Abrir portas onde se erguem

rguem muros
muro
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os Director: Manu
Manuel Carvalho Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • Ano XXXIV • n.º 12.041• Diário • Ed. Porto • Assinaturas 808 200 095 • 1,50€

Champions Hoje Colecção

Benfica tenta BD Black Crow
travar em Milão Álbum 1: A Colina
espiral de queda de Sangue
Opinião Nuno Sousa reflecte Por+
sobre momento das “águias” 10,90€
Desporto, 36 a 38

CP fecha 2022 com os primeiros

lucros de sempre da sua história
Empresa, que tem enfrentado várias greves, teve resultados líquidos positivos de oito milhões de euros
Pela primeira na sua história, a CP dos positivos, neste caso de oito do Contrato de Serviço Público assi- prejuízo. Este resultado é acompa- passageiros transportados nos últi-
— Comboios de Portugal fecha o seu milhões de euros, em 2022. Uma nado entre a empresa e o Estado que nhado de um outro recorde: a CP mos 20 anos e que se cifra em 148
balanço anual com resultados líqui- consequência directa da aplicação a compensa pelos serviços que dão registou em 2022 o maior número de milhões Economia, 24

DANIEL ROCHA

Função pública
Reforço da
Aniversário do PS verba em 2024
é metade do
A crise dos 50
Destaque, 2 a 4
deste ano
Programa de Estabilidade prevê meta
aparentemente pequena nas despe-
sas com pessoal. Explicação está nas
aposentações Economia, 22/23

Santo Tirso
Padre acusado
de perseguir
funcionários em
colégio jesuíta
Sociedade, 13

População mundial
ONU pede
mais apoios
à fertilidade
e às mulheres
O relatório sobre o estado da popu-
lação mundial, do Fundo das Nações
Unidas para a População, é divulga-
do hoje Mundo, 18/19

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ISNN-0872-1556
2 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Destaque 50 anos do PS
PS, a crise O
dos 50
No meio século de vida do partido
fundado por Mário Soares, os sintomas
da idade estão também a fazer-se sentir
apesar da maioria absoluta conquistada
há pouco mais de um ano
Ana Sá Lopes
Partido Socialista faz hoje
50 anos, com a palavra
“dissolução” a ser pronun-
ciada semana sim, semana
não pelo Presidente da
República. Um ano e tal
depois de ter conquistado a incrível
(no sentido de que não era crível
que acontecesse) maioria absoluta,
o Governo PS está sobre vigilância
apertada de Marcelo Rebelo de Sou-
sa, enquanto os socialistas vão des-
cendo nas sondagens.
Muitos dirigentes do partido estão
abananados. Há no PS quem fale
numa espécie de “golpe de Estado
constitucional” desencadeado pelo
Presidente da República ao pôr a
ameaça da dissolução do Parlamen-
to em cima da mesa. Apesar de
António Costa se ter comprometido
a governar até 2026, as dúvidas
sobre se haverá eleições no próximo
ano, a seguir às europeias, persis-
tem dentro e fora do PS. Há uma
aceleração do tempo político na
cabeça de muitos socialistas — até
porque António Costa tomou posse
em Novembro de 2015. Se cumprir
esta legislatura Æca 11 anos no Gover-
no, superando os 10 anos de Cavaco
Silva.
Ao Æm de sete anos, também a
segunda maioria de Cavaco Silva
estava “cansada” e “requentada” e,
ao contrário do que alguns (não) se
lembram, todos os actos de Cavaco
foram escrutinados pela comunica-
ção social, de esquerda e de direita.
Não havia ainda o conceito “direita
radical”, mas aquele que viria a ser
o futuro líder do CDS, Paulo Portas,
enquanto director de O Independen-
te, fez a vida negra aos governos de
Cavaco Silva.
Mário Soares era o Presidente da
República e também contribuiu
para o desgaste do Governo com as
suas “presidências abertas” —
nomeadamente a de Lisboa que
mostrou uma capital profundamen-
te pobre ao país que o desconhecia.
Também Mário Soares discutiu, no
célebre “jantar do Aviz”, a dissolu-
MÁRIO CRUZ/LUSA
ção do Parlamento da era Cavaco
— a diferença é que foi numa reu-
nião de amigos e conselheiros, que
acabou por ser tornada pública.
Publicamente, o então Presidente
não falou no assunto.
Remodelação profunda?
Nos bastidores do PS, a ideia de que
uma “remodelação profunda” ou
“uma alteração radical da orgânica
do Governo” poderiam dar um novo
fôlego ao executivo faz caminho.
Mas António Costa odeia remodela-
ções e só as fez em último caso.
Aliás, o exemplo mais acabado foi
quando o antigo ministro da Admi-
nistração Interna Eduardo Cabrita
percebeu que já não tinha condições
para estar no Governo e pediu a
demissão, mas António Costa – seu
amigo desde a Faculdade de Direito
– não o deixou sair.
A remodelação que foi feita na
sequência da saída de Pedro Nuno
Santos das Infra-estruturas foi estri-
tamente dentro do círculo ‘pedro-
nunista’, como se Costa quisesse

contentar mais o partido do que se
ocupar do Governo. João Galamba
e Marina Gonçalves, do círculo de
Pedro Nuno, foram promovidos. A
ideia de que António Costa já não
tem recursos para lá dos núcleos
partidários existe — fora, mas tam-
bém dentro do PS.
O primeiro-ministro prefere,
como fez ontem, ir ao supermerca-
do ver se a redução do IVA já se
nota. Mostrar às televisões que está
a retomar a iniciativa — e claro ao
país — é uma prioridade. António
Costa falou aos portugueses sobre
o aumento das reformas e foi ele
que liderou a apresentação do paco-
te da Habitação, deixando a minis-
tra da pasta em segundo plano. A
ideia de que ainda é o maior activo
do Governo e do PS é para pôr a ren-
der em tempos de crise.
“Caro António Costa”
Um dos textos mais devastadores
para o primeiro-ministro foi publi-
cado há dias no Expresso. Ascenso
Simões, o autor, conhece António
Costa desde a JS, há 40 anos. Fez
parte do grupo dos chamados “cos-
tistas”, foi secretário de Estado
quando António Costa foi ministro
da Administração Interna e Costa
convidou-o para director de campa-
nha para as legislativas de 2015. Foi
deputado até às últimas eleições e
saiu das listas a seu pedido.
Em jeito de carta aberta a António
Costa, num texto intitulado “Caro
António Costa”, o ex-deputado faz
críticas violentíssimas ao primeiro-
ministro. “O país conhece-te há
décadas e está surpreso com o teu
desempenho governativo do último
ano. Está claro que há sempre um
tempo de decadência, mas não dou
por adquirido que esse tempo tenha
chegado para ti”, escreve Ascenso
logo a arrancar o artigo mortal em
que é crítico também da “espécie de
ausência de estrutura de comando
e controle” ainda com Costa presi-
dente da Câmara Municipal de Lis-
boa.
Aliás, diz que os governos Costa
foram tocados pela “síndrome do
alcaide”. Conta como antecipou a
derrota de 2015 e como foi crítico
da “geringonça”, para lançar mais
farpas dolorosas: “Durante muito
tempo decidi iludir-me justiÆcando
a governação errática e desconcha-
vada com a ‘geringonça’, com a pan-
demia e com a guerra (…) Porém, a
minha ilusão, toldada pelo viver
socialista e por nunca negar os que
prezo, já não pode mais sobreviver.
Está na hora de fazeres regressar o
velho e atrevido político que o país
conheceu. Está na hora de deixares
o conforto e passares de ministro de
tudo para chairman do Governo.”
AÆrmações como “o PS de hoje
quase não existe, ou antes, existe
quase só a partir do poder e para o
poder” ou “não há um militante, de
Vimioso a Barrancos, que consiga
pensar a política, nacional e inter-
nacional, porque trocámos a discus-
são, o debate, pelo obreirismo e
pelo ‘abanacabecismo’” também
estão no texto que relembra a Costa
— “Tu nunca suportaste um partido
assim”. “Está na hora de virar a
mesa. Está na hora de cumprir uma
nova Aljubarrota em que o impossí-
vel se torna possível. Está na hora de
voltar a ser rumo”.
A crise da TAP
Em Dezembro, na véspera da vés-
pera do Natal, rebenta o escândalo
da indemnização de 500 mil euros
à ex-administradora da TAP Alexan-
dra Reis. Rapidamente se prova que
o secretário de Estado das Infra-Es-
truturas Hugo Mendes sabia do
caso. Demite-se Hugo Mendes e,
assumindo a “responsabilidade
política” demite-se também Pedro
Nuno Santos. Parecia ser um
momento à Jorge Coelho — que saiu
do Governo depois da queda da
ponte de Entre-os-Rios —, mas uns
dias depois o próprio Pedro Nuno
revela que, aÆnal, através de uma
mensagem de WhatsApp, tinha sido
informado da indemnização e dado
a sua concordância. Esfuma-se o
momento Jorge Coelho. Pedro Nuno
Santos já era o sucessor designado
pelo PS — contra a vontade de Antó-
nio Costa, que sempre preferiu Fer-
nando Medina ou alguém que não
se chame Pedro Nuno — mas as coi-
sas tremem.
Se o núcleo de federações apoian-
tes de Pedro Nuno Santos se man-
tém Æel, como aqui escreveu David
Santiago, outros socialistas que já
davam como adquirida a liderança,
no pós-Costa, de Pedro Nuno Santos
deixam de considerar que num futu-
ro imediato haja essa possibilidade.
A questão é: se o Governo durar até
ao Æm da legislatura terá Pedro
Nuno Santos hipóteses de recupe-
rar? Mas se por alguma razão se
conÆrmar a tal dissolução pós-eu-
ropeias quem virá a substituir Antó-
nio Costa como secretário-geral?
Se muitas pessoas têm crises aos
50 anos, algumas instituições tam-
bém, como se conÆrma pelo indis-
farçável mal-estar que se espalha no
PS, apesar da maioria absoluta.
Em 2024 assinalam-se os 50 anos
da Revolução do Cravos. Uma
série especial recorda o caminho
que levou ao fim da ditadura
Veja mais em publico.pt
Nascimento do partido na Alemanha
“Todos dormimos na Fundação
[Friedrich Ebert] naqueles dias”
Entrevista
Ana Sá Lopes
Arons de Carvalho
O fundador do PS recorda
os primeiros dias e frisa que
é normal os governantes
cometerem erros
fundador do PS e primeiro
É
líder da JS. Era o contacto com
a Suíça ainda na
clandestinidade. Hoje, admite
que existem “erros de
percurso” de governantes.
Como é que foi o processo que o
levou à fundação do PS?
Houve uma reunião em Lisboa. Eu
pertencia ao núcleo de Lisboa da
Acção Socialista Portuguesa.
Debatemos o que devíamos fazer no
congresso [fundacional], como
também quem é que deveria ir em
nome desse conjunto de pessoas e
eu fui um dos destacados para ir.
Houve reuniões em Lisboa,
Coimbra, Porto e na Alemanha
estavam representantes [no exílio]
da Suíça, Inglaterra, França, Suécia.
Dos 27 que estavam na Alemanha,
dois terços nunca tinha visto.
Foi tudo organizado pela
Fundação Friedrich Ebert…
Como não podíamos fazer um
congresso destes em Portugal, eles
disseram que proporcionavam um
sítio e a possibilidade de lá Æcarmos
naqueles dias. E até nem sei se não
nos pagaram as viagens. Não tenho
essa certeza. Lembro-me de que
combinámos entre nós, os que
estavam em Portugal, que tínhamos
de ir para lá em dias diferentes e por
percursos diferentes.
Por causa da PIDE?
Exacto. E no Portugal Socialista, que
já era o órgão oÆcial da ASP,
apareceu como o congresso
tendo-se realizado em Maio. Era
para tentar enganar a PIDE, para
não andar à procura das pessoas
que tinham viajado naquela altura.
Como era a casa onde se fundou
o PS?
Era uma sede da Fundação
Friedrich Ebert onde havia a
possibilidade de as pessoas se
instalarem e Æcarem lá. Creio que
todos dormimos na fundação
naqueles dias do congresso.
A sua ideia era rejeitar a
fundação do partido, que era a
posição do grupo de Lisboa, mas
depois muda de opinião.
Mudei de ideias depois de ouvir a
intervenção de Mário Soares, que
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 3
invocou dois grandes argumentos.
Uma visão mais optimista daquela
que eu tinha e as pessoas do grupo
de Lisboa tinham segundo a qual o
regime estava no Æm, isolado,
enfraquecido, internacionalmente
condenado. E, por outro, tendo em
conta que o regime iria cair a breve
trecho, era necessário ter uma
alternativa política consistente, que
desse uma imagem no país e
internacionalmente de uma
alternativa sólida ao regime. Para
que não fosse apenas o Partido
Comunista, associado à União
Soviética.
Mário Soares convenceu mais
alguém do grupo de Lisboa?
Do grupo de Lisboa todos votaram
como tínhamos combinado. Fui o
único que mudei de posição. Foram
20 votos a favor e sete contra.
E o que recorda do tempo a
seguir à formação do partido?
Havia preocupações acrescidas com
a PIDE. Tínhamos a intenção de ter
uma actividade mais permanente,
através das cooperativas de Lisboa,
Porto e Coimbra que de dia
funcionavam com actividades
culturais e à noite clandestinamente
nos reuníamos. Nessa altura, os
jovens socialistas onde me
integrava, com Mário Mesquita e
Nuno Godinho de Matos, criámos
um boletim chamado “Esquerda”
que era depois distribuído… quer
dizer, “abandonado” nas
universidades. Também combinei
com um militante do PS que vivia na
Suíça, Fernando Loureiro, que
semanalmente iríamos conversar
ao telefone. A Suíça era o único país
da Europa que tinha ligação directa
para Portugal. Combinámos que ele
telefonaria para um café perto de
minha casa, chamava por um nome
Arons de Carvalho foi secretário
de Estado com Guterres
que não era o meu. E por metáforas
eu contava-lhe a evolução das coisas
e algumas notícias sobre o que se
passava em Portugal. Era eu
porquê? Porque era estudante,
podia desempenhar essa tarefa com
mais facilidade do que outras
pessoas que tinham os seus horários
de trabalho.
Como está hoje o PS, 50 anos
depois?
As preocupações são diferentes. Na
altura, éramos um partido
desorganizado, que não precisou de
aliciar ninguém porque as pessoas
acorriam às sedes. Os primeiros
anos são a construção da
democracia no país e do partido. As
prioridades hoje são naturalmente
outras. Tenho visto nos últimos
anos a preocupação no PS de
utilizar as redes sociais, fomentar o
debate interno, criar plataformas de
discussão digitais. O PS tem de se
abrir para o exterior, não Æcar
fechado sobre os seus militantes. É
preciso abrir a participação aos
simpatizantes. O PS tem procurado
fazer esse esforço. Mas o PS está
também numa situação complexa:
foi governo numa fase em que
houve dois acontecimentos de
tremendas repercussões
económicas e sociais, a covid e a
guerra na Ucrânia.
Mas não sente 50 anos depois,
apesar da maioria absoluta,
estarmos a viver uma certa
crise…
As sondagens dão o PS a descer mas
não dão uma alternativa
consistente. O PS continua a ser o
primeiro partido. E, tendo em conta
que Ænalmente o líder do PSD
declarou que não faria coligações
com o Chega, temos a convicção de
que o PS tem mais condições de
governabilidade do que o PSD,
mesmo não tendo nenhum maioria
absoluta. É claro que isso não nos
deve satisfazer. Vejo com
preocupação o contexto económico
e social. Houve alguns episódios
infelizes que escondem do espaço
público as coisas verdadeiramente
importantes que existem na
actividade governativa. Há o
crescimento da economia acima da
média europeia, um decréscimo
enorme do déÆce. Há reformas em
alguns sectores importantes. É
evidente que há um ou outro
episódio infeliz, com erros de
membros do Governo, mas não
houve na democracia nenhum
período de governação onde não
tivesse havido erros de percurso
cometidos por governantes. Isso faz
parte do dia-a-dia.
4 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Destaque 50 anos do PS
Microglossário da história do PS
Alameda
Foi a grande manifestação
contra a influência comunista
em Portugal realizada 18 de
Julho de 1974, na Fonte
Luminosa, na Alameda Afonso
Henriques, em Lisboa. A Igreja
foi toda mobilizada e os párocos
apelaram à participação no
comício nas missas. Mário
Soares tinha realizado várias
reuniões clandestinas com o
então cardeal-patriarca António
Ribeiro, para garantir a
mobilização da Igreja. É um
grande momento de separação
de águas em Portugal e Mário
Soares pede expressamente a
demissão do então
primeiro-ministro Vasco
Gonçalves, da ala comunista do
Movimento das Forças Armadas
(MFA), e ameaçou que o PS
estava em condições de
“paralisar o país”. Nas eleições
para a Constituinte realizadas
em 25 de Abril de 1975, o PS
tinha sido o partido mais votado:
37,9%. O segundo era o PPD,
com 26,4%, e o PCP ficou em
terceiro, com 12,5%, apesar de
dominar o Governo.
Bloco Central
Foi o Governo de coligação
PS-PSD que governou
o país entre 1983 e 1985 e que
cumpriu um duríssimo
programa de austeridade
a troco de um empréstimo
do FMI. Soares era o
primeiro-ministro, o líder
social-democrata Mota Pinto
o número 2. A relação dos dois
era quase perfeita, mas era
totalmente imperfeita a
relação do Governo com
o resto do país. É por essa
época que o então bispo
denuncia a “fome em Setúbal”.
A inflação galopava e não havia
dinheiro nenhum. Depois da
morte súbita de Mota Pinto,
Cavaco Silva é eleito líder do
PSD e rompe o Bloco Central,
provocando eleições nas quais
o PS — então com Almeida
Santos à frente, porque Mário
Soares já era candidato a
Presidente da República — fica
com o ónus da governação e
tem nas eleições de 1985,
depois de pedir “uma maioria
para governar”, uns impensáveis
20%. Desde 1985 e até agora (e
passaram quase 40 anos) “Bloco
Central” tornou-se uma
expressão maldita no PS e no
PSD. Passos Coelho convidou
António José Seguro para se
juntar ao Governo depois da
demissão “irrevogável” que não o
foi de Portas, mas o PS rejeitou.
Choque
“Estado de choque” foi a
expressão usada por António
Guterres para romper com Jorge
Sampaio depois da derrota nas
legislativas de 1991, quando
Cavaco obteve a segunda maioria
absoluta para o PSD. O confronto
dentro do PS entre “sampaístas” e
“guterristas” foi terrível e deixou
feridas abertas. Quando Sampaio
decidiu candidatar-se a
Presidente da República, foi Jorge
Coelho que “obrigou” Guterres a
declarar rapidamente o apoio do
PS ao antigo adversário.
Democracia
O que Mário Soares queria para o
país era uma democracia
europeia, com eleições e sem
PREC. Mas, a seguir ao 25 de
Abril, por razões “tácticas” —
como escreve no livro Um Político
Confessa-se —, a linguagem que
o PS usava era bastante mais
“esquerdista”. No relatório do I
Congresso na legalidade
defende-se “uma sociedade sem
classes” e “o caminho da
autogestão para certas
empresas”.
Elke
Elke Sabiel foi a alemã que
organizou o congresso fundador
do PS, em Bad Munstereifel, perto
de Colónia, numa sede da
Fundação Friedrich Ebert, ligada
ao SPD alemão. Elke era
funcionária da Friedrich Ebert. Os
fundadores dormiram nas
instalações e Arons de Carvalho
está convencido que a Friedrich
Ebert financiou as viagens de
quem se deslocou a Bad
Munstereifel.
Ex-secretariado
Todos os primeiros sucessores
de Mário Soares pertenceram ao
secretariado do partido e depois
ficaram conhecidos como o
grupo do “ex-secretariado”.
Vítor Constâncio, Jorge
Sampaio, António Guterres
reuniam-se no sótão de uma casa
do último, em Algés, para
conspirar contra o líder.
A cisão dá-se nas eleições
presidenciais de 1980, quando
Mário Soares decide não apoiar a
candidatura de Ramalho Eanes e
auto-suspende-se de
secretário-geral. Manuel Alegre e
Almeida Santos ficam ao lado de
Soares, mas Salgado Zenha,
Constâncio, Sampaio e Guterres
apoiam Eanes. Soares depois quis
substituir o secretariado por uma
comissão permanente — daí a
palavra “ex-secretariado”. Nas
palavras de Soares: “A facção
eanista dentro do PS entrou em
ruptura comigo.” No congresso
de Maio de 1981, o ex-secretariado
FOTOS: DR
apresenta uma moção alternativa
à de Soares “Um partido forte”,
mas perde. No entanto, nunca
apresentaram alternativa à
liderança de Soares.
FRS
A Frente Republicana e Socialista
foi a coligação com que o PS se
candidatou às eleições de 1980,
nas quais a Aliança Democrática
(PSD-CDS-PPM) saiu vitoriosa,
com 44,9%, ficando a FRS com
apenas 26,6%. A FRS era
composta pelo PS, pela ASDI
(Associação Social-Democrata
Independente), então liderada
por Sousa Franco, dissidente do
PSD, e pela UEDS (União de
Esquerda para Uma Democracia
Socialista) de Lopes Cardoso,
dissidente do PS, partido ao qual
mais tarde voltará.
Irmãos
Mário Soares e Salgado Zenha
eram como irmãos. Isabel Soares
é afilhada de Salgado Zenha. A
ruptura dá-se poucos anos depois
do 25 de Abril, quando Mário
Soares decide retirar o seu apoio
pessoal à recandidatura de
Ramalho Eanes (na sequência de
o então Presidente, em vésperas
de eleições, ter afirmado
“rever-se no projecto de
sociedade da AD”. “O PS, claro,
ficou em estado de choque:
muitos como Zenha indignados
contra mim, por sobretudo não os
ter avisando antes”, escreveu
Soares. Mais tarde, em 29 de
Maio de 1982 a comissão política
de Soares suspende Salgado
Zenha do cargo de líder
parlamentar, por este ter
declarado que o acordo PS-AD
para a revisão constitucional
“não respeitava o acordo com o
Presidente da República”. Todo
o ex-secretariado apoia Zenha.
O fosso agravou-se, quando
Salgado Zenha decide ser
candidato contra Mário Soares
às presidenciais de 1986. “Para
mim, que sempre mantive com
o Zenha uma amizade fraterna,
foi um golpe muito doloroso,
tanto mais que só tive
conhecimento da sua decisão
pelos jornais…”, escreveu Mário
Soares, que diz que com Zenha
teve o debate “mais difícil por
razões emotivas”. No debate,
Soares chama “irmão” a Zenha,
que rejeita a ideia. Zenha obtém
20,8% e Mário Soares, com
25,4%, passa à segunda volta,
contra Freitas do Amaral.
JS
A organização juvenil do PS,
fundada já depois do 25 de Abril,
da qual o primeiro presidente
foi Arons de Carvalho. Dos
políticos no activo, Pedro Nuno
Santos, Duarte Cordeiro, Ana
Catarina Mendes, Jamila
Madeira, Sérgio Sousa Pinto,
Margarida Marques, José
Apolinário, José Leitão, Pedro
Delgado Alves, o actual
secretário-geral adjunto João
Torres foram todos líderes da JS.
António José Seguro também,
mas afastou-se da vida política
depois de derrotado por Costa.
Sócrates
Era o “Cavaco do PS”, como era
sussurrado nos corredores
socialistas. Determinado e
capaz de tomar decisões.
Obtém a primeira maioria
absoluta da história do PS em
2005, perante um exangue
Santana Lopes. As dúvidas
sobre a seriedade de Sócrates já
eram imensas antes da
Operação Marquês. É o primeiro
primeiro-ministro de Portugal
acusado de corrupção,
acusação que o juiz de instrução
Ivo Rosa deixou cair, embora
tenha acusado o
ex-primeiro-ministro de
“mercadejar o cargo”. Agora, a
acusação é de branqueamento
de capitais e falsificação de
documentos. Ana Sá Lopes
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6 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023

Espaço público

Marcelo vai andar com Montenegro ao colo?

L
uís Montenegro teve de
Editorial dizer o que o Presidente da
República exigia que ele
dissesse para que este
pudesse encarar a hipótese
teórica de dissolução do Parlamento.
Depois de se ter distanciado de uma
Amílcar Correia eventual coligação com o Chega, o
líder do PSD tomou ontem duas
opões antagónicas.
Há um abismo entre a visita de
Luís Montenegro ao mercado da
Brandoa, na Amadora,
acompanhado de Suzana Garcia,
vereadora social-democrata que
defende a castração química de
pedófilos, à semelhança de André
Ventura, e almoçar cachupa num
restaurante da Cova da Moura, na
companhia de 20 pessoas da
Seria tóxico comunidade cabo-verdiana daquele
e contraproducente bairro. Estas opções têm
simbolismos diferentes, não são
o PSD prolongar prova de coerência e denotam um
a estratégia da incerteza líder ainda numa bifurcação.
face ao Chega Como Marcelo Rebelo de Sousa
tem aÆrmado repetidamente, a
dissolução desta maioria absoluta
está fora de questão, por um
conjunto de factores, um dos quais,
como insiste o Presidente, é a
inexistência de uma alternativa
credível ao PS. Com a demarcação
de Montenegro, o PSD elimina essa
pré-condição presidencial, mas será
que acabou mesmo com o tabu de
uma aliança com o Chega que se
arrasta desde a liderança de Rio?
Se é verdade que não basta ver o
Governo a desfazer-se, e este está a
fazê-lo com esmero, em contradição
com os sinais positivos do cenário
macroeconómico que o beneÆciam,
também não basta dizer vade retro,
Ventura. Montenegro pode renegar
agora o Chega, quando antes já teve
várias oportunidades para o fazer e
não o quis, porque o contexto é mais
propício do que nunca.
O Governo desgasta-se, o custo de
vida desespera as faixas do
eleitorado socialista, e o terceiro
partido mais votado em Portugal vai
aproveitar todas as oportunidades
para berrar, como iremos assistir
durante a visita de Lula da Silva.
Seria tóxico e contraproducente
prolongar a estratégia da incerteza
face ao Chega.
Excluir este partido signiÆca que
os sociais-democratas e a IL estão
condenados a entenderem-se, o que
os liberais não recusam, e que
Montenegro tem de conquistar uma
conÆança e credibilidade que o faça
crescer nas sondagens, o que
Marcelo lhe exige, e afastar os
espectros de Carlos Moedas e Passos
Coelho. Para ser alternativa ao
Governo, o melhor que Montenegro
pode fazer é manter a coerência —
ontem optou por não responder a
perguntas depois de uma audiência
com Marcelo — e resistir às pressões
para obter o poder a tudo o custo.
Mas isso não basta para dissolver um
parlamento. As europeias serão um
bom teste.

CARTAS AO DIRECTOR
Os ferroviários
e os passageiros
A Constituição estabelece o
princípio do sentido restritivo das
restrições a direitos, liberdades e
garantias (art. 18.º, n.º 2). Por isso,
ao ocupar-se do direito de greve
como direito, liberdade e garantia
dos trabalhadores, prescreve que a
lei, ao deÆnir as condições de
prestação de serviços indispensá-
veis à satisfação de necessidades
sociais impreteríveis, deve fazê-lo
com salvaguarda dos outros
interesses constitucionalmente
protegidos (art. 53.º, n.º 2).
Em Portugal, a circulação das
pessoas e dos bens faz-se
basicamente por via ferroviária e
por via rodoviária. Havendo greve
nos caminhos-de-ferro, isso não
impede tal circulação, mas parece
que aí, como em qualquer outro
sector, uma greve sem causa
relevante ou sem nenhuma
articulação com o transporte
rodoviário não respeita os
interesses dos demais cidadãos, que
têm o direito de saber que podem
ser transportados de comboio.
Na semana passada, eu precisei
de ir a Braga e, para tal, fui à estação
do Oriente em Lisboa, entrei na Æla
única até à bilheteira, e estive assim
de pé cerca de uma hora; e, quando
chegou a minha vez, o funcionário
(durante quase todo o tempo,
apenas um) disse-me que não podia
garantir que, no dia seguinte,
houvesse comboio.
Nessas condições, apressei-me a
deslocar-me à central de
camionagem e aí pude comprar
bilhete e o mesmo sucederia no dia
seguinte, ao regressar de Braga a
Lisboa. Não nego, repito, o direito
dos ferroviários à greve, mas não
compreendo como possam aí se
manter sem nenhuma alternativa
relevante ou, sobretudo, sem darem
informação precisa de garantia de
transporte aos passageiros ou
eventuais passageiros.
Jorge Miranda, Lisboa
IVA 0%: formação dos
agentes económicos
O tão apregoado “IVA zero” entrou
ontem em efectividade. Tal como
já escrevi neste espaço, para que
tal iniciativa funcione, ou seja,
venha a beneÆciar o consumidor, é
necessário baixar os custos de
produção (a assim baixar o preço
do produto na origem) e o
vendedor Ænal não subir as suas
margens de lucro. A baixa do IVA,
maioritariamente de 6% para 0%,
deveria ser a parte menos
signiÆcativa nesta redução de
preços ao consumidor.
Acontece que, relativamente à
produção, os apoios a ser
canalizados para os produtores
inserem-se na PAC, obrigando à
anuência de Bruxelas e portanto
não se sabe quando chegarão aos
destinatários, fazendo com que o
efeito prático do “IVA zero” apenas
se reflicta na redução do IVA. Mas,
por falta de informação ou
conhecimento, ouvi no Telejornal
da RTP1 um grande distribuidor que
abastece lojas, mercados, etc., a
dizer o seguinte: “Como comprei os
produtos com IVA, para não perder
dinheiro, tenho de aumentar o pre-
ço do produto no valor
correspondente ao IVA.”
Conjugando estas duas situações, lá
se vai todo o efeito do “IVA zero”.
Provavelmente o Governo deveria
ter feito sessões de esclarecimento
para informar os distribuidores e
outros agentes económicos que a
coisa não funciona assim, pois o que
acontece é que esse distribuidor
deixará de entregar tanto IVA ao
Estado ou receberá deste (no valor
correspondente ao IVA pago e não
cobrado) e não deveria alterar o
preço de venda. Se todos agirem
desta forma, mais vale acabar já
com a medida, porque inócua.
Jorge Loureiro, Anadia
IVA sobre pão e queijo?...
A quem como eu vive há muitos
anos no Canadá, espanta que em
Portugal se cobre IVA em artigos
que um cidadão compra para fazer
sopa ou uma refeição simples. No
Canadá cobra-se o equivalente de
IVA em lojas de ferragens,
electrodomésticos, roupa e calçado
(para crianças não tem IVA),
restaurantes, etc., mas artigos para
fazer comida nunca foram taxados.
Isto signiÆca que num
supermercado os únicos produtos
que têm IVA são bebidas como a
Coca-Cola, pratos já feitos, artigos
para lavagens, etc., mas até comida
congelada é isenta de IVA.
E naquilo que tem IVA, é uma
única percentagem, que no Ontário
é 13%. Pode parecer estranho para
os portugueses, mas vale a pena
repetir: ou não tem IVA ou paga
13%. O preço exposto do artigo é o
preço mesmo. E se tem IVA, é
cobrado na caixa. Os clientes
normalmente sabem quais os
produtos que são taxados.
Preços de artigos mostrados já
com IVA são traiçoeiros e têm a
tendência de ser melhor para os
comerciantes, pois encobrem as
reais subidas de preço. Até hoje, não
ouvi nem li em nenhum media
português a informação de que há
países onde se pode comprar um
tomate sem pagar taxa. Bem
gostaria de ver essa comparação
publicada, a bem do consumidor
informado. E se o Governo deixasse
de cobrar IVA no que é essencial
para a vida dos portugueses, isso
não seria mais do que é razoável, já
que há países que o fazem e não
Æcaram pobres por isso.
Carlos Alberto Coimbra, Toronto

