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eleições

2022

O
futuro
dO Brasil
em jogo
Eleições de 2022 trazem embate
entre dois projetos distintos.
Em disputa, a ideia de como o Estado pode
ajudar a vida de cada um e a consolidação
da democracia brasileira
salários
baixos
inflação,
e Fome
Com Bolsonaro,
velhos fantasmas
voltam a
assombrar

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Em 2022, 58,7% da popula-
ção brasileira vive com algum
tipo de insegurança alimen-
tar. Segundo a Rede Brasileira
de Pesquisa em Soberania e
Segurança Alimentar e Nutri-
cional (Rede Penssan), o nú-
mero de pessoas passando
fome no país passou de 19
milhões para 33,1 milhões
de pessoas em pouco
mais de um ano, o que
representa uma volta
ao patamar de inse-
gurança alimentar
equivalente ao da década de 1990.
Os dados mostram que o acesso pleno à alimentação
se tornou um direito de uma minoria: essa é a realidade

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para apenas quatro de cada 10 famílias.
Mas como um país que em 2014 co-
memorava a saída do Mapa da Fome da
Organização das Nações Unidas (ONU),
à época um marco mundialmente re-
conhecido no caminho à promoção
do direito humano à alimentação
adequada e saudável, chegou
a esse ponto?

No fim de 2020, 19,1 milhões


conviviam com a fome.
Em 2022, são 33,1 milhões
sem ter o que comer.

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Foto: Alex Pazuello

Crise sanitária e
econômica: uma
tragédia anunciada
Se a pandemia afetou todo o mundo, também é
verdade que o Brasil foi um dos países que pior se
preparou para enfrentar a crise econômica, social e
sanitária, a despeito dos avisos de especialistas, dos
movimentos populares e da sociedade civil.
No fim de abril, quando o país chegava a um recorde
diário de mortes pela covid-19, Bolsonaro respondeu
a um repórter: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o
quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”. Foram
inúmeras frases demonstrando o descaso em rela-
ção à pandemia, que se refletiu no elevado número
de mortes, grande parte delas evitáveis.
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O combate à covid foi desastroso e na economia
não foi diferente. Relatório da Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)
divulgado em julho mostra que o Brasil é o quarto
com maior inflação entre os países que compõem
o chamado G20. E o acréscimo de R$ 200 no Auxílio
Brasil até dezembro não será suficiente para colocar
no carrinho do supermercado a quantidade que se
comprava em 2020. Os R$ 600 do auxílio atual corres-
pondem a R$ 491,72 em valores de dois anos atrás,
segundo cálculos de Matheus Peçanha, pesquisador
e economista do Instituto de Brasileiro de Economia
(Ibre), da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Como consequência da inflação alta e também do
fim da política de valorização do piso nacional, o salário
mínimo está em seu momento mais baixo dos últimos
15 anos, de acordo com o Departamento Intersindical
de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Hoje, o mínimo é capaz de comprar apenas uma cesta
básica e meia. Em 2009, ele comprava duas cestas bá-
sicas. Durante a gestão Bolsonaro, não houve nenhum
aumento real do piso nacional acima da inflação.

Em Manaus, capital do
Amazonas, a Prefeitura foi
obrigada a abrir covas coletivas,
chamadas de “trincheiras”
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Governo desmonta
política de alimentos
Outro fator que influenciou na alta dos alimentos
e na crise de insegurança alimentar foi o desmon-
te promovido na Companhia Nacional de Abasteci-
mento (Conab), que teve sua política de estoques
reguladores estratégicos desarticulada. Por meio
dela, governos anteriores conseguiam amenizar a
trajetória de alta nos preços de alimentos por conta
de quebras de safras ou questões comerciais.
Com Bolsonaro, das 92 unidades armazenado-
ras, 27 foram fechadas. Para se ter uma ideia do
impacto, em 2012 os recursos movimentados pela
Conab totalizaram R$ 600 milhões, já em 2020 este
total ficou abaixo de R$ 15 milhões.
Em números absolutos, 125,2 milhões de pessoas
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no Brasil estão passando por algum nível de inse-
gurança alimentar. Essa classificação inclui pessoas
que estão passando fome e aquelas que estão pre-
ocupadas por não saber se terão o que comer no
dia seguinte. O número de pessoas nessa situação
aumentou 7,2% desde 2020, e 60% desde 2018.

