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a Verdade Nacional
J. P. GALVÃO DE SOUSA
o JORNALISMO E
A VERDADE NACIONAL
SÃO PAULO
1959
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O jornalista e o dever
da veracidade, na época
da propaganda
responsabilidade do jorn alista nos dias A responsa
A presentes pode ser devidamente avaliada bil idade do
considerando-se que a vida de hoje decorre sob jornalista
o signo da propa ganda . Entre tôdas as técni
cas u tiliza das pelo homem contemporâneo, -
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É verdade , como diz Jean-Jacques Che
valier, que a nova técnica cient ífica da pro
paganda é, por sua naturez a, totalitária. Nem
é menos verdade que as democracias modernas
estão a se encaminhar inexoràvelrnente para
os rumos do totalitarismo, segun do o previa
Donoso Cortês, há cem anos atrás, e o tem
demonstrado, entre outros, Friedrich Hayek,
analisando a a tualid ade política do ocidente
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astucias técnicas de publicidade empregadas
pela América na produção em mass a , para
vender automóveis, sais de banho e cortado
res de grama".
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cartazes , os retratos. Nos dias de descanso
deve prestar atenção aos discursos, às senh as ,
aos artigos oficiais do Partido.
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"Monsieur Dupont vive na idade da pro
paganda.
"Monsieur Dupont é o escravo da propa·
ganda" (J. DRIENCOURT, La propagande
nouvelle force politique, Lib. Armand Colin,
Paris, cap. I).
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seuns aos outros, porque são impedidos de se
conhecerem; sua sorte se j oga nos bastidores"
(loc. cit.)
O reino da O reino da propaganda fàcilmente se
mentira transforma no reino da mentira. Por isso não
nos deve causar admiração o fato de, com
base na propaganda polít ica , verdadeiras dita
dur as ocultas serem instituidas nos regimes
democráticos. A ditadura do poder econômico,
sobretudo, domina a tantos e tantos povos que
se julgam livres, fazendo com que muitas
vêzes as liber dades asseguradas pelas cons ti
tuições não passem de meras declarações
jurídico-formais, sem uma realidade efetiva
que lhes corresponda.
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matutino paulistano, respondia pela negativa
a esta questão: "Existe, realmente, liberdade
de imprensa no Brasil?". Apelava para a
experiência pessoal, trazendo o depoimento de
duas décadas de militância no nosso jorna
lismo. E louvando-se em fontes fidedignas do
estrangeiro, universalizava as suas conclusões,
escrevendo: "a liberdade de imprensa, no
Brasil, é uma ficção. Ela é a grande ficção,
aliás, do mundo capitalista contemporâneo e,
por isso mesmo, da própria democracia liberal"
(Correio Paulistano, 11.IX.1956).
Não nos esqueçamos de que coube ao libe
ralismo inaugurar, no mundo moderno, o
regime da propaganda. Aperfeiçoado pelos
Estados totalitários, tal regime teve inicio com
a Revolução de 1789, preparada no século
anterior pelos filósofos e letrados que, nos
salões da nobreza decadente, difundiam a dou
trina revolucionâria, minando assim a ordem
tradicional com a adesão das primeiras vítimas
inconscientes da propaganda política.
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Era a aplicação do princípio do livre
exame à ordem política. Era a consagração do
agnosticismo, gerado pela propaganda dos
enciclopeidstas no século XVIII. Era a edi
ficação da ordem política sem lhe ser dada por
alicerce a ordem moral. Era a plena secula
rização da sociedade, em bases puramente
racionais, e não mais na submissão aos valores
supremos de ordem religiosa.
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cujos pro gramas não contam e que, na sua
generalidade, não passam de �indicatos de
exploração pública. Mentira na justiça,
atrelada ao carro dos poderosos . Mentira
na polícia, entrando em conluios com os cri
minosos e com os corruptores da sociedade.
Ment ira nas conferências internacionais, de
cujo seio desap arece tôda confiança e é riscada
a pressuposição da bo a fé, cimento inabalável
fora do qual em vão se· procurará corporific ar
jurídicamente a comitas gentium. Mentira na
Organização das Nações Unidas, que nunca
foram tão desunidas como hoj e , quando o
mun do está a viver em plena guerra fria entre
os dois grandes blocos que nele se defrontam.
