ENTREVISTA NA CONTA DO GOVERNO MENOS IMPOSTOS

Paulo Hartung: “O Arcabouço Fiscal Para cumprir promessa de campanha, Presidente da Renault defende
é um avanço, mas insuficiente se não Lula entra na briga entre motoristas alíquota de importação menor
houver corte de gastos públicos” e aplicativos. Poderá sair perdendo para quem já fabrica no País

“Os R$ 8 bilhões
que definimos INÊS249
como plano de
investimentos
há três anos
permitiram que
atingíssemos essa
posição no mercado
de trabalho”
GILBERTO XANDÓ

A FÁBRICA
CEO da JBS Brasil

DE EMPREGOS
DA JBS
Com 151 mil funcionários no
País, a maior companhia de
proteína animal do mundo se
torna a principal empregadora
brasileira e estrutura seu
crescimento para a próxima
década com diversificação
dos negócios em novas áreas
de alimentos, fertilizantes
e biocombustíveis
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Dinheirodaredação 04 de Outubro de 2023. Edição 1.344
ROMBO FISCAL, O FANTASMA
Preenche os maiores pesadelos dos técnicos da equipe eco-
nômica e é incitada diariamente pelo mercado a perspectiva
de o governo não cumprir com as metas fiscais pretendidas
– tanto neste ano como no próximo -, mesmo com a aprova-
ção de um arcabouço cuidadosamente bem costurado. O que
dizem os arautos do apocalipse? Reclamam que as despe-
sas extraordinárias continuam altas, que as demandas por
regimes de exceção no acordado seguem em pressão idem. A
ideia de um déficit zero, prometida e reiterada pelo time do
ministro Haddad, parece cada dia mais distante e os auxi-
liares da pasta já falam em uma distensão do compromisso.
Almejam flexibilizar os cálculos. Seriam movimentações
e mexidas para que o desvio não fique tão grande como o
estimado. A condenável contabilidade criativa parece ter
entrado na ordem de prioridades. Dias atrás, a ministra
do Planejamento, Simone Tebet, ao lado do seu colega da
Fazenda, apontou um bloqueio de R$ 3,8 bilhões, reavaliado
para cima, nas despesas federais correntes. Busca economia
para colaborar no intento e fazer jus ao cumprimento das
promessas que ela própria promoveu em parceria com Ha-
ddad. O recálculo a partir do bloqueio possibilitou a revisão,
e consequente redução, do projetado buraco nas contas pú-
blicas deste ano, que fica agora em torno de R$ 141,4 bilhões.
Parte disso devido a uma elevação de receitas primárias da
ordem de R$ 6,6 bilhões. A sopa de números misturados de
lá para cá não sacia uma inquietação e realidade evidentes.
O cobertor está curto, cada vez mais, para conseguir cobrir a
gordura de despesas que aparecem em proporção descomu-
nal na máquina. Ainda no campo dos malabarismos, foram
04 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: CLAUDIO GATTI | GLADSTONE CAMPOS/REALPHOTOS | ANDERSON RODRIGUES | DIVULGAÇÃO
INÊS249
bloqueados também recursos do auxílio gás e empreendida
uma sistemática articulação junto à Justiça para renegociar
o pendura de R$ 95 bilhões em precatórios. É dinheiro que
não acaba mais e uma solução via essa alternativa ajudaria
bastante. A corrida por receitas e congelamento de despesas
segue frenética. A ministra Tebet reclama que a imposição
de percentuais mínimos na Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) tem forte impacto nas políticas públicas. Lembra que
os riscos fiscais estão precificados e que o teto de gastos não
pode ficar ao sabor de seguidas demandas extraordinárias.
As queixas possuem alvo certo. Os parlamentares, em um
apetite imensurável, vão exigindo mais e mais e na base da
chantagem. Ameaçam travar a pauta econômica nas vota-
ções plenárias, caso não atendidos. Economistas propõe,
invariavelmente, saídas pelo lado das despesas operacionais,
como no tocante à quantidade de servidores, autarquias e
estruturas administrativas dispendiosas. Falam em gestão
eficiente, em turbinar a arrecadação via caça implacável aos
sonegadores e “pé no freio” no atendimento aos desejos dos
políticos aliados e bases partidárias. O período de bonança
– ninguém tem mais dúvida – acabou. A bola de neve dos
compromissos inadiáveis está rolando. Haddad pede com-
preensão não apenas do Legislativo como do Judiciário para
evitar a erosão fiscal. Mas o governo também terá de fazer a
sua parte e ela não é pequena.
Carlos José Marques
Diretor editorial
Índice
CAPA
Sob o comando do CEO
Gilberto Xandó, JBS se torna a
maior empregadora do Brasil com
151 mil funcionários e estrutura
seu crescimento para a próxima
década com diversificação dos
negócios em novas áreas de
alimentos, fertilizantes, couros
e biocombustíveis pág. 32

ENTREVISTA SEMANA
General Heleno perde a compostura na
Para o economista
CPMI dos Atos Golpistas
e ex-governador
capixaba Paulo pág. 06
Hartung, é urgente
que haja maior
controle de gastos MOEDA FORTE
por parte do Divisão da consultoria Falconi para médias
governo federal companhias inova com Tinder corporativo
pág. 08 pág. 08

NEGÓCIOS SUSTENTABILIDADE
Rede Assaí Atacadista lança seu próprio
Presidente da ‘Bolsa Família’
Renault no Brasil,
Ricardo Gondo pág. 14
entende que
imposto sobre
importação deve ser DINHEIRO EM BITS
menor para quem Pós-pandemia: apenas 13,6% das empresas
já fabrica no País seguem trabalhando 100% no escritório
pág. 38 pág. 50

COBIÇA
ESG Jaguar E-Pace ganha motorização mais
Ao inaugurar fábrica esportiva e versões a partir de R$ 466 mil
que exigiu R$ 12,9 pág. 56
bilhões, diretor de
sustentabilidade da
Klabin, Francisco
Razzolini, diz que ARTIGO
empresa irá buscar “Para inovar, Lula precisará olhar pro passado”.
novos mercados Por Edson Rossi
pág. 46 pág. 66

CAPA Foto: Claudio Gatti

Dinheiro 04/10/2023 05
Dinheironasemana POR EDSON ROSSI

SELIC
ATA DO COPOM: O RECADO CRUCIAL
Foi divulgada na terça-feira (26) a ata do Copom referente à reunião pas-
sada, que determinou novamente a redução da Selic em 0,5 ponto per-
centual, levando a taxa aos 12,75%. Para entender os novos passos, tanto
deste fim de 2023 (o próximo encontro do Copom, penúltimo do ano,
acontecerá nos dias 31 de outubro e 1 de novembro) quanto o que nos
espera em 2024 é preciso um mergulho um pouco mais aprofundado na
ata. Antes, o que está decidido: haverá outros dois cortes de 0,5 ponto
fazendo em dezembro a Selic estacionar nos 11,75% já ratificados pelo
mercado no Boletim Focus. Agora, o que está subentendido: em dois
tópicos cruciais. Cabalisticamente, os dois tópicos aparecem sete vezes
cada um no documento de 3 mil palavras e 27 itens — Incerteza e
Questão Fiscal. No primeiro caso, os diretores do BC falam da situação
externa, de questões locais ou mesmo climáticas.
Os nove membros do Copom na reunião de agosto

INTERNACIONAL

IPCA-15
Tido como a prévia da inflação mensal,
o IPCA-15, de setembro, divulgado pelo
Otimismo vivido na Índia é
IBGE na quarta-feira (26), foi de
“totalmente justificado”, diz JP Morgan
RESILIENTE 0,35% — 0,07 ponto percentual acima
de agosto (0,28%). Em 12 meses, a
Para o presidente e CEO do JPMorgan Chase, Jamie
Dimon, o otimismo relacionado à economia da Índia é
“totalmente justificado”. A declaração foi feita na segunda-

MOSTRA alta é de 5,00%, acima dos 4,24% nos

12 meses anteriores e igualmente
-feira (25) em entrevista à CNBC durante o India Investor
Summit, em Londres. “Olhe esta conferência. Há oito ou
nove anos começamos com 50 ou 75 clientes. Agora são

INFLAÇÃO acima do teto (4,75%) da meta

(3,25%) do Copom. Em setembro de
700 investidores em todo o mundo”, afirmou Dimon. Ele
também elogiou o primeiro-ministro indiano, Narendra
Modi, por impulsionar o clima de negócios do país, e desta-

ACIMA DO 2022, a taxa foi de -0,37%. Dos nove

grupos avaliados, seis carregam alta
cou políticas que facilitam obtenção de contas bancárias
e a simplificação de impostos, que acabam impulsionando
o investimento estrangeiro. O índice de referência do

TETO de preços acima da média no período

outubro2022-setembro2023
mercado local de ações subiu mais de 15% no ano passado.
Com 1,4 bilhão de habitantes, a Índia passou a China e tor-
nou-se o país mais populoso do mundo em abril. Na econo-
Em setembro (%) mia, espera-se que ultrapasse o Japão e a Alemanha para
se tornar o terceiro maior PIB do planeta até 2030.
Em 12 meses (%) 9,03 8,31
6,67 6,31
5,19 5,36 VOCÊS NÃO VÃO ME VER DE ANDADOR,
3,60 NÃO VÃO ME VER DE MULETA.
2,02 VÃO ME VER SEMPRE BONITO”
1,22 0,41 LULA III, em sua fala semanal de terça-feira (26),
0,30 -1,77 -0,47-0,44 0,17 0.05 0,35 -0,01 emulando com precisão seu desafeto Jair Bolsonaro
no quesito incontinência verbal

Habitação Vestuário Transportes Educação Comunicação

Alimentação Artigos de Saúde & Despesas

& Bebidas Residência Cuidados Pessoais SE ALGO NÃO PODE CONTINUAR PARA
Pessoais SEMPRE, IRÁ PARAR”
ÍNDICE 0,35
GERAL
5,00 HERBERT STEIN (1916-1999), economista americano

06 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: RAPHAEL RIBEIRO / BCB I LULA MARQUES / AGÊNCIA BRASIL

INÊS249

Sobre o segundo tópico, o campo fis-
cal, os recados são mais contunden-
tes, com o DNA da ata está no item 16:
“O Comitê avalia que parte da incer-
teza, com elevação de prêmios de
risco e da inflação implícita, atual-
mente se refere mais à execução das
medidas de receita e despesas compa-
tíveis com o arcabouço e o atingimen-
to das metas fiscais. O Comitê refor-
ça a importância da firme persecução
dessas metas”. E essa bola está com
Brasília. No Planalto e no Congresso.
CPI DOS ATOS GOLPISTAS
Calado e falante, a dupla
personalidade de Heleninho
Heleninho é como chamam o general
Augusto Heleno, que comandou o
Gabinete de Segurança Institucional
(GSI) no governo anterior. Obrigado a
depor na CPMI dos Atos Golpistas, na
terça-feira (26), ele preferiu ficar em
silêncio quando questionado se estava
numa provável reunião de Jair Bolsonaro
e comandantes das Forças Armadas em
novembro de 2022 para discutir detalhes
de um golpe de Estado após a vitória de
Lula. O encontro foi informado pelo
tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante
de ordens de Bolsonaro, em sua delação
premiada feita à Polícia Federal. A frieza
de se manter calado não se repetiu quan-
do foi confrontado pela relatora da CPMI,
Eliziane Gama:
ELIZIANE GAMA: “Na sua opinião, as eleições
brasileiras em 2022 foram fraudadas?”
HELENINHO: “Já tem o resultado das eleições.
Já tem um novo presidente da República. Pô, não posso
dizer que foram fraudadas. Foram examinadas.”
ELIZIANE GAMA: “Certo, então o senhor mudou
de ideia, né?”
HELENINHO: “Ela… Ela fala as coisas que acha que
estão na minha cabeça. Porra, é para ficar puto, né?
Puta que o pariu.”
INTERNACIONAL
Setor imobiliário
chinês: calcanhar
de Aquiles?
Para o economista-chefe do
grupo chinês Grow Investment,
Hao Hong, o esforço de urbani-
zação da China pode estar perto
do fim, o que prejudicaria ainda
mais o já debilitado setor imobi-
liário do país. “Consertar esse
segmento pode levar anos”,
disse à CNBC na terça-feira
(26). O mercado imobiliário da
China tem enfrentado falta de
confiança do consumidor, à
medida que gigantes como
Country Garden e Evergrande
estão atolados em dívidas. Os
preços das moradias no país, no
entanto, quase não variaram:
-0,3% em agosto. Hong aposta
em outras pontes de crescimen-
to e em algum nível de desregu-
lamentação do setor. “Quando a
economia crescer a partir de
outras indústrias, em vez de
depender principalmente do
universo imobiliário, teremos
uma economia melhor e muito
mais saudável”, disse. “Por isso,
não ter um setor imobiliário
autoritário é, na verdade, bom
para o futuro.”
PROCURADORIA-GERAL
O adeus de Aras
Não será fácil para Augusto
Aras envernizar seu nome na
história como um democrático
servidor público de elite. Ao
encerrar seu segundo mandato
à frente da Procuradoria-Geral
da República (PGR) na terça-
-feira (26), Aras estava mergu-
lhado numa agenda única: ten-
tar apagar a imagem, que se tor-
nou senso comum, de que ele foi
leniente com as sandices, em
especial na condução do País
durante a pandemia, e os golpis-
mos de Jair Bolsonaro, o
homem que o colocou na cadei-
ra. O presidente Lula ainda não
indicou um substituto, que
deverá ser aprovado pelo
Senado. Por ora, a PGR fica sob
o comando da subprocuradora-
-geral, Elizeta Ramos
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(1932 - 2017)
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Dinheiro 04/10/2023 07
ENTREVISTA |Paulo Hartung, economista e ex-governador

“O arcabouço
fiscal é um
avanço, mas
insuficiente”
O economista que governou
o Espírito Santo por três
mandatos entende que a gestão
Lula erra ao não fazer esforços
para controlar os gastos públicos.
Hoje ocupando uma cadeira no
Conselho de Administração da
Vale, afirmou que a companhia
vive um novo momento de
governança, sem esconder
os erros do passado
Sérgio VIEIRA

08 Dinheiro 04/10/2023 FOTO: GLADSTONE CAMPOS

O balanço dos primeiros nove meses do
governo de Luiz Inácio Lula da Silva é mar-
cado por erros e acertos. Na política inter-
nacional, o petista começou patinando,
mas acertou o tom na viagem aos Estados
Unidos. Na economia, o arcabouço fiscal é
visto como um passo à frente, mas insufi-
ciente. Essa avaliação é do economista
Paulo Hartung, que governou o Espírito
Santo por três mandatos. Para ele, falta
estabelecer, por parte da atual gestão, o
compromisso de reduzir os gastos públicos.
“É insuficiente porque tem metas ousadas,
já que a confiança está em novas receitas,
o que representa uma espécie de pássaro
voando. O que está na mão é a despesa do
governo. E há um mar de desperdício no
setor público brasileiro”, afirmou. Hartung
entende que o Brasil precisa mudar essa
direção para conseguir aproveitar as opor-
tunidades que podem surgir, como na área
de energia limpa e na garantia do supri-
mento de alimentos. Recen-
temente, o ex-governador
assumiu uma cadeira no
Conselho de Administração
da Vale. Ele garante que a
realidade da companhia é
bem diferente da dos últi-
mos anos, com uma gover-
nança mais sólida. “Tenho
tentado dar boas contribuições a uma em-
presa histórica do País, para que possa su-
perar seus tropeços, sem escondê-los.”
DINHEIRO — Que avaliação o senhor faz dos
primeiros nove meses do terceiro mandato
do presidente Lula?
PAULO HARTUNG — Há fatores positivos
no período. Um deles é a presença inter-
nacional. Essa última, em Nova York, foi
um bom sinal. Os desacertos das primeiras
viagens levaram à reflexão e reorganização
de postura. O Brasil agora se colocou com-
patível com suas tradições em termos de
diplomacia e mostrou conexão com as
oportunidades que estão em cima da mesa
neste mundo complexo que estamos vi-
vendo. Há questões climáticas que estão
postas, um desarranjo das cadeias globais
de suprimentos, fruto também da pande-
mia, e a invasão da Ucrânia pela Rússia. Se
colocar no mundo não é fácil. O nosso go-
verno patinou no início, nas viagens inter- do Banco Central, mas que é beneficiado
nacionais, mas agora me deu a impressão, por ela, que está lá segurando o processo
nessa última presença nos Estados Unidos, inflacionário. Há hoje uma inflação em
que os movimentos começaram a ganhar queda, e isso é importante. Em muitos
algum nível de coordenação compatível países, ela voltou. O Brasil está indo bem
com nossa tradição de diplomacia, que é nisso. Fomos bem nos dois trimestres, em
muito boa. E começamos com os desafios termos do Produto Interno Bruto (PIB). O
e oportunidades que o mundo nos oferece. primeiro foi muito carregado pelo agrone-
gócio, um segmento, aliás, de que o gover-
E com os desafios internos, qual sua visão? no fala muito mal. O segundo não foi ex-
Entendo que governo bom é aquele que traordinário, mas razoável. Há inflação em
estrutura sua base de sustentação na socie- decréscimo, um PIB de bom tamanho e 1
dade e nas instituições, antes mesmo de milhão de empregos gerados, além do iní-
tomar posse. O governo passado só se deu cio de queda da taxa de juros. Estamos vi-
conta de que precisava ter uma base no vendo um momento razoável, mas não
Parlamento na metade do mandato. Hoje temos garantia de futuro.
há um esforço para manter uma base insti-
tucional, principalmente parlamentar. Mas E o que é possível fazer para reverter essa
isso não está concluso. O sinal é mais posi- falta de garantia?
tivo do que negativo, mas perdeu-se um Temos de fazer nossa lição de casa. Uma
tempo muito grande. É ruim essa história dessas lições é convencer o mundo de que
de criar ministério, tirar ministra, em um temos uma política ambiental correta, e a
questão é o combate ao des-
matamento. Há sinais de
O mundo vai nos olhar e querer saber que isso está começando a
ganhar força, principalmen-
se teremos capacidade de administrar
te na Amazônia, mas é ne-
a dívida pública do País. E fazer isso cessário ter atenção com o
com arrecadação nova é mais difícil’’ Cerrado. Outro dever é se
vamos ter capacidade de
controlar o crescimento da
momento em que precisamos de diversida- dívida. Essa é a questão central. O mundo
de. E o desgaste disso tudo é muito grande. vai nos olhar e querer saber se vamos ter
capacidade de administrar a dívida públi-
E no âmbito econômico? ca do País. E pensar em fazer isso com ar-
O arcabouço fiscal é um passo à frente, mas recadação nova é mais difícil. É necessário
ainda insuficiente. É um passo à frente olhar a reorganização de despesas. Há um
porque é bom ver o PT fazendo um arca- número grande de programas que não têm
bouço, ainda mais para os que disseram em foco. Não há esforço em cortar despesas e
algum momento que gasto é vida. Ver um reduzir desperdício.
governo petista colocar na praça algo do
tipo por si só é um avanço. Mas é insufi- O governo está falhando no compromisso
ciente porque tem metas ousadas, já que a de reduzir gastos?
confiança está em novas receitas, o que Buscar o dinheiro para formar sua arreca-
representa uma espécie de pássaro voando. dação é uma obrigação. Isso faz todo o sen-
O que está na mão é a despesa do governo. tido. Mas a gente vem de um ciclo de ações
E há um mar de desperdício no setor pú- erradas, inclusive do governo passado, como
blico brasileiro, em todas as áreas. Há des- a PEC Kamikaze (que liberou gastos para
perdício na saúde, na educação. Há um criação de novos benefícios sociais). Há
problema de gestão. Há outras questões fatos positivos do governo passado, como
importantes, como a independência do a Reforma da Previdência, independência
Banco Central. Nosso país avançou a pon- do Banco Central, marco regulatório do
to de ter o líder que fala mal da autonomia saneamento básico. Mas quando adiou o
Dinheiro 04/10/2023 09
ENTREVISTA | Paulo Hartung
pagamento de precatórios e fez essa PEC,
adotou medidas desorganizadoras. Então,
esse governo já chegou com o barco meio
virado para o lado. Quando ele começa, faz
a PEC da Transição. Ali precisava de di-
nheiro para suportar o programa de trans-
ferência de renda. A conta que tinha na
época é que seriam necessários R$ 50 bi-
lhões para dar conta do Bolsa Família. Mas
foi feita uma PEC para buscar R$ 207 bi-
lhões. Estão abrindo a conta do gasto, con-
finando que vai ter receita. Minha experi-
ência como gestor é que primeiro é
preciso colocar a mão na receita e depois
organizar o gasto, e não o contrário. Já que
autorizou a continuidade de gastos, que
veio do governo passado, era muito impor-
tante que tivesse um rígido controle de
gastos públicos. Esse é o esforço que eu
falo, de combate a despesas inúteis na exe-
cução orçamentária do País.
Esse esforço ainda não co-
meçou. E precisa começar.
Espero que o governo vá
para outra direção.
Qual o risco para o Brasil se
isso demorar?
Quanto mais rápido chegar
aos desafios, maior a chance de diminuir o
risco do insucesso. Há coisas que precisam
ser feitas. Se as decisões adequadas não
forem tomadas, em algum momento a eco-
nomia cobra o seu preço. Como dizia o
velho Roberto Campos (avô do atual pre-
sidente do Banco Central), o Brasil não
perde a oportunidade de perder oportuni-
dade. A gente deveria aprender com isso.
Esse é o melhor momento de oportunida-
des para o País.
Quais são as principais oportunidades?
Quando falamos em descarbonizar a eco-
nomia, significa que terá de mudar a matriz
energética. E o Brasil tem aqui. Temos ener-
gia eólica, solar e uma experiência notável
de biomassa. O País pode ser um provedor
de energia limpa. O mundo precisa de ali-
mentos. E temos terras que podem ser con-
vertidas para produção de grãos. O Brasil
está com a bola na cara do gol, e sem goleiro.
10 Dinheiro 04/10/2023
Não dá para chutar para fora. Estamos com ro quebrou. E depois quebrou Minas Gerais.
muitas oportunidades. É preciso que haja E o capixaba passou a ver no seu entorno a
um olhar macro sobre isso. diferença, com dois estados em que a má-
quina pública ruiu. Quem paga a conta des-
Pela sua experiência, qual seria um bom sa desorganização é o pobre do Brasil.
índice de redução nos gastos públicos?
É possível economizar de 15% a 20% com O senhor assumiu recentemente uma ca-
um programa razoavelmente montado, e deira no Conselho de Administração da
de forma rápida. É muita coisa sendo con- Vale. Qual tem sido seu papel?
tinuada no orçamento sem produzir ne- Minha contribuição é de conhecimento
nhum resultado para a sociedade. Só faz sobre o Brasil, de experiência com os brasi-
sentido ter algo no orçamento que tenha leiros. A empresa está no processo de reco-
retorno concreto de melhoria de vida, de locação no Brasil e no mundo, e posso ajudar
abertura de oportunidades. Há muito di- nesse processo de ter mais diálogo com os
nheiro na execução orçamentária que po- stakeholders. Eu posso ajudar em todo esse
deria ser muito melhor alocado. debate de descarbonização, que é funda-
mental nesse setor mineral. Também posso
E por qual razão o atual governo não adota ajudar a Vale a ser uma empresa mais diver-
esse tipo de medida? sa, e que reflita a diversidade extraordinária
Essa é uma concepção do PT que vem lá de do povo brasileiro. Estou nos comitês de
sustentabilidade e de inova-
ção, participando de bons
É preciso ter responsabilidade fiscal para debates e tentando dar boas
contribuições a uma empre-
conseguir melhorar a aprendizagem de
sa histórica do País, e que
nossas crianças, avançar no programa de possa superar seus tropeços,
vacinação, aprimorar a segurança pública’’ sem escondê-los. Foram tro-
peços graves e recentes.
trás, quando tinham que fazer um contra- E o que precisa ser feito?
ponto aos tucanos. O mundo já mudou. A Precisa mostrar para o Brasil que o caminho
realidade política do Brasil mudou. Não há é outro. O sentimento que tenho é de sur-
outro remédio do que a máquina pública presa positiva do que eu tenho visto dentro
funcionar. Os bons governos fortalecem as da companhia. Convivi com a Vale de Elie-
instituições democráticas. O governo pre- zer Batista, de Roger Agnelli, de Murilo
cisa funcionar e entregar. O bom governo é Ferreira (ex-presidentes), já que o Espíri-
o que facilita o capital privado a se movi- to Santo é importante na operação da em-
mentar, é o que cria boas regras e permite presa. E o que estou vendo hoje é um time
que o progresso se estabeleça. de excelente qualidade, com um plano de
voo sólido, principalmente na segurança.
O senhor acredita, então, que só é possível
ter responsabilidade social com responsa- E como o senhor enxerga a governança da
bilidade fiscal? empresa atualmente?
A experiência mostra isso. Não é narrativa, A Vale hoje é uma empresa em que não há
é algo estudado. É preciso ter responsabili- um bloco de controle como tinha até recen-
dade fiscal para conseguir melhorar a apren- temente. Há acionistas de referência, como
dizagem de nossas crianças, avançar no Previ, Bradesco, Mitsui. Mas a distribuição
programa de vacinação, aprimorar a segu- dos acionistas é ampla. A empresa mudou
rança pública. Quem não cuida das contas, muito. Hoje há governança, com regras de
não cuida dos pobres. Me lembro quando o padrão mundial. Não é a mesma Vale de 20
Espírito Santo ficou de pé e o Rio de Janei- anos atrás. É outra companhia.
 CASHBACK OU
RECOMPENSAS:
SUA EMPRESA SABE
QUAL ESCOLHER?
O cashback (dinheiro de volta, em português)
consiste em um programa de recompensa ao
consumidor, em que é possível ter de volta uma
parcela do dinheiro investido em um produto
ou serviço.
Além desse retorno, muitos programas de
cashback contam com parceiros, permitindo
que você compre algo (combustível, uso em
aplicativos de comida, etc) com a quantidade
acumulada do “dinheiro de volta”. Mas isso
também pode levar um tempo, ou seja,
pode demorar para seu cliente sentir que
“recuperou algo”.
Para usar esses programas, é necessário se
cadastrar em uma plataforma específica ou
fazer download de aplicativos. Depois, basta
fazer a compra do produto em um site parceiro
e, antes de finalizar a aquisição, é só ativar a
opção do cashback. O retorno do dinheiro pode
variar em diferentes porcentagens.
Após a finalização, a loja parceira tem um
prazo para avisar o intermediário sobre a
compra, para que o dinheiro volte ao cliente
ou fique disponível em forma de descontos,
vouchers e cupons.
É bem comum que haja confusão entre
ações de cashback e estratégias de
marketing de recompensas. De fato, ambas
têm semelhanças, como a oferta de uma
experiência única de compra ao cliente. Porém, o
marketing de recompensas trabalha com a
oferta de algo diferenciado ao cliente no valor da
compra, sem necessariamente requisitar
um cadastro.
Além do mais, os programas de cashback
tornam as relações entre marca e público
puramente transacionais, tendo um impacto
relativamente baixo no reconhecimento da sua
organização. Por outro lado, o marketing de
recompensas oferece opções personalizadas
ao cliente, aproximando a sua empresa dos
valores e necessidade de cada comprador,
proporcionando a eles viagens, idas ao cinema
e até assinaturas de streaming.
As recompensas instantâneas têm alguns
pontos mais vantajosos, como a aproximação
da marca com o cliente, sendo uma ótima
estratégia para aumentar a conversão de
leads (potenciais clientes).
Segundo uma pesquisa realizada pela
SmarterHQ, cerca de 90% dos consumidores
estão dispostos a oferecer seus dados de
comportamento de compra, em troca de
benefícios adicionais para melhorar a
experiência de compra.
Conheça algumas ações do marketing
de recompensas:
GRATIFICAÇÃO INSTANTÂNEA
As gratificações instantâneas são brindes que
os clientes recebem na hora, após realizar
alguma ação (compra de produto, cadastro
em plataforma, etc.). Muitas empresas invest-
em em brindes como infoprodutos, ou seja,
trocam conteúdos de qualidade por dados de
comportamento do consumidor. Assim, é
possível realizar uma pesquisa de mercado
mais assertiva.
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Faça parte dos maiores programas
de relacionamento do Brasil.
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EM REDES CREDENCIADAS
CRÉDITOS PARA
COMPRA NO SITE
CONEXÃO EMOCIONAL
O marketing de recompensas é capaz de gerar
uma conexão emocional com os seus clientes,
pois se sentem especiais e vão lembrar da sua
marca sempre. Como efeito, além de aumentar
as taxas de conversão, você também conquista
a fidelização do público e maior índice de vendas.
MAIOR RETORNO DE VALOR
O maior retorno de valor depende fundamental-
mente de boas estratégias de marketing. Com a
oferta de recompensas instantâneas, muitos
consumidores se sentem especiais, próximos da
marca e não se importam tanto com o preço (ao
contrário, eles dão importância à experiência
de compra).
MAIOR ENGAJAMENTO DO PÚBLICO
Outro resultado positivo do marketing de recom-
pensas em comparação aos programas de
cashback é o maior engajamento do público.
Isso porque as pessoas passam a ver a sua
marca com mais carinho e afetividade quando
recebem uma recompensa, especialmente se
ela for instantânea.
RETENÇÃO DE CLIENTES
A retenção de clientes também aparece como
uma vantagem competitiva do marketing de
recompensas em relação aos programas de
cashback. Muito disso deve-se à curiosidade
do público em relação às recompensas
instantâneas e porque o consumidor se sente
valorizado pela marca.
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Moedaforte POR HUGO CILO

