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INSTITUTO DE ESTUDOS FILOSÓFICOS

PEDRO DA FONSECA

I N S T I TU I Ç Õ E S D I A L É C T I C A S
INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBRI OCTO

INTRODUÇÃO, ESTABELECIMENTO Do TEXTO, TRADUÇÃO E NOTAS

POR

JOAQUIM FERREIRA GOMES


As*...tente do Faculdade de l etras da Universidade de CoW bra

UNIVERSIDADE DE COIMBRA
1964
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA

PUBLICAÇÕES DO INSTITUTO DE ESTUDOS FILOSÓFICOS

SÉRIE DE CULTURA PORTUGUESA

J. M. da Cruz Pontes — Estudo para uma Edição Crítica do Livro da Corte Enpe-
rial. 1957.

Friedrich Stegmüller — Filosofia e Teologia nas Universidades de Coimbra e Évora


no Século XVI. 1959.

J. S. da Silva Dias — Correntes de Sentimento Religioso em Portugal (Séculos XVI a


XVIII). Tomo I. Volumes l.° e 2.°. 1960

J. M. da Cruz Pontes — Pedro Hispano Portugalense e as Controvérsias Doutri­


nais do Século XIII — A Origem da Alma. 1964.

Pedro da Fonseca — Instituições Dialécticas. Institutionum Dialecticarum Libri

Octo. Introdução, estabelecimento do texto, tradução e notas por Joaquim


Ferreira Gomes. 2 Volumes. 1964.

Joaquim Ferreira Gomes — Mortinho de Mendonça e a sua Obra Pedagógica.

Com a ed ição crítica d os Ap ontamentos p ara a educação de hum menino nobre.


1964.

SÉRIE DE FILOSOFIA

Alexandre F. Morujão — Mundo e Intencionalidade. Ensaio sobre a Noção de


Mundo na Fenomenología de Husserl. 1961.

Victor Raul da Costa Matos — O acesso à filosofia Platônica. I— Problema meto­

dológico. 1963.
FACULDADE DE LETRAS DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA
PUBLICAÇÕES DO INSTITUTO DE ESTUDOS FILOSÓFICOS

SÉRIE DE CULTURA PORTUGUESA


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS
INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBRI OCTO
20902198

Biblioteca Padre Vaz


Instituições dialecticas
INSTITUTO DE ESTUDOS FILOSÓFICOS

PEDRO DA FONSECA

INSTITUIÇÕES DIALÉTICAS

INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBRI OCTO

INTRODUÇÃO, ESTABELECIMENTO DO TEXTO, TRADUÇÃO E NOTAS

POR

JOAQUIM FERREIRA GOMES

UNIVERSIDADE DE COIMBRA
1964
PREFACIO
até ao segundo quartel do século XVII p or mais de meio
cento de edições, o texto latino das Instituições Dialécticas
de Pedro da Fonseca volta de novo a p ublicarse, precisa­
mente quatro séculos dep ois, acomp anhado de tradução
em língua portuguesa.
Ao p romover esta acurada edição bilingue, o Instituto
de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Univer­
sidade de Coimbra quis, não só p restar a homenagem devida
ao mais p rofundo p ensador p ortuguês, no quarto centenário
desta obra de p rojecção universal, mas também servir a
nossa cultura, em sua comp reensão histórica, sua vivência
actual e sua dimensão prospectiva.
O p ensamento, no p lano da p ura racionalidade e, por­
tanto, no domínio da Filosofia, é objectivo, intemp oral e
atóp ico, mas a genuína cultura de um p ovo está sempre
enraizada num substrato de tradições que, em sua trans-
finitude diacrónica, constituem a matriz da sua própria
individuação. Por isso, uma nação como a portuguesa,
em gestação continuada durante oito séculos, herdeira,
aglutinadora e sup eradora dos mais diversos estratos cul­
turais, tem necessidade de vivificar as suas raízes colectivas
e de rep ensar as constantes da sua existência p ara forta­
lecer as razões da sua permanência e da sua unidade.
Ora, se últimamente se tem manifestado interesse pela
comp reensão e valorização da cultura p ortuguesa, o certo
é que, para além de tentativas animadas pelos mais louváveis
e resp eitáveis afectos, urge ap rofundar o conhecimento his­
tórico sobre o nosso p assado cultural e discernir o que
nele é verdadeiramente rep resentativo do p ensamento filo­
sófico.
Nessa emp resa de revivescência e comp reensão exacta
de urna Filosofía p ortuguesa, ocup a lugar singularíssimo
a obra de Pedro da Fonseca. A ép oca em que surgiu e se
difundiu em toda a Europ a culta foi de larga renovação
da vida e da mentalidade em Portugal: ap ogeu e declínio
da nossa exp ansão no mundo, abrangendo a crise em que
desabrochou p lenamente uma autêntica consciência nacio­
nal, manifestada no esp irito que animou a feliz Restauração,
foi também um p eríodo de p rofunda, transformação huma­
nista, no dominio do saber e da esp iritualidade. O movi­
mento cultural dos séculos XVI e XVII, enquadrado na
renascença escolástica p eninsular, rep resenta o que há de
mais significativo como criação do génio p ortuguês, tanto
no camp o da Filosofia e da Teologia, como no do sentimento
religioso e das formas literárias de exp ressão. Antes e
dep ois surgiram obras de p ensadores desgarrados. Porém,
se a Filosofia, como a Ciência, além de criação pessoalista,

XII
é fruto de uma escola e de uma circunstância cultural,
só em referência ao movimento da Escolástica Renovada
se pode falar, propriamente, de uma Filosofia portuguesa.
Sem os largos horizontes da reforma pedagógica empreen­
dida pelo génio político de D. João III, não seria possível
a escola conimbricense nem o clima doutrinal onde ger­
minou a obra de Fonseca.
Só apreciada na totalidade, esta obra nos desvela a
sua densidade filosófica: à luz dessa perspectiva de con­
junto, avulta uma das mais vigorosas expressões do renas­
cimento escolástico-humanista do aristotelismo e a mani­
festação de um pensamento original, profundo e coerente,
quer dizer, de um autêntico sistema de Filosofia. Esse
pensamento exerceu penetrante influência no surto da renas­
cença escolástica peninsular, designadamente em básicas
posições doutrinais do Doutor Exímio, mas ainda hoje,
para além do seu interesse historial, mantém a mesma
força inspiradora da reflexão, de modo que será impossível
restaurar a Ontologia, como pretendem tantos pensadores
dos nossos dias, sem repensar as doutrinas lógicas e meta­
físicas dos dois grandes mestres conimbricenses — Pedro da
Fonseca e Francisco Suárez.
Assim, a análise e compreensão dos Institutionum
Dialecticarum Libri Octo — que, não sendo a mais pro-

XIII
funda, é a mais acabada das obras de Fonseca — não podem
desp renderse dos quatro tomos Commentariorum in Libros
Metaphy sic orum Aristotelis Stagiritae — obra p rima de
erudição e vigor de pensamento — nem da Isagoge Philo­
sophica. Não é, p orém, este o lugar e o momento de
exp or as ideias filosóficas de Pedro da Fonseca ou de ana­
lisar o conjunto da sua obra.
As Instituições Dialécticas rep resentam um momento
culminante dentro de uma tradição continuada. Há, com
efeito, duas constantes na história da Filosofia em Portugal:
a reflexão ético-p olítica e a investigação lógica. A pri­
meira, decorrente de circunstâncias sócio-culturais; a segunda,
dos quadros p edagógicos do p aís. Só o facto de a Lógica
ter sido urna discip lina ensinada nas escolas portuguesas,
desde a Idade Média aos nossos dias, exp lica a continuidade
multissecular dessa investigação. Que essa inclinação para
um domínio restrito da investigação filosófica nada tem a
ver com um p endor natural da gente p ortuguesa, prova-o
a circunstância de logo ter surgido a esp eculação meta­
física semp re que foi estimulada p or reformas pedagógicas.
Caso exemp lar é p recisamente o dos Comentários de Fon­
seca à Metafísica de Aristóteles.
Actualmente, as Instituições Dialécticas podem ser apre­
ciadas segundo um ângulo diverso daquele que logo deter-

XIV
minou a fortuna da sua difusão nas escolas europeias.
Foram então acolhidas com entusiasmo porque apresentavam,
a um tempo, uma sistematização lúcida e acabada dos temas
contidos no Organon aristotélico e uma compreensão actua­
lizada das posições lógicas do perípato, à luz da tradição
escolástica. Mas hoje interessa-nos menos a clareza didác­
tica com que sistematiza e comenta as diversas formas
da argumentação, isto é, a perfeição com que expõe a teoria
dos silogismos — objecto dos livros VI, VII e VIII que
ocupam mais de metade da obra — do que as posições de
Fonseca sobre alguns aporemas lógicos que tanto Aristó­
teles como a escolástica desvalorizaram e que, no seu desvio
formalista ou apof¿íntico, a Lógica moderna desprezou.
Assim, o que está hoje vivo na Lógica de Fonseca são
as suas argutas discriminações metodológicas; é a reflexão
sobre os termos, de tanto interesse para o lógico como para
o gramático; é a analítica dos conceitos, que renovou,
erguendo-a à sua dignidade filosófica; é a determinação
das relações entre conceito, juízo e raciocínio, reveladora
da unidade noética do universo lógico; é o reconhecimento
de que a verdade e o erro não estão no juízo, como alguns
pensavam, e depois dele pensaram Suárez ou Descartes,
mas primàriamente no elemento conceituai, o que permite
fixar os limites entre a Lógica e a Gnoseologia; é a des-

XV
vinculação ontológica do elemento copulativo do juízo e a
feição intelectualista das suas posições, que permitem inte­
grar a analítica dos pensamentos como disciplina inicial
de um sistema filosófico. Mas a actualidade de Fonseca
está ainda nisto: admitindo a prioridade do conceito, em
relação ao juízo e às formas dianoéticas do pensamento,
e admitindo, dentro do universo dos conceitos, a priori­
dade do singular ou individual, em relação ao universal e
abstracto, fornece a mais sugestiva inspiração para reno­
var a investigação lógica e, com ela, toda a Filosofia.
Constituindo uma integração superadora de correntes
escolásticas anteriores, entre as quais avultam o tomismo,
o escotismo e o nominalismo, a obra de Fonseca, como a
de Suárez, permite um diálogo entre o pensamento escolás­
tico e o pensamento· moderno e abre largas perspectivas
à construção de um sistema filosófico onde se resolvam
as oposições das correntes essencialistas e existencialistas
do pensamento contemporâneo. Com efeito, uma. Lógica,
como a das Instituições Dialécticas, entendida à luz dos
Comentários à Metafísica, que defende o primado do
individual ou singular, é uma Lógica aplicável ao domí­
nio da realidade concreta, na sua dimensão existencial,
na sua variação diacrónica e até na sua perspectiva his­
tórica.

XVI
A presente edição dos Institutionum Dialecticarum
Libri Octo, se não é rigorosamente uma edição crítica,
é uma editio accurata, para a qual se utilizaram quatro
edições feitas em Portugal, em vida do Autor, e por ele
revistas: a edição princeps, de 1564, as de Coimbra de 1574
e 1575, em que Fonseca refundiu largamente o texto, e a
de Coimbra de 1590, em que ligeiramente o alterou.
Escolheu-se para texto da presente edição o da edição
de 1575 (precisamente idêntica à de 1574), não só por
ser o mais perfeito, sob o ponto de vista gráfico, mas ainda
por se considerar que nela lhe deu o Autor a forma defini­
tiva. Em rodapé indicaram-se as variantes das edições
de 1564 e 1590.
Só dep ois de edições semelhantes da Isag og e Filo­
sófica e dos Comentários à Metafísica, em preparação,
e de numerosos trabalhos monográficos, será p ossível tentar
uma edição crítica definitiva de toda a obra de Pedro da
Fonseca. Mas, como p ara a obra de Suárez, esses tra­
balhos p reliminares terão de desenvolverse p or algumas
dezenas de anos, p ois ainda nos são desconhecidos alguns
elementos que p ermitam o p erfeito enquadramento daquela
obra no comp lexo histórico-doutrinário em que se situa
e, p or conseguinte, que p ossibilitem uma análise crítica
rigorosa.

XVII
Além do esforço e da p ersistência no trabalho que esta
edição rep resenta, cump re reconhecer que ela não teria p odido
realizar-se sem a ajuda material do Instituto de Alta Cultura e
da Fundação Calouste Gulbenkian. Esse dedicado esforço e
essa p roteção generosa contribuiram decididamente p ara o
avanço da nossa cultura e para a renovação do pensamento
português.

Coimbra, Outubro de 1964.

Miranda Barbosa

XVIII
INTRODUÇÃO
1. NOTA BIOGRÁFICA

E m 1542, os Pad res d a Companhia d e Jesus ñmd am em Coimbra


o Colégio de Jesus de que foram primeiros Reitores: Diogo Mirão,
Martim de Santa Cruz, Luis Gonçalves, Luis da Grã, Urbano Fer­
nandes, Manuel Godinho e Leão Henriques (1).
Em 1547, a convite de D. João III, chega a Portugal, vindo de
Bordéus, André de Gouveia, «le plus grand Principal de France»,
para fundar um Colégio em Coimbra. O grande humanista trouxe
consigo os Mestres franceses Nicolau Grouchy, Guilherme Guerente,
Elias Vinet e Arnaldo Fabricio, o escocês Jorge Buchanan e os por­
tugueses Diogo de Teive, João da Costa e Antonio Mendes. No dia
21 de Fevereiro de 1548, perante numerosa e entusiasta assistência,
Arnaldo Fabricio profere o discurso inaugural. Foram «Principais»
do Colégio das Artes: André de Gouveia, Diogo de Gouveia, João da
Costa, Paio Rodrigues de Vilarinho e Diogo de Teive (2).
No dia 1 de Outubro de 1555, os Padres da Companhia de Jesus
tomam, oficialmente, a direcção do Colégio das Artes. Na tarde desse
mesmo dia, Pedro Perpinhão proferiu uma oração latina que, durante
duas horas, manteve brilhantemente a atenção da assistência (3).

Pedro da Fonseca «naceo na villa da Cortiçada, por outro nome,


que nam prevaleceo, se dis Proença a nova pertence ao Priorado do
Crato, na parte que fica delle na provincia da Beyra. Seus pays se

(1) Cfr. Francisco Rodrigues, História da Companhia de Jesus na Assistência


de Portugal, Porto, 1938, t. I, vol. I, p. 302-310.
(2) Cfr. Mário Brandão, O Colégio das Artes, vol. I (1547-1555), Imprensa
da Universidade, Coimbra, 1924.
(3) Cfr. Mário Brandão, O Colégio das Artes, vol. II, Coimbra, 1933. Cfr.
ainda Fundação do Real Collegio de Coimbra da Companhia de Jesus, Ms. da Biblioteca
Nacional de Lisboa, F. G. 4506.
INTRODUÇÃO

chamaram Pedro da Fonseca, & Elena Dias. Entrou na Companhia


em Coimbra aos 17 de Março de 1548 tendo 20 annos de idade» (1).
Antes de entrar na Companhia, como ele próprio o confessa, no
Examen commune, «atee idade de 14 annos me criei en casa de meu pay,
e apprendi te hun pouco de latim. Depois estive en casa d’hum fidalgo,
donde me vim aos studos de Coimbra» (2). No Examen pro scholas­
ticis, afirma: «Ante que entrasse na Companhia ouviria tres ou 4 annos
de latim dissipados, e seis ou 7 meses do curso de artes» (3). É provável

(1) António Franco, Imagem da Virtude em o Noviciado da Companhia de


Jesus do Real Collegio de Coimbra, t. I, Évora, 1719, p. 393, 2.a col.. Encontram-se
referências a Pedro da Fonseca nas outras obras de António Franco : Annus gloriosus
Societatis Jesu in Lusitania, Viennae Austriae, 1720, p. 660-662; Ano Santo da Com­
panhia de Jesus em Portugal, Porto, 1931, p. 656-659; Évora Ilustrada, Évora, 1945,
p. 217, 224, 227, 224, 255, 285, 297, 299; Synopsis Annalium Societatis Jesu in Lusi­
tania ab anno 1540 ad annum 1725, Augustae Vindelicorum et Graecii, 1726, p. 171-172.
Cfr. ainda Balthazar Tellez, Chronica da Companhia de Jesus na Provincia de
Portugal, I parte, Lisboa, 1645, p. 376-377; H. Hurter, Nomenclator Literarius
Theologiae Catholicae, Oeniponti, 1871, t. I, p. 109-110 (nota); C. Sommervogel,
Bibliothèque de la Compagnie de Jesús, t. III, 1892, coi. 837-840; Diogo Barbosa
Machado, Biblioteca Lusitana, t. III, Lisboa, 1933, p. 570-572; Francisco Rodrigues,
ob. cit., 1.1, vol. I, p. 457. Cfr. também António Franco, Annalium Societatis Jesu
in Lusitana Provincia a suis initiis ad nostra tempora summula chronologica, f. 25v.,
26v., 37v., 38v., 41, 41 v., 45v., 46, Ms. da Bibi. Nac. de Lisboa, F. G. 1664; João
Soares de Brito, Theatrum Lusitaniae litterarium sive biblioteca scriptorum omnium
lusitanorum, Ms. 1105 da Bibi. Geral da Universidade de Coimbra (não está pagi­
nado). Este manuscrito existe também na Bibl. Nac. de Lisboa, F. G. 6915 e na
Bibl. da Academia de Ciencias de Lisboa, Ms. 299-A; Menologium virorum illustrium
Societatis Jesu, f. 250v.-251, Ms. da Bibl. Nac. de Lisboa, F. G. 4306; Apontamentos
(ano 1548, 1555, 1558, 1570, 1573), Ms. 159-V. da Bibl. da Academia das Ciencias de
Lisboa; Catálogo de todos os padres e irmãos desta provincia, feito em Fevereiro
de 1582, f. 10, Ms. 51. II. 70 da Bibl. da Ajuda (Lisboa); Chronica da Companhia de
Jesus em Portugal, Ms. da Bibl. Nac. de Lisboa, F. G. 4503 e 4504; Tomo I das Annuas
desta provincia [de Portugal, 1571-1629], Arquivo Nacional da Torre do Tombo,
Ms. da Livraria, n. 690. No Archivum Romanum Societatis Jesu, há grande número
de documentos sobre Pedro da Fonseca, sobretudo cartas dele e cartas acerca dele.
Referiremos alguns desses documentos, mas sem a pretensão de sermos exaustivo.
(2) Monumenta Historica Societatis Jesu, Epistolae Patris Nadal, t. I, Matriti,
1898, p. 603 (nota).
(3) Monumenta Historica, loc. cit.. Pelo seu interesse, transcrevemos textual­
mente a nota citada: Examen commune. «1. Chamãome Pero da Fonseca. 2. Sou
quasi de trinta e cinquo annos. 3. Sou portuguez, d’huma villa que chamão Cor-
tiçada... 10. Atee idade de 14 annos me criei en casa de meu pay, e apprendi te
hun pouco de latim. Depois estive em casa d’hum fidalgo, donde me vim aos studos
de Coimbra, e delles aa Espanhia... 16. Passa de treze annos que entrei na Com­
panhia... 22. Sou sacerdote. 23. Estive en Coimbra, Euora, Lixboa e Sam Fins,

XXII
INTRODUÇÃO

que tenha ouvido algumas lições de filosofia e humanidades dos mestres


bordaleses, nomeadamente de Nicolau Grouchy (1). Com efeito, embora
o Colégio das Artes apenas tivesse sido solenemente inaugurado em
21 de Fevereiro de 1548, os mestres trazidos por André de Gouveia tal­
vez tenham regido algumas aulas, a partir de Outubro de 1547(2).
Feito o noviciado, «estudou Philosophia na Residenda de Sam
Fins junto ao Minho com outros, dos que foram nesta provincia mais
insignes em letras, & virtudes» (3).
«No anno de 1551 quãdo se deu principio ao Collegio de Evora,
foi este Padre sendo ainda Irmaõ estudãte hum dos primeiros Religiosos
nossos, que foraõ do Collegio de Coimbra, a dar principio àquella fun-
daçam. Hiâ elle com mais alguns Theologos, pera serem condisci­
pulos do Senhor Dom Antonio filho do Infante Dom Luis, que avia
de estudar em Evora por ordem do Cardeal Dom Henrique entam

servindo, estudiando artes e theologia, lendo artes seis ou sete annos, sendo consultor
cinquo annos, e collateral do P. Miguel de Sousa hum anno, e servindo por elle duas
ou tres somanas, e fui praefecto das escholas a maior parte dum anno, etc. En Lixboa
estive convalescido e pregando ho que fiz outras vezes em Coimbra...» — Examen
pro scholasticis: «1. Ante que entrasse na Companhia ouviria tres ou 4 annos de
latim dissipados, e seis ou 7 meses do curso de artes. Depois ouvi hum de latim,
dous e alguns meses dartes, e tres de theologia. 2. Procidendo nos estudos senti
nam pequena debilitaçam corporal, e no leer mui notabel, adoecendo con isto muitas
vezes, e caindo em muitas fraquezas: especialmente me tenho achado mal da vehe­
mentia das disputas, e de leer duas vezes cada dia, e do escrever. 3. A todas as
letras, tirando principios de lingoas, tenho natural inclinaçam; mas especialmente
me sinto affeiçoado ao studo da escriptura e dalgüas cousas morais, con ter tegoura
pouca experientia deste genero de studos. 4. Algüas partes pareçe que tenho para
letras, maxime para scholasticas, e assi mediocre memoria e entendimento, posto
que na memoria sinto algüa falta. 5. Mediocremente pareçe que me tenho appro-
veitado nos estudos. Inda que menos nos de humanidade, por me dar a elles pouco
tempo e mui dissipadamente. 6. No modo densinar me contentam hos mestres
da Companhia; inda que no modo de tratar hos discipulos, algüs me nam tem con­
tentado, e outros na erudiçam. 7. Sou mestre en artes. 8. 9. No de mai que se
pergunta estou indifferente. 10. Para tudo que mandarem et en todo ho tempo,
e te quando ordenarem, inda que sinto en mim repugnantia para leer cada dia duas
lições de artes, e para disputas delias, pollo muito que me sinto debilitado deste
exercício, e por enfermar nelle tantas vezes. — Pedro da Fonseca». Ex Cod. 16,
IV, 405-417.
(1) A vinda dos bordaleses marca o início da renovação filosófica em Portugal.
Com eles, veio o amor à literatura clássica e à filosofia peripatética. Nicolau Grouchy,
por exemplo, explicava e comentava Aristóteles em grego, língua que os alunos deviam
usar também, nas respostas. (Cfr. Mário Brandão, ob. cit., vol. I, p. 70).
(2) Cfr. Mário Brandão, ob. cit., vol. I, p. 90.
(3) António Franco, Imagem..., p. 393, 2.a col..

XXIII
INTRODUÇÃO

Arcebispo daquella cidade; & queria, tratasse com os nossos Irmaons


estudantes, & com elles tivesse suas repetições, & se aproveitasse do
seu bom exemplo» (1).
A seguir, o mesmo cronista informa que «em Evora foi Mestre
do Senhor Dom Antonio, & dos nossos Religiosos seus condiscípulos
o Sancto Varam Bartholameu dos Martyres, que depois illustrou com
suas admiráveis virtudes a Primazial de Braga. Sem duvida pode tal
Mestre contar entre suas glorias o ter hum tal discipulo, e o discipulo
de o ser de tal Mestre; o qual dos bons exêplos, que vio nestes seus dis­
cipulos, se nos começou a affeiçoar de sorte, que foi hum dos homens,
que mais nos amou, & estimou, & nos veyo a fundar o Collegio de
Braga» (2).
Ao fazer de Pedro da Fonseca discípulo de Frei Bartolomeu dos
Mártires, talvez António Franco não tenha razão. Com efeito, em
Outubro de 1552, já Pedro da Fonseca se encontrava em Coimbra,
a estudar Teologia (3), enquanto que Bartolomeu dos Mártires apenas
começou a ler a Dom António em 7 de Dezembro de 1552, como
ele mesmo afirma (4) e o leva a entrever uma carta do P. Afonso
Barreto a Inácio de Loiola, datada de 1 de Janeiro de 1553 (5).
A partir de Outubro de 1552, estudou três anos de Teologia no
Colégio de Jesus de Coimbra, leccionando também filosofia, de 1552
a 1553, no mesmo Colégio (6).
«No anno de 1555 em que el-Rey Dom Joaõ o Terceiro entregou
(1) António Franco, ob\ cit., p. 394, 1.a col.
(2) António Franco, loc. cit.
(3) «P.° da Fonseca, ha quatro años y medio poco [más o menos?], quasi

sempre estudió, oió el curso y hun año de theologia, y aora lé hun curso é casa»
(Arq. Romano S. J., Lusitania, 43 I, f. 227). A lápis, no lugar do título está 1552.
Também a lápis, à margem, lê-se: «Sept. Oct. 1552, cf. f. 231, 1552/3».
(4) «Haec sunt quae annotavi quando coepi legere Domino Antonio anno
Domini 1552, 7US Decembris, ultra ea quae annotaveram in aliis lecturis». In IVSen-
tent.. — Archivum Generale O. P., XIV, 104, fol. 383.
(5) «Los hermanos perseveran en sus estudios de letras y virtudes. Con un
maestro que ahora nuevamente nos ha venido, hombre muy docto de la Orden de
San Domingos, se aumento mucho el exercício de los estudios». — Monumenta
Historica Societatis Jesu, Epistolae Mixtae, vol. III, p. 20, carta n.° 504. Note-se,
todavia, que o advérbio nuevamente pode infirmar a nossa hipótese.
(6) «Depois ouvi hum de latim, dous e alguns meses dartes, e tres de theologia».
— Mon. Hist. S. J., Ep. P. Nadal, I vol., p. 603 (nota). «Pedro de afonseca r.d0
[recebido] en el anno de 48 estudio el curso de artes y tres annos de theologia y no
oyo mas porq. le occuparon luego en leer un curso de artes en casa q. leio quasi
dos annos...» (Arquivo Romano S. J., Lusitania, 43 I, fol. 124).
XXIV
INTRODUÇÃO

à Companhia o Collegio das Artes da Universidade de Coimbra, que


antes tinham Mestres seculares, foi o Padre Pedro da Fonseca de Evora,
pera ser hum dos quatro Mestres de Philosophia, que aviam de entrar
por principio cada hum em seu curso; os quais foram todos Varoens
consumados. No quarto entrou o Padre Ignacio Martins, no terceiro
o Padre Pedro da Fonseca, no segundo o Padre Jorge Serram, no pri­
meiro o Padre Marçal Vas. Ainda que todos eram homens de grande
ser, o foi de maior o Padre Fonseca, Mestre de Philosophia mui cele­
brado no mundo entre os sabios pella sua Methaphysica, que impri­
mió em quatro tomos» (1).
Pedro da Fonseca ensinou filosofia no Colégio das Artes, de 1555
a 1561 (2). Desde então, mostrou tal vastidão de conhecimentos,
vigor de pensamento e agudeza de engenho, que mereceu o epíteto
de «Aristóteles Português».
Em 1561, veio a Portugal, como visitador, o Padre Jerónimo Nadal.
Entre outras instruções, deu as seguintes: «5. Para se euitar el trauaio
de escreuirse tanto como se scriue, y para que quede más tiempo para
exerçitarsse los studiantes, se procure que hum curso de scriptos se
imprima, y en esto se occupe el P. Afonseca principalmente, y tenga por
coadjutores al P. Marcos Jorge e al P. Cypriano y al P. Pero Gómez;
y esto se encomendará al Padre prouinçial que lo aga hazer com dili-
gençia y suauidad. 6. Imprimido este curso, no escriuan los estudiantes

(1) António Franco, loc. cit., p. 394, 1.a e 2.a cois.. Os Professores jesuítas
que começaram a dar aulas, no princípio de Outubro de 1555, são enumerados pelo
P.e Diogo Mirão em carta de 15 desse mês, datada do Colégio das Artes. (Mon.
Hisí. S. J., Ep. Mixtae, V, p. 29).
(2) «...y despues que se tomo el collegio real acabo un curso q. alli se leia
entonces y empeço otro q. aun aora continua» (Arquivo Romano S. J., Lusitania,
43 I, fl. 124). «P.° dafonseca cerca de 33 annos recebido en Março de 48. Oyo
latín y griego, y en la comp.a el curso de Artes y 3 annos de Theologia. Le aora
el 2.° Curso, y aura 5. annos q. estaa ocupado en leer artes: es de muy rara habilidad
y en esto muy docto, tiene muy debilitadas las fuerças corporales y estaa muy flaco,
y aun que aora lee el 2.° curso tiene ha mucho tiempo o terceiro q. lee por el alatarde»
(Arquivo Romano, S. J., Lusitania, 43 I, fl. 73). Ver também Litterae Quad., VII,
p. 293, citadas por F. Rodrigues, ob. cit., t. II, vol. II, p. 102, nota 2. Cfr. ainda
Joaquim de Carvalho, Catálogo dos Professores de Filosofia do Collegio da Companhia
de Jesu de Coimbra, desde o ano de 1555 e no de Évora, em «Boletim da Biblioteca da
Universidade de Coimbra», vol. VIII (1926-1927), p. 440; Francisco Leitão Fer­
reira, Alphabeto dos Lentes da insigne Universidade de Coimbra desde 1537 em deante,
Coimbra, 1937, p. 206; e João Pereira Gomes, Os Professores de Filosofia do Colégio
das Artes, em «Revista Portuguesa de Filosofia», Braga, t. XI (1955), p. 524; e
ainda o Livro de Autos e Graus e Provas de Cursos, 5 (1556-57), f. 31, Ms. do Arquivo
da Universidade de Coimbra.

XXV
INTRODUÇÃO

sino quando el maestro quisiere notar alguna cosa en algún lugar dificul­
toso ó alguna cosa notable, y breuevemente; y assi podrá leer entonces
el maestro desta manera. Él leerá vn hora y el otro tiempo occupará
en hazer tener hun hora de conferencias à los estudiantes entre si,
y los demás en perguntar de la leçión y hazer disputar, y siguirán los
maestros estos escriptos comúnmente como fueren impressos...» (1).
Assim nasceu a ideia do célebre Curso Conimbricense, de cuja
realização foi encarregado «el P. Afonseca principalmente». Pelo seu
extraordinário interesse para a Historia da Cultura Portuguesa, vamos
transcrever, integralmente, a carta que Pedro da Fonseca escreveu a
Jerónimo Nadal, propondo-lhe a maneira que lhe parecia mais apta
para escrever o Curso de Filosofia (2):

Jhs.

Muy Rdo em Christo Padre.


1. De San Fins escreui á V. R. que ya me hallaua mejor y con
principios de me aprouechar bien de aquella tierra; pero no duro aquello
mucho, porque luégo me hallé peor de lo que acá estaua, y tanto, que lo
que allá más deseaua, venidos mis companheros, era tener ya licençia
para me boluer, como tenia embiado ά pedir. Llegada la liçençia, me
uine al Puerto, adonde con ocasión de unas callenturas que allí tuue por
espacio de 7 ó ocho dias, me curé et hallé tam bueno, que en breue pude
ayudar al P. Cotta en sus predicationes por tener él necessidad dello,
y yo licencia para estar alli hasta que el P. Gonzaga Vaz llegasse. Llegado
el Padre y uenido de Braga, me truxo consigo ά este collegio, donde agora
estoy algo mejor de lo que V. R. me dexó.
2. Passados algunos dias después de la uenida del Padre, querendo
él platicar en el apuntamiento que V. R. auia dexado quanto ά las annota-
çiones ó comentarios sobre Aristóteles, hizo ayuntar los que en ello podían
tener intelligentia, y me preguntó lo que tenia entendido de V. R., quanto
al modo de lo executar. Yo le dixe que V. R. ante de su partida tenia
concluido que por agora no se pusiesse de propósito mano en ello, mas que
se tuuiesse intiento á lo hazer daqui á algún tiempo, teniendo respecto à
la falta de libros que ay en casa, de salud de unos, y desocupaciones de
otros, lo que todo era muy necessario para se hazer cosa que fuesse digna

(1) Ex Cod. 5, Nadal, instr. Lusit., fol. 150. Cfr. Monum. Hist. S. J., Ep.
P. Nadal, vol. I, p. 600 (nota).
(2) Monumenta Historica Societatis Jesii, Epistolae P. Hieronymi Nadal,
t. I, p. 599-603.

XXVI
INTRODUÇÃO

de lo que se pretende; y que entre tanto se uentilarian más las materias,


excitarían dudas, et declararían más todas las cosas; y que yo le diesse
una memoria para encomendar ά los maestros y algunos theologos, que
entre tanto hiziessen por apuntar cada uno en su cartapaçio las dudas y
todo lo demás que en el proçesso de sus estudios les occurriesse, que podiesse
seruir para cualquiera parte del curso, y que yo me diesse entre tanto al
scholástico, teniendo siempre aduertentia á ver imtamiente cosas que me
puedan ayudar para quando se tomare de propósito; y que escreuiesse al
P. Adorno que por uia de Veneza comprasse allá los libros que sabe que
acá nos faltan, como luégo lo hize, escriuiendo V. R. iuntamente al
P. Polanco que le diesse allá expediçion para ello. Dixo luégo el Padre
que se hiziesse assi, y luégo hizo auizar á los de Éuora que attendiessen
ά esto, cada uno en lo que p o diesse, pareçendo ά todos que era este un modo
para se hazer cosa de mucho prouecho, y que en tanta multitud de libros
se pueda leer con gusto. Occurrióme para esto que ya que V. R. me daua
mayor parte del assumpto, et repartia el trabajo con el P. Cypriano y con
los Padres Marcos Jorge e Pero Gómez, seria bueno que los que podemos
tomássemos cada día algún tiempo, para cada uno uer cosas que puedan
ayudar, y preparar la materia para quando se hiziere: que yo tomasse dos
horas, el P. Cypriano una, y el P. Marcos Jorge media, con esta continua
proportión de tiempo, cada uno conforme à sus occupationes, dexando
el P. Pero Gómez con las que tiene, porque harto haraa agora en acudirles.
Assimismo me parecia que yo fuesse en este tiempo uiendo todos los libros
de Aristoteles que no tengo uistos y pueden seruir (ó no tam uistos) apun-
tanto las dudas y buenas expositiones con dos ó tres graues intérpretes
como por cifras, exponiendo unos lugares por outros, etc.; porque esto
es lo que ayudará más al que toma el principal assumpto; y que el
P. Cypriano attendiesse especialmente á las cosas de mathemáticas que
ay en Aristóteles, como son exemplos de geometria, demonstrationes,
lugares que hablan de lo que pertençe á cosmographia, astrologia y
perspectiua, como ay muchos en los libros de coelo y metéoros; y
allende desto hiziesse por traer algo de las theóricas de los planetas al
4.° cap. de la sphaera de Sacrobosco que acá se lee, quanto buena­
mente se pudiesse hazer, y se compadeciesse con el tiempo que se daa
á estas cosas. Finalmente que leyesse en Plinio y otros algunos lo
que puede seruir para materia de metéoros, como de uientos, de origine
fontium, etc.; passando también las obras de philosophia de Cicero,
y apuntando los modos de hablar y tratar que cómmodamente podemos
tomar dél; y que el P. Marcos Jorge podría uer algunas questiones (que
sabe seren altercadas en el curso) por Scoto y otros que le pareciesse,
apuntando breuemente lo que ay de difficultad ó de resoluçión, y leyesse

XXVII
INTRODUÇÃO

las questiones naturales de Séneca, Alexandro aphrodiseo, et de alguno


otro antiguo que hiziesse al caso. Pareció al Padre mui bien esto; y luégo
ordenó que se executasse cada dia en el tiempo que tengo dicho. Y cierto,
yo creo que aunque esto pareçerá por uentura algún tanto largo, es la
meior uia que se puede tomar para se hazer la cosa con exacçion y pro-
uecho. Y tanto se executaraa meior, quanto con menos hastío, y que­
dando tiempo para otras occupationes que podían interromper, por las
necessidades que ay, el hilo de los que luégo se pusiessen totalmente en
ello. Creo que ά cabo de dos ó tres annos, si esto procede deste modo,
y los otros maestros y theologos ayudan en lo que tengo dicho, estaraa
la materia tan dispuesta, que se haga mui en breue el curso todo, y con
occupaçión de quasi no más que de una persona. Esto es lo que passa
neste negoçio; y porque el P. Gonzalo Uaz me dixe que lo escriuiesse ά
V. Rev., fui algo más largo de lo que sufrirán sus occupaciones. De lo
que adelante en esto uuiere haré ά saber à V. R., si me ordena que lo haga.
3. El resto del tiempo que desto y de mis obligaciones me queda,
gasto en lo que me es necessario para predicationes y doctrinas que me
mandan hazer, y ueo algo de la theologia moral, en la qual soy muy nouiçio,
como acá dezia ά V. Rev. Nuestro Señor se sirua de todo. Escriuo con
esta ά el P. Adorno por dos uias sobre el mismo negoçio de los libros,
porque no ay certeza de le ser dada la otra. V. R. nos la hará mandar,
y encomendar la expediçión del dinero ά el P. Polanco, ó ά otro, si él
no está en lugar donde lo pueda hazer; y assi nos ayudará de allá con todo
lo que para esto nos podrá aprouechar, en lo que todo, como lo demás,
V. R. veráa lo que seraa mejor, y ordenar aa lo que más seruiçio fuere de
Dios nuestro Señor, cuia sanctissima mano tenga siempre ά V. R. debaxo
de su protecçión. En sus sanctos sacrificios y oraciones me encomendo
mucho. Perdone V. R. los uicios del castellano, porque nunca anduue
en Castilla.
Oy, 14 de Enero de 1562
Indignus filius
P.° da Fonseca

Esta assinatura não é a


da carta acima trans­
crita, mas de urna carta
a Aquaviva, em 18 de
Julho de 1587 (Arq.
Rom. S. J., Lusit., 70,
fl. 66)

XXVIII
INTRODUÇÃO

Embora a ideia do Curso Conimbricense só tivesse tido realização


plena algumas décadas mais tarde, e não já sob a direcção de Pedro da
Fonseca, o trabalho do jesuíta de Proença-a-Nova não foi baldado.
Se Fonseca não tivesse mostrado tamanho interesse em corresponder
às «instructiones et monita» do P.e Nadal, talvez nos não tivesse legado
tão grandiosa obra.
Temporariamente desviado do ensino, para se dedicar a outros
cargos e serviços dentro da Companhia, «assim mesmo ensinou Theologia
com fama de Mestre esclarecido» (1). De 1564 a 1566, rege uma cadeira
de Teologia Especulativa na Universidade de Évora (2). «Elle foi o
primeiro, que no anno de mil qinhentos sesenta, & seis, como tem a
Bibliotheca da Cõpanhia, ensinou nas nossas escolas a Scientia Media,
como o mesmo Padre o significa em suas obras, ainda que nesta materia
foi mais celebrado o Padre Luis de Molina, q a tratou, & imprimió
sobre ella muito de proposito, como digo em sua vida» (3).
Em Março ou Abril de 1567, foi nomeado Reitor do Colégio das
Artes de Coimbra, cargo em que sucedeu a Gonçalo Álvares. Desem­
penhou estas funções até ao dia 16 de Dezembro de 1569, sucedendo-lhe
então Jorge Serrão (4).

(1) António Franco, ob. cit., p. 394, 2.a col.


(2) António Franco, Évora Ilustrada, Edições Nazareth, Évora, 1945, p. 299.
O catálogo de 1564 designa-o também como Professor de Theologia em Coimbra.
Ele mesmo se ofereceu para dar duas lições de Teologia por semana, a fim de aliviar
o P.e Marcos Jorge do trabalho excessivo, tendo o Geral Laines aceitado o ofere­
cimento. Cfr. Mon. Hist. S. J., Ep. P. Nadai, vol. I, p. 697 e Laines, Monum. Hist. S. J.,
vol. VI, p. 631, cit. por Francisco Rodrigues, ob. cit., t. II, vol. II, p. 102, nota.
(3) António Franco, Imagem da Virtude..., p. 394, 2.a col. O problema
da ciência média surge para resolver as gravíssimas dificuldades na conciliação do
domínio universal de Deus e da acção livre do homem, isto é, da graça divina com a
vontade criada. Deus conhece o que foi, o que é e o que será. De «ciência natural»
ou ciência de simples inteligência, conhece Deus todo o factível; de «ciência livre»
ou ciência de visão, conhece tudo o que depende do seu divino decreto. Mas, como
conhecerá Deus o que não foi, nem é, nem será, mas seria se, isto é, os «futuríveis»
ou «futuros contingentes condicionados»? Pela ciência média. Diz-se média,
não só porque está entre a de visão e a de simples inteligência, mas ainda porque,
até certo ponto, participa de ambas.
Pedro da Fonseca (Commentariorum..., t. III, 1. VI, c. II, q. IV, s. VIII)
reivindica para si a paternidade desta doutrina. O mesmo faz Luís de Molina
(Concordia..., q. XIV, d. 5. η. 2), referindo-se a um tempo anterior àquele em que
Fonseca a reivindica para si. Não é fácil derimir tão intrincada controvérsia. Sobre
este tema, podem ler-se alguns estudos indicados na Bibliografia.
(4) Cfr. João Pereira Gomes, Os Reitores do Colégio das Artes, em «Brotéria»,
vol. LXII, n.° 1 (Lisboa, 1956), p. 77-78. Cfr. ainda Catalogo dos Reitores e vice-
XXIX
INTRODUÇÃO

Em 1570, «avendo de tomar em Evora o grao de Doutor em Theolo­


gia presidio em hum acto lustrosissimo, que vai escrito na vida do Padre
Ignacio Martins, & por isso aqui naõ repito sua plausibilidade, que foi
das grandes, que se ham visto em Universidades. Era defendente
o Padre Ignacio Martins, & presidia o Padre Fonseca, a quem bastou
este sô acto, & a longa experiencia, que de seu excellente magisterio
avia, pera se Doutorar. Assistio el-Rey Dom Sebastiam, o Cardeal
Dom Henrique, & a flor da corte, que entam se achamava (sic) em
Evora. Em Março de 1570 tomaram assim o Padre Ignacio Martins,
como o Padre Fonseca o grao de Doutor assistindo el-Rey, o Cardeal,
o Senhor Dom Duarte Duque de Guimaraens, & toda a Fidalguia.
Foram padrinhos o Doutor Mestre Payo, & o Venerável Padre Frey
Luis de Granada» (1).
De princípios de Fevereiro de 1570 até fins de Abril, ou pouco
mais, rege a cadeira de Véspera na Universidade henriquina (2). Entre­
tanto, não descura os seus trabalhos filosóficos (3).

reitores deste Collegio de Coimbra, f. lv., Ms. do século xvn que se encontra dentro
do Ms. da Bibl. Nac. de Lisboa, F. G. 4384.
(1) António Franco, ob. cit., p. 394, 2.a col.. «El padre Fonseca y el p. Ignacio
Martínez se hizieron doctores cõ el acto solo que arriba escrivi el uno presidiendo y
el otro substêtãdo a el mismo acto. Y despues sin consulta ni votos si era sufficientes
o no tomaron grado de doctor» (Arq. Rom. S. J., Lusit. 64, fl. 43, Carta de Fernán
Perez a S. Francisco de Borja, Évora, 19 de Abril de 1570). Cfr. ainda Catalogo
dos Doutores em Theologia [e dos] Examinadores da Companhia. Ms. da Bibl. Nac.
de Lisboa, F. G. 366.
(2) «El padre Molina que solia leer dexo de leer y començo a leer el p. fonseca
al principio desta quaresma y agora esta para dexar la lection y a de entrar otro a
ler q agora comença a hazer actos estas mudanças de lectores dan mucho desgusto
a los estudiantes principalmente porque no tienen tanto nombre y quando van
cobrando algún nombre dexan de leer». (Arquivo Romano S. J., Lusitania, 64, f. 43,
Carta de Pérez a Borja, de Évora, a 19 de Abril de 1570).
(3) «El P. P.° da fonseca y el P. Manuel Alvarez ya se disponen p.a las obras
q V. P. quiere se impriman» {Arq. Rom., Lusit., 64, fl. 79v., Carta de Lião Henriques
a F. de Borja, Lisboa, 30 de Julho de 1570). «En Jullio recebi una del P. Dionysio por
comissiõ de V. P. ê la qual dizia no aver V. P. recebido letra mia dede la que escrevi
a l.° de Noviébre. Creo no avera llegado la que despues escrevi en la fin de Deziem-
bre por se embiar muy tarde de Evora. Y porque ya creo sera recebida no repetire
otra cosa sino las gracias que en ella dava a V. P. de quitarme la carga del Collegio
de Coimbra la qual dexe pocos dias ates de Navidad. Nuestro Señor pague a V. P.
la mucha charidad que en ello me hizo. Espero en el Señor que siempre se acordara
de me la cõservar, para cõ mi pequeña medida poder mejor cüplir cõ mis obligationes.
En la misma del P. Dionysio me embiava V. P. a dezir que entediesse lueguo
en reveer lo del curso de las artes para luego se imprimir. Yo ala [...?] estava ê
Evora harto Idispuesto y cõ mucho peligro de enfermar grávemete por lo que me
XXX
INTRODUÇÃO

«No anno de 1572 fazendose Congregaçam Provincial no Collegio


de Evora pello mês de Dezembro, como nella fossem eleitos, pera ir
a Roma os Padres Miguel de Torres, & Luis Gonçalves, confessor del-
-Rey; teve disto el-Rey sentimento, & assim foi precizo ir outro em lugar
do Padre Luis Gonçalves cahio a sorte sobre o Padre Pedro da Fonseca,
o qual indo a Roma em ordem a eleiçam do Padre Geral, sahindo eleito
o Padre Everardo Mercuriano, foi escolhido o Padre Pedro da Fonseca
por hum dos Assistentes, & ficou em Roma atte a morte do ditto
Padre Geral» (1). Apesar do que afirma o cronista, parece que não
esteve todo este tempo em Roma, pois, por 1575, encontrava-se em
Portugal (2). Em 1581, por escolha do P.e Cláudio Aquaviva, fez

embio el padre provícial a llamar a esta ciudad adonde me dio el mismo recado de
V. P. Como la Idisposiciõ me dio lugar me comece a disponer pera ello y avra 20 dias
que tengo a poner la mano ê la obra. Pareció bien al padre provícial, y a los padres
Luis Gonçalves doctor Torres y a otros lo que les propuse, que seria mas aproposito
começar por la Metaphysica para mas expedido de la cosas, y mayor brevedad de lo
demas. Ya voy reveiendo y cõcertãdo el primer libro, y añadiendo breves scholios
en lo demas del septimo que no se lee por no se Iprimir la obra Iperfecta y parece que
me succede biê el negocio cõ la bêdiciõ de V. P. y cõ la efficacia de la obediécia que lo
aa ordenado, aü que hasta salir del 7.° libro terne harto trabajo por hasta alli aver
de assetar muchas cosas que dan mayor difficuldade ê todo el curso. Pienso que
avra de porseguir esto aqui ê Lisboa e en [palavra ilegível] por hallarme aqui mui
mejor que ê otra parte, aü que el padre no lo tiene aü determinado.
Resta pedir una cosa a V. P. y es que aü que yo no tego esta mi occupaciõ por
digna de] deseo de Y. P. ni de la expectatiõ de la Compañía. Si cõtodo V. P. la
juzga por Iportãte parece seria bueno escrivir aca que en la próxima cõgregaciõ que
seraa mui presto se tenga cõta cõ ella lo que digo porque en la passada el P.e Jorge
Serró y yo anduvimos quasi iguales ê los votos, y si agora me corta el hilo maxime
en esta parte que es la prlcipal y de dõde depêde lo demas tarde se podra effectuar
lo que V. P. pretiende, y a mi sermea desgusto haver digressio de la obra en esta
cõjüciõ, porque ê el tiempo queuno pueda ir y venir se acabara cõ ayuda del Señor
[palavra ilegível] perfecionare toda la metaphysica» (Arq. Rom., Lusit., 64, fl. 334,
Carta de P. da Fonseca a Francisco de Borja, Lisboa, 19 de Setembro de 1570).
(1) António Franco, ob. cit., p. 394, 2.a col.-395, 1.a col.. Cfr. ainda
Acta congregationum Provincialium Societatis Jesu Provinciae Lusitanae ab anno 1590,

f. 2 e 6 V., Ms. da Bibi. Nac. de Lisboa, F. G. 753.


(2) «Las glosas q el P.e Pero de Affonseca haze sobre Aristóteles parece q han
de venir muy tarde acabadas y poco recomendadas para leerse en escuelas e es de
temer q alguien imprima primero nuestras glossas y por ventura alguno que estuvo
en la Cop.a e assi seamos obligados a leer el curso por glosas de hün nuestro apostata.
En diversas consultas tengo tratado esto en Coimbra y en Evora y en todas ha pare­
cido que deviamos imprimir estas glosas que nuestros maestros leen siendo primero
bien vistas y aprobadas, y esto no quitara proceder el P. Affonseca con su obra logical
servira para hombres doctos aun que no p.a leer en escuelas y si el o [palavra ilegível]

XXXI
INTRODUÇÃO

parte da comissão de doze membros destinada a elaborar «uma


fórmula dos estudos» — o que viria a ser o célebre Ratio Stu­
diorum. Esta comissão não chegou, porém, a iniciar os seus tra­
balhos (1).
Em 1582, é nomeado «Preposito da Caza de Sam Roque» (2).
Mas os cargos administrativos não o distraem dos seus estudos (3).

imprimir presto la Metaphysica podremos imprimirla antes y en esto tomaremos [ ?]


sus escritos. El ha de sentir mucho saber que yo escribo esto, y por esta causa el
P. provincial passado en esto aun que le parecia bien lo que digo. Digo todo a V. P.
p.a mas claridad del negocio» (Arq. Rom. S. J., Lusit., 67, fl. 63, Carta de Manuel
Roiz a Mercuriano, Lisboa, 29 de Março de 1575).
(1) Cfr. Leonel Franca, O método pedagógico dos jesuítas, Rio de Janeiro,
1952, p. 18-19.
(2) António Franco, ob. cit., p. 395, 1.a col.. Cfr. ainda História da fundação
e progresso da casa de S. Roque, Ms. da Bibl. Nac. de Lisboa, F. G. 4491.
(3) «Cõ esta embio a V. P. poco menos de la mitad de mis escritos dei 2.° tomo
de la Metaphysica, y no vã todos luego porque no es acabado ün idex que hago hazere
por el orden de los cursos de Philosophia y Theologia como se haze de las autori­
dades de la escritura notando por orden de Aristoteles y de las partes de São Thomas
las autoridades y sêtêtias que ê ambos tomos se explican y las cosas que en el discurso
de la philosophia y theologia se tratã porque es cosa provechosa para estudiantes,
e aü cômoda y expedita para maestros. Si estos escriptos no tomare aü al P.e Fran­
cisco de Gouvea ê Madrid, a lo menos le tomarã ê Barcelona, y assi le escrivo que
llegãdo à Genova los èbie a V. P. para que los pueda luego hazer ver, y los otros irã
por el primer correo ê el pliego de S. A. dirigidos a Monsignor Pinto, si ya no supiesse
yo que estava aü el P.e Gouvea ê España, porque ê esse caso no irã sino por el por ser
cosa mas segura que los correos deste tiempo. Y cõ esto pareciendo a V. P. dar
luego orden para que los dichos escritos se veã, quãdo el P.e Gouvea passado Agosto
llegare a Roma ya se podrá iprimir cõ los characteres del otro tomo, porque no pienso
que avra que reparar en este tomo, como ni ê el l.°, por quãto yo soy muy amigo
délo mas comü y mas aprovado por los mejores auctores». (Arq. Rom., Lusit., 70,
fl. 64, Carta de Fonseca a Aquaviva, Lisboa, 27 de Junho de 1587). E logo no
mês seguinte:
«Pienso que quãdo esta llegare ya V. P. tendrá recebida la 1.a parte de mis
escritos del 2.° tomo de Metaphysica que lleva el P.e Frãcisco de Gouvea procurador
para embiarle como fuere ê Italia. Agora va cõ esta la otra parte ê el pliego de S. A.
para Roma endereçado a Monseñor Pinto. Queda aca otra parte mas pequena por
causa del index que se haze y de otra diligecia y se embiará por la misma via cõ el
ordinario seguiête. Se a V. P. pareciriese, receberíamos aca charidad ê que V. P.
diesse orden como se viesse luego los escritos que fuessê llegados, para que de mano ê
mano pudiessê ser vistos a tiempo que se estãpasiõ estãdo alia el P.e Gouvea afin
que pudiesse el traernos algunos volúmenes no haze al caso começar por estos dos
cartapacios aü que no seã llegados los primeros dos, porque no so cosas tã dependiêtes
unas de otras que no se pueda juzgar bien delias ê este modo». (Arq. Rom., Lusit.,

XXXII
INTRODUÇÃO

De 1589 a 1592, é «Vizitador desta provincia» (1). Em 1593, volta


a Roma, como delegado de Portugal à quinta Congregação Geral,
regressando pouco depois, para prosseguir os seus trabalhos (2).
«Por ser de grade conselho, & mui judiciozo o escolheo el-Rey
Dom Philippe o segundo, pera assistir na meza da reformaçam, que
ordenou neste Reyno, & ser hum dos testamenteiros da Infãta Dona
Maria, & pera Bispo do Japan no primeiro lugar, dos q nomeou pera
este cargo. Fiou de sua prudencia outras cousas de grande pezo» (3).
As obras de caridade e assistência a que se devotou bem lhe mereceram
«o titulo de bemfeitor de Lisboa» (4). Também «o Papa Gregorio
Decimo Terceiro fazia grande confiança de sua pessoa, encomendan-
dolhe cousas de muito pezo tocantes nam sô ao bem da Companhia,
mas ao universal de toda a Igreja» (5).

70, fl. 66, Carta de Fonseca a Aquaviva, Lisboa, 18 de Julho de 1587). No sobres­
crito desta carta, no lugar do remetente, lê-se:
«P.c Pedro da Fonseca. Que manda a V. P. en el pliego del cardenal parte de
sus escritos, y que el P. Francisco de Govea trae otra parte. Pide que V. P. diesse
orden con que se visen luego, y se esta pasase de manera que quãdo bolveesse el
P.e para Portugal pudiesse llevar algunos volumes».
(1) A. Franco, ob. cit., p. 395, 1.a col..
(2) «El P. Pedro Luis aiuda al P. Pero de Fonseca para acabar su Metaphysica
y hacer compendio della...» (Arq. Rom. S. J., Lusit., 72, fl. 213v., Carta de Francisco
Gouveia a Aquaviva, Braga, 18 de Setembro de 1594). «El P. Pedro da Fonseca dize
que tien acabo el (vi) 12 libro de la Metaphysica...» {Arq. Rom. S. J., Lusit., 72,
(1. 217, Carta de Francisco de Gouveia a Aquaviva, Coimbra, 3 de Novembro de 1594).
«EI P. Pero de Fonseca desea licencia de V. P. y me encomendo que la uviese para se
veren aca sus escritos y se poderen imprimir por estar satisfecho de la impression del
Curso de Artes que se vai haziendo y con esto también se escusaran gastos en llevar
los escritos a Roma y assistiren alia a la emnenda de la impression. V. P. iurgara se
conviene» [à margem: «el P. Fonseca imprima alia»]. (Arq. Rom. S. J., Lusit., 73,
fl. 196, Carta de Francisco Gouveia a Aquaviva, Lisboa, 22 de Dezembro de 1596).
(3) António Franco, ob. cit., p. 395, 1.a col.. Acerca da sua escolha para
Bispo do Japão, leia-se o que escreveu ao Superior Geral Aquaviva: «De dos renglones
q. V. P. añdio de su mano en la ultima suya, entiendo quanto se engañan los principes.
El P. Provincial no me a dicho nada de la elección que Y. p. dize aver hecho S. M.
de mi persona para el Japón. Aunque yo fuera de otra edad y otras fuerças trabajara
por hurtar el cuerpo pues es cosa que aun con su cruz no deseo ver en los nuestros;
quanto mas que compliendo este Junio q viene sessenta años, si el climatérico me dejase
enchia quatro o cinco años de poder trabajar algo por aca essos que irían en esperar
y navegar y llegar para en llegando no poder hacer nada y ser necessario otra tan
larga intermisión para otra provisión...» (Arquivo Romano S. J., Lusitania, 70, fl. 85,
Carta de Pedro da Fonseca a Aquaviva, Lisboa, 28 de Fevereiro de 1588).
(4) António Franco, ob. cit., p. 397, 1.a col..
(5) António Franco, ob. cit., p. 395, 2.a col­
ui XXXIII
INTRODUÇÃO

Faleceu a 4 de Novembro de 1599 (1), sendo sepultado em


S. Roque de Lisboa (2).

2. NOTA BIBLIOGRÁFICA

Apesar de constantemente ocupado em cargos de responsabilidade


que lhe absorviam o tempo e o distraíam dos estudos, Pedro da Fonseca
deixou uma obra notável, de que constituem parte essencial as seguintes
obras impressas: Institutionum Dialecticarum libri octo, Commenta­
riorum in libros metaphysicorum Aristotelis Stagiritae, Isagoge Philo­
sophica, sendo-lhe também atribuídas as Definitiones, divisiones ac
regulae. Qualquer destas obras teve extraordinária projecção.

(1) «Aos 4 de Novembro de 1599 en Lix.a na Caza Professa morreo sant.te


o P. Pedro da Fonseca Portuguez n.a1 da Cortiçada Priorado do Crato, varaõ insigne
em virtude e Letras Pay, e columna da Prov.a de Portugal q. elle sustentou e felixm.te
promoveu sendo R.or do Coll.0 de Coimbra, Prepozito de S. Roque, Vizitador, Assis­
tente em Roma com gr.de inteireza efficacia, e Suavid.e em Seu governo. Com ser
em tudo Eminente, sogeitava com Facelid.e seu juizo ao parecer de Outros; com sua­
víssima Charid.de se alguém o offendia, ou se lhe mostrava menos afeiçoado se costu­
mava dizer: Eu lhe farei bem ou elle queira ou não queira. Tinira speçial Dom de
Deos p.a consolar affligidos, e nas affições, e contradições, q. foraõ m.tas se mostrou
sempre constante com gr.de paz, e serenid.0. Por sua gr.de prudencia, e maduro
juizo era consultado por Oraculo de pessoas de gr.de authorid.de em hum perenne
fluxo de Neg.os. Foi sua vida em tudo consertada com o tempo repartido p.a
ter oraçaõ dizer Missa rezar o Off.° Divino, e p.3 outros exercícios de votos, a q.
nunca faltava. Empregou Sua authorid.de na execução de m. as obras do Serv.0
de Deos e utilid.'le publica. A sua industria e S.t0 Zelo se deve a fundaçaõ do Most.0
de S.a Marta de Lix.a, a Caza dos Cathecumenos e dos Meninos Orfaõs, a Caza pia
das Convertidas e a fundaçaõ do Seminario Irlandez. Fez sahir de Lix.3 os Comedian­
tes como prejudiciaes aos bons Costumes. Acodio as desordens dos Captiveiros injus­
tos nas Conquistas do Reyno. E pondo o Selo a todas as suas virtudes com Sua
heroica paciencia na ultima enfermid.e, recebidos todos os Sacram.os entre devo-
tiss.os e suavíssimos Coloquios entregou o espirito a seu Creador com id.e de 71 an.os
e da Comp.a 51» (Menologium virorum illustrium Societatis Jesu, Ms. da Bibi. Nac.
de Lisboa, F. G., n.° 4306, fl. 250v.-251).
(2) Obituarios da Igreja e Casa Professa de São Roque (leitura de Víctor
Ribeiro), edição da Academia das Ciências de Lisboa, 1916, n.° 163, p. 36, onde se lê:
«nesta cova 15 está sepultado o padre P.° da fonseca, professo, o qual foi Reitor no
Collegio de Coimbra e assistente ê Roma e foi pposito desta casa de S. Roque, e foi
visitador nesta prvincia, falecco nesta casa de idade de 73 annos aos 4 dias de
Novembro de 1599, foi home de grande governo, cooperou para os recolhim.t0s
das convertidas e de S.to Ant.° e de grãde autoridade...». Cfr. também o Livro dos
óbitos do Colegio das Artes, Ms. da Bib. Nac. Lisboa, F. G. 4505, fl. 72.

XXXIV
INTRODUÇÃO

Para que o nosso estudo fosse absolutamente objectivo e não


deixasse lugar a qualquer dúvida, procurámos saber quais as edições de
cada uma destas obras que se encontram nas principais Bibliotecas
europeias. Mandámos fazer fotocópia da «portada» ou «frontispício»
de cada uma delas. Essas fotocópias encontram-se no Instituto de
Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra,
onde poderão ser verificadas. Cada uma das edições por nós referida
será acompanhada da cota de uma das Bibliotecas em que se encontra.
Embora, em muitos casos, saibamos da existência de uma mesma edição
em várias Bibliotecas, referiremos apenas uma Biblioteca, dando sempre
preferência a Bibliotecas nacionais e, entre estas, à Biblioteca Geral da
Universidade de Coimbra.

A. — De todas as obras produzidas pela Segunda Escolástica, as


Instituições Dialécticas foram, sem dúvida, das que mais rápida e larga
difusão obtiveram. As suas qualidades didácticas impuseram-nas na
maioria das Universidades europeias (1). A historia editorial deste
livro constitui um dos mais seguros argumentos da sua projecção e
influência. Em pouco mais de meio século, foram feitas, pelo menos,
53 edições (2):
1. —· Instituti- / onvm Dialecticarum / Libri Octo. / Avtore. / Petro
Afonseca Ex Societate Jesv. / [embl. I H S., rodeado, em oval, pelas
palavras: in Deo. Jesu. meo. exultabo.] / Cum priuilegio Regio ad
quinquennium, et cum / facultate ordinarij, et Inquisitoris. / Olyssip-
pone. / Apud haeredes Joannis Blauij. Anno. 1564. / Está taxado a
noue vintes o volume. — Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra:
R. B —34 —8.
2. — Institu- / tionum Di a- / lecticarum Libri / Octo, Auctore /
Petro Afonseca ex / Societate Jesu / [vinheta com as palavras: Bene­
dices coronae anni benignitatis tuae. Psal. 64] / Coloniae / Apud

(1) Por certo que muito contribuiu para isso a seguinte norma do Ratio
Studiorum: «No primeiro ano explique [o Professor de Filosofia] a Lógica, ensinando-
-lhe o mesmo no primeiro trimestre, menos ditando do que explicando os pontos mais
necessários por Toledo ou Fonseca». (Cfr. Leonel Franca, O método pedagógico
dos jesuítas, Rio de Janeiro, 1952, p. 160).
(2) C. Sommervogel, na ob. cit., cois. 837-839, enumera 34 edições, acrescen­
tando mais uma no Supplément à mesma obra, col. 351. Apesar de — e com critério
muito mais objectivo — termos aumentado este número, não temos a pretensão de
haver feito uma enumeração exaustiva. Apenas abrimos caminho a futuras
investigações.
XXXV
INTRODUÇÃO

INSTITUTO
DIALÉTICA
A V T O R E.
PETRO AFONSECA EX &OCIETATÍ I ESV·

Cumpriuilegio 'Regio ad quinquennium, Qr cum


facultate ordiñartj,<sr lnquifitoris.
O L T 3S I P P O N E .
<jApud hsrredee loannisBIauij. Anno. 1 5 6 4 ·
Eftà tax*do a none vintes 0 volume,

XXXVI
INTRODUÇÃO

INSTIT VTI
ONVM DIALECTI-»
C A R V M L I B R I OCTO.
AVTORE.
PETRO FONSECA DOCTORE
THEOLOGO SOCIETATIS IES V.

Cum Pr'iuilegio Regio, fdcultdteq·'ínquifi-


toYió,&· Orãin<trij,
CON IMBR’CyE.

jfpud IoafSnem Barrcrium.


Anno 1 5 7 4 ·

XXXVII
INTRODUÇÃO

Maternum Cholinum. / M. D. LXVII. / Cum gratia et priuilegio Caes.


Maiest. / in Decenium. — Biblioteca ao Real Monasterio El Escoriai
(Madrid): 110. V. 26.

3. — Institu- / tionum Diale-/cticarum Libri / Octo, Auctore /


Petro à Fonseca ex / Societate Jesu. / [vinheta com as palavras:
Benedices coronae anni benignitatis tuae. Psal. 64] / Coloniae / Apud
Maternum Cholinum. / M. D. LXXII. / Cum gratia et priuilegio Caes.
Maiest. / in Decennium. —Biblioteca Vaticana: R. G. Filosofia, V, 170.

4. — Instituti- / onum Dialecti- / carum Libri Octo. / Autore / Petro


Fonseca Doctore / Theologo Societatis Jesu. / [embl.: I H S] / Cum
Piiuilcgio Regio, facultatcque, Inquisi- / toris, et Orinariy. / Conim-
bricae. / Apud Joannem Banerium. / Anno 1574.—Biblioteca Pública
de Évora: séc. xvi: 1.296(1).

5. — Romae, 1574. — Há um exemplar no Pontifício Ateneu de


Latrão (Roma): 79-D-4.
A «portada» não está em condições de ser fotocopiada.

6. — Instituti- / onum Dialecti- / carum Libri Octo. / Autore / Petro


Fonseca Doctore / Theologo Societatis Jesu. / [embl.: I H S] / Cum
Priuilegio, facultateq; Inquisi- / toris, et Ordinariy. / Conimbricae. / Apud
Joannem Banerium. / Anno 1575. — Biblioteca Nacional de Lisboa:
R. 1650 P., R. 1649 P. e R. 223 P. (2).

7. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore Petro


Fonseca Doctore / Theologo Societatis / Jesu. / Nunc primum ab ipso
recogniti. / Cum indice locupletissimo. / [vinheta cercada pelas palavras:
dum tempus habemus operemur bonum] / Yenetiis, / Apud Christo-
phorum Zanettum, 1575.— Bibliotheca Privata Praepositi Generalis S. J.
(Curia Generalissima, Roma): 238. D. 15.

8. — Coloniae, 1576. (Referida por C. Sommervogel, ob. cit.


coi. 837).

(1) Em ordem à elaboração da presente publicação, mandámos fotocopiar


esta edição. As fotocópias encontram-sc no referido Instituto de Estudos Filo­
sóficos.
(2) É esta edição que serve de texto na presente publicação. As fotocópias
que mandámos fazer encontram-se no mencionado Instituto.
XXXVIII
INTRODUÇÃO

9. — Institu- / tionum Diale- / cticarum Libri / Octo. / Auctore


Petro Fonseca Doctore / Theologo Societatis Jesu. / Tertia hac nunc
aeditione ab ipso recogniti. / Cum indice locupletissimo. / [vinheta
com as palavras: Benedices coronae anni benignitatis tuae. Psal. 64] /
Coloniae. / Apud Maternum Cholinum. / M. D. LXXVIII. / Cum
gratia et priuilcgio Caes. Maiest. / in Decenium. — Biblioteca da Pon­
tificia Universidade de Comillas: 99-2.

10. — Institutionum / Dialectica- / rum Libri / Octo, Auctore /


Petro a Fonseca / Societate Jesu. / [vinheta] / Venetiis, Apud Horatium
de Gobbis. / M. D. LXXXII. — Biblioteca Nacional de Roma: 12.
34. B. 36. Possuímos um exemplar desta edição na nossa biblioteca
particular, adquirido num antiquário de Roma.

11. — Institu- / tionum Diale- / cticarum Libri / Octo. / Auctore


Petro Fonseca Doctore / Theologo Societatis Jesu. / Postrema hac
nunc aeditione ab ipso recogniti. / Cum indice locupletissimo. / [vinheta
com as palavras: Benedices coronae anni benignitatis tuae. Psal. 64.] /
Coloniae. Apud Maternum Cholinum. / M. D. LXXXVI. / Cum gratia
et priuilegio Caes. Maiest. / in Decennium. — Biblioteca Nacional de
Roma: 12. 33. D. 41.

12. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / Quibus nunc primum additus est
Rerum, et Verborum / Index locupletissimus. / [embl. com as palavras:
Requiescet super eum spiritus sapientiae, fortitudinis, et pietatis; Nomen
Domini Turris Fortissima] / Turoni, / Apud Claudium Michaelem /
ejusdem Academiae Typographum / M. D. XXCVIII. — Biblioteca do
Colégio de San Cugat del Vallés (Barcelona): Rar.-III-77.

13. —Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Autore Petro


Fonseca Doctore / Theologo Societatis / Jesu. / [embl. I H S] / Cum
priuilegio Regio, facultateq; Inquisitoris / et ordinarij / Conimbricae. /
Apud Antón. Barrerium Typ. Vniversi. / Ano Dñi / 1590. — Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra: R. B. — 15-15.

14. — Commentariorum Petri Fonseca / Doctoris Theologi / Socie­


tatis / Jesu / in Libros Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae. / Tomus
Primus. / continet hic Tomus quatuor primorum Librorum explica­
tionem / A mendis qui praecedentibus editionibus irrepserunt / summo
labore purgatus. / Cui praemissi sunt eiusdem auctoris Institutionum

XXXIX
INTRODUÇÃO

Dia- / lecticarum libri Octo. / [vinheta: flor de Liz] / Lugduni, / Ex


officina Juntarum. / M. D. XCI. / Cum Privilegio. — Biblioteca Nacional
de Roma: 8. 25-E. 6-7.

15. — Institu- / tionum Diale- / cticarum Libri / Octo. / Auctore


Petro Fonseca, / Doctore Theologo Societatis Jesu. / Postrema hac
nunc aeditione ab ipso recogniti. / Cum indice locupletissimo. / [embl.:
I H S] / Coloniae, / Apud Gosuinum Cholinum. / M. D. XCI. / Cum
gratia et priuilegio Caes. Maiest. — Biblioteca do Real Monasterio EI
Escorial (Madrid): 15-VI-30.

16. —Institu- / tionum Diale- / cticarum Libri / Octo. / Auctore


Petro Fonseca / Doctore Theologo Societa- / tis Jesu. / Postrema hac
nunc aeditione ab / ipso recogniti. / Cum Indice locupletissimo. / [embl.:
J H S] / Friburgi Brisgoiae, / impensis Andreae Buchstab. / M. D. XCI.
— Biblioteca da Universidade de Friburgo em Brisgóvia: B. 1210, d.

17. —Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo, / Auctore / Petro


a Fonseca / ex Societate Jesu. / Nunc quidem pluribus purgata mendis. /
[vinheta] / Venetiis / Apud Nicolaum Morettum. M. D. XCII. — Biblio­
teca Nacional de Roma: 12. 27. B. 26.

18. — Ingolstadii, 1593 (Referida por Sommervogel, ob. cit.).

19. — Coloniae, Apud Gosvinum Cholinum, 1594. — Há um exem­


plar na Biblioteca de Leninegrado (1).

20. ·— Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo, / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu: / A mendis quae postrema editione
irrepserant, / diligenter purgati. / [embl. J H S, com as palavras: in
nomine Jesu omne genu flectatur] / Turnoni, / Apud Claudium Michae-

(1) Na Biblioteca de Leninegrado há urnas quinze edições diferentes das


Instituições Dialécticas, três das quais não conseguimos localizar em mais nenhuma
Biblioteca europeia. Estas informações foram amàvelmente fornecidas pelo Director
da Biblioteca de Leninegrado, V. Pogudin, em carta de 13-1-1961, ao nosso colega e
amigo Dr. Manuel Augusto Rodrigues que, a nosso pedido, lhe escreveu de Roma.
Esta carta está arquivada no mencionado Instituto. Não mandámos fazer fotocópia
da «portada» destas três edições.
Uma vez que parte da nossa investigação foi feita por correspondência, e porque
podem ser de interesse para futuras investigações, arquivámos algumas dessas cartas
no referido Instituto.

XL
INTRODUÇÃO

lem, / Universitatis Typographum. / M. D. XCIIII. / Cum Privilegio.


— Biblioteca da Universidade de Barcelona: B. 21-5-28-3.469.

21. —Petri Fonsecae / Societatis Jesu, / Institutio- / num Dialecti­


carum / Libri Octo. / Emendatius quàm antehâc editi. / Quibus acces­
sit / ejusdem Isagoge / Philosophica, nunc primum in / Germania typis
excusa. / Cum librorum argumentis, Indice / copiosissimo capitum et
rerum. / [embl. J H S] / 1955 / Ingolstadii / Ex Officina Typographica
Davidis / Sartorii. — Biblioteca da Universidade de Tubinga: Ab 32.

22. —Coloniae, Apud Gosvinum Cholinum, 1595. —Biblioteca de


Leninegrado.

23. — Petri Fonsecae Societatis Jesu, Institutionum Dialecticarum


Libri Octo. Emendatius quam ante hac editi. Quibus accessit eiusdem
autoris Isagoge Philosophica, nunc primum in Germania typis excusa.
Coloniae, Apud Gosvinum Cholinum, Anno M.D.XLVI. Cum gratia
et privilegio Caesareae Majestatis. — Biblioteca de Leninegrado.

24. — Wirceburgi, apud Georgium Fleischmann, 1596. (Referida


por Sommervogel, ob. cit.). Cremos que, juntamente com a edição
da Isagoge do mesmo ano, se encontra na Biblioteca Nacional de Viena:
71. X. 132.

25. — Commentariorum / Petri Fonsecae, / Doctoris Theologi /


Societatis Jesu. / in Libros Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae. /
Tomus Primus. / Continet hic Tomus quatuor primorum Librorum
explicationem. / A mendis quae praecedentibus editionibus irrepse­
runt / summo labore purgatus. / Cui praemissi sunt ejusdem auctoris
Institutionum / Dialecticarum libri octo. / [vinheta com a flor de Liz] /
Lugduni, / ex officina Juntarum, / M.D.XCVII. / Cum privilegio. —
Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra: 2-8-13-14.

26. — Institutionum / Dialecticarum / Libri octo, / Auctore / Petro


a Fonseco / ex Societate Jesu / Nunc quidem pluribus purgata men­
dis. / [vinheta] / Venetiis, / Apud Marci Antoniy Bonibelli. M.D.XCVII.
— Biblioteca Nacional de Roma: 12. 32. A. 1.

27. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo, / Auctore Petro


a Fonseca / ex Societate Jesu: / A mendis quae postrema editione irrepse­
rant, / diligenter purgati. / [embl.: J H S, com as palavras: in nomine
XLI
INTRODUÇÃO

Jesu omne genu flectatur] / Turnoni, / Apud Claud ium Michaelem /


Typographum Universitatis. / M.D.XCV1I. / Cum Privilegio.— Biblio­
teca da Universidade de Barcelona: B. 23-6-34-3.837.

28. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo, / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu: / A mend is quae postrema editione
irrepserant, / d iligenter purgati. / [embl.: I H S] / Lugd uni. / Apud
Joannem Pillehotte, / Sub signo nominis Jesu. / M.D.XCVIII.—Biblio­
teca Nacional de Lisboa: S. A. 822 P.

29. — Petri Fonsecae / Societatis Jesu. / Institutio- / num Dialec­


ticarum Libri Octo. / Emend atius quàm ante hac ed iti. / Quibus acces­
sit / ejusd em Isagoge / Philosophica, nunc d emum in Ger- / mania typis
excusa. / Cum librorum argumentis, ind ice co- / piosissimo capitum
et rerum. / [embl.: I H S] / 1599 / Coloniae, / Apud Gosvinum Choli-
num, / Cum gratia et priuilegio Caes. Maiest. — Biblioteca da Ponti­
ficia Universidade Gregoriana (Roma): P. II. 33. G.

30. — Petri Fonsecae Socie- / tatis Jesu, / Institutio- / num Dialec­


ticarum / Libri Octo. / Emendatius quàm antehàc editi. / Quibus acces­
sit / ejusdem auctoris Isa- / goge Philosophica. / Cum librorum argu­
mentis, Indice copio- / sissimo capitum et rerum. / [embl.: I H S) /
Ingolstadii, / Ex Typographia Adami Sartorii. / Anno M.DC. — Biblio­
teca Nacional de Roma: 12.33.B.1.

31—Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris /


Theologi, e / Societate Jesu. / in Libros Metaphysicorum Aristotelis
Stagiritae. / Tomus Primus. / Continet hic Tomus quatuor primorum
Librorum explicationem. / A mendis quae praecedentibus editionibus
irrepserunt / summo labore purgatus. / Cui praemissi sunt ejusdem
auctoris Institutionum / Dialecticarum libri octo. / [vinheta com a
flor de Liz] / Lugduni, / sumptibus Horatii Cardón / M.DCI. / Cum
Privilegio. — Biblioteca Nacional de Lisboa: S.A. 1012 V.

32. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo, / Auctore / Petro


a Fonseca / ex Societate / Jesu. / Nunc quidem pluribus purgata / men­
dis. / [vinheta] / Venetiis, MDCII. / Apud Lucium Spinedam. — Biblio­
teca Nacional de Roma: 12.34.B.39.

33. — Petri Fonsecae Socie- / tatis Jesu, / Institutio- / num Dialec­


ticarum Libri Octo. / Emend atius quàm antehâc ed iti. / Quibus acces­

XLII
INTRODUÇÃO
sit / ejusdem Auctoris Isa- / goge Philosophica. / Cum librorum argu­
mentis, Indice copiosissimo capitum et rerum. / [embl.: J H S] / Inglos-
tadii, / Ex Typographia Adami Sartorii. / Anno M.DCIV.— Biblioteca
da Universidade de Miinster: S2 939w.

34. — Petri Fonsecae / Societatis Jesu. / Institutio- / num Dialecti­


ca- / rum Libri Octo. / Emendatius quàm ante hac editi. / Quibus acces­
sit / ejusdem authoris Isagoge / Philosophica, nunc demum in Germa­
nia / Typis excusa. / Cum librorum argumentis. Indice copiosissimo
capitum et rerum. / [embl. :I H S] 1605. / Coloniae, / Apud Gosvi-
num Cholinum, / Cum gratia et priuilegio Caes. Maiest. — Biblioteca
Nacional de Lisboa: S. A. 823 P. e. S. A. 16680 P.

35. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo, / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / A mendis, quibus postrema editione
scatebant, / diligenter expurgati. / [vinheta] / Lugduni, / Ex Officina
Petri Rigaud. / M.DCVI. — Biblioteca Nacional de Paris: R. 36175.

36. —Petri Fonsecae / Societatis Jesu, / Institutio- / num Dialecti­


carum / Libri Octo. / Emendatius quàm antehâc editi. / quibus accessit
/ eiusdem auctoris Isa- / goge Philosophica. / Cum librorum argu­
mentis, Indice copio- / sissimo capitum et rerum. / [embl.: IHS] / Ingols-
tadii, / Ex Typographeo Adami Sartorii. / Anno Domini M.DC.VII.
— Biblioteca Angelica (Roma): SS 5-57.

37. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / A mendis quibus postrema editione /
scatebant, diligenter / expurgati / [vinheta] / Lugduni, / Sumptibus
Petri Rigaud, in vico Mercatorio, / sub signo Horologij / M.DCVIII.
— Biblioteca Nacional de Paris: R. 36176.

38. — Petri Fonsecae / Societatis Jesu, / Institutionum / Dialecti­


carum / Libri Octo. / Emendatius quàm antehâc editi. / Quibus aces-
sit / eiusdem auctoris Isa- / goge Philosophica. / Cum librorum argu­
mentis, Indice copio- / sissimo capitum et rerum. / [embl.: I H S ] /
Leodii, / In officina Henrici Hovii. / Anno M.DC.VIII: / Cum gratia
et Priuilegio S. Celsitudinis. — Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra: 2-8-13-17.

39. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / Emendatius quàm ante hac editi. /

XLIII
INTRODUÇÃO
Quibus accessit eiusdem authoris, / Isagoge Philosophica, nunc demum
in Ger- / mania typis excusa. / Cum librorum argumentis. Indice
copiosissimo / capitum et rerum. / [vinheta com as palavras: Has uvas
dat labor] / Flexiae / Apud Jacobum Rezé Typographum Regium, /
M.DC.IX.—Biblioteca Nacional de Paris: R. 36178 e 36179.

40. — Petri Fonsecae / societatis Jesu, / Institutio- / num Dialecti­


ca- / rum Libri Octo. / Emendatius quàm ante hac editi. / Quibus aces-
sil eiusdem autho- / ris Isagoge Philosophica, nunc demum in Ger-
ma- / nia typis excusa. / Cum librorum argumentis, Indice copio- / sis-
simo capitum et rerum. / [embl.: I H S] / 1610 / Coloniae, / Apud Petrum
Cholinum, / Cum gratia et priuilegio Caes. Maiest. — Biblioteca Nacional
de Lisboa: S. A. 15380 P., S. A. 15383 P. e S. A. 4787 P.

41. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore / Petro


a Fonseca / Ex societate Jesu. / Nunc quidem pluribus / purgata mendis. /
[vinheta] / Venetiis, / Apud Vincentium Florinum. / MDCXI.— Biblio­
teca Nacional de Roma: 12.28.R.6.

42. — Petri Fonsecae / Societatis Jesu, / Institutio- / num Dialec­


tica- / rum Libri Octo. / Emendatius quàm ante hac editi. / Quibus
accessit eiusdem autho- / ris Isagoge Philosophica, nunc demum in
Germa- / nia typis excusa. / Cum librorum argumentis, Indice copio- /
sissimo capitum et rerum. / [embl.: I H S] / 1611 / Coloniae, / Apud
Petrum Cholinum / Cum Gratia et priuilegio Caes. Maiest. — Biblio­
teca da Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma): P. II. 33. G.

43. — Petri Fonsecae socie- / tatis Jesu, / Institutio- / num Dialec­


ticarum / Libri Octo. / Emendatius quàm antehac editi. / Quibus acces­
sit / ejusdem Auctoris Isagoge Philosophica. / cum librorum argumentis,
Indice copio- / sissimo capitum et rerum. / [embl.: J H S] / Ingolstadii, /
Ex Typographeo Adami Sartorii. / Anno M.DC.XI. — Biblioteca da
Universidade de Munique: 8.° Philos. 551.

44. — Lugduni, 1611. (Referida por Sommervogel, ob. citi).

45. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / A mendis quibus postrema editione
scatebant, / diligenter expurgati. / [vinheta com as palavras: Poco a
poco] / Lugduni, / Apud Claudium Morillon, Typograph. / Sereniss.
Ducissae Montispensery. / 1612.—Biblioteca Geral da Universidade
de Coimbra: 2-8-13-18.

XL1V
INTRODUÇÃO

46.— Coloniae, 1613. (Referida por Sommervogel, ob. cit.).

Al.—Institutionum. / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / A mendis quibus / priores scatebant, /
diligenter expurgati. / [vinheta com as palavras: Donec optata veniant
rigabo] / Lugduni, / Sumptibus Petri Rigaud in vico merca- / torio,
sub signo Fortunae. / M.DC.XIIII. — Biblioteca Nacional de Lis­
boa: S. A. 4786 P.

48. —Venetiis, apud Vincentium Florium, 1615. (Referida por


Sommervogel, ob. cit.).

49. — Petri Fonseca / Societatis Jesu, / Institutionum / Dialectica­


rum / Libri octo. / Emendatius quàm ante hac editi: / Quibus acessit
euisdem au- / thoris Isagoge Philosophica, nunc demum in / Germania
typis excusa. / Cum librorum Argumentis, Indice copiosissi- / mo capitum
et rerum. / [embl.: I H S] / Coloniae, / Apud Petrum Cholinum. /
M.DC.XVI. / Cum gratia et priuilegio Sac. Caes. Maiest. — Biblioteca
Nacional de Lisboa: S. A. 4788 P.

50. — Coloniae, 1622. Referida por A. A. Andrade que afirma


tê-la consultad o d iretamente. (Cfr. Curso Conimbricense, Lisboa, 1957,
p. XIV e XVIII).

51. — Institutionum / Dialecticarum / Libri Octo. / Auctore Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / A mendis quibus / Priores scatebant, /
diligenter expurgati. / [vinheta com as palavras: donec optata veniant
rigabo] / Lugduni, / Sumptibus Petri Rigaud, et sociorum, in vico /
Mercatorio, sub signo Fortunae. / MDC.XXII. — Biblioteca Nacional
de Lisboa: S.A. 18425 P.

52. — Petri Fonsecae / Societatis Jesu, / Institutionum / Dialecti­


carum / Libri octo, / Emendatius quàm ante hac editi: / accesserunt
eiusdem / authoris Isagoge Philosophica, Definitiones, Divi- / siones
ac Regulae, ex Logica et Physica / Aristotelis. / Cum librorum Argu­
mentis, Indice copiosissi- / mo capitum et rerum. / [embl.: I H S] /
Coloniae / Apud Petrum Cholinum. / M.DC.XXIII. / Cum gratia et
priuil. S. Caes. Maiest. — Biblioteca Nacional de Lisboa: S.A. 825 P.

53. — Institutionum / Dialecticarum / Libri octo. / Auctore / Petro


a Fonseca, / ex Societate Jesu. / A mendis quibus postrema editione /

XLV
INTRODUÇÃO

scatebant, diligenter / expurgati. / [vinheta com as palavras: ibi libertas


ubi Spiritus Domini] / Lugduni, / Sumptibus Antonii Chard / sub
signo sancti. Spiritus / M.DC.XXV. / Cum permissu Superiorum.
— Biblioteca Nacional de Paris: R. 36180.

A extraordinária divulgação das Instituições Dialécticas deve-se,


em boa parte, à clareza e simplicidade com que Fonseca conseguiu
resumir o Organon aristotélico, e à habilidade com que nele integrou
o melhor das doutrinas lógicas posteriores. Um editor chegou mesmo a
escrever que a obra de Fonseca quase tornaria inútil, daí para o futuro,
a de Aristóteles, salvo por motivo de erudição: «authoris diligentia, qua
omnia tot ab Aristotele libris et fastidiosa prolixitate pertractata, tanta
brevitate et subtilitate quanta a maiorum nemine et tam facili methodo
in angustum contraxit, ut harum institutionum lectori (nisi viri anti­
quitas impediret) inutilis fere Aristotelis lectio videatur» (1).
Não foi sem razão que o filósofo de Proença-a-Nova foi cognomi­
nado o «Aristóteles Português». Ele foi, efectivamente, um dos prin­
cipais restauradores da filosofia aristotélica, na segunda metade do
século XVI.
Desde o seu início, a Companhia de Jesus procurou basear o estudo
da Filosofia na autoridade de Aristóteles. Como em Teologia haviam
de seguir S. Tomás (2), os mestres jesuítas deviam, em Filosofia, comen­
tar Aristóteles (3). Assim o estabeleceu a Quinta Congregação Geral,
realizada em 1593, e em que Pedro da Fonseca tomou parte. Por sua
vez, o Ratio Studiorum (1599) ordenava: «Em questões de alguma
importância não se afaste [o Professor de Filosofia] de Aristóteles, a
menos que se trate de doutrina oposta à unánimemente recebida pelas
escolas, ou, mais ainda, em contradição com a verdadeira fé» (4).

(1) Bibliopola lectori, no t. I dos Commentariorum..., «cui praemissi sunt ejus­


dem auctoris Institutionum Dialecticarum libri octo», Lugduni, ex officina Junta­
ram, M.D.XCVII. Cfr. Armando Carliní, Note sul Fonseca, em «Italia e Spagna»,
Firenze, Le Monnier, 1941, p. 247-248.
(2) «In Theologia legetur... doctrina scholastica Divi Thomae...» (Constitu­
tiones Societatis Jesit, P. 4, C. XIV, n.° 1. Cfr. Decret. Congr. Gen. V, em Institu­
tum S. J., II, p. 273).
(3) «In Logica et Philosophia naturali et morali et Metaphysica, doctrina
Aristotelis sequenda est» (Constitutiones Societatis Jesu, P. 4. C. XIV, n.° 3. Cfr.
Decret. Congr. Gen. V, em Institutum S. J., II, p. 273).
(4) Leonel Franca, ob. cit., p. 159. São numerosas as passagens do Ratio
que ordenam se siga Aristoteles. Eis algumas, a titulo de exemplo, referentes ao
XLVI
INTRODUÇÃO

Antes ainda destas normas, já a Academia de Coimbra, levada pelo


exemplo recente de outras, colocava «omne studium et operam» (1)
na explicação dos livros de Aristóteles, como o próprio Fonseca observa
no prefácio da l.a edição (1564). Não é, por isso, de admirar a vincada
influência de Aristóteles nas Instituições Dialécticas que, em muitas
partes, se limitam a resumir o Organon (2). As referências a Aristóteles
são constantes. O índice Onomástico diz-nos que ele é citado 600 vezes,
456 das quais são do Organon. Mas, embora eloquente, essa árida
tábua numérica não nos fornece uma ideia exacta da influência exercida
pelo Perípato no autor das Instituições Dialécticas. Só uma sinopse
em que se colocassem, lado a lado, o texto aristotélico e o de
Fonseca, nos daria essa ideia, — o que, aliás, já foi sugerido por
M. Uedelhofen (3).
Mas, se as Instituições Dialécticas são quase inteiramente elaboradas
sobre o Organon, se o filósofo português quase se limita a coligir dou­
trinas dispersas nos livros do Estagirita para as fundir num todo siste­
mático, por vezes Fonseca formula regras onde Aristóteles apenas dá
exemplos, e, outras vezes, completa o que o Filósofo apenas esboçara
ou sugerira (4). Há mesmo um ponto essencial em que Pedro da Fon­
seca, julgando dar uma interpretação genuína do Perípato, se afasta
dele. Com efeito, interpretando erradamente um passo da Retórica (5),
confunde, como aliás a maioria das escolásticos, a Analítica com a
Tópica, a Lógica com a Dialéctica. Esta mistura constante da lógica

estudo da Lógica: «Sobre os predicamentos exponha os pontos mais fáceis como,


mais ou menos, se acham em Aristóteles...» {ob. cit., p. 160); «Dê um rápido sumário
do 2.° livro e dos dois primeiros livros da Analytica priora com excepção dos oito
ou nove primeiros capítulos do primeiro livro...» (p. 160); «Quanto ao conteúdo do
livro dos Tópicos e de Sofisticis Elenchis, é preferível que o disponha em melhor
ordem e explique sumàriamente no princípio da lógica» (p. 160); «Ponha toda a
diligência em interpretar bem o texto de Aristóteles...» (p. 161).
(1) «Hoc cum animadverteret nostra haec Conimbricensis Academia, aliarum
quarundam recenti exemplo et instituto ducta, eam docendi rationem ab ipsi veluti
in cunabulis sequuta est, ut in explicandis libros Aristotelis omne studium et operam
collocandam existimaret» {Lectori).
(2) «...ut ego, quod in profitenda Philosophia aliquot annos possuíssem, qua
possem brevitate, et perspicuitate eos libros Aristotelis exponerem, qui auditoribus
Philosophiae explicari consueverunt» {Lectori).
(3) Matthias Uedelhofen, Die Logilc Petrus Fonsecas, em «Renaissance
und Philosophie. Beitráge zur Geschichte der Philosophie», Bonn, Verlag von Peter
Hanstein, 1916, p. 9-23.
(4) Por exemplo, no Livro III, cap. 12.
(5) Livro I, cap. 2. XLVII
INTRODUÇÃO

com a dialéctica aristotélicas verifica-se em quase todos os Livros das


Instituições Dialécticas (1).
Embora seguindo Aristóteles, Fonseca conhece bem a Lógica
post-aristotélica, tanto a greco-latina como a escolástica — do que nos
dá também uma ideia sumária o índice Onomástico. Ao lado de Cícero
e de Boécio, cita Santo Agostinho (2) e S. Tomás (3), Averróis e Ale­
xandre de Afrodísia (4), Rodolfo Agrícola e muitos outros, como
Platão e Alcinoo (5). Note-se, porém, que, mesmo quando refere
doutrinas dos escolásticos seus antecessores e de outros lógicos,
esforça-se por mostrar a fonte genuinamente aristotélica do seu
pensamento.

(1) Cfr., por exemplo, Liv. I, cap. 1, 2, e 3; Liv. IV, cap. 1; Liv. VI, cap. 6,
7 e 8; Liv. VII, cap. 1, 6, 7, 8, 9; etc..
(2) O De principiis Dialectica: que Fonseca atribui a Santo Agostinho é apó­
crifo. Cfr. M. de Wulf, Histoire de la Philosophia Médiévale, 5.a ed., Louvain, 1924,
p. 72-73.
(3) Acerca de S. Tomás, o Ratio dava a seguinte norma ao professor de Filo­
sofia: «De Santo Tomás, pelo contrário, fale sempre com respeito; seguindo-o de
boa vontade todas as vezes que possível, dele divergindo, com pesar e reverência,
quando não for plausível a sua opinião» (ob. cit., p. 159).
Pedro da Fonseca atribui a S. Tomás o Opus Quadragesimum Octavum, totius
Logicae Aristotelis Summa que, aliás, se encontra entre os Opuscula Omnia Divi
Thomae Aquinatis Doctoris Angelici, Lugduni, M.D.LXII, p. 329-367. Porém,
M. D. Chenu diz que este opúsculo é «não só apócrifo, mas também eivado de con­
ceptualismo nominalista» (Jntroduction à Vétude de Saint Thomas d’Aquin, 2.a ed.,
Paris, 1954, p. 280). Cfr. também Mandonnet, Des écrits authentiques de S. Thomas,
2.a ed., Friburgo, 1910, p. 146-156 e M. Grabmann, Die Werke des hl. Thomas von
Aquin, 2.a ed., Münster, 1931, cap. IV.
Do Opus Trigesimum nonum de fallaciis ad quosdam nobiles artistas (que tam­
bém se encontra na citada edição de Lugduni, p. 295-301), diz Chenu que é «très
probable» que ele seja de S. Tomás (ob cit., p. 279). Quanto ao De natura generis,
Mandonnet considera-o apócrifo e Grabmann aceita-o como auténtico. (Chenu,
ob. cit., p. 278 e 280).
(4) Acerca destes autores, notem-se as normas do Ratio: «...não reuna em
tratado separado as digressões de Averróis (e o mesmo se diga de outros autores
semelhantes) e, se alguma cousa boa dele houver de citar, cite-a sem encómios e,
quanto possível, mostre que hauriu em outra fonte»; «Não se filie nem a si nem a seus
alunos em seita alguma filosófica como a dos Averroístas, dos Alexandristas e seme­
lhantes; nem dissimule os erros de Averróis, de Alexandre e outros, antes tome daí
ensejo para com mais vigor diminuir-lhes a autoridade» (ob. cit., p. 159).
(5) O De Doctrina Platonis, embora sob o nome de Alcinoo, é, na realidade,
de Albinus, um platónico do século n (cf. É. Bréhier Histoire de la Philosophie,
t. I, vol. 2, Paris, 1955, p. 443).

XLVIII
INTRODUÇÃO

B. — A obra principal de Pedro da Fonseca, aquela que, pela sua


originalidade e extensão, lhe dá jus a enfileirar entre os melhores repre­
sentantes da Segunda Escolástica e lhe mereceu o título de «Aristóteles
Português», são os quatro tomos dos Comentários à Metafísica de Aris­
tóteles (1).

(1) Pedro da Fonseca chegou a pensar em resumir estes quatro tomos, de


modo a integrá-los no que viria a ser o «Curso Conimbricense»:
«Otra difficultad se offreçe sobre los Cometarios de la Metaphysica porque el
P.e Manuel de Goes tenia a su cargo hazerlos por le estar encomendado cõponer
todo el Curso de Artes y ja en los Physicos y en los de Coelo y ê los de Generatione
y de Anima que tiene pera imprimir se remitte a la Metaphysica, y va siempre cõ
las opiniones comunes y recebidas ê las escuelas y [? ] uniformidad de las opinio­
nes en toda esta obra y ê la Logica e ade ser mas breve porque se ade remetyr a la
Metaphysica y esto ade ser mas accepto ê las escuelas. Por otra parte tengo enten­
dido que el P.e Fonseca cõ licencia de V. P. determina hazer cõpendio de su Meta­
physica pera se leer en nuestras escuelas y el P.° Goes dessea saber la determinación
de V. P. pera cessar de su intento y disponer las cosas de otra manera, no haziendo
mención de Metaphysica. Por otra parte el P.e Fonseca es muy vagaroso ê su cõposi-
cion y asii se puede temer que ni el acabe ni el otro cõponga por su respecto y que­
demos con el curso imperfecto. Vea V. P. se sera conveniente que cada uno haga sus
comentarios y despues se vera quales se devã leer ê las escuelas. Porque el P.e Fon-
seca tiene muchas opiniones cõtra la comü, y el P.e Goes va cõ las recebidas ê las
escuelas y refuta ê lo que esta ypreso algunas opiniones del P.e Fonseca sin nombrarle
por le guardar el devido respecto. El P. Manuel Roiz que fue assistente desea mu­
cho que el P.e Goes componga la Metaphysica por las razones que apunté» {Arq.
Rom., Lusit., 72, fl. 396, Carta de Francisco de Gouveia ao Superior Geral).
Cremos que não deixará de ter interesse para a história a reacção de Pedro da
Fonseca perante a censura a algumas passagens da sua obra:
«Recebi la de V. P. de 7 de Mayo, 5 la qual dezia que la declaración hecha por
el P.e Pero Novaes y aprobada por V. P. ê una de 15 de Enero, no se recebia aca bien,
ates se tenia por cõfirmaciõ de la opiniõ censurada, y que los padres del Collegio
Romano juzgavam que se devia enredar, y asii que deseava V. P. que yo la enredasse,
para lo qual me embiava la censura dessos padres que dize assi [De duobus his modis
positis (scilicet en la yo escrevi a V. P. a 20 de Enero sobre la declarado ya hecha)
patres Collegii Romani ita censent. Quam ex illius verbis colligitur author, velle,
aliquem modum positivü de novo advenire Deo, qui sit extra operatione itellectus
sive formaliter sive virtualiler distinctus, nullo modo esse permittendos].
De dos cosas me maraville leyendo la dicha carta: una de la rnsatisfactiõ que
han escrito a V. P.; otra, de caer la çensura sobre cosa que ni yo, ni el P.e Novaes por
mi aviamos dicho.
Quãto aho l.° no ay por aca tal isatisfaciõ y aü que yo no avia visto ni oydo
dezir que la avia, cõtodo escrevi luego secretamente al P.e Jerónimo Diaz que aun
era Rector de Evora, y al P.° Pero Novaes, los quales mejor que todos avian de saber
lo que ê ello passava. Y el P.e Jerónimo Diaz me respondió, que la dicha declaraçion
a sua parecer avia dexado a todos persuadidos, excepto uno que mostrava alguna
ísatisfactiõ; y que a el siempre le avia parecido que era harto sufficiete y que deste

XLIX
INTRODUÇÃO

O primeiro tomo, em que o filósofo de Proença-a-Nova comenta


os quatro primeiros livros da Metafísica do filósofo de Estagira, foi,
pela primeira vez, publicado em Roma, em 1577. É dedicado ao Rei
D. Sebastião. É um volume de formato in 4.°, 182 x 106, com 724 pági­
nas, sem contar os prólogos e os índices que não estão numerados.

effecto avia luego como superior escrito al P.e provicial y recebido del respuesta
en la misma cõformidad y que no supo despues dello que alguno tratasse de lo
cõtrario.
El P.e Novaes me respondió lo mismo que el P.e Jerónimo Díaz, declarando que
aquel padre poco satisfecho era el que avia hecho aquel mal oficio en la materia,
que V. P. sabe y sentio que aviendo el metido tanto caudal en el negoçio no saliesse
cõ su liento, ni dava otra razo de su ísatisfaction, sino parecerle que la distinction
virtual era cosa ísolita, siendo tan ordinaria y añadió que tambie avia asentido no
quedar contento el P.e Nicolás Pimieta, no dando otra razón sino que parecía menos
credito de aquella universidad no estar ê la censura que al pricipio se avia dado, la
qual aun que fuera publica y no secreta como aquellos padres la avia dado, no se
desautorizava ãtes se acreditava mas cõ buena declaraciõ, maxime ê credito de un
maestro publico de la misma universidad. Y cõcluya que fuera destos dos ê los quales
avia sétido poca satisfacio, no sabia de niguno otro que no quedasse cõtento y satis-
hecho.
Qãto a lo 2.°, la censura que agora viene suppone que en ambos modos de
declarar la causalidad efficiete de Dios referidos ê la dicha mi carta de 20 de Enero
(cuyo original aü tengo) se cõcedia simpliciter et absolute, aliquê modii positivü
advenire Deo ex tempore cum icipit agere ad extra, y que ê la 2.a declaraciõ de la
dicha causalidad no se ponía distinctiõ virtual sino étre el modo positivo de cõcurrir
y el acto de la divina volütad; lo qual no es assi porque expressamete se dezia que no
solo aquel modo positivo se distinguia virtualiter del acto de la volütad divina, pero
tambie que el mismo modo solü virtualiter erat novus sive ex tempore, y no simpliciter
et absolute, como se puede alia ver ê la misma carta. Por donde la censura se fundo
sobre relación no verdadera. En lo qual me escrivio el P.c Nunes ê portugués, lo
que se sigue — Acá étre todos está tan claro como la luz del dia que assi V. R. ê
su carta, que aü tengo, como yo en mas de cico o seis lugares de mis escritos, avernos
dicho discritis verbis quod activus if luxus Dei nõ est actu novus seu temporalis seclusa
operatione intellectus, atque adeo nõ est simpliciter et absolute novus sed sola virtute,
et (quod hinc fit) tãtü secundum quid novus. Por donde no se podia cõ nigü color
o aparecia escrevir a Roma que solum cõstituebamus virtualem distinctione iter
activü Ifluxü Dei et actü divinae volütatis, ipsum autê activü ifluxum ponebamus
actü novü et temporalem, sive actu adveniètê Deo ex tempore.
Por donde aviendo aca passado lo que tengo dicho acerca de la declaraciõ
que hizo el P.e Novaes y siendo ella aprobada por V. P. en la dicha carta de 15 de
Enero y despues de algunos meses ê un duplicado della por pensarse que no avia
llegado y no se referiendo alia lo que ê la verdad passava assi acerca de la isatisfaciõ
como de lo que se dixo ê la declaraciõ, y sabiendo quan sospechoso es el primero
de los dos en la materia y el segundo ê todas mis cosas desde cierto tiempo como V. P.
sabe, no veyo que se deva, ni cõ razo pueda hacer lo cõtrario de lo que esta hecho,
ni que V. P. quiera otra cosa sabiédo lo que passa. Al examinar del tercer tomo que

L
INTRODUÇÃO

No último quartel d o século xvi e no primeiro quartel d o século xvu,


este primeiro tomo dos Comentários teve várias edições:

1. Commentariorum / Petri Fonsecae / D. Theologi Socie- / tatis


Jesu / in libros metaphysicorum / Aristotelis Stagiritae / Tomus Pri­
mus / Continet hic tomus quatuor primorum librorum explicationem /
Cum privilegio, et facultate Superiorum / [embl.: J H S] Romae / Apud
Franciscum Zanettum, et Bartolomaeum Tosium Socios / Anno Domini
MDLXXYII. — Biblioteca Nacional de Roma: 13. 21. G. 3-6.

2. Commentariorum / Petri Fonsecae / D. Theologi Socie- / tatis


Jesu / in libros metaphysicorum / Aristotelis Stagiritae / Tomus Pri­
mus / Continet hic Tomus quatuor primorum Librorum explicationem /
Cum priuilegio, et facultate Superiorum / [embl. I HS] / Romae, /
Apud Franciscum Zanettum, et Bartholomaeum Tosium socios /
Anno Domini MDLXXYII. — Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra: R. 35-4.a(l).

dêtro de cico o seis meses espero aprestar para la estampa, o dei cõpendio desta otra
parte que se va haziendo, vera V. P. como todo está, y hara dello lo que mejor le
pareciere. Y no se fundará las resolutiones de tales materias en secretas Istancias,
lo qual digo cõfiadamête por no aver querido replicar a la 1.a censura, mas hazer
luego quãto V. P. podia desear, pues desea todo lo mejor assi quãto al servicio de
Dios como al bien de sus hijos, y lo mismo hiziera a esta sino me pareciera desorden
y cõtra la volütad de V. P. bié iformada. Y aun que me vino co esta occasion deseo
de desistir luego desta obra cõ buena licêcia de V. P. tuvelo por tentaciõ estando ya
este tercer tomo ê el termino que ya dixe, y esperando dexar presto lo que queda para
quien cõ mas gusto y favor prosiga este trabajo. En la bendición de V. P. y ê sus
sanctas oraciões mucho ê el Señor me ecomiendo.» (Arq. Rom., Lusit., 73, fl. 215-
-215v., Carta de Fonseca a Aquaviva, Lisboa, 31 de Agosto de 1596). No sobres­
crito desta Carta, lê-se:
«P.e Pedro de Fonseca de Lixboa...
Que recebio la ultima censura sobre su opinión y d eclaración que en ella hiziera
el P.e Ped ro Novaes y que per no ser V. P. informad o en la verd ad y los senhores
censores no le averen entend id o bien su explicación y los d os insatisfechos d e Por­
tugal seren sospechosos no le pareció mud ar nad a d e lo que V. P. tiena enbiad o en
la 1 . a vez. Y que en la estampa d el 2.° tomo se explicara esto bien aun que es mao
pera lo dejar sino la primeira tentación».
(1) Duvidamos se se trata ou não de uma edição realmente distinta da ante­
rior. Com efeito, o estudo da portada mostra-nos que apenas o emblema I H S
é diferente. Enquanto na base do emblema da edição anterior se distribui por três
linhas, na da presente distribui-se por duas linhas o seguinte dístico: «in quo sunt
omnes thesauri sapientiae et scientiae absconditi. Ad Colos. II». Além disso, enquanto
no emblema anterior as letras I H S são marginadas pelo dístico «Ego sum Alfa et
Omega Principium Et Finis», na presente edição aparece: «Nomen Domini Turris
Fortissima».

LI
INTRODUÇÃO

3. — Commentariorum / P. Fonsecae / D. Theologi / Societatis /


Jesu, / in libros metaphysi- / eorum Aristotelis / Stagiritae. / Tomus
Primus / Continet hic Tomus quatuor primorum librorum explicatio­
nem. / [embl. com as palavras: libertatem meam mecum porto] / Lug­
duni, / Sumptibus Sib. a Porta / M.D.LXXXV. ·— Biblioteca da Uni­
versidade de Tubinga: Cd. 2290.

4. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Doctoris Theologi /


societatis / Jesu / in Libros Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae /
Tomus Primus / Continet hic Tomus quatuor priorum librorum expli­
cationem / a mendis qui praedecendtibus editionibus irrepserunt /
summo labore purgatus / [embl.: flor de Liz] / Cui praemissi sunt
ejusdem auctoris Institutionum Dia / lecticarum libri octo / Lugduni / ex
officina Juntarum / M.D.XCI / Cum privilégio. — Biblioteca Nacional
de Roma: 8. 25 — E. 6-7.

5. — Commentariorum / Petri Fonsecae, / Doctoris Theologi /


societatis Jesu/in Libros Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae / Tomus
Primus / Continet hic Tomus quatuor primorum Librorum explicatio­
nem / a mendis quae praecedentibus editionibus irrepserunt / summo
labore purgatus / Cui praemissi sunt ejusdem auctoris Institutionum /
Dialecticarum libri octo / [embl.: flor de Liz] / Lugduni / ex officina
Juntarum, / MDXCVII / Cum Privilegio. — Biblioteca Geral da Univer­
sidade de Coimbra: 2-8-13-14.

6. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Docto- / ris


Theologi / Societatis Jesu, / in Libros Metaphysicorum Aristotelis
Stagiritae / Tomus Primus, / continet hic tomus quatuor / priorum
librorum explicationem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae prae- /
cedentibus editionibus irrepserant, summo labore purgatus, et in Ger­
mania / elegantioribus typis in gratiam studii Philosophici editus. /
Adjecti sunt indices capitum, rerum / et materiarum locupletissimi. /
[vinheta com as palavras: Scientia immutabilis] / M.D.XCIX / cum
gratia et privilegio Ceasareae Maiestatis ad decennium. / Francofurti. /
Typis Joannis Saurii, impensis Lazari Zetzeneri. — Biblioteca Nacional
de Lisboa: S. A. 225 A.

7. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Docto- / ris


Theologi / Societatis Jesu, / in Libros Metaphysicorum Aristotelis
Stagiritae, / Tomus Primus, / Continet hic tomus quatuor / priorum
librorum explicationem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae prae- /
LII
INTRODUÇÃO

cedentibus editionibus irrepserant, summo labore purgatus, et in Ger­


mania / elegantioribus typis in gratiam studii Philosophici editus. /
Adiecti sunt indices capitum, rerum / et materiarum locupletissimi. /
[embl. com as palavras: Scientia immutabilis] / M.D.XCIX / Cum
gratia et Privilegio Caesareae Maiestatis ad decennium. / Francofurti, /
Typis Joannis Saurii, impensis Joannis Theobaldi Schonwetteri. —
Biblioteca Publica de Braga: S A. 71. P. (1).

8. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris /


Theologi, e / societate Jesu / in libros metaphysicorum Aristotelis
Stagiritae. / Tomus Primus. / Continet hic Tomus quatuor primorum
Librorum explicationem. / A mendis quae praecedentibus editionibus
irrepserunt / summo labore purgatus. / Cui praemissi sunt eiusdem
auctoris Institutionum / Dialecticarum libri octo. / [vinheta com a
flor de Liz] / Lugduni, / Sumptibus Horatii Cardón. / M.DCI. / Cum
privilegio. — Biblioteca Nacional de Lisboa: S.A. 1012 V.

9. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani Doctoris / Theo­


logi Socie- / tatis Jesu, / in Libros Metaphysicorum Aristotelis Stagiri­
tae, / Tomi quatuor. / Continet hic tomus primus qua- / tuor priorum
librorum explicationem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae praece­
dentibus / editionibus irrepserant, summo labore purgatus, et in Ger­
mania elegantioribus ty- / pis, in gratiam studii Philosophici, edi­
tus. / Adiecti sunt indices capitum, rerum / et materiarum locupletissimi. /
[vinheta com as palavras: Scientia immutabilis] / Cum gratia et Pri­
vilegio Cesareae Majestatis, et permissu Societatis. / Coloniae / Sumptibus
Lazari Zetzeneri Bibliopolae. / Anno M.DC.XV.— Biblioteca Pública
de Braga: S.A. 73. P.

O segundo tomo, que é um comentário ao quinto livro da Metafísica


do Perípato, foi publicado, pela primeira vez, em Roma, em 1589, sendo
Pedro da Fonseca Prepósito da Casa Professa de S. Roque de Lisboa.
É um volume in 4.°, 182 x 106, com 778 páginas, sem contar as intro­
duções e os índices que não estão numerados. É dedicado ao Rei
Filipe II.
Na última década do século xvi e nos primeiros anos do

(1) Duvidamos se esta edição é realmente distinta da anterior. A «portada»


difere apenas na última linha. Enquanto na edição anterior se lê: «impensis Lazari
Zetzneri», na presente edição lê-se: «impensis Joannis Theobaldi Schonwetteri».

LIII
INTRODUÇÃO
século XVII, este segundo tomo dos Comentários foi editado várias
vezes:

1. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani D. Theologi /


Societatis Jesu. / in Libros Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae /
Tomus Secundus. / Continet hic tomus quinti / libri explicationem. /
[embl.: I H S] / Romae, / Ex officina Jacobi Tornerii. M.D.LXXXIX. /
Permissu Superiorum. — Biblioteca Nacional de Lisboa: S.A. 1016 V.

2. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani Docto / ris


Theologi, / Societatis / Jesu / in Libros Metaphysicorum Aristotelis
Stagiritae / Tomus Secundus. / Continet hic tomus / quinti libri expli­
cationem. / [embl.: flor de Liz] / Lugduni, / ex officina Juntarum /
M.D.XC / Cum privilegio. — Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra: 2-8-13-15.

3. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani Docto- / ris


Theologi, / Societatis / Jesu, / in Libros Mataphysicorum Aristotelis
Stagiritae, / Tomus Secundus / Continet hic tomus / quinti libri explica­
tionem. / [vinheta com a flor de Liz] / Lugduni, / ex officina Juntarum. /
M.D.XCIII. / Cum privilegio. — Biblioteca Pública de Braga: S.A. 147P.

4. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Docto- / ris


Theologi / Societatis Jesu, / in Libros Metaphysicorum Aristotelis
Stagiritae, / Tomus Secundus. / Continet hic tomus quinti / libri explica­
tionem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae prae- / cedentibus / editio­
nibus irrepserant, summo labore purgatus, et in Germania / elegantio-
ribus typis in gratiam studii Philosophici editus. / Adiecti sunt indices
capitum, rerum / et materiarum locupletissimi. / [vinheta com as pala­
vras: Scientia immutabilis] / M.D.XCIX. / Cum gratia et Privilegio
Caesareae Maiestatis ad decennium. / Francofurti. / Typis Joannis
Saurii, impensis Lazari Zetzneri. — Biblioteca Nacional de Lisboa:
S.A. 226 A.

5. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris / Theo­


logi, e / Societate Jesu / in Libros Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae. /
Tomus Secundus. / Continet hic tomus / quinti libri explicationem. /
A mendis quae praecedentibus editionibus irrepserunt / summo labore
purgatus. / [vinheta com a flor de Liz] / Lugduni, / Sumptibus Horatii
Cardón. / M.DCI / Cum privilegio. — Biblioteca Nacional de Lisboa:
S.A. 1013 V.

LIV
INTRODUÇÃO

6. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris /


Theologi Socie- / tatis Jesu, / in metaphysicorum Aristotelis Stagi­
ritae libros, / Tomus Secundus. / continet hic tomus quinti libri / expli­
cationem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae praecedentibus / edi­
tionibus irrepserant, summo labore purgatus, et in Germania elegan-
tioribus ty- / pis, in gratiam studii Philosophici, editus. / Accesserunt
indices capitum, rerum et / materiarum multo quam antehac locupletio­
res. / [embl. com as palavras: Scientia immutabilis] / Cum Gratia et
Privilegio Caesareae Magestatis, et permissu Societatis. / Coloniae, /
Sumptibus Lazari Zetzneri Bibliopolae / Anno, M.DC.XV. — Univer-
sity Library Cambridge: P. 10. 3.

O terceiro tomo, que comenta os livros VI, VII, VIII e IX da Meta­


física do Estagirita, foi impresso, pela primeira vez, em Évora, em 1604,
cinco anos após a morte de Fonseca. É dedicado ao Bispo-Conde
de Coimbra, D. Afonso Castelo Branco. A edição de Lugduni (1605)
é um volume in 4.° de 182 x 106 e com 670 páginas, sem contar as
introduções e os índices que não estão paginados.
Nas duas primeiras décadas do século xvn foram feitas várias
edições deste terceiro tomo dos Comentários:

1. — Commentariorum / Petri Fonse / cae Lusitani, Ex / Proença


Nova, D. Theologi / Societatis Jesu. / in Libros Metaphysicorum Ari /
stotelis Stagiritae. / Tomus III. / Continet hic tomus explicationem /
à libro sexto usque ad nonum. / Cum priuilegio, et facultate Superio­
rum. / [embl.: I H S] / Eborae / Apud Emmanuelem de Lyra Vniuers.
Typogr. / Anno Domini 1604. — Biblioteca Pública de Braga:
S A - 563 P.

2. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris / Theo­


logi Socie- / tatis Jesu, / in Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae
Libros, / Tomos Tertius. / Continet hic tomus VI. VIL VIII. et / IX,
Lib. explicationem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae praecedenti­
bus / editionib. irrepserant, summo labore purgatus, et in Germania
elegantioribus / typis, in gratiam studii Philosophici, quique omnium
iam votis diu / desideratus est, editus. / Accesserunt indices capitum,
rerum et / materiarum multó quàm antehac locupletiores. / [vinheta
com as palavras: Scientia immutabilis] / Cum gratia et Privilegio Caesa­
reae Majestatis, et permissu Societatis. / Coloniae, / Impensis Lazari
Zetzneri Bibliopolae. / Anno, M.D.CIIII. — Biblioteca Nacional de
Lisboa: S.A. 227 A.
LV
INTRODUÇÃO

3. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris / Theo­


logi Societa- / tis Jesu, in Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae Libros, /
Tomus Tertius. / Continet hic tomus VI. VIL VIII. et / IX. Lib. expli­
cationem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae praecedentibus / editio­
nibus irrepserant, summo labore purgatus, et in Germania elegantiori-
bus typis, in gratiam / studii Philosophici, quique omnium iam votis
diu desideratus est, editus. / Accesserunt indices capitum, rerum et /
materiarum multó quàm antehac locupletiores. / [vinheta com a flor
de Liz] / Lugduni. / Sumptibus Horatii Cardón. / M.DCV / Cum pri-
uilegio Caesareae Majestatis, et Christianiss. Francorum Regis. — Biblio­
teca Geral da Universidade de Coimbra: 2-8-13-16.

4. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris / Theo­


logi Socie- / tatis Jesu, / in Metaphysicorum Aristotelis Stagiritae
Libros. / Tomus Tertius. / Continet hic tomus VI. VIL VIII. et / IX.
Lib. explicationem. / Nunc a mendis quamplurimis, quae praecedenti­
bus / editionibus irrepserant, summo labore purgatus, et in Germania
elegantioribus ty- / pis, in gratiam studii Philosophici, quique omnium
iam votis diu / desideratus est, editus. / Accesserunt indices capitum,
rerum et / materiarum multo quam antehac locupletiores. / [vinheta
com as palavras: Scientia immutabilis] / Cum gratia et Privilegio Caesa­
reae Majestatis, et permissu Societatis. / Coloniae, / Sumptibus Lazari
Zetzneri Bibliopolae / Anno, M.DC.XV.—Biblioteca Geral da Univer­
sidade de Coimbra: R. 35-4A

O quarto tomo, bastante incompleto, só foi publicado treze anos


depois da morte de Fonseca, em Lugduni, em 1612. Comenta os
livros X, XI e XII da Metafísica do Filósofo. Dos dois últimos livros
(XIII e XIV), dá apenas o texto grego acompanhado da respectiva tra­
dução latina. A edição de Lião é um volume in 4.° 182 X 106 e tem
255 páginas.
Este quarto tomo dos Comentários teve várias edições:

1. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris /


Theologi, Societatis / Jesu / in Metaphysicorum Aristotelis / Stagi­
ritae decimum, undecimum, et duodecimum: / cum sequentium duorum
interpretatione: / Tomus IV. / editio recens nata et a mendis / repur­
gata, cum necessario praecipuarum / materiarum indice. / [vinheta
com a flor de Liz] / Lugduni, / Sumptibus Horatii Cardón. / Anno
M.D.CXII. / Cum Privilegio S. Caes. Maiest. et Regis Christianiss.
— Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra: 2-8-13-16.
LVI
INTRODUÇÃO

2. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris /


Theologi, Societatis Jesu: / in metaphysicorum Ari- / stotelis Stagi­
ritae Decimum, Un- / decimum, et duodecimum: cum sequentium
duorum interpretatione: / Tomus IV. / Nunc a mendis quamplurimis,
quae prae- / cedentibus editionibus irrepserant, summo labore purga­
tus, / et in Germania / elegantionibus typis, in gratiam studii Philosphici,
quiq; omnium iam / votis diu desideratus est, editus. / [embl. com as
palavras: Scientia immutabilis] / Cum Gratia et Privilegio S. Caesareae
Majestatis, et permissu Societatis. / Coloniae, / Sumptibus Lazari
Zetzneri Bibliopolae. / Anno M.DC.XIII.— Biblioteca do Jesus College
(Oxford): «A-Z*, 2a-2F«, 2 G2.

3. — Commentariorum / Petri Fonsecae / Lusitani, Doctoris /


Theologi, Societa- / tis Jesu: / in methaphysicorum Aristote- / lis
Stagiritae decimum, undecimum, / et duodecimum: cum sequentium
duo- / rum interpretatione: / Tomus IV. / Nunc a mendis quamplurimis,
quae praece- / dentibus editionibus irrepserant, summo labore purgatus,
et in Germania / elegantioribus typis, in gratiam studii Philosophici,
quique / omnium jam votis diu desideratus est, / editus. / [vinheta com
as palavras: Scientia immutabilis] / Coloniae / Sumptibus Haeredum
Lazari Zetzneri. / Anno M.DC.XXIX. — Biblioteca Geral da Univer­
sidade de Coimbra: R. 35-4.a.

Pedro da Fonseca segue, nos quatro tomos, a mesma ordem e


disposição. No centro das páginas pares, que ficam sempre à esquerda,
apresenta o texto grego de Aristóteles; no centro das páginas ímpares,
que ficam sempre à direita, apresenta a respectiva tradução latina.
Rodeando estes textos, que se apresentam em colunas paralelas, e a
seguir a eles, seguem-se as explanationes, em que Pedro da Fonseca
explica o pensamento do Estagirita. Finalmente vêm — apenas nos
três primeiros tomos — as quaestiones, onde o Mestre de Artes de
Coimbra revela grande independência e originalidade.
Os Comentários constam, assim, de duas partes nitidamente dis­
tintas. Se, nas Explanationes, Fonseca é sobretudo tradutor e comen­
tador, nas Quaestiones revela-se pensador autónomo. Se, na primeira
parte, faz obra semelhante aos Comentários de Aquinense, na segunda,
surge como precursor das Disputationes Metaphysicae de Francisco
Suarez, publicadas, pela primeira vez, em Salamanca, em 1597.
Como escreveu Joaquim d e Carvalho, «se as Disputationes afirmam
clara e pujantemente a autonomia da Metafísica, as Quaestiones de

LVII
INTRODUÇÃO

Fonseca assinalam a primeira tentativa afortunada deste esforço» (1).


Na verdade, «o ritmo do pensamento de Suárez nas Disputationes tem
o compasso do de Fonseca nas Quaestiones» (2). É certo que «a sua
sistematização da temática não apresenta a feição harmoniosa das
Disputationes Metaphysicae, mas sem embargo do carácter algum tanto
dispersivo cremos que as Quaestiones de Fonseca mantêm entre si uma
travação lógica, como partes de um todo, e devem ser consideradas
como fonte e estímulo da enciclopédia metafísica suareziana» (3).
Também Eleutério Elorduy procurou mostrar o influxo dos Comen­
tários de Pedro da Fonseca nas Disputações de Suarcz, afirmando nomea­
damente que «las citas de Fonseca contenidas en la Metafísica suare-
ciana son unas 112, varias de ellas de capital importancia para la orien-
tation de toda la obra» (4).
Uma leitura atenta das Quaestiones mostra-nos que o jesuíta de
Proença-a-Nova não foi apenas intérprete notável e sagaz comentador
do pensamento peripatético. Ao lado de uma erudição vastíssima e
de um profundo conhecimento dos autores antigos e medievais, revela
um tal vigor de penetração especulativa que Théodore de Régnon não
duvidou considerá-lo «le plus grand métaphysicien qu’ait enfanté la
Compagnie de Jésus» (5).
Uma das maiores preocupações de Pedro da Fonseca foi estabe­
lecer o autêntico texto aristotélico que andava tão adulterado que, em
muitos pontos, o seu sentido era ininteligível. Guiado pelas preocupa­
ções humanísticas da época, consultou grande número de códices gregos
e latinos. Da sua tradução latina disse Suárez que «tam est elegans
et dilucida, ut fere sine expositore a quovis intellegi possit» (6).
O rigor filológico com que soube estabelecer o texto grego ainda

(1) Joaquim de Carvalho, Pedro da Fonseca precursor de Suárez na renovação


da Metafísica, comunicação apresentada ao «Primer Congresso Nacional de Filo­
sofia» realizado em Mendoza (Argentina) de 30 de Março a 9 de Abril de 1949,
publicada em «Revista Filosófica», fase. 2 (Julho de 1951), p. 139.
(2) J. de Carvalho, loe. cit..
(3) J. de Carvalho, loe. cit..
(4) Eleutério Elorduy, Influjo de Fonseca en Suarez, en «Revista Portuguesa
de Filosofia», t. XI/I (Braga, 1955), p. 107. Cfr. J. Iturrioz, Fuentes de la Meta­
física de Suárez, em «Pensamiento», 4, 1948 e Estudios sobre la Metafísica de Suarez,
Oña, Burgos, 1950.
(5) Théodore de Régnon, Bañes et Molina, Paris, 1883, p. 29. Citado por
Cassiano Abranches, em «Revista Portuguesa de Filosofia», t. IX (Braga, 1953),
p. 356.
(6) Francisco Suárez, Disputationes Metaphysicae, Index Aristotélicas,
I, c. 7: 25, IV.

LVIII
INTRODUÇÃO

hoje é ad mirad o pela crítica mod erna. Ernst Lewalter escreveu que
«d ie Stellung d es Fonseca in d er Geschichte d er Textkritik d er Metaphysik
verd iente eine eigene Untersuchung» (1). Armand o Carlini, por sua
vez, afirma que «il commento d ei Fonseca alia Metafísica d i Aristotele,
non ostante i d ifetti su accennati, é d a riguard are come il primo che
sia apparso nell’etá mod erna cond otto con i criteri e second o i gusti
nostri» (2). Ramón Ceñal acrescenta: «Su versión latina es ya por si
misma, un monumento d e los que más pued en honrar el escolasticismo
humanista d e aquella época. Mod elo magnífico d e precisión e claridad.
La d ifícil prosa d el estagirita se torna fluid a y transparente al brotar
de los puntos de su pluma, ya vestida de romano verbo» (3).

C. —A Isagoge Philosophica, publicada em Lisboa, em 1591, é um


pequeno opúsculo in 8.°, 105 x 106, com 66 páginas. Foi escrito a
ped id o d os alunos que d esejavam uma Introdução às Categorias «mais
cheia d e d outrina e mais certa d e verd ad e e mais ad aptad a ao uso geral
das ciências» (4) que a Isagoge de Porfirio.

(1) Ernst Lewalter, Spanisch-Jesuitische und Deutsch-Lutherische Meta­


physik des 17. Jahrhunderst, Ibero-Amerikanisches Instituí, Hamburg. 1935, p. 25,
nota 1.
(2) Armando Carlini, Note sul Fonseca, em «Italia e Spagna», Firenze,
Le Monnier, 1941, p. 251-252.
(3) Ramón Cenal, Pedro da Fonseca (1528-1599). Su crítica dei Texto de
la «Metaphysica» de Aristóteles, em «Revista de Filosofia», Madrid, t. 2.°, fase. 4.°
(1943), p. 146.
(4) «Scripsit ante multa saecula Porphyrius Phoenix ad Chysaorium Romanum
eam Isagogen de quinque universalium generibus, quae ante librum Categoriarum
Aristotelis explicari solet. Verum ex eo tempore quo sacra Theologia via, et ratione
tradi coepit, tanta rebus Philosophicis ex assidua Theologorum de rebus maximis
et difficilimis disputatione accessio facta est cognitionis et scientiae; ut jam diu plane
constet, multa illum ea de re latuisse; non pauca etiam ab eo minus perspecta fuisse,
quae nostris temporibus jam inde ab ipso Categoriarum vestibulo Philosophiae
alumnos necesse est praelibare. Mitto complura ejus libelli supervacanea esse, aut
parum cohaerentia, quaeque lectoribus frustra negotium exhibeant. Qua de causa
optarunt nostri, ut alia Isagoge a me conficeretur, et plenior ad doctrinam, et ad
veritatem certior, et ad generalem scientiarum usum commodior». {Isagoge Philo­
sophica, Auctor Philosophiae Studiosis). Notem-se os inconvenientes que neste
livro viram os seus Superiores: «Lo 3 es que la Isagoge del P. Pero da Fonseca es
muy docta y grave pero para servir de texto tiene este inconveniente que el texto
ha de ser indifferente en questiones ventiladas y hazerlas [?] in utraque parte y el
es parcial en algunas opiniones y assi tiene por contrarios los que fueren de la contraria
opinión. Exemplo es que pone entia realia y que intellectus non cognoscit l.u ex
singularia. Quitadas estas opiniones parece quedaria mas texto» (Arquivo Romano S. J.
Lusitania, 71, fl. 64, Carta de Pero Luis a Aquaviva, Évora, 29 de Janeiro de 1592).

LIX
INTRODUÇÃO

Depois de um Proemium em que afirma a necessidade do estudo dos


universais, pois, «segundo a opinião comum dos filósofos, todas as artes
e ciências devem discorrer acerca de coisas universais...» (1), explana
os doze capítulos seguintes:

I — Quid sit universale (p. 5-9)


II — Quotuplex sit universale (p. 8-13)
III —De particularibus (p. 13-18)
IV — De abstractione universalium a singularibus (p. 18-24)
V — De triplici consideratione universalium, et particularium, et
quo pacto ea ad Dialecticam pertineant (p. 24-28)
VI — De duplici rerum universalium unitate (p. 28-33)
VII — De genere (p. 34-39)
VIII — Se specie (p. 39-46)
IX — De differentia (p. 46-52)
X — De proprio (p. 52-56)
XI — De accidente (p. 57-61)
XII — De aliis quibusdam universalium speciebus, quas ethnici
Philosophi non agnoverunt (p. 61-66).

A doutrina de Pedro da Fonseca sobre os universais é, quando possí­


vel, aristotélica (2).
Nos últimos anos do século xvi e no primeiro quartel do século xvu,
foram feitas muitas edições da Isagoge Philosophica. Com excepção
da primeira, todas as outras foram publicadas juntamente com as Ins­
tituições Dialécticas. Como atrás publicámos já o título completo
destas, referiremos, aqui, apenas o local, o editor e a data da edição:

1. —Isagoge / Philosophica. / authore Petro / Fonseca Lusitano


D. Theologo / Societatis Jesu / [IHS] / Olyssipone / Apud Antoniü
Aluarez. Anno Dfii 1591. — Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra: R — 9-27 e RB — 23-2.

2. — Ingolstadii, 1593. (Referida por Sommervogel, ob. cit.). 1 2

(1) «Communis Philosophorum sententia est, artes omnes, et scientias de


rebus universalibus disserere, nec de singularibus singulatim, nisi exempli aut induc­
tionis causa agere» (Proemium, p. 1).
(2) «...ex Aristotele, quoad fieri potest, depromamus omnia». (Proemium,
p. 3-4).

LX
INTRODUÇÃO

3. — Coloniae, apud Gosvinum Cholinum 1594.—Biblioteca de


Leninegrado.

4. — Ingolstadii, ex officina typographica Davidis Sartorii, 1595.


— Biblioteca da Universidade de Tubinga: Ab 32.

5. — Coloniae, apud Gosvinum Cholinum, 1596. — Biblioteca de


Leninegrado.

6. — Wirceburgi, apud Georgeum Fleischmann, 1956. — Biblioteca


Nacional de Viena: 71. X. 132.

7. — Coloniae, apud Gosvinum Cholinum, 1599. — Biblioteca da


Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma): P II 33 G.

8. — Ingolstadii, ex Typographia Adami Sartorii, 1600. — Biblioteca


Nacional de Roma: 12. 33. B. 1.

9. — Ingolstadii, ex Typographeo Adami Sartorii, 1604. — Biblioteca


da Universidade de Münster: S2 939w.

10. —-Coloniae, apud Gosvinum Cholinum, 1605. — Biblioteca


Nacional de Lisboa: S.A. 823 P. e S.A. 16680 P.

11. — Ingolstadii, Ex Typographeo Adami Sartorii, 1607. — Biblio­


teca Angelica (Roma): SS. 5-57.

12. — Leodii, in officina Henrici Hovii, 1608.—Biblioteca Geral


da Universidade de Coimbra: 2-8-13-17.

13. — Flexiae, apud Jacobum Rezé Typographum Regium, 1609.


— Biblioteca Nacional de Paris: R. 36178 e 36179.

14. — Coloniae, apud Petrum Cholinum, 1610. — Biblioteca Nacio­


nal de Lisboa: S.A. 15380 P. e S.A. 15383 P. e S.A. 4787 P.

15. — Ingolstadii, Ex Typographeo Adami Sartorii, 1611 —Biblio­


teca da Universidade de Munique: 8.° Philos. 551.

16. — Coloniae, apud Petrum Cholinum, 1611. — Biblioteca da


Pontifícia Universidade Gregoriana (Roma): P II 33 G.

LXI
INTRODUÇÃO

17. — Coloniae, apud Petrum Cholinum, 1616.— Biblioteca Nacio­


nal de Lisboa: S.A. 4788 P.

18. — Coloniae, apud Petrum Cholinum, 1623 — Biblioteca Nacio­


nal de Lisboa: S.A. 825 P.

D. — A penúltima edição das Instituições Dialécticas, aparecida


em Colonia, em 1623, atribui um novo livro a Pedro da Fonseca: Defini­
tiones, Divisiones, ac Regulae, ex Logica et Physica Aristotelis (1).
Embora encadernado juntamente com a referida edição das Instituições
Dialécticas no exemplar que conhecemos, existente na Biblioteca Nacio­
nal de Lisboa (S. A. 825 P.), tem «portada» e paginação própria, osten­
tando mesmo, nessa «portada», uma data anterior (1622) à da referida
edição das Instituições Dialécticas. Eis o título completo: Definitiones, /
Divisiones, / ac Regulae, / ex Logica et Physica / Aristotelis. / In gra­
tiam stvdiosorvm Philo- / sophicae iuuentutis, / Ad Dialecticam R. P.
Petri Fonsecae / soc. Jesu editae / [embl.: I H S] / Coloniae Agrippinae, /
Apud Petrum Cholinvm. / Anno M.DC.XXII.
Trata-se de um opúsculo de formato in 8.°, 148 X 96, com 56 pági­
nas. Começa por apresentar várias definições e divisões tiradas «ex
Isagoge Porphyriana» (p. 3-8). Seguem-se-lhes outras definições e
divisões tiradas «ex Antepraedicamentis» (p. 8-10); «ex Praedicamentis»
(p. 10-14), «ex Postpraedicamentis» (p. 14-17), «ex Libris de Interpre­
tatione» (p. 17-21), «ex Libris Priorum [Analyticorum]» (p. 21-29),
«ex Libris Posteriorum [Analyticorum]» (p. 29-33), «ex Libris Topi­
corum» (p. 33-35), «ex Libris Elenchorum» (p. 35-39), «ex Physica
Aristotelis, ac primo ex Libris Physicorum» (p. 39-48), «ex Libris de
Coelo» (p. 48-50), «ex Libris de Ortu» (p. 50-52), «ex Libris Meteoro-
logicoram» (p. 52-55), «ex Libris de Anima» (p. 55-56).
Cremos tratar-se de urna obra apócrifa. Com efeito, além de só
aparecer, pela primeira vez, 23 ou 24 anos após a morte de Pedro da
Fonseca, o estilo é diferente do do Mestre coimbrão. Além disso,
embora na portada da edição das Instituições Dialécticas a que vem apensa
se diga «ejusdem Authoris», o facto de a portada própria dizer «Defini­
tiones... ad Dialecticam R. P. Petri Fonsecae» sugere que se trata apenas
de um estudo de um dos muitos comentadores do «Aristóteles de Coim­
bra». 1

(1) Mandámos fazer microfilme e fotocópia desta obra, os quais se encon­


tram no Instituto de Estudos Filosóficos.

LXII
INTRODUÇÃO

*
**

Além destas obras impressas, restam vários Manuscritos que, com


maior ou menor certeza, têm sido atribuidos a Pedro da Fonseca:

1. — Na Biblioteca del Monasterio de San Lorenzo el Real de el


Escorial (Madrid), com a cota J. III. 5, existe o manuscrito In terminorum
introductionem, começado em 2 de Outubro de 1556(1). Este manus­
crito de 155 ff., que é um estudo sobre os termos e as figuras, tem o
seguinte incipit: «In nomine dni Jesu Christi incipiunt dictata in intro­
ductionem Terminorum a doctissimo ac religiossissimo Emanuele a
Fonseca ex Societate Jesu. Anno salutis nostrae 1556 sexto Non.
Octob.».
Embora com o nome de «Emanuel a Fonseca» é provável que seja
do autor das Instituições Dialécticas. Com efeito, o único jesuíta
com o nome de Manuel da Fonseca é do século xviii, e dedicou-se ao
apostolado missionário e não ao ensino da filosofia (2). Além disso,
a data e o assunto favorecem a hipótese da autoria de Pedro da Fonseca.
Efectivamente, o manuscrito está escrito em papel e com letra do
século XVI.
Tem o seguinte explicit: «Si Socrates currit, Socrates movetur:
sed Socrates non movetur; ergo Socrates non currit. Finis Argumen­
tationis sive Conseq: + Laus deo: — Gloria, laus et honor sit Rex
Christe, Redemptor. Spiritui Seto sit quoque laudis honorque» (3).

2. — Na Biblioteca do Balliol College (Oxford), com a cota 360,


existe o manuscrito de 30 ff.: In I-IV Metaph. Excerpta (4). Não
tem data e está escrito com duas letras diferentes do século xvii.
Diz assim o incipit: «Petri Fonsecae e Societate Jesu Commentarius
in primum librum Metaphysicorum Aristotelis. Proemium. De Aristo­
telis parentibus, etc. Aristoteles, omnium consensu, Author noster...».

(1) Cfr. Friedrich Stegmüller, Filosofia e Teologia nas Universidades de


Coimbra e Évora no século XVI, Coimbra, 1959, p. 65.
(2) Manuel da Fonseca nasceu na Diocese de Braga. Missionou no Brasil.
Deportado para a Itália em 1759, foi superior dos jesuítas portugueses de Roma.
Faleceu em Pesaro, em 20 de Junho de 1772. (Cfr. C. Sommervogel, ob. cit., col. 833).
(3) Forneceu-nos estas informações o Director da Biblioteca do Escoriai,
Rev. P.e Teodoro Alonso, em cartas de 27-VI-1960 e 13-vn-1960.
(4) Cfr. F. Stegmüller, ob. cit., p. 65.

LXIII
LXIV INTRODUÇÃO

O explicit reza: «Utrum genus in unica specie et species in uno individuo


conservari potest?... appelari potest species quidem infima conservari
potest?» (1).

3. —Na Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, com a


cota 2399, encontra-se um manuscrito que F. Stegmüller (2) atribui a
Pedro da Fonseca. O célebre investigador da cultura portuguesa
divide o referido manuscrito em três, apondo uma nova cota a cada um:

a) — In I-II De Anima: F 3 I. Começado em 4 de Novembro


de 1559, foi terminado em 27 de Janeiro de 1560. Ao cimo da f. 1,
lê-se: «Da Livr.a do Nouiciado de St.a Cruz de Coimbra».
Reza assim o incipit: «Quamquam omnia Aristotelis scripta, que­
madmodum testatur Themistius...». F. Stegmüller atribui-o, com cer­
teza, a Pedro da Fonseca.
b) — In III De Anima: F. 3 II [Coimbra 1560]. Tem o seguinte
incipit»: «Quia prioribus capitibus hujus libri...».
c) —In I-IV Metaph.: F 3 III. Diz assim o incipit: «Expositis
hactenus variis philosophiae partibus, restat, ut postrema pars contem­
plativae philosophiae declaretur».
F. Stegmüller parece hesitar, ao atribuir os dois últimos manuscri­
tos a Fonseca. Debruçámo-nos demoradamente sobre eles, mas não
chegámos a uma conclusão decisiva.

4. — Na Biblioteca Nacional de Lisboa, Fundo Geral 3960, II,


encontra-se o manuscrito Quaestio 78. De vitio usurae in mutuis a
P. D. Petro da fonsequa. Anno 1569. Com o formato 210 X 145 e
ocupando as ff. 18-45 v., tem este incipit: «De hac materia disputant
communiter Theologi in...», a este explicit: «et... piarum aurium
offensiva» (3).

5. — Ainda na Biblioteca Nacional de Lisboa, F. G. 4927, II, se


encontra o manuscrito In Isagogem Philosophicam Petri Fonsecae
Scholia. Com o formato 200 x 140, ocupa as ff. 10-26 v. e é de 1591.
É como segue o incipit: «Praefactionis loco illud unum, est quid

(1) Estas informações foram-nos amavelmente fornecidas por Vincent Quinn,


Assistant Librarían do Balliol College, em Carta de Junho de 1960.
(2) Cfr. F. Stegmüller, ob. cit., pp, 65 e 254-255.
(3) Cfr. F. Stegmüller, ob. cit., p. 65 e Mariana Amélia Machado Santos,
Manuscritos de Filosofia do século XVI existentes em Lisboa, Coimbra, 1951, p. 108.
INTRODUÇÃO L XV

dicam...». Diz assim o explicit: «...Quare praedicamentorum opus


aggrediamur. Finis universalium» (1).

6.— Também na Biblioteca Nacional de Lisboa, Fundo Geral 2804,


se encontra um códice que contém um amplo comentário à Prima
Secundae de S. Tomás de Aquino, qq. 1-20, a. 6 e qq. 49-114. O referido
manuscrito tem por título: «Expositiones in primam secundae divi Thomae
anno a nativitate Domini 1568 traditae a clarissimo magistro Molinas
Societatis Jesu». Embora o manuscrito tenha o nome de Molina,
o P.e José Maria Diez-Alegria é de opinião de que «las quaestiones 77
a 81 (foi. 301v.-335v. dei manuscrito) son, sin duda alguna, un comentario
dictado por Fonseca» (2).

7. — Na Biblioteca da Universidade de Salamanca encontra-se,


sob o nome de um jesuíta Pedro da Fonseca, o manuscrito intitulado
«De perfectionibus Christi et praedestinatione». Talvez seja de um
homónimo espanhol. (3).

3. PROJECÇÂO DE PEDRO DA FONSECA

Pedro da Fonseca não é apenas o maior filósofo escolástico por­


tuguês. É também o filósofo lusitano que gozou de maior projecção e
influência no estrangeiro. Só por si, a história editorial das Instituições
Dialécticas, dos Comentários e da Isagoge Filosófica é um argumento
irrefutável dessa enorme projecção e influência. Mas há mais. Em 1615,
apenas dezasseis anos após a sua morte, João Baptista Bosserel, Profes­
sor da Universidade de Graz (Áustria), deu algumas lições em que con­
frontou o pensamento lógico de Fonseca com o de Aristóteles. Essas
lições constituem parte do Ms. 1338 da Biblioteca da Universidade
de Graz, com o título: Synopses in quibus doctrina dialectica RÍ PJ Petri
Fonsecae ad ordinem Aristotelicum revocatur. Anno Domini 1615. Em

(1) Cfr. Mariana Amélia Machado Santos, ob. cit., p. 107-108,


(2) José Maria Diez-Alegría, Las lecciones de Teologia de Pedro da Fonseca
en la Universidad de Evora el año 1570. — Comunicação apresentada ao Congresso
da Universidade de Évora (1959).
(3) Cfr. Sommervogel, ob. cit., col. 840 e Supplément, col. 381. Aí se lê
que houve um jesuíta de nome Pedro da Fonseca, nascido em Granada em 1584.
Era Prepósito da Casa Professa de Sevilha cm 1644 e faleceu em Granada entre 1665
e 1668.
LXVI INTRODUÇÃO

Apêndice, apresentamos o texto latino d este manuscrito, acompanhado


da versão portuguesa.
Ainda no século xvn, foram escritas as Observationes Breves in
Fonsecae Dialecticas Institutiones que constituem parte do conteúdo
do Ms. 432 da Biblioteca da Universidade de Bordéus. O Instituto
de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras de Coimbra possui um
microfilme deste Manuscrito.
E não pod emos d eixar d e referir os manuais escolares usad os no
estud o d a Filosofia nos séculos xvu e xviii, pois — sobretud o os publi­
cad os por jesuítas portugueses —, na sua maioria, não são mais que
resumos ou adaptações da obra de Fonseca.
Foi, portanto, muito grande, no passado, a influência da obra do
filósofo de Proença-a-Nova. Reeditando as Instituições Dialécticas,
precisamente quatrocentos anos após a publicação da primeira edição,
fazêmo-lo com a consciência plena de que, ainda hoje, o Livro de Pedro
da Fonseca constitui uma norma segura da «Arte de Pensar».

4. A PRESENTE EDIÇÃO

Não foi sem penosas fadigas que levámos ao fim a edição do texto
latino e a ti adução de uma obra de relevo tão singular na cultura por­
tuguesa. Além da dificuldade inerente ao tema, acresce o facto de nem
sempre encontrarmos na língua portuguesa vocabulário técnico suficien­
temente consagrado que nos facilitasse a tarefa.
Procurámos enriquecer a presente edição com uma Introdução,
um índice Onomástico e um Apêndice. A Introdução limita-se a uma
nota bio-bibliográfica, cuja finalidade é situar as Instituições no conjunto
da obra de Fonseca e no ambiente cultural da época. Em nosso enten­
der, o seu maior contributo estará, sem dúvida, no inventário rigorosa­
mente objecti vo das edições de cada uma das obras do grande filósofo
português. O índice Onomástico, além de facilitar ao leitor consultas
mais pormenorizadas, oferece uma primeira e sumária visão de con­
junto das principais influências experimentadas pelo Autor. O Apêndice
tem sobretudo por objectivo documentar a extraordinária e rápida
projecção do «Aristóteles português» além fronteiras.
Ao publicarmos esta obra, não pretendemos tanto apresentar um
estudo sobre a Lógica de Pedro da Fonseca, como principalmente
coligir materiais que facilitem esse intento. Oxalá tão relevante empresa
possa um dia concretizar-se.
INTRODUÇÃO LXVII

Um trabalho de tal natureza e extensão dificilmente seria levado a


bom teimo sem o concurso de várias colaborações e ajudas. Como
testemunho de gratidão, cumpre-nos mencionar os nomes dos que dedi­
cadamente nos auxiliaram. Antes de tudo, com particular simpatia
e reconhecimento, prestamos homenagem a seis dos nossos antigos
alunos que nos deram valiosa colaboração: António da Silva Fróis,
António Simões, José Augusto da Encarnação Reis, Arménio Marques
dos Santos, José Dias da Silva e Manuel Pelino Domingues. Foram-
-nos também de grande utilidade as criteriosas sugestões do Il.mo e
Rev.mo Senhor Cónego José Augusto Rodrigues Amado e do Rev.°
Dr. Manuel Augusto Esteves de Aguiar, nossos antigos Professores,
bem como as do Rev.° P.e Anacleto Dias, S. J., do Rev.° P.e Emílio
Springhetti, S. J., do Rev.° Doutor Raul de Almeida Rolo, O.P., e as
do nosso colega e amigo Rev.° Dr. Manuel Augusto Rodrigues. Aju­
dou-nos na leitura de alguns manuscritos o Dr. Joaquim Tomás
Pereira.
Reviu todo o texto, em segundas provas, com rigorosa e modelar
meticulosidade, o Doutor Walter de Sousa Medeiros, a quem tributamos
aqui a nossa grata homenagem.
Desde há anos, o Doutor Arnaldo de Miranda e Barbosa acalenta
a esperança de reeditar toda a obra de Pedro da Fonseca. A presente
publicação inaugura a concretização desse ingente programa. Ao emi­
nente Mestre, que sempre acompanhou o nosso labor com um interesse
e um desvelo que muito nos sensibilizaram, aqui deixamos o testemunho
da nossa subida gratidão. A ele, como Director do Instituto de Estudos
Filosóficos e do Centro de Estudos de Filosofia e História da Cultura
anexo à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, fica devendo
a cultura nacional a publicação desta obra. Ao seu nome associamos,
num mesmo sentimento de reconhecida homenagem, o de outro nosso
Mestre, o Doutor José Sebastião da Silva Dias, sob cuja direcção ela­
borámos parte deste trabalho.
Ao Doutor Manuel Lopes de Almeida, Director da Biblioteca
Geral da Universidade de Coimbra, exprimimos o nosso reconhecimento
pelas facilidades que nos concedeu, sem esquecer os funcionários da
mesma Biblioteca, que sempre nos atenderam com extrema amabili­
dade. Igualmente nos cumpre registar a gentil prontidão com que
as principais Bibliotecas europeias responderam às nossas con­
sultas.
Ao Instituto d e Alta Cultura d evemos os subsíd ios para a elabo­
ração d esta obra, conced id os através d o mencionad o Centro d e Estudos
de Filosofia e História da Cultura.
LXVIII INTRODUÇÃO

Na pessoa do Doutor José de Azeredo Perdigão, do Prof. Dou­


tor Antônio Ferrer Correia e do Dr. José Raposo de Magalhães, agra­
decemos à Fundação Calouste Gulbenkian o subsídio concedido para
esta publicação.
É também com prazer que significamos a nossa muita simpatia
para com os empregados da Imprensa de Coimbra, L.da, pelo esmero
do seu labor.

Coimbra, 1958-1964.

Joaquim Ferreira Gomes


O texto da presente edição das Instituições Dialécticas
é o da edição de Coimbra, de 1575, absolutamente igual à
publicada na mesma cidade, em 1574.
O que a edição que serve de texto tem simplesmente a
mais que a primeira edição (Lisboa, 1564) é colocado entre
parênteses rectos. As divergências entre a edição de 1575 e
as edições de 1564 e de 1590 são colocadas em nota, ao
fundo da página. Quando, nessas notas, se não fizer refe­
rência à edição, trata-se sempre da de 1564. Se se tratar da
edição de 1590, a nota será antecedida por essa data, colocada
entre parênteses rectos.
As notas são referid as às letras maiúsculas marginais, con­
tand o-se, a partir d e cad a runa d elas, a linha a que d iz respeito
a nota. Quand o, na mesma página, d uas d essas letras forem
iguais, colocar-se-á entre parênteses curvos o número d o capí­
tulo a que se refere a nota. Por vezes, uma nota d iz respeito ao
texto assinalad o por várias letras maiúsculas. Quand o a nota
d iz respeito a um título, ou é d ifícil referi-la à letra marginal,
recorre-se ao emprego d e um asterisco. Por exigências gráficas,
as notas d o texto latino continuam-se, por vezes, na página do
texto português.
Conservamos a pontuação do texto latino, mas moderni­
zamos a grafia de algumas palavras e desdobramos algumas
abreviaturas. Na versão portuguesa, adaptamos a pontuação,
fazemos bastantes novos parágrafos e colocamos algumas pala­
vras em itálico, para dar mais realce e facilitar a compreensão.
Na página seguinte, reproduz-se o frontispício da edição
de 1575, que serve de padrão para o estabelecimento do texto,
sendo o selo da edição de 1564.
PETRO FONSECA DOCTORE
THEOLOGO SOCIETATIS IESV

Cum Privilegio Regio facultateque Inquisi­


toris et Ordinarii

CONIMBRICiE
Apud Io annem Barrerium

Anno 1575
INSTITUIÇÕES
DIALÉCTICAS
E M O I T O L I V R O S

POR

PEDRO DA FONSECA
D O U T O R E M T E O L O G I A
DA COMPANHIA DE JESUS

Com privilégio régio e licença do Inquisidor


e do Ordinário

COIMBRA
Oficina Tipográfica de João Barreira

Ano de 1575
TESTIMO NIV Μ

quod de his Dialecticis institutionibus de mandato clarissimi


Principis Henrici S. R. E. Cardinalis Supremique in Lusi­
tania Inquisitoris, tulit R. D. F. Antonius a S. Dominico
Theologice in Conimbricensi Academia primarius professor.
Perlegi hos Dialecticarum institutionum libros R. P. D. Petri
Fonsecce Societatis IESV, in quibus nihil reperi, quod legentium animos
possit offendere: imo vero doctrinam continent, et Christiance religioni
omnino congruentem, et perutilem iis, qui ad Philosophiam animum volent
applicare. Quare dignos censeo, qui typis mandentur. V. Id. Augusti.
M. D. LXXIIII.

