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TRABALHO: CENÁRIOS ATUAIS, AVANÇOS E RETROCESSOS 

 
Em 1945, a maior parte da população brasileira vivia na zona rural. Em 2010, a maior parte
da população vivia na zona urbana. Isso significa que nesses sessenta e cinco anos houve uma
transformação radical no Brasil, e ela foi feita por milhares de trabalhadores que, efetivamente,
criaram condições diferentes para se realizar como cidadãos num país tão rico e tão desigual. Em
2008, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 92,4 milhões de pessoas ocupadas, 76,3
milhões trabalhavam em atividades não agrícolas. O setor que concentrava o maior número de
indivíduos era o da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção, correspondendo a
24,3% do total das pessoas ocupadas. Ou seja, o processo de urbanização, com todos os seus
desdobramentos, criou uma situação completamente nova, mudando o perfil de trabalho no Brasil e,
com isso, as oportunidades de trabalho também.
Ouvimos a todo momento nas conversas informais e encontramos com frequência nos meios
de comunicação a afirmação de que só terá emprego quem tiver qualificação. A qualificação em
determinados ramos da produção é necessária e cada dia mais exigida, mas isso somente para
alguns poucos postos de trabalho. A maioria das ocupações exige somente o mínimo de informação,
que normalmente o trabalhador consegue adquirir no próprio processo de trabalho. A elevação do
nível de escolaridade não significa necessariamente emprego no mesmo nível e boas condições de
trabalho. Quantos graduados em Engenharia ou Arquitetura estão trabalhando como desenhistas?
Quantos formados em Medicina são assalariados em hospitais e serviços médicos, tendo uma
jornada de trabalho excessiva? E os formados em Direito que não conseguem passar no exame da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), muitos por ter uma formação deficiente, e se empregam nos
mais diversos ramos de atividade, em geral muito abaixo daquilo que estão, em tese, habilitados a
desenvolver? Ou seja, a formação universitária, cada dia mais deficiente, não garante empregos
àqueles que possuem diploma universitário, seja pela qualificação insuficiente, seja porque não
existe emprego para todos.
Há no Brasil muitos trabalhadores que desenvolvem suas atividades no chamado setor
informal, o qual, em períodos de crise e recessão, cresce de modo assustador. Para ter uma ideia do
que representa esse setor, vamos aos dados do IBGE. Segundo a PNAD realizada em 2008, 34,5%
dos 92,4 milhões de indivíduos ocupados têm carteira de trabalho assinada. Entre os que não têm
nenhum tipo de registro jurídico, encontram-se os trabalhadores que constituem o chamado setor
informal. O setor informal inclui empregados de pequenas empresas sem registro, indivíduos que
desenvolvem, por conta própria, atividades como o comércio ambulante, a execução de reparos ou
pequenos consertos, a prestação de serviços pessoais (de empregadas domésticas, babás) e de
serviços de entrega (de entregadores, ​motoboys​), a coleta de materiais recicláveis, etc. A lista é
enorme. E há ainda aqueles trabalhadores, normalmente mulheres, que em casa mesmo preparam
pães, bolos e salgadinhos em busca de uma renda mínima para sobreviver. Todos fazem a economia
funcionar, mas as condições de trabalho a que se submetem normalmente são precárias e não dão a
mínima segurança e permanência na atividade.