MID FALCONI QUER DAR MATCH

ENTRE MÉDIOS EMPRESÁRIOS
De um lado, milhares de médios empresários carentes de serviços e
produtos para seus negócios. De outro, centenas de empresas em
busca de parcerias para suprir essa demanda. Como nem sempre é uma
tarefa simples unir os dois lados, a Mid — divisão da consultoria Falconi
especializada em companhias médias, com receita de R$ 4,8 milhões a
R$ 300 milhões por ano — decidiu criar uma espécie de Tinder
corporativo. Chamado de Mid Market, a plataforma inédita no País
propõe aos empresários uma vitrine de serviços como consultoria
tributária, desenvolvimento de lideranças, marketing digital, suporte
contábil e financeiro, entre muitos outros. Segundo a executiva
Marina Borges, diretora da Mid, esse hub de opções para os gestores
vai acabar com a dificuldade de encontrar serviços de qualidade.
Os parceiros da plataforma B2B, segundo ela, vão passar por uma
curadoria da própria Mid, chancelando o alto nível dos matches entre
as empresas. “Muitas vezes, o médio empresário se sente isolado,
sem orientação de como e onde encontrar os melhores parceiros”, disse
Marina à DINHEIRO. “Temos a expectativa de chegar a 5 mil empresas
no Mid Market dentro dos próximos três anos”, afirmou. Esses números
são até modestos diante do potencial do segmento, formado por cerca
de 120 mil médias empresas. Embora já esteja rodando nos últimos seis
meses na base de clientes da Mid, o marketplace da consultoria de
gestão será lançando oficialmente em outubro para todo o Brasil. Hoje,
mais de 100 soluções estão na prateleira, com mais de 20 parceiros. Dar
match vai ficar mais fácil.

BANCO BV PEGA SHOPEE VENDE E EDUCA

CARONA NAS STARTUPS
Um núcleo totalmente dedicado à
inovação ao crédito ajudou o Banco BV a
aumentar em R$ 70 milhões suas receitas
nos últimos 12 meses. A iniciativa é
inédita no mercado financeiro promove
uma cultura de experimentação, que
busca por parcerias estratégicas com
startups, utilizando metodologias claras e
bem definidas para testar e implementar
ideias inovadoras. Para o diretor-
executivo do BV, Ricardo Sanfelice, o
banco tem conseguido incorporar
soluções tecnológicas, análise
comportamental e parcerias estratégicas
com essa aproximação com as startups.
A SHOPEE, UM DOS MAIORES
MARKETPLACES DO MUNDO, VAI ENSINAR
EMPREENDEDORISMO EM COMUNIDADES
CARENTES DO NORDESTE. A PRIMEIRA
EDIÇÃO DO PROJETO SHOPEE EDUCA VAI
FORMAR 100 ALUNOS EM FORTALEZA,
RECIFE E SIMÕES FILHO (BA). EM PARCERIA
COM O ALICERCE EDUCAÇÃO, O PROJETO
BUSCA DIMINUIR A DEFASAGEM
EDUCACIONAL E ESTIMULAR O
EMPREENDEDORISMO DIGITAL PARA
OPORTUNIDADES DE TRABALHO NA
PRÓPRIA SHOPEE, SEGUNDO A EXECUTIVA
LUCIANA FERRAZ, UMA DAS
RESPONSÁVEIS PELA INICIATIVA.

12 Dinheiro 04/12/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO

 PARA RECUPERAR
A SANIDADE
Um dos maiores
laboratórios
farmacêuticos do Brasil, a
Libbs definiu a maior
campanha de promoção
de saúde mental de sua
história. A ação “Falar
Pode Mudar Tudo” tem
parceria com grandes
varejistas, como Grupo
DPSP e Magalu. Na
iniciativa, a Libbs envia
médicos e especialistas
para discutir o tema
dentro das duas empresas
e ouvir as angústias dos
funcionários. A empresa
propõe desmistificar
tabus, como vício e
trabalho, solidão e home
office, e impacto das
redes sociais. O LinkedIn é
usado como ferramenta.
Quase 20 milhões de
brasileiros sofrem com
ansiedade e depressão,
segundo a OMS. O Brasil
é o país com a maior
índice de depressão da
América Latina.
MANTEREMOS JUROS ALTOS PELO TEMPO QUE FOR
NECESSÁRIO. OS JUROS TERÃO UMA CONTRIBUIÇÃO
SUBSTANCIAL PARA O RETORNO DA INFLAÇÃO À META”
CHRISTINE LAGARDE,
PRESIDENTE DO BANCO CENTRAL EUROPEU (BCE)
ATÉ QUE AS DÍVIDAS
UM ESTUDO DA SERASA CONSTATOU QUE O HIPERENDIVIDAMENTO, QUE ATINGE QUASE 80% DA
POPULAÇÃO, TEM AFETADO OS RELACIONAMENTOS PESSOAIS. CONFIRA ALGUNS RESUTADOS:
NOS SEPAREM 62%
dos casais
brasileiros
sentiram impacto
das dívidas na
relação afetiva
Fonte: Serasa
MATRIX ENERGIA
MAIS BEM AVALIADA
A Matrix Energia, uma das principais
comercializadoras do setor energético
do Brasil, com um patrimônio líquido de
mais de R$ 1 bilhão, acaba de receber
rating A pela S&P Global Ratings, uma
das mais conceituadas especialistas em
classificação de risco em escala
mundial. O novo rating coloca a Matrix
Energia em destaque para financiadores TANTO NO DIGITAL,
e investidores e também reforça a
importância da saúde financeira no
QUANTO NO PRESENCIAL
mercado de energia elétrica, segundo o A Cruzeiro do Sul Educacional,
CEO, Rubens Misorelli Filho. “Com um dos maiores grupos
investimento em inovação, para garantir privados de ensino do País,
eficiência nos processos, vamos buscar está acelerando a captação
a consolidação da empresa como líder de alunos. A companhia, que
em comercialização de energia no alcançou receita de R$ 602
Brasil”, disse.
milhões no segundo
trimestre, aumentou a
captação em 23,7%, o melhor
desempenho do setor. O EAD
puxou a alta, com incremento
de 31,1%, mas houve aumento
também no presencial, com
crescimento de 8,1%. Com
essa expansão, a rede chegou
a 468 mil alunos. Segundo o
CEO, Fábio Fossen, os
destaques são os cursos de
saúde. A base de estudantes
na modalidade presencial
aumentou 10%, e a da
graduação digital, 26,7%.
“Os resultados mostram que
a estratégia de não apostar
tudo do ensino a distância,
mas focar também nas aulas
presenciais, foi acertada.”
51% 36% 74% 63% 57%
dos se alegam problemas sentiram o se sentiram
entrevistados afastaram de concentração impacto das mal por ter que
sentem vergonha dos para realizar tarefas dívidas no recorrer a ajuda
de estar nesta amigos diárias e queda na relacionamento familiar para
situação produtividade familiar saldar dívidas
Dinheiro 04/10/2023 13
Sustentabilidade
O Bolsa Família
do Assaí Atacadista
Braço social do grupo Assaí Atacadista,
o Instituto Assaí lançou na quinta-feira
(28) o piloto do programa Mais Escolha,
uma espécie de ‘Bolsa Família’ da
companhia oferecido a famílias em
vulnerabilidade social. Pela medida, o
grupo vai oferecer um cartão com saldo
mensal de R$ 105, que serão usados
para compras no mercado, inicialmente
durante seis meses. Depois desse
período, a empresa fará uma análise
dos resultados do projeto.
CIDADANIA E
DIGNIDADE
Fábio Lavezo diz que
a primeira fase do
programa vai atender
2 mil famílias em
vulnerabilidade social
Dinheiro 04/10/2023
POR SÉRGIO VIEIRA
EQUIDADE RACIAL
INSTITUTO FOUR CRIA
OPORTUNIDADES A
PRETOS E INDÍGENAS
O Instituto Four recebe até o dia
30 de novembro inscrições para
a seleção do novo ciclo do
programa Alcance, que garante
acesso de pessoas negras e
indígenas a programas de
mestrado profissional nas
principais universidades do
mundo. “Há poucas pessoas
pretas, pardas e indígenas que
seguem esse caminho. Esse é o
nosso maior propósito, que é
democratizar o acesso e gerar
oportunidades para que
pessoas com esse perfil racial
ocupem altos cargos em
grandes organizações”,
disse Wellington Vitorino,
fundador e CEO do Four.
O instituto, que foi criado em 2022,
direciona os investimentos sociais da
companhia e fortalece ações em temas
como empreendedorismo, utilização do
esporte como ferramenta para
cidadania e o combate à insegurança
alimentar, onde o Mais Escolha está
inserido. “Para nós, é muito importante
como nos relacionamos com as
comunidades onde estamos inseridos
com nossas lojas e centros de
distribuição”, disse à DINHEIRO Fábio
Lavezo, gerente de sustentabilidade e
investimento social do Assaí RECICLAGEM
Atacadista. “Essa é uma iniciativa
complementar aos outros programas UMA FROTA
sociais que essas pessoas já recebem.”
A primeira ação irá contemplar 500
CARREGADA DE
famílias em Santarém (PA), LATINHAS
preferencialmente por famílias DE ALUMÍNIO
chefiadas por mulheres negras. Ainda
na primeira fase, serão mais 500 em O que o Brasil reciclou de
Serrinha (BA) e 1 mil na Região latinhas na última década
Metropolitana de São Paulo. A seleção seria o suficiente para
das famílias é feita por organizações encher 35 aviões
sociais locais. “Muito mais do que apoio comerciais. A conclusão
financeiro, esse programa vai fortalecer está em levantamento
a autonomia e a dignidade dessas realizado pela entidade
pessoas”, afirmou Lavezo.
 Política,
espelho da elite

EVENTO SUSTENTÁVEL

FEIRA DE INOVAÇÃO INDUSTRIAL SERÁ CARBONO NEUTRO

Maior feira de inovação industrial
da América Latina, a Mercopar 2023,
que ocorre de 17 a 20 de outubro,
em Caxias do Sul (RS), será carbono
neutro. A gestão ambiental ficará
a cargo da startup AKVO, criada por
um trio de biólogos de Erechim (RS).
Promovido pela unidade gaúcha do
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (Sebrae-RS),
em parceria com a Federação das
Indústrias do Estado do Rio Grande
do Sul (Fiergs), a 32a edição da feira
terá ESG como tema destaque na
programação do conteúdo. “Sempre
tivemos um olhar atento a essas
temáticas e, neste ano, com o apoio
de uma startup que é um case de
sucesso dentro da nossa organização,
daremos um passo importante,
alinhado com o que há de mais atual
no mercado”, disse Ayrton Ramos,
diretor técnico do Sebrae-RS. Para Raphael Vicente, da Iniciativa
isso, será elaborado um inventário de Empresarial pela Igualdade Racial
emissões de gases de efeito estufa.
Mais uma vez a já baixa
Cada tonelada de CO2 emitida no
e pouco estimulada
evento equivale a um crédito de
participação dos negros
carbono e a estimativa é de que as
na política se vê ameaçada.
emissões necessitem de pelo menos
Nas investidas do Congresso
200 créditos de carbono para
Nacional de propor mudanças
neutralização. O valor da aquisição
para as regras eleitorais,
será utilizado como incentivo
nos deparamos com um
financeiro para projetos voltados
retrocesso iminente: o corte
à conservação do meio ambiente,
de mais de 50% da verba
combate ao aquecimento global
de campanha das
e desenvolvimento sustentável.
candidaturas negras.
A verba teria papel
semelhante ao processo de
cotas que já se provou eficaz

35%
de profissionais de diversidade no País entrevistados
na pesquisa da Tree Diversidade e Grupo TopRH em todos os seus âmbitos.
entendem que as empresas estão falhando no Um dos exemplos são
cuidado com a saúde mental. Em 2021, eram 28%. as notas dos cotistas de
faculdade públicas, que
elevaram a qualidade
geral da instituição.
Mas, além disso, não
Recicla Latas, que conscientização do podemos negar a importância
mostrou que o País sistema de logística da representatividade da
reciclou, entre 2013 e 2022, reversa que a entidade política, para que haja reais
3,3 milhões de toneladas vem desenvolvendo. mudanças e para que cada
de latas de alumínio. Os “Nosso trabalho tem sido vez mais esse setor espelhe
dados mostram que o feito com sucesso graças e reflita as reais necessidades
percentual de reciclagem a todos os envolvidos na dessa população, que se faz
se manteve sempre cadeia de reciclagem”, maioria no nosso País.
superior a 96%. No ano disse Renato Paquet,
passado, esse número secretário executivo da Conteúdo produzido em parceria com a
chegou a 100%, com 390,2 Recicla Latas. “A cada
toneladas reaproveitadas. tonelada reciclada de
Entre os fatores para o alumínio, economizamos
bom resultado está o 95% de energia
trabalho de capacitação e elétrica.”

FOTOS: IARA MORSELLI | ZECARLOSDEANDRADE | DIVULGAÇÃO Dinheiro 04/10/2023 15

INTERNACIONAL

O FUTURO DA ARGENTINA
COM O FATOR MILEI
LÍDER NAS
PESQUISAS
PRESIDENCIAIS,
CANDIDATO
DE EXTREMA-
DIREITA DIZ QUE
VAI TIRAR A
ARGENTINA
DO MERCOSUL,
ROMPER COM A
CHINA E FECHAR
O BANCO
CENTRAL.
SABER COMO
TAIS MEDIDAS
PODEM TIRAR
O PAÍS DO
SUFOCO, SÓ ELE
DEVE SABER

Jaqueline MENDES

16 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: TOMAS CUESTA I LUIS ROBAYO I NELSON ALMEIDA

A
história mostra que tempos difíceis costumam levar ao
poder candidatos de discursos fáceis, libertários e radicais.
Quanto mais distinto do establishment, melhor. Adolf
Hitler, Benito Mussolini, António Salazar e Jair Bolso-
naro chegaram ao comando pelo legítimo voto popular,
por mais antissocial e extremista — como aniquilação
dos rivais, apologia à tortura e opressão de minorias — que seus
discursos tenham sempre deixado claro. A Argentina, em pro-
ESQUENTA
fundo atoleiro econômico e social, vive processo semelhante. O Enquanto Milei
líder nas pesquisas de intenção de voto é o economista Javier lota eventos de
Milei, ultraneoliberal que chega a ser exótico de tão criativo em campanha, o atual
ideias. A começar pelo fato de que, segundo ele, recebe por tele- presidente, Alberto
Fernández, tenta se
patia conselhos de seu falecido cachorro, morto em 2017. Mas é aproximar de Lula
no mundo real que Milei parece representar os maiores riscos à para emplacar seu
Argentina. Autodenominado anarcocapitalista, o candidato sucessor, Sérgio
promete acabar com o Banco Central do país, dolarizar a econo- Massa, nas eleições
de outubro
mia, privatizar todo o sistema público de saúde e educação (e
torná-lo não obrigatório), extinguir o sistema de previdência e
seguridade social, tirar a Argentina do Mercosul e romper toda
relação comercial com os “comunistas” da China. Tudo isso sob
o argumento de que seu programa será uma “motosserra” para grupo sofre pressão por parte do Uruguai
cortar gastos públicos. para uma flexibilização de suas regras. A
Aos 52 anos, Milei lidera as pesquisas de intenção de voto proposta do governo uruguaio, que busca
para o primeiro turno, em 22 de outubro, mas a decisão de quem autorização para fazer acordos comerciais
será o próximo presidente argentino deve ficar para o segundo isolados com países de fora do grupo, deve
turno, em 19 de novembro. Levantamento da consultoria Ana- receber apoio de Milei. O candidato afirma
logías, divulgado em 7 de setembro, mostra que Milei tem 31,1% que pretende focar sua política externa no
dos votos. Na vice-posição aparece Sergio Massa, atual ministro estreitamento de laços com países como
da Economia, com 28,1%. Patricia Bullrich tem 21,2%. Na Ar- Israel e Estados Unidos. Qualquer seme-
gentina, para ser eleito em primeiro turno, o candidato precisa lhança com o ex-presidente brasileiro não
receber, ao menos, 45% dos votos válidos ou ter, no mínimo, é mera coincidência.
40% dos votos com 10 pontos percentuais de vantagem em Para Diogo Catão, CEO da Dome Ven-
relação ao segundo colocado. tures, a vitória de Milei, se confirmada,

44
deve elevar a incerteza no país. Isso porque
RISCO Seja bravata de campanha ou promessa de revolução na ele tem conseguido angariar nomes fortes

US$
economia argentina, a eventual vitória de Milei representa risco do empresariado na Argentina, mas suas
real para os parceiros no campo do comércio internacional, em propostas ainda são encaradas com ceti-
especial o Brasil. É o que afirma o economista João Ferraz, da cismo por parte deles. “Ainda há muitas

bilhões
Compagnie Française d’Assurance pour le Commerce Extérieur dúvidas quanto à viabilidade de seu plano
(Coface) no Brasil. “Ele promete antagonismo com as principais de governo”. Na avaliação de Vladimir
lideranças de esquerda da América do Sul, caso de Lula.”No en- Maciel, coordenador do Centro Mackenzie
tanto, ele acredita que, dada a importância do Brasil para a Ar- de Liberdade Econômica (CMLE), mais É A DÍVIDA DO
gentina (é o principal parceiro comercial do país), há chances de do que qualquer discurso, Milei, se eleito, GOVERNO
Milei recuar em alguns embates para evitar mais danos à já terá de agir rapidamente para conter dé- ARGENTINO
combalida economia. “Mas iniciativas que o governo Lula tenta ficit público, hiperinflação, crise cambial, COM O FMI.
retomar junto ao país, como a Unasul e a Comunidade de Estados desestruturação das cadeias produtivas a
PARA PAGAR,
SÓ FORÇANDO
Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), perderão forças.” empobrecimento da população. E não im-
UM AJUSTE
O tema Mercosul poderá ser o primeiro teste de Milei. Se porta se é só um braveteiro com discurso FISCAL, COMO
eleito, ele promete nomear a economista Diana Mondino como questionável. Ele já assumiria o país com MILEI QUER
chanceler. E ela já afirmou que não pretende sair do bloco. O o relógio em contagem regressiva.

