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21/09/2021 12:02 O Brasil do futuro | Opinião | Valor Econômico

Opinião
Por Naercio Menezes Filho
É professor titular da Cátedra Ruth Cardoso no Insper e professor associado da Faculdade de Economia
e Administração da Universidade de São Paulo (FEA-USP)

O Brasil do futuro
País esqueceu da educação e preferiu se fechar para o comércio

20/08/2021 05h00 · Atualizado há um mês

O Brasil enfrenta problemas crônicos para crescer de forma sustentada há décadas.


Além disso, com a pandemia e o desleixo do governo atual em várias áreas, será
necessário reconstruir o Brasil a partir de 2023. Como fazê-lo? Quais foram os erros
e acertos dos governos passados? Como fazer com que o Brasil volte a crescer de
forma sustentada?

A última vez que o Brasil cresceu continuamente foi nos anos 60 e 70. Isso ocorreu
porque houve grande migração do campo para as cidades, que tirou a maior parte
da população de atividades de subsistência pouco produtivas e colocou-as nas
cidades para trabalharem na indústria e nos serviços, como vem ocorrendo na
China nos últimos tempos. Entretanto, ao contrário da China, a produtividade tem
crescido muito pouco nestes setores nas últimas décadas. O único setor que tem
tido crescimento da produtividade é a agricultura.

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Em outros países, a política industrial tinha metas


conjugadas com avanços educacionais; no Brasil não

A estratégia de proteger a indústria através de políticas industriais, proteção


comercial e subsídios para inovação não deu certo. Enquanto em outros países a
política industrial tinha metas para exportação e era conjugada com avanço
educacional, por aqui esquecemos da educação e preferimos fechar o país para o
comércio. Assim, a maior parte das nossas empresas usa técnicas gerenciais
ultrapassadas e não inovam. Colocamos milhões de reais em programas de
incentivos à inovação com poucos resultados práticos, como mostram diversas
avaliações de impacto.

Além disso, a proteção comercial faz com que os insumos internacionais fiquem
mais caros. Vários estudos mostram que o acesso a insumos mais sofisticados e
baratos é um dos principais determinantes do crescimento da produtividade. O
atraso histórico da indústria brasileira tornou-a muito pouco competitiva
internacionalmente. Como consequência, a liberalização comercial dos anos 90, se
por um lado fez com que a produtividade das firmas brasileiras aumentasse via
importação de insumos, por outro levou à demissão de milhares de trabalhadores,
já que elas não tinham como competir com os demais países. Esses trabalhadores
tiveram que ir para a informalidade ou para serviços pouco qualificados.

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Ao mesmo tempo que os incentivos à indústria predominavam, a área social não


tinha nenhuma atenção. Até os anos 70, a mortalidade infantil era altíssima, com
120 crianças morrendo no primeiro ano de vida para cada 1000 que nasciam. Não
existia atendimento hospitalar para os mais pobres e apenas 5% da população
adulta tinha ensino médio. Predominava no país a ideia de que investir em capital
humano era desnecessário, pois o crescimento econômico liderado pela indústria
aumentaria a renda de todos. Isso diminuiu a flexibilidade e adaptabilidade dos
trabalhadores, de forma que a liberalização comercial provocou diminuição de
salários, aumentos da criminalidade e da religiosidade, com grande crescimento das
igrejas evangélicas nas áreas mais afetadas.

Mas, a partir dos anos 80 o Brasil progrediu bastante na área social, especialmente
depois da Constituição de 1988. Hoje em dia temos o SUS e apenas 10 crianças
morrem no primeiro ano de vida a cada 1000 nascidas. A esperança de vida ao
nascer, que era de apenas 45 anos no Nordeste em 1960, agora atinge 72. Em 1992
apenas 25% dos jovens tinham ensino médio ou superior, ao passo que hoje em dia
isso acontece com 70% deles. A renda per capita também aumentou bastante,
especialmente a partir dos anos 2000, passando de R$ 800 para R$ 1.500. Por fim, a
pobreza e a desigualdade também diminuíram bastante.

Houve grande aumento de recursos públicos para educação, saúde e


aposentadorias. Mas a dificuldade de financiar esses gastos também era crescente,
justamente porque a produtividade aumentava pouco. Com o fim do boom de
commodities e os erros de política econômica cometidos pelo governo Dilma, veio a
crise a partir de 2014. E, em cima dessa situação já precária, veio a pandemia, que
está tendo efeitos dramáticos na educação, saúde, desenvolvimento infantil e
mercado de trabalho.

No caso da educação, a maior parte das crianças pobres aprendeu muito pouco nos
últimos meses. Isso provocará um grande aumento da desigualdade educacional
nos próximos anos, com reflexos sobre a desigualdade no mercado de trabalho.
Com relação ao desenvolvimento infantil, vários estudos mostram que períodos de
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grande estresse emocional entre os pais provocam redução do peso ao nascer,


declínio no desempenho escolar e problemas psicológicos. Se nada for feito, haverá
necessidade de aumentar muito os gastos sociais no futuro para remediar esses
problemas.

No mercado de trabalho, a pandemia acentuou a queda de emprego entre os


trabalhadores menos qualificados, devido ao avanço das tarefas não-rotineiras
analíticas, como planejamento, controladoria e pesquisa, e declínio das tarefas não-
rotineiras manuais, como serviços de conserto e limpeza. A parcela de pais de
família menos qualificados empregados reduziu-se 12 pontos percentuais entre
2012 e 2021. Essa diminuição de emprego e renda está tendo grande impacto no
desenvolvimento infantil, em adição ao estresse causado pelas escolas fechadas e
casas lotadas. Por fim, teremos que tratar das sequelas nas pessoas que foram
contaminadas pelo vírus e da saúde dos que deixaram de se cuidar durante a
pandemia.

Assim, após a pandemia teremos que reconstruir o Brasil. Devemos aproveitar os


acertos e corrigir os erros cometidos nas últimas décadas. É crucial ter políticas
ativas para reduzir a desigualdade de oportunidades desde a primeira infância. A
questão distributiva tem que ocupar posição de destaque. Será necessário abrir
mais a economia de forma planejada para incentivar a concorrência e aumentar a
produtividade das nossas empresas, melhorar a gestão educacional e aumentar o
número de horas-aula nas escolas públicas para recuperar o tempo perdido.
Precisaremos de uma reforma tributária decente, que seja progressiva, horizontal e
que diminua as distorções existentes. O Brasil evoluiu em muitos aspectos nos
últimos 40 anos, mas teremos que corrigir nossos erros para conseguirmos crescer
novamente.

Naercio Menezes Filho é professor titular da Cátedra Ruth Cardoso no Insper,


professor associado da FEA-USP e membro da Academia Brasileira de Ciências.
Escreve mensalmente às sextas-feiras. naercioamf@insper.edu.br)

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