A escalada da fome
País regrediu a patamar equivalente ao da
década de 1990 em segurança alimentar

O Norte e o Nordeste do país No Brasil de 2022, somente


são as regiões mais atingidas 4 em cada 10 domicílios
pela falta de comida no prato, conseguem manter acesso
com 25,7% e 21% das famílias pleno à alimentação
passando fome

São 125,2 milhões de brasileiros Entre lares comandados


que passaram por algum grau
por pessoas negras, a fome
de insegurança alimentar entre
novembro de 2021 e abril de 2022. aumentou de 10,4% para 18,1%.
Aumento de 7,2% desde 2020, e de Segundo os Inquéritos da Rede
60% em comparação com 2018. Penssan de 2020 e 2022

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O Brasil paga
a perda de sua
soberania
A lógica privatista do atual governo tem feito o
país perder o controle sobre áreas estratégicas, o
que já pode ser sentido no bolso do brasileiro, por
exemplo, no preço dos combustíveis. Com a Petro-
bras sendo administrada como se fosse uma compa-
nhia privada, a política da empresa já distribuiu R$
136 bilhões em dividendos a acionistas no primeiro
semestre.
E a companhia repassa a acionistas recursos ar-
recadados inclusive com a venda de seu patrimô-
nio, como explica o professor Eduardo Costa Pinto,
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
A empresa usou R$ 32 bilhões do que recebeu com
a venda dos campos de petróleo de Sepia e Itapu, e
retirou dinheiro de seu caixa para repassar a inves-
tidores.
“Se continuar assim, daqui a pouco não sobra
mais nada”, explicou Pinto, em entrevista ao Brasil
de Fato. “Esse caixa e os recursos da venda do pa-
trimônio deveriam ser reinvestidos na própria em-
presa. A Petrobras parou de investir.”
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Segundo Eric Gil Dantas, economista do Observa-
tório Social do Petróleo, sem investimento, o merca-
do interno passa a depender mais de combustíveis
importados. Se refinasse todo o petróleo produzido
aqui, o país não sofreria tanto com as consequên-
cias da alta do petróleo causada pela guerra entre
Rússia e Ucrânia.
A Eletrobras, em processo de conclusão da sua
privatização, também é outro exemplo de prejuízo.
Além de deixar de ter o controle de uma área cru-
cial, o país deve sofrer com uma elevação no custo
da energia em um futuro próximo.
“As estimativas do impacto da privatização sobre
as tarifas variam de um aumento de 5% até um au-
mento de 18% ao ano”, aponta em artigo a Associa-
ção dos Empregados da Eletrobras (AEEL).

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Caminhos para
a reconstrução
do Brasil
Movimentos populares e a
sociedade civil têm debatido o
que fazer para recuperar o país
Qualquer governo que assumir a partir de 1º de
janeiro de 2023 terá a dura tarefa de reconstruir o
Brasil. Além da omissão em relação a diversos pro-
blemas do país, a atual gestão federal promoveu
um desmonte deliberado de importantes estruturas
do Estado. Mais do que uma escolha entre nomes,
a eleição presidencial vai decidir sobre o modelo de
desenvolvimento que o Brasil quer e precisa.

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Em maio deste ano, mais de 80 movimentos se
reuniram para entregar uma proposta com diver-
sos pontos para o ex-presidente e candidato do PT
à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva.
“A partir da identificação desse cenário de crise
nacional e dos problemas mais urgentes do povo,
apresentamos um conjunto de propostas para mo-
tivar o embate político nas periferias das grandes
cidades e nos interiores desse Brasil. Elas são o ca-
minho para construir a força política e social para
alterar a correlação de forças e viabilizar um proces-
so de mudanças necessárias para superar a crise e
reconstruir o Brasil”, dizia o manifesto divulgado à
época.
O documento foi assinado por organizações como
o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto

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(MTST), o Movimento Negro Unificado (MNU) e en-
tidades como a Central Única dos Trabalhadores
(CUT) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).
São pontos que tocam em mudanças que foram
feitas nos últimos anos e trouxeram prejuízos à socie-
dade, como a revogação da Emenda Constitucional
95, a chamada Lei do Teto de Gastos, que impede
na prática o aumento de investimentos em áreas
como educação e saúde. A criação de uma política
emergencial de combate à fome o estabelecimento
de uma renda básica e uma reforma tributária que
possa taxar mais os ricos também estão na pauta.