Dinheiro 04/10/2023 17
Cenáriosglobais
O SOFTISH LANDING DO FED
N
a penúltima semana de setembro o Federal Open
Market Committee (Fomc) sugeriu a suspensão do
ciclo de alta de juros que teve início em março de 2022.
VITORIA SADDI Desde então, a autoridade monetária americana subiu
PHD EM
ECONOMIA
juros em 550 pontos base. Como resultado, a inflação de
PELA preços ao consumidor foi de 8% em março de 2022 para
UNIVERSITY OF 4,3% em agosto de 2023. O desemprego ficou estável em
SOUTHERN 3,8%, mas a criação de novos empregos teve queda signi-
CALIFORNIA,
É ESTRATEGISTA
ficativa indo de mais de 900 mil novos postos de trabalho
DA SM FUTURES. em março de 2022 para cerca de 187 mil postos em agos-
ATUOU COMO to de 2023. Em termos de crescimento, espera-se que o
ECONOMISTA- PIB dos EUA avance cerca de 2% este ano. Teoria econô-
CHEFE DA
ROUDINI
mica e sua aplicação prática caminham lado a lado. Nes-
GLOBAL, se sentido, em março, Alan Blinder, um dos mais respei-
DO CITIBANK, tados acadêmicos e ex-vice-presidente do Fed, publicou
DA QUELUZ um artigo revolucionário. Para ele, em seis das 11 vezes
ASSET
E DO SALOMON
que o Fed subiu juros [nesse porte] desde 1961, conseguiu
BROTHERS debelar a inflação sem produzir recessão.
O propósito deste texto é investigar se a atual parada
do ciclo de alta de juros — quando o desemprego é ainda
baixo, a economia mantém perspectiva de crescimento
positivo do PIB em 2023 e 2024 e a inflação ainda anda
acima da meta de 2%, mas em trajetória de baixa — sig-
nificará um novo soft landing. Em geral, quando o Fed se
prepara para combater uma inflação alta, passa a praticar
uma política monetária restritiva via alta da taxa da Fed
Funds (o equivalente à nossa Selic). A taxa Fed Funds é
apenas uma de um conjunto de taxas de juros e, via arbi-
tragem, a curva de juros inteira acompanha a sinalização
dada pela taxa básica (Fed Funds). O processo afeta ne-
gativamente o mercado de ações e aumenta o valor do
dólar em comparação às demais moedas. As altas taxas
de juros também tornam o crédito mais caro e tendem a
reduzir a demanda agregada. Se o Fed reduzir a acelera-
ção dos preços sem provocar recessão significativa tere-
mos uma situação de soft landing. Um aperto monetário
maior irá induzir a uma recessão e, assim, ao chamado
hard landing. Se o aperto monetário for pequeno também
não irá debelar a inflação. Ou seja, o banco central está
operando entre a ‘cruz e a espada’: se subir muito os juros
leva à recessão, e se não subir a inflação volta.
18 Dinheiro 04/10/2023
Blinder corretamente explica que soft landing é uma
espécie de Holy Grail da macroeconomia. Um Cálice
Sagrado. É o sonho de qualquer banco central conseguir
subir juros sem produzir alguma recessão. Blinder expli-
ca que o lag entre a decisão de alta de juros do banco
central e o impacto na economia é absolutamente variá-
vel. E, por mais que tenha havido avanços na econometria
é impossível prever o número de meses (e anos) que tal
alta de juros terá no lado real do sistema. De um lado
porque as demais taxas de juros tendem a subir, e afetar
a curva inteira, mas o timing também é incerto. De outro
lado, firmas e consumidores também irão ajustar suas
decisões de gasto e investimento à nova situação de juros
altos. Tais reações serão influenciadas pelas expectativas
acerca das taxas reais de juros futuras e da inflação. Fi-
nalmente, essas decisões terão efeito multiplicador, efei-
to esse que irá se alastrar no resto da economia. O timing
é incerto sobre a consequência da alta de juros no PIB, e
tal impacto pode vir apenas depois de um a dois anos,
segundo Blinder.
Ele diz que há três tipos de aterrisagem (landing) que
a economia pode observar. O primeiro é o hard landing:
situação em que o PIB real cai mais do que 1% em até um
ano após o final do ciclo de alta de juros. O segundo é o
soft landing, quando o Fed anuncia o final do ciclo de alta
(como ocorreu na última reunião) e após um ano o PIB
não cai, continua estável ou subindo. Por fim, temos a
situação mencionada inúmeras vezes ao longo da entre-
vista que segue a decisão do Fed pelo seu presidente:
softish landing. Esta última é uma situação em que a
economia experimenta uma desaceleração ou correção,
mas a queda não é tão severa quanto o hard landing. É
possível que seja a situação vivenciada atualmente pelos
EUA. A credibilidade conquistada pelo Fed desde 2008
fez com que o mercado acreditasse de modo quase incon-
dicional nas palavras da autoridade monetária. De fato,
o impacto recessivo no PIB em resposta à alta de juros é
tanto maior quanto menor a credibilidade do Fed. Talvez
o futuro próximo nos mostre que os novos ciclos de alta
de juros nos EUA possam ocorrer com impacto despre-
zível em termos de queda de PIB.
 2023
Vem aí o anuário AS MELHORES DA DINHEIRO, uma Edição Especial
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ECONOMIA

TINHA UMA PEDRA

NO MEIO DO CAMINHO

22 Dinheiro 04/10/2023 FOTO: ISTOCK

PROMESSA DE CAMPANHA DE LULA, A REGULAMENTAÇÃO
DO TRABALHADOR DE APLICATIVOS DE MOBILIDADE PODE SE
TORNAR UM PROBLEMÃO QUE ATINGIRÁ OUTROS MINISTÉRIOS
Paula CRISTINA
D
urante a campanha eleitoral do ano passado, uma das
principais bandeiras da gestão petista foi prometer a
regulamentação — com vínculo e contribuição ao INSS
— dos motoristas e entregadores de aplicativo. A escolha
não foi ao acaso. Em tese, trata-se de uma classe ampla
de trabalhadores, que converge com as raízes do parti-
do, e que não estava tão abertamente envolvida com os
discursos bolsonaristas como os caminhoneiros. Havia
pressão e greve de trabalhadores que buscavam melhores condições
de trabalho, e gigantes multinacionais pagando pouco e enfrentan-
do problemas trabalhistas em todo o mundo. Para liderar esse
processo Lula escolheu Luiz Marinho. Ex-prefeito de São Bernardo
do Campo (SP), que por anos foi presidente do Sindicato dos Meta-
lúrgicos do ABC e também esteve nos dois primeiros mandatos de
Lula, o novo (velho) ministro do Trabalho logo percebeu que mexer
nisso sendo parte do governo, e não na oposição sindical, não é tão
fácil. Hoje apenas 23% dos trabalhadores da categoria contribui para
a Previdência Social, e as empresas ainda não parecem nada incli-
nadas a um acordo. A solução seria, então, que o governo ajudasse
ou estimulasse de alguma forma essa adesão, seja com benefício para
empresas, ou subsídio para o trabalhador. E isso já acendeu um
alerta nos ministérios do Planejamento e da Fazenda, e tem gerado
alguma tensão dentro do próprio partido.
Para entender o problema é preciso voltar alguns meses. Luiz
Marinho no primeiro trimestre disse que a regulamentação dos
motoristas e entregadores ficaria para o segundo semestre, já que
outras pautas de alívio fiscal precisariam ser aprovadas antes. Ago-
ra, os trabalhadores começaram a cobrar do Ministério do Trabalho
alguma ação. Tudo isso enquanto greves pontuais davam indícios
de que poderia haver um escalonamento da tensão entre trabalhador
e empregador. Marinho, então, sinalizou que estava em vias de
terminar um texto a ser enviado para o Congresso. Segundo apura-
ções da reportagem, o texto seria enviado na primeira semana de
outubro, mas algumas mudanças ainda devem ser feitas, o que pode
atrasar o plano inicial.
Antevendo as dificuldades para aprova-
ção no Legislativo, o governo assumiu o
papel de arbitragem do conflito e criou uma
mesa tripartite, com participação de entre-
gadores, motoristas e plataformas digitais.
A primeira negociação envolvia uma remu-
neração de R$ 30 por hora para os motoris-
tas e R$ 17 para os entregadores. Em um
primeiro momento, Uber e 99 aceitaram as
condições para os motoristas, mas refutaram
qualquer possibilidade de criação de víncu-
lo empregatício. Entre os aplicativos de
entrega, como iFood, Loggi e Rappi, as ne-
gociações não parecem embicar para uma
solução. No texto desenhado pelo Ministé-
rio do Trabalho estaria incluso uma cláusu-
la de custos operacionais com veículos. Esse
piso seria de R$ 7,50 por hora trabalhada
— no caso de entregadores (motociclistas)
seria a metade, R$ 3,75. Sobre o valor total
(hora paga + auxílio a custos operacionais)
haveria a incidência de 27,5% de contribui-
ção previdenciária. As empresas pagarão
20%. Os motoristas e entregadores, 7,5%.
Segundo Marinho, acertar o passo entre
as duas partes será fundamental para criar
bases e parâmetros trabalhistas da economia
do futuro, amplamente digital. “É um mo-
mento de discussão importante, a nossa
mediação visa encontrar uma solução viável
para todas as partes, inclusive para o gover-
no”, disse. Para Edmundo Carvalho, advo-
gado e professor da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, a decisão seria uma no-
vidade mundial. “De fato o Brasil sairia na
Dinheiro 04/10/2023 23
ECONOMIA

PENSANDO
vanguarda do mundo se conseguir uma articulação desse porte”, Fatia dos
trabalhadores
disse. Outros países, como Alemanha, Austrália, Chile, Estados de aplicativo
Unidos e Reino Unido também tentam equacionar esse problema, que contribuem
mas nenhuma regulamentação já está definitivamente testada e
posta em prática e, acima de tudo, juridicamente validada . “Por aqui
os entregadores querem vale-refeição e seguro desemprego. É justo?
NO FUTURO com o INSS
(%)

Ninguém sabe. Nem o governo, nem as empresas nem os trabalha- Norte

dores. É tentativa e erro”, disse Carvalho
PREVIDÊNCIA Com a negociação em curso, o governo tenta amar-
rar outras formas de proteção ao trabalhador, e de quebra ainda
conseguir aumentar a arrecadação da Previdência Social que, mes-
mo após a reforma, precisa aumentar a contribuição para não cair
no mesmo problema de sustentabilidade em que estava até 2016.
Segundo Lula uma resolução do imbróglio seria o desenvolvimento
de um regime híbrido, com uma divisão mais justa entre as obrigações
previdenciárias entre o trabalhador e a empresa. A forma como
seriam conduzidas as arrecadações e obrigações, no entanto, não
foram divulgadas ainda. Mas se o governo quiser já tem na Câmara
um texto que aborda o assunto. De autoria do deputado federal
Júlio César (PSD-PI) o projeto de lei 773/2023 enquadra os moto-
ristas e entregadores como trabalhadores intermitentes. O modelo,
regulamentado na Reforma Trabalhista, apesar da prestação de
serviço esporádico, estabelece vínculo de subordinação. Assim, o
contratado passa a ter os demais direitos do trabalho garantidos,
com exceção do seguro-desemprego. No trabalho intermitente, as
atividades se dão em horas, dias ou meses.
O texto, porém, contém pegadinhas. Uma delas é exigir que o
governo dê contrapartidas para os empresários. Benefícios e isenções
de impostos que poderia ter um impacto entre R$ 15 bilhões e R$ 25
bilhões em renúncia fiscal. Assessores próximos a Luiz Marinho
dizem que a preferência da pasta é que, caso o governo precise entrar
no jogo com recursos, que ele deve ser feito ao trabalhador, não ao
empresário. Outros ministros, como Rui Costa (Casa Civil) e Welling-
ton Dias (Desenvolvimento) também compartilham da ideia — am-
bos fazem parte, ao lado do Marinho, do que é considerada a ala mais
dura do Partido dos Trabalhadores no governo.
9,6
Nordeste
16,5
Sudeste
Brasil 27,0
23,6
Sul
37,0
Centro Oeste
22,9
Fonte: IPEA (fevereiro de 2023)
Na parte progressista e mais liberal do
governo, em especial Fernando Haddad
(Fazenda) e Simone Tebet (Planejamento),
a possibilidade de criar essa despesa é des-
proporcional à função do Estado. Já que,
além da redução brusca da arrecadação, há
grandes chances de judicialização. Com
todas essas peças no tabuleiro, o presidente
Lula fica em uma sinuca de bico. Se assumir
o ônus da renúncia fiscal, criará uma tensão
dentro do governo. Se aprovar à revelia das
empresas, terá problemas com big techs. Se
negar tudo, terá um impasse com uma base
importante de seu eleitorado e petistas de
longa data. É só escolher qual custo está
disposto a pagar.

É UM MOMENTO DE DISCUSSÃO
IMPORTANTE, A NOSSA MEDIAÇÃO
VISA ENCONTRAR UMA SOLUÇÃO
VIÁVEL PARA TODAS AS PARTES,
INCLUSIVE PARA O GOVERNO
LUIZ MARINHO, MINISTRO DO TRABALHO

24 Dinheiro 04/10/2023 FOTO: PEDRO LADEIRA/FOLHAPRESS

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 ECONOMIA

SEM DIESEL
País terá de buscar novos fornecedores
para suprir o mercado interno depois
de Putin suspender as exportações.
Pressão sobre a Petrobras será mais um

DOS RUSSOS
teste para a estatal sob a gestão Lula

A
notícia caiu como uma bomba em várias partes do
mundo. Do dia para a noite, sem aviso prévio, o governo
russo suspendeu na quarta-feira (21) as exportações

O BRASIL
globais de gasolina e diesel. E sem data para voltar.
Apenas a União Econômica Eurasiática (formada por
Armênia, Bielorrússia, Cazaquistão e Quirguistão) está
autorizada a seguir comprando. A ordem partiu do
próprio presidente Vladimir Putin, que supostamente foi aler-
tado para os riscos de desabastecimento no mercado interno

FARÁ O QUÊ?
— algo improvável para um país com uma das maiores reservas
de petróleo do mundo e que não vive numa economia a pleno
vapor, por causa das consequências da guerra na Ucrânia. Até
que (supostamente) os estoques russos voltem a patamares
seguros, apenas combustível de baixa qualidade, com altos te-
ores de enxofre, podem ser vendidos ao exterior. O problema é
Jaqueline MENDES que poucos mercados ainda aceitam esse tipo de produto.

26 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: NATALIA KOLESNIKOVA/AFP | ARTEM GEODAKYAN/POOL/AFP | MAURO PIMENTEL/AFP

 A decisão russa preocupa especial-
mente o Brasil. O País importa cerca de
30% do diesel que consome. Em agosto,
segundo dados do governo federal, o die-
sel russo representou 74% do total das
importações brasileiras, superando pela
primeira vez os Estados Unidos como
maior fornecedor do Brasil nesse merca-
do. No caso da gasolina, o risco é muito
baixo, já que a Petrobras importa menos
de 5% da demanda interna. Mesmo assim,
tanto para a gasolina quanto para o diesel,
a Petrobras, sob comando de Jean Paul
Prates, terá de encontrar urgentemente
novos fornecedores, como Arábia Saudi-
ta e Emirados Árabes Unidos, para evitar
um colapso na logística nacional. Para
desenhar o plano B, Prates se encontrou
na segunda-feira (25) com o presidente
Lula, mas ainda não houve um anúncio
oficial da rota de compensação. A expec-
tativa é que empreitada de Lula no mer-
cado internacional, que muitas vezes levou
a Petrobras a tiracolo, ajude nessa jorna-
da de encontrar saída rapidamente.
REAÇÃO À AÇÃO
Governo russo diz,
oficialmente, que PUTIN A justificativa oficial do governo
aumento da demanda russo, de priorizar o mercado interno, não
explica pausa nas tem convencido especialistas do setor
exportações, mas
decisão parece energético. Primeiro porque a capacida-
estratégia de guerra de de refino da Gazprom, maior estatal
de petróleo da Rússia, é de 7 milhões de
barris por dia, mais do que o dobro dos
3,2 milhões do consumo médio diário do
país. Em guerra, a indústria russa está
encolhendo e, por consequência, dimi-
AÇÃO E REAÇÃO
Vladimir Putin (ao
lado) segura
exportação de diesel
do outro lado do
mundo. Por aqui, Jean
Paul Prates pensa em
como compensar a
falta do óleo russo
nuindo a demanda por energia. Segundo relatório do Instituto
Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), com base em dados da BP de
2021, a Rússia está atrás apenas de Estados Unidos e China no
ranking global de refino. O Brasil aparece na nona colocação,
com capacidade de 2,3 milhões de barris diariamente.
Por isso, as duas hipóteses mais prováveis para a decisão da
Rússia se apoiam em estratégias de guerra. A primeira sugere
que Putin queira usar a suspensão das exportações para sufocar
países europeus numa época em que se estoca diesel para o
inverno. A segunda — menos plausível, mas ainda assim mais
realista do que o argumento oficial — é a de que a indústria
petrolífera russa esteja com dificuldades de caixa em razão das
restrições impostas pelo Ocidente.
Seja qual for a motivação do presidente Vladimir Putin, o
cenário é preocupante para o Brasil, na avaliação do economis-
ta Laércio Munhoz, professor de Logística da Faculdade do
Comércio de São Paulo (FAC-SP). “Não há tempo hábil para
repor os estoques comprando dos demais fornecedores”, afirmou.
O cenário tenebroso descrito por Munhoz é compartilhado por
Allan Augusto Gallo Antonio, professor de Economia do Ma-
ckenzie e Pesquisador do Centro Mackenzie de Liberdade
Econômica. “Só não haverá desabastecimento em algum nível
se os importadores conseguirem alternativas tão baratas quan-
to o produto russo para competir no mercado brasileiro e se a
Rússia acabar com a suspensão de exportação de diesel nas
próximas semanas”, disse o economista. Mas esse recuo não
parece fazer parte dos planos de Putin.
Entre as potenciais rotas de saída, o sócio e economista-
-chefe da Monte Bravo, Luciano Costa, cita Oriente Médio,
Índia e China, mas haverá um custo maior. “Ou a Petrobras terá
de absorver essa alta, sem repassar para as distribuidoras e o
consumidor final, ou os combustíveis terão de ser reajustados”,
afirmou. Com o fim da paridade internacional dos preços, essa
decisão temporária pode ser estratégica, e ainda ser a chance
de Lula mostrar quanto, efetivamente, suas viagens e negocia-
ções podem se reverter em soluções de curto prazo.
Dinheiro 04/10/2023 27
ECONOMIA

BALANÇA
COMERCIAL:
HÁ LUZ
NO FIM
DA ROTA?
AGRONEGÓCIO DESPONTA OUTRA VEZ,
MAS BRASIL PRECISA DE MAIS DO
QUE COMMODITIES PARA SER TÃO
IMPORTANTE NO CENÁRIO GLOBAL
QUANTO PENSA QUE É HOJE
Paula CRISTINA

