirar liquidez para lu-
tar contra a inflação. A quebra da
procura agregada não deixa a in-
flação subir e a subida de preços
só acontece nos produtos impor-
tados cuja oferta poderá reduzir-
-se por falta de divisas.
Tal como diz o FMI, nesta con-
juntura, a resposta à crise depen-
de das medidas que serão toma-
das por via da política monetária e
da política orçamental, o que exi-
ge uma acção decidida e articula-
da da parte do BNA e do Ministério
das Finanças. Nesta crise, o BNA
tem de financiar o OGE, para po-
der reforçar as verbas para a saú-
de e segurança social, seja os ban-
cos comerciais para repassar liqui-
dez para as empresas para tesou-
raria e apoio ao investimento.
A história mostra que a ori-
gem dos bancos centrais está li-
gada à necessidade de financiar
as despesas de guerra, sendo a
este propósito útil lembrar a
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 11
criação do Banco de Inglaterra
no século XVII e o livro escrito
em 1940 por John Maynard
Keynes “How to pay for the war:
a radical plan for the Chancellor
of the Exchequer”, no qual de-
fende a necessidade de recorrer
à criação de moeda e a um pou-
co de inflação para pagar a
guerra. A solução financeira a
que todos os países tem recorri-
do nesta emergência e a que vão
recorrer para recuperar as eco-
nomias passa pelo recurso ime-
diato e incondicional à injeção
de liquidez pelos respectivos
bancos centrais, cuja eficácia
está demonstrada nos Estados
Unidos, na China, no Reino Uni-
do, no Japão e em tantos outros
países, inclusive na União Euro-
peia, onde, apesar da dificulda-
de em tomar decisões comple-
xas, o BCE aprovou apoios subs-
tanciais aos bancos comerciais.
Em Angola, perante a pande-
mia do novo coronavírus, o BNA
não pode limitar-se a comprar
algumas OT´s a empresas que as
tinham anteriormente adquiri-
do, medida desajustada e restri-
ta a favor de um limitado núme-
ro de beneficiários.
Não se pode esperar que se-
jam os bancos comerciais e ou-
tras instituições financeiras es-
pecializadas a resolver as carên-
cias de liquidez da economia
quando o banco central não se
empenha fortemente para fazer
frente às exigências do momen-
to. Sem um BNA actuante a eco-
nomia Angolana terá dificulda-
de em recuperar. Aliás, não se
pode empurrar as empresas
para aumentarem o endivida-
mento para fazer face à para-
gem das receitas, pelo que tal
medida é de alcance muito en-
ganador, mesmo com condições
absolutamente excepcionais de
juros e desburocratizadas, pois
o endividamento aumenta e
afecta o rating das empresas e o
grau de risco para os bancos, cu-
jas regras de solvabilidade se
mantêm e impedem os bancos
de conceder crédito a empresas
com maior grau de risco.
12 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
MUNDO
Em África a aviação comercial suporta 6,2 milhões de postos de trabalho, indústria que pode perder 2 milhões de empregos com as restrições nas viagens internacionais
COVID-19: INDÚSTRIA AFUNDA COM RESTRIÇÕES NAS VIAGENS INTERNACIONAIS
Crise na aviação ameaça 2
milhões de empregos em África
Com uma previsão de quebra de receita na venda de bilhetes na ordem dos 6 mil milhões USD, em 2020,
a crise na aviação comercial põe em causa dois milhões de empregos em África. As restrições nas viagens
internacionais ameaçam uma indústria que, em 2019, contribuiu com 56 mil milhões USD para o PIB africano.
Isabel Costa Bordalo
As restrições de viagens estão a
montar um cenário de tragédia na
aviação comercial, sem paralelo na
história, com a previsão de quebra
de receita das companhias aéreas
de 314 mil milhões USD a ameaçar
a viabilidade de 25 milhões de em-
pregos em todo o mundo, dois mi-
lhões dos quais em África.
“A situação económica da in-
dústria da aviação é grave. O nú-
mero de passageiros caiu 80%. As
companhias aéreas estão a en-
frentar uma crise de liquidez que
ameaça a viabilidade de 25 mi-
lhões de empregos, directa e indi-
rectamente”, afirmam a IATA e a
Federação Internacional dos Tra-
balhadores de Transportes aé-
reos, numa declaração conjunta,
de 20 de Abril, onde as duas orga-
nizações alegam que a aviação co-
mercial enfrenta o “período mais
crítico” da sua história.
Em África está em causa uma in-
dústria, que suporta 6,2 milhões de
postos de trabalho e contribui com
56 mil milhões USD para o Produ-
to Interno Bruto, o que leva
Muhammad Al Bakri, vice-presi-
dente regional da IATA para a Áfri-
ca e o Oriente Médio, a dizer que “o
fracasso do sector não é uma op-
ção”. A previsão de quebra de re-
ceita das companhias aéreas da re-
gião, na venda de bilhetes, é esti-
mada em 6 mil milhões USD, em
comparação com 2019, com a des-
cida de 51% no tráfego aéreo.
As duas organizações pedem aos
governos “apoio financeiro e regu-
latório imediato às companhias aé-
reas, a fim de manter a sustentabili-
dade” dos postos de trabalho e para
ajudar o sector a “reiniciar rapida-
mente actividade, adaptando as re-
gulamentações e levantando as
restrições de viagem de maneira
previsível e eficiente”.
Em muitos países europeus,
como Alemanha, Itália e Portugal,
os governos já ponderam a nacio-
nalização de companhias aéreas
para manter a operação no ar. Na
África Subsaariana alguns gover-
nos já se mobilizaram para salvar
as suas companhias aéreas, como
aponta a IATA. O Senegal anun-
ciou 128 milhões em alívio para o
sector do turismo e transporte aé-
reo. As Seychelles renunciaram a
todas as taxas de desembarque e
estacionamento, de Abril a De-
zembro de 2020. A Costa do Mar-
fim renunciou ao Imposto de Tu-
rismo para passageiros em trânsi-
to. E África do Sul adiou o paga-
mento de impostos sobre salários,
renda e carbono em todos os secto-
res, apesar de ter recusado finan-
ciar um resgate de 527 milhões
USD para salvar a South Africa
Airways, que está em processo de
liquidação, prevendo-se que dê lu-
gar a uma nova companhia aérea.
Neste contexto de crise, a IATA
(que representa 290 companhias
aéreas, que compõem 82% do trá-
fego aéreo global) salienta a neces-
sidade de os governos incluírem a
aviação em “pacotes de estabiliza-
ção”, notando que as “companhias
aéreas estão no centro de uma ca-
deia de valor que suporta cerca de
65,5 milhões de empregos em
todo o mundo”. Ou seja, um dos
2,7 milhões de empregos em com-
panhias aéreas suporta mais 24
empregos na economia, o que
atesta a importância do sector.
A Organização Internacional da
Aviação Civil (ICAO), agência espe-
cializada das Nações Unidas, traça
igualmente um cenário dramático,
num relatório de 76 páginas, onde
avalia o impacto da crise provocada
pela pandemia da Covid-19 na avia-
ção comercial. Nos dois cenários
traçados no estudo - um tem em
ASSINATURA DE FOTO
conta o reinício da actividade no fi-
nal de Maio e o outro apenas no ter-
ceiro trimestre de 2020 - a ICAO
antecipa uma redução geral de pas-
sageiros entre os 44% aos 80%, que
se reflecte num declínio de 48% nas
receita das companhias aéreas e
numa perda de 45%, mais de 76 mil
milhões USD, nas receitas aeropor-
tuárias em 2020.
As restrições de viagens em 96%
dos destinos mundiais resultarão
num declínio nas receitas do turis-
mo internacional até 450 mil mi-
MUHAMMAD AL BAKRI lhões USD, em 2020, valor que re-
Vice-presidente
regional da IATA presenta um terço da receita gera-
da em 2019 (1,5 biliões USD).
“O fracasso No comércio internacional, é
estimada uma quebra no volume
do sector da de mercadorias entre os 13% e os
aviação em África 30% em 2020, ano em que o FMI
projecta uma contração de -3% no
não é uma opção. PIB mundial, confirmando uma
Mais governos depressão pior do que a verificada
na crise financeira de 2008-2009.
precisam É ao transporte de carga que algu-
intensificar mas companhias se têm agarrado,
como é o caso da Ethiopian Airli-
esforços” nes, depois de Addis Abeba ter
sido designada Centro Aéreo Hu-
manitário da Organização Mun-
dial de Saúde e do Programa Mun-
dial de Alimentos das Nações Uni-
das, devido à sua frota internacio-
nal, que voa para 127 destinos.

O MUNDO NUMA PÁGINA
CABO VERDE | Governo quer legislar
para criar serviços públicos online
O governo apresentou um pedido de autorização à As-
sembleia Nacional para legislar sobre a introdução de
serviços públicos online, no sentido de facilitar a vida ao
Estado, aos cidadãos e aos investidores. “Sobretudo no
momento que estamos a viver hoje, de restrição em rela-
ção à mobilidade, coloca-se, cada vez mais, o enfoque e
importância do digital na agenda pública”, justificou o
vice-primeiro-ministro e ministro das Finanças, Olavo
Correia. A autorização legislativa visa a simplificação da
administração pública para prestar serviços online, a
criação de uma chave móvel digital, que permite que os
cidadãos acedam aos sítios e portais na internet, e a re-
gulamentação de um mecanismo de autenticação.
CABO VERDE
BRASIL
BRASIL | Confiança do consumidor
atinge mínimo histórico em Abril
O Índice de Confiança do Consumidor do Brasil (ICC)
atingiu o mínimo histórico da série iniciada pela Funda-
ção Getúlio Vargas, em Setembro de 2005, ao cair 22
pontos, passando de 80,2 em Março para 58,2 pontos em
Abril, com a Covid-19. A mínima anterior era de 64,9 pon-
tos alcançados em Dezembro de 2015. A confiança caiu
em todos os seis segmentos medidos pela FGV, o que
leva a coordenadora de sondagens da fundação, Viviane
Seda Bittencourt, a concluir que “somente um milagre”
poderia recuperar a confiança do consumidor em 2020.
Em causa a intenção de compras de bens duráveis para
os próximos meses, o indicador que mais contribuiu para
o recuo do ICC, com um tombo de 35,6 pontos.
EGIPTO | Governo negoceia com FMI
novo programa de 8 mil milhões USD
O Egipto, um dos países com mais casos positivos da Co-
vid-19 em África, apresentou um pedido de assistência de
um ano ao FMI, com um financiamento estimado em 8 mil
milhões USD, para lidar com as consequências económi-
cas da pandemia do novo coronavírus. O bloqueio, impos-
to em meados de Março, afectou o turismo, umas das prin-
cipais fontes de receitas do país, que em 2016 viu aprova-
do um programa de financiamento do fundo de 12 mil mi-
lhões USD. O governo estima uma quebra de receita no
sector de 5 mil milhões USD, fechando o ano fiscal de
2019/20, que vai de Julho a Junho, com uma receita de 11
mil milhões USD, segundo a ministra da Planificação, Hala
al Said. Valor muito abaixo dos 16 milhões USD previstos.
EGIPTO
SOMÁLIA
BOTSUANA
ÁFRICA DO SUL
ÁFRICA DO SUL | Empréstimos
multilaterais de 5 mil milhões USD
O governo está a negociar com o FMI, o Banco Mundial e
o Novo Banco de Desenvolvimento empréstimos multila-
terais, na ordem dos 5 mil milhões USD, para ajudar a fi-
nanciar um pacote de estímulos económicos de 500 mil
milhões de rands (26,4 mil milhões USD) de resposta à
Covid-19. Para fortalecer a economia, enfraquecida pelas
medidas adoptadas para conter a pandemia, o Presiden-
te Cyril Ramaphosa anunciou no dia 21 de Abril um paco-
te fiscal de apoio às empresas e de ajuda aos mais pobres,
com suporte financeiro do Banco de Reserva, um dos
poucos bancos centrais do mundo que são privados. O
plano inclui um programa de garantia de empréstimos de
10,5 mil milhões USD para as empresas.
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 13
Infografia: Expansão
SOMÁLIA | Transparência: portal
indica origem e destino de doações
A Somália lançou um portal, gerido pelo Ministério do
Planeamento, Investimento e Desenvolvimento Econó-
mico, para prestar contas sobre as contribuições de doa-
dores. A plataforma “Sistema de Gestão de Informações
de Ajuda” é a primeira tentativa do país, em três décadas,
para agregar informação sobre a proveniência e o desti-
no das doações. Segundo o ministro do Planeamento,
Gamal Hassan, o portal http://aims.mop.gov.so/ irá aju-
dar a fornecer dados mais precisos sobre os sectores que
mais beneficiaram com os financiamentos, além de indi-
car se o dinheiro foi usado de maneira eficaz. Só em 2019,
foram iniciados ou ampliados mais de 650 projectos, fi-
nanciados por vários parceiros, indicou o ministro.
BOTSUANA | Economia encolhe 13%
com Covid-19, previsão do governo
A economia do Botsuana vai encolher cerca de 13% este
ano, enquanto o défice orçamental aumenta, devido ao
impacto da pandemia do novo coronavírus, afirmou o mi-
nistro das Finanças, Thapelo Matsheka. Com pouco mais
de dois milhões de habitantes, o país é um dos maiores
produtores de diamantes no mundo, indústria que repre-
senta 80% das suas exportações. Há precisamente um
ano, a empresa de mineração canadiana Lucara anunciou
a descoberta do segundo maior diamante do mundo, na
sua unidade de exploração de Karowe, no centro do
Botsuana. A pedra de 1.758 quilates, com o tamanho de
uma bola de ténis, é a segunda com mais de 1.000 quila-
tes extraída naquele complexo mineiro.
14 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
GRANDE ENTREVISTA
IVANILSON MACHADO CEO DA PUMANGOL
Fim dos subsídios
pode estimular novos
investimentos em Angola
O gestor fala sobre os desafios na área de downstream, explica que quer proteger a quota de 33% na
distribuição de derivados de petróleo e diz que o acordo com a Sonangol para utilização do seu terminal
de armazenamento de combustível em Luanda vai permitir poupanças ao País, enquanto cria uma reserva
estratégica de combustíveis. Sobre a actual crise, diz que é tempo para reinventar a economia angolana.
Joel Costa (texto)
e D.R. (fotos)
A Pumangol é o segundo
player no sector de dows-
tream, ou seja nas activida-
des de armazenamento, dis-
tribuição e comercialização
dos derivados do petróleo.
Como caracteriza este mer-
cado em Angola?
A Pumangol é uma empresa
com quatro áreas de negócio,
todas centradas no armazena-
mento, distribuição e comer-
cialização de combustível, lu-
brificantes, betumes e emul-
sões betuminosas. Embora a
área mais visível da nossa acti-
vidade seja a comercialização e
distribuição de combustíveis,
ou seja, o retalho a nossa pre-
sença física em Angola remon-
ta a 2006 com o início das acti-
vidades da Angobetumes.
Mas qual a vossa quota de
Mercado?
A nível da comercialização e
distribuição de derivados de
petróleo e venda a retalho, en-
trámos no mercado angolano
em 2010, altura em que cons-
truímos o primeiro posto de
abastecimento. Hoje conta-
mos com 79 Postos de abasteci-
mento construídos de raiz, es-
trategicamente situados nas 18
províncias de Angola e dete-
mos uma quota de mercado aci-
ma de 33%.
Qual o principal impacto do
vosso surgimento na área de
downstream em Angola?
A entrada da Pumangol, provo-
cou uma verdadeira revolução
no sector. O impacto dessa en-
trada fez-se sentir a todos os
operadores já existentes no
mercado Angolano e um dos re-
sultados gerais observados foi
a maior disponibilidade de pro-
duto e o fim das longas filas de
espera no abastecimento de
combustíveis, resgatando a boa
imagem e a reputação de um
país produtor petrolífero.
Qual o vosso volume de ne-
gócios e quais as vossas
perspectivas para o médio
prazo?
O volume de negócios da Pu-
mang ol ascende os mais de
AOA 200 Biliões de Kuanzas
por ano e temos como objecti-
vo para os próximos 3-5 anos,
continuar a consolidar a nos-
sa posição no mercado, au-
mentar a rede de postos de
abastecimentos e introduzir
novos serviços, no intuito de
continuar a crescer num mer-
cado cada vez mais competiti-
vo e que assiste à entrada de
novos concorrentes, factores
necessários e importantes
para enrobustecer o sector e a
economia angolana.
O Sector Petrolífero foi alvo
de reestruturação. Que im-
pacto teve a reestruturação
para as empresas que ac-
tuam na área de downs-
tream?
A restruturação do sector pe-
trolífero concretizada no ano
passado com o surgimento do
IRDP, a nova entidade regula-
dora do sector do downstream
em Angola, veio reforçar o pro-
cesso de liberalização gradual
do mercado de distribuição e
permitiu a introdução de novas
leis e regulamentação. Foi
aprovada a lei de liberalização
do mercado do downstream e
quando a mesma for completa-
mente regulamentada espera-
-se um mercado mais atractivo,
transparente e o consequente
melhoramento na oferta de
bens e produtos mais competi-
tivos para os consumidores.
“A entrada da
Pumangol, provocou
uma verdadeira
revolução no sector.
O impacto dessa
entrada fez-se
sentir a todos
os operadores”
A nível do armazenamento
ficamos a saber que chega-
ram a um acordo com a So-
nangol. Qual a capacidade do
vosso terminal?
A Pumangol efectuou investi-
mentos em terminais de com-
bustíveis em 5 províncias do
país. O terminal de combustí-
veis de Luanda, TCPL de for-
ma abreviada, depois da sua
ampliação, tornou-se no
maior e mais moderno termi-
nal da empresa. A infraestru-
tura tem uma capacidade
aproximada de 300.000m3 e
todas as condições logísticas
necessárias para realizar ope-
rações de descarga e carrega-
mentos com eficiência e segu-
rança, este acordo permite
também a criação de uma re-
serva estratégica de armaze-
nagem para o país.
Quanto terá de pagar a So-
nangol para utilizar este ter-
minal e porque razão se diz
que o acordo permitirá ao
país poupar dinheiro?
As duas empresas identifica-
ram interesses comuns que
permitirão a Sonangol utili-
zar as potencialidades do
TCPL enquanto continua em-
penhada para a conclusão do
seu terminal da Barra do Dan-
de. Os termos do acordo são
confidenciais bem como os
custos do investimento do
TCPL são informação comer-
cial classificada.
Presume-se que o país vai
poupar dinheiro porque o ar-
mazenamento de combustí-
vel no mar é mais caro que
num terminal em terra certo?
Em todo o acordo ocorrem be-
nefícios mútuos na medida em
que vai ao encontro de um an-
seio premente do Sector na
perspectiva de melhor suprir as
necessidades de combustíveis,
bem como representa o reforço
da cooperação entre as duas em-
presas. Antes do acordo houve-
ram ocasiões em que a Sonangol
fez uso de Terminal de combus-
tíveis de Luanda porém só no
âmbito desse acordo a utilização
passará a ser feita de forma siste-
“A entrada de mais
operadores é uma
necessidade do
mercado, portanto
benéfica para o País,
para nós e para
a comunidade”
mática e dentro dos termos da
duração do referido contracto.
Há tempos falou-se sobre al-
terações na estrutura accio-
nista do vosso grupo sendo
que o accionista angolano iria
reduzir a participação na em-
presa para menos de 5%. Esta
alteração já foi concretizada?
Essa transação vem reforçar a
capacidade da empresa para o
acesso a capital futuro.
Que impacto poderá ter a al-
teração da estrutura accio-
nista no negócio da empresa?
Essa transação vem reforçar a
capacidade da empresa para o
acesso a capital futuro.
A mudança da estrutura ac-
cionista enquadra-se num dos
três pilares do plano que para
além do esforço da implemen-
tação da sua estratégia quin-
quenal e a optimização dos ac-
tivos, facilitará no futuro o
acesso a capital e permitirá co-
locar-nos numa melhor posi-
ção para desenvolvermos um
negócio robusto, focado no
cliente e desenvolvermos a ca-
pacidade de materializarmos
as oportunidades de cresci-
mento futuro e para o bem das
comunidades a quem servimos.
Assim, uma das empresas An-
golanas, parceiras da Puma
Energy, após redefinir a sua
atenção noutras partes do seu
negócio e ter expressado inte-
resse num evento de liquidez,
concordou em vender parte da
sua comparticipação para pas-
sar agora a deter 5% de partici-
pação na estrutura acionista da
Puma Energy.
Que impacto poderá ter a en-
trada de um novo player no
caso a Total no sector de
downstream em Angola?
A entrada de mais um player, a
TOTAL, concretamente é
muito positiva para a compe-
titividade no mercado. A TO-
TAL já é nossa concorrente
noutros mercados internacio-
nais, nomeadamente em Afri-
ca. O nosso posicionamento é
servir o cliente com qualidade
e a Pumangol não será afecta-
da por isso. A entrada de mais
operadores no nosso mercado
é uma necessidade do merca-
do, portanto benéfica para o
país, para nós, para os demais
operadores e os nossos clien-
tes, parceiros, operadores e
comunidades no geral. Assim,
a concorrência é muito bem-
-vinda e aplaudimos.
Hoje há mais jovens inte-
g r a d o s a n i ve l p o l í t i c o e
para cargos de alta respon-
sabilidade como Ministro
qual a sua expectativa em
relação a este processo de
integração?
O processo de integração é ne-
cessário e inadiável. Contudo,
o mesmo deve ser feito de for-
ma pragmática e bem planifi-
cada, para que ocorra uma su-
cessão sólida, sustentável e
que produza o efeito de eleva-
ção de liderança a um outro pa-
tamar mais conducente com os
desafios e realidades actuais.
Acha que o país está diferente?
O executivo já tem estado a
evidenciar muitos sinais de
que está apostado na integra-
ção cada vez maior de jovens
no processo de governação do
país e temos tido alguns bons
exemplos de sucesso. Noto
que estes exemplos de suces-
so, iniciaram em posições in-
termédias nas suas áreas de
actividade, foram ganhando
experiência e a sua ascensão a
cargos mais elevados foi uma
consequência natural do seu
processo de evolução e desen-
volvimento, alicerçado pelo
conhecimento técnico que
trazem consigo.
 1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 15