Lula participa de ato político em Maceió (AL). Foto: Ricardo Stuckert

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Confira alguns dos principais pontos defendidos pelos
movimentos populares para retomar o crescimento
econômico e o combate à desigualdade.

Elaboração de uma
reforma tributária na qual
os ricos paguem mais

Revogação da Lei do
Teto de Gastos

Implementação da
Renda Básica Cidadã

Valorização do
salário mínimo

Retomada e ampliação dos


investimentos públicos

Revogação das reformas


trabalhista e previdenciária

Ampliação do financiamento
público da saúde

Execução de um plano de
recuperação da educação

Retomar e ampliar as
mais diversas formas de
participação social

Instituição de uma política


de desmatamento zero com
recuperação das áreas desmatadas

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Salários em baixa e
informalidade viram
regra no mercado
de trabalho
Outros problemas a serem enfrentados por um
futuro governo são o desemprego e o rebaixamento
salarial. A renda média do trabalhador brasileiro caiu
9,7% no trimestre encerrado em janeiro de 2022 em
comparação ao mesmo período de 2021, segundo
a Pnad Contínua.
A taxa de informalidade não para de crescer. Hoje,
este segmento corresponde a 40,1% da população ocu-
pada, o equivalente a 39,1 milhões de trabalhadores sem
carteira assinada. Ou seja, sem direitos básicos como
férias, 13º salário, licença maternidade e paternidade,
ou benefícios previdenciários como auxílio-doença e
auxílio-acidente, além do acesso à aposentadoria.

A renda média do trabalhador


brasileiro caiu 9,7% no
trimestre encerrado em janeiro
de 2022 em comparação ao
mesmo período de 2021

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Diante deste cenário, os movimentos defendem a
revogação das reformas trabalhista e previdenciária
e a volta da política de valorização do salário míni-
mo, junto com políticas públicas que estimulem a
criação de empregos formais.
“O Estado será o grande personagem das elei-
ções deste ano. Depois de três anos de Michel Temer
e quase quatro de Jair Bolsonaro, o país decidirá se
deseja seguir no caminho dos últimos tempos ou
se vai mudar. Dirá se quer continuar apostando em
um Estado distante da maioria – presente apenas
quando forçado pelas circunstâncias, como ocorreu
na pandemia – ou se quer sua presença mais forte
e atuante”, aponta o jornalista e documentarista
Ayrton Centeno em sua coluna no Brasil de Fato.

Qual o papel
do Estado?
Um debate fundamental nas eleições de 2022 se
refere à concepção de cada candidato sobre o papel
que o Estado pode desempenhar no dia a dia das
pessoas. Reiteradas vezes, Jair Bolsonaro já disse
que o Brasil precisa de “menos Estado” e a política
econômica de Paulo Guedes vai nesse sentido. O
mesmo vale para políticas sociais. O Auxílio Emer-
gencial de R$ 600, criado em meio à pandemia, só
foi possível ser efetivado com esse valor por conta
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da mobilização popular e do Congresso Nacional.
As iniciativas do Estado, em um país desigual como
o Brasil, são consideradas fundamentais para garan-
tir o bem estar da população, ainda mais em tempos
de crise. O protagonismo do Sistema Único de Saúde
(SUS) durante a pandemia evidenciou isso, a despeito
de o governo ter desprezado o combate à covid-19 e
o Teto de Gastos ter enfraquecido o sistema.
“O modelo neoliberal, muito encarnado de forma
até caricatural pelo ministro Paulo Guedes, enxerga
a relação entre público e privado como de oposição,
uma visão superada mundo afora. Nenhum país de-
mocrático tem mais essa visão”, aponta, em entre-
vista ao Opera Mundi, o professor de economia da
Unicamp Guilherme Mello.
O economista, integrante da equipe que discutiu
as diretrizes programáticas da chapa Lula-Alckmin,
aponta a necessidade de promover uma nova legis-
lação para obter recursos imediatos que auxiliem na
superação da pobreza e na reativação da economia.
“Sem esses recursos, cairemos em 2023 no abismo
que [Jair] Bolsonaro montou para o novo governo”,
alertou.