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ESCRITO NA PEDRA A decoração automóvel
As ideias
dominantes Ainda ontem
numa época
nunca passaram
das ideias
da classe
E
dominante Miguel Esteves Cardoso
Karl Marx, sta semana apanhámos boleia de
um carro implacavelmente
filósofo personalizado. Não estava ao nível
dos camiões paquistaneses, mas
estou convencido de que não seria
desdenhado por um camionista
paquistanês que estivesse cá de férias.
O NÚMERO Considerando o tempo que passamos
1.ª
dentro dos nossos automóveis, até é estranha
a falta de interesse em decorá-lo. O nosso
estilo predominante é la pragmatique
négligée: um desleixo pragmático em que o
habitáculo reÇecte as nossas necessidades
básicas - águas, lenços, sacos de plástico -
submetidas a uma curadoria rigorosa de
ausência, indiferença e pressa.
Dantes, os motoristas tinham mais
A CP — Comboios de Portugal à-vontade na decoração interior dos
obteve lucros de oito milhões de automóveis, havendo um corpo de
euros em 2022, o que acontece bailarinas, cornos de touro e cães anuentes
pela primeira vez na sua história que garantiam o dia-a-dia, todos animados
ZOOM VILA NOVA DE GAIA
pelos movimentos do veículo.
Hoje os condutores têm vergonha da
personalização, preferindo manter a estética
da marca, por muito horripilante que esta
possa ser. O pior é que, ao Æm de uns aninhos,
o tempo — o sol, os sapatos dos passageiros, as
crianças, os animais, as fomes de meia-noite —
encarrega-se de actualizar essa estética da
Amílcar Correia, Andreia Sanches, David Pontes, Tiago Luz Pedro
maneira mais dramática e deprimente que
pode haver.
O carro de que tenho mais saudades era
um Polo de 400 euros que andava sozinho.
Só continha duas toalhas e dois fatos de
banho que nunca saíam de lá e que Æcavam a
secar e a desvanecer de Verão para Verão e
de Inverno para Inverno, como uma
instalação permanente em homenagem ao
clima de Colares.
Estava sempre à espera de que morresse,
mas nunca deixou de andar. O ambiente
sociais), Patrícia Campos, Lucas Freitas; Rui Barros (jornalista de dados) Política
interior era de despreocupação e
curiosidade aventureira: nunca se sabia para
onde queria ir.
Nunca foi às compras, nunca carregou nada
e nunca saiu da freguesia. Só aguentava as
duas toalhas e era aplaudido por isso. Andava
sempre de janelas abertas e tinha uma
velocidade máxima de 50km/h, o que dava
Faria Moreira, Daniela Carmo, Joana Gorjão Henriques, Mariana Oliveira, Natália
jeito porque não tinha travões.
AÆnal, alguns carros têm personalidades —
não precisam das nossas para nada.
(multimédia), Rodrigo Julião (webdesign) Tecnologia Karla Pequenino Cultura/
MANUEL ROBERTO
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Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 7
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8 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Espaço público
Lula, o revisionista
O Mundo
às Avessas
B
Nuno Severiano Teixeira
olsonaro representou para o
Brasil tempos de isolamento
internacional. Ora, Lula quis
marcar o seu terceiro mandato
com o regresso do Brasil ao centro
do palco internacional. E à velha
política externa de neutralidade e liderança
do chamado Sul Global. Essa política
assegurava-lhe, em simultâneo, interesses e
desígnios: as relações económicas e políticas
com os diferentes parceiros estratégicos
(EUA; China; UE) e o desígnio de um perÆl alto
na cena internacional.
Mas essa neutralidade equidistante que era
fácil no princípio do século, durante os seus
dois primeiros mandatos, é hoje muito difícil,
num mundo dramaticamente polarizado pela
rivalidade entre os EUA e a China. E levada ao
extremo com a guerra da Ucrânia.
Desde cedo Lula assumiu uma posição de
neutralidade e um discurso ambíguo sobre a
guerra da Ucrânia. Votou na ONU uma
resolução que condena a invasão russa, mas
condenou as sanções, recusou o envio de
armas e na Cimeira das Democracias
recusou-se a assinar a declaração final que
Lula, o 25 de Abril e a direita portuguesa
A
Marina Costa Lobo
tualmente, existe uma clivagem
política que diz respeito a visões
distintas sobre a natureza das
democracias. Essa clivagem é
fraturante para a direita
partidária nas democracias
consolidadas. Seja na América de Trump, na
Hungria de Orbán ou no Brasil de Bolsonaro,
nas últimas décadas têm surgido líderes de
direita populista que pugnam por uma
democracia iliberal, minando contrapoderes
como o poder judicial, enfraquecendo os
media, desvalorizando os direitos das
minorias.
Nessa luta pela definição do que é aceitável
num governo que foi eleito
democraticamente, Bolsonaro distinguiu-se
pelo enfraquecimento do poder judicial e dos
media, pela descredibilização do processo
condenava a Rússia por crimes contra a
humanidade. Quis posicionar-se como
fazedor da paz e propôs, mesmo, liderar um
“clube da paz” para mediar o conÇito.
Ora, um fazedor da paz, para mediar e ser
credível, tem de ser aceite por ambas as
partes. Mas, para isso, é preciso manter uma
neutralidade estrita e uma posição
equidistante. Lula jogou alto e entrou num
jogo perigoso. Num mundo bipolarizado
entre as grandes potências e sem vontade dos
beligerantes para negociar, a margem de
manobra do mediador é estreita. Arrisca um
fracasso diplomático e, se fracassar,
compromete o seu capital político e o lugar do
Brasil no palco internacional. A visita à China
pode ter sido um passo nesse sentido.
Ao contrário da visita a Washington que
teve curtas 48 horas, se limitou a restabelecer
relações diplomáticas e não teve
consequências políticas, a visita a Pequim
teve o dobro do tempo, uma enorme
delegação e um profundo signiÆcado. Lula
assinou 15 acordos comerciais que reforçam
as relações com a China, que é já o seu maior
parceiro económico. Mas o signiÆcado mais
importante não é económico nem bilateral. É
político e internacional. Lula mostrou
interesse na tecnologia 5G chinesa e, numa
provocação frontal aos EUA, visitou a Huawei
que está sob sanções americanas.
Na posse de Dilma como presidente do
Banco dos BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China]
criticou o sistema Ænanceiro internacional, o
papel do FMI e apelou a que os
países-membros passassem a usar as suas
eleitoral e pelo ataque aos direitos das
mulheres e das minorias, a par de uma
militarização do poder.
Fazendo face ao iliberalismo protagonizado
por Bolsonaro, Lula — que não é um líder sem
mácula, tendo inclusivamente sido preso por
ligações a esquemas de corrupção —
efetivamente representou nestas eleições
brasileiras a defesa da democracia liberal.
É essa faceta de Lula que terá levado ao
convite para que viesse a Portugal nestas
celebrações do 25 de Abril. É certo que o
Brasil enquanto grande país do Sul Global não
comunga da visão da NATO sobre a Ucrânia,
tendo Lula recentemente apelado a uma
cedência de ambas as partes e culpando a
NATO pela evolução da situação. Ficar
admirado com isso só prova o eurocentrismo
de muitas cabeças. O resto do mundo não está
particularmente entusiasmado com nenhuma
das partes no conÇito e isso não é uma
particularidade de Lula.
Não quer isto dizer que se apoiem as
aÆrmações de Lula sobre a invasão da
Ucrânia. É claro que as autoridades
portuguesas e os partidos responsáveis da
oposição devem aÆrmar com Ærmeza todos
os argumentos que nos levam a estar do lado
da Ucrânia neste conÇito, e porque é tão
moedas nas transacções comerciais ou
adoptassem uma moeda alternativa ao dólar
no comércio internacional. Ao mesmo tempo,
um banco brasileiro (ICBC) detido por capital
chinês realizou a primeira transacção em
moeda chinesa. Finalmente, disse alto e bom
som, ao que vinha: que, no relacionamento
com a China, os interesses não são apenas
comerciais; são interesses políticos, criar uma
nova geopolítica para mudar a governança
mundial. Isto é, o objectivo Ænal é mudar a
ordem internacional liberal. E a China é o seu
parceiro e a única capaz de o fazer.
Diziam os teóricos que era um revisionista
suave. Tornou-se, agora, um revisionista puro
e duro. Na sua procura pela paz, dividiu as
responsabilidades da guerra,
equitativamente, entre o agressor e o
agredido. Sugeriu que a Ucrânia deveria
Os responsáveis políticos
portugueses sabem agora
que Lula acusa a NATO
e a UE, e Portugal,
de incentivar a guerra e
defende uma nova ordem
contrária aos valores
e interesse nacional
necessário continuar a contribuir para o
esforço de defesa deste país, incluindo para
defender as democracias europeias hoje.
Mas se este posicionamento leva a IL a
rejeitar a vinda de Lula ao Parlamento, isso
constitui uma oportunidade para o PSD se
aÆrmar como o único partido responsável da
direita.
O convite a Lula continua a fazer sentido,
porque este representa a defesa da
democracia liberal hoje, quando se trata de a
defender internamente. Por isso a política
brasileira recente deve servir para distinguir
entre partidos de direita: o PSD, enquanto
grande partido de governação, tem aqui uma
boa oportunidade para acolher Lula e
demarcar-se da visão democrática iliberal
bolsonarista apoiada pelo Chega.
Na verdade, na democracia portuguesa,
houve sempre uma clivagem importante além
da esquerda-direita que condicionou o
sistema partidário e os governos que se
formaram entre 1976-2015, sobre a natureza
do regime democrático. Só que até
recentemente esta clivagem não dividia a
direita. Antes dividia a esquerda, com o PS a
defender um modelo democrático
multipartidário liberal para Portugal, que
incluía a adesão à então CEE, enquanto o PCP
“abrir mão da Crimeia”. E acusou os EUA e a
UE de fomentarem a guerra, legitimando de
passagem a narrativa russa. Arriscou e talvez
tenha comprometido de vez a neutralidade
necessária à mediação internacional e a sua
autonomia estratégica, agora mais
dependente da China.
Xi Jinping é o grande vencedor desta visita:
não precisou de dizer nada, porque Lula disse
tudo o que a China queria e não precisou de
dizer. Além de que viu o Sul Global virar-se
para o seu lado. Os responsáveis políticos e a
opinião pública portuguesa sabem, agora,
duas coisas: primeiro, que Lula acusa a NATO
e a UE e, por consequência Portugal, de ter
responsabilidades e de incentivar a guerra na
Ucrânia; segundo, que defende uma ordem
internacional contrária aos valores e ao
interesse nacional.
Lula visitará Portugal no dia 25 de Abril.
Deve ser recebido com a dignidade do chefe
de Estado que é, de um país com quem
Portugal tem relações históricas e, hoje,
importantes. Mas com sobriedade e
frontalidade, deve ser-lhe explicado que
agressor e agredido não têm as mesmas
responsabilidades políticas e morais e que, se
a Rússia parar, a guerra acaba, se a Ucrânia
parar, a Ucrânia acaba. O momento para o
dizer é a sua visita a Portugal. O lugar, a
Assembleia da República.
Professor catedrático da Universidade
Nova de Lisboa e director do Instituto
Português de Relações Internacionais.
Escreve quinzenalmente à quarta-feira
defendia um modelo socialista de cariz
basista, anti-NATO e fora da CEE/UE. Essas
divergências foram um fator muito
importante para que o PS e o PCP nunca se
tivessem coligado nas primeiras décadas da
democracia portuguesa. O que restava dessa
clivagem terminou aquando da formação do
governo da “geringonça” em 2015.
Agora o líder do PSD, que recentemente
traçou uma linha vermelha em relação ao
Chega, poderia reforçá-la, adiantando que,
além de não querer pactuar com líderes
racistas e xenófobos, também não o fará com
políticos que defendem uma visão iliberal da
democracia. Tal como o PS soube fazê-lo nos
anos 70 e 80, o PSD deve agora fazer a defesa
da democracia liberal que, no caso brasileiro,
foi protagonizada por Lula nas últimas
eleições presidenciais.
Assim, o PSD tem uma ocasião de se
demarcar quer do Chega quer da IL, Æcando
do lado certo da barricada em relação à
grande questão que divide a direita quanto à
natureza das democracias hoje e
destacando-se enquanto partido responsável
de governação.
Politóloga, Instituto de Ciências Sociais
da Universidade de Lisboa

O assédio sexual progressista, feminista e anticapitalista
Maria João Marques
Esta esquerda retira a
violência sobre as mulheres
das costas do patriarcado e
coloca-a no capitalismo. Ou
no imperialismo americano.
Ou treta semelhante
N
ão é surpreendente um guru
intelectual da esquerda mais
radical ser um assediador em
série. (Como possivelmente
Boaventura de Sousa Santos, a
acreditar nos testemunhos de
várias mulheres.) Na verdade, cada vez mais
vejo a esquerda progressista e radical como
viveiro de machismo. Diferenciando-se dos
machistas à direita por se mascararem de
defensores de outras causas que, na maioria
das vezes, usam sobretudo para atacar as
mulheres que delas discordam e secundarizar
as lutas feministas face a outras menos
disruptivas para os homens. O feminismo é
assim associado (para o menorizar) a causas
reputadas de maiores e, claro, lideradas por
quem deve liderar as causas que contam: os
homens.
A apropriação do feminismo pela luta
anticapitalista da esquerda, por exemplo,
promove ambientes em que abusos e
agressões e assédios sexuais a mulheres
florescem e passam impunes. Porquê? Porque
esta esquerda retira a violência sobre as
mulheres das costas do patriarcado e coloca-a
no capitalismo. Ou no imperialismo
americano. Ou treta semelhante.
Já não se trata de o sistema patriarcal ser
exímio usando qualquer regime — capitalista,
comunista, estalinista, bolivariano, europeu,
africano, asiático, católico, islâmico, etc. —
para exercer violência sobre mulheres. Afinal
a culpa de um homem violar uma mulher ou
espancar a namorada resulta apenas da nossa
organização dos meios de produção.
(Não pensem que exagero para marcar o
argumento. Leiam, por exemplo, Feminismo
para os 99%, um dos livros mais imbecis em
que pus os olhos nas últimas décadas. Está lá
o que menciono, em todo o esplendor de
alucinação.)
Ora, ao deslocar a causa de fenómenos
como o assédio ou a coação sexual das ideias
de supremacia masculina (presentes em
todos os lados ideológicos, nuns casos
declaradas, noutros camuÇadas) para a
organização económica da sociedade, dá-se
rédea livre para que ocorram. Desde logo
porque a vigilância não está onde devia —
vigia-se a economia, ao invés de se vigiarem
homens com poder (anticapitalistas ou
capitalistas).
O anonimato da
denúncia não é saudável,
porém as retaliações
da instituição, do
denunciado ou
dos solidários pares
do denunciado são
ainda mais malsãs
São reforçados os mecanismos de
silenciamento da denúncia de homens
poderosos. AÆnal não se podem
comprometer as grandes causas progressistas
só porque um ou dois ou três ou duzentos e
quarenta e nove dos homens cimeiros dessas
causas têm, enÆm, fraquezas, pois não?
Todos somos humanos. Tem que se ter a vista
posta no Æm da história, na sociedade sem
classes, e toda a gente sabe que alguns
sacrifícios precisam de ser feitos para a vitória
ADRIAN VIDAL/GETTY IMAGES
Ænal. Além de enfrentar o descrédito comum
que se aplica às histórias de mulheres que
denunciam homens, nestes ambientes são
também vistas como traidoras da tribo.
Por Æm, há um traço em muitos destes
homens da esquerda militante e nada
apologética, tenham poder ou não. Vivem tão
convencidos de que estão a salvar o mundo
com a sua defesa das causas mais fulcrais
(incluindo o feminismo — na teoria), tão
carregados de virtude (teórica), que têm
cobertura para serem execráveis, abusivos ou
violentos (na prática) com mulheres. São, na
gíria feminista, os chamados
“esquerdomachos”.
Porém, o assédio sexual nas universidades
não se restringe ao reduto da esquerda em
Coimbra. Mesmo se não há tantas
doutorandas estrangeiras (donde, com menos
redes de apoio cá; donde, mais vulneráveis a
abusos) cirurgicamente visadas, existe. E no
CES não foram só problemáticos assédios e
abusos, mas também a rede de silêncios e
cumplicidades de quem desincentivou as
denúncias e nada fez para parar hábitos
conhecidos.
Dito de outro modo: o problema é
institucional. Por isso foi muito
incompreensível ver a ministra Elvira
Fortunato, em clara negação da realidade,
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 9
garantindo que na academia não há
represálias por denúncias, que os
mecanismos contra o assédio existem e
funcionam, recusando acusações na praça
pública sem provas. Judicializando, portanto,
um caso com muito mais camadas que a
judicial. Também em clara falta de
compreensão de fenómenos como o Me Too,
que surgem precisamente pelo falhanço —
deliberado — de todas as instituições
(tribunais, governos, universidades,
empresas...) em lidarem com os assédios
sexuais. Quando tudo falha, resta uma via:
contar publicamente a história.
A União Europeia obriga universidades e
centros de investigação que recebem fundos
do Horizonte Europa à criação de um Plano
de Igualdade de Género, com medidas
detalhadas. Um dos objetivos expressos é
“eliminar a violência com base no género,
incluindo o assédio sexual”. A Universidade
de Coimbra (de que o CES faz parte) tem um
plano, ainda que lá não veja nenhuma ação
concreta para combater assédio sexual.
Já o Governo parece considerar que a
ausência de denúncias se deve à escassez de
casos de assédio, ao invés de à inexistência ou
mau desenho dos mecanismos de denúncia.
Como se vê pelo caso CES e no que sucedeu
há um ano na FDUL, as próprias instituições
que permitem assédio farão tudo para
silenciar ou desacreditar denúncias. A
endogamia nas nossas universidades, as
amizades de muitos anos, a lealdade à
instituição, a busca de Ænanciamento – todas
garantem que se protege um assediador com
prestígio em prejuízo de uma vítima
indiferenciada.
Cabe ao Estado criar mecanismos que
evitem assédio sexual e, existindo, promovam
a denúncia e o punam. O anonimato da
denúncia não é saudável, porém as retaliações
da instituição, do denunciado ou dos
solidários pares do denunciado são ainda
mais malsãs. Por isso, é necessário um
mecanismo externo às universidades que
receba as denúncias, protegendo a identidade
de quem se queixa da instituição visada. E que
exija investigações às universidades e centros,
desde logo estabelecendo padrões —
assediadores costumam ser assediadores em
série — e afastando prevaricadores.
O Ænanciamento das universidades
públicas pode bem ter mais este critério, o da
prevenção e resposta às denúncias de abuso
sexual nas suas faculdades e centros de
investigação. O que não pode é uma ministra
pretender que a situação atual protege alunas,
investigadoras e jovens professoras.
De caminho repensavam-se as carreiras
académicas. De alto a baixo, no ensino
público, do primeiro ano até aos
pós-doutoramentos, desenhou-se um regime
mantendo boa parte da mão de obra
(bastante especializada, por sinal) numa
precariedade e arbitrariedade absolutas que
não se permite (e ainda bem) a nenhuma
empresa ou instituição privada, mesmo se
impenitentemente capitalista. O que mostra,
outra vez, que o anticapitalismo dito feminista
falha o alvo.
Economista. Escreve à quarta-feira
10 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023

Política Primeiro-ministro e dirigente social-democrata encontraram realidades d

Costa e Montenegro
testaram IVA zero
em clima de campanha
Primeiro-ministro foi ao supermercado com app de preços,
mas não comprou nada. Já o líder do PSD encheu um saco
no mercado da Brandoa ao lado de uma vereadora polémica
Reportagem
Maria Lopes
e Henrique Pinto de Mesquita
O primeiro-ministro e o “líder da
oposição” (como o intitulou o
Presidente da República) foram
ontem às compras testar o IVA
zero no cabaz alimentar, no
primeiro dia de vigência da
medida. António Costa escolheu
dois supermercados em Telheiras
onde os preços já reÇectem a
isenção do IVA e até usou uma app
para o comprovar, mas saiu de
mãos vazias. Já Luís Montenegro
encheu um saco de alimentos no
mercado da Brandoa, onde os
comerciantes reconheceram
diÆculdades em acatar a nova lei e
até se queixaram de que os
fornecedores tinham aumentado o
preço na véspera.
Num supermercado em
Telheiras, Isaura e António
andavam às compras. Ele com uma
lista manuscrita dos produtos IVA
zero copiada do jornal, ela a
espreitar os preços para escolher
leite para o lanche da neta. Vê que
está um bocadinho mais barato do
que na semana passada. “Deve ser
do IVA, não é? É que já o comprei a
um euro por litro!” Não só: além do
IVA, aquela marca está em
promoção. “Escolho a fruta mais
barata e a couve para a sopa.
Temos é que, depois, desenjoar
das mesmas coisas...”, acrescenta
Isaura. E acreditam que vão notar a
diferença na conta? Encolhem os
ombros: “Tem sido sempre a subir,
a subir... Sei lá se agora Æcam por
aqui...” Certezas só com os preços
tabelados, “como antigamente.
Mas isso não sei se é fácil...”
Já o casal pagava na caixa
numa noite os preços nas
prateleiras, pendurar os cartazes
que, a par e passo, nas lojas
anunciam o IVA zero.
Tal como Isaura, que se queixava
de etiquetas mais confusas com
tantos preços e descontos, também
Costa teve direito a explicações por
parte dos responsáveis dos dois
hipermercados, Continente e
Pingo Doce, que visitou.
Até foi ele que, no Pingo Doce, se
colocou ao lado de um cartaz para
descrever para as câmaras de TV:
este era o preço com IVA, este é o
valor da isenção do IVA; este era o
preço antes da promoção e este é o
preço Ænal. Fizera o mesmo no
Continente, junto das pequenas
etiquetas: “Assim, o cliente Æca a
saber o que baixa em função do
IVA zero e da promoção. (...) O
preço a amarelo é o Ænal.” Costa
parecia um vendedor.
No Pingo Doce usou uma
aplicação no telemóvel para
ver a mesma explicação a
partir de um QR Code que leu
num cartão que uma das
empregadas trazia pendurado ao
peito. “Tem havido muitas dúvidas
dos clientes?”, quis saber. “Ainda
não.” É natural, a medida acabara
de entrar em vigor.
O primeiro-ministro foi ouvindo
explicações enquanto passava
pelo leite, arroz, atum, massa,
bacalhau, fruta, queijos. Mas não
comprou nada. “Ficámos com um
cabaz razoável”, disse, a dada
altura, e salientou as obrigações
do acordo tripartido: o Estado,
que baixa o IVA; a distribuição,
que o aplica nos preços; e a
União Europeia, que depois dará o
aval e o apoio aos produtores. E
elogiou a “transparência” de
informação ao consumidor da
redução do IVA para que não haja
dúvidas de que essa redução “foi
efectivamente cumprida”.
“É normal a oposição achar que o
Governo governa mal e o Governo
ter soluções diferentes da oposição.
A grande vantagem da democracia
é essa”, respondeu Costa, sobre as
críticas de Montenegro de que a
medida terá um impacto mínimo.
Mas não respondeu se o cabaz pode
vir a ser aumentado ou o prazo de
seis meses alargado — é preciso
acompanhar o evoluir da inÇação.
Tal como também desvalorizou o
encontro entre o líder do PSD e o
Presidente da República. “Não,
não” se sentiu com as orelhas
quentes nem acha que esteja algo a
ser planeado nas suas costas. “O
que me compete fazer não é
comentário político.” “O meu dever
é concentrar-me naquilo que
verdadeiramente importa aos
portugueses: o aumento do custo de
vida (…) e procurar encontrar
soluções. (…) Essa é a função do
primeiro-ministro. A função dos
outros é a sua. A minha é esta.”
PSD: “Efeito simbólico”
Luís Montenegro foi ao mercado da
Brandoa no âmbito do seu périplo
“Sentir Portugal”, esta semana
dedicado ao distrito de Lisboa. Lá,
na Amadora, encheu um saco de
compras — melancia, carne de
vaca, de peru, couve-Çor e outros
alimentos — e conversou com os
comerciantes sobre o IVA a 0%.
Alguns queixaram-se de que ainda
não conseguiram alterar o IVA dos
seus produtos e outros de que os
fornecedores aproveitaram para
aumentar o preço. “Comprovei
hoje que não só o efeito não se fez
sentir, como houve quem me
transmitisse que em alguns
produtos os preços subiram

quando António Costa chegou ao
Continente (detido pela Sonae,
que é também dona do PÚBLICO)
de Telheiras para assinalar o IVA
zero em 46 categorias de
produtos, que se transformam em
quase 6000 referências diferentes
para uma grande superfície. Foi
um quebra-cabeças substituir
46
São 46 as categorias de
produtos alimentares que
integram o cabaz com IVA
de zero por cento
ontem”, disse o líder
social-democrata, à saída,
verbalizando os relatos de alguns
comerciantes.
Após a visita ao mercado, em
declarações aos jornalistas,
Montenegro aÆrmou que a medida
do IVA a 0% para alguns bens tem
“um efeito meramente simbólico”,
António Costa e Luís acrescentando tratar-se de “pouco
Montenegro ensaiaram ontem dinheiro e poucos produtos”.
uma espécie de acções Defendeu, ainda, que a “política
de campanha eleitoral Æscal” do Governo é “errada”.
“Não escondo: eu defendo, como
medida Æscal mais eÆciente, a
descida dos impostos sobre os
rendimentos do trabalho. Se as
pessoas pagarem menos IRS, vão

diferentes
DANIEL ROCHA
ter mais dinheiro disponível, mais
poder de compra.” “Há dois países:
o dos PowerPoint de António Costa
e Fernando Medina, que tem
grande embelezamento e números
muito pomposos, e depois o outro
mundo, o mundo real, que não
acompanha o primeiro.”
Montenegro notou, por Æm, que
ANTÓNIO PEDRO SANTOS/LUSA
tinha avisado para esta situação,
lamentando-a: “Avisei que não era
possível dar expectativa às pessoas.
As alterações de preço são
inexistentes.”
Numa altura em que o PSD de
Montenegro se distancia do Chega,
o líder do partido teve a seu lado
Suzana Garcia, a vereadora do
partido na Amadora cujas posições
políticas — entre as quais a defesa da
castração química de pedóÆlos — já
lhe valeram elogios públicos de
André Ventura. Na passada semana,
Luís Montenegro garantiu, em
entrevista à CNN, rejeitar o apoio de
“políticos ou políticas racistas,
xenófobos, que tenham posições
populistas altamente demagógicas”
— referindo-se ao Chega.
Questionado pelo PÚBLICO sobre
a sua companhia, Luís Montenegro
aÆrmou que estava “com dirigentes
e autarcas do PSD” com “todo o
gosto e respeito pelos valores e
princípios do PSD”. “Estou em
casa”, concluiu. Suzana Garcia foi a
candidata do PSD nas autárquicas
de 2021 e é vereadora sem pelouro.
Montenegro seguiu para a Cova
da Moura, onde almoçou num
restaurante com membros da
comunidade cabo-verdiana lá
residente. À mesa, além da
cachupa, estavam cerca de 20
pessoas — entre as quais Hugo
Soares, secretário-geral do partido,
que sugeriu ao seu presidente que
bebesse um pouco de “vinhinho”.
Líder do PSD a sós com
Marcelo deixa posição
sobre o Chega no “recato”
Sofia Rodrigues
Montenegro foi recebido
ontem pelo Presidente da
República e propôs que
Portugal evite a data de 9
de Junho para as europeias
Depois de se ter demarcado do Chega
e de se aÆrmar como “alternativa ao
Governo”, o líder do PSD foi recebido
(sozinho) pelo Presidente da Repúbli-
ca, mas optou por deixar “no recato”
os aspectos sobre a estratégia do par-
tido. À saída da audiência, Luís Mon-
tenegro fez uma declaração aos jor-
nalistas para criticar o Governo e
propor que Portugal possa realizar as
europeias numa data diferente da que
for marcada para outros países da
União Europeia.
Foi pública a divergência entre
Marcelo Rebelo de Sousa e o presi-
dente do PSD sobre a alternativa (ou
a falta dela) ao Governo do PS. Agora,
depois de ter estado 40 minutos com
o Presidente da República, no âmbito
da iniciativa Sentir Portugal (que esta
semana decorre em Lisboa), o líder
social-democrata preferiu deixar o
assunto na esfera privada. “Natural-
mente [há] aspectos que não quero
que sejam tornados públicos”, aÆr-
mou, sublinhando que são questões
que “funcionam no “recato das rela-
ções institucionais de colaboração e
cooperação”. Montenegro não esteve
acompanhado por nenhum membro
da direcção do PSD como, por vezes,
fazia o antigo líder Passos Coelho.
Se foi audível a diferença de opi-
niões nas últimas semanas entre Mar-
celo e Montenegro sobre a estratégia
do PSD como partido da oposição (e
Ventura quer que Marcelo esclareça se Chega pode ser governo
O
líder do Chega, André
Ventura, será recebido hoje,
a seu pedido, pelo
Presidente da República. Na
audiência, pedirá a Marcelo
Rebelo de Sousa que esclareça
se aceita uma solução de
governo que inclua o seu partido.
O líder do Chega indicou que,
além deste tema, quer também
abordar com o chefe de Estado a
“situação política, que está já
num ponto sem retorno, e a
situação económica e social”.
“Certamente que vamos
insistir na ideia de que estamos
num ponto sem retorno em
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 11
Presidente da República recebeu
ontem o “líder da oposição”
as suas relações no espaço da direita),
o líder social-democrata parece que-
rer encerrar este capítulo. “Relativa-
mente a aspectos mais envoltos nesse
recato do relacionamento institucio-
nal, compreendem que não vou falar
deles”, disse.
Depois de o Presidente ter questio-
nado, em Março, em entrevista ao
PÚBLICO-RTP, a preponderância do
PSD face aos partidos mais pequenos
à direita para construir uma alterna-
tiva ao PS, Montenegro aÇorou esse
ponto ao referir-se ao PSD como “um
grande partido”, com “grande expres-
são parlamentar, autárquica” e que
“lidera dois governos regionais”.
Aliás, a agenda do Presidente indi-
cou que a audiência de ontem era
com o “líder da oposição” [sic], em
vez de o apresentar como presidente
do PSD. Afastado o cenário de disso-
lução, pelo menos para já, Marcelo
relação ao Governo, que o
Governo de António Costa
chegou ao fim, na nossa
perspectiva já não tem uma
solução”, indicou.
Ventura disse que quer
“questionar o Presidente da
República sobre a veracidade
das informações que foram
tornadas públicas de que será o
próprio a criar entraves ou
dificuldades à presença do
Chega no governo”. O líder do
Chega vai pedir a Marcelo
Rebelo de Sousa que clarifique
se “pediu uma separação de
águas ao PSD e passou para fora
Política
estará atento à evolução da situação
política em duas dimensões: a actua-
ção do Governo e a da oposição.
Após a clariÆcação de Montenegro
de que dispensará o Chega de uma
eventual futura solução governativa,
Marcelo espera que o PSD consiga
crescer nas sondagens para provar
que pode ser uma alternativa ao PS
só com o apoio da Iniciativa Liberal.
Belém, regista que, em Espanha, o PP
já tem uma vantagem considerável
nas sondagens face ao PSOE, o que
não acontece em Portugal.
Na declaração após a audiência, o
líder social-democrata disse ter trans-
mitido a Marcelo a preocupação com
a marcação da data de 9 de Junho de
2024 para as eleições europeias por
ser véspera de feriado em Portugal e
incluído num Æm-de-semana prolon-
gado (e na mesma semana do feriado
de Santo António em Lisboa) e ser
uma “via verde para uma abstenção
histórica”. Nesse sentido, Montene-
gro sugeriu que o Governo procure
que as eleições sejam marcadas nou-
tra data — “em Maio ou a 16 de Junho”
— “ou que se abra uma data alternati-
va” para que as europeias possam
ocorrer em Portugal num dia diferen-
te do resto da União Europeia. “Não
é impossível”, aÆrmou.
O dia 9 de Junho está a ser aponta-
do como a data provável para as euro-
peias em Portugal (entre 6 e 9 de
Junho em toda a União Europeia) ten-
do em conta alguns condicionalismos
noutros países e também relaciona-
dos com o primeiro sufrágio para o
Parlamento Europeu em 1979.
Montenegro aproveitou para dizer
que “o Governo não está a compreen-
der a real situação em que os portu-
gueses vivem. Isso é mau”.
a ideia” de que não aceitará “um
governo que tenha o Chega
presente”. Ventura notou que
Marcelo “nunca transmitiu isso”
ao Chega e defendeu que “para
o país é importante saber”.
“Estamos a falar de um partido
que é o terceiro maior, que nas
sondagens está à volta dos 15%.
Com uma percentagem destas,
não poder ter lugar no governo
por imposição de Belém é
discutível se é legítimo ou não
(...) mas é preciso que seja
clarificado e dito às pessoas”,
acrescentou o também
deputado. PÚBLICO/Lusa
12 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Política
Deputados debatem hoje, e votam na sexta-feira, lei da autodeterminação da identidade de género
AR discute identidade de género
nas escolas e práticas de conversão
Ana Bacelar Begonha
Projectos para punir
práticas de conversão e
lei da autodeterminação de
género nas escolas discutidos
hoje e votados na sexta
Para contornar o “chumbo” do Tri-
bunal Constitucional (TC) à aplicação
da lei da autodeterminação da iden-
tidade de género nas escolas, o PS, o
Bloco de Esquerda (BE) e o PAN entre-
garam projectos de lei na Assembleia
da República (AR) que vão a discussão
no plenário de hoje e serão votados
na sexta-feira. Já a iniciativa do Chega
incide sobre a polémica questão das
casas de banho que levou, a par de
outras questões, ao pedido de Æscali-
zação ao TC por parte de deputados
do PSD e CDS.
Em 2021, o TC considerou incons-
titucionais as normas relativas às
escolas na lei do Governo de 2018 que
“estabelece o direito à autodetermi-
nação da identidade de género”, por
considerar que é competência exclu-
siva da AR legislar sobre a matéria.
A Æm de “cumprir a decisão do
TC”, o PS irá aprovar um projecto de
lei que transpõe integralmente o des-
pacho de 2019 em que o executivo
estabeleceu as “medidas administra-
tivas” para aplicar a lei no sistema de
ensino e, assim, “proteger as crianças
e os jovens trans”, explicou ao PÚBLI-
CO a deputada Isabel Moreira.
O BE, por sua vez, propõe altera-
ções à lei: que as escolas disponibili-
zeminformação de apoio às vítimas
de discriminação nos sites; que “qual-
quer situação de assédio ou de práti-
ca de actos lesivos” dos estudantes
menores deve ser comunicada à
“comissão de protecção de crianças
e jovens”; ou que a formação nas
escolas seja dada “em parceria com
as universidades e associações na
área dos direitos LGBTQI”.
Além disso, alargam algumas medi-
das a todo o pessoal das escolas, reti-
ram a necessidade de o nome adop-
tado pelos estudantes nos documen-
tos públicos respeitar a “vontade
expressa dos pais”, sugerindo ainda
que a monitorização destas medidas
seja feita pela Inspecção-Geral da
Educação e Ciência.
O PAN quer alterar a lei de 2018
para atribuir à AR “a competência
para a regulamentação das medidas”
e que o Parlamento aprove a transpo-
sição “para forma de lei” do despacho
do Governo.
O Chega, por outro lado, sugere
que a lei reÆra que estas medidas não
podem “comprometer a privacidade
e segurança da comunidade escolar”
e que estabeleça que as escolas devem
disponibilizar “espaços não caracte-
rizados a que se pode aceder sem
qualquer critério de género”, para
evitar a possibilidade de os jovens
escolherem a casa de banho e o bal-
neário (feminino ou masculino) que
querem frequentar em função da sua
identidade de género.
O Conselho Nacional de Ética tam-
Socialista Isabel
Moreira quer que
sejam as escolas
a decidir a melhor
forma de garantir
o acesso às casas de
banho e balneários
DANIEL ROCHA
bém sugeriu num parecer aos projec-
tos que as escolas criem “espaços não
caracterizados”, mas Isabel Moreira
argumenta que o projecto dos socia-
listas não rejeita esta hipótese, dei-
xando à autonomia das escolas a
melhor forma de assegurar o acesso
às casas de banho e balneários.
Proibir práticas de conversão
Hoje, a AR discute também quatro
projectos de lei do PS, BE, Livre e PAN
que visam criminalizar e punir as prá-
ticas forçadas de alteração da orien-
tação sexual, identidade de género e
expressão de género das pessoas
LGBTQI+, isto é, as chamadas “tera-
pias de conversão”.
Ao PÚBLICO, o deputado Miguel
Rodrigues (PS) admite que os projec-
tos da oposição possam ser trabalha-
dos na especialidade, onde o partido
espera conseguir “convergir com as
forças progressistas”.
Os projectos condenam de forma
uníssona estes actos, que classiÆcam
de “ameaças ao direito à autonomia
e integridade pessoais” ou “práticas
perigosas para a saúde física e mental
dos cidadãos”, alertando para o
“vazio legal nesta matéria” e a “ine-
xistência de dados” sobre a mesma.
Monteiro
à frente
de instituto
ligado ao CDS
Sofia Rodrigues
Candidatura à direcção
do Instituto Adelino Amaro
da Costa não terá suscitado
oposição de Paulo Portas
e agradou a Nuno Melo
O antigo líder do CDS Manuel Mon-
teiro foi eleito por unanimidade pre-
sidente da direcção do Instituto Ade-
lino Amaro da Costa (IDL), um fórum
de reÇexão ligado ao partido. As elei-
ções decorreram ao Ænal da tarde de
ontem e tinham uma lista única.
A candidatura de Manuel Montei-
ro, que regressou ao CDS há três
anos, não suscitou, ao que o PÚBLI-
CO apurou, a oposição de Paulo Por-
tas — os dois antigos líderes mantive-
ram uma ruptura durante anos. Ao
mesmo tempo, agradou ao actual
presidente do partido. “Manuel Mon-
teiro, que é professor universitário e
tem um conhecimento profundo do
CDS, garantirá que o IDL possa man-
ter-se como um fórum muito útil na
aÆrmação dos valores que são parti-
lhados com o partido”, disse ao
PÚBLICO Nuno Melo.
A lista candidata mantém alguns
dos nomes que faziam parte da
actual direcção do IDL, liderada por
Diogo Feio, antigo líder parlamentar
do CDS, que Æcará na assembleia
geral, ou ainda o ex-secretário-geral
João Almeida, e integra actuais diri-
gentes do partido, como Luísa Aldim
e Raquel Paradela. Mas deixa de inte-
grar Diogo Belford Henriques, antigo
adjunto de Portas no Governo e pró-
ximo do ex-vice-primeiro-ministro.
Com 85 associados, o IDL reúne
muitas das Æguras do CDS e é um
fórum de reÇexão sobre política.
Uma das iniciativas que promove são
debates. O mais recente aconteceu
com Nuno Melo, como convidado,
que falou sobre o futuro do CDS.
Manuel Monteiro voltou a ser mili-
tante do partido em Maio de 2020,
na liderança de Francisco Rodrigues
dos Santos, depois de ter saído em
2003, em ruptura total com o líder
de então, Paulo Portas. Fundou o
partido Nova Democracia, que lide-
rou até 2008.
O regresso do antigo líder do par-
tido (1992-1998) alimentou a especu-
lação sobre qual seria o seu papel e
se esse regresso signiÆcava também
uma nova liderança. No congresso
do CDS de 2022, Monteiro discursou
no púlpito para apoiar o actual líder
e mostrou-se disponível para colabo-
rar com o partido “sem cargos e sem
estatuto”.
 Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 13

