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REPORTAGEM
Uma nova forma de ganhar dinheiro no mercado informal está a ganhar corpo, a cada dia que passa, em
várias praias da cidade de Luanda.
Joaquim Azevedo, pescador há mais de oito anos, diz que vende diariamente mais de dez quilos ©
Fotografia por: Eduardo Pedro | Edições Novembro
À semelhança do que acontece com material metálico e de bronze, muito procurado, nos dias de hoje,
para serem comercializados em fábricas metalúrgicas, é chegada, agora, a vez de vísceras da Corvina,
Garoupa e do Bacalhau. Este órgão do peixe está a ser, segundo os envolvidos no negócio, usado para a
feitura de unhas plásticas, botões de roupa, cola e outros produtos.
Segundo o ambientalista Vladimir Russo, o negócio das vísceras não é considerado crime ambiental, se a
obtenção for feita de forma lícita, junto dos pescadores que fazem a limpeza e a preparação do peixe.
"As vísceras e órgãos que seriam jogados fora podem ser usados para outros fins, extraindo o óleo ou
vendendo o bucho de peixe como iguaria. A legislação em vigor permite a utilização dos desperdícios do
peixe (cabeças, vísceras e partes danificadas)”, disse. Acrescentou ainda que qualquer actividade que
seja efectuada acima dos limites de pesca estabelecidos por lei ou de forma insustentável (usando artes
de pesca ilegal) pode colocar em perigo a espécie. O ambientalista defendeu a necessidade de não se
acabar com esta prática, se ela for feita nos moldes anteriormente indicados (uso dos resíduos/vísceras).
"Esta prática pode ser regulamentada, para que os resíduos sejam recolhidos e usados de forma
higiénica e sem atentar à saúde pública”.
O especialista em ambiente assegurou existir no país legislação que regula o uso dos re-cursos
biológicos aquáticos, acrescentando que anualmente são aprovadas medidas de gestão das pescas,
onde é apresentado o total admissível de captura, sendo que para o ano de 2020 foram estabelecidas
8.206 toneladas para a corvina (das quais 30% provenientes da pesca artesanal). Vladimir Russo
disse ainda que a pesca do tubarão não é proibida em Angola, com excepção do tubarão azul e do
tubarão tigre, que são consideradas espécies em vias de extinção. O ambientalista explicou que a
exportação de barbatanas é proibida por lei.
Vale recordar que o "bucho ou vísceras” serve para fazer botões, cola e unhas de plástico. É
utilizado também na indústria de cosméticos e bebidas. Além disso é uma matéria pri-ma de linha para
suturas cirúrgicas, usada especialmente em procedimentos internos, devido ao alto poder de absorção
pelo corpo. Estes produtos são exportados para o estrangeiro com muita facilidade, com destaque
para países onde não existe uma legislação que proíbe. No Brasil é proibida a sua exportação, por existir
uma lei que não autoriza.