28 Dinheiro 04/10/2023 FOTO: ISTOCK

O
governo federal tem colocado muitas fichas no além-mar.
E até agora tem ganhado. A balança comercial brasileira
segue em uma positiva trajetória, com saldo positivo de
US$ 62,4 bilhões entre janeiro e agosto, acima dos US$ 43,7
bilhões do ano passado — que já foi recorde. O governo
estima a ampliação do resultado e quer bater neste ano a
marca de US$ 80 bilhões. O protagonista neste dado é, mais uma
vez, o agronegócio. Sua participação nas exportações totais saltou
de 48,5% para 50,1% em uma comunhão excepcional de fatores que
envolvem safra generosa, avanços de produtividade, preços mais
competitivos e novos clientes surgindo pela guerra na Ucrânia.
O agro segue forte porque tem, também, linhas de crédito que
derrubam seus custos frente a outros setores. Leia-se, Plano Safra.E
esse é o ponto. É preciso que serviços e indústria igualmente parti-
cipem da festa. Para o vice-presidente da República e ministro do
Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin,
o passo agora é elevar a exportação de produtos de maior valor
agregado, trazendo qualidade, e não apenas volume, para essa con-
ta. “O Brasil pode ser um hub de exportações de muitos itens que
unem a indústria com o agronegócio, indo bem além dos alimentos”,
disse em um evento na Fiesp.
Até porque o saldo positivo do agro não deve ocorrer em 2024
na mesma intensidade. Apesar do incremento de 5,3% no volume
exportado pelo agronegócio, houve um tombo de 13,8% nas impor-
tações do setor. Foi algo sazonal e que não deverá se repetir no
próximo ano. Ana Cecília Kreter, pesquisadora do Ipea, diz que o
agro atingiu US$ 15,4 bilhões entre janeiro e agosto de 2023 expor-
tados, “mas a melhora do superávit vem da queda nas importações,
que atingiu a marca de US$ 1,4 bilhão no último mês”. O aumento
das improtações terá por trás alguns fatores. Primeiro é que a me-
lhora da Selic abre espaço para empresários voltarem a usar finan-
ciamento para carregar contêineres e formar novos estoques de
produtos com maior valor agregado. Há também a relação real x
dólar que tem ficado mais atrativa para importação.
Todas essas condições, unidas, fazem com que o Brasil precise
pensar novas rotas comerciais de forma estratégica e, principalmen-
te, uma variedade de produtos com valor agregado razoável e preço
competitivo. Para isso o governo desenhou três frentes distintas.
Com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fica o plano de es-
timular a economia verde. Fomentando negócios de baixo impacto
poluente e tentando colocar o Brasil como exportador de mão de
obra, equipamento e inovação para um mercado de baixo carbono.
Geraldo Alckmin, por sua vez, fica responsável por aumentar a efi-
ciência das indústrias e dar a elas condições de brigar no cenário
externo. Para isso o BNDES entra como fomentador de recursos,
enquanto o governo trabalha em medidas de capacitação profissio-
nal e parcerias com entidades setoriais para estimular a inovação.
A terceira frente envolve uma ação ministerial conjunta para que o
Brasil firme novos acordos comerciais. O que arrola Mercosul e
União Europeia, por exemplo, daria ao Brasil um fôlego grande.
Atualmente a demanda por produtos impor-
tados da União Europeia envolve US$ 100 bi-
lhões ao ano, e o Brasil contribui com pouco
mais de US$ 3 bilhões ao ano. Com um acordo
em vigência, essa fatia poderia chegar a US$ 12
bilhões em cinco anos, com a capacidade de
ampliar também a exportação de serviços, em
especial aqueles que envolvem construção
civil, engenharia e outros serviços. Por aqui, os
Europeus podem ampliar atuação no varejo,
indústria química e tecnologia.
PLANO DE GOVERNO Para o médio e lon-
go prazo, um avanço da Rota da Seda, megaes-
tratégia comercial e de infraestrutura da Chi-
na, também ajudará. O Brasil tem condições
de absorver mão de obra, tecnologia e inovação
e aplicar por aqui para devolver ao mundo mais
produtos manufaturados. Nas palavras de Lula,
“a China pode ser parceira na inteligência e no
desenvolvimento”. Durante sua tour por Nova
York, Lula também afirmou que há que o plano
é ir além. “Não queremos ser para sempre o
exportador de commodities. Seremos expor-
tadores de produtos de valor agregado e pro-
dução limpa.” Discurso lindo na teoria, mas,
na prática, são as commodities (nem sempre
tão amigáveis com o meio ambiente) que nos
permite sonhar com superávits recordes.
SALTO ANUAL
Evolução do saldo da balança comercial do Brasil
(US$ bilhões)
Jan-Ago/22 43,7
Jan-Ago/23 62,4
VARIAÇÃO: +42,7%
Com Argentina superávit Com Estados Unidos déficit
US$ 4,4 BILHÕES US$ 2,6 BILHÕES
Com China superávit Com União Europeia déficit
US$ 33,5 BILHÕES US$ 1,5 BILHÃO
Fonte: MDIC
Dinheiro 04/10/2023 29
FINANÇAS

A NOVA
TÁTICA
DO INTER
NOS EUA
Para avançar no mercado americano
e na internacionalização da sua avenida
de crédito, banco mira em empresas
SONHO
no maior mercado consumidor do AMERICANO
O superintendente
mundo em parceria com a Monkey DOLORTIE
Felipe Flecha,
responsável pela
LOREO
expansão da
Olorer suscil ulla
Hugo CILO plataforma
facidui smolendit
internacional do
nonse consequisim
Inter, se diz

N
eu feu feu facip
confiante com
os últimos anos, as fintechs brasileiras passaram euipit in ute vulla
o potencial
conse erit, sit velis
a oferecer diversos produtos e serviços para nulluptatie
do mercado de
clientes brasileiros no exterior. Operações recebíveis de
magnissim
grandes empresas
simplificadas de câmbio, contas em moeda autpatem dolortie
estrangeira, opções de investimentos em em- dolore ming
presas e fundos nos Estados Unidos e na Europa, entre
muitas outras alternativas. Nesse movimento, o Inter
assumiu posição de destaque. Depois de migrar a base
acionária para a Nasdaq em 2022, a fintech abriu caminho
para que mais de 1,8 milhão de clientes tivessem acesso
rápido, dentro do superapp, ao mercado americano. “O
avanço dos negócios do Inter nos Estado Unidos abre
caminho para muitas possibilidades para os nossos clien-
tes no Brasil”, afirmou à DINHEIRO João Vitor Menin,
CEO do banco, na época da migração das ações.

30 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: ALEXANDRE REZENDE | DIVULGAÇÃO

 Uma importante etapa da expansão do Inter no
mercado americano está prestes a começar. O banco
vai atender também às empresas, não apenas pessoa Faz todo sentido
físicas. A ideia é replicar nos Estados Unidos o bem- para os clientes ter
-sucedido modelo de antecipação de recebíveis para recursos nos EUA
fornecedores de grandes empresas. No Brasil, o Inter nos moldes do que
já movimentou R$ 10 bilhões nesse segmento em par-
possuem no Brasil,
ceria com a fintech Monkey, maior marketplace de
de forma ágil e
recebíveis da América Latina, que acaba de superar
competitiva”
R$ 90 bilhões transacionados em sua plataforma. A
GUSTAVO
parceria do Inter com a Monkey no mercado america- MEDEIROS
no marca a estreia de ambos por lá na área corporativa. CEO DA MONKEY
Segundo o superintendente Felipe Flecha, respon-
sável pela área dentro do Inter, a ambição é posicionar do Orlando City como do Pride. A exposição da
o banco como um player relevante em supply chain marca se dará em sinalizações fixas no estádio,
finance no mercado americano nos próximos anos. fan zones, comunicações on-line do Orlando,
“Estamos muito animados com o kick-off da nossa vídeos nos canais de TVs institucionais do clu-
plataforma internacional, com foco em recebíveis de be, spots de rádio e TV, entre outros. Os valores
grandes companhias”, afirmou Flecha. “A combinação e a duração do contrato não foram revelados.
de um excelente atendimento aos clientes, aliado ao “Orlando é um dos mercados que mais crescem
viés tecnológico e disruptivo, fazem da Monkey uma ESTRATÉGIA
nos Estados Unidos, e que pode se beneficiar
grande parceira do Inter. Desde 2017, construímos EM CAMPO dos produtos financeiros e soluções que ofere-
juntos e consolidamos vários portais de antecipação O Inter assinou cemos”, disse Menin, o CEO do Inter. O banco
de recebíveis de grandes empresas e nossa expectativa contrato de comprou a fintech americana Usend no início
patrocínio com o
é de replicar esse trabalho nos Estados Unidos.” Orlando City para
do ano passado e já tem mais de 1,8 milhão de
Algumas gigantes brasileiras, clientes da Monkey ampliar a força clientes com conta em dólar. Menin já vinha
no Brasil, mantêm operações robustas nos Estados de sua marca dizendo que um dos objetivos era atender a
Unidos e podem, potencialmente, se tornar parceiros no mercado comunidade de imigrantes nos Estados Uni-
americano entre
da fintech também nas antecipações de recebíveis no pessoas físicas
dos. Mas o plano, agora, é chamar também as
exterior. Atualmente, cerca de metade dos clientes da e empresas empresas para o jogo.
Monkey atuam no mercado americano — e a fintech já
está conectada com os ERPs deles, o que facilita ampliar
a operação nos Estados Unidos. Na avaliação de Gus-
tavo Medeiros, CEO da Monkey, a parceria com o Inter
nos Estados Unidos é estratégica, uma vez que o banco
e a fintech já estão integrados e o volume de negócios
entre o banco e seus clientes é representativo. “Faz
todo sentido para os clientes ter esses recursos nos
EUA nos moldes do que possuem no Brasil, ou seja, de
forma ágil e competitiva.”

JOGADA ENSAIADA A estratégia de expansão do Inter

nos Estados Unidos passa pelo futebol — ou melhor, pelo
soccer. O banco acaba de acertar uma parceria com o
Orlando City, uma das franquias da Major League Soccer,
a liga profissional americana de futebol — a mesma dis-
putada pelo Inter Miami, do recém-contratado Lionel
Messi. O acordo inclui ainda o Orlando Pride, franquia
da National Women’s Soccer League, a liga feminina de
futebol. O Inter será a instituição financeira oficial tanto

Dinheiro 04/10/2023 31
CAPA
Mais importante que a
força desses empregos
para a JBS é o que eles
proporcionam para a
economia do Brasil”
GILBERTO XANDÓ
CEO DA JBS BRASIL

32 Dinheiro 04/10/2023 FOTO: CLAUDIO GATTI

JBS
Líder em
proteína animal
no mundo
assume a
inédita posição
de maior
empregadora
NO TOPO DO
MERCADO DE
TRABALHO
do País depois
de investir
R$ 8 bilhões em
diversificação,
expansão de

N
o mundo do agronegócio, o dito popular “o olho do dono
fábricas e é que engorda o boi” é quase um mandamento bíblico. É
aquisições sob o olhar atento do chefe que os negócios ganham
força, peso e musculatura. Essa máxima exemplifica com
Hugo CILO
exatidão o desempenho da JBS, maior empresa de pro-
teína animal do planeta. Nos últimos anos, a companhia se
tornou um colosso de resultados recordes. Em 2022, sob as
rédeas do CEO global Gilberto Tomazoni, homem de confiança
da família Batista e o primeiro presidente a não pertencer ao
clã fundador, atingiu faturamento de R$ 375 bilhões em todo o
mundo — alta de 6,9% sobre o ano anterior e o melhor balanço
desde a fundação, em 1953, na cidade goiana da Anápolis.
Já a operação brasileira da JBS, sob o comando do xará
Gilberto Xandó, engordou não só os resultados, mas também
a folha de pagamentos. Pela primeira vez na história, ela as-
sumiu a posição de maior empregadora do Brasil, com 151 mil
funcionários. O feito se deu após um megaciclo de investimen-
tos de R$ 8 bilhões, definido há três anos, em expansão das
fábricas, diversificação de portfólio e aquisições. De janeiro a
agosto, a empresa recrutou 7 mil pessoas, ultrapassando a rede

Dinheiro 04/10/2023 33
CAPA
FÁBRICA DE
EMPREGOS
Ao contratar 7 mil
funcionários neste
ano, a JBS alcançou
151 mil postos de
trabalho e
ultrapassou
o Carrefour
como maior
empregador
do País
varejista Carrefour em número de cartei-
ras assinadas. A dianteira da JBS deverá
ficar ainda maior nos próximos meses. Ou-
tras 5 mil vagas serão preenchidas em 14
estados até o final deste ano, segundo Xan-
dó. “Há demanda por mão de obra em todas
as nossas unidades no País”, afirmou em
entrevista exclusiva à DINHEIRO. “Vamos
inaugurar fábricas nas próximas semanas
e expandir nossas operações em todos os
segmentos. Hoje estamos com uma estru-
tura de produção que dará conta do cresci-
mento de uma década”, disse.
A JBS pegou o gosto por mega-aquisi-
ções em 2007, quando comprou a ameri-
cana Swift por US$ 1,4 bilhão. Foi a mais
importante aquisição da empresa até então
e a transformou na maior processadora de
carne bovina do mundo. Em 2009, desem-
bolsou R$ 800 milhões pela Pilgrim’s Pri-
de Corporation, com operações no Méxi-
co, Porto Rico e Reino Unido. Já em 2013,
adquiriu a Seara pelo valor de R$ 5,85 bi-
lhões, assumindo uma operação parruda
em aves e suínos. Até em peixes o grupo
tem investido. Na Austrália, comprou a
Huon Aquaculture, uma das líderes no
segmento de salmão. No Brasil, a empresa
está expandindo essas operações em peixes
e frutos do mar sob a marca Seara.
A força da JBS no mercado de trabalho
reflete a pujança dos negócios do grupo.
Pelos cálculos da Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas (Fipe), a companhia
movimentou no ano passado o equivalen-
te a 2,1% do Produto Interno Bruto (PIB)
34 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO
do Brasil. Em cifras, foram impressionantes R$ 155,2 bilhões,
com negócios que vão desde o core business da proteína animal
até atividades como couros, biocombustíveis, fertilizantes bio-
lógicos e proteínas cultivadas — aquelas desenvolvidas em labo-
ratório, que parecem com carne, têm gosto de carne, mas sua
origem pode ser vegetal ou de células de animais multiplicadas
em laboratório. Foi no ano passado que a JBS incorporou ao
grupo a BioTech Foods, uma das líderes mundiais em pesquisa e
produção dos chamados alimentos do futuro. Esse nicho será, na
avaliação de Xandó, um dos grandes vetores de crescimento de
novos negócios no Brasil.
Na quarta-feira (26), a empresa deu início às obras para a
construção do JBS Biotech Innovation Center, o primeiro Centro
de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em proteína cultivada
no País. Previsto para ser inaugurado no final de 2024, o empre-
endimento ficará no Sapiens Parque, em Florianópolis, e será o
maior centro de pesquisa voltado para a biotecnologia dos ali-
mentos no mercado nacional. Receberá um investimento de US$
22 milhões, entre obras civis e aquisições de equipamentos, para
a implantação dos laboratórios (fase 1) e da planta-piloto (fase
2), e terá uma equipe científica de 25 pós-doutores e especialistas
em diversas áreas.
PERSPECTIVAS Apesar de a JBS possuir uma imensa exposi-
ção global, com operações em mais de 190 países, 260 mil cola-
boradores e 330 mil clientes, é principalmente no Brasil que o
grupo tem se consolidado como uma fábrica de empregos. Em
outubro, a empresa vai oficializar a abertura da mais moderna
fábrica da empresa em Rolândia, no Paraná. O complexo, com
duas unidades de produção para empanados e salsichas, vai
empregar 4,5 mil funcionários. A planta de Dourados, no Mato
Grosso do Sul, a maior da companhia, também está em fase de
ampliação e deve encerrar o ano com 6,5 mil colaboradores.
Também neste ano, a JBS conclui a abertura de suas plantas no
Mato Grosso, nos municípios de Juara, Diamantino e Confresa,
que somarão 2 mil vagas formais. “Mais importante que a força
A FORÇA DA PROTEÍNA
JBS movimenta 2,1% do PIB do Brasil (Fipe)
IMPACTO IMPACTO IMPACTO
INDIRETO DIRETO INDUZIDO

OPERAÇÃO JBS
R$ 70 BILHÕES R$ 155,2
Valor da produção das
atividades da empresa,
como operação das BILHÕES
é o que a
FORNECEDORES DOS FORNECEDORES DIRETOS fábricas e escritórios CONSUMO
FORNECEDORES empresa
R$ 49,9 BILHÕES R$ 130,6 BILHÕES movimenta
R$ 98,8 BILHÕES
Inclui compras e vendas
Inclui aqueles setores econômicos
diretamente afetados pelas atividades
Compras realizadas pelos
consumidores e empregados,
na economia
brasileira
necessárias entre setores para da JBS, como os fornecedores de direta e indiretamente
antender ao aumento da insumos Exemplo: Consumidor que
demanda Exemplo: pecuaristas, fornecedores de compra um produto JBS no
Exemplo: fertilizante grãos, transportadores, distribuidoras mercado ou funcionário que
utilizado na produção de milho de energia e todo tipo de insumo gasta seu salário no comércio
que é tranformado em ração necessário à produção de alimentos local

OS MAIORES A MAIOR EMPREGADORA DO BRASIL

EMPREGADORES
(em mil*)
DO PAÍS FRIBOI SEARA JBS COUROS SWIFT JBS NOVOS
Proteína Alimentos preparados, aves Maior Varejo NEGÓCIOS
JBS
151 bovina e
alimentos
e suínos in natura processadora
de couros do
especializado
em proteínas
Transforma
matéria-prima em
Carrefour
150 preparados 62 fábricas mundo congeladas produto com valor
Grupo Pão de Açúcar
130 34 fábricas Produção de...
22 fábricas 1 fábrica
agregado
Vale
120 5,1 milhões 14 operações
Itaú Unibanco
89,4 32,6
animais
mil de aves por dia 45 mil
peças de
670 lojas 1.650
Caixa
86,7 abatidos por
dia 26,6 mil suínos por dia couro por dia 34, mil toneladas por ano
de capacidade de
Banco do Brasil
86,0 5funcionários
mil
funcionários
Bradesco
85,2 38 mil 124,5 mil produção

Petrobras
45,1
funcionários toneladas de alimentos
preparados por mês
5 mil
funcionários
Ambev
30,0 * informações divulgadas pelos sites oficiais ou RI das empresas.
Os números foram arrendondados
89 mil funcionários
PRINCIPAIS
MARCAS
Fonte: JBS, Ministério do Trabalho e empresas

Dinheiro 04/10/2023 35
CAPA

LÍDER desses empregos para a JBS é o que eles
GLOBAL proporcionam para a economia do Brasil.”
A JBS assumiu a
A expansão acelerada das contratações
liderança global em
produção de couros, da JBS vai exigir cautela e estratégia por
que são vendidos parte da companhia, segundo Marcos Frei-
para a indústria de tas, especialista em mercado de trabalho
calçados e
e fundador da consultoria Seja Alta Per-
acessórios, além
de fornecedores formance. “O maior desafio da JBS será
de montadoras de fazer o cascateamento da cultura, promo-
automóveis ver os objetivos dos donos e acionistas, e
garantir o alinhamento do time com os
propósitos da organização”, disse.
A aceleração da JBS, seja no campo dos
negócios, seja no ritmo de contratações, é
vista com bons olhos pelo mercado e in-
vestidores. Na quarta-feira (27), a corre-
tora EQI Research divulgou recomendação
com preço-alvo de R$ 32 ao final de 2024. “Vemos o momento
do ciclo bovino mais favorável para frigoríficos com exposição
aos mercados sul-americanos”, afirmam os economistas da cor-
retora, em relatório. A EQI considera que a JBS tem portfólio de
produtos e presença geográfica altamente diversificados, possui
a maior capacidade entre todos os frigoríficos brasileiros de
mitigar os riscos trazidos pela natureza cíclica do negócio. “A pior
parte do ciclo bovino nos EUA já ficou para trás e devemos co-
meçar a ver margens crescentes nos próximos trimestres.” Já a
Ativa Investimentos avalia que a boa liquidez da JBS dá a ela uma
vantagem em termos de crescimento. “Dentre os anúncios mais
recentes, podemos citar a listagem de suas ações nos EUA, se
tornando uma empresa com dupla listagem, na B3 e na NYSE”,
disse, em relatório. “Com o movimento, a JBS pretende equalizar
seus múltiplos com suas concorrentes, como a Tyson Foods.”
Enquanto nutre seus planos de crescimento no Brasil e no
mundo, a companhia segue se consolidando como uma incessan-

EVOLUÇÃO de compra para JBS. A casa de análise

projeta salto de 80% nos papéis JBSS3,
te máquina de geração de renda e emprego. É sob os olhos de
Gilberto Xandó que a JBS engorda os seus resultados no País.

DO GRUPO
2013 2014 2015 2019
AQUISIÇÃO DA SEARA A JBS realizou seis aquisições muito A companhia possuía 126.878 AQUISIÇÃO DA MARBA
Com a aquisição da Seara, a JBS se importantes para a estratégia de expansão da colaboradores diretos no Brasil Em linha com a estratégia
consolidou como uma das empresas companhia: da companhia de ampliar
líderes no setor de aves, suínos e alimentos Tyson no Brasil, que contemplou três 2016 a participação de
preparados no mercado brasileiro. Por unidades de processamento completamente A companhia possuía 125.082 produtos de maior valor
meio das marcas Seara, Fiesta, Rezende, integradas, com 5 mil colaboradores colaboradores diretos no Brasil agregado e de marcas em
Massa Leve, LeBon, Doriana, Frangosul e Grupo Big Frango, do setor avícola; seu portfólio, a Seara
entre outras, a empresa iniciou o que vem Bela Foods, processadora de alimentos; 2017 adquire a Marba, uma das
se tornando uma das mais importantes Grupo Céu Azul, processadora de aves ; A companhia possuía 119.379 marcas mais tradicionais
plataformas de produção, inovação e Frigorífico Sul Valle; colaboradores diretos no Brasil no segmento de frios e
distribuição de alimentos. Indústria de alimentos paranaense Avebom. embutidos e referência
2018 no segmento de
A companhia possuía 101.891 A companhia possuía 116.823 colaboradores A companhia possuía 121.260 mortadelas em
colaboradores diretos no Brasil diretos no Brasil colaboradores diretos no Brasil São Paulo

36 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: RICARDO CARDOSO | CLAUDIO GATTI

ENTREVISTA GILBERTO XANDÓ, CEO DA JBS BRASIL

Estamos com uma estrutura de produção que

dará conta do crescimento de uma década”
Ser a maior empresa empregadora do
Brasil fazia parte do plano da companhia?
Não planejamos ser os maiores. Aconteceu
naturalmente. A expansão da estrutura da JBS
no Brasil nesses últimos anos demandou investi-
mentos elevados e crescimento nas contrata-
ções. Os R$ 8 bilhões que definimos como plano
de investimento há três anos, para expansão e
agregação de valor, fizeram com que atingísse-
mos essa posição no mercado de trabalho.
Quais segmentos demandaram mais inves-
timentos e contratações?
Expandimos em praticamente todas as linhas
de produtos e de plantas. Na área de alimentos
preparados, duas grandes fábricas nossas no
complexo de Rolândia receberam investimentos
relevantes. Uma de empanados e outra de salsi-
cha. Passamos a ter 4,5 mil funcionários lá.
O foco das contratações foi no Paraná?
Não só lá. Expandimos a unidade de Dourados,
no Mato Grosso do Sul, que é a nossa maior
planta. Lá temos 6,5 mil funcionários. E em
todas as áreas fizemos contratações. Foram
7 mil neste ano, e temos outras 5 mil vagas em
aberto. Vamos seguir aumentando a capacida-
de de abate de suínos, de alimentos prepara-
dos, frescal, de defumados, presunto, apresun-
tado, salame e muitos outros.
A expansão é para se ajustar à demanda?
Não só para a demanda atual, mas para a
demanda projetada para os próximos dez anos.
Estamos com uma estrutura de produção que
dará conta do crescimento de uma década. Por
isso é que chegamos a 151 mil funcionários, o
que nos leva a essa posição de ser o maior
empregador do Brasil.
Qual é a maior dificuldade para se contra-
tar tanta gente, em tão pouco tempo?
O desafio do Brasil é a formação de mão de
obra, em qualidade e quantidade. Por isso
desenvolvemos internamente várias iniciativas
para atrair profissionais qualificados.
Contratamos aproximadamente 6 mil venezue-
lanos, que trabalham já conosco nas plantas do
Ceará e Mato Grosso do Sul. Temos imigrantes
do Haiti. E incentivamos que o trabalhador que
hoje é operador 1, se torne 2 e depois 3. Temos
vários programas de qualificação.
A JBS tem políticas de cotas, de igualdade
de gênero e inclusão de minorias?
A gente acolhe 100% da diversidade. Somos
muito abertos nesse sentido. Mas não estabele-
cemos cotas. Em cada novo negócio, a gente
coloca foco na diversidade, mas sem determinar
número mínimo de vagas. E temos comitês
internos que estão sempre monitorando isso.
E qual a estratégia para atrair e reter talen-
tos nos cargos de comando?
Somos uma empresa de valores. Temos atraído
pessoas pelos nossos valores. Aqui está muito
claro para todos o que a gente acredita ou não
acredita. Nos últimos 10 anos, principalmente,
fortalecemos muito a nossa cultura. Isso ficou
muito forte na companhia. E isso faz com que
as pessoas tenham atitude de dono, que
sejam disciplinadas, tenham simplicidade e
sejam pessoas humildes. Essa postura está
muito ligada à forma como nós conduzimos o
negócio. Temos as pessoas certas dentro da
companhia. Nossos valores têm sido, talvez, o
principal patrimônio de atratividade e reten-
ção de pessoas na JBS.
Essa cultura de valores não ficou abalada
depois das polêmicas envolvendo os
irmãos Wesley e Joesley na Lava Jato, que
levaram ao afastamento deles do comando
da empresa?
Não, não. Não tem relação uma coisa com a
outra. Nosso compliance existe há mais de 30
anos. Esses eventos que você citou, nada a ver.
Fizemos um grande evento de cultura no ano
passado, com 15 mil líderes pelo mundo, onde
ficou muito claro a importância da cultura para
nós, para todos os 260 mil funcionários em
todas as 135 fábricas pelo mundo.

