Edição Lisboa • Ano XXX • n.º 10.

830 • 1,30€ • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • Director: Manuel Carvalho Adjuntos: Amílcar Correia, Ana Sá Lopes, David Pontes, Tiago Luz Pedro Directora de Arte: Sónia Matos

OE de pequenas
medidas para obter
excedente histórico
Orçamento do Estado 2020 Jovens pagam menos IRS nos primeiros anos
de trabalho • Governo reforça pensões mais baixas • IVA de electricidade
de carros eléctricos pode ser reduzido • Médicos nas urgências vão ser
mais bem pagos • Opinião de Susana Peralta e Ricardo Cabral Destaque, 2 a 9

LUÍS AFONSO

Conceição C
Crise na RTP Ministério da Amnistia regista
Amaral é a M
Maria Flor Pedroso Justiça remove 304 mortos em
nova presidente d
deixa direcção amianto em protestos contra
do Opart e
entre elogios da 39 tribunais Governo no Irão
a
administração e
Próxima responsável pelo c
críticas da redacção Material perigoso detectado Repressão conta ainda mais
São Carlos dirigia o Museu em 87 tribunais. Nem todos de sete mil prisões, diz a
PPolítica, 14/15
de Artes Decorativas p34 serão intervencionados p18 Amnistia Internacional p30
ISNN-0872-1548
2 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
DESTAQUE
Um OE de pequenas
medidas para
garantir excedente
histórico
Medidas adoptadas no Orçamento para 2020 são trunfos para a
negociação parlamentar e são compensadas orçamentalmente
pelo efeito positivo do crescimento da economia na receita
Sérgio Aníbal
A
lguns benefícios Æscais para
as empresas, novas isenções
Æscais para os jovens e para
quem tem Ælhos, um con-
junto de medidas amigas do
ambiente e dos animais,
várias mexidas no sector da saúde, e
a promessa de ir na especialidade um
pouco mais longe em algumas áreas,
por exemplo nas pensões. É com
medidas de pequena dimensão para
vários gostos, mas evitando altera-
ções que produzam um grande
impacto orçamental, que o Governo
pretende fazer passar no Parlamento
a primeira proposta de Orçamento do
Estado (OE) em democracia que
aponta para um excedente no saldo
orçamental.
Sem realizar mexidas de peso, seja
no sentido de uma mais forte conso-
lidação orçamental, seja no sentido
de aumentar a despesa ou reduzir a
carga Æscal, a proposta de OE para
2020, entregue ontem à noite pelo
Governo no Parlamento, deixa que a
expectativa de manutenção de um
ritmo de crescimento igual ao deste
ano, de 1,9%, faça o suÆciente para
prolongar por mais um ano a tendên-
cia de melhoria do saldo orçamental.
E desta vez com um marco histórico,
a chegada a um excedente, algo iné-
dito desde o 25 de Abril.
A despesa pública mantém o seu
peso no PIB, em 43,3%, e a receita
aumenta o seu peso de 43,2% para
43,5%. E assim se consegue chegar a
um excedente de 535 milhões de
euros, equivalente a 0,2% do PIB
(contra um déÆce de 0,1% este ano).
A dívida pública desce de 119,2% para
116% do PIB.
Quando, já perto da meia-noite,
entregou a proposta de OE na Assem-
bleia da República, Mário Centeno
classiÆcou-a, como tinha feito em
relação aos quatro orçamento ante-
riores, de “responsável” e “de contas
certas”. E destacou o facto de Portu-
gal atingir o seu objectivo de médio
prazo para o saldo estrutural, o que
signiÆca que a partir do próximo ano
o país deixa de estar obrigado pelas
regras orçamentais a apresentar
novas melhorias nesse indicador.
Mas se, relativamente a Bruxelas,
o ambiente é cada vez mais pacíÆco,
internamente ainda é preciso encon-
trar uma maioria parlamentar para
apoiar o orçamento. Para conseguir
fazer passar, à esquerda, um orça-
mento deste tipo, em que as receitas
superam as despesas, aquilo que o
executivo tem para mostrar nas nego-
ciações parlamentares que se seguem
é, para já, apenas uma série de peque-
nos trunfos, que têm a vantagem de
representar impactos comportáveis
para as metas orçamentais.
O maior desses trunfos é de
momento a aposta no sector da Saú-
de, com um reforço da dotação orça-
mental de 941 milhões de euros face
ao orçamento de 2019, um aumento
de 10,4%. No entanto, quando se com-
para o valor do orçamento com a
execução estimada para 2019, o refor-
ço é bem menos impressionante. São
525 milhões de euros, ou 4,9%, o que
signiÆca que uma grande parte do
aumento de verbas na Saúde serve
para diminuir a desorçamentação
crónica que se veriÆca no sector.
Depois, há as pensões. No docu-
mento, não é anunciado um aumento
das pensões extraordinário que vá
além do deÆnido pela regra de actua-
lização automática em vigor. No
entanto, o articulado do OE diz, de
Aumentos na função pública
N
a proposta de Orçamento
do Estado para 2020, o
Governo sublinha que o
“impacto global de todas as
medidas de valorização salarial
traduz-se num aumento de
despesa de 715 milhões de euros
face a 2019, o que corresponde
a um aumento médio dos
salários dos actuais
trabalhadores da Administração
Pública superior a 3,2% em
2020”, o que inclui o aumento
salarial de 0,3% anunciado aos
sindicatos e que provocou uma
forte reacção negativa dos seus
representantes. Isto para além
do efeito acumulado de
progressões e promoções na
sequência do descongelamento,
que terão um impacto
orçamental adicional de 527
milhões de euros.
Adicionalmente, o executivo
reitera que “comprometeu-se
desde já, em sede de
negociação sindical, com uma
actualização salarial em 2021,
igual à taxa de inflação esperada
para o próximo ano (acima de
1%)”, confirmando o
compromisso “de que a
actualização nunca será inferior
a esse valor, mesmo que a taxa
de inflação observada o seja. Por
outro lado, se a inflação
verificada em 2020 for superior
à estimada, o Governo
compromete-se a utilizar esse
valor como referencial de
actualização salarial”. “A partir
de 2020, além de todas as
medidas de valorização salarial
mencionadas, o Governo
tenciona continuar o reforço e
valorização de quadros na
Administração Pública,
nomeadamente através da
contratação de 1000 técnicos
qualificados”, uma medida que
se arrasta para 2020, depois de
sinalizada para este ano.

forma vaga, que “em 2020 o Governo
reforça as pensões de valor mais bai-
xo, de modo a aumentar os rendi-
mentos destes pensionistas e a com-
bater a pobreza entre as pessoas
idosas”, parecendo abrir uma porta
a uma negociação sobre esta matéria
na especialidade.
Na função pública, o que o Gover-
no quererá mostrar é um crescimen-
to de 3,6% nas despesas com pessoal,
acima do PIB nominal, em resultado
sobretudo do efeito do descongela-
mento das progressões decidido em
2018. O executivo diz que, juntando
progressões, promoções, actualiza-
ção salarial e revisão de carreiras,
haverá em 2020 715 milhões de euros
para valorização salarial total dos fun-
cionários públicos, mais do que os
666 milhões de 2019. No entanto, isto
não chegará para convencer os sindi-
catos, que irão centrar as suas críticas
na actualização salarial de 0,3% ofe-
recida pelo Governo, com base na
inÇação deste ano.
Há também medidas dirigidas aos
transportes — um novo apoio para o
reforço da oferta de transportes públi-
cos, cujo valor pode ir até aos 15
milhões de euros — e à habitação.
O presidente da Assembleia
mostra a proposta de
Orçamento que lhe chegou às
mãos perto da meia-noite
Nas empresas, o foco está essen-
cialmente nas PME. O Governo pro-
põe uma descida da taxa de IRC de
21% para 17% para os primeiros 25 mil
euros de lucro em PME, sendo que
nos valores acima a taxa Æca inaltera-
da. Para os particulares, as mudanças
mais relevantes ao nível do IRS acon-
tecem no apoio aos jovens que entram
no mercado de trabalho e aos pais
com duas crianças ou mais com
menos de três anos.
Todas estas medidas têm impactos
negativos no saldo orçamental, mas
a um nível relativamente moderado.
De acordo com as contas do Governo,
o impacto das medidas ao nível da
receita é o de uma redução de 92
milhões de euros. E, na despesa, o
acréscimo provocado pelas novas
medidas tomadas é de 898 milhões
de euros. No total, o impacto negativo
é de 970 milhões de euros, um valor
mais baixo que os 1219 milhões regis-
tados este ano.
NUNO FERREIRA SANTOS
Também ao nível das medidas tem-
porárias, o impacto negativo previsto
no OE é menor do que no ano passa-
do, especialmente pelo facto de o
Governo ter inscrito uma nova injec-
ção de capital no Novo Banco de 600
milhões de euros, quando em 2019
esta atingiu os 1149 milhões.
O impacto negativo destas medidas
é suÆcientemente baixo para poder
ser compensado pelo efeito positivo
na receita provocado pela evolução
da economia. E para isto contribui o
facto de o Governo actualizar os esca-
lões do IRS de forma muito ligeira:
apenas 0,3%. Este é o valor da taxa de
inÇação registada em Novembro e é
também equivalente ao aumento
salarial proposto para os funcionários
públicos, mas Æca substancialmente
abaixo da taxa de inÇação prevista
para 2020, de 1%, e da referência dada
pelo Governo para os aumentos no
sector privado (2,7%).
No Ænal, a carga Æscal, medida
como o peso no PIB da soma das
receitas Æscais e das receitas contri-
butivas, volta a subir, de 34,7% em
2019 para 35% do PIB.
sergio.anibal@publico.pt
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 3
As virtudes e os vícios
de um orçamento previsível
Editorial
Manuel Carvalho
C
inco anos depois, os
orçamentos assinados por
Mário Centeno e António
Costa transformaram-se em
episódios de absoluto tédio.
É bom que assim seja
porque, após anos de sobressalto
nas contas públicas, a
previsibilidade é sinónimo de
controlo e normalidade. É menos
bom que assim seja porque, após
anos de crescimento médio, o país
permanece remetido ao conforto da
gestão corrente e incremental.
Entre uma e outra perspectiva do
Orçamento para 2020, esboçam-se
os naturais conÇitos entre a direita e
a esquerda, entre a segurança
plácida do Estado e o risco da
iniciativa privada, entre o desejo de
um país que progride aos poucos e
os que defendem a aceleração. Uns
e outros têm razão parcial.
Centeno e Costa têm a seu favor
um trunfo que a direita ambicionou
nas últimas quatro décadas: contas
públicas no verde. Pode ser um
superavit de apenas 0,2%, mas esse
valor não pode ser descurado,
principalmente por aqueles que,
durante anos, censuraram o
despesismo e a vocação dos
governos para viverem acima das
suas possibilidades. Seja pela
estabilidade, seja pela reputação
internacional que propicia, seja pela
recuperação da soberania Ænanceira
plena que Portugal garantiu no
quadro das regras do euro, o
primeiro superavit da democracia é
um marco histórico que só a
esquerda mais radical tem motivos e
legitimidade para contestar.
Seria fácil pegar neste resultado e
abrandar o esforço de consolidação
orçamental. O Bloco ou o PCP
aplaudiriam, os sindicatos da
função pública montariam um
Acompanhe todos os
desenvolvimentos sobre
este tema em
www.publico.pt/oe-2020
arraial e as corporações que
orbitam em torno da despesa
pública fariam a festa. Ao recusar
essa via, o Governo revela
coerência. E coragem. Haverá
verbas para salários, para acabar
com o logro da suborçamentação
permanente da Saúde, para algum
investimento público ou até para
favorecer os mais jovens. Mas
haverá ao mesmo tempo cativações
e a crença de que a economia
sustentará o crescimento das
receitas por mais um ano. Não será
por falta de coerência que o
Governo pode ser criticado.
Poderá sim ser criticado por não
aproveitar o bom momento que
criou para traçar uma estratégia de
maior ambição. Uma estratégia que
começasse por desmantelar o
excessivo peso dos impostos. Que
impusesse uma agenda de reformas
capaz de tornar o Estado mais ágil,
como sugeriu o Presidente. Que
reequilibrasse a discussão política
para acolher uma modernidade
europeia onde entra a ciência, a
qualiÆcação, a inovação e a
iniciativa privada. Este, porém, é
um orçamento à imagem do
primeiro-ministro: cerebral,
calculista, táctico e impassível a
estados de alma. O ambiente, a
transição digital ou a demograÆa
mostram uma evolução. Mas mais
numa perspectiva de continuidade
do que de reformismo.
António Costa foi muito para lá do
que se julgava que fosse capaz. O
país premiou-o nas legislativas. O
OE de 2020 é o culminar e o
corolário desse percurso. Conservar
este rumo, com pequenos passos,
manterá Portugal como um
exemplo numa Europa onde a
incerteza e a angústia prosperam.
Nada mau. Mas talvez pudesse ser
melhor. É nos momentos de
bonança que se projectam os
melhores desejos. O nervo que o
país mostrou na última década, na
qualiÆcação, nas exportações ou no
dinamismo cientíÆco e cultural,
continuará à espera.
manuel.carvalho@publico.pt
4 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
DESTAQUE
Nova medida das deduções dos
filhos vale 24,3 milhões de euros
Impostos
Pedro Crisóstomo
Mantendo as taxas e os sete
escalões, Governo ajustou
os limites dos patamares de
rendimento. Englobamento
ficou de fora do Orçamento
A
ntes de se lançar no englo-
bamento dos rendimentos
e na revisão dos escalões do
IRS para dar mais progressi-
vidade ao imposto, o Gover-
no aposta em 2020 nalgu-
mas medidas com menos impacto
nas contas públicas e no bolso dos
contribuintes. Há duas bandeiras: um
imposto mais leve para os jovens que
chegam ao mercado de trabalho (ver
texto ao lado) e uma dedução de IRS
mais alta para quem tem dois ou mais
Ælhos até aos três anos. Esta última
medida tem um impacto orçamental
de 24,3 milhões de euros.
A isso soma-se outra novidade:
embora as taxas de IRS sejam iguais
e o número de escalões também
(sete), o Governo decidiu actualizar
as “balizas” dos níveis de rendimento,
isto é, os valores que deÆnem a pas-
sagem de um degrau para o seguinte.
O aumento previsto é de 0,3%. É
uma subida que Æca aquém da varia-
ção da inÇação esperada para o pró-
ximo ano (1%) e, por isso, nos casos
em que os salários sejam actualizados
a esta previsão, os contribuintes per-
dem poder de compra.
Eis como Æcam esses limites: o pri-
meiro patamar (ao qual se aplica a
taxa de 14,5%) vai até aos 7112 euros
de rendimento colectável anual (não
confundir com o rendimento bruto
anual), em vez dos actuais 7091 euros;
o segundo escalão (23%) vai dos ren-
dimentos colectáveis acima destes
7112 euros até aos 10.732 euros; o ter-
ceiro (28%) aplica-se aos rendimentos
de mais de 10.732 euros até aos
20.322; o quarto (35%) inicia-se no
valor imediatamente acima deste e
vai até aos 25.075 euros; o quinto
Executivo dá um incentivo aos pais
(37%) aplica-se aos rendimentos de
mais de 25.075 euros até aos 36.967
euros; a penúltima fatia de rendimen-
to (taxa de 45%) diz respeito aos ren-
dimentos acima destes 36.967 euros
até aos 80.882 euros; e o sétimo esca-
lão, o mais alto (48%), começa a apli-
car-se aos rendimentos superiores
aos 80.882 euros.
Para um casal (sem Ælhos) em que
cada um ganha 800 euros por mês
(22.400 euros brutos por ano no total)
esta actualização representa, se os
dois mantiverem o mesmo salário em
2020, uma melhoria líquida no ren-
dimento de uns escassos 84 cêntimos,
segundo uma simulação da consulto-
ra PwC que assume um cenário sim-
ples em que estes contribuintes não
Taxas de IRS em 2020
Rendimento colectável, em euros
Até 7112 14,5%
De mais de 7112 a 10.732 23%
Acima de 10.732 até 20.322 28,5%
Acima de 20.322 até 25.075 35%
Acima de 25.075 até 36.967 37%
Acima de 36.967 até 80.882 45%
Acima de 80.882 48%
Fonte: OE2020 PÚBLICO
As deduções por filho no IRS
CASAL
COM:
1 filho
* IRS a entregar em 2021
adolescente
Fonte: PÚBLICO/Proposta
de Orçamento do Estado para 2020
PAULO RICCA
têm outras despesas dedutíveis.
Se o salário de cada um for de 1500
euros mensais (42 mil euros brutos
anuais), a melhoria no rendimento
anual é de 7,13 euros. No caso de um
salário mensal de 2000 euros cada
(56 mil euros por ano), a subida no
rendimento líquido é de 14,87 euros.
As simulações assumem que o salário
de 2020 se mantém igual ao deste
ano, porque, no cenário de melhoria
ao valor da inÇação ou acima disso,
já se esperaria uma perda.
O Governo dá ainda um passo para
cumprir uma das peças do puzzle do
Programa de Governo, a de apoiar os
pais com Ælhos pequenos.
Aqui, o Governo aumenta as dedu-
ções de quem tem dependentes até
aos três anos, mas só para quem tem
dois ou mais Ælhos até esta idade, e
com uma nuance: a majoração aplica-
se apenas a partir do segundo depen-
dente. Na prática, um casal com dois
bebés só contará com uma dedução
mais generosa relativamente a um
desses Ælhos.
A dedução por Ælho continuará a
ser de 600 euros e a de uma criança
até aos três anos também se mantém
nos 726 euros. No entanto, este valor
sobe para os 900 euros se houver dois
Ælhos até aos três anos (só a partir do
segundo Ælho).
2019 2020 2019
600€ Igual 1 filho 726€
bebé
Jovens pagam menos IRS nos
primeiros anos de trabalho
Impostos
Pedro Crisóstomo
O
s jovens dos 18 aos 26 anos
que entrem no mercado
laboral depois de concluí-
rem o secundário ou o ensi-
no superior vão ter um
incentivo fiscal no IRS,
pagando menos imposto nos três pri-
meiros anos de trabalho. Para isso,
terão de comprovar ao fisco que reú-
nem as condições previstas na lei.
Os recém-formados ficarão isentos
de imposto relativamente a uma par-
te dos rendimentos, isto é, o IRS só
vai incidir sobre uma fatia do salário
anual. A versão final que deu entrada
no Parlamento na noite de ontem
prevê que a medida dure três anos. A
medida dirige-se apenas aos trabalha-
dores por conta de outrem, deixando
de fora quem começar a trabalhar a
recibos verdes.
Serão abrangidos os jovens que,
num ano, tiverem um rendimento
colectável até 25.075 euros. O rendi-
mento colectável não é o rendimento
bruto e, na prática, isso significa que
Licença obrigatória
paga a 100%
A
licença parental
obrigatória (gozada pelo
pai), passa de 15 para 20
dias pagos a 100%, como
tinha sido anunciado. Haverá
ainda uma “extensão da licença
para assistência a filhos com
deficiência ou doença crónica
aos casos de doença
oncológica (paga a 65%)”.
O Governo prevê gastar
30 milhões de euros.
E a partir do ano lectivo de
2020/2021 o Governo vai
atribuir às famílias o
complemento-creche, que
custará ao Estado outros cerca
de 30 milhões de euros. R.F.
2020 2019 2020
Igual 2 filhos 600€ + Igual
(1 adolescente 726€
e 1 bebé)
se aplicará aos jovens com um rendi-
mento bruto anual acima deste pata-
mar. Segundo cálculos da consultora
PwC, vai abranger os jovens com um
salário mensal bruto até 2084,21
euros.
No primeiro ano, os jovens só paga-
rão IRS relativamente a 70% do ren-
dimento colectável. A isenção é de
30%, mas com um limite: há tecto de
3291 euros, isto é, o valor que fica
isento não pode ser superior a este
montante.
No ano seguinte, as condições já
serão menos favoráveis. A isenção
será de 20%, sendo o valor máximo
excluído da tributação de 2194 euros.
No terceiro ano, a isenção passa a ser
de 10%, com um limite de 1097
euros.
Medida não é automática
Embora a taxa de IRS incida apenas
sobre uma percentagem do rendimen-
to, para determinar a taxa, o fisco vai
ter em consideração todo o rendimen-
to. Por outras palavras: para calcular
o IRS, vai olhar para todo o valor aufe-
rido, mas essa taxa só vai incidir sobre
uma parte, aquela que não está isenta
de acordo com esta nova norma.
Para desenhar a medida desta for-
ma, o Governo usou como base para
definir os tectos da isenção o Inde-
xante dos Apoios Sociais (IAS), um
indicador usado para determinar
prestações sociais e que deverá ser
de 438,8 euros em 2020.
Os 3291 euros correspondem à
soma de 7,5 IAS, os 2194 euros a cin-
co IAS e os 1097 euros equivalem à
soma de 2,5 IAS.
A medida não é automática. Para
beneficiarem desta redução, os
jovens trabalhadores terão de indicar
essa opção ao fisco. Terão de o fazer
até 15 de Fevereiro do ano seguinte
em relação ao ano em que comecem
a trabalhar por conta de outrem após
o fim do secundário ou do curso
superior. Nessa altura, terão de apre-
sentar à autoridade tributária um
certificado comprovativo de que con-
cluíram o ciclo de estudos.
pedro.crisostomo@publico.pt

2019 2020
2 filhos 726€ + 726€ +
(2 bebés) 726€ 900€
Governo garante reforço das pensões mais baixas
Reformas
Pedro Ferreira Esteves
N
a proposta de lei de Orça-
mento do Estado para 2020
ontem entregue no Parla-
mento, o Governo reforçou
a aposta no “aumento dos
rendimentos dos pensionis-
tas e combate à pobreza entre ido-
sos”. No entanto, o documento não
refere qualquer valor, não se com-
prometendo assim com o aumento
extraordinário de entre seis e dez
2019 2020
2 filhos 600€ + Igual
(adolescentes) 600€
euros aprovado nos últimos anos.
Assim, no documento pode ler-se
que em 2020 o executivo irá reforçar
as pensões contributivas de valor
mais baixo, “de modo a aumentar os
rendimentos destes pensionistas e a
combater a pobreza entre as pessoas
idosas”. O aumento extraordinário
dos últimos anos previu aumentar
adicionalmente as pensões mais bai-
xas até um mínimo de dez euros (seis
euros, nos casos que foram actualiza-
dos no passado), nivelando todas por
esse patamar de subida, independen-
temente da fórmula assente na inÇa-
2019 2020*
3 filhos 600€ + 600€ +
(1 adolescente 726€ + 900€ +
e 2 bebés) 726€ 900€
ção e crescimento económico.
Por outro lado, no caso do Comple-
mento Social para Idosos, compro-
mete-se a avaliar, em 2020, “as regras
de atribuição” desta prestação social,
“designadamente alargando até ao
segundo escalão a eliminação do
impacto dos rendimentos dos Ælhos
considerados na avaliação de recur-
sos do requerente”, o que aumenta o
leque de idosos abrangidos por este
apoio social.
ReÆra-se que as pensões mais bai-
xas vão aumentar, no próximo ano,
de acordo com a fórmula de cálculo
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 5
para as pensões, que assenta na con-
jugação dos valores da inÇação de
Novembro com os efeitos do cresci-
mento económico.
Assim, as reformas mais baixas
(inferiores a dois IAS – Indexante de
Apoios Sociais, cerca de 878 euros em
2020, segundo dados indicativos) irão
aumentar em 0,24%, acrescidos do
efeito do crescimento económico,
que se traduz em mais um quinto da
evolução do Produto Interno Bruto
sempre que se registarem dois anos
consecutivos com crescimento acima
de 2% (o que se irá veriÆcar em 2018
e 2019). Portanto, o aumento destas
pensões deverá ser de 0,7%, assumin-
do um crescimento médio do PIB
previsto de pouco mais de 2% e acu-
mulando os 0,24% do IPC com cerca
de 0,5% do PIB.
As pensões entre dois e seis IAS (até
perto de 2634 euros, segundo dados
indicativos) deverão aumentar 0,24%,
o valor do IPC sem habitação de
Novembro. As restantes praticamen-
te não sofrerão alterações, dado que
ao valor do indicador de referência
ainda há que descontar 0,25 pontos
percentuais.
6 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
DESTAQUE
Médicos que
trabalham nas
urgências vão
receber mais
Objectivo é reduzir o recurso a empresas
prestadoras de serviço que até Outubro
custaram ao SNS 97,7 milhões de euros
Saúde
Ana Maia
e Alexandra Campos
O A
s médicos que trabalham nas
urgências vão poder receber
mais para compensar “a
penosidade” e a “carga asso-
ciada ao trabalho” prestado
naqueles serviços. A medida
está prevista na proposta do Orça-
mento de Estado (OE) para 2020 ten-
do como objectivo reduzir o recurso
a empresas prestadoras de serviço,
que até Outubro custaram ao Serviço
Nacional de Saúde (SNS) 97,7 milhões.
Em 2020, o SNS contará com mais
942 milhões no seu orçamento face
ao ano passado.
“A ideia é ter uma autorização legis-
lativa que permita estudar um quadro
remuneratório diferente para os pro-
Æssionais de saúde nas urgências que
compense a penosidade e a carga
associada ao trabalho em urgência”,
explicou ao PÚBLICO fonte do gabi-
nete da ministra da Saúde. Numa
entrevista recente, Marta Temido
referiu que este era um tema sobre o
qual estavam a trabalhar.
Esta foi também uma das reivindi-
cações dos médicos durante o Verão,
quando as urgências de quatro das
maiores maternidades de Lisboa esti-
veram em risco de fechar. E mais
recentemente pelos chefes de cirurgia
do Hospital de Faro, que numa carta
enviada à administração pediram um
pagamento idêntico ao dos médicos
tarefeiros. Na proposta aÆrma-se que
o Governo “substitui gradualmente o
recurso a empresas de trabalho tem-
porário e de subcontratação de pro-
Æssionais de saúde pela contratação”
de médicos para os quadros. E acres-
centa que o Governo “Æca autorizado
a legislar” no âmbito das horas
extraordinárias feitas em serviço de
urgência. Dependendo do regime de
trabalho, os médicos têm de fazer 12
ou 18 horas de urgência dentro do seu
horário semanal. A nova legislação
será aplicada “desde que os respecti-
vos serviços de urgência estejam inte-
grados em urgências que tenham
concluído processos de revisão”.
Uma novidade que vem dar alguma
margem de manobra aos gestores dos
hospitais é a de que a lei dos compro-
missos e pagamentos em atraso vai
ser adequada à especiÆcidade do sec-
tor da saúde. Desde 2012 que os hos-
pitais públicos e outros organismos
da administração pública estão proi-
bidos de contrair novas dívidas se não
tiverem uma previsão de receita, até
três meses, que permita saldar estes
pagamentos em atraso, mas a propos-
ta de OE alarga estes prazos para o
dobro, ou seja, para seis meses.
Ao longo dos últimos anos, esta lei
tem sido muito questionada por
vários intervenientes, sobretudo
pelos administradores hospitalares,
por ser quase inevitável o seu incum-
primento neste sector cronicamente
endividado. “Os prazos de referência
previstos” previstos na lei dos com-
promissos e pagamentos em atraso
para “as entidades públicas empresa-
riais do sector da saúde com contrato-
programa são alargados para o
dobro”, estipula a proposta do OE.
Esta folga que é dada aos gestores dos
hospitais surge na sequência do
recente anúncio do Governo de que
vai disponibilizar, ainda este ano,
mais 550 milhões para que estas uni-
dades possam pagar dívidas em atra-
so aos fornecedores.
Cuidados continuados
Para 2020, haverá reforço da respos-
ta de cuidados continuados e paliati-
vos com a “contratação de 800 novas
camas de internamento com um cus-
to de cerca de 40 milhões”. A saúde
mental não Æcou esquecida, como
prometeu a ministra, e o OE prevê “a
contratação de 200 novas respostas
de saúde mental (encargos que ascen-
dem a 1,3 milhões)”. No que diz res-
peito aos centros de saúde, “haverá
um reforço da oferta de cuidados de
psicologia e nutrição em cada agru-
pamento de centros de saúde (ACES)
e a criação de dez equipas de saúde
mental comunitárias nas cinco admi-
nistrações regionais de saúde”. As
medidas têm um custo de 1,8 e de 2
milhões, respectivamente.
Taxa para dispositivos
O Governo volta também a insistir
numa ideia antiga, que até agora não
tinha conseguido concretizar. A cria-
ADSE: só registados
no e-factura
ADSE, o subsistema de
saúde dos funcionários
públicos, só vai financiar
os cuidados prestados aos
doentes que estejam
registados no sistema e-factura
e cuja descrição dos cuidados
prestados seja clara, de forma
a ser possível fazer a sua
identificação nas tabelas de
preços. Segundo a proposta
do OE, “não são objecto de
financiamento” pela ADSE
facturas que “não tenham sido
submetidas no sistema
e-factura, ou que tendo sido,
sejam objecto de anulação ou
emissão de nota de crédito”.
ção de uma contribuição extraordiná-
ria sobre a indústria dos dispositivos
médicos, à semelhança do que já
acontece para a indústria farmacêuti-
ca. Segundo o documento, a contri-
buição extraordinária será aplicada
aos “fornecedores, sejam fabricantes,
seus mandatários ou representantes,
intermediários, distribuidores por
grosso ou apenas comercializadores,
que facturem às entidades do SNS o
fornecimento de dispositivos médicos
e dispositivos médicos para diagnós-
tico in vitro e seus acessórios abrangi-
NUNO FERREIRA SANTOS
dos”. Ficam excluídos deste regime
“os dispositivos médicos para diagnós-
tico in vitro de grande porte destina-
dos ao tratamento e diagnóstico”.
O valor da contribuição é aferido
em função “do montante das aquisi-
ções de dispositivos médicos e tem
por objectivo garantir a sustentabili-
dade do SNS”. A taxa aplicar é variá-
vel de acordo com o volume de ven-
das. Assim, prevê-se que a um valor
anual maior ou igual a 10 milhões de
euros seja aplicada uma contribuição
de 4%; a um valor anual maior ou
igual a 5 milhões de euros 2,5% e a um
valor anual maior ou igual a 1 milhão
de euros e inferior a 5 milhões, a taxa
a aplicar será de 1,5 %.
O OE deÆne que a receita obtida
com esta contribuição será atribuída
a um “fundo de apoio à aquisição de
tecnologias da saúde inovadoras pelo
SNS”, que ainda vai ser criado pelos
ministérios das Finanças e Saúde.Está
ainda prevista um acordo para sus-
tentabilidade do SNS entre o Estado
e a indústria com a deÆnição de tectos
máximos de despesa com a compra
de dispositivos médicos e reagentes.
Hospital da Madeira
Fica ainda conÆrmado que o novo
Hospital Central da Madeira (orçado
em cerca de 340 milhões) vai ser co-
Ænanciado em 50% pelo Governo da
República, como tinha reclamado a
região autónoma e se tinha compro-
metido o primeiro-ministro em
Novembro passado.

SNS terá em
2020 mais
942 milhões
de euros do
que no ano
anterior
Arrendamento acessível dos
municípios com benefícios fiscais
Habitação
Luísa Pinto
Governo alarga limites
de endividamento dos
municípios e reforça
orçamento do IHRU, mas
penaliza donos de AL
O
Governo pretende dar aos
programas municipais de
arrendamento acessível os
mesmos benefícios Æscais
que estabeleceu para o pro-
grama nacional que está a
ser gerido pelo Instituto da Habitação
e da Reabilitação Urbana (IHRU): os
proprietários que coloquem fogos no
mercado de arrendamento acessível
respeitando os limites máximos de
renda que o Governo deÆne em por-
taria Æcarão isentos de tributação de
rendimentos. De acordo com a pro-
posta de Orçamento do Estado, Æcam
isentos de tributação em IRS e em IRC
“os rendimentos prediais obtidos no
âmbito dos Programas Municipais de
oferta para arrendamento habitacio-
nal a custos acessíveis”.
Em causa estão todos os programas
de iniciativa municipal que tenham
por objecto contratos de arrenda-
mento e subarrendamento habitacio-
nal por um prazo mínimo de arren-
damento não inferior a cinco anos e
que respeitem os limites Æxados por
portaria para cada concelho, e que
tem como base um desconto de 20%
das rendas medianas praticadas em
mercado livre.
São os mesmos critérios que o IHRU
está a aplicar no Programa de Arren-
damento Acessível que permitiu, até
Ænal de Novembro, realizar 78 contra-
tos. O IHRU é o organismo com que o
Governo quer pôr em prática as suas
políticas públicas de habitação, não
apenas fomentado o arrendamento
acessível, mas também resolver todos
os casos de carência habitacional até
ao cinquentenário da revolução dos
cravos.
Para 2020, o IHRU terá ao seu dis-
Governo pretende estender isenções a programas municipais
por um orçamento de 180 milhões,
dos quais 150 milhões de euros para
despesa efectiva em investimento em
políticas habitacionais ao longo do
território, quase duplicando o valor
orçamentado em 2019 (80 milhões de
euros).
A alteração introduzida no regime
de tributação do alojamento local
AL: incentivar
o arrendamento
O
s proprietários de
Alojamento Local (AL) que
tenham imóveis em áreas
de contenção definidas
pelos municípios (e
contabilidade simples
declarando menos de 200 mil
euros/ano) verão o rendimento
sujeito a tributação alargar dos
actuais 35% para os 50%. Já os
proprietários de AL que
transferiam a actividade dos
imóveis do segmento turístico
para o arrendamento
habitacional (por 5 anos), em
qualquer área do país, ficarão
isentos de pagar as mais-valias
a que hoje são obrigados.
NUNO FERREIRA SANTOS
criará, também, uma fonte de Ænan-
ciamento consignada e, por isso,
estruturante para as políticas de habi-
tação.
Quanto aos municípios, que têm de
aprovar as Estratégias Locais de Habi-
tação para se candidatarem a verbas
do 1.º Direito, poderão ver o seu limi-
te de endividamento “excepcional-
mente ultrapassado”, desde que seja
para a contracção de empréstimos
que se destinem exclusivamente ao
Ænanciamento do investimento em
programas de arrendamento urbano
e em soluções habitacionais promo-
vidas ao abrigo do programa 1.º Direi-
to e que façam esses empréstimos até
ao dia 25 de Abril de 2024.
O limite ao endividamento dos
municípios deÆne que a dívida total
não pode ultrapassar, a 31 de Dezem-
bro de cada ano, 1,5 vezes a média da
receita corrente líquida cobrada nos
três exercícios anteriores. E, cum-
prindo este limite, só pode aumentar,
em cada exercício, o valor correspon-
dente a 20% da margem disponível
no início de cada um dos exercícios.
Em 2020, o Governo quer alargar
para 30% este limite quando em cau-
sa estiverem operações de reabilita-
ção urbana.
luisa.pinto@publico.pt
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 7
O Orçamento do zero preto
Opinião
Ricardo Cabral
hora que concluo este texto
À
acaba de ser entregue a
proposta de Orçamento do
Estado de 2020 (OE 2020).
Contudo, alguns elementos
da proposta do Governo já
eram conhecidos.
Foco-me aqui num aspecto
particular. O OE 2020 apresentará
um zero preto, isto é, prevê um
saldo orçamental de +0,2% do PIB, a
primeira vez, nas últimas décadas,
que um Governo prevê um ligeiro
excedente orçamental. O zero preto
(i.e., saldo orçamental positivo, mas
próximo de zero), como lhe chama
Peter BoÆnger, antigo membro do
conselho dos sábios da Alemanha,
apesar de irracional, deixa
contentes muitos portugueses,
estou certo. A passagem do zero
vermelho (saldo orçamental
negativo, mas próximo de zero)
para o zero preto pode ser
confundida como um período de
transição de eras, de início de um
novo ciclo económico.
Contudo, já é há muito evidente
que o OE 2020 não iniciará um novo
ciclo económico. O zero preto é um
número demasiado parecido com o
zero vermelho, ou seja, registar um
ligeiro excedente ou um ligeiro
déÆce é irrelevante, mas a despesa
pública adicional faria muita
diferença. O Governo sinalizou que
pretende que o OE resulte numa
melhoria do saldo orçamental, i.e.,
na prática e na realidade, o Governo
pretende continuar a “apertar o
cinto”. Mesmo que esse “apertar do
cinto” seja e se sinta diferente dos
cortes de despesa de outros tempos.
O facto é que, no presente, a
trajectória de redução do peso da
dívida no PIB de Portugal é muito
acentuada, representando quase 5
pontos percentuais do PIB por ano.
Muito acima do que impõe a regra
europeia de redução da dívida, que
só obriga a uma redução de,
previsivelmente, 2,9 p.p. do PIB em
2020. Por conseguinte, não, o OE
2020 infelizmente não inicia um
novo ciclo económico, apenas
atravessa a barreira do zero preto
que acredito terá sido ultrapassada
na execução orçamental de 2019.
E um dos problemas desta
estratégia é que traduz a política do
nunca é suÆciente, do subir sempre
as fasquias, só para cumprir uma
meta nominal sem sentido algum.
Por conseguinte, o zero preto do
OE 2020 não é verdadeiramente
preto (positivo) para o país!
P.S.: Muito se tem falado no efeito
das cativações, mas há muitas outras
diÆculdades na execução dos OE por
parte das Administrações Públicas.
Uma delas é a Lei dos
Compromissos, que tende a
contribuir para tornar a gestão das
Administrações Públicas e a gestão
de projectos de investimento
público numa corrida de sucessivos
obstáculos intransponíveis. De
forma simpliÆcada, limita a
assunção de novos compromissos
Ænanceiros aos fundos disponíveis a
uma janela móvel de três meses. Em
resultado, as entidades do sector
público têm muita diÆculdade em
assumir compromissos de maior
dimensão porque a despesa prevista
ao longo de vários meses tem de ser
coberta por fundos existentes ou
receitas previstas num período
móvel de três meses. De acordo com
o PÚBLICO, com o OE 2020 os
hospitais-empresa passam a
implementar a lei dos compromissos
numa janela móvel de seis meses, o
que permite aumentar a receita
prevista e assim assegurar que a
assunção de novos compromissos
de despesa não é recorrentemente
travada por esta lei. Em suma,
cativações, lei dos compromissos e
outras medidas introduzidas em
diferentes leis para travar a despesa
pública em anos recentes devem ser
revisitadas, não para facilitar a
despesa pública mas para tornar as
administrações públicas mais
eÆcientes e mais céleres e para
minimizar o custo dessa despesa.
Economista
8 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
DESTAQUE
Alívio no IRC e outras mudanças
que interessam às empresas
Incentivos
Victor Ferreira
As PME terão taxa reduzida
de IRC (17%) sobre os
primeiros 25 mil euros.
Acima disso, mantém-se
a taxa de 21%
O
Governo propõe uma taxa
de 17% de IRC para os pri-
meiros 25 mil euros de
lucro em pequenas e
médias empresas.
Segundo a proposta do
Orçamento do Estado para 2020, o
restante lucro continuará a ser tri-
butado com uma taxa de 21%. A
conÆrmar-se esta medida, as PME
ganham uma margem de 10 mil
euros a uma taxa mais baixa, visto
que as regras ainda em vigor pre-
vêem a taxa de 17% para os primei-
ros 15 mil euros de lucro.
O Governo conÆrma assim a redu-
ção do IRC para a taxa reduzida
como era pedida pelos patrões, mas
não eleva tanto a fasquia como pre-
tendia a CIP, que propôs um tecto
de 50 mil euros.
Carros com novo limite
Para as empresas, o Governo pro-
põe também alterações na taxa da
tributação autónoma sobre viatu-
ras, que passa a 10% no caso das
viaturas com um custo de aquisição
até 27 mil euros. No regime ainda
em vigor, esse limite é de 25 mil
euros. Ao mesmo tempo, a taxa de
27,5% passa a aplicar-se a todas as
viaturas que custem entre 27.500 e
35 mil euros. Esta taxa de imposto
aplica-se, no quadro actual, aos car-
ros entre 25 mil e 35 mil euros. Para
os carros que custam acima deste
valor, mantém-se a taxa de 35%.
As referidas taxas são válidas para
motores de combustão interna. Os
eléctricos continuam isentos e os
híbridos plug-in, bem como os movi-
dos a GPL ou gás natural continuam
a beneÆciar de taxas mais reduzidas.
Proposta inclui alterações ao regime fiscal sobre o investimento
Outra medida relacionada com o
lucro tributável e que interessa às
empresas é que o OE passa a prever
que o agravamento em 10% das taxas
de tributação autónoma quando as
empresas apresentem prejuízo Æscal
no exercício em causa deixa de se
aplicar quando se trate de novas
empresas. Estas podem assim somar
Trabalho por turnos
será analisado
O
Governo compromete-se
a apresentar, no ano que
vem, um estudo “sobre a
extensão, as
características e o impacto do
trabalho por turnos” em
Portugal, tendo em vista “o
reforço” da protecção social
deste tipo de trabalhadores. O
estudo em questão deve incluir
recomendações que ajudem a
assegurar que a laboração
contínua “é efectivamente
utilizada apenas em situações
que a exigem”. Pretende-se
analisar os tempos de
descanso “entre turnos e entre
mudança de turnos”. L.V. e L. B.
ADRIANO MIRANDA
prejuízos Æscais nos dois primeiros
exercícios (o de início de actividade e
seguinte), sem terem de lidar com
aquele agravamento.
Passes com majoração
As empresas que comprem passes
sociais aos funcionários passam a
poder deduzir esse gasto em sede de
IRC com uma majoração de 0,3. Isto
signiÆca que os gastos, para efeitos da
determinação do lucro tributável em
IRC, são considerados “em valor cor-
respondente a 130%”.
Também o desconto pela metade
na determinação do lucro tributável
sobre os rendimentos obtidos com
direitos de propriedade passa a
incluir os direitos intelectuais (e não
só os industriais) e direitos de autor
sobre programas de computador.
O Governo propõe ainda duas alte-
rações relevantes no Código Fiscal do
Investimento: alargar de três para
quatro o número de anos incluídos
no prazo em que as empresas podem
deduzir até 10% dos lucros retidos e
que sejam reinvestidos em “aplica-
ções relevantes”; e elevar de 10 para
12 milhões o montante máximo dos
lucros retidos e reinvestidos em cada
período de tributação.
voferreira@publico.pt
Superavit e imaginação fiscal
Opinião
Susana Peralta
O
último OE da década é o
primeiro que prevê um
superavit em democracia. É
uma boa notícia para um
país endividado e mostra
que a consolidação
orçamental era compatível com a
devolução de rendimentos dos
últimos anos. A TINA morreu de
vez. Para 2020, os sindicatos tinham
posto em cima da mesa aumentos
salariais na função pública de 3% e
obtiveram do Governo 0,3%. A
reposição das progressões nas
carreiras da função pública vai, na
prática, levar a aumentos que se
aproximam dos 3% pedidos pelos
sindicatos. Portanto, este OE
representa alguma continuidade
relativamente aos da última
legislatura, que foram repondo os
rendimentos da função pública.
Conjugado com os 800 milhões
para o SNS, é provável que isto
chegue para o OE ser aprovado (ou,
pelo menos, não rejeitado) pelos
partidos da esquerda parlamentar.
É frequentemente na parte Æscal
que o OE é mais imaginativo. Já
sabemos que o Governo vai tentar
aplicar taxas de IVA diferenciadas
aos consumidores de electricidade,
uma medida que Bruxelas
diÆcilmente aprovará. No IRS,
temos taxas inalteradas e alterações
dos escalões que acompanham
(quase) a inÇação. E depois
aparecem benefícios acrescidos
para famílias com crianças menores
de três anos. No IRC, nasce um novo
escalão para as PME. Esta
imaginação Æscal não tem nada de
errado em si, mas é um pouco
excêntrica quando em Portugal há
tão poucos estudos sérios sobre os
efeitos dos impostos. É possível que
esta multitude de regras especiais
para as PME crie incentivos para
que as empresas não cresçam? Há
alguma razão para o IRS discriminar
os menores de três anos? Não seria
melhor ter creches públicas? Para
quando um programa sério de
investimento em isolamento
térmico nas habitações dos mais
desfavorecidos, que atenue o
problema da pobreza energética?
Eu não tenho respostas para estas
perguntas; mas duvido de que o
Governo as tenha, portanto,
parece-me pouco prudente tanta
inovação todos os anos.
Quando se lê um OE, mesmo
preliminar, há sempre o momento:
“Explica lá outra vez que essa eu
não percebo mesmo.” O artigo
258.º permite que empresas e
trabalhadores independentes
deduzam 140% dos donativos que
Æzerem para a organização das
Jornadas Mundiais da Juventude.
Ou seja: por cada dez euros doados,
reportam custos de 14 euros.
Simpático. Já o artigo 211.º fala da
dedução dos custos com passes
sociais para as empresas que os
paguem aos empregados. Neste
caso, são 130%. Portanto, com a
emergência climática aí à porta, e
depois da comovedora carta do
ministro do Ambiente a Greta
Thunberg, o OE de um Estado laico
considera que têm mais valor social
as Jornadas Mundiais da Juventude
do que incentivar a utilização de
transportes públicos.
Falta uma hora para acabar o dia
16 de Dezembro e o OE ainda não foi
entregue. Estou a escrever este
texto com base na proposta
preliminar a que o PÚBLICO teve
acesso. Um OE não se escreve de
véspera e não é um pedido de
última hora. Esta eÆciência na
gestão deixa-me dúvidas sobre o
artigo 25.º, que determina que os
dirigentes dos serviços públicos vão
“favorecer a conciliação da vida
proÆssional com a vida pessoal e
familiar, utilizando todos os
instrumentos legais que permitam
abordar as necessidades
diferenciadas manifestadas pelos
seus trabalhadores, nomeadamente
regimes de prestação de trabalho e
modalidades de horário”.
Professora de Economia
na Nova SBE