Não prec isamos ir além. Eis aí a grande O jornalista e
responsabilidade do jornalista nos dias que o dever da
correm. O j ornalista deve ser, por excelência , veracidade
o homem da verdade. Se êle pactua com a
n1entira e utiliza a propaganda para alastrar
a mentira , está violando frontalmente o pri
meiro dos seus deveres, a mais precípua das
suas obrigações: o dever da veracidade. Seja
por oportunismo ou por venalidade, seja por
servilismo ao poder ou por espírito de oposição
sistemática, quantas e quantas vêzes o jorna
lista abdica da grandeza de sua missão e con
tribui para consolidar o reino da mentira!
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da verdade: verídico nas noticias, exato nas
informações fiel nas reportagens e nas entre
,
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O jornalismo e os
objetivos nacionais
XERCE a imprensa em nossos dias uma Função
E função pública. Integra-se, por isso mes pública dia
mo, nas finalidades do E stado. Pode fortalecer imprensa
ou pôr em risco a segu r ança nacional. Ou será
um elemento de coesão da nacionalid a d e , ou
um fator de dissolução das estruturas sociais.
Como jornal istas , deveis ser homens da
ve r dade , e, dada esta f un ç ão impor t an t íssin1a
da imprensa na hora presente, deveis contri
buir para a plen a instauração da verdade
nacional.
É o que nestes três anos de Escola tendes
apre ndido . De tal maneira que se vos pedi rem
uma de finiç ão da verdade nacional, não tereis
difi cul da de em encontrá-la, pois vós a vivestes
dur ante a vossa experiência no cu rs o de jor·
nalismo. Despertar a cons ciência dos jornalis
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Que é a Que é a Nação? - É uma comunidade de
Nação? cultura. É um complexo cultural em que
- O passado, vários elementos se conjugam, os quais cada
o presente, de um de per si não bastam para caracterizá
o futuro ... la, mas tod o s juntos a constituem na sua
ess ênci a mais íntima: a raça , a língua� o ter
ritório, as comuns aspiraçõ es do povo, os cos
tumes, os h ábitos sociais, as cren ç as , os feitos
dos antepassados, as recordaçõ es dos momen
tos de gl ória , o estilo de vida e uma certa
maneira uniforme de reagir pera.nte a vida.
A palavra " n ação " - de nasci, nascer - indica
uma origem comum e também um mesmo
destino a re alizar , mediante a obra coletiva
do s homens de hoje, que vão prosseguindo a
tarefa his t órica das gerações precedentes e vão
transmitindo aos p óst er os um gr ande legado
de cultura . A Nação é uma família histórica,
e, como a família, está vinculada aos antepas
sado s e se perpetúa na descendência que man
tém o nome gentilício. A Nação é o passado,
o pre sente e o futuro.
brasileiro :
gr an des empreendimentos nacio nais . Junta
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diante de nós. E pudem os concluir que, na
na trajetória de tanto brilho do jorn alismo em
nossa Pátria, faltou e vai faltando ainda um
pensamen to nacional a nortear a ativida de dos
homens da imp rensa .
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c erta ao j usto anseio de liberdade local e re
gional contra os ex ce ssos da política centra
lizadora.
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Entre tais temas, quero dest acar, no ter Um exemplo
reno e sp orti vo , o re la cionado com um do s a considerar.
acontecimentos que mais empolgaram a alma
nacional nestes últimos tempos : a vitória do
Brasil no campeonato mundial de futebol.
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tipos de futebol no mun do todo. Nem sempre
é errado o ufanismo, e um dos seus aspectos
mais curios o s entre nós, ultimamente, tem
sido o dos aficionados ao popular esporte bre
tão, o qual superou aqui a técnica dos velhos
mestres que no-lo ensinaram, e levou as mul
tidões dos grandes estádios e os freqüentado
res dos p equ enos campos do interior à con
vicção de que somos os primeiros do mundo ,
nesse terreno!
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fibra de sua gen te e na sua própri a capaci
dade de organização.
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Tomo aqui a expr es são "cultura" no sen
tido sociológico moderno, abrangendo as vá
ri as manifestações coletivas de um povo,
desde a cultura intelectual até à cultura físi
ca; desde a ciência dos laboratórios até à m ú
a televisão.