2020 2021 2023

AQUISIÇÃO NOS SEGMENTOS DE
MARGARINA E MAIONESE
A JBS adquire, por meio da Seara, os ativos
de margarina e maionese da empresa
Bunge. A operação incluiu três unidades
produtivas localizadas em Gaspar (SC), São
Paulo (SP) e Suape (PE). A aquisição agrega
ao portfólio da Seara sete marcas fortes de
alto valor agregado: Delícia, Primor, Gradina,
Salada, Ricca, Cremosy e Cukin. A Seara já
possuía as marcas Doriana e Delicata.
A companhia possuía 141.887
colaboradores diretos no Brasil
A companhia possuía 143.228
colaboradores diretos no Brasil
2022
BIOTECH FOODS
Em 2022, em linha com sua
estratégia de expansão do portfólio
global de produtos, a JBS concluiu
a aquisição do controle societário
da BioTech Foods, uma das
maiores companhias globais de
desenvolvimento de biotecnologia
para produzir proteína cultivada.
PRIMEIRO CENTRO DE
PESQUISAS EM PROTEÍNA
CULTIVADA DO BRASIL
JBS anuncia o início da construção
do JBS Biotech Innovation Center,
primeiro Centro de Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação
em proteína cultivada no Brasil.
Localizado dentro do parque
de inovação Sapiens Parque,
em Florianópolis (SC), será o
maior centro de pesquisa voltado
para a biotecnologia dos
alimentos no Brasil.
GERAÇÃO DE 2 MIL EMPREGOS EM MT
JBS realizou a reabertura da unidade
industrial da Friboi na cidade de Juara
(MT), que foi responsável pela geração de
350 empregos. O número se somará aos
1.450 postos que serão gerados com a
recuperação da unidade de Diamantino
(MT) e às 210 vagas que foram abertas
pela unidade de Confresa (MT). Com tudo
isso, a previsão é gerar cerca de 2 mil
empregos no Mato Grosso até o fim do ano.
A companhia possui 151.227 colaboradores
diretos no Brasil

Dinheiro 04/10/2023 37
NEGÓCIOS

MAIS DINHEIRO E ME

A
Com o fim de ciclo de Renault vai apresentar ao mercado em 25 de outubro o
Kardian, modelo que entra em cena para rivalizar com
R$ 2 bilhões este ano, Fiat Pulse, Nissan Kicks e Chevrolet Tracker, além de
outros. Mais do que uma estratégia de negócio, o lança-
Renault do Brasil busca mento do SUV compacto marca o fim de um ciclo de in-
vestimentos de R$ 2 bilhões iniciado pela montadora
novos aportes e defende francesa no ano passado — os aportes no Brasil somam R$
3,1 bilhões desde 2021. Mas se engana quem pensa que a
alíquota mais baixa em operação nacional dá o assunto por encerrado. Em entre-
vista à DINHEIRO, Ricardo Gondo, presidente da bandei-
modelos eletrificados ra no País, afirmou que já discute a possibilidade de novos

38 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO

 ESTAMOS DISCUTINDO
COM A MATRIZ A
POSSIBILIDADE DE
NOVOS INVESTIMENTOS,
MAS AINDA NÃO EXISTE
UM VALOR DEFINIDO”
RICARDO GONDO, PRESIDENTE DA RENAULT BRASIL

NOVIDADE NO
PORTFÓLIO
Megane E-Tech é
importado da
França e negociado
por R$ 279,9 mil no
Brasil. Segmento
tem ainda os
eletrificados Kwid,
Kangoo e Master

MENOS IMPOSTO
investimentos. E a justificativa é mais do que plausível:
Angelo VEROTTI

O programa mudará o critério para o cálculo energético,

“Somos o terceiro maior mercado da Renault no mundo”.
As conversas com a matriz, na França, já começaram,
mas ainda não existe um número fechado. Segundo o
executivo, normalmente são ciclos de dois ou três anos,
como ocorreu em 2022 e 2023. Ou de pelo menos um ano,
a exemplo do final de 2021 e início do ano passado. “A
gente está trabalhando nisso para poder anunciar em
breve”, afirmou Gondo. O novo aporte deve ser revelado
após a divulgação da segunda fase do Rota 2030, o Mobi-
lidade Verde, previsto para ocorrer nas próximas semanas.
passando a considerar o que o carro emite de carbono do
poço à roda e não mais apenas do motor à roda. Isso deverá
levar a incentivos aos modelos eletrificados que são mais
ecologicamente corretos se for levado em conta até as
emissões para conseguir as fontes de energia que os movem.
O executivo acredita que o próximo ciclo de investimen-
to deve ser curto pelo fato de o complexo industrial em São
José dos Pinhais (PR) já ter uma plataforma (CMF-B), nor-
malmente o investimento mais alto e que permite a produção
de diferentes modelos. “E a gente já está industrializando. Já

Dinheiro 04/10/2023 39
NEGÓCIOS
estamos montando a pré-série do Kardian, com lançamento mes-
mo no início do ano que vem”, disse. “Em seguida, você consegue
colocar outras carrocerias. Vamos trazer mais novidades, mas não
posso revelar ainda.”
Produtos não faltam no portfólio da marca, que produz no local
os modelos Logan, Stepway, Captur, Duster, Master e Oroch. A
Renault também avança no segmento de eletrificados. A montado-
ra já vende no Brasil o Megane E-Tech 100% elétrico, importado
da França e com versão única de acabamento, por R$ 279,9 mil. O
modelo tem como concorrentes diretos o BYD Yuan Plus e o Volvo
C40. Além dele, a bandeira já disponibiliza aos clientes os eletrifi-
cados Kwid E-Tech, Kangoo E-Tech e Master E-Tech.
ALÍQUOTA Apesar da redução dos preços e do aumento das ven-
das dos modelos eletrificados, o presidente da Renault se disse fa-
vorável à retomada do imposto para a importação de veículos, que
teve a alíquota de 35% zerada a partir de 2015. Ele defendeu o re-
torno da taxação para equilibrar o mercado e incentivar a produção
nacional, em linha com o que defende a Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “A gente concor-
da em aumentar o imposto de importação. Porém, tendo cotas para
quem tem fábrica e produz no Brasil”, disse Gondo. “O que a gente
precisa é de um período de transição e que não tenha um mercado
aberto para todo mundo poder importar sem cobrança de imposto.”
O executivo destaca o crescimento do segmento de carros
eletrificados no Brasil, mas disse que a transição será mais lenta.
Os veículos eletrificados, mais precisamente os 100% elétricos, são
o futuro no Brasil e no mundo, de acordo com Gondo. Mas a dis-
cussão passa por dois termos: o primeiro é saber a quanto tempo
corresponde esse futuro. “Pode ser amanhã, daqui a cinco, dez, 20
ou 30 anos”, disse. E, segundo, é saber como será feita a transição
para chegar aos modelos 100% puros, o que envolve antes a comer-
cialização de unidades híbridas, por exemplo. “Vai ser longa essa
transição. Além disso, no Brasil temos algo que o resto do mundo
não tem: o etanol. Então, teremos o veículo híbrido flex.”
PORTFÓLIO DA MARCA
Produção nacional Importação
Kwid, Duster, Kwid E-Tech, Zoe E-Tech,
Captur, Logan, Kangoo E-Tech,
Stepway, Master Megane E-Tech e
e Oroch Master E-Tech
Veículos emplacados Participação
em 2023* de mercado**
76,8 mil 5,71%*
* Acumulado até agosto – ** Automóveis e comerciais leves
40 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO
STELLANTIS INVESTE
R$ 2,5 BI EM PORTO REAL
A Stellantis, conglomerado que reúne marcas como Fiat,
Jeep, Peugeot e Citroën, anunciou investimento de R$ 2,5
bilhões na fábrica de Porto Real, no Rio de Janeiro. O ciclo de
aportes ocorrerá até 2025, para criação de produtos, pesquisa
e desenvolvimento, além de modernização das instalações,
sistemas e equipamentos da unidade industrial. “O polo
automotivo de Porto Real é estratégico para o futuro de
nossa empresa e para o desenvolvimento de uma mobilida-
de sustentável e acessível”, disse Antonio Filosa, presidente
da Stellantis para a América do Sul e que, a partir de 1 de
novembro, assumirá o posto de CEO global da marca Jeep.
“Suas instalações receberam importantes investimentos nos
últimos anos e, além disso, os sistemas e equipamentos de
produção estão atualizados com as referências tecnológicas
globais da Stellantis.”
A planta de Porto Real é uma das cinco unidades produti-
vas da Stellantis na América do Sul — há outras duas no Brasil,
em Minas Gerais e Pernambuco. Do total investido, R$ 330 mi-
lhões foram aplicados no desenvolvimento de uma variante da
plataforma CMP, que está apta para ser utilizada em modelos
de diversas marcas do grupo, sendo também compatível com
motorização térmica, híbrida e elétrica. A plataforma servirá
como base para a continuidade da inovação do grupo e coloca
a fábrica em condições técnicas de produzir veículos híbridos,
adotando a recém-anunciada tecnologia Bio-Hybrid.
A plataforma CMP é a base do projeto C-Cubed, que
designa nova família de veículos composta por três modelos.
O primeiro a ser lançado foi o novo Citroën C3. O próximo mo-
delo será o novo Citroën C3 AirCross, a ser fabricado no local.
A família se completará com um terceiro modelo que está em
desenvolvimento e representará incremento de produção do
local nos próximos anos. “Além disso, o polo de Porto Real está
preparado para receber modelos das diversas marcas que
compõem a Stellantis. É uma planta estratégica para o desen-
volvimento do grupo na América do Sul”, afirmou Filosa, que
será substituído na América do Sul pelo executivo Emanuele
Cappelano, atualmente CEO para América do Norte.
NEGÓCIOS
GAMES
VERSUS
FANTASY
Marco Legal dos Games tem gerado
discussão acalorada no Congresso
Nacional. Setor de jogos eletrônicos
critica entrada de jogos fantasia,
que podem virar bets
Beto SILVA
á uma luta escancarada no universo dos jogos
H
eletrônicos. O setor de games, que estava acu-
ado meses atrás, partiu para a ofensiva diante
do avanço no Congresso Nacional do projeto
de lei 2.796/2021, considerado o Marco Legal
dos Games. O oponente é o segmento de fantasy
games, que entrou na briga depois que um jabuti — como é
conhecida uma emenda despropositada — foi apresentado
para ser votado junto do texto original. O que era para ser
uma proposta sobre videogames virou uma discussão mais
ampla sobre fantasy games, uma modalidade que carece de
definição detalhada, pois dão prêmios a partir de palpites
virtuais dos participantes sobre desempenho de atletas
reais — dois exemplos conhecidos são o Cartola e o Rei do
Pitaco. Não se enquadram muito no mundo game, nem
tampouco nas bets. E aqui entra um importante elemento
do debate: as casas de apostas. Sabe quando você avança na
trilha de um joguinho, pula obstáculos, corre dos perigos,
está perto do seu objetivo e, do nada, tem que encarar um
42 Dinheiro 04/10/2023 ILUSTRAÇÃO: FABIO X | DIVULGAÇÃO/ GERALDO MAGELA
chefão antes de ir para a próxima fase? Então, podemos
considerar que as bets são esse tal de chefão, aquele per-
sonagem surpresa que estava oculto e aparece no final. Os
críticos do projeto de lei afirmam que o jabuti abre brecha
para os fantasy games virarem casa de apostas, um merca-
do que deve movimentar US$ 25 bilhões neste ano no
Brasil, segundo a Gmattos Consultoria. Os defensores to
texto rechaçam a teoria e dizem que a regulamentação do
segmento vai criar empregos e gerar receita à União por
meio de impostos. A luta está escancarada.
O jabuti entrou na proposta quando ela ainda tramita-
va na Câmara dos Deputados, onde foi aprovada em outu-
bro do ano passado. Em tese, o projeto tem um bom design,
pois prevê incentivos tributários ao setor de desenvolvi-
mento e produção dos jogos eletrônicos, que passam a
estar sob as mesmas regras de tributação dos equipamen-
tos de informática. Na prática, não é bem assim, segundo
Rodrigo Terra, presidente da Associação Brasileira das
Desenvolvedoras de Games (Abragames), que reúne o
 Nesses debates, especialistas e acadêmicos da área de
BATALHA jogos eletrônicos afirmaram desconhecer o conceito de
EM BRASÍLIA fantasy games trazido pela emenda do projeto de lei. Se-
Entrada de emenda gundo o senador Flávio Arns (PSB-PR), que defende mais
no projeto de lei
discussão sobre o tema por se tratar de uma categoria
acirra o debate sobre
a matéria, criticada conceitualmente nova no Brasil e por envolver recompen-
pela Abragames sas monetárias, além de um forte componente de sorte, é
necessário o aprofundamento sobre esse fenômeno recen-
te. “O projeto de lei mistura duas coisas diferentes: jogos
eletrônicos, conceito já bem estabelecido no Brasil, e jogos
de fantasia. As duas coisas devem ser tratadas separada-
mente em projetos distintos”, disse Arns, que juntamente
de outros senadores conseguiu conter o avanço da propos-
ta, que agora será debatida na Comissão de Educação e
Cultura do Senado antes de ser levada a plenário. A obs-
trução foi considerada uma vitória para o setor.
Além da possibilidade de os fantasy games virarem
bets, outro problema debatido é o acesso de crianças e
adolescentes às apostas. Relator do projeto, o senador
Irajá (PSD-TO) afirmou que existe uma grande confusão
acerca da propositura e que os fantasy games “não têm
nada a ver com aposta esportiva ou jogo de azar”. Ele che-
gou a propor a retirada dos games do Marco Legal dos
Games para votar apenas a questão dos fantasy. Para Irajá,
o projeto pode gerar 70 mil empregos diretos e R$ 40 bi-
lhões por ano no aumento da arrecadação de impostos
federais, estaduais e municipais. A luta está em curso. Vai
ganhar quem tiver mais poderes especiais para atingir os
adversários. Façam suas apostas.

setor contemplado na proposta original. Segundo ele, mesmo

sem o jabuti, o texto já tinha problemas, pois a categoria não foi
LUTAS
ouvida para ter suas demandas atendidas. “É um projeto capen- INICIAIS
ga”, disse, ao apontar as principais falhas, na visão da entidade: Senador Flávio
não há classificação indicativa para softwares; o tratamento de Arns levou o
importação de itens é inadequado, já que boa parte da indústria debate do texto
para a Comissão
produtora de games está fora do País; e a citação apenas de pro- de Educação
gramadores na propositura contempla apenas 30% do pessoal
do setor, deixando descobertos designers, engenheiros de sof-
tware e especialistas em som. Indagado sobre os pontos positivos,
foi taxativo. “Não sei existe algo que se salve.” Sobre a argumen-
tação de haver benefícios fiscais, Terra rebate. “Não está claro.
Não há indicação de caminhos. Nem sequer há indicação para
criar uma Classificação Nacional de Atividades Econômicas
(CNAE). E temos a discussão de uma ampla Reforma Tributária,
que não sabemos se vai contemplar o setor de games”, afirmou
o presidente, ao enfatizar a crítica na falta de debate sobre o
Marco Legal. “Começou de fato uma discussão semana passada,
em sessão temática do Senado, e agora tem se intensificado.”

Dinheiro 04/10/2023 43
NEGÓCIOS
AGAXTUR RUMA A NOVO D
ão 70 anos na bagagem. Marca alcançada por 900
S
empresas na história do Brasil e que deve ser igualada
por outras 66 este ano. Dados revelados à DINHEIRO
por Aldo Leone Filho ao justificar a pesquisa. O em-
presário ocupa a presidência da Agaxtur Viagens e
Turismo, operadora mais antiga do Brasil que vai
completar sete décadas de fundação no dia 10 de ou-
tubro. E com muitos motivos a celebrar: novos destinos, novas
investidas e, principalmente, a retomada acelerada do setor
depois do período de pandemia. “Atendemos 70 mil passagei-
ros no ano passado. Prevemos crescer 30% anualmente nos
próximos cinco anos”, afirmou Leone.
O otimismo do executivo está baseado nas estatísticas. O
turismo nacional estima alcançar este ano números superiores
44 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO
aos do período pré-Covid-19. A expectativa é que o setor mo-
vimente R$ 752,3 bilhões, montante 5% maior do que o fatu-
rado em 2019 (R$ 716,5 bilhões). E a Agaxtur já arrumou as
malas para embarcar nesse roteiro e, assim, apagar de vez os
estragos causados pela pandemia, que derrubou em mais de
90% o faturamento do setor em 2020 diante das restrições de
circulação. “Foi, com certeza, a pior fase da história do turismo”,
disse o executivo.
Um recomeço para o setor, uma nova realidade para a Agax-
tur. A empresa fundada em 1953 pelo empresário Aldo Leone,
morto em 2008, teve o controle adquirido pelo grupo capixaba
Águia Branca no ano passado. Com larga experiência em trans-
porte rodoviário de passageiros, logística e vendas de carros e
caminhões, a holding adquiriu 70% das ações da empresa san-
 Setentona, operadora de turismo aposta em roteiros

O DESTINO rodoviários pela Europa, cruzeiros triplo A e de expedição para

embarcar na retomada do setor no Brasil Angelo VEROTTI

B2B, que são os agentes de viagens, um mercado gigantesco,

como o de franquias. “São plataforma de gestão, de back-office,
de front-office. Todas elas das mais modernas que existem.”
Segundo Leone, com a gestão financeira estabelecida e a
utilização de plataforma tecnológica, a base da nova Agaxtur está
pronta. O foco agora está na capacidade operacional e de vendas.
“Operacionalmente, fizemos contrato com todos os grandes
brokers, os ‘fornecedores de turismo no mundo’. Temos contra-
to direto com a Disney, com a Universal, com todas as operado-
ras, companhias aéreas e navios que operam no mundo.”

DESTINOS Roteiros rodoviários pela Europa e cruzeiros, prin-

EXPERIÊNCIA
EM DESTINOS
A Agaxtur,
comandada por
Aldo Leone Filho,
foi uma das
pioneiras em
viagens para o
Caribe (foto maior)
na década de 1990.
A Grécia (acima)
está entre os
lugares mais
desejados
tista, pioneira na atração de cruzeiros ao Brasil e na criação de
pacotes de viagens para a Disney e o Caribe (em especial, Cancún).
“Fizemos uma grande parceria, não só financeira, mas estraté-
gica, com um monte de sinergias entre o que eles fazem e a
gente faz [como processos financeiros e de inovação]”, afirmou
Leone. “E montamos uma empresa nova que, no fundo, é a mes-
ma Agaxtur, mas com um gás diferenciado no mercado.”
Além das 46 lojas próprias e de 2 mil agentes de viagem, a
nova Agaxtur diversificou os canais de vendas. Com novas cam-
panhas e novas ferramentas, a empresa tem apostado nos meios
digitais para atingir o cliente que, segundo o executivo, está
pulverizado pelo Brasil. “E você [empresa], para atingir esse
cliente, precisa ter muita inteligência tecnológica e digital.” Isso
inclui, por exemplo, o lançamento de plataformas de vendas no
cipalmente os triplo A e de expedição, são chamarizes da empre-
sa, que negocia normalmente 80% de produtos para o exterior e
20% para o Brasil. Destinos como Bariloche, Orlando e Disney,
Roma, Veneza, Paris e Lisboa seguem os mais procurados. Mas a
África do Sul e países do Oriente, como Japão e Coreia do Sul,
ganham força no portfólio, a exemplo da Grécia. “Noruega e Di-
namarca continuam como destinos do sonho do brasileiro”,
afirmou o presidente. “Já o Canadá, apesar de todas as belezas,
não cai no gosto dos clientes.”
No Brasil a empresa comercializa resorts e pacotes para
destinos turísticos, como João Pessoa e Porto de Galinhas. Os
destinos de expedição preferidos são Jalapão, Lençóis Mara-
nhenses, Amazônia, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. Apesar
de ainda limitados, esses destinos já são mais procurados, como
também é o caso da Islândia, na Europa. “Um lugar maravilhoso”,
disse Leone. A tendência, de acordo com o executivo, é de viagens
personalizadas. Já os cruzeiros marítimos têm sido contratados
para viagens em grandes embarcações e ainda em pequenos
navios, no caso expedições. “Teremos uma para Antártida no
ano que vem.” Os eventos esportivos, como a Fórmula 1, o Super
Bowl e a Copa do Mundo de Futebol, também fazem parte do
portfólio, a exemplo das viagens de incentivo corporativas. “So-
mos uma das três maiores empresas deste segmento.”
Os desafios no setor, segundo ele, se mantêm. Destaque para
os altos juros, que comprometem a capacidade financeira de o
brasileiro viajar. Quanto ao caso de empresas como 123Milhas,
que pediu recuperação judicial após deixar os clientes ‘a ver
navios’, por comercializar produtos com preços bem abaixo do
mercado, Leone é sucinto: “Não cabe a mim definir a vida de cada
um, mas cabe a mim avisar que não existe mágica em turismo. É
o mundo real”. E é essa a filosofia de sempre da Agaxtur.