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Crise atinge os pobres.
E a classe média também
O governo Bolsonaro deve ser o primeiro, des-
de 1989, a não reajustar a tabela de cobrança do
Imposto de Renda (IR). A ausência da correção
faz com que o poder de compra do brasileiro, já
muito prejudicado pela alta da inflação, se redu-
za ainda mais.
Segundo o Sindicato Nacional dos Auditores-
Fiscais da Receita Federal do Brasil (Sindifisco
Nacional), a tabela do IR acumula defasagem
de 26,5% na atual gestão, o maior percentual já

18 Ed. especial Nº 20 - www.brasildefato.com.br Foto: Bolsocaro


registrado na história. Para se ter uma ideia do im-
pacto, em 2018, só pagava Imposto de Renda quem
recebia mais que dois salários mínimos e hoje quem
ganha 1,57 salário mínimo já é tributado.
O endividamento também aumentou. Conforme
pesquisa do Serasa Experian de Inadimplência do
Consumidor, divulgada em 11 de julho, 66,6 milhões
de pessoas estão inadimplentes no país, o maior
contingente absoluto desde 2016.
Mas esse fato não significa que os bancos deixa-
ram de ganhar. Eles continuam obtendo resultados
e lucros recordes. No primeiro trimestre de 2022,
os lucros dos cinco maiores bancos do país — Itaú
Unibanco, Bradesco, Banco do Brasil, Caixa e San-
tander — totalizaram R$ 27,6 bilhões, um aumento
de 15,4% em 12 meses.

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A violência
no discurso
e na prática
Além do estímulo a comportamentos
agressivos contra adversários
políticos, Bolsonaro promoveu um
festival de liberação de armas que
contribui para o fortalecimento
de organizações criminosas

“Vamos fuzilar a petralhada aqui do Acre.” Era


assim que o atual presidente Jair Bolsonaro se re-
feria a seus adversários políticos em um ato de sua
campanha eleitoral em 2018. A declaração foi lem-
brada por muitos após um militante bolsonarista
assassinar o tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu
(PR), em julho deste ano, mas foi apenas uma en-
tre várias ocasiões em que o mandatário discursou
de forma agressiva contra pessoas ou partidos que
pensam diferente dele.
Esse tipo de discurso por parte de alguém que
tem um cargo como o de Bolsonaro não pode ser

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Quando você tem um líder
que atua simbolicamente
para criar um ambiente
favorável ao uso da violência,
isso estimula os cidadãos a
aderirem a essa simbologia.
Mayra Goular cientista política da
Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ) em entrevista ao Brasil de Fato

encarado como algo normal. “Quando você tem um


líder que atua simbolicamente para criar um am-
biente favorável ao uso da violência, isso estimula
os cidadãos a aderirem a essa simbologia. Eles se
veem respaldados, retroalimentados e validados por
um representante político e têm acesso facilitado a
armas”, pontua a cientista política da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, em
entrevista ao Brasil de Fato.
“Primeiro, [temos] uma estetização da violência,
que o Bolsonaro opera em seus discursos e na sua
performance. Ele reivindica a violência como mé-
todo, glamouriza o uso da violência, fala muito de
porrada, bomba, tiro, fala em uso da violência e faz
21 Ed. especial Nº 20 - www.brasildefato.com.br
apologia ao uso de armas – não só apologia, mas
também políticas públicas que vêm facilitando a
armas de maneira geral”, resume, lembrando de
um outro aspecto do atual governo, a liberação de
armas de fogo.

Em ato de campanha em 2018, Bolsonaro falou


em "fuzilar a petralhada do Acre"

Marcelo Arruda foi morto a tiros durante o próprio


aniversário por um mlitante bolsonarista

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Investimento
no ódio
Em seu governo, Bolso-
naro editou ao todo 19 de-
cretos, 17 portarias, duas
resoluções, três instruções
normativas e dois projetos
de lei com o objetivo de fa-
cilitar o acesso a armas de
fogo e munição ao cidadão
comum.
O registro de armamento
de pessoas comuns como
“caçadores, atiradores e co-
lecionadores”, os chamados
CACs, permitem que um
atirador possa ter até 60 ar-
mas. Apenas nos primeiros
cinco meses de 2022, uma
média de 1.043 brasileiros
se registraram para licenças Fuzil Calibre 556,
CACs por dia. Entre julho uma das armas
de 2019 e março de 2022,
a licença de registros pelo
liberadas para CACs
CAC saltou 262%, passan- e qua vai parar nas
do de 167.390 para 605.313 mãos do PCC
pessoas armadas.
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“Tirar esses calibres da exclusividade das forças
de segurança enfraquece a capacidade do policial e
do Exército de combater criminosos armados, que
agora têm condições de ter as mesmas armas ali-
mentadas pelas mesmas munições”, aponta o ad-
vogado e membro do Fórum Brasileiro de Seguran-
ça Pública, Bruno Marques, em entrevista ao jornal
Folha de S. Paulo. “Dificulta também a investigação
para determinar desvios, uma vez que os cartuchos
9mm e 40 agora podem ser comprados por qualquer
pessoa.”
“Eles [integrantes do PCC] pagavam de R$ 35 mil
até R$ 59 mil num fuzil no mercado paralelo e agora
pagam de R$ 12 mil a R$ 15 mil um [fuzil calibre] 556
com nota fiscal”, afirma em outra reportagem, do
jornal O Estado de S. Paulo, o promotor de Justiça
Lincoln Gakiya.

