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FICHA TÉCNICA

TÍTULO
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO DIA DO PROVEDOR DE JUSTIÇA

PROPRIEDADE DESIGN EDITORIAL


Provedoria de Justiça Lexdata - Sistemas e Edições Jurídicas,
Lda.

APROVAÇÃO
Conselho da Provedoria EXECUÇÃO GRÁFICA
presidido pelo Dr. Carlos Alberto Imprensa Nacional, E.P.
Ferreira Pinto - Provedor de Justiça

DEPÓSITO LEGAL

SUPERVISÃO 8888/2019
Drª Florbela Rocha Araújo
Provedora de Justiça-Adjunta

ISBN
978-989-8880-16-1
COORDENAÇÃO
Esmael Diogo da Silva
TIRAGEM
2000 exemplares
EDITORA
© Lexdata
- Sistemas e Edições Jurídicas, Lda.
1ª EDIÇÃO
Abril de 2019

© EDIÇÃO Lexdata - Sistemas e EdiçõesJurídicas, Lda.


Rua Assalto de Moncada, n.º 33, 1.º Andar Reservados todos os direitos.
Maianga - Luanda - ANGOLA Esta edição não pode ser reproduzida nem transmitida,
geral@lexdata.co.ao no todo ou em parte, sem prévia autorização do Autor.
PROVEDOR DE JUSTIÇA

A INSTITUCIONALIZAÇÃO
DO DIA DO PROVEDOR DE
JUSTIÇA

CICLO DE PALESTRAS REALIZADO NO DIA 19 DE ABRIL


DE 2018 ALUSIVO AO DIA DO PROVEDOR DE JUSTIÇA

LUANDA - 2018
ÍNDICE

PREÂMBULO ....................................................................................................................... 9
A HISTÓRIA PRECEDENTE DO OMBUDSMAN OU PROVEDOR DE
JUSTIÇA ......................................................................................................................... 11
Ombudsman ou Provedor de Justiça - Do Surgimento à
Expansão pelo Mundo ..................................................................................... 11
ASPECTOS HISTÓRICOS DO PROVEDOR DE JUSTIÇA EM
ANGOLA ..........................................................................................................................15
O Provedor de Justiça na República de Angola .............................. 17
As Principais Linhas de Força da Natureza e Actuação ou o
ADN do Provedor de Justiça ...................................................................... 19
LINHA DO TEMPO: Provedor de Justiça - 13 Anos ao Serviço
da Cidadania ............................................................................................................ 23
CICLO DE PALESTRAS ................................................................................................... 27
Discurso de Boas-Vindas proferido por Sua Excelência o
Provedor de Justiça, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto .............. 29
Discurso de Abertura proferido por Sua Excelência o
Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente
da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva
Cardoso, em representação do Presidente da República.... 35

5
PALESTRAS (Palestrantes e Moderadores)....................................................... 39
PAINEL 1
A Institucionalização do Provedor de Justiça no Ordenamen-
to Jurídico Angolano e a sua Importância - Palestra proferi-
da pelo Dr. Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da
República de Angola.......................................................................................... 41
PAINEL 2
Direitos Fundamentais na vertente dos Direitos, das Liberda-
des e das Garantias Fundamentais do Cidadão - Palestra
proferida pelo Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal
Constitucional Dr. Raul Vasquez Araújo .............................................. 55
Discurso de Encerramento proferido por Sua Excelência
Presidente da Assembleia Nacional, Dr. Fernando da
Piedade Dias dos Santos ............................................................................... 69
Comunicado Final ................................................................................................... 75
Anexos ............................................................................................................................. 81
Portal da Provedoria de Justiça
Endereço da Provedoria de Justiça
Edifício-Sede da Provedoria de Justiça
Revista da Provedoria de Justiça
Legislação Relevante
Lei n.º 4/06 de 28 de Abri
Lei n.º 5/06 de 28 de Abril
Despacho n.º 92/18 de 9 de Abril

ENTIDADES E FUNCIONÁRIOS
DA PROVEDORIA DE JUSTIÇA

Em primeiro plano:
1. Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos, Presidente da Assembleia Nacional
2. Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto, Provedor de Justiça
3. Dr. Adriano Mendes de Carvalho, Governador Provincial de Luanda
4. Dr. Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola
5. Dr.ª Antónia Florbela de Jesus Rocha Araújo, Provedora de Justiça-Adjunta
6. Dr. Raúl Vasquez Araújo, Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional
7. Dr.ª Margarida Gonçalves, Procuradora Geral-Adjunta da República
8. Dr.ª Josefa António dos Santos Weba, Veneranda Juíza Conselheira do Tribunal
Constitucional

7
PREÂMBULO

“As datas comemorativas revestem-se de importância por


representarem o esforço de se manter vivo na memória colectiva
algum acontecimento ou homenagem com certa relevância social.
Nesse contexto, considerando a relevância da entidade na defesa
dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão e que
a concretização da instituição Provedor de Justiça e a criação
da Instituição Provedoria de Justiça ocorreram pela eleição do
primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, aos 19 de
Abril de 2005 e pela aprovação das Leis n.os 4/06 e 5/06, ambas
de 28 de Abril, que aprovam, respectivamente, o Estatuto do
Provedor de Justiça e a Orgânica da Provedoria de Justiça, foi
instituída a Semana do Provedor de Justiça.
Na sequência de pronunciamento favorável do Conselho da
Provedoria, órgão de programação, de acompanhamento e de
controlo das actividades da Provedoria de Justiça, consagrado
no artigo 7.º da Lei n.º 5/06, de 28 de Abril (Lei Orgânica da
Provedoria de Justiça), presidido pelo Provedor de Justiça, foram
instituídos, através do Despacho n.º 92/18, de 09 de Abril, do
Provedor de Justiça, publicado no Diário da República I Série - n.º
45, o Dia do Provedor de Justiça, a ser comemorado a 19 de Abril
(data da eleição e da investidura do primeiro Provedor de Justiça
da República de Angola) e o Dia da Provedoria de Justiça, a ser
comemorado a 28 de Abril (data da entrada em vigor da Lei do
Estatuto do Provedor de Justiça e da Lei Orgânica da Provedoria

9
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

de Justiça), bem como a Semana do Provedor de Justiça, a ser


comemorada de 19 a 28 de Abril de cada ano.
Trata-se de uma oportunidade soberana para celebrar a institucio-
nalização da entidade Provedor de Justiça e para, uma vez mais,
efectuarmos as abordagens necessárias a fim de aprimorarmos
os mecanismos de defesa dos direitos, das liberdades e das
garantias do cidadão. Essa instituição só fará sentido se trabalhar
para garantir que o cidadão tenha um espaço onde, de modo
informal, possa apresentar as suas queixas e reclamações.
Este momento constitui, para cada um de nós, motivo de reflexão
à volta da missão, incluindo as dificuldades que enfrentamos no
quotidiano, por estarmos inseridos e a lidar com uma matéria
muito sensível, ou seja, a de defender os direitos, as liberdades
e as garantias dos cidadãos. Deste modo, o Provedor de Justiça
não pode deixar de atender os cidadãos e as pessoas colecti-
vas que se queixam contra os actos praticados por órgãos da
Administração Pública, central ou local, de institutos públicos,
de empresas públicas ou de capitais maioritariamente públicos,
concessionárias de serviços públicos ou de exploração de bens
de domínio público, sem prejuízo de visitar os estabelecimentos
prisionais e apreciar as condições humanas de internamento dos
reclusos e dos detidos.
Para o Provedor de Justiça, para os funcionários e agentes da
Provedoria de Justiça, “O cidadão é a nossa ocupação, o cidadão é
a nossa preocupação, mais direito mais cidadania, mais cidadania
mais direito”.

Excerto do discurso de Sua Excelência o Provedor de Justiça, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto,

proferido na sessão solene de abertura da Semana do Provedor de Justiça, a 19/04/2018

10
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

A HISTÓRIA PRECEDENTE DO
OMBUDSMAN OU PROVEDOR DE JUSTIÇA

Somos compelidos a fazer uma curta viagem ao passado anterior


ao emergir do Ombudsman, que, um pouco por todo o mundo, se
vai afirmando como um dos meios graciosos mais importantes
em termos de garantias, de protecção dos direitos e liberdades
dos cidadãos, e não só.
A figura do Ombudsman encontra antecedentes históricos:

▷▷ Na Idade Média, quando as tribos germânicas começaram


a indicar um grupo de pessoas, cuja função era a de reco-
lher multas das famílias de réus arrependidos e distribuir
o dinheiro obtido pelas famílias das respectivas vítimas;

▷▷ No Egipto antigo, em que os reis tinham nas suas cortes


altos funcionários que recebiam as queixas do povo;

▷▷ Na República de Roma, em que havia dois censores que


examinavam quer os actos administrativos quer as queixas
de alegada má administração;

▷▷ Na China, em que, durante a Dinastia Han, um alto funcio-


nário, denominado Control Yuan, exercia funções similares.

Ombudsman ou Provedor de Justiça


Do Surgimento à Expansão pelo Mundo
Foi na Suécia, em sede do consulado do Rei Carlos II, que
a figura do Ombudsman (sinónimo de Procurador, Prove-
dor, Mandatário, Representante, Delegado) assumiu
os contornos com que o reconhecemos actualmente.

11
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

O referido soberano tinha dificuldade de controlar o seu reino e


impor a sua autoridade. Sofrera, entretanto uma derrota militar
significativa, pelo que teve de se exilar na Turquia em 1709. Foi
ali que ele tomou conhecimento da existência de um Gabinete
de Justiça Suprema, encarregue de supervisionar e garantir que
a Lei Islâmica (Charia) fosse respeitada e seguida por todos os
funcionários públicos turcos. Estava, naquele gabinete, o elemento
inspirador para que o Parlamento sueco concedesse assento
constitucional, em 06 de Junho de 1809, à figura do Ombudsman.
Rapidamente a iniciativa dos suecos foi tomada em toda a
Península Escandinava e daí se repercutiu pela Europa adentro.
A partir dos anos 90, os países da Europa de Leste, da América,
da Ásia e de África começaram a institucionalizar o Ombud-
sman - para os anglófonos, o Provedor de Justiça - para os
lusófonos, em geral, o Ouvidor Público - para os brasileiros,
Defensor del Pueblo - para os hispânicos, Difensore Civico
- para os italianos, Médiateur de la Republique - para os fran-
cófonos, Public Protector - para os sul-africanos e namibianos.
Tanto assim que, nos dias de hoje, se defende que não há Estado,
que se quer de Direito e Democrático, que desconheça nas
suas leis supremas (constituições) a consagração dessa figura,
fiscalizadora da actividade, activa ou passiva, dos órgãos, serviços
e agentes da Administração Pública e outros entes públicos
objectos da sua actuação.
Ilustrando melhor o processo de expansão da figura do Ombud-
sman, a partir do seu berço, Suécia, temos, desde logo, os
restantes países escandinavos: Finlândia 1919, Noruega 1952
e Dinamarca 1953.

12
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Além dos países escandinavos, temos:

▷▷ Europa Ocidental e Central: Reino Unido 1967, França


1973, Áustria 1977, Irlanda 1980, Países Baixos/Holanda 1981
Hungria 1990, República Checa 1999 e Luxemburgo 2003.

▷▷ Europa do Sul ou Mediterrânica: Chipre e Eslovénia 1991,


Malta 1995 e Grécia 1997.

▷▷ Europa de Leste: Polónia 1987, Estónia e Lituânia 1992,


Letónia 1996 e Eslováquia 2001.

▷▷ América Latina: Argentina 1993, Bolívia 1994, Colômbia


1991, Equador 1996, Panamá 1997, Paraguai 1992, Perú
1993, Venezuela 1999 (nestes países com a designação
de Defensor del Pueblo), Guatemala (Procurador de los
Derechos Humanos) 1985, El Salvador 1991 e Nicarágua
1995 (Procurador para la Defensa de los Derechos Humanos),
Costa Rica (Defensor de los Habitantes) 1992, Honduras
(Comissionado Nacional de los Derechos Humanos) 1992,
México (Comission Nacional de los Derechos Humanos)
1992, Porto Rico (Procurador del Ciudadano) 1977.

▷▷ América do Norte: Canadá 1967

▷▷ África: Nova Zelândia 1962, Tanzânia 1966, o 1.º de África1


(Permanent Comission of Enquiry) e Guiana 1966 e Maurícias
1968.

1 Actualmente, mais da metade dos países africanos já institucionalizaram a figura do


Ombudsman ou Provedor de Justiça. A Associação Africana de Ombudsman e Media-
dores (AOMA) regista 40 membros inscritos: Angola, África do Sul, Benin, Botswana,
Burkina Fasso, Burundi, Cabo Verde, Congo Brazaville, Costa do Marfim, Djibuti, Etiópia,
Gabão, Gâmbia, Ghana, Guiné Conacri, Kénia, Lesoto, Líbia, Madagáscar, Malawi, Mali,
Mauritânia, Maurícia, Moçambique, Namibia, Níger, Nigéria, República Centro-Africana,
Ruanda, Senegal, Seychelles, Serra Leoa, Sudão, Tchede, Togo, Tunísia, Uganda, Zâmbia
e Zimbabwé. (disponível em: http://aoma.ukzn.ac.za/about-us/Members.aspx)

13
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

ASPECTOS HISTÓRICOS
DO PROVEDOR DE JUSTIÇA EM ANGOLA

Enquadramento prévio

O Provedor de Justiça é um órgão que visa auxiliar os poderes


públicos instituídos na execução das incumbências legalmente
impostas e daquelas decorrentes da quotidianidade social.
Trata-se de uma instituição com dignidade constitucional,
enquadrada entre as instituições essenciais à justiça e definida
como “entidade pública independente que tem por objecto a defesa
dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando,
através de meios informais, a justiça e a legalidade da actividade
da Administração Pública”2.

Questão de fundo

À partida, importa situar as duas perspectivas a atender na análise


do papel do Provedor de Justiça:
1. A perspectiva constitucional do artigo 192.º da Constituição
da República de Angola, enquanto “Instituição Essencial à
Justiça”;
2. A perspectiva de garantia do n.º 5 do artigo 192.º da Cons-
tituição da República de Angola.
Com essas premissas, podemos frisar que o Provedor de
Justiça efectiva a defesa dos cidadãos através dos órgãos
da Administração Pública com recurso às próprias estruturas
administrativas existentes, bem como através do controlo do
mérito e da legalidade a elas inerentes.

2 Constituição da República de Angola, n.º 1 do artigo 192.º

15
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Sabemos que as garantias se desdobram, segundo o critério do


órgão que o efectiva, em garantias políticas ou constitucionais,
garantias graciosas ou administrativas e garantias contenciosas
ou constitucionais. Sendo certo que as que merecem realce aqui
são as garantias graciosas ou administrativas, podendo estas
ser agrupadas em garantias petitórias, garantias impugnatórias
e queixas ao Provedor de Justiça.
As Garantias Petitórias traduzem-se num pedido dirigido à
Administração Pública, normalmente antes da verificação do
acto lesivo. Desmultiplicam-se no seguinte:
• O Direito de petição - faculdade de solicitar aos órgãos da
Administração Pública as providências que se consideram
necessárias;
• O Direito de representação - faculdade de alertar um órgão
da administração responsável por determinada decisão
administrativa para as possíveis consequências desta;
• O Direito de denúncia - faculdade de chamar à atenção
de um órgão da Administração Pública para o facto que
esta tenha a obrigação de averiguar, quando haja denún-
cia de comportamento de um agente ou funcionário da
Administração Pública, para que proceda ao apuramento
da responsabilidade;
• O Direito de queixa - faculdade que o particular tem de
desencadear iniciativa procedimental visando a obtenção
de uma sanção para um concreto órgão ou agente da
Administração Pública, por ter adoptado algum compor-
tamento impróprio;
• O Direito de oposição administrativa - faculdade de contestar
decisões que um órgão da Administração Pública projecta

16
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

quer seja por sua iniciativa, quer seja dando satisfação a


pedidos que lhe tenham sido dirigidos por particulares.
As garantias impugnatórias representam uma reacção ou um
ataque ao acto lesivo efectivado pela Administração Pública.
Daí, constar no seu seio o seguinte:
1. A reclamação – consiste no pedido de reapreciação do acto
administrativo dirigido ao seu autor. A reclamação pode ter
como base a ilegalidade e o mérito do comportamento
administrativo;
2. O recurso hierárquico – consiste no pedido de reapreciação
do acto administrativo dirigido ao imediato superior hierár-
quico do autor do acto (próprio) ou dirigido a um órgão da
mesma pessoa colectiva, que exerce poder de supervisão/
superintendência sobre o autor do acto;
3. O recurso tutelar – o pedido de reapreciação é dirigido a
um órgão de pessoa colectiva diferente e que exerce poder
de tutela sobre a pessoa colectiva de emanação do acto.
É, pois, no quadro das garantias graciosas ou administrativas,
ao lado das garantias petitórias e as impugnatórias, que encon-
tramos a queixa ao Provedor de Justiça, em que o Provedor de
Justiça (Ombudsman) mais não é do que uma instituição pública
independente e imparcial, que, sendo instituída, via de regra,
pelo Parlamento, funciona como mecanismo de controlo da
Administração Pública, de forma a velar pela legalidade e justiça
dos comportamentos activos e passivos dos entes administrativos.