Acusação do Ministério Público Sociedade

Padre jesuíta acusado de perseguir

seis funcionários em colégio que dirigia
Crimes terão sido praticados enquanto sacerdote esteve no Colégio das Caldinhas, em Santo Tirso,
onde foi director-geral. Clérigo incorre numa pena de prisão até três anos por cada ilícito
PAULO PIMENTA

Mariana Oliveira
O Ministério Público acusou há dias
um padre jesuíta que foi director-ge-
ral do Colégio das Caldinhas, em San-
to Tirso, de seis crimes de persegui-
ção na sequência de várias queixas-
crime apresentadas por funcionários
ou ex-trabalhadores do centro educa-
tivo desde 2019. O sacerdote incorre
numa pena de prisão até três anos por
cada crime.
Contactada pelo PÚBLICO, para
reagir quer em nome do padre quer
em nome da Companhia de Jesus,
apenas esta última quis fazer declara-
ções, dizendo-se triste “com o impac-
to que esta [situação] possa causar no
bem-estar da comunidade educativa
do Colégio das Caldinhas”.
E sublinha que, “tal como referiu
em 2020, as queixas surgiram num
contexto de um conÇito laboral que
se viveu no colégio no passado e que
tem vindo a ser resolvido e ultrapas-
sado”. A Companhia de Jesus garante
ainda conÆar “no normal funciona-
mento da Justiça e aguarda com sere-
nidade pelo Ænal deste processo”.
Na acusação, a procuradora Sónia
Pires da Costa escreve que o director-
geral do colégio “sentiu necessidade
de afastar de qualquer forma e por
todos os meios todos aqueles que,
nestas entidades, lhe levantassem
qualquer objecção, lhe desagradas-
sem ou desobedecessem em qualquer Comportamento do padre Filipe Martins terá levado a uma “onda de baixas médicas generalizada” entre os funcionários
das suas exigências, por mais capri-
chosas e ilícitas ou anómalas que fos- meiro ano do básico até ao 12.º ano. provincial”, lia-se na mensagem que e aos Æns-de-semana, o padre Filipe pedindo-lhe, por exemplo, um aque-
sem, recorrendo de forma sistemáti- Foi o “desnorte geral” provocado o PÚBLICO divulgou em 2020. Martins deu ordem ao informático do cedor a óleo ou que resolvesse um
ca à humilhação, às ameaçadas vela- pela chegada do futuro director que INA “para manipular e controlar as problema de ruído no seu telefone.
das ou explícitas de procedimentos levou, no início de Novembro de Está agora em Bruxelas comunicações”, incluindo “barrar/ Ao chefe dos serviços de tesouraria,
disciplinares e de despedimentos”. 2018, quatro directores pedagógicos O alvo das acusações é o padre Filipe Æltrar/censurar o acesso dos directo- que trabalhava no colégio há várias
O documento detalha que, em e dois administradores do colégio a Martins, de 52 anos, que está agora em res pedagógicos”. Depois de nomeado décadas, o padre Filipe pediu as cre-
Setembro de 2018, o futuro director escrever ao responsável máximo da Bruxelas, onde é delegado social euro- a 20 Dezembro de 2018, “todos os denciais de acesso às contas bancá-
do colégio — só foi nomeado uns dias Companhia de Jesus, em Roma, a peu dos jesuítas e dirige o Centro actos intimidatórios de perturbação rias, à segurança social e à autoridade
antes do Natal e só tomou posse em queixarem-se do mesmo, nomeada- Social Jesuíta Europeu ( JESC, na sigla e de perseguição” aos trabalhadores, tributária, retirando-lhe o acesso a
Janeiro seguinte — começou a convo- mente pelo “desrespeito completo inglesa), que tem a missão de reÇectir sobretudo do INA, “foram elevados à esses serviços e impedindo-o durante
car educadores sem qualquer concer- pelos horários de trabalho e descan- sobre as políticas e práticas da União máxima potência e intensidade, tor- algum tempo de processar salários.
tação prévia com as suas cheÆas para so, com atropelos constantes, inter- Europeia. “O JESC expressa o compro- nando-se intoleráveis e insuportáveis, “Ao dirigir-se aos ofendidos, no
reuniões individuais, colocando-lhes rupções de Æm-de-semana e durante misso da Companhia de Jesus com ao ponto de deixar vários educadores tom agressivo e grave, de forma
questões “de forma inquisitorial e a noite, com mensagens de correio uma Europa onde os direitos huma- com esgotamentos nervosos, em con- constante e intimidatória, anuncian-
agressiva”. Em várias desses “inter- electrónico e mensagens escritas para nos, a liberdade e a solidariedade são sultas de psiquiatria, com crises de do constantemente medidas discipli-
rogatórios inquisitoriais”, uma expres- o telemóvel”. o fundamento da integração”, lê-se no choro, ansiedade e depressão e nares de despedimento com justa
são da procuradora, o padre dizia que Essa atitude levou igualmente o site da instituição. O padre foi coorde- sofrendo de stress pós-traumático, e causa, agiu com o propósito concre-
quem não estivesse com ele e não então director do colégio, o padre nador nacional do Sistema de Protec- com pesadas prescrições medicamen- tizado de anunciar um mal sobre a
Æzesse o que ele mandasse teria de José Martins Lopes, e o então supe- ção e Cuidado (SPC) de Menores e tosas, criando uma onda de baixas vida pessoal e laboral dos ofendidos,
“procurar outro caminho”. Dois dos rior, o padre Alberto Sousa, a queixa- Adultos Vulneráveis da Companhia de médicas generalizada”. sempre de forma adequada a provo-
queixosos acabaram mesmo por ser rem-se ao então provincial, José Fra- Jesus e, nessa qualidade, foi respon- A acusação indica ainda que o car-lhes medo, insegurança, inquie-
despedidos, estando outros quatro a zão. “O padre Filipe Martins chegou sável por um manual de procedimen- padre Filipe sobrecarregava o então tação e a prejudicar-lhe a liberdade
trabalhar numa das cinco escolas que com uma atitude de patrão, a roçar a tos destinado a prevenir e combater administrador do colégio “com tare- de determinação, bem sabendo
compõem o colégio. A principal é o intimidação para com algumas das casos de abusos sexuais ou situações fas desadequadas que caem, clara- igualmente que a sua conduta era
Instituto Nun’Alvres (INA), que dispõe pessoas que aqui trabalham, apelan- de maus tratos. Além de enviar emails mente, fora da descrição da função, adequada a causar tal resultado”,
de vários níveis de ensino desde o pri- do à autoridade que trazia do padre e mensagens já depois da meia-noite tratando-o como ‘moço de recados’”, remata a acusação.
14 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Sociedade
Dois dos maiores grupos privados de saúde
acabam com a cobrança de “taxas covid”
Ana Maia
Grupos privados de saúde
Lusíadas e CUF eliminaram
taxas. DGS também reviu
orientação relacionada
com uso de máscaras
Com o Æm do uso obrigatório de más-
caras nos estabelecimentos de saúde,
os grupos privados estão a rever as
suas políticas de cobrança de taxas de
segurança e higiene, uma medida
adoptada para suportar os custos
associados à aquisição de equipamen-
tos de protecção individual (EPI) por
causa da covid-19. Desde ontem que
dois dos maiores grupos privados,
Lusíadas e CUF, eliminaram estas
taxas. A Direcção-Geral da Saúde tam-
bém reviu a orientação relacionada
com o uso de máscaras.
A medida já tinha sido aprovada no
Conselho de Ministros de 6 de Abril e
o decreto-lei que acabou com a obri-
gatoriedade de utilização de máscaras
e viseiras nos estabelecimentos e ser-
viços de saúde, nos lares e estruturas
de acolhimento e nas unidades de
cuidados continuados integrados,
entrou em vigor ontem.
As chamadas “taxas covid” ainda
estavam a ser aplicadas nos grupos
de saúde privados, em alguns servi-
ços e com valores inferiores aos da
Menos 3000 estudantes inscritos este ano
nas provas de ingresso ao ensino superior
Karla Pequenino
Este ano, menos 3000 alunos do
secundário inscreveram-se para a
realização de exames nacionais que,
tal como nos últimos anos, servem
apenas para aceder ao ensino supe-
rior. Ao todo, há 145.969 alunos no
ensino secundário registados para a
primeira época de provas, que arran-
ca a 19 de Junho. Os dados foram
divulgados ontem pelo Ministério da
Educação.
O número de inscrições tem vindo
a diminuir desde que os alunos passa-
ram a ter de responder apenas às pro-
vas exigidas pelas licenciaturas em
que pretendem ingressar. Em 2022, o
número de alunos do secundário ins-
critos nos exames rondava os 149 mil.
Em 2021, havia 151 mil estudantes
registados. Ainda não há detalhes
sobre o número de exames que cada
fase inicial da pandemia. Agora, com
as novas regras em vigor, vão deixar
de ser cobradas em dois dos princi-
pais grupos.
“A Lusíadas Saúde elimina, a 18 de
Abril de 2023, a tarifa de prevenção e
protecção de riscos, no seguimento
da entrada em vigor do decreto-lei
que determina a cessação da obriga-
toriedade do uso de máscaras e visei-
ras em estabelecimentos e serviços
de saúde (DL n.º 26-A/2023)”, adian-
ta a entidade em resposta por escrito,
referindo que foi deÆnida a “cessação
da obrigatoriedade do uso geral de
máscara por doentes, visitantes e pro-
Æssionais”.
Contudo, por indicação do Progra-
ma de Prevenção e Controlo de
Infecções aos Antimicrobianos do
próprio grupo, mantém-se a “manu-
tenção do uso de máscara cirúrgica
em todas as pessoas em situação de
risco de transmissão de infecções
respiratórias” e a “manutenção do
uso de máscara cirúrgica por todos
os proÆssionais de saúde na realiza-
ção de procedimentos com previsão
de projecção de gotículas de Çuidos
orgânicos, infecções respiratórias e
assépticos”. Também o grupo CUF
decidiu “eliminar a tarifa de seguran-
ça, criada no contexto da pandemia
de covid-19”. “Esta tarifa, que deixa
hoje [ontem] de ser aplicada, reÇec-
tia o signiÆcativo acréscimo de medi-
aluno pretende fazer. Em 2022, apesar
da diminuição do número de alunos
inscritos, foram feitos mais exames do
que em 2021. Alguns alunos optam
por fazer mais provas do que aquelas
que precisam com o objectivo de subir
a sua nota de ingresso (média escolar)
num curso superior.
O prazo das inscrições para os exa-
mes nacionais, no entanto, não faci-
litou o processo. As inscrições para os
exames nacionais deste ano lectivo
decorreram ente 4 e 17 de Abril, um
prazo que coincidiu quase inteira-
mente com o período de férias de
Páscoa, ao contrário do que é habi-
tual. A circunstância mereceu duras
críticas da Associação Nacional de
Dirigentes Escolares (ANDE), por
transformar um acto escolar comple-
xo, que suscita dúvidas, num proces-
so “meramente burocrático”. Num
artigo intitulado “Um barco à deriva”,
Portaria sobre fim do uso obrigatório de máscara publicada ontem
das de segurança implementadas em
ambiente de prestação de cuidados
de saúde hospitalar e consequente
aumento exponencial dos custos
envolvidos”, lê-se na resposta envia-
da ao PÚBLICO. “Ainda no seguimen-
to do decreto-lei, deixa de ser obri-
gatório, a partir de hoje [ontem], o
uso de máscaras e viseiras nos hos-
pitais e clínicas da rede CUF”, refere
o grupo, acrescentando que se man-
tém “em vigor as boas práticas de
segurança pré-pandemia, relaciona-
das com o cumprimento das precau-
ções do controlo de infecção”.
Primeira época de exames arranca a 19 de Junho
o presidente da ANDE, Manuel Perei-
ra, lamentou então que o calendário
escolhido este ano tenha tornado
“meramente administrativo e buro-
PAULO PIMENTA
Já o grupo Luz Saúde explicou que
na sequência da decisão do Conselho
de Ministro “decidiu, no passado dia
13, alterar as normas de utilização e
facturação de EPI nas suas unidades
da Rede Hospital da Luz”. “Assim,
deixaram, desde essa data, de ser
cobrados aos clientes os kits de EPI,
com excepção dos kits em doentes
com doença covid-19 conÆrmada,
que são uma percentagem residual
neste momento”, disse, acrescentan-
do que com a divulgação da nova
orientação da DGS sobre o uso de
máscaras, “a Luz Saúde vai reavaliar
NELSON GARRIDO
crático” um acto escolar “complexo,
que suscita dúvidas” e “está na esfera
da relação responsável entre os pro-
fessores, os alunos e a comunidade
a situação e agirá em conformidade
com as novas instruções da autorida-
de de saúde”. O PÚBLICO também
questionou o grupo Trofa Saúde, mas
não obteve resposta.
A acompanhar a alteração, tam-
bém a DGS actualizou a orientação
relativa ao uso de máscaras. “Deixa
de ser obrigatória nas áreas não clíni-
cas dos estabelecimentos e serviços
de saúde e instalações similares”,
lê-se na orientação, que refere que
nas áreas clínicas o uso de máscaras
“ocorrerá de acordo com a tipologia
de doentes e de procedimentos, a
decidir em cada estabelecimento ou
serviço de saúde de acordo com as
orientações das Unidades Locais do
Programa de Prevenção e Controlo
de Infecções e de Resistência aos Anti-
microbianos (UL-PPCIRA)” das pró-
prias unidades de saúde.
Embora o uso de máscaras também
deixe de ser obrigatório nos lares e
nas unidades de cuidados continua-
dos, a DGS mantém a recomendação
do seu uso por parte de visitantes e
proÆssionais em situações de proxi-
midade com residentes vulneráveis e
por parte das “pessoas mais vulnerá-
veis” em ambientes fechados ou em
contexto de surto. A máscara também
é “fortemente recomendada” nos
casos conÆrmados de covid-19 até ao
10.º dia após o início de sintomas ou
do teste positivo.
educativa”. A ANDE lembrou que,
tradicionalmente, as inscrições dos
alunos nos exames nacionais do ensi-
no secundário decorriam “antes das
férias da Páscoa, nas últimas semanas
do 2.º período”, ainda em tempo de
aulas. Essa circunstância permitia aos
alunos debater “entre si as opções
que queriam tomar” no acesso ao
superior e, consequentemente, nos
exames a que se queriam inscrever.
Soma-se ainda o facto de as vagas
para acesso ao ensino superior só
serem publicadas a 2 de Abril, dando
pouco tempo aos alunos para analisar
as suas opções. Como já é habitual, as
inscrições para os exames nacionais
foram feitas na Plataforma de Inscri-
ção Electrónica em Provas e Exames.
Em comunicado, o Ministério da Edu-
cação dá conta de que também há
504 inscrições para os exames de
conclusão do ensino básico.

Adesão à greve de professores por
distritos começou acima dos 85%
Cristiana Faria Moreira
Nova ronda de greves
arrancou anteontem,
no Porto. Paralisação, que
afecta aulas após o meio-dia,
percorre todos os distritos
No primeiro dia de greve dos pro-
fessores por distritos, que se iniciou
no Porto anteontem, a adesão
“superou os 85%”. O protesto seguiu
ontem para Viseu, onde está a ter
uma adesão “na ordem dos 90%”,
com “inúmeras escolas sem aulas”,
revelou em comunicado a platafor-
ma de nove sindicatos que o convo-
cou, e da qual fazem parte a Fede-
ração Nacional dos Professores
(Fenprof ) e a Federação Nacional da
Educação (FNE).
Esta greve foi convocada no final
do mês de Março no sentido de rei-
vindicar medidas nas quais o Gover-
no não tem cedido, em particular
na recuperação plena do tempo de
serviço que esteve congelado e na
eliminação das quotas e vagas de
acesso aos 5.º e 7.º escalões da car-
reira docente.
“A greve começou como se espe-
rava, com uma grande adesão por
parte dos professores e dos educa-
dores, apesar de se ter iniciado logo
no primeiro dia após a interrupção
lectiva da Páscoa. Às 12h, em muitas
escolas, os professores concentra-
Universidade do Porto validou cinco
queixas de assédio moral e sexual
A Universidade do Porto (U. Porto)
validou, desde Junho de 2022, no seu
portal de denúncias 19 queixas e
reclamações da comunidade acadé-
mica, cinco das quais relacionadas
com assédio moral e sexual, revelou
ontem a instituição.
“Estas cinco queixas de assédio
moral e/ou sexual, devidamente vali-
dadas pela comissão independente
de recepção e análise de denúncias,
motivaram a abertura de outros tan-
tos processos de inquéritos que se
encontram ainda a decorrer”, res-
pondeu a U. Porto a perguntas escri-
tas colocadas pela Lusa.
Sem adiantar pormenores sobre os
autores ou natureza das queixas, a
universidade referiu que os cinco pro-
cessos são heterogéneos e não se refe-
rem apenas a assédio sexual ou a
ram-se na rua, junto à entrada”, refe-
rem as nove estruturas sindicais,
onde se incluem a Associação Sindi-
cal de Professores Licenciados
(APSL), a Pró-Ordem dos Professores
(Pró-Ordem), Sindicato dos Educa-
dores e Professores Licenciados
(Sepleu), Sindicato Nacional dos Pro-
Æssionais de Educação (Sinape), Sin-
dicato Nacional e Democrático dos
Professores (Sindep), Sindicato Inde-
pendente dos Professores e Educa-
dores (SIPE) e Sindicato Nacional dos
Professores Licenciados pelos Poli-
técnicos e Universidades (Spliu) —
Esta greve de docentes foi convocada no final de Março
queixas de estudantes sobre profes-
sores, recordando que o canal de
denúncias está aberto a toda a comu-
nidade académica. “O artigo 200 da
Lei Geral do Trabalho em Funções
Públicas (Lei n.º 35/2014) determina
a ‘natureza secreta’ destes processos,
sob pena de procedimento disciplinar,
pelo que não pode a Universidade do
Porto pronunciar-se publicamente
sobre os mesmos”, sublinhou.
Na informação enviada à Lusa, a U.
Porto explicou ter lançado em Junho
de 2022 o seu portal online de denún-
cias (www.up.pt/denuncias) especiÆ#
camente dedicado à comunicação de
situações consideradas ilegais prati-
cadas no seio da instituição e dividido
em duas grandes áreas: assédio moral
e/ou sexual e fraude e/ou reclamações
administrativas.
além, da Fenprof e da FNE.
Apesar de avançarem com estes
números, os sindicatos referem ser
um valor difícil de apurar, uma vez
que “há professores com aulas de
manhã e de tarde, outros só com aulas
de manhã e ainda alguns com activi-
dade na escola somente de tarde”.
Esta greve, para a qual o ministé-
rio não solicitou serviços mínimos,
arrancou no Porto, seguiu para Viseu
e irá percorrer todos os distritos do
país por ordem alfabética inversa e
terminará em Lisboa.
Hoje, a paralisação será em Vila
RUI GAUDÊNCIO
A denúncia é realizada num formu-
lário online garantindo o total anoni-
mato de vítimas e/ou denunciantes
(caso assim o pretendam), eliminando
a necessidade de qualquer tipo de
contacto interpessoal no acto da
denúncia. “O formulário foi desenvol-
vido num software livre dedicado
especiÆcamente à protecção e segu-
rança dos denunciantes com o suges-
tivo nome de GlobalLeaks”, referiu a
U. Porto. No que toca especiÆcamen-
te à questão do assédio, a Universida-
O canal
de denúncias que
foi criado está
aberto a toda
a comunidade
académica, diz
a universidade
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 15
Real, na véspera de mais uma reu-
nião negocial com o Ministério da
Educação, para discutir medidas que
visem a “correcção das assimetrias”
resultantes do congelamento das
carreiras.
E na qual, acusam os sindicatos, a
tutela “se apresentará com uma pro-
posta que não recupera qualquer dia
dos que continuam congelados e
prevê um regime de dispensas de
vaga que é discriminatório, injusto e
excludente”.
Governo e sindicatos têm travado
um duro braço-de-ferro desde que
as negociações começaram, em
Setembro, não tendo ainda chegado
a acordo nas matérias-chave em dis-
cussão. Em Março passado, concluiu-
se, sem acordo, o processo negocial
sobre concursos, estando agora em
discussão a progressão na carreira
dos docentes mais afectados pelo
congelamento do tempo de servi-
ço.
O Governo já reiterou que não
haverá disponibilidade para a recu-
peração integral do tempo de serviço
congelado, mas os sindicatos dizem
não abrir mão dos seis anos, seis
meses e 23 dias que não estão conta-
bilizados para efeitos de progressão
na carreira.
As estruturas sindicais exigem
também o Æm das vagas de acesso
aos 5.º e 7.º escalões, que conside-
ram ser um “travão artiÆcial” à pro-
gressão na carreira.
de do Porto decidiu criar uma comis-
são independente especíÆca para a
recepção e análise das denúncias
constituída paritariamente por dife-
rentes membros da comunidade aca-
démica, nomeadamente dois docen-
tes, dois técnicos não docentes e dois
estudantes. Esta comissão tem por
missão a implementação da estraté-
gia institucional de prevenção do
assédio e a recepção e análise inde-
pendente das denúncias recebidas no
portal, acrescentou.
A propósito deste tema, na segun-
da-feira, em Coimbra, o secretário de
Estado do Ensino Superior defendeu
que todas as instituições do superior
devem ter mecanismos de prevenção
de casos de assédio, bem como canais
de denúncia e actuação do ponto de
vista sancionatório. Lusa
Sociedade
Ornelas reeleito
presidente
da conferência
episcopal
Natália Faria
Eleito em 2020, o bispo
de Leiria-Fátima foi ontem
reconduzido como
representante dos bispos
nos próximos três anos
O bispo de Leiria-Fátima, D. José
Ornelas foi ontem reeleito presidente
da Conferência Episcopal Portuguesa
(CEP). Na vice-presidência mantém-
se igualmente o bispo de Coimbra, D.
Virgílio Nascimento, conÆrmando-se
assim a aposta na continuidade
naquele que é o órgão representativo
dos bispos católicos portugueses.
O padre Manuel Barbosa manter-
se-á como porta-voz da CEP, de acor-
do com o comunicado emitido ontem,
na sequência das eleições para o pró-
ximo triénio realizadas na assembleia
plenária que decorre em Fátima até
amanhã. Nesse dia, os bispos vão
celebrar uma missa destinada a pedir
perdão às vítimas de abuso sexual
dentro da Igreja. No conselho perma-
nente, que se reúne habitualmente
todos os meses para preparar os tra-
balhos e dar seguimento às resolu-
ções tomadas pelo conjunto dos bis-
pos em assembleia plenária, também
não há grandes alterações, excep-
tuando a saída do arcebispo de Braga,
D. José Cordeiro, e a correspondente
substituição pelo bispo de Aveiro, D.
António Moiteiro Ramos.
Eleito presidente da CEP em Junho
de 2020, em plena pandemia, D. José
Ornelas foi o grande responsável pelo
impulso dado ao levantamento histó-
rico sobre os abusos sexuais de crian-
ças no seio da Igreja Católica em Por-
tugal, num esforço que redundou na
divulgação do relatório “Dar Voz ao
Silêncio”, que estimou que perto de
cinco mil crianças tenham sido víti-
mas daquele tipo de abuso, desde
1950 até à actualidade.
Os abusos sexuais de menores em
meio eclesial integram igualmente a
agenda de trabalho desta assembleia
plenária. No discurso de abertura, D.
José Ornelas adiantou que o novo gru-
po de acompanhamento que será
presidido pela psicóloga forense Rute
Agulhas terá toda a autonomia para
“acolher e acompanhar as vítimas”,
bem como para “assegurar o neces-
sário apoio e a possível recuperação
dos danos sofridos”.
A nova equipa, cuja composição
será votada durante o encontro, irá
dispor de uma linha de atendimento
e das condições necessárias para o
contacto e o acompanhamento pes-
soal das vítimas.
16 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023

Local Instalações servirão estudantes de Aveiro e Coimbra

DR

A escola estava abandonada até que, em 2020, e face à ausência de respostas por parte do Governo, a câmara tomou medidas. O edifício entretanto passou para a sua posse

Antiga escola de Anadia transformada

em alojamento para universitários
Autarquia já adjudicou a empreitada pelo valor base de 1,57 milhões de euros. Serão criados 36 quartos,
quatro dos quais adaptados a utilizadores com mobilidade condicionada
Maria José Santana
O município de Anadia está a criar
alojamentos para alunos de licencia-
turas, mestrados ou doutoramento, a
partir da requaliÆcação da antiga esco-
la secundária do município. Serão, no
total, 36 alojamentos — quatro dos
quais adaptados a utilizadores com
mobilidade condicionada —, que per-
mitirão albergar 56 pessoas. A emprei-
tada já foi adjudicada, por um valor
base de 1,57 milhões de euros, e tem
um prazo de execução de dez meses.
Além de tentar corresponder às neces-
sidades das vizinhas universidades de
Aveiro e Coimbra, o município bairra-
dino acredita estar a lançar as semen-
tes para a instalação de um pólo uni-
versitário no seu território.
“Temos feito o nosso trabalho
junto das instituições universitárias,
pois entendemos que o município
tem todo o potencial para ter um
pólo universitário. É um sonho pelo
qual vamos continuar a lutar”, reco-
nheceu Teresa Cardoso, presidente
da câmara, em declarações ao
PÚBLICO. Enquanto essa pretensão
não é atendida, Anadia abre-se aos
estudantes universitários que têm
diÆculdade em encontrar alojamen-
tos em Aveiro e Coimbra adaptados
aos seus orçamentos. “Aqui terão
condições dignas, a preços mais
ajustados”, destaca a presidente do
município, que tem ligação ferroviá-
ria às duas cidades universitárias.
Ainda assim, é intenção da autar-
quia alargar a oferta de transportes
entre Anadia e as referidas institui-
ções de ensino superior — medida
que a edilidade garante estar já em
estudo, no âmbito deste projecto.
As obras de adaptação da antiga
escola secundária de Anadia — inter-
venção realizada ao abrigo do Plano
Nacional para o Alojamento no Ensi-
no Superior e Ænanciada pelo Plano
de Recuperação e Resiliência (PRR)
— terão em conta, segundo a autar-
quia, “questões relativas à eÆciência
energética e à sustentabilidade
ambiental”. Além dos quartos, serão
criados ainda espaços para refeições,
estudo, lazer, lavandaria, área para
coworking e zonas exteriores de con-
vívio. Junto ao alojamento, haverá um
ponto de carregamento rápido de
veículos eléctricos e uma estação de
parqueamento de bicicletas.
O edifício em questão, recorde-se,
chegou a estar ao abandono, criando
várias inquietações à autarquia local.
Em 2020, e perante a ausência de res-
postas por parte do Governo para
resolver o problema do estado de
degradação do edifício — juntamente
com as instalações da antiga Escola
Básica 2.3 —, a câmara municipal
entrou com várias máquinas naquele
espaço e procedeu à sua limpeza.
Após negociações com a Direcção-
Geral do Património, a edilidade aca-
bou por Æcar com as instalações refe-
rentes à antiga escola secundária.
Contabilizando os terrenos que tinha
disponibilizado tanto para a anterior
como para a nova escola, o processo
negocial culminou com “uma escritu-
ra que passou a propriedade daquele
edifício para o município, tendo ainda
a câmara de ressarcir o Estado em
mais de 360 mil euros”, refere a edil.
Depois de ter tomado posse do
imóvel, a autarquia já conseguiu
“fazer algum investimento no melho-
ramento do edifício mais antigo, que
foi Colégio Nacional e depois escola
secundária”, destaca a autarca, evi-
denciando o facto de essas obras já
terem permitido ali instalar, proviso-
riamente, a GNR e também o centro
de saúde concelhio — em ambos os
casos, para permitir que fossem rea-
lizadas obras nas instalações habi-
tuais, tendo a força policial já regres-
sado ao seu posto territorial.
Enquanto avança com o projecto do
alojamento para estudantes, a autar-
quia continua a trabalhar para dar uso
ao restante imóvel. Teresa Cardoso
admite existirem já algumas ideias em
cima da mesa, mas remete esclareci-
mentos para mais tarde.

