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ENTREVISTA Rodrigo Kede, gratuita - Clube

DELLANO EM de Revistas
NOVA YORK RUBENS MENIN NA TAÇA
presidente da Microsoft Americas: Com loja em Manhattan, a fabricante
“É preciso quebrar a barreira da de móveis planejados vai disputar
tecnologia como algo complicado” o mercado norte-americano
Como são os vinhos portugueses do
empresário que criou a construtora
MVR, o banco Inter e a CNN Brasil

Como
e onde
cortar o
Enquanto o governo insiste
em propostas para elevar a
arrecadação, o Legislativo,
o Judiciário e o próprio
Executivo ignoram seus papéis

gasto público
nessa conta. Com austeridade
sobre benefícios e privilégios,
poupariam R$ 23,8 bilhões ao
ano — mais do que o necessário
para zerar o déficit fiscal
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O G2O
E O PLANETA Isso significa que seremos palco para

TÊM UMA Mais uma prova de que o Rio vai além

NOVA CAPITAL: que é gente de verdade.

O RIO.
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O Rio vai brilhar mais uma vez.

Vamos sediar o G20, o encontro anual
dos principais líderes mundiais.
SAIBA MAIS

g20.rio
Isso significa que seremos palco para
assuntos importantes, como economia,
política, meio ambiente e muito mais.
Mais uma prova de que o Rio vai além
das praias, do sol e da nossa gente

AL: que é gente de verdade.

O RIO É CULTURA,

. INOVAÇÃO E FUTURO.
É TUDO ISSO E MUITO MAIS.
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Dinheirodaredação 17 de Janeiro de 2024. Edição 1.358
OS DESAFIOS DE 2024
Na quantidade de batalhas que o governo Lula tem que
enfrentar logo no início deste ano a vitória não será nada fá-
cil. Tem de tudo um pouco. No campo econômico, ambiental
e até na gestão propriamente dita de sua estrutura. A começar
pelo árido tema da reoneração que contrariou não apenas os
empresários como o Congresso inteiro. O ministro Fernando
Haddad, que levou a cabo a ideia, tem o aval do Supremo
e promete levar a pendenga até as últimas consequências.
Conta com essa arrecadação extra para cumprir a meta fiscal.
Parlamentares ensaiam resistência e devolução do projeto. O
presidente em pessoa está disposto a revidar, mantendo vetos
sobre emendas e ampliando as brigas no plano do marco tem-
poral e dos agrotóxicos. Grandes desafios estão postos. Dias
atrás, o mandatário deliberou uma resposta mais firme ao
garimpo ilegal, estabelecendo que forças militares irão per-
manecer indefinidamente em terras Yanomamis para coibir
as invasões. Os vetos ao projeto que flexibiliza o uso de agro-
tóxicos no País irritou, por sua vez, os produtores e a enorme
bancada do agronegócio. Com a alcunha de ‘PL do Veneno’
lançada pelos ambientalistas, ele foi aprovado no apagar das
luzes do ano passado e Lula almeja manter o regime anterior
que prevê uma aprovação regulatória tripartite. Não menos
árido é o tema do Marco Temporal, de demarcação das ter-
ras indígenas, que interessa fortemente aos ruralistas. Lula
enfrenta pressões internas e externas a respeito do assunto.
Chegou a vetar o projeto de lei, teve o veto derrubado e agora
precisa conduzir o assunto no plano judicial. O fato é que
não tem sido nada fácil arrumar a casa diante de um paredão
04 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: MATEUS BONOMI I CLAUDIO GATTI I BRUNO SANTOS/FOLHAPRESS I REUTERS/UESLEI MARCELINO I DIVULGAÇÃO
parlamentar claramente opositor e que se move apenas pelos
próprios interesses ou via troca de cargos e emendas. O refor-
ço de caixa da União é peça basilar nesse tabuleiro. Sem ela,
a execução orçamentária será muito difícil e colocará toda a
gestão do mandato Lula a perder. Arrecadação e recuperação
econômica andam juntas e o ministro Haddad sabe que desse
binômio depende o sucesso e a aprovação do demiurgo de
Garanhuns. As concessões federais em busca de aliados vêm
há algum tempo minando os esforços. Os gastos excessivos da
máquina, idem. Lula alega que para crescer são necessários
gastos (que ele chama de investimentos). De uma forma ou
de outra, é dinheiro que sai e compromete o arcabouço fiscal.
É preciso controlar a dívida pública, que subiu a patamares
insustentáveis no governo anterior com a farra de benefícios.
A Reforma Tributária, recém-aprovada, pode ajudar nessa di-
reção, corrigindo o sistema de impostos que era um dos mais
complexos e atrasados do mundo. O ministro Haddad busca
construir um equilíbrio econômico de forma racional e con-
tribuiu para isso a queda dos juros e da inflação. Ele tem anga-
riado importantes vitórias e feito a diferença na credibilidade
da administração pública, como interlocutor preferencial dos
agentes. Lula sabe que depende de Haddad em vários senti-
dos e aposta as suas fichas de 2024 na condução das batalhas
sob a batuta do czar da economia.
Carlos José Marques
Diretor editorial
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Índice
CAPA
De um lado, governo insiste em
propostas para elevar arrecadação.
Do outro, Legislativo, Judiciário e
o próprio Executivo ignoram que,
com austeridade sobre benefícios
e privilégios, poupariam
R$ 23,8 bilhões ao ano — mais do
que o necessário para zerar
o déficit fiscal pág. 26

ENTREVISTA SEMANA
Mundo vai crescer menos em 2024. Brasil vai
Para Rodrigo Kede,
ficar ainda abaixo dessa média
presidente da
Microsoft Americas, pág. 06
o Brasil deveria
abraçar a
inteligência artificial MOEDA FORTE
como vetor de Veloe atinge faturamento de R$ 5,4 bilhões em
crescimento 2023, alta de 20% sobre o ano passado
pág. 12 pág. 08

SUSTENTABILIDADE
NEGÓCIOS Mercado de crédito de reciclagem cresce,
Gustavo mas esbarra em problemas estruturais
Dall'Onder,
presidente do pág. 16
Grupo Unicasa
Móveis investe
US$ 2 milhões na COBIÇA
abertura de loja Novidades para quem esquia no Colorado:
própria em NY Limilight Hotel em Denver e spa no Little Nell
pág. 36 pág. 48

DINHEIRO EM BITS
ESTILO Xiaomi lança veículo elétrico e quer, em até 20
Rubens Menin, anos, ser uma das cinco maiores montadoras
empresário à frente pág. 56
da MRV, da CNN
Brasil e do banco
Inter investe para
produzir no Douro, ARTIGO
em Portugal, vinhos Uma trindade que muda o mundo,
de excelência por Edson Rossi
pág. 52 pág. 66

CAPA Ilustração: Jefferson Barbato

Dinheiro 17/01/2024 05
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Dinheironasemana POR EDSON ROSSI

ECONOMIA GLOBAL
MAIS UMA DÉCADA PERDIDA (E NÃO SÓ PARA O BRASIL)
Segundo o Banco Mundial, a economia do planeta “deverá
acumular um triste recorde até o fim de 2024: a meia década
de crescimento mais lento do PIB em 30 anos”, afirmou a
instituição ao divulgar o relatório Perspectivas Econômicas
Globais, na terça-feira (9). “Sem uma grande correção de
rumo, os anos 2020 serão uma década de oportunidades
desperdiçadas”, afirmou Indermit Gill, economista-chefe e
vice-presidente sênior do Banco Mundial. “O crescimento a
curto prazo permanecerá fraco, deixando muitos países em
desenvolvimento – especialmente os mais pobres – presos
numa armadilha: com níveis paralisantes de dívida e acesso
tênue aos alimentos para quase uma em cada três pessoas.”
A instituição espera crescimento de 2,4% na economia global
para este ano, queda pelo terceiro ano consecutivo. Entre as
economias desenvolvidas, a alta será de 1,2%. Nos países
emergentes e em desenvolvimento, de 3,9%. Nos anos 2010, o
crescimento médio foi de 3,1%. Com exceção da recessão causada
pela pandemia e a crise financeira de 2008, o ano de 2024 será o
pior do milênio. O que é globalmente ruim, na América Latina e no
Caribe será pior: +2,3% em 2024 e +2,5% em 2025. O Brasil ficaria
ainda abaixo em 2024 (+1,5%), atrás das demais economias mais fortes
da região: México (+2,6%), Argentina (+2,7%), Colômbia (+1,8%),
Chile (+1,8%) e Peru (+2,5%). Para a Venezuela não há dados.

LATRINO-AMÉRICA ÁSIA
Crise explode Bolsa de Tóquio
no Equador quebra marca
Na terça-feira (9), o presidente do de 34 anos
Equador, Daniel Noboa, decretou por No encerramento do mer-
meio de um post no X (ex-Twitter) que cado de quarta-feira (10),
o país vive um “conflito armado inter- o índice Nikkei 225 (da
no”, eufemismo para guerra civil entre Bolsa de Tóquio) atingiu
o Estado e organizações criminosas. A 34.441,72 pontos, o primei-
medida permite ações extraordinárias ro fechamento acima de
do Exército e da Polícia Nacional con- 34.400 desde março de
tra 22 dessas facções, todas declaradas 1990. As ações de semicon-
terroristas. O anúncio se deu horas dutores lideraram a alta.
depois de homens armados invadirem violência no país. A crise política (e agora As expectativas de maior
uma emissora de TV durante trans- social) começou no ano passado, com o jul- flexibilização monetária
missão ao vivo em Guayaquil — maior gamento (impeachment) do ex-presidente nos Estados Unidos e no
cidade do país, com 2,8 milhões de Guillermo Lasso. Acusado de corrupção, em Japão levaram a uma onda
habitantes, pouco acima da capital, maio ele lançou mão de um dispositivo legal de ordens de compra. O BC
Quito. O grupo mandou um recado ao chamado Muerte Cruzada em que paralela- japonês deverá continuar
governo, que está à caça de José Adolfo mente se dissolvem o parlamento e o pró- a sua política ultraflexível
Macías Villamar, o Fito, líder da facção prio executivo. Foram convocadas novas para fornecer fundos para
Los Choneros. Fito cumpria pena de eleições. A disputa presidencial teve em a reconstrução depois do
34 anos numa cadeia comum e seria agosto o assassinato de um candidato de terremoto ocorrido na
transferido para uma prisão de segu- centro-direita (Fernando Villavicencio) Península de Noto, que
rança máxima, mas escapou no e levou à vitória do direitista Noboa, deixou mais de 200 mortos
domingo (7), desencadeando a onda de que tomou posse em novembro. no dia 1 de janeiro.

06 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: LIUZSHAN|FREEPIK I STRINGER / AFP

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FUNDADOR: DOMINGO ALZUGARAY
(1932 - 2017)
EDITORA
CATIA ALZUGARAY
CONTRA A REONERAÇÃO PRESIDENTE-EXECUTIVO
O envelhecido Partido Novo CACO ALZUGARAY

Não chega a ser surpresa que o partido (Novo) que nasceu para não mamar
nas tetas do Estado faça hoje justamente o oposto e defenda esse tipo de prá-
xis. Na quarta-feira (10), a sigla entrou no Supremo Tribunal Federal (STF)
com pedido de liminar por Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a
Medida Provisória 1.202 (de 28 de dezembro de 2023) que “revoga os benefí- DIRETOR EDITORIAL
cios fiscais” que tratam da desoneração da folha de pagamentos para 17 seto- CARLOS JOSÉ MARQUES
res da economia. As leis — a primeira é do governo Dilma Rousseff e a segunda
foi feita há três anos, para auxiliar empresas durante a pandemia — se torna- DIRETOR DE NÚCLEO
ram mais uma renúncia fiscal, já que a eficácia na geração de empregos nunca CELSO MASSON
ficou confirmada. Para o Partido Novo, “não havia nenhuma urgência de o
presidente da República normatizar o tema, uma vez que não existia qualquer TEXTO
REDATOR-CHEFE: Edson Rossi
omissão ou inação do Congresso” sobre o assunto. “E a bem da verdade, o que EDITORES: Hugo Cilo, Paula Cristina e Sérgio Vieira
aconteceu foi uma postura ditatorial do presidente da República em querer EDITOR-ASSISTENTE: Beto Silva
modificar a vontade da maioria absoluta dos 584 parlamentares acerca da REPORTAGEM: Angelo Verotti, Jaqueline Mendes e Victoria Ribeiro

matéria.” A decisão está com o ministro do STF Cristiano Zanin. ARTE

”
DIRETOR DE ARTE: Jefferson Barbato
DESIGNERS: Christiane Pinho e Iara Spina
ILUSTRAÇÃO: Fabio X
PROJETO GRÁFICO: Ricardo van Steen (colaborou Bruno Pugens)
DATA AMOÊDO
Acho que nos tornaremos o segundo A farra do ISTOÉ DINHEIRO ON-LINE
EDITOR EXECUTIVO: Airton Seligman
dinheiro público WEB DESIGNER: Alinne Nascimento Souza
ser mais inteligente do planeta Números bem lem-
[sobre IA]. Não creio que vá acontecer brados em postagem
do criador do
APOIO ADMINISTRATIVO

em 2024, mas acho que vai acontecer Partido Novo, João

Gerente: Maria Amélia Scarcello
Assistente: Cláudio Monteiro

durante a minha vida

”
Amoêdo, expulso da MERCADO LEITOR E LOGÍSTICA
legenda no fim de Diretor: Edgardo A. Zabala

MIKKO HYPPÖNEN 54 ANOS 2022 ao declarar

Finlandês considerado umas das maiores autoridades globais em voto em Lula no Central de Atendimento ao Assinante: (11) 3618-4566 de 2a a 6a

cibersegurança, criador da chamada Lei de Hypponen – “toda vez que segundo turno. feira 10h às 16h20, sábado 9h às 15h.
Outras Capitais: 4002-7334
um sistema ou aparelho é descrito como inteligente ele é vulnerável”. Outras Localidades: 0800-888-2111 (exceto ligações de celulares)

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bloquear a entrada da JBS na Bolsa de Valores de
Nova York. Uma carta preliminar assinada por
12 parlamentares foi preparada para o presiden-
te da SEC, Gary Gensler. Segundo os políticos, a
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2367 / 3038-2038 – GOIÂNIA –GO: Paula Centini de Faria – Centini
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PORTO ALEGRE – RS: Roberto Gianoni, Lucas Pontes • RR
Gianoni Comércio & Representações Ltda • Tel./fax: (51) 3388-7712/
99309-1626

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empresa “tem um histórico bem documentado Dinheiro (ISSN 1414-7645) é uma publicação semanal da Três Editorial Ltda.
de envolvimento em desmatamento, violação dos Redação e administração: Rua William Speers, no 1.088, São Paulo-SP,

direitos humanos e apropriação de terras de CEP: 05067-900. Tel.: 11 3618 4200 •

Dinheiro não se responsabiliza por conceitos emitidos nos artigos assinados.
comunidades indígenas”. A companhia brasileira bilhão
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Comercialização e Distribuição: Três Comércio de Publicações Ltda.

é uma gigante global e afirmou que monitora Rua William Speers, 1212 – São Paulo-SP.

diariamente 70 mil fornecedores de carne por FUNDO PARTIDÁRIO Impressão e acabamento: D'ARTHY Editora e Gráfica Ltda.
Rua Osasco, 1086 - Guaturinho, CEP 07750-000 Cajamar - SP
meio de satélite para garantir conformidade
social e ambiental, e que utiliza tecnologia blo-

R$ 700
ckchain para monitorar fornecedores de forne-
cedores. A JBS vê a entrada no mercado acioná-
rio dos EUA como fundamental para acessar um
grupo mais amplo de investidores institucionais. milhões
PROPAGANDA*
Dinheiro 17/01/2024 07
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Moedaforte POR HUGO CILO

ALEXA, É FRAUDE?
Para aumentar a segurança das transações
e melhorar a experiência dos consumidores,
o Banco BMG decidiu implementar um
sistema de biometria de voz para operações
via WhatsApp. Como uma espécie de Alexa
dos bancos, a solução da Minds Digital,
startup pioneira em biometria de voz no
Brasil, diz ter prevenido mais de R$ 60
milhões em fraudes. “Nos últimos quatro
anos, a biometria de voz evoluiu bastante,
tornando o processamento dos dados mais
rápido e trazendo resultados com mais
acuracidade”, afirmou o CEO da Minds
Digital, Marcelo Peixoto. “Além disso,
lançamos novos algoritmos de inteligência
artificial para detecção em tempo real
de ataques por deepfake e replay ataque.”

A MULTIPLICAÇÃO
VELOE TEM PRESSA DE
DOS PEIXES
A recuperação do mercado de proteína em
CRESCIMENTO
Uma das principais empresas de
2023 ajudou a empresa catarinense Komdelli,
adquirida no ano passado pela gigante de meios eletrônicos de pagamento
pescados Frumar, a crescer 25% seu de pedágio do País, a Veloe atingiu
faturamento na comparação com o ano faturamento de R$ 5,4 bilhões no
anterior. As vendas totais superaram ano passado, alta de 20% sobre
R$ 500 milhões, segundo o diretor-geral 2022. Mas o bom resultado não
Éderson Krummenauer. Neste ano, quando vem só dos tags que abrem
vai começar a exportar para EUA, Emirados cancelas. Mais de 65% da receita
Árabes Unidos, China e África do Sul, o da companhia veio da gestão de
faturamento deve crescer 20%, alcançando R$ frotas, com a submarca Veloe Go,
600 milhões. “Nosso plano é exportar 10% da que oferece serviços que vão de
produção neste ano e 20% em 2025”, afirmou. abastecimento automatizado
a manutenção e telemetria de
caminhões e ônibus, por exemplo.
“Somos conhecidos pelos tags de
pedágio, mas essa é a divisão que
responde pela menor fatia dos
nossos resultados”, afirmou
André Turquetto, diretor-geral
da Veloe e presidente da
Associação Brasileira das
Empresas de Pagamento
Automático para Mobilidade
(Abepam). A empresa, que tem
como sócios Bradesco e Banco do
Brasil, conseguiu tirar mercado
das concorrentes Conectcar
(Itaú) e Sem Parar (CCR)
principalmente com sua
estratégia white label. Com isso,
passou a ter em sua plataforma
tags de outros bancos, como BTG
Pactual, Banrisul e C6 Bank. “Em
2023, com a expansão do white
label e vencimento da gratuidade
promocional de 24 meses,
que lançamos em 2021, nossa
margem operacional cresceu
43%”, disse o executivo. Para este
ano, o plano é acelerar a oferta de
serviços. Turquetto afirma que o
veículo está se consolidando
como uma carteira digital de
pagamentos, já que é utilizado em
estacionamentos, pedágios, lava-
rápido, drive-thru, valet e tributos
(como IPVA e licenciamento).
“Com os tags sendo devices de
pagamento, queremos avançar
como um superapp de tudo
que envolve os veículos”, disse.
“Vamos trabalhar muito em 2024
para garantir o ritmo de
crescimento.”

08 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO

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CONVÊNIOS MÉDICOS QUE
FAZEM MAL À SAÚDE
Muitos planos de saúde têm causado
gastrite e dor de cabeça em seus clientes.
Segundo dados divulgados pela Agência
Nacional de Saúde Suplementar (ANS),
as reclamações de usuários de planos
de saúde tiveram crescimento de 49,7%
nos primeiros dez meses de 2023.
Segundo a agência reguladora, o número
de reclamações assistenciais e não
assistenciais em 2023 superou os três
anos anteriores em todos os meses do
ano e chegou ao maior patamar em
agosto, com 36.799 notificações de
usuários dos planos de saúde. As
reclamações referentes à assistência dos
planos somaram 82,7% das notificações
registradas pela agência até outubro.
“O MAX [PRESIDENTE DA ENEL]
ME MANDOU UM WHATSAPP
DIZENDO QUE TINHA 800 EQUIPES
NAS RUAS. MENTIRA, É MENTIRA.
ELE É MENTIROSO”
RICARDO NUNES
PREFEITO DE SÃO PAULO, AO CRITICAR O
PRESIDENTE DA ENEL, MAX XAVIER LINS,
PELOS PROBLEMAS NA DISTRIBUIÇÃO DE
ENERGIA NA CIDADE DURANTE A TEMPESTADE
DA QUARTA-FEIRA (10)
DEVO, NÃO NEGO.
PAGO SE RENEGOCIAR
SEGUNDO O INDICADOR DE RECUPERAÇÃO DE
CRÉDITO DA SERASA EXPERIAN, A MAIORIA DOS
CONSUMIDORES INADIMPLENTES, COM DÍVIDAS
ATRASADAS EM ATÉ 60 DIAS, ESTÁ CONSEGUINDO
REGULARIZAR A SITUAÇÃO E RECUPERAR O CRÉDITO,
MAS ESSE PERCENTUAL VEM CAINDO. CONFIRA:
Fonte: Serasa Experian
JOGADA DE R$ 100 BI
O mercado de apostas esportivas
e de cassinos on-line vai faturar
mais de R$ 100 bilhões nos próxi-
mos três anos com a lei que regu-
lamenta o segmento. Os valores
deverão impulsionar a área de
turismo, que prevê 500 lançamen-
tos em hotelaria só em 2024.
A projeção é da Federação de
Hotéis, Bares e Restaurantes do
Estado de São Paulo (Fhoresp) e
do Instituto de Desenvolvimento,
Turismo, Cultura, Esporte e Meio
Ambiente (IDT-Cema). A expecta-
tiva do diretor-executivo da
Fhoresp, Edson Pinto, é de que a
maioria dos novos empreendi-
mentos criem mais pontos de
apostas. Em troca, eles receberão
participação das bets. Nesse
caso, a fatia poderia alcançar de
1% a 15% do faturamento total
do estabelecimento.
(em %)
63,6 63,4 63,5 62,4
61,0 59,4
Set/22 Nov/22 Jan/23
Out/22 Dez/22 Fev/23
O LEGADO DE
MARÍLIA MENDONÇA
A grife brasileira Océane,
especializada em produtos de
maquiagem e skincare, fechou
2023 com alta de 40% no
faturamento, com R$ 250
milhões. Parte do sucesso
da marca, segundo o CEO
e fundador Michel Chehaibar,
foi a boa exposição da marca
com as embaixadoras Marilia
Mendonça e Larissa Manoela.
A cantora sertaneja havia feito
uma collab para Océane, antes
da sua morte em 2021, que foi
renovado graças a um acordo
com a família da cantora. “O
principal desejo da Marília, desde
o início, foi de que a coleção
tivesse total sinergia com ela
e seus fãs”, disse Chehaibar.
64,5
61,3 61,5 61,7
59,2 57,6
56,5
Mar/23 Mai/23 Jul/23 Set/23
Abr/23 Jun/23 Ago/23
Dinheiro 17/01/2024 09
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ENTREVISTA | Rodrigo Kede, presidente da divisão Enterprise Americas da Microsoft