O Provedor de Justiça na República de Angola


Falando de nós, situar que a eleição do primeiro Provedor de Justiça
da República de Angola, o Dr. Paulo Tjipilica, se deu a 19 de Abril
de 2005 e o empossamento a 09 de Junho 2005, para um mandato
de 4 anos, que foi renovado por igual período em Junho de 2009,

17
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

vindo a imprimir dimensão material a uma injunção constitucional.


Visto que a figura do Provedor de Justiça beneficiou, entre nós,
de dimensão formal, por força da Lei Constitucional de 1992,
basta revisitarmos os artigos 142.º, 143.º e 144.º, sendo certo que
os referidos dispositivos foram retomados, in melius, no artigo
192.º, pela Constituição de 2010.
Note-se que, antes da consumação existencial do Provedor de
Justiça entre nós, em 2005, havia uma disposição formal transitória
constante no artigo 9.º da lei preambular da Lei Constitucional da
República de Angola de 1992, Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro,
nos seguintes termos “Enquanto não for designado o Provedor de
Justiça, as funções que lhe são cometidas pela Lei Constitucional,
serão exercidas pelo Procurador Geral da República”.
Em termos de legislação específica, presentemente existe a Lei
n.º 4/06, de 28 de Abril (Do Estatuto do Provedor de Justiça), e a
Lei n.º 5/06, de 28 de Abril (Orgânica da Provedoria de Justiça),
leis que, por sinal, estão em processo de revisão pela Assem-
bleia Nacional com vista à adequação constitucional e a outras
reformas pontuais.
E a actividade laboral do Provedor de Justiça viu-se reforçada
com a eleição, a 13 de Dezembro de 2006, e tomada de posse,
a 17 de Fevereiro de 2007, de um Provedor de Justiça-Adjunto,
no caso a Drª Maria da Conceição de Almeida Sango, reeleita
em Dezembro de 2010. Presentemente, terminados os mandatos
dos anteriores titulares, a Provedoria de Justiça está sob nova
liderança:
▷▷ Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto e Dra. Florbela Rocha
Araújo foram eleitos, respectivamente, Provedor de Justiça
e Provedora de Justiça-Adjunta, respectivamente, a 18 de
Dezembro de 2017 e tendo tomado posse a 19 de Janeiro
de 2018.

18
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Vai daí que, em acção concertada das duas entidades, foi e vai
sendo tratado e encaminhado um número cada vez maior de
queixas, cujos resultados podem ser consultados no edifício sito
à Cidade Alta, na Rua 17 de Setembro e Pinheiro Furtado, que
alberga a Provedoria de Justiça.

As principais Linhas de Força da Natureza e


Actuação ou o ADN do Provedor de Justiça
As principais linhas de força da natureza e actuação do Provedor
de Justiça reconduzem-se, no essencial, ao ADN do Ombudsman,
tal como os suecos burilaram, pelo que, citamos:
• Natureza e Finalidade
O Provedor de Justiça é uma instituição pública independente,
que tem por objectivo a defesa dos direitos, liberdades e garantias
dos cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça
e a legalidade. Trata-se de uma figura jurídica com assento
constitucional.
• Livre Acesso
Decorrente de duas notas, a da informalidade, por dispensar
os formalismos apertados próprios do acesso às instituições
públicas e a da gratuitidade, já que é totalmente desonerado o
recurso ao Provedor de Justiça.
• Âmbito Orgânico da sua Actuação
O Provedor de Justiça actua nos órgãos da administração pública,
central e local, dos institutos públicos, empresas públicas ou de
capitais maioritariamente públicos, concessionárias de serviço
público ou de exploração de bens de domínio público.

19
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

• O que Desencadeia a sua Actividade?


O Provedor de Justiça exerce as suas funções por meio de queixas,
apresentadas pelos particulares, individual ou colectivamente,
por acções ou omissões dos órgãos e agentes da Administra-
ção Pública, não dependendo tais queixas de qualquer prazo.
Excepcionalmente, o Provedor de Justiça pode intervir, de modo
próprio, nos casos de flagrante violação dos direitos, liberdades
e garantias fundamentais dos cidadãos.
• Formas de Actuação
Compete ao Provedor de Justiça emitir recomendações (suges-
tões, pareceres, solicitações de esclarecimentos ou expedientes
quejandos) aos órgãos ou serviços que estejam no âmbito da
sua actividade.
• Modo de Designação e Duração de Mandato
O Provedor de Justiça é designado pela Assembleia Nacional
por maioria absoluta dos Deputados em efectividade de funções
e toma posse perante o Presidente da Assembleia Nacional. É
eleito para um mandato de cinco (5) anos, reelegível, apenas
uma vez, por igual período;
• Órgão de Emanação Parlamentar
É uma característica comum dos Ombudsman, que lhe confere
legitimidade popular derivada por serem eleitos pelos eleitos
do povo. Constituem excepção os países francófonos em que
os Médiateurs de la République são nomeados pelos Chefes de
Estado, havendo também o caso muito particular da Namíbia,
em que o Public Protector (Dr. John Walters) é vitalício.
• Causas de Cessação de Funções
Antes do termo do seu mandato, as funções de Provedor de
Justiça só podem cessar: por morte ou incapacidade física ou
psíquica permanente; por perda dos requisitos de elegibilidade;

20
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

por renúncia; por incompatibilidade superveniente; por motivo de


condenação judicial por crime doloso punível com pena de prisão
maior superior a dois anos; e por acções ou omissões praticadas
com negligência grave no cumprimento das suas funções.
• Seu Carácter Independente e Inamovível
O Provedor de Justiça é independente e inamovível, não podendo
as suas funções cessar antes do termo do mandato para que foi
eleito, salvo nos casos previstos no n.º 1 do artigo 7.º da Lei do
Estatuto do Provedor de Justiça3.
• Recondução do seu Estatuto ao de Ministro
O Provedor de Justiça goza do estatuto, direitos, remunerações
e regalias idênticas às concedidas aos Ministros, de acordo com
o artigo 11.º da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça.
• Atribuições e Competências
Dentre outros aspectos, incumbe ao Provedor de Justiça:
emitir recomendações aos órgãos visados; emitir relatórios da
sua actividade à Assembleia Nacional; disseminar e intervir na
defesa dos direitos e liberdades fundamentais; visitar e apreciar
as condições humanas de internamento dos reclusos; exigir a
necessária colaboração dos órgãos e serviços competentes; e
acompanhar o cumprimento das recomendações emitidas.
• Limitação na sua Intervenção
O Provedor de Justiça não tem competência para anular, revogar
ou modificar os actos dos poderes públicos e a sua intervenção
não suspende os prazos dos recursos, quer hierárquico, quer
contencioso. Por outro lado, o Provedor de Justiça tem a sua
avaliação e actuação limitada à utilização de meios graciosos.

3 Vide Anexos (Legislação Relevante).

21
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

• Ausência de Poder Decisório


É dos traços identitários do Ombudsman que mais indagações
suscitam, levando mesmo a pensar-se na diminuição de peso
específico da instituição. Na verdade, julgamos ser bastante o facto
de o Provedor de Justiça possuir a “magistratura da persuasão”
e o “magistério da influência”, que, muitas vezes, se manifesta
na emissão de pareceres, recomendações e sugestões dirigidos
aos Entes Públicos Administrativos, bem como se manifesta nos
relatórios que elabora, cujos destinatários são o Presidente da
Assembleia Nacional e demais órgãos de soberania.

Por Frederico Batalha

22
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

LINHA DO TEMPO
PROVEDOR DE JUSTIÇA

13 anos ao Serviço da Cidadania


1975
11 de Novembro
Proclamação da Independência de Angola

1992
Advento do Provedor de Justiça no ordenamento jurídico
angolano, através do artigo 142.º da Lei Constitucional.
Foi determinado que o Procurador-Geral da República
passa a exercer as funções do Provedor de Justiça, em
obediência ao disposto no artigo 9.º da Lei n.º 23/92, de
16 de Setembro: “Enquanto não for designado o Provedor
de Justiça as funções gerais que lhe são cometidas pela
Lei Constitucional serão exercidas pelo Procurador Geral
da República”.

2005
19 de Abril
Deputados à Assembleia Nacional elegem o Dr. Paulo
Tjipilica como o primeiro Provedor de Justiça da República
de Angola.
9 de Junho
O Dr. Paulo Tjipilica toma posse, em sessão plenária da
Assembleia Nacional, presidida por Sua Excelência Dr.
Roberto António Victor Francisco de Almeida.

23
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

2006
28 de Abril
São publicados os diplomas que regem o Provedor de
Justiça e a orgânica da Provedoria de Justiça.
Assim, entram em vigor a Lei n.º 4/06 (Lei do Estatuto
do Provedor de Justiça) e a Lei n.º 5/06 (Lei Orgânica da
Provedoria de Justiça).
13 de Dezembro
A Assembleia Nacional elege a Drª Maria da Conceição
de Almeida Sango para exercer o cargo de Provedora de
Justiça-Adjunta.

2007
17 de Janeiro
Sua Excelência o Presidente da Assembleia Nacional, Dr.
Roberto António Victor Francisco de Almeida, confere
posse à Provedora de Justiça-Adjunta, eleita no plenário
da Assembleia Nacional

2010
5 de Fevereiro
Promulgação e Publicação da Constituição da República
de Angola.
14 de Abril
Angola é eleita, por unanimidade, Presidente da AOMA -
Associação dos Ombudsman, Mediadores e Provedores
de Justiça Africanos.

2012
28 de Agosto
Inauguração do Edifício-Sede da Provedoria de Justiça
na Cidade Alta.

24
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

2017
18 de Dezembro
O Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto e a Dr.ª Antónia Florbela
de Jesus Rocha Araújo são eleitos, pela Assembleia Nacio-
nal, respectivamente, Provedor de Justiça e Provedora de
Justiça-Adjunta

2018
19 de Janeiro
O Provedor de Justiça e a Provedora de Justiça-Adjunta
tomam posse perante o Presidente da Assembleia Nacional,
Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos.
22 de Janeiro
Passagem de pastas, apresentação do Provedor de Justiça
e da Provedora de Justiça-Adjunta aos funcionários e
agentes da Provedoria de Justiça e início de funções.
9 de Abril
Instituído o Dia do Provedor de Justiça (19 de Abril), o Dia da
Provedoria de Justiça (28 de Abril) e a Semana do Provedor
de Justiça (de 19 a 28 de Abril), através do Despacho n.º
92/18, de 09 de Abril, do Provedor de Justiça, publicado
na Iª Série do Diário da República n.º 45.

25
CICLO DE PALESTRAS

TEMA CENTRAL

“O CIDADÃO, A NOSSA OCUPAÇÃO


O CIDADÃO, A NOSSA PREOCUPAÇÃO
MAIS DIREITO, MAIS CIDADANIA
MAIS CIDADANIA, MAIS DIREITO”

CONSTITUIÇÃO DA MESA DO PRESIDIUM DA SESSÃO SOLENE


DE ABERTURA DO CICLO DE PALESTRAS

Da esquerda para a direita:


Dr.ª Antónia Florbela de Jesus Rocha Araújo, Provedora de Justiça-Adjunta
Dr. Manuel Miguel da Costa Aragão, Juiz Conselheiro Presidente do Tribunal Constitucional
Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil
do Presidente da República (em Representação do Presidente da República)
Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto, Provedor de Justiça
Dr. Adriano Mendes de Carvalho, Governador Provincial de Luanda
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

DISCURSO DE BOAS-VINDAS
PROFERIDO POR SUA EXCELÊNCIA
O PROVEDOR DE JUSTIÇA,
DR. CARLOS ALBERTO FERREIRA PINTO

Excelências,
Ilustres Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Quero, em primeiro lugar, reiterar, a todos os presentes, os cum-
primentos de boas-vindas à Provedoria de Justiça da República
de Angola e reiterar, também, os melhores agradecimentos por
terem aceite o convite para connosco partilharem os vossos
conhecimentos e ensinamento, em torno dos direitos dos cida-
dãos e da cidadania.
O Provedor de Justiça na República de Angola comemora hoje,
19 de Abril de 2018, mais um ano de existência, ou seja, decorrem
treze anos desde a sua institucionalização, ao serviço do cidadão
angolano e em nome da justiça e da legalidade administrativas.
Quis o destino que fizessem, hoje, exactos noventa dias desde
que tomámos posse para exercer a nobre missão de prover a
defesa dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão.
Isto ocorre na mesma data em que, há treze anos, os Deputados
à Assembleia Nacional marcavam a história do País com a eleição
do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola.
Trata-se de uma feliz convergência de factos que justificam a
nossa reunião nesse auditório, com o propósito de comemorar a
Semana do Provedor de Justiça e proceder a abordagens sobre
o mandato e a função do Provedor de Justiça.

29
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

As datas comemorativas revestem-se de certa e determinada


importância por representarem o esforço de se manter vivo, na
memória colectiva, algum acontecimento ou homenagem com
certa relevância social.
Nesse contexto, considerando a relevância da entidade na defesa
dos direitos, das liberdades e das garantias do cidadão e que
a concretização da instituição Provedor de Justiça e a criação
da Provedoria de Justiça ocorreram pela eleição do primeiro
Provedor de Justiça da República de Angola, aos 19 de Abril
de 2005, e pela aprovação, aos 28 de Abril de 2006, da Lei n.º
4/06 (Lei do Estatuto do Provedor de Justiça) e da Lei n.º 5/06
(Lei Orgânica da Provedoria de Justiça), foi instituida a Semana
do Provedor de Justiça.
Recordando, a figura do Provedor de Justiça, em Angola, foi
constitucionalmente consagrada através da Lei n.º 23/92, de
16 de Setembro (Lei de Revisão Constitucional), no seu artigo
142.º, nos termos do qual “O Provedor de Justiça (era) um órgão
público independente que (tinha) por objecto a defesa dos direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos, assegurando, através de
meios informais, a justiça e a legalidade da Administração Pública”
e determinando, antes, no seu artigo 9º, que: “enquanto não for
designado o Provedor de Justiça, as funções que lhe são acometidas
pela Lei Constitucional serão exercidas pelo Procurador-Geral da
República”.
Só a 19 de Abril de 2005 vinha a ser eleito o Provedor de Justiça
da República de Angola e investido no cargo o Dr. Paulo Tjipilica.
A 13 de Dezembro de 2006 foi eleita a primeira Provedora de
Justiça-Adjunta, a Dra. Maria da Conceição de Ameida Sango,
tendo tomado posse a 17 de Fevereiro de 2007.
Tendo ambos terminado os respectivos mandatos muito recen-
temente e estando presentes nesta singela cerimónia, não posso

30
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

deixar de estender aqui, agora e sempre, em meu nome, em nome


da Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, Drª. Antónia Florbela
de Jesus Rocha Araújo e de todos os agentes e funcionários
da Provedoria de Justiça, os nossos mais profundos e sinceros
agradecimentos, para quem peço uma salva de palmas.
Execelência Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente
da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso,
em representação de Sua Excelência o Presidente da República,
Excelências,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Na sequência de pronunciamento favorável do Conselho da
Provedoria, órgão de programação, de acompanhamento e de
controlo das actividades da Provedoria de Justiça, consagrado
no artigo 7.º da Lei n.º 5/06, de 28 de Abril (Lei Orgânica da Pro-
vedoria de Justiça), foram instituídos, pelo Despacho n.º 92/18,
de 09 de Abril, (do Provedor de Justiça), publicado no Diário da
República I Série - n.º 45, o Dia do Provedor de Justiça, a ser
comemorado a 19 de Abril (data da eleição e da investidura do
primeiro Provedor de Justiça da República de Angola) e o Dia
da Provedoria de Justiça, a ser comemorado a 28 de Abril (data
da entrada em vigor da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça e
da Lei Orgânica da Provedoria de Justiça), bem como a Semana
do Provedor de Justiça, a ser comemorada de 19 a 28 de Abril
de cada ano.
Trata-se de uma oportunidade soberana para celebrar a insti-
tucionalização da entidade Provedor de Justiça e para, uma vez
mais, efectuarmos as abordagens necessárias para aprimorar-
mos os mecanismos de defesa dos direitos, das liberdades e
das garantias dos cidadãos. Essa instituição só fará sentido se
trabalhar para garantir que o cidadão tenha um espaço onde, de
modo informal, possa apresentar as suas queixas e reclamações.