Parque de campismo
de Viana do Castelo pode
não abrir no Verão
Processo judicial movido
pela Orbitur pode impedir
o parque do Cabedelo
de abrir na próxima época
balnear
O presidente da Câmara de Viana do
Castelo admitiu ontem que o parque
de campismo do Cabedelo poderá
não abrir na próxima época balnear
devido à acção movida pela Orbitur
junto do Tribunal Administrativo e
Fiscal do Porto. “Abrir esta época
balnear vai ser difícil, a não ser que
a entidade desista [da acção] e
tenhamos condições de retomar a
actividade, executando as interven-
ções de melhoria qualitativa do
espaço, que neste momento não
temos”, aÆrmou Luís Nobre.
Em causa está o concurso públi-
co, concluído em Agosto de 2022,
para a concessão da exploração do
parque de campismo situado no
Cabedelo, em Darque, procedimen-
to que a autarquia revogou, por
unanimidade, no dia 21 de Março.
Na sequência desta decisão, a Orbi-
tur, que há 60 anos explora o par-
que de campismo, intentou no iní-
cio de Fevereiro um processo de
contencioso pré-contratual junto do
Tribunal Administrativo e Fiscal
(TAF) do Porto contra a Câmara de
Viana do Castelo.
Ontem, em declarações aos jor-
nalistas no Ænal da reunião camará-
ria, na qual a polémica em torno do
assunto voltou a marcar o período
antes da ordem do dia, o autarca
socialista disse que o município
Parque do Cabedelo está a ser alvo de uma acção judicial
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 17
sempre agiu com “bom senso” nes-
ta matéria e que “quem tomou a
iniciativa de recorrer aos tribunais”
foi a Orbitur.
Nobre rejeitou ter “ocultado” ao
executivo municipal a acção judicial
movida pela Orbitur, por ter sido
notiÆcado da sua existência em 22
de Março. “Agora temos de esperar
pelo tempo dos tribunais, para o
bem e para mal (...). Se uma entida-
de coloca a câmara em tribunal,
relativamente a um momento pro-
cessual do concurso para atribuição
da nova concessão, temos de aguar-
dar a decisão do tribunal”, aÆrmou,
voltando a não se pronunciar sobre
uma eventual prorrogação do prazo
do concurso público.
Aos jornalistas, o vereador do PSD
Eduardo Teixeira disse que o partido
consultou o processo e retirou como
uma das “evidências” a inexistência
de “qualquer despacho de prorro-
gação do prazo do concurso para a
concessão do parque de campismo,
à data de 1 de Agosto”. “Não haven-
Abrir esta época
balnear vai ser
difícil, a não ser
que a Orbitur
desista [da acção]
Luís Nobre
Presidente da câmara
ADRIANO MIRANDA
Local
do prorrogação, entrou na câmara
municipal uma proposta que devia
ter sido aberta, formalmente, no dia
seguinte. No dia seguinte, as pessoas
[que apresentaram a proposta] esti-
veram na câmara e Æzeram uma
reclamação, que não está no proces-
so. No 21 de Março último, a câmara
invocou apenas uma necessidade de
extinguir o concurso, fazendo de
conta de que não havia uma propos-
ta em cima da mesa”, disse Eduardo
Teixeira.
“Tudo muito estranho”
“É tudo muito estranho. Achamos
lamentável todo este procedimen-
to”, criticou, referindo que, no dia
anterior à reunião de câmara, 20 de
Março, já constava no portal Citius
a acção judicial que a Orbitur inten-
tou contra a autarquia. “Os juristas
têm acesso ao Citius. Alguém da
câmara tem de prestar contas ao
executivo municipal”, frisou. O
vereador do CDS-PP, Hugo Meira,
disse ter consultado o processo e
que, “sem surpresa, lamentavel-
mente conÆrmou a falta de cuidado,
abandono e negligência como tudo
foi tratado, ou não foi tratado”.
Hugo Meira adiantou que, por
desconhecer “os termos da acção NÃO É
instaurada pela Orbitur” — e insis- QUALQUER VINHO
tindo que lhe seja fornecida uma NÃO É
cópia —, “o assunto, pelo menos QUALQUER CASA
de momento, saiu da esfera
administrativa e está sob juris-
dição judicial”. “Por agora o CDS 19, 20 E 21 DE MAIO,
entende que só dará opinião quan-
do for conhecida a sentença. Toda-
N O E S P A Ç O I N D U L G E N T,
via, e entretanto, é de todo o inte-
NA FOZ, PORTO
resse que de algum modo se assegu-
re à actual concessionária as
condições necessárias para conti-
nuar a desenvolver a actividade e
evitar o impacto que a eventual
interrupção acarreta, a sua desva- 20 Produtores | 100 Vinhos | 3 Masterclasses
lorização comercial e imobiliária
com prejuízo do interesse munici- Três dias com o melhor de Portugal.
pal”, concluiu o vereador. Um encontro intimista para amantes de vinho.
A vereadora da CDU, Cláudia Música, conversas com artistas e enólogos,
Marinho, lamentou que o assunto jantar com um chef estrela Michelin e venda de vinhos.
se tenha transformado na “saga” do
parque da Orbitur, considerando Saiba mais em
que, depois de ter lido o processo e vinhodacasa.publico.pt
ouvido as pessoas envolvidas, deve
“imperar o bom senso e o diálogo,
quer do município, quer do conces-
sionário”. “Nem sou advogada, nem PAT R O C Í N I O : APOIO:
carrasco de ninguém. Há erros de
ambas as partes, mais danosos de
uma das partes, mas deve imperar
o diálogo. É importante ter em con-
LOJA OFICIAL: COPO OFICIAL: H OT E L O F I C I A L : ORGANIZAÇÃO:
ta a próxima época balnear e que [o
espaço] deve ser um parque acessí-
vel a todas as bolsas, e não mais um
parque elitista.” Lusa
18 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023

Mundo Relatório da ONU sobre população dá prioridade aos direitos reprodutivos

JASON LEE/REUTERS

Dados do Fundo para

a População das Nações Unidas
Total da população
mundial em 2023 8045
milhões
Percentagem da população entre os 0 e os 24 anos
Percentagem da população acima dos 65 anos

Mundo 65 10
Regiões mais ricas 44 20
Regiões em desenvolvimento 69 8
Regiões mais pobres 91 4
Portugal 38 23

Rácio da mortalidade materna

Mortes por 100 mil nascimentos de bebés vivos

377
223 244
12 12

Mundo Regiões Regiões em Regiões Portugal

mais ricas desenvolvimento mais pobres

Nascimentos assistidos Taxas de nascimentos de

por pessoal competente mães adolescentes,
por mil raparigas entre
os 15 e os 19 anos
Mundo Mundo
82% 41
Países mais ricos Países mais ricos
99% 11
Países em vias de desenvolvimento Países em vias de desenvolvimento
81% 45
Países mais pobres Países mais pobres
65% 91
Portugal Portugal Até 2050 metade do
100% 6 crescimento populacional
deverá ter origem em apenas
oito países
Fonte: Fundo das Nações Unidas para a População PÚBLICO

Só plenos
Patrícia Carvalho
O relatório sobre o estado da popula-
ção mundial, do Fundo das Nações
ços do crescimento projectado até de inÆnitas possibilidades”, disse. Ou,
2050 serão alimentados pelo de forma mais simples ainda:
“momentum” actual, ou seja, pelas “Apoiem as mulheres, não direccio-
pessoas que já existem e que viverão nem as suas escolhas.”

direitos podem Unidas para a População (UNFPA, na

sigla britânica) parte do marco dos
oito mil milhões de habitantes, que o
mundo atingiu no ano passado, para
mais tempo do que há algumas déca-
das. Junte-se a isto o facto de metade
do crescimento projectado até mea-
dos do século Æcar sob a responsabi-
A ideia atravessa o relatório, acom-
panhada de dados que nos mostram
que, em muitos locais do globo, os
direitos das mulheres ainda conti-

garantir deixar uma recomendação clara:

devemos deixar de questionar se
somos demasiados ou demasiado
lidade de apenas oito países — R.D.
Congo, Egipto, Etiópia, Índia, Nigéria,
Paquistão, as Filipinas e a Tanzânia
nuam por cumprir no que diz respei-
to à sua autonomia sexual e reprodu-
tiva. Citando um inquérito com dados

“resiliência
poucos, mas começar a perguntar se
estamos a dar condições às pessoas
para que realizem os seus desejos de
fertilidade, com particular enfoque
(sim, não está aqui a China) — e per- de 68 países, o documento mostra
cebe-se que a conÆguração popula- que, entre as mulheres com parcei-
cional mundial será muito diferente ros, “24% não conseguem negar-se a
daquilo que conhecíamos. ter sexo, 25% não podem tomar deci-

demográƊca”
nas mulheres. Muitos países ainda
“procuram soluções demográÆcas,
em vez de procurar responder aos
desaÆos criadas pelas mudanças
demográÆcas”, e isso está errado, diz-
-se no relatório Oito mil milhões de
vidas, infinitas possibilidades.
Estamos em plena mudança demo-
Relatório do Fundo das Nações Unidas gráÆca e somos mais do que alguma
vez fomos, mas dois terços das pes-
para a População defende que não se soas vivem em regiões do planeta
com uma taxa de fertilidade neutra
deve tentar mudar a natalidade para se ou negativa e a taxa de crescimento
da população desacelerou desde a
adaptar às preferências dos Estados década de 1950. Além disso, dois ter-
Sermos mais é, defende a directora
executiva do UNFPA, Natalia Kanem,
“razão para celebrar”, já que é sinal
de que vivemos mais tempo e de que
há mais crianças a sobreviver à infân-
cia. E para todos os que se sentem
preocupados com o actual cenário da
população, a responsável deixou uma
mensagem clara, numa conferência
de imprensa de antecipação do rela-
tório: “A desigualdade é a questão
central. A reprodução humana deve
ser uma escolha. Os direitos reprodu-
tivos são centrais para as questões da
população e podem ser um mundo
sões sobre a sua própria saúde e 11%
não podem decidir especiÆcamente
sobre a contracepção”. Tudo soma-
do, lê-se, “isto signiÆca que apenas
56% das mulheres podem tomar deci-
sões sobre os seus direitos sexuais e
de saúde reprodutiva”.
Outros dados presentes no relató-
rio indicam ainda que quase metade
das gravidezes não foram planeadas;
quase um terço das mulheres de paí-
ses com rendimentos médios e baixos
começam a maternidade na adoles-
cência; 13,2% das mulheres em idade
reprodutiva que querem evitar ou

atrasar uma gravidez não estão a usar
um método contraceptivo moderno
e que em 2021 ainda houve meio
milhão de bebés a nascer de mães que
tinham entre 10 e 14 anos. Junte-se a
indicação de que “demasiadas mulhe-
res em todo o mundo não conseguem
alcançar as suas aspirações reprodu-
tivas” e está aberto o caminho para a
solução apresentada. “A melhor fer-
ramenta para gerir as mudanças
populacionais e construir sociedades
resilientes é desenvolver a igualdade
de género. À medida que desenvolve-
mos o potencial das mulheres, dan-
do-lhes o poder para fazer escolhas
sobre os seus corpos e vidas, elas e as
suas famílias prosperam — e as suas
sociedades também”, defende-se no
documento hoje divulgado.
Liberdade para decidir
Assim, às mulheres deve ser dado,
antes de mais, a liberdade para deci-
dir se querem ter Ælhos, quantos e
quando os querem ter. Para isso é
preciso que tenham educação, liber-
dade de escolha, acesso a métodos
contraceptivos, igualdade no acesso
ao trabalho e na distribuição das tare-
fas de casa. Exemplos? O relatório dá
o da Coreia do Sul, que tem a taxa de
fertilidade mais baixa do mundo,
0,81. Num país em que os Ælhos só
nascem, praticamente, dentro do
casamento, o número de crianças
tem vindo a decair devido à conjuga-
ção de alguns factores: cerca de 72%
das mulheres têm um curso universi-
tário e adiam o casamento, porque
signiÆca, para muitas, abandonar a
carreira e dedicar-se a cuidar dos
Ælhos. Algo que não estão dispostas a
fazer.
Entre as várias razões para querer
ter menos Ælhos surgem, amiúde, as
preocupações com as alterações cli-
máticas, embora, sublinha Kanem,
seja “uma falácia” pensar que o cres-
cimento da população é responsável
pela emergência climática. “Apenas
10% da população é responsável por
metade das emissões de gases com
efeito de estufa. Os países com maior
fertilidade são os que contribuem
menos para o aquecimento global e
os que mais sofrem com os seus
impactos. Uma mulher no Sahel com
sete Ælhos não terá impacto nas alte-
rações climáticas, mas ela e a sua
comunidade vão experienciar algu-
mas das subidas mais rápidas da tem-
peratura do mundo”, exempliÆcou.
O que o UNFPA recomenda aos
governos e parceiros é que procurem
obter “resiliência demográÆca”, ou
seja, que olhem para os dados demo-
gráÆcos e para as projecções e procu-
rem adaptar-se ao que aí vem. Não
com medidas para inÇuenciar o
número de nascimentos — como res-
trições ao aborto ou retirando as
mulheres do mercado de trabalho —,
mas garantindo a igualdade de géne-
ro e os direitos básicos para todos,
permitindo que a população mundial
evolua de acordo com as aspirações
de cada um dos seus cidadãos.
“É preciso pensar nos dados de uma forma nova”
Mónica Ferro, directora do UNFPA em Genebra
A directora do escritório de
Genebra do Fundo das Nações
Unidas para a População
(UNFPA), Mónica Ferro, falou ao
PÚBLICO sobre a principal
mensagem do relatório e do
papel que Portugal pode
desempenhar.
No relatório é defendido que
devemos centrar-nos na
capacidade que as mulheres
têm de exercer os seus direitos
sexuais e reprodutivos. É esta a
mensagem mais importante do
documento?
O que estamos a pedir aos
governos e a todos os parceiros
é que pensem nos dados
demográficos de uma forma
nova, que façam perguntas
diferentes. Em vez de nos
fixarmos nos números e na
velocidade da reprodução,
devemo-nos focar na igualdade
de género e nos direitos. Fazer a
pergunta certa significa
perguntar às pessoas se têm
acesso à saúde sexual e
reprodutiva, aos serviços, a
direitos que lhes permitam
realizar os seus planos de
fertilidade. Se são capazes de
exercer o direito básico: se,
quando e quantos filhos querem
ter. Com oito mil milhões de
pessoas, somos a maior família
humana de sempre e isto é uma
razão para celebrar. Vivemos
mais tempo, vivemos com mais
qualidade, há menos mulheres a
morrer no parto, há mais
crianças a sobreviver à infância
e a frequentar a escola e a ter
vidas empoderadas.
E, contudo, com exemplos
como a reversão dos direitos
do aborto nos EUA e o regresso
ao poder dos taliban, as
mulheres parecem menos
capazes de exercer esses
direitos do que há um ano.
Essa é uma das grandes
preocupações. Temos celebrado
ao longo dos últimos anos o
facto de as mulheres
reivindicarem e exercerem cada
vez mais o controlo sobre os
seus corpos. No entanto, temos
assistido também, em muitos
sítios, a muitos países a violar de
facto os direitos reprodutivos
das mulheres. Dizemos uma
coisa que acho que não é
excessiva: quando o foco é na
reprodução e nos números, os, a
solução tem sempre a forma ma
do corpo de uma mulher. E
é assim que assistimos a
restrições ao aborto
onde ele é legal, à
diminuição do acesso
ao planeamento familiar e à
contracepção, a políticas
naturalistas que se focam em
retirar as mulheres do mercado
de trabalho, para que possam
estar mais disponíveis para ter
filhos. Essa ideia de ver a mulher
como uma central de
fornecimento de bebés é uma
visão que tem gerado todas
essas acções. A única coisa boa
é que as mulheres estão a
resistir.
Portugal surge como um país
de exercício de direitos, mas
com uma taxa de fertilidade
abaixo da dos países ricos e
uma percentagem mais
elevada de idosos. Somos um
caso extremo do que está a
acontecer nas regiões mais
ricas do planeta?
Somos um bom exemplo da
confluência de todos esses
fenómenos que na sua
esmagadora maioria são muito
positivos — o envelhecimento
da população é de celebrar; o
aumento da esperança média de
vida; o abaixamento das taxas
de fertilidade, que está
directamente ligado com a
participação das mulheres no
mercado de trabalho, com o
acesso à contracepção, com o
acesso à escolarização. E, desse
ponto de vista, Portugal pode
ser um país quase modelo para
adoptar medidas de resiliência
demográfica. Está no grupo de
países que desde o fim dos anos
1970 viram a população
estabilizar, estando abaixo da tal
taxa de substituição de 2,1, algo
que só se conseguiu graças ao
saldo migratório. Para nós, esta
ideia da resiliência demográfica
é muito importante, porque a
mensagem é muito simples: as
alterações demográficas não
vão parar de acontecer. O
mundo é heterogéneo. Esta
diversidade demográfica não
deve assustar os países. O que
têm de fazer é pegar nas
tendências demográficas e
usá-las para renegociar o
contrato social. Adaptar os
sistemas e as políticas à
população e não o contrário. E
Portugal, tendo esta conjugação
de aumento de participação das
mulheres no mercado de
trab
trabalho, envelhecimento da
po
população e um grande
leq de direitos sexuais e
leque
re
reprodutivos, pode estar na
lin da frente para adoptar
linha
p
políticas de resiliência
d
demográfica. Patrícia
C
Carvalho
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 19
Portugal
População envelhecida
mas com direitos garantidos
Patrícia Carvalho
Num planeta que ultrapassou os oito
mil milhões de habitantes (somos já
8045 milhões, segundo o relatório do
UNFPA), os cidadãos de Portugal não
são sequer uma gota de água: 10,2
milhões. Mas somos suÆcientes para,
através da realidade portuguesa, se
traçar o retrato do que se passa nos
países mais ricos. Estamos envelheci-
dos, temos poucos Ælhos, mas vive-
mos uma vida muito longa e damos
como garantidos uma série de direi-
tos, o que não acontece em muitos
pontos do mundo.
Em nenhum outro dado é tão extre-
mada a diferença ente países ricos e
pobres como quando olhamos para
a prevalência da juventude na sua
população. Segundo o relatório, 65%
da população mundial tem, em 2023,
até 24 anos, mas a sua distribuição é
muito desigual, quando olhamos para
os países ricos, em desenvolvimento
e pobres. É aqui que a juventude mais
se tem aÆrmado — 91% da população
destes países tem menos de 25 anos,
percentagem que baixa para 69% da
população nas regiões em desenvol-
vimento e para os 44% nas áreas mais
ricas do globo. Portugal, que está nes-
te último grupo, Æca bastante abaixo
da média identiÆcada pelo UNFPA:
apenas 38% da população estava nes-
23% da
população
portuguesa tem
mais de 65 anos,
acima da média
das regiões mais
ricas do mundo
te grupo dos 0 aos 24. Em sentido
inverso, estamos acima da média,
quando olhamos para os cidadãos
mais velhos — 23% da nossa popula-
ção tem mais de 65 anos, uma percen-
tagem que não vai além dos 20% entre
os países mais ricos. A média mun-
dial, impulsionada pelas regiões em
desenvolvimento (8%) e mais pobres
(4%), é, contudo, bastante mais baixa:
apenas 10% dos habitantes do plane-
ta têm mais de 65 anos.
Para perceber estas diferenças,
basta olhar para os outros dados
demográÆcos que constam do rela-
tório. Portugal, com uma taxa
de fertilidade de 1,4, Æca abaixo
daquela das regiões mais ricas em
que se insere (1,5) e a léguas de dis-
tância da taxa apresentada pelos
países em desenvolvimento (2,4) e
das regiões mais pobres (3,9), que
contribuem para que a média global
se situa nos 2,3 — ligeiramente acima
do valor 2,1 considerado o necessá-
rio para a substituição de gerações.
Não é apenas a taxa de fertilidade
que conta para que sejamos um país
envelhecido. A verdade é que, como
se refere no relatório, vivemos mais
tempo e isso também contribui para
as elevadas percentagens de cidadãos
com mais idade. A nível mundial, a
esperança média de vida é de 71 anos
para os homens e 76 para as mulhe-
res. Nas regiões mais ricas, estes valo-
res são ainda mais elevados — 77 anos
para os homens e 83 para as mulheres
— e Portugal está no grupo de países
que consegue superar estes dados,
oferecendo uma esperança média de
vida de 80 anos para os homens e de
85 para as mulheres. Nos países com
menos recursos, estes valores não são
tão expressivos: nas regiões em de-
senvolvimento, a esperança média de
vida é de 70 anos para os homens e 74
para as mulheres, e nas mais pobres
não ultrapassa os 63 anos nos homens
e os 68 nas mulheres.
Nos restantes dados analisados no
relatório, relacionados com a saúde
sexual e reprodutiva e as questões de
género e de direitos, Portugal tam-
bém aparece com bons indicadores,
mesmo em aspectos em que o ideal
seria o inatingível valor zero. Quando
se olha, por exemplo, para o número
de nascimentos de mães adolescen-
tes, entre os 15 e os 19 anos, Portugal
aparece com seis casos em cada mil
raparigas, quando a média mundial
é 41 e a das regiões mais ricas chega
aos 11 — número que atinge os 45 nos
países em desenvolvimento e os 91
nos países pobres. E na percentagem
de violência íntima entre parceiros,
nos últimos 12 meses, em dados rela-
tivos a 2018, Portugal surge com um
dos valores mais baixos — 4% —, bem
longe da média global de 13%.
O país atinge a percentagem de
100%, quando se avalia os nascimen-
tos assistidos por pessoal competen-
te, e também tem taxas acima da
média global, quando se avalia a taxa
de prevalência da contracepção em
mulheres entre os 15 e os 49 anos, por
métodos modernos. A taxa em Por-
tugal é de 51% para as mulheres em
geral e de 63% para as que têm par-
ceiro Æxo, quando a média mundial
não ultrapassa, respectivamente, os
46% e os 59%. No rácio da mortalida-
de materna, o relatório diz-nos que,
globalmente, no mundo, ainda mor-
rem 223 mulheres por cada cem mil
nascimentos de nados-vivos. Um
valor muito inÇuenciado pelos eleva-
dos valores nas regiões mais pobres
do planeta, onde este número chega
às 377 por cem mil nascimentos. Já
nas regiões mais ricas o valor desce
abruptamente para as 12 mortes por
cada cem mil nascimentos, o mesmo
número para Portugal.
20 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Mundo
Moçambique enfrenta o pior surto
de cólera da última década
António Rodrigues
Efeitos do ciclone Fredy
ainda se fazem sentir na
Zambézia. Gonçalo Órfão,
da Cruz Vermelha, diz que
“necessidades são imensas”
Quase um milhão de pessoas a preci-
sarem de ajuda e o pior surto de cóle-
ra da última década. Não são as únicas
consequências, mas são o rasto mais
visível dos efeitos persistentes da pas-
sagem do ciclone Fredy por Moçam-
bique em Fevereiro e Março. O surto
de cólera já vinha de antes, mas a
inundação e a destruição provocadas
pelas fortes chuvas e ventos deixaram
águas estagnadas, pessoas sem tecto,
danos no saneamento básico.
De acordo com os números do
Escritório da ONU para a Coordena-
ção de Assuntos Humanitários
(OCHA), divulgados na segunda-feira
e citados pela Lusa, 975 mil pessoas
estão a precisar de ajuda, sendo a
província mais afectada a Zambézia,
no centro do país, com mais de meio
milhão de pessoas a precisarem de
auxílio. A cólera já matou desde
Setembro do ano passado 124 pes-
soas, de acordo com a ONU.
“Pela minha experiência com o
ciclone Idai [Março de 2019], as con-
sequências agora foram muito idên-
ticas; a imagem que se tem é muito
idêntica. O Idai teve mais afectados,
mas, na altura, não houve surto de
Combates prosseguiram no Sudão apesar de trégua de 24 horas
Cessar-fogo a pedido
dos EUA foi rapidamente
violado por ambas as
partes. Combates já fizeram
pelo menos 185 mortos
Um cessar-fogo de 24 horas no
Sudão, que entrou em vigor na tarde
de ontem, foi rapidamente violado
pelas duas facções em combate no
país. Minutos depois da hora de iní-
cio — às 18h locais (17h em Portugal
continental) —, as transmissões em
directo das televisões continuavam
ocupadas com o som de tiros e ima-
gens de aviões a sobrevoar a capital
sudanesa, Cartum.
O conÇito entre o líder militar do
Sudão e o seu n.º 2 começou no
sábado, pondo Æm a um plano inter-
cólera”, diz por telefone ao PÚBLICO
Gonçalo Órfão, da Cruz Vermelha
Portuguesa, que está em Quelimane,
na província da Zambézia, como
coordenador no terreno do centro de
operações da Cruz Vermelha.
A grande diferença em relação ao
que aconteceu há quatro anos é a
atenção mediática, que com o Idai foi
muito grande e agora é bem menor,
o que se reÇecte na solidariedade
internacional ou na sua carência em
relação aos atingidos pelo Fredy.
“Temos grandes diÆculdades para
responder a todas as necessidades”,
diz Gonçalo Órfão. “O rasto de des-
truição é enorme” e as “necessidades
são imensas”, o que obriga as autori-
dades de saúde e as organizações
humanitárias a terem de fazer algo de
que ninguém gosta, escolher uns em
detrimento dos outros, identiÆcando
os casos mais graves e só dando “aos
que precisam mais”.
De acordo com os números do
OCHA, trabalham actualmente no
terreno prestando ajuda humanitária
e auxílio de emergência 40 entidades,
sendo metade delas organizações
não-governamentais internacionais.
Até agora, cerca de 300 mil pessoas
beneÆciaram de alguma forma de
ajuda, um número ainda muito
aquém dos 80% da população que se
pretende atingir, segundo a agência
das Nações Unidas. Mas tudo depen-
de do Ænanciamento: os cálculos
do OCHA dizem que são precisos
125 milhões de euros para manter o
nacional para uma transição demo-
crática no país, quatro anos depois
da queda do autocrata islamista
Omar al-Bashir e dois anos após um
golpe militar.
Segundo as Nações Unidas, os
combates provocaram uma catástro-
fe humanitária no país, causando o
colapso do frágil sistema de saúde.
Pelo menos 185 pessoas foram mor-
tas desde o início da violência e mais
de 1800 Æcaram feridas.
De visita ao Japão, ontem, o secre-
tário de Estado norte-americano,
Antony Blinken, disse que falou ao
telefone com o líder do Exército
sudanês, o general Abdel Fattah al-
Burhan, e com o líder das Forças de
Apoio Rápido (RSF, na sigla em
inglês), o general Mohamed Hamdan
Dagalo.
Durante as conversas, Blinken
Coordenador
da Cruz Vermelha
compara os efeitos
do Fredy aos
do Idai em 2019:
“As consequências
agora foram muito
idênticas”
A Cruz Vermelha trabalha com
280 voluntários moçambicanos
e está sobretudo nas zonas
rurais da província da Zambézia
aÆrmou ter apelado a um cessar-fo-
go entre as duas partes, “para per-
mitir que os sudaneses possam jun-
tar-se às suas famílias e receber
assistência”.
Mesmo que não tenha havido mais
violações do cessar-fogo nas horas
seguintes, um outro general do Exér-
cito sudanês, Shams Al-Din Kabashi,
disse ao canal de televisão Al-Arabiya
que a paragem nos combates não iria
além das 24 horas acordadas.
O general Burhan lidera um con-
selho que assumiu o poder na
Trégua pedida
por Antony
Blinken foi
violada nas
primeiras horas
pelas duas
facções rivais
auxílio emergencial no terreno.
Para Gonçalo Órfão, médico de
imuno-hemoterapia que coordena a
área de emergência da Cruz Vermelha
Portuguesa, “vai ser uma recupera-
ção difícil e muito longa”. Nas áreas
rurais, o mau tempo destruiu as
machambas (campos cultivados),
quebrou o ciclo alimentar e agravou
as condições de subsistência, tornan-
do “as famílias muito vulneráveis”.
A Cruz Vermelha Internacional,
que está a trabalhar nos distritos mais
rurais em ajuda à CV local, já tinha
distribuído na semana passada mais
de 300 kits familiares de abrigo, com
lona, cordas, baldes e frascos do puri-
Æcador de água Certeza.
“A limitação natural obrigou-nos a
planear muito bem e a intervir onde
DR
sequência da queda de Bashir e do
golpe militar de 2021, enquanto
Dagalo — conhecido como Hemetti
— é o seu adjunto.
A luta de poder entre ambos dei-
xou em suspenso o plano de transi-
ção para uma liderança civil após
décadas de autocracia e domínio
militar no Sudão, um país situado
numa região estratégica entre o
Egipto, a Arábia Saudita, a Etiópia e
a região do Sahel.
Se não for controlado a tempo, o
conÇito no Sudão pode alastrar-se
para fora do país e atrair forças
estrangeiras que apoiam as diferen-
tes facções, podendo mesmo ser
palco de uma luta de inÇuência entre
a Rússia e os Estados Unidos.
Na noite de segunda-feira, uma
caravana com funcionários diplomá-
ticos norte-americanos foi atacada
a resposta é mais rápida”, explica o
médico português. A Federação Inter-
nacional da Cruz Vermelha trabalha
com uma “equipa reduzida”, com-
posta por 280 voluntários moçambi-
canos, com duas pessoas que chega-
ram de fora com experiência em
resposta rápida, Gonçalo Órfão como
coordenador territorial e um especia-
lista uruguaio que é o responsável de
operação, a que se juntam membros
da Cruz Vermelha belga e da francesa
que já estavam a trabalhar em
Moçambique. A juntar a esses, em
Maputo, está ainda uma enfermeira
especializada em saúde pública que
assessora a equipa.
A boa nova, refere Gonçalo Órfão,
é que, apesar de o número de casos
de cólera continuar a subir e ainda se
manter alto, nota-se uma tendência
para descer, fruto de uma campanha
de vacinação que na semana passada
já tinha conseguido chegar a 80% da
população, mas também da recupe-
ração paulatina da água canalizada.
As autoridades de saúde dizem agora
que precisam de mais dois milhões
de doses da vacina para cobrir as
áreas de risco mais elevado.
Uma informação conÆrmada
ontem por José Paulino, do Instituto
Nacional de Saúde de Moçambique,
em declarações ao canal STV, citado
pela Lusa. “O surto atingiu uma fase
de pico entre a 12.ª e a 13.ª semanas
epidemiológicas. Actualmente está
numa fase descendente, apesar de
termos alguns novos focos”, disse.
no Sudão, num ataque atribuído a
combatentes das RSF.
Horas antes, o embaixador da
União Europeia em Cartum, o irlandês
Aidan O’Hara, tinha sido agredido na
sua residência na capital sudanesa.
Segundo o ministro dos Negócios
Estrangeiros da Irlanda, Micheál Mar-
tin, o embaixador O’Hara “não Æcou
gravemente ferido” no ataque, que o
mesmo responsável classiÆcou como
“uma violação grosseira das obriga-
ções internacionais de protecção dos
diplomatas”.
Numa reacção ao ataque contra a
caravana diplomática dos EUA, o
secretário de Estado norte-americano
falou em separado com o líder das
RSF e com o líder do Exército do
Sudão, para lhes dizer que qualquer
ataque contra diplomatas dos EUA é
“inaceitável”.