F. Antonivs a S. Dominico

SVPREMI SACRAE IN QVIS ITIO NIS


CONSILII APPROBATIO

Habita ratione superioris testimonii facultatem concedimus, ut hi


Dialecticarum Institutionum libri imprimantur. Ac in vestibulo quidem
eorum perscribatur formula eiusdem testimonii, huiusque nostrce facul­
tatis. Pater vero e Societate IESV, cui id negotium mandatum fuerit
ab eiusdem Societatis Provinciali, videbit, an cum archetypo excusi libri
consentiant. Ulyssippone. VIII. Id. Sept. M. D. LXXIIII.

Leo Henricvs. Emmanvel de Coadros


PARECER

que, por ordem do ilustríssimo Príncipe D. Henrique,


Cardeal da Santa Igreja Romana e Inquisidor Supremo
de Portugal, emitiu, acerca destas Instituições Dialécti­
cas, o Reverendo Doutor Frei Antônio de S. Domingos,
professor de prima da Faculdade de Teologia da Univer­
sidade de Coimbra:
Li integralmente estes livros de Instituições Dialécticas do Reve­
rendo Padre Doutor Pedro da Fonseca, da Companhia de Jesus, nos
quais nada encontrei que possa ofender o espírito dos leitores: pelo
contrário, eles contêm uma doutrina não só absolutamente consen­
tânea com a Religião Cristã, mas também utilíssima àqueles que pre­
tendam dedicar-se aos estudos filosóficos. Por este motivo, julgo-os
dignos de serem impressos. Aos 9 de Agosto de 1574.

Frei António de S. Domingos

APROVAÇÃO DO CONSELHO SUPREMO


DA SAGRADA INQUISIÇÃO

Considerado o parecer acima aduzido, autorizamos que se impri­


mam estes livros de Instituições Dialécticas. Publiquem-se, porém,
no início da obra, os termos desse parecer e, bem assim, os da nossa
presente autorização. O Sacerdote da Companhia de Jesus a quem
for cometido tal encargo pelo Provincial da mesma Companhia terá
a seu cuidado velar por que a obra impressa concorde com o original.
Lisboa, 6 de Setembro de 1574.

Leão Henriques. Manuel de Quadros


APPROBATIO ILLV ST RI S SIΜI
AC REVEREN DISSIMI D. EM M ANVELIS
MENESII EPISCOPI CΟNIΜ BRI CENSIS

Libri Dialecticarum Institutionum a P. D. Petro Fonseca Societatis


JESV compositi excudi possunt. Nihil enim habent quod, aut Sacrosanctae
nostrae religioni, aut bonis moribus repugnet. Conimbricce V. Kal. Oct.
M. D. LXXIIII.
D. Emmanvel Episcopvs Comes.

A P P R O B A T I O [editionis 1590)

Ex commissione supremi sanctae Inquisitionis hujus regni concilii, facultatem


facio Antonio Barreriae hujus almce Conimbricensis academice Typographo, clenuo
excudendi libros Dialecticarum institutionum admodum R. P. D. Petri Fonsecce, prout
iam approbati a multis annis circunferuntur. Cal. Oct. 1590.
D. Franciscvs Pereira

Imprimase. Em Coimbra, a 8 de Outubro de 1590.


Dom Afonso, Bispo-Conde
APROVAÇÃO DO ILUSTRÍSSIMO
E REVERENDISSIMO D. MANUEL
DE MENESES, BISPO DE COIMBRA

Os livros de Instituições Dialécticas compostos pelo Padre Doutor


Pedro da Fonseca da Companhia de Jesus podem imprimir-se. Efecti­
vamente, nada encerram que vá contra a nossa santa religião ou os
bons costumes.
Coimbra, 27 de Setembro de 1574.
D. Manuel, Bispo-Conde

A P R O V A Ç Ã O [da edição de 1590]

Por comissão do Conselho Supremo da Sagrada Inquisição deste reino, con­


cedo a António Barreira, tipógrafo desta ínclita Academia Conimbricense, a facul­
dade de imprimir novamente os livros de Instituições Dialécticas do mui Reverendo
Padre Doutor Pedro da Fonseca, como já circulam aprovados desde há muitos anos.
1 de Outubro de 1590.
D. Francisco Pereira

Imprima-se. Em Coimbra, a 8 de Outubro de 1590.


Dom Afonso, Bispo-Conde
IES VS

AYTOR IN SECVNDAM
EDITIONEM

Pene coactus sum a me ipso, ut has institutiones,


tametsi doctorum iudicio, et multarum Academiarum longo,
ac utili usu comprobatas censoria animadversione recognos­
cerem. Nondum enim sextum earum librum absolveram,
cum opus mihi de manibus prope ereptum typographo
traditum est: qua de causa coactus sum, non modo sex
primos non satis examinare, sed duos etiam extremos in
ipso pene proelo summa festinatione conscribere. Verum
cum totam tractationem attentius relegerem, etsi nihil

PRAEFA TIO
[primae editionis — 1564]
PETRVS AFONSECA LECTORI S.

Adeo inops fuit politioris Liter at urae superior aetas, ut cum omnes, qui Philoso­
phice studia consectabantur, Aristotelici haberi vellent, paucissimi essent, qui Aristotelem
evolverent. Arbitrabantur enim Aristotelicam doctrinam planius, et expeditius in
summulis quibusdam, ac quaestionibus, quas diligentiarum industria pepererat, quam in
suo autore contineri. Sed quanquam magna ex parte id verum sit, non est tamen obs­
curum quantam iacturam fecerit Philosophia, ex quo haec docendi, discendique consuetudo
probari caepit. Quotus enim quisque est, qui gravem illam antiquorum eruditionem
hisce rivulis contentus, non dico consequi, sed aliqua ex parte imitari possit ? Hoc cum
animadverteret nostra hcec Conimbricensis Academia, aliarum quarundam recenti
exemplo et instituto ducta, eam docendi rationem ab ipsis veluti in cunabulis sequuta
est, ut in explicandis libris Aristotelis omne studium et operam collocandam existima­
ret. Quo autem ex ea re uberior fructus perciperetur, prudenter statuit, ut ea quotidie
prreceptor es dictarent discipulis, quce de re, quam explicassent, vel gravissimi autores
JESUS

[prefácio] do autor
À SEGUNDA EDIÇÃO

Senti-me, por assim dizer, obrigado a rever com aten­


ção de censor estas Instituições, apesar de aprovadas pela
opinião dos mestres e pelo longo e útil uso de numerosas
Academias. Com efeito, ainda não tinha concluído o
seu sexto livro, quando a obra, quase arrancada de
minhas mãos, foi entregue ao tipógrafo. Por esta razão
me vi obrigado, não só a não rever suficientemente os seis
primeiros, mas ainda a escrever os dois últimos quase
no próprio prelo, com a máxima pressa. Mas, ao reler
toda a exposição mais atentamente, embora não encontrasse

PREFÁCIO
[da primeira edição — 1564]
PEDRO DA FONSECA SAÚDA O LEITOR

De tal modo foi pobre de literatura brilhante a idade anterior que, ainda que
todos os que frequentavam os estudos de Filosofia quisessem ser tidos como aristo­
télicos, pouquíssimos eram os que estudavam Aristóteles. Efectivamente, julgavam
que a doutrina aristotélica se continha mais perfeita e proficientemente explanada
em certas súmulas e investigações elaboradas pelo zelo dos mais diligentes do que no
próprio autor.
Mas, embora isso, em grande parte, seja verdade, não é, todavia, desconhe­
cido quão grande detrimento experimentou a Filosofia, desde que começou a con­
sagrar-se este modo de ensinar e aprender. Quão poucos haverá, com efeito, que,
contentando-se com esses riachos, possam, não digo alcançar, mas imitar algum
tanto aquela profunda erudição dos antigos? Advertindo isto, a nossa Academia
Conimbricense, levada pelo recente exemplo e prática de algumas outras, seguiu
este método de ensinar por assim dizer desde o berço, julgando que todo o empenho
devia ser colocado na explanação dos livros de Aristóteles.
Mas, para que disto fosse recolhido proveito mais abundante, determinou
prudentemente que os professores ditassem todos os dias aos alunos aquelas coisas
que, acerca do assunto que expunham, ou gravíssimos autores houvessem exposto
10 INSTITVTIΟΝVM DIALECTICARVM PRAEFATIO

ferme reperi, quod magnopere mutandum videri posset, nolui


tamen prius opusculum de manibus deponere, quam nonnulla a
me fusius dicta in pauciora contraherem, contraque alia
brevius tractata latius explicarem, qucedam etiam adiicerem,
et alia detraherem, ac denique id efficerem, gwo Dialecticce
studiosis plus aliquid emolumenti me afferre posse existi­
marem. Ita spero recognitionem hanc omnibus nostros Socie­
tatis publicis gymnasiis, in quibus Dialecticce tyrones hoc
quasi prceludio philosophice ad Aristotelicam doctrinam
instituuntur, non mediocriter profuturam. Quod vero atti­
net ad reliquos Philosophice commentarios, quos in prima
editione, me conscripturum pollicitus sum, non est quod me
quisquam iure accusetgwod nihil hactenus ediderim. Vix
enim absoluta explicatione Porphyriance Isagoges, categoria­
rumque Aristotelis eas res non paucis annis obire coactus
sum, quce nihil otii ad scribendum permittebant. Mihi vero
tandem

optime dixissent, vel ipsi marte suo addenda esse iudicassent. Verum hcec docendi
ratio, etsi longe melior et utilior, quam illa superior habebatur, tamen ob assiduum
scribendi laborem, incredibilem discipulis (ut de prceceptoribus taceam) molestiam,
difficultatemque asserebat. Tempus etiam, quod in docendo, ac disputando utilius
poni potuisset, non sine magno incommodo in dictando consumebatur. Unde illud
evenire necesse erat, ut nec libri omnes, qui in curriculo Philosophice numerantur omnino
absolverentur, nec tam frequens esset, tamque diuturna, quam optabamus disputandi
exercitatio. Ut ergo et labori discipulorum consuleretur, et jactura, qualiscumque erat,
studiorum Philosophiae resarciretur, statuerunt Praepositi societatis nostrae, cui Regium
hoc liberalium artium Gymnasium nono ab hinc anno a christianissimo Rege Joanne
tertio traditum est, ut ego, quod in profitenda Philosophia aliquot annos possuíssem,
qua possem brevitate, et perspicuitate eos libros Aristotelis exponerem, qui auditoribus
Philosophiae explicari consueverunt. Fore enim existimabant, ut hac ratione, et mea
diligentia, et typographorum opera, non modo discendi labor minueretur, sed aliquid
etiam ad haec studia lucis, et utilitatis accederet. Ego vero cum mei tenuitatem ingenii
non prorsus ignorarem, quantum obedienti fas fuit, hoc onus, quod meis humeris impar
esse sentiebam, recusare conatus sum. Verum illi, in quorum ego voce Christum
agnosco, studio iuvandi alios commoti, meae potius facultatis, seu {ut verius loquar)
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — PREFÁCIO 11

quase nada que pudesse parecer dever ser muito alterado,


não quis, todavia, abrir mão da obra, antes de resumir mais
sucintamente alguns passos que anteriormente tratara com
mais desenvolvimento e, pelo contrário, desenvolver mais
largamente outros pontos expostos com mais brevidade,
juntar ainda alguns, suprimir outros e, finalmente, con­
seguir que, com isso, pudesse trazer mais alguma vantagem
aos estudiosos da Dialéctica.
Espero, assim, que esta nova edição não haja de
ser mediocremente útil a todos os colégios públicos da
nossa Companhia, nos quais os principiantes da Dialéc­
tica, com esta espécie de introdução à Filosofia, se pre­
param para a doutrina aristotélica. No que respeita aos
restantes comentários da Filosofia que, na primeira edição,
prometi vir a escrever, não há motivo para alguém me
acusar, com razão, de nada ter publicado até agora;
com efeito, apenas concluída a exposição da Isagoge de
Porfirio e das Categorias de Aristóteles, fui obrigado a
dedicar-me, durante não poucos anos, a assuntos que

de melhor ou eles julgassem dever ser acrescentadas de seu próprio engenho. Mas
este método de ensinar, embora fosse considerado muito melhor e mais útil que o
anterior, todavia, por causa do assíduo trabalho de escrever, implicava incrível
incômodo e dificuldade para os alunos (para não falar nos mestres). Gastava-se,
com o ditado, não sem grande inconveniente, um tempo que se poderia empregar
mais utilmente no ensino e na disputa. Poi isso, acontecia necessariamente que
nem se davam por completo todos os livros enumerados no curso de Filosofia nem
o exercício da disputa era tão frequente e tão duradoiro como seria para desejar.
Portanto, para que se obviasse ao trabalho dos alunos e se recompensasse
o detrimento, por menor que fosse, dos estudos de Filosofia, determinaram os supe­
riores da nossa Companhia, a quem, há nove anos, foi confiado este Real Colégio
das Artes Liberais pelo cristianíssimo rei D. João Terceiro, que eu, pelo facto de
ter dedicado alguns anos ao ensino da Filosofia, expusesse, com a brevidade e a
clareza possíveis, aqueles livros de Aristóteles que costumam ser explicados aos
alunos de Filosofia. Com efeito, julgavam que, deste modo, com a minha diligência
e com o trabalho dos tipógrafos, não só se atenuava o trabalho de aprender, mas
também alguma luz e proveito adviria a estes estudos.
Eu, porém, não ignorando por completo a exiguidade do meu engenho, tentei,
quanto a obediência mo permitiu, recusar este encargo que sentia ser desproporcio­
nado às minhas forças. Mas aqueles em cuja voz reconheço a Cristo, levados pelo
desejo de ajudar os outros, preferiram pôr à prova a minha capacidade ou (para falar
com mais verdade) a minha fraqueza a pôr de parte alguma oportunidade de serviço.
12 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM PRAEFATIO

aliquando redditus, in eam sententiam sum adductus, ut


ante omnia, constituerim libros primee Philosophice enarrare,
atque adeo in publicum emittere. Quod me ut facerem
cum alice causee impulerunt, tum vero ea potissimum, quod
hac scribendi ratione existimarem meam operam utiliorem
futuram, intermissionemque laboris mei multorum studiis
iampridem debiti non sine fcenore compensaturam. Etenim
cum nullum sit genus auditorum Philosophice, quibus primee
Philosophice libri (quos Metaphysicce vocant) familiares esse,
non debeant, ut qui passim a preeeeptoribus citentur, et ad
quos accuratior tractatio communium difficultatum, quee in
cceteris Philosophice libris incidunt scepissime reiiciantur,
hanc ego mihi ad scribendum, et Philosophice auditoribus ad
intelligendum facillimam viam esse iudicavi, si ea ante omnia
exponerem, quibus totius Philosophice principia, et

imbecillitatis periculum facere, quam ullam officii occasionem praetermittere voluerunt.


Quia igitur impositum mihi onus reiicere non possum, dabo quam diligentissime operam, ut,
quod in me est, si non aliorum votis satisfecero, certe eorum, quibus meae vitae rationem
commisi iussui non desim. ínterim tamen dum commentarios in Aristotelem, Porphyrii-
que Isagogen conscribo, has Dialecticas Institutiones, cum ut fidei nostrae pignus, tum
vero ut necessarias iis offero, qui intra limina Philosophiae recipi cupiunt. Id enim
negari non potest, Aristotelem alioquin disertissimum ita de industria, {quo tarda nimirum
ingenia exerceret), suam sententiam plurimis in locis occuluisse, ut praeceptoribus Dia­
lecticae necesse sit, non ante ad explicationem librorum ejus accedere, quam totius Dia­
lecticae adumbratam imaginem discipulis proponant. Sic enim fit, ut omnibus partibus
Dialecticae, quasi radio descriptis, multo planius et facilius ea, quae ab illo dicuntur
inte i ligantur. Nec tamen hi octo libelli eo consilio a me scripti sunt, ut ante Porphyrii
institutionem omnes explicentur {scio enim id commode fieri non posse) sed ut necessa­
riis, ac praecipuis quibusque initio expositis, reliqua in alium locum differantur. Satius
namque est si nonnulla ex tribus primis mensibus, quos utiliter Academia nostra in hujus­
cemodi primis institutionibus ponere consuevit, supersint, quam ut pars aliqua in hac
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — PREFÁCIO 13

nenhum tempo livre me deixavam para escrever. Porém,


regressando finalmente à minha disponibilidade, propus-me
o programa de, antes de tudo, comentar os livros da
Filosofia primeira e até de os publicar.
A fazer isto, impeliram-me, além de outras causas,
sobretudo esta: o julgar que, com este modo de exposi­
ção, a minha obra havia de ser mais útil e de compensar
com usura a interrupção do meu trabalho, já há muito
tempo devido aos desejos de muitos. Com efeito, não
havendo nenhum género de alunos de filosofia aos quais
não devam ser familiares os livros da Filosofia primeira
(a que chamam Metafísica), uma vez que eles são a cada
passo citados pelos professores e para os mesmos é rele­
gada muitíssimas vezes a discussão mais cuidadosa das
dificuldades comuns que se levantam nos restantes livros
da Filosofia, julguei que era para mim o método mais fácil
para escrever e para os estudantes de Filosofia o mais fácil
para entender, se expusesse, antes de tudo, aqueles temas
nos quais estão contidos os princípios e como que os

Visto, pois, não poder rejeitar o encargo que me foi imposto, esforçar-me-ei o mais
diligentemente possível para que, quanto de mim depende, se não satisfizer à expecta­
tiva dos outros, pelo menos não falte à ordem daqueles a quem confiei a disposição
da minha vida. Entretanto, porém, enquanto não escrevo os comentários a Aris­
tóteles e à Isagoge de Porfirio, ofereço estas Instituições Dialécticas não só como
penhor da nossa fé, mas também como necessárias àqueles que desejam ser introduzidos
nos umbrais da Filosofia.
Com efeito, não pode negar-se que Aristóteles, a despeito da sua extrema cla­
reza, de tal modo ocultou de propósito a sua opinião (decerto para exercitar enge­
nhos lentos), em numerosas passagens, que necessário se torna aos professores de
Dialéctica não empreender a exposição dos seus livros antes de apresentarem aos
alunos uma imagem esboçada de toda a Dialéctica. Assim, com efeito, acontece que,
expostas todas as partes da Dialéctica como que em esquema, muito mais cabal
e facilmente se entende o que por ele é dito. Nem, todavia, estes oito livrinhos
foram escritos por mim com o propósito de serem todos explicados antes do tratado
de Porfirio (sei, na verdade, que isto não pode fazer-se cómodamente), mas com o
intento de, expostas de início algumas coisas necessárias e principais, serem as res­
tantes diferidas para outro lugar. Com efeito, é preferível que sobrem algumas
matérias dos três primeiros meses que a nossa Academia costuma dedicar ao estudo
destas Instituições, a que alguma parte nesta descrição de toda a Dialéctica fique
por expor ou então se exponha de modo tão apressado que se prejudique a clareza
e a utilidade.
14 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM PRAEFATIO

quasi fundamenta con tinentur. His enim positis ac stabilitis,


costera et ab eis facilius intelligi {mutuo inde accepta multa­
rum rerum cognitione) et a me expeditius, et brevius explicari
posse, nemo est, qui non videat. Itaque compendium me
facturum existimavi, si a libris primee Philosophice exordirer.
In quorum explicatione etsi me liberius progredientem alice
nuper curce interceperunt, non tamen committam, quo­
minus coeptum opus, quantum per tempus licebit, finem
perducere festinem. Quce cum ita sint studiosorum Phi­
losophice auditorum erit nostri laboris in suis apud Deum
precibus meminisse, ut si quem fructum ex his initiis, et
quasi rudimentis Philosophice eius munere percipiunt, eum
ille dignetur iis, quos modo dixi, cceterisque commentariis
ad finem perducendis cumulare. Romee, vim. Idus Ianua-
rii. 1574.

totius Dialecticae descriptione desideretur, aut certe brevior sit tractatio, quam ut pers­
p icuitas et utilitas p atiantur. Possunt itaque sex p rimi libri a Calendis Octobris ad
diem natalem Domini exp licari; reliqui in eam anni p artem differri, in qua studia ob
immodicos calores remissiora esse solent. Ita enim fiet, ut sex illi aditum ap eriant ad
librum Categoriarum Aristotelis, ad libros de Interp retatione, deque p riori resolutione
{qui, ut equidem spero, excussis commentariis, dictandique lentitudine preeeisa ad calendas
usque Julias ennarrari poterunt) extremi autem duo ad libros de posteriori resolutione,
Topicorum, et Elenchorum, qui a studiorum instauratione inchoabuntur, viam muniant.
Eo autem libentius hoc quasi integrum Dialecticae corpus confeci, quod videam multos
prceclari ingenii iuvenes ab humanioribus literis ad juris peritiam statim commigrare, qui,
si vel hac institutione prius imbuantur, multo maiores facturi sint in illis literis progressus.
Faxit Deus optimus Maximus ut noster hic labor, qui in ejus gloriam, et multorum utili­
tatem confertur, et ipsi gratus sit, et prosit omnibus, qui in bonis literis institui volent.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — PREFÁCIO 15

fundamentos de toda a Filosofia. Com efeito, ninguém


há que não veja que, estabelecidos e consolidados tais
fundamentos, os restantes temas mais fácilmente por eles
são entendidos (uma vez que daí auferem o conhecimento
recíproco de muitas coisas) e por mim mais cómoda e
brevemente podem ser desenvolvidos. Pareceu-me, deste
modo, que escreveria um compêndio, se começasse pelos
livros da Filosofia primeira. Se bem que outras preocupa­
ções me interromperam recentemente, quando já seguia
com mais liberdade na exposição dos mesmos, não deixa­
rei, contudo, de levar rápidamente a bom termo a obra
começada, quanto o tempo mo permitir.
Atentas estas circunstâncias, será dever dos estudantes
de Filosofia lembrar-se do nosso trabalho nas suas orações
a Deus, de tal modo que se, por mercê do mesmo Deus,
algum proveito recolherem destes inícios e como que rudi­
mentos de Filosofia, Ele se digne enriquecê-lo com aqueles
comentários de que há pouco falei e com outros que tenho
em mente levar a cabo.

Roma, 6 de Janeiro de 1574.

Podem, portanto, os seis primeiros livros ser expostos desde o dia um de Outubro
até ao dia de Natal; os restantes podem deixai-se para aquela parte do ano em que
os estudos, por causa do calor excessivo, costumam ser mais afrouxados. Assim,
com efeito, sucederá que aqueles seis preparem o caminho para o livro das Categorias
de Aristóteles, para os livros da Interpretação e para os Primeiros Analíticos (os quais,
como espero, depois de explicados os comentários e com a lentidão própr ia do ditar,
poderão ser comentados até ao dia um de Julho), os dois últimos, porém, preparem
o caminho para os Segundos Analíticos, os Tópicos e os Elencos, que se iniciarão
ao recomeçar os estudos.
Com mais agrado, porém, compus este como que corpo inteiro de Dialéctica,
por ver que muitos jovens de notável engenho passam imediatamente das humanida­
des para o estudo do Direito, os quais, se acaso fossem primeiro instruídos com estes
tratados, muito maiores progressos haveriam de fazer naquelas disciplinas.
Permita Deus, sumo Bem e suma Grandeza, que este nosso trabalho, elabo­
rado para Sua glória e utilidade de muitos, não só a Ele seja agradável, mas tam­
bém aproveite a todos os que queiram instruir-se nas boas letras.
ARGVMENTA*
IN O M N E S L I B R O S

'i Primus liber propositis iis, a quibus quasi fundamentis


totius artis constitutio surgit, explicataque natura nominis,
et verbi, quce sunt apud Dialecticum prima orationis ele­
menta, eas nominum, et verborum nuncupationes exponit,
quce crebrius usurpantur.
1 Secundus disponit nomina omnia, et verba in quas­
dam veluti classes, quce prcedicamenta appellantur, expositis
primum, Genere, Specie, Differentia, Proprio, et Accidente,
quibus ignoratis prcedicamenta intelligi nullo modo possunt.
1f Tertius agit de oratione, eiusque formas ad coniunctas
usque enunciationes persequitur: nec omnino eas, quce expo­
sitione indigent, prcetermittit.
1Ϊ Quartus ad dividendi rationem totus confertur.
1Ϊ In quinto de definitione disseritur.
lf Sextus explicata imprimis consequentiarum vi et
natura, argumentationem, eiusque quatuor prima genera
pertractat, Syllogismum, Enthymema, Inductionem et Exem­
plum. Qua in parte non tantum peritia iudicandi de apta,
et vitiosa argumentatione traditur, sed etiam ostenditur
generalis quccdam via, et ratio ad medium, argumentumve
inveniendum.
1Ϊ Septimus agit de demonstratione, ac syllogismo dia­
lectico. Quorum causa locos commonstrat, e quibus omnia
argumentorum genera depromi possint. Tum disserit de
ordine. Sic enim Aristoteles eam judicii partem appellat,
qua argumentorum inter se dispositio continetur.

Argumentum.
SUMÁRIO
DE T O D O S O S L I V R O S

lí O primeiro livro — uma vez proposto aquilo de


que, como dos fundamentos, se ergue a construção de
toda a arte, e explicada a natureza do nome e do verbo,
que são, para o Dialéctico, os primeiros elementos da
oração — expõe as denominações dos nomes e dos verbos
mais frequentemente usadas.
lí O segundo — expostos, primeiro, o género, a espécie,
a diferença, o próprio e o acidente (pois, ignorados estes,
de modo algum se podem entender os predicamentos) —
dispõe todos os nomes e verbos em determinadas classes,
chamadas predicamentos.
lí O terceiro trata da oração e enumera as suas formas
até às enunciações conjuntas, sem esquecer também as que
precisam de exposição.
lí O quarto é todo dedicado ao método de dividir.
lí No quinto, discorre-se acerca da definição.
lí O sexto — explicadas, primeiramente, a força e a
natureza das consequências — estuda a argumentação e
os seus quatro primeiros géneros: silogismo, entimema,
indução e exemplo. Neste livro, não só se ensina a arte
de julgar da argumentação apta e viciosa, mas também se
mostra uma via geral e um método para encontrar o meio
ou argumento.
lí O sétimo trata da demonstração e do silogismo
dialéctico. Por causa destes, são indicados os lugares de
que se podem extrair todos os géneros de argumentos.
Então, discorre sobre a ordem — pois é assim que Aristó­
teles chama àquela parte do juízo em*que se contém a dis­
posição dos argumentos entre si.
2
18 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM ARGVMENTA

Octavus tandem explicat fallaces syllogismos (Pseu-


dograp hum ille, et Sop histicum nominat) wi Dialecticus
expedite intelligat quomodo eludendos sint sophistarum
captiones. Quod ut commodius fiat, ea, quae recentiores
de usu nominum {quam suppositionem vocant) deque aliis
quibusdam nominum affectionibus utiliter tradiderunt, mode­
rate adiungit.

T Y P O G R A P H V S A D L E C T O R E M [editionis 1590]

Jam tibi tertio in hoc regno Portugaliae excussam damus institutionem Dialecti­
carum qucestionum, emmendatius quantum potuimus, et ut tuae necessitati consuleremus
p ariter et brevitati, in duos tomos divisimus totum op us; dabimus op eram ut quam
citissime secundum absolvamus. Vale et fruere.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — SUMÁRIO 19

1f O oitavo, finalmente, explica os silogismos fala­


ciosos (a que ele chama pseudógrafos e sofísticos), para
que o Dialéctico fácilmente entenda como devem ser frus­
tradas as artimanhas dos sofistas. Para que isto se faça
mais cómodamente, acrescenta, com moderação, o que os
modernos utilmente ensinaram acerca do uso dos nomes
(a que chamam suposição) e acerca de algumas outras
propriedades dos nomes.

O T I P Ó G R A F O A O L E I T O R [da edição de 1590]

Apresentamos-te agora, impresso pela terceira vez neste reino de Portugal, o


tratado das Instituições Dialécticas, em edição tão revista quanto nos foi possível,
e, não só para atender à tua necessidade, mas também igualmente à brevidade, divi­
dimos toda a obra em dois tomos; esforçar-nos-emos por concluir o segundo, o mais
brevemente possível. Adeus e aproveita.
INSTITVTIONVM
DI A L E C T I C A R V M

LIBER PRIMVS

De necessitate, nominibus et natura huius artis

Capvta1

Cum omnis doctrina, quce. ratione perficitur, disserendo (id est, ex A


notis ignotum aliquid oratione patefaciendo) tradatura : in disserendo
a 1. post. 1. et autem, multi errores contingant: necessario ars aliqua qucerenda fuit,
meta. 7. tex. 48.
Cur haec ars neces­ quce aptas disserendi formas ostenderet, ne falsa doctrina pro vera ali­
saria.
quando obreperet. Hanc artem, qui primi invenerunt Dialecticam nomi­
b Refert hoc narunt: postea veteres Peripatetici Logicam appellaveruntb . Et recte B
Boetius ad Top. Cice.
Notatio nominum
quidem utrique. Nam Dialectica dicitur Latine disserendi ratio sive
huius artis. doctrina. Quod enim Grcecis est Διαλέγεσθαi unde Dialecticce nomen

c Lib. de Fato. ducitur, idem est Latinis disserere. Eadem nominis interpretatio,
vel Cicerone authorec in Logica verbum convenit. Obscura, inquit,
quaestio est, quam περί δυνατών appellant: totaque est Logica, quam
Finis Proprius huius
artis. rationem disserendi voco. Quin etiam eadem oratio facile, et expedite
naturam huius artis ex proprio fine declarat. Nam etsi ipsum disserendi
opus omnibus disciplinis commune est (omnes siquidem ignorationem ali­
quam ex notis, et confessis depellunt) docere tamen quonam modo disse­
rendum sit, ad eamque rem communes leges ac praacepta tradere, hoc
d Alber. Mag. sibi Dialectica ut proprium finem, quo a cateris distinguitur, vendicavit d .
in Porphy. tract. 1.
Definitio Dialecticae. Aptissime igitur definitur Dialectica Disserendi doctrina, quasi Ars, quce q

docet omnes formulas disserendi, hoc est, incognita ex cognitis oratione


patefaciendi. Hinc fit ut non sine causa dixerint gravissimi authores, hanc
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS

LIVRO I

Capítulo l

Da necessidade, nomes e natureza desta arte

A Uma vez que toda a doutrina construída pela razão se comunica


discorrendo (isto é, patenteando numa oração algo desconhecido a
a Segundos Ana­
partir de coisas conhecidas)a, e porque, no discorrer, surgem muitos líticos, I, 1. Metafí­
erros, foi necessário procurar uma arte que fornecesse normas seguras sica, II, 7, text. 48.
de discorrer, para evitar que, uma vez ou outra, uma falsa doutrina Porque é necessária
esta arte.
se insinuasse como verdadeira. Os primeiros a descobrir esta arte
deram-lhe o nome de Dialéctica; posteriormente, os antigos peripatéti- b Opinião ex­
pressa por Boécio nos
B cos chamaram-lhe b Lógica. E uns e outros com razão. Na verdade, Tópicos de Cícero.
o termo Dialéctica corresponde, em latim, à expressão método ou Notação dos nomes
desta arte.
doutrina do discorrer. Com efeito, o que para os gregos é διαλέ- c Do Destino.
γεσθαι, verbo de onde deriva o termo Dialéctica, é para os latinos
disserere. Ora a mesma interpretação do nome, segundo Cícero c,
pode aplicar-se à Lógica no sentido literal. É — diz — complicada
a questão a que chamam περί δυνατών; e o mesmo se dá em abso­ Fim próprio desta
luto com a Lógica, a que chamo método de discorrer. arte.
Além disso, o mesmo discurso esclarece fácil e claramente a
natureza desta arte, pelo fim que lhe é próprio. Com efeito, ainda
d Alberto Ma­
que a própria acção de discorrer seja comum a todas as disciplinas (pois gno no Tratado sobre
todas afastam de uma certa ignorância a partir de coisas conhecidas e Porfirio, I.
manifestas), ensinar, contudo, como se deve discorrer e, para isso, for­ Definição de Dialéc­
necer leis comuns e preceitos, reivindicou-od a Dialéctica como fim tica.

próprio, pelo qual se distingue das outras [disciplinas]. Portanto,


C com muita propriedade se define Dialéctica como doutrina do dis­
correr, como Arte que ensina todas as fórmulas de discorrer, isto é,
de revelar pela oração o conhecido, a partir do desconhecido. Daqui
22 INST1TVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER I

e Plato. 7. de unam facultatem certeris omnibus formandis artibus esse necessariam:


Rcp.
/ D. August. 3. quam proinde aliuse apicem disciplinarum alius f disciplinam, alius S
contra Academ. et
2. de ord.
et artium maximam, et lucem omnium appellare non dubitat.
g Cicer, de da­
ris orat.

Definitionem Dialecticae ex Topicis desumptam non


convenire in totam hanc artem

C A P V T 2

Sed aliquis fortasse parum attente ingrediens, in ipso statim limine a


Obiectio.
offendet, dicetque, eam, quam nos tradidimus Dialecticae definitionem, non
esse Aristotelicis probandam, quod alia circunferri soleat ex initio Topi­
corum Aristotelis a in hunc modum desumpta, Dialectica est methodus,
a cap. 1.
sive ars ratiocinandi de quacumque qucestione proposita ex probabilibus.
Dilutio. Occurres tamen Aristotelis consilium non esse, ut ex loco citato eliciatur β
b 1. Rhet. ad totius Dialecticce definitio (cum alibib asserat ad Dialecticam pertinere
Theod. 1.
ut agat de omnibus syllogismis, hoc est, ut sit generalis qucedam ars ratio­
cinandi, sive ex probabilibus argumentis, sive ex necessariis) sed ut depro­
matur inde definitio cuiusdam partis, qua, quia usu frequentíssima est,
suo quasi iure nomen totius artis velut proprium sibi vendicat. Itaque
definitio illa, quam tradidimus, quasi totius artis generalis definitio amplec­
tenda est.

De subiecto Dialecticae

Capvt 3

Ex his facile intelliges, subiectum attributionis Dialecticae (ad quod \


Subiectum Dialect. nimirum tota eius consideratio refertur) esse orationem, qua incognitum
ex cognitis aperitur. Namque in hac una tradenda, et explicanda, omnis
Dialecticorum cogitatio, curaque consumitur, ut. ex dictis apertum est.
a In Oratore Hanc Ciceroa quasi aliud agens, Orationem Philosophorum appellat,
ad Brutum.

C6 — non dubitat. Praescribit siquidem omnes disserendi modos, quibus quaeque


doctrina comparatur, ac continetur, ut dictum est.
A 4 (cap. 2) — / Top. 1 (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 23

resulta que não foi sem motivo que autores de grande peso disseram
e Platão, Re­
ser esta a única faculdade necessária à formação de todas as outras pública, 7.
artes, à qual, por isso, não duvidaram alguns6 chamar cume das dis­ / St°
Agostinho, Contra os
ciplinas, outros / disciplina [das disciplinas], outros^ ainda a maior Académi­cos, 3; e
das artes e luz de todas. Da Or­dem, 2.
g Cícero,
Dos Oradores Ilustres.

Capítulo 2

A definição de Dialéctica tirada dos Tópicos


não convém a toda esta arte Objecção.

A Mas talvez alguém, que entre pouco atento, tropece logo de entrada,
dizendo que a definição que demos de Dialéctica não está de acordo
com a dos aristotélicos, pois outra é a que se costuma divulgar, tirada,
do modo seguinte, do início dos Tópicos de Aristóteles": Dialéctica é a Cap. 1.
o método ou arte de raciocinar, a partir de coisas prováveis, acerca de
qualquer questão proposta.
B Atalhar-se-á, todavia, não ser intenção de Aristóteles que, do Solução.
lugar citado, se deduzisse uma definição da Dialéctica toda (uma vez
que, em outro lugarb, diz ser próprio da Dialéctica tratar de todos os b Retórica a
silogismos, isto é, ser uma certa arte geral do raciocínio, quer a partir Teodoreto, I, 1.
de argumentos prováveis, quer de necessários), mas que se extraísse
uma definição de determinada parte, que, por ser de uso muito frequente,
como que por direito reivindicou para si, como próprio, o nome de
toda a arte. E, assim, a definição que demos deve tomar-se como defi­
nição de toda a arte.

Capítulo 3

Do objecto da Dialéctica

A Disto, facilmente se entenderá que o objecto próprio da Dialéctica Objecto da Dialéc­


(ao qual se aplica obviamente toda a sua análise) é a oração pela qual, a tica.

partir do conhecido, se mostra o desconhecido. Com efeito, é em trans­


miti-la e em explicá-la que se consome todo o pensamento e cuidado dos a No Orador,
dialécticos, como se torna evidente pelo que fica dito. Cícero a — como a Bruto.
se tratasse de outra coisa — chama-lhe oração dos filósofos, por esta
24 INSTITVTIONVM D1ALECTICARVM LIBER I

ea de causa (ut arbitror) quod Philosophis sit familiaris, ac pene propria.


Alio vero loco b Varronis personam sustinens, ut eam ab Oratorum per­
b Academ. se­
cundas cedit, lib. 1. petua, et fusa oratione distinguat, vocat Orationem ratione conclusam,
prasertim quia nihil est adeo proprium rationi, quam ut ex notis ad ignota
Recentiores progrediatur. Non desunt quoque ex recentioribus, qui Modum sciendi B
appellandam putent. Verum priores duce nuncupationes nonnihil obscuritatis
habent: tertia, si sciendi verbum proprie accipiatur, astrictior est, quam
res, quee significatur. Neque enim omnis oratio, quee ex notis ignotum
aliquid patefacit, scientiam parit, cum scepe opinionem, aut quandam
Disserendi modus.
aliam cognitionem efficiat. Ut ergo sequentia cum superioribus consentiant, C
c Caput. 5.
simulque apertior, ac planior sit nuncupatio, percommode vocari potest
Disserendi modus. Qua vero ratione Argumentatio, aut Syllogismus
recte dicatur subiectum Dialectica:, paulo c post dicemus.

De tribus generalibus disserendi modis, tr i busque


primis Dialecticae partibus

Capvt 4

Tres autem sunt generales disserendi modi, qui deinde in alios, atque A
alios minutius conciduntur: Divisio, inquam, Definitio, et Argumentatio.
Divisione, definitio­
ne, et argu. omnis His enim tribus quasi instrumentis omnis cognitio rei incognita: ex notis,
cognitio comparatur. ac perspicuis, conquiritur. Nam divisio tanquam diligens quadam explo-
ratrix, omnia rerum genera, et partes singulorum excurrens, totam
entis confusionem explicat. Tum deinde exploratis ita omnibus, et quasi
ante oculos positis, accedit definitio veluti lumen ad singula illustranda,
Duos tantum disse­ quee cum doceat, quid quaque res commune habeat cum cceteris, quid sibi
rendi modos posuit
Arist.
proprium, et peculiare, naturam, cuiusque suis finibus circunscribit.
Ad extremum argumentatio multo efficacior superioribus, quid preeterea
a Cap. 7. text.
48. Idem Alber. in
cuique conveniat, apta ratione concludit. Ex his tribus instrumentis, B
Porphy. tract. 1. quibus tres prima partes dialectica respondent, duo tantum posteriora
posuit Aristoteles primoa Methaphysicorum libro, cum dixit, omnem
disciplinam, aut demonstratione {id est argumentatione) aut definitione

B5 [1590]—patefacit sententiam parit...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 25

razão, segundo penso: é familiar e quase própria dos filósofos.


b Académicos,
Noutro lugar, porém, defendendo a pessoa de Varrãoè, para a segunda parte, livro I.
distinguir da perpétua e difusa oração dos oradores, chama-lhe oração
aperfeiçoada pela razão, sobretudo porque nada é tão próprio da
razão como progredir das coisas conhecidas para as desconhecidas. Os modernos.
B Não falta também, entre os modernos, quem julgue dever cha-
mar-se-lhe modo de saber. Mas as duas primeiras acepções têm algo
de obscuro; e a terceira, se o verbo saber se tomar no sentido pró­
prio, é mais restrita que a coisa que é significada. Com efeito, nem
toda a oração, que, partindo do conhecido, revela o desconhecido,
produz ciência, visto que, muitas vezes, manifesta uma opinião ou Modo de discorrer.
C qualquer outro conhecimento. Portanto, para que as coisas que se
seguem se harmonizem com as anteriores e, simultáneamente, seja c Cap. 5.

mais manifesta e clara a aplicação, muito a propósito se lhe pode


chamar modo de discorrer. Em breve, diremos a razão por que a
argumentação ou silogismo se diz, com razão, objecto da Dialéctica c.

Capítulo 4

Dos três modos gerais de discorrer


e das três primeiras partes da Dialéctica

A Há, contudo, três modos gerais de discorrer, os quais se dividem


ainda, bastante pormenorizadamente, em muitos outros. São eles:
a divisão, a definição e a argumentação. Com estes três como que
instrumentos se adquire, a partir de coisas conhecidas e evidentes,
todo o conhecimento de uma coisa desconhecida. Na verdade, a Todo o conhecimento
sc adquire pela divi­
divisão, como uma exploradora diligente, percorrendo todos os géne­ são, definição c argu­
ros das coisas e as partes de cada um explica toda a confusão do ser. mentação.
Em seguida, examinadas todas as coisas e como que postas diante dos
olhos, como luz a iluminar cada uma delas, vem a definição, que,
ensinando o que cada coisa tem de comum com as restantes c o que
lhe é próprio e peculiar, circunscreve nos seus limites a natureza de
cada uma. Por fim, a argumentação, mais eficaz que as precedentes,
conclui, por método adequado, o que, além de tudo aquilo, convém a Aristóteles só propôs
dois modos de dis­
cada coisa. correr.
B Destes três instrumentos, a que correspondem as três primeiras par­ a Cap. 7,
text. 48.
tes da Dialéctica, Aristóteles colocou apenas os dois últimos no livro
O mesmo em Alberto
primeiro a da Metafísica, quando disse que toda a ciência se adquire Magno no Tratado
ou por demonstração, isto é, por argumentação, ou por definição. sobre Porfirio, I.
26 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

b 2. post. 5. comparari. Divisionem vero, etsi aliob loco quendam cognoscendi


modum esse non negavit, tamen non tantum in ea momenti esse credidit,
ut ipsam faceret unum per se comparandce disciplinae instrumentum.
c Utinphcedro, Quam obrem ad definitionem, cui materiam subministrat, videtur eam
Sophista, et civili. revocasse. Planius certe hac in re locutus est Plato c, qui divisionem quasi C
d 1. de finibus. diversum disserendi modum a cceteris distinxit. Hinc Cicero d Epicurum
inscitiae coarguens, quod nullam Dialecticae partem attigerit, eandem hanc,
quam nos generalem tradidimus modorum disserendi divisionem plane
significavit. Iam in altera, inquit Philosophiae parte, quae est quaerendi,
ac disserendi, quae λογική dicitur, iste vester plane, ut mihi quidem videtur,
e In praefatione
inermis, ac nudus est; tollit definitiones: nihil de dividendo, ac partiendo
[Isagoges], docet: non quomodo efficiatur, concludatur que ratio tradit. Hinc etiam
Porphyrius e, ut significaret Isagogem suam universae Dialecticae condu­
cere, dixit, eam non modo ad categoriarum doctrinam {quo libro prima
/ 2. lib. de or­ omnium modorum disserendi elementa traduntur) sed etiam ad omnem
dine.
definiendi, dividendi, ac demostrandi rationem conferre. Hinc quoque D
divus Augustinus cum de origine artium loquitur, asserit, rationem
definiendo, dividendo, colligendo, non solum digessisse grammaticam,
sed etiam ab omni falsitatis irreptione defendisse, idque sine praesidio
g Boèt. initio Dialecticae, quam primo quasi partu edidisset, facere non potuisse: quasi
Top. Cicero. in his tribus generalibus disserendi instrumentis edocendis posita sit for­
matrix omnium artium Dialectica. Ita ergo fit ut tres sint generales dis­
serendi modi, in quibus tradendis tres primae Dialecticae partes versantur S.

Quod Aristoteles solam tertiam Dialecticae


partem ex instituto tradiderit

Capvt 5

a Magnus Al-
Illud tamen animadvertendum est, Aristotelem ex his tribus Dialec- A
bert. in Porphy. ticae partibus solam a tertiam ex instituto tradidisse. Nec enim de divisione,
tract. I.
b 2. post. et aut definitione, nisi quatenus ad inventionem argumentorum sunt utiles,
6. top.
Cur Arist. de sola disputavit [Aristoteles] b. Hoc autem vel ea de causa fecit, quod in defini­
argumentatione ex tione, ac divisione, quod ad Dialecticum attinet, minus negocii esse cre­
instituto disputet.
didit, quam ut per setractandce viderentur, vel quia in sola argumentionis

C10 — doctrinam {in quo libro...


A 3 — difinitione, non, nisi quatenus...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 27

Embora, em outro lugar não tenha negado que a divisão é um certo b Segundos
Analíticos, II, 5.
modo de conhecer, contudo, não acreditou ser ela de tão grande impor­
tância a ponto de fazer dela instrumento autónomo de adquirir ciência.
Por isso, parece tê-la reduzido à definição, à qual fornece a matéria.
c Como no
C Desta questão falou, com mais clareza, Platão c, que distinguiu Fedro, no Sofista, e
dos restantes a divisão, como um modo diferente de discorrer. Depois, no Político.
Cícero d, acusando Epicuro de ignorância, pelo facto de não ter alcan­ d Dos Fins, 1.

çado nenhuma parte da Dialéctica, claramente aludiu a esta mesma


divisão geral dos modos de discorrer, que nós apresentamos. Já na
outra parte da Filosofia, que respeita à investigação e argumentação e
que se chama Lógica—diz ele—esse vosso [autor], segundo me parece,
está o que se chama em branco: póe de parte as definições; nada ensina
sobre a divisão e a partição; nem expõe o modo de se realizar e con­ e No prefácio da
Isagoge.
cluir a argumentação. Depois, também Porfirio para marcar que a sua
Isagoge conduz a toda a Dialéctica, diz que ela leva não só à doutrina das
categorias (dão-se neste livro os primeiros elementos de todos os modos
/ Da Ordem, II.
de discorrer), mas também a todo o método de definir, de dividir e de
D demonstrar. Depois, até Santo Agostinho /, ao falar da origem das
artes, afirma que a razão, definindo, dividindo, inferindo, não só
originou a Gramática como a defendeu de toda a intromissão de erro,
o que não poderia ter feito sem o apoio da Dialéctica, que dera à luz,
como se fora em primeiro parto. É como se, ao ensinar os três meios
gerais de discorrer, a Dialéctica fosse arvorada em criadora de todas
as artes. Assim se verifica serem três os modos gerais de discorrer, de
cuja exposição tratam £ as três primeiras partes da Dialéctica. g Boécio no iní­
cio dos Tópicos de
Cícero.

Capítulo 5

Da razão por que Aristóteles só tratou expressamente


da terceira parte da Dialéctica
a Alberto
Magno, no Tratado
A Deve advertir-se, contudo, que, destas três partes da Dialéctica, sobre Porfirio, I.
Aristóteles apenas a tratou expressamente da terceira. Efectivamente, b Segundos,
Aristóteles não tratou b da divisão nem da definição, senão enquanto Analíticos, II; e Tó­
picos, VI.
são úteis para a invenção dos argumentos. Fez isto, porém, ou por­ Porque é que Aristó­
que julgou ser menos importante o que, na definição e na divisão, diz teles só tratou expres­
respeito ao dialéctico do que as coisas que, por si, parecem dever ser samente da argumen­
tação.
tratadas, ou porque só do tratado da argumentação, de que se arro-
28 INSTITYTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

tractatione, quam ipse sibi quasi primo autori arrogat, ex instituto labo­
c 1. meta. 6. et
13. meta. 4. randum sibi esse existimavit. Scepiusc enim definiendi doctrinam a
cl ut. 1. prio. 32. Socrate primum traditam affirmat. Dividendi rationem vehit Platonis
et 2. post. 5.
Socrates primus defi­
inventum saeped deprimit. At scientiam ratiocinationum, syllogismo-
niendi author. rumve {ad quos caetera argumentationum genera revocantur) adeo asseve­
Plato dividendi
Aristoteles ratioci­
ranter sibi ascribit, ut se de syllogismis nihil omnino ab aliis accepisse
nandi. affirmet e, proinde sibi primum, quod eorum artem ingenti labore invenerit,
e 2. elench. ex­
tremis verbis.
magnam gratiam deberi. Itaque ex tribus generalibus disserendi modis, B
/ In lib. Post. solam argumentationem, atque adeo solam fere eius praecipuam formam,
g In lib. Top. qua sillogismus, ratiocinatiove dicitur, tractandam suscepit Aristoteles.
Quatenus subiectum
Dialecticae recte Quam tamen ita tractavit, ut. non modo eas ratiocinationes, quae ex neces­
dicatur Argumentatio sariis argumentis rem confirmant, f sed etiam eas, qua ex probabilibus
aut Syllogismus.
h Ut Alb. Ma. verisimilibusve aliquid probant, § diligentissime sit persequutus. Hinc fit, C
in Porphy. tract. 1. ut qui Dialecticam ea tantum ex parte, qua ab Aristotele tradita est,
i Ut scot. ibi­
dem. considerant, merito asserant, Dialectices subiectum esse Argumenta­
Inventionem, et iudi- tionem, h aut certe Syllogismum, 1 ad quem reliquae argumentationum
cium ad doctrinam
Argumentationis formae rediguntur. Hac etiam ratione inieUigendum est dividi Dialecti­
pertinere. cam in partem inveniendi, ac iudiccmdi. Inventio enim {ut authores
huius divisionis definiunt) est ratio exquirendi argumenta: Indicium
vero est doctrina accommodandi haec ipsa ad propositum concludendum:
quorum utrumque ad tractationem argumentationis pertinere luc eclarius
I In Top. Ci. est. Quod si nomina inventionis, et iudicii latius accipiantur, quam ab D
authoribus huiusce divisionis exponuntur, non dubium est, quin ad totam
Dialectica artem hac divisio aptari possit. Nam sine inventione, et
indicio generali significatione acceptis, non solum argumentatio confici
non potest, sed ne ulla quidem definitio, aut divisio: id quod Boetius 1
diligenter annotavit. Verum de iis, ut de cateris, qua deinceps breviter
attingenda sunt, alio loco fusius disputabimus.

D6— diligenter advertit. Verum...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 29

gou como sendo o primeiro autor, julgou dever tratar expressamente.


Afirma, com efeito, muito frequentemente c, que a doutrina sobre a
definição foi primeiro ensinada por Sócrates. Muitas vezes, combate o
método de dividir como invenção de Platão d. Mas atribui-se tão asse-
veradamente a ciência dos raciocínios ou dos silogismos (aos quais se c Metafísica, I, 6;
e Metafísica, XIII, 4.
reduzem os restantes géneros de argumentação) que afirma e absoluta­ d Como nos Pri­
mente nada ter recebido de outros acerca do silogismo e, por isso, a si, meiros Analíticos, I,
32; e Segundos Ana­
pelo facto de ter encontrado, com imenso trabalho, essa arte, se deve
líticos, II, 5.
tamanha graça. Sócrates primeiro au­
B Assim, destes três modos gerais de discorrer, Aristóteles só tomou tor da definição; Pla­
tão, da divisão; Aris­
a iniciativa de tratar da argumentação e, tão-sòmente, quase só da tóteles, do raciocínio.
sua forma principal, que se diz silogismo ou raciocínio. Contudo, e Elencos, II,
trecho final.
tratou dela de tal modo que estudou com a maior diligência não
C só aqueles raciocínios que provam/ por argumentos necessários,
como também os que provam £ alguma coisa por [argumentos] pro­
váveis ou verosímeis. Daqui se deduz que aqueles que consideram a / Nos livros dos
Segundos Analíticos.
Dialéctica somente naquela parte que foi ensinada por Aristóteles, afir­ g Nos livros dos
mam, justamente, ser a argumentação h ou, melhor ainda, o silogismo Tópicos.
Até que ponto sc diz
ao qual se reduzem as restantes formas de argumentação, o objecto da rectamente que a
Dialéctica. Também por esta razão se deve entender que a Dialéctica argumentação e o
silogismo são o objec­
se divide numa parte de inventar e noutra de julgar. A invenção to da dialéctica.
(como os autores desta divisão a definem) é o método de procurar h Segundo Al­
berto Magno, no
argumentos; o juízo é a arte de acomodar estes mesmos em ordem a Tratado sobre Por­
concluir o proposto. Que ambas as partes pertencem ao tratado da firio, I.
i Segundo Scoto,
argumentação, isso é mais claro que a luz. no mesmo lugar.
D Mas se as palavras invenção e juízo se tomarem em sentido mais A invenção e o juízo
pertencem à doutrina
lato do que o sentido em que são apresentadas pelos autores desta
da argumentação.
divisão, esta divisão pode aplicar-se, sem a menor dúvida, a toda a
arte da Dialéctica. Com efeito, sem invenção e sem juízo, tomados
na sua significação geral, não só se não pode arquitectar argumen­ / Nos Tópicos de
Cícero.
tação, mas nem sequer definição ou divisão alguma — o que Boécio 1
diligentemente advertiu. Todavia, destas coisas, como das restantes
que em seguida devem ser abordadas sumariamente, trataremos mais
desenvolvidamente noutro lugar.
30 INSTITVTIONVM DlALECTICARVM LIBER 1

De partibus huius Institutionis *

Capvt 6

Quia igitur divisio, definitio, et argumentatio hoc commune habent, A


quod sint orationes, partes autem orationis sunt nomen 'd, et verbum
{nam ccetera omnia, quce in oratione cernuntur, aut ad nomen, et verbum
a Arist. 3. Rhe­
tor. ad The. revocantur, aut potius suplementa orationis, et colligationes partium
eius, quam partes, putanda sunt) primumb nos de nominibus, ac verbis
b Lib. 1. et 2. agemus, deinde c de oratione, postea tria illa orationum genera, divisionem,
c Lib. 3. inquam, definitionem, et argumentationem ita persequemur, ut primod
d lib. 4. loco de divisione, proximoe de definitione, extremo f de argumenta­
e lib. 5.
/ lib. 6, 7 et 8. tione disseramus. Sic enim et naturae, et doctrince ordinem tenebimus,
quorum ille a minus perfectis ad perfectiora, hic a facilioribus ad diffi­
Ordo natur*.
ciliora paulatim progreditur. Quod si quis obiiciat a literis quce mini- B
Ordo doctrinae.
Obiectio. mce sunt orationis particulce, ordiendam esse hanc tractationem, propterea
quod natura in rebus efficiendis a minimis ad maiora progrediatur: respon­
dendum est, ut naturce ordo in aliqua arte servetur, non esse opus, ut
Dilutio.
sumatur initium ab iis, quce omnino, ac simpliciter minima sunt, sed ab iis,
quce in ea arte sunt minima: literas autem, etsi simpliciter sunt minimce
partes orationis, tamen earum considerationem non pertinere ad Dialecti­
cam, sed ad Grammaticam. Ita non est cur a literis, et non potius a
g Hoc. lib. nominibus, et verbis, ordienda sit artis Dialectica? tractatio. Hanc ergo C
h Lib. 2 de nominibus et verbis disputationem bipartitam faciemus. Primum £ de
nominum, et verborum varia nuncupatione dicendum est: deindeh cogenda
i [In praedica­
mentis, et alibi saepe]. sunt omnia in decem quasi classes {quce Κατηγορίας id est prcedicamenta
ab Aristotele i dicuntur) ut facile inveniri possint ad omnia orationum
I A capite 19. genera struenda. De usu autem nominum, et verborum, quem recentiores
suppositionem vocant, deque aliis quibusdam eorum affectionibus extremo
harum institutionum [libro] f quod commodius in eum locum differri videan­
tur, disseremus.

* — De partibus, et ordine tractationis Dialecticae.


A 2 — [1564 e 1590) Plato in Sophista. D. August., initio Categoriarum.
Ammonius. Boèth. et D. Thomas in primum Periher. (cota marginal).
BI — Nec vero aliquis a literis...
B2 — tractationem putet, propterea...
B4—progrediatur. Nam ut naturae ordo...
B 4 — servetur non est opus...
B 6 — minima. Literae autem...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 31

Capítulo 6

Das partes desta Instituição


A Por conseguinte, uma vez que a divisão, a definição e a argumen­
tação têm de comum a circunstância de serem orações, e as partes da
oração são o nome a e o verbo (pois todo o resto da oração se reduz,
afinal, ao nome e ao verbo, ou então deve ser tido mais como suple­
mento da oração e traço de união das suas partes, do que como partes), a Aristóteles,
Retórica a Teodo-
trataremos, em primeiro lugar6, dos nomes e dos verbos; em seguida, reto, III.
da oração c; finalmente, exporemos aqueles três géneros de orações, a b Livro I e II.
saber, a divisão, a definição e a argumentação, de modo a discorrer­ c Livro III.
d Livro IV.
mos, primeiro d, sobre a divisão, a seguir e, sobre a definição, em último e Livro V.
lugar/, sobre a argumentação. Assim manteremos a ordem da natu­ / Livro VI, VII
e Vili.
reza e da doutrina: aquela, com efeito, avança, a pouco e pouco, do Ordem da natureza.
menos perfeito ao mais perfeito; esta, do mais fácil ao mais difícil. Ordem da doutrina.
B Mas se se objectar dever este tratado começar a partir das letras, Objecção.
que são as partículas mais pequenas da oração (visto que a natureza,
Solução.
nas coisas a realizar, progride das menores para as maiores), responder-
-se-á que, para se conservar em alguma arte a ordem da natureza, não é
necessário tomar como início aquelas coisas que são completa e simples­
mente as mais pequenas, mas as que, naquela arte, são as mais pequenas;
as letras, na verdade, embora sejam simplesmente as partes mais peque­
nas da oração, contudo, a sua análise não pertence à Dialéctica, mas à
Gramática. Assim, não há razão para que o tratado da arte da Dialéc­
tica comece pelas letras, em vez de começar pelos nomes e pelos verbos. g Neste livro.

C Repartiremos, portanto, esta exposição acerca dos nomes e dos ver­ h Livro II.
bos em duas partes: em primeiro lugar ", falaremos sobre as várias desi­ i Nos Predica­
mentos e, frequente­
gnações dos nomes e dos verbos; em seguida6, agruparemos todas as mente, em outros lu­
coisas como que em dez classes (que são por Aristóteles * chamadas cate­ gares.

gorias, isto é, predicamentos), a fim de que se possam encontrar fácil­ / A partir do


cap. 19.
mente para construir todos os géneros de orações. Do uso dos nomes
e dos verbos que os modernos chamam suposição, e de algumas outras
suas determinadas propriedades, falaremos no último livro1 destas Ins­
tituições, porque nos parece mais conveniente diferi-lo para esse lugar.

B 7 — earum consideratio non pertinet ad...


C2-C3— faciemus. Priori loco de nominum...
C 3 — dicendum est: proxime cogenda....
C7 — affectionibus ad finem harum institutionum...
32 INSTITVTJONVM DIALECTICARVM LIBER I

De quibus nominibus et verbis agendum sit

CA P V T 7

Nominum, et verborun tria sunt genera: quadam mente fabricata, A


quadam voce, alia scripta. Ea enim quee sunt in voce, sunt signa eorum,
Tria genera nomi-
num et verborum.
quee sunt in mente, et scripta eorum, qua in voce consistunta. Quam­
quam vero hac omnia ad Dialecticam pertineant (tradit enim Dialectica
a 1. peri. 1.
omnes disserendi modos, qui non modo externa oratione, sed etiam interna
perficiuntur) tamen ne tot genera nominum, et verborum confusionem
in progressu pariant, de solis vocalibus agendum est, prasertim cum
omnis disserendi ratio, qua in vocibus traditur, facile ad orationes mentis,
et scriptas possit accommodari. Sed obiiciet aliquis in hunc modum. B
Obiectio.
Vocalis oratio totam ex oratione mentis vim habet, teste Aristotele
b 1. post. 8.
qui hoc ipsum usque adeo verum esse putat ut fateatur demonstrationem,
qua omnium argumentationum firmissima est, et omnino syllogismum,
non in oratione externa, sed in ea qua in mente perficitur, consistere:
quod etiam in cateris disserendi modis pari ratione fateri necesse est:
igitur si unum tantum genus verborum, ac nominum tractandum videtur,
de iis, qua mentalia dicuntur potius, quam de vocalibus agendum est.
Dilutio.
Occurrendum est tamen, etsi oratio vocalis totam ex mentali vim habeat, C
Vocalis oratio ex tamen quia voces, quam conceptus, multo sunt, patentiores, et dilucidiores,
mentali vim habet.
in vocibus potius, quam in conceptionibus mentis, tradendam esse Dialec­
ticam, sicque de vocalibus potius nominibus, et verbis, quam de mentalibus
agendum esse. Id quocl Aristoteles, et cateri omnes non hac tantum
ratione fecerunt, sed etiam quia interna oratione nemo alterum docere
potest, mcognitaque ex notis alii patefacere, quod tamen quo pacto facien­
dum sit Dialecticus tradere debet. Eadem quoque ratione vocalia potius D
nomina, quam scripta tractantur a Dialecticis, quia nimirum vocalis
De solis vocalibus no­
minibus et verbis oratio longe clarior est, quam scripta. Accedit, eo quod multo etiam
agendum. communior, et usurpador. Nos igitur has ob causas solam vocalem
c Cap. 8. et 9. orationem tractaturi, de iis tantum nominibus, ac verbis, qua in voce
consistunt, disseremus. Sed quia perutile erit tria hac nominum, et ver­
borum genera prius inter se quoad significandi rationem conferre, ante c
omnia dicendum est, quid sit significare, quamque varia sint signorum,

B5— in mente efficitur, consistere...


B7-B8 — videtur, de mentalibus potius, quam...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS —LIVRO I 33

Capítulo 7

De que nomes e verbos devemos tratar


A Há três géneros de nomes e de verbos: uns construidos pela mente,
outros pela voz, outros pela escrita. Os que residem na voz são sinais
dos que estão na mente; e os escritos são-no daqueles que residem na
voz a. Mas, embora todos estes pertençam à Dialéctica (pois a Dialéctica Três géneros de no­
mes e de verbos.
ensina todos os modos de discorrer que se realizam não só por meio de
uma oração externa mas também interna), contudo, para que no desen­
a Da Interpre-
volvimento todos estes géneros de nomes e de verbos não gerem confu­ ção, 1, 1.
são, devemos tratar somente dos vocais, até porque todo o método de
discorrer, que é dado para as palavras, fácilmente se pode acomodar
às orações mentais e escritas.
B Mas objectar-se-á por esta forma: a oração vocal adquire a sua
força da oração mental, segundo testemunha Aristóteles b, o qual tem Objecção.
isto por tão verdadeiro que confessa consistir a demonstração, que é a b Segundos Ana­
mais firme de todas as argumentações, e, sobretudo, o silogismo, não líticos, I, 8.

na oração externa, mas na que é realizada na mente — e isto, é forçoso


confessá-lo, com igual razão, também para os restantes modos de dis­
correr. Portanto, se de um só género de nomes e de verbos parece
dever tratar-se, será dos chamados mentais, de preferência aos vocais.
C Deve, todavia, responder-se que, embora a oração vocal adquira Solução.
da mental toda a sua força, contudo, pelo facto de as palavras serem A oração vocal tira
muito mais patentes e claras que os conceitos, deve a Dialéctica ser apre­ a sua força da men­
tal.
sentada em palavras, de preferência a concepções da mente. E, assim,
deve tratar-se antes de nomes e de verbos vocais, que de mentais.
Assim procederam Aristóteles e todos os demais, não só por este
motivo, mas até porque, mediante uma oração interna, ninguém pode
ensinar outro ou, a partir do conhecido, tornar-lhe patente o desco­
nhecido. Deve o dialéctico indicar como isso, no entanto, se pode
fazer.
D Também, pela mesma razão, são tratados pelos dialécticos os nomes
vocais de preferência aos escritos, porque a oração vocal é, sem dúvida, Deve tratar-se só dos
nomes e dos verbos
muito mais clara que a escrita. E ainda porque é muito mais comum e vocais.
mais empregada. Por isso, nós, que por estas causas havemos de tratar c Cap. 8 e 9.
unicamente da oração vocal, discorreremos só acerca daqueles nomes
e verbos que residem na voz. Mas, porque será muito útil confrontar
antes c, entre si, estes três géneros de nomes e de verbos, quanto ao
modo de significar, dir-se-á, antes de tudo, o que é significar e como
3
34 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER I

d Cap. 10. et 11. ac significationum genera: deinde & aperiendum est, quo pacto conceptus,
e cap. 12. etc. voces, et scripta significent: tandem e ad explicanda ea nomina, et verba,
de quibus agere instituimus, aggrediendum.

De signis formalibus et insfrumentalibus

CapVT 8

Atque ut alte, et a capite significandi modos repetam, significare A


nihil aliud est, quam potentia: cognoscenti, aliquid representare. Cum
autem omne, quod aliquid representai, sit signum rei, que representatur,
efficitur ut quicquid rem aliquam significat, sit signum illius. Quare
Significare quid. cum is, qui loquitur, aut scribit, dicitur, significare sententiam, aut. volun­
tatem suam, non aliter id accipiendum est, quam quo pacto is, qui lignis
ignem admovet, urere ligna dicitur. Ut enim hic dicitur urere, quia
id applicat, quod urit, sic is, qui loquitur, aut scribit, dicitur significare
sententiam, voluntatemve suam, quia exhibet signa, que quid ipse sentiat,
aut velit significant: qualia sunt verba, scripta, nutus, et alia huiuscemodi.
Duíe signorun divi­ Porro signa duabus divisionibus, dispartiuntur: altera in signa formalia, B
siones. et instrumentalia (liceat enim ita loqui) altera in naturalia, et ex insti­
tuto. Signa formalia sunt similitudines, seu species quedam rerum signi­
Signa formalia.
ficatarum in potentiis cognoscentibus consignate, quibus res significate
percipiuntur. Huius generis est similitudo, quam mons obiectus impri­
mit in oculis: item ea, quam amicus absens in memoria amici reliquit:
item ea, quam quis de re, quam nunquam vidit in animo effingit. Dicuntur
Signa instrumentalia.
autem hec signa formalia, quia formant, et quasi figurant potentiam
cognoscentem. Signa instrumentalia sunt ea, que potentiis cognoscen- C
iiblis obiecta, in alterius rei cognitionem ducunt. Huius generis est
vestigium animalis in pulvere impressum, fumus, statua, et alia huius-
modi. Nam vestigium est signum, animalis, a quo impressum est: fumus
vero, ignis latentis: statua denique, Cesaris, aut alicuius alterius [homi­
nis]. Hec dicuntur signa instrumentalia, vel quia his quasi instrumentis,
conceptus nostros aliis significamus: vel quia quemadmodum artifex,
ut instrumento moveat materiam, necesse est, ut moveat instrumentum,
sic potentie ad cognoscendum, apte, ut hoc signorum genere rem aliquam

A 4 — sit signum eius.


B8 — haec formalia signa, quia...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 1 35

são variados os géneros de sinais e de significações; seguidamente d Cap. 10 e 11.


mostrar-se-á como significam os conceitos, as vozes e os escritos;
finalmente e, iremos à explicação dos nomes e dos verbos de que resol­ e Cap. 12 e ss.
vemos tratar.

Capítulo 8

Dos sinais formais e instrumentais.


A Para referir, remontando à origem, os modos de significar, dire­ O que é significar.
mos que significar nada mais é que representar algo a uma potência
cognoscente. Como, porém, tudo o que representa alguma coisa é sinal
da coisa que é representada, sucede que o que representa alguma coisa
é sinal dela. Por isso, quando se diz que aquele que fala ou escreve
significa a sua opinião ou vontade, isto não se deve tomar senão no
sentido em que se diz que aquele que põe fogo à lenha queima a lenha.
Com efeito, assim como se diz que este queima por aplicar o [fogo]
que queima, assim se diz que quem fala ou escreve significa a sua
opinião ou vontade por mostrar sinais que significam o que ele mesmo
sente ou quer: quais são as palavras, a escrita, os gestos e outros
deste género.
B Os sinais distribuem-se em duas divisões: uma, a dos sinais for­ Duas divisões dos
mais e instrumentais (seja lícito falar assim); outra, a dos naturais e sinais.
convencionais. Sinais formais são semelhanças ou certas imagens das Sinais formais.
coisas significadas gravadas nas potências cognoscentes, mediante as
quais as coisas significadas se percebem. Deste teor é a semelhança
que o monte situado em frente imprime nos olhos; igualmente a que
o amigo ausente deixa na memória do amigo; e também a que alguém
representa no espírito acerca de uma coisa que nunca viu. Estes sinais
dizem-se formais porque dão forma e em certo modo figura à potên­
cia congoscente.
C Sinais instrumentais são as coisas que, postas à frente das potên­ Sinais instrumentais.
cias cognoscentes, conduzem ao conhecimento de outra. Deste género
é a pegada de animal impressa no pó, o fumo, a estátua, e outros
assim. Com efeito, a pegada é sinal do animal que a imprimiu; o
fumo, de fogo latente; a estátua, finalmente, de César ou de qual­
quer outro homem. Estes sinais dizem-se instrumentais, ou porque
por eles, como instrumentos, significamos a outros os nossos conceitos,
ou porque, do mesmo modo que o artífice, para mover a matéria com
o instrumento, necessita de mover o instrumento, assim as potências
aptas para o conhecimento, para conhecerem alguma coisa, por meio
36 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

Discrimen inter signa cognoscant, necesse est ut illa percipiant. Hinc colliges apertissimum D
forma, et instr.
discrimen inter hac signa, et superiora: illa siquidem non sunt a nobis
necessario percipienda, ut ipsorum perceptione in rei significatce cogni­
tionem veniamus: heee autem nisi percipiantur, nemini cognitionem illius
Alterum discrimen.
adducent. Differunt etiam hac ratione, quod priora illa nec admodum
a Lib. de prin­
usitate nominantur signa, nec satis proprie dicuntur repreesentare, hac
cipiis Dialectic. vero posteriora, maxime. Unde divus Augustinusa quasi complexus
omnia, quee populari sermone signa dicerentur, hoc modo signum defi­
nivit. Signum est, quod et seipsum sensui, et preeter se aliquid animo
ostendit.

De signis naturalibus et ex instituto

Capvt 9

Signa naturalia. Signa naturalia sunt, qua? apud omnes idem significant: seu potius, A
quee suapte natura aliquid significandi vim habent. Quomodo gemitus
Signa ex instituto. est signum doloris, et risus, latitia. Signa vero ex instituto sunt., qua
ex hominum voluntate, et quadam quasi compositione significant. Quo- B
Ex impositione. rum rursus duo sunt genera. Nam qucedam significant ex impositione,
utpote voces, quibus homines colloquuntur, et scripta, quibus absentes
Ex consuetudine. inter se communicant: alia ex consuetudine, et communi usurpatione:
quo pacto ea, qua pro foribus appenduntur, significant res venales.
Significatio propria. Eorum porro, qua ex impositione significant, duplex est significatio:
propria, et impropria. Propria est, quam sibi signa ex prima imposi­
Impropria. tione vendicant: qualis ea est, qua vox Homo significat veros homines,
et Leo veros leones. Impropria est ea, ad quam ob aliquam rerum
Fere omnes tropi affinitatem signa traducuntur: cuiusmodi est illa, qua Homo significat
impropriam significa­
tionem continent.
homines depictos, et Leo viros fortes. Fere autem verba ad aliquem C
Vide Quintilianum modum (τρόπον Grceci vocant) traducta, et immutata, impropriam
lib. 8. cap. 6. et lib. 9. habent significationem, ut quee per Metaphoram, Catachresim, Metale-
cap. 1.
psim, et Metonymiam immutantur. Dixi autem fere, quia saltem quee
per Onomatopaiam significant non videntur improprie usurpari. Quis
enim dicat hanc dictionem Clangor imitatione rei fictam, improprie signi­
ficare sonum tuba, et [nomen] Latratus vocem canis domestici? De
Sinedoche, et Antonomasia alii indicent. Sed heee quee de propria, et

DI — ut haec signa percipiant.


D 4-D 5 — nemini alicuius rei cognitionem adducent.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 37

deste género de sinais, necessitam de os perceber. Daqui se dedu- Distinção entre sinais
D zirá a claríssima distinção entre estes sinais e os anteriores: com efeito, formais e instrumen­
tais.
aqueles não têm de ser necessàriamente percebidos por nós para, por
meio da sua percepção, chegarmos ao conhecimento da coisa signifi­
cada; estes, porém, se não são percebidos, a ninguém trazem o conhe­
cimento dela. Diferem também pela razão de que os primeiros nem Outra distinção.
são habitualmente chamados sinais, nem com grande exactidão se diz
que significam; mas estes últimos significam ao máximo. Daí que
Santo Agostinho a, como que abrangendo todos os que na conversação a Livro Dos
popular seriam chamados sinais, definiu o sinal deste modo: sinal é Princípios Dialecti­
aquilo que a si mesmo se mostra aos sentidos e, além de si, mostra cos.
algo ao espírito.

Capítulo 9

Dos sinais naturais e convencionais


A Sinais naturais são os que significam o mesmo para todos: ou, antes, Sinais naturais.
os que, de sua natureza, têm a propriedade de significar algo. Assim
como o gemido é sinal de dor, também o riso é sinal de alegria. Sinais
convencionais são os que significam por vontade e como que por Sinais convencionais.
B certa combinação dos homens. Destes há também dois géneros. Com
efeito, uns significam por imposição, como são as vozes com que os Por imposição.
homens conversam e os escritos com que, estando ausentes, comuni­
cam entre si; outros, por costume e uso comum. Deste modo, as coisas Por costume.
que estão penduradas às portas chamam-se coisas venais. Além disso,
a significação dos que significam por imposição é dupla — própria e
imprópria. Própria é a que os sinais reivindicam para si pela pri­ Significação própria.
meira imposição, como é aquela pela qual a palavra homem significa
verdadeiros homens e leão verdadeiros leões. Imprópria é aquela em
que os sinais se interpretam segundo alguma afinidade das coisas; é Imprópria.
deste teor aquela pela qual homem significa os homens de uma pin­
tura, e leão homens corajosos.
C Todavia, quase todas as palavras adaptadas e mudadas para algum Quase todos os tro­
modo (tropo, chamam-lhe os Gregos) têm uma significação impró­ pos têm significação
imprópria.
pria, como as que se mudam por meio da metáfora, da catacrese, da
metalepse e da metonimia. Porém, disse quase, porque, pelo menos as
que significam por meio da onomatopéia, não parecem ser usadas impro­
priamente. Pois quem dirá que esta dicção clangor, feita segundo Ver Quintiliano, li­
a imitação da coisa, significa impropriamente o som da trombeta, e vro VIH, cap. 6, e
livro IX, cap. 1.
latido a voz do cão doméstico? Acerca da sinédoque e da antono-
38 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER I

Categoremata. impropria significatione breviter attigimus, a Grammaticis petenda


sunt. Eorum rursus, quee proprie significant, quadam dicuntur Catego- D
a 4. Tusculan.
qiuest.
remata, quadam Syncatego rem at a. Categoremata, teste Ciceronea
appellantur ea, qua de quodam, aut quibusdam dicuntur, ut Crasus,
Tum res, tum signa Dives, et similia. Hac enim dictio Crasus, de uno quodam homine
rerum dicuntur cate­ dicitur, Dives, de multis. Nec refert quod Cicero nomine categorematis
goremata.
res significatas intelligat, nos vero ipsa signa rebus significandis imposita.
Utraque enim apte appellantur Categoremata, quasi Dicibilia, quia
Syncatego remata.
de uno, aut pluribus dicuntur. Syncategoremata vero (quasi dicas, E
categorematis conducentia) vocantur ea, qua non dicuntur de aliquo,
aut aliquibus, sed tamen categorematis, ut certum orationis sensum
efficiant, adiumentum afferunt: ut Crasi, Divitis, Docte, Sapienter,
Omnis, Nullus, Si, cum, Aut, Ab, et catera huiusmodi. Hac de variis
signorum, et significationum generibus videntur satis. Proximum est
ut, quo pacto conceptus, voces, et scripta significent, dicamus.

Quo pacto conceptus, voces et scripta significent


CAPVT 10

Primum discrimen Primum conceptus sunt signa formalia: voces autem, et scripta nurne- A
significationis con­ rantur in instrumentalibus, ut recentiores notant. Sunt enim conceptus
ceptum a significa­
tione vocum et scri­
quadam rerum significatarum similitudines in intellectu consignata,
pta. qua non necessario cognoscenda sunt, ut ipsarum interventu res signi­
ficata cognoscantur: voces autem, et scripta, sunt signa externa, qua,
Secundum discrimen.
nisi potentiis cognocentibus oblidantur, in cognitionem rerum significatarum
neminem inducent. Deinde conceptus sunt signa naturalia earum rerum, B
quas significant: voces autem, quibus colloquimur, et scripta, quibus cum
a I. peri. 1. absentibus communicamus, sunt signa ex instituto. Conceptus enim, ut
ait Aristoteles a, sunt Udem apud omnes hoc est, idem suapte natura apud
Tertium discrimen.
omnes significant: voces vero, et scripta, non item, ut satis apertum est.
b I. peri. 1.
Denique conceptus significant res immediate, id est, nullo alio interiecto C
signo: voces autem intervenientibus rerum conceptibus, quorum sunt
proxima signa, et notce, ut ait Aristotelesscripta vero non solum

A 3-A 4 — consignat ce, quas non necesse est cognoscere...


C 3 [1590] — 2. peri. 1. (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 1 39

másia, outros que ajuízem. Mas o que tocámos com brevidade sobre
a significação própria e imprópria deve ser requerido aos gramáticos.
D Ainda dos que significam propriamente, uns dizem-se categoremas, Categoremas.
a Questões Tus­
outros sincategoremas. Categoremas, segundo Cíceroa, são aqueles culanas, IV.
que se dizem de certo ou de certos, como Creso, rico, e outros seme­
lhantes. De facto, esta dicção Creso diz-se só de um certo homem;
rico, diz-se de muitos. Mas não importa que Cícero, pelo nome de
categorema, entenda as coisas significadas, e nós, os próprios sinais Tanto as coisas como
impostos às coisas a significar. Com efeito, ambos se chamam cate- os sinais se dizem
E goremas, como que dizíveis, porque se dizem de um ou de vários. categoremas.
Sincategoremas.
São chamados sincategoremas (como se se dissesse: condutores de
categoremas) aqueles que se não dizem de algum ou alguns, mas trazem,
contudo, um auxílio aos categoremas, dando um sentido determinado
à oração, como: de Creso, de rico, doutamente, sàbiamente, todo, nenhum,
se, com, ou, por e outros semelhantes.
Parece suficiente o que dissemos sobre os vários géneros de sinais
e significações. Vamos falar agora de como significam os conceitos, as
vozes e a escrita.

Capítulo 10

Primeira distinção en­


Como significam os conceitos, as vozes e a escrita tre significação dos
conceitos e significa­
A Primeiramente, os conceitos são sinais formais; as vozes, porém, ção das vozes e da
escrita.
e a escrita enumeram-se entre os instrumentais, como notam os moder­
nos. Efectivamente, os conceitos são certas semelhanças das coisas
significadas, gravadas no intelecto, as quais não é forçoso conhecer para
que por meio delas se conheçam as coisas significadas; mas as vozes
Segunda distinção.
e a escrita são sinais externos que, se se não apresentam às potências
cognoscentes, a ninguém darão o conhecimento das coisas signi­
ficadas. a Da Interpreta­
B Além disso, os conceitos são sinais naturais das coisas que signi­ ção, I. 1.
ficam; as vozes, com que conversamos, e a escrita, com que comunicamos
com os ausentes, são sinais convencionais. De facto, os conceitos Terceira distinção.
— como diz Aristóteles a — são os mesmos para todos, isto é, de sua
natureza significam o mesmo para todos; não assim as vozes e a
escrita, como é evidente. b Da Interpreta­
ção, I, 1.
C Finalmente, os conceitos significam as coisas imediatamente, isto é,
sem a interposição de qualquer sinal; as vozes, porém, com a inter­
venção dos conceitos das coisas de que são sinais próximos e
notas, como diz Aristóteles0; e a escrita não só com a intervenção
40 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER 1

intervenientibus rerum conceptibus, sed etiam vocibus. Id enim, quod


scripta proxime obiiciunt menti, sunt voces. Siquidem multi legendo
exprimunt voces, quas scripta significant, nullum interim formantes
conceptum rerum significatarum, ut patet in iis, qui latinas literas legunt,
Nota.
nec tamen intelligunt. Verum non est necesse, ut cum ego audio vocem D
significativam alicuius rei, duo in me gignantur conceptus, alter ipsius
conceptus rei, alter rei significatce. Nec item cum lego verbum aliquod
Mens sajpe praeter­ apud Aristotelem, opus est, ut tria concipiam, vocem, quee rem significat,
greditur signa media.
queeque vocabulo respondet, conceptum rei, et rem significatam. Mens
enim celeritate sua statim prcevolat ad rem, praetermissis saepe mediis
signis interiectis inter primum signum, et rem significatam.

De conceptu medio et ultimo

C A P V T 11

Duo scmp. gignuntur Illud tamen est omnino necessarium, ut cum audimus voces, aut A
conceptus cum pro­
ponitur vox, aut scri­ legimus scripta significativa ex instituto, duo semper in nobis conceptus
ptura significans ex gignantur, alter ipsius vocis, aut scripturae, qui in homine etiam ignaro
instituto.
idiomatis gigni potest, alter rei significatae, qui non gignitur, nisi in eo,
a capite. 10. qui tenet significationem vocabuli. Voces namque, et scripta sunt signa
instrumentalia, ut dictum esta, quae necessario sunt percipienda, si ipsorum
Non ultimadas. Ulti-
matus. interventu res significatce percipiendae sunt. Ac prior ille conceptus dici
Discrimen inter con­ solet. Non ultimatus, posterior Ultimatus. Aptius tamen ille diceretur B
ceptum, medium et Medius, hic Ultimus. Inter quos conceptus hoc discrimen perspice, quod
ultimum.
Medius significat naturaliter ipsam vocem, aut scripturam, quae proponitur
cum sit naturalis imago vocis, aut scripturae. Ultimus vero ab ipsa
b 1. Peri. 1.
eadem voce, aut scriptura ex impositione significatur. Nam cum homines
Conceptus medius si­ imponunt voces, aut scripta rebus significandis, simul etiam imponunt
gnificat ex impo. et
conceptum ultimum,
eadem significandis conceptibus rerum, id quod Aristoteles b, quod ad voces
et rem significatam. attinet, plane significat cum ait, voces esse notas, seu signa conceptuum,
non ita tamen, ut idem apud omnes significent. Addunt recentiores, C
conceptum medium significare ex impositione, et conceptum ultimum,

D 6 — praetergressis scepe mediis...


A 7 — significatce cognoscendce sunt.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 41

dos conceitos das coisas, mas ainda das vozes. Com efeito, o que
a escrita próximamente oferece à mente são as vozes. De facto,
muitos, lendo, exprimem as vozes que a escrita significa, não formando,
no entanto, nenhum conceito das coisas significadas, como é claro
naqueles que lêem latim sem o entenderem.
D Mas não é necessário que, ao ouvir eu uma voz significativa de Observação.
alguma coisa, se gerem em mim dois conceitos, um do próprio conceito
da coisa e outro da coisa significada. Nem, quando leio alguma pala­
vra em Aristóteles, é forçoso que conceba três coisas: a voz que significa
a coisa e que corresponde ao vocábulo, o conceito da coisa e a coisa
significada. Com efeito, a mente, com a sua rapidez, voa imediatamente A mente muitas ve­
zes ultrapassa os si­
para a coisa, sem fazer caso, muitas vezes, dos sinais médios inter­ nais médios.
postos entre o primeiro sinal e a coisa significada.

C apítulo 11

Dos conceitos médio e último Dois conceitos se ge­


ram sempre ao pro­
A Todavia, é absolutamente necessário que, quando ouvimos vozes por-se uma voz ou
uma escrita de signi­
ou lemos coisas escritas, significativas por convenção, se gerem sempre ficação convencional.
em nós dois conceitos: um da própria voz ou escrita — e este pode
a Cap. 10.
gerar-se até no homem ignorante do idioma; outro da coisa significada —
e este só se gera em quem possuir a significação do vocábulo. Na ver­
dade, as vozes e a escrita são sinais instrumentais, como foi dito", Não ultimado. Ulti­
os quais necessariamente devem ser percebidos, uma vez que é, por mado.
sua intervenção, que se têm de conhecer as coisas significadas. Distinção entre con­
ceito médio e último.
B Ora o primeiro conceito costuma dizer-se não ultimado; o segundo,
ultimado. Todavia, mais expressivamente se diria que aquele é
médio, e este, último. Note-se, entre os dois conceitos, esta diferença:
o médio significa naturalmente a própria voz ou a escrita que são
propostas, uma vez que é a imagem natural da voz ou da escrita. b Da Interpreta­
O último, porém, é significado, por imposição, pela mesma voz ou ção, I, 1.

escrita. De facto, quando os homens impõem as vozes ou a escrita


às coisas que devem ser significadas, impõem-nas simultáneamente
O conceito médio si­
à significação dos conceitos das coisas — o que Aristóteles b, no que gnifica por imposição
respeita à's vozes, claramente significa quando diz que elas são notas não só o conceito
último, mas também
ou sinais dos conceitos, porém, não de tal modo que signifiquem o a coisa significada.
mesmo para todos.
C Acrescentam os modernos que o conceito médio significa, por
mposição, não só o conceito último, mas também a coisa que este último
42 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

et rem, quam ultimus naturaliter significat. Verbi causa, conceptum


medium huius vocis Homo, significare ex impositione, et conceptum
ultimum eiusdem vocis, qui quidem est naturalis conceptus hominis, et
hominem ipsum. Nam cum voces, aut scripta imponuntur rebus signi­
ficandis, simul etiam ex quadam consecutione, videntur imponi conceptus
naturales ipsorum. Cui sententice, cum vera videatur, non repugnabo.
Sed missis iam hoc loco conceptibus, et scriptis, ad tractanda deinceps
nomina, et verba vocalia aggrediamur.

De nomine
Ca p V T 12

Nomen est vox significans ex instituto, definite, ac sine tempore, A


cuius nulla pars significat separatim quceque adiuncto Est, aut Non est,
a I. Peri. 2. efficit orationem, quce verum, aut falsum significet: a ut Homo, Socrates,
et alice huiusmodi voces. In hac definitione, Vox, reiicit conceptus, et
scripta. Significans, reiicit eas voces, quce nihil significant, ut Blictri,
et alias huiuscemodi. Ex instituto, reiicit voces significantes naturaliter,
Nomina et verba in­ ut gemitus, et alias permultas interiectiones. Definite, reiicit nomina, B
finita.
et verba infinita, ut Non homo, Non valet, quce Aristoteles non simpliciter
nomina, aut verba, sed nomina infinita, et verba infinita appellanda esse
censet, eo quod nullum certum entis veri, aut ficti conceptum intellectui
Quid significare cum subiiciant, cum et de iis quce sunt, et de iis quce non sunt, dicantur. Sine C
tempore. tempore, reiicit verba finita, et participia, quce quidem omnia tempus
adsignificant. Nam etsi pleraque nomina significant tempus, ut Dies,
Hora, Annus, nullum tamen certam differentiam temporis, praesentis
scilicet, prceteriti, aut futuri suce significationi adiungit, quod quidem
b 3. Lib. cap. 1.
est adsignificare tempus, seu significare cum tempore. Illud vero, cuius
nulla pars significat separatim, reiicit orationes. Omnis namque orationis
pars aliqua separatim, ac per se in ipsa orationis structura significatb,
ut in his duabus orationibus, Homo albus, Homo sedet, cernere licet, in
nullo autem nomine, etiam si compositce figurce sit, qualia sunt Respublica,
Adiectiva adiective
et senatus considium, pars ulla quicquam declarat separatim. Illud
accepta. denique, Quceque adiuncto Est, et ccetera, reiicit casus nominum, ut Platonis,
Platoni, et reliqua omnia Syncategoremata, ut coniunctiones, et prceposi-
tiones, imo etiam, ut quidam volunt, adiectiva adiective accepta, ut Can­
didus, quoniam apposito illis verbo Est, sive affirmato, sive negato,

C 1 — [1564 e 1590] subiiciunt, cum et de iis...


C 15 — apposito isce...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS —LIVRO I 43

naturalmente significa. Por exemplo, o conceito médio da palavra


homem significa, por imposição, não só o conceito último da mesma
— que é o conceito natural de homem — mas também o próprio homem.
Pois, quando as vozes ou a escrita são impostas às coisas a significar,
parecem impor-se também, ao mesmo tempo, por certa consequência, os
conceitos naturais das mesmas. Não me oporei a esta opinião, pois
parece verdadeira. Mas, dados já neste lugar os conceitos e a escrita,
comecemos agora a tratar dos nomes e dos verbos vocais.

Capítulo 12

Do nome
A Nome é a voz que significa por convenção, definidamente e sem
tempo, da qual nenhuma parte em separado significa, e a qual, juntando-
-se-lhe é ou não é, faz uma oração que significa o verdadeiro ou o falso a, a Da Interpreta­
ção, I, 2.
como homem, Sócrates e outras vozes assim. Nesta definição, voz exclui
os conceitos e a escrita. Que significa exclui as vozes que nada significam
B como blítri e outras deste teor. Por convenção exclui as que signifi­
cam naturalmente, como gemido e muitas outras interjeições. Definida-
mente exclui os nomes e os verbos infinitos, como não homem, não vale, Nomes e verbos in­
finitos.
que Aristóteles pensa deverem chamar-se não simplesmente nomes
ou verbos, mas nomes infinitos e verbos infinitos, pelo facto de
não levarem ao intelecto nenhum conceito certo de ente verdadeiro ou
imaginário, visto que se dizem das coisas que são e das que não são.
Sem tempo exclui os verbos finitos e os participios, pois todos estes
C significam com referência ao tempo. Com efeito, embora vários nomes
signifiquem tempo, como dia, hora, ano, nenhum, contudo, acrescenta O que é significar com
uma diferença determinada de tempo, isto é, de presente, de pretérito ou tempo.
de futuro, à sua significação; isto é que é significar com tempo.
E da qual nenhuma parle em separado significa exclui as orações. De
facto, em separado e por si, na estrutura da oração, qualquer parte
de uma oração significab, como se pode ver nestas duas orações: b No livro III,
homem branco, o homem senta-se; em nenhum nome, porém, ainda que cap. 1.
seja de figura composta, como são república e decreto-do-senado, parte
alguma em separado declara qualquer coisa. Finalmente, a expres­
são junto é, etc., exclui os casos dos nomes como de Platão, a Platão
e todos os restantes sincategoremas, como conjunções, preposições e
até, como querem alguns, adjectivos adjetivamente tomados, como Adjectivos adjecti va-
cândido, pois que, aposto o verbo é, quer afirmativamente, quer negati- mente tomados.
44 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

nunquam efficitur oratio, quce verum, aut falsum significet, quod perspicuum
Qua ratione pronomi­
na reiciantur a de­ erit, si dicas, Platonis est, Platoni non est, et ita in cateris. Quod si D
finitione nominis quis obiiciat, multa esse pronomina, quce adiuncto verbo Est efficiant
orationem, quce verum, aut falsum significet, quales hce sunt, Ego sum,
Tu es, Ille est, quare pronomina esse nomina, quod videtur absurdum:
occurres, pronomina non ratione sui id efficere, sed ratione nominum,
pro quibus in oratione ponuntur: hanc autem extremam nominum conditio­
nem sic esse intelligendam, ut nomen ratione sui id efficere dicatur.

Qucenam partes significent per se in ipsa totius vocis structura


Capvt 13

Verum quia non facile est internoscere, quce partes significent separa- A
tim, ac per se in ipsa totius vocis compositione, quce vero minime, duo
traduntur a recentioribus documenta, quibus id deprehendere possimus.
Primum documen­
tum.
Alterum est, Ea pars vocis, quce, ut est in tota voce, peculiarem ingenerat
in mente notionem, significat per se in eiusmodi voce. Hinc colligimus
nec Do, nec Minus significare per se in hac dictione Dominus. Nam
cum tota dictio auditur, in nullius mente duo gignuntur conceptus, quorum
alter respondeat parti Do, alter parti Minus. At vero quia audita hac
Secundum documen­ oratione, Vir sapiens, duce in nobis producuntur notiones [quce] duabus his
tum.
partibus, Vir, et Sapiens, respondeant, intelligimus easdem partes per
se in ipsa totius vocis structura significare. Alterum documentum est, B
Ea pars totius vocis, cuius significationem qui tolleret efficeret ne tota vox
significaret id, quod antea significabat, significat per se in ipsa totius
vocis compositione. Hinc colligimus partes harum dictionum Dominus,
Respublica, et aliarum huiusmodi, sive simplicis, sive composita figura,
qua significant extra ipsam totius compositionem, non significare quicquam
Causa utrimque do­
cumenti. in iis dictionibus, quarum sunt partes. Quoniam etsi quis huiusmodi
partium significationem tolleret, non idcirco tamen efficeret ut tota ipsa,
ac integra dictiones suas amitterent significationes, quod contra omnino
dicendum est de partibus huius orationis Homo sapiens, et in caterarum
vocum huius generis. Causa est, quia voces prioris generis tota, ac integra C

A 10 — Sapiens respondentes...
B 7 — Nam etiam si quis...
B 10 — dicendum esset in hac oratione...
C1 — cceteris vocibus. Causa est,...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 45

vamente, nunca se faz uma oração que signifique o verdadeiro ou o falso


— o que será evidente se se disser é de Platão, para Platão não é,
e assim por diante.
Razão por que os
D Mas se se objectar que há muitos pronomes que, ajuntado o verbo é, pronomes se excluem
fazem uma oração que significa o verdadeiro ou o falso, como, por da definição de nome.

exemplo, eu sou, tu és, ele é, porque os pronomes são nomes, o que


parece absurdo — responder-se-á que os pronomes o fazem não em razão
de si mesmos, mas em razão dos nomes, em vez dos quais se põem na
oração; mas esta última condição dos nomes deve ser entendida de tal
maneira que se diga que o nome o faz em razão de si.

Capítulo 13

Quais as partes que significam por si, na própria estrutura


da voz toda
A Mas, porque não é fácil distinguir quais as partes que, na própria
composição da voz toda, significam em separado e por si, e quais as que
não, duas regras são dadas pelos modernos para, por elas, podermos
reconhecê-lo. Uma é: a parte da voz que, como está na voz Primeira regra.
toda, produz na mente uma noção peculiar, significa por si mesma
numa voz do mesmo género. Daqui inferimos que nem se nem nhor
significam por si na palavra senhor. Com efeito, quando se ouve
toda a palavra, em mente nenhuma se geram dois conceitos, um
dos quais corresponda à parte se, outro à parte nhor. Mas porque,
ouvida a oração homem sábio, se produzem em nós duas noções,
correspondentes às duas partes, homem e sábio, entendemos que as
mesmas duas partes, na estrutura própria da voz toda, significam
por si.
B A outra regra é: a parte de toda a voz que, suprimida a sua signifi­ Segunda regra.
cação, fizesse que a voz toda não significasse o mesmo que antes, significa,
por si mesma, na própria composição da voz toda. Daqui colhemos
que as partes destas dicções senhor, república e de outras deste género,
quer de forma simples quer composta, que significam fora da própria
composição de toda a voz não significam nada nas dicções de que são
partes. Pois, muito embora se suprimisse a significação de tais partes,
todavia, nem por isso se faria que as dicções todas e íntegras perdessem
as suas significações, devendo dizer-se totalmente o contrário desta
C oração homem sábio e outras vozes deste género. E a causa é que as
46 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

imponuntur ad significandum, quce autem in posteriori genere numerantur,


non, nisi per partes. Hinc enim primum fit, ut cuique illarum unus
tantum respondeat conceptus, harum autem singulis, plures. Deinde
hoc sequitur, ut ilice non desinant significare, etiamsi a singulis partibus
Multae orationes, ino­ suis, alioqui significantibus, tollatur significatio, hce vero desinant. Verun-
pia vocabulorum pro
nominibus usurpan­ tamen multae sunt voces, quce, etsi simpliciter orationes sunt, multas que
tur. notiones in mente gignunt, tamen inopia vocabulorum pro nominibus
usurpantur ut, Summus pontifex, Alexander Magnus, Corpus animatum,
et alice huiusmodi: quibus proinde auditis simplices formamus conceptus.

De verbo
C a p V T 14

Verbum est vox significans ex instituto, definite ac cum tempore A


prcesenti, cuius nulla pars significat separatim, et semper eorum, quce de
a 1. Peri. 3. alio prcedicantur, est nota, ut Valet, Disputata. Omnes particulae huius
Ammonius et D. Tho-
mas ad eundem lo­ definitionis perspicuae sunt ex dictis, praeter extremam, cuius hic est sensus,
cum Et semper, cum in enuntiatione ponitur, est signum eius, quod in ea praedi­
catur, seu, ut planius dicam, Et semper cum in enuntiatione ponitur prae­
dicatur loco sui significati. Exempli causa, in hac enunciatione, Socrates
Enunciatio
disputat, hoc verbum Disputat praedicatur de Socrate loco rei, quam signi­
Praedicari.
Praedicatum. ficat, et sic ccetera. Enunciatio vero, ut obiter dicam, est oratio, quce B
Subicctum. verum, vel falsum significat: praedicari autem est affirmari, aut negari
b Lib. 3, cap. 3, de aliquo, sive id vere fiat, sive falso. Unde praedicatum dicitur id, quod
et. lib. 6. c. 9.
de aliquo affirmatur, aut negatur: subiectum vero id, de quo affirmatur,
aut negatur aliquid. Sed de hisce inferiusb. Hac igitur extrema
difinitionis particula reiiciuntur verba praesentis temporis, quae non sunt
indicativi modi: ut Disputa, Disputare, et participia eiusdem temporis,
ut disputans, quce quidem superioribus particulis reiici non possunt.
Reiiciuntur ergo, quia quaedam eorum reperias, quae nunquam praedicentur,
ut Disputa: aliae vero, quce etsi nonnunquam praedicentur, aliquando

C 8-C 10 — pro nominibus usurpantur, quibus proinde auditis simplices formamus


conceptus, quales sunt, Summus Pontifex, Alexander Magnus, Corpus animatum, et
aliae eiusmodi.
A 6 [1590]—Em dicam aparece a nota b que se refere à cota marginad Ammonius...
A 7 — vid2 sui significati.
B 5 — aut negatur praedicatum. Sed...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 47

vozes do primeiro género impõem-se, todas e íntegras, para significar;


mas, as que se enumeram no segundo género não se impõem para sig­ Causa de uma e ou­
tra regras.
nificar, a não ser por partes. Daqui, pois, sucede, primeiramente, que
a cada uma daquelas corresponde um só conceito; a cada uma destas,
correspondem vários. Depois, segue-se que aquelas não deixam de sig­
nificar, ainda que se suprima a significação de cada uma das suas partes Usam-se em vez dos
nomes muitas ora­
que têm várias significações; estas, porém, deixam de significar. Entre­ ções por pobreza de
tanto, há muitas vozes que, embora sejam simples orações e produzam vocábulos.
muitas noções na mente, todavia, por causa da pobreza de vocábulos,
se usam em vez de nomes, como: Sumo Pontífice, Alexandre Magno,
corpo animado e outras deste teor, ouvidas as quais, formamos concei­
tos simples.

Capítulo 14

Do verbo

A Verbo é uma voz que significa por convenção, definidamente e


com tempo no presente, da qual nenhuma parte significa em separado, e
é sempre nota daquelas coisas que se predicam de outro, como: vale,
a Da Interpreta­
disputaa. Todas as parcelas desta definição são evidentes pelo que
ção, I, 1.
ficou dito, excepto a última, cujo sentido é este: e é sempre..., como se Amónio e S. Tomás,
põe na enunciação, é sinal daquilo que nela é predicado, ou, para dizer no mesmo lugar.

mais claramente: e é sempre..., como se põe na enunciação, predica-se


em vez do seu significado. Por exemplo, nesta enunciação Sócrates
disputa, o verbo disputa predica-se de Sócrates em vez da coisa que
significa, e assim os restantes.
B Mas, diga-se de passagem, a enunciação é uma oração que significa Enunciação.
o verdadeiro ou o falso, e ser predicado é ser afirmado ou negado acerca Predicar-se.
Predicado.
de algo, quer isto se faça verdadeira quer falsamente. Por isso se diz Sujeito.
predicado o que se afirma ou o que se nega de alguma coisa. E sujeito
aquilo de que se afirma ou se nega alguma coisa. Mas destes [trata­
remos] mais abaixo b. Excluem-se, portanto, com esta última parcela b Livro III, 3;
da definição, os verbos do tempo presente que não sejam do modo indi­ e Livro VI, 9.
cativo, como disputa [imperativo], disputar e os participios do mesmo
tempo, como disputando, os quais não podiam ser excluidos pelas par­
celas anteriores. Excluem-se, portanto, porque alguns deles ver-se-á
que nunca se predicam, como disputa [imperativo]; outros, porém, há
48 1NST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER 1

tamen non praedicantur, ut Disputare, Disputans, et similia. Si enim


dicas, Disputare est de quaestione proposita cum altero contendere;
Verba in difinitione [itemque] Disputans loquitur, nec illud Disputare, nec illud Disputans
comprehensa.
praedicabuntur. Sola igitur, ac omnia verba finita praesentis temporis
inalicativi modi comprehenduntur in hac definitione, ut Disputo, Disputas,
Obiectio. Deambulo, Deambulas. Quod si quis obiiciat, in hac enuntiatione. C
Deambulo est verbum, illud Deambulo non praedicari, ergo non esse
verum id, quod docuimus, nunquam verbum in enuntiatione poni, quin
Dilutio. in eadem praedicetur: occurrendum est, id, quod diximus verum esse cum
verba ponuntur, et accipiuntur in enuntiatione pro rebus, quas signi­
ficant: verbum autem Deambulo in proposita enuntiatione, nec poni, nec
accipi pro suo significato. Neque enim sensus enunciationis est, quod
Dilutio alterius obiec- res, quam significat vox Deambulo, sit verbum, sed quod ipsa vox Deam­
tionis.
bulo sit verbum. Eodem fere modo occurres ei, qui opposuerit, verbum
Verbum Est qua ra­
tione dicatur copula Est in hac enuntiatione, A damus est animal, non praedicari. Dices enim,
verbalis. id non esse mirum, quia non accipitur pro suo significato, quod est existere,
ut accipitur in hac enuntiatione, Adamus est, sed exercet tantum officium D
syncategorematis copulantis praedicatum cum subiecto, qua ratione copula
Proprietas verborum. verbalis appellari solet. Itaque hoc est verborum proprium, ut, cum in
enuntiatione pro suis significatis capiuntur, semper eorum loco ale subiecto
Verborum natura. aliquo dicantur. Id quod ex ipsa verborum natura nascitur. Verba
enim, qua verba sunt, hoc peculiare habent, ut ipsa per se, ac sine ullo
vinculo extrinsecus assumpto, praealicari possint. Exempli causa, ut verbum
Disputat de Socrate praedicetur, non est opus ut quaeratur externum aliquod
vinculum ad praedicationem perficiendam: quoniam ipsum per sese nomini
adiunctum enuntiationem absolvet, ut si dicas Socrates disputat. Quod
tamen satis non erit, ut aliud quodcunque, categorema de subiecto proposito
dicatur. Nam si nomini Socrates solum adiunxeris exempli causa, nomen
Philosophus, aut participium Disputans, dixerisque, Socrates Philosophus,
aut Socrates disputans, non absolveris haud dubie enuntiationem, sed
necesse erit ut asciscas vinculum Est, cuius interpositu fiat alterius partis
de altera praedicatio. Quia igitur hcec est verborum propria natura, ut per g
seipsa prcedicari possint, nec egeant nisi subiecto, de quo dicantur, hinc
Non tollit verbi pne- est quod in enuntiatione posita, et pro suis significatis accepta semper de
dicationem partium
enunciationis com­
altero praedicentur, quocunque modo mutentur partes enunciationis.
mutatio.

C 3 — nullum inquam verbum in enuntiatione aliqua poni.


D 4 — eorum vice de subjecto.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 49

que, embora se prediquem algumas vezes, outras não se predicam,


como disputar, disputando e semelhantes. Se, porém, se disser: disputar
é lutar com outro acerca de uma questão proposta; e, igualmente, dis­
putando fala-se — nem disputar nem disputando se predicarão. Por isso, Verbos compreendi­
dos na definição.
todos os verbos finitos do tempo presente do modo indicativo, e só eles,
se compreendem nesta definição, como disputo, disputas, passeio, passeias.
Objecção.
C Se alguém objectar que, nesta enunciação, passeio é verbo, que aquele
passeio não se predica, e, por isso, não é verdade o que ensinamos,
que nunca o verbo se põe na enunciação sem que se predique na Solução.
mesma — responder-se-á: que é verdadeiro o que ensinamos, quando os
verbos se põem e se tomam na enunciação pelas coisas que significam;
que o verbo passeio, porém, na enunciação proposta, nem se põe nem Solução da outra ob­
jecção.
se toma pelo seu significado. Efectivamente, o sentido da enunciação
não é que a coisa, significada pela voz passeio, seja verbo, mas que a
própria voz passeio seja verbo. Por que razão o
D Quase do mesmo modo se responderá a quem alegar que, nesta verbo é se diz cópula
verbal.
enunciação Adão é animal, o verbo é não se predica. Com efeito,
deverá responder-se que não é para admirar, visto que se não toma
segundo o seu significado, que é o de existir, como é tomado nesta
Propriedade dos ver­
enunciação Adão é, mas somente exerce a função de sincategorema, bos.
copulando o predicado ao sujeito, razão por que se costuma chamar Natureza dos verbos.
cópula verbal. Portanto, é próprio dos verbos, quando na enunciação
se tomam pelos seus significados, dizerem-se sempre de algum sujeito,
em vez deles. E isto nasce da própria natureza dos verbos. Pois, os
verbos, que são verbos, têm isto de peculiar: eles mesmos, e sem vín­
culo algum assumido extrínsecamente, podem predicar-se. Por exem­
plo, para que o verbo disputa se predique de Sócrates, não é preciso
que, para se realizar a predicação, se procure algum vínculo externo, uma
vez que ele mesmo, por si, ajuntado ao nome, completará a enunciação,
como se se disser: Sócrates disputa. Isto, contudo, não será o bastante
para que outro qualquer categorema se diga do sujeito proposto. Pois,
se ao nome Sócrates se juntasse somente, por exemplo, filósofo ou o
participio disputante e se dissesse Sócrates filósofo ou Sócrates disputante,
sem dúvida não se completará a enunciação, mas será necessário acres­
centar o vínculo é, por cuja interposição se faça a predicação de uma A mudança das par­
parte à outra. tes da enunciação não
E Por isso, visto que esta é a natureza dos verbos, de tal maneira que tira a predicação do
verbo.
se podem predicar por si mesmos e não necessitam senão de sujeito de
que se digam, daqui vem que, numa enunciação posta e tomada pelos
seus significados, sempre se predicam de outro, seja qual for o modo
por que se mudem as partes da enunciação, como se se disser: Platão
4
50 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

eluti si dicas, Plato disputat, Disputat Plato, Plato disputat in Academia,


Plato in Academia disputat, In Academia Plato disputat, aut alio quovis
modo enunciationem extruas.

De iis quee ad nomen et verbum revocantur


C a p V T 15

Cum autem praeter nomen, et verbum, aliae multae voces in oratione A


reperiantur; advertendum est, earum quasdam, apud Dialecticum non
esse partes orationis, sed partium vincula, quasdam vero, partes. Partium
autem, quasdam esse minores orationes, etsi simplices partes esse
videantur, quasdam vero, non esse orationes, sed simplices partes.
Denique, earum, quae sunt simplices partes, alias directo revocari
Voces quae sunt vin­ ad nomen, et verbum: alias oblique. Voces, quae apud Dialecticum non
culo duntaxat par­
tium orationis. censentur partes orationis, sed vincula partium, sunt permultae, ut Ab,
Abs, Si, Vel, et fere praepositiones, et conjunctiones. In his etiam nume­
ratur adverbium Non, et verbum Est, qua ratione copulat praedicatum
cum subiecto. [Numerantur] item signa universalia, et particularia, quae
quidem certo quodam modo extendunt, aut contrahunt coniunctionem
a Lib. 3. cap. 4. sublecti cum praedicato, ut Omnis, Aliquis, et alia huiusmodi, de quibus
Voces quae non vi­
dentur oratione, et
infra dicendum esta. Voces, apice videntur esse simplices partes orationis B
tamen sunt. et tamen censentur minores orationes sunt illae, quae non continent expresse
multas dictiones distinctas [inter se], sed tamen ingenerant conceptum
Quas directo ad no­ aliquem complexum in mente, ut Nihil, cum idem significat atque Nulla
men et verbum revo­ res: itemque Semper, Nunquam, et alia quam plurima adverbia; adde
centur. Pape, Apage, et alias interlectiones. Atque haec duo genera vocum, C
quae hactenus numerata sunt non reducuntur ad nomen, et verbum.
Simplices autem partes orationis, quae directo, ad nomen et verbum
revocantur sunt caetera categoremata, praeter nomen, et verbum iam
definita. Verum hoc est discrimem, quod, quae tempus non adsignificant
revocantur ad nomen, ut nomina infinita, adiectiva adiective accepta, et
pronomina: quae vero tempus adsignificant, revocantur ad verbum, ut

A 13-B 1 — de quibus infra dicendum est: ei alia huiusmodi. Voces...


B 3 — distinctas dictiones.
B 3-C 1 — ingenerant in mente aliquam orationem, ut nemo, nihil, id est, nullus
homo, nulla res, semper, nunquam et alia quam plurima adverbia Pape, Apage et alia
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS —LIVRO I 51

disputa, disputa Platão, Platão disputa na Academia, Platão na Aca­


demia disputa, na Academia Platão disputa—ou qualquer que seja o
modo de construir a enunciação.

Capítulo 15

Das coisas que se reduzem ao nome e ao verbo


A Como, além do nome e do verbo, muitas outras vozes se encon­
tram na oração, deve advertir-se que, para o dialéctico, algumas delas
não são partes da oração, mas vínculos das partes; outras, porém, são
partes. E das partes, umas são orações mais pequenas, embora pareçam
simples partes; outras não são orações, mas simples partes. Final­
mente, das que são simples partes, umas reduzem-se directamente ao
nome e ao verbo, outras, obliquamente. As vozes que para o dialéctico Vozes que são s
não se consideram partes da oração, mas vínculos das partes, são mui­ mente vínculos d
partes.
tíssimas, como por, de, se, ou, e quase todas as preposições e conjunções.
Entre estas, enumeram-se também o advérbio não e o verbo é, pela razão
de copularem o predicado com o sujeito. Igualmente se enumeram os
sinais universais e particulares que, sem dúvida, de algum modo esten­
dem ou contraem a união do sujeito com o predicado, como todo,
a Livro III, 4.
alguém, e outros semelhantes, dos quais se há-de falar abaixoa.
Vozes que não pare­
B Vozes que se supõe serem simples partes da oração, e todavia são cem orações e o são.
tidas como orações mais pequenas, são aquelas que não contêm expres­
samente muitas dicções distintas entre si, mas produzem na mente algum
conceito complexo, como nada, uma vez que significa o mesmo que
nenhuma coisa; o mesmo deve dizer-se de sempre, nunca, e de muitíssi­
mos outros advérbios, de irra!, foral, e de outras interjeições. As que directamente
C Ora os dois géneros de vozes que até aqui enumerámos não se se reduzem ao nome
e ao verbo.
reduzem ao nome ou ao verbo. Porém, as simples partes da oração,
que directamente se reduzem ao nome e ao verbo, são os restantes cate-
goremas, além do nome e do verbo já definidos. A verdadeira distinção
é esta: as que não significam tempo, referem-se ao nome, como os nomes
infinitos, os adjectivos tomados adjectivamente e os pronomes; as que
significam tempo, referem-se ao verbo, como os verbos infinitos, os tem-

interiectiones. Hcc siquidem omnes voces, et alia altee huiusmodi simpliciter et absolute
sunt orationes ut infra dicemus. Atque haec...
C 2 — quee hactenus numeravimus...
C 7 — Lib. 3 cap. 4. (cota marginal).
52 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

verba infinita, tempora praeteriti, et futuri indicativi modi, tempora


infinitivi modi, et participia. Voces Denique simplices, quae oblique ad D
nomen et verbum revocantur, sunt ea omnia syncategoremata, quee sunt
partes, et non vincula tantum partium orationis. Sic tamen distribuuntur,
ut quae tempus non adsignificant, revocentur ad nomen, quee adsignificant,
ad verbum. Quo fit ut ad nomen oblique reducantur tum casus nominum,
etiam infinitorum, et adiective acceptorum, itemque pronominum, tum
Quas oblique ad no­
men et verbum redu­ etiam quaedam adverbia, quee more casuum ex nominibus deducuntur, ut
cantur. Docte, Sapienter: ad verbum autem omnes casus verborum, etiam infini­
torum, qui non sunt categoremcita, itemque casus participiorum. Quee
autem voces sint categoremata, quee syncategoremata, superius dictum
est b. Itaque omnes partes orationis, quee non sunt minores orationes,
nec vincula duntaxat, nexusve partium, aut sunt nomina, et verba, aut ad
heee modo aliquo revocantur, directo, videlicet, aut oblique.
b Capit. 9.
Epilogus.

Num voces non significativae sint partes orationis

Ca p V T 16

Obiectio. Sed oblidat aliquis, voces non significativas, ut Blictri, et Scyndapsus, A


esse partes orationis, nec tamen esse nomina, aut verba, aut ad nomen,
et verbum modo ullo revocari, ergo id, quod diximus, non esse usquequaque
verum. Quod enim huiusmodi voces sint partes orationis, satis apertum
videtur ex his orationibus, quas conficere solemus, Blictri est dictio duarum
a Cap. 15. Prior
solutio. syllabarum, Scyndapsus nihil significat, et similibus. Quod vero non
Voces non significa­ sint nomina, aut verba, nec ad ista revocentur, ex dictis facile perspicies a.
tivas non esse partes
orationis. Huic obiectioni sic occurrendum videtur: has voces non esse partes orationis. B
Nam cum dicimus, Blictri est dictio duarum syllabarum, illud Blictri non
videtur subiectum enunciationis, ut aliquis fortasse putaverit, sed aliqua alia
particula qua illud Blictri ostenditur, ut Hcec vox. Hic [sonus], aut alia huius-
cemodi, quee quidem aliquando exprimitur, ut in hac enunciatione, Hcec vox
Blictri est dictio duarum syllabarum, aliquando vero, quia facile intelligitur,

A 2—partes orationis (simplices intelliges), nec tamen.


A 7 — ex dictis perspicuum est.
B 1 —Huic objectioni duobus modis ocurrí potest. Uno quidem, has voces...
B4 — Haec vox, hoc, aut alia huiuscemodi...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 53

pos do pretérito e do futuro do modo indicativo, os tempos do modo infinitivo


D e os participios. Finalmente, as vozes simples, que se reduzem obliqua­ As que se reduzem
obiquamente ao no­
mente ao nome e ao verbo, são todos os sincategoremas que são partes me e ao verbo.
e não simples vínculos das partes da oração. Distribuem-se de modo
que as que não significam tempo reduzem-se ao nome, e as que o signi­
ficam, ao verbo. Disto resulta que se reduzem obliquamente ao nome
tanto os casos dos nomes mesmo infinitos e dos tomados adjetiva­
mente e igualmente dos pronomes, como ainda certos advérbios que,
em virtude da flexão, se deduzem dos nomes, como doutamente, sàbia-
mente; ao verbo, todas as flexões dos verbos, mesmo infinitos, que não
são categoremas, e igualmente as flexões dos participios. Quais as
vozes que são categoremas e quais as que são sincategoremas, já foi
dito acima b. b Cap. 9.
Portanto, todas as partes da oração, que não são orações Epílogo.
mais pequenas nem simplesmente vínculos ou nexos das partes, ou
são nomes e verbos, ou a estes de algum modo se reduzem —
directa ou obliquamente.

C APÍTULO 16

Se as vozes não significativas são partes da oração

A Mas objectar-se-á que as vozes não significativas, como blítri, Objecção.


cindapso, são partes da oração sem, contudo, serem nomes ou verbos,
ou sem se reduzirem, de qualquer modo, ao nome e ao verbo, e que,
portanto, o que dissemos não é inteiramente verdadeiro. Com efeito,
que estas vozes são partes da oração, deduz-se claramente destas
orações que costumamos fazer: blítri é uma dicção de duas sílabas,
cindapso nada significa, e de outras semelhantes. E que não são
nomes ou verbos, nem a eles se reduzem, é fácil de ver pelo que
ficou dito a. a Cap. 15.
B A esta objecção parece dever responder-se assim: estas vozes não Primeira solução.

são partes da oração. Na verdade, quando dizemos blítri é uma dic­


ção de duas sílabas, blítri não parece o sujeito da enunciação, como
As vozes não signi­
talvez alguém tenha julgado, mas qualquer outra partícula pela qual se ficativas não são par­
mostra blítri, como esta voz, este som, ou outra expressão deste género, tes da oração.
a qual umas vezes se exprime, como nesta enunciação: a voz blítri
é uma dicção de duas sílabas, outras vezes, porque fácilmente se suben-
54 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

subticetur, ut in superiori. Exemplum sumi potest in aliis rebus. Nam


sive scribas totum hoc, Hcec figura O est circulus, sive hoc tantum, O est
circulus, neutra in scriptura illud O erit subiectum enunciationis, sed illud,
Hcec figura, quod in priori oratione exprimitur, in posteriori subauditur.
Item sive dicam totum hoc, Hic homo (ostendens digito Socratem) est
Philosophus, sive, ostenso eodem, addam hcec tantum verba, Est philosophus,
neutro modo fecerim ipsum Socratem, qui ostenditur subiectum enuncia­
tionis, sed ea tantum, verba Hic homo, quce in priori oratione exprimuntur,
in posteriori perspicuitatis causa omittuntur. Cui quidem, doctrina: satis
favet consuetudo. Fere enim vocibus huiusmodi non significativis, imo
et significativis, cum pro rebus significatis non accipiuntur, prceponuntur
alice particulae, quibus ilice indicentur, ut cum dicimus, Vox Blictri nihil
significat, Verbum. Disputo est primee coniugationis: nec vero subticentur,
nisi cum ex consuetudine intelliguntur, ut apud grammaticos. Suffragatur
huic sententice commune illud Dialecticorum proloquium, Significationem
totius orationis constari ex significationibus suarum partium: quo fit,
ut voces non significativae partes orationis censeri non debeant. Itaque
uno modo occurrere possumus, has voces non esse partes orationis, sed C
esse res significatas, atque ostensas aliis dictionibus, quce sunt orationis
partes, quaeque fere praeponuntur, etsi cum facile intelliguntur, praeter­
Posterior solutio. mittantur. Aliter quoque occurri potest, nempe huiusmodi voces, et esse
partes orationis, et non esse nomina, nec verba, nec ad nomina, aut verba
b Cap. 35. revocari, ut obiectio sumit: id autem quod dictum estb {omnes, inquam,
simplices partes orationis esse nomina, aut verba, aut ad haec revocari)
non universe accipiendum esse, sed solum cum partes orationis sunt sig­
nificativae. [Quo pacto, qui obiectionem solverit, illud dialecticorum
pronunciatum inficietur necesse est, significationem totius orationis
constari ex significationibus partium].

B 10 — in posteriori subticetur.
C1—Aliter quoque possumus occurrere, huiusmodi quidem voces...
C3 — sumit: verum id quod nos dixeramus...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 55

tende, se omite, como na [enunciação] feita acima. Pode exemplificar-se


com outras coisas. Com efeito, quer se escreva por extenso: afigura O
é um círculo, quer somente: O é um círculo, em nenhuma destas escri­
tas aquele O será o sujeito da enunciação, mas afigura, que se exprime
na primeira oração e se subentende na segunda. Igualmente, quer eu
diga tudo isto: este homem (apontando Sócrates a dedo) é filósofo,
quer (apontando o mesmo Sócrates) diga só estas palavras: é filó­
sofo, nem de um nem de outro modo eu teria feito Sócrates — que é
apontado — sujeito da enunciação, mas sim as palavras este homem
que na primeira oração estão expressas e na segunda se omitem, em vir­
tude da evidência. O uso favorece bastante esta doutrina. Real­
mente, as mais das vezes, a tais vozes não significativas e até às signi­
ficativas não tomadas pelas coisas significadas, antepõem-se outras
partículas com que se indicam aquelas, como quando dizemos:
a voz blítri riada significa, o verbo disputo é da primeira conjugação;
e não se subentendem senão quando são entendidas em virtude do
uso, segundo os gramáticos. Confirma esta opinião aquele princípio dos
dialécticos: a significação da oração toda é constituída pelas significa­
ções das suas partes; donde resulta que as vozes não significativas não
devem ter-se como partes da oração. E, sendo assim, de um só modo
podemos responder: é que essas vozes não são partes da oração, mas coisas
significadas e que são manifestadas por outras dicções que são partes
da oração, e que, ordinàriamente, se lhe antepõem, embora se omitam
quando fácilmente se subentendem.
C Mas pode ainda responder-se de outro modo: que tais vozes são Segunda solução,
partes da oração, sem serem, contudo, nomes ou verbos nem a estes
se reduzirem, como a objecção supõe; o que foi ditoè, porém b Cap. 15.
(isto é, que todas as partes simples da oração são nomes ou verbos
ou a estes se reduzem), não se deve tomar umversalmente, mas só
quando as partes da oração são significativas. Posto isto, é neces­
sário que aquele que tiver resolvido a objecção negue aquela regra
dos dialécticos: a significação da oração toda é constituída pelas signi­
ficações das suas partes.
56 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

EnumeranturEvariceEnuncupationesEnominumEetEverborum
Capvta17

Explicatis nomine, et verbo, iisque, quae ad nomen, et verbum revo- A


cantur, iam nunc de varia nominum, et verborum nuncupatione agendum
est. Verum cum multce admodum sint horum nuncupationes, eas tantum
nos, quce crebrius in ore versantur, persequemur. Nomina [igitur],
et verba fere dicuntur Asquivoca, Univoca, Concreta, Abstracta, Connota-
tiva, Absoluta, Denominativa, Denominantia, Communia, Singularia,
Transcendentia, non transcendentia, Positiva, Negativa, Repugnantia,
non repugnantia, Primee intentionis, et Secundae. At vero ne in singulis B
nuncupationibus explicandis geminentur vocabula Nominis, et Verbi
(ihoc enim fastidium simul, et confusionem pareret) comprehendenda
prius sunt nomina, et verba vocabulo aliquo communi, ut de utroque
genere tanquam de uno loquamur.

De nomine, qua ratione verba et ccetera omnia categoremata


complectitur
Capvt 18

Possent quidem nomina, et verba generali quadam verbi appellatione A


a Quintil, lib· 1- comprehendi. Usurpatum est enim apud Latinosa, ut etiam nomina
cap. 9. verba nominentur. Sed heee appellatio late admodum funditur, quippe
b Horat. in arte cum ad omnes omnino dictiones extendatur: quo in sensu ait quidam, b
poet. Verbaque provisam rem non invita sequentur. Possent quoque appellari
c 1. peri. 4· Dictiones, iuxta illud Aristotelis c, ac nomen quidem, et verbum dictiones
sunt tantummodo, et ccetera. Verum ceque fusa est heee appelatio, atque
Recenti ores. superior. Sed neque placet recentiorum consuetudo, qui iam hinc ab
initio nomina, et verba sub termini vocabulo pertractant. Terminus
enim nihil est aliud, quam prcedicatum, aut sublectum propositionis, ut
d Lib. 6. cap. 9. postea dicemus prcedicaca vero, et subiecta saepissime sunt orationes,
de quibus hoc libro non agimus. Accedit eo, quod termini appellatio, B

Al {cap. 17)— Explicatis igitur nomine...


B 4-B 5 — communi, de ipsis tanquam de uno tantum quodam genere loquamur.
A 3 {cap. 18) [1590] — Horat. in arte poét. (cota marginal).
B 1 {cap. 18) — tamen hoc loco non agimus.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 57

Ca p í τ u L o 17

Enumeram-se as várias denominações dos nomes e dos verbos

A Explicados o nome e o verbo e as coisas que a eles se reduzem,


vai tratar-se agora da variada denominação de nomes e verbos. Mas,
como são muitíssimas as suas denominações, só abordaremos aquelas
de que falamos com uma certa frequência. Os nomes e os verbos ordinà-
riamente dizem-se: equívocos, unívocos, concretos, abstractos, conotativos,
absolutos, denominativos, denominantes, comuns, singulares, transcen­
dentes, não transcendentes, positivos, negativos, repugnantes, não repugnan­
tes, de primeira intenção e de segunda intenção.
B Mas, para não ter que apor os vocábulos de nome e de verbo em
cada denominação a explicar (o que seria fastidioso e criaria confusão)
convém reduzir os nomes e os verbos a um vocábulo comum, de modo
a falarmos de um e de outro género, como se de um só se tratasse.

Capítulo 18

Qual a razão por que o nome compreende os verbos e todos


os restantes categoremas

A Sem dúvida, os nomes e os verbos poderiam ser compreendidos


na denominação geral de verbo. Foi usado, efectivamente, pelos lati­
nos a, de modo que também os nomes se chamavam verbos. Mas esta a Quintiliano, no
denominação estende-se muito latamente, pois abrange no seu conjunto livro I, cap. 9.
todas as dicções; neste sentido, diz alguém b: as palavras seguirão sem b Horácio, Arte
relutância a ideia concebida. Poderiam também chamar-se dicções, poética.
segundo a frase de Aristóteles c: o nome e o verbo são, simplesmente, c Da Interpreta­
dicções, etc. Mas esta denominação é tão usada como a anterior. ção, I, 4.
E nem satisfaz até o uso dos modernos que já desde o início Modernos.
tratam os nomes e os verbos sob a designação de termo. Termo, na
verdade, não é senão o predicado ou o sujeito da proposição, como mais
tarde diremos mas os predicados e os sujeitos são muito frequente­ cl Livro VI, cap. 9
mente orações (e delas não tratamos neste livro).
B Acresce que a designação de termo, como foi importada de Aristó-
58 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

qua ratione [ab Aristotele invecta est], non convenit nominibus, et verbis
ut sunt primee partes, elementave cuiusque modi disserendi, Divisionis,
inquam, Definitionis, et Argumentationis, ut a nobis in preesentia tractantur,
sed solum ut in ea terminari potest resolutio syllogismi simplicis, ac
Unde dictus termi­ proinde cuiusque argumentationis. Hinc enim dictus est terminus.
nus. Neque vero Aristoteles, etsi omnia ab initio dialecticae ad syllogismi
e 1. Prio 1. No­ simplicis doctrinam contulit, ullam Termini mentionem, nisi post aliquot
men generaliter acce­ libros, fecit, utpote cum tandem ad syllogismi structuram devenite. Potius C
ptum.
/ 3. Peri. 3.
ergo comprehendenda sunt nomina, et verba vocabulo Nominis late accepto,
Nomen generaliter qua nominis significatione sic ait Aristoteles f. Verba ipsa per se dicta,
idem quod catego-
rema.
nomina sunt, et aliquid significant. Quo in loco, ut uno verbo rem expo­
g Ca. 12 et. 14. nam, Nomen idem est quod categorema, sicque non modo nomina, et verba
ut supra £ definita sunt, sed etiam ea omnia complectitur, quee directo
ad nomem, et verbum, revocantur. Et heee quidem usurpatione nominis
h Vt pned. 1 et tam scepe utitur Aristotelesb ut ei, qui vel mediocriter in eius lectione
5. 1. peri. 7. 2. post. versajus fuerit, plurima occurrant exempla. Itaque Nominis vocabulo
2 1 elench 1 4 me ^ac s^§nÍfica^one accepto, iam institutum persequamur.
ta. 4.

De nominibus casu cequivocis


Capvt 19

Nomen cequivocum, seu multiplex, est, quod diversis rationibus sua A


a Elicitur ex praed. significata significata. Nomine Rationis intellige mentalem rei signi­
cap. 1.
b 4. meta. 7. ficator definitionem, quam nomen significat, iuxta illud Aristotelis b, Ratio
quam nomen significat, est definitio, mente scilicet fabricata. Hcec enim
significatur nomine etsi confuse. Quamquam Rationis vocabulo etiam
simplex conceptus rei, cuius nomen est signum, utcumque intelligi potest.
Hac de causa nomen Canis dicitur cequivocum, quia alia ratione signi­
ficat canem domesticum, alia piscem, alia sidus. Nominum porro cequivoco-
Casu aequivoca. rum, qucedam casu, fortunave sunt cequivoca, quceclam consilio, et ratione.
Ea sunt casu cequivoca, quee diversis omnino rationibus suis congruunt B

B 2-B 3 {cap. 18) — non convenit nominibus et verbis qua ratione...


B 6 — Hinc enim terminus dictus est.
C1 [1590] — Não tem a letra marginal C.
C9 — Quapropter Nominis vocabulo...
A 6 — signum, optime intelligi potest.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 59

teles, não convém aos nomes e aos verbos enquanto são as primeiras
partes ou elementos de qualquer modo de discorrer, isto é, da divisão, da
definição e da argumentação, como nós os tratamos aqui, mas só
enquanto nela se pode terminar a resolução do silogismo simples, e, por­
tanto, de qualquer argumentação. É por isto que se diz termo. Nem
Porque se diz termo.
sequer Aristóteles, embora tenha, desde o início da Dialéctica, fornecido
todos os elementos para a doutrina do silogismo simples, fez menção e Primeiros Ana­
alguma do termo, senão depois de alguns livros, como quando chegou e líticos, 1, 1.
à própria estrutura do silogismo. O nome é tomado em
sentido geral.
C Portanto, os nomes e os verbos devem antes compreender-se no
vocábulo nome, tomado em sentido lato. Desta significação de nome, / Da Interpreta­
ção, I, 3.
Aristóteles/ diz assim: os próprios verbos, em sentido próprio, são O nome em geral é o
nomes e têm um significado. No caso presente, para exprimir a reali­ mesmo que catego­
rema.
dade numa palavra, nome é o mesmo que categorema, e assim não só g Cap. 12 e 14.
abrange os nomes e os verbos, como acima s foram definidos, mas
também tudo aquilo que directamente se reduz ao nome e ao verbo.
E desta acepção do nome tanta vez usa Aristóteles h que se oferecem h Por ex.: Predi­
camentos 1 e 5; Da
muitíssimos exemplos mesmo àquele que mediocremente for versado Interpretação, I, 7;
na sua leitura. Tomado, portanto, o vocábulo nome nesta significa­ Segundos Analíticos,
II, 10; Tópicos,II, 13,
ção, sigamos o que já foi determinado. e II, 2; Elencos, I, 1;
Metafísica, IV, 4.

Capítulo 19

Dos nomes equívocos por acaso

A Nome equívoco ou múltiplo é aquele que significa os seus signi­


ficados segundo razões diversas °. Pelo nome de razão entende-se a a É tirado dos Pre­
dicamentos, cap. 1.
definição mental que o nome significa da coisa significada — conforme
b Metafísica, IV, 7.
o [que diz] Aristóteles b: a razão que o nome significa é a definição, fabri­
cada pela mente. Esta é significada pelo nome, ainda que confusamente.
Todavia, pelo vocábulo razão também se pode entender de qualquer
modo o simples conceito da coisa de que o nome é sinal. Por isso, o
nome cão diz-se equívoco, porque, segundo uma razão, designa um cão
doméstico; segundo outra, um peixe; segundo outra, uma constelação.
Dos nomes equívocos, uns são equívocos por acaso ou por sorte;
outros, equívocos por intenção e razão.
B São equívocos por acaso os que convêm aos seus significados Equívocos por
acaso.
60 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

significatis, ut nomen Gallus homini natione Gallo, et Gallo avi, et voca­


bulum Alexander Alexandro Paridi, et Alexandro Macedoni, et verbum
Perdo ei, quod est amitto, et ei, quod est destruo, et investigabile ei, quod
vestigari potest, eique, quod vestigari non potest. Atque huius quidem C
Nomen aequivocum
non est unum nomen classis nullum aequivocum vocabulum censetur unum nomen, sed multa,
sed multa.
quippe cum nullum sit, quod inultas, omninoque diversas significationes
non habeat. Unde fit ut enunciatio ex verbo aliquo huius generis composita
c 1. Peri. 7. non sit una, sed plures c, ut si dicas, Gallus cantat, Alexander a rege pro­
genitus est. Croesus Halym ingressus perdet quam plurima regna, Vice
Cur dicantur casu
¡equivoca. Dei sunt investigabiles. Dicuntur autem hcec nomina casu (equivoca, D
quia in his imponendis nulla habetur ratio cognationis, convenienticeve
d ut. 1. de gen. rerum significatarum. Atque hcec (equivoca proprie (¡equivoca censentur
6. et 4. met. 2.
apud Aristotelem

De nominibus consilio cequivocis seu analogis

Ca pV T 20

Ea sunt consilio (equivoca, quce diversis quidem rationibus, sed tamen A


a Ex. 1. Ethic. 6. ita diversis, ut quodammodo sint ecedem, suis conveniunt significatisa,
et ex. 4. meta. 2.
ut nomen Homo, quod quidem eadem quodammodo ratione dicitur de
homine vero, et depicto. Homo enim verus est animal rationale, depictus
Cur dicuntur consilio
¡equivoca. autem est animalis rationalis imago. Hcec vero dicuntur consilio (equivoca, B
quia non temere, et casu, sed consilio, et ratione rebus diversis imponuntur,
spectata nimirum cognatione aliqua earum inter sese. Neque enim hoc
genere complecti volumus ea, quce solum ob memoriam, aut spem consilio
(equivoca dicuntur, ut cum quis Pauli nomine filium appellat, aut in memo­
riam Divi Pauli: aut sperans filium Divo Paulo similem futurum, quoniam
hcec simpliciter sunt casu tequivoca cum non imponantur rebus diversis
ob aliquam earum inter se cognationem. Ea igitur, quce ob affinitatem
rerum significatarum consilio (equivoca vocantur, aut relatione, aut com­
b 1. Eth. 6. paratione relationum talia dicuntur10. Relatione quidem, uno quatuor C

D 1 [7590] — Não íem cota marginal.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 61

segundo razões totalmente diversas, como o nome galo a homem


galo [gaulês] de nação, e ao galo, ave; o vocábulo Alexandre a Ale­
xandre Páris e a Alexandre o Macedonio; e o verbo perder, ao perder
que é «deixar fugir» e ao perder que é «destruir»; e investigável àquilo
que pode ser investigado e àquilo que o não pode ser.
Ora nenhum vocábulo equívoco desta classe é tido como um nome O nome equivoco
não é um único
só, mas como muitos, pois nenhum há que não tenha muitas e absolu- nome, mas vários.
mente diversas significações. Daí resulta que a enunciação composta
c Da Interpreta­
de uma palavra deste género não é uma só, mas várias c, como: o galo ção, I, 7.
canta; Alexandre é filho de rei; Creso, tendo avançado para o Hális,
perderá muitos reinos; os caminhos de Deus são investigáveis (1).
Porque se dizem equí­
Estes nomes dizem-se equívocos por acaso, porque, ao impô-los, vocos por acaso.
não se tem nenhuma razão de conexão ou conveniência das coisas d Por ex.: Da
significadas. Estes equívocos são consideradas em Aristóteles d como Geração e da Cor­
os equívocos propriamente ditos. rupção, I, 6; e Me­
tafísica, IV, 2.

Capítulo 20

Dos nomes equívocos intencionalmente ou análogos


a Na Ética, I, 6 e
Equívocos intencionalmente são aqueles que convêm aos seus signi­ na Metafísica, IV, 2.
ficados a segundo razões diversas, mas de tal modo diversas que de certo
modo são as mesmas; como o nome homem que, de certo modo, se diz,
pela mesma razão, do homem verdadeiro e do homem-pintura. De facto,
o homem verdadeiro é um animal racional, o homem-pintura é uma Porque se dizem
imagem do animal racional. equívocos intencio­
Estes equívocos dizem-se equívocos intencionalmente porque se nalmente.
impõem a coisas diversas, não sem motivo e ao acaso, mas delibera­
damente e com razão, considerada a afinidade deles entre si. Não
queremos abranger neste género aqueles que só por causa da memória
ou da esperança se dizem equívocos intencionalmente, como quando
alguém dá a um filho o nome de Paulo, ou em memória de S. Paulo
ou na esperança de que o filho seja semelhante a S. Paulo, uma vez que
são simplesmente equívocos por acaso, quando não são impostos a coi­
sas diversas em virtude de alguma afinidade. Por isso, aqueles que,
por afinidade das coisas significadas, se dizem equívocos intencional­
mente, dizem-se tais b, ou por relação ou por comparação de relações. b Ética, I, 6.
Os [equívocos] por relação são de um de quatro modos: ou [con- Equívocos por rela­
ção.

(1) Este último exemplo só é válido em latim (N. do T.).


62 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

Aequivoca relatione. modis: vel ad unum finem, quo pacto hoc nomen Sanum cequivocum est
habenti sanitatem, efficienti, et conservanti: vel ab uno efficiente, quo
pacto hcec vox Medicum (equivoca est habenti artem medicince, et omnibus
instrumentis, quibus medicus utitur: vel ab una forma, quo pacto hcec
vox Animal est (equivoca habenti formam animalis, et animali depicto,
et fictili: vel ab uno subiecto, quo pacto hoc vocabulum Ens cequivocum
Aequivoca a propor­
tione. est substantice, quce per se existit, et accidentibus, quce per substantiam,
Cice. de universitate.
cui inhcerent existunt. Comparatione vero relationum, quce Grcece
Analoga quae dican­ αναλογία, Latine proportio nominatur, cequivocum est exempli causa D
tur.
nomen Pes pedi animalis, et montis, et nomen Aspectus aspectui oculorum,
c Vt. 2. post. 16,
et 1. eth. 6. et. 5. et mentis: quia nimirum ut se habet pes animalis ad animal, sic pes montis
meta. 6.
Vide Caie. de Ana­
ad montem: itemque ut aspectus oculorum ad corpus, sic aspectus mentis
logia I. nominum. ad animum. Atque hcec extrema (equivoca apud Aristotelem c, et veteres
euius interpretes Analoga dicuntur, quasi dicas proportionalia. Sed
recentiores longo usu obtinuerunt, ut iam nunc omnia consilio oequivoca
analogorum nomine comprehendantur.

De nominibus univocis

C a p V T 2 1

a Ex pned. 1. Nomen univocum est, quod eadem omnino ratione sua significata A
Occurritur tacitas significata, ut vox Homo comparatione omnium verorum hominum:
obiectioni.
omnes siquidem dicuntur homines, quia sunt animalia rationalia. Sed B
animadvertendum est, non ita aequivoca ab univocis distingui, ut nullum
cequivocum sit aliqua ratione univocum. Nam hoc nomen Gallus, quod
casu cequivocum esse diximus, univocum etiam est, si ad gallos tantum
gallinaceos, quos eadem omnino ratione significat, referatur. Hoc item
nomen Homo, quod paulo superius ad homines tum veros, tum depictos
analogum diximus, nunc comparatione verorum duntaxat in exemplum
univocorum attullimus. Itaque non hcec distinximus quasi diversa vocabula,
sed quasi diversas nuncupationes nominum, quemadmodum instituimus.
Nullum autem est incommodum, si propter diversas considerationes,
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 1 63

vergentes] para um só fim — deste modo, o nome são é equívoco para


o que tem saúde, para o que dá a saúde e para o que a conserva;
ou [procedentes] de uma só [causa] eficiente — como a voz médico é
equívoca para o que pratica a medicina e para os instrumentos que
o médico usa; ou por comunidade de forma — como a voz animal é
equívoca para o que tem a forma de animal e para o animal pintado
e fingido; ou por comunidade de sujeito — como o vocábulo ser é
equívoco para a substância que existe por si e para os acidentes que
existem pela substância a que estão inerentes.
D Por comparação de relações, que em grego se diz analogia (αναλογία) Equívocos por pro­
porção.
e em latim proporção, é equívoco, por exemplo, o nome pé para o pé Cícero em Da Uni­
do animal e do monte; o nome visão para a visão dos olbos e da mente versalidade. Os que
— porque o pé do animal está para o animal como o pé do monte para se dizem análogos.
Por ex.: Segundos
o monte, e a visão dos olhos está para o corpo como a visão da mente Analíticos, II, 16 e
para o espírito. Ora estes últimos equívocos, segundo Aristótelesc Ética, I, 6 e Meta­
física, V, 6.
e os seus antigos intérpretes, dizem-se análogos, o que equivale a dizer
Ver Caietano, Da
proporcionais. Mas os modernos, com o longo uso, fizeram com que, Analogia dos no­
actualmente, todos os equívocos intencionalmente sejam compreendidos mes, 1.
no nome de análogos.

Capítulo 21

Dos nomes unívocos


a Dos Predica­
mentos, I.
A Nome unívoco é aquele que significa os seus significados absoluta­
mente segundo a mesma razão a, como a voz homem em relação a
Resposta a uma ob-
todos os homens verdadeiros, pois todos são chamados homens, visto jecção tácita.
serem animais racionais.
B Mas deve notar-se que os equívocos não se distinguem dos unívocos
de tal maneira que nenhum equívoco seja, cm certo sentido, unívoco.
Com efeito, o nome galo, que dissemos ser equívoco por acaso, é
também unívoco se se refere só aos galos galináceos, que ele significa
precisamente segundo a mesma razão. Do mesmo modo, o nome
homem, que acima dissemos ser análogo em relação aos homens verda­
deiros e aos homens-pinturas, agora apresentámo-lo como exemplo dos
unívocos, em relação somente aos homens verdadeiros. Portanto, não
distinguimos estes como sendo vocábulos diferentes, mas estabelecemo-
-los como diferentes acepções dos nomes. De resto, não há nenhuma
dificuldade em atribuir à mesma voz diversas acepções, em virtude de
considerações diversas.
64 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

Omnia pene nomina diversce eidem voci nuncupationes tribuantur. Si tamen nomina respectu C
sunt aequivoca. . .„ ., „
omnium suorum significatorum considerentur, nulla pene univoca repe-
rientur. Nam ut omittam casu cequivoca, quce non pauca sunt, omnia
h 1. degener. 7. iam ferme vocabula tritus sermo analoga fecit^.

Comparantur inter se casu cequivoca, analoga et univoca

C apVT2 2

Analoga sunt media Porro casu cequivoca, et univoca sunt omnino adversa, et quasi con­ A
inter casu equivoca,
et univoca. traria inter sese: analoga vero sunt media inter utraque. Nam casu
Cap. 20. 21. 22. cequivoca diversis omnino rationibus sua significata significant, univoca
eadem omnino, analoga nec omnino diversis, nec omnino eadem. Unde
cum omne medium inter contraria modo aliquo utrique extremo repugnet,
et cum utroque modo aliquo conveniat, merito Aristoteles ita de analogis
a 4. Meta. 2.
loquitur, ut nunc a ea reiiciat ab cequivocis, nunc b ab univocis: et rursus,
b Praedi. 1.
c Praedi. 1. modoc appellet cequivoca, modo d univoca. Sed cum analoga diversis B
cl 2. Meta. 1.
simpliciter rationibus suis conveniant significatis, non item simpliciter
Plus conveniunt ana­ eadem, sed quodammodo eadem, ut diximus, non dubium est, quin maiorem
loga cum aequivocis a cum cequivocis a casu, quam cum. univocis habeant societatem: id quod
casu quam cum uni­
vocis. in causa fuit, ut ab Aristotele initio categoriarum eadem definitione cum
cequivocis a casu, sub communi nomine cequivocorum definirentur, non
item cum univocis sub univocorum nomine. Illud tamen adverte aliter
e Locis nunc cita­ nos hoc loco, aliter Aristotelem de cequivocis, et univocis disserere: ille
tis.
Res aequi vocae, et siquidemQ de rebus, nos de vocibus loquimur. Res cequivocce sunt,
univocae. quce vocibus cequivocis significantur: univocce, quce univocis. Recen- C
tiores appellant voces cequivocas, et univocas /Equivoca cequivocantia,
et Univoca univocantia: res autem, /Equivoca cequivocata, et univoca
univocata. Verum his vocabulis, cum res perspicua sit, non est necesse

C 4 {cap. 22) [1564 e 1590] — 1. de gener. 6. (cota marginal).


B 1 [1590] — Não tem a letra marginal B, que fica no lugar do C desta edição.
B 7 — Praedi. I (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 65

C Contudo, se se considerarem os nomes a respeito de todos os seus Quase todos os no­


significados, não encontraremos quase nenhuns unívocos. De facto, mes são equívocos.
não falando nos equívocos por acaso, que não são poucos, o modo de
falar habitual já fez análogos quase todos os vocábulosb. b Da Geração e
da Corrupção, I, 7.

Capítulo 22

Comparam-se entre si os equívocos por acaso, os análogos


e os unívocos

A Os equívocos por acaso e os unívocos são adversos e quase contrá­ Os análogos são
rios entre si; os análogos estão entre uns e outros. Com efeito, os intermédios entre os
equívocos por acaso
equívocos por acaso significam os seus significados segundo razões total­
e os unívocos.
mente diversas; os unívocos, segundo razões totalmente idénticas; Caps. 20, 21, 22.
os análogos, segundo razões nem totalmente diversas nem totalmente
idênticas. Em consequência, como todo o meio entre contrários
repugna, de algum modo, a um e a outro extremo, e, de algum modo,
convém a um e a outro, com razão fala Aristóteles dos análogos de
tal modo que umas vezes a os exclui dos equívocos, outras vezesb a Metafísica,
IV, 2.
dos unívocos, e, logo em seguida, lhes chama ora equívocos c, ora b Predicamen­
unívocos d. tos, 1.
B Mas como os análogos convêm aos seus significados segundo razões c Predicamen­
simplesmente diversas e de certo modo as mesmas (não simplesmente tos, 1.
as mesmas), como dissemos, não há dúvida de que têm mais íntima d Metafísica,
II, 1.
relação com os equívocos por acaso do que com os unívocos — o que Os análogos relacio­
fez que Aristóteles no início das Categorias lhes tenha dado uma defi­ nam-se mais com os
nição comum aos equívocos por acaso sob o nome de equívocos, e não equívocos por acaso
aos unívocos sob o nome de unívocos. Note-se, todavia, que nós aqui que com os unívocos.
estamos a discorrer acerca dos equívocos e dos unívocos diferente­
mente de Aristóteles: ele falava, na verdade, das coisas e; nós, das e Nos lugares
vozes. agora citados.
C São coisas equívocas as que são significadas por vozes equívocas; Coisas equívocas e
unívocas, as que são significadas por vozes unívocas. Os modernos unívocas.
chamam às vozes equívocas equívocos equivocantes, às vozes unívocas
unívocos univocantes; e às coisas equívocas equívocos equivocados, às
unívocas, unívocos univocados. Porém, sendo isto evidente, não é neces­
sário usar destes vocábulos. Entenda-se apenas, de passagem, que,
segundo os vocábulos gregos, com maior propriedade se chamam equí-
5
66 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

Magis proprie res, uti. Illud obiter ex Grcecis vocabulis intellige, magis proprie res, quam
quam voces dicun­
tur aequivocae, et uni­
voces, dici ¿equivocas, et univocas. Nam et ομώνυμα quce nos ¿equivoca
vocae. dicimus, et συνώνυμα, quce appellamus univoca, ex ipsa vocabulorum vi
dicuntur quasi Habentia idem commune nomen: quod haud dubie de rebus
intelligitur, a quibus ad voces appellatio traducitur. Itaque voces dicuntur
tequivocce, quia res ¿equivocas significant, univocce autem, quia significant
res univocas.

De nomine concreto et abstracto

C ap Vt2 3

Nomen concretum est, quod compositum habet significandi modum: A


ut Candidum, ut Homo. Nam Candidum significat candorem quasi
D. Tho. Opus. 48.
adiacentem alicui rei subiectce, sicque rem etiam subiectam quodam­
de praedicam, cap. 2.
modo significat: et Homo significat humanitatem, ut existentem in suppo­
sito, veluti in Socrate aut Platone, sicque etiam suppositum quodammodo
Cur dicantur con­
creta, et abstracta. significat. Nomen abstractum, est, quod simplicem habet modum signi- B
ficandi: ut Candor, [ut] Humanitas. Nam Candor solum candorem signi­
ficat quasi per se existentem extra subiectum: et Humanitas solam
humanitatem quasi per se cohcerentem extra humana supposita. Illa
dicuntur concreta, quasi [dicas] composita: hcec abstracta, quasi a compo­
sitione libera: utraque autem appellatio ex modo significandi orta est.
Atque abstracta dicuntur principalia, sive primaria, quod ab aliis non
deducantur, sed ipsa sint quasi capita, et fontes aliorum, si non Grammatica
consideratione, certe a ratione et natura rerum ducta. Concreta vero
dicuntur minus principalia, quoniam ab illis derivantur, sive proxime, ut
Candidum a candoris nomine, sive remote, ut Candidatum, quod cum
proxime a candido deducatur, [a candoris tandem vocabulo remote oritur.]