31
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Este dia constitui, para cada um de nós, motivo de reflexão à


volta da missão, incluindo as dificuldades que enfrentamos no
quotidiano, por estarmos inseridos e a lidar com uma matéria
muito sensível, ou seja, a de defender os direitos, as liberdades
e as garantias dos cidadãos. Por isso, o Provedor de Justiça não
pode deixar de atender os cidadãos e as pessoas colectivas
que se queixam contra os actos praticados por órgãos da
Administração Pública, central e local, de institutos públicos,
empresas públicas ou de capitais maioritariamente públicos,
concessionárias de serviços públicos ou de exploração de bens
de domínio público, sem prejuízo de visitar os estabelecimentos
prisionais e apreciar as condições humanas de internamento dos
reclusos e dos detidos.
A instituição do Ombudsman versus Provedor, na concepção
clássica da denominação, significa prover algo, no caso a defesa
dos direitos, das liberdades e das garantias dos cidadãos, pre-
venindo e reparando as injustiças dos órgãos da Administração
Pública contra os cidadãos.
Em Angola, a institucionalização desta entidade pública e inde-
pendente foi criada para receber as queixas dos cidadãos, as
quais são tratadas através de meios informais, assegurando a
justiça e a legalidade da Administração Pública. O Provedor de
Justiça defende os cidadãos das injustiças e dos abusos dos
órgãos e agentes da Administração Pública.
É neste capítulo das recomendações que aproveito a oportunidade
para, ao abrigo da lei, e em homenagem à dignidade do cidadão,
apelar, no âmbito do dever de cooperação, a todas entidades
visadas ou que venham a ser visadas, que devem prestar todos
os esclarecimentos e informações que lhes sejam solicitadas
pelo Provedor de Justiça.

32
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Apesar de o dever de cooperação emanar da lei, temos cons-


tatado constrangimentos vários no cumprimento desse dever,
por parte de entidades visadas, mormente no que diz respeito à
resposta às solicitações de esclarecimentos. Esse comportamento
compromete uma melhor prestação ao cidadão, pelo que apelo,
uma vez mais, à cooperação de todos.
O Provedor de Justiça e a Provedora de Justiça-Adjunta realizam
sessões de esclarecimentos, a fim de conferir uma maior divul-
gação da instituição Provedor de Justiça, recebem as queixas
e as reclamações dos cidadãos, por meios diversos, incluindo
audiências.
Contudo, o Provedor de Justiça não decide; apenas recomenda.
As recomendações do Provedor de Justiça são dirigidas ao órgão
competente para corrigir o acto ou a situação irregular.
As actividades do Provedor de Justiça, mormente as visitas às
províncias, aos estabelecimentos prisionais, a formação de qua-
dros, a instalação dos serviços locais, para além das já referidas
e das missões de cooperação no plano internacional, ficaram
bastante limitadas e prejudicadas, devido à limitação orçamental
decorrente da conjuntura que o País vive.
Para atender à missão, mesmo com essas dificuldades, foi
aprovado o Plano Estratégico de Accção Institucional 2018-2022
e o Plano de Comunicação, Promoção e Expansão da Instituição
Provedor de Justiça, como instrumentos determinantes para o
reforço da relação de proximidade com o cidadão, relação que
se encontra inscrita na matriz da entidade, contribuindo, deste
modo, para a afirmação de uma verdadeira cultura de cidadania
e de respeito pelos direitos humanos.
De entre os desafios imediatos, inscreve-se a revisão da Lei n.º
4/06 (Lei do Estatuto do Provedor de Justiça) e da Lei n.º 5/06
(Lei Orgânica da Provedoria de Justiça), ambas de 28 de Abril,

33
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

com vista a conformá-las à Constituição da Repúbica de Angola,


criando, no presente, enormes constrangimentos ao pleno
funcionamento da instituição, pela falta de pessoal técnico que
responda e corresponda ao volume de queixas e reclamações.
Vivemos, actualmente, a terceira fase da história do Provedor
de Justiça em Angola, considerando que, nos termos da Lei
de Revisão Constitucional de 1992, as funções do Provedor de
Justiça eram exercidas pelo Procurador-Geral da República,
considerando que a segunda fase foi marcada pela institucio-
nalização da entidade Provedor de Justiça - e da estrutura de
apoio denominada Provedoria de Justiça - e de arranque da sua
actividade, e considerando que a terceira fase deve ser marcada
pela consolidação da instituição na defesa dos direitos, das liber-
dades e das garantias dos cidadãos, baseada na experiência da
fase de institucionalização e de arranque da actividade naquelas
condições difíceis.
Execelência Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente
da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso,
em representação de Sua Excelência o Presidente da República;
Excelências;
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Entendo que os temas escolhidos para abordarmos neste ciclo
de palestras contribuirão para melhor atender o cidadão, salva-
guardando os seus direitos, porque para o Provedor de Justiça
em Angola e para os funcionários e agentes da Provedoria de
Justiça “o cidadão é a nossa ocupação, o cidadão é a nossa
preocupação; mais direito, mais cidadania, mais cidadania mais
direito.”
Muito obrigado
Luanda, 19 de Abril de 2018

34
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

DISCURSO DE ABERTURA DE SUA EXCELÊNCIA


O MINISTRO DE ESTADO E CHEFE DA CASA CIVIL
DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA,
DR. FREDERICO MANUEL DOS SANTOS E SILVA
CARDOSO, EM REPRESENTAÇÃO DE
SUA EXCELÊNCIA O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

Cidadãos!
Neste momento, parece-nos difícil encontrar melhor palavra do
que esta, para sintetizar a categoria e a qualidade que a todos nós
aproxima e hoje nos convoca a esta solene sessão de abertura
da Semana do Provedor de Justiça. É dos cidadãos, dos seus
lídimos interesses, que a Provedoria de Justiça cuida.
Permitam-me, em nome de Sua Excelência o Presidente da
República, João Manuel Gonçalves Lourenço, agradecer pelo
convite formulado e sublinhar o sentido de oportunidade de
que se reveste a recente instituição, pela Provedoria de Justiça,
do Dia do Provedor de Justiça, que Hoje, pela primeira vez, se
comemora.
Saudamos, igualmente, o início desta jornada, que, ao longo de
uma semana, nos permitirá avaliar as realizações da Provedoria,
reflectir sobre como superar as insuficiências constatadas e o
que fazer para continuarmos a salvaguardar sem titubeios os
direitos, as liberdades e as garantias fundamentais dos cida-
dãos, plasmadas na Constituição da República de Angola e na
legislação ordinária.
Um pouco mais de três séculos, exactamente 305 anos, com-
pletam-se, desde que o Rei Carlos XII, da Suécia, nomeou o
primeiro Ombudsman, figura na qual se inspiram, nos dias de

35
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

hoje, a maior parte dos ordenamentos jurídicos que instituíram


Provedorias de Justiça. Desde a sua origem os Ombudsmen eram
as entidades que, como verdadeiros “Olhos do Rei”, controlavam
os funcionários do Governo, detectavam as irregularidades, os
excessos e as anomalias da Administração pública.
Instituído em Angola pela Lei n.º 4/06, de 28 de Abril, o Provedor
de Justiça é uma entidade estatal especializada, que vela pelo
cumprimento das obrigações do Sector Público com os cidadãos.
É um dos canais de auscultação da voz do povo, um “Assessor”
jurídico de confiança para os cidadãos na reclamação dos seus
direitos fundamentais, um canal de denúncia de acções ilegais e
um dos mecanismos constitucionais de protecção dos referidos
direitos.
Os seus relatórios sobre as situações chegadas ao seu conheci-
mento podem constituir uma ferramenta fundamental de apoio
na interrelação entre as entidades públicas e os cidadãos. O seu
papel de observador de processos acaba por exercer pressão
sobre os funcionários (incluindo o poder judicial) para a resolu-
ção dos problemas apresentados pelos cidadãos nas diversas
instâncias. A relativa informalidade dos seus canais de acesso
deverá ajudar, igualmente, a contornar a excessiva burocracia
de alguns dos tradicionais mecanismos do Estado.
Doze anos de vigência e de exercício de uma instituição a quem
está reservado um papel transversal na defesa dos interesses
dos cidadãos, constitui apenas parte do tempo incontornável
para o lançamento das bases de um edifício que se quer sólido,
actuante e eficaz. A multiplicidade de tarefas constantes do
programa da Semana do Provedor de Justiça, como as Visitas
aos diversos Estabelecimentos Penitenciários e as Sessões de
Esclarecimento sobre o conteúdo do seu trabalho, bem como,
as outras actividades relativas à prestação de um atendimento

36
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

permanente aos cidadão, enunciam, claramente, o cerne das


preocupações da Instituição na presente conjuntura.
É esperado da Provedoria de Justiça o exercício, a todo o momento,
do seu papel de “Magistratura de Persuasão”, assegurando o
equilíbrio entre as partes em conflitos, devido à credibilidade que
deve conquistar e preservar, fazendo juz da sua possibilidade de
intervenção ex-ofício, permitindo, assim, que seja ultrapassado
o medo de se denunciar o que for mal feito, e exercendo com
plenitude a sua capacidade de convocação e de divulgação,
num ambiente em que o respeito e a tolerância prevaleçam
sempre como estandartes.
Por outro lado, algumas das características da Provedoria, como o
facto de não ter de observar muitos formalismos nem exigências
jurídicas para atender os casos que lhe sejam submetidos: a
gratuitidade da assistência que presta e a autonomia institucional,
apesar de ser uma Instituição estatal, permitem-lhe, também,
contribuir de modo singular para uma efectiva protecção dos
direitos fundamentais dos cidadãos.
Torna-se pois necessário, em nome do interesse público, manter
um clima de boa colaboração entre as autoridades sujeitas à
fiscalização do Provedor de Justiça, exercendo cada uma as
suas atribuições constitucionais e assegurando-se, deste modo,
o funcionamento das diversas entidades públicas de maneira
articulada, com relações de complementaridade, e com pesos
e contra-pesos que mantenham o equilíbrio imprescindível ao
estado democrático e de direito que estamos a construir.
Fazemos votos de que a Provedoria de Justiça continue a consolidar
também o seu papel de auditoria social, ética e deontológica da
sociedade, num momento em que se impõe ouvir muito, fazer
mais e dialogar melhor.

37
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

A peculiaridade da Provedoria de Justiça ser um órgão público


que não integra a clássica trilogia do poder (os poderes Execu-
tivo, Legislativo e Judicial) coloca-a na privilegiada posição de
poder recomendar correcções administrativas, sem, contudo, as
executar; poder ajudar a compor litígios judiciais, sem, contudo,
sentenciar; poder sugerir a feitura de leis boas para a república,
mesmo sem legislar. É preciso capitalizar esta valia, continuando
a dotar este órgão de quadros qualificados e versáteis, que
percebam e ajam a todo o momento à altura do que a pátria
deles espera enquanto profissionais.
Excelências,
A sociedade exige de nós acções que representem transformações
importantes nas suas condições de vida. O progresso de Angola
exige que reinventemos o nosso modo de o ver, de o viver e
de agir, de maneira a que com atitudes diferentes obtenhamos
resultados também diferentes. O presente e o futuro do nosso
país reclamam de nós uma acção permanentemente concertada,
de maneira a que se optimize o uso dos recursos escassos à
disposição da economia, se alcancem melhores resultados na
resolução dos problemas do povo e se assegure sustentabilidade
no desenvolvimento, equidade nas oportunidades dos cidadãos
e justiça na aplicação do direito.
Estamos convencidos de que a este elevado sentido de Estado
que norteia a acção dos nossos digníssimos representantes dos
órgãos do poder, através dos quais são corporizados a vontade
e os mais profundos anseios do povo angolano.
Com estas palavras, declaro aberta esta jornada da Semana do
Provedor de Justiça.
Muito obrigado.

38
PALESTRAS
(Palestrantes e Moderadores)

ASPECTO DA CONSTITUIÇÃO
DO PAINEL DO CICLO DE PALESTRA

Da esquerda para a direita:


Dr. Cremildo Paca, Jurista e Professor Universitário (Moderador)
Dr. Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola
(Prelector)
Dr. Raúl Vasquez Araújo, Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal
Constitucional (Prelector)
Dr.ª Margarida Gonçalves, Procuradora Geral Adjunta da República
(Moderadora)
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

PAINEL 1

TEMA
A Institucionalização do Provedor de
Justiça no Ordenamento Jurídico Angolano
e a sua Importância

PRELECTOR: Dr. Paulo Tjipilica


Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola
MODERADOR: Dr. Cremildo Paca
Jurista e Professor Universitário
Excelentíssimo Senhor Provedor de Justiça da República de
Angola, Dr. Carlos Alberto Ferreira Pinto,
Excelentíssima Senhora Provedora de Justiça-Adjunta da
República de Angola, Drª Antónia Florbela Rocha Araújo,
Venerandos Juízes Conselheiros dos Tribunais Superiores,
Membros do Executivo,
Senhor Procurador Geral-Adjunto,
Membros de Mesa,
Membros do Conselho da Provedoria de Justiça,
Estudantes,
Senhoras e Senhores,
Permitam-me, Senhor Provedor de Justiça e Senhora Provedora
de Justiça-Adjunta, que lhes dirija as primeiras palavras de
felicitações a Vossas Excelências pela iniciativa e diria, até, pela

41
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

coragem de terem conseguido lograr êxito na consagração do


estabelecimento do Dia do Provedor e da Semana da Provedoria
de Justiça, questão várias vezes debatida no consulado anterior,
mas por razões, ou sem razões vislumbráveis, nunca reuniu
consenso, provavelmente imputáveis, na oportunidade, ao
exercício das tarefas sobre o signo e o sinete do contradotório
e quiça da contrariedade.
Em segundo lugar, agradecer o gentil convite que me foi endereçado,
tendo aceite apenas pelo facto de ser dimanente das entidades
que no presente, de iure e de facto, titula a responsabilidade da
defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e para
abordar o tema “Institucionalização da Figura do Provedor de
Justiça, órgão, e da Provedoria de Justiça, instituição ou serviço,
no ordenamento jurídico angolano e sua importância”.
Sobre o tema e preliminarmente, fica para história o registo
de que foi a 17 de Novembro de 2004, cerca das 13 horas e 45
minutos, quando após uma curta sessão do Conselho de Ministros,
o Supremo Magistrado da Nação, ao tempo, Sua Excelência
Eng.º José Eduardo dos Santos, pelo emissário e director do
Protocolo, Senhor José Filipe, me transmitiu que o Chefe de
Estado pretendia falar comigo na sala de apoio. E, com uma voz
calma e serena, mas plena de autoridade, foi-me informando de
que era chegado o momento de dar por finda a minha comissão
de serviço como Ministro da Justiça.
Na ocasião, mencionou alguns factos relevantes do meu consu-
lado, como a institucionalização do Tribunal de Contas, o Guiché
Único da Empresa, os Estatutos dos Magistrados do Ministério
Público, o Palácio da Justiça, o Palácio Dona Ana Joaquina, o
INEJ (Instituto Nacional de Estudos Judiciários), o Bilhete de
Identidade Informatizado, o Registo Gratuito das Crianças, etc.
Rapidamente, agradeci a confiança e a oportunidade que me foi
dada para servir ao país em tão altas funções e que era tempo,

42
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

após 12 anos, de regressar à minha função de eleição, a actividade


forense ou advocacia.
De imediato, o meu interlocutor atalhou explicitando que me
iriam ser acometidas outras funções e tarefas, isto é, assumir o
cargo de Provedor de Justiça, constante na Lei Fundamental,
mas ainda não provido e contava comigo para este efeito. Mas,
que a investidura passava por um processo complexo de eleição
dos deputados da Assembleia Nacional, cabendo ao Candidato
convencer todas as bancadas parlamentares. Outrossim, que
não havia instalações, mas que iria ser erigida e construída de
raiz um edifício nas imediações da Cidade Alta.
Seguidamente perguntou o que me oferecia dizer sobre o
assunto. Assim, e salvaguardada toda a reverência devida ao
meu interlocutor, referi que me honrava bastante, mas carecia
de um mês para analisar o assunto com a minha família. O
pedido foi aceite. Contudo, no mesmo dia 17, pelas 18 horas,
recebo um telefonema do Secretário Geral do MPLA, ao tempo
Dr. Julião Mateus Paulo “Dino Matrosse”, a informar que estavam
presentes na Direcção do Partido, membros da direcção e que
tinha urgência em falar comigo.
À hora acordada, estavam presentes o Secretário-Geral, Dr. Dino
Matrosse, o actual Vice-Presidente da República, Dr. Bornito
Baltazar Diogo de Sousa, o actual Provedor de Justiça, Dr. Carlos
Alberto Ferreira Pinto, o Dr. João Martins e Fernando Faustino
Muteca.
No uso da palavra, o Secretário-Geral perguntou se o Chefe de
Estado e Presidente do MPLA já teria falado comigo sobre o
provimento do cargo de Provedor de Justiça? Respondi positi-
vamente com apenas uma observação: de ter pedido um mês
de reflexão. Em coro, os interlocutores afirmaram que o assunto
era para anteontem e que a partir do dia seguinte começariam