Polícia brasileira mandou prender
mais 16 envolvidos no 8 de Janeiro
João Ruela Ribeiro
Supremo começou
a decidir se suspeitos
de ataques em Brasília vão
a julgamento. Alexandre de
Moraes declarou-se a favor
A Polícia Federal brasileira emitiu
ontem 16 mandados de detenção e
mais de duas dezenas de mandados
de busca relacionados com as inves-
tigações à invasão e destruição dos
edifícios governamentais em Brasí-
lia, a 8 de Janeiro.
Os mandados foram emitidos em
nome do juiz do Supremo Tribunal
Federal (STF), Alexandre de Moraes,
para operações em sete estados e
também no Distrito Federal. Entre
os crimes em causa, de acordo com
a polícia, estão suspeitas de golpe de
Estado, associação criminosa, des-
truição e deterioração de patrimó-
nio, entre outros.
Quase 1400 pessoas já foram
denunciadas por ligações aos actos
de 8 de Janeiro, quando algumas
centenas de apoiantes do ex-Presi-
dente Jair Bolsonaro invadiram os
edifícios do Congresso, STF e Palá-
cio do Planalto, destruindo pratica-
mente tudo o que encontraram pela
frente. Durante várias horas, os mili-
tantes bolsonaristas puderam circu-
lar livremente pelas sedes dos três
poderes no coração de Brasília.
A acção foi enquadrada como um
ataque terrorista pelas autoridades
Tesoureiro do Partido Nacional Escocês
detido em alegado desvio de dinheiro
O tesoureiro do Partido Nacional
Escocês (SNP), Colin Beattie, foi deti-
do ontem no âmbito de uma investi-
gação às Ænanças do partido pró-in-
dependência, no Governo, que está
a causar danos à imagem do partido
e à do seu novo líder. Horas depois
seria libertado sem acusações.
A investigação policial incide sobre
uma quantia de mais de 600 mil
libras (cerca de 685 mil euros) anga-
riada por partidários da independên-
cia da Escócia, que deveria ter sido
gasta nessa campanha, mas que não
aparecia nas contas do partido.
Beattie, 71 anos, é o tesoureiro do
SNP há mais tempo no cargo, que
ocupou entre 2004 e 2020, e de
novo a partir de 2021.
Bolsonaristas a invadir o Congresso brasileiro a 8 de Janeiro
e, desde então, a investigação tem
tentado averiguar quem foram os
organizadores e Ænanciadores do
ataque, ao mesmo tempo que pro-
cura perceber a responsabilidade da
Polícia Militar e das Forças Arma-
das, cuja acção foi considerada ine-
Æcaz para travar a violência naquele
domingo.
Os incidentes em Brasília foram
o culminar de meses de tensão
durante os quais centenas de
apoiantes de Bolsonaro se concen-
traram em acampamentos em fren-
te aos quartéis-generais do Exército
na capital federal e noutras cidades.
Estas iniciativas eram justiÆcadas
como acções de protesto contra a
Peter Murrell, marido da antiga
chefe de Governo, Nicola Sturgeon,
foi detido há duas semanas em liga-
ção com o escândalo, mas também
acabou por ser libertado sem acusa-
ção. Sturgeon abandonou o cargo, e
a liderança do Governo escocês, em
Fevereiro de forma inesperada depois
de oito anos à frente do partido.
A casa de Murrell e Sturgeon em
Glasgow, assim como a sede do SNP,
foram alvos de buscas durante dois
dias, ainda este mês. Murrell tinha-se
demitido, no mês passado, do seu
cargo de director executivo do SNP,
embora se mantenha no partido.
Sturgeon continua a ser deputada.
A polícia está a investigar a alegada
recusa de Sturgeon em abrir as Ænan-
ANDRE BORGES/EPA
derrota de Bolsonaro nas eleições
presidenciais de Outubro, vistas
como fraudulentas por parte dos
seus apoiantes e até pelo próprio
ex-chefe de Estado.
Nos meses que antecederam as
eleições, Bolsonaro não se coibiu de
veicular suspeitas de que o sistema
de voto electrónico em vigor no Bra-
sil há quase três décadas era falível
e vulnerável a acções fraudulentas,
apesar das inúmeras garantias dadas
pela justiça eleitoral. O comporta-
mento de Bolsonaro antes e depois
dos ataques em Brasília — dois dias
depois, o ex-Presidente, que na altu-
ra estava na Florida, publicou um
vídeo com novas alegações de frau-
ças do partido ao escrutínio, segundo
o Sunday Mail, que obteve um vídeo
do Sturgeon a rejeitar, zangada, as
preocupações com as Ænanças do
partido, numa reunião do comité exe-
cutivo do SNP em Março de 2021.
A líder do Partido Trabalhista esco-
cês, Jackie Baillie, disse que esta
“revelação bombástica mostra como
Nicola Sturgeon era central para a
cultura de encobrimento” no SNP.
Nicola Sturgeon
surge num vídeo
a rejeitar em
2021, zangada,
as preocupações
com as finanças
do partido
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 21
de nas eleições, que apagou de
seguida — também está a ser anali-
sado pelos tribunais para averiguar
se há lugar a uma acusação por ins-
tigação dos actos violentos.
A mais recente fase da Operação
Lesa Pátria coincide com o início da
análise judicial pelo STF, que come-
çou a decidir se as mais de mil pes-
soas indiciadas por participar, orga-
nizar ou Ænanciar os actos antide-
mocráticos de Brasília devem ser
presentes a julgamento.
Moraes foi o primeiro elemento do
STF a pronunciar-se e manifestou-se
a favor da abertura de processos judi-
ciais contra os cem primeiros suspei-
tos cujos casos foram analisados. A
expectativa é a de que os restantes
juízes apresentem as suas conclusões
até à próxima segunda-feira.
Os primeiros 100 indiciados
encontram-se todos detidos há mais
de três meses e foram presos em
Çagrante durante a invasão dos edi-
fícios governamentais.
Os advogados de defesa dos sus-
peitos dizem que as acusações são
frágeis e as provas existentes não são
suÆcientes para comprovar a autoria
dos crimes que lhes são imputados.
“O que nós observamos é justamen-
te um padrão nas denúncias, sem
qualquer individualização de con-
duta e apresentação de materialida-
de da conduta delinquente perpe-
trada pelos acusados de forma indi-
vidual”, diz o advogado Diego
Santos, num vídeo citado pela Folha
de S. Paulo.
Humza Yousaf, que venceu as elei-
ções para a liderança como o “candi-
dato da continuidade”, tem recusado
suspender Sturgeon do partido,
dizendo que “não há razão” para isso.
Ontem, ao chegar ao Parlamento da
Escócia, disse aos jornalistas que con-
siderava a detenção “uma questão
grave”, mas que “as pessoas são ino-
centes até prova em contrário”.
“Claro que Æco surpreendido quan-
do um dos meus colegas é preso”,
declarou. Questionado por jornalistas
se o partido estava a actuar de forma
criminosa, Yousaf respondeu: “Não,
não acredito que esse seja o caso.”
As sondagens mostram o SNP em
queda de popularidade nas últimas
sondagens. PÚBLICO com Reuters
Mundo
Macau “é uma
sociedade
dotada de
liberdades”
Chefe do governo macaense,
Ho Iat Seng, garante que
a China tem “cumprido
escrupulosamente”
o acordo com Portugal
Macau é um território “dotado de
liberdades” que a China tem admi-
nistrado respeitando o acordo de
transferência de soberania assinado
com Portugal. Respondendo em con-
ferência de imprensa antes da sua
visita a Portugal, o chefe do governo
macaense, Ho Iat Seng, garantiu que
“não houve qualquer mudança” em
relação à manutenção dos direitos,
liberdades e garantias na Região
Administrativa Especial.
Segundo Ho Iat Seng, citado pela
Lusa, a Declaração Conjunta Sino-
Portuguesa, assinada a 13 de Abril de
1987, tem sido “cumprida escrupulo-
samente” desde a transferência da
administração do território para a
China em 1999. O acordo prevê que
durante 50 anos o Governo chinês
terá de manter o estatuto especial de
Macau. O líder do governo macaense
diz que se mantém.
Algo que vozes dentro do território
contestam, como a do advogado por-
tuguês residente em Macau Jorge
Menezes, que várias vezes se tem
expressado nesse sentido, nomeada-
mente no PÚBLICO. Voltou a fazê-lo
agora, em declarações à Lusa, denun-
ciando a “violação dos direitos fun-
damentais” em Macau.
Instado a comentar essas aÆrma-
ções, Ho Iat Seng, cuja visita a Portu-
gal se prolonga até ao dia 22, fugiu à
questão, aÆrmando não poder “res-
ponder a todos os comentários feitos
por todos os indivíduos”, ao mesmo
tempo que aproveitava a deixa para
dizer que o facto de Jorge Menezes
poder fazer essas declarações é “a
prova de que Macau é uma socieda-
de dotada de liberdades”.
A assembleia legislativa local está
actualmente a discutir a revisão da
lei relativa à defesa da segurança do
Estado, que pretende punir crimes
cometidos no exterior, abrangendo
não apenas residentes, trabalhado-
res migrantes e turistas em Macau,
mas também estrangeiros.
Questionado pelos jornalistas sobre
o impacto da revisão, Ho Iat Seng lem-
brou que não houve qualquer acusa-
ção ao abrigo da actual lei de seguran-
ça do Estado, aprovada em 2009, que
passou a incluir os crimes de traição,
secessão, sedição e subversão. “Viram
algum impedimento ou restrição à
liberdade humana?” PÚBLICO/Lusa
22 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Economia Programa de Estabilidade 2023-2027
Reforço de
verbas para
a função
pública em
2024 é metade
do deste ano
Governo diz que compromissos
assumidos para os salários e progressões
são contrabalançados pela diferença
salarial entre os trabalhadores
que saem e os que entram
Sérgio Aníbal e Raquel Martins
O Programa de Estabilidade prevê,
nas metas que deÆne para as despe-
sas com pessoal, um reforço de ver-
bas em 2024 que é metade do esti-
mado para este ano. É uma margem
que parece ser pequena tendo em
conta os compromissos já assumi-
dos no próximo ano pelo Governo
para os aumentos salariais e para as
progressões na função pública. O
Ministério das Finanças diz que a
explicação pode estar na “diferença
salarial entre as entradas e saídas da
Administração Pública”.
No Programa de Estabilidade
entregue segunda-feira no Parlamen-
to, e onde é deÆnida a estratégia da
política económica e orçamental
para os próximos cinco anos, o
Governo aponta para aumentos da
despesa com pessoal na Administra-
ção Pública situados entre os 3% e os
3,5% em todos os anos até 2027, com
uma única excepção: 2023.
De facto, para este ano, a estimati-
va é de que a despesa com pessoal
aumente, face a 2022, 1819 milhões
de euros, ou 7%. É um reforço de ver-
bas que serve para fazer face ao
aumento salarial de 52 euros, ou de
um mínimo de 2%, dado a cada fun-
cionário público logo a partir de
Janeiro, assim como a subida da base
salarial em 8% (com um impacto
orçamental calculado em 738 milhões
de euros); ao aumento extra de 1%
anunciado em Março e que terá
retroactivos ao início
do ano (com um custo de 186 milhões
de euros); e à subida do subsídio
de refeição (118 milhões de euros).
É também utilizado para pôr em
prática as promoções e progressões
de carreiras na função pública, cujo
montante não é ainda conhecido. E
deverá espelhar igualmente aquilo
que o Governo espera que possa
acontecer nas entradas e saídas da
função pública, seja por via de um
aumento ou redução do número de
efectivos, seja pelo chamado efeito de
composição, que mostra a diferença
de nível salarial entre os funcionários
que se aposentam e os que são agora
contratados. Não existem informa-
ções sobre os efeitos exactos que são
esperados pelo Governo a este nível.
Este reforço de 1819 milhões
de euros inscrito no Programa
de Estabilidade 2023-2027 parece
dar margem de manobra para o
Governo fazer face a todos estes
aumentos de despesa que assumiu
para 2023, Æcando mesmo um pou-
co acima daquilo que já tinha sido
anunciado pelo executivo.
Abrandamento em 2024
O que surpreende mais são os refor-
ços de verbas previstos para os anos
seguintes. Para 2024, em particular,
o aumento estimado para as despe-
sas com pessoal é de 909 milhões
de euros (ou 3,3%). É um valor que
é metade do antecipado para este
ano, apesar de, também para 2024,
o Governo já se ter comprometido
com medidas que implicam um
importante esforço orçamental,
semelhante ao deste ano.
Desde logo, no acordo plurianual
de valorização dos trabalhadores da
Administração Pública assinado no
ano passado, Æcou estabelecido que,
também nos próximos anos, se irá pro-
ceder a um aumento anual equivalen-
te a um nível remuneratório (cerca de
52 euros), ou de um mínimo de 2%.
É um aumento em tudo semelhan-
te ao aplicado em 2023 e que, de acor-
As previsões do Governo para a despesa com pessoal
Em %
Variação da despesa com pessoal na Administração Pública
Inflação do ano anterior
8,1
7,0
3,5 3,3
1,3
2022 2023
Fonte: Programa de Estabilidade 2023; CFP
do com os cálculos do Governo, cus- para 2024 está na subida extra de 1%
tará 738 milhões de euros, o que e no reforço do subsídio de refeição,
signiÆca que pode absorver, em 2024, que custam um pouco mais de 300
logo mais de 80% do aumento de des- milhões de euros.
pesa com pessoal prevista no Progra- Falta ainda ao Governo, em 2024 e
ma de Estabilidade para esse ano. nos anos seguintes, fazer face aos
A diferença entre os aumentos aumentos de despesa que irão resultar
feitos em 2023 e os já assumidos das promoções e progressões na fun-
ção pública, principalmente tendo em
conta que foram anunciadas altera-
ções a este nível que podem conduzir
a uma aceleração das progressões pre-
cisamente a partir do próximo ano.
Há umas semanas, o executivo
anunciou que vai acelerar a progres-
são na carreira de 349 mil trabalha-
dores (47% do total de trabalhadores
da Administração Pública) afectados
pelos nove anos de congelamento.
5,1 A medida, que começa a ter efeitos
em 2024, é equivalente à que foi apre-
3,5 3,5
2,9 3,1 sentada para os professores e procu-
2,1 2,0 ra responder à situação dos trabalha-
dores que entraram na função públi-
ca há pelo menos 18 anos e viram
metade do seu tempo de serviço afec-
2024 2025 2026 2027 tado por congelamentos.
Em vez de dez pontos acumula-
PÚBLICO
dos no quadro do Sistema Integrado

Depois dos 909 milhões
de reforço previstos para
o próximo ano, entre 2025
e 2027 o Programa de
Estabilidade prevê aumentos
da despesa com pessoal
sempre na ordem dos 1000
milhões de euros
NUNO FERREIRA SANTOS
RODRIGO ANTUNES/LUSA
de Avaliação de Desempenho da
Administração Pública (SIADAP),
serão exigidos seis pontos a este
universo de trabalhadores. O acele-
rador aplica-se uma única vez e, em
2024, abrangerá os trabalhadores
que cumprem os critérios. Quem
ainda não tiver os pontos mínimos
exigidos terá de esperar e fará a pro-
gressão nos anos seguintes.
Além disso, está na calha uma alte-
ração estrutural do SIADAP com o
objectivo de tornar o desenvolvimen-
to da carreira mais ágil e rápido. Do
que se sabe até agora, os efeitos do
novo sistema de avaliação começam a
sentir-se a partir de 2026. E se o objec-
tivo for alcançado, permitirá que mais
trabalhadores possam progredir.
Não há sinais desta aceleração,
antes pelo contrário, nas verbas pre-
vistas no Programa de Estabilidade
para a despesa com pessoal. Depois
dos 909 milhões de reforço previstos
em 2024, entre 2025 e 2027 o Progra-
ma de Estabilidade prevê aumentos
da despesa com pessoal sempre na
ordem dos 1000 milhões de euros.
Entradas e saídas
Em resposta às questões colocadas
pelo PÚBLICO sobre estes números,
o Ministério das Finanças garante que
“as projecções [do Programa de Esta-
bilidade] foram realizadas respeitan-
do integralmente o previsto no acor-
do plurianual de valorização dos
trabalhadores da Administração
Pública [assinado em Outubro com
os sindicatos da UGT], o normal des-
envolvimento das carreiras, bem
como o aumento da base remunera-
tória fruto da actualização da remu-
neração mínima garantida”.
E assinala que, para além das medi-
das que fazem subir a despesa com
pessoal, também há efeitos que
actuam no sentido contrário. “Contri-
buindo para a contenção dos gastos
com pessoal destacam-se, entre outros
efeitos, um efeito de volume e a dife-
rença salarial entre as entradas e saí-
das da Administração Pública”, aÆr-
ma. Aparentemente, o executivo está
à espera de poupanças signiÆcativas,
ou com uma redução do número de
efectivos, ou com a entrada de novos
funcionários a ganharem menos do
que aqueles que se aposentam.
O PÚBLICO pediu ao Ministério das
Finanças dados sobre a dimensão
esperada deste efeito de composição
e de volume nas despesas com pes-
soal, mas não obteve resposta.
As Finanças destacam antes que
“os gastos com pessoal inscritos no
Programa de Estabilidade crescerão
acima das variações de preços” em
todos os anos desde 2023 até 2027.
Esta análise, no entanto, é feita
levando em conta a inÇação regista-
da no mesmo ano a que diz respeito
a despesa, quando os aumentos têm
vindo a ser feitos tendo em conta a
inÇação dos anos anteriores.
Foi por isso que, no ano passado,
depois de uma inÇação baixa de
1,3% em 2021, os aumentos salariais
não passaram de 0,9% e o aumento
da despesa com pessoal foi de 3,5%,
apesar de a inÇação em 2022 ter
disparado para 8,1%.
Essa perda acentuada de poder
de compra poderá agora, se a inÇa-
ção seguir o rumo que o Governo
espera e o compromisso feito em
termos de aumentos salariais se
cumprir, vir a ser compensado aos
poucos nos próximos anos.
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 23
Governo reduz em um
ano isenção fiscal de AL
que passe a habitação
Luís Villalobos
Período de isenção de IRS
e IRC dos rendimentos
prediais de AL que passem
para habitação permanente
acaba no final de 2029
O Governo reduziu em um ano o
período de isenção de IRS e IRC dos
rendimentos prediais decorrentes
de imóveis em Alojamento Local
(AL) que passem a arrendamento
para habitação permanente. Na ver-
são da proposta de lei do pacote
Mais Habitação, que esteve em con-
sulta pública, o período de isenção
era “aplicável aos rendimentos pre-
diais obtidos até 31 de Dezembro de
2030”, mas, na proposta que entrou
agora no Parlamento, a data-limite
passou a ser “até 31 de Dezembro de
2029”. O PÚBLICO questionou o
Ministério da Habitação sobre o que
levou à diminuição deste prazo, mas
não obteve resposta.
Para beneÆciar dessa isenção, pre-
vista no artigo 74.º-A da proposta, é
necessário que “o registo do estabe-
lecimento de alojamento local tenha
ocorrido e o mesmo se encontrasse
afecto a esse Æm até 31 de Dezembro
de 2022”, e que “a celebração do con-
trato de arrendamento e respectiva
inscrição no Portal das Finanças ocor-
ra até 31 de Dezembro de 2024”.
A isenção surge a par de uma série
de restrições ao sector, com a meta,
diz o Governo, de transferir estabele-
cimentos de AL, orientados para o
turismo, para o mercado habitacional
de longo prazo. Não são conhecidos
objectivos quantitativos.
O diploma refere também que os
estabelecimentos de alojamento
local (AL) que tenham entrado no
mercado depois do anúncio de novas
medidas para o sector por parte do
Governo, mesmo que tenham asso-
ciados empréstimos bancários, tam-
bém vão ter as suas licenças reapre-
ciadas em 2030, tal como o conjunto
do sector. Ou seja, não têm a garantia
de que a licença seja renovada, por
um período de cinco anos, prazo
previsto na proposta de lei que deu
agora entrada no Parlamento.
De acordo com o diploma, os
registos de alojamento local emiti-
dos à data da entrada em vigor da
lei são reapreciados “durante o ano
de 2030”, com excepção dos AL
“que constituam garantia real de
contratos de mútuo celebrados até
16 de Fevereiro de 2023, que ainda
não tenham sido integralmente
liquidados a 31 de Dezembro de
2029, e cuja primeira reapreciação
Economia
só tem lugar após a amortização
integral, inicialmente contratada”.
A 16 de Fevereiro, o executivo, em
conferência de imprensa, anunciou
medidas como a proibição de novas
licenças, algo que só acontecerá após
a entrada em vigor do diploma (dia
seguinte ao da sua publicação em
Diário da República, após aprovação
no Parlamento). As mudanças no AL
surgem no âmbito de um pacote mais
vasto de medidas englobadas no
pacote legislativo Mais Habitação.
Após a apresentação das novas
medidas, houve uma aceleração no
ritmo de novos registos de AL, ten-
do surgido mais 6099 desde o dia 17
de Fevereiro até ontem (18 de Abril)
ao início da tarde (dos quais 57%
eram apartamentos), segundo os
dados do Registo Nacional de Aloja-
mento Local (RNAL).
AL tem de estar activo
A lei refere ainda que os proprietá-
rios de unidades de AL terão dois
meses, a contar da entrada em vigor
da proposta de lei, para mostrar
que o seu negócio está activo. Caso
não o façam, de acordo com o diplo-
ma do Governo, “os respectivos
registos são cancelados, por decisão
do presidente da câmara municipal
territorialmente competente”.
A prova de que o AL está activo terá
Os apartamentos
em alojamento
local (CEAL) vão
ser sujeitos a uma
contribuição
extraordinária
de 20%
de ser feita “mediante apresentação
de declaração contributiva, da manu-
tenção da actividade de exploração,
comunicando efectividade de exercí-
cio na plataforma RNAL”, através do
Balcão Único Electrónico.
Na conferência de imprensa efec-
tuada a 30 de Março, após o Conselho
de Ministros que aprovou alterações
à primeira proposta legislativa, o pri-
meiro-ministro já tinha dado nota de
que iria haver um mecanismo de
caducidade das licenças.
Entre as medidas que têm gerado
mais contestação estão o poder, por
parte dos condomínios, de fechar um
AL que exista no seu prédio, e a apli-
cação de uma contribuição extraor-
dinária sobre os apartamentos em
alojamento local (CEAL), de 20%,
sendo a sua base tributável constituí-
da por dois coeÆcientes: um econó-
mico e outro de “pressão urbanística
à área bruta privativa dos imóveis
habitacionais”.
24 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Economia
CP chegou aos lucros em 2022,
pela primeira vez na sua história
Carlos Cipriano
Aplicação do Contrato de
Serviço Público permitiu
à empresa ter resultados
líquidos de oito milhões
de euros no ano passado
Pela primeira na sua história, a CP
— Comboios de Portugal fecha o seu
balanço anual com resultados líqui-
dos positivos, neste caso de oito
milhões de euros, em 2022. Uma
consequência directa da aplicação
do Contrato de Serviço Público assi-
nado entre a empresa e o Estado
que a compensa pelos serviços que
dão prejuízo. Para o ano passado, e
de acordo com o documento assina-
do em 2019, com pompa e circuns-
tância, na estação do Rossio, a
indemnização compensatória pre-
vista era de 85,3 milhões de euros.
Este resultado é acompanhado de
um outro recorde: a CP registou em
2022 o maior número de passagei-
ros transportados nos últimos 20
anos e que se cifra em 148 milhões.
O ano pós-covid mostra assim que
os prejuízos na CP podem ser elimi-
nados, se o Estado indemnizar a
empresa de transportes pelo serviço
público que presta. Isto, enquanto
o Estado não saneia a dívida histó-
rica que continua a pesar nas contas
da operadora ferroviária, e que mais
não é do que a dívida do próprio
caminho-de-ferro em Portugal nos
últimos cem anos.
Mas, para já, e pela primeira vez
em décadas, o accionista pagou o
serviço público deÆcitário que a
empresa está obrigada a realizar e
os resultados estão à vista: oito
milhões de euros de lucros contra
uma média de cerca de 80 milhões
de euros de prejuízos nos últimos
quatro anos.
As principais receitas da empresa
vieram dos comboios Urbanos de
Lisboa (95 milhões de euros) e dos
Intercidades (49 milhões), seguidos
do Alfa Pendular (45 milhões), Urba-
nos do Porto (31 milhões), Regionais
(29 milhões). Os comboios Urbanos
de Coimbra, o Celta Porto-Vigo e os
comboios históricos representaram
receitas de 4,5 milhões de euros.
De referir, contudo, que o Alfa Pen-
dular está fora do Contrato de Serviço
Público, porque é considerado um
negócio de mercado aberto (com
excepção de alguns percursos, como
a extensão a Braga e a Guimarães, que
a CP é obrigada a fazer, mas sem
indemnização). Este serviço contou
com menos uma composição que Æcou
inutilizada no acidente de Soure.
Empresa pública melhora resultados
Resultado líquido
Em milhões euros
8
0 144,9
-51,6
-65,6
-95,4
-105,6
2018 2019 2020 2021 2022
Fonte: CP
Ainda do lado das receitas, a
importância do PART — Programa
de Apoio à Redução Tarifária dos
Transportes foi relevante, sobretu-
do no aumento das assinaturas
mensais nos serviços urbanos e
regionais, que cresceram 12%.
Os comboios da Grande Lisboa
foram os que mais cresceram em
passageiros, com um aumento de
6,7% no ano passado, face a 2021.
Corte na despesa
Mas os grandes ganhos de gestão
foram do lado das despesas, com
Passageiros transportados
Em milhões
148
126,3
99,1
86,9
60
2018 2019 2020 2021 2022
PÚBLICO
destaque para a fusão da EMEF —Em-
presa de Manutenção de Equipa-
mento Ferroviário com a CP e res-
pectivas sinergias; a abertura das
oÆcinas de Guifões que permitiu
recuperar material circulante (loco-
motivas e carruagens) que eliminou
o problema das supressões de com-
boios, bem como a devolução a Espa-
nha de algumas automotoras aluga-
das à Renfe, que foram substituídas
por material português renovado.
As “novas” oÆcinas de Guifões
permitiram ainda passar a fazer
internamente aquilo que antes
DIOGO VENTURA
era entregue a empresas externas.
A internalização de serviços reve-
lou-se, assim, decisiva na redução
da despesa.
Em 2022, a CP poupou 400 mil
euros, ao fazer ela própria grande
parte da manutenção do Radio Solo
(sistema de comunicações entre o
comboio e o Centro de Comando
Operacional) e deixou de gastar dois
milhões de euros pelo outsourcing
do seu marketing.
Já a internalização do Convel, que
permite poupanças de 750 mil euros
anuais, só terá impacto no balanço
de 2023.
Por outro lado, a linha de Sintra
conseguiu poupanças em energia
de mais de 300 mil euros anuais e
de mais de um milhão de euros em
custos de reparações de peças de
conversores de tracção graças a
uma tecnologia desenvolvida em
Portugal que substituiu a de um
fabricante estrangeiro.
A empresa passou também a fazer
ela própria a revisão dos bogies
(rodados) de algumas composições,
que até então estavam a ser feitos
em Espanha. Actualmente, aconte-
ce o contrário: nas oÆcinas do
Entroncamento, a CP começou a
fazer a revisão de bogies de material
As principais receitas da da Renfe.
empresa em 2022 vieram dos
comboios Urbanos de Lisboa, Greves e energia
com 95 milhões de euros Num negócio fortemente depende
da energia para a tracção dos com-
boios (seja eléctrica ou a diesel), a
CP enfrentou em 2022 um aumento
desses custos na ordem dos 28,5
CP registou em milhões de euros. Não fora isso, e os
2022 o maior lucros históricos da transportadora
pública teriam sido ainda maiores.
número de No ano passado, a empresa teve
um índice de regularidade de 97,5%
passageiros em 421 mil comboios realizados,
transportados nos mas suprimiu 11 mil. Desses, nove
últimos 20 anos mil foram suprimidos por motivo de
greve. Os conÇitos laborais não são
e que se cifra em um fenómeno deste ano e já pena-
lizaram a CP em 2022.
148 milhões Mas a maior das penalizações,
que continua a corroer as contas da
empresa, é a manutenção da sua
A empresa teve dívida histórica, de 2,1 mil milhões
um índice de de euros, cujo saneamento tem vin-
do a ser sucessivamente adiado.
regularidade de Os juros baixos dos últimos anos
97,5% em 421 mil deram algum alívio. Em 2020 e 2021
os juros da dívida foram, respecti-
comboios vamente, de 31 e 23 milhões
realizados, mas de euros, mas limpar esta dívida
histórica do passivo seria funda-
suprimiu 11 mil. mental para a empresa, que precisa
Desses, nove mil de estar em condições Ænanceiras
para poder comprar comboios de
foram por causa longo curso para o negócio da alta
de greves velocidade.
 Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 25

Rua Júlio Dinis, n.º 270, Tel. 22 615 10 00

Bloco A, 3.º Piso
4050-318 Porto
lojaporto@publico.pt
De seg a sex das 09H às 18H
CLASSIFICADOS

AVISO N.º 68/2023 AVISO N.º 66/2023

ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO
N.º 8/2000, DE 10/10
ADITAMENTO N.º 20/2023
Nos termos do Art.º n.º 27º do decreto-lei n.º 555/99 de 16 de dezembro,
na redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de Valongo
emitiu em 12/04/2023, o aditamento n.º 20, em nome de Ana Sofia Silva
Pereira, ao alvará n.º 8/2000, de 10/10, referente ao processo de loteamento
número 17-L/1992,em nome de Quinta da Lousa, SA, sito na Rua Leopoldo
de Almeida, da freguesia de Valongo, concelho de Valongo, anexo ao proc.
39-L/2022, por despacho de 07/03/2023.
Supressão dos pisos em cave e recuado ou vão da cobertura e alteração
do polígono de implantação do piso do r/c e andar, com ligeiro decréscimo
de área, mantendo-se o uso, tipo de ocupação de 3 frentes e recuo face ao
arruamento. Foi ainda solicitada a implantação de um alpendre.
Valongo e Paços do Concelho, 12 de abril de 2023.
O Vereador com poderes delegados, Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira
ALTERAÇÃO AO ALVARÁ DE LOTEAMENTO
N.º 6/2006, DE 06/12
ADITAMENTO N.º 18/2023
Nos termos do Art.º n.º 27.º do decreto-lei n.º 555/99 de 16 de dezembro,
na redação vigente, torna-se público que a Câmara Municipal de
Valongo emitiu em 12/04/2023, o aditamento n.º 18, em nome de José
Luís de Oliveira Pereira, ao alvará n.º 6/2006, de 06/12, referente ao
processo de loteamento número 37-L/1997,em nome de Quinta da
Lousa, SA, sito na Rua António da Costa, da freguesia de Valongo,
concelho de Valongo, anexo ao proc. 90-L/2022, por despacho de
09/02/2023.
Consiste no aumento da área de implantação, que corresponde à área
do rés-do-chão, aumento da área da cave, e a supressão do piso do
andar.
Valongo e Paços do Concelho, 12 de abril de 2023.
O Vereador com poderes delegados, Eng.º Paulo Jorge Esteves Ferreira
FACULDADE DE CIÊNCIAS DA UNIVERSIDADE DO PORTO
Dá-se conhecimento público que se encontram abertos dois
processos de recrutamento e seleção para duas vagas de
Técnico Superior para a Unidade de Gestão Financeira de
Projetos dos Serviços Económico Financeiros da Faculdade de
Ciências da Universidade do Porto, em regime de contrato de
trabalho a termo certo ao abrigo do Código de Trabalho.
Para obter mais informações deve aceder às Informações/
Recrutamento do SIGARRA FCUP ou através do seguinte
endereço:
https://sigarra.up.pt/fcup/pt/cnt_cand_geral.concursos_list
Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, 19 de abril
de 2023

EDITAL
Realização das vistorias ad perpetuam rei memoriam, ao abrigo do artigo 21.º
ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA DE 2023 do Código das Expropriações, das parcelas de terreno necessárias à construção do adutor
da margem direita do Pranto e do distribuidor do Marnoto
CONVOCATÓRIA e do Circuito Hidráulico da Quinta do Seminário
Camarada Rogério Paulo Lima Ferreira, Diretor-Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural, vem por este meio, nos termos do
De acordo com os Estatutos e para os efeitos do disposto no Art.º 49 e o Art.º 1 do disposto no n.º 1 do artigo 21.º do Código das Expropriações, aprovado pela Lei n.º 168/99, de 18 de setembro, notificar os
Regulamento da Assembleia-geral, por este meio venho convocar a proprietários e os demais interessados apresentados em lista anexa a este Edital de que, irão decorrer, no dia 24 de abril de
ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA 2023, as vistorias “ad perpetuam rei memoriam”, destinadas a fixar os elementos de facto suscetíveis de desaparecerem e cujo
conhecimento seja de interesse ao julgamento do processo, das parcelas de terreno identificadas em anexo ao Despacho n.º
do Sindicato para reunir de forma descentralizada, através de Sessões Regionais 1272/2023, da Senhora Ministra da Agricultura e da Alimentação, de 25 de janeiro de 2023, publicado na 2.ª Série do Diário
e Locais, às 14.30 horas nas seguintes datas e locais: da República n.º 18, de 25 de janeiro de 2023, nos termos do qual foi declarada a utilidade pública da servidão administrativa
de aqueduto público subterrâneo, com caráter urgente, sobre as mesmas, localizadas na União de Freguesias de Abrunheira,
DATA SESSÃO REGIONAL / LOCAL MORADA
Verride e Vila Nova da Barca, concelho de Montemor-o-Velho, na freguesia de Alqueidão, concelho da Figueira da Foz, e nas
22/5/2023 Sessão da Delegação • Delegação Regional de Porto freguesias de Samuel e Vinha da Rainha, concelho de Soure.
(2ª Feira) Regional do Porto Largo Ramada Alta, Nº 140 - Porto A vistoria em apreço será realizada pelo Senhor Perito João Paulo Dragão Gomes, podendo ser acompanhada pelos
23/5/2023 Sessão da Delegação • Delegação Regional de Coimbra respetivos proprietários.
(3ª Feira) Regional de Coimbra Avª Fernão Magalhães, nº 24 -2º C - Coimbra Os proprietários e os demais interessados poderão consultar o processo respetivo nas instalações da DGADR, sitas na
Avenida Afonso Costa, n.º 3, 1949-002 Lisboa, ou na Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do
23/5/2023 Sessão da Delegação • Delegação Regional de Setúbal Baixo Mondego, Quinhendros, 3140-901 Montemor-o-Velho, das 10:00 h às 12:30 h e das 14:30 h às 16:30 h, nos dias úteis.
(3ª Feira) Regional de Setúbal Largo da Misericórdia nº 46 - 2º - Setúbal
Lisboa, 11 de abril de 2023
26/5/2023 Sessão da Delegação • Sede Nacional do STAD
O Diretor-Geral, Rogério Lima Ferreira
(6ª Feira) Regional de Lisboa Rua João da Silva, Nº 20 - Lisboa
ID da parcela Nome do proprietário Concelho Freguesia Matriz rústica Descrição predial Hora da vistoria
31/05/2023 Sessão da Delegação • Sindicato dos Cabeleireiros
2 Paula Margarida e Anabela Rascão Pereira Santos Soure Samuel R - 455 omisso 9h30
(4ª Feira) Local da R. A. da Madeira Rua Dr. Fernão d´Ornelas,nº 6, 2º - Funchal
11 Augusto José Gomes Cristino Figueira da Foz Alqueidão R - 6865 omisso 9h40
02/06/2023 Sessão da Delegação • União Sindicatos Ponta Delgada 23 José Pedrosa Fernandes Luís Soure Samuel R - 17 2420 9h50
(6ª Feira) Local da R. A. dos Açores Rua do Peru, 101 - Ponta Delgada 31 Manuel Silva Cordeiro - CCH de Soure Samuel R - 43 7829 10h00
Esta Assembleia-geral Ordinária terá a seguinte: 62 Maria Pereira Rodrigues - CCH de Soure Samuel R - 84 omisso 10h30
64 Maria Ermelinda dos Santos - CCH de Soure Samuel R - 86 omisso 10h40
ORDEM DE TRABALHOS 65 Júlio Rodrigues Nunes Soure Samuel R - 109 734 10h50
1 – Analisar e decidir sobre o “Relatório e Balanço da Actividade Sindical e 67 António Costa Guardado - CCH de Soure Samuel R - 111 omisso 11h00
Contas de 2022” apresentado pela Direcção Nacional; 77 José Manuel da Costa Guardado Cardo Soure Samuel R - 165 omisso 11h30
79 Manuel Pedrosa Vieira - CCH de Soure Samuel R - 167 890 11h40
2 – Analisar e decidir sobre o “Plano Global de Actividade Sindical e
82 António Gonçalo Rodrigues - CCH de Soure Samuel R - 173 omisso 11h50
Orçamento para 2023” apresentado pela Direcção Nacional. 85 Maria Auzenda Pinto Vieira Jordão - CCH de Soure Samuel R - 228 1635 14h40
89 Ernesto José Freitas dos Santos Soure Samuel R - 234 7790 14h50
CAMARADA
90 Albino Pereira da Silva - CCH de Soure Samuel R - 235 1636 15h00
Uma Informação importante - os documentos que vão ser apresentados à
92 Albino Pereira da Silva - CCH de Soure Samuel R - 238 1637 15h10
Assembleia-geral pela Direcção Nacional (Relatório e Balanço da Actividade
97 Augusto José Gomes Cristino Soure Samuel R - 245 6655 15h20
Sindical e contas 2022 e Plano Global de Actividades Sindicais e Orçamento 2023), 106 Manuel Pedrosa Vieira - CCH de Soure Samuel R - 286 891 16h00
estarão à disposição dos sindicalizados na Sede Nacional e nas instalações das 111 Lucinda Oliveira Nazaré Guardado Fernandes Soure Samuel R - 8737 1156 16h10
Delegações a partir do dia 15.maio 2023 112 Carlos Rodrigues Mendes Soure Samuel R - 300 1538 16h20
114 Ernesto José Freitas dos Santos Soure Samuel R - 304 7792 16h30
SAUDAÇÕES SINDICAIS
117 Ernesto José Freitas dos Santos Soure Samuel R - 309 7830 16h40
O Presidente da Mesa da Assembleia-geral
119 Ernesto José Freitas dos Santos Soure Samuel R - 310 2079 16h50
Carlos Trindade
Comunicado nº34/2023 - Lisboa 19 Abril.2023 123 Ernesto José Freitas dos Santos Soure Samuel R - 315 4969 17h00

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ANÚNCIO M/F ANÚNCIO M/F

Universidade do Minho Universidade do Minho
Unidade de Serviços de Recursos Humanos

Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a

Unidade de Serviços de Recursos Humanos

Torna-se público que se encontra aberto processo de recrutamento para a

contratação de um Técnico Superior, na modalidade de Contrato de Trabalho por
Tempo Indeterminado, ao abrigo do Código do Trabalho, na Universidade do Minho,
sob Ref.ª CTI-PTAG-7/23-ICS(1).
REQUISITOS DE ADMISSÃO:
Possuir Licenciatura em Administração Pública, Secretariado de Direção e
Administração, Ciências da Educação, Ciências da Comunicação, Geografia, História,
Sociologia ou áreas afins.
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 20/04/2023 a
05/05/2023.
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em
https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais
A Diretora de Serviços, Sara Patrícia Costa Rodrigues
contratação de um Técnico Superior, na modalidade de Contrato de Trabalho por
Tempo Indeterminado, ao abrigo do Código do Trabalho, na Universidade do Minho,
sob Ref.ª CTI-PTAG-5/23-ELACH(1).
REQUISITOS DE ADMISSÃO:
Possuir Licenciatura nas áreas de Administração, Gestão, Recursos Humanos,
Contabilidade e/ou Línguas.
O prazo para a apresentação das candidaturas decorre no período de 20/04/2023 a
27/04/2023.
O texto integral do processo de recrutamento e seleção encontra-se disponível em
https://intranet.uminho.pt/Pages/Documents.aspx?Area=Procedimentos%20Concursais
A Diretora de Serviços, Sara Patrícia Costa Rodrigues
AVISO
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho, E.P.E. informa que foi
publicado no site institucional: https://www.chvng.min-saude.pt/index.php/
informacao-institucional/recursos-humanos/concursos-e-recrutamento
– o anúncio de recrutamento com a Ref.ª RH/08/2023 que irá proceder
à abertura de procedimento concursal para constituição da reserva de
recrutamento para 1 técnico superior de diagnóstico e terapêutica de
cardiopneumologia, em regime de contrato individual de trabalho. As
candidaturas deverão ser efetuadas nos 10 (dez) dias úteis seguintes
à data de publicação do presente aviso, através do envio de correio
eletrónico para o endereço juri.bolsa.rh082023@chvng.min-saude.pt.