1. Desemprego estrutural, informalidade e precariedade do trabalho


Depois das grandes transformações pelas quais o Brasil passou nos últimos trinta anos, a
questão do desemprego continua sendo um dos grandes problemas nacionais. Na agricultura houve
a expansão da mecanização em todas as fases — preparo da terra, plantio e colheita —,
ocasionando a expulsão de milhares de pessoas, que tomaram o rumo das cidades. Na indústria, a
crescente automação das linhas de produção também colocou milhares de pessoas na rua. Para ter
uma ideia do que aconteceu nesse setor, basta dizer que, na década de 1980, para produzir 1,5
milhão de veículos, as montadoras empregavam 140 mil operários. Hoje, para produzir 3 milhões de
veículos, as montadoras empregam apenas 90 mil trabalhadores. Nos serviços, principalmente no
setor financeiro, a automação também desempregou outros tantos. Enfim, se a chamada
modernização dos setores produtivos e de serviços conseguiu aumentar a riqueza nacional, não
provocou o aumento da quantidade de empregos — ao contrário, a modernização tem aumentado o
desemprego.
Assim, os processos de incremento tecnológico (com a introdução da robótica em diversas
atividades) e de renovação das relações de trabalho (terceirização, trabalho temporário, etc.)
resultaram no aumento do desemprego em relação às décadas anteriores. Eles ocasionaram um
fenômeno conhecido como desemprego estrutural: resultado de profundas transformações na
estrutura do mercado de trabalho que o impede de absorver toda a mão de obra disponível por
longos períodos de tempo. As principais vítimas do desemprego estrutural são os trabalhadores
qualificados e os mais jovens, que ainda não tem qualificação. Esse quadro só poderá ser mudado
com mais desenvolvimento econômico, afirmam alguns; outros dizem que é impossível resolver o
problema na sociedade capitalista, pois, por natureza, no estágio em que se encontra, ela gera o
desemprego, e não há como reverter isso na presente estrutura social; há ainda os que consideram o
desemprego uma questão de sorte, de relações pessoais, de ganância das empresas, etc. Todas as
explicações podem conter um fundo de verdade, desde que se saiba a perspectiva de quem fala.
Entretanto, está faltando uma explicação, que deixará claro que o desemprego não é uma questão
individual nem culpa do desempregado. Essa explicação está na política econômica desenvolvida no
Brasil há mais de vinte anos, até o início do século XXI.
Os dados oficiais mostram que, ao final de maio de 2020, cerca de 7,8 milhões de pessoas
perderam emprego em relação ao trimestre anterior (dez/19 a fev/20). Isso representa uma redução
de 8,3% no total de pessoas ocupadas. No entanto, somente 368 mil novas pessoas foram
consideradas desocupadas no mesmo período, um aumento de apenas 3%. Ou seja, de todas as
pessoas que perderam seus empregos, apenas uma pequena parcela continuou procurando e a
outra parte, muito maior, passou a ser considerada fora da força de trabalho. Alguns fatores, como o
acesso ao auxílio emergencial, o medo de contaminação pelo Covid-19, a ​adesão ao isolamento
social​ ou mesmo a necessidade de ficar em casa por questões de saúde própria ou de familiares,
frearam o avanço imediato da taxa de desocupação. Mas a história não para por aí… Ao final do
trimestre terminado em maio de 2020, as pessoas desalentadas somavam ​5,4 milhões de pessoas​,
um aumento de 15,3% em relação ao período anterior. De modo geral, o que se vê é uma piora
quantitativa e qualitativa nos indicadores relacionados ao mercado de trabalho no Brasil.
Para minimizar o desemprego, é fundamental que empresas e autoridades governamentais
criem e instituam formas de qualificação profissional que garantam maior absorção de trabalhadores,
com remuneração justa e respeito aos direitos trabalhistas. Enquanto isso não acontece, muitas
pessoas ocuparão postos de trabalho em tempo parcial, temporário, subcontratado, terceirizado,
vinculados à economia informal. Assegurar um trabalho “decente” é um componente essencial para a
promoção do desenvolvimento socioeconômico, o combate à pobreza e a redução das
desigualdades. Entende-se por trabalho decente a promoção de emprego e ocupação com proteção
social, respeito aos direitos e princípios fundamentais no trabalho e diálogo social, “trabalho decente
é um trabalho produtivo, adequadamente remunerado, exercido em condições de liberdade, equidade
e segurança, e que seja capaz de garantir uma vida digna a todas as pessoas que vivem do seu
trabalho”. Em outras palavras, essa noção de trabalho decente além de abranger as múltiplas
necessidades pessoais e familiares (alimentação, educação, habitação, saúde, segurança etc.),
contempla também a proteção social nos casos de desemprego e doença e assegura uma renda na
época da aposentadoria. Trata-se, portanto, de um trabalho no qual os direitos fundamentais dos
trabalhadores e das trabalhadoras devem ser respeitados (regulamentados por lei), especialmente no
que se refere ao trabalho, entre eles, organização sindical e negociação coletiva. Deixa claro,
ademais, que se deve promover a igualdade de oportunidades e tratamento conforme sexo e cor.
A informalização do trabalho está diretamente ligada à degradação ou precarização do
trabalho. Emprego informal é aquele no qual a relação trabalhista não está sujeita à respectiva
legislação nacional de trabalho, não há incidência de impostos de renda, não há qualquer tipo de
proteção social, como aviso prévio de demissão ou afastamento por motivos de saúde. Ao redor do
mundo, a taxa de informalidade varia expressivamente, mas o nível de escolaridade aparece como
um fator diretamente relacionado à formalidade, de modo que quanto maior o nível de escolaridade,
maior o nível de formalidade. De acordo com o IBGE os trabalhadores informais são aqueles que
atuam no setor privado sem carteira assinada, empregados domésticos sem carteira assinada,
empregador sem registro no CNPJ e trabalhador familiar auxiliar. No Brasil, as ocupações que não
são empregos formalizados são fundamentalmente os trabalhos por conta própria, os empregados
sem carteira de trabalho e os trabalhadores domésticos sem carteira de trabalho. O conjunto desses
trabalhadores abrangia 84,2% da ocupação não-formal em 2008. O restante dos ocupados
não-formais são empregadores e trabalhadores na produção para autoconsumo ou autoconstrução.
Vemos, por essa definição, que não é somente a falta da carteira de trabalho assinada que
faz com que um trabalhador ou trabalhadora seja considerado informal. De modo geral,
a informalidade é difícil de medir, justamente porque essas pessoas se encontram fora da “visão”
oficial do governo. Como podemos observar no gráfico abaixo, a informalidade atingia cerca de 35
milhões de pessoas, o que representava 38,7% das relações trabalhistas no início de 2016. Em
meados de 2019, essa proporção chegou a 41,4%, o maior valor registrado até então, quando
quase 39 milhões de pessoas eram trabalhadores informais. De lá para cá, o que se observa é
uma tendência de queda no número de pessoas nessa condição. Entre os meses de março e maio
de 2020, aproximadamente 32 milhões de pessoas estavam em situação de informalidade. Os dados
referentes aos meses de abril a junho de 2020 reafirmam que a taxa de informalidade está
diminuindo. Nos primeiros 3 meses desse ano (1º tri – janeiro a março), cerca de 40% dos
trabalhadores ocupados eram informais, taxa essa que passou a 36,9% na divulgação do 2º
trimestre, equivalente a cerca de 30,7 milhões de pessoas.
Essa queda significa algo bom? Não necessariamente. A queda da taxa de informalidade não
significa necessariamente que essas pessoas passaram a ter trabalhos formais, mas que muitas
delas se tornaram desocupadas ou, em casos mais graves, desalentadas. Se estivéssemos diante de
uma migração para o setor formal por parte desses trabalhadores, outros indicadores, como o
número de empregados com carteira assinada, estariam aumentando, mas isso também não está
acontecendo. Ao final do 2º trimestre de 2020, cerca de​ 3 milhões de pessoas​ deixaram de ter
carteira assinada no setor privado em relação ao 1º trimestre do mesmo ano, o que representou uma
redução de quase 9%. A taxa de desocupação, por sua vez, ficou em 13,3%, enquanto no 1º
trimestre, era de 12,2%.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT), em ​relatório divulgado em 2018​, afirma que a
informalidade afeta negativamente indivíduos, empresas e sociedades. Os primeiros são
frequentemente expostos a condições insuficientes de trabalho decente, além de raramente estarem
protegidos por mecanismos de seguridade social. As empresas informais, por sua vez, tornam a
concorrência desleal em relação àquelas que cumprem toda a legislação fiscal e trabalhista. Por fim,
mas não menos importante, a informalidade implica em menor arrecadação para o governo,
significando menor capacidade de fornecimento de serviços públicos de qualidade e
de desenvolvimento inclusivo de todas as esferas sociais. Segundo o mesmo relatório, à
época, ​cerca de 60% da população empregada no mundo se enquadrava como informal​.
Nos países de renda média-baixa, como Índia e Indonésia, a informalidade no grupo de
pessoas com nenhuma escolaridade ou apenas educação primária chega a quase 95%. Para
aquelas com educação secundária, a taxa é de cerca de 85%, enquanto para aquelas que possuem
ensino terciário, 71%. Nos países de renda média-alta, como Brasil, Argentina, China e México, a
taxa para os diferentes níveis de escolaridade é de 75%, 53% e 21%, respectivamente. Por fim, nos
países de renda alta, a média é de 43% para as pessoas com nenhuma escolaridade ou apenas o
ensino primário, e de cerca de 17% para os outros dois níveis de educação formal. De um lado,
destaca-se que o Japão apresenta apenas 5% de informalidade em todos os níveis de escolaridade,
seguido de perto pelo Reino Unido e pela França.
Há ainda uma questão de gênero significativa nesse contexto. No mundo todo o trabalho
informal é mais presente entre os homens do que entre as mulheres. Nos países de renda média-alta
59% dos homens estão em atividades classificadas como informais, enquanto cerca de 50% das
mulheres estão na mesma situação. Nos países de renda média-baixa, no entanto, as mulheres
estão mais frequentemente expostas à condições de vulnerabilidade, principalmente em função das
atividades domésticas informais que realizam, remuneradas ou não.

DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO

O que a imagem acima representa para você? Ao que ela te remete?


As condições em que vivem homens e mulheres não são produtos de um destino biológico,
mas, sobretudo, construções sociais. Homens e mulheres não são uma coleção — ou duas coleções
— de indivíduos biologicamente diferentes. Eles formam dois grupos sociais envolvidos numa relação
social específica: As relações sociais de sexo. Estas, como todas as relações sociais, possuem uma
base material, no caso o trabalho, e se exprimem por meio da divisão social do trabalho entre os
sexos, chamada de divisão sexual do trabalho.
Essa noção foi primeiramente utilizada pelos etnólogos para designar uma repartição
“complementar” das tarefas entre homens e mulheres nas sociedades que estudavam.
Historicamente, a divisão sexual do trabalho traduz não uma complementaridade de tarefas, mas
uma relação de poder dos homens sobre as mulheres. A divisão sexual do trabalho é a forma de
divisão do trabalho social decorrente das relações sociais de sexo; essa forma é historicamente
adaptada a cada sociedade. Tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera
produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a ocupação pelos homens das
funções de forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares etc.).
Essa forma de divisão social do trabalho tem dois princípios organizadores: o da separação
(existem trabalhos de homens e outros de mulheres) e o da hierarquização (um trabalho de homem
“vale” mais do que um de mulher). Eles são válidos para todas as sociedades conhecidas, no tempo
e no espaço, o que permite afirmar que existem dessa forma desde o início da humanidade. Mas a
divisão sexual do trabalho não é um dado rígido e imutável, suas modalidades variam fortemente no
tempo e no espaço. Os dados da História e da Antropologia demonstram amplamente que uma
mesma tarefa, especificamente feminina numa sociedade ou ramo industrial, pode ser considerada
tipicamente masculina em outros.