43
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

as audições com as bancadas parlamentares do MPLA, primeiro,


que foi um interrogatório de cerca de 3 horas; no dia seguinte, a
oposição durante 7 horas, na sala número 3 da antiga Assembleia
Nacional; por fim, no anfiteatro número 2, com todas as bancadas
parlamentares, culminando com a eleição no dia 19 de Abril de
2005, data que se comemora hoje.
Por maioria absoluta fui eleito, com apenas uma abstenção da
Nova Democracia do Dr. Quintino Moreira, na sessão plenária.
Quando me encontrei, depois, com o Dr. Quintino Moreira, inda-
guei-o da razão ou sem razão de se ter abstido, mas ele ficou a
tartamudiar e às tantas nada me disse. Eu disse-lhe: fez muito
bem, fazendo a diferença e valorizando a eleição.
Nessa data, e pelo Presidente da Assembleia Nacional, ao tempo,
Dr. Roberto Victor de Almeida, foi me dado o prazo de 90 dias
para elaborar e remeter à Assembleia Nacional as minutas do
Estatuto do Provedor de Justiça e da Lei Orgânica da Provedoria
de Justiça. Hoje, trago um exemplar de uma das minutas. Nelas
estavam inseridas, realmente, alguns normativos que muito iriam,
na verdade, valorizar algumas das dificuldades que realmente
passamos ou que ainda passa o serviço do Provedor de Justiça.
A tomada de posse ocorreu na sessão plenária de 9 de Junho
de 2005, tendo sido reiterado o cometimento de elaborar e
apresentar à Assembleia Nacional as já citadas minutas no prazo
de 90 dias, o que foi cumprido na integralidade.
A Senhora Provedora de Justiça-Adjunta foi eleita no dia 13 de
Dezembro de 2006 e empossada em 17 de Janeiro de 2007.
Veio imprimir dinamismo e tecnicidade a todo um serviço do
Provedor de Justiça. Bem-haja.
Pelo então Chefe da Bancada Parlamentar do MPLA, ainda
historiando um pouco o que era a génese da institucionalização
do Provedor de Justiça, o actual Vice-Presidente da República

44
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

foi-me sugerindo que deveria visitar alguns países recolhendo


experiências no âmbito do direito comparado, começando pelos
países africanos. Assim, tendo como meu assessor o jovem Agnaldo
Baptista, hoje Consultor do Secretário-Geral das Nações Unidas,
e pelos Meritíssimos Juízes Augusto Escrivão e José de Morais,
visitámos primeiro a Namíbia, onde encontrámos a Ombusdman,
uma senhora, e depois a África do Sul, onde encontrámos um
homem elegante, Dr. Laurence F. Mussuana. Visitámos o Zimba-
bwe. No Zimbabwe tivemos, realmente, algumas dificuldades.
Primeiro, porque quando contactámos o Provedor de Justiça ou
Ombusdman, ele disse que tinha primeiro de pedir autorização
do Ministro da Justiça; eu disse que este já não reune o código
genético do Provedor de Justiça. Contactámos o Provedor de
Justiça e, nessa altura, disse-me que também tinha de contactar
e, sobretudo, pedir autorização ao Chefe de Estado. Eu disse
à minha comitiva que o melhor era regressar à procedência.
Voámos até Moçambique.
Em Moçambique, foi mais para sensibilizar os nossos irmãos do
Índico a seguirem o caminho de Angola, como o fizeram pouco
tempo depois, elegendo o que foi meu colega como Ministro da
Justiça, Dr. José Ibraim Mobudo, e pediram algumas minutas que
nós lhes deixámos para servir de alguma indicação e paradigma.
Visitámos países da Europa, começando por Portugal onde temos
semelhante matriz jurídica, Espanha, Polónia, Suécia e Noruega.
Recolhemos ensinamentos, sugestões, conselhos e literatura
para enfrentar a tarefa árdua, mas bastante digna da defesa dos
direitos, liberdades e garantias dos cidadãos.
Feita essa introdução, vou-me referir à importancia do Ombusdman
ou Provedor de Justiça. A Lei Fundamental de 1992, que teve
como ocasio leigis a abertura e/ou a adução do pluripartidarimso,
visando a pacificação, a reconciliação nacional e a economia de

45
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

mercado, estabelecia e consagrava já nos artigos 142.º a 144.º


o seguinte:
O Provedor de Justiça é um órgão público e independente
que tem por objecto a defesa dos direitos, liberdades
e garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios
informais, a justiça e a leglidade da administração pública.
Pela sua importância, o legislador consagrou três artigos, o
que afigura ter sido mais generoso do que o actual legislador
de 2010, que dedicou apenas um artigo com sete normativos,
embora tenha sido mais pormenorizado, exaustivo e detalhado
nas funções do Provedor de Justiça. Curiosamente, quanto ao
exercício da actividade forense, liberal, na sua essência de carácter
privado, mas erigida pelo legislador a dignidade constitucional,
dedica-lhe três artigos, parecendo ter sido apocarda a figura
do Ombusdman. Mas é uma situação meramente aparente; se
não vejamos.

A importância do Provedor de Justiça ou Ombusdman

A Constituição da República de Angola de 2010 dedica 66 artigos


em que se enquadram e se integram as actividades do Provedor
de Justiça; isto é desde o artigo 22.º ao 88.º, falando sempre
sobre os direitos, deveres e liberdades fundamentais. Depois
fala também dos direitos, liberdades garantias fundamentais do
artigo 30.º ao 55.º, e, novamente, na Secção Segunda, faz alusão
à garantia dos direitos e liberdades fundamentais. Por último, no
capítulo III, do artigo 76.º ao 88.º, aborda os direitos e deveres
economicos e sociais. Tudo, enfim, matéria em que se enquadra
a função do Provedor de Justiça. É, pois, vasta e de primordial
importância a actividade e a figura do Provedor de Justiça.
Volvendo o olhar analítico sobre os países que assumiram o
pionerismo da institucionalização da figura do Ombudsman
ressalta a convicção clara e inequívoca de que são estes países

46
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

que, desde 1809, onde existe equilíbrio e a correcção das assi-


metrias sociais, onde foram ultrapassadas questões inerentes
à defesa dos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, e
são países que são sempre referenciados como tendo o alto
desenvolvimento humano e qualidade de vida: Suécia, Noruega,
Dinamarca, Finlândia e outros países como Áustria e Canadá.
Como é do conhecimento de todos, Portugal só aderiu a este
Ombusdman em 1975, depois do regresso de todos aqueles que
estavam nas ex-colónias, porque se impunha defender os seus
direitos, sobretudo acomodá-los com alguma dignidade. O primeiro
Provedor de Justiça foi um militar, porque nessa altura quem
titulava a responsabilidade governativa era o MFA - Movimento
das Forças Armadas, sendo que o primeiro Provedor de Justiça
de Portugal foi o Major Costa Brás.
Ainda sobre a importância do Provedor de Justiça, vou citar um
exemplo ou uma constatação. Nessa visita à Suécia, que há
pouco me referi, depois de termos acedido às instalações do
Ombudsman, percebemos que há o Ombudsman eleito e depois
há outros que são nomeados pelo Provedor principal, o eleito,
quer seja contra a discriminação, quer seja para as crianças,
para as minorias etc., vários Ombudsmen, mas são nomeados
pelo principal Ombudsman, que é eleito pelo Parlamento.
Seguidamente visitámos a Universidade de Opsala e lá estivemos
a dialogar e a confraternizar com os estudantes e sublinharam
a importância sobretudo do Ombudsman. Eu perguntei, sendo
aqui uma realeza (Monarquia), quem é mais importante: o Rei ou
o Ombudsman? E os estudantes logo responderam: o Ombud-
sman. Mas porquê o Ombudsman? Insisti. E eles responderam:
porque só ele é quem nos defende. Por isso, Senhor Provedor
de Justiça e Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, essa tarefa
é mesmo importante.

47
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

E perguntei: e o Rei? Os estudantes responderam: o Rei cuida de


si mesmo. O Rei só se defende a si mesmo, tanto mais que em
1809 o Rei até fugiu para Istambul e quem teve de assegurar o
país foi o Ombudsman, que depois de ter estado em exercício,
cerca de 13 a 15 anos, o povo passou a rejeitá-lo e a dizer que
este (o Ombudsman) já tem o apetite e o sinete do poder admi-
nistrativo e, sobretudo, a política, portanto, agora fica como um
mero órgão do gevorno e vamos eleger alguém que seja, de
facto, independente. Este primeiro Ombudsman teve, igualmente,
a configuração de Procurador-Geral. E foi assim que foram
eleitos novos Ombudsmen, que foram sempre ou um professor
universitário ou um juiz do Tribunal Supremo.
Senhor Provedor e Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, é, pois,
muito importante a Vossa actividade, que tem de ser exercida
com espírito de missão, com profunda dação em cumprimento,
atendendo no quotidiano o cidadão sem rosto e sem voz, sempre
preservando e salvaguardando o código genético, que exorna
a figura do Ombudsman a nível internacional: Acessibilidade (o
cidadão tem de ter acesso directo ao Provedor de Justiça); a
Celeridade (na tramitação dos processos para se despir da peia
da burocracia); Gratuitidade (que aqui já foi relevada); a Indepen-
dência (uma independência verdadeira, sobretudo para servir o
cidadão sem vacilações); a Informalidade; e a Sigilosidade, mas
sem poder decisório.
Indagavam-me, muitas vezes, sobretudo os jornalistas, sobre a
utilidade de Provedor de Justiça se não tem poder decisório?
Nessa oportunidade, dizíamos sempre que se o Provedor de
Justiça tivesse poder decisório, tomava parte ou decidia, como
decidem os magistrados judiciais ou como decidem os membros
do executivo, nos actos administrativos; portanto, não manteria
vincada e, sobretudo, preservada a sua independência. O que
tambem indagavam é se isso não descredibiliza, de algum modo,

48
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

o Provedor de Justiça? Respondia que não, porque o Provedor de


Justiça tem ainda outro instrumento muito importante, quando nos
seus relatório trimestrais ou anuais apresenta todas as questões
que foram apresentadas ao seu gabinete e, sobretudo, aquelas
entidades visadas que ou não respondem ou não acolhem as
suas recomendações.
Portanto é sempre útil e muito importante a figura do Provedor
de Justiça e não é por sem razão que hoje o Ombudsman está
implantado em cerca de 150 países. Em África, são 45 países que
têm o serviço do Provedor de Justiça, que se chama Médiateur
de la Repúblique, na expressão francesa, quer se chame Public
Protector, na expressão inglesa, ou simplesmente Ombudsman
na designação genérica e internacional.
É importante, tal como já foi dito, quando o Provedor de Justiça
visita os estabelecimentos prisionais, encara os despedimentos
sem justa causa, a morosidade dos tribunais, e o abandono das
crianças. É importante quando ouve os recados da criança, os
apelos dos idosos, dos portadores de deficiência.
Por último, vamos falar-vos um pouco sobre os desafios que se
colocam à função e ao exercício do serviço do Provedor de Justiça.
São vários, imensos os desafios. Assim, vamo-nos socorrendo
e valorando pórtico, que já se tornou aquisição popular no que
concerne à preservação e salvaguarda dos direitos do autor, isto
é “melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”.
Ouso afirmar que são vários os desafios à função do Provedor
de Justiça, desde logo o seu relacionamento com as entidades
visadas. O Provedor de Justiça tem de ter sensibilidade bastante,
sobretudo muita diplomacia, para persuadir e dissuadir os nos-
sos ilustres colegas, porque estamos todos dentro da mesma
actividade da governação e proteger o cidadão. Mas é preciso
realmente muita sensibilidade, muita diplomacia, muita leanesa,

49
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

muita cordura na abordagem, porque cada um traz da sua casa


dramas desconhecidos e, às vezes, chegam ao gabinete bastante
cansados. E o senhor Provedor de Justiça vem com aquela voz
truculante a cobrar qualquer documento e não fala como quem
lhe pede um favor e, às vezes, damos uma resposta que logo
inviabiliza os objectivos superiores da defesa dos direitos do
cidadão.
Há que ter bastante sensibilidade, é preciso ter o coração sensível
às desditas, à miséria e à dor alheia, para ser Ombudsman.
No âmbito do direito comparado, mesmo em África e nos países
da francofonia, há um aspecto que nós podemos sublinar: é que
quando a entidade visada não responde, o Supremo Magis-
trado da nação convida o Ministro ou outra entidade perante o
Provedor de Justiça para lhe indagar da razão ou sem razão de
não cumprimento da recomendação ou de não responder ao
Provedor de Justiça. Se calhar, num tempo não muito distante,
num estatuto que seja revisto e se isto for da concordância de
Vossas Excelências, os homens da actividade legislante, por
excelência, se isso puder passar ajudará bastante o serviço do
Provedor de Justiça.
Quando, enfim, determinado membro do executivo tiver de estar
ainda perante o Presidente da Assembleia Nacional, já ajudará
bastante, e se for perante o Presidente do Executivo, então, melhor
ainda, para poder lograr êxito, algumas das questões que cortam
o coração, que nos são colocadas pelo cidadão no quotidiano.
Na minuta inicial, dizia eu, previa-se a existência de coordena-
dores e assessores que aufeririam um salário adstrito ou, pelo
menos, equiparado aos da magistratura do Ministério Público
da Primeira Instância, porque entendíamos que os funcionários
têm de ser preservados na sua remuneração, porque lidam com
questões muito delicadas. E quando o estímulo remuneratório

50
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

não for bastante, é desencorajante. Tanto assim é que, ao longo


do nosso consulados, fomos perdendo jovens juristas, e mesmo
de outras áeras, que depois de bem habilitados foram demandar
outros serviços para melhor acomodar as suas famílias.
Ora, esta sangria, esta hégira dos quadros não deve continuar.
Há que, realmente, pugnar por todas as razões, Senhor Provedor
de Justiça e Senhora Provedora de Justiça-Adjunta, para que
aquelas minutas que convalecem na Assembleia Nacional,
desde 2010, sejam aprovadas. Nós vimos, com alguma mágoa,
que outras do poder e da mesma área, quer seja do Provedor
de Justiça, quer seja do Tribunal de Contas, ou até mesmo da
Ordem dos Advogados, conseguiram lograr êxito e, sobretudo,
adequar e coadunar os seus Estatutos e as leis orgânicas à
actual Constituição. Indagamo-nos da razão, ou sem razão, por
que convalecem essas minutas, desde 2010, na Assembleia
Nacional. Se calhar, amanhã, sua Excelência, o Senhor Presidente
da Assembleia Nacional poderá dizer-nos as razões subjacentes
a isso, mas eu estou convencido de que com a sua autoridade
e, sobretudo, com a sua diplomacia e, fundamentalmente, com
tudo quanto o Senhor representa e representou, a nível do país,
e pela responsabilidade que assume, e porque o pórtico de
conduta do país é “melhorar o que está bem e corrigir os que está
mal”, acho que teremos oportunidade, quando lá chegar a luz do
dia em que essas minutas saiam dos gabinetes das comissões
parlamentares e conheçam a sua aprovação.
Do mesmo modo, as questões inerentes aos serviços locais é
outro desafio do Provedor de Justiça. Antes de lhe passarmos o
testemunho, Senhor Provedor de Justiça, Cabinda foi assaltada
por 3 vezes, levaram os móveis e utensílios e o Provedor de
Justiça teve de exercer a sua função no domicílio.
Quando existem os chamados núcleos da Assembleia Nacional
e nós visitámos, vezes sem conta, esses núcleos, que tinham

51
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

aposentos bastantes onde podiam, com dignidade, ser abrigados,


instalados os serviços locais, até que o país reúna condições para
construir de raiz, como aconteceu no Cunene. Uma advocacia
dirigida com a sabedoria do Senhor Provedor de Justiça e,
sobretudo, o Senhor que conhece os meandros e os caminhos
daquela casa, suponho que vai lograr êxitos. Até porque já
houve um ofício do Presidente do Conselho de Administração
a autorizar essa situação de os nossos serviços locais poderem
ser acolhidos nos núcleos da Assembleia Nacional. Espero que
esta situação venha conhecer melhor solução.
A terminar, uma recomendação de Sir Winston Churchill que
dizia: “o segredo do êxito reside no facto de ir de insucesso em
insucesso, mas sem nunca perder o ânimo”.
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Muito obrigado por me terem escutado.
Muito obrigado.