Só as bebidas
menos
açucaradas
escapam
Consumo
Isabel Aveiro
O A
imposto especial sobre o
consumo (IEC) que recai
sobre as bebidas não alcoó-
licas açucaradas – que entrou
em vigor, ainda numa versão
de dois escalões, em Feverei-
ro de 2017 – tem actualmente quatro
escalões, tributados por hectolitro de
produto acabado.
A introdução, em 2019, de mais
dois escalões na tributação que incide
sobre, por exemplo, refrigerantes,
mas isenta sumos e néctares de fru-
tos, serviu essencialmente para levar
à redução voluntária de açúcar no
produto Ænal por parte dos fabrican-
tes, e era compreendida pelo sector.
Na proposta de Orçamento do Esta-
do para 2020, nas bebidas com 25
gramas de açúcar por cada litro, a
taxa mantém-se em um euro por cada
hectolitro. Tudo o resto sobe, na gran-
de maioria cerca de 0,30%. Assim,
nas bebidas com grau de açúcar entre
25 e 50 gramas de açúcar por cada
litro, a tributação passa de 6 para 6,02
euros por hectolitro. No terceiro esca-
lão, entre 50 e 80 gramas de açúcar
por cada litro, a taxa passa de 8 para
8,02 euros por hectolitro. No último
escalão, das bebidas mais açucaradas,
com 80 ou mais gramas de açúcar por
cada litro, a taxa é elevada de 20 para
20,06 euros por hectolitro.
Tabaco aquecido sobe
O tabaco aquecido vai passar a ter um
artigo próprio no Código de Impostos
Especial de Consumo (IEC) em 2020.
E é tributado ao grama no elemento
específico e ad valorem . O elemento
específico será de 0,0837 euros (ou
oito cêntimos) por grama de tabaco
aquecido e o elemento ad valorem
(cobrado sobre o valor e não sobre as
unidades) de 15%, o que traduz um
agravamento face a 2019.
isabel.aveiro@publico.pt
IVA da electricidade dos carros
eléctricos pode ser deduzido
Alterações climáticas
Ana Brito
Governo vai manter
incentivos à compra de
veículos eléctricos e tentar
criar escalões de consumo
de electricidade
O
s incentivos à mobilidade
eléctrica vão manter-se no
próximo ano. Além do
apoio à compra de veículos
não poluentes, o Governo
também vai incentivar a
sua utilização com a autorização da
dedução a 100% do IVA das despesas
com a electricidade utilizada nos
carregamentos.
Segundo a proposta de Orçamen-
to do Estado para 2020 que o Gover-
no entregou na Assembleia da Repú-
blica, passam a poder ser deduzidas
as “despesas respeitantes a electri-
cidade utilizada em viaturas eléctri-
cas ou híbridas plug-in”.
O Governo também irá manter os
incentivos à compra de veículos
eléctricos, embora na proposta de
OE não sejam revelados nem os
montantes, nem a quantidade de
cheques disponíveis.
A proposta refere que se mantêm
os incentivos à compra de automó-
veis, motociclos, ciclomotores e
bicicletas, contudo, os termos do
apoio serão ainda deÆnidos por des-
pacho do Ministro do Ambiente e da
Acção Climática, João Pedro Matos
Fernandes. Para estes cheques, que
são Ænanciados pelo Fundo Ambien-
tal, haverá, segundo a proposta,
“um reforço da dotação para qua-
tro milhões de euros”.
A medida que já se conhecia
O Governo também pretende obter
uma autorização legislativa para
“criar escalões de consumo de elec-
tricidade” e cobrar IVA mais baixo a
quem consumir menos energia.
Estes escalões de consumo serão
“baseados na estrutura de potência
15
Transportes públicos vão
ter um novo apoio de 15 milhões
de euros onde for identificada
falta de oferta
Compra de carros eléctricos volta a ter apoios em 2020
contratada existente no mercado
eléctrico” e permitirão aplicar “aos
fornecimentos de electricidade de
reduzido valor” a taxa reduzida de
IVA (6% no continente, 5% na Madei-
ra e 4% nos Açores) ou intermédia
(13%, 12% e 9%, respectivamente).
O objectivo é “alterar as Listas I e
IVA desce no zoo
e sobe na tourada
S
egundo o OE2020, as
entradas nos jardins
zoológicos, jardins
botânicos e aquários
públicos vão passar a pagar a
taxa reduzida de IVA de 6%, à
semelhança do que é aplicável
a espectáculos de canto,
dança, música, teatro, cinema
e circo (exceptuando-se “as
entradas em espectáculos de
carácter pornográfico ou
obsceno”). Saem desta lista do
IVA reduzido as entradas para
as touradas, que passam a
pagar a taxa máxima (23%),
uma proposta que tinha caído
no último Orçamento.
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 9
ANDRÉ RODRIGUES
II anexas ao Código do IVA no sen-
tido de criar escalões de consumo,
permitindo a tributação à taxa redu-
zida ou intermédia de IVA dos for-
necimentos de electricidade relati-
vos a uma potência contratada de
baixo consumo”, refere a propos-
ta.
O Governo quer “delimitar a apli-
cação” destas taxas “de modo a
reduzir os custos associados ao con-
sumo da energia”. Diz o documento
que assim se protegem “os consu-
mos finais” e se mitigam “os impac-
tos ambientais adversos que decor-
rem de consumos excessivos de
electricidade”.
A medida tem de “passar”no
Comité do IVA da Comissão Euro-
peia. Na semana passada, o primei-
ro-ministro revelou ter enviado uma
carta à Comissão Europeia a pedir
sensibilidade política para um esca-
lonamento do IVA da electricidade.
Apesar de a medida ir contra o prin-
cípio europeu da neutralidade fiscal,
o argumento do Governo português
é o de que o escalonamento permite
“combater as alterações climáticas”,
desencorajando consumos excessi-
vos de electricidade.
ana.brito@publico.pt
Tarifas
eléctricas
descem 0,4%
em Janeiro
Energia
Ana Brito
Entidade Reguladora dos
Serviços Energéticos
(ERSE) conÆrmou ontem,
no mesmo dia em que foi
entregue o Orçamento do
Estado para 2020 no Par-
lamento, que os preços da electrici-
dade para os clientes residenciais
que ainda estão no mercado regula-
do vão cair 0,4% no próximo ano,
conÆrmando a proposta feita em
Outubro.
Segundo os dados da ERSE, o mer-
cado regulado tem ainda cerca de
1,04 milhões de clientes, dos quais
quase um milhão são clientes domés-
ticos. Nos cálculos da entidade lide-
rada por Cristina Portugal, a descida
representará uma poupança de cer-
ca de 18 cêntimos na factura mensal
de uma família com um encargo
médio mensal de 43,9 euros.
Nos consumidores com tarifas
sociais prevê-se, segundo a ERSE,
uma poupança mensal de 11 cênti-
mos (isto para uma factura média de
27 euros, que já inclui um desconto
social mensal de 13,79 euros).
As tarifas de acesso às redes (que
são pagas por todos os consumido-
res) vão subir 1,3% para todos os
níveis de tensão (ou seja, para os
consumidores domésticos e para os
outros com consumos superiores),
reÇectindo a subida de uso global do
sistema (UGS).
Embora a tarifa de uso das redes
de transporte e de distribuição (que
são a componente da tarifa onde a
ERSE pode actuar, com a aplicação
de metas de eÆciência à REN e à EDP
Distribuição) vá recuar 5,1% face a
2019, a tarifa de UGS (onde cabem os
chamados custos políticos da factu-
ra, como os contratos de receitas
garantidas da EDP, da Tejo Energia
e da Turbogás, ou os pagamentos aos
produtores de renováveis em regime
especial) sobe 5,9%.
10 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

ESPAÇO PÚBLICO
O brasileiro Luiz Phellype deu início à goleada
do Sporting que o conduziu ao terceiro lugar
do campeonato, ultrapassando o
surpreendente Famalicão, que está numa fase
menos boa. Os jogadores leoninos responderam
superiormente aos insultos de alguns adeptos à
chegada aos Açores. Perante o sucedido, e estando
a decorrer o julgamento do ataque em Alcochete,
seria avisado que Sporting e polícias aumentassem o
Luiz Phellype nível de segurança à volta da equipa. (Pág. 44) J.J.M.
Protestos há vários dias, mortos e muitos
feridos, é este o balanço desde que o
Parlamento da Índia aprovou uma
controversa Lei da Cidadania que abre as portas da
cidadania a grupos específicos de imigrantes sem
documentos dos países vizinhos, comos os hindus,
budistas e cristãos, excluindo as minorias
muçulmanas, como os ahmadis do Paquistão ou os
rohingyas da Birmânia. Para os críticos, a lei é
Narendra Modi contrária ao secularismo da Constituição. (Pág. 29) J.

A emergência climática não é de todos

Unidas sobre as Alterações
Climáticas, organizada pelas Nações
Unidas em Madrid, não foi nada
disso.
É claro que quando duas centenas
Amílcar Correia de países se sentam à mesma mesa
Editorial para discutir o clima, ou seja o que
combustíveis fósseis, como são,
aÆnal, os responsáveis por mais de
metade das emissões de efeito de
estufa e quem mais coloca em
questão o conhecimento cientíÆco.
Não há compromisso ambiental
possível com o negacionismo
conferência e as expectivas da
população no seu exterior. A
inacção dos primeiros legitima
ainda mais o discurso furioso e
impaciência das organizações não-
governamentais, que exigem (e
bem) que algo seja feito de

A
COP25 foi um Æasco ou, como
disse António Guterres, uma
“oportunidade perdida”. O
conhecimento cientíÆco
sobre a emergência climática,
os exemplos preocupantes das
mudanças em curso no planeta e a
crescente sensibilidade da opinião
pública para este tema criavam um
contexto propício a uma
abordagem política mais exigente.
Mas o que aconteceu na 25.ª
Conferência das Partes (COP25) da
Convenção-Quadro das Nações
o for, a probabilidade de não se
chegar a um compromisso decente
é elevada. Foi o que aconteceu.
Nada de muito conclusivo saiu de
Madrid. A União Europeia
aproveitou a circunstância para
marcar posição na liderança do
combate às alterações climáticas,
sublinhando a promessa de se
transformar no primeiro continente
com neutralidade carbónica em
2050, por oposição a países como
EUA, China, Rússia ou Índia. Estes
não só se recusam a rever as suas
metas ou interesses nos
obscuro de Bolsonaro.
Há uma discrepância indisfarçável
entre aquilo que os governos
estão dispostos a fazer e a
gravidade do discurso cientíÆco
ou as reclamações de quem
protesta na rua ou faz greve em
frente a uma escola. E há uma
grande divisão entre os Estados;
entre quem está disposto a agir,
entre quem nega as evidências
cientíÆcas e quem opta por
permanecer indiferente. Esta
COP25 expôs claramente esse fosso
entre a inacção dos Estados na
imediato.
A emergência climática não
é de todos. O fracasso desta
cimeira é um bom exemplo do que
é hoje o multilateralismo e a
emergência climática a melhor
demonstração de uma causa de
impacto global, capaz de juntar
uma nova geração que olha para
um mundo sem fronteiras,
interdependente, e que é capaz
de se bater por ele. Essa é a única
esperança de Madrid.
acorreia@publico.pt

As cartas destinadas a esta secção
devem indicar o nome e a morada
do autor, bem como um número
telefónico de contacto. O PÚBLICO
reserva-se o direito de seleccionar e
eventualmente reduzir os textos não
solicitados e não prestará
informação postal sobre eles.
Email: cartasdirector@publico.pt
Telefone: 210 111 000
CARTAS AO DIRECTOR
André Ventura
O PÚBLICO fez bem em dissecar
no editorial de sábado o caso do
excesso da palavra vergonha no
Parlamento. O que Ferro
Rodrigues fez tem outra
interpretação: plasmar como faz o
deputado Ventura quase todas as
acções dos outros partidos ou
instituições do país, sobretudo o
Governo e Partido Socialista,
como vergonha, signiÆca uma
insuportável e não-democrática
soberba moral do seu autor. Ele vê
sistematicamente o que todos os
outros não veriam. E o que ele vê é
de uma gravidade extrema e é
imoral. Provoca vergonha. Os
outros partidos, que não vêem
essa gravidade extrema das coisas,
são cúmplices activos ou passivos
dos imorais e, na verdade,
depreende-se, na prática
usurpadores. Resta ao país o
iluminado Ventura, o único que vê
e que porventura está por via
disso eivado do poder de
sentenciar a moral. Ora, esta linha
discursiva é levada ao extremo e
ao absurdo, antidemocrática. Na
democracia há várias razões
possíveis que justiÆcam os factos e
várias maneiras possíveis de
resolver problemas e portanto
devem debater-se. Nos respectivos
méritos. Se tudo o que se passa à
volta do deputado Ventura é “uma
vergonha”, então ele que quer
fazer-se passar pelo único que
“vê”, tem de necessariamente de
ambicionar tornar-se no Messias
que vem abrir os olhos aos outros
todos. Imaginamos onde isso iria
dar. Ferro Rodrigues esteve certo.
José Freitas, Bruxelas
Tavira
Em Tavira, a cidade da dieta
mediterrânica, está a nascer uma
ponte rodoviária no coração do
centro histórico. E para que o
trânsito possa Çuir, um jardim
público na margem do rio Gilão
vai ser cortado ao meio e uma
nova rua vai surgir. As pontes têm
por hábito unir. A nova ponte
tavirense Æcará na história por
separar. De um lado está um
executivo municipal com tiques
de autoritarismo, do outro estão
todas as boas razões do
planeamento urbano
contemporâneo e racional, o
movimento de cidadãos Tavira
Sempre que tenta evitar a todo o
custo um disparate irreversível, a
manifestação pública de
desagrado de arquitectos como
Álvaro Siza, Souto de Moura e
Carrilho da Graça.
Mas este diferendo não se pode
resumir a um conÇito local entre
tavirenses. Deve ser visto no
contexto do municipalismo
fulgurante que avança por todo o
país. Com as câmaras a terem cada
vez mais poder, maior orçamento,
enormes responsabilidades em
múltiplos sectores da sociedade,
quem as trava quando descarrilam
para opções erradas e que trazem
consequências muito duradouras?
Estarão os executivos municipais
todos eles preparados para
assumir o enorme rol de
competências que Lisboa quer
transferir?
Nuno de Santos Loureiro, Tavira
PÚBLICO ERROU
No artigo “O regresso das PPP,
entre a ‘elevação’ e ‘retrocesso’”,
publicado na edição de ontem, as
respostas do Governo são
atribuídas apenas ao Ministério da
Economia, quando na verdade são
respostas conjuntas da Economia,
Finanças e Presidência do
Conselho de Ministros.
 Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 11

A opinião publicada no jornal respeita a norma ortográfica escolhida pelos autores

Jean-Paul Delevoye
Poucos devem saber quem é este homem,
mas, se ao nome se acrescentar que foi ele
quem pensou a reforma do sistema de
pensões que está a agitar a França, percebe-se a sua
importância. Delevoye tinha um cargo equivalente
ao de ministro, mas teve de se demitir porque
desempenhava outros cargos incompatíveis com
aquela posição. Com a contestação em alta no país
(hoje é dia de nova greve geral), a sua saída é um
golpe para o Governo de Macron. (Pág. 20) J.J.M.
Com a redacção da RTP em polvorosa por
causa da sua Direcção de Informação, a Maria
Flor Pedroso não restou outro passo que não
fosse o de se demitir devido aos casos que tornaram
a sua permanência insustentável. A polémica mais
recente relativa à sua actuação perante a
investigação que estava a ser conduzida pela equipa
do programa Sexta às 9 e que levou ao
cancelamento da reportagem foi a gota de água.
Maria Flor Pedroso (Págs. 14/15) J.J.M.

ESCRITO NA PEDRA
Eis ao que leva o intervencionismo do Estado: Uma janela
o povo converte-se em carne e massa que alimenta
o simples artefacto e máquina que é o Estado londrina
José Ortega y Gasset (1883-1955), filósofo

SEM COMENTÁRIOS “O VIOLADOR ÉS TU”, PERFORMANCE DE PROTESTO EM WASHINGTON, EUA

ERIK S. LESSER/EPA

EM PUBLICO.PT
Como alterar os hábitos das
crianças nos restaurantes?
Há mais comida na ementa do que
hambúrguer, bolonhesa ou douradinhos. O
desafio é convencer as crianças a optar por
coisas diferentes publico.pt/impar
Festival de luzes para iluminar
o Inverno de Amesterdão
As 16 horas de noite que cobrem a Holanda
no Inverno não são tão escuras por estes
dias. O Festival de Luzes de Amesterdão
volta a iluminar a cidade publico.pt/p3
O
Há um novo parque
no vulcão das Furnas
Depois de “anos de abandono”, o Parque
da Grená, 18 hectares de floresta junto à
lagoa das Furnas, quer ser a nova atracção
turística de São Miguel publico.pt/fugas
Miguel Esteves Cardoso
Ainda ontem
London Review of Books
estreou-se no Outono de 1979 e,
mal comecei a lê-lo, senti-me
retroactivamente triste de ter
passado tanto tempo sem ele.
Nunca tentou competir com
o Times Literary Supplement
que é semanal e, apesar de
divertido, tem uma cobertura
académica mais séria.
Passados quarenta anos, o LRB continua a
ser londrino, cosmopolita, esquerdista e
bem-humorado, mais literário do que
académico.
Felizmente não faz o mínimo esforço
para se adaptar à balbúrdia interneteira.
Tal como o TLS é uma revista para se ler e
não para se folhear. E, tal como o TLS, é
bonita, levezinha, portátil e fácil de se
dobrar.
O LRB é dirigido pela prodigiosa Mary-Kay
Wilmers desde 1992 e tem seguido uma
política samaritana em relação à Internet.
A principal qualidade do LRB é a
generosidade, que é consistente e
maravilhosa. Nisto, diga-se, não é nada
como o TLS (que já foi muito mais forreta
com as borlas) — ou como qualquer outra
revista literária (impressa) que conheço.
Veja-se só: até ao meio-dia de
quarta-feira, dia 15 de Janeiro de 2020,
qualquer pessoa poderá ler 40 anos inteiros
do LRB, para mais tirando partido do novo
site em que as várias áreas de interesse estão
convenientemente separadas, para quem
não gosta de misturas. A busca também está
melhor do que nunca, permitindo juntar
todos os artigos escritos pelos nossos
escritores preferidos.
Sugiro que se comece pelas cartas da
edição mais recente, para abrir o apetite
para as edições anteriores. Salte tudo o que
não for irresistível — Æcará muito.
12 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
ESPAÇO PÚBLICO
Reino Unido, Europa e Portugal.
E depois do “Brexit”?
1.
Paulo Rangel
Palavra e Poder
A vitória muito confortável dos
conservadores e de Boris Johnson
nas eleições britânicas nada tem de
surpreendente. A grande maioria
dos analistas diz que ela se Æcou a
dever à fadiga do eleitorado com o
impasse do “Brexit” e à pressa que
esse impasse exerceu sobre a agenda
política. A que junta as fragilidades
evidentes do líder trabalhista, um
radical de esquerda, incapaz de apresentar
uma ideia clara sobre o “Brexit” (porque era a
favor dele, sem o poder dizer claramente).
Terão decerto uma boa parte de razão os
analistas que assim discorrem. Mas, a meu
ver, foi o facto de ter sido capaz de negociar
um acordo de saída com a União Europeia e
de o fazer “aprovar” pela Câmara dos
Comuns o principal factor da ampla vitória de
Boris Johnson. Com efeito, quando assumiu
as funções de primeiro-ministro, ninguém
acreditava que conseguisse renegociar o
acordo e, muito menos, que, logo de seguida,
conseguisse demonstrar, num parlamento
visceralmente dividido, que esse acordo
reuniria um voto maioritário. Assim que
obteve o acordo — um acordo não tão diverso
do de Theresa May —, Boris Johnson garantiu
a vitória nas eleições seguintes, pois deu
credibilidade e consistência a toda a sua
estratégia anterior (que, a dada altura, mais
não parecia que pura táctica atrabiliária).
Para este feito, muito contribuíram dois
factores: a vontade da UE em dar esse acordo
e a arriscada mudança de posição inglesa
quanto à Irlanda do Norte.
2. Sim, a UE quis oferecer um acordo a
Boris Johnson, pois também ela estava
fatigada, senão mesmo exausta, com o
arrastamento da incerteza e indeÆnição. Ao
dar-lhe o acordo, apostou nele como o
interlocutor para a concretização do “Brexit”.
Para conseguir o trato, Boris assumiu uma
opção estratégica arriscada: resolveu
prescindir da Irlanda do Norte, deixando-a na
prática no seio da UE e aceitando criar uma
fronteira dentro do Reino Unido no mar da
Irlanda. A criação desta fronteira marítima
tem tudo para servir de catalisador a uma
futura separação da Irlanda do Norte.
Convém, aliás, não esquecer que a maratona
negocial para o novo acordo só foi iniciada
depois de uma longa e profunda reunião
entre os primeiros-ministros britânico e
irlandês. O cálculo de Boris foi o de que, no
médio prazo, será inevitável uma
reuniÆcação das Irlandas e, por conseguinte,
não faria sentido sacriÆcar o “Brexit” à
pretensão dos unionistas protestantes.
Acresce que, ao invés de Theresa May, Boris já
STEFAN ROUSSEAU/REUTERS
não dependia dos deputados unionistas do
DUP. Fala-se, e muito, da repercussão na
Escócia, mas a primeira vítima do acordo de
Johnson foi mesmo a Irlanda do Norte.
Conduzirá isto a uma reuniÆcação acelerada
das duas Irlandas? Eis algo que obviamente
não se pode ter por certo. Tanto assim que os
conhecedores do assunto apontam mais
provavelmente para uma independência da
Irlanda do Norte com adesão à UE, mas sem
reuniÆcação. Esta solução permitiria
preservar e aprofundar a relação mútua
actual, sem despertar fantasmas e traumas à
larga comunidade protestante (e unionista)
do Ulster.
3. O risco mais político destas eleições vai
manifestar-se nos contornos da evolução
escocesa. Com uma vitória claríssima,
embora de 45%, o
Partido Nacionalista
Escocês exige um
outro referendo à
independência.
No quadro da Contra esta
pretensão está o
da UE. Pois bem, tendo-se alterado
radicalmente este dado e reaÆrmada nas
alhear-se do que ali se passa. De momento,
tem de redeÆnir as suas prioridades em
UE, Portugal Governo de Londres, eleições a vontade de pertença europeia dos função da saída do Reino Unido da UE. Será a
perde o grande de resto, com um escoceses, a questão deve ser novamente primeira vez que, tirando as plataformas
bom argumento: o decidida. Haja ou não haja referendo, é lusófona e ibero-americana, Portugal estará
defensor último referendo é evidente que a tensão entre Edimburgo e numa organização internacional/
de uma visão bastante recente Londres vai aumentar signiÆcativamente. Se supranacional sem o Reino Unido (lembre-se
marítima, (2014), não havendo
decorrido tempo
vier a haver segunda consulta e a Escócia se
tornar independente, as consequências sobre
a NATO, ONU, EFTA, Conselho da Europa,
CEE e várias outras). É uma mudança
atlântica suÆciente para a situação da Catalunha, do País Basco e da signiÆcativa e substancial. Portugal tem, por
e extrovertida levantar de novo a
questão. Mas os
Flandres vão ser enormes. Ninguém tenha
dúvidas de que as “regiões” com movimentos
isso, de reforçar fortemente as suas relações
e os seus laços com o aliado britânico e,
da Europa escoceses dispõem separatistas aguardam ardentemente por um dentro da UE, tem de lutar pela maior
também de um precedente, seja ele o escocês, seja ele outro. proximidade e Çexibilidade possível do bloco
argumentário válido: europeu face aos novos vizinhos britânicos
o referendo anterior 4. É fundamental não o esquecer: os dois (evitando todo o ressentimento e
foi feito no Estados mais relevantes para Portugal em hostilidade). No quadro da UE, Portugal
pressuposto de que o termos geopolíticos — Espanha e Reino perde o grande defensor de uma visão
Reino Unido Unido — atravessam uma séria crise marítima, atlântica e extrovertida da Europa.
continuaria membro constitucional. Portugal não pode, pois, Deve, por isso, contrariando a inércia do
governo Costa, federar cumplicidades que
possam colmatar a falha do parceiro inglês. É
importante que se estabeleça uma liga de
países médios, de vocação atlântica e
extrovertida, que possam compensar a
lacuna geopolítica criada pela saída
britânica. Devíamos organizar uma liga com
a Suécia, a Dinamarca, a Holanda, a Bélgica e
a Irlanda, justamente os Estados-membros
que, em sede geopolítica interna, mais
perderão com o “Brexit!”. A insistência do
Ferro Rodrigues. Esteve mal Costa e Centeno. O esboço governo Costa em cingir Portugal ao “Clube
Med” e à “coesão” é altamente
na reacção à intervenção de “orçamento” para a zona empobrecedora. Como se verá com o êxodo
do deputado do Chega. euro é mau. No Eurogrupo, inglês, haverá um déÆce atlântico e atlantista
na UE, que, em caso algum, poderá
Infelizmente, não surpreende. o Governo deu o acordo; beneÆciar o país mais ocidental da UE. É
Nos últimos quatro anos, agora, retirou-o. A dissensão preciso engenho e coragem para o superar.
mostrou-se o menos isento dos pública na cimeira afecta Eurodeputado (PSD). Escreve à terça-feira
presidentes da história da AR. a credibilidade do país. paulo.rangel@europarl.europa.eu

Propostas para
demarcar um debate
D
J.-M. Nobre-Correia
e repente, faz-se luz! Que importa
que haja quem ande há longos
anos a fazer notar que a situação
da informação jornalística em
Portugal é incrivelmente
insuÆciente. E que a imprensa de
informação geral se encontra num
estado perto da miséria.
Constatações estas feitas a partir
não de uma qualquer perceção
impressionista, mas sim do conhecimento do
que são as paisagens mediáticas e jornalísticas
para além da fronteira com o país vizinho…
Pouco importa! O facto é que tal triste
situação passa agora a ser tema de discussões,
artigos e colóquios diversos. Regozijemo-nos,
pois, com isso. Embora tenhamos que
constatar que se manifestam por aí ambições
claramente desmedidas. Como se fazem
também muitas aÆrmações desprovidas do
mais elementar fundamento.
Por obras de magia descobre-se que os
media portugueses precisam de ajuda. Mas de
uma ajuda indiferenciada: a imprensa
nacional como a regional, a imprensa diária
como a periódica, a rádio como a televisão e
sabe-se lá mais o quê! Ora, como dizem os
francófonos, “qui trop embrasse mal étreint”
(traduzido à letra: quem muito abraça mal
enlaça). E a situação Ænanceira portuguesa
não é particularmente gloriosa para que, num
aceno de varinha mágica, se possam resolver
os numerosos problemas do sector.
Em termos europeus, é a informação
escrita que, incontestavelmente, se encontra
em pior posição. Portugal é o país de Europa
ocidental que conta menos publicações
generalistas, diárias ou periódicas, em papel
ou em digital, e as existentes têm também as
difusões mais baixas. É ela, pois, que convém
urgentemente relançar. Mas a solução não
pode consistir em Ænanciar em absoluto, a
fundos perdidos, as publicações que já
existem. Até porque, se as coisas vão mal, os
seus dirigentes lá terão alguma
responsabilidade em termos de
posicionamento editorial, de maneira como
tratam a informação ou de como concebem a
distribuição e a comercialização dessas
publicações.
Há, pois, que privilegiar o lançamento de
novas publicações (em papel ou em digital),
assim como as iniciativas realmente
inovadoras das já existentes. No caso das
novas, há que dar a prioridade aos
lançamentos nas regiões do país que são
verdadeiros desertos em matéria de
informação, mas também àquelas que se
propõem ocupar posicionamentos editoriais
descurados. No que respeita às publicações
existentes, há muitos aspetos ausentes na sua
conceção atual: delegações nas regiões,
correspondentes no estrangeiro, jornalistas
especializados, circuitos de distribuição,
promoção das assinaturas, conquista de
novos leitorados…
Num estilo em que a vida social em Portugal
passou a estar prenhe, houve logo quem
viesse com grandes declarações contra as
ajudas do Estado! Uns porque pensam que vão
pagar mais impostos (e preferem a ignorância
que os levará um dia a recusar ajudar
estabelecimentos de ensino ou teatros, por
exemplo). Outros porque, quando lhes falam
de Estado, tiram logo o revólver do bolso!
Fazendo aÆrmações pura e simplesmente
absurdas, como se não houvesse velhas
democracias consolidadas que preveem
anualmente ajudas à imprensa, sem
intervirem no que quer que seja na conceção e
no tratamento da informação pela imprensa!
Mas, por que limitar as ajudas ao Estado?
Porque não constituir um fundo, jurídica e
solidamente autónomo, para o qual possam
contribuir tanto fundos públicos (do Estado
português e da União Europeia) como fundos
privados (de empresas, instituições ou
simples cidadãos)? E por que não pôr à frente
deste fundo gente de indiscutíveis
competência, independência e princípios
éticos, que analisará os dossiês de
candidatura a ajudas Ænanceiras? Dossiês
provenientes de empresas já presentes no
sector da imprensa
ou de empresas
constituídas para a
circunstância,
reunindo
Ao que parece, obrigatoriamente
jornalistas e gestores.
os media vão Se a paranoia em
mal. Há, pois, relação ao Estado e
às empresas
quem queira continuar a ser o
que todos terreno fértil de
todos os que veem
sejam manobras e complôs
ajudados. Mas por todo o lado na
há que fazer prática jornalística
(mas que
esco as
escolhas… manifestamente tudo
ignoram da história
dos media e do
jornalismo), teremos
então que constatar
que os portugueses
correm alegremente
para o precipício da ignorância sem se darem
por isso [1]…
[1] Do mesmo autor, Uma urgência
demasiado esquecida, in PÚBLICO, 2 de março
de 2016.
Professor emérito de Informação e
Comunicação da Université Libre de
Bruxelles; autor do livro Média,
Informação e Democracia (Almedina)
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 13
ESPAÇO PÚBLICO
A cimeira dos governos
também já é das pessoas
Desta vez, Tubiana falou-nos noutra ideia na
À
Maria da Graça Carvalho qual tem vindo a trabalhar: a “teoria da
liderança distribuída”. Basicamente, propõe,
primeira vista, esta cimeira do além de se considerar os países representados
clima desiludiu. Com Quioto a pelos seus governos, e pelo que as suas
terminar, e o Acordo de Paris a economias fazem como um todo, deveria
vigorar na prática a partir de valorizar-se a ação dos seus diferentes
2020, esperavam-se stakeholders: as cidades, as organizações não
compromissos concretos em governamentais, a juventude.
Madrid, garantindo uma Dei por mim a questionar-me se não se
transição eÆcaz. Porém, não poderiam também contabilizar essas ações
houve entendimento em torno como esforços no combate às alterações
do famoso artigo 6, relativo climáticas. A concretização desta ideia seria
aos mercados de carbono, que complexa em termos de gestão das metas e do
Æcou fora da declaração Ænal. E o reforço das seu cumprimento. E não vale a pena
metas de redução das emissões, assumido por alimentar-se a ilusão de que será possível
menos de metade das delegações nacionais, atingir objetivos sem os governos. Mas o
Æcou para legislar no próximo ano nesses princípio faz sentido. Porque não dar mais
países. peso à sociedade quando esta está tão
Mas não foi tudo em vão. Houve envolvida nestas batalhas?
reconhecimento do impacto transversal das Nos últimos 20 anos participei quase numa
alterações climáticas, traduzido na discussão dezena de cimeiras do clima. Comecei em
de temas como os oceanos, a aprovação de Bona, em 1999. Estive nas COP em
apoios financeiros aos países mais ameaçados, representação do Governo português, da
a constatação da particular posição das Comissão Europeia e como eurodeputada.
mulheres nesses países, do papel da ciência Não me lembro de alguma vez ter visto tantos
nas batalhas que nos aguardam. jovens como vi nestes dias em Madrid.
Houve ainda a noção, clara para quem Copenhaga, em 2009, foi a primeira COP
esteve na cimeira, de que, mesmo nos países verdadeiramente participada pela sociedade
que mais resistência oferecem, a ação civil. Mas nada
climática não é uma miragem. Porque esta já comparável ao que se
não depende apenas dos governos, tendo-se viu agora. Na
estendido a todos os setores da sociedade. Dinamarca viam-se
Psicologicamente, o Governo dos Estados alguns jovens adultos,
Unidos já está fora do Acordo de Paris.
Sentiu-se ao longo desta COP25. A
Copenhaga, em na casa dos 20 anos.
Em Madrid eram
2009, foi a
administração norte-americana esteve
representada em Madrid, participou em primeira COP
centenas, muitos com
12 ou 13 anos, a
reuniões e em encontros bilaterais, mas nunca
verdadeira- encher auditórios. A
com o empenho demonstrado no passado.
Contudo, tivemos contactos com outras mente
exigir fazer parte da
solução.
instituições daquele país que nos relataram o
participada Na última semana,
muito que está a ser feito de forma
descentralizada. Ao nível dos estados, das pela sociedade
a presidente da
Comissão Europeia,
cidades. Na adaptação de cursos superiores a civil. Mas nada Ursula von der Leyen,
matérias relacionadas com o clima. No
comparável
anunciou o European
desenvolvimento de tecnologias amigas do
ambiente. No apoio que dão ao resto do ao que se viu
Green Deal — o
“homem na Lua
mundo nas previsões meteorológicas, área em
agora europeu”, como o
que são líderes. deÆniu. Os chefes de
Os Estados Unidos não se resumem a Estado europeus,
Washington ou à Casa Branca. E o mesmo reunidos em cimeira
pode ser dito de vários outros países. Ignorar do Conselho da União
esse facto seria não só injusto como Europeia, chegaram a
objetivamente errado, porque nos conduziria um acordo de
a conclusões distorcidas sobre o papel que irão princípio visando tornar a Europa neutral, em
desempenhar daqui para a frente. termos de emissões, até 2050. Fizeram-no
Na sexta-feira, os eurodeputados presentes respondendo a um claro apelo dos seus
na COP25 reuniram-se com Laurence Tubiana, cidadãos, feito nas urnas e nas ruas. Quando
CEO da European Climate Foundation. O seu outros líderes mundiais começarem a dar, de
nome poderá dizer pouco à generalidade dos facto, ouvidos às suas sociedades, estaremos
europeus, mas não é exagero afirmar que esta todos mais próximos do sucesso nesta batalha
francesa teve um papel importante na pelo nosso planeta.
definição do engenhoso e flexível — por
comparação com Quioto — Acordo de Paris. Eurodeputada do PSD
14 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