1. Da opressão de gênero no mercado e condições de trabalho


Com o passar dos anos e transformação das concepções sociais e de gênero, muitas
prioridades mudaram para as mulheres. Se antes constituir uma família e ser mãe estava entre elas,
hoje firmar-se profissionalmente é a principal preocupação. Entre os muitos motivos que
determinaram a entrada da mulher no mercado de trabalho, destacou-se a necessidade de contribuir
com os gastos financeiros da família. O primeiro momento na história em que houve considerável
absorção da mão-de-obra feminina foi a Revolução Industrial, quando as fábricas contrataram
mulheres com o objetivo de reduzir as despesas com salários e discipliná-las ao seu modo.
No entanto, é apenas após a I e II Guerras Mundiais que esse movimento ganha força e as
mulheres passam a assumir funções antes executadas por homens. Em virtude das guerras que
ocorreram na primeira metade do século 20, muitas mulheres assumiram as empresas e negócios de
suas famílias, além da posição do homem na condução do lar. Isso aconteceu, em grande medida,
não apenas durante os anos de conflito, mas também posteriormente, em razão do grande número
de mortes e de acidentes que deixavam os homens inaptos para o trabalho. Mesmo com a criação de
leis que garantiam alguns direitos para as mulheres, como licença do trabalho nas últimas semanas
de gestação e proibição do trabalho feminino das 22 às 5 horas, uma série de violações perduraram
durante anos, entre elas jornadas de trabalho que podiam chegar a 18 horas e elevadas diferenças
salariais.
A luta por equidade de direitos passa por um momento importante nos anos 60. A década é
marcada pela libertação sexual das mulheres, possibilitada pela introdução dos métodos
contraceptivos, e reivindicação de maior participação política e social. Alguns episódios, como o
Maio de 68 na França e o movimento hippie, impulsionaram mudanças e colaboraram com a
expansão do movimento feminista, ele, por sua vez, contribuiu com a emancipação feminina,
permitindo que as mulheres decidissem sobre si próprias.A entrada da mulher no mercado de
trabalho modificou a concepção de família, até o início do século passado, os homens eram os
provedores e as mulheres as organizadoras do lar. Por conta de todas as mudanças provocadas pela
inserção da mulher nesse ambiente, as tarefas mudam e a mulher não pode ser mais a única
responsável por essas funções. Logo, deveres como arrumar a casa, cozinhar e cuidar dos filhos,
antes de responsabilidade exclusiva das mulheres, passam a ser efetuados também por homens —
mesmo que as mulheres ainda sejam as principais responsáveis por eles e acabem, assim, se
sobrecarregando.
Nesse momento, a carreira profissional está entre as prioridades para a mulher, mesmo se
mantendo as diferenças salariais e dificuldades para alcançar cargos de chefia. Segundo dados do
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), as mulheres já são
maioria no ingresso e conclusão de cursos de nível superior, passo importante para se qualificar
profissionalmente. Ademais, o papel de mãe também foi deixado para mais tarde. Se antes as
mulheres planejavam a gestação para antes dos 25 anos, atualmente elas esperam se estabilizar em
todas as demais áreas (profissional, afetiva, social, entre outras) para só então tomar essa decisão,
por volta dos 30 ou até 40 anos.
A divisão sexual do trabalho foi objeto de trabalhos precursores em vários países. Mas foi no
começo dos anos 70 que houve na França, sob o impulso do movimento feminista, uma onda de
trabalhos que geraria rapidamente as bases teóricas desse conceito: tornou-se coletivamente
“evidente” que uma enorme massa de trabalho era realizada gratuitamente pelas mulheres; que esse
trabalho era invisível; que era feito não para si, mas para os outros e sempre em nome da natureza,
do amor e do dever maternal. Tal cultura fez com que a mulher fosse a responsável pela educação e
por todos os cuidados com as crianças como que por designo da própria natureza, a ela coubesse
apenas essa função. Então quando ela transpõe essa realidade encontra obstáculos ao se deparar
com a desvalorização da sua força de trabalho no âmbito da sociedade capitalista.
Pouco a pouco, as pesquisas passaram a analisar o trabalho doméstico como atividade com
o mesmo peso do trabalho profissional. Isso permitiu considerar simultaneamente a atividade
realizada nas esferas doméstica e profissional, e pudemos raciocinar em termos de uma divisão
 sexual do trabalho. Apesar da passagem dos séculos, alguns aspectos do trabalho das mulheres
permanecem idênticos, como as diferenças salariais, a significativa concentração em setores e
ocupações com estereótipos de gênero, a inserção em formas de trabalho mais precárias e flexíveis
e o grande volume de horas dedicadas ao trabalho de cuidados e afazeres domésticos, em adição à
jornada de trabalho fora de casa.
Ainda que as mudanças nas estruturas ocupacionais - resultado das transformações
tecnológicas e das formas de organização dos processos de trabalho - tenham gerado novas
ocupações, persistem alguns atributos a elas associados e que as acompanham na sua inserção no
mundo produtivo. A divisão sexual do trabalho gera uma desigual repartição entre os sexos em todas
as esferas da vida, fortalecendo a assimetria entre os sexos. Tal se expressa nos mais distintos
âmbitos da sociedade e, no mercado de trabalho, na desproporcional repartição entre pessoas fora e
dentro da força de trabalho. A mulher brasileira representa 63,9% da população ocupada entre 25 e
49 anos, porém 14,5% dessas mulheres ocupam-se exclusivamente dos trabalhos domésticos contra
apenas 0,7% dos homens. Contudo 94,85% das mulheres exercem dupla jornada, pois além de
trabalhar fora de casa ainda ocupam-se dos trabalhos domésticos e dos cuidados com os filhos,
contra somente 5,2% dos homens.
As mulheres são empregadas e desempregadas, formais e não formais e, no interior do
próprio mercado de trabalho, segmentando em ocupações a que são conferidas características
próprias, na maioria das vezes, associadas unicamente ao sexo dos indivíduos ou em formas de
contratação especificas, a exemplo do trabalho em tempo parcial, terceirizado, autônomo, entre
outras. Atualmente há um aumento progressivo do número de mulheres em postos de trabalho que,
antes, eram pouco ocupados por elas, mas ainda assim, com salários menores que os homens. As
mulheres ainda ganham menos do que os homens pelas mesmas atividades exercidas em todos os
grupos de escolaridade, ou seja, não importa o quanto ela se especialize, ela inda ganhará menos do
que um homem com seu mesmo grau de instrução. No grupo com onze anos ou mais de estudos os
homens ganham em média no Brasil R$ 2.467,49 enquanto as mulheres com a mesma escolaridade
ganham em média R$ 1.706,39.
Em geral, as mulheres trabalham mais horas que os homens, pois são responsáveis pelas
tarefas domésticas. Elas possuem jornadas de trabalho duplas (trabalho em casa) ou triplas
(trabalho, casa e universidade) e isso começa desde a infância como pode ser observado na imagem
abaixo que mostra a divisão de tarefas entre meninos e meninas no ambiente doméstico.
Os dados demonstrados acima nos mostram o quanto ainda somos um país machista com
profundas desigualdades sociais de gênero. Os números do IBGE comprovam que a desigualdades
social, traço cultural da nossa sociedade, não é uma questão apenas de nível socioeconômico, mas
também de uma cultura patriarcal e sexista que coloca a mulher em uma posição social de
inferioridade hierárquica. Muitas das análises com viés conservador negligenciam as motivações que
levam as mulheres a se incorporarem nos empregos mais precários e o quanto as
suas “escolhas” estão determinadas por suas condições materiais e pelos novos arranjos familiares,
distantes de modelos formais e tradicionais de família profundamente inadequados. As
desigualdades expressam processos sociais complexos. Portanto, alterar as condições em que se dá
a socialização do trabalho doméstico não remunerado, por meio do compartilhamento das tarefas de
reprodução social, e alterar a estrutura produtiva de forma que a produção de bens públicos seja
prioridade para libertar as pessoas de determinadas obrigações, principalmente com a tarefa de
cuidados, são indicações que podem contribuir para uma nova perspectiva para as mulheres.