LIBERALIZAÇÃO
VAI ATRAIR MAIS
INVESTIMENTOS
O que vai significar a liberaliza-
ção do mercado de derivados?
Encaramos a nova etapa com tran-
quilidade e determinação, não ape-
nas pela entrada de novos opera-
dores no mercado, mas também
quando for efectivada a liberaliza-
ção do mercado dos derivados de
petróleo. Será uma nova oportuni-
dade para reforçarmos a nossa po-
sição no mercado e quiçá expan-
dirmos a nossa quota de mercado.

Quando se fala do impacto dos

subsídios nas empresas apenas se
fala na Sonangol. Que impacto tem
os subsídios no vosso negócio?
Com os actuais preços do com-
bustível as margens na cadeia de
valor não permitem sequer co-
brir os custos operacionais e
muito menos novos investimen-
tos. A retirada dos subsídios
pode ser um factor estimulante
para novos investimentos se a
remuneração das actividades na
cadeia de valor for adequada.

De que forma?
Certamente que os subsídios são
um peso considerável para o Esta-
do e uma inércia para todos os ope-
radores no mercado do downs-
tream. Compreendemos o contex-
to de Angola e o desafio que cons-
titui para o estado a questão dos
subsídios. A sua retirada, em devi-
do momento e nas circunstâncias e
condições balanceadas e equilibra-
das trarão vantagens para todos.

Qual o vosso maior mercado em

África e qual o peso de Angola
no continente?
A Puma Energy está presente
em 18 países em África e tem
uma vasta carteira de negócios.
Angola, pela especificidade do
mercado continua a ser um dos
negócios mais importantes para
o grupo, contribuindo com cer-
ca de 9% do total do EBITDA da
Puma Energy Global.

Que avaliação faz da sua gestão

na filial da Puma Energy em Mo-
çambique?
Foram quase 4 anos de muito
aprendizado. O desafio era desen-
volver e revolucionar a marca na-
quele mercado. Passamos a ser um
dos 3 players mais importantes,
tendo em conta que Moçambique
é um mercado muito mais compe-
titivo pelo número de empresas es-
trangeiras presentes. Consegui-
mos aumentar o market share e en-
trar no ranking das 100 maiores
empresas elaborado pela KPMG. A
passagem por Moçambique foi
uma medida estratégica da empre-
sa com vista a potenciar a sua lide-

“A
“ A retirada
retirada [dos
[dos subsídios],
subsídios], rança local (nesse caso eu) para as-
sumir cargos de topo na empresa
eem
m devido
devido momento
momento e nas nas tão logo surgiu a oportunidade.
Enquadra-se na visão da liderança
ccircunstâncias
ircunstâncias e condições
condições global da Puma em apostar nos
quadros nacionais onde a empresa
b alanceadas e equilibradas
balanceadas e q u i l i b ra d a s opera. Foi um acumular de expe-

ttrará
rará vantagens
vantagens para
para todos.”
todos.” riência de gestão do topo, num
mercado similar ao mercado An-
golano e hoje estou de volta ao país
pronto para servir a empresa e o
país nos inúmeros e enormes desa-
fios que temos pela frente.
16 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020

GRANDE ENTREVISTA IVANILSON MACHADO

“É
“ É preciso
preciso materializar
m a te r i a l i za r a
diversificação
diversificação da da economia
economia
de forma
de forma bem
bem pragmática,
pragmá ática,
equilibrada,
equilibrada, urgente,
mas sem prec
mas precipitações”
c i p i ta ç õ e s ”

“É tempo de reinventar a economia”

Mas qual a sua expectativa
em relação a estes jovens e a
este processo?
Quando se fala de integração a
tendência é olhar-se mais na
lente de quem tem o dever, a res-
ponsabilidade e a coragem de in-
tegração da juventude. Porém é
necessário olharmos para nós
que somos o objecto dessa inte-
gração. Precisamos de ser tecni-
camente sólidos, politicamente
maduros, ter um espírito e senti-
do de nação elevadíssimos e aci-
ma de tudo sermos honestos e
humildes. Com esses ingredien-
tes todos, estaremos bem à altu-
ra das expectativas do povo an-
golano e dos desafios que en-
frentaremos ao assumir certas
responsabilidades de topo.
Acha que há uma guerra de
gerações?
Vamos e queremos quebrar o es-
tereótipo que descaracteriza as
lideranças africanas e mostrar
que a África evoluiu, o esforço
que os nossos antecessores e os
antecessores destes, que foram
os lutaram pela liberdade e inde-
pendência de África, resultaram
na evolução de uma nova gera-
ção que perspectiva o desenvol-
vimento económico de cada país
e do continente em pé de igual-
dade e respeito com o resto do
mundo. E por último, a cada jo-
vem que for nomeado para car-
gos de responsabilidade, recairá
o peso de reforçar a confiança
que lhes é depositada para que
quem os nomeia se sinta recom-
pensado pela aposta e se sintam
mais motivados para um proces-
“Os impactos
imediatos
[da pandemia
de Covid-19] estão
a ser sentidos
no decréscimo
acentuado no
volume de vendas
e consequentemente
nas receitas”
so de integração mais estrutura-
do e sustentado.
O País está na luta contra a
Covid-19. Que impacto pode
ter esta pandemia na nossa
economia?
A Covid-19 está a afectar todos
os sectores da economia a todos
os níveis. Para o nosso negócio
em particular, a restrição de mo-
vimentos reduz a procura dos
nossos produtos e serviços, pro-
vocando impactos nos volumes
e nas vendas quer nas placas
como nas lojas. Temos um com-
promisso com a nação, com os
nossos clientes e fundamental-
mente com todas as entidades
envolvidas na resposta de emer-
gência e luta contra a Covid-19.
Estamos desde as primeiras ho-
ras do estado de emergência
sempre abertos e prontos a ser-
vi-los e disponibilizarmos com-
bustível necessário para os ser-
viços essenciais nessa fase.
Já começaram a sentir im-
pactos?
Os impactos imediatos estão a
ser sentidos no decréscimo
acentuado no volume de vendas
e consequentemente nas recei-
tas. Existem, entretanto, impac-
tos a médio e longo prazos que só
serão devidamente avaliados na
sua dimensão quando a pande-
mia tiver sido debelada. De qual-
quer maneira, os resultados
anuais planificados para 2020
estarão todos aquém do previsto
e implicará fazermos uma revi-
são e ajustes estratégicos e assu-
mir uma gestão financeira rigo-
rosa e apertada, para que possa-
mos ressalvar o ano.
Enquanto homem de negócio
que avaliação faz do ambien-
te de negócios?
O mercado angolano está em rá-
pida expansão e evolução. Fo-
ram introduzidas e aprovadas
várias leis e medidas político-
-económicas e jurídicas que vi-
sam criar um melhor ambiente
de negócios que estimule e pro-
picie o investimento privado.
Para o nosso sector, especifica-
mente, a restruturação verifica-
da a nível da regulação da nossa
actividade, que resultou no sur-
gimento do IRDP cria um am-
biente de negócios mais impar-
cial, competitivo e salutar entre
todos os intervenientes no sec-
tor e permitirá gradualmente
sintonizar toda a engrenagem
do sector de distribuição e co-
mercialização de derivados de
petróleo regulamentar a activi-
dade para que todos trabalhem
com a plena determinação e
confiança no retorno sólido e
sustentável do seu investimen-
to e se sintam encorajados,
como resultado, a efectuar no-
vos e maiores investimentos.
Angola caminha para o quin-
to ano de recessão económi-
ca. Que caminhos poderiam
ajudar o País a sair desta si-
tuação?
Aposta na diversificação da eco-
nomia, um investimento sério na
educação, na formação de quadros
e na preparação de futuras lide-
ranças para o País, com visão es-
tratégica e discernimento capaz
de sustentar o desenvolvimento
económico e político. É tempo de
agir, de reinventar a nossa econo-
mia, torná-la mais robusta, capaz
de gerar novos investimentos e
consequentemente novos empre-
gos para uma nova geração de jo-
vens que demandam por um país
que pode e deve criar mais oportu-
nidades, no sentido de se reduzir
as assimetrias regionais.
Mas a diversificação não é um
tema antigo?
Apesar de ser o tema mais falado
nos recentes anos, é preciso ma-
terializar esse desiderato de for-
ma bem pragmática, equilibra-
da, urgente, mas sem precipita-
ções. É necessário também im-
plantar-se medidas fiscais, regu-
lamentares e políticas de criem
um ambiente de negócios fluído,
equilibrado e imparcial para que
as empresas existentes se enro-
busteçam e sejam estimulados e
captados novos investimentos.
NO TOP 10
DE ÁFRICA
Ivanilson Machado, 41 anos,
é um gestor angolano com
experiência em administra-
ção executiva, palestrante
motivacional e influenciador
digital. Esteve, desde 2016
até recentemente, baseado
em Maputo, Moçambique,
como CEO da Puma Energy.
Dirigiu três empresas do
grupo naquele país e foi ain-
da membro do conselho de
administração da Petrobei-
ra. Regressou a Luanda para
assumir o cargo de CEO do
Grupo Pumangol. É licencia-
do em Relações Internacio-
nais e Ciências Políticas pela
Universidade Autónoma de
Lisboa. Ocupa cargos de
gestão e liderança desde
2009, quando ingressou no
Grupo Trafigura/DT em An-
gola, assumindo o cargo de
director geral da empresa
Transfuel e depois, em 2014,
foi transferido para a Pu-
mangol, onde foi director da
Angobetumes e Pumangol
Industrial. Em 2016, foi se-
leccionado como um dos
100 jovens lideres económi-
cos africanos com menos de
40 anos, pelo Instituto Fran-
cês CHOISEUL em parceria
com a Forbes África. Em
2018 esteve no top 20 da lis-
ta (18.º) e em 2019 chegou
ao top 10 (9.º) da lista de 100
em toda a África.
PUB
18 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
EMPRESAS & MERCADOS
NOMEAÇÃO DE GESTORES DA BANCA
BNA reforça poder para vetar
administradores sem experiência
Regulador reforçou ‘pente-fino’ à indicação
de nomes dos membros dos órgãos sociais
pelos bancos comerciais e entidades afins.
Objectivo passa por conferir maior
credibilidade à banca nacional. Analistas
defendem que medida veio clarificar quem
deve ou não estar na liderança de um banco.
Nelson Rodrigues
O Banco Nacional de Angola
(BNA) criou uma norma legal que
visa apertar as regras para a no-
meação de administradores na
banca, reforçando, assim, o seu
papel para impedir a nomeação
de gestores sem qualquer expe-
riência ou com problemas com a
justiça, à semelhança de casos que
já aconteceram no passado.
Os candidatos a membros dos
órgãos sociais das instituições fi-
nanceiras passam a estar obriga-
dos a responder a um questioná-
rio de auto-avaliação com 16 per-
guntas sobre idoneidade, qualifi-
cação profissional, independên-
cia e disponibilidade, de acordo
com o aviso n.º 11/2020, que eleva
para 10 os requisitos de autoriza-
ção para o exercício de funções.
Os procedimentos para a no-
meação de gestores e administra-
dores que constavam na Lei de Ba-
ses das instituições Financeiras
(que estará a ser revista) eram, em
alguns casos, vagos, e acabavam
por ser permissivos a qualquer
tipo de nomeação que vinha das
assembleias gerais dos bancos.
Desta forma, a nova norma reforça
o papel do supervisor para negar a
nomeação de administradores
que não tenham qualquer expe-
riência, como são, por exemplo,
casos de figuras ligadas à política.
De acordo com o anexo II
desta norma, os nomes propos-
tos pelos bancos comerciais ou
outra entidade financeira sob
supervisão do banco central fi-
cam sujeitos à apresentação de
um certificado de registo cri-
minal válido, emitido pela au-
toridade competente do país de
nacionalidade ou pela autori-
dade competente do país de re-
sidência habitual.
Nova norma
reforça o papel
do supervisor para
negar a nomeação
de administradores
dos bancos
A anterior norma previa sete ele-
mentos, incluindo condições adi-
cionais, na instrução do pedido e
bastava, entre outros, que o candi-
dato demonstrasse capacidade ju-
rídica, idoneidade, experiência
profissional e disponibilidade para
o posto indicado. Com a nova medi-
da, e além do questionário e do cer-
tificado de registo criminal válido, é
exigida uma deliberação do comité
de nomeações, elaborada pela ins-
tituição, contendo o resultado da
avaliação da adequação de cada um
dos candidatos para o exercício de
funções sujeitas a registo.
O banco central justifica a alte-
ração da regra com a necessidade
de se “reforçar o cumprimento dos Alteração da norma foi justificada pelo regulador com necessidade de reforço dos critérios de idoneidade
requisitos de idoneidade, qualifi-
cação profissional, independência membro dos órgãos sociais de “Isso ajuda bastante porque,
e disponibilidade” dos candidatos. uma instituição financeira”. Algumas com base nestas declarações,
Ao Expansão, o CEO do Banco O número um da gestão do maior mais do que simplesmente, re-
Angolano de Investimento banco comercial angolano em acti- das alterações meter o pedido para o BNA, obri-
(BAI), Luís Lélis, admitiu que, vos considera que o novo aviso à norma vão ga a declaração prévia. E essa de-
“anteriormente, não existiam “vem esclarecer que, para além “separar o trigo claração vem separar o trigo do
normas específicas ou uma de- desta auto-avaliação, há uma decla- joio”, explica Luís Lélis.
claração, não só de auto-avalia- ração de honra que permite que o do joio”, explica Para o economista Jaime Fortu-
ção, mas acima de tudo de auto- candidato a membro dos órgãos so- o CEO do BAI, nato, o reforço dos requisitos de in-
declaração que permitisse aos ciais preste informação de forma Luís Lélis gresso aos órgãos sociais das enti-
candidatos a membros de órgãos voluntária”, conteúdo que entra no dades financeiras explicam-se
sociais prestar declarações BNA de forma escrita e que depois é com a necessidade de se aproximar
quanto àquilo que é o grau de validada para aferir se há ou não in- o perfil dos gestores das institui-
idoneidade para gerir ou ser formação contrária à declarada. ções financeiras angolanas ao dos
quadros que lideram e gerem enti-
dades internacionais, à semelhan-
ça das exigências de outros super-
ELEMENTOS A INCLUIR NOS PEDIDOS DE AUTORIZAÇÃO PARA O EXERCÍCIO
visores como o Banco Central Eu-
DE FUNÇÕES NAS ENTIDADES FINANCEIRAS ropeu e o Federal Reserve. “As ins-
tituições financeiras, e no nosso
caso particular, nos últimos tem-
ANTES… … DEPOIS pos, estiveram no despoletar da si-
tuação crítica que hoje vivemos. E
1º Capacidade jurídica plena do candidato; 1º Questionário de auto-avaliação sobre idoneidade, qualificação profission- então é preciso salvaguardar-se
al, independência e disponibilidade dos candidatos;
2º Idoneidade do candidato um pouco este rigor”, defendeu o
2º Fotocópia do documento de identificação (Bilhete de Identidade ou
3º Experiência profissional do candidato, nomeadamente quanto à ex-
Passaporte); também ex-secretário de Estado
periência adequada para o exercício das funções;
3º Certificado de registo criminal válido, emitido pela autoridade compe- para o Comércio Interno.
4º Compromisso no exercício das suas funções com integridade de acordo
com o enquadramento legal e regulamentar; tente do país da nacionalidade ou pela autoridade competente do país Por sua vez, o economista Rui
de residência habitual;
5º Demonstração objectiva de todas as obrigações e interesses financeiros Malaquias defende que a afinação
4º Deliberação do Comité de Nomeações, elaborado pela Instituição;
do candidato com accionistas ou sócios da instituição, outras instituições aos requisitos de gestão bancária
financeiras ou entidades pertencentes ao grupo económico e restantes 5º Fotocópia simples de documento que comprove a designação do can-
membros dos órgãos sociais. didato para o cargo;
“faz todo sentido” e que esta inte-
6º Disponibilidade para o exercício da função, no caso de um candidato 6º Fotocópia da acta da reunião do órgão de administração desta última
gra às tácticas de supervisão do
a um cargo no órgão de administração, nomeadamente, impossibili- instituição, comprovando que esse órgão tomou conhecimento de que BNA, uma estratégia iniciada em
dade de, cumulativamente, exercer cargos de gestão ou desempenhar o candidato pretende exercer funções noutra instituição, sempre que o 2017. Malaquias deu ainda exem-
funções em outras instituições financeiras, a não ser que pertençam ao pedido de autorização diga respeito a candidato que já se encontre au-
grupo financeiro da instituição; torizado a exercer funções numa outra instituição; plo da recente avaliação da quali-
7º Residência em território nacional de, no mínimo, 2 (dois) dos membros 7º Documento que comprove que o candidato dispõe de poderes bastantes dade dos activos da banca como
do Órgão de administração. para resolver definitivamente no País todos os assuntos que respeitem parte da estratégia do reforço da
à sua actividade; supervisão. “É neste sentido que
8º Relatório de avaliação colectiva do candidato, elaborado pela Instituição, con- vêm medidas como estas. O BNA
tendo o resultado da apreciação do órgão no seu conjunto, com vista a veri-
precisa de garantir que o nosso sis-
ficar se o mesmo dispõe de qualificação e experiência profissional adequada;
9º Versão actualizada dos estatutos sociais da instituição; tema financeiro e que as nossas
10º Para a autorização do exercício de funções de todos os membros do instituições financeiras bancárias
órgão de administração ou fiscalização, a contagem do prazo de avaliação sejam geridas ou administradas
do Banco Nacional de Angola inicia-se apenas quando constem do pro-
por pessoas com credibilidade, por
cesso todos os elementos referidos nos números 1 e 2 do presente artigo.
pessoas que tenham as devidas
Anteriormente, no aviso 11/2013, as exigências chegavam a sete. Na nova regra, o número de elementos sobe para 10 competência técnicas e profissio-
nais, como se faz lá fora”, apontou.
Fonte: BNA