GESTÃO DE RECURSOS HUMANOS

ASSOCIAÇÃO DE SOCORROS
MÚTUOS DOS EMPREGADOS
AVISO NO COMÉRCIO E INDÚSTRIA
O Instituto Português de Oncologia de Lisboa,
ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA Francisco Gentil, E.P.E, torna público que
INSTITUIÇÃO PARTICULAR SOLIDARIEDADE SOCIAL
PESSOA COLECTIVA N.º 500032424 • SEDE SOCIAL: RUA DA PALMA, 237
se encontra aberto procedimento concursal TELEFS. 218843120 - FAX 218843129 - 1100-391 LISBOA
Comissão de Assuntos Constitucionais, comum para preenchimento de 1 (uma) vaga E-mail: asmeci.ruapalma@gmail.com www.asmeci.pt
Direitos, Liberdades e Garantias de Assessor, na área de exercício de Farmácia
ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA
ÀS COMISSÕES DE TRABALHADORES OU ÀS RESPETIVAS
Hospitalar, nos termos do Aviso n.º 7874/2023, de
18 de abril , publicado na 2ª Série do Diário da
Aviso Convocatório CONHEÇA A NOSSA
COMISSÕES COORDENADORAS, ASSOCIAÇÕES República n.º 76, de 18 de abril de 2023.
Para mais informações, consulte a página da De acordo com os preceitos estatutários, convoco
CONHEÇA
SELECÇÃOADENOSSA
SINDICAIS E ASSOCIAÇÕES DE EMPREGADORES
Nos termos e para os efeitos dos artigos 54.º, n.º 5, alínea d), e
internet do IPOLFG em
http://www.ipolisboa.min-saude.pt
a Assembleia Geral a reunir-se em sessão ordinária
no dia 03 de Maio de 2023, pelas 17:00 horas na SELECÇÃO
PRODUTOSDE
LIFE&STYLE
56.º, n.º 2, alínea a), da Constituição, do artigo 134.º do Regimento Lisboa, 18 de abril de 2023
sede da Associação, Rua da Palma, 237, em Lisboa,
em primeira convocação, com a presença da
maioria dos sócios e com a seguinte:
PRODUTOS LIFE&STYLE
da Assembleia da República e dos artigos 469.º a 475.º da Lei n.º
7/2009, de 12 de fevereiro (Aprova a revisão do Código do Trabalho), ORDEM DE TRABALHOS
Apreciação e votação do Relatório e Contas da
avisam-se estas entidades de que se encontra para apreciação, de Direção referentes ao ano de 2022 e respetivo
19 de abril a 19 de maio de 2023, a iniciativa seguinte: Parecer do Conselho Fiscal.
Não havendo número legal de presenças à hora
Projeto de Lei n.º 644/XV/1.ª (PCP) — Reforça as medidas de indicada a Assembleia realizar-se-á, em segunda
proteção das vítimas de violência doméstica (décima alteração à O Iscte – Instituto Universitário convocação, no mesmo local e dia pelas 18:00
Lei n.º 112/2009, de 16 de setembro). horas, com a mesma Ordem de Trabalhos e com
de Lisboa pretende recrutar qualquer número de presenças.
As sugestões e pareceres deverão ser enviados, até à data-
-limite acima indicada, por correio eletrónico dirigido a:
Assistentes de Investigação em Lisboa, 17 de Abril de 2023
O Presidente da Mesa da Assembleia Geral
1CACDLG@ar.parlamento.pt; ou em carta, dirigida à Comissão regime de Contrato Individual a) Dr. Gustavo Clemente Leal Galvão
de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, de Trabalho, a termo resolutivo NOTA:
Assembleia da República, Palácio de São Bento, 1249-068 Lisboa. certo, no âmbito do projeto De acordo com os Estatutos, os livros e documentos
contabilísticos encontram-se patentes na Secretaria
Dentro do mesmo prazo, as comissões de trabalhadores ou kNOwHATE (kNOwing online a partir de oito dias antes da reunião da Assembleia
as comissões coordenadoras, as associações sindicais e HATE speech: knowledge + Geral, das 09 às 12 horas, como manda a alínea b) EDIFÍCIO
do Art.º 37, n.º 2 dos Estatutos.
associações de empregadores poderão solicitar audiências à
awareness = TacklingHate). DIOGO CÃO
Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e DOCA DE ALCÂNTARA
Garantias, devendo fazê-lo por escrito, com indicação do assunto NORTE, LISBOA
e fundamento do pedido. Para mais informações consultar: (JUNTO AO
O texto da citada iniciativa encontra-se publicado na Separata n.º 56/ https://www.iscte-iul.pt/ OFEREÇA MUSEU DO ORIENTE)
HORÁRIO:
XV do Diário da Assembleia da República, de 19 de abril de 2023, e conteudos/iscte/quem-somos/ BANDA DESENHADA 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H
SÁBADO: 11H – 17H
pode ser consultado na «Página» internet da Assembleia da República,
na morada: http://www.parlamento.pt/DAR/Paginas/Separatas.aspx trabalhar-no-iscte/1393/concursos MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010 MAIS INFORMAÇÕES: loja.publico.pt | 210 111 010

Fundada em 1988 pelo Professor Doutor Carlos Garcia, a Associação Portuguesa de Familiares e Amigos de Doentes de Alzheimer
- Alzheimer Portugal é uma Instituição Particular de Solidariedade Social. É a única organização em Portugal, de âmbito nacional,
constituída há mais de 30 anos especificamente para promover a qualidade de vida das pessoas com demência e dos seus familiares
e cuidadores. Tem cerca de dez mil associados em todo o país.
Oferece Informação sobre a doença, Formação para cuidadores formais e informais, Apoio domiciliário, Apoio Social e Psicológico
e Consultas Médicas da Especialidade.
Como membro da Alzheimer Europe, a Alzheimer Portugal participa ativamente no movimento mundial e europeu sobre as
demências, procurando reunir e divulgar os conhecimentos mais recentes sobre a Doença de Alzheimer, promovendo o seu
estudo, a investigação das suas causas, efeitos, profilaxia e tratamentos.
Contactos:
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3 Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
Telefones: 213 610 460 - Fax : 21 361 04 69 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Centro de Dia Prof. Doutor Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2 Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa
Telefone: 213 609 300 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim», Rua Joaquim Miguel Serra Moura, n.º 256 - Alapraia
2765-029 Estoril - Telefone: 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org
Horário de Atendimento: Quartas e sextas, entre as 9h e as 13h
Núcleo do Ribatejo da Alzheimer Portugal: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31 «A, 2080-114 Almeirim
- Telefone: 243 000 087 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Delegação Norte da Alzheimer Portugal: Centro de Dia «Memória de Mim», Rua do Farol Nascente
n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra - Telefone: 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org
Delegação Centro da Alzheimer Portugal: Centro de Dia do Marquês, Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17, 3100-523 Pombal - Telefone: 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org
Núcleo do Algarve da Alzheimer Portugal: Urbanização do Pimentão, lote 2, Cave, Gabinete 3, Três Bicos, 8500-776 Portimão - Telemóvel: 965 276 690 - E-mail: geral.algarve@alzheimerportugal.org
Delegação da Madeira da Alzheimer Portugal: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional
da Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 Funchal, Telefone: 291 772 021 - Fax: 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org

Leilão era aguardado devido à raridade do objecto Ciência e Ambiente
Esqueleto completo
de um T-rex vendido
por quase cinco
milhões de euros
Leilão de um esqueleto inteiro de um T-rex
realizou-se ontem na Suíça. Trinity tem 67 milhões
de anos e junta ossos de diferentes dinossauros
Teresa Serafim
Um esqueleto de Tyrannosaurus rex
foi vendido ontem por 4,88 milhões
de euros (4,8 milhões de francos suí-
ços) num leilão na Suíça — o que está
abaixo das estimativas. Esta foi a pri-
meira vez que um esqueleto inteiro
de um T-rex foi leiloado na Europa e
com “uma qualidade excepcional”,
assinala a casa de leilões Koller, que
realizou a venda. O dinossauro cha-
mado “Trinity” é formado pela jun-
ção dos ossos de três exemplares
distintos de T-rex. Cerca de metade
dos seus ossos não é autêntica.
O leilão teve mais de 70 objectos a
serem licitados, desde trilobites
(uma classe de artrópodes), um
coco-do-mar das Seicheles, uma
fotograÆa tirada pelo astronauta
Michael Collins em 1980, pedaços de
meteoritos ou colecções de âmbares.
Esperava-se que o esqueleto fosse
vendido entre os cinco e os oito
milhões de francos suíços (5,08 e os
8,13 milhões de euros), mas acabou
por não chegar aos cinco milhões. A
licitação começou nos 4,2 milhões
de francos suíços e terminou nos 4,8
milhões de francos suíços (4,88
milhões de euros). O valor Ænal Æca
67
milhões é o número de anos que
o T-rex deixou a Terra. Foi um
dos maiores predadores que já
passaram pelo planeta e podia
chegar às oito toneladas
muito próximo dos 5,6 milhões de
euros após taxas e comissões.
Foi a junção de ossos que deu ao
dinossauro agora leiloado o nome de
Trinity (Trindade, em português) —
aÆnal, tem partes de três dinossauros
encontrados entre 2008 e 2013 no
Montana e em Wyoming, nos Estados
Unidos. A descrição dessa trindade é
feita num artigo da Folha de S. Paulo:
grande parte do esqueleto axial e da
região pélvica é composta de um
exemplar de um T-rex escavado em
2013. Tem ainda partes de um dinos-
sauro descoberto em 2012 e um crâ-
nio de um outro. Na totalidade, tem
11,6 metros de comprimento e 3,9
metros de altura. Esta junção fez com
que o paleontólogo Steve Brusatte
apelidasse o Trinity de “um Frankens-
tein rex”. “Mesmo assim, esses fósseis
são raros e cientiÆcamente importan-
tes”, disse o cientista da Universidade
de Edimburgo em entrevista ao jornal
The Independent.
O paleontólogo português Octávio
Mateus também refere que a impor-
tância de um esqueleto completo
para a paleontologia é enorme, pois
permite que os cientistas entendam
melhor a anatomia, a Æsiologia, a bio-
mecânica e a evolução desses animais
extintos. “Os esqueletos completos
podem ajudar a reconstruir a vida e
o comportamento dos dinossauros,
incluindo a sua alimentação, movi-
mentos e habitat”, faz notar o profes-
sor de Paleontologia na Universidade
Nova de Lisboa e presidente da Socie-
dade Portuguesa de Paleontologia.
Para explicar a importância do
dinossauro, Octávio Mateus cita a
informação no catálogo de venda,
que indica que há partes que são
réplicas e que existem outras partes
de fósseis de escavações nas Forma-
ções em Montana e Wyoming, nos
EUA. “Este não é um esqueleto de um
único animal, mas é composto por
vários indivíduos. Do ponto de vista
museológico e cientíÆco não há nada
de errado nisso, desde que se seja
muito transparente e se toda a infor-
mação estiver explícita para todos e
disponível para os cientistas.”
As questões do comércio
Este leilão foi desde cedo alvo de crí-
ticas de paleontólogos e tem contri-
buído para o debate sobre o comércio
de fósseis. Ao PÚBLICO Steve Brusat-
te destaca a importância dos esque-
letos de T-rex e defende que devem
Æcar em museus. “Os esqueletos de
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 27
Tyrannosaurus rex são muito raros, e
cada um deles é uma pista importan-
te para os paleontólogos compreen-
derem a história dos dinossauros”,
assinala. “Para mim, esqueletos de
dinossauros raros são tão especiais e
importantes que devem Æcar em
museus, onde podem ser conserva-
dos e mantidos em segurança.”
Octávio Mateus salienta que os
Estados Unidos permitem que fósseis
desta importância sejam exportados
e comercializados livremente. “Estão
no seu direito, mas pessoalmente Æco
feliz de não ver um regime desses na
Europa”, aÆrma. “O comércio de fós-
seis deve garantir que os fósseis de
importância cientíÆca sejam acessí-
veis a estudos cientíÆcos; portanto,
deveria haver cláusulas que garantam
o acesso para estudos cientíÆcos.”
O paleontólogo diz que, em termos
gerais, deveria haver o cuidado de
que os recursos geológicos, naturais
e paleontológicos de cada local fos-
sem explorados com benefícios para
as comunidades. A remoção de fós-
seis do contexto geológico faz com
que se perca o enquadramento da
idade geológica e habitats referentes
ao fóssil. “Se for recolhido sem cuida-
dos cientíÆcos, isso pode daniÆcar
irreparavelmente o fóssil e perder-se
muita informação cientíÆca relevan-
te”, observa.
Octávio Mateus refere que a falta
de regulamentação do comércio de
fósseis pode levar à falsiÆcação de
fósseis, o que pode enganar colec-
cionadores e até cientistas. “Portugal
tem uma riqueza paleontológica
ímpar e temos uma enorme respon-
sabilidade para proteger este recurso
– vejamos o caso da Lourinhã, em
que este é o principal móbil de atrac-
ção turística e contribui muito para
o desenvolvimento económico”,
exempliÆca o paleontólogo. “Urge
criar em Portugal melhor legislação
sobre a extracção e comércio de fós-
seis, regulando aquilo que pode e
deve ser permitido e protegendo o
que é de interesse público. Esse é um
desígnio para que a Sociedade Por-
tuguesa de Paleontologia tem estado
a trabalhar no último ano.”
Este foi um dos poucos leilões de
T-rex. O primeiro — o Sue — foi o de
um dinossauro descoberto em 1990
nos EUA, leiloado em 1997 por 8,3
milhões de dólares. O outro a ser
vendido foi o de Stan em 2020 por
31,8 milhões de dólares ao Museu de
História Natural de Abu Dhabi.
Leilão
realizou-se
na Suíça
e o esqueleto
foi vendido
por 4,88
milhões
de euros,
abaixo do
valor esperado
28 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Cultura Bienal de Arquitectura de Veneza
Álvaro Siza
compôs um
“manifesto
político e
poético” para
o Pavilhão
do Vaticano
O cardeal José Tolentino Mendonça
apresentou ontem a proposta que abrirá
ao público em Maio, e que conta com um
projecto ecológico do Studio Albori
Sérgio C. Andrade
O encontro completar-se-á no jar-
dim, no Ænal de um percurso pelo
interior do Mosteiro Beneditino de
San Giorgio Maggiore, frente à bacia
de São Marcos, conduzido por 12
esculturas desenhadas por Álvaro
Siza — em resposta ao desaÆo da
Santa Sé para conceber o seu pavi-
lhão na 18.ª Bienal de Arquitectura
de Veneza, que vai decorrer de 20
de Maio a 26 de Novembro.
Este “encontro no jardim” em bus-
ca de “um futuro diferente” foi ontem
apresentado numa conferência de
imprensa em Roma em que o arqui-
tecto português participou via Zoom.
O Pavilhão da Santa Sé, explicitou-se
então, vai ocupar os edifícios e os jar-
dins daquela abadia, desenvolvendo
o tema da amizade social a partir dos
ensinamentos do Papa Francisco nas
encíclicas Laudato Si (2015) e Fratelli
Tutti (2020), sob comissariado do
cardeal D. José Tolentino Mendonça,
prefeito do Dicastério para a Cultura
e Educação do Vaticano.
O arquitecto italiano Roberto Cre-
mascoli, há anos radicado no Porto,
é o curador do pavilhão, que se com-
pletará com um novo ordenamento
dos jardins da abadia, encomendado
ao Studio Albori, dos arquitectos
Emanuele Almagioni, Giacomo
Borella e Francesca Riva.
A concepção do Pavilhão do Vati-
cano responde ao espírito e ao tema
geral que a arquitecta e escritora esco-
cesa-ganesa Lesley Lokko, comissária
da bienal, propôs para a edição deste
ano, Laboratório do futuro, disse ao
MARCO CREMASCOLI
ÁLVARO SIZA
Álvaro Siza na fase preparatória
do projecto do Pavilhão da
Santa Sé para a Bienal de
Arquitectura de Veneza
O arquitecto português
desenhou 12 esculturas “muito
PÚBLICO, por telefone, o cardeal e gráficas” para o jardim do
poeta português José Tolentino de Mosteiro Beneditino de San
Mendonça. Giorgio Maggiore — duas delas
“A curadora insiste muito em que em mármore de Carrara, as dez
se aposte numa bienal ecológica, sem restantes em madeira de
desperdício, a baixo custo, com gran- criptoméria
de sentido de responsabilidade
social”, realça Tolentino Mendonça. O redesenho do jardim do
O comissário vê no projecto de Álvaro mosteiro foi encomendado ao
Siza “uma espécie de manifesto polí- Studio Albori, que reconstruiu o
tico e poético”, numa sequência de horto original, montou um
Æguras abstractas que remetem para galinheiro e previu um lugar
“uma arquitectura Ægural, ‘em saída’, para guardar sementes
com 12 esculturas muito gráÆcas que
encenam as várias dimensões do STUDIO ALBORI
encontro, da espera, do acolhimento,
da escuta, do abraço”. “São modos
de pensar s relações entre os homens,
entre os povos”, acredita o cardeal
português.
Um percurso convivial
A primeira parte do percurso desen-
volve-se na galeria de exposições do
mosteiro, abrindo com um vídeo a
documentar a idealização do projecto
e a concretização de todas as instala-
ções até à chegada à ilha veneziana.
Sucedem-se depois as Æguras de
Siza, num movimento pontuado por
pausas e surpresas, como a da primei-
ra peça em mármore de Carrara, o
mesmo material do monólito que, no
Ænal do percurso escultórico, pontua
a entrada do visitante nos jardins. As
outras dez peças “são feitas em
madeira de criptoméria, uma árvore
que os portugueses trouxeram do
Japão e é agora cultivada nos Açores
com grande cuidado ecológico”,
explicou Siza ao PÚBLICO, também
por telefone.

“Além do tema da amizade social,
há uma componente de preocupação
ecológica que enforma todo o projec-
to”, realça o arquitecto, confessando
ter recebido o desaÆo da Santa Sé
“com preocupação e até algum medo,
porque se tratava de uma grande res-
ponsabilidade”. Um receio que se
desvaneceu após ter feito os primei-
ros desenhos e Ænalmente ter encon-
trado “o caminho certo para propor-
cionar o encontro entre as pessoas
nesse espaço belíssimo” que é o Mos-
teiro de San Giorgio Maggiore.
A instalação materializa-se numa
“série de geometrias dinâmicas que
aludem à corajosa visão social do
Papa Francisco”, diz, por sua vez, o
comunicado da Santa Sé.
Chegado ao jardim, o visitante é
recebido pelo arranjo proposto pelo
Studio Albori, um trabalho também
muito marcado por uma visão ecoló-
gica e participativa da arquitectura.
“Eles Æzeram tudo a partir do reuso
de material reciclado. Reconstruíram
o horto do mosteiro, montaram um
galinheiro, por exemplo, e também
um lugar para guardar sementes — as
das plantas, mas também as sementes
do futuro em que nós precisamos de
pensar”, explica Tolentino Mendon-
ça, descrevendo esse novo “percurso
convivial, onde as pessoas se vão
poder encontrar no decorrer da bie-
nal, e que os monges beneditinos irão
certamente continuar a utilizar no
futuro”.
Um passo atrás
“Este cenário material e espiritual
aproxima-nos do quotidiano de um
mosteiro beneditino e da sua regra,
abrindo a possibilidade de um diálo-
go renovado com esses espaços
emblemáticos da tradição arquitec-
tónica”, diz a Agência Ecclesia, citan-
do uma nota do Vaticano. Aos jorna-
listas Roberto Cresmacoli disse que
Tolentino Mendonça propôs “dar
um passo atrás na arquitectura”, algo
que “só um poeta” faria.
Com este projecto, o arquitecto
italiano reata também a sua relação
com Álvaro Siza em Veneza, depois
de em 2016 ter sido, com Nuno Gran-
de, co-curador do Pavilhão de Portu-
gal e da exposição Neighbourhood —
Where Alvaro meets Aldo, sobre o tema
da habitação social, na Giudecca.
Mas Siza é já um nome recorrente
na história da bienal, desde que em
1976 participou na exposição colectiva
Europa-América, tendo já sido distin-
guido por duas vezes com o Leão de
Ouro: em 2002, por um projecto apre-
sentado nos jardins do Arsenale; e em
2012, pelo conjunto da carreira. Nesse
ano, criou também uma estrutura ao
ar livre no Arsenale, ao lado de outra
de Eduardo Souto de Moura.
Do lado da Santa Sé, esta será a
segunda presença com um pavilhão
próprio na Bienal de Veneza, depois
das dez capelas com que se apresen-
tou na edição de 2018, na mesma ilha
de San Maggiore, uma das quais assi-
nada por Souto de Moura.
Quinzena dos Cineastas de Cannes
com Filipa Reis e João Miller Guerra
Vasco Câmara
O anúncio de Légua sucede
ao de A Flor do Buriti, da
dupla João Salaviza-Renée
Nader Messora, na secção
Un Certain Regard
Há outro Ælme português no progra-
ma da 76.ª edição do Festival de
Cannes (16 a 27 de Maio): trata-se da
nova longa-metragem de Filipa Reis
e João Miller Guerra, co-produção
Uma Pedra no Sapato/Laranja Azul.
A dupla está seleccionada para a
mais prestigiada das secções para-
lelas do festival, a Quinzena dos
Cineastas, com Légua, Ælme que
sucede a Djon África (2018) na cola-
boração entre os dois cineastas.
Na semana passada, os programa-
dores da Selecção OÆcial anuncia-
ram a dupla João Salaviza-Renée
Nader Messora na secção Un Certain
Regard com A Flor do Buriti, prolon-
gamento de uma relação com a
comunidade indígena krahô iniciada
em Chuva É Cantoria na Aldeia dos
Mortos, que valera a Salaviza-Messo-
ra, na mesma secção, em 2018, o
Prémio Especial do Júri.
Filipa Reis e João Miller Guerra
regressam com a sua segunda longa
de Æcção, após vários documentários
em conjunto, ao circuito dos festivais
internacionais. Djon África estreara-
Finalistas do Prémio Booker Internacional
compõem “lista de uma variedade notável”
Joana Amaral Cardoso
Leïla Slimani, presidente
do júri, qualifica os
seis romances como
“arrojados, subversivos,
perversos”
O Prémio Booker Internacional
revelou ontem os seis romances
Ænalistas para a sua edição de 2023,
de autores provenientes de seis
países, quatro continentes e duas
línguas nunca antes presentes
na shortlist do galardão — o catalão
e o búlgaro.
Os Ænalistas são a catalã Eva Bal-
tasar, com Boulder, o búlgaro Geor-
gi Gospodinov, com Time Shelter, a
mexicana Guadalupe Nettel por Still
Born, a francesa Maryse Condé, com
-se no Festival de Roterdão em 2018.
A acção de Légua, segundo informa-
ção da produtora, decorre numa
antiga casa situada no Norte de Por-
tugal que está desocupada pelos
donos que nunca lá vão. Há assim
três gerações de mulheres, a gover-
nanta da casa, a Ælha e a amiga, num
mundo que se desvanece.
É também o regresso da produto-
ra Uma Pedra no Sapato a Cannes,
depois da partipação na Quinzena
de Diários de Otsoga, de Maureen
Fazendeiro e Miguel Gomes (co-pro-
dução com O Som e a Fúria), em
Filipa Reis e João Miller Guerra farão em Cannes a estreia de Légua
The Gospel according to the New
World, o marÆnense Armand Gbaka-
Brédé (que assina como GauZ’),
por Standing Heavy e o sul-coreano
Cheon Myeong-kwan, com Whale.
São candidatos a um prémio mone-
tário no valor de 56.697 euros
(50 mil libras) e o vencedor será
conhecido a 23 de Maio. O prémio é
dividido em partes iguais entre
autor e tradutor.
A selecção foi feita por um júri
presidido pela escritora Leïla Slima-
ni e composto pelo escritor
Tan Twan Eng, pela crítica Parul
Sehgal da revista New Yorker, pelo
editor literário do Financial Times,
Frederick Studemann, e pelo tradu-
tor Uilleam Blacker.
Leïla Slimani avaliou as obras
dos candidatos ao importante pré-
mio como “uma lista de uma varie-
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 29
Cultura
Longa-metragem 2021, e de Dia de Festa, de SoÆa Bost,
na Semana da Crítica, em 2019.
Légua está O programa da Quinzena de 2023
seleccionada abre com Le Procès Goldman, de
Cédric Khan, e encerra com In Our
para a mais Day, de Hong-Sang Soo. Segundo
prestigiada das Julian Rejl, director artístico da sec-
ção, os Ælmes seleccionados, “pela
secções paralelas sua linguagem única, dão corpo a
do festival de um espírito de resistência a qual-
quer forma de ideologia e de narra-
Cannes tiva dominantes”.
Esta edição vai homenagear, numa
sessão especial, o Vale Abraão de
Manoel de Oliveira — que faz, aliás, o
DR
cartaz da Quinzena, com uma ima-
gem de Leonor Silveira —, na passa-
gem dos 30 anos da sua estreia mun-
dial na secção: uma recepção apoteó-
tica com consequências na obra de
Oliveira. Foi nessa sessão, dizia-nos
Pierre Henri-Deleau, o homem que
seleccionou Vale Abraão quando o
Ælme foi recusado pela competição
oÆcial, que a crítica internacional e os
espectadores franceses descobriram
no cineasta português “um clássico,
como Bresson”. Terá ajudado, realça
Pierre Henri, o facto de, através da
escrita de Agustina, Oliveira ter pega-
do na universalidade de Madame
Bovary, de Flaubert. As vedetas inter-
nacionais descobriam também um
realizador: Catherine Deneuve,
Michel Piccoli, Marcello Mastroianni,
Jeanne Moreau quiseram, a partir daí,
“fazer parte da colecção Oliveira”.
dade notável”, obras “muito cool e melhor obra de Æcção internacional
muito sexy”. traduzida para inglês e publicada no
“Há algo de sorrateiro em todos Reino Unido ou Irlanda entre 1 de
eles”, disse ainda a autora de O País Maio de 2022 e 30 de Abril de 2023.
dos Outros (2021). “Estes são livros Condé, talvez o nome mais conheci-
muito sensuais e onde a questão do do desta lista de Ænalistas, tem edi-
corpo é importante; o que é ser e ter tado em Portugal Eu, Tituba, Bruxa...
um corpo, como se escreve sobre a Negra de Salem (ed. Maldoror, 2022)
experiência do corpo.” e em Maio será editado À Espera da
Maryse Condé é a pessoa mais Subida das Águas (ed. Quetzal).
velha, aos 89 anos, nomeada para Eva Baltasar tem traduzido para
este galardão — distinto do Prémio português Permafrost (ed. Kalan-
Booker, sendo o seu braço interna- draka, 2021) e Guadalupe Nettel tem
cional dedicado a encontrar a editado em Portugal O Corpo em Que
Nasci (ed. Teodolito, 2012). Cheon
As seis obras Myeong-kwan, Armand Gbaka-Bré-
agora finalistas. dé e Georgi Gospodinov não têm
O vencedor do obra editada em Portugal.
Booker Em 2022, o romance vencedor do
Internacional
será conhecido a
prémio foi Tomb of Sand, da indiana
23 de Maio Geetanjali Shree, também indispo-
nível em edição portuguesa.
30 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Cultura
Festival Projecto: Canção regressa e
homenageia barítono Oliveira Lopes
Sérgio C. Andrade
Segunda edição dedicada à
canção de câmara decorre
entre hoje e domingo na
Casa das Artes, no Porto
É um projecto ainda à procura de
aÆrmação, mas a boa recepção da
edição inaugural, em Maio do ano
passado, na Casa das Artes, no Porto,
levou os promotores a avançar na
continuidade deste festival, que per-
siste em querer preencher a lacuna
existente no país no que ao Lied —
canção de câmara — diz respeito.
É assim que a Casa das Artes aco-
lhe entre hoje e domingo a segunda
edição de Projecto: Canção, uma ini-
ciativa da APLied — Associação Por-
tuguesa de Lied, lançada expressa-
mente para o efeito por um colectivo
de três jovens pianistas portugueses:
Pedro Costa (Macau, 1989), João
Araújo (Póvoa de Varzim, 1989) e Luís
Duarte (Espinho, 1988).
“Tivemos um feedback tão positivo
da primeira experiência, em que qui-
semos testar a reacção do público e
dos alunos que participaram na mas-
terclass, que decidimos que quería-
mos continuar, e continuar a fazê-lo
no Porto”, diz ao PÚBLICO Pedro
Costa, ao lado de João Araújo, no jar-
dim da Casa das Artes, a apresentar
o programa desta edição.
O Ægurino do programa mantém-
se: quatro concertos, a mostrar a
diversidade e riqueza deste género
musical, e uma masterclass, que este
ano terá como convidado o pianista
David Santos, professor honorário de
interpretação de Lied na Escola Supe-
rior de Música e Dança em Man-
nheim, e professor de Piano na Uni-
versidade das Artes de Berlim, na
Alemanha.
“David Santos é um dos maiores
especialistas no Lied, professor na
Universidade de Mannheim, que é
um dos epicentros da tradição
do género, e uma pessoa que não
tem tido em Portugal o reconheci-
mento que merecia”, enfatiza João
Araújo, adiantando que a mas-
terclass deste ano tem já esgotada a
lista de oito duos, com 16 intérpre-
tes portugueses.
“Estamos ainda, nesta primeira
fase do festival, a privilegiar os alu-
nos portugueses, a querer criar o
gosto pela canção de câmara; lá mais
para a frente será o tempo de apostar
em abrir para fora”, diz Costa.
Caberá, de resto, aos participantes
na masterclass assegurar o concerto
de encerramento do festival, no
domingo (18h, com entrada livre).
Yuriy Hadzedskyy e Pedro Costa
estreiam programa O Viandante
José de Oliveira Lopes, cantor
de Lied com projecção
internacional, é homenageado
dez anos após a morte
No alinhamento dos concertos, a
abertura (hoje, 19h30, bilhetes a oito
euros) caberá ao encontro de Pedro
Costa com o barítono ucraniano Yuriy
Hadzedskyy, para a estreia do progra-
ma O Viandante, em volta da ideia
romântica do personagem solitário a
viver à margem da sociedade e à pro-
cura do seu lugar. Trata-se, explica o
pianista, de uma adaptação da obra
Songs of Travel, do inglês Ralph
Vaughan Williams, “um ciclo de nove
poemas que muitos classiÆcam como
a versão inglesa da Viagem de Inverno,
de Schubert”.
“Desconstruímos o ciclo de nove
canções e completamos com o repor-
tório germânico, com Schubert, Schu-
mann, Wolf e Brahms, em volta dessa
ideia de aceitar o destino: ‘Onde tu
não estás é onde está a felicidade!’”,
acrescenta Pedro Costa, que tem já
actuado com Hadzedskyy — que
conheceu em Berlim — noutros palcos
europeus.
Lugar aos contemporâneos
O segundo recital do 2.º Projecto:
Canção (depois de amanhã, 19h30;
bilhetes a oito euros) vai ser protago-
nizado por um duo formado na
sequência da masterclass do ano pas-
sado: a soprano Beatriz Maia e o pia-
nista Gustavo Afonso, que interpreta-
rão canções portuguesas e francesas
em volta do tema da paisagem.
“Também queremos ajudar jovens
artistas dando-lhes esta rampa de lan-
çamento para a vida proÆssional, para
que se possam estabelecer no país; e
a Beatriz e o Gustavo merecem esta
oportunidade”, nota João Araújo.
O terceiro concerto (dia 22, 21h30,
ANNEMONE TAAKE E MARA D’ELÉAN
entrada livre) é de homenagem ao
barítono José de Oliveira Lopes (1941-
2013). “Na passagem dos dez anos
sobre o seu desaparecimento, é o nos-
so tributo àquele que podemos con-
siderar ‘o nosso cantor de Lied’, o
único com verdadeira projecção
internacional neste domínio”, realça
Pedro Costa.
No espectáculo, que contará com
a participação de colegas e amigos do
cantor, como Adriano Jordão, Dora
Rodrigues, José D’Eça, Luís Duarte e
Luís Costa, será feito também o lan-
çamento de um livro com testemu-
nhos de diferentes personalidades do
meio musical português. É a primeira
iniciativa editorial da APLied, que
espera poder também lançar, até ao
Ænal deste ano, uma plataforma digi-
tal de divulgação da canção contem-
porânea portuguesa.
“Quando falamos da canção, fala-
mos quase exclusivamente da música
do século XIX. ‘E, então, a nossa
música?’, perguntamos” — dizem os
dois pianistas, convencidos da neces-
sidade de ajudar os intérpretes e os
amadores portugueses a encontrá-la
de maneira mais prática e precisa. Até
para evitar que o próprio reportório
português da canção de câmara con-
tinue a “basear-se quase sempre nos
mesmos compositores, já bastante
antigos”, e assim dar espaço aos auto-
res contemporâneos.
Argumentistas
americanos
mais perto
da greve
Joana Amaral Cardoso
Renegociação de contrato
de trabalho com estúdios
e produtores entra em fase
decisiva. Greve de 2007/08
custou centenas de milhões
Quase 98% dos guionistas elegíveis
para votar no referendo da Guilda
dos Argumentistas dos Estados Uni-
dos (WGA, na sigla em inglês) auto-
rizaram que os seus representantes
entrem em greve, se necessário, nas
negociações em curso com os estú-
dios. O número recorde, correspon-
dente a 9218 dos cerca de 11.500
membros do sindicato norte-ameri-
cano, dá à guilda novo argumento
para exigir mudanças nos contratos
e pôr Æm à “crise” nos pagamentos
destes proÆssionais, em reacção à
nova paisagem audiovisual.
Em 2007 e 2008, aquela que foi a
mais recente greve dos argumentis-
tas norte-americanos custou cente-
nas de milhões de dólares ao sector,
o maior exportador de séries, Ælmes
ou reality shows do mundo. Agora, e
tal como na última renegociação do
contrato colectivo de três anos que
rege o sector, a Alliance of Motion
Picture and Television Producers
(AMPTP), que representa os produ-
tores e os estúdios, tem do seu lado
não só casas históricas como a Para-
mount, a Warner ou a Disney, mas
também plataformas de streaming
como a NetÇix e a Amazon. Em 2007,
discutiam-se os direitos de autor por
edições em DVD e as compensações
por títulos descarregados na Inter-
net; agora, estão em causa condicio-
nalismos intrínsecos à nova paisa-
gem audiovisual como o impacto do
streaming na mudança de duração
das séries, quando os escritores são
pagos por episódio; a dispersão da
exibição por mais territórios e os
direitos conexos a ela associados; ou
simplesmente a reivindicação de um
aumento dos ordenados-base.
Acrescem a este cenário factores
ainda mais novos, como o impacto
da inteligência artiÆcial na indústria
— a WGA quer proibir que o seu con-
trato abranja textos produzidos ou
reescritos por inteligência artiÆcial.
Os argumentistas querem também
estabelecer novos ordenados-base
em todas as áreas da sua actividade,
equilibrar os pagamentos por episó-
dio com horários de trabalho e ten-
tar Æxar números mínimos para as
equipas de televisão, perante a
recente força das “minissalas de
argumentistas”.