“Gostaria de ver
o Brasil abraçar
a IA como a
Índia abraçou
a tecnologia”
Executivo é o primeiro
brasileiro a comandar
americanos na big tech
fundada por Bill Gates. Saiba
o que ele pensa sobre
tecnologia e como ele a
utiliza no dia a dia
Beto SILVA

12 Dinheiro 17/01/2024 FOTO: CLAUDIO GATTI

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O carioca Rodrigo Kede é profundo co-
nhecedor e entusiasta da transformação
digital. Ocupou postos em importantes
companhias globais, nos Estados Unidos,
Ásia e América Latina. Foi presidente da
IBM Brasil, passou pela Totvs e foi para a
Microsoft há três anos e meio na função
vice-presidente de corporativo, cargo que
inclui o comando dos países latinos da
companhia. Em meados de 2023 recebeu
a missão de gerenciar também o Canadá
e parte do território americano. É o pri-
meiro brasileiro a assumir uma posição
global na empresa, com report direto ao
CEO, Satya Nadella. Kede gosta de surfar,
mas deixou essa paixão de lado para morar
em Nova York e pegar as ondas dos algo-
ritmos. Formado em engenharia mecâni-
ca e de produção pela PUC do Rio de Ja-
neiro, com MBA em finanças e mercado
de capitais pelo Insper, também é gradu-
ado pela Harvard Business School. Kede
falou nesta entrevista sobre
sua visão da tecnologia, o
desafio da formação de mão
de obra para setor, os bene-
fícios da inteligência arti-
ficial e a importância de sua
regulação.
DINHEIRO — Como tem sido
o desafio de comandar a Microsoft no Ca-
nadá e em parte dos Estados Unidos, além
da América Latina?
RODRIGO KEDE — É um desafio realmen-
te. De Toronto até Santiago há um longo
caminho. Mas é divertido também. Às vezes
a gente acha que existe muita diferença
entre Estados Unidos, Brasil e outros paí-
ses da América Latina. Essas diferenças
existem, claro, mas encontramos um mon-
te de semelhanças. As Américas, no fundo,
falam três línguas majoritariamente: por-
tuguês, espanhol e inglês. A maior questão
é a distância geográfica.
Há mais convergências do que diferenças?
O mundo está muito polarizado hoje em
dia. Eu sou de uma época em que você tinha
um amigo torcedor de um time de futebol
diferente do seu e não dava briga, dava
gozação. Outro amigo tinha um partido
político e não dava briga. Atualmente é
difícil. Eu sou uma pessoa de consenso, do A defasagem de mão de obra especializada
2 + 2 que não dá 4, que dá 6. Tem que pen- em TI é crescente. Como observa isso?
sar na essência. Não é importante no final Se você olhar o que aconteceu com tecno-
do dia o partido A ou o partido B. O impor- logia nos últimos 20 anos e o que a gente
tante é o País, é a população. Existem mui- acredita que vai acontecer nos próximos 20,
tas coisas em comum e a Microsoft é uma a demanda por tecnologia, conhecimento,
empresa com uma cultura excepcional. skill em tecnologia, vai continuar crescendo.
Dois ou três anos atrás, a tecnologia repre-
O que destaca dessa cultura? sentava 5% do PIB [global]. Em 2030 vai
O livro Hit Refresh, do Satya Nadella, conta chegar a 10%. A tecnologia vai virar o maior
a história de transformação pessoal dele e componente do PIB no mundo. Então temos
da Microsoft. Ele transcorre sobre essa cul- demanda pesada por alguns skills específi-
tura, que é de sempre simplificar. Havia uma cos, principalmente de inovação.
cultura de know it all, de que o executivo
tinha de saber tudo. Ninguém sabe tudo. O que precisa ser feito?
Então temos uma cultura de learn it all. O
Existe falta de recursos [humanos] sim, mas
a tecnologia está chegando num ponto em
importante é você estar sempre aprenden-
do. Satya fala muito do livro Mindset, da
que ela própria vai suprir parte disso. A
Carol Dweck , que ensina a parar de tentar
chave para resolver o problema está em abrir
ser perfeito, a não se comparar com os outros
a cabeça para o conceito de reskilling [reci-
e amanhã ser melhor do que hoje. Ir no
clagem profissional]. Eu conheço vários
potencial máximo. Trabalhar em time.casos de gente que não conhecia nada de
tecnologia e que em dois ou
três anos se tornou especia-
Para formar profissionais de TI, o mais lista em cibersecurity. O
mais importante é quebrar
importante é quebrar a barreira de que
a barreira de que tecnologia
tecnologia é uma coisa complicada. As é uma coisa complicada. As
empresas começam a enxergar isso’’ empresas estão começando
a enxergar isso.
Essa cultura foi o que permitiu a um brasi- IA está sendo tratada como solução para
leiro alçar o posto em que você está hoje? tudo. Ela vai continuar com essa carga?
Talvez um ótimo exemplo seja o meu caso, A gente fala de IA há muito tempo. Virou
porque não interessa de onde você veio, o uma cadeira numa universidade americana
seu cabelo, a cor da pele ou o seu idioma. no final da década 1950. No filme 2001 — uma
Você é uma pessoa que tem a capacidade odisseia no espaço [de Stanley Kubrick], de
de fazer isso? Então é a melhor pessoa 1968, antes de o homem pisar na Lua (em
para fazer o trabalho. 1969), o computador de voz interage e toma
o controle da nave. Um monte de coisa que
E como se sente? É um exemplo para a ga- você vê lá em 1968 está acontecendo hoje.
rotada que está vindo, estudando TI e atu- É visionário. E houve ao longo das últimas
ando no mercado complexo e competitivo? décadas vários eventos que trouxeram in-
Eu gasto muito tempo com isso, porque acho teligência artificial para as manchetes. Como
que uma das minhas funções é desenvolver em 1997, quando o computador Deep Blue
as pessoas, influenciar positivamente, para venceu o campeão de xadrez Kasparov.
poder ajudar a inspirar. Porque eu conheço
gente que é supercapaz falando que nunca Uma sequência de ondas?
vai conseguir uma posição A ou B. A gente Houve uma evolução gradual. Em algum
fala de diversidade, de inclusão, e fala de momento a gente começou a falar de ma-
uma forma genuína e não só generosa. Na chine learning, depois em deep learning e
Microsoft, o importante são os valores, não recentemente de IA generativa. Houve
o zip code em que você nasceu. grandes ondas de mudança em tecnologia.
Dinheiro 17/01/2024 13
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
ENTREVISTA | Rodrigo Kede
Programação, PC, Era da internet, Era do
mobile, do cloud e agora IA. Todas essas
ondas de tecnologia eram necessárias para
a gente chegar onde estamos. Para ter IAé
preciso ferramentas, potência de proces-
samento e o oceano de dados que temos
hoje e não tínhamos 20 anos atrás. E eu
acredito que essa seja a onda mais disrup-
tiva que a gente vai ter no meu life time.
Por conta das possibilidades da IA, as big
techs (Amazon, Apple, Google, Meta e
Microsoft) têm batido recordes de fatu-
ramento e resultados. É uma onda cres-
cente, de fato, ou corre o risco de arrefecer?
Se você comparar todas as big techs, elas
não são iguais. Toda vez que companhias
ou indústrias passam a ter muito poder,
vem a regulação. É para isso que existe
governo, para garantir que a coisa não saia
de controle. Se você olhar a
história, já teve intervenção
em setor de telecomunica-
ções, em ferrovias... Acre-
dito que regulação discuti-
da da forma certa é
importante e ela tem de
acontecer. O mercado para
IA não vai saturar. Toda a
tecnologia tem o teu ciclo. IA está no início
de um ciclo, eu não tenho ideia do tamanho
dele, mas eu sei que ele não é restrito à
quantidade de usuários, como na maior
parte dessas outras tecnologias mais re-
centes. É difícil até dimensionar o tamanho
da oportunidade de mercado, de progresso
da sociedade, mas será gigante.
É possível por meio dessa tecnologia re-
solver problemas de fome, de questões
ambientais e climáticas?
Em todo lugar onde você tem um processo,
a inteligência artificial pode ajudar a torná-
-lo mais apurado e a ter menos ineficiência.
A gente tem o projeto PrevisIA [com o Fun-
do Vale], em que o Imazon [Instituto do
Homem e Meio Ambiente da Amazônia]
usa IA para antecipar riscos de desmata-
mento e impedir futuras perdas para a flo-
resta. Não conheço nenhum problema de
processo no mundo que não possa ser me-
14 Dinheiro 17/01/2024
lhorado com o uso de inteligência artificial. Entre as novas tecnologias, tivemos o me-
taverso, que bombou no início e depois
E como enxerga o Brasil nesse contexto? perdeu fôlego. O que aconteceu?
Gostaria muito de ver o Brasil abraçar a IA Vejo algumas restrições pessoais no me-
da mesma forma com que a Índia abraçou taverso da forma como todo mundo esta-
a tecnologia. O Brasil devia ser o berço do va falando, de ter uma agência de banco,
mundo para crédito de carbono, referência comprar uma casa... Tenho certa dificul-
em clima, sustentabilidade, matriz ener- dade, pois prefiro fazer uma reunião pre-
gética... Com a biodiversidade que a gente sencial ou por plataforma de vídeo do que
tem, deveríamos liderar tudo isso. E a IA estar numa sala virtual com os bracinhos
vai ser fundamental e uma oportunidade agindo e a gente conversando. Talvez de-
para vários países e empresas poderem dar more um tempo para a gente ver essa tec-
um salto um salto de progresso, de produ- nologia ser aplicada em tudo. Tem um
tividade, de crescimento. tempo de maturação.
E em que momento a IA pode ser gerar Como você usa a tecnologia no dia a dia?
resultado negativo? Sou aficionado por tudo que liga na toma-
Toda a tecnologia tem dois lados. O GPS da. Se alguém tocar a campainha da minha
era uma tecnologia militar. Era tão impor- casa, toca aqui no meu celular também.
tante que foi aberto para o público. Tem Abro a câmera e consigo abrir a porta. Dei-
tado, fecho a cortina do
quarto. São confortos. Im-
É fundamental ter ferramentas de portantes? Não! Divertidos?
Sim! E uso o copilot [recur-
controle, regulação, para limitar e
so de IA da Microsoft inte-
garantir que o benefício [da IA] grado aos principais aplica-
seja maior do que qualquer risco’’ tivos de produtividade]. Saí
de férias em agosto e depois
de duas semanas entrei no
gente do bem e tem gente que não é do bem, computador. Perguntei sobre os e-mails
que usa GPS para fazer coisas ruins. O fun- enviados pelos meus chefes e se neles havia
damental é ter ferramentas de controle, algo importante. Tive uma resposta deta-
regulação, para limitar e garantir que o lhada sem abrir os e-mails e soube de tudo
benefício seja imensamente maior do que que me foi enviado. Outro exemplo, peguei
qualquer risco. 300 páginas do meu Imposto de Renda
americano e pedi para criar apenas cinco
O debate sobre a regulação está na Ásia, páginas, com comentários. A ferramenta
na Europa, nos Estados Unidos... Existe não só sumariza, mas entende os relatórios
algum ponto que você defende? e as caixas com números. Pedi para criar
É um assunto complexo, porque nem todo um PowerPoint. Isso é revolucionário pelo
mundo está no mesmo estágio. Os governos lado da produtividade.
estão em um, a Microsoft em outro, há
companhias em patamares distintos e cada Onde vai estar a Microsoft daqui a 10 anos?
um tem seus objetivos, dependendo do A tecnologia pode, sim, fazer um mundo
perfil do negócio. Não é fácil. O importan- melhor. É uma forma brilhante de definir o
te é as empresas se juntarem aos governos, nosso papel. Lideramos grande parte dessa
com outros setores, para ter discussão sé- agenda para definir padrões e os outros se-
ria. Porque todo mundo, no final, quer um guirem. Quero daqui a uma década olhar para
mundo melhor. O único fio de interseção trás e ver a Microsoft como uma empresa
que vejo neste momento é o consenso de que trabalhou para fazer esse planeta mais
todos trabalharem juntos para dar certo. justo e as pessoas mais saudáveis.
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Sustentabilidade POR SÉRGIO VIEIRA

Alta no crédito
de reciclagem
no Brasil
No momento em que o Brasil
avança para estabelecer regras
para o mercado de crédito de
carbono, outra oportunidade
de solução ambiental que vem
crescendo rapidamente é a
do mercado de crédito de
reciclagem. Os programas
funcionam por meio de
rastreabilidade e nota fiscal,
confirmando, assim, a destinação
das embalagens recicladas.
Cada tonelada recuperada se
transforma em um crédito,
homologado pelo governo
federal. Criada em 2015 para o
cumprimento da Política Nacional
de Resíduos Sólidos, a Ambipar
Environment tem conseguido
ampliar as metas de atuação
nesse mercado, principalmente a
partir de 2021, com a aprovação,
de fato, da política de crédito de
reciclagem. Em 2022, conseguiu
comprovar a reciclagem de 33 mil
toneladas. No ano passado,
dobrou de tamanho. A
expectativa é chegar a 200 mil
toneladas em 2026. “A política
nacional de resíduos é um
instrumento de inclusão social,
de renda e de recuperação de
material”, disse à DINHEIRO Maíra
Pereira, diretora da Ambipar
Environment. Mas há dores que
precisam ser tratadas: 63% dos
municípios não têm nenhum tipo
de coleta seletiva e metade das
cidades no Brasil ainda
descarrega materiais em aterros.
E aí que está problema, já que,
sem um trabalho regularizado,
não há nota fiscal para venda
desse crédito em parte do País.
“O grande esforço da Ambipar é
acelerar o desenvolvimento das
cooperativas, orientar os
municípios para implementação
da coleta seletiva e organizar
essa cadeia da economia circular.
Por isso é importante estruturar
a base”, afirmou a executiva.
“No setor privado, há uma regra
clara. As empresas precisam
recuperar, em 2024, 30% das
embalagens que colocam em
circulação e, até 2040, 50%.
O caminho é conhecido.
Só é preciso que seja trilhado
de forma correta.

CONSCIENTIZAÇÃO

CELULAR MAIS SUSTENTÁVEL

Pesquisa realizada por VTrends, hub de pesquisa e insights da
Vivo, mostra que 47% dos brasileiros entrevistados acreditam
que a preservação da Amazônia vai se tornar ainda mais
relevante no ano de 2024. O levantamento também aponta
que 67% acreditam que a temperatura ao redor do mundo
vai aumentar e 31% estão dispostos a contribuir mais para o
combate às mudanças climáticas, seja por meio do descarte
correto de aparelhos eletrônicos (39%) ou da compra de
produtos mais sustentáveis e biodegradáveis (33%). Para
auxiliar os consumidores a tomarem uma decisão de compra
consciente, a Vivo disponibiliza o selo Eco Rating, que avalia
os smartphones seguindo parâmetros de sustentabilidade.

16 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO

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INCLUSÃO RECONHECIDA

DIGNIDADE À COMUNIDADE TRANS

A política de diversidade e
inclusão do grupo L’Oréal no Brasil
tem gerado reconhecimento e
premiações. Em parceria com a
Teleperformance, líder mundial
na gestão de relacionamento
com o consumidor, a companhia
recebeu o prêmio da 4a edição
do GEEIS SDG Trophy, em Paris.
O reconhecimento à L’Oréal foi
dado pelo projeto Transforma,
que garante mais visibilidade e
benefícios à comunidade trans
no Brasil e que promove igualdade
de gênero dentro do mercado de
trabalho. Segundo a Associação
Nacional de Travestis e
Transexuais (Antra), estima-se
que apenas 4% da população
de mulheres trans e travestis
brasileiras possuam emprego
formal. “Queremos mudar esse
cenário e aumentar a quantidade
de pessoas trans em empregos
formais no mercado de trabalho.
É o nosso compromisso. De
acordo com o Censo da L'Oréal,
hoje 1,6% da nossa comunidade
interna se autodeclara pessoa
trans, mas queremos que esse
número cresça gradualmente
e para isso temos trabalhado
com o Projeto Transforma além
de outras ações no paralelo”,
disse Márcia Silveira, head de
Diversidade, Equidade e Inclusão
do grupo L’Oréal no Brasil.

PRÁTICAS AMBIENTAIS
UMA HOSPEDAGEM ESG
O Novotel Itu Golf & Resort
alcançou, em 2023, uma
marca importante relacionada
às suas práticas ambientais.
Em um ano, a unidade da rede
hoteleira no interior de São
Paulo conseguiu eliminar a
utilização de plásticos de uso
único, evitando o descarte de
215 mil unidades de garrafas
pet e copos plásticos, que
impactariam negativamente o
planeta. “Em um mundo onde
a sustentabilidade se torna
essencial, o Novotel orgulha-se
de apresentar seus resultados
das iniciativas primordiais,
como reutilização de água,
queimador a biomassa e ações
sociais”, disse Carlos Jacobina,
gerente geral do Novotel Itu.
Também foram tratados
e reutilizados 4 milhões de
litros de água em descargas
sanitárias e irrigação de jardim.
O complexo opera com 100%
de energia proveniente de
fontes renováveis, além
de 200 placas solares para
aquecimento de água. “Não
estamos apenas reduzindo
impactos negativos ao meio
ambiente, mas também
moldando o futuro
responsável que todos
ansiamos”, afirmou.

LOGÍSTICA REVERSA

UMA IDEIA ILUMINADA

Há sempre uma luz no fim do
túnel. Entidade que atua no
gerenciamento da destinação
correta de lâmpadas que
contêm mercúrio, a Associação
Brasileira para a Gestão da
Logística Reversa de Produtos
de Iluminação (Reciclus)
fechou 2023 com a marca
de 37,4 milhões de lâmpadas
fluorescentes coletadas desde
2017 e mais de 3,8 mil pontos
de entrega espalhados pelo
País nesse período. Por meio
da educação ambiental, a
organização realizou, no ano
passado, o programa Reciclus
Educa, com mais de 100 mil
cartilhas distribuídas a crianças
e jovens, além da capacitação
de 400 professores. “Com
a adoção de práticas de
destinação ambientalmente
correta de lâmpadas,
contribuímos para a redução
da extração de novos recursos
naturais, promovendo
a economia circular e
a preservação do meio
ambiente”, disse Natalia
Fochi, coordenadora de
Sustentabilidade e Logística
da Reciclus. Em 2024, o
objetivo é ampliar o trabalho
de conscientização, com
expectativa de distribuição de
materiais educacionais para
pelo menos 300 mil pessoas,
incluindo adultos.

Dinheiro 17/01/2024 17
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ECONOMIA

M A I S A LT O
E M 2 0 24
Mercado refaz as contas e aumenta a projeção de
crescimento da economia neste ano. Inflação controlada,
juros em queda, superávit comercial recorde e mercado de trabalho
aquecido ajudam a nutrir o otimismo
Jaqueline MENDES

18 Dinheiro 17/01/2024 FOTO: ISTOCK I MARIO TAMA

Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
J
uros em queda, inflação controlada, desemprego em
baixa e balança comercial em níveis recordes. Para
surpresa de grande parte do mercado financeiro, a con-
juntura econômica brasileira está melhorando. O mais
recente Relatório Focus, do Banco Central, mostra que
os economistas de mais de 100 instituições financeiras
elevaram a projeção de alta do Produto Interno Bruto (PIB)
de 2024 de 1,52% para 1,59%. No mesmo sentido, a projeção
para a Selic é de fechar o ano em 9%, enquanto a projeção de
inflação recuou de 3,93%, em dezembro, para os atuais 3,90%.
O superávit da balança comercial, antes projetada em algo
próximo a US$ 75 bilhões, fechou 2023 em US$ 98,8 bilhões e
deve repetir a performance em torno de US$ 100 bilhões.
Toda essa mudança nos palpites parece pequena, mas si-
naliza uma trajetória importante: a de que o humor e a percep-
ção de melhora do ambiente macroeconômico estão em alta.
Embora ninguém tenha ousado prever indicadores melhores
do que os do ano passado, há uma sensação generalizada de que
2024 não deve representar uma freada brusca. Entre os mais
otimistas está o Safra. Para os economistas do banco, entre eles
o ex-presidente do BC Joaquim Levy, a combinação de inflação
baixa, mercado de trabalho estável e expansão de crédito deve
fazer o PIB crescer 2,5% neste ano. “A grande safra agrícola e
a diminuição da inflação internacional se traduziram em um
crescimento do PIB brasileiro dobrado em 2023, em um mer-
cado de trabalho estável e na aceleração da convergência da
inflação para a meta”, disse Levy, em artigo publicado na Inte-
resse Nacional. “Esses fatores deram tranquilidade aos merca-
dos e fôlego ao governo em um ambiente político complexo.
Apesar da questão fiscal, projeta-se que a dinâmica econômica
benigna criada ao longo de 2023 pode facilitar a expansão da
atividade econômica em 2024, especialmente na medida em
que o setor externo continuar robusto.”
Grande parte desse aumento discreto do otimismo com
2024 se explica pelo efeito positivo que o corte da Selic deve
gerar sobre diversos setores produtivos. Entre eles, a constru-
ção civil. Pelos cálculos do Sincomavi, um dos principais
sindicatos que representam o comércio varejista de material
de construção, o PIB do setor deve puxar a economia para cima
em um cenário que combina aumento do crédito imobiliário
por causa dos juros mais baixos, redução do endividamento
das famílias e expansão dos programas habitacionais do go-
verno federal, como o Minha Casa Minha Vida (MCMV). “A
perspectiva do setor, da indústria ao varejo, para uma retoma-
da de maior dinâmica de resultados se baseia, principalmente,
nos impactos esperados de uma redução contínua da Selic em
2024”, disse o economista da entidade, Jaime Vasconcelos.
O mercado, na avaliação de Vasconcelos, se mostrou apre-
ensivo em 2023 com a demora da vigência das novas regras do
programa MCMV, que só começaram a valer na segunda me-
BALANÇA
RECORDE
Com superávit de tade do ano. Considerando a meta do
quase US$ 100 bilhões próprio Governo Federal de contratar 2
em 2023, a balança milhões de novas moradias até 2026, a
comercial brasileira
deve ajudar a puxar o expectativa é de um ritmo melhor do
PIB para cima este ano programa ao longo de 2024. “Se concre-
tizado, deve ser um relevante indutor de
novos negócios.”
1,59%
AMBIENTE FAVORÁVEL Outro fator
que alimenta a melhora das projeções
para o ano são as medidas fiscais apro-
vadas pelo Congresso. Segundo Luciano
Costa, economista-chefe da Monte Bra-
É A NOVA vo, o cenário mais positivo para o gover-
PROJEÇÃO DO no abre espaço para que o BC mantenha
MERCADO PARA
o ritmo de corte dos juros e derrube os
A ALTA DO PIB
juros reais (Selic, descontada a inflação)
para próximo de 5% ao ano. “Isso reduz
as preocupações em relação aos rumos da
economia em 2024 e, junto de um cenário
3,9%
global mais favorável, cria um uma pers-
pectiva mais positiva para o crescimento”,
disse. Além dos fatores internos, Costa
avalia que o horizonte de mais otimismo
para as duas maiores economias do mun-
É A PREVISÃO do, Estados Unidos e China, vai contribuir
DE INFLAÇÃO com a expansão do PIB brasileiro. “Com
PARA 2024, as medidas do governo e o cenário favo-
DENTRO DA
rável, o PIB tem potencial para crescer
META DO BC
até 4,5%”, afirmou.
Dinheiro 17/01/2024 19
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INTERNACIONAL