52
ASPECTO DO AUDITÓRIO
DA PROVEDORIA DE JUSTIÇA
DURANTE O CICLO DE PALESTRAS

Em primeiro plano, da esquerda para a direita:


Dr, Paulo Tjipilica, Primeiro Provedor de Justiça da República de Angola
Dr. Luís de Assunção Pedro da Mota Liz, Vice-Procurador Geral da República
Drª. Maria da Conceição de Almeida Sango, Primeira Provedora de Justiça-Adjunta
Dr. Ângelo de Barros Veiga Tavares, Ministro do Interior
Cónego Apolónio Alberto António Graciano
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

PAINEL 2

TEMA
Direitos Fundamentais na vertente dos Direi-
tos, das Liberdades e das Garantias
Fundamentais do Cidadão

PRELECTOR: Dr. Raúl Vasquez Araújo


Venerando Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional
MODERADORA: Drª Margarida Gonçalves
Procuradora-Geral Adjunta da República
Começo por agradecer ao Senhor Provedor de Justiça, Dr. Carlos
Alberto Ferreira Pinto e à Senhora Drª Florbela Araújo, Provedora
de Justiça-Adjunta pelo convite que me foi feito para aqui estar.
Cumprimento, igualmente, as entidades aqui presentes, nomea-
damente os Venerandos Juízes Conselheiros dos Tribunais
Superiores, Senhoras e Senhores Ministros, Senhores Secretários
do Presidente da República, o Senhor Cónego Apolinário Graciano,
a Senhora Directora da Faculdade de Direito da Universidade
Católica de Angola, Excelências e Ilustres presentes nesta
conferência.
Confesso que acedi ao convite numa altura um bocado complicada
da minha agenda, em que se sobrepunham várias actividades,
entre elas aquela que continua a ser a minha actividade de
paixão, que é o ensino. Tudo o resto que foi aqui dito são activi-
dades complementares, o que torna o Curriculum mais bonito,
é verdade, mas não me tornam mais feliz, porque o que me faz

55
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

feliz, de facto, é dar aulas, aceitar os desafios do dia-a-dia dos


alunos, questões que se colocam. Mas enfim…
Vamos então falar sobre os direitos fundamentais. Devo, desde já,
dizer que vou tentar ser o mais sintético possível, não garantindo,
desde logo, que seja muito breve. Aqui o sintético não significa
ser breve.
Vou começar, para começarmos.
A nossa Constituição, à semelhança das Constituições modernas,
inseriu os direitos constitucionais no seu documento. Assim foi
em 1992. Recordo-me de, quando nós trabalhámos na Lei de
Revisão, a Lei Constitucional de 1991, primeiro, e depois na Lei
Constitucional de 1992, tivemos uma discussão muito grande
sobre que direitos, liberdades e garantias deveríamos inserir no
texto da Lei Fundamental.
Naquela altura nós recebemos propostas de várias partes do
mundo, nomeadamente... Recordo-me sempre de uma enorme
proposta, enorme em termos de conteúdo e extensão, rece-
bemos de várias organizações internacionais, nomeadamente
da Amnistia Internacional e de algumas instituições ligadas às
Nações Unidas, e fizemos a inserção desses direitos humanos na
nossa Constiruição; daí chamarem-se de direitos fundamentais,
por estarem na Lei Fundamental.
Naquela altura, me refiro a 1991/92, muita gente que aqui está
não se deve recordar desse período, porque alguns não teriam
nascido ainda, outros eram muito jovens, mas, naquela altura,
tínhamos aqui questões muito interessantes, que hoje, provavel-
mente, as pessoas não me vão entender. Por exemplo, uma das
questões que mais foi debatida na Assembleia do Povo, ligada
aos direitos fundamentais, era um direito que hoje já é corrente,
era a liberdado que o cidadão angolano devia ter de entrar e sair
do país sempre que quisesse, sem necessidade de permissão,

56
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

porque até àquela altura, para sair-se de Angola era necessário


ter um visto passado pela DEFA e era preciso, também, de visto
para entrar no país. E os angolanos que sempre gostaram de
viajar, apesar das muitas dificuldades financeiras e políticas,
mas as pessoas viajavam mesmo, graças às grades de cerveja
que eram dadas no sistema de abastecimento das lojas. Nós
viajávamos. Quando discutíamos essa norma, por exemplo, na
Assembleia do Povo foi difícil as pessoas perceberem que não
fazia sentido que um angolano que estivesse no exterior do
país, para entrar no seu próprio país tivesse necessidade de um
visto. Não fazia sentido. Como não fazia sentido, em 1992, que
nós ainda tivéssemos um recolher obrigatório em Luanda, que
vinha desde 1977.
Esse recolher obrigatório começou com o processo da tentativa
de golpe de Estado de 1977 e, em 1991, ainda estávamos obri-
gados a ficar nas festas até às 5 da manhã, com muito sacrifício,
a maior parte das pessoas com muito sacrifício (como devem
calcular), porque depois da meia-noite quem fosse apanhado na
rua era preso e ficava na Esquadra ou sentado na rua à espera
que amanhecesse para poder circular.
Estou aqui a falar de questões muito simples, mas que foi
necessário inserir na nossa Constituição, porque não estavam
no texto constitucional de 1975 até 1991. Em 1992, inseriu-se na
nossa Lei Fundamental um princípio essencial, que é a proibição
da pena de morte, o direito à vida, porque esse princípio apenas
foi inserido na Lei Fundamental de 1992. Até então era possível
a existência de pena de morte, as pessoas eram passíveis de
ser condenadas à pena de morte por fusilamento (se não me
engano), porque a pena de morte por passar fome, isso não
precisa estar consagrada na Constituição.
E assim foi. Nós conseguimos inserir um conjunto de direitos no
texto constitucional, e quando digo nós me refiro ao país e não

57
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

apenas quem trabalhou nisso. O país ganhou muito com esse


processo de início da democratização. Infelizmente, logo após
as eleições de 1992, que foram incompletas, iniciámos um longo
período de guerra civil, que culminou em 2002. Ficámos todo esse
período numa situação de direitos fundamentais plasmados na
Constituição, que eram formalmente existentes, mas material-
mente inexistentes. Portanto, quando se está em guerra é muito
difícil falarmos na defesa dos direitos, liberdades e garantias.
Eu digo difícil para não dizer quase impossível, porque como é
que nós vamos defender um princípio da livre locomoção, da
livre circulação de pessoas e bens que estava consagrado na
Constituição, se nós para sairmos daqui para Benguela só de por
avião, porque por terra era impossível ou quase impossível). A
livre circulação de pessoas era coisa quase inexistente.
Felizmente, ultrapassámos essas fases e posso, de facto, veri-
ficar que a Constituição de 2010 ampliou, substancialmente, os
direitos fundamentais. Num processo de paz e num processo
extremamente importante, que se deve ao seguinte: se é verdade
que a Lei Constitucional de 1992 foi, o que se chama de uma
Constituição pactuada, resultante de um acordo entre o partido
no Governo e os outros partdidos na oposição, particularmente
o principal partido da oposição, que era partido armado, quem
aprovou a Lei Constitucional na altura foi a Assembleia do Povo
que era monopartidária. A Constituição de 2010 é muito mais
ambrangente, é muito mais aceite, tirando a parte do exercício
do poder político, que é aquela que levantou mais discussões
e, ainda hoje, levanta, mas toda a carta de direitos fundamentais
da Constituição de 2010 é naturalmente aceite por todos os
contendores, por todos os cidadãos.
Isto, porque todos nós estamos de acordo que falarmos em
direitos fundamentais, e tal como é proposto no texto, é numa
perspectiva de direitos, liberdades e garantias fundamentais. Falar

58
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

de direitos fundamentais só é possível num Estado democrático


de Direito. Se não estivermos num Estado democrático de Direito,
num Estado onde o princípio essencial é o de que a vontade que
prevalece é a vontade do detentor da soberania, que é o povo, e
quem exerce o poder político deve fazê-lo por vontade expressa
manifestada nas urnas, de forma periódica e livre. É esse povo
soberano que escolhe os seus representantes para exercerem
o poder político, portanto isso é que é a essência da democracia
que se complementa com a participação dos cidadãos em outros
actos democráticos da chamada democracia participativa. Dizer
que somos democratas só porque fazemos eleições periódicas
é muito pouco.
Falamos, também, dos direitos fundamentais no Estado de Direito,
porque é aquele que se baseia no respeito pelas leis, no respeito
pelo direito e, principalmente, no respeito pela administração
pública, no respeito que os órgãos que exercem o poder político
devem ter pelos direitos fundamentais, porque não é por acaso
que a nossa Constituição, no seu artigo 1.º, estabelece que a
essência da construção da nossa sociedade, e por essa razão da
organização do nosso Estado e do exercício do poder, deve ter
como ideia central o da defesa, da garantia da pessoa humana.
A nossa Constituição, logo no seu artigo 1.º, funda-se na defesa
da garantia da pessoa humana. Portanto, toda a acção do Estado,
toda a acção de quem exerce o poder, entre o poder político,
poder administrativo, o poder legislativo e, naturalmente, o poder
judicial, deve ter como preocupação principal, o mais importante
de toda a sua acção não é questão abstracta, a defesa do Estado
pelo Estado, não é aquilo a que se chama a defesa da vontade
do Estado, que se sobrepõe à vontade do cidadão. Não! A nossa
Constituição, sempre a sua acção, será na defesa dos cidadãos,
na defesa dos angolanos.

59
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Portanto, todo o funcionamento do Estado, das instituições, as


políticas públicas a serem seguidas têm como objectivo funda-
mental melhorar as condições de vida, defender os interesses dos
cidadãos, de forma que nós consigamos uma melhor participação,
dinâmica e activa. Daí o princípio da defesa da dignidade da
pessoa humana. Esta é a essência da nossa Constituição; esta
é a essência dos direitos fundamentais no nosso Estado e se
assim não for, muito mal nós estaremos.
Para além deste princípio, a Constituição estruturou-se no sentido
de concretizar um conjunto de direitos fundamentais que vêm
divididos, basicamente, em dois grandes grupos: os direitos e as
liberdades. Depois temos um outro grupo dos direitos fundamentais
que são chamados de direitos sociais. Pensamos que os direitos
fundamentais são apenas os direitos políticos, civis, mas temos
os direitos sociais, como o direito ao emprego, direito à cultura,
ao desporto. Temos, ainda, as liberdades, as garantias que a
Constituição estabelece. São aquelas que vão salvaguardar que
os direitos sejam respeitados. E temos, também, um conjunto
de normas, que as pessoas normalmente não gostam de ler e
se esquecem, que são os chamados deveres fundamentais.
Nós aprendemos em direito que em toda a relação jurídica
existem direitos e deveres, que não há direitos sem a correspon-
dente obrigação do seu dever. Aquele nome muito bonito que
nós dizemos aos alunos e que eles ficam encantados, quando
ouvem algumas palavras difíceis, aquela chamada relação
sinalagmática. Portanto, onde há direitos, há deveres e a nossa
Constituição estabelece direitos dos cidadãos, garantias para
que esses direitos existam, mas também estabelece deveres.
Portanto, nós temos também deveres para com o país, deveres
para com o Estado, deveres principalmente para com os outros
cidadãos, que são tão cidadãos quanto nós, porque alguns, às
vezes, pensam que são mais que os outros, mas não.

60
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

A nossa Constituição, de acordo com o princípio da igualdade, diz


que todos nós somos iguais. Os mais bonitos e as mais bonitas
têm exactamente os mesmos direitos que os mais feios e as mais
feias. Os Misters, que ganham os concursos têm exactamente
os mesmos direitos que os mais gordos, que são chamados
também de fofinhos, para ninguém ficar ofendido.
Portanto, os direitos e liberdades são aqueles mesmos e nin-
guém pode pensar que, por ter sido chamado a exercer uma
determinada função pública, de repente fica mais importante ou
mais sábio que os outros. Nós vemos essas experiências todos
os dias: no serviço, nas escolas. Começamos já na escola. Aquele
que é eleito delegado de turma fica já a pensar que é mais que
todos os outros: eu sou o delegado sou mais esperto. E vamos
subindo. No serviço, passa a Chefe de Departamento, todos os
outros têm de o considerar mais inteligente, não pela função
que ele tem, poque ele acha que a função está directamente
associada a um aporte de inteligência e competência. Bom, não
quero subir por aí, porque tem aqui muitos ministros e não quero
arranjar problemas, tem aqui o Vice-Procurador Geral da República
que detém a acção penal, está ali a minha moderadora, que é
Procuradora Geral-Adjunta e eu não quero problemas. Portanto,
vou continuar a falar só em delegados de turma, até porque não
há aqui muitos estudantes, então ficamos por aqui.
Apenas para dizer que, de facto, o conjunto de direitos, o conjunto
de liberdades e o conjunto de garantias são fundamentais e
nós estamos num processo onde estamos a assistir a uma das
maiores dificuldades jurídicas que nós temos, que é a mudança
de todo o pacote legislativo para que se assegurem a defesa dos
direitos, liberdades e garantias que estão plasmados na nossa
Constituição. Nós temos uma carta de direitos fundamentais
das mais bonitas, das mais avançadas que existem. Temos um

61
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

conjunto de leis muito bonitas, mas que estão, na sua maior parte,
completamente ultrapassadas.
Vou referir-me, rapidamente, a alguns deles, por exemplo: a
nossa Constituição, a nossa vida evolui e ainda agora o Dr. Paulo
Tjipilica referiu-se à necessidade, que eu sei que é um processo
antigo, de tentar que haja uma actualização da legislação sobre a
Provedoria de Justiça, a aguardar desde 2010, que eu, infelizmente,
como jurista aguardo a aprovação do código penal há séculos e
que cada vez que nós pensamos que vai ser aprovado, esbarra
sempre por uma razão qualquer e agora esbarrou por causa
do conceito de aborto. Então, se é assim tão difícil, tire-se esse
artigo e faz-se uma lei sobre o aborto, mas pelo menos que se
aprove um instrumento que é fundamental para a vida deste país.
Quer dizer, estamos reféns de uma discussão que não vou dizer se
é importante ou não é. Nós estamos reféns e o país não consegue
evoluir do ponto de vista de organização da sua actividade no
combate à criminalidade moderna, porque a nossa lei que temos
em vigor, o código penal é de 1886; não é 1986, é mesmo 1886,
século XIX. Estamos em 2018 a discutir se alteramos ou não um
código de 1886, por favor… quem tem de decidir que decida.
Mas ficar a arrastar a discussão por tempo indeterminado, isto
é crime. Isto é omissão inconstitucional (Comissão por omissão).
Isso faz com que não haja possibilidade da preservação de direi-
tos e liberdades fundamentais. Eu dou alguns exemplos muito
simples: o código penal de 1886 não préve a criminalização de
quem viola um jovem, uma criança, homem. Não está previsto,
portanto, quem o seja, havendo essa violação, e infelizmente
há todos os dias, a pessoa não é sancionada ou a Polícia e os
órgãos de justiça têm de fazer uma ginástica de todo o tamanho
para tentar fazer o enquadramento juridico para condenar uma
pessoa que pratica um crime tão reles quanto este. E podemos
continuar a falar de outros crimes que não são sancionados,

62
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

porque a nossa lei está à espera que haja entendimento sobre


um ou dois artigos do código penal.
Espero, Dr. Mota Liz, ter conseguido. O Dr. Mota Liz é o nosso
colega que, antes mesmo de ser Vice-Procurador Geral da
República, juntamente com o Dr. Aninceto Aragão, coordenam
a Comissão da Reforma da Justiça para a área penal, então ele
sabe o quanto tem sofrido com essa questão e o quanto é frus-
trante estarmos esses anos todos a discutir, a discutir e a discutir,
quando já estamos a pensar que a Assembleia vai aprovar surge
mais uma questão que inviabiliza a aprovação.
Juntamente ao código penal nós temos o código de processo
penal, que é uma lei essencial para a organização da nossa
justiça, porque é através do código de processo penal que se vai
concretizar o conjunto de garantias fundamentais que venham
da Constituição. E algumas delas, como não temos o diploma
aprovado, porque está a acompanhar o ritmo do código penal,
então temos dificuldades da Polícia, do Ministério Público e
dos Tribunais em como agir da melhor forma para a defesa das
garantias dos cidadãos, nomedamente quem manda no processo
penal, quem faz o interrogatório.
Ainda hoje estavamos a discutir se quem dirige o interrogatório é
a polícia ou é o MP. A interpretação de uma norma constitucional
que diz que o MP dirige a acção penal, então estamos não sei
quantas vezes em discussão: mas dirigir a acção penal, quer
dizer o quê? Quer dizer que ele é que vai fazer o interrogatório?
Ele é que vai fazer as buscas? Então já não é preciso Polícia, já
não é necessário o SIC?
Portanto, estimados participantes desta conferência, eu estou
a aproveitar esta intervenção para em vez de estar a falar de
questões teóricas sobre os direitos, liberdades e garantias,
estou a aproveitar para falar das questões concretas que se

63
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

colocam, que são necessárias resolver para nós concretizarmos


o que está na nossa Constituição aprovada, atenção em 2010.
Estamos em 2018, já se passaram 8 anos. Daqui a dois vamos
comemorar os primeiros 10 anos da aprovação da Constituição
e ainda estaremos a discutir se vamos aprovar o código penal,
se vamos aprovar o código de processo penal, todos felizes
porque nessas alturas aproveitamos para realçar os aspectos
bonitos, e quando fazemos anos e se comemoram actividades
é um bocado como quando as pessoas morrem, esquecemos
dos seus defeitos e só há elogios.
Espero que daqui a dois anos, se as coisas não mudarem, haja
coragem de dizer as coisas como têm de ser ditas. Assim como
todo o conjunto de matérias que devem ser resolvidas.
A terminar a minha intervenção, destacando um aspecto que me
parece essencial, também, que é o papel do Provedor de Justiça
na defesa dos direitos, liberdades e garantias. Se nós temos de
estruturar todo o nosso ordenamento jurídico para a concretização
dos direitos, liberdades e garantias, nomeadamente o código
penal, código de processo penal e a própria reorganização do
aparelho dos tribunais, que estão muito desajustados da reali-
dade, o investimento sério na formação dos nossos magistrados,
a reorganização da Procuradoria-Geral da República para se
adaptar às novas exigências, mas essa reestruturação da PGR
depende muito da aprovação e do sentido que for dado ao código
penal e ao respectivo código de processo e, naturalmente, que
a Provedoria de Justiça tem um papel essencial em todo esse
processo, porque, às vezes, nós não nos apercebemos bem e
muita gente nos pergunta: mas Provedoria de Justiça para quê?
Mas já não tem Polícia, já há Ministério Público, tem Juiz, vem
o Provedor fazer o quê? Eu vou me queixar e depois o que vai
acontecer?