BNA DETERMINOU SIMPLIFICAÇÃO DE CONTAS BANCÁRIAS
Trabalhadores informais
já podem abrir contas com
pagamento multicaixa
Medida prevê que pessoas singulares residentes no País possam ainda abrir
contas bancárias dispensando a apresentação do Bilhete de Identidade
ou do número de registo na Administração Geral Tributária (AGT).
Os operadores do mercado infor-
mal passam a estar habilitados a
ter acesso aos terminais de paga-
mento automático (TPA) no exer-
cício da sua actividade comercial
assim como a abrirem contas ban-
cárias sem a apresentação do Bi-
lhete de Identidade (BI) ou nú-
mero de registo na administração
geral tributária (AGT), de acordo
com o instrutivo n.º 08/2020, de
28 de Abril, sobre simplificação de
contas bancárias do Banco Nacio-
nal de Angola (BNA).
A estratégia é justificada com
a necessidade de inclusão finan-
ceira que é “reconhecidamente
um factor essencial no desenvol-
vimento da economia e na pros-
peridade da população”, segun-
do o banco central, em nota ex-
CÉSAR MAGALHÃES
plicativa no seu website que faz o
enquadramento da nova regra.
As contas para fins comerciais
são reservadas, segundo o banco
central, aos microempreende-
dores com actividade no merca-
do informal.
“Considerando que os paga-
mentos electrónicos são um facili-
tador da inclusão financeira, per-
mitindo transacções rápidas, se-
guras e fiáveis e são cada vez mais
utilizados em Angola, o aviso per-
mite aos micro empreendedores
que conduzem a sua actividade no
mercado informal através de um
ponto fixo de venda ter acesso à
utilização de um Terminal de Pa-
gamento Automático (TPA) dedi-
cado, devendo para tal ser porta-
Simplificação de contas permite inclusão do sector informal
dor de um bilhete de identidade e
deter uma autorização do órgão
competente da administração lo-
cal para o exercício da sua activi-
dade no referido ponto fixo de
venda, por exemplo num mercado
municipal”, aponta o regulador.
Outra justificação do banco
central com a introdução dos
TPA nas operações dos agentes
do mercado informal tem que ver
com as “vantagens” da sua utili-
zação, que, segundo o organismo
estatal, “são significativas”, pelo
que oferecem “maior comodida-
de e segurança tanto aos compra-
dores como aos vendedores, re-
duzindo os riscos associados à
utilização de numerário”.
Limites de operação
As perdas derivadas de extravio,
roubo, incêndio ou esquemas
fraudulentos foram apontadas
como parte dos riscos associa-
dos à utilização dos numerários.
BNA justifica ainda
a introdução dos
TPA nas operações
do mercado informal
com a necessidade
de redução dos
riscos na utilização
do dinheiro vivo
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 19
PUB
Assim, para orientar as movi-
mentações das transacções dos
agentes informais e de microem-
preendedores que operam neste
segmento, o BNA definiu que, para
depósitos à ordem, o montante mí-
nimo de abertura de conta para fins
pessoais é de cinco mil Kz, e 10 mil
Kz para contas para fins comer-
ciais. As contas para fins comerciais
com recurso ao TPA têm um mon-
tante mínimo de 20 mil Kz.
Já o saldo diário máximos para
cada tipo de contas foi definido
em 300 mil Kz para contas para
fins pessoais; 1 milhão para con-
tas para fins comerciais e 2 mi-
lhões Kz para contas para fins
comerciais com TPA.
Nas operações a crédito, o valor
máximo mensal acumulado para
contas para fins pessoais foi de-
terminado em 600 mil Kz; 2 mi-
lhões Kz para contas para fins
pessoais e 4 milhões Kz para con-
tas para fins comerciais com TPA.
Também foram definidas re-
gras para constituição dos depó-
sitos a prazo cujos valores míni-
mos de constituição vão de 50
mil Kz para contas para fins pes-
soais e 200 mil kz para contas
para fins comerciais com TPA.
O banco central considera que
a medida é “mais um passo im-
portante para que mais cidadãos
possam ter os seus rendimentos
mais seguros e reduzindo-se a
necessidade de utilização quase
exclusiva de numerário”.
N.R.
ARQUIVO | EXPANSÃO
20 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
EMPRESAS & MERCADOS
PLANO DE CARREGAMENTOS DE MAIO DIVULGADO NA 4º FEIRA
Previsão de vendas 7 mbd acima
do limite imposto pelo acordo OPEP+
O plano de vendas em Maio para entrega em Junho prevê 39 carregamentos e um volume de vendas
de 1,25 milhões barris/dia, sendo que o limite imposto no acordo OPEP+ é de 1,18 milhões. O plano
de corte na produção tem de passar por um acordo com as companhias petrolíferas internacionais.
Joel Costa
Angola tem vindo a baixar a
sua produção nos últimos me-
ses, mas ainda assim está longe
dos limites impostos para o
País em resultado do acordo
OPEP+, que entrou em vigor
nesta sexta-feira, dia 1 de Maio.
Este impõe como limites para
Angola a produção de 1,18 mi-
lhões barris/dia para Maio e
Junho e 1,2 milhões de Julho a
Dezembro. O plano de carrega-
mentos, divulgado na 4º feira,
para a nossa produção de Maio
e entrega em Junho contempla
um valor de 1,25 milhões (39
carregamentos), acima da quo-
ta que nos foi atribuída.
Angola atrasou-se na entre-
ga deste plano, exactamente
porque, ao que tudo indica,
ainda não há um acordo com
as petrolíferas sobre onde e
como se vai cortar. Se para os
países da OPEP esta questão é
simples, ou seja, as compa-
nhias petrolíferas estatais
têm percentagens de produ-
ção que lhes permitem assu-
mir estes cortes, para a So-
nangol, devido à sua fraca per-
centagem na produção ango-
lana, o cumprimento destas
metas exig e sempre acordo
com as companhias interna-
cionais pois elas têm também
de aceitar baixar a sua produ-
ção. Mesmo que a Sonangol
abdique dos seus carregamen-
tos para entrega em Junho, o
valor não será suficiente.
Parece seguro que a petrolífe-
ra nacional será a maior preju-
dicada neste plano de cortes,
mas não é possível confirmar
que acordo foi feito entre as par-
tes, uma vez que não foi divulga-
do pelo Ministério ou pela
Agência. Esta é também uma si-
tuação nova para o País, que, na
verdade, nunca fez cortes na sua
produção. A solução será a esco-
lha de um bloco onde serão fei-
tos os cortes, sendo que as com-
panhias petrolíferas vão abdi-
car das vendas de acordo com a
percentagem que tenham nessa
unidade de produção.
No mês passado, Angola não
conseguiu vender 5 dos 48 car-
regamentos que tinha progra-
mado (10,4% do total), totali-
zando exportações que ronda-
ram os 1,27 milhões barris/dia.
O próprio mercado, existe um
nível elevado de stocks e a pro-
cura é menor, a quebra de pro-
dução, alguns poços estão em
declínio e o investimento nos
campos marginais baixou de-
vido à situação económica que
Angola vai cortar pela primeira vez a produção no seguimento de um acordo no âmbito da OPEP
Os limites do acordo
OPEP+ são de 1,18
milhões barris/dia
para Maio e Junho
e 1,2 milhões de
Julho a Dezembro
LUCROS DAS PETROLÍFERAS VÃO CAIR
40% E SÓ RECUPERAM EM 2022
As empresas de exploração
e produção de petróleo e
gás, ou E&Ps, devem perder
1 bilião USD em receitas em
2020, de acordo com análise
da empresa de pesquisa
Rystad Energy.
A indústria de exploração
e produção de petróleo, que
inclui grandes petrolíferas,
obteve 2,47 biliões USD em
receitas globalmente no ano
passado, diz a empresa. Mas
este ano, projecta-se que ar-
recade apenas 1,47 biliões
USD, reflectindo um declínio
de 40% em relação ao ano
anterior. A consultora apon-
ta como responsáveis pela
quebra de receitas a pande-
mia do coronavírus e as me-
didas de restrição à circula-
ção de pessoas que prejudi-
cam a procura e forçam as
empresas a cortar gastos e a
cancelar projectos.
se vive, pode garantir que o
nosso País produza de acordo
com os limites acordados ao
nível da OPEP+.
Preços sobem e ramas
angolanas valorizam
Apesar de o acordo de corte de
9,7 milhões de barris/dia ao
abrigo da OPEP+ se ter iniciado
Antes do vírus começar a
atingir as economias, a Rys-
tad projectou que as recei-
tas de E&P para 2020 atingi-
rão 2,35 biliões USD. Os re-
tornos para 2021 também
são projectados para baixo,
em 1,79 biliões USD, em
comparação com uma previ-
são de 2,52 biliões USD an-
tes da pandemia.
A gigante petrolífera Royal
Dutch Shell cortou nesta quin-
ta-feira os dividendos aos ac-
cionistas pela primeira vez
desde a Segunda Guerra Mun-
dial, após uma dramática que-
da nos preços do petróleo em
meio à crise do coronavírus.
O conselho de administra-
ção da Shell informou que de-
cidiu reduzir os dividendos do
primeiro trimestre para 0,16
USD por acção, abaixo dos
0,47 USD no final de 2019,
uma redução de 66%.
D.R.
nesta sexta-feira, desde terça-
-feira que o índice Brent, refe-
rência das nossas exportações,
tem vindo a subir. Fechou se-
gunda-feira a menos de 20 USD
(19,99 USD) e ultrapassou os 25
USD na quinta-feira. É necessá-
rio acrescentar que o Brent
hoje serve apenas como refe-
rência, tendo presente que to-
dos os operadores estão a ven-
der com desconto devido ao ex-
cesso de oferta. Os descontos
chegam a 10 USD, de que é
exemplo a Arábia Saudita, sen-
do que as nossas ramas, apesar
de em condições normais e em
anos anteriores serem vendidas
a preços superiores, hoje são
comercializadas cerca de 5 USD
abaixo deste índice. As princi-
pais ramas angolanas estão co-
tadas a 19,34 USD (Cabinda
Blend), 18,59 USD (Nemba),
18,34 USD (Dalia) e 17.16 (Gi-
rassol), tendo também valori-
zado nos últimos dias.
Apesar desta política de cor-
tes, o acordo OPEP+ pode durar
até dois anos, ainda vai demorar
algum tempo até que os preços
voltem a ter crescimentos signi-
ficativos. A actividade económi-
ca começa agora a arrancar nos
países mais desenvolvidos, a
aviação civil poderá regressar
nas próximas semanas, mas
existe hoje um stock, em termos
mundiais, que só será escoado
daqui a muitos meses. Antes do
final do ano, o Brent não deverá
chegar aos 40 USD.
BREVES
REDE IP DA EMPRESA
ANGOLA CABLES
CRESCE 170%
A empresa de telecomunicações
Angola Cables registou um
crescimento no tráfego na rede
IP (Internet protocol) no 1º
trimestre de 2020 de 104%
desde o início do ano, um
aumento na ordem de 170%
em relação ao igual período
de 2019. O aumento do
consumo de dados e o recurso
generalizado das empresas
e famílias na utilização
de plataformas digitais no
contexto da Covid-19 estão na
base deste indicador, segundo
uma nota da Angola Cables.
STANDARD BANK
PREVÊ CONTRACÇÃO
DE 2.8% DA ECONOMIA
Devido ao cenário da pandemia
da Covid-19, o Standard Bank
prevê uma contracção do PIB
angolano em 2,8% este ano
e em 0,8% em 2021, de acordo
com o economista-chefe
de Angola e Moçambique,
Fáusio Mussá, durante o
primeiro briefing económico
via teleconferência, realizado
pelo banco. Segundo o
especialista, a economia
angolana deverá continuar
em recessão, o que torna difícil
a diversificação, estando
prevista para este ano uma
inflação média anual de 20,7%
e 22,3% para o próximo ano.
BANCO NACIONAL
PREPARA “MOBILE
MONEY”
O Banco Nacional de Angola
(BNA) está a preparar a
implementação do “mobile
money”, um Sistema
de Transferências Móveis e
Instantâneas (STMI) de dinheiro,
com o qual pretende alargar a
inclusão financeira no País. A
informação consta num aviso
do BNA, sublinhando que o
sistema, usado com resultados
animadores em várias
economias emergentes,
deverá estar disponível
em todo o território nacional,
sem adiantar datas.
BNA MULTA BANCOS
EM 62 MILHÕES KZ
POR 16 INFRACÇÕES
Um total de 16 instituições
financeiras bancárias foram
penalizadas pelo BNA
com multas pecuniárias
de 62,3 milhões Kz, no
seguimento da aplicação
de 16 processos sancionatórios
no primeiro trimestre. Cinco
instituições não financeiras vão
pagar 10,5 milhões Kz por cinco
infracções. O BNA não nomeia
as entidades bancárias e não
bancárias castigadas no
primeiro trimestre, mas revela
que, do total de processos
sancionatórios, 5 correspondem
a processos de natureza
cambial e 11 de conduta
financeira, aplicados
aos bancos comerciais.
 1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 21

USD USD PETRÓLEO LUIBOR

BNA ‘KINGUILAS’ BRENT OVERNIGHT

559,93 KZ 675 KZ 20,46 USD 15,5% VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO

MERCADOS ACCIONISTAS
Índice (País) 28-04-2020 1 Semana Início Ano Mínimo Máximo

-2,04PB AMÉRICAS

0,153% 5,47% 18,21% Dow Jones Industrial Avg. (EUA) 24.101,55 4,70% -15,55% 18.213,65 29.568,57
S&P 500 (EUA) 2.863,39 4,63% -11,37% 2.191,86 3.393,52
Nasdaq (EUA) 8.607,73 4,17% -4,07% 6.631,42 9.838,37