AS PERMANÊNCIAS DO TRABALHO ESCRAVO E INFANTIL NO SÉCULO XXI


O trabalho escravo, infelizmente, é uma realidade para muitas pessoas no Brasil e no mundo.
Dados levantados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) apontam que existem, no
mínimo, 20,9 milhões de pessoas escravizadas ou que trabalham em condições análogas à
escravidão no mundo. Existem duas convenções de trabalho da OIT, uma de 1930 e outra de 1957,
que visam a regulamentar as condições de trabalho e erradicar o trabalho escravo. No Brasil, o artigo
149 do Código Penal Brasileiro define as condições de trabalho análogo à escravidão — que incluem
o trabalho forçado e as condições degradantes de trabalho — e prevê punições para quem for
condenado pela prática de escravização e aliciamento de pessoas para trabalhos forçados.
De 1995 a 2014 (até maio), foram realizadas 1.587 operações de fiscalização para
erradicação do ​trabalho escravo, ​em que foram inspecionados 3.773 estabelecimentos e resgatados
46.588 trabalhadores – 44% desse total no meio rural. As principais atividades econômicas do meio
rural com maior número de resgatados são: lavouras (temporárias e permanentes), pecuária,
reflorestamento, carvão vegetal, extrativismo, cana-de-açúcar e desmatamento.
Existe um ciclo do trabalho escravo que inclui: a miséria em que muitas pessoas
encontram-se; o aliciamento dessas pessoas com promessas de mudança de vida; e o trabalho que
elimina as condições de desligamento entre o trabalhador e o patrão. Esse ciclo somente pode ser
encerrado com a denúncia e a fiscalização. Assim sendo, é extremamente importante a atuação de
órgãos públicos, como o Ministério Público do Trabalho, a Polícia Federal e as polícias civis, bem
como a atuação de ONGs contra o trabalho escravo e a favor dos Direitos Humanos. Também há
uma importante atuação de organismos internacionais, como a ONU e a OIT, para a erradicação das
práticas de escravização no mundo.
Por não ser uma prática legalmente aceita em quase todo o mundo e ser condenada por
organismos internacionais, a escravização de pessoas pode ser resumida em um ciclo que se repete
na maioria dos casos. Esse ciclo possui seis etapas cíclicas e uma única saída possível para que ele
seja encerrado. Os tópicos a seguir explicam melhor como o ciclo do trabalho escravo funciona:
 