Os CACs permitem
que um atirador
possa ter até
60 armas
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A cultura
despedaçada

Ao extinguir ministério e abandonar políticas


públicas do setor, atual gestão federal deixa
de estimular uma área responsável pela
geração de milhões de empregos e renda

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Jair Bolsonaro extingiu por medida provisória o
Ministério da Cultura (MinC). Parte de suas compe-
tências e atribuições foram distribuídas para outros
ministérios, enquanto outra parte simplesmente
deixou de existir, prejudicando a elaboração e exe-
cução de políticas públicas.
A secretaria que substituiu o ministério ainda con-
tou com episódios absurdos, como o do seu então
titular Roberto Alvim reproduzindo parte de um dis-
curso de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda
na Alemanha nazista, ao lançar o Prêmio Nacional
das Artes. Ele foi substituído pela atriz Regina Duarte
em março de 2020, que não conseguiu encaminhar
praticamente nenhuma ação. Após pouco tempo no
cargo, a atriz foi substituída por Mário Frias, denun-
ciado por trabalhar armado e ameaçar funcionários
do MinC.

O que a gente vê ali na


Secretaria Nacional de
Cultura é um amplo desejo
de aniquilação da nossa
identidade cultural."
Xauí Peixoto
Articulador, produtor,
gestor cultural

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Não bastasse o descaso, Bolsonaro também atuou
contra os trabalhadores da cultura ao vetar as Leis
Paulo Gustavo e Aldir Blanc 2, que preveem incenti-
vos orçamentários destinados ao setor cultural. Os
vetos acabaram sendo derrubados no Congresso
Nacional em julho.
“O que a gente vê ali na Secretaria Nacional de
Cultura é um amplo desejo de aniquilação da nos-
sa identidade cultural. Não gosta de cultura, não
gosta de artistas, não gosta de dança, de teatro, de
música, de cinema, de culturas populares, cultura
afro-brasileira, cultura indígena, quilombola, ribei-
rinhas, as mais diversas linguagens. Não gosta de
livro, não gosta de conhecimento, não tem interesse
que a população tenha acesso a esses bens e ser-
viços culturais, então a gente percebe nitidamente
que esse é o motivo dessa perseguição ao setor da
cultura”, disse ao Brasil de Fato o articulador, produ-
tor, gestor cultural Xauí Peixoto.
O setor cultural e de entretenimento no país en-
globa 6,2 milhões de pessoas, entre empregadores,
empregados e microempreendedores individuais
(MEIs), que movimentam R$ 62,4 bilhões em massa
salarial e geram R$ 41,9 bilhões em impostos fede-
rais. Segundo a Associação Brasileira dos Promoto-
res de Eventos (Abrape), com dados divulgados em
junho, o faturamento deste mercado é de R$ 334,2
bilhões, aproximadamente 4,52% do PIB do país.

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A lembrança dos
artistas que perderam
a vida na pandemia