POLÍTICA
Flor Pedroso deixa direcção da
RTP debaixo de críticas e elogios
Polémicas com reportagens sobre lítio
e o Iscem levam a pedido de demissão já
aceite. Redacção lamenta violação
de deveres deontológicos e de lealdade
por parte da directora
Informação
Maria Lopes
Maria Flor Pedroso esperou quase
até ao Æm: só a poucas horas do iní-
cio do plenário de jornalistas para
discutir a polémica em torno da sua
actuação tanto na questão da repor-
tagem do lítio como sobre a investi-
gação conduzida pela equipa do
programa Sexta às 9 a alegadas prá-
ticas irregulares no Iscem, e que
levou ao cancelamento da reporta-
gem, a directora de Informação da
RTP pediu à administração a demis-
são do cargo. A equipa de Gonçalo
Reis anunciou que aceitou, deixou-
lhe rasgados elogios por estes 14
meses de trabalho e prometeu uma
nova solução para breve.
Mas a apreciação da redacção ao
caso acabaria por ser diferente. Do
plenário da tarde saiu uma resolução
em que os jornalistas lamentam a
“violação dos deveres deontológicos
dos jornalistas e de lealdade” de
Maria Flor Pedroso para com a redac-
ção na investigação do caso Iscem. E
sobre a directora adjunta, Cândida
Pinto, que terá desvalorizado a
necessidade de se fazer a investiga-
ção jornalística em “conivência” com
Flor Pedroso, também lamentaram
a “falta de explicações”.
No comunicado divulgado já à noi-
te, os jornalistas da televisão vincam
cução de um trabalho sério, respei-
tado e construtivo”. O conselho de
administração considerou não ter
“outra alternativa que não seja acei-
tar essa decisão”.
Na carta que enviou à administra-
ção, a directora garantiu nunca ter
cedido a outra motivação “que não
a da causa de uma informação livre,
isenta, plural e independente” e vin-
cou não se rever na “construção de
realidades alternativas a partir de
meias verdades”.
O PÚBLICO apurou que os direc-
tores adjuntos António José Teixeira,
Cândida Pinto, Helena Garrido e
Hugo Gilberto também puseram os
respectivos lugares à disposição,
como é habitual nestes casos. Ainda
não há resposta da administração.
A situação de Maria Flor Pedroso
tornou-se insustentável depois de,
na passada semana, se saber que
havia falado com a directora do Ins-
tituto Superior de Comunicação
Empresarial (Iscem), encerrado
compulsivamente em Setembro, que
estava a ser alvo de uma investigação
pela equipa do Sexta às 9 sobre “sus-
peitas de corrupção”. A directora de
informação da RTP, que também foi
docente daquele instituto, admitiu
perante o conselho de redacção que
recomendou à directora Regina
Moreira que respondesse às questões
colocadas por escrito.
Centenas de jornalistas associaram-se a abaixo-assinado a atestar idoneidade de Maria Flor Pedroso

ainda a rejeição de “qualquer tenta-
tiva de ingerência externa nas deci-
sões que [lhes] competem exclusiva-
mente” e reaÆrmam a “independên-
cia e a liberdade como pedras
basilares do jornalismo”, assim como
a “unidade da redacção” no compro-
misso de prosseguir esse caminho.
Ao meio-dia, a equipa liderada por
Gonçalo Reis conÆrmara que Maria
Flor Pedroso colocara o seu lugar à
disposição argumentando que, “face
aos danos reputacionais causados à
RTP” e à “reiterada exposição públi-
ca de insinuações, mentiras e calú-
nias” a que a sua equipa “é alheia”,
não tinha “condições para a prosse-
Caso relatado à ERC
O caso do Iscem foi relatado pela
jornalista Sandra Felgueiras, coorde-
nadora do programa, ao departa-
mento de análise de media da ERC
há uma semana, quando foi ouvida
no âmbito do processo de averigua-
ções aberto devido a queixas de
espectadores sobre a suspensão do
programa de reportagens durante o
mês de Setembro, alegadamente por
causa da campanha eleitoral.
A jornalista e a directora foram
chamadas à Assembleia da Repúbli-
ca a pedido do PSD e deram versões
contraditórias: a primeira disse que
a reportagem nem sequer estava
14
O número de meses que
a direcção da RTP, liderada por
Maria Flor Pedroso, esteve em
funções até à carta da demissão
da directora (entregue ontem)
pronta em Setembro; a segunda
contrapôs que era possível emiti-la
nessa altura.
Na nota que enviou às redacções
sobre a demissão da directora, a
administração realça a sua “idonei-
dade e currículo irrepreensível” e
agradece o trabalho “desenvolvido de
forma dedicada, competente e séria”
nos meses em que foi directora.
A equipa de Gonçalo Reis vinca que
esta direcção de informação estava a
desenvolver uma linha editorial
“assente num jornalismo objectivo e
rigoroso, livre e independente, isento
e plural” — a “matriz” do serviço públi-
co —, em “absoluto contraste com a
crescente tendência para um jornalis-
mo populista e sensacionalista que [a
equipa repudia] veementemente e
que é imperativo combater”.
O conselho de administração do
canal de televisão público remata o
comunicado aÆrmando que vai
nomear “em breve” uma nova direc-
ção, “à qual continuará a exigir a
implementação das melhores práti-
cas, para que o jornalismo feito pela
RTP seja o mais complexo, o mais
sério, o mais credível e o mais isento,
de serviço do público”.
O conselho de redacção da RTP

NUNO FERREIRA SANTOS
tinha convocado para ontem um
plenário de jornalistas sobre o con-
Çito entre a equipa do Sexta às 9,
coordenada pela jornalista Sandra
Felgueiras, e a directora de informa-
ção da televisão pública, Maria Flor
Pedroso.
Numa reunião com o conselho de
redacção na passada semana, a jor-
nalista “acusou” — o termo é do pró-
prio conselho de redacção — a direc-
tora de informação “de violação do
dever de sigilo, ao transmitir à prin-
cipal visada na reportagem [sobre
o Instituto Superior de Comunica-
ção Empresarial] informação privi-
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 15
PODCASTS
O projecto legiada”. O Iscem estaria a exigir aos
alunos pagamentos em dinheiro
ANTES DE
proÄssional a que
TUDO: P24.
vivo para a transferência dos pro-
cessos dos alunos após o encerra-
esta direcção se mento do instituto em Setembro
entregou, por mim deste ano, que foi decretado pela
Agência de Avaliação do Ensino
liderada, nunca Superior (A3ES). Seria ainda inves-
cedeu a motivação
outra que não a da
causa de uma
tigada uma acusação de um arqui-
tecto que alegava que Regina Morei-
ra, directora daquele instituto, lhe
devia dois milhões de euros. O SEU DIA
COMEÇA AQUI
Depois da intervenção de Flor
informação livre, Pedroso, o programa televisivo can-
isenta, plural celou a reportagem. Segundo a
directora, tratou-se apenas de uma
e independente tentativa de “ajudar” a investigação.
Maria Flor Pedroso A controvérsia motivou um pedido
Directora da RTP demissionária de debate de actualidade no Parla-
mento para a próxima quinta-feira,
por iniciativa do PSD — o mesmo
partido que tem insistido em falar
Após auscultação do caso Sexta às 9 no plenário.
Numa nota enviada ao PÚBLICO,
dos motivos na sexta-feira, a direcção de infor-
invocados pela mação da RTP explicava que Maria
Flor Pedroso foi docente de Jorna-
directora lismo Radiofónico no instituto des-
e exclusivamente de 2006. No Ænal de uma “reunião Todas as manhãs,
por esses motivos, de docentes”, no dia 8 de Outubro, tudo o que precisa
foi interpelada por Regina Moreira, de saber sobre
o CA considera que que lhe deu “conta de que tinha o que vai marcar
recebido vários contactos e chama-
não tem outra das do Sexta às 9 com um pedido de
o seu dia, num
podcast leve
alternativa que entrevista que ela não queria dar”. mas completo
Numa tentativa de defender “os
não seja aceitar interesses da RTP” perante a “reite-
essa decisão rada recusa da entrevista”, Maria
Conselho de administração RTP Flor Pedroso sugeriu que a directo-
Comunicado ra do Iscem respondesse por escri-
to, “sem nunca a ter informado da
investigação do Sexta às 9”.
Entretanto, um abaixo-assinado
Não se encontram em defesa da “integridade proÆssio-
reunidas nal” de Maria Flor Pedroso lançado
na sexta-feira conta já com cerca de
as condições 150 subscrições de jornalistas de
imprescindíveis várias gerações e meios de comuni-
cação, como Adelino Gomes, Hen-
para um desejável rique Monteiro, Anabela Neves, Como ouvir e subscrever os podcasts do Público:
clima de Francisco Sena Santos, Rita Marrafa
de Carvalho, São José Almeida, Sér- 1 | Abra a sua app de podcasts
tranquilidade gio Figueiredo. IOS: App pré-instalada com o nome Podcasts;
e conÄança entre Referem o percurso de “jornalista Android: Descarregue uma app na Playstore;
exemplar” há mais de 30 anos, “sem Computador: No site em publico.pt/podcasts
todos os jornalistas mácula”, “reconhecida e respeitada 2 | Procure por “Público” ou pelo programa que quer ouvir (ex.: P24)
da RTP pelos pares”, tendo chegado “por
3 | Subscreva para ouvir em primeira mão os novos episódios
Conselho de redacção da RTP mérito ao cargo que actualmente ocu-
Comunicado pa” — uma referência para contrariar
as acusações de falta de isenção devi-
do aos laços familiares por aÆnidade Disponível no
com o primeiro-ministro.
maria.lopes@publico.pt
16 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
POLÍTICA
Esquerda e direita unem-se para
prolongar mandato de observatório
A iniciativa para prolongar o mandato da estrutura foi apresentada pelo BE a todas as bancadas para
que fosse submetida em conjunto. A proposta é consensual e deverá ser aprovada até ao Änal da semana
Incêndios
Liliana Borges
Se nada for feito até ao Ænal do ano, o
Observatório Técnico Independente,
a estrutura criada no Parlamento para
avaliar o trabalho de combate aos
incêndios Çorestais, irá terminar o
mandato com trabalhos pendentes,
incluindo a emissão de um parecer
sobre o Plano de Gestão Integrada de
Fogos Rurais, uma das avaliações para
a qual a estrutura foi criada. Para o
evitar, o Bloco de Esquerda escreveu
aos restantes grupos parlamentares
(partidos com mais de um deputado
eleito) a propor que, em conjunto,
façam aprovar na Assembleia da
República um projecto de lei que pro-
longue o mandato do observatório
até 31 de Dezembro de 2020, “para
garantir a melhor preparação para
responder ao enorme desaÆo dos
fogos rurais”.
De acordo com a informação reco-
lhida pelo PÚBLICO junto dos grupos
parlamentares do PCP, PS, PAN, PSD
e CDS, a proposta reúne o apoio de
todos e deverá ser aprovada ainda
esta semana.
No e-mail enviado pelo Bloco, e ao
qual o PÚBLICO teve acesso, Pedro
Filipe Soares sublinha que nas audi-
ções realizadas nas várias comissões
foram frequentes as queixas dos
membros do Observatório Técnico
Independente face à falta de resposta
por parte do Instituto da Conservação
da Natureza e das Florestas (ICNF).
Destacando o papel de “apoio
cientíÆco às comissões parlamenta-
res com competência em matéria de
gestão integrada de incêndios rurais,
protecção civil, ordenamento do
território, agricultura e desenvolvi-
mento rural, Çoresta e conservação
da natureza” que deve ser prestado
pelo Observatório Técnico Indepen-
dente, o líder parlamentar do Bloco,
Pedro Filipe Soares, defende a neces-
sidade de “salvaguardar a prorroga-
ção do prazo” face ao trabalho pen-
dente.
Na mensagem enviada ao PCP, PS,
PAN, PSD e CDS, o bloquista realça as
queixas do presidente do Observató-
rio Técnico Independente, Francisco
Castro Rego. Recentemente, em
ADRIANO MIRANDA
declarações ao PÚBLICO, Castro Rego
lamentou o silêncio por parte da
Agência para a Gestão Integrada de
Fogos Rurais (AGIF) e do ICNF.
A falta de respostas (e de dados)
não é uma novidade e diÆculta o tra-
balho do observatório. Já em 2018, a
estrutura de técnicos considerava que
a informação recebida “não é suÆ#
ciente” e que por isso não se podia
pronunciar, “mesmo que superÆcial-
mente”.
Também por essa altura, o Obser-
vatório Técnico Independente teve
igualmente de pedir a prolongação
do mandato — para o prazo que agora
termina — por falta de propostas. Ain-
da assim, os dados continuaram a não
chegar e urge uma nova prorrogação,
apontam novamente os técnicos res-
ponsáveis pelo acompanhamento do
trabalho de prevenção e combate de
incêndios.
Contactados pelo PÚBLICO, os
grupos parlamentares do PS e do
PCP reconhecem a importância do
observatório e garantem que irão
apoiar e subscrever o projecto de lei
proposto pelo Bloco e prolongar o
prazo que consta na Lei n.º 56/2018,
de 20 de Agosto.
Do mesmo modo, o PSD, que foi o
autor da proposta original, já subscre-
veu a proposta de prorrogação do
prazo, segundo o vice-presidente da
bancada Adão Silva. O deputado refe-
re que, se houver acordo de todos, o
projecto pode ser conjunto e agenda-
do para votação no dia 20. Pelo CDS,
a líder da bancada Cecília Meireles
disse não ver qualquer problema na
continuação do funcionamento do
observatório.
Também o PAN está de acordo com
os restantes partidos. Em resposta ao
PÚBLICO, Cristina Rodrigues acres-
centa que se pretende “que esta ini-
ciativa seja subscrita por todos os
partidos, dada a importância estraté-
gica que é necessária imprimir ao
acompanhamento e ao combate aos
incêndios Çorestais em Portugal”.
Com o consenso entre todos os gru-
pos parlamentares, a proposta deve-
rá ser votada até sexta-feira, “garan-
tindo a sua eÆcácia”, justiÆca Pedro
Filipe Soares.
Observatório que avalia condições de prevenção e combate a incêndios foi criado em 2018 liliana.borges@publico.pt

Líder da JP
avança para
a liderança
do CDS-PP
Partidos
Francisco Rodrigues
dos Santos deverá
anunciar hoje
que é candidato
Francisco Rodrigues dos Santos apre-
sentou a demissão do cargo de vogal
da direcção do Sporting, através de
uma carta, para se candidatar à lide-
rança do CDS-PP. O líder da Juventude
Popular era um dos cinco vogais elei-
tos na direcção do emblema “leoni-
no”, resultantes do acto eleitoral que
elegeu Frederico Varandas presiden-
te, em 8 de Setembro de 2018.
A candidatura de Francisco Rodri-
gues dos Santos à presidência do CDS-
PP foi revelada pelo ex-líder do PSD
Luís Marques Mendes no seu habitual
espaço de comentário político na SIC,
anteontem à noite.
“Uma vez que me proponho a
alcançar uma posição política de ele-
vado grau de responsabilidade nacio-
nal, entendo que a simples assunção
desse objectivo poderia conÇituar
com o meu lugar no Sporting. Embo-
ra os estatutos do clube permitam a
legal conciliação entre as minhas
actuais e possíveis futuras funções,
entendo ser meu dever prevenir
eventuais incompatibilidades éticas
e morais, agindo em defesa da lisura
e da transparência com que sempre
pautei a minha conduta pública e pri-
vada”, lê-se na carta dirigida ao pre-
sidente da assembleia geral do clube,
Rogério Alves.
“Saio com a consciência tranquila
e com certeza que coloquei intransi-
gentemente os interesses do Sporting
sempre em primeiro lugar. Serei ago-
ra mais um sportinguista de corpo e
alma, a apoiar e a torcer da bancada
pelo nosso sucesso colectivo. E a
apoiar incondicionalmente este con-
selho directivo e o seu presidente,
subscrevendo cada uma das linhas do
seu projecto para reerguer o Spor-
ting, louvando a coragem, a seriedade
e urbanidade com que dirigem o clu-
be que amarei até à eternidade”,
rematou Francisco Rodrigues dos
Santos.
No domingo, Francisco Rodrigues
dos Santos, de 31 anos, publicou na
sua página no Facebook um convite
para um anúncio, a realizar amanhã,
no Porto. Até ao momento, há já qua-
tro candidaturas anunciadas. Lusa
André Ventura foi repreendido por abusar de palavras como “vergonha” ou “vergonhoso”
Chega admite colocar
mais cartazes com
a palavra “vergonha”
Parlamento
Margarida Gomes
Vice do partido defende
que “é preciso reforçar” a
mensagem de André
Ventura, após advertência
de Ferro Rodrigues
O partido de André Ventura admite
colocar novos cartazes com a palavra
“vergonha” idênticos àquele que foi
aÆxado, anteontem à tarde, mesmo
ao lado do Parlamento. “O cartaz é
uma resposta ao ataque no mínimo
bizarro do presidente da Assembleia
da República ao deputado do Chega,
André Ventura”, declarou ontem ao
PÚBLICO o vice-presidente do parti-
do, Diogo Pacheco Amorim.
“A ideia de colocar mais cartazes
está a ser ponderada pelo partido e
visa reforçar a mensagem do depu-
tado e presidente do Chega, André
Ventura, que não se vai calar peran-
te uma imposição arbitrária neste
caso do presidente da Assembleia da
República”, acrescentou o dirigente
partidário, aÆrmando não haver
“nenhuma razão para o presidente
da Assembleia da República ter
repreendido o deputado do Chega,
uma vez que não infringiu o regimen-
to da Assembleia da República”.
O cartaz sobre um fundo azul-es-
curo e com letras garrafais, no qual
sobressai a palavra “vergonha”, sur-
ge depois de na semana passada, no
debate quinzenal de quinta-feira, o
deputado do Chega ter sido repreen-
dido pelo presidente da Assembleia
da República, Ferro Rodrigues, por
ter usado a palavra “vergonha”
durante a sua intervenção, quando
falava sobre o tema da remoção de
amianto das escolas públicas.
Uma surpresa
“Era uma surpresa para amanhã
segunda-feira]”, aÆrmou no domin-
go o líder do partido, André Ventura,
ao Correio da Manhã, explicando que
o cartaz tem dois objectivos: “O pri-
meiro é mostrar que não vão calar o
partido; o segundo é mostrar que o
que se passa no hemiciclo é uma ver-
gonha.” “Com atitudes como as que
teve Ferro Rodrigues, os portugueses
sentem cada vez mais que o que se
passa na Assembleia da República e
no sistema político português é uma
vergonha”, disse André Ventura.
Diogo Pacheco Amorim, que já foi
chefe de gabinete do grupo parla-
mentar do CDS quando este era pre-
sidido por Manuel Monteiro, defende
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 17
FRANCISCO ROMÃO PEREIRA
que o partido deve expressar o seu
desconsentimento perante o que
aconteceu e aÆrma: “O cartaz é uma
manifestação pública clara do parti-
do que não se vai calar. André Ven-
tura usará o termo ‘vergonha’ ou
outro qualquer termo desde que não
seja ofensivo nem insultuoso.”
O vice-presidente considera
“extemporânea” a reacção de Ferro
Rodrigues que, no debate quinzenal
perante o uso da palavra vergonha,
repreendeu o deputado do Chega,
declarando: “O senhor deputado
utiliza a palavra ‘vergonha’ e ‘vergo-
nhoso’ com demasiada facilidade, o
que ofende muitas vezes todo o Par-
lamento e ofende-o a si também.”
Diogo Pacheco Amorim recusa o
epíteto de ideólogo na sombra do
líder do Chega, como noticiou o
Expresso no sábado, e garante que é
apenas uma das pessoas que colabo-
ra com André Ventura. “É evidente
que colaboro com ele — é uma cola-
boração empenhada, mas que não é
exclusiva —, mas não tenho a preten-
são de ser o seu mentor”, declara,
notando que André Ventura é o úni-
co deputado do partido no Parla-
mento e que “tem de acompanhar 14
comissões”.
mgomes@publico.pt
POLÍTICA
Breves
Tancos
Pedido para ouvir
Costa chegou ao
Conselho de Estado
O pedido do Tribunal Central
de Instrução Criminal para
ouvir o primeiro-ministro,
António Costa, como
testemunha, no processo de
Tancos chegou ontem ao
Conselho de Estado, disse à
Lusa fonte de Belém. A
decisão do Conselho de
Estado sobre este pedido de
autorização é antecedida por
audiência do próprio, de
acordo com o regimento deste
órgão. De acordo com o artigo
15.º do Estatuto dos Membros
do Conselho de Estado, órgão
que o primeiro-ministro
integra por inerência, “os
membros do Conselho de
Estado não podem ser peritos,
testemunhas ou declarantes
sem autorização do
Conselho”.
Cibersegurança
Portugal e Angola
vão intensificar
cooperação
O ministro da Defesa anunciou
ontem um reforço da
cooperação com Angola nas
áreas da ciberdefesa e no
domínio marítimo,
considerando as relações
entre os dois países nesta área
como "muito intensas".
"Angola é um país fraterno
com quem temos relações de
trabalho muito intensas em
todas as áreas, incluindo na
área da defesa, e esta visita do
ministro [da Defesa de Angola]
foi uma oportunidade para
darmos continuidade ao nosso
diálogo, e para passar em
revista o conjunto de matérias
no âmbito da cooperação na
defesa e olhar para novas
áreas de trabalho", disse João
Gomes Cravinho, no final de
uma visita de trabalho do seu
homólogo angolano, Salviano
de Jesus Sequeira "Kianda”.
18 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

SOCIEDADE
Ministério da Justiça vai remover
amianto em 39 tribunais
Análise já detectou amianto em 87 tribunais e 21 já foram alvo de intervenção entre 2016 e este ano.
Orçamento do Estado para 2020 deve incluir fundo para Änanciar remoção
CARLOS LOPES

Saúde
Camilo Soldado
O Ministério da Justiça prepara-se
para remover materiais com amianto
de 39 tribunais. De acordo com a
informação avançada por fonte oÆcial
do ministério liderado por Francisca
Van Dunem ao PÚBLICO, “encon-
tram-se em fase de elaboração os
procedimentos referentes às 36 remo-
ções pontuais de amianto” identiÆca-
das nas quatro fases de um processo
de análise que tem decorrido desde
2015. O Governo prevê que as inter-
venções nestes 36 edifícios, que cor-
respondem a “remoções pontuais de
materiais com amianto” como “depó-
sitos de água, caldeiras, autoclismos
e mástique em janelas”, sejam leva-
das a cabo em 2020, mas não especi-
Æca quais são os tribunais nem o mon-
tante envolvido.
A este número acrescem as situa-
ções dos Palácios da Justiça de Oei-
ras, Peniche e Vila Viçosa, que terão
que sofrer remoções “mais exten-
sas”, de coberturas em Æbrocimento
ou telas de impermeabilização, por
exemplo, cujo procedimento está em
fase de projecto. Trabalhos seme-
lhantes estão já a decorrer nos Palá-
cios da Justiça da Figueira da Foz e
Estremoz. O Palácio de Justiça de Oeiras é um dos que serão alvo de intervenção
As quatro fases da análise contra-
tada pelo Instituto de Gestão Finan- Estima-se que ainda existam em lista e o Movimento Escolas Sem Orçamento do Estado (OE) para 2020, cujo revestimento não se encontre em
ceira e Equipamentos da Justiça Portugal 4263 edifícios públicos com Amianto e a Zero lançaram mesmo a que o PÚBLICO teve acesso, prevê bom estado de conservação”.
(IGFEJ) detectaram materiais com amianto. Além de tribunais, a lista uma plataforma participativa. No iní- que o Fundo de Reabilitação e Con- Para os edifícios de “Prioridade 2”
amianto em 87 tribunais, sendo que que não foi tornada pública inclui cio de Dezembro, a Há Amianto na servação Patrimonial (FRCP) Ænancie o FRCP pode comparticipar a remo-
foi analisado um total de 215 edifícios. estabelecimentos de saúde e escolas. Escola identiÆcava já o material as “operações de remoção do amian- ção do amianto até um valor de 80%
Ou seja, não se encontrou presença Associações ambientalistas e sindica- potencialmente perigoso em 90 esta- to em imóveis do domínio público e e nos de “Prioridade 3” esse patamar
de amianto em 128. Está ainda previs- tos têm defendido a publicação da belecimentos escolares. A Federação privado do Estado e em imóveis pro- desce para os 70% do valor total da
to que decorra uma quinta fase de Nacional dos Professores (Fenprof ) priedade dos institutos públicos e das obra. Segundo a versão preliminar do
análise, que envolve mais 55 tribunais já avançou para os tribunais para empresas públicas do Sector Empre- OE, são elegíveis como beneÆciárias
e deverá ser levada a cabo em 2020.
Segundo obter uma lista actualizada dos esta- sarial do Estado”. Até à hora de fecho destes apoios as entidades públicas
Relativamente aos 87 tribunais em o ministério belecimentos escolares com amianto desta edição, ainda não estava dispo- responsáveis pela gestão dos imóveis,
que foi detectado amianto, nem todos e endereçou também uma queixa à nível a versão final do OE. sendo que estes têm de estar “actual-
deverão ser alvo de intervenção. A
de Francisca Comissão Europeia. Este Ænanciamento é a fundo perdi- mente ocupados e as intervenções se
resposta do Ministério da Justiça ao Van Dunem, Na semana passada o dos- do e a percentagem do valor total da destinem à remoção do amianto”.
PÚBLICO diz que há “situações a sier voltou ao Parlamento, obra difere consoante o grau de priori- Estas entidades terão de apresentar
remover ou a monitorizar” sem espe-
estão em causa mas o debate acabou com dade de cada imóvel, que é estabeleci- uma candidatura que será avaliada.
ciÆcar o seu número. Vinte e um dos “depósitos de quatro propostas de lei do pelo Grupo de Trabalho do Amian- No prazo de 30 dias terá de ser toma-
87 tribunais já foram alvo de interven- (BE, PCP, PEV e PAN) to. Para os edifícios identiÆcados como da uma decisão que já deve conter
ção entre 2016 e 2019, para retirar
água, caldeiras, chumbadas e a de “Prioridade 1” o Ænanciamento é até o montante da comparticipação
materiais com a Æbra cancerígena. autoclismos aprovação de duas 100%, diz a proposta preliminar do Ænanceira atribuída pelo fundo.
Estes trabalhos correspondem a um recomendações Governo. Neste grupo estão já identiÆ# com Rita Ferreira
investimento de cerca de 1,2 milhões
e mástique (PS e CDS). A ver- cados 134 casos. São edifícios “com
de euros, refere o ministério. em janelas” são preliminar do materiais friáveis não revestidos ou camilo.soldado@publico.pt

MP pede prisão para homem
acusado de perseguir
Joana Cruz há cinco anos
Justiça
Joana Gorjão Henriques
Terá enviado centenas de
e-mails à locutora de rádio,
telefonado a familiares
e ameaçado filha
do companheiro
Página após página, há centenas de
mensagens, e-mails, fotograÆas, SMS
no processo: repetem-se palavrões,
obscenidades, ameaças físicas e
sexuais. Mas também muitas frases
que não têm qualquer nexo entre si.
Há cinco anos que a locutora da
RFM Joana Cruz e o seu parceiro, o
músico Alberto Silva conhecido pelo
nome artístico Alberto Índio, são ale-
gadamente perseguidos por Jorge
Lopes, um técnico comercial de 43
anos que vive na Amora (Seixal). Des-
de Abril que este homem está a ser
julgado no Campus de Justiça, em
Lisboa, por stalking, ou perseguição,
entre outros crimes.
Ontem, nas alegações Ænais, o
Ministério Público pediu pena de pri-
são para o arguido. AÆrmou que, face
à prova produzida em sede de julga-
mento e à prova documental, “não
restam dúvidas” de que o arguido
actuou tal como consta da acusação.
A procuradora disse explicitamente:
apenas “a multa não satisfaz”.
Jorge Lopes terá começado a per-
seguir o casal quando este iniciou o
namoro. Desde então, recebem
ameaças. Entre as várias que constam
do processo, pode ler-se: “Está na
hora das pessoas pagarem pelas coi-
sas que me Æzeram à minha vida
(…)”; “quero que Æquem a saber que
vos odeio e que gostava que a vossa
vida fosse curta e infeliz como a
minha”. “Alberto quando te vir em
Lisboa vou-te partir essa cara toda!”;
“vais levar por causa da Joana seu
monte de merda (…)!”.
De acordo com o MP, o arguido
enviou e-mails com a reprodução de
fotograÆas do seu pénis, insinuou que
iria agredir o casal, usando linguagem
obscena. Sabia onde eles moravam,
qual era a escola da Ælha dele. Insi-
nuou que iria abusar dela sexualmen-
te. Chegava a enviar fotograÆas do
prédio onde vivia Joana Cruz ou do
bar gerido por Alberto Silva no Porto,
dando-lhes a entender que tinha lá
estado. Conseguiu ter acesso aos
números dos seus telemóveis.
Homem acusado de perseguir locutora está a ser julgado desde Abril
A determinada altura, diz o MP, ligava
para o local de trabalho de Alberto
Silva e dizia, a quem atendesse: “O
Alberto é um Ælho da puta, vou-lhe
partir os dentes todos, vou-lhe foder
os cornos, cabrão!”. Quando Alberto
Silva bloqueou as suas chamadas,
começou a ligar ao pai dele, dizendo:
“O seu Ælho é um Ælho da puta, vou-
lhe aos cornos, vou fodê-lo todo,
cabrão de merda!”
O despacho de acusação refere que
as suas investidas causaram grandes
transtornos aos amigos, família, fãs,
O arguido está
proibido de
contactar o casal
desde Janeiro de
2018, mas o
Ministério Público
diz que ameaças
continuaram
seguidores nas redes sociais ou cole-
gas de trabalho dos dois assistentes.
A sua intenção foi provocar em Joana
Cruz e Alberto Silva medo, inquieta-
ção, prejudicando a sua liberdade,
acrescenta o MP.
No tribunal de Lisboa, perante a
juíza, a advogada dos assistentes,
Catarina Ferreira, alegou que o vasto
rol de testemunhas “veio dar a conhe-
cer o modus operandi do arguido”.
Lembrou ao tribunal que ele incomo-
da os dois ofendidos há anos e que
aqueles tiveram que suportar a sua
presença indesejada e constante,
MIGUEL MADEIRA
“não só nas suas vidas”, mas também
nas de quem são próximos, amigos,
familiares e colegas.
Desde Janeiro de 2018 que ao argui-
do foi aplicada a medida de coacção
de proibição de contactos e proibição
de se aproximar a menos de 500
metros da área de residência e do
local de trabalho dos dois ofendidos
— mas o despacho de acusação do MP
de Agosto desse ano dá conta de que
essas ameaças continuavam já depois
de aplicada a medida.
Isso mesmo foi referenciado pela
advogada ontem, que pediu ao tribu-
nal para ter em conta que o arguido
continuou a perseguir o casal “saben-
do que estava a ser julgado”. Além
disso, acrescentou, revelou em rela-
ção à menor uma “total ausência de
valores e crueldade”, o “que faz sus-
peitar que, de um momento para o
outro, pode acontecer o pior”.
Já fora da sala de audiências, a
advogada falou ao PÚBLICO sobre
este crime que se tornou autónomo
em 2015: “A moldura penal não prevê
a aplicação de prisão preventiva. O
que quer dizer que, até à aplicação de
pena deÆnitiva, as vítimas Æcam
desamparadas e à sua sorte. Não há
mecanismos jurídicos que sejam ade-
quados para proteger as vítimas”,
comentou. “Numa próxima revisão
do Código de Processo Penal devia
merecer tratamento especial a nível
de medidas de coacção”, concluiu.
A advogada do arguido, nas suas
alegações, praticamente não falou:
apenas pediu que o colectivo de juízes
Æzesse justiça.
jgh@publico.pt
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 19
Governo diz que mãe
portuguesa com duas
crianças sem-abrigo
em Paris rejeitou apoio
França
Estado garante que tem
acompanhado a situação
da família desde o início
de Dezembro
A Secretaria de Estado das Comuni-
dades Portuguesas disse ontem que
a portuguesa que vive na rua com
os Ælhos, em Paris, foi contactada
pelo consulado geral na capital fran-
cesa, que acompanha a situação,
mas rejeitou o apoio social disponi-
bilizado.
O caso foi tornado público numa
reportagem do jornal francês Le
Parisien: a mulher de 37 anos, por-
tuguesa, vive em situação de sem-
abrigo com os dois Ælhos menores,
de 8 e 13 anos, na Île-de-France,
Paris. As duas crianças frequentam
a escola em Athis-Mons, onde são os
primeiros a chegar e os últimos a
sair, quando o estabelecimento de
ensino encerra as portas.
Segundo a reportagem, a família
foi parar à rua por falta de vagas nas
pensões sociais de apoio aos sem-
abrigo, na habitação social e por
falta de emprego estável da mãe das
duas crianças. E mostra ainda que,
depois da escola, as crianças fazem
os trabalhos de casa e estudam
numa estação da RER, a rede de
O caso foi tornado público numa reportagem do jornal Le Parisien
SOCIEDADE
comboios regionais da Île-de-Fran-
ce, com o banco a servir de secretá-
ria.
Necessidades sociais
O Estado português tem acompa-
nhado a situação desta família por-
tuguesa desde o início de Dezem-
bro, através do consulado geral de
Portugal em Paris, que “está em
contacto com as autoridades fran-
cesas competentes”, referiu a Secre-
taria de Estado. “Foi também possí-
vel estabelecer contacto com a
cidadã nacional em causa, a quem
foi disponibilizado apoio social, ten-
do esse apoio sido rejeitado”, acres-
centou a entidade governamental.
Em resposta por escrito a ques-
tões colocadas pela agência Lusa, a
Secretaria de Estado assegura,
porém, que “a situação desta família
continuará a ser acompanhada com
a máxima atenção, tendo em conta
que estão envolvidos dois cidadãos
menores”.
De acordo com dados da Secreta-
ria de Estado, em 2018, foram repor-
tados 31 casos de “carência social”
ao consulado geral de Paris, adian-
tando que estes casos de necessida-
de social são encaminhados para as
autoridades francesas competentes,
mas “contam também com o apoio
da parte de associações sociais da
comunidade portuguesa em Fran-
ça”.
GONZALO FUENTES /REUTERS
20 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
SOCIEDADE
Despenalizar o lenocínio, desde que
não haja coacção. Petição foi lançada
Já reúne mais de 1700 assinaturas a
exposição lançada por uma
acompanhante que se tornou madame e
gere o Espaço Lisboa. Quer que a
prostituição seja considerada profissão
Prostituição
Ana Cristina Pereira
Gere o seu próprio negócio. É aqui-
lo a que vulgarmente se chama uma
madame, alcoviteira ou proxeneta.
Sabe que pode ser acusada, julgada
e condenada pelo crime de lenocí-
nio, mas não se esconde num nome
Æctício. Ana Loureiro lançou em
Novembro a petição Legalização da
Prostituição em Portugal e/ou Despe-
nalização de Lenocínio, desde que
este não seja por coacção. E essa já
soma mais de 1700 assinaturas.
A intenção desta mulher, de 36
anos , é que “a prostituição seja
considerada uma profissão”, que
quem a exerce declare rendimen-
tos, pague impostos, desconte para
a Segurança Social, como se faz em
“qualquer outro trabalho”. E que se
legalizem os bordéis, de modo
a assegurar segurança e higiene de
quem lá trabalha. Sugere que
se chame a isto “divertimento
adulto”.
Conhece o artigo 169.º do Código
Penal: “Quem, proÆssionalmente
ou com intenção lucrativa, fomen-
tar, favorecer ou facilitar o exercício
por outra pessoa de prostituição é
punido com pena de prisão de seis
meses a cinco anos.”
“Estamos à espera de ser detidas
a qualquer momento”, aÆança,
referindo-se a si e a Ana Gomes, que
com ela trabalha na gestão de uma
“casa de acompanhantes”. “Eu
estou a lutar por uma causa que
acho justa. Se isso faz com que
incorra num crime, então incorro
num crime.”
Põe as cartas na mesa. Diz que as
raparigas respondem aos anúncios
e trabalham para ela de livre vonta-
de. Por um convívio de meia hora,
com banho, sexo oral, sexo vaginal,
cobram 60 euros. Por uma hora,
100 euros. Em qualquer caso, meta-
de para a casa e metade para quem
recebe o cliente.
Lembra que não é só dinheiro a
entrar. “Só a renda do Espaço Lisboa
são 2150 euros”, refere. E há que
pagar anúncios nas páginas de
relax. Um “anúncio normal” num
jornal nacional de grande tiragem
custa-lhe “1200 euros por mês”.
“Banners [na Net] são 3600 euros
de três em três meses.” E investe
todos os dias para fazer os muitos
anúncios subir nas páginas electró-
nicas. Pergunta-se o porquê de ela
incorrer num crime de lenocínio e
quem gere estes espaços publicitá-
rios não.
Numa conversa de três horas,
com diversas raparigas presentes
— juntaram-se para uma festa de
Natal — nunca faz o elogio do traba-
lho sexual. AÆrma mesmo, várias
vezes, que este está no “nível mais
baixo” da hierarquia social. E admi-
te que há muitos abusos. Também
por isso lhe parece importante
regulamentar a actividade, despe-
nalizar o lenocínio simples e con-
centrar os esforços das autoridades
nas outras formas, as que implicam
violência ou ameaça, ardil ou mano-
bra fraudulenta, abuso de autorida-
de, aproveitamento de incapacida-
de psíquica ou especial vulnerabili-
dade.
Uma história pessoal
A sua história parece-lhe paradig-
mática. Não se iniciou com alegria
no serviço de acompanhante no Ana Gomes (à esquerda) trabalha com Ana Loureiro numa casa de acompanhantes em Lisboa
início de 2008. Tinha dois Ælhos
menores, um rapaz, então com cin- nuar a trabalhar, não tinha direito da Assembleia da República (47
co anos, e uma rapariga, de meses, a baixa. Enterrei a minha mãe e tive assinaturas) e no sítio Petição Públi-
quando se viu separada e desem- de continuar a trabalhar, não tinha ca (1721 assinaturas). Já soma assi-
pregada. “Nunca recebi pensão de direito a faltas justiÆcadas.” naturas suÆcientes para ser ouvida
alimentos. Estava sujeita a perder a Trabalhava na “Michelle e assis- na comissão parlamentar. Só com
casa. Tinha de zelar pelos meus Estou a lutar por tentes”, no centro de Lisboa, quan- quatro mil tem de ser discutida em
Ælhos”, diz. “Se arranjasse dois ou do, no Ænal de 2017, a casa foi alvo plenário.
três trabalhos para pagar as contas uma causa que de uma acção do Serviço de Estran-
todas, tinha de entregar os meus acho justa. Se faz geiros e Fronteiras e acabou por ser Uma questão fracturante
Ælhos a alguém. Então não valia a encerrada. Decidiu criar o seu pró- O fenómeno divide a sociedade.
pena o sacrifício.” com que incorra prio negócio. “Tirei algumas da Contra a legalização/regulamenta-
Como acompanhante, podia ajus- num crime, então actividade e coloquei como respon- ção do trabalho sexual, destacam-se
tar o seu horário ao das crianças e sáveis. Decidi que o passo seguinte o Movimento Democrático de
ganhar o suÆciente para lhes garan- incorro num crime seria lutar pela legalização da nossa Mulheres, a Plataforma Portuguesa
tir qualidade de vida, mas “não foi Ana Loureiro situação.” Avançou agora. A expo- dos Direitos das Mulheres, a Comis-
fácil”. “Tive cancro e tive de conti- Autora da petição sição escrita está acessível no sítio são para a Igualdade entre Mulheres