ARGENTINA
COMEÇA A
S E L E VA N TA R
PRIMEIRA
BATALHA
O ministro da
Economia, Luis Caputo,
durante entrevista de
quarta-feira (10) sobre
o acordo com o FMI

20 Dinheiro 17/01/2024 FOTO: LUIS ROBAYO / AFP

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É
QUATRO ANOS de uma obviedade gigante a estratégia de
Javier Milei, o novo presidente argentino,
EM UM MÊS: para colocar o país nos trilhos. Uma fór-
mula com dois ingredientes. Fazer o mal
ACORDO de uma vez e o bem aos poucos — como
COM FMI É ensinou há 500 anos Niccolò Machiavelli,
o Maquiavel. E colocar os bodes na sala para depois
IMPORTANTE, tirar alguns na negociação. Se vai dar certo em
quatro anos, ninguém tem como cravar. Mas deu
MAS APROVAR muito certo em seu primeiro mês do governo,
PACOTE coroado na última semana com o anúncio, na
quarta-feira (10), do acerto com o FMI e a libera-
ECONÔMICO ção de US$ 4,7 bilhões (que ainda depende de um
OK final do board da instituição). O acordo é um
SERÁ alento, mas não uma solução. E o ministro da
DECISIVO Economia, Luis Caputo, sabe bem disso. “Nossos
problemas estruturais são o excesso de gastos
PARA O públicos que levam ao déficit fiscal”, afirmou
Caputo em entrevista transmitida ao vivo. “Isso
RESTANTE acaba gerando todos os problemas que depois
DO GOVERNO caem sobre a sociedade.”
Por esse motivo é decisiva a aprovação da
DE MILEI & maior parte do pacotaço enviado por Milei ao
Congresso, a Lei Omnibus — 350 páginas com
CAPUTO quase 700 artigos e que mais parece uma Reforma
de Estado. Para Vinícius Aleixo, sócio-diretor da
Edson ROSSI Tordesilhas Capital e especialista no que se passa
em nossos vizinhos, é onde o mercado estará de
olho. “Trata-se do maior ajuste econômico que a
gente viu na América Latina nos últimos 30 anos”,
afirmou Aleixo. “É uma aposta arriscada, mas as
medidas econômicas fazem bastante sentido.” No
pacote há de tudo. De fundamentos liberais (como
entregar ao setor privado todas as quase 50 esta-
tais do país, incluindo Aerolíneas Argentinas,
Banco Nación, TV Pública e a petroleira YPF) até
monstrengos autoritários e totalmente antilibe-
rais (como proibir a reunião de mais de três pes-
soas em vias públicas). Este, pelo menos, já foi
ejetado do texto, segundo a ministra da Seguran-
ça de Milei, Patricia Bullrich (ex-candidata à elei-
ção). O artigo entra no pacote dos bodes na sala.
Cortinas de fumaça em troca de ter no parlamen-
to espaço para negociar as mudanças que real-
mente importam na economia. Caputo foi claro
sobre a necessidade de ter a maior parte da lei
aprovada pelo Congresso, que é majoritariamen-
te oposicionista. “Se não passar, as medidas que
virão serão ainda mais duras e os argentinos so-
frerão mais”, disse o ministro da Economia.
Entres os compromissos fechados com o FMI
estão buscar um superávit fiscal de 2% em relação
ao PIB (o governo anterior trabalhava com déficit
de 0,9%) e acumular US$ 10 bilhões em reservas
até o fim deste ano (eram US$ 2,7 bilhões no fim
de 2023). Tanto o FMI quanto o governo, no en-
tanto, disseram que a situação vai piorar antes de
melhorar. O que não é fácil de aceitar num país
cuja inflação anual bateu nos 200%. Mas como o
próprio ministro da Economia afirmou, o acordo
não traz dinheiro novo. Tanto que a grana libera-
da agora servirá apenas para quitar dívidas com
o próprio fundo. No meio de 2018, o FMI promo-
veu o maior repasse de sua história ao emprestar
US$ 50 bilhões à Argentina — naquele momento,
era o equivalente a 10% do PIB do país. Parte do
dinheiro saiu na hora (US$ 15 bilhões), e o restan-
te estava condicionado a metas que nunca foram
cumpridas por Buenos Aires. Nem por Mauricio
Macri (o então presidente, que tinha Caputo como
ministro das Finanças), muito menos pelo gover-
no seguinte, de Alberto Fernández & Cristina
Kirchner (2019-2023). Foram torrados US$ 44
bilhões do empréstimo original de US$ 50 bilhões
e o FMI fechou a torneira para o restante.
ESTRATÉGIA Para Vinicius Aleixo, da Tordesi-
lhas, Milei joga pesado agora porque sabe que a
estratégia usada por Macri não deu certo. O ex-
-presidente propôs medidas que iam na direção
correta, só que para evitar o estigma de ser um
reformista de direita, optou por uma reforma
gradual. Deu errado. Caputo, que era seu ministro,
acompanhou tudo de perto. Talvez venha daí a
estratégia mais à Maquiavel de Milei. Jogar pesa-
do hoje. Amansar daqui a pouco. Para Aleixo, o
mercado vai esperar um prazo médio, de um a
dois anos. “Por ora, vai ficar no modo esperar para
ver”, disse. Até porque sabe da fragilidade do
governo no Congresso. “Milei tem oito dos 72
senadores e 38 dos 257 deputados, então o nível
de incerteza se elas serão aprovadas é alto. Até
mesmo saber se o Milei vai terminar o mandato
é uma incerteza grande.” É esse o pântano. Para
a atual Argentina, as cartas estão todas à mesa. E
o ministro Caputo vai pro all-in. “Éramos um dos
países mais importantes do mundo há 100 anos
e nos tornamos um país pobre”, disse. “Por quê?
Porque perdemos nossa base. Agora queremos
reconstruir essa base.”
Dinheiro 17/01/2024 21
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Cenáriosglobais
É PRECISO UM OLHAR SOBRE O BRASIL DE 2024
N
o primeiro ano do novo governo federal no Brasil,
tivemos duas importantes reformas: o Arcabouço
Fiscal e a Reforma Tributária, cuja primeira parte,
referente ao consumo de bens e serviços, já foi votada e
VITORIA SADDI aprovada. Foram conquistas importantes, já que o pri-
PHD EM
ECONOMIA
meiro ano de qualquer novo governo geralmente é o que
PELA traz mais capital político.
UNIVERSITY OF A atividade econômica do Brasil vem surpreendendo
SOUTHERN nos últimos quatro trimestres. No início de 2023, o con-
CALIFORNIA,
É ESTRATEGISTA
senso do mercado era um crescimento de 0,5% do PIB;
DA SM FUTURES. esse mesmo consenso cresceu para 2,9% atualmente.
ATUOU COMO Para 2024, esperamos que o PIB cresça 1,4%, mas com
ECONOMISTA- uma composição diferente, muito mais concentrada em
CHEFE DA
ROUDINI
gastos públicos e menos em consumo e investimento,
GLOBAL, pois com o aumento dos impostos, a renda disponível cai
DO CITIBANK, reduzindo as variáveis. A inflação também foi uma sur-
DA QUELUZ presa positiva em 2023. No início do ano, o consenso do
ASSET
E DO SALOMON
mercado era de que a inflação ao consumidor girasse em
BROTHERS torno de 6%. Fechou em 4,62%. Em 2024, devemos ver
o processo de desinflação continuar, e como consequên-
cia, nossa previsão de inflação para o fim do ano é de 3,9%,
ainda acima do centro da meta do Banco Central (BC).
O principal desafio para o cenário deste ano é a meta
fiscal. O governo pretende equilibrar o orçamento apenas
aumentando receitas, sem cortar despesas. O problema
com essa estratégia é que as receitas não são fáceis de
prever, pois dependem do nível de atividade da economia
e outras variáveis que não estão sob o controle do gover-
no. A expectativa é que o déficit primário (receitas menos
despesas, excluindo despesas com juros) seja de 2% em
2023. Para 2024, o desejo do ministro da Fazenda, Fer-
nando Haddad, é obter déficit primário de 0%. O merca-
do, no entanto, o mercado estima em 1% de déficit. A
condição de sustentabilidade da dívida pública estabele-
ce que o montante dela não pode ser superior ao valor
presente de todos os superávits primários futuros, ao
longo de um determinado período. Nesse sentido, a ge-
ração de superávits primários é fundamental para garan-
tir que tal condição seja satisfeita.
O atual déficit orçamentário impõe um limite para
onde o BC pode chegar em termos de taxa de juros. Do
lado positivo, a inflação mais baixa deve permitir que a
22 Dinheiro 17/01/2024
flexibilização da política monetária continue. Por outro
lado, a continuação dos déficits fiscais e o aumento da
dívida em relação ao PIB impõem uma taxa de juros
neutra mais alta. Vemos a atual taxa real neutra em torno
de 4,5%, já considerando os desafios do lado fiscal. Su-
pondo que a inflação fique (em 3,9%) acima do centro da
meta, a taxa básica de juros nominal (Selic) pode chegar
a um patamar de 8% em 2024. Se o processo de desinfla-
ção for interrompido por qualquer motivo, ou se a situa-
ção fiscal se deteriorar ainda mais, a Selic poderá inter-
romper o processo de queda e terminar em torno de 9,5%.
Quanto ao desempenho da Bolsa em 2024 esperamos
um ano bastante positivo por três motivos. Primeiro é o
fato de que o Brasil é um dos mercados emergentes com
empresas bastante sólidas e ainda muito baratas para o
padrão internacional. O segundo motivo é a expectativa
da continuidade do boom de Nasdaq, S&P500 e do mer-
cado acionário americano. O terceiro motivo é relacio-
nado à queda de juros doméstica, que deve favorecer a
Bolsa, sobretudo os setores cíclicos (que acompanham o
ciclo econômico, como o varejo). E vale mencionar que
o diferencial positivo de juros em relação aos EUA (de
cerca de 3% em termos reais) favorece a entrada de di-
nheiro no Brasil que é alocada em renda variável.
Muito embora o país tenha diversos problemas, a
situação para 2024 é alentadora. Tudo mais constante,
esperamos a continuidade da Reforma Tributária sobre
os rendimentos e sua aprovação ao longo deste ano.
Importa perceber que a queda da inflação se deu devido
à subida de juros implementada pelo BC desde março de
2021. A independência do BC foi fundamental para ga-
rantir a continuidade do processo, mesmo com um pre-
sidente da República que se mostrou contrário a tal po-
lítica. Em final de 2024, termina o mandato do atual
presidente do BC. A escolha do novo presidente da insti-
tuição deverá ser a chance para Lula mostrar ao mercado
que está comprometido com a estabilidade econômica.
De outro modo, será interpretado que ele colocou um
aliado no BC que seguirá suas ‘sugestões’ nos dois últimos
anos de mandato, devendo assim, inflacionar a economia
para garantir a reeleição. Em resumo, antes de olhar o
cenário externo é preciso olhar para dentro.
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FINANÇAS

GRINGOS VÃO DOMI

APÓS A VALORIZAÇÃO DE 22% NO
ANO PASSADO, O IBOVESPA DEVE
SEGUIR EM ALTA COM IMPULSO DOS
INVESTIDORES DE FORA. JUROS EM
QUEDA PELO MUNDO E POTENCIAL
DE GANHOS EXPRESSIVOS EM
ALGUNS ATIVOS AQUI SEDUZEM
ESTRANGEIROS PARA A B3
Jaqueline MENDES

A
Bolsa está cara ou barata? Se de-
pender de grande parte dos inves-
tidores estrangeiros, a reposta está
na segunda opção. Mesmo depois
de brilharem na Ibovespa no ano
passado, com injeção de quase R$ 40 bi-
lhões na B3 apenas nos últimos dois me-
ses do ano, os gringos devem seguir como
protagonistas do mercado acionário bra-
sileiro em 2024. Mas há duas formas de
olhar para esse movimento. A primeira,
mais cautelosa. O superávit dos aportes
no ano passado (diferença entre o dinhei-
ro que entrou e o que saiu) alcançou
R$ 44,85 bilhões, menos da metade dos EXPECTATIVAS
R$ 100,82 bilhões registrados em 2022. Especialistas ouvidos pela DINHEIRO afirmam que o fluxo Com redução de juros
A segunda, mais empolgante. Ao fazer de estrangeiros na Bolsa brasileira em 2023 foi — e continuará e controle da inflação,
a entrada de
um recorte dos meses de novembro e de- sendo em 2024 — impulsionado por uma combinação de fatores
estrangeiros na B3
zembro de cada ano, o bimestre final de internos e externos. No Brasil, o cenário de inflação sob contro- deve continuar em
2023 salta aos olhos. As entradas superaram le, avanço das propostas ficais do ministério da Fazenda no 2024, segundo
as saídas em R$ 21,02 bilhões (novembro) Congresso, juros em queda (o que reduz a atratividade da renda especialistas
e R$ 17,46 bilhões (dezembro), enquanto fixa) e percepção de que há muitos papéis subprecificados na B3
nos mesmos meses do ano anterior o saldo aguça o interesse do capital estrangeiro. Já no cenário global, o
positivo foi de R$ 2,92 bilhões e R$ 13,77 consenso de que a economia americana não entrará em recessão
bilhões, respectivamente. Ou seja, os es- (muito pelo contrário) e que os juros definidos pelo Federal
trangeiros mergulharam de cabeça na Bol- Reserve (Fed) tendem a cair encorajam os investidores a buscar
sa brasileira na reta final do ano passado. alternativas de maior retorno e risco moderado.

24 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIEGO PADGURSCHI/FOLHAPRESS

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MINAR A BOLSA?
A economista Bruna Allemann, da corretora Nomos, creden-
ciada da XP Investimentos, considera que a política monetária
dos EUA, juntamente de um valuation atraente do Ibovespa, cria
um ambiente propício para o investimento estrangeiro neste
ano. “A riqueza do Brasil em recursos naturais e a recuperação
da economia chinesa contribuem para tornar setores específicos
da economia brasileira particularmente atraentes para investi-
dores estrangeiros”, afirmou Bruna. “Esses fatores, combinados,
sugerem um cenário positivo para a continuidade do influxo de
capital estrangeiro na Bolsa brasileira em 2024.”
Outro aspecto que tem favorecido o fluxo de estrangeiros na B3
é o dólar. A economista da Nomos citou o conceito de dollar smile,
uma teoria econômica que explica o com-
22%
portamento da moeda americana em rela-
ção a outras divisas, especialmente em
cenários econômicos extremos. O concei-
to ilustra que o dólar tende a se fortalecer
tanto em momentos de crise global, quan-
do é visto como um refúgio seguro, quanto FOI A
em períodos de forte crescimento econô- VALORIZAÇÃO
mico dos Estados Unidos, quando atrai DO IBOVESPA
investimentos devido à robustez da eco- ANO PASSADO,
nomia do país. No entanto, em situações
REFLEXO DO
APETITE DOS
intermediárias, o dólar pode enfraquecer ESTRANGEIROS
em relação a outras moedas, especialmen-
te aquelas de países emergentes com eco-
nomias em crescimento ou com altos re-
tornos de investimento.
POTENCIAL Segundo Allemann, essa
R$ 38
teoria foi observada na prática com a des-
valorização significativa do dólar frente ao
real em 2023, com uma baixa de 8%, a maior
queda anual desde 2016. Esse cenário leva
a um fluxo de capital para mercados com
BILHÕES
maior potencial de retorno, como o Brasil,
onde os investidores buscaram aproveitar
as oportunidades de investimento onde há
de ações subvalorizadas. O dólar continua FOI O
sendo o porto seguro global, mas a movi- SUPERÁVIT
mentação atual traz um cenário favorável DOS APORTES
para ganhos na Bolsa brasileira por haver ESTRANGEIROS
condições macroeconômiocas favoráveis. NA B3 NO
Na visão de Rodrigo Marcatti, econo- ÚLTIMO
mista e CEO da Veedha Investimentos, o BIMESTRE
DE 2023
Brasil pode viver uma segunda onda de
valorização de ativos de risco neste ano se
o cenário internacional e o ambiente in-
terno permanecerem estáveis. “Redução
de juros e controle inflacionário e, no Bra-
sil, com uma contínua redução da taxa de
juros e com um [lado] fiscal minimamente
mais previsível vão ajudar a gente a conti-
nuar nesse ciclo positivo”, afirmou.
Dinheiro 17/01/2024 25
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CAPA