"Cadê a vacina meu deus?". Era esse o questiona-


mento do ator e humorista Paulo Gustavo, em uma
postagem de 3 de março de 2021 no Instagram. A
publicação foi feita apenas dez dias antes de ele ser
internado em decorrência da covid-19. Em 4 de maio,
veio a falecer por conta das complicações da doença.
Esta foi somente uma das muitas postagens de Pau-
lo Gustavo durante a pandemia em que ele buscou
não apenas cobrar o governo por medidas relativas à
prevenção e à vacinação, mas também buscou cons-
cientizar as pessoas sobre o negacionismo.
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Outros artistas também foram vítimas da doença.
Nomes como Aldir Blanc, Nicette Bruno, Agnaldo Ti-
móteo, Paulinho do Roupa Nova, Genival Lacerda,
Eduardo Galvão, Tarcísio Meira, entre tantos outros,
quase anônimos ou não, muitos dos quais vítimas do
descaso do governo federal em relação à vacinação, à
prevenção e à postura negacionista que tantas vezes
foi adotada pelo próprio presidente Jair Bolsonaro.
"A vacinação era para ter começado no ano passa-
do. Com isso pensamos: Paulo Gustavo poderia estar
aqui conosco", disse a cantora Daniela Mercury após
a morte do ator.
O atraso na aquisição de vacinas foi um dos desta-
ques do relatório final da CPI da Covid. O documento
apontou que a “mais grave omissão do governo fede-
ral foi o atraso na compra de vacinas”.
Segundo o epidemiologista e pesquisador da Uni-
versidade Federal de Pelotas (UFPel) Pedro Hallal, em
depoimento à à CPI, 95,5 mil mortes poderiam ter sido
evitadas no Brasil se o governo federal não tivesse
atrasado a compra das vacinas CoronaVac e da Pfizer.

A vacinação era para ter


começado no ano passado. Com
isso pensamos: Paulo Gustavo
poderia estar aqui conosco"
Daniela Mercury após a
morte do ator Paulo Gustavo

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Movimentos querem
garantir participação
popular durante e
após as eleições

Durante o período eleitoral, os problemas que o povo


enfrenta são constantemente debatidos e podem ser
percebidos durante uma conversa no ônibus, no traba-
lho, na igreja, no bate-papo com os amigos e amigas ou
mesmo no almoço de domingo com a família.
São momentos como esse da eleição que podem im-
pulsionar as mudanças que o Brasil precisa, por meio
do debate de projetos e de propostas chave que podem
ganhar o apoio da maioria da sociedade.

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É por isso que os movimentos populares têm cons-
truído os comitês populares. Com cerca de 5 mil co-
mitês no Brasil e no exterior, o objetivo é alargar as
possibilidades de atuação do povo na política para
uma agenda de desenvolvimento e igualdade no país
que perpassa a hora do voto e vai além dele, inclusive
como forma de defender a democracia ao manter a
mobilização acessa e pulsante no país.

A diversidades dos
comitês populares
A formação dos comitês tem alcançado diversos
segmentos, indo desde o Comitê Popular de Traba-
lhadores da Ford e de Assentados do MST até a ex-
periência do Comitê de Tik Tokers.
Eles realizam atividades como montagem de ban-
quinhas nas praças, panfletagens, eventos culturais
e visitas de porta em porta nos bairros.

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Além da agenda presencial, toda sexta-feira há
ações nas redes e nas ruas para estimular outras ma-
nifestações como no happy hour, no encontro com
os amigos ou eventos.
As histórias destes e de outros comitês popula-
res, e a agenda de mobilização, atividades e mate-
riais de divulgação podem ser consultados no site
comitepopular.org.br.

Eduarda Rocha/CMSL

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Grito dos Excluídos e
Excluídas questiona:

200 anos de
Independência,
para quem?
O tradicional Grito dos Excluídos e Excluídas, reali-
zado sempre no dia 7 de setembro, discute o bicente-
nário da Independência neste ano. O questionamento
inclui na pauta as demandas relativas às tarefas ur-
gentes para a reconstrução do Brasil.
Entre os temas do Grito estão questões como a so-
berania alimentar e o combate à fome, a necessidade
de garantir e aprofundar a democracia e o combate
às desigualdades e à violência estrutural.
Com 28 anos, o Grito acontece em diversas cidades
do Brasil com o lema “A Vida em Primeiro Lugar”, que
ecoava as demandas populares de um país que, em
1995, ainda não tinha a inclusão como prioridade.
As palavras de ordem desta primeira edição se tor-
naram permanentes e hoje, em plena crise social e
econômica, são ainda mais emblemáticas.
33 Ed. especial Nº 20 - www.brasildefato.com.br
EXPEDIENTE
Esta é uma edição especial do Brasil de Fato /
Circulação nacional gratuita, agosto de 2022.
Edição: Nina Fideles e Glauco Faria
Jornalista responsável: Nina Fideles (MTB 6990/DF).
Artes e diagramação: Fernando Bertolo
Arte da capa: Fernando Bertolo
Com textos de Caroline Oliveira, Gabriela Moncau,
Nara Lacerda e Vinicius Konchinski
Revisão: Thalita Pires

CONTATO
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