Renault Clio ganha novo visual
Presença mais agressiva e um recheado pacote tecnológico. A Renault lança a versão
revista e actualizada do utilitário em Setembro — sem aumento de preço, garante-se
Carla B. Ribeiro
Com mais de 16 milhões de unidades
vendidas globalmente, o Renault Clio
teve em Portugal o primeiro lugar na
tabela de vendas por anos consecuti-
vos, até ter sido destronado em 2021.
Agora, a Renault ambiciona regressar
ao pódio, com uma ofensiva a que
deu o nome Renaulution e que chega,
agora, ao compacto do segmento B.
As diferenças são visíveis a olho nu,
com o Clio a adoptar a nova lingua-
gem de design da marca, estreada
com o bem-sucedido Austral. Na dian-
teira, destaque para a redesenhada
grelha, ampliada e axadrezada, que
incorpora o losango cromado e esco-
vado ao centro, e para os grupos ópti-
cos mais esguios a exibirem uma nova
assinatura luminosa. Com tecnologia
LED, os faróis combinam até cinco
feixes de alta tecnologia, que adap-
tam a distribuição da luz entre máxi-
mos e médios; já as luzes diurnas,
também em LED, exibem a forma de
meio losango. Os níveis Techno e
Esprit Alpine, o último em estreia no
Clio, vêm com um deÇector, sob a
grelha, inspirado no universo dos
desportos motorizados.
i7 M70, o BMW mais potente é eléctrico
A versão eléctrica do topo de gama da BMW
foi mexida pela divisão de performance M da marca
bávara e, agora, passa a debitar 660cv e um binário
máximo de 1100 Nm, com prestações à altura:
vai de 0 a 100 km/h em 3,7 segundos, com uma
velocidade máxima limitada a 250 km/h.
Em cima: à esquerda, detalhe
dos faróis, que se apresentam
com tecnologia LED
e mais esguios; à direita,
a transformação do tablier,
que pode incluir um ecrã
de 7 a 10 polegadas
Em baixo: o Renault Clio passa
a adoptar a nova linguagem
de design da marca, estreada
com o bem-sucedido Austral,
Carro do Ano em Portugal,
e também o nível
de equipamento Esprit Alpine
A traseira também foi mexida,
com o pára-choques a exibir as saí-
das aerodinâmicas. A gama inclui
uma escolha de seis difusores, de
acordo com os níveis de equipamen-
to, e as luzes surgem com coberturas
cristalinas.
No habitáculo, a Renault destaca a
inclusão de novos estofos e a utiliza-
ção de “materiais de origem biológi-
ca” (há um novo tecido com até 60%
de Æbras modais da Tencel, uma Æbra
celulósica de base biológica); no nível
Esprit Alpine, os acabamentos reme-
tem para uma envolvência desporti-
va, mas o couro foi banido. Em vez de
FOTOS: DR
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 31
motores
revestimentos com materiais de ori-
gem animal, o Clio passa a contar com
revestimentos TEP, um tecido reves-
tido a granulado feito de Æbras de
origem biológica e poliéster.
O sistema de infoentretenimento
passa a assentar num ecrã digital sem
moldura que, de acordo com o nível
de equipamento, pode ter entre 7 e
10 polegadas. O sistema multimédia
Renault Easy Link chega combinado
com as conÆgurações Multi Sente,
sendo compatível com os sistemas
Android Auto e Apple CarPlay.
Na tecnologia, destaque para a pos-
sibilidade de incluir até 20 sistemas
de assistência ao condutor, como o
assistente em viagem activo, que com-
bina o cruise control adaptativo, o
sistema de arranque e paragem auto-
máticos e a manutenção na faixa de
rodagem, a câmara de 360° e a trava-
gem activa de emergência com detec-
ção de ciclistas e peões.
Nas mecânicas, o Clio mantém as
propostas térmicas, a gasolina e a
gasóleo (TCe 90 e Blue dCi 100, res-
pectivamente, ambos acoplados a
uma caixa manual de seis velocida-
des), e híbridas (gasolina/electricida-
de e gasolina/GPL). Mas ainda assim
há novidades: o E-Tech Full Hybrid
chega com mais 5cv de potência, pas-
sando de 140 para 145 cv, enquanto
as emissões se mantêm nos 93 g/km,
ao passo que o 1300 cc a gasolina de
140cv é descontinuado. Já o TCe 100
GPL, que combina um tanque a gaso-
lina e outro a GPL para uma autono-
mia total de mais de mil quilómetros,
mantém-se na gama.
O renovado Clio começa a chegar
em Setembro e a garantia da Renault
Portugal é que não irá representar um
aumento de preço face ao que é pro-
posto actualmente: desde 20.415€.
Guia
publico.pt/motores
Novidades
Volkswagen ID.7
anunciado com
autonomia até 700km
A gama eléctrica da Volkswagen
tem um novo membro: o ID.7,
concebido para substituir a
actual Passat, é anunciado como
uma “limusine confortável para
viagens de longa distância”. O
modelo deverá chegar aos
mercados europeus e à China
ainda durante 2023.
Com quase cinco metros de
comprimento e assente na
plataforma MEB, o 7 é o primeiro
da família ID a incluir uma nova
geração de unidades motrizes,
cujo foco é a eficiência, e
também o mais potente entre os
modelos eléctricos da VW: 210
kW (cerca de 280cv). Na calha,
estão ainda baterias de
diferentes capacidades, que
poderão assegurar uma
autonomia de até 700
quilómetros e admitir
carregamentos ultrarrápidos, até
uma potência de 200 kW.
“O nosso objectivo é um alcance
de até 700 quilómetros, de
acordo com o WLTP, possível
graças a uma excelente
aerodinâmica e a um aumento
significativo da eficiência nas
áreas do grupo motopropulsor e
da gestão térmica”, observou Kai
Grünitz, do Conselho de Gestão
da Marca responsável pelo
Desenvolvimento.
O ID.7 é anunciado com um “novo
conceito de funcionamento”,
incluindo um ecrã para o sistema
de infoentretenimento de 15’’, um
visor de realidade aumentada,
bancos com massagem e
tejadilho panorâmico regulável,
podendo ser alternado entre
configurações opaca e
transparente.
Entre os sistemas de apoio à
condução, o ID.7 chegará com
assistente em viagem com swarm
data, que pode assumir o
controlo lateral e longitudinal do
veículo. E, quando chega a hora
de estacionar, é possível fazê-lo a
partir do exterior, recorrendo a
uma aplicação no telemóvel.
O novo ID.7 é um dos dez novos
modelos eléctricos que serão
lançados pela Volkswagen até
2026. Ainda neste ano, a marca,
além do ID.7, tem previstos o novo
ID.3 e o ID. Buzz de longa
distância entre eixos. Para 2026,
estão previstas as estreias de um
SUV compacto eléctrico e da
versão de produção do ID. 2all.
32 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Guia
Cinema
Porto
Cinema Trindade
R. Dr. Ricardo Jorge. T. 223162425
EO M12. 18h30; Quero Falar Sobre
Marguerite Duras M12. 17h30; As Oito
Montanhas M12. 14h30, 21h30; Nayola M14.
14h30, 19h15; O Leão das Sete Cabeças 16h;
A Mulher sem Cabeça M12. 19h30; A Idade
da Terra 21h30
Cinemas Nos Alameda Shop e Spot
R. dos Campeões Europeus 28 198. T. 16996
John Wick: Capítulo 4 M16. 13h10, 17h,
20h50; Dungeons e Dragons: Honra Entre
Ladrões M12. 13h50, 17h30, 21h10; Astérix
e Obélix M6. 14h30, 17h40 (VP), 20h40
(VO); As Oito Montanhas M12. 17h20;
Air M12. 15h10, 18h, 21h; Super Mario Bros.
O Filme M6. Sala Atmos - 13h30, 16h20, 19h
(VP), 21h40 (VO); Nayola M14. 15h, 21h20;
Beautiful Disaster - Um Desastre
Maravilhoso M14. 13h20, 16h, 18h45, 21h35
Medeia Teatro Municipal Campo Alegre
R. das Estrelas. T. 226063000
O Azul do Cafetã M12. 21h30;
Para Sempre Mulher M12. 18h30
Aveiro
Cinemas Nos Glicínias
C.C. Glicinias, Lj 50. T. 16996
John Wick: Capítulo 4 M16. 14h40, 22h10;
Dungeons e Dragons 14h30, 17h40; Astérix
e Obélix M6. 14h05, 16h40 (VP), 21h, 00h10
(VO); Air M12. 19h15, 21h50, 00h25; Super
Mario Bros. O Filme M6. 13h50, 16h20
(VP/2D), 18h50, 21h20, 23h40 (VO/3D);
O Exorcista do Vaticano M16. 14h, 16h30,
19h, 21h30, 24h; Beautiful Disaster
- Um Desastre Maravilhoso M14.
13h10, 15h50, 18h30, 21h10, 23h50
Braga
Cinemas Nos Braga Parque
Quinta dos Congregados. T. 16996
A Baleia M16. 13h40; Creed III M12. 13h05,
16h10, 00h35; John Wick: Capítulo 4 M16.
13h30, 17h10, 20h50, 23h10; Escola de
Coelhos - Missão Ovo Dourado M3. 16h20,
18h20 (VP); Dungeons e Dragons: Honra
Entre Ladrões M12. 14h, 17h20, 20h40,
00h10; Astérix e ObélixM6. 14h10, 17h (VP),
20h30, 00h30 (VO); Air M12. 13h25, 16h10,
19h10, 21h50, 00h35; Super Mario Bros.
O Filme M6. 13h15, 15h40, 18h (VP/2D), 21h,
23h30 (VO/2D) 21h30, 00h05 (VO/3D);
O Exorcista do Vaticano M16. 13h10, 15h50,
18h30, 21h10, 23h50; Beautiful Disaster -
Um Desastre Maravilhoso M14. 13h20, 16h,
18h40, 21h20, 24h
Cineplace Nova Arcada - Braga
Av. De Lamas. T. 253112913
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo
Tempo M14. 24h; Múmias M6. 14h30, 16h30
(VP); Gritos 6 M16. 19h15; John Wick:
Capítulo 4 M16. 14h05, 17h25, 21h; Escola
de Coelhos 15h, 16h45 (VP); Dungeons e
Dragons: Honra Entre Ladrões M12. 16h15,
18h50, 21h35; Astérix e Obélix15h35, 18h
(VP), 20h25 (VO); As Oito Montanhas M12.
14h25, 20h50; Air M12. 14h20, 16h45, 19h10,
21h30; Super Mario Bros. O Filme M6. Sala
Atmos - 15h, 17h05, 19h05 (VP); Nayola M14.
17h, 18h55; O Exorcista do Vaticano M16.
14h35, 16h50, 19h05, 21h20; Beautiful
Disaster - Um Desastre Maravilhoso M14.
14h, 17h30, 18h30, 20h45, 20h50; Super
Mario Bros. O Filme M6. 14h10 (VP/3D),
16h10, 18h10 (VP/2D), 21h05, 21h10 (VO/2D)
Coimbra
Auditório Salgado Zenha
Universidade de Coimbra. T. 239410408
Nayola M14. 16h
Casa do Cinema de Coimbra
Av. Sá da Bandeira 33. T. 239851070
Viridiana M16. 21h30; Interdito a Cães
Estreias
Soldado Nobre
De Jorge Vaz Gomes. POR.
2022. 62m. Documentário.
M12.
Estreia em realização do actor
Jorge Vaz Gomes, este Ælme
documenta a sua busca pela
história de Francisco Nobre, seu
bisavô, que combateu em França
durante a Primeira Grande
Guerra.
As Oito Montanhas
De Felix van Groeningen,
Charlotte Vandermeersch.
Com Luca Marinelli, Alessandro
Borghi, Lupo Barbiero,
Cristiano Sassella. ITA/BEL/
FRA. 2022. 147m. M12.
Bruno e Pietro conheceram-se na
infância. O primeiro nunca saiu
da pequena aldeia onde nasceu,
localizada no vale de Aosta, nos
Alpes italianos; o segundo
sempre viveu na cidade, mas
desde pequeno que ali passava
Air
férias. Agora, já adulto, Pietro
decide mudar-se para a aldeia e
recomeçar.
Air
De Ben Affleck. Com Matt
Damon, Jason Bateman, Ben
Affleck, Chris Messina, Viola
Davis. EUA. 2023. 112m. Drama.
M12.
Em 1984, a marca desportiva Nike
atravessa um momento difícil.
Phil Knight, o fundador, contrata
Sonny Vaccaro com o objectivo
de fazer crescer o negócio. É
então que Sonny tem uma ideia
arriscada: propor um contrato de
representação a Michael Jordan,
um jovem recém-contratado
pelos Chicago Bulls, e construir
uma linha de ténis à sua volta.
Beautiful Disaster - Um
Desastre Maravilhoso
De Roger Kumble. Com Virginia
Gardner, Dylan Sprouse,
Cartaz, críticas, trailers
e passatempos em
cinecartaz.publico.pt
Michael Cudlitz, Austin North.
EUA. 2023. 105m. Drama,
Romance. M14.
Abby entrou na universidade
disposta a começar um novo
capítulo da sua vida. Tudo parece
correr bem até se cruzar com
Travis, um atraente lutador de
MMA com fama de mulherengo,
que representa tudo o que ela
não quer para si.
Nayola
De José Miguel Ribeiro. Com
Feliciana Délcia Guia (Voz),
Elisângela Rita (Voz), Vitória
Adelino Dias Soares (Voz). POR/
HOL/BEL/FRA. 2022. 90m.
Drama, Animação. M14.
O realizador José Miguel Ribeiro
concebeu este Ælme de animação
a partir da peça “A Caixa Preta”,
escrita por José Eduardo
Agualusa e Mia Couto. A história,
ambientada em Angola entre os
anos 1995 e 2011, abrange a fase
Ænal da Guerra Civil angolana e os
primeiros anos de paz no país.
O Exorcista do Vaticano
De Julius Avery. Com Russell
Crowe, Franco Nero, Ralph
Ineson, Alex Essoe, Daniel
Zovatto. EUA. 2023. 103m.
Terror. M16.
O padre Gabriele Amorth,
exorcista principal do Vaticano, é
chamado para analisar mais um
caso de possessão demoníaca. Ao
tentar perceber a gravidade da
situação, vai deparar-se com uma
conspiração que a Igreja há muito
tenta ocultar.
e Italianos M12. 18h50; As Oito
Montanhas M12. 15h; Soldado Nobre M12.
17h40; Aos Dezasseis 21h
Cinemas Nos Alma Shopping
R. Gen. Humberto Delgado. T. 16996
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo
Tempo M14. 21h40; Múmias M6. 13h25, 16h,
18h20 (VP); A Baleia M16. 14h50, 18h,
20h50; John Wick 4 M16. 13h20, 17h10, 21h;
Dungeons e DragonsM12. 13h30, 17h20,
20h40; Emily M12. 21h20; As Oito
Montanhas M12. 14h10, 17h30; Air M12.
13h35, 16h25, 21h50; Super Mario Bros. O
Filme M6. 13h50, 14h30, 16h20, 16h45,
18h50 (VP), 19h30 (VO/3D), 21h30, 22h10
(VO/2D); Nayola M14. 14h20, 16h30, 19h, 22h
; Beautiful Disaster - Um Desastre
Maravilhoso 13h40, 16h10, 18h40, 21h10
Cinemas Nos Fórum Coimbra
Fórum Coimbra. T. 16996
John Wick: Capítulo 4 M16. 13h30, 17h20,
21h10; Dungeons e Dragons M12. 14h20,
17h40, 20h50; Astérix e ObélixM6. 13h20,
16h, 18h40 (VP), 21h20 (VO); Super Mario
Bros. O Filme M6. 14h10, 16h40, 19h20 (VP),
22h (VO); O Exorcista do Vaticano M16.
13h40, 16h10, 18h50, 21h30; Beautiful
Disaster - Um Desastre Maravilhoso M14.
13h50, 16h30, 19h10, 21h50
Matosinhos
Cinemas Nos MarShopping
Leça da Palmeira. T. 16996
John Wick: Capítulo 4 M16. 12h30, 15h50,
20h10, 23h40; Dungeons e Dragons 12h50,
15h40, 18h30, 21h30, 00h30; Astérix e
Obélix: O Império do Meio M6. 13h, 15h30,
18h10 (VP), 21h, 23h30 (VO); Air M12. 13h20,
16h20, 19h, 21h40, 00h10; Super Mario
Bros. O Filme M6. 12h40, 15h, 17h20, 19h40
(VP), 22h, 00h15 (VO); O Exorcista do
Vaticano M16. 14h, 16h30, 19h10, 21h50,
00h20; Beautiful Disaster - Um Desastre
Maravilhoso 13h30, 16h, 18h40, 21h20,
23h50; John Wick: Capítulo 4 Imax - 21h10;
Super Mario Bros. O Filme Imax - 13h40,
16h10, 18h40 (3D)
Cinemas Nos NorteShopping
C.C. Norteshopping, Lj 1117. T. 16996
A Baleia M16. 14h30, 17h30; Creed III M12.
13h05, 15h50, 18h20, 21h20, 00h15; John
Wick: Capítulo 4 M16. 12h50, 16h20, 20h10,
24h; Dungeons e Dragons: Honra Entre
Ladrões M12. Sala ScreenX - 14h, 17h20,
20h20, 23h40; Astérix e Obélix: O Império
do Meio M6. 12h20, 15h, 17h50 (VP), 20h30,
23h30 (VO); Air M12. 12h40, 15h30, 18h30,
21h30, 00h30; Super Mario Bros. O
Filme M6. Sala NOS XVISION - 13h, 15h20,
18h (VP), 20h40, 23h20 (VO); O Exorcista do
Vaticano M16. 13h10, 15h40, 18h40, 21h40,
00h20; Beautiful Disaster - Um Desastre
Maravilhoso M14. 12h30, 15h10, 18h10,
21h10, 23h50; Dungeons e Dragons: Honra
Entre Ladrões M12. 20h50, 00h10
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Creed III M12. 14h10, 17h20, 20h10, 23h20;
Gritos 6 M16. 00h25; John Wick: Capítulo 4
M16. 13h15, 16h50, 20h30, 00h10; Dungeons
e Dragons 14h30, 17h40, 20h50, 24h;
Dungeons e Dragons Sala 4DX - 14h, 23h30;
Astérix e Obélix: O Império do Meio M6.
13h45, 16h30, 19h10 (VP), 21h50, 00h30 (VO);
Super Mario Bros. O Filme M6. 13h10, 13h50,
15h40, 16h20, 18h10, 18h55 (VP), 20h40,
23h10 (VO); O Exorcista do Vaticano M16.
13h40, 16h10, 18h40, 21h10, 23h40; Beautiful
Disaster - Um Desastre Maravilhoso M14.
13h20, 16h, 18h50, 21h40, 00h20
UCI Arrábida 20
Arrábida Shopping. T. 223778800
Tudo em Todo o Lado ao Mesmo
Tempo M14. 15h, 18h30, 21h35; Avatar:
O Caminho da Água M12. 13h50, 21h10 (3D);
Tár M12. 17h55; A Baleia M16. 15h55, 21h30;
Creed III M12. 21h40; Quero Falar Sobre
Marguerite Duras M12. 19h10; Gritos 6 M16.
16h25; Shazam! Fúria dos Deuses M12.
13h20, 18h25; John Wick: Capítulo 4 M16.
17h40, 21h20; Dungeons e Dragons 13h15,
16h10, 22h; Emily M12. 14h05; Astérix e
Obélix 13h30 (VP), 16h05, 18h45, 21h30
(VO); Super Mario Bros. O Filme M6. 13h55,
16h30, 18h55 (VP/2D), 21h15 (VO/2D);
Nayola M14. 13h10, 15h25; O Exorcista do
Vaticano M16. 14h25, 16h55, 19h25, 21h55;
Beautiful Disaster - Um Desastre
Maravilhoso 14h15, 16h45, 19h15, 21h45
Vila Real
Cinemas Nos Nosso Shopping
Alameda de Grasse 244. T. 16996
John Wick: Capítulo 4 M16. 13h30, 17h20,
21h; Dungeons e Dragons M12. 14h20,
17h30, 20h30; Astérix e Obélix: O Império
do Meio M6.13h50, 16h20, 19h (VP), 21h50
(VO); Air M12. 13h, 15h50, 18h30, 21h10;
Super Mario Bros. O Filme M6. 13h10,
15h30, 18h (VP/2D), 20h20 (VO/3D), 22h30
(VO/2D); O Exorcista do Vaticano M16. 14h,
16h30, 19h10, 21h40; Beautiful Disaster -
Um Desastre Maravilhoso M14. 13h40,
16h10, 18h40, 21h20
 Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 33

Guia

Lazer Jogos Jogue também online.

Palavras-cruzadas, Euromilhões 17 21 23 35 37 10 11
bridge e sudoku em
1.º Prémio 86.000.000€
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TEATRO Cruzadas 12.041 Paulo Freixinho

Ela Lobo
COVILHÃ Teatro das Beiras.
Dia 19/4, às 21h30. M/12. 6€
Maria João Luís e Sílvia Figueiredo
dão vida à história de duas
mulheres desaparecidas numa
Çoresta. Como “duas plantas a
germinar numa estufa onde são
limpas, podadas e vigiadas para
que não se tornem pragas
selvagens e descontroladas”,
detalha a sinopse, estas mulheres
estão ali presas nos medos, nos
uivos e nas insónias de sempre,
para salvaguardar os equilíbrios
da biosfera. Porque, referem,
“uma mulher daninha pode
contagiar uma Çoresta inteira”. O
texto é de Ana Lázaro e vai a palco
numa produção do Teatro da
Terra.
palavrascruzadas@publico.pt
HORIZONTAIS: 1. Quer reunir grupo de países para negociar paz na Ucrânia. Impulso. 2.
Embarcação de recreio. Terraço ou açoteia. 3. Símbolo de nordeste. Exigem 60 milhões
para responder a “ruptura” orçamental nas universidades. 4. Cálice sagrado. 5. Símbolo de
centilitro. Ilharga, flanco. 6. Símbolo de Pascal. “Pedra queda, musgo (...)”. Apela a reunião
mundial para controlar o avanço da Inteligência Artificial. 7. Desde ontem, deixou de ser
obrigatória em lares e hospitais. 8. Aclamar. Erra. 9. Dança de origem escocesa. O chefe.
10. Viagem. Santarém e Alcanena juntaram-se para libertar um troço deste rio. 11. Residir.
Queimar.
VERTICAIS: 1. Jogo de azar. Pano branco e fino de algodão, para roupa branca (regional).
2. Vassourar o forno, depois de aquecido. Assustado ou medroso. 3. Autoridade Tributária
e Aduaneira. Emparelhar. 4. Relativo à noite (regional). Crómio (s. q.). 5. Artigo antigo.
Canadá (Internet). Não pára de subir. 6. Norma. Fictício. 7. País que pretende proibir a carne
criada em laboratório. Imposto sobre o Valor Acrescentado. 8. Argola. Símbolo de hectare.
Visto que. 9. Ampla. Haveres. 10. Cântico. Lutécio (s. q.). Abertura num fruto para ver se
está maduro. 11. Mulher formosa (fig.). Emanar.
Solução do problema anterior
HORIZONTAIS: 1. Medina. Ocar. 2. Amena. Erica. 3. Risota. Caim. 4. Cr. Vidro. Di. 5. Javre. Dar. 6. Co.
Oo. Gere. 7. Baal. Tem. 8. Inquilinos. 9. Nau. Aprovam. 10. Adiar. Ameia. 11. Rampa. Saras.
VERTICAIS: 1. Marco. Binar. 2. Emir. Canada. 3. Des. Joaquim. 4. Inova. Lu. AP. 5. Nativo. Iara. 6. Adro.
LP. 7. Re. Tiras. 8. Orco. Genoma. 9. CIA. Demover. 10. Acidar. Saia. 11. Ramires. Mas.

MÚSICA
João Fanha © Alastair Chisholm 2008
Projecto: Canção Bridge bridgepublico@gmail.com Sudoku www.indigopuzzles.com
PORTO Casa das Artes.
De 19/4 a 23/4. Grátis a 8€
Dador: Sul até acabar com três perdentes a ouros!).
Dedicado à canção de câmara ou Problema 11.854 (Fácil)
Como se pode verificar, todas estas
lied e programado pela APLied — Vul: NS linhas de jogo não funcionam neste caso.
Associação Portuguesa de Lied, o NORTE Mas existe uma solução que oferece uma
festival abre a segunda edição com Ƅ 983 boa probabilidade de sucesso e que ao
um recital do barítono Yuriy
Ɔ 852 mesmo tempo é brilhante! Qual?
Ƈ 64
Hadzedskyy e do pianista Pedro Depois de prendermos a vaza de saída
ƅ J10943
Costa (hoje, às 19h30). Nas pautas com o Ás de copas, a carta correcta a
OESTE ESTE jogar é a Dama de paus! Porquê? Se
deste ano estão ainda as notas de Ƅ2 Ƅ 754 jogarmos o Ás e a Dama de paus, a
Beatriz Maia e Gustavo Afonso Ɔ QJ107 Ɔ K9643 defesa poderá, caso os paus estejam 4-2,
(sexta às 19h30), a homenagem ao Ƈ KJ92 Ƈ 1075 fazer o Rei e jogar outro pau para o corte Solução 11.852
barítono José de Oliveira Lopes ƅ K862 ƅ 75 (de Este), o que limitará o número de
(sábado às 21h30), um Curso de paus firmes para fazer face às três
SUL
Interpretação de Lied e o concerto Ƅ AKQJ106 perdentes a ouros da mão. Seria
ƆA necessário contar com o Rei de ouros na
Ænal (domingo, às 18h). passagem. Assim que a defesa fizer o seu
Ƈ AQ83
ƅ AQ Rei de paus, o carteador terá tempo para

CINEMA
Porto Femme
PORTO Vários locais.
De 18/4 a 23/4. 5€/sessão
(restantes actividades gratuitas,
excepto workshop de Andreia
Nunes, a 20€)
Cento e vinte seis Ælmes vindos de
41 países, 21 estreias
internacionais e 36 nacionais, e a
presença de 39 realizadoras. Estes
são alguns dos números em cartaz
na sexta edição do festival que
reserva a tela para obras assinadas
por mulheres. Uma mostra de
cinema iraniano, uma
retrospectiva integral de Maria
Clara Escobar, uma homenagem à
cineasta Solveig Nordlund e outra
à actriz Adelaide Teixeira são
alguns dos destaques no
alinhamento, que se completa
com conversas, workshops,
exposições, performances e festas.
Oeste Norte Este Sul
2Ƈ1
passo 2Ɔ2 passo 2Ƅ
passo 4Ƅ passo 6Ƅ
Todos passam
Leilão: Qualquer forma de Bridge. 1 -
Forcing a partida; 2 - Nega ases, dois reis
ou 8 pontos
Carteio: Saída: QƆ. Qual a melhor linha
de jogo?
Solução: Uma linha possível é a de dar
um ouro para fora, para mais tarde cortar
um ouro no morto e tentar a passagem a
paus. Se o Rei de paus estiver na
passagem, ainda há tempo para cortar
um segundo ouro no morto. Uma linha
razoável, mas com tudo somado não
chega a 50%... Uma outra possibilidade
será tirar duas voltas de trunfo, deixando
o 9 no morto como entrada e prosseguir
com o Ás e a Dama de paus. Mas esta
linha é ainda pior do que a anterior, a
defesa simplesmente deixa fazer a Dama
de paus. Agora passa a haver duas
perdentes certas a ouros (e se não
conseguir cortar ouros no morto pode
desbloquear o Ás de paus e jogar três
voltas de trunfo a acabar no 9 do morto.
Três paus firmes para as três perdentes a
ouros. Se porventura a defesa decidir
deixar fazer a Dama de paus, jogamos Ás
de ouros e ouro para fora. O 8 e o 9 de
trunfo do morto encarregar-se-ão dos
dois ouros restantes da mão de Sul. Para
que tenha êxito, esta linha necessita Problema 11.855 (Média)
apenas de uma distribuição 3-1 ou 2-2
dos trunfos, em conjunto com os paus
não piores do que 4-2, tudo combinado,
dá mais de 64% de probabilidades de
sucesso.
Considere o seguinte leilão:
Oeste Norte Este Sul
1Ƈ
2ƅ X 3ƅ ?
Solução 11.853
O que marca com a seguinte mão?
ƄKQ102 ƆJ7 ƇAQJ92 ƅ84
Resposta: Desta vez não há garantias
quanto a haver fit, o parceiro pode não
ter quatro cartas a espadas, nem três a
ouros. O mais sensato é esperar pelo
desenrolamento do leilão, o parceiro
pode ainda ter mais qualquer coisa a
dizer e nessa altura estaremos em
melhor posição para decidir o que fazer.
A boa voz: passe.
34 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023

Guia

CINEMA Televisão Os mais vistos da TV

Segunda-feira, 17
RTP1 11,8% SÉRIE
Bom Dia, Vietname % Aud. Share RTP2 0,9 Foi Assim Que Aconteceu...
Hollywood, 12h05 Jornal da Noite SIC 9,7 20,4 Com o Teu Pai
Foi o Ælme que, em 1987, lançou O Preço Certo RTP1 8,3 21,6 SIC 15,2 Disney+, streaming
TVI
Festa é Festa VI TVI 8,3 17,2
Robin Williams para o estrelato 16,3 Estreia-se a segunda temporada
Jornal Nacional TVI 7,6 16,2
internacional, com um tipo de do spin-oè da sitcom Foi Assim Que
Cabo
Sangue Oculto SIC 7,5 16,3
personagem que lhe assentaria 41,2 Aconteceu. Criada por Isaac
FONTE: CAEM
como uma luva: o rebelde Aptaker e Elizabeth Berger, a série
brincalhão apostado em desaÆar a conta com Kim Cattrall (a
TVCINE TOP
autoridade. Aqui, encarna um DJ RTP1 RTP2 Samantha de Sexo e a Cidade) a dar
da rádio do Exército americano 18.25 Mistério em Saint-Tropez 19.55 voz a Sophie, a “mãe do futuro”
estacionado em Saigão, que ganha 6.09 Manchetes 3 6.30 Bom Dia 6.19 Cuidado com a Língua! 6.33 Astronauta 21.30 O Duque 23.05 Crime que, em 2050, vai narrando ao
enorme popularidade entre os Portugal 10.00 Praça da Alegria 12.59 Repórter África 7.00 Espaço Zig Zag em Hollywood 0.55 A Wedding for Ælho a longa história de como
soldados com o seu estilo Jornal da Tarde 14.23 Os Nossos Dias 10.52 Joga Quem Quizzer 11.16 Christmas 2.20 Olga conheceu o pai dele, quando era
extravagante e honesto. Foi neste 15.05 A Nossa Tarde Engenharia Antiga 12.11 O Palast 12.55 uma jovem fotógrafa (interpretada
papel que o actor foi nomeado 17.30 Portugal em Directo Nada Será Como Dante 13.25 por Hilary Duè ) na Nova Iorque de
pela primeira vez para o Óscar. 19.06 O Preço Certo Começar de Novo 13.53 Folha de Sala FOX MOVIES 2022.
19.59 Telejornal 14.00 Sociedade Civil 15.04 A Fé dos 18.05 Artemis: Hotel de Bandidos 19.31