A 4-B 1 — Homo significat habens humanitatem, in qua significatione modus


etiam quidam compositionis cernitur. Nomen...
B 3-B 4—per se subsistentem extra subiectum: et Humanitas significat solam
humanitatem quasi per se cohcerentem extra hominem.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 67

vocas e univocas as coisas do que as vozes. Com efeito, quer os As coisas, de prefe­
rência às vozes, di­
homónimos [ομώνυμα] que nós dizemos equívocos, quer os sinónimos
zem-se com maior
[συνώνυμα] que chamamos unívocos, se dizem, pela própria força dos propriedade equívo­
vocábulos, como que possuidores do mesmo nome comum, nome esse cas e unívocas.
que, sem dúvida, se entende acerca das coisas que transmitem a denomi­
nação para as vozes. E, assim, as vozes dizem-se equívocas, porque
significam coisas equívocas, e unívocas, porque significam coisas
unívocas.

Capítulo 23

Dos nomes concreto e abstracto

A Nome concreto é o que tem um modo de significar composto,


S. Tomás, Opúsculo
como: cândido, homem. Com efeito, cândido significa a candura 48, Dos predicamen­
enquanto adjacente a alguma coisa, que é sujeito, e, assim, significa tos, 2.
também, de certo modo, a coisa que é sujeito; homem significa humani­
dade enquanto existente no suposto, como em Sócrates ou Platão,
e, assim, significa, de certo modo, também o suposto. Porque se dizem con­
B Nome abstracto é o que tem um modo de significar simples, como: cretos e abstractos.
candura, humanidade. De facto, candura significa somente candura
como que por si existente, fora do sujeito; e humanidade significa
somente humanidade como que por si subsistente, fora de supostos
humanos. Aqueles dizem-se concretos ou compostos, estes abstractos
ou livres de composição: uma e outra denominação tem a sua origem no
modo de significar. Os abstractos dizem-se principais ou primários, por­
que se não deduzem de outros, mas eles mesmos são como que cabeças
e fontes dos outros, postulados, se não pela consideração da Gramática,
certamente pela razão e pela natureza das coisas. Os concretos dizem-se
menos principais, porque derivam daqueles, quer próximamente, como
cândido do nome candura, quer remotamente, como candidato, que, dedu­
zindo-se próximamente de cândido, remotamente deriva de candura.

B 6 — utrimque autem in modo significandi spectatur.


B 9 — Certe rationali et petita ex natura rerum.
B12 — a candido deducitur.
68 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

De nomine connotativo et absoluto

C ap VT2 4

Nomen connotativum est, quod significat aliquid adiacens quasi A


adiacens alicui: ut candidum, Vestitum, Caecum, Nonvidens. Candidum
enim significat candorem, qui adiacet cygno, papyro, et cceteris rebus
candidis: Vestitum, significat vestem, qua adiacet homini: Caecum,
negationem aspectus, qua adiacet animali ad videndum apto: et hac
una dictio Nonvidens, negationem aspectus, qua adiacet omnibus non
videntibus sive [illa entia sint, sive non] sint. Accipio enim in definitione
particulas Aliquid, et Alicui latissime, ut non solum omnia entia, sed etiam
Quid sit significare non entia complectar: idque intelligo significare aliquid adiacens alicui,
aliquid adiacens ali­
cui. quod significat formam, aut quasi formam accidentariam alicui. Rursus
hac eadem vocabula significant sua significata, non quasi per se subsis­
tentia, sed quasi adiacentia, quoniam sic ea significant, ut ex modo sua
Quid sit significare
significationis de iis quibus illa adiacent, dicantur. Id enim intelligo
aliquid quasi adiacens significare aliquid quasi adiacens alicui. Exempli causa, dixerim hoc
alicui. nomen Candidum significare candorem quasi adiacentem corpori (seu per
modum adiacentis, ut dici solet) quia ita significat candorem, ut ex modo
sua significationis de corpore, cui candor adiacet, dicatur. Atque ita
catera. Quo tamen pacto candoris nomen, non significat candorem, nec
Connotativum, aliud Vestis vestem, nec Cacitas negationem aspectus, nec Nonvisio negationem
significat, et de alio
dicitur.
visionis absolute, Neque enim dicuntur de iis, quibus hac adiacent. Ita B
fit ut nomina connotativa aliud significent, et de alio dicantur. Signi­
ficant enim formas, aut quasi formas, et dicuntur de rebus, quibus illa
accidunt. Neque vero idem sunt significare aliquid, et dici de aliquo.
4. Metaph. 4. tex. 11.
Etenim si idem essent hoc absurdum plane admittendum esset eandem
esse significationem harum vocum Musicum, Candidum, et Homo ut
Aristoteles concludit, eo quod omnes de eodem homine dicantur. Itaque
aliud significant nomina Connotativa, et de alio ex modo sua significationis
dicuntur. Reiiciuntur ergo primum a definitione ea nomina, qua non
significant aliquid adiacens alicui, ut Plato, Alcibiades, Homo, Animal,

A 10 — significat aliquam formam.


B4 — Neque vero idem est significare.
B 4 — Album solam qualitatem significat. Praedic 5. (cota marginal).
B 5-B 7 — quia (ut probat Aristoteles) si esset idem, idem quoque significarent,
Musicum, et Candidum, et Homo (qua de eodem homine dicuntur) id quod absurdis­
simum est asserere. Itaque...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 69

Capítulo 24

Dos nomes conotativo e absoluto

A Nome conotativo é o que significa alguma coisa adjacente a


outra, enquanto adjacente, como: branco, vestido, cego, não-vidente.
Branco, na verdade, significa a brancura que está adjacente ao
cisne, ao papiro e a outras coisas cândidas; vestido significa a veste
que está adjacente ao homem; cego é a negação da vista que está
adjacente ao animal apto a ver; e a dicção única não-vidente é a
negação da vista que é adjacente a todos os que não vêem, quer
esses entes existam, quer não existam. Com efeito, na definição, Que quer dizer:
tomo as expressões alguma coisa e a alguma coisa em sentido muito significar algo adja­
cente a algo.
lato, de modo a abranger não só todos os entes, mas também os
não-entes; e por significar alguma coisa adjacente a outra entendo
significar uma forma, ou uma quase-forma acidental a alguma coisa.
Mas estas mesmas palavras significam os seus significados, não como
por si subsistentes, mas como adjacentes, porque os significam de tal
maneira que, pelo modo da sua significação, se dizem daqueles a que
estão adjacentes. É isto, com efeito, o que entendo significar alguma O que quer dizer:
significar algo como
coisa enquanto adjacente a outra. Por exemplo, posso dizer que o
adjacente a algo.
nome branco significa brancura enquanto adjacente a um corpo (ou
por modo de adjacente, como costuma dizer-se), porque de tal jeito
significa brancura que, segundo o modo da sua significação, se diz
do corpo a que a brancura está adjacente. E assim outros casos.
Contudo, apesar disto, o nome brancura não significa a brancura;
nem veste, a veste; nem cegueira, a negação da vista; nem não-visão,
a negação da visão, em absoluto. E não se dizem daquilo a que
estão adjacentes.
B Assim, sucede que os nomes conotativos significam uma coisa e O nome conotativo
significa uma coisa
dizem-se de outra. Significam, na verdade, formas ou quase-formas e e diz-se de outra.
dizem-se das coisas a que aquelas se juntam. E não é o mesmo signi­
ficar alguma coisa e dizer-se de alguma coisa; pois, se fosse o mesmo,
dever-se-ia claramente admitir este absurdo: músico, branco e homem,
porque se dizem do mesmo homem, tem a mesma significação (como
Metafísica, IV, 4,
conclui Aristóteles). Assim, os nomes conotativos significam uma text. 11.
coisa e dizem-se, pelo modo da sua significação, de outra. São, por­
tanto, excluídos da definição primeiramente os nomes que não signi­
ficam algo adjacente a algo, como Platão, Alcibiades, homem, animal
70 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

et fere vocabula primarum, et secundarum substantiarum [atque adeo


illorum abstracta, ut Humanitas, et Animalitas]. Dico autem fere quia
quadam eorum significant aliquid adiacens alicui, ut Mneum, et Ligneum,
qua ratione de figuris dicuntur. Hac enim duo vocabula significant as,
et lignum tanquam formas accidentarias figurarum: id quod in aliis etiaid
quibusdam cernere est. Reiiciuntur deinde illa, qua significant aliqum
adiacens alicui, non tamen ut adiacens, seu per modum adiacentis, ut
Candor, Vestis, Cacitas, Nonvisio.
Nomen absolutum. Nomen absolutum est, quod significat aliquid non quasi adiacens C
alicui, qualia sunt omnia qua a definitione connotativorum reiecimus.
Cur dicatur nomen
connotativum. Ex eo autem nomina videntur dici connotativa, quia prater id, quod
Cur absolutum.
significant, aliquid etiam aliud cui quasi adiaceat formale significatum,
et de quo ipsa dicantur, notant, et ut ita dicam insinuant: absoluta vero,
Latius patet concreti quia prater id, quod significant, nil aliud tale inuunt. Illud tamen hoc D
nominis nuncupatio loco pratermittendum non est, latius patere Concreti nominis nuncupationem
quam connotativi, et
connotativi, quam
quam Connotativi: et Connotativi, quam, eius quod apud Grammaticos
adiectivi. Adiectivum dicitur. Quanquam enim omne adjectivum est connotativum
[respectu alicuius] et omne connotativum concretum {id quod animad­
vertenti facile patebit) non tamen omne concretum est connotativum,
a D. Tho. 1 p. aut omne connotativum adiectivum. Hcec enim vocabula, Socrates,
q. 39. et alii. 1. d. Homo, Animal, et pene omnia primarum, et secundarum substantiarum
4. et 34. testibus etiam Theologisa concreta sunt, nec tamen connotativa dici
possunt. Hcec item verba, Pater, Dominus, Praeceptor connotativa
sunt, nec tamen adiectiva, sed substantiva. [Contra vero dicendum est
de oppositis nominibus, abstracto videlicet, absoluto, et substantivo.
Latius enim patet substantivum, quam absolutum, et absolutum, quam
abstractum, ut ex dictis perspicuum esse potest.] Quo fit, ut perperam
a quibusdam concretum, et connotativum, itemque abstractum, et absolu­
tum confundantur, et pro eisdem promiscue usurpentur.

C1-C 2 — non quasi adiacens alicui, sed quasi per se subsistens, seu {ut Dialectici
loquuntur) per modum per se stantis, qualia sunt...
C 3-D 1 — Ex eo autem dictum videtur nomen connotativum, quia preeter id,
quod significat, aliud etiam, de quo dicitur, notat. Absolutum vero, quia preeter id,
quod significat, nil aliud notat de quo dicatur. Illud tamen...
D8 — et alia pene infinita primarum,...
D 14-D 16 — Quo fit ut perperam lue nuncupationes a quibusdam confundantur
et pro eadem promiscue usurpetur.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 71

e quase todos os vocábulos das substâncias primeiras e segundas e


até os conceitos abstractos daqueles, como humanidade e animali­
dade. Digo, porém, quase, porque alguns deles significam algo adja­
cente a algo, como bronzeo, lígneo, pela razão de se dizerem de figuras.
Na verdade, estes dois vocábulos significam bronze e madeira como
formas acidentais das figuras: o que também se pode ver em alguns
outros. Excluem-se, depois, os que significam algo adjacente a algo,
mas não como adjacente ou por modo de adjacente, como: brancura,
veste, cegueira, não-visão.
C Nome absoluto é o que significa algo não como adjacente a algo, Nome absoluto.
como todos os que excluímos da definição dos conotativos. Disto se
Porque se diz nome
deduz que [a causa] por que se dizem conotativos [alguns] nomes, é
conotativo.
porque, além do que significam, notam e, por assim dizer, insinuam
também outra coisa, à qual como que juntam um significado for­
Porque se diz nome
mal, do qual se dizem. E [a causa por que se dizem] absolutos absoluto.
[outros nomes é] porque, além do significado, nada mais indicam de
tal natureza. A denominação de
D Todavia, não deve esquecer-se, aqui, que a denominação de nome nome concreto é mais
concreto é mais extensa que a de conotativo, e a de conotativo do que extensa que a de co­
notativo; a de cono­
aquela a que os gramáticos chamam adjectivo. Com efeito, embora tativo que a de ad­
todo o adjectivo seja conotativo a respeito de alguma coisa, e todo o jectivo.
conotativo seja concreto (o que é fácil de ver para quem advertir), con­
tudo, nem todo o concreto é conotativo, nem todo o conotativo é adjec­
tivo. Os vocábulos Sócrates, homem, animal e quase todos os das subs­
a S. Tomás, I,
tâncias primeiras e segundas, segundo o testemunho dos próprios teó­
p., q. 39; e outros,
logos a, são concretos e, todavia, não se podem dizer conotativos. I. d. 4. e 34.
Do mesmo modo, as palavras pai, senhor, preceptor, são conotativos
e, todavia, não são adjectivos, mas substantivos. O contrário se deve
dizer dos nomes opostos, isto é, do abstracto, do absoluto e do
substantivo. Pois, é mais extenso o substantivo que o absoluto e o
absoluto que o abstracto, como pode ver-se claramente pelo que ficou
dito. Daqui sucede que alguns confundam, indevidamente, o concreto
e o conotativo, o abstracto e o absoluto, e os usem promiscuamente
para designar a mesma coisa.
72 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

De nomine denominativo et denominante

Ca pV T 25

Nomen Denominativum est connotativum, quod a priori aliquo voca- A


bulo, voce, ac significatione deducitur a; ut Candidum, Iustum. Utrunque
a Ex pned. 1. et enim connotativum. est, et illud a Candoris nomine, hoc a Iustitice voca­
5. et ex. 2. Top. 2.
bulo voce, ac significatione derivatur. Verbo Deducitur non intelligas hoc
Albert: Magnu. in loco derivationem Grammaticam (hac enim potius Iustitice nomen ex geni­
prasd tracta. 1.
tivo lusti deducitur) sed rationalem, et ex natura rerum petitam, de qua
supra loquuti sumus b. Priori ergo parte definitionis excluduntur omnia
b Cap. 23.
nomina absoluta. Posteriori reiiciuntur ea connotativa, quee aut voce,
c Praed. 8. aut significatione, a nullo priori nomine deducuntur. Hinc fit c ut verbum
Officio Officis, non sit denominativum. Nec enim deducitur voce, ac
significatione ex aliquo priori nomine, cum sola, voce trahatur ex nomine
officii, nec aliud nomen extet, ex quo voce, et significatione oriatur.
Ibidem. Fit etiam, ut Cursor, Pugil, et extera huiusmodi, qua ratione significant
vires quasdam naturales non sint denominativa. A nullo enim priori
simpliciorique vocabulo voce, ac significatione deducuntur. Nam etsi
voce tenus ex nominibus actuum trahuntur, ut Cursor ex cursu, et Pugil
ex pugilatu, significatione tamen a nullo derivantur, siquidem viribus natu­
Latius patet conno- ralibus, quas significant, non sunt adhuc abstracta ulla nomina imposita.
tativum quam deno- Ex his perspicuum fit, latius patere nominis conno tat ivi nuncupationem,
minativum.
quam denominativi, quandoquidem ex dictis intelligimus omnia denomi­
Denominans nativa esse connotativa, nec tamen omnia connotativa esse denominativa.
Nomen denominans est a quo denominativum voce, ac significatione dedu- B
Etiam concreta de­
citur. Ad hoc genus pertinere possunt non solum abstracta vocabula, ut
nominantia esse pos­
sunt. Candor, Iustitia, sed etiam concreta, ut Candidum, Ignis. Nam a can­
Primaria denominan­ dido tum voce, tum significatione deducitur Candidatum, et ab igne Ignitum.
tia. Secundaria.
Illa vocari possunt primaria denominantia, hac secundaria. Ex quo fit
ut idem nomen possit esse denominativum, ac denominans diversorum
respectu. Candidum enim cum candoris vocabulo comparatum, deno-

A 9-A 13 — Hinc fit ut hoc nomen studiosus pro virtute prcedito acceptum non sit
denominatium quia non deducitur voce, ac significatione ex nomine aliquo priori.
Sola enim voci trahitur ex nomine studium, sola autem significatione ex nomine virtus.
Hine etiam fit ut heee nomina Cursor...
A 17 — a nullo derivantur, quia viribus...
B 7 — Candidum enim si cum candoris vocabulo comparatur, denominativum
est, si cum nomine...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 73

Capítulo 25

Dos nomes denominativo e denominante

A O nome denominativo é o conotativo que se deduz, na voz e na


significação, de algum vocábulo anterior a, como branco, justo. Ambos a Dos Predica­
mentos, I, 5; e Tópi­
estes são conotativos e derivam, quanto à voz e à significação, aquele
cos, II, 2.
do nome brancura, este do vocábulo justiça. Pelo verbo deduz-se não Alberto Magno, no
se entenda, aqui, derivação gramatical (pois, segundo esta, justiça é que Tratado dos Predica­
se deduz do genitivo «justi»), mas derivação racional e exigida pela pró­ mentos, 1.
pria natureza das coisas, acerca da qual falámos acimaè . Pela primeira b Cap. 23.
parte da definição excluem-se, portanto, todos os nomes absolutos.
Pela segunda, excluem-se os conotativos que se não deduzem, quanto
à voz e à significação, de nenhum nome anterior. Daqui resulta c c Predicamen­
tos, 8.
que o verbo «officio officis» não é denominativo. Com efeito, não
se deduz, quanto à voz e à significação, de nenhum nome pri­
meiro; pois, somente quanto à voz é tirado do nome «officium» e não
existe outro nome de que derive, na voz e na significação. Daqui
também se deduz que os nomes corredor, pugilista, e outros deste teor, No mesmo lugar.
pela razão de significarem certas forças naturais, não são denominativos.
Com efeito, não se deduzem, quanto à voz e à significação, de nenhum
vocábulo anterior mais simples. Na verdade, embora, quanto à voz
somente, sejam derivados dos nomes de acções, como corredor de corrida,
pugilista de pugilato, contudo, quanto à significação, não são derivados
de nenhum, porque de resto não há nomes alguns abstractos impostos
pelas forças naturais, que significam. Donde claramente se vê que a O conotativo é mais
extenso que o deno­
denominação de nome conotativo é mais extensa que a de denomina­
minativo.
tivo, visto que, pelo que fica dito, entendemos que todos os denomi­
nativos são conotativos, mas nem todos os conotativos são denomi­
nativos.
B Nome denominante é aquele de que se deduz, quanto à voz e à Denominante.
significação, o denominativo. A este género podem pertencer não só
vocábulos abstractos, como candura, justiça, mas também concretos, Também os concre­
tos podem ser deno­
como cândido, fogo. Com efeito, de cândido pode deduzir-se, quer
minantes.
quanto à voz, quer quanto à significação, candidato; de fogo, afo­
gueado. Aqueles podem chamar-se denominantes primários; estes, Denominantes primá­
rios. Secundários.
secundários. Donde resulta que o mesmo nome pode ser denomina­
tivo e denominante em atenção a diversos. Cândido, quando compa-
74 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

Duplex respectus te- minativum est, cum nomine Candidatum, denominans. Verum, ut quae C
quiriturin quovis de­
dixi melius intelligas, adverte, in quovis denominativo duplicem respectum
nominativo.
requiri; alterum ad vocabulum denominans, a quo voce, ac significatione
deducitur; alterum ad rem denominatam, cui aliquid adiacere significat,
seu, cuius est connotativum. Propter priorem respectum omne denomi-
nativum dicitur ab aliquo denominante denominativum, propter poste­
riore, alicuius rei denominatee denominativum. Unde efficitur, ut quem­
admodum omne denominativum est denominativum a certo quodam, et
Denominativa non de
designato vocabulo, sic etiam sit denominativum certae alicuius rei, aut
omibus dicuntur de-
nominative. aliquarum. Id quod ideo collegerim, ut mirari desinas, si videris nomina D
Nullum [enim] genus denominativa non de omnibus, de quibus dicuntur, denominative praedicari.
praedicatur denomi- Re enim vera Coloratum praedicatur denominative de corpore, cuius est
native de sua specie
connotativum: de albo autem, cuius non est connotativum, denominative
[ut Arist. ait.] 2. Top.
cap. 2. praedicari non potest. Haec item nomina Bonus, Sapiens, Justus, praedi­
D. Tho. 1. p. q. 1. 3. cantur denominative de hominibus, quibus bonitas, Sapientia, et Iustitia
et alii Theologi. 1. accidentaria est: de Deo autem, in cuius simplicissima essentia huiusmodi
d. 22.
perfectiones continentur, non denominative, sed essentialiter, dicuntur
[ut theologi docent]. Alneum quoque, Ligneum, et huiusmodi, dicuntur
denominative de figuris, ut de circulo, et triangulo: essentialiter autem,
non denominative de rebus ex figura et materia compositis, ut de triangulo
aeneo, et ligneo circulo. Rationale denique dicitur denominative de animali,
essentialiter de homine, ac Socrate.

De nomine communi et singulari

Ca pV T 26

Nomen commune, seu universale est, quod eadem ratione de pluribus A


Praedicari pressius, praedicatur: ut Homo. Singulare autem, seu Discretum, seu Individuum,
quam supra.
est quod non praedicatur de pluribus, ut Plato, Conimbrica, Deus. Praedi­
cari hoc loco pressius, quam supra, intelligendum est, utpote pro vere
affirmari. Nam si accipiatur pro affirmari, aut negari, sive vere, sive falso,
ut supra exposuimus, nomina singularia erunt communia. Plato enim
ea ratione, qua Platonem Aristotelis praeceptorem significat, prcedicatur

C5 — Propter priorem quidem respectum...


C 6 - C 7 — propter posteriorem autem, alicuius...
D I — a u t definitarum quarumdam. Id quod...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 75

rado com o vocábulo candura, é denominativo; quando comparado


com candidato, é denominante.
C Mas, para melhor se entender o que disse, note-se que em qualquer Requer-se uma dupla
relação em qualquer
denominativo se requer uma dupla relação: uma com o vocábulo
denominativo.
denominante, do qual se deduz quanto à voz e significação; outra com a
coisa denominada, à qual significa que algo está adjacente, ou da qual
é conotativo. Em virtude da primeira relação, todo o denominativo
se diz denominativo proveniente de algum denominante; em virtude da
segunda, diz-se denominativo de alguma coisa denominada. Donde se
infere que, do mesmo modo que todo o denominativo é denominativo
por provir de algum vocábulo certo e designado, assim também é deno­
minativo de alguma coisa certa ou de algumas.
Os denominativos
D É isto, de facto, o que posso deduzir, para que não haja sur­ não se dizem dc todos
presa ao ver-se que os nomes denominativos não se predicam deno­ denominativamente.
minativamente de todas as coisas de que se dizem. Na verdade,
colorido predica-se denominativamente do corpo de que é conota­
tivo; mas de branco, de que não é conotativo, não pode predicar-se Nenhum género se
denominativamente. De modo idêntico, os nomes bom, sábio, justo predica denominati­
predicam-se denominativamente dos homens nos quais são acidentais vamente da sua es­
a bondade, a sabedoria e a justiça; de Deus, porém, em cuja essên­ pécie.
Segundo Aristóteles,
cia simplicíssima se contêm estas perfeições, não se dizem denomina­
Tópicos, II, 2; S. To­
tivamente, mas essencialmente (como ensinam os teólogos). Bronzeo, más, I. p., q. 13; e
ligneo e outros também se dizem denominativamente das figuras, outros teólogos, I.
como do círculo e do triângulo; mas dizem-se essencialmente e d. 22.
não denominativamente de coisas compostas de figura e matéria,
como de triângulo bronzeo e círculo ligneo. Finalmente, racional
diz-se denominativamente de animal e essencialmente de homem,
como Sócrates.

Capítulo 26

Dos nomes comum e singular

A Nome comum ou universal é aquele que se predica de vários pela


mesma razão, como homem. [Nome] singular ou discreto, ou indi­
víduo, é o que se não predica de vários, como Platão, Coimbra, Deus. Predicar, mais estri­
tamente que acima.
Predicar, aqui, mais estritamente do que acima, deve entender-se por
afirmar realmente. Com efeito, se se toma por afirmar ou negar, quer
verdadeira quer falsamente, como acima expusemos, serão comuns os
nomes singulares. Efectivamente, Platão, considerada a razão pela
qual significa Platão, mestre de Aristóteles, predica-se de vários Platões,
76 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

de pluribus Platonibus tum vere, ac negative, tum falso et affirmative.


De pluribus. Cum vero in definitione audis De pluribus, nomine plurium intellige plura
secundum idem nomen. Nam ut nomen aliquod dicatur commune, non
satis est si praedicetur de iis, quce dicantur plura secundum aliud nomen.
Sic enim nomina singularia communia esse iudicabuntur. Platonis siqui­
dem nomen una sola ratione acceptum praedicatur de pluribus attributis
Platonis, utpote de hoc Aristonis filio, de hoc Philosopho, de hoc Aris­
totelis praeceptore. Nomen etiam Conimbricae praedicatur de pluribus
attributis Conimbricae, ut de [hac] urbe prope Mondam sita, de hac
bonarum artium cultrice. Hoc quoque nomen Deus praedicatur de pluri­
bus personis divinis, et tamen singulare est, modo nomine Dei intelligamus,
a D. Tho. 1. p.
q. 2. et alii. 1. d. 3. quo maius aliquid, perfecliusve cogitari non potest, quo pacto Theologia
b Sap. 14. Dei notionem describunt. Hac enim speciata significatione sic ait Sapiens b,
Affectui, aut regibus deservientes homines, incommunicabile nomen
{scilicet Dei) lapidibus, et lignis imposuerunt. Ratio denique eadem
c Cap. 19. et cast.
significatione accipitur in definitione nominis communis, qua in definitio­
nibus cequivocorum et univocorum c. Cum ergo in ea definitione dicitur,
Quod praedicatur de pluribus, excluduntur omnia nomina singularia, quia
nullum eorum praedicatur de iis, quae secundum ipsum dicantur plura,
Analoga sunt quo­ hoc est, quia nomen Platonis, quatenus singulare est, non praedicatur
dammodo commu­ de pluribus Platonibus, nec Conimbrica de pluribus Conimbricis, nec Deus
nia. de pluribus Diis. Cum vero additur, Eadem ratione, excluduntur omnia
nomina aequivoca, nisi quod analoga quodammodo comprehenduntur, qua­
d Vt. 1 de partib. tenus eadem quodammodo ratione pluribus conveniunt. Id quod in causa
animal, in fine et 3. est, ut apud Aristotelem d pleraque analoga tum communia, tum universalia
meta. 3. et 10 meta. 4.
dicantur. Duo tamen hic adverte. Alterum nomina, communia vocari
Appellativa.
Propria. apud Grammaticos Appellativa, singularia vero, Propria. Alterum, loco B
Duobus modis potis­ nominum propriorum, quibus maxima ex parte caremus, duo potissimum
simum individua pe­ genera periphraseos usurpari. Unum est cum nomini communi addimus
riphrasi significari. pronomen demonstrativum, ut si dicam, Hic homo, Hic equus: quce ora­
Ex Porphy. de specie.
Individua ex demons­
tiones Individua ex demonstratione dicuntur. Aiiud est, cum oratio
tratione. communis, ob aliquam hypothesin uni tantum rei accommodatur, ut si dicam
filius Sophronisci, Filius loannis principis. Posito enim quod Sophronisco
non fuerit adus filius, quam Socrates, et loanni principi loannis tertii
Lusitanice regis filio alius, quam Sebastianas, sane illis orationibus Socratem

A 26 — secundum ipsum dici possunt plura.


A 27-A 29 — non praedicatur de iis, quce plures Platones appelari possint, nec
Conimbrica de iis quce pluris Conimbricce dici queant, nec Deus de personis quce
dicantur plures Dii.
A 33 — Alterum nomina quidem communia.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 1 77

quer verdadeira e negativamente, quer falsa e afirmativamente. Ouvindo,


porém, [a expressão] de vários, na definição, pelo nome vários entenda-se De vários.
vários segundo o mesmo nome. Com efeito, para que algum nome se
diga comum, não é suficiente que se predique das coisas que se dizem
várias segundo nome diferente. Assim, os nomes singulares serão consi­
derados comuns. O nome Platão, com efeito, tomado sob um único
aspecto, predica-se de vários atributos de Platão, como: deste filho de
Aristão, deste filósofo, deste mestre de Aristóteles. O nome Coimbra
também se predica de vários atributos de Coimbra, como: da cidade
situada junto do Mondego, desta cultora das belas-letras. Também o
nome Deus se predica das várias pessoas divinas, e contudo é singu­
lar, contanto que pelo nome Deus entendamos aquilo maior ou mais
perfeito do que o qual nada se pode pensar; assim descrevem os teó­
logos a a noção de Deus. Atendendo, com efeito, a esta significação, a S. Tomás, I.
p., q. 2; e outros,
assim diz o Sábio b\ e foi para a vida humana ocasião de engano I. d. 3.
que homens, sujeitando-se à infelicidade e à escravidão, tenham b Sabedoria, 14.
imposto o nome incomunicável (o de Deus) às pedras e a pedaços
de madeira. Na definição de nome comum, razão, finalmente, é tomada
na mesma significação em que é tomada nas definições dos equívocos c Cap. 19, etc.
e dos unívocos c. Quando, portanto, se diz nesta definição que se pre­
dica de vários, excluem-se todos os nomes singulares; porque nenhum
deles se predica das coisas que, segundo o mesmo, se dizem várias, isto
é, porque o nome Platão, enquanto é singular, não se predica de
vários Platões, nem Coimbra de várias Coimbrãs, nem Deus de vários
Os análogos são, de
deuses. Juntando, na verdade, segundo a mesma razão, excluem-se certo modo, comuns.
todos os nomes equívocos, a não ser os análogos, os quais estão com­
preendidos, de certo modo, enquanto convêm a vários por uma razão d Como: Das Par­
de alguma forma a mesma. Isto está em causa, uma vez que em tes Dos Animais, I, no
Aristóteles d muitos análogos se dizem quer comuns, quer universais. fim. Metafísica, III, 3
e Metafísica, X, 4.
Notem-se, contudo, aqui, duas coisas. Primeira: os gramáticos Apelativos. Próprios.
chamam apelativos aos nomes comuns, e próprios aos singulares. De dois modos so­
Segunda: em vez dos nomes próprios, de que carecemos em grandíssima bretudo significam
por perífrase os indi­
percentagem, empregam-se de preferência dois géneros de perífrases: víduos.
uma, quando juntamos ao nome comum um pronome demonstrativo, Segundo Porfirio, Da
como ao dizer: este homem, este cavalo, que constituem orações ditas Espécie.
Indivíduos por de­
indivíduos por demonstração·, outra, quando uma oração comum, em monstração.
virtude de alguma hipótese, se acomoda a uma só coisa, como ao dizer:
filho de Sofronisco, filho do príncipe João. Posto que Sofronisco não
tenha tido outro filho além de Sócrates e que o príncipe João, filho de
João III, rei de Portugal, não tenha tido outro além de Sebastião, sem
dúvida significarei com aquelas orações o filósofo Sócrates e o rei
78 INST1TVTI0NYM DIALECTICARVM LIBER I

philosophum, et Sebastianum Regem significabo. Sed huiusmodi ora­


tiones, quia revera communes sunt, nec mi rei soli, nisi ex hypothesi,
conveniunt, individua non simpliciter, sed ex hypothesi dicuntur. Mitto
hic orationes ex nominibus communibus, et signis particularibus construc­
Individua vaga. tas, ut Quidam homo, Quidam equus {quce individua vaga nominantur)
quia non de uno tantum, sed de pluribus dicuntur.

Diluuntur qucedam obiecta contra definitionem nominis


communis

CA P V T 27

Obiectio. 1. Sed contra definitionem nominis communis sic licet argumentari. A


a Praed. 1. Omnia nomina cequivoca sunt communia teste Aristotele a, qui res (equi­
vocas definiens sic ait, Asquivoca sunt, quorum nomen commune est:
nomina autem cequivoca non prcedicantur de pluribus eadem ratione (subdit
enim Aristoteles, Ratio vero substant ice diversa: id quod etiam ex dictis
satis perspicuum est) igitur definitio nominis communis non complectitur
Obiect. 2.
omnia nomina communia. Licebit etiam sic argumentari. Hcec nomina
Singularia reficiuntur Mundus, Sol, Luna, Mercurius, et ccetera huiusmodi sunt communia {Physici
a disciplinis. siquidem, et Astrologi, qui disserunt de mundo, sole et cceteris huiusmodi,
Arist 2. eth. 2. et. non agunt nisi de rebus communibus, cum singularia omnium Philosophorum
l.Rhet. ad Thcod 2.
et 3. meta, extremis
consensu a disciplinis reiiciantur) his autem nominibus non congruit definitio
verbis. Et alii alibi. nominis communis, quia non prcedicantur de pluribus {neque enim vere
Solutio prioris obiect. dicimus plures esse mundos, aut soles, aut lunas, aut mercurios) igitur
Communia voce sola.
definitio nominis [communis] non convenit omnibus nominibus communibus.
Communia voce, ac
significatione. Quare non est recte tradita. Priori obiectioni occurres, Altero e duobus
modis nomina dici posse communia, aut sola voce, aut voce, ac significatione
simul: atque cequivoca quidem omnia voce sola esse communia, nos
[iautem] ea tantum definivisse, quce et voce, et significatione sunt communia,
Solut. posterioris.
quare non mirum esse si definitio nominis communis communia prioris
generis non comprehendat. Posteriori respondebis, Nomina illa et esse B
vere communia, ut a nobis definita sunt, et prcedicari de pluribus. Nam.
cum hoc nomen Mundus non significet primo hunc designatum mundum,
sed mundum absolute, ac simpliciter, quo pacto Philosophi de mundo
disserunt, dubium non est, quin ex modo suce significationis prcedicari possit

A 17 — atque cequivoca quidem nomina voce sola.


A 19 — nominis communis nomina communia.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 79

Sebastião. Mas estas orações, uma vez que realmente são comuns e não
convêm a uma só coisa, a não ser por hipótese, dizem-se indivíduos não
simplesmente, mas por hipótese. Prescindo aqui das orações construí­
das de nomes comuns e sinais particulares, como: certo homem, certo
cavalo, orações estas que se chamam indivíduos vagos, porque se não Indivíduos vagos.
dizem de um só, mas de vários.

Capítulo 27

Desfazem-se certas objecções contra a definição


de nome comum

A Mas contra a definição de nome comum é lícito argumentar assim: Primeira objecção.
todos os nomes equívocos são comuns, segundo Aristótelesa, que, a Predicamen­
definindo coisas equívocas, diz assim: equívocas são as coisas cujo tos. 1.
nome é comum; ora, os nomes equívocos não se predicam de vários pela
mesma razão (supõe Aristóteles que a razão da substância é diversa, o
que é também bastante claro, pelo que ficou dito); por isso, a definição
de nome comum não compreende todos os nomes comuns. E será lícito Segunda objecção.
ainda argumentar assim: os nomes Mundo, Sol, Lua, Mercúrio e outros
semelhantes são comuns (os físicos, com efeito, e os astrólogos que dis­
correm acerca do Mundo, do Sol, etc., não tratam senão de coisas comuns,
uma vez que os singulares são rejeitados das ciências pelo consenso Os singulares são ex­
de todos os filósofos); ora, a estes nomes não se ajusta a definição do cluídos das ciências.
nome comum, porque se não predicam de vários (e nem dizemos, com
verdade, que há vários Mundos, vários Sóis, Luas, ou Mercúrios); por Aristóteles, em Ética,
isso, a definição de nome comum não convém a todos os nomes II, 2 e Retórica a
Teodoreto, I, 2 e
comuns — de onde se infere que a mesma não foi bem dada.
Metafísica, III, tre­
A primeira objecção responder-se-á que os nomes se podem dizer cho final. E outros
comuns, por um de dois modos: ou só quanto à voz, ou quanto à voz em outros lugares.
e à significação simultáneamente; ora os equívocos são todos comuns Solução da primeira
só quanto à voz; nós, porém, só definimos os que são comuns quanto à objecção.
Comuns só quanto à
voz e à significação; por isso, não é para admirar se a definição de
voz. Comuns quanto
nome comum não compreendera os comuns do primeiro género. à voz e à significação.
B À segunda responder-se-á: aqueles nomes não só são verdadeira­ Solução da segunda
mente comuns, como por nós foram definidos, mas também se predicam objecção.
de vários. Com efeito, não significando o nome Mundo, primàriamente,
este mundo designado, mas o mundo absoluta e simplesmente, atento
o modo como os filósofos discorrem acerca do mundo, não há dúvida
de que pelo modo da sua significação se pode predicar de vários mundos
80 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

de pluribus mundis, qui sub mundo absolute, ac simpliciter concepto,


apprehendi, et cogitari possunt. Itaque si mente apprehendas tres
mundos, iam de singulis veri enunciabis hoc nomen Mundus, etsi plures
in rerum natura non sint. Id quod de eat er is huiusmodi nominibus
Emergit obiectio. dicendum est. At dum ita respondeo videor plane retexere id, quod C
supra dixi, Hoc nomen Deus esse singulare, non commune. Ut enim
hoc nomen Mundus non significat primo hunc mundum, sed mundum
absolute, sub quo concipi possunt plures mundi, sic nomen Deus non
videtur primo significare hunc Deum, sed Deum absolute, sub quo proinde
concipi possunt plures Dii: quare si nomen Mundus, quia significat, mundum
absolute, commune est, pari ratione nomen Deus commune erit. Verum
Solutio. si recte attendis, nil retracto. Nam longe aliter sentiendum est de nomine
Deus, atque de nomine Mundus, deque cateris huiusmodi. Hac namque
significant res finita perfectionis, qua quidem communi conceptu concipi
possunt, additionemque singularis perfectionis, recipere; illud autem signi­
Deus non potest ficat rem perfectionis infinita, qua cum additionem perfectionis admittere
men­te concipi nullo modo valeat, non potest concipi nisi ut designata, et singularis.
nisi ut singularis.
Quod si quis adhuc urgeat dicatque Metaphysicum disserere de Deo, D
Obiectio. ergo si singularia, ut dictum est, reiiciuntur a disciplinis, nomen Dei non
esse singulare, sed commune: occurres, merito ab hac regula excipiendam
Dilutio esse rem eam, qua propter suam perfectionem communi, universalive
Excipitur Deus a conceptu apprehendi non potest. Non negaverim tamen hoc nomen Deus E
re­gula singularium
tum voce, tum etiam quodammodo significatione, commune esse Deo,
non cadentium sub
disci­plinis. et iis hominibus, qui in sacris literis ob iudicandi munus, aut gratiam,
Qua ratione qua Deo sunt similes, vocantur dii. Sed hac communio analogica est,
nomen Deus sit nec dissimilis ab ea, qua nomen Hectoris Troiani communicatur viris
commune. fortibus, et Ciceronis, eloquentibus, et lobi patientibus.

De nomine transcendente et non transcendente

Ca pV T 28

Nomen transcendens, etsi non eadem significatione apud omnes A


sumitur, tamen iuxta communiorem usurpationem sic definiri potest,
Sex transcendentia. Nomen transcendens est, quod de omnibus, ac solis veris rebus dicitur.

B 7-B 8 — tres designatos mundos.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 81

que, sob um mundo absoluta e simplesmente concebido, se podem


apreender e pensar. E assim, se se apreenderem na mente três mun­
dos, já se poderá enunciar de cada um deles, com exactidão, o nome
Mundo, embora não existam vários na natureza das coisas. O mesmo
se deve dizer dos restantes nomes deste teor. A objecção
reaparece.
C Mas, enquanto assim respondo, parece desdizer-se completamente
o que acima disse: que o nome Deus é singular, não comum. Assim
como o nome Mundo não significa, primàriamente, este Mundo, mas o
mundo em absoluto, sob o qual se podem conceber vários mundos, assim
o nome Deus não parece significar, primàriamente, este Deus, mas
Deus em absoluto, sob o qual se podem conceber vários deuses. Por
isso, se o nome Mundo é comum porque significa mundo em absoluto,
com igual razão o nome Deus será comum. Mas se bem se atender,
não há contradição da minha parte. Com efeito, muito diferentemente se
deve pensar acerca do nome Deus e do nome Mundo, e de outros assim.
Solução.
Estes, na verdade, significam coisas de perfeição finita, as quais podem,
na verdade, ser concebidas por um conceito comum e receber a adição
duma perfeição singular; aquele, porém, significa urna coisa de perfeição Deus não pode
ser concebido pela
infinita, a qual uma vez que, de modo nenhum, pode admitir adição mente senão como
de perfeição, não pode conceber-se senão como designada e singular. singular.
D Mas, se alguém persistir em afirmar que o metafísico discorre
Objecção.
sobre Deus, e que, portanto, se os singulares, como dissemos, são
rejeitados pelas ciências, o nome de Deus não é singular, mas
comum — responder-se-á: com razão se deve exceptuar desta regra
Solução.
aquilo que, em virtude da sua perfeição, não pode ser apreendido por Deus exceptua-se
conceito comum ou universal. da regra d os
E Não negarei, contudo, que o nome Deus, quer quanto à voz, singulares que não
quer ainda de certo modo quanto à significação, é comum a Deus e aos caem sob a alçad a
d a ciência. Em que
homens que, na Sagrada Escritura, em virtude do múnus de julgar
razão o nome de
ou duma graça pela qual são semelhantes a Deus, se chamam deu­ Deus é comum.
ses. Mas esta comunhão é analógica e não dissemelhante daquela
por que o nome de Heitor, o Troiano, se transmite aos homens fortes, o
de Cícero aos eloquentes e o de Job aos pacientes.

Capítulo 28

Dos nomes transcendente e não transcendente


A Nome transcendente, embora nem todos lhe dêem a mesma signi­
ficação, contudo, segundo o emprego mais comum, pode definir-se Seis transcendentes.
assim: nome transcendente é aquele que se diz de todas as coisas ver-
6
82 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

Sex porro transcendentia esse dicuntura, Ens, Unum, Verum, Bonum,


Aliquid, et Res: de quorum significatione alibi disputandum est. Reliqua B
a D. Th. de ve­
iuxta hanc sententiam sunt non transcendentia: in quibus numerantur ea,
ritate, q. 1. art. 1. quee a recentioribus dicuntur supertranscendentia, ut Opinabile, Cogita­
et de natura generis bile, Apprehensibile, et si quee sunt alia, quee non tantum de omnibus
ca. 2
rebus veris, sed etiam de quibuscunque aliis vere affirmantur.
Super transcendentia.

De nomine negativo et positivo

Ca pV T 29

Nomen negativum est, quod significat negationem alicuius. Quod A


Duplex nomen ne­
duplex est. Aut enim significat negationem alicuius in subiecto certo,
gativum. ac determinato, ut Ccecum, Tenebrosum, Imprudens: aut in quocunque
subiecto, ut Nonvidens, Noncollustratum, Non prudens. Nam Ccecum
significat negationem aspectus in oculis, Nonvidens autem negationem
aspectus in quocunque subiecto, sive illud sit ens, sive non ens. Unde
fit ut falso quis dixerit sive lapidem, sive hircocervum esse ccecum, vere
autem esse nonvidentem: quod idem discrimen in cceteris facile perspi­
citur. Ac priora illa quidem nomina dicuntur Privativa, sive privantia B
Privativa.
[late accepta privantium appellatione {complectuntur enim pleraque quee
minus proprie dicuntur privativa, ut alio loco dicemus)] posteriora vero
retento commune nomine, Negativa tantummodo, seu negantia vocantur.
Negativa.
Infinita Atque huius generis fere omnia dicuntur ab Aristotele a Infinita, eo quod
a 1. Peri. 2. et 3. tam de iis, quee sunt, quam de iis, quee non sunt, id est, tam de rebus veris,
quam de iis, quee veree res non sunt, vere affirmantur: ut Nonhomo,
Nonchimeera. Illud enim dicitur de omnibus tum non veris rebus, tum
etiam veris, preeterquam de homine: hoc autem de omnibus similiter,
Negativa non infinita praeter quam de Chancera. Quee vero ex hoc genere aut cum solis veris
rebus, aut cum iis, quee veree res non sunt, reciprocantur, ut Nonnihil,
et Non ens, ea, quia non dicuntur tam de iis, quee sunt, quam de iis, quee

B 5 {cap. 28) — sed etiam de fictis vere affirmantur.


A 2-A 4 — in subiecto natura apto ut ccecum, Tenebrosum. Imprudens: aut nullo
importato eiusmodi subiecto.
A 5-A 6 — negationem aspectus, in quacunque re subiecta sive vera sive
ficta. Unde...
A 7-A 8 — quis dixerit lapidem esse ececum, et hircocervum vere autem lapidem
esse nonvidentem et hircocervum nonvidentem.
B 8 - B 9 — tum fictis, tum veris rebus, preeterquam...
B 10 f1590] — Não tem a cota marginal.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 83

dadeiras, e só delas. Por isso se diz que os transcendentes são seisG: a S. Tomás, Da
Verdade, q. I, art. 1;
ente, uno, verdadeiro, bom, algo e coisa, de cuja significação se tratará
e Da Natureza do
em outro lugar. Género, cap. 2.
Os restantes, segundo esta opinião, são não transcendentes,
e entre estes contam-se os que pelos modernos são chamados
supertranscendentes, como opinável, pensável, apreensível, e outros, Supertranscendentes.
se existem, que se afirmam não só de todas as coisas verdadeiras,
mas também de quaisquer outras.

C a p í t u l o 29

Dos nomes negativo e positivo

A Nome negativo é o que significa negação de algo. É duplo; com Duplo nome nega­
efeito, ou significa negação de algo num sujeito certo e determinado, tivo.
como cego, tenebroso, imprudente, ou em qualquer sujeito, como não-
-vidente, não-iluminado, não-prudente. Com efeito, cego significa negação
da vista nos olhos; não-vidente, porém, significa negação da vista cm
qualquer sujeito, quer seja ente, quer não ente. Daí deriva que alguém
poderia dizer, falsamente, que pedra ou hircocervo são cegos; com ver­
dade, porém, [dir-se-ia] que não veem. Distinção idêntica facilmente
se verifica nos restantes.
B Os primeiros nomes dizem-se privativos ou privantes, tomada lata­ Privativos.
mente a acepção de privantes (pois são abrangidos muitos que,
menos propriamente, se dizem privativos, como diremos em outro
lugar); os segundos, mantido o nome comum, chamam-se negativos Negativos.
somente ou negantes. Ora quase todos os deste género são por Aris­
tóteles a chamados infinitos, pelo facto de se afirmarem com verdade Infinitos.
tanto de coisas que são, como de coisas que não são, isto é, tanto de a Da Interpreta­
ção, I, 2 e 3.
coisas verdadeiras, como de coisas não verdadeiras, por exemplo:
não-homem, não-quimera. Aquele [não-homem], com efeito, diz-se de
todas as coisas, não verdadeiras ou verdadeiras, excepto de homem.
Este, [não-quimera], diz-se, igualmente, de todas as coisas, excepto de
quimera. Aqueles [nomes], porém, deste género, que são recíprocos
só das coisas verdadeiras ou das não verdadeiras, como não-nada e Negativos não in­
não-ente, porque se dizem não tanto das coisas que são, como das que finitos.
não são, não são chamados infinitos por Aristóteles.
84 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

non sunt non dicuntur ab Aristotele infinita. Nomina positiva sunt, quce
non significant negationem alicuius, ut Homo, Chimara, Videns, prudens,
Indutus, et similia.

Diluuntur qucedam oblecta contra definitionem nominis


negativi

CapVT30

Obiecl. 1.
Sed contra hcec obiiciat fortasse aliquis, Hoc nomen Negatio A
significat negationem alicuius {significat enim negationem, omnis autem
negatio aliquid negat) et tamen non est nomen negativum, cum nec sit
privativum, nec numeretur in iis negativis, quce ex adverso a privativis
distinguuntur {nam nec est infinitum, nec cum solis entibus, aut non entibus
Obiect. 2. reciprocatur) ergo definitio nominis negativi accommodatur alicui nomini
non negativo, quod absurdum est. Praeterea hcec vox Nonhomo signi­
ficat negationem alicuius, ut satis apertum est, et tamen non est nomen
Obiect. 3.
negativum, sed oratio, quippe cum ea audita duo in nobis gignantur con­
ceptus ultimi, alter particulce. Non, alter particulae Homo, igitur definitio
a Cap. superiori. nominis negativi congruit alicui orationi, quod etiam est incommodum.
b Cap. 15.
Solut. 1. Idem apertius ostenditur in voce Nonnihil, quam inter negativa nomina
Sola negatio specialis
recensuimus a. Componitur enim ex voce Nihil, quam supra b orationem
aliquid negat. esse affirmavimus. Prima tamen obiectio facile diluetur, si dicas, hoc B
nomen Negatio nec esse negativum, ut probatum est, nec significare
Solut. 2.
negationem alicuius. Quanquam enim omnis negatio specialis, ut nega­
c 1. Peri. 2.
tio aspectus, negatio hominis, negatio entis, et negatio hippocentauri
neget aliquid, hoc est significatum alicuius nominis, tamen negatio in
Idem supra Cap. 13. commune nihil omnino negat. Secunda: obiectioni respondebis, vocem C
Nonhomo non esse orationem, ut Aristoteles c plane fatetur. Quanquam
Occurritur ineptas ob-
enim particula Non, et particula Homo proprias habeant, peculiaresque
iectioni. significationes extra totam vocem., tamen in unius dictionis compositio­
nem coniunctce eiusmodi significationes amittunt, totaque ipsa dictio ex
utraque voce conflata significat negationem eius rei, quam vox Homo
extra totam vocem significat. Neque vero ulla est hcec consecutio, quam
quis fortasse extruxerit, Nonhomo significat negationem hominis, ergo

B 12-B 13 (cap. 29) — quia non tam late patent non dicuntur ab Aristotele.
A 1 — Sed contra ista. Hoc nomen...
C 5 — Vide supra, cap. 13 (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 85

Nomes positivos são os que não significam negação de coisa


alguma, como: homem, quimera, vidente, prudente, vestido, e outros
semelhantes.

Capítulo 30

Desfazem-se algumas objecções contra a definição


de nome negativo

A Mas a isto talvez alguém objecte: o nome negação significa negação Primeira objecção.
de alguma coisa (significa, de facto, negação, e toda a negação nega
alguma coisa); e, contudo, não é um nome negativo, pois que nem é
privativo, nem se inclui naqueles negativos que se distinguem por opo­
sição dos privativos (com efeito, nem é infinito, nem é recíproco somente
dos seres ou dos não seres); logo, a definição de nome negativo acomo-
da-se a algum nome não negativo, o que é absurdo. Além disso, a Segunda objecção.
voz não-homem significa a negação de alguma coisa, como está bem de
ver; e, contudo, não é um nome negativo, mas uma oração, pois que,
ao ouvi-la, se geram em nós dois conceitos últimos, um da partícula
não, outro da partícula homem; por isso, a definição de nome negativo
convém a alguma oração — o que não é conveniente. O mesmo se Terceira objecção.
mostra claramente na voz não-nada, que enumerámos entre os nomes
negativos a. Com efeito, compõe-se da voz nada, que acima b afirmámos a Cap. anterior.
ser uma oração. b Cap. 15.
B A primeira objecção facilmente se destruirá, dizendo-se que o nome Solução da primeira.
negação nem é negativo, como se provou, nem significa negação de
alguma coisa. Pois, embora toda a negação especial (como: a negação
da vista, a negação de homem, a negação de ser e a negação de hipo- Só a negação espe­
centauro) negue alguma coisa, isto é, o significado de algum nome, cial nega alguma
coisa.
contudo negação, em geral, não nega absolutamente nada.
C À segunda objecção responder-se-á que a voz não-homem não é Solução da segunda.
uma oração, como Aristóteles c claramente confessa. Pois, embora a c Da Interpreta­
partícula não e a partícula homem, fora da voz toda, tenham significa­ ção, I, 2.

ções próprias e peculiares, contudo, juntas em ordem à composição de


uma só dicção, perdem essas significações, e a dicção toda, formada de Como acima, cap. 13.
ambas as dicções reunidas, significa a negação da coisa que a voz homem
significa fora da voz toda. E é certamente nula esta consequência que Responde-se a uma
alguém talvez tenha formulado: não-homem significa negação de homem, objecção inepta.
86 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

significat negationem, et hominem, quemadmodum nulla sit consequentia


si ita colligas hoc nomen Pater significat respectam ad filium, ergo signi-
Cur audito infinito ficat respectum et filium. Cur autem duo in nobis gignantur conceptus D
nomine duo in nobis auc[¡¡0 nomine Nonhomo, negationis scilicet, et hominis, causa est quia
gignantur conceptus. m^a^0 Spec\a\[s concipi non potest, nisi concipiatur, id quod negatur,
non autem quod una pars nominis infiniti imprimat unum conceptum,
altera alterum. Non secus enim audito nomine Pater concipimus et
filium, patrem quidem directo, filium vero ut terminum respectus paterni;
non quod pars altera nominis gignat unum conceptum, altera alterum,
sed quia respectus paternus absque termino percipi nullo modo potest.
Solut. 3. Tertice obiectioni occurres, vocem Nihil aliquando idem valere quod Nulla E
Duplex significatio res, ut si dicas, Nihil est album simul, et nigrum: aliquando idem quod
vocis Nihil. jqon em^ ut s¡ dicas, inane, seu vacuum est nihil. Priori igitur modo, Nihil,
est oratio, posteriori autem, nomen negativum, non quidem significans
negationem, et ens, ut modo ostendimus, sed negationem entis. Atque
heee negatio potest negari alia negatione, quam significat vox Nonnihil.

De nominibus repugnantibus et non repugnantibus

Cap V T 3 1

Repugnantia. Nomina repugnantia sunt, qua de eadem re vere affirmari non possunt: A
ut Album, et Nigrum: Ambulat, ac Non ambulat: Doctus, et indoctus:
Lapis, et Lignum. Cum audis, Qua affirmari non possunt, intellige
simul, seu in eodem tempore, et eodem modo. Cum additur, De eadem
re, intellige de eadem re singulari secundum eandem partem, et res­
pectu eiusdem. Alioqui nulla sunt propemodum nomina qua de eadem
Non repugnantia. re vere affirmari nequeant, ut animadvertenti facile patebit. Nomina B
non repugnantia sunt, qua eadem de re vere affirmari possunt ut Doctus,
et Modestus: Simplex, et Prudens: Dives, et Miser. In qua definitione
intellige omnes particulas, quas in definitione repugnantium intelligendas

D 5-D 8 (cap. 30) — concipimus ei patrem et filium: verum non quia pars altera
nominis gignat altera alterum, conceptum, altera, sed quia pater sine filio percipi milio
modo potest.
E1-E 6 — aliquando idem valere quod Nulla res, aliquando idem quod Nonens,
priorique modo esse orationem, posteriori, nomen negativum, non quidem significans
negationem, et ens ut modo ostendimus, sed negationem entis, quee alia negatione haud
dubie negari poteste. Negatio autem negationis entis significatur voce Nonnihil.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 1 87

logo significa negação e homem; do mesmo modo que nula é a conse­


quência, se se raciocina assim: o nome pai significa relação ao filho, logo
significa relação e filho. A razão por que, ouvido o nome não-homem, A razão por que, ou­
se geram em nós dois conceitos, o de negação e o de homem, é que a vido um nome infi­
nito, se geram em nós
negação especial não pode conceber-se se não se concebe o que se nega; dois conceitos.
e não que uma parte do nome infinito imprima um só conceito, e a outra,
outro. Do mesmo modo, ouvido o nome pai, formamos também o
conceito de filho: o de pai formamo-lo directamente, e o de filho como
termo da relação paterna; não porque urna parte do nome origine um
conceito e outra origine outro, mas porque a relação de paternidade de
modo algum se pode perceber sem termo.
A terceira objecção responder-se-á que a voz nada, umas vezes, Solução da terceira.
equivale a coisa nenhuma, como ao dizer: «nada é simultáneamente Dupla significação
branco e negro»; outras, a não-ser, como ao dizer: «o nada é vão e da palavra nada.
vazio». No primeiro modo, nada é uma oração; no segundo, é um
nome negativo, significando, não negação e ser, como mostrámos, mas
negação do ser. E esta negação pode ser negada por outra negação,
que se significa pela voz não-nada.

Capítulo 31

Dos nomes repugnantes e não repugnantes

Nomes repugnantes são os que se não podem, com verdade, afirmar Repugnantes.
da mesma coisa, como: branco e negro, caminha e não caminha, douto
e indouto, pedra e madeira. Ao ouvir: que se não podem afirmar,
entenda-se simultáneamente ou ao mesmo tempo e do mesmo modo.
Juntando-se da mesma coisa, entenda-se da mesma coisa singular,
segundo a mesma parte e a respeito do mesmo. De facto, quase não
há nomes que não possam afirmar-se da mesma coisa, como fácil­
mente será claro para quem estiver atento.
Nomes não repugnantes são os que se podem afirmar, com verdade, Não repugnantes.
acerca da mesma coisa, como: douto e modesto, simples e prudente,
rico e miserável. Nesta definição, entendem-se todas as partículas que,
na definição de repugnantes, dissemos deverem ser entendidas.

A 6 — Nam alioqui.
B 4 — quas in superiori intelligendas.
INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I

esse diximus. Porro nominum repugnantium duo sunt genera. Alia C


Duo genera repu­ nanque sunt opposita, alia non opposita, seu disparata. Opposita sunt,
gnantium.
aut Contradicentia, seu contradictoria, ut Iustus, et Non iustus: aut
Opposita.
privative opposita, ut videns, et Ccecus: aut contrarie, ut Album, et Nigrum:
aut relative, ut Praeceptor, et Discipulus: quee quidem respondent quatuor
a Ad finem li. 2.
generibus oppositarum rerum, ab Aristotele traditis, de quibus posteaa
Disparata. breviter agemus. Reliqua nomina repugnantia, sunt non opposita, seu
disparata, ut lapis, et lignum: Caro, et Spiritus.

De nominibus primee ac secundce intentionis, quee et primee


ac secundce impositionis dicuntur

CapVT32
Prior usurpatio ex
Boet, in categorias Duplici significatione usurpatur heee nuncupatio nominum primee, A
Arist. ac secundce intentionis. Quidam ita loquuntur, ut nomina rerum dicant
primee intentionis, quasi primi propositi, et instituti eorum, qui nomina
imposuerunt, nomina vero nominum appellent secundce intentionis, pro-
positive. Prius enim imponenda erant rebus nomina, ut alia vocaretur
Homo, alia Equus alia Platanus, et alice aliis vocabulis, deinde ipsis rerum
vocabulis, ut nimirum aliud appellaretur Nomen, aliud Verbum, aliud
participium, et alia aliis nominibus. Iuxta hunc loquendi morem sola
nomina imposita vocibus significantibus ex impositione, qua ratione ex
impositione significant, sunt secundce intentionis, ccetera omnia sunt primee,
etiam si veras res non significent. Atque hoc significatu satis apertum
Posterior usurpatio est cur nomina primee intentionis primee etiam impositionis dicantur,
ex D. Thoma de na­
tura generis, 12. et. 2 secundce autem intentionis, secundce impositionis. Alii vocant nomina B
de universalibus, et primee intentionis ea, quee significant primas intentiones: secundce autem
de potent, q. 7. art. 9.
intentionis, quee significant secundas. Nomine autem primarum inten­
tionum intelligunt ea omnia, quee conveniunt rebus veris, etiam si eiusmodi
res a. nemine concipiantur: quod vocant convenire a parte rei: quo pacto
convenit Socrati quod sit homo, quod disciplinae capax, quod Socrates,
quod Philosophus, quod fortasse ccecus, et non iustus. Nomine vero
secundarum intentionum intelligunt ea, quee conveniunt rebus veris ob
aliquam, earum apprehensionem, quod dicitur per operationem intellectus:
quo pacto accidit huic voci Homo naturaliter spectatce quod sit nomen,
et huic Disputo quod sit verbum. Nisi enim hce voces apprehendantur

B 10 — quo pacto convenit huic voci...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 89

C Com efeito, há dois géneros de nomes repugnantes. Uns são opostos, Dois géneros de re­
outros não-opostos ou díspares. Os opostos são contradizentes ou pugnantes.
Opostos.
contraditórios, como justo e não justo; privativamente opostos, como
vidente e cego; contràriamente opostos, como branco e negro; e relativa­
mente opostos, como mestre e discípulo — os quais, de facto, correspon­
dem aos quatro géneros de coisas opostas apresentados por Aristóteles,
dos quais trataremos depois a, sucintamente. Os restantes nomes repug­ a No fim do li­
nantes são não-opostos ou díspares, como pedra e madeira, carne e espírito. vro II.
Díspares.

Capítulo 32

Dos nomes de primeira e de segunda intenção que também


se dizem de primeira e segunda imposição

A Com dupla significação se emprega esta denominação de nomes de Primeiro uso por Boé-
cio, nas Categorias
primeira e segunda intenção. Alguns falam de tal maneira que dizem de Aristóteles.
os nomes das coisas de primeira intenção como que de primeiro propósito
ou convenção daqueles que impuseram os nomes; os nomes dos nomes
chamam-nos de segunda intenção ou propósito. Primeiro, pois, deviam
ser impostos nomes às coisas para que uma se chamasse homem, outra
cavalo, outra plátano e outras com outros vocábulos; em seguida,
aos próprios vocábulos das palavras, para que seguramente um se cha­
masse nome, outro verbo, outro participio, e outros com outros nomes.
Segundo este costume de falar, só os nomes impostos às vozes que signi­
ficam por imposição, pela qual razão significam por imposição, são de
segunda intenção; todos os demais são de primeira intenção, mesmo que
não signifiquem coisas verdadeiras. Ora, posto isto, é bem clara a
razão por que os nomes de primeira intenção se dizem também de pri­
meira imposição e os de segunda intenção de segunda imposição.
B Outros chamam nomes de primeira intenção àqueles que significam
primeiras intenções e de segunda, aos que significam segundas. Pelo
nome de primeiras intenções entendem tudo o que convém às coisas
verdadeiras, ainda que as coisas deste género por ninguém sejam con­ Segundo emprego.
S. Tomás, em Da
cebidas, o que chamam convir da parte da coisa. Deste modo, convém Natureza do Género,
a Sócrates ser homem, ser capaz de educação, ser Sócrates, ser filósofo, 12; Dos Universais, 2
ser talvez cego e não justo. Pelo nome de segundas intenções, entendem e Da Potência, q. 7,
art. 9.
o que convém às coisas verdadeiras, em virtude de alguma apreensão
delas, ou seja, através duma operação do intelecto. Deste modo, con­
vém à voz homem, naturalmente tomada, ser nome, e a disputo,
ser verbo. A não ser que estas vozes se apreendam como sinais impos-
90 INSTITVTIONVM D1ALECTICARVM LIBER I

ut signa rebus imposita, nec prior erit nomen, nec posterior verbum.
Eodem modo accidit homini quod sit species, quod definiatur, et similia:
quoniam nisi apprehendatur imagine quadam communi omnibus hominibus,
a Apud Porphy- nec species erit, nec definietur, ut alibi ostendemusa. Atque illa quidem
rium. merito dicuntur intentiones primee, heee secundce, quia cum illa sint horum
fundamenta, intellectus noster prius in illa, quam in heee intendit. Jta
satis perspicuum relinquitur, cur nomina illorum dicantur primee intentionis,
horum autem, secundce. Et quia ea, in quee prius intendimus, prius etiam
Num figmentorum nominare possumus, non est alienum ab hac usurpatione nominum, ut
nomina sint primae
intentionis. priora dicantur primee impositionis, et posteriora secundce. Quanquam
vero figmentorum nomina ut Sphinx, Chimcera, et similia non sint primee,
nec secundce intentionis posteriori acceptione, ut ex dictis patet, possunt
tamen reductione quadam elici primee intentionis, quia res fictee, etsi res
Conclusio libri.
verce non sunt, tamen finguntur esse verce. Id quod addiderim ne aliquod
nomen, sit, quocl utroque modo primee, aut secundce intentionis non dicatur.
Heee de varia nuncupatione nominum, ac verborum dixisse sit satis. Quee
pars instituti nostri respondet initio categoriarum Aristotelis, ubi ille
de cequivocis, univocis, et denominativis, de complexis, et incomplexis,
de universalibus, et singularibus, antequam ingrediatur ad categorias,
pauca praefatur.

B 13 — Eodem modo convenit homini...


B 15 — Ad Porphyrium. (cota marginal).
B 17 — intellectus noster de rebus cogitans prius in illa...
B 18 — dicatur nomina primee intentionis.
C 7 [1590] — Não tem esta cota marginal.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 91

tos às coisas, nem o primeiro será nome, nem o segundo será verbo.
Igualmente, convém a homem ser espécie, ser definido, e coisas seme­
lhantes; porque, se não for apreendido por meio duma certa imagem
comum a todos os homens, nem será espécie, nem se definirá, como
mostrámos acima a. Ora, sem dúvida, aquelas dizem-se, com razão, a Segundo Por­
primeiras intenções, e estas, segundas intenções, porque, sendo aquelas firio.
os fundamentos destas, o nosso intelecto dirige-se primeiro àquelas que
a estas. Assim, deixa-se bem evidente a razão por que os nomes daque­
las se dizem nomes de primeira intenção e os destas de segunda intenção.
E porque as coisas, para que primeiro dirigimos a intenção, também
as podemos nomear em primeiro lugar, não é alheio a este emprego dos
nomes o dizerem-se as primeiras de primeira imposição e as segundas
de segunda.
C Embora, na verdade, os nomes de coisas fictícias, como esfinge, Se os nomes de coisas
quimera, e outras assim, não sejam de primeira nem de segunda intenção, fictícias são de pri­
meira intenção.
na segunda acepção, como se mostra pelo que ficou dito, podem, todavia,
por certa redução, dizer-se de primeira intenção, porque as coisas fictícias,
apesar de não serem verdadeiras, são, contudo, fingidas serem verdadei­
ras ;o que ajuntarei para que não haja nome algum, que, de um ou
outro modo, se não diga de primeira ou segunda intenção.
Baste o que disse acerca das várias denominações dos nomes e dos Conclusão do livro.
verbos. Esta parte do nosso tratado corresponde ao início das Catego­
rias de Aristóteles, onde ele, antes de entrar nas categorias, diz alguma
coisa dos equívocos, unívocos e denominativos, dos complexos e incom­
plexos, dos universais e singulares.
IN STITVTIONVM DIA L E C TIC A R V Μ

LIBER SECVNDVS

Quid agendum sit in hoc libro itemque quid sit universale *

CA P V T 1

Proxime sequitur ut infinitam nominum, et verborum multitudinem A


in decem ordines, et quasi classes, ut in promptu habeantur, redigamus.
Hos ordines scepe vocat Aristoteles κατηγορίας, hoc est praedicamentaa ,
a Ut in inscript.
predic. et. 1. post.
quod in his categoremata, seu qua: pradicantur, in ordinem coacta, ac
18 et. 1. Top. 7 disposita sint. Vocat etiam [ nonnunquam] σνσοίκίας quasi elementorum
series b , quod prima ad disserendum elementa in has quasi classes redacta,
b Ut. 1. post. 11.
ac digesta sint. Sed quia pradicamenta nullo modo intelligi possuntc,
c Porphy. in prae­
fatione. nisi quid sit genus, quid species, quid differentia, quid proprium, quidque
accidens intelligatur; necessario hac quinque ante explicanda sunt, quam
quid sit pradicamentum, quot [item) et qua pradicamenta exponamus.
Quoniam vero hac quinque in eo conveniunt quod sint universalia, prius
quid sit universale, ut est horum commune genus breviter dicendum est.
[d Cap. de genere Universale [ut ex Porphyrio d describi solei] est id, quod pradicatur de
et de communit.] pluribus: [ut vero ab Aristotele c explicatur, est id quod aptum est, ut de
e 1. Peri. 5. pluribus pradicetur] . Subaudi eadem omnino ratione, ac secundum
naturam: ut homo, animal. Quid sit pradicari de pluribus eadem omnino
/ Cap. 19. et se­ ratione, superiori libro f expositum est. Quid autem et quotuplex sit B
quentibus. pradicatio secundum naturam, et qua praedicationes illi opponantur,

* Quid agendum sit in hoc libro, item quid sit universale.


A 6-A 7 — in his quasi classibus ordinata et digesta...
A 8-A 9 — quid accidens...
A 16-B 20 — homo, animal Superiori libro nomen universale definivimus: nunc
rem universalem describimus. Hic tamen pressius rem, quam ibi nomen. Quid sit pra-
dicari de pluribus eadem omnino ratione, libro eodem exposuimus. Quid autem sit pradi­
cari secundum naturam, sic accipe. Ea pradicantur secundum naturam sive directe {ut
L I V R O II

DAS

INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS

Capítulo 1

O que deve tratar-se neste livro e o que é o universal

A Segue-se imediatamente o trabalho de compendiarmos cm dez ordens,


ou como que classes, a infinita multidão de nomes e de verbos, de modo
a estarem presentes à memória. Muitas vezes Aristóteles0 chama a a Como na ins­
crição dos Predica­
estas ordens κατηγορίαι [categorias], ou seja, predicamentos, pelo facto mentos e nos Segun­
de terem sido reunidos nelas e dispostos segundo uma ordem os cate- dos Analíticos, I, 18
goremas, isto é, aquilo que se predica. Chama-lhes também σνσοιχίαι, e Tópicos, I, 7.
ou série0 de elementos, pelo facto de estarem reunidos e distribuídos b Segundos Ana­
líticos, I, 11.
nestas espécies de classes os primeiros elementos do discurso. Mas,
c Porfirio, no pre­
como os predicamentos se não podem c entender sem se entender o que fácio.
é o género, a espécie, a diferença, o próprio e o acidente, devem neces-
sàriamente explicar-se estas cinco coisas, antes de expor o que são os
predicamentos, quantos e quais são. Porém, uma vez que estas cinco
coisas têm de comum o facto de serem universais, vai dizer-se sumà-
riamente, antes disso, o que é o universal, como género comum a elas. d Capítulo Do Gé­
Universal, como costuma descrever-se, segundo Porfirio^, é o que nero e do Comum.
e Da Interpreta­
se predica de vários; segundo Aristóteles e, é o que é apto a predicar-se ção, I, 5.
de vários. Subentenda-se absolutamente pela mesma razão e segundo / Cap. 19 e se­
a natureza, como homem, animal. Já se expôs no livro anterior/ o guintes.
B que é predicar de vários por uma razão absolutamente a mesma. Enten­
da-se agora em resumo o que é, e de quantos modos é a predicação
segundo a natureza, e quais as predicações que se lhe opõem.

dici solet) quce sunt veluti forma eorum de quibus pradicantin: quo pacto supetiota
prcedicantur de inferioribus et connotativa de absolutis ut animal de homine, et álbum de
cygno. Huic contraria est quadam pradicatio, qa contra naturam et in directa dicitur, in
qua videlicet contra fit, ut si homo pradicetur de animali, aut cygnus de albo. Inter has...
94 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

Praedicatio naturalis. paucis accipe. Ea praedicatio dicitur secundum naturam, sive naturalis,
quee rerum natura congruit. Jd autem potissimum natura rerum congruit
ut qualibet res de seipsa dicatur, ut si dicas Socrates est Socrates, quando­
quidem nil magis naturaliter cuique rei convenit, quam ipsa. Deinde
illud est natura accomodatum, ut id, quod est quasi forma dicatur de eo,
quod est quasi materia, ut si dicas, Homo est animal, aut Cygnus est albus:
cuius rei rationem apud Porph. facilius inte!liges. Ita fit ut duplex sit
Praedicatio idéntica. naturalis pradicatio sive secundum naturam, una idéntica, in qua prcedi-
Praedicatio directa. catum, et subiectum sunt omnino idem altera, qua directa dicitur, (qua
quidem formalis non incommode vocari posset) in qua id quod est quasi
forma pradicatur de eo, quod se habet, ut materia. Porro idéntica etsi
maxime naturalis est, tamen ea ratione a nobis pratermissa est in prima
editione, quia nihil habet artis. Nunc autem consultius eam comprehen­
dimus, quia Porphyriana Isagoges, quam priori parte huius libri adumbrare
Paedicatio contra na­ conamur, non excludit identicam, ut eo loco patebit. Naturali prcedica-
turam, seu indirecta. tioni contraria est ea quee tum contra naturam, tum. etiam indirecta dicitur,
in qua videlicet in quod est quasi materia praedicatur de eo quod est quasi
forma, ut si dicas, Animal est homo, aut Album est Cygnus. Inter
Praedicatio praeter na­ has [vero] media est alia [quadam], quee et prater naturam, et per accidens
turam, seu per acci­ appellatur, in qua [nimirum] nec id, quod pradicatur, est veluti forma eius,
dens.
quod subiicitur, nec id, quod subiicitur, est veluti forma eius, quod pradi­
catur, sed ambo unius cuiusdam alterius: ut si dicas, Album est dulce,
vel, Dulce est album. Neutrum siquidem est quasi forma alterius, sed
ambo sunt veluti forma [cuiusdam tertii] ut lactis, aut sachari. Univer­
sale igitur, quod generi, speciei, differentia, proprio, et accidenti commune
est, et in hac quinque membra adaquata divisione dividitur, ita. pradicatur
[eadem omnino ratione, sive univoce] de rebus, quarum respectu dicitur
universale, ut de illis non pradicetur contra naturam, aut prater naturam,
sed secundum naturam. Quod tamen nunquam accidit, nisi directe,
[cum nihil omnino possit idéntica pradicatione de pluribus dici, ut perspi­
e Cap. 26. cuum est. Illud tamen hoc loco adverte superiori libroe explicatum
esse nomen Universale, sive Commune, hic autem describi rem universalem;
pressius tamen hic accipi rem, quam illic nomen. Ut enim nomina dicantur

B 3, B 10 e B 11 —As cotas marginais são fundidas numa só.


B 14 — Superiora esse quasi formas inferiorum colliges ex 1. De Caelo, 9.
Et ex 2. Phy. 3. (cota marginal).
B 17 [1590]—Praedicatio contra naturam (cota marginal).
B 21 [7590] — Praedicatio praeter naturam (cota marginal).
C 5-C 6 — ut de eisdem pradicetur eadem omnino ratione, seu (quod idem
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 95

Diz-se predicação segundo a natureza ou natural, a que convém à Predicação natural.


natureza das coisas. E convém, de modo especial, à natureza das coisas
que qualquer coisa se diga de si mesma, por exemplo: Sócrates é Sócrates,
pois que nada convém mais naturalmente a cada coisa que ela mesma.
Depois, é conforme à natureza que o que é como que forma se diga do
que é como que matéria, como quando se diz: o homem é animal, o cisne
é branco. A razão disto mais fácilmente se compreenderá em Porfirio.
Assim resulta que é dupla a predicação natural ou segundo a natureza:
uma idêntica, na qual o predicado e o sujeito são o mesmo; outra que se Predicação idêntica.
diz directa (e que com oportunidade se poderia chamar formal), em que Predicação directa.
o que é como que forma se predica daquilo que se tem como matéria.
Apesar de ser natural no mais alto grau, omitimos, na primeira edi­
ção, a predicação idêntica, por nada ter de dialéctico. Aqui, porém,
inserimo-la intencionalmente, porque a Isagoge de Porfirio, de que
tentámos fazer um esboço na primeira parte deste livro, a não exclui,
como oportunamente se mostrará.
Contrária à predicação natural é a predicação chamada umas vezes Predicação contra a
contra a natureza, outras indirecta, na qual o que é como que matéria natureza ou indirecta.
se predica do que é como que forma, por exemplo: animal é o homem,
branco é o cisne.
Entre estas há uma outra intermédia que se chama além da natureza Predicação além da
ou por acidente, na qual nem o que se predica é como que forma daquilo natureza ou por aci­
dente.
que é sujeito, nem o que é sujeito é como que forma daquilo que se
predica, mas ambos duma outra coisa, por exemplo: branco é o doce,
ou o doce é branco. Nenhum, com efeito, é como que forma do outro,
mas ambos são como que formas duma terceira coisa, como do leite
ou do açúcar.
Portanto, o universal, porque é comum ao género, à espécie, à dife­
rença, ao próprio, ao acidente, e se divide adequadamente nestes cinco
membros, de tal maneira se predica por uma razão absolutamente a
mesma, ou univocamente, das coisas a respeito das quais se diz universal,
que delas se não predica contra a natureza, ou além da natureza, mas
segundo a natureza. Isto, contudo, nunca acontece a não ser directamente,
uma vez que absolutamente nada pode dizer-se de vários por predicação
idêntica, como é evidente. Note-se, todavia, neste lugar, que no
livro anterior^ foi explicado o nome universal ou comum; aqui, porém, g Cap. 26.
é descrita a coisa universal; contudo, aqui toma-se mais expressiva­
mente a coisa, que ali o nome. Portanto, para que se diga que os

est) univoce, non tamen contra naturam, aut preeter naturam (quas pnecticationes Aristo­ I post. 15 et 18.
teles nomine prcedicationis per accidens complectitur) sed secundum naturam, sive directe.
96 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER II

communia, et universalia comparatione plurium rerum, parum curari


solet num de illis dicatur secundum naturam, an secus: at vero ut res dicantur
universales, qua ratione universale commune est soli Generi, Speciei,
Differentice, Proprio, et Accidenti id non segniter attenditur.']

Universalia multis modis prcedicari

C A P V T 2

a Prophy. de ge­ Porro universaliaa aut prcedicantur in qucestione Quid est, aut in A
nere.
qucestione Quale est: et iterum, aut essentialiter, aut accidentaliter:
et rursus, aut necessario, aut non necessario, seu contingenter. Ea prce­
Praedicatio in Quid dicantur in qucestione Quid est, quce apte redduntur cum, quidnam aliquid
est.
sit, quceritur b. Hoc modo prcedicatur virtus de iustitia, et homo de Socrate:
b Porphy. ibidem
ex. 1. top. 4. quia si quis qucerat quid sit iustitia, quid Socrates, apte respondebit qui
Praedicatio in Quale dixerit, iustitiam esse virtutem, et Socratem esse hominem. Ea prcedi­
est.
cantur in qucestione Quale est, quce apte redduntur, cum qualenam aliquid
c Porphy. ibidem. sit, quaeriturc. Hoc modo prcedicantur rationis particeps, rectum, et
alia huiusmodi de Socrate. Nam si quis roget qualenam animal sit Socrates,
apte respondebit, qui dixerit esse rationis particeps, rectum, et huiusmodi.
Praedicatio essentialis. Ea prcedicantur essentialiter, quce pertinent ad essentiam subiecti. Hoc B
Praedicatio acciden­
modo prcedicantur de homine tum animal, tum rationis particeps. Ea prce­
talis.
dicantur accidentaliter, quce non pertinent ad essentiam subiecti. Quo
Praedicatio necessaria. pacto rectum prcedicatur de homine, et candidum de cygno. Ea prcedicantur
d Aliquando enim necessario (ut hoc loco necessaria prcedicatio accipitur d) quce ita affirman­
latius accipitur, ut
tur de subiecto, ut de eodem negari non possint absque subiecti eversione.
li. 3. cap. 5.
Quo pacto disciplince capax prcedicatur de homine. Si quis enim negaverit
C
hominem esse disciplince capacem, consequens est ut neget eundem esse
hominem Hcec iccirco tam firma, prcedicatione de subiecto dicuntur, quia,
vel pertinent ad essentiam subiecti, vel intimis essentice principiis nascuntur.
Praedicatio contin­ Ea denique prcedicantur non necessario, seu contingenter, quce ita de
gens.
subiecto affirmantur, ut de eodem negari possint absque subiecti eversione e.
e Porphy. de acci­
dente. Quo pacto candidum prcedicatur non modo de homine, sed etiam de cygno.
Ut enim non negat hominem esse hominem, qui eum, qui candidus est,
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 97

nomes são comuns e universais em relação a várias coisas, costuma


ligar-se pouca importância ao facto de se dizerem delas segundo a
natureza, ou diversamente; mas para que as coisas se digam univer­
sais, atende-se diligentemente à razão por que o universal é comum
só ao género, à espécie, à diferença, ao próprio e ao acidente.

Capítulo 2

Os universais predicam-se de muitos modos

A Efectivamente, os universais a ou se predicam a propósito da per­ a Porfirio, em Do


Género.
gunta o que é ou da pergunta qual é; e também [se predicam] essen­
cialmente ou acidentalmente; e ainda necessária ou não necessàriamente,
isto é, contingentemente.
Predicação em
Predicam-se na pergunta o que é os que aptamente respondem, «que é».
quando se pergunta6 o que alguma coisa é. Deste modo se predica b Porfirio, no
virtude de justiça, e homem de Sócrates, porque, se se perguntar o que mesmo lugar, Tópi­
cos, I, 4.
é a justiça, o que é Sócrates, responderá bem quem disser que a jus­
tiça é uma virtude e que Sócrates é um homem. Predicação em
Predicam-se na pergunta qual é os que respondem acertadamente, «qual é».
c Porfirio, no
quando se pergunta c pela qualidade de alguma coisa. Deste modo se mesmo lugar.
predicam de Sócrates: racional, vertical, e atributos semelhantes. Com
efeito, se alguém perguntar que qualidade de animal é Sócrates, apta­
Predicação essencial.
mente responderá quem disser que é animal racional, vertical, etc.
B Predicam-se essencialmente os que pertencem à essência do sujeito.
Predicação acidental.
Deste modo se predicam do homem tanto animal, como racional. E pre­
dicam-se acidentalmente os que não pertencem à essência do sujeito. Predicação necessá­
É deste modo que se predica vertical de homem, e branco de cisne. ria.
Predicam-se necessàriamente (no sentido em que aqui se toma d Às vezes, com
efeito, toma-se em
predicação necessária d) os que de tal modo se afirmam do sujeito que
sentido mais lato,
dele se não podem negar sem o destruir. Assim se predica de homem como no liv. III,
capaz de educação. Com efeito, se alguém negar que o homem é capaz cap. 5.
de educação, é lógico que negue que o mesmo é homem. Estes universais
dizem-se do sujeito com tão firme predicação, porque ou pertencem à Predicação contin­
gente.
essência do sujeito ou brotam dos íntimos princípios da essência.
e Porfirio, em Do
C Finalmente, predicam-se não necessàriamente ou contingentemente
Acidente.
os universais que de tal modo se afirmam do sujeito, que podem negar-se
do mesmo sujeito sem o destruir e. Assim se predica branco não só
de homem, mas também de cisne. Assim como não nega que um homem
é homem aquele que nega que ele é branco, sendo de facto branco,
7
98 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

candidum esse inficiatur, sic non negat cygnum esse cygnum, qui negat
esse candidum. Quanquam enim hoc falso dicitur, hinc tamen non sequi­
tur ut cygnus dicatur non cygnus, quippe cum candor cygni nec ad eius
essentiam pertineat, nec ex intimis eius principiis profluat. Sed hcec dili­
gentius persequi non ad hunc locum attinet.

De genere

CA P V T 3

a Porphy. de ge­
Genus itaque est universale quiddam, sub quo species collocatur a: A
nere.
ut animal. Sub hoc enim collocatur homo, qui in speciebus animalis
b Porphy. de ge­ numeratur. Definitur etiam hoc modo. Genus est id, quod de pluribus
nere ex. 1. Top. 4. specie differentibus in quaestione Quid est praedicatur b. Dicimus
Quíe differ, specie. namque animal esse genus hominis, et equi, quoniam est universale, quod
apte redditur, cum quid sit homo, quid equus, quaeritur. Ea vero dicun- B
c Porphy de spe­
tur differre specie, quae aut sunt diversae species, ut homo, et equus: aut
cie. sub diversis speciebus continentur, ut Alexander, et Bucephalus Alexan­
Genus summum.
dri equus. Iam vero genus duplex est c: aliud summum, aliud subalter- C
Genus subalternum. num, ut vocant. Ea res dicitur genus summum, quae supra se nullum genus
habet: et, Quae, cum sit genus, non est etiam species, ut substantia, qualitas,
Nomen generis quam et alia, de quibus, inferius dicemus. Ea vero dicitur genus subalternum,
late usurpetur apud ' supra quam aliud genus assignatur, et quae, cum sit genus, est etiam species,
Latinos.
ut corpus. Hoc enim comparatione substantiae est species, comparatione
corporis animati est genus. Latini tamen scepenumero nomen generis
pro quacunque re universali (late etiam accepto nomine universalis)
usurpant: ut cum dicunt, multa esse animalium genera, Hominem, Equum,
Leonem, et cartera: item Medicinae duo esse genera sublecta, Sanum, et
yEgrum. Quo loquendi charactere, quoniam usurpatissimus est saepissime
utimur.

De specie

Ca pV t 4
a Porphy. de spe­
cie. Species est id, quod proxime sub aliquo genere collocatur a: ut homo: A
Species subalterna. proxime siquidem sub animali, quod genus est, continetur. Est autem
duplex species, altera infima, altera subalterna. Ea res dicitur species
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 99

assim não nega que um cisne é cisne quem negar que ele é branco.
Embora isto se diga falsamente, todavia, daqui não se segue que o cisne
se diga não cisne, uma vez que a brancura do cisne nem pertence à sua
essência, nem é exigida pelos seus princípios intrínsecos. Mas não
pertence a este lugar estudar estas coisas mais diligentemente.

Capítulo 3

Do género
A O género é um universal, sob que se coloca a espécie a: assim animal.
Abaixo deste, com efeito, coloca-se homem, que se enumera entre as a Porfirio, em Do
espécies de animal. Define-se também deste modo: género é aquilo Género.
que se predica de várias coisas diferentes na espécie, na pergunta o
que éb. Dizemos, com efeito, que animal é o género de homem e de
cavalo, porque é o universal que se dá como resposta adequada, quando b Porfirio, em
Do Género, dos
se pergunta o que é o homem, o que é o cavalo. Tópi­cos I, 4.
B Diz-se que diferem na espécie as coisas que ou são espécies diversas,
As coisas que diferem
como homem e cavalo, ou se contêm debaixo de espécies diversas, como na espécie.
Alexandre e Bucéfalo, cavalo de Alexandre.
C O género é duplo c: supremo e subalterno, como dizem. Diz-se c Porfirio, Da
género supremo o que, acima de si, não tem outro género, e que, Es­pécie.
Género supremo.
visto ser género, não é também espécie, como substância, qualidade, e
outras coisas de que adiante falaremos. Diz-se género subalterno o Género subalterno.

que tem acima de si outro género e que, apesar de ser género, é tam­
bém espécie, como corpo. Este, com efeito, em relação à substância, O nome d e género
é espécie; em relação ao corpo animado, é género. Os latinos, toda­ é empregado pelos
via, empregam, muitas vezes, o nome de género por qualquer coisa La­tinos numa
acepção muito mais
universal (tomado latamente o nome universal), como quando dizem: lata.
há muitos géneros de animais: homem, cavalo, leão, etc.; ou: são só
dois os géneros sujeitos da Medicina — são e doente. Usamos muitís­
simas vezes este modo de falar, visto ser muito corrente.

Capítulo 4

Da espécie
a Porfirio, em Da
Espécie.
A Espécie é o que se coloca imediatamente sob algum género, como
a

homem. Com efeito, homem está contido imediatamente abaixo de


animal, que é género.
100 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

subalterna, sub qua est alia species: seu, quee cum species sit, est etiam
genus: ut animal, corpus animatum, corpus. Nam horum quodque habet
sub se species, quarum comparatione sit genus, et supra se genus aliquod,
cuius respectu sit species. Ea vero res dicitur species infima, sub qua
non collocatur alia species seu, Quce cum sit species, non est etiam genus:
ut homo. Siquidem homo nullam sub se habet speciem, sed sola individua,
quorum nequaquam genus est. Quo fit, ut aliam respectu eorum sor­
Species infima.
tiatur speciei appellationem, qua sic species definitur. Species est, quce
tantum de iis pluribus, qua: solo differunt numero, in queestione Quid est
Species ut universale prcedicatur: ut homo de individuis tantum hominibus, qui solo differunt
quiddam est.
Individuum. numero. Individuum est id, quod de uno solo prcedicatur: seu, cuius omnes B
simul proprietates multis rebus convenire non possunt. His de causis
dicimus Socratem esse individuum, tum quia de se solo prcedicatur, tum
etiam quia omnes eius proprietates [sive accidentia] simul accepta in alia

Quas differant nu­


etiam reinveniri non possunt. Ea dicuntur differre numero, quce in nume- C
mero Boet, in Por- rando differunt, ut Socrates, et Plato, itemque ut homo et equus: non ut
phy. ad cap. de gen.
Quae differant solo homo, et animal. Qui enim dicit hominem, simul etiam dicit animal,
numero.
quandoquidem homo, qua homo, animal est. Ea vero differunt solo
numero, quce et individua sunt, et sub genere suo nullo universali discrimine
dissident. Hoc modo differunt Socrates et Plato, quia et individui homines
sunt, et sub genere suo, quod est animal, nullo universali discrimine distin­
guuntur, sed tantum quod Socrates sit hic, Plato ille, quanquam sub alio
genere universali aliquo discrimine distingui possint: ut si Socrates sit
albus, Plato vero niger. Non hoc modo differunt Alexander, et Buce­
Quae nos species.
Cicero in Topicis
phalus, quia sub animali, alio etiam discrimine, quod universale est, multis­
commodius formas que individuis commune, distinguuntur: ut quod Alexander sit rationis
dicendas putat.
particeps, Bucephalus rationis expers. Cicero de nomine speciei ita inquit.
Formce sunt, quas Grceci Ιδέας vocant: nostri si qui heee forte tractant,
species appellant: non pessime id quidem, sed inutiliter ad mutandos casus
in dicendo. Nolim enim, ne si Latine quidem dici possit, specierum, et
speciebus dicere, et scepe his casibus utendum est: at formis, et formarum

A 6 — quarum comparatione est genus...


A 7 — cuius respectu est species.
Bl — quod de una tantum re prcedicatur...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 101

A espécie é dupla: ínfima e subalterna. Diz-se espécie subalterna


aquela sob a qual há outra espécie, ou aquela que, sendo espécie,
é também género, como: animal, corpo animado, corpo. Na verdade, Espécie subalterna.
cada um destes tem, abaixo de si, espécies em relação às quais é
género, e tem, acima de si, um género em relação ao qual é espécie.
Diz-se espécie ínfima aquela sob a qual se não coloca outra, ou aquela
que, sendo espécie, não é também género, como homem. Na verdade, Espécie ínfima.
homem não tem abaixo de si espécie alguma, mas só indivíduos, dos quais
de modo nenhum é género. Por isto, se escolhe em atenção a estes
uma outra denominação de espécie, pela qual ela se define assim :
espécie é o que, na resposta à pergunta o que é, só se predica daquelas
Espécie é um certo
várias coisas que diferem apenas quanto ao número, como homem se universal.
predica somente dos homens indivíduos, que só diferem quanto ao
número.
B Indivíduo é o que se predica de uma única coisa, ou aquilo cujas
propriedades, no seu conjunto, não podem convir simultáneamente a
muitas coisas. Por isso dizemos que Sócrates é um indivíduo, não só Indivíduo.
porque se predica de si só, mas também porque todas as suas proprie­
dades ou acidentes, simultáneamente tomados, se não podem encontrar
noutra coisa.
C Diz-se que diferem quanto ao número as coisas que se enumeram
como diferentes. Assim: Sócrates e Platão, e, igualmente, homem e Coisas que diferem
cavalo; mas não enquanto homem e animal. Com efeito, quem diz em número.
Boécio em «Porfirio»
homem, diz também, simultáneamente, animal, visto que homem, no capítulo sobre o
enquanto homem, é animal. Diferem só quanto ao número as coisas género.
Coisas que diferem
que são também indivíduos e, sob o seu género, não diferem por apenas quanto ao
nenhuma distinção universal. Sócrates e Platão diferem segundo este número.

modo, porque são homens indivíduos e, sob o seu género, que é animal,
não diferem por qualquer distinção universal, mas somente pelo facto
de Sócrates ser este e Platão aquele, embora sob outro género universal
possam diferir por alguma distinção universal, como se Sócrates fosse
branco e Platão negro. Não é segundo este modo que diferem
Alexandre e Bucéfalo, porque, sob animal, diferem também por uma
outra distinção, universal e comum a muitos indivíduos, e que é o facto
de Alexandre ser racional e Bucéfalo irracional. Cícero diz acerca do Àquilo a que nós
nome de espécie: formas são aquilo a que os Gregos chamam ίδέαι chamamos espécies,
julga Cícero, nos Tó­
[ideias]; os nossos, se por acaso alguns tratam destas coisas, chamam- picos, que se lhes
lhes espécies; não é modo de falar péssimo, mas é nocivo, pelo que deve chamar mais
pròpriamente formas.
respeita à mudança dos casos na linguagem. Embora em latim se possa
dizer das espécies e às espécies, e muitas vezes se tem de usar destes
casos, eu não o aprovaria. Diria antes: às formas, das formas. Como,
102 INSTITVTIONVM DIALECriCARVM LIBER II

velim. Cum autem utroque verbo idem significetur, commoditatem in


dicendo non arbitror negligendam. Hac Cicero. Verum Dialectici non
tanta verborum religione obstringuntur.

De differentia

CA P VT 5

Differentia dici potest ea forma, qua res aut a se in alio, et alio tempore, A
aut ab alia re, differta. Ea vero triplex est, communis, propria, et maxime
a Porphy. de dif­ propria. Communis differentia est ea, qua nec pertinet ad essentiam
ferentia.
Communis. rei, nec inseparabilis ab ea est, ut sedere, stare, et huiusmodi alia. Propria
Propria. est, qua inseparabilis quidem est, sed tamen ad essentiam non pertinet,
ut habere cicatricem, qua iam callum obduxerti: habere oculos casios:
esse disciplina capax, et similia. Maxime vero propria, qua et specifica
Maxime propria.
dicitur, est ea, qua et inseparabilis est, et ad essentiam rei pertinet, ut
corporeum esse, animatum, sensitivum, rationale, et catera huiusmodi.
Primum discrimen. Inter hac differentiarum genera est late patens discrimen. Communibus B
enim, ac propriis differentiis, accidentaliter tantum res discrepant: maxime
Secundum. autem propriis, essentialiter. Item communibus, et propriis, nec divi­
duntur genera in species, nec definitiones specierum assignantur: iis
Tertium. vero, qua maxime propria dicuntur, maxime. Ac ille quidem priores,
vel proprietates sunt, vel accidentia, de quibus adhuc dicendum est: ha
Duo differentiarum
vero a cateris omnibus universalibus distinguuntur. Harum igitur, qua
officia.
huius loci sunt, cluo numerantur officia, alterum quod dividant genera,
alterum quod constituant species. Nam quemadmodum as, cum sit
unum quid, diversis tamen figuris, ac formis distrahitur, ut ex ipso, et acces­
sione diversarum formarum fiant diversa res artificiosa, ut statua, et spheera,
sic animal, quod est genus hominis, et bellua, cum unius natura sit, tamen
Prima definitio diffe­ rationali, et irrationali, utpote diversis differentiis, dividitur, ut ipsarum
rentias. accessione homo, et 'bellua, qua sunt diversa species, efficiantur. Hinc
fit ut differentia apte definiatur hoc modo. Differentia est id, quo species
Secunda. suum genus excedit. Constat enim species genere, ac differentia generi
adiuncta, qua tamen non constat genus. Item hoc modo. Differentia C
est id, quod ita separat species sub eodem genere, ut ad earum essentiam
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 11 103

porém, com uma e outra palavra se significa o mesmo, julgo que não
deve desprezar-se a comodidade na linguagem. Isto diz Cícero. Os
dialécticos, porém, não estão obrigados a tão grande respeito pelas
palavras.

Capítulo 5

Da diferença

A Diferença pode dizer-se a forma pela qual uma coisa difere ou


de si, em tempos diferentes, ou de outra a. É tríplice: comum, própria
e máximamente própria. Diferença comum é a que nem pertence à a Porfirio, Da Di­
essência da coisa nem dela é inseparável, como: sentar-se, estar de pé, e ferença.
outros assim. Diferença própria é a que é inseparável da essência, mas Comum.
não pertence à essência, como: ter uma cicatriz, ter um calo endure­ Própria.
cido, ter olhos esverdeados, ser capaz de educação, e outras semelhan­
tes. Máximamente própria, que também se diz específica, é a que não Máximamente pró­
pria.
só é inseparável, mas também pertence à essência da coisa, como: ser
corpóreo, animado, sensitivo, racional, e outros mais.
B Está bem patente a distinção entre estes géneros de dife­
Primeira distinção.
renças. Pelas diferenças comuns e próprias, as coisas só diferem aci­
dentalmente; pelas máximamente próprias, diferem essencialmente.
Do mesmo modo, nem os géneros se dividem em espécies, nem as espécies Segunda.
se definem pelas diferenças comuns e próprias; mas, por aquelas que se Terceira.
dizem máximamente próprias, máximamente [se dividem os géneros e se
estabelecem as definições]. E as primeiras são ou propriedades ou aci­
dentes, de que ainda falaremos, pois se distinguem de todos os restan­
tes universais.
Duas funções das di­
Portanto, são duas as funções das diferenças aqui estudadas: dividir ferenças.
os géneros e constituir as espécies. Com efeito, do mesmo modo que o
bronze, sendo uma só essência, se divide em diversas figuras e formas,
de modo a constituir, pela adjunção de diversas formas, diversas obras
de arte, como uma estátua e uma esfera, assim animal, que é o género
de homem e de besta, sendo de uma só natureza, se divide todavia em
racional e irracional, como por diferenças diversas, de modo a cons­
tituir-se, pela adjunção delas, homem e besta, que são de espécies
diversas. Primeira definição de
diferença.
C Daqui deriva que a diferença se define bem deste modo: diferença
é aquilo em que a espécie excede o seu género. A espécie, de facto,
Segunda.
consta do género e da diferença ajuntada ao género, da qual, contudo,
o género não consta. Também se define bem assim: diferença é aquilo
104 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

pertineat. Item hoc modo Differentia est id, quod praedicatur de pluribus
Tertia.
specie differentibus in quaestione Quale est, necessario et essentialiter.
Verum haec definitio non complectitur eas differentias, quae proxime species
infimas constituunt, ut rationale. Omnes tamen complectetur, si expun­
xeris illud Differentibus specie. Si enim quis te rogaverit, qualia nam ani­
malia sint Socrates, et Plato secundum differentiam necessario utrique
convenientem, et ad utriusque essentiam pertinentem, apte respondebis,
Generalis differentia.
esse rationalia: atque ita in cceteris. Est autem duplex differentia: D
altera generalis: altera specialis. Generalis constituit rem, quce non
Specialis. tantum est species, sed etiam genus: qualis est corporeum, quce constituit
corpus, et animatum, quce constituit corpus animatum, et sensitivum,
Differentia indivi­
duam
quce constituit animal. Specialis proxime constituit rem, quce solum est
Scot. 2. d. 3. q. 6. et species, ut rationale, quce hominem efficit. Prceter has est alia qucedam,
Caiet. in librum de
ente, et essent, q. 5. quce proxime constituit individuum, quce individuans differentia nuncupatur.
art. 4. ad finem.
Exempli causa differentia, quce homini communi adiuncta efficit Socratem,
dicitur differentia individuans Socratis: quce vero efficit Platonem, dicitur
differentia individuans Platonis: et ita reliquce.

De proprio

CA P V T 6

Proprium apud Aristotelema duplex est complexum, et simplex.


a Toto. 5. topic. Complexum, cum sit oratio, in clefinitionemque, ac descriptionem divi­
et extremis pene ver­
bis septimi. datur, alio pertinetb. Simplicis vero nomen [j/ pro accidentario sumatur
b Ad librum. 5.
(iessentiale enim ad tertiam universalis speciem pertinet) quadrifariam
c Porphy. de pro­ accipitur c. Nam et id, quod soli alicui speciei accidit, non tamen toti,
prio.
1 proprium, eidem esse dicitur, ut homini grammaticum esse: et id etiam
2
3
quod toti, non tamen soli, ut homini esse bipedem: et id quoque, quod soli
4 ac toti, non tamen semper, ut homini canescere: et id demum, quod soli
Quaita proprii accep­ ac toti, ac semper, ut homini esse aptum ut rideat. Harum usurpationum
tio praecipua est.
extrema prcecipua est. Nam id maxime dicitur proprium rei, quod cum

A 5 — alicui speciei convenit, non tamen...


105
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II

que separa de tal modo as espécies sob um mesmo género que pertence
à essência delas. E ainda: diferença é aquilo que, na pergunta qual é, Terceira.
se predica necessária e essencialmente de várias coisas diferentes na espé­
cie. Mas esta definição não abrange as diferenças que constituem próxi­
mamente as espécies ínfimas, como racional. Abrangê-las-á todas, se
se suprimir a expressão: diferentes na espécie. Se, pois, se perguntar
que qualidade de animais são Sócrates e Platão, segundo a diferença
necessàriamente a ambos conveniente e pertencente à essência de ambos,
com propriedade se responderá que são racionais. E assim nos res­
tantes casos.
D Há duas espécies de diferença·, uma geral, outra especial. A geral
constitui uma coisa que é não só espécie, mas também género. Exem­ Diferença geral.
plos: corpóreo, que constitui o corpo; animado, que constitui o corpo
animado; e sensitivo, que constitui o animal. A diferença especial cons­ Diferença especial.
titui proximamente uma coisa que é só espécie, como racional, que
realiza o homem. Além destas, há outra que constitui proximamente
o indivíduo e que se chama diferença individuante. Por exemplo, a Diferença duante.
indivi­

diferença que, juntada ao homem comum, faz Sócrates, diz-se dife­ Escoto, 2, d. 3, ques­
tão 6 e Caietano, no
rença individuante de Sócrates; a que, porém, faz Platão, diz-se dife­ livro Do Ser e da
rença individuante de Platão; e assim nos casos restantes. Essência, questão 5,
artigo 4, no fim.

Capítulo 6

Do próprio

A O próprio, segundo Aristóteles0, é duplo: complexo e simples.


O complexo, visto ser oração e dividir-se em definição e descrição, será a Todo o livro V
tratado em outro lugar O nome de próprio simples, se for tomado dos Tópicos e quase
nas últimas palavras
como acidental (o essencial, com efeito, pertence à terceira espécie de do sétimo.
universal) toma-se em quatro acepções c. Com efeito, o que convém só b No livro V.
c Porfirio, Do
a alguma espécie, e não à espécie na sua totalidade, diz-se ser-lhe Próprio.
próprio, como é, para o homem, ser gramático; igualmente, o que 1
2
convém a toda uma espécie, mas não somente a ela, como é, para o
homem, ser bípede; e também o que convém só e a toda uma espécie, 4
3
todavia não sempre, como é, para o homem, encanecer; e, finalmente,
o que convém só e a toda uma espécie e sempre, como é, para o
A quarta acepção de
homem, ser capaz de rir. próprio é a principal.
Destas acepções a última é a mais importante. Com efeito, diz-se
máximamente próprio duma coisa o que com ela tem reciprocidade.
106 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER TI

ea reciprocatur: quicquid autem dicitur proprium quarto modo, id omne


reciprocatur cum re, cuius est proprium, ut si dicas, quicquid est homo,
est risus capax, et vicissim, quicquid est risus capax, est homo: atque ita
in aliis huius generis: quod tamen in tribus superioribus nunquam vere
dixeris, ut satis apertum est. Ac superiora illa ad accidens, quod mox B
explicabimus, transmittenda sunt, quod non prcedicentur necessario de
Primus, secundus, et specie, sed contingenter, exceptis quibusdam secundi generis, quale est
tertius modus ad acci­
dens pertinent qui­ sensitivum esse, pro facultate, seu potentia ad sentiendum, et alia huiusmodi.
busdam exceptis. Hcec enim necessario prcedicantur, et ex ipsa rei essentia nascuntur: quee
conditiones accidenti non conveniunt, ut dicemus. Horum tamen nullum
est proprium quarti generis apud Porphyrium quia nullum reciprocatur
d Ut capit, de ge­ cum specie infima, quam ille, cum de proprio loquitur, nomine speciei
nere, et ex communi -
tat. patet. solam intelligit. Dialectici ergo ut complectantur omnia propria, quee
ad quartum universale, de quo nunc agimus, spectant, sic proprium definiunt.
Proprium est, quod prcedicatur de pluribus in queestione Quale est, acciden- C
taliter, ac necessario, ut aptum esse ad sentiendum, ad capessendas dis­
ciplinas, et huiusmodi. Si quis enim abs te quaerat, qualis nam sit homo
secundum id, quod ipsi convenit accidental iter, ac necessario, apte res­
Proprium generale, pondebis, esse aptum ad sentiendum, ad capessendas disciplinas, et alia
Speciale.
huiusmodi. Est autem duplex proprium, alterum generale quod reciprocatur
cum re, quee est genus: alterum speciale, quod reciprocatur cum [re, quee
e Academ. q. pii- est] species infima. JJtriusque exempla modo attulimus. Nam aptum
mas editionis, lib. 2.
Quo pacto verum
esse ad sentiendum reciprocatur cum animali, aptum vero esse ad capes­
videatur, singularum sendas disciplinas reciprocatur cum homine. Lucullus Ciceronianus aitc
rerum singulas esse
proprietates. Dilucide doceri a politioribus Physicis, singularum etiam rerum, id est,
individuarum, singulas esse proprietates, Quod mihi non placet: nisi
nomine proprietatis intelligat differentiam individuantem, aut totam collec­
tionem communium accidentium, quee in una re tantum reperiatur.

C 1 — Proprium quid sit. (cota marginal).


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 107

Ora tudo o que se diz próprio no quarto modo tem reciprocidade com
a coisa de que é próprio, como neste exemplo: tudo o que é homem é
capaz de rir, e, por sua vez, tudo o que é capaz de rir é homem; e assim
em outros deste género — o que, todavia, nos três modos anteriores,
nunca se diria com verdade, como é bem claro.
B Estes modos vão ser remetidos para o acidente, que em breve
explicaremos, pois não se predicam necessária, mas contingentemente,
da espécie — exceptuados alguns do segundo género, como é ser sen­
sitivo, tomado no sentido de faculdade ou potencia de sentir, e outros O primeiro, o se­
gundo e o terceiro
semelhantes. Estes, com efeito, predicam-se necessàriamente, e nascem modo pertencem,
da própria essência da coisa, condições estas que não convêm ao aci­ com certas excep-
ções, ao acidente.
dente, como diremos. Todavia, nenhum destes é próprio do quarto
género, segundo Porfiriod, porque nenhum tem reciprocidade com a
espécie ínfima, a única que ele, ao falar do próprio, entende com o d Como está pa­
nome de espécie. tente no cap. sobre
o género e do co­
Os dialécticos, portanto, para abrangerem todos os próprios que mum.
dizem respeito ao quarto universal, de que agora tratamos, definem assim
C o próprio: Próprio é o que, na pergunta qual é, se predica de vários aci­
dental e necessàriamente, como: ser apto para sentir, para compreender
as ciências, e outras coisas deste género. Se, pois, alguém nos per­
guntar pela qualidade do homem, segundo o que lhe convém acidental e
necessàriamente, responderemos bem que é apto para sentir, para com­
preender as ciências, e outras coisas deste género. Há duas espécies de Próprio geral.
próprio: uma geral, que tem reciprocidade com uma coisa que é género; Especial.
outra especial, que tem reciprocidade com uma coisa que é espécie
ínfima. Demos agora mesmo um exemplo de cada. Com efeito, ser
apto para sentir tem reciprocidade com animal e apto para compreender e Questões Aca­
démicas, primeira
as ciências tem reciprocidade com homem. edição, livro Π.
O Lúculo ciceroniano diz claramente que os físicos mais instruí­ De que modo parece
e
ser verdadeiro que
dos ensinam que cada coisa, isto é, cada indivíduo, tem as suas pro­ cada coisa tenha as
priedades. Isto não me parece certo, a não ser que, pelo nome de pro­ suas propriedades.
priedade, se entenda a diferença individuante, ou todo o conjunto de
acidentes comuns, que se encontram somente numa coisa única.
108 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

De accidente

CA P V T 7

Nomine accidentis interdum intelligimus a quicquid de re accidentaliter A


praedicatur: qua significatione dubium non est, quin proprium etiam acci­
dentis vocabulo comprehendatur. Interdum vero id solum intelligimus,
a 1. phy. 3. tex. quod non tantum accidentaliter praedicatur, sed etiam contingenter: quo
28 et. 5. metaph. 30.
text. 35. sane modo accidens a proprio distinguitur. Accidens igitur hac signi­
ficatione acceptum, definiturb esse id, quod adest, et abest sine subiecti
corruptione. Item quod contingit eidem inesse, et non inesse. Et rursus.
b Porphy. de ac­ Quod non est genus, nec species, nec differentia, nec proprium, inest
cident. ex 1. Top. 4. autem rei. Quarum omnium definitionum idem est sensus. Sed planius
definitur hoc modo. Accidens est, quod praedicatur de pluribus in quaestione
Quale est, accidentaliter, et contingenter: ut album, nigrum, et similia.
Quid accidens.
Si quis enim roget qualis nam sit Socrates secundum id, quod ei acciden­
taliter, ac contingenter convenit, apte respondebit, qui dixerit esse album:
atque ita in cceteris. Accidentium c vero quaedam re ipsa separari possunt,
Duplex accidens.
c Porphy. ibidem. ut sedere, aut album esse a Socrate: quaedam re ipsa separari non possunt,
Omnia accidentia se­
parantur cogitatione. ut album esse a cygno, et nigrum esse a corvo. Omnia tamen cogitatione
seiungi possunt, hoc est negari absque abolitione essentiae subiecti, cum
de ipso dicantur contingenter: supra A· enim definivimus id praedicari
d Cap. 2.
Non esse plura uni­ contingenter, quod ita affirmatur de subiecto, ut de eodem negari possit
versalia, quam quin­
que hactenus expli­ absque ipsius subiecti eversione. Sed quaeret aliquis, qua ratione colligi B
cata. possit, universalia non esse plura, quam ea quinque quae nobis explicata
sunt. Cui quaestioni haec ratio reddi potest. Universalia aut praedicantur
in quaestione Quid est, aut in quaestione Quale est. Si in quaestione Quid
est, aut. continent in se totam naturam communem individuorum, aut
partem: si partem, sunt genera: si totam, sunt species. Si vero praedican­
tur in quaestione Quale est, aut praedicantur essentialiter, aut accidentaliter:
si essentialiter, sunt differentiae: si accidentaliter, aut praedicantur necessario
aut contingenter: si necessario sunt propria: si contingenter, sunt acci­
dentia. Hac igitur ratione patet non esse plura universalia, quam ea
quinque, quae a nobis sunt exposita. His ergo utcunque explicatis ad
praedicamenta ingrediamur.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 109

Capítulo 7

Do acidente

Pelo nome de acidente entendemos a, uma ou outra vez, o que se


predica acidentalmente de urna coisa. Com tal significação, não há a Física, I, 3,
dúvida de que, no vocábulo acidente, se compreende também o próprio. tex. 28; e Metafísica,
V, 30, tex. 35.
Só o entendemos, porém, uma ou outra vez, porque [acidente] não
se predica só acidentalmente, mas também contingentemente — modo
por que se distingue do próprio.
Acidente, por isso, tomado nesta significação, define-seb: aquilo
b Porfirio, Do
que está presente e está ausente sem corrupção do sujeito. E também: Acidente, de Tópi­
o que pode estar e não estar na mesma coisa. E ainda: o que não é cos, I, 4.
género, nem espécie, nem diferença, nem próprio e, todavia, está na
coisa. O sentido de todas estas definições é o mesmo. Mas a definição
mais clara é esta: acidente é o que, na pergunta qual é, se predica aciden­ Que é o acidente.
tal e contingentemente de vários, como branco, negro, e semelhantes.
Se alguém perguntar pela qualidade de Sócrates, segundo o que lhe
convém acidental e contingentemente, bem responderá quem disser que é
branco. E assim nos casos restantes.
Duplo acidente.
Porém, dentre os acidentes c, alguns podem separar-se da própria
c Porfirio, no
coisa, como estar sentado, ser branco, de Sócrates; outros não se podem mesmo lugar.
separar, como ser branco, de cisne, e ser negro, de corvo. Todavia, todos Todos os acidentes
se podem separar mentalmente, isto é, negar-se, sem a destruição da se podem separar pelo
pensamento.
essência do sujeito, uma vez que se dizem dele contingentemente. Com d Cap. 2.
efeito, definimos acima d que se predica contingentemente o que se afirma
do sujeito de tal modo, que dele se pode negar sem o destruir.
Mas perguntará alguém de que razão se pode inferir que os uni­
versais não são mais do que os cinco por nós explicados. A essa Não há mais univer­
pergunta pode dar-se esta razão: os universais ou se predicam na per­ sais que os cinco até
aqui explicados.
gunta o que é ou na pergunta qual é. Se se predicam na pergunta o
que é, ou contêm em si toda a natureza comum dos indivíduos, ou só
parte: se contêm só parte, são géneros; se a contêm toda, são espécies.
Se, porém, se predicam na pergunta qual é, ou se predicam essencial­
mente ou acidentalmente; se essencialmente, são diferenças; se aciden­
talmente, ou se predicam necessária ou contingentemente; se necessà-
riamente, são próprios; se contingentemente, são acidentes. Por esta
razão se vê pois que não há mais universais além dos cinco que expuse­
mos. Explicados estes, portanto, de qualquer modo, entremos nos
predicamentos.
110 INSTÍTVTIONVM D1ALECTICARVM LIBER II

Quid sit praedicamentum

CA P V T 8

Pr cedi came ntum est alicuius generis summi realis, et eorum, quce A
sub ipso sunt naturalis dispositioa; ut tota series substantiarum, quce
constat ex ipsa substantia in commune, et ex omnibus minus communibus
substantiis ordine quodam naturali dispositis usque ad singulares, quce
a Ex Porphy. de nullas ulterius sub se continent. Nam sub substantia in commune
specie, et Arist. prsed.
2. et 1. post. 28. proxime collocare debent substantia corporea, et incorporea: sub cor­
porea, corruptibilis, et incorruptibilis: sub corruptibili, animata et
inanimata: sub animata, animal, et planta: sub animali, homo, et bru­
tum animal: sub homine, Socrates, Plato, et cceteri homines individui:
sub quibus non sunt alice inferiores substantice, quemadmodum nec sub aliis
individuis, ad quce divisione aliarum specierum, quas reliquimus, naturali
descensu devenire necesse est. Genus summum quid sit iam supra expli­
catum e s t R e a l e vero id vocari solet, cuius esse ab operatione intellectus
b Cap. 3.
Reale ens.
minime pendet, ut lapis, lignum, et cceterce omnes res, quce in mundo
existunt. Dixi ergo Generis realis, quia res, quce per se ponuntur in prcedi-
c Ut 5. meta, ad camentis debent esse reales, ut Philosophis placet c. Unde fit ut entia
cap. 7.
rationis, quia, nisi ab operatione intellectus, nullum esse habent, non
Ens rationis non po­
nitur per se in prae­
ponantur per sese in prcedicamentis, sed per ea entia realia, quibus bene­
dicamentis. ficio intellectus tribuuntur. Verbi causa, hoc ipsum quod est esse genus
summum praedicamenti substantice, esse praedicatum, aut subiectum eiusdem
prcedicamenti, et alia huiusmodi, non ponuntur per se ipsa in praedicamento
substantice, quia sunt entia rationis, sed propterea modo aliquo dicuntur
Quae ponantur sub
genere summo. pertinere, quod res, quibus tribuuntur, ut substantia in commune, et ccetera,
quce diximus, in eo collocantur. Ea vero intelligo sub genere summo B
[d Pred. 2. et 5.] naturaliter esse disposita, de quorum quolibet ordine quodam genus sum­
mum, ut de parte sublecta, essentialiter praedicatur, seu (ut Aristotelis
Differentiae non po­ verbis d utar) ut de subiecto. Et quoniam haec non sunt alia, quam species,
nuntur per se in et individua rei illius maxime communis, quce genus summum dicitur, fit,
Praedicam.
ut solum genus summum, speciesque, ac individua illius ponantur per se
in praedicamento. Quapropter nec differentiae generales, nec speciales,

AIO— naturali quodam descensu...


A 20-A 21—subjectum in eodem predicamento, et alia...
B6 — genus summum cum suis speciebas ac individuis ponantur...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 111

Capítulo 8

O que é o predicamento

Predicamento é a disposição natural de algum género supremo real,


e das coisas que estão sob ele a. Assim é toda a série de substâncias,
a qual consta da mesma substância em comum, e de todas as substâncias
a De Porfirio, em
menos comuns, dispostas em certa ordem natural até às substâncias sin­ Da Espécie; e Aris­
gulares, que mais nenhumas contêm abaixo de si. Com efeito, sob a tóteles, Predicamen­
substância em comum, devem colocar-se próximamente a substância cor­ tos, 2, e Segundos
Analíticos, I, 28.
pórea e a incorpórea; sob a corpórea, a corruptível e a incorruptível;
sob a corruptível, a animada e a inanimada; sob a animada, animal e
planta; sob animal, homem e animal bruto; sob homem, Sócrates, Platão
e todos os homens individuais; sob estes, não há outras substâncias infe­
riores, como as não há sob outras substâncias individuais, a que, por
divisão das outras espécies que deixámos, necessariamente se chega por
uma descida natural.
Já acima foi e x p l i c a d o o que é o género supremo. Real costuma
b Cap. 3.
chamar-se aquilo cujo ser não depende da operação do intelecto, como Ente real.
pedra, madeira e todas as demais coisas que existem no mundo. Disse,
de facto, [na definição], de género real, porque as coisas, que por si se
põem entre os predicamentos, devem ser reais, segundo o parecer dos
Filósofos c. Daqui deriva que os entes de razão, porque não têm ser c Como na Me-
senão por operação intelectual, não são colocados por si nos predica­ física, V, no cap. 7.
O ente de razão não
mentos, mas através dos reais a que são atribuídos por mercê do inte­ se põe, por si, nos
lecto. Por exemplo, o que é ser género supremo do predicamento da predicamentos.
substância, ser predicado ou sujeito do mesmo predicamento, e outras
deste género, não se põem por si mesmos no predicamento da subs­
tância, pois são entes de razão, mas [são postos no predicamento da
substância], porque de algum modo lhe dizem respeito, pois as coisas
a que são atribuídos, como substância em comum, e as restantes coisas
a que nos referimos, são colocadas nele. Coisas que se põem
Entendo que estão naturalmente dispostas sob o género supremo sob o género supre­
mo.
aquelas coisas, de cuja ordem, qualquer que ela seja, se predica essen­
cialmente o género supremo como de parte sujeita, ou (para usar pala­ d Predicamentos,
2 e 5.
vras de Aristótelesd) como do sujeito. E, porque estas não são mais
que as espécies e os indivíduos daquela coisa máximamente comum,
As diferenças não se
que se chama género supremo, sucede que somente o género supremo põem, por si, nos pre­
e as suas espécies e indivíduos se colocam por si no predicamento. dicamentos.
Por isso, nem as diferenças gerais nem as especiais, nem aquelas pelas
112 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

nec vero ilice, quibus species infimce ad individua trahuntur (individuantes


dico) nec denique alice partes sive specierum, sive individuorum, de quibus
genus summum non prcedicatur ut de subiectis, per se ponuntur in predi­
camento, sed per ea tota, que constituunt. Propria tamen, et accidentia
Nec alia? quaedam eorum generum, specierum, et individuorum que per se in predicamentis
partes.
ponuntur, poterunt, si fuerint entia realia, pertinere per se ipsa ad aliquod
Propria et accidentia
poni possunt. predicamentum. Nam esse aptum ad ridendum, quod est proprium hominis,
et album esse, quod est accidens Socratis, sunt quedam species predica-
enti qualitatis: item esse in infimo loco, quod est proprium terre, et cale­
fieri, quod est accidens aque, sunt species aliorum predicamentorum, hoc
passionis, illud existentie in loco: et, ut in summa dicam omnia, que per se
Nota.
ponuntur in ceteris predicamentis, sunt propria, vel accidentia substan­
tiarum, cum omnia in substantiis ut in subiectis inhereant e.
e Praed. 5.

Decem esse prcedicamenta ad quce omnia omnino prceter


Deum Optimum Maximum modo aliquo pertineant

CA P V T 9

a Arist. praed. 4.
et caeteri. Numerantur vero a philosophisa decem predicamento: unum, subs- A
tantie: alterum, quantitatis: tertium, qualitatis: quartum, relationis:
quintum, actionis: sextum, passionis: septimum, existentie in loco: octavum,
situs: nonum, existentie in tempore: decimum, indumenti, sive integumenti,
Quo pacto ad praedi­
camenta pertineant quod habendi predicamentum appellatur: ad que pertinent res omnes,
omnia praeter Deum. que quomodocunque aut esse, aut fingi possunt. Itaque quedam perti­
nent per se, ut animal, et homo: quedam per sua tota, ut differentie, materia,
et forma: quedam per suas partes, ut homo albus, per hominem, et albe-
dinem, et quodammodo chimera per partes earum rerum, ex quibus
b Ut privatio per composita fingitur: quedam per ea, quibus tribuuntur, ut esse genus, esse
habitum et contradi­ speciem, predicatum, sublectum, et cetera entia rationis, per ea, que
ctorium negativum
per positivum, de dicuntur genera, species, aut ab alio ente rationis cognominantur: alia aliis
quibus ca. 17.
modisb. Omnia igitur ad has rerum classes modo aliquo revocantur, B
preter Deum optimum Maximum, ad quem potius, ut ad infinitum pelagus

B 20 (cap. 8) — e praed. 2. (cota marginal).


A 1 —prcedicamenta:primum, substantiae...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 113

quais as espécies ínfimas se estendem aos indivíduos (isto é: indivi­


duantes) nem, finalmente, as outras partes, quer das espécies quer dos
indivíduos, das quais o género supremo se não predica como de sujeitos,
se colocam por si no predicamento, mas através de todas aqueles coisas
que constituem. Nem certas outras
partes.
Todavia, os próprios e os acidentes daqueles géneros, espécies e
indivíduos, que se põem por si nos predicamentos, poderão pertencer
por si mesmos a algum predicamento, se forem entes reais. Com efeito,
ser capaz de riso, que é próprio do homem, e ser branco, que é acidente de Os próprios e os aci­
dentes podem pôr-se.
Sócrates, são certas espécies do predicamento da qualidade; do mesmo
modo, estar no ínfimo lugar, que é próprio da terra, e ser aquecida, que é
acidente da água, são espécies de outros predicamentos — este, do
predicamento da paixão, aquele, do da existência num lugar. E, em
suma, as coisas que por si são colocadas nos restantes predicamentos,
Observação.
são próprios ou acidentes das substâncias, uma vez que todas as coisas
estão inerentes às substâncias como aos sujeitose.
e Predicamen­
tos, 5.

Capítulo 9

São dez os predicamentos a que pertencem de algum modo


absolutamente todas as coisas, excepto Deus, que é o Sumo
Bem e a Suma Grandeza
a Aristóteles, nos
A Os filósofos a enumeram dez predicamentos: primeiro, substância; Predicamentos, 4, etc.

segundo, quantidade; terceiro, qualidade; quarto, relação; quinto, acção;


sexto, paixão; sétimo, existência num lugar; oitavo, situação; nono,
existência no tempo; décimo, veste ou indumento, que se chama predi­ De que modo os pre­
camento do hábito. dicamentos englobam
todas as coisas, ex­
Neles se englobam todas as coisas que de qualquer modo existem cepto Deus.
ou se podem imaginar. Certas coisas englobam-se por si, como ani­
mal e homem; outras, pela totalidade dos seus elementos, como as
diferenças, a matéria e a forma; outras, pelas suas partes, como homem
branco, por meio de homem e de brancura, e, de certo modo, quimera,
por meio das partes daquelas coisas de que se imagina ser composta;
b Como a priva­
certas outras, por meio daquelas a que se atribuem, como ser género, ção através do hábito
ser espécie, predicado, sujeito, e os demais entes de razão, cognomi­ c o contraditório ne­
gativo através do po­
nados pelos assim chamados géneros, espécies, ou por outro ente de sitivo ; sobre estes,
B razão; e outras, de outros modos b. Por isso, tudo se reduz, de algum ver o cap. 17.

modo, a estas classes de coisas, excepto Deus, Sumo Bem e Suma


Grandeza, para o qual convergem antes, como rios para o pélago infi-
8
114 INSTITVTIONVM DIALECT1CARV M LIBER II

totius esse, hcec ipsa prcedicamenta quasi flumina recurrunt. Et quoniam C


nomina vice rerum habentur, dubium non est, quin eadem prcedicamenta
ex nominibus etiam ipsarum quasi constituta intelligi possint, ex aliis,
quidem per se, ex aliis reductitie, ut de rebus diximus. Atque hoc modo
Ex vocibus etiam Dialecticus prcedicamenta, potissimum considerat, ut in his quasi locis
constituuntur quo­ communibus parata habeat nomina, et verba ad structuram orationis.
dammodo praedica­
menta. Verum enimvero, quia ex dispositione rerum nullo negotio dispositio
vocabulorum intelligitur, satis erit prcedicamentales series in rebus explicare,
Quo pacto dialecticus Quod tamen pingui {ut aiunt) Minerva faciendum est, ne instituti nostri
praedicamenta consi­ obliti videamur.
deret.

De substantia

CA P V T 10

Substantia, quce in primo prcedicamento per se ponitur, est ens reale, A


a Et praed. 2. et per se existensa: ut angelus, homo, lapis. Dixi Reale {quod verbum
7. met. 1. D. Tho. deinceps in omnibus definitionibus intelligendum est) quia exterorum
Opus, 48. de prae­
dicam. cap. 2. entium nullum per se pertinet ad aliquod prcedicamentum, ut paulo superius
Per se existens. diximus. Addidi Per se existens, hoc est non existens in alio ut in
In alio existens.
subiecto inheesionis, quia hoc differt substantia ab accidentibus, quce
pertinent ad alia prcedicamenta, quod accidentia, nisi in subiecto inheesionis
sint, naturaliter existere non possunt, ipsa vero substantia naturaliter per
Primae substantiae.
se ipsam cohceret, ac existit. Substantiarum autem quadam sunt prima,
b Praed. 5.
quadam secunda. Prima substantia sunt ea entia, qua nec in subiecto sunt,
nec de subiecto dicuntur b, hoc est, qua nec coharent in aliquo subiecto
inhaesionis, nec de ullo, ut de parte subiecta, essentialiter pradi-
Secundae substantiae.
cantur: ut Socrates, et Plato. Priori particula excluduntur accidentia,
posteriori excluduntur genera et species substantiarum. Itaque solas,
c Cap. 8. ac omnes individuas substantias complectitur hac definitio. Secunda
substantia sunt genera, et species, sub quibus collocantur prima: ut animal,
Prima proprietas.
et homo, sub quibus continentur Socrates, et Plato. Ordo specierum
Secunda.
substantia ex supradictis c utcunque patet. Iam ad proprietates substan- B
tiarum per se pertinentium ad hoc pradicamentum veniamus: quarum
quatuor insigniores traduntur. Prima est, Non esse in subiecto: qua
patet ex definitione substantia. Secunda est, Non habere contrarium.

A 2—per se subsistens: ut angelus...


A 5 — Per se subsistens, huc est...
A 5 — Per se subsistens, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 115

C nito de todo o ser, estes mesmos predicamentos. E porque os nomes


se usam em vez das coisas, não há dúvida de que os mesmos predica­
mentos se podem considerar também como constituidos por nomes,
uns por si mesmos, outros redutivamente, como dissemos acerca das De certo modo os
Predicamentos tam­
coisas. É principalmente deste modo que o Dialéctico considera os bém são constituídos
predicamentos, a fim de ter preparados neles, como em lugares de vozes.
comuns, os nomes e os verbos para a estrutura da oração. Mas, visto Do modo como o
que, pela disposição das coisas, sem dificuldade se entende a disposição dialéctico considera
os predicamentos.
dos vocábulos, será suficiente explicar as séries predicamcntais ñas
coisas. Isto, contudo, tem de fazer-se, embora só pela rama (como
costuma dizer-se), para não parecer que nos esquecemos do nosso
propósito.

Capítulo 10

Da substância

A Substância, que se coloca por si no primeiro predicamento, é um


ente real por si existente a, como: anjo, homem, pedra. Disse real (pala­ a Dos Predica­
mentos, 2 e Metafí­
vra que, de ora em diante, se deve subentender em todas as definições), sica, VII, 1. S. To­
porque nenhum dos demais entes pertence por si a algum predicamento, más, opúsculo 48,
acerca dos predica­
como dissemos pouco acima. Juntei por si existente, isto é, não exis­ mentos, cap. 2.
tente noutro como em sujeito de inerência porque é nisto que a substân­ Por si existente.
Existente cm outro.
cia difere dos acidentes, os quais pertencem a outros predicamentos,
visto que, se não estão no sujeito de inerência, naturalmente não podem Substâncias primei­
existir; porém, a substância é por si mesma naturalmente coerente e ras.
existente. Das substâncias, umas são primeiras, outras segundas. Subs­ b Predicamen­
tâncias primeiras são os entes que nem estão no sujeito, nem se dizem tos, 5.
do sujeito b, isto é, que nem estão ligados a algum sujeito de inerência
nem de algum, como de parte sujeita, essencialmente se predicam, como: Substâncias segun­
Sócrates e Platão. Pela primeira parte excluem-se os acidentes, pela das.
segunda excluem-se os géneros e as espécies das substâncias. E assim
a definição compreende só e todas as substâncias indivíduas. Subs­
c Cap. 8.
tâncias segundas são os géneros e as espécies sob as quais se colocam
as substâncias primeiras, como: animal e homem, sob os quais se con­
têm Sócrates e Platão. A ordem das espécies da substância ressalta,
de qualquer modo, do que ficou dito acimac .
B Entremos imediatamente nas propriedades das substâncias que por
si pertencem a este predicamento; dentre elas apresentam-se as quatro
mais importantes. A primeira é: não estar no sujeito — o qiie ressalta da Primeira proprie­
definição de substância. A segunda é: não ter contrário. Com efeito, dade.
116 ÍNSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

Nam cum omnia contraria sint in subiecto inhcesionis, ut virtus, et vitium,


candor, et nigror: nulla autem substantia sit in subiecto, ut dictum est,
efficitur ut nihil substantiae sit contrarium. Tertia est, Non suscipere
magis, et minus, hoc est, quod non dicatur magis, aut minus talis. Non
enim dicimus Socratem, esse magis, aut minus hominem, quam sit ipse
Tertia.
in alio tempore, aut quam sit aliquis alius. Id quod in cceteris substantiis
cernere est. Sed hce proprietates, seu affectiones, aliis etiam plerisque
conveniunt. Quarta igitur proprietas, quam maxime substantice convenire
affirmat Aristoteles d, hac est, Ut cum una, eademque numero fuerit, possit
Quarta. in se contraria recipere, ut hic lapis calorem, et frigus.
d Praedic. 5.

De quantitate

Capvt 1 1

Quantitas est ens per se extensum ut superficies tabula, et binarius A


Quantitas quid.
hominum. Tabula enim non per se ipsam, sed per superficiem, quam
habet, extensa est. Socrates item, et Plato, non per se ipsos, sed per
binarium, qui in ipsis cernitur, extensionem habent numeralem. Ipsa
vero superficies, et ipse binarius per se ipsa sunt extensa. Quantitatem
a Praedic. 6.
in duas proximas species dividit Aristoteles a, in continuam, et discretam.
Quantitas continua.
Quantitas continua est, cuius partes communi aliquo termino copulantur,
Species quantitatis
ut partes linece puncto: partes superficiei, linea: partes corporis, super­
continuas. ficie: partes temporis, puncto temporis, seu instanti. Hce vero traduntur B
De loco, quo pacto
loquatur Aristoteles. species quantitatis continuce, linea, superficies, corpus, tempus, et insuper
b 4. Phy. 4.
De motu alibi.
locus. Verum Aristoteles, quod ad locum attinet, videtur loqui ex
aliorum sententia suo tempore vulgata, quam ipse alibib non probat.
Accipit enim locum pro spacio, quod a quovis corpore occupatur,
Quantitas discreta. aut occupari potest, quod veteres rem quandam diversam ab omni corpore
esse dicebant, cum tamen nulla sit. Num autem, continuitas motus sit
alia qucedam species quantitatis continuce, alio loco discutiemus. Quan- C
Species quantitatis
discretae.
titas discreta est, cuius partes nullo communi termino copulantur, ut
quaternarius. Nihil enim reperias, quo duo binarii, ex quibus ille constat,
copulentur, et quasi compingantur. Huius quantitatis duce feruntur
species, numerus, et oratio: quas alibi, num vere sint species quanti-
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 117

uma vez que todos os contrários estão no sujeito de inerência, como


virtude e vício, brancura e negrura, e nenhuma substância está no sujeito,
como foi dito, conclui-se que nada é contrário da substância. A ter­
ceira é: não receber mais e menos, isto é, não se dizer mais ou menos Segunda.
tal. Com efeito, não dizemos que Sócrates é mais ou menos homem
do que em outro tempo, ou do que qualquer outro. O que é evidente Terceira.
nas restantes substâncias. Mas estas propriedades ou afecções convêm
a outras, mesmo à maior parte [delas]. A quarta propriedade, que
Aristóteles d afirma convir ao máximo à substância, é esta: quando for
uma só e a mesma em número, pode receber em si contrários, como a pedra, Quarta.
que pode receber calor e frio. d Predicamen­
tos, 5.

Capítulo 11

Da quantidade

A Quantidade é um ente por si extenso, como a superfície duma tábua


Que é a quantidade.
e um binário de homens. A tábua, com efeito, não é extensa por si
mesma, mas pela superfície que tem. Do mesmo modo, Sócrates e
Platão não têm extensão numérica por si mesmos, mas pelo binário
que neles se verifica. Porém, a superfície e o binário são extensos
por si.
a Predicamen­
Aristótelesa divide a quantidade em duas espécies próximas: con­ tos, 6.
tínua e discreta. Quantidade contínua é aquela cujas partes se unem Quantidade contínua.

nalgum termo comum, como as partes da linha se unem no ponto, as


partes da superfície na linha, as partes do corpo na superfície, as partes Espécies de quanti­
dade contínua.
B do tempo no ponto de tempo, ou instante. Na verdade, as espécies De que modo fala
de quantidade contínua que se ensinam são estas: linha, superfície, Aristóteles acerca do
corpo, tempo, e além disso, lugar. Contudo, pelo que diz respeito ao lugar.
b Física, IV, 4.
lugar, Aristóteles parece falar segundo a opinião de outros divulgada no
seu tempo, que ele não aprova em outros passosb. Efectivamente,
Do movimento fala­
admite que lugar é o espaço ocupado por qualquer corpo ou que pode ser remos noutro lugar.
ocupado, pelo facto de os antigos dizerem que era qualquer coisa diversa
de todo o corpo, não sendo, contudo, nenhuma. Se a continuidade Quantidade discreta.
do movimento é uma outra espécie de quantidade contínua — discuti-
-lo-emos noutro lugar.
Espécies de quanti­
C Quantidade discreta é aquela cujas partes se não unem em dade discreta.
nenhum termo, como quaternário. Com efeito, nada se encontrará
por onde os dois binários, de que ele consta, se liguem e como que
se unam num todo. Apresentam-se duas espécies desta quanti-
118 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

tatis ad hoc praedicamentum pertinentis, examinabimus. Quantitatis


porro tres traduntur affectiones. Prima est, Nil habere contrarium.
Contraria namque maxime distant sub eodem genere nullae autem duce D
quantitates reperiri possunt, quae sub genere quantitatis maxime distent.
Prima affectio quan­ Secunda est, Non suscipere magis, et minus. Neque enim dixeris magis,
titatis.
aut minus bicubitum, aut tricubitum aliquid esse: quod in plerisque aliis
quantitatibus aperte cernes. Tertia est secundum quantitatem res dici
Secunda.
aequales, et inaequales. Nam aequalia sunt, quorum quantitas est una:
Tertia. inaequalia, quorum diversa c. Atque haec affectio dicitur maxime propria
quantitatis, quia soli quantitati, omni, ac perpetuo convenit.
c 5. meta. 15.
tex. 20.

De qualitate

C a p VT12

a Pned. 8. Qualitas est, qua dicuntur res quales a: nempe in peculiari, ac propria A
quaestione qualitatis accidentalis, ut Iustitia, Scientia, Candor, et [caetera\
huiusmodi. Nam si quis te roget qualis nam sit Socrates secundum accidens,
Habitus. quod proprie qualitas dicatur, aptissime respondebis, esse iustum, Scien­
tem, Candidum, aut aliquid huiusmodi. Qualitatis quatuor sunt proximae
species: ad quarum primam pertinent habitus, et dispositio. Habitus est
Dispositio.
firma quaedam, et constans qualitas, qua rei natura bene, aut male afficitur,
Naturalis potentia.
ut virtus, et vitium. Dispositio est qualitas bene, aut male afficiens B
subiectum, quae facile abiici potest, ut sanitas, et aegritudo. Ad secundam
Naturalis impotentia
speciem pertinent naturalis potentia, et impotentia. Naturalis potentia,
seu naturalis vis, est qualitas quaedam, qua facile quaeque res agit, aut
Patibilis qualitas. resistit, ut vis naturalis ad currendum, et ad perferendos labores. Naturalis
impotentia, seu imbecillitas est qualitas, qua aegre quaeque res agit, aut
Passio.
restistit, ut infirma valetudo Socratis, et mollitudo butyri. Ad tertiam
speciem pentinent, patibilis qualitas, et passio. Patibilis qualitas, est
diu permanens qualitas, quae aut sensum movet, aut ex motu aliquo nascitur,
ut color diuturnus in corpore, et amentia in animo. Passio est fluxa
quaedam, et brevi transiens qualitas, quae aut movet sensum, aut ex motu

C 7 — Nil habere sibi contrarium.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 119

dade: o número e a oração; examinaremos noutro lugar se elas


são verdadeiramente espécies de quantidade pertencente a este predi­
camento.
D São três as propriedades da quantidade. A primeira é: nada ter
contrário a si. Com efeito, os contrários distam ao máximo sob o
mesmo género, e duas quantidades, que distem ao máximo sob o
género de quantidade, jamais se podem encontrar. A segunda: não
Primeira propriedade
receber mais e menos. Não se dirá, pois, que algo é mais ou menos da quantidade.
constituído por dois côvados ou três côvados, o que em várias outras
quantidades claramente se verá. A terceira é: segundo a quantidade, Segunda.

as coisas dizem-se iguais e desiguais. Na verdade, iguais são as coisas


cuja quantidade é uma só, desiguais aquelas cuja quantidade é diversa c. Terceira.
Ora esta propriedade diz-se ao máximo própria da quantidade, por­
que convém só à quantidade, a toda a quantidade e sempre. c Metafísica, V,
15, tex. 20.

C a p í t u l o 12

Da qualidade

A Qualidade é aquilo pelo qual as coisas se dizem tais a; sem dúvida, a Predicamen­
na questão peculiar e própria da qualidade acidental, como: justiça, tos, 8.

brancura, e outras deste modo. Com efeito, se alguém perguntar que


é Sócrates segundo o acidente que se diz propriamente qualidade, muito
bem se responderá que é justo, sabedor, branco, ou algo neste género.
As espécies próximas da qualidade são quatro, à primeira das Hábito.
quais pertence o hábito e a disposição. Hábito é uma certa qualidade
Disposição.
firme e constante pela qual a natureza da coisa é bem ou mal afectada,
como a virtude e o vício. Disposição é a qualidade que afecta bem ou
B mal o sujeito, e que pode destruir-se fácilmente, como a saúde e a Potência natural.
doença.
A segunda espécie pertence a potência natural e a impotência. Impotência natural.
Potência natural ou força natural é uma certa qualidade pela qual uma
coisa fácilmente age ou resiste, como a força natural para correr
e para realizar trabalhos. Impotência natural ou imbecilidade é a qua­ Qualidade passível.

lidade pela qual uma coisa dificilmente age ou resiste, como a débil
saúde de Sócrates e a moleza da manteiga. Paixão.
A terceira espécie pertencem a qualidade passível e a paixão. Qua­
lidade passível é a qualidade permanente que ou move um sentido ou
nasce de algum movimento, como a cor duradoura no corpo e a demência
na alma. Paixão é certa qualidade passageira e breve que ou move um
120 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

oritur, ut rubor ex verecundia contractus, pallor ex metu, ira, gaudium, et


[alia] huiusmodi. Ad quartam speciem pertinent forma, et figura. Forma C
ut hic accipitur est qualitas, qua resultat ex terminatione quantitatis in
re aliqua naturali spectatce: ut ea forma hominis, aut leonis, quce ex linea­
mentis corporis nascitur. Figura est qualitas, quce resultat ex ter­
Forma. minatione quantitatis simpliciter, ac in se spectatce, ut figura trianguli,
quadrati, et catera [alice, quce a Mathematicis tractantur]. Qualitatis tres
Figura. sunt affectiones. Prima est, Habere contrarium. Nam virtuti contrarium D
est vilium, et aliis plerisque qualitatibus alia reperiuntur contraria,
Prima affectio quali­
Secunda est: Suscipere magis, et minus ut esse magis, aut minus iustum,
tatis. magis, aut minus album. Tertia quce maxime propria qualitatis affectio
Secunda. dicitur, hcec est, Ut secundum eam res dicantur similes, ac dissimiles.
Tertia.
Similia enim sunt ea, quorum qualitas est una: dissimilia, quorum diversa b.
b 5. meta. 15.
tex. 20.

De relatione

Ca p V T 13

a Ex praed. 7.
Relatio est, qua aliquid, hoc ipso quod est, ad aliud se habeta: ut A
cequalitas, dominatus, servitus. Nam cequale, quatenus cequale est, cequa-
litate refertur ad [aliud] sibi cequale, et dominus, qua dominus est, domi­
b Ibidem.
natu refertur ad servum, qui vicissim, qua servus est, ad dominum refertur
Relata aequalis com­ servitute. Relata vero sunt quacumque, hoc ipso quod sunt, ad aliud se
parationis.
habentb: ut cequale, dominus, servus. Relatorum autem qucedam sunt aqua­
lis comparationis [sive eiusdem appellationis] (recentiores vocant aquipa-
Relata inaequalis rantia) ut aquale, simile, inaquale, dissimile. Nam aquale ad aquale
comparationis. refertur, simile, ad simile, inaquale, ad inaquale, et dissimile, ad dissimile.
Maioris comparatio­
nis. Itaque ea, ad qua huiusmodi relata referuntur, sunt eiusdem appellationis,
Minoris.
ac natura cum illis. Quadam vero sunt inaqualis comparationis, seu
diversa appellationis, (illi appellant disquiparantia) quorum duo sunt
genera. Alia enim dicuntur maioris comparationis, qua vocant super­
positionis, ut pater, dominus praceptor, et catera omnia, qua sunt digniora
iis, ad qua referuntur: alia ex altera parte hisce respondent, qua minoris

C2—accipitur est modus quidem quantitatis in re...


C 4-C 5 — ex lineamentis corporis resultat. Figura est modus quantitatis
simpliciter...
DI — Habere aliquid sibi contrarium.
A 12 — appellationis {quce illi vocant disquiparantia;)...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 121

sentido ou se origina dum movimento, como o rubor contraído pela


vergonha, o palor pelo medo, a ira, o gozo e outros assim.
C A quarta espécie, pertencem a forma e a figura. Forma, como
aqui se toma, é a qualidade que resulta da delimitação da quantidade
considerada em qualquer coisa natural, como aquela forma do homem
ou do leão que resulta das linhas do corpo. Figura é a qualidade Forma.
que resulta da delimitação da quantidade, simplesmente e em si
mesma considerada, como a figura do triângulo, do quadrado, e do Figura.
mais de que trata a Matemática.
D São três as propriedades da qualidade. A primeira é: ter algo
contrário. Com efeito, o vício é contrário à virtude; e encontram-se
Primeira propriedade
outros contrários a quase todas as outras qualidades. A segunda é: da qualidade.
receber mais e menos, como ser mais ou menos justo, mais ou menos Segunda.
branco. A terceira, que se diz propriedade máximamente própria da
Terceira.
qualidade, é esta: segundo ela as coisas dizem-se semelhantes e disse­
melhantes. Semelhantes, com efeito, são aquelas coisas cuja qualidade
é uma só; dissemelhantes, aquelas cuja qualidade é diversa6. h Metafísica, V,
15, tex. 20.

Capítulo 13

Da relação
a Dos Predica­
A Relação é aquilo pelo qual alguma coisa, pelo facto de existir, se mentos, 7.

refere a outra coisa a, como igualdade, domínio, servidão. Com efeito,


o igual, enquanto é igual, está referido pela igualdade a outro igual a
si; e o senhor, enquanto senhor, está referido pelo domínio ao servo, o b No mesmo lu­
qual por sua vez, enquanto servo, está referido ao senhor pela servidão. gar.
Coisas relativas de
Coisas relativas são todas aquelas que, pelo facto de existirem, se comparação do igual.
referem a outra6, como: igual, senhor, servo. Certas coisas relativas
são de comparação do igual ou da mesma apelação (os modernos cha­
mam-lhe equiparação), como igual, semelhante, desigual, dissemelhante.
Com efeito, igual refere-se a igual, semelhante a semelhante, desigual
a desigual, dissemelhante a dissemelhante. E assim aquelas coisas a
que se referem tais relativos têm a mesma apelação e natureza que eles.
Outras coisas relativas, porém, são de comparação do desigual ou de
apelação diversa (a que aqueles chamam desequipar ação), e destas há dois
géneros. Umas, dizem-se de comparação do maior — às quais chamam De comparação do
de sobreposição — como pai, senhor, mestre e todas as demais que são maior.

mais dignas que aquelas a que se referem; por outro lado, outras cor­
De comparação do
respondem reciprocamente a estas e podem dizer-se de comparação do menor.
122 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER I I

comparationis dici possunt, ut filius, servus, discipulus, et artera minus


digna iis, cum quibus conferuntur: quce vocari solent suppositionis. Rela- B
Prima proprietas. torum tres prcecipue traduntur proprietates. Prima est Omnia relata
dici ad ea, quce convertuntur, hoc est, ad ea quce vicissim ad ipsa dicuntur,
ut pater ad filium, qui vicissim ad patrem dicitur. Ut enim Pater dici­
tur filii pater, sic vicissim filius dicitur patris filius. Secunda est, omne
relatum esse simul natura cum eo, ad quod refertur. Ea vero dicuntur
esse simul natura, quorum alterum secum ponit, ac tollit alterum c, ut
Secunda.
dominus servum, et servus dominum. Si enim dominus nullus sit, nullus
c Pred. 12. erit servus, et vice versa, si nec servus, nec dominus. Tertia proprietas est,
Omne relatum eius esse natura, ut si illud noveris, etiam id, ad quod refer­
Tertia.
tur, cognoscas, et vicissim si hoc etiam illud. Si quis enim noverit
Sophroniscum esse patrem Socratis, necesse est [ut] etiam cognoscat Socra­
tem esse filium Sophronisci, et vicissim si noverit Socratem esse filium
Sophronisci, etiam Sophroniscum esse patrem Socratis necessario intelliget.
Caí erum hac, qua diximus, proprie sunt relata, et vocantur secundum
Relata secundum
esse
esse. Alia sunt, qua relatione aliqua explicantur, ipsa tamen ad hoc C
Relata secundum pradicamentum non pertinent. Atque hac a Dialecticis relata quidem
dici.
appellantur, verum non simpliciter, ac proprie, sed cum adiectione, relata
secundum dici, quasi dicas, quo ad natura explicationem duntaxat, non
quo ad ipsam naturam: qualia sunt, habitus, scientia, et alia huiusmodi.
Hac tamen alio loco plenius dicemus.

De actione et passione
a 3. Phy. 3.
Ca p V T 1 4

Actio est agentis, quatenus agens est, actus, seu perfectio. Passio vero ^
est actus, perfectiove patientis, ut patientisa. Suntque actio, et passio,
una, eademque res, qua tamen, ut est perfectio agentis, dicitur actio,
ut vero patientis, dicitur passio. Verbi gratia: caloris motus, quo ab
igne afficitur aqua, quatenus est id, quo ignis est agens, actio est, et actio
dicitur: quatenus vero id, quo aqua est patiens, passio est, et passio

B11 — cognoscas, et e contra. Si quis...


B 11 [1590] — cognoscas, et vicissim si hoc ut etiam illud. Si quis...
B 12-B 15 — cognoscat Socratem esse filium Sophronisci et e contra.
Cceterum...
C 6 — Quod alio loco plenius docebimus.
A 5 — quo ignis est et dicitur agens...
A 6 — quo aqua est ac appellatur patiens...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 123

menor, como: filho, servo, discípulo e as restantes menos dignas que


aquelas a que se comparam, as quais se costumam chamar de suposição.
B Apontam-se principalmente três propriedades das coisas relativas.
A primeira é: todas as coisas se dizem relativas às que [com elas] se
convertem, isto é, às coisas que, por sua vez, se dizem em referência a
elas próprias, como pai em relação a filho, que, por sua vez, se diz em Primeira proprie­
dade.
relação a pai. Assim como pai se diz pai do filho, assim, por sua vez,
filho se diz filho do pai. A segunda é: todo o relativo é simultáneo, na
natureza, com aquilo a que se refere. Dizem-se simultâneas na natureza Segunda.
as coisas das quais uma põe ou tira c consigo a outra, como senhor,
c Predicamen­
o servo e servo, o senhor. Com efeito, se não há senhor, não haverá tos, 12.
servo; e, vice-versa, se não há servo, não haverá senhor. A terceira pro­ Terceira.
priedade é: todo o relativo é duma natureza tal, que se se conhecer,
conhecer-se-á também aquilo a que se refere, e, vice-versa, se se conhecer
este, conhecer-se-á também aquele. Se alguém, pois, souber que Sofro-
nisco é pai de Sócrates, necessàriamente saberá também que Sócrates é
filho de Sofronisco; e, por sua vez, se souber que Sócrates é filho de
Sofronisco, necessàriamente saberá que Sofronisco é pai de Sócrates. Coisas relativas se­
gundo o ser.
C Mas as coisas que dissemos são relativas em sentido próprio e
chamam-se segundo o ser. Outras há que se fazem notar por qual­
quer relação, mas essas não pertencem a este predicamento. Também
essas são, na verdade, chamadas relativas pelos dialécticos, porém não Relativas segundo o
dizer-se.
simples e propriamente relativas, mas relativas, com o acrescentamento
[da expressão] segundo o dizer-se, isto é, quanto a uma explicação da
natureza somente e não quanto à própria natureza — como são: hábito,
ciência, e outras deste género. Destas falaremos mais desenvolvida-
mente em outro lugar.