Evolução da legislação do trabalho sexual em Portugal
1837 1949 1963
Actividade Determinado “encerramento das casas Entra em vigor a lei
regulamentada de toleradas que funcionassem em que proíbe a actividade,
e sujeita a contravenção das normas de higiene equiparando as
rigorosos estabelecidas ou constituíssem focos de prostitutas aos vadios
controlos. infecção”. Lei proíbe que “se autorize a e sujeitando-as às
Tinham um abertura de mais casas ou que se efectue mesmas medidas
livrete individual. a matrícula de novas prostitutas”. de segurança.
PAULO PIMENTA
e Homens da Confederação Geral prevenção e controlo do VIH e
de Trabalhadores Portugueses, a outras infecções sexualmente trans-
Associação O Ninho. A favor desta- missíveis, esclarece porquê. Primei-
cam-se a Agência Piaget para o Des- ro, a idade mínima Æxada aos 21
envolvimento, a Associação para o anos. “Na nossa opinião, devia ser
Planeamento da Família, a Associa- a partir da maioridade”, esclarece.
ção Positivo — Redlight, o GAT — Segundo, a obrigatoriedade de estar
Grupo de Activistas em Tratamen- em situação regular. Por lei, o tra-
tos, Panteras Rosa, UMAR. E está na balho por conta própria ou por con-
fase embrionária um Movimento de ta de outrem é uma das vias de aces-
Trabalhadores do Sexo. so à autorização de residência.
Há entre os partidários da legali- Terceiro, a obrigatoriedade de
zação muito quem não se identifi- fazer exames médicos de seis em
que com a petição lançada por Ana seis meses. Soa-lhes a uma visão
Loureiro. Pedro Machado, do Porto “higienista e estigmatizante”. Tanto
G, projecto da APDES destinado à que há quem se prepare para avan-
1983
Entra em vigor a lei que
despenaliza a prostituição
e criminaliza o lenocínio,
tendo como referência “quem
explorar o ganho imoral de
prostituta, vivendo, total ou
parcialmente, a expensas suas”.
çar com uma petição em breve.
Sobre a idade, defende Ana Lou-
reiro que até aos 21 falta maturida-
de. “Há para aí muitas raparigas que
por 20 euros fazem tudo”, diz ela.
E esse “tudo” pode incluir compor-
tamentos de risco. Abre uma página
de anúncios: “20 rosas. Brasileiri-
nha. 20 anos”; “Completa. 30 euros.
Anal e oral ao natural até ao Æm. 21
anos. Zuca.”
Acredita que haverá maior risco
de abuso se as pessoas estiverem
em situação irregular e que estabe-
lecer exames médicos periódicos é
dar a cada pessoa maior controlo
sobre a sua saúde. Orgulha-se da
sua luta. E, ao que diz, os Ælhos
orgulham-se dela.
A reacção do Älho
Quando contou ao Ælho, Diogo, ele
nem entendeu bem o alcance da
revelação. “Era um bocadinho mais
novo. Não percebia bem em que
consistia o trabalho da minha mãe”,
declara, numa vídeo-chamada. Não
se pôs a falar nisso com os amigos.
“Não é uma actividade banal. Não
falo assim com qualquer pessoa.”
Quando ela deu a cara pela petição,
teve de alargar o círculo. “Tive de
explicar a mais gente o que era o
trabalho, a proÆssão, tive de falar
sobre isto com pessoas com as quais
não me sentia tanto à vontade.”
Já tinha tido tempo para digerir a
informação e para aprender a lidar
com ela. “Para mim, é um trabalho
como os outros, simplesmente
requer o uso do corpo de outra for-
ma”, assevera.
Nas conversas que vai tendo,
depara-se com muitos mitos. “Há
pessoas que pensam que uma acom-
panhante não faz sexo e ganha
milhares e milhares de euros por
dia. Eu explico que não é bem
assim. Às vezes, as pessoas esque-
cem-se que as pessoas que traba-
lham nessa vida são humanas. Mui-
tas pessoas gozam. Dizem: se fazer
sexo é fácil, fazer sexo e ganhar
dinheiro ainda é melhor. Eu explico
que é uma actividade que acaba por
ser difícil para elas. Ter relações
sexuais com uma pessoa que a gen-
te não conhece ou conhece minima-
mente não é fácil. Se as pessoas
fazem é porque não têm outra
opção. Mesmo que tenham, são
livres de o fazer”, remata.
acpereira@publico.pt
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 21
1998
O artigo é revisto, desaparecendo
a referência a “explorando a
sua situação de abandono ou
necessidade” e alargando o âmbito.
A criminalização vai além da liberdade
sexual, assumindo-se contra qualquer
favorecimento da actividade.
Balões contra a violência
sobre os trabalhadores do sexo
Ana Cristina Pereira
E se hoje à noite estiver em Braga e vir
balões a subir aos céus? É o Grupo de
Partilha d’a Vida a assinalar o Dia
Internacional Contra a Violência
sobre Trabalhadores do Sexo. Diver-
sas mulheres, protegidas por másca-
ras brancas e guarda-chuvas verme-
lhos, deverão estar pelas 20h00 na
praça do município.
Aquele colectivo de trabalhadoras
do sexo, que reúne mais de uma deze-
na de mulheres, faz parte de um
movimento nacional embrionário: o
Movimento dos Trabalhadores do
Sexo (MTS), que defende “o reconhe-
cimento e a digniÆcação do trabalho
sexual em Portugal”, incluindo o de
prostitutas/os de rua, acompanhan-
tes, stripteasers, operadores de linhas
de telefone eróticas, actrizes e actores
de Ælmes pornográÆcos e outros/as.
Tudo “começou em Abril” deste
ano, aqui no GAT — Grupo de Activis-
tas em Tratamentos, em Lisboa, con-
ta uma activista de nome proÆssional
Alexandra S Cort, autora do blogue
Casa da Mãe Xana. Na agenda pública
estava o modelo sueco, isto é, a pos-
sibilidade de criminalizar os clientes.
Luca Stevenson, da International
Committee on the Rights of Sex Workers
A manifestação está marcada
para as 20h em Braga
SOCIEDADE
2001
A reforma penal alarga mais
o espectro do lenocínio,
ao criminalizar “as situações
de abuso de autoridade
decorrentes de situações
de dependência hierárquica,
económica ou de trabalho”.
in Europe, foi convidado para um
debate e incentivou os presentes a
organizarem-se.
Alguns deram esse passo. Mas o
grupo começou a deÆnhar. “O pessoal
não se conhecia bem e é difícil traba-
lhar em grupo”, justiÆca. Não desis-
tiu. Continuou a desenvolver “um
trabalho à parte”, isto é, continuou a
propagar informação, a advogar a
regulamentação do trabalho sexual e
a despenalização do lenocínio. Está
convicta de que o vazio legal sobre o
trabalho sexual só aumenta a exclu-
são, o estigma e a violência. Não quer
ver o MTS morrer e, em Junho, desa-
Æou Maria, porta-voz do grupo de
Braga, a juntar-se.
Ainda em 2018, Maria tratara de
agregar outras mulheres. “Começa-
mos com três, acabamos com sete ou
oito”, diz Gil Abreu, um dos técnicos
de serviço social que, a título de
voluntariado, trabalha com o grupo.
Uma vez por semana, juntavam-se
numa lógica de apoio mútuo. A acti-
vidade Æcou como que suspensa no
Ænal do ano, por falta de verbas, e já
em Outubro deste ano foi retomada,
com o apoio da Agência Piaget para o
Desenvolvimento (Apdes).
A Apdes está a desenvolver o
POWER — Promote sexWorkErs Rights,
que inclui colaborar na organização
de colectivos de pessoas que fazem
trabalho sexual. A equipa tinha iden-
tiÆcado o projecto Labuta, de Melina
Antunes e tinha-o visto desaparecer.
E animou-se com o MTS e com o Gru-
po de Partilha da Vida. “Deparámo-
nos com uma grande dispersão de
trabalhadores do sexo”, diz Maria.
Uns actuam por conta própria, outros
em colectivos LGBTI ou colectivos de
mulheres. “Isso torna difícil fazer a
defesa e a digniÆcação do trabalho
sexual.” O MTS pretende ser um
movimento de representação proÆs-
sional. “As bases estão aqui: não dis-
criminação, combate à violência,
liberdade de exercer a proÆssão, lega-
lização e regulamentação do trabalho
sexual, protecção social.” A ideia é
articularem-se com instituições já no
terreno e que fazem parte da Rede
Sobre Trabalho Sexual.
22 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
LOCAL
Resposta à população sem abrigo
cresce com foco na habitação
Autarquia quer apostar na ideia
de que a autonomização das pessoas
em situação de sem-abrigo começa
com uma habitação digna.
Programa é apresentado hoje
Lisboa
Cristiana Faria Moreira
A Câmara de Lisboa já assumiu por
diversas vezes o compromisso de
tirar da rua as 361 pessoas que ali
dormem até 2021. Este é o número
de pessoas que a autarquia tem como
referência dos que dormem nas ruas
da capital, mas não são os únicos em
situação de sem-abrigo: há mais 1967
que estão em quartos, centros de
acolhimento temporário e de aloja-
mentos especíÆcos para pessoas sem
casa ou projectos Housing First. Por
isso, o novo Plano Municipal para a
Pessoa em Situação de Sem-abrigo
(PMPSA) 2019-2023, que é hoje apre-
sentado, aposta em conseguir casa
para quem não tem tecto, seguindo
a ideia de que a autonomização das
pessoas sem casa começa com uma
habitação digna.
Ouvido na Comissão de Direitos
Sociais e Cidadania na Assembleia
Municipal de Lisboa, na passada
quarta-feira, o director do Departa-
mento dos Direitos Sociais, Paulo
Santos, disse que “a grande ambição
deste plano” — que foi estendido até
2023 para acompanhar a estratégia
do Governo e “dar uma maior estabi-
lidade” à intervenção que é feita no
terreno — “é dar resposta a cada caso”
e garantir que essa resposta existe.
“Há fenómenos que não controla-
mos. Há pessoas todos os dias a che-
garem à cidade e a mudarem de
lugar”, disse, por sua vez, o vereador
dos Direitos Sociais, Manuel Grilo, na
mesma sessão. Segundo explicou,
dos 361 sem tecto recenseados em
Janeiro de 2019, 152 tinham ido parar
à rua em 2018.
A percepção de que o número de
pessoas em situação de sem-abrigo
está a aumentar foi, de resto, uma
preocupação deixada pelas presiden-
tes das juntas de Arroios e de São
Vicente, precisamente as duas fregue-
sias, juntamente com Santa Maria
Maior, onde foram identiÆcados mais
casos. “Passei ainda hoje na [Avenida]
Almirante Reis e eram só tendas mon-
tadas debaixo de prédios. Arroios está
pior. Nós tínhamos 66 casos e não sei
se não teremos neste momento à vol-
ta de 80 casos”, disse Margarida Mar-
tins. “Eu estou como a Margarida, a
ser invadida por tendas”, disse, por
sua vez, Natalina Moura, autarca em
São Vicente. “Se isto tomar esta
dimensão, temo ver o Largo da Graça
transformado num parque de cam-
pismo.”
As pessoas que vivem nas ruas de
Lisboa são sobretudo do sexo mas-
culino (89%), mas existem 10% de
mulheres e 1% de outros géneros e
têm, em média, 47 anos. A maioria
(70%) tem nacionalidade portugue-
sa, 11,4% são cidadãos de outros paí-
ses da Europa e 9,3% originários de
países africanos de língua oÆcial por-
tuguesa.
Na capital, não há nenhuma crian-
ça na rua, diz o vereador, e as mulhe-
res grávidas serão dali sempre reti-
radas. “Houve uma excepção da qual
muito nos penalizámos, mas é a
excepção”, disse Grilo, lembrando o
recente caso de Sara Furtado, que
vivia na rua e deixou o Ælho recém-
nascido no interior de um ecopon-
to.
Este caso veio expor falhas na sina-
lização destes casos. Como resposta,
o Ministério da Segurança Social já fez
saber que está a trabalhar na constru-
ção de uma base de dados referencia- melhor acesso aos serviços públicos nocturnos, mais 127 novas vagas,
da para que a informação seja cruza-
“Há fenómenos e às prestações sociais, como o rendi- além das 185 que já existem. Quer
da e esteja mais acessível. que não mento social de inserção (RSI), à ainda aumentar a resposta daquilo
população em situação de sem-abri- que designa por “unidades integrati-
Mais casas controlamos. go. Quer ainda reforçar a intervenção vas” — que funcionam em regime de
Lisboa veio aÆnando o Plano Muni- Há pessoas todos na área da saúde (rede de cuidados alojamento nocturno e diurno duran-
cipal para a Pessoa em Situação de de saúde primários, saúde mental e te 24 horas. Actualmente existem 25
Sem-abrigo 2019-2023 ao longo dos
os dias a chegarem medicina dentária), através de proto- vagas na Unidade Integrativa do
últimos meses, passando a ter cinco à cidade e a colos de colaboração com entidades Lavrado, na Penha de França, e a
(no anterior eram três) eixos de da administração central e IPSS. autarquia quer criar 75 novos lugares.
actuação: sinalização, emergência,
mudarem Manuel Grilo Æxou ainda o objectivo O município pretende ainda aumen-
transição, inserção/autonomização de lugar”, disse de chegar às 1500 consultas de saúde tar o número de núcleos de apoio
e prevenção. oral por ano, um cuidado “importan- local. Actualmente, esta resposta
No eixo da sinalização, a autarquia
o vereador dos te” para a reentrada desta população existe apenas em Arroios e São Vicen-
quer reforçar o acompanhamento Direitos Sociais, no mercado de trabalho. te, com 50 vagas cada, e a autarquia
especializado, através de um gestor No eixo da emergência, a autarquia quer estendê-la ao Parque das Nações
de caso que se articule com as entida-
Manuel Grilo quer ter nos centros de acolhimento e à zona ocidental da cidade.
des competentes e promover o de emergência, como os albergues O eixo da transição será o que terá

mais peso, em termos de investimen-
to, neste plano. Dos 14,6 milhões que
serão investidos até 2023, cerca de
dez milhões deverão ser alocados ao
reforço do programa Housing First,
passando de 80 para 400 vagas, à
criação de 65 vagas em apartamentos
partilhados e 50 vagas numa residên-
cia social.
A autarquia quer ainda criar uma
bolsa de fogos em habitação munici-
pal que deverá ter, até 2023, 200
casas para autonomizar pessoas que
estejam em situação de sem-abrigo.
“Temos estado a trabalhar na criação
de uma bolsa de fogos para dar res-
posta a estas pessoas. Estamos a falar
de 2000 pessoas sem casa; por isso,
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 23
Presidentes
de junta dizem
que número
de pessoas
que dormem
na rua, muitas
em tendas,
tem vindo
a crescer
NUNO FERREIRA SANTOS
se conseguíssemos 10%, 200 vagas,
seria perfeito. É um número ambicio-
so, mas penso que até 2023 podemos
trabalhar nesse sentido”, disse
Manuel Grilo.
A empregabilidade será outro foco
do plano. Paulo Silva lembrou os
exemplos de projectos como o É Um
Restaurante, onde quem faz e serve
a comida são pessoas em situação de
sem-abrigo. Está também em cima da
mesa a criação de uma bolsa de
emprego apoiado dentro da Câmara
de Lisboa.
Valor criticado
Para pôr tudo isto de pé, serão inves-
tidos cerca de 14,6 milhões de euros.
Um programa de Marco António
e Lucy Pepper em parceria PODCASTS
com o Público
E, apesar de o valor previsto ser supe-
rior ao que estava orçamentado, que
era pouco superior a um milhão por
ano, o deputado centrista João Con-
deixa fez questão de notar que o valor
que será investido anualmente cor-
responde a cerca de 0,3% do orça-
mento municipal. “Este valor não
espelha o que se diz ser uma priori-
dade”, notou.
A falta de respostas no âmbito da
saúde mental foi referida por vários
deputados municipais. A deputada
independente Teresa Craveiro lem-
brou ainda a falta de respostas ao
nível do acesso à cultura.
De acordo com o diagnóstico feito
nas ruas, são 31 as instituições que
ajudam as pessoas sem tecto, princi-
palmente ao nível de distribuição de
refeições, roupa, produtos de higiene
e de assistência médica.
Os centros de alojamento Ænancia-
dos pela autarquia receberam, em
2018, 1024 pessoas — mais de metade
no centro de alojamento temporário
do Beato, que a autarquia reconhece
há anos que precisa de uma interven-
Histórias sobre o
ção. No entanto, ainda nada foi feito,
havendo agora uma renovação de
que faz de Portugal
compromisso: “Não sendo uma nova
resposta, importa destacar a obra
um país único
prevista para o Centro de Acolhimen- Tão único como a
to do Beato. Esta intervenção preten-
de redimensionar a sua capacidade palavra saudade
de acordo com os novos modelos em
conformidade com a requaliÆcação
do ediÆcado, bem como a criação de
novas respostas (ex: residência
social, apartamentos partilhados)
com vista à reintegração na socieda-
de desta população, contribuindo
para o seu bem-estar e equilíbrio,
atenuando as situações de isolamen-
to e carência.”
O anterior PMPSA 2016-2018 impli-
cou um investimento de 4,5 milhões
de euros. De acordo com a autarquia,
foram integralmente executados 19
dos 23 projectos previstos. Como ouvir e subscrever os podcasts do Público:
O Plano Municipal para a Pessoa
em Situação de Sem-Abrigo 2019-2023 1 | Abra a sua app de podcasts
será apresentado hoje nos Paços do IOS: App pré-instalada com o nome Podcasts;
Concelho e contará com a presença Android: Descarregue uma app na Playstore;
da ministra do Trabalho, Solidarieda- Computador: No site em publico.pt/podcasts
de e Segurança Social, Ana Mendes 2 | Procure por “Público” ou pelo programa que quer ouvir (ex.: P24)
Godinho, do presidente da Câmara
3 | Subscreva para ouvir em primeira mão os novos episódios
de Lisboa, Fernando Medina, e do
vereador dos Direitos Sociais, Manuel
Grilo. O programa, que já esteve em
consulta pública, será apresentado Disponível no
antes de ser votado pelo executivo.
cristiana.moreira@publico.pt
24 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
ECONOMIA
Ana Gomes e o processo de Isabel
dos Santos: “Não me calarei”
Empresária angolana processou ex-eurodeputada socialista, a quem pede que apague seis tweets
publicados em Outubro passado sobre “lavagem de dinheiro”. Caso começa hoje a ser julgado em Sintra
Justiça
Bárbara Reis
Isabel dos Santos processou a ex-eu-
rodeputada socialista Ana Gomes por
ofensa ao seu bom nome e reputação,
alegando que seis tweets publicados
em Outubro “induzem o leitor” à
“convicção errada e difamatória” de
que é corrupta e usa o Banco Eurobic
para “lavar dinheiro”.
O julgamento começa hoje no Tri-
bunal Judicial da Comarca de Lisboa-
Oeste, no juízo local cível de Sintra, e
a acção recorre ao processo “especial
de tutela da personalidade”, um ins-
trumento de uso raro em Portugal.
A empresária e Ælha do ex-Presi-
dente de Angola, José Eduardo dos
Santos, alega que a acusação feita nos
tweets de Ana Gomes “não corres-
ponde à verdade” e que, para “defen-
der a sua honra e reputação”, “não
restou outra alternativa” senão pro-
cessar a antiga diplomata, descrita na
queixa como “uma das políticas por-
tuguesas mais inÇuentes” do país.
Há anos que Ana Gomes faz “siste-
máticos comentários pejorativos”
contra Isabel dos Santos, diz a queixa,
“sem que se vislumbre o motivo para
tal”, mas o processo refere-se aos
tweets de 14 e 15 de Outubro, seguidos
de outros quatro nos dias seguintes.
Nas 47 páginas de queixa, que a
eurodeputada publicou no seu site,
lê-se que os tweets são “caluniosos”,
provocam “dano à imagem, honra e
bom nome” da empresária e das
sociedades em que é accionista e são
uma “Çagrante violação de direitos
de personalidade”.
Francisco Teixeira da Mota, advo-
gado de Ana Gomes e experiente
defensor de casos de liberdade de
expressão (e advogado do PÚBLICO),
não quis prestar declarações. Ao
PÚBLICO, a eurodeputada disse que
é “uma cidadã interveniente” e assim
continuará. “Não me calarei sobre
estas questões”, disse Ana Gomes,
acrescentando que a 12 de Novem-
bro enviou à Procuradoria-Geral da
República e à Autoridade Tributária
“diversos documentos sobre o Banco
Eurobic”.
O primeiro tweet dizia: “Isabel dos
Santos endivida-se mto porque, ao
NELSON GARRIDO
liquidar as dívidas, ‘lava’ q se farta! E
bancos querem ser ressarcidos, só em
teoria cumprem #AMLD, de facto não
querem saber a origem do dinheiro…
E @bancodeportugal não quer ver…”
(comentário que teve, nota a acusa-
ção, “14 comentários, 40 retweets e
218 ‘gostos’”. O seguinte dizia: “Que
jeito dá à PEPíssima acionista [sic]
Isabel dos Santos o @banco_eurobic!
Está na rede swift e na Zona Euro,
passa por lá p/liquidar dívidas jto de
outros bancos. Sem ‘due diligences’
pois já circulou por banco da zona
Euro. @bancodeportugal e @ecb
assobiam para ar! (…)” (um comentá-
rio, 9 retweets e 63 “gostos”).
“Cleptocracia angolana”
A sigla PEP refere-se a Pessoa Politi-
camente Exposta, que, segundo a lei
portuguesa (2017), são pessoas que,
nos últimos 12 meses, desempenham
ou desempenharam “funções públi-
cas proeminentes”. A lei especiÆca 13
funções (entre as quais, chefe de Esta-
do e de Governo, ministros, secretá-
rios e subsecretários de Estado, depu-
tados e juízes dos vários tribunais
supremos) e diz que “as medidas
reforçadas de identiÆcação e diligên-
cia que as entidades devem adoptar
relativamente aos seus clientes […]
são extensivas” aos “membros próxi-
mos da família das pessoas politica-
mente expostas”, entre os quais, “os
ascendentes e descendentes directos
em linha recta de pessoa politicamen-
te exposta”.
Na queixa, o advogado Carlos Cruz
escreve que Ana Gomes acusou Isa-
bel dos Santos “de ‘lavar dinheiro’
em Portugal, dissimulando a sua ori-
gem e utilizando directamente o
Banco Eurobic”, de que a empresária
angolana “é, indirectamente, accio-
nista (sem que desempenhe
qualquer cargo nos órgãos
sociais)”. E que Fernando
Teixeira dos Santos, antigo
ministro das Finanças do
governo socialista de José
Sócrates e actual presi-
dente do Banco Euro-
bic, disse no próprio
dia da publicação
d o s t weets qu e
Gomes tinha de pro-
A queixa da empresária angolana tem um total de 47 páginas var o que dissera,
“sob pena de arriscar um processo
por difamação”.
Isabel dos Santos é descrita pelo
seu advogado como uma empresária
“cumpridora e respeitadora dos seus
compromissos, nomeadamente
Ænanceiros”, que foi “considerada em
2014 a empreendedora ‘número um’
em África” e é “uma proÆssional com
reconhecida competência”.
A acusação argumenta ainda que
a 15 de Outubro Ana Gomes “insistiu
nos seus comentários difamatórios”,
“fazendo duas publicações no Twit-
ter”: “Há aí quem me acuse de ñ
comunicar a autoridades razões/pro-
vas por q reitero q Isabel dos Santos
branqueia capitais de #Angola atra-
vés da banca em #Portugal. Enga-
nam. Estou farta de o fazer, em docs
publiquei. Só não vê quem não quer”
e, a seguir, “como se vê por esta res-
posta à minha carta, o @bancodepor-
tugal vale-se do ‘segredo da supervi-
são bancária’ para fechar os olhos,
não ver o que é evidente e deixar
tudo como […] relativamente a inves-
timentos de Isabel dos Santos” (17 e
3 comentários, 62 e 14 retweets e 375
e 116 “gostos”) e de, à noite, no mes-
mo dia, ter “insistido” na SIC Notí-
cias. “Ao longo de toda a semana”,
diz a acusação, Ana Gomes repetiu a
mensagem: “A minha reacção ontem
@SICNoticias à ameaça de Fernando
Teixeira dos Santos de me processar
por dizer o óbvio: q PEP Isabel dos
Santos branqueia capitais desviados
de #Angola através de bancos como
o #EuroBIC e outros investimentos
em #Portugal. #AMLD” (60 comen-
tários, 102 retweets e 786 “gostos”). E
a 17 de Outubro, outro tweet: “Alguns
dos bancos de que é dona e/ou alguns
dos 15 bancos com q ‘trabalha’ a Eng.
Isabel dos Santos e outros expoentes
da cleptocracia angolana, maila
[sic] sua criadagem em #Por-
tugal? #Angola could revoke
more licences in bank clea-
nup – CenBank chief – Reu-
ters” (1 comentário, 12
retweets e 86 “gostos”).
O julgamento começa
às 14h. Esperam-se qua-
tro testemunhos da acu-
sação e dois da defesa.
breis@publico.pt
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26 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

20 Dias Que
Marcaram
a Década

O dia em que
a morte da
privacidade
saiu nos
jornais
Edward Snowden revelou poderosos mecanismos de
cibervigilância usados pelos Estados. Mas isso não impediu
que milhões de utilizadores continuassem a colocar dados em
plataformas online. E que novos escândalos voltassem a surgir
O artigo do Guardian explicava que ria como o “registo permanente” que lha invasiva de dados e os programas A 7 de Junho, um dia após a primei-
João Pedro Pereira (texto), a operadora Verizon guardava infor- as autoridades dos EUA (e de alguns de vigilância empregues pelas agên- ra revelação, o Guardian e o jornal
Miguel Feraso Cabral mação como a data, hora e duração outros países, como o Reino Unido) cias governamentais, bem como sobre americano The Washington Post publi-
(ilustração) das chamadas, os números e a locali-
zação dos interlocutores (os chama-
faziam das telecomunicações e das
actividades online de milhões de pes-
o papel das grandes empresas de tec-
nologia — particularmente as platafor-
caram notícias com base num dos
documentos que se viria a tornar dos

A
6 de Junho de 2013 o dos metadados) a pedido da Agência
jornal britânico The de Segurança Nacional, conhecida
Guardian noticiou pela sigla inglesa NSA. Foi o primeiro
que uma operadora de uma torrente de notícias que
de telecomunicações viriam a ser feitas com base no acervo
americana estava a de documentos recolhido por Edward
recolher dados sobre Snowden, um jovem informático ame-
as comunicações de ricano com uma carreira a trabalhar
milhões de pessoas e para os serviços secretos dos EUA.
a entregá-los aos ser- Pouco antes da revelação, Snowden
viços de informação. Poucos sabiam decidira fugir para Hong Kong e, a
que aquela notícia era a minúscula partir de um quarto de hotel, contac-
ponta de um icebergue que seria reve- tar jornalistas que pudessem expor
lado ao longo dos meses seguintes. ao mundo o que mais tarde classiÆca-
soas. Em alguns casos, os próprios
conteúdos das comunicações eram
guardados pela NSA, para eventual
análise. O mesmo acontecia com a
navegação na Internet e a actividade
em redes sociais. Noutros casos, os
telefones de líderes mundiais estavam
a ser monitorizados, como aconteceu
com a chanceler alemã, Angela
Merkel, e a presidente brasileira, Dil-
ma Rousseè.
“O impacto mais importante das
revelações de Snowden foi dar um
conhecimento essencial sobre a reco-
mas sociais — enquanto facilitadores
dessas actividades”, observa ao
PÚBLICO o académico Jon Penney, da
Universidade de Harvard, que inves-
tiga os efeitos das tecnologias de infor-
mação nas democracias. “A par do
escândalo da Cambridge Analytica,
trouxe um maior escrutínio à criação
de perÆs com base em dados e à mani-
pulação daquelas plataformas para
servir interesses privados e empresa-
riais”, acrescentou, referindo-se ao
caso da consultora política que abalou
a reputação do Facebook.
mais famosos. Era uma apresentação
de Powerpoint, com slides a detalhar
o funcionamento de um programa de
cibervigilância chamado PRISM. Um
dos slides mostrava o nome de algu-
mas das maiores empresas de tecno-
logia — Yahoo, Google, Microsoft,
Apple, Facebook, entre outras — e
indicava que a NSA e o FBI obtinham
dados directamente a partir dos ser-
vidores destas empresas. De acordo
com aquele slide, o PRISM começara
em 2007, ainda na presidência de
George W. Bush, e prolongava-se pelo