Dados de 24 a 30 de Abril de 2020; Taxas câmbio médias USD; Setas indicam variações na semana, em % ou pontos base (pb). NYSE Composite (EUA) 11.319,70 5,73% -18,64% 8.664,94 14.183,26
Ibovespa (Brasil) 81.312,23 3,09% -29,60% 61.690,53 119.593,10

EUROPA
SEMANA DE 24 A 30 DE ABRIL Euro Stoxx 50 (Europa) 341,09 6,53% -16,92% 268,57 433,90
FTSE 100 (Reino Unido) 5.958,50 8,00% -19,22% 4.898,79 7.727,49

Reabertura das
DAX (Alemanha) 10.795,63 7,49% -16,84% 8.255,65 13.795,24
PSI 20 (Portugal) 4.213,76 6,54% -17,54% 3.500,02 5.454,21
IBEX 35 (Espanha) 6.836,40 5,31% -26,83% 5.814,50 10.100,20
CAC (França) 4.569,79 6,52% -22,36% 3.632,06 6.111,41
SMI (Suíça) 9.889,46 3,42% -7,00% 7.650,23 11.270,00

economias anima crude ÁSIA

Nikkei 225 (Japão)
Topix (Japão)
Hang Seng (Hong Kong)
19.783,22
1.447,25
23.977,32
0,52% -16,42%
1,17% -15,81%
3,57% -12,58%
16.358,19
1.199,25
24.115,95
1.747,20
21.139,26 30.081,55
Ainda em plena pandemia, as economias começam a abrir actividade Shangai All Share (China) 2.810,02 -0,16% -7,46% 2.646,81 3.127,17
gradualmente. Além disso, no primeiro dia de Maio arranca a nova CSI 300 (China) 3.849,15 1,55% -5,60% 3.503,19 4.223,51

fase de cortes de produção dos países OPEP +. ÁFRICA

FTSE/JSE All Share (África do Sul) 50.029,22 3,89% -11,10% 37.177,92 59.365,04
EGX 30 (Egipto) 10.415,12 6,79% -24,47% 8.113,82 15.127,26
Botswana Gaborone Domestic Index (Botswana) 7.429,89 0,00% -0,86% 7.397,77 7.863,20
do país informou que o forneci- tanto, espera-se que os 9,7 mi- Nairobi SE All Share (Quénia) 135,96 -1,66% -18,30% 124,30 171,36
Gabinete de Estudos mento de gasolina, na semana lhões de barris, que serão retira- Nigerian Stock Exchange All Share Index (Nigéria) 22.727,87 1,08% -14,78% 20.651,59 31.917,13
Económicos e Financeiros* passada, registou o maior aumen- dos dos mercados, não deverão Ghana Stock Exchange (Gana) 2.074,91 0,59% -5,32% 2.074,91 4.463,30

to semanal desde Maio do ano compensar a queda da procura Namibia Overall Index (Namibia) 975,50 3,18% -25,22% 739,28 1.407,71
Tanzania All Share Index (Tanzânia) 1.770,67 1,00% -14,20% 893,45 2.130,39
passado, sugerindo que a procura que se regista actualmente.
Tunindex (Tunísia) 6.294,37 -1,39% -12,43% 6.000,43 7.301,03
poderá estar a recuperar. Por fim, importa referir que a
Apesar da subida, os preços do semana também ficou marcada
VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO
A última semana foi de alguma re- petróleo foram fortemente pres- por reuniões de grandes bancos MATÉRIAS PRIMAS
28-04-2020 1 Semana Início Ano Mínimo Máximo
cuperação para as bolsas, não obs- sionados pelos vencimentos dos centrais. O Banco do Japão au-
tante continuar-se a verificar um contratos de futuros. O contrato mentou, no início da semana, os ENERGIA
elevado nível de volatilidade. Nos do WTI com a entrega mais ime- estímulos económicos, compro- WTI Crude (US$/barril) 12,34 56,04% -74,43% -40,32 65,65
EUA, os índices bolsistas valoriza- diata (Junho) expira a 19 de Maio metendo-se a comprar quantias Brent Crude (US$/barril) 20,46 18,21% -65,38% 15,98 73,40
ram mais de 4%, acima dos ganhos (o que provocou um selloff no mer- ilimitadas de dívida, tendo anun- Gás Natural (US$/MMBtu) 1,79 5,22% -12,47% 1,52 2,91
habituais, e na Europa, o ganho ciado um alargamento de compra Gasolina (US$/galão) 66,72 42,86% -57,06% 37,60 213,05
dos principais índices superou, de dívidas de empresas para o METAIS PRECIOSOS
em média, os 5%. O cenário do equivalente a 170 mil milhões de Ouro (US$/onça) 1.707,79 0,96% 12,20% 1.266,35 1.747,36
O sector petrolífero foi um dos EUR. Por seu lado, a Reserva Fede- Prata (US$/onça) 15,17 2,32% -14,68% 11,64 19,65
que mais impulsionou as bolsas, mercado petrolífero ral dos EUA (Fed) decidiu, na Platina (US$/onça) 772,36 4,37% -19,09% 564,00 1.041,71
devido, sobretudo, ao facto de o mantém-se incerto quinta-feira, não mexer na taxa OUTROS METAIS
WTI voltar a terreno positivo. O dos fundos federais (mantendo-a Cobre (US$/libra) 5.197,00 3,84% -15,40% 4.371,00 6.461,50
barril nova-iorquino avançou entre 0% e os 0,25%), no mesmo Alumínio (US$/tonelada) 1.507,00 0,94% -16,88% 1.455,00 1.871,00
mais de 50%, fechando acima dos cado), enquanto que o contrato de dia em que foi anunciado que o Zinco (US$/tonelada) 1.905,00 1,02% -15,03% 1.674,85 2.845,50
16 USD e o Brent superou os 22 Junho do Brent vencia no dia 29 PIB do país contraiu 4,8% no pri- Estanho (US$/tonelada) 15.475,00 4,26% -9,03% 13.290,00 19.925,00
USD por barril. A impulsionar os de Abril (quinta-feira). meiro trimestre. A queda do PIB
AGRÍCOLAS
preços, estiveram essencialmen- Para o futuro, o cenário do mer- ficou acima do esperado e corres-
Cacau (US$/tonelada) 2.342,00 2,24% -6,55% 2.201,00 2.936,00
te, dois factores: (i) por um lado, o cado petrolífero mantém-se in- pondeu à primeira, em seis anos, e
Café (US$/libra) 107,60 -4,39% -20,42% 100,25 146,00
optimismo em torno da reabertu- certo, apesar de se aproximar a a mais acentuada desde 2008. A
Açúcar (US$/libra) 9,52 -0,40% -27,09% 9,21 15,09
ra gradual de muitas economias e data (1 de Maio) para a entrada reunião da Fed terminou um dia
Algodão (US$/libra) 56,37 6,47% -20,00% 48,15 76,31
(ii) por outro lado, o aumento em vigor dos cortes de produção antes à publicação das decisões do Milho (US$) 312,00 -1,10% -21,76% 309,00 478,00
abaixo do esperado das reservas definidos pela OPEP e seus alia- BCE, que teve, igualmente, o seu Trigo (US$) 526,00 -4,71% -7,63% 468,25 589,00
petrolíferas dos EUA. A Adminis- dos. O início do acordo poderia encontro, nesta quinta-feira. Soja (US$) 832,00 -0,65% -14,75% 818,50 985,50
tração de Informação de Energia gerar algum optimismo. No en- * Banco Angolano de Investimentos

VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO

MOEDAS
28-04-2020 1 Semana Início Ano Mínimo Máximo

YIELDS VARIAÇÃO ÚLTIMO ANO

EUROBONDS AFRICANAS KWANZA (ANGOLA)
PAÍS Maturidade Cupão 17-03-2020 1 Semana 1 Mês 1 Ano Início do Ano Mínimo Máximo
Dólar (EUA) 559,93 0,53% 73,30% 308,92 497,35
Euro 607,47 0,37% 67,74% 340,27 554,10
Libra (Reino Unido) 695,65 -0,19% -8,88% 417,52 567,56
Angola 12-11-2025 9,50% 31,14% -0,008 0,01524 0,240 0,227 6,011% 8,454%
Rand (África do Sul) 30,00 -3,11% 12,19% 22,36 25,70
Rep. Democrática do Congo 30-06-2029 4,00% 12,12% 0,005 0,011 0,032 0,005 7,529% 9,329% Real (Brazil) 101,91 -1,56% 16,65% 83,07 86,56
Etiópia 11-12-2024 6,63% 10,88% 0,010 0,017 0,049 0,034 4,730% 7,492% METICAL (MOÇAMBIQUE)
Gabão 16-06-2025 6,95% 15,64% -0,003 -0,005 0,082 0,066 5,726% 9,093% Dólar (EUA) 67,66 0,51% -9,04% 4,30 67,90

Gana 07-08-2023 7,88% 13,23% -0,009 -0,003 0,068 0,047 4,801% 8,525% Euro 73,26 0,50% -6,05% 66,93 75,36
Libra (Reino Unido) 84,13 1,62% -2,99% 72,62 86,60
Costa do Marfim 03-03-2028 6,38% 8,48% 0,005 0,006 0,017 0,004 5,483% 7,973%
Rand (África do Sul) 3,63 3,84% 19,33% 0,29 4,52
Quénia 24-06-2024 6,88% 9,61% -0,006 0,015 0,033 0,013 4,749% 8,299% Real (Brazil) n.d. n.d. n.d. n.d. n.d.
Moçambique 18-01-2023 10,50% 11,29% 0,001 0,004 -0,027 -0,004 6,706% 14,707% RAND (ÁFRICA DO SUL)
Namíbia 29-10-2025 5,25% 7,40% -0,002 -0,011 0,016 0,003 4,395% 7,117% Dólar (EUA) 18,67 -3,21% -23,77% 13,81 19,35

Nigéria 12-07-2023 6,38% 12,58% -0,001 0,009 0,071 0,053 4,253% 7,381% Euro 20,20 -3,23% -21,26% 15,42 20,92
Libra (Reino Unido) 23,19 -2,14% -18,70% 17,16 23,69
Ruanda 02-05-2023 6,63% 10,15% -0,000 -0,000 0,047 0,034 3,972% 6,785%
Real (Brazil) 3,39 -6,54% 4,40% 3,27 3,93
Senegal 30-07-2024 6,25% 8,35% 0,005 0,008 0,032 0,016 3,624% 6,771%
EURO
Seychelles 01-01-2026 7,00% 7,00% -0,000 -0,000 -0,000 -0,001 7,149% 7,801% Dólar (EUA) 1,08 -0,02% -3,18% 1,06 1,15
África do Sul 16-09-2025 5,88% 6,15% 0,002 -0,003 0,013 0,007 3,725% 5,559% Libra (Reino Unido) 0,87 -1,14% -3,13% 0,83 0,95

Zâmbia 30-07-2027 8,97% 37,30% 0,009 0,095 0,212 0,228 12,044% 17,394% Franco (Suíça) 1,05 0,30% 2,80% 1,05 1,14
Iene (Japão) 115,63 -1,05% 5,15% 115,45 125,23
Fonte: Bloomberg
Fonte: Bloomberg
22 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020

GESTÃO
CAPITAL HUMANO

Então e agora?
São muitas as empresas que perderam em receitas nestes tempos de confinamento e isso significa menos liquidez e mais instabilidade.
Significa também que os nossos empregos poderão não estar tão seguros como gostaríamos. Mas, apesar de não depender apenas
de nós, no que nos competir, devemos dar tudo e estar prontos e presentes para ajudar a dar a volta.

JOSÉ RODRIGUES

Expert in Human
Resources & Entrepreneur,
Certified Coach PLD19,
Harvard Business School
Alumni

Agora, vamos todos ajudar a

produção local e o pequeno
comércio. Continuar as
nossas vidas, com mais
precauções, mas a gerar
confiança para os tempos que
se aproximam. Voltarmos a
frequentar os espaços aonde
sempre fomos, desde cafés,
restaurantes, ginásios,
mercearias, supermercados,
entre outros. Mas tentar, ao
máximo, consumir o que é
local. É mais caro? Muitas
vezes, sim. Mas sempre
dentro do possível deveremos
fazer isso. Um dos grande
desafios é diminuirmos a
dependência de outras regiões
do mundo, e isso só se
consegue com a ajuda de cada

um. Cada indivíduo conta.
Agora, vamos todos ser mais
solidários e olhar para os
outros com mais atenção.
Escutar quem nos rodeia.
Perceber de que forma
podemos ajudar, e nem
sempre a maior ajuda é
dinheiro, mas muitas vezes é
algum bem que possa faltar e
a nós sobrar. Muitas pessoas
vão ter dificuldades, e cabe a
quem tem algum conforto
poder ajudar. Muitas vezes,
quem precisa tem vergonha
de pedir, daí que estarmos
atentos é fundamental. Da
mesma forma que sermos
discretos nestas acções é o
melhor que cada um pode
fazer. Aqui também, cada
indivíduo conta.
Agora, vamos ter de dar
ainda mais de nós pelas
nossas empresas e pelas
organizações onde
trabalhamos. São muitas as
empresas que perderam em
receitas nestes tempos de
confinamento e isso significa
menos liquidez e mais
instabilidade. Significa
também que os nossos
empregos poderão não estar
tão seguros como
gostaríamos. Mas, apesar de
não depender apenas de nós,
no que nos competir, devemos
dar tudo e estar prontos e
presentes para ajudar a dar a
volta. Nem que seja tirar
férias, ou trabalhar mais
horas, ou fazermos coisas
diferentes. Aqui também,
cada indivíduo conta.
Agora, como vamos reagir a
não estar em casa? Que
rotinas novas criámos, seja
individualmente ou em
família? Que
interdependências criámos,
seja com filhos ou animais de
estimação? Ou com a nossa
mulher/marido? Como vai ser
o regresso à “normalidade”.
Agora, vamos
ter de dar ainda
mais de nós pelas
nossas empresas
e pelas organizações
onde trabalhamos
Vamos sentir falta? Eles
(família) vão sentir falta? Que
hábitos deixamos de ter e que
outros passamos a ter?
Gastamos mais dinheiro ou
menos? Adquirimos novos
hábitos de consumo ou de
despesa? Como vamos olhar
para tudo isto? Esta é, sem
dúvida, a área que mais
questões levanta,
precisamente por cada um ter
um enquadramento familiar
diferente. Mas aqui, também,
a forma como a encaramos é
muito pessoal, e cada
indivíduo conta.
Agora, qual será a primeira
coisa que iremos dizer quando
pudermos abraçar um familiar
ou um amigo? Sentimos falta?
(eu sim, e muita!) Vamos dizer
que tivemos saudades de um
toque mais próximo? Ou
vamos manter algum
distanciamento físico, mas não
emocional? Isso é possível? A
forma como nos iremos
relacionar pode sofrer algumas
alterações, mas isso não
significa que temos mais ou
menos apreço pelas pessoas,
apenas podemos estar pessoas
diferentes. Que novos hábitos
teremos nas visitas a casa
destas pessoas de quem tanto
gostamos? Aqui também, cada
indivíduo terá a sua própria
forma de actuar.
Agora, e nós próprios? Como
estamos nós? Que efeitos teve
este confinamento em cada um
de nós? Recebemos durante estes
tempos muita informação, de
vários lados e meios. Por ventura,
envolvemo-nos em projectos
diferentes onde crescemos,
conhecemos novas pessoas e
empresas. Aprendemos coisas
novas. Estamos diferentes. Nem
que seja um mínimo. Mas
estamos diferentes. Tivemos
oportunidade de recorrer a
profissionais qualificados
(psicólogos) em momentos onde
nos sentimos mais frágeis? Ou
não foi preciso? Talvez seja
tempo para reflectir sobre o que
pretendemos de nós mesmos e
para onde queremos ir. Ou pelo
menos, para onde não queremos
ir. Ainda mais que em todos os
outros temas, aqui cada indivíduo
terá a sua forma de pensar.
Agora, é tempo de nos
deixarmos de desculpas que
D.R.
Agora, é tempo
de nos deixarmos
de desculpas que
nada muda e que
somos insignificantes
em mudanças
estruturais
nada muda e que
individualmente somos
insignificantes em mudanças
estruturais da sociedade. Não é
verdade. As nossas acções
individuais têm um impacto
muito significativo em tudo.
Cada um de nós tem um papel
na sociedade e ninguém se
pode demitir desse mesmo
papel. Muito menos em
momentos como estes. Desta
forma, é expectável que cada
um de nós faça mais, por nós
próprios e pela sociedade. Só
assim sairemos desta pandemia
com um mundo
consideravelmente melhor.