1. Vulnerabilidade socioeconômica: ​As vítimas do trabalho escravo contemporâneo são pessoas
com baixa renda ou desempregadas, geralmente com pouca instrução, que procuram uma saída
para as condições precárias em que vivem. Muitas delas estão nas zonas rurais ou em pequenas
cidades.
2. Aliciamento e migração: Pessoas chamadas “gatos” são as responsáveis por aliciar as pessoas
em situações vulneráveis ao trabalho escravo. Como convencimento, os gatos prometem uma boa
remuneração e boas condições de trabalho. As pessoas aliciadas são levadas para longe de seus
locais de origem, muitas vezes até para outros países. Essas pessoas acumulam, ao longo de sua
trajetória, dívidas impossíveis de serem quitadas com o ordenado que receberão dos patrões. A
primeira dívida é adquirida pela passagem que levará a pessoa até o seu local de trabalho. Muitas
das vítimas são crianças, e uma grande parcela, de crianças ou não, é explorada sexualmente. Em
muitos casos, a exploração sexual acontece sem sequer a vítima saber que estava sendo levada
para a prostituição.
3. Trabalho escravo: Ao chegarem a seus destinos, as vítimas deparam-se com as reais condições
a que serão submetidas. Condições degradantes de trabalho, alimentação e alojamento; aquisição de
dívidas, além da passagem, com ferramentas, alimentação, alojamento; e a retenção dos
documentos, até que as vítimas quitem as suas dívidas. Junto a todas essas violações dos Direitos
Humanos, vem a baixa remuneração, que impossibilita que a dívida seja paga.
4.  Fiscalização  e  libertação: Ao receber uma denúncia, o Ministério Público do Trabalho, o
Ministério Público, as polícias ou qualquer autoridade estatal têm o dever de acatar a denúncia e
investigar aquilo que foi denunciado. Esse tipo de fiscalização é importante, pois é o que leva à
libertação das vítimas do trabalho escravo.
5. Pagamento de direitos: ​No Brasil, os criminosos responsáveis pela escravização de pessoas
podem sofrer até penas de reclusão. Além de qualquer punição legal, que pode, inclusive, ser
branda, os condenados devem realizar indenizações pela situação gerada à vítima e pagamento de
direitos trabalhistas retroativos, como salário mínimo compatível com a jornada trabalhada e com o
que estabelece a convenção trabalhista que rege a função exercida. Também devem ser pagos
direitos, como férias remuneradas, adicional de férias, fundo de garantia por tempo de serviço
(FGTS) e décimo terceiro salário.
6. Vulnerabilidade socioeconômica: Infelizmente, muitas vítimas do trabalho escravo retornam
para as suas terras natais e para a situação de penúria em que se encontravam no início do ciclo, ou
seja: o desemprego, a baixa remuneração, a miséria, a fome etc. No entanto, essa situação pode ser
revertida com a atuação de setores (governamentais ou não) que promovam a erradicação do
trabalho escravo ou a assistência às vítimas.
O trabalho escravo, diferentemente das infrações simples contra as leis trabalhistas, pode ser
constatado com base na observância de certas características comuns. Tais características incluem:
Trabalho forçado: Quando o trabalhador, não querendo ou não mais querendo continuar naquela
atividade trabalhista em que se encontra, é forçado por seu patrão mediante força física, saldo de
dívida, chantagem, ou qualquer outro fator, ele está sendo escravizado.
Jornada exaustiva: Se o trabalhador é submetido a longas jornadas, na maioria das vezes não
remuneradas, que não possibilitam um descanso necessário entre uma jornada e outra e colocam em
risco a sua saúde, ele pode estar em condições de escravidão. Também há, muitas vezes, o
desrespeito ao descanso semanal.
Servidão por dívida: ​Quando o trabalhador é forçado a continuar trabalhando para saldar dívidas
com o empregador, ele está em condições de escravidão. Essas dívidas incluem, na maioria das
vezes, passagem, alojamento e alimentação, que, mesmo precários, são cobrados por um valor
exorbitante para que a vítima seja mantida como escrava.
Condições degradantes: Quando o trabalhador é mantido em condições degradantes em seu
ambiente de trabalho, as quais podem incluir violência física e psicológica, alojamentos precários,
alimentação e água insuficientes ou insalubres, e falta da assistência médica, ele está em condição
de escravidão.
 
 
 
 
 
 
 