mandato de Barack Obama.
As empresas de tecnologia apres-
saram-se a negar qualquer envolvi-
mento. Algumas aÆrmaram nunca
terem sequer ouvido falar do progra-
ma. Já as autoridades americanas
disseram que as notícias não reÇec-
tiam as práticas da NSA e que esta agia
dentro da lei. Poucos dias depois,
numa visita à Alemanha, Obama clas-
siÆcou as práticas da NSA como “um
sistema circunscrito e afunilado” para
proteger o povo americano.
Os contornos exactos do PRISM e
de outros mecanismos de cibervigi-
lância ainda hoje são nebulosos. Mais
clara era a sensação de que, no mun-
do descrito pelos documentos de
Snowden, parecia impossível a qual-
quer cidadão escapar à cibervigilância
estatal, incluindo em países democrá-
ticos. As revelações foram o primeiro
grande choque do público com a fra-
gilidade da privacidade num mundo
de conectividade constante. Motiva-
ram leis, promessas de políticos e
novas garantias por parte dos gigantes
tecnológicos. Mas nada impediu que
a quantidade de dados a circular con-
tinuasse a aumentar.
Um mundo de dados
Ao longo do resto da década, os utili-
zadores despejaram uma torrente de
informação em todo o tipo de serviços
online. Redes sociais como o Facebook
e o Twitter cresceram nos anos após
as revelações de Snowden. Só a rede
6 Jun
2013
É publicada a primeira notícia
com base nos documentos
revelados pelo informático
Edward Snowden
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 27
social criada por Mark Zuckerberg é
usada por perto de um terço da popu-
lação mundial.
Também os telemóveis se tornaram
um repositório de informação sobre
os movimentos e os hábitos dos con-
sumidores. É sabido que estes dados
são recolhidos e analisados por algo-
ritmos, e usados pelas empresas para
apresentar publicidade e pelos estra-
tegas políticos para construir perÆs
de eleitores. O que os Estados fazem
com esta informação é mais opaco.
Na China, onde a realidade imita a
Æcção e se ensaia um sistema de
ranking social, alguns polícias têm
óculos de realidade aumentada para
detectar potenciais criminosos numa
multidão. O registo facial tornou-se
obrigatório para quem quer que com-
pre um telemóvel.
Um ano após as primeiras notícias,
Edward Snowden, numa entrevista
dada já a partir da Rússia, onde aca-
bou por se exilar para escapar à justi-
ça americana, alertou para os riscos
de as pessoas Æcarem entorpecidas
pela simples dimensão das revela-
ções. “Uma morte é uma tragédia, um
milhão é uma estatística”, disse à
revista Wired, citando Estaline. “Tal
como a violação dos direitos de Ange-
la Merkel são um escândalo enorme,
a violação dos direitos de 80 milhões
de alemães é uma não-notícia.”
O próximo grande escândalo de
privacidade aconteceria cinco anos
mais tarde, já perto do Ænal de uma
década onde os dados se tornaram
matéria-prima preciosa para Estados
e empresas. Desta vez, os contornos
foram muito diferentes.
Buracos na rede
Quando o escândalo da Cambridge
Analytica rebentou, com notícias
simultâneas no americano The New
York Times e no britânico The Obser-
ver, o caso já não era novo. Com base
em fontes anónimas, tinham antes
surgido notícias de que os dados de
milhões de utilizadores do Facebook
estavam a ser recolhidos de forma
subreptícia por uma empresa de con-
sultoria política e a serem usados para
apresentar propaganda direccionada
sob a forma de anúncios online e deli-
near estratégias eleitorais.
Porém, foi só após um dos funcio-
nários, o analista de dados Chris-
topher Wylie, ter decidido dar a cara
para denunciar a gigantesca falha de
privacidade na rede social, que o caso
ganhou contornos claros e motivou
um coro de protestos por parte de
utilizadores, reguladores e legislado-
res em ambos os lados do Atlântico.
A informação de milhões de pes-
soas tinha sido recolhida por um
académico com o pretexto de uma
investigação cientíÆca. Os dados
eram obtidos por um dos muitos
questionários de personalidade que
circulavam pela rede social. Bastou
que 270 mil pessoas respondessem
ao questionário para que tivessem
sido angariados dados pessoais de
cerca de 87 milhões de pessoas
(entre estas, estavam 63 mil utiliza-
dores em Portugal e o próprio Mark
Zuckerberg).
Como é que as acções de um grupo
tão reduzido de pessoas acabou por
afectar milhões? A resposta está na
própria natureza em rede do Face-
book, associada ao facto de, na altu-
ra, as deÆnições de privacidade
serem muito mais permissivas. Res-
ponder ao questionário implicava
dar autorização à aplicação para
obter os dados dos amigos do Face-
book. Com essa autorização, foi pos-
sível recolher nomes, emails, locali-
zação e, em alguns casos, o conteúdo
das publicações. A maioria das pes-
soas afectadas não tinha tido qual-
quer contacto com a aplicação.
O académico responsável pelo
questionário, um cientista de dados
da Universidade de Cambridge cha-
mado Aleksandr Kogan, entregava
a informação à Cambridge Analyti-
ca. A empresa, que negou as acusa-
ções e entretanto declarou falência,
trabalhou nos EUA para a campanha
presidencial do republicano Ted
Cruz e mais tarde para a campanha
de Donald Trump. No Reino Unido,
prestou serviços ao Leave.EU, um
grupo que defendia o “Brexit”.
O escândalo surgiu numa altura já
difícil para o Facebook. A rede social
estava sob uma torrente de críticas
por ter deixado que a plataforma
fosse usada para a disseminação de
desinformação durante as presiden-
ciais americanas de 2016. Isto incluía
anúncios pagos pela Rússia e conce-
bidos para inÇuenciar a opinião de
cidadãos americanos. O escândalo
da Cambridge Analytica despertou
o escrutínio das autoridades, levou
Mark Zuckerberg a um acto de con-
trição e mergulhou a rede social
numa reÇexão existencial.
“O mundo sente-se ansioso e divi-
dido, e o Facebook tem muito traba-
lho para fazer”, dizia Mark Zucker-
berg no Ænal do ano passado. “Seja
proteger a nossa comunidade do
abuso e do ódio, defendermo-nos
contra a interferência de Estados ou
assegurar que o tempo no Facebook
é tempo bem gasto.” Quase um ano
depois, Edward Snowden parece
considerar que o trabalho está longe
de concluído. Em Novembro, na
Web Summit, Snowden traçou um
cenário sombrio sobre o uso de
redes sociais e outras plataformas
online: “A minha geração, e particu-
larmente a geração depois da minha,
já não são donos de nada. Usamos
estes serviços e criamos um registo
permanente. E isto é o que escapa
às pessoas: não são dados que estão
a ser explorados, são as pessoas que
estão a ser exploradas.”
jppereira@publico.pt
28 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
20 dias que
marcaram
a década
Tempos de “guerra híbrida” contra a democracia
Opinião
Ana Gomes
H
á seis anos, a 17 de
Dezembro de 2013, Edward
Snowden, analista de
sistemas subcontratado
pela CIA e NSA, publicou
uma carta aberta em que
escrevia: “Não quero viver num
mundo em que tudo o que digo,
tudo o que faço, todos com quem
falo, cada expressão de criatividade,
de amor ou amizade seja registado.
Não é algo que eu esteja disposto a
apoiar, a construir e sob o qual
esteja disposto a viver.”
Snowden denunciou a vigilância
global exercida pelo acesso a
comunicações e tráfego de
informações pelas agências
norte-americanas a pretexto de
combater o terrorismo. Através do
programa PRISM, a Agência
Nacional de Segurança dos EUA (a
NSA) recolhe dados dos utilizadores
das plataformas de Internet, tendo
acesso aos servidores da Google,
Apple, Facebook e outras
tecnológicas.
Não vou esquecer aquela
delegação do Parlamento Europeu
a Washington, em 2014, quando
soubemos, via WikiLeaks, que até
as comunicações privadas da
chanceler Merkel eram vigiadas pela
NSA. Vi colegas alemães a
questionarem em fúria membros do
Congresso e da Administração
Obama. Ouvi a directora para a
Europa no Departamento de Estado
retorquir que Berlim também
espiava quanto podia... A “lavagem
de roupa” revelaria que o gabinete
de Merkel autorizara o BDN alemão
a ajudar a NSA a espiar empresas e
altos funcionários europeus.
Noutra missão do Parlamento
Europeu, em 2016, de Washington
seguimos para Silicon Valley. Eu
fora encarregue de escrever um
relatório sobre big data e procurava
perceber o que se estava a passar.
Mais importante era o que NÃO se
estava a passar do ponto de vista
regulatório: o wild west convinha às
correntes neoliberais que
prevaleciam, apesar da crise
Ænanceira e de sucessivos
escândalos envolvendo violação de
dados pessoais, usurpação de
identidades, roubos de bases de
dados, etc...
No Parlamento Europeu
O wild west convinha
às correntes
neoliberais que
prevaleciam, apesar
da crise financeira
e de sucessivos
escândalos
tínhamos conseguido fazer aprovar
o Regulamento Geral de Proteção
de Dados (RGPD) que o Conselho
Europeu tinha posto a aboborar.
Com os ataques terroristas em
Paris, em Novembro de 2015, os
governos precisavam de mostrar
que combatiam o terrorismo:
trataram de acusar o PE de reter a
directiva PNR (Passenger Name
Records — registo de passageiros que
as companhias aéreas deveriam
submeter, para se detectarem
recrutas do Daesh a aÇuir à Síria e
Iraque). Foi ensejo para o
Parlamento Europeu obrigar à
aprovação do RGPD — sem ele, não
aprovaria a PNR! (A directiva
passou, mas à moda do Conselho —
aplicada apenas a voos regulares,
deixando de fora voos charter e
privados, os que mais servem
terroristas e outra criminalidade,
como tráÆco de droga,
branqueamento de capitais, etc.)
O relatório Big Data fez-me ver
que, a coberto da omissão
regulatória até à entrada em vigor
do RGPD, em Maio de 2018,
empresas europeias e
multinacionais investiam
avidamente em bancos de dados
Há lá mais hipocrisia do
que ter Snowden a abrir
a Web Summit sem
cuidar de lhe facultar
asilo político?
REUTERS
para todos os Æns. Com implicações
na privacidade e impacto
discriminatório nas áreas dos
seguros, saúde, informação.
Ainda nesse ano, noutra missão
do PE a Pequim, visitei a sede da
Huawei (ou “Prosperidade da
China”). Tanto como a tecnologia,
impressionava o aprisionamento
civilizacional possível: a direcção da
Huawei (de génese militar e com
impulso do Partido Comunista da
China) não escondeu que os dados
coligidos à escala global eram, por
lei, guardados em servidores na
China. Para perceber para quê,
basta ver que a inteligência artiÆcial
ao serviço da ditadura chinesa já faz
reconhecimento facial e permite
um sistema de classiÆcação dos
cidadãos, premiando ou punindo.
Que o digam os dois milhões de
uigures internados em campos de
reeducação...
Por cá, o PCC controla
infra-estruturas críticas como a REN
ou o Porto de Sines, além de
empresas como a EDP... E quer
avançar para as telecomunicações
via redes 5G, que o Governo reduz a
um problema de concorrência,
desvalorizando implicações para a
nossa autonomia estratégica, a
segurança nacional e europeia, e
para a democracia e os direitos
humanos.
Tudo concorre para perda de
controlo: a Comissão Nacional de
Protecção de Dados devia
supervisar o RGPD, mas não tem
meios e até se presta a invocar a
proteção de dados para legitimar a
opacidade nos vistos gold; apesar da
directiva PNR, ninguém controla
voos com malas de dinheiro e o
resto a circular por aeroportos
secundários; o TC proíbe acesso das
secretas a metadados, que
recorrem a processos mais
intrusivos; na cibersegurança, nem
Estado, nem privados cuidaram de
investir — bem o demonstra a
acusação do MP contra Rui Pinto!
Proteção a whistleblowers que
procuram mobilizar Estado e
sociedade contra todo tipo de
corrupção, nem vê-la... Há lá mais
hipocrisia do que ter Snowden a
abrir a Web Summit sem cuidar de
lhe facultar asilo político, e ao
mesmo tempo aferrolhar Rui Pinto
na prisão?
Trump, “Brexit”, Salvini,
extrema-direita a crescer, tanto
resultam do desvario neoliberal,
como de Ænanciamentos, fábricas
de trolls, fake news ampliÆcadas
pelas redes sociais e direcionadas
por algoritmos do Facebook e
outras plataformas. Proliferam
Cambridge Analyticas para
condicionar e perverter
democracias. Putin e Mercers
controlam, subcontratando nos
Bannons, Nixes, Farages, LePens...
E Zuckerberg faz milhares de
milhões sem pagar impostos.
Vivemos tempos de “guerra
híbrida” contra a democracia.
Tempos que exigem saber
equilibrar segurança e liberdade: o
que não se consegue sem o
sobressalto ético para que Edward
Snowden e Rui Pinto nos convocam.
Diplomata e ex-eurodeputada
Amanhã: O dia em que a Rússia
violou uma fronteira na Europa.
 Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 29

MUNDO
Índia fecha-se a muçulmanos
perseguidos e há violência na rua
Imigrantes sem documentos de seis minorias religiosas do Paquistão, Bangladesh e Afeganistão poderão
naturalizar-se, por serem perseguidos nos países de origem. De fora Äcam ahmadis e rohingyas
JAGADEESH NV/EPA

Ásia
Alexandre Martins
Uma controversa Lei de Cidadania
aprovada pelo Parlamento da Índia
na semana passada está a tornar-se
num pesadelo para o Governo do
primeiro-ministro Narendra Modi,
com milhares de pessoas em protes-
to nas ruas e nas universidades. Ao
Æm de cinco dias de manifestações,
que já Æzeram seis mortos e mais de
100 feridos, Modi veio ontem pedir
“paz, unidade e irmandade”, mas
todos os sinais indicam que os pro-
testos vão continuar um pouco por
todo o país.
Em causa está uma nova lei que
abre as portas da cidadania indiana
a grupos específicos de imigrantes
sem documentos, que os críticos
dizem ser contrária ao secularismo
da Constituição do país.
Com a nova Lei de Cidadania, os
imigrantes sem documentos que
fazem parte de seis minorias religio-
sas no Paquistão, Afeganistão e Ban-
gladesh, como os hindus, budistas e
cristãos, vão poder requisitar a
nacionalidade indiana para se tor-
narem cidadãos de pleno direito,
por serem considerados vítimas de
perseguição nos países de origem.
Para os críticos, como a socióloga
Niraja Gopal Jayal, a nova Lei de
Cidadania, em conjunto com o regis-
to de cidadãos no estado indiano de Protesto contra a nova Lei de Cidadania, conhecida pelas iniciais da sua designação em inglês, CAB
Assam, que exclui da cidadania uma
grande parte da população muçul- apenas a quem foi vítima de perse- protestos violentos em vários esta- Enquanto os universitários pro- te estado multiétnico há décadas.
mana, com raízes no Bangladesh, guição no estrangeiro e não tem belecimentos de ensino superior, testam contra a nova lei, que consi- Em Agosto, quase dois milhões de
“pode vir a transformar a Índia num outro sítio onde se refugiar a não ser ontem, numa gigantesca manifesta- deram ser discriminatória para os pessoas Æcaram privadas da nacio-
regime maioritário com diferentes a Índia”, disse Modi, apelando ção contra a nova lei e contra a inter- muçulmanos, a população do estado nalidade indiana, numa operação
graus para os direitos dos cidadãos”, depois à “paz, união e irmandade”. venção da polícia na prestigiada de Assam, na fronteira com o Ban- para identiÆcar quem nasceu no
cita a BBC. universidade Jamia Millia Islamia, gladesh, saiu às ruas para se mani- estado de Assam e quem nasceu no
Este cenário poderia esbarrar nos Minorias ignoradas em Nova Deli, no domingo. festar contra a mesma lei, mas por vizinho Bangladesh, um país muçul-
princípios da Constituição indiana, Mas os críticos dizem que se o objec- A vice-reitora da universidade, razões diferentes. Para eles, o maior mano — ou que não conseguiu provar
que proíbe a discriminação religiosa tivo da nova lei é apenas dar abrigo Najma Akhtar, condenou o uso de receio é virem a ser “invadidos” por ter vindo para Assam antes de 1971,
e garante a igualdade de todos os a populações perseguidas, então gás lacrimogéneo pela polícia e imigrantes não-muçulmanos do vizi- quando foi criado o Bangladesh.
cidadãos perante a lei. também deveria permitir a repetiu a denúncia de que os agentes nho Bangladesh, um sentimento Mas o partido de Modi recuou no
O primeiro-ministro, Narendra naturalização de membros bateram em estudantes que se
b antigo na região. Houve mobilização apoio a esse registo, motivando a
Modi, eleito em 2014 e reeleito em de minorias religiosas e
esconderam nas c asas de de tropas, foi imposto um recolher fúria da maioria hindu, quando se
Abril passado pelo partido naciona- muçulmanas, como os banho. obrigatório e o corte da Internet. soube que dezenas de milhares de
lista hindu Bharatiya Janata, garan- ahmadis do Paquistão ou os Numa conferência de impren- A polémica tem uma dimensão hindus bengaleses — que apoiam o
tiu ontem, no Twitter, que a nova lei rohingyas da Birmânia, por sa, Najma Akhtar anunciou que ainda maior no estado de Assam por Bharatiya Janata — podiam também
“não afecta nenhum cidadão da exemplo. a universidade vai apresentar causa de outra iniciativa controver- Æcar privados da nacionalidade
Índia de nenhuma religião”. O apelo do primeiro- queixa na Justiça e já exi- sa, o Registo Nacional de Cidadãos, indiana.
“Nenhum indiano deve Æcar preo- ministro indiano à cal- giu um “inquérito
g apoiada pelo primeiro-ministro e
cupado com esta lei. A lei destina-se ma surge depois de rigoroso”. exigida por parte da população des- alexandre.martins@publico.pt
30 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
MUNDO
O homem em quem
Macron confiava para
mudar o sistema de pensões
foi forçado a demitir-se
França
Clara Barata
Hoje, há mais uma greve
geral. Jean-Paul Delevoye
saiu do Governo porque
não declarou outros
cargos remunerados
Jean-Paul Delevoye, o especialista
que Emmanuel Macron escolheu
para pensar a reforma do sistema de
pensões em França, demitiu-se
ontem, após sucessivas revelações
sobre cargos que desempenha e que
são incompatíveis com a posição que
ocupava no Governo. Deixou-os de
fora da declaração de interesses que
é obrigado a apresentar: 13, no total.
A revelação foi feita no Æm-de-sema-
na em que os franceses continuaram
a sofrer com a greve (que afecta
sobretudo os transportes) de protes-
to contra a reforma.
Delevoye tinha um cargo equiva-
lente ao de ministro, o que obrigava
a fazer uma declaração de interesses
à Alta Autoridade para a Transparên-
cia da Vida Pública. Mas o alto-co-
missário, que preparava as altera-
ções ao sistema de pensões desde
2017 — e enviou ao Governo em Julho
o relatório no qual se baseia a pro-
posta apresentada pelo primeiro-mi-
nistro, Édouard Philippe, na semana
passada — apresentou uma declara-
ção incompleta.
No momento em que as atenções
dos franceses se concentram sobre
o tema em que Delevoye trabalhava,
e em que há uma redobrada atenção
O Governo terá dificuldade em substituir Delevoye
em França sobre a honestidade dos
homens políticos, ou com cargos de
responsabilidade — veja-se a acusa-
ção recente de várias Æguras de proa
do partido centrista MoDem, aliados
do Presidente Macron, por empregos
Æctícios no Parlamento Europeu —,
vários jornais começaram a investi-
gar a declaração de Delevoye.
Num instante, o novelo desenro-
lou-se. No domingo, Delevoye reco-
nheceu que continua a ocupar cargos
remunerados depois de ter entrado
no Governo, incluindo a presidência
de um think tank — o que é interdito
pelo artigo 23 da Constituição fran-
cesa, diz o Le Monde.
Para o Governo francês, a saída de
Delevoye é um golpe. Será difícil
substituí-lo, numa altura em que
continua Ærme a contestação aos
planos para acabar com os 42 subsis-
temas de pensões actuais, para criar
um único.
Hoje, está convocada mais uma
greve geral, na qual participa a Con-
federação Francesa Democrática do
Trabalho (CFDT), central que apoia-
va a mudança com base num sistema
de pontos, em que o montante da
pensão será calculado a partir do
número de pontos adquirido ao lon-
go da carreira contributiva, e não a
partir do número de anos, como
Delevoye e o Governo prevêem. Mas
o facto de o executivo persistir na
ideia de majorar a pensão de quem
continuar a trabalhar pelo menos até
aos 64 anos — embora mantenha a
idade legal de reforma nos 62 anos
— virou a CFDT contra o executivo.
clara.barata@publico.pt
CHRISTOPHE PETIT TESSON/EPA
O relatório diz que as forças da ordem “atiraram a matar”
Forças de segurança
mataram 304
manifestantes, diz AI
Irão
Relatório da organização
fala em “repressão cruel”.
Sete mil pessoas já foram
detidas nos protestos que
eclodiram em Novembro
O número de mortes nos protestos
no Irão já vai nos 304, diz um rela-
tório divulgado ontem pela Amnistia
Internacional, que acusa as forças
de segurança de “massacrarem”
manifestantes desarmados.
Os vídeos obtidos pela organiza-
ção de defesa dos direitos humanos
mostram forças de segurança a abrir
fogo sobre os manifestantes “que
não representavam qualquer risco”,
segundo o relatório do grupo que
pede ao Governo iraniano que actue
para parar esta “repressão cruel”.
Philip Luther, o director da Amnis-
tia para o Médio Oriente e Norte de
África, diz que a informação recolhi-
da pela organização é baseada em
“testemunhos angustiantes”.
Milhares de manifestantes, entre
os quais jornalistas, defensores dos
direitos humanos e estudantes,
foram detidos, diz a AI.
“Logo após as autoridades irania-
nas terem massacrado centenas de
pessoas que participavam nos pro-
testos nacionais, foi orquestrada
uma vaga de repressão destinada a
instilar o medo e a impedir que se
falasse sobre o que estava a aconte-
cer”, disse Luther.
A maior parte das mortes, diz o
relatório, foram provocadas por
EPA
tiros na cabeça, coração e noutros
órgãos vitais, o que indicia que as
forças de segurança estavam a “ati-
rar a matar”.
“Em vez de continuarem esta bru-
tal campanha de repressão, as auto-
ridades iranianas devem de forma
imediata e incondicional libertar
todos os que foram presos arbitra-
riamente”, disse Philip Luther.
A 17 de Novembro, o terceiro dia
dos protestos, e de acordo com os
media estatais, tinham sido detidas
mais de mil pessoas. A 26 de Novem-
bro, segundo Hossein Naghavi Hos-
seini, porta-voz da comissão do
Parlamento iraniano para a seguran-
ça nacional e política externa, eram
mais de sete mil os detidos.
Até ao momento, as autoridades
não deram um número oÆcial de
mortos e detidos, diz a AI.
O Governo do Irão não reagiu ao
relatório da Amnistia, mas tinha
rejeitado um balanço anterior da AI
— que falava de 280 mortos —, des-
crevendo os números da organiza-
ção como “fabricados”.
Os protestos no Irão eclodiram a
15 de Novembro, depois do anúncio
de um aumento de 50% no preço
dos combustíveis, com o argumento
de que o país precisa de mais dinhei-
ro devido às sanções dos Estados
Unidos que estrangulam a econo-
mia. O protesto politizou-se rapida-
mente, com os manifestantes a quei-
marem imagens dos governantes e
a pedir o afastamento dos líderes
religiosos.
O Governo de Teerão acusa
“potências estrangeiras” de estarem
a orquestrar as manifestações.
Breves
Bélgica
Tribunal adia decisão
sobre extradição
de Puigdemont
A Justiça belga decidiu adiar
uma decisão sobre extradição
do ex-presidente do governo
catalão Carles Puigdemont,
para ser julgado em Espanha,
até que o Tribunal de Justiça
da União Europeia se
pronuncie sobre a sua
imunidade enquanto
deputado do Parlamento
Europeu, eleito em Maio. O
tribunal de Bruxelas acatou o
pedido da defesa de
Puigdemont, que é acusado
em Espanha pelos crimes de
sedição e desvio de fundos
públicos por promover o
referendo sobre a
independência de 1 de
Outubro de 2017. O tribunal
belga fixou o prazo 3 de
Fevereiro para que a Justiça
europeia possa decidir.
Líbano
Com Hariri prestes
a voltar ao poder, o
povo quer “revolução”
O primeiro-ministro libanês
em exercício, Saad al-Hariri,
devia ter sido ontem
renomeado como chefe do
Governo. Mas violentos
protestos obrigaram a adiar
para quinta-feira os contactos
entre os partidos com
representação parlamentar. A
multidão apelava à
“revolução” e recusava ver
Hariri regressar ao poder,
relata o Le Monde. O protesto
era também contra o
presidente do Parlamento,
Nabih Berri (do Movimento
Amal, associado à
comunidade xiita). Era
acusado de mandar para a rua
os seus apoiantes para calar a
revolta. A Human Rights
Watch (HRW) identificou
seguidores dos grupos xiita
Hezbollah e Amal que tentam
atacar os manifestantes.

“Quem afundou o Titanic?
Iceberg, um judeu!”
Opinião
Esther Mucznik
Esta piada irónica [no título], da
autoria do músico francês Serge
Gainsbourg, é, na verdade, uma
denúncia amarga da utilização do
judeu como bode expiatório para
tudo o que corre mal, uma das
múltiplas manifestações de
anti-semitismo.
No passado dia 3 de Dezembro,
o Parlamento francês aprovou por
escassa maioria e em ambiente
polémico uma resolução contra o
anti-semitismo, adoptando a
deÆnição formulada pela IHRA —
Aliança Internacional para a
Memória do Holocausto: “O
anti-semitismo é uma
determinada percepção dos
judeus, que se pode manifestar
pelo ódio contra eles. As
manifestações retóricas e físicas
do anti-semitismo visam
indivíduos judeus ou não e/ou os
seus bens, instituições
comunitárias e locais de culto.”
O que fez estalar a polémica não
é tanto a deÆnição em si mesma,
aliás bastante vaga, mas sim os
exemplos que a ilustram,
nomeadamente, negar o direito à
autodeterminação do povo judeu
de ter o seu próprio Estado
considerado como um
empreendimento racista; fazer
comparações entre a política
israelita e a dos nazis ou ainda
responsabilizar os judeus
colectivamente pelas políticas de
Israel. Estes exemplos motivaram
a condenação de mais de 100
intelectuais de vários países,
muitos dos quais judeus,
argumentando que esta resolução
pode acabar por censurar a crítica
legítima às políticas israelitas,
sem, no entanto, apresentar
minimamente soluções para lutar
contra o anti-semitismo e o
racismo.
Pessoalmente, nada tenho
contra a deÆnição da IHRA,
incluindo os seus exemplos
ilustrativos. Aprovada em 2016,
sem consequências jurídicas e
partilhada por numerosos
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 31
MUNDO
VINCENT KESSLER/REUTERS
países-membros, não tem
impedido a crítica ao Estado de
Israel. No entanto, as deÆnições,
ao procurarem encaixar uma
realidade normalmente muito
mais complexa do que a descrita,
acabam por ser ou demasiado
vagas ou demasiado limitativas.
O anti-semitismo é um claro
exemplo disso e, na verdade, não
cabe dentro de uma deÆnição
estática. O carácter cíclico da
perseguição e do ódio antijudaico,
a sua longevidade, a constância
das perseguições, a força e a
extensão desse ódio, com todos os
mitos e fantasmas que ele não
deixa de suscitar, fazem do
anti-semitismo um fenómeno que
é muito mais do que uma das
variantes do racismo. Um
fenómeno que se foi
metamorfoseando ao longo da
História: na Antiguidade pagã e
clássica manifestava-se contra o
Deus único: “Eles acusam-nos do
crime de não adorarmos os
mesmos deuses que os outros
povos”, nota o historiador judeu e
romano Flávio Josefo. Já na
cristandade medieval, o
antijudaísmo manifesta-se contra dimensão da catástrofe é não entender ou não querer
o “povo deicida”: o judeu errante, remeteram o anti-semitismo ao entender que a crise das
testemunha eterna do crime de silêncio. Mas, pouco a pouco, instituições democráticas, a
deicídio; o judeu usurário, acompanhando o globalização e o receio da diluição
pactuando com o demónio, enfraquecimento e o descrédito da identidade colectiva nacional
perpetrador do assassínio ritual e Emerge cada vez das instituições democráticas, favorece a reacção nacionalista,
conspirando para dominar o multiplicam-se as manifestações xenófoba e a procura de um bode
mundo. com mais força e anti-semitas violentas que se vão expiatório. “O Holocausto nunca
Na Idade Moderna surge outro violência na tornando perigosamente banais. existiu. Os judeus estão na origem
tipo de anti-semitismo de Como se deÆne actualmente o de todos os problemas”, aÆrmou
características raciais e xenófobas. Europa e nos EUA anti-semitismo? Será que se Stephan Balliet, o terrorista que
O judeu é o estrangeiro e o traidor o velho-novo exprime essencialmente sob a tentou recentemente um massacre
em potência, tal como l’affaire capa do anti-sionismo? Não tenho na Sinagoga de Halle, na
Dreyfus o demonstra, e com o anti-semitismo, dúvida que muito do anti-sionismo Alemanha.
estrangeiro não se partilha a ocidental, vigente é também anti-semita; que Portugal acaba de integrar a
pátria. É neste Ænal do século XIX se manifesta claramente no IHRA como membro de pleno
que emerge o nacionalismo nacionalista e mundo árabe, na Europa e nos direito, o que é uma boa notícia.
judaico, tomando forma o sonho supremacista EUA por razões diferentes e com Questionado sobre se iria propor à
antigo de um lar nacional judaico argumentos diferentes, mas Assembleia da República uma
que 50 anos depois fundará o sempre acompanhado por um votação idêntica à da França, o
Estado de Israel. discurso legitimador e MNE não vê a necessidade.
O nazismo é, uns anos mais humanidade”, e, no ano seguinte, mobilizador em nome da defesa Pessoalmente, concordo, mas
tarde, “uma ruptura da o jornal nazi Der Stürmer dos direitos do povo palestiniano, espero que, integrando a IHRA, o
civilização”, como a chanceler prosseguia: “A limpeza e a higiene e em nome do combate ao Estado português possa dar um
Merkel acaba de aÆrmar em obrigam-nos a torná-los sionismo identiÆcado com o contributo mais signiÆcativo ao
Auschwitz. Em 1937, Goebbels inofensivos, exterminando-os.” racismo e o colonialismo. desenvolvimento do trabalho e ao
sentenciava: “O judeu... eis o Pela primeira vez na história Mas seria um erro considerar esforço da sociedade civil ao longo
inimigo universal, o destruidor humana, iria ser levada a cabo que esta é hoje a única ameaça. dos anos pela memória,
das civilizações, o parasita dos uma tentativa programada de Emerge cada vez com mais força e conhecimento e responsabilização
povos, o Ælho do caos, a extermínio total de uma parte da violência na Europa e nos EUA o social a que os ensinamentos do
incarnação do mal, o fermento da espécie humana. velho-novo anti-semitismo, Holocausto nos obrigam.
decomposição, o demónio que No pós-guerra e no rescaldo do ocidental, nacionalista e
provoca a degenerescência da Holocausto, as características e a supremacista, e não o mencionar Estudiosa de temas judaicos
32 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
CULTURA
As artes estão a mexer
Três exposições encerram o ano nos
Açores, e conÄrmam a vitalidade das
artes plásticas na região. Duas delas sob
o signo do feminino e da forte relação
com a natureza
Artes
Luísa Soares de Oliveira
Uma rapariga vestida de festa entra
na sala da Galeria Fonseca Macedo,
que se encontra apinhada com os
convidados que vieram para a inau-
guração. A rapariga tem a boca tapa-
da por um lenço de seda e vai percor-
rendo o espaço da montagem, demo-
rando-se nesta ou naquela peça com
gestos claramente coreografados.
Trata-se da performance que marca
a reabertura desta galeria de Ponta
Delgada, agora em novo espaço e
nova morada. A galerista, Fátima
Mota, conta que reuniu, sob o título
No Feminino, um grupo de artistas
mulheres que, ora nasceram nos
Açores, ora mantêm laços afectivos
ou proÆssionais com a região. Desta
forma, não procurou que os traba-
lhos destas nove criadoras, que se
podem ver até 8 de Fevereiro, esta-
belecessem relações conceptuais uns
com os outros. Apenas o género bio-
lógico as aproxima.
O género, e o olhar com que a per-
former, Maria João Gouveia, une
todas as obras presentes. Ao tapar a
boca, ela de certa forma replica,
explicitando-o, o silêncio criativo a
que foi votado o sexo feminino na
sua condição social e política em
todo o Ocidente durante séculos.
Da tecelagem à pintura, à escultu-
ra, ao vídeo e à fotograÆa, da cola-
gem à delicadeza do desenho, as
artistas que aqui expõem diversiÆ#
cam as suas abordagens à prática
artística sem privilegiarem a priori
as disciplinas historicamente mais
valorizadas, como a pintura e a escul-
tura em pedra, de outras conotadas
com o artesanato ou a prática dos
crafts. Maria Ana Vasco Costa, por
exemplo, apresenta esculturas reali-
zadas em terracota, mas que em tudo
replicam a aparência da pedra; ao
passo que Cristina Ataíde mostra
uma peça tridimensional em bronze
e pedra que não se afasta dos parâ-
metros clássicos da escultura moder-
na. Alice Albergaria Borges tem deli-
cados panos tecidos em tear, mais
próximos do design têxtil do que do
tipo de objectos que habitualmente
encontramos numa galeria de arte.
Isabel Madureira Andrade pratica a
pintura e o desenho de um modo
mais tradicional, e Beatriz Brum,
embora apresentando, entre outros,
uma interessante caixa de luz com
um desenho translúcido, deixa per-
ceber que o seu modo de pensar está
ligado ao conceito de pintura, mes-
mo se nada nos seus trabalhos tenha
sido feito com tintas e pincéis.
Catarina Branco, que há alguns
anos expôs nos jardins da Fundação SANDRA ROCHA -EXPOSIÇÃO STAÇÃO METEOROLOGICA NO ARQUIPELAGO
Gulbenkian, apresenta aqui dese-
nhos e colagens que se inserem na
linguagem cromaticamente muito
rica que tem desenvolvido desde que
começou a trabalhar. Estas artistas
compõem, com SoÆa Caetano e San-
dra Rocha, um pequeno grupo de
artistas açorianas que têm já projec-
ção nacional e internacional. A
cineasta SoÆa Caetano, por exemplo,
tem apresentado regularmente a sua
obra em festivais nacionais e inter-
nacionais (FUSO e Ann Arbor Film
Festival, ambos em 2019, para só
citar os mais recentes). Na exposição
No Feminino mostra o vídeo Keeping
yourself clean and neat / Common
heart disorders and their causes, de
2018, onde o desenho se alia à ima-
gem fílmica para estabelecer relações
inusitadas com os espectadores. E,
por Æm, Manuela Marques e Sandra
Rocha mostram trabalhos de peque-
no formato: a primeira um vídeo — a mance, Æca a certeza de que a ilha de é de mais relevar. De certa forma, a
imagem de um papel celofane irisado A ilha de São São Miguel reúne as condições indis- sua situação replica a própria condi-
que rodopia com o vento —, e a Miguel reúne as pensáveis para a existência de uma ção da ilha: o centro está isolado no
segunda colagens minuciosas, sur- comunidade artística local. Estas são, meio dos campos e dos montes de
reais, de imagens fotográÆcas. condições para a para além da programação de quali- São Miguel, numa comunidade que
existência de uma dade, a capacidade de criar um era em tudo, à partida, distante da
Do outro lado da ilha núcleo local de coleccionadores. É contemporaneidade, e é uma autên-
Iremos também encontrar Manuela comunidade sempre o mais difícil, e aquilo que tica jóia, um centro de artes visuais
Marques e Sandra Rocha do outro artística local e a determina não apenas a própria exis- e performativas como há raríssimos
lado da ilha, numa exposição a qua- tência de mercado de arte, como a no espaço português. Arquitectoni-
tro mãos feita no Arquipélago — Cen- capacidade de permanência dos artistas na ilha. camente exemplar — e premiado —,
tro de Artes Contemporâneas, na criar um núcleo de Neste contexto, a abertura do exibe uma programação multidisci-
Ribeira Grande, a decorrer até 5 de Arquipélago — Centro de Artes Con- plinar que, ano após ano, consegue
Janeiro. Por ora, terminada a perfor- coleccionadores temporâneas é um marco que nunca congregar artistas e curadores de
 Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 33

r na ilha de São Miguel

A exposição No
SANDRA ROCHA -EXPOSIÇÃO STAÇÃO METEOROLOGICA NO ARQUIPELAGO SANDRA ROCHA -EXPOSIÇÃO STAÇÃO METEOROLOGICA NO ARQUIPELAGO
aqui concretizado. Particularmente
Feminino reúne interessante é a série que revela ima-
gens com a sinalética de bandeiras,
um grupo de gráÆca e visualmente forte. Sérgio
Mah refere ainda, para ambas, os
artistas mulheres modos de “experienciar a natureza
quer nascidas nos única e peculiar de um território for-
temente animado por uma conÇagra-
Açores, quer com ção de tempos e movimentos”.
laços afectivos ou Se Sandra Rocha e Manuela Mar-
ques trabalham a identidade percep-
proÄssionais à cionada pelos próprios açorianos,
região. Do outro Canto da Maya, de quem o Museu
Carlos Machado apresenta uma
lado da ilha estão importante retrospectiva, viveu e
os trabalhos de trabalhou com os olhos postos no
estrangeiro. É decerto o mais inter-
outras duas nacional dos escultores portugueses
mulheres, numa do primeiro modernismo, com obra
exposta em permanência no Museu
colectiva com do Chiado, em Lisboa. A exposição,
curadoria de que é de longa duração, apresenta
cronologicamente a obra do escultor
Sérgio Mah em três grandes salas do piso supe-
rior, documentando muito bem
todas as fases da sua produção com
MANUELAMARQUES - EXPOSIÇÃO STAÇÃO METEOROLOGICA NO ARQUIPELAGO CANTO DA MAYA - MUSEU CARLOS MACHADO
cartas, fotograÆas, desenhos prepa-
ratórios, e mesmo frases de Canto da
Maya sobre a sua obra ou a prática
da escultura.

entre os melhores do país. Com o
Centro de Monitorização e Investiga-
ção da Lagoa das Furnas, do atelier
Aires Mateus, situado a poucos qui-
lómetros de distância, forma um
conjunto de grande qualidade de
edifícios públicos contemporâneos
construídos nesta ilha.
No Arquipélago, Manuela Marques
e Sandra Rocha apresentam Estação
Meteorológica, uma grande colectiva
que abarca todo o espaço de exposi-
ção, com curadoria de Sérgio Mah.
Trata-se de um projecto feito em
comum que inclui trabalhos em foto-
graÆa e vídeo.
Natureza por perto
Das duas, a mais nova, Sandra Rocha,
nasceu nos Açores. Ambas residem
em França, e esta condição do exílio,
mesmo quando ele é voluntário, per-
passa todas as imagens, que focam
um aspecto especíÆco da açorianida-
de: a relação forte, de respeito e
domínio, sobre a natureza.
No caso de Manuela Marques, essa
relação faz-se por uma espécie de
inventário visual de elementos pai-
sagísticos e estruturais. Vemos as
imagens da água, quer do mar, quer
das lagoas, as séries que multiplicam
a gama de amarelos dos enxofres,
mas também a Æxação, no suporte
de grande formato, dos tremores de
um sismógrafo. Sandra Rocha con-
centrou-se nas memórias da faina
baleeira, que declina em formatos
diversos. Uma baleia num díptico, e
sobretudo muitas personagens, que
esperam, que comunicam, que ante-
vêem um momento de caça nunca
Há um denominador comum nos
trabalhos apresentados por
Sandra Rocha e Manuela
Marques que é também um
aspecto específico da
açorianidade: a relação forte
com a natureza. Na foto a preto e
branco, trabalho de Canto da
Maya no Museu Carlos
Machado
Geração de Almada
Canto da Maya pertencia a uma das
mais abastadas famílias açorianas.
Pôde assim estudar primeiro em Lis-
boa, na Escola de Belas-Artes, onde
integrou o I Salão dos Humoristas
Portugueses, em 1912. O sucesso de
crítica animou-o a seguir para Paris,
onde se encontra já no mesmo ano,
e onde Æcará até ao começo da Gran-
de Guerra. Da mesma geração de
Almada, Amadeo e tantos outros,
depois de estudos intensos acabou
por adoptar um traço elegante e esti-
lizado, de sabor Art Déco, que era a
norma na Europa elegante, urbana
e culta dos anos entre as duas guer-
ras. Ora nos Açores, ora em Lisboa,
ora em Paris, desenvolveu e criou
uma obra coerente, complexa, mes-
mo de algum dramatismo, que soube
contrapor-se ao naturalismo ainda
de raiz oitocentista que dominava o
gosto oÆcial. A exposição dá conta
deste caminho, e também da impor-
tância que os amigos e colegas,
sobretudo esse outro grande moder-
nista açoriano, o pintor Domingos
Rebelo, tiveram no crescimento de
um artista como Canto da Maya.
O PÚBLICO viajou a convite da
Galeria Fonseca Macedo
34 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
CULTURA
Conceição Amaral é a nova
presidente do Opart
Política cultural
Sérgio C. Andrade
Nova responsável do
organismo que gere o São
Carlos e a CNB era directora
do Museu de Artes
Decorativas Portuguesas
Conceição Amaral vai ser, a partir
de Janeiro, a nova presidente do
Opart, o organismo que gere o Tea-
tro Nacional São Carlos (TNSC), a
Orquestra Sinfónica Portuguesa
(OSP) e a Companhia Nacional de
Bailado (CNB), sucedendo no cargo
a André Moz Caldas.
A nomeação da até agora directo-
ra do Museu de Artes Decorativas
Portuguesas e administradora exe-
cutiva da Fundação Ricardo Espírito
Santo Silva (FRESS) foi ontem con-
Ærmada ao PÚBLICO pelo gabinete
do Ministério da Cultura, para “com-
pletar o mandato em curso (2019-
2021)”. O ministério justiÆca ainda
a escolha para o cargo com a “expe-
riência e competência proÆssionais”
da nomeada.
O Opart manterá, nos restantes
cargos da administração, os vogais
Anne Victorino d’Almeida, professo-
ra de música e directora adjunta do
Conservatório Nacional, e o econo-
mista Alexandre Miguel Santos.
Maria da Conceição Amaral, de 53
anos, é historiadora de arte formada
na Universidade de Coimbra, com
uma pós-graduação em Gestão Cul-
tural nas Cidades no INDEG/ISCTE,
em Lisboa.
Actualmente, e desde 2007, dirige
o Museu de Artes Decorativas Portu-
guesas, instituição ligada à FRESS e à
escola e oÆcinas de conservação e
restauro, onde, nos últimos anos, teve
de lidar com os problemas decorren-
tes do colapso do Grupo Espírito San-
to, principal mecenas da fundação.
A historiadora de arte chegou a
presidir à FRESS entre Janeiro de 2015
e Maio de 2016, tendo-se mantido,
após esta última data, como adminis-
tradora executiva “com os pelouros
Ænanceiro, dos recursos humanos,
conservação e restauro, produção e
formação e, até Maio de 2018, comer-
cial e da comunicação”, diz o currícu-
lo divulgado pelo MC.
Em acumulação com a direcção do
Museu de Artes Decorativas Portu-
guesas, Conceição Amaral dirigiu
Conceição Amaral era ainda administradora executiva da Fundação Ricardo Espírito Santo Silva
ção Amaral consta também a sua
Conceição colaboração com a Comissão Nacio-
Amaral sai de uma nal para as Comemorações dos Des-
cobrimentos Portugueses (1993-
instituição 2002), a direcção do Museu de
dedicada ao Arqueologia de Silves (2003-2006) e
a coordenação da Rede Portuguesa
património para da Fundação Euro-Mediterrânica
substituir André Anna Lindh para o Diálogo entre as
Culturas.
Moz Caldas, que
chegou ao Opart Sucessora de André Caldas
Conceição Amaral sai de uma insti-
em Julho e que, tuição dedicada ao património para
menos de quatro substituir o advogado, professor uni-
versitário e melómano André Moz
meses depois, iria Caldas, o presidente que em Julho
para a Secretaria chegou ao Opart deixando para trás
a cheÆa do gabinete do ministro das
de Estado da Finanças, Mário Centeno, e que,
Presidência do menos de quatro meses depois, viria
a trocar o organismo pela Secretaria
Conselho de de Estado da Presidência do Conse-
Ministros lho de Ministros.
André Caldas, militante do Parti-
ainda o Instituto de Artes e Ofícios da do Socialista, assumira o cargo num
FRESS, actual Fressforma — Centro clima de confronto laboral que leva-
de Formação ProÆssional. Também ra já ao cancelamento de vários
entre 2015 e a actualidade, foi gerente espectáculos — no Festival ao Largo,
da Manufactum — FRESS Portugal, no último Verão, em Lisboa, por
agência de promoção de manufactu- exemplo — e que se agudizava, dada
ra daquela fundação. a aparente quebra de conÆança
Da biograÆa proÆssional de Concei- entre o ministério de Graça Fonseca
JOÃO SILVA
e o conselho de administração,
então presidido por Carlos Vargas.
Uma situação de instabilidade que
se vinha arrastando desde antes do
último “Verão quente”, com greves
e a nomeação de sucessivos direc-
tores artísticos — sendo a actual res-
ponsável a soprano Elisabete Matos,
que no início de Setembro veio ocu-
par a cadeira deixada vazia pelo
britânico Patrick Dickie.
O antigo chefe de gabinete resta-
beleceu o diálogo com a tutela e com
os funcionários e, tirando partido de
algum do trabalho realizado pela
anterior administração, começou a
pôr ordem na casa, disse em Setem-
bro numa entrevista ao PÚBLICO,
procurando estratégias para garantir
a harmonização salarial entre os téc-
nicos do São Carlos e da CNB e come-
çando a delinear um regulamento
interno da instituição.
Resta saber em que estado a
encontrará agora Conceição Amaral,
que assume funções quando a pro-
posta de Orçamento do Estado acaba
de ser apresentada e, à hora do fecho
desta notícia, não era ainda conheci-
do o montante destinado ao Opart.
com Lucinda Canelas
sandrade@publico.pt
Breves
Música
The Legendary
Tigerman volta
à one man band
O músico Paulo Furtado (The
Legendary Tigerman) vai
regressar aos palcos sozinho,
no início de 2020, numa
digressão que passará por 11
cidades portuguesas, foi
ontem anunciado. De acordo
com o comunicado do
agenciamento do artista, a
digressão começa a 29 de
Janeiro em Lisboa, no
Musicbox, e passa por
Coimbra, no dia 31. Em
Fevereiro, The Legendary
Tigerman Man tem actuações
marcadas em Aveiro, no
Fundão, em Torres Vedras, no
Porto, em Braga, em Leiria, em
Évora, em Viseu e em Loulé.
O álbum mais recente de The
Legendary Tigerman, Misfit,
foi editado em Janeiro de
2018.
Política cultural
Ministério da Cultura
e Gulbenkian juntos
para exposição
O Ministério da Cultura e a
Fundação Calouste
Gulbenkian assinaram ontem
um protocolo, a desenvolver
no âmbito da Presidência
Portuguesa da União Europeia
e da futura Temporada
Cruzada Portugal-França, que
envolve a exposição Artistas
Mulheres em Portugal — De
1900 aos Nossos Dias, com
curadoria de Helena de Freitas
e que será apresentada no
Bozar — Palácio das Belas-
-Artes, em Bruxelas, no
primeiro semestre de 2021,
seguindo depois para Tours,
em França. Segundo Graça
Fonseca, esta é a primeira
etapa da “programação
cultural que decorrerá em
paralelo à presidência
portuguesa da Conselho da
União Europeia, no primeiro
semestre de 2021”.
 Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 35

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De seg a sex das 09H às 19H
Sábado 11H às 17H
CLASSIFICADOS

Dr. NUNO PEDRO

DE SÉGUIER PINTO
DR. ANTÓNIO JOSÉ REBELO DR. ANTÓNIO JOSÉ REBELO DA COSTA LUMBRALES
PINTO LINO NETO PINTO LINO NETO FALECEU
FALECEU
Sua Família participa o seu falecimento. O seu
MISSA DE 7.º DIA A Família participa o seu falecimento. Será
celebrada Missa de corpo presente hoje, 3.ª-feira
funeral realiza-se amanhã dia 17, às 14.00 horas para Sua Família participa que será celebrada Missa pelas 15 horas, na Igreja do Campo Grande em
o Cemitério de São Martinho do Porto, antecedido de sábado, dia 21, pelas 17.00 horas na Igreja de Lisboa, seguindo-se o funeral para o Crematório
Missa de corpo presente às 13.30 horas na Igreja de São Paulo na Malveira. do Cemitério dos Olivais.
São João de Deus (Praça de Londres).