GESTÃO CONSULTORIA
EM ANÁLISE
Covid-19 e o seu impacto
no sector bancário angolano
Uma vez assegurada a continuidade do negócio e das operações, os bancos angolanos enfrentarão outro grande desafio no domínio
do financiamento e cedência de liquidez a empresas e particulares. Com efeito, é expectável a redução e em alguns casos mesmo
o colapso de liquidez das famílias e empresas, devido à quarentena e confinamento, desemprego, redução de negócio...
MIGUEL ALMEIDA
Director da KPMG
A rapidez com que o surto do novo
coronavírus – Covid-19 – se está a
espalhar pelo mundo e a atingir o
seu ponto crítico, nos continentes
europeu, africano e americano,
num extenso conjunto de geogra-
fias e de países, incluindo Angola,
acarreta consequências muito re-
levantes, quer em termos sanitá-
rios, quer em termos económicos
e representa também um enorme
desafio para as instituições, desi-
gnadamente para os bancos ango-
lanos, que terão neste contexto de
tomar importantes decisões de
negócio e operacionais.
Neste âmbito, os bancos angola-
nos terão de assegurar a rápida im-
plementação de um vasto conjun-
to de medidas que preservem a
respectiva operacionalidade e
continuidade, em circunstâncias
muito complexas, ao mesmo tem-
po que é esperado pelos diferentes
agentes económicos e de mercado
– governo, supervisores e regula-
dores, clientes, famílias e empre-
sas – que mantenham o seu papel
fundamental no suporte à econo-
mia angolana, num período de es-
pecial vulnerabilidade em termos
económicos e financeiros.
Com efeito, embora os bancos
não estejam a ser atingidos de for-
ma directa pela Covid-19 como
sucede com outras instituições de
retalho, estão contudo na linha da
frente em relação à atenção públi-
ca. Adicionalmente, ocupam um
lugar central na economia, no fi-
nanciamento e cedência de liqui-
dez a empresas e particulares,
pelo que a sua estabilidade é cru-
cial para manter o sistema a fun-
cionar correctamente.
Neste sentido, os bancos ango-
lanos terão, em primeira instân-
cia, de se focar na continuidade do
negócio e das suas operações, na
distribuição dos produtos e na
manutenção do serviço ao cliente,
adoptando medidas que lhes per-
mitam ultrapassar um conjunto
de desafios, tais como:
■ Assegurar as infra-estruturas
(e.g. servidores), os meios e
condições técnicos, logísticos,
É possível
que as operações
de concentração
em curso sejam
diferidas, atendendo
à incerteza existente
de comunicação (e.g. software
para realização de videoconfe-
rências e de trabalho colabora-
tivo) e de IT (e.g. computadores
portáteis, monitores) necessá-
rios para que os colaboradores
possam continuar a trabalhar
em regime de teletrabalho,
mantendo os níveis de produti-
vidade, incluindo aqueles que
executam tarefas de back-office
fundamentais ao processa-
mento, formalização, registo e
liquidação de transacções;
■ Gerir uma eventual maior varia-
bilidade dos recursos humanos
disponíveis diariamente, em
função de ausências de colabora-
dores infectados pela Covid-19,
obrigados a medidas de quaren-
tena ou isolamento social, ou que
tenham de prestar apoio à famí-
lia, adoptando planos de contin-
gência específicos para o efeito;
■ Manter um conjunto de agên-
cias em funcionamento, assegu-
rando o distanciamento social e
mitigando o risco de contágio de
colaboradores e clientes;
■ Ajustar a capacidade de resposta
dos call e contact centers ao au-
mento expectável da procura e
volume de chamadas recebidas;
■ Garantir a operacionalidade
da rede “Multicaixa”, designa-
damente o carregamento das
caixas electrónicas e o funcio-
namento dos terminais de pa-
gamento automático, promo-
vendo simultaneamente junto
dos clientes a redução de ope-
rações em dinheiro e o incre-
mento das transacções através
de meios e canais digitais.
Uma vez assegurada a continui-
dade do negócio e das operações,
os bancos angolanos enfrentarão
outro grande desafio no domínio
do financiamento e cedência de li-
quidez a empresas e particulares.
Com efeito, é expectável a redu-
ção e, em alguns casos mesmo, o
colapso de liquidez das famílias e
empresas, devido à quarentena e
confinamento, desemprego, re-
dução de negócio ou encerramen-
to forçado, quebra na produção e
vendas, impedindo-as de honrar
os respectivos compromissos
creditícios junto da banca, o que
provocará um crescimento do
crédito non-performing. Simulta-
neamente, a economia angolana
estará especialmente necessitada
de liquidez para que o sistema
continue a funcionar. Neste con-
D.R.
texto, há um conjunto de medidas
que os bancos angolanos poderão
implementar para mitigar os po-
tenciais efeitos daí decorrentes e
apoiar a sobrevivência dos clien-
tes capitalizando no futuro em re-
lações comerciais mais sólidas,
nomeadamente:
■ Dar o devido suporte a iniciati-
vas do governo ou do Banco Na-
cional de Angola, tais como a
“moratória” estabelecida atra-
vés do Instrutivo n.º 4/2020 ou
programas estatais de apoio à
tesouraria e liquidez de peque-
nas e médias empresas;
■ Promover programas de rees-
truturação e modificação de
créditos;
■ Desenvolver internamente os
mecanismos necessários ao pro-
cessamento, formalização, regis-
to, controlo operacional e reporte
das alterações às operações de
crédito resultantes da adopção da
“moratória”, ou reestruturações,
renegociações, modificações.
Um outro aspecto relevante da
crise da Covid-19 é a capacidade
que os bancos angolanos terão
para, cuidadosamente e de forma
contínua, avaliarem os níveis de
liquidez e capital que têm dispo-
níveis, para gestão da respectiva
solidez, incluindo a revisão de
custos e proveitos para apoiar na
gestão da sua rentabilidade e,
consequentemente, da liquidez e
capital. Adicionalmente, será crí-
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 23
tica a capacidade de os bancos an-
golanos realizarem modelização
de cenários e planeamento con-
tingente, com o objectivo de os
auxiliar a orientarem-se num am-
biente altamente volátil.
A crise da Covid-19 será tam-
bém um teste à capacidade de os
bancos angolanos continuarem a
cumprir com requisitos regula-
mentares e de reporte, quer fi-
nanceiro e contabilístico, quer
prudencial – designadamente os
decorrentes, por exemplo, das
“moratórias” de crédito ou a
quantificação dos impactos no
relato financeiro referente ao
exercício de 2020 resultantes da
Covid-19, nomeadamente ao ní-
vel da valorização de activos, tes-
tes de imparidade, instrumentos
financeiros (IFRS 9), rédito, be-
nefícios a empregados, key per-
formance indicators –, bem como
à flexibilidade e agilidade das res-
pectivas funções de controlo in-
terno e de gestão de risco para se
adaptarem à identificação, men-
suração, monitorização e reporte
sobre as alterações de riscos e
controlos (e o emergir de novos
riscos e controlos).
Neste contexto do sistema de
controlo interno e da gestão de
risco e com a crise da Covid-19,
importa também assinalar a
preocupação crescente que os
bancos angolanos deverão ter
com o aumento do risco de novos
tipos de fraude e de ataques infor-
máticos (cyber attacks), ao modo
como os clientes, os negócios e os
colaboradores se adaptam a este
novo ambiente, caracterizado
pelo teletrabalho e com um ex-
pectável aumento de transacções
através dos canais digitais – as
crises e mudanças abruptas
criam sempre a oportunidade
para este tipo de práticas por in-
divíduos mal-intencionados. Por
outro lado, a crise da Covid-19 po-
derá representar uma oportuni-
dade para acelerar o processo de
digitalização da banca angolana.
Finalmente, no caso concreto
do mercado bancário angolano,
há um outro aspecto adicional
que importa relevar. Nos últi-
mos anos, tem-se observado um
fenómeno de concentração e en-
cerramento de alguns bancos,
processo que se esperava ter
continuidade no futuro próxi-
mo. Com a crise da Covid-19 é
possível que este processo sofra
algum abrandamento e que as
operações de concentração em
curso sejam diferidas, atenden-
do à incerteza existente.
Parceria:
24 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
GESTÃO CONSULTORIA
EM ANÁLISE
Navegar à vista, mas com informação
Neste contexto de crise, a liquidez e os fluxos de tesouraria assumem o papel mais importante para “continuar a viagem”.
Qualquer tipo de financiamento ou acesso a incentivos, públicos ou privados, que tenham de ser rapidamente activados
carecem da apresentação de demonstrações financeiras e relatórios actualizados e fidedignos.
MAURÍCIO BRITO
Director da PwC Angola
No cenário actual, de “navega-
ção à vista”, a informação conta-
bilística e financeira actualiza-
da, rigorosa e atempada, assume
um papel fundamental para a so-
brevivência das empresas e, por
inerência, também para todo o
ecossistema económico-social
de um país. É um “instrumento
de navegação” que tem de ser,
mais que nunca, bem tratado em
momentos de incerteza.
A tomada de decisão rápida e
segura assume grande relevân-
cia na gestão, sendo ainda mais
importante em períodos de cri-
se conhecer bem a nossa em-
barcação, as marés, os ventos e
o fundo do mar.
A contabilidade, o reporte da
informação financeira e a sua
monitorização diária, assumem
um papel fundamental nos pla-
nos de acção e resposta às crises
empresariais. É crucial ter a in-
formação comercial de clientes
e fornecedores actualizada para
manter uma saudável capacida-
de de gestão das cobranças e
uma adequada gestão de paga-
mentos a terceiros. Contudo, a
relevância da função contabilís-
tica e financeira é, necessaria-
mente, muito mais do que isso.
Em tempos de maior incerte-
za, receber informação financei-
ra fiável, e no momento certo, é
um dos factores-chave para fun-
damentar a tomada de decisão.
Analisar resultados e diferentes
cenários, tais como a produtivi-
dade, a rentabilidade, a diminui-
ção de vendas, os prazos médios
de pagamento e de recebimento
e as previsões de tesouraria, são
peças imprescindíveis para con-
seguirmos conduzir o “barco”.
Assim, e independentemente
de os dados serem preparados
internamente, em centros de
serviços partilhados ou por um
serviço subcontratado, é crítico
assegurar a capacidade de res-
posta da função contabilística e
financeira em tempos de crise.
Em situações limite como a ac-
tual, é necessário ajustar os re-
cursos existentes às necessida-
des de produção de informação,
assegurar que a realização de
trabalho remoto é compatível
com as necessidades e que as
Em tempos tecnologias de suporte conti-
nuam a funcionar em contextos
de maior incerteza, mais desafiantes. Tudo isto ga-
receber informação rantindo a segurança, a saúde e o
financeira fiável, bem-estar dos seus colaborado-
res e parceiros.
e no momento certo, Neste contexto de crise, a li-
é dos factores-chave quidez e os fluxos de tesouraria
assumem o papel mais impor-
tante para “continuar a viagem”.
Qualquer tipo de financiamento
ou acesso a incentivos, públicos
ou privados, que tenham de ser
rapidamente activados carecem
D.R.
da apresentação de demonstra-
ções financeiras e relatórios ac-
tualizados e fidedignos. Qual-
quer entidade financiadora - ins-
tituição financeira, organismo
público ou mesmo um investidor
- necessita dessa informação
para avaliar, não só a saúde da es-
trutura de capital da empresa,
como também os seus passivos e
a sua capacidade de gerar recei-
tas, para fazer face às suas res-
ponsabilidades actuais e futuras.
Em momentos de crise, como
a que estamos a gerir, esta é a al-
Neste contexto de
crise, a liquidez e os
fluxos de tesouraria
têm o papel mais
importante para
“continuar a viagem”
tura de apurar com detalhe to-
dos os fluxos de caixa, estimar o
impacto das variações das taxas
de câmbio, olhar para a posição
de caixa em períodos muito cur-
tos e desenhar cenários com a
maior prudência. Orçamentos
de tesouraria rápidos e asserti-
vos ajudam-nos a prever as re-
ceitas, a sermos proactivos nas
cobranças e a gerir de forma ra-
cional o pagamento de credores
prioritários.
Importa ainda referir que os
impostos são também um exflu-
xo relevante a ter em considera-
ção, cuja gestão eficiente pode
ser decisiva para “manter o bar-
co à superfície da água” ou, se
mal gerido, pode mesmo “afun-
dá-lo”. De facto, estes podem ser
uma carga pesada a transportar
se não forem devidamente pre-
vistos e optimizados. Só um
completo conhecimento das re-
gras fiscais e das suas actualiza-
ções (muitas vezes diárias em
momentos de crise) permite às
empresas minimizar a carga fis-
cal, aproveitar as oportunida-
des de fraccionamento ou dife-
rimento do seu pagamento,
bem como assegurar uma rápi-
da recuperação de impostos
adiantados ou retidos.
Numa perspectiva de infor-
mação para a gestão, um repor-
te contabilístico e financeiro
robusto pode dar, a quem tem o
“leme” nas mãos, uma análise
detalhada sobre a rentabilidade
das várias dimensões da empre-
sa, por departamento, por cen-
tro de custo, por operação, por
segmento, por marca ou por
produto. Exemplos que devida-
mente suportados pela tecno-
logia certa permitem focar
energias e recursos para os pro-
dutos ou targets mais indicados
no momento actual.
A contabilidade e o relato fi-
nanceiro ganham, em tempos de
crise, uma importância acresci-
da que não pode ser negligencia-
da pelo “capitão”, se este quiser
ultrapassar a “tormenta” e “le-
var o barco a bom porto”. Se “na-
vegar à vista” significa navegar
sem instrumentos de navegação
ou sem um plano definido então,
em contextos únicos como o ac-
tual, ainda mais voláteis, incer-
tos, complexos e ambíguos, é
preciso “navegar à vista”, mas
com informação.
RENÉ TAVARES
“Somos todos consumidores de
cultura, cada um à sua maneira”
Artista plástico são-tomense, René Tavares estreia-se com a primeira
exposição individual em Angola, depois de partilhar projectos com
vários angolanos. A Covid-19 obrigou os artistas a reinventarem-se,
mas não altera as suas motivações, nem as suas fontes de inspiração.
Mirene da Cruz
O que significa a exposição
“Migrações e coisas, retalhos
de uma história só”, que está
patente até 27 de Maio na
galeria do Banco Económico?
A exposição é resultado de uma
trajectória que marca o início das
minhas pesquisas sobre o patri-
mónio imaterial são-tomense. Em
2002, começo a trabalhar sobre o
Tchiloli, uma peça de teatro rele-
vante para S. Tomé e Príncipe, que
abriu as portas e um caminho de
possibilidades para questionar ou-
tros temas e levantar inquietações
presentes nesta exposição. O tema
– Migrações – é um dos questiona-
mentos que retiro do Tchiloli, peça
de origem europeia que se torna
símbolo de resistência contra o re-
gime colonial português, e é hoje o
património que melhor identifica
a cultura de S. Tomé e Príncipe.
É a 1ª exposição individual
em Angola. Qual a sensação?
É de estar a fortalecer um percurso
como artista. Não posso deixar de
dizer que faz mais sentido para
mim a projecção em África e depois
a comunicação com o mundo. E
Angola é um País onde também
busco inspiração e motivação devi-
do à envolvência e à partilha histó-
rica com S. Tomé e Príncipe. Além
disso, o mercado da arte tem vindo
a emergir, com artistas influentes e
de enorme potencial. Faz parte do
meu ideal contribuir para o cresci-
mento de mercado de arte no conti-
nente africano.
Teve oportunidade
de trabalhar com artistas
angolanos. Foi possível
ensinar e aprender?
Sim, há sempre uma troca de
aprendizagem. A riqueza dos
projectos colectivos e das resi-
dências artísticas tem este foco
de partilha e de interacção.
Como vê o intercâmbio entre
as duas culturas?
A arte contemporânea tem uma
particularidade interessante: os
artistas buscam discursos varia-
dos e, por mais que haja semelhan-
ças, existem diferenças no contex-
to histórico. S. Tomé e Príncipe e
Angola têm muita coisa em co-
mum e ainda hoje partilham essa
história e herança, que marcam o
dia-a-dia e o questionamento dos
artistas sobre identidade. Mas
acho que em Angola os artistas são
mais interventivos na política (glo-
bal e africana) e utilizam maior va-
riedade de meios artísticos. Em S.
Tomé, há poucos artistas que ex-
ploram videoarte, ou técnicas
variadas de fazer a fotografia.
Talvez pela falta de referências,
sempre houve mais artistas na
área de escultura e pintura.
O que as culturas angolana e
são-tomense têm mais em
comum?
A ligação entre Angola e S. Tomé e
Príncipe é muito mais forte do que
pensamos. Têm um passado co-
mum (até com outros países de lín-
gua português) que se tornou mui-
to importante na construção de
uma identidade cultural nova entre
os dois povos. Devido também à
proximidade, podemos ver “famí-
D.R.
lias angolanas são-tomenses” e “fa-
mílias são-tomenses angolanas”.
Como a pandemia da Covid-
-19 alterou a sua agenda?
Foi surpresa para todos. Obvia-
mente que alterou, não só a mi-
nha agenda, como a agenda de to-
dos os que trabalham comigo. Vai
ser preciso reagendar e pensar
em alternativas ou outras pers-
pectivas de trabalho. Acredito
que vai voltar tudo à normalida-
de muito em breve e haverá um
reajuste deste tempo.
A pandemia pode inspirar
novos trabalhos seus?
Não. Altera a minha agenda, mas
não altera as minhas motivações e
interesses. Como em tudo na vida,
uma situação com esta gravidade
causa transtornos, faz pensar nou-
tras alternativas. A questão do iso-
Um artista plástico atento
às questões sociopolíticas
René Tavares é um artista
plástico são-tomense
que usa a política cultural
nos seus trabalhos.
O artista, de 36 anos,
divide a sua residência
entre Lisboa e S. Tomé
e Príncipe, estando agora
a frequentar o mestrado.
O seu livro de cabeceira
é o bloco de notas onde
aponta coisa que os
inspiram, ideias e os
compromissos profissionais
e pessoais. Nos tempos
que tem livres, aproveita
para estar com a família
e não liga muito a desporto.
Considera-se um agente
cultural, mas que
se interessa pelas
lamento social já existia para mim,
enquanto africano na europa, um
retrato do ocidente, que a pande-
mia veio agravar. Poucos dias antes
do alerta sobre a pandemia, tinha
terminado uma obra que retrata a
relação entre a China e África, e que
reflecte sobre esta relação de algu-
ma dependência e de aproveita-
mento de recursos, de pouco poder
devido ao endividamento para com
a China. Isso sim preocupa-me.
É uma pessoa de muitos
gastos?
Acredito que não. Vivo com o es-
sencial e faço bastante investi-
mento no material de trabalho.
Como é que a cultura pode
contribuir para a economia?
A cultura é um enorme factor de
desenvolvimento social e, logo,
económico. Sendo o sector que
questões sociopolíticas,
justificando, assim,
o contributo do seu
trabalho para a valorização
da cultura, através
da arte. Não é a venda
que o motiva – “nem
consigo pensar desta
forma”. É, antes de tudo,
“uma forma de estar
que está dissociada
da questão comercial”.
O interesse situa-se,
como acrescenta,
“precisamente no
discurso de cada artista
e na forma como faz valer
este discurso através
do seu trabalho”.
gera serviços de natureza artística e
de potencial intelectual acaba por
ser um grande apoio para a econo-
mia. Somos todos consumidores de
cultura, cada um à sua maneira. En-
tre livros, música, moda, design até
a arquitectura, cada vez mais se ve-
rifica que, na sociedade contempo-
rânea, é no consumo que as pessoas
se expressam e constroem a sua
identidade própria.
De que forma a crise
económica afecta os seus
trabalhos?
Afecta todos. A verdade é que há
também quem tire proveito das
crises e se torne inventivo. É
uma mudança de visão e de
modo de viver e isso trás tam-
bém perspectivas novas que fa-
zem parte do nosso crescimento
individual, dentro de um con-
texto à escala mundial.
26 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
EFEMÉRIDE
A Covid-19 ‘trocou’
as voltas à dança
No Dia Mundial da Dança, a bailarina e
coreógrafa Ana Clara Guerra Marques fala
dos projectos que a Covid-19 adiou e dos
desafios que os bailarinos enfrentam no País.
A dança é comemorada mun-
dialmente no dia 29 de Abril e,
este ano, viu reduzido os palcos,
por causa da pandemia da Co-
vid-19, que trocou as voltas à
Companhia de Dança Contem-
porânea (CDC) de Angola, refe-
re Ana Clara Guerra Marques.
A CDC Angola tinha um pro-
grama de apresentações, mas-
terclasses e encontros com o
público para o Dia Mundial da
Dança, que teve de ser adiado.
Os bailarinos estão a fazer o
seu treino diário em casa num
regime de envio e retorno de
aulas para correcção, aponta a
coreógrafa e fundadora da
companhia. Um exercício nem
sempre fácil de fazer, tendo em
conta os custos do acesso à in-
ternet. A companhia suspen-
deu também a montagem de
uma peça para a Temporada
2020, assim como a programa-
ção internacional, inclusiva-
mente a estreia de uma peça,
agendada para Junho, em Paris.
“A nossa ideia é reprogramar
tudo, quer em Angola, quer nos
países onde nos iríamos apre-
sentar. Estamos também a traba-
lhar para a produção de um filme
e de um livro para assinalar os 30
anos da companhia”, diz.
Nesta fase de isolamento so-
cial, A CDC fez durante 13 dias
uma campanha de prevenção
contra a Covid-19 nas redes so-
ciais com fotografias das peças
da companhia e tem em curso
um desafio de interacção com o
público online.
Em Angola, a arte continua a não
ser devidamente reconhecida.
D.R.
A dança
profissional foi,
é, e pelo andar
da carruagem, vai
ser um desafio em
Angola; com ou sem
crise, Ana Marques
A fundadora da CDC lembra que
a dança sempre foi uma profissão
valorizada no contexto de algumas
das organizações sociais tradicio-
nais. “É sabido que na cultura
Cokwe, por exemplo, existem bai-
larinos profissionais que, ao longo
dos tempos foram admirados pela
sua performance”, mas na socieda-
de dita “moderna”, ainda não. Os
bailarinos ainda são vistos “como
entertainers”, ainda “não se perce-
beu que a “dança é uma área de sa-
ber” e um “lugar profissional”.
A dança profissional foi, é e,
pelo andar da carruagem, vai ser
sempre um desafio em Angola
com crise económica ou sem ela,
refere Ana Marques. “O proble-
ma é que, ao longo de todos estes
anos, não se conseguiu explicar
às pessoas (sobretudo aos diri-
gentes) a importância da dança
para além do entretenimento.
Portanto, enquanto não houver
um público com sentido crítico,
que reconheça e que exija esse
profissionalismo nunca se dará
a devida importância ao ensino
artístico competente”, lamenta.
Telma Van-Dúnem
SOLIDARIEDADE
Artistas unem-se para
apoiar quem precisa e
ajudar a conter pandemia
“Kubico Solidário” é um projecto que nasce
da vontade de ajudar quem mais precisa
e que reúne artistas de várias proveniências.
Para dar resposta à pandemia da
Covid-19, muitos são os artistas
que adaptaram a sua forma de
fazer arte com o objectivo de
apoiar famílias e instituições
que enfrentam dificuldades. Foi
com esse mesmo fim que nasceu
o “Kubiko Solidário”, projecto
que pretende angariar donati-
vos, através de um festival agen-
dado para os dias 1, 2 e 3 de Maio,
entre as 17h00 e as 23h00.
O festival será exibido em di-
recto, a partir da plataforma
Instagram, sendo os donativos
imediatamente revertidos para
a instituição “Vivência Feliz”,
localizada no município de
Viana, Luanda.
Em comunicado de imprensa,
os promotores informam que o
evento conta com intervenien-
tes da musica e do entreteni-
mento, desde Dj´s, instrumen-
tistas, trovadores, rappers, ku-
duristas, cantores e humoristas.
Os artistas plásticos e gráficos
não ficam de fora, participam
emprestando a sua arte para a
elaboração do material gráfico,
como flyers e o logomarca.
O projecto “Kubiko Solidário”
define-se como uma manifesta-
ção artística de sensibilização
cultural e reúne artistas de vá-
rias nacionalidades neste esfor-
ço solidário internacional, tais
como angolanos, cubanos, cabo-
-verdianos, israelitas, colombia-
nos, italianos, ingleses, portu-
gueses, entre outros. O festival
pode prolongar-se por mais dias
caso a organização identifique
um feedback excelente.
Quem também mergulha na
mesma causa é o Banco Angola-
no de Investimento (BAI), que
contribuiu com mais de 10 mil
milhões de Kwanzas para a aqui-
sição de testes rápidos, ventila-
dores, medicamentos e equipa-
mento hospitalar.
AGENDA CULTURAL
ESPECTÁCULO
“Num esforço conjunto das
empresas do Grupo BAI, foi pos-
sível, no final do mês de Março, CONCERTO
doarmos ao Ministério da Saúde DJ PAULO ALVES
o montante de 10,4 mil milhões
Kz, com o objectivo de auxiliar o AO VIVO NO
País no combate à pandemia da INSTAGRAM
Covid-19”, refere o banco. O concerto, transmitido no Fa-
De acordo com a instituição, cebook da Sistec às 20h00, conta
até à data, o valor exacto doado com os DJs Cláudio Silva, Duda e
pelo BAI é de 9,8 mil milhões Kz, João Reis e Kizua Gourgel.
faltando desembolsar 561,8 mi-
lhões Kz, que se destinam a cus-
tear despesas operacionais e ou- 01 de Maio
tras prestações de serviços.
No âmbito da luta contra o
novo coronavírus, a Salam,
EVENTO
um dos principais grupos de
serviços financeiros presen-
tes nas Bolsas de Valores de
Joanesburg o e da Namíbia,
onde se enquadra a Saham An-
g ola Seguros, doou 2,3 mi-
lhões USD para apoiar inicia-
tivas de combate à pandemia
em África e em outros merca-
dos onde está presente.
O montante destina-se a auxi-
liar os esforços para diminuir a
curva de casos positivos e apoiar
iniciativas para combater o im-
pacto do vírus, como compra de DESAFIO
equipamentos de protecção in- KAYSHA
dividual, contribuições para
DISPUTA NELSON
fundos nacionais de solidarieda-
de, ajuda alimentar e assistência FREITAS
escolar com e-learning. A “batalha do ano” entre dois
T.V.D. cantores, segundo os organiza-
dores, começa às 21h00 e vai
acontecer nas redes sociais.
O festival é 01 de Maio
exibido em directo
pelo Instagram,
e os donativos SHOW
revertem para a
“Vivência Feliz”,
em Viana
MÚSICA
LIVE
COM MATIAS
DAMÁSIO
O espectáculo, cujas receitas re-
vertem para a compra de cestas
básicas, começa às 14h30, no
Youtube do cantor.
03 de Maio
D.R.
 1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 27

