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Em 1945, a maior parte da população brasileira vivia na zona rural. Em 2010, a maior parte
da população vivia na zona urbana. Isso significa que nesses sessenta e cinco anos houve uma
transformação radical no Brasil, e ela foi feita por milhares de trabalhadores que, efetivamente,
criaram condições diferentes para se realizar como cidadãos num país tão rico e tão desigual. Em
2008, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios (PNAD), realizada pelo
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 92,4 milhões de pessoas ocupadas, 76,3
milhões trabalhavam em atividades não agrícolas. O setor que concentrava o maior número de
indivíduos era o da produção de bens e serviços e de reparação e manutenção, correspondendo a
24,3% do total das pessoas ocupadas. Ou seja, o processo de urbanização, com todos os seus
desdobramentos, criou uma situação completamente nova, mudando o perfil de trabalho no Brasil e,
com isso, as oportunidades de trabalho também.
Ouvimos a todo momento nas conversas informais e encontramos com frequência nos meios
de comunicação a afirmação de que só terá emprego quem tiver qualificação. A qualificação em
determinados ramos da produção é necessária e cada dia mais exigida, mas isso somente para
alguns poucos postos de trabalho. A maioria das ocupações exige somente o mínimo de informação,
que normalmente o trabalhador consegue adquirir no próprio processo de trabalho. A elevação do
nível de escolaridade não significa necessariamente emprego no mesmo nível e boas condições de
trabalho. Quantos graduados em Engenharia ou Arquitetura estão trabalhando como desenhistas?
Quantos formados em Medicina são assalariados em hospitais e serviços médicos, tendo uma
jornada de trabalho excessiva? E os formados em Direito que não conseguem passar no exame da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), muitos por ter uma formação deficiente, e se empregam nos
mais diversos ramos de atividade, em geral muito abaixo daquilo que estão, em tese, habilitados a
desenvolver? Ou seja, a formação universitária, cada dia mais deficiente, não garante empregos
àqueles que possuem diploma universitário, seja pela qualificação insuficiente, seja porque não
existe emprego para todos.
Há no Brasil muitos trabalhadores que desenvolvem suas atividades no chamado setor
informal, o qual, em períodos de crise e recessão, cresce de modo assustador. Para ter uma ideia do
que representa esse setor, vamos aos dados do IBGE. Segundo a PNAD realizada em 2008, 34,5%
dos 92,4 milhões de indivíduos ocupados têm carteira de trabalho assinada. Entre os que não têm
nenhum tipo de registro jurídico, encontram-se os trabalhadores que constituem o chamado setor
informal. O setor informal inclui empregados de pequenas empresas sem registro, indivíduos que
desenvolvem, por conta própria, atividades como o comércio ambulante, a execução de reparos ou
pequenos consertos, a prestação de serviços pessoais (de empregadas domésticas, babás) e de
serviços de entrega (de entregadores, motoboys), a coleta de materiais recicláveis, etc. A lista é
enorme. E há ainda aqueles trabalhadores, normalmente mulheres, que em casa mesmo preparam
pães, bolos e salgadinhos em busca de uma renda mínima para sobreviver. Todos fazem a economia
funcionar, mas as condições de trabalho a que se submetem normalmente são precárias e não dão a
mínima segurança e permanência na atividade.
AVALIAÇÃO
Leia o texto abaixo (valor = 3,0).
Sweatshops: exploração moderna
Publicado por Marcela Ribas Campanhã em 28 de abril de 2011.
Fonte: https://www.ufrgs.br/vies/vies/sweatshops-exploracao-moderna/
O termo Sweatshops (em português “Fábricas de suor”) é cada vez mais usado nos dias
atuais. O próprio nome dá a entender que se tratam de empresas envolvidas com a exploração
extrema dos trabalhadores, caracterizada por um salário abaixo do mínimo necessário à
sobrevivência, pela ausência de qualquer forma de garantia ou proteção trabalhista; pela exploração
de crianças; pelas condições de trabalho perigosas para a saúde ou por ameaças, moléstias sexuais
e abusos físicos e psicológicos. As jornadas de trabalho são muito maiores do que a lei determina em
países desenvolvidos ou em desenvolvimento. Elas são tão longas que lembram os primórdios da
Revolução Industrial na Inglaterra. Muitos trabalhadores são forçados a turnos de trabalho
ininterruptos de até 19 horas.
As denúncias internacionais contra as Sweatshops crescem a cada ano e mostram uma triste
realidade na qual existem inúmeras possibilidades para a exploração dos trabalhadores. São
mulheres forçadas a tomar contraceptivos e submetidas a testes de gravidez periodicamente;
trabalhadores expostos a substâncias tóxicas, ameaçados e demitidos em caso de protestos e
impedidos de abandonar o trabalho por meio de vigias armados. Outra característica é que essas
fábricas normalmente estão instaladas em países pobres, principalmente na Ásia e América Latina.
As empresas produzem nesses lugares, pois a regulamentação trabalhista é geralmente inexistente e
os salários são menores.
Apesar de estarem instaladas majoritariamente nestes países, as Sweatshops também são
comuns em países do leste Europeu e existem até mesmo nos Estados Unidos. De acordo com a
ONG CorpWacht, em Los Angeles dois terços dos imigrantes que trabalham na confecção de roupas
não recebem o salário mínimo garantido pela lei. Os trabalhadores em El Salvador envolvidos na
produção de tênis, que nos EUA custam cerca de U$ 140,00, ganham U$ 0,24 a cada sapato
produzido. Na China trabalhadores morreram de uma doença chamada de “guolaosi” que quer dizer
“morte súbita por hiper trabalho”.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 250 milhões de crianças entre de
cinco e quatorze anos de idade exerçam algum tipo de trabalho nos países em desenvolvimento.