Agência Funerária Alto São João Agência Funerária Alto São João Agência Funerária Magno - Alvalade
Servilusa - Número Verde Grátis 800 204 222 Servilusa - Número Verde Grátis 800 204 222 Servilusa - Número Verde Grátis 800 204 222
Serviço Funerário Permanente 24 Horas Serviço Funerário Permanente 24 Horas Serviço Funerário Permanente 24 Horas

CENTRO HOSPITALAR UNIVERSITÁRIO

DO PORTO EPE
Fundada em 1988 pelo Professor Doutor
EDIFÍCIO Procedimento Concursal Comum
Carlos Garcia, a Associação Portuguesa
de Familiares e Amigos de Doentes de DIOGO CÃO Doenças Infeciosas (m/f) MUNICÍPIO DO FUNCHAL
DOCA DE ALCÂNTARA
Alzheimer - Alzheimer Portugal é uma NORTE, LISBOA Torna-se público que, pelo aviso n.º 20133/2019, publicado no Diário
Instituição Particular de Solidariedade (JUNTO AO da República, 2.ª Série, n.º 241, de 16 de dezembro de 2019, se AVISO N.º 663/2019
Social. É a única organização em Portugal, MUSEU DO ORIENTE) encontra aberto, pelo prazo de 15 dias úteis, contados do dia seguinte
HORÁRIO: Nos termos dos n.ºs 1 e 2, do artigo 21.º da Lei n.º 2/2004,
de âmbito nacional, especificamente 2.ª – 6.ª FEIRA: 9H – 19H à data da publicação do aviso no Diário da República, procedimento
constituída para promover a qualidade de SÁBADO: 11H – 17H concursal comum para preenchimento de um posto de trabalho, para de 15 de janeiro, alterada e republicada pela Lei n.º 64/2011,
vida das pessoas com demência e dos seus a carreira médica e especial médica hospitalar, categoria Assistente de 22 de dezembro, adaptada à Administração Local pela Lei
familiares e cuidadores. Tem cerca de dez Graduado Sénior, especialidade de Doenças Infeciosas. n.º 49/2012, de 29 de agosto, e no seguimento de aviso n.º
INFO: 210 111 010
mil associados em todo o país. 19902/2019, publicitado no Diário da República, 2.ª Série, n.º
Oferece Informação sobre a doença, 238, Parte J1, de 11 de dezembro de 2019, faz-se público que
Formação para cuidadores formais e
se encontram abertos, por um período de dez dias úteis a con-
informais, Apoio domiciliário, Apoio
Social e Psicológico e Consultas Médicas
tar do dia seguinte ao da publicitação na Bolsa de Emprego
da Especialidade. Público (BEP), procedimentos concursais com vista ao recruta-
Como membro da Alzheimer Europe, a mento dos seguintes cargos de direção intermédia de 1.º grau:
Alzheimer Portugal participa ativamente AdRA - Águas da Região de Aveiro, S.A. 1 – Diretor das Águas do Funchal (Ref.ª BEP OE201912/0349);
no movimento mundial e europeu sobre as 2 – Diretor do Departamento de Ordenamento do Território
demências, procurando reunir e divulgar (Ref.ª BEP OE201912/0350).
os conhecimentos mais recentes sobre a CONCURSO PÚBLICO A indicação dos requisitos formais de provimento, do perfil exi-
Doença de Alzheimer, promovendo o seu
gido, da composição do júri, dos métodos de seleção e outras
estudo, a investigação das suas causas,
efeitos, profilaxia e tratamentos.
Águas Residuais de Óis da Ribeira (PAR 019) - Águeda / fase 2 informações de interesse para a apresentação das candidaturas
constará das respetivas publicitações na BEP (www.bep.gov.pt).
Contactos
Disponível através de www.acingov.pt A apresentação das candidaturas deve ser efetuada em supor-
Sede: Av. de Ceuta Norte, Lote 15, Piso 3, Quinta do Loureiro, 1300-125 Lisboa
- Tel.: 21 361 04 60/8 - E-mail: geral@alzheimerportugal.org te de papel, através do preenchimento de formulário tipo, de
Centro de Dia Prof. Dr. Carlos Garcia: Av. de Ceuta Norte, Lote 1, Loja 1 e 2
- Quinta do Loureiro, 1350-410 Lisboa - Tel.: 21 360 93 00
utilização obrigatória, podendo ser obtido na página eletrónica
Lar, Centro de Dia e Apoio Domiciliário «Casa do Alecrim»: Rua Joaquim Miguel Serra Moura,
Designação do contrato: deste Município em http://www.cm-funchal.pt/, a entregar pes-
n.º 256 - Alapraia, 2765-029 Estoril
Tel. 214 525 145 - E-mail: casadoalecrim@alzheimerportugal.org soalmente na Divisão de Recursos Humanos ou a remeter por
Objeto do contrato:
Delegação Norte: Centro de Dia “Memória de Mim” - Rua do Farol Nascente
n.º 47A R/C, 4455-301 Lavra
correio registado, com aviso de receção, dirigido ao Presidente
Tel. 229 260 912 | 226 066 863 - E-mail: geral.norte@alzheimerportugal.org da Câmara Municipal do Funchal, Divisão de Recursos Huma-
Delegação Centro: Urb. Casal Galego - Rua Raul Testa Fortunato n.º 17,
3100-523 Pombal Tel. 236 219 469 - E-mail: geral.centro@alzheimerportugal.org Loca nos, Praça do Município, 9004-512 Funchal, até ao termo do
Delegação da Madeira: Avenida do Colégio Militar, Complexo Habitacional da
Nazaré, Cave do Bloco 21 - Sala E, 9000-135 FUNCHAL
prazo de candidatura (31 de dezembro de 2019).
Tel. 291 772 021 - E-mail: geral.madeira@alzheimerportugal.org Data limite de entrega de propostas:
Núcleo do Ribatejo: R. Dom Gonçalo da Silveira n.º 31-A, 2080-114 Almeirim Câmara Municipal do Funchal, 13 de dezembro de 2019
Tel. 24 300 00 87 - E-mail: geral.ribatejo@alzheimerportugal.org
Núcleo de Aveiro: Santa Casa da Misericórdia de Aveiro - Complexo Social da
Quinta da Moita - Oliveirinha, 3810 Aveiro
O Vereador, por delegação do Presidente da Câmara
Tel. 23 494 04 80 - E-mail: geral.aveiro@alzheimeportugal.org
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36 • Público ClassiÄcados • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

Universidade de Aveiro Bombeiros

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DE FARO - “CRUZ LUSA” N.º Operacional - 0805

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QUINTA 19
1 - Por despacho de 11 de dezembro de 2019 do Reitor da Universidade de Aveiro, Professor Doutor
Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira, foi publicado no Diário da República, 2.ª Série, de 16-
12-2019 o seguinte aviso (extrato) n.º 20186-A/2019.
CONVOCATÓRIA
DEZ Torna-se público que se encontram abertos os seguintes procedimentos concursais nos termos dos
Nos termos do preceituado do Art.º 41 dos
COM O PÚ Estatutos da Associação Humanitária dos
BLICO artigos 76.º e 77.º do Decreto-Lei n.º 84/2019, de 28 de junho:
• CD-CTFP-202-ARH/2019 - 1 (um) posto de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar de Bombeiros de Faro - Cruz Lusa, convoco
Ciências e Engenharia do Ambiente; todos os Associados para reunir em Assem-
• CD-CTFP-203-ARH/2019 – 2 (dois) postos de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar bleia Geral Ordinária, no dia 27 de dezembro
de Biologia; de 2019, pelas 21:00h, na sede da Associa-
• CD-CTFP-204-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar de ção, com a seguinte ordem de trabalhos:
Ciências Sociais, na subárea de Políticas Públicas;
• CD-CTFP-205-ARH/2019 – 2 (dois) postos de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar 1. Aprovação do Plano de Atividades para o
de Ciências e Tecnologias da Comunicação; ano 2020;
• CD-CTFP-206-ARH/2019 – 2 (dois) postos de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar 2. Apresentação do Orçamento para o ano
de Design, subáreas de Design de Comunicação e Desenho; 2020;
• CD-CTFP-207-ARH/2019 – 4 (quatro) postos de trabalho de Professor Associado, na área discipli- 3. Outros assuntos de interesse para a Asso-
nar de Música; ciação.
• CD-CTFP-208-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar de
Engenharia Civil; Faro, 16 de dezembro de 2019
• CD-CTFP-209-ARH/2019 – 2 (dois) postos de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar
de Economia; O Presidente da Mesa da Assembleia Geral
• CD-CTFP-210-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar de João Manuel Gaspar Pedro
Engenharia Industrial;
• CD-CTFP-211-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Associado, nas áreas disciplina- INSTITUIÇÃO DE UTILIDADE PÚBLICA ADMINISTRATIVA
( ARTº 158 DO CÓDIGO ADMINISTRATIVO)
res de Gestão ou Turismo; Associação Humanitária dos Bombeiros de Faro «CRUZ LUSA»
• CD-CTFP-212-ARH/2019 – 4 (quatro) postos de trabalho de Professor Associado, na área discipli- Rua Comandante Francisco Manuel, nº 7 a 13 - 8000-250 FARO
Telefone 289 803 066 - e-mail: secretaria.ahbfaro@gmail.com
nar de Engenharia Mecânica; Contribuinte n.º 500 926 352
Fundada em 8 de Janeiro 1923
• CD-CTFP-213-ARH/2019 – 4 (quatro) postos de trabalho de Professor Associado, na área discipli-
nar de Educação;
• CD-CTFP-214-ARH/2019 – 3 (três) postos de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar
de Informática;
• CD-CTFP-215-ARH/2019 – 3 (três) postos de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar
de Eletrotecnia;
• CD-CTFP-216-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar de
Física;
• CD-CTFP-217-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar de
Ciências da Linguagem ou Estudos Culturais ou Estudos Literários ou Tradução;
• CD-CTFP-218-ARH/2019 – 9 (nove) postos de trabalho de Professor Associado, na área disciplinar
de Matemática;
• CD-CTFP-219-ARH/2019 – 2 (dois) postos de trabalho de Professor Associado, nas áreas discipli-
nares de Química, Bioquímica, Biotecnologia ou Engenharia Química;
• CD-CTFP-220-ARH/2019 – 2 (dois) postos de trabalho de Professor Catedrático, na área disciplinar
de Biologia;
• CD-CTFP-221-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Catedrático, na área disciplinar
de Ciências e Tecnologias da Comunicação;
• CD-CTFP-222-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Catedrático, na área disciplinar
de Design;
• CD-CTFP-223-ARH/2019 – 2 (dois) postos de trabalho de Professor Catedrático, na área disciplinar
de Educação;
• CD-CTFP-224-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Catedrático, na área disciplinar
de Estudos Literários;
• CD-CTFP-225-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Catedrático, na área disciplinar
de Eletrotecnia;
• CD-CTFP-226-ARH/2019 – 1 (um) posto de trabalho de Professor Catedrático, na área disciplinar
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nar de Matemática;
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Saúde subárea de Enfermagem ou Ciências da Saúde subárea de Ciências da Imagem Médica e DE MÚSICA
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de Línguas, numa das especialidades de Estudos Portugueses, ou Estudos Ingleses, ou Estudos
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Alemães;
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plinar de Contabilidade.
NAS LOJAS
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COLECÇÃO BLUEBERRY 2 – O texto integral dos Editais destes procedimentos encontra-se disponível no sítio da internet da
Universidade de Aveiro (http://www.ua.pt/sgrhf/PageText.aspx?id=15031).
PÚBLICO
VOL. 4 ~ O CAVALEIRO PERDIDO 3 - O requerimento de candidatura deverá ser elaborado nos termos do edital antes referido, publici-
O CLÁSSICO DA BD REALISTA FRANCO-BELGA, tado no seguinte endereço eletrónico: https://www.ua.pt/sgrhf/PageText.aspx?id=15031.
4 - O prazo de candidaturas destes concursos é de 30 dias úteis a contar da data de publicação do
DE JEAN-MICHEL CHARLIER E JEAN GIRAUD aviso no Diário da República.
Aveiro, em 11 de dezembro de 2019
O Reitor, Prof. Doutor Paulo Jorge dos Santos Gonçalves Ferreira

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Público ClassiÄcados • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 37
38 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
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20h30; Um Dia de Chuva em Nova Iorque
M12. 17h10; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
13h15, 15h30, 17h45 (V.Port./2D); Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 15h40,
20h20; Tempo Comum M12. 19h30; Os
Aeronautas M12. 18h20, 21h; Que Mal Fiz Eu
a Deus Agora? M12. 15h10, 19h, 21h; A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
13h20, 15h20 (V.P./2D); Coração Negro 13h
Cinema Ideal
Rua do Loreto, 15/17. T. 210998295
Frankie M12. 14h, 21h35; Vitalina Varela
M12. 15h45; Passámos Por Cá M14. 19h45;
Made in Bangladesh M12. 18h
CinemaCity Campo Pequeno
Centro de Lazer. T. 217981420
21 Pontes M14. 13h30, 15h30, 17h40, 19h40,
22h, 00h20; Joker M14. 18h30, 21h30,
00h15; Um Dia de Chuva em Nova Iorque
M12. 13h40; Le Mans ‘66: O Duelo M12. 21h,
24h; Os Anjos de Charlie M12. 23h50;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h20,
15h30, 16h, 17h45 (V.Port./2D), 15h25, 17h30,
19h35 (V.Orig./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 13h20, 16h, 18h40, 21h25,
00h05; One Piece Stampede: O Filme M12.
21h40 (V.Orig./2D); Last Christmas M12.
13h15, 15h20, 17h25, 19h40, 21h50, 00h25;
Os Aeronautas M12. 21h45, 23h55; A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
13h50, 15h50, 17h50, 19h50 (V.Port./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 13h45,
16h10, 18h45, 21h20, 00h10;
Cinemas Nos Alvaláxia
Estádio José Alvalade. T. 16996
21 Pontes M14. 13h30, 16h05, 18h40, 21h30;
Bikes - Uma Aventura Sobre Rodas M6.
13h15 (V.Port./2D); Joker M14. 15h40, 18h25,
21h10, 21h10; Maléfica II: Mestre do Mal
M12. 20h40; Countdown M14. 14h10, 16h35,
18h55, 21h15; Le Mans ‘66: O Duelo M12.
13h40, 17h, 20h35; Os Anjos de Charlie
M12. 13h10, 15h45, 18h20, 21h; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 13h20, 16h, 18h30,
20h55 (V.Port./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 13h55, 17h30, 21h20; Os
Aeronautas M12. 13h10, 15h50, 18h25,
21h05; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12.
13h45, 16h15, 18h35, 21h25; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 13h15,
15h30, 18h15 (V.Port./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h25, 16h10, 19h, 21h40;
Estradas da Vida M12. 13h55, 16h20, 18h45,
21h35
Cinemas Nos Amoreiras
Av. Eng. Duarte Pacheco. T. 16996
Joker M14. 17h, 23h50; Frankie M12. 15h30,
18h, 21h10, 23h40; Um Dia de Chuva em
Nova Iorque M12. 21h50, 00h10; Frozen II -
O Reino do Gelo M6. 13h, 15h20, 18h10 (V.
Port./2D), 21h, 23h30 (V.Orig./2D); Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 18h20;
Tempo Comum M12. 13h20; Os
Aeronautas M12. 13h10, 15h50, 21h30,
24h; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12.
13h30, 16h, 18h50, 21h40, 00h15; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 13h,
15h10, 17h20, 19h30 (V.Port./2D); Graças a
Deus M14. 14h, 20h50; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 12h50, 15h40, 18h30, 21h20,
00h05
Cinemas Nos Colombo
Av. Lusíada. T. 16996
21 Pontes M14. 16h30, 18h50, 21h15,
00h05; Bikes - Uma Aventura Sobre
Rodas M6. 13h40 (V.Port./2D); Joker M14.
12h40, 15h25, 18h10, 23h40; Os Anjos de
Charlie M12. 13h05, 15h50, 18h30, 21h20,
00h30; Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h,
15h30, 18h, 20h40, 23h30 (V.Port./2D);
Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
12h30, 15h35, 18h35, 21h30, 00h25; Os
Aeronautas M12. 21h50, 00h15; Que Mal Fiz
Eu a Deus Agora? M12. 13h50, 16h20, 18h45,
21h10, 00h10; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 13h10, 15h20, 17h30,
19h40 (V.Port./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 12h50, 15h40, 18h20, 21h,
23h50; Jumanji: O Nível Seguinte M12. Sala
IMAX - 13h20, 16h10, 19h, 21h40, 00h20
Cinemas Nos Vasco da Gama
Parque das Nações. T. 16996
21 Pontes M14. 21h, 23h40; Os Anjos de
Charlie M12. 12h50, 15h30, 18h20; Frozen II
- O Reino do Gelo M6. 13h, 15h40, 18h10 (V.
Port./2D), 21h20, 24h (V.Orig./2D); Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 12h40,
15h50, 18h45, 21h40, 00h30; Os
Aeronautas M12. 21h50, 00h10; Que Mal Fiz
Eu a Deus Agora? M12. 13h30, 16h10, 18h40,
21h10, 23h30; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 13h10, 15h20, 17h30,
19h40 (V.Port./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h20, 16h, 21h30, 00h20
(2D), 18h50 (3D)
Nimas
Av. 5 Outubro, 42B. T. 213574362
As Asas do Desejo M12. 16h30;
Tommaso M12. 19h; Graças a Deus M14.
14h, 21h30
UCI Cinemas - El Corte Inglés
Av. Ant. Aug. Aguiar, 31. T. 213801400
21 Pontes M14. 14h10, 16h45, 19h20, 21h50,
00h05; Bikes - Uma Aventura Sobre Rodas
M6. 14h, 16h05 (V.Port./2D); A Herdade M12.
16h; Joker M14. 18h45, 21h45, 00h20;
Frankie M12. 14h, 16h30, 19h, 21h20,
00h25; Um Dia de Chuva em Nova Iorque
M12. 14h05, 19h05, 21h15; Le Mans ‘66: O
Duelo M12. 18h15, 21h25, 23h45; Enquanto a
Guerra Durar M12. 13h50, 19h10;
Comportem-se como Adultos M12. 16h15,
21h45, 00h25; Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 13h30, 16h10, 18h55, 21h40,
00h25; Last Christmas M12. 16h40, 21h35,
23h50, 23h55; Os Aeronautas M12. 13h40,
19h30, 21h40, 23h50; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 14h15, 16h50, 19h25, 21h55,
00h10; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 13h35, 15h55, 18h20 (V.
Port./2D); Graças a Deus M14. 13h25, 16h15,
19h05, 21h55, 00h20; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h45, 16h35, 19h15, 21h50,
00h25; Um Homem Fiel M14. 14h, 16h25
Almada
Cinemas Nos Almada Fórum
Estr. Caminho Municipal, 1011 - Vale de
Mourelos. T. 16996
21 Pontes M14. 15h50, 18h20, 21h10,
00h10; Bikes - Uma Aventura Sobre
Rodas M6. 13h30 (V.Port./2D); Joker M14.
12h20, 15h10, 17h55, 20h45, 23h40;
Frankie M12. 13h45, 16h10, 18h45, 21h20,
23h45; Maléfica II: Mestre do Mal M12.
21h40, 23h30; Le Mans ‘66: O Duelo M12.
22h; Os Anjos de Charlie M12. 12h50, 15h55,
18h40, 21h35, 00h20; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 12h40, 13h40, 15h30, 16h20, 18h,
19h (V.Port./2D), 21h30, 24h (V.Orig./2D);
Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
12h35, 15h35, 18h30, 21h25, 23h20; Os
Aeronautas M12. 13h15, 15h45, 18h25,
21h05, 00h05; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 13h, 15h40, 18h15, 20h50,
00h25; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 12h45, 15h15, 17h30,
19h45 (V.Port./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 12h30, 13h10, 15h20, 16h,
17h10, 18h50, 21h, 21h40, 23h50, 00h30;
Estradas da Vida M12. 13h50, 16h15, 18h55,
21h45, 00h15; Jumanji: O Nível Seguinte
M12. Sala 4DX - 14h, 16h30, 19h20, 21h50,
00h20;
Amadora
CinemaCity Alegro Alfragide
C.C. Alegro Alfragide. T. 214221030
21 Pontes M14. 13h20, 15h20, 19h50, 22h,
00h20; Joker M14. 21h55; A Família
Addams M6. 13h15 (V.Port./2D);
Exterminador Implacável: Destino
Sombrio M14. 23h40; Quem Brinca Com o
Em estreia
lazer@publico.pt
21 Pontes
De Brian Kirk. Com Taylor
Kitsch, Chadwick Boseman,
Sienna Miller. EUA. 2019. Drama,
Thriller. M14.
Um agente do Departamento de
Polícia de Nova Iorque Æca
responsável por investigar um
caso onde vários colegas foram
assassinados. Empenhado em
deter os culpados, Davis toma
uma decisão arrojada: fechar as 21
pontes de Manhattan,
impossibilitando a saída ou
entrada seja de quem for.
A Ovelha Choné:
A Quinta Contra-Ataca
De Will Becher, Richard Phelan.
Com Andy Nyman (Voz), Justin
Fletcher (Voz), Joe Sugg (Voz),
John Sparkes (Voz), David Holt
(Voz). EUA/FRA/GB. 2019. 86m.
Animação, Comédia. M6.
A ovelha Choné e o seu rebanho
têm uma existência tranquila sob
a protecção de um agricultor
bonacheirão. Mas tudo isto se
altera quando um OVNI aterra na
quinta. Choné e os amigos Æcam
assim a conhecer um
extraterrestre que precisa de
ajuda para regressar a casa.
Estradas da Vida
De Sebastian Schipper. Com
Fionn Whitehead, Stéphane
Bak, Ben Chaplin, Moritz
Bleibtreu. FRA/ALE. 2019. 99m.
Drama. M12.
Num momento de rebeldia,
Gyllen, um jovem inglês de 18
anos, pega na autocaravana do
padrasto e põe-se a caminho.
Depois de uma longa viagem até
Marrocos, o seu destino cruza-se
com William, um jovem congolês
que tenciona encontrar o irmão,
que viajou para França.
Frankie
De Ira Sachs. Com Marisa
Tomei, Greg Kinnear, Brendan
Gleeson, Isabelle Huppert. FRA/
POR. 2019. 98m. Drama. M12.
Depois de lhe
ter sido diagnosticada uma
doença terminal,
uma famosa
actriz francesa
decide juntar
todos os que lhe
são mais
próximos para
uma espécie de despedida. O local
escolhido para o encontro é a vila
de Sintra.
Graças a Deus
De François Ozon. Com Melvil
Poupaud, Denis Ménochet,
Swann Arlaud, Éric Caravaca.
FRA/BEL. 2018. 137m. Drama.
M14.
Realizado por François Ozon, um
drama baseado em factos reais
que ocorreram em França
durante as décadas de 1980/90 -
tornados públicos só em
2014/2015 - relativos aos abusos
sexuais praticados por um padre a
centenas de jovens escuteiros.
Jumanji: O Nível Seguinte
De Jake Kasdan. Com Karen
Gillan, Dwayne Johnson,
Madison Iseman, Danny DeVito,
Danny Glover. EUA. 2019. 123m.
Comédia, Aventura. M12.
Depois das espantosas aventuras
onde quase se perderam numa
outra dimensão, as vidas de
Spencer, Fridge, Bethany e
Martha voltaram à normalidade.
Isto até ao dia em que Spencer,
numa tentativa de consertar o
jogo Jumanji, é novamente sugado
para o seu interior.
Nick’s Movie - Um Acto de Amor
De Nicholas Ray, Wim Wenders.
Com Nicholas Ray, Wim
Wenders. SUE/ALE. 1980. 91m.
Drama, Documentário. M12.
Um documentário sobre os
últimos dias de vida do realizador
de culto Nicholas Ray. A morrer
de cancro, Ray decide realizar o
seu último Ælme, sobre a sua
própria vida - os seus feitos e
falhanços. Wenders abandonou a
realização do seu Ælme
“Hammett“ (1983), para ajudar
Ray a cumprir o seu último
desejo.
Estradas da Vida
Fogo... M12. 17h30; Le Mans ‘66: O
Duelo M12. 15h40, 18h40, 21h40; Os Anjos
de Charlie M12. 13h10, 21h25, 00h05;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h45,
15h25, 16h, 17h40, 18h20, 19h35, 21h35,
23h55 (V.Port./2D), 15h35, 17h40, 19h45 (V.
O./2D); Knives Out: Todos São Suspeitos
M12. 13h10, 15h50, 18h30, 21h10, 23h50;
One Piece Stampede: O Filme M12. 00h25
(V.Orig./2D); Last Christmas M12. 13h20,
15h10, 17h25, 19h30, 21h55, 00h15; Os
Aeronautas M12. 17h30, 21h30; Que Mal Fiz
Eu a Deus Agora? M12. 13h30, 15h30, 19h55,
21h50, 24h; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 13h50, 15h50, 17h50,
19h30 (V.P./2D); Jumanji: O Nível Seguinte
M12. 13h45, 16h10, 18h45, 21h20, 00h10;
UCI Ubbo
Estrada Nacional 249/1, Venteira.
21 Pontes M14. 14h10, 16h40, 19h, 21h35;
Bikes - Uma Aventura Sobre Rodas M6.
13h50 (V.Port./2D); Joker M14. 18h55,
21h30; Abominável M6. 14h20, 16h40 (V.
Port./2D); A Família Addams M6. 13h30,
16h10 (V.Port./2D); Le Mans ‘66: O Duelo
M12. 18h15, 21h25; Os Anjos de Charlie M12.
19h20, 21h55; Frozen II - O Reino do Gelo
M6. 13h30, 14h, 16h, 16h30, 18h40 (V.P./2D)
; Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
13h20, 16h05, 18h50, 21h40; Last
Christmas M12. 13h20, 16h10, 18h50,
21h20; Os Aeronautas M12. 16h20, 19h15,
21h40; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12.
13h55, 16h35, 19h10, 21h35; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 13h50,
16h20, 19h (V.Port./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h45, 16h35, 19h15, 21h50
(2D), 21h20 (3D);
Cascais
Cinemas Nos CascaiShopping
CascaiShopping-EN 9. T. 16996
21 Pontes M14. 12h30, 15h, 17h15, 20h40,
23h; Bikes - Uma Aventura Sobre Rodas
M6. 13h20 (V.Port./2D); Le Mans ‘66: O
Duelo M12. 20h30, 23h40; Os Anjos de
Charlie M12. 15h50, 18h50, 21h30,
00h10; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
13h10, 15h40, 18h30 (V.Port./2D); Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 12h30,
15h20, 18h20, 21h10, 24h; Os Aeronautas
M12. 21h, 23h30; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 13h30, 16h10, 18h40, 21h20,
23h50; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 10h50, 13h, 15h10, 17h20
(V.Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
12h50, 15h30, 18h10, 20h50, 23h30;
Jumanji: O Nível Seguinte M12. Sala IMAX
13h40, 16h20, 19h, 21h40, 00h15;
O Cinema da Villa - Cascais
Avenida Dom Pedro I, Lote 1/2 (CascaisVilla
Shopping Center). T. 215887311
Um Dia de Chuva em Nova Iorque M12.
19h30, 21h30; Os Órfãos de Brooklyn M16.
14h, 18h20, 21h10; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 13h40, 16h (V.Port./2D); Passámos
Por Cá M14. 17h20; Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 13h40, 16h15, 18h50,
21h25; Os Aeronautas M12. 16h50, 18h55,
21h30; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12.
13h10, 15h15, 19h25, 21h30; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 13h15,
15h20, 17h25 (V.Port./2D);
Sintra
Cinema City Beloura
Beloura Shopping, R. Matos Cruzadas, EN 9,
Quinta da Beloura II, Linhó. T. 219247643
Um Dia de Chuva em Nova Iorque M12.
19h50; Midway M12. 21h35; Le Mans ‘66: O
Duelo M12. 21h25; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 15h35, 16h20, 17h50 (V.Port./2D),
15h20, 17h25, 19h30 (V.Orig./2D); Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 18h40,
21h20; One Piece Stampede: O Filme M12.
22h (V.Orig./2D); Last Christmas M12. 15h25,
17h30, 19h35, 21h40; Os Aeronautas M12.
15h50, 17h50, 21h50; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 15h45, 17h45, 19h45, 21h45; A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.