Capítulo 14

Da acção e da paixão

A Acção é o acto ou perfeição do agente, enquanto agente. Paixão


é o acto ou perfeição do paciente, enquanto paciente a. Acção epaixão a Física, III, 3.
são uma e a mesma coisa, que, todavia, se diz acção, enquanto é perfeição
do agente, e paixão, enquanto perfeição do paciente. Por exemplo:
o movimento de calor, em virtude do qual a água é afectada pelo fogo,
enquanto é aquilo pelo qual este é agente, é acção e diz-se acção;
enquanto, porém, é aquilo em virtude do qual a água é paciente, é
paixão e paixão se denomina.
124 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

nominatur. Actiones autem, et passiones partim sunt a corpore ut cale­


facere, et calefieri: partim ab animo, aut [ab] alia superiori causa, ut
nutriri, augeri, cupiditatis, aut irce motu agitari, et huiusmodi alia. Actioni, B
Duplex actio, et pas­
sio. et passioni duce affectiones tribuuntur t>. Prior est, Habere contrarium.
Nam calefacere, et frigefacere, calefieri, et frigefieri, voluptatis motu
b Praed. 9. affici, et doloris, contraria sunt. Posterior est, Suscipere magis, et minus.
Prior affectio. Nam et id, quod calefacit, aut calefit, magis, aut minus calefacere,
Posterior.
aut calefieri dicitur: id etiam, quod doloris, aut voluptatis agitatione
movetur, magis, aut minus dicitur voluptate, aut dolore affici.

Quid sit ubi et situm esse

Ca p V T 15

a 4. Phy. 2. Ubi, seu esse alicubi, est loco contineria, ut templo [aut vase]. A
Duobus enim modis res dicuntur esse in loco uno ut communi, quo pacto
Socrates dicitur esse in templo: altero ut proprio, quo pacto aqua dicitur
Situm esse. esse in vase. Huius generis species dicuntur supra, infra, ante, retro,
ad dextram, et ad sinistram. Situm esse est, habere partes corporis certo B
Duplex positio. quodam modo affectas ad partes loci, ut stare, sedere, cubare: quce quidem
appellantur positiones: partimque sunt naturales, ut quce dictae sunt:
partim non naturales, ut si quis conversis ad caelum vestigiis manibus
nitatur.

Quid sit quando et habere


Quando.
Ca p V t 16
Habere.
Quando, seu esse in tempore, est tempore contineri, ut fuisse anno A
superiori, esse in praesenti, fore in futuro, esse in mense, in die, in hora,
et huiusmodi temporibus. Habere (ut nunc utimur hoc verbo) est indumento B
aliquo, aut ornamento indutum, aut ornatum esse: ut togatum esse, lorica
indutum, mytra redimitum, et anulatum. In his igitur decem classibus

A 1 {cap. 15) — contineri, ut in foro, in templo.


A 2-A 4 {cap. 15) — Duobus autem modis corpus continetur loco, aut communi, ut
Socrates in templo: aut proprio, ut aqua in vase. Huius generis species dicuntur esse
supra, infra...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 125

As acções e as paixões são umas do corpo, como aquecer e ser


aquecido, e outras da alma ou de outra causa superior, como nutrir-se, A acção e a paixão
crescer, ser agitado por um movimento de cupidez ou de ira, e outras são duplas.
coisas deste género.
À acção e à paixão atribuem-se duas propriedades b. A primeira é:
ter contrários. Com efeito, aquecer e arrefecer, ser aquecido e ser arre­ b Predicamen­
tos, 9.
fecido, ser afectado pelo prazer e pela dor, são contrários. A segunda é: Primeira proprie­
receber mais e menos. Com efeito, diz-se que o que aquece ou é aque­ dade.
cido, aquece ou é aquecido mais ou menos; e também o que é movido Segunda.

pela agitação da dor ou do prazer, se diz que é mais ou menos afec­


tado pelo prazer ou pela dor.

Capítulo 15

O que é onde e estar situado


a Física, IV, 2.
Onde, ou estar algures, é estar contido num lugar a, como no templo
ou no vaso. Diz-se que as coisas estão num lugar, de dois modos: um,
em lugar comum e, segundo este modo, diz-se que Sócrates está no
templo; outro, em lugar próprio, e, segundo este modo, a água está
no vaso.
Dizem-se espécies deste género: acima, abaixo, adiante, atrás, à
Estar situado.
direita e à esquerda.
Estar situado é ter as partes do corpo de um modo preciso afeitas às
Dupla posição.
partes do lugar, como: estar de pé, estar sentado, estar deitado — e isto
chamam-se posições, das quais algumas são naturais, como as que
foram mencionadas, e outras não naturais, como se alguém, pondo-se
de pernas para o ar, se apoiasse nas mãos.

Capítulo 16

O que é quando e hábito


Quando, ou existir num tempo, é estar contido num tempo, como: Quando.
ter existido no ano anterior, existir no presente, haver de existir no
futuro, existir num mês, num dia, numa hora, e em tempos deste género.
Hábito (no sentido em que agora usamos esta palavra) é estar Hábito.
revestido ou ornado de algum revestimento ou ornamento, como:
estar togado, revestido de couraça, coroado com mitra e provido
de anel.
126 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER II

infinita rerum, et nominum multitudo ita distincte, distributeque conti­


netur, ut facile sit cernere, quce ad equam categoriam pertineant, et in
Conclusio.
quacumque categoria, quce quibus communiora sint, aut in minus communia.

De oppositis

Caput 17

Sed quoniam in hac categoriarum tractatione scepe contrariorum


meminimus, restat ut contrariorum naturam utcunque explicemus, et
amplioris doctrince causa reliqua oppositorum genera persequamur.
[Praed. 10].
Ea igitur, quce opponuntur, uno e quatuor modis dicuntur opposita, utpote
aut relative, aut contrarie, aut privative, aut contradictoriea. Relative A
a Praed. 10.
Relative opposita. opposita sunt, quce quicquid sunt oppositorum esse, aut aliquo alio modo ad
illa dicuntur: ut pater, et filius, et duo similia. Nam pater dicitur filii
pater: et filius, patris filius: hoc vero simile, dicitur illi simili simile,
Contraria.
et illud huic. Contrarie opposita sunt ipsa contraria. Contraria vero B
b Prae. 6. et dicuntur ea, quce sub eodem genere maxime distant, et eidem sublecto
10- vicissim insunt, nisi eorum alterum insit a naturab; ut scientia, et error:
virtus, et vitium: calor, et frigus: candor, et atror. Nam sub habitu,
quod est genus quoddam qualitatis, maxime distant tum scientia, et error,
tum etiam virtus, et vitium: sub patibili autem qualitate tum calor, et frigus,
tum candor, et atror. Hcec item, ut patet, in eodem subiecto inheesionis
vicissim insunt, cum mutuo ab eodem se expellant. Additum est, Nisi
Contraria immedi: eorum alterum a natura insit, quia in locum eius, cui a natura determinatum,
et quasi prcescriptum est, ut insit, non potest alterum succedere: qua ratione
Mediata.
nec ignis frigere potest, nec cygnus esse niger, nec corvus albus, nec
saxum molle, quippe cum hcec omnia alterum ex contrariis naturaprascripto
da. sibi vendicent. larn vero contrariorum, quadam immediata, sunt, quadam C
mediata. Immediata dicuntur, quorum alterum necesse est inesse proprio
subiecto; ut sanitas, et morbus comparatione animalis. Mediata vero,

B 10 (cap. 16)-A 1 (cap. 17) — meminimus, queenam sint contraria paucis dica­
mus: atque adeo omnia oppositorum genera (quoniam id perutile erit) persequamur.
Oppositorum igitur quatuor sunt genera, relative opposita, contrarie, privative, et con­
tradictorie.
A 4 — hoc vero simile illi, dicitur...
C 2 — Immediata dicantur, quorum...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II ni

Nestas dez classes se contém, em suma, a infinita multidão das Conclusão.


coisas de modo tão distinto e ordenado, que é fácil discernir a que
categoria pertencem [elas], e, em qualquer categoria, quais as que são
mais ou menos comuns, em comparação umas das outras.

C a p í t u l o 17

Dos opostos

Mas, porque, neste tratado das categorias, muitas vezes lembramos


os contrários, resta explicar de qualquer modo a natureza dos contrários Predicamentos, 10.
e percorrer os restantes géneros de opostos, com vista a uma doutrina
mais ampla.
As coisas que se opõem, dizem-se opostas por um de quatro modos: Predicamentos, 10.
ou relativamente, ou contràriamente, ou privativamente ou contradito­
riamente a. o Predicamen­
A tos, 10.
Opostas relativamente são aquelas coisas que são alguma coisa do
Coisas opostas rela­
ser das opostas ou de algum outro modo se dizem em relação a elas,
tivamente.
como pai e filho, e duas coisas semelhantes Com efeito, diz-se que o
pai é pai do filho e que o filho é filho do pai; e diz-se que este semelhante
é semelhante àquele, e que aquele é semelhante a este.
B Opostas contràriamente são as próprias coisas contrárias. Diz-se Coisas contrárias.
que são contrárias as coisas que, sob o mesmo género, distam ao máximo,
e, com alternativas, existem no mesmo sujeito, a não ser que alguma
delas exista lá por natureza h, como: a ciência e o erro, a virtude e o vício, b Predicamentos,
o calor e o frio, a brancura e a negrura. Com efeito, sob o hábito, que 6 e 10.
é um certo género da qualidade, distam ao máximo tanto a ciência e o
erro, como a virtude e o vício; sob qualidade passível, distam ao máximo
tanto o calor e o frio como a brancura e a negrura. É claro que estas
coisas existem sucessivamente no mesmo sujeito de inerência, pois que
mutuamente se repelem dele. Acrescentou-se a expressão a não ser que
uma delas exista por natureza, porque, para o lugar daquela, a cuja
existência esse lugar foi determinado e como que prescrito por natu­
reza, não pode vir outra — razão por que nem o fogo pode ser frio,
nem o cisne ser negro, nem o corvo, branco, nem o seixo, mole, pois
que todas estas coisas reivindicam para si, por exigência da natureza,
o outro dos contrários.
C Das coisas contrárias umas são imediatas, outras mediatas. Coisas contrárias ime­
Dizem-se imediatas aquelas das quais uma existe necessariamente no diatas.
sujeito próprio, como a saúde e a doença em relação ao animal. Media- Mediatas.
128 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER II

quorum neutrum necesse est inesse proprio subiecto, nisi alterum natura
insit. Ut albus color, ac niger comparatione corporis mixti: et virtus,
ac vitium comparatione hominis. Dantur enim media inter huiusmodi
contraria, quibus affecta esse possunt propria contrariorum subiecta remoto
utroque contrario. Quce quidem media partim nominata sunt, ut flavus
color, et fuscus inter candorem, et nigrorem: partim nomine carent,
ut quod inter virtutem, et vitiositatem interiectum est, quo affectos dicimus
Media nominata.
Media nomine ca­
homines natura amentes. Sed quce media nomine carent, negatione extre­
rentia. morum nominari possunt: ut si dicas [id] quod nec probitas, nec vitiositas
est, medium, esse inter virtutem, et vitium. Privative opposita sunt habitus, D
Privative opposita. seu forma, et privatio formce. Nomine habitus sive formce intellige quicquid
Habitus. modo aliquo rei adhceret, ut aspectus oculis, auditus auribus, locutio
linguce, lumen aeri, pili capiti, vestis corpori. Privatio vero [presse, ac E
Privatio.
proprie sumpta] est negatio eiusmodi formce in subiecto natura apto, et
in tempore a natura constituto ut forma insit: cuiusmodi sunt ccecitas,
surditas, mutum esse, tenebrosum, calvum, nudum. Dixi in subiecto
naturam apto, quia negatio formce in subiecto suapte natura minime
apto, non est [proprie] privatio. Unde non dicimus lapides ccecos, surdos,
aut mutos, quia natura non sunt apti ut videant, audiant, aut loquantur.
Addidi, Et in tempore a natura constituto ut forma insit, quia subiectum
ante id tempus, quo a natura constitutum est, ut habeat formam, non
e Plin. de natu, proprie dicitur illa privatum. Unde fit ut catulus ante sptimum diem,
hist. Ii. 3. cap. 40.
quo minimum a natura constitutum est ut oculos aperiat c, non sit appellan­
dus ccecus: nec puer ante septimum annum si mente non utatur, demens dicen­
Duplex privatio.
dus est, quia tum primum fere pr ascriptum est a natura ut mente, ac ratione
utatur. Privatio vero duplex est, altera, a qua non potest fieri naturaliter,
Contradictorie oppo­ ad habitum regressus, ut ccecitas, calvitium: altera, a qua naturaliter fit
sita. regressus, ut tenebrce, nuditas, et [alia] huiusmodi. Quce omnia paululum
animadvertenti perspicua sunt. Contradictorie opposita dicuntur, inter
quce comparatione cuiusque nullum datur medium, id est, quorum alterum
de quovis sive ente, sive non ente dicatur necesse est. Exempla sunt
homo, nonhomo: lapis, nonlapis: album, nonalbum. Nam equus, chimcera,
et quicquid aliud modo aliquo esse, aut fingi potest, est homo, aut nonhomo,

E9-E10—formam, nequaquam ea privatum dici poterit. Unde...


E19 — necesse est. Quod quo pacto intelligendum sit alibi docebimus. Exempla
tamen sunt...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO II 129

tas, aquelas das quais nem uma nem outra necessàriamente têm de exis­
tir no sujeito próprio, a não ser que uma lá exista por natureza. Por
exemplo: a cor branca e a cor negra em relação ao corpo misto, e a
virtude e o vício em relação a homem. Há, com efeito, coisas intermé­ Coisas intermédias
dias entre coisas contrárias deste género, pelas quais podem ser afecta­ com nome.
Coisas intermédias
dos os sujeitos próprios das coisas contrárias, removidas ambas as coi­ sem nome.
sas contrárias. Destas coisas intermédias, algumas têm nome, como o
amarelo e o cinzento, entre o branco e c preto; outras não o têm, como
o que está interposto entre a virtude e o vício, de que dizemos estarem
afectados os homens dementes por natureza. Mas as coisas médias
que carecem de nome, podem denominar-se pela negação dos extremos,
como quando se diz que está em situação média entre a virtude e o
vício o que nem é probidade nem vício.
D Privativamente opostos são o hábito ou forma e a privação da forma. Opostas privativa­
Pelo nome de hábito ou forma deve entender-se o que de algum modo mente.
Hábito.
adere à coisa, como a vista aos olhos, o sentido do ouvido aos ouvidos,
F a fala à língua, a luz ao ar, os cabelos à cabeça, a veste ao corpo. Priva­ Privação.
ção, estrita e propriamente tomada, é a negação duma forma deste
género num sujeito apto por natureza, e no tempo determinado pela
natureza, para que nele exista essa forma. Por exemplo: a cegueira, a
surdez, ser mudo, escuro, calvo, nu. Disse num sujeito apto por natu­
reza, porque a negação num sujeito, que, por sua natureza, não é apto,
não é propriamente privação. Por isso, não dizemos pedras cegas,
surdas ou mudas, porque, por natureza, não são aptas para ver, ouvir
ou falar. Acrescentei e no tempo determinado pela natureza para que
nele exista a forma, porque o sujeito, antes do tempo determinado pela
natureza para que tenha uma forma, de modo algum se poderá dizer
dela privado. Donde deriva que o cachorro antes de sete dias, que
é o mínimo tempo fixado pela natureza para abrir os olhos c, não se c Plínio, nos 8 li­
deve chamar cego; nem a criança, antes dos sete anos, se não tem o vros acerca da histó­
uso da mente, se deve chamar demente, porque é mais ou menos essa a ria natural, cap. 40.

idade marcada pela natureza para o uso da mente e da razão.


Há duas espécies de privação: uma, da qual se não pode natural­ A privação é dupla.
mente voltar ao hábito, como a cegueira, a calvície; outra, da qual
naturalmente se volta ao hábito, como: as trevas, a nudez e outros.
Tudo isto é evidente para quem prestar um pouco de atenção.
Coisas opostas con­
Dizem-se opostos contraditoriamente aqueles entre os quais não traditoriamente.
existe intermédio para comparar um com o outro, isto é, importa
que um deles seja dito de qualquer ente ou não ente. Por exemplo:
homem, não-homem; pedra, não-pedra; branco, não-branco. Com
efeito, cavalo, quimera e tudo o que de algum modo, pode existir ou
9
130 INSTITVTIONVM D1ALECTICARVM LIBER I

lapis, aut nonlapis, album, aut nonalbum: et ita in cceteris: id quod in supe­
rioribus oppositorum generibus nequaquam accidit. Equus enim, ut
uno exemplo rem intelligas, nec est dominus, nec servus, nec item virtute
praeditus, aut vitiositate, nec rursus loqui potens, aut mutus.
Haec de coactione, ac dispositione nominum, et verborum in decem
categorias. Esset autem proxime agendum de usu nominum, quem Juniores
suppositionem terminorum appellant, nisi commodius videretur hanc, et
quasdam alias nominum affectiones ad eam partem differe, in qua de
d Ad lib. 8. eludendis sophistarum captionibus disserendum est d. Qua propter institu­
tum ab initio ordinem tenentes iam de oratione dicamus.

E 23 — nequaquam cernimus. Equus...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO I 131

imaginar-se, é homem ou não-homem, pedra ou não-pedra, branco ou


não-branco, e assim nos demais casos; o que de modo algum acontece
nos anteriores géneros de coisas opostas. Com efeito, cavalo, para que
isto se entenda com um único exemplo, nem é senhor nem servo, nem
dotado de virtude ou de vício, nem ainda capaz de falar ou mudo.
Isto [é o que há a dizer] acerca do agrupamento e disposição dos
nomes e dos verbos nas dez categorias. Dever-se-ia, na verdade, tratar do
uso dos nomes, a que os modernos chamam suposição dos termos, se
não parecesse mais conveniente diferir esta e outras propriedades dos
nomes para aquela parte, em que se há-de discorrer sobre a maneira de
refutar as falácias dos sofistas d. Por isso, conservando a ordem desde 11 No livro VIII.
o início estabelecida, passemos imediatamente a falar da oração.
INSTITVTIONVM Dl ALECT1C ARV Μ

LIB E R I II

Quid sit oratio

Caput 1

Oratio est vox ex instituto significans, cuius aliqua pars significat A


a 1. Peri. 4. separatim a: ut Socrates est Philosophus, Socrates sapiens, Omnis homo,
Liber Aristotelis, et cceterce huiusmodi voces aliquo nexu grammatico
copulatce. Nam multce dictiones nulla constructione grammatica coniunctce
ut Ccelum, Terra, Lapis, Lignum, ut nullo modo sunt una vox, sic nullo
modo sunt oratio. Posteriori definitionis parte reiiciuntur nomen et
verbum, et alice simplices voces significantes ex instituto, quia nulla pars
eiusmodi vocum significat separ atim in ipsa totius vocis structura: at in
compositione orationis semper aliqua pars significat. Quod non sic intelli-
gas, quasi una sola orationis pars debeat separatim significare, aut quod
una saltem. Omnes enim dictiones, quce assumuntur ad orationem cons­
truendam, significantes esse debent, si verum est quod Dialectici asserunt,
Significatio totius Significationem totius orationis conflari ex significationibus partium,
orationis constatur hoc est, dictionum, ex quibus oratio constituitur. Sed iccirco id Aristotelem
ex significationibus dixisse intellige, ut orationem a nomine et verbo distingueret: ad quod sane
partium.
discrimen constituendum satis est, si una tantum orationis pars per se signi­
ficare concedatur, quando nulla nominis, aut verbi pars separatim signi
ficat. Itaque licebit dicere orationem esse multarum dictionum ex insti­
Duplex compositio
orationis. tuto significantium comprehensionem. Adverte tamen duobus modis B
orationem componi posse ex dictionibus per se significantibus in ipsa,
altero explicite sive expresse, ut si dicas, Nullus homo, Nulla res, In
omni loco, In omni tempore: altero implicite, seu, virtute, ut si dicas,
Nemo, Nihil, Ubique, Semper. Nam etsi hce posteriores voces expresse

A 17 [1590] — concedatur, ac quando...


LIVRO III

DAS

INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS

Capítulo 1

O que é a oração
A Oração é a voz que significa por convenção, da qual alguma parte
significa separadamente a, como: Sócrates é filósofo, o sábio Sócrates, a Da Interpreta­
todo o homem, livro de Aristóteles, e outras vozes deste género, ção, I, 4. ·
copuladas por qualquer nexo gramatical. Com efeito, muitas dicções,
não ligadas por qualquer construção gramatical, como: céu, terra,
pedra, madeira, assim como de modo nenhum são voz, assim de modo
nenhum são oração. Com a segunda parte da definição excluem-se o
nome e o verbo, e outras vozes simples que significam convencionalmente,
porque nenhuma parte deste género de vozes significa separadamente,
na própria estrutura da voz inteira; porém, na composição da oração,
alguma parte significa sempre. Mas não deve entender-se isto como se
só uma ou pelo menos uma parte da oração deva separadamente signi­
ficar. Com efeito, todas as dicções que se empregam na construção da
oração devem ser significantes, se é verdade o que dizem os dialécticos:
a significação da oração toda consta das significações das suas partes, A significação total
isto é, das dicções por que é constituída a oração. Entenda-se, porém, da oração é com­
posta pelas significa­
que Aristóteles disse isto para distinguir a oração do nome e do verbo. ções das partes.
Para constituir esta distinção, sem dúvida, basta que se conceda que
apenas uma parte da oração signifique por si, ao passo que nenhuma
parte do nome ou do verbo significa separadamente. E, assim, será
lícito dizer que a oração é um conjunto de muitas dicções que signifi­
cam convencionalmente.
B Note-se, todavia, que de dois modos a oração pode ser com­ Dupla composição da
oração.
posta de dicções que por si significam nela: um, explícitamente ou
expressamente, como quando se diz: nenhum homem, nenhuma coisa,
em todo o lugar, em todo o tempo; outro, implicitamente ou virtualmente,
como quando se diz: ninguém, nada, em qualquer parte, sempre. Na
134 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM UBER III

non constant eisdem partibus quibus superiores, tamen, quia idem omnino.
atque ilice significant totidemque, quot ilice conceptus in animo imprimunt,
virtute eisdem partibus constare dicuntur. Quanquam igitur voce non sint
orationes, significatione tamen orationes censendce sunt, ac proinde sim­
pliciter orationes [nisi cum earum aliqua imprimit in animo simplicem
conceptum, quod supra diximusb non nunquam accidere in verbo Nihil].
[h Lib. 1. cap. 30] Causa huius rei est, quia apud Dialecticos significationis potius, quam
Apud Dialecticos si­
vocis, ratio habenda est. Hinc enim fit, ut oratio quee multos habet sensus,
gnificationis potius,
quam vocis ratio ha­ qualis est illa, Aio te Aeacida Romanos vincere posse, simpliciter non sit
betur. oratio, sed orationes, quemadmodum nomen quod multa significat, ut
Oratio multos habens
Gallus, non est simpliciter nomen, sed nomina, ut supra diximus. Itaque
sensus non est sim­
pliciter oratio, sed omnia hac propterea asserimus, quia iudicamus in oratione, et partibus
orationes. eius, significationem magis, quam vocem, esse spectandam.

De perfectis et imperfectis orationibus

CAPVT2

Orationum porro quadam perfecta sunt, quadam imperfecta. Per­


Oratio perfecta.
Imperfecta.
fecta oratio est, qua integram sententiam declarat: ut, Deus est summum
Duplex imperfecta. bonum. Imperfecta, qua non declarat integram sententiam. Ac imper­
fecta quidem duplex videtur esse. Quadam enim imperfectam, et quasi
mutilam sententiam significat, ut Sic vos non vobis, Deum timere, Si ti­
muerimus Deum, et alia huiusmodi, quibus auditis aliquid ultra expectamus.
Quadam vero nullam sententiam significat, etiam imperfectam, et trun­
catam: ut Animal rationale, Quantitas continua, Liber Aristotelis, Tractatio
de oratione, et alia huius generis, quas cum aliquis profert, non videtur eo
a 1. Peri. 3. sermonis genere significare se ulterius velle progredi. Significant enim
huiusmodi orationes more nominum, et verborum, qua, ut ait Aristoteles a,
eam intelligentiam imprimunt in animo, ut qui audit quiescat. Priores
constant verbis, aut coniunctionibus, aliisve particulis, quarum vis non fini­
tur in ea tantum oratione, qua profertur: posteriores fere nomine substan­
tivo, et adiectivo, aut casu recto, et obliquo. Quia enim adiectivum
in suo substantivo finitur ac terminatur, et sape vis obliqui in suo recto, non
suspendunt huiusmodi orationes animum audientis, quemadmodum nec
nomen per se, aut verbum, ut Aristoteles [de verbis, ac nominibus] ait.

B 7 [1590] — totidemque, quod ilice...


A 3-A 4 — sententiam. Quce duplex videtur esse...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 135

verdade, embora estas segundas vozes não constem expressamente das


mesmas partes que as primeiras, todavia, porque significam absoluta­
mente o mesmo que elas e imprimem na alma tantos conceitos como
elas, dizem-se constar virtualmente das mesmas partes. Embora, por­
tanto, pela voz, não sejam orações, devem, contudo, pela significação,
ser tidas como orações, e simplesmente como orações, a não ser quando
alguma delas imprime na alma um conceito simples, o que dissemos
acimab acontecer algumas vezes na palavra nada. A causa disto é b Liv. I, cap. 30.
que entre os dialécticos deve atender-se à significação de preferência Entre os dialécticos,
atende-se à significa­
à voz. Daqui resulta que a oração que tem vários sentidos, como esta:
ção, de preferência à
«aio te, Aeacida, Romanos vincere posse» [que pode traduzir-se: digo voz.
que tu, filho de Éaco, podes vencer os Romanos; ou: digo que os Uma oração com
Romanos podem vencer-te a ti, filho de Éaco] não é simplesmente uma muitos sentidos não
é simplesmente uma
oração, mas orações, do mesmo modo que um nome com diversos
oração, mas orações.
significados, como galo [ave, gaulês] não é simplesmente um nome,
mas nomes, como acima dissemos. E, assim, afirmamos tudo isto,
porque julgamos que na oração e suas partes, mais que à voz, se
deve atender à significação.

Capítulo 2

Das orações perfeitas e imperfeitas

Das orações, umas são perfeitas, outras imperfeitas. Oração per­ Oração perfeita.
feita é a que exprime um pensamento íntegro, como: Deus é o sumo
bem. Imperfeita é a que não exprime um pensamento íntegro. Vê-se Imperfeita.
que há duas espécies de oração imperfeita. Uma significa um pensa­ Duas espécies da im­
mento imperfeito e de certo modo mutilado, como: assim vós não a perfeita.
vós, temer a Deus, se temermos a Deus, e outras deste género, ouvidas
as quais, ficamos à espera de mais alguma coisa. Outras, porém, não
significam pensamento algum, mesmo imperfeito e truncado, como:
animal racional, quantidade contínua, livro de Aristóteles, tratado
sobre a oração, e outras deste género; quem as profere não parece
mostrar, com este modo de se exprimir, que quer continuar. Tais ora­
ções significam a modo de nomes ou de verbos, as quais, como diz
a Da Interpreta­
Aristóteles a, imprimem na alma uma tal compreensão que quem ouve ção, I, 3.
fica satisfeito.
As primeiras constam de verbos, conjunções ou outras partículas,
cuja força não é limitada só à oração proferida; as segundas [constam]
ordinariamente de nome substantivo e adjectivo ou de caso recto e
136 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Perfectarum autem alice sunt optativae, ut, O mihi praeteritos referat si B


Iupiter annos. Aliae interrogativae, ut Sed vos qui tandem ? quibus aut
Optativae.
Interrogativae. venistis ab oris ? quove tenetis iter ? A liae deprecativae, ut Parcite Dardanidce
Deprecati vae. de tot, precor, hostibus uni. Alice imperativae, ut Disce puer virtutem ex
Imperativae.
Enunciativae. me, verumque laborem, fortunam ex aliis. Alice enunciativae, ut Vulgus
Ex perfectis oratio­ amicitias utilitate probat. At vero ex perfectis orationibus de solis enun-
nibus solas enuntiati­
vas tractat Dialec­ ciativis (quae tum enunciationes, tum effata, tum pronunciata, saepe etiam
ticus. propositiones dicuntur) agit Dialecticus cceteris omissis, quoniam ad
[b Ita docet] Arist
1. peri. 4. Oratores, et Poetas pertinent b. Nam quod interrogativas non omnino
c Ut patet. 1. reiicit c, id propterea facit, ut a respondente [obtineat] enunciationes, quibus
post. 9. et 1. Top.
8. et toto fere 8. lib. id, quod vult, illi persuadeat.
top.

De enuntiatione et divisione eius in simplices et coniunctas,


et simplicium in absolutas et modales

CAPVT3

a 1, peri. 4.
Enunciatio igitur est oratio perfecta, quae verum, aut falsum significata, A
ut Deus est summum bonum, Si Deum videris omnium bonorum copia frue-
Vera et falsa enun­ ris: quae propositiones sunt verae. Item, Id, quod honestum est, icon est per
ciado ex 4. meta. 7. se expetibile, Si omnes mundi thesauros possederis, vere felix eris: quae
tex. 27.
Divisio enunciationis sunt falsae. Ea dicitur enunciatio vera, quae significat id, quod est, esse,
ex 1. peri. 4. aut, quod non est non esse. Falsa vero, quae significat id, quod est,
Simplicis divisio ex.
1. prio. 2. non esse, aut id, quod non est esse. Porro enunciationum quaedam sunt
simplices, quaedam coniunctce. Simplicium, alice sunt absolutae, quce vocantur
Enunciado coniuncta de inesse, alice modales. Enunciatio simplex est, quce unum de uno enun- B
seu hypothetica quas
sit ex. 1. peri. 4. ciat, sive illud unum sit simplex, sive ex multis compositum, ut si dicas,
Homo est animal, Homo est animal rationale, Homo iustus est prudens,
Homo probus est simplex, et prudens. Enunciatio coniuncta, quam Aristo­
teles coniunctione unam, alii hypotheticam vocant, est quce simplicibus
coniunctione aliqua nectitur: ut, Si dies est, lux est. In quarum numero

B6-B9 (cap. 2) — At vero ex perfectis orationibus, enunciativas duntaxat


(iquce tum enunciationes, tum effata, tum pronunciata, scepe etiam propositiones dicun­
tur) cceteris omissis quoniam ad Oratores, et Poetas pertinent pertractat Dialecticus.
B10-B11 — quibus argumente tur obtineat.
A 5 — Vera enunciatio, 4. meta. 7. tex. 27. Falsa. (Cota marginal).
A 6 — Falsa vero est, quce.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 137

oblíquo. Porque, com efeito, o adjectivo é limitado e terminado no seu


substantivo, e, frequentemente, a força do caso oblíquo no respectivo
caso recto, as orações desta natureza não suspendem o ânimo do
ouvinte à semelhança do que sucede com o nome por si ou com o
verbo, como Aristóteles diz acerca dos verbos e dos nomes.
B Das [orações] perfeitas, umas são optativas, como: que Júpiter me Optativas.
restitua os anos passados! Outras são interrogativas, como: mas afinal Interrogativas.
quem sois vós? de que regiões viestes? para onde caminhais? Outras
são deprecativas como: dentre tantos inimigos, peço que poupeis uni­ Deprecativas.
camente o filho de Dárdano. Outras são imperativas, como: menino,
aprende de mim a virtude e o verdadeiro trabalho; a fortuna, [apren­
de-a] dos outros. Outras são enunciativas, como: o povo avalia as
amizades pela utilidade. Porém, de entre as orações perfeitas, o dia­ Imperativas.
léctico somente trata das enunciativas (que se dizem enunciações, ditos,
Enunciativas.
frases, ou ainda, muitas vezes, proposições), omitindo as restantes, por De entre as orações
serem do uso dos oradores e poetas b. O facto de não pôr completa­ perfeitas, o dialéctico
só trata das enuncia­
mente de parte c as interrogativas tem por fim obter de quem responde tivas.
enunciações com que o persuada daquilo que quer. b Assim ensina
Aristóteles, em Da
Interpretação, I, 4.
c Como se vê nos
Segundos Analíticos,
Capítulo 3 I, 9 e Tópicos I, 8 e
em quase todo o livro
VIII dos Tópicos.
Da enunciação e da sua divisão em simples e conjuntas,
e das simples em absolutas e modais
a Da Interpreta­
A Enunciação é, portanto, a oração perfeita que significaa o ver­ ção, I, 4.
dadeiro ou o falso, como: Deus é o sumo Bem; se vires a Deus gozarás Enunciações verda­
deira e falsa: segun­
da abundância de todos os bens—proposições estas que são verdadeiras. do Metafísica, IV, 7,
De igual modo: o que é honesto não é por si desejável; se possuíres tex. 27.
Divisão da enuncia­
todos os tesouros do mundo, serás feliz — as quais são falsas. Enun­ ção : segundo Da In-
ciação verdadeira diz-se aquela que significa que o que é, é, ou o que não terpretatação, I, 4.
Divisão da enuncia­
é, não é; falsa, a que significa que o que não é, é, ou o que é, não é. Das ção simples: segundo
enunciações umas são simples, outras conjuntas. Das simples, umas Primeiros Analíticos,
Γ» 2.
B são absolutas, que se chamam de inerência, outras modais. Enunciação Que é a enunciação
conjunta ou hipoté­
simples é a que enuncia uma só coisa de uma só coisa, quer essa coisa
tica: segundo Da In­
seja simples, quer seja composta de muitas, como se se disser: o homem terpretação, 1, 4.
é animal, o homem é animal racionado homem justo é prudente, o
homem honesto é simples e prudente. Enunciação conjunta, a que
Aristóteles chama una por conjunção e outros chamam hipotética, é
a enunciação [formada] de [enunciações] simples, unidas por alguma
conjunção, como: se é dia, há luz. No número destas devem incluir-se
138 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

etiam ilice ponendce sunt, quce constant ex orationibus, quce facile ad


simplices revocari possunt: ut Si dies esset, lux esset. Huiusmodi enim
coniunctce enunciationes, si non actu, certe potestate, ac virtute ex simplicibus
componuntur. Enunciatio absoluta est ea, quce absolute significat aliquid D
inesse, aut non inesse alicui: ut, Homo est animal, Homo non est lapis.
Enunciatio absoluta, Modalis vero est, quce quo modo aliquid alicui insit, aut non insit pro­
seu de inessc. nunciai: ut Homo necessario est animal, Homo necessario non est lapis,
Modalis. Hominem esse animal est necessarium, Hominem non esse lapidem est
necessarium. Nos igitur hunc ordinem sequemur, ut primum de abso­
lutis, deinde de modalibus, ad extremum de coniunctis enunciationi-
bus dicamus.

De qualitate, quantitate et materia absolutarum


enunciationum

CAPVT4

Tria potissimum spectanda sunt in absolutis enunciationibus, qualitas, a


quantitas, et materia: Qualitas earum duplex est: essentialis, et acciden­
Qualitas essentialis. talis. Qualitas essentialis est coniunctioprcedicati cum subiecto. Acciden­
Qualitas accidentalis.
Quantitas. talis vero, est veritas, falsitas, et ccetera coniunctionis accidentia. Quan­
titas est extensio, aut unitas numeralis earum rerum, pro quibus subiectum
sub prcedicato accipitur. Scepe enim accipitur pro multis, idque pluribus
modis, ut si dicas, Omnis homo est disciplinen capax, Aliquis homo est
[a Cap. 30etcaet] iustus: [siquidem subiectum prioris enunciationis pro omnibus omnino homi­
Materia. D. Thom. 1. nibus copulative sumitur, posterioris autem pro iis tantum, qui existunt,
peri. lect. 13.
idque disiunctive, ut extremo libro a patebit]. Scepe etiam [sumitur] pro
una re tantum, ut si dicas, Hic homo est iustus. Materia huiusmodi enun­
b Cap. 5.
ciationum est habitudo seu affectio prcedicati ad subiectum, quce in quibus­
dam est necessaria, ut in hac, Homo est animal, in aliis vero contingens,
aut impossibilis, ut mox patebit b, cum de enunciationibus ex materia
necessaria, contingenti, et impossibili dicemus.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 139

as que constam de orações que fácilmente podem reduzir-se a simples,


como: se fosse dia, haveria luz. As enunciações conjuntas deste genero
se não em acto, pelo menos em potência e virtualmente, são compos­
tas de [orações] simples.
D Enunciação absoluta é a que significa em absoluto que algo está ou
não está em algum [sujeito], como: o homem é animal; homem não é
pedra. [Enunciação] modal é a que designa o modo por que algo está
Enunciação absoluta
ou não está em algum [sujeito], como: o homem é necessáriamente ou dc inerência.
animal; o homem necessáriamente não é pedra; é necessário que o Modal.
homem seja animal; é necessário que o homem não seja pedra.
Seguiremos esta ordem: falaremos primeiro das [enunciações] abso­
lutas, depois das modais e, finalmente, das conjuntas.

Capítulo 4

Da qualidade, quantidade e matéria das enunciações


absolutas

A A três coisas, acima de tudo, se deve atender nas enunciações


absolutas: à qualidade, à quantidade e à matéria.
Qualidade essencial.
A qualidade pode ser essencial e acidental. Qualidade essencial Qualidade acidental.
é a união do predicado com o sujeito. Acidental é a verdade, a falsidade
e os restantes acidentes da união. Quantidade.
A quantidade é a extensão ou unidade numérica das coisas a res­
peito das quais o sujeito está contido sob o predicado. Muitas vezes,
com efeito, toma-se [o sujeito] a respeito de muitas coisas e de vários
modos, como quando se diz: todo o homem é capaz de educação;
algum homem é justo. O sujeito da primeira enunciação toma-se
copulativamente a respeito de todos os homens; o da segunda, porém, a Cap. 30, etc..
só a respeito dos que existem, e isto disjuntivamente, como se esclare­
Matéria. S. Tomás,
cerá no último livro a. Muitas vezes também se toma a respeito de Da Interpretação, I,
uma só coisa, como quando se diz: este homem é justo. leitura 13.
A matéria deste género de enunciações é a relação ou afecção do b Cap. 5.
predicado para com o sujeito. Esta [afecção] em algumas é necessária,
como nesta: o homem é animal; noutras, porém, é contingente, ou
impossível, como, em breve, se mostrará b, quando tratarmos das enun­
ciações de matéria necessária, contingente e impossível.
140 INSTITVTIONVM DIALECT1CARVM LIBER III

Varia genera absolutarum enunciationum

C APVT5

Enuntiationes igitur absoluta multis divisionibus apud Aristotelem A


dispartiuntur. Primuma in affirmationes, et negationes: deinde b in
universales, particulares, indefinitas, et singulares: postea c in necessarias,
a 1. peri. 4. contingentes, et impossibiles: rursus d in finitas, et infinitas, ad extremum e
b 1. peri. 5. in eas, quce constant subiecto, et prcedicato simplici, et in eas qua constant
c Partim. 1. peri.
8. partim alibi Síepe. utroque, aut altero, coniuncto.
d 2. peri. 1. Absoluta affirmatio, est absoluta alicuius de aliquo enuntiatio f,
e 2. peri. 2.
Affirmatio. id est, oratio, qua aliquid alicui absolute tribuitur, ut Homo est animal,
/ 1. peri. 4.
Negatio ibidem.
Homo est lapis. Negatio vero est alicuius ab aliquo absoluta enuntiatio,
id est oratio, qua aliquid ab aliquo absolute removetur, ut si dicas, Homo
non est lapis, Homo non est animal. Hcec divisio dicitur secundum quali­
tatem essentialem quia fit ratione copula, coniunctionisve prcedicati cum
subiecto, quce quidem est essentialis forma enuntiationis.
Universalis, Ex. 1. Ennunciatio universalis est, cuius subiectum notatur signo universali, B
peri. 5. et 1. prio. 1.
Signa universalia.
ut Omnis homo est animal. Signa universalia aut sunt universalia omnino,
ut Omnis, Nullus, Quilibet: aut ad certum usque numerum ut Uter que,
Particularis. Ex Neuter, etsi quce sunt alia huiusmodi.
eodem loco. Eunciatio particularis est, cuius subiectum notatur signo particulari,
Signa particularia.
ut Aliquis homo est grammaticus. Signa particularia aut sunt absolute
Negatio praeposita si­
gno mutat eius quan­
particularia, et Quidam, Aliquis: aut particularia excerto numero, ut Alter.
titatem. Adverte tamen signa absolute universalia prceposita negatione fieri C
g Cap. 7 [huius, particularia, ut absolute particularia eadem prcefixa fieri universalia. Nam
libri]. Non omnis, et Non nullus sunt particularia: Non quidam autem, et Non
Indefinita. Ibidem.
aliquis sunt universalia, ut ex cequipollentia enunciationum intelliges S.
Singularis. Ex. 1.
peri. 5. Enuntiatio indefinita est, subiectum pro multis rebus acceptum nullo D
notatur signo, ut Homo est grammaticus, Homo est rationis particeps.
Enuntiatio singularis est, cuius subiectum accipitur pro una tantum
re singulari, ut Socrates est philosophus, Hic homo est philosophus.
Filius Sophronisci est philosophus. Ad hoc genus revocantur enuntiationes

A 3 — universales, ei particulares, et indefinitas...


A 7 — Absoluta igitur affirmatio...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 141

Capítulo 5

Vários géneros de enunciações absolutas

A Aristóteles reparte as enunciações absolutas em muitas divisões.


Primeiro a, em afirmações e negações; depois b em universais, particulares,
indefinidas e singulares; em seguidac, em necessárias, contingentes e
impossíveis; e ainda d em finitas e infinitas; finalmente e, em [enuncia­
ções] que constam de sujeito e predicado simples e em [enunciações] que a Da Interpreta­
constam de um e outro, ou um só, conjunto. ção, I, 4.
b Da Intcrpreta-
Afirmação absoluta é a enunciação absoluta de algo a respeito de tação, I, 5.
alguma coisa f, isto é, a oração pela qual se atribui absolutamente uma c Parte em Da
Interpretação, I, 8;
coisa a outra, como: o homem é animal, o homem é pedra. A nega­ parte, em outros lu­
ção, porém, é a enunciação absoluta de alguma coisa extraindo-a de gares e muitas vezes.
d Da Interpreta­
outra, isto é, a oração pela qual se remove absolutamente uma coisa de ção, II, 1.
outra, como: o homem não é pedra; o homem não é animal. Esta e Da Interpreta­
ção, II, 2.
divisão diz-se segundo a qualidade essencial, porque se faz em razão da Afirmação.
cópula ou união do predicado com o sujeito, a qual é, sem dúvida, a / Da Interpreta­
ção, I, 4.
forma essencial da enunciação. Negação: no mesmo
B A enunciação universal é aquela cujo sujeito é designado com um lugar.
Universal: segundo
sinal universal, como: todo o homem é animal. Os sinais universais Da Interpretação, I,
ou são totalmente universais como: todo, nenhum, qualquer que seja; 5 e Primeiros Analí­
ticos, I, 1.
ou em relação a um certo número, como: ambos, nem um nem outro, Sinais universais.
e outros deste género, se mais alguns existem. Particular: no mes­
mo lugar.
A enunciação particular é aquela cujo sujeito é designado por um Sinais particulares.
sinal particular, como: algum homem é gramático. Os sinais particula­ A negação, preposta
ao sinal, muda-lhe a
res ou são absolutamente particulares, como um certo, algum, ou parti­ quantidade.
culares de um número determinado como: o outro [o segundo de dois].
C Note-se, todavia, que os sinais absolutamente universais, sendo-
-lhes preposta uma negação, se tornam particulares, assim como os
sinais particulares, sendo-lhes preposta a mesma, se tornam universais.
g Cap. 7 deste li­
Com efeito, não todo, não nenhum [= algum] são particulares; mas não vro.
um certo e não algum são universais, como se entenderá pela equipo­ Indefinida: no mes­
mo lugar.
lencia das enunciações-?.
Singular: segundo
D A enunciação indefinida é aquela cujo sujeito, tomado a respeito Da Interpretação,
de muitas coisas, não é designado com nenhum sinal, como: o homem I, 5.
é gramático; o homem é dotado de razão.
A enunciação singular é aquela cujo sujeito se toma a respeito de
uma só coisa singular, como: Sócrates é filósofo; este homem é filó­
sofo; o filho de Sofronisco é filósofo. A este género se reduzem as
142 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER III

ilice quarum subiecta accipiuntur pro rebus communibus preeeise, ut Homo


est species. Nam cum earum subiecta, non accipiantur pro multis, fieri
non potest, ut sint universales, aut particulares, aut indefinitee. Revo­
canda sunt igitur ad singulares, quarum, etiam subiecta non pro multis
Enunciatio ex su­
blecto communi pre­
accipiuntur. Hcec divisio enunciationis dicitur secundum quantitatem,
cise accepto. quia fit secundum numerum earum rerum, pro quibus accipiuntur subiecta
enunciationum.
Enunciatio necessaria est, quee ita est vera, ut falsa esse non possit, E
ut Homo est animal, Cygnus est candidus. In hoc genere poni solent omnes
Necessaria. Ex. 5. affirmativa ex materia necessaria, seu naturali, et omnes negativa ex
meta. 5. tex. 6. materia impossibili, seu remota, de quibus mox dicemus. [Neque enim idem
Quscnam ad neces­
sariarum genus per­ est enunciationes constare ex materia necessaria, aut impossibili, atque
tineant. esse necessarias, aut impossibiles. Id tamen quod diximus] quod quidem
attinet ad enunciationes ex materia necessaria, tum verum est, cum
pradicatum non minus late patet, quam subiectum. Nam si pradicatum
fuerit angustius, fieri poterit, ut affirmativa sit falsa, ut si dicas, Omne
animal est homo, Omne animal est disciplinae capax, quae quidem sunt ex
materia necessaria, ut statim patebit.
Contingens ex. 1. Enunciatio contingens est, quee cum necessaria non sit, potest tamen F
pri. 12.
vera esse, seu, Quee et vera, et falsa esse potest, ut Homo est grammaticus,
Impossibilis. Homo non est grammaticus. Huiusmodi sunt omnes enunciationes ex
materia contingenti, quas statim explicabimus. Enunciatio impossibilis
Quas ad genus im­
possibilium perline­
est, quee est falsa, ut vera esse non possit, ut Homo est lapis, Cygnus non
re dicantur. est albus. Huiusmodi esse dicuntur omnes affirmativae ex materia impossi­
bili, et omnes negativae ex materia necessaria. Id quod in iis, quee constant
materia necessaria tunc verum esse intellige, cum prcedicatum non est
angustius, quam subiectum. Si enim minus late pateat [quam subiectum],
poterunt esse necessariae, ut si dicas, Quoddam animal non est homo,
Quoddam animal non est disciplinae capax. Haec divisio fit secundum
aptitudinem enunciationis ad veritatem, et falsitatem. Sed quia hcec
[Enunciatio] ex ma­
teria necessaria. aptitudo nascitur ex materia enunciationis, explicandce sunt hoc loco
Pressius D. Tho. 1. enunciationes constantes ex materia necessaria, contingenti, et impos­
perit, lecl. 13.
sibili.
Enunciatio ex materia necessaria, seu naturali, est, cuius prcedica- G
tum non potest non convenire subiecto, ut Homo est animal, Homo non
est animal, et omnes omnino, in quibus superiora de inferioribus sive affir­
mantur, sive negantur: aut differ entice de rebus, quas componunt: aut

E 6-E 7 — Hoc tamen quoad enunciationes.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 143

enunciações cujos sujeitos se tomara a respeito daquelas coisas comuns


com precisão, como: homem é espécie. De facto, não se tomando elas
a respeito de muitas coisas, não pode suceder que sejam universais, par­ Enunciação de sujeito
comum tomado com
ticulares ou indefinidas. Devem reduzir-se, por isso, às singulares, pois precisão.
os sujeitos destas também se não tomam a respeito de muitas coisas.
Esta divisão da enunciação diz-se segundo a quantidade, porque se faz
segundo o número das coisas a respeito das quais se tomam os sujei­
tos das enunciações.
E A enunciação necessária é aquela que de tal modo é verdadeira, que
não pode ser falsa, como: o homem é animal; o cisne é branco. Neste Necessária: segundo
género costumam pôr-se todas as afirmativas de matéria necessária ou Metafísica, V, 5,
tex. 6.
natural e todas as negativas de matéria impossível ou remota, das quais
falaremos em breve. Não é, todavia, o mesmo, as enunciações constarem
Quais as que perten­
de matéria necessária ou impossível e serem necessárias ou impossíveis.
cem ao género das
Isto, porém, que dissemos quanto à enunciação de matéria necessária, necessárias.
é verdadeiro quando o predicado não seja de menor extensão que o
sujeito. É que, se o predicado for mais estrito, pode suceder que a afir­
mativa seja falsa. Assim, estas [enunciações]: todo o animal é homem;
todo o animal é capaz de educação; as quais, sem dúvida, são de matéria
necessária, como imediatamente se fará ver.
F A enunciação contingente é a que, não sendo necessária, pode, Contingente: segun­
do Primeiros Analí­
todavia, ser verdadeira, ou a que pode ser quer verdadeira, quer falsa,
ticos, I, 12.
como: o homem é gramático; o homem não é gramático. Deste
género são todas as enunciações de matéria contingente, que explica­
remos imediatamente.
Impossível.
A enunciação impossível é a que é falsa de modo a não poder ser As que se dizem per­
verdadeira, como: o homem é pedra; o cisne não é branco. Dizem-se tencer ao género das
ser deste género todas as afirmativas de matéria impossível e todas as impossíveis.
negativas de matéria necessária. Entenda-se que isto é verdadeiro nas
[enunciações] que constam de matéria necessária, quando o predicado
não é mais estrito que o sujeito. Se, na verdade, [o predicado] for de
menor extensão que o sujeito, poderão ser necessárias, como quando
se diz: certo animal não é homem; certo animal não é capaz de
educação. Esta divisão faz-se segundo a aptidão da enunciação para
a verdade e a falsidade. Mas, porque esta aptidão nasce da matéria
da enunciação, devem explicar-se neste lugar as enunciações que cons­ Enunciação de maté­
tam de matéria necessária, contingente e impossível. ria necessária.
G A enunciação de matéria necessária ou natural é aquela cujo predi­ Mais resumidamente,
S. Tomás, Da Inter­
cado não pode deixar de convir ao sujeito, como: o homem é animal, o pretação, I, leitura 13.
homem não é animal, e todas aquelas em que os superiores se afirmam ou
negam dos inferiores: — ou diferenças acerca das coisas que compõem,
144 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

proprietates de iis subiectis, quorum naturas consequuntur, vel de superiori­


bus subiectis: aut accidentia inseparabilia de rebus, a quibus separari
nequeunt: aut contra, hoc est inferiora de superioribus, et caetera ordine con­
verso. Omnes enim huiusmodi prcedicationes sive affirment, sive negent fiunt
in materia necessaria, et naturali, quanquam non omnes sunt naturales, seu
directa ut patet ex supradictish. Enunciatio ex materia contingenti,
est, cuius pradicatum, et convenire, et non convenire subiecto potest, ut
Homo est grammaticus, Homo non est grammaticus: et omnes [omnino]
h Lib. 2. ca. 1.
in quibus accidens separabile de re, cuius est, accidens sive affirmative,
Ex materia contin­
genti. [De qua] latius sive negative prcedicatur. Enunciatio ex materia impossibili, seu remota,
Divus Tho.
Latius etiam [sumpta est, cuius prcedicatum non potest convenire subiecto, ut Homo est lapis,
est] praedicatio con­
tingens li. 2. cap. 2. Cygnus est niger. Dicitur autem heee divisio secundum materiam, quia
Ex materia impossi­ fit secundum habitudinem prcedicati ad sublectum, quam diximus materiam
bili. [de qua] pressius
D. Tho. enunciationis.
illud autem pr ater mittendum non est, enunciationes indefinitas, tum H
Indefinitae qua ratio­ ex modo significandi suo, tum etiam ratione materia contingentis, cum
ne idem valeant quod
particulares. ea constant, idem valere atque particulares. Utraque de causa Hac
enunciatio, Homo est iustus, iudicatur nil differre ab hac, Quidam homo
Num indefinitae ex
materia necessaria et est iustus, et ita reliqua. Verum, quod addi solet, Indefinitas ex materia
impossibili idem va­
leant atque univer­ necessaria, et impossibili idem valere ratione materia atque universales,
sales. etsi quoad eas, qua constant materia impossibili verum esse videatur, in
reliquis tamen mihi non probatur. Ha siquidem sunt ex materia necessaria,
Animal est homo, Animal non est homo, Animal est disciplina capax,
Animal non est disciplina capax, et alia similes, ut diximus, qua tamen
non iudicantur idem valere atque universales. Conceduntur enim sim­
pliciter quasi particulares, Sed qui illud dicunt, non existimant eas esse
ex materia necessaria, quia pradicata minus late patent quam subiecta:
quod tamen nihil refert, ut alibi docebimus, etsi aliquando re minus
Finita ex. 2. peri. 1.
Infinita. Ex eodem diligenter perspecta aliquid referre putaverimus.
loco.
Enunciatio finita est, cuius nomina omnia, sive categoremata sunt I
finita, ut Homo est iustus. Infinita vero, cuius aliquod categorema est
infinitum, ut Homo est non iustus, [Non homo est lapis], Socrates est
Ex coniuncto extre­
mo. Elicitur ex. 2. homo non iustus. Quod si dixeris Socrates est servus non iusti, non erit
Peri. 2.
enunciatio infinita, quia illud Non iusti non est categorema.
Enunciatio ex coniuncto extremo est, cuius aut subiectum, aut prcedi- L
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 145

ou propriedades acerca dos sujeitos cujas naturezas seguem ou acerca de


sujeitos superiores, ou acidentes inseparáveis das coisas de que se não
podem separar; ou vice-versa, isto é, inferiores acerca de superiores, e
todas as outras, mudada a ordem. Todas as predicações deste género,
quer afirmem, quer neguem, se fazem em matéria necessária e natural,
embora nem todas sejam naturais, ou directas, como se torna claro pelo
que acima foi ditoÃ.
A enunciação de matéria contingente é aquela cujo predicado pode
convir ou não convir ao sujeito, como: o homem é gramático; o homem
não é gramático; e todas aquelas em que o acidente separável da coisa h Livro II, cap. 1.
De matéria contin­
de que é acidente se predica afirmativa ou negativamente. gente, da qual trata
A enunciação de matéria impossível ou remota é aquela cujo predi­ S. Tomás mais de-
senvolvidamente.
cado não pode convir ao sujeito, como: o homem é pedra; o cisne é Mais desenvolvida-
negro. Esta divisão diz-se, porém, segundo a matéria, porque se faz mente também se
segundo a relação do predicado para com o sujeito, que dissemos ser a tratou da predicação
contingente no li­
matéria da enunciação. vro II, capítulo 2.
H Não deve, porém, omitir-se que as enunciações indefinidas, quer De matéria impossí­
vel, da qual trata
pelo seu modo de significar, quer em razão da matéria contingente mais resumidamente
— quando dela constam —, valem o mesmo que as particulares. Por S. Tomás.
Qual a razão por que
ambos os motivos, esta enunciação: um homem é justo, em nada é as indefinidas valem
considerada diferente desta: certo homem é justo, e assim outras. Mas o mesmo que as par­
o que costuma juntar-se — que as indefinidas de matéria necessária e ticulares.
Se as indefinidas de
impossível valem, em razão da matéria, o mesmo que as universais — matéria necessária e
embora, quanto às que constam de matéria impossível, pareça ser ver­ impossível valem o
mesmo que as uni­
dadeiro, nas restantes, contudo, para mim, não está provado. Na ver­ versais.
dade, são de matéria necessária estas: animal é homem; animal não
é homem; animal é capaz de educação, e outras semelhantes, como
dissemos, as quais, todavia, não são tidas como de valor igual às uni­
versais. Passam a ser tidas, na verdade, simplesmente como particula­
res. Mas os que o dizem não as julgam de matéria necessária porque
os predicados vê-se serem de menor extensão que os sujeitos. Isto,
contudo, nenhuma importância tem, como em outro lugar ensinaremos,
embora algumas vezes, considerando o facto com menos diligência, Finita: segundo Da
tenhamos julgado que alguma importância tem. Interpretação, II, 1.
Infinita: segundo o
I A enunciação finita é aquela cujos nomes ou categoremas são todos mesmo passo.
finitos, como: o homem é justo. Infinita é aquela da qual algum
categorema é infinito, como: o homem é não-justo; não-homem é a
pedra; Sócrates é um homem não-justo. Mas se se disser: Sócrates é De extremo con­
servo dum não-justo, [esta enunciação] não será infinita, porque aquele junto: é extraído de
Da Interpretação, II,
não-justo não é categorema
2 .

L A enunciação de extremo conjunto é aquela cujo sujeito ou predi-


IO
146 1NST1TVTIONYM DIALECTICARVM LIBER III

catum, aut utrunque per se est unum quid ex multis categorematis,


coniunctum, ut Socrates est homo iustus, Homo iustus est sapiens, Homo
iustus est simplex, et prudens. Quod si dicas, Socrates est simplex,
prudens, non erit enunciatio ex coniuncto extremo, quia categoremata,
quae prcedicantur, nullo nexu iunguntur, ut sint unum praedicatum: ex quo
sequitur ut non efficiant enunciationem unam simplicem, sed plures.
Enunciatio ex simplici extremo est, cuius nec subiectum, nec prcedicatum
ex multis iungitur categor ematis, ut Socrates est sapiens, Socrates philoso­
phatur. Hcec de variis generibus absolutarum enunciationum, nunc
Ex simplici extremo. de earum oppositione, aequipollentia, et conversione dicamus.

De oppositione absolutarum enunciationum

CA P VT 6

Oppositio absoluta­ Oppositio, ut in absolutis enunciationibus cernitur, est duarum absoluta- A


rum. Ex. 1 peri. 5
rum enunciationum eodem subiecto, prcedicatoque constantium, repugnantia
et 6. secundum affirmationem, et negationem, ut si dicas; Hic homo est iustus,
Hic homo non est iustus. Porro enunciationes oppositae si fuerint univer- B
Contrariae. sales, erunt contrariae ut Omnis homo est iustus, Nullus homo est iustus.
Conditio contraria­
rum. Earum hcec est conditio, ut simul verae esse non possint, quanquam possint
esse simul falsae, sive in materia contingenti, ut patet in tradito exemplo,
sive in necessaria, ut si dicas omne animal est disciplinae capax, Nullum
Subcontrarias.
animal est disciplinae capax. Si autem fuerint particulares, dicentur
Conditio subcontra-
riarum. sub contrariae, ut Quidam homo est iustus, Quidam homo non est iustus.
Harum conditio est, ut falsae simul esse non possint, quanquam possint esse
Oppositio indefini­ simul verae, sive in materia contingenti, ut hoc eodem exemplo cernis, sive
tarum.
Contradicentes. in materia necessaria, ut si dicas, Quoddam animal est capax disciplinae,
Quoddam animal non est capax disciplinae. Idem quoque, dices de inde­
Conditio contradi­ finitis spectata earum significandi figura. Si vero altera fuerit universalis,
centium.
altera particularis, vel utraque singularis, erunt contradicentes, sive con­
tradictoriae, ut Omnis homo est iustus, Quidam homo non est iustus,
Nullus homo est iustus, Quidam homo est iustus, Socrates est iustus,
Socrates non est iustus. Harum conditio haec est ut nec simul verae,
nec simul falsae esse possint. Idem dices de iis, quarum subiectum acci-

A 1 [1590] — cernitus, ex duabus...


B 3 — Harum hcec est...
B 16-B 17 — Harum hcec est conditio ut nec simul esse verce, nec simul falsee,
unquam es^e possint.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 147

cado, ou ambos eles, por si, são uma resultante do conjunto de vários
categoremas, como: Sócrates é um homem justo; o homem justo é
sábio; o homem justo é simples e prudente. Mas se se disser: Sócra­
tes é simples, prudente, não será uma enunciação de extremo conjunto,
porque os categoremas que se predicam não se ligam por nexo algum,
de modo a serem um só predicado. Resulta daí que não constituem
uma só enunciação simples, mas várias.
A enunciação de extremo simples é aquela cujo sujeito e predicado se De extremo
não compõem de muitos categoremas, como: Sócrates é sábio, Sócrates simples.
filosofa.
Isto dissemos dos vários géneros das enunciações absolutas. Tra­
temos agora da sua oposição, equipolencia e conversão.

Capítulo 6

Da oposição das enunciações absolutas

A Oposição, como se vê claramente nas enunciações absolutas, é a


repugnância, segundo a afirmação e a negação, de duas enunciações Oposição das
[enun­ciações]
absolutas que constam do mesmo sujeito e predicado, como quando se absolutas. Da
B diz: este homem é justo; este homem não é justo. As enunciações Interpretação, I, 5
opostas, se forem universais, serão contrárias, como: todo o homem é e 6.
justo, nenhum homem é justo. A condição destas é que não podem Contrárias.
ser simultáneamente verdadeiras, embora possam ser simultáneamente
Condição das
falsas, quer em matéria contingente, como ressalta do exemplo dado, con­trárias.
quer em matéria necessária, como quando se diz: todo o animal é capaz
de educação, nenhum animal é capaz de educação. Se, porém, forem
particulares, dir-se-ão subcontrárias, como: certo homem é justo; certo
homem não é justo. A condição destas é que não podem ser simultánea­
Subcontrárias.
mente falsas, embora possam ser simultáneamente verdadeiras, quer em Condição das sub­
matéria contingente, como se vê neste exemplo, quer em matéria neces­ contrárias.
sária, como quando se diz: certo animal é capaz de educação, certo
animal não é capaz de educação. O mesmo se dirá também das inde­
finidas, atendendo à sua figura de significação. Se, porém, uma for
Oposição das
universal, outra particular, ou ambas singulares, serão contradizentes inde­finidas.
ou contraditórias, como: todo o homem é justo; certo homem não é
Contraditórias.
justo; nenhum homem é justo; certo homem é justo; Sócrates é justo;
Sócrates não é justo. A condição destas é que nunca podem ser simul­
táneamente verdadeiras nem simultáneamente falsas. O mesmo se
Condição das con­
traditórias.
148 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Oppositio pitur pro eadem re communi praecise, ut si dicas, Homo est species, Homo
enunciatio- num cx
non est species. Si quis autem quaerat, num in quavis contradictione
subiecto com­muni
precise sumpto. altera ex contradicentibus sit vera, altera falsa, occurrendum est, ita
Num cuiusvis
rem habere, praeterquam in contradictionibus futuri contingentis, ut si dicas
contra­dictionis
altera pars sit vera Hic homo morietur cras, Hic homo non morietur cras. Neutra enim
altera falsa. ex his duabus enunciationibus determinate, vera est, aut falsa: id quod
de caeteris huiusmodi dicendum est. Sed haec quaestio alium locum deside­
rat ampliorem. Addunt multi quartum oppositionis genus, quod vocant
Subalternae subalternarum: duarum inquam enunciationum affirmantium, aut negan­
tium idem de eoalem, ita tamen ut quod altera affirmat in totum, altera
affirmet in partem: quae propterea dicuntur subalternae quod altera sub
altera collocetur: cuiusmodi sunt hae duae enunciationes, Omnis homo est
iustus, Quidam homo est iustus, item hae, Nullus homo est iustus,
Quidam homo non est iustus. Verum huiusmodi enunciationes non recte C

Subalternae non dicuntur oppositae, quia non repugnant inter se secundum affirmationem,
sunt oppositae. et negationem. Accedit eo quod nec etiam secundum veritatem, aut
falsitatem. Nam ex veritate universalis, quae vocatur subalternans con­
cluditur veritas particularis: et ex falsitate particularis, quae dicitur
Cond itio
subalterna­rum. subalternata, concluditur falsitas universalis, quod in eisdem exemplis
facile est cernere. Cum igitur absurde videatur dici, eas enunciationes
esse oppositas, quae nec secundum veritatem, nec secundum falsitatem
repugnant, immo vero [ita sunt affectae ut] altera alteram secum trahat,
efficitur ut hac quoque ratione subalternae non sint in oppositis numerandae.
Quinetiam sub contrariae, si proprie de oppositione, eiusque conditionibus,
[Subcontrarias loquendum est, non sunt in oppositarum numero ponendae, tum quia altera
non esse proprie nom vere negat, quod altera affirmat tum etiam quia non est propria
opposi­tas.]
oppositionis conditio repugnantia secundum falsitatem, sed secundum
a Cap. 15. veritatem. Quo fit ut Aristoteles secundo libro de priori resolutionea

B 23— determinate accepta, vera est...


C 5 — veritas suae particularis...
C 6—falsitas suae universalis...
C9 — secum trahit, eficitur...
C12—loquendum sit, non sunt...
C13 — quod afirmavit altera tum etiam...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 149

dirá daquelas cujo sujeito se toma precisamente por uma mesma coisa Oposição d as
enun­ciações d e
comum, como: homem é espécie; homem não é espécie. sujeito comum
Se alguém, contudo, perguntar se, em qualquer contradição, uma das precisamente
tomado.
contraditórias é verdadeira e outra falsa, deve responder-se que assim é, Se uma parte
excepto nas contradições de futuro contingente, como: este homem mor­ de qualquer
contradição é
rerá amanhã; este homem não morrerá amanhã. Com efeito, nenhuma verd ad eira e outra
destas duas enunciações, determinadamente, é verdadeira ou falsa, o que falsa.

se deve dizer das restantes deste género. Mas esta questão exige uma
exposição um tanto mais desenvolvida.
Muitos acrescentam um quarto género de oposição, a que chamam
das subalternas, isto é, de duas enunciações que afirmam ou negam
Subalternas.
o mesmo da mesma coisa, mas de tal modo que o que uma afirma no
todo, a outra o afirme em parte, as quais se dizem subalternas pelo facto
de uma se colocar sob a outra. Tais são estas duas enunciações: todo
o homem é justo; certo homem é justo; e igualmente estas: nenhum
C homem é justo; certo homem não é justo. Porém, enunciações destas
não se dizem rectamente opostas, porque não repugnam entre si, segundo
As subalternas
a afirmação e a negação. Acresce ainda que não [repugnam] segundo não são opostas.
a verdade ou a falsidade. Com efeito, da verdade da universal, que se
chama subalternante, conclui-se a verdade da particular; e da falsidade
da particular, que se chama subalternada, conclui-se a falsidade da uni­
versal, o que é fácil de ver nos mesmos exemplos. Parecendo, por isso,
Cond ição d as
absurdo dizer que são opostas as enunciações que não repugnam segundo su­balternas.
a verdade, nem segundo a falsidade, pelo contrário de tal modo estão
ligadas, que uma delas arrasta consigo a outra, acontece que também
por esta razão se não podem enumerar as subalternas entre as opostas.
Do mesmo modo, as sub contrárias, se é que propriamente se
deve falar acerca da oposição e da sua condição, não se devem pôr
As subcontrárias
no número das opostas, quer porque uma delas não nega verdadei­ não são
ramente o que a outra afirma, quer ainda porque a repugnância propriamente
opostas.
segundo a falsidade não é uma condição própria da oposição, mas
[só a repugnância] segundo a verdade. Por isso, Aristóteles diz
muito bem no segundo livro sobre a primeira resoluçãoa que as a Cap.
15.
150 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

merito dicat, subcontrarias enunciationes non esse revera oppositas, sed


voce duntaxat: Hcec omnia cernes in hac figura.

Subalternans Subaltemans
Omnis homo est iustus Contrariae Nullus homo est iustus.

Si % Si
e o. c
U
<L> V C<D
+->
13 13
rO % -D
3 00
co c/ 'o-
Quidam homo est iustus. Subcontrariae Quidam homo non est iustus.
Subalternata Subalternata
Socrates est iustus. Contradicentes Socrates non est iustus.

De cequipollentia enuntiationum de inesse

C APVT7

Aequipolle quae Alquipollentes, et equivalentes dicuntur hoc loco, enunciationes A


ntes
absolute constantes eodem subiecto, eodemque predícalo, que una quidem,
sin aut altera negatione differunt, sed tamen idem valent, seseque mutuo
t.
inferunt: ut he due, Omnis homo est iustus, Non quidam homo non est
iustus. Quoniam igitur huius rei cognitio non parum conducit ad expo­
Prima nendas obscuriores enunciationes, notande sunt he regule. Prima. B
regula.
Negatio preposita subiecto cuiusque enunciationis, et signo, si signum
habet, efficit eam equipollentem contradictorie. Hac regula iudicabis
has enunciationes idem valere, Non omnis homo est iustus, Aliquis homo
non est iustus, quia nisi preposuisses negationem subiecto prioris, essent
procul dubio contradicentes. Eadem quoque arte iudicabis has esse
equipollentes, Omnis homo est iustus, Non quidam homo non est iustus,
Socrates est iustus, Non Socrates non est iustus, et sic c ceteras huiusmodi.
Secund Secunda. Negatio postposita subiecto enunciationis universalis efficit
a.
eam cequipollentem contrarice. Hac regula iudicabis has esse cequipollentes,
Omnis homo non est iustus, Nullus homo est iustus, et has Omnis homo est
iustus, Nullus homo non est iustus. Eadem ratio est in sub contrariis, ut
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 151

enunciações subcontrárias não são opostas realmente, mas apenas


na voz. Tudo isto se verá na figura que segue.

Subalternante Subalternante
Todo o homem é justo. Contrárias Nenhum homem é justo.


«J
% tfl
c3
2c %/ α
y
<u ω

x>
3 £>
C
CO CO
G°* \
Certo homem é justo. Subcontrárias Certo homem não é
justo.
Subalternada Subalternada
Sócrates é justo. Contraditórias Sócrates não é justo.

Capítulo 7

Da equipolencia das enunciações de inerência

A Dizem-se equipolentes e equivalentes, neste lugar, as enunciações


absolutas que constam do mesmo sujeito e do mesmo predicado, as Quais são as equi-
quais diferem por uma só ou duas negações, mas valem o mesmo e se P°Ientes-
inferem uma da outra, como estas duas: todo o homem é justo; não
algum homem não é justo. Porque, na verdade, o conhecimento deste
assunto muito contribui para a exposição de enunciações mais obscuras,
devem notar-se estas regras:
B Primeira: a negação anteposta ao sujeito de qualquer enunciação Primeira regra,
e ao sinal, se tem sinal, torna-a equipolente da contraditória. Por
esta regra se avahará que valem o mesmo estas enunciações: nem todo
o homem é justo; algum homem não é justo. Se não se tivesse anteposto
a negação ao sujeito da primeira, seriam sem dúvida contraditórias.
Pelo mesmo processo se avaliará também que são equipolentes estas:
todo o homem é justo; não algum homem não é justo; Sócrates é justo;
não Sócrates não é justo, e assim as restantes deste género.
Segunda: a negação posposta ao sujeito de uma enunciação uni- Segunda,
versal toma-a equipolente da contrária. Por esta regra se avaliará
que são equipolentes estas: todo o homem não é justo, nenhum homem
é justo; e estas: todo o homem é justo, nenhum homem não é justo.
O mesmo sucede nas subcontrárias, como se tornará claro a quem o
verificar.
152 INSTITVTIONVM D1ALECTICARVM LIBER III

Terti patebit experienti. Tertia. Negatio prceposita, et postposita subiecto


a. emmciationis universalis, aut particularis, reddit eam cequivalentem
subalternes. Hoc documento intelligimus has emendationes idem valere,
Non omnis homo non est iustus, Quidam homo est iustus, et has Nullus
homo est iustus, Non aliquis homo est iustus. Quanquam enim in hac
secunda complicatione non videas subiectum posterioris enunciationis
habere negationem preepositam, et postpositam, sed solum preepositam,
tamen quia enunciatio subalternata priori ita habet, Aliquis homo non
est iustus, negatione nimirum postposita subiecto non fuit negatio iterum
Nota. postponenda, sed potius tollenda. Nam idem efficies negationem positam
auferendo, atque non positam ponendo. Id quod in cceteris regulis dili­
D. Tho. opusculo genter observabis. Has omnes regulas comprehendunt Dialectici, hoc
48. de versu
enunciatione cap. Pras contradic, post contra, prae, postque subalter.
9

Cuius hic est sensus. Prceposita negatio efficit ut contradictor ice


idem valeant: postposita vero, ut contrarice, prceposita denique ac postposita
Quart ut subalternce. Quarta. Universalis enunciatio cequipollet aggregationi
a. omnium suarum singularium: ut heee, Omnis homo est iustus, huic ora­
tioni, Hic homo est iustus, et hic homo est iustus, et ita cceteri: item heee,
Nullus homo est iustus, huic, Hic homo non est iustus, et hic homo non
Quint est iustus, et ita cceteri. Quinta. Particularis enunciatio cequipollet
a. disjunctioni omnium suarum singularium: ut heee, Aliquis homo est iustus,
huic orationi, Hic homo est iustus, aut hic homo est iustus, et sic cceteri:
et heee, Aliquis homo non est iustus, huic, Hic homo non est iustus, aut
hic homo non est iustus, et ita cceteri disiunctive.

De conversione absolutarum enunciationum

CAPVT8

Conversio quid Conversio, seu reciprocatio, ut hoc loco sumitur, est commutatio A
[sit ex]
extremorum enunciationis servata qualitate, et veritate, ut si dicas, Nulla
Alexandro
Aphrod. [ad] 1. scientia est virtus, igitur nulla virtus est scientia. Enunciatio cuius
prio. 2. extrema commutantur dicitur conversa: quee autem fit ex commutatis
Conversa.

B16-B 17 (cap. 7)—in hac posteriori complicatione non videas subiectum secundes
enunciationis...
B19 — quia enunciatio subalterna superioris ita habebat, Aliquis homo...
A 2-A 3 — ut si dicas, scientia non est virtus, igitur virtus non est scientia.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 153

Terceira: a negação anteposta e posposta ao sujeito de uma enuncia­ Terceira.


ção universal ou particular torna-a equivalente à subalterna. Por este
ensinamento entendemos que valem o mefmo estas enunciações: nem
todo o homem não é justo, algum homem é justo; e estas: nenhum
homem é justo, não algum homem é justo. Embora, na verdade, nesta
segunda redução, não se veja que o sujeito da segunda enunciação tem
uma negação anteposta e posposta, mas só anteposta, todavia, porque a
enunciação subalternada à primeira equivale a — algum homem não é Observação
justo, posposta a negação ao sujeito, não foi necessário pospor de
novo a negação, antes, foi necessário tirá-la. Efectivamente, tirando
a negação posta, conseguir-se-á o mesmo que pondo a negação não
posta. Isto se observará cuidadosamente nas restantes regras. Os dia­ S. Tomás, Opúsculo
48, Da Enunciação,
lécticos resumem estas regras neste verso: cap. 9.

Pm contradic, post contra, prce postque subalter.

O seu sentido é este: a negação anteposta faz que as contraditó­


rias tenham o mesmo valor: as pospostas como contrárias, as ante­
postas e as pospostas como subalternas.
Quarta: uma enunciação universal equivale ao conjunto de todas as Quarta.
suas singulares, como esta: todo o homem é justo, equivale a esta ora­
ção : este homem é justo e este outro homem é justo, e assim as res­
tantes; do mesmo modo, esta: nenhum homem é justo, equivale a esta:
este homem não é justo, e este outro homem não é justo, e assim as
restantes.
Quinta: uma enunciação particular equivale à disjunção de todas Quinta.
as suas singulares, como esta: algum homem é justo equivale a esta
oração: este homem é justo, ou este outro homem é justo, e assim as
restantes; e esta: algum homem não é justo equivale a esta: este homem
não é justo ou este outro homem não é justo; e assim as restantes dis­
juntivamente.

Capítulo 8

Da conversão das enunciações absolutas

Conversão ou reciprocidade, como se toma neste lugar, é a troca Que é a conversão.


dos extremos da enunciação, conservada a qualidade e a verdade, Alexandre de Afro-
dísia aos Primeiros
como se se disser: a ciência não é virtude, logo a virtude não é ciência. Analíticos, I, 2.
A enunciação cujos extremos se trocam chama-se convertida; a que é Convertida.
154 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

extremis, dicitur convertens. Servare qualitatem, est efficere conver­


tentem affirmativam ex conversa affirmativa, et negativam ex negativa.
Servare veritatem est efficere ex conversa vera veram convertentem.
Convertens.
Est autem triplex conversio, simplex, per accidens, et per contrapositionem. B
Conversio simplex, qua etiam in terminis appellatur, est conversio, in qua
Triplex conversio [ex] servatur eadem quantitas, nullaque alia particula adiicitur: quo pacto
1. prio. 2. et. 1. top. 3.
Conversio simplex. convertuntur universalis negativa, et particularis affirmativa: ut si dicas,
Nullus homo est lapis, ergo nullus lapis est homo, Quidam homo est albus,
ergo quoddam album est homo. Hoc genere conversionis nec universalis
affirmativa, nec particularis negativa convertuntur, quia si has enuncia-
tiones hoc conversionis genere volueris convertere, dabis conversas veras,
et convertentes falsas, ut dicas, Omnis homo est animal, igitur
omne animal est homo, Quoddam animal non est homo, igitur quidam
Conversio per acci­ homo non est animal. Conversio per accidens, quce alio nomine dicitur
dens.
in parte, est conversio, in qua mutatur quantitas: quo pacto convertuntur
enunciationes universales tum affirmativos, tum negativos, ut si dicas,
Cur non convertatur Omnis homo est animal, igitur quoddam animale est homo, Nullus homo
particularis in uni­ est lapis, igitur quidam lapis non est homo. Non convertuntur autem C
versalem.
hoc pacto enunciationes particulares, quia sospissime in hoc progressu
non servatur veritas, ut si dicas, Quidam homo est albus, igitur omne
Conversio per con­ album est homo, Quidam homo non est grammaticus, igitur nullus gram­
trapositionem. Ex 2.
maticus est homo: [quo fit ut earum reciprocationes non comprehendantur
top. 1. ubi Aristo,
tradit consequentiam in definitione conversionis]. Conversio per contrapositionem est conversio,
e converso, elicitur
hic reciprocationis
in qua et servatur eadem quantitas, et aditione negationum ex finitis extre­
modus. mis simplicibus fiunt infinita: quo pacto convertuntur universalis affirmativa,
et particularis negativa, ut si dicas, Omnis homo est animal, igitur omne
non animal est non homo, Quoddam animal non est bellua, igitur qucedam
non bellua non est non animal. Mandantur hcec memoria; hoc uno disticho,

Feci simpliciter convertitur, Eva per accidens,


Ast O per contra, sic fit conversio tota,

In quo quidem quatuor ilice voces Feci, Eva, Ast, et O, continent quatuor voca­
les, quarum A, significat universalem affirmativam, E, universalem negati­
vam, I, particularem affirmativam, O, particular em negativam. Reliqua sunt

B12 — in qua mutatur quantitas universalis in particularem, hoc est, in qua ex


conversa universali efficitur convertens particularis: quo pacto...
C 1-C 2 — Non traditur autem alia conversio huic respondens in qua videlicet mute­
tur quantitas particularis in universalem, quia scepissime...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 155

constituída pelos extremos trocados, convertente. Conservar a quali­ Convertente.


dade é formar uma convertente afirmativa duma convertida afirmativa,
e uma negativa, de uma negativa. Conservar a verdade é formar de
uma convertida verdadeira uma convertente verdadeira.
B Há três espécies de conversão: simples, por acidente e por contrapo­
sição. A conversão simples, que também se chama nos termos, é a con­
Tríplice conversão:
versão na qual se conserva a mesma quantidade, e a que nenhuma outra segundo Primeiros
partícula se junta. Deste modo se convertem a universal negativa e Analíticos I, 2 e
a particular afirmativa, como se se disser: nenhum homem é pedra, logo Tópicos, II, 3.
Conversão simples.
nenhuma pedra é homem; algum homem é branco, logo algum branco
é homem. Por este género de conversão nem uma universal afirmativa
nem uma particular negativa se convertem. É que, se se quiser converter
estas enunciações por este género de conversão, resultarão convertidas
verdadeiras e convertentes falsas, como se se disser: todo o homem é
animal, logo todo o animal é homem; algum animal não é homem,
logo algum homem não é animal.
A conversão por acidente, que é designada por outro nome — em Conversão poi aci­
parte —, é a conversão na qual se muda a quantidade. Deste modo se dente.
convertem as enunciações universais, quer afirmativas quer negativas,
como se se disser: todo o homem é animal, logo algum animal é homem;
Porque se não con­
C nenhum homem é pedra, logo alguma pedra não é homem. Não se verte uma particular
convertem, porém, deste modo as enunciações particulares, porque, em universal.
muitíssimas vezes, com este modo de proceder não se conserva a ver­
dade, como se se disser: algum homem é branco, logo todo o branco
é homem; algum homem não é gramático, logo nenhum gramático
é homem. É por isso que as suas reciprocações não estão compreendi­
das na definição de conversão. Conversão por con­
traposição: segundo.
A conversão por contraposição é a conversão em que se conserva a Tópicos, II, 3, onde
mesma quantidade, e, pela adição de negações, de extremos simples Aristóteles dá a con­
finitos, formam-se [extremos] infinitos. Deste modo se convertem uma sequência, deduz-se
por redução este
universal afirmativa e uma particular negativa, como se se disser: todo modo de reciproci­
o homem é animal, logo todo o não animal é não homem; algum animal dade.
não é bruto, logo algum não bruto não é animal. Estas coisas retêm-se
na memória, com este dístico:

Feci converte-se simplesmente, Eva por acidente,


Ast O por contraposição. Assim se faz toda a conversão.

Nele, aquelas quatro palavras Feci, Eva, Ast e O contêm quatro


vogais, das quais o A significa a universal afirmativa; o E, a
universal negativa; o I, a particular afirmativa; o O, a particular
156 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

perspicua ex dictis. [Atque hcec dicta sint de conversione enunciationum D


constantium utroque extremo communi, quas solas Aristoteles in tradendis
conversionibus spectavit. Quod si enunciationes constent utroque extremo
singulari, dicendum est, illas, sive affirmativce sint, sive negativa, converti
simpliciter, ut si dicas, Socrates est hic philosophus, igitur hic philosophus
est Socrates, Socrates non est Plato, igitur Plato non est Socrates. Si vero
costent subiecto singulari, et pradicato communi, dicendum est illas con­
verti per accidens: affirmativas quidem in particulares hoc modo, Socrates
est philosophus, igitur aliquis philosophus est Socrates: negativas vero,
et particulares in universales hoc modo, Socrates non est lapis, igitur
aliquis lapis non est Socrates, et nullus lapis est Socrates. Si deni­
que constent subiecto communi, et prcedicato singulari, dicendum est
affirmativas quidem, et universales negativas converti per accidens in
singulares, hoc modo, Omnis, vel aliquis philosophus est Socrates,
ergo Socrates est philosophus, Nullus sutor est Socrates, ergo Socrates
non est sutor: negativas autem particulares non converti. Darentur
enim converser ver ce, et convertentes falsee, ut si dicas Aliquis philosophus
non est Socrates, ergo Socrates non est philosophus]. Haec de enuncia-
tionibus, quee absolute inesse aliquid, aut non inesse declarant, dixisse
sufficiat: nunc ad eas, quee modales vocantur, veniamus.

Quot sint genera ac formulce modalium enunciationum

CAPVT9

- Modalis enunciatio, ut supra diximusa, est, quee quo modo aliquid A


a Cap. 3.
b 2. peri. 3. alicui insit, aut non insit, pronunciai. Huius quatuor sunt genera D, ex
1. prio. 3. et. 12.
Ex necessario. necessario, ex contingenti, ex possibili, et ex impossibili. Modales ex
Ex contingenti. necessario sunt, quee enunciant aliquid esse necessarium, aut non necessa­
rium. Modales ex contingenti sunt, quee enunciant aliquid esse contin­
Ex possibili.
Ex impossibili.
gens, aut non contingens. Ex possibili vero, quee enuntiant possi­
Necessarium. bile esse, aut non possibile. Ex impossibili denique, quee impossibile,
Contingens. aut non impossibile. Necessarium est, quod non potest non esse, ut
Possibile.
hominem esse animal. Contingens est, quod potest esse, et non esse, B
ut Socratem esse grammaticum. Possibile (quod necessario, et con­
tingenti commune habetur) est, quod potest esse, sive non possit non esse,
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 157

D negativa. O resto é evidente pelo que ficou dito. Isto é o que há a


dizer acerca da conversão das enunciações que constam de ambos os
extremos comuns, as únicas a que Aristóteles atendeu ao tratar das
conversões.
Mas, se as enunciações constarem de extremos ambos singulares,
deve dizer-se que elas se convertem simplesmente, quer sejam afirmativas
quer negativas, como se se disser: Sócrates é este filósofo, logo este filó­
sofo é Sócrates; Sócrates não é Platão, logo Platão não é Sócrates. Se,
porém, constarem de sujeito singular e de predicado comum, deve dizer-se
que elas se convertem por acidente: as afirmativas em particulares, deste
modo: Sócrates é filósofo, logo algum filósofo é Sócrates; as negativas
e as particulares em universais, deste modo: Sócrates não é pedra, logo
alguma pedra não é Sócrates, e nenhuma pedra é Sócrates. Se, final­
mente, constarem de sujeito comum e predicado singular, deve dizer-se
que as afirmativas e as universais negativas se convertem por acidente
em singulares, deste modo: todo ou algum filósofo é Sócrates, logo Sócra­
tes é filósofo; nenhum sapateiro é Sócrates, logo Sócrates não é sapa­
teiro. As negativas particulares, porém, não se convertem. Dar-se-iam,
com efeito, convertidas verdadeiras e convertentes falsas, como se se
disser: algum filósofo não é Sócrates, logo Sócrates não é filósofo.
Considere-se suficiente o que fica dito acerca das enunciações que
declaram existir ou não existir absolutamente alguma coisa [noutra].
Passemos agora às que se chamam modais.

Capítulo 9

Quantos são os géneros e as fórmulas de enunciações modais

A Enunciação modal, como acima dissemos a, é a que designa o modo


a Cap. 3.
como alguma coisa existe ou não existe noutra. Desta, há quatro géne­
b Da Interpreta­
ros A de necessário, de contingente, de possível e de impossível. As modais ção, II, 2 e Primeiros
de necessário são as que enunciam que alguma coisa é necessária ou Analíticos I, 3 e 12.
De necessário.
não é necessária. As modais de contingente são as que enunciam De contingente.
que alguma coisa é contingente ou não é contingente. De possível, De possível.
De impossível.
as que enunciam que é possível ou não é possível. De impossível,
finalmente, as que [enunciam que é] impossível ou não impossível. Necessário.
Necessário é aquilo que não pode não ser, como homem ser animal. Contingente.
B Contingente é o que pode ser e não ser, como Sócrates ser gramático. Possível.

Possível (que se considera comum ao necessário e ao contingente), é o


que pode ser, quer não possa, quer possa não ser. Já foram dados
158 INSTITVTIONVM DlALECTICARVM LIBER III

sive possit. Exempla iam posita sunt. Impossibile denique est, quod
esse non potest, ut hominem esse lapidem. Singula porro genera moda­
lium duabus tantum formulis efferri possunt: altera si modus {id est
dictio, qua significamus modum, quo aliquid alicui inest aut non inest)
Impossibile.
Duas formulae moda-
sit adverbium, ut si dicas, Homo necessario est animal, Socrates contin-
lium genter est grammaticus, et ita in cceteris: altera si modus sit nomen, quod
enuncietur de oratione ex verbo infinitivo composita, quce dictum appellatur,
ut si dicas, Hominem esse animal est necessarium, Socratem esse gramma­
Modus.
ticum est contingens, et sic in reliquis. His enim, duobus loquendi generibus C
Dictum. duntaxat pronunciare possumus in actu exercito, ut vocant, quo modo
aliquid alicui insit, aut non insit: quo pacto pronunciandi verbum in
descriptione modalium intelligendum est. Nam si in actu signato, ut
Explicatur descriptio Dialectici loquuntur, pronunciaveris quo modo aliquid alicui insit, aut
modalium.
Nota. non insit, ut pote enunciando modum de aliqua voce, quce dictum, aut
enunciationem in dicto comprehensam demonstret, non efficies sane moda-
lem enunciationem, sed vere absolutam. Hce namque sunt absolutce,
c 2. peri. 3.
Hoc dictum, Hominem esse animal, est necessarium: Hcec enuntiatio,
Socrates est grammaticus, est contingens: ut alibi patebitc. Itaque
Primum discrimen. modales enuntiationes duabus tantum formulis, ut dictum est, efferuntur.
Secundum.
Differunt autem duce ilice formulce tribus potissimum de causis. Primum, D
Tertium. quia in priori, modus est adverbium, in posteriori, nomen. Deinde, quia
in priori modus non prcedicatur, sed afficit copulam enunciationis: at in
Copula dicti verius
dicitur subiectum posteriori prcedicatur. Demum, quia in priori formula unum tantum est
modalis, quam di­
ctum.
subiectum, et unum praedicatum, ut patet: at in posteriori duo subtecta,
Modus est principale et duo prcedicata reperiuntur. Nam dictum, seu {ut verius loquar) copula E
praedicatum.
dicti {hcec enim est, quce proprie dicitur necessaria, aut contingens et ccet.)
d 2. peri. 3. est principale subiectum, modus [autem] principale praedicatum: in ipso
autem dicto alterum subiectum, et alterum prcedicatum continetur, quce
minus principalia censenda sunt. Sed nos priori formula omissa, quia
minus usurpata est {saltem in modalibus ex possibili, et impossibili)
solam posteriorem imitatione Aristotelis^ tractabimus: ac primum de
quantitate, qualitate, et materia modalium dicemus: postea tres earum
affectiones, oppositionem, cequipollentiam, et conversionem quanta pote­
rimus brevitate, ac perspicuitate exponemus.

C10 — contingens: id quod alio loco docebimus. Itaque...


DI — tribus potissimum rationibus. Primum...
D 1 [1590] — Não tem as maiusculas marginais D e E.
E1-E 3—(ut verius loquar) verbum dicti, quatenus aliquid enuntiat, est principale...
E1-E3— Verbum dicti verius dicitur, (cota marginal).
E 7 — et impossibili posteriorem cum Aristotele tractabimus...
E 7 — Loco citato, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS ~ LIVRO III 159

exemplos. Impossível, finalmente, é o que não pode ser, como o homem


ser pedra.
Cada género das modais pode exprimir-se apenas por duas fór­
mulas: uma, se o modo (isto é, a expressão pela qual significa­ Impossível.

mos o modo como alguma coisa existe ou não existe noutra) é um


Duas fórmulas das
advérbio, como se se disser: o homem é necessàriamente animal; Sócra­ modais.
tes é contingentemente gramático, e assim nos outros; outra, se o
modo é um nome que se enuncia de uma oração composta de verbo Modo.
infinitivo, que se chama dito, como se se disser: ser o homem animal é
necessário, ser Sócrates gramático é contingente; e assim nos demais
Dito.
C casos. Só por estes dois modos de falar, podemos designar em acto
exercido, como lhe chamam, de que maneira alguma coisa existe ou não Explica-se a descrição
existe noutra. É por este modo de designar que deve entender-se o das modais.

verbo na descrição das modais. Efectivamente, se em acto significado,


como falam os dialécticos, se designar por que modo alguma coisa
existe ou não existe noutra, isto é, enunciando o modo de alguma Observação.
palavra que demonstre o dito ou uma enunciação compreendida no
dito, não se conseguirá, sem dúvida, uma enunciação modal, mas sim
uma absoluta. Com efeito, estas são absolutas: este dito — o homem
é animal — é necessário; esta enunciação — Sócrates é gramático —
c Da Interpreta­
é contingente, como noutra parte se tornará claro c. ção, II, 3.
As enunciações modais podem exprimir-se, portanto, por duas
D fórmulas apenas, como foi dito. Diferem, porém, aquelas duas fór­ Primeira diferença.
mulas sobretudo por três razões. Primeiro, porque na primeira o modo Segimda.

é advérbio; na segunda, nome. Depois, porque na primeira o modo


Terceira.
não se predica, mas afecta a cópula da enunciação; na segunda, porém,
predica-se. Finalmente, porque na primeira fórmula há apenas um
sujeito e um predicado, como é evidente; mas na segunda encontram-se A cópula do dito
com mais verdade se
E dois sujeitos e dois predicados. Realmente o dito ou (para falar com
diz sujeito da modal
mais verdade) a cópula do dito (esta, com efeito, é a que propriamente do que o dito.
se diz necessária ou contingente, etc.) é o sujeito principal; o modo é o O modo é o principal
predicado.
principal predicado. No próprio dito, porém, estão contidos outro
sujeito e outro predicado, os quais devem ser considerados como d Da Interpreta­
menos principais. Mas nós, omitida a primeira fórmula, por ser ção, II, 3.

menos usada (pelo menos nas modais de possível e de impossível),


só trataremos, à imitação de Aristóteles da segunda. E, primeiro,
falaremos da quantidade, qualidade e matéria das modais; depois,
exporemos com a maior brevidade e clareza possíveis as suas três
relações: oposição, eqidpolência e conversão.
160 INSTITVTIONY M DIALECTICARVM LIBER III

De qualitate, quantitate et materia modalium

C A P V T 10

Cum igitur in modalibus huius formules duo sint subiecta, et duo prcedi- A
Duplex qualitas es­ cata, necessario efficitur, ut duplex sit qualitas essentialis, quantitas, et
sentialis modalium. materia. Altera qualitas cernitur in affirmatione, et negatione modi:
altera in affirmatione, et negatione prcedicati, quod in dicto continetur.
Prior tamen preeeipua est, [ut ex dictis pateta]. Hinc nata est divisio illa
a Cap. superiori. modalium in eas, quee utrunque prcedicatum affirmant, ut Hominem esse
Divisio modalium ra­
tione qualitatis.
animal est necessarium: in eas, quee utrunque negant, ut Hominem non
esse animal non est contingens: in eas, qua modum affirmant, et prcedicatum
dicti negant, ut Hominem non esse grammaticum, est possibile: et in eas,
quee modum negant, et prcedicatum dicti affirmant, ut Hominem esse gram­
Quasnam modales maticum non est impossibile. Quia tamen preeeipuee qualitatis maior B
simpliciter dicendas est habenda ratio, enunciationes, quee modum affirmaverint, affirmativa,
sint affirmativae ac
qua eundem negaverint, negativa simpliciter appellanda sunt, sive dictum
negativas.
Qualitas accidentalis affirmativum sit, sive negativum. De qualitate autem accidentali, hoc est,
modalium. de veritate, et falsitate modalium, hoc dicendum est, modales esse quidem
veras, aut falsas (quandoquidem omnes naturam enunciationis participant,
qua veri, aut falsi significatione definitur) caterum eas, qua vera sunt,
nunquam posse esse falsas, et qua sunt falsa, veras esse nunquam posse:
ac proinde omnes esse aut necessarias, aut impossibiles. Exempli causa,
Omnes modales, aut ha omnes sunt necessaria, Hominem esse animal est necesse, Hominem
sunt necessariae, aut esse grammaticum est contingens, Hominem mori est possibile, Hominem
impossibiles.
esse lapidem est impossibile, quia ita sunt vera, ut falsa nunquam esse
possint: Ha vero, Hominem esse animal non est necesse, Hominem esse
grammaticum non est contingens, Hominem mori non est possibile, Homi­
nem esse lapidem non est impossibile, ha inquam, sunt impossibiles, quia
Duplex quantitas mo­
dalium.
ita sunt falsa, ut vera nunquam esse valeant: atque ita res habet in cateris.
Quod vero attinet ad quantitatem, altera cernitur in subiectoprincipali, C
altera in minus principali. Et quidem in minus principali subiecto, hoc est
dicti, reperitur omnis quantitas absolutarum enunciationum, universalis,
particularis, indefinita, et singularis. Itaque hac ex parte modales dici
solent aut universales, ut Omnem hominem esse animal est necesse, aut

B16-C1 — esse valeant. Cum igitur omnes modales, quee afferri possunt, aut
illo modo sint verce, aut hoc modo falsee, dubium non est, quin omnes sint necessarice, aut
impossibiles. Quod vero attinet...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 161

Capítulo 10

Da qualidade, quantidade e matéria das modais

A Como, portanto, nas modais desta fórmula, são dois os sujeitos


e dois os predicados, necessàriamente se segue que é dupla a qualidade
essencial, a quantidade e a matéria. Uma qualidade verifica-se na
afirmação e na negação do modo; outra, na afirmação e negação do Dupla qualidade es­
sencial das modais.
predicado que está contido no dito. Todavia, a primeira é a princi­
pal, como ressalta do que ficou dito a. Daqui nasceu a divisão das
modais, nas que têm afirmativos ambos os predicados, como: é neces­
sário que o homem seja animal; nas que os têm ambos negativos, como: « No capítulo an­
terior.
não é contingente que o homem não seja animal; nas que têm o modo Divisão das modais
afirmativo e o predicado do dito negativo, como: é possível que o homem em razão da quali­
dade.
não seja gramático; e nas que têm o modo negativo e o predicado do
dito afirmativo, como: não é impossível que o homem seja gramático.
B Porem, visto que se deve atender mais à qualidade principal, as
Quais as modais que
enunciações que tiverem o modo afirmativo devem chamar-se sim­ devem dizer-se sim­
plesmente afirmativas; as que tiverem o mesmo negativo, negativas, plesmente afirmativas
e quais negativas.
quer o dito seja afirmativo, quer negativo. Porém, da qualidade aci­ Qualidade acidental
dental, isto é, da verdade e falsidade das modais, deve dizer-se o seguinte: das modais.

as modais são verdadeiras ou falsas (pois que todas participam da natu­


reza da enunciação, que se define pela significação do verdadeiro ou do
falso); além disso, aquelas que são verdadeiras nunca podem ser falsas, Todas as modais ou
são necessárias ou
e as que são falsas nunca podem ser verdadeiras. Por isso, todas são impossíveis.
ou necessárias ou impossíveis. Por exemplo, são necessárias todas
estas: é necessário que o homem seja animal; é contingente que o
homem seja gramático; é possível que o homem morra; é impossível
que o homem seja pedra — porque de tal modo são verdadeiras que
nunca podem ser falsas. Estas — não é necessário que o homem seja
animal; não é contingente que o homem seja gramático; não é possível
que o homem morra; não é impossível que o homem seja pedra — Da quantidade das
modais.
estas, digo, são impossíveis, porque são de tal forma falsas que nunca
podem ser verdadeiras. E assim acontece com as restantes.
C No que respeita à quantidade, verifica-se uma no sujeito principal,
outra no menos principal. E, na verdade, no sujeito menos principal,
isto é, do dito, encontra-se toda a quantidade das enunciações absolutas:
universal, particular, indefinida e singular. Portanto, tomadas por
este lado, as modais costumam dizer-se: ou universais, como: é
necessário que todo o homem seja animal; ou particulares, como: é
II
162 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

particulares, ut Aliquem hominem esse grammaticum est contingens, aut


indefinitae, ut Hominem mori est possibile, aut singulares, ut Socratem
esse lapidem est impossibile. In subiecto autem principali, [hoc est, in
copula dicti, reperitur ea quantitas'], quee verborum propria est, nimirum
quantitas temporis: quae quidem duplex est, universalis, aut particularis.
Quantitas verborum Universalis distribuit copulam dicti in omne tempus, particularis in aliquod
propria. tempus. Atque universalis significatur [his] modis Necessarium, et D
Impossibile: particularis duobus reliquis. Nam Necessarium perpetuo
Mocli universales.
rem ponit: Impossibile, perpetuo tollit: Contingens ita significat rem
Modi particulares. posse esse, ut significet posse etiam non esse: Possibile denique ita signi­
ficat rem posse esse, ut nec significet posse etiam non esse, nec non posse
non esse. Itaque Necessarium, Impossibile, Contingens, et Possibile
Modi in modalibus
perinde se habent in modalibus, atque signa illa Omnis, Nullus, Quidam
sunt velut signa in
absolutis. non, et Quidam in absolutis: nisi quod signa designant quantitatem nume­
Quo pacto modi uni­ ralem, modi autem quantitatem temporis. Unde efficitur ut quemadmo- E
versales fiant parti­
culares et particula­ dum pr cepos it a negatione signa universalia fiunt particularia, et particularia
res universales.
universalia, ut supra dictum est, sic modi universales fiunt particulares,
et particulares universales. Itaque Non necessarium, et Non impossibile
sunt modi particulares, Non contingens autem, et Non possibile universales,
Quantitas temporis quemadmodum Non omnis, et Non nullus [sunt signa] particularia, Non
cernitur in verbo dicti
et tamen designatur quidam autem, et Non aliquis universalia. Nec mireris quod dixerim, F
per modum. quantitatem hanc temporis cerni in copula dicti, et tamen designari per
Modus fungitur offi­
cio syncategorematis. modum, qui de copula dicti praedicatur. Nam modus utrunque habet, et
Cur modales inchoen­
tur a modis. quod sit praedicatum, et quod fungatur officio syncategorematis designan­
tis quantitatem temporis, quemadmodum signa absolutarum enunciationum
designant quantitatem multitudinis. Quia igitur haec quantitas praecipua
est in modalibus, non immerito Aristoteles consuevit collocare modos initio
huiusmodi enunciationum, ut statim quantitas earum ex ipso principio
cognosci possit, quemadmodum absolutarum quantitas ex signis praepositis
intelligitur. Itaque hoc modo fere profert Aristoteles modales enuncia-
tiones, Necesse est hominem esse animal, Contingens est Socratem esse
grammaticum, Non possibile est Socratem esse lapidem, et ita costeras:
non quidem ut efficiat ex modis subiecta, et ex dictis praedicata, sed ut

C11 — distribuit verbum dicti in omne...


D 3-D 6 — Contingens modo ponit, modo tollit: Possibile denique ita rem ponit,
ut quantum in ipso est, permittat rem aliquando non esse. Itaque...
EI — Unde fit ut...
FI — universalia signa esse diximus. Nec mireris...
F 2 — cerni in verbo dicti...
F3 — qui de verbo dicti...
F9 — quemadmodum in absolutis ex signis...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 163

contingente que algum homem seja gramático; ou indefinidas, como: é


possível que o homem morra; ou singulares, como: é impossível que
Sócrates seja pedra. Porém, no sujeito principal, isto é, na cópula Quantidade própria
dos verbos.
do dito, encontra-se a quantidade, que é própria dos verbos, isto é, a
D quantidade do tempo, a qual é dupla: universal ou particular. A univer­
sal distribui a cópula do dito por todo o tempo; a particular, por um
tempo determinado. A universal é significada por estes modos: neces­ Modos universais.
Modos particulares.
sário e impossível; a particular, pelos dois restantes. Efectivamente, o
necessário põe sempre a coisa; o impossível tira-a sempre; o contin­
gente significa de tal modo que uma coisa pode ser que significa que
pode também não ser; o possível, finalmente, [significa que uma coisa]
de tal modo pode ser que nem significa que ela possa também não
ser, nem que não possa não ser. Portanto, necessário, impossível, con­ Os modos nas mo­
dais são como os
tingente e possível comportam-se nas modais na proporção em que se sinais nas absolutas.
comportam nas absolutas os sinais todo, nenhum, não algum e algum.
E Há apenas uma diferença: os sinais designam a quantidade numeral; os
modos, porém, a quantidade do tempo. Daí resulta que, assim como, De que maneira os
anteposta a negação, os sinais universais se tornam particulares c os modos universais se
tornam particulares e
particulares universais, como atrás foi dito, assim os modos universais os particulares uni­
se tornam particulares e os particulares universais. Portanto, não neces­ versais.
sário e não impossível são modos particulares; não contingente e não
possível, universais, tal como não todo e não nenhum são sinais parti­
culares; não algum, porém, e não alguém, universais.
F Nem se admire alguém de eu ter dito que esta quantidade do tempo A quantidade do
tempo nota-se no
se nota no verbo do dito e é, todavia, designada pelo modo que se pre­
verbo do dito e,
dica da cópula do dito. Efectivamente, o modo tem uma e outra coisa todavia, é designada
por ser predicado e por desempenhar o papel de sincategorema, que pelo modo.
designa a quantidade do tempo, tal como os sinais das enunciações O modo desempenha
o papel de sincate­
absolutas designam a quantidade da multidão. E porque esta quanti­ gorema.
dade principal existe nas modais, não sem razão Aristóteles se habituou Porque são começa­
a colocar os modos no princípio deste género de enunciações, para que das as modais pelos
modos.
imediatamente pudesse conhecer-se a sua quantidade pelo próprio
princípio, como a quantidade das absolutas se conhece pelos sinais
antepostos. E assim é que, a maior parte das vezes, Aristóteles apre­
senta deste modo as enunciações modais: é necessário que o homem
seja animal; é contingente que Sócrates seja gramático; não é possível
que Sócrates seja pedra; e assim as restantes. Não com vista a fazer
dos modos sujeitos e dos ditos predicados, mas para que imediatamente
164 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

quantitas earum propria, ut diximus, atque adeo praecipua qualitas statim


appareat. Proinde nos hoc loquendi genere deinceps utemur.
Quod denique attinet ad materiam, altera cernitur inter modum, et G
Duplex materia mo­ dictum: altera inter praedicatum dicti, et sublectum dicti. Et haec quidem
dal iuin. posterior triplex est, necessaria, contingens, et impossibilis quemadmodum
in absolutis emmeiationibus. Illa vero, quae propria est modalium, est
duplex. Etenim cum omnis modus, qui semel convenit dicto, non possit
eidem non convenire, et omnis, qui aliquando non convenit, non possit
eidem congruere efficitur, ut omnis habitudo modi ad dictum sit vel necessarii
praedicati, vel impossibilis, sicque materia modalium praecipua, aut sit
Materia praecipua necessaria, aut impossibilis, nulla vero contingens. Ex qua velut radice
modalium est neces­
nascitur id, quod paulo superius diximus, Omnem modalem enuntiationem
saria vel impossibilis.
esse necessariam, aut impossibilem.
Hactenus de qualitate, quantitate, et materia modalium diximus:
nunc de mutuo inter ipsas respectu, hoc est, de earum oppositione, azqui-
Relinquuntur hoc lo­ pollentia, et conversione dicamus. Verum ut priora duo capita tractemus
co modales ex con­ missce facienda sunt hoc loco modales ex contingenti hactenus explicato,
tingenti [proprie
sumpto.] seu (quod idem est) proprie dicto, ne earum inconstantia [nostram\
interturbet disputationem. Est enim earum natura, et conditio tam
b 2. Peri. c. 39.
varia, ut vix ullam cum aliis modalibus servet oppositionis, aut cequipollen-
iice legem. Quia tamen Aristotelesb in oppositione, ac csquipollentia
modalium tractanda meminit enunciationum ex contingenti improprie
sumpto, utpote ut idem valet quod possibile, nos etiam ne quod dissidium,
vel specie tenus inter hanc et Aristotelicam tractationem esse videatur,
eisdem enunciationibus in eadem impropria significatione utemur. Quam­
quam si res ipsa tantum spectanda esset, tenerioribusque ingeniis magis
considendum (quod prima editione fecimus) utilius foret si nulla earum
in hac re mentio fieret.

G 5 — convenit alicui dicto...


G 6-G 7 — non possit unquam eidem congruere...
G8 — sicque ut materia modalium...
G 14-G 17—conversione dicamus. Sed prius Aristotelis consilio missas facia­
mus modales ex contingenti, ne earum inconstantia intertubet sequentem disputa­
tionem.
G 19 — Cap. 13. (cota marginal).
G 19-G 26 — legem. Itaque, nisi ad finem, nihil de hoc genere dicemus.
G 26 [1590\ — in hoc mentio fieret.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 111 165

ressalte a sua quantidade própria, como dissemos, e por isso a


qualidade principal. Usaremos, portanto, a seguir, este modo de
falar.
G Finalmente, no que respeita à matéria, verifica-se uma entre o
modo e o dito; outra, entre o predicado do dito e o sujeito do
dito. Esta última é tríplice: necessária, contingente e impossível, tal Dupla matéria das
modais.
como nas enunciações absolutas. Porém, a que é própria das
modais, é dupla. Efectivamente, como todo o modo que alguma
vez convenha ao dito não pode não convir-lhe, e todo o que
alguma vez lhe não convenha não pode concordar com o mesmo,
segue-se que toda a relação do modo ao dito é ou de predicado
necessário ou impossível, e assim a matéria principal das modais ou
A matéria principal
é necessária ou impossível, mas nenhuma [é] contingente. Desta das modais é neces­
sária ou impossível.
como que raiz, nasce aquilo que pouco acima dissemos: toda a
enunciação modal é necessária ou impossível.
Até aqui falámos da qualidade, da quantidade e da matéria das
modais. Falemos agora da mútua relação entre elas, isto é, da sua Põem-se de parte nes­
te lugar as modais de
oposição, equipolência e conversão. Mas, para tratarmos dos dois contingente tomado
pròpriamente.
primeiros capítulos, devem omitir-se neste lugar as modais de contin­
gente, explicado até aqui, ou (o que é o mesmo) propriamente dito,
para que não vá a sua irregularidade perturbar o nosso trabalho. De
facto, a sua natureza e condição são tão variadas que a custo obede­ b Da Interpreta­
ção, II, capítulo 39.
cem a alguma lei de oposição ou equipolência conjuntamente com as
outras modais. Porém, visto que Aristóteles b, ao tratar da oposição
e da equipolência das modais, alude às enunciações de contingente
tomado em sentido impróprio, como se valesse o mesmo que o pos­
sível, nós também, para que não pareça haver alguma discordância,
ainda mesmo na aparência, entre este e o tratado aristotélico, usaremos
as mesmas enunciações na mesma significação imprópria. Embora o
assunto devesse, quando muito, ser mencionado em atenção aos inte­
resses dos espíritos ainda imaturos (o que fizemos na primeira edi­
ção), seria de maior utilidade que nenhuma menção delas se fizesse
neste estudo.
166 INST1TYTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

De oppositione modalium
CAP VT 11

[Ut igitur modalium oppositio tractetur, illud primo constituendum A


est, in hoc enunciationum genere tot oppositionum formas spectari, quot
cernuntur in absolutis, contrariam videlicet, sub contrariam, et contradic­
toriam, atque adeo illam impropriam oppositionis speciem, quce inter subal-
ternatas esse dicitur, de qua simul ea ratione disserendum est, quod eius
tractatio coniuncta sit cum tractatione oppositarum, nec parum ad earum
explicationem conducat. Illud deinde ponendum est easdem leges, quce
de absolutarum oppositione traduntur, convenire in modales. Etenim
nec contrarice modales possunt esse simul vene, si recte constituantur, nec
subcontrarice simul falsee, nec contradicentes, aut simul verce, aut simul
falsee, nec fieri potest, ut subalternante existente vera subalternata sit falsa,
cum ex veritate sub alter nantis colligatur veritas subalternatce, et ex falsi-
tate huius, illius falsitas.
Illud denique observandum est, etsi] modales oppositee, aut constant
modis eiusdem appellationis, ut Necesse est Socratem sedere, Non necesse
est Socratem sedere: aut diversa, ut Possibile est Socratem sedere,
[Impossibile est Socratem sedere]: satis tamen fore si in modalium oppo­
sitione tractanda de iis tantum disseramus, qua sunt eiusdem appellationis.
Harum enim oppositione explicata, facile erit ex aquipollentia omnium
modalium inter se {de qua secundo loco agendum est) intelligere opposi-
[a Cap. 12]. tionem earum, qua sunt diversa appellationis, ut infraa patebit. Hac
igitur de causa de sola oppositione modalium eiusdem appellationis disse­
rendum est, ita tamen ut prius explicetur oppositio earum, qua constant
dicto singulari hoc est subiecti singularis, deinde earum, qua constant
dicto communi sive subiecti communis, qua plus habent difficultatis.
Contrariae Contraria igitur ex dicto singulari sunt, qua constant modo eodem B
universali, et dictis contradicentibus ut Necesse est Socratem sedere,

A 4-A 5 [1590] — inter subalternas esse dicitur...


A 14 [1564 e 1590] — Duo genera oppositarum modalium. (cota marginal).
A 14-A 15 — aut constant modo eiusdem appellationis.
A 16-A 25 — aut diversce, ut Necesse est Socratem sedere, Possibile est Socra-
ten non sedere. Nos igitur de oppositione tantum earum, quce modo eiusdem appella­
tionis constant, dicemus, quoniam hac explicata facile ex cequipollentia omnium inter
se, quam trademus intelliges oppositiones earum, quce constant modis diversarum
appellationum. Dicemus autem simul de subalternis, quia etsi oppositee non sunt,
tamen earum tractatio coniuncta est cum tractatione oppositarum, nec parum ad earum
explicationem conducit. At vero cum oppositee modales, aut sint ex dicto singulari,
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS —LIVRO III 167

Capítulo 11

Da oposição das modais


A Para tratar, pois, da oposição das modais, deve primeiro estabele-
cer-se: que se notam neste género de enunciações tantas formas de
oposições quantas se veem nas absolutas, a saber: contrária, subcon-
trária e contraditória, e até aquela espécie impropria de oposição que
se diz existir entre as subalternadas, acerca da qual se deve discorrer ao
mesmo tempo pela razão de que o seu tratamento está conexo com
o tratamento das opostas e não pouco concorre para a explicação
daquelas.
Deve ainda admitir-se: que convêm às modais as mesmas leis que
se estabelecem acerca da oposição das absolutas. Com efeito, nem as
contrárias modais podem ser ao mesmo tempo verdadeiras, se são cons­
tituídas com exactidão; nem as subcontrárias simultáneamente falsas;
nem as contraditórias ao mesmo tempo verdadeiras ou ao mesmo tempo
falsas; nem pode acontecer que, existindo uma subalternante verdadeira,
seja falsa a subalternada, uma vez que da verdade da subalternante se
deduz a verdade da subalternada, e da falsidade desta, a falsidade
daquela.
Finalmente, deve observar-se que, embora as modais opostas
constem ou de modo da mesma denominação, como: é necessário que
Sócrates esteja sentado, não é necessário que Sócrates esteja sentado;
ou de [denominação] diversa, como: é possível que Sócrates esteja sen­
tado, é impossível que Sócrates esteja sentado—, bastar-nos-á, todavia,
ao tratar da oposição das modais, discorrer apenas acerca daquelas que
são da mesma denominação. Efectivamente, explicada a oposição
destas, será fácil, a partir da equipolencia de todas as modais entre si
(de que se deve tratar em segundo lugar), entender a oposição das que
são de diversa denominação, como adiantea se verá com clareza. a Cap. 12.
Por este motivo, pois, vai discorrer-se só acerca da oposição das modais
da mesma denominação; mas de tal modo, que se explique primeiro
a oposição das que constam de dito singular, isto é, das de sujeito sin­
gular, depois das que constam de dito comum ou das de sujeito comum,
as quais oferecem maior dificuldade.
B Contrárias de dito singular são, pois, as que constam do mesmo Contrárias.
modo universal e de ditos contraditórios, como: é necessário que

quarum oppositio perfacile cognoscitur, aut communi, quarum difficilior est tractatio,
prioris ego generis duntaxat tyronibus explicabo oppositionem. Contrarice igitur...
168 INSTITYTIΟΝVM DIALECTICARVM LIBER III

Necesse est Socratem non sedere, Non possibile est Socratem sedere,
Non possibile est Socratem non sedere, [Non contingens est Socratem
sedere, Non contingens est Socratem non sedere], Impossibile est Socra­
Subcontrarias.
tem sedere, Impossibile est Socratem non sedere. Subcontrarice sunt
quee constant modo eodem particulari, et dictis contradicentibus, ut Possi­
bile est Socratem sedere, Possibile est Socratem non sedere: [Contingens
est Socratem sedere, Contingens est Socratem non sedere]: Non necesse
est Socratem sedere, Non necesse est Socratem non sedere: Non impossi­
Contradicentes.
bile, et certera. Contradicentes sunt, quee constant eodem dicto, et modis
contradicentibus: ut Necesse est Socratem sedere, Non necesse est Socra­
Subalternae. tem sedere: Possibile est Socratem non sedere, Non possibile est Socratem
non sedere: et sic in cceteris. Subalternae sunt, quee constant et modis,
et dictis contradicentibus: ut Necesse est Socratem esse hominem, Non
necesse est Socratem non esse hominem: Non possibile est Socratem
sedere, Possibile est Socratem non sedere: [Non contingens est Socratem
sedere, Contingens est Socratem non sedere]: Impossibile est Socratem
esse hominem, Non impossibile est Socratem non esse hominem.

[.Descriptio oppositarum dicti singularis Ex necessario]


Subaltemans Subalternans
Necesse est Socratem Contraria; Necesse est Socratem
sedere. non sedere.

& % ■é
a
C
<D
&
X)
2 %
w c° %
%
Non necesse est Socratem, Subcontrariae Non necesse est Socrattes
non sedere. sedere.
Subalternata Subalternata

B 3 — non seclere, item Non possibile...


B5 — non sedere], item Impossibile...
B9 — non sedere] ,item Non necesse...
B 19-B 22 — non esse hominem. Ex his autem subalternis ea quee modo cons­
tant universali, dicitur subalternans quee particulari subalternata. Iam vero condi­
tiones huiusmodi oppositarum modalium, atque adeo reliquarum, quas preetermisimus
ecedem sunt quee absolutarum. Nam contrarice simul veree esse non possunt, sed tamen,
nonnulla sunt simul falsee contra vero subcontrarice simul falsee nunquam sunt, quanquam
nonnulla sunt simul ver ce. Contradicentes nec simul verae, nec simul falsee esse queunt.
Denique si subalternans vera est, subalternata etiam est vera, non autem si illa falsa,
haec falsa: e contrario autem, si subalternata est falsa, subalternans etiam falsa est, non
si illa vera, heee vera. Quee omnia patent in propositis exemplis. Sed ut heee melius
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 169

Sócrates esteja sentado, é necessário que Sócrates não esteja sentado;


não é possível que Sócrates esteja sentado, não é possível que Sócrates
não esteja sentado; não é contingente que Sócrates esteja sentado, não
é contingente que Sócrates não esteja sentado; é impossível que Sócra­
tes esteja sentado, é impossível que Sócrates não esteja sentado.
Subcontrárias são as que constam do mesmo modo particular e de Subcontrárias.
ditos contraditórios, como: é possível que Sócrates esteja sentado, é
possível que Sócrates não esteja sentado; é contingente que Sócrates
esteja sentado, é contingente que Sócrates não esteja sentado; não é
necessário que Sócrates esteja sentado, não é necessário que Sócrates
não esteja sentado; não é impossível, etc.
Contraditórias são as que constam do mesmo dito e de modos Contraditórias,
contraditórios, como: é necessário que Sócrates esteja sentado, não é
necessário que Sócrates esteja sentado; é possível que Sócrates não esteja
sentado, não é possível que Sócrates não esteja sentado; e assim nas
restantes.
Subalternas são as que constam de modos e ditos contraditórios, Subalternas,
como: é necessário que Sócrates seja homem, não é necessário que
Sócrates não seja homem; não é possível que Sócrates esteja sentado, é
possível que Sócrates não esteja sentado; não é contingente que Sócra­
tes esteja sentado, é contingente que Sócrates não esteja sentado;
é impossível que Sócrates seja homem, não é impossível que Sócrates
não seja homem.

Descrição das opostas de dito singular


DE NECESSÁRIO
Subalternante Subalternante
É necessário que Sócra­ Contrárias É necessário que Sócra­
tes esteja sentado. tes não esteja sentado.

CZ)
c
C
u
3 %
X
•\PS

<D

13
Λ <&
2
%■
cn
</ \
Não é necessário que Não é necessário que
Sócrates não esteja sen- Subcontrárias Sócrates esteja sentado.
tado.
Subalternada Subalternada

teneas, hanc aspice figuram enunciationum ex necessario: quee ex modalibus etiam


reliquorum generum confici potest.
Subalternans Subalternans
170 INSTITVTIONVM DIALECTICARYM LIBER III

[Ex possibili
Subalternara Subalternara
Non possibile est Socratem Contrariae Non possibile est Socratem
sedere. non sedere.

tGí %
% Ctí
O V
73
&p Λ* % X>
Vi </ \

Possibile est Socratem Subcontrariae Possibile est Socratem


non sedere. sedere.
Subalternata Subalternata

Ex contingenti
Subalternara Subalternara
Non contingens est Socratem Contrariae Non contingens est Socratem
sedere. non sedere.

QO·.
g .JF tíG
3 % O
73 <x- 73
X) x>
P
Vi J' V P
cn
c° %*
%
Contingens est Socratem Subcontrariae Contingens est Socratem
non sedere. sedere.
Subalternata Subalternata

Ex impossibili
Subalternara Subalternara
Impossibile est Socratem Contrariae Impossibile est Socratem
sedere. non sedere.
α^

a

c
u.
4> %& >—<
e>
3 3
'p % P
Vi c° %■ Vi

Non impossibile est Subcontrariae Non impossibile est Socratem


Socratem non sedere. sedere.
Subalternata Subalternata]
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS ~ LIVRO III 171

DE POSSÍVEL
Subalternante Subalternante
Não é possível que Só­ Contrárias Não é possível que Só­
crates esteja sentado. crates não esteja sen­
tado.

ε
α>
\y M
CO
o3
H
ω
73 73
X X
3 ^% 3
oo cf \ 02

É possível que Sócrates Subcontrárias É possível que Sócrates


não esteja sentado. esteja sentado.
Subalternada Subalternada

DE CONTINGENTE
Subalternante Subalternante
Não é contingente que Contrárias Não é contingente que
Sócrates esteja sentado. Sócrates não esteja sen­
tado.

ΚΛ
c3
a
ω
% %
CO
ccJ
3
C-i
o
73
X
3 "3
02

É contingente que Só­ Subcontrárias É contingente que Só­
crates não esteja sen­ crates esteja sentado.
tado.
Subalternada Subalternada

DE IMPOSSÍVEL
Subalternante Subalternante
É impossível que Sócra­ Contrárias É impossível que Sócra­
tes esteja sentado. tes não esteja sentado.

CO
3
□ \ CO
h
O
CO
X
^&

%
I
73
X
3 o' 3
02 02
cf X
Não é impossível que Subcontrárias Não é impossível que
Sócrates não esteja sen­ Sócrates esteja sentado.
tado.
Subalternada Subalternada
172 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER III

Oppositio autem earum, quce constant dicto communi, duobus brevissi­


[Oppositio modalium
ex dicto communi]. mis documentis, quce tamen longiorem exercitationem requirunt, explicari
Primum documen­ potest. Alterum [quod ad modos spectat, huiusmodi est]. Contrarice
tum.
[modales ex dicto communi] constare debent modo eodem universali:
sub contrarice, eodem particulari: contradicentes, et subalterna, modis
Secundum documen­
tum. contradicentibus. Alterum, [quod pertinet ad dicta, sic habet]. Con­
trarice, sub contrarice, et subalternce, si ex necessario fuerint, constare
debebunt dictis contradicentibus, aut contrariis: si vero ex possibili, [aut
contingenti], aut impossibili, opus est ut constent dictis contradicentibus,
aut subcontrariis: contradicentes denique idem omnino dictum habeant
necesse est.

Descriptio oppositarum dicti communis ex necessario

Necesse est omnem homi­ Contrariae Necesse est aliquem hominem


nem esse animal. non esse animal.
O
to
c
o $\ ^
Ί-»
'73 <£·
x>
3 Jp
Μ c°
3 4
Non necesse est aliquem horni- Subcontrariae Non necesse est omnem hominem
nem non esse animal esse animal

Item
Necesse est omnem hominem esse Necesse est nullum hominem esse
animal. animal.

3 4
Non necesse est nullum hominem esse Non necesse est omnem hominem esse
animal. animal.

C1-C 2 [1590] — Não tem esta nota, (cota marginal).


C 1-C 3 — titee tyronibus satis sint. Quod si in manus veterani dialectici liber
iste fortasse venerit, his equidem duobus brevissimis documentis poterit ille oppositionem
non modo harum enuntiationum sed etiam earum, quarum clicta sunt communia in memo­
riam revocare. Alterum...
C 3-C 4 [1590] — Não tem esta nota, (cota marginal).
C 3-C 4 — Primum documentum quod ad. modos spectat, (cota marginal).
C 6-C 7 [1950] — Não tem esta nota, (cota marginal).
C 6-C 7 — Secundum documentum, quod spectat ad dicta, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 173

Entretanto, a oposição das que constam de dito comum pode expli- Oposição das modais
car-se por duas brevíssimas regras, as quais, todavia, requerem uma de dito comum.
exercitação bastante longa. A primeira, que diz respeito aos modos, Primeira regra.
é deste teo'*: as contrárias modais de dito comum devem constar do
mesmo modo universal; as subconírárias, do mesmo [modo] parti­
cular; as contraditórias e as subalternas, de modos contraditórios.
A segunda, que diz respeito aos ditos, enuncia-se assim: as contrárias, Segunda regra.
as subconírárias e as subalternas, se forem de necessário, devem constar
de ditos contraditórios, ou contrários; se [forem] de possível ou de con­
tingente ou de impossível, é necessário que constem de ditos contradi­
tórios ou subcontrários; as contraditórias, finalmente, devem ter abso­
lutamente o mesmo dito.

Descrição das opostas de dito comum


DE NECESSÁRIO
1 2
É necessário que todo o Contrárias É necessário que algum
homem seja animal. homem não seja animal.

% ■Np
%
<£_ -O
d? %■ 3
C/3
0° %
3 4
Não é necessário que Subconírárias Não é necessário que
algum homem não seja todo o homem seja
animal. animal.

DO MESMO MODO
1 2
É necessário que todo o É necessário que nenhum
homem seja animal. homem seja animal.

3 4
Não é necessário que nenhum Não é necessário que todo
homem seja animal. o homem seja animal.

C 1I-C12 — necesse est. Alioqui, si diligenter attendat Dialecticus, sumptis vel


hisce tantum duobus verbis Animal, Homo, inveniet contrarias simul veras, subcontra-
rias simul falsas, contradicentes simul veras, et simul falsas, denique subalter- nantem
veram, et subalternatam falsam. Quce omnia pugnant cum conditionibus oppo- sitarum
enuntiationum:
Exempla oppositarum ex necessario.
174 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Ex possibili *
1 2
Non possibile est omnem hominem Non possibile est aliquem hominem
esse animal. non esse animal.

3 4
Possibile est aliquem hominem non Possibile est omnem hominem esse
esse animal. animal.

Item
1 2
Non possibile est aliquem hominem Non possibile est aliquem hominem
esse animal. non esse animal.

3 4
Possibile est aliquem hominem non Possibile est aliquem hominem esse
esse animal. animal.

[ϋχ contingenti
1 2
Non contingens est omnem homi­ Non contingens est aliquem homi­
nem esse animal. nem non esse animal.

3 4
Contingens est aliquem hominem Contingens est omnem hominem
non esse animal. esse animal.

Item
1 2
Non contingens est aliquem homi­ Non contingens est aliquem homi­
nem esse animal. nem non esse animal.

3 4
Contingens est aliquem hominem non Contingens est aliquem hominem esse
esse animal. animal.

Exempla oppositarum ex possibili.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 175

DE POSSÍVEL

1 2
Não é possível que todo o Não é possível que algum ho­
homem seja animal. mem não seja animal.

3 4
É possível que algum homem É possível que todo o homem
não seja animal. seja animal.

DO MESMO MODO

1 2
Não é possível q\ie algum Não é possível que algum ho­
homem seja animal. mem não seja animal.

3 4
É possível que algum homem É possível que algum homem
não seja animal. seja animal.

DE CONTINGENTE

1 2
Não é contingente que todo Não é contingente que algum
o homem seja animal. homem não seja animal.

3 4
É contingente que algum É contingente que todo o homem
homem não seja animal. seja animal.

DO MESMO MODO

1 2
Não é contingente que algum Não é contingente que algum
homem seja animal. homem não seja animal.

3 4
É contingente que algum homem É contingente que algum homem
não seja animal. seja animal.
176 INSTITVTIONVM D1ALECTICARVM LIBER III

Ex impossibili
2
Impossibile est omnem hominem esse impossibile est aliquem hominem non
animal. esse animal.
3 4
Non impossibile est aliquem hominem Non impossibile est omnem hominem
non esse animal. esse animal.

Item
3
Impossibile est aliquem hominem esse Impossibile est aliquem hominem non
animal. esse animal.
3 4
Non impossibile est aliquem hominem Non impossibile est aliquem hominem
non esse animal. esse animal.

Si quis autem contra prescriptum posterioris documenti dixerit con­


trarias, aut sub contrarias, aut subalternas, si ex necessario sint posse
constare dictis subcontrariis, si vero sint ex possibili, aut contingenti, aut
impossibili posse constare dictis contrariis contradicentes autem alicuius
modi posse constare dictis contrariis, aut subalternis, facile veterani
Dialectici {quibus heee ne longior sim examinanda relinquo) invenient
contrarias simul veras, subcontrarias simul falsas, subalternantem veram,
et subalternatam falsam, ac demum contradicentes simul veras, et simul
falsas: quee omnia pugnant cum conditionibus oppositarum enunciado num.
Sumptis enim vel his tantum duobus verbis Animal, Homo, hac omnia
facile cernuntur. In contrariis quidem ex necessario hoc modo, Necesse
est aliquod animal esse hominem: Necesse est aliquod animal non esse
hominem, quee sunt simul verce. In subcontrariis autem hoc modo, Non
necesse est aliquod animal esse hominem, Non necesse est aliquod animal
non esse hominem, quee sunt simul falsee. Denique in subalternis hoc pacto,
Necesse est aliquod animal esse hominem, Non necesse est aliquod animal
non esse hominem, quarum prior, quee ponitur subalternam est vera, pos­
terior autem, quee ponitur subalternata, est falsa. Quod idem facile est
persequi in cceteris, modo in exemplis modalium, contradicentium, inter­
dum homo fiat subtectum dicti, et animal preedicatum, interdum e con­
trario]. Quapropter cum de oppositionibus modalium eiusdem generis,

D 21 — Heee duo posteriora exempla inservient modalibus ex impossibili dum­


modo illud observes ut loco modi Non possibile ponas Impossibile, et 'loco modi Pos­
sibile ponas Non impossibile. Heee obiter provectis dixerim. Quapropter...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 177

DE IMPOSSÍVEL
1 2
É impossível que todo o homem É impossível que algum homem
seja animal. não seja animal.

3 4
Não é impossível que algum Não é impossível que todo o
homem não seja animal. homem seja animal.

DO MESMO MODO
1 2
É impossível que algum homem É impossível que algum homem
seja animal. não seja animal.

3 4
Não é impossível que algum Não é impossível que algum ho­
homem não seja animal. mem seja animal.

D Se, porém, alguém disser, contra o estabelecido na segunda regra,


que as contrárias, as subcontrárias ou as subalternas, se forem de neces­
sário, podem constar de ditos subcontrários, mas se forem de possível,
de contingente ou de impossível, podem constar de ditos contrários; que
as contraditórias de algum modo podem constar de ditos contrários ou
subalternos, fácilmente os dialécticos veteranos (para me não alongar
deixo que estas coisas sejam examinadas por eles) encontrarão contrá­
rias simultáneamente verdadeiras, subcontrárias simultáneamente falsas,
subalternante verdadeira e subalternada falsa e, finalmente, contraditó­
rias simultáneamente verdadeiras e simultáneamente falsas. Ora tudo
isto vai contra as condições das enunciações opostas. Tomando-se,
com efeito, só estas duas palavras — animal, homem — tudo isto se
vê fácilmente. Assim nas contrárias de necessário: é necessário que
algum animal seja homem, é necessário que algum animal não seja
homem, as quais são simultáneamente verdadeiras. Nas subcontrárias
neste modo: não é necessário que algum animal seja homem, não é
necessário que algum animal não seja homem, as quais são simultá­
neamente falsas. Finalmente, nas subalternas assim postas: é neces­
sário que algum animal seja homem, não é necessário que algum ani­
mal não seja homem, das quais a primeira, que se põe como subalter­
nante, é verdadeira, a segunda, porém, que se põe como subalternada,
é falsa. É fácil verificar isto mesmo nas restantes, contanto que, nos
exemplos das modais contraditórias, se faça umas vezes homem sujeito
do dito e animal predicado, mas por vezes ao contrário.
12
178 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER III

seu quae constant modo eiusdem appellationis satis, super que dictum sit,
sequitur ut ad cequipollentiam omnium inter se veniamus.

De cequipollentia modalium enuntiationum


Ca p V T 1 2

Ut modales fiant cequipollentes duo documenta sunt satis. Alterum A


Primum documen­ ut modi omnium sint eiusdem quantitatis, hoc est, ut omnes sint universales,
tum.
aut omnes particulares. Alterum, ut dicta enunciationum ex possibili,
Secundum.
et impossibili sint eadem inter se, contradicant autem dictis enunciationum
ex necessario. Hcec si observaveris, nullo negotio invenies cequipollentes
cuiusque tnodalis. Exempla perspice in subiectis descriptionibus.

Asquip olientes ex dicto singulari


Prima Tabella * *
Ar Necesse est Socratem esse hominem.
gil Non possibile est Socratem non esse hominem.
til [Non contingens est Socratem, non esse hominem.]
lc Impossibile est Socratem non esse hominem.
Secunda.
Ve Necesse est Socratem non esse hominem.
Γ1 Non possibile est Socratem esse hominem.
di [Non contingens est Socratem esse hominem.]
»
CU Impossibile est Socratem esse hominem.

D 22-D 23 — dictum sit, iam ad cequippollentiam...

* Prima Tabella
Ma Necesse est Socratem esse hominem,
tu Non possibile est Socratem non esse hominem,
TÉ Impossibile est Socratem non esse hominem.

Secunda
De Necesse est Socratem non esse hominem,
cli Non possibile est Socratem esse hominem,
na Impossibile est Socratem esse hominem.
Esta nota continua na pág. 180
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 179

Visto que dissemos o suficiente e mais que [o suficiente] acerca


das oposições das modais do mesmo género, ou seja daquelas que
constam de modo da mesma denominação, segue-se que vamos pas­
sar à equipolência de todas elas entre si.

Capítulo 12

Da equipolência das enunciações modais

Para tornar equipolentes as modais, duas regras bastam. Primeira, Primeira regra,
que os modos de todas sejam da mesma quantidade, isto é, que todas
sejam universais ou todas particulares. Segunda, que os ditos das Segunda,
enunciações de possível e impossível sejam idênticos entre si, mas que
sejam contraditórios dos ditos das enunciações de necessário. Se se
observar isto, sem dificuldade alguma se encontrarão as equipolentes
de qualquer modal. Vejam-se exemplos nas descrições feitas abaixo.

Equipolentes de dito singular

Primeira tabela

Ar É necessário que Sócrates seja homem.


gU Não é possível que Sócrates não seja homem,
tu Não é contingente que Sócrates não seja homem,
le É impossível que Sócrates não seja homem.

Segunda

Ve É necessário que Sócrates não seja homem,


ti Não é possível que Sócrates seja homem,
di Não é contingente que Sócrates seja homem.
CU É impossível que Sócrates seja homem.
180 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Tertia.
Sunt Non necesse est Socratem non esse hominem.
a Possibile est Socratem esse hominem.
ta [Contingens est Socratem esse hominem.]
vi Non impossibile est Socratem esse hominem.

Quarta.
Qui Non necesse est Socratem esse hominem.
re Possibile est Socratem non esse hominem.
fe [Contingens est Socratem non esse hominem.]
runt Non impossibile est Socratem non esse hominem.

Omnes enuntiationes, quas cernis in [quavis] eadem tabella, sunt


cequipollentes, ut duobus traditis documentis continetur.

¿Equipollentes ex dicto communi


i
Ar Necesse est omnem hominem esse animal.
gu Non possibile est aliquem hominem non esse animal
tu [Non contingens est aliquem hominem non esse animal.]
le Impossibile est aliquem hominem non esse animal.

Tertia
JuL Non necesse est Socraten non esse hominem.
ga.ll Possibile est Socratem esse hominem.
tlS Non impossibile est Socratem esse hominem.

Quarta
Im Non necesse est Socratem esse hominem,
pe Possibile est Socratem non esse hominem,
tiltil Non impossibile est Socratem non esse hominem.

Omnes enuntiationis, quas cernis in eadem tabella, sunt cequippol-


lentes, ut duobus traditis documentis continentur.

Mquippollentes ex dicto communi


i
Ma Necesse est omnem hominem esse animal.
tU Non possibile est aliquem hominem non esse animal.
TC Impossibile est aliquem hominem non esse animal.
Esta nota continua na pag. 182
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — IJVRO IU 181

Terceira

Sunt Não é necessário que Sócrates não seja homem.


ã É possível que Sócrates seja homem,
ta É contingente que Sócrates seja homem.
VI Não é impossível que Sócrates seja homem.

Quarta

Qui Não é necessário que Sócrates seja homem.


re É possível que Sócrates não seja homem.
fe É contingente que Sócrates não seja homem.
runt Não é impossível que Sócrates não seja homem.

Todas as enunciações que se vêm numa mesma tabela, qualquer


que ela seja, são equipolentes, como se estabelece nas duas regras
citadas.

Equipolentes de dito comum

Ar é necessário que todo o homem seja animal,


gu Não é possível que algum homem não seja animal,
tu Não é contingente que algum homem não seja animal,
le É impossível que algum homem não seja animal.
182 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER III

Ve Necesse est nullum hominem esse animal.


Γ1 Non possibile est aliquem hominem esse animal,
di [Non contingens est aliquem hominem non esse animal.]
C3. Impossibile est aliquem hominem esse animal.

Sunt Non necesse est nullum hominem esse animal,


ct Possibile est aliquem hominem esse animal,
tcl [Contingens est aliquem hominem non esse animal.]
VI Non impossibile est aliquem hominem esse animal.

Qui Non necesse est omnem hominem esse animal.


re Possibile est aliquem hominem non esse animal.
fe [Contingens est aliquem hominem non esse animal.]
runt Non impossibile est aliquem hominem non esse animal.

De Necesse est nullum hominem esse animal.


Cii Non possibile est aliquem hominem esse animal,
na Impossibile est aliquem hominem esse animal.

Jur Non necesse est nullum hominem esse animal,


gan Possibile est aliquem hominem esse animal.
tlS Non impossibile est aliquem hominem esse animal.

Im Non necesse est omnem hominem esse animal,


pe Possibile est aliquem hominem non esse animal,
tum Non impossibile est aliquem hominem non esse animal.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 183

Ve É necessário que nenhum homem seja animal.


ri Não é possível que algum homem seja animal.
di Não é contingente que algum homem não seja animal.
ca É impossível que algum homem seja animal.

Sunt Não é necessário que nenhum homem seja animal.


a H possível que algum homem seja animal.
ta É contingente que algum homem não seja animal.
vi Não é impossível que algum homem seja animal.

Qui Não é necessário que todo o homem seja animal.


re É possível que algum homem não seja animal.
fe É contingente que algum homem não seja animal.
runt Não é impossível que algum homem não seja animal.
Í84 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER III

Omnes itidem, quce in unaquaque tabella huius descriptionis conti­


nentur cequipollentes sunt, ut eadem documenta docent.
Quibus ita constitutis, si tenes ea, quce de oppositione, et (ut ita loquar) B
de subaltematione modalium eiusdem generis dicta sunt, facile intelliges
oppositionem, et subalternationem earum, quce sunt diversorum generum.
Nam cum ex supra dictis pateat, enunciationes ex necessario, quce primum
locum obtinent in qualibet tabella, ita esse affectas inter sese, ut prima,
et secunda sint contrarice, tertia, et quarta subcontrarice, prima vero
contradicat quartce, et secunda tertia, ac denique prima sit subalternam
tertia, et secunda quartce, nunc autem docuerimus omnes, qua in eadem
tabella sunt, esse cequipollentes, necessario efficitur, ut omnes, quce sunt
in prima, sint contraria omnibus, qua sunt in secunda, et omnes qua sunt
in tertia sint subcontraria omnibus, qua sunt in quarta, itemque ut tota
prima tabella contradicat toti quarta, ac tota secunda toti tertia, denique
ut tota prima sit subalternam totius tertia, et tota secunda totius quarta.
Quo comperto, si quis abs te petierit emmciationem aliquam contra­
riam illi prima, Necesse est Socratem esse hominem, facile poteris qua-
tuor contrarias assignare, hanc nimirum eiusdem generis, Necesse est
Socratem non esse hominem, et alias tres reliquorum generum huic cequi­
pollentes, utpote, Non possibile est Socratem esse hominem, [Non con­
tingens est Socratem esse hominem], Impossibile esi Socratem esse homi­
nem. Id quod nullo labore facies in reliquis.
Obiectio. Sed forte aliquis succensebit nobis, quod non videamur in hac re C
a 2. peri. 3. Aristotelem a sectari. IUe enim longe alium ordinem in descriptione
tabellarum tenuit. Nam praterquam quod in omnibus tabellis describendis
extremo loco modales ex necessario constituit, priores etiam duas tabellas
ex enunciationibus modorum particularium coegit, posteriores ex iis, quce
Dilutio
constant modis universalibus: quod totum nos contra fecimus. Verum
si animum advertas, non pugnamus hac [;in] re cum Aristotele. Siquidem
Aristoteles ipse in causa fuit, ut ordinem enunciationum, et tabellarum
commutaverimus. Nam cum ille cequipollentium quadrata eo ordine, quem
nos obiiciendo commemoravimus descripsisset, tandem ad finem tractationis

B 5-B 6 —prima et tertia sint contraria, secunda et quarta subcontrarice...


B 15 — poteris tres contrarias,..
B 16 — et alias duas reliquorum...
B19 — Id quod haud magno labore...
C 2-C 4 — Ille enim non ex tribus tantum enunciationibus, sed ex quatuor singulas
tabellas confecit, additis nimirum modalibus ex contingenti eadem significatione accepto,
qua possibile a nobis hactenus explicatum et acceptum est. Atque insuper alium ordi­
nem in descriptione tenuit. Non prccterquam quod modales ex necessario extremo loco
in omnibus tabellis describendis posuit, priores etiam...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 185

Igualmente, todas as que se contêm em cada tabela desta descri­


ção são equipolentes, como ensinam as mesmas regras.
B Uma vez assim constituídas estas, se se retém aquilo que se disse
da oposição e (por assim dizer) da subalternação das modais do mesmo
género, facilmente se entenderá a oposição e a subalternação das que são
de diversos géneros. Com efeito, sendo evidente, pelo que acima se
disse, que as enunciações de necessário, que ocupam o primeiro lugar
em qualquer tabela, estão de tal maneira relacionadas entre si que a
primeira e a segunda são contrárias, a terceira e a quarta subcontrárias,
que a primeira contradiz a quarta, e a segunda a terceira, e finalmente
que a primeira é subalternante da terceira, e a segunda da quarta; tendo
nós agora acabado de ensinar que todas as que estão na mesma tabela
são equipolentes, segue-se necessàriamente que todas as que estão na
primeira são contrárias a todas as que estão na segunda, e todas as que
estão na terceira são subcontrárias a todas as que estão na quarta.
Igualmente [se segue] que toda a primeira tabela contradiz toda a quarta,
e toda a segunda toda a terceira; e, por fim, que toda a primeira é
subalternante de toda a terceira e toda a segunda de toda a quarta.
Sabido isto, se alguém pedir alguma enunciação contrária à pri­
meira, é necessário que Sócrates seja homem, fácilmente se poderão
indicar quatro contrárias: a seguinte do mesmo género —- é necessário
que Sócrates não seja homem ·— e as outras três dos restantes géneros equi­
polentes a esta, tais como: não é possível que Sócrates seja homem, não é
contingente que Sócrates seja homem, é impossível que Sócrates seja
homem. Isto se fará nas restantes, sem qualquer dificuldade.
C Mas talvez alguém nos censure por lhe parecer que não seguimos Objecção.
nisto a Aristóteles a. É que ele seguiu uma ordem muito diferente na des- a Da Interpreta-
crição das tabelas. Com efeito, além de ter posto as modais de necessário Ça°’
em último lugar em todas as tabelas descritivas, reuniu ainda as primei­
ras duas tabelas das enunciações dos modos particulares, e as segundas
das que constam de modos universais, tendo nós feito tudo isto ao con­
trário. Mas, se bem se ponderar, neste ponto, não estamos em desa- s°lu?ao·
cordo com Aristóteles. Com efeito, o próprio Aristóteles é que deu
motivo a que tenhamos mudado a ordem das enunciações e das tabelas.
De facto, como Aristóteles tivesse descrito os quadrados das equipo­
lentes segundo a ordem que mencionámos ao apresentá-la, advertiu,
186 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

sic ea, ut a nobis digesta sunt, corrigenda esse admonuit. Nec immerito,
quippe cum hic ordo, quem servavimus, et naturis rerum congruat, et
descriptioni absolutarum enunciationum optime respondeat, [ut vel paululum
attendenti, et hanc descriptionem cum descriptione absolutarum conferenti
perspicuum erit].
Et quidem ut [modalium\ descriptio ab Aristotele [tradita], memoriae
mandaretur, excogitaverunt recentiores has quatuor voces Amabimus,
Edentuli, Iliace, Purpurea, quce tabellis nondum ab illo emendatis [dictio­
num numero, ac ipso descriptionis ordine responderent, ita nimirum ut
prima dictio significaret primam tabellam, secunda secundam, reliquae
reliquas eodem ordine, itemque ut prima vocalis cuiusque dictionis signi­
ficaret /nodalem ex possibili, secunda /nodalem ex contingenti, tertia, ex
impossibili, quarta, ex necessario: denique ut vocalis A, significaret enun-
ciationem affirmativam modi, et dicti: E, affirmativam modi, et negativam
dicti: I, negativam modi, et affirmativam dicti: U, negativam utriusque:
quam vocalium significationem hoc versu comprehenderunt;

E dictum negat Ique modum, nihil A, sed U totum.

Ut in hac descriptione patet

Tabella
1 2
A Possibile est aliquem horni- E Possibile est aliquem hominem
nem esse animal. non esse animal.
ma Contingens est aliquem horni- den Contingens est aliquem homi­
nem esse animal. nem non esse animal.
bi Non impossibile est aliquem tU Non impossibile est aliquem
hominem esse animal. hominem non esse animal.
mus Non necesse est nullum ho- li Non necesse est aliquem ho­
minem esse animal. minem esse animal.

C 7-C 11 — cum Aristotele. Fecimus enim potius ternarios, quam quaternarios,


quia cum e nunc iat iones ex contingenti, quas Aristoteles adiunxit, non differant ab enun­
tiationibus ex possibile {ut eo loco sumitur contingens) accommodatior ad novitios dialec­
ticos, qui omnem multiplicitatem devitant, erit doctrina, si confectis ternariis genus illud
enuntiationum preetermittatur. Cur autem ordinem enunciationum, et tabellarum com­
mutaverimus Aristoteles ipse in causa fuit. Nam cum ille descriptiones cequippollentium
modalium eo ordine, quem oblidendo commemorabimus, fecisset, tandem ad finem trac­
tationis sic eas, ut nos digessimus, corrigendas esse admonuit.
C17 — quatuor dictiones, Amabimus...
C18-C 25 — quce quatuor tabellis nondum emendatis ab Aristotele responderent.
Cceterum nos, qui alium numerum et ordinem modalium afferimus, cogimur illas protritas
omittere dictiones, aliasque nostra: descriptioni congruentes affere. Accipe igitur has,
MATURE DECLINA IURGANT1S IMPETUM
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 187

no fim do tratado, que eles deviam ser corrigidos para os que foram
por nós ordenados. E, de facto, não sem razão, porquanto esta ordem,
que observámos, não só convém às naturezas das coisas, mas também
corresponde óptimamente à descrição das enunciações absolutas, como
será manifesto para quem preste um pouco de atenção e confira esta
descrição com a descrição das absolutas.
Depois, para se fixar de memória a descrição aristotélica das
modais, os dialécticos modernos excogitaram estas quatro palavras:
Amabimus, Edentuli, Iliace, Purpurea, que correspondessem às tabelas
ainda não emendadas por ele quanto ao número das dicções e quanto à
própria ordem da descrição, de tal maneira que a primeira dicção sig­
nificasse a primeira tabela, a segunda a segunda, as restantes as restantes
pela mesma ordem; do mesmo modo, a primeira vogal de cada dicção
significasse a modal de possível, a segunda a modal de contingente, a
terceira de impossível, a quarta de necessário; e, finalmente, a vogal A
significasse a enunciação afirmativa de modo e de dito, E a afirmativa
de modo e negativa de dito, I a negativa de modo e a afirmativa de dito,
U a negativa de um e de outro. Esta significação das vogais abran­
geram-na neste verso:

E nega o dito elo modo; nada o A, mas tudo o U,

como pode verificar-se na seguinte descrição:

TABELA
12
A É possível que algum homem E É possível que algum homem
seja animal. não seja animal.
ma É contingente que algum ho­ den É contingente que algum ho­
mem seja animal. mem não seja animal.
bi Não é impossível que algum tu Não é impossível que algum
homem seja animal. homem não seja animal.
mus Não é necessário que nenhum li Não é necessário que algum
homem seja animal. homem seja animal.

quce enunciaiionibus nostree descriptionis vocalium numerum respondent. Prima dictio


inservit primee tabetice: secunda, secundce: et reliquee eodem ordine. Rursus, prima
vocalis cuiusque dictionis significat priman enunciationem eius tabelles, cui dictio tribui­
tur, utpote modalem ex necessario: secunda secundam quce est ex possibile: tertia ter­
tiam, quce ex impossibili. Tandem A significat eam enunciationem, cui congruit, esse
affirmativam modi, et dicti: E autem, esse affirmativam modi, et negativam dicti: I vero,
esse negativam modi, et affirmativam dicti: U denique, esse negativam utriusque...
188 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

3 4

I Non possibile est aliquem homi­ Pur Non possibile est aliquem ho­
nem esse animal. minem non esse animal.
li Non contingens est aliquem ho­ pu Non contingens est aliquem
minem esse animal. hominem non esse animal.
a Impossibile est aliquem hominem re Impossibile est aliquem homi­
esse animal. nem non esse animal.
ce Neccsse est nullum hominem esse a Necesse est omnem hominem
animal. esse animal.