64
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Mas efectivamente a Provedoria de Justiça, tal como já foi aqui


realçado, tem um papel chave, através dessa pressão que o
Provedor de Justiça faz, porque o papel da Provedoria não é
para tratar de crimes; o papel da Provedoria é intermediar o
Estado e os cidadãos. Esse é o grande papel. Se a constituição
no século XVIII surgiu com o objectivo de limitar o poder do
Estado e da Administração Pública, o Provedor de Justiça ajuda
exactamente a resolver os vários problemas, porque todos nós
sabemos os vários e inúmeros problemas que nós temos no
dia-a-dia com a administração pública, sabemos que a activi-
dades da nossa administração pública está muito aquém dos
princípios fundamentais previstos na Constituição, que dizem que
a administração deve ser transparente, deve ter uma acção que
tem como objectivo servir o cidadão, todos aqueles princípios
bonitos que estão na nossa Constituição, que nos esquecemos
deles quando entramos numa repartição. As pessoas já estão
maldispostas, às vezes para nos atenderem temos de esperar
que acabem de ler o “whatsapp” no telefone, ou porque estão
a responder a mensagem do “facebook” no computador do
serviço. O nosso servidor público acha que esta a fazer um favor
ao cidadão.
É a Provedoria de Justiça que tem esse papel de auscultar,
pressionar e ajudar a resolver os vários e muitos problemas
que existem de defesa dos direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos.
Portanto, eu penso que hoje em dia, quando falamos em direitos,
liberdades e garantias dos cidadãos devemos pensar como
assegurar, porque todos eles já estão constitucionalmente
consagardos, já tivemos muito tempo para os aprender e agora
teremos é que agir no sentido de os defender, aprovando as
leis que têm de ser aprovadas e exercendo pondo os órgãos a
funcionar.

65
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Senhor Provedor de Justiça, Senhora Provedora de Justiça-Ad-


junta essa foi a minha intervenção. Não tão bonita quanto a do
Dr Tjipilica, que tem sempre uma forma brilhante de falar, mas
sempre tentei umas brincadeiras para tentar igualar.

Muito obrigado.

66
DISCURSO DE ENCERRAMENTO,
PROFERIDO POR SUA EXCELÊNCIA O
PRESIDENTE DA ASSEMBLEIA NACIONAL
DR. FERNANDO DA PIEDADE DIAS DOS
SANTOS

Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos,


Presidente da Assembleia Nacional,
aquando do encerramento do Ciclo de Palestras
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Estimados Convidados,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,

Permitam-me, antes de mais, saudar todos os presentes e afirmar


que foi com imenso prazer que aceitei o convite para proceder ao
encerramento desta cerimónia, em alusão ao dia do Provedor de
Justiça, que abordou questões pertinentes relacionadas com a
sua institucionalização e a promoção dos Direitos, das Liberdades
e das Garantias fundamentais do cidadão.
Seguidamente, quero felicitar o senhor Provedor de Justiça,
que, tendo iniciado o seu mandato recentemente, teve a nobre
iniciativa de instaurar o Dia do Provedor de Justiça e a Semana
da Provedoria de Justiça, actos que não só dignificam ainda
mais esta instituição, como podem contribuir para uma melhor
divulgação, junto do cidadão, do papel desempenhado por esta
entidade.
Senhor Provedor de Justiça,
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
O Provedor de Justiça, enquanto “Magistrado do Povo”, no nosso
país, remonta à década dos anos 90. Na sua génese, se afirmava
como um órgão independente e imparcial que concorre para a
promoção da defesa dos direitos, liberdades, garantias e interesses
legítimos dos cidadãos.
Entrentanto, a Constituição da República de Angola de 2010
consagrou e ampliou o leque de direitos, liberdades, garantias
e interesses dos cidadãos, e conferiu ao Provedor de Justiça
a responsabilidade principal de promotor e defensor desses
direitos e interesses legítimos dos cidadãos.
O Provedor de Justiça é, neste sentido, a voz firme de quem não
tem voz. A voz do cidadão e o garante da justiça e da legalidade

69
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

na actividade da administração pública, através de meios infor-


mais. A falta do poder decisório não reduz a importância da sua
intervenção.
O trabalho do Provedor de Justiça é bastante complexo. Dele
se exige perspicácia, imparcialidade e isenção, para prevenir
ilegalidades e resolver as queixas e as reclamações dos cidadãos.
Contudo, o seu sucesso depende sobremaneira do desempenho
de cada um de nós, enquanto servidores públicos e responsáveis
políticos, porque temos o dever de facilitar o trabalho do Provedor
de Justiça na busca de justiça para o cidadão.
Enquanto servidores do Estado, no exercício das nossas funções
devemos ter sempre em foco a salvaguarda dos superiores
interesses do cidadão, garantindo-lhe a segurança, a protecção,
a justiça e a dignidade que ele merece e que estão consagrados
na lei.
As nossas acções e decisões devem sempre concorrer para o
bem-estar do cidadão, de modo a garantir-lhes maior confiança
nas instituições da administração do Estado.
Acredito que o trabalho do Provedor de Justiça, em Angola, não
tem sido fácil, porque ele confronta-se com enormes desafios
na busca de justiça para os cidadãos e na promoção dos direitos
fundamentais do homem, pelo défice de mecanismos de que
dispõe para uma actuação célere com vista à solução das queixas
e reclamações dos cidadãos, muitas vezes resultantes de medidas
e acções deliberadas ou por negligência por parte de quem as
decide ou as aplica. Condutas essas que devem ser corrigidas.
Encorajo, deste modo, o nosso Provedor de Justiça a continuar
a trabalhar com firmeza e sentido patriótico, com o objectivo de
fortalecer a sua interacção com os cidadãos e a garantir a justiça
e a legitimidade na actividade pública. Para o efeito, recomen-
da-se, também, uma maior divulgação do papel do Provedor

70
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

de Justiça, junto dos cidadãos, e uma profunda sensibilização


das instituições da administração do Estado, com vista à maior
cooperação.
Estou convicto de que o dia que hoje se comemora, e que nos
reuniu neste ciclo de palestras, serviu para uma maior reflexão
em torno do tema “o cidadão a nossa preocupação, o cidadão a
nossa preocupação, mais direito, mais cidadania, mais cidadania,
mais direito”. E que as diferentes intervenções aqui apresentadas
contribuam para nos ajudar a encontrar os caminhos para o
engrandecimento desta instituição.
Minhas Senhoras e Meus Senhores,
Antes de terminar gostaria de renovar o sentimento de gratidão
pelo convite e também de fazer justiça, felicitando os palestrantes
pelas lições de sapiência que tanto contribuem para a plena
afirmação do Provedor de Justiça como autoridade administrativa
independente.
Com estas palavras declaro encerrada esta cerimónia.
Muito obrigado pela vossa atenção.

71
COMUNICADO FINAL
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

COMUNICADO FINAL

No âmbito da celebração da semana do Provedor de Justiça,


instituída através do Despacho n.º 92/18 de 06 de Março, do
Provedor de Justiça, publicado na Iª Série do Diário da República
n.º 45, de 9 de Abril de 2018, comemora-se hoje, 19 de Abril de
2018, o dia do Provedor de Justiça da República de Angola,
subordinado ao tema central:
“O cidadão, a nossa ocupação
o cidadão, a nossa preocupação
mais direito, mais cidadania
mais cidadania, mais direito”.
Neste contexto, teve lugar, neste dia, na sede da Provedoria de
Justiça, um ciclo de palestras.
No início do referido certame, a mesa foi presidida por Sua
Excelência o Senhor Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil
do Presidente da República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e
Silva Cardoso, em representação de Sua Excelência o Presidente
da República, que esteve ladeado pelo Venerando Juiz Conse-
lheiro Presidente do Tribunal Constitucional, Dr. Manuel Miguel
da Costa Aragão, por Sua Excelência o Provedor de Justiça, Dr.
Carlos Alberto Ferreira Pinto, pelo Governador da Província de
Luanda, Dr. Adriano Mendes de Carvalho e pela Provedora de
Justiça-Adjunta, Dra. Florbela Rocha Araújo.
Estiveram, ainda, presentes o primeiro Provedor de Justiça da
República de Angola, Dr. Paulo Tjipilica, a primeira Provedora
de Justiça-Adjunta Dra. Maria da Conceição Almeida Sango, o
Representante das Nações Unidas em Angola, Dr. Pier Paolo
Baladelli, Secretários do Presidente da República, Ministros,
Secretários de Estado, Magistrados Judiciais e do Ministério
Público, Entidades Religiosas, Magníficos Reitores, Decanos de

75
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

Faculdades, Directores, Funcionários e Agentes da Provedoria


de Justiça e estudantes do 4.º e 5.º Anos do Curso de Direito.
Durante o seu discurso de boas-vindas, Sua Excelência o Prove-
dor de Justiça começou por realçar a importância da instituição
Provedor de Justiça na defesa dos direitos, das liberdades e das
garantias do cidadão, bem como a relevância da concretização
da Provedoria de Justiça, que ocorreram por eleição do primeiro
Provedor de Justiça da República de Angola, aos 19 de Abril de
2005 e pela entrada em vigor da Lei n.º 4/06 (Lei do Estatuto do
Provedor de Justiça) e da Lei n.º 5/06 (Lei Orgânica do Provedor
de Justiça), ambas de 28 de Abril.
Salientou, ainda, que, em Angola, a institucionalização desta
instituição pública e independente foi criada para receber as
queixas dos cidadãos, as quais são tratadas através de meios
informais, assegurando a justiça e a legalidade da Administração
Pública.
Aproveitou a oportunidade para manifestar os constrangimentos
decorrentes da não revisão, ainda, dos diplomas (a Lei n.º 4/06
e a Lei n.º 5/06, ambas de 28 de Abril) reitores da instituição, de
modo a conformá-los à Constituição da República de Angola, o
que tem proporcionado o êxodo dos melhores técnicos neces-
sários à instituição.
Apelou, também, no âmbito do dever legal de cooperação, a
todas as entidades visadas ou que venham a ser visadas, que
devem prestar todos os esclarecimentos e as informações que
lhes sejam solicitados pelo Provedor de Justiça, pois, apesar
do dever de cooperação emanar da lei, o não cumprimento
desse dever por parte das entidades visadas tem criado vários
constrangimentos.
Em seguida, foi proferido o discurso de abertura por Sua Excelên-
cia o Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da

76
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

República, Dr. Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso, em


representação de Sua Excelência o Presidente da República, que
enfatizou a importância da instituição Provedor de Justiça como
um dos canais de auscultação da voz do povo, um “assessor”
jurídico de confiança para os cidadãos na reclamação dos seus
direitos fundamentais, um canal de denúncia de acções ilegais
e um dos mecanismos constitucionais de protecção dos direitos.
Sublinhou, em continuidade, que é esperado, do Provedor de
Justiça, o exercício, a todo o momento, do seu papel de magis-
tratura de persuasão.
O evento ficou estruturado em duas grandes palestras. A primeira,
subordinada ao tema “A Institucionalização do Provedor de
Justiça no Ordenamento Jurídico Angolano e a sua Importância”,
que teve como palestrante o Dr. Paulo Tjipilica, primeiro Provedor
de Justiça da República de Angola e, actualmente, Consultor
do Presidente da República e como moderador o Dr. Cremildo
Paca, Professor Universitário.
Na sua explanação fez uma incursão histórica sobre o processo
de institucionalização e eleição do primeiro Provedor de Justiça,
destacando as diligências junto das instituições congéneres, no
âmbito do direito comparado, tendo concluído com o célebre
pensamento de Winston Churchill “O segredo do êxito reside no
facto de ir de insucesso a insucesso sem nunca perder o ânimo”.
A segunda palestra, subordinada ao tema “Direitos Fundamen-
tais na Vertente dos Direitos, das Liberdades e das Garantias
Fundamentais do Cidadão” foi apresentada pelo Venerando
Juiz Conselheiro do Tribunal Constitucional, Dr. Raúl Araújo e
moderada pela Drª Margarida Gonçalves, Procuradora Geral
-Adjunta da República.
Na sua intervenção o prelector salientou o desenvolvimento e
a sistematização dos direitos fundamentais na Constituição da

77
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

República de Angola, afirmando que só é possível falar sobre os


direitos fundamentais num estado democrático e de direito, pois
toda a acção do Estado deve ter presente que o mais importante
é a defesa do cidadão e o respeito pela defesa da dignidade da
pessoa humana, princípio estruturante da Constituição angolana.
Relativamente à necessidade de revisão dos diplomas da Pro-
vedoria de Justiça, salientou que a sua não aprovação constitui
uma barreira para uma melhor defesa dos direitos, das liberdades
e garantias dos cidadãos.

78
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

CONCLUSÕES E SUGESTÕES

Assim, após a apresentação dos temas e discussão dos mesmos,


podemos concluir que o Provedor de Justiça é:
1. Um dos canais de auscultação da voz do povo;
2. Um assessor jurídico de confiança para os cidadãos na
reclamação dos seus direitos fundamentais;
3. Um canal de denúncia de acções ilegais;
4. Um dos mecanismos constitucionais de protecção dos
direitos fundamentais;
5. Um observador de processos, incluindo os judiciais.
O Provedor de Justiça desempenha um importante papel,
nomeadamente:
1. De auditoria social, ética e deontologia da sociedade,
num momento em que se impõe ouvir muito, fazer mais
e dialogar melhor;
2. De magistratura de persuasão, devido à credibilidade que
deve conquistar e preservar;
3. De exercer com plenitude a sua capacidade de convocação
e de divulgação, num ambiente em que o respeito e a
tolerância prevaleçam sempre, como estandarte.
Finalmente, a peculiaridade do Provedor de Justiça consiste no
facto de poder recomendar correcções administrativas sem,
contudo, as executar;
Poder ajudar a compor litígios judiciais, sem, contudo, sentenciar;
Poder sugerir a feitura de boas leis sem, contudo, legislar.
Há necessidade de revisão dos diplomas reitores da Provedoria
de Justiça, porque a sua não aprovação constitui uma barreira

79
A Institucionalização do Dia do Provedor de Justiça

para uma melhor defesa dos direitos, das liberdades e das


garantias dos cidadãos.
O evento foi encerrado por Sua Excelência o Presidente da
Assembleia Nacional, Dr. Fernando da Piedade Dias dos Santos,
Presidente da Assembleia Nacional, que, no seu discurso, salientou
o papel e a importância da instituição Provedor de Justiça, tendo
encorajado o actual Provedor a desempenhar com zelo as suas
funções na defesa dos direitos, das liberdades e das garantias
dos cidadãos, com base na legislação em vigor.

Luanda, aos 19 de Abril de 2018.

80
ANEXOS
Portal do Provedor de Justiça
,

WWW.provedordejustica.ao
E-mail: provedor@provedordejustica.ao
Endereço da Provedoria de Justiça
Rua 17 de Setembro e Pinheiro Furtado, Cidade Alta

Luanda - Angola
Edifício-Sede da Provedoria de Justiça
O edifício-sede da Provedoria de Justiça foi inaugurado no dia 12 de Dezembro de 2012.
A Revista da Provedoria de Justiça

A Revista de informação geral foi lançada no dia 4 de Setembro de 2013.