15h30, 17h30, 19h30 (V.Port./2D); Jumanji:
O Nível Seguinte M12. 16h10, 18h50, 21h30;
Castello Lopes - Alegro Sintra
Loja 2.21 - Alto do Forte. T. 219184352
21 Pontes M14. 14h20, 16h40, 19h, 21h30;
Joker M14. 13h20, 16h, 18h40, 21h30;
Maléfica II: Mestre do Mal M12. 16h, 18h40
(V.Port./2D); A Família Addams M6. 16h30
(V.Port./2D); Countdown M14. 21h30; Os
Anjos de Charlie M12. 21h20; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 13h30, 16h, 18h30, 21h
(V.Port./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 13h10, 18h40; Last
Christmas M12. 14h, 21h20; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 13h10,
15h15, 17h20, 19h25 (V.Port./2D); Jumanji: O
Nível Seguinte M12. 13h20, 16h05, 18h50,
21h35;
Leiria
Cinema City Leiria
R. Dr. Virgílio Vieira da Cunha. T. 244845071
21 Pontes M14. 15h30, 17h40, 19h50, 22h; Le
Mans ‘66: O Duelo M12. 21h25; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 16h, 17h45, 18h20, 19h35,
21h35 (V.Port./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 21h20; Last Christmas M12.
15h25, 17h30, 21h50; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 15h45, 17h45, 19h45, 21h45; A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
15h40, 17h35, 19h30 (V.Port./2D); Jumanji: O
Nível Seguinte M12. 15h55, 18h30, 21h30;
Coração Negro 15h30
Cineplace - Leiria Shopping
CC Leiria Shopping, IC2. T. 244826516
21 Pontes M14. 13h10, 15h20, 17h30, 19h40,
21h50; Bikes - Uma Aventura Sobre Rodas
M6. 13h (V.Port./2D); Joker M14. 21h20; A
Família Addams M6. 14h50, 16h50 (V.
Port./2D); Os Anjos de Charlie M12. 18h50,
21h20; Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h,
15h10, 17h20 (V.Port./2D), 19h30 (V.
Port./3D), 21h40 (V.Orig./2D); Knives Out:
Todos São Suspeitos M12. 16h20, 21h10;
Last Christmas M12. 15h, 17h10, 19h30,
21h40; Os Aeronautas M12. 14h10, 19h; A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
13h20, 15h20, 17h20, 19h20 (V.Port./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 14h, 16h30,
21h30 (2D), 19h (3D); Um Homem Fiel M14.
13h
Loures
Cineplace - Loures Shopping
Quinta do Infantado, Loja A003.
21 Pontes M14. 15h20, 17h30, 19h40, 21h50;
Joker M14. 18h50; Abominável M6. 15h (V.
P./2D); A Família Addams M6. 15h20, 17h20
(V.P./2D); Os Anjos de Charlie M12. 21h10;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 15h10,
17h20, 19h30, 21h40 (V.P./2D); Last
Christmas M12. 17h10, 19h20, 21h30; Os
Aeronautas M12. 19h30, 21h40; Que Mal Fiz
Eu a Deus Agora? M12. 16h40, 21h20; A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
15h10, 17h10, 19h10 (V.P./2D); Jumanji: O
Nível Seguinte M12. 16h30, 21h30 (2D), 19h
(3D);
Oeiras
Cinemas Nos Oeiras Parque
C. C. Oeirashopping. T. 16996
Os Anjos de Charlie M12. 21h40, 00h25;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h,
18h30 (V.P./2D), 21h, 23h40 (V.O./2D);
Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
12h40, 15h30, 18h20, 21h20, 00h10; Os
Aeronautas M12. 13h10, 15h50, 18h10,
20h50, 23h30; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 13h20, 16h10, 18h50, 21h10,
24h ; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 12h50, 15h15, 17h25,
19h35 (V.P./2D); Jumanji: O Nível Seguinte
M12. 13h, 15h40, 18h40, 21h30, 00h20;
Miraflores
Cinemas Nos Dolce Vita Miraflores
Av. das Túlipas. T. 707 CINEMA
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 15h, 18h (V.
Port./2D); Knives Out: Todos São Suspeitos
M12. 21h; Os Aeronautas M12. 21h20; Que
Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12. 15h, 17h10,
19h20, 21h40; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 14h50, 17h20, 19h30 (V.
Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
15h30, 18h30, 21h30
Torres Vedras
Cinemas Nos Torres Vedras
C.C. Arena Shopping. T. 16996
Os Anjos de Charlie M12. 20h50, 23h40;
Frozen II - O Reino do Gelo M6. 13h30, 16h,
18h50 (V.Port./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 12h30, 15h20, 18h10, 21h10,
00h10; Os Aeronautas M12. 21h20, 23h50;
Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12. 13h20,
15h40, 18h30, 21h, 23h30; A Ovelha Choné:
A Quinta Contra-Ataca M6. 11h, 13h15,
15h30, 18h (V.P/2D) Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h, 15h50, 18h40, 21h30,
00h20;
Santarém
Castello Lopes - Santarém
Largo Cândido dos Reis. T. 243309340
Joker M14. 18h40, 21h30; Le Mans ‘66: O
Duelo M12. 13h20; Os Anjos de Charlie M12.
13h15; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
13h40, 16h35, 19h, 21h25 (V.Port./2D);
Passámos Por Cá M14. 19h, 21h30; Knives
Out: Todos São Suspeitos M12. 15h45,
18h35; Last Christmas M12. 21h20; Que Mal
Fiz Eu a Deus Agora? M12. 14h15, 16h30,
18h50, 21h10; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 13h10, 15h15, 17h20,
19h25 (V.Port./2D); Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h, 15h40, 18h30, 21h15;
Setúbal
Cinema City Alegro Setúbal
C. C. Alegro Setúbal. T. 265239853
21 Pontes M14. 13h10, 15h20, 17h30, 19h40,
21h50, 24h; Bikes - Uma Aventura Sobre
Rodas M6. 13h30 (V.Port./2D); Joker M14.
21h40, 00h25; Countdown M14. 13h40,
00h30; Os Anjos de Charlie M12. 13h15,
15h45, 18h35, 21h35, 00h05; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 13h45, 15h30, 16h, 17h45,
18h20, 19h25, 21h20, 23h40 (V.Port./2D),
17h45, 22h (V.Orig./2D); Knives Out: Todos
São Suspeitos M12. 15h50, 21h25, 00h05;
One Piece Stampede: O Filme M12. 00h20;
Last Christmas M12. 15h25, 17h40, 19h45,
21h55, 00h15; Que Mal Fiz Eu a Deus
Agora? M12. 15h35, 19h50, 21h50; A Ovelha
Choné: A Quinta Contra-Ataca M6. 13h40,
15h40, 17h35, 19h30 (V.Port./2D); Graças a
Deus M14. 21h30; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 13h45, 16h10, 18h45, 21h30,
00h10; Coração Negro 13h30
Seixal
Cineplace - Seixal
Qta. Nova do Rio Judeu.
21 Pontes M14. 13h10, 15h20, 17h30, 19h40,
21h50; Bikes - Uma Aventura Sobre Rodas
M6. 13h (V.Port./2D); Joker M14. 19h10;
Maléfica II: Mestre do Mal M12. 15h (V.
Port./2D); A Família Addams M6. 12h50 (V.
Port./2D); A Família Addams M6. 12h50; Os
Anjos de Charlie M12. 21h10; Frozen II - O
Reino do Gelo M6. 13h, 15h10, 17h20, 19h30,
21h40 (V.Port./2D); Last Christmas M12.
12h50, 17h30, 19h40, 21h50; Os Aeronautas
M12. 14h50, 17h, 21h40; Que Mal Fiz Eu a
Deus Agora? M12. 15h, 17h10, 19h20, 21h30
A Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca
M6. 13h10, 15h10, 17h10, 19h10 (V.Port./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 14h, 16h30,
21h30 (2D), 19h (3D);
Faro
Cinemas Nos Fórum Algarve
C. C. Fórum Algarve. T. 289887212
Os Anjos de Charlie M12. 13h20, 15h55,
18h30, 21h10, 23h50; Frozen II - O Reino do
Gelo M6. 13h, 15h40, 18h (V.Port./2D);
Knives Out: Todos São Suspeitos M12.
22h05 ; Os Aeronautas M12. 21h20,
00h10; Que Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12.
12h50, 15h10, 17h25, 19h40, 21h55, 00h15; A
Ovelha Choné: A Quinta Contra-Ataca M6.
13h10, 15h20, 17h35, 19h50 (V.Port./2D);
Jumanji: O Nível Seguinte M12. 12h45,
15h30, 18h15, 21h30, 23h40;
Albufeira
Cineplace - AlgarveShopping
Estrada Nacional 125 - Vale Verde.
21 Pontes M14. 13h10, 15h20, 17h30, 19h40,
21h50; Bikes - Uma Aventura Sobre Rodas
M6. 13h10 (V.Port./2D); Joker M14. 18h40;
Maléfica II: Mestre do Mal M12. 13h40 (V.
Port./2D); A Família Addams M6. 14h10 (V.
Port./2D); Os Anjos de Charlie M12. 16h10,
21h10; Frozen II - O Reino do Gelo M6.
12h50, 15h, 17h10, 19h20 (V.Port./2D), 21h30
(V.Orig./2D); Knives Out: Todos São
Suspeitos M12. 21h; Last Christmas M12.
13h, 15h10, 17h20, 19h30, 21h40; Os
Aeronautas M12. 15h10, 17h20, 21h20; Que
Mal Fiz Eu a Deus Agora? M12. 15h10, 17h20,
19h30, 21h40; A Ovelha Choné: A Quinta
Contra-Ataca M6. 13h, 15h, 17h, 19h (V.
Port./2D); Jumanji: O Nível Seguinte M12.
14h, 16h30, 21h30 (2D), 19h (3D); Um
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 39
Homem Fiel M14. 19h30; Jumanji: O Nível
Seguinte M12. 16h10, 18h40, 21h10
TEATRO
Lisboa
Museu da Marioneta
Rua da Esperança, 146 - Convento das
Bernardas. T. 213942810
Canja de Galinha (Com Miúdos) Comp.:
Companhia Mascarenhas-Martins. Enc. Luis
Miguel Cintra. De 10/12 a 29/12. 3ª a 5ª às
19h. 6ª e Sáb às 21h30. Dom às 17h30
(excepto 24 a 26). M/14. Duração: 2h.
Teatro Villaret
Av. Fontes Pereira Melo, 30A. T. 213538586
BecaBeca Grupo: Os Improváveis. Dia 17/12
às 21h30 (com Sofia Cerveira e Catarina
Furtado). M/16. Duração: 1h15m.
MÚSICA
Lisboa
Altice Arena
Parque das Nações. T. 218918409
Vienna Mozart Orchestra
Dia 17/12 às 21h30.
Fundação e Museu Calouste Gulbenkian
Avenida de Berna, 45A. T. 217823000
Coro Gulbenkian Dia 17/12 às 18h30.
Concerto de homenagem a Michel Corboz -
50 anos na direcção artística do Coro
Gulbenkian.
Teatro da Trindade
Largo da Trindade, 7A. T. 213420000
Capicua Dia 17/12 às 21h (Ciclo Mundos).
Teatro Municipal São Luiz
R. António Maria Cardoso, 38. T. 213257650
Música Antigua & Os Músicos do Tejo De
16/12 a 17/12. 2ª e 3ª às 21h. 500 Anos da
Primeira Viagem de Circum-Navegação.
Concerto inserido na Mostra Espanha 2019.
EXPOSIÇÕES
Lisboa
Centro Cultural de Belém
Praça do Império. T. 213612400
Agricultura e Arquitectura: Do Lado do
Campo De 5/10 a 16/2. 3ª a Dom das 10h às
18h (Garagem Sul). Trienal de Arquitectura
de Lisboa 2019.
Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva
Praça das Amoreiras, 56.
T. 213880044
Por Dentro da Obra. A Técnica da Têmpera
na Obra de Vieira da Silva De 31/10 a 26/1.
3ª a Dom das 10h às 18h. Pintura. Sombras e
Outras Cores De Manuel Baptista. De 31/10
a 26/1. 3ª a Dom das 10h às 18h.
MNAC - Museu do Chiado
Rua Serpa Pinto, 4. T. 213432148
Espaço Interior / Inner Space De 4/10 a 5/1.
3ª a Dom das 10h às 18h (excepto 25
Dezembro e 1 Janeiro). Orto di Incendio - 27
Artistas a Partir de Al Berto De 22/11 a 2/2.
3ª a Dom das 10h às 18h (encerra 25
Dezembro e 1 Janeiro). Os Dias das
Pequenas Coisas De Sarah Affonso. De 13/9
a 22/3. 3ª a Dom das 10h às 18h (encerra 1
Janeiro, Dom de Páscoa, 1 Maio, 13 de Junho
e 25 Dezembro). Prémio Sonae Media Art
2019 De Diogo Tudela, Francisca Aires
Mateus, Rudolfo Quintas, Colectivo Berru,
Tiago Martins, João Correia e Sérgio Rebelo.
De 29/11 a 2/2. 3ª a Dom das 10h às 18h
(encerra 25 Dezembro e 1 Janeiro).
Pavilhão de Portugal
Alameda dos Oceanos - Parque das Nações.
T. 218919898
Harry Potter: The Exhibition
De 16/11 a 8/4. 2ª a 5ª das 10h às 19h. 6ª, Sáb
e Dom das 10h às 20h30. Cinema, objectos.
SAIR
FARMÁCIAS
Lisboa-Serviço Permanente
Central Campolide (Campolide) - Rua General
Taborda, 17 - Tel. 213880304 Marbel (Alvalade -
Avª. do Brasil) - Avª. de Roma, 131 - A - Tel.
217993770 Onilda (João XXI) - Av. João Xxi, 13 -
A - Tel. 218486848 Da Lapa - Rua da Lapa, 52-54
- Tel. 213962246
Outras Localidades-Serviço Permanente
Abrantes - Duarte Ferreira (Rossio ao Sul do
Tejo) Alandroal - Santiago Maior ,
Alandroalense Albufeira - Albufeira Alcácer do
Sal - Alcacerense Alcanena - Correia Pinto
Alcobaça - Magalhães Alcochete - Cavaquinha
, Póvoas (Samouco) Alcoutim - Caimoto
Alenquer - Catarino Aljustrel - Pereira Almada
- Rainha Santa (Cova da Piedade) Almeirim -
Barreto do Carmo Almodôvar - Ramos
Alpiarça - Gameiro Alter do Chão - Alter ,
Portugal (Chança) Alvaiázere - Ferreira da
Gama , Castro Machado (Alvorge), Pacheco
Pereira (Cabaços), Anubis (Maçãs D. Maria)
Alvito - Nobre Sobrinho Amadora - Dolce Vita ,
Heleno Ansião - Medeiros (Avelar) , Pires
(Santiago da Guarda) Arraiolos - Misericórdia
Arronches - Batista , Esperança (Esperança/
Arronches) Arruda dos Vinhos - Da
Misericórdia Avis - Nova de Aviz Azambuja -
Dias da Silva , Nova, Peralta (Alcoentre), Ferreira
Camilo (Manique do Intendente) Barrancos -
Barranquense Batalha - Ferraz , Silva Fernandes
(Golpilheira) Beja - J. Delgado (S. João Batista)
Belmonte - Costa , Central (Caria) Benavente -
Batista Bombarral - Hipodermia Borba -
Carvalho Cortes Cadaval - Central Caldas da
Rainha - Caldense Campo Maior - Campo
Maior Cartaxo - Central do Cartaxo Cascais -
Ostende (Monte do Estoril) , Macau (Parede)
Castelo Branco - Salavessa (Cebolas de Cima)
Castelo de Vide - Freixedas Castro Verde -
Alentejana Chamusca - Bonfim , S. Pedro
Constância - Vila Farma Constância ,
Carrasqueira (Montalvo) Coruche - Higiene
Covilhã - Crespo Cuba - Da Misericórdia Elvas -
Moutta Entroncamento - António Lucas
Estremoz - Costa Évora - Central Faro -
Almeida , Da Penha Ferreira do Alentejo - Singa
Ferreira do Zêzere - Graciosa , Soeiro, Moderna
(Frazoeira/Ferreira do Zezere) Figueiró dos
Vinhos - Campos (Aguda) , Serra Fronteira - Vaz
(Cabeço de Vide) Fundão - Taborda Gavião -
Mendes (Belver) , Gavião Golegã - Salgado
Grândola - Costa Idanha-a-Nova - Andrade
(Idanha A Nova) Lagoa - Vieira Santos
(Estombar) Lagos - Telo Loulé - Chagas Loures
- Nacional , Faria (Santo António dos Cavaleiros)
Lourinhã - Quintans (Foz do Sousa) , Liberal
(Reguengo Grande) Mação - Catarino Mafra -
Caré (Ericeira) , Barros (Igreja Nova) Marinha
Grande - Moderna Marvão - Roque Pinto
Mértola - Pancada Monchique - Higya
Monforte - Jardim Montijo - Nova Circular
Mora - Canelas Pais (Cabeção) , Falcão, Central
(Pavia) Moura - Nova de Moura Mourão -
Central Nazaré - Ascenso , Maria Orlanda (Sitio
da Nazaré) Nisa - Ferreira Pinto Óbidos - Vital
(Amoreira/Óbidos) , Senhora da Ajuda
(Gaeiras), Oliveira Odivelas - Sena Belo ,
Aniceto Ferronha (Urb. Bons Dias - Odivelas)
Oeiras - Miraflores (Algés) Oleiros - Martins
Gonçalves (Estreito - Oleiros) , Garcia Guerra,
Xavier Gomes (Orvalho-Oleiros) Olhão - da Ria
Ourém - Verdasca Ourique - Nova (Garvão) ,
Ouriquense Pedrógão Grande - Baeta Rebelo
Penamacor - Melo Peniche - Proença Pombal -
Barros Ponte de Sor - Matos Fernandes
Portalegre - Cunha Miranda Portel - Fialho
Portimão - Rosa Nunes Porto de Mós - Lopes
Proença-a-Nova - Roda , Daniel de Matos
(Sobreira Formosa) Redondo - Xavier da Cunha
Reguengos de Monsaraz - Paulitos Rio Maior -
Ferraria Paulino Salvaterra de Magos - Martins
Santarém - Confiança Santiago do Cacém -
Jerónimo São Brás de Alportel - São Brás
Sardoal - Passarinho Seixal - Além Tejo Serpa -
Serpa Jardim Sertã - Lima da Silva , Farinha
(Cernache do Bonjardim) Sesimbra - da
Cotovia Setúbal - Monte Belo , Normal do Sul
Silves - Ass. Soc. Mutuos João de Deus Sines -
Atlântico , Monteiro Telhada (Porto Covo) Sintra
- Portela , São Francisco Xavier, Dumas Brousse
Mem Martins (Mem Martins) Sobral Monte
Agraço - Costa Sousel - Mendes Dordio (Cano)
, Andrade Tavira - Montepio Artistico Tavirense
Tomar - Ribeiro dos Santos Torres Novas - Lima
Torres Vedras - Simões Vendas Novas - Santos
Monteiro Viana do Alentejo - Nova Vidigueira -
Pulido Suc. Vila de Rei - Silva Domingos Vila
Franca de Xira - Valentim LDA. , Central de
Alverca (Alverca), Central Vila Nova da
Barquinha - Tente (Atalaia) , Carvalho (Praia do
Ribatejo), Oliveira Vila Real de Santo António -
Carmo Vila Velha de Rodão - Pinto Vila Viçosa
- Torrinha Alvito - Baronia Ansião - Moniz
Nogueira Montemor-o-Novo - Sepúlveda
Redondo - Alentejo
40 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
FICAR
CINEMA
Matrix Reloaded
Fox Movies, 20h22
O segundo capítulo da saga dos
irmãos Wachowski. No primeiro
tomo, Neo (Keanu Reeves)
descobre que poderá ser o
Escolhido, o único que poderá
conduzir (e vencer) a luta contra a
Matrix. Agora, Neo, Trinity
(Carrie-Anne Moss) e Morpheus
(Laurence Fishburne) têm apenas
72 horas para salvar Zion das
garras das Sentinelas que escavam
rapidamente e têm como
objectivo a destruição total do
último reduto de resistência
contra a Matrix. Neo tem o
destino dos rebeldes nas mãos,
mas também a vida de Trinity.
Bolo de Neve
TVC3, 22h30
Alex Hughes decide dar boleia a
uma jovem de 19 anos, Vivienne.
Mas, durante a viagem, o carro é
abalroado por um camião, e
Vivienne morre. Pela segunda
vez na vida, Alex sofre com a
morte de alguém que nunca
conheceu. Perturbado, procura a
mãe de Vivienne para falar sobre
o acidente. Mas Linda não é uma
mãe qualquer: é autista e, apesar
de ser auto-suÆciente, não
demonstra qualquer emoção
perante a morte da Ælha,
acabando, contudo, por se
afeiçoar a Alex. Será com a ajuda
dela e de Maggie, a vizinha com
quem acaba por se relacionar,
que Alex dará início ao
exorcismo dos demónios
interiores. Uma história,
realizada por Marc Evans, sobre
como a conÆança, o amor e a
amizade podem mudar vidas e
curar corações. Com Alan
Rickman, Sigourney Weaver e
Carrie-Anne Moss.
Michael
RTP1, 0h59
John Travolta é Michael, um anjo
insolente, que usa um vocabulário
que não se coaduna com a sua
proÆssão, que tem vícios (bebe e
fuma) e vive no rural Iowa,
juntamente com uma senhora
idosa. É esta senhora que envia
uma carta para um tablóide a
dizer que partilha casa com um
anjo, facto que aguça a
curiosidade de dois jornalistas
(William Hurt e Robert Pastorelli)
e de uma investigadora de
fenómenos sobrenaturais (Andie
MacDowell). Quando os conhece,
Michael Æca, por Æm, a perceber
qual é a sua missão na Terra.
Michael aceita viajar até Chicago
com os três curiosos, que,
desconÆados do carácter angelical
Televisão
lazer@publico.pt
RTP 1
6.30 Bom Dia Portugal 10.00 Praça da
Alegria 13.00 Jornal da Tarde 14.10
Bem-vindos a Beirais 14.58 A Nossa
Tarde 17.22 Futebol: CR Flamengo x
Al-Hilal FC - Taça do Mundo de Clubes
da FIFA 19.29 O Preço Certo 19.59
Telejornal 21.00 Outras Histórias 21.33
Joker 22.25 Vote - Portugueses na
Política dos EUA 23.34 Prova Oral 0.59
Michael 2.44 Europa Minha 3.03 O
Sábio 3.43 Televendas 5.59
Manchetes 3
RTP 2
6.32 Repórter África - 2.ª Edição 7.00
Espaço Zig Zag 11.00 O Meu Cavaleiro
e Eu 11.24 O Principezinho 12.14 O
Regresso de Lucas 13.03 Mil Palavras
Não Fazem Uma Árvore 13.53 Folha de
Sala 14.00 Sociedade Civil: Natal no
Mundo 15.03 A Fé dos Homens 15.37
Visita Guiada 16.20 O Outro Lado do
Paraíso 17.14 Espaço Zig Zag 21.02
Degrassi: A Turma Seguinte 21.30
Jornal 2 22.04 Folha de Sala 22.12
Pânico no Árctico 22.54 Nada Será
como Dante 23.25 Paris etc. 0.01
Muito Barulho para Nada 1.35
Sociedade Civil 2.38 E2 - Escola
Superior de Comunicação Social 3.05
Euronews 5.04 Dentro 5.48 Os
Nossos Dias
SIC
6.00 Edição da Manhã 9.15 Alô
Portugal 10.15 O Programa da Cristina
13.00 Primeiro Jornal 14.45 Amor
Maior 16.15 Júlia 18.15 Amor à Vida
19.15 Casados à Primeira Vista - Diário
19.57 Jornal da Noite 21.40 Nazaré
22.20 Terra Brava 23.25 Casados à
Primeira Vista - Extra 23.55 A Dona do
Pedaço 5.35 Malucos do Riso 0.30
Passadeira Vermelha 2.40
Investigação Criminal Los Angeles
4.05 Televendas
TVI
6.00 1.ª hora 7.00 Diário da Manhã
10.14 Você na TV! 13.00 Jornal da Uma
14.47 Belmonte 15.35 Doce Tentação
16.15 A Tarde É Sua 19.13 Ver P’ra Crer
19.57 Jornal das 8 21.40 Na Corda
Bamba 22.32 Prisioneira 23.48 A Casa
É Minha 0.20 Mundo ao Contrário
0.55 Louco Amor 1.10 1000 à hora
2.27 Mar de Paixão 3.00 Remédio
Santo 4.15 TV Shop
Os mais vistos da TV
Terça-feira, 10
% Aud. Share
Pesadelo na Cozinha
Jornal da Noite
TVI 13,0
SIC 12,2
24,7
23,4
Casados à Primeira... SIC 11,5 21,8
Jornal das 8 TVI 10,9 20,9
Primeiro Jornal SIC 9,8 27,1
FONTE: CAEM
TVC1
11.45 Hunter Killer 13.50 Correio de
Droga 15.50 Como Falar com
Raparigas em Festas 17.35 Na Praia de
Chesil 19.30 A Rapariga Apanhada na
Teia de Aranha 21.30 Destroyer: Ajuste
de Contas 23.35 Cinetendinha 23.45
Assim Nasce Uma Estrela 2.05 Tudo a
Nu na Normandia 4.00 A Livraria
FOX MOVIES
9.50 Passageiro 57 11.10 Ninja, o
Imbatível 12.48 Emboscada 14.21
Homens de Coragem 16.02 O
Defensor (2004) 17.30 Presa Fácil
18.56 O Marine 20.22 Matrix Reloaded
22.30 Morte Súbita 0.19 Cyborg 1.41
Danos Colaterais 3.24 Comando
CANAL HOLLYWOOD
10.55 Coragem Debaixo de Fogo 12.50
Ao Ritmo do Hip Hop 2 14.25 A Mulher
da Casa 16.10 Hachiko - Amigo para
Sempre 17.45 R.I.P.D.: Agentes do
Outro Mundo 19.20 Detonação 21.30
O Tesouro 2: Livro dos Segredos 23.35
G.I. Joe: Retaliação 1.20 Ficheiros
Secretos: Quero Acreditar 3.05 Ruby
Sparks - Uma Mulher de Sonho 4.45
Parker
AXN
13.18 Investigação Criminal 14.02
Mentes Criminosas 15.31 Resident Evil
3: Extinção 17.03 Bem-Vindos à Selva
18.43 Chicago Fire 20.21 Investigação
Criminal 22.05 The Good Doctor 22.57
O Sobrevivente 1.05 Amigos
Improváveis 2.57 The Good Doctor
3.42 Investigação Criminal 5.10 Carter
AXN BLACK
14.36 Anaconda 16.04 Blitz - Sem
Remorsos 17.37 Star Trek II: A Ira de
Khan 19.27 Debaixo da Pele 21.14
Detenção Secreta 23.18 Salsicha Party
(v.o.) 0.48 Código de Honra 2.33 Cópia
Mortal
AXN WHITE
13.25 O Mentalista 14.12 As Aventuras
de Tintin - O Segredo do Licorne (v.p.)
15.55 Cody Banks - Agente de Palmo e
Meio 17.36 O Turno da Noite 21.24 O
Turno da Noite 22.15 Guerra É Guerra
23.56 Os Estagiários 1.53 O Turno da
Noite 3.23 The Catch
RTP1 10,3%
% vida está prestes a mudar para
RTP2 1,0
SIC 18,3
TVI
18,4
Cabo
38,2
FOX
10.55 C.S.I. 14.01 Investigação
Criminal: Los Angeles 15.35 Hawai
Força Especial 17.08 C.S.I. Miami 18.50
Investigação Criminal: Los Angeles
20.32 Hawai Força Especial 22.15 SEAL
Team 0.00 Missão Impossível II 2.11 C.
S.I. Miami
FOX LIFE
11.09 Anatomia de Grey 12.45 Station
19 13.30 Chicago Med 14.15 Desvio
para o Natal 15.47 Small Town
Christmas 17.19 Ice Sculpture
Christmas 18.57 Lei & Ordem: Unidade
Especial 20.39 Station 19 21.26
Chicago Med 22.20 For the People
23.11 Bull 0.03 O Melhor Doce de Natal
1.39 Lei & Ordem: Unidade Especial
3.07 Station 19 3.50 Chicago Med 4.32
Code Black
DISNEY
15.00 A Raven Voltou 15.24
Acampamento Kikiwaka 16.10 A Irmã
do Meio 16.56 Lab Rats 17.40 Star
Contra as Forças do Mal 18.33
Miraculous - As Aventuras de Ladybug
19.20 Os Green na Cidade Grande
20.07 Gravity Falls
DISCOVERY
17.10 Os Últimos Habitantes do Alasca
19.05 Expedição ao Passado 22.00
Vikings na América 23.50 Expedição
ao Passado 0.40 Vikings na América
2.15 Curiosidades da Terra 3.00
Segredos do Universo com Morgan
Freeman 4.30 Guerra de Propriedades
HISTÓRIA
17.22 Alienígenas 18.45 Não
Identificados 20.07 Forjado no Fogo
22.15 Forjado no Fogo: Faca ou Morte
2.27 Forjado no Fogo 4.35 Projectos
Impossíveis
ODISSEIA
17.48 Lugares Secretos da Ásia 18.33
Resgate na Praia 19.49 Voos Perigosos
20.36 Perigo Extremo 21.23 Power
22.14 Perigo Extremo 23.00 The
Weekly 23.27 Power 0.17 Perigo
Extremo 1.05 The Weekly 1.31 Power
2.22 Voos Perigosos 3.09 Guerra de
Drones 4.56 Os Últimos Gigantes: as
Grandes Bestas 5.45 Resgate na Praia
de Michael, não sabem que a sua
sempre.
DESPORTO
Futebol: Flamengo x Al-Hilal
RTP1, 17h22
Directo. Jogo das meias-Ænais da
Taça do Mundo de Clubes da FIFA,
que reuniu, no Qatar, os seis
campeões de clubes das
confederações da FIFA e o clube
campeão do país anÆtrião. O
treinador português Jorge Jesus é
uma das estrelas do confronto que
opõe o seu actual clube, o
Flamengo (à frente do qual o
técnico já conquistou os títulos da
Copa Libertadores da América e
do Campeonato Brasileiro), à sua
ex-equipa do Al-Hilal, da Arábia
Saudita.
DOCUMENTÁRIOS
O Silêncio dos Outros
TVC2, 14h15
Durante quase quatro décadas,
Espanha viveu sob o jugo do
ditador Francisco Franco, cujo
Governo deu origem a todo o tipo
de violações dos direitos
humanos. Centenas de milhares
de pessoas morreram durante o
regime ou foram encarceradas. A
Lei da Amnistia, datada de 15 de
Outubro de 1977, libertou os
presos políticos e fez desaparecer
as suas acusações. Contudo, para
desassossego de milhares de
vítimas, ilibou também os seus
carrascos. Um documentário
intenso, produzido por Pedro
Almodóvar e com realização da
dupla Almudena Carracedo e
Robert Bahar, que conquistou o
prémio do público da secção
Panorama no Festival de Berlim.
Bicicletas de Nhanderú
TVC2, 22h
Uma imersão na espiritualidade e
na cultura dos mbiás da aldeia
Koenju, em São Miguel das
Missões, no estado brasileiro de
Rio Grande do Sul. O Ælme
começa quando um raio atinge
uma árvore e o índio mais velho
da tribo acredita tratar-se de um
sinal de que é preciso rever as
atitudes que os membros da
aldeia têm tido. É que a queda de
um raio signiÆca que o deus
Nhanderú não está satisfeito. Um
documentário de Ariel Ortega,
produzido pelo Vídeo nas Aldeias,
um projecto na área do
audiovisual, criado em 1986, com
o objectivo de apoiar as lutas dos
povos indígenas e fortalecer as
suas identidades e patrimónios
territoriais e culturais.
 Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 41

JOGOS

CRUZADAS 10.830 TEMPO PARA HOJE

Horizontais: 1. Qualquer porção limitada Verticais: 1. Purificação. Ente. 2. Impõe.
de matéria. Parede feita com terra argilo- Proprietário. 3. Espécie de albufeira.
sa que é lançada nos taipais. 2. Fruto do Retesado. 4. Visto que. Que se percebe
abieiro. Ocupar o lugar de. 3. Desleal. bem. 5. Informação nova ou pouco co- Viana do Bragança
Pega. 4. Suspiro. Planta da família das nhecida. Moeda da Etiópia. 6. Conjunto Castelo 1º 8 º
Amarilidáceas, de fibra têxtil. 5. Norma de contas utilizado na oração. Redução 3º 12º
Braga
de transmissão em vídeo com cores, das formas linguísticas “em” e “o” numa
2º 13º Vila Real
tendo como base as cores primárias ver- só. 7. Multiplicativo de unidades de medi-
melha, verde e azul. Entre nós. Pão de da, com o símbolo T, a significar 1 bilião 2 º 9º
13º Porto
milho. 6. Sociedade Anónima. Rosto. de vezes. Alojamento Local. O tio dos 4º 12º
Rijeza (fig.). 7. Hectolitro (abrev.). americanos. 8. Prefixo que exprime a
Viseu
Incólume. 8. Mafarrico. Sódio (s.q.). ideia de privação. Símbolo de libra (uni-
2,5-4m 1º 8 º Guarda
9. Ri sem fazer ruído. Converter em soro. dade de massa). Abertura por onde os Aveiro
10. Derramar. Rio chinês muito visitado mastros dos navios assentam na carlinga 0º 5º
6º 14º Penhas
por turistas. 11. Trituro com os dentes. (Náut.). 9. Viagem. Tocar ao de leve.
Peregrinação religiosa. 10. Parte do corpo, entre a cabeça e o Douradas
tronco. Naquele lugar. 11. Altar. Redução Coimbra -2º 3º
das formas linguísticas “a” e “o” numa só. 4º 12º
Cantiga. Castelo
Branco
Leiria 4º 11º
Depois do problema resolvido encontre
o provérbio nele inscrito (6 palavras). 5º 14º

Santarém
Portalegre
Solução do problema anterior: 6º 14º
3º 9º
Horizontais: 1. Cais. Madura. 2. AD. Acometer. 3. Bacharel. Fr. 4. Opiar. NEGRO. 5.
Tareco. Rei. 6. Ta. Ato. Figo. 7. Artesa. 8. Alor. Aula. 9. Ganhuça. Lia. 10. Ama. Sã. Chau. Lisboa
11. Ralador. OMS. 8º 14º
Verticais: 1. Cabo. Tragar. 2. Adapta. Lama. 3. CIA. Zonal. 4. Sahara. Rh. 5. Careta. USD.
6. Mor. CORAÇÃO. 7. Ameno. Tua. 8. Dele. Fel. 9. Ut. Grisalho. 10. Refrega. Iam. 11. Setúbal
Arroio. Paus. 8º 14º Évora
Título do Filme: Coração Negro. 6º 12º
AMANHÃ

14º Beja
Sines
BRIDGE SUDOKU 9º 14º
5º 12º

Dador: Norte 2,5-3,5m

guras da mão, 9 de espadas para o 10 e Problema
Vul: NS por fim a última copa cortada com a úl-
tima figura da mão. 9434 Sagres
Faro
Neste momento e se já não houver trun- Dificuldade: 10º 15º
NORTE fos pode tabelar o jogo! 9º 15º
Ƅ J1087 Fácil
15º
Ɔ AK752 Considere o seguinte leilão:
Ƈ 74 1,5-2m
Oeste Norte Este Sul
ƅ A8 1Ɔ passo 1ST
Açores
passo 2Ƈ passo ? Corvo
Graciosa
Terceira
OESTE ESTE Classifique esta sequência, Sul pode Solução do Flores
S. Jorge 14º 19º
Ƅ 654 Ƅ2 passar ou não? problema 9432 12 19º
Ɔ QJ10986 Ɔ4 17º
Ƈ- Ƈ QJ9853 ƄK72 Ɔ4 ƇQ98 ƅJ108762 19º Pico
ƅ J1094 ƅ Q7653 2-3m
Faial
Resposta: Não forcing. O passe é a res-
posta correcta. O parceiro poderia ter 12º 19º
3,5m S. Miguel
SUL saltado para três ouros, se tivesse uma
16º 20º
Ƅ AKQ93 mão forte o suficiente para jogar partida
Ponta
Ɔ3 face a um respondente mínimo, e ele 19º Delgada
Ƈ AK1062 não tomou essa decisão. Embora dois
1,5m
ƅ K2 ouros seja um parcial barato, é melhor
ficar por aqui e garantir alguns pontos
Madeira Sta Maria

na boa coluna do que ir por aí acima e

Porto Santo
cabidar. Problema
15º 21º
Oeste Norte Este Sul 9435 20º
1Ɔ passo 1Ƅ
passo 2Ƅ passo 4ST Dificuldade:
passo 5Ɔ passo 7Ƅ Difícil 1,5-2m
Funchal
3-5m
Todos passam 20º 16º 22º

Leilão: Qualquer forma de bridge.

Sol Lua Q. Minguante
Carteio: Saída: QƆ. Depois de Este as- Nascente 7h49
sistir a esta vaza, como jogaria este Poente 17h16 19 Dez. 4h57
grande cheleme, a 100%? Solução do
problema 9433
Solução: Para garantir este jogo sem so-
bressaltos, temos de jogar em morto in-
Marés
vertido, o que se traduz em cortar na Leixões Cascais Faro
mão comprida em trunfo as copas do
morto. Preia-mar 06h15 3,3 05h52 3,3 05h59 3.2
Porém, há que ter em atenção as entra-
das para o morto, para poder voltar a 18h53 2,9 18h30 3,0 18h31 2,9
cortar copas em Sul. Depois de fazer o
Baixa-mar 12h36 0,8 12h13 1,0 11h59 0,9
Ás de copas temos de jogar o 2 de copas
e cortar com uma das figuras da mão, 00h50* 1,0 00h26* 1,2 00h14* 1,1
voltar ao morto com o 3 de espadas para João Fanha/Pedro Morbey
Fonte: www.AccuWeather.com * De amanhã
o 7, cortar outra copa com outra das fi- (bridgepublico@gmail.com) © Alastair Chisholm 2008 and www.indigopuzzles.com
42 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

INICIATIVAS
FOI RESPEITADA A OPÇÃO ORTOGRÁFICA DOS AUTORES

Um mergulho nas viagens de Ricardo Jorge

Rui Manuel Pinto Costa
Estamos no ano de 1923. No
número 125 da Rua dos
Retroseiros, em Lisboa, sede da
Empresa Literária Fluminense,
Ricardo Jorge folheia com atenção
um dos primeiros exemplares do
seu último livro: o Canhenho de um
Vagamundo. Impressões de Viagem.
Sem que ele ainda o soubesse,
24 Dezembro acabava de sair do prelo a obra que
Canhenho dum Vagamundo maior tiragem e sucesso acolheria
Ricardo Jorge junto do grande público. Trata-se
31 Dezembro de uma coletânea heterogénea de
Commigo textos e narrativas até aí dispersas
Manuel Laranjeira pelas colunas de alguns jornais,
7 Janeiro adendados com artigos inéditos e
Paranóia anotações diversas, versando
Júlio de Matos sobretudo impressões de viagem
do pré e pós-guerra. O manuscrito
inicial acabaria por dar origem a
duas edições sucessivas e a uma
tiragem de 7000 exemplares.
O porquê deste sucesso prende-se
com dois fenómenos: por um lado, a
riqueza verbal, o Æno recorte
literário e a exuberância da
linguagem; por outro, o fascínio
associado ao imaginário que
permeava a literatura de viagens. Foi
precisamente neste género literário
que as imensas memórias e
peripécias de Ricardo Jorge se
entrecruzaram com a crítica social e
os exercícios de reÇexão histórica,
evocando e incorporando a cada
passo fragmentos da sua vida e as
vicissitudes do seu próprio país.
Sendo um homem multifacetado
e heterogéneo, nada lhe era
indiferente. Das impressões vividas
numa Paris culta e mundana,
passando pelos períodos de
convalescença na Suíça ou pelas
digressões culturais a museus,
galerias de arte e bibliotecas,
Ricardo Jorge dá-nos a conhecer um
quadro das suas próprias referências
de vida. E também não faltam as
viagens realizadas na qualidade de
representante português no Oêce
International d’Higiène Publique,
em contexto de congressos
internacionais, de reuniões do
Comité de Higiene da Sociedade das
Nações, ou apenas de visitas
turísticas. Do Reino Unido à
Espanha, passando pelo Mónaco e
Suíça, é sobretudo da capital gaulesa
que nos traz uma grande parte das
memórias, entrecruzando-as com
momentos de retorno à infância e
juventude vividas no Porto. É uma
mescla que só Ricardo Jorge
consegue transportar ao leitor de
forma harmoniosa e sempre
reveladora. Está tudo lá: o homem,
o médico, o escritor e o viajante;
enÆm, o português errante e
“vagamundo” que tanto faz parte do
ADN do que é ser português.
Investigador do
CEIS20/Universidade de
Coimbra

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Um raio x
da literatura
portuguesa
3 novos tí
títulos
ít l
RICARDO JORGE - Canhenho dum Vagamundo
MANUEL LARANJEIRA - Commigo
JÚLIO DE MATOS - A Paranóia
J

Parceria:
Ordem dos Médicos
ÀS TERÇAS
Patrocinadores: Apoio:

Colecção Médicos/Escritores - extensão. 3 títulos, pvp unitário 6,90€, preço total 20,70€.
Periodicidade semanal à terça-feira entre 24 de Dezembro de 2019 e 7 de Janeiro de 2020.