Verum nos, cum eam potius descriptionem, quam Aristoteles ut correc-


tiorem magis approbavit, multis de causis amplectendam esse arbitremur,
alias dictiones necesse est afferamus, quce nostrce descriptioni congruant,
ne commoditas, quce ex huiusmodi vocum usu percipitur, Dialecticis adima­
tur. Accipe igitur has, Argutule, Veridica, Sunt atavi, Qui referunt,
quce facile usu terentur, ac mollientur. Priores igitur duce designant tabellas
contrarias, duce posteriores subcontrarias, quce quidem eodem ordine sub
tabellis contrariarum describendce sunt, ut descriptio omni ex parte res­
pondeat descriptioni absolutarum. In unaquaque autem tabella prima,
vocalis designat modalem ex necessario, secunda, modalem ex possibili,
tertia, ex contingenti, quarta, ex impossibili, servata inierim veteri signi­
ficatione earundem vocalium, quod affirmationem, et negationem, ut ex
superius positis descriptionibus intelliges]. Hcec si teneas, facile admo­
neberis [in unaquaque tabella] utriusque qualitatis cequipollentium, et
modi scilicet, et dicti. Nam quod ad quantitatem attinet, ad duo
documenta initio capitis proposita recurrendum est.

De conversione modalium enunciationum

C a p VT1 3

a 1. prio. 3. jam ver0 conversio modalium, quce ab Aristotelea tractatur (hcec A


enim una restat affectio, earum, quas proposuimus) non est commutatio
extremorum principalium enunciationis, ut scilicet modus, qui prcedica-
Conversio moda- tur de dicto, fiat subiectum, et dictum praedicatum: sed est commutatio
ή quae sit. eorum extremorum, quce in dicto continentur servata qualitate dicti, et

C 60-C 61 — ad duo supra posita documenta recurrendum est.


A 4 — et dictum prcedicatum (id enim efficere perfacile est nullaque indiget arte)
sed est...
A 5 — continentur manente modo eodem loco servataque qualitate...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 189

3 4

I Não é possível que algum ho­ Pur Não é possível que algum ho­
mem seja animal. mem não seja animal.
li Não é contingente que algum ho­ pu Não é contingente que algum
mem seja animal. homem não seja animal.
a É impossível que algum homem re É impossível que algum ho­
seja animal. mem não seja animal.
ce É nccessát io que nenhum homem a É necessário que todo o ho­
seja animal. mem seja animal.

Porém, embora por muitas razões pensemos dever seguir-se


de preferência a descrição que Aristóteles aprovou como mais
correcta, temos necessidade de aipresentar outras dicções que convenham
à nossa descrição, para que a comodidade que se tira do uso de palavras
deste género se não subtraia aos dialécticos. Tomem-se, portanto,
estas: Argutule, Veridica, Sunt atavi, Qui referunt, que, com o uso,
fácilmente serão polidas e amaciadas. As duas primeiras designam
tabelas contrárias, as duas últimas subcontrárias, as quais, todavia,
devem ser descritas pela mesma ordem sob as tabelas das contrárias,
de modo que a descrição corresponda inteiramente à descrição das abso­
lutas. Em cada tabela, a primeira vogal designa a modal de necessário,
a segunda a modal de possível, a terceira de contingente, a quarta de
impossível, conservando-se, entretanto, a velha significação das mesmas
vogais quanto à afirmação e negação, como se compreenderá pelas des­
crições postas acima. Se se retiver isto, facilmente se virão a conhecer
em cada tabela ambas as qualidades das equipolentes, a saber, do dito
e do modo. Porquanto, o que diz respeito à quantidade deve pro­
curar-se nas duas regras apontadas no início do capítulo.

Capítulo 13

Da conversão das enunciações modais

A Quanto à conversão das modais, que Aristóteles a tratou (na ver­ a Primeiros Ana­
dade resta apenas esta propriedade das que propusemos), não é a troca dos líticos, I, 3.

Que é a conversão
extremos principais da enunciação, de tal maneira que o modo que se pre­ das modais.

dica do dito se faça sujeito, e o dito predicado, mas é a troca dos extremos
que estão contidos no dito, conservando-se a qualidade do dito e a ver-
190 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

veritate totius modalis: ut si dicas, Necesse est Socratem esse hominem,


igitur, Neccesse est hominem esse Socratem.
[Etenim in hac modalium formula, de qua nunc agimus {hoc est,
in qua modales per verba infinitiva efferuntur) nunquam modus potest esse
subiectum, etiam si in principio orationis ponatur, ut hactenus factum est.
Semper enim verbalis copula intelligitur ex parte modi, quacunque ratione
partes orationis commutentur. Quo fit ut si qua commutatio principalium
extremorum modalis enunciationis {hoc est, modi, et dicti) fieri potest,
ea nulla, sit alia, quam secundum orationis situm, quce tamen ut unicuique
est in promptu, ita nulla indiget arte. Quod si quis dicat modales enun-
ciationes sub ea formula spectandas esse in conversione, qua dicta illarum
voce aliqua demonstrantur, ut si dicas, Hac enunciado, Socrates est
homo, est necessaria, occurrendum erit, illud modalium genus sub genere
b Cap. 9. absolutarum vere comprehendi, ut supradictum est propositamque enun-
ciationem hoc pacto esse convertendam, Hac enunciado, Socrates est homo,
est necessaria, igitur aliquod necessarium est hac enunciado Socrates est
homo, quo pacto supra diximus singulares absolutas, quce aliquid affirmant,
esse convertendas. Ita patet conversionem modalium, de quibus hic
agimus, non esse commutationem principalium extremorum enunciationis,
sed eorum, qua in dicto continentur.
Conversio modalium Quo igitur pacto modales convertantur, duobus documentis tradi B
ex necessario.
potest. Unum est], Modales ex necessario, et possibili affirmatis, quod
attinet ad conversionem simplicem, et per accidens {eam enim, quce fit per
contrapositionem, ut parum utilem, omittimus) eodem modo converti, quo
c 1. prio. 3. enunciationes absolutce reciprocanturc. Nam universalis negativa, et
particularis affirmativa convertuntur simpliciter, ut Necesse est nullum
hominem esse lapidem, ergo, Necesse nullum lapidem esse hominem:
Necesse est aliquod animal esse album, ergo, necesse est aliquod album
esse animal. Ambae autem universales convertuntur per accidens, ut si
dicas, Necesse est omnem, hominem esse animal, ergo necesse est aliquod
animal esse hominem, Necesse est nullum hominem esse lapidem, ergo,
necesse est aliquem lapidem non esse hominem. Particularis denique
negativa neutro modo convertitur, quia datur conversa vera, et convertens
falsa, ut si dicas, Necesse est aliquod animal non esse hominem, ergo,
necesse est aliquem hominem non esse animal. Idem perspicies si loco

A 7 ■— Socratem: Quce quidem, res non est. nimince difficultatis...


A 20 [1590] — hoc pacto esse concurrendam, Hcec...
B2 — Adverte igitur modales ex necessario...
B12-B13 — Particularis denique non convertitur...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS ~ LIVRO III 191

dade de toda a modal, como se se disser: é necessário que Sócrates seja


homem, portanto, é necessário que um homem seja Sócrates. Com
efeito, nesta forma de modais de que agora tratamos (isto é, naquela
em que as modais se enunciam por meio de palavras infinitivas), nunca
o modo pode ser sujeito, mesmo que se ponha no princípio da oração,
como até aqui se fez. Efectivamente, a cópula verbal entende-se sempre
da parte do modo, mesmo que se mudem por qualquer razão as partes
da oração. Pelo que acontece que, se alguma troca dos extremos prin­
cipais da enunciação modal (isto é, do modo e do dito) se pode fazer,
esta é apenas [uma troca] segundo a situação da oração, a qual, con­
tudo, como é evidente para todos, também não carece de arte nenhuma.
Mas, se alguém disser que as enunciações modais devem ser olhadas
na conversão, sob aquela forma pela qual os seus ditos se demonstram
mediante alguma voz, tal como se se disser: esta enunciação, Sócrates é
homem, é necessária, deverá responder-se que aquele género de modais
está compreendido verdadeiramente no género das absolutas, como
ficou dito acima e que a enunciação proposta se deve converter deste b Cap. 9.
modo: esta enunciação, Sócrates é homem, é necessária, portanto, é algo
necessário esta enunciação, Sócrates é homem. Foi assim que, acima,
dissemos que deviam converter-se as singulares absolutas, que afirmam
alguma coisa. Deste modo se torna claro que a conversão das modais,
de que tratamos aqui, não é a troca dos extremos principais da enuncia­
ção, mas a daqueles que se contêm no dito.
B Pode, portanto, ensinar-se, com duas regras, de que modo se con­ Conversão das mo­
vertem as modais. A primeira, que diz respeito à conversão simples dais de necessário.
e por acidente (omitimos, com efeito, a que se faz por contraposição,
porque pouco útil) é esta: as modais [de modo] necessário e possível
afirmativas convertem-se do mesmo modo por que se reciprocam as
enunciações absolutas c. Efectivamente, uma universal negativa e uma c Primeiros Ana­
particular afirmativa convertem-se simplesmente, como: é necessário líticos, I, 3.
que nenhum homem seja pedra, portanto, é necessário que nenhuma
pedra seja homem: é necessário que algum animal seja branco, portanto,
é necessário que algum branco seja animal. Ambas [afirmativas e
negativas] as universais se convertem por acidente, como se se disser:
é necessário que todo o homem seja animal, portanto, é necessário que
algum animal seja homem; é necessário que nenhum homem seja pedra,
portanto, é necessário que alguma pedra não seja homem. A particular
negativa, finalmente, por nenhum destes dois modos se converte, porque
se obtém uma convertida verdadeira e uma convertente falsa, como se se
disser: é necessário que algum animal não seja homem, portanto, é neces­
sário que algum homem não seja animal. O mesmo se verificará se,
192 INSTITVTIONVM DI ALE CUCAR V M LIBER III

Cur aliarum moda- modi Necesse, posueris Possibile. Nec vero opus est tradere conver­
lium conversiones
siones modalium, ex necessario et possibili negatis, et ex impossibili
non tradantur.
sive affirmato, sive negato, quia cum in omnibus tabellis cequipollentium,
Conversio quarum descriptiones paulo ante tradidimus, reperiatur aliqua enunciatio
modalium ex
ex necessario, aut possibili affirmato, qui harum reciprocationem tenuerit,
contingenti pro­
prie sumpto. nullo negotio intelliget in quas reliquer convertantur.
[Atque id, quod dictum est de modalibus ex possibili intelligendum est
de modalibus ex contingenti improprie sumpto, quod idem est atque possibile.
Alterum documentum est,] enunciationes ex contingenti [proprie sumpto]
d In fin. ca. 11. quas superius reliquimus^, cum affirmativa quidem sunt, eodem modo
e Primo prior. 3. [converti] quo absolutce, convertuntur e, ut si dicas, Contingens est omnem
hominem, vel aliquem hominem vigilare, ergo contingens aliquod vigilans
/ Aristo, ibi. esse hominem: cum vero sunt negativee, non itemf. Nam particularis
convertitur simpliciter, universalis autem minime, Hcec enim conversio
bona est, Contingens est aliquem hominem non esse album, ergo contingens
est aliquod album non esse hominem {nunquam enim in hac formula
g 1. prio. 16. datur conversa vera, et convertens falsa) hcec autem vitiosa §, Contingens
est nullum hominem esse album, ergo contingens est nullum album esse
hominem: conversa siquidem vera est, quia quilibet homo potest esse albus,
et non esse albus, convertens autem est falsa, quia non quodlibet album
potest esse, et non esse homo, quippe cum necesse sit aliquod album, ut
nivem, aut cygnum, non esse hominem.
[Est et alia conversionis huic generi contingentium enunciationum pro­
pria {hoc est, omnibus ac solis conveniens) quam vocant In oppositam quali­
tatem. Ea vero est cum ex affirmativis fiunt negativee, et ex negativis affir­
mativee, nec commutatis extremis, nec ullo pacto variata quantitate, ut si
dicas Contingens est omnem hominem vigilare, ergo contingens est nullum
hominem vigilare, et vicissim Contingens est nullum hominem vigilare ergo
contingens est omnem hominem vigilare: item Contingens est aliquem
hominem vigilare, ergo contingens est aliquem hominem non vigilare, et
e contrario, Contingens est aliquem hominem non vigilare, ergo contingens
est aliquem hominem vigilare]. Sed multee sunt difficultates hac in re,
quee postulant tum maiorem auditorum intelligentiam, tum etiam longiorem
tractatum, quam, introductioni conveniat. Restat ergo ut, quoniam

C1-C2 — conversiones aliarum modalium, utpote ex necessario...


C4-C6—Conversio contingentium: Ex. 1. prio. 3. (cota marginal).
C9 — Enunciationes autem ex contingenti...
C10 — reliquimus, si affirmativce...
C11 [1590] — quo absolutce, convertentur, ut si dicas...
C13 — hominem: si vero sunt...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 193

C no lugar do modo necessário, se puser possível. Não vale a pena dar


Porque se não dão
as conversões das modais, de [modos] necessário e possível negativos
as conversões das
e de [modo] impossível afirmativo ou negativo, porque, como em todas outras modais.
as tabelas das equipolentes, cujas descrições demos um pouco antes, se
descobre alguma enunciação de necessário ou de possível afirmativo,
quem retiver a reciprocação destas, entende, sem qualquer dificuldade,
em quais se convertem as restantes. Mas o que se disse das modais Conversão das mo­
de possível deve entender-se das modais de contingente tomado impro­ dais de contingente
tomado impròpria-
priamente, que é o mesmo que possível.
mente.
A segunda regra é esta: as enunciações de contingente tomado no
sentido próprio que atrás d pusemos de parte, se são afirmativas, conver­ d No fim do
cap. 11.
tem-se do mesmo modo que as absolutas, e como se se disser: é contin­ e Primeiros Ana­
gente que todo o homem ou algum homem esteja acordado, portanto, é líticos, I, 3.
contingente que algum acordado seja homem; mas, se são negativas, não
/ Aristóteles, no
acontece o mesmo f. Na verdade, a particular converte-se simplesmente, mesmo lugar.
mas a universal não. Com efeito, é boa esta conversão: é contingente
que algum homem não seja branco, portanto, é contingente que algum
branco não seja homem (nunca, de facto, nesta fórmula há a conver­ g Primeiros Ana­
tida verdadeira, e a convertente falsa). É viciosa, porém, esta s: é con­ líticos, I, 16.
tingente que nenhum homem seja branco, portanto, é contingente que
nenhum branco seja homem. A convertida é, de facto, verdadeira,
visto que qualquer homem pode ser branco e não ser branco; a conver­
tente, porém, é falsa, visto que qualquer branco pode ser e não ser
homem, como [sucede] quando é necessário que algum branco, como
a neve ou o cisne, não seja homem.
Há ainda outra particularidade própria (isto é, conveniente a todas
elas e só a elas) deste género de conversão das enunciações contingentes,
a que se chama em qualidade oposta. Esta verifica-se, com efeito, quando
das afirmativas se fazem negativas e das negativas afirmativas, sem
mudar os extremos nem de nenhum modo variar a quantidade, como se
se disser: é contingente que todo o homem esteja acordado, portanto,
é contingente que nenhum homem esteja acordado; e, vice-versa, é
contingente que nenhum homem esteja acordado, portanto, é contingente
que todo o homem esteja acordado. Do mesmo modo: é contingente
que algum homem esteja acordado, portanto, é contingente que algum
homem não esteja acordado, e, ao contrário, é contingente que algum
homem não esteja acordado, portanto, é contingente que algum homem
esteja acordado.
São muitas, porém, as dificuldades nesta matéria, as quais postulam
quer maior inteligência dos alunos, quer ainda uma exposição mais
longa do que convém a uma introdução. Visto que, em todo o caso,
13
194 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

enuncictliones simplices utcumque explicavimus, de coniunctis deinceps,


disseramus.

Quot sint genera coniunctarum enunciationum

Ca p V T 14

Quid sit enunciatio coniuncta, quam posteriores Dialectici hypo- A


theticam fere vocant, iam supraa a nobis dictum est. Quot vero ei
sint subiecta genera, quceque sint singulorum generum affectiones, nunc
a Cap. 3.
Triplex coniunc- docebimus. Coniunctio, quce forma est enunciationis coniunctce, tribus
tio. modis comparari potest cum simplicibus enunciationibus, quas connectit.
Aut enim iungit earum sententias, aut dividit. Si iungit, aut ordine con-
sequutionis unius ex altera idfacit, ut videlicet posterior ex priori efficiatur:
aut non habita ratione eiusmodi ordinis. Si ordine consequutionis iungit
Tria genera coniunc- sententias, vocatur conditionalis, ut Si sol lucet dies est: si absque huiusmodi
tarum enunciatio­ ordine, dicitur copulativa, ut Socrates fuit Philosophus, et fuit vir bonus.
num.
Si denique dividit sententias, disiunctiva nucupatur, ut Aut dies est, aut nox
b D. Tho. opu. 48. b
de enunciatione, c. 14 est. Tria igitur sunt genera coniunctarum enunciationum , Conditionalis,
c Li. de Fato, et Copulativa, et disiunctiva, quas Cicero c Connexum, Coniunctionem, et
in top.
Disiunctionem nominat. Ac conditionalis quidem iure optimo dicitur
d 1. de syllogismo
hypothe.
hypothetica, si quidem Hypothesis prester alia conditionem significat.
Num copula Liva recte Disiunctiva quoque non immerito a Boetio d in numerum hypotheticarum
dicatur hypothe. refertur. Nam ex priscipuo disiunctivarum genere licet inferre, condi­
tio nalem, ut si ex illa, Aut dies est, aut nox est, hanc efficias, Si dies
est, nox non est, aut hanc, Si nox est, dies non est. Cceterum, cur copula- B
tiva dicatur hypothetica, nulla apparet ratio nisi forte quia alteri
enunciationi simplici iam positee alteram adiungit (Hcec enim quasi
suppositio Hypothesis nomine modo aliquo significari potest) [aut certe
quia sunt copulativa, quce inferantur ex conditionalibus: ut si ex hac
conditionali, Si Socrates est homo, est animal, colligas hanc copula­
tivam negativam, Non et Socrates est homo, et non est animal].

C 34-C 35 — deinceps, quod satis videatur, dicamus.


A 14 — Ac prima quidem...
A 15-A 16 — hypothetica, quasi conditionalis cum hypothesis conditionem signi­
ficet. Tertia quoque non immerito...
A 17— Nam ex apta, et propria disiunctiva licet facere conditionalem...
B 1-B2 — Cceterum, cur secunda dicatur hypothetica, ego plane non video, cum
nec conditionalis sit, nec ex ea ulla conditionalis fieri possit. Neque enim, quia vere
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 195

explicámos as enunciações simples, resta, portanto, falarmos seguida­


mente das conjuntas.

C Ap í Tu lo 14

Quantos são os géneros das enunciações conjuntas

A O que seja a enunciação conjunta, a que os Dialécticos posteriores


chamam ordinariamente hipotética, já o dissemos acimaa. Mas, a Cap. 3.
quantos sejam os géneros sujeitos a ela e quais as propriedades de cada
género, ensiná-lo-emos agora. A conjunção, que é a forma da enuncia­ Tríplice conjunção.
ção conjunta, pode estabelecer-se de três modos com as enunciações
simples que liga. Efectivamente, ou junta as suas sentenças ou as divide.
Se junta, ou o faz em ordem à consequência de uma da outra, a saber,
para a segunda se deduzir da primeira, ou não se tem em conta tal ordem.
Se junta as sentenças em ordem à consequência chama-se condicional,
como: se o sol brilha, é dia; se sem tal ordem, diz-se copulativa, como:
Sócrates foi filósofo e foi um homem bom; se, finalmente, divide as sen­
tenças, chama-se disjuntiva, como: ou é dia ou é noite. São, portanto, Três géneros de enun­
três os géneros das enunciações conjuntasb — condicional, copulativa ciações conjuntas.
b S. Tomás, Opus­
e disjuntiva — que Cícero c denomina conexão, conjunção e disjunção. culo 48, Da Enuncia­
A condicional, na verdade, com todo o direito, se diz hipotética, já que ção, cap. 14.
hipótese significa, primeiro que tudo, condição. A disjuntiva também c Livro do Des­
é referida por Boécio, não sem razão, rfno número das hipotéticas. Com tino e nos Tópicos.
efeito, é lícito fazer uma condicional do principal género das disjuntivas, d Do Silogismo
Hipotético, 1.
como se daquela — ou é dia ou é noite — se fizer esta: se é dia, não é
B noite, ou esta: se é noite, não é dia. De resto, nenhuma razão se vê Se a copulativa se
por que a copulativa se diga hipotética, a não ser talvez porque a uma diz rectamente hipo­
tética.
enunciação simples já posta se ajunta outra (esta quase suposição pode
significar-se de algum modo pelo nome de hipótese), ou certamente
porque são copulativas que se deduzem de condicionais, como se desta
condicional: se Sócrates é homem, é animal, se tirar esta copulativa
negativa: não e Sócrates é homem e não é animal.

dixisti, Socrates fuit philosophus, et vir etiam bonus vere quoque dixeris, Si Socrates
philosophus fuit, vir bonus fuit, aut, si non fuit philosophus, non fuit vir bonus,aut si
fuit philosophus, non fuit vir bonus, aut si non fuit philosophus fuit vir bonus. Non est
igitur cur hypothetica dicatur, nisi forte...
196 INSTITVTIONVM DIALECTÍCARVM LIBER III

Qualitas essentialis enunciationum, quam affirmationem, et negationem dici- C


Qualitas coniuncta-
mus, his etiam omnibus communiter convenit, verum aliter, quam simplicibus.
rum enunciationum. Simplices enim dicuntur affirmativce, et negativce, quia earum prcedicata
Affirmativa;. atribuuntur subiectis, aut ab eisdem removentur: at coniunctce dicuntur affir­
Negativas. mativce, quia coniunctiones affirmantur, hoc est, non negantur, negativce
quia negantur, sive praedicata simplicium, quas in se coercent, et continent,
affirmentur, sive negentur. Unde fit ut hce ambae sint affirmativce, Si sol
lucet dies est, Si sol non lucet non est dies: hce vero ambae negativce, non
si sol non lucet, nox non est: Non si sol lucet, nox est. Id quod in cceterjs
generibus facile perspicies. Fiunt autem huiusmodi enunciationes nega­
tivce prcefixa initio totius enunciationis negante particula, ut in proximis
Sunt veras, aut falsae:
duobus exemplis cernis. Iam qualitas accidentalis, quae in veritatis, aut
necessariae, aut con­
tingentes, aut impos­ falsitatis significatione consistit, non dubium est, quin coniunctis etiam
sibiles. conveniat: participant siquidem naturam enunciationis, cuius ea com­
munis qualitas est, ut verum, aut falsum significet. Sunt itaque verce
Coniuntae enunciatio- etiam, aut falsee, atque adeo necessarice, aut contingentes, aut impossibiles.
nes carent quantitate.
At vero si de quantitate sit queestio, nullam penitus habent, ut nimirum D
dicantur universales, aut particulares, aut. indefinitee, aut singulares, prop-
[Cap. 18].
terea quod non enunciant aliquid de aliquo, aut aliquibus, sed solum enun­
ciationes, quee id efficiunt, conjungunt. Habent tamen virtute quandam
quantitatem universalem, aut particularem, qua inferiuse explicabimus
cum de earum oppositione dicemus.

De conditionali enuncialione

C a p V T 15

Conditionalis enunciado aut constat duabus simplicibus, ut, Si sol A


lucet dies est: aut pluribus, ut Si sol lucet, et in nostro hemisphaerio lucet,
Omnis conditionalis dies est, et apud nos est. Semper tamen duabus praecipuis constat par­
constat duabus par­
tibus, quarum altera dicitur antecedens, ea videlicet, quee proxime sequitur
tibus praecipuis.
coniunctionem Si, altera consequens, quee ex illa efficitur. Quae constat
duabus simplicibus, (nam reliquum genus, quia infinite augeri potest, omitti-

C 4 [1590] — Não tem esta cota marginal.


D 4-D 6 — coniungunt. Hcec si diligenter attendas, plane videbis nullius opposi­
tionis formam, praeterquam contradiciorice, omnis alia oppositio quantitatem aliquam
ex forma sua requirit.
D 6 — Nullius oppositionis forma pr (et er quam contradictor ice, coniunctis enun-
ciationibus convenit, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 197

C A qualidade essencial das enunciações, que dizemos afirmação e Qualidade das enun­
negação, convém também a todas estas comummente, mas de modo ciações conjuntas.
diferente das simples. As simples, efectivamente, dizem-se afirmativas
e negativas, porque os seus predicados se atribuem aos sujeitos ou se
removem dos mesmos; mas as conjuntas dizem-se afirmativas porque Afirmativas.
as conjunções são afirmativas, isto é, não se negam, e negativas porque Negativas.
se negam, quer se afirmem os predicados das simples, que em si se encer­
ram e se contêm, quer se neguem. Donde se infere que ambas estas
são afirmativas: se o sol brilha, é dia, se o sol não brilha não é dia;
mas ambas estas são negativas: não se o sol não brilha, não é noite,
não se o sol brilha, é noite. Fácilmente se perceberá isto nos restantes
géneros. Fazem-se, porém, tais enunciações negativas, prefixando-lhes
a partícula negativa no início de toda a enunciação, como se vê nos dois
exemplos anteriores.
Já a qualidade acidental, que consiste na significação da verdade
ou da falsidade, não há dúvida de que também convém às conjuntas,
pois elas participam da natureza da enunciação, que tem como qua­
lidade comum significar o verdadeiro ou o falso. São, portanto, também São verdadeiras ou
elas, verdadeiras ou falsas e, além disso, necessárias ou contingentes ou falsas, necessárias ou
contingentes ou im­
impossíveis.
possíveis.
D Mas, se se pretende atender à quantidade, não têm absolutamente As enunciações con­
nenhuma, de modo a dizerem-se universais, ou particulares, ou inde­ juntas carecem de
finidas, ou singulares, pois não enunciam algo de alguma ou de algumas quantidade.
coisas, mas só juntam as enunciações que fazem isso. Têm, contudo,
virtualmente, uma certa quantidade universal ou particular, que mais
abaixo e explicaremos, quando tratarmos da sua oposição. e Cap. 18.

Capítulo 15

Da enunciação condicional

A A enunciação condicional ou consta de duas simples, como: se


o sol brilha, é dia; ou de várias, como: se o sol brilha e brilha no nosso
hemisfério, é dia e está junto de nós. Consta sempre, porém, de duas Toda a condicional
partes principais, das quais uma se diz antecedente, isto é, aquela que consta de duas partes
principais.
antecede próximamente a conjunção se, e a outra, consequente, a qual
se infere daquela. A que consta de duas simples (pois omitimos o
género restante, visto que se pode aumentar infinitamente), ou consta
198 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

mus) aut constat utraque affirmativa, aut utraque negativa, aut antecedente
affirmativa, et consequente negativa, aut contra, ut Si sol lucet dies est:
Si sol non lucet, non esi dies: si dies est, non est nox: Si dies non est, nox
est. Qucc varietas complicationum ex simplicibus affirmativis, et nega­ B
tivis, ad copulativas etiam, et disiunctivas accommodari potest. Quomodo-
Nota, pro copulativis
et disiunctivis. cunque autem conditionales ex simplicibus conficiantur, dicunt Dialectici
Conditionalis est ali­ eas posse esse veras, etsi omnes simplices, ex quibus constant, sint falsee,
quando vera ex sim­ ut si dicas, Si homo habet alas, volare homo potest. Id quod proprium,
plicibus falsis.
Veritas conditionalis ac peculiare in hoc enunciationum genere ex eo est, quod eius veritas
in sola consequutio- in sola consequutione consistit: quo fit ut si consequutio sit bona, et apta,
ne consistit.
Conditionalis nihil enuntiatio ipsa sit vera, quocunque modo, quod ad veritatem, et falsi-
ponit. tatem attinet, partes se habeant. Hac de causa dicere solent Dia­
Num omnis conditio­
nalis vera sit necessa­ lectici conditionale nihil ponere, quia ut sit vera, nec antecedentis, nec
ria, [et falsa impossi­ consequentis veritatem requirit. Qua ex re illud etiam Dialectici colligunt C
bilis].
omnes conditionales veras, esse necessarias, et omnes falsas, impossi­
biles. Nam omnis bona consequutio est necessaria, ut aiunt, omnisque
vitiosa, impossibilis. Quod mihi non videtur usquequaque verum. Etenim
non modo multa conditionales ex futuris contingentibus probabiles censentur,
ut si diligenter operam navaveris, doctus evades, sed etiam ex prasentí tem­
Etiam contingentes
conditionales repe-
pore, ut si dicas Si qua mater est, diligit filium: qua enunciado, cum inter
riuntur. veros numeretur, non in eo veritatis gradu ponitur, ut dicatur falsa esse non
a Lib. 6. cap. 4. posse. Non tantum ergo necessaria, et impossibiles enunciationes condi­
tionales reperiuntur, sed contingentes etiam. Nec vero omnis bona con­
sequutio est necessaria, sed quadam etiam probabilis, ut posta dicemus. [Ita
patet quid requiratur ad veritatem conditionalium enunciationum. Quod
tamen intellege dictum de affirmativis, ex quibus nullo negotio veritas
negativarum colligitur. Nam cum in hoc genere semper affirmativa, et
[Quo pacto diiudi-
canda sit veritas in negativa, qua sola affirmatione, et negatione coniunctionis discrepant, sint
negativis conditio-
contradicentes, si conditionalis affirmativa fuerit vera, erit negativa falsa,
nalibus, et eseteris
coniunctis negativis]. si vero illa falsa fuerit, hac vera erit. Id quod etiam in copulativis, et D
Rationales et causa­
les revocantur ad con­
disiunctivis observandum est\. Revocantur autem ad conditionales primum
ditionales. rationales, ut Sol lucet, ergo dies est: Omnis homo est rationis particeps, et
Temporales, locales,
etc. mente captus est homo, igitur mente captus est rationis particeps. Deinde
causales, ut Quia sol lucet, dies est: Quia homo est ex elementis compositus,

B1-B 3 — Qua complicationes ex simplicibus affirmativis, et negativis, in copula­


tivis etiam, et disiunctivis spectari possunt. Quomodo autem cunque conditionales...
B 9-B 10 — Hac de causa dici solet conditionalis nihil ponere.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 199

de ambas elas afirmativas, ou de ambas negativas, ou de antecedente


afirmativa e de consequente negativa, ou ao contrário, como: se o sol
brilha é dia, se o sol não brilha não é dia; se é dia, não é noite; se não é
dia, é noite. Esta variedade de deduções de simples afirmativas e nega­
tivas também se pode aplicar às copulativas e disjuntivas.
B De qualquer modo, porém, que as condicionais se façam das sim­
ples, dizem os Dialécticos que elas podem ser verdadeiras, mesmo Nota quanto às copu­
que sejam falsas todas as simples de que constam, como se se disser: lativas e disjuntivas.
A condicional com­
se o homem tem asas, o homem pode voar. O que há de próprio e de posta de simples fal­
peculiar neste género de enunciações é que a sua verdade consiste só na sas é às vezes verda­
deira.
consequência, pelo que acontece que, se a consequência é boa e apta, A verdade da condi­
a própria enunciação é verdadeira, de qualquer modo que se comportem cional consiste só na
consequência.
as partes no que diz respeito à verdade e à falsidade. Por este motivo,
costumam dizer os dialécticos que a condicional nada põe, porque, para
A condicional nada
ser verdadeira, não requer a verdade nem do antecedente nem do conse- põe.
C quente. Daqui os Dialécticos deduzem também isto: todas as condicionais
verdadeiras são necessárias e todas as falsas são impossíveis. Efectiva­ Se toda a condicional
verdadeira é necessá­
mente, toda a boa consequência é necessária, como dizem, e toda a viciosa, ria, e a falsa impos­
impossível. Isto nem sempre me parece verdadeiro. Com efeito, não só sível.
são consideradas prováveis muitas condicionais de futuros contingentes,
tais como: se te entregares diligentemente ao estudo, tornar-te-ás douto;
mas também de tempo presente, como se se disser: se alguém é mãe,
ama o filho, enunciação esta que, embora se enumere entre as verdadei­
ras, não se põe num tal grau de verdade, que se diga não poder ser Há também condi­
falsa. Não só se observam, portanto, enunciações condicionais neces­ cionais contingentes.
sárias e impossíveis, mas também contingentes. Na verdade, nem
toda a boa consequência é necessária, mas alguma é também provável, a Livro VI, cap. 4.

como adiante a diremos.


Assim se vê claramente o que se requer para a verdade das enun­
ciações condicionais. Entenda-se, porém, que isto foi dito das afir­ De que modo se
deve julgar a ver­
mativas, das quais se colige a verdade das negativas sem nenhuma dade nas condicio­
dificuldade. Com efeito, como neste género são sempre contraditórias nais negativas e nas
restantes conjuntas
as afirmativas e negativas que diferem só na afirmação e negação da negativas.
conjunção, se a condicional afirmativa for verdadeira, será a negativa Reduzem-se às con­
dicionais as racio­
falsa, mas se aquela for falsa, esta será verdadeira. Isto deve obser- nais e as causais.
var-se também nas copulativas e disjuntivas. Temporais, locais,
etc.
D Reduzem-se, porém, às condicionais primeiramente as racionais,
como: o sol brilha, logo é dia; todo o homem é dotado de razão, o
demente é homem, logo o demente é dotado de razão; depois, as causais,
como: porque o sol brilha, é dia; porque o homem é composto de ele­
mentos, pode morrer. Igualmente [se reduzem às condicionais] aquelas
200 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER III

mori potest. Item ilice, quas vocant temporales, locales, et id genus alice,
ut Cum sol lucet dies est: Obi sol lucet dies est: Quo semel est imbuta recens
servabit odorem testa diu: Quibuscum vixeris, eorum mores imitaberis:
et cceterce huiusmodi. Sed quod ad rationales, et causales attinet (alice E
enim fere negliguntur) illud advertendum est, ad veritatem rationalis,
prceter bonam consequentiam, requiri veritatem antecedentis, [et (quce
Quid requiratur ad
veritatem rationalis, ex ea sequitur) consequentis]: ad veritatem autem causalis, ultra hcec duo,
et causalis.
opus esse, ut in antecedente sit vera causa consequentis: modo enunciatio
proprie causalis sit. Scepe enim in sensu rationalis usurpatur, ut si dicas,
Quia Socrates est homo, est animal, velisque significare, ex eo quod
Socrates est homo, consequi ut sit animal. Ita fit ut hce rationales non
sint verce, Socrates est homo, ergo est philosophus: Socrates est lapis,
ergo est sensus expers: prior quidem quia consequutio est vitiosa, posterior
vero quia et consequutio est apta, et bona, tamen antecedens non est
verum. Fit etiam, ut hce sint falsee, Quia sol lucet, Socrates dormit:
Quia sol est ignis, calefacere potest: Quia sol deficit, luna interponitur
inter nos, et ipsum: prima quia consequutio non est bona: secunda, quia
antecedens non est verum: tertia, quia in antecedente non est causa conse­
quentis, sed potius effectus. Quia enim luna interpositu suo nobis tegit
solem, iccirco sol apud nos deficit, non autem quia [sol] deficit ideo
Luna interponitur.

De copulativa enunciatione
Copulativa non ha­
bet certum numerum C a p V T 16
partium principa­
lium.
Copulativa enunciatio non habet certum numerum partium principa- A
Ilum, ut conditionalis, sed potest quotquot volueris principalibus constare,
ut si dicas, Socrates philosophus est, et bonus vir est, et Platonis magister,
et certera. Huius generis enunciatio vera esse non potest, nisi omnes B

E 7 — est animal, volens significare.


E10-E12 — posterior non quia vitiosa sit consequutio, cum sit apta, et bona, sed
quia antecedens non est verum.
E18 ■— Luna interponitur. Hcec vero, quce dicimus de diiudicanda veritate, inte-
lligendum est in affirmativis. Nam negantium veritas ex affirmativis colligi poterit.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 201

a que se dá o nome de temporais, locais, e outras deste género, como:


quando o sol brilha, é dia, onde o sol brilha é dia; aonde uma vez foi
embebido um vaso [de barro] fresco, conservará o odor durante muito
tempo; imitarás os costumes daqueles com quem viveres; e as restantes
E deste modo. Mas, no que diz respeito à verdade das racionais e das
causais (pois as outras quase se desprezam), deve advertir-se que
Que se requer para
para a verdade da racional se requer, além da boa consequência, a ver­ a verdade da racio­
dade do antecedente e a do consequente (que se segue daquela); para nal e da causal.
a verdade da causai, além destas duas coisas, é necessário que no
antecedente se encontre a verdadeira causa do consequente, desde que
a enunciação seja propriamente causal. Muitas vezes, efectivamente,
usa-se [uma enunciação] no sentido racional, como se se disser: porque
Sócrates é homem, é animal, querendo significar que, do facto de Sócrates
ser homem, se segue que é animal. Assim acontece que estas racionais
não são verdadeiras: Sócrates é homem, portanto é filósofo; Sócrates
é pedra, logo é desprovido de sentidos. A primeira porque é viciosa a
consequência, a segunda porque, embora a consequência seja apta e boa,
todavia o antecedente não é verdadeiro. Acontece também que estas
são falsas: porque o sol brilha, Sócrates dorme; porque o sol é fogo,
pode aquecer; porque o Sol se eclipsa, a Lua interpõe-se entre nós e ele.
A primeira porque a consequência não é boa; a segunda porque o ante­
cedente não é verdadeiro; a terceira porque no antecedente não está
a causa do consequente, mas antes o efeito. Na verdade, porque a
Lua, com a sua interposição, nos oculta o Sol, é que o Sol se eclipsa
para nós, e não é porque o Sol se eclipsa que a Lua se interpõe.

Capítulo 16

Da enunciação copulativa A copulativa não


tem número certo
A A enunciação copulativa não tem número certo de partes principais, de partes principais.
como a condicional, mas pode constar de quantas principais se quiser,
como se se disser: Sócrates é filósofo e é bom homem e mestre de
Platão etc.
B A enunciação deste género não pode ser verdadeira se não forem ver-

Cum enim affirmativa?, et negativce semper in hoc genere sint contradicentes, si affir­
mativa fuerit vera, erit negativa falsa, si vero illa falsa fuerit, hcec vera erit. Id quod
etiam in copulativis et disiunctivis observabis.
202 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

ad simplices, ex quibus constat, sint ver ce. Ex quo efficitur, ut data


quacunque simplici falsa, tota copulativa indicetur falsa. Est item
Quid requiratur copulativa, tum necessaria, tum contingens, tum etiam impossibilis. Neces- C
sit
veritatem copula­
tivae. saria quidem cum omnes eius partes sunt necessarice, ut Deus est summum
Necessaria, qua: bonum, et peccatum est summum malum. Contingens autem, cum omnes D
Contingens. partes sunt contingentes, aut earum aliqua, et nulla impossibilis, modo par­
tes ipsae inter se non pugnent, ut Socrates est philosophus, et est vir bonus:
Deus est summum bonum, et Socrates est iustus. Nam si aliqua sit impos­
sibilis, aut ipsce partes [invicem] repugnent, non contingens, sed impos­
sibilis iudicanda erit, ut si dicas, Socrates est lapis, et Plato philosophatur:
Impossibilis.
Socrates sedet, et item deambulat. Impossibilis vero est, si vel aliqua E
pars est impossibilis, vel ipsce inter se partes sunt repugnantes, ut patet in
proximis exemplis. [Illud autem attendendum est hoc loco, etsi ad copu­
landas duas simplices enunciationes una tantum copulativa coniunctio
sufficiat, eleganter tamen, et scepe non parum utiliter adhiberi duas, ut si
dicas, et Socrates loquitur, et Plato audit. Dico autem non parum utili­
ter, propter negativas. Nec enim erque perspicue, et absque ambiguitate
loquitur, qui negat propositam copulativam hoc pacto, Non Socrates loqui­
Quae revocentur tur, et Plato audit, atque is, qui hoc modo, Non et Socrates loquitur, et
copulativas. ad Plato audit. Quod idem in disiunctivis observandum est]. Revocantur

porro ad copulativas adversativee enunciationes, ut Socrates fuit piloso-


phus, sed veram sapientiam fortasse non est assequutus, et alice similes.
Quin etiam rationales ea ex parte ad copulativas revocantur, qua simul
ponunt antecedens, et consequens. Causales vero non tantum hac ratione,
sed etiam quatenus astruunt in antecedente contineri causam consequentis.
a Cap. 20. [Imo vero rationales, et causales videntur qucedam copulativa: conflator
saltem ex singulis conditionalibus, et aliis quibusdam enunciationibus, ut
inferius patebit a. Quanquam ideo revocari solent ad conditionales, quia
magis pree se ferunt formam earum conditionalium, quas ut prorcipuas
partes includunt]. Item forsitan dicendum est de temporalibus, localibus,
et similibus, quee supra ad conditionales revocator sunt.

B 3—simplici falsa, ipsa tota capulativa falsa iudiceiur...


C1-C 2 — Necessaria quiclem si omnes...
DI — Contingens autem, si omnes...
D5 — aut ipsce inter se partes...
E JO-E11 — Revocantur etiam ad copulativas alice pennultce enunciationes, ut
adversativee, et in quibus comparationes fiunt, et alice id genus, veluti si dicas,
Socrates fuit...
E12-E13 — assequutus, Quales principes sunt, talis fere est populus. Quin
etiam...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 203

dadeiras todas as simples de que consta. De onde se segue que, dada Q u e sc requer para
qualquer simples falsa, toda a copulativa é considerada falsa. A copula- a verdade da C°PU-
tiva é também não só igualmente necessária e contingente, mas também
C impossível. E necessária, quando todas as suas partes são necessárias,
D como: Deus é o sumo bem e o pecado o sumo mal. É contingente, Qual é necessária,
quando todas as partes ou alguma delas são contingentes, e nenhuma Contingente.
impossível, de modo que não pugnem as próprias partes entre si,
como: Sócrates é filósofo e é bom homem; Deus é o sumo bem, e Sócra­
tes é justo. Na verdade, se alguma é impossível, ou as próprias partes
repugnam entre si, deverá ser considerada não contingente, mas impossí­
vel, como se se disser: Sócrates é pedra e Platão filosofa; Sócrates
E está sentado e caminha também. É impossível, se ou alguma parte é Impossível,
impossível ou as próprias partes são repugnantes entre si, como se mostra
nos exemplos antecedentes.
Deve atender-se, porém, neste lugar, a que, embora para copular
duas enunciações simples baste uma só conjunção copulativa, contudo,
elegantemente, e muitas vezes não pouco utilmente, empregam-se
duas, como se se disser: e Sócrates fala e Platão ouve. Digo, defacto,
não pouco utilmente, por causa das negativas. Com efeito, não fala
com igual clareza e sem ambiguidade aquele que nega a copulativa
proposta deste modo: não Sócrates fala e Platão ouve, e aquele que a
nega deste modo: não e Sócrates fala e Platão ouve. O mesmo se deve
observar nas disjuntivas.
Reduzem-se às copulativas as enunciações adversativas, como: As que se reduzem
Sócrates foi filósofo, mas talvez não tenha adquirido a verdadeira às copulatlvas·
sabedoria, e outras semelhantes. Além disso, também as racionais se
reduzem às copulativas, dada a circunstância de porem simultánea­
mente o antecedente e o consequente. Mas as causais não só por
esta razão, mas também enquanto indicam que no antecedente está
contida a causa do consequente. Racionais e causais parecem ainda
certas copulativas constituídas de uma condicional pelo menos cada
uma, e algumas outras enunciações, como abaixo a se verá. Entretanto, a CaP· 20·
costumam reduzir-se às condicionais, porque manifestam mais a forma
das condicionais, que incluem, como partes principais. O mesmo deverá
talvez dizer-se das temporais, locais e outras semelhantes, as quais acima
foram reduzidas às condicionais.

E13-E14 — revocantur, qua absolute ac simul, ponunt partem antecedentem et


consequentem. Causales...
E20-E21 — Alice sunt etiam conditionales supra memorata:, quee aliqua ex parte
ad copulativas redigantur: ut temporales, locales, et ccetera huiusmodi.
204 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

De disiunctiva enunciatione
C a p VT 17

Disiunctiva quoque enunciatio nullum habet principalium partium A


certum numerum. Potest enim quotquot etiam volueris prcecipuis par-
Etiam disiunctiva tibus constare, ut si dicas, Hoc animal aut. est album, aut est nigrum, aut
non habet certum
numerum partium coerulei coloris, aut lutei, et ccetera. Ut autem disiunctiva sit vera, iuxta B
principalium. veterum quidem sententiam una tantum eius pars vera esse debet: quo fit
Quid requiratur ad
veritatem disiun- ut falsa dicatur, vel cum omnes sunt falsa, vel cum omnes verce a. Exempli
ctivas. causa hcec est vera, Socrates aut loquitur, aut non loquitur, quia una eius
a Cicero in top.
Gelli li. 16. D. Th. pars, atque adeo sola, est vera: hce autem ambce sunt falsce, Socrates aut
loco supra citato. est lapis, aut est planta: Socrates aut est animal, aut est homo: prior
quidem, quia utraque pars est falsa, posterior, quia utraque vera. Ratio
huius rei est, quia cum disiunctiva disiungat sententias, illud opus esse
videtur, ut simplices enunciationes, ex quibus disiunctio constat, sint
repugnantes, atque ita plures una verce esse non possint. Quare aut omnes
erunt falsce, aut si plures una fuerint verce, non respondebit res disiunctioni:
utroque modo disiunctio erit falsa. Itaque si dixeris Socrates est homo,
aut est rationis particeps, falsam protuleris enunciationem, quia ipsa
Recentiorum sen­ disiunctio ex natura sua significat alterum duntaxat ex his duobus attributis
tentia. Socrati convenire, quod [quidem] asserere falsum est. Recentiores C
tamen dicunt disiunctivam esse veram, si vel una, vel plures una, aut etiam
omnes partes, sint verce: falsam vero nunquam nisi omnes partes sint falsce.
Atque hoc pacto dicunt has enunciationes esse veras: Aut Socrates est
homo, aut est rationis particeps: Aut deambula, aut movetur loco: Aut
Conciliatio recentio­ Plato est ad risum aptus, aut Bucephalus ad hinnitum: quas tamen veteres
rum cum veteribus.
dicunt esse falsas. Mihi vero hoc modo videtur dirimenda controversia, D
veteres quidem accommodatius ad naturam disiunctionis loquutos fuisse
(<disiunctio enim ex forma sua videtur significare, plures partes una veras
non esse ) iuniores autem generalem loquendi usum magis spectasse.
Solent enim disiunctiones huiusmodi [concedí], Aut Demosthenes perfectus
Orator fuit, aut Cicero, aut certe nullus: Aut Miloni Clodius insidias

D 2-D 3 — Veteres accomodatius ad naturam disiunctionis loquuit sunt, (cota


marginal).
D 3-D 4 — significare, plus una parte veram non esse)...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 205

Capítulo 17

Da enunciação disjuntiva
A A enunciação disjuntiva também não tem número certo de partes
principais, pois pode também constar de tantas partes principais quantas Também a disjuntiva
se quiser, como se se disser: este animal ou é branco ou é negro ou não tem número cer­
é de cor azul ou [da cor] do barro, etc. to de partes princi­
pais.
B Para que a disjuntiva seja verdadeira, segundo a opinião dos antigos,
deve ser verdadeira só uma das suas partes; donde resulta que se diga Que se requer para
a verdade da disjun­
ser falsa quer quando todas são falsas, quer quando todas são verdadei­
tiva.
ras a. Por exemplo, é verdadeira esta: Sócrates ou fala ou não fala,
a Cícero, nos
porque uma sua parte, e só ela, é verdadeira; são, porém, falsas estas Tópicos; Gélio,
duas: Sócrates ou é pedra ou planta; Sócrates ou é animal ou homem. livro XVI:
A primeira porque ambas as partes são falsas, a segunda porque ambas S. Tomás, no lugar
acima citado.
são verdadeiras. A razão disto está em que, como a disjuntiva distingue
as sentenças, parece haver necessidade de que sejam repugnantes as enun­
ciações simples de que consta a disjunção, de tal modo que as verdadei­
ras não possam ser mais do que uma. Por isso, ou todas serão falsas,
ou, se mais do que uma for verdadeira, a realidade não corresponderá à
disjunção, e, por conseguinte, de ambos os modos, a disjunção será
falsa. Portanto, se se disser: Sócrates é homem ou é dotado de razão,
faz-se uma enunciação falsa, porque a própria disjunção significa de
sua própria natureza que um só destes dois atributos convém a Sócrates,
Opinião dos moder­
C e afirmar isto é falso. Os modernos, porém, dizem que a disjuntiva é nos.
verdadeira, se uma, ou mais do que uma, ou mesmo todas as partes
são verdadeiras; mas nunca é falsa, a não ser que todas as partes sejam
falsas. Assim, portanto, dizem que são verdadeiras as enunciações
seguintes: Sócrates ou é homem, ou é dotado de razão; ou caminha,
ou se move no lugar; ou Platão é capaz de riso, ou Bucéfalo de relincho.
D Os antigos dizem que estas são falsas. Quanto a mim parece-me que
se deve dirimir a controvérsia deste modo: os antigos falaram, na
verdade, mais em conformidade com a natureza da disjunção (a disjun­
ção, com efeito, parece significar, pela sua forma, que não é verdadeira Conciliação dos mo­
dernos com os anti­
mais do que uma parte); os modernos, porém, atenderam mais ao modo gos.
geral de falar. Com efeito, costumam ser permitidas disjunções deste
teor: ou Demóstenes foi um orador perfeito, ou Cícero, ou certamente
nenhum; ou Clódio preparou insídias a Milão, ou Milão a Clódio —
costumam, digo, ser permitidas como verdadeiras por aqueles que con­
fessam que Demóstenes foi um orador perfeito e Cícero também, e do
206 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

fecit, aut Clodio Milo solent inquam concedi ab iis, qui fatentur, et Demos­
thenem perfectum oratorem fuisse, et Ciceronem, itemque Miloni Clodium,
et Clodio Milonem mutuas parasse insidias. Quoniam igitur communis
loquendi usus in oratione non est aspernandus, non videtur recentiorum
sententia omnino repudianda. [Quin etiam in iis, quce de oppositione
disiunctivarum dicemus, magno nobis erunt usui disiunctivce ab illis appro­
Obiectio. batae, ac traditce]. Quod si quis obiiciat, eum, qui ita loquitur, Aut Socra­
tes est homo, aut rationalis, hoc modo corrigi solere, Imo vero et est homo,
et rationalis, nec alia de causa, nisi quia falsam profert disiunctionem:
Solutio. occurrendum est, eum, qui sic loquitur, corrigi, non quod falsam pronunciei
disiunctionem, sed quod ineptam, et ridiculam. Ineptum est enim, ac ridicu­
lum prcesertim in communi sermone [(quo scepe non tam attenditur quid vere
dicatur, quam quid usitate)] extruere disiunctionem ex enunciationibus
necessariis, aut necessario connexis. Id quod in hoc disiunctionum genere,
Occurritur alteri quod recentiores amplectuntur, diligenter cavendum est. Nec tamen E
obiectioni. idcirco fuerit necessarium, ut ex simplicibus repugnantibus inter se omnis
Explicatur sensus dis-
iunctionis. disiunctio struatur, quia cum dicimus, Aut est hoc, aut est illud, non semper
volumus significare, aut hoc tantum, aut illud tantum esse verum, sed
scepe ita loquimur, ut saltem hoc verum esse, aut saltem illud declaremus.
Quo pacto dubium non est, quin, tota disiunctio ex partibus [non solum]
non repugnantibus, sed etiam simul veris, vera esse possit. In hoc enun-
dationum genere, quemadmodum in superioribus, non solum necessarice,
et impossibiles enunciationes reperiuntur, sed etiam contingentes. Nam F
Necessarias disiun- ilice necessarice dicendce sunt, quce constant ex duabus contradicentibus,
ctiones. aut ex iis, quce ad contradicentes reduci possunt: ut, [Aut] Socrates loquitur,
aut non loquitur: [Aut] Socrates est grammaticus, aut non habet artem
emendate loquendi, et scribendi: [Aut] Animal est homo, aut est bestia.
Itemque ilice, quarum omnes partes, aut una, sunt necessarice: ut Socrates
est homo, aut non est lapis: Socrates est homo, aut non est grammaticus:
Socrates est homo, aut est lapis. Quanquam ilice, quarum omnes partes
Contingentes. sunt necessarice, quia ridiculce sunt, extrui non debent, uti diximus. Con­
tingens est cuius omnes partes, aut aliqua sunt contingentes, non ita tamen
ut sint contradicentes, aut ad contradicentes revocari possint, aut aliqua
earum sit necessaria, ne tota disiunctio sit necessaria, ut nunc diximus.

D7 — inquam ut ver ce concedi ab iis...


D 10-D 11 — aspernandus, recentiorum sententia non videtur omnino ex parte
repudianda.
D 20-D 21 — disiunctionum ratione, quam recentiores...
E 7 — non repugnantibus, atque adeo simul veris...
F 5 — Animal aut est homo, aut est bestia.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 207

mesmo modo, que Clódio e Milão se prepararam mútuas insídias.


Portanto, visto que o modo comum de falar não é de rejeitar na oração,
a opinião dos modernos não parece dever ser rejeitada em absoluto.
E, além disso, naquilo que havemos de dizer acerca da oposição das
disjuntivas, faremos grande uso das disjuntivas aprovadas e ensinadas
por eles.
Mas, se alguém objectar que quem fala assim: ou Sócrates é Objecção.
homem, ou racional, costuma corrigir-se deste modo: antes, é homem
e racional, e nem por outra causa senão porque profere uma disjunção
falsa; deve responder-se que quem assim fala é censurado não porque
Solução.
pronuncia uma disjunção falsa, mas inepta e ridícula. Efectivamente,
é inepto e ridículo, principalmente no falar comum (no qual muitas
vezes não se atende tanto ao que se diz segundo a verdade como ao
que se diz segundo o uso) construir uma disjunção de enunciações
necessárias ou conexas necessàriamente. Deve evitar-se isto diligente- Respondc-se a outra
E mente neste género de disjunções, que os modernos preconizam. Mas objecção.
nem por isso seria necessário que se construísse de simples repugnantes Explica-se o sentido
da disjunção.
entre si toda a disjunção, porque, quando dizemos: ou é isto ou é aquilo,
não queremos significar sempre que ou só isto, ou só aquilo é verdadeiro,
mas, muitas vezes, falamos assim para declararmos que isto pelo menos
é verdadeiro, ou que aquilo pelo menos é verdadeiro. Posto isto, não
há dúvida de que a disjunção toda, constante de partes não só não
repugnantes mas também simultaneamente verdadeiras, pode ser
verdadeira.
Neste género de enunciações, tal como nas anteriores, notam-se enun­ Disjunções necessá­
ciações não só necessárias e impossíveis, como também contingentes. rias.
F Com efeito, devem dizer-se necessárias aquelas que constam de duas
contraditórias ou daquelas que se podem reduzir a contraditórias,
como: Sócrates ou fala, ou não fala; Sócrates ou é gramático, ou não tem
a arte de falar e escrever correctamente; o animal ou é homem, ou é bruto.
Igualmente, [devem dizer-se necessárias] aquelas cujas partes são todas,
ou uma só, necessárias, como: Sócrates é homem, ou não é pedra;
Sócrates é homem, ou não é gramático; Sócrates é homem, ou é pedra.
Todavia, aquelas cujas partes são todas necessárias, porque são ridículas,
não se devem fazer, como dissemos. Contingente é aquela cujas partes Contingentes.
são todas, ou alguma, contingentes, não, contudo, de tal maneira que
sejam contraditórias ou se possam reduzir a contraditórias, ou alguma
delas seja necessária, para que não seja necessária toda a disjunção,
208 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Exempla contingentium hcec sunt, Aut hcec mulier huius pueri mater non
est, aut illum diligit: Aut hic adolescens lapis est, aut [longa exercitatione]
Impossibiles. doctus evadet. Impossibiles sunt, quarum omnes partes sunt impossibiles,
ut Socrates aut est lapis, aut est lignum. [Hcec de natura, disiunctione, ac
veritate coniunctarum enunciationum: nunc de earum oppositione, et
cequipollentia dicamus].

[De oppositione contradictoria coniunctarum, et quo pacto


in eis reperiantur reliqua oppositiones * *
Ca p V T 1 8

Solam contradictio­ Quod ergo ad earum oppositionem attinet, illud principio animad- A
nem formaliter repe-
riri in coniimctis.
vertendum est solam contradictionem formaliter reperiri in hoc enuncia-
tionum genere. Enunciationes enim formaliter contrarice debent esse
universales, subcontrarice vero particulares: coniunctce autem nec sunt for­
maliter universales, nec particulares, imo etiam nec indefinitce, aut sin­
gulares, nec simpliciter tales appellari solent, ut perspicuum est. Cuius
rei causa ea esse videtur,quia non enunciant aliquid de aliquo, aut aliquibus,
sed solum enunciationes, quce id efficiunt coniungunt. At vero ut enun­
ciationes sint formaliter contradicentes, et simpliciter tales appellentur,
non est opus ut sint universales, aut particulares, aut indefinitce, aut sin­
gulares: sed hoc tantum ex ipsa contradictionis forma requiritur, ut sola
negatione prceposita differant, hoc est, ut una habeat negationem prcepo-
sitam altera minime, quoad reliqua vero sint omnino ecedem. Nam ut
est commune Dialecticorum proloquium, non verius contradicitur {adde
etiam, nec formalius) quam cum affirmationi negatio prceponitur. Hoc
autem luce clarius est non minus accidere in coniunctis enunciationibus,
quam in simplicibus, ut si dicas, Si homo est animal, est sensus particeps,
Non Si homo est animal est sensus particeps: Et Socrates est philosophus,
et Plato est philosophus, Non et Socrates est philosophus, et Plato est
philosophus: Aut Plato fallitur, aut Aristoteles fallitur: Non aut Plato
fallitur, aut Aristoteles fallitur. Ita patet solam oppositionem contradicto­
riam formaliter convenire coniunctis enunciationibus et quo pacto illis
conveniat, neque solum dari posse in hoc enunciationum genere contradi­
centium condutiones sive leges, sed etiam propriam, et formalem contra-

F14 — aut ipsum diligit...


* A edição de 1564 não contém as matérias tratadas nos capítulos 18, 19, 20,
21 e 22 da edição que seguimos (1575). Os capítulos 23, 24, 25, 26 e 27 desta última
edição correspondem aos capítulos 18, 19, 20, 21 e 22 daquela.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 209

como agora dissemos. São exemplos de contingentes estas: ou esta


mulher não é mãe deste menino, ou o ama; ou este adolescente é pedra,
ou mediante longo trabalho se tornará douto. Impossíveis são aquelas Impossíveis.
cujas partes são todas impossíveis, como: Sócrates ou é pedra ou é
madeira.
Dissemos isto da natureza da disjunção e da verdade das enuncia­
ções conjuntas. Falemos agora da sua oposição e equipolencia.

Capítulo 18

Da oposição contraditória das conjuntas e do modo como


se encontram nelas as oposições restantes
A Pelo que diz respeito à oposição destas, deve advertir-se de princípio Só se encontra a con­
tradição formalmente
que só se encontra formalmente a contradição neste género de enunciações. nas conjuntas.
Com efeito, as enunciações formalmente contrárias devem ser univer­
sais; as subcontrárias, porém, particulares. Ora as conjuntas nem são
formalmente universais nem particulares, nem indefinidas ou s ngulares,
nem se costumam chamar simplesmente tais, como é claro. A causa
disto parece ser esta: é que não enunciam algo de alguma coisa ou de
algumas coisas, mas apenas conjugam enunciações que o fazem. Con­
tudo, para que as enunciações sejam formalmente contraditórias, e se
chamem simplesmente tais, não é necessário que sejam universais ou par­
ticulares ou indefinidas ou singulares; mas só se requer, em virtude da
própria forma da contradição, o seguinte: que difiram somente na negação
preposta, isto é, que uma tenha preposta a negação e a outra não, quanto
ao resto, porém, que sejam absolutamente idênticas. Com efeito, como é
proloquio comum aos dialécticos, não há contradição mais verdadeira­
mente (acrescente-se também: nem mais formalmente) do que quando se
prepõe a negação à afirmação. É mais claro que a luz, porém, que isto
se não verifica menos nas enunciações conjuntas do que nas simples,
como se se disser: se o homem é animal, é dotado de sentidos, não se
o homem é animal é dotado de sentidos; e Sócrates é filósofo, e Platão é
filósofo, não e Sócrates é filósofo, e Platão é filósofo; ou Platão se engana
ou Aristóteles se engana, não ou Platão se engana ou Aristóteles se
engana. Assim se torna evidente que só a oposição contraditória con­
vém formalmente às enunciações conjuntas e de que modo lhes convém,
e nem só se não podem dar neste género de enunciações contraditórias
condições ou leis, mas nem mesmo a razão própria formal da contra-
210 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

dictionis rationem. Atque ob ea quce dicta sunt nulla alia oppositionis


forma, prceter quam contradictionis, tributa est a nobis in prima editione
coniunctis enunclationibus. Verum ne quis inde re parum considerata B
cum errorem imbilat, ut putet, ne eo quidem modo posse coniunctas enuncia-
tiones constitui, ut in eis serventur leges contrariarum, et sub contrariarum,
ea operce pretium erit addere hoc loco, quce ne novitios gravaremus in libros
de Interpretatione distuleramus, prcesertim cum. omnia quce hactenus de
coniunctis enunciationibis dicta sunt, in libros de Interpretatione differri
soleant, ad quos hcec potiori ratione servari possunt. Adverte igitur con­
iunctas enunciationes etsi non sunt for malit er contrarice, aut subcontrarice,
tamen dici posse contrarias, et subcontrarias virtute seu de lege, ut
a quibusdam vocantur. Cuius rei ratio duplex est. Una quia etsi non
sunt formaliter universales, aut particulares: tamen in omnibus earum
generibus inveniuntur universales, et particulares virtute. Nam condi-
tionalis affirmativa supponit aliquam universalem simplicem, in qua
fundetur, ut illa, Si homo est animal, est sensus particeps, supponit hanc,
Omne animal est sensus particeps. Copulativa vero affirmativa ex natura
sua cequipollere potest uni simplici universali quo pacto illa, Et Socrates
est philosophus, et Plato est philosophus, cequipollet huic, Uter que horum
hominum est philosophus. Denique disiunctiva affirmativa cequipollere
potest suapte natura uni simplici, quo pacto illa, Aut Plato fallitur, aut
Aristoteles fallitur, cequipollet huic, Alter horum hominum fallitur.
Unde fit ut quoniam praeposita negatione universales fiunt particulares, et
particulares universales, in omnibus generibus coniunctarum dari possint
universales, et particulares virtute. Altera ratio est, quia ita possunt
coniunctce enunciationes constitui, ut in eis reperiantur conditiones, sive
leges contrariarum, et subconlrariarum, ut ex progressu patebit].

[De contraria et subcontraria coniunctarum oppositione


simulque de subalternis
C a p V i 19

Coniunctce igitur enunciationes prcedicto modo contrarice, et subcontrarice A


{adde etiam subalternas, quoniam earum explicatio coniuncta est cum
tractatione contrariarum, et sub contrariarum) duobus documentis constitui
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 211

dição. Em virtude do que fica dito, nenhuma outra forma de oposição,


além da contradição, foi dada por nós às enunciações conjuntas na
primeira edição.
B Mas para que ninguém, atentando pouco no assunto, vá meter
na cabeça o erro de julgar que por este modo se não podem cons­
tituir enunciações conjuntas, de modo a observarem-se nelas as leis das
contrárias e das subcontrárias, valerá a pena ajuntar neste lugar as
coisas que, para não sobrecarregarmos os iniciados, tínhamos guardado
para os livros Da Interpretação, principalmente porque tudo o que até
agora se disse acerca das enunciações conjuntas costuma reservar-se
para os livros Da Interpretação, onde estes assuntos se podem arqui­
var com mais razão. Note-se, portanto, que as enunciações conjun­
tas, mesmo que não sejam formalmente contrárias ou subcontrárias,
podem, contudo, dizer-se contrárias e subcontrárias por virtude ou por lei,
como são chamadas por alguns. A razão disto é dupla: a primeira é
porque, mesmo que não sejam formalmente universais ou particulares,
contudo em todos os seus géneros se encontram universais e particulares
virtuais. Com efeito, a condicional afirmativa supõe alguma universal sim­
ples, na qual se funde, como esta: se o homem é animal, é dotado de sen­
tidos, supõe esta: todo o animal é dotado de sentidos. A copulativa afir­
mativa de sua natureza pode equivaler a uma simples universal; assim
esta: e Sócrates é filósofo, e Platão é filósofo, equivale a esta: ambos
estes homens são filósofos. Finalmente, a disjuntiva afirmativa pode
equivaler de sua própria natureza a uma simples; assim esta: ou Platão se
engana, ou Aristóteles se engana, equivale a esta: ambos estes homens se
enganam. Donde se infere que, pelo facto de, com a anteposição da nega­
ção, as universais se tornarem particulares e as particulares universais,
em todos os géneros das conjuntas se podem dar universais e particulares
virtuais. A segunda razão está em que de tal maneira se podem cons­
tituir as enunciações conjuntas que nelas se encontram as condições ou
as leis das contrárias e das subcontrárias, como se tornará evidente pelo
estudo subsequente.

C a p í t u l o 19

Da oposição contrária e subcontrária das conjuntas e,


simultáneamente, das subalternas
A Portanto, as enunciações conjuntas do supradito modo, contrárias
e subcontrárias (acrescentem-se também as subalternas, visto que a sua
explicação anda junta ao tratado das contrárias e das subcontrárias),
212 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

possunt in omnibus coniunctarum generibus uno generali, et singulis spe­


cialibus. Generale documentum sit, In conditionalibus quidem, et copula­
Generale documen­
tum. tivis, opus esse ut contrarice, et subalternantes sint affirmaiivce, subcontrarice
vero, et subaltérnate negative: at in desiunctivis contra omnino rem
habere oportere. Hoc documentum non solum, ex sublidendis descriptio­
nibus plane constabit, sed etiam ex dictis colligitur. Dictum est enim in
conditionalibus affirmativas esse virtute universales, negativas autem
particulares: contraque rem habere in disiunctivis: constat autem ubique
Documentum pro contrarias, et subalternantes esse universales, subcontrarias autem, et
conditionalibus. subalternatas particulares. Speciale documentum pro conditionalibus B
sit huiusmodi. In conditionalibus, non modo contrarias, sed etiam sub-
contrarias, et subalternas constare debere eodem antecedente, et con­
trario, aut contradictorio consequente, ut in his descriptionibus cernis.

Descriptio oppositarum conditionalium constantium


ex simplicibus singularibus

Si Socrates est homo, Socrates est ani­ Si Socrates est homo, Socrates non est
mal. \/ animal.
/\ Non si Socrates est homo, Socrates est
Si Socrates est homo, Socrates non est
animal. animal.

Descriptio constantium ex simplicibus communibus


contrariorum consequentium
Si omnis homo est animal omnis homo. .Si omnis homo est animal nullus homo
est sensus particeps. est sensus particeps.
Non si omnis homo est animal, nullus' 'Non si omnis homo est animal, omnis
homo est sensus particeps. homo est sensus particeps.

Descriptio constantium ex simplicibus communibus


contradictoriorum consequentium
Si omnis homo est animal, omnis homo est Si omnis homo est animal aliquis
sensus particeps. \/ homo est sensus particeps.
Non si omnis homo est animal, aliquis
/\ Non si omnis homo est animal omnis
homo non est sensus particeps. homo est sensus particeps.

B 1-B 2 {1590\ — Não tem cota marginal.


B 9 [1590\ —■ Non si Socrates est homo, Socrates non est...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 213

podem constituir-se segundo duas regras, em todos os géneros das


conjuntas: uma geral e uma especial para cada uma.
A regra geral nas condicionais e nas copulativas é esta: é necessário Regra geral,
que as contrárias e as subalternantes sejam afirmativas, as subcontrárias
e as subalternadas negativas; mas, nas disjuntivas, é necessário que as
coisas se passem absolutamente ao contrário. Esta regra constará
claramente não só das descrições que se devem seguir, mas também
se infere do que foi dito. Ficou dito, efectivamente, que nas condicio­
nais há afirmativas virtualmente universais, e negativas particulares,
e que as coisas se passam ao contrário nas disjuntivas. Ora consta
que as contrárias e as subalternantes são sempre universais e as subcon­
trárias e as subalternadas particulares.
B A regra especial para as condicionais é esta: nas condicionais, não Regra para as cen­
só as contrárias, mas também as subcontrárias e as subalternas devem ^icionais.
constar do mesmo antecedente e de consequente contrário ou contra­
ditório, como se vê nestes quadros.

Quadro das opostas condicionais que constam de


singulares simples
Se Sócrates é homem, Sócrates é Se Sócrates é homem, Sócrates não
animal. \/ é animal.
So Sócrates é homem, Sócrates não
/\ Não se Sócrates é homem, Sócrates
é animal. é animal.

Quadro das que constam de comuns simples de consequentes


contrários
Se todo o homem é animal, todo o. Se todo o homem é animal, nenhum
homem é dotado de sentidos. homem é dotado de sentidos.
Não se todo o homem é animal, ne- Não se todo o homem é animal, todo
nhum homem é dotado de sen- o homem é dotado de sentidos,
tidos.

Quadro das que constam de comuns simples de consequentes


contraditórios
Se todo o homem é animal, todo o Se todo o homem é animal, algum
homem é dotado de sentidos. homem é dotado de sentidos.
Não se todo o homem é animal, algum Não se todo o homem é animal, todo
homem não é dotado de sentidos. o homem é dotado de sentidos.
214 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Quod enim in affirmativis, quas ponimus contrarias, serventur leges C


contrariarum ex eo patet, quia etsi possunt esse simul falsee, ut patet his
exemplis (Si Socrates est animal, Socrates est homo: Si Socrates est
animal, Socrates non est homo: Si omnis homo est animal, omnis homo
est albus, Si omnis homo est animal, nullus homo est albus, vel aliquis
homo non est albus) non possunt tamen esse simul veree. Idque non solum
perspicuum erit inductione facta in quacunque materia, sed etiam hac
ratione: quia si possent dari simul verce, aliquid repugnaret consequenti,
a Cap. 5. quod non repugnaret antecedenti, quod falsum esse libro sexto a patebit.
Nam simplices contrarice, et contradicentes repugnant mutuo, et tamen
dicerentur inferri ex eodem antecedente. Hinc patet in negativis cuiusque
descriptionis, quas ponimus sub contrarias, servari leges subcontrariarum,
utpote quod non possint esse simul falsee, sed simul verce. Nam si affir-
mativee non possunt esse simul verce, nec negativa: possunt esse simul
falsee, cum illis per diametrum contradicant. Cum autem affirmativae
fuerint simul falsee, tum negativae hac eadem ratione erunt simul verce.
Patet etiam inter quamlibet superiorem, et inferiorem, quas dicimus sub­
alternas, servari leges subalternarum, ut videlicet non possit superior esse
vera, quin inferior sit vera, nec inferior esse falsa, quin superior sit falsa.
Secus enim aut darentur subcontrarice simul falsee, aut contrarice simul
verce, quod facile est ex propositis descriptionibus intelligere a scita lege
contradicentium, quee praescribit contradicentes nec simul veras, nec
simul falsas esse posse. Non loquuti autem sumus in tradito documento j)
de conditionalibus constantibus subcontrariis consequentibus, quia si ilice
admitterentur dari possent contrarice simul verce, subcontrarice simul falsee,
et subalternantes verce falsis existentibus subalternatis, ut si dicas, Si
animal dividitur in hominem, et brutum, aliquod animal est homo: Si
animal dividitur in hominem, et brutum, aliquod animal non est homo.
Non si animal dividitur in hominem, et brutum, aliquod animal non est
homo: Non si animal dividitur in hominem, et brutum, aliquod animal
est homo].
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 215

C O facto de se observarem nas afirmativas que pomos como contrá­


rias as leis das contrárias, na verdade, ressalta disto: é que, embora pos­
sam ser simultáneamente falsas, como se vê nestes exemplos: se Sócrates
é animal, Sócrates é homem; se Sócrates é animal, Sócrates não é homem;
se todo o homem é animal, todo o homem é branco; se todo o homem
é animal, nenhum homem é branco ou algum homem não é branco —
não podem, contudo, ser simultáneamente verdadeiras. E isto tornar-
-se-á claro não só mediante a indução feita em qualquer matéria, mas
também por esta razão: é que, se pudessem ser simultáneamente
verdadeiras, alguma coisa repugnaria ao consequente que não repug­
naria ao antecedente, o que, no livro sexto a, se verá que é falso. Efecti­ a Capítulo 5.
vamente, as simples contrárias e contraditórias repugnam umas às outras
e, contudo, dir-se-iam decorrer do mesmo antecedente. Daqui se vê
que nas negativas de qualquer descrição, que pomos como subcontrárias,
se observam as leis das subcontrárias, visto não poderem ser simul­
táneamente falsas, mas sim simultaneamente verdadeiras. Com efeito,
se as afirmativas não podem ser simultáneamente verdadeiras, também
as negativas não podem ser simultáneamente falsas, visto que se con­
tradizem diametralmente. Quando, porém, as afirmativas forem simul­
táneamente falsas, então as negativas por esta mesma razão serão
simultáneamente verdadeiras.
É manifesto também que entre qualquer [enunciação] superior
e inferior, que dizemos subalternas, se observam as leis das subalternas,
de modo que a superior não pode ser verdadeira sem que a inferior
seja verdadeira, nem a inferior ser falsa sem que a superior seja
falsa. De contrário, com efeito, ou se dariam subcontrárias simul­
táneamente falsas, ou contrárias simultáneamente verdadeiras, o que
é fácil de entender, pelas descrições propostas, da conhecida lei
das contraditórias que prescreve que as contraditórias não podem
ser nem simultaneamente verdadeiras, nem simultáneamente falsas.
D Não falámos, porém, na regra dada, acerca das condicionais que constam
de consequentes subcontrárias, porque, se se admitissem aquelas, pode­
riam dar-se contrárias simultáneamente verdadeiras, subcontrárias
simultaneamente falsas e subalternantes verdadeiras, existindo falsas
subalternadas, como se se dissesse: se animal se divide em homem e
bruto, algum animal é homem; se animal se divide em homem e bruto,
algum animal não é homem; não se animal se divide em homem e bruto,
algum animal não é homem; não se animal se divide em homem e bruto,
algum animal é homem.
216 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

[De oppositione copulativarum

CapVT20

Documentum pro Pro copulativis autem speciale documentum sit, Non solum contrarias A
copulativis.
copulativas, sed etiam subcontrarias, et subalternas constare debere simpli­
cibus contrariis, aut contradicentibus. Quod non ita intelligendum est,
quasi necesse sit ut omnes simplices unius copulativce, sint contrarice, aut
contradicentes respectu simplicium alterius, Sed ut una saltem respectu
unius.

Descriptio oppositarum copulativarum constantium


ex simplicibus singularibus
Et Socrates loquitur, et Plato audit. Et Socrates non loquitur, et Plato non
\/ audit.
Non et Soccrates non loquitur, et Plato Non et Socrates loquitur, et Plato
non audit. audit.

Descriptio constantium simplicibus communibus contrariis


Et omnis homo est sensus particeps, et. ,Et nullus homo est sensus particeps, et
omnis equus est sensus particeps. nullus equus est sensus particeps.
Non et nullus homo est sensus parti-' Non et omnis homo est sensus parti­
ceps, et nullus equus est sensus parti­ ceps, et omnis equus est sensus par­
ceps. ticeps.

Descriptio constantium simplicibus communibus


contradicentibus
Et omnis homo est sensus particeps, et Et aliquis homo non est sensus parti-
omnis equus est sensus particeps. \/ ceps, et aliquis equus non est sensus,
particeps.
Non et aliquis homo non est sensus Non et omnis homo est sensus parti-
particcps, et aliquis equus non est ccps, et omnis equus est sensus par-
sensus particeps. ticeps.

Eadem ratio erit si una tantum simplex sil uni contraria, aut contra­
dicens. Probatio huius documenti satis aperta est. Nam quod affirmativoe, B
quas ponimus contrarias, possint esse simul falsee, his exemplis patet:

A l-A-2 [1590] — Não tem cota marginal.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 217

Capítulo 20

Da oposição das copulativas

A Seja esta a regra especial para as copulativas: não só as contrárias Regra para as copu-
copulativas, mas também as subcontrárias e as subalternas devem ktlvas'

constar de contrárias simples ou contraditórias. Não deve isto


entender-se como se fosse necessário que todas as simples de urna
copulativa sejam contrárias ou contraditórias relativamente às simples
de outra, mas que uma pelo menos o seja relativamente a uma outra.

Quadro das opostas copulativas que constam de singulares


simples
E Sócrates fala, e Platão ouve. \/E Sócrates não fala, e Platão não ouve.
Não e Sócrates não fala, e Platão não/XNão e Sócrates fala, e Platão ouve.
ouve.

Quadro das que constam de contrárias simples comuns


E todo o homem é dotado dc sentidos, e E nenhum homem é dotado de sentidos,
todo o cavalo é dotado de sentidos. \/ e nenhum cavalo é dotado de sentidos.
/\
Não e nenhum homem é dotado dc sen­ Não e todo o homem é dotado dc senti­
tidos, e nenhum cavalo é dotado de dos, e todo o cavalo é dotadode sen­
sentidos. tidos

Quadro das que constam de contraditórias simples comuns


E todo o homem é dotado de sentidos E algum homem não é dotado de senti­
e todo o cavalo é dotado de sentidos. \ / dos, e algum cavalo não é dotado de

Não e algum homem não é dotado de


/ sentidos.
Não c todo o homem é dotado de sen­
sentidos, e algum cavalo não é dotado tidos, e todo o cavalo é dotado de
de sentidos. sentidos.

O mesmo se verificará se só uma simples for contrária ou contra-


B ditória a uma outra. A prova desta regra é bem clara. Com efeito,
que as afirmativas, que pomos como contrárias, podem ser simultâ-
218 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Socrates est ¡apis, et Plato est homo: Socrates non est lapis, et Plato
non est homo. Omnis homo est albus, et omnis equus est albus. Nullus
homo est albus, et nullus equus est albus. Item omnis homo est lapis,
et aliquis homo est albus. Aliquis homo non est lapis, et nullus homo
est albus. Quod autem non possint esse simul verce, non solum inductione
patet qualibet materia, sed hac etiam ratione. Quia si duce copulativae
constantes ex simplicibus contrariis, aut contradicentibus possent esse
simul verce, duce simplices contrarice, aut contradicentes possent esse simul
a Cap. 6 et 11. verce, quod fieri non posse supra dictum esta. Hinc patet negativas,
quas dicimus subcontrarias posse esse simul veras, non autem simul falsas,
ut deductum est in conditionalibus, itemque fieri non posse, ut superior
affirmativa sit vera quin negativa inferior vera sit, aut inferior falsa sit,
quin superior sit falsa. Non admisimus autem copulativas, quarum C
omnes simplices sunt sub contrarice, ne daremus contrarias simul veras,
subcontrarias simul falsas, et subalternantes veras fcdsis existentibus
sub alternatis, ut in his patet, Aliquis homo est albus, et aliquis equus est
albus: Aliquis homo non est albus, et aliquis equus non est albus: Non
et aliquis homo non est albus, et aliquis equus non est albus: Non et aliquis
homo est albus, et aliquis equus est albus].

[De oppositione disiunctivarum

Capvt 21

Documentum pro
disiunctivis.
Denique pro disiunctivis sit hoc speciale documentum, Non solum ^
contrarias disiunctivas, sed etiam sub contrarias, et subalternas constare
debere simplicibus contradicentibus, aut sub contrariis.

Descriptio oppositarum disiunctivarum constantium


simplicibus singularibus.

Non aut Socrates non est homo, aut χΝοη aut Socrates est homo, aut Plato
Plato non est homo. est homo.
Aut Socrates est homo, aut Plato est. Aut Socrates non est homo, aut Plato
homo. non est homo.

A 1-A 2 [1590] — Não tem a cota marginal.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 219

neamente falsas, ressalta destes exemplos: Sócrates é pedra e Platão


é homem, Sócrates não é pedra e Platão não é homem; todo o homem
é branco e todo o cavalo é branco, nenhum homem é branco e nenhum
cavalo é branco; do mesmo modo, todo o homem é pedra e algum
homem é branco, algum homem não é pedra e nenhum homem é branco.
Que, porém, não possam ser simultáneamente verdadeiras, não só
ressalta da indução em qualquer matéria, mas também desta razão,
a saber: se duas copulativas que constam de simples contrárias ou
contraditórias pudessem ser simultaneamente verdadeiras, duas sim­
ples contrárias ou contraditórias poderíam ser simultaneamente verda­
deiras, o que não pode acontecer, como se disse acima a. Daqui ressalta a Cap. 6 e 11.
que as negativas, que dizemos subcontrárias, podem ser simultánea­
mente verdadeiras, mas não simultáneamente falsas, como se dedu­
ziu nas condicionais; e, do mesmo modo, não pode acontecer que
a superior afirmativa seja verdadeira sem que seja verdadeira a negativa
inferior, ou que a inferior seja falsa sem que seja falsa a superior. Não
C admitimos, porém, copulativas, das quais todas as simples sejam sub­
contrárias, para não darmos com contrárias simultaneamente verdadei­
ras, subcontrárias simultáneamente falsas e subalternantes verdadeiras
coexistindo com subalternadas falsas, como se vê nestas: algum homem
é branco e algum cavalo é branco, algum homem não é branco e algum
cavalo não é branco; não e algum homem não é branco e algum cavalo
não é branco, não e algum homem é branco e algum cavalo é branco.

C A P í T u lo 2 1

Da oposição das disjuntivas

A Finalmente, para as disjuntivas, seja esta a regra especial: não Regra para as dis'
só as contrárias disjuntivas mas também as subcontrárias e as subalternas Juntlvas·
devem constar de contraditórias ou subcontrárias simples.

Quadro das opostas disjuntivas que constam de singulares


simples
Não ou Sócrates não é homem, ou .Não ou Sócrates é homem, ou Platão
Platão não é homem. é homem.
Ou Sócrates é homem, ou Platão é Ou Sócrates não é homem, ou Platão
homem. não é homem.
220 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Descriptio constantium ex simplicibus communibus


contradicentibus
Non aut nullus homo est albus, aut. Non aut aliquis homo est albus, aut
nullus equus est albus. aliquis equus est albus.
Aut aliquis homo est albus, aut aliquis Aut nullus homo est albus, aut nullus
equus est albus. equus est albus.

Descriptio constantium ex simplicibus communibus


sub contrariis
Non aut aliquis homo non est albus, Non aut aliquis homo est albus, aut
aut aliquis equus non est albus. aliquis equus est albus.
Aut aliquis homo est albus, aut aliquis Aut aliquis homo non est albus, aut
equus est albus. aliquis equus non est albus.

Nam quod affirmativa, quas in hoc genere ponimus esse subcontrarias, B


possint esse simul vera, ex propositis exemplis constat. Quod vero non
possint esse simul falsa non solum inductione perspicuum esse potest, sed
etiam hac ratione patet. Quia ut disiunctiva affirmativa sint falsa necesse
a Cap. 17. est ut omnes simplices ex quibus constant falsa sint, ut ex dictis pateta:
simplices autem sive contradicentes sint, sive subcontraria, non possunt
b Cap. 6 eí 11. esse simul falsa, ut supra dictum estb. Hinc patet negativas, quas in
hoc genere dicimus contrarias, posse esse simul falsas, non autem simul
veras: itemque fieri non posse, ut superior negativa, quam in hoc genere
ponimus sub alternantem, sit vera quin inferior affirmativa vera sit: aut
inferior affirmativa, quam sub ait er nant em dicimus, falsa sit, quin superior
negativa sit falsa: quod quo pacto efficiatur ex dictis facile intelliges.
Non admisimus autem disiunctivas constantes simplicibus contrariis, quia C
hoc pacto daremus contrarias simul veras, subcontrarias simul falsas, et
subalternantes veras falsis existentibus subalternatis, ut his exemplis patet:
Non aut nullus homo est albus, aut nullus equus est albus: Non aut omnis
homo est albus, aut omnis equus est albus: Aut omnis homo est albus,
aut omnis equus est albus: Aut nullus homo est albus, aut nullus equus
est albus.
Quibus disiunctivis Animadvertendum est tamen hoc speciale documentum de disiunctivis D
accommodetur tra­
ditum documentum. traditum non esse accommodandum ad eas disiunctivas, quas solas veteres
approbant, hoc est ad immediatas, sive quee, ut verce sint, altera pars vera
esse debet, altera falsa, sed ad eas, quas recentiores amplectuntur, ad eas,

C 5-C6 [1590] — Aut omnis homo est albus, aut omnis equus: Aut nullus...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 221

Quadro das que constam de contraditórias comuns simples


Não ou nenhum homem é branco, ou Não ou algum homem é branco, ou
nenhum cavalo é branco. \/ algum cavalo é branco.
/\
Ou algum homem é branco, ou algum Ou nenhum homem é bxanco, ou ne­
cavalo é branco. nhum cavalo é branco.

Quadro das que constam de suhcontrárias comuns simples


Não ou algum homem não é branco, Não ou algum homem é branco, ou
ou algum cavalo não é branco. algum cavalo é branco.
Ou algum homem é branco, ou algum Ou algum homem não é branco, ou
cavalo é branco. algum cavalo não é branco.

B Com efeito, que as afirmativas, que neste género supomos serem


subcontrárias, possam ser simultáneamente verdadeiras, consta dos
exemplos propostos. Mas que não possam ser simultáneamente falsas,
torna-se evidente não só por indução, mas também pela razão seguinte:
para que as disjuntivas afirmativas sejam falsas é necessário que todas as
simples de que constam sejam falsas, como se depreende do que foi dito a; a Cap. 17.
ora, as simples, quer sejam contraditórias quer subcontrárias, não podem
ser simultaneamente falsas, como se disse acima b. Daqui se depreende b Cap. 6 e 11.
que as negativas, que neste género dizemos contrárias, podem ser simul­
taneamente falsas, mas não simultáneamente verdadeiras; e do mesmo
modo [se depreende] que se não pode fazer que a [enunciação] superior
negativa, que neste género pomos como subalternante, seja verdadeira sem
que a inferior afirmativa seja verdadeira, ou que a inferior afirmativa, que
dizemos subalternante, seja falsa sem que a superior negativa seja falsa.
C Que assim é, facilmente se entenderá pelo que se disse. Não admitimos,
porém, disjuntivas que constam de contrárias simples, porque deste
modo chegaríamos a contrárias simultaneamente verdadeiras, subcon­
trárias simultaneamente falsas e subalternantes verdadeiras coexistindo
com falsas subalternadas, como se vê nestes exemplos: não ou nenhum
homem é branco, ou nenhum cavalo é branco; não ou todo o homem
é branco, ou todo o cavalo é branco; ou todo o homem é branco, ou
todo o cavalo é branco; ou nenhum homem é branco, ou nenhum cavalo
é branco.
D Deve notar-se, porém, que esta regra especial dada para as dis­ A que disjuntivas se
aplica a regra dada.
juntivas não se deve aplicar apenas àquelas disjuntivas que os antigos
aprovam, isto é, às imediatas, ou seja, àquelas que, para serem ver­
dadeiras, devem ter uma parte verdadeira e a outra falsa; mas àquelas que
os modernos admitem, àquelas, digo, que nunca são consideradas falsas
222 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

inquam, quce nunquam censentur falsee, nisi cum omnes partes sunt falsee.
Nam si ad immediatas documentum accommodaveris dabis subcontrarias
simul falsas, et (quod hinc sequitur) contrarias simul veras, et subalter­
nantes veras falsis existentibus subalternatis, ut patet in descriptionibus
traditis. Nam iuxta veterum sententiam omnes disiunctivce affirmativee,
quas in exemplum attulimus sunt falsee. In prima quidem, et secunda
descriptione, quia priores constant utraque parte vera, posteriores quia
utraque falsa: in tertia vero quia disiunctivce utraque pars vera est. Unde
patet in hoc disiunctivarum genere non dari sub contrarias. Nam quod
in eo non possint subcontrariee constitui ex simplicibus contrariis, ex illo
exemplo paulo superius posito, Aut omnis homo est albus, aut omnis equus
est albus: Aut nullus homo est albus, aut nullus equus est albus, satis
apertum est. Utraque enim disiunctiva non modo iuxta recentiorum sen­
tentiam, sed etiam veterum falsa est, cum constet utraque parte falsa.
Cum autem in hoc disiunctivarum genere non dentur subcontrariee plane
efficitur, non posse etiam dari contrarias, aut subalternas, sed solas con­
tradicentes.
Quibus documentis Animadvertendum quoque est etsi coniuncta rationales, et causales E
comprehendantur ra­
tionales, et causales. ratione conditionalium, quas includunt comprehendantur in speciali
documento conditionalium, ratione autem copulativa ex enunciationibus
antecedentis, et consequentis ex qua etiam constant, comprehendantur in
speciali documento copulativarum: simpliciter tamen ex copulativarum
documento constituendam esse earum oppositionem. Habent enim sim­
pliciter sensum copulativum. Hac enim rationalis Socrates est homo,
ergo Socrates est animal, hoc pacto resolvenda est: Et si Socrates est
homo, Socrates est animal, et Socrates est homo, et Socrates est animal.
Hac vero causalis, Quia Sol lucet, dies est, hunc in modum: Et si Sol lucet,
dies est: et sol lucet, et dies est, et lux solis est causa diei. Quo autem
pacto facilius huiusmodi enunciationibus opposita assignentur, ex iis,
qua mox dicentur, intelliges. Atque hac de coniunctarum oppositione
dicta sint.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 223

senão quando forem falsas todas as partes. Com efeito, se a regra se


aplicasse às imediatas, chegar-se-ia a subcontrárias simultáneamente fal­
sas e (o que se segue daqui) contrárias simultáneamente verdadeiras e
subalternantes verdadeiras coexistindo com subalternadas falsas, como
se vê nas descrições dadas. Na verdade, segundo o parecer dos antigos,
todas as disjuntivas afirmativas, que apresentámos em exemplo, são falsas.
Na primeira e na segunda descrição, porque as primeiras constam de
ambas as partes verdadeiras; as segundas, porque constam de ambas
falsas; na terceira, porque ambas as partes da disjuntiva são verdadeiras.
Donde se infere que, neste género de disjuntivas, não se dão subcontrá­
rias. Que neste [género] não possam constituir-se subcontrárias de sim­
ples contrárias, consta com bastante clareza do exemplo apresentado um
pouco atrás: ou todo o homem é branco, ou todo o cavalo é branco; ou
nenhum homem é branco, ou nenhum cavalo é branco. Efectivamente,
ambas as disjuntivas, não só segundo o parecer dos modernos, mas tam­
bém dos antigos, são falsas, visto constarem de ambas as partes falsas.
Como, porém, neste género de disjuntivas, não se dão subcontrárias,
acontece claramente que também não se podem dar contrárias ou subal­
ternas, mas só contraditórias.
E Deve notar-se também que, embora as conjuntas racionais e Em que regras se
as causais, em razão das condicionais que incluem, sejam abrangidas
pela regra especial das condicionais, e, em razão da copulativa [formada]
das enunciações do antecedente e do consequente de que também cons­
tam, estejam compreendidas na regra especial das copulativas, deve,
contudo, formar-se a sua oposição simplesmente segundo a regra das
copulativas. É que têm simplesmente sentido copulativo. Com efeito,
esta racional: Sócrates é homem, portanto Sócrates é animal, deve
desdobrar-se deste modo: e, se Sócrates é homem, Sócrates é animal,
e Sócrates é homem, e Sócrates é animal. Esta causai: porque o sol
brilha, é dia, deste modo: e, se o sol brilha, é dia, e o sol brilha, e é dia,
e a luz do sol é a causa do dia.
Pelo que em breve se dirá, entender-se-á qual o modo mais fácil
de se descobrirem as opostas a tais enunciações.
É isto o que há a dizer acerca da oposição das conjuntas.
224 INSTITVTIONVM DIALECT1CARVM LIBER III

De coniunctarum cequipollentia

CapVT22

Quod vero attinet ad cequipollentiam breviter dicendum est, conditiona- A


les nec copulativis, nec disiunctivis cequipollere, sed solas copulativas
Conditionales non cequipollere disiunctivis. Quod igitur conditionales non cequipolleant
«quipollere copulati­ copulativis, ex eo patet, quia si qua esset copulativa cui cequipolleret hcec
vis.
conditionalis, Si Socrates est homo, est animal, maxime esset hcec: Non
et Socrates est homo, et non est animal. Neque enim alia se offert, cui illa
probabilius cequipollere possint, ut inductione patet. At hcec non idem valet
quod illa. Nam et si ex illa inferatur, ut apertum est, non tamen illam
infert. Alioqui hcec esset bona consequutio, Non et Socrates est lapis,
et non est animal, ergo si Socrates est lapis, est animal: ubi plane vides
antecedens verum, et consequens falsum. Quando igitur proposita con­
ditionalis traditce copulativce non cequipollet, nulla erit alia copulativa, cui
Conditionales non eadem conditionalis cequipolleat. Quod idem in cceteris facile erit per- B
cequipollere disiun-
ctivis. sequi. Quod vero conditionales non cequipolleant disiunctivis, ex eo
intelliges, quia si sermo sit de disiunctivis veterum, seu immediatis, cum
ilice nec possint esse contrarice, nec subcontrarice, nec subalternce inter se,
fieri non potest ut cequipolleant conditionalibus. Qucelibet enim conditio­
nalis habet aliquam contrariam conditionalem aut subcontrariam, itemque
aliquam sub alter natam, aut subalt emant em: fieri autem non potest, ut
duce enunciationes cequipolleant, quarum altera habet contrariam aut sub­
contrariam etc. altera vero minime. Quod denique nec cequipolleant
Copujativae a^uipo-
disiunctivis communibus, seu mediatis ex eo constat, quia disiunctivce
llere disiunctivis me­
diatis. communes cequipollent copulativis, ut nunc dicemus, quibus tamen condi­
tionales ipsce non cequipolleant, ut patet ex dictis. Quod igitur copulativce, C
et disiunctivce communes cequipolleant inter se, ex eo patet, quia ut est
communis dialecticorum sententia, copulativa omnino affirmativa, hoc
est, et coniunctionis, et verborum, ut Socrates est albus, et Plato est albus,
cequipollet disiunctivce omnino negativae, qualis est, Non aut Socrates non
est albus, Plato non est albus. Copulativa autem affirmativa solius
coniunctionis, ut, Et Socrates non est albus, et Plato non est albus
cequipollet negativce solius coniunctionis, qualis est Non aut Socrates
est albus, aut Plato est albus. Copulativa vero omnino negativa, ut,
Non et Socrates non est albus, et Plato non est albus, cequipollet disiun-
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 111 225

Capítulo 22

Da equipolencia das conjuntas


A Pelo que diz respeito à equipolência convém dizer sucintamente: As condicionais não
que as condicionais não equivalem nem às copulativas nem às disjunti­ equivalem às copula­
tivas.
vas, mas só as copulativas equivalem às disjuntivas. Que as condicio­
nais não equivalem às copulativas, ressalta do seguinte: se houvesse uma
copulativa à qual equivalesse esta condicional: se Sócrates é homem é
animal, seria de preferência esta: e Sócrates não é homem e não é animal.
Nem, com efeito, outra se oferece, à qual aquela equivalesse mais
provàvelmente, como ressalta da indução. Mas esta não vale o mesmo
que aquela. Embora se infira daquela, como é evidente, contudo, não
infere aquela. Aliás seria boa consequência a seguinte, na qual se
vê o antecedente verdadeiro c o consequente falso: não e Sócrates é
pedra, e não é animal, portanto, se Sócrates é pedra, é animal. Quando,
portanto, a condicional proposta não equivale à copulativa dada, não
haverá nenhuma outra copulativa a que equivalha a mesma condicio­
nal. Isto mesmo será fácil de verificar nas restantes.
B Que as condicionais não equivalham às disjuntivas, por isto se As condicionais não
entenderá: é que, se se falar das disjuntivas dos antigos, ou seja, das equivalem às disjun­
tivas.
imediatas, como elas não podem ser contrárias nem subcontrárias
nem subalternas entre si, não pode suceder que equivalham às con­
dicionais. Qualquer condicional, com efeito, tem alguma condicional
contrária ou subcontrária e, do mesmo modo, alguma subalternada ou
subalternante. Mas não pode suceder que sejam equipolentes duas
enunciações, das quais uma tem contrária ou subcontrária, etc., e a outra
não. Que, finalmente, nem equivalham às disjuntivas comuns, ou
mediatas, consta disto: é que as disjuntivas comuns equivalem às copula­
tivas, como agora diremos, às quais, contudo, não equivalem as próprias
condicionais, como ressalta do que se disse.
C Que as copulativas e as disjuntivas comuns equivalham entre si, As copulativas equi­
ressalta disto: como é opinião comum dos dialécticos, a copulativa valem às disjuntivas
mediatas.
absolutamente afirmativa, isto é, de conjunção e de palavras, como:
Sócrates é branco, e Platão é branco, equivale à disjuntiva absolutamente
negativa, tal como: não ou Sócrates não é branco, Platão não é branco.
Mas a copulativa afirmativa só de conjunção, como: e Sócrates não
é branco, e Platão não é branco, equivale à negativa só de conjunção,
tal como: não ou Sócrates é branco, ou Platão é branco. A copulativa
absolutamente negativa, como: não e Sócrates não é branco, e Platão
15
226 INSTITVTÍONVM DIALECTICARVM LIBER III

tivce omnino affirmativa, qualis est, Aut Socrates est albus, aut Plato
est albus. Denique copulativa negativa solius coniunctionis, ut, Non et
Socrates est albus, et Plato est albus, equipollet disiunctivce affirmativa
solius coniunctionis, qualis est, Aut Socrates non est albus, aut Plato non
est albus. Qua omnia in subiectis descriptionibus planius perspiciuntur.

Descriptio ceqidpoilentium ex simplicibus singularibus

Et Socrates est albus, et Plato est albus. Et Socrates non est albus, et Plato non
est albus.
Non aut Socrates non est albus, aut ¡Non aut Socrates est albus, aut Plato
Plato non est albus. est albus.

Non et Socrates non est albus, et Plato /\ Non et Socrates est albus, et Plato est
non est albus. albus.
Aut Socrates est albus, aut Plato est Aut Socrates non est albus, aut Plato
albus. non est albus.

Verum pro descriptionibus earum, qua constant dictis communibus,


illud observandum est, ut cum opposita copulativa constiterint simplicibus
contrariis, tum disiunctiva conficiantur ex sub contrariis: cum vero illa
constiterint contradictoriis, tum ha quoque constituantur ex contradictoriis
tum inter se, tum etiam comparatione earum ex quibus copulativa constant.
Quod in sequentibus descriptionibus perspicuum est.

Descriptio cequipollentium ex simplicibus communibus


quando oppositce copulativce constant, simplicibus contrariis

Et omnis homo est albus, et omnis Et nullus homo est albus, et nullus
equus est albus. equus est albus.
Non aut aliquis homo non est albus, aut Non aut aliquis homo est albus, aut
aliquis equus non est albus. aliquis equus est albus.
Non et nullus homo est albus, et nullus Non et omnis homo est albus, et omnis
equus est albus. equus est albus.
Aut aliquis homo est albus, aut aliquis Aut aliquis homo non est albus, aut
equus est albus. aliquis equus non est albus.

C17-C18 [1590] — Et Socrates non est albus, et Plato est albus.


C 21-C 22 [1590] — Non et Socrates est albus, et Plato non est albus.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 227

não é branco, equivale à disjuntiva absolutamente afirmativa, tal como:


ou Sócrates é branco ou Platão é branco. Finalmente, a copulativa
negativa só de conjunção, como: não e Sócrates é branco e Platão é
branco, equivale à disjuntiva afirmativa só de conjunção, tal como: ou
Sócrates não é branco ou Platão não é branco. Tudo isto se entende
com bastante clareza nos quadros que vêm a seguir.

Quadro das equipolentes de simples singulares

E Sócrates é branco, e Platão é branco. E Sócrates não é branco, e Platão não


é branco.
Não ou Sócrates não é branco, ou Não ou Sócrates é branco, ou Platão é
Platão não é branco. branco.
\/
Não e Sócrates não é branco, e Platão /\ Não e Sócrates é branco, e Platão é
não é branco. branco.
Ou Sócrates é branco, ou Platão é Ou Sócrates não é branco, ou Platão
branco. não é branco.

No entanto, para as descrições das que constam de ditos comuns,


deve observar-se que, quando as opostas copulativas constarem de
simples contrárias, as disjuntivas fazem-se de subcontrárias; quando
aquelas constarem de contraditórias, estas constituem-se também de
contraditórias quer entre si, quer também em comparação daquelas de
que constam as copulativas. Isto é evidente nos quadros seguintes.

Quadro das equipolentes de simples comuns quando as


opostas copulativas constam de simples contrárias

E todo o homem é branco, e todo o E nenhum homem é branco, e nenhum


cavalo é branco. cavalo é branco.
Não ou algum homem não é branco, Não ou algum homem é branco, ou
ou algum cavalo não é branco. algum cavalo é branco.

Não e nenhum homem é branco, e ne Não e todo o homem é branco, e todo


nhum cavalo é branco. o cavalo é branco.
Ou algum homem é branco, ou algum Ou algum homem não é branco, ou
cavalo é branco. algum cavalo não é branco.
228 INSTITVTIONVM DIALECTICA RVM LIBER III

Quando oppositce copulativa constant simplicibus


contradictoriis

Et aliquis homo est albus, et aliquis Est nullus homo est albus, et nullus
equus est albus. equus est albus.
Non aut nullus homo est albus, aut Non aut aliquis homo est albus, aut
nullus equus est albus. aliquis equus est albus.
Non et nullus homo est albus, et nullus /\ Non et aliquis homo est albus, et ali­
equus est albus. quis equus est albus.
Aut aliquis homo est albus, aut aliquis Aut nullus homo est albus, aut nullus
equus est albus. equus est albus.

Utilitas asquipollen-
tiee coniunctarum.
Utilitas autem, quce ex harum enunciationum cequipollentia capitur E
haud parva est. Hinc enim discimus exponere negativas coniunctionis
(quae quidem obscuriores sunt) per affirmativas. Discimus quoque cons­
tituere omnia oppositarum, et subalternarum genera ex affirmativis sumpta
loco oppositce negativce aliqua affirmativa, quce illi cequipolleat. Unde fit,
ut non parum usurpata sit apud dialecticos constitutio contradicentium
ex utraque affirmativa coniunctionis. Si quis enim petat contradicentem
huius, Socrates est albus, et Plato est albus, mox reddunt hanc, Aut
Socrates non est albus, aut Plato non est albus. Si quis autem petat quce-
nam contradicat huic, Et Socrates non est niger, et Plato non est niger,
continuo hanc sublidunt, Aut Socrates est niger, aut Plato est niger,
quod idem faciunt in reliquis, hoc semper observato, ut simplices, ex quibus
constat disjunctiva, contradicant simplicibus, ex quibus constat copulativa,
quod idem faciendum esse ex iis, quce diximus colliges.
Hinc iam intelliges quo pacto planius, et facilius rationalium, et F
causalium oppositas assignare possis. Nam cum huiusmodi enunciationes
a Cap. 16 et 21. simpliciter, et absolute habeant sensum copulativum, ut supra a dictum
est, aut si mavis, quibusdam copulativis cequipolleat, ex mistione copula­
tivarum cum disiunctivis, multo expeditius earum oppositce tradentur.
Si quis enim abs te petierit contrariam huius, Socrates est homo, ergo
Socrates est animal, cum hcec cequipolleat huic copulativce, Et si Socrates
est homo, Socrates est animal, et Socrates est homo, et Socrates est animal,
trades illi hanc contrariam copulativam, et Si Socrates est homo, Socrates
non est animal, et Socrates non est homo, et Socrates non est animal.
Si vero petierit contradicentem trades illi hanc disiunctivam: Aut non
si Socrates est homo, Socrates est animal, aut Socrates non est homo,

E1-E 2 [1590] — Não tem cota marginal.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 229

Quando as opostas copulativas constam de simples


contraditórias

E algum homem é branco, e algum E nenhum homem é branco, e nenhum


cavalo é branco. cavalo é branco
Não ou nenhum homem é branco, ou Não ou algum homem é branco, ou
nenhum cavalo é branco. algum cavalo é branco.

Não e nenhum homem é branco, e Não e algum homem é branco, e


nenhum cavalo é branco. algum cavalo é branco.
Ou algum homem é branco, ou algum Ou nenhum homem é branco, ou ne­
cavalo é branco. nhum cavalo é branco.

E A utilidade que se tira da equipolencia destas enunciações não é Utilidade da equipo-


lência das conjuntas.
pequena. Com efeito, por ela aprendemos a expor as negativas de con­
junção (que são, na verdade, um tanto obscuras) por meio das afirmativas.
Aprendemos também a constituir todos os géneros das opostas e das
subalternas, tomando das afirmativas, em lugar da oposta negativa,
alguma afirmativa que equivalha àquela. Donde se infere que não é
pouco usada pelos dialécticos a constituição das contraditórias de
uma e outra afirmativa de conjunção. Se alguém, entretanto, pedir
a contraditória desta: Sócrates é branco, e Platão é branco, dão ime­
diatamente esta: ou Sócrates não é branco, ou Platão não é branco. Mas
se alguém pedir aquela que contradiz esta: e Sócrates não é negro, e
Platão não é negro, apresentam acto, contínuo, esta: ou Sócrates é
negro ou Platão é negro. Assim procedem com as restantes, obser­
vando-se sempre isto: que as simples, de que consta a disjuntiva,
contradigam as simples, de que consta a copulativa. Do que dissemos
se concluirá que se deve fazer o mesmo.
F Daqui já se entenderá de que maneira se podem marcar um tanto
clara e fácilmente as opostas das racionais e causais. Com efeito,
como tais enunciações têm simples e absolutamente sentido copulativo,
como se disse acima a, ou, se se prefere, equivalem a certas copula­ a Cap. 16 e 21.
tivas, da mistura das copulativas com as disjuntivas, serão dadas as suas
opostas, muito mais fácilmente.
Se alguém, pois, pedir a contrária desta: Sócrates é homem,
portanto Sócrates é animal, como esta equivale a esta copulativa: e se
Sócrates é homem, Sócrates é animal, e Sócrates é homem, e Sócrates
é animal, dar-se-lhe-á esta copulativa contrária: e se Sócrates é homem,
Sócrates não é animal, e Sócrates não é homem e Sócrates não é animal.
Mas se pedir a contraditória, dar-se-lhe-á esta disjuntiva: ou não se Sócra­
tes é homem, Sócrates é animal, ou Sócrates não é homem, ou Sócrates,
230 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

aut Socrates non est animal. Denique si petierit subalternatam trades


illi hanc disiunclivam, Aut si Socrates est homo, Socrates est animal, aut
Socrates est homo, aut Socrates est animal. Eodemque modo si quis
petierit contrariam huius causalis, Quia Sol lucet, dies est, cum hac
aquipolleat huic copulativa, Et Si Sol lucet, dies est, et Sol lucet, et dies
est, et lux Solis est causa diei, trades illi hanc contrariam copulativam,
Et Si Sol lucet, non est dies, et Sol non lucet, et non est dies, et lux Solis
non est suapte natura causa diei, et reliquas oppositas eodem modo, quo
in rationalibus. Hac de coniunctis enunciationibus, missis aliis plerisque,
qua viri alloqui gravissimi ingenii ostentatione magis, quam utiliter scripta
reliquerunt]b.

b In his est Boe­


tius de syllogismo
hypothetico.
De quibusdam enunciationibus expositione indigentibus

Capvt 23*

Ac videri quidem posset iam ad finem perducta tota de oratione sus- A


Exponibiles cur di­
cantur.
cepta, nisi Dialectici post Aristotelem quadam huic tractationi addi­
dissent, qua prorsus ignorare non convenit. Hac vero sunt exposi­
tiones quarundam enunciationum, qua, quia propter quasdam particulas
obscura sunt, et expositione indigent, exponibiles vulgo appellantur.
Harum igitur quoad satis videatur tradenda est hoc loco explicatio, B
ne si quis absque prameditata cognitione in eas disserendo inciderit, non
facile ab eis se possit expedire. A tque ex quam plurimis, quas recentiorum
nimia fortasse diligentia exposuit, exclusivas tantum nos, exceptivas, et
reduplicativas, ut vocant, quam brevissime explicabimus. Quoniam reli­
qua aut parum exhibent negotii, aut nisi in reconditissima philosophia,
plane, ac dilucide intelligi non possunt. Fuerunt autem huiusmodi enuncia­
tionum expositiones in hunc locum necessario differenda, quia sine cogni­
tione coniunctarum enunciationum doceri nequeunt.

* Caput. 18.
A 3-A 4 — Hce sunt expositiones nonnulla quarundam enunciationum, qua, quia
ob quasdam...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 231

não é animal. Finalmente, se pedir a subalternada, dar-se-lhe-á esta


disjuntiva: ou se Sócrates é homem, Sócrates é animal, ou Sócrates é
homem, ou Sócrates é animal. E, do mesmo modo, se alguém pedir
a contrária desta causal: porque o sol brilha, é dia, como esta equivale
a esta copulativa: e se o sol brilha, é dia, e o sol brilha, e é dia, e a luz
do sol é a causa do dia, dar-se-lhe-á esta contrária copulativa: e se o sol
brilha, não é dia, e o sol não brilha, e não é dia, e a luz do sol não é de
sua própria natureza a causa do dia; e [se pedir] as restantes opostas
[far-se-á] do mesmo modo que nas racionais.
Isto, [o que há a dizer] acerca das enunciações conjuntas, omitidas
muitas outras, que homens aliás de grande talento deixaram escritas
mais por ostentação do que por utilidade b. b Entre estes está
Boécio, Do Silogismo
Hipotético.

C a p í t u l o 23

De algumas enunciações que carecem de exposição

A Poderia estar já toda a dissertação empreendida acerca da oração,


se os dialécticos, depois de Aristóteles, não tivessem ajuntado a este
tratado algumas coisas que convém não ignorar de todo. Tais coisas Porque se dizem ex­
são as exposições de certas enunciações que, por serem obscuras poníveis.
em razão de algumas partículas, e carecerem de exposição, se cha-
B mam vulgarmente exponíveis. Deve, portanto, dar-se, neste lugar,
a explicação destas, tanto quanto parecer suficiente, para que, se alguém,
sem conhecimento prévio, cair nelas ao dissertar, fácilmente delas possa
desembaraçar-se. Mas, dentre o maior número daquelas que a diligência
talvez excessiva dos modernos expôs, nós só explicaremos, o mais suma­
riamente possível, aquelas a que eles chamam exclusivas, exceptivas e
reduplicativas. Quanto às restantes, ou oferecem pouca dificuldade ou
não se podem entender com simplicidade e clareza senão numa profun­
díssima filosofia. Tinham de ser remetidas necessariamente para este
lugar as exposições de tais enunciações porque, sem o conhecimento das
enunciações conjuntas, não se poderiam ensinar.
232 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

De Exclusivis enuntiationibus

C a p v t 2 4*

Exclusiva enuntiationes dicuntur, qua constant signo exclusivo, A


qualia sunt Tantum, Solum, Duntaxat, et catera si qua sunt eiusdem signi­
Exclusiva;, quae. ficationis. Huiusmodi autem signa aliquando excludunt alia pradicata
ab eodem subiecto, ut si dicas, Pradicamenta sunt tantum decem, Plomo
Signa exclusiva, quid
efficiant. est tantum animal rationale: aliquando excludunt alia subiecta ab eodem
pradicato, seu (ut aptius loquar) a participatione eiusdem pradicati, ut
si dicas, Solum animal est sensus capax, [so/ws] homo sermone utitur.
Hinc fit, ut duo sint exclusivarum enuntiationum genera, quorum prius
Duo genera exclusi- vocari potest exclusi p ree dic at i, posterius exclusi subiecti, quod signum in
varum enunciatio-
num. priori genere excludat aliquod prcedicatum, in posterior aliquod sublectum,
Exclusiva; quatuor ut patet in traditis exemplis. Ouatuor autem modis efferuntur exclusivce B
modis efferuntur. utriusque generis secundum immediatam affirmationem, et negationem
signi, et verbi. Aut enim utrumque affirmatur, [hoc est, non negatur],
ut in traditis exemplis: aut solum signum affirmatur [(ita nimirum, ut saltem
non immediate negetur)] veluti si dicas, Sola substantia non est in
subiecto, Prcedicamenta non sunt tantum quinque: aut utrimque [imme­
diate] negatur, ut si dicas, Prcedicamenta non sunt non tantum decem, Non
Generalis ratio ex­
ponendi exclusivas. solum animal non est sensus capax: aut solum signum [immediate] negatur,
ut si dicas, Prcedicamenta sunt non tantum quinque, Non solum animal C
est vivens. Piis ita constitutis, adverte utrunque genus exclusivarum
Prior exponens, seu [tam exclusi prcedicati, quam exclusi subiecti], exponi enuntiatione una
praeiaccns.
coniuncta, seu hypothetica, composita ex duabus simplicibus: quee [quidem]
Posterior exponens.
exponentes dici solent. Harum prior [(quee vocatur prceiacens)] constat
eodem subiecto, eodemque prcedicato quibus constat enuntiatio exponenda,
sive exponibilis, ut vocant, detracto tamen signo. Posterior [vero
(quee cum peculiari nomine careat secunda exponens, duntaxat appellari
solet)] cum exponit [quidem] exclusivas prioris generis, constat eodem
subiecto, et excluso prcedicato: cum autem exponit exclusivas posterioris,

* Caput. 19.
A 1 —signo aliquo exclusivo...
A7-A8 — homo duntaxat loqui potest. Hinc fit...
B 1-B 2 — exemplis. Exclusivce autem utriusque generis quatuor modi efferir pos­
sunt secundum...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 233

C a p í t u l o 24

Das enunciações exclusivas

A Dizem-se enunciações exclusivas aquelas que constam de algum


sinal exclusivo, tais como: só, sámente, apenas e outros, se os há,
da mesma significação. Tais sinais, porém, umas vezes excluem outros
Quais são exclusivas.
predicados do mesmo sujeito, como se se disser: os predicamentos são O que fazem os sinais
só dez; o homem é só animal racional; outras vezes, [excluem] outros exclusivos.
sujeitos do mesmo predicado ou (para falar com mais propriedade)
da participação do mesmo predicado, como se se disser: só o animal é
dotado de sentidos; só o homem usa da palavra.
B Daqui se deduz que há dois géneros de enunciações exclusivas,
dos quais o primeiro pode chamar-se de predicado excluído, e o segundo, Dois géneros de enun­
ciações exclusivas.
de sujeito excluído, visto que o sinal, no primeiro género, exclui algum
predicado, no segundo, algum sujeito, como é evidente pelos exemplos
dados. As exclusivas, porém, de um e outro género, podem fazer-se As exclusivas fazem-
de quatro modos, segundo a afirmação e a negação imediatas do sinal -se de quatro modos.
e do verbo. Efectivamente, ou se afirmam ambos, isto é, não se negam,
como nos exemplos dados; ou só se afirma o sinal (de tal modo que,
pelo menos, não se nega imediatamente), como se se disser: os predica­
mentos não são só cinco, só a substância não está no sujeito; ou se negam
imediatamente ambos, como se se disser: os predicamentos não são não
só dez, não só o animal não é dotado de sentidos; ou só se nega imedia­
tamente o sinal, como se se disser: os predicamentos são não só cinco,
Modo geral de expor
não só o animal é vivo. as exclusivas.
C Posto isto, note-se que ambos os géneros das exclusivas, quer de pre­
dicado excluído, quer de sujeito excluído, se expõem por uma única enun­ Primeira exponente
ou prejacentc.
ciação conjunta ou hipotética, composta de duas simples, que se costu­
mam dizer exponentes. A primeira destas (que se chama prejacente)
consta do mesmo sujeito e do mesmo predicado de que consta a enuncia­ Segunda exponente.
ção a expor, ou exponível, como lhe chamam, tirando-se-lhe, porém, o
sinal; a segunda (que, por carecer de nome peculiar, costuma chamar-se
apenas segunda exponente), quando expõe as exclusivas do primeiro
género, consta do mesmo sujeito e do predicado excluído; quando, porém,

B 5-B 6 — ut si dicas, Prcedicamenta non sunt tantum quinque, Sola substantia


non est in subiecto: aut utrunque...
C 6-C 7 — eodemque prcedicato (detracto tamen signo) quibus enunciatio expo­
nenda constat: quee vocatur prceiacens. Posterior...
234 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

constat eodem prcedicato, et excluso subiecto. Cceterum ex priori exclu-


sivarum genere duce tantum forma a nobis exponenda sunt, ea nimirum,
in qua et signum, et verbum affirmantur, ut Pradicamenta sunt tantum
decem et ea, in qua solum verbum immediate negatur, ut Pradicamenta non
sunt tantum quinque. Nam reliqua dua forma non sunt fere in usu.
At ex posteriori genere, cum omnes usurpentur, omnes sunt exponenda.
Exlusiva igitur prioris generis, quas exclusi pradicati appellavimus, D
si utraque ex parte affirmativa fuerint, exponenda erunt copulative, priori
Expositio exclusiva- exponente affirmativa, et posteriori negativa, hoc modo: Pradicamenta
rum exclusi prtedi-
sunt tantum decem, id est Pradicamenta sunt decem, et non sunt plura,
cati.
1 quam decem: Homo est tantum animal rationale, id est, Homo est animal
rationale, et non est aliquid ultra animal rationale. Si autem solum
2 verbum immediate negaverint, exponenda erunt disiunctive, priori expo­
nente negativa, et posterior affirmativa hoc modo, Pradicamenta non sunt
tantum quinque, id est, Pradicamenta non sunt quinque, vel sunt plura,
quam quinque: Homo non est tantum animal, id est, Homo non est animal,
vel est aliquid ultra animal. Nec vero satis est ita exponere negativas,
Occurritur obicctioni.
Pradicamenta non sunt tantum quinque, id est, Pradicamenta sunt plura,
quam quinque: Homo non est tantum animal, id est, homo est aliquid ultra
animal. Sape enim expositio hac falsa reperietur, ut si ita dicas, [Hac]
pradicamenta [(designatis nimirum mente decem praedicamentis)] non sunt
tantum viginti, id est, sunt plura, quam viginti: [Hic] lapis non est tantum
animal, id est [hic] lapis est aliquid ultra animal. Nam enunciationes,
qua exponuntur, sunt vera [(cum contradicentes earum falsa sint)] expo­
nentes autem sunt falsa. Sed de hoc genere exclusivarum nil amplius
Expositio exclusiva- dicendum est.
tum exclusi subiecti.
Exclusiva autem posterioris generis, quas exclusi subjecti nominavi­ E
1
mus, si et signum, et verbum affirmaverint, exponenda erunt copulative,
priori exponente indefinita, sive particulari affirmativa, et posteriori uni­
2 versali negativa hoc modo: Tantum animal sentire potest, id est, animal
sentire potest, et nihil quod non sit animal, sentire potest. Si vero solum
signum affirmaverint, exponantur copulative, priori indefinita, sive par­
3
ticulari negativa, et posteriori universali affirmativa hoc modo. Tantum
substantia non est in subiecto, id est, substantia non est in subiecto, et
omne quod non est substantia, est in subiecto. Si autem utrumque negave-

C11—excluso subiecto. Atque luec, cum peculiavi nomine careat, elicitur


secunda exponens. Cceterum...
D 6 — ultra quam animal rationale.
D 13-D 14 — aliquid ultra quam animal.
D 17 — aliquid ultra quam animal.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 235

expõe exclusivas do segundo, consta do mesmo predicado e do sujeito


excluído. De resto, do primeiro género das exclusivas só duas formas
devem ser expostas por nós: aquela em que o sinal e o verbo se afirmam,
como: os predicamentos são só dez; e aquela em que só o verbo se nega
imediatamente, como: os predicamentos não são só cinco. Na reali­
dade, as duas formas restantes quase não estão em uso. Mas as do
segundo género, como são usadas todas, todas devem ser expostas.
D Portanto, as exclusivas do primeiro género, a que chamámos de
predicado excluído, se forem afirmativas de ambas as partes, deverão Exposição das exclu­
ser expostas copulativamente com a primeira exponente afirmativa e sivas de predicado ex­
cluído.
a segunda negativa, deste modo: os predicamentos são só dez, isto é,
os predicamentos são dez, e não são mais de dez; o homem é só animal 1

racional, isto é, o homem é animal racional, e não é outra coisa além de


animal racional. Se, porém, negarem só o verbo imediatamente, deverão
2
ser expostas disjuntivamente, com a primeira exponente negativa e o
segunda afirmativa, deste modo: os predicamentos não são só cinco,
isto é, os predicamentos não são cinco, ou são mais de cinco; o homem
não é só animal, isto é, o homem não é animal ou é outra coisa além de
animal. Mas não é suficiente expor assim as negativas: os predicamen­ Responde-se à objec-
tos não são só cinco, isto é, os predicamentos são mais de cinco; o homem ção.

não é só animal, isto é, o homem é algo mais que animal. Com efeito,
muitas vezes será descoberta como falsa esta exposição, como se se disser
assim: estes predicamentos (significando-se mentalmente dez predica­
mentos) não são só vinte, isto é, são mais que vinte; a pedra não é só
animal, isto é, a pedra é algo mais que animal. Na verdade, as enun­
ciações que se expõem são verdadeiras (visto que as suas contradi­
tórias são falsas); as exponentes, porém, são falsas. Mas, deste género
de exclusivas, nada mais é necessário dizer. Exposição das ex-
E Quanto às exclusivas do segundo género, a que chamámos de sujeito clusivas de sujeito
excluído.
excluído, se afirmarem o sinal e o verbo, deverão ser expostas copulati­
vamente, com a primeira exponente indefinida ou particular afirma­ 1
tiva, e a segunda universal negativa, deste modo: só o animal pode
sentir, isto é, o animal pode sentir e nada que não seja animal pode 2
sentir. Mas se afirmarem só o sinal, exponham-se copulativamente, com
a primeira [exponente] indefinida ou particular negativa, e a segunda
universal afirmativa, deste modo: só a substância não está no sujeito,
3
isto é, a substância não está no sujeito e tudo o que não é substância
está no sujeito. Se, porém, negarem um e outro, exponham-se disjunti-
236 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER III

rint, exponantur disiunetive, priori universali affirmativa, et posteriori


particulari negativa hoc modo: Non solum animal non est sensus capax,
id est, omne animal est sensus capax, vel aliquid, quod non est animal,
non est sensus capax. Si denique solum signum negaverint, exponantur
disiunetive, priori universali negativa, et posteriori particulari affirmativa
hoc modo: Non solum animal est vivens, id est, nullum animal est vivens,
vel aliquid, quod non est animal, est vivens. Itaque si recte attendas,
videbis, enunciationes, quee signum affirmant, id est, primam, et secundam,
exponi copulative, priorique exponente indefinita, sive particulari (quee idem
valent hoc loco) et posteriori universali: contra vero quee signum negant,
id est, tertiam, et quartam, exponi disiunetive, ac priori exponente univer­
Comparantur inter se sali, et posteriori particulari. Videbis etiam eas, quee et signum, et verbum
expositiones.
simul affirmant, aut negant, id est, primam, et tertiam, exponi priori affir­
mativa, et posteriori negativa: contra vero eas, quee alterum affirmant,
alterum negant, ici est, secundam, et quartam, exponi priori negativa, et
posteriori affirmativa. Denique primam, et quartam contradictoriis
exponentibus exponi: et similiter secundam, et tertiam. Primam vero,
et tertiam subalternis, et eodem, modo secundam, et quartam.

De oppositione exclusi varum [exclusi sublecti]

C a p v t 25*
Contraria?.
Subcontrarias.
Contradicentes. Non inutile quoque fuerit si harum emendationum [(exclusi nimirum
Subalternas.
subiecti)] oppositionem intelligas. Adverte igitur primam, et secundam
vocari contrarias: tertiam, et quartam subcontrarias: primam vero
[dici] contradictoriam quartee, et secundam ter tice: denique primam
Verba quas memo­ censeri sub alternantem tertia, et secundam quartee, quod illis conve­
riam iuvare possint.
niant conditiones earum oppositarum, et subalternarum, [quarum appella­
tionem sortiuntur. Id quod] adhibita expositione cuiusque haud magico
labore intelliges. Verum ut heee melius teneas, accipe has quatuor
dictiones.
Igne Tonans Malos Perdit

* Caput. 20.
A 2-A 3 — secundam esse contrarias:...
A 4 — ter tue contradicere: denique...
A 4-A 5—primam esse suhalt'emantem...
A 5-A 6 — quartee, quod facile quivis ex conditionibus oppositarum...
A 7-A 8 — cuiusque poterit colligere. Verum...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS— LIVRO III 237

vamente, com a primeira [exponente] universal afirmativa e a segunda


particular negativa, deste modo: não só o animal não é dotado de sen­
tidos, isto é, todo o animal é dotado de sentidos, ou aquilo que não é
animal não é dotado de sentidos. Se, finalmente, negarem só o sinal,
exponham-se disjuntivamente, com a primeira universal negativa e a
segunda particular afirmativa, deste modo: não só o animal é vivo, isto é,
nenhum animal é vivo, ou aquilo que não é animal é vivo.
Assim, se bem se atentar, ver-se-á que as enunciações que afirmam Comparam-se as ex­
o sinal, isto é, a primeira e a segunda, se expõem copulativamente, com posições entre si.
a primeira exponente indefinida ou particular (o que aqui vale o mesmo)
e a segunda universal. Pelo contrário, [ver-se-á que] as que negam o
sinal, isto é, a terceira e a quarta, se expõem disjuntivamente, com a
primeira exponente universal e a segunda particular. Yer-se-á também
que aquelas que afirmam ou negam o sinal e o verbo simultáneamente,
isto é, a primeira e a terceira, se expõem com a primeira afirmativa e a
segunda negativa; ao contrário, [ver-se-á] que aquelas que afirmam um
e negam outro, isto é, a segunda e a quarta, se expõem com a primeira
negativa e a segunda afirmativa. Finalmente, [ver-se-á que] a primeira e
a quarta se expõem pelas exponentes contraditórias; e, semelhanícmente,
a segunda e a terceira. A primeira e a terceira, porém, pelas [expo­
nentes] subalternas; e, do mesmo modo, a segunda e a quarta.

Capítulo 25

Da oposição das exclusivas de sujeito excluído

Não será também inútil se se entender a oposição destas enun­


ciações (isto é, de sujeito excluído). Advirta-se, portanto, que a pri­ Contrárias.
meira e a segunda se chamam contrárias; a terceira e a quarta, subcon- Subcontrárias.
trárias; que a primeira se diz contraditória da quarta e a segunda da Contraditórias.
terceira, e, finalmente, que a primeira é subalternante da terceira e a
segunda da quarta, visto que lhes convêm as condições das suas opostas
e subalternas de que tiram o nome. Isto se entenderá sem grande Subalternas.
dificuldade, apresentando a exposição de cada uma. Para melhor se
reterem estas coisas, tomem-se estas quatro dicções:

Igne, Tonans, Malos, Perdit. Palavras que podem


ajudar a memória.
238 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

Qua [quidem] quatuor prcedictis enuntiationibus eo ordine, quo a


nobis propositce sunt, respondent. Deinde adverte, in singulis esse duas
vocales, quce significant qualitatem, et quantitatem exponentium, A univer­
salem affirmativam, E universalem negativam, Iparticularem affirmativam,
et O particularem negativam. Hccc si animaclveteris, simulque duo illa,
a Cap. superiori. qua paulo superius a diximus, in memoriam revocaveris, primam scilicet,
et secundam enuntiationem esse exponendas copulative, reliquas disiunc-
tive, itemque priorem exponentem eodem pradicato: eodemque subiecto
constare debere, posteriorem vero eodem pradicato, sed excluso subiecto,
facile, ac expedite harum enuntiationum, et expositionem, et oppositionem
memoria retinebis. Id quod totum, in hac descriptione perspicitur.

Subalternans Subalternans

1
Tantum animal est aegrum. Tantum animal non est aegrum.

Contrariae
Id est Id est

Ig Animal est aegrum, et To Animal non est aegrum, et


Nihil, quod non sit animal, est Omne, quod non est ani-
ne aegrum. nans mal, est aegrum.

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Non tantum animal non est aegrum. Non tantum animal est aegrum.
Subcontrariae
Id est Id est

Ma Omne animal est aegrum, vel Per Nullum animal est aegrum, vel
Aliquid, quod non est animal, Aliquid quod non est animal,
los non est aegrum. dit est aegrum.
Subaltérnala Subaltérnala

Dictio exclusiva non Duo tamen adhuc admonebo, qua trito sermone in hac materia dicun­
excludit concomitan­
tur. Alterum est, Dictionem excMsivam non excludere concomitantia,
tia.
hoc est, ea qua subiectum exclusiva necessario consequuntur. Exempli
causa, cum dico, Tantum homo loqui potest, non excludo animal, nec alia,
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 239

Correspondem elas às quatro enunciações supramencionadas pela


mesma ordem que por nós foram propostas. Depois, advirta-se que em
cada uma há duas vogais que significam a qualidade e a quantidade das
exponentes: o a [significa] a universal afirmativa, o e, a universal negativa,
o i, a particular afirmativa e o o, a particular negativa. Se se advertir
isto, e simultáneamente se trouxerem à memória aquelas duas coisas
de que falámos um pouco acima a, isto é, que a primeira e a segunda enun- a Capítulo ante-
ciação se devem expor copulativamente, e as restantes disjuntivamente; Π0Γ·
e do mesmo modo que a primeira exponente deve constar do mesmo
predicado e do mesmo sujeito, e a segunda do mesmo predicado e do
sujeito excluído, fácil e expeditamente se reterá na memoria a exposição
e a oposição destas enunciações. Tudo isto se vê no seguinte quadro:

Subalternante Subalternante

1 2
Só o animal está doente. Só o animal não está doente.
Conti árias
Isto é: Isto é:
Ig O animal está doente e To O animal não está doente e
Nada que não seja animal está Tudo aquilo que não c ani­
ne doente. nans mal está doente.

ΙΛ % CO
G
g
u
V
\ G
Uh
(D

X>
3
<$. X>
G G
(/}
c° %
*< r

3 4
Não só o animal não está doente. Não só o animal está doente.
Subcontrárias
Isto é: Isto é:
Ma Todo o animal está doente; ou Per Nenhum animal está doente; ou
Aquilo que não é animal não Aquilo que não é anmal está
los está doente. dit doente.
Subalternada Subalternada

B Chamarei ainda a atenção, contudo, para duas coisas que se dizem A dicção exclusiva
nesta matéria em linguagem comum. A primeira é que a dicção não exc!u‘ concomi·
exclusiva não exclui as coisas concomitantes, isto é, aquelas que seguem
necessàriamente o sujeito da exclusiva. Por exemplo, quando digo:
só o homem pode falar, não excluo animal e as outras coisas que se
240 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

qua necessario de homine prredicantur, [quasi negem, illa loqui posse, sed
solum excludo a participatione sermonis quicquid non est homo]. Alte­
rum est, Exclusivam et signi, et verbi affirmati converti in universalem
affirmativam. Hce siquidem sunt bona conversiones, Tantum animal C
est agrum, igitur omne agrum est animal: Solus homo sermone utitur,
Conversio exclusiva
omnino affirmativa;. igitur omne, quod sermone utitur, est homo: et ita reliqua huius forma.

De exceptivis enuntiationibus

Capvt 26*

Exceptiva qua.
Quid efficiat signum Exceptiva enunciationes dicuntur, qua constant signo exceptivo, A
exceptivum.
quale est Prater, et si quod est aliud, eiusdem significationis. Hoc vero
signum fere semper excipit aliquod sublectum a participatione, consortiove
Id a quo fit exceptio,
vere dici debet de pradicati, ut si dicas, Omne animal prater hominem, est rationis expers.
eo, quod excipitur.
Verum ne hoc loco ineptas exceptiones admittamus, releganda hinc sunt B
illa, in quibus, id, a quo fit exceptio, non vere dicitur de eo, quod excipitur.
Id a quo fit exceptio
notari debet signo Quis enim, audiat ita loquentem, Omnis homo prater belluam est rationis
universali.
particeps? Itaque solas eas exceptivas admittamus hoc loco, in quibus id,
a quo exceptio fit, vere affirmatur de re excepta. Quanquam vero id, a C
quo fit exceptio nonnunquam signo particulari notatur, ut si dicas, Aliquis
rex prater Crasum fuit dives, Aliqua regio prater Italiam est ferax bono­
rum ingeniorum, ratio tamen exceptionis poscere videtur, ut id, a quo fit
exceptio notetur signo universali. Excipere enim est a toto genere partem
detrahere. Itaque minus propria censenda est exceptio, cum id, a quo fit
exceptio, notatur signo particulari: quo fit, ut de ea in prasentia nobis
Excepti varum qua- loquendum non sit. In exceptivis igitur enunciationibus, quemadmodum in D
tuor itidem formula.
exclusivis, vel signum, et verbum afirmantur, ut si dicas, Omne mobile, pra­
ter calum, interire potest: aut solum signum affirmatur, ut omne animal,
prater hominem, non est rationis particeps: aut utrunque negatur, ut si
tdicas, Non omne mobile prater calum, non potest interire: aut signum
duntaxat negatur, ut si dicas, Non omne animat prater hominem, est bipes.

C 2-C 3 {cap. 25) — animal: Tantum homo loqui potest, igitur omne, quod loqui
potets, est homo:
* Caput. 21.
AI — signo aliquo exceptivo...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 241

predicam necessàriamente de homem, como se negasse que elas possam


falar, mas só excluo da participação da palavra tudo aquilo que não é
homem.
C A segunda é que a exclusiva de sinal e de verbo afirmativo se con­ Conversão da exclu­
verte na universal afirmativa. São, por isso, boas conversões estas: siva absolutamente
afirmativa.
só o animal está doente, portanto, todo o doente é animal; só o homem
usa da palavra, portanto, tudo aquilo que usa da palavra, é homem;
e assim as restantes desta forma.

Capítulo 26

Das enunciações exceptivas

A Chamam-se enunciações exceptivas aquelas que constam de sinal Quais são exceptivas.
exceptivo, como excepto, e qualquer outro, se o há, da mesma significação.
Este sinal quase sempre exceptúa da participação ou do consórcio do Que faz o sinal ex­
predicado algum sujeito, como se se disser: todo o animal, excepto o ceptivo.
B homem, é desprovido de razão. Mas, para que neste lugar não admita­ Aquilo de que se
mos exccpções ineptas, devem ser afastadas daqui aquelas em que aquilo faz a excepção deve
dizer-se verdadeira-
de que se faz a excepção não se diz verdadeiramente daquilo que se excep­ mente daquilo que se
túa. Efectivamente, quem ouve alguém falar assim: todo o homem, exceptúa.
excepto a fera, é dotado de razão? Admitamos, portanto, neste lugar,
só aquelas exceptivas, em que aquilo de que se faz a excepção se afirme
C verdadeiramente da coisa exceptuada. Mas, embora aquilo de que Aquilo de que se faz
se faz a excepção se note algumas vezes por um sinal particular, como a excepção deve no­
tar-se com o sinal
se se disser: algum rei, excepto Creso, foi rico; alguma região, excepto
universal.
a Itália, é fértil em bons génios; contudo, a natureza da excepção parece
exigir que aquilo de que se faz a excepção seja notado por um sinal
universal. Exceptuar, efectivamente, é tirar do género todo uma parte.
Portanto, como menos própria deve ser tida a excepção, quando aquilo
de que se faz excepção se nota por um sinal particular. Daí vem que
não devemos falar desta por agora.
D Nas enunciações exceptivas, tal como nas exclusivas, ou se afirmam Das exceptivas [há]
o sinal e o verbo, como se se disser: todo o ente que se move, excepto igualmente quatro
formas.
o céu, pode morrer; ou só se afirma o sinal, como: todo o animal,
excepto o homem, não é dotado de razão; ou se negam ambos, como se
se disser: não todo o ente que se move, excepto o céu, não pode morrer;
ou se nega somente o sinal, como se se disser: não todo o animal,
excepto o homem, é bípede.
16
242 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER III

His etiam omnibus hoc commune est, ut exponantur una quadam coniuncta

Communis ratio ex­


emundatione composita ex duabus exponentibus simplicibus, quarum prior
ponendi exceptivas. constet eodem subiecto, et prcedicato (ita tamen, ut in subiecto negetur
id, quod excipitur, de eo, a quo excipitur) posterior autem constet eodem
prcedicato, et eo tantum subiecto, quod excipitur. Prima itaque exceptiva
1
exponitur copulative, priori exponente universali affirmativa, et posteriori
universali negativa hoc modo: Omne mobile, preeter cadum, interire potest,
id est, omne mobile, quod non est caelum, interire potest, et nullum cadum
2 interire potest. Secunda, quee est contraria primae, etiam copulative expo­
nitur, sed priori exponente universali negativa, et posteriori universali affir­
mativa hoc modo, Omne animal preeter hominem non est rationis particeps,
id est, nullum animal, quod non est homo, est rationis particeps, et omnis
3
homo est rationis particeps. Tertia vero, quae est subalternata primee,
et contradictoria secundes, exponitur disiunctive, priori exponente parti­
culari affirmativa, et posteriori particulari negativa hoc modo, Non omne
4 mobile preeter cadum non potest interire, id est, Aliquod mobile, quod non
est coelum, potest interire, vel aliquod ccedum non potest interire. Quarta
denique, quee contradicit primee, subalternatur secundes, et est subcontraria
tertiae, etiam disiunctive exponitur, priori tamen exponente particulari
Comparantut inter se
expositiones. negativa, et posteriori particulari affirmativa hoc modo, Non omne animal
preeter hominem, est bipes, id est, Aliquod animal, quod non est homo, non
est bipes, vel aliquis homo est bipes. Atque ita patet, priores duas exponi
copulative, itemque exponentibus universalibus: duas vero reliquas disiunc-
ctive, et exponentibus particularibus. Preeterea, exponentes contrariarum
esse contrarias, subcontrariarum subcontrarias, contradicentium contra­
dicentes, et subalternarum subalternas. Quee omnia cernes in sequenti
descriptione, notatis primum his quatuor dictionibus.

Caule Cedas Prisco Mori

Quee eodem modo indicant exponentes exceptivarum, quo superiores


exclusivarum. Prima enim significat exponentes primee, et cceteree, quee
sequuntur, eodem ordine exponentes reliquarum.

E 8 — omne mobile, preeter ccelum,...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 243

E É ainda comum a todas estas formas o exporem-se por meio de


Modo comum de ex­
uma certa enunciação conjunta, composta de duas exponentes simples,
por as exceptivas.
das quais a primeira consta do mesmo sujeito e predicado (de tal maneira,
contudo, que se nega no sujeito o que se exceptúa daquilo de que se
exceptúa) e a segunda consta do mesmo predicado e só do sujeito que
se exceptúa. A primeira exceptiva, portanto, expõe-se copulativamente, 1
com a primeira exponente universal afirmativa e a segunda universal
negativa, deste modo: todo o ente que se move, excepto o céu, pode
morrer, isto é, todo o ente que se move que não é céu pode morrer e
nenhum céu pode morrer. A segunda, que é contrária da primeira, 2
também se expõe copulativamente, mas com a primeira exponente
universal negativa e a segunda universal afirmativa, deste modo: todo
o animal, excepto o homem, não é dotado de razão, isto é, nenhum
animal que não é homem é dotado de razão e todo o homem é dotado
de razão. A terceira, que é subalternada da primeira e contraditória 3

da segunda, expõe-se disjuntivamente, com a primeira exponente par­


ticular afirmativa e a segunda particular negativa, deste modo: não todo o
ente que se move, excepto o céu, não pode morrer, isto é, algum ente que
se move, que não é o céu, pode morrer ou algum céu não pode morrer.
4
A quarta, finalmente, que é contraditória da primeira, subalternada da
segunda e subcontrária da terceira, também se expõe disjuntivamente,
mas com a primeira exponente particular negativa e a segunda parti­
cular afirmativa, deste modo: não todo o animal, excepto o homem,
é bípede, isto é, algum animal que não é homem não é bípede, ou algum
homem é bípede. Comparam-se as ex­
Assim se mostra que as duas primeiras se expõem copulativamente posições entre si.
e, ainda com exponentes universais; e que as duas restantes disjun­
tivamente com exponentes particulares. Além disso, está claro que
as exponentes das contrárias são contrárias, as das subcontrárias sub-
contrárias, as das contraditórias contraditórias e as das subalternas
subalternas. Tudo isto se verá no quadro seguinte. Mas tome-se pri­
meiro nota destas quatro dicções:

Caute Cedas Prisco Morí.

Indicam elas as exponentes das exceptivas, do mesmo modo que


as [dicções] anteriores [indicam as exponentes] das exclusivas. A pri­
meira, efectivamente, significa as exponentes da primeira; e as restantes
que se seguem, pela mesma ordem, as exponentes das restantes.
244 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER III

Subaltemans Subalternans

1 2
Omne mobile praeter coelum interire Omne mobile praeter coelum non po-
potest. test interire.
Contrariae
Id est Id est
Cau Omne mobile, quod non est Ce Nullum mobile, quod non est
coelum, interire potest, et coelum, interire potest, et
te Nullum coelum interire potest. das Omne coelum interire potest.

%
C %
V
δ
-M

£> c*
3
co c/ \

Non omne mobile praeter coelum non Non omne mobile praeter coelum inte-
potest interire.* rire potest.**
Subcontrariae
Id est Id est
Pris Aliquod mobile, quod non est Mo Aliquod mobile, quod non est
coelum, interire potest vel coelum, non potest interire,
CO ri vel
Aliquod coelum, interire non Aliquod coelum interire potest.
potest.
Subalternata Subalternata

De reduplicativis enuntiationibus

Capvt 2 7*

Reduplicativae, quae Enunciationes reduplicativae dicuntur, quae constant dictione geminante,


dicatur.
seu reduplicante, ut vocant: Veluti si dicas, Homo quatenus est homo, est
Dictio reduplicans,
sive geminans.
disciplinae capax. Illa enim dictio, Quatenus, quia apta est ad aliquid
geminandum, et iterandum, reduplicans et reduplicativa dici solet, que­
madmodum, [Qua, Qua ratione], et cceterae omnes eiusdem significationis.

* [1590] — Omne mobile preeter ccelum non potest interire.


* * [1590] — ■ Omne mobile preeter ccelum interire potest.
* Caput. 22.
AI — dictione aliqua geminante,...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III 245

Subalternante Subalternante

1 2

Todo o móvel, excepto o céu, pode Todo o móvel, excepto o céu, não
morrer. pode morrer.
Contrarias

Isto é: Isto é:
Cau Todo o móvel que não é céu Ce Nenhum móvel que não é
pode morrer, e pode morrer, e
te Nenhum céu pode morrer. das Todo o céu pode morrer.

(Λ «Λ
Μ

a
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G° %

3 4

Não todo o móvel, excepto o céu, Não todo o móvel, excepto o céu,
não pode morrer. pode morrer.
Subcontrários.

Isto é: Isto é:
Pris Algum móvel que não é céu Mo Algum móvcl que não é céu
pode morrer, ou não pode morrer, ou
co Algum céu não pode morrer. Γ1 Algum céu pode morrer.
Subalternada Subalternada

C a p í t u l o 27

Das enunciações re dupli cativas

Dá-se o nome de enunciações reduplicativas àquelas que cons­ Quais as que se dizem
reduplicativas.
tam de dicção geminante ou reduplicante, como lhe chamam, tal como
se se disser: o homem, enquanto é homem, é capaz de educação. Aquela Dicção reduplicante
ou geminante.
dicção enquanto, porque é apta para geminar e reduplicar alguma coisa,
costuma dizer-se reduplicante e reduplicativa, tal como conquanto, por
esta razão e todas as restantes da mesma significação. Tomam-se,
246 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER TU

Duobus autem modis accipiuntur huiuscemodi dictiones. Uno, specificative,


ut vocant, altero reduplicative. Tunc huiusmodi voces accipiuntur speci­
ficative, cum notant in Subiectis rationem aliquam secundum quam, vel
Duplex acceptio di­
ctionis geminantis. cum qua ipsis conveniunt praedicata, ut si dicas, Socrates quatenus capillos
Specificative.
habet, est crispus: Plato qua est albus est grammaticus. Verus enim
sensus prioris enunciationis est Socrati convenire crispitudinem {ut sic
loquar) secundum capillos, posterioris autem, Grammaticam Platonis non
impedire quominus idem sit albus. Atque ad hoc genus enunciationum
pertinent ilice, in quibus dictiones reduplicativce in eo sensu usurpantur,
quo significant conditionem sine qua non {ut appellant) hoc est sine qua
prcedicata non conveniunt subiectis, ut si dicas, Ignis quatenus prope est,
Reduplicative.
seu qua ratione prope est, calefacit. Tunc vero huiuscemodi dictiones acci­
piuntur reduplicative, cum significant aliquid, quod subiecto convenit,
esse causam cur illi conveniat prcedicatum: ut si dicas, Socrates quatenus est
homo est disciplina capax. Sensus enim proprius, ac prcecipuus huius
enunciationis est, Naturam humanam, qua Socrati convenit esse causam
cur illi conveniat docilitas. Omissa igitur priori acceptione, qua minus
Ratio exponendi rc-
duplicativas enuncia- propria est, quod ad posteriorem attinet, animadvertendum est, enuncia­
tiones.
tionum, in quibus reduplicativa dictio hoc pacto sumitur, quatuor esse
genera, Aut enim reduplicatio, et verbum affirmantur, ut si dicas, Homo
quatenus homo est disciplina capax: aut verbum tantum, ut si dicas, Homo
quatenus homo, non est disciplina capax: aut utrunque negatur, ut si dicas,
Homo non quatenus homo, non est disciplina capax: aut sola reduplicatio,

B1-B 33 — accipiuntur lue dictiones. Altero, ut notant in subjectis rationem ali­


quam, secundum quam ipsis conveniunt prcedicata (quod specificative accipi apellantj
ut si dicas, Homo qua homo est, est species, Homo qua est homo, est grammaticus.
Nec enim sensus est, causam cur homo sit species, aut grammaticus, esse, quia est homo,
{quandoquidem hoc. pacto omnes homines essent species, atque grammatici ) sed enusus
est, quod ratio conveniens homini, cum qua simul reperitur ut sit species, et grammaticus,
est ratio hominis, non Socratis tantum aut Platonis, quaquam etiam Socrates, et Plato
qua sunt hi omnes grammatici dici possint. Altero modo accipiuntur ut significant
aliquid, quod subjecto convenit, esse causan prcedicati, (quod vocant reduplicative accipi)
ut si dicas, Homo qua homo esi, vel, qua rationalis naturae esi, disciplinen capax. Omissa
igitur priori acceptione, quee minus propria est, quod ad posteriorem attinet hoc tantum
dicendum videtur, multo facilius et familiarius emundationes, quee hunc sensum conti­
nent, per singulas causales exponi quam per quattuor, aut quinque exponentes, ut a ple-
Ut Ochamus 2. parte risque exponentur. Itaque affirmativa reduplicationis et verbi, perfacile exponitur per
Logicae, cap. 16.
causalem omni ex parte affirmativam hoc modo, Homo qua est rationalis, est dis-
1 ciplince capax, id est, homo quia rationalis est disciplince capax est. Affirmativa autem
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO 111 247

porém, de dois modos estas dicções: de um, especificativamente, como Dupla acepção da
dizem; do outro, reduplicativamente. Tais vozes tomam-se especificati­ dicção geminante.
Especificativamente.
vamente quando notam nos sujeitos alguma razão segundo a qual ou com
a qual lhes convêm os predicados, como se se disser: Sócrates, enquanto
tem cabelos, é crespo; Platão, conquanto seja branco, é gramático.
Com efeito, o verdadeiro sentido da primeira enunciação é que a crespi-
dão (por assim dizer) convém a Sócrates segundo os cabelos; mas o da
segunda é que a Gramática de Platão não impede que o mesmo seja
branco.
A este género de enunciações pertencem aquelas nas quais se
usam as dicções reduplicativas no sentido segundo o qual significam
a condição sine qua non (como lhe chamam), isto é, sem a qual os pre­
dicados não convêm aos sujeitos, como se se disser: o fogo, enquanto
está próximo, ou pela razão de estar próximo, aquece. Tais dicções Reduplicativamente.
tomam-se reduplicativamente quando significam que aquilo que convém
ao sujeito é a causa por que lhe convém o predicado, como se se disser:
Sócrates, enquanto é homem, é capaz de educação. Com efeito, o
sentido próprio e principal desta enunciação é: a natureza humana, que
convém a Sócrates, é a causa por que lhe convém a educabilidade.
Omitida, portanto, a primeira acepção, que é menos própria, no que diz
respeito à segunda, deve atender-se a que há quatro géneros de enuncia­
ções em que se toma deste modo a dicção reduplicativa: com efeito, ou Modo de expor as
se afirmam a rcduplicação e o verbo, como se se disser: o homem, enunciações redupli­
cativas.
enquanto homem, é capaz de educação; ou só o verbo, como se se
disser: o homem, enquanto homem, não é capaz de educação; ou se
negam ambos, como se se disser: o homem, não enquanto homem,

reduplicationis dmtaxal exponitur per causalem negativam solius consequentis hoc modo,
Homo, qua homo est, rationis expers, non est, hoc est, homo quia homo est, non est 2
rationis expers. Negativa vero , et reduplicationis, et verbi exponitur per causalem 3
negativam coniunctionis, et consequentis hoc modo, Homo non qua homo est, non est
grammaticus, id est, homo non quia homo est, grammaticus non est, negativa denique 4
solius reduplicationis exponitur per negativam solius comiunctionis hoc modo, homo Reduplicatio non­
non qua homo est, grammaticus est, id est, homo non quia homo est, grammatica est. nunquam declarat
Nonnunquam tam illud Qua non in eo sensu usurpatur, quo significat aliquid esse vere conditionem sine qua
causam prcedicati, sed conditionem quandam sine qua prcedicatum non convenit subjecto non.
ut si dicas, Ignis qua prope est, calefacit. Atque hoc pacto illud Quia non proprie
accipiendum est in expositione sed tantum, ut declarat conditionem sine qua non, vocari
solet. Veruntam hic sensus non proprie reduplicativam efficit enunciationem sed Nota.
reductione quadam. Posset autem huiusmodi enunciationes eodem ordine, quo supe­
riores, disponi sed quia res nihil habet difficultati, simul etiam quia in hisce multus iam
f ortasse videor, huic tractatione de ratione finem impono.
248 INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO III

ut si dicas, Homo non quatenus homo, est disciplinen capax. Ac sunt


qui huiusmodi enuncialiones tam multis exponentibus explicent, ut rem
magis obscurare videantur. Satis certe videtur esse, si pro istarum
expositione loco verbi Quatenus, ponatur verbum, Quia, proprie acceptum,
sive qua ratione indicat causam, ut dictum est. Hoc enim pacto non
admodum difficile erit earum sensum intelligere. Quod si eo verbo posito
Cap. 16 et 11. nondum satis aperta fuerit enunciado, ex iis quee supra a de causali enun­
cia tione dicta sunt, petenda erit explicatio. Atque hactenus utiliter de
enunciationibus, quee expositione indigent. Reliqua quee in hac re dici
solent, si persequi velis inaniter tempus expendes.