Dinheiro 04/10/2023 45
ESG

Norvy CODREY

AUMENTO DE
CAPACIDADE
A M27 utiliza
100% de
eucalipto para
produção de
Kraftliner; a M28
também faz
papel cartão

46 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: ANDERSON RODRIGUES | DIVULGAÇÃO


O papel
sustentável da Klabin
aior produtora e exportadora de
M
papéis para embalagens do Brasil,
a Klabin investiu para crescer de
uma forma sustentável. A compa-
nhia paranaense concluiu o maior
volume de investimentos de sua história,
no valor de R$ 12,9 bilhões, entre 2019 e
2023, para a construção da unidade Puma
II, em Ortigueira (PR), com a implemen-
tação de duas máquinas de papel, a MP27
(que produz papel Kraftilner feito 100%
com fibras de eucalipto) e a MP28 (com
flexibilidade para produzir tanto Kraftliner
quanto papel cartão). Juntas, elas terão
capacidade de produção de 910 mil tone-
ladas por ano, elevando para 4,7 milhões
de toneladas o volume anual de papel e
celulose da companhia.
O destaque do projeto está nas ações
de sustentabilidade. Na fábrica, foi incluí-
da uma planta de ácido sulfúrico, com gases
utilizados durante o processo e que antes
eram enviados à caldeira. A unidade Puma
II utiliza hoje 96% de combustíveis de ma-
triz energética limpa, sendo seis combus-
tíveis renováveis, todos substituindo óleo.
Também houve medidas de recuperação
do potássio. Em dois anos, a Klabin deve
ser autossuficiente no produto, que é um
Companhia conclui
ciclo de investimentos
de R$ 12,9 bilhões com
duas novas máquinas,
que utilizam energia
limpa durante o
processo de produção Sérgio VIEIRA
dos componentes de fertilizantes usados na floresta. Até então, o
insumo era importado, principalmente da Ucrânia e da Rússia.
Outra iniciativa sustentável foi a utilização de 100% de euca-
lipto na fabricação de Kraftliner. Para produzir 450 mil toneladas
anuais na MP27, foi necessário expandir a área florestal para 30
mil hectares. “Se a máquina levasse pinus [tipo de madeira], a
gente precisaria de 50 mil hectares. Nos Estados Unidos, iria para
80 mil hectares. Imagina a quantidade de floresta que é possível
otimizar com o uso de eucalipto”, disse Francisco Razzolini, dire-
tor de tecnologia industrial, inovação, sustentabilidade e projetos
Em 20 anos, a
da Klabin. “Em 20 anos, a Klabin reduziu em 68% as emissões de Klabin reduziu em
gases de efeito estufa. Todos os nossos investimentos têm sido 68% as emissões
pautados na melhoria de eficiência e utilização de menos com- de gases de efeito
bustível de origem fóssil. E agora queremos incluir nossos forne- estufa. Queremos
cedores nesse compromisso”, afirmou o executivo. incluir nossos
Pela planta de gaseificação de biomassa, também outra inicia- fornecedores nesse
tiva de sustentabilidade, é possível que um dos fornos de cal da compromisso”
fábrica opere com 100% de combustível fóssil. Também há uma FRANCISCO
unidade de secagem de lodo, responsável por processar o produ- RAZZOLINI
to gerado nas estações de tratamento de efluentes da fábrica. Esse DIRETOR DA
KLABIN
é o primeiro sistema do mundo a secar lodo gerado durante esse
processo, com capacidade de até 17 mil toneladas por mês. O lodo
seco poderá ser misturado à biomassa para se tornar combustível
nas caldeiras de força.
Inicialmente, a ideia da empresa era construir duas máquinas
iguais, de Kraftliner, mas a mudança de concepção ocorreu na
pandemia, pelo aumento no consumo de papel cartão branco.
Dessa forma, a Klabin deverá avançar em novos mercados, como
farmacêutico, bebidas, alimentos, editorial, entre outros.
Dinheiro 04/10/2023 47
ESG

CERIMÔNIA E
CELEBRAÇÃO
Inauguração
oficial da M28
contou com a
participação do
governador
Ratinho Júnior e
líderes do setor

RAIO-X DO PUMA II A expectativa é de crescimento de cin-

Investimento de
R$ 12,9 BILHÕES
entre 2019 e 2023
Capacidade produtiva anual de
910 mil toneladas de papel
Máquina de Papel 27 (1ª fase) entrou em
operação em 30 de agosto de 2021 e
produz Eukaliner, primeiro papel Kraftliner
co pontos percentuais no market share do
produto no País, a partir da MP28, passan-
do de 35% para 40% de participação no
mercado até 2025. “Dessa forma, a Klabin
soluciona qualquer problema de abasteci-
mento no Brasil, e evitamos o que vimos
no auge da pandemia”, afirmou José Soares,
diretor comercial da empresa. “Estamos
preparados para o crescimento brasileiro.”
A companhia também planeja entrar no
mercado americano com esse novo mode-
presença do governador Ratinho Júnior,
de líderes do setor e integrantes do conse-
lho da Klabin. “O Ranking de Competitivi-
dade dos Estados elegeu o Paraná, por três
vezes consecutivas, como o estado mais
sustentável do Brasil. Isso fez com que
fosse possível atrair R$ 220 bilhões de in-
vestimentos privados nos últimos quatro
anos. E a Klabin tem uma participação
direta nesse sucesso do Paraná”, afirmou
o chefe do Executivo paranaense.
Durante o evento, o CEO Cristiano

feito 100% com fibras de eucalipto lo de embalagens.

Máquina de Papel 28 (2ª fase)
começou a operar em 9 de junho de
2023 e tem flexibilidade para
produzir Kraftliner e papel-cartão
Base florestal produtiva da Klabin para
abastecer as duas máquinas conta com
356 mil hectares de terra
Desde o início do projeto até agora, a
região de Ortigueira (PR) foi beneficiada
com a geração de mais de 33.500
empregos diretos e indiretos
Previsão de movimentação anual de
2,2 milhões
de toneladas de papel e celulose
por meio do porto de Paranaguá (PR)
Para expandir sua produção a partir da
unidade Puma II, a Klabin precisou inves-
tir em logística. Foram aportados cerca de
R$ 300 milhões no terminal de contêineres,
ao lado da fábrica, e mais R$ 146 milhões
no Terminal Portuário de Paranaguá (PR),
com uma área de 27.530 m², adquirido por
meio de leilão e com contrato assinado em
2020. A expectativa é que, com as duas
novas máquinas em operação, a Klabin
passe a movimentar anualmente 2,2 mi-
lhões de toneladas de papel e celulose por
meio do porto paranaense.
Desde o início do projeto Puma II, já
foram gerados, na região de Ortigueira,
mais de 33,5 mil empregos diretos e indi-
retos, com pico de 9 mil postos de trabalho
durante o período de implementação das
máquinas. A empresa também assinou
protocolo de intenções com o governo do
Paraná, com o objetivo de investir R$ 450
milhões em obras de infraestrutura.
INAUGURAÇÃO Para marcar o início das
operações da M28 (em 9 de junho deste
ano), a empresa realizou cerimônia na fá-
brica, no último dia 21 de setembro, com a
Teixeira posicionou o novo momento da
companhia a partir da conclusão das obras
e início de operação das máquinas. “A M28
dá a condição de consolidar a Klabin como
uma das maiores fornecedoras de papel
cartão do mundo. A unidade Puma II nos
coloca como um dos maiores investidores
privados do Paraná. Movimentamos a eco-
nomia, geramos impostos e apoiamos pro-
jetos da comunidade. É com tecnologia e
ações sustentáveis que podemos atender
as necessidades dos clientes e mercados.”
Pertencente à quarta geração da famí-
lia, Amanda Klabin, presidente do Conse-
lho de Administração da companhia, lem-
brou dos fundadores e projetou o futuro
da empresa. “Klabin é mais do que uma
empresa, é uma cultura. É o respeito pelo
passado aliado à responsabilidade com o
futuro. As M27 e M28 possibilitam o nome
Klabin ir além, escalando sua produção e
sendo referência de tecnologia em papéis
para embalagens.” Com os planos deline-
ados para os próximos anos, o papel da
Klabin, nesses 124 anos de história, está
muito bem definido no mercado global. E
passa, cada vez mais, por um futuro ainda
mais produtivo e sustentável.

48 Dinheiro 04/10/2023 FOTO: LUCAS COSTA


ALÉM DA SALA DE AULA: REINVENTANDO
A EDUCAÇÃO CORPORATIVA
A
maioria dos programas de educação empresarial
visa formar líderes e gestores para uma realidade
que já não existe mais. A necessidade do atrela-
mento desses programas com as estratégias e com a
cultura das empresas é uma batalha antiga. Infeliz-
mente, pouca coisa mudou nas últimas décadas. A
maioria das disfunções continua com uma atualidade
desconcertante. O desalinhamento com a estratégia
do negócio e com o jeito de ser de cada empresa é mais
regra que exceção.
É certo que algumas empresas cresceram e evo-
luíram com base em programas bem concebidos e
executados. Porém, salvo as que podemos contar nos
dedos, as mudanças ocorridas têm sido mais adjetivas
que substantivas, mais tópicas que de fundo. Até
mesmo nomes da moda passaram aparecer nos orga-
nogramas das empresas como uma maneira de de-
monstrar o alegado comprometimento da direção
com a formação do seu patrimônio humano. Mas
sabemos que a mera criação de órgãos — reflexo da
nossa herança colonial — nunca assegurou a solução
de problemas nem o encaminhamento de desafios. O
mesmo vale para a criação de títulos pomposos: a
simples mudança de rótulo nem sempre reflete a
melhoria na qualidade do produto.
O que mudou, e muito, foi o valor investido nesses
programas. Verdadeiras fortunas têm sido gastas, mas
a grande parte das iniciativas continua desvinculada
das verdadeiras necessidades estratégicas que afligem
as empresas — e pouco tem acrescentado aos resul-
tados dos negócios.
Torna-se necessário repensar a educação corpo-
rativa em função do somatório de novas e mutantes
circunstâncias, dotando-a de programas que além de
umbilicalmente ligados à estratégia, à cultura e às
prioridades da empresa, sejam formatados com ca-
racterísticas que enfatizem mais a aprendizagem do
que o ensino; mais o pensar do que o fazer, desenvol-
Olhardolíder
vendo uma mentalidade em vez de apenas transmi- CÉSAR
tindo o domínio de técnicas e ferramentas; mais o SOUZA
FUNDADOR
futuro do que o passado, pois não podemos dirigir E PRESIDENTE
empresas olhando pelo espelho retrovisor e precisa- DO GRUPO
mos capacitar pessoas para a realidade 2025-2030, EMPREENDA
além de resolver os problemas imediatos; mais a ca-
pacitação dos gestores para liderar organizações
virtuais e em rede do que para comandar estruturas
ultrapassadas e entrópicas; mais a capacidade de
aprendizagem contínua ao longo da vida de cada um,
do que apenas o ensino saberes pontuais; e mais a
habilidade de cada líder de formar novos líderes do
que apenas treinar seguidores; mais o empresaria-
mento exponencial do que o gerenciamento tradicio-
nal baseado na filosofia do comando e controle.
Além de tudo isso, os programas precisam ser
customizados, oferecendo mais um leque de opções
para que cada um se sirva de acordo com suas neces-
sidades peculiares de desenvolvimento. Em resumo,
a educação corporativa precisa ir muito além da sala
de aula, transcendendo os muros do ensino tradi-
cional e investindo no desenvolvimento, em todos
os níveis do patrimônio humano da empresa, na
capacidade de cada um aprender a aprender.
Uma visita aos jardins do parque arqueológico
onde foi fundada a Academia de Platão, em Atenas,
Grécia, pode, ironicamente, trazer luz para a concep-
ção de programas de Educação Corporativa nesse
volátil, veloz e disruptivo momento em que vivemos.
Esse local hospedou a primeira instituição de ensino
superior do mundo, criada em torno de 385 a.C..
Ali, um conjunto de filósofos liderados por Platão
estava focado na arte de criar condições de aprendi-
zagem sobre os desafios do mundo em que viviam e
sobre eles próprios. Estavam mais empenhados em
aprimorar o autoconhecimento do que em tentar
simplesmente ensinar técnicas pontuais aos seus
discípulos.
Dinheiro 04/10/2023 49
Dinheiroembits POR VICTORIA RIBEIRO
FONTE: Nulinga
ELON MUSK: IMPLANTES CEREBRAIS
A Neuralink, startup de chips cerebrais
do bilionário Elon Musk, anunciou que
vai começar o primeiro teste de seu
implante em seres humanos. A ideia é
permitir que pessoas com paralisia
se comuniquem sem fio com
dispositivos artificiais e até entre si.
Em 2021, a Neuralink publicou o
vídeo de um macaco jogando um
videogame que copiava a dinâmica
do pingue-pongue. No vídeo, com
mais de 6 milhões de visualizações,
um animal chamado Pager manejava
os controles com os olhos. O
problema: logo após o anúncio dos
testes em seres humanos, um grupo
de ética pediu uma investigação
sobre a morte de uma dúzia de
macacos em testes da empresa
norte-americana após a implantação
dos chips. O magnata Elon Musk
50 Dinheiro 04/10/2023
mantêm o modelo híbrido ou totalmente remoto
rebateu a acusação afirmando que os
animais morreram de doenças
terminais durante os procedimentos.
No entanto, o Comitê de Médicos
para a Medicina Responsável, uma
organização sem fins lucrativos,
denunciou perante a Comissão
de Valores Mobiliários dos EUA
e Exchange Commission (SEC)
que os primatas morreram devido
a complicações com os testes. Será
preciso aguardar os novos capítulos.
INFOGRÁFICO: FABIO X | FOTOS: UNSPLASH | DIVULGAÇÃO
A TRANSFORMA
Segundo o relatório People Latam Report,
desenvolvido pela plataforma Nulinga,
86,4% das empresas latino-americanas
adotado no início do período pandêmico.
Enquanto isso, apenas 13,6% das empresas
seguiram trabalhando 100% no escritório.
85%
das empresas
com mais
de 1 mil
funcionários
têm um
sistema de
trabalho
híbrido
29%
das
empresas
envolvidas
no relatório No
estão
usando IA
CUIDADO, SIRI
O ChatGPT, da OpenAI, agora pode
“ver, ouvir e falar” — ou, pelo menos,
compreender palavras faladas, responder
com voz sintética e processar imagens,
anunciou a empresa na segunda-feira (25).
A atualização do chatbot — a maior desde a
introdução do GPT-4 — permite que os
usuários optem por conversas de voz no
aplicativo móvel do ChatGPT e escolham
entre cinco vozes sintéticas diferentes para
o bot responder. Os usuários também
poderão compartilhar imagens e destacar
áreas de foco ou análise. Perguntando, por
exemplo: “Que tipo de flores são essas?”
As mudanças serão implementadas para
usuários pagantes nas próximas duas
semanas, disse a OpenAI. Embora a
funcionalidade de voz seja limitada aos
aplicativos iOS e Android, os recursos de
processamento de imagem estarão
disponíveis em todas as plataformas.
MAÇÃO DO TRABALHO PÓS-PANDEMIA
t, HOME, HÍBRIDO OU PRESENCIAL? TECNOLOGIA FEITA EM CASA
Alternar entre o virtual e o presencial: nova tendência Empresas de tech são maioria entre as que seguiram atuando de forma totalmente virtual
a,
Híbrido Remoto Presencial
s
o Presencial 13,6% Tecnologia 52% 44% 4%
o. Remoto 28,3% Consultoria 65% 35%
s
o. Híbrido 58,1% Educação 47% 33% 20%
Consumo de bens 88% 12%
E-commerce 40 % 24% 36%
as Mas não foi só o formato de atuação que passou por mudanças causadas pelo período pandêmico. O aumento da
QUEM NÃO USA, QUANDO Inteligência Artificial também foi outra transformação. Na América Latina, apesar do aumento, a maior parte das
PRETENDE APLICAR? empresas não adotaram a tecnologia. E pelo que parece, também não estão se programando para isso.

Nunca 0,59% IA NA AMÉRICA LATINA

Em 10 anos 0,59%
Usa 28,3% Não usa 71,7%
Em 5 anos 7,06%
Este ano 12,35%
Nos próximos dois anos 31,18%
Não sabe 48,24%

NOVIDADE NA CORRIDA DE IA
A competição entre as líderes de chatbot
está acirrada. A Amazon, gigante do
comércio eletrônico, anunciou o
investimento de até US$ 4 bilhões na
empresa de inteligência artificial
Anthropic e assumirá uma posição
acionária minoritária na companhia. A
mudança ressalta o impulso agressivo de
IA da Amazon, que busca acompanhar
rivais como Microsoft e Google. A
Anthropic foi fundada há cerca de dois
anos por ex-executivos de pesquisa da
OpenAI e recentemente lançou seu novo
chatbot chamado Claude 2. A Amazon
procura capitalizar o entusiasmo e a
promessa da chamada IA generativa, que
inclui tecnologias como ChatGPT, da
OpenAI, e o chatbot Claude, da Anthropic.

O Youtube acaba de anunciar uma profundeza e a amplitude” da

GUERRA nova estratégia para atrair a geração biblioteca de músicas dos usuários
DOS Z. Ganhando uma aba inteirinha
no app do serviço de streaming
para sempre recomendar algo novo.
O Samples funcionará de forma
VÍDEOS do Google, o Samples nada mais
é que um feed com vídeos curtos
semelhante a do TikTok, dando
ao usuário a possibilidade de
CURTOS que promete reunir músicas com
forte potencial de caírem no gosto
simplesmente deslizar para cima
caso queira “pular” a música.
dos usuários. Segundo o YouTube, Bem-vindos a mais um capítulo
o novo recurso vai explorar “a da guerra dos ‘shorts videos’.

Dinheiro 04/10/2023 51
TECNOLOGIA

GEOTAB
aze, Google Maps, Apple

W
Maps, Osmand, Karta,
TomTom Go Navigation
e Maps.me são alguns dos
mais tradicionais aplica-
tivos de navegação do mercado

CONECTA
global. Servem para pessoas físicas
ou pequenas empresas gerencia-
rem suas frotas em quesitos bási-
cos, como melhores trajetos, de-
tecção de problemas no trânsito e
horários mais adequados de parti-
das e chegadas. Mas estão longe de

LOGÍSTICA
serem a melhor ferramenta para
companhias com muitos veículos
que visam diminuir gastos, poten-
cializar o uso de seus carros e ter
uma visão 360° de sua estrutura
logística. É nessa demanda que
LÍDER GLOBAL ataca a canadense Geotab, líder
global em telemática, com conexão
EM TELEMÁTICA, em sua plataforma de 3,6 milhões
COMPANHIA de veículos comerciais em todo o

CANADENSE PLANO DE
EXPANSÃO
INVESTE NO BRASIL Eduardo Canicoba
PARA GERENCIAR lidera a operação
brasileira da Geotab,
FROTAS DE MANEIRA que foca suas ações
em médios e
INTELIGENTE A grandes clientes

PARTIR DA ANÁLISE
DE 55 BILHÕES DE
DADOS POR DIA
Beto SILVA

52 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO


mundo. Por seu tamanho, sua com-
plexidade logística e com presença
das maiores empresas do planeta,
o Brasil tem sido uma das princi-
pais apostas da Geotab para crescer
e bater a previsão de US$ 666 mi-
lhões em receita neste ano — em
2022 a receita foi de aproximada-
mente US$ 450 milhões. A opera-
ção local começou há dois anos e
já tem grandes clientes como Pep-
sico e JBS. “O Brasil é uma peça
fundamental em negócios de âm-
bito global. Está entre as 10 maio-
res economias do mundo e é a
principal da América Latina”, afir-
mou à DINHEIRO Eduardo Cani-
coba, country manager da Geotab
no Brasil. “Temos muita oportu-
nidade por aqui.” O objetivo é ser
a maior operação da região — hoje
está atrás do México — e estar en-
tre as cinco maiores da companhia
globalmente.
O foco tem sido conquistar
Vendemos valor
com muita
informação agregada
para melhor tomada
de decisão dos
nossos clientes”
EDUARDO CANICOBA,
COUNTRY MANAGER DA GEOTAB
PITADA DE
DADOS
Pepsico é uma das
empresas que
contratam os
serviços da
Geotab no Brasil e
em outros países,
para otimizar sua
estrutura de
distribuição
clientes de médio e grande portes
para uso de seu hadware (produto)
e software (serviços). Instalado nos
automóveis das frotas gerenciadas
pela companhia, o aparelho GO9 é
um pequeno rastreador veicular
responsável por captar todos os
dados e gerar insights. Possui pro-
cessador de 32 bits, memória e um
giroscópio. São coletadas informa-
ções sobre motor, tração, painel de
instrumentos, pneus, câmbio, ve-
locidade, combustível e muitas
outras referências que possibilitam
avaliar a performance do motoris-
ta e do veículo, além de antever
problemas como desgaste de peças.
VALOR Na navegação, são apre-
sentados dados avançados e pre-
cisos sobre localização do veículo,
velocidade, distância e tempo da
viagem e período parado com mo-
tor ligado. Em detecção e notifica-
ção de colisões, são avaliados ace-
leração, frenagem e curvas.
Acidentes são alertados por notificações no sistema.
Por meio de algoritmos patenteados e do acelerôme-
tro do dispositivo GO9, é possível realizar a recons-
trução de uma colisão. São três pacotes disponíveis
de soluções, dependendo da demanda dos clientes.
Os relatórios sobre as frotas podem ser diários, tam-
bém ao gosto do freguês. “Vendemos valor, com mui-
ta informação agregada para melhor tomada de deci-
são dos nossos clientes”, disse Canicoba, que
comanda no País equipe de marketing, vendas, enge-
nharia e um armazém na região de Osasco (SP), onde
ficam os equipamentos fabricados no Canadá e dis-
tribuídos e instalados por parceiros brasileiros. E,
sim, é realmente muita informação. Mais precisamen-
te 55 bilhões de pontos de dados diariamente.
Todo esse “valor”, como define o executivo, foi
escolhido por grandes clientes dos setores de varejo,
alimentos e bebidas do Brasil, que possuem frotas a
combustão ou elétricas, como a da No Carbon, do
Grupo JBS. A solução telemática colaborou para o
monitoramento e crescimento da frota, que já tem
mais de 100 veículos em um ano de operação. O de-
safio inicial da empresa era gerenciar a logística, o
estado das baterias dos veículos, acompanhar a loca-
lização, medir as distâncias percorridas ( já que a
eletrificação e, por consequência, o carregamento, são
incipientes no território nacional) e a gerar dados
para direcionar e embasar a criação de metas de ne-
gócios que garantissem sua operacionalidade.
Ao ganhar corpo nos negócios no País, a Geotab
começa a avançar em seu markeplace. Está em busca
de parceiros locais para oferecer soluções “mais com-
pletas e mais ricas” a seus clientes, de acordo com o
country manager. Sensores de temperatura e câmeras
estão entre os produtos que podem agregar ao negó-
cio a Geotab. Com isso, visa se conectar a parceiros
da mesma maneira que conecta a logística.
Dinheiro 04/10/2023 53
TECNOLOGIA