Vice
AXN Movies, 15h31
Escrito e realizado por Adam
McKay, e protagonizado por
Christian Bale, é um Ælme
biográÆco sobre o percurso
pessoal e político de Dick Cheney,
o poderoso vice-presidente dos
EUA que ocupou o cargo nos anos
de governação de George W. Bush.
Nomeado para oito Óscares,
acabaria por ganhar apenas uma
estatueta dourada, pela
caracterização.
O Caminho de Volta
Hollywood, 21h30
Filme dramático de Gavin
O’Connor, com argumento de
Brad Ingelsby, sobre um momento
de viragem para um
ex-basquetebolista lendário que se
entregou à depressão e ao álcool.
Uma derradeira hipótese de
redenção surge quando é
convidado para treinar a sua
antiga equipa — que, tal como ele,
é hoje o retrato da decadência.
Ben Aëeck, Al Madrigal, Michaela
Watkins e Janina Gavankar dão
vida às personagens.
Longe da Terra Queimada
Cinemundo, 23h55
Quatro histórias conturbadas de
três gerações: dois adolescentes
mexicanos, Mariana ( Jennifer
Lawrence) e Santiago ( JD Pardo),
encontram o amor na trágica
morte dos pais; Maria (Tessa La),
uma menina sem mãe, vê a sua
vida transformar-se para sempre
no dia em que o pai sofre um
acidente de viação; Sylvia
(Charlize Theron), uma mulher
DOCUMENTÁRIOS
Homens 15.38 Fabrico Internacional Procurado 21.15 Ultimato 23.05
16.04 Do Rio ao Mar 16.59 Espaço Zig Velocidade + Furiosa 0.50 Rampart - O
21.01 Portugueses pelo Mundo — Zag 20.34 Folha de Sala 20.39 Itália, Renegado 2.29 Corrida Mortal
Comunidades os Lagos Românticos O Império dos Chimpanzés
Netflix, streaming
HOLLYWOOD Estreia. De James Reed, que
21.41 Porquinho Mealheiro 21.30 Jornal 2 18.05 Estado de Sítio 20.00 MIB - co-realizou com Pippa Ehrlich o
Homens de Negro II 21.30 O Caminho oscarizado A Sabedoria do Polvo,
de Volta 23.20 Rambo III 1.05 Infiltrado chega um novo trabalho
22.44 Cá porr Casa com Herman José 22.01 Os Crimes
imes documental apontado a outras
de Sommerdahl
dahl criaturas fascinantes: os
AXN chimpanzés. As imagens foram
0.15 Isabel 18.40 S.W.A.T.: Força de Intervenção captadas com recurso a câmaras
— Paixões 20.20 Mentes Criminosas 22.00 ocultas, como um olhar
e Passatempos
os Hudson & Rex 22.52 The Rookie 23.44 “inÆltrado” numa grande
Gangue em Campo 1.56 Hudson & Rex comunidade destes animais.
Filmado numa Çoresta do Uganda
22.44 Folha de Sala 22.54 Um Legado e narrado pelo actor Mahershala
Sangrento 23.52 A Viagem à Grécia FOX Ali, ilustra “complexas políticas
0.25 Sociedade Civil 1.30 O Que 17.21 C.S.I. Miami 18.54 Investigação sociais, dinâmicas familiares e
1.18 Janela Indiscreta Escondiam os Seus Olhos 2.50 Criminal: Los Angeles 20.32 Hawai disputas de território perigosas”,
2.05 A Nossa Tarde Ginástica Artística: Campeonato da Força Especial 22.16 FBI 23.04 FBI: anuncia a plataforma.
Europa 5.33 Faça Chuva, Faça Sol International 23.53 300 1.47 C.S.I.
Miami Itália, os Lagos Românticos
RTP2, 20h39
SIC TVI DISNEY CHANNEL
A paisagem, a história e as
tradições de lagos como o
6.00 Manhã SIC Notícias 8.15 Alô 6.15 Diário da Manhã 6.59 Esta Manhã 17.40 Miraculous - As Aventuras de Maggiore, o Como ou o Garda
Portugal 10.05 Casa Feliz 12.59 10.05 Dois às 10 12.58 TVI Jornal 14.55 Ladybug 18.30 Hamster & Gretel 18.55 revelam-se no documentário de
Primeiro Jornal 14.45 Linha Aberta A Única Mulher 16.05 Goucha 18.15 O Os Vilões de Valley View 19.15 Ultra Jean Hubert Martin, que se
16.05 Júlia 18.10 Flor do Caribe 18.55 Triângulo Violeta & Escorpião Negro 19.40 Marvel apresenta como “uma escapadela
Cheias de Charme Moon Girl e o Dinossauro Diabólico à doçura da vida dos lagos
italianos e à promessa de passeios
19.55 românticos inesquecíveis”.
19.58 Jornal da Noite Futebol: DISCOVERY
Inter Milão 17.00 Regresso às Origens 19.00 This Cop Life
x Benfica Aventura à Flor da Pele XL 21.00 ID, 22h
21.55 Sangue Oculto (Liga dos Campeões)
mpeões) Restauradores ao Resgate 23.00 Crime real, na perspectiva dos
Bombeiros em Acção 1.00 polícias em acção, é o que se pode
Restauradores ao Resgate ver na série documental que se
23.20 Flor sem Tempo estreia hoje, focada em
acompanhar o trabalho de um
HISTÓRIA grupo de jovens agentes nas ruas
17.10 Os 100 Dias 18.49 Top 10 da de Kent (Inglaterra).
0.30 Um Lugar ao Sol 21.55 Jornal N
Nacional
i l Antiguidade 20.52 O Inexplicável 22.15

perseguida pelo passado, procura
a remissão de antigos pecados; e,
Ænalmente, Nick ( Joaquim de
Almeida) e Gina (Kim Basinger)
formam um casal cujo amor
interdito é o ponto de partida de
tudo o resto. Longe da Terra
Queimada é um drama escrito e
realizado pelo mexicano
Guillermo Arriaga, colaborador e
argumentista de Alejandro
González Iñárritu em Babel e 21
Gramas.
1.20 Pantanal
2.30 Passadeira Vermelha 3.10
Original É a Cultura 3.45 Volante
4.00 Advnce
4.30 Investigação Criminal: Los
Angeles
22.15 Festa É Festa
23.00 Queridos Papás
23.25 Para Sempre 0.00 O Triângulo
2.10 Mundo ao Contrário 3.00
Queridas Feras 3.15 O Princípio da
Incerteza
2.26 Os Maiores Mistérios da História
ODISSEIA
17.35 Resgate de Animais Bebés 18.24
Uma Quinta, 9 Filhos e 1000 Ovelhas
19.56 A Minha Família e as Galápagos
21.31 Viagens de Comboio pelas Costas
Britânicas 22.30 O Equador: A Linha da
Vida 23.23 Expedição ao Árctico: Um
Ano no Gelo 0.18 Viagens de Comboio
pelas Costas Britânicas
DESPORTO
Futebol: Inter Milão x Benfica
TVI, 19h55
Directo. Depois de ter perdido na
Luz com o Inter Milão, por duas
bolas a zero, o BenÆca desloca-se
ao estádio San Siro, casa do clube
italiano, para a segunda mão dos
quartos-de-Ænal da Liga dos
Campeões. O espanhol Carlos del
Cerro Grande dirige a partida.
 Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 35

Guia

Meteorologia
PORTUGAL PRÓXIMOS DIAS PORTO
Viana do Castelo Quinta-feira, 20 Sexta-feira, 21 Sábado, 22
Bragança
10 º
20º
26º
9º 18º 11º 18º 10º 18º
Braga 6º
23 º Índice UV Muito alto Índice UV Muito alto Índice UV Muito alto
8º Vila Real
15º Porto Vento Fraco Vento Fraco Vento Fraco
23º Humidade 62% Humidade 73% Humidade 63%
1,8m 20 º 7º
11º

Viseu
Guarda
MEDIDOR DE CO2 QUALIDADE DO AR
Aveiro 26 º
21º 8º 25º Mauna Loa, Havai Portugal
10 º 7º Partes por milhão Porto Coimbra
(ppm) na atmosfera
Coimbra Valores por semana Lisboa Évora
23º
10º Semana de 9 Abr. 422,89
Castelo Branco Faro
Semana de 2 Abr. 422,54
Leiria 26º Há um ano 419,90
9º Há dez anos 397,93
21º Excelente Razoável
10º
Nível de segurança 350 Mau Não é saudável
Nível pré-industrial 280 Nada saudável Perigoso
Santarém
Portalegre
28 º
9º 27º
9º SOL LUA
Lisboa 20 Abr. 05h12
25 º 27 Abr. 22h20
11º Évora
Setúbal 29º
10º 5 Mai. 18h34
25º Nascente Poente Nascente Poente
10º
06h55 20h17 12 Mai. 15h28 06h36 19h45

Sines Beja EUROPA

23º 28º Helsínquia
12º 9º Oslo
Estocolmo
16º Talín

1,8m Riga
Copenhaga

Vílnius
Dublin Berlim
Amesterdão
Londres Varsóvia
Sagres 23º
15º Bruxelas
22º Faro Praga
12º Paris
Viena Budapeste
17º Genebra
1,2m
Açores Milão

Corvo Roma
Istambul
Madrid
Flores Lisboa
Graciosa 17º
15º Atenas
13º 2,5m
São Jorge 16º
17º 10º
2,5m
Faial
Terceira TEMPERATURAS ºC
Pico
18º São Miguel
Min. Máx. Min. Máx.
17º 11º Amesterdão 5 14 Roma 9 20
2,2m Atenas 10 20 Viena 5 11
Ponta Delgada
Berlim 5 10 Bissau 24 37
Sta Maria Bruxelas 3 15 Buenos Aires 11 19
Madeira Bucareste 8 16 Cairo 17 34
Porto Santo Budapeste 6 17 Caracas 19 31
Copenhaga 4 14 Cid. do Cabo 14 22
Madeira
20º 22º 21º 19º Dublin 5 12 Cid. do México 14 29
13º 15º
1m 1,8m Estocolmo 2 12 Díli 23 30
Frankfurt 3 15 Hong Kong 24 30
Funchal Genebra 6 18 Jerusalém 16 30
Istambul 10 18 Los Angeles 9 19
MARÉS Preia-mar Baixa-mar *de amanhã Kiev 8 16 Luanda 26 31
Londres 6 16 Nova Deli 24 37
Leixões m Cascais m Faro m
Madrid 10 25 Nova Iorque 9 18
09h16 0,4 08h50 0,6 08h46 0,4 Milão 10 23 Pequim 15 27
15h28 3,5 15h02 3,5 15h07 3,4 Moscovo 5 16 Praia 22 28
Oslo 4 18 Rio de Janeiro 22 26
21h32 0,4 21h05 0,6 21h00 0,5 Paris 7 18 Riga 6 15
03h45* 3,7 03h20* 3,7 03h27* 3,6 Praga 1 10 Singapura 25 33
Fontes: AccuWeather; Instituto Hidrográfico; QualAR/Agência Portuguesa do Ambiente; NOAA-ESRL
36 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023

Desporto Segunda mão dos quartos-de-Ɗnal da Liga dos Campeões

MASSIMO PINCA/REUTERS

Palestra de Roger Schmidt

durante o treino, já no relvado
do Estádio Giuseppe Meazza

Benfica vai a Milão

Diogo Cardoso Oliveira
Hoje, o BenÆca joga um pouco pelo
passado, muito pelo presente e tal-
vez ainda mais pelo futuro. Não será
teio favorável (sem “tubarões” até à
Ænal), a glória europeia, que escapa
desde 1962 — e utópica para os portu-
gueses no início de qualquer tempo-
rada —, estava ali bem perto.

com um pé no
fácil encontrar no passado recente
um jogo tão decisivo para os “encar-
nados” — desportiva e mentalmente
— como a partida frente ao Inter de
Milão (20h, TVI), da segunda mão
dos quartos-de-Ænal da Liga dos
Jogando pelo presente, o BenÆca
sabe que se construiu uma esperança
de conquista europeia pouco condi-
zente com uma queda frente ao Inter,
adversário sobre o qual havia uma
crença generalizada de que era infe-

heroísmo e outro
Campeões. A equipa portuguesa terá
de encontrar forma de sorrir sobre
leite derramado — e derramou bas-
tante nos últimos três jogos. Tem a
Champions por um canudo (derrota
rior aos portugueses.
Jogando pelo futuro, aquilo que
acontecer em Milão pode deÆnir o
que se vai passar desta quarta-feira
em diante. Uma queda será o tal pas-

na decepção
caseira, por 0-2, frente ao Inter), dei-
xou de estar a agarrar o campeonato
com as duas mãos e fá-lo, agora, com
um mero par de dedos (derrotas fren-
te a FC Porto e Desp. Chaves). E agora?
Agora caminha sobre o abismo de
quem pode, heroicamente, chegar às
so rumo ao abismo de quem jogou e
ganhou muito, mas agora tem jogado
e ganhado pouco. Por outro lado, a
passagem às meias-Ænais, até pelo
contexto heróico de quem reverteria

“Encarnados” vão caminhar sobre o abismo de quem pode,
heroicamente, chegar às meias-Änais da Champions ou deixar
fugir o que chegou a parecer mais possível do que nunca
12,5
meias-Ænais da Champions, e de
quem pode Æcar sem aquilo que pare-
ceu mais fácil do que nunca.
Jogando pelo passado, os “encar-
nados” sabem que sem dois golos
marcados em Milão vão deitar ao lixo
aquela que era, possivelmente, a O valor de golos sofridos
melhor probabilidade de meia-Ænal
(e até uma Ænal) da Champions nas
esperados. Apesar de só ter
sete, o Inter já “deveria” ter
últimas largas décadas. Com um sor- sofrido 12,5 na Champions

um 0-2, poderia ser o empurrão men-
tal de que a equipa parece carecer
neste momento. A penumbra viraria
luz e até o campeonato pareceria
mais controlado depois de um triun-
fo europeu deste calibre.
Quando jogadores e treinadores
dizem, na antevisão de uma partida,
que “no futebol tudo é possível”,
geralmente isso traduz um cenário
bem negativo para reverter. Mas nem
seria preciso ver António Silva e Roger
Schmidt traçarem esse cenário.
Atacar medindo o risco
Na primeira mão, o Inter preparou
uma “teia” difícil de desmontar. Um
3x5x2 que, defensivamente, é dos
sistemas mais equilibrados que um
treinador pode usar, porque permite
ocupar simultaneamente o espaço
central e os corredores com eÆcácia
semelhante — e Simone Inzaghi
usou-o nesse preceito. Se o Inter, que
é uma equipa pouco audaz, seria difí-
cil de desmontar com a eliminatória
em 0-0, alguém acredita que seja
mais fácil com 2-0 a seu favor?
A boa notícia para o BenÆca é que
o futebol não se faz de previsões des-
te tipo. Um golo cedo poderá ser o
bálsamo que embale os “encarna-
dos”, que até em meros lances de
bola parada podem virar um 0-2. Há,
ainda assim, a necessidade de corrigir
algumas coisas.
Com os criativos sempre por zonas
interiores, pareceu faltar ao BenÆca
frescura física, alguma qualidade téc-
nica para tirar pernas italianas da
frente e maior capacidade de fazer
rodar a bola com rapidez, fazendo
“dançar” o bloco adversário. Tam-
bém a exploração da profundidade
foi praticamente zero e, defensiva-
mente, houve um risco tremendo de
uma equipa que deixava a defesa em
quatro contra quatro com alguma
frequência — foi até assim que sofreu
o primeiro golo. E se com 0-0 houve
tanto risco, com 0-2 o risco “encarna-
do” poderá ser ainda maior, com a
névoa de um golo italiano que “mate”
a eliminatória. Ser audaz e poder
“morrer” pela audácia ou ser pacien-
te e poder “morrer” pela paciência?
É um dilema clássico do futebol joga-
do em eliminatórias.
Na antevisão da partida, Roger
Schmidt, treinador do BenÆca, reco-
nheceu que já não se está a falar de
uma eliminatória de 50/50 em maté-
ria de probabilidades, mas acrescen-
tou: “Já mostrámos a nossa capacida-
de de marcar golos. Precisamos de
equilíbrio e do nosso jogo ofensivo.
Com 0-2 e a experiência do Inter, é
uma situação perigosa, mas podemos
reverter a situação.”
Já Simone Inzaghi, técnico dos ita-
lianos, argumentou que o BenÆca “é
um adversário de grande valor, que
piorou em termos de resultados mas
não de jogo” e que “perdeu três jogos
numa semana, mas não signiÆca que
esteja em crise”. “Vamos tentar ter
uma noite tão boa como aquela em
Lisboa”, concluiu.
O cubo de Schmidt está desalinhado
Opinião
Nuno Sousa
Um inquérito promovido há dias
pelo jornal A Bola mobilizou 44 mil
leitores. A pergunta era clara: de
quem é a culpa da crise do BenÆca?
Independentemente da
metodologia ou do carácter mais
ou menos cientíÆco do
questionário, o que ressalta das
respostas é uma divisão
incontornável de opiniões,
dispersas entre o dedo do
treinador, a performance dos
jogadores, a interferência das
arbitragens e a gestão do
presidente, por esta ordem. Ainda
que não se conheça, até ver, um
ritual pronto-a-usar para exorcizar
o demónio da quebra de
rendimento, há pelo menos
motivos de sobra para reÇectir.
Permitam-me a liberdade de
olhar para este Benfica como um
cubo de Rubik. Seis faces, cada qual
com o seu exército de quadrados
coloridos, que desde cedo se foram
alinhando até se harmonizarem
numa ideia de jogo que convenceu
adeptos, dirigentes, analistas e
amantes mais desempoeirados do
futebol. Não foi preciso mais do que
um par de semanas para os
benfiquistas começarem a
presenciar o milagre da
desconstrução do legado de Jorge
Jesus e a preparar os joelhos para
venerarem um Messias criado sob o
telhado da geometria alemã. Nove
meses depois, um par de semanas
foi também quanto bastou para se
transformar o vinho em água.
Vamos por faces — as do cubo,
que foi deixando cair a aura de
mágico. Para começar, a estrutural.
O Benfica 2022-23 foi pensado e
custeado para contar com um
regente indiscutível e encontrou-o
na Argentina, logo à primeira
tentativa. Ao contrário dos anos
anteriores, não se formou um
plantel fechado (leia-se, com opções
a rodos), conferiu-se margem para o
Seixal respirar e assumiu-se o
mercado de Inverno como palco
para os retoques necessários.
Mascarar Chiquinho de Enzo
Fernández tem permitido ludibriar
alguns adversários, mas quando a
bola falta crescem as possibilidades
de um Carnaval, e a chegada dos
neófitos Tengstedt e Schjelderup
não passou de uma promessa de
futuro. Sobrou Gonçalo Guedes,
reforço de impacto e lesões
imediatos, solução e problema em
igual medida. E quase já nos
esquecemos de Draxler, que
embora tenha aterrado em Lisboa
nunca chegou verdadeiramente ao
futebol português.
Face dois, a mental. Ainda o
BenÆca não tinha feito o golo pouco
convincente com que pretendia
enganar o FC Porto, no clássico da
27.ª jornada, e já o Estádio da Luz
palpitava de desconÆança e
irritação, face à iminência de (mais)
um déjà vu. Havia dois resultados
convenientes para as “águias” e
nenhum se conÆrmou. O que se
conÆrmou foi que a versão
todo-o-terreno aÆnada por Roger
Schmidt não está (ainda?)
preparada para funcionar sobre o
tapete acidentado que o rival
costuma estender-lhe, defeito que,
para um adepto que se preze, é de
dimensão capital. E ao técnico
alemão, mais do que a língua
portuguesa, falta ainda perceber o
real impacto deste braço-de-ferro
genético, cultural, político e,
admitamos, também vagamente
desportivo. Pensar que os jogadores
conseguem passar incólumes
perante um vendaval de
desconÆança desta intensidade é
desaÆar os limites da ingenuidade.
Face número três, a física.
Deixemos de lado a paragem
competitiva forçada pelo calendário
das selecções (sim, mesmo sabendo
que esse argumento foi ontem
utilizado pelo treinador), para nos
concentrarmos na abordagem de
Schmidt, que não será nem melhor,
nem pior do que qualquer outra. O
BenÆca tem vivido semana após
semana de um núcleo duro
composto por 12, 13 jogadores,
gerando o sentimento generalizado
de que o técnico alemão tem
Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023 • 37
espremido o máximo sumo da
dúzia de laranjas que chamou para
a mesa. A montante, aceleraram-se
dinâmicas e rotinas que ajudaram a
consolidar uma ideia de jogo muito
dependente da condição física,
desde o gegenpressing às transições
ultra-sónicas pós-recuperação; a
jusante, sobrecarregou-se um naipe
de artistas que, à imagem de todos
os demais mortais, vivem períodos
de inevitável oscilação ao longo de
uma época. E, para a Æna Çor do
pensamento “encarnado”, não há,
no banco, sósias disponíveis. À
legítima pergunta sobre se Roger
Schmidt não deveria ter rodado
mais a equipa desde Agosto, pode
contrapor-se uma outra que reza
assim: será que o BenÆca teria
chegado onde chegou (10 pontos de
vantagem antes do clássico e
entrada imaculada nos
quartos-de-Ænal da Champions) se
Petar Musa, Mihailo Ristic ou João
Neves tivessem somado mais
minutos?
Quarta dimensão, a estratégica. À
derrota mentalmente castradora
com o FC Porto, seguiram-se dois
jogos sem Alexander Bah. O lateral
dinamarquês está longe de ser um
prodígio, mas não só garante mais
profundidade, mais qualidade nos
Para a fina flor do
pensamento do Benfica,
não há, no banco,
sósias disponíveis
JOSÉ SENA GOULÃO/LUSA
cruzamentos e mais chegada à área
contrária, como defende de forma
(ligeiramente) mais competente do
que Gilberto, um defesa que só de
vez em quando disfarça as muitas
lacunas que apresenta. Ora, para
uma equipa trabalhada para
alternar a construção entre
corredores, para fazer variações
rápidas e regulares do centro do
jogo, para criar dúvida permanente
no bloco defensivo contrário, esta
arma (a dinâmica da ala direita) Æca
inutilizada. E isso em Chaves foi
notório: em ataque posicional,
houve um BenÆca a construir um
pouco pelo corredor central
(obviamente mais protegido pelo
posicionamento Çaviense) e muito
pelo corredor esquerdo, a viver
quase exclusivamente do menu de
habilidades de Grimaldo. Num
momento de auto-estima reforçada,
talvez tivesse sido suÆciente. Neste
contexto, foi uma ode à
previsibilidade.
Quinta velocidade, a do discurso.
Mesmo a navegar em águas de
corrente contrária, Roger Schmidt
tem feito os possíveis por manter a
aura de gentleman impassível. Aqui
e ali, vai deixando cair uma ou outra
queixa da arbitragem, mas é Rui
Costa quem tem assumido mais o
combate das palavras. Ontem, o
presidente quis mostrar aos adeptos
mais aguerridos que o clube
também sabe jogar o campeonato
do ruído exterior, mesmo
consciente de que, ao queixar-se da
“pressão” de terceiros, poderá ser
acusado de usar idênticos recursos
para a mesma Ænalidade. Mas isso
só será notado por quem der real
valor à noção de coerência.
Sexta e última face, os
famigerados factores externos. Tal
como os concorrentes directos a
nível doméstico, o BenÆca já saiu a
ganhar e a perder na roleta das
decisões de arbitragem, mas o
engenho que foi mostrando para
contornar obstáculos tornou-o,
durante meses, num barreirista
silencioso. A posição está a
endurecer, não porque o
campeonato tenha praticamente a
meta à vista, mas porque a estrada
do título está cada vez menos
alcatifada, essencialmente por
culpa própria. Nas últimas jornadas,
convenhamos, o nível das
prestações dos árbitros não sofreu
alterações signiÆcativas — e isso não
é propriamente uma boa notícia —,
ao contrário do humor das massas
associativas dos candidatos. E um
estado de espírito é algo que só se
manobra com vitórias, o que, no
caso presente, passa por realinhar
um cubo que já foi mágico.
Jornalista
38 • Público • Quarta-feira, 19 de Abril de 2023
Desporto
AC Milan e Real Madrid avançam
para as meias-finais da Champions
Marco Vaza
Rafael Leão assistiu no golo
no empate que deu a
qualificação “rossonera” em
Nápoles. Rodrygo marcou
duas vezes ao Chelsea
Foi a noite dos históricos na Liga dos
Campeões. Real Madrid e AC Milan,
as duas equipas com mais títulos
europeus, qualiÆcaram-se para as
meias-Ænais da Champions. Os
“merengues”, detentores do título e
vencedores da prova por 14 vezes,
foram a Stamford Bridge ganhar ao
Chelsea por 0-2 (já tinham vencido
por 2-0 no Bernabéu), enquanto os
“rossoneri” só precisaram de um
empate em Nápoles (1-1), depois de
um triunfo há uma semana, por 1-0.
No caminho do Real estará, com
grande probabilidade, o Manchester
City (que está em vantagem na elimi-
natória com o Bayern), enquanto o
AC Milan Æcará atento ao que se pas-
sará na sua cidade no segundo jogo
entre Inter e BenÆca.
Em Stamford Bridge, o Chelsea
tinha a tarefa bem complicada de
anular uma desvantagem de dois
golos frente a um rival que é “proÆs-
sional” da Liga dos Campeões. Mas a
verdade é que o interino Frank Lam-
Borges cedeu à enorme pressão de Alcaraz
Pedro Keul
Era um desafio enorme aquele que
Nuno Borges antevia para a segunda
eliminatória do Barcelona Open e o
número um português não se enga-
nou. Carlos Alcaraz confirmou o por-
quê de ocupar o segundo lugar no
ranking mundial e encheu a Pista Rafa
Nadal, para gáudio dos compatriotas
nas bancadas, felizes por verem de
novo o campeão de 2022. Com uma
cobertura de court, agressividade e
competitividade irrepreensíveis,
Alcaraz acabou por dominar o encon-
tro, que terminou com 6-3, 6-1.
No início, Borges, 79.º no ranking,
teve dificuldades em colocar primei-
ros serviços e o espanhol de 19 anos
depressa saltou para 4-1. Quando o
número um luso apresentou maior
consistência, já Alcaraz se encontrava
em velocidade de cruzeiro. “Havia
Rodrygo, autor dos golos do Real, pressiona Cucurella, do Chelsea
pard conseguiu assustar o Real, mon-
tando uma equipa capaz de criar
várias oportunidades de golo.
Courtois foi mantendo a baliza do
Real fechada e, no momento certo,
os “merengues” acabaram com a eli-
minatória. Aos 58’, Militão lançou
Rodrygo em velocidade, a bola che-
gou a Vinícius no outro lado do cam-
po, que devolveu a gentileza para
Rodrygo fazer o golo. O Chelsea ainda
tentou reagir ( João Félix entrou aos
67’), mas foi o Real a marcar outra
vez, mais um de Rodrygo (80’), após
Carlos Alcaraz é o actual
número 2 do ranking mundial
DYLAN MARTINEZ/REUTERS
um excelente passe de Valverde.
No Estádio Diego Armando Mara-
dona, esperava-se massacre napoli-
tano e resistência milanista. Foi exac-
tamente o que aconteceu, com o
Nápoles a montar o cerco e a rondar
Quartos-de-final
Segunda mão
Chelsea-Real Madrid 0-2
Nápoles-AC Milan 1-1
Inter Milão-Benfica 20h, TVI
Bayern Munique-Man. City 20h, Eleven
claramente uma diferença no ritmo
de jogo. Ele jogava muito rápido e
mexeu-se incrivelmente bem; logo aí,
colocava muita pressão no meu jogo.
Não servi o meu melhor, mas também
porque sabia que precisava de arris-
car mais”, resumiu Borges.
O tenista da Maia salientou ainda a
importância da experiência de jogar
num ATP 500, diante de um adversá-
rio bastante cotado e num óptimo
ambiente. “Um jogo destes é muito
bom para me motivar para trabalhar
mais e querer chegar àquele nível,
jogar naqueles palcos mais vezes.
Acabou por ser uma experiência mui-
to enriquecedora”, frisou.
Alcaraz iniciou a época na terra
batida, em Fevereiro, conquistando
o título em Buenos Aires e chegando
à final no Rio de Janeiro. De resto,
conta somente com duas derrotas em
21 encontros realizados em 2023.
por todo o lado à procura de um sítio
para chegar à baliza de Maignan. O
AC Milan resistiu e, depois, reagiu.
Podia ter sido feliz aos 22’, depois de
assinalado um penálti após um lance
que envolveu os dois portugueses em
jogo — Mário Rui fez falta sobre Rafael
Leão —, mas Olivier Giroud permitiu
a defesa de Meret.
O internacional francês compen-
sou largamente o falhanço aos 43’, ao
marcar o golo do triunfo do AC Milan.
Mas o experiente avançado só teve de
encostar, depois de um magníÆco
trabalho de Rafael Leão. O avançado
português interceptou um mau passe
de Ndombélé no meio-campo e ace-
lerou campo fora, deixando meia
equipa do Nápoles pelo caminho
antes de entregar a bola redondinha
à disposição de Giroud.
O líder da Série A passou o jogo
todo a atacar, mas a defesa milanista
foi quase intransponível. Aos 81’, teve
oportunidade de se relançar na elimi-
natória, com um penálti que Kva-
ratskhelia desperdiçou — grande
defesa de Maignan. O guardião fran-
cês só não conseguiu segurar o cabe-
ceamento de Osimhen, já para lá dos
descontos. O golo não foi suÆciente
para impedir a qualiÆcação do AC
Milan para as meias-Ænais, algo que
não alcançava desde 2007, último ano
em que foi campeão.
Quem não conseguiu aproveitar o
factor casa para travar a crise de resul-
tados foi João Sousa (157.º), que, no
ATP 125 de Oeiras, perdeu frente a
Steven Diez (269.º), por 6-1, 6-3, em
69 minutos. “Estou bastante triste
com o meu desempenho e com a der-
rota. Estive apático, pouco agressivo,
a mexer-me mal… tudo errado. Ani-
micamente estas derrotas deitam
abaixo um jogador, ainda para mais
quando tenho 34 anos”, adiantou.
Afastados foram também Frederico
Silva (222.º), que perdeu com Andrea
Vavassori (172.º), por 6-2, 6-0, Duarte
Vale (375.º), eliminado por Juan
Manuel Cerundolo (123.º), por 6-4,
6-4, e Jaime Faria (583.º), derrotado
por Kimmer Coppejans (189.º), com
um duplo 6-2. A única vitória lusa foi
assinada por Pedro Sousa (462.º),
diante do compatriota Henrique
Rocha (551.º), por 6-3, 6-4.
Breves
Automobilismo
Rali de Portugal
deve manter-se
no Mundial até 2025
O Rali de Portugal deverá
manter-se no calendário do
Mundial, pelo menos até 2025,
revelou ontem o presidente do
Automóvel Club de Portugal
(ACP), na apresentação da
edição deste ano, marcada
pelo regresso à Figueira da
Foz. “Vamos assinar, muito em
breve [o contrato para a
continuidade da prova no
Campeonato do Mundo
(WRC)], por mais dois anos,
além deste”, disse Carlos
Barbosa. A prova começa a
disputar-se no centro do país
no dia 12 de Maio, com
passagens duplas pelos troços
em Lousã, Góis, Arganil e
Mortágua, antes da estreia da
superespecial na Figueira da
Foz. “Voltar à Figueira da Foz é
muito importante, pois fazia
parte da tradição do velho Rali
de Portugal”, vincou Barbosa.
Surf
Teresa Bonvalot
assegura vaga
olímpica em Paris
Teresa Bonvalot assegurou
uma vaga para Portugal na
competição feminina de surf
nos Jogos Olímpicos Paris
2024, confirmou a Associação
de Surf Internacional (ISA),
graças à 17.ª posição no
ranking da Liga Mundial de
Surf (WSL). A surfista de
Cascais, de 23 anos, esteve na
estreia da modalidade em
Jogos Olímpicos, ao conseguir
o nono lugar em Tóquio 2020.
Teresa Bonvalot assegurou
uma das oito vagas do circuito
da WSL, tal como a francesa
Johanne Defay, a brasileira
Tatiana Weston-Webb e a
costa-riquenha Brisa
Hennessy, enquanto as
restantes surfistas lutam
pelas outras quatro vagas.
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Quarta-feira, 19 de Abril de 2023

BARTOON LUÍS AFONSO

Lula da Silva e os porteiros do 25 de Abril

não a comemora, outra há que guerra e há quem pense em granítico na luta contra as
Sementes dela se apropria e que faz desenvolver esforços desigualdades sociais e ao lado
de alfarroba de conta que é a sua guardiã. internacionais para acabar dos trabalhadores. Minto. Há uma
Preferem o 25 de novembro, e não com ela. Uma loucura, uma exceção: a esquerda voltou às
perdem uma oportunidade de afronta. O próprio papa Francisco ruas e o poder sempre esteve e
dizer que é uma data mais tem dado opiniões muito sempre estará nas ruas. Atenção a
importante, mas gostam de fazer próximas das de Lula. Esta parte esta parte.
de porteiros das comemorações da esquerda e a direita portuguesa Nunca agradaremos a todos e

P
Carmo Afonso
rimeiro era por causa
da corrupção, apesar
de Lula da Silva ser
considerado inocente
pelo sistema judicial
brasileiro: as suas
condenações foram anuladas pelo
Supremo Tribunal Federal, tendo
este tribunal declarado que o juiz
Sérgio Moro foi parcial quando
julgou Lula. Mas decisões judiciais
são insuÆcientes para a direita
portuguesa. Para sempre Lula será
corrupto e, por isso, indigno de
pisar o chão da Assembleia da
República sobretudo no dia em
que se comemora a revolução.
Por mais voltas democráticas
que queiramos dar às coisas, e por
mais democráticos que todos
queiram ser ou parecer, há uma
coisa que não pode ser esquecida:
o 25 de Abril foi uma revolução de
esquerda.
Porque é importante dizer isto?
Porque, se existe alguma direita
que hostiliza a revolução e que
do 25 de Abril. É precisamente o
caso dos que se manifestam
contra esta ida de Lula da Silva à
Assembleia da República.
AÆrmam que é uma ofensa ao
grande dia da democracia.
Pensarão que é deles o fardo
de defender a honra do 25 de
Abril? É curioso porque não teria
existido revolução nenhuma se,
em 1974, as ruas estivessem
tomadas pela direita.
A democracia é de todos e isso é
muito bonito. Mas também é
bonito cada um saber qual é o seu
lugar e a sua seara. Ver a direita
portuguesa arrogar-se o papel de
defender as comemorações do 25
de Abril da presença de um
político de esquerda, como Lula
da Silva, é como ver alguém
opor-se à presença de um
aniversariante na sua festa de
anos.
Existe também parte da
esquerda liberal (peço perdão
pela antonímia) descontente com
a presença de Lula da Silva na
Assembleia da República.
Exatamente aquela parte da
esquerda que não consegue
aceitar análises da guerra da
Ucrânia que ultrapassem frases
simples e categóricas. A verdade é
que aquele conÇito serviu para
aproximar essa parte da esquerda
portuguesa à direita. Tem sido
obrigatório observar, ou escutar, o
uníssono que se criou e a caça
que, em conjunto, fazem a quem
se atreva a falar em paz ou em
negociações diplomáticas. Que
ideia tão inaceitável: há uma
estão prontas para hostilizar
grande parte da comunidade
internacional.
É uma parte da esquerda que dá
razão, e algum jeito, à direita.
E diga-se que também a direita
se tem prestado ao papel de
beneÆciar inÆnitamente o centro
esquerda ao mesmo tempo que
lhe dirige críticas ferozes, mas
estéreis: não se dirigem às
políticas e nem sequer às posições
de fundo, são ataques
instrumentais para chegar ao
poder. Há um vazio ideológico na
luta que separa a direita do centro
esquerda porque, tantas vezes,
parece ser tanto o que os une
como o que os separa.
Ouvir Lula da Silva discursar no
Parlamento no grande dia será
uma alegria para uma esquerda
que a merece. Os tempos não têm
sido fáceis. Entre o
emagrecimento nas últimas
eleições e a asÆxia de um país cada
vez mais virado à direita, não tem
existido muito espaço para a
existência de quem se revela
nunca seremos agradados por
todos. Mas a verdade é que não
houve tanta indignação quando
Marcelo esteve ao lado de
Bolsonaro nas comemorações dos
200 anos da independência do
Brasil ou num interminável rol de
situações em que para muitos não
foi agradável assistir à
representação portuguesa.
Lula da Silva representa a luta
contra a ditadura, a luta dos
trabalhadores e, agora, a derrota
da direita populista e a
correspondente vitória da
esquerda. É dessa matéria que é
feito o 25 de Abril — um golpe
militar, que foi uma revolução,
que foi uma festa. Seria bom que,
pelo menos os que amam a
revolução, acolhessem esta visita.
Lula da Silva é uma boa desculpa
para a esquerda e a direita se
desentenderem. Essa parte está
certa. Mas não deveria ser razão
para divisões à esquerda. Algo
está mal.
Advogada

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