Finis Tertii Libri


INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LI 3ER III 249

não é capaz de educação; ou só a reduplicação, como se se disser:


o homem, não enquanto homem, é capaz de educação. E há quem
explique tais enunciações com tantas exponentes que mais parece obs­
curecer a coisa.
Parece ser certamente suficiente, na exposição destas, pôr-se em
lugar da palavra enquanto a palavra porque, propriamente tomada,
ou seja enquanto indica a causa, como se disse. Desta maneira, com
efeito, não será muito difícil entender o sentido delas. Mas se, pondo
esta palavra, ainda não fôr bastante clara a enunciação, deverá pcdir-se
a explicação àquilo que acimaa se disse da enunciação causal. a Cap. 16 e 11.
Até agora [falámos] utilmente das enunciações que carecem de
exposição. As restantes coisas que, nesta matéria, costumam dizer-se,
se se pretender continuar [no estudo delas], gastar-se-à o tempo em vão.

Fim do livro terceiro


IN S T I T V T I O N V M D I A L E C T I C A R V M

LIBER IIII

De ordine ac modo tradendi partes Dialecticae;


item quid sit divisio

C A P V T 1

Explicatis iis omnibus, quee tribus disserendi modis, Divisioni inquam,


Institutum librorum Definitioni, et Argumentationi sunt communia, sequitur ut ad ea, quee
sequentium. singulorum propria sunt, veniamus. Ac de * divisione quidem, et defini­
tione, qua ratione per se considerantur, et speciales disserendi modi
Quo pacto in his existunt, (sic enim a nobis in praesentia tractabuntur) nullum opus habemus
duobus libris de
divisione ac defini­ ab Aristotele ex instituto editum. Attamen si ex iis, quee ille argumen­
tione agendum si. tationis causa in Analyticis, et Topicis de hisce disseruit, ea, quee ad hunc
locum attinent, desumpserimus, aliaque nonnulla ex aliis libris, prae­
sertim Metaphysicis, asciverimus, nihil praeterea erit, quod magnopere
Maiores difficultates
dc divisione, ac defi­
videatur requirendum. Nam etsi multa sunt, quee de divisione, et defini­
nitione, ad Mcta- tione quaeri, ac disputari possunt, tamen difficillima quaeque non ad Dialec­
physicum spectant.
ticum, sed ad Metaphysicum spectant. Divisio igitur, quod ad Dialecticum A
attinet, est oratio, qua totum in suas partes dividitur: ut si dicas, Hominis
Divisum. altera pars est animus, altera corpus: Animalium aliud homo est, aliud
bestia. Totum, quod dividitur, et a quo incipit divisio, Divisum apud B
Membra dividentia.
Dialecticos appellatur: partes vero, in quas divisio finitur, ac terminatur,
Membra dividentia, vel membra divisionis dicuntur. Hinc intelliges divi­
sionem esse quendam sciendi modum. Nam cum totum in suas partes
dividitur, tunc distincte qua totum, est declaratur.

sunt, veniendum sit. Ac de...


LIVRO IV

DAS

INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS

C a p í t u l o 1

Da ordem e do modo de tratar as partes da Dialéctica


e do que é a divisão

Explicadas todas aquelas coisas que são comuns aos três modos
de discorrer, isto é, à divisão, à definição, e à argumentação, vamos agora Plano dos livros se­
guintes.
tratar daquelas que são próprias de cada um deles. Ora, acerca da
divisão e da definição, enquanto consideradas em si mesmas e são
Dc que modo deve
modos especiais de discorrer (pois assim as consideraremos agora), tratar-se nestes dois
não possuímos nenhuma obra que Aristóteles lhes tenha dedicado espe­ livros da divisão e
cialmente. Se, porém, procurarmos as coisas, que pertencem a este da definição.

assunto, naquilo que ele escreveu acerca da argumentação, nos Analíticos


e nos Tópicos, e recolhermos outras noutros livros, principalmente nos
da Metafísica, parece que nada mais se requer. Com efeito, se bem As maiores dificul­
dades acerca da divi­
que muitas coisas mais se possam perguntar e discutir acerca da são e da definição
divisão e da definição, as mais difíceis, contudo, não dizem respeito ao pertencem à Meta­
Dialéctico, mas ao Metafísico. física.
A A divisão, portanto, pelo que diz respeito ao Dialéctico, é a oração
pela qual se divide o todo nas suas partes, corno se se disser: uma parte
do homem é a alma, e a outra é o corpo; dos animais, uns são homens Dividendo.
B e outros bestas. O todo, que se divide e do qual parte a divisão, é deno­
minado dividendo pelos Dialécticos. As partes, em que a divisão se con­ Membros dividentes.
fina e se termina, dizem-se membros dividentes ou membros da divisão.
Daqui se compreenderá que a divisão é um meio de conhecer. Efecti­
vamente, quando se divide um todo nas suas partes, manifesta-se então
distintamente esse todo, enquanto tal.
252 INSTITVTIONVM DlALECTICARVM LIBER lili

De distinctione vocis multiplicis

CAPVT2

Duplex vero divisio traditur a Philosophis: altera vocis multiplicis, A


quce Distinctio nominatur: altera rei, quam in Partitionem, et in eam,
quce magis proprie divisio appellatur, distribuunt. Distinctio est divisio
Generalis divisio di­ vocis multiplicis in suas significationes, aut sensus: ut si dicas, Huius
visionis.
vocis Acutum alia significatio est, qua significat acutam figuram, alia,
Distinctio quid.
qua transfertur ad sonum acutum, alia, qua ad saporem acutum: et huius
orationis, Litus aras, alter sensus est, quod litus aratro proscindas, alter,
quod operam perdas. Hoc dictum intellige de vocibus multiplicibus, B
quce nec habent varias significationes, nec varios sensus ceque principales,
sed tales, ut in ipsis sive significationibus, sive sensibus, aliquam videre liceat
unitatem ordinis, aut proportionis, ut patet in traditis exemplis. Nam
Quae vox multiplex
proprie non dicatur si vox multiplex habuerit plures significationes, aut sensus ceque principales
dividi.
sine ordine ullo, aut proportione, quce aliquam faciat unitatem significationis
{ut hcec vox Gallus, quce ex cequo significat hominem Gallum, et gallum
avem, et hcec oratio, Audivi Gr cecos vicisse Troianos, qua ceque significo,
Id non proprie divi­ audivisse me: quod Grceci vicerint Troianos, et quod Troiani Gr cecos)
ditur, quod nullo mo­
do est unum. non videbitur eius distinctio ad ullum genus divisionis pertinere. Id enim
a 5. metaph. 26.
tex. 31.
non dividitur quod nidio modo est unum, cum totum, ut docet Aristo­
teles a, unum quiddam, qua totum est, esse debeat. Sive igitur ita dicas,
Omnis divisio vocis
multiplicis etiam im­ sive huiusmodi voces modo aliquo dividi concedas {potest enim earum
propria proprie dici­ multiplicitas quodammodo dici unum, ratione unius vocis, in qua cernitur)
tur distinctio.
b 1. top. 13. omnis enumeratio significationum, aut sensuum vocis multiplicis seu
proprie divisio sit, seu quodammodo divisio, nomine distinctionis proprie
comprehenditur: de qua omni, ut de re in disserendo pernecessaria multa
prcecepta tradit Aristoteles b. Hcec de primo divisionis genere dicta sint.
Nunc alterum, quod partitio nominatur, explicemus.

B 8-B 9 — Troianos quce ex cequo significat, audivisse...


B 10-B 12 — divisionis proprie revocari: quia id non proprie dividitur quod
nullo modo est unum. Totum enim, ut docet Aristoteles, unum quiddam, qua totum
est, esse debet. Sive...
B 15-B16 — Seu vere divisio...
B 19 — nominatur veniendum est.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 253

Capítulo 2

Da distinção da voz múltipla

A Os filósofos dão duas divisões do termo múltiplo: uma, a da voz


múltipla, que se chama distinção; outra, a da coisa, que eles distribuem
na partição e naquela que, com mais propriedade, se denomina divisão.
A distinção é a divisão da voz múltipla nas suas significações ou
Divisão geral da di­
sentidos, como se se disser: esta palavra agudo tem uma significação visão.
enquanto significa uma figura aguda, outra, enquanto se refere a um som
Que é a distinção.
agudo, outra ainda, a um sabor agudo. Na oração lavras areia, um
sentido é que sulcas a areia com o arado, o outro é que trabalhas em vão.
B O que fica dito entenda-se das vozes múltiplas, que não têm várias signi­
ficações nem vários sentidos igualmente principais, mas são tais que,
ou nas suas significações, ou nos seus sentidos, possa notar-se alguma
unidade de ordem ou de proporção, como se torna evidente nos exem­
plos dados. Com efeito, se a voz múltipla tiver significações ou sentidos
A voz múltipla prò-
igualmente principais, sem ordem alguma ou proporção que dê uma priamente não se diz
que se divide.
certa unidade de significação (como a palavra gallus, que tanto significa
homem gaulês como galo, e esta oração: Audivi Graecos vicisse Troianos,
com a qual significo tanto ter eu ouvido que os Gregos venceram os
Troianos, como que os Troianos venceram os Gregos), não haverá razão Não se divide prò-
priamente aquilo que
para que a sua distinção pertença a um género de divisão. De facto, de nenhum modo
não se divide aquilo que, de modo nenhum, forma uma unidade. forma uma unidade.
a Metafísica, V,
O todo, com efeito, como ensina Aristótelesa, enquanto todo, deve 26, tex. 31.
ter uma certa unidade.
Portanto, quer se concorde com isto, quer se conceda que vozes Toda a divisão duma
desse género se dividem de alguma maneira (pode, efectivamente, a sua voz múltipla, mesmo
a imprópria, se diz
multiplicidade dizer-se, de certo modo, unidade, em razão da palavra propriamente distin­
ção.
única com que se expressa), toda a enumeração das significações ou dos b Tópicos, I, 13.
sentidos da voz múltipla, seja ela uma divisão propriamente dita ou uma
divisão até certo ponto, está compreendida propriamente no nome dis­
tinção — acerca de toda a qual, como de uma coisa muitíssimo neces­
sária no discorrer, nos deixou Aristóteles b muitas regras.
E bastem as coisas que se disseram sobre o primeiro género de
divisão. Expliquemos agora o segundo, a que se dá o nome de partição.
254 ÍNSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

De partitione

CAPVT3

Partitio est divisio totius quanti in partes, quibus integratur. Par­


tium integrantium nomine intelligo eas, quibus tota aliqua magnitudo
Partitio quid. aut multitudo extensa est. Hoc modo membra corporis humani sunt
Partes integrantes.
partes integrantes corpus humanum, et ordines Reipublicce totam integrant
Rempublicam. Quoniam vero partes integrantes aut sunt ομογενείς, A
hoc est, eiusdem naturce, ac appellationis cum toto, quas cognatas, et
similares vocant, ut partes carnis, et partes aquee {qualibet enim pars,
Partes similares. qua carnem integrat, caro est, et qualibet aqua, est aqua) aut ετερογενείς, B
Aristo. 1 de gene­
id est diversa natura, ac appellationis, quas multigenas, et dissimilares
rat. 5. et 1. de hist.
anim. vocat όμοιο/ιε­ nominant, ut membra corporis humani, et partes domus, {neque enim
ρείς dissimilar es vero digitum dixeris esse corpus humanum, aut parietem domum) fit, ut duplex C
ανομοιομερείς
Duplex partitio. sit divisio in partes integrantes, [szve partitio] altera, [qua totum dividitur]
in [partes] similares, altera [qua] in dissimilares. Priori modo dividuntur
quantitates continuae, et alia pleraque, ut aer, aqua, et ccetera corpora
simplicia: posteriori dividuntur quantitates discretee, animalium corpora,
Divisio totius potes­
tate ad partitionem et alia permulta tum a natura, tum ab arte composita. Ad hanc dividendi D
revocatur. formam revocari potest divisio totius potestate, seu virtute, in suas vires,
a Ut passim libris
de anima. seu potentias, quee scepe numero apud Aristotelem partes vocantura:
ut si dicas, animi rationalis altera pars est, qua intelligit, altera, qua
cupit. Causa huius revocationis est, quia ut res extensa constat suis
Obiectio.
partibus integrantibus quoad totam extensionem, sic res, quae multas habet
vires constat suis viribus, potentiisve quoad totam potestatem [quae extensio
quaedam rei merito censeri potest. Quod si quis contendat hoc genus
Solutio. divisionis potius numerandum esse inter divisiones per accidens, de quibus
inferius agendum est, {nec enim dubium esse debet quin partes potestatis
accidant rei cui tota potestas accidit) occurrendum est partes potestatis,
etsi accidunt rei, cui tota potestas accidit sumpta re quoad essentiam suam
non tamen illi accidere si res sumatur quoad totam potestatem, quo pacto
nomen rei in hoc genere divisionis sumitur].

C 4-C5 — et ccetera huiusmocli: posteriori...


D 6-D 7 — sic res, quee multa potest constat...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 255

C apítulo 3

Da partição

A partição é a divisão do todo quantitativo nas partes em que ele


se integra. Pelo nome de partes integrantes entendo aquelas pelas
quais toda uma grandeza ou multidão se estende. Deste modo, os
membros do corpo humano são partes integrantes do corpo humano, Que é a partição.
Partes integrantes.
e as classes de urna República integram toda a República.
A Ora, urna vez que as partes integrantes ou são ομογενείς (homo­
géneas), isto é, da mesma natureza e nome que o todo, e então chamam-se
cognatas e semelhantes, como as partes da carne, as partes da água
(com efeito, qualquer parte que faz parte integrante da carne é carne,
Partes semelhantes.
B e qualquer parte da água é água), ou são ετερογενείς (heterogéneas), Aristóteles, em Da
isto é, de natureza e nome diversos, e então chamam-se multigenas geração, I, 5 e em
Da História dos ani­
e dissemelhantes, como os membros do corpo humano e as partes duma mais, I, 1, chama-
C casa (com efeito, não se diz que o dedo é o corpo humano, nem que uma -lhes ομοιομερείς e
às dissemelhantes
parede é a casa), conclui-se que a divisão em partes integrantes ou par­ άνομο to μερεΐς.
tição é dupla: uma, na qual o todo se divide em partes semelhantes; Dupla partição.
outra, em dissemelhantes. Do primeiro modo, dividem-se as quan­
tidades contínuas, e quase todas as outras coisas, como o ar, a água
e os restantes corpos simples; do segundo modo, dividem-se as quanti­
dades discretas, os corpos dos animais e muitíssimas outras coisas
compostas tanto natural como artificialmente. A divisão do todo
potencial inclui-se na
D Nesta forma de dividir pode incluir-se a divisão do todo potencial partição.
ou virtual nas suas capacidades ou potências, a que Aristóteles, muitas a Assim, em vá­
rios passos, nos livros
vezes, chama partes a, como quando se diz: uma parte da alma racional Da Alma.
é aquela pela qual entende; outra, aquela pela qual quer. A causa desta
inclusão é que, assim como a coisa extensa consta das suas partes inte­
grantes em relação a toda a extensão, assim a coisa, que tem muitas Objecção.
capacidades, consta das suas capacidades ou potências em relação a
toda a potência, e esta pode, com razão, ter-se como uma certa extensão Solução.

da coisa. Se alguém objectar que este género de divisão deve antes


enumerar-se entre as divisões por acidente, das quais se tratará mais
abaixo (não resta dúvida, com efeito, de que as partes da potência
pertencem à coisa a que pertence a potência toda), deve responder-se
que as partes da potência, embora pertençam à coisa a que pertence
a potência toda, tomada a coisa quanto à sua essência, não lhe pertencem,
contudo, se a coisa se tomar quanto à potência toda, que é como se toma
o nome da coisa neste género de divisão.
256 INSTITVTIONVM DÍALECTICARVM LIBER lili

De divisione physica totius essentialis

CAPVT4

Divisio, ut a distinctione vocis multiplicis, et a partitione secernitur,


duplex est, altera totius essentialis, altera totius universalis. Nomine A
Totum essentiale.
totius essentialis intelligo id, quod habet essentiam compositam ex materia
et forma communi aut ex genere et differentia. Qua quidem ratione
dicuntur tota essentialia homo, angelus, color et reliqua; species rerum,
quce per se ponuntur in prcedicamentis. Totum vero universale accipio B
Totum universale.
respectu partium, quce illi subiiciuntur essentialiter, seu de quibus illud
a Pried. 2 et 3. dicitur, ut de subiectis, ut loquitur Aristotelesa: quo pacto substantia,
et corporeum dicuntur tota universalia respectu hominis, aut animalis.
Duplex divisio totius Porro divisio totius essentialis, duplex est altera realis, sive physica, altera
essentialis.
Divisio physica quae. rationis, sive metaphysica. Divisio physica totius essentialis est, qua C
Materia. totum essentiale dividitur in materiam et formam. Materia (ut pingui
Forma.
Minerva rem exponamus) est subiectum formes substantialis. Forma
Cur divisio haec di­ vero est [substantialis] perfectio materies. Hoc modo corpus dicitur
catur physica et rea-
lis. materia hominis, et animus forma: Unde fit ut divisio, qua dicimus, hominis
Quae divisiones ad alteram partem esse animum, alteram corpus sit divisio physica. Dici
physicam revocentur. autem solet heee divisio realis, ac physica, quia fit in partes re diversas, ex
quibus essentia eius, quod dividitur, naturaliter composita est. Ad hanc D
divisionem revocatur divisio compositi accidentalis in subiectum et accidens:
ut si dicas, /Eris figurati altera pars est ces, altera figura. Revocatur
etiam divisio quantitatum continuarum in partes divisibiles, et indivisibiles,
[(i/ in mediis quantitatibus continuis dantur actu indivisibilia)] quoniam
divisibiles sunt similes materies, indivisibiles autem, formor: quo pacto
linea duorum palmorum dividitur in duos palmos, et in punctum, quo
palmi copulantur.

A 2-B 1 — compositam sive re, sive consideratione: cuiusmodi sunt omnes species,
quce per se ponuntur in prcedicamentis: ut homo, angelus, color: hce siquidem res respectu
partium, ex quibus ipsarum essentia constituitur, dicuntur tota essentialia. Totum...
B 2-B 3 —partium sibi subjectarum, de quibus dicitur essentialiter, seu ut de
subiectis...
B 5 — essentialis, ut iam significavimus, duplex est...
C 2 — dividitur in partes vere, ac re ipsa essentiam componentes. Partes vere
componentes essentiam sunt materia et forma. Materia...
C 3-C 4 — subiectum quod formam in se recipit. Forma vero est perfectio
quaedam, quce recepta in materia essentiam rei absolvit. Hoc modo...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 257

C a p í t u l o 4

Da divisão física do todo essencial

A divisão, enquanto distinta da distinção da voz multíplice e da


partição, é dupla: urna, do todo essencial; outra, do todo universal.
A Pelo nome todo essencial, entendo aquilo que tem uma essência com­ Todo essencial.
posta de matéria e forma comum, ou de género e diferença. Assim,
dizem-se todos essenciais: homem, anjo, cor e as restantes espécies de
B coisas que por si se põem nos predicamentos. O nome todo universal
tomo-o em relação às partes que lhe pertencem essencialmente ou das Todo universal.
quais se predica como de sujeitos, segundo Aristótelesa. Assim,
substância e corpóreo dizem-se todos universais em relação ao homem a Predicamentos,
2 e 3.
ou ao animal.
C A divisão do todo essencial é dupla: uma real ou física, outra de A divisão do todo
essencial é dupla.
razão ou metafísica. A divisão física do todo essencial é aquela pela Que é a divisão
qual se divide o todo essencial em matéria e forma. A matéria (para física.
Matéria.
expormos isto por alto) é o sujeito da forma substancial. A forma Forma.
é a perfeição substancial da matéria. Deste modo, o corpo diz-se a
matéria do homem, e a alma a forma. Donde se conclui que a divisão,
Razão por que esta
pela qual dizemos que uma parte do homem é alma, e a outra corpo, divisão se diz física
é uma divisão física. Esta divisão costuma denominar-se real e física, e real.
porque se faz nas partes, realmente diversas, de que se compõe natu­ Quais as divisões in­
cluídas na divisão
ralmente a essência do que se divide. física.
D A esta divisão pertence a divisão do composto acidental em sujeito
e acidente, como quando se diz: da estátua de bronze, uma parte é o
bronze, a outra a figura. Enquadra-se nesta a divisão das quantida­
des contínuas em partes divisíveis e indivisíveis (se é que nas quanti­
dades médias se dão indivisíveis em acto), visto que as divisíveis são
semelhantes à matéria e as indivisíveis à forma; deste modo, uma
linha de dois palmos divide-se nos dois palmos e no ponto em que os
palmos se unem.

C 5 — forma. Ita divisio...


C 6 — corpus est divisio...
C 7-C 8 — ex quibus id, quod dividitur, naturaliter compositum est.
17
258 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LÍBER lili

De divisione metaphysica totius essentialis

C APVT5

Divisio metaphysica totius essentialis est ea, quce totum essentiale A


dividitur in genus et differentiam cuiusmodi est oratio, qua dicimus,
Hominis alteram partem essentialem esse animal, alteram rationale.
Dicitur autem hcec divisio rationis, et metaphysica, quia non fit in partes
re diversas, sed ratione sola, qui dividendi modus Metaphysicorum est
Cur divisio tuec dica­pene proprius, ac peculiaris. Nam, ut in eodem exemplo persistam,
tur rationis, et meta-
physica.
animal et rationale, quce de homine dicuntur, eadem prorsus res sunt, sed
tamen homo secundum eam rationem, qua convenit cum brutis animan­
tibus, est, et dicitur animal, secundum eam vero, qua ab eisdem distin­
guitur, est, et dicitur rationalis. Ad hanc divisionem revocatur divisio
Divisio individui in individui {quod scepe Aristoteles a comparatione speciei vocat ipsum totum)
speciem, et differen­
tiam individuantem. in speciem et differentiam individuantem, ut cum ratione, consideratione­
a Ut 7. metaphy. que ex ipsa natura rei ducta resolvimus Socratem in hominem, et eam
10. et 11 tex. 33. et
deinceps. differentiam, qua a certeris hominibus distinguitur. Homo enim [com­
munis], et differentia individuam, ex quibus Socrates constitui dicitur,
eadem omnimo res sunt: verum Socrates secundum eam rationem, qua
cum casteris hominibus convenit, est, ac dicitur homo, secundum eam vero,
[Dubitatio]. qua differt ab eisdem, est, et dicitur hic designatus homo, ac individuus.
[Si quis autem queerat cur hcec divisio individui non sit comprehensa sub
divisione totius essentialis, sed ad quandam eius speciem, revocetur, preeser-
[Responsio].
tim cum individuum, non videatur excludendum a ratione totius essentialis:
[ό Lib. 5. cap. 8]. respondendum est, causam huius rei esse, quia quemadmodum apud
Philosophos non agitur directo, ac ex instituto de definitione individuorum,
Est enim metaphy- ut infrab patebit, ita nec de illorum divisione. Atque hcec eadem est
sica.
causa, ob quam individuum in ratione totius essentialis comprehensum
non est]. Sed accuratior huius rei perscrutatio nec ad hunc locum, nec
fortasse ad hanc artem perlinet. Hcec de divisionibus totius essentialis
videntur satis.

A 2 — dividitur in partes sola ratione considerationeque essentiam componentes.


Huiusmodi partes sunt genus, et differentia. Sola enim ratione species ex genere, et
differentia constituitur, ut homo ex animali, et rationali. Ita fit ut oratio...
A 2 — Porphy. de differentia, (cota marginal).
A 3-A 4 — rationale, sit divisio metaphysica. Dicitur...
A 7-A 8 — quce in homine cernuntur, eadem prorsus res sunt, ipse tamen homo
secundum eam quidem rationem...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 259

Capítulo 5

Da divisão metafísica do todo essencial

A divisão metafísica do todo essencial é aquela pela qual o todo


essencial se divide em género e diferença, como, por exemplo, a oração
pela qual dizemos que urna parte essencial do homem é animal e a
outra é racional.
Esta divisão diz-se de razão e metafísica, porque se faz em partes Razão por que esta
não diversas na realidade, mas só na razão, modo este de dividir que divisão se diz de ra­
zão e metafísica.
é quase próprio e peculiar dos metafísicos. Com efeito, persistindo
no mesmo exemplo, animal e racional, que se dizem do homem, são
absolutamente a mesma coisa; porém, homem, segundo a razão pela
qual é semelhante aos brutos animados, é e diz-se animal, e, segundo a
razão pela qual se distingue deles, é e diz-se racional.
A esta divisão pertence a divisão do indivíduo (que, muitas vezes, Divisão do indivíduo
Aristótelesa, em comparação com a espécie, chama o próprio todo) em espécie e dife­
rença individuante.
em espécie e diferença individuante, como quando, em razão e conside­ a Por exemplo,
ração da própria natureza da coisa, distinguimos em Sócrates o homem Metafísica, VII, 10
e a diferença pela qual se distingue dos outros homens. Com efeito, e 11, texto 33 e se­
o homem comum e a diferença individuante, de que Sócrates se diz ser guintes.
constituído, são absolutamente a mesma coisa. Sócrates, na verdade,
segundo a razão pela qual é semelhante aos outros homens, é e diz-se
homem; mas segundo a razão, pela qual é diferente dos mesmos, é e
diz-se este homem determinado e indivíduo.
Se alguém perguntar, porém, porque é que esta divisão do indivíduo Dúvida.
não está compreendida na subdivisão do todo essencial, mas pertence
a uma espécie deste, principalmente quando o indivíduo não parece
dever excluir-se da razão do todo essencial, deve responder-se que a Resposta.
causa disto é que, assim como os filósofos não tratam directa e expressa­
mente da definição dos indivíduos, como adiante b se verá, assim tam­ b Livro V, cap. 8.
bém não tratam da sua divisão. É ainda esta a causa por que o indivíduo
não está compreendido na razão do todo essencial.
Mas, não pertence aqui, nem talvez mesmo a esta arte, uma inves­ É, efectivamente, me­
tigação mais profunda deste assunto. Parece que isto é o suficiente tafísica.
acerca das divisões do todo essencial.

A 12-A 14 — indviduantem, ex quibus non se ipsa sed ratione et consideratione


componitur. Homo...
260 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER IUI

De divisione totius universalis in partes subiectas

C APVT6

Divisio totius universalis in partes subiectas, seu de quibus dicitur ut A


Triplex divisio totius de subiectis, complectitur, ut placet Aristoteli, divisionem generis in species,
universalis in partes speciei in individua, et differentia in species, aut individua. Hac enim
subiectas.
omnia ac sola pradicantur de suis partibus ut de subiectis, seu essentialiter,
a Praedicat. 5. ut ex praclicamentisa apertum est. Exempla sunt. Animalium aliud
est homo, aliud bestia: Hominum alius est Socrates, alius Plato, alii
Divisio generis in spe­vero cateri: Animatorum, alia sunt animalia, alia planta: Rationalium
cies princeps omniumaliud est Petrus, aliud Joannes, alia vero cateri homines individui. Prin­
[divisionum].
ceps harum divisionum, (imo et omnium) est divisio generis in speci:s,
quam ut nobilissimam, et in philosophia maxime necessariam magnis
b In Phaedro, et
alibi. laudibus extulit Plato b. Sed et hac, et reliqua huius classis, facile intelli-
guntur ex iis, qua in explicandis quinque universalibus diximus: quanquam
Rerum essentiae fere non ita facile reperiuntur, quia maxima ex parte ignota nobis in hac vita
ignorantur.
Divisiones quorun-
sunt rerum natura, et essentia. Ad divisiones generis in species, et spe- B
dam analogorum. cierum in individua revocantur divisiones quorumdam analogorum, ut
cum dicimus, Principiorum aliud est principium via, aliud principium motus,
aliud principium temporis et catera: item accidentium alia sunt quantitates,
alia qualitates, alia relationes, alia extrinsecus adiacent. Nam etsi
huiusmodi analoga non pradicantur de membris dividentibus ut genera,
aut species, tamen eorum pradicatio proxime ad generis aut speciei
p ree dicat io nem accedit. Loquor autem non de vocibus analogis (harum
siquidem divisio in suas significationes ad distinctionem vocis multiplicis
pertinent) sed de rebus significatis. Nec vero de omnibus analogis id,
quod dixi, intelligendum esse volo, sed de iis tantum, quarum nomina
pro omnibus membris dividentibus accipi solent, cum simpliciter, atque
absolute ponuntur: cuiusmodi sunt, qua attulimus in exempla. Si enim
dicas, Principium est primum unde aliquid est, aut fit, aut cognoscitur
c 5 Metaph. 1. {quo pacto Aristotelesc describit principium fusissime acceptum, pro
omnibus principiis accipietur nomen principii. Quod idem accidit in C
nomine accidentis, quod in novem accidentium suprema genera dividitur,

A 8-A 9 — alia hominis individua. Princeps...


B 6-B 8 — pradicantur ut genera aut species de membris dividentibus, tamen
proxime, ad generis aut speciei pradicationem...
B 14-C 2 — Principium est ex quo aliquid pendet, pro omnibus principiis accipie­
tur nomen principii et sic nomen accidentis...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 261

C apítulo 6

Da divisão do todo universal ñas partes que abrange

A A divisão do todo universal ñas partes que abrange, ou das quais


se diz como de sujeitos, compreende, ao gosto de Aristóteles, a divisão
do género nas espécies, da espécie nos indivíduos, e da diferença em
espécies ou indivíduos. Com efeito, todas estas coisas e só estas se
predicam das suas partes como de sujeitos, ou essencialmente, como Tríplice divisão do
todo universal nas
se mostrou claramente nos predicamentos0. São exemplos disto: partes que abrange.
dos animais, um é homem, outro é besta; dos homens, um é Sócrates,
outro é Platão, outros os restantes; dos seres animados, uns são animais,
a Predicamen­
outros plantas; dos seres racionais, um é Pedro, outro João, outros, os tos, 5.
restantes homens indivíduos.
A principal destas divisões (como, aliás, de todas as outras), é a
divisão do género em espécies, a qual Platão b exaltou com grandes
A divisão do género
elogios, como a mais nobre e a mais necessária na filosofia. Mas tanto cm espécies é a prin­
cipal de todas as di­
esta como as outras deste género fácilmente se entendem por aquilo visões.
que dissemos ao explicar os cinco universais, conquanto não se encontrem b No Fedro, e
noutros lugares.
assim tão fácilmente, visto que nesta vida nos são desconhecidas, em As essências das coi­
grande parte, as naturezas e as essências das coisas. sas quase se ignoram.
Divisões de alguns
B As divisões do género em espécies e das espécies em indivíduos análogos.
pertencem as divisões de alguns análogos, como quando dizemos:
dos princípios, um é o princípio do caminho, outro o princípio do
movimento, outro o princípio do tempo, etc.. Igualmente, dos acidentes,
uns são quantidades, outros qualidades, outros relações, outros são adja­
centes extrínsecamente. Com efeito, embora os análogos como estes
se não prediquem dos membros dividentes como os géneros ou as espé­
cies, contudo, a sua predicação assemelha-se bastante à predicação do
género ou da espécie. Não me refiro, porém, às vozes múltiplas (com
efeito, a divisão destas nas suas significações pertence à distinção da
voz múltipla), mas às coisas significadas. Nem ainda quero que se
entenda de todos os análogos o que disse, mas só daqueles cujos nomes c Metafísica, V, 1.
se costumam tomar para todos os membros dividentes, quando se põem
simples e absolutamente, como acontece com os que apresentámos nos
exemplos. Com efeito, quando se diz que o princípio é a primeira coisa
de onde alguma coisa é, se faz, ou se conhece (e assim o descreve Aris­
tóteles c, tomado o termo princípio em sentido latíssimo), o nome
C princípio toma-se por todos os princípios. O mesmo acontece com
o nome acidente, que se divide em nove géneros supremos de acidentes,
262 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

aliorumque multorum analogorum, ut Motus, Causee, et similium, cum


eorum significata definiuntur. Quod si analogum fuerit eiusmodi, ut
eius nomen absolute, et sine adiectione positum non pro omnibus membris
dividentibus accipiatur, sed pro preeeipuis duntaxat rebus significatis ut
homo analogice communis ad veros et depictos (etenim cum hoc nomen
Homo sine adiectione in enuntiatione ponitur, semper accipitur pro solis
veris hominibus, ut cum dicimus, Homo est animal, Homo est ens) dividi
sane non poterit in membra analogica. Si enim dicas, Hominum alius
verus, alius depictus est, non feceris veram divisionem, quia nomen divisi
pro solis veris hominibus accipitur. Id quod facile est cernere in cceteris
huiusmodi.

Colligitur numerus quinque suprad'ictarum divisionum per se


totidemque adduntur divisiones per accidens

C APVT7

Hcec quinque divisionum genera, hac ratione colligi possunt. Totum, A


quod dividitur, aut est vox multiplex, habens nimirum multas significa­
tiones, sensusve, aut res continens multas partes. Si vox habens multas
significationes, aut sensus, primo divisionis genere dividitur. Si vero
est res quee multas partes continet aut comparatur cum partibus a quibus
integratur, aut cum iis, a quibus secundum essentiam constituitur, aut
cum partibus sibi subiectis. Si cum iis, a quibus integratur, dividitur
secunda divisionis forma: si cum iis, a quibus secundum essentiam, re
ipsa constituitur, dividitur tertia: si vero cum iis, a quibus sola ratione,
dividitur quarta: si denique cum partibus subiectis, dividitur quinta.
Cum igitur alius dividendi modus esse non videatur {nam si quis alius
occurrerit, facile ad hos revocabitur) efficitur ut quinque tantum sint
Hactenus sunt expli­ divisionum genera. Verum enimvero, hce omnes divisiones, ut eas hactenus
cat© divisiones per se.explicavimus, sunt divisiones per se. Diximus enim, divisionem esse
Explicatur difinitio
divisionis.

C7 — depictos (cum etenim hoc nomen...


CIO — Si enim dicas, exempti causa, Hominum...
A 4-A 10 — Si vero est res multas partes continens aut comparatur cum partibus
se integrantibus, aut cum iis partibus suam essentiam constituentibus, aut cum partibus
sibi subiectis. Si cum integrantibus, dividitur secunda divisionis forma: si cum iis,
quee suam essentiam vere, ac re ipsa componunt, dividitur tertia: si vero cum iis, quee
sola ratione, quarta: si denique, cum partibus subiectis, quinta.
A 12-A 13 — tantum sint dividendi genera.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 263

e com muitos outros análogos, como movimento, causa e semelhantes,


quando se definem os seus significados. Mas, se o análogo for de tal
maneira que, posto o seu nome absolutamente e sem adjectivação, se
tome, não por todos os membros dividentes, mas sòmeníc pelas prin­
cipais coisas significadas, como homem analógicamente comum aos
[homens] verdadeiros e aos [homens] pintados (com efeito, quando o
nome homem se põe na enunciação sem adjectivação, toma-se sempre
somente pelos homens verdadeiros, como quando dizemos o homem é
um animal, o homem é um ente), certamente não poderá dividir-se
em membros analógicos. Na verdade, se sc disser: dos homens, um
é verdadeiro, outro pintado, não se faz uma divisão correcta, porque o
nome que se divide se toma apenas pelos homens verdadeiros. O que
é fácil de verificar noutros casos semelhantes.

Capítulo 7

Reúne-se o número das cinco divisões por si, de que temos


tratado, e acrescenta-se um número precisamente igual de
divisões por acidente

A Estes cinco géneros de divisões podem reunir-se desta forma:


o todo que se divide ou é uma voz múltipla, que tem neste caso muitas
significações ou sentidos, ou uma coisa que contém muitas partes. Se é
uma voz que tem muitas significações ou sentidos, divide-se pelo primeiro
género de divisão. Mas se é uma coisa que contém muitas partes,
compara-se ou com as partes de que se integra, ou com as partes que
constituem a sua essência, ou com as partes a si sujeitas. Se com aquelas
de que se integra, divide-se pela segunda forma de divisão; se com aquelas
que constituem verdadeiramente e na própria realidade a sua essência,
divide-se pela terceira; mas se com aquelas que a constituem só na razão,
pela quarta; se, finalmente, com as partes sujeitas, pela quinta. Como
parece que não existe outro modo de dividir (pois, se alguém encontrasse
outro, esse enquadrar-se-ia fácilmente nestes), conclui-se que são só cinco
, Até aqui foram ex-
os géneros de divisões. E fora de dúvida que todas estas divisões, como piicaqas as divisões
as explicámos até aqui, são divisões por si. Dissemos, aliás, que a divi- P°r si·
Explica-se a defini­
ção de divisão.
264 INSTITVTJONVM DIALECTICARVM LIBER lili

orationem, qua totum divideretur in suas partes, hoc est, in eas qua
ratione sui, seu per se (quod idem est) sunt partes totius. Huiusmodi
enim simpliciter, et absolute dicuntur rei partes. Atque ha quidem aut
totius cequivocationem, ambiguitatemve vere efficiunt, aut ipsum vere
integrant, aut eius essentiam re, aut ratione constituunt, aut illi subli­
duntur, ut dictum est.
Caterum cum scepe totum in alia quadam quasi in suas partes dividatur, B
Divisiones per acci­
ut nunc patebit, [efficitur] ut quot sunt divisiones per se, tot fieri possint
dens. divisiones per accidens. Distinctio quidem vocis multiplicis, veluti si
Distinctio per acci­ dicas, Huius vocis Acutum, alia significatio est, qua significat id, quod
dens. stimulat tactum, alia qua id, quod pungit auditum, alia qua id, quod ferit
gustatum, et catera. Partitio autem, ut si dicas, Huius anuli (ex auro
Partitio per accidens. scilicet et smaragdo confecti) altera pars est fulva, altera viridis. Divisio
Divisio physica per
accidens. totius essentialis physica hoc pacto, Hominis altera pars est quce movet,
Metaphysica. altera quce movetur. Metaphysica vero, sive rationis, hoc modo, Homi­
nis altera pars est brutis animantibus communis, altera illi propria et
peculiaris. In his quatuor [divisionum] generibus [plane] cernis membra
Divisio totius univer­ dividentia non esse per se partes divisi, sed earum accidentia. lam divi­
salis tribus modis fit
per accidens.
sio totius universalis tribus modis per accidens fieri cernitur. Aut enim
sublectum dividitur in accidentia, aut accidens in subiecta, aut accidens
a In lib. de divi­
sione. in accidentia. In qua distributione Iuniores omnes Boetium a velut ducem
Divisio subiecti in sequuntur, quem ex antiquis fere unum habemus, qui de divisione ex
accidentia. instituto disserat. Tunc divisio est subiecti in accidentia, cum mem­ C
bra dividentia accidunt partibus sublectis divisi: ut si dicas, Animalium
aliud loqui potest, aliud loqui non potest: item aliud est rectum, aliud
pronum: item aliud est aptum ad risum, aliud ad hinnitum, aliud ad
latratum, aliud ad mugitum, et catera. Hcec nanque omnia membra
Divisio accidentis in
subiecta. dividentia accidunt partibus subiectis animalis utpote animalibus diversis.
[Tunc autemJ divisio est accidentis in subiecta cum membris dividen­
tibus accidunt partes subiecta divisi: ut si dicas, Eorum, qua moventur,
quadam sunt cali, quadam elementa, quadam mista: item, Bonorum
quadam sunt in animo, quadam in corpore, quadam in rebus externis:

B 3-B 4 — multiplicis, hoc modo, Huius vocis...


B 5 — quod pungit aures, alia...
B6 — Partitio autem, hoc modo, Huius...
B 15- C 2 — In qua distributione Juniores omnes Boetium (quem ex antiquis
fere unum habemus, qui de divisione ex instituto loquatur) vellut ducem sequuntur.
Divisio subiecti in accidentia tunc est, cum membra...
C 5 — aliud ad boatum, et ccetera.
C7 — divisio accidentis in Subiecta est cum...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 265

são é a oração pela qual se divide o todo nas suas partes, isto é, naquelas
que, em razão de si ou por si (o que é o mesmo), são partes do todo. Pois,
assim se dizem simples e absolutamente as partes da coisa. Ora estas
ou perfazem a equivocação ou ambiguidade do todo, ou integram-no
a ele próprio verdadeiramente, ou constituem a sua essência na realidade
ou na razão, ou a ele se subordinam, como foi dito.
B Mas, dividindo-se o todo, muitas vezes, em outras coisas como se
fossem partes suas, como se vai agora mostrar, resulta que são tantas
as divisões por acidente quantas as que se podem fazer por si. E assim
Divisões por aci­
teremos: a distinção da voz múltipla, como se se disser: a palavra agudo dente.

tem várias significações—o que estimula o tacto, o que penetra no ouvido, Distinção por aci­
dente.
o que fere o gosto, etc.. K partição, porém, como se se disser: uma parte
deste anel (como feito de oiro e duma esmeralda incrustada), é a cor
Partição por aci­
fulva, outra a verde. A divisão física do todo essencial, deste modo: dente.
uma parte do homem é a que move, outra, a que é movida; a metafísica, Divisão física por
acidente.
ou de razão, deste modo: do homem, uma parte é comum aos brutos Metafísica.
animados, outra, é própria e peculiar dele.
Fácilmente se verifica que, nestes quatro géneros, os membros divi­
dentes não são por si partes do dividido, mas acidentes das partes.
A divisão do todo
Vê-se imediatamente que a divisão por acidente do todo universal universal faz-se de
se faz de três modos. Efectivamente, ou o sujeito se divide em acidentes, três modos por aci­
dente.
ou o acidente em sujeitos, ou o acidente em acidentes. Nesta distri­ a No livro Da
buição, todos os modernos seguem, como mestre, Boécio a, o qual, Divisão

de entre os antigos, é quase o único que falou explícitamente da


Divisão do sujeito
divisão. nos acidentes.
C Verifica-se a divisão do sujeito nos acidentes, quando os membros
dividentes convêm às partes abrangidas pelo dividendo, como se se
disser: dos animais, um pode falar, outro não pode falar; do mesmo
modo, um é erecto, outro curvado; igualmente, um é apto para o riso,
outro para o relincho, outro para o ladrar, outro para o mugido, etc.. Divisão do acidente
Com efeito, todos estes membros dividentes convêm às partes sujeitas a nos sujeitos.

animal, enquanto animais diversos.


A divisão do acidente nos sujeitos verifica-se quando as partes sujeitas
do dividendo convêm aos membros dividentes, como quando se diz:
das coisas que se movem, umas são do céu, outras elementos, outras
mistos; igualmente, dos bens, uns estão na alma, outros no corpo,
outros nas coisas externas; do mesmo modo, das cores, uma é a do cisne,
266 1NSTITVTIONVM Dl A LECTI CAR V M LIBER lili

item Colorum alius est in cygno, aliius in corvo; alii in aliis rebus.
Hic e contrario cernas licet membra dividentia esse res, quibus accidunt
partes subiecta: divisi. Nam quoddam moveri accidit cadis, aliud ele­
mentis, aliud mistis. Reliqua exempla sunt perspicua. Tunc [denique]
divisio est accidentis in accidentia cum membra dividentia accidunt
Divisio accidentis in
accidentia. partibus subiectis eius rei, cui accidit divisum: ut si dicas, Albo­
rum quadam dura sunt, quadam mollia, alia liquentia. Membra enim
dividentia huius divisionis accidunt diversis corporibus, ut marmori,
adipi, et lacti, qua sunt partes subiecta corporis misti, cui accidit ut sit
Objectio. album. Sed obiiciat aliquis, Ergo hac divisio, Coloratorum aliud est
album, aliud nigrum, aliud medio colore infectum, est divisio per accidens
(iquando quidem membra dividentia accidunt partibus subiectis corporis
Solutio. misti, cui accidit coloratum, quod dividitur) cum tamen sit divisio per se,
generis videlicet in species. Occurres tamen, in his tribus divisionibus,
quemadmodum in superioribus quatuor generibus divisionum per accidens,
In quo posita sit
ratio divisionis per semper ponendum esse, quod membra dividentia non sint per se partes
accidens.
divisi. In hoc enim (ut ex dictis perspicuum est) posita est ratio divisionis
per accidens, qua in his omnibus divisionum formis includitur. At album,
nigrum, et medio colore infectum, non sunt partes per accidens colorati,
sed per se illi subiecta, nimirum ut species generi. Quare non sequitur
ex dictis, hanc, et alias huiuscemodi divisiones, esse divisiones per
accidens.

De divisione generis in differentias


et differ enti ce in differentias
C A P V T 8

Sed quastio est, ad quodnam genus divisionis pertineant divisio


generis in differentias, et communioris differentiae in minus communes:
ut cum dicimus, Animalium aliud est rationale, aliud irrationale: Anima­
Num genus divida­ torum aliud est sensus particeps, aliud sensus expers. Et quidem quod A
tur in differentias. attinet ad divisionem generis in differentias, negat Boetius a talem divisio-
a In libro iam ci­
tato.

C 12-C13 — licet membris dividentibus accidere partes sublectas divisi.


C 14-C 15 — perspicua. Divisio accidentis in accidentia tunc est, cum membra...
C 17-C 18 — liquentia. Hic denique cernis membra dividentia accidere diversis
corporibus...
C 21 — medio aliquo colore...
A 2-A 3—talem divisionem. Neque enim putat genus in differentias unquam
dividi nisi cum...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS ~ LIVRO IV 267

outra a do corvo, outra a de outras coisas. Aqui, pelo contrário,


pode notar-se que os membros dividentes são coisas a que convêm as
partes sujeitas do dividendo. Com efeito, um certo mover-se convém
ao firmamento, outro aos elementos, outro aos mistos. Os outros
exemplos são claros.
A divisão do acidente nos acidentes, finalmente, verifica-se quando
os membros dividentes convêm às partes sujeitas da coisa a que convém Divisão do acidente
o dividendo, como se se disser: das coisas brancas, umas são duras, nos acidentes.

outras moles, outras líquidas. Efectivamente, os membros dividentes


desta divisão convêm a diversos corpos, como mármore, gordura e
leite, que são partes sujeitas dum corpo misto, a que convém a cor
branca.
Mas objectará alguém que, sendo assim, será por acidente a seguinte Objecção.
divisão: das coisas coloridas, uma é branca, outra negra, outra cin­
zenta— pois, na verdade, os membros dividentes convêm às partes
sujeitas do corpo misto, a que convém o colorido que se divide. Todavia, Solução.
é uma divisão por si, isto é, do género em espécies. Responder-se-á
que, nestas três divisões, como nos quatro géneros anteriores de divisões
por acidente, é condição necessária que os membros dividentes não Em que se põe a ra­
zão da divisão por
sejam, por si, partes do dividendo. Nisto (como é evidente pelo que acidente.
se disse) se põe a razão da divisão por acidente, divisão que se inclui
em todas estas formas de divisões. Mas branco, negro e cinzento
não são partes acidentais do colorido, mas por si sujeitas a ele, como,
bem entendido, as espécies do género. Por isso, não se segue do que
fica dito que esta e outras divisões semelhantes sejam divisões por aci­
dente.

Capítulo 8

Da divisão do género em diferenças


e da diferença em diferenças
Mas, põe-se a questão: a que género de divisão pertencem a
divisão do género em diferenças e a da diferença mais comum em
menos comuns, como quando dizemos: dos animais, um é racional,
outro é irracional; dos animados, um é dotado de sentidos, outro
desprovido de sentidos.
A Quanto à divisão do género em diferenças, Boécio a não a admite. Se o género se divide
em diferenças.
a No livro já ci­
tado.
268 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

nem. Putat enim nunquam genus dividi in differentias, nisi cum speciebus
nomina non sunt imposita, tunc siquidem cogimur, ut ait, nominibus diffe­
rentiarum species significare. Favet Boetio Porphyrius b, qui cum disserit
de officio, et natura differentiarum, semper ita loquitur, ut dicat, genera
dividi per differentias in species, nunquam vero ita, ut fateatur dividi in
b Porphy. de diffe­
rentia. differentias. Favet et similitudo tum naturce, tum artis: res siquidem
naturalis non dicitur dividi in formas, sed per formas in varia composita
naturalia: cera item non dividitur in figuram sphauce, et tesserce, sed per
has figuras dividitur in spheeram, et tesseram. Sed et ratio id videtur
comprobare. Nam differentice nullo modo videntur partes generis nisi B
ratione specierum, quee sunt partes generi subiectce: quo fit ut in eas non
videatur dividi per se genus, sed per accidens, ut in ea scilicet, quee accidunt,
hoc est, conveniunt partibus per se subiectis. Sic enim accidendi verbum
accipi potest in explicatione divisionis per accidens, ut scepe accipitur
c Ut 7. top. 3. apud Aristotelem c. Ouanquam hoc non est negandum dividi per se genus
et 1. elencho. 4.
Genus dividitur per
per differentias: siquidem differentice, contrahunt per se genus, quod
se per differentias. proprietates, et accidentia contrahunt per accidens. Quod si luee sententia C
Nulla differentia in­ non placet, dicito hanc divisionem revocari ad divisionem per se totius
cludit in sua essentia universalis in partes sublectas: quia differentice, etsi non subliduntur per
aliquid univocum.
se alicui universali (neque enim ullam naturam univocam in suis essentiis
Divisio communioris
differentiae in minus
includunt) tamen constituunt per se species, quee per se subjiciuntur
communes. generi: quod utique proprietates et accidentia facere non possunt. Modo D
eodem vendicare poteris divisionem communioris differentice in minus
communes a divisione per accidens accidentis in accidentia. Nam et­
Diluitur obiectio.
si minus communes differentice non sunt per se subiectce magis commu­
d Cap. 12 tex. 43.
nibus, tamen per se constituunt species quee communioribus per se subli­
duntur. Si quis tamen magis probaverit divisionem hanc esse per accidens, E
alius vero afferat Aristotelem septimo livro Metaphysicorumd aperte
dicentem, differentias communiores dividi per se in differentias minus
communes occurret ille, id intelligendum esse de accidentibus, quibus
utimur penuria verarum differentiarum. Nec enim dubium est, quin
accidentia communiora dividantur per se in minus communia nempe ut

B7 — per differentias: differentice siquidem contrahunt..


C4 — enim ullum in suis essentiis...
D I-D 2 — aliquid universale, univocum scilicet, (cota marginal)
El — Si cui tamen magis placuerit ut dicat hanc divisionem esse...
E 5-E 8 — differentiarum. Talia enim sunt vere genera qucedam accidentium
ut esse pedatum, quod in exemplum affert Aristoteles. Id quod apertius inte!liges,
si perpendas id, quod ille ait...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 269

A sua opinião é que o género nunca se divide em diferenças, senão quando


às espécies não forem conferidos nomes, pois, neste caso, somos obrigados,
como diz, a significar as espécies com nomes das diferenças. É a favor
de Boécio, Porfirio b, que, ao discorrer acerca do papel e da natureza
das diferenças, põe sempre as coisas de tal modo que afirma dividirem-se
os géneros em espécies por meio de diferenças, mas nunca de tal maneira b Porfirio, Da Di­
que confesse dividir , m-se em diferenças. A semelhança tanto da ferença.

natureza como da arte favorece também isto; pois a coisa verdadeira­


mente natural não se diz que se divide em formas, mas por meio de
formas em vários compostos naturais, como a cera não se divide na
figura duma esfera e dum cubo, mas, por meio destas figuras, é que se
divide em esfera e em cubo. O que também a razão parece confirmar.
B Com efeito, as diferenças de modo nenhum parecem partes do género,
senão em razão das espécies, que são partes sujeitas ao género. Por
isso, o género parece não dividir-se nelas por si, mas por acidente, como
por acidente se divide naquelas coisas que se verificam, isto é, que convêm
às partes por si sujeitas. Assim, de facto, se pode tomar a palavra se
verificam na explicação da divisão por acidente, como se toma muitas
vezes em Aristóteles c. Todavia, com isto não se pretende negar que o c Por exemplo,
Tópicos, VÍT, 3; e
género se divida por si por meio das diferenças, visto que as diferenças Elencos, I, 4.
contraem por si o género, enquanto as propriedades e os acidentes o O género divide-se
por si por meio das
C contraem por acidente. Mas, se esta opinião não agradar, diga-se diferenças.
que esta divisão pertence à divisão por si do todo universal nas partes Nenhuma diferença
sujeitas; pois as diferenças, embora não se sujeitem por si a algum inclui na sua essência
qualquer unívoco.
universal (nem sequer incluam nas suas essências nenhuma natureza uní­
voca), constituem por si espécies, que por si se sujeitam ao género;
Divisão da diferença
o que nunca as propriedades e os acidentes podem fazer. mais comum nas me­
D A divisão da diferença mais comum nas menos comuns, poder-se-á nos comuns.

igualmente julgar a partir da divisão por acidente do acidente em


acidentes. Pois, embora as diferenças menos comuns não sejam por si
sujeitas às mais comuns, contudo constituem por si espécies, que se Dissolve-se a objec-
ção.
sujeitam por si às mais comuns. d Cap. 12, tex. 43.
E Se alguém, porém, provar que esta divisão é mais por acidente,
e outro mostrar que Aristóteles, no livro sétimo da Metafísicadiz
abertamente que as diferenças mais comuns se dividem por si em
diferenças menos comuns, responder-se-á que isto se deve entender
dos acidentes, de que usamos, à falta de diferenças verdadeiras.
Efectivamente, não há dúvida de que os acidentes mais comuns se
dividam por si em menos comuns, como os géneros nas suas espécies.
270 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

genera in suas species. Quo autem Aristoteles ita sit intelligendus,


apertius intelliges, si perpendas id, quod ille [eodem loco] ait, Differentiam
communiorem ita includi in inferiori, ut si minus communis addatur
communiori, cornmitatur nugatio, veluti si dicas, Pedes habens bipes.
Hoc enim de veris differentiis intelligi non potest. Dicimus enim homi­
nem esse corpus animatum, sensitivum, rationale, sine ulla repetitione
nugatoria: quod certe ideo accidit quia minus communes differentia
non includunt essentialiter communiores. [Animadvertendum est autem F
hoc loco] id quod diximus de divisione generis in differentias universales,
Minus communes dif­
ferentiae non inclu­ accommodandum esse eadem ratione ad divisionem speciei infima
dunt essentialiter
communiores.
in differentias individuantes: quod ut diximus de divisione commu­
nioris differentia in minus communes, adaptandum est ad divisionem
Divisio differentiae
universalis in indivi­ differentia universalis in individuantes. Quam vero utilis sit divisio gene­
duantes. ris sive per differentias, sive in differentias, dici non potest, cum hac una
Utilitas divisionis ge­
neris per differentias. sit recta via ad divisionem generis in species, et ad definitiones essentiales.
Sed quia rarum admodum est apud nos hoc genus divisionis sapissime
confugimus ad divisiones per accidens, quibus genera in accidentia divi­
duntur: ut cum dicimus: Animalium, aliud rectum esse, aliud pronum:
item, Aliud mansuetum natura, aliud ferum: rursum, Aliud ingredi, aliud
repere, aliud natare, aliud volare. Hcec de diversis divisionum generibus,
nunc qua verborum formula divisiones sint conficiendce breviter dicamus.

Qua verborum formula divisiones sint conficiendce


Quatuor priores divi­
siones. CA P V T 9

Divisiones quatuor priorum generum, hoc modo sunt conficiendce.


Initio divisionis ponendum est nomen divisi in gignendi casu singularis
numeri, deinde ante nomen cuiusque membri dividentis inserenda sunt
hcec verba, Altera pars, vel Alia, pars, aut similia: ut cum dicimus, Huius
vocis Gallus, alia significatio est, qua hominem Gallum significat, alia,

E 10 — nugatio, ut si dicas, Pedes...


E 13 — nugatoria. Id quod accidit propterea quod mimis...
F 2-F 4 — Id autem quod diximus de divisione generis in differentias universales,
accomodandum est eadem ratione ad divisionem speciei infimee in differentias indivi­
duantes: id etiam quod docuimus de divisione...
F11—aliud rectum est, aliud...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 271

Que, Aristóteles deva ser entendido assim, compreender-se-á mais


claramente se se examinar o que ele diz no rnesmo lugar: — a dife­
rença mais comum de tal modo se inclui na inferior que, se se juntar
a menos comum à mais comum, comete-se uma redundância, como se
se disser: bípede que tem pés. Ora isto não pode entender-se das ver­ As diferenças menos
comuns não incluem
dadeiras diferenças, pois dissemos que o homem é o corpo animado, essencialmente as
sensitivo, racional, sem nenhuma repetição pleonástica, o que acontece mais comuns.
certamente porque as diferenças menos comuns não incluem essencial­
mente as mais comuns.
Neste lugar, deve advertir-se que aquilo que dissemos da divisão Divisão da diferença
do género em diferenças universais deve dizer-se, pela mesma razão, universal nas indivi­
duantes.
da divisão da espécie ínfima em diferenças individuantes; e aquilo que
dissemos da divisão da diferença mais comum nas menos comuns
deve adaptar-se à divisão da diferença universal em individuantes.
Não pode dizer-se quão útil é a divisão do género ou por diferenças Utilidade da divisão
do género por dife­
ou em diferenças, uma vez que este é o único meio legítimo para a divisão
renças.
do género em espécies e para as definições essenciais. Mas, como é
muitíssimo raro entre nós este género de divisão, muitíssimas vezes nos
refugiamos nas divisões por acidente, pelas quais se dividem os géneros
em acidentes, como quando sc diz: dos animais, um é erecto, outro
curvado; do mesmo modo: um é por natureza doméstico, outro feroz;
e ainda: um marcha, outro rasteja, outro nada, outro voa.
Isto [o que há a dizer] acerca dos diversos géneros de divisões.
Digamos agora brevemente com que fórmula de palavras se devem fazer
as divisões.

Capítulo 9

Com que fórmula de palavras se devem fazer as divisões


As divisões dos quatro primeiros géneros devem fazer-se deste Quatro primeiras di­
modo: no início da divisão, deve pôr-se o nome do dividendo, no visões.
genitivo do singular; depois, antes do nome de cada membro divi­
dente, devem inserir-se estas palavras: uma parte ou outra parte ou
semelhantes, como quando dizemos: desta voz galo, um significado é
enquanto significa homem gaulês, outro enquanto significa galo-ave;
272 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

qua gallum avem: Temporis, altera pars est transacta, altera futura. Rei-
publicce una pars ordine sacrorum ministrorum continetur, altera nobilium,
tertia plebis: Hominis, hcec pars est animus, illa corpus. Speciei, altera
pars essentialis, est genus, altera differentia. Divisiones autem, quinti A
Quinta divisio. generis, quce sunt totius universalis in partes subiectas, possunt quidem
eodem modo confici adhibita propria appellatione partium, ut si dicas,
Hoc modo fit divisio
in actu signato ut Animalis altera pars subiecta, est homo, altera bestia. Verum servata
aiunt. [communi] consuetudine dividendi Philosophorum, hoc modo conficiendce
Sic fit divisio in actu sunt. Initio divisionis ponendum est divisum in gignendi casu numeri
exercito, ut dici solet.
pluralis, deinde addenda sunt membra dividentia nulla adhibita partium
appellatione: ut cum dicimus Substantiarum, alia est corporata, alia B
corporis expers: Corporum, aliud simplex est, aliud mistum: Animalium,
Causa discriminis. qucedam in terra degunt, alia in aquis, alia quasi vitos ancipitis utroque
in loco vivunt. Causa huius discriminis in dividendo hcec est, quia totum in
superioribus quatuor dividendi formis, cum sit compositum ex suis partibus
potest esse unum tantum individuum, ut hcec vox, hoc tempus, hcec res­
publica, hic homo: totum autem in extremo divisionis genere, cum non
componatur ex suis partibus, sed eas sibi subiectas habeat, necessario
est universale, ut substantia communis, corpus commune, animal commune:
alloqui non haberet partes subiectas. Hcec est igitur causa cur quatuor
priora genera postulent divisum singularis numeri extremum autem, pluralis.
Quanquam vero hcec interdum non serventur, sunt tamen naturis divisionum
accomodatissima. Reliquum est ut prcecepta bene dividendi tradamus.

Primum prceceptum in divisione servandum * *


C A P V T 10

Quatuor potissimum prcecepta in dividendo observanda sunt. Pri- A


mum est, ut singula membra dividentia minus contineant, quam divisum,
a 2. post. 5. omnia vero simul sumpta diviso adcequentur a. Hinc fit ut non sit bona
hcec divisio, Animalium alia sunt sensu prcedita, alia ratione, quia sensu
prceditum ceque late patet atque animal, nisi intelligatur cum particula

A 1 (cap. 9)—pars constituens, est genus...


A 3 — confici nominata natura partium...
A 7-B 1—dividentia sine nomine Pars: ut cum...
B 10-B 12 — alioqui non habebit partes subiectas. Hie est igitur causa cur
in prioribus quatuor generibus nomen divisi debeat esse singularis numeri, in extremo
autem, pluralis.
* — Primum prceceptum bene dividendi.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 273

do tempo, uma parte é passada, outra futura; da nação, uma parte é


a classe do clero, a segunda, a dos nobres, a terceira, a do povo; do
homem, uma parte é a alma, outra o corpo; da espécie, a parte essen­
cial é o género, a outra a diferença.
A As divisões do quinto género, que são as do todo universal nas
Quinta divisão.
partes que abrange, podem, na verdade, realizar-se do mesmo modo,
juntando o nome próprio das partes, como se se disser: do animal, Deste modo se faz
uma parte abrangida é homem, a outra besta. a divisão in actu si­
gnato, como se diz.
A conservar, porém, o costume de dividir dos filósofos, devem Assim se faz a divisão
fazer-se deste modo: no início da divisão, deve pôr-se o dividendo no in actu exercito, como
se costuma dizer.
genitivo do plural; depois, devem juntar-se os membros dividentes
B sem nenhum nome de partes. Por exemplo: das substâncias, uma é
corpórea, outra incorpórea; dos corpos, uru é simples, outro composto;
dos animais, uns vivem na terra, outros nas águas, e outros, como se Causa da diferença.
tivessem uma vida dupla, vivem em ambos os lugares. A causa desta
diferença no dividir está em que o todo nas quatro formas superiores
de dividir, como é composto das suas partes, pode ser um só indivíduo,
como por exemplo: esta voz, este tempo, esta nação, este homem;
porém, no último género de divisão, como o todo não se compõe das
suas partes, mas as tem sujeitas a si, é necessariamente universal, como
substância comum, corpo comum, animal comum — de outro modo não
teria partes sujeitas. Esta é, pois, a causa por que os quatro primeiros
géneros postulam dividendo no número singular, e o último, no plural.
Embora estas coisas nem sempre se observem, são, apesar de tudo,
acomodadíssimas às naturezas das divisões. Resta tratar das regras
da boa divisão.

Capítulo 10

Primeira regra a respeitar na divisão


A Devem observar-se principalmente quatro regras na divisão.
A primeira é que cada membro dividente tenha um sentido mais restrito
que o dividendo, e que, tomados todos ao mesmo tempo, sejam equi­
valentes ao dividendo a. Daqui se deduz que não é boa esta divisão: a Segundos Ana­
dos animais, uns são dotados de sentidos, outros de razão, visto que líticos, II, 5.
dotado de sentidos, se se não entende com a partícula só, tem um signi­
ficado tão extenso como animal. E, assim, será boa divisão: os animais,
i8
274 INST1TVTIONYM DIALECTICARVM LIBER IIII

Solo. Sic enim bona erit divisio. Namque animalia aut solo sensu
prcedita sunt, aut rationem, et mentem participant. Hinc etiam fit ut
hce non sint bona: divisiones, Animalium aliud est bipes, aliud quadrupes,
aliud plures habens pedes: item Aliud est bestia, aliud homo, aliud angelus:
prior, quia divisum latius patet, quam membra dividentia simul accepta:
posterior, quia membra dividentia, simul sumpta latius patent, quam
divisum. Sed est quod obiiciat aliquis contra hoc preeeeptum. Huius
Obiectio.
enim bonce divisionis, Hominis altera pars ratione, considerationeque
componens, est animal, altera rationale, animal, quod est membrum divi­
dens, non modo non minus continet, quam homo, sed etiam latius patet,
cum de pluribus, quam homo, prcedicetur. Item huius bonce divisionis,
Altera obiectio. Alborum qucedam dura sunt, qucedam mollia, alia liquentia, membra omnia
simul accepta latius patent, quam album: dicuntur siquidem de rebus
Solutio prioris obiec- etiam atris, ut de ebeno, de pice, et atramento. Priorem tamen facile
tionis. dilues si dicas, animal, quod ad praedicationem attinet, latius patere,
quam hominem, verum quod attinet ad essentiam, hominem plus aliquid
continere: complectitur enim in essentia sua rationale, quod non complec­
Solutio posterioris. titur animal. Posteriori autem obiectioni sic occurres, In omnibus divi­
sionibus sive per se, sive per accidens totius universalis in partes subiectas,
semper divisum in singulis membris dividentibus, [aut contineri, aut certe\
subaudiendum esse: durum autem, molle, et liquens, etsi latius patent,
quam album, si nihil aliud sub his nominibus intelligas, tamen si in unoquo­
que subaudias album, iam omnia simul albo adaquabuntur. Nam ceque
Omnia membra di­ late patet album per sese, atque totum hoc, Album durum, Album molle,
videntia coniunctim, et album liquens. Ad posteriorem partem huius praecepti pertinet illud,
aut disiunctim ac­ quod aiunt Dialectici, Cuiusque bona divisionis membra omnia vel copu­
cepta reciprocantur
cum diviso. lat im, vel disiunctim simul accepta, reciprocari cum diviso, ut scilicet
de quo dicitur divisum, dicatur copulatum, aut disiunctum ex membris
dividentibus, et vice versa. In prioribus ergo quatuor generibus divisionum,
copulatum ex membris dividentibus: cum diviso reciprocatur, in quinto
autem, disiunctum. Exempli causa si hominis altera pars est animus
altera corpus, homo autem de Socrate dicitur: totum etiam hoc copulatum,
Animus et corpus, dicetur de Socrate: et contra, si copulatum ex corpore
et animo, etiam homo. Quanquam Socrates non proprie dicitur animus,
et corpus: sed concretum quid ex animo ei corpore. Si vero animalium
aliud est homo: aliud bestia, animal autem dicitur de Socrates: totum

A 27 — si nihil aliud addideris, tamen si...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 275

ou são dotados só de sentidos, ou participam da razão e da mente.


Daqui se conclui também que não são boas estas divisões: dos animais,
um é bípede, outro quadrúpede, outro tem muitos pés; ou ainda:
um é besta, outro homem, outro anjo. A primeira, porque o dividendo
é mais extenso que os membros dividentes simultáneamente tomados.
A segunda, porque os membros dividentes, simultáneamente tomados,
são mais extensos que o dividendo.
Mas pode alguém objectar contra esta regra: nesta divisão, de Objecção.
facto boa—do homem, a parte que se une à razão e ao pensamento é
animal, a outra é racional—animal, que é um membro dividente, não
só não é mais restrito que homem, mas é ainda mais extenso, uma vez
que se predica de vários, além do homem. Do mesmo modo, desta Outra objecção.
boa divisão: dos brancos, uns são duros, outros moles, outros líqui­
dos, todos os membros, tomados simultáneamente, são mais extensos
que branco, porque se dizem também de coisas negras, como do ébano,
do pez, e da tinta preta.
Fácilmente se destruirá, contudo, a primeria objecção, dizendo
que animal, no que diz respeito à predicação, é mais extenso que Solução da primeira
objecção.
homem; no que, porém, diz respeito à essência, homem contém algo
mais, pois abrange, na sua essência, racional, e animal não. À segunda
Solução da segunda.
objecção, responder-se-á assim: em todas as divisões, ou por si ou por
acidente, dum todo universal nas partes sujeitas, o dividendo deve con-
ter-se sempre ou, pelo menos, subentender-se, em cada um dos membros
dividentes; ora duro, mole e líquido só serão mais extensos do que
branco, se mais nada se entender nestes nomes; mas se se subentender
cada um deles branco, em todos, já se adequarão a branco. Com efeito,
branco, por si, é tão extenso como este conjunto: branco duro, branco
mole e branco líquido.
Todos os membros
Pertence à segunda parte desta regra aquilo que os Dialécticos dividentes, tomados
assim enunciam: todos os membros de uma boa divisão, tomados ao mesmo conjunta ou disjun­
tempo copulada ou disjuntivamente, se reciprocam com o dividendo, de modo tivamente, se reci­
procam com o divi­
que: daquilo de que se diz o dividendo se diga também a copulação dendo.
ou a disjunção dos membros dividentes, e vice-versa. Por conseguinte,
nos primeiros quatro géneros das divisões, reciproca-se com o dividendo
a copulação dos membros dividentes; no quinto, porém, a disjunção.
Exemplo: se, do homem, uma parte é a alma, e a outra o corpo, e
homem se diz de Sócrates, de Sócrates se dirá também todo o copulado
alma e corpo; e, ao contrário, se [se diz de Sócrates] o copulado
de corpo e alma, também [se dirá] homem; embora Sócrates se não
diga propriamente alma e corpo, mas o concreto de alma e corpo.
Se, dos animais, um é homem e outro besta, e animal se diz de Sócra-
276 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

etiam hoc disiunctum, Homo vel bestia, dicetur de Socrate, et vicissim,


si disiunctum ex homine et bestia, etiam animal.

Secundum praeceptum * *
C A P V T 11

Secundum prceceptum est, ut quantum fieri possit, divisio fiat in pro- A


xima membra dividentiaa. Quod non faciunt, qui corpus animatum
dividunt in hominem, bestiam, arborem, fruticem, et herbam transiliendo
a 2. post. 5. et duo immediata genera animal, et plantam. Sunt enim ilice remotce ac
14. et Boet, de divi­
distantes partes subiectce corporis animati. Prius ergo dividendum est
sione.
animatum corpus in animal, et plantam, quce immediate sublidantur animali
deinde vero destribuendum animal in hominem et bestiam, atque planta
in arborem, fruticem, et herbam. Sape tamen dividimus totum in partes
Cur totum saepe di­ remotas, quia ignotce nobis sunt proxima, ac immediata.
vidamus in partes
remotas.

Tertium praeceptum **
C a p V t 12
a Ex. 6. top. 3.
et 1. de partibus
animalium 3. Boet,
Tertium prceceptum est, a ut in dividendo non una tantum pars totius A
loco citato. nominetur et altera, vel reliqua, si piares fuerint quam duce negatione
illius significentur, nec tam multa nominentur, ut longior quam par sit
fiat oratio. Nam si unam duntaxat partem nominaveris, et alteram,
vel reliquas negatione illius significaveris, ut si dicas, Magnitudinum alia
Loco citato.
est linea, alia non linea, non videberis proprie explicare in partes id, quod
dividitur, quia negatio alterius partis non solum non est differentia, ut ait
Aristoteles sed nullo etiam alio modo proprie pars, sive componens totum,
sive subiecta toti. Si autem multa admodum membra volueris enumerare,
ut si dicas, Animalium aliud est homo, aliud elephas, aliud simia, aliud
canis latrans, aliud hoc, aliud illud, singulas nimirum species infimas
percurrendo, orationem feceris, quam nec tu absolvere, nec alius com-

S 13-B 14 — de Socrate, et vice-versa, si disiunctum...


* — Secundum prceceptum bene dividendi.
** — Tertium prceceptum bene dividendi.
A 3-A 4 {cap. 12) — ut longior cequo fiat oratio.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 277

tes, também todo este disjunto homem ou besta se dirá de Sócrates; e,


vice-versa, se o disjunto homem ou besta [se diz de Sócrates] também
[dele se dirá] animal.

Capítulo 11

Segunda regra
A A segunda regra diz que a divisão se faça, tanto quanto possível,
nos membros dividentes próximos a. O que não fazem os que dividem
o corpo animado em homem, besta, árvore, arbusto e erva, saltando os a Segundos Ana­
dois géneros imediatos, animal e planta. Na verdade, também essas líticos, ΙΓ, 5 e 14; e
Boécio, Da Divisão.
remotas e distantes partes são abrangidas por corpo animado. Primei­
ramente, portanto, deve dividir-se o corpo animado em animal e planta,
que estão imediatamente abaixo de animal; depois, distribuir animal
em homem e besta, e planta em árvore, arbusto e erva. Muitas vezes, Porque se divide mui­
porém, dividimos o todo nas partes remotas, porque nos são desconhe­ tas vezes o todo nas
cidas as próximas e imediatas. partes remotas.

C a p í t u l o 12

Terceira regra
a Dos Tópicos,
VI, 3 e Das Partes
A A terceira regra é a que, ao dividir, se não nomeie apenas uma parte dos Animais, Γ, 3.
do todo, significando a outra ou as outras, se forem mais de duas, pela Boécio, lugar citado.
negação daquela, nem se nomeiem tantas que façam a oração mais
longa do que convém. Na verdade, se apenas se nomear uma parte
e a outra ou as outras forem significadas pela negação daquela, como se se
disser: das grandezas, uma é a linha, outra a não-linha—não se explicaria
propriamente em que partes aquilo se divide, visto que a negação da
segunda parte não só não é uma diferença, como diz Aristóteles, mas
nem sequer é, de modo algum, uma parte propriamente dita ou compo­
nente do todo, ou a ele sujeita. Se, porém, se quisesse enumerar dema­ Lugar citado.
siados membros, como se se disser: dos animais, um é homem, outro é
elefante, outro é macaco, outro é cão que ladra, outro é isto, outro
é aquilo — percorrendo as espécies ínfimas uma a uma, far-se-ia uma
oração que nem se terminaria, nem alguém poderia abranger com a
mente.
278 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

plecti animo possit. Cavenda igitur sunt heee duo vitia in dividendo, quia
divisio inventa est causa explicandi rem in partes, ac dilucidandi, non
tenebras offundendi. Tribus tamen de causis cogimur interdum dividere B
rem in partem unam, et in negationem eiusmodi partis. Prima est, ut
Divisio inventa est
faciamus divisionem necessariam, et quam nemo negare possit. De qua­
causa dilucidandi,
non tenebras offun­ cunque enim, re vera est affirmatio, aut negatio b. Altera est, quia scepe
dendi.
Prima causa cur in­
numero reliqua pars, aut partes ex opposito illi respondentes, carent
terdum negatione di­ nominibus positivis, quo fit ut ad negativa sit confugiendum c, ut cum
vidamus.
b 1. Post. 8. dividimus substantiam in corpoream, et incorpoream, Et animal in ratio­
c Boet. nale et irrationale, quia ignoramus veras differentias, quee angelum, et
brutum animal constituunt, si forte brutum animal est, una qucedam species
animalis. Tertia est, si partes in quas divisio immediate facienda est,
fuerint plures, quam perspicuitas divisionis ferre possit. Tunc enim omnes
preeter unam significanda; sunt nomine negativo: ut si dicas, Bestiarum,
qucedam sunt pennatae, alice implumes: nisi velis quasdam partes nominare,
reliquas vero omnes paucis verbis complecti, ut si dicas, Figurarum recti-
linearum, qucedam est trium laterum, qucedam qua tuor, alice vero plurium:
Colorum quidam est candor, quidam nigror, cceteri vero sunt medii inter
hos: Animalium aliud est homo, aliud elephas, aliud simia, aliud canis
latrans, alia sunt ab homine remotiora.

Quartum praeceptum *
Quo pacto hoc prae­
ceptum omnibus di­
C a p V T 13
visionibus accommo­
detur.
Quartum preeeeptum est, ut membra dividentia si non re, certe ratione A
sint opposita: id est, inter se sic affecta, ut nullum in alio, aut sub alio
Obiectio. contineatur. Sic enim hoc loco pro omnibus generibus divisionum nomen
Solutio.
B 6 — 2 Boet, (cota marginal).
B 18 — remotiora. Quod si quis contra htec obiiciat, has divisiones esse bonas,
et nulla ratione reprehendendas, Infinitorum aliud est infinitum divisione, aliud infinitum
additione, aliud infinitum essentia; Ccecorum quidam sunt cceci mente, alii sunt cceci
oculis: et tamen membra omnia dividentia esse negativa: occurres, cum divisum
est negativum, membra etiam dividentia, in quee, ut in partes per se subiectas, dividitur,
negativa esse oportere non ita tamen, ut alterum sit negativum alterius (nisi necessitas
compulerit) hoc siquidem est, quod cavendum esse diximus. Harum autem divisionum
membra negativa quidem sunt, verum non ita, ut alterum neget alterum, sed ut quodvis
neget in parte, quod suum divisum negat in totum.
* — Quartum praeceptum bene dividendi.
AI — Ut hoc... (cota marginal).
A 2-A 3 — in alio includatur. Sic enim...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 279

B Devem evitar-se, pois, estes dois defeitos de dividir, pois a divisão


A divisão inventou-se
foi inventada para desdobrar a coisa nas suas partes e a elucidar, e não para elucidar, e não
para a envolver em trevas. para envolver em
trevas.
As vezes, porém, somos levados a dividir uma coisa numa parte
e na negação desta mesma parte, por três motivos: o primeiro é fazermos Primeira causa por
que às vezes dividi­
uma divisão necessária e que ninguém possa negar; pois, a respeito de mos pela negação.

todas as coisas verdadeiras, há, na verdade, uma afirmação ou uma nega­


b Segundos Analí­
ção b. O segundo motivo é que, muitas vezes, a outra parte ou as partes ticos, I, 8.
que lhe correspondem por oposição carecem de nomes positivos, e, por c Boécio.
isso, deve recorrer-se à negativa c, como quando dividimos a substância
em corpórea e incorpórea, e animal em racional e irracional, visto que
ignoramos as verdadeiras diferenças que constituem o anjo e o animal
bruto, se o animal bruto é acaso uma espécie animal. O terceiro é
quando as partes, em que a divisão se deve fazer imediatamente, forem
em número superior ao que a clareza da divisão possa permitir. Neste
caso, todas, excepto uma, se devem significar por um nome negativo,
como quando se diz: dos animais, uns são revestidos de penas, outros
implumes, a não ser que se queira nomear algumas partes, e incluir todas
as restantes em poucas palavras, como quando se diz: das figuras recti­
líneas, uma é de três lados, outra de quatro, outras de mais; das cores,
uma é branca, outra negra, e as outras são intermédias; dos animais,
um é homem, outro elefante, outro macaco, outro cão que ladra, outros
são mais afastados do homem.

C a p í t u l o 13

Quarta regra

A A quarta regra é que os membros dividentes sejam opostos, se Como esta regra s
acomoda a todas a
não na realidade, pelos menos na razão, isto é, de tal maneira relacionados divisões.
entre si, que nenhum se contenha no outro ou sob o outro. Assim,
com efeito, interpreto neste lugar o nome de opostos para todos os géne-
280 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

oppositorum interpretor. Huius praecepti praetermissione vitiosae sunt hce


divisiones, corporis humani alia pars est caput, alia thorax, aliae manus,
aliae pedes, aliae oculi: Viventium aliud est planta, aliud animal,
aliud homo. Nam oculi continentur in capite, et homo sub animali.
Ut autem hoc praeceptum peculiari ratione quinto generi divisionis accom­
modatur hoc ex probatissimis autoribus colligesa, nomine oppositorum
intelligenda esse repugnantia, hoc est, ea, quae de eadem re simul affirmari
non possunt. Hac enim de causa ait Aristoteles, non recte dividi animalia B
a Ut ex Arist. 1. in natantia, et alba, nec rursus in urbana, et sylvestria, quod eadem et
de parí, animal. 3.
et ex Boet de divi­
natantia, et alba esse possint, nec non et urbana, et sylvestria. Et Boetius
sione. eadem ratione reprehendit divisionem animalium in rationalia, et duos
pedes habentia, et corporum in alba, et dulcia, quod eaclem corpora repe-
riantur, quce ei alba sint, et dulcia, eademque animalia, quce et duos
habeant pedes, et sint rationalia. Nec immerito huiusmodi divisiones
reiiciuntur, quoniam hoc pacto non recte dices enumerando membra
dividentia, Aliud est hoc, Aliud est illud, quce tamen dividendi formula
quinto generi divisionis propria est. At dicat fortasse aliquis, Ergo hce
Obicctio.
divisiones a Philosophis approbatce vitio non carebunt, Bonorum qucedam
utilia sunt, alia honesta, alia ineunda: Habentium magnitudinem, qucedam
sunt longa, alia lata, alia profunda: siquidem eadem actio esse potest et
utilis, et honesta, et iucunda: omneque corpus est longum, latum et profun­
Solutio. dum, hoc est habens longitudinem aliquam, latitudinem, et profunditatem.
Huic objectioni sic occurres. Membra dividentia huiusmodi divisionum C
esse repugnantia, si prior formula dividendi servetur, ut si dicas, Boni,
alia pars sublecta est utile, alia honestum, alia iucundum. Continui
permanentis, seu habentis magnitudinem, alia pars sublecta est longum,
alia latum, alia profundum: quandoquidem una pars subiecta non est alia,
[ietsi omnes de eadem re dici possint. Verum Aristo teles et Boetius
cum propositas divisiones animalium, et corporum reprehendunt, non
Ssepe concreta pro hac dividendi formula utuntur: nec si uterentur divisiones ilice notandee
abstratis in dividendo
usurpantur. essent eius vitii, quod hoc preeeepto cavetur, sed eius potius quod non
sint adeequatee, aut in aliud superius explicatum incurrant]. Quod si D
posterior dividendi formula (qua maxime Philosophi utuntur) servanda
est, dices primum, multas divisiones fieri nominibus concretis, quce tamen
inlelligendce sunt quasi factce nominibus abstractis, cuiusmodi est illa apud

A 7 — et homo in animali.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 281

ros de divisões. Por preterição desta regra, são viciosas estas divisões:
do corpo humano, uma parte é a cabeça, outra o tórax, outra as mãos,
outra os pés, outra os olhos; dos seres vivos, um é a planta, outro o
animal, outro o homem. Com efeito, os olhos estão contidos na cabeça,
e homem sob animal.
Acerca do modo como esta regra se acomoda, por uma razão
peculiar, ao quinto género de divisão, encontrar-se-á em autores muito
experimentados a que, pelo nome de opostos, se devem entender coisas
que entre si repugnam, isto é, aquelas coisas que não se podem afirmar
B simultaneamente da mesma coisa. Efectivamente, por causa disto, diz
Aristóteles que os animais se não dividem rectamente em nadadores e
brancos, nem também em domésticos e selvagens, pois podem ser simul­ a Por exemplo,
Aristóteles, Das Par­
táneamente nadadores e brancos, e domésticos e selvagens. E Boécio, tes dos Animais I, 3;
e Boécio, Da Divisão.
pela mesma razão, reprova a divisão em racionais e bípedes, e dos corpos
em brancos e doces, visto que se encontram corpos que são ao mesmo
tempo brancos e doces, e animais que têm dois pés e que são racionais.
Não é sem razão que se rejeitam divisões deste género, porque, assim,
não se exprimiria rectamente, ao enumerar os membros dividentes: um
é isto, outro é aquilo — forma de dividir que, contudo, é própria do
quinto género de divisão.
Mas dirá talvez alguém que, por conseguinte, não são isentas de
Objecção.
erro estas divisões aprovadas pelos filósofos: dos bens, uns são úteis,
outros honestos, outros agradáveis; das coisas extensas, umas são com­
pridas, outras largas, outras altas. Com efeito, a mesma acção pode
ser útil, honesta e agradável, e qualquer corpo é comprido, largo e alto,
isto é, tem um certo comprimento, uma certa largura e uma certa altura. Solução.
C Responder-se-á assim a esta objecção: os membros dividentes das divi­
sões deste género são repugnantes, se se conservar a primeira forma de
dividir, como se se disser: do bem, uma parte sujeita é o útil, outra o
honesto, outra o agradável; do contínuo permanente ou do que tem
grandeza, uma parte sujeita é o comprimento, outra a largura, outra
a altura—pois uma parte sujeita não é a outra, embora todas se possam
dizer da mesma coisa. Todavia, Aristóteles e Boécio, quando reprovam
as divisões propostas dos animais e dos corpos, não usam desta forma
Muitas vezes os con­
de dividir; e, se a usassem, aquelas divisões não deveriam ser reprovadas cretos tomam o lu­
gar dos abstractos
por se oporem a esta regra, mas antes por não serem adequadas ou incor­ na divisão.
rerem em alguma coisa explicada mais acima.
D Se se conservar, porém, a segunda forma de dividir (da qual os
filósofos usam geralmente), dir-se-á, em primeiro lugar, que se fazem
muitas divisões com nomes concretos, e que, contudo, se devem entender
como se feitas fossem com termos abstractos; como, por exemplo,
282 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER lili

Aristotelem b. Quantum partim continuum est partim discretum: discre­


b Praed. 6 tum, inquit, est, ut numerus, et oratio: continuum autem, ut linea, super­
ficies, tempus, et locus. Nam cum kcec non sint quanta, sed quantitates,
necessario Quantum in hac divisione pro quantitate accipiendum est.
Atque hoc quidem pacto nihil est difficultatis in propositis divisionibus.
Siquidem membra dividentia abstractis nominibus accepta vere pugnant
inter se. Neque enim utilitas est honestas, aut honestas iucunditas, aut
iucunditas utilitas. Nec vero unquam vere dixeris longitudinem [ewe]
latitudinem, aut latitudinem profunditatem, aut profunditatem longitu­
Stepe repugnantia
membrorum in sen­ dinem. Deinde dices, repugnantiam membrorum dividentium scepe-
su cernitur, non in numero non in verbis, sed in sensu, quo divisio usurpatur, sitam esse.
verbis.
c Tusculan. quaest. Ut in illa Phythagorce divisione c Eorum qui ad ludos Grcecice confluebant,
4. quidam spe victoria, alii quaestum faciendi cupiditate, alii visendi studio
ducebantur. Hic quod ad verba attinet, nulla est membrorum dividentium
repugnantia. Fieri enim potuit, ut multi et lucri cupiditate, et spectandi
simul studio ducerentur. In sensu tamen cernitur repugnantia, si hoc
modo divisionem interpreteris: Eorum, qui ad Gracia ludos una pracipue
de causa confluebant, quidam spe victoria, et catera. Hac igitur ratione
dices probari posse divisiones illas nominibus concretis usurpatas, ut
sensus prioris sit huiusmodi: Eorum in quibus aliqua una bonitatis, ratio
potissimum elucet, quadam utilia tantum, alia honesta solum, alia iucunda
duntaxat nominantur. Posterioris autem, huiusmodi: Eorum, qua aliqua
una dimensione excellunt, quadam longa solum, ut hasta, alia lata, ut
discus, alia profunda tantum ut globus, appellantur. Quanquam hic
sensus vulgo sapius, quam apud Philosophos posteriori divisioni tribuitur.
Has vero solutiones diligenter notabis, ut multas usurpatas divisiones a
calumnia vendicare possis. Sed hac de divisione videntur satis. (. ?.)

[FINIS QVARTI LIBRI.]

D 11-E 1 — inter se. Nulla enim res dicitur simul utilitas et honestas, aut hones­
tas et iucunditas, aut iucunditas, et utilitas. Nec vero unquam vere dixeris, rem eandem
esse longitudinem et latitudinem, aut latitudinem et profunditatem, aut profunditatem
et longitudinem.
Eli — bonitatis, appetibilitatisve, ut ita dicam, ratio...
E 15 — tantum, sive crassa, ut globus...
E16 — vulgo magis, quam apud...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO IV 283

aquela de Aristóteles b: o quanto em parte é contínuo e em parte dis­


creto: é discreto, diz, como o número e a oração; é contínuo, porém, b Predicamentos.
como a linha, a superfície, o tempo e o lugar. Na verdade, como estas 6.

coisas não são quantos, mas quantidades, o quanto nesta divisão deve
necessàriamente tomar-se por quantidade. E, assim, já não existe
dificuldade alguma nas divisões apresentadas, uma vez que os membros
dividentes tomados como nomes abstractos repugnam verdadeiramente
entre si. Pois, nunca a utilidade é honestidade, nem a honestidade é
prazer, nem o prazer é utilidade. Nem se diria que o comprimento é
largura, nem a largura altura, nem a altura comprimento. Muitas vezes nota-se
E Dir-se-á, além disso, que a repugnância dos membros dividentes repugnância no sen­
muitas vezes se encontra, não nas palavras, mas no sentido em que se tido dos membros,
não nas palavras.
toma a divisão, como nesta divisão de Pitágoras c: dos que afluíam c Questões Tus­
aos jogos da Grécia, uns eram conduzidos pela esperança da vitória, culanas, 4.
outros pela avidez de ganhar dinheiro, outros pela curiosidade de
assistir. Aqui, quanto às palavras, nenhuma repugnância existe nos
membros dividentes. Era possível, com efeito, que houvesse muitos
levados simultáneamente pela avidez do lucro e pela curiosidade de
assistir. Pode, porém, notar-se repugnância, quanto ao sentido, se
se interpretar a divisão assim: dos que afluíam aos jogos da Grécia
movidos por uma causa principal, uns iam com a esperança da vitória,
etc.. Por esta razão, portanto, dir-se-á que aquelas divisões podem ser
aceites, quando tomadas com nomes concretos, de tal maneira que
o sentido da primeira seja assim: das coisas em que prevalece uma razão
de bondade, umas dizem-se apenas úteis, outras somente honestas,
outras só agradáveis. E o sentido da segunda, deste modo: das coisas
que se evidenciam em qualquer dimensão, umas chamarn-se apenas
longas, como a lança, outras apenas largas, como o disco, outras apenas
altas, como o globo. Ainda que este sentido seja atribuído à segunda
divisão mais pelo vulgo que pelos filósofos.
Devem notar-se cuidadosamente estas soluções, para se poderem
defender da calúnia muitas divisões usadas.
Acerca da divisão isto parece ser o suficiente.

FIM DO L I V R O Q U A R T O
INSTITVTIO NVM DIA LEC TIC A RV M

LIBER V

Quid sit definitio


C a p v t 1

Definitio est oratio, quee essentiam aliquam naturam ve declarat: A


ut Animal rationale. Declarat enim naturam hominis. Ut autem divi­
Definitio quid ex 2.
post. 10. sioni divisum, sic definitioni respondet definitum: quod nihil est aliud,
quam id, cuius quidditas essentiave explicatur. Sed nos de definito tum
Quid definitum. dieemus, cum definitionem, et genera omnia, in quee dividitur, methodumque
Unde dicta definitio, definiendi, explicaverimus. Definitio igitur, quee Finitio etiam apud
seu finitio.
Latinos a appellatur, ab agrorum finibus accepit nomen. Nam ut agrorum
a Quintilia, lib. 7.
cap. 4.
fines agros definiunt, et claudunt, aliosque ab aliis secernunt, sic defini­
tiones, quibus rerum naturce declarantur, essentias earum circumscribunt,
aliasque ab aliis distinguunt. Dicitur porro definitio Oratio b , quia unum B
Cur definitio sit ora­
tio.
tantum nomen non potest esse definitio. Definitio enim distincte subiicit
b 1. top. 4. et. 6
top. 5. et 7. meta- intellectui, quod nomen definiti confuse proponit. Unde cum de omni essentia
phy. 15. tex. 54.
quee definitione explicatur, duo conceptus formari possint, alter quo
essentia, cjuce declaratur, convenit cum aliis, alter, quo ab eisdem distin­
guitur, fit necessario, ut omnis definitio duabus minimum vocibus constare
debeat, altera, quee gignat in mente conceptum convenienti te, altera,
quee distinctionis, differenticeve. Ita ergo fit, ut omnis definitio sit oratio.
c 1. top. 4. Quanquam explicatio nominis per aliud clarius ad definitionem Autor e
Aristotelec revocatur, ut si quis dicat, Honestum, est decens. Quod
vero additur, Quee essentiam aliquam naturamve declarat, id diversam
Definitionis nomen
saepius accipitur pro reddit Definitionem a cceteris orationibus: nulli siquidem, preeterquam
solo praedicato.
definitioni, hoc munus demandatum est. Illud tamen non videtur pree- C
ter eundum hoc loco, nomen definitionis duobus modis ab Aristotele accipi.
L IV R O V

DAS

INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS

C a p í t u l o 1

Q u e é a definição

A Definição é a oração que declara uma essência ou natureza, como Que é definição, con­
animal racional, que declara a natureza do homem. Do mesmo modo forme os Segundos
Analíticos, II, 10.
que o dividendo corresponde à divisão, assim o definido à definição;
pois o definido não é outra coisa senão aquilo cuja quididade ou essência
se explica. Nós, porém, só falaremos do definido depois de explicarmos Que é o definido.
a definição, todos os géneros em que se divide e o método de definir. Origem do nome
A definição, que entre os latinos a se chamava também delimitação, definição ou delimi­
tação.
toma o nome dos limites dos campos. Na verdade, assim como as a Quintiliano, li­
estremas delimitam e rodeiam os campos e os separam uns dos outros, vro Vil, cap. 4.
assim as definições, com que se declaram as naturezas das coisas, circuns­
crevem as suas essências e as distinguem umas das outras.
B A definição diz-se oração b, porque um só nome não pode ser defi­ Porque é que a defi­
nição é oração.
nição. Na verdade, a definição submete distintamente ao intelecto o que b Tópicos, Γ, 4 e
o nome do definido propõe confusamente. E, como de toda a essência, Tópicos, VI, 5; e Me­
que se explica pela definição, se podem formar dois conceitos — um, tafísica, VII, 15,
pelo qual a essência que se declara convém com as outras; o outro, tex. 54.
pelo qual delas se distingue—, torna-se necessário que toda a definição
conste, pelo menos, de duas vozes: uma que forme na mente o conceito
da conveniência, e outra, o da distinção ou da diferença. E assim
acontece que toda a definição tem de ser oração.
Aristóteles c atribui à definição a explicação dum nome por outro c Tópicos, I, 4.
mais claro, como se se disser: honesto é o que é decente. Mas o que
se acrescenta que declara uma essência ou natureza, torna a definição
diversa das outras orações; pois a nenhuma outra, além da definição,
é confiado este múnus.
C Neste lugar, porém, não deve esquecer-se que definição é tomada Muitas vezes o nome
por Aristóteles de dois modos. Muitas vezes, com efeito, é tomada de definição toma-se
só pelo predicado.
286 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER V

Scepius enim accipitur pro ea sola oratione, quce de definito conversim prre­
dicatur (qualis est illa, Animal rationale, comparatione hominis) ut cum
ait d, ipsam hominis rationem, definitionemve, nisi vel Est, vel Erat,
vel Erit, aut aliquid tale addatur, non esse enunciationem, quia unum
d 1. peri. 4.
est, et non multa animal gressibile bipes. Et iterume, in definitione
e 2. post. 3. nihil de aliquo prcedicari. Et rursum f, definitionem talem esse debere,
/ 6. top. 2. ut ipsa proposita statim, nulloque negotio cognosci possit cuius rei sit defini­
tio: ac proinde eas esse vitiosas, quibus, ut intelUgi possit, quarum rerum
sint definitiones, opus est adiungere nomina rerum, quce definiuntur: quem
admodum in obsoletis veterum picturis, nisi titulus aliquis ascriptus esset,
nenio poterat intelligere cuiusnam rei quaeque pictura esset. His enim
g Ut 7. meta. 12. locis, aliisque quam plurimis s plane accipit [Aristoteles], nomen definitio­
tex. 42. et ctet.
nis pro ea sola oratione, quce de definito conversim praedicatur. Aliquando
vero sumitur [definitionis vocabulum] pro tota enunciatione in qua insuper
h 1. post. 7. et. continetur definitum, (quale est totum hoc, Homo est animal rationale)
2. post. 10.
ut cum aith, Definitionem aut esse principium demonstrationis, aut
i 2. post. 3.
conclusionem, aut totam ratiocinationem sola verborum collocatione
a demonstratione differentem: et rursum \ Omnem definitionem esse
k Lib. 7. ca. 4. universalem, et affirmativam. His namque verbis aperte comprehenditur
definitum nomine definitionis. Posteriorem acceptionem amplectitur
Quintilianusk cum ait, Finitionem esse rei propositae propriam, et dilu­
cidam, et breviter comprehensam verbis enunciationem. Nos priorem,
ut magis usurpatam, libentius sequimur.

De definitione, [quae vocatur Quid] nominis

C a p v t 2

Omnis definitio dici Quanquam vero non solum definitio cuiuslibet rei significatae, sed A
potest modo aliquo etiam cuius vis nominis significantis modo aliquo vocari posset definitio
definitio rei.
rei {neque enim minus possunt nomina vocari res, quam multa quce nomini­
a 2. Post. 7. et 10 bus significantur) consueverunt tamen philosophia dividere definitionem
et 7. meta. 4.
in definitione rei, et nominis, eo quod vulgatissima, et celeberrima sit dis­
tinctio inter res, et nomina. Definitio itaque nominis, quam Aristo-

C 4-C 5 — comparatione hominis, ut diximus) ut cum ait...


A 1-A 6 — Quanquam vero omnis definitio modo aliquo dici posset definitio rei,
quandoquidem omnis essentia, quce definitione explicatur, alicius rei essentia est, tamen
Philosophi in definitionem rei, et nominis definitionem dividere consueverunt, res signi­
ficatas a nominibus significantibus distinguentes. Definitio itaque...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 287

exclusivamente pela oração que se predica reciprocamente do definido


(como aquela: animal racional, em relação a homem), como quando
diz^ que a própria razão ou definição de homem não é uma enuncia­
ção se não se junta é, era, será ou algo semelhante, porque animal
bípede que caminha é um e não muitos. E, também e, que na defi­ d Da Interpreta^
ção, I, 4.
nição nada se predica de alguma coisa. E, ainda/ que a definição e Segundos Analí­
deve ser tal que, uma vez proposta, imediatamente e sem nenhum ticos, II, 3.
/ Tópicos, VI, 2.
trabalho se possa conhecer de que coisa é definição. São, portanto,
viciosas aquelas em que, para se entender de que coisas são definições,
é necessário ajuntar os nomes das coisas que se definem, do mesmo modo
que nas pinturas deterioradas dos antigos, se não houvessem acrescen­
tado um título, ninguém poderia entender que coisa era representada.
g Metafísica, VII,
Nestes lugares, com efeito, e em muitos outros ?, Aristóteles toma 12, tex. 42, etc..
o nome definição só pela oração que se predica reciprocamente
do definido. Mas, outras vezes, dá o nome de definição a toda a
enunciação em que, além disto, se contém também o definido (como h Segundos Ana­
líticos, I, 7; e II, 10.
este conjunto: o homem é um animal racional), como quando dizh
que a definição ou é princípio de demonstração, ou conclusão, ou toda
i Segundos Ana­
ela um raciocínio diferente da demonstração só pela colocação das líticos, II, 3.

palavras. E, também' que toda a definição é universal e afirmativa. k Livro VII,


cap. 4.
Na verdade, por estas palavras, abertamente se inclui o definido no
nome de definição. Quintilianok abraça a última acepção, quando
diz que a delimitação é a enunciação própria, clara e breve da coisa
proposta. Seguimos de preferência, porque mais usada, a primeira.

C a p í t u l o 2

Da definição do nome

Embora se possa, de algum modo, chamar definição da coisa não Toda a definição se
só à definição de qualquer coisa significada, mas ainda à de qualquer pode dizer de algum
modo definição da
nome significativo (pois os nomes não têm menos direito a serem cha­ coisa.
mados coisas do que muitas coisas que são significadas por nomes),
a Segundos Ana­
contudo, os filósofosa acostumaram-se a dividir a definição em defini­
líticos, II, 7 e 10;
ção da coisa e definição do nome, visto que é extremamente comum e usual Metafísica, VII, 4.
a distinção entre coisas e nomes. Assim, a definição do nome, a que
288 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

telesb nominis interpretationem, vulgus Dialecticorum definitionem quid


nominis appellat, est oratio qua quidditas nominis naturave declaratur:
ut totum hoc, Vox, quce hominem ex instituto significat. Hac enim ora­
b 2. post. 10.
tione explicatur natura huius nominis Homo, quatenus quoddam est nomen.
Nomen non accipitur hoc loco presse id est, ut a verbo distinguitur, sed
pro quocunque vocabulo seu categoremate. Quidditas vero et natura B
nominis, est ipsa eius significatio: quo fit ut nihil aliud sit, nominis quiddi-
Quidditas et natura
nominis est ipsa eius tatem, et naturam explicare, quam ejus significationem patefacere. Id
significatio.
quod duobus fit modis: altero, definitione soli nomini, quod definitur,
Duobus modis expli­ congruenti, qualis est ea, quam in exemplum attulimus: attero, ipsa defini­
catur nominis signi­
ficatio. tione rei significata·. Sape enim qui ignorat significationem vocabuli, C
ea verborum formula rogat quid illud significet, ut quid sit res significata
rogare videatur: cui plane satisfacit qui rei significata definitionem
reddit. Ut si quis percontetur quid sit Geometria, intelligere cupiens
significationem nominis, alius vero respondeat, esse scientiam, qua de
magnitudinibus disserit, definitione rei explicata censebitur significatio
Defiivtio rei potest
alicui esse definitio vocabuli. Itaque qua vere ac simpliciter est definitio rei, poterit hoc
nominis.
Quam sit necessaria
modo alicui esse definitio nominis. Hac de definitione nominis, deque
nominis interpre­ modis, quibus significatio nominis explicatur, dixisse sit satis. Est autem
tatio.
c 1. post. 1 hoc genus definitionis plane necessarium non modo cum aliquid, demons­
d 4. metaphy 7. et
8. tex. 28. Cice. 2. trandum est, ut Aristoteles quodam loco ait c, sed omnino cuiusque dis­
de fini, ex Piat, in putationis initio, ut idem alibi fusius et caleri philosophi d o c e n t A d hoc D
Phaedro.
genus revocantur orationes illa, qua declarant originem vocabuli: ut
cum dicimus, Consul est, qui Reipublica utilitati consulit: Sol est, qui
inter astra omnia solus lucet: Fides est, qua fit quod dicitur: Abstemius
Cice. in topicis.
est, qui abstinet a temeto: quas graci vocant, ετυμολογίας, hoc est,
e 1. Peri. 1. veriloquia, quasi explicationes vocum, qua veram adhuc retinent signi­
ficationem earum, a quibus sunt orta. Cicero novato vocabulo notationes
apellat, quia, verba sunt rerum nota. Nam hoc idem, inquit, appellat
Aristotelese σύμβολον, quod latine est nota.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 289

Aristótelesb chama interpretação do nome e o comum dos Dialécticos b Segundos Ana­


definição do que é o nome, é a oração pela qual se declara a quididade líticos, II, 10.
ou natureza do nome, como este conjunto: a palavra que por convenção
significa homem. Com efeito, explica-se por esta oração a natureza
do nome homem, enquanto é um certo nome.
Nome não se toma neste lugar em sentido restrito, isto é, enquanto
se distingue de verbo, mas por qualquer vocábulo ou categorema.
B A quididade e natureza do nome é a sua própria significação; e, assim, A quididade c a na­
explicar a quididade e a natureza do nome não é mais que esclarecer tureza do nome é a
sua própria signi­
a sua significação. E isto faz-se de dois modos: de um, pela definição
ficação.
congruente só com o nome que se define, como aquela que aduzimos Há dois modos de
como exemplo; do outro, pela própria definição da coisa significada. explicar a significa­
C Muitas vezes, com efeito, quem ignora a significação do vocábulo, ção do nome.
pergunta, por esta forma de palavras, o que é que significa, como
se perguntasse o que é a coisa significada. Satisfá-lo plenamente
quem lhe dá a definição da coisa significada. Assim, se alguém per­
guntar o que é a Geometria, desejando entender a significação do nome,
e lhe for respondido que é a ciência que trata das grandezas, pela defini­
ção da coisa julgará explicada a definição do vocábulo. E assim, A definição da coisa
a que verdadeira e simplesmente é a definição da coisa, poderá ser para pode ser para alguns
a definição do nome.
alguém a definição do nome.
Acerca da definição do nome, e dos modos por que se explica a
significação do nome, é suficiente o que disse.
Esk. género de definição é muito necessário não só quando é pre­ Quão necessária é a
ciso demonstrar qualquer coisa, como Aristótelesc diz em certo lugar, interpretação do no­
me.
mas geralmente no início de cada disputa, como o mesmo diz mais
c Segundos Ana­
desenvolvidamente noutro lugar e os demais filósofos^ ensinam. líticos, I, 1;
D Pertencem a este género as orações que declaram a origem do d Metafísica, IV,
vocábulo, como quando dizemos: Cônsul é aquele que consulta [zela] 7 e 8, tex. 28. Cí­
a utilidade da república; sol é o único que dá luz entre todos os astros; cero, Dos Fins, 2,
segundo Platão, no
fidelidade é a virtude em nome da qual se faz o que se diz; abstémio
Fedro.
é aquele que se abstém do álcool. A estas orações chamam os gregos
ετνμολογίαι [etimologias], isto é, termos de verdade, como que explica­
ções das vozes, que retêm ainda a verdadeira explicação daquelas pala­
vras em que se originaram. Cícero chama-as, com um vocábulo novo, Cícero, Tópicos.
notações, porque são verdadeiros sinais das coisas. A isto mesmo —
diz — chama Aristótelese σύμβολον [símbolo, indício] que, em latim, e Da Interpreta­
quer dizer sinal. ção, I, 1.

I9
290 1NST1TVTIONVM DlALECTICARVM LIBER V

De descriptione

CAPVT3

Definitio rei, quce vocari solet definitio quid rei, est oratio, qua essentia A
rei naturave explicatur. Quce rursus in duo genera tribuitur, [utpote]
Duplex definitio rei. in descriptionem, quam Aristoteles et proprium, et orationem coniunctione
unam vocat, atque in definitionem essentialem, quam ille tum simpliciter
ac absolute definitionem, tum etiam terminum, tum orationem, quce unum
significat, appellata. Descriptio eodem authore, est oratio, quce non
a Vide Arist. 1.
significat quod quid erat esse rei, soli autem, inest, et conversim de re prce-
peri. 4. et 2. post. dicatur: ut animal disciplince capax, comparatione hominis. Quanquam
10. et 1. top. 3. et. 4
et toto lib. 5. ac 6. enim hcec oratio conversim de homine dicatur, ici est, necessario cum
top. et 7. meta. 4 et 5. homine reciprocetur, tamen non significat conversim hominis essentiam.
et 8. met. 6.
Descriptio quid. Nam disciplince capax esse, non pertinet ad hominis essentiam: animal
autem, etsi pertinet, tamen non reciprocatur cum homine. Docet autem B
In descriptione pri­ Aristoteles in omni descriptione primum ponendum esse genus, deinde
mo ponendum est ge­ addendam esse unam proprietatem, ut in adducto exemplo. Nec enim, ut
nus deinde una sola
proprietas. ait t1, addenda sunt plures, nisi is, qui definit significet se multas descriptio­
b 5. top. 2. nes conglobatas tradere: ut si dicat, Homo est animal disciplince capax
Descriptiones ex col­
ad ridendum, et ad flendum natum, asserens se non unam tantum descrip­
lectione communium tionem afferre. Revocantur ad descriptionem, seu proprium complexum, C
accidentium.
definitiones ilice, quce loco proprietatis constant collectione aliqua com­
munium accidentium, quce orationem recurrentem facit cum definito:
qualis hcec est, Homo est animal bipes, implume. Quanquam enim
horum neutrum sit homini proprium, tamen ambo iuncta cum homine
Descriptiones gene­ recurrunt. Revocantur etiam ad descriptionem definitiones ilice quibus
rum ex differentiis, genera definiuntur per differentias, quibus dividuntur: ut si dicas, Animal
quibus dividuntur.
Descriptiones non est corpus animatum rationale, aut irrationale. Nam differentice dividentes
constantes vero ge­ genus non pertinent ad eius essentiam. Revocantur etiam, ilice, quce non
nere.
constant vero genere sed aliquid habent loco eius: cuius modi sunt defini­
tiones summorum generum, ut si dicas, Substantia est ens per se existens,
et ccetera. Itemque definitiones quorumdam analogorum: ut si dicas, Ens

A 2 — Quce rursus, ut divisio rei, in duo...


C 7 — genera ex differentiis se dividentibus definiuntur: ut si dicas...
C 11-C 12 — per Se subsistens, et ccetera.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 291

Capítulo 3

Da descrição

A A definição da coisa, que costuma chamar-se definição quid da Dupla definição da


coisa, é a oração pela qual se explica a essência ou natureza da coisa. coisa.
Também se divide em dois géneros: na descrição, a que Aristóteles chama
não só o próprio, mas ainda oração una por conjunção; e na definição a Ver Aristóteles,
essencial, a que ele a chama quer simples e absolutamente definição, Da Interpretação, I,
4; Segundos Analíti­
quer termo, quer ainda oração que significa um todo. A descrição,
cos II, 10; Tópicos,
segundo o mesmo autor, é a oração que não significa a essência da I, 3 e 4; todo o
coisa, mas que está nela só e dela se predica reciprocamente, como livro V e VI dos
animal capaz de educação relativamente a homem. Na verdade, ainda Tópicos; Metafísica,
que esta oração se diga reciprocamente de homem, isto é, se reciproque VII, 4 e 5; Metafí­
sica, VIII, 6.
necessàriamente com homem, contudo, não significa reciprocamente Que é a descrição.
a essência do homem. Efectivamente, ser capaz de educação não per­
tence à essência de homem; e animal, embora pertença à essência de
homem, contudo, não se reciproca com homem.
B Ensina também Aristóteles que, em toda a descrição, se deve colocar Na descrição deve
em primeiro lugar o género e depois acrescentar uma propriedade, como pôr-se em primeiro
lugar o género, de­
no exemplo aduzido. Mas não se deve juntar mais que uma, como pois uma só proprie­
o mesmo dizô, a não ser que o que define dê a entender que apresenta dade.
muitas descrições conglobadas, como se disser: o homem é um animal b Tópicos, V, 2.
capaz de educação, nascido para rir e para chorar—afirmando que não
apresenta apenas uma descrição.
C Pertencem à descrição, ou ao próprio complexo, as definições Descrições por colec­
que, em lugar da propriedade, constam duma colecção de acidentes ção de ac: dentes co­
muns.
comuns, que faz a oração representante do definido, como esta: o homem
é um animal bípede, implume. Na verdade, embora nenhum destes
seja próprio do homem, contudo, ambos juntos, representam o
homem.
Pertencem também à descrição aquelas definições com que se Descrições dos géne­
definem os géneros pelas diferenças em que se dividem, como se se ros pelas diferenças
com que se dividem.
disser: o animal é um corpo animado racional ou irracional. Com efeito, As descrições que
as diferenças, que dividem o género, não pertencem à sua essência. não constam de ver­
Pertencem-lhe também aquelas que não constam dum verdadeiro género, dadeiro género.
mas que têm algo a fazer as suas vezes. Deste modo são as definições
dos géneros supremos, como quando se diz: substância é o ente que
existe por si, etc.. São também deste modo as definições de certos
análogos, como quando se diz: ente é o que pode existir; uno é o ente
292 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

est id quod existere potest: Unum est ens indivisum c: Principia sunt,
quee nec ex sese, nec ex aliis, sed ex ipsis omnia fiunt d. Revocantur
c 5. meta. 6. etiam, quanquam minus proprie, orationes ilice, quibus Oratores, aut
d I. phy. 5. poetee longo sermone rem aliquam communem depingunt. Ciceroe
Descriptiones orato­
ri®, ac poetica; rerum
gloriam quasi describens ait, gloriam esse, quee brevitatem vitee posteri­
communium. tatis memoria consolatur, quee efficit ut absentes adsint, mortui vivant,
e Cicero pro Milo.
cujus denique gradibus etiam homines in coelum videantur ascendere.
Huius generis est descriptio, qua Virgilius f famam depingit. Fama
/ 4. Aeneid. (inquit) malum quo non aliud, velocius ullum: mobilitate viget, viresque
acquirit eundo: et quee sequuntur. Dixi has orationes minus proprie
revocari ad descriptiones, quia seepe non reciprocantur cum re, quee
describitur, seepe etiam constant verbis translatitiis, a quibus Aristo­
g 2. post. 15. et 6. teles S, quia obscuriora sunt, cavendum esse in definiendo admonet. Expli­
top. 2.
Descriptiones rerum cationes etiam rerum singularium, sive breves, ut apud Philosophos,
singularium. et in communi sermone, sive longiores, ut apud oratores aut poetas,
Explicationes meta- quibus in describendis, personis, regionibus, urbibus, fluminibus, montibus,
phoric®. et lucis utuntur, ad hoc genus revocari solent. Extremum locum obti­
h Ovid. nent adumbrat ce quosdam, et mcetaphoricce explicationes, si quando rem
i Hora.
facile ante oculos proponunt: qualis est illa apud Ovidium Stulte, quid
Cur descriptio dicta
sit. est somnus gelidee nisi mortis imago? et illa apud Horatiuml, Ira furor
Cur descriptio dica­ brevis est. Nam et lue orationes descriptiones appellantur. Dicitur D
tur proprium.
autem hoc genus definitionis, descriptio, quia rei naturam non omnino
Cur oratio coniunc-
tione una.
exprimit, sed primis quasi lineamentis adumbrat. Dicitur proprium,
quia hoc tantum commune habet cum vera definitione, quod convertatur
cum re. Dicitur etiam oratio coniunctione una, quid non significat unam
duntaxat naturam, ut ea quee simpliciter definitio appellatur, sed multas
coniunctis in eadem re, ut ex dictis patet.

De definitione causali

CAPVT4

Inter descriptiones numeratur causalis definitio, quee hoc modo definiri A


solet, Definitio causalis est oratio explicans quidditatem rei ex genere
Caus® extern®. et causa aliqua, causisve externis. Causee externee sunt Efficiens, et

C 16 — communem describunt ac depingunt. Cicero...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 293

indiviso c; princípios são aquelas coisas que não provêm nem de si


nem de outros e das quais tudo provémd.
E ainda lhe pertencem, embora menos propriamente, as orações
c Metafísica,
com que os oradores ou poetas pintam, com uma longa tirada, alguma V, 6.
coisa comum. Cícero e, como que a descrever a glória, diz que a d Física, I, 5.
As descrições orató­
glória é aquilo que compensa a brevidade da vida com a memória rias e poéticas das
da posteridade, que faz com que os ausentes estejam presentes, com que coisas comuns.
e Cícero, A favor
os mortos vivam e, finalmente, é aquilo por cujos degraus os homens de Milão.
parecem ascender ao céu. Deste género é a descrição por que Virgílio f
pinta a fama: a fama, diz, é o mal que em velocidade se não deixa vencer / Eneida, 4.
por outro; o movimento revigora-o, e caminhando, ganha forças;
e o mais que se segue. Disse que todas estas orações pertencem menos
propriamente às descrições, porque, muitas vezes, se não reciprocam
com a coisa que é descrita e, outras vezes, constam de palavras meta­
fóricas, de que Aristóteles^ nos adverte que tenhamos cuidado na defi­ g Segundos Ana­
líticos, II, 15; Tó­
nição, porque são mais obscuras. picos, VI, 2.
Costumam também incluir-se neste género as explicações das coisas As descrições das coi­
sas singulares.
singulares, quer essas explicações sejam breves, como entre os filósofos
e na linguagem comum, quer mais longas, como os oradores ou poetas
usam na descrição de pessoas, regiões, cidades, rios, montes e bosques. Explicações metafó­
ricas.
Vêm em último lugar as explicações figuradas e metafóricas, quando h Ovídio.
facilmente nos fazem ver a coisa, como esta de Ovídio Ã: insensato, que i Horácio.
é o sono senão a imagem da gélida morte? e aquela de Horácio1 : a ira
é um furor breve. Com efeito, também estas orações se chamam des­ Porque é que se diz
crições. descrição.

D Este género de definição chama-se descrição, porque não exprime Porque é que a des­
crição se diz próprio.
plenamente a natureza da coisa, mas como que a esboça pelos primeiros Porque é oração una
delineamentos. E diz-se próprio porque só tem de comum com a ver­ por conjunção.

dadeira definição o facto de se converter com a coisa. Diz-se ainda


oração una por conjunção, porque não significa uma só natureza, como
aquela que se chama simplesmente definição, mas muitas englobadas
na mesma coisa, como é evidente pelo que se disse.

Capítulo 4

Da definição causal

A Entre as descrições, enumera-se a definição causal, que costuma


definir-se assim: definição causal é a oração que explica a quididade
da coisa a partir do género e duma causa ou causas externas. As causas Causas externas.
294 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

Finis: adde si placet. Exemplar. Efficiens quid sit, satis apertum est.
Finis est id, gratia cuius, aliquid fit: quo pacto beatitudo coelestis est
finis rationalis creaturce. Exemplar est forma externa, cuius imitatione
res fit: qualis est imago, quam pictor in tabula referre atque exprimere
enititur. Ex causa efficiente sic fere definitur vox apud Aristotelem a, B
Finis, [ex. 2. phy. 3.]
Exemplar.
Vox est sonus quidam editus ab anima ictu aeris respiratione attracti cum
ipsum ad fauces allidit. Ex fine hoc modo definitur anima b, Anima est
a 2. de anim. 8. forma, qua primo vivimus, sentimus, et intelligimus. Ex causa exemplari
sic potest homo definiri, Homo est animal factum ad imaginem et simi­
b 2. de ani. 2.
litudinem Dei. Interdum autem plura, aut etiam omnia genera causarum
externarum in eadem definitione iunguntur: ut si dicas, Homo est animal
a Deo ad similitudinem diviner mentis factum, ut ceterna felicitate per-
fruatur. Faciliusque est ex omnibus simul causis, quam ex una tantum C
Facilius est ex omni­
rem definire, quia raro una duntaxat, si nihil aliud addatur, contrahit
bus simul causis ex­ genus ad speciem definiti. Quamquam vero definitiones, quee ex causis
ternis quam ex una
tantum rem definire. e
internis rem declarant, utpote ex materia et forma, causales etiam dici
[Cur definitiones, qua possint tamen quia materia et forma ad essentiam rei pertinent fere iam
traduntur per mate­
riam, et formam non
obtinuit usus, ut non causales sed essentiales dicantur.
numerentur in causa­
libus.]

De definitione essentiali

CapyT5
a 1. top. 4.

Definitio essentialis, ut Aristoteles definita, est oratio quod qudi erat A


Rarissimae sunt es­
sentiales definitiones.esse significans. Hoc est oratio, quee conversan significat quidditatem
essentiamve rei, quee definitur. Rarissimum est hoc genus definitionis,
saltem in substantiis. Sed afferri solet in exemplum Animal rationale.
Cum autem omnis essentia, quee definiri potest, constet ex materia, et
forma, aut saltem ex genere, et differentia, (Jilee enim componunt essentiam
re ipsa et physice, heee ratione tantum, considerationeque ut supra dixi-
Obiectio.

Solutio.

Quasdam essentiales C 3-C 6 — speciem definiti. Quod si quis obiiciat, has definitiones non videri
definitiones posse
descriptiones, quandoquidem non dicuntur patefacere rei naturan ex proprietatibus,
causales appellari.
aut accidentibus, sed ex causis: accurrendum est, hoc ipsum, quod est, effici ab aliqua
causa, aut ob aliquam causam, aut invitatione alicuius, esse proprium aut accidens rei,
cum ad essentiam eius non pertineat. Nonnullce sunt definitiones essentiales, quee
causales etiam dici possunt, quee nimirum ex causis internis rem declarant, utpote ex
materia et forma rei, aut ex utraque forma adiuncta, de quibus statim dicemus: sed
quee ex causis externis extruuntur fere sunt, quee causales dicantur. Nam illas magis
placuit essentiales appellare.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 295

externas são: a causa eficiente e o fim, a que pode acrescentar-se a


causa exemplar. O que seja a causa eficiente, é manifesto. Fim é
aquilo em razão do qual se faz alguma coisa; por isso, a beatitude celeste
é o fim da criatura racional. Causa exemplar é a forma externa por cuja Fim, segundo Física,
II, 3.
imitação se faz a coisa, como é a imagem que o pintor procura reproduzir
Causa exemplar.
e exprimir no painel.
B Pela causa eficiente, Aristóteles0 define voz mais ou menos assim:
voz é um som que sai da alma por um jacto de ar comprimido pela a Da Alma, II, 8.
respiração, quando o lança contra a garganta. A partir do fim, define-se
assim a almaè: a alma é a forma pela qual primeiramente vivemos,
b Da Alma, II, 2.
sentimos e compreendemos. A partir da causa exemplar, assim se
pode definir o homem: homem é o animal feito à imagem e semelhança
de Deus. Algumas vezes, porém, muitos ou mesmo todos os géneros
das causas externas se reúnem na mesma definição, como quando se diz:
o homem é um animal feito por Deus à semelhança da mente divina, É mais fácil definir
C para gozar a felicidade eterna. E é mais fácil definir uma coisa, a partir uma coisa a partir
de todas as causas
de todas as causas simultáneamente, do que a partir de uma só, por­ externas simultánea­
mente, do que a par­
que uma só, se mais nada se lhe juntar, raramente restringe o género tir de uma só.
na espécie do definido. Porque é que as de­
finições que se fazem
Embora as definições, que declaram a coisa a partir de causas a partir da matéria
internas, como da matéria e da forma, se possam dizer também cau­ e da forma se não
enumeram entre as
sais, contudo, como a matéria e a forma pertencem à essência da causais.
coisa, já quase prevaleceu o uso de se não chamarem causais, mas
essenciais.

C a p í t u l o 5

Da definição essencial

A A definição essencial, como Aristóteles0 a define, é a oração que a Tópicos, I, 4.


significa o que uma coisa era, por si, destinada a ser. Isto é a oração que
significa reciprocamente a quididade ou essência da coisa que se define.
São raríssimas as de­
Este género de definição é muito raro, sobretudo nas substâncias. finições essenciais.
Costuma apresentar-se este exemplo: animal racional. Como, porém,
toda a essência, que se pode definir, consta de matéria e de forma ou,
pelo menos, de género e de diferença (aquelas compõem a essência na
realidade e fisicamente; estas somente na razão e no pensamento,
296 INST1TVTI0NVM DIALECTI CA RVM LIBER V

musb) efficitur, ut ea oratio dicatur significare quod quid erat esse rei,
quce constat nominibus propriae materiae, ac formae rei, quae definitur, aut
b Lib. 4. ca. 4.
et 5. generis et differentiae. Exempli causa hae orationes Animal constans
Qiue oratio dicatur ex corpore tali, et animo rationis participe, et Animal rationis particeps,
significare quod quid
erat esse rei. sunt definitiones essentiales hominis: prior, quia constat nominibus signi­
ficantibus propriam materiam et formam hominis: posterior, quia constat
nominibus proximi generis proximae que differentiae eiusdem. Ita fit
Duplex definitio es­
ut duplex sit definitio essentialis, altera ex propria materia et forma
sentialis. generi adiunctis, altera ex proximo genere et proxima differentia. Potest
Loco proximi generis tamen loco proximi generis poni genus remotum cum omnibus differentiis
poni potest genus re­
motum cum diffe­ interiectis, ut si dicas, Homo est substantia corporata, quce interire potest,
rentiis omnibus inter- vivens, sentiens, et rationis particeps. [At dicat aliquis definitionem tra­
icctis.
[I. obiectio.]
ditam per materiam et formam rei generi adiunctas in vitium nugationis
incurrere. Siquidem in definitione, qua homo dicitur animal constans
tali corpore, et animo rationis participe bis includuntur corpus et animus,
semel implicite sive ratione animalis (constat enim animal animo, et
[2. obiectio.] corpore) et iterum explicite, ac per se, quod idem vitium in caeleris similibus
c 6. top. 3. definitionibus notari potest. Non recte igitur approbatum est hoc definiendi
d Ut 6. top. 2. et
6. et 7. top. 2.
genus]. Praeterea Aristotelesc saepe docet unius rei unam tantum esse
Solutio prioris.
definitionem essentialem:d Non recte igitur asseruimus, duas eiusdem
rei tradi posse essentiales definitiones, alteram ex materia et forma,
alteram ex genere, et differentia. Verum haec nihil obstant. Ad id
enim, quod priori loco obiicitur dicendum est primum quidem materiam,
et formam rei, quae definitur, non includi in ratione omnium generum
eiusmodi rei. Neque enim includuntur in ratione Substantiae generis
summi ut patet: quamquam hinc alia exoritur maior difficultas, quam ut
commemoranda sit hoc loco. Deinde, non eodem modo includi materiam,
et formam in ratione generum subalternorum, quo illis adduntur in defini­
tionibus specierum. Nam etsi corpus quod est materia viventis quatenus
corpus est, includatur in ratione animalis, non includitur tamen in illa
quatenus est humanum, hoc est quatenus informatur forma humana: ut
luce clarius est. Hoc autem pacto adiungitur corpus animali in tradita

B 1 [1590] — A linha B 1 da edição de 1590 corresponde à B 8 da edição que


seguimos.
B8 — At Aristoteles scepe docet...
B 11-C 3 — nihil obstant. Verbis enim non modo duce, ut diximus, sed etiam
plures esse possunt (Nam etiam illam, quce ex genere et differentia rem declarat, duobus
Quo pacto inteligen- modis fieri posse docuimus) cceterum significatione, una tantum sit necesse est. Omnes
dum unius rei unam enim quce allatce fuerint eandem omnino essentiam significabunt. Atque hoc pacto
tantum esse defini­ intelligendus est Aristoteles. Urgebit fortasse...
tionem essentialem.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 297

como acima dissemos b), diz-se que uma oração significa a essência da
coisa quando consta dos nomes da matéria e da forma da coisa que se
define, ou do gênero e da diferença. Por exemplo, as orações animal b Livro IV, cap. 4
que consta de determinado corpo e de alma racional, animal racional, e 5.
Qual a oração que
são definições essenciais de homem; a primeira, porque consta de se diz significar a
essência da coisa.
nomes que significam a matéria própria e a forma do homem; a
segunda, porque consta dos nomes do seu género próximo e da sua
diferença próxima.
E assim a definição essencial é dupla: uma, que se faz pela matéria
Dupla definição es­
própria e a forma adjuntas ao género; outra, pelo género e diferença sencial.
próximos. No lugar do género próximo pode, porém, pôr-se o género Em lugar do género
remoto com todas as diferenças intermédias, como quando se diz que próximo pode pôr-se
o género remoto com
o homem é uma substância corpórea, mortal, viva, sensível e racional. todas as diferenças
Dirá alguém que a definição dada pela matéria e pela forma da intermédias.
Primeira objecção.
coisa adjuntas ao género incorre no vício da redundância. Com efeito,
na definição, em que se diz que o homem é um animal que consta de tal
corpo e de alma dotada de razão, incluem-se duas vezes corpo e alma,
uma vez implicitamente, ou em razão de animal (efectivamente, animal
Segunda objecção.
consta de alma e de corpo), e outra vez explícitamente e por si. Vício
idêntico se pode notar em outras definições semelhantes. Portanto, c Tópicos, VI, 3.
este género de definir não foi rectamente aprovado. d Por exemplo,
nos Tópicos, VI, 2 e
Além disso, Aristóteles^ diz muitas vezes que há apenas uma defini­ 6 e Tópicos, VII, 2.
ção essencial para cada coisa^. Portanto, não foi rectamente que
Solução da primeira.
afirmámos poderem dar-se duas definições essenciais da mesma coisa,
uma pela matéria e pela forma, outra pelo género e pela diferença.
Todavia, isto nada obsta. Com efeito, quanto à primeira objec-
ção, deve dizer-se, em primeiro lugar, que a matéria e a forma da
coisa, que se define, não se incluem na razão de todos os géneros
da mesma coisa. Nem sequer se incluem na razão da substância
do género supremo, como está patente, embora daqui surja outra
dificuldade, grande demais para ser mencionada neste lugar. Além
disso, a matéria e a forma não se incluem na razão dos géneros
subalternos, do mesmo modo por que se juntam àqueles nas defini­
ções das espécies. Com efeito, ainda que o corpo, que é a matéria
do ser vivo, enquanto corpo, se inclui na razão de animal, con­
tudo, não se inclui nela enquanto é humano, isto é, enquanto é
informado por uma forma humana—o que é mais claro que a luz.
E, assim, junta-se corpo a animal na definição dada de homem; do
298 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

definitione hominis: eodemque modo, etsi animus {qui est forma viventis')
quatenus est animus includatur in ratione animalis, non includitur tamen
quatenus est humanus, seu rationis particeps, quo pacto additur ani­
mali in eadem definitione. Ita fit ut nullum hoc pacto nugationis vitium
Solutio posterioris. committatur. Quod autem posteriori loco obiectum est, facile diluetur
si dicas, nihil obstare quominus eiusdem rei dentur plures definitiones
essentiales, modo ilice sint solo explicandi modo diversce cuiusmodi sunt,
non tantum ilice, de quibus obiectio excitata est, sed etiam ilice, quarum
alteram, autore etiam Aristotele, diximus tradi per genus proximum,
et differentiam proximam, alteram per genus remotum, et omnes diffe­
rentias interiectas. Neque enim plures, sed unam, et eamdem essentiam
explicite significant. Quod autem Aristoteles negat, huiusmodi est: fieri
non posse, ut eiusdem rei {hoc est speciei) plures tradantur definitiones
essentiales, quce plures essentias exprimant. Nam ut unius speciei una
tantum est essentia, ita omnes definitiones, quce illius essentiam per essen­
tialia declarant, eandem omnino essentiam exprimant necesse est. Allo­
qui non erunt essentiales eiusdem speciei definitiones. Urgebit adhuc C
fortasse aliquis, premet que hoc modo: Aristoteles docet multis in locis
omnem definitionem essentialem constare ex genere, et differentia: si ergo
ita res habet, nulla essentialis definitio constat materia, et forma rei,
Solutio. praetermissa differentia. Sed resistendum est hoc modo, propriam
materiam, et formam rei, seu potius constare ex propria materia, ac
forma rei, quatenus huiusmodi sunt {id enim in hac definitionis formula
generi adiicitur) vice differentice haberi. Eundem enim gradum humanes
naturce addit animali, id quod dicimus Constans tali corpore {recto scilicet,
aut quo alio modo id [a posteriori] explicaveris) et animo rationali, [quem
addit rationale]: atque eodem modo res habet in certeris speciebus rerum,
Definitiones quae pra equce
­ materia, et forma constant. Revocantur ad definitionem essentialem D
termittunt mediam
definitiones ilice, quce constant genere remoto, et differentia proxima preeter-
aliquam differentiam.
missis aut omnibus aut quibusdam differentiis interiectis: ut si dicas,
Homo est substantia corporata, rationis compos: vel, Homo est corpus
Quae genere, ac sola animatum rationale. Revocantur etiam ilice, quce loco differentice pro-
materia, aut forma ximee constant nomine materice proprice, aut formee duntaxat: ut si dicas,
constant.
Homo est animal constans recto corpore, vel, Homo est animal constans

C 3-C 4 — et differentia: nisi ergo illi fallitur nulla constat materia...


C 7-C 9 — forma rei, quod in hac definitionis formula generi adiicitur vice
differentice haberi, idemque omnino valere. Eundem enim gradum humance natui a:
significat hoc verbum Rationale, et heee Constans tali coipore...
C11—atque ita res habet...
D 1-D 2 — Revocantur ad hoc genus definitiones ilice, quce...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 299

mesmo modo, ainda que a alma (que é a forma do ser vivo), enquanto
é alma, se inclua na razão de animal, contudo não se inclui enquanto é
humana ou dotada de razão, e por isso se junta a animal na mesma
definição. E assim já se não incorre em nenhuma redundância.
A segunda objecção facilmente se destrói, dizendo que nada obsta
a que se dêem várias definições essenciais da mesma coisa, desde que
sejam diferentes apenas no modo de explicar, como o são não só Solução da segunda.
aquelas em que se originou a objecção, mas ainda outras, uma das quais
(ainda segundo Aristóteles) dissemos que se dava pelo género próximo
e pela diferença próxima, e outra pelo género remoto e por todas as
diferenças intermédias. Pois significam, explícitamente, não várias,
mas uma e a mesma essência. O que, na verdade, Aristóteles nega é
que seja possível que da mesma coisa (isto é, da espécie) se dêm várias
definições essenciais, que exprimam várias essências. Com efeito,
sendo uma só a essência de qualquer espécie, é necessário que todas as
definições, que declaram essa essência através de coisas essenciais, a
exprimam inteiramente. De outro modo, não seriam definições essen­
ciais da mesma espécie.
C Talvez alguém continue a insistir e a objectar assim: Aristóteles
ensina, em muitos lugares, que toda a definição essencial consta de
género e de diferença; logo, se assim for, nenhuma definição essencial
consta da matéria e da forma da coisa, com omissão da diferença.
Solução.
Deve responder-se deste modo: a matéria própria e a forma da
coisa ou, antes, o facto de constar da matéria própria e da forma da
coisa, enquanto são deste modo (pois nesta forma de definição, junta-se
isto ao género), faz as vezes da diferença. Com efeito, o que disse­
mos — que consta de determinado corpo (isto é, erecto; ou de qualquer
outro modo por que isto se explique «a posteriori») e de alma racional —
junta a animal o mesmo grau de natureza humana que junta racional.
Do mesmo modo acontece nas restantes espécies de coisas que constam Definições que omi­
de matéria e de forma. tem alguma diferença
média.
D Pertencem à definição essencial as definições que constam dum
género remoto e duma diferença próxima, omitidas ou todas ou algumas
As que constam de
das diferenças intermédias, como quando se diz: o homem é uma subs­ género e só de maté­
tância corpórea, composta de razão, ou o homem é um corpo ani­ ria, ou só de forma.
mado racional. Pertencem-lhe ainda as que, em lugar da diferença
próxima, constam do nome da matéria próxima ou somente da forma,
como quando se diz: o homem é um animal que consta de corpo erecto;
ou: o homem é um animal que consta de alma racional. Com efeito,
300 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

animo rationis participe. Hce namque omnes significant conversim quiddi-


tatem rei, etsi illam non omnino exprimunt, praesertim cum traduntur
per genus remotum. Revocantur et ilice qua; fiunt ex genere et enumera­
tione partium integrantium pertinentium ad essentiam rei: ut si dicas,
Domus est integumentum ex parietibus, et tecto hoc modo constructum:
Respublica est communio ex ordine sacrorum ministrorum, nobilium,
et plebis constituta. Sed qucestio est, num definitiones, quce generi et E
Definitiones ex enu­ differentia: proprietatem aliquam adiungunt, in essentialibus definitionibus
meratione partium in­
tegrantium. debeant numerari: ut si dicas, Homo est animal rationale beatce vitee
Num definitiones,
capax, vel Homo est animal rationale natura mansuetum, et ad civilem
qu® generi et dif­ communionem aptum. Reprehenduntur enim ab Aristotele e. Ad hanc
ferenti® proprietatem
adiungunt sint essen­ queestionem respondendum videtur, huiusmodi definitiones esse quidem
tiales.
e 5. top. 2. et 6. redundantes (cum satis sit ea in definitione collocare, quce ad essentiam
top. 2.
rei pertinent) atque hac de causa ab Aristotele non probari: cceterum non
esse ab essentialibus excludendas. Constant enim partibus conversim
significantibus essentiam definiti, etsi alias adiungunt quce nullam essen-
Hinc collige non opus
esse ut omne quod tice partem significent. Multo minus excludendce erunt ab hoc genere, quce F
ponitur in essentiali
definitione, essentiam constant nomine aliquo, quod non significat quidem essentiam definiti,
significet.
sed est eiusmodi, ut sine ipso essentia definiti intelligi non possit: ut si
Cur definitio essen­
dicas, Pater est relatum quid, cuius respectus ad filium terminatur. Nam
tialis hoc nomine ap­
pelletur.
etsi nomen filii non significat ullam partem essentice patris, tamen sine
Cur simpliciter de­
finitio.
ipso essentia, et natura patris, intelligi nullo modo potest.
Cur terminus.
/ 5. meta. 17.
Dicitur hoc genus definitionis definitio essentialis, quia essentiam G
Cur oratio, qu® rei exprimit. Dicitur at Aristotele simpliciter Definitio, quia simpliciter,
unum significat.
ac perfecte rem definit. Dicitur terminus, quia cognitio rei ab acciden­
tibus externis profecta, non potest ultra definitionem essentialem progredi,
sed in ea quasi in perfecta rei apprehensione terminatur, ut ipse autor
huius nominis exponit f. Dicitur denique oratio, quce unum significat,
quia ex materia et forma, ac omnino ex genere et differentia, ex quibus
definitio essentialis rem declarat, una constat essentia: non item ex genere
et proprietate, aut ex genere et accidentibus, ex quibus descriptio conficitur.

D 8-D 10 — quidditatem rei, etsi aliquam eius partem, aut partes praetermittunt.
Revocantur et...
EI—plebis: et alia huiusmodi. Sed qucestio...
E 5-E 6 — Aristotele. Cui queestioni dicendum videtur, has definitiones...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 301

todas estas significam reciprocamente a quididade da coisa, embora a


não exprimam completamente, principalmente quando se dão pelo
género remoto. Pertencem-lhe também as que se fazem pelo género
e pela enumeração das partes integrantes, que pertencem à essência da
Definição pela enu­
coisa, como quando se diz: a casa é o abrigo feito de paredes e de tecto; meração das partes
a nação é a sociedade constituída pelo clero, nobreza e povo. integrantes.
E Surge uma questão: se as definições, que juntam ao género e à
diferença alguma propriedade, se devem enumerar entre as definições Se as definições que
essenciais, como quando se diz: o homem é um animal racional capaz juntam uma proprie­
dade ao género e à
de uma vida feliz, ou, o homem é um animal racional, por natureza
diferença são essen­
doméstico e apto para a sociedade civil. Na verdade, são reprovadas ciais.
por Aristóteles e. A esta questão parece que se deve responder que
e Tópicos, V, 2 e
estas definições são, na verdade, redundantes (uma vez que é suficiente Tópicos, VI, 2.
colocar na definição as coisas que pertencem à essência da coisa),
e é por esta causa que não são aprovadas por Aristóteles; por outro
lado, não devem ser excluídas das essenciais, pois constam de partes
que significam reciprocamente a essência do definido, embora juntem
outras que não significam nenhuma parte da essência.
F Muito menos se deverão excluir deste género aquelas que constam Daqui se infere que
não há necessidade
de um nome que, não significando a essência do definido, é, porém, de de tudo o que se põe
tal modo que, sem ele, não se pode entender a essência do definido, na definição essen­
como quando se diz: pai é um ser relativo, cuja relação se termina cial significar a essên­
cia.
em filho; pois, embora o nome filho não signifique nenhuma parte da
essência de pai, contudo, sem ele, de modo algum se pode entender a
essência e a natureza de pai. Porque é que a de­
finição essencial se
G Este género de definição diz-se definição essencial, porque exprime
chama por este nome.
a essência da coisa. É por Aristóteles denominado simplesmente Porque simplesmente
definição, porque define a coisa simples e perfeitamente. Diz-se termo, definição.
Porque termo.
porque o conhecimento da coisa proveniente dos acidentes externos
não pode progredir para além da definição essencial, mas termina / Metafísica, V,
nesta como numa perfeita apreensão da coisa, conforme expõe o próprio 17.
autor deste nome/. Finalmente, diz-se oração que significa um, porque Porque oração que
significa um.
consta de uma só essência a partir da matéria e da forma e geralmente
do género e da diferença, com que a definição essencial declara uma
coisa. O que não acontece com o género e o próprio ou com os
géneros e os acidentes, com que se faz a descrição.
302 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

Non eodem modo res omnes definiri

CAPVT6

Porro non omnes res eodem modo definiuntur. Id quod [facile est] A
cernere, si praedicamenta ante oculos ponantur. Nam extrema eorum,
id est, genera suprema, et individua non definiuntur essentialiter, sed
Genera suprema et describuntur: illa, quia nulla constant differentia: haec, quia non sunt
individua non defi­
niuntur essentialiter. universalia, ac proinde non definiuntur nisi remote, ut dicemus. Des­
cribi tamen modo aliquo consueverunt individua ex multorum accidentium
Individua describi so­ collectione. Ut si Platonem definias, hominem quemdam Aristonis ex
lent.
Perictiona filium veteris Academice principem, aut alia huiuscemodi
oratione quisnam fuerit explices. Media vero interiecta inter hcec, hoc B
Omnes species definiri est, species omnes essentialiter possunt definiri, cum omnes constent
possunt essentialiter.
generibus, et differentiis. Cceterum in his definiendis varietatem multam
Substantias tantum invenies. Sola enim substantia corporea, et species, quce sub ipsa collo­
corporatas definiun­
tur ex materia, et cantur, definiri possunt ex materia, et forma, quoniam hce tantum species
forma.
Sola substantia, sim­
ex materia, et forma conpositce sunt. Iam vero si prcedicamentum substan- C
pliciter definitur tice cum caeteris conferas, solas substantias intelliges simpliciter definiri
essentiali definitione.
a 7. metaphy. 1. 4. essentiali definitione, ut placet Aristoteli. Accidentia enim, ut ait0·, non
et 5.
Omnia accidentia
habent simpliciter quod quid erat esse, quidditatemve, sed quodammodo, quia
modo aliquo per su­
bstantiam definiun­
non per sese, sed in sola substantia, quce per se existit, cohcerere possunt.
tur. Unde fit ut omnia modo aliquo per substantiam, in qua cohcerent, definienda D
Aliter tamen abs­
tracta aliter concreta. sint. Aliter tamen cum significantur nominibus abstractis (quce sunt
b 7. metaphy. 5.
Vide D. Tho. de en­ [ipsorum pene] propria) aliter cum significantur concretis b. Nam cum
te et essentia. 7.
abstractis significantur, ponenda est substantia subiectumve in casu
obliquo: ut si dicas, Simitatem esse curvitatem nasi. Cum autem con­
cretis nominibus significantur more substantiarum, tum sublectum
ponendum est in recto: ut si dicas, Simum est nasus curvus. Non modo E
autem accidentia omnia sive proxime, sive remote, per substantiam defi­
nienda sunt, sed etiam inter accidentia reperias plurima, quce aliis prceterea
additamentis egeant, cuiusmodi sunt omnes habitus qui operativi appellantur,

A 1-A 2 — Id quod cernere, positis ante oculos prcedicamentis, facile est. Nam...
D 2-D 3 — {quce sunt propria ipsorum) aliter...
E 4 — omnes habitus operantes, potentice...
INS TI TUIÇÕES DIA LÉC TICA S — LIVRO V 303

Capítulo 6

Nem todas as coisas se definem do mesmo modo

A Nem todas as coisas se definem do mesmo modo. O que é fácil


de ver, pondo-se os predicamentos diante dos olhos. Com efeito,
os seus extremos, isto é, os géneros supremos e os indivíduos, não se
Os géneros supremos
definem essencialmente, mas descrevem-se; os primeiros, porque não c os indivíduos não
constam de diferença alguma, os segundos, porque não são universais e, se definem essencial­
mente.
portanto, não se definem senão remotamente, como diremos.
Os indivíduos costu­
É, todavia, costume descrever de certo modo os indivíduos pela mam descrever-se.
colecção de muitos acidentes, como se se definisse Platão assim: um
certo homem, filho de Ariston e Perictíona, principal da Velha Academia;
ou se se explicasse quem ele tenha sido por qualquer outra oração seme­
lhante.
B Mas os intermédios entre género supremo e indivíduo, isto é, as
Todas as espécies po­
espécies todas, podem definir-se essencialmente, já que todas constam dem definir-se essen-
de géneros e diferenças. Além disso, encontrar-se-á, ao definir estas, cialmente.
muita variedade. Porém, só a substância corpórea e as espécies, que Só as substâncias cor­
se colocam sob ela, podem definir-se a partir da matéria e da forma, visto póreas se definem a
partir da matéria e
C que só estas espécies se compõem de matéria e de forma. Mesmo se da forma.
se comparar o predicamento da substância com os restantes, compreen­ Só a substância se
define simplesmente
der-se-á que só as substâncias se definem por uma definição simplesmente por uma definição
essencial, como parece a Aristóteles. De facto, os acidentes, segundo essencial.
a Metafísica, VII,
o mesmo diz a, não têm simplesmente uma essência ou quididade, mas 1, 4 e 5.
dum certo modo, porque não podem subsistir por si, mas só pela substância, Todos os acidentes
de algum modo se
D que existe por si. Donde se infere que todos se devem, de algum modo, definem pela substân­
definir pela substância, em que subsistem; contudo, de uma maneira, cia.
Contudo, de um mo­
quando são significados por nomes abstractos (que são quase próprios do os abstractos, e de
deles), e de outra, quando são significados por nomes concretosb. outro os concrectos.
b Metafísica, VII,
Com efeito, quando são significados por nomes abstractos, deve pôr-se 5. Ver S. Tomás,
a substância ou o sujeito em caso oblíquo, como quando se diz: a simitas Do Ente e da Essên­
cia, 7.
é a curvatura do nariz. Quando são significados, porém, por nomes
concretos, à maneira das substâncias, então o sujeito deve pôr-se em
caso recto, como quando se diz: Simum é um nariz curvo.
E Mas nem todos os acidentes se devem definir, ou próxima ou
remotamente, pela substância; entre eles encontram-se também muitos
que necessitam, além disso, de outros aditamentos. Assim acontece
com todos os hábitos que se chamam operativos, com as potências
naturais e com todos os relativos. Com efeito, os hábitos deste género
304 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

potentiae naturales, et relata omnia. Habitus enim huiusmodi, et potentiae


per suos actus, aut obiecta, definiuntur, ut scientice, et virtutes, sic Dia­
lectica dicitur esse doctrina disserendi, sic Philosophia naturalis dicitur
Habitus operantes, et scientia, quce agit de rebus naturalibus, sic iustitia dicitur virtus
potentias omnes, per
suos actus, aut obicc- qua quisque aliis tribuit quod eius est, sic aspectus definitur sensus quidam
ta definiuntur. qui in coloribus percipiendis versatur. Relata vero omnia per ea, F
ad quce referuntur, definiuntur c: ut pater per filium, dominus per servum,
et vice versa. Alia qucedam sunt in definiendis rebus observanda, quce
c Ari. 6. top. 3.
et Porphy. de specie. instructiorem postulant lectorem, quam sit is, quem hisce institutionibus
informamus. Nunc superest ut definiendi methodum, hoc est, viam, et
rationem investigandce definitionis tradamus.

De via et ratione investigandi definitionem

CAPVT7
[a In Sophista et
Phaedro et aliis locis
idem Alcinous de Duas methodos ponebat Platoa, quibus omnis rerum cognitio, et A
Doct. Piat. cap. 5.]
b 2. post. 14. et. scientia contineretur, Divisivam scilicet, et Collectivam. Aristoteles vero b
1. topi. 14.
Quo pacto divisione
etsi non omnino hoc probat, elocet tamen hisce duobus modis investigari posse
investiganda sit defi­ definitionem, divisione inquam, et collectione. Divisione quidem hoc
nitio.
c 2. post. 14. modo c, Sumatur, ait, primum, id quod communius est, latiusque patet
quam res definienda: deinde illud ipsum dividatur: mox differentia quce rei
convenit, addatur primo attributo: rursus, si nondum oratio reciprocabitur
cum re proposita, dividatur id totum, quod assumptum est, tandemque eo
usque fiat progressio dividendo, donec oratio propria efficiatur, quce nullam
in rem aliam transferri possit. Exempli causa si hominem definire velis,
accipies primo loco aliquod genus hominis, verbi gratia substantiam,
quce omnium latissime patet, dicesque Homo est substantia. Deinde,
quia substantiarum qucedam sunt corporis expertes, ut inte 1ligent ice, qucedam
corporatae, qualis est homo, addes: Corporata. Sed quia corporatae
substantiae partim interire non possunt, ut coeli, partim possunt, e quibus
est homo, addes, Quce interire potest. Rursus, quia earum substantiarum,
quce intereunt, qucedam non vivunt, ut lapides, alice sunt viventes, in quibus
est homo, addes, Vivens. Verum ne id quidem satis est. Viventium
enim qucedam nil sentiunt, ut plantee, qucedam sentiunt, in quibus homo

E 6 — p e r suos actus, aut per obiecta, quce suos actus terminant, definiuntur...
E 9 - E 10 — definitur vis qucedam naturalis, quce in coloribus...
A 7 — Ex 1. post. 14. (cota marginal)
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 305

e as potências definem-se pelos seus actos ou objectos, como as ciências


e as virtudes. Assim, Dialéctica diz-se que é a ciência de discorrer;
Filosofia natural diz-se a ciência que trata das coisas da natureza;
Os hábitos operati­
justiça diz-se a virtude pela qual alguém dá a outro o que lhe per­ vos e todas as po­
tence; e vista define-se um certo sentido cuja função é perceber as tências definem-se pe­
los seus actos ou
F cores. Os relativos, porém, definem-se todos por aquilo a que se objectos.
referem c, como pai por filho, senhor por servo, e vice-versa.
Há ainda outras coisas a observar na definição das coisas, mas
c Aristóteles, Tó­
exigem um leitor mais preparado do que aquele a quem nos dirigimos picos, VI, 3; e Por­
nestas instituições. Falta agora apresentar o método de definir, isto é, firio, Da Espécie.

o caminho e a ordem que se deve seguir para fazermos uma definição.

C a p í t u l o 7

Do caminho e da ordem para encontrar uma definição


a No Sofista e
A Platão a apresentava dois métodos em que estaria contido todo o no Fedro e em ou­
tros lugares. O mes­
conhecimento e ciência das coisas. Eram eles: o da divisão e o da mo cm Alcino, Da
colecção. E Aristótelesb, embora o não aprove plenamente, ensina que Doutrina de Platão,
cap. 5.
a definição se pode investigar de duas maneiras, ou seja, pela divisão b Segundos Ana­
e pela colecção. Pela divisão, deste modoc: tome-se, diz, primeiro, líticos, II, 14: e Tó­
picos, I, 14.
o que é mais comum e mais extenso do que a coisa a definir; De que maneira a de­
finição deve ser in­
divida-se depois essa mesma coisa; em seguida, junte-se ao primeiro vestigada pela divi­
atributo a diferença que convém à coisa; se a oração ainda se não são.
c Segundos Ana­
reciproca com a coisa proposta, divida-se novamente o todo que se líticos, II, 14.
tomou; e, finalmente, siga-se dividindo até que se forme uma oração
própria, que não possa ser adaptada a nenhuma outra coisa. Por
exemplo, para se definir homem, tomar-se-á primeiramente algum
género de homem, por exemplo, a substância, que convém latissima-
mente a todos e dir-se-á: homem é uma substância. Depois, como
algumas substâncias são incorpóreas, como as inteligências, e outras
corpóreas, como o homem, acrescentar-se-á: corpórea. Mas, porque
as substâncias corpóreas, em parte, não podem perecer, como os
céus, e, em parte, podem, como o homem, acrescentar-se-á: perecível.
Novamente, como, entre as substâncias que perecem, umas não vivem,
como as pedras, outras são vivas, como o homem, acrescentar-se-á:
viva. E ainda não basta isto. Na verdade, entre os seres vivos, uns
não sentem, como as plantas, outros sentem, entre os quais se conta
20
306 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

numeratur. Quare adiungendum est, Sentiens. Sed commune adhuc.