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PÓRTICO PARA 2014 ANGOLA RESPEITA
O cidadão, a nossa preocupação; PRINCÍPIOS DE PARIS Pág. 14
O cidadão, a nossa ocupação;
Mais direito, mais cidadania; BIÉ TERÁ SERVIÇOS
Mais cidadania, mais direito.
DA PROVEDORIA ESTE ANO Pág. 22
LEGISLAÇÃO
RELEVANTE
Lei n.º 4/06 de 28 de Abril
Assembleia Nacional

A Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro - Lei de Revisão Constitu-


cional, consagra no seu artigo 9.º o princípio segundo o qual
“enquanto não for designado o Provedor de Justiça, as funções
que lhe são acometidas pela Lei Constitucional serão exercidas
pelo Procurador Geral da República”.
Considerando estarem reunidas as condições para instituciona-
lizar e prover o cargo do Provedor de Justiça, órgão importante
na consolidação do Estado democrático e de direito, mormente
no que respeita à defesa dos direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos;
Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º e da alínea
c) do artigo 89.º ambos da Lei Constitucional, a Assembleia
Nacional aprova a seguinte:

LEI DO ESTATUTO DO PROVEDOR DE JUSTIÇA

CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES GERAIS
Artigo 1.º
(Definição e Funções)
O Provedor de Justiça é um órgão público independente que
tem por objecto a defesa dos direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos, assegurando, através de meios informais, a justiça e a
legalidade da administração pública.
Artigo 2.º
(Âmbito de Actuação)
As acções do Provedor de Justiça exercem-se nomeadamente,
no âmbito dos serviços da administração pública, central e local,
dos institutos públicos, empresas públicas ou de capitais maio-
ritariamente públicos, concessionárias de serviços públicos ou
de exploração de bens de domínio público.
Artigo 3.º
(Iniciativa e Direito de Queixa)
1. O Provedor de Justiça exerce as suas funções com base em
queixas apresentadas pelos cidadãos, individual ou colecti-
vamente, por acções ou omissões dos órgãos e agentes da
administração pública, que afectem de algum modo os seus
direitos, liberdades, garantias ou interesses legítimos, não
dependendo tais queixas de qualquer prazo.
2. Constituem excepção os casos de flagrante violação dos
direitos, liberdades e garantias fundamentais dos cidadãos,
podendo nestes casos, a acção do Provedor ser exercida
por iniciativa própria, independente dos meios graciosos ou
contenciosos previstos na constituição e nas leis, recomen-
dando no sentido de ser reposta a legalidade e ressarcidos
eventuais prejuízos ou danos.
Artigo 4.º
(Natureza da Actividade)
Compete ao Provedor de Justiça emitir recomendações aos
órgãos ou serviços que estejam no âmbito da sua actividade,
sem poderes decisórios.
CAPÍTULO II
ESTATUTO
Artigo 5.º
(Designação e Posse)
1. O Provedor de Justiça é designado pela Assembleia Nacional
por maioria de 2/3 dos Deputados em efectividade de funções
e toma posse perante o Presidente da Assembleia Nacional.
2. Deve ser designado cidadão angolano que preencha os
requisitos de elegibilidade para a Assembleia Nacional e
goze de comprovada reputação, integridade, independência
e esteja no pleno gozo dos seus direitos civis e políticos.
3. No acto de posse o Provedor de Justiça presta o seguinte
juramento: «Juro por minha honra desempenhar fielmente
o cargo de Provedor de Justiça em que fico investido, pro-
movendo e defendendo os direitos, liberdades, garantias e
interesses legítimos dos cidadãos, no estrito respeito pela
Constituição e pelas demais leis da República».
Artigo 6.º
(Duração do Mandato)
1. O Provedor de Justiça é eleito por quatro anos, sendo reelegível
apenas uma vez, por igual período.
2. Após o termo do período por que foi designado, o Provedor
de Justiça mantém-se em exercício de funções até à posse
do seu sucessor.
3. A designação do Provedor deve ocorrer 30 dias antes do
termo do mandato do seu antecessor e deve tomar posse
na 1.ª sessão plenária realizada após a sua eleição.
4. Verificando-se a dissolução da Assembleia Nacional ou se
não estiver em funções, a eleição tem lugar dentro de 30
dias contados da 1.ª reunião da Assembleia Nacional eleita
ou a partir do início da nova sessão.
Artigo 7.º
(Cessação de funções)
1. Antes do termo do seu mandato, as funções de Provedor de
Justiça só podem cessar:
a)- por morte ou incapacidade física ou psíquica permanente;
b)- por perda dos requisitos de elegibilidade;
c)- por incompatibilidade superveniente;
d)- por renúncia;
e)- por motivo de condenação judicial por crime doloso
punível com pena de prisão maior superior a dois anos;
f)- por acções ou omissões praticadas com negligência grave
no cumprimento das suas funções.
2. Os factos determinantes da cessação de funções, previstos nas
alíneas a), b), c) e d) do n.º 1, são verificados pela Assembleia
Nacional, nos termos do seu regimento.
3. A declaração de renúncia, prevista na alínea d) do n.º 1, é
apresentada ao Presidente da Assembleia Nacional e torna-se
efectiva a partir da data da publicação no Diário da República,
da resolução da Assembleia Nacional.
4. O Provedor de Justiça não está sujeito às disposições legais
em vigor sobre a aposentação e reforma por limite de idade.
Artigo 8.º
(Independência e Inamovibilidade)
O Provedor de Justiça é independente e inamovível, não podendo
as suas funções cessarem antes do termo do mandato para que
foi eleito, salvo nos casos previstos na presente lei.
Artigo 9.º
(Vacatura)
Em caso de vacatura do cargo de Provedor de Justiça antes do
termo do seu mandato, por qualquer circunstância prevista no
n.º 1 dos artigos 7.º e 9.º da presente lei, a Assembleia Nacional
designa um Provedor de Justiça interino.
Artigo 10.º
(Imunidades)
1. O Provedor de Justiça não pode ser perseguido, investigado,
preso, detido, nem responde civil ou criminalmente pelas
recomendações, reparos ou opiniões que emita ou pelos
actos que pratique no exercício das suas funções, no âmbito
da estrita legalidade.
2. O Provedor de Justiça só pode ser preso depois de culpa
formada e após suspensão do exercício do cargo pela
Assembleia Nacional, excepto em flagrante delito por crime
doloso punível com pena de prisão maior.
3. Movido procedimento criminal contra o Provedor de Justiça
e havendo culpa formada, a Assembleia Nacional delibera
sobre se o Provedor de Justiça deve ou não ser suspenso
para efeitos de prosseguimento do processo, ressalvada a
excepção do número que antecede.
Artigo 11.º
(Honras Direitos e Garantias)
O Provedor de Justiça goza do estatuto, direitos, remunerações
e regalias idênticas às concedidas aos Ministros.
Artigo 12.º
(Incompatibilidades)
1. O Provedor de Justiça está sujeito às incompatibilidades que
decorrem do estatuto que lhe está consignado no artigo
anterior.
2. Ao Provedor de Justiça é vedado o exercício de quaisquer
funções em órgãos de partidos ou associações políticas e
o desenvolvimento de actividades partidárias de carácter
público.
Artigo 13.º
(Dever de Sigilo)
1. O Provedor de Justiça é obrigado a guardar sigilo relativamente
aos factos de que tome conhecimento no exercício das suas
funções, de acordo com a natureza dos factos.
2. O mero dever de sigilo, que não provenha do reconhecimento
ou protecção da constituição ou da lei, de quaisquer cidadãos
ou entidades, cede perante o dever de cooperação com o
Provedor de Justiça no âmbito da competência deste.
Artigo 14.º
(Garantias de Trabalho e Estabilidade no Emprego)
1. O Provedor de Justiça não pode ser prejudicado na estabilidade
do seu emprego, na sua colocação e carreira e no regime de
segurança social de que seja beneficiário.
2. O tempo de serviço prestado como Provedor de Justiça conta,
para todos os efeitos, como prestado nas funções e no lugar
de origem, bem como para efeitos de aposentação.
Artigo 15.º
(Identificação e Livre Trânsito)
1. O Provedor de Justiça tem direito a um cartão especial de
identificação emitido pela Secretaria da Assembleia Nacional
e assinado pelo Presidente.
2. O cartão é simultaneamente de livre trânsito e de acesso a
todos os locais de funcionamento da administração central,
local e institucional, serviços civis e militares, polícia, empresas
públicas e de capitais maioritariamente públicos.
Artigo 16.º
(Gabinete do Provedor de Justiça)
À organização, funcionamento e composição dos gabinetes do
Provedor de Justiça e do Provedor de Justiça-Adjunto aplica-se
o estipulado nos Decretos n.º 26/96, de 4 de Abril e n.º 68/02,
de 29 de Outubro, sobre a composição e o regime jurídico dos
gabinetes dos membros do Governo.
Artigo 17.º
(Provedor de Justiça-Adjunto)
1. No exercício das suas funções, o Provedor de Justiça é
coadjuvado por um Provedor de Justiça-Adjunto, eleito pela
Assembleia Nacional por maioria absoluta dos deputados em
efectividade de funções e toma posse perante o Presidente
da Assembleia Nacional.
2. O Provedor de Justiça-Adjunto tem os direitos, remunerações
e regalias idênticas às de Vice-Ministros.
3. O Provedor de Justiça pode delegar no Provedor de Justi-
ça-Adjunto os poderes constantes dos artigos 20.º, 21,º, 26.º,
31.º, 38.º e 46.º.
4. Ao Provedor de Justiça-Adjunto aplica-se o estipulado nos
artigos 12.º, 13.º e 14.º da presente.

CAPÍTULO III
ATRIBUIÇÕES
Artigo 18.º
(Competências)
Ao Provedor de Justiça compete:
a)- emitir recomendações para os órgãos competentes com
vista à correcção de actos ilegais dos órgãos e agentes
da administração pública ou melhoria dos respectivos
serviços;
b)- emitir parecer por solicitação da Assembleia Nacional sobre
quaisquer matérias relacionadas com a sua actividade;
c)- promover a divulgação do conteúdo de cada um dos
direitos e liberdades fundamentais, bem como da finalidade
da instituição do Provedor de Justiça, dos meios de acção
de que dispõe e de como a ele se pode fazer apelo;
d)- intervir, nos termos da lei aplicável, na tutela dos interesses
colectivos ou difusos, quando estiverem em causa, órgãos
ou agentes da administração pública;
e)- visitar e apreciar as condições humanas de internamento
dos reclusos, devendo, sempre que constar situações
desumanas que periguem a vida destes, recomendar
ao órgão visitado a supressão imediata das referidas
condições e informar do facto o órgão superior de tutela;
f)- instruir processos de mera averiguação das queixas de
cidadãos por actos praticados pelos agentes da admi-
nistração pública;
g)- acompanhar o cumprimento das recomendações emitidas.
Artigo 19.º
(Poderes)
1. No exercício das suas funções, o Provedor de Justiça deve
procurar, em colaboração com os órgãos e serviços competentes,
as soluções mais adequadas à tutela dos interesses legítimos
dos cidadãos e ao aperfeiçoamento da acção administrativa.
2. A avaliação e actuação do Provedor de Justiça é limitada pela
utilização de meios graciosos.
Artigo 20.º
(Limites de Intervenção)
O Provedor de Justiça não tem competência para anular, revogar
ou modificar os actos dos poderes públicos e a sua intervenção não
suspende os prazos dos recursos, quer hierárquico, quer contencioso.
Artigo 21.º
(Relatório e Colaboração com a Assembleia Nacional)
1. O Provedor de Justiça envia semestralmente à Assembleia
Nacional um relatório da sua actividade que deve conter
as iniciativas tomadas, as queixas recebidas, as diligências
efectuadas e os resultados obtidos, sem prejuízo do relatório
anual que deve incluir a prestação de contas.
2. A fim de tratar de assuntos da sua competência, o Provedor
de Justiça pode tomar parte nos trabalhos das Comissões
de Trabalho Permanentes da Assembleia Nacional sempre
que estas solicitem a sua presença.

CAPÍTULO IV
PROCEDIMENTO
Artigo 22.º
(Apresentação de Queixas)
1. As queixas podem ser apresentadas oralmente, por escrito, por
via telefónica ou electrónica e devem conter a identidade e
morada do queixoso e, sempre que possível, a sua assinatura.
2. Quando apresentadas oralmente, são reduzidas a auto, que o
queixoso assina sempre que saiba e possa fazê-lo; carecendo,
todavia, de análise, investigação e confirmação, as queixas e
denúncias formuladas telefonicamente.
3. As queixas podem ser apresentadas em linguagem própria
e adequada e não devem conter termos ofensivos ao
bom-nome e honra das pessoas ou instituições em causa.
Quando a queixa não for apresentada em termos próprios
e adequados, deve ser ordenada a sua correcção no prazo
máximo de 30 dias.
4. As queixas apresentadas ao Provedor de Justiça, dispensam
a constituição de advogado, estão isentas de custas e selos,
desde que contenham a identidade e a morada do queixoso
e, sempre que possível, a sua assinatura.
Artigo 23.º
(Apreciação Prévia das Queixas)
As queixas são objecto de uma apreciação preliminar tendente
a avaliar a sua admissibilidade, oportunidade e razoabilidade.
Artigo 24.º
(Recusa da Queixa)
O Provedor de Justiça recusa as queixas anónimas, apresentadas
de má-fé, as desprovidas de fundamento, que não sejam da sua
competência, cuja ilegalidade já tenha sido reparada ou de cuja
tramitação resultem prejuízos dos legítimos direitos de terceiros.
Artigo 25.º
(Instrução)
1. A instrução de processos consiste em pedidos de informação
ou qualquer outro procedimento razoável que não colida
com os direitos fundamentais dos cidadãos e é efectuada
por meios informais à prossecução das petições às regras
que lhes sejam enviadas.
2. As diligências são efectuadas pelo Provedor de Justiça e
seus colaboradores, podendo também a sua execução ser
solicitada directamente aos agentes do Ministério Público
ou quaisquer outras entidades públicas com prioridade e
urgência, quando for caso disso.
Artigo 26.º
(Dever de Cooperação)
1. Os órgãos e agentes das entidades públicas, civis e militares
têm o dever de prestar todas os esclarecimentos e informações
que lhes sejam solicitados pelo Provedor de Justiça.
2. As entidades públicas, civis e militares prestam ao Provedor
de Justiça toda a colaboração que por este lhes for solici-
tada, designadamente informações, efectuando inspecções
através dos serviços competentes e facultando documentos
e processos para exame, remetendo-os ao Provedor, se tal
lhes for pedido.
3. O disposto no número anterior não prejudica as restrições
legais respeitantes ao segredo de justiça nem a invocação de
in cresse superior do Estado, nos casos devidamente justifi-
cados pelos órgãos competentes, em questões respeitantes
à segurança, à defesa ou às relações internacionais.
4. O Provedor de Justiça pode fixar por escrito um prazo, não
inferior a 30 dias na Província de Luanda e 45 dias nas restantes
províncias, para satisfação de pedido que formule com nota de
urgência.
Artigo 27.º
(Depoimentos)
1. O Provedor de Justiça pode solicitar a qualquer cidadão
depoimentos ou informações sempre que os julgar necessários
para apuramento de factos.
2. Considera-se justificada a falta ao serviço determinada pelo
dever de comparência à Provedoria de Justiça em caso de
notificação para depoimento.
3. Em caso de recusa de depoimento ou falta de comparência
no dia e hora designados, o Provedor de Justiça pode noti-
ficar, por ofício dirigido ao superior hierárquico, tratando-se
de funcionário público, as pessoas que devem ser ouvidas,
constituindo crime de desobediência a falta injustificada de
comparência ou a recusa de depoimento.
Artigo 28.º
(Arquivamento)
1. São mandadas arquivar as queixas:
a)- quando não sejam da competência do Provedor de Justiça;
b)- quando o Provedor de Justiça conclua que a queixa não
tem fundamento ou que não existem elementos bastantes
para ser adoptado qualquer procedimento;
c)- quando a ilegalidade ou injustiça invocadas já tenham
sido reparadas.
2. O interessado deve ser sempre informado da decisão de
arquivamento do pedido.
Artigo 29.º
(Encaminhamento)
1. Quando o Provedor de Justiça reconheça que o queixoso
tem ao seu alcance um meio gracioso ou contencioso,
especialmente previsto na lei, pode limitar-se a encaminhá-lo
para a entidade competente e acompanhar o seu desfecho.
2. Independentemente do disposto no número anterior, o Provedor
deve informar sempre o queixoso dos meios contenciosos
que estejam ao seu alcance.
Artigo 30.º
(Gratuitidade das Comunicações e Correspondência)
1. É isenta de selos e demais taxas toda a correspondência
referente à actividade do Provedor de Justiça, por dizer
respeito a um serviço de carácter eminentemente público e
à defesa e magistratura do cidadão.
2. O Provedor de Justiça deve dispor igualmente de linha
telefónica para as reclamações dos cidadãos, os recados da
criança, apelos do idoso, dos portadores de deficiência e dos
reclusos, nos termos a acordar com os serviços competentes.
Artigo 31.º
(Sigilo das Comunicações)
1. A correspondência dirigida ao Provedor de Justiça remetida de
um estabelecimento prisional, centro de detenção, internamento
ou custódia de pessoas, não pode ser objecto de qualquer tipo
de censura.
2. Não podem ser objecto de escuta ou interferência as conver-
sações referidas no n.º 2 do artigo 30.º da presente lei.
Artigo 32.º
(Casos de Pouca Gravidade)
Nos casos de pouca gravidade, sem carácter continuado, o Pro-
vedor de Justiça pode limitar-se a uma chamada de atenção ao
órgão ou serviço competente ou dar por encerrado o assunto
com os esclarecimentos fornecidos.
Artigo 33.º
(Audição Prévia)
O Provedor de Justiça deve sempre ouvir os órgãos ou agentes
postos em causa, permitindo-lhes que prestem todos os escla-
recimentos necessários antes de extrair quaisquer conclusões.
Artigo 34.º
(Participação de Infracções e Publicidade)
Ocorrendo na tramitação do processo indícios suficientes da
prática de infracções criminais ou disciplinares, o Provedor de
Justiça deve dar do facto conhecimento, conforme os casos, ao
Ministério Público ou à entidade hierarquicamente competente
para instauração do competente processo disciplinar ou criminal.
Artigo 35.º
(Irrecorribilidade dos actos do Provedor)
Os actos do Provedor de Justiça não são passíveis de recurso
hierárquico, mas podem ser passíveis de recurso contencioso,
nos termos do artigo 43.º da Lei Constitucional e da Lei n.º 2/94,
de 14 de Janeiro - Lei da Impugnação dos Actos Administrativos.
Artigo 36.º
(Recomendações)
1. As recomendações do Provedor de Justiça são dirigidas ao
órgão competente para corrigir o acto ou a situação irregular.
2. O órgão destinatário da recomendação deve, no prazo de 45
dias, na Província de Luanda, 60 dias nas restantes províncias,
a contar da sua recepção, comunicar ao Provedor de Justiça
a posição tomada sobre a recomendação.
3. O não acatamento da recomendação tem sempre de ser
fundamentada.
4. Se as recomendações não forem atendidas, e sempre que o
Provedor de Justiça não obtiver a colaboração devida, pode
dirigir-se ao superior hierárquico competente.
5. As conclusões do Provedor de Justiça são sempre comuni-
cadas aos órgãos ou agente visados e, precedendo queixa
do cidadão, aos queixosos.