Gadgets Nota: As propostas nesta página podem ser adquiridas em Angola

ou na internet. Por isso, os preços são apresentados em Kwanzas
ou dólares convertidos ao câmbio de 1 USD/559,929

MOBILIDADE

Segway S-Pod
acelera na cidade
O S-Pod da Segway é um carrinho
de duas rodas que pode atingir
velocidades de até 38 Km por hora.
O S-Pod é controlado através de um
joystick, proporcionando um passeio
mais relaxante pelas cidades. Está
equipado com recursos smart safety,
como travões automáticos nas curvas
e luzes externas que funcionam
como sinais de mudança de direcção.
Kz: 391.400 | (699 USD)

LITERATURA INFANTIL
SOM
Caneta inteligente que
Micro Hi-Fi Audio
lê e conta histórias
System da Sharp A My Bunny Reading Pen é um gadget lançado
Estético e distinto, o Micro Hi-Fi pela Xiaomi e possui um sensor óptico que
Audio System é a combinação de todos reconhece mais de 2 mil palavras, tanto em
os sistemas de música que pode ter na inglês quanto em chinês, e consegue
sua casa. O sistema integrado all-in- reconhecer também ilustrações. Munida de
one agrega rádio digital (DAB), rádio altifalante, esta ‘contadora de histórias’
FM, leitor e gravador de CD, leitor também ajuda na pronúncia e tradução. Conta
MP3 e também uma porta USB. A caixa com 22 livros cadastrados, com direito a sons
tem duas colunas integradas com 90 próprios (7 mil efeitos sonoros). O presente
watts de potência, que produzem um ideal para os mais pequeninos interagirem
som de grande qualidade. com palavras e sons.
Kz: 105.849 | (189 USD) Kz: 14.000 | (25 USD)

ELECTRODOMÉSTICOS

Reciclador de água
Hydraloop
Actualmente, 2,3 mil milhões de pessoas em
todo o mundo vivem em condições de escassez
de água potável. A conservação de água e as
tecnologias sustentáveis para combater a
escassez deste bem essencial são cada vez mais
um tema em cima da mesa das grandes
potências mundiais.Este aparelho de grande
porte filtra e purifica a água dos banhos,
chuveiros e máquinas de lavar, e emprega
uma série de seis técnicas de filtragem sem
manutenção. O reciclador de água
Hydraloop oferece uma maneira simples de
SEGURANÇA reciclar até 85% da água das habitações, ELECTRODOMÉSTICOS
tudo numa caixa cinzenta não muito
Uma campainha maior do que o frigorífico normal. Vaporizador Camry
Kz: 2.239.716 | (4.000 USD)
inteligente sempre à mão
A campainha inteligente EZVIZ DB1 WiFi é Um dois-em-um sempre à mão nesta fase em
uma solução para o lar que permitirá maior que as populações fazem de tudo para ‘matar’
protecção e conectividade em segurança, o coronavírus. Este vaporizador é ideal para
que permite aos proprietários das casas falar engomar a vapor as roupas mais delicadas
com os visitantes inesperados. Tem um sensor como forros de fatos, gravatas, lenços
infravermelho que detecta movimentos para ou camisas de seda. Em poucos segundos,
que os proprietários saibam quando alguém as rugas e vincos da roupa desaparecem
se aproxima da entrada. O botão embutido com um passo de magia. E, agora,
permitirá que os visitantes solicitem em tempo de pandemia, a vaporização
uma conexão com o proprietário, a calor também desinfecta os tecidos.
enquanto a câmara transmite conteúdo É um gadget a considerar para quem
em HD, com um campo de visão de 180 graus, precisa daquela roupa sempre engomadinha
para o smartphone do proprietário. A unidade na hora e que dispensa as dores
vem com três horas de armazenamento em de costas, já que lhe permite
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28 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020

OPINIÃO
CARTAS DO LEITOR CONVIDADO

Quer opinar, criticar, elogiar ou simplesmente desabafar

sobre um tema da actualidade económica nacional
ou internacional? Escreva ao Director do Expansão para:
redaccao@expansao.co.ao ou Avenida Lénine, n.º 72,
3.º andar — Edifício Domo Business Center, Ingombota,
Luanda, indicando nome, profissão e local de residência.
Por questões de espaço, o Expansão reserva-se o direito
de resumir as cartas seleccionadas para publicação.
Sylvain Itté
Embaixador da França em Angola

Angola não conseguiu Recessão de 6,8%

vender 10,4% em 2020, a mais grave
do crude previsto
para entrega em Maio
“Não consigo entender até
desde o fim da guerra
“Eu acho ainda muito opti-
mista o estudo da Universi-
A França está mobilizada
agora que Estado depende de
um único produto de exporta-
dade Católica de Angola”.
Raidel de Sousa
para a África
ção, com muitos recursos que Facebook
o País tem: ouro, diamantes, A França decidiu mobilizar todos
fosfatos e recursos florestais”. Editorial: Lições os meios de que dispõe para ajudar
Fio Jeremias em tempo de crise África a lutar eficazmente contra o
Facebook “Era bom, mas as decisões vírus e a resistir ao choque econó-
que estão a ser tomadas é mico. Com uma ajuda pública ao
Grandes criadores para aumentar e prolongar a desenvolvimento de 10,9 mil mi-
e Ministério da crise... O Ministério do Co- lhões de euros, distribuída através
Agricultura estão mércio está sem sistema há 3 de canais bilaterais e multilaterais,
de costas voltadas semanas... Não é possível somos o quinto maior doador do
“Eu já previa que isso iria atrair investidores com um mundo. Recorde-se, a este respeito,
acontecer, nunca consegui- governo constantemente a que a França é o segundo contri-
mos chegar a consenso, por mudar ministros e equipas, buinte dos Estados-membros da
colocarmos sempre os inte- não dá estabilidade nenhu- União Europeia para o Fundo Eu-
resses pessoais à frente dos ma... Um ministério respon- ropeu de Desenvolvimento (FED).
interesses comunitários”. sável pela economia não in- Prosseguimos a trajectória ascen-

D.R.
Valdik Pitra Barros formar que fechou a platafor- dente dos meios atribuídos à ajuda
Facebook ma para não permitir licen- pública ao desenvolvimento fixada
ciamento tentado dessa for- a partir de 2017 pelo Presidente já é o segundo contribuinte para o mente para conseguir uma morató-
Governo deixa ‘cair’ ma equilibrar a balança de Emmanuel Macron. Esse dinheiro Fundo Mundial contra as Pande- ria sobre a dívida africana. No pas-
South Africa Airways pagamentos... como é possí- tem de beneficiar em prioridade e mias, o VIH/SIDA, a malária e a tu- sado dia 14 de Abril, no âmbito do
ao negar resgate vel? ... Vai de mal a pior...” por metade o continente africano. berculose (no total 1,12 mil milhões Clube de Paris e do G20 (incluindo a
“A TAAG também deve dei- Bernardete Pinto Coelho Foi neste contexto que a França de euros no período 2017-2019), e o China), uma moratória sobre os ju-
xar de ser o BPC aéreo”. Facebook reorientou uma parte importante primeiro contribuinte da Unitaid ros da dívida dos países mais pobres
Santos Ngola Muculo da sua programação para respon- (255 milhões de euros para 2020- foi decidida. Angola é um dos 40
Facebook der à crise da Covid-19 em África. -2022). Estas duas instituições de- países africanos abrangidos. Num
Jean-Yves Le Drian, ministro da sempenham um papel crucial na montante total de 32 mil milhões de
Europa e dos Negócios Estrangei- luta contra a Covid-19, no esforço de euros de serviço da dívida, a França
ros, anunciou, no dia 8 de Abril, a investigação por um lado, e nas es- defendeu uma moratória de mais
distribuição imediata de 1,2 mil mi- tratégias de vacinação e distribuição de 20 mil milhões de euros. Por seu
lhões de euros de meios bilaterais de tratamentos por outro, uma vez lado, assume, neste contexto, um
para a luta contra a propagação da adiamento de dívida estimado em
O EXPANSÃO ERROU Covid-19, prioritariamente orien- mil milhões de euros.
tados para os países africanos. Por outro lado, a França esfor-
A nível bilateral, os nossos dois ça-se, nestes tempos difíceis, por
Na edição 571, publicada no dia 24 de Abril, na Grande operadores públicos, a Agência evitar as numerosas armadilhas
Entrevista ao director geral da Total-Angola, Olivier Jouny, Francesa de Desenvolvimento
Em 32 mil milhões que poderiam constituir obstácu-
o Expansão errou ao trocar a designação correcta da Agência (AFD) e a agência Expertise Fran- de euros de serviço los à sua acção no continente afri-
Nacional de Petróleo, Gás e Biocombustíveis por Sonangol. ce criaram uma iniciativa dedica- da dívida, a França cano. É nomeadamente essencial
As nossas desculpas ao entrevistado e aos nossos leitores. da à Covid-19, dotada de mil mi- defendeu uma evitar os efeitos de exclusão das
lhões de euros de empréstimos e outras temáticas centrais da nossa
150 milhões de doações. Esta ini- moratória de mais cooperação para o desenvolvi-
ciativa, lançada maioritariamente de 20 mil milhões mento, ou seja, a luta contra as ou-
em África, centra-se na resposta tras pandemias, a educação, a luta
sanitária, no reforço das capacida- contra a insegurança alimentar, a
DIRECTOR COLABORADORES REGISTO des de vigilância epidemiológica e luta contra as alterações climáti-
João Armando António Estote, MCS-520/B2009
joao.armando@expansao.co.ao Francisco Miguel Paulo, no financiamento dos planos na- cas e a preservação da biodiversi-
TIRAGEM
SUPERVISOR DESK
Gustavo Amaral (KPMG),
15.000 exemplares cionais de resposta à pandemia. que serão disponíveis terapias e va- dade. Esta crise é decididamente
Hermenegildo Ferreira,
Joaquim José Reis José Cassanda IMPRESSÃO A nossa rede de investigação, cinas. Além disso, é o sexto país con- multidimensional. Por conse-
joaquim.reis@expansao.co.ao COLUNISTAS
Alves da Rocha,
Damer Gráficas, SA composta principalmente pelo Ins- tribuinte para o orçamento da Orga- guinte, temos de assegurar que o
SUPERVISOR DESK-
-ADJUNTOS Eva Santos,
DEPARTAMENTO
COMERCIAL
tituto Pasteur e pelos Institutos de nização Mundial de Saúde. seu impacto nas gerações futuras
Fernandes Wanda,
Isabel Costa Bordalo
José Alberto Rodrigues, Alide Hussen Investigação para o Desenvolvi- A França milita também incansa- seja limitado e não transforme as
isabel.bordalo@expansao.co.ao alide.hussen@novavaga.co.ao
Luis Galrão
e Norberto Carlos
+244 941 114 883
mento (IRD), é financiada pelo Es- velmente no seio das instituições fragilidades numa crise sistémica.
luis.galrao@expansao.co.ao
DESIGN GRÁFICO
CONTACTO COMERCIAL
tado francês para apoiar a investiga- europeias para assegurar a priori- Por último, é essencial insistir na
Ngombo José Manuel
REDACÇÃO
FOTOGRAFIA
comercial@novavaga.co.ao ção em África. A rede Pasteur está no dade africana no âmbito da respos- necessidade de uma resposta multi-
Alexandre Lourenço
alexandre.lourenco@expansao.co.ao
César Magalhães ASSINATURAS DIGITAIS centro da investigação, nomeada- ta financiada pela União Europeia à lateral a esta crise, única possibili-
e Lídia Onde
Faustino Diogo
+244 921 358 582
mente em Dakar, onde é uma refe- Covid-19 nos países em desenvolvi- dade de estar na boa escala. É por
MOTORISTA
faustino.diogo@expansao.co.ao
Anselmo Moreira rência regional na resposta à crise. A mento. Este compromisso condu- isso que a OMS desempenha um pa-
Joel Costa DISTRIBUIÇÃO
joel.costa@expansao.co.ao PROJECTO GRÁFICO Vaspe, SA
posição da França neste domínio é, ziu, em 8 de Abril, ao anúncio do pel central no contexto actual e
Martins Chambassuco Jorge Ribeiro
CONTACTOS
sem dúvida, uma das primeiras do desbloqueio de 15,6 mil milhões de cabe a todos os membros da comu-
martins.chambassuco@
expansao.co.ao
+244 937 581 904 mundo. Os nossos operadores pú- euros. Convém recordar, como já nidade internacional velar por que
PROPRIEDADE +244 921 303 903
Mirene da Cruz assinaturas@vaspe.co.ao blicos e privados no domínio da saú- foi dito, que consagramos meios todas as organizações internacio-
mirene.cruz@expansao.co.ao INVERSÃO, SA
Telma Van-Dúnem
de estão bem implantados e estabe- consideráveis ao financiamento nais, dais quais a OMS é um elemen-
telma.vandunem@ NOVA VAGA, SA lecem parcerias sólidas com os acto- das capacidades de acção europeias, to essencial, possam continuar a
expansao.co.ao
Nelson Rodrigues
MORADA res locais, a fim de prestar uma ajuda com 5,4 mil milhões de euros inves- sua missão longe de qualquer polé-
Rua Fernão de Sousa,
nelson.rodrigues@ condomínio Bengo, bloco B, preciosa aos peritos africanos. tidos entre 2014 e 2020 no Fundo mica ou de influência particular. Só
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Alice - Luanda
A nível multilateral, apelámos em Europeu de Desenvolvimento, em através de um esforço colectivo e
victor.panzo@expansao.co.ao
CONTACTOS
todas as organizações internacio- grande parte consagrados a África. solidário conseguiremos vencer
CONTACTO REDACÇÃO Telef.: (+244) 222 332 819 nais para que o conjunto dos meios Desde o início da crise, o Presi- esta pandemia e colocaremos a eco-
Telef.: (+244) 938 945 970
redaccao@expansao.co.ao
disponíveis fosse reorientado para a dente da República, Emmanuel nomia mundial ao serviço do pro-
resposta à Covid-19. Assim, a França Macron, empenhou-se pessoal- gresso da humanidade.