Nam eorum, qua sentiunt, quadam sunt expertia rationis, quadam ratio­
nem participant, ut Socrates, et Plato. Addes igitur, Rationis particeps:
quod satis erit. Nam totum hoc, substantia corporata, qua interire potest,
vivens, sentiens, et rationis particeps soli homini convenit, et cum eo recipro­
catur. Existima ergo te hac via, et ratione invenisse hominis definitionem:
quod eodem modo in cateris rebus definiendis observabis. Quod autem B
Aristoteles eodem loco ait, singulas differentias hac methodo investigatas
Num differentia; om­ latius patere, quam id, quod definitur, non universe accipiendum est
nes latius pateant, (differentia siquidem, qua proxime componit speciem non latius patet,
quam res definienda.
quam species, ut idem ipse alibid docet) sed solum cum non suppetunt
d 4. top. 2. et.
essentiales differentia. Tunc enim sape cogimur dividere ea, qua acce­
7. meta. 12. pimus, in ea accidentia, quarum singula latius pateant, quam res, qua
definitur, omnia autem simul iuncta cum eadem recurrant. Ut si dividas
animal in bipes, et non bipes: deinde animal bipes in pennatum, et implume:
Quo pacto collectione tum definias hominem esse animal bipes implume. Collectione vero, seu
investiganda sit de­ similium consideratione, ut. eam vocat Aristoteles e, hoc modo investiganda
finitio.
e 2. post. 14. et est definitio. Primum si velis infima alicuius speciei definitionem colligere,
1. top. 14.
inspicies in individuis illius rationem, aliquam, ob quam nomine talis speciei
nominentur, eaque erit definitio talis speciei. [Atque] ut [Aristotelis
exemplis utar], quoniam, animi magnitudines Alcibiadis, Achillis, et
Aiacis, sunt individua unius speciei infima magnanimitatis (fuerunt enim
quam simillima) hi autem homines dicti sunt magnanimi, quia aquo animo
contumeliam pati non potuerunt, primus enim ob hanc causam bellum
patria intulit, alter implacabili exarsit iracundia, tertius sibi mortem
[/ 3. ethic. 7. et 8.]
conscivit: efficitur ut definitio huius infima speciei magnanimitatis sit,
/Equo animo contumeliam illatam ferre non posse. [Hac tamen magna­
nimitas non virtus, sed vitium est, ut alibi docet Aristoteles]. Qua
etiam arte colliges definitionem eius magnanimitatis qua in Socrate, et
Lysandro fuit, hanc esse, /Equabiliter secundam et adversam fortunam
ferre, quoniam hac de causa magnanimi appellati sunt. Deinde si velis
colligere definitionem alicuius generis, videbis num rationes diversarum
specierum habentium idem, commune nomen conveniant secundum tale
nomen in una aliqua, ratione, qua simpliciter una sit, necne. Nam si
convenerint, ea erit definitio generis: sin minus, tale commune nomen

B 3— latius patere debeant, quam... (cota marginal).


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 307

o homem. Pelo que se deve juntar: sensível. Mas ainda é comum,


pois, destes que sentem, uns são desprovidos de razão, outros participam
da razão, como Sócrates e Platão. Acrescentar-se-á, pois: dotado de
razão. E será bastante. Com efeito, este conjunto substância corpórea,
perecível, viva, sensível e dotada de razão só ao homem convém e com
ele se reciproca. Considere-se, portanto, que se encontrou a definição
de homem por este caminho e por esta ordem. Proceder-se-á do mesmo
modo ao definir as outras coisas.
Porém, como Aristóteles diz, no mesmo lugar, que cada diferença
encontrada por este método é mais extensiva do que aquilo que se define,
não se deve tomar isto universalmente (pois a diferença que compõe Se todas as diferen­
ças devem ser mais
proximamente a espécie não é mais extensiva do que ela, como ele extensas que as coi­
mesmo ensina noutro lugard), mas só quando não se apresentam dife­ sas a definir.

renças essenciais. Porque, nesse caso, somos muitas vezes obrigados d Tópicos, IV, 2;
a dividir as coisas, que tomamos, em acidentes, cada um dos quais será Metafísica, VII, 12.

mais extensivo do que a coisa que se define, e, todos juntos simultanea­


mente, deverão reciprocar-se com a mesma. Por exemplo, se se dividir
animal em bípede e não bípede, e depois animal bípede em coberto
de penas e implume, então definir-se-á homem: animal bípede implume.
Por colecção ou consideração das semelhanças, como lhe chama De que maneira deve
ser investigada a de­
Aristóteles e, a definição deve procurar-se deste modo: primeiramente, finição por colecção.
se se quer coligir a definição de alguma espécie ínfima, procurar-se-á e Segundos Ana­
nos indivíduos alguma razão por que sejam nomeados com o nome de líticos, II, 14 c Tó­
picos, I, 14.
tal espécie. E será essa a definição de tal espécie. Ora, para usar os exem­
plos de Aristóteles, como as grandezas de alma de Alcibiades, de Aquiles
e de Ájax são indivíduos de uma espécie ínfima de magnanimidade
(foram, com efeito, muito semelhantes), e estes homens foram chamados
magnânimos, porque não puderam sofrer afronta com equanimidade
— pois o primeiro por esta causa fez a guerra à pátria, o segundo ardeu
numa ira implacável, e o terceiro infligiu a si próprio a morte — verifica-se
que a definição desta espécie ínfima da magnanimidade é não poder / Ética, III, 7 e 8.
suportar com equanimidade uma afronta feita. Esta magnanimidade,
porém, não é virtude, mas vício, como noutro lugar/ ensina Aristóteles.
Pelo mesmo processo se concluirá também que a definição de magnani­
midade, que se verifica em Sócrates e em Lisandro, é esta: suportar de
igual modo a sorte favorável e a adversa, pois se chamaram magnânimos
por esta causa.
Depois, se se quiser formar a definição de algum género, ver-se-á
se as razões das diversas espécies, que têm o mesmo nome comum,
convêm ou não, segundo tal nome, nalguma razão que seja simplesmente
única. Se convierem, essa será a definição do género; se não convierem,
308 INSTITVTIONVM DIALECTICA RVM LIBER V

erit esquivo cum utrique speciei. Exempli causa, si ratio eius magnanimi­
tatis, quee fuit in Alcibiade, Achille, et Aiace, cum ratione magnanimitatis
Lysandri, et Socratis, in hoc conveniat, quod omnes existimaverint se
dignos esse rebus magnis, atque heee ratio sit una simpliciter, heee sane
erit definitio generis utriusque magnanimitatis, quod magnanimitatis
generali vocabulo appelletur. Quod si non fuerit communis utrique, aut
certe non fuerit una simpliciter, sed analogice duntaxat {quod magis
crediderim) non erit utique definitio alicuius generis utriusque magnanimi­
tatis, sed cuiusdam analogi, quod similibus quidem rationibus, sed tamen
diversis, dicatur de utraque. Ac prior quidem methodus definiendi accura­
tior est, et natura; ordini, perfectceque disciplina; conveniens: posterior
Prior methodus per­
fectior est posterior autem, qua plurimum utitur Socrates apud Platonem, etsi minus perfecta
autem inventionis or­ est, tamen inventionis ordini est accommodata. De qua quidem intelli-
dini accommodata.
gendum est illud Aristotelis 8, facilius esse minus universalia, quam magis
g 2. post. 15.
universalia definire, atque iccirco a minus universalibus ad magis univer­
salia esse progrediendum.

De definito

CAPVT8

Diximus de definitione deque via, et ratione definiendi, nunc de definito A


Duplex definitum.
aliquid dicamus. Quinque autem sese offerunt in hac re animadvertenda.
Propinquum.
Remotum. Primum est, duplex dici solere definitum apud Dialecticos: propinquum,
et remotum. Definitum propinquum {quod et primum, et immediatum
vocant) est illud quod proxime explicatur definitione. Remotum vero
{quod secundarium., et mediatum appellant) est illud, quod remote definitur,
hoc est quatenus in propinquo continetur. Exempli causa, cum dicimus,
Equus est animal hinniens, equus quidem est definitum propinquum, Xanthus
autem, Bucephalus, et c ceteri ex singulis sunt definita remota, quoniam
equus in commune explicatur proxime definitione tradita, singuli autem
solum ex quadam consecutione, quatenus videlicet communem equi naturam

B 36-B 37 —- (quod ego magis crediderim)...


B 39-B 40 — utraque, et ita certeris. Ac prior quidem methodus definiendi
exactior est, et naturce...
A 6-A 7 — quod remote, et quatenus in propinquo continetur, definitione decla­
ratur. Exempli causa...
A 10 — definitione illa, singuli...
A 11 — commune equi nomen et naturam...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 309

o tal nome comum será equívoco a ambas as espécies. Por exemplo,


se a razão da magnanimidade que houve em Alcibiades, em Aquiles
e em Ájax convém com a razão da magnanimidade de Lisandro e de
Sócrates em que todos se julgaram dignos de coisas grandes, e essa
razão for simplesmente única, será essa, sem dúvida, a definição do
género de uma e outra magnanimidade, porque é denominada pelo
vocábulo geral de magnanimidade. Mas se não for comum a uma e
a outra ou não for pelo menos simplesmente única, mas só analógi­
camente (o que eu mais fácilmente acreditaria), não será de qualquer
modo definição de algum género de ambas as magnanimidades, mas
sim de algum análogo que na verdade se diga de ambas por razões
semelhantes, embora diversas.
O primeiro método de definir é mais exacto e mais acomodado O primeiro método é
à ordem da natureza e à perfeita ciência. O segundo, porém, de que, mais perfeito; o se­
gundo, porém, é
segundo Platão, Sócrates usa geralmente, embora seja menos perfeito, acomodado à ordem
é, contudo, acomodado à ordem da invenção. A respeito dele se da invenção.
g Segundos Ana­
deve entender aquela doutrina de Aristóteles 8: é mais fácil definir as
líticos, II, 15.
coisas menos universais do que as mais universais; portanto, deve
progredir-se das menos universais para as mais universais.

C a p í t u l o 8

Do definido

Falámos da definição e do caminho e ordem para a fazermos;


digamos agora alguma coisa acerca do definido. Neste assunto, cinco
pontos se oferecem que devem ser advertidos.
O primeiro é que, entre os Dialécticos, costuma dar-se duas espécies Duplo definido.
de definido: o próximo e o remoto. O definido próximo (a que chamam Próximo.
também primeiro e imediato) é aquilo que é explicado próximamente
pela definição. O remoto (a que chamam secundário e mediato) Remoto.
é aquilo que é definido remotamente, isto é, enquanto se contém no
próximo. Por exemplo, quando dizemos: o cavalo é o animal que relin­
cha, cavalo é um definido próximo; mas Xanto, Bucéfalo e os outros
indivíduos são definidos remotos, visto que, na definição dada, se
explica próximamente cavalo, como universal, e os indivíduos só por
uma certa conexão, isto é, enquanto participam da natureza comum
310 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

participant. Eadem ratione, cum dicimus Animal est corpus animatum


sentiens, animal est definitum propinquum, homo autem et bestia, mul­
toque magis singuli homines, et singula; bestice, sunt definita remota.
Unde planum fit, definitum remotum nec omnino, nec conversim explicari
definitione ea, cuius respectu dicitur definitum remotum, ac proinde non
esse simpliciter appellandum definitum. Secundum est, omne definitum, B
quod definitione una explicatur, unum per se hoc est, unius essentice esse
Definitum remotum,
non esse simpliciter
debere. Nam cum definitio sit velut qucedam expressa imago alicuius
definitum. essentice, quot fuerint essentice, quce definitione explicantur, tot sint defini­
tiones necesse est. Hinc fit, ut Aristotelis sententia a id, quod est unum
Omne definitum
unum quid per se esse per accidens, ut est homo albus, quia, non habet unam duntaxat naturam,
debet. sed multas, non definiatur, definitione videlicet simpliciter una. Pluribus
a 7. metap. 12.
tex. 42. enim definitionibus complicatis fatetur ille 15 hcec posse definiri: ut si dicas,
Id quod est unum
per accidens, non de­ Homo albus est animal rationale infectum colore dispartiente visum.
finitur. Quia vero nomen cequivocum non significat unam tantum naturam, C
b 6. topi. 5.
Nullum cequivocum essentiamve, sed multas, hoc etiam efficitur ex dictis, ut nullum cequivocum
definitur, nisi prius
distinguatur.
definiatur, nisi prius distinguatur: quod pervulgatissimum est apud Dialec­
c Ex 6. top. 2.
ticos c. Hoc vero etsi in omnibus cequivocis communiter prcecipitur, tamen
et 5. in quibusdam analogis quodammodo non servatur. Qucedam enim definiun­
Quaedam ¿equivoca
definiuntur antequam tur nulla prius facta ipsorum distinctione, ut apud Aristotelem Principia,
destinguantur: non
tamen definitione
Natura, Motus, et alia permulta. Si tamen loquamur de definitione,
simpliciter una. quce sit simpliciter, ac omnino una, dubium non est, quin semper hoc
commune proloquium servetur. Nunquam enim definitio omnino una
d Ut. 1. post. 7. ulli cequivoco assignatur, nisi vocabulum cequivocum pro uno tantum signi­
et 2. post. 14 et. 7. ficato accipiatur. Tertium est, omne quod definitur esse universale, ut D
metaphy. 15.
e Ut fere toto 7. Aristoteles scepe admonet d. Unde fit, ut verba illa, Quod quid erat esse,
metaphy.
Universalia non mu­ et alia similia, quibus Aristoteles utitur cum de definitione, aut de quiddi-
tantur nisi ratione tate rei loquitur e, semper accipiantur apud illum pro quidditate, essen-
singularium.
tiave universali. Causa cur sola universalia definiantur, hcec est, quia E
Definitio est princi­ singularia (Deum optimum maximum excipio) sunt mutabilia: universalia
pium et fundamen­ vero nunquam mutantur, nisi ex accidenti, ratione videlicet singularium.
tum scientiae.
Homo enim, exempli gratia, propterea dicitur nasci, interire, et omnino
mutari, quia Socrates aut aliquis alius ex singulis mutatur: id, quod modo
eodem accidit in cceteris. Cum ergo definitio debeat esse rei immutabilis

A 13-A 14 — bestia, atque adeo singuli homines...


B 1—non est simpliciter... (cota marginal)
BI — definitum. Alterum est, omne...
C 8-C 9 — Omne quod definitur est universale, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 311

de cavalo. Pela mesma razão, quando dizemos: animal é um corpo


animado sensível — animal é um definido próximo; porém, homem,
besta e, com mais razão, cada homem e cada besta são definidos
remotos. Donde se conclui que o definido remoto nem plenamente
nem reciprocamente se explica pela definição a respeito da qual se
diz definido remoto, e, portanto, não deve chamar-se simplesmente
definido.
O definido remoto
B O segundo é que todo o definido, que se explica por uma definição, não é um definido
deve ser uno por si, isto é, de uma só essência. Com efeito, como a simplesmente.

definição é como que uma imagem expressa de alguma essência, é neces­


Todo o definido deve
sário que as definições sejam tantas quantas as essências que se explicam ser uma só coisa por
pela definição. Disto se infere, segundo a opinião de Aristótelesa, si.
que o que é uno por acidente, como homem branco, uma vez que não
tem uma só natureza, mas muitas, certamente se não define por uma a Metafísica, VII,
12, tex. 42.
definição simplesmente una. Confessa eleb, na verdade, que essas O que é uno por aci­
coisas podem ser definidas por várias definições complicadas, como dente não se define.
b Tópicos, VI, 5.
se se disser: homem branco é o animal racional tingido de uma cor
que dispersa a vista.
C E, como o nome equívoco não significa apenas uma natureza ou
Nenhum equívoco se
essência, mas muitas, também se segue, do que foi dito, que nenhum define sem que pri­
equívoco se define, sem se distinguir primeiro, o que é vulgaríssimo entre meiro se distinga.

os dialécticos c. Embora, porém, se preceitue comumente isto para c Segundo os Tó­


picos, VI, 2 e 5.
todos os equívocos, em certo modo, contudo, não é observado em
Alguns equívocos de­
alguns análogos. Com efeito, alguns definem-se antes de feita qualquer finem-se antes de se
distinção deles próprios, como, em Aristóteles, os princípios, a natureza, distinguir, mas não
por uma definição
o movimento e muitíssimos outros. Se, porém, falarmos da definição, simplesmente una.
que é simples e absolutamente una, não há dúvida de que sempre se
observa esta comum sentença. Na verdade, nunca uma definição
inteiramente una se atribui a qualquer equívoco, a não ser que o vocábulo
equívoco se tome por um significado apenas. d Por exemplo
D O terceiro é que tudo o que se define, seja universal, como, muitas nos Segundos Ana­
líticos, I, 7; e II, 14;
vezes, adverte Aristóteles d. Donde se infere que aquelas palavras o que e Metafísica, VII, 15.
uma coisa, por si, é destinada a ser e outras semelhantes de que Aris­ e Por exemplo,
quase todo o livro
tóteles usa, quando fala da definição ou da quididade da coisa, são por VII da Metafísica.
E ele e sempre tomadas por uma quididade ou essência universal. A causa Os universais não
mudam senão em
por que só os universais se definem é que os singulares (exceptuó Deus, razão dos singulares.
sumo Bem e suma Grandeza) são mutáveis, e os universais nunca mudam, A definição é o prin­
cípio e o fundamento
senão por acidente, isto é, em razão dos indivíduos. Do homem, por exem­ da ciência.
plo, diz-se que nasce, morre, e muda completamente, porque Sócrates ou
qualquer outro dos singulares mudam; e, da mesma maneira, isto acon­
tece com os restantes. Uma vez, portanto, que a definição deve ser duma
312 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

(est enim principium et fundamentum scientia1, f ad quam non admittuntur


nisi res, quce ex se mutabiles non sint) efficitur ut omne definitum debeat
esse universale. Alice sunt rationes, quibus hoc idem confirmari solet
sed hcec una sufficiat hoc loco. Intelligenda est autem hcec assertio
/Ex. 1. post. 8.
et 1. de anima 1. de definito propinquo siquidem remote dubium non est, quin singularia
definiantur, [ut ex dictis patet]. Verum hic dissensio est inter Dialecticos. F
Individua definiuntur
remote. Quidam enim S non agnoscentes ullam rem universalem, quce sit in singulis
Num definitum pro­ individuis, quaeque primo, ac proxime significetur nomine universali,
pinquum sit res uni­
versalis an nomen
dicunt definitum propinquum non esse rem universalem significatam
universale. nomine universali, sed ipsum nomen universale: atque ita cum dicimus,
g Nominales ex
Ochamo 1. parte logi­ Equus est animal hinniens, hoc nomen Equus esse definitum propinquum,
cae. capi. 14. et 15.
[et 1. sent. d. 2. q. 6], singulos vero equos, qui (eorum sententia) equi nomine proxime signi­
ficantur, esse definita remota. Alii ponentes nomen universale proxime
Qui reales dicuntur,
ut passim Alb., D. significare rem universalem, quce existat in singulis, remote autem ipsa
Thomas, Scotus.
singula individuave, dicunt definitum propinquum esse rem universalem,
quce proxime significatur nomine universali (hcec est enim quce proxime
explicatur definitione) definita vero remota esse illa eadem-, quce superiores
Omne, quod proprie autores astruunt. Sed contra priorem sententiam aliquando dabitur
definitur, est species.
h 7. Meta. 4. disputandi locus: Nos [enim] posteriorem probamus. Quartum est, omne G
quod proprie definitur, aut describitur esse speciem alicui generi subiectam h,
Cur nec genera sum­ sive infimam, sive subalternam: quia in omni definitione aut descriptione
ma, nec differenti®
definiantur proprie. proprie dicta ponendum est genus rei, quce definitur, et eius differentia, aut
Quo pacto differen­
ti® describantur. proprietas. Hinc intelliges, cur nec genera summa, nec differentice proprie
definiantur. Nullius enim generis sunt species. Describuntur tamen
Figmenta non defi­
niuntur definitione quodammodo differentia: more proprietatum concretis nominibus signi­
rei, sed nominis.
i 2. post. 7.
ficatarum. Nam ut dicimus Docile est animal, quod doctrina imbui potest,
sic dicere possumus, Rationale est animal, quod rationem participat.
Quintum est, figmenta, ut chimeram, hircocervum, et alia huiusmodi H
non definiri definitione rei sed nominis tantum, ut placet Aristoteli K
Itaque Aristotelis sententia est cum dicimus Hircocervus est animal ex

E 9-E11 — universale. Sic enim fiet, ut nulla in ipsum, ratione sui cadat
mutatio. Alice sunt rationes, quibus id quod asserimus, sola (inquam) universalia
definiri, ostendatur, sed hcec una sufficiat hoc loco. Quod quidem plane intelligitur
de definito propinquo. Nam remote dubium...
F12-F13 — quce illi astruunt.
G 2-G 3 — subiectam, aut infimam, aut subalternam...
G 6 — species: etsi differentice respectu suorum individuorum fortasse sint species,
ut Rationale respectu huius rationalis, quod alio loco discutiemus. Describuntur...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 313

coisa imutável (pois é o princípio e o fundamento da ciência/, na qual se


não admitem senão as coisas que de si não são mutáveis), resulta que
todo o definido deve ser universal. Há outras razões com que a presente
doutrina se costuma confirmar, mas, neste lugar, contentemo-nos apenas f Segundo os Se­
com uma. Esta afirmação, porém, deve entender-se do definido próximo, gundos Analíticos, I,
8 e Da Alma, I, 1.
pois os indivíduos definem-se remotamente, não resta dúvida, como
F ressalta do que se disse. Aqui, porém, há discordância entre os dialéc­
Os individuos de-
ticos. Uns£, com efeito, que não admitem que coisa alguma universal finem-se remota­
exista em indivíduos singulares e se signifique primeira e próximamente mente.
Se o definido próximo
por um nome universal, dizem que o definido próximo não é uma coisa é inna coisa universal
universal significada por um nome universal, mas sim o próprio nome ou um nome univer­
sal.
universal; e, assim, quando dizemos que o cavalo é um animal que relin­ g Nominalistas,
cha, este nome cavalo é o definido próximo, mas, segundo eles, cada segundo Occam,
I. parte da Lógica,
cavalo, que se significa próximamente pelo nome de cavalo, é um defi­ caps. 14 e 15, e Sen­
nido remoto. Outros, que afirmam que o nome universal significa pró­ tenças, T, div. 2, ques­
tão 6.
ximamente uma coisa universal, que existe em cada singular—remota­ Os que se dizem
mente, porém, os próprios singulares ou indivíduos—, dizem que o defi­ realistas, como Al­
berto, S. Tomás,
nido próximo é uma coisa universal que se significa próximamente pelo Escoto.
nome universal (na verdade, esta é a que é próximamente explicada pela
definição), mas que os definidos remotos são aqueles mesmos que os auto­
res anteriores afirmam. Mas contra a primeira sentença, oferecer-se-á
algum dia ocasião de a discutir, pois nós aprovamos a segunda. Tudo aquilo que se
G O quarto é que tudo o que se define propriamente ou se descreve define propriamente
ó espécie.
é uma espécie, ou ínfima ou subalterna, sujeitah a um género, visto h Metafísica,
que, em toda a definição ou descrição propriamente dita, deve pôr-se VII, 4.
Porque é que nem
o género da coisa que se define e a sua diferença ou propriedade. os géneros supremos
Compreende-se, por isto, que nem os géneros supremos nem as diferenças nem as diferenças se
definem pròpriamen-
se definem propriamente: pois de nenhum género há espécies. Contudo, te.
as diferenças descrever-se-ão de algum modo, segundo o uso das pro­ De que maneira se
descrevem as dife­
priedades significadas por nomes concretos. Na verdade, assim como renças.
dizemos que é dócil o animal que pode ser ensinado, também podemos As ficções não se de­
finem por uma defi­
dizer que é racional o animal que é dotado de razão.
nição da coisa, mas
H O quinto é que as ficções, como quimera, hircocervo e outras do nome.
semelhantes, não se definem por uma definição real, más só nominal, i Segundos Ana­
líticos, II, 7.
como agrada a Aristóteles L A opinião de Aristóteles, com efeito,
é que, quando dizemos: hircocervo é o animal construído na imaginação

G 8 — dicimus Disciplinabile est animal...


G 6-G 8—proprie. Apud Porphy. de specie. Quo pacto... (cota marginal).
Η 3 — Itaque, ut ille vult, cum dicimus...
314 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

hirco et cervo cogitatione confictum, sensum orationis non esse, quod


significatum huius nominis Hircocervus sit animal mente confictum ex
hirco et cervo, [sed quod nomen Hircocervi id significet]. Causa huius
sententice est, quia figmenta non habent veram quidditatem essentiamve,
quce definitione rei explicetur, habent tamen verum nomen, quod definitione
nominis declaretur. Unde ille, Id, inquit, quod non est {hoc est, esse
non potest) nemo scit unquam quid est, sed quid oratio, aut nomen signi­
ficat. Veluti quid significet Hircocervus, percipi potest, quid vero hir­
cocervus sit, intelligi non potest. Id quod eodem livro pluribus verbis
exequitur. Non puto tamen aut cum veritate, aut cum Aristotelis sen­
tentia pugnaturum, qui huiuscemodi definitiones nomine definitionis rei
[Num figmentorum
definitiones dici pos­ sive quid rei remotissime comprehenderit. Quod enim non sit cum veritate
sint quid rei].
Quodammodo defi­ pugnaturus, ex eo patet, quia etsi figmenta non sunt res, tamen quasi
niuntur figmenta defi­
nitione rei.
in extremo gradu rationem rerum participant, quam ob causam res ficta
appellantur. Unde fit, ut in definitione quid rei comprehendi soleat rei
vocabulo quicquid nomine signatur sive id sit ens reale, sive rationis, sive
conficti sive quodvis aliud. Quod vero nec pugnaturus sit cum Aristotelis
/ [Ut] 2. post. 7. et doctrina hinc colliges. Docet enim (idque non semel) 1 etiam definitiones
7. met. 4.
accidentium esse nominum interpretationes, eo quod accidentia non sint
m Ut 7. meta. 4.
et 5. simpliciter res, sive entia: et tamen scepe concedit m hac explicari defini­
tione rei [ea nimirum ratione] quia etsi non sunt simpliciter entia, tamen
quodammodo sunt entia, sicque a numero entium non omnino excludun­
tur, [quod idem etsi minus audacter, ad figmenta tamen accommodari
n Potissimum
6. topicorum. potest]. Hac de definitione dixisse sufficiat: nunc ex plurimis praceptis,
[in definitione observandis] qua ab Aristotelen traduntur, ea tantum
subiicienda sunt, qua plus utilitatis afferre videantur.

Η 4-H 5 — confictum, sensus hic est, nomen Hircocervi significat animal con­
fictum........
Η 13-H 21 — exequitur. Si cui tamen placuerit, poterit sine crimine has figmen­
torum definitiones nomine definitionis rei quodammodo, etsi remotissime, comprehendere.
Nam etsi figmenta non sunt res, tamen quasi in extremo gradu rationem rerum parti­
cipant, quam ob causam res fictae appellantur. Hoc vero mihi cum Aristotelis doctrina
pugnare non videtur. Docet...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 315

como feito de bode e de cervo, — o sentido da oração não é que o signi­


ficado deste hircocervo seja um animal construido na mente com bode
e com cervo, mas que o nome hircocervo significa isso. A causa desta
opinião é que as ficções não têm uma quididade ou essência verdadeira
que seja explicada pela definição da coisa, mas um nome verdadeiro
que se declara por uma definição nominal. Donde Aristóteles diz:
o que não existe (isto é, não pode existir) jamais alguém sabe o que é;
mas [sabe] o que significa a oração ou o nome. Assim, pode per­
ceber-se o que significa hircocervo, mas não pode compreender-se o
que seja hircocervo. O que, no mesmo livro, se completa com mais
palavras. Não julgo, porém, que vá contra a verdade ou contra a
opinião de Aristóteles o facto de este ter compreendido remotissima-
Se as definições das
mente definições como estas no nome de definição real ou definição ficções se podem di­
quid da coisa. Que não vai contra a verdade, manifesta-se em que, zer quid da coisa.

embora as ficções não sejam coisas, contudo, como que participam, As ficções definem-se,
de certo modo, pela
no último grau, da razão das coisas, e por esta razão se chamam coisas definição da coisa.
fingidas. Donde acontece que na definição quid da coisa se costuma
compreender no vocábulo da coisa tudo o que é designado por esse
nome, seja um ente real, de razão, fantasiado ou qualquer outro.
Que não vai contra a doutrina de Aristóteles, compreender-se-á por
I Por exemplo,
isto: ele ensina, com efeito (e mais de uma vez^), que também as
nos Segundos Ana­
definições dos acidentes são interpretações dos nomes, pois os acidentes líticos, II, 7; Meta­
não são simplesmente coisas nem entes. Concede, porém, muitas vezesm, física, VII, 4.
m Por ex.: Me­
que estes se explicam pela definição real, principalmente porque, embora tafísica, VII, 4 e 5.
não sejam simplesmente seres, contudo, são seres de certo modo e,
assim, não se excluem inteiramente do número dos seres. O que pode
acomodar-se, embora com menos ousio, às ficções. n Principalmente
Acerca da definição, são suficientes estas coisas. Agora, de entre as nos Tópicos, VI.
numerosas regras apresentadas por Aristóteles ”, para se observarem na
definição, vamos expor apenas as que parecem oferecer mais utilidade.

H 22-H 23 — interpretationes, quoniam accidentia non sint simpliciter res, sive


entia. Scepe tamen concedit...
H 25-H 26 — entium non penitus excluduntur...
H 28-H 29 — Aristotele ad bene definiendum traduntur, ea nos tantum subiiciamus,
quce plus utilitatis afferre videantur.
316 1NST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

Primum preeeeptum in definitione observandum *

Caput 9

Primum preeeeptum est, ut quicquid definitur definiatur ex notioribus â. A


Quod quidem vel eadem causa primo loco posui, quia nihil est minus feren­
dum, quam id esse obscurum, aci quod quasi caput omnis disputatio redigitur.
Id enim est definitio. Hoc preeeeptum non servant, qui translationibus b,
Semper definiendum
ex notioribus. praesertim remotis, et difficilibus, in definiendo utuntur, ut si quis definiat
a 6. top. 2. et. 5.
Non definiendum hominem, arborem inversam. Item qui verbis parum usitatis c, ut si quis
translationibus.
b 2. post. 15. et 6. medicus imperet aegroto, ut sumat Terrigenam, herbigradam, domiportam,
top. 2.
Ncc verbis inusitatis. sanguine cassam ut eegrotus cocleam intelligat. Item qui ambiguise,
c 6. Top. 2.
d Cice. 2. de di­
ut si quis hac oratione, Elementum primum, velit literam, quasi eam des­
vinatione. cribendo, significare. Haec enim verba ambigua sunt, et in aliis etiam
Nec ex verbis am­
biguis. rebus possunt intelligi. Ut enim literce sunt prima elementa sermonis,
e 6. top. 2.
sic unitates sunt prima elementa numeri, et materia, ac forma rei natu­
Quo pacto ambigua ralis. Admittuntur tamen ambigua vocabula in definitionibus, cum vel
admitti valeant in
definitionibus. additur aliqua particula, qua ambiguitatem verbi unam significationem
trahat (ut si quis proxima definitioni addat hanc particulam, Sermonis)
Non definiendum
idem per idem. vel ex rebus, de quibus disseritur, aperte constat, qua significatione voca­
/ 6. top. 3.
bula sumantur. Item qui idem per id ipsum definiunt f. Nihil enim B
est [quod] notius seipso [$#]. Hoc autem aperte, ac verbo eodem, fere nun­
quam accidit, sed implicite, alioque verbo, ut pote cum in definitione
Nec contrarium per
contrarium.
ponitur aliquod nomen, quod definitur et declaratur per ipsum definitum:
g 6. top. 3. ut si quis definiat solem astrum, quod dum dies est nostrum hemispheerium
h Horatius.
illustrat. Nam cum dies definiatur motus solis super terram, efficitur,
ut tandem sol definiatur per solem. Item qui contrarium per suum con­
trarium definiunt, S ut si quis definiat bonum esse id, quod est malo con­
trarium. Huiusmodi est illudfi, Virtus est vitium fugere: et illud, Prima
sapientia stultitia caruisse. Causa est, quia contrariorum eadem est

* — Primum definiendi preeeeptum.


A 5-A 6 — difficilibus, rem definiunt, ut hominem, arborem inversam. Item
qui utuntur definiendo verbis...
A 8-A 9 — Item qui ex verbis ambiguis definitiones extruunt, ut si quis...
A 12-A 13 — ac forma prima elementa rei naturalis.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 317

Capítulo 9

Primeira regra a observar na definição

A A primeira regra é que aquilo, que se define, seja definido pelas coisas
mais conhecidasñ. Coloquei-a em primeiro lugar porque, na verdade,
nada é menos de admitir do que ser obscuro aquilo que se pretende com
qualquer disputa. E isto é, na verdade, a definição.
Não observam esta regra osè que, ao definir, usam de metáforas, Deve definir-se sem­
pre pelas coisas mais
principalmente quando remotas e difíceis, como se alguém definir conhecidas.
homem: árvore invertida. Do mesmo modo, os que usam palavras a Tópicos, VI, 2
e 5.
pouco usadasc, como se algum médico mandasse tomar ao doente Não deve definir-se
com metáforas.
uma coisa nascida da terra, que anda sobre a erva, que traz a casa b Segundos Ana­
consigo, e privada de sanguepara o doente entender um caracol líticos, II, 15; e Tó­
picos, VI, 2.
Igualmente, os que usam de palavras ambíguase, como se alguém, Nem por palavras de­
com a expressão: primeiro dos elementos, quisesse significar letra, susadas.
c Tópicos, VI, 2.
como que descrevendo-a. Na verdade, estas palavras são ambíguas d Cícero, Da Adi­
vinhação, 2.
e podem também entender-se de outras coisas, pois, assim como as Nem por palavras
letras são os primeiros elementos da linguagem, assim as unidades ambíguas.
e Tópicos, VI, 2.
são os primeiros elementos do número, e a matéria e a forma, os
de uma coisa natural. Admitem-se, porém, nas definições, os vocá­ De que modo po­
dem admitir-se as pa­
bulos ambíguos, quando ou se junta alguma partícula que reduz a lavras ambíguas nas
ambiguidade da palavra a uma só significação (como se se juntar definições.

à definição acima dada esta partícula da linguagem) ou se, pelas coi­


sas de que se trata, consta claramente em que sentido se tomam as
Não deve definir-se
palavras. uma coisa por si
B Da mesma maneira, não observam esta regra os que definem mesma.
/ Tópicos, VI, 3.
uma coisa por si mesma/. Com efeito, nada há mais conhecido
que ela mesma. Isto, porém, é raro acontecer abertamente, e, com
a própria palavra, quase nunca acontece. Acontece, porém, implicita­
mente e com outra palavra, como quando se põe na definição algum
nome que se define e se declara pelo próprio definido, como se Nem o contrário pelo
alguém definir sol: astro que, durante o dia, ilumina o nosso hemis­ contrário.
g Tópicos, VI, 3.
fério. Efectivamente, uma vez que dia se define como o movimento h Horácio.
do sol sobre a terra, faz-se, afinal, com que sol se defina pelo sol.
Do mesmo modo, não a observam aqueles que definem um con­
trário pelo seu contrário·?, como se alguém definir bom como aquilo
que é contrário de mau. São deste género h: virtude é fugir ao vício;
e este outro: a primeira sabedoria é não ser tolo. A causa é que
318 INST1TVTI0NVM DIALECT1CARVM LIBER V

scientia, et cognitio. Verum hic modus definiendi non est usque adeo
repudiandus. Sed obiiciat aliquis contra hoc primum prceceptum, omne
relatum per illud ipsum relatum, ad quod refertur, esse definiendum, ut
docent Philosophi, relata vero inter sese, cum sint simul natura, esse
ceque nota, aut ceque incognita, ergo non quicquid definitur esse ex notio­
Obiectio. ribus magnis que perspicuis definiendum. Occurres tamen, Nullum relatum C
(si proprie loquendum est) definiri per illud relatum, ad quod refertur,
sed per respectum suum, qui in illud terminatur, ac desinit K Verbi causa,
Solutio. pater non definitur per filium, sed per suum respectum, qui in ipso inchoatur,
Num relativum per
id ad quod refertur
et in filium desinit. C ceterum, quia nullus respectus intelligi potest sine
definiatur. suo termino, fit ut respectus patris intelligi non valeat sine filio, sicque in
i Alb. in praedica­
mentum ad aliquid, definitione patris necessario ponendus sit filius, parique ratione pater in
cap. 9.
in definitione filii: atque ita res habet in cceteris. Quod igitur philosophi
dicunt relata, quce sese mutuo respiciunt, per se invicem esse definienda,
non proprie accipiendum est, sed quasi dicant, necessario alterum in
definitione alterius esse ponendum, ut quorsum tendant respectus, per quos
relata vere, ac proprie definiuntur, intelligatur. Nunc autem etsi relata
ipsa sese vicissim respicientia sint ceque cognita, aut incognita, tamen
respectus ipsi [quatenus distincte concipiuntur conceptibus generum et
differentiarum, ex quibus constant] sunt naturce ordine notiores, quam
relata. Itaque in relatis etiam definiendis hoc observatur, ut quod defini­
tur, ex notioribus explicetur.

Definitio debet con­ Secundum prceceptum * *


verti cum definito.
a 6. top. 1.
CA P V T 10

Alterum prceceptum est, ut definitio sit propria definiti, ut Aristoteles a A


ait, hoc est, ut nec latius pateat, quam definitum, nec minus late, sed cum
eo reciprocetur. Hoc prceceptum non observant, qui extruunt definitiones
aliis etiam rebus convenientes, ut si quis terram definiat, corpus, quod
deorsum suapte natura, fertur. Hoc enim in aliis etiam rebus vere dici-

C 8 — filii, et ccetera relata in definitionibus eorum relatorum, quce ad se vicissim


referuntur. Quod igitur...
C 11—tendant sui respectus...
* — Secundum prceceptum definiendi.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 319

ciência e conhecimento dos contrários é o mesmo. Mas não deve


chegar-se ao extremo de repudiar completamente este modo de definir.
Mas talvez alguém objecte, contra esta primeira regra, que todo
o relativo se deve definir pelo próprio relativo a que se refere, como
ensinam os filósofos; ora os relativos entre si, como o são simultánea­
mente por natureza, são igualmente conhecidos ou igualmente des­ Objecção.
conhecidos; logo, nem tudo o que se define, se deve definir por coisas
mais conhecidas e mais evidentes.
C Responder-se-á, contudo: nenhum relativo (se se falar com pro­
priedade) se define pelo relativo a que se refere, mas pela sua rela­
ção, que se termina e se conclui naquele2. Por exemplo, pai não Solução.
Se o relativo se de­
se define por filho, mas pela sua relação que começa nele próprio e fine por aquilo a que
acaba no filho. E como, além disso, nenhuma relação se pode se refere.
i Alberto Magno,
entender sem o seu termo, acontece que a relação de pai não se pode
no Predicamento re­
entender sem o filho, e assim na definição de pai deve pôr-se neces­ lação, cap. 9.
sariamente o filho, e com igual razão na definição de filho; e assim
se passam as coisas nos restantes relativos. Portanto, quando os
filósofos dizem que os relativos, que se relacionam mutuamente, devem
ser definidos uns pelos outros, não deve tomar-se isto à letra, mas como
se quisessem dizer que um deve necessàriamente pôr-se na definição
do outro, para se perceber para onde tendem as suas relações, pelas
quais se definem verdadeira e propriamente os relativos. Com efeito,
embora os próprios relativos, relacionados entre si, sejam igualmente
conhecidos ou desconhecidos, no entanto, as próprias relações,
enquanto se concebem distintamente pelos conceitos dos géneros e
das diferenças de que constam, são na ordem da natureza mais
conhecidas que os relativos. E assim, também ao definir os relativos,
se observa isto — que o que se define se explique por coisas mais
conhecidas.

Capítulo 10
A definição deve con­
Segunda regra verter-se com o de­
finido.
a Tópicos, VI, 1.
A A segunda regra é que a definição seja própria do definido, como
diz Aristóteles a, isto é, que seja nem mais nem menos extensa que o
definido, mas que se reciproque com ele.
Não observam esta regra os que compõem definições que convêm
também a outras coisas, como se alguém definir a terra como o corpo
que, por sua própria natureza, tende para baixo. Com efeito, isto diz-se,
320 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

tur. Item qui assignant definitiones, quee non conveniunt omnibus com­
prehensis sub definito: ut si quis definiat aquam corpus simplex frigore
concretum. Nec enim omnis aqua frigore concreta est. Quod si terra
definiatur, corpus simplex, quod in infimum locum suapte natura fertur:
aqua vero corpus simplex quod inter terram et aerem suapte natura quiescit:
non dubium erit quin definitiones cum rebus, quee definiuntur, recurrant,
reciprocentur que. Hinc colliges, multas circumferri nominum interpre- B
tationes, quee non sunt bonce definitiones, vel quia latius patent, ut si dicas,
Theologus est, qui de Deo loquitur: Consul est, qui patrice consulit: vel
Multae circunferuntur quia minus late, ut si dicas, Geometria est ratio metiendi terram. Scepe
nominum i nte^reta­
liones quae non sunt igitur aliquid addendum est huiusmodi interpretationibus, ut bonce defini­
borne definitiones.
tiones habeantur. Quod plurimce etiam descriptiones Oratorum, et
poetarum desiderant.

Tertium preeeeptum *

C A P V T 11

Nihil in definitione Tertium preeeeptum est, ut nihil in definitione desit, aut supersit. A
desiderari, aut su-
peresse debet. Deest autem aliquid, cum posito genere remoto non adhibentur omnes
a 6. top. 3. interiectce differentiae, ut si quis definiat hominem esse substantiam rationis
participem. Hac de causa docet Aristoteles a, aut definiendum esse genere
proximo, ut si dicas, Homo est animal rationis particeps, aut si remoto,
adiungendas esse generi omnes differentias, quee a genere ad definitum usque
inveniuntur, ut si dicas, Homo est substantia corporea interitus capax,
vivens, sentiens, et rationis particeps. Deest etiam aliquid cum res, quee B
Quid supersit sive
redundet in defini­ definitur, constat materia et forma, nec tamen loco differentiae utraque
tione. ponitur, sed altera tantum, ut si hominem definias animal constans animo
b 6. top. 2.
rationis participe. Id autem dicitur superesse, sive redundare in defini­
tione, quo sublato, ea, quee remanet oratio, satis aperte rem declarat b.
Exempli causa si quis definiat hominem animal rationis particeps bipes,
illud Bipes, dicendum erit superesse, quoniam eo detracto satis planum
facit reliqua oratio definitum. Scepe tamen non datur vitio, quod plura
verba ponantur in definitione, quam quee satis esse videantur, quoniam
raro id censetur supervacaneum, quod aliquanto apertius rem declarat.

A 10-A 11 {cap. 10) — quiescit: hac ex parte recte habebunt definitiones, quod
cum rebus...
* — Tertium preeeeptum definiendi.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 321

com verdade, também de outras coisas. E, igualmente, os que fazem


definições, que não convêm a todas as coisas compreendidas no definido,
como se alguém definir água como o corpo simples gelado pelo frio,
pois, com efeito, nem toda a água está gelada. Mas se a terra se definir
como um corpo simples que, por sua própria natureza, tende para o
lugar ínfimo, e a água como um corpo simples que, por sua própria
natureza, se equilibra entre a terra e o ar, não há dúvida de que as
definições concordam e se reciprocam com as coisas que se definem.
B Daqui se concluirá que se divulgam muitas interpretações de
nomes que não são boas definições, ou porque têm um sentido mais
extenso, como se se disser: teólogo é aquele que fala de Deus, cônsul
Divulgam-se muitas
é o que olha pela pátria; ou menos extenso, como se se disser: Geometria interpretações de no­
é a ciência de medir a terra. Por isso, deve, muitas vezes, juntar-se mes, que não são
boas definições.
alguma coisa às interpretações deste género, para se terem boas definições.
Também muitas descrições dos oradores e dos poetas necessitam disso.

C apítulo 11

Terceira regra

A A terceira regra diz que, na definição, nada esteja a menos nem Na definição nada
deve faltar ou estar
a mais. Há a menos quando, posto o género remoto, não se juntam a mais.
todas as diferenças intermédias; como se alguém define homem: substân­ a Tópicos, VI, 3.
cia dotada de razão. Por isso, Aristóteles*3 ensina que deve definir-se
ou pelo género próximo, como quando se diz que o homem é um animal
dotado de razão, ou, se pelo género remoto, que se devem juntar ao
género todas as diferenças que se encontram desde o género até ao
definido, como quando se diz que o homem é uma substância corpórea,
B sujeita à morte, viva, sensível e dotada de razão. Falta também alguma
coisa quando o que se define consta de matéria e de forma, e não se
O que está a mais
colocam ambas no lugar da diferença, mas apenas uma, como se se ou é supérfluo na
definir homem como o animal que tem uma alma dotada de razão. definição.
b Tópicos, VI, 2.
Diz-se que alguma coisa está a mais, ou é supérflua na definição,
quando, suprimida ela, a oração que fica declara, bastante claramente,
a coisa A Por exemplo: se se define homem como o animal bípede
dotado de razão, aquele bípede deve dizer-se que está a mais, pois, sub­
traído ele, a oração que fica torna o definido suficientemente claro.
Muitas vezes, contudo, não se considera vício colocar na definição
mais palavras que as que parecem ser necessárias, porque é raro julgar-se
supérfluo o que declara a coisa um pouco mais claramente. Pelo que,
21
322 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

Quare rarius hoc vitio, quam superiori, laborat definitio. Quanquam


ne illud quidem, semper pro vitio habendum est, quandoquidem graves
authores, ne minutissime omnia persequantur, multas scepe omnittunt
medias differentias, preesertim cum facile intelligi possunt.

Saepe graves authores


aliquid omittunt in
definitionibus, quod
lacilc intelligatur. Quartum praeceptum *

Ca pV T 12

Quartum prreceptum est ut definitio sit brevis modo brevitas obscuri­


tatem non pariat. Nam cum definitio cuiusque rei sit caput totius
Definitio debet esse disputationis, qua de re habetur, vitio haud dubie non carebit, qua longior
brevis.
fuerit, quam ut facile memoria teneatur, expediteque, cum opus fuerit,
in medium afferatur. Quantum ergo et natura rei, et perspicuitas patientur,
brevis esse debebit definitio, etsi nonunquam aliquanto longiori egeat
expositione. Hoc praceptum pr ater mittunt, qui tot particulas in defini­
Non sunt in defini­
tione tot particulae tione congerunt, quot sunt difficultates in tractatione rei, qua definitur.
congerendae, quot
sunt argumenta ex
Nam etsi definitio, ut autor est Aristoteles a talis esse debet, ut ex ea omnes
definitione diluenda. dubitationes, qua de re habentur, dissolvantur, non tamen necesse est,
a 4. phy. 4.
ut singulis pene argumentis diluendis singula verba in definitione ponantur
Saepe Sophistarum quod multi faciunt, sed ut ita sit constituta, ut ex paucis facile omnium
causa longiores fiunt
definitiones. obiectorum solutio colligi possit. Sape tamen sophistarum importunitas
b 1. peri. 4. cogit pluribus verbis rem definire, quam simpliciter definienda foret. Qua
c 1. elench. 4.
ratione Aristoteles 13 fatetur se longiori oratione elenchum definivisse c.

Alia quaedam pr excepta, quae investigatione definitionis


servanda sunt

Ca p V t 13
a 2. post. 14.
1
In investigatione de­ Porro cum divisionis methodo investigatur definitio tria observanda A
finitionis per divi­ esse docet Aristotelesa. Primum, ut omnia pradicata, qua sumuntur,
sionem, quae servan­
da. prcedicentur in ipso quid est, hoc est, essentialiter. Fere tamen cogimur
alia sumere attributa, quia ignota nobis sunt maxima ex parte rerum essen-

* — Quartum praceptum definitionis.


A 4 — maxima saltem ex parte...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 323

é mais raro a definição incorrer neste vício do que no anterior. Ainda


que nem aquele se deva ter na conta de vício, pois, notáveis autores, às
vezes, para não enumerarem minuciosamente todas as coisas, omitem Autores notáveis
muitas vezes diferenças médias, principalmente quando se podem suben­ omitem muitas vezes
tender fácilmente. nas definições coisas
que fácilmente se en­
tendem.

C a p í t u l o 12

Quarta regra

A quarta regra manda que a definição seja breve, mas não tanto
A definição deve ser
que dê origem à obscuridade. Com efeito, como a definição de alguma breve.
coisa é o centro de toda a discussão, que em redor dela se faça, sem dúvida
que não será isenta de vício, se for tão longa que se não possa reter
fácilmente na memória, nem ser prontamente usada como meio, se for
necessário. A definição, portanto, deve ser tão breve quanto a natureza
e a clareza da coisa o permitirem, embora, às vezes, tenha necessidade
de uma exposição mais longa. Não se devem con-
Passam por cima desta regra os que acumulam na definição tantas geminar na defini­
parcelas quantas as dificuldades no tratar da coisa que se define. Na ção tantas pequenas
partes quantos os
verdade, embora a definição, segundo Aristóteles0, deva ser tal que, argumentos a des­
por intermédio dela, se dissolvam todas as dúvidas que se tenham truir pela definição.
a Física, IV, 4.
acerca da coisa, contudo, não é necessário que se ponha na definição
uma palavra para cada argumento a destruir, o que muitos fazem, Muitas vezes, por
mas que seja constituída de tal modo que, com poucas palavras, se causa dos sofistas,
fazem-se definições
possa fácilmente colher uma solução para todas as dificuldades. Muitas mais iongas.
vezes, contudo, a importunidade dos sofistas obriga a definir uma coisa b Da í nterpreta-
com mais palavras do que se devia definir com simplicidade. Por esta ção, I, 4.
c Elencos, I, 4.
razão, Aristóteles confessa^ ter definido elenco com uma oração mais
longa c.

C a p í t u l o 1 3

Outras regras mais que devem observarse na investigação


da definição

Além disso, quando a definição se investiga com o método da divisão, O que deve obser-
ensina Aristóteles0 que devem observar-se três coisas. Primeira: que var-se na investiga­
ção da definição pela
todos os predicados, que se tomam, se prediquem no mesmo quid est, divisão.
isto é, essencialmente. Todavia, as mais das vezes, somos obrigados a Segundos Ana­
líticos, II, 14.
1
324 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

2 tice. Alterum, ut omnia naturae ordine collocentur, ita scilicet, ut commu­


niora praeponantur minus communibus quoad intelligendi rationem. Nam
quoad situm partium orationis, saepe differentia praeponitur generi, ut
cum dicimus, Dialectica est disserendi scientia. Verum cum plures
differentiae in definitione ponuntur, fere fit, ut situ etiam verborum commu­
niores antecedant minus communes. Neque enim dicimus, Animal esse
corpus sentiens, animatum, sed corpus animatum, sentiens et ita fere in
reliquis. Tertium, ut nulla differentia praetermittatur. Quod utique fiet,

3
si omnia, quae ante sumuntur, adaequate in proxima membra usque
eo [dividantur], dum tota oratio cum definito recurrat. Quoniam vero
in genere proximo rei, quae definitur, continentur omnia priora, tum
genera, tum differentiae, docet Aristotelesb, loco eorum omnium, posse
b 6. top. 3.
poni genus proximum. Id quod saepe necessario faciendum erit, ne longior,
c In lib. de divi­ quam par sit, fiat definitio. Unale Boetiusc, Si omnes, inquit, species
sione.
suis nominibus appellarentur, ex duobus solum verbis omnis fieret definitio.
Ut cum dico quid est homo, quid mihi necesse esset dicere, animal rationale,
In investiganda de­
finitione per collec­ mortale, si animal rationale esset proprio nomine nuncupatum? Cum B
tionem quid obser­
vandum. autem collectionis methodo definitio investigatur, hoc unum praecipit
cl 2. post. 15.
Aristotelesd diligenter caveri, ne alum a minus communibus ad communiora
Vide quie dicta sunt
cap. 7. progredimur, aliquam incurramus aequivocationem. Latet nanque magis
in communioribus ¿equivocado. Etenim quod animi magnitudo ea, quam
in Alcibiade, Achille, et Aiace legimus, univoce illis convenerit, nemo
dubitat, nullus etiam ambigit in Lysandro, et Socrate aliam quandam
eiusalem omnino rationis magnanimitatem fuisse. Sed num magnanimitas,
quce de utraque specie dicitur, sit univoca, necne, id sane (quia de [re]
communiori est qucestio) non ita facile perspicitur. Si ergo ex rationibus
univocis inferiorum unam rationem, quce univoce inferioribus conveniat,
collegeris, ea erit, definitio superioris. Sin autem ad unam omnino ratio­
nem non accesseris, intellige vocabulum commune cequivocum esse. Hcec

A 13-Λ 14 — sumuntur, dividantur adcequate in proxima membra dividentia


quousque tota oratio...
A 18-A 19 — Boeth. de divisione, (cota marginal).
B 6 — Alcibiade, Vlisse, et Aiace...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO V 325

a tomar outros atributos, pois nos são desconhecidas, na maior parte,


as essências das coisas.
Segunda: que se coloquem todas as coisas por ordem da natureza, 2
isto é, de tal maneira que as mais comuns se alinhem antes das menos
comuns, na razão da intelecção. Com efeito, quanto à colocação das
partes na oração, muitas vezes a diferença antepõe-se ao género, como
quando se diz que a Dialéctica é a ciência de discorrer. Mas, quando
se põem várias diferenças numa definição, acontece geralmente que as
mais comuns antecedem as menos comuns também na colocação das
palavras. Efectivamente, não se diz que o animal é um corpo que sente,
animado, mas um corpo animado que sente, e assim geralmente nas
outras coisas.
Terceira: que se não omita nenhuma diferença. O que sempre 3
se conseguirá, se todas as coisas, que antes se tomaram, se dividirem
adequadamente nos membros próximos, até que toda a oração seja
convertível com o definido. E, uma vez que, no género próximo
da coisa que se define, estão contidas todas as coisas essenciais — tanto
os géneros como as diferenças —, ensina Aristóteles h que, em lugar
b Tópicos, VI, 3.
de todas estas coisas, pode pôr-se o género próximo. Muitas vezes, há
mesmo necessidade de fazer isto para que a definição se não torne longa
de mais. Já Boécio c dizia que se se designassem todas as espécies pelos c No livro Da Di­
seus nomes, qualquer definição se faria com duas palavras apenas. visão.
Como quando digo o que é o homem, que necessidade teria cu de dizer:
urn animal racional mortal, se animal racional fosse a designação do
próprio nome?
O que deve obser­
Quando a definição se investiga, porém, pelo método da colec-
var-se na investiga­
ção, Aristóteles d aconselha a evitar com diligência uma única ção da definição pelo
coisa: incorrermos em algum equívoco quando passamos das coisas método da colecção.
d Segundos Ana­
menos comuns para as mais comuns. Efectivamente, nas coisas mais
líticos, II, 15.
comuns, o equívoco oculta-se mais facilmente. Na verdade, ninguém Ver o que foi dito
duvida de que a grandeza de alma que encontramos em Alcibiades, no capítulo 7.
Aquiles e Ájax, lhes convenha univocamente. Nem ninguém contesta
que tenha existido em Lisandro e em Sócrates uma outra magnanimi­
dade, absolutamente do mesmo quilate. Mas, se a magnanimidade,
que se diz duma e doutra espécie, é unívoca ou não, isso sem dúvida
que não se percebe assim fácilmente (porque a questão é acerca duma
coisa mais comum). Se, portanto, nas razões unívocas dos seres infe­
riores, se encontrar uma razão que univocamente convenha aos infe­
riores, será essa a definição do ser superior. Se, pelo contrário, se
não chegar a uma razão absolutamente única, conclui-se que o vocá­
bulo comum é equívoco.
326 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER V

Síepissime verba, preeeepta definiendi sint satis. Cceterum antequam ad argumentationem


quíe actum significant pergo, duo velim animadvertas, Alterum est saepissime verba, quee actum C
pro ipsis facultatibus
in definiendo acci­
significant, ut Sentiens, Ridens, et alia huiusmodi, pro ipsis facultatibus
piuntur. in definitione accipi: ut sentiens, pro eo, quod sentire potest, Ridens,
pro eo, quod ridere. Causa est, quia apud Latinos fere non sunt nomina D
Nota hax.
imposita facultatibus. Alterum est, in his preeeeptis qucedam esse, quorum
preetermissio efficit, ut oratio non sit omnino definitio, qualia sunt ex
quatuor definiendi preeeeptis primum et secundum: qucedam vero esse,
quorum reiectio non id prorsus efficit, ut oratio non sit definitio, sed hoc
tantum ut non sit bona, et apta definitio, qualia sunt tertium et quartum.
Atque hce duce animadversiones in preeeeptis etiam dividendi observandee
sunt. [Nam quod ad posteriorem attinet, sola preetermissio primi, et
extremi preeeepti divisionem funditus evertit, ut attendenti perspi­
cuum erit.\
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS ~ LIVRO V 327

São suficientes estas regras para bem definir. Mas, antes de passar Muitíssimas vezes,
C à argumentação, quero que se tenham ainda em conta duas coisas. palavras que signifi­
cam um acto to­
Primeira: que as palavras que significam um acto, como sensível, risível mam-se na definição
e outras coisas do mesmo género, se tomam muito frequentemente na pelas próprias facul­
definição pelas próprias faculdades, como sensível por aquilo que dades.
Observação impor­
D pode sentir, e risível por aquilo que pode rir. A razão é que, entre
tante.
os latinos, quase não existem nomes para designar as faculdades.
Segunda: que, entre estas regras, há algumas, cuja omissão faz que a
oração não seja definição, como são a primeira e a segunda das quatro
regras da definição. E há outras cuja rejeição não faz internamente
que a oração se não torne definição, mas somente que se não torne
uma definição boa e apta, como são a terceira e a quarta. Estas duas
advertências devem ser tidas em conta também nas regras da divisão.
Quanto a esta, porém, só a omissão da primeira e da última regra
abala profundamente a divisão, como será evidente para quem o con­
siderar.
IN S T I T V T I O N V M D I A L E C T 1 C A R V M

LIBER VI

De consequentia

C A P V T 1

Restat ergo ut, quia de divisione, ac definitione iam diximus, deinceps A


de Argumentatione, in qua plus opera Dialecticus insumit, disseramus.
Sed quoniam argumentatio est quadam consequentia, (latius enim patet
consequentia, quam argumentatio) prius de consequentia, quam de argu­
Latius patet conse­
quentia quam argu­ mentatione dicendum est. Consequentia igitur, sive consequutio, est
mentatio.
Consequentia quid. oratio, in qua ex aliquo aliquid colligitur: ut Omnis homo est animal,
igitur aliquis homo est animal. Id vero, ex quo aliquid colligitur dicitur B
antecedens: quod autem colligitur vocatur tum consequens, Ium conclusio:
Antecedens.
Consequens, et con­ quanquam sape tota consequentia conclusio nominatur. Consequentiarum
clusio.
Saepe tota consequen­
autem quatuor sunt genera. Primum est cum quoslibet enunciatio ex C
tia dicitur conclusio, se ipsa, aut ex sua cequipollente colligitur. Alterum genus est cum ante­
maxime apud Cice­
ronem. cedens, et consequens eisdem preeeise verbis, eodemque ordine collocatis
Primum genus con­
sequentiarum.
constituta sunt, sed tamen non idem valent: ut Omnis homo est animal,
Secundum. igitur quidam homo est animal. Necesse est Socratem esse animal,
igitur non necesse est Socratem non esse animal. Nomine enim verborum
Tertium. non complector hoc loco particulas ad quantitatem, aut qualitatem perti­
nentes. Tertium genus est cum antecedens et consequens eisdem preeeise ver­
bis constant, verum ordine converso, ut Nullus homo est lapis, igitur nullus

Quartum.
lapis est horno: necesse est omnem hominem esse animal, igitur necesse
est aliquod animal esse hominem. Atque ex consequentiis hactenus
enumeratis nulla dicitur argumentatio, sed consequentia duntaxat. Quar­
tum genus est cum antecedens et consequens non eisdem preeeise verbis
constant, quia in antecedente continetur argumentum aliquod, uno, aut
L IV R O V I

DAS

INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS

C a p í t u l o 1

Da consequência

A Urna vez que já falámos da divisão e da definição, resta-nos, pon-


tanto, tratar da argumentação, a que o dialéctico se aplica com mais
cuidado. Mas, visto que a argumentação é uma espécie de consequência
(pois é evidente que a consequência é mais extensa que a argumentação), É evidente que a
consequência é mais
trataremos primeiro da consequência, e depois da argumentação. ampla que a argu­
A consequência ou consecução é a oração na qual de alguma coisa mentação.
se deduz outra, como: todo o homem é animal; logo algum homem é Que é a consequên­
cia.
B animal. Aquilo de que se deduz alguma coisa chama-se antecedente; Antecedente.
o que se deduz chama-se consequente ou conclusão, embora muitas Consequente e con­
vezes se chame conclusão a toda a consequência. clusão. Muitas vezes,
sobretudo em Cícero,
C Há quatro géneros de consequências. O primeiro verifica-se quando chama-se conclusão
qualquer enunciação se deduz dela mesma, ou da sua equipolente. a toda a consequên­
O segundo género, quando o antecedente e o consequente são consti­ cia.
Primeiro gênero de
tuídos precisamente pelas mesmas palavras, colocadas pela mesma ordem, consequências.
mas de valor diferente, como: todo o homem é animal, logo algum Segundo.
homem é animal; é necessário que Sócrates seja animal, logo não é
necessário que Sócrates não seja animal. Pelo termo palavras não
abranjo, neste lugar, as partículas que se referem à quantidade ou à Terceiro.
qualidade. O terceiro género verifica-se quando o antecedente e o
consequente constam precisamente das mesmas palavras, mas por ordem
inversa, como: nenhum homem é pedra, logo nenhuma pedra é homem;
é necessário que todo o homem seja animal, logo é necessário que
algum animal seja homem. Entre os consequentes até aqui enumerados, Quarto.
não existe qualquer argumentação, mas apenas consequência. O quarto
género verifica-se quando o antecedente e o consequente não constam
precisamente das mesmas palavras, porque no antecedente está contido
330 INSTITVTIONVM Dl ALECTICARVM LIBER VI

pluribus verbis comprehensum, quod non continetur in consequente.


Dividi solet hoc genus in syllogismum, enthymema, inductionem, et exetn- D
pium: qua ratione argumenti argumentationes appellantur. Syllogismus
est ut si dicas, Omne vitium fugiendum, est, Omne mendacium est
vitium, igitur omne mendacium fugiendum est. Si sol lucet, dies est,
Syllogismus.
at sol lucet, igitur dies esi. Enthymema ut, Homo est animal, igitur
homo est sensus particeps: Hic adolescens diligenter navat operam litteris,
Enthymema. igitur doctus evadet. Inductio ut, Omnis homo est sensus particeps, et
omnis bestia est sensus particeps, igitur omne animal est sensus particeps:
Inductio. Romulus non diu tulit fratrem imperii consortem, nec Pompeium Ccesar, E
nec Augustus Antonium, nec aliquis alius, cuius ad nos memoria pervenerit
diutius imperii participem ferre potuit, nemo igitur est, qui consortem
imperii diu ferat. Exemplum ut, Croesus in divitiis felicitatem invenire
Exemplum. non potuit, ergo nec Crassus inveniet: Pisistratus impetratis a Republica
custodibus salutis suce, tyrannidern occupavit, ergo et Dionysius occupabit.
[Has autem qua tuor argumentationum formas satis erit hoc loco exemplis
a Ca.p. 8. declarasse cum inferiusa de unaquaque per se disserendum sit.·] Hcec
videntur consequentiarum genera. Quod si [prceter hcec] alia fuerint,
facile ad hcec revocabuntur.

De bona ac vitiosa consequentia * *

CAPVT2
Bona consequentia.

Vitiosa. Duplex quoque dici solet consequentia: bona, ei vitiosa. Bona A


dicitur ea, in qua aliquid ex aliquo vere colligitur, ut quee in exempla sunt
hactenus adductoe. Vitiosa est, in qua non vere aliquid concluditur,
Vitiosae consequentii
non sunt simpliciter ut si dicas, Socrates est animal, ergo est philosophus. Hcec cum ita sint,
consequentiae.
eas tantum nos in definitione con sequent ice complexi sumus, quee bonce
a 1. Topi. 1. et 1. s
elench. 1.
sunt et ciptce. Eas enim, in quibus aliquid non vere colligitur, non arbi­
tramur dicendas esse simpliciter consequentias, sed vitiosas, et ineptas
consequentias, quemadmodum Aristoteles a syllogismum nil concludentem,
non simpliciter syllogismum, sed vitiosum syllogismum appellandum esse

DI— Argumentationes, (cota marginal).


D 8 [1590] — consortem, Pompeium...
* — Quee sit bona ac vitiosa consequentia et quomodo internosci possint.
A 8-A 9 [1590] — 1. Top. 2 et 1. elench 1.... (cota marginal)
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 331

algum argumento, compreendido numa ou várias palavras, que não


está no consequente.
D Este género costuma dividir-se em silogismo, entimema, indução
e exemplo, os quais, em razão do argumento, se chamam argumentações.
O silogismo verifica-se, por exemplo, quando se diz: deve fugir-se de todo Silogismo.
o vício, toda a mentira é vício, logo deve fugir-se de toda a mentira;
se o sol brilha é dia, ora o sol brilha, logo é dia. Entimema, como: Entimema.
o homem é animal, logo o homem é dotado de sentidos; este jovem
aplica-se diligentemente aos estudos, logo torna-se douto. Indução, Indução.
como: todo o homem é dotado de sentidos, e todo o bruto é dotado
E de sentidos, logo todo o animal é dotado de sentidos; Rómulo não
teve, por muito tempo, o irmão como participante do governo, nem
César a Pompeu, nem Augusto a Antônio, ou qualquer outro, cuja
memória chegou até nós, pôde, por muito tempo, ter um compartici­
pante no governo; logo não há ninguém que tenha, por muito tempo,
um comparticipante no império. Exemplo, como: Creso não pôde Exemplo.
encontrar nas riquezas a felicidade, logo também Crasso a não encon­
trará; Pisistrato, depois de pedir à República guardas para sua defesa,
assumiu o poder absoluto, logo também Dionisio o assumirá.
Bastará, por agora, ter apresentado, por meio de exemplos, estas
quatro formas de argumentação, uma vez que adiante serão a tratadas a Cap. 8.
cada uma de per si.
Tais se nos afiguram os géneros de consequências. Mas se, além
destes, existirem outros, a eles se reduzirão facilmente.

C a p í t u l o 2

Da consequência boa e viciosa


A Costumam também considerar-se dois géneros de consequência:
boa e viciosa. Diz-se boa aquela em que alguma coisa se deduz, com
Boa consequência.
verdade, dc outra, como as que foram até aqui apresentadas, a título
de exemplo. Diz-se viciosa aquela em que, sem verdade, se conclui Viciosa.
alguma coisa, como se se disser: Sócrates é animal, logo é filósofo.
Sendo assim, na definição de consequência apenas compreendemos As consequências vi­
ciosas não são sim­
as boas e aptas. Com efeito, julgamos que aquelas, em que, sem ver­ plesmente consequên­
dade, se deduz alguma coisa, não devem chamar-se simplesmente cias.

consequências, mas consequências viciosas e ineptas; do mesmo modo a Tópicos I, 1; e


Elencos, I, 1.
que Aristóteles13 julga que o silogismo, que nada conclui, não deve
chamar-se simplesmente silogismo, mas silogismo vicioso.
332 INSTITVTJONVM DIALECTICARVM LIBER VI

censet. Duobus vero potissimum indiciis internosci solent bona, et vitiosa B


consequentia. Alterum est: Si ex veritate antecedentis, saltem ex hypo-
Primum documen­
thesi data, consequens verum esse deprehenditur, bona, et apta est conse­
tum. quentia: sin minus, vitiosa et inepta. Exempli causa, quia ex veritate
huius emmciationis, Socrates est homo, deprehendimus hanc esse veram
Socrates est animal, dicimus hanc esse bonam consequentiam, Socrates
est homo, ergo Socrates est animal. Parique ratione fatemur has esse
aptas, Socrates est lapis, ergo et sensus expers: si Socrates esset avis,
volare haud dubie posset: quia etsi neutrum antecedens verum sit,
tamen ex veritate utriusque ficta et data, utrunque consequens verum
esse deprehenditur. Has vero dicimus esse vitiosas, Socrates est homo,
ergo est philosophus; Socrates est homo, ergo equus est animal:
quia in priori datur antecedens verum, et consequens falsum: posterioris
autem consequens, etsi semper verum est cum antecedente, tamen non
ex eo quod antecedens verum est, deprehenditur esse verum, quippe cum
Ut bona sit conte-
quentia nec sufficit,
antecedente existente vero, posset consequens, si nihil aliud prohiberet,
nec requiritur veritas esse falsum. Ex hoc documento efficitur, ut ad bonam consequentiam C
antecedentis et conse­
quentis. non modo non sufficiat veritas antecedentis et consequentis, sed ne requiratur
2. documentum. quidem. Nam, ut ex dictis perspicuum est, ex utroque vero constare
Repugnantia quae di­
cantur hoc loco. potest consequentia vitiosa, ex utroque autem falso, bona, et apta. Alte­
rum indicium huiusmodi est. Si id, quod contradicit consequenti, repugnat
antecedenti, bona est consequentia: sin minus, vitiosa. Repugnantium
antem nomine hic intelligo ea, qua: simul vera esse non possunt. Hoc
documento intelligimus illam esse bonam consequentiam, Socrates est
homo, ergo Socrates est animal, quia hac enunciado Socrates non est
animal, quce contradicit consequenti, repugnat antecedenti. Illam autem
cognoscimus esse vitiosam, Socrates est homo, ergo Socrates est philoso­
phus, quia hoc pronunciatum, Socrates non est philosophus, quod contra­
dicit consequenti, non repugnat antecedenti. Neque enim Socrates, si
non sit philosophus, non erit homo. Eadem regula indicamus, illam esse
ineptam consequutionem, nihilque colligentem, Socrates est homo, ergo
equus est animal: quia etsi verum esse ponamus, quod nullus equus sit
animal, non tamen statim verum esse inficiabimur Socratem esse hominem.

C 1-C 3 — Ut Bona consequentia non modo non est satis, veritas, antecedentis,
et consequentis sed ne requiritur quidem.
C 4 — Secundum documentum, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 333

B A consequência boa e a viciosa costumam distinguir-se sobretudo


por dois indícios. Primeiro: se da verdade do antecedente, dada pelo
menos como hipótese, se depreende que o consequente é verdadeiro,
a consequência é boa e apta; se não, é viciosa e inepta. Por exemplo:
Primeiro indício.
porque da verdade desta enunciação: Sócrates é homem, depreendemos
que estoutra é verdadeira: Sócrates é animal, dizemos que é boa esta
consequência: Sócrates é homem, logo Sócrates é animal. Por igual
razão, afirmamos que são aptas estas: Sócrates é pedra, logo é des­
provido de sentidos; se Sócrates fosse ave, poderia, sem dúvida, voar;
porque, embora nem um nem outro antecedente seja verdadeiro, todavia,
da verdade suposta e concedida de ambos, depreende-se que os conse­
quentes são verdadeiros. Mas dizemos que são viciosas, estas: Sócrates
é homem, logo é filósofo; Sócrates é homem, logo o cavalo é animal
— porque, na primeira, é verdadeiro o antecedente, mas falso o conse­
quente; o consequente da segunda, porém, embora seja sempre ver­
dadeiro com o antecedente, todavia, do facto de este ser verdadeiro,
não se depreende que aquele o seja também: é que, com o antecedente
verdadeiro, o consequente poderia, se nenhuma outra coisa o impedisse, Para que a conse­
C ser falso. Deste exemplo resulta que, para a boa consequência, não quência seja boa, não
basta nem é reque­
só não basta, como nem sequer é requerida, a verdade do antecedente rida a verdade do
e do consequente. Com efeito, como ficou averiguado pelo que foi antecedente e do con­
sequente.
dito, de duas coisas verdadeiras pode resultar uma consequência viciosa; Segundo indício.
de duas coisas falsas, porém, uma boa e apta.
O segundo indício c este: se aquilo que contradiz o consequente,
Que se entende por
repugna ao antecedente, a consequência é boa; se não, é viciosa. Pelo repugnantes neste lu­
nome repugnantes entendo aqui coisas que não podem ser, ao mesmo gar.

tempo, verdadeiras. Por este indício, percebemos que é boa esta conse­
quência: Sócrates é homem, logo Sócrates é animal; porque esta enun­
ciação: Sócrates não é animal, que contradiz o consequente, repugna
ao antecedente. Porém, reconhecemos como viciosa esta: Sócrates
é homem, logo Sócrates é filósofo; porque esta proposição: Sócrates
não éfilósofo, que contradiz o consequente, não repugna ao antecedente.
Na verdade, Sócrates, por não ser filósofo, não deixará de ser homem.
Pela mesma regra, julgamos inepta esta consequência, que nada deduz:
Sócrates é homem, logo o cavalo é animal; pois, embora admitamos
ser verdade que nenhum cavalo seja animal, não negaremos, todavia,
imediatamente, ser verdadeiro que Sócrates é homem.
334 INSTITVTIONVM DIALECTI CAR VM LIBER VI

De consequentia formali et materiali

C A P V T 3

lam vero bona consequentia, aut est formalis, aut materialis: itemque A
aut necessaria, aut probabilis. Consequentia formalis dicitur ea, quce
vi formce concludit. Ea vero dicitur concludere vi forma, cuius formam
Consequentia forma- modumve colligendi si retinueris, in quacunque materia, etiam impossibili,
lis. apte concludes. Exempli causa, dicimus hanc esse formalem consequen­
tiam, Omnis virtus est laudabilis, temperantia est virtus, igitur temperantia
est laudabilis, quoniam ut formes concludit. Intelligimus autem eam
concludere vi formce, quia servata eadem forma, in quavis alia materia,
etiam impossibili, bene concluditur, ut si dicas, Omnis leo est lapis, equus
est leo, igitur equus est lapis. Est enim bona heee consequutio ut ex dictis a
a Cap. superiori.
apertum est. Eadem ratione dicimus hanc esse formalem consequentiam.
Necesse est omnem hominem esse animal, igitur necesse est aliquod animal
esse hominem, quoniam hac forma retenta semper apte concluditur, ut si
dicas, Necesse est omnem leonem esse lapidem, igitur necesse est aliquem
Retinendus idem or­
do verborum. lapidem esse leonem. Vt autem retineatur eadem forma, seu modus B
colligendi, primum necesse est ut servetur eadem dispositio, seu ordo
verborum, in quibus cernitur vis consequutionis. Nam si ordo huiusmodi
verborum mutetur, mutata haud dubie existimanda, est consequutionis
forma, ut patet in his duabus consequentiis, Omnis virtus est qualitas,
omnis iustitia est virtus, igitur omnis iustitia est qualitas: Omnis laurus
esi substantia, omnis equus est substantia, igitur omnis equus est laurus.
Servanda eadem ac­
ceptio verborum. Nam quia in priori consequentia sublectum primee enunciationis est
praedicatum secundes, quod non fit in posteriori consequutione, alia certe
forma est in priori, alia in posteriori. Deinde opus est ut servetur eadem
acceptio, idemque acceptionis modus eiusmodi vocabulorum. Ex quo fit
ut in his duabus consequentiis, Homo deambulat, igitur aliquis homo
deambulat: Homo est species, igitur aliquis homo est species: non sit
eadem forma, quia vox Homo in antecedente prioris accipitur pro singulis
hominibus disiunctive, in antecedente autem posterioris accipitur pro
hombre communi preeeise. Hce vero, Homo surgit, ergo non sedet: Homo

A 4— quacunque alia materia...


B 16 — Hce vero non habent eandum formam, Homo surgit...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 335

Capítulo 3

Da consequência formal e material


A A boa consequência ou é formal, ou material; e ainda, necessária,
ou provável.
Diz-se formal aquela consequência que conclui por força da forma.
Consequência for­
Conclui por força da forma aquela em que, se se lhe mantiver a forma mal.
ou modo de concluir, concluirá aptamente em qualquer matéria,
mesmo impossível. Por exemplo, dizemos que é formal esta consequên­
cia: toda a virtude é louvável, a temperança é uma virtude, logo a
temperança é louvável — porque conclui por força da forma. Enten­
demos que ela conclui por força da forma, porque, conservando a mesma
forma, conclui bem, em qualquer outra matéria, mesmo impossível,
como se se disser: todo o leão é pedra, o cavalo é leão, logo o cavalo é
pedra. Como se depreende do que ficou dito a, esta consequência é boa.
a No capítulo an­
Pela mesma razão, dizemos que é formal esta consequência: é necessário terior.
que todo o homem seja animal, logo é necessário que algum animal seja
homem — pois, mantida esta forma, sempre se conclui bem, como se se
disser: é necessário que todo o leão seja pedra, logo é necessário que
alguma pedra seja leão.
Deve manter-se a
B Para se manter, porém, a mesma forma ou modo de concluir é mesma ordem das
necessário, primeiro, que se conserve a mesma disposição ou a mesma palavras.

ordem das palavras em que se vê a força da consecução. Efectivamente,


se se muda tal ordem de palavras, sem dúvida que se muda a forma da
consecução, como se torna evidente nestas duas consequências: toda
a virtude é qualidade, toda a justiça é virtude, logo toda a justiça é
qualidade; todo o loureiro é substância, todo o cavalo é substância,
logo todo o cavalo é loureiro. Na verdade, visto que, na primeira
consequência, o sujeito da primeira premissa é o predicado da segunda,
Deve conservar-se a
o que não acontece na segunda consecução, existe por certo, uma forma mesma acepção das
na primeira, outra na segunda. palavras.
Além disso, é necessário que se mantenha a mesma acepção e
o mesmo modo de acepção dos mesmos vocábulos. Daqui se segue que
estas duas consequências: o homem caminha, logo algum homem
caminha; homem é espécie, logo algum homem é espécie — não têm
a mesma forma, porque, no antecedente da primeira, o termo homem
aplica-se a cada homem disjuntivamente, no antecedente da segunda,
porém, aplica-se precisamente ao homem em geral. Também estas:
o homem levanta-se, logo não se senta; o homem levantava-se, logo não
336 INSTITVTIONVM DIALECT1 CARVM LIBER VI

surgebat ergo non sedet, [ideo non habent eandem formam] quia acceptio
vocabuli Homo amplior est in posteriori antecedente, quam in priori.
Nam vox Homo in priori accipitur pro solis hominibus, qui nunc existunt
[Haec patent lib. 8
cap. et 30.] iuxta differentiam temporis verbi Surgit: in posteriori autem, non modo
accipitur pro iis, qui extiterunt, iuxta differentiam temporis verbi Surgebat,
sed etiam extenditur ad eos, qui nunc existunt, ut placet Aristotelib.
[Lege lib. 8 cap. 4.
et 34.] Rursus necesse est ut servetur eadem essentialis qualitas enunciationum
b 1. eiench. 3. principalium. Quo fit, ut hce consequentice non sint eiusdem formce,
Servanda eadem
essentialis qualitas. Homo est animal, ergo est sensus particeps: Homo non est animal, ergo
est sensus particeps: quia antecedens prioris est affirmativum, posterioris
negativum. Dixi principalium, quia si mutetur qualitas essentialis
enunciationum quarundam minus principalium, quce includantur in subjecto
aliquo, aut praedicato, non necesse est ut mutetur forma, veluti si dicas,
Omnis homo, qui est iustus, est prudens, ergo hic homo est prudens: Omnis
homo, qui non est probus, est imprudens, ergo hic homo est imprudens.
Sunt enim eiusdem, formce. Prceterea necesse est ut servetur eadem quan­
titas enunciationum. Quam ob causam hce consequentice non sunt eiusdem
formce, Omne animal est sensus particeps, igitur homo est sensus particeps:
Servandas eaedem
coniunct iones, ac Quoddam animal est rationis expers, igitur homo est rationis expers.
nexus.
Denique necesse est ut serventur ecedem coniunctiones ac nexus principa­
lium partium consequutionis. Qua de causa hce consequentice non sunt
Consequentia mate­ eiusdem formce, Si dies est, sol lucet: Quia dies est, sol lucet. Hcec neces­
rialis. sario videntur servanda (etsi quce sunt alia, quce ad modum colligendi
spectent) si forma consequentice retinenda est.
Consequentia materialis est ea, quce vi solius materice concludit. C
Ea vero dicitur concludere vi solius materice, quce vi quidem formce
nil colligit, sed tamen talis est ut assumpta simili materia semper
in eadem forma apte concludatur. Exempli causa, dicimus hanc
esse materialem consequentiam, Homo est animal, ergo est sensus
particeps, quia propter solam materiam, hoc est, propter solam rerum
significatarum inter se affectionem recte concludit. Nam quia esse sen­
sus particeps ita connexum est cum animali, ut omne animal necessario
sit sensus particeps, hac sola de causa apte concludit, qui ex eo quod
homo est animal, colligit eundem esse sensus participem. [Dico autem
hac sola de causa, quia] si retenta eadem forma dissimilem materiam

B 31 — ergo ille homo est imprudens.


C 11 — Si enim retenta...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 337

se senta — não têm a mesma forma, pois a acepção da palavra


homem é mais ampla no segundo antecedente que no primeiro. Com
efeito, a palavra homem no primeiro aplica-se só àqueles homens que
agora existem, pela diferença de tempo da palavra levantase; no segundo,
porém, não só se aplica àqueles que se levantaram, pela diferença de Isto torna-se evidente
tempo da palavra levantava-se, mas ainda se estende àqueles que agora no livro VIII, caps. 24
e 30.
existem, segundo parece a Aristóteles b. Leia-se o livro VIII,
Por outro lado, é necessário que se conserve a mesma qualidade caps. 4 e 34.

essencial das enunciações principais. Pelo que não são da mesma b Elencos, I, 3.
forma estas consequências: o homem é animal, logo é dotado de sen­ Deve conservar-se a
mesma qualidade es­
tidos; o homem não é animal, logo é dotado de sentidos — pois o sencial.
antecedente da primeira é afirmativo, e o da segunda negativo. Disse
das principais porque, se se muda a qualidade essencial de algumas
enunciações secundárias que se incluem nalgum sujeito ou predicado,
não é forçoso que se mude a forma, como se se disser: o homem que
é justo é prudente, logo este homem é prudente; todo o homem que
não é probo é imprudente, logo este homem é imprudente. São, na
verdade, da mesma forma.
É ainda necessário que se conserve a mesma quantidade das enun­
ciações. Por este motivo, não são da mesma forma estas consequên­
cias: todo o animal é dotado de sentidos, logo o homem é dotado de
sentidos; um certo animal é desprovido de razão, logo o homem é Devem conservar-se
as mesmas conjun­
desprovido de razão. ções e nexos.
Finalmente, é necessário que se conservem as mesmas conjunções
e nexos das partes principais da consecução. Por este motivo, não são
da mesma forma estas consequências: se é dia, o sol brilha; porque é
Consequência mate­
dia, o sol brilha. Parece que estas coisas se devem observar necessària- rial.
mente (e outras, se existem, que digam respeito ao modo de deduzir), se
se tiver de manter a forma da consequência.
C Consequência material é a que conclui só por força da matéria.
Conclui só por força da matéria aquela que, por força da forma, nada
conclui, mas é, todavia, tal que, tomando matéria semelhante, se con­
clui rectamente sempre na mesma forma. Por exemplo, dizemos que
é material esta consequência: o homem é animal, logo é dotado de
sentidos — porque só pela matéria, isto é, só por causa da relação das
coisas significadas entre si, conclui rectamente. É que ser dotado
de sentidos está de tal maneira conexo com animal que todo o animal
é necessàriamente dotado de sentidos. Só por esta causa conclui
rectamente aquele que, do facto de o homem ser animal, deduz que
o mesmo é dotado de sentidos. Digo só por esta causa, porque, mantida
a mesma forma, se se tomar uma matéria diferente, pode acontecer
22
338 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

accipias, fieri potest ut inepte concludas, veluti si dicas, Homo est animal,
igitur est hinnitus particeps. [Ea vero ratione] intelligimus superiorem
consequentiam concludere vi materice, quia simili materia assumpta, sem-
per apte in eadem forma concluditur. Ut si dicas: Laurus est planta,
ergo est sensus expers. Nam ut esse sensus particeps necessario, ac
universe connexum est cum animali, sic sensus expers cum planta. Eadem
ratione apte concludit ex vi materice, qui sic colligit Homo est animal,
ergo non est sensus expers: Laurus est planta, ergo non est sensus parti­
ceps. Et ita in aliis. Verum materialis consequentia minus proprie dicitur
bona, et apta.
Si quis autem hoc loco qucerat, qucenam consequentice ex quatuor D
generibus initio c traditis sint formales, quce materiales, illud respon­
c Cap. 1.
dendum videtur ex primo quidem genere omnes esse formales, ut si
Quae sunt formales
consequentiae, quae dicas. Homo est animal igitur homo est animal: Omnis homo est ani­
materiales. mal, igitur nullus homo non est animal (quancjuam enim prior illa ridicula
est, tamen est consequentia formalis atque adeo omnium maxime neces­
saria quemadmodum hcec enunciatio, Homo est homo, etsi puerilis est,
tamen est enunciatio, atque inter enunciationes in primis necessaria) ex
reliquis autem tribus generibus, quasdam esse formales, quasdam materiales.
Verbi causa, in secundo genere, cum ex subalternante colligitur subalter-
nata, aut particularis ex indefinita, est formalis consequentia: cum autem
e contrario ex subalternata colligitur subalternans, aliquando est materialis,
velut cum genus, aut differentia, aut proprietas prcedicatur de specie, ut
si dicas Homo est animal, igitur omnis homo est animal [et ccet.]. In tertio
[vero] genere, conversiones quidem sunt formales consequentice reciproca­
tiones [autem], quce fiunt ex subieclo, et proprietate, aut ex definito, et
proprietate, aut ex definito, et definitione sunt materiales, veluti si dicas,
Omnis homo est disciplince capax, igitur omne, quod est disciplince capax,
est homo: Omnis homo est animal rationale, igitur omne animal rationale
est homo. In quarto denique genere omnes syllogismi sunt consequentice
d Cap. 34. formales: cceterce autem tres argumentationum formae sunt materiales,
exceptis fortasse quibusdam inductionibus, ut postead patebit.

C 13—Intelligimus autem superiorem...


D 1-D 3 — apta. Ex primo igitur consequentiarum genere, utpote cum qualibet
enunciatio ex se ipsa, aut ex sua cequipollente colligitur omnes sunt formales.
D 5-D 7 — animal. Quanquam vero prior illa sit ridicula, tamen est consequentia
formalis atque adeo maxime omnium necessaria...
D 8-D 9 — necessaria. Nil enim verius aut enuntiatur, aut colligitur, quam
idem de se ipso. Ex reliquis autem tribus generibus, quadam sunt formales, quadam
materiales.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 339

que se conclua inadequadamente, como se se disser: o homem é animal,


logo é capaz de relincho. Por esta razão, entendemos que a consequência
conclui por força da matéria porque, tomada uma matéria semelhante,
se conclui rectamente sempre na mesma forma, como se se disser:
o loureiro é planta, logo é desprovido de sentidos. Com efeito, assim
como ser dotado de sentidos está necessária e umversalmente conexo
com animal, assim ser desprovido de sentidos está conexo com planta.
Pela mesma razão, conclui bem, por força da matéria, o que assim
deduz: o homem é animal, logo não é desprovido de sentidos; o loureiro
é planta, logo não é dotado de sentidos. E assim noutras. Todavia,
a consequência material com menor propriedade se chama boa e apta.
D Se, porém, nesta altura, alguém perguntar quais as consequências,
dos quatro géneros dados no princípio c, que são formais, e quais as mate­
riais, parece que deve responder-se isto: as do primeiro género são todas
formais, como por exemplo: o homem é animal, logo o homem é ani­ c Cap. 1.
mal; todo o homem é animal, logo nenhum homem não é animal. Quais as consequên­
cias formais e quais
(Embora, na verdade, a primeira seja ridícula, todavia é consequência as materiais.
formal e é, de longe, a mais necessária de todas; igualmente, esta enun­
ciação : o homem é homem — embora seja pueril, contudo, é uma enun­
ciação, e, entre as enunciações, a mais necessária de todas.) Das dos
outros três géneros, umas são formais e outras materiais. Por exemplo:
no segundo género, quando da subalternante se deduz a subalternada,
ou a particular da indefinida, a consequência é formal. Quando,
porém, ao contrário, da subalternada se deduz a subalternante, então
é material, como quando o género, a diferença ou a propriedade se pre­
dica da espécie, como se se disser: o homem é animal, logo todo o
homem é animal, etc.. No terceiro género, as conversões são conse­
quências formais; as reciprocações, que se fazem do sujeito e da proprie­
dade ou do definido e da propriedade, ou do difinido e da definição,
são materiais, como se se disser: todo o homem é capaz de educação,
logo tudo o que é capaz de educação é homem; todo o homem é
animal racional, logo todo o animal racional é homem. No quarto
d Cap. 34.
género, finalmente, todos os silogismos são consequências formais;
são, porém, materiais as outras três formas de argumentação, à
excepção talvez de algumas induções, como depois^ se esclarecerá.

D 11-D 14 — consequentia: aliquando autem e contrario est materialis, ut si


dicas...
D 15-D 16 — consequentiae, ex reliquis autem, nonnulla? sunt materiales ut reci­
procationes. ..
D 22 — ut postea docebimus.
340 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

De consequentia necessaria et probabili


C APVT4

Consequentia necessaria est ea, cuius consequens necessario colligitur A


Consequentia neces­
ex antecedente: ut illa, Socrates est homo, ergo Socrates est animal.
saria. Quicquid enim homo est, necessario est animal. Consequentia probabilis
Consequentia proba­ est ea, cuius consequens colligitur quidem ex antecedente, non tamen
bilis.
necessario, sed maxima ex parte: ut si dicas, Hcec mulier est mater, ergo
diligit filium: Agricola mandat terree multa semina, ergo magnam fructuum
copiam percipiet. Hcec enim non necessario sequuntur ex antecedentibus,
Quae consequentiae
sint necessariae, quae
sed fere semper. Cum igitur omnis consequentia sit vel formalis, vel
probabiles. materialis: et iterum vel necessaria, vel probabilis, illud iam hoc loco
animadvertendum est, omnes formales esse necessarias: ex materialibus
autem alias esse necessarias, alias probabiles. Quod enim omnes formales
sint necessarice, ex eo patet, quia in hoc genere consequentiarum posito
a 1. Prio. 1.
antecedente perpetuo sequitur conclusio. Id quod facile est exemplis
supra positis illustrare. Sed et Aristotelesa hoc ipsum de syllogismo
aperte pronunciai, ut patet ex definitione syllogismi, quam tradit. Quod B
vero materiales consequenlice partim sint necessarice, partim probabiles,
facile intelliges, si genera singula percurras. Nam in iis, quee ordine
eodem eadem praecise verba continent in antecedente, et consequente, et
tamen nec sunt ecedem, nec cequipollentes, hcec est necessaria ex vi mate-
rice, Homo est animal, igitur omnis homo est animal, hcec vero probabilis
ratione itidem materice, Mater diligit filium, igitur hcec mater diligit filium.
In iis autem, quee ordine inverso colligunt, hcec est necessaria, Omnis
homo est rationalis, igitur omne rationale est homo, hcec vero probabilis,
Omnis qui diligenter dat operam literis, fit doctus, igitur omnis, qui fit
doctus, diligenter dat operam literis, atque ambee causa materice, non
formae. In enthymematibus etiam, inductionibus, et exemplis eadem
varietas invenitur, ut ex supradictis intelliges. Quanquam hcec ex sequen­
tibus fient apertiora. Nunc generales quaedam regulce consequentiarum
ex supradictis eruendae videntur, ut facile quisque intelligat quid ex quo
apta consequutione [de hac enim semper loquor) concludi possit.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 341

C apítulo 4

Da consequência necessária e provável

A Consequência necessária é aquela cujo consequente se conclui neces­


sàriamente do antecedente, como esta: Sócrates é homem, logo Sócrates Consequência neces­
é animal. Com efeito, tudo o que é homem é necessariamente animal. sária.
Consequência provável é aquela cujo consequente se conclui do
Consequência prová­
antecedente, se não necessàriamente, pelo menos na maioria dos vel.
casos, como se se disser: esta mulher é mãe, logo ama o filho; o lavrador
lança à terra muita semente, logo colherá grande abundância de frutos.
Isto, com efeito, não se segue necessàriamente dos antecedentes, mas
segue-se quase sempre.
Quais as consequên­
Mas como toda a consequência é formal ou material, e ainda neces­ cias necessárias e
sária ou provável, deve já, neste lugar, advertir-se que todas as formais quais as prováveis.
são necessárias e, das materiais, umas são necessárias, outras prováveis.
Que todas as formais sejam necessárias, torna-se evidente por isto:
é que neste género de consequências, posto o antecedente, acto contínuo
a Primeiros Ana­
se segue a conclusão. O que fácilmente poderá verificar-se pelos exem­ líticos, I, 1.
plos dados atrás. Aliás, isto mesmo diz claramente Aristótelesa
acerca do silogismo, como se vê pela definição que dele dá.
B Que das consequências materiais sejam umas necessárias e outras
prováveis, fácilmente se entenderá se se percorrerem os géneros um
a um. Efectivamente, de entre aqueles que, no antecedente e no
consequente, contêm, pela mesma ordem, precisamente as mesmas
palavras, sem, todavia, [as enunciações] serem as mesmas ou equipo­
lentes, esta: o homem é animal, logo todo o homem é animal — é neces­
sária por força da matéria; e esta: a mãe ama o filho, logo esta
mãe ama o filho — é provável também por força da matéria. Con­
tudo, daqueles que concluem por ordem inversa, esta é necessária:
todo o homem é racional, logo todo o racional é homem; esta, porém,
é provável: todo o que se entrega diligentemente ao estudo torna-se
culto — uma e outra por causa da matéria, que não da forma.
Também nos entimemas, nas induções e nos exemplos, se encontra a
mesma variedade, como se entenderá pelo que se disse atrás. Todavia,
isto tornar-se-á mais claro com o que se segue.
Veremos agora, algumas regras gerais das consequências, dedu­
zidas do que atrás dissemos, para que se compreenda facilmente aquilo
que pode concluir-se de alguma coisa por meio duma conclusão apta
(refiro-me sempre a esta).
342 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Regulce generales consequentiarum

Ca p V τ 5

Prima regula. Ex vero non nisi verum, verum autem tum ex vero, A
et 1· tum ex falso colligitur a. Prior pars ex eo probatur, quia si ulla conse­
Prima regula.
quentia ex vero falsum colligeret, tam non esset bona et apta consequentia,
a 2 pri. 2.
post. 6. ut patet ex priori documento bonce consequentice. Posteriorem partem
confirmant hcec exempla. Omnis virtus est laudanda, et temperantia
est virtus, igitur temperantia est laudanda: Omnis vitiositas est laudanda,
et temperantia est vitiositas, igitur temperantia est laudanda: Ambce
enim lue formales consequentice, id quod verum est, colligunt, sed prior
ex vero antecedente, posterior ex falso.
Secunda. Secunda regula. Ex falso et falsum et verum, falsum autem non B
b 8. top. 4. et 5. nisi ex falso concluditur b. Prior pars hisce exemplis comprobatur.
et locis citatis.
Omne animal est candidum, et corvus est animal, igitur corvus est candidus:
Omne animal est nigrum, et corvus est animal, igitur corvus est niger.
Nam utraque argumentatio ex falso antecedente concludit, sed prior
falsum consequens, et posterior verum. Posterior autem pars huius
regulce ex eo vera esse cernitur, quia si falsum ex vero colligeretur, daretur
Tertia. haud dubie in bona consequentia antecedens verum et consequens falsum,
quod supra negavimus.
c 1. Post. 6. Tertia regula. Ex necessario non nisi necessarium, necessarium C
autem ex quolibet (ut aiunt) id est, et ex necessario, et ex contingenti,
et ex impossibili, colligiturc. Prior pars hoc modo probatur. Neces­
sarium semper est verum, contingens autem potest esse falsum, et impossi­
bile semper est falsum, igitur si ex necessario recte colligeretur contingens,
aut impossibile, dari posset in bona consequentia antecedens verum, et
consequens falsum, quod diximus fieri non posse. Posterior pars hisce
exemplis confirmatur. Omne animal per se subsistit, et homo est animal,
igitur homo per se subsistit. Omnis philosophus movetur loco, et deam-
bulans est philosophus, igitur deambulans movetur loco: Omnis lapis per
se subsistit, et homo est lapis, igitur homo per se subsistit. Omnes hce
consequentice colligunt necessariam conclusionem, sed prima ex necessario
antecedente, secunda ex contingenti, et tertia ex impossibili.

C 13 [1590] — et tertia impossibili.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 343

C apítulo 5

Regras gerais das consequências

A Primeira regra: do verdadeiro não se segue senão o verdadeiro;


porém, o verdadeiro segue-se tanto do verdadeiro como do falsoa. Primeira regra.
A primeira parte prova-se por isto: se alguma consequência deduzisse a Primeiros Ana­
líticos, II, 2; e Se­
do verdadeiro o falso, já não seria boa e apta consequência, como é gundos Analíticos,
evidente pela primeira regra da boa consequência. A segunda parte I, 6.
confirmam-na estes exemplos: toda a virtude deve ser louvada, a tem­
perança é uma virtude, logo a temperança deve ser louvada; todo o
vício deve ser louvado, a temperança é um vício, logo a temperança
deve ser louvada. Efectivamente, uma e outra destas consequências
formais concluem o que é verdadeiro, mas a primeira de um antecedente
verdadeiro, a segunda de um falso.
B Segunda regra: do falso pode seguir-se o verdadeiro e o falso; Segunda.
porém, o falso não se segue senão do falso b. Prova-se a primeira parte b Tópicos, VIII,
4 e 5, e lugares cita­
por estes exemplos: todo o animal é branco, o corvo é animal, logo o dos.
corvo é branco; todo o animal é preto, o corvo é animal, logo o corvo
é preto. De facto, ambas as argumentações concluem de um antece­
dente falso; todavia, a primeira tem o consequente falso e a segunda,
verdadeiro. A segunda parte desta regra vê-se que é verdadeira pelo
facto de que, se o falso se seguisse do verdadeiro, na boa consequência
existiria indubitável mente um antecedente verdadeiro e um consequente
falso, o que acima dissemos não poder ser. Terceira.
C Terceira regra: do necessário não se segue senão o necessário;
o necessário, porém, segue-se de qualquer outro (como se diz), isto é, c Segundos Ana­
do necessário, do contingente e do impossível c. A primeira parte líticos, I, 6.

prova-se deste modo: o necessário é sempre verdadeiro; mas o contin­


gente pode ser falso e o impossível é sempre falso; portanto, se do
necessário se seguisse rectamente o contingente ou o impossível, numa
boa consequência poderia existir um antecedente verdadeiro e um
consequente falso — o que dissemos não poder dar-se. A segunda
parte confirma-se com estes exemplos: todo o animal subsiste por si,
o homem é animal, logo o homem subsiste por si; todo o filósofo
muda de lugar, o que caminha é filósofo, logo o que caminha muda de
lugar; toda a pedra subsiste por si, o homem é pedra, logo o homem
subsiste por si. Todas estas consequências produzem uma conclusão
necessária, mas a primeira de um antecedente necessário, e a segunda,
de um contingente, e a terceira, de um impossível.
344 INSTITVTIONVM DIALECTICARYM LIBER VI

Quarta regula. Ex contingenti nunquam colligitur impossibile, sed D


vel necessarium, vel contingens: contingens autem nunquam ex necessario,
sed vel ex contingenti, vel impossibili, concluditurd. Quod igitur ex
Quarta. contingenti non colligatur impossibile ex eo patet, quia cum contingens
possit esse verum, impossibile autem semper sit falsum, si quis admitteret
d 1. prio. 12 et 8.
phy. 5. et 9. meta. 4. recte colligi ex contingenti impossibile, cogeretur sane admittere, dari
posse in bona consequentia antecedens verum, et consequens falsum,
quod nequaquam admittendum est. Quod autem ex contingenti colligatur
necessarium, planum est ex regula superiori. Quod item ex contingenti
colligatur contingens, in hoc exemplo cernes, Omnis grammaticus est
dialecticus, et homo est grammaticus, igitur homo est dialecticus. Quod
vero contingens non colligatur ex necessario, ex eo perspicuum est, quia
si colligeretur, dari posset in bona consequentia antecedens verum, et
consequens falsum. Necessarium enim non potest non esse verum, con­
tingens autem potest esse falsum, ut diximus. Quod deinde contingens
ex contingenti colligatur, in hac ipsa regula ostendimus. Quod denique
contingens ex impossibili concludatur in hac argumentatione perspicies,
Quinta. Omnis lapis loquitur, et homo est lapis, igitur homo loquitur.
Quinta regula. Ex impossibili sequitur quocllibet, id est, tum neces- E
sarium, tum contingens, tum impossibile: impossibile autem non nisi ex
impossibili colligitur. Quod autem ex impossibili concludatur necessarium,
et contingens, ex tertia et quarta regula perspicuum est. Quod vero ex eo
recte colligatur impossibile, ex hac consequentia intelliges, Omnis lapis
e 1 de coelo. 12.
et 9. meta. 4. est prceditus vivendi facultate, smaragdus est lapis, igitur smaragdus est
praditus vivendi facultate Quod denique impossibile non nisi ex impossi­
Sexta. bili, concludatur, e ex eo apertum est, quia si ex necessario aut contingenti
colligeretur, dari posset in bona consequutione antecedens verum, et
consequens falsum, ut ex dictis facile intelliges.
Sexta regula. Quicquid stat cum antecedente stat cum consequente: F
non tamen quicquid stat cum consequente stat cum antecedente. Ita
loquuntur Dialectici. Sen us vero est. Quicquid verum esse potest cum
antecedente, potest etiam verum esse cum consequente non amen contra,
Ut si heee est bona consequentia Hoc est homo, ergo est animal, est autem
verum asserere aliquid esse hominem, et esse bipes, erit etiam verum
asserere esse animal, et esse bipes: non tamen si vere dixeris aliquid esse
animal et quadrupes, continuo vere affirmabis quod sit homo et quadrupes.

D4 — Ex 1 prio. 12... (cota marginal).


D 13 — dari aliquando in bona...
F 4-F 5 — non tamen viceversa, Vt si...
F8 [1590] — animal quadrupes...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 345

D Quarta regra: do contingente nunca se segue o impossível, mas


o necessário ou o contingente; o contingente, porém, nunca se conclui
do necessário, mas do contingente ou do impossível<l. Que do contin­
gente não se conclui o impossível torna-se evidente pelo facto de o Quarta.
contingente poder ser verdadeiro e o impossível ser sempre falso;
d Primeiros Ana­
se alguém, portanto, admitisse que o impossível se conclui rectamente do líticos, I, 12; Físi­
contingente, seria obrigado a admitir que, numa boa consequência, ca, VIII, 5; Metafí­
sica, IX, 4.
pode existir um antecedente verdadeiro e um consequente falso, o que
de modo algum deve admitir-se. Que o necessário se segue do contin­
gente está explicado na regra precedente. De igual modo se notará
neste exemplo que, do contingente, se segue o contingente: todo o gra­
mático é dialéctico, o homem é gramático, logo o homem é dialéctico.
É evidente que o contingente não se segue do necessário, porque, se se
seguisse, numa boa consequência poderia existir um antecedente verda­
deiro e um consequente falso. O necessário, na verdade, não pode
deixar de ser verdadeiro; mas o contingente pode, como dissemos,
ser falso. Mostrámos também, nesta mesma regra, que o contingente
se segue do contingente. Por último, entender-se-á nesta argumenta­
ção que o contingente se segue do impossível: toda a pedra fala, o homem
é pedra, logo o homem fala. Quinta.
E Quinta regra: do impossível segue-se qualquer outro, isto é, o
necessário, o contingente, ou o impossível; o impossível, porém, não
se segue senão do impossível. É manifesto, pela terceira e quarta regras,
que do impossível se pode concluir o necessário e o contingente. Pela
seguinte consequência perceber-se-á se se conclui rectamente o impossível
e Do Céu, I, 12;
do impossível: toda a pedra é dotada da faculdade de viver, a esmeralda e Metafísica, IX, 4.
é pedra, logo a esmeralda é dotada da faculdade de viver. Finalmente,
é manifesto que o impossível se não segue senão do impossível e, porque,
Sexta.
se se seguisse do necessário ou do contingente, numa boa consequência,
poderia existir um antecedente verdadeiro e um consequente falso, como
fácilmente se compreenderá pelo que atrás se disse.
F Sexta regra: tudo o que está com o antecedente está com o conse­
quente; mas nem tudo o que está com o consequente está com o ante­
cedente. Assim se exprimem os dialécticos. O sentido é este: tudo o
que pode ser verdadeiro com o antecedente pode também ser verdadeiro
com o consequente, mas não ao contrário. Assim, se for boa esta
consequência — isto é homem, logo é animal — e for verdadeiro dizer
que algo é homem e que é bípede, será também verdadeiro dizer que
esse algo é animal e que é bípede; porém, se se disser que alguma coisa
é animal e quadrúpede, não poderá afirmar-se, acto contínuo, que é
346 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Ratio vero prioris partis huius regulce hcec est, quia si aliquando id quod,
stat cum antecedente, non staret cum consequente, tunc sane everteret
consequens non everso antecedente, quo fieret ut in bona consequentia
daretur antecedens verum, et consequens falsum. Posterior autem pars
confirmata relinquitur exemplo adducto. Ex eo enim patet, aliquando
id, quod stat cum consequente, non stare cum antecedente: quod satis
est ad confirmandum institutum, modo ponas consequentiam illam esse
bonam, ut revera est, materialis tamen, non formalis, ut ex dictis facile
intelliges.
Septima regula. Quicquid repugnat consequenti repugnat antece­ G
Septima. denti: non tamen quicquid repugnat antecedenti repugnat consequenti Γ
/ 1. prio. 28. Prior pars ex eo patet, quia si aliquid repugnaret consequenti, quod non
repugnaret antecedenti, aliquid everteret consequens, quod non everteret
antecedens, sicque in bona consequentia daretur antecedens verum et
consequens falsum, quod fieri, non potest. Ex hac priori parte colligi
Dialecticorum pro- potest illud protritum Dialecticorum pronunciatum [{quod etiam ab Aristo­
nunciatum. tele scepe § usurpatur)\. In bona consequentia, ex opposito contradictorio
^ Ut ]. pri. 42.
et 2. pri. 2. et 4. consequentis infertur contradictorium antecedentis: ut si hcec est bona conse­
quentia, Socrates est lapis ergo non est sensus particeps, licebit ita con­
cludere Socrates est sensus particeps, ergo Socrates non est lapis. Item
si hcec est bona consequentia, Omne animal est album, igitur omnis homo

Si non concludere­
est albus, licebit ita concludere, aliquis homo non est albus, igitur aliquod
tur contradictorium animal non est album. Nam si ex contradictorio consequentis non con­
antecedentis ergo nec
contrarium: quia ex cluderetur contradictorium antecedentis {et ita nec contrarium) posset
quo infertur contra­ utique contradictorium consequentis stare cum antecedente: aliquid ergo
rium, infertur contra­
dictorium. repugnaret consequenti, quod non repugnaret antecedenti: id quod prior
pars huius regulce non admittit. Posterior pars vel hoc uno exemplo
stabilitur. Hoc non esse hominem, repugnat antecendti huius consequentice,
Hoc est homo, ergo est animal, [et tamen] non repugnat consequenti
{Bucephalus siquidem, qui non est homo, est animal) igitur non quicquid
repugnat antecedenti repugnat consequenti.

G 3-G 5 — quia si alioqui aliquid verum esset cum antecedente, quod verum non
esset cum consequente, sicque daretur in bona consequentia antecedens verum...
G 6 — Ex hac priori parte huius regulce colligi...
G 9-G 10 — Ex 1. pri. 42. et ex 2 pri. 2. et 4. (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 347

homem e quadrúpede. A razão da primeira parte desta regra é esta:


se, alguma vez, o que está com o antecedente não estivesse com o
consequente, então, sem dúvida, mudar-se-ia o consequente sem se
mudar o antecedente e sucederia então que, numa boa consequência,
existiam um antecedente verdadeiro e um consequente falso. A segunda
parte fica confirmada pelo exemplo dado. Por ele, na verdade, se vê
que, às vezes, o que está com o consequente não está com o antecedente
— o que é bastante para confirmar o estabelecido, contanto que se admita
que aquela consequência é boa, como de facto é; é material, todavia, e
não formal, como fácilmente se entenderá pelo que atrás se disse.
Sétima regra: tudo o que repugna ao consequente repugna ao
antecedente; todavia, nem tudo o que repugna ao antecedente repugna
ao consequente/. A primeira parte é evidente, porque se repugnasse
ao consequente alguma coisa que não repugnasse ao antecedente, o Sétima.
consequente mudaria alguma coisa sem que a mudasse o antecedente, e,
/ Primeiros Ana­
numa boa consequência, existiria assim um antecedente verdadeiro e um líticos, I, 28.
consequente falso, o que não pode acontecer. Da primeira parte desta
regra pode deduzir-se aquela tão batida proposição dos dialécticos, Proposição dos Dia­
(que é muitas vezes usada por Aristóteles^): numa boa consequência, lécticos.
g Por exemplo,
do contraditório do consequente infere-se o contraditório do antece­ nos Primeiros Ama-
líticos, I, 42; e Se­
dente; assim, se for boa esta consequência: Sócrates é pedra, logo não gundos Analíticos, II,
é dotado de sentidos, será lícito concluir: Sócrates é dotado de sentidos, 2 e 4.
logo Sócrates não é pedra. De igual modo, se for boa esta consequência:
todo o animal é branco, logo o homem é branco; será lícito concluir assim:
Se não se seguisse o
algum homem não é branco, logo algum animal não é branco. Na contraditório do an­
tecedente, também se
verdade, se do contraditório do consequente se não concluísse o contra­ não seguiria o con­
ditório do antecedente (e assim nem também o contrário), o contra­ trário: pois, daquilo
que se infere o con­
ditório do consequente poderia então estar com o antecedente; algo, trário infere-se o con­
traditório.
pois, repugnaria ao consequente que não repugnava ao antecedente,
o que a primeira parte desta regra não admite. A segunda parte
prova-se apenas com este único exemplo: isto não é homem, repugna
ao antecedente desta consequência isto é homem, logo é animal e, todavia,
não repugna ao consequente da mesma consequência (pois, Bucéfalo,
que não é homem, é animal); portanto, nem tudo o que repugna ao
antecedente repugna ao consequente.

G 11-G 14 — Non tamen ex contradictorio antecedentis infertur contradicto­


rium consequentis ut ait Arist. (cota marginal).
G 19 — hominem, quod repugnat...
G 20-G 21 — consequenti eiusdem consequentiis (Bucephalus...
348 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER VI

Octava regula. Ex quocumque sequitur antecedens, sequitur conse­ H


quens: et quicquidsequitur ex consequente sequitur ex antecedente h. Exem­
Octava.
h 1. pri. 28. ct 33.
pli causa, si hac est apta consequentia, Est animal ergo est substantia, et
ex homine sequitur animal ex homine utique sequetur, ac concludetur
substantia. Item si hac est bona consequentia, Est homo ergo est animal,
et substantia sequitur ex animali, substantia sane concludetur ex homine.
Hac regula ex eo probatur, quia cum hic concludendi modus minimum
ad tres conditionales reduci possit (ut si dicas, Si homo est, animal est,
si animal est, substantia est, igitur si homo est substantia est) nunquam
ex prioribus conditionalibus veris colligi potest extrema conditionalis
falsa, ut inductione patet. Sumpta enim quacunque materia semper
extrema vera est, si priores ponantur vera, sive dua tantum pracesserint,
sive multo etiam plures, ut si dicas, Si homo est, animal est: si animal,
vivens: si vivens, corpus: si corpus, substantia: igitur si homo est, substantia
Argumentatio de pri­
mo ad ultimum. est. Nostri hanc gradationem vulgo appellant argumentationem de primo
σωρείτης
ad ultimum, Graci σωρείτεν hoc est acervalem, ut Cicero interpretatur l.
i 2. de divinat.
/ Acadc. lib. 2. pri­ Quod vero idem alibi ait \ hoc genus argumentationis vitiosum esse, ac
mas edit. captiosum, non ita intelligendum est, quasi non recte concludat. Nam
si omnes priores consequutiones, ex quibus extrema texitur, fuerint apice,
nihil vitii erit in extrema. Sed id propterea asserit, quod in hoc concitato
progressu consequentiarum, quarum alia: aliis, quasi grana granis minuta-
Stoici. tim adduntur, scepe ineptce cum aptis permiscentur, quce temporis brevitate
non facile pernoscuntur: quo fit ut tota congeries scepe hominem securum
capiat. Sic stoici fallaciter concludebant, omne quod quavis ratione
bonum esset, esse honestum: Si bonum, igitur optabile: si optabile, expe­
tendum: si expetendum, dignitatem habet: si dignitatem habet, laudabile
est: si laudabile, honestum: igitur si bonum est, honestum est. Hic tertia
consequutio est vitiosa. Multa enim sunt expetenda quce non habent I
dignitatem, ut nonnulla utilia, et alia qucedam iucunda. Fit autem Sorites
interdum ex universalibus enunciationibus, ut si dicas, Omnis homo est
animal, et omne animal est vivens, et omne vivens est substantia, igitur

Η 2-H 13 — Exempli causa, si ex homine sequitur animal, et ex animali substan­


tia, ex homine Sequetur, ac concludetur substantia. Item si substantia sequitur ex
animali, et animal ex homine, substantia sequetur ex homine: quod idem est ordine
converso. Hcec regula ex eo probatur, quia cum in hoc concludendi modo minimum
sint tres consequentice, si tertia non fuerit bona, nullum erit incommodum si detur in ea
antecedens verum, et consequens falsum. Faciamus igitur aliquid esse hominem, quod
tamen non sit substantia. Aut ergo cum ex homine concluditur animal, aut cum ex
animali concluditur substantia, datur antecedens verum et consequens falsum, quod
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 349

Η Oitava regra: de onde se seguir o antecedente, segue-se o conse­


quente; e tudo o que se seguir do consequente, segue-se do antece­ Oitava.
dente h. Por exemplo, se for apta esta consequência é animal, logo é
h Primeiros Ana­
substância, e se animal se segue de homem, seguir-se-á e concluir-se-á
líticos, I, 28 e 33.
de homem, substância. Do mesmo modo, se for boa esta consequência
é homem, logo é animal, e substância se segue de animal, concluir-se-á
substância, de homem. Esta regra prova-se porque, como este modo
de concluir se pode reduzir pelo menos a três condicionais (como se se
disser: se é homem é animal, se é animal é substância, logo, se é homem,
é substância), nunca das primeiras condicionais verdadeiras pode dedu-
zir-se uma última condicional falsa, como, por indução, é evidente.
Com efeito, escolhida qualquer matéria, a última é sempre verdadeira
se as primeiras forem verdadeiras, quer sejam duas apenas, quer sejam
muitas, por exemplo: se é homem, é animal; se é animal, é vivo; se é
vivo, é corpo; se é corpo, é substância; logo, se é homem, é substância.
Os nossos chamam vulgarmente a esta gradação argumentação do Argumentação do
primeiro ao último.
primeiro ao último, os gregos sorites, isto é, acervo, como interpreta Sorites.
Cícero l. Mas lá porque o mesmo diz, noutro lugar/, que este género i Da Adivinha­
de argumentação é vicioso e capcioso, não se deve entender como ção, 2.
I Académicos, li­
não concluindo rectamente. Na verdade, se todas as primeiras con­ vro lí, primeira edi­
clusões, a partir das quais se constrói a última, forem aptas, nada de ção.
vicioso haverá nesta. Mas Cícero aduz isto, porque, neste progresso
acelerado de consequências, que se juntam umas às outras como grão
a grão, se intermeiam muitas vezes as ineptas com as aptas, as quais, por
falta de tempo, se não reconhecem facilmente. Sucede, assim, que
muitas vezes todo aquele acervo engana mesmo um homem seguro. Estoicos.
Assim, os estoicos concluíam falaciosamente que tudo o que, por
qualquer razão, é bom, é honesto: se é bom, é desejável; se é desejável,
deve ser procurado; se deve ser procurado, tem dignidade; se tem digni­
dade, é louvável; se é louvável, é honesto; logo, se é bom, é honesto.
I É viciosa aqui a terceira consecução. Efectivamente, há muitas coisas
que devem ser procuradas e que não têm dignidade, como certas coisas
úteis e outras ainda deleitáveis. Pode, entretanto, fazer-se a sorites
de enunciações universais, como: todo o homem é animal; todo o animal
é vivente; todo o vivente é substância; logo, todo o homem é substância.

est contra hypothesim: ponimus siquidem priores duas consequentias esse bonas. Pos­
sunt autem in hoc concludendi genere multo plures, quam tres, iungi consequentice.
Semper enim extremum consequens colligetur ex primo antecedente: ut si dicas...
H 24-H 25 — omne quod modo aliquo bonum esset...
350 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

omnis homo est substantia. Sed heee de regulis generalibus consequentia­


rum videntur satis. Iam ad argumentationem, quce tertius disserendi
modus est, aggrediamur.

De Argumentatione

CA P V T 6

Argumentatio ex argumento, quod est eius quasi mens, nomen invenit. A


Dicitur enim Cicerone autorea, argumenti explicatio. Planius tamen
et vis vocabuli, et natura rei hac definitione perspici potest Argumentatio
est oratio, in qua ex argumento explicato altera pars queestionis conclu­
Argumentum est
mens argumentatio­ ditur. Argumentum est inventum quid ad faciendam fidem, hoc est, B
nis.
a In partitionibus.
medium, quod assumitur ad aliquid probandum. Qucestio est in dubi­
Argumentatio quid. tationem ambiguitatemque adducta enunciatio Quce quidem utramque
Argumentum.
Quaestio. partem contradictionis complectitur, affirmationem scilicet, et negatio­
b Boet. 1. de diffe. nem, alteram expresse, alteram implicite: ut, Sitne omnis virtus antepo­
top.
nenda opibus, an noni Estque omnis qucestio aut universalis, ut quce C
dicta est: aut particularis, ut si dicas, Utrum aliquis pauper sit felix,
necne? quce duo genera dicuntur Theses: aut singularis, ut, Num Socrates
Theses.
Hypothesis.
sine nota criminis cicutam hauserit, quce dicitur Hypothesisc. Tunc
c Vide Cie. in par­ autem argumentum explicari dicitur, cum sic oratione dilatatur, ut ad
titionibus.
Quo pacto argumen­ institutum confirmandum aptetur. Exempli causa, si proposita sit prima D
tum explicari dicatur.
illa qucestio, Sitne omnis virtus opibus anteponenda, an noni velis[que]
affirmativam partem confirmare, necesse est primum exquiras argu­
mentum mediumve ad id efficiendum. Quod si inveneris virtutis defini­
d 2. ethi. 6.
tionem, intellexerisque virtutem natura sua esse habitum, qui bonum
efficit habentem, et opus eius bonum r e d d i t i a m habebis argumentum.
Est enim medium hoc accommodatissimum ad institutum concludendum.
Si vero argumentum repertum ita oratione dilataveris, ut dicas, Omnis
habitus, qui bonum efficit habentem, et opus eius bonum reddit, est opibus
Consequenti® caren­
tes medio non sunt
anteponendus, omnis autem virtus est huiusmodi habitus, igitur omnis
argumentationes. virtus est opibus anteponenda, effeceris tandem argumentationem. Dixi­
mus nanque argumentationem esse orationem, in qua ex argumento expli­
cato altera pars queestionis concluditur. Reiiciuntur ergo a definitione E

D 1-D 2—proposita prima illa quastione, Sitne...


D 3-D 4 — necesse est exquiras medium ad id efficiendum...
D 4-D 6 — definitionem, hoc est, Esse habitum, qui bonum efficit habentem...
E 1-E 2 — Reiiciuntur ab hac definitione consequentia...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 351

O que fica dito parece ser o suficiente a respeito das regras gerais
das consequências. Passemos agora à argumentação, que é o ter­
ceiro modo de discorrer.

Capítulo 6

Da argumentação

A A argumentação tira o seu nome de argumento, que é como que a


sua alma. Diz-se, efectivamente, segundo Cíceroa, a explicação do
argumento. Pode perceber-se mais claramente não só a força do
vocábulo como também a natureza da coisa, com esta definição: a argu­ O argumento é a
mentação é a oração na qual, de um argumento explicado, se conclui alma da argumenta­
ção.
a outra parte da questão. a Nas Partições.
B O argumento é urna coisa encontrada para fazer fé, isto é, um meio Que é a argumenta­
ção.
que se toma para provar alguma coisa. Questão é a enunciação adu­
zida para formular uma dúvida ou ambiguidade. Abrange b ambas as Argumento.
Questão.
partes da contradição, isto é, a afirmação e a negação, expressamente b Boécio, Das Di­
uma, e implicitamente a outra, como: deve ou não antepor-se a virtude ferenças dos Tópi­
cos, 1.
C à riqueza? Toda a questão é ou universal, como a que foi mencionada,
ou particular, como esta: é ou não feliz algum pobre ? Estes dois géneros
Teses.
chamam-se teses; ou singular, como: teria Sócrates bebido a cicuta sem
o labéu de crime C1 Esta chama-se hipótese. Hipótese.
D Explica-se o argumento quando se desdobra numa oração, de modo c Ver Cícero nas
Partições.
que esteja apto a confirmar o que se pretende. Por exemplo: se for De que modo se diz
que se explica o ar­
proposta aquela primeira questão deve ou não antepor-se a virtude à gumento.
riqueza? e se se quiser confirmar a parte afirmativa, é necessário pro­
curar primeiro um argumento como meio para o conseguir. Se se encon­
trar a definição de virtude, e se entender que a virtude, por sua natureza, d Ética, II, 6.

é um hábito que torna bom o que o tem, e torna boas as suas obrasd,
ter-se-á já um argumento. Este é, na verdade, um meio muito apto
para concluir o que se pretende. Mas, se se desdobrar numa oração o
argumento encontrado, de modo a que se diga: todo o hábito que
torna bom o que o tem e torna boas as suas obras deve antepor-se às
riquezas, toda a virtude é um hábito desta natureza, logo toda a vir­
As consequências que
tude deve antepor-se às riquezas—ter-se-á finalmente a argumentação. carecem de termo
Dissemos, com efeito, que a argumentação é a oração na qual, médio não são argu­
mentações.
de um argumento explicado, se conclui uma das partes da questão.
E Excluem-se, por conseguinte, da definição todas as consequências que
352 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

argumentationis consequentice omnes carentes medio, ut cum qucelibet


enunciatio ex se ipsa colligitur, aut una cequipollentium ex alia: aut ex
universali particularis, aut ex conversa convertens: quas supra diximus
non esse argumentationes. Cum enim huiusmodi consequentice medium
non assumant ad aliquid concludendum, argumento careant necesse est:
quo fit ut argumentationes dici non possint. Reiiciuntur etiam argumen- F
lationes ex aperte falsis; quce, etsi modo aliquo argumentationes dici
possunt, eo quod ex medio assumpto aliquid concludunt, ut si dicas, Omnis
Argumentationes ex equus est lapis, omnis leo est equus, igitur omnis leo est lapis, tamen
aperte falsis non trac­
cum nihil suadeant, non sunt argumentationes, de quibus agat Dialecticus,
tantur a Dialectico,
nisi ratione formae. nisi quatenus formam argumentationum participant. Reiiciuntur ergo,
quia medium, quod assumunt, non est argumentum, cum nullam faciat
consequentis fidem. Ilice igitur consequentice duntaxat tradita defini­
tione comprehenduntur, quce et medio constant, et ex antecedente necessa­
Quas consequentias
comprehendat tradita rio, aut probabili, aut quocl tale esse videatur, ad faciendam qualemcunque
definitio argumenta­ fidem, assensionemve consequentis comparata sunt. Hoc genus, prceser- G
tionis.
tim cum ex necessariis, aut probabilibus aliquid concludit, vocatur ab
Aristotele nunc e άπόδειξις, id est demonstratio, late accepto demonstra­
e Ut 1. Rhe.
Ad Thco. 1. Cice tionis vocabulo: nuncf πίστις, hoc est, fides, seu probatio: nunc & λόγος,
etiam. 2. Aca. primae hoc est, ratio. Solet etiam passim apud. Dialecticos appellari argumen­
acdit. ita appellat.
/ Ut 2. prior. 23. tum, eo quod totum argumentationis robur in argumento positum sit.
et. 1. top. 7.
g Ut 1. top. 10.
et passim lib. 8.

De inventione et indicio

CA P V T 7

Cum igitur argumentatio sit oratio, in qua ex argumento explicato A


altera pars quaestionis concluditur, ut diximus, perspicuum sane est,
ad structuram argumentationis duo esse necessaria. Alterum est inven­
a Ut Cice. in top. tio argumentorum: alterum, accommodatio eorum ad institutum con­
quem per multi se­
quuntur.
firmandum, quce vocatur indicium. Et inventio quidem suppeditat mate­
riam, iudicium [vero] adhibet formam. Onde cum forma rei, quce arte B
conficitur, sine materia esse non possit, plurimi suntà, qui dicant,
necesse esse, ut prius de inventione, quam de iudicio disseratur.

F 8 - F 9 — duntaxat hac definitione...


G 5-G 6 — ratio. Scepe etiam argumentum appellatur, eo quod...
G 6 — Argumentatio scepe dicitur argumentum, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 353

carecem de termo médio, como quando alguma enunciação conclui


de si mesma, ou de uma das equipolentes de outra, ou uma particular
de uma universal, ou uma convertente de uma convertida, as quais
— dissemo-lo atrás — não são argumentações. Efectivamente, uma
vez que as consequências deste género não se servem de um termo médio
para concluir alguma coisa, carecem necessàriamente de argumento,
pelo que não podem chamar-se argumentações.
F Excluem-se ainda as argumentações de enunciações manifesta­
mente falsas, as quais, embora de algum modo possam chamar-se
argumentações, por concluírem alguma coisa através de um termo
médio assumido, como: todo o cavalo é pedra, todo o leão é
As argumentações
cavalo, logo todo o leão é pedra — todavia, como nada persuadem, procedentes de coisas
não são argumentações de que trate o dialéctico, a não ser enquanto manifestamente fal­
sas não são conside­
participam da forma das argumentações. Excluem-se, pois, porque radas pelo dialéctico,
o termo médio, que tomam, não é argumento, uma vez que não traz a não ser em razão
da forma.
nenhuma fé ao consequente.
São abrangidas, portanto, pela definição dada, apenas as conse­
quências, que constam de um médio e de um antecedente necessário
Que consequências
ou provável ou que assim pareça ser e que são comparados para dar compreende a de­
G qualquer fé ou assentimento ao consequente. A este género, sobre­ finição dada de ar­
gumentação.
tudo quando conclui alguma coisa de coisas necessárias ou prováveis,
chama Aristóteles ora e ânóôειξις, isto é, demonstração, tomando em
e Por ex. Retó­
sentido lato o vocábulo demonstração, ora/ πίστις, isto é , f é ou prova, rica a Teodoreto, I, 1.
ora^ λόγος, isto é, razão. Entre os dialécticos, costuma ainda, a cada Também Cícero,
Académicos, II, pri­
passo, chamar-se-lhe argumento, porque no argumento reside toda a meira edição.
/ Por ex. nos Pri­
força da argumentação. meiros Analíticos, II,
23; e Tópicos, I, 7.
g Por ex. Tó­
picos, I, 10 e expres-
C a p í t u l o 7 samente no livro
VIII.

Da invenção e do juízo

A Uma vez que, portanto, a argumentação é, como dissemos, a oração


em que, de um argumento explicado, se conclui uma parte da questão,
é evidente que, para a estrutura da argumentação, duas coisas são
necessárias: uma é a invenção dos argumentos; outra é a sua colocação
a Por ex. Cícero
para confirmar o que se pretende e que se chama juízo. A invenção nos Tópicos, que
subministra a matéria, o juízo dá-lhe a forma. muitíssimos seguem.

B Porque a forma de uma coisa, forma essa que lhe é dada pela
arte, não pode existir sem a matéria, vários ° há que dizem que deve
falar-se primeiramente da invenção e, só depois, do juízo. Seguindo
23
354 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Quibus ego cum Aristotele non prorsus assentior. Nam etsi ad


conficiendam argumentationem prius exquirendum est argumentum, et
inveniendum, quam ad qucestionem aptetur, tamen ut argumentationum
forma intelligantur non est necesse ante tenere, qua via, et ratione
inveniri possint argumenta ad quancunque quaestionem tractandam.
Satis enim erit si in confectis iam argumentationibus eiusmodi forma
Num prius de inven­ ostendatur. Quin etiam cum forma omnium argumentationum, de
tione agendum sit
quibus Dialecticus agit non differant a formis earum, qua ex aperte
quam de iudicio.
falsis enunciationibus constant, non dubium est, quin sumptis quibus­
cunque vocibus, ignorata prorsus universa inveniendi ratione, forma
earum, et tractari plane, et perfecte inteUigi possint. Mitto quod multa
necesse est dicere in tradenda inventione argumentorum, qua, nisi argu­
mentationum formas perspectas habeas, minime assequaris, ut patebit
in progressu: cum tamen ut huiusmodi forma intelligantur nihil necesse
sit ex inventione mutuari. Non est igitur cur prius inventio argumentorum
Duplex iudicium. tradenda sit, quam indicandi ratio attingatur. Sed animadvertendum est C
Prior iudicii pars di­ duplex iudicium a Dialectico tradi oportere: alterum, quo quisque sciat
citur ab Aristo, άνά-
λνσις, id est, resolu­
singulas construere argumentationes: alterum quo intelligat, qua methodo,
tio : posterior τάξις, et via argum nta omnia, qua ad aliquid tractandum assumuntur, inter se
id est, ordo.
Prior iudicii pars ante disponenda sint. Quanquam ergo prior iudicii pars ante inventionem
inventionem traden­ tradi debeat, ut diximus: posterior tamen, nisi post inventionem, tradi
da est: posterior post
inventionem. non potest. Inventione siquidem docetur varietas argumentorum, quam
qui ignoraverit, ordinem in argumentis constituere non valebit. Nos
b In lib. prio. post,
et top. igitur cum. Aristotele b, sive in tractanda argumentatione in commune,
sive cum de demonstratione, ac syllogismo Dialectico disseremus, prius
eam iudicii partem, qua singularum argumentationum constructio intelli-
c [Ab] Arist. 8. gitur, quam inventionem argumentorum trademus. Quibus exactis, ad
top. 1
d [Α] Cice. in part. posteriorem, quce tum ordo c, tum collocatio d, tum dispositio e, et metho­
e [Α] Qxiint. Ii. 6. dus appellatur, veniemus.
cap. I.

C 8-C10 — Sic fecit Arist. in lib. prio., post, et top.. (cota marginal).
C 13 — Ari. 8. top. 1.. Ordinem: Cice. hi part. collocationem: Quint. lib. 6.
cap. 1. dispositionem, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 355

Aristóteles, não estou inteiramente de acordo com eles. É que, embora,


para fazer a argumentação, deva procurar-se e encontrar-se o argu­
mento, antes de aplicar-se à questão, todavia, para se entenderem as
formas de argumentações, não é necessário saber antes por que via e
método se podem encontrar argumentos para tratar qualquer questão.
Será suficiente que, em argumentações já feitas, se tenham mostrado for­
mas do mesmo género. Além disso, como as formas de todas as argu­
mentações, de que trata o dialéctico, não diferem das formas daquelas
que constam de enunciações manifestamente falsas, não há dúvida Se deve tratar-se pri­
meiro da invenção e
de que, tomando-se quaisquer palavras, ignorando embora todo o depois do juízo.
método de invenção, as suas formas podem não só tratar-se claramente
como também serem perfeitamente entendidas.
Porque é necessário dizer muita coisa ao ensinar a invenção
dos argumentos, omito o que de modo algum se entenderá, a não ser
que se tenham percebido as formas das argumentações, como se verá
pelo desenvolvimento; não é, no entanto, preciso ir pedir nada à inven­
ção para se perceberem formas deste género. Não há, pois, motivo
que obrigue a tratar primeiramente da invenção dos argumentos e,
só depois, do método de julgar.
Deve notar-se, contudo, que o dialéctico ensina duas espécies de
juízo: um com o qual saiba cada um constituir cada argumentação;
outro com o qual entenda cada um o caminho metódico para dispor
entre si todos os argumentos que se tomam para provar alguma
coisa.
Embora, como dissemos, a primeira espécie de juízo deva ensinar-se Duplo juízo.
A primeira parte do
antes da invenção, a segunda, porém, não pode ensinar-se senão depois juízo é chamado por
da invenção. Porque a variedade dos argumentos se ensina pela inven­ Aristóteles άνάλνσις,
isto é, análise; a se­
ção, ninguém que a ignore poderá pôr ordem nos argumentos. Nós, gunda τάξις, isto é,
portanto, com Aristóteles b, quer ao tratar da argumentação em comum, ordem.
A primeira parte do
quer quando discorrermos acerca da demonstração e do silogismo juízo deve apresen­
dialéctico, ensinaremos aquela espécie de juízo por que se entende a tar-se antes da in­
venção; a segunda,
construção de cada argumentação, antes da invenção dos argumentos. depois da invenção.
Feito isto, passaremos à segunda, que se chama ou ordem c, ou coloca­ b Nos livros dos
ção d, ou disposiçãoe ou método. Primeiros e Segundos
Analíticos e nos Tó­
picos.
c Por Aristóteles,
Tópicos, VIII, 1.
d Por Cícero, nas
Partições.
e Por Quintiliano,
livro VI, cap. 1.
356 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Divisio argumentationis et definitio syllogismi simplicis

C A P V T 8

Argumentatio scepe ab Aristotele in quatuor genera dividitur, in A


syllogismum, inductionem, enthymema et exemplum: alias in duo tantum
priora, quod enthymema sit imperfectus syllogismus, et exemplum inductio
a Lege Arist. 2. imperfecta a. Sed nos priorem divisionem ut magis perspicuam, et vul­
prio. 23. et 1. post. gatam persequemur. Syllogismus ergo, qui Latine ratiocinatio dicitur,
1. et 1. top. 10 et
aut est simplex, sive categoricus, aut coniunctus, sive hypotheticus.
1. Rhet. ad Theod. 2.
Syllogismus, seu ra­ Simplex igitur sive categoricus syllogismus, autore Aristotele est oratio, B
tiocinatio. in qua quibusdam positis aliud quiddam ab iis, quce posita sunt, ex necessitate
Simplex sillogismus, accidit, eo quod hcec sunt. Cum audis Quibusdam, intellige quam paucis­
sive categoricus, quid.simas enunciationes simplices quas solas Aristoteles paulo ante definierat.
b 1 . prio. 1 .
Quibusdam. Satis autem sunt duce, ut paulo inferius c ostendemus. Adiectum est, C
c Cap. 10. Positis, id est concessis {quce est gravissimorum autorum interpretatiod
Positis. imo etiam videtur Aristotelis primo ad Theodecten libro è) quia syllogis­
d Ut Alexan. mus, cum sit argumentatio, atque adeo potissimum eius genus, fidem
Aphrod. et Aver. eo­ faciat necesse est, atque ita ex concessis ad id, quod non conceditur,
dem loco: et Boet. lib. f
2. de catego. syllog. progrediatur. Quod et ex generibus, in quce dividitur syllogismus
et D. Tho. opus. 48. {Demonstratione, inquam, Syllogismo Dialectico, Pseuclographo, et
e Cap. 2. Sophistico) quce omnia ad fidem aliquam, seu assensionem ex concessis
f 1. topi. 1. efficiendam comparata sunt, plane colligitur. Concessa autem, et con­
Concessa quae. fessa sunt, quce aut necessaria, aut probabilia videntur, sive revera talia
Aliud quiddam. sint, sive non sint, sed modo videantur. Cum audis Aliud quiddam ab iis,
quce posita sunt, intellige conclusionem diversam a qualibet promissarum
sive prcecurrentium propositionum, atque ita diversam, ut careat argumento,
Ex necessitate acci­ quod [tamen] neutra illarum careat. Ex necessitate accidere idem, est
dit. quod necessario sequi, atque concludi. Eo quod hcec sunt nihil aliud
Eo quod haec sunt.
significat, quam vi formce.

B 4-C 1 — simplices. Frustra nanque plura adhibenda sunt, ubi pauciora suf­
Alexand. ficiunt. Satis autem...
C16-C 41 — quam ex vi formce. Sic enim brevissime complector horum ver­
borum vim. Hcec autem particula iccirco addita est, quia syllogismus simplex non
Quae reiiciantur a de­ concludit tantum ex necessitate materice, ut alice plerceque argumentationes, sed etiam
finitione syllogismi. ex necessitate forma:, seu modi colligendi. Si ergo verbis huius definitionis vis ordine
separare a syllogismo simplici cañera omnia, hunc ordinem tene. Cum dicitur Oratio,
reiice voces simplices. Cum dicitur In qua aliud sequitur reiice omnes orationes, quce
non sunt consequentia, imo et omnes consequentias, quce non sunt argumentationes.
Cum dicitur Positis, reiice omnes argumentationes ex aperte falsis, quarum antecedentia
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 357

Capítulo 8

Divisão da argumentação e definição de silogismo simples

A A argumentação é, muitas vezes, dividida por Aristóteles em


quatro géneros: silogismo, indução, entimema e exemplo; outras, apenas
nos dois primeiros, visto o entimema ser um silogismo imperfeito,
e o exemplo uma indução imperfeita a. Mas nós seguiremos a primeira a Ler Aristóteles,
divisão como mais clara e mais divulgada. Primeiros Analíticos,
II, 23; e Segundos
O silogismo, pois, que em latim se chama raciocínio, é ora simples Analíticos, I, 1 e
ou categórico, ora composto ou hipotético. Tópicos, I, 10; Retó­
rica a Teodoreto, 1,2.
B O silogismo simples ou categórico, segundo Aristóteles é a oração Silogismo ou racio­
na qual, postas algumas coisas, surge necessariamente qualquer outra cínio.
coisa delas diferente, só pelo facto de serem estas. Pela expressão Que é o silogismo
simples ou categó­
algumas coisas entenda-se muitíssimo poucas enunciações simples, rico.
apenas as que Aristóteles definira um pouco antes. São suficientes b Primeiros Ana­
líticos, I, 1.
C duas, como um pouco abaixo c mostraremos. Juntou-se postas, isto é, Algumas coisas.
concedidas (interpretação d esta que é de autores scriíssimos e parece c Capítulo 10.
Postas.
mesmo ser a de Aristóteles no primeiro livro a Teodoreto e), ]3orque é d Por ex. Alexan­
necessário que o silogismo, sendo uma argumentação, e a mais impor­ dre de Alfrodísia e
Averróis, no mesmo
tante no seu género, faça fé e que assim avance de coisas concedidas lugar; c Boécio, li­
para aquilo que se não concede. Isto depreende-se ainda claramente vro II do Silogismo
Categórico, e S. To­
dos géneros em que se divide o silogismo/ (falo da demonstração, do más, Opúsculo 48.
silogismo dialéctico, do pseudógrafo e do sofístico), que são, todos eles, e Capítulo 2.
/ Tópicos I, 1.
empregados para fazer alguma fé ou assentimento, a partir de coisas Que são as coisas
concedidas. Coisas concedidas ou estabelecidas são ciquelas que pare­ concedidas.
Qualquer outra coisa.
cem necessárias ou prováveis, quer o sejam de facto, quer não, contanto
que o pareçam. Pela expressão qualquer outra coisa delas diferente,
entenda-se uma conclusão diferente de qualquer das premissas ou pro­ Surge necessàriamen­
posições, que vêm antes, e de forma tão diversa que carece do argumento te.
Só pelo facto de se­
de que, porém, nenhuma das outras carece. Surgir necessàriamente rem estas.
é o mesmo que concluir-se e seguir-se necessàriamente. Só pelo facto
de serem estas nenhuma outra coisa significa senão: por força da forma. Omnis syllogismus
necessario concludit:
non tamen omnis ne­
a nemine ponuntur, sive conceduntur. Cum dicitur Necessario, reiice omnes consequen­ cessariam colligit
tias probabiles. Omnis enim syllogismus est consequentia necessaria, non quod omnis conclusionem.
necessariam colligat conclusionem (multi enim colligunt non necessarium, ut syllogismus
dialecticus, pseudographus, et sophisticus) sed quia omnis necessario concludit sive neces­
sariam conclusionem, sive probabilem, sive quce talis esse videatur. Cum dicitur Eo
quod hcec sunt, reiice omnes argumentationes necessarias ex vi materice duntaxat.
Cum dicitur Quibusdam, id est, quam paucissimis, seu duabus simplicibus enun-
358 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Ita patet quid sit syllogismus simplex, et quo pacto illius definitio
intelligenda sit. Quod si vis per particulas definitionis ordine reiicere
omnia, quce reiicienda sunt, hunc in modum dispone definitionem. Syllogis­
mus est oratio, in qua aliud quiddam ex necessitate, ac vi formce sequitur,
positis quam paucissimis simplicibus enunciationibus. Cum ergo Syllo­
gismus dicitur, Oratio, reiiciuntur voces simplices. Cum additur, In
qua aliud sequitur, reiiciuntur omnes orationes, quce non sunt consequen tice,
imo et omnes consequentia, qua non sunt argumentationes. Itaque his dua­
bus particulis solee argumentationes comprehenduntur, late tamen accepto
argumentationis nomine, utpote ut eas etiam complectitur, quce constant
aperte falsis, nec continent argumentum ullo modo aptum ad faciendam
fidem. Cum vero additur, Necessario, reiiciuntur omnes argumentationes
probabiles. Omnes enim syllogismi sunt consequentiae necessaria, non
quod omnes necessariam conclusionem colligant {multi enim colligunt
non necessariam, ut Dialecticus, Pseudographus, et Sophisticus) sed quia
omnes necessario concludunt, sive necessariam conclusionem sive proba­
bilem, sive, quce necessaria, aut probabilis esse videatur. Cum deinde
addicitur, Ac vi formce, reiiciuntur omnes argumentationes necessaria
ex vi solius materia. Cum porro additur, Positis, reiiciuntur ex argu­
mentationibus necessariis ratione forma omnes ilice, qua constant ex
aperte falsis, siquidem aperte falsa non sunt apta, ut ponantur, sive con­
cedantur. Cum denique additur, Quam paucissimis, seu {quod idem
est) duabus simplicibus enunciationibus, reiiciuntur syllogismi tum hypo­
thetici {quorum singuli tres minimam simplices enunciationes ante conclu­
[g Cap. 32.] sionem pramittunt, ut inferius § patebit) tum etiam simplices conglobati
Syllogismi conglo­ {qualis hic est, Omne corpus est substantia, et omne vivens est corpus,
bati.
et omne animal est vivens, igitur omne animal est substantia) eo quod
pluribus, quam duabus sumptionibus constent. Hi vero [complicati
syllogismi] necessario reiiciendi erant, quia nullus eorum est simpliciter
unus syllogismus, sed plures complicati.

dationibus, reiice syllogismos hypotheticos, qui quidem tres minimum simplices enun­
ciationes ante conclusionem pramittunt, ut inferius docebimus. Reiice quoque Syllo­
gismos simplices conglobatos, qualis hic est.
C 42-C 43 — substantia: quia pluribus, quam duabus sumptionibus constant. Hi...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 359

Assim se torna evidente o que é o silogismo simples e o modo de


entender a sua definição. Mas se, pelas partículas da definição, se quiser
rejeitar por ordem tudo o que deve rejeitar-se, disponha-sc desta maneira
a definição: silogismo é a oração, na qual alguma outra coisa se segue
necessàriamente e por força da forma de muitíssimo poucas enunciações
simples postas. Quando, pois, se chama ao silogismo oração, rejeitam-se
as palavras simples. Quando se junta outra coisa se segue, rejeitam-se
todas as orações que não são consequências, mais ainda, todas as
consequências que não são argumentações. Portanto, por estas par­
tículas, só são compreendidas as argumentações, tomando em sentido
lato o termo argumentação, isto é, abrangendo também as que constam
de coisas manifestamente falsas e que não contêm argumento de modo
algum apto para fazer fé. Quando se junta necessàriamente, rejeitam-se
todas as argumentações prováveis. Efectivamente, todos os silogismos
são consequências necessárias, não porque tirem todos uma conclusão
necessária (muitos, na verdade, não a tiram necessária, como o dialéc­
tico, o pseudógrafo e o sofístico), mas porque todos concluem necessària­
mente, quer uma conclusão necessária, quer provável, ou que parece
ser necessária ou provável. Quando, além disso, se junta e por força
da forma, rejeitam-se todas as argumentações necessárias por força
só da matéria. Quando se junta ainda postas, rejeitam-se, das argumen­
tações necessárias em razão da forma, todas as que constam de coisas
manifestamente falsas, pois, coisas manifestamente falsas não são aptas
a porem-se ou a concederem-se. Quando, por último, se junta muitís­
simo poucas, ou (o que é o mesmo) duas enunciações simples, rejeitam-se
os silogismos quer hipotéticos (cada um dos quais põe pelo menos três
enunciações simples antes da conclusão, como adiante s se verá), quer g Cap. 32.
ainda os simples conglobados (como é este: todo o corpo é substância, Silogismos congloba­
dos.
e todo o vivente é corpo, e todo o animal é vivente, logo todo o animal
é substância), pelo facto de constarem de mais de duas proposições.
Estes silogismos complicados deviam, com efeito, rejeitar-se necessària­
mente, pois nenhum deles é um silogismo simplesmente, mas vários
[silogismos] encadeados.
360 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

De materia syllogismi

CA P V T 9

Syllogismus simplex, aut est absolutus, aut modalis. Absoluti A


materia duplex: propinqua, et remota. Materia propinqua sunt proposi­
tiones, ex quibus proxime syllogismus extruitur: remota vero sunt termini
Materia propinqua. ex quibus conficiuntur propositiones. Propositio est oratio, qua aliquid
Remota.
de aliquo affirmat, aut negat à: ut, Omnes virtus est amplectenda: Nulla
Propositio.
a I. pri. 1.
virtus est repudianda. Diciturque propositio, quia in argumentatione
ad aliquid concludendum proponitur. Terminus vero est, in quem resolvitur B
Terminus. propositio. Huiusmodi est solum prcedicatum, et subiectum propositionis,
ut Amplectenda, et Virtus in priori propositione. Nam verbum est, C
Verbum est ut nec­
cum sit forma propositionis, non est pars, in quam propositio resolvatur, b
tit praedicatum cum
subiecto non est ter­ nulla siquidem res artificiosa resolvitur in materiam, et formam, sed
minus. solum in partes materia, quas quidem remanent post resolutionem: ut
b In quas partes di­
cantur resolvi res domus non resolvitur in materiam, et figuram, sed solum in partes materiae,
artificiosas. hoc est, in lapides, calcem, ligna, et tegulas, quee permanent dissoluta
Alex, et Averro, eode domo. Sic igitur, cum verbum est, qua ratione copulat prcedicatum cum
loco, et Boet. 1. de
syll. catego. subiecto, seu adsignificat eorum compositionem, et coniunctionem, non
c 1. peri. 3. maneat dissoluta propositione, seu nequeat intelligi, ut ait Aristoteles c,
Propositio qua pro­ efficitur ut non sit pars, in quam propositio resolvatur, ac proinde non
positio est in duas sit terminus. Quanquam vero propositio, quatenus oratio est, in plures D
tantum partes resol­
vitur. partes, quam in duas, resolvi possit {haec enim, Homo sapiens est dives,
resolvitur in tres, hac vero, Calain supremum est corpus maximum,
resolvitur in quatuor, et alia multo plures) tamen quatenus est propositio,
hoc est, quatenus aliquid de aliquo affirmat, aut negat, in duas tantum
Divisiones termino­ dissipatur, in eam, qua affirmatur aut negatur de altera, et in eam, de
rum.
qua altera affirmatur, aut negatur: qua sunt pradicatum, et subiectum.
Huc iam pertinent divisiones illa terminorum, quas iuniores initio suarum E
summularum inculcant. Alii enim sunt simplices sive incomplexi, ut
nomina, et verba alii coniuncti, sive complexi, ut definitiones, et alia
pleraque orationes. Simplices vero dicuntur tum aquivoci {analogos
intellige) tum univoci, tum concreti, tum abstracti, tum communes, tum
singulares, et identidem aliis, atque aliis nuncupationibus, quibus in initio
diximus nomina generali significatione accepta apellari. Dicuntur porro

A 1-A 2 — modalis. Simplicis materia...