É PRECISO CORTAR

OS CHEFES
Da esquerda para a
direita: Luís Roberto
Barroso (Judiciário),
Luiz Inácio Lula da
Silva (Executivo) e
Arthur Lira
(Legislativo)
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AR NA CARNE Judiciário, Executivo e Legislativo
têm como zerar o déficit fiscal.
Desde que eliminem as prórias
despesas, incluindo privilégios.
Alguém se habilita?
Paula CRISTINA
Q
uando pensamos em gastos exorbitan-
tes de dinheiro público, o Poder Exe-
cutivo surge como o principal respon-
sável pelo desequilíbrio nas contas
públicas. E de fato ele é o maior gastador.
O dispêndio total previsto para este ano,
sem contar o pagamento de juros da dívida,
é de R$ 2,2 trilhões. Nesse número entram as
despesas obrigatórias (que incluem salários
dos servidores e gastos previdenciários) mais
as chamadas despesas discricionárias (paga-
mentos de precatórios e emendas parlamen-
tares, além de investimentos, como o PAC).
Para chegar à despesa total do governo fede-
ral, no entanto, é preciso incluir os cerca de
R$ 900 bilhões destinados exclusivamente
às estatais e autarquias (entre salários e in-
vestimentos) e outros R$ 2,4 trilhões de pa-
gamento de juros da dívida. No bottom line,
a conta chega a R$ 5,5 trilhões.
Tradicionalmente, o Poder Executivo só
realiza cortes dentro das despesas discricio-
nárias, que em 2024 somam R$ 225,8 bilhões,
uma ínfima parte de 11% das despesas totais
sem o pagamento de juros da dívida. Mas se
o olhar for expandido, há mais dinheiro na
mesa a se economizar. E um desses caminhos
FOTOS: LUCAS LACAZ RUIZ/FOLHAPRESS | GABRIELA BILÓ/FOLHAPRESS | REUTERS/UESLEI MARCELINO
seria cortar e revisar benefícios no Judiciário,
no Legislativo e no próprio Executivo, o que
garante uma redução de gastos de R$ 23,8
bilhões por ano. Se nessa conta forem acres-
centados os efeitos da Reforma Administra-
tiva, da Revisão Previdenciária e da união dos
gastos sociais, outros R$ 665 bilhões seriam
poupados em uma década.
Para Armínio Fraga, ex-presidente do Ban-
co Central, há algum nível de descaso de todos
os Poderes com a quantidade e a qualidade do
que gastam.“Falta mais ênfase no corte. Há
muito ajuste voltado para a arrecadação, e esse
desequilíbrio precisa ser corrigido”, disse Fra-
ga. Já o secretário de Monitoramento e Ava-
liação de Políticas Públicas e Assuntos Eco-
nômicos do Ministério do Planejamento,
Sergio Firpo, diz que uma análise profunda
sobre o tema está em curso desde 2023, e os
resultados serão apresentados em abril, na
proposta da Lei de Diretrizes Orçamentárias
de 2025. Segundo ele, o estudo contempla
excessos e gastos pouco eficientes. Enquanto
eles fazem contas, a DINHEIRO preparou
uma série de medidas que podem facilitar o
processo de contenção de gastos — sem pena-
lizar o mais pobre ou espremer os mais ricos.
Dinheiro 17/01/2024 27
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CAPA
E X E C U T I V O
O ELEFANTE
NA SALA
C onhecida como a mãe das reformas, a revisão do
tamanho do Estado, ou Reforma Administrativa,
não é uma questão de ideologia política, mas de coe-
rência com os tempos em que vivemos. Neste ano, os
gastos com servidores do governo federal estão esti-
mados em R$ 380 bilhões, ou 3,3% do Produto Inter-
28 Dinheiro 17/01/2024 FOTO: ANDERSON RIEDEL/PR
no Bruto (PIB). É a segunda maior despesa primária
do governo, perdendo apenas para a Previdência
Social (R$ 913 bilhões, 8% do PIB).
O ex-ministro da Economia Paulo Guedes até
tentou emplacar uma Reforma Administrativa no
governo Jair Bolsonaro, mas sem sucesso — por boi-
cote do próprio governo da época. O texto basicamen-
te revia as formas de contratos e diminuía a estabili-
dade do emprego. No começo do governo Lula, foi
totalmente descartado. O atual advogado-geral da
União, Jorge Messias, chamou a proposta, no final de
2023, de “lixo”. Em um evento organizado pelo Mi-
nistério da Gestão, Messias afirmou que a discussão
de reforma envolve rever quais são as necessidades
da população e atualizar o Estado para os moldes
atuais. “Podemos entregar mais e melhor à população,
e com isso aumentar a eficiência e diminuir custos”,
disse. Lindo. O problema? Não deu mais detalhes.
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Para o economista Felipe Salto, da consultoria
Warren Rena, uma saída seria a revisão de políticas
de indexação e correção automática de salários e re-
munerações. “Nisso, a Reforma Administrativa po-
deria ajudar, eventualmente.” Nos cálculos de Salto,
poderia diminuir o custo da máquina pública em mais
de R$ 150 bilhões em dez anos.
PREVIDÊNCIA Falar de Previdência parece um
pouco démodé, mas vamos ter de falar sobre ela de
novo. Ao cruzar as projeções de envelhecimento da
população pelo INSS e sua arrecadação, o problema
é visível. Em 2020 o déficit previdenciário no Brasil
foi de R$ 160 bilhões. Em 2021 saltou para R$ 190
bilhões. Fechou 2022 em R$ 250 bilhões. A expecta-
tiva é que o número dobre até 2060 e quadruplique
até 2100. É preciso agora aliar tecnologia nessa conta.
Em vez de reduzir os valores pagos, o governo preci-
sa investir em um sistema inteligente de liberação e
autenticação do benefício. Isso poderia ajudar a mu-
dar um dado alarmante do TCU. Em 2021 foram pagos
R$ 86 milhões em aposentadorias indevidas, R$ 27
milhões a segurados falecidos, R$ 52,6 milhões gastos
com benefícios previdenciários acima do teto e R$ 6
milhões em fraudes. O tribunal aponta, inclusive, que
esse número todo deve ter dobrado durante a pande-
mia. E, resolvê-lo, pode diminuir a despesa previden-
ciária em R$ 15 bilhões em dez anos.
GASTOS SOCIAIS Além da Previdência há políticas
de proteção social. Calma, calma, ninguém aqui quer
acabar com o Bolsa Família, mas usar inteligência
nessa aplicação. Um estudo do economista Gabriel
Leal de Barros, da Ryo Asset, aponta a necessidade de
promover uma fusão de políticas sociais diante da
execução fracionada de diversos programas como o
Auxílio Brasil, Auxílio Gás, Auxílio Reclusão, Farmá-
cia Popular, Salário Maternidade, Salário Família,
Benefício de Proteção Continuada... “A fusão de po-
líticas sociais é algo imperativo, já que a ineficiência
da gestão dessas políticas é enorme e é comum ter
beneficiários recebendo dois, três, quatro e até cinco
benefícios de forma cumulativa”, disse Barros. Pelos
seus cálculos, a integração e o redesenho dos progra-
mas sociais podem entregar economia fiscal de quase
R$ 200 bilhões em dez anos. O Banco Mundial con-
corda. “Vários benefícios pecuniários que deveriam
ser direcionados aos trabalhadores pobres estão, na
prática, beneficiando famílias com rendas mais altas”,
relatou o banco em um reporte de agosto de 2023.
R$ 5,5 TRILHÕES
é o valor das despesas do
Brasil em 2024; do montante,
R$ 2,2 trilhões, ou 40%,
são usados para custear
a máquina pública
ABONO SALARIAL Outra solução seria rever o
abono salarial, benefício que assegura o valor de até
um salário mínimo anual aos trabalhadores que re-
ceberam em média até dois salários mínimos de re-
muneração mensal durante pelo menos 30 dias no
ano, e que estejam cadastrados no PIS ou no Pasep há
pelo menos cinco anos. Para Rafael Medici, professor
de estudos econômicos da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, o efeito do abono não é mais social.
“Ele não combate o desemprego, pois quem recebe
está empregado. Não combate a miséria, porque quem
recebe não está entre os 20% mais pobres. E não
ajuda na informalidade, porque quem recebe o bene-
fício já está no mercado formal.” O pagamento do
abono salarial está estimado em R$ 28,1 bilhões para
o ano de 2024. Extinto o benefício, a economia tende
a superar R$ 300 bilhões em dez anos — pois o valor
é corrigido anualmente. Para ser encerrado, teria de
ser alterada a Constituição.
SAÚDE E EDUCAÇÃO A educação e a saúde públi-
ca poderiam ser melhores? Sim. Isso significa que o
governo precisa investir mais nela? Não necessaria-
mente. Em 2023, uma solução de alunos de gestão de
políticas públicas da Universidade de Brasília foi
apresentada à ONU. Os estudantes mostraram por
meio do estudo intitulado A Realidade da Saúde Pú-
blica e Educação Brasileira que o uso de inteligência
artificial na hora de distribuir recursos para os mu-
nicípios teria o poder de melhorar em 3 pontos o IDH
brasileiro e, pasmem, reduzir em 18% o total do gasto
com saúde e 22% com educação ao ano, ou cerca de
R$ 5 bilhões ao ano. Para isso, no entanto, o governo
teria de avançar com um projeto para desindexar a
correção dos valores destinados a esses setores, que
têm seu aumento anual previsto em Lei.
Dinheiro 17/01/2024 29
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CAPA
L E G I S L A T I V O
DINHEIRO X
CONTROLE
S e o Executivo tem muita gordura para queimar,
o Legislativo precisa olhar para o próprio umbi-
go e analisar como contribuir. O Brasil tem o segundo
Congresso mais caro, perdendo apenas para o dos
Estados Unidos — a maior economia do mundo. Um
estudo realizado pelas universidades de Iowa, Uni-
versidade do Sul da Califórnia e Universidade de
Brasília (UnB) a pedido do Banco Mundial apresentou
números preocupantes. Em 2021 cada um dos 513
deputados e 81 senadores brasileiros custou US$ 5
milhões, ou R$ 24 milhões com a cotação do dia 10 de
janeiro. Isso significa que o gasto com cada congres-
sista corresponde a 528 vezes a renda média dos
brasileiros. Neste ano, a despesa com pessoal no Con-
gresso será de R$ 13,68 bilhões, ou 0,12% do PIB. Nos
EUA, com orçamento de US$ 4,73 bilhões, o custo dos
parlamentares representa 0,017% do PIB. Proporcio-
nalmente, o parlamento brasileiro custa 7,5 vezes mais
que o americano.
Para explicar esse fenômeno brasileiro, o pesqui-
sador Luciano de Castro, que é professor associado na
Universidade de Iowa, nos Estados Unidos, parafraseou
30 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: JONAS PEREIRA/AG. SENADO | NELSON JR./SCO/STF
o professor Barry Ames, autor do livro The Deadlock
of Democracy in Brazil. “A tragédia do sistema políti-
co brasileiro não é que ele beneficie as elites, e sim
que ele beneficia a si próprio.”
Do total de gastos do Legislativo brasileiro este
ano, salários e benefícios custarão R$ 6,43 bilhões.
Aposentadorias e pensões, outros R$ 5,5 bilhões. Além
de elevada, a folha de pagamento do Legislativo fede-
ral é extensa, somando mais de 24 mil pessoas, a maior
parte deles na Câmara (14.778 servidores). Para Vic-
tor Gonzaga Gurgel, pesquisador da Universidade
Federal do ABC, a escalada dos gastos acontece sem-
pre que a pessoa que usufrui é a mesma que autoriza
o aumento. “Não há qualquer tipo de autonomia real
dos outros Poderes para frear os aumentos, até porque
eles também se beneficiam da autorregulação.” Uma
solução seria o modelo adotado em alguns países da
Europa, como Irlanda e Suíça, onde os orçamentos
são cruzados. Assim, cada Poder desenha seu próprio
orçamento, mas precisa passar por auditoria nas
outras Casas. Um estudo feito pelo Instituto Millenium
calculou que reduzir o uso do auxílio moradia e as
férias, de 60 para 30 dias, traria economia de R$ 2,3
bilhões aos nossos bolsos ao ano.
O TCU também está atento a essa questão. Apenas
no ano passado, o Congresso gastou ao menos R$ 258,6
milhões com o pagamento de despesas dos parlamen-
tares com alimentação, hospedagem, aluguel de escri-
tório e veículos, combustíveis e lubrificantes, telefone
e passagens aéreas, entre outras. A verba varia de
acordo com o estado de origem do parlamentar. No
Senado, vai de R$ 21.045,20, para senadores do Distri-
to Federal e de Goiás, a R$ 44.276,60, para represen-
tantes do Amazonas. Na Câmara, o benefício é ainda
mais generoso: deputados da capital federal têm di-
reito a R$ 30.788,66 e os de Roraima a R$ 45.612,53.
Na avaliação do TCU, a atual estrutura das duas
casas legislativas não é capaz de impedir uso indevido
do dinheiro público. “A realidade é que existem indícios
de utilizações irregulares, equivocadas ou ineficientes
dos recursos disponibilizados, e que os meios atuais
de controle e fiscalização não estão sendo eficientes
para mitigar o eventual abuso ou mau uso das verbas
por parte de determinados parlamentares”, afirmou
o relatório do tribunal. A estimativa é que cada Casa
poderia reduzir até um R$ 1 bilhão ao ano com mais
disciplina e controle dos gastos. “É dinheiro de todos
nós utilizado sem qualquer garantia de que os princí-
pios basilares da administração pública estão sendo
respeitados.”
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J U D I C I Á R I O
CAIXA PRETA
(E CEGA)
N ão é possível avaliar os problemas do custeio
brasileiro sem olhar também para o Judiciário.
Responsável por um orçamento de R$ 73,08 bilhões
ao ano, o Poder Judiciário, em seu conjunto, conver-
teu-se em uma grande estrutura geradora de privilé-
gios para poucos, com baixa preocupação social, ne-
nhuma participação democrática, transparência ou
controle da sociedade.
Dos Três Poderes, o Judiciário também é o mais
difícil quanto a acessar dados públicos, o que torna
baixa — ou nula — a fiscalização do andamento e do
destino dos recursos. Pouca gente sabe, por exemplo,
que o Judiciário brasileiro é um dos mais caros do
mundo. É o que mais gasta recursos públicos entre
todos os países da América e da Europa. Segundo um
estudo da FGV-Rio, em pareceria com o Banco Mun-
dial, o Brasil destina 0,7% do PIB para a manutenção
de sua Justiça. Na Alemanha é menos da metade:
0,32%. Na Itália 0,19%. Nos EUA 0,14%. O número
não seria tão ruim se a Justiça funcionasse melhor.
No Judiciário os benefícios também se acumulam.
Auxílio-moradia, auxílio-paletó, auxílio-livro, recursos
esses que não estão sujeitos ao IR e à contribuição
previdenciária. E essa é apenas a ponta do iceberg. Em
São Paulo, por exemplo, um estudo do Ministério Pú-
blico de 2021 revelou que a média de rendimento men-
sal dos juízes e desembargadores era de R$ 40.853
(enquanto o teto era R$ 33.763). Em cargos como
procuradores-gerais de Justiça, chefes dos MPs esse
valor podia chegar R$ 53.971. À época, das 54 esferas
judiciais pesquisadas no estado, 50 furavam o teto. E
isso é ilegal? Não. A questão é a moralidade. Usufruir
do benefício é constitucional, mas a recondução dele
para transformar em parte do provento mensal é uma
subversão do propósito. Na ponta do lápis, seria pos-
sível reduzir, ao ano, cerca de meio milhão de reais de
salários pagos acima do teto.
Para o advogado José Marin Gonzáles, procurador
aposentado por Minas Gerais, a construção da casta
Judiciária é um problema que o Brasil terá de enfren-
tar, uma hora ou outra. “A solução seria ampliar a lei
que estabelece o teto salarial do ente público para que
ela fosse mais clara sobre a incorporação de benefícios.”
A taxação dos valores também seria uma solução para
redução das perdas, além, claro, do uso da tecnologia
para cruzar dados de modo instantâneo e barrar pe-
didos inapropriados. “Deveria haver um teto de be-
nefícios, a ser usado como o magistrado preferir”,
disse Gonzales.
Parece claro que todos precisam cortar na própria
carne. O que ninguém fez até agora.
Dinheiro 17/01/2024 31
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NEGÓCIOS

SITUAÇÃO DE
EMERGÊNCIA
PARA A BOEING
Fabricante americana é obrigada, mais uma vez, a
suspender voos de 170 aeronaves do modelo 737 Max 9,
depois de uma porta ser arrancada em pleno voo.
O modelo anterior, o 737 Max 8, foi responsável
por dois acidentes que mataram 346 pessoas

Hugo CILO

C
onsiderado o meio de transporte mais seguro do mundo, o
avião está sob a mira — e as preocupações — de passageiros e
companhias aéreas de todo o mundo desde a semana passada.
A reputação voltou a ser abalada depois de uma porta do mo-
delo 737 Max 9, o mais moderno da americana Boeing, opera-
do pela Alaska Airlines, ser arrancada em pleno voo, em 5 de
janeiro. Seria um caso isolado se não fosse o currículo recen-
te da Boeing. Em 2018 e 2019, dois acidentes com um modelo
anterior da empresa, o 737 Max 8, mataram 346 pessoas na
Indonésia e na Etiópia.
Desta vez, a porta foi perdida a 16 mil pés, 4.800 metros
de altitude, resultando em despressurização explosiva, que
puxou para fora pertences pessoais de alguns passageiros,
incluindo um celular que foi encontrado
intacto no solo. Diante do caso, os voos
do 737 Max 9 foram suspensos quase no
mundo todo, e inspeções foram ordena-
das pela FAA, a Administração Federal
de Aviação Civil dos EUA.
No Brasil, o modelo é operado apenas
pela panamenha Copa Airlines. A empre-
sa suspendeu seus 21 voos no País até que
o caso seja resolvido. “A Copa Airlines
lamenta profundamente os cancelamen-
tos e atrasos de voos em decorrência des-
ta situação, fora de seu controle, e expres-

32 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO

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VAMOS ABORDAR
ISSO COM 100% DE
TRANSPARÊNCIA,
EM PRIMEIRO LUGAR,
RECONHECENDO
NOSSO ERRO
DAVE CALHOUN,
PRESIDENTE DA BOEING

Dinheiro 17/01/2024 33
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NEGÓCIOS
sa suas mais sinceras desculpas aos seus
passageiros pelos transtornos causados”,
informou a empresa, em nota. A Copa
Airlines tem 96 aeronaves e voa para 81
destinos em 32 países. No Brasil, há 79
voos semanais saindo de Brasília (BSB),
Belo Horizonte (CNF), Manaus (MAO),
Porto Alegre (POA), Rio de Janeiro (GIG)
ou São Paulo (GRU) para o Panamá.
Enquanto companhias aéreas do
mundo todo divulgavam a suspensão dos
voos com o Max 9, a americana United
Airlines comunicou, na segunda-feira
(8), algo ainda mais preocupante. Duran-
te as inspeções, a empresa encontrou
parafusos soltos ou mal apertados. O
alerta levantou várias acusações contra
a Spirit AeroSystems, principal fornece-
dora da Boeing e que está sob escrutínio
por seguidos problemas de controle de
qualidade. Em resposta, a Spirit reco-
nheceu os problemas e admitiu que re-
latórios iniciais indicam que algumas
peças soltas eram visíveis em algumas
aeronaves. “A Spirit AeroSystems está
agora apoiando diretamente a investiga-
ção. Como empresa, continuamos focados
na qualidade de cada estrutura de aero-
nave que sai de nossas instalações.”
O presidente-executivo da Boeing,
Dave Calhoun, tem assumido a respon-
sabilidade pelos erros cometidos pela
fabricante e afirmou que fará de tudo para
acidentes como o que ocorreu com a Alaska
Airlines em pleno voo nunca mais acon-
34 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: AFP/PAUL WEATHERMAN | DIVULGAÇÃO
POUSO
FORÇADO teça. “Temos consciência da real gravidade do acidente. Fiquei
Existem 215 abalado até os ossos com o acidente”, disse. “Vamos abordar
aeronaves do isso com 100% de transparência, em primeiro lugar, reconhe-
modelo 737 Max 9 cendo nosso erro”, disse Calhoun, em reunião com funcionários.
em serviço em
todo o mundo. Na
América Latina, FROTA O Max 9 da Boeing faz parte da série 737 Max e pode
é operado pela transportar até 220 passageiros, dependendo da configuração
Copa Airlines e dos assentos. No total, existem 215 aeronaves Max 9 em ser-
Aeroméxico
viço em todo o mundo, segundo dados da Cirium, empresa de
análise de aviação. Nos Estados Unidos, a United Airlines e a
Alaska Airlines possuem quase um terço desses aviões. A
United Airlines possui 79 aviões Max 9 em serviço, o maior
número de qualquer companhia aérea.
Na América Latina, além da Copa Airlines, o modelo é
operado pela Aeroméxico. A empresa informou que manterá
seus 19 aviões 737 Max 9 em solo até que sejam inspecionados.
“A inspeção da nossa frota Max 9 será concluída o mais rápido
possível para continuar com as operações programadas e
continuaremos a trabalhar em estreita colaboração com a
Boeing e as autoridades competentes", afirmou a companhia
aérea mexicana.
Outras empresas que têm em sua frota o Boeing 737 Max 9
são a SCAT Airlines (Cazaquistão), a Icelandair (Islândia), a
Turkish Airlines (Turquia) e a FlyDubai (Emirados Árabes
Unidos). No Reino Unido, a Autoridade de Aviação Civil proi-
biu que empresas estrangeiras operem no espaço aéreo britâ-
nico até que as inspeções sejam concluídas. Já a Agência de
Segurança da Aviação da União Europeia (EASA) disse que está
seguindo a orientação da FAA, mas que as interrupções nos
voos no continente deverão ser mínimas. A medida também
atingiu o Brasil, onde a Agência Nacional de Aviação Civil
(Anac), seguindo a decisão da FAA, ordenou a suspensão das
operações com esses modelos.
Na última semana, entre a segunda-feira (8) e a tarde da
quinta-feira (11), as ações da Boeing na bolsa americana acumu-
lavam baixa de 8,2%. Em relatório, o banco Goldman Sachs
destacou que “qualquer problema de controle de qualidade in-
troduz riscos no cenário de produção e de entrega”, mas ponde-
rou que pode ter um impacto que vai além do curto prazo.
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NEGÓCIOS

DELL ANNO
DECORA
NOVA YORK
Marca brasileira de móveis planejados
investe US$ 2 milhões na primeira
flagship na cidade norte-americana.
Grupo Unicasa visa compensar
volatilidade do mercado no Brasil
Angelo VEROTTI

Dell Anno é referência em móveis planejados uma queda de 13% na comparação a 2022. Os números do úl-

A
no Brasil. Em quase 40 anos de existência a
marca adquiriu know how que a credenciou
a expandir os negócios ao mercado interna-
cional. Como parte da estratégia, a bandeira
pertencente ao Grupo Unicasa Móveis, tam-
bém detentor da New e da Casa Brasileira,
inaugurou uma loja própria em Nova York, movimento similar
ao realizado em Miami. É o décimo ponto de vendas da Dell
Anno nos Estados Unidos, onde são operados, em sua maioria,
com parceiros locais no modelo de lojas autorizadas. Um mer-
cado de US$ 20 bilhões anuais. A empresa também possui canais
de exportação para América do Sul, América Central, Europa,
África e Oriente Médio, por meio de mais de 30 showrooms.
“Apenas o investimento na flagship em Nova York chegou a
US$ 2 milhões”, afirmou à DINHEIRO Gustavo Dall’Onder,
presidente da Unicasa.
O aporte é considerável diante da receita líquida de R$ 192
milhões — ou US$ 38,4 milhões na cotação do dia 30 de setem-
bro — acumulada nos nove primeiros meses do ano passado,
timo trimestre ainda não foram divulgados. Os resultados do
intervalo entre julho e setembro, segundo a Unicasa, acabaram
afetados pelo atraso na entrega de imóveis pelo Brasil, além de
os consumidores terem postergado a execução das etapas da
sua obra em virtude de um cenário econômico mais restrito
em termos de crédito.
A expectativa, no entanto, é de avanço nos negócios este
ano, puxado principalmente pelo desempenho no mercado
norte-americano, que em seis anos de operações já representa
13,5% do faturamento — o restante do mercado internacional
é responsável por 1,5%. Apesar de 1,9 milhão de brasileiros
residirem nos Estados Unidos, de acordo com o Ministério das
Relações Exteriores do Brasil, o público-alvo da Dell Anno são
os norte-americanos. A estratégia é compensar a queda de
receita no mercado brasileiro diante da volatilidade da econo-
mia. “Colocamos o seguinte na nossa cabeça: vamos fazer um
negócio lá fora de tal maneira que, quando o Brasil estiver bom
e o dólar ruim, eu não perco dinheiro [nos Estados Unidos].
Posso até não ganhar’”, afirmou Dall’Onder. “E quando o Bra-

36 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO/ROBERTO MAJOLA | DIVULGAÇÃO

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sil estiver ruim e o dólar for subir, eu
ganho dinheiro fora.”
Com a inauguração da primeira fla-
gship na Big Apple, o executivo acredita
que a Dell Anno vai conseguir capturar
duas coisas. Primeiramente, efeito de
marca. “Estamos em uma boa localização,
onde está o polo de decoração da ilha de
Manhattan. Uma região muito bacana, o
que nos ajuda bastante”, disse o presi-
dente. E a segunda, a expectativa de que
seja uma flagship sustentável. “Que tenha
negócios suficientes para se manter eco-
nomicamente no azul, por si só.”
A nova unidade está estrategicamen-
te localizada em Manhattan, na 36W 25th
St, entre a 5ª e a 6ª avenidas. Tem 350
metros quadrados, além de ser a primei-
ra loja de rua brasileira do segmento de
móveis planejados na cidade. “Estamos
APOSTA DE
LUXO NOS EUA
Unidade na entusiasmados com esta nova abertura. Essa expansão repre-
Big Apple fica
senta um passo significativo em nossa jornada internacional.
próxima da
5a AVENIDA e Estamos certos de que isso trará ainda mais experiência para
tem no portfólio continuarmos nossa operação no Brasil”, afirmou Dall’Onder,
produtos para ao destacar que, embora tenha potencial econômico similar, a
residências
loja própria de Miami está situada em shopping. “E a flagship
e mercado
corporativo de Nova York é mais imponente.”
SOLUÇÕES PERSONALIZADAS Com portfólio diversifi-
cado, a operação da Unicasa nos Estados Unidos se concentra
especialmente em atender as necessidades de quem busca
soluções personalizadas para ambientes residenciais com foco
em single family, assim como o mercado corporativo. A marca
oferece ainda uma linha exclusiva desenvolvida para o merca-
do estadunidense que também estará disponível para o públi-
co brasileiro a partir de maio deste ano.
A abertura da unidade em Nova York acompanha uma
mudança de cultura de muitos norte-americanos. Segundo o
presidente, esse processo teve início nas regiões litorâneas do
país, em locais como Flórida, Miami e a própria Nova York.
“Poucos anos atrás eles gostavam muito daquela cozinha esti-
lo colonial, com mais madeira. Agora têm começado a aceitar
o estilo mais moderno, mais europeu, mais italiano, que é o
Estamos em uma nosso produto. Que o brasileiro consome”, afirmou o executi-
boa localização, vo. Os produtos são fabricados no Brasil e transportados via
onde está o polo de marítima à América do Norte, onde a mão de obra local, espe-
decoração da ilha cializada, fica responsável pela montagem.
de Manhattan, o A linha de produção da Dell Anno abrange mais de 50 mil
que nos ajuda metros quadrados com uma planta totalmente robotizada e
bastante” responsável pela produção de 180 mil módulos de móveis por
mês. A empresa realiza desde 2022 um investimento de R$ 100
GUSTAVO milhões na modernização do parque fabril, o que vai permitir
DALL'ONDER
PRESIDENTE DA que o grupo entregue 100% da demanda. Seja no Brasil ou no
UNICASA MÓVEIS exterior. Faça a sua escolha.
Dinheiro 17/01/2024 37
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NEGÓCIOS

MESSER A TODO GÁS

Gigante alemã de gases industriais
quer usar sua tecnologia de
despoluição do Rio Pinheiros
e seu projeto de mobilidade
elétrica para se tornar referência
no mercado brasileiro
Hugo CILO
À
s margens do Rio Pinheiros, em São Paulo, um imen-
so cilindro colorido, que se assemelha a uma caixa
d’água industrial, passou a compor desde 2021 a pai-
sagem de um dos cartões-postais da capital paulista.
Próximo à Ponte Estaiada, o megatanque está sempre
cheio de oxigênio dissolvido supersaturado, gás que ao ser injeta-
do na água putrefata ajuda na depuração do esgoto e a eliminar o
mau cheiro. A tentativa é de devolver vida ao rio. Aquela minies-
tação de tratamento, com investimento de R$ 40 milhões em
cinco anos, é parte do Programa Novo Rio Pinheiros, uma inicia-
tiva de R$ 1,7 bilhão da Sabesp para tentar salvar o rio e a reputa-
ção (ou o que restou dela) dos inúmeros governos estaduais, que