1. Trabalho infantil 
Trabalho infantil é qualquer forma de trabalho realizado por crianças e adolescentes abaixo da
idade mínima permitida pela legislação de cada país. No Brasil, qualquer forma de trabalho infantil é
totalmente proibida até os 14 anos de idade. Já entre 14 e 16 anos de idade, a única forma
legalmente aceita é o trabalho na condição de aprendiz, enquanto entre os 16 e 18 anos, existe uma
permissão parcial para trabalho de adolescentes – no entanto, são proibidas pela Lei qualquer
atividade noturna, insalubre, perigosa e penosa para crianças e adolescentes. 
Falando sobre o Brasil, o trabalho infantil existe desde o início da história do País, onde
predominava-se o regime de escravidão e as crianças eram vistas como objetos de exploração. Na
época em que os processos de urbanização e industrialização começaram a acontecer, a situação
não foi diferente: muitas crianças e adolescentes passaram a ser mão-de-obra de fábricas de
diversos ramos e atividades no setor de comércio e serviços.  
Além da questão profundamente cultural e histórica, a pobreza e a ausência de uma educação
de qualidade também são causas predominantes quando falamos em trabalho infantil: quanto menor
a renda e grau de escolaridade da família, maior é o risco de crianças serem submetidas ao trabalho
infantil. Uma pesquisa realizada pelo Unicef chamada ​Fora da Escola Não Pode – o Desafio da
Exclusão Escolar​, mostrou que, entre os adolescentes de 15 a 17 anos que trabalham, 26% estão
fora da escola. Entre os que não trabalham, o índice é de 14%.  
Existem vários tipos de trabalho infantil. No Brasil, algumas formas mais comuns de atividades
são: trabalho doméstico, trabalho nos campos, trabalho nas ruas, trabalhos perigosos e insalubres, e
exploração sexual – uma violência comum na qual crianças e adolescentes são utilizados para fins
sexuais em troca de dinheiro, presentes ou favores. 
Trabalho infantil doméstico: ​O trabalho de crianças ou adolescentes em casa de terceiros é uma
das formas mais tradicionais de trabalho infantil, principalmente para as meninas. Esse tipo de
trabalho abre espaço para outras violações, como o abuso psicológico e sexual, uma vez que estão
longe de qualquer sistema familiar e de proteção de seus direitos.  
Trabalho infantil nas ruas: ​Trabalho tipicamente encontrado em cidades grandes, traz diversos
tipos de riscos a crianças e adolescentes, como o assédio sexual e danos à saúde física:
desidratação, hipotermia, ferimentos e até atropelamentos. Você pode ver crianças trabalhando nas
ruas como: vendedor ambulante, flanelinha, lavando para-brisas nos sinais etc. 
Trabalho infantil nos campos: ​No Brasil, ainda existem muitas áreas rurais com famílias vivendo
em condições precárias. Por isso, grande parte dessas crianças e adolescentes acabam trabalhando,
desde cedo, na agricultura e na pecuária: plantio de vegetais, direção de tratores, manuseio de
agrotóxicos e outros trabalhos manuais em lavouras. As condições de trabalho podem expor meninos
e meninas a diversos riscos físicos: ferimentos, mutilações, doenças musculares e ósseas, doenças
respiratórias, envelhecimento precoce, câncer de pele e outros males.  
Trabalho infantil perigoso: ​Como o próprio nome diz, são atividades que trazem altos riscos à vida
de crianças e adolescentes: trabalhos que exponham a criança a abuso físico, psicológico ou sexual;
trabalho subterrâneo, debaixo d'água, em alturas perigosas ou em espaços confinados; trabalho com
equipamentos e instrumentos perigosos ou que envolvam manejo de cargas pesadas; trabalho em
ambiente insalubre que possa, por exemplo, expor a criança ou adolescente a substâncias, agentes
ou temperatura perigosos, entre muitos outros tipos.  
Exploração sexual: ​A exploração sexual de crianças e adolescentes é uma das maneiras mais
perigosas de trabalho por representar riscos à saúde e ao desenvolvimento moral de crianças e
adolescentes. Essa lista foi proposta pela Organização Internacional do Trabalho (OIT),
na Convenção 182. A exploração sexual ocorre quando crianças e adolescentes são forçados a
práticas sexuais com um ou mais adultos, ‘em troca’ de dinheiro, presentes, favores ou outros
benefícios. É uma das mais graves violações de direitos de crianças e adolescentes e interfere
diretamente no desenvolvimento psicológico, físico, social e da sexualidade da criança ou
adolescentes, gerando consequências, às vezes, irreversíveis.  
De acordo com a Organização Internacional do Trabalho (OIT), em 2016 havia ​152 milhões
de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos em situação de trabalho infantil no mundo​, desse total, 10
milhões estão submetidas a situações de escravidão. Os setores que mais utilizam mão-de-obra
infantil são: Agricultura (70,9%), Serviços (17,1%) e Indústria (11,9%). A África é o continente que
mais concentra crianças e adolescentes em situação de trabalho infantil, com 72,1 milhões do total,
seguida da Ásia e Pacífico (62 milhões) e América Central e do Sul (10,7 milhões). 
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015, 2,7 milhões
de crianças e adolescentes de 5 a 17 anos trabalham em todo o território nacional. Apenas 38%
desse total trabalham em atividades agrícolas. Um terço das crianças e adolescentes em situação de
trabalho infantil são do sexo masculino e 94% do trabalho infantil doméstico é realizado por meninas.
A cada hora uma criança ou adolescente é vítima de exploração sexual no Brasil.  
 

 
 
 
 
 
 
 
AVALIAÇÃO
 
Leia o texto abaixo (valor = 3,0).
Sweatshops: exploração moderna
Publicado por ​Marcela Ribas Campanhã​ em 28 de abril de 2011.
Fonte: https://www.ufrgs.br/vies/vies/sweatshops-exploracao-moderna/

O termo ​Sweatshops​ (em português “Fábricas de suor”) é cada vez mais usado nos dias
atuais. O próprio nome dá a entender que se tratam de empresas envolvidas com a exploração
extrema dos trabalhadores, caracterizada por um salário abaixo do mínimo necessário à
sobrevivência, pela ausência de qualquer forma de garantia ou proteção trabalhista; pela exploração
de crianças; pelas condições de trabalho perigosas para a saúde ou por ameaças, moléstias sexuais
e abusos físicos e psicológicos. As jornadas de trabalho são muito maiores do que a lei determina em
países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Elas são tão longas que lembram os primórdios da
Revolução Industrial na Inglaterra. Muitos trabalhadores são forçados a turnos de trabalho
ininterruptos de até 19 horas.
As denúncias internacionais contra as ​Sweatshops​ crescem a cada ano e mostram uma triste
realidade na qual existem inúmeras possibilidades para a exploração dos trabalhadores. São
mulheres forçadas a tomar contraceptivos e submetidas a testes de gravidez periodicamente;
trabalhadores expostos a substâncias tóxicas, ameaçados e demitidos em caso de protestos e
impedidos de abandonar o trabalho por meio de vigias armados. Outra característica é que essas
fábricas normalmente estão instaladas em países pobres, principalmente na Ásia e América Latina.
As empresas produzem nesses lugares, pois a regulamentação trabalhista é geralmente inexistente e
os salários são menores.
Apesar de estarem instaladas majoritariamente nestes países, as ​Sweatshops​ também são
comuns em países do leste Europeu e existem até mesmo nos Estados Unidos. De acordo com a
ONG ​CorpWacht,​ em Los Angeles dois terços dos imigrantes que trabalham na confecção de roupas
não recebem o salário mínimo garantido pela lei. Os trabalhadores em El Salvador envolvidos na
produção de tênis, que nos EUA custam cerca de U$ 140,00, ganham U$ 0,24 a cada sapato
produzido. Na China trabalhadores morreram de uma doença chamada de “guolaosi” que quer dizer
“morte súbita por hiper trabalho”.
A ​Organização Internacional do Trabalho (OIT​) estima que 250 milhões de crianças entre de
cinco e quatorze anos de idade exerçam algum tipo de trabalho nos países em desenvolvimento.
Elas são privadas de educação e de uma infância normal. Algumas ficam confinadas e sofrem
constantes agressões, sendo impedidas de retornar ao convívio familiar.
Principais produtos produzidos em Sweatshops:
Sapatos: Muitos tipos de sapatos são feitos em condições desumanas. No entanto, o maior
problema é encontrado na fabricação de tênis e calçados esportivos. O trabalho infantil
também é muito comum na indústria do calçado.
Vestuário: Muitas roupas são fabricadas em condições precárias e com o uso de trabalho
infantil. Nos EUA a maioria dos trabalhadores do vestuário são mulheres imigrantes que
trabalham 60-80 horas por semana, geralmente sem salário mínimo. Na Ásia, os
trabalhadores desta área normalmente ganham menos de um salário-mínimo, trabalhando
em condições extremamente opressivas.
Tapetes: O trabalho infantil é bastante utilizado na indústria de tapete. Quase um milhão de
crianças trabalha ilegalmente na produção de tapetes a nível mundial. Aproximadamente
75% dos tecelões de tapetes do Paquistão são meninas menores de 14 anos.
Brinquedos: Muitas fábricas utilizam o trabalho infantil na fabricação de brinquedos,
especialmente em países como China, Malásia, Tailândia ou Vietnã. Nos EUA a média
salarial dos fabricantes de brinquedos é de US$ 11,00 por hora. Na China, a média é de 30
centavos por hora.
Chocolate: Cerca de 43% do cacau vem da Costa do Marfim, onde os investigadores
descobriram recentemente a escravidão infantil. Além disso, os trabalhadores do cacau que
são pagos recebem salários abaixo do necessário para a sobrevivência.
Café: O café é a segunda maior importação dos EUA, depois do petróleo. Muitos pequenos
produtores de café recebem preços para o produto, que são menores do que o custo de
produção, envolvendo-os em um ciclo de pobreza e de endividamento.