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condicionalis1no geo-social e da farmação es
piritual e histórica de nossa gente. E o Brasil
será não apenas o "país do futuro", em que
um tão grande número de pensadores estran
geiros, depois de Stefan Zweig, anunciam a
grande potência do século XXI, mas o país
do presente, assumindo dentro de poucos
anos, menos do que podemos pensar, a pre
eminência para a qual a sua vocação o enca
minha na América, na lusitanidade, no mun
do hispânico, na comunidade atlântica e no
Ocidente.
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dos que partiam e dos que, ficando, aguarda
vam ansiosos os pr im eiro s resultados .
Tão eficiente foi daí por diante, e durante
todo o certame, a at ua çã o desenvolvida pelo
matutino especializado da Fundação C ásp er
Líbero, - cuj as maiores tiragens foram então
alcançadas, - que, ao término da j ornada e
na memorável recepção prestada aos vitorio
sos pela c i da de de São Paulo, o ambicionado
troféu trazido de E s t ocolmo era conduzido às
por tas de A Gazeta, e ali se confraternizavam,
como companheiros de um comum empreen
dimento, os chefes da delegação, os atlet a s
brasileiros e os dirigentes de A Gazeta Es
portiva.
Recordo-vos tal ocorrência para que pos
sais c ompreen der e sentir qual deve ser o
papel da imprensa c on t ribuindo para o forta
lecimento or g ânico das estruturas básicas da
vida nacional. Reconhecendo os méritos do
Diretor daquele matutino, bem a vis ado s an
dastes escolhendo a Carlos Joel Neli para
patrono da vossa turma.
Mas vamos concluir.
A Nação é o A Nação é o futuro. Na série de confe
futu ro. rências promovidas pela n o ss a Escola sôbre a
O B rasil e o posição do Brasil no momento histórico mun
momento dial, tivestes oportunidade de desvendar os
histórico amplos e magníficos horizontes que se des
m u nd ial. c ortin a m à n o s sa nacionalidade, depen dendo
de um a sábia política exterior a lhe inspirar
os estadistas . Verificastes não ser hoj e a po
lítica externa assunto exclusivo das chance
larias, e bem pudestes per c eber que parte de
imensa responsabilidade aí c abe aos j ornalis
tas , na sua tarefa de orientar a opinião pú-
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blica, c ump rin do -lhe s estar iden tific a dos com
os obj etivos n aciona is permanentes .
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ordem política. Mas ain da assim o progredir
do Brasil, no domínio da produção e da
técnica, não é algo que possa ser detido, a não
ser por uma catástrofe da natureza ou uma
subversão catastrófica da ordem social.
O que mais impo r t a , como obj eto do
nosso esfôrço, não é o desenvolvimento econô
mico . É a preservação da nossa originalidade
cultural, prestes a perder-se em meio às in
fluências dos elementos dissociativos e anti
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distintivas vindas da língua portuguêsa e do
caráter português, língua e caráter que, por
sua vez, n o s abrem as po rtas do Oriente e nos
permitem uma in ser ç ão no mundo africano ;
quando refletimos em tão f avo ráveis condi
ções com que nos dotou a Providência, -
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engrandecido pelo vosso empenho em fiel
mente o servir, com a palavra impressa, atra
vessando o tempo , ou com o verbo oral, difun
dido pelas ondas do espaço.
Dessa forma, fazendo a verdade, haveis de
realizar a verdade nacional.
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Exortação final
ão tristes as gerações sem ideal. Passam A questão de
S sem deixar saudad e . Reproduzem, na vida sem p re .
humana, o e sp etácul o desolador q ue a nat u -
reza nos apr esent a numa p r im av e r a sem flô-
res, num outono sem frutos, ou naquelas
trevas que, durante meses seguidos, se esten�
dem pelas re giõe s p olar es confundindo os
,
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"A questão de sempre está em saber se o
homem deve nascer, viver e morrer, receber,
transmitir e deixar a vida, como criatura de
Deus a Deus destinada, ou como simples larva
originária unicamente das fermentações do
lôdo da terra".
Ninguém pode fu gi r a êste magno proble
ma da vida humana. Afastá-lo é cair na me
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C O M P R O M I SSO P RO F E R I DO
N A C O L A Ç Ã O D E G R A U
no exercício do jornalismo,