ACESSIB
PLATAFORMA OPEN SOURCE
GITHUB AMPLIA SOLUÇÕES DE
INCLUSÃO E ATRAI CADA VEZ
MAIS BRASILEIROS

EM
Victoria RIBEIRO

F
oi durante a infância, com jogos no Windows 95, que o
americano Paul Chiou começou a desenvolver seu inte-
resse pela tecnologia. Quando criança, consoles como

SOFTW
Playstation e Nintendo 64 eram proibidos em sua casa,
mas com o computador era diferente. Era utilizado para
os deveres de casa e, às vezes, para jogar alguns games es-
condido de seus pais. Essa é uma parte relevante da história. A
outra, e mais decisiva, é a que Chiou está paralisado do pescoço
para baixo desde que sofreu um acidente
aos 15 anos. Doutorando em ciência da
computação na Viterbi School of Engi-
neering, da University of Southern Cali-
fornia (USC), em Los Angeles, tem pes-
quisa focada em encontrar e corrigir
problemas ligados à inacessibilidade do
teclado em aplicativos da Web e Android.
“Muita atenção tem sido dada a temas
como segurança, mas pouca à acessibili-
dade”, disse Chiou. “Acredito que todo
desenvolvedor de software tem a obriga-
ção de tornar seu produto mais acessível.”
Sua escolha pela Viterbi foi natural,
já que a faculdade vinculada à USC é
pioneira em soluções para a restauração
da visão de cegos, recuperação da me-
mória de quem sofre de Alzheimer e
criação de robôs socialmente assisten-
ciais, que ajudam idosos com derrame
ou crianças com autismo. Além do dou-
torado em andamento, Chiou faz parte
do ecossistema global GitHub, uma das
maiores plataformas mundiais de códigos e projetos open sour- disse Summers. Ele lembra que há mais de 1 bilhão de pessoas
ce. Com mais de 100 milhões de desenvolvedores, o GitHub tem com algum tipo de deficiência no mundo. “E mesmo assim en-
ampliado a discussão em torno da acessibilidade e da inclusão contramos preconceitos e obstáculos que impedem a nossa
no universo dos softwares. participação plena e igualitária em diversas áreas da vida.” Para
Um trabalho feito, especialmente, pelo engenheiro de sof- Summers, sua participação no GitHub, por si só, já pode ser
twares Ed Summers, que adiciona sua vivência como pessoa com considerada como uma das estratégias da plataforma na luta
deficiência visual ao cargo de primeiro Líder de Acessibilidade pela acessibilidade. Isso porque sua presença oferece insights
da plataforma. “A inclusão por meio da tecnologia é parte fun- sobre as necessidades dos usuários com todos os tipos de defi-
damental de uma sociedade mais igualitária e acolhedora”, ciências, não apenas a visual.

54 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: UNSPLASH | DIVULGAÇÃO

BILIDADE
as já existentes e torná-las mais acessíveis. “Tudo de que pre-
cisam são ferramentas que as permitam iniciar essa jornada e
integrar seus conhecimentos valiosos, aprimorando o potencial
da tecnologia para transformar vidas”.

SOLUÇÕES No caso do pro-

M
jeto de Chiou, ele usa
uma combinação de
tecnologias perso-
nalizadas para
permitir que
A inclusão na qualquer usu-
tecnologia é parte ário com defi-

WARES
ciência faça
fundamental de uma tudo em um
sociedade mais computador,
igualitária e desde escrever
a programar e,
acolhedora”
claro, jogar vide-
ED SUMMERS,
ogames. O hardwa-
LÍDER DE ACESSIBILIDADE
DO GITHUB re que ele utiliza para
interagir com o compu-
tador varia dependendo da
situação. Quando está na cama, por
exemplo, ele usa dois dispositivos que,
combinados, se comportam como mouse.
Primeiro, um gadget chamado TrackerPro
que, a partir de uma câmera, rastreia os
movimentos da cabeça para controlar o
ponteiro do mouse. Depois, há uma fer-
ramenta de sensor chamada Breeze, que
detecta mudanças de pressão a partir de
um tubo pelo qual Chiou suga ou assopra
para dar cliques referentes ao botão es-
querdo ou direito do mouse.
Além de usar experiência para criar
uma solução inovadora para resolver a
questão da inacessibilidade do teclado,
Chiou usou a criatividade para aprimo-
rar sua competição no multiplayer Dota
2. Jogadores fisicamente aptos, explica
Segundo dados de 2022, o Brasil é o terceiro país com maior ele, usam o mouse com uma mão para se movimentar e o tecla-
crescimento de usuários no GitHub — fora os Estados Unidos. do com a outra para lançar ‘feitiços’. No seu caso, os ‘feitiços’ são
São mais de 3 milhões de desenvolvedores locais, sendo que lançados a partir de um interruptor acionado com a língua, so-
924 mil ingressaram apenas no ano passado. Em meio a esse lução originalmente usada para que pessoas tirassem fotos
boom, a inclusão de pessoas com deficiência no processo de quando não pudessem usar as mãos. Embora a interface de
desenvolvimento é considerada, por Summers, como um dos entrada de Chiou seja personalizada, ele diz que sua lista de
caminhos para a construção de uma sociedade mais justa. Para desenvolvedores se baseia em um portfólio disponível a qualquer
ele, esses desenvolvedores podem ajudar a construir novas um, incluindo ChatGPT e GitHub Copilot. “Essas novas IAs
tecnologias ou fazer melhorias significativas para transformar definitivamente facilitam as coisas”, afirmou.

Dinheiro 04/10/2023 55
Cobiça
POR CELSO MASSON
JAGUAR E-PACE AGORA COM MOTORIZAÇÃO MAIS ESPORTIVA
Equipado com o mesmo motor Ingenium 2.0
litros presente no esportivo F-Type, o Jaguar
E-Pace 2024 chega ao Brasil com um novo
pacote de design e uma ampla lista de itens de
série, caso do sistema de telemetria InControl™
Telematics da versão R-Dynamic HSE.
Trata-se de uma atualização do sistema de
conectividade nativo que oferece uma gama
de recursos de segurança e assistência ao
motorista, todos exibidos na tela central.
Responsável por produto da montadora
britânica, Gustavo Coura afirmou que o
MARCA REGISTRADA
As peças da parceria entre as
duas grifes podem vir na
tonalidade Tiffany Blue® (à esq.)
ou no acabamento rock cut
(acima)
56 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO
lançamento completa a família Pace no Brasil,
ao lado do elétrico I-Pace e do SUV esportivo
F-Pace. “É um modelo que oferece o equilíbrio
perfeito para aqueles que buscam sofisticação
e modernidade sem abrir mão da
esportividade”, disse. Os bancos têm 16 ajustes
e climatização. As rodas esportivas de 20
polegadas com contraste na cor satin dark grey
completam o visual exterior marcante do
veículo. Disponíveis para compra em todas as
concessionárias Jaguar no País, as versões
têm preços que partem de R$ 466.026.
ACESSÓRIOS
RIMOWA COM ASSINATURA TIFFANY & CO
Criada em 1898, a marca alemã Rimowa combina artesanato
especializado, design funcional e um espírito inovador para
desenvolver muito mais que malas de viagem. Seus produtos
de luxo pertencem a uma categoria que a empresa chama de
ferramentas de viagem. Essa tradição permanece na nova
colaboração com a joalheria Tiffany & Co, que inclui três itens.
Além da tonalidade registrada pela marca (Tiffany Blue®), a
coleção traz peças com acabamento em estilo rock cut. Uma
delas é a case de joias fabricada em alumínio escovado que
se abre a partir do topo para facilitar o acesso. Dentro, cinco
compartimentos para guardar anéis, pulseiras e colares, além
de argolas em couro especialmente e um tabuleiro inferior para
peças preciosas. Os preços partem de R$ 13.650 e chegam a
R$ 29.600. No e-commerce rimowa.com.
 RELÓGIO

MONTBLANC
REINTERPETRA LEGADO
DE NICOLAS RIEUSSEC
Após ter lançados dois novos modelos
Montblanc Star Legacy Nicolas Rieussec
Chronograph em 2022, a Montblanc
retorna com novas interpretações do
modelo. A primeira é uma edição
limitada de 500 peças, em caixa de aço
inoxidável com revestimento DLC preto
e mostrador antracite. A segunda, em
edição ilimitada, vem em aço inoxidável
com mostrador azul profundo, com
ponteiros e contadores revestidos a
ródio. Ambas homenageiam Rieussec
(1781-1866), que foi relojoeiro da coroa
francesa. Os modelos estão à venda
com preços sob consulta no site da grife.
BELEZA
TECNOLOGIA PARA
ENVELHECER BEM
A Esthederm, marca do Grupo Naos focada na
estética da pele, acaba de lançar um sérum anti-
idade com tecnologia patenteada que previne e
corrige sinais de envelhecimento. Desenvolvido pelo
farmacêutico e fundador da Naos, Jean Noël Thorel,
em colaboração com o biólogo Miroslav Radman,
o Age Proteom foi anunciado como o único sérum
que protege o proteoma (conjunto de proteínas) da
pele de forma duradoura. Disponível em farmácias
e e-commerces do Brasil, custa a partir de R$ 399.
MORAR
AG7 COMBINA LUXO E
BEM-ESTAR EM CURITIBA
Em apenas cinco dias de
comercialização, o empreendimento
Pace, da incorporadora AG7,
alcançou R$ 34,2 milhões em vendas.
Para o CEO da empresa, Alfredo Gulin
Neto, o sucesso se deve à
combinação de alto padrão e bem-
estar do projeto. “O nosso cliente
tem acesso às experiências mais
incríveis em suas viagens”, disse.
“Queremos que, ao retornar para
casa, ele continue com as melhores
terapias em um spa exclusivo.”
Segundo ele, serão 13 tipos de
tratamentos e uma academia com
os melhores equipamentos. Com 44
andares e diversas tipologias, o
prédio terá varandas cobertas de
verde que formarão uma floresta
urbana vertical. As maiores unidades
terão área total de 673 m2.
Informações: www.ag7.co/pace.

AVENTURA

SAFÁRI NO PARQUE YELLOWSTONE

Mais antigo e provavelmente mais famoso parque nacional dos Estados
Unidos, o Yellowstone ficou conhecido por seus gêiseres — fontes que lançam
jatos de água quente e vapor a intervalos regulares. Mas a área é também
um excelente local para a observação de animais selvagens. Para quem se
hospeda no Four Seasons Resort Jackson Hole, aos pés de uma charmosa
estação de esqui, as portas do parque estão abertas para um luxuoso safári.
Ele tem início em um voo privativo do resort até Livingstone, no extremo
norte da reserva natural. A partir desse ponto, um naturalista especializado
na fauna local conduz os visitantes para capturar toda a vida selvagem nativa.
A experiência inclui a chance de avistar o lobo-cinza, bisões e ursos em seu
hábitat. Uma parte do custo da aventura é doada para o projeto de proteção
do lobo de Yellowstone e para o Fundo de Defesa Ambiental dos EUA.

Dinheiro 27/09/2023 57
ESTILO

LUXO E MILHÕES SOBRE A Á G

mercado de embarcação recreativa, que abrange lancha, veleiro, iate e jet-

SÃO PAULO BOAT SHOW

O
-ski, terá um forte crescimento no Brasil até 2025. A produção deverá
REÚNE ELITE DO SETOR chegar a 8,6 mil unidades, quase o dobro de 2019, segundo projeções da
NÁUTICO COM EXPECTATIVA Associação Brasileira de Construtores de Barcos e seus Implementos
DE GERAR R$ 500 MILHÕES (Acobar) e da TCP Partners, boutique de investimentos e gestão. Um seg-
mento que navega suave em meio a turbulências da economia e que a cada ano
EM NEGÓCIOS. MERCADO movimenta mais dinheiro: R$ 2,5 bilhões no ano passado, montante 25% maior
BRASILEIRO MOVIMENTOU do que em 2021. E o prestígio da categoria ficou evidente no São Paulo Boat Show,
R$ 2,5 BILHÕES EM 2022 que reuniu 150 expositores entre quinta-feira (21) e terca-feira (26). “Estamos
muito felizes com o resultado de público e em vendas do Boat Show, em São
Angelo VEROTTI Paulo, Rio de Janeiro e Itajaí (SC), sendo que o volume de negócios pode ser

58 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO

Á GUA
considerado até três vezes maior se in-
cluirmos todas as negociações que foram
iniciadas durante os eventos e fechadas
posteriormente”, afirmou Ernani Pacior-
nik, presidente do grupo Náutica e ideali-
zador do evento.
São Paulo Boat Show é uma das três
principais feiras da modalidade no Brasil,
ao lado da Rio Boat Show e da Marina Ita-
jaí Boat Show, todas já realizados este ano.
O trio representa 70% das vendas de em-
barcações novas no País. A estimativa é
que a edição paulista movimente R$ 500
milhões em negócios, 30% a mais do que
na edição 2022. O investimento de alguns
estaleiros para participar da feira chegou
a R$ 1,5 milhão, o que envolveu, por exem-
plo, o transporte, montagem e desmonta-
gem das embarcações. E pode-se dizer que
as 150 marcas presentes souberam tirar
proveito do momento ascendente do mer-
cado no País e exibiram aos aproximada-
mente 40 mil visitantes 150 modelos, 50
deles lançamentos, que chamaram atenção
pelo luxo, conforto e, evidentemente, ta-
manho. Das pequenas embarcações aos
gigantes dos mares, como foi o caso do
IM70, da Intermarine, considerado o maior
GIGANTE estaleiro de luxo da América Latina.
DOS MARES O modelo foi uma das atrações no pa-
IM70, da vilhão da São Paulo Expo. Apresentou
Intermarine, inovações para a categoria, como a Daybed,
foi a maior
embarcação uma chaise que marca uma evolução do
em exposição cockpit e possibilita curtir a praça de popa
no evento de frente para o mar. O salão, todo envi-
draçado e sem degrau, se integra totalmen-
te à parte traseira do barco, aumentando
a percepção de grandeza da embarcação.
Além disso, o modelo tem quatro cabines,
o maior pé direito da categoria, com 2,30m,
lavabo, fly com murada corpo em vidro e
área gourmet. “A embarcação IM 70 é um
barco imponente e apresenta uma série
de inovações que faltavam na categoria de
70 pés. Pelo quinto ano consecutivo, esta-
mos trazendo um lançamento, o que evi-
dencia nossa vocação para inovar”, disse
Rafael Paião, diretor de marketing da In-
termarine. O estaleiro trouxe ainda seu
mais recente sucesso, a 640HDF, integran-
te da linha HDF (sigla para High Demand
Features, em português, “características
de alta exigência”).
AZIMUT A bandeira italiana Azimut trou-
xe de Santa Catarina, onde estão os prin-
cipais estaleiros do País, dois modelos do
extenso portfólio. Um deles foi o Atlantis
51, embarcação com estilo esportivo, mo-
torização de popa e hard top (espécie de
teto solar) com acionamento elétrico. Além
do alto desempenho, o modelo esbanja
conforto, design e alto padrão nas cabines
e nos demais ambientes internos e exter- ESTILO E
nos. O preço faz jus à categoria: R$ 8,3 HISTÓRIA
Com quase 200
milhões. O destaque da marca, no entanto,
anos de vida,
foi o Azimut 62, um dos iates de maior a Riva ganhou
sucesso entre os brasileiros. Avaliado em destaque nos
R$ 15,9 milhões, o barco foi considerado filmes da franquia
James Bond. Linha
dos mais luxuosos do evento. Tem o inte-
pertence ao
rior assinado pelo designer italiano Achil- estaleiro italiano
le Salvagni. Destaque também para as Ferretti Yachts
enormes janelas panorâmicas que deixam
passar iluminação natural para o salão.
Dinheiro 04/10/2023 59
ESTILO

O INCREMENTO
DO MERCADO
BRASILEIRO FOI
CONSTANTE NOS
ÚLTIMOS DEZ
ANOS, COM ALTA
PRINCIPALMENTE
NA PANDEMIA

FRANCESCO CAPUTO
CEO DA AZIMUT
YACHTS BRASIL

O Azimut 62 pertence à linha Flybridge Collection. É um iate

de passeio para até seis pessoas dormirem a bordo, com espaço
para mais dois tripulantes. São duas suítes, um camarote de
hóspedes com duas camas de solteiro e três banheiros, todos com
acabamento requintado. O modelo é produzido no Brasil e ex-
portado para todo o mundo. “Fabricamos no total 42 barcos
[todos os modelos] e a previsão para o próximo ano é de 46”,
disse Francesco Caputo, CEO da Azimut Yachts Brasil. Na visão
do executivo, a presença no São Paulo Boat Show representa uma
oportunidade de branding institucional para estabelecer conta-
to e apresentar os produtos. As vendas, no entanto, ocorrem “após
muitas conversas”, disse. “O crescimento no Brasil nos últimos
dez anos foi constante, mas nos últimos três anos, principalmen-
te, houve uma aceleração importante.” O motivo? Uma mistura
de fatores, como a pandemia, que impulsionou o consumo de
bens de luxo, os investimentos realizados e os produtos lançados.
FERRETTI Quem também aproveitou a feira mais tradicional
do mercado brasileiro para anunciar novidades foi o Grupo
Okean, fabricante exclusivo no País das embarcações da Ferret-
ti Yachts, uma das principais marcas do mundo. A empresa
passou a representar as embarcações das linhas Riva e Pershing,
também da Ferretti Group, no Brasil, por meio da sua revende-
dora Yachtmax. Ao todo, serão nove modelos, sendo cinco da
quase bicentenária Riva e quatro da esportiva de alto luxo Pershing,
com tamanhos que variam de 38 pés até megaiates de 116 pés. Os
valores das embarcações partem de R$ 12 milhões (Rivamare 38)
e atingem até R$ 25 milhões (Pershing 6x) ou mais, dependendo
das configurações.
“A Riva é uma marca de 180 anos de história que tem os seus
modelos conhecidos pelos filmes de James Bond. É o estado da
arte num barco”, afirmou Manuel Macieira Pires, head comercial
do Grupo Okean. “Já a Pershing é a Ferrari dos mares. Um barco
de alta velocidade que quando você vê passar já consegue distin-
gui-lo pela forma como navega, pela forma A FERRARI
como levanta a água no ar.” Desde 2020, o DOS MARES
Grupo Okean detém a licença de fabricação Os barcos da linha
Pershing, da
das embarcações de luxo da Ferretti no
Ferretti Yachts,
País e é o único fora da Itália. No São Pau- se destacam pela
lo Boat Show, fez o lançamento do primei- alta velocidade
ro barco produzido no Brasil: o FY670. O
modelo é ideal para cruzeiros, acomoda
até 18 pessoas durante o dia e tem espaço
para até sete pessoas no pernoite. O salão
principal impressiona pela área livre de
circulação, com ampla vista para o mar. A
popa está totalmente equipada para refei-
ções ao ar livre e possui uma plataforma
submergível. O flybridge (espaço situado
no alto das embarcações) possui um se-
gundo cockpit, sofá em formato de U, mesa,
balcão e um solário na parte frontal. O
preço inicial é de R$ 22 milhões. Realida-
de para poucos privilegiados, mas, com
certeza, um sonho para muitos apaixona-
dos por barcos.

60 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: DIVULGAÇÃO

ENTUSIASTAS
OU SEGUIDORES
DE TENDÊNCIAS?
A plataforma global Farfetch analisou o
comportamento do consumidor brasileiro de
luxo e encontrou dois perfis: os que buscam
validação por meio da moda e os que aspiram
status. Saiba o que eles esperam das marcas ENTRE AS MAIS DESEJADAS
Modelo em campanha da Prada, que
divide com Gucci e Dolce & Gabbana a
Celso MASSON liderança na preferência do consumidor

Q
uem faz do consumo de luxo um estilo de vida prefere as marcas de luxo têm respondido a esse
comprar lançamentos de marcas estabelecidas. Já os “Os consumidores desejo, destacando preocupações sociais
consumidores que estão se iniciando nesse mundo locais estão cada e ambientais em suas estratégias.
tendem a ser guiados pelo consumo de itens fashion vez mais atentos O estudo reforça algo que já havia sido
reconhecíveis, que se encaixam em sua aspiração por status. às tendências mapeado no relatório True-Luxury Global
Essas são duas das conclusões de um estudo realizado pela pla- globais e à Consumer Insights, publicado em julho
taforma global Farfetch. Segundo a análise de dados das compras deste ano pela BCG x Altagamma. Os con-
efetuadas no marketplace, o primeiro grupo de consumidores é
sustentabilidade, sumidores anseiam por orientação huma-
formado pelos “entusiastas do luxo”, que buscam validação por
enquanto na mais sólida, segurança e cuidado por
meio da moda. O segundo, pelos “seguidores de tendências”. também mantêm parte das marcas, seja na experiência de
Algumas grifes, porém, se destacam como objetos de desejo de um apreço pelo compra on-line ou presencial.
ambos: Dolce & Gabbana, Gucci e Prada. luxo tradicional.
Segundo o vice-presidente Latam da Farfetch, Renato Guer- Essa combinação SOLUÇÕES Fundada em 2007 pelo em-
ra, em relação ao que determina a escolha de uma marca está a torna o Brasil presário português José Neves, que atu-
preocupação com a sustentabilidade, impulsionada principal- empolgante para ava no mercado de calçados, a Farfetch
mente pelas gerações X, millennials e Z, que buscam mais infor- começou como um marketplace para
mações sobre a origem e a ética dos produtos. No ano passado,
marcas globais” boutiques de luxo. Após o IPO da empre-
RENATO GUERRA
27% dos clientes do marketplace compraram pelo menos um VP LATAM DA sa na Bolsa de Nova York, em 2018, a par-
produto considerado consciente — um aumento significativo FARFETCH ticipação de Neves no negócio foi avaliada
em relação aos 16% registrados em 2021. “Os consumidores em US$ 1,4 bilhão. Hoje, as unidades de
locais estão cada vez mais atentos às tendências globais e à sus- negócios incluem as marcas Browns e
tentabilidade, enquanto também mantêm um apreço pelo luxo Stadium Goods, a plataforma para o de-
tradicional. Essa combinação torna o Brasil um mercado em- senvolvimento de marcas de moda e o New
polgante para as marcas de luxo globais”, afirmou Guerra. Outro Guards Group e a iniciativa Luxury New
dado obtido no terceiro relatório anual de tendências de luxo Retail, que atende clientes corporativos
consciente da Farfetch mostrou que a taxa de conversão (compra) com recursos de e-commerce e tecnologia
é 10% maior para itens com atributos sustentáveis. Para Guerra, e inovações in-store.