CAPÍTULO V
PROVEDORIA DE JUSTIÇA
Artigo 37.º
(Autonomia, Instalação e Fins)
1. A Provedoria de Justiça tem por função prestar apoio técnico
e administrativo necessários ao desempenho do Provedor
de Justiça, de acordo com as atribuições, competências e
funções a definir na própria lei orgânica.
2. A Provedoria de Justiça é dotada de autonomia administrativa
e financeira.
3. A Provedoria de Justiça funciona em instalações próprias.
Artigo 38.º
(Pessoal)
A Provedoria de Justiça dispõe de um quadro de pessoal próprio,
nos termos da respectiva lei orgânica.
Artigo 39.º
(Competência Administrativa e Disciplinar)
Compete ao Provedor de Justiça praticar todos os actos relativos
ao provimento e à situação funcional do pessoal da Provedoria
de Justiça e exercer sobre ele o poder disciplinar.
Artigo 40.º
(Orçamento do Serviço)
A Provedoria de Justiça tem um orçamento anual, autónomo,
elaborado nos termos da respectiva lei orgânica e no âmbito que
deve constar de verba a inscrever no Orçamento da Assembleia
Nacional, a gerir directamente, por um Conselho Administrativo,
sem prejuízo do estipulado legalmente quanto à fiscalização do
Tribunal de Contas.
Artigo 41.º
(Disposições Finais e Transitórios)
As dúvidas e omissões que se suscitarem da aplicação e inter-
pretação da presente lei são resolvidas pela Assembleia Nacional.
Artigo 42.º
(Entrada em Vigor)
A presente lei entra em vigor na data da sua publicação.
Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos 3
de Fevereiro de 2006.

Publique-se.

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Victor


Francisco de Almeida.

Promulgada em 10 de Abril de 2006.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.


Lei n.º 5/06 de 28 de Abril

Assembleia Nacional

COM AS ALTERAÇÕES QUE LHE FORAM INTRODUZIDAS PELA


RECTIFICAÇÃO DR 61/07 DE 21 DE MAIO

A Lei n.º 23/92, de 16 de Setembro - Lei de Revisão Constitucional,


consagra no seu artigo 9.º o princípio segundo o qual “enquanto
não for designado o Provedor de Justiça, as funções que lhe
são acometidas pela Lei Constitucional serão exercidas pelo
Procurador-Geral da República”.
Considerando estarem reunidas as condições para institucionalizar
e prover o cargo do Provedor de Justiça, órgão importante na
consolidação do Estado democrático e de direito, mormente no
que respeita à defesa dos direitos, liberdades e garantias dos
cidadãos.
Nestes termos, ao abrigo da alínea b) do artigo 88.º e da alínea
c) do artigo 89.º ambos da Lei Constitucional, a Assembleia
Nacional aprova a seguinte:

LEI ORGÂNICA DA PROVEDORIA DE JUSTIÇA

CAPÍTULO I
NATUREZA E ATRIBUIÇÕES
Artigo 1.º
(Noções e Finalidade)
A Provedoria de Justiça é uma instituição de direito público,
que tem por objectivo prestar apoio técnico e administrativo
necessários à realização das atribuições e tarefas do Provedor
de Justiça, constantes do respectivo estatuto.
Artigo 2.º
(Natureza da Instituição)
1. A Provedoria de Justiça é dotada de autonomia administrativa
e financeira.
2. A gestão financeira da Provedoria de Justiça é assegurada
pelos serviços da Secretaria-Geral.
Artigo 3.º
(Provedor de Justiça-Adjunto)
1. O Provedor de Justiça-Adjunto é eleito pela Assembleia
Nacional por maioria absoluta dos seus membros em efec-
tividade de funções e toma posse perante o Presidente da
Assembleia Nacional.
2. Compete ao Provedor de Justiça-Adjunto:
a)- coadjuvar o Provedor de Justiça nas suas tarefas;
b)- substituir o Provedor de Justiça nas suas ausências e
impedimentos;
c)- desenvolver as demais tarefas que lhe são incumbidas
pelo Provedor de Justiça.

CAPÍTULO II
ESTRUTURA ORGÂNICA
Artigo 4.º
(Órgãos)
A Provedoria de Justiça compreende os seguintes órgãos:
a) Provedor de Justiça;
b) Conselho da Provedoria.
Artigo 5.º
(Serviços)
1. A Provedoria de Justiça compreende os seguintes serviços:
a)- Secretaria-Geral;
b)- Direcção dos Serviços Técnicos.
Artigo 6.º
(Provedor de Justiça)
1. As competências do Provedor de Justiça são as que constam
da lei que aprova o seu estatuto.
2. A organização, funcionamento e composição dos gabinetes
do Provedor de Justiça e do Provedor de Justiça-Adjunto
regem-se nos termos do estabelecido nos Decretos n.º
26/97, de 4 de Abril e n.º 68/02, de 29 de Outubro, sobre a
composição e o regime jurídico do pessoal dos gabinetes
dos membros do Governo.
Artigo 7.º
(Conselho da Provedoria)
O Conselho da Provedoria é o órgão de programação, acom-
panhamento e controlo das actividades da Provedoria, a quem
compete:
a)- dar parecer sobre o plano de trabalho anual da Provedoria,
bem como da proposta de orçamento;
b)- analisar o relatório anual e as contas de exercício;
c)- aprovar os regulamentos necessários ao bom funciona-
mento da Provedoria;
d)- pronunciar-se sobre os demais assuntos que lhe são
submetidos pelo Provedor de Justiça ou qualquer dos
seus integrantes.
Artigo 8.º
(Composição do Conselho da Provedoria)
1. O Conselho da Provedoria é presidido pelo Provedor de
Justiça e integra os seguintes membros:
a)- Provedor de Justiça;
b)- Provedor de Justiça-Adjunto;
c)- Secretário-Geral;
d)- Director dos Serviços Técnicos.
1. O Provedor de Justiça pode convidar outras entidades a
participar nas reuniões do Conselho da Provedoria.
2. O Conselho da Provedoria reúne trimestralmente, podendo
realizar reuniões extraordinárias.
Artigo 9.º
(Secretaria-Geral)
A Secretaria-Geral é o serviço que se ocupa da generalidade
das questões comuns da Provedoria de Justiça nos domínios da
gestão do pessoal, orçamento, património e relações públicas,
a quem compete:
a)- programar e aplicar as medidas tendentes a promover
o aperfeiçoamento das actividades administrativas e a
melhoria da eficiência dos serviços da Provedoria de Justiça;
b)- elaborar e executar o orçamento da Provedoria de Justiça,
apresentando ao Provedor de Justiça o respectivo relatório
anual de execução;
c)- assegurar a gestão integrada do pessoal afecto aos
diversos serviços da Provedoria de Justiça, nomeadamente
no que se refere ao provimento, promoção, progressão,
transferência, exoneração, aposentação e outros;
d)- garantir a manutenção e expediente de todos os processos,
bem como manter organizado e actualizado o arquivo
dos processos;
e)- assegurar a aquisição e manutenção dos bens necessários
ao funcionamento da Provedoria de Justiça;
f)- organizar as folhas de salários dos funcionários, agentes
administrativos assalariados para posterior liquidação;
g)- elaborar o plano de formação e aperfeiçoamento profis-
sional dos funcionários incluindo as acções de capacitação,
superação e actualização que se reconheçam necessárias;
h)- administrar o património da Provedoria.
Artigo 10.º
(Estrutura da Secretaria-Geral)
1. A Secretaria-Geral estrutura-se em:
a)- Departamento de Gestão do Orçamento e Administração
do Património;
b)- Departamento de Recursos Humanos;
c)- Departamento de Protocolo e Relações Públicas.
2. O Departamento de Gestão do Orçamento e Administração do
Património compreende a Secção de Gestão do Orçamento
e a Secção de Administração do Património.
3. O Departamento de Recursos Humanos compreende, a Secção
de Recrutamento, Selecção e a Secção de Administração
de Pessoal.
4. O Departamento de Protocolo e Relações Públicas com-
preende a Secção de Protocolo, a Secção de Expediente e
Relações Públicas.
5. A Secretaria-Geral é dirigida por um secretário-geral equi-
parado a director nacional e os departamentos e as secções
são dirigidos por chefes de departamentos e de secção,
respectivamente.
Artigo 11.º
(Direcção dos Serviços Técnicos)
A Direcção dos Serviços Técnicos é o serviço encarregue da
análise e tratamento técnico das queixas e reclamações dos
cidadãos a quem compete:
a)- instruir processos de averiguação abertos e baseados
nas queixas dos cidadãos ou por iniciativa do Provedor
de Justiça;
b)- analisar as provas e demais elementos processuais;
c)- elaborar os projectos e recomendações, reparos e suges-
tões das matérias que lhe são submetidas;
d)- emitir pareceres, por solicitação do Provedor de Justiça,
sobre questões de carácter geral e do funcionamento da
Provedoria de Justiça;
e)- desenvolver as demais tarefas que lhe forem incumbidas.
Artigo 12.º
(Estrutura da Direcção dos Serviços Técnicos)
1. A Direcção dos Serviços Técnicos estrutura-se em:
a)- Departamento de Análise, Queixas e Reclamações;
b)- Departamento de Recolha e Tratamento de Informação.
2. O Departamento de Análise, Queixas e Reclamações com-
preende a Secção de Análise e Instrução de Processos e a
Secção de Estudos Jurídicos Legais.
3. O Departamento de Recolha e Tratamento de Informação
compreende a Secção de Comunicação e Imagem e a
Biblioteca.
4. A Direcção dos Serviços Técnicos é dirigida por um director
nacional e os departamentos e secções são dirigidos por
chefes de departamentos e de secção, respectivamente.
5. O chefe da Biblioteca é equiparado a chefe de secção.
Artigo 13.º
(Serviços Locais)
1. Com vista a garantir a aproximação da Provedoria de Justiça
aos cidadãos e a celeridade processual, deve ser assegurado
a nível das localidades um serviço para proceder à recepção
e encaminhamento das queixas e reclamações, pela via
mais expedita, bem como prestar as devidas informações e
esclarecimentos necessários.
2. Enquanto não tiver instalações próprias, os Serviços Locais da
Provedoria de Justiça podem funcionar nas instalações das
Delegações Provinciais da Justiça, da Procuradoria-Geral da
República ou de outros serviços locais que tenham espaço
físico para o efeito, devendo ser salvaguardada a sua plena
autonomia.
3. O serviço referido no número anterior é equiparado a secção.

CAPÍTULO III
GESTÃO FINANCEIRA E PATRIMONIAL
A gestão financeira da Provedoria de Justiça é assegurada através
dos seguintes instrumentos:
a)- plano anual e plurianual de actividades;
b)- orçamento anual;
c)- relatório anual de actividades e de contas.
Artigo 15.º
(Receitas)
As receitas da Provedoria de Justiça provêm das dotações do
Orçamento Geral do Estado a ser aprovado pela Assembleia
Nacional.
Artigo 16.º
(Despesas)
Constituem despesas da Provedoria de Justiça:
a)- os encargos decorrentes do seu funcionamento;
b)- as despesas com o pessoal;
c)- as despesas realizadas para aquisição de bens, manu-
tenção e conservação do património, equipamentos e
serviços a utilizar.
Artigo 17.º
(Património)
Constitui património da Provedoria de Justiça a universalidade dos
bens, direitos e obrigações que receba ou adquira no exercício
das suas atribuições e competências.

CAPÍTULO IV
DISPOSIÇÕES FILIAIS
Artigo 18.º
(Regime do Pessoal)
1. O pessoal da Provedoria de Justiça, para todos os efeitos
legais, está sujeito ao regime jurídico da função pública.
2. A Provedoria de Justiça assegura o aperfeiçoamento perma-
nente dos seus funcionários através de cursos de formação
e actualização profissionais.
Artigo 19.º
(Cartões de Identificação)
O Provedor de Justiça aprova por despacho o modelo de cartão
de identificação dos funcionários da Provedoria de Justiça res-
salvada certa discricionariedade quanto ao que dispõe o artigo
15.º da Lei do Estatuto do Provedor de Justiça.
Artigo 20.º
(Quadro de Pessoal e Organigrama)
O quadro de pessoal e o organigrama da Provedoria de Justiça
é o constante dos anexos I e II da presente lei do qual são parte
integrante.
Artigo 21.º
(Regulamento)
A Provedoria de Justiça deve aprovar os regulamentos necessários
ao seu funcionamento.
Artigo 22.º
(Dúvidas e Omissões)
As dúvidas e omissões que se suscitarem da aplicação e inter-
pretação da presente lei são resolvidas pela Assembleia Nacional.
Artigo 23.º
(Entra em Vigor)
A presente lei entra em vigor na data da sua publicação.

Vista e aprovada pela Assembleia Nacional, em Luanda, aos 3


de Fevereiro de 2006.

Publique-se.

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Víctor


Francisco de Almeida.

Promulgada em 10 de Abril de 2006.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.


ANEXO I
Quadro de pessoal a que se refere o artigo 20.º que antecede1

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Victor


Francisco de Almeida.

O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.

1 Alterado pela Rectificação DR 61/07 de 21 de Maio, publicada na Iª série do Diário da


República n.º 61 de 21 de Maio de 2007.
ANEXO II

Organigrama

O Presidente da Assembleia Nacional, Roberto António Victor


Francisco de Almeida.
O Presidente da República, JOSÉ EDUARDO DOS SANTOS.
Despacho n.º 92/18 de 9 de Abril

Provedoria de Justiça

O Provedor de Justiça é uma entidade pública independente


que tem por objecto a defesa dos direitos, das liberdades e das
garantias dos cidadãos, assegurando, através de meios informais,
a justiça e a legalidade da actividade da Administração Pública,
cujo acolhimento constitucional inicial foi dado pela Lei Consti-
tucional de 1992, constando, actualmente, consta no artigo 192.º
da Constituição da República de Angola;
Considerando que concretização da instituição Provedor de jus-
tiça e a criação da Provedoria de Justiça ocorrem pela eleição
do primeiro Provedor de Justiça da República de Angola, aos
19 de Abril de 2005 e pela aprovação das Leis n.os 4/06 e 5/06,
ambas de 28 de Abril que aprovam, respectivamente, o Estatuto
do Provedor de Justiça e a Orgânica da Provedoria de Justiça;
Havendo a necessidade de se instituir um marco de celebração
da instituição Provedor de Justiça e da Provedoria de Justiça, nos
termos do artigo 137.º da Constituição da República de Angola,
conjugado com a alínea s) do artigo 5.º da Lei n.º 7/14, de 26
de Maio, (Lei Sobre Publicações Oficiais e Formulários Legais),
determino:
1.º O Dia do Provedor de Justiça é comemorado a 19 de Abril
de cada ano.
2.º O Dia da Provedoria de Justiça é comemorado a 28 de Abril
de cada ano.
3.º De modo a haver um período integrado de celebração dos
dois eventos, institui-se a Semana do Provedor de Justiça, a ser
celebrada de 19 a 28 de Abril de cada ano.
4.º O presente despacho entra em vigor na data da sua publicação.
Publique-se.

Luanda, aos 6 de Março de 2018.

O Provedor de Justiça, Carlos Alberto Ferreira Pinto.

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