Crise sanitária e crise económica:
Somos Keynesianos ou Novos Clássicos?
Milton Friedman repudiava a ideia
de que a despesa pública fosse benéfi-
ca à economia, contrapondo que com
toda a probabilidade conduziria à in-
flação. Este mestre da economia mo-
netária e da Escola de Chicago, junta-
mente com o seu discípulo, Thomas
Sargeant, afirmaram que a inflação é
“em todo o lado e sempre um fenó-
meno monetário-orçamental” (para
estes mestres, o importante era con-
trolar a quantidade de moeda na eco-
nomia). Aquele postulado faz parte
dos manuais de política monetária e
cuja teoria subjacente foi aplicada
durante bastante tempo, no segui-
mento do esgotamento/limitação do
modelo keynesiano pós segunda
guerra mundial que originou um pe-
ríodo de prosperidade na Europa ja-
mais vivido na sua história e que foi
apelidado dos gloriosos 30.
Esqueceu-se Friedman e os seus
seguidores de procurarem saber se
nestas circunstâncias como é que as
economias estão a funcionar: abaixo
do pleno emprego ou na chamada li-
nha de fronteira de possibilidades
de produção? Neste caso, Friedman
e seus discípulos teriam razão: qual-
quer procura suplementar estimu-
lada pelo Estado teria como resulta-
do preços mais elevados.
Todavia, Keynes argumentava
que, normalmente, a economia fun-
ciona em níveis de subutilização da
sua capacidade produtiva, impli-
cando graus elevados de desperdí-
cio (dependentes do quantum do
hiato do produto). Também os no-
vos clássicos alinham com
Friedman, ao defenderem que a
despesa pública é inútil(1), tendo
como única consequência expulsar
o investimento privado (o conheci-
do fenómeno do “crownding out”,
que, por razões diversas, alteia as ta-
xas de juro). É um argumento sim-
pático e atraente, porque coloca, no
centro do sistema económico, a
economia privada, a única que faz o
crescimento, num contexto de im-
produtividade do Estado.
No entanto, não se devem perder
de vista duas matérias. Em primeiro
lugar, as taxas de juro não são um fe-
nómeno inteiramente de mercado,
possuindo uma componente admi-
nistrativa muito forte pela interven-
ção do banco central ao estabelecer
diversos limites, dentro da política
monetária que conduz e gerencia.
Assim, um incremento da despesa
pública financiada por défice orça-
mental não faz, necessariamente,
subir a taxa de juro. Em segundo lu-
gar, taxas de juro mais baixas não
conduzem inevitavelmente a mais
investimento, dependendo do nível
das expectativas dos empresários.
LABORATÓRIO ECONÓMICO
Nas presentes condições do País,
com duas crises em cima, a redução
das taxas de juro acaba por ser um
poderoso e provavelmente o único
estímulo ao investimento privado,
como compensação da forte redução
da procura agregada. Analisando-se
os níveis de confiança dos empresá-
rios publicados pelo INE e referen-
tes ao IV Trimestre de 2019, verifica-
-se que a desconfiança e a incerteza
são muitos elevadas, desde 2015, não
tendo as políticas económicas, pro-
dutivas e empresariais conseguindo
inverter estas tendências. Por isto,
também, a recessão continua.
Com a crise económica e a crise sa-
nitária (ambas associadas a medidas
insuficientes, mal calibradas e afasta-
das da realidade e sem ou muito pou-
co impacto sobre a procura agregada
da economia), o factor que agora pas-
sa a contar para o crescimento (perdi-
da, e por algum tempo – talvez 10 anos
– a alavanca das exportações petrolí-
feras) é o investimento privado e o in-
vestimento público. Não havendo in-
vestimento em inovação, tecnologia
e formação profissional (todos im-
portantes ainda que com relações di-
ferenciadas para o incremento da
produtividade), dificilmente se regis-
O Estado tem de
garantir um nível
aceitável de procura
agregada para
servir de atractivo
ao investimento
privado
Alves da Rocha
Economista
D.R.
tará aumento do PIB, a médio prazo.
E se o aperto da despesa pública se
prolongar por demasiado tempo, en-
tão a redução da procura se tornará
estrutural e sistémica, assim como o
investimento. Este é um ponto fun-
damental para o “novo-normal”(2)
pós-Covid-19. O Estado tem de ga-
rantir um nível aceitável de procura
agregada para servir de atractivo ao
investimento privado.
Como está a economia angolana:
em pleno emprego ou em subem-
prego? Com uma quantidade sufi-
ciente de moeda em circulação? A
liquidez das empresas é bastante
para cobrir necessidades de compra
de insumos e de pagamentos de sa-
lários? A primeira situação nunca
ocorreu, nem ocorrerá, porque é
uma figura teórica para simbolizar
que nas proximidades da curva de
fronteira de possibilidades de pro-
dução as despesas públicas devem
ter, principalmente, a função de au-
mentar o produto potencial da eco-
nomia (passagem a uma outra cur-
va) através da inovação, ciência, tec-
nologia e capital humano.
Então, a economia nacional e o
seu sistema de produção estão em
zona de desperdício de recursos,
sendo a taxa de desemprego (32%) o
indicador mais expressivo. Acresce
que quando 55% dos jovens não
conseguem encontrar emprego,
prosseguir com políticas que verda-
deiramente não afectam o nível ge-
ral de actividade, e, por arrastamen-
to, o emprego, significa que toda
uma geração pode estar condenada
a perder os seus direitos a um futuro
de progresso. Entre Keynes e os No-
vos Clássicos parece não haver dúvi-
das na escolha, mesmo afastando-se
raciocínios maniqueístas(3).
Questiona-se, muitas vezes,
quanto podem custar estas duas cri-
ses. Segundo estimativas das autori-
dades portuguesas, cada mês de
confinamento custa à economia
portuguesa 4,5% do seu PIB (em re-
dor de 8,7 mil milhões de euros). Se
aplicarmos, sem nenhum ajusta-
mento, este valor à economia ango-
lana, podemos estar a falar de perdas
em redor de 4,8 mil milhões de dóla-
res imputáveis apenas ao mês de
confinamento que levamos desde
que foi decretado o estado de emer-
gência (o secretário de Estado dos
Transportes declarou que a presen-
te crise económico-sanitária vai
provocar prejuízos neste sector de
mais de USD 1,3 mil milhões). Se adi-
cionarmos as perdas imputáveis à
recessão (com crescimentos acen-
tuados de desemprego – aproveito
para dizer que os dados oficiais de
criação de 800 mil postos de traba-
lho durante 2019 não podem ser
reais, porque a sê-lo, Angola conse-
guiu criar a ilusão de um novo para-
digma económico, a saber, com di-
minuição de produção e de valor
acrescentado consegue-se criar
uma enorme quantidade de empre-
gos, fantástico, levando a concluir
que não se precisa do crescimento
para encontrar emprego para as
pessoas), então os prejuízos são si-
gnificativos: no último trimestre de
2019 o INE apresentou uma reces-
são de 0,9% em variação homóloga,
o que pode ter significado uma per-
da de PIB de USD 952 milhões.
O desemprego, que significa per-
da de oportunidade de aumentar o
PIB, estimado em 32% segundo as
estatísticas do INE, equivale a um
desperdício de mais de USD 9,2 mil
milhões. Para concluir que todos os
programas de governação e de polí-
tica económica existentes (para
além do OGE) têm de ser revistos
em profundidade, porque desajus-
tados da realidade actual (estou
muito expectante quanto à revisão
do OGE2020, não tendo ficado
nada impressionado com os res-
pectivos pressupostos anunciados
(a recessão económica em 2020
pode chegar aos 6,8%), insistindo
quem comanda as nossas vidas que
o objectivo de saldo orçamental
nulo tem de ser alcançado este ano.
O pacote da África do Sul para
apoio à sua economia em recessão e
às despesas com a pandemia acaba
também por ser insuficiente (cerca
de 7,1% do seu PIB), mas para todos
os efeitos muito superior ao que foi
reservado pelos poderes oficiais para
Angola (aplicando a percentagem sul
africana estar-se-ia a falar de USD 7,4
mil milhões, que o Governo alega não
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 29
Podemos estar
a falar de perdas
de 4,8 mil milhões
USD imputáveis
apenas ao mês
de confinamento
ter(4). Como toda a gente sabe, estão
disponíveis pacotes de ajudas finan-
ceiras multilaterais, bilaterais e de
outras fontes que estão à disposição
de todos os países, em especial das
economias africanas mais afectadas
pela presente crise económica e pelo
seu agravamento futuro devido à
pandemia sanitária. Por isso, não são
aceitáveis respostas que o Governo
está a fazer o que pode. É altura de se
discutir com todas as instituições
que reservaram fundos para estes
propósitos, como o estão a fazer a
África do Sul, o Uganda, a Nigéria,
Moçambique, Ruanda, Quénia,
Egipto, a União Africana, etc., etc.
1 Estou a preparar um texto sobre a
Teoria da Improdutividade do Estado que
os neoclássicos e os novos clássicos
defendem, ao afirmarem que este agente
do circuito de económico não cria valor,
limitando-se a ser um intermediário entre
quem paga impostos (mero colector de
rendas fiscais) e a economia, não
acrescentando valor nenhum quando
fornece educação, saúde, inovação,
investigação&desenvolvimento e
infraestruturas e, consequentemente,
Estado improdutivo deve ser reduzido à
sua mínima expressão (defesa, justiça e
segurança pública). Tanto quanto ouvi na
apresentação dos pressupostos para a
revisão do OGE 2020, a insistência num
saldo orçamental nulo nas presentes
circunstância é perfilhar a Teoria
do Estado Improdutivo.
2 Expressão que aproveitei de
declarações de alguns economistas
portugueses.
3 O maniqueísmo é uma filosofia
sincrética e dualista que divide
o mundo entre Bom e Mau. Entre
Keynes e os Novos Clássicos podem
coexistir zonas de contacto
maximizadoras de efeitos finais.
4 Governar é encontrar soluções, tendo
sido para isso que assumiram as
respectivas pastas e se comprometeram no
juramento à Nação e perante o Presidente
da República: encontrar as soluções
para os problemas.
Alves da Rocha escreve quinzenalmente
30 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
OPINIÃO
A doença causada pelo novo coro-
navírus, além de ser um grande
problema de saúde pública, é uma
doença para a economia mundial,
que afecta as finanças dos países,
das grandes e pequenas empresas
e, consequentemente, das famí-
lias. Vários países, entre os quais
Angola, adoptaram medidas ex-
cepcionais devido à Covid-19, in-
cluindo o regime de quarentena e o
encerramento de fronteiras, o que
implicou a paralisação de grande
parte da actividade económica
com efeitos severos no rendimen-
to das famílias e das empresas.
Quanto mais pobre for o País, mais
tempo as famílias levarão para re-
cuperar deste embate, pois, à me-
dida que a doença progride, todos,
de alguma forma, irão sentir no seu
bolso o peso desta situação de
emergência e, para quem já vive
fragilizado, o impacto é imediato!
Por conta do distanciamento so-
cial, necessário para combater o
vírus, as empresas têm apresenta-
do uma quebra na sua produtivi-
dade, pois os seus funcionários
não podem deslocar-se às institui-
ções e cumprir com as suas fun-
ções. Em Angola, mesmo as em-
presas com condições criadas para
o teletrabalho têm o rendimento
das suas equipas afectado por con-
dições externas (falta de energia
eléctrica, baixa qualidade da inter-
net, espaço inadequado e outros).
As operações estão mais lentas e o
comportamento dos clientes está
voltado apenas para um consumo
de subsistência, sejam eles corpo-
rativos ou pessoas singulares. As
empresas têm estado a assumir os
custos das suas estruturas, sem ob-
ter rendimentos suficientes para
sustentá-las, o que não é viável no
médio-longo prazo. Para algumas,
nem a curto prazo, já que a conjun-
tura actual afecta, em primeiro lu-
gar, as pequenas empresas, que já
começaram a apresentar proble-
mas de liquidez, diminuindo a sua
capacidade de fazer face a despe-
sas imediatas. Não havendo capa-
cidade para gerar dinheiro com as
vendas e prestação de serviços,
existe menos dinheiro disponível
para o pagamento de custos asso-
ciados à operação, como salários,
empréstimos, impostos. Para as
empresas poderem sobreviver a
este temporal será necessário cor-
tar nas suas despesas.
MAS O QUE ISSO
PODE SIGNIFICAR PARA
AS FAMÍLIAS ANGOLANAS?
Aumento do desemprego: Que
pode ter como causas, em algu-
Herança da Covid 19
para as famílias angolanas!
mas empresas, a diminuição de
investimentos previstos para o
ano 2020, repassando-os para os
próximos anos, esperando que
haja um aumento no consumo.
Haverá redução de pessoal não
essencial, fruto da diminuição
da actividade das empresas, es-
pecialmente para trabalhadores
com contrato de trabalho com
tempo determinado e em situa-
ção de trabalho precário. As pes-
soas que trabalham por conta
própria e os profissionais libe-
rais também serão afectados,
pois terão menos clientes.
Quem mantiver o seu empre-
go, também enfrentará vários
desafios, como a diminuição das
poupanças face à necessidade de
acumular bens de primeira ne-
Neste momento,
vários empresários
estão a fazer contas,
sobre como pagar
os salários durante
o mês de Abril
CONVIDADA
Márcia Coelho
Educadora Financeira
Portal Kamba Rico
D.R.
cessidade, movidos pela sensa-
ção eminente de escassez ou
eventual subida generalizada de
preços. Também passará por
atrasos no recebimento do seu
salário, em casos que o emprega-
dor não tenha robustez financei-
ra ou esteja com problemas de li-
quidez. Neste momento, vários
empresários estão a fazer con-
tas, sobre como pagar os salários
durante o mês de Abril!
Diminuição do volume de
negócios: O aumento no de-
semprego irá afectar todos os
sectores da economia, como
uma bola de neve, a diminuição
de postos de trabalho, vai dimi-
nuir o consumo e vai afectar to-
dos os negócios na economia.
Esta realidade já é bem visível,
por exemplo, em serviços rela-
cionados com hotelaria e turis-
mo, como hotéis, restaurantes,
agências de viagens, serviços re-
lacionados com transporte de
passageiros e produção de even-
tos (devido às restrições para
aglomerados populacionais e
circulação). Muitas destas em-
presas correm o risco de não vol-
tarem a abrir as suas portas no fi-
nal da quarentena.
Diminuição do poder de com-
pra: As famílias estão mais pobres,
com o maior impacto a ser sentido
na franja urbana-rural dependen-
te de actividades informais e que
têm na sua actividade diária o seu
ganha pão. Se a zungueira não vai à
rua ou não tem clientes, não pode
voltar a comprar os produtos no
mercado e a apanhar o táxi. Como
resultado, ela não consegue ali-
mentar a sua família e é um efeito
cascata que vai afectar, além das fa-
mílias do taxista e da vendedora do
mercado, também o rapaz que tra-
balha a carregar as compras, o
camponês e até quem está em casa
sentado no sofá. Esta cadeia de
eventos empurra mais pessoas
para o limiar da extrema pobreza.
Será necessário tomar medidas
que evitem o empobrecimento da
população, mas estas exigem um
entendimento desta frágil e inter-
dependente teia da economia in-
formal angolana.
Existem, com certeza, outros im-
pactos na economia e o cenário não
é promissor. Muitos países estão a
preparar e a aprovar pacotes ex-
traordinários de apoio às famílias e
às empresas para os tempos que se
avizinham, algumas medidas com
impacto directo sobre as famílias e
outras a nível macroeconómico.
No Uganda, foi implementado
um programa de entrega de co-
mida de porta em porta com o
objectivo de atingir cerca de 1,5
milhões de pessoas. A iniciativa
foi interrompida porque não ha-
via dinheiro suficiente para aju-
dar a todos. No Brasil, uma das
medidas do governo para mini-
mizar os impactos da pandemia
é o auxílio emergencial de 600
reais durante 3 meses para so-
correr quem está desemprega-
do, trabalhadores informais ou
microempreendedores indivi-
duais. Em Portugal, as pessoas e
as empresas em dificuldades que
tenham a sua situação regulari-
zada perante o fisco e a Seguran-
ça Social e mesmo perante as
instituições bancárias poderão
obter uma moratória nos crédi-
tos bancários, por um período de
tempo determinado.
No caso do nosso País, podem
ser implementadas várias medi-
das cirúrgicas que podem ajudar
as famílias e as empresas mais
vulneráveis a respirarem melhor:
Moratória Fiscal: Uma me-
dida que tem sido implementa-
da em vários países, e que está a
ser implementada em Angola, é
o aumento do prazo para liqui-
dação de imposto industrial e di-
ferimento do pagamento da con-
Se a zungueira não
vai à rua ou não tem
clientes, não pode
comprar os produtos
no mercado
e apanhar o táxi
tribuição da Segurança Social
por parte do empregador.
Moratória para créditos
bancários: Medida já imple-
mentada pelo BNA que no seu
instrutivo 04/20 de 30 de Março,
informa que os clientes com cré-
ditos nos bancos comerciais
passam a beneficiar de uma mo-
ratória de 60 dias na amortiza-
ção dos créditos e dos respecti-
vos juros sem alterações das
prestações em curso e outras fa-
cilidades disponíveis mediante
um pedido expresso do cliente
junto da instituição bancária.
Distribuição alimentar nas
comunidades: Medida social
que poderá ser tomada a nível dos
municípios, identificando muni-
cípios carentes para distribuição
de refeições simples, como, por
exemplo, uma sopa e uma papa de
cereais por dia que é uma alimen-
tação barata e nutritiva. Esta me-
dida pode ser tomada com algum
fundo público, doação de empre-
sas e também em parceria com fa-
zendas e supermercados para
doação de quebras nos seus pro-
dutos alimentares.
Disponibilização de linhas
de crédito especiais: Medida
para apoio ao capital de giro das
empresas de segmentos mais
afectados pela pandemia, com
opção de financiamento da folha
de salário tendo como uma das
condições a não demissão de
funcionários. É muito impor-
tante incluir o microcrédito nes-
te pacote especial, pois irá aju-
dar os micro empreendedores e
as populações mais carentes a
reactivar os seus negócios infor-
mais. Muitas vezes, uma zun-
gueira apenas necessita de um
investimento de 2.000 kwanzas,
para voltar a colocar o seu negó-
cio sobre rodas.
O resto do ano 2020 vai ser de-
safiador para as famílias angola-
nas, medidas que ajudem Angola
a libertar-se da herança da Co-
vid-19 são muito bem-vindas,
devem ser bem planeadas e exe-
cutadas com rigor!