38 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO

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NOVA VIDA
AO RIO
Megatanque
próximo à Ponte
Estaiada, injeta
na água oxigênio
dissolvido
supersaturado
e ajuda na
depuração do
esgoto e na
eliminação do
mau cheiro
vem e vão, e exploram a despoluição do esgoto
a céu aberto apenas como promessa de cam-
panha eleitoral. Por trás dessa tecnologia está
a alemã Messer Gases, companhia centenária
com faturamento global de 4,1 bilhões de euros
no ano passado. A empresa está no Brasil des-
de 2019 e já transformou a operação em uma
das top 10 do grupo no mundo.
Mais do que atuar em cartão-postal da
cidade, a Messer pretende transformar a sua
tecnologia em um cartão de visita no País.
Sob comando do americano Scott Latta, a
empresa está multiplicando seus resultados
depois da aquisição, em 2019, da concorren-
te Linde no Brasil, Canadá, Colômbia e Es-
OBJETIVO NÃO É SERMOS OS MAIORES, MAS OS
MELHORES NOS SEGMENTOS EM QUE ATUAMOS
tados Unidos. Naquele mesmo ano, com-
prou a Praxair, no Chile. “A operação
brasileira está entre as de maior potencial
de crescimento dentro do grupo nos pró-
ximos anos, não só pela dimensão do
mercado, mas também pelas oportuni-
dades em diversos setores”, afirmou o
CEO, em entrevista à DINHEIRO. “Além
do saneamento, queremos ser referência
para o setor de alimentos e bebidas, bio-
combustíveis, energia e medicina.”
Embora seja uma novata no mercado
brasileiro, onde a concorrente brasileira
White Martins lidera com folga, a Messer
Gases não é pequena. A operação inclui 31
unidades no Brasil, sendo 19 no Sudeste,
duas no Centro-Oeste, quatro no Nordes-
te e seis no Sul. A maior filial está em Jundiaí
(SP), responsável pela produção e envase
dos gases industriais, medicinais e especiais.
A empresa tem hoje 600 funcionários e
mais de 5 mil clientes no País.
MOBILIDADE Para consolidar sua mar-
ca como referência em sustentabilidade
no mercado brasileiro, a Messer Brasil
iniciou um projeto pioneiro em São Paulo
com caminhões de transporte de cilindros
100% elétricos. A substituição dos cami-
nhões a diesel para o modelo elétrico con-
tribui para a meta de redução de poluentes
e garante agilidade na logística da compa-
nhia, já que os veículos não se enquadram
nas regras do rodízio da cidade. O projeto
começou a ser desenhado no fim de 2022.
Foram mais de oito meses de preparação
até que os caminhões começassem a rodar.
Segundo Latta, a iniciativa é uma forma
de estimular outros projetos sustentáveis
que a Messer Brasil possa realizar no fu-
turo. “O objetivo não é sermos os maiores
em um mercado que chegamos há pouco
tempo, mas sermos os melhores nos seg-
mentos em que atuamos”, afirmou.
SCOTT LATTA, CEO DA MESSER GASES
Dinheiro 17/01/2024 39
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NEGÓCIOS
UM CARRO ELÉTRICO MAD
Inspirado em Elon Musk, empresário cria montadora com plano de faturar R$ 1 bilhão em 2025 com
A
inspiração veio do bilionário sul-africano Elon
Musk, dono da Tesla e do antigo Twitter, agora X.
Já a iniciativa partiu do empresário Flávio Figuei-
redo Assis, ex-dono da empresa financeira Lecard
que, diante da possibilidade de contribuir para a
mudança da matriz energética no País, deu início
em fevereiro de 2022 à criação da Lecar Indústria
Brasileira de Automóveis Elétricos. Depois de quase dois anos de
trabalho, a marca deve apresentar em dezembro o primeiro auto-
móvel nacional 100% elétrico: o Lecar Model 459. O protótipo será
enviado à Inglaterra no mês que vem para uma série de homologa-
ções e testes, com a previsão de entrar em linha de produção no
Brasil no fim do ano. A montadora visa faturar R$ 1 bilhão em 2025.
“Além de criar um projeto que favorece a mobilidade e a sustenta-
bilidade, nosso objetivo é fazer com que o Brasil seja visto de forma
valorizada”, disse o fundador e CEO. “Somos a oitava economia do
mundo [a nona, na verdade] e ainda não tínhamos uma montadora
nacional. Vamos mudar o rumo da história.”
40 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO
Apesar da determinação demonstrada pelo executivo, uma
pergunta se torna inevitável: terá a Lecar o mesmo destino de outras
marcas brasileiras, como Gurgel, Miura e Puma, que sucumbiram
diante da concorrência das multinacionais? O bacharel em direito
e contabilista afirmou que os desafios da mudança da matriz ener-
gética são iguais para todas as montadoras, sejam elas tradicionais
ou estreantes. “Acredito que em toda mudança de tecnologia surgem
novos líderes”, disse.
Para tentar garantir um espaço para a Lecar no mercado ele-
trificado, o executivo foi buscar especialistas em grandes companhias
do segmento automotivo. A equipe de engenharia tem 30 profis-
sionais com passagens por Toyota, Nissan e Ford. Ao menos 35%
das peças do Lecar Modelo 459 serão importadas da China, de
fornecedores que atendem também gigantes como Volkswagen e
Hyundai. Os demais componentes serão produzidos no Brasil.
O veículo 100% elétrico será fabricando na cidade gaúcha de
Bento Gonçalves, por causa da proximidade com vários fornece-
dores do ecossistema de mobilidade. O Lecar Model 459 terá um
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ADE IN BRAZIL
ALÉM DE CRIAR
UM PROJETO DE
MOBILIDADE
SUSTENTÁVEL, O
OBJETIVO DA
NOSSA EMPRESA
25 com o Lecar Model 459 Angelo VEROTTI É FAZER COM
QUE O BRASIL
TENHA MAIS
VALORIZAÇÃO.
VAMOS MUDAR
O RUMO DA
HISTÓRIA
FLÁVIO ASSIS,
Fundador e CEO da
Lecar Automóveis

custo de R$ 279 mil e autonomia de 400 km
por carga. A carga tributária é de 43%. “Pre-
cisamos que o governo se conscientize sobre
a importância dos carros elétricos para o
Brasil e crie uma política de incentivos a fim
de termos preços mais competitivos.”
O plano é produzir 300 veículos por mês
já no primeiro ano de fabricação, gerando
600 empregos diretos. O foco das vendas
será a Grande São Paulo, especialmente
entre a capital, Campinas e São José dos
Campos. Os investimentos até a fase inicial
de produção chegam a quase R$ 1,1 bilhão,
sendo R$ 80 milhões em homologação, R$
600 milhões em obras civis, ferramental,
moldes e robotização da linha de produção,
além de R$ 400 milhões na fabricação das
primeiras 300 unidades.
INVESTIMENTO
E ALTO PREÇO
Aporte da empresa O investimento tem sido feito com capital próprio do empre-
deve chegar a sário. Mas Assis não descarta a realização de um IPO em 2025 para
R$ 1,1 bilhão até levantar capital. A montadora visa captar R$ 5 bilhões na bolsa,
a produção do
primeiro lote com para produzir 50 mil carros em cinco anos, com receita estimada
300 carros. O Lecar em R$ 14 bilhões. O fundador garante que a sustentabilidade finan-
Model 459 terá ceira da marca não está condicionada a bom resultado na oferta
custo de R$ 279 mil pública de ações. “Não dependemos de capital de terceiros para o
e autonomia de
400 km sucesso do projeto e a produção de 300 carros por mês”, disse.
EM ALTA A aposta nestá baseada em números do mercado. As
vendas de veículos leves eletrificados seguem em crescimento no
País. No ano passado, os emplacamentos chegaram a 93,9 mil
unidades, segundo a Associação Brasileira do Veículo Elétrico
(ABVE). Diante do desempenho, a entidade projeta a comerciali-
zação de 150 mil unidades este ano. “O veículo elétrico caiu no
gosto do consumidor brasileiro, e essa tendência se confirma ano
após ano”, disse Ricardo Bastos, presidente da ABVE. E a Lecar
espera pegar carona nesse movimento.

Dinheiro 17/01/2024 41
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ESG
O PLANO 2030
DA BRACELL
Líder global na produção
de celulose solúvel investe
R$ 15 bilhões na fábrica
mais sustentável do
mundo no setor e amplia
agenda estratégica ESG
com 14 compromissos para
os próximos seis anos,
como redução de emissão
de CO2 e aumento de área
verde preservada no País
Sérgio VIEIRA
42 Dinheiro 17/01/2024
om um olhar voltado para os próxi-
C
mos seis anos. Essa tem sido a es-
tratégia na área de sustentabilidade
da gigante Bracell, líder global na
produção de celulose solúvel. A
companhia lançou recentemente
seu plano de agenda estratégica de ESG para
2030, que inclui 14 compromissos e metas,
divididos nos pilares de ações pelo clima,
paisagens sustentáveis e biodiversidade,
crescimento sustentável e de empodera-
mento das pessoas, ligado à área social.
“Sustentabilidade é algo central da atuação
da empresa. Está na operação da companhia.
Sempre foi assim”, disse à DINHEIRO Már-
cio Nappo, vice-presidente de sustentabili-
dade da Bracell. “E agora a gente decidiu ir
além, com metas claras e quantificáveis.”
Neste projeto, a empresa pretende che-
gar a 230 mil hectares de vegetação nativa
FOTOS: DIVULGAÇÃO
preservada em áreas públicas, além de man-
ter unidades de conservação nos biomas
Mata Atlântica, Cerrado e Caatinga. Também
está no plano uma operação de economia
de baixo carbono. O compromisso é de re-
duzir em 75% as emissões de carbono por
tonelada de produto. A meta é de, entre 2020
e 2030, remover 25 milhões de toneladas
de dióxido de carbono (MtCO2).
Para atingir esse objetivo, uma das ações
será substituir toda a frota de saída por ca-
minhões elétricos. “A gente sabe que logís-
tica é sempre um grande desafio. Para bus-
car soluções a isso, a Bracell está realizando,
de maneira inédita no País, testes com ca-
minhões de grande porte 100% elétricos.
Além disso, eles são abastecidos na própria
fábrica”, afirmou.
Ainda no planejamento para 2030, a
empresa se comprometeu em reduzir em
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SEM EMISSÃO
A Bracell está
realizando testes com
caminhões de grande
porte 100% elétricos,
que são abastecidos
na unidade do interior
de São Paulo
47% o consumo de água por tonelada de
produto e diminuir em 90% o envio de re-
síduos sólidos para aterros. “A questão do
lixo é um dos grandes desafios atuais. É
preciso acabar com a produção de resíduos
e de enviar para os aterros”, disse. Uma das
estratégias está na construção de uma plan-
Sustentabilidade ta para fertilizantes, no interior paulista,
é algo central com investimentos de R$ 2,5 bilhões, a par-
da atuação da tir desses resíduos sólidos, que deve entrar
empresa. Está em operação em 2024. Na Bahia, já há um
na operação da projeto de compostagem com os resíduos,
companhia. E que servirão como fertilizante natural na
agora a gente plantação de eucalipto. No caso do resíduo
decidiu ir além, inorgânico, a ideia é gerar blocos de cimen-
com metas claras” tos, que serão disponibilizados para a cons-
MÁRCIO NAPPO trução civil, principalmente para as comu-
VICE-PRESIDENTE DE nidades no entorno das operações da Bracell.
SUSTENTABILIDADE
REALIZAÇÕES Se os planos para o fu-
turo são ambiciosos, as ações já realizadas
pela companhia neste segmento ratificam
o compromisso ambiental da empresa de
celulose. Em setembro de 2021, a Bracell
inaugurou a unidade de Lençóis Paulista
(SP), considerada a maior e mais susten-
tável fábrica de celulose do mundo, com
investimentos de R$ 15 bilhões, o maior
volume de recursos privados aportados
no estado de São Paulo nos últimos 20
anos. A capacidade de produção é de 1,5
milhão de toneladas por ano de celulose
solúvel e até 3 milhões de toneladas de
celulose kraft. “Ela opera com o que tem
de mais moderno hoje no mundo nas ques-
tões de consumo de água, geração de ener-
gia, de emissões”, disse Nappo.
A fábrica, que é autossuficiente em ge-
ração de energia, consegue gerar 180 mega-
watts excedentes de energia limpa, que é
integrado ao Sistema Nacional. A quantida-
de seria suficiente para abastecer uma ci-
dade de três milhões de habitantes, o equi-
valente a mais de duas vezes o tamanho de
Campinas (SP), por exemplo.
Em 2022, a empresa de celulose lançou
o compromisso ‘Um-para-Um’, iniciativa
pioneira no setor, que tem a proposta de
garantir a conservação das áreas de vegeta-
ção nativa em tamanho igual às áreas de
plantio. Para cada hectare plantado de eu-
calipto, a Bracell se compromete com a
manutenção de um hectare de área nativa.
A meta será alcançada até o fim de 2025.
“Para se ter uma ideia desse impacto, em
2023 chegamos a 70 mil hectares em áreas
de conservação ambiental no estado de São
Paulo dentro deste programa. Isso significa
uma área que corresponde à metade do
município de São Paulo”, afirmou o execu-
tivo. O acordo, válido por dez anos, também
deverá ser realizado com os governos do
Mato Grosso e da Bahia.
No pilar social, foram executados, ape-
nas em 2022, 31 projetos sociais, com inves-
timentos de R$ 4,4 milhões. Entre 2020 e
2022, foram mais de R$ 11 milhões aplicados
e 340 mil pessoas beneficiadas direta e in-
diretamente. Para o futuro, a ideia é de au-
mentar em 20% a renda das famílias que
participam de projetos de geração de renda
da empresa. “Nossa missão é de gerar im-
pacto positivo no clima, na natureza e nas
pessoas.” O desafio está traçado.
Dinheiro 17/01/2024 43
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Empresasediversidade

OS IMPACTADOS PELAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

NÃO ESTARÃO NO MERCADO DE CARBONO
C
hegamos ao tão aguardado ano novo, um aguarda- gundo a Pesquisa Global com Investidores 2023 da
RAPHAEL do novo ciclo de esperança e de dias melhores. O PwC. No contexto mundial, esse índice de percepção
VICENTE
DIRETOR GERAL
problema é que com ele, historicamente, seguem- é de 94%.
DA INICIATIVA -se as fortes chuvas de verão as quais nos lembram do Até agora, em relação aos ODS (Objetivos de De-
EMPRESARIAL nosso passivo climático. senvolvimento Sustentável), apenas 15% dos com-
PELA IGUALDADE As mudanças do clima causam eventos extremos, promissos corporativos assumidos foram cumpridos,
RACIAL.
ADVOGADO,
os quais se somam aos desafios já impostos pelas sendo que faltando menos de sete anos para o térmi-
MESTRE E desigualdades sociais, econômicas, de saúde, entre no do prazo, 2030, é bastante improvável o cumpri-
DOUTOR EM outras, potencializando-as e sacrificando ainda mais mento de muitas das metas estabelecidas.
CIÊNCIAS as pessoas atingidas, ou seja, na grande maioria das Por aqui, ainda nem resolvemos o problema da uni-
SOCIAIS PELA
PUC-SP.
vezes pessoas que já estão nas franjas sociais. No versalização do saneamento básico e estamos imple-
PROFESSOR E Brasil, leia-se pobres e negros, com ênfase quanto aos mentando o mercado de carbono. O Brasil pode ser um
DIRETOR negros que são maioria entre protagonista mundial quanto
GERAL DA os pobres e ainda sofrem com a questões do clima, mas dessa
UNIVERSIDADE
ZUMBI DOS
o estigma do racismo. O Estado precisa assumir vez precisará encerrar de uma
PALMARES Além disso, a pobreza tam- rapidamente a condução vez a cisão existente na socie-
bém é um definidor de acesso dade, principalmente a racial,
a territórios, relegando pesso-
do processo de transformação. ou seja, não pode haver uma
as menos abastadas aos locais
Os resultados dos nossos pequena parte da sociedade que
mais desassistidos e desestru- débitos com o meio ambiente compra e vende créditos de
turados das cidades, sendo são evidentes e cobram um carbono e outra, composta pela
estes as primeiras vítimas de preço alto justamente grande maioria, que suporta
todo tipo de desastres. daqueles que menos tem todos os efeitos terríveis da
Os eventos climáticos ex- condição de quitá-los emissão do carbono.
tremos vivenciados em vários Não haverá transição
estados brasileiros em 2023 energética, economia descar-
demonstram a urgência do tema. O Estado precisa bonizada e desenvolvimento social sustentável para
assumir rapidamente a condução do processo de ninguém, muito menos para as futuras gerações, se
transformação, sendo que os resultados dos nossos insistirmos na ideia de um Brasil de brancos abasta-
débitos com o meio ambiente são evidentes e cobram dos e outro de pobres, negros e quem sobrar.
um preço alto justamente daqueles que menos têm O desafio climático que cada vez mais se aproxima,
condição de quitá-los. se não for enfrentado de forma responsável e coletiva,
A sustentabilidade não tem como finalidade pri- corre o risco de tornar-se insuperável, e, possivel-
meira a governança ou o crédito de carbono, mas as mente, uma catástrofe humana sem precedentes.
gerações futuras, ou seja, as pessoas, as quais, por Que nesse ano que se inicia consigamos alterar
vezes, são deixadas de lado. Por exemplo, 98% dos rapidamente o curso da história, caminhado com
investidores brasileiros dizem que relatório corpo- firmes passos em direção a um desenvolvimento
rativo de sustentabilidade contém informações não econômico sustentável e a mitigação dos efeitos das
comprovadas ou suportadas por ações ou fatos, se- mudanças climáticas.

44 Dinheiro 17/01/2024
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Beto SILVA

N
ascida em São Tomé
e Príncipe, na África,
radicada em Portugal,
na Europa, Renata
Ramalhosa estudou em Londres,
trabalhou por 18 anos no governo
10
PERGUNTAS PARA

RENATA
RAMALHOSA
britânico e foi consul-adjunta do FUNDADORA
Reino Unido no Brasil. Deixou a E CEO DA BETA-I
carreira diplomática de lado para
atuar em inovação aberta com foco
em sustentabilidade. Fundadora
e CEO da consultoria Beta-i, sua “OS PORTOS
missão é criar um ecossistema de
empresas e startups interessadas
em avançar na economia azul, para
BRASILEIROS
uso mais inteligente dos recursos
marinhos. Na visão de Ramalhosa,
PODEM
os portos do País podem ser
mais do que apenas um local de ATUAR EM
embarque e desembarque de
pessoas e mercadorias. MUITO
Como começou interesse pela
MAIS
sustentabilidade?
Estudei química em Londres. ÁREAS”
Depois de dois anos descobri que
não era uma pessoa para ficar em
laboratório. Conversei com uma
professora que disse que teria
mais a ver comigo engenharia do
meio ambiente. Foi transformador.
Lá, os trabalhos acadêmicos são
para a indústria, de necessidades
reais. Esse pragmatismo me
agradou muito, pois sou uma
pessoa prática. Fui para outros
países. Na Holanda me especializei
em água e saneamento, por causa
dos canais que existem por lá.
Depois fui para a França trabalhar
em uma empresa de baterias
que queria fazer reciclagem de
chumbo.

E como ingressou no governo

britânico?
O Reino Unido foi importante
para mim, além da parte
acadêmica. Tive a oportunidade
de ser selecionada para atuar

46 Dinheiro 17/01/2024 FOTO: DIVULGAÇÃO

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no governo britânico para trabalhar em
tecnologia para o meio ambiente, análise
das condições climáticas e mercado de
carbono. Vivíamos o Protocolo de Kioto,
altamente dinamizador, e o Reino Unido
estava a liderar essa agenda na Europa.
Foram 18 anos por lá. Depois entrei para a
diplomacia econômica.
No Brasil, é possível avançar mais
nessa conexão entre universidade e
mercado?
Estados Unidos, Europa e China têm essa
visão. Mas é algo muito difícil quebrar isso.
Tem de haver sabedoria para ser ganha-
ganha, com acordo grande entre governo,
academia e setor privado. Temos alguns
casos no Brasil, em São Paulo, Bahia... Mas
é preciso expandir. Para que a pesquisa
não deixe de ser disruptiva, não deixe de
pensar no futuro, mas olhe também os
desafios do presente. Quando se olha o
número de deep techs no País, que são as
startups focadas em P&D, é muito baixo.
Isso é um indicador dessa conversão
entre ciência e mercado, que merece uma
atenção maior. Existe uma massa crítica
forte na ciência brasileira. É importante
transformar isso em valor.
Quando o Brasil entra na sua vida?
Fui para São Paulo como consul-geral-
adjunta. Foram quatro anos muito
intensos de muito trabalho. Uma imersão
no Brasil não só na política, mas junto ao
empresariado, muito sofisticado e pouco
conhecido no mundo. Sempre acreditei
que uma das pontes entre o Brasil e o
Reino Unido era o empreendedorismo e
inovação. Criamos uma estratégica focada
nisso. Mas a vida do servidor público não é
fácil. E resolvi empreender por aqui.
O que falta para melhorar a imagem do
empresariado brasileiro mundo afora?
Os empreendedores brasileiros são
incríveis. Ocorre que o brasileiro não
precisa ir para fora do País para ser
bem-sucedido. O mercado interno é
muito grande. Exige foco por aqui. Não
tem tradição de internacionalizar as
marcas. Exceção a grandes grupos na
agropecuária, papel e celulose. JBS e
Suzano são líderes globais de seus setores.
Temos que contar mais essas boas
histórias para inspirar outras. Queremos
mudar isso, principalmente nas startups,
para saberem o que se passa nos Estados
Unidos, na Europa e na Ásia. Percebo que
há vontade dos novos empreendedores
de ir para o exterior. As fintechs já têm
tido boa visibilidade fora do Brasil. As
agrotechs também. Para as PMEs pode ser
muito interessante esse movimento.
Como está seu trabalho em economia
azul?
O Brasil tem já uma estratégia de economia
azul de defesa. O sudeste asiático começou
muito mais cedo nesse tema, com aquilo
que é o futuro dos portos. Eles vão mudar
radicalmente o modelo de negócio dos
portos. A Europa também. Com estímulos
aos portos para serem azuis [com projetos
voltados à preservação dos oceanos] e
verdes [ações para preservação da natureza
em terra]. Produção de energia, produção
de algas, protetores da zona econômica
exclusiva, saneamento... Para serem cada
vez mais uma indústrias da água. Esse
conceito é cada vez mais forte, para criar
ecossistema de startup e empreendedores
ligados a esses desafios. A água é um
bem escasso no mundo. Pensamos em
desafios para trazer soluções tecnológica e
inovadoras para resolver algo que indústria
tradicional não está a resolver. Estados
Unidos e Canadá também estão engajados.
Brasil e América Latina menos. É isso que
queremos despertar.
Como tem sido sua atuação nesse
processo?
Temos projeto junto ao Governo do Rio
de Janeiro, que tem desenvolvido um
plano para a economia azul. Faz sentido
também criar um ecossistema de startups
com foco nisso. Pela Beta-i, criamos o
Programa Blue Rio, de inovação aberta,
juntamente com a Universidade Estadual
do Rio de Janeiro (UERJ). Convidamos
empresas privadas e startups que querem
fazer parte dessa jornada. Temos desafios
que se conectam. Temos de pensar quais
são os problemas do estado, seja em água,
saneamento, sustentabilidade, navegação
energia e logística. São esses nossos
grandes pilares. Temos envolvidas a Vibra
Energia e a Galp (portuguesa), Águas do
Rio (concessionária da Aegea) e Cedae
(Companhia Estadual de Águas e Esgotos
do Rio de Janeiro), Secretaria Estadual do
Meio Ambiente, Oceanpact, Porto do Açu
e Wilson Sons. São mais de 300 startups
de 46 países interessadas em trabalhar
no projeto. Estamos a definir os pilotos.
É possível estabelecer esse ecossistema
quando se tem metodologia e processo.
Sobre mudança de conceito dos portos,
o que é possível avançar?
Até hoje eles são meros gestores de uma
pequena costa, para logística de carga.
Algo bastante focado na atividade de
transporte de mercadoria, importação e
exportação. Hoje em dia os portos podem
ser produtores de energia, seja eólica
offshore ou a partir das ondas. Também
pode-se pensar algicultura (cultura das
algas). A alga é multiuso, pode ser usada
para fabricação de cosmético, alimento,
biomassa de energia... Estamos a ver uma
diversificação de negócios dos portos,
por várias razões. Para ter variação de
negócios, para responder exigências
cada vez maiores de ESG e maximizar a
economia costeira, seja com produção
de energia, novos parques para turismo,
com redução da pegada de carbono para
vender carbono no mercado. Os portos
podem atuar em muito mais áreas.
Onde isso está mais avançado?
Sudeste asiático e Europa estão
mais avançados. Canadá e costa
leste americana também. Na Beta-i
trabalhamos com 360 portos para
pensar nisso tudo. Levando startups para
resolverem os problemas. E também com
atração de fundos de investimentos, que
estão cada vez mais exigentes na agenda
ESG e, claro, no retorno desses aportes.
O Brasil está atrasado?
Acredito que ainda existe muitos portos
públicos, apena alguns privados. Há
diferenças importantes entre um e outro.
O Porto Sul, na Bahia, tem essa visão, de
ser um empreendimento azul e verde. Há
cada vez mais por parte do setor portuário
de ser mais sistêmico, com mais clareza da
sua função.
Dinheiro 17/01/2024 47
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Cobiça POR CELSO MASSON