Soares decapitou a estratégia
de um Tondela perdido
Avançado brasileiro bisou praticamente a abrir e Otávio encerrou a discussão no início da segunda parte,
deixando Natxo González sem quaisquer hipóteses de cumprir a promessa de marcar no Dragão
FC Porto
Soares 10’ e 32’, Otávio 51’
Tondela
Estádio do Dragão, no Porto.
Espectadores 19.829
FC Porto Marchesín, Corona, Pepe,
Marcano, Alex Telles, Uribe, Otávio
(Sérgio Oliveira, 79’), Nakajima, Luís
Díaz (Fábio Silva, 74’), Marega (Manafá,
46’), Soares. Treinador Sérgio
Conceição
Tondela Cláudio Ramos, Moufi, Bruno
Wilson (Yohan Tavares, 18’), Ricardo
Alves, Filipe Ferreira, Jaquité, João
Pedro (Richard, 60’), Pepelu (Pedro
Augusto, 60’), Jhon Murillo, Toro,
Denilson. Treinador Natxo González
Árbitro Manuel Oliveira (AF Porto)
Positivo/Negativo
Soares
Dois golpes de cabeça que
fizeram toda a diferença
frente a um adversário que
prometera enervar o
Dragão. Sentido de
oportunidade apurado e
excelente timing nos golos,
que permitiram partir para
uma noite sem
sobressaltos.
Otávio
O golo que encerrou
qualquer possibilidade de o
Tondela reentrar na
discussão foi a cereja com
que o brasileiro coroou
uma exibição impecável,
no desempenho de tarefas
a que não está habituado.
Nakajima
Apesar de alguma
precipitação, foi decisivo
para dilacerar o Tondela
Natxo González
Perder seria normal, mas o
técnico fracassou em toda
a linha.
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 43
DESPORTO
JOSE COELHO/EPA
3 Crónica de jogo
Augusto Bernardino
0 Sem acusar os efeitos da ressaca euro-
peia, o FC Porto trucidou um Tonde-
la deslumbrado pela condição de
equipa sensação na qualidade de visi-
tante. À boleia do primeiro bis de
Soares, os “azuis e brancos” repuse-
ram, tranquilamente, a diferença de
quatro pontos para o líder do cam-
peonato, mostrando ainda uma nova
faceta e toda a versatilidade de Otá-
vio, que ironicamente se estreou a
marcar na Liga num jogo em que lhe
conÆaram maiores responsabilidades
defensivas.
Sem Danilo, surpreendentemente
fora das opções (justiÆcadas com pro-
blemas físicos pelo treinador), o FC
Porto apresentou-se com um meio-
campo alternativo, adaptando Otávio
a uma função de maior tracção trasei-
ra, sempre mais dedicado à primeira
fase de construção, à organização e à
imposição dos ritmos de jogo.
O brasileiro contava com a presen-
ça de Nakajima — a principal surpresa
no “onze” titular —, que procurava
explorar todos os espaços nas costas
de Soares e Marega, numa visão anar-
quista, assumindo-se como maior
foco de desestabilização, algo que o
Tondela nunca chegou a entender.
Sem nenhum peso pesado à frente
dos centrais e com Uribe a aproveitar Luis Díaz festeja com Otávio o terceiro golo do FC Porto frente ao Tondela
todas as oportunidades para romper
as linhas adversárias, a estratégia de e o discernimento indispensáveis Natxo González percebia que não
Sérgio Conceição beneÆciava enor- REACÇÕES para provocar mossa. E para azar do seria fácil cumprir o prometido e
memente do facto de Soares ter mar- treinador espanhol, Bruno Wilson, marcar o golo idealizado, que seria o
cado muito cedo. Pormenor decisivo
para anular um dos grandes trunfos
“Marcámos cedo e que já tinha Æcado ligado ao primeiro
golo ao permitir o cabeceamento,
primeiro sofrido pelos portistas, para
o campeonato, no Dragão. E para
do Tondela, uma das equipas mais podíamos ter feito mais sem oposição, de Soares, lesionou-se, agravar o quadro, a segunda parte
bem sucedidas na condição de visi-
tante, exímia a jogar no erro do adver-
golos face a um adversário forçando uma substituição ainda
antes dos 20 minutos.
deixou o Tondela completamente
fora da discussão do resultado. Con-
sário. Mas para poder colocar em forte nas transições” O Tondela, que prometera marcar ceição trocou Marega por Manafá,
prática os planos de Natxo González, Sérgio Conceição no Dragão, não conseguia sequer res- libertando Corona para a verdadeira
o Tondela precisava de ser mais inci- FC Porto pirar, acabando por dispor apenas de vocação do mexicano. E o terceiro
sivo, o que Æcou ainda mais difícil uma boa oportunidade em resposta golo não tardou, com Otávio a inÆl-
depois de Soares ter bisado e conse- ao segundo golo portista. Mas João trar-se e a marcar após nova assistên-
guido, em pouco mais de meia hora, “Há uma diferença muito Pedro hesitou o suÆciente para nem cia de Corona. As ocasiões sucediam-
os mesmos resultados práticos apre-
sentados até ao momento no cam-
grande entre as duas rematar, nem cruzar para a entrada
de Jonathan Toro. O Tondela estava
se e Nakajima perdoava a desatenção
de Cláudio Ramos, deslumbrando-se.
peonato, onde apontara apenas dois equipas. Tentámos, mas cada vez mais exposto, revelando as Ao Tondela restava apenas a consola-
golos.
O FC Porto circulava bem a bola,
não foi possível” fragilidades que disfarçava apenas na
sequência de lances fortuitos, nor-
ção de chegar ao tal golo, que nunca
teve engenho para desencantar.
obrigando o adversário a correr e a Natxo González malmente nascidos de ressaltos ou
desgastar-se, roubando-lhe o fôlego Tondela precipitações dos “azuis e brancos”. augusto.bernardino@publico.pt
44 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

DESPORTO

Sporting sobe ao pódio CLASSIFICAÇÕES

com goleada nos Açores
I LIGA
Jornada 14
Portimonense-Rio Ave 1-1
Marítimo-Boavista 1-0
Benfica-Famalicão 4-0
V. Setúbal-Desp. Aves 1-0
Moreirense-Belenenses SAD 2-1
Gil Vicente-V. Guimarães 2-2
Sp. Braga-Paços Ferreira 0-1
Santa Clara-Sporting 0-4
EDUARDO COSTA/EPA FC Porto-Tondela 3-0

Santa Clara 0 J V E D M-S P

1. Benfica 14 13 0 1 37-5 39
2. FC Porto 14 11 2 1 28-6 35
3. Sporting 14 8 2 4 24-15 26
Sporting 4 4. Famalicão 14 7 3 4 26-25 24
Luiz Pellype 40’ e 47’ Boulasie 54’, 5. V. Guimarães 14 5 6 3 24-17 21
Bruno Fernandes 60’ (g.p.) 6. Rio Ave 14 5 4 5 17-16 19
7. V. Setúbal 14 4 7 3 8-10 19
Jogo no Estádio de São Miguel, 8. Sp. Braga 14 5 3 6 16-17 18
em Ponta Delgada. 9. Tondela 14 5 3 6 14-17 18
10. Boavista 14 4 6 4 12-13 18
Assistência Não disponível. 11. Gil Vicente 14 4 5 5 14-16 17
12. Moreirense 14 4 5 5 18-19 17
Santa Clara Marco, Patrick, João 13. Marítimo 14 3 6 5 15-23 15
Afonso, Fábio Cardoso, Zaidu Sanussi 14. Belenenses SAD 14 4 3 7 11-21 15
a22’, Lucas Marques (Zé Manuel, 58’), 15. Santa Clara 14 3 5 6 10-18 14
Osama Rashid, Lincoln (Bruno Lamas, 16. Portimonense 14 2 6 6 11-20 12
57’), Ukra, Thiago Santana (Schettine, 17. Paços de Ferreira 14 3 2 9 10-22 11
64’) e Carlos Junior. Treinador João 18. Desp. Aves 14 2 0 12 15-30 6
Henriques. Próxima jornada Boavista-Portimonense,
Belenenses SAD-Sp. Braga, Tondela-Gil Vicente,
Sporting Luís Maximiano, Ristovski, Famalicão-V. Setúbal, Desp. Aves-Santa Clara,
Coates a66’, Mathieu, Acuña, Paços Ferreira-Moreirense, Rio Ave-Marítimo,
V. Guimarães-Benfica, Sporting-FC Porto
Doumbia (Battaglia, 64’), Wendel
(Eduardo, 78’), Bruno Fernandes,
Bolasie, Luiz Phellype (Jesé, 71’) e II LIGA
Vietto. Treinador Silas Jornada 13
Árbitro Manuel Mota (AF Braga) Ac. Viseu-Cova da Piedade 4-1
FC Porto B-Desp. Chaves 1-1
Benfica B-Varzim 3-3
Positivo/Negativo Estoril-Nacional 1-2
Casa Pia-Mafra 0-1
Vilafranquense-Leixões 1-1
Luiz Phellype Oliveirense-Penafiel 2-1
Mais dois golos para o Doumbia observa a trajectória da bola num lance do jogo entre o Sporting e o Santa Clara, nos Açores Farense-Feirense 1-0
Sp. Covilhã-Académica 1-2
avançado brasileiro
comprado a baixo custo a Wendel, Vietto e outros e a diferença Depois de algumas oportunidades J V E D M-S P
meio da época passada. Futebol de rendimento foi evidente. falhadas, o brasileiro já mais que tinha 1. Farense
2. Nacional
14 11
14 9
0 3 22-10
4 1 21-9
33
31
Vai-se valendo de ser o Marco Vaza Não foi uma exibição imediata- rompido o seu bloqueio no jogo, mas 3. Varzim 14 6 5 3 18-17 23
único ponta-de-lança do mente traduzida em golos, mas havia ainda faltava entrar nas contas do 4. Estoril 13 7 1 5 23-16 22
plantel para ser importante. Triunfo sobre o Santa Clara uma preocupação grande em simpli- jogo um dos perdulários de serviço. 5. Mafra 13 6 4 3 21-16 22
6. Leixões 13 6 4 3 19-15 22
Já vai em oito golos na eleva “leões” ao terceiro Æcar o ataque, simpliÆcando as tran- Bolasie, Ænalmente, estreou-se a mar-
7. Sp. Covilhã 13 6 2 5 18-14 20
época, mas precisa de sições ofensivas e cruzando com car na I Liga (já tinha marcado um na 8. Desp. Chaves 13 6 1 6 17-17 19
concorrência. lugar da classificação, à frequência. Houve vários momentos Liga Europa). Foi quase de costas para 9. Ac. Viseu 12 5 3 4 13-13 18
frente do Famalicão, mas em que a bola chegou à área redonda a baliza e com a nuca que o congolês 10. Feirense 13 3 6 4 13-13 15
Bolasie 11. Académica 13 4 3 6 16-17 15
ainda a 13 pontos do líder e pronta a ser transformada em golo, fez o 0-3 após canto de Bruno Fernan-
12. Vilafranquense 13 4 3 6 18-21 15
Procurou muito o golo mas houve grande falta de eÆcácia. des aos 54’. 12.FC Porto B 14 3 6 5 18-21 15
neste e em outros jogos e, Recebido com pedras nos Açores por Pelo meio, houve duas aproximações Seis minutos depois, foi o capitão 14. Penafiel 13 3 5 5 13-14 14
finalmente, estreou-se a alguns dos seus próprios adeptos, que perigosas dos açorianos, mas sem “leonino” a fazer o 0-4 na conversão 15. Oliveirense 12 4 2 6 14-16 14
marcar para o campeonato, evocaram um dos dias mais negros consequência. de um penálti que castigou uma falta 16. Benfica B 13 3 5 5 13-20 14
17. Casa Pia 13 2 1 10 10-22 7
com um cabeceamento da história do clube, o Sporting res- Aos 40’, numa transição rápida, o de Zaidu sobre Bolasie. Estava feito o 18. Cova da Piedade 12 2 1 9 8-21 7
difícil, para além de ter pondeu com uma das suas melhores Sporting chegou ao golo. Bruno Fer- resultado.
Próxima jornada Nacional-FC Porto B (4-1),
ganho o penálti que exibições da época, goleando o Santa nandes ganhou uma bola no meio- O Santa Clara até chegou a festejar Varzim-Farense (1-3), Leixões-Cova Piedade,
resultou no 0-4. Clara por 0-4 em jogo da 14.ª jornada campo e ofereceu ao seu Çanco um livre superiormente executado por Penafiel-Estoril, Académica-Oliveirense,
da I Liga. Foi uma goleada que deu esquerdo o contra-ataque. Primeiro Lamas, mas a posição de Fábio Cardo- Sp. Covilhã-Benfica B, Feirense-Casa Pia,
Mafra-Ac. Viseu, Desp. Chaves-Vilafranquense
Santa Clara para os “leões” chegarem ao terceiro foi Acuña, depois foi Vietto, que levou so junto da barreira invalidou o ponta-
Pegando nas palavras do lugar (ultrapassaram o Famalicão), até à área e deu para Luiz Phellype pé certeiro do 10 dos açorianos.
MELHORES MARCADORES
seu treinador João mas que não dá para se aproximarem marcar com um cabeceamento rastei- Silas ainda deu minutos ao regres-
Henriques, “falhou tudo”. da liderança — têm 26 pontos, menos ro já perto da linha de golo. Houve sado Battaglia (que não jogava desde
Defensivamente frágil, pelo 13 que o BenÆca. dúvidas no posicionamento do brasi- Setembro e voltou ao activo num
ar e pelo chão, teve duas ou Acabou por não ser um jogo dema- leiro, houve revisão do VAR e Manuel relvado onde sofreu uma grave lesão
três aproximações siado problemático para o Sporting, Mota conÆrmou a legalidade do golo. na época passada) e viu, em São
perigosas à baliza do que tinha a sua primeira equipa des- Já na segunda parte, foi do outro Miguel, vingada a sua estratégia de
Sporting, mas não fez nada cansada e que teve pela frente um lado que veio a assistência para o recursos humanos. O que prova duas
com elas. Já não ganha no Santa Clara sem grandes argumentos segundo golo. Aos 46’, Ristovski furou coisas: o Sporting tem capacidade I Liga 11 golos Pizzi (Benfica)
campeonato há mês e meio para questionar a sua superioridade. pelo Çanco direito e fez o passe atrasa- para jogar bem uma vez por semana,
II Liga 9 golos Roberto (Estoril)
e está a aproximar-se dos Era este objectivo que Jorge Silas do para Luiz Phellype fazer o segundo mas precisa de mais gente para jogar
lugares de descida. tinha quando deixou quase toda a sua do jogo — e o seu oitavo da época, igua- bem mais vezes.
equipa A de fora do jogo em Linz. Vol- lando o registo da sua primeira meia
taram Bruno Fernandes, Mathieu, temporada ao serviço dos “leões”. mvaza@publico.pt

Jorge Jesus e o primeiro passo
para ser “rei do mundo”
Futebol internacional
Diogo Cardoso Oliveira
O Flamengo joga, hoje,
no Qatar, a meia-final
do Mundial de Clubes
frente ao Al Hilal,
a ex-equipa de Jorge Jesus
Jorge Jesus já conquistou o Brasil e
a América do Sul. Mas ainda não
está tudo. O treinador português
pode ser o “rei do mundo”, cami-
nho que inicia hoje, no Mundial de
Clubes. O percurso não é muito lon-
go, diga-se. O formato da competi-
ção, claramente “amigável” para os
campeões da Europa e da América
do Sul, prevê que Jorge Jesus e o Fla-
mengo só precisem de eliminar o Al
Hilal, hoje (17h30, RTP), em Doha,
para estarem na Ænal da competição
(teoricamente, frente ao Liverpool,
que terá de ultrapassar o Monterrey,
do México).
O percurso de Jesus até à Ænal será
feito frente à anterior equipa: a que
lhe deu a mão quando o técnico saiu
do Sporting, após um Ænal de tempo-
rada trágico, com o ataque à Acade-
mia de Alcochete e a perda da Taça
de Portugal, frente ao Desportivo das
Aves, dias depois.
Imitar o River Plate
O Al Hilal, que acolheu o técnico na
Arábia Saudita, é o primeiro entrave
a que o herói de 40 milhões de adep-
tos do Flamengo chegue a um nível
de adoração imensurável no Brasil.
Para evitar a consagração suprema
de Jesus, o campeão asiático só pre-
cisa de pegar no trabalho do River
Plate na Ænal da Libertadores, repli-
cá-lo e melhorá-lo ligeiramente.
Durante cerca de 60 minutos, a
equipa argentina conseguiu reduzir
o Flamengo a uma formação incapaz
de criar lances de qualidade, apos-
tando em agressividade e intensidade
tremendas não só a bloquear o por-
tador da bola, como as restantes
linhas de passe. Incapaz de encontrar
soluções, o Flamengo viu-se mania-
tado, algo que só mudou com o des-
gaste do River na segunda parte e,
nos minutos Ænais, com a bizarra pre-
disposição ofensiva de uns argentinos
que venciam por 1-0. Esta é a teoria.
A prática, porém, pode ser mais
difícil, já que é improvável ver o Al
Hilal conseguir replicar o que os
Jorge Jesus voltou a alertar para as dificuldades que o Flamengo terá contra o Al Hilal
experientes e bem trabalhados
argentinos conseguiram fazer ao
Flamengo. É, portanto, um jogo no
qual os brasileiros partem com favo-
ritismo, até pelo conhecimento que
Conheço bem Jorge Jesus tem da ex-equipa. Uma
formação que conta com os bem
o Al Hilal. conhecidos Carrillo, Carlos Eduar-
Só um jogador do, Gomis e Giovinco, bem como o
ex-Flamengo Cuéllar.
é que não é
do meu tempo, Jesus “inventou” o Al Hilal
Na antevisão do jogo, Jorge Jesus
os outros abordou a Ænal que todos esperam
trabalharam entre Flamengo e Liverpool para
lembrar que, antes disso, há um Al
comigo Hilal para ultrapassar. “No Brasil
falou-se do Liverpool, mas esquece-
Jorge Jesus ram-se de que ainda há o Al Hilal.
Treinador do Flamengo São sauditas e há tendência para
desvalorizar tudo o que não seja da
Europa”, disse, em Doha, antes de
explicar que conhece muito bem o
adversário.
“É uma equipa que conheço bem
e só um jogador é que não é do meu
tempo. Todos os outros trabalharam
comigo. Os quatro avançados foram
todos contratados com a minha
entrada no Al Hilal”, apontou. E
falou da importância da prova: “O
Mundial de Clubes cada vez terá
mais importância na história de
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 45
NOUSHAD THEKKAYIL/EPA
quem o ganhar. Cada vez será mais
difícil. Antigamente, era um jogo.
Agora, não é assim. E, em dois anos,
será com 24 clubes. Será como um
Mundial de selecções.”
O técnico aproveitou para fazer a
antevisão táctica à partida. “Não
vamos mudar a maneira de jogar
pelo facto de estar numa meia-final
ou final. Seria dar um passo atrás.
Queremos cada vez mais valorizar
o nosso jogo e esperamos que a bola
possa entrar. Às vezes não entra por
mérito defensivo do adversário. O
jogo é estratégia. As estratégias de
jogo são esperadas, mas a ideia não.
A forma de atacar e defender será
igual. É fundamental saber correr
dentro de campo. É uma das coisas
que buscamos na nossa equipa”,
acrescentou Jesus.
A terminar, o técnico português
recordou, ainda, que o Flamengo
chega ao Qatar depois de uma tem-
porada com 74 jogos, ao passo que
o Liverpool fez apenas 27. Jesus bem
tentou fugir ao assunto, mas o pró-
prio técnico parece não conseguir
escapar ao provável duelo com os
ingleses. Por enquanto, ainda há Al
Hilal.
diogo.oliveira@publico.pt
DESPORTO
Breves
Futebol
Vítor Campelos deixa
comando técnico
do Moreirense
O treinador Vítor Campelos
abandonou o comando técnico
do Moreirense, por “comum
acordo”, anunciou ontem o
clube que disputa a I Liga de
futebol. Campelos abandona o
Moreirense um dia depois de
os minhotos terem recebido e
vencido por 2-1 o Belenenses
SAD, para a 14.ª jornada da I
Liga, na qual ocupa o 11.º lugar,
com quatro vitórias, cinco
derrotas e cinco empates.
Futebol
Liga italiana com
identificação facial
contra o racismo
O director executivo da Liga
italiana de futebol, Luigi de
Siervo, disse ontem que a
Serie A está a desenvolver um
sistema de reconhecimento
facial para identificar adeptos
responsáveis por cânticos
racistas. Esta iniciativa
junta-se à vontade da
Federação Italiana de Futebol
de utilizar sistemas de escuta,
usados pelas autoridades
italianas em operações
antiterrorismo, para também
identificar adeptos com
cânticos racistas.
Xadrez
Lagrave e
Nepomniachtchi em
encontro decisivo
O francês Maxime
Vachier-Lagrave e o russo Ian
Nepomniachtchi vão
defrontar-se na meia-final do
Grand Prix de Jerusalém,
naquele que será um encontro
decisivo para definir o segundo
classificado da série, que
acompanhará Alexander
Grischuk ao torneio de
candidatos ao título mundial.
46 • Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019
DESPORTO
Portugueses com adversários
pouco simpáticos na Liga Europa
BenÄca, FC Porto e Sp. Braga não se
podem gabar de grande fortuna
no sorteio. Nem mesmo o Sporting.
Mas todos têm opositores, teoricamente,
ao seu alcance
Futebol internacional
Diogo Cardoso Oliveira
“Favas” do sorteio para FC Porto e
BenÆca, um rival “mascarado” para
o Sporting e um adversário “assim-
assim” para o Sp. Braga. Nenhuma
das equipas portuguesas pode gabar-
se de muita fortuna no sorteio de
ontem, em Nyon, dos 16 avos-de-Ænal
da Liga Europa, mas também todas
elas têm reais (teóricas) hipóteses de
seguir em frente na prova.
Basaksehir
— adversário do Sporting
Antes do sorteio, Silas, treinador do
Sporting, justiÆcou as “poupanças” no
último jogo europeu por considerar
que não havia grande diferença de
poderio entre os dois potes do sorteio.
Não obstante a opinião do técnico, o
Sporting, como equipa do pote 2, esta-
va à mercê de formações como Arse-
nal, Sevilha, Manchester United, Ajax
ou Inter de Milão. Mas Silas teve “pon-
taria”. No meio de todos estes “tuba-
rões”, havia um bastante mais “simpá-
tico” Istambul Basaksehir, da Turquia.
Daí que, teoricamente, o sorteio tenha
sido bastante favorável para os “leões”.
Esta é a análise global, olhando para
os nomes das equipas.
Porém, uma observação mais deta-
lhada mostra que este Basaksehir,
apesar da parca história europeia,
tem um plantel recheado de jogado-
res de bom nível e, sobretudo, com
muita experiência. Os turcos contam
com os defesas Skrtel e Clichy, o
médio Inler, os criativos Kahveci
(estrela da equipa), Visca e Arda
Turan e os avançados Robinho, Cri-
velli (mais jovem e principal goleador)
e Demba Ba. Estes nomes evidenciam
a forma como o Basaksehir olha para
o mercado, procurando vários joga-
dores de topo e experientes, mas na
fase Ænal das suas carreiras. Há, ain-
da, o português Miguel Vieira (pouco
utilizado nesta equipa) e os ex-Liga
portuguesa Ponck e Caiçara, ambos
habituais titulares na defesa turca.
Como cartão-de-visita, para além
dos nomes bem conhecidos, este
Basaksehir traz a vitória no grupo J da
Liga Europa, que contava com a
Roma, de Paulo Fonseca, e o Borussia
Monchengladbach, a fazer um grande
campeonato alemão.
Olhando para os números, trata-se
da terceira equipa que mais remata
dentro da pequena área, um sinal de
capacidade de penetrar na zona
defensiva adversária. Isto ganha outro
signiÆcado considerando que o Spor-
ting é a equipa em prova que mais
remates concede aos adversários.
Neste Basaksehir o Sporting tem, tam-
bém, uma equipa defensivamente
permeável, já que os turcos surgem,
na estatística de remates concedi-
dos… logo atrás do Sporting, no
segundo lugar.
Shakhtar Donetsk
— adversário do Benfica
O Sporting tinha muitos “tubarões”
no pote 1, mas conseguiu “escapar”.
O BenÆca não tinha assim tantos
“tubarões” no pote 2, mas não teve a
mesma sorte. Aos “encarnados”
calhou o Shakhtar Donetsk, equipa
que chega da Liga dos Campeões e
que é uma das principais candidatas
a vencer a competição. O sorteio de ontem dos 16 Na Champions, o Shakhtar acabou O perigo individual, nesta equipa,
Para piorar a situação, há três avos-de-final da Liga Europa por falhar o apuramento para os é fácil de identiÆcar: Marlos cria e
aspectos a ressalvar: primeiro, que “oitavos” por uma “unha negra”, per- constrói como poucos, Taison dese-
os ucranianos são orientados por mitindo a ultrapassagem da Atalanta quilibra permanentemente, quer em
Luís Castro, treinador português que LIGA EUROPA na última jornada, devido a uma der- movimentos interiores, quer na pro-
conhecerá em detalhe os pontos for- rota caseira por 3-0. cura da linha, para cruzamentos, e
tes e fracos de um BenÆca que 16 AVOS-DE-FINAL Como dado estatístico mais inte- Júnior Moraes (irmão do ex-FC Porto
defrontou várias vezes em competi- Wolverhamton (Ing)-Espanyol (Esp) ressante, este Shakhtar foi, entre Bruno Moraes) que é o goleador-mor,
Sporting (Por)-Đstanbul Basaksehir (Tur)
ções nacionais. Depois, que esta Getafe (Esp)-Ajax (Hol) as 32 equipas da Liga dos Campeões, levando já 17 golos na temporada.
equipa domina a Liga ucraniana — já Bayer Leverkusen (Ale)-FC Porto (Por) a que revelou maior fragilidade
Copenhaga (Din)-Celtic (Esc)
leva 14 pontos de vantagem —, algo APOEL (Chi)-Basileia (Suí)
no jogo aéreo. Algo que poderá ser Bayer Leverkusen
que permitirá ao Shakhtar apostar Cluj (Rom)-Sevilha (Esp) um “suspiro de alívio” para o BenÆ#
todas as Æchas na Liga Europa, enca- Olympiacos (Gre)-Arsenal (Ing) ca, já que os “encarnados” têm reve-
— adversário do FC Porto
AZ Alkmaar (Hol)-LASK (Aut)
minhado que está o título interno. Club Brugge (Bel)-Manchester United (Ing) lado muitos problemas nesse capí- Tal como o BenÆca, o FC Porto não
Por último, que o jogo na Ucrânia Ludogorets (Bul)-Inter de Milão (Ita) tulo. O Shakhtar é, também, uma pode gabar-se da sorte. À equipa por-
Eintracht Frankfurt (Ale)-Salzburgo (Aut)
será disputado a 20 de Fevereiro, Shakhtar Donetsk (Ucr)-Benfica (Por)
equipa com debilidades defensivas, tista calhou outra ex-Champions, o
esperando-se muito frio em Kharkiv. Wolfsburgo (Ale)-Malmoe (Sue) quer a suster remates adversários Bayer Leverkusen, uma equipa que,
O próprio clube ucraniano já acon- Roma (Ita)-Gent (Bel) quer a evitar golos, sendo, com bola, apesar de nem sempre ser encanta-
Rangers (Esc)-Sp. Braga (Por)
selhou o BenÆca. “Agasalhem-se”, Os jogos disputam-se a 20 e 27 de Fevereiro uma equipa que gosta de dominar e dora, lutou pelo apuramento na pro-
brincaram nas redes sociais. construir com paciência. va milionária até à última jornada.

LAURENT GILLIERON/EPA
O Bayer foi a quinta equipa da
Champions com maior percenta-
gem de posse de bola — mesmo à
frente de vários “tubarões” euro-
peus —, algo que atesta, sobrema-
neira, a forma como gosta de domi-
nar as partidas. É, contudo, uma
equipa bastante permeável na tran-
sição ofensiva, expondo-se muito
aos contra-ataques.
Estes dois dados, o primeiro
até aparentemente “assustador”,
podem dar algum alívio ao FC Porto,
já que os “dragões” são conhecidos
pelo quanto gostam de explorar
transições e em jogar com bolas colo-
cadas nas costas da defesa adversá-
ria. Um Marega em melhor forma
poderá ser essencial frente a uma
equipa permeável como o Bayer.
Os alemães são, também, uma
equipa que muito preza a “arte” do
cruzamento, sendo uma via clara de
procura de chegar a situações de
Ænalização — só três equipas cruza-
ram mais na Champions.
A nível individual, a equipa orien-
tada por Peter Bosz tem, como gran-
de Ægura, um “menino” de 20 anos.
Chama-se Kai Havertz e é um dos
jovens mais promissores do mundo.
Um médio ofensivo alto, elegante e
canhoto, que cria, faz circular, con-
duz em ruptura, surge em zonas de
Ænalização e consegue romper com
passes entre linhas. Em suma: tem
tudo o que um médio ofensivo deve
ter e é por ele — bem como por
Bellarabi e Alario — que passará o
melhor do jogo ofensivo alemão.
Rangers
— adversário do Sp. Braga
O Sp. Braga, não podendo declarar-
se abertamente como “vencedor do
sorteio”, não tem muito porque se
queixar. O Rangers é um adversário
com valências importantes, mas
que Æcará a dever algo ao Wolver-
hampton, por exemplo, equipa que
os minhotos já bateram nesta tem-
porada. E sabe-se o quanto a equipa
de Sá Pinto se tem transcendido nos
jogos europeus esta época.
Apesar de os escoceses serem um
“bom sorteio” — um adversário não
“acessível”, mas pelo menos “sim-
pático” —, a equipa portuguesa terá
de ter em conta que este Rangers,
treinado pelo mítico Steven Ger-
rard, já bateu o FC Porto na Escócia
e empatou no Dragão.
A grande Ægura da equipa é Alfre-
do Morelos, avançado não muito
alto, mas com força e potência tre-
mendas. Um jogador muito difícil
de controlar e que é o melhor mar-
cador da Liga Europa, com seis
golos. Na temporada já leva 25, em
apenas 32 jogos.
Esta foi a parte má da história. A
parte boa é que Alfredo Morelos
poderá já não estar em Glasgow em
Fevereiro para defrontar o Sp. Bra-
ga. O assédio ao avançado colom-
biano é suÆciente para que se possa
prever uma transferência no mer-
cado de Janeiro, algo que muito
agradaria a Sá Pinto, que defronta-
ria um Rangers com um potencial
reduzido a pelo menos metade.
diogo.oliveira@publico.pt
Não creio que Simeone
e
esteja a correr de contente
pela sua casa por lhe ter
saído o Liverpool
Jurgen Klopp
Treinador do Liverpool
“Oitavos” da Champions recheados
de finais antecipadas
Miguel Dantas
e Diogo Cardoso Oliveira
Para os apreciadores de bom futebol
o sorteio da Liga dos Campeões foi
bondoso, com emparelhamentos
que, em edições anteriores, Æcaram
reservados para as fases derradeiras
da competição. O grande duelo, con-
tudo, será disputado entre o Real
Madrid e o Manchester City.
Falando de emblemas com presen-
ça portuguesa, o Atlético de Madrid,
clube em que actua João Félix, terá de
defrontar o actual detentor do troféu,
Liverpool. Quanto a Cristiano Ronaldo
e companhia viajam até Lyon, onde
mora Anthony Lopes, ao passo que o
Tottenham, treinado por José Mouri-
nho, defronta o RB Leipzig.
Outro jogo de “cartaz” é o embate
entre Borussia Dortmund de Raphael
Guerreiro e PSG, o mesmo se aplican-
do ao confronto entre o Barcelona de
Nélson Semedo e o Nápoles de Mário
Rui. Já o Valência de Gonçalo Guedes
terá pela frente a Atalanta.
E para provar como estes “oitavos”
são verdadeiras Ænais antecipadas há
ainda o duelo entre o Chelsea e o
Bayern Munique, uma reedição da
Ænal de 2012 da Champions.
BenÄca dá pistas a Mourinho
Se quer estar nos quartos-de-Ænal da
Liga dos Campeões, José Mourinho
bem pode analisar aquilo que o Ben-
Æca fez (ou não) nesta prova. É que o
Tottenham jogará com o RB Leipzig,
equipa à qual o BenÆca não venceu
no grupo G e que triunfou no Estádio
da Luz.
Em teoria, este RB Leipzig seria um
adversário interessante para Mouri-
nho. Mas, apesar da falta de história e
tradição na prova, o Leipzig é, no
entanto, o líder da Liga alemã e conta
com uma equipa junta há algum tem-
po e que tem o internacional alemão
Timo Werner como grande Ægura.
Forsberg e Sabitzer são dois criativos
que muitos problemas podem causar
a um Tottenham que ainda não está “à
imagem” de Mourinho.
Apesar de ser vista como uma equi-
Público • Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019 • 47
pa de segunda linha, o RB Leipzig é, na
Champions, a terceira com maior per-
centagem de posse de bola por jogo, a
quinta que mais tempo passa no meio-
campo adversário e a quarta com mais
remates feitos. É, portanto, uma equi-
pa que gosta de dominar os jogos, algo
que poderá ser interessante para joga-
dores velozes como Son e Lucas.
Félix e a montanha
Outro jogo “grande” é o duelo entre
o Atlético de Madrid e o Liverpool. A
equipa de João Félix vai defrontar o
campeão europeu e líder da Liga
inglesa. O Atlético atravessa um
momento pouco fulgurante e apre-
senta diÆculdades em fazer boas
exibições, enquanto o Liverpool tem
mantido a matriz que já trazia da
temporada passada, com muita pres-
são sobre os adversários, muitos
remates e muitos golos.
Este jogo tem, porém, algo a favor
LIGA OS CAMPEÕES
OITAVOS-DE-FINAL
B. Dortmund (Ale)-PSG (Fra) 18/2-11/3
Atl. Madrid (Esp)-Liverpool (Ing) 18/2-11/3
Atalanta (Ita)-Valência (Esp) 19/2-10/3
Tottenham (Ing)-RB Leipzig (Ale) 19/2-10/3
Chelsea (Ing)-Bayern Munique (Ale) 25/2-18/3
Nápoles (Ita)-Barcelona (Esp) 25/2-18/3
Lyon (Fra)-Juventus (Ita) 26/2-17/3
Real Madrid (Esp)-Man. City (Ing) 26/2-17/3
Bernardo Silva jogará pelo Manchester City contra o Real Madrid
DESPORTO
do Atlético: a equipa de Simeone é,
tradicionalmente, uma formação
forte e confortável a defender, uma
estratégia que poderá ter de usar
frente aos campeões europeus. As
diÆculdades para jogar em ataque
organizado e continuado serão, por-
tanto, “mascaradas” frente a um
Liverpool presumivelmente ofensi-
vo. Para além disso, o embate será só
em Fevereiro e até lá muita água pas-
sará debaixo das pontes.
Ronaldo “felizardo”
Destaque, ainda, para o duelo entre
Juventus e Lyon. O avançado vai
defrontar um dos “brindes” destes
oitavos-de-Ænal, um Lyon longe do
nível dos “tubarões” e que, para pio-
rar, estará sem a estrela Memphis
Depay, lesionado com gravidade.
Por fim, Bernardo Silva e o “seu”
Manchester City terão confronto com
o Real Madrid. Não sendo um Real
“assustador”, a equipa de Guardiola
não deixará de ter pela frente uma
formação que conta com jogadores
como Benzema, Hazard ou Fede Val-
verde, jovem que muito tem dado ao
jogo ofensivo espanhol. É, possivel-
mente, o duelo mais palpitante destes
“oitavos”, com Guardiola a regressar
a um local que bem conhece.
miguel.dantas@publico.pt
ACTION IMAGES/REUTERS
Terça-feira, 17 de Dezembro de 2019

BARTOON LUÍS AFONSO

Quem é Carrie Symonds,

a companheira de Boris Johnson?
Reino Unido
Carla B. Ribeiro
É a primeira vez que
um primeiro-ministro
leva para o número
10 de Downing Street
uma mulher com quem
não está casado
Os ventos de mudança sopram pelo
Reino Unido. Primeiro, foi a estron-
dosa vitória de Boris Johnson, nas
eleições da semana passada, que
permitiu que os conservadores tives-
sem alcançado uma maioria absolu-
ta, abrindo a porta a um divórcio
com a União Europeia. A seguir, uma
estreia em Downing Street: Johnson
mudou-se, mas levou consigo a sua
companheira Carrie Symonds, numa
altura em que o divórcio da sua
segunda mulher, Marina Wheeler,
com quem esteve casado durante 25
anos e de quem teve quatro Ælhos,
ainda não foi concluído.
A chegada de Carrie Symonds, de
31 anos, ao número 10 de Downing
Street pode representar uma mudan-
ça de paradigma daquilo que é
expectável de uma primeira-dama
britânica.
Symonds é jovem e loura, mas está
longe de caber numa Ægura mera-
mente decorativa: sobre ela, diz-se,
Carrie tem 31 anos e foi assessora de comunicação dos tories
recai a mudança de discurso dos últi-
mos meses que conseguiu com que
Johnson revertesse a imagem que
projectava para o eleitorado, e até a
sua transformação física, com desta-
que para o corte de cabelo que fez
manchetes.
Uma comunicadora nata
Symonds trabalhou na sede de cam-
panha dos Conservadores, onde
TOBY MELVILLE/REUTERS
começou como assessora de impren-
sa, conseguindo rapidamente des-
tacar-se e chegar a cheÆar o depar-
tamento de Comunicação — em
2018, foi colocada em segundo lugar
do top-10 das Æguras na comunica-
ção política pela revista PR Week.
As aptidões de comunicação de
Carrie Symonds não são fruto do seu
historial académico — foi aluna exem-
plar, mas do curso de História de Arte
e Estudos de Teatro, na conceituada
Universidade de Warwick —, mas pro-
vavelmente da sua vivência familiar:
o seu pai é o jornalista Matthew
Symonds, co-fundador do jornal The
Independent, em 1986.
Porém, na mesma altura em que
começaram a surgir os rumores sobre
a sua relação com Boris Johnson, a
mulher saiu do Partido Conservador
— pelo qual foi consultora especial de
dois secretários de Estado: Sajid Javid,
quando este tinha a pasta das Comu-
nidades, e John Whittingdale, com o
dossier da Cultura — para assumir um
lugar de relações públicas e consulto-
ra da Oceana, uma associação de pro-
tecção da vida marinha, tendo como
uma das principais tarefas o tema
global Salve os Oceanos, Alimente o
Mundo.
Entre a discrição e a fama
A decisão pode indiciar que
Symonds pretenda, para já, manter-
se longe dos holofotes. No entanto,
dado o seu percurso proÆssional e
pessoal (é conhecida por ter opi-
niões Ærmes sobre diversos assun-
tos, não se coibindo de se pronun-
ciar sobre os mesmos — ainda este
ano, condenou na sua conta de Twit-
ter o turismo milionário da caça a
animais selvagens), é pouco prová-
vel que siga as pegadas das recatadas
Sarah Brown e Samantha Cameron
(depois destas, Theresa May levou
para Downing Street o marido Philip
May, mas é sabido que, até agora,
nunca foi pedido aos maridos das
primeiras-ministras britânicas que
desempenhassem qualquer papel
— alguém se lembra de Denis Tha-
tcher, o marido da Dama de Fer-
ro?).
Talvez até consiga desbravar um
caminho que a autónoma e indepen-
dente Cherie Blair tentou percorrer,
tendo sido, durante anos, um dos
alvos predilectos dos tablóides bri-
tânicos.
Porém, Boris Johnson defende
que a sua vida privada só a si diz res-
peito. Foi o que aÆrmou quando, em
Junho, a polícia foi chamada à resi-
dência do então candidato à lideran-
ça conservadora, depois de vizinhos
terem telefonado às autoridades ao
ouvirem uma acesa discussão entre
o casal, gritos e o som de objectos a
bater. E, de acordo com um inqué-
rito realizado na altura pelo Daily
Express, os britânicos concordam
com o novo primeiro-ministro: 82%
responderam que “a sua vida priva-
da é privada”. Resta saber se os
tablóides vão respeitar a vontade do
governante e, como indica a sonda-
gem, do público.
carla.ribeiro@publico.pt
João Miguel Tavares estará
ausente esta semana.
A sua opinião regressa
a 23 de Dezembro

Contribuinte n.º 502265094 | Depósito legal n.º 45458/91 | Registo ERC n.º 114410 | Conselho de Administração - Presidente: Ângelo Paupério Vogais: Cláudia Azevedo, Ana Cristina Soares e João Ghunter Amaral
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210111006; Redacção 210111008; Publicidade 210111013/210111014 Porto Rua Júlio Dinis, n.º270, Bloco A, 3.º, 4050-318 Porto; Telef: 226151000 (PPCA) / 226103214; Fax: Redacção 226151099 / 226102213; Publicidade,
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