Evitar uma crise securitária da Covid-19 em África
Há quem tenha descrito a crise da
Covid-19 como um “grande equa-
lizador”. Afinal, invadiu as econo-
mias mais ricas do mundo, e o ví-
rus infectou algumas das suas fi-
guras mais proeminentes, desde
políticos como o primeiro-minis-
tro Boris Johnson até elementos
da realeza de Hollywood, como
Tom Hanks. Mas os países em
desenvolvimento, especialmente
os mais desfavorecidos nesses
países, permanecem muito mais
vulneráveis que os seus homólo-
gos dos países mais desenvolvi-
dos, não apenas às consequências
sanitárias da pandemia, mas tam-
bém à insegurança – e à instabili-
dade – decorrentes da resposta.
Até agora, as medidas mais efi-
cazes para limitar a propagação
da Covid-19 são as restrições a via-
gens, as regras do distanciamento
físico e a quarentena total, nos ca-
sos aplicáveis. Mas a sua imple-
mentação rápida é essencial.
Vimos isso nalguns países
africanos, como o Ruanda, onde
o governo suspendeu todos os
voos de passageiros durante 30
dias depois de confirmados ape-
nas 11 casos do vírus, e, seguida-
mente, colocou todo o país em
confinamento durante 28 dias.
O vizinho Uganda seguiu-o, jun-
tamente com a Nigéria, a África
do Sul e a Etiópia, entre outros.
Mas as respostas noutros paí-
ses foram fragmentadas e fracas.
Dada a escala da interdependên-
cia global, isto deveria preocu-
par todas as pessoas.
Os países desenvolvidos têm
sistemas de saúde mais robustos,
mas continuam a ser profunda-
mente vulneráveis: os Estados
Unidos registaram recentemente
mais de 1.800 óbitos relacionados
com a Covid-19 num único dia.
Imaginem-se os efeitos de um
surto semelhante em África. Exis-
tem menos de 500 ventiladores
na Nigéria, um país com 200 mi-
lhões de pessoas – perto de dois
terços da população dos Estados
Unidos, que tem 172.000 ventila-
dores. E desde que o vírus alastre
num país, todos os países arris-
cam novas vagas de infecções.
Mas o perigo prolonga-se para
além do próprio vírus. Em mui-
tos países desenvolvidos, a gran-
de maioria dos trabalhadores
depende de salários diários mo-
destos, e não pode trabalhar re-
motamente. Portanto, as medi-
das de distanciamento social
ameaçam a sua própria sobrevi-
vência. Só graças a uma lideran-
ça forte e à tomada de decisões
Decano fundador e vice-reitor de assuntos académicos
e de pesquisa da Universidade de Saúde Global*
fundamentadas poderão os go-
vernos africanos proteger estes
grupos vulneráveis.
Mais uma vez, alguns países
estão a dar um exemplo positivo.
O governo do Ruanda anunciou
planos para entregar alimentos
a mais de 20.000 famílias vulne-
ráveis na capital, Kigali, e para
prestar gratuitamente serviços
essenciais, como água e electri-
cidade. Mas, de modo geral, as
protecções sociais estão longe
de ser adequadas para proteger
os desfavorecidos de África du-
rante os confinamentos.
Para um continente cuja his-
tória recente incluiu muitos
conflitos violentos, esta é uma
receita para o desastre. A tensão
económica gera frustração, es-
pecialmente com as autorida-
des, aumentando os riscos de
instabilidade, de renovação das
guerras civis, e de golpes milita-
res. Como avisou John Nkenga-
song, o director dos Centros
para o Controlo e Prevenção de
Para um continente
cuja história recente
incluiu muitos
conflitos violentos,
esta é uma receita
para o desastre
Abebe Bekele
Doenças em África, a pandemia
poderá ser “em primeiro lugar
uma crise de segurança nacio-
nal, em segundo lugar uma crise
económica e em terceiro lugar
uma crise sanitária”.
A comunidade internacional
não está a fazer o suficiente para
ajudar os países africanos a miti-
garem a ameaça da Covid-19. Em
parte, isto é uma questão de insu-
ficiência de recursos: durante
uma pandemia, o financiamento
proveniente de instituições mul-
tilaterais, como o Fundo Mone-
tário Internacional, a Organiza-
ção Mundial da Saúde e o Banco
Mundial têm de ser partilhados
por muitos países, e os governos
concentram os seus recursos nas
necessidades nacionais.
Os recursos públicos são tão li-
mitados, que muitos países de-
pendem hoje de contribuições fi-
lantrópicas. Por exemplo, o bilio-
nário chinês Jack Ma doou a
África 1,1 milhões de kits para
testagem, seis milhões de másca-
ras cirúrgicas e 60.000 fatos pro-
tectores e viseiras de segurança
(também doou um milhão de vi-
seiras de segurança e 500.000
kits para testagem aos EUA –
algo que teria sido impensável há
poucos meses). As empresas e os
bilionários dos EUA também fi-
zeram avultadas doações.
Mas não podemos depender
da benevolência dos filantropos
e das empresas para vencer esta
batalha. Precisamos de uma res-
posta global unificada – nomea-
damente, de coordenação em
medidas como as restrições a
viagens e as regras para quaren-
tena – com uma liderança eficaz.
E precisamos que os governos
dos países ricos e as organiza-
ções multilaterais aumentem a
assistência aos países de baixos
rendimentos, sem que isso au-
mente a sua dívida externa.
Os recursos – dos equipamentos
de protecção individual aos kits
para testagem e ventiladores – de-
veriam ser distribuídos de acordo
com as necessidades. Numa altura
em que o director-geral da OMS,
Tedros Adhanom Ghebreyesus,
alerta para uma “alarmante acele-
ração” da transmissão do vírus em
África, as necessidades do conti-
nente estão claramente a crescer.
Mas a contenção da Covid-19
não é suficiente. Os países têm de
fortalecer urgentemente os seus
sistemas de saúde, para proteger-
-se contra surtos futuros. Isto exi-
ge investimentos não só em equi-
pamento e infra-estruturas, mas
também em recursos humanos,
com destaque para profissionais
clínicos que sejam treinados para
pensar de forma holística. Na
Universidade da Igualdade Sani-
tária Global do Ruanda, desde o
início que ensinamos os nossos
estudantes a olharem para além
da realidade clínica imediata e a
considerarem os factores rele-
vantes do ponto de vista social,
económico, histórico e político.
1 de Maio 2020 | EXPANSÃO 31
D.R.
A tensão económica
gera frustração,
especialmente
com as autoridades,
aumentando
os riscos
de instabilidade
A crise da Covid-19 demonstrou
a rapidez com que uma nova doen-
ça pode envolver o mundo, cau-
sando sofrimento e morte genera-
lizados. Em vez de esperarmos
pela explosão do próximo surto, e
de jogarmos à apanhada outra vez,
todos os países deveriam traba-
lhar no sentido de aplicar as lições
da presente pandemia para refor-
çarem a prontidão e a prevenção.
Embora a Covid-19 não afecte
todos da mesma maneira, con-
firma o axioma de que, no mun-
do interligado de hoje, os desa-
fios globais exigem soluções glo-
bais. A única maneira de cons-
truir um mundo pós-Covid-19
mais seguro é garantir que Áfri-
ca não é deixada para trás.
*Professor de cirurgia na Faculdade de
Medicina da Universidade de Addis Abeba
e membro do Colégio de Cirurgiões da
África Oriental, Central e Austral e do
Colégio Americano de Cirurgiões
32 EXPANSÃO | 1 de Maio 2020
01.05.20
Prémio
Maboque
de melhor
Órgão de
Comunicação
Social de
Angola 2013
VENDA DE DIVISAS À BANCA
BNA coloca 700 milhões USD
entre Maio e Junho
O Banco Nacional de Angola
(BNA) vai disponibilizar nos
meses de Maio e Junho o equiva-
lente a 700 milhões USD em
moeda estrangeira aos bancos
comerciais que, nos primeiros
quatro meses do ano, só adquiri-
ram 78% dos 1.910 milhões dis-
ponibilizados em leilões.
De acordo com o comunicado
do BNA, o valor anunciado para
os próximos dois meses poderá
sofrer ajustes em função das
contas externas.
Entre Janeiro a Abril, o banco
central colocou em leilões 1.910
milhões USD, mas apenas 1.482
milhões foram adquiridos pelos
bancos comerciais. A falta de li-
quidez dos bancos e a diminui-
ção da actividade económica
(em Março e Abril) devido à Co-
vid-19 diminuiu a necessidade
de divisas, admitem especialis-
tas consultados pelo Expansão.
Há que acrescentar que desde
Janeiro os bancos começaram
DÊ-NOS O Expansão quer saber notícias da(s) sua(s) empresas, do(s) seu(s) negócio(s),
NOTÍCIAS do(s) seu(s) trabalho(s) e do(s) seu(s) eventos.
Informe para redaccao@expansao.co.ao ou para (+244) 938 945 970
MERCADOS
Reabertura das
economias anima
crude | P. 21
também a negociar directamen-
te com as petrolíferas a compra
de moeda estrangeira.
Devido a esta relação directa
entre bancos e as empresas pe-
trolíferas a negociação para a
definição da taxa de referência
do mercado cambial passou a
ser feita na plataforma de ne-
gociação electrónica “FXGO”
da Bloomberg.
Valor poderá sofrer
ajustes em função
das contas externas
Analistas defendem que a me-
dida dá mais transparência à re-
lação de compra e venda de moe-
da estrangeira no sistema finan-
ceiro nacional. “É uma forma de
se acabar com relações privile-
giadas entre petrolíferas e ban-
cos, tornando as transacções
RENÉ TAVARES
“Somos todos
consumidores
de cultura” | P. 25
mais limpas”, disse ao Expansão
o consultor Miguel Arcanjo.
De acordo com o BNA, as so-
ciedades e as instituições fi-
nanceiras bancárias que pre-
tendam transaccionar moeda
estrangeira devem negociar as
operações através da platafor-
ma de negociação da Bloom-
berg. No entanto, as vendas in-
feriores a 500 mil USD, ou o
equivalente em outra moeda,
podem ser negociadas directa-
mente com uma ou várias ins-
tituições financeiras bancárias
nas quais a empresa petrolífe-
ra seja titular de uma conta de
depósito. Mas fica proibido o
fraccionamento das vendas de
moeda estrangeira para evitar
a negociação da operação atra-
vés da FXGO. Nas negociações,
os bancos devem indicar a moeda,
o valor e a data-valor para a opera-
ção, devendo divulgar esta infor-
mação na FXGO.
F.D.
ALVES DA ROCHA
A crise económica
e sanitária provocada
pela Covid-19 | P. 29
EDITORIAL
João Armando
Director
Gerar confiança
O País está a retomar a sua actividade económica, apesar de
inúmeras dúvidas que se levantam sobre a verdadeira situação
da pandemia da Covid-19 no País. Até ao momento, fizeram-se
cerca de 2.300 análises, sendo que não chega a 0,01% da popu-
lação, as principais cidades de província apesar de terem equi-
pamentos não têm capacidade de testagem, faltam reagentes e
técnicos, e se nos descansa o baixo número de infectados tam-
bém nos assalta a ideia que se não fizermos testes com um vo-
lume suficiente e nas províncias fronteiriças ou de maior risco,
estamos a enganarmo-nos e, mais cedo ou mais tarde, a “bo-
lha” rebenta. E se rebentar numa altura em que a população já
acredita que afinal o vírus não chegou ao nosso território, en-
tão as consequências podem ser desastrosas.
Esta história da testagem aos passageiros dos voos de Lisboa
dos dias 17, 18, 19 e 21, mais de 40 dias depois da chegada a terri-
tório nacional, causa preocupação. Afinal foi depois do caso
positivo anunciado no passado domingo e da infecção à sua fi-
lha que foi desencadeada esta acção, quando nos tinham ga-
rantido que estes passageiros tinham sido passados a “pente
fino” e que tinham sido cumpridos todos os procedimentos.
Pode não ter sido assim, mas a questão não foi bem explicada e
isso abala a confiança no discurso oficial. A confiança é o valor
mais importante que o Governo tem para levar os cidadãos a
A estratégia é pelo fomento.
Mas não há dúvidas, todos os agentes
perceberam. Podem não estar de
acordo, mas conhecem claramente as
regras do jogo e isso…gera confiança
cumprirem as regras que vai emanando e deve, por isso, fechar
todas as dúvidas que possam surgir na opinião pública.
Neste aspecto, a “nova” equipa económica tem feito um esfor-
ço para não deixar dúvidas. A crise é grande, mas não temos di-
nheiro. Não podemos isentar ou apoiar financeiramente de for-
ma directa, mas podemos criar umas moratórias e abrir umas li-
nhas de crédito, pressionar os bancos para aumentarem o nu-
mero de apoios. A estratégia é pelo fomento. Mas não há dúvidas,
todos os agentes perceberam. Podem não estar de acordo, mas
conhecem claramente as regras do jogo e isso… gera confiança.
O que me parece menos claro é o que vai fazer relativamente
ao emprego. O INSS não tem apoios directos ao desemprego,
em muitos sectores estão e vão acontecer suspensões de con-
trato de trabalho (de forma temporária ou definitiva), e o Go-
verno continua sem uma solução para esta realidade. Falta le-
gislação, faltam meios e corremos o risco, quando o estado de
emergência se levantar, de assistirmos a uma “onda” de despe-
dimentos que pode pôr em causa a estabilidade social. Dar
condições para as empresas manterem os empregos é apenas
uma face. A outra é ter uma solução para o cidadão que pode fi-
car sem trabalho. A informalidade é a primeira opção para
muitos, mas não é, seguramente, a melhor solução para o País.
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