NOVOS MOTIVOS PARA

ESQUIAR NO COLORADO
Um dos destinos de neve mais
charmosos dos Estados Unidos, as
montanhas de Aspen e Snowmass estão
com novidades para a temporada deste
ano. A rede Limelight Hotels, que acaba
de inaugurar uma unidade na capital
Denver, fez uma parceria com a
montadora Audi para oferecer duas
novas experiências aos hóspedes. A
primeira é um test-drive gratuito de até
duas horas com os modelos E-Tron ou
Q7; a outra, o empréstimo de um carro
da marca por até quatro horas para um
Πtour autoguiado pelo Roaring Fork Valley.
Já o cinco estrelas The Little Nell, único
da categoria que oferece ski-in/ski-out
em Aspen (1), inaugurou em dezembro
o seu aguardado spa (2), com projeto
do escritório espanhol Luis Bustamante
Interior Design. O cardápio de
tratamentos estéticos é assinado pela
especialista Barbara Sturm, que usa
tecnologia de ponta e ingredientes
adaptados às necessidades individuais
de cada hóspede nas terapias faciais e
corporais. Uma academia de última
geração completa a estrutura do spa.
Para quem prefere os prazeres da boa
mesa, o Element 47, restaurante do hotel
The Little Nell com uma adega de 20 mil
garrafas, recebeu da publicação
britânica The World of Fine Wine o
prêmio de Melhor Carta de Vinhos de
 Hotel do Mundo em 2023. Informações
e reservas: thelittlenell.com.

JOIA
CARTIER ALCANÇA GEOMETRIA
PERFEITA COM COLAR MIRAGGIO
Geometria e contraste são dois elementos que
constituem o estilo de alta joalheria da maison
Cartier desde sua fundação, em 1847. No caso
do colar Miraggio, que integra a coleção Le
Voyage Recommencé, o ponto de partida é um
alinhamento de safiras do Sri Lanka. Ele define
o eixo a partir do qual alternam-se pedras
preciosas (safiras e esmeraldas) em uma
variação de tons de azul e verde que evoca o
estilo que o criador Louis Cartier chamava de
“decoração pavão”. Preços sob consulta pelo
telefone (11) 4380-0828, de segunda a sexta-
feira, com atendimento das 10h às 17h.

48 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO

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CARRO
KIA NIRO É UMA BELEZINHA
HÍBRIDA POR MENOS DE R$ 200 MIL
Em um mundo de SUVs cada vez mais semelhantes entre si, qualquer
carro com design fora do óbvio já ganha pontos pela originalidade.
Melhor ainda quando a monotonia e a previsibilidade dão lugar à elegância,
como é o caso do Kia Niro. Sua motorização híbrida permite rodar até 19
quilômetros com um só litro de gasolina na cidade. E, se por fora o estilo do
carro chama a atenção graças à assinatura de led sob os faróis dianteiros e
à coluna traseira pintada em uma cor diferente do restante da carroceria,
por dentro ele se destaca pelo amplo espaço, especialmente para quem
vai atrás. O porta-malas também é generoso para as medidas do carro.
Até 31 deste mês, o preço sugerido pela fabricante é R$ 199.990, à vista.

RELÓGIO
SKELETON TRAZ MOSTRADOR
QUE PERMITE VER MECANISMO
Fundada no Japão em 1951, a Orient
Star é reconhecida por seus
modelos tecnológicos e de alta
precisão. Seu modelo Skeleton,
com caixa e pulseira em aço
inoxidável, permite que o
funcionamento do
maquinário seja observado
através do fundo da caixa
em cristal de safira. O
calibre de corda manual
também está equipado com
uma roda de escape de silício
que estende a reserva de marcha
para 70 horas. O toque de
elegância é reforçado pelo visual
que evoca imagens da Via Láctea.
À venda em lojas selecionadas pelo
preço sugerido de R$ 23.999.
ACESSÓRIO
COLEÇÃO DE MALAS DA RIMOWA
É INSPIRADA NO AZUL DO MAR
Um tom vivo de azul que evoca
a cor do mar foi escolhido pela
maison alemã Rimowa para a
nova linha de malas da coleção
Essential, que recebeu o
apropriado nome Sea Blue.
São três modelos que
chegaram às lojas da grife na
primeira semana deste mês:
Essential Cabin (R$ 5.400),
Essential Check-in L (R$ 6.750),
e Essential Trunk Plus
(R$ 8.550). O conjunto é
complementado por
acessórios da mesma cor em
diferentes tamanhos, com
preços entre R$ 650 e R$ 900.
À venda também pelo
e-commerce rimowa.com.br

GASTRONOMIA

KÜCHE CONVIDA CHEFS PARA

CRIAR MENUS AUTORAIS
Eleito melhor restaurante de Campos do Jordão pelos
usuários da plataforma Tripadvisor, o Küche convidou
chefs que participaram de um famoso reality de
gastronomia para conduzir experiências exclusivas
em menus de quatro tempos (couvert, entrada, prato
principal e sobremesa). Ananda Lutzenberger (foto)
foi a convidada que abriu a programação, no sábado
(6), seguida por Larissa Soares (dia 13). Os próximos
chefs a assumir a cozinha são Fernando Cavinato
(20) e Raul Lemos (27). Os menus, servidos das 19h
às 23h30, têm preço fixo de R$ 320 por pessoa.
Reservas: orthotel.com.br/kuche.

Dinheiro 17/01/2024 49
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ESTILO
SEU TREM EXCLUSIVO
P E L A R O TA D A S E D A
Roteiro privativo sobre trilhos do Cazaquistão ao Turcomenistão é uma das novidades que
marcam o vigésimo aniversário da Latitudes, pioneira em viagens de conhecimento
Celso MASSON
H
á 20 anos, quando criou a agência de viagens
Latitudes, o propósito do empresário Ale-
xandre Cymbalista era guiar brasileiros que
buscavam elevação espiritual em destinos
como Índia e Tibete. Assim como ocorreu
com muitos dos clientes da agência em seus
primórdios, ela também evoluiu. A ponto de
ganhar um sobrenome — Viagens de Conhe-
cimento — e se especializar em roteiros com
conexões culturais e de aprendizado nos
campos da história, da filosofia e da religião.
Hoje, a Latitudes realiza mais de 40 itinerá-
rios em grupo por ano.
Para atender as necessidades de viajantes
que já conhecem boa parte do mundo, ela
passou a oferecer também novas formas de
viajar, com expedições privativas para lugares
ainda pouco abertos ao turismo — e que per-
mitam expandir horizontes sem abrir mão do
50 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: DIVULGAÇÃO
conforto e da segurança. Segundo Cymbalista,
mais que atender a uma demanda dos clientes,
o que a empresa faz é criar demandas. “Assim
como havia um público interessando em ioga
e filosofa oriental, muito mais gente estava
disposta a descobrir o mundo da forma como SAMARCANDA
nós queremos mostrar.” A cidade do
O primeiro passo para obter êxito com o Uzbequistão foi uma
das maiores da Ásia
novo modelo foi criar uma parceria com a
Central e passou pelo
Casa do Saber, escola de formação continu- domínio de persas,
ada que virou fenômeno junto à elite paulis- turcomanos, mongóis
tana nos anos 2000. Foi assim que o filósofo e da União Soviética
Luiz Felipe Pondé e o historiador Leandro
Karnal passaram a acompanhar os grupos da
Latitudes em viagens à Grécia e a outros
destinos considerados berços da civilização.
O passo seguinte foi a viagem de volta ao
mundo a bordo de um jato privativo. Lança-
da em 2016, se tornou sucesso absoluto, ape-
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BELEZAS
NATURAIS,
CULTURA E
CONFORTO
A partir do alto, à
esquerda, paisagem do
Tadjiquistão, mesquita na
capital do Turcomenistão
e detalhes do trem
privativo fretado pela
Latitudes para a viagem.
Acompanham o grupo
dois especialistas em
sar do custo elevado (cerca de US$ 150 mil por pessoa). Este ano, palestrantes acompanham o grupo duran- política internacional
novas expedições entraram no portfólio da Latitudes: um cruzeiro te todo o percurso. São eles o doutor em e história

para a Antártica e uma viagem de trem pela rota da seda, passando
por cinco países que poucos estrangeiros costumam visitar.
Por serem culturas muito fechadas, a vida do turista tende a ser
difícil. “Com o trem a gente conseguiu tracejar uma rota que chega
aos principais pontos de cada um desses lugares de forma fácil, com
boa acomodação, ótima comida e a vantagem de viajar à noite e
explorar as atrações durante o dia”, afirmou Cymbalista. “São paí-
ses que combinam culturas muito fortes, com heranças do império
persa e tradições islâmicas, a belezas naturais extraordinárias.”
O trem, privativo para o grupo fechado pela Latitudes, possui
três categorias de cabine: silver, golden e imperial, todas decoradas
com esmero, incluindo banheiros com chuveiro e muitas mordomias
a bordo. Fazendo jus à proposta de viagem do conhecimento, dois
História Cultural Saulo Goulart e o jorna-
lista especializado em conjuntura global
Jaime Spitzcovsky. Colunista da Folha de S.
Paulo, ele irá apresentar os aspectos geopo-
líticos que definem a região.
Partindo do Cazaquistão no dia 17 de
outubro, o trem cruzará o Quirguistão, o
Uzbequistão e o Tadjiquistão para chegar
ao Turcomenistão no dia 1º de novembro.
“O interessante dessa viagem é poder tes-
temunhar não apenas a história, a cultura
e a paisagem, mas entender o que está acon-
tecendo com a economia da região. São

EXPEDIÇÕES PELO MAR E PELO CÉU

O jato privativo da Latitudes parte para sua sexta expedição em outubro deste ano.
Passará por Ilha de Páscoa (Chile), Fiji, Austrália, Bali (Indonésia), Índia, Tanzânia,
Arábia Saudita e Granada (Espanha). Antes, será realizada a primeira expedição a
bordo de um navio privativo, com destino à Antártica. O grupo será acompanha-
do pela bióloga e especialista em ecossistemas polares Ema Kuhn, pelo físico e
astrônomo Marcelo Gleiser, pela psicanalista e filósofa Maria Homem de Mello e
pelo rabino da Congregação Judaica do Brasil Nilton Bonder. Em 2025, um iate de
luxo fretado pela agência irá inaugurar um novo roteiro, passando por pontos do
Mediterrâneo que não podem ser acessados por grandes navios de cruzeiro.

Dinheiro 17/01/2024 51
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ESTILO

países que, assim como os Emirados Árabes,

enriqueceram com petróleo e gás e fazem
questão de ostentar essa riqueza, com tor-
res de mármore e até de ouro”, afirmou
Cymbalista. O investimento gira em torno
de US$ 40 mil por pessoa. Segundo o CEO
da Latitudes, a categoria imperial, mais
cara, foi a que gerou maior procura. “O
glamour de viajar em um trem assim, com
restaurante e bar, é um atrativo por si só,
mas há clientes que esperam ter um espa-
ço maior para dormir, ler, relaxar.” O custo
é bem menor que o do private jet, mas qua-
tro vezes o valor de uma viagem normal
em grupo oferecida pela agência (a partir
de US$ 10 mil por pessoa).

LOGÍSTICA Qualquer que seja o bolso do

viajante, em todos eles há um fator em
comum: o desejo de se confrontar com o
diferente — desde que sem correr riscos
desnecessários. É aí que entra a expertise
da Latitudes, que mantém uma equipe de
profissionais dedicada a resolver as ques-
tões logísticas. A viagem de trem, por exem-
plo, foi feita em outubro passado por um

OS DOMÍNIOS DE
especialista na região para verificar as
condições e as eventuais dificuldades, prin-
cipalmente relativas ao controle de fron-
teiras, já que alguns desses países ainda são

MENIN NO DOURO
o equivalente local à Coreia do Norte em
termos de restrição ao turismo.
E, se apesar de todas as precauções da
agência, alguém ainda achar que uma via-
gem de trem não é seu programa preferido,
Com duas vinícolas

O
a agência oferece opções para quem pre- riginalmente criada para regular a
fere navio ou avião. produção do vinho do Porto, em
na região portuguesa 1756, a Região Demarcada do Dou-
ALMATI considerada a mais ro, em Portugal, definiu mundial-
A maior cidade
do Cazaquistão
bela do mundo para mente o primeiro modelo institu-
cional de organização de uma região
é o ponto de produzir vinhos, o dono vinícola. Ocupando uma extensão de cerca
partida da
viagem da construtora MRV, do de 250 mil hectares, ela delimita a Deno-
banco Inter e da CNN minação de Origem Controlada dos vinhos
do Porto e Douro e é considerada a mais
Brasil quer competir bela área vitivinícola do planeta, combi-
com as grandes marcas nando o encanto da paisagem natural e um
europeias da bebida esforço humano incomparável. Isso porque
seus vinhedos foram plantados ao longo de
Celso MASSON gerações em terraços construídos com pe-

52 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: BRUNO SANTOS/FOLHAPRESS I DIVULGAÇÃO

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dras sobre os declives acentuados que cir-
cundam o rio que passa de azul a dourado
conforme a incidência do sol.
Desde 2001, a região é considerada Pa-
trimônio Mundial da Humanidade pela
Unesco. De lá saem alguns dos melhores
tintos portugueses, caso do lendário Barca
Velha, vendido por cerca de R$ 9 mil a gar-
rafa. E foi essa mesma região que o brasi-
leiro Rubens Menin, dono da construtora
MRV, do banco Inter e da CNN Brasil esco-
lheu para produzir seus próprios vinhos.
Apaixonado pela bebida e líder de uma
confraria que reúne alguns dos enófilos mais
abastados de Belo Horizonte, sua terra na-
tal, o empresário realizou o sonho de se
tornar produtor ao criar a Menin Wine
Company (MWC), holding que congrega
duas vinícolas: HO Wines e Menin Douro
Estates. A primeira, cuja sigla é a abreviação
do nome Horta Osório, foi rebatizada após
ser adquirida por Menin. Hoje, as letras
representam as palavras Humanidade e
Origem. A marca tem como filosofia ser best
TERROIR
PRIVILEGIADO in class, produzindo rótulos que são vendidos em Portugal a partir
Vista aérea de de 10 euros e que chegam ao Brasil por cerca de R$ 160 via impor-
parte dos vinhedos tação própria. Já na Menin, a proposta é fazer vinhos aspiracionais,
e das instalações com a melhor matéria-prima disponível e emprego de tecnologia
da MWC na Região
Demarcada do vinícola de ponta. O rótulo Menin Grande Reserva, derivado de
Douro, as barricas vinhas velhas adquiridas pelo brasileiro, passa por estágio de 20
de carvalho francês meses em barricas de carvalho francês e repousa mais um ano e
usadas nos vinhos meio na adega antes de chegar ao mercado. Chega por R$ 721,
aspiracionais da
vinícola e uma preço bastante acessível para o que oferece. No total, as duas viní-
garrafa do Grande colas produzem 20 rótulos, entre bancos, tintos e rosados, além de
Reserva, que chega um Porto. A estratégia é concorrer com as grandes marcas europeias
ao Brasil por R$ 721 em diversos mercados, não apenas em Portugal e no Brasil.
ENOTURISMO No comando da MWC está o brasileiro Cristiano
Gomes, que já havia trabalhado com Menin no mercado financeiro.
“Em 2018, compramos duas propriedades vizinhas à Quinta do
Crasto e ali começamos uma epopeia”, afirmou Gomes. Segundo
ele, foi preciso pedir a um professor universitário que fizesse uma
análise dos vinhedos existentes para identificar uma parcela que
pudesse render tesouros futuramente. “O segredo das vinhas velhas
é a diversidade de castas nos mesmos lotes. As plantas competiram
entre si por décadas e as sobreviventes dão frutos com excelente
aroma e sabor, devido à concentração”, disse. A enologia foi confia-
da a Tiago Alves de Sousa, famoso pela Quinta da Gaivosa. Para
Menin, a missão do grupo é “atuar como curadores de um legado,
Nossa missão é das melhores tradições dessa terra, incentivar a experimentação e
atuar como a criatividade para realçar o que é extraordinário”.
curadores de um Apesar dos 140 hectares de vinhedos que a WMC possui no
legado, das Douro, a produção ainda é pequena e a distribuição se limita a
melhores tradições lojas especializadas, hotéis, restaurantes e cafeterias). Aqueles
dessa terra, e usar que quiserem degustar os vinhos apreciando a paisagem do Dou-
a tecnologia para
realçar o que é ro podem agendar pelo site mwc.wine uma experiência na sala de
extraordinário” provas da Menin Douro Estates. Custa 90 euros. “É uma degus-
tação para dez pessoas, por isso estamos construindo outra sala
RUBENS MENIN em uma estação de trem desativada”, afirmou Gomes.
Dinheiro 17/01/2024 53
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ESTILO

FUTEBOL E
CULTURA
Cássio Brandão
mostra as camisas
históricas de sua
coleção. São cerca
de 5 mil itens, a
maioria usadas em
jogos oficiais

Por amor à camisa ássio Brandão carrega em seu carro três camisetas pre-

C
Alambrado FC, marketplace de tas básicas. É uma precaução para qualquer eventuali-
venda de relíquias do futebol, dade. E não é excesso de cautela de alguém desconfiado
de que algo vai dar errado a qualquer momento. É uma
resgata a história e vira negócio preparação típica de um colecionador. Caso encontre
alguém na rua com uma camisa de futebol que considere especial,
pelas mãos de colecionador ele para ali mesmo e faz a oferta para comprá-la. Para não deixar
a pessoa desnuda em público, já entrega aquela básica que estava
Beto SILVA guardada. É com esse espírito que Brandão toca o projeto Alam-