Há diversas multinacionais que utilizam essa forma de trabalho para aumentar os lucros em
cima da produção. São nomes conhecidos no mercado internacional: ​Levi’s, Nike, Tommy Hilfiger,
Calvin Klein, Polo-Ralph Lauren,​ entre outras. A própria Disney foi acusada de explorar trabalhadores
de uma fábrica em Bangladesh. Segundo informações da ONG The National Labor Committee, os
trabalhadores responsáveis pela confecção de camisetas eram submetidos a períodos de trabalho
ininterrupto de até 15 horas, 7 dias por semana.
Felizmente tem crescido, entre a população, um sentimento de indignação contra essa prática
ilegal de trabalho. Além de diversas ONG’s estarem se empenhando na luta contra as ​Sweatshops​, é
cada vez maior o número de pessoas que estão se mostrando descontentes e até mesmo boicotando
marcas de roupas e acessórios fabricados dessa maneira. Todos concordam que esse tipo de
exploração é inaceitável, o problema é que, mesmo que essas multinacionais sejam impedidas de
utilizar essas práticas, isso não quer dizer que contribuirá com a população do país. A grande maioria
dos trabalhadores, mesmo sofrendo, depende dessas fábricas para sobreviver e essa é uma questão
que tem gerado muitas discussões. Algumas pessoas defendem que, mesmo com as péssimas
condições de trabalho, as ​Sweatshops a​ inda são as melhores opções – ou a menos pior – pois, é um
dos poucos meios disponíveis para a população pobre ter uma fonte de renda.
Diante desse impasse qual seria a atitude correta a ser tomada? Continuar comprando
produtos fabricados dessa forma, dando assim uma condição miserável, porém única, para esses
trabalhadores? Ou então boicotar os produtos e limpar nossa consciência, mesmo sabendo que
talvez não exista outra opção de trabalho para essas pessoas? A solução deve vir da educação e
conscientização das pessoas, principalmente por parte dos governantes aplicando leis trabalhistas
com fiscalizações rígidas e, dos grandes empresários oferecendo condições de trabalho dignas a
seus funcionários. No mundo capitalista em que vivemos hoje, aonde os lucros vêm acima de
qualquer coisa, isso certamente soará como utopia, mas não é impossível.
Se os grandes empresários entenderem que seus clientes desejam consumir de maneira
responsável, mais cedo ou mais tarde terão que se adequar a isso ou então ficarão sem mercado. As
empresas devem divulgar o tratamento e a remuneração dos trabalhadores e como e onde os
produtos foram feitos. Esta divulgação deve ser feita com um controle independente das condições
de trabalho e remuneração. Violações que são descobertas devem ser corrigidas de uma forma que
proteja os trabalhadores e seus empregos. Não acredito em uma mudança em curto prazo, mas se
começarmos a tomar atitudes agora, talvez no futuro as coisas sejam diferentes.

Após a leitura do texto pesquise sobre um exemplo concreto de ​Sweatshop, por exemplo, os
trabalhadores da Nike. Após a escolha do exemplo, responda as perguntas a seguir:  
a) Onde esse sweatshop ocorre?
b) Quais são as condições de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores? Algumas dessas
condições indica que se trata de trabalho escravo ou análogo ao escravo?  
c) Por que essas situações de trabalho persistem?  
d) Como nós colaboramos para a permanência dessas situações de sweatshops?  
 
As respostas serão socializadas no nosso último meet do semestre (em janeiro).
Então a parte por escrito terá valor 2,0 e a exposição no meet terá valor 1,0, totalizando 3,0 pontos
desta atividade.

Bons estudos! 

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