Elas são privadas de educação e de uma infância normal. Algumas ficam confinadas e sofrem
constantes agressões, sendo impedidas de retornar ao convívio familiar.
Principais produtos produzidos em Sweatshops:
Sapatos: Muitos tipos de sapatos são feitos em condições desumanas. No entanto, o maior
problema é encontrado na fabricação de tênis e calçados esportivos. O trabalho infantil
também é muito comum na indústria do calçado.
Vestuário: Muitas roupas são fabricadas em condições precárias e com o uso de trabalho
infantil. Nos EUA a maioria dos trabalhadores do vestuário são mulheres imigrantes que
trabalham 60-80 horas por semana, geralmente sem salário mínimo. Na Ásia, os
trabalhadores desta área normalmente ganham menos de um salário-mínimo, trabalhando
em condições extremamente opressivas.
Tapetes: O trabalho infantil é bastante utilizado na indústria de tapete. Quase um milhão de
crianças trabalha ilegalmente na produção de tapetes a nível mundial. Aproximadamente
75% dos tecelões de tapetes do Paquistão são meninas menores de 14 anos.
Brinquedos: Muitas fábricas utilizam o trabalho infantil na fabricação de brinquedos,
especialmente em países como China, Malásia, Tailândia ou Vietnã. Nos EUA a média
salarial dos fabricantes de brinquedos é de US$ 11,00 por hora. Na China, a média é de 30
centavos por hora.
Chocolate: Cerca de 43% do cacau vem da Costa do Marfim, onde os investigadores
descobriram recentemente a escravidão infantil. Além disso, os trabalhadores do cacau que
são pagos recebem salários abaixo do necessário para a sobrevivência.
Café: O café é a segunda maior importação dos EUA, depois do petróleo. Muitos pequenos
produtores de café recebem preços para o produto, que são menores do que o custo de
produção, envolvendo-os em um ciclo de pobreza e de endividamento.
Há diversas multinacionais que utilizam essa forma de trabalho para aumentar os lucros em
cima da produção. São nomes conhecidos no mercado internacional: Levi’s, Nike, Tommy Hilfiger,
Calvin Klein, Polo-Ralph Lauren, entre outras. A própria Disney foi acusada de explorar trabalhadores
de uma fábrica em Bangladesh. Segundo informações da ONG The National Labor Committee, os
trabalhadores responsáveis pela confecção de camisetas eram submetidos a períodos de trabalho
ininterrupto de até 15 horas, 7 dias por semana.
Felizmente tem crescido, entre a população, um sentimento de indignação contra essa prática
ilegal de trabalho. Além de diversas ONG’s estarem se empenhando na luta contra as Sweatshops, é
cada vez maior o número de pessoas que estão se mostrando descontentes e até mesmo boicotando
marcas de roupas e acessórios fabricados dessa maneira. Todos concordam que esse tipo de
exploração é inaceitável, o problema é que, mesmo que essas multinacionais sejam impedidas de
utilizar essas práticas, isso não quer dizer que contribuirá com a população do país. A grande maioria
dos trabalhadores, mesmo sofrendo, depende dessas fábricas para sobreviver e essa é uma questão
que tem gerado muitas discussões. Algumas pessoas defendem que, mesmo com as péssimas
condições de trabalho, as Sweatshops a inda são as melhores opções – ou a menos pior – pois, é um
dos poucos meios disponíveis para a população pobre ter uma fonte de renda.
Diante desse impasse qual seria a atitude correta a ser tomada? Continuar comprando
produtos fabricados dessa forma, dando assim uma condição miserável, porém única, para esses
trabalhadores? Ou então boicotar os produtos e limpar nossa consciência, mesmo sabendo que
talvez não exista outra opção de trabalho para essas pessoas? A solução deve vir da educação e
conscientização das pessoas, principalmente por parte dos governantes aplicando leis trabalhistas
com fiscalizações rígidas e, dos grandes empresários oferecendo condições de trabalho dignas a
seus funcionários. No mundo capitalista em que vivemos hoje, aonde os lucros vêm acima de
qualquer coisa, isso certamente soará como utopia, mas não é impossível.
Se os grandes empresários entenderem que seus clientes desejam consumir de maneira
responsável, mais cedo ou mais tarde terão que se adequar a isso ou então ficarão sem mercado. As
empresas devem divulgar o tratamento e a remuneração dos trabalhadores e como e onde os
produtos foram feitos. Esta divulgação deve ser feita com um controle independente das condições
de trabalho e remuneração. Violações que são descobertas devem ser corrigidas de uma forma que
proteja os trabalhadores e seus empregos. Não acredito em uma mudança em curto prazo, mas se
começarmos a tomar atitudes agora, talvez no futuro as coisas sejam diferentes.
Após a leitura do texto pesquise sobre um exemplo concreto de Sweatshop, por exemplo, os
trabalhadores da Nike. Após a escolha do exemplo, responda as perguntas a seguir:
a) Onde esse sweatshop ocorre?
b) Quais são as condições de trabalho a que estão submetidos os trabalhadores? Algumas dessas
condições indica que se trata de trabalho escravo ou análogo ao escravo?
c) Por que essas situações de trabalho persistem?
d) Como nós colaboramos para a permanência dessas situações de sweatshops?
As respostas serão socializadas no nosso último meet do semestre (em janeiro).
Então a parte por escrito terá valor 2,0 e a exposição no meet terá valor 1,0, totalizando 3,0 pontos
desta atividade.
Bons estudos!