54 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: CLAUDIO GATTI | STRINGER/ANADOLU VIA AFP | MAURO PIMENTEL/AFP
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
brado Futebol e Cultura. Funcionário
do Google, corintiano fanático, apai-
xonado por Sócrates e Pelé, ele dedi-
ca seu tempo livre ao garimpo, cata-
logação e venda de peças históricas
ligadas ao futebol. É amor ao que faz
e também é um negócio. Os produtos
são vendidos pelo site alambradofc.
com.br e na loja física na Sportheca,
hub de inovação do esporte no bairro
de Pinheiros, em São Paulo (Rua Cris-
tiano Viana, 517). “Eu me conecto
pela paixão. E pela vontade de pre-
servar a história do esporte”, disse
Brandão. As peças são compradas de
familiares, roupeiros, massagistas e
outros integrantes da comissão téc-
nica dos clubes, além de pessoas físi-
cas e outros colecionadores.
No portal e no comércio estão
alguns itens da coleção de Brandão.
Os preços variam de R$ 400 (camisas
consideradas mais simples, sem tan-
to valor histórico) a R$ 40 mil, caso
de uma camisa do Barcelona usada
pelo argentino Maradona em um jogo
oficial. Mas a magia das camisas que
contam a história do futebol está
mesmo guardada em uma grande sala
de um imóvel comercial no bairro
paulistano da Barra Funda. Ali só
entram convidados do colecionador.
O acervo impressiona. São 1,7 mil camisas do Corin-
thians, 90% delas usadas por jogadores em partidas oficiais.
É a maior coleção do gênero no mundo. A mais antiga
delas é de 1955, que o jogador Goiano vestiu em jogo.
Outra relíquia é a que Basílio usou no primeiro tempo da
partida de 13 de outubro de 1977, em que fez o gol do tí-
tulo (no segundo tempo) do Paulistão, que tirou o clube
da fila de 23 anos sem conquistas. Também tem a do
goleiro Ronaldo Giovanelli utilizada na final do Campe-
onato Brasileiro de 1990, a primeira taça nacional da
equipe do Parque São Jorge. Nas araras também estão
camisas dos números 1 ao 11 do time de 1993. Possui as
24 versões utilizadas pelo time em 2009, ano em que mais
fardamentos diferentes foram produzidos, seja por con-
ta da mudança de patrocinadores ou patchs.
Brandão também é fã do goleiro Cássio, não por ser
seu homônimo, mas pela performance do atleta, campeão
Mundial e da Libertadores pelo Corinthians. Das 65 ca-
misas usadas pelo jogador desde 2012 quando chegou ao
clube, o colecionador possui 63. “Não sou feliz por ter 63
camisas do Cássio. Sou infeliz por não ter as duas”, disse
Brandão, em uma declaração que mostra a emoção acima
da razão. Uma informação importante aos interessados
em adquirir alguma vestimenta do Corinthians: quase
nada está à venda. “Evito vender porque não sei se as
pessoas vão cuidar bem dessa história”, disse.
Do ídolo Sócrates, ele possui a Bola de Prata que o
Doutor recebeu no Campeonato Brasileiro de 1980, uma
chuteira Topper número 39 usada por ele, além de cami-
sas de quando atuou pela Fiorentina, da Itália, e de quan-
do participou do time de estudantes da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto e da equipe que ele montou
O SIR E O REI
Entre os projetos especiais em que o colecionador esteve
envolvido estão o agasalho do Brasil da Copa de 1994 usado por
Lewis Hamilton e o Cristo Redentor vestido em homenagem a Pelé
depois de abrir uma clínica de saúde.
Há ainda discos lançados por Sócra-
tes. Levando à risca o sobrenome do
projeto, Futebol e Cultura, Brandão
trabalha para preservar a memória
de sua coleção e de seus ídolos. Com
seu portfólio, já tem praticamente
pronta uma exposição sobre o meia,
que faria 70 anos no próximo dia 19
de fevereiro. A busca agora é por pa-
trocinadores.
PELÉ Apesar de o Corinthians do-
minar a coleção, há mais de 3 mil itens
de outros times pelo mundo. De Aber-
deen (Escócia) a Werder Bremen
(Alemanha), de Ananindeua a Vasco
da Gama, todas organizadas em or-
dem alfabética. Mas também chama
a atenção o espaço para artigos de
Pelé. São 15 camisas, entre Santos,
Cosmos e Seleção Brasileira. Brandão
mapeou no País 165 camisas originais
utilizadas pelo maior jogador de todos
os tempos. Ano passado, 65 foram
vendidas. A maioria para os árabes,
que estão sedentos por futebol.
Para evitar que esses itens se per-
cam mundo afora, o colecionador
vislumbra um fundo com participação
de investidores em que os ativos se-
jam as camisas do Rei. “Seria uma
forma de preservar a história”, disse
Brandão, que participou da ação que
vestiu o Cristo Redentor com a cami-
sa de Pelé no dia 29 de dezembro, em
alusão a um ano da morte do Atleta
do Século 20. Entre outras iniciativas
que o fanático empreendedor enca-
beçou está o uso do agasalho da de-
legação brasileira da Copa do Mundo
de 1994 pelo piloto Lewis Hamilton
no GP Brasil do ano passado. A foto
do inglês bombou nas redes sociais.
Hamilton quis comprar. Brandão não
vendeu. O piloto acabou levando duas
camisas do Brasil usadas no mesmo
mundial que garantiu o tetra. Preço:
US$ 400 cada. Mas com valor histó-
rico incalculável.
Dinheiro 17/01/2024 55
Distribuição 100% gratuita - Clube de Revistas
13,0
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OLX
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4,1
s
Agência de Search Engine Optimization (SEO), a Casas res
Conversion traz a mais recente versão mensal
Bahia Shein liexp
A 3,0
(dezembro) de seu Relatório Setores do E-commerce. 2,6 2,9
Com dados até novembro, as dez maiores marcas em
operação no mercado nacional detêm 49,2% de toda ACESSOS MENSAIS A SITES E APPS
a audiência do comércio eletrônico no Brasil. E como (em bilhões)
já era esperado, a Black Friday fez o e-commerce 3.0
atingir seu melhor tráfego do ano passado: foram 2,8
bilhões de acessos 2.8
únicos, o que 2.6
representou alta de 13%
em comparação a 2.4
76em% outubro, mas queda de 2.2
a e-comme rce 3% em relação ao
Dos acessos m feitos de celular mesmo mês de 2022. 2.0
ovembro fo ra Nov/22 Jan/23 Mar/23 Mai/23 Jul/23 Set/23 Nov/23
n
30,7 BILssHÕosEeSm Dez/22 Fev/23 Abr/23 Jun/23 Ago/23 Out/23

dade de ace
Foi a quanti eses encerrados em MAIORES CRESCIMENTOS E RETRAÇÕES
12 m novembro (outubro23 vs setembro23 - em %)

37,6 35,8 35,7

-2,6 -0,1
Joias & Calçados Eletrônicos & Infantil Educação, Livros
Relógios Eletrodomésticos & Papelaria

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56 Dinheiro 17/01/2024 INFOGRÁFICO: FABIO X | FOTOS: FREEPIK | COTTONBRO STUDIO/PEXELS

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ELON
MUSK: MAIS
POLÊMICA
XIAOMI: DOS CELULARES AOS CARROS ELÉTRICOS No fim de semana,
a notícia foi
veiculada pelo
Tem tudo para ser a mais revolucionária é menor, mais leve e mais potente, diminuindo tradicionalíssimo The
notícia da tecnologia da temporada. A Xiaomi o tempo de recarga e levando a autonomia a Wall Street Journal
vai mergulhar no universo dos veículos até 800km. 3) Xiaomi Die-Casting, o sistema (WSJ). Dizia que
elétricos (EVs). A companhia chinesa, uma de produção do carro em si — a empresa executivos e
das cinco maiores do mundo em vendas de desenvolveu o próprio material de fundição, membros do
celulares, apresentou os modelos SU7 e SU7 de alta resistência e alta resiliência. 4) Conselho de
Max — este atinge de 0 a 100km/h em 2,78 Condução autônoma: promete alcance de Administração de
segundos e tem velocidade máxima de 265 reconhecimento de 5cm a 250m, o que é
km/h. “Entre 15 e 20 anos a Xiaomi pretende decisivo em situações urbanas e de estrada.
se tornar uma das cinco maiores montadoras 5) Smart Cabin: uma arquitetura de interação
globais”, afirmou Lei Jun, fundador e CEO da ‘centrada no ser humano’ que permitirá
companhia criada em 2010 e que tem valor experiência semelhante à dos tablets, sem a
de mercado de US$ 360 bilhões. A Xiaomi vai necessidade de uma curva de aprendizagem.
basear sua produção em cinco pilares, todos Em suma, a chinesa atuará em toda a cadeia.
com tecnologias proprietárias. 1) Motor: do “Nosso objetivo é fazer um carro dos sonhos
sistema de resfriamento ao circuito de óleo, tão bom quanto os da Porsche e da Tesla”, empresas de Elon
pretende rivalizar com o desempenho dos disse Lei Jun. O preço não foi fornecido e o Musk, como Tesla e
grandes V8 e V6 a combustão. 2) Bateria: ela lançamento deve o correr no ano que vem. SpaceX, estariam
preocupados com o
uso de drogas por
parte do bilionário.
Um cardápio que
MICROSOFT: IA NOS TECLADOS incluiria de maconha
a ecstasy. Na
Marcando mais um movimento rumo à incorporação da segunda-feira (8),
inteligência artificial (IA), a Microsoft anunciou uma nova Musk disse que nada
tecla dedicada à tecnologia no teclado Windows. A adição é foi localizado em seu
a primeira mudança significativa da companhia em seus corpo durante três
dispositivos periféricos, que há quase três décadas seguem anos de testes
sem alterações. A tecla ficará responsável por acionar o exigidos pela Nasa —
serviço Copilot, assistente de IA generativa capaz de isso ocorreu depois
combinar dados e executar funções nos principais softwares que o bilionário
da empresa. Os computadores e notebooks com Windows 11 fumou maconha
já virão com o novo botão, que é apenas uma parte do durante entrevista
compromisso da companhia de integrar a IA ao sistema ao podcast de Joe
operacional e ao hardware dos computadores, “tornando Rogan, em setembro
2024 o ano do computador com IA”, disse a Microsft. de 2018. “Depois
daquela tragada com
Rogan, concordei, a
SAMSUNG: O FIM DO Segundo relatório
recente, a Samsung
de atingir a completa
automatização de suas pedido da Nasa, em
fazer três anos de
TRABALHO HUMANO planeja eliminar o uso
de trabalhadores
fábricas até o final da
década. Esse processo testes aleatórios”,
escreveu Musk no X
ATÉ 2030 humanos em suas
linhas de produção de
de transição envolve
a implementação (ex-Twitter). “Nem
semicondutores até de soluções de IoT mesmo vestígios de
2030. A empresa está e automação, drogas ou álcool
atualmente empenhada impulsionadas por foram encontrados.”
no desenvolvimento do IA e o primeiro passo Musk disse que a
Smart Sensing System, consiste na instalação reportagem do WSJ
projetado para de um sólido sistema “não serve para
transformar o de monitoramento forrar uma gaiola de
funcionamento das e sensores de visão papagaio [e encerrou
fundições com a meta computacional. a postagem com um
emoji de cocô]”.

Dinheiro 17/01/2024 57
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TECNOLOGIA
QUANTUM COMPUTING: M
á se passaram mais de 40 anos
J
NTT Data aposta desde que o físico Richard
Feynman apontou que a criação
nas respostas de dispositivos de computação
da computação baseados em princípios quân-
ticos poderia liberar poderes supe-
quântica para riores aos dos computadores ‘clás-
sicos’. Desde então, empresas
os problemas batalham para driblar as margens
de erro e fazer com que essa tecno-
complexos de logia ganhe espaço. Segundo a con-
sultoria global IDC, os gastos com
nosso cotidiano o quantum computing vão passar
dos US$ 1,1 bilhão (2022) para US$
7,6 bilhões (2027), representando
Victoria RIBEIRO
uma taxa de crescimento anual na
casa de 48% em cinco anos. Na visão
da NTT Data, a tecnologia pode ser
uma grande aliada da inteligência
artificial. “Estamos diante de uma
mudança radical: nem a programa-
ção quântica nem o stack de tecno-
logia quântica se assemelham às
suas versões clássicas”, afirmou
58 Dinheiro 17/01/2024 FOTO: DIVULGAÇÃO
Evandro Armelin, diretor de Data & Analytics na NTT
Data Americas. “Adquirir conhecimentos e experiên-
cia desde já pode fazer a diferença para liderar no fu-
turo.” A NTT, provedora global de serviços de TI com
valor de mercado de US$ 20 bilhões, tem 190 mil fun-
cionários (mais de 5,4 mil no Brasil), e investe anual-
mente US$ 3,6 bilhões em P&D.
Na corrida quântica, a empresa tem pela frente
players ainda mais robustos. Nessa batalha, houve um
momento decisivo em 2019, quando o Google anunciou
que seu Sycamore (então com 54 qubits) atingiu a
chamada Supremacia Quântica – ao realizar uma ope-
ração matemática que nenhum computador clássico
seria capaz de responder num prazo razoável. O Syca-
more solucionou em 3 minutos e 20 segundos uma
conta que demoraria 10 mil anos em uma máquina
tradicional. Mais recentemente, em dezembro de 2023,
a IBM anunciou novo patamar inédito: o processador
Condor, com 1.121 qubits funcionais, primeiro do mun-
do que ultrapassa a barreira dos 1.000 qubits.
Apesar dos avanços, a computação quântica en-
frenta dificuldades de toda ordem. A estabilidade local,
segundo Lluis Quiles Ardila, diretor de Inteligência
Artificial da NTT DATA, é a principal delas. “Mesmo
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: MAIS PERTO, MAIS NECESSÁRIA
com os supercondutores do Google e IBM, é necessário
que o computador esteja completamente isolado”,
afirmou Quiles. A fragilidade do bit quântico, de acor-
do com ele, exige controles absolutos de temperatura,
distância de luz difusa, sons e quaisquer outros tipos
de interferência. “A gente consegue representar os
qubits, colocá-los para trabalhar, mas superar a bar-
reira da estabilidade segue sendo um desafio.”
MÚLTIPLAS FRENTES No caso da NTT, um marco
recente foi a conclusão do projeto de otimização da se-
quenciação genética através de tecnologia quântica.
Desenvolvido a partir de uma parceria entre NTT Data
Brasil, NTT Data Centro de Inovação Quântica e NTT
Data Espanha, ele representa um marco na utilização
da tecnologia na saúde. O projeto, segundo Evandro
Armelin, demonstrou a capacidade de projeção do quan-
tum computing para melhorar a capacidade de compre-
ender como o corpo humano reage a doenças genéticas
ou externas. Além dessas áreas, ele projeta que esse
campo multidisciplinar tem potencial de contribuir com
o fim da crise alimentar e demográfica. Além disso, ele
afirma que iremos avançar na previsão de eventos ex-
tremos e mudanças climáticas. “Estamos falando de
uma tecnologia com potencial de
disrupção da forma como existimos
e exploramos os recursos do plane-
ta”, disse Armelin. “Através da simu-
lação de cenários, os governos terão
capacidade de reagir de uma forma
muito melhor a cenários complexos.”
As vantagens podem ser ainda mais
transformadoras em regiões como
a América Latina, reconhecida pela
abundância de recursos naturais em
contraste com a desigualdade (tam-
bém) no consumo de alimentos.
Apesar dos avanços, na NTT não
acredita que a tecnologia vá subs-
tituir a computação clássica. Segun-
do Lluis Quiles, diretor de IA da
empresa, o que vamos ver, na ver-
dade, é um complemento de capa-
cidades. A computação quântica
trabalhando em paralelo com a
computação clássica e a IA. “A soma
dessas três grandes capacidades é
que, de fato, vai transformar a forma
como nós usamos a tecnologia e
como ela gera valor para a socieda-
de”, disse Quiles. Ainda acessível
apenas para poucos, a adoção do
quantum computing deve se mas-
sificar em um prazo de cinco a dez
anos. No entanto, para os especia-
listas da NTT Data, o segredo é co-
meçar a explorá-la desde já, espe-
cialmente as organizações com uso
intensivo de dados. “Não se trata de
um tema trivial”, afirmou Quiles.
“Sendo uma tecnologia radical que
está sendo testada e desenvolvida
por diversos atores, a qualquer mo-
mento ela pode ter um salto de po-
tencialidades, assim como foi com
a IA. Aqueles que saírem à frente,
se destacam.”
UNIVERSO POTENCIAL
Como a computação quântica
impacta na segurança digital?
EVANDRO ARMELIN — Da mesma
forma que ela rompe por terra o
que a gente compreende hoje
como ‘segurança digital’, porque
ela possui o potencial de quebrar
criptografias, ela também vai criar
novas camadas de segurança.
Inclusive, muitos governos já inves-
tem em computação quântica
visando maior segurança de comu-
nicações e maior segurança no tra-
tamento de dados sensíveis.
Quando se trata especificamen-
te do contexto latino-america-
no, quais as vantagens que essa
tecnologia proporciona?
Pode revolucionar temas que estão
muito envolvidos com a América
Latina, como gestão de recursos
naturais, energia renovável e pro-
dução de alimentos. O que a NTT
Data defende é que, ao adotar o
quântico, essa região pode dar um
salto e atingir um ponto de infle-
xão da sua história, da sua presen-
ça no mundo e seu nível de desen-
volvimento.
A computação quântica é um
tema para agora?
Ainda não. Pelo menos não para
todos. Neste momento, é um tema
a ser explorado por empresas que
são intensivas em tecnologia e no
processamento de dados.
Entretanto, a gente defende que
sair na frente é uma vantagem. É
uma tecnologia que representa
mudanças radicais para toda a
área de tecnologia, para tudo que a
gente faz.
Dinheiro 17/01/2024 59
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TECNOLOGIA
Criada em 2019, a edtech
Télos utiliza plataforma
inspirada em Mario Bros
para capacitar populações
sub-representadas
e conectar estudantes
a oportunidades
Victoria RIBEIRO
Programação em larga escala
e acordo com relatório do Google, em parceria
D
com a Associação Brasileira de Startups, o setor
de tecnologia terá um déficit de 530 mil profis-
sionais até 2025. O problema, que não é de hoje,
foi o que motivou Gabriella Ribeiro a iniciar sua
jornada como empreendedora em 2019, aos 22 anos,
com a criação da Télos. Com uma trajetória de vida
descrita por ela como semelhante a de muitos brasi-
leiros, Gabriella afirma que a edtech tem como pro-
posta descentralizar o ensino da linguagem de pro-
gramação no Brasil, capacitando pessoas e populações
sub-representadas. A executiva divide esse plano com
o CTO da Télos, Samuel Moreira, que começou a pro-
gramar aos 9 anos, inspirado pelo desejo de criar seus
próprios jogos. “Hoje, a tecnologia é a melhor forma
de furar a bolha social no Brasil. E isso não leva em
consideração de onde você veio, mas sim suas compe-
A tecnologia é a
tências técnicas”, afirmou Gabriella, CEO da Télos.
melhor forma de Com formação intensiva de seis meses, aqueles
furar a bolha social que passam pela edtech podem optar por programação
no Brasil. Não leva e texto, com ênfase em JavaScript, ou por ciência,
em consideração engenharia ou análise de dados. Todo o conteúdo,
de onde você veio, segundo Gabriella, é ministrado por profissionais do
mas sim suas interior do país, como forma de proporcionar proxi-
competências” midade e identificação entre professores e alunos. E
GABRIELLA RIBEIRO um dos grandes diferenciais é reflexo da história de
CEO TÉLOS Samuel: tudo acontece em uma plataforma inspirada
60 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: ISTOCK | DIVULGAÇÃO
em Mario Bros. “Conforme o aluno assiste aos vídeos,
e faz as simulações, ele ganha pontos e avança”, afirmou.
O sistema Télos também proporciona aulas paralelas
de inglês (de acordo com a executiva, uma barreira
para aqueles que querem inserção no mercado de
tecnologia) e soft skills. À medida que o aprendizado
acontece, as empresas parceiras acessam um dashbo-
ard com dados e desempenho dos alunos e podem
selecionar aqueles que têm maior afinidade com as
vagas. “É uma forma de transformar a jornada educa-
cional em oportunidades reais”, disse a executiva.
Nessa trajetória de quase quatro anos, a edtech
formou 3,5 mil pessoas. Através do “método de retor-
no compartilhado”, que permite ao estudante efetuar
o pagamento do ensino após formado e inserido no
mercado de trabalho ou por meio de turmas gratuitas
financiadas por parceiros, a expectativa é formar 1 mil
pessoas em 2024. Para isso, a edtech deve iniciar o ano
com jornadas para pessoas pretas no Norte do país e
mulheres nordestinas. A longo prazo, a ideia é fazer
com que a Télos alcance voos mais altos, marcando
presença em outros países da América Latina, tendo
a inteligência artificial e suas traduções-dublagens
simultâneas como aliadas para superar as barreiras
linguísticas. “O latino-americano tende a ser muito
produtivo. Unir isso à capacitação é uma de nossas
ambições”, disse Gabriella.
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Caminhosdainovação

SEU PRÓXIMO COMPUTADOR

SERÁ INVISÍVEL!
N
o futuro próximo o computar deixará logo de ser Mefistófeles (uma representação arquetípica do mal),
uma ‘coisa’ para ser um conceito — em pouco pelo qual trocaria sua alma pelo conhecimento infi- LUÍS GUEDES
PROFESSOR
tempo a computação não será mais feita por meio nito e prazeres mundanos. A obra monumental de DA FIA BUSINESS
de um dispositivo, nem esse que você carrega no Goethe simboliza o desejo humano de compreensão SCHOOL
bolso, menos ainda aquele que tem mouse e teclado, e controle ilimitados, mas que pode vir com um pre-
interfaces da década de 1960! ço terrivelmente alto.
A computação onipresente (e invisível) terá como Computadores invisíveis, integrados perfeitamen-
fonte de dados sensores que operam de forma con- te em nossos ambientes, oferecem uma espécie de
tínua e discreta em segundo plano, capturando dados assistência onipresente, quase onisciente. Eles ante-
de todos os tipos. A partir deles, sistemas baseados cipam necessidades e agem para aumentar o confor-
em Inteligência Artificial (na nuvem ou nas bordas, to e a eficiência, assim como o pacto de Fausto lhe
junto aos usuários) tomarão decisões e as implemen- prometia conhecimento e gratificação ilimitados. No
tarão, como resposta ‘mágica’ entanto, são muitas as impli-
a demandas que nem foram cações morais e éticas desse
articuladas pelos usuários, A computação acordo... a proliferação desses
mas que são ‘conhecidas’ pe- onipresente (e invisível) dispositivos levanta questões
los sistemas. Assim se contro- complexas sobre privacidade,
lam portas, alarmes, sistemas
terá como fonte de dados autonomia e até mesmo sobre
de exaustão, luzes, cortinas,
sensores que operam de a perda da potência humana
mas também válvulas, veícu- forma contínua e discreta de agir sobre o mundo.
los autônomos, processos em segundo plano, A narrativa de Fausto ter-
industriais. capturando dados de mina com ênfase na respon-
A tecnologia é como a tro- todos os tipos sabilidade moral, na redenção
pa de infantaria na batalha em e na ideia de que lutar por uma
prol da conveniência. Foram- compreensão mais elevada e
-se os dias de interações laboriosas com aparelhos pela bondade é um processo contínuo, que em última
desajeitados! Mas como nem tudo são flores, como análise nos faz mais humanos.
antecipa o sagaz leitor, a informada leitora, há pro- À medida que os dispositivos computacionais se
blemas nesse front. A tropa, involuntariamente ou misturam ao nosso dia a dia, a fronteira entre a uti-
não, avança em direção ao campo minado da priva- lidade e a intrusão vai se tornando mais nebulosa. A
cidade. Nossos aliados invisíveis, ao mesmo tempo computação invisível, na sua onipresença silenciosa,
em que atendem ao nosso conforto, também atuam não irá somente dinamizar nossas vidas, mas nos
como arquivistas meticulosos de tudo o que aconte- convida a refletir: estamos marchando às cegas em
ce a nossa volta. direção a um futuro de conveniência incomparável
A computação onipresente, quando vista através ou estamos caminhando na ponta dos pés ao longo
das lentes do Fausto, de Goethe, pode ser comparada do precipício de um paradoxo da privacidade? Só o
à busca de conhecimento e satisfação final do prota- tempo dirá, mas por enquanto vamos aproveitando
gonista. Na narrativa, um Fausto sábio, porém frus- o concerto, mesmo que não possamos ver a orques-
trado com as limitações humanas, faz um pacto com tra e nem o maestro.

Dinheiro 17/01/2024 61
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Dinheiroemação POR PAULA CRISTINA

MEIOS DE PAGAMENTO

BIG TECHS CONTRA

REGULAÇÃO
O plano do Consumer Financial Protection
Bureau (CFPB), órgão fiscalizador dos
Estados Unidos para supervisionar
empresas como Apple e Google, que
fornecem carteiras digitais e aplicativos
de pagamento gerou forte reação entre
os empresários das maiores empresas de A proposta do CFPB, que ainda não foi eles formaram uma corrente para
tecnologia do mundo, por meio da finalizada, sujeita essas empresas ao acelerar a adoção das medidas. No
Computer & Communications Industry mesmo tipo de supervisão atualmente entanto, Krisztian Katona, chefe de
Association (CCIA) — que também abriga imposta aos bancos, com a agência política regulatória da CCIA, disse que
Amazon, Meta e X, anteriormente inspecionando o cumprimento das leis a proposta representa risco de causar
conhecida como Twitter. Segundo o sobre práticas desleais ou enganosas mais danos do que benefícios “já que
CFPB, os serviços de pagamentos e e proteções à privacidade, bem como uma regulamentação digital ampla,
carteiras digitais dos gigantes da examinando a conduta dos executivos excessivamente onerosa ou pesada pode
tecnologia rivalizam com os métodos de das companhias. As autoridades esperam prejudicar as novas startups”. Uma briga
pagamento tradicionais sem darem as que a proposta, conforme redigida de gigantes que tem previsão de ser
mesmas garantias para os consumidores, atualmente, abranja 17 empresas. Entre os definida (para qualquer um dos lados)
e precisaria ser regulado. bancos, a proposta caiu bem, tanto que até o final do primeiro trimestre.