FOTOS: DIVULGAÇÃO Dinheiro 04/10/2023 61

Dinheiroemação POR PAULA CRISTINA

PRECATÓRIOS

GOVERNO VAI AO STF PARA

PAGAR R$ 95 BILHÕES
Depois de cogitar usar os precatórios
como moeda de troca em outorgas e
concessões de infraestrutura, o governo
Lula decidiu mudar a estratégia. Agora
o plano é pedir ao Supremo Tribunal
Federal (STF) que classifique parte
desse volume como despesa financeira,
o que retira uma parcela do montante Tribunal julgue que há urgência para, manutenção da máquina pública. A
dos limites de despesa e da meta de assim, quitar o estoque atual de Fazenda espera que o Supremo permita
resultado primário da União. Uma precatórios não pagos por meio da a retirada desse montante da meta de
decisão favorável permitiria à União abertura de crédito extraordinário em resultado primário em 2024, quando a
quitar imediatamente R$ 95 bilhões de 2024, o que retiraria cerca de R$ 95 meta é zerar o déficit das contas
estoque. A decisão pelo pedido foi bilhões do limite de despesa imposto públicas. A mudança nas regras de
tomada na segunda-feira (25) e pelo novo arcabouço fiscal. Segundo a pagamento dos precatórios aconteceu
encaminhada à Corte por meio da ministra do Planejamento, Simone ainda no governo Bolsonaro, por meio
Advocacia-Geral da União (AGU), que Tebet, o objetivo é apertar os cintos de uma PEC que limitou o teto de
acatou os argumentos do Ministério da agora para evitar que a dívida bata em pagamentos anuais e arrolava a dívida
Fazenda. A pasta também solicita que o R$ 270 bilhões em 2027 e inviabilize a por mais tempo.

INDICADORES ECONÔMICOS
PIB CRESCIMENTO (FONTE: BANCO CENTRAL) 2'° TRI/23 1'° TRI/23 4'° TRI/22 3° TRI/22 2022 JUL/23 A JUN/23 A MAI/23 A ABR/23 A MAR/23 A
CONTAS PÚBLICAS (% PIB)* (A) AGO/22 JUL/22 JUN/22 MAI/22 ABR/22
PIB (DESSAZ.) 0,9% 1,8% 0,1% 0,4% 2,9%
PIB EM US$ BILHÕES * 2.002,4 1.969,7 1.919,9 1.837,3 1.919,9 RESULTADO NOMINAL 6,96% 6,42% 6,39% 5,90% 6,09%
RESULTADO PRIMÁRIO 0,78% 0,24% -0,38% -0,55% -0,74%
ATIVIDADE ** JUL/23 JUN/23 MAI/23 ABR/23 NO ANO
-1,1% 0,2% 1,9% -2,7% -0,4% JUL/23 JUN/23 MAI/23 2022 2021
PRODUÇÃO INDUSTRIAL (IBGE)
DÍVIDA BRUTA DO GOVERNO GERAL 74,09% 73,56% 73,62% 72,87% 78,29%
VOLUME DE VENDAS NO VAREJO RESTRITO (IBGE) 2,4% 1,4% -1,1% 0,5% 1,5%
DÍVIDA BRUTA INTERNA 65,55% 64,78% 64,74% 63,74% 67,41%
TAXA DE DESEMPREGO -
PNAD CONTÍNUA (IBGE) 7,9% 8,0% 8,3% 8,5% - DÍVIDA BRUTA EXTERNA 8,54% 8,78% 8,88% 9,13% 10,88%

UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA CONTAS EXTERNAS (US$ MILHÕES) AGO/23 JUL/23 JUN/23 MAI/23 NO ANO
78,2% 78,5% 78,8% 78,8% -
(CNI) - DESSAZ. INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO 4.270 4.244 1.879 5.434 37.879
MÉDIA EXPORTAÇÕES 31.211 28.920 29.656 32.657 225.414
AGO/23 JUL/23 JUN/23 MAI/23 EM 2023
INADIMPLÊNCIA *** IMPORTAÇÕES 21.444 20.030 19.510 21.695 162.091
PESSOA FÍSICA ATÉ 90 DIAS 4,2% 4,3% 4,3% 4,6% 4,4% SALDO COMERCIAL 9.767 8.890 10.146 10.963 63.322
PESSOA F. ACIMA DE 90 DIAS 6,1% 6,2% 6,3% 6,3% 6,2% SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES -778 -4.032 -1.336 199 -19.459
PESSOA JURÍDICA ATÉ 90 DIAS 2,1% 2,2% 2,2% 2,3% 2,3% RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS 344.177 345.476 343.620 343.489 344.177
PESSOA J. ACIMA DE 90 DIAS 3,3% 3,2% 3,0% 2,9% 2,7% DÍVIDA EXTERNA TOTAL 328.983 329.356 332.073 328.432 328.983

* Acumulado nos últimos 12 meses; ** Em relação ao mesmo período do ano anterior, exceto utilização de capacidade instalada e taxa de desemprego; *** Em proporção do volume de crédito concedido. - Recursos Livres (a) Superávit = (-) e Déficit = (+), conforme notas econômicas do BACEN

DESEMPENHO MELHOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES PIOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES

Seguros e Previdência 4,46 115,30 Agronegócio -0,57 -2,03
DAS EMPRESAS Saneamento 2,83 32,75 Serviço Financeiro -8,15 -6,34
POR SETOR Celulose 9,36 31,68 Serviço de Locação -8,31 -7,87
DE ATIVIDADE Industrial -1,40 18,31 Químico -1,29 -17,22
Transporte -0,74 14,49 Alimentos -2,85 -27,79
Fonte: Austin Rating de 25/set/23

62 Dinheiro 04/10/2023 FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO

PRINCIPAIS ÍNDICES Projeção crescimento do PIB
JUROS FUTUROS 26/09/2023 Países Emergentes (FMI)
INFLAÇÃO AGO/23 JUL/23 JUN/23 NO ANO 12 MESES
IPC - FIPE -0,20% -0,14% -0,03% 1,71% 3,33% % ao ano No ano (%)
IGP-M (FGV) -0,14% -0,72% -1,93% -5,28% -7,20% 12,65 50
IGP-DI (FGV) 0,05% -0,40% -1,45% -5,30% -6,91%
IPCA (IBGE) 0,23% 0,12% -0,08% 3,23% 4,61%
IPCA - NÚCLEO MM SUAVIZADO 0,33% 0,22% 0,11% 3,02% 4,80% 12,44
JUROS/APLICAÇÃO AGO/23 JUL/23 JUN/23 NO ANO 12 MESES
48
CDI 1,14% 1,07% 1,07% 8,86% 13,49% 12,10
TLP 0,43% 0,45% 0,46% 3,83% 5,73%
POUPANÇA 0,72% 0,66% 0,68% 5,52% 8,39%
TJLP 0,57% 0,57% 0,59% 4,77% 7,21% 11,78 45
CDB/RDB - TAXA PREFIXADA MÉDIA 1,05% 0,99% 0,99% 6,94% 12,39% Out/23 Dez/23 Fev/24 Abr/24 Jul21 Jul22 Jul23
CÂMBIO/PETRÓLEO 26/09/2023 NO MÊS NO ANO 12 MESES
RISCO-PAÍS BACEN / Crédito Ampliado ao
REAIS/US$ (COMERCIAL VENDA) 4,972 -1,00% 4,95% 7,71% Setor Não Financeiro – % do PIB
US$/EURO 1,058 -2,44% -0,93% 9,90%
148,92 -2,16% -11,46% -2,98% EMBI + BR (fim de mês) No ano (%)
IENE/US$
PETRÓLEO À VISTA BRENT (US$/BARRIL) 93,96 8,17% 9,37% 13,40% 300.0 200
MERCADOS FUTUROS 17/07/2023 OUT/23 DEZ/23 FEV/24 ABR/24
280.0
CÂMBIO (R$/US$) 4,988 5,027 5,062 5,088
OUT/23 DEZ/23 FEV/24 ABR/24 150
DI DE 1 DIA (% A.A.) 12,65 12,44 12,10 11,78 245.0
OUT/23 DEZ/23 FEV/24 ABR/24
IBOVESPA (PONTOS) 114.952 116.830 118.781 120.774 200.0
DEZ/23 MAR/24 MAI/24 SET/24 100
ago/22
set/22
out/22
nov/22
dez/22
jan/23
fev/23
mar/23
abr/23
mai/23
jun/23
jul/23
ago/23
CAFÉ ARÁBICA (60KG - ICF) 184,50 184,90 182,35 180,15
Ago/21 Ago/22 Ago/23

RENTABILIDADE DOS TÍTULOS PÚBLICOS (%) *26/set/23 (inclui JS = Juros Semestrais)

TÍTULO VENC. INDEXADOR Últim. 30 dias ano * 12 MESES

Tesouro Selic 2024 01/09/2024 Selic 1,07% 9,88% 13,57%
Tesouro Prefixado (JS) 2025 01/01/2025 Prefixado 0,45% 11,49% 13,04%
Tesouro IPCA+ (JS) 2024 15/08/2024 IPCA 0,94% 9,09% 12,05%
Tesouro IGPM+ (JS) 2031 01/01/2031 IGP-M -1,41% 0,44% -1,24%
Tesouro Prefixado 2024 01/07/2024 Prefixado 0,84% 10,93% 12,93%

MAIORES ALTAS DA SEMANA* TERMÔMETRO DO MERCADO

Ação Setor % O IBOVESPA EM UM ANO * PONTOS

DESTAQUE DA SEMANA Dotz aumenta número de parceiros e tem DOTZ S.A. Tecnologia 14,43 Ibovespa 115.924
desempenho positivo de 14,43% na B3 na semana de 18 a 25 setembro OCEANPACTServiços Especializados 6,98 Mínima 95.267
INEPAR Industrial 6,87 Máxima 122.560
ZAMP S.A. Varejo 6,29
BOLSAS NO MUNDO Fonte: B3* Até 25/07/2023

26/09/2023 COTAÇÃO (MOEDA LOCAL) VARIAÇÃO (US$) FRAS-LE Industrial 6,23

Mercado Índice Pontos % mês % ano % 12 m. % mês % ano
Brasil Ibovespa 114.193 -1,34% 4,06% 4,65% -2,33% 9,21%
MAIORES BAIXAS DA SEMANA* IBOVESPA em milhares de pontos
Brasil IBrX 100 48.094 -1,24% 3,32% 3,71% -2,23% 8,44%
EUA Dow Jones 33.619 -3,18% 1,42% 14,89% -3,18% 1,42%
Ação Setor % 135.0
EUA Nasdaq 13.064 -6,92% 24,81% 20,93% -6,92% 24,81% CLEARSALEServiços Especializados -15,01
Japão Nikkei 225 32.315 -0,93% 23,84% 22,26% -3,07% 9,65% MAGAZINE LUIZA Varejo -16,67 115.0
China Shanghai 3.102 -0,56% 0,42% 1,67% -1,29% -5,24% PÃO DE AÇÚCAR Varejo -18,85
Alemanha DAX 30 15.256 -4,33% 9,57% 24,76% -6,67% 8,55% ÂNIMA EDUCAÇÃO Educação -21,11
França CAC 40 7.074 -3,32% 9,27% 22,61% -5,68% 8,26% 95.0
PAGUE MENOS Varejo -21,95
Reino Unido FTSE 100 7.626 2,51% 2,33% 8,61% -1,29% 3,74% Set 22 Mar 22 Set 23*
Fonte: Austin Rating Fonte: Austin Rating *17/07 a 11/07 *Até 25/09/2023

Dinheiro 04/10/2023 63
Dinheiroemfoco POR PAULA CRISTINA

“O FATO DE A ECONOMIA
NÃO TER DESACELERADO,
COM A ALTA DE JUROS,
FAZ COM QUE OS BANCOS
+ 2,2 pontos foi o aumento da
Confiança da Construção,
que atingiu, segundo a FGV,
CENTRAIS TENHAM RECEIO
98,1 pontos em agosto. O
DE REDUZIR AS TAXAS. resultado foi o melhor desde
ENTÃO, TALVEZ TENHAMOS outubro do ano passado, e
QUE VIVER COM JUROS reflete a tendência de queda
ALTOS POR MAIS TEMPO” da Selic, que derruba o preço
do investimento imobiliário.
PAUL KRUGMAN, vencedor do Nobel de Economia
(2008), na Conferência Hemisférica da Fides, no Rio

18 trilhões É o valor estimado pelo

US$ - 4,7 BI
Boston Consulting Group (BCG) de
investimento necessário da indústria de
energia para bater as metas de redução
de carbono dos países signatários do
Acordo de Paris. Até 2030 a participação
de fontes de energias renováveis e baixo
carbono devem subir de 12% para 50%
Segundo dados do Banco
para limitar o aquecimento global.
Central (BC), de 1 até 22 de
setembro o fluxo cambial

US$
300 milhões Foi o valor firmado pela Oi, brasileiro ficou negativo em
que está na segunda recuperação judicial US$ 4,7 bilhões. Resultado de
em um acordo de financiamento DIP aportes de US$ 43,4 bilhões
(debtor-in-possession ou devedor em e retiradas de US$ 37,1
posse, em português) com o BTG Pactual. bilhões. No acumulado
A companhia afirma que, entre os termos, do ano o fluxo está positivo
há o prazo de vencimento para 15 em US$ 17,5 bilhões.
dezembro de 2024, além de custos
(incluindo juros e taxas) de 13% ao ano.

O Brasil nunca teve tantos investidores em criptomoedas como agora. De acordo com dados divulgados
pela Receita Federal na segunda-feira (25), 4,1 milhões de pessoas físicas relataram operações com ativos

CRIPTOS
digitais em julho deste ano. O número é 22 vezes maior que o visto em agosto de 2019, quando começou
o mapeamento dos investidores no Brasil. Nos 31 dias de julho, 92.105 empresas também relataram
movimentações com ativos digitais (39 vezes mais que em 2019) e R$ 18 bilhões foram relatados nas
declarações de imposto de renda. O criptoativo mais usado é a stablecoin tether (USDT).
Em julho, pessoas físicas e jurídicas relataram R$ 15,3 bilhões em operações só com ativo digital.

64 Dinheiro 04/10/2023 FOTO: ZANONE FRAISSAT/FOLHAPRESS

MAIS
CRÉDITO,
MENOS
TRIBUTOS
Governo desenha o passo
seguinte do Desenrola para
manter ritmo de consumo
Paula CRISTINA
om o bom desempenho do programa
C Desenrola, que já movimentou mais
de R$ 13 bilhões e deve atingir 70
milhões de brasileiros até dezembro,
o governo Lula quer ampliar atenção para
o crédito, com o objetivo de aproveitar o
arrefecimento da inflação e estimular o
consumo popular parcelado. A ideia do
governo é manter um ritmo de lançamento
de iniciativas de estímulos. Na segunda (25)
a nova fase do programa de renegociação
entrou em vigor. Ela envolve o leilão de
dívidas de até R$ 5 mil em que os bancos e
instituições financeiras oferecem descon-
tos para o pagamento. O governo também
anunciou R$ 8 bilhões do Tesouro para o
Fundo Garantidor de Operações (FGO),
que vai cobrir eventuais inadimplências.
Depois de conseguir desafogar ao menos
parte das dívidas, o plano é lançar um mi-
cropacote de reformas, a maior parte delas
sendo regulamentadas sem o Congresso,
VÁRIAS
FRENTES
Governo quer estimular
compras reduzindo
a dependência
dos financiamentos
bancários, facilitar a
emissão de títulos
privados e o acesso a
recursos previdenciários
para melhorar o mercado como um todo. Serão quatro áreas de
atuação: crédito; seguro e previdência; tributação; e mercado de
capitais. Os caminhos estão sendo desenhados em uma ação en-
volvendo os ministérios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indús-
tria, Comércio e Serviços e do Planejamento, além da Previdência
Social e da consultoria do Banco Central.
CONSIGNADO Entre as medidas apuradas pela reportagem
estão a ampliação do acesso de trabalhadores do setor privado ao
empréstimo consignado com juros mais baixos; a criação de um
sistema de cobrança extrajudicial; modernização de instrumen-
tos de crédito com assinaturas eletrônicas; e digitalização de
processos. Para reforçar a renda e abrir espaço para utilização de
crédito, o governo também quer criar um mercado de anuidades,
um instrumento que garanta provento vitalício livre de flutuações
8
econômicas aos trabalhadores que poupam para aposentadoria
e com isso abrir espaço para a regulamentação do acesso ao cré-
R$ dito com recursos previdenciários. No mercado de capitais, o
objetivo é facilitar a emissão de títulos privados, reduzindo a de-
pendência de financiamentos bancários, e criar instrumentos para
bilhões
É O VALOR QUE
fortalecer ativos ligados ao ESG. Também estão em estudo um
cadastro de investidores estrangeiros, reduzir a tributação de
Exchange Traded Funds (ETFs) e facilitar operações de hedge.
Para Gustavo Ramos, professor de macroeconomia da Unicamp
SERÁ USADO e que estava na equipe econômica durante o governo de transição,
PELO TESOURO essas medidas já eram debatidas desde novembro passado. “É uma
PARA DAR solução inteligente atacar várias frentes em um só pacote, porque
GARANTIA À
assim há uma sensação de benefício generalizado e justiça”, disse.
NEGOCIAÇÃO
DE DÍVIDAS DE O governo ainda não tem prazo para assinar o pacote, mas sabe
ATÉ R$ 5 MIL que precisa arrumar o texto logo para manter a agenda positiva e
o ritmo do consumo interno acesos.
Dinheiro 04/10/2023 65
ARTIGO
POR EDSON ROSSI*

PARA INOVAR, LULA PRECISARÁ

OLHAR PARA O PASSADO
Presidente tem de admitir que o modus operandi atual desperdiçará
tempo e dinheiro — conta que será paga pelo mais pobre

N
ão há qualquer dúvida de que um presidente que fale de to de Paris, em que um Cabernet Sauvignon de Nappa Valley bate
vida e preza pelas instituições será muito mais que o seu concorrentes franceses. A historinha virou filme. Um orgulho
oposto. Vale para Lula III. E a qualquer brasileiro. Vale a americano. O que Gravner encontra, porém, o assusta. Resumida-
Biden, Macron e Xi Jinping. Ser muito mais que seu antecessor, o mente, vinhos sem alma. Corta para Lula III. O que o senhor pre-
lúmpen-ex-presidente JB, no entanto, não exime nosso atual so- sidente brasileiro enxerga agora, de País e de nossa estrutura polí-
berano de se comportar. Em todas as frentes. Não pode falar que tica, não é muito diferente do que Gravner enxergou. Uma
usar muletas ou andador torna alguém feio, como disse em seu completa e inescapável decepção.
programa semanal. Não pode demitir ministra para colocar o Fu- Gravner decide então que não buscaria inovação olhando o tal
fuca. Não pode ficar chateadinho por ser cobrado pela presença de de futuro, mas sim o passado profundo. E passa a produzir vinhos
uma ministra negra no STF. Não pode chacoalhar a cadeira do com técnicas de 8 mil anos, em ânforas, como na Geórgia, antiga
presidente do Banco Central (BC) e questionar uma autonomia república soviética que se mantinhas presa no tempo. De lá sai seu
que tem feito nossa inflação não dispa- manual de futuro. Vinhos a partir de
rar. Não pode achar que mandará em uma cultura biodinâmica, lastreada nas
Arthur Lira porque o Congresso é um fases da Lua, usando ânforas gigantes
ser fisiológico, lugar em que o PT atua
ESTE NOVO CONGRESSO, enterradas, vinificando uvas brancas
muitas vezes ao lado do PL e longe do MAIS PODEROSO, EXIGIRÁ DE sem retirar a casca, sem correções de
PSOL — a.k.a. anistias e fundões parti- filtragem, respeitando engarrafamentos
dários. Um parlamento polimorfo per- LULA COMPORTAMENTO QUE em fases de sete anos. Gravner faz assim
verso, por assim dizer. nascer o que o mundo passou a chamar
Esse é o cenário. O setup, se usásse-
DEMONSTROU EM SEUS DOIS de Vinho Laranja — ele tenta corrigir,
mos a estrutura dos Três Atos. Tempo PRIMEIROS GOVERNOS, sem sucesso, dizendo que a cor é o âmbar.
+ Espaço + Tema/Personagens. De toda Não importa. O que importa é que ao
forma, é só o cenário. E não a trama em COMO O RESPEITO FISCAL olhar para o passado, Gravner redesenha
si. Esta se baseia numa palavra: econo- o futuro. Inova, porque inovar não é
mia. Crescimento, senhor presidente. necessariamente fazer o que nunca foi
E para destravar este Projeto de Nação talvez o senhor tenha de feito, mas fazer o que foi feito de um jeito de outro jeito — e melhor.
olhar para o passado, e não para um embotado futuro cujo elenco Corta para Lula III. Administrar um novo Congresso, com novos
traz Reforma Tributária sob esquartejamento e Arcabouço Fiscal poderes e dinâmicas mais elaboradas, está a exigir de Lula um
sob boicote, para ficarmos apenas em movimentos recentes. Olhar comportamento amparado nas raízes. E elas se fundamentam sim
para o passado como fez Josko Gravner. em uma economia de respeito fiscal, como a que praticou por oito
Já falei dele aqui. Coisa de uns 20 meses atrás. Necessário re- anos e fez o Brasil crescer e se tornar queridinho global — papel
petir. Gravner é um ícone do mundo do vinho. Nascido em uma hoje da Índia. Isso nos fará ganhar tempo e dinheiro e evitará que
família do alto da Itália, na divisa com a Eslovênia, em que produzir a conta seja paga pelos mais pobres, como sempre acontrece por
vinho é destino e sina. Ele assume o comando da marca da família aqui. Lula tem uma vantagem imensa sobre Gravner. Não precisa
e decide viajar no fim dos anos 1980 para conhecer o que havia de voltar 8 mil anos. Precisa voltar de uma a duas décadas.
mais moderno no mundo dos vinhos. O Éden da Inovação. Segue
para a Califórnia, que naquele momento despontava já havia uma
década no universo dos brancos e tintos, desde o tal do Julgamen- *Edson Rossi é redator-chefe da DINHEIRO.

66 Dinheiro 04/10/2023
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