INDICADORES ECONÔMICOS
PIB CRESCIMENTO (FONTE: BANCO CENTRAL) 3'° TRI/23 2'° TRI/23 1'° TRI/23 4'° TRI/22 2022 NOV/23 A OUT/23 A SET/23 A AGO/23 A JUL/23 A
CONTAS PÚBLICAS (% PIB)* (A) DEZ/22 NOV/22 OUT/22 SET/22 AGO/22
PIB (DESSAZ.) 0,1% 1,0% 1,4% -0,1% 3,0%
PIB EM US$ BILHÕES * 2.103,7 2.039,4 2.005,9 1.951,7 1.951,7 RESULTADO NOMINAL 7,82% 7,77% 7,52% 7,18% 6,83%
RESULTADO PRIMÁRIO 1,22% 1,06% 0,96% 0,69% 0,76%
ATIVIDADE ** NOV/23 OUT/23 SET/23 AGO/23 NO ANO
1,3% 1,1% 0,7% 0,5% 0,1% NOV/23 OUT/23 SET/23 2022 2021
PRODUÇÃO INDUSTRIAL (IBGE)
DÍVIDA BRUTA DO GOVERNO GERAL 73,80% 73,74% 73,37% 71,68% 78,29%
VOLUME DE VENDAS NO VAREJO RESTRITO (IBGE) - 0,2% 3,2% 2,4% 1,6%
DÍVIDA BRUTA INTERNA 64,80% 64,72% 64,56% 62,70% 67,41%
TAXA DE DESEMPREGO -
PNAD CONTÍNUA (IBGE) 7,5% 7,6% 7,7% 7,8% - DÍVIDA BRUTA EXTERNA 9,00% 9,01% 8,81% 8,98% 10,88%

UTILIZAÇÃO DA CAPACIDADE INSTALADA CONTAS EXTERNAS (US$ MILHÕES) DEZ/23 NOV/23 OUT/23 SET/23 NO ANO
- 78,8% 78,6% 78,8% -
(CNI) - DESSAZ. INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO - 7.780 3.306 3.752 52.716
MÉDIA EXPORTAÇÕES 28.839 27.878 29.669 28.707 339.673
NOV/23 OUT/23 SET/23 AGO/23 EM 2023
INADIMPLÊNCIA *** IMPORTAÇÕES 19.479 19.112 20.505 19.530 240.835
PESSOA FÍSICA ATÉ 90 DIAS 4,3% 4,3% 4,1% 4,2% 4,4% SALDO COMERCIAL 9.360 8.766 9.165 9.177 98.838
PESSOA F. ACIMA DE 90 DIAS 5,7% 5,9% 5,9% 6,1% 6,1% SALDO EM TRANSAÇÕES CORRENTES - -1.553 -39 -1.109 -22.200
PESSOA JURÍDICA ATÉ 90 DIAS 2,1% 2,2% 1,9% 2,1% 2,2% RESERVAS INTERNACIONAIS LÍQUIDAS - 348.406 340.247 340.324 348.406
PESSOA J. ACIMA DE 90 DIAS 3,6% 3,5% 3,4% 3,3% 2,9% DÍVIDA EXTERNA TOTAL - 336.336 328.747 330.379 336.336

* Acumulado nos últimos 12 meses; ** Em relação ao mesmo período do ano anterior, exceto utilização de capacidade instalada e taxa de desemprego; *** Em proporção do volume de crédito concedido. - Recursos Livres (a) Superávit = (-) e Déficit = (+), conforme notas econômicas do BACEN

DESEMPENHO MELHOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES PIOR DESEMPENHO % 30 DIAS % 12 MESES

Seguros e Previdência 6,22 137,26
DAS EMPRESAS Têxtil 2,38 122,71
Construção -3,44 -2,43
Siderurgia e Metalurgia 5,17 -4,04
POR SETOR Educação 1,33 77,50 Químico 8,26 -8,96
DE ATIVIDADE Serviço Especializado 1,35 50,76 Mineração 2,81 -9,44
Transporte 3,15 45,87 Agronegócio -19,87 -18,03
Fonte: Austin Rating de 24/jul/23

62 Dinheiro 17/01/2024 FOTOS: ISTOCK | REUTERS / REUTERS INTERNACIONAL

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PRINCIPAIS ÍNDICES JUROS FUTUROS 08/01/2023 SALDO OP. CRÉD. AMPLIADO (BACEN)
INFLAÇÃO DEZ/23 NOV/23 OUT/23 NO ANO 12 MESES
% ao ano Em % do PIB
IPC - FIPE 0,38% 0,43% 0,30% 3,15% 3,15%
12,00 150,0
IGP-M (FGV) 0,74% 0,59% 0,50% -3,18% -3,18%
IGP-DI (FGV) - 0,50% 0,51% -3,91% -3,62%
IPCA (IBGE) - 0,28% 0,24% 4,04% 4,68% 11,50
IPCA - NÚCLEO MM SUAVIZADO - 0,37% 0,31% 4,03% 4,54% 148,0
JUROS/APLICAÇÃO DEZ/23 NOV/23 OUT/23 NO ANO 12 MESES 11,00
CDI 0,89% 0,92% 1,00% 13,09% 13,09%
TLP 0,45% 0,41% 0,42% 5,59% 5,59%
POUPANÇA 0,57% 0,58% 0,61% 8,04% 8,04% 11,50 146,0
TJLP 0,53% 0,53% 0,53% 7,05% 7,05% Fev/24 Abr/24 Jun/24 Ago/24 Nov/21 Nov/22 Nov/23
CDB/RDB - TAXA PREFIXADA MÉDIA 0,76% 0,83% 0,93% 10,89% 10,89%
CÂMBIO/PETRÓLEO 08/01/2024 NO MÊS NO ANO 12 MESES
RISCO-PAÍS SALDO LÍQUIDO POUPANÇA (BACEN)
REAIS/US$ (COMERCIAL VENDA) 4,885 -0,89% -0,89% 8,43%
US$/EURO 1,097 -0,73% -0,73% 2,15% EMBI + BR (fim de mês) Em R$ bilhões
IENE/US$ 143,94 -1,70% -1,70% -8,33%
290.0 1040,0
PETRÓLEO À VISTA BRENT (US$/BARRIL) 76,12 -1,19% -1,19% -4,43%
MERCADOS FUTUROS 08/01/2024 FEV/24 ABR/24 JUN/24 AGO/24
256.6
CÂMBIO (R$/US$) 4,889 4,917 4,948 4,982
FEV/24 ABR/24 JUN/24 AGO/24 1010,0
223.3
DI DE 1 DIA (% A.A.) 11,65 11,25 10,92 10,61
FEV/24 ABR/24 JUN/24 AGO/24
IBOVESPA (PONTOS) 133.794 135.994 137.806 139.858 190.0
980,0
jan/23
fev/23
mar/23
abr/23
mai/23
jun/23
jul/23
ago/23
set/23
out/23
nov/23
dez/23
08/Jan/23
MAR/24 MAI/24 JUL/24 SET/24
CAFÉ ARÁBICA (60KG - ICF) 222,15 220,00 222,70 218,55 2021 2022 2023

RENTABILIDADE DOS TÍTULOS PÚBLICOS (%) *09/jan/24 (inclui JS = Juros Semestrais)

TÍTULO VENC. INDEXADOR Últim. 30 dias ano * 12 MESES

Tesouro Selic 2024 01/09/2024 Selic 0,88% 0,30% 12,99%
Tesouro Prefixado (JS) 2025 01/01/2025 Prefixado 0,93% 0,10% 15,47%
Tesouro IPCA+ (JS) 2024 15/08/2024 IPCA 1,14% 0,58% 11,91%
Tesouro IGPM+ (JS) 2031 01/01/2031 IGP-M 1,48% -0,01% 5,82%
Tesouro Prefixado 2024 01/07/2024 Prefixado 0,78% 0,19% 14,40%

MAIORES ALTAS DA SEMANA* TERMÔMETRO DO MERCADO

Ação Setor % O IBOVESPA EM UM ANO * PONTOS

DESTAQUE DA SEMANA Grupo Soma, dono da marca Hering, tem alta RECRUSUL Industrial 18,55 Ibovespa 132.426
nas ações após entrar no Índice de Sustentabilidade da B3 GRUPO SOMA Varejo 13,41 Mínima 95.267
BANCO BMG Financeiro 12,34 Máxima 132.426
CAMBUCI Varejo 11,39
BOLSAS NO MUNDO Fonte: B3* Até 08/01/2024

24/07/2023 COTAÇÃO (MOEDA LOCAL) VARIAÇÃO (US$) BANCO PINE Financeiro 10,79
Mercado Índice Pontos % mês % ano % 12 m. % mês % ano
Brasil Ibovespa 132.427 -1,31% -1,31% 21,35% -2,19% -2,19%
MAIORES BAIXAS DA SEMANA* IBOVESPA em milhares de pontos
Brasil IBrX 100 55.757 -1,23% -1,23% 20,27% -2,11% -2,11%
EUA Dow Jones 37.683 -0,02% -0,02% 12,43% -0,02% -0,02%
Ação Setor % 135.0
EUA Nasdaq 14.844 -1,12% -1,12% 39,57% -1,12% -1,12% MITRE REALTY Imobiliário -10,85
Japão Nikkei 225 33.763 0,89% 0,89% 28,99% -0,82% -0,82% HAGA S/A Industrial -12,28 115.0
China Shanghai 2.888 -2,94% -2,94% -9,08% -3,60% -3,60% TENDA Imobiliário -15,27
Alemanha DAX 30 16.716 -0,21% -0,21% 13,00% -0,94% -0,94% ZAMP S/A Varejo -15,48
França CAC 40 7.450 -1,23% -1,23% 7,86% -1,96% -1,96% 95.0
SEQUOIA LOG Logística -27,85
Reino Unido FTSE 100 7.694 -0,50% -0,50% -0,40% -0,27% -0,27% Jan 23 Jul 23 Jan 24*
Fonte: Austin Rating Fonte: Austin Rating *08/01 a 02/01 *Até 08/01/2024

Dinheiro 17 /01/2024 63
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Dinheiroemfoco POR PAULA CRISTINA

“A MP DA REONERAÇÃO
GEROU ESTRANHEZA POR
DESCONSTRUIR ALGO QUE O
CONGRESSO DECIDIU, MAS
+ 0,9%Foi o aumento no volume total
das operações de crédito do
Sistema Financeiro Nacional em
VOU TOMAR NENHUMA
novembro ante outubro, segundo
DECISÃO ANTES DE o Banco Central do Brasil. O
CONVERSAR COM O resultado decorreu da expansão
MINISTRO DA FAZENDA, de 0,8% na carteira de crédito
FERNANDO HADDAD” destinado às empresas (R$ 2,2
trilhões), e de 0,9% no crédito às
famílias (R$ 3,4 trilhões).
RODRIGO PACHECO, presidente do Senado sobre o
projeto do governo que contraria decisão do Congresso

- 13,7%
1 trilhão Foi o volume atingido pela

R$
plataforma de negociação de renda fixa
da B3, o Trademate, em títulos públicos.
A plataforma, lançada em julho do ano
passado, teve média diária negociado
em R$ 9,5 bilhões, 26% mais que um
ano antes, quando os papéis eram
negociados fora dela. Foi a queda média dos preços
internacionais medidos pela
FAO, agência da ONU para

US$
250 bilhões Foi o valor pago por agricultura e alimentação em
seguradoras em todo o mundo devido a 2023, ante 2022, para o menor
incidentes climáticos em 2023. Os números valor em 13 anos. A categoria de
são da Munich Re, maior empresa de óleos vegetais foi a que mais
resseguros do mundo. O valor dos prejuízos contribuiu para a queda média
com desastres naturais foi praticamente dos alimentos no ano passado,
o mesmo de 2022, porém o número de recuando 32,7%.
vítimas passou da média anual de 10 mil
nos últimos cinco anos para 76 mil.

O Standard Chartered, um dos principais bancos do Reino Unido, projeta que o bitcoin
poderá valer US$ 200 mil até 2025 caso a SEC aprove os pedidos em análise para lançamento

CRIPTOS
de ETFs de preço à vista da criptomoeda. A liberação pode resultar em uma entrada bilionária
de capital para o ativo. Na prática, o ETF regulamenta a criação de fundos de criptoativos para
negociação em bolsa, tornando o negócio mais confiável e abrangente. A projeção dos analistas
do banco considera que o impacto da aprovação de ETFs para a criptomoeda será semelhante
ao do lançamento dos primeiros ETFs de ouro nos Estados Unidos, em 2004. Eles atraíram
US$ 88 bilhões em investimentos, com cerca de US$ 2,2 trilhões em ouro circulando no mercado.

64 Dinheiro 17/01/2024 FOTO: AGÊNCIA ENQUADRAR/FOLHAPRESS

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NÃO SUBESTIME O MERCADO
DE RENDA FIXA AMERICANO
D
isclaimer: escrevo este artigo antes da divulgação
do CPI (Índice de Preços ao Consumidor, dos EUA),
na quinta-feira (11). Desde o começo do ano tenho
escutado analistas, especialmente os especializados
no mercado de ações, duvidando fortemente do que o
mercado de renda fixa americano estima em relação à
curva de juros. Os players do mercado de Treasuries
têm indicado, já há algumas semanas, uma probabili-
dade não trivial de que o Federal Reserve inicie cortes
de juros a partir da sua reunião do dia 20 de março.
Apesar de a maioria dos analistas concordarem
que o próximo movimento do Banco Central ameri-
cano será uma redução na taxa dos Fed Funds, o sen-
so comum, entretanto, prevê que isso aconteça so-
mente a partir de junho.
Com a economia ainda em expansão e desempre-
go nas mínimas históricas, é bastante lógico dizer que
não há motivo para uma redução na taxa de referên-
cia no curto prazo. Por que os banqueiros centrais se
arriscariam a começar um ciclo de cortes sendo que
a inflação ainda não convergiu para a meta de 2%? A
regra da prudência os levaria a manter uma posição
conservadora diante de uma guerra contra a inflação
que ainda não teve vitória declarada. Além disso, eles
têm sido unânimes em afirmar que não desistirão da
briga de maneira precoce, arriscando repetir a péssi-
ma experiência dos anos 1970.
Ao apressar cortes em março, no entanto, os par-
ticipantes do mercado de renda fixa estão declarando,
em alto e bom som, que existe a probabilidade — e ela
não é pequena — de que a guerra contra a inflação
tenha sido vencida. Apostam que os próximos indi-
cadores mostrarão uma inflação fraca, baixa e em
franca desaceleração.
Boa parte dos componentes dos índices indica
isso. Alguns, entretanto, ainda seguem em patamares
relativamente elevados. Entre eles, destacam-se os
serviços relacionados à moradia e, em especial, uma
DiretodeWall Street
linha intitulada ‘owners equivalent rent of primary NORBERTO
ZAIET
residence’, ou, em tradução livre, a taxa de aluguel É ECONOMISTA,
equivalente da residência principal. EX-CEO DO
Essa linha não é observada nos preços. Seu resul- BANCO PINE E
tado é calculado a partir de uma pergunta feita a uma FUNDADOR DA
PICEA VALUE
amostra da população que possui residência própria, INVESTORS, EM
ou seja, que não mora de aluguel. Os pesquisadores NOVA YORK
perguntam: “Se alguém fosse alugar a sua residência E-MAIL: zaiet@
hoje, por quanto você acha que ela seria alugada?” piceavalue.com
Tentam, assim, estimar o preço que uma pessoa que
não mora de aluguel pagaria caso alugasse, em vez de
ser o proprietário. Soa confuso? Sem dúvida.
Essa estimativa, que é parte relevante do cálculo
da inflação ao consumidor, tem se mostrado menos
reativa à desaceleração nos preços observada em
outras linhas, inclusive à linha de preços de aluguéis
diretamente observada no mercado. Considerando
que é um dado que depende de uma estimativa pro-
duzida pela pessoa pesquisada, é altamente influen-
ciado por expectativas.
Nesta semana o FED de Nova York divulgou um
dado de expectativa de inflação do consumidor bas-
tante abaixo do esperado. Será possível que o cidadão
comum já esteja mais habituado aos níveis de preço
atuais e passe, daqui para frente, a estimar cada vez
menores aumentos de preços, inclusive do aluguel
que teria de pagar caso alugasse sua casa?
Parece um pulo muito grande sair de uma observa-
ção de uma pesquisa em Nova York para uma conclusão
tão abrangente e, apesar de economista, estou muito
longe de ser um especialista em inflação. O mercado de
juros americano, entretanto, é. E ele está dizendo que
existe uma chance não trivial de que isso aconteça.
Algo que aprendi em mais de 30 anos de merca-
do: nunca subestime o que diz o mercado de juros
americano, mesmo que, a princípio, ele não pareça
tão lógico — muito pelo contrário, aliás: ele é extre-
mamente sábio.
Dinheiro 17/01/2024 65
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ARTIGO
POR EDSON ROSSI*
UMA TRINDADE QUE MUDA O MUNDO
CHINA, COREIA DO SUL E JAPÃO SE APROXIMAM COMO
HAVIA MUITO TEMPO NÃO OCORRIA
E
xiste uma lição definitiva na geopolítica. E nela — stricto
sensu — não há o que chamamos de diplomacia. De forma
reducionista, tudo se resume a um ponto: espaços para
semear o fluxo de dinheiro (via transações comerciais, whatever).
Pelo lado positivo (tratados) ou negativo (guerras). Assim é. Isso
dito o Oriente vive um turning point. Emblematicamente, passa
por Taiwan, que no sábado (13) elege seu presidente. Mas vai
muito além. De toda forma, o que acontecer na ilha terá reflexos
aceleradores (ou não) do que podemos chamar de Novo Oriente.
Na corrida presidencial, Lai Ching-te (DPP), também conhecido
por William Lai, é o cara da situação, atual vice-presidente. Do
partido mais antiPequim (leia-se contrário à unificação com a
China continental). Na média das últimas pesquisas, tinha 36%
das intenções de voto. Na cola vinha Hou Yu-ih (KMT). Sua le-
genda defende uma futura reunificação com a China, mas man-
tendo o regime democrático em Taiwan (seria o pior para os
Estados Unidos). Tinha 31% da média das intenções. Por fim, na
briga estava Ko Wen-je (TPP), com 24%. Em sua plataforma, o
meio termo entre os dois primeiros candidatos: defende uma
Taiwan soberana, mas altamente atrelada à China, em especial
nos campos cultural e econômico. Havia um quarto personagem,
o bilionário empresário Terry Gou, fundador da gigante tecno-
lógica Foxconn. Ele chegou a anunciar a candidatura, mas desis-
tiu no último instante, em novembro, e disse que não apoiaria
nenhum dos três. O vencedor assume em maio.
Não importa quem ocupe a cadeira. É pouco provável — mes-
mo num mundo de conflitos complexos como Rússia-Ucrânia e
Israel-Palestinos — que Pequim decida agir pela força para ter
Taiwan dentro de suas bordas, a despeito de isso ser meta ma-
nifesta do presidente chinês, Xi Jinping. Independentemente
do resultado eleitoral de Taiwan, há em curso uma silenciosa
aproximação que certa parte do Ocidente parece ignorar: a de
China, Coreia do Sul e Japão. Tem menos de 50 dias o simbólico
encontro que reuniu os ministros das Relações Exteriores dos
três países. Dali nada saiu além de uma agenda protocolar. Mas...
Foi a primeira desde 2019. Para falar dos três, vale falar de nú-
meros — afinal, não existe diplomacia, existe somente fluxo de
dinheiro. Exportações chinesas: EUA (1º), Hong Kong (2º), Japão
(3º) e Coreia do Sul (4º). Exportações japonesas: China (1º), EUA
(2º) e Coreia do Sul (3º). Exportações sul-coreanas: China (1º),
66 Dinheiro 17/01/2024
EUA (2º), Vietnã (3º) e Japão (4º). Mais: dados do World Bank
(2021) mostram que o fluxo de comércio exterior entre os três
somou US$ 750 bilhões. É evidente que o crescimento chinês
abaixo de 5% (desde o fim da pandemia) pode prejudicar um
pouco. No entanto, o nuclear nesses números é que o nível de
interdependência já não permite retrocessos ou solavancos.
Pelo lado americano, o olhar sobre Japão e Coreia do Sul
sempre foi militar. Washington mantém nos dois países 80 mil
soldados. Aparentemente, Pequim aposta no caminho da grana
(não que descarte a força). Historicamente, China e Japão sem-
pre foram ligados. Por séculos, até que nos anos 1850 uma expe-
dição americana (com diplomacia & canhões) forçou a abertura
dos portos japoneses, que fazia mais de 200 anos só aceitavam
chineses e holandeses. O que se seguiu foi rápido. E colocou a
relação sino-japonesa num confronto interminável. A primeira
guerra entre os dois países (1894-1895) teve a Coreia como pivô.
O segundo confronto China-Japão (1937-1945) aconteceu de
forma paralela à Segunda Guerra Mundial, e teve como momen-
to mais repulsivo o Nanjing Massacre (1937-1938) — uns 30 dias
de saques, estupros em massa e extermínio de civis e militares
chineses (entre 100 mil e 300 mil mortos, segundo a Britannica).
Para povos que trazem tanta história, e respeitam essa história,
aproximações como as reuniões recentes não são pouca coisa.
Enquanto o Japão cresceu de forma acelerada após os anos
1960, e a Coreia do Sul a partir dos anos 1980, a China andou. Mas
veio a virada. No ano 2000, a economia chinesa era menos de ¼
da japonesa. Em 2010, ultrapassou os nipônicos se tornando a
segunda maior do mundo. “Houve uma mudança significativa no
equilíbrio de poder entre os três países”, escreveu Ryosuke Ha-
nada, doutor em filosofia e especialista em assuntos de seguran-
ça para a região Indo-Pacífico. “Hoje, tanto a economia quanto
as forças armadas da China superam em larga escala as de Japão
e Coreia do Sul.” Segundo Hanada, a lógica de dois países contra
um país (muito alimentada pelos EUA) virou outra, a de duas
nações menores enfrentando um gigante. “Agora, a China vai
calcular como incentivá-las a divergir de Washington.” Uma
briga e tanto. E nessa Nova Ordem Oriental, há imensos e poten-
ciais espaços para o Brasil.
*Edson Rossi é redator-chefe da DINHEIRO.
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