A 4 — Propositio quid, (cota marginal).
C l — u t Laudanda, et Virtus...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 361

Capítulo 9

Da matéria do silogismo
A O silogismo simples é absoluto ou modal.
A matéria do silogismo absoluto é dupla: próxima e remota.
Matéria próxima são as proposições de que próximamente se compõe Matéria próxima.
o silogismo; matéria remota são os termos de que se compõem as pro­ Remota.
Proposição.
posições.
Proposição é a oração que afirma ou nega alguma coisa de outra a, a Primeiros Ana­
como: toda a virtude deve ser abraçada; nenhuma virtude deve ser líticos, I, 1.
repudiada. Chama-se proposição porque na argumentação se propõe
para concluir alguma coisa.
B Termo é aquilo em que se desdobra a proposição. São-no somente Termo.
o predicado e o sujeito da proposição, como «deve ser abraçada» e
C «virtude», na primeira proposição. Na verdade, é, sendo a forma da A palavra é, como
proposição, não é parte em que se desdobre a proposição b, pois nenhuma liga o predicado ao
sujeito, não é termo.
coisa artificial se desdobra em matéria e forma, mas só cm partes de b Em que partes
matéria, que permanecem depois do desdobramento, da mesma maneira se dizem desdobra­
que casa se não desdobra em matéria e figura, mas só em partes de rem-se as coisas arti­
matéria, isto é, em pedra, cal, madeiras e telhas, que permanecem, ficiais.
desfeita a casa. Assim, pois, visto que a palavra é, que liga o predicado Alexandre e Aver-
ao sujeito, ou significa a sua junção e união, não permanece ou não pode róis, no mesmo lu­
gar; eBoécio, Livro 1
enten der-se, desfeita a proposição, como diz Aristóteles c, segue-se
do Silogismo Categó­
que não é urna parte em que se desdobre a proposição, e, portanto, rico.
que não é termo. c Da Interpreta­
D Embora a proposição, enquanto é oração, possa dividir-se em mais ção, I, 3.
que duas partes (efectivamente, esta: o homem sábio é rico divide-se
em três; o céu supremo é o maior corpo divide-se em quatro e outras em
muitas mais), todavia, enquanto proposição, isto é, enquanto afirma A proposição, en­
ou nega alguma coisa de outra, divide-se apenas em duas partes: aquela quanto proposição,
divide-se apenas em
que se afirma ou nega de outra, e aquela de que a outra se afirma ou duas partes.
nega, as quais são, aliás, o sujeito e o predicado.
E A este lugar pertencem já aquelas divisões dos termos que os Divisões dos termos.
modernos inculcam no início das suas súmulas. Uns são simples ou
incomplexos, como os nomes e os verbos, outros, compostos ou com­
plexos, como as divisões e várias outras orações. Chamam-se simples,
quer os equívocos (entenda-se análogos), quer os unívocos, quer os
concretos, quer os abstractos, quer os comuns, quer os singulares e
outros semelhantes com outras designações, aos quais, no princípio,
dissemos dar-se a designação de nomes de significação geral recebida.
362 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

termini hoc nomine, quia in ipsos terminatur, ac finitur resolutio syllo­


gismi, ut initio diximus d: vel quia hisce propositio terminatur, ac finitur e.
Alio modo materia syllogismi absoluti quadruplex dicitur: Necessaria,
[d 1. lib. cap. 18.
Cur termini hoc no­ probabilis, et quee nec necessaria, nec probabilis sit, sed tamen aut neces­
mine appellentur]. saria, aut probabilis esse videatur. Sed cum syllogismus absolutus in
e Alexand. [ibi­ commune nullum ex his quatuor generibus materice sibi determinate
dem].
Alia divisio materiae assumat sed ex quomodocunque concessis componatur, nil amplius hoc
in quatuor genera. loco de hac materia dicemus. Priora vero duo genera, quee totum genus
syllogismorum, de quibus nunc agimus determinate sibi vendicat, planius
adhuc tractanda, et explicanda sunt.

Quot sint termini et enunciationes in syllogismo


et quomodo appellentur

C Λ P V T 10

Omnis syllogismus absolutus tribus duntaxat terminis, et duabus


a 1. pri. 25. et 26.
propositionibus a, unaque conclusione constet necesse est. Nam conclusio,
quee ante quam probetur, in dubitationem ambiguitatemque adducitur,
duobus tantum terminis perspicue constat, suo (inquam) prcedicato et
subiecto. Ad iudicandum autem num prcedicatum conclusionis vere affir­
metur, aut negetur de subiecto, unum argumentum, sive medium satis est.
Hoc autem medium semel iungendum est in antecedente cum prcedicato
conclusionis, semel cum subiecto, ut quo modo extrema conclusionis ad
illud se habuerint, eodem inter se affecta esse concludatur. Ex singulis
vero coniunctionibus medii cum extremis singulce struuntur propositiones.
Ubi sunt plures,
quam tres termini Igitur ad structuram syllogismi salis sunt tres termini, duceque propositiones,
plures quoque sunt ex quibus conclusio colligatur. Qua propter si in argumentatione aliqua,
argumentationes. quee primo aspectu unus syllogismus videatur, fuerint plures, quam, duce
b Arist. ibidem.
propositiones, aut certe plures, quam tres termini, eiusmodi argumentatio
non erit revera unus syllogismus, sed plures complicatib, aut diversa
argumentationum genera permista: ut si dicas, Omne corpus est substantia,
et omne vivens est corpus, et omne animal est vivens, igitur omne animal
est substantia: et rursum, Omne vivens est corpus, et omne animal est
vivens, igitur omne animal est substantia. Prior namque argumentatio
constat ex sumptionibus duorum syllogismorum, posterior autem ex sum-

G6 — materia dicimus. Priora...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 363

F Além disso, os termos designam-se por este nome, porque neles se


termina e se acaba o desdobramento do silogismo, como no princípio
dissemos d, ou porque, com eles, se termina e acaba a proposição e.
G Por outro lado, a matéria do silogismo absoluto é de quatro espécies: d Livro I, cap. 18.
necessária, provável, não necessária nem provável, mas que parece Porque é que os ter­
mos se designam por
necessária ou provável. Porém, como, em geral, o silogismo absoluto este nome.
não assume para si determinadamente nenhum destes quatro géneros e Alexandre, no
de matéria, mas se compõe de coisas concedidas de qualquer modo, mesmo lugar.
Outra divisão da ma­
nada mais diremos neste lugar acerca da matéria. Os dois primeiros
téria em quatro gé­
géneros, que reivindicam para si determinadamente todo o género de neros.
silogismos, de que agora tratamos, devem ainda ser tratados e explica­
dos mais claramente.

Capítulo 10

Quantos são os termos e as enunciações


no silogismo e como se designam
A Todo o silogismo absoluto consta necessàriamente apenas de três
termos, de duas proposiçõesa, e de uma conclusão. Com efeito, a Primeiros Ana­
líticos, I, 25 e 26.
a conclusão que, antes de ser provada, se aduz como duvidosa e ambígua,
consta manifestamente de dois termos apenas, isto é, do predicado e
do sujeito.
Para julgar, porém, se o predicado da conclusão se afirma ou nega,
com verdade, do sujeito, basta apenas um argumento ou [termo] médio.
Este [termo] médio deve juntar-se, no antecedente, umas vezes com o
predicado da conclusão, outras vezes com o sujeito, de tal maneira que,
do modo por que os extremos da conclusão se relacionarem com ele,
se conclua que do mesmo modo se relacionam entre si. Da união do
médio com os extremos, nasce cada uma das proposições. Portanto,
para a construção do silogismo, bastam três termos e duas proposições, Onde há mais de três
das quais se deduz a conclusão. É por isso que, se em alguma argumen­ termos, há também
várias argumenta­
tação, que à primeira vista parece um único silogismo, existirem mais ções.
que duas proposiões, e por conseguinte, mais que três termos, esta argu­
mentação não será de facto um silogismo único, mas vários [silogismos] b Aristóteles, no
mesmo lugar.
unidos ou então uma mistura de diferentes géneros de argumentações,
como quando se diz: todo o é corpo é substância, e todo o ser vivo é
corpo, e todo o animal é ser vivo, logo todo o animal é substância; e
ainda: todo o ser vivo é corpo, todo o animal é ser vivo, logo todo o
animal é substância. A primeira argumentação, com efeito, consta de
proposições de dois silogismos; a segunda, de proposições de um só
364 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

ptionibus unius syllogismi, et ex antecedente unius enthymematis, ut


animadvertenti facile patebit.
Ex tribus autem terminis, ex quibus syllogismus simpliciter unus cons- B
tituitur, unus dicitur maius extremum: alter, minus extremum: tertius voca­
tur medius terminus. Maius extremum est, quod prcestantiorem habet in
syllogismo locum. Minus extremum, quod minus praestantem. Medius
Maius ext.
denique terminus est is, qui bis ponitur in antecedentec, semel iunctus
Minus ext.
maiori extremo, semel minori. Exempli causa, si dicas, Omnis virtus
Medius terminus,
c 1. pri. 34. est qualitas, omnis iustitia est virtus, igitur omnis iustitia est qualitas,
hoc nomen Qualitas erit maius extremum: Iustitia, minus extremum:
Virtus, medius terminus. Ex tribus vero enunciationibus, quibus constat C
syllogismus, una dicitur tum maior propositio, tum simpliciter propositio:
altera minor propositio, et assumptio: tertia et conclusio, et complexio
nominatur Maior propositio est, quae ex maiore extremo, et medio
d Ex alex. 1. pri. 4.
et Ci. 1. dc inven­
struitur: ut in proximo syllogismo, Omnis virtus est qualitas: Minor pro­
tione. positio est, quce ex minore extremo, et medio conficitur: ut, Omnis iustitia
Maior propositio. est virtus. Atque hae communiter sumptiones, et praemissa appellantur.
Minor.
Sumptiones, seu prae­ Conclusio vero est, qua ex maiore, et minore extremo nectitur: ut, Omnis
missae. iustitia est qualitas. Sed iam fere obtinuit disputationum abusus, ut
Conclusio.
dum structura ratiocinationum contentionis ardore minus expenditur,
Abusus quidam in
disputationibus. quacunque propositio primo loco posita fuerit, dicatur maior: qua secundo,
minor: etsi revera illa sit minor, hac maior: ut cum idem ille syllogismus
hoc modo struitur, Omnis iustitia est virtus, omnis virtus est qualitas,
igitur omnis iustitia est qualitas. Non est tamen prapostere utendum
his vocabulis, sed potius, cum res minus perpenditur, dicendum, Nego
aut Concedo priorem, aut posteriorem propositionem.

De forma syllogismi

Forma syllogistica. C A P V T 11

Figura syllogistica. Forma syllogismi absoluti ex figura, et modo constat, quemadmodum A


pulchritudo corporis humani ex convenientia membrorum, et quadam
coloris suavitate. Figura syllogistica est extremorum cum medio ad
aliquid concludendum apta collocatio. Erit autem apta, si in altera

Cl—enunciationibus, ex quibus...
C 1-C 8 — Maior propositio, seu propositio. Minor prop. seu assumptio. Con­
clusio seu complexio. Ex Alexand. 1. prio. 4 et ex Cice. 1. de inventione, (cota mar­
ginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 365

silogismo e do antecedente de um entimema, como facilmente verá


quem o observar.
B Dos três termos, de que o silogismo simplesmente uno se compõe,
um chama-se o extremo maior, outro, o extremo menor, e o terceiro Extremo maior.
chama-se termo médio. O extremo maior é aquele que ocupa no silo­ Extremo menor.
Termo médio.
gismo o lugar mais importante. O extremo menor é o que ocupa o
lugar menos importante. O termo médio, por último, é aquele que se
põe duas vezes no antecedente c: uma vez junto ao extremo maior, c Primeiros Ana­
líticos, I, 34.
outra, junto ao menor. Por exemplo, se se disser: toda a virtude é
qualidade, toda a justiça é virtude, logo toda a justiça é qualidade
— a expressão qualidade será o extremo maior; justiça, o extremo
menor; virtude, o termo médio.
C Das três enunciações de que consta o silogismo, a primeira chama-se
proposição maior ou simplesmente proposição; a segunda, proposição
menor ou assunção; a terceira chama-se conclusão ou complexo d. Pro­ d Em Alexandre,
Primeiros Analíti­
posição maior é aquela que é formada pelo extremo maior e pelo médio;
cos, I, 4, e Cícero,
assim, no silogismo anterior: toda a virtude é qualidade. Proposição Da Invenção, I.
menor é a que é constituída pelo extremo menor e pelo médio, como: Proposição maior.
toda a justiça é virtude. Estas duas proposições chamam-se também Menor.
comummente «sumptiones» ou premissas. Conclusão é a que é urdida «Sumptiones» ou pre­
pelo extremo maior e pelo menor, como: toda a justiça é qualidade. missas.
Conclusão.
Mas o abuso das disputas já quase conseguiu, desde que a estrutura dos Certos abusos nas
raciocínios é menos ponderada em virtude do ardor da contenda, que disputas.
qualquer proposição que tenha sido posta em primeiro lugar se chame
maior, e a que é posta em segundo lugar, menor, embora, na realidade,
aquela seja menor, e esta maior, como quando o mesmo silogismo se
constrói deste modo: toda a justiça é virtude, toda a virtude é qualidade,
logo toda a justiça é qualidade. Não há, porém, motivo para usar
estes vocábulos por ordem inversa e, quando a coisa é menos ponderada,
deve dizer-se, de preferência, nego ou concedo a primeira ou a segunda
proposição.

Capítulo 11

Da forma do silogismo

A A forma do silogismo absoluto consta da figura e do modo, da Forma silogística.


mesma maneira que a beleza do corpo humano resulta da harmonia
dos membros e de uma certa suavidade de cor.
A figura silogística é a disposição dos extremos com o médio apta Figura silogística.
para concluir alguma coisa. Será apta, se numa das proposições estiver
366 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

sumptionum sit maius extremum, in altera minus, in conclusione autem


utrunque, medius vero terminus semel iungatur maiori extremo, semel
minori, ei nequaquam ingrediatur conclusionem. Quare si termini aliter
disponantur, non erit figura syllogistica: ut si dicas, Omnis virtus est
qualitas, et omnis iustitia est iustitia, igitur omnis iustitia est qualitas:
aut alio pacto, secus quam docuimus, verba heee coniungas. Modus vero B
syllogisticus est sumptionum ad conclusionem colligendam apta secundum
Modus syllogisticus.
quantitatem, et qualitatem complicatio. Neque enim satis est ad con­
cludendum syllogistice si termini apta figura disponantur, nisi certa quee-
dam sumptionum secundum quantitatem et qualitatem complicatio acce­
dat. Nam si ambae sumptiones fuerint (exempli causa) particulares, aut
utraque negativa, nihil efficietur: ut patet si dicas, Quoddam animal est
equus, quidam homo est animal, igitur quidam homo est equus: Nullum
animal est lapis, nullus adamas est animal, igitur nullus adamas est lapis.
Ergo preeter figuram necessarius est modus, cuius accessione forma syllo­
gismi absolvatur.

De tribus figuris syllogismorum deque generalibus


concludendi modis

C a p V T 12
a 1. prio. 22.
Figurae syllogismorum tres sunt a. Prima est, in qua medius terminus A
Prima figura.
Secunda. alteri extremo subiicitur, et de altero praedicatur. Secunda, in qua
Tertia. praedicatur de utroque. Tertia, in qua utrique subiicitur. Nec alia collo­
b Ex. 1. prio. 7. catio extremorum cum medio termino reperitur, quee apta sit ad aliquid
Directe concludere. concludendum. Generales modi concludendi duo sunt: directe, ac indirecte b B
Indirecte concludere. Modus directe, seu secundum naturam concludendi, est, cum maius extre­
mum de minore concluditur. Indirecte autem, seu contra naturam con­
Maius extremum in cludendi modus, est, cum minus extremum de maiore colligitur. Ac in
1. figura.
Minus.
prima quidem figura illud est maius extremum, quod praedicatur de medio
Quomodo internos­ termino: minus vero, quod medio subiicitur: praestantius siquidem est
cantur maius et mi­ praedicari, quam subiici. In secunda vero, et tertia, cum utrumque extre- C
nus extremum in 2.
et 3. figura.
mum quoad praedicationem, et sublectionem, parem habeat in sumptionibus
c Ex recent ior i bus. dignitatem: sunt c qui velint, id esse maius, quod situ partium orationis
d Ut Alexan. et alterum antecedit, id minus, quod sequitur: alii d dicunt id esse maius,
Averr. 1. prio. 5.
quod in quaestione proposita prcedicatur, id minus, quod in eadem subiicitur:

C 4 — alii, qui dicant id esse maius...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 367

o extremo maior, noutra o extremo menor e ambos eles na conclusão;


junte-se o termo médio uma vez ao extremo maior e outra ao menor,
mas não entre nunca na conclusão. Por isso, não haverá figura silo­
gística, se se dispõem os termos de outro modo, como se se disser:
toda a virtude é qualidade, toda a justiça é justiça, logo toda a justiça
é qualidade; ou se estas palavras se encadearem de modo diferente do
Modo silogístico.
que ensinámos.
B O modo silogístico é a disposição das proposições, segundo a quan­
tidade e a qualidade, apta para tirar a conclusão. Não basta, com efeito,
para concluir silogísticamente, que se disponham os termos em figura
adequada, se não se der às proposições uma certa disposição segundo a
quantidade e a qualidade. Com efeito, se ambas as proposições forem,
por exemplo, particulares, ou ambas negativas, nada se seguirá, como
claramente se vê, se se disser: algum animal é cavalo, algum homem é
animal, logo algum homem é cavalo; nenhum animal é pedra, nenhum
diamante é animal, logo nenhum diamante é pedra. Portanto, além
da figura, é necessário o modo, por meio do qual se salve a forma do
silogismo.

C a p í t u l o 12

Das três figuras dos silogismos e dos modos gerais


de concluir a Primeiros Ana­
líticos, I, 22.
A As figuras de silogismo são três a. A primeira é aquela em que o Primeira figura.
termo médio é sujeito de um extremo e predicado do outro. A segunda é Segunda.
aquela em que ele é predicado de ambos. A terceira é aquela em que é Terceira.
sujeito de ambos. Não se verifica outra colocação dos extremos com
o termo médio que seja apta para concluir alguma coisa.
b Nos Primeiros
Analíticos, I, 7.
B Os modos gerais de concluir são dois: directa e indirectamente *. Concluir directa­
O modo de concluir directamente, ou segundo a natureza, verifica-se mente.
quando o extremo maior se conclui do menor. Indirectamente, ou Concluir indirecta­
contra a natureza, quando o extremo menor se deduz do maior. mente.
Extremo maior na
Na primeira figura, o extremo maior é aquele que é predicado do primeira figura.
termo médio; menor, o que é sujeito do termo médio; é que é mais Menor.
C importante ser predicado que ser sujeito. Na segunda e na terceira, Como se conhecem o
porém, como ambos os extremos têm, quanto à predicação e à sujeição, extremo maior e o
igual dignidade nas proposições, há quem c diga que é maior aquele que, menor, na segunda e
terceira figuras.
na colocação das partes da oração, estiver em primeiro lugar, e menor, c Entre os mo­
o que estiver em segundo; outros d dizem que é maior aquele que é dernos.
predicado na questão proposta, e menor o que é sujeito na mesma; d Por exemplo,
Alexandre e Averróis,
Primeiros Analíticos,
I, 5.
368 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

aliie denique asserunt, id esse maius, quod in conclusione prcedicatur,


id minus, quod in eadem subiicitur. Sed priores sententice, quicquid
e Hi referuntur, et
impugnantur ab Ale­ probabilitatis habeant, omiitendee a nobis sunt hoc loco, quia tertia multo
xandro. est planior, ac facilior. Num autem sit verior, alias videbimus.

Quot modis in quaque figura directe aut etiam


indirecte concludatur

Ca p V T 13

In prima figura timi In prima ergo figura dubium non est, quin uterque concludendi modus A
directe, tum indirecte locum habere possit, directe nimirum, et indirecte. Si enim ita dicas.
concluditur.

Omnis virtus est qualitas,


Omnis iustitia est virtus,
Igitur omnis iustitia est qualitas,

directe sane concludes, ut pote maius extremum de minore. Si vero sic


ratiocineris.
Omnis virtus est qualitas,
Omnis iustitia est virtus,
Igitur quaedam qualitas est iustitia,

indirecte haud dubie, et contra naturam colliges, scilicet minus extremum


de maiore. At in secunda et tertia figura longe alia ratio est, iuxta
eam sententiam, quam hoc loco sequimur. Nam cum in utraque id per­
petuo sit maius extremum, quod de altero concluditur ut dictum est,
In secunda ct tertia
figura semper directe necessario efficitur, ut quandocunque, in his figuris ratiocinatio construitur,
concluditur.
directe concludatur. Qua ratione factum est, ut Dialectici, qui nomina B
omnibus modis concludendi imposuerunt, enumeratis in prima figura,
quatuor directe, et quinque indirecte concludendi, quos vocaverunt,

Barbara, Celarent, Darii, Ferio, Baralipton, Celantes,


Dabitis, Fapesmo, Frisesomorum,

C 6 — alii denique, qui asserant id esse...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 369

finalmente, outros e alegam que é maior aquele que é predicado na e Estes são refe­
conclusão, e menor aquele que é sujeito na mesma. Mas as primeiras ridos e combatidos
por Alexandre.
opiniões, seja qual for a sua probabilidade, devemos omiti-las neste
lugar, pois é muito mais clara e fácil a terceira. Se é mais verdadeira
que as outras, vê-lo-emos.

Capítulo 13

Quantos os modos de concluir directa ou indirectamente


em cada figura

A Na primeira figura, não há dúvida de que podem ter lugar ambos Na primeira figura,
os modos de concluir: directa e indirectamente. Com efeito, se se disser conclui-se quer di­
recta quer indirecta­
assim: mente.
Toda a virtude é qualidade,
Toda a justiça é virtude,
Logo toda a justiça é qualidade,

concluir-se-á, sem dúvida, directamente, visto o extremo maior se


concluir do menor. Se, ao contrário, se raciocinar assim:

Toda a virtude é qualidade,


Toda a justiça é virtude,
Logo alguma qualidade é justiça,

concluir-se-á, sem dúvida, indirectamente e contra a natureza, isto é,


o extremo menor do maior. Na segunda e terceira figuras, porém, Na segunda e na
há outro método muito diverso, segundo a opinião que seguimos neste terceira figura, con-
clui-se sempre direc­
lugar. Com efeito, porque em ambas o extremo maior é sempre aquele
tamente.
que se conclui de outro, como foi dito, segue-se necessàriamente que
todas as vezes que, nestas figuras, se constrói o raciocínio, se conclui
B directamente. Por esta razão, sucedeu que os dialécticos, que puseram
nomes a todos os modos de concluir, enumerando na primeira figura
quatro modos de concluir directamente e cinco indirectamente que desi­
gnaram por:

Barbara, Celarent, Darii, Ferio, Baralipton, Celantes,


Dabitis, Fapesmo, Frisesomorum,
24
370 INSTITVTIONVM DTALECTICARVM LIBER VI

nullum indirecte concludentem in secunda, aut tertia figura nominaverint,


sed hos tantum decem directe concludentes.

Cesare, Camestres, Festino, Baroco: Dar apti, Felapton,


Dis amis, Daiisi, Bocardo, Ferison.
Quorum quatuor primi ad secundam, sex reliqui ad tertiam figuram
pertinent. Hac ratione, {ut alias omittam) dictum est a me, planiorem
esse in his duabus figuris tertiam de maiore, et minore extremo sententiam,
quia inquam nullos indirecte concludendi modos invehit, quod tamen
superiores opiniones facere coguntur. Sed heee alias. De his ergo
Modi apte ratioci­ undeviginti modis enumeratis, quinam sint, et qua arte hisce nominibus
nandi sunt 19. significentur, nunc dicendum est.

De modis directe concludendi in prima figura

C a p V T 14

16 modi sunt in sin­ Si nomine modorum intelligamus quascunque complicationes sum­


gulis figuris, si com­
ptionum secundum quantitatem, et qualitatem, sive apta sint ad con­
putentur simul apti,
et inepti. clusionem aliquam colligendam, sive inepta, sexclecim necessario dandi
sunt, in unaquaque figura. Nam aut utraque sumptio est universalis:
aut utraque particularis: aut maior propositio universalis et minor parti­
cularis: aut maior particularis, et minor universalis. Nec enim hoc loco
de singularibus enunciaiionibus loqui instituimus: indefinita vero ex forma
sua pro particularibus habenda sunt. In unaquaque, autem dictarum qua­
tuor complicationum secundum quantitatem, quatuor itidem alia secun­
dum qualitatem cernuntur. Aut enim utraque sumptio affirmat: aut utra­
Modi directe conclu­ que negat: aut propositio affirmat, assumptio negat: aut propositio negat,
dentes in 1. figura.
a 1. prio. 4. et assumptio affirmat. Itaque late accepto modorum nomine, sexdecim
sunt modi in singulis figuris, Verum ex his, quod [quidem] ad primam
figuram attinet, quatuor tantum ex vi formee directe concludunt, a videlicet,

Barbara, Celarent, Darii, Ferio.

B 13 — invehit, quos tamen...


A 4 — in unaquaque figura modi. Nam...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 371

não apresentaram nenhum modo de concluir indirectamente na se gunda


e na terceira figuras, mas apenas os seguintes dez modos de concluir
directamente:

Cesare, Camestres, Festino, Baroco, Darapti,


Felapton, Dísamis, Daíisi, Bocarão, Ferison.
Destes, os quatro primeiros pertencem à segunda figura e os seis
últimos, à terceira. Por esta razão (e para omitir outras), é que disse
que, nestas duas figuras, é mais clara a terceira opinião acerca do extremo
maior e do menor, pois ela não acarreta quaisquer modos de concluir
indirectamente, o que, no entanto, as outras opiniões obrigam a fazer.
Mas, além destas, há outras.
Vamos agora falar dos dezanove modos enumerados: o que são Os modos de racio­
e porque são significados por estes nomes. cinar aptamente são
19.

Capítulo 14

Dos modos de concluir directamente


na primeira figura
Se, pelo nome de modos, entendemos todas as combinações das São 16 os modos em
proposições, segundo a quantidade e a qualidade, quer sejam aptas cada figura, se se
contarem ao mesmo
para concluir alguma coisa, quer não, têm necessária mente de dar-se tempo os aptos e os
dezasseis em cada figura. Efectivamente, ou ambas as proposições são ineptos.
universais, ou ambas particulares, ou a proposição maior é universal
e a menor particular, ou a maior particular e a menor universal. Não
é nosso propósito falar, neste lugar, das enunciações singulares, devendo
as indefinidas, pela sua forma, ser tidas como particulares. Em cada
uma, porém, das quatro referidas disposições segundo a quantidade,
estão compreendidas igualmente outras quatro segundo a qualidade.
Com efeito, ou ambas as proposições afirmam, ou ambas negam, ou a
proposição maior afirma e a menor nega, ou a proposição maior nega
e a menor afirma. Portanto, tomando o termo modos numa acepção Modos que concluem
lata, são dezasseis os modos em cada figura. Destes, porém, no que directamente na pri­
meira figura.
diz respeito à primeira figura, apenas quatro concluem directamente
por força da formaa, a saber: a Primeiros Ana­
líticos, I, 4.

Barbara, Celarent, Darii, Ferio,


372 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

In his, enim solis directe concludendo nunquam omnino dari potest ante­
cedens verum, quin consequens vi antecedentis verum esse deprehendatur.
Quce ratio probandi, cceteris etiam quindecim modis apte concludentibus
accommodanda est. Quanquam necessitas concludendi (quce omnibus con­
b cap. 21. et 25. venit) alia quoque ratione perspici potest, ut paulo inferius b docebimus.
et caet.
Dictiones modorum
Harum autem quatuor vocum significationem, atque adeo quindecim reli­
qualitatem et quan­ quarum facile intelliges, si adverteris, primam vocalem cuiusque dictionis
titatem enunciatio- significare maiorem propositionem: secundam vero minorem: tertiam
num significant.
[denique] conclusionem. Et rursus vocalem A designare enunciationem
universalem affirmativam, E universalem negativam, I particularem
affirmativam, et O particularem negativam. Primus ergo primee figurce
modus est, cum ex utraque sumptione universali, et affirmativa, conclusio
universalis, et affirmativa colligitur. Quod totum significat vox barbara.
Exemplum.
B ar Omne bonum est expetendum,
ba Omnis virtus est bona,
ia Igitur omnis virtus est expetenda.

Secundus modus est, cum ex maiore universali negativa, et minore


universali affirmativa, conclusio universalis negativa colligitur. Quod
totum significat vox Celarent. Exemplum.

C e Nullum bonum est fugiendum,


la Omnis virtus est bona,
rent Igitur nulla virtus fugienda est.

Tertius modus est, cum ex maiore universali affirmativa, et minore


particulari affirmativa, conclusio particularis affirmativa colligitur. Id
quod significat vox Darii. Exemplum.

D a Omne vitium fugiendum est,


Π Aliqua consuetudo est vitium,
1 Igitur aliqua consuetudo fugienda est.

A 16—Quia in his nunquam omnino...


A 18 — Quce quidem ratio...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 373

pois só nestes, concluindo directamente, jamais pode existir um ante­


cedente verdadeiro sem se depreender que o consequente é verda­
deiro por força do antecedente. Este método de provar deve aplicar-se
também aos restantes quinze modos que concluem aptamente, se bem
que a necessidade de concluir (que convém a todos) possa perceber-se
também por outro método, como ensinaremos um pouco mais
adiante b. b Capítulos 21 e
25 e seguintes.
A significação destas quatro palavras e das outras quinze entender- Os nomes dos mo­
-se-á muito fácilmente, se se advertir que a primeira vogal de cada dos significam a qua­
lidade e a quanti­
dicção significa a proposição maior; a segunda, a menor; a terceira,
dade das enunciações.
finalmente, a conclusão. E ainda que: a vogal A designa uma enunciação
universal afirmativa; E, uma universal negativa; I, uma particular afir­
mativa; e O, uma particular negativa.
O primeiro modo da primeira figura verifica-se, pois, quando,
de duas proposições universais e afirmativas, se infere uma conclusão
universal e afirmativa. Tudo isso é significado pela palavra Barbara.
Exemplo:
Bar Todo o bem deve ser procurado,
ba Toda a virtude é boa,
ra Logo, toda a virtude deve scr procurada.

O segundo modo verifica-se quando, de uma maior universal nega­


tiva e de uma menor universal afirmativa, se infere uma conclusão
universal negativa. Tudo isso é significado pela palavra Celarent.
Exemplo:
Ce Não deve fugir-se de nenhum bem,
la Toda a virtude é boa,
rent Logo, não deve fugir-sc dc nenhuma virtude.

O terceiro modo verifica-se quando, de uma maior universal afir­


mativa e de uma menor particular afirmativa, se infere uma con­
clusão particular afirmativa. É isso que quer dizer a palavra Darii.
Exemplo:
Da Deve fugir-se de todo o vício,
Π Algum hábito é vício,
i Logo, deve fugir-se de algum hábito.
374 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Quartus modus est, cum ex maiore universali negativa, et minore


particulari affirmativa, conclusio particularis negativa colligitur: quod
significat vox Ferio. Exemplum.

Fe Nullus timidus est fcelix,


Γ1 Quidam dives est timidus.
O Igitur quidam dives non est fcelix.

Reliqui duodecim modi nihil ex vi formae directe concludunt, quia in


singulis dari potest antecedens verum, et consequens falsum, ut experienti
facile patebit. Verum quatuor iam dicti adeo late funduntur, ut omnis
Omnis quaestio con­
cluditur in 1. figura.
proposita quaestio in aliquo eorum confirmari possit. Colligunt enim
omnia genera conclusionum, c utpote universe affirmantem, universe
c 1. prio. 4.
negantem, in parte affirmantem, et in parte negantem.

De modis indirecte concludendi


Ca p V T 15

Modi vero indirecte concludendi quinque sunt. Baralipton, Celantes, A


a Hos modos col­
legit Theophrastus Dabitis, Fapesmo, Frisesomorum a. Et primi quidem tres nil differunt
partim ex 2. pri. 1. a tribus prioribus directe concludendi, nisi quod colligunt conclusiones,
partim ex 1. prio. 7 ut
in quas conclusiones illorum convertuntur. Reliqui autem duo apertius
refert Alex. 1. pri. 4.
ab omnibus quatuor directe concludentibus dissentiunt. Exempla.

1
Ba Omne animal est substantia.
ra Omnis homo est animal.
lip Igitur quaedam substantia est homo.

2
Ce Nullum animal est lapis,
lan Omnis homo est animal,
teS Igitur nullus lapis est homo.
3
Da Omne bonum expetendum est,
bl Quidam labor est bonus,
tlS Igitur quoddam expetendum est labor.

B 26-B 27 — colligitur: ut significat...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 375

O quarto modo verifica-se quando, de uma maior universal negativa


e de uma menor particular afirmativa, se infere uma conclusão parti­
cular negativa. É o significado da palavra Ferio. Exemplo:

Fe Nenhum tímido é feliz,


Γ1 Algum rico é tímido,
O Logo, algum rico não é feliz.

Os restantes doze modos nada concluem directamente por força


da forma, porque, em cada um, pode existir um antecedente verdadeiro Toda a questão se
conclui na primeira
e um consequente falso, como fácilmente verá quem o experimentar. figura.
Mas os quatro já apresentados são de aplicação tão universal que qual­
quer questão proposta pode ser provada por algum deles. Com efeito,
por eles tiram-se todos os géneros de conclusões c: a que afirma univer­ c Primeiros Ana­
salmente, a que nega universal mente, a afirmativa particular e a negativa líticos, I, 4.
particular.

Capítulo 15

Dos modos de concluir indirectamente


Os modos de concluir indirectamente são cinco: Baralipton, Celantes,
a Teofrasto deduz
Dabitis, Fapesmo, Frisesomorum a. Os três primeiros em nada diferem, estes modos, em parte
efectivamente, dos primeiros três modos de concluir directamente, a dos Primeiros Ana­
não ser por inferirem conclusões em que se convertem as conclusões líticos, lí, 1 , e em
parte, dos Primeiros
destes. Os outros dois, porém, diferem mais declaradamente dos
Analíticos I, 7, como
outros quatro, que concluem directamente. Exemplos: refere Alexandre, Pri­
meiros Analíticos,
1 I, 4.
Ba Todo o animal é substância,
Ta Todo o homem é animal,
lip Logo, alguma substância é homem.

2
Ce Nenhum animal é pedra,
lan Todo o homem é animal,
tes Logo, nenhuma pedra é homem.

3
D a Todo o bem deve ser procurado,
bi Certo trabalho é bom,
tis Logo, alguma coisa que se deve procurar é trabalho.
376 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Quartus ex maiore universali affirmativa, et minori universali negativa


colligit ordine converso particularem negativam hoc pacto,

Fa Omnis mens est substantia,


pSS Nullum corpus est mens,
ΠΙΟ Igitur quaedam substantia non est corpus.

Quintus ex maiori particulari affirmativa, et minore universali nega­


tiva, colligit indirecte particularem negativam hoc pacto,

Fri Quaedam arbor est vivens,


Se Nullum animal est arbor,
SOITL Igitur quoddam vivens non est animal.

De modis secundes figures


C a p Vτ1 6

Ex illis sexdecim modis, quos in singulis figuris reperiri diximus, a


prio. 5. quatuor duntaxat apti sunt ad aliquid concludendum in secunda figura a.
Primus est, cum ex maiori universali negativa, et minore universali affir­
mativa conclusio universalis negativa colligitur: qui quidem vocatur
Cesare, ut,

Ce Nullum opus a virtute profectum est exeerandum,


Sa Omne mendacium est exeerandum,
Te Igitur nullum mendacium est opus a virtute profectum.

Secundus modus est, cum ex maiore universali affirmativa, et minore


universali negativa, conclusio universalis negativa colligitur: qui dicitur
Camestres, ut,

Ca Omnis qui diligit iniquitatem odit animam suam,


Hies Nullus iustus odit animam suam,
tres Igitur nullus iustus diligit iniquitatem.

Tertius est, cum ex maiore universali negativa, et minore particulari B


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 377

O quarto, formado de uma maior universal afirmativa e de uma


menor universal negativa, conclui por ordem inversa uma particular
negativa, deste modo:

Fa Toda a mente é substância,


pCS Nenhum corpo é mente,
ΠΙΟ Logo alguma substância não é corpo.

O quinto, formado de uma maior particular afirmativa e de uma


menor universal negativa, conclui indirectamente uma particular nega­
tiva, deste modo:

Fri Certa árvore é um ser vivo,


SC Nenhum animal é árvore,
SOm Logo, algum ser vivo não é animal.

Capítulo 16

Dos modos da segunda figura


A Dos dezasseis modos, que dissemos encontiarem-se em cada figura,
na segunda apenas quatro são aptos para concluir alguma coisaa. o Primeiros Ana-
O primeiro verifica-se quando, de uma maior universal negativa e de lltlcos> 5·
uma menor universal afirmativa, se infere uma conclusão universal
negativa. É designado por Cesare, como:

Ce Nenhuma obra proveniente da virtude é abominável,


Sei Toda a mentira é abominável,
re Logo, nenhuma mentira é obra proveniente da virtude.

O segundo modo verifica-se quando, de uma maior universal


afirmativa e de uma menor universal negativa, se infere uma conclu­
são universal negativa. É designado por Camestres, como:

Ca Todo o que ama a iniquidade odeia a sua alma,


Hies Nenhum justo odeia a sua alma,
trCS Logo, nenhum justo ama a iniquidade.

B O terceiro verifica-se quando, de uma maior universal negativa


378 INSTITVTiONVM DIALECTICARVM LIBER VI

affirmativa, conclusio particularis negativa colligitur: qui nuncupatur


Festino, ut,

Fes Nullum vitium placet Deo,


Ll Quasdam animi submissio placet Deo,
ΠΟ Igitur quedam animi submissio non est vitium.

Quartus est, cum ex maiore universali affirmativa, et minore parti­


culari negativa, conclusio particularis negativa efficitur: qui appellatur
Baroco, ut,

Bcl Omnis prudens prospicit futura,


ΓΟ Quidam dives non prospicit futura,
CO Igitur quidam dives non est prudens.

Reliqui duoclecim modi nihil colligunt ratione formee, quia in singulis


Negantes duntaxat dari potest antecedens verum, et consequens falsum. Hoc autem pro­
questiones confir­
mantur in 2. figura, prium est huius figura, ut negantes duntaxat quies ñones in ipsa con­
verum omnes. firmari possint. Solas enim negantes conclusiones colligit, verum tam
b 1. Prio 5. universales, quam particulares b.

De modis figurce ter tice


C a p V T 17
a ]. Prio. 6.
Sex in hac figura inveniuntur modi ad concludendum aptia: cceteri A
inutiles sunt, nihilque ex vi formee concludunt. Primus utilium est,
cum ex utraque sumptione universali, et affirmativa, conclusio particularis
affirmativa colligitur: qui dicitur Darapti, ut,

D a Omne animal sentit,


rap Omne animal est corpus animatum,
tl Igitur quoddam corpus animatum sentit.

Secundus est, cum ex maiore universali negativa, et minore univer-

A 2-A 3 — Primus ergo modus huius figurce est, cum ex...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 379

e de uma menor particular afirmativa, se infere uma conclusão parti­


cular negativa. É designado por Festino como:

Fes Nenhum vício agrada a Deus,


ti Certa submissão da alma agrada a Deus,
110 Logo, certa submissão de alma não é vicio.

O quarto verifica-se quando, de uma maior universal afirmativa


e de urna menor particular negativa, se infere uma conclusão parti­
cular negativa. É designado por Baroco, como:

Ba Todo o prudente olha o futuro,


ΓΟ Certo rico não olha o futuro,
CO Logo, certo rico não é prudente.

Os doze modos restantes, em razão da forma, nada concluem,


porque em cada um pode existir um antecedente verdadeiro e um Apenas as questões
negativas se confir­
consequente falso. É, porém, próprio desta figura que se possam mam na segunda fi­
confirmar nela apenas as questões negativas. Infere, pois, só conclu­ gura, mas todas.
sões negativas, tanto universais como particularesb. b Primeiros Ana­
líticos, I, 5.

Capítulo 17

Dos modos da terceira figura


a Primeiros Ana­
Nesta figura, encontram-se seis modos aptosa para concluir; líticos, I, 6.

os restantes são inúteis e nada concluem por força da forma. O pri­


meiro dos úteis verifica-se quando, de duas proposições universais e
afirmativas, se infere uma conclusão particular afirmativa. E desig­
nado por Darapti, como:

Da Todo o animal sente,


tap Todo o animal é corpo animado,
ti Logo, algum corpo animado sente.

O segundo verifica-se quando, de uma maior universal negativa


380 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

sali affirmativa, conclusio particularis negativa efficitur: qui dicitur


Felapton, ut si dicas,

Fe Nullus lapis nutritur,


lap Omnis lapis est corpus,
ton Igitur quoddam corpus non nutritur.

Tertius est, cum ex maiore particulari affirmativa, et minore univer­


sali affirmativa, conclusio particularis affirmativa concluditur. Atque
hic dicitur Disamis, ut,

D is Quoddam animal respirat,


ã Omne animal est sentiens,
mis Igitur quoddam sentiens respirat.

Quartus est, cum ex maiore universali affirmativa, et minore par­


ticulari affirmativa, conclusio particularis affirmativa colligitur. Vocatur
autem Datisi, ut,

D a Omnis avarus est miser,


tis Quidam avarus est dives,
i Quidam igitur dives est miser.

Quintus modus est, cum ex maiore particulari negativa, et minore


universali affirmativa, conclusio particularis negativa concluditur. Flic
dicitur Bocardo, ut,

Bo Quoddam animal non habet sanguinem,


Car Omne animal est vivens,
do Igitur aliquod vivens non habet sanguinem.

Sextus modus est, cum ex maiore universali negativa, et minore


particulari affirmativa, conclusio particularis negativa efficitur: qui
nuncupatur Ferison, ut,

Fe Nullus sapiens est miser,


lis Quidam sapiens est pauper,
Oli Igitur aliquis pauper non est miser.

A 15 {1590] —particularis affirmativa sic concluditur.


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 381

e de uma menor universal afirmativa, se infere uma conclusão parti­


cular negativa. Chama-se-lhe Felapton, como se se disser:

Fe Nenhuma pedra se alimenta,


lap Toda a pedra é corpo,
ton Logo, algum corpo não se alimenta.

O terceiro verifica-se quando, de uma maior particular afirmativa


e de urna menor universal afirmativa, se infere uma conclusão parti­
cular afirmativa. A este chama-se Disamis, como:

D is Algum animal respira,


a Todo o animal é dotado de sensibilidade,
miS Logo, alguma coisa dotada de sensibilidade respira.

O quarto modo verifica-se quando, de uma maior universal afir­


mativa e de urna menor particular afirmativa, se infere uma conclu­
são particular afirmativa. Chama-se-lhe Datisi, como:

D a Todo o avarento é miserável,


tlS Algum avarento é rico,
í Logo, algum rico é miserável.

O quinto modo verifica-se quando, de uma maior particular nega­


tiva e de urna menor universal afirmativa, se infere uma conclusão par­
ticular negativa. A este chama-se Bocardo, como:

B o Algum animal não tem. sangue,


car Todo o animal é vivente,
do Logo, algum vivente não tem sangue.

O sexto modo verifica-se quando, de uma maior universal nega­


tiva e de uma menor particular afirmativa, se infere uma conclusão
particular negativa. A este dá-se o nome de Ferison, como:

Fe Nenhum sábio é miserável,


TIS Certo sábio é pobre,
0X1 Logo, certo pobre não é miserável.
382 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Quod vero cceteri decem modi nihil ex vi formes concludant, ex eo


intelliges, quia in singulis invenitur antecedens verum, et consequens
falsum: quod perfacile est experiri. Hoc vero proprium est huius figures,
Particulares duntaxat ut particulares duntaxat qua st iones in ipsa confirmari possint. Solas
qusestiones confir­ enim particulares conclusiones colligit, verum tam affirmantes, quam
mantur in hac figura
verum omnes. negantes b.

b 1. prio. 6. Regulce generales omnibus figuris

C a p V T 18

Ex dictis colligi possunt tum communes quadam regula omnibus A


figuris, tum propria singulis a. Communes omnibus quatuor sunt.
a 1. pri. 24.
Prima. Prima b. Ex duabus particularibus nihil vi forma concluditur. Hac
b Ex. 1. etiam patet ex dictis quia ex duabus particularibus quatuor modi constare possunt
prio. 7.
(vel enim utraque sumptio affirmabit, vel utraque negabit, vel propositio
affirmabit, assumptio negabit, vel propositio negabit, et assumptio affir­
Secunda. mabit) quorum nullum in figura ulla ut apte concludentem recensuimus.
Secunda regula. Ex duabus negativis nihil vi formee concluditur.
Htec etiam perspicua est ex dictis, quia ex duabus negativis quatuor
itidem modi constare possunt {aut enim utraque universalis erit, aut
utraque particularis, aut propositio universalis, assumptio particularis, aut
propositio particularis, assumptio universalis) quorum nullum hactenus ut
apte concludentem numeravimus. Atque ita fit ut his duabus regulis com­
Tertia. prehendantur septem inutiles modi a singulis figuris explosi. Nam com­
plicatio ex utraque particulari negativa, quee secunda regula reiicitur, iam
per primam reiecta est.
Quarta.
Tertia regula. Si altera sumptionum particularis fuerit, conclusio B
etiam particularis sit necesse est. Hcec itidem patet ex dictis. Siquidem
nullus modus praescriptus est, qui universalem conclusionem ex particulari
sumptione colligat.
Quarta regula. Si altera sumptionum negativa fuerit conclusio etiam
negativa sit necesse est. Hcec denique ex dictis aperta relinquitur que­
madmodum et superior. Ratio vero utriusque est, quia consequens est
effectus antecedentis, effectus autem deteriorem partem suce causee imita-

A 1-A 2 — Omnes hce regulce continentur. I. pri. 24. (cota marginal)


A 7 — quorum nullum in aliqua figura quasi apte...
A 12-A 13 — quorum nullum in aliqua figura velut apte...
B 8-B 12 — In quibus syllogismis inteligendie sint duce priores regulce. (cota mar­
ginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 383

Que os restantes dez modos nada concluam por força da forma, Nesta figura são con­
entende-se pelo facto de em cada um se encontrar um antecedente firmadas apenas to­
das as questões par­
verdadeiro e um consequente falso, o que aliás é muitíssimo fácil de ticulares.
verificar. É próprio desta figura apenas poderem confirmar-se líela
questões particulares. Só infere, pois, conclusões particulares, tanto
afirma.trvas como negativas b. b Primeiros Ana­
líticos, I, 6.

C apítulo 18

Regras gerais para todas as figuras

A Do que disse, podem inferir-se algumas regras, quer comuns a


todas as figuras, quer próprias de cada uma a. As comuns a todas a Primeiros Ana­
são quatro. líticos, I, 24.
Primeira.
Primeirab: de duas particulares, nada se conclui por força da b Também dos
forma. Esta regra está patente no que se disse, pois, de duas parti­ Primeiros Analíticos,
culares, podem surgir quatro modos (ou ambas as proposições serão I, 7.
afirmativas, ou ambas negativas, ou a maior será afirmativa e a menor
negativa, ou a maior será negativa e a menor afirmativa). Não
enumerámos qualquer deles, em nenhuma figura, como concluindo
aptamente.
Segunda regra: de duas negativas, nada se conclui por força da Segunda.
forma. Também esta está patente no que se disse, pois, de duas nega­
tivas, podem, da mesma maneira, surgir quatro modos (ou ambas
serão universais, ou ambas particulares, ou a maior será universal e
a menor particular, ou a maior particular e a menor universal). Até
aqui, não enumerámos nenhum deles como concluindo bem. Sucede,
assim, que, nestas duas regras, estão abrangidos sete modos inúteis,
postos de lado em cada figura. Efectivamente, a dedução a partir
de duas particulares negativas, que é rejeitada pela segunda regra,
já foi rejeitada pela primeira.
B Terceira regra: se uma das proposições for particular, é necessário Terceira.
que também a conclusão seja particular, o que é igualmente evidente
pelo que ficou dito. Com efeito, não se apresentou anteriormente
nenhum modo que deduza uma conclusão universal de uma propo­
sição particular.
Quarta regra: se uma das proposições for negativa, é necessário Quarta.
que também a conclusão seja negativa. Também esta, como a anterior,
é evidente pelo que se disse. A razão é que, em ambas, o consequente
é efeito do antecedente, e o efeito segue a pior parte da sua causa.
384 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

tur. Veruntamen prima, et tertia regula intelligendce sunt in iis syllogismis,


In quibus syllogismis
quorum omnes termini sunt communes, seu universales {horum enim hacte­
intelligenda sint pri­ nus doctrinam tradidimus, quia hi maxime usurpantur in disciplinis) item
ma, et tertia regulae. cum prcedicata enunciationum non notantur signo Omnis, quod efficit
enunciationem a communi usu remotam. Nam in iis syllogismis, in
quibus prceter consuetudinem aliquod prcedicatum huiusmodi signo nota­
tur, et in expositoriis, qui constant medio termino singulari, alia ratio
est, ut paulo post c docebimus.
c cap. 20. et 23.

Regulce speciales singulis figuris

Ca p V T 19

Ex iis vero, quce in tractatione primee figurce dicta sunt, colliguntur A


a 1. prio. 4. duce regulce peculiares primee figurce a. Prior est Ex maiore propositione
Prior regula primae
figura. particulari nihil vi formee concludi. Posterior, Ex minore negativa nihil
Posterior. effici- Quce quidem intelligendce sunt in modis directe concludentibus.
Nam in cceteris non servantur, ut pote in Fapesmo, et Frisesomorum.
His duabus regulis comprehenduntur reliqui quinque modi ad concludendum
inepti in prima figura, qui regulis generalibus non sunt comprehensi:
primus, cum utraque affirmat, sed maior ex parte, minor in totum:
secundus, cum maior negat ex parte, et minor universe affirmat: tertius,
cum maior affirmat ex parte, et minor universe negat: quartus cum. utraque
est universa, sed maior affirmat, minor negat: quintus cum maior affir­
mat in totum, et minor negat ex parte.
b 1. prio. 5.
Prior regula secundae
Ex iis etiam, quce secunda figura tractanda diximus, totidem regulce
figura. ipsi proprice eruuntur A Prior, Ex maiore propositione particulari nihil
Posterior. ratione formee colligi. Posterior, Ex utraque sumptione affirmativa nihil
colligi. His etiam, duabus comprehenduntur cceteri quinque modi nihil
concludentes in secunda figura: primus, cum maior de parte affirmat,
et minor de toto negat: secundus, cum maior ex parte negat, et minor
universe affirmat: tertius, cum utraque affirmat, sed maior de parte,
minor de toto: quartus, cum utraque universe affirmat: quintus, cum
utraque affirmat, sed maior de toto genere, minor de parte.

A 1-A 4 — Prior regulae primee figurce, ex 1. prio. 4. (cota marginal).


A 8-A 9 — sed maior in parte, minor in totum: alter, cum maior...
A 12 — negat de parte.
A 13-A 17 — Prior regulce secundce figurce, ex 1. pri. 5. Posterior, (cota marginal).
A 17 — cum maior in parte affirmat...
A 18 — cum maior in parte negat...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 385

A primeira e a terceira regras devem entender-se, todavia, naqueles


silogismos cujos termos são todos comuns ou universais (com efeito,
foi destes que tratámos até agora, porque se usam imenso nas ciências); Em que silogismos
devem entender-se a
de igual modo, quando os predicados das enunciações não são ano­ primeira e a terceira
tados com o sinal todo, que torna a enunciação afastada do uso comum. regras.
Efectivamente, nos silogismos em que, contra o costume, algum predi­
cado é anotado com tal sinal, e nos expositórios, que têm um termo
médio singular, existe outra razão, como dentro em pouco c ensina­
remos. c Caps. 20 e 23.

C a p í t u l o 19

Regras especiais para cada figura

A Do que se disse ao tratar da primeira figura, deduzem-se duas regras


próprias da primeira figuraa. A primeira é: de uma proposição a Primeiros Ana­
líticos, I, 4.
maior particular, nada se conclui por força da forma. A segunda: Primeira regra da pri­
de uma menor negativa nada resulta. Uma c outra devem entender-se meira figura.
nos modos de concluir directamente. Com efeito, nos outros, como Segunda.

em Fapesmo e Frisesomorum, não se verificam. Por estas duas regras


são abrangidos os restantes cinco modos ineptos para concluir na
primeira figura, e que não são abrangidos pelas regras gerais: o pri­
meiro, quando ambas afirmam, mas a maior é particular e a menor
universal; o segundo, quando a maior nega e a menor afirma umversal­
mente; o terceiro, quando a maior é afirmativa particular e a menor
negativa universal; o quarto, quando ambas são universais, mas a maior
afirma e a menor nega; o quinto, quando a maior é afirmativa uni­
versal e a menor negativa particular. b Primeiros Ana­
Também, do que dissemos ao tratar da segunda figura, se deduzem líticos, I, 5.
outras tantas regras próprias dela6. Primeira: de uma proposição Primeira regra da se­
gunda figura.
maior particular, nada se conclui em razão da forma. Segunda: Segunda.
de duas proposições afirmativas, nada se conclui. Por estas duas
regras são abrangidos também os restantes cinco modos que nada
concluem na segunda figura: o primeiro, quando a maior é afirmativa
particular e a menor negativa universal; o segundo, quando a maior
é negativa particular e a menor afirmativa universal; o terceiro, quando
ambas afirmam, mas a maior é particular e a menor universal; o quarto,
quando ambas afirmam universalmente; o quinto, quando ambas afir­
mam, mas a maior é universal e a menor particular.
35
386 INSTITVTIONYM DIALECTICARVM LIBER VI

Ex iis tandem, quce in tertia figura dicta sunt, hcec una regula ipsi
propria colligitur c, Ex minore negativa nihil effici. Qua regula compre­
henduntur reliqui modi nihil concludentes in hac figura, qui regulis genera­
Regula terti» figur».
libus comprehensi non sunt. Hi vero tres sunt tantum: unus, cum maior
c 1. prio. 6.
universe affirmat, minor universe negat: alter, cum maior universe affirmat,
minor ex parte negat: tertius, cum maior ex parte affirmat, et minor
universe negat.

Duo documenta generalia a recentioribus tradita

CapVT20

Non sunt tamen prcetermittenda hoc loco duo generalia documenta, A


quce a recentioribus proponuntur, ex quibus traditce regulce magna ex parte
Primum documen­
tum.
nascuntur. Alterum est, Medium terminum in altera saltem prcemissarum
complete distribui debere, id est, universe accipi pro omni re, pro qua
accipi potest. Contrario vitio laborat hic ineptus syllogismus,

Quoddam animal est bipes,


Quidam equus est animal,
Igitur quidam equus est bipes.

Emendabitur autem, si hanc feceris maiorem, Omne animal est bipes, B


vel hanc minorem, Quidam equus est omne animal. Utroque enim modo
Quo pacto ex duabus
particularibus aliquid distribuetur medius terminus, qui in vitiosa illa ratiocinatione non distri­
efficiatur. buitur. Quanquam secunda correctio, et emendatio perparum usurpata
est, quia prcedicatum raro notatur signo Omnis. Hoc tamen inusitato
enunciandi modo licet ex duabus particularibus aliquid vi formce concludere,
ut si dicas,
Quoddam animal est bipes,
Quidam equus est omne animal,
Igitur quidam equus est bipes.

Hic vero falax syllogismus,

Omne animal fuit in arca Noe,


Quidam equus Alexandri est animal,
Igitur quidam equus Alexandri fuit in arca Noe.

A 22-A 24 — Regula ter tice figures, ex 1. prio. 6.


A 25 — tantum: primus, cum...
B 4-B 7 — Aliquando ex duabus particularibus aliquid efficitur, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 387

Finalmente, do que se disse na terceira figura, deduz-se urna Regra da terceira


única regra própria delac: de uma maior negativa, nada resulta. figura.
c Primeiros Ana­
São abrangidos por esta regra os restantes modos que nada concluem
líticos, I, 6.
nesta figura e que não são abrangidos pelas regras gerais. Estes são
apenas três: o primeiro, quando a maior é afirmativa universal e a menor
é negativa universal; o segundo, quando a maior é afirmativa universal
e a menor é negativa particular; o terceiro, quando a maior é afirmativa
particular e a menor negativa universal.

Capítulo 20

Duas regras gerais dadas pelos modernos

A Não devem, todavia, omitir-se neste lugar duas regras gerais


propostas pelos modernos e donde provêm, em grande parte, as regras
dadas. Uma é: o termo médio, pelo menos numa das premissas, Primeira regra.
deve distribuir-se completamente, isto é, deve tomar-se universalmente
por tudo o que puder ser tomado. No vício contrário labora este
silogismo inepto:
Algum animal é bípede,
Algum cavalo é animal
Logo, algum cavalo é bípede.

B Corrigir-se-á, porém, se se tomar por maior esta: todo o animal


é bípede; ou, por menor, esta: algum cavalo é todo o animal. De ambos
os modos, com efeito, se distribuirá o termo médio que naquele racio­
cínio vicioso se não distribui. Embora a segunda correcção ou emenda De que modo se con­
seja muito pouco usada, pois raramente o predicado se anota com clui alguma coisa de
duas partculares.
o sinal todo, é, todavia, lícito, com este desusado modo de enunciar,
concluir, por força da forma, alguma coisa, de duas particulares, como
se se disser:
Algum animal é bípede,
Algum cavalo é todo o animal,
Logo, algum cavalo é bípede.

Mas este silogismo falacioso:

Todo o animal esteve na arca de Noé,


Certo cavalo de Alexandre é animal,
Logo, certo cavalo de Alexandre esteve na arca de Noé,
388 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

non ideo vitiosus est, quod medium non distribuatur, sed quod non distri­
buatur complete, seu perfecte. Subiectum siquidem maioris accipi solet
pro omnibus speciebus animalium {exceptis iis, quce in aquis degunt,
et aliis quibusdam) non etiam pro omnibus earum individuis. Eodem C
vitio notatur hoc sophisma.

Omnis essentia divina est pater,


Filius est essentia divina,
Ergo filius est pater.

Medius enim terminus, quo in sensu maior propositio conceditur,


non distribuitur complete, ac perfecte. Quanquam enim accipitur pro
omni essentia divina, quce una tantum, atque adeo maxime una est, tamen
non accipitur pro omni re, quce est essentia divina. Nam si hoc modo
acciperetur {ac si apertius dictum esset, Omne quod est essentia divina,
est pater) a nemine propositio concederetur: quando quidem falsa esset,
ac hceretica. Etenim qualibet persona divina est verissime essentia
divina, et tamen non qucelibet est pater. Quod si equis obiiciat contra
Obiectio. hoc documentum, quod medius terminus in secunda figura nunquam dis­
tribuatur, cum perpetuo sit prcedicatum, quod quidem signo distributivo,
seu universali, ut est Aristotelis sententiaa, minime notatur: occurres,
a 1. peri. 5.
Semper prcedicatum negativa emmeiationis distribui a negatione, quce D
Solutio.
negat copulam verbi, ut infra docebimus b; nec Aristotelem huic sententice
b Lib. 8. c. 32.
refragari, sed tantum asserere prcedicatum enunciationis universalis non
esse notandum signo Omnis, quod est universale affirmativum. Cum
ergo in secunda figura necessario altera sumptio sit negativa, efficitur,
ut medius terminus necessario in altera, distribuatur: ut, exempli causa,
huius propositionis, Lapis non est. animal, hic sit sensus, Lapis non est E
Secundum documen­ hoc animal, nec hoc, nec illud, nec ullum aliud: et ita exterarum. Alterum
tum.
documentum est, Nullum terminum, qui non fuerit distributus in antece­
dente, distribuendum esse in consequente. Contrario vitio laborat hic
paralogismus,
Omne animal est sensus capax,
Omne animal est substantia,
Igitur omnis substantia est sensus capax.

Cur saepe ex utraque Etenim nomen Substantia, quod non distribuitur {id est, non accipitur F
sumptione universali
universe) in assumptione, distribuitur in conclusione. Ex hoc documento
non efficiatur univer­
salis conclusio.

B I5-B 16 [1590] — quod non distribuitur complete...


D3 — Lib. 8. c. 31. (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 389

é vicioso, não por o médio se não distribuir, mas por se não distribuir
completa e perfeitamente. É que o sujeito da maior costuma tomar-se
por todas as espécies de animais (à excepção daqueles que vivem nas
águas e alguns outros), e não por todos os indivíduos de cada espécie.
C Do mesmo vício sofre este sofisma:

Toda a essência divina é o Pai,


O Filho é a essência divina,
Logo, o Filho é o Pai.

O termo médio, com efeito, no sentido em que se concede a propo­


sição maior, não se distribui completa e perfeitamente. Embora, na
verdade, se tome por toda a essência divina, que é una, eminentemente
una, todavia, não se toma por toda a realidade que é a essência divina.
Na verdade, se a proposição se tomasse deste modo (e se claramente
se dissesse: tudo o que é essência divina é Pai), não seria concedida
por ninguém, pois seria falsa e herética. Efectivamente, qualquer pessoa
divina é, com toda a verdade, a essência divina e, todavia, não é o Pai
qualquer delas.
Se, contra esta regra, alguém objectar que o termo médio, na segunda Objecção.
figura, nunca se distribui, pois é sempre predicado e este de modo
nenhum é marcado com o sinal distributivo ou universal, como é parecer
de Aristóteles a, replicar-se-á: o predicado de uma enunciação negativa a Da Interpreta­
D é sempre distribuído pela negação que nega a cópula do verbo, como ção, I, 5.
Solução.
abaixo ensinaremos b; nem Aristóteles se insurge contra esta opinião, b Livro VIII,
mas afirma somente que o predicado da enunciação universal não deve cap. 32.
ser marcado com o sinal todo, que é universal afirmativo. Por conse­
guinte, quando, na segunda figura, uma proposição é necessàriamente
negativa, acontece que o termo médio se distribui necessàriamente na
outra, de maneira que, por exemplo, o sentido da proposição a pedra
E não é animal é este: a pedra não é este animal, nem este outro, nem
aquele, nem nenhum outro; e assim o das restantes.
Outra regra é: o termo que não estiver distribuído no antecedente, Segunda regra.
também não deve estar distribuído no consequente. Labora no vício
contrário este paralogismo:

Todo o animal é dotado se sentidos,


Todo o animal é substância,
Logo, toda a substância é dotada de sentidos.

Porque é que, mui­


F Com efeito, a palavra substância, que se não distribui (isto é, se não tas vezes, de duas
toma universalmente) na menor, distribui-se na conclusão. Desta proposições univer­
sais se não tira uma
conclusão universal.
390 INSTITVTIONVM DÍALECTICARVM LIBER VI

efficitur, ut merito, nec Darapti, nec Felapton, nec cluo illi modi indirecte
concludentes Baralipton, et Fapesmo, colligant universalem conclusionem,
etiam si constent universalibus sumptionibus, quoniam si universalem
concludas, argumentaberis a termino non distributo ad distributum, ut
loquuntur recentiores: id quod animadvertenti facile patebit. Itaque non
segniter notanda sunt hcec documenta.

De syllogismo perfecto et imperfecto

CA P V T 21

Porro syllogismorum quidam perfecti sunt, quidam imperfecti. Per- A


Perfectus syllog. fectus dicitur is, qui nulla re indiget, ut colligendi necessitas sit evidens a,
a 1. pri. 1. hoc est, qui adeo perspicue ex necessitate colligit, ut nulla sit opus arte
ad id ostendendum. Huius generis sunt omnes, ac soli directe concludentes
in prima figura: qui propterea dicuntur b per se noti, ac indemonstrabiles,
b [Ab] Alexan. 1. quod in his absque ullo medio exerceatur vis duorum quorundam princi­
prio. 4. et Scot. 1.
sent. q. 1. et aliis. piorum ipso naturali lumine intellectus perspectorum, ac evidentium, e
Principia, quas di­
quibus omnis colligendi ratio, qutz in quacunque argumentatione cernitur,
cuntur regulativa.
quasi e purissimis fontibus emanat. Alterum [eorum] est, Quicquid B
c prio.
1. 1.
universe affirmatur de subiecto, affirmatur de quovis contento sub illo c:
ut si substantia dicitur universe de animali omnis autem homo continetur
sub animali, de omni homine dicetur substantia. Alterum vero est,
[d Ibidem]. Quicquid universe negatur de subiecto, negatur de quovis contento sub
illo d: ut si habere vitam universe negatur de lapide, omnis autem sapphirus
In quibus syllogismis continetur sub lapide, haud dubie de omni sapphiro negabitur vitee functio.
exerceatur vis tum
prioris principii tum Prioris principii vis exercetur in primo, et tertio modo primee figurce, hoc
posterioris. est, in Barbara, et Darii: posterioris autem in secundo, et quarto, qui dicun­
tur Celarent, et Ferio. Quo fit ut principia hcec merito dicantur regula­
tiva omnium syllogismorum, quasi omnium normee, ac regulce: siquidem et
cceteri omnes syllogismi ad quatuor illos, in quibus primo eorum vis cer-

A 6 — quod in his proxime exerceatur...


B 2-B 3 — de subiecto aliquo, affirmatur de quovis contento sub eiusdem
subiecto: ut si...
B 5-B 6 — de subiecto aliquo, negatur de quovis contento sub eiusdem subiecto:
ut si...
B 8-B 13 — In quibus syllogismis proxime exerceatur vis horum principiorum.
(cota marginal).
B 14 — Ibidem, (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 391

regra resulta, com razão, que nem Darapti nem Felapton nem os dois
modos que concluem indirectamente, Baralipton e Fapesmo, inferem
uma conclusão universal, embora constem de proposições universais,
pois, se se concluir uma universal, argumentar-se-á de um termo não
distribuído para um distribuído, como dizem os modernos, o que
fácilmente se tornará claro a quem nisso advertir. Não devem, portanto,
passar despercebidas estas regras.

Capítulo 21

Do silogismo perfeito e imperfeito

A Dos silogismos uns são perfeitos, outros imperfeitos. Diz-se perfeito


aquele que de nada carece para que a necessidade de concluir seja evi­ Silogismo perfeito.
dente a, isto é, aquele que, por necessidade, deduz tão claramente que
se dispensa qualquer arte para o mostrar. Deste género são todos, a Primeiros Ana­
líticos, I, 1.
e só, os que concluem directamente na primeira figura, aos quais se dá
o nome * de conhecidos por si mesmos e indemonstráveis, porque neles,
b Por Alexandre,
sem nenhum meio, se exerce a força de dois princípios percebidos pela Primeiros Analíticos,
própria luz natural da inteligência e evidentes, dos quais, como de I, 4; e Escoto, Sen­
tença I, questão 1 e
fontes puríssimas, dimana todo o método de deduzir que se verifica noutras.
em qualquer argumentação. Princípios chamados
B Um deles é: tudo o que se afirma umversalmente do sujeito, afir­ reguladores.

ma-se de qualquer coisa sob ele contida c; por exemplo, se substância c Primeiros Ana­
líticos, I, 1.
se diz universalmente de animal, uma vez que todo o homem está con­
tido em animal, de todo o homem se dirá substância.
Outro é: tudo o que universalmente se nega do sujeito, nega-se
d No mesmo lu­
de qualquer coisa contida sob ele^; por exemplo, se ter vida se gar.
negar universalmente de pedra, uma vez que toda a safira está con­
tida em pedra, sem dúvida que a função de vida será negada a toda
a safira. Em que silogismos se
exerce a força quer
A força do primeiro princípio exerce-se no primeiro e no terceiro do primeiro princípio
modo da primeira figura, isto é, em Barbara e Darii; a do segundo, quer do segundo.
porém, no segundo e no quarto, que se chamam Celarent e Ferio.
Daqui resulta chamarem-se estes os princípios reguladores de todos os
silogismos, como que normas e regras de todos; por isso ainda, todos os
outros silogismos se reduzem àqueles quatro, nos quais primeiro se nota
a sua força, como diremos em breve.
392 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

ni tur, revocantur, ut statim dicemus. Syllogismus imperfectus est, qui


una re, aut pluribus indiget, ut colligendi necessitas evidens fiate: Cuius-
modi sunt reliqui omnes prceter quatuor primos primee figura;. Neque
enim adeo perspicue concludunt, ut necessitas colligendi statim appa­
Imperfectus syllogis­
mus. reat: sed quisque eorum eget conversione aliqua, aut evidenti deductione
e 1. prio. 1. ad id, quod fieri nequit, aut expositione, aut certe pluribus conversionibus,
quibus ipsa consequentice necessitas plane perspiciatur. Ut igitur quo
pacto id fiat doceamus, necesse est ut ante explicemus, quid sit evidens
deductio ad id, quod impossibile est, quid etiam expositio. Nam quid
sit conversio, et quot modis fiat, iam supra f exposuimus.

/ Lib. 3. [cap. 8.]

De sylogismo deducente ad impossibile

C a p VT 22

Duobus modis syllogismo aliquid probamus: directo, aut ex hypotesi, A


a 1. pri. 30. et 40. seu conditione cum altero positaa. Exempli causa, si alicui probare
et 2. prio. 14.
voluero, nulla opposita in eadem re simul reperiri posse, uno e duobus
modis mihi licebit id facere. Altero, hoc idem concludendo, ut si dicam.

Nulla repugnantia reperiri simul possunt in eadem re,


Omnia opposita sunt repugnantia,
Igitur nulla opposita simul in eadem re possunt reperiri.

Altero, concludendo aliud pronunciatum, verbi causa, nulla contraria


posse simul reperiri in eadem re, facta tamen prius conventione cum altero,
ut si in contrariis id confirmem, in omnibus oppositorum generibus con­
firmatum censeatur: veluti si dicam,

NuIlie formse mutuo sese ab eodem subiecto expellentes, simul reperiri possunt
Syllogismus ostensi­ in eadem re,
vus. Omnia contraria sunt formas huiuscemodi,
Syllog. ex hypothesi. Igitur nulla contraria reperiri simul possunt in eadem re.

Prior syllogismus directo probat institutum, et ideo vocatur δεικτικός,


quasi ostensivus: posterior non confirmat propositum, nisi ex pacto, et
conventione cum altero, et ideo dicitur εξ νποθέσεως, quasi ex conditione

A 2-A 4 — Ex 1. prio. 30 et 40. et ex 2. prio 14. (cota marginal).


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 393

Silogismos imperfeito é aquele que carece de uma ou de várias Silogismo imperfeito.


coisas para que a necessidade de deduzir e se torne evidente. Deste e Primeiros Ana­
género são todos os restantes, à excepção dos quatro primeiros da líticos, I, 1.
primeira figura. Pois não concluem tão claramente que se torne ime­
diatamente evidente a necessidade de concluir, mas cada um deles
carece de uma conversão, ou duma redução evidente ao absurdo ou
de uma exposição, ou ao menos de várias conversões, para por elas se
tornar evidente a necessidade da consequência. Para ensinarmos,
portanto, o modo de fazer isto, é necessário que expliquemos antes o
que é uma redução evidente ao absurdo e o que é uma exposição.
Com efeito, já atrás expusemos o que é a conversão e quantos os modos
de a fazer/. / Livro III, cap. 8.

Capítulo 22

Do silogismo que reduz ao impossível

A De dois modos, provamos alguma coisa com um silogismo: direc­


tamente e por hipótese ou por condição posta com outro a. Por exemplo: a Primeiros Ana­
se se quiser provar a alguém que não podem encontrar-se opostos, ao líticos, I, 30 e 40; e
Segundos Analíticos,
mesmo tempo, numa mesma coisa, será lícito fazê-lo por um de dois II, 14.
modos. Primeiro: concluindo isso mesmo, como se se disser:

Nenhuns repugnantes podem encontrar-se ao mesmo tempo numa coisa,


Todos os opostos são repugnantes,
Logo, nenhuns opostos podem encontrar-se ao mesmo tempo numa mesma coisa.

Segundo: concluindo alguma coisa enunciada — por exemplo, que


nenhuns contrários podem encontrar-se ao mesmo tempo numa coisa —
— fazendo, primeiramente, convenção com o outro, de forma que, se eu
o provar nos contrários, provado fique em todos os géneros de opostos,
como se se disser:

Nenhumas formas que mutuamente se repilam dum mesmo sujeito podem


encontrar-se, ao mesmo tempo, mmia mesma coisa,
Todos os contrários são formas deste género,
Logo, nenhuns contrários podem encontrar-se, ao mesmo tempo, numa mesma
coisa.

O primeiro silogismo prova directamente o estabelecido e, portanto, Silogismo ostensivo.


chama-se δεικτικός, isto é, ostensivo; o segundo não confirma o enun­
ciado, a não ser por pacto e convenção com o outro e, por isso, se diz
εξ νποθέσεως (por hipótese), isto é, por condição posta. Silogismo por hipó­
tese.
394 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

posita. Itaque in syllogismis, qui ex hypothesi rem probant, numerantur ii,


qui dicuntur εις το αδύνατον και δια τον αδυνάτου, hoc est, Ad impos- B
sibile, et Per impossibile, quia ex contradicente alicuius enunciationis ver ce
Syllogismus per im­
possibile sive ad im­ ab adversario absurde data, et ex altera perspicue vera, deducit hominem
possibile. ad aliquid, quod fieri nequeat, et per eiusmodi impossibile, quod ille admit­
Cur dicatur ad im~ tere omnino recusat, cogit eum retractare id, quod absurde ante dederat,
possib. atque adeo admittere enunciationem quam negaverat. Exempli causa,
Cur per impossib.
neget aliquis hanc veram enunciationem, Aliquid ex quo voluptas capitur,
non est bonum: dicatque absurde, omne id, ex quo voluptas capitur, esse
bonum: tunc ego sic argumentabor.

Omne id ex quo voluptas capitur, est bonum, ut ais,


Quaedam vero mala sunt, ex quibus invidus voluptatem capit, ut perspicuum est.
Igitur quaedam mala sunt bona.

Ille vero, cum viderit me aliquid, quod fieri nequeat, ex enunciatione a


se data, et alia perspicue vera collegisse, plane negabit id, quod absurde
asseruit, sicque admittet, quod negaverat, quia id verum esse non potest,
ex quo impossibile aliquid efficitur. Ita syllogismus hic, quem feci,
non colligit directo institutum, ut pote, Non omne id ex quo voluptas capitur
esse bonum {id quod ego concludere contra hominem cupiebam) sed quid­
dam impossibile, quo concluso cogitur ille ex tacito quodam pacto, et
Conditio, seu hypo- conditione, quam omnes disputantes inter se statuunt, retractare id, quod
thesis, unde syllogis­ dixerat. Conditio autem conventiove tacita disputantium, qua ille tenetur, C
mus ad impossibile
dicitur ex hypothesi, est, ut si aliquid, quod fieri nequeat, ex cuiusquam assertione concludi
quas sit. comperiatur, talis assertio retractata conseatur. Impossibile namque non,
Hoc lib. c. 5.] nisi ex impossibili, sequitur, ut supra b dictum est. Sic igitur fit deductio
Quae sit evidens de­
ductio ad impossibile. ad impossibile. Quce tunc erit evidens, cum syllogismus, qui ad impossibile
deduxerit, fuerit perfectus, hoc est, ex primis quatuor primee figurae:
c Cap. 27. qualis est is, quem in exemplum attulimus. Verum quo pacto hoc syllo­
gismorum genere evidens fiat necessitas concludendi imperfectorum, paulo
post c docebimus.

B 3 [1590]—perspicue deducit hominem...


B 5-B 6 — dederat, et ita admittere...
B 13-B 14 — nequeat, ex sua enunciatione, et alia perspicue...
C 5-C6 — cum syllogismus deducens fuerit perfectus...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 395

Portanto, nos silogismos qne provam alguma coisa por hipótese,


contam-se aqueles que se dizem είς το âòvvaxov και διά τον άδννάτον,
B isto é, ao impossível e pelo impossível, porque, da contraditória de alguma Silogismo pelo im­
enunciação verdadeira, absurdamente dada pelo adversário, e de outra possível ou ao impos­
sível.
manifestamente verdadeira, se conduz o homem àquilo que não pode
dar-se, e, pelo mesmo impossível, que ele recusa absolutamente admitir, Porque se diz ao
se obriga a retratar aquilo que antes absurdamente tinha concedido e a impossível.
Porque pelo impossí­
admitir assim a enunciação que tinha negado. Por exemplo: alguém vel.
nega que é verdadeira esta enunciação alguma coisa donde se Ura prazer
não é boa e diz absurdamente que tudo aquilo de que se tira prazer é bom.
Argumentar-se-á então assim:

Tudo aquilo de que se tira prazer é bom (como dizes),


Alguns males há, porém, como é evidente, de que o invejoso tira prazer,
Logo, alguns males são bons.

Quando ele vir que, da enunciação dada por ele e de outra manifes­
tamente verdadeira, se deduziu uma coisa que não pode dar-se, negará
absolutamente o que absurdamente afirmou, e admitirá assim o que
tinha negado, pois não pode ser verdadeiro aquilo de que se conclui
alguma coisa impossível. Assim, o silogismo apresentado não conclui
directamente o enunciado, como: nem tudo aquilo de que se tira prazer
é bom (o que se desejava concluir contra o adversário), mas algo
impossível, cuja conclusão o obriga por um certo pacto e condição,
que, aliás, todos os que disputam entre si estabelecem, a retractar o
que tinha dito.
C Essa condição ou convenção tácita dos que disputam, pela qual Qual a condição ou
ele é obrigado, consiste nisto: se se verificar que duma asserção de alguém hipótese por que o si­
logismo ao impossí­
se conclui uma coisa que não pode dar-se, tal asserção é tida como vel se diz por hipó­
retractada. O impossível, efectivamente, não se segue senão do impos­ tese.
sível, como atrás b se disse. Assim, pois, se faz a dedução ao impossível, b Neste livro,
a qual será evidente quando o silogismo que deduz o impossível for cap. 5.
Qual a dedução evi­
perfeito, isto é, dos primeiros quatro da primeira figura, como é o que
dente ao impossível.
apresentámos como exemplo. Mais adiante, ensinaremos como se
torna evidente a necessidade de concluir com este género de silogismos
imperfeitos c. c Cap. 27
396 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

De syllogismo expositorio

Ca pV T 23

Expositio vero, qua scepe utitur Aristotelesa, fit quodam syllogis­ A


a Ut 1. prio 2. et 6.
morum genere, quod Expositorium appellatur. Is autem dicitur syllo­
Syllog. expos. quid.
gismus expositorius, qui constat medio termino singulari. Exempla
Exposit. syllog. prae­ mox tradentur. Quia vero naturale est singularibus terminis, ut subii-
cipue struitur in tertia
figura.
ciantur, is maxime, ac prcecipue dicitur expositorius syllogismus, qui in
tertia figura struitur. Perpetuo enim medius terminus in ea figura subiici-
Qua ratione differant
expositorii syllog. a tur, ut patet ex dictis. Ex iis, quce dicta sunt, efficitur, ut generaliter B
cseteris. hoc differant expositorii syllogismi ab iis, quos hactenus tractavimus,
quod illi constent medio termino communi, hi singulari. Si ergo exposi­ C
torii syllogismi non solum constiterint medio termino singulari, sed etiam
utramque sumptionem habuerint singularem, duobus tantum modis in
prima figura colligent, totidem in tertia, et tribus in secunda. Prior
modus primee figurai, ex utraque affirmante colligit singularem affirman­
tem hoc pacto,
Socrates est sapiens,
Hic homo est Socrates,
Igitur hic homo est sapiens.

Posterior ex propositione negante, et assumptione affirmante colligit


singularem negantem hoc pacto.

Socrates non colit multos deos,


Hic philosophus est Socrates,
Igitur hic philosophus non colit multos deos.

Primus secunda; ex utraque affirmante colligit singularem affirman­


tem, ut,
Marcus Tullius est Cicero,
Hic homo est Cicero,
Igitur hic homo est Marcus Tullius.

Secundus ex propositione negante, et assumptione affirmante colligit


singularem negantem.

Demosthenes non est Cicero,


Hic orator est Cicero,
Igitur hic orator non est Demosthenes.

C 1 — quod illi constant medio...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS —LIVRO VI 397

Capítulo 23

Do silogismo expositório

A A exposição, de que Aristóteles a usa muitas vezes, faz-se por um a Por exemplo,
determinado género de silogismos, que se chama expositório. Silo­ Primeiros Analíticos,
I, 2 e 6.
gismo expositório é aquele que consta de um termo médio singular. Que é o silogismo
Dentro em pouco, daremos exemplos. Uma vez que é natural aos termos expositório.
singulares serem sujeitos, chama-se expositório sobretudo e principal­ O silogismo exposi­
mente o silogismo que se conclui na terceira figura. Nesta figura, tório constrói-se so­
o termo médio é na realidade sempre sujeito, como é evidente pelo bretudo na tercena
figura.
B que se disse. Do que acima dissemos, resulta que, de um modo geral, Por que razão dife­
os silogismos expositórios diferem dos que até agora tratamos nisto: rem os silogismos ex­
C ester têm um termo médio comum; aqueles, singular. Se, portanto, positórios dos res­
os silogismos expositórios constarem não só de um termo médio singular, tantes.
mas tiverem ainda ambas as proposições singulares, na primeira figura
concluirão apenas de dois modos, de outros tantos na terceira, e na
segunda de três. O primeiro modo da primeira figura, de duas afir­
mativas, deduz uma singular afirmativa, deste modo:

Sócrates é sábio,
Este homem é Sócrates,
Logo, este homem é sábio.

O segundo, de uma maior negativa e de urna menor afirmativa,


deduz urna singular negativa, deste modo:

Sócrates não adora muitos deuses,


Este filósofo é Sócrates,
Logo, este filósofo não adora muitos deuses.

O primeiro da segunda, de duas afirmativas, deduz urna singular


afirmativa, como:
Marco Túlio é Cicero,
Este homem é Cicero,
Logo, este homem é Marco Túlio.

O segundo, de uma maior negativa e de urna menor afirmativa,


deduz urna singular negativa:
Demóstenes não é Cicero,
Este orador é Cicero,
Logo, este orador não é Demóstenes.
398 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Tertius ex propositione affirmante, et assumptione negante colligit


singularem negantem.

Socrates est filius Sophronisci,


Plato non est filius Sophronisci,
Igitur Plato non est Socrates.

Prior tertiae, ex utraque affirmante colligit particularem affirmantem


hoc pacto.
Socrates est sapiens,
Socrates est pauper,
igitur quidam pauper est sapiens.

Posterior ex propositione negante, et assumptione affirmante colligit


particularem negantem hoc modo,

Croesus non est sapiens,


Croesus est dives,
Igitur quidam dives non est sapiens.

Expositorii ex solo
Si tamen in hac figura minus extremum fuerit singulare, licebit D
medio singulari. priori modo concludere singularem affirmantem, posteriori autem singularem
Prima figu. negantem, quod facile est exemplis cernere. Si autem, expositorii syllo­
gismi solum medium terminum habuerint singularem, in prima quidem
figura totidem erunt modi, quot in syllogismis ex medio communi, nec
ab illis different, nisi quod necessario habebunt maiores singulares ratione
Secunda.
medii, quod in maiore subiicitur. Exempla facile occurrent. In secunda
vero praeter quatuor vulgatos modos negative concludentes, quorum exempla
statim sese offerunt, alii quatuor ex utraque affirmativa affirmative colli­
gentes reperientur, quorum primus ex utraque universali colligit univer­
salem, ut si dicas,

Omne astrum efficiens diem est hic sol,


Omnis planeta, qui est in quarto coelo est hic sol,
Igitur omnis planeta, qui est in quarto coelo est astrum efficiens diem.

Secundus ex propositione universali, et assumptione particulari con­


cludit particularem. Tertius ex propositione particulari, et assumptione
universali, universalem. Quartus ex utraque particulari, particularem.
Quod non est difficile exemplis illustrare. At in tertia figura nunquam
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 399

O terceiro, de uma maior afirmativa e de uma menor negativa,


deduz uma singular negativa:

Sócrates é filho de Sofronisco,


Platão não é filho de Sofronisco,
Logo, Platão não é Sócrates.

O primeiro da terceira, de duas afirmativas, deduz uma particular


afirmativa, deste modo:

Sócrates é sábio,
Sócrates é pobre,
Logo, certo pobre é sábio.

O segundo, de uma maior negativa e de uma menor afirmativa, deduz


uma particular negativa, deste modo:

Creso não é sábio,


Creso é rico,
Logo, certo rico não é sábio.

D Se, porém, nesta figura, o extremo menor for singular, será lícito Expositório apenas de
concluir no primeiro modo uma singular afirmativa, no segundo uma termo m®dio singu-
singular negativa, o que é fácil de verificar nos exemplos. Se, contudo, . . _
^ Na pruneira figura,
os silogismos expositónos tiverem apenas o termo médio singular, na
primeira figura existirão tantos modos quantos existirem nos silogismos
de termo médio comum, e não diferem deles, a não ser porque terão
necessariamente as maiores singulares em razão do termo médio, que é
sujeito na menor. Exemplos disso facilmente ocorrerão.
Na segunda, além dos quatro modos divulgados que concluem Na segunda,
negativamente, cujos exemplos imediatamente se oferecem, encontram-se
outros quatro que concluem afirmativamente de duas afirmativas;
o primeiro deles deduz de duas universais uma universal, como se se
disser:

Todo o astro que faz o dia é este sol,


Todo o planeta que está no quarto céu é este sol,
Logo, todo o planeta que está no quarto céu é o astro que faz o dia.

O segundo, de uma maior universal e de uma menor particular,


conclui uma particular. O terceiro, de uma maior particular e de uma
menor universal, conclui uma universal. O quarto, de duas particulares,
conclui uma particular. O que não é difícil ilustrar com exemplos.
400 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Tertia. plures sunt quam duo modi, quos iam tradidimus. Illud tamen obiter E
admonuerim, hoc syllogismorum genere ex utraque sumptione particulari
aliquid in secunda figura ex vi formae, concludi: itemque ex particulari
colligi universalem: id quod supra animadvertendum diximus.
[Possunt autem hi quatuor modi affirmative concludentes in secunda
figura (si quis illos inficietur) revocari ad modos primae solius maioris
conversione: primus quidem, et tertius ad primum: secundus vero, et
quartus ad tertium. Possunt etiam probari per deductionem ad incommo­
dum: primus, et tertius, in Bocardo: secundus, et quartus, in Feri son.
Nam ex contradictorio conclusionis cuiusque modi assumpta minore colligi­
tur immediate contrarium, aut contradictorium maioris: modo ponas
b Lib. 3. c. 9. singularem negativam converti in universalem negativam, ut suprab
dictum est. Quanquam haec revocatio forsitan, non est naturalis, sed
ad hominem pertinacem, aut qui minus perspicaciter eorum vim consideret.
Nam cum huiusmodi syllogismi sint expositorii, fortasse non indigent
probatione, quia diligenter advertenti videntur per se noti, ut mox dicetur.
Tantum abest ut per Bocardo, et Ferison, qui per expositorios confir­
mantur, probari debeant].

Quod expositiorii syllogismi sint perfecti


ac per se evidentes

Capvt 24

Principia per se nota, Videntur autem omnes syllogismi expositorii habere necessitatem A
quorum vis exerce­ colligendi per se notam, et perspicuam, ac proinde esse perfecti, quia
tur in expositoriis
syllogismis.
constant medio termino, sive argumento, singulari, qui est maxime unus,
et absque ullo medio exercent vim illorum principiorum per se evidentium,
Quacunque sunt eadem uni tertio, sunt eadem inter se: Quacumque ita
sunt ad aliquid tertium affecta, ut alterum sit idem illi, alterum non idem,

E 5 [1590] — animadvertendum dicimus.


E 5 — Quatuor modi huiusmodi syllogismorum affirmative concludentes in
secunda figura, possunt revocari ad modos primee solius maioris conversione: primus
quidem et tertius, ad primum: secundus vero et quartus, ad tertium. Possunt etiam
probari per deductionena ad incommodum: primus et tertius, in Bocardo: secundus et
quartus, in Ferison. Nam ex contradictorio conclusionis cuiusque modi assumpta
minore colligitur imediate contrarium aut contradictorium maioris: modo ponas singu­
larem negativam converti in universalem negativam, quod hac ratione colliges.
Socrates non est albus, ergo nullum album est Socrates. Nam si aliquod album
est Socrates, Socrates quoque est albus, quod contradicit primee enunciationi. Hcec
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 401

E Mas na terceira figura nunca há mais que os dois modos, que já Na terceira.
apresentámos. Ainda assim, tocarei nisto de passagem: neste género
de silogismos, de duas proposições particulares, na segunda figura algo
se conclui por força da forma; do mesmo modo, de uma particular
se conclui uma universal. Atrás dissemos que isto deveria ser tido em
conta.
Os quatro modos que concluem afirmativamente na segunda figura
podem (se alguém os negar) reduzir-se aos modos da primeira, por con­
versão apenas da maior: o primeiro e o terceiro ao primeiro, o segundo
e o quarto ao terceiro. Podem ainda provar-se por redução ao incon­
veniente : o primeiro e o terceiro, em Bocardo; e o segundo e o quarto,
em Ferison. Efectivamente, do contraditório da conclusão de qualquer
modo, dada a menor, deduz-se imediatamente o contrário ou o con­
traditório da maior, desde que se ponha uma singular negativa a con-
verter-se numa universal negativa, como atrás b foi dito. b Livro III, cap. 9.
Esta redução não é talvez natural, mas apenas aos olhos de uma
pessoa obstinada ou que com menor perspicácia considere a força desses
modos. Com efeito, sendo deste género os silogismos expositórios, tal­
vez não careçam de prova, porque se apresentam conhecidos por si a
quem diligentemente neles advertir, como a seguir se dirá. Tão longe
estão [disso] que devem provar-se por Bocardo e Ferison, que, por sua
vez, se confirmam pelos expositórios.

Capítulo 24

Porque os silogismos expositórios são perfeitos


e por si evidentes

A Parece, pois, que todos os silogismos expositórios têm uma neces­ Principios por si
sidade por si conhecida e percebida de concluir e, portanto, são per­ conhecidos, cuja for­
ça se exerce no silo­
feitos, pois constam de um termo médio ou argumento singular que gismo expositório.
é sobremaneira uno, e exercem sem qualquer meio a força dos princípios
por si evidentes: todas as coisas que são idênticas a uma terceira são
idênticas entre si; todas as coisas que estão relacionadas com uma ter-

dicta sint provectis, ne quis forte minus attente rem considerans hosce modos inficie­
tur. Nam alioqui fortasse non indigent probatione, quia diligenter advertenti videntur
per se noti, ut mox dicetur. Tantum abest ut, cum expositorii sint, per Bocardo et
Ferison, qui per expositorios confirmantur, probari debeant.
[Esta nota corresponde ao conteúdo do final deste capítulo da edição seguida].
A 3-A 4 — maxime unus et proxime exercent...
26
402 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

non sunt eadem inter se: in quibus nomine terti potissimum intelligitur
aliquid singulare. Merito ergo huiusmodi syllogismi dicti sunt expositorii, B
Cur expositorii Syllo­ quia sunt adeo perspicui, et evidentes, ut rem ipsam sensibus exponere
gismi hoc nomine ap­
pellentur.
videantur. Unde etiam fit, ut non ab re demonstrationes sensibiles appel­
Obicctio. lari soleanta. Sed contra heee sic liceat argumentari: Hce sunt vitiosce, C
a Ab alex. 1. prio.
2. et 6. et ab aliis.
ac fallaces argumentationes, Essentia divina est pater, essentia divina
est filius, ergo filius est pater: Pater non est filius, pater est essentia divina,
ergo essentia divina non est filius: et tamen hi modi, traditi sunt in tertia
Solutio. figura (cum hi termini, Essentia divina, et Pater in divinis sint singulares)
igitur perperam traditi videntur. Respondebis tamen, nomine medii D
termini singularis, quo syllogismus expositorius propositum confirmat,
intelligendum esse eum, qui accipitur pro aliqua re individua, qua nec est
Lege Scotum 1. d. 2.
q. 7. et Dur. 1. d. 33. piltres res, nec est idem re cum ea, qua est plures res (sic enim intellecto
q. 1. et Ochamum. 3. nomine tertii perspicua sunt duo illa principia, qua attulimus: alioqui non
part. logicie. c. 16.
parum habent ambiguitatis) at hunc terminum Essentia divina accipi
pro quadam re individua, hoc est, pro ipsa Deitate, qua tamen est plures
res, id est plura, supposita divina: et hunc terminum Pater (in divinis)
accipi pro quadam re individua, hoc est, pro prima persona Trinitatis,
Aristotelis sententia.
qua tamen est idem re cum essentia divina, equa est plures res. Non
cernuntur ergo modi supradicti in propositis argumentationibus. Quan- E
quam Aristoteles nullum terminum singularem negaret posse esse medium
terminum, syllogismi expositorii, qui lumine fidei minime illustratus, nul­
lam cogitabat rem singularem, qua simul esset plures res. Unde apud
ipsum duo illa principia habentur per se nota, accepto nomine tertii pro
quacumque re singulari.

De probatione ostensiva imperfectorum syllogismorum

Ca pV T 25

His ergo positis, facile erit intelligere, quo pacto necessitas colligendi A
imperfectorum syllogismorum per perfectos confirmetur. Quanquam
enim satis ea probari possit ex eo, quod eadem forma retenta in nulla

C1-C4 — appellentur. Cur dicantur demonstrationes sensibiles ab Alexand. 1.


pri. 2. et 6. et ab aliis. Obiectio. (cota marginal).
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 403

ceira de tal modo que uma lhe seja idêntica e a outra não, não são idên­
ticas entre si. Aqui, pela expressão «terceira», entende-se sobretudo
algo singular.
B Com razão, pois, os silogismos deste género se chamam expositori os, Porque é que os silo­
porque são de tal modo claros e evidentes que parecem expor a própria gismos expositórios
são designados por
coisa aos sentidos. Donde resulta ainda que, não sem razão, costumam a este nome.
chamar-se demonstrações sensíveis. Objccção.
C Mas, contra isto será lícito arguir assim: são viciosas e falaciosas a Por Alexandre,
estas argumentações: a essência divina é o Pai, a essência divina é o Primeiros Analíti­
Filho, logo o Filho é o Pai; o Pai não é o Filho, o Pai é a essência divina, cos, I, 2, 6; e por
outros.
logo a essência divina não é o Filho — e, no entanto, estes modos foram
D dados na terceira figura (uma vez que estes termos «essência divina» Solução.
e «Pai», nas realidades divinas, são singulares); portanto, foram mal
dados. Responder-se-á, todavia: pelo nome de termo médio singular,
com que o silogismo expositório confirma o enunciado, deve eníender-
-se aquele termo que se toma por uma realidade individual, realidade
que não é várias realidades nem o mesmo que uma realidade que é
várias realidades (assim entendido, com efeito, o nome terceiro, são Leia-se Escoto, I,
claros aqueles dois princípios que demos; de contrário, têm muito de disputa 2, questão 7;
e Durando, I, dispu­
ambiguidade); mas a expressão «essência divina» toma-se por uma reali­ ta 33, questão 1; e
dade individual, isto é, pela própria deidade, que, não obstante, é várias Occam, III parte da
coisas, isto é, vários supostos divinos; e a expressão «Pai» (nas reali­ Lógica, cap. 16.
dades divinas) toma-se por uma realidade individual, isto é, pela primeira
Pessoa da Trindade, a qual, todavia, é a mesma realidade que a essência
divina, que é várias realidades. Não se vêem, portanto, nas argumenta­
ções propostas, os supraditos modos.
E Embora Aristóteles não tenha negado que algum termo singular Opinião de Aristóte­
pudesse ser termo médio do silogismo expositório, contudo, carecendo les.
da ilustração que dá a luz da fé, não concebia nenhuma realidade sin­
gular que pudesse ser simultáneamente várias realidades. Daí que, para
ele, aqueles dois princípios sejam tidos como conhecidos por si, tomando
o termo «terceiro» por qualquer realidade singular.

Capítulo 25

Da prova ostensiva dos silogismos imperfeitos

A Posto isto, fácil será entender como, através dos perfeitos, se con­
firma a necessidade de concluir dos silogismos imperfeitos. Embora
ela possa provar-se suficientemente pelo facto de, conservada a mesma
404 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

materia reperiri potest antecedens verum, et consequens falsum, tamen


compendiosior heee via est, ac securior: siquidem nemo est, qui materias
omnes possit percurrere: ex quo fit ut nunquam animus dubitantis quiescat,
donec imperfectam ratiocinationem per perfectam, ac per se evidentem
comprobet. Itaque prima confirmatio fiet conversionis interventu: altera
Tria confirmationum per evidentem deductionem ad id, quod fieri nequit: tertia per exposi­
genera.
tionem.
Confirmatio per conversionem {quee ostensiva probatio, et ostensiva B
Confirmatio per con­
versionem, seu osten­ reductio imperfectorum ad perfectos appellari solet) tunc fit, cum ex
siva. sumptionibus imperfecti syllogismi, aut sine ulla conversione, aut conver­
sione utriusque, alteriusve duntaxat, per syllogismum aliquem perfectum
colligitur conclusio imperfecti, aut conversa eius, ex qua tandem ipsa per
conversionem efficitur. Quia enim quicquid sequitur ex consequente,
a Cap. 5.
Cui principio nitatur sequitur ex antecedente, ut supra diximus a, conclusio, quee ex sumptio­
probatio ostensiva. nibus syllogismi perfecti collecta fuerit, ex sumptionibus etiam imperfecti,
Quinam syllogismi
ostensive confirmen­ ex quibus ilice efficiuntur, concludi comperietur. Hac ratione probantur
tur. omnes imperfecti syllogismi preeterquam Baroco, et Bocardo, ut in pro­
gressu apertum erit.
Baralipton igitur, qui est imperfectorum primus modus, sic probatur. C
Ex sumptionibus eius sine ulla conversione colligitur in Barbara conclusio
universalis affirmativa, ex qua tandem, per conversionem per accidens,
efficitur conclusio indirecte collecta. Exercentur ista hoc modo. Dicat
aliquis, nihil colligere hunc syllogismum in Baralipton,

Omne animal est substantia,


Et omnis homo est animal,
Igitur quasdam substantia est homo.

Tunc ego confecto ex sumptionibus eiusdem syllogismi syllogismo


perfecto, sic probabo consequentiam.

Omne animal est substantia,


Et omnis homo est animal,
Igitur omnis homo est substantia.
Tum sic.
Omnis homo est substantia,
Igitur quaedam substantia est homo.

Ergo ex primo antecedente necessario sequitur postremum conse­


quens in Baralipton, ut dictum est.
Eadem arte uteris in probatione duorum modorum sequentium, ut
pote Celantes, et Dabitis, per Celarent, et Darii, nisi quod conclusiones
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 405

forma, não poder encontrar-se em nenhuma matéria um antecedente


verdadeiro e um consequente falso, é mais breve, porém, e mais segura
esta via: não há ninguém que possa percorrer todas as matérias, donde
resulta que o espírito do que duvida não se satisfaz enquanto não com­
provar um raciocínio imperfeito por um perfeito e evidente por si.
Assim, a primeira prova far-se-á por intermédio da conversão; a segunda,
por uma redução evidente ao absurdo; a terceira, pela exposição. Três géneros de con­
firmação.
B A prova por conversão (que se chama vulgarmente prova ostensiva
Confirmação por con­
e redução ostensiva dos imperfeitos aos perfeitos) faz-se quando, das pro­ versão ou ostensiva.
posições dum silogismo imperfeito, sem nenhuma conversão, ou com a
conversão de ambas ou de uma somente, se infere, por intermédio de
algum silogismo perfeito, a conclusão do imperfeito ou a sua convertida,
donde aquela se infere por conversão. Visto que o que se segue do con­
a Cap. 5.
sequente se segue do antecedente, como atrása dissemos, perceber-se-á Em que princípio se
que a conclusão, que for deduzida das proposições do silogismo per­ apoia a prova osten­
siva.
feito, se conclui também das proposições do imperfeito, donde aquelas Quais os silogismos
se inferem. Por este método, provam-se todos os silogismos imperfeitos, ostensivos que se con­
firmam.
à excepção de Baroco e Bocardo, como a seguir se esclarecerá.
C Baralipton, que é o primeiro dos modos imperfeitos, prova-se assim:
das suas proposições, sem nenhuma conversão, deduz-se uma conclusão
universal afirmativa em Barbara, donde, finalmente, por uma conversão
por acidente, se infere uma conclusão deduzida indirectamente. Faz-se
isto deste modo: alguém diz que este silogismo em Baralipton:

Todo o animal é substância,


E todo o homem é animal,
Logo, alguma substância é homem,

nada conclui. Fazendo então, com as proposições deste mesmo silo­


gismo, um silogismo perfeito, provar-se-á assim a consequência:

Todo o animal é substância,


E todo o homem é animal,
Logo, todo o homem é substância.
Depois assim:
Todo o homem é substância,
Logo, alguma substância é homem.

Portanto, do primeiro antecedente necessário, segue-se, finalmente,


como se disse, um consequente em Baralipton.
Do mesmo processo se usará na prova dos dois modos seguintes,
isto é, Celantes e Dabitis, por Celarent e Darii, à excepção de que as
406 1NSTITVTIONVM DIALECT1CARVM LIBER VI

i mmeáiate collectce in Celarent, et Darii, simpliciter convertenda sunt.


Itaque tres primi imperfecti modi non alia conversione probantur, quam
conclusionis perfecti syllogismi.
Fapesmo vero probatur conversione per accidens maioris, et simplici
minoris, et illatione suce conclusionis, in Ferio b. Quod ita intelliges.
Neget aliquis necessitatem colligendi huius syllogismi in Fapesmo,
b 1. prio. 7.

Omne animal est substantia,


Et nullus lapis est animal,
Igitur quaedam substantia non est lapis.

Tunc ego sit probabo consequutionem.

Omne animal est substantia,


et nullus lapis est animal.
Igitur [(per conversionem utriusque)] quaedam
substantia est animal,
et nullum animal est lapis.

lam sic.
Nullum animal est lapis,
et quaedam substantia est animal *,
Igitur quaedam substantia non est lapis.

[Ibidem]. Ergo ex primo antecedente necessario sequitur in Fapesmo extremum


consequens.
Frisesomorum eodem modo probatur, quo Fapesmo, nisi quod maior
convertitur simpliciter.
c 1. prio. 5. Cesare probatur conversione simplici maioris, et illatione sua con­
[Ibidem]. clusionis in Celarent c.
Camestres probatur conversione simplici minoris, et illatione conversa
[Ibidem]. sua conclusionis in Celarent, et huius simplici conversione.
Festino probatur simplici conversione maioris, et illatione sua con­
clusionis in Ferio.
Baroco non potest probari interventu conversionis, quia minor, cum
sit particularis negativa, converti non potest: maior autem, cum sit affir­
mativa, non convertitur, nisi in particularem, ex qua cum altera parti­
d 1. prio. 6. culari nihil colligitur.
Darapti probatur conversione per accidens minoris, et illatione sua
conclusionis in Darii d.

* — Quadam substantia est animal, et milium animal est lapis, Igitur...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 407

conclusões deduzidas imediatamente em Celarent e Darii devem con­


verter-se simplesmente. Portanto, os três primeiros modos imperfeitos
não se provam por qualquer outra conversão diferente da da conclusão
do silogismo perfeito.
Fapesmo, porém, prova-se por uma conversão por acidente da maior,
por uma conversão simples da menor e pela ilação da sua conclusão
em Ferio b. O que se entenderá deste modo: alguém nega a necessi­
dade de concluir deste silogismo em Fapesmo: b Primeiros Ana­
líticos, I, 7.
Todo o animal é substância,
E nenhuma pedra é animal,
Logo, alguma substância não é pedra.

Então, provar-se-á assim a consequência:

Todo o animal é substância,


E nenhuma pedra é animal,
Logo (por conversão de ambas), alguma substância é animal,
e nenhum animal é pedra.

Agora assim:

Nenhum animal é pedra,


E alguma substância é animal,
Logo, alguma substância não é pedra.

Por conseguinte, do primeiro antecedente necessário, segue-se, No mesmo lugar.


finalmente, o consequente em Fapesmo.
Frisesomorum prova-se do mesmo modo que Fapesmo, à excepção
de que a maior se converte simplesmente.
Cesare prova-se por conversão simples da maior e por ilação da
c Primeiros Ana­
sua conclusão em Celarentc. líticos, I, 5.
Camestres prova-se por conversão simples da menor e por ilação No mesmo lugar.
da sua conclusão convertida em Celarent, e por simples conversão
desta. No mesmo lugar.
Festino prova-se por conversão simples da maior e por ilação da
sua conclusão em Ferio.
Baroco não pode provar-se por conversão, porque a menor, sendo
particular negativa, não pode converter-se, e a maior, sendo afirmativa,
não se converte senão numa particular que, com outra particular,
nada conclui.
d Primeiros Ana­
Darapti prova-se por conversão por acidente da menor e por ilação
líticos, I, 6.
da sua conclusão em Darii d.
408 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Felapton, conversione etiam per accidens minoris, sed illatione suce


conclusionis in Ferio.
Disamis, conversione simplici maioris, et illatione conversae suce
conclusionis in Darii, et huius simplici conversione.
[Ibidem.] Datisi, conversione simplici minoris, et illatione suce conclusionis
in Darii.
[Ibidem.]
Bocardo non probatur interveniente conversione, quia maior non
[Ibidem.]
convertitur: minor autem convertitur in solam particularem, ex qua cum
altera particulari nihil efficitur.
Ferison denique probatur conversione simplici minoris, et illatione
suce conclusionis in Ferio.
[Ibidem.]
Merito autem hcec probatio dicitur reductio syllogismorum imper- D
Cur hcec probatio di­ fectorum ad perfectos, quia semper hac arte ex sumptionibus imperfecti
catur reductio im­
perfectorum ad per­ syllogismi struitur perfectus colligens immediate eandem conclusionem,
fectos.
aut conversam eius: quod utraque non fit in probatione per deductionem
[e Cap. 27.] ad impossibile, ut patebit e.

,
Detegitur artificium quo vocabula imperfectorum modorum
indicant eorumdem probationem

CapVT26

Sunt autem nomina horum modorum adeo artificiose composita, ut A


Hic variat aliquan­ quo pacto quisque probandus sit apposite, ac ingeniose significent. Nam
tum significatio ha­
rum literarum. liter ce a quibus vocabula incipiunt, ut pote, B,C,D,F, significant per quem
modum perfectum quisque imperfectus probandus sit. B namque signi­
ficat probandum esse per Barbara, C per Celarent, D per Darii, et F per
Ferio. S vero significat enunciationem, quam designat vocalis prcecedens,
convertendam esse simpliciter, P autem per accidens. Verum adverte,
has duas literas, cum designant conclusionem esse convertendam, non
significare conversionem conclusionis imperfecti syllogismi, sed perfecti,
qui ex imperfecto struitur, ut patet ex dictis. Iam M significat mutatio­
nem maioris in minorem, et minoris in maiorem, quam pr amissarum
transpositionem vocant. Fit autem hcec transpositio in redigendis quatuor
modis, Fapesmo, Frisesom, Camestres, et Disamis, quia in prima figura
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 409

Felapton, também por conversão por acidente da menor, mas


por ilação da sua conclusão em Ferio.
Disamis, por conversão simples da maior, por ilação da sua con­
clusão convertida em Darii e por conversão simples desta. No mesmo lugar.
Datisi, por conversão simples da menor e por ilação da sua con­
clusão em Darii. No mesmo lugar.

Bocardo não se prova por conversão, porque a maior não se con­


No mesmo lugar.
verte e a menor só se converte numa particular que, com outra particular,
nada conclui.
Ferison, finalmente, prova-se por conversão simples da menor e por
ilação da sua conclusão em Ferio.
No mesmo lugar.
D Esta prova chama-se, e bem, redução dos silogismos imperfeitos aos
perfeitos, porque, por este processo, e a partir das proposições dum Porque se chama esta
prova redução dos
silogismo imperfeito, se constrói um perfeito, que deduz imediatamente imperfeitos aos per­
a mesma conclusão ou a sua conversa; o que, em qualquer caso, nunca feitos.
sucede na prova por redução ao absurdo, como se verá e. <? Cap. 27.

C a p í t u l o 26

Revela-se a habilidade com que os vocábulos dos modos


imperfeitos indicam a prova dos mesmos

A Os nomes destes modos foram compostos com tal habilidade


que significam conveniente e engenhosamente a forma pela qual deve
cada um ser provado. Na verdade, as letras porque principiam os
vocábulos, como B, C, D, F, significam o modo perfeito por meio
do qual cada imperfeito deve ser provado. B significa, de facto, que Aqui varia um tanto
a significação destas
deve provar-se por Barbara; C, por Celarent; D, por Darii; e F, por letras.
Ferio.
S, porém, significa que a enunciação, designada pela vogal prece­
dente, deve converter-se simplesmente; e F, por acidente. Note-se
que estas duas letras, por significarem que a conclusão deve converter-se,
não se referem à conversão da conclusão do silogismo imperfeito,
mas à do perfeito que se contrói do imperfeito, como é evidente pelo
que se disse. Além disso, M significa a mudança da maior na menor
e da menor na maior, a que se dá o nome de transposição das premissas.
Esta transposição faz-se ao reduzir quatro modos: Fapesmo, Friseso-
morum, Camestres e Disamis, porque, na primeira figura, nem a menor
410 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

nec minor potest esse negativa, ut in tribus prioribus, nec maior parti­
cularis, ut in quarto. Cceterum huiusmodi commutatio non est intelli- B
genda secundum situm, partium orationis (hcec enim non est necessaria,
cum scepe in prima figura maior propositio posteriorem locum, minor
priorem obtineat) sed secundum naturam. Poterat sane significatio
huius Utera praetermitti, quia sola conversio docet, quae sumptio imper­
Poterat significatio fecti syllogismi fiat maior in perfecto, quae minor. Denique, C post
M. praetermitti.
primam syllabam in dictione positum, significat modum talem non ostensive,
seu directo confirmari posse, sed deductione ad impossibile, sumpta videlicet
contradicente conclusionis in syllogismo perfecto loco illius sumptionis,
quae designatur per vocalem praecedentem, ut statim patebit. Atque
iccirco in duobus tantum modis invenitur, in Baroco nimirum, et Bocardo.

De probatione syllogismorum imperfectorum per


deductionem ad impossibile

Quo pacto fiat hsec Ca pV T 27


probatio.

Probatio autem imperfectorum syllogismorum per evidentem deduc-


tionem ad impossibile {quae reductio per impossibile vocatur) tunc fit,
cum ex sumptionibus syllogismi imperfecti, et contradicente conclusionis,
colliguntur per syllogismum perfectum, et aliam quandam unam, aut
alteram evidentem consequentiam duce contradicentes, aut contrarice
enunciation.es. Cogit enim hcec probatio adversarium nunquam negare
conclusionem imperfecti syllogismi admissis sumptionibus, ac proinde
nunquam inficiari necessitatem talis consequutionis, ne tantam absurdi-
tatem admittere cogatur. Exempli causa, dicat aliquis syllogismum in
Baralipton non necessario concludere, ac proinde nullum sequi incommo­
dum, si detur in eo antecedens verum, et consequens falsum. Me autem
petente, ut det ita esse annuat ille, dicatque,

Omne animal est substantia,


et omnis homo est animal,
et tamen non aliqua substantia est homo,
seu (quod idem valet) nulla substantia est homo.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 411

pode ser negativa, como nos três primeiros, nem a maior particular,
B como no quarto. De resto, a mutação deste género não deve ser
entendida segundo a situação das partes da oração (esta não é necessária,
uma vez que, muitas vezes, na primeira figura, a proposição maior
ocupa o lugar da segunda e a menor o da primeira), mas segundo a
natureza. A significação desta letra, podia, sem dúvida, omitir-se; Podia omitir-se a si-
porque so, a conversão~ ensina qual a ,proposição· do
~ j -t · ■ e ■. gnificação de M.
silogismo ímperíeito
que, no perfeito, se torna maior, e qual a menor.
Finalmente, C, posto na palavra depois da primeira sílaba, significa
que tal modo pode confirmar-se, não ostensiva ou directamente, mas por
redução ao absurdo, tomando, evidentemente, no silogismo perfeito,
a contraditória da conclusão, em lugar daquela proposição que é desi­
gnada pela vogal precedente, como logo ficará claro. E, por isso, encon­
tra-se apenas em dois modos, a saber em Baroco e em Bocardo.

Capítulo 27

Da prova dos silogismos imperfeitos


por redução ao impossível [ou redução ao absurdo]

A A prova dos silogismos imperfeitos por dedução evidente ao De <lue maneira se


impossível (que se chama redução ao absurdo) faz-se quando, das pro- faz esta prova-

posições do silogismo imperfeito e da contraditória da conclusão,


se inferem por meio do silogismo perfeito, de uma determinada conse­
quência ou de uma outra evidente, duas enunciações contraditórias
ou contrárias. Esta prova obriga o adversário a nunca negar a conclusão
do silogismo imperfeito, uma vez admitidas as premissas, e, portanto,
a nunca negar a necessidade de tal consecução, para não ser obrigado
a admitir um tão grande absurdo. Por exemplo: se alguém diz que
um silogismo em Baralipton não conclui necessariamente e que, portanto,
nenhum absurdo se segue se existir nele um antecedente verdadeiro e
um consequente falso, pede-se-lhe que prove que assim é. Ele aceita,
e diz:
Todo o animal é substância,
E todo o homem é animal,
E, todavia, não alguma substância é homem
ou (o que vale o mesmo) nenhuma substância é homem.
412 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Tum ego ex datis ab homine colligam uno syllogismo perfecto, et


duabus aliis evidentibus consequutionibus duas contrarias enunciationes
hoc modo,

Nulla substantia est homo (vt ais)


et omne animal est substantia (ut etiam dixisti)
Igitur nullum animal est homo.

Iam sic.

Nullum animal est homo,


Igitur nullus homo est animal.

At

Omnis homo est animal (ut dixeras)


Igitur nullus homo est animal, et omnis
homo est animal: Quae quidem sunt contraria:
enunciationes.

Collegi ergo evidenter ex dictis illius duas contrarias simul veras,


ex quibus etiam evidenter colligi possunt duce contradictoria. Hcec
collectio, ut vides, etsi non directo ostendit perperam illum negasse conclu­
sionem admissis sumptionibus, tamen ex hypothesi id probat, ex hoc nimi­ B
rum communi principio, quod omnes disputantes tacite ponunt, Id possibile
Principium, cui htec non esse, ex quo impossibile aliquid consequi deprehenditur, [ut supra a
probatio nititur.
[ a Cap. 22]. dictum est].
Omnes imperfecti syl­ Tria igitur hic adverte. Primum, hoc probationis genere quemlibet C
logismi per deductio­
nem ad impossibile imperfectum syllogismum probari posse per aliquem perfectum. Alterum,
probari possunt.
Ex quibus sumptio­
ex contradicente conclusionis cum altera sumptione imperfecti, extruendum
nibus extruendus sit
esse antecedens perfecti: ex conclusione autem, perfecti, aut eius conver­
syllogismus ad impos­
sibile. tente cum altera sumptione imperfecti, extruendum esse antecedens
extrema: consequentia:. Tertium, in probatione imperfectorum primee,
praterquam modi Celantes, contradicentem conclusionis imperfecti
faciendam esse maiorem perfecti, et maiorem imperfecti minorem: in
probanao autem modo Celantes, contradicentem conclusionis imperfecti
faciendam esse minorem perfecti, et minorem imperfecti maiorem. At vero
in probandis modis secundce figura, con tradictorium conclusionis faciendum
esse minorem relicta eadem maiore: et in probandis modis tertia, faciendum
esse maiorem relicta eadem minore.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 413

Então, dos dados fornecidos por ele, com um silogismo perfeito


e duas consecuções evidentes, deduzirei duas enunciações contrárias,
deste modo:

Nenhuma substância é homem (como dizes),


E todo o animal é substância (como também disseste),
Logo, nenhum animal é homem.

Agora assim:

Nenhum animal é homem,


Logo, nenhum homem é animal.

Mas:
Todo o homem é animal (como tinhas dito),
Logo nenhum homem é animal e todo o homem é animal,

enunciações estas que são contrárias.


Do que ele disse, deduziram-se, pois, duas contrárias, simultanea­
mente verdadeiras, das quais podem ainda deduzir-se evidentemente
duas contraditórias. Esta dedução, como se vê, embora não mostre
directamente que ele negou incorrectamente a conclusão, depois de
B admitidas as premissas, prova-o, todavia, por hipótese, em virtude
daquele princípio comum, que todos os que disputam tácitamente Princípio em que se
admitem: não é possível aquilo de que se depreende seguir-se algo apoia esta prova.
impossível, como atrás a foi dito. a Cap. 22.
C Notem-se, pois, aqui três coisas. Primeira: com este género de Todos os silogismos
prova, qualquer silogismo imperfeito pode provar-se por algum perfeito. imperfeitos podem
provar-se por dedu­
Segunda: o antecedente do silogismo perfeito deve construir-se a partir ção ao impossível.
da contraditória da conclusão, com uma das premissas do imperfeito; De que proposições
o antecedente da última consequência, porém, deve construir-se a partir deve construir-se o
da conclusão do perfeito ou da sua convertente com uma das premissas silogismo no impos­
do imperfeito. Terceira: na prova dos imperfeitos da primeira, à excep- sível.
ção do modo Celantes, a contraditória da conclusão do imperfeito deve
tornar-se a maior do perfeito, e a maior do imperfeito, a menor; ao
provar, porém, o modo Celantes, a contraditória da conclusão do imper­
feito deve tomar-se para menor do perfeito, e a menor do imperfeito
para maior. Mas, ao provar os modos da segunda figura, a contradi­
tória da conclusão deve tomar-se para menor, permanecendo maior
a mesma; e, ao provar os modos da terceira, deve tomar-se para maior,
permanecendo menor a mesma.
414 INST1TVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER VI

Quanquam vero his observatis perfacile sit intelligere, quo perfecto


modo imperfectus quisque confirmetur, tamen ut multo etiam sit facilius,
accipe hunc versum.

Phoebifer axis obit terras, aethramque quotannis.


Dictiones quarum ad­
monitu facilius fiat
huiusmodi probatio. Cuius primee duce dictiones inserviunt primee figurce: duce sequentes,
secundce: duce extremes, tertice. In quibus hce quatuor vocales, A,E,1,0,
sunt observandee, quia hce designant conclusiones quatuor modorum perfecto­
rum, ac proinde quatuor perfectos modos, quibus imperfecti hoc probatonisi
genere confirmandi sunt. A, significat Barbara: E, Celarent: I, Darii:
O, Ferio. Non est tamen habenda ratio vocalium, a quibus diphthongi
incipiunt. Prima igitur dictio significat, ex primis tribus imperfectis modis
primee figurce, primum probari per Celarent, secundum per Darii, tertium
rursus per Celarent. Secunda vero, significat ex duobus sequentibus,
Fapesmo scilicet, et Frisesom, priorem probari per Barbara, posteriorem
per Darii. Ex quibus intelliges quid ceeteree dictiones significent. Hcec
de probatione imperfectorum syllogismorum per evidentem deductionem
Non admodum pro­ ad impossibile, quee mihi non admodum proprie videtur dici reductio imper­
prie dicitur hiec pro­
batio reductio [im­
fectorum ad perfectos, quoniam hac arte ex sumptionibus imperfecti non
perfectorum ad per­ struitur perfectus eandem conclusionem colligens, sed ex contradicente
fectos.]
conclusionis cum altera sumptionum concludens contrariam, aut contra­
dicentem alterius.

De probatione imperfectorum syllogismorum


per expositionem

Duobus modis fit CapVT28


probatio per exposi-
torium syllogismum.
Probatio denique imperfectorum syllogismorum, per expositionem A
Principium cui haec {qua Aristoteles confirmat necessitatem concludendi syllogismorum tertice
probatio nititur. figurce) duobus modis fieri potest. Uno quidem evidenter concludendo
ex sumptionibus syllogismi imperfecti sumptiones syllogismi expositorii,
ex quibus conclusio imperfecti colligatur. Quia enim quicquid sequitur B
ex consequente sequitur ex antecedente, conclusio, quee ex sumptionibus
syllogismi expositioni collecta fuerit, ex sumptionibus etiam imperfecti,
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 415

Embora, depois destas observações, seja muito fácil entender qual


o modo perfeito com que se confirma cada imperfeito, todavia, para
que se torne ainda mais fácil, registe-se este verso [como mnemónica]: Palavras por cuja ad­
vertência mais fácil­
mente se faz a prova
Phoebifer axis obit terras, aethramque quotannis.
deste género.

As duas primeiras palavras servem para a primeira figura; para


a segunda, as duas seguintes; as duas últimas, para a terceira. Deve
atender-se nelas às quatro vogais A, E, I, O, porque elas designam as
conclusões dos quatro modos perfeitos e, portanto, os quatro modos
perfeitos que, neste género de prova, devem confirmar os imperfeitos.
A significa Barbara; E, Celarent; I, Darii; O, Ferio. Não deve,
porém, prestar-se atenção às vogais por que principiam os ditongos.
A primeira palavra significa, portanto, que, dos três primeiros modos
imperfeitos da primeira figura, prova-se por Celarent, o primeiro;
o segundo, por Darii; o terceiro ainda por Celarent. A segunda, signi­
fica que, dos dois seguintes, isto é, Fapesmo e Frisesomorum, o primeiro
se prova por Barbara; o segundo, por Darii. Depois disto, entender-se-á
o que significam as outras palavras.
Tudo isto acerca da prova dos silogismos imperfeitos por redução
evidente ao impossível, que me parece não ser designada com muita
precisão por redução dos imperfeitos aos perfeitos, pois, por este processo, Esta prova não se
das proposições do imperfeito, não se constrói um perfeito que infira a chama com absoluta
precisão redução dos
mesma conclusão; mas do contraditório da conclusão com uma das imperfeitos aos per­
proposições que conclui a contrária ou a contraditória da outra. feitos.

C a p í t u l o 2 8

Da prova dos silogismos imperfeitos por exposição

A Finalmente, a prova por exposição dos silogismos imperfeitos (pela A prova pelo silo­
qual Aristóteles confirma a necessidade de concluir dos silogismos da gismo expositório
terceira figura) pode fazer-se de dois modos. Primeiro: concluindo clara­ faz-se de dois modos.
mente, das proposições de um silogismo imperfeito, proposições de
um silogismo expositório, das quais se deduz a conclusão do imperfeito.
Princípio em que se
B Na verdade, uma vez que tudo o que se segue do consequente se segue apoia esta prova.
do antecedente, verificar-se-á que a conclusão, que for deduzida das
proposições do silogismo expositório, se deduz também das proposições
416 1NSTITVTI0NVM DIALECTICARVM LIBER VI

ex quibus ilice efficiuntur, concludi comperietur. Exempli causa, quod


hic syllogismus in Darapti necessario concludat,

Omne animal est sensus capax,


Omne animal est corpus,
Igitur quoddam corpus est sensus capax.

hoc pacto confirmari potest expositorio syllogismo.

Omne animal est sensus capax,


et omne animal est corpus,
Igitur hoc animal est sensus capax,
et hoc animal est corpus.

Tum sic.

Hoc animal est sensus capax,


Hoc animal est corpus,
Igitur quoddam corpus est sensus capax.

Quare ex primo antecedente necessario sequitur extremum consequens


in Darapti, ut diximus. Eodem pacto probari potest necessitas colligendi
in modo Felapton.
Alius modus pro- ^j(0 modo fieri potest expositoria probatio, non colligendo quidem C
bandi per expositio- . . . . . . . . . . . . _ . . ,
nem ex sumptionibus imperfecti syllogismi sumptiones expositorn (scepe enim
colligi non possunt, ut in cceteris quatuor modis tertiae figurae, quia ex par­
ticulari propositione non colligitur singularis) sed sumendo sub medio
termino aliquid singulare, ratione cuius vera sit particularis sumptio, et
extruendo ex eiusmodi singulari medio, ac eisdem extremis similiter se
habentibus secundum affirmationem, et negationem, syllogismum exposi-
torium, qui eandem colligat conclusionem. Verbi causa, si quis negaverit
hunc syllogismum in Disamis necessario concludere.

Quidam homo est grammaticus,


Omnis homo est animal,
Igitur quoddam animal est grammaticum,

sic poterit necessitas consequutionis hoc probationis genere confirmari.


Sumo hominem aliquem singularem ratione cuius vere dictum sit,
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 417

do imperfeito donde aquelas se inferem. Por exemplo: que este silo­


gismo em Darapti conclui necessariamente:

Todo o animal é dotado de sentidos,


Todo o animal é corpo,
Logo, algum corpo é dotado de sentidos,

pode confirmar-se por um silogismo expositório, deste modo:

Todo o animal é dotado de sentidos,


E todo o animal é corpo,
Logo, este animal é dotado de sentidos
e este animal é corpo.

Agora:

Este animal é dotado de sentidos,


Este animal é corpo,
Logo, algum corpo é dotado de sentidos.

Portanto, de um primeiro antecedente necessário, segue-se, final­


mente, como dissemos, um consequente em Darapti.
Pode provar-se do mesmo modo a necessidade de concluir no
modo Felapton.
C Mas a prova expositória pode fazer-se doutro modo, não concluindo Outro modo de pro­
das proposições do silogismo imperfeito as proposições do expositório var por exposição.
(pois, muitas vezes, não podem concluir-se, como nos restantes quatro
modos da terceira figura, porque, de uma proposição particular, não se
deduz uma singular), mas tomando por termo médio algo de singular,
em razão do qual a proposição particular seja verdadeira, e construindo,
a partir de um termo médio singular do mesmo género e dos mesmos
extremos, que estão entre si de um modo semelhante segundo a afirmação
e a negação, um silogismo expositório que infira a mesma conclusão.
Por exemplo: se alguém negar que este silogismo em Disamis

Algum homem é gramático,


Todo o homem é animal,
Logo, algum animal é gramático,

não conclui necessàriamente, poderá provar-se assim a necessidade de


consecução neste género de prova: tomo algum homem singular em
razão do qual seja verdadeiro o enunciado algum homem é gramá-
27
418 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

aliquem hominem esse grammaticum, ut pote Antonium. Tum conficio


expositorium syllogismum hoc modo,

Antonius est grammaticus,


Antonius est animal,
Tgitur quoddam animal est grammaticum.

Quia igitur quidam homo dicitur grammaticus ratione Antonii, ejfici-


tur, ut si ex eo quod Antonius est grammaticus, et est animal, colligitur
quoddam animal esse grammaticum, eadem conclusio colligatur ex eo
quod quidam homo est grammaticus, et omnis homo est animal. Hoc
pacto probantur per expositionem reliqui quatuor modi terlice figura:
quod facile est exemplis ostendere. De probatione igitur modorum tertia
figura per expositionem, hac satis sint. Sed insurget quis contra ea,
qua diximus, argumentabitur que hoc modo, Hic syllogismus,
Obiectio.
Aliquis oculus necessarius est ad videndum,
Omnis oculus est pars capitis,
Igitur aliqua pars capitis necessaria est ad videndum,

hic syllogismus, inquiet, est in Disamis, et tamen non potest probari


expositione, igitur non recte dictum est, omnes syllogismos tertia figura
hoc probationis genere posse probari. Confirmabit autem [posteriorem]
propositionem hac ratione: Quia sub medio termino huius syllogismi
non potest colligi, aut accipi aliquid singulare, ratione cuius maior pro­
positio sit vera: quandoquidem nec dexter oculus meus {exempli causa)
necessarius mihi est ad videndum, cum sinistro cernere possim, nec sinister,
Solutio. cum dextro possim aspicere. Dices tamen, maiorem propositionem D
propositi syllogismi duplicem sensum habere posse, disiunctivum, et
Sensus disiunctivus,
et disiunctus. disiunctum. Disiunctivus est huiusmodi, Hic oculus necessarius est ad
videndum, aut ille oculus necessarius est ad videndum.: quo quidem pacto
propositio est falsa, quia utraque pars disiunctionis falsa est. Disiunctus
sic habet, Hic oculus, aut hic necessarius est ad videndum: qui sensus
haud dubie verus est, quandoquidem indifferenter, ac indeterminate alter
oculus est ad videndum necessarius. Si ergo maior propositio disiunctivum
habet sensum, ut a recentioribus dialecticis ex forma sua habere indicatur,
syllogismus est in Disamis, sed ipsa est falsa, quo fit ut non liceat sub
Quem sensum habere
debeat particularis subiecto eius colligere, aut sumere aliquid singulare, cui conveniat prcedi-
propositio in syllog. catum. Si vero ei concedamus sensum disiunctum, ut populari sermone JE
habere videtur, erit illa quidem vera, sed non efficiet syllogismum. Par-
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 419

tico, por exemplo Antonio; construo, então, o silogismo exposi-


tório deste modo:
António é gramático,
António é animal,
Logo, algum animal é gramático.

Uma vez que, pois, em razão de António, algum homem se diz


gramático, resulta: se, pelo facto de António ser gramático e ser animal,
se deduz que algum animal é gramático, a mesma conclusão se tira pelo
facto de algum homem ser gramático e de todo o homem ser animal.
Provam-se de igual modo por exposição os restantes quatro modos da
terceira figura. É fácil mostrá-lo com exemplos.
Baste isto acerca da prova dos modos da terceira figura por expo­
sição. Mas insurgir-se-á alguém contra o que dissemos, e argumen- Objecção.
tará deste modo: este silogismo

Algum olho é necessário para ver,


Todo o olho é parte da cabeça,
Logo, alguma parte da cabeça é necessária para ver,

este silogismo — dirá — é em Disamis e, no entanto, não pode provar-se


por exposição; portanto, sem razão se disse que todos os silogismos da
terceira figura podem provar-se por este género de prova. E confirmará
a segunda proposição com esta razão: é que pelo termo médio deste
silogismo não pode deduzir-se ou tomar-se alguma coisa singular em
razão da qual seja verdadeira a proposição maior, pois, nem o meu olho
direito (por exemplo) me é necessário para ver, uma vez que posso ver
com o esquerdo, nem o esquerdo, uma vez que posso ver com o direito.
D Responder-se-á, porém, que a proposição maior do silogismo
Solução.
proposto pode ter um duplo sentido: disjuntivo e disjunto. O disjuntivo Sentido disjuntivo e
é deste teor: este olho é necessário para ver, ou aquele olho é necessário disjunto.
para ver; assim a proposição é falsa, porque ambas as partes da dis­
junção são falsas. O disjunto é assim: este ou aquele olho é necessário
para ver; este sentido é, sem dúvida, verdadeiro, pois, um dos olhos,
indiferentemente ou indeterminadamente, é necessário para ver. Se,
portanto, a proposição maior tem um sentido disjuntivo, como o julgam,
por causa da forma, os dialécticos modernos, o silogismo é em Disamis;
mas ela é falsa; donde se conclui que se não pode compreender sob o
seu sujeito ou assumir algo singular a que convenha o predicado.
Que sentido deve ter
E Se, porém, lhe concedemos um sentido disjunto, como pelo falar a proposição parti­
do povo parece ter, ela será verdadeira, mas não fará silogismo. Com cular no silogismo.
420 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

ticularis enim propositio, quce ad syllogismum [ab Aristotele traditum]


assumitur, imo quce proprie, ac simpliciter particularis dicitur, disiuncti-
vum sensum habere debet. De sensu autem disiunctivo, et disiuncto ad
a Lib. 8. [c. 29.] finem harum institutionum a non nihil amplius dicemus.

De modalibus syllogismis

C a p v t 29

Dixi hactenus de materia, et forma absolutorum syllogismorum, A


nunc quce sit materia, et forma modalium quam potero brevissime docebo.
Materia propinqua Materia cuiusque (<quemadmodum de absolutis diximus) duplex est: pro­
modalium syll.
pinqua, et remota. Propinqua sunt duce propositiones modales, aut altera
modalis, altera absoluta, ut cernere licet in his syllogismis,

Nccesse est omne animal esse substantiam,


Necesse est omnem hominem esse animal,
Igitur necesse est omnem hominem esse substantiam.

Necesse est omnem virtutem esse qualitatem,


Omnis iustitia est virtus,
Igitur necesse est omnem iustitiam esse qualitatem.

Possuntque ad structuram modalium syllogismorum, non solum


modales propositiones cum absolutis, sed etiam modales cum modalibus
Materia remota mo­ multifariam permisceri. Remota vero materia sunt tres termini: in
dalium syllo. quibus quidem non numeratur modus. Itaque ut modus in conversione
modalium non numeratur inter praedicata, et subiecta, sic in syllogismis
modalibus non numeratur in terminis. Denique forma modalium syllo­
gismorum ex figura etiam, et modo constat, quemadmodum et absolutorum.
Estque in utroque genere triplex figura. At vero modi concludendi non B
Modi non iidem sunt iidem sunt in omnibus. Quanquam enim syllogismi, quorum utraque
in omnibus syllogis­ sumptio est ex necessario, eisdem illis modis colligant conclusiones ex
mis modalibus, at­
que in absolutis.
necessario, quibus absoluti colligunt absolutas {id quod nullo negocio
experieris) in reliquis tamen tanta est varietas, ut merito a nobis hoc loco
sint prcetermittendi.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 421

efeito, uma proposição particular que se toma para o silogismo dado


por Aristóteles e, mais ainda, aquela que própria e simplesmente se
diz particular, deve ter sentido disjuntivo. No entanto, sobre o sen­
tido disjuntivo e disjunto diremos mais alguma coisa no fim destas
instituições a. a Livro VIII,
cap. 29.

Capítulo 29

Dos silogismos modais

A Até aqui falei da matéria e da forma dos silogismos absolutos;


ensinarei, agora, com a maior brevidade que me for possível, qual
é a matéria e a forma dos silogismos modais. A matéria de cada um
(como dissemos dos absolutos) é dupla: próxima e remota. A matéria
próxima são duas proposições modais, ou uma modal e outra absoluta,
Matéria próxima dos
como pode ver-se nestes silogismos: silogismos modais.

É necessário que todo o animal seja substância,


É necessário que todo o homem seja animal,
Logo, é necessário que todo o homem seja substância.

É necessário que toda a virtude seja qualidade,


Toda a justiça é virtude,
Logo, é necessário que toda a justiça seja qualidade.

Na construção dos silogismos modais, podem, muitas vezes,


misturar-se não só proposições modais com absolutas, mas ainda modais
com modais.
Matéria remota dos
A matéria remota são os três termos, entre os quais, evidentemente, silogismos modais.
se não conta o modo. Portanto, da mesma maneira que na conversão
das modais, entre os predicados e os sujeitos, o modo se não conta,
assim, nos silogismos modais, se não conta entre os termos.
Finalmente, a forma dos silogismos modais, como a dos absolutos,
B consta também de figura e de modo. Existe em ambos os géneros uma
Os modos não são
tríplice figura. Mas os modos de concluir não são os mesmos em todas. os mesmos em todos
Embora os silogismos, em que ambas as premissas são necessárias, os silogismos modais
infiram conclusões necessárias pelos mesmos modos por que os abso­ e nos absolutos.

lutos inferem absolutas (o que sem qualquer dificuldade se verificará),


nos restantes, todavia, é tão grande a sua variedade que, neste lugar,
devemos com razão passá-los em silêncio.
422 INSTITVTTONVM DIALECTICARVM LIBER VI

De syllogismis ex obliquis

Ca pV τ30

Sed antequam syllogismi simplicis facultates, seu potestates ab Aris- A


totele traditas refero, breviter de syllogismis, qui ex terminis obliquis
constant, quia non nihil exhibent negocii, dicendum arbitror. Quatuor
itaque documenta video fere observari in examine huiusmodi syllogis­
morum.
Primum est. In modis affirmative concludentibus, si altera tantum B
sumptio fuerit ex obliquo, apte efficietur conclusio ex obliquo, modo hcec
duo observes: alterum, ut extremum obliquum in antecedente, sit obli­
quum in consequente: alterum, ut cum medium fuerit obliquum in una
sumptione, extremum alterius sumptionis sit obliquum in conclusione.
Exempla.
Omnis potestas est a Deo,
Regnum est potestas,
Igitur regnum est à Deo.

Omnis virtus est honestas,


In omni probo est virtus,
Igitur in omni probo est honestas.

Contrariorum eadem est scientia,


Sanitas, et morbus sunt contraria,
Igitur sanitatis, et morbi eadem est scientia.

Omne vitium est malum,


Quaedam appetitio est vitii.
Igitur quaedam appetitio est mali.

Secundum. In modis negative concludentibus, si affirmativa tantum C


fuerit ex obliquo, nulla conclusio efficietur, sive ex rectis, sive ex obliquo.
Si vero sola negativa ex obliquo fuerit, efficietur conclusio ex obliquo,
observatis duabus animadversionibus superioris documenti. Verbi causa,
ratiocinationes in hac oratione comprehensa nihil colligunt.

Nullus sol est animal,


Omnis equus est a sole,
Igitur nullus equus est animal, vel, ab animali.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 423

Capítulo 30

Do silogismo de termos em casos oblíquos

A Mas, antes de referir as propriedades ou poderes do silogismo


simples referidas por Aristóteles, julgo dever falar brevemente dos
silogismos que constam de termos oblíquos, porque oferecem certa
dificuldade.
No exame, pois, deste género de silogismos, vejo que quase sempre
se observam quatro regras.
B A primeira é: nos modos que concluem afirmativamente, se houver
apenas uma proposição de termo oblíquo, inferir-sc-á de maneira apta
uma conclusão de termo oblíquo, desde que se observem duas coisas:
primeira: que o extremo oblíquo no antecedente seja oblíquo no conse­
quente; segunda: que quando o médio for oblíquo numa proposição,
o extremo da outra proposição seja oblíquo na conclusão. Exemplos:

Todo o poder vem de Deus,


A realeza é poder,
Logo, a realeza vem de Deus.

Toda a virtude é honestidade,


Em todo o probo há virtude,
Logo, em todo o probo há honestidade.

É a mesma a ciência dos contrários,


A saúde e a doença são contrários,
Logo, é a mesma a ciência da saúde e da doença.

Todo o vício é mal,


Algum desejo é próprio do vício,
Logo, algum desejo é próprio do mal.

C Segunda: nos modos que concluem negativamente, se apenas a


afirmativa for de termo oblíquo, nenhuma conclusão se inferirá, nem de
termos rectos nem de termo oblíquo. Se, porém, somente a negativa
for de termo oblíquo, inferir-se-á uma conclusão de termo oblíquo, obser­
vando-se as duas advertências da regra anterior. Por exemplo, os
raciocínios compreendidos nesta oração nada concluem:

Nenhum sol é animal,


Todo o cavalo é pelo sol,
Logo, nenhum cavalo é animal, ou por um animal.
424 INSTITVTIONVM D1ALECTICARVM LIBER VI

Hte vero recte concludunt,

Nullum vitium est in Deo,


Omnis acceptio personarum est vitium,
Igitur nulla personarum acceptio est in Deo.

Omnis pax est tranquilla libertas,


Impio non est tranquilla libertas,
Igitur impio non est pax.

Nulli mortali est impune peccare,


Omnis rex est mortalis,
Igitur nulli regi est impune peccare.

Omnis pietas est virtus,


Nulla reprehensio est virtutis,
Igitur nulla reprehensio est pietatis.

Tertium. In modis affirmative concludentibus, si ambce sumptiones D


fuerint ex medio obliquo, aut utraque ex obliquo extremo nulla conclusio
efficietur, sive ex rectis, sive ex obliquo. Hce siquidem sunt inepta;
ratiocinationes,

Cuique homini inest intellectus,


Cuique homini inest sensus:
Igitur sensus est intellectus.

Cuiusque regis est distribuere magistratus,


Parasitus est regis,
Igitur parasiti est distribuere magistratus.

Omnis locutio est a lingua,


Omnis locutio est a gutture,
Igitur guttur est lingua.
Vel
Igitur guttur est a lingua.

Quartum. In modis negative concludentibus, si ambce fuerint ex E


medio obliquo, aut utraque ex obliquo extremo, efficietur conclusio ex
rectis: ut si dicas,

Nulla fides regni sociis,


Confabulatio est regni sociis,
Igitur confabulatio non est fides.
Nullius iustitiae est contemnere mortis pericula,
Cuiusdam virtutis est contemnere mortis pericula,
Igitur quaedam virtus non est iustitia.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 425

Estes, porém, concluem rectamente:

Nenhum vício existe em Deus,


Toda a acepção de pessoas é vício,
Logo, nenhuma acepção de pessoas existe em Deus.

Toda a paz é liberdade tranquila,


Para o ímpio não há liberdade tranquila,
Logo, para o ímpio não há paz.

Para nenhum mortal é impune pecar,


Todo o rei é mortal,
Logo, para nenhum rei é impune pecar.

Toda a piedade é virtude,


Nenhuma repreensão é própria da virtude,
Logo, nenhuma repreensão é própria da piedade.

D Terceira: nos modos que concluem afirmativamente, se ambas


as proposições forem de termo médio oblíquo ou ambas de extremo
oblíquo, nenhuma conclusão se tirará, nem dos termos rectos nem
do oblíquo. Por isso, são raciocínios ineptos estes:

Em cada homem há inteligência,


Em cada homem há sentidos,
Logo, os sentidos são inteligência.

É próprio de cada rei distribuir magistraturas,


Ser parasita é próprio do rei,
Logo, é próprio do parasita distribuir magistraturas.

Toda a fala provém da língua,


Toda a fala provém da garganta,
Logo, a garganta é a língua.
OU
Logo, a garganta provém da língua.

E Quarta: nos modos que concluem negativamente, se ambas as


proposições forem de termo médio oblíquo ou ambas de extremo oblíquo,
inferir-se-á uma conclusão dos termos rectos, como se se disser:

Nenhuma fé há para os cidadãos do reino,


Para os cidadãos do reino há conversação,
Logo, a conversação não é fé.

Não é próprio de nenhuma justiça desprezar os perigos de morte,


É próprio de alguma virtude desprezar os perigos de morte,
Logo, alguma virtude não é justiça.
426 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Hcec fere videntur observari partim ab Aristotele dictaa, partim F


a posterioribus adiecta. Securius tamen putaverim, prceceptum illud
Aristotelis b, quo iubet in resolutione, atque examine huiusmodi syllogis­
morum revocare propositiones ex obliquis ad propositiones ex rectis, non
mutato sensu propositionum. Hoc enim si fiat, facile indicare quisque
a 1. prio. 37.
Documentum. poterit, num syllogismus ex obliquis apte concludat, an non. Nam
b Ibidem. si propositiones ex rectis habentes eundem sensum, effecerint conclusionem,
quce idem significet, atque illa, quce syllogismo ex obliquis colligebatur,
apte concludere dicendus erit syllogismus ex obliquis: sin minus, vitiosa
erit ratiocinatio.
Hoc igitur ut fiat aliquando loco casus obliqui ponendus est rectus
eiusdem nominis mutata aliquantulum reliqua oratione: ut si sensum illius
propositionis, Contrariorum eadem est scientia, hoc modo exprimas,
Contraria sunt res, quarum eaclem est scientia, vel hoc modo, Contraria
cadunt sub eandem scientiam. Aliquando vero ex sensu enunciationis
eliciendus est rectus alterius nominis, cui adiungatur idem obliquus aut
alius, qui eundem sensum efficiat: ut si id, quod dictum est, Omnis potestas
est a Deo, dicas hoc modo, Omnis potestas est donum a Deo, vel, donum
Dei. His ergo, et aliis modis revocare poteris propositiones ex obliquis
ad propositiones ex rectis, ut intelligas sit ne apta, an vitiosa consequutio
cuiusque propositi syllogismi ex obliquis.

De quibusdam syllogismorum facultatibus


a 2. Lib. prio. a CapVT31
cap. 1. usque ad. 17.

Sex facultates, seu potestates syllogismorum simplicium tradit Aris- A


toteles a.
Prima est, Plura concludendi. Qui enim infert sub alternant em,
b Cap. 5. potest etiam inferre subalternatam: et qui colligit conversam,potest colligere
convertentem. Amplius extenditur hcec potestas ab Aristotele, sed hcec
dixisse satis sit hoc loco.
Secunda potestas est, Vera ex falsis colligendi. Nam eadem ratio- B
cinationis forma, qua ex veris verum colligimus, possumus ex falsis verum
itidem concludere: id quod ex supra dictis b facile intelliges.

F 15 — cadunt sub eadem scientia. Aliquando...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS —LIVRO VI 427

F Parece que, destes enunciados, uns foram observados por Aris­


tóteles a, outros acrescentados pelos autores posteriores. Estou, porém,
em considerar mais seguro aquele preceito de Aristótelesb que manda,
na resolução e exame deste género de silogismos, reduzir as proposições
de termos oblíquos a proposições de termos rectos, sem mudar o sentido
das proposições. Fazendo assim, fácilmente qualquer poderá julgar se a Primeiros Ana­
o silogismo de termos oblíquos conclui bem ou não. Efectivamente, se líticos, I, 37.
Regra.
as proposições de termos rectos, que têm o mesmo sentido, inferirem b No mesmo lu­
uma conclusão que signifique o mesmo que aquela que se inferia por gar.

um silogismo de termos oblíquos, deverá dizer-se que este conclui apta­


mente dos oblíquos; se não, o raciocínio será vicioso.
Para que isto se consiga, deve umas vezes pôr-se, em lugar do
caso oblíquo, o caso recto da mesma palavra, mudando um pouco o
resto da oração; por exemplo, se o sentido daquela proposição é a mesma
a ciência dos contrários, se exprimir deste modo: os contrários são coisas
cuja ciência é a mesma; ou deste outro: os contrários caem sob a alçada
da mesma ciência. Outras vezes, porém, deve extrair-se, conforme o
sentido da enunciação, o caso recto da outra palavra a que se junta o
mesmo termo oblíquo ou outro que tenha o mesmo sentido, como se
isto que se apresentou todo o poder vem de Deus, se disser deste modo:
todo o poder é dom vindo de Deus ou é dom de Deus. Por estes e por
outros modos, poder-se-ão, pois, reduzir as proposições de termos
oblíquos a proposições de termos rectos, para se perceber se é apta ou
viciosa a consecução de qualquer silogismo de termos oblíquos com que
se depare.

Capítulo 31

a Primeiros Ana­
De algumas propriedades dos silogismos líticos, livro II, do
cap. 1 até ao 17.
A Aristóteles a apresenta seis propriedades ou poderes dos silogismos
simples.
A primeira é a de concluir várias coisas. Quem, na verdade, infere
uma subalternante pode também inferir uma subalternada, e quem
conclui uma convertida pode concluir uma convertente. Esta proprie­
dade é mais desenvolvida por Aristóteles, mas, neste lugar, bastará tê-la
b Cap. 5.
enunciado.
B A segunda propriedade é a de deduzir coisas verdadeiras das falsas.
Efectivamente, pela mesma forma de raciocínio com que concluímos o
verdadeiro de coisas verdadeiras, podemos concluir o mesmo verdadeiro
de coisas falsas; o que facilmente se entenderá pelo que se disse atrás b.
428 INSTITVTIONVM DIALECTICARYM LIBER VI

Tertia est, Circulariter, seu in orbem ratiocinandi. Quod tum fit,


cum ex eadem conclusione, et convertente, alterius sumptionis, altera
sumptio colligitur. Verbi causa, si dicas,

Omne quod est risus capax, est fletus capax,


Omnis homo est risus capax,
Igitur omnis homo est fletus capax.

ex conclusione quidem cum convertente maioris colliges minorem, ex


eadem vero conclusione cum convertente minoris colliges maiorem.
Dices enim
Omnis homo est fletus capax,
Omne fletus capax est risus capax,
Igitur omnis homo est risus capax.

Et rursus.

Omnis homo est fletus capax,


Omne risus capax est homo,
Igitur omne risus capax est fletus capax.

Conversio late ac- Hic conversio late accipitur, ut scilicet complectitur reciprocationem C
cepta' simplicem ex vi mater ice, quce quidem fit inter terminos convertibiles, hoc
est, qui de se invicem universali affirmatione dicuntur, quales sunt ii ex
quibus nunc propositi syllogismi confecti sunt. Unde fit, ut perfecta cir­
culatio, hoc est, qua utraque sumptio concluditur in Barbara duntaxat
fieri possit.
Quarta est, Conversive ratiocinandi. Quod tunc potissimum fieri D
[b Ibid. cap. 8. et docet Aristoteles b, cum ex contradictorio conclusionis, cum altera sumptio-
Cast^ num, colligitur contradictorium alterius sumptionis. Hoc modo diximus
[c cap. 27.] supra c, probari posse omnes imperfectos syllogismos.
Quinta est, Ratiocinandi per impossibile. Quod quo pacto fiat E
[d cap. 22. et 27.] superius cl diximus, cum de syllogismo ducente ad impossibile disseruimus.
Differt autem hcec potestas a superiori, quod ilia requirit confectum prius
syllogismum, ut sumat contradictorium conclusionis cum altera sumptio­
num, hcec solum ponit negatam esse aliquam veram propositionem, cuius
contradicentem cum aliqua perspicue vera propositione accipit.
Sexta est, Ratiocinandi ex oppositis. Quod tunc fit, cum ex duabus F
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 429

A terceira é a de raciocinar circularmente ou em círculo. Isto


dá-se quando, de uma mesma conclusão e da convertente de outra
proposição, se infere outra proposição. Por exemplo, se se disser:

Tudo o que é capaz de riso é capaz de choro,


Todo o homem é capaz de riso,
Logo, todo o homem é capaz de choro,

da conclusão com a convertente da maior deduz-se a menor; da mesma


conclusão com a convertente da menor deduz-se a maior. Dir-se-á,
pois:
Todo o homem é capaz de choro,
Todo o que é capaz de choro é capaz de riso,
Logo, todo o homem é capaz de riso.

E ainda:

Todo o homem é capaz de choro,


Todo o capaz de riso é homem,
Logo, todo o capaz de riso é capaz dc choro.

C Toma-se aqui a conversão em sentido lato, isto é, de maneira que Conversão tomada
encerre simples reciprocidade por força da matéria; aquela que, aliás, em sentido lato.
se faz entre termos convertíveis, isto é, os que se dizem uns dos outros
por uma afirmação universal, tais como aqueles de que agora fizemos
o silogismo apresentado. Acontece, portanto, que a perfeita circulação,
isto é, aquela pela qual se concluem ambas as proposições, pode fazer-se
apenas em Barbara.
D A quarta é a de raciocinar conversivamente. Isto mesmo ensina
Aristótelesb a fazer sobretudo quando, do contraditório da conclusão b No mesmo lu­
gar, cap. 8 e seguin­
com uma das proposições, se deduz o contraditório da outra proposição. tes.
Dissemos acima c que todos os silogismos imperfeitos podiam provar-se c Cap. 27.
deste modo.
E A quinta é a de raciocinar pelo impossível. O modo como se faz
d Caps. 22 e 27.
dissemo-lo acimad, quando discorremos acerca do silogismo que
conclui no impossível. Esta propriedade difere da anterior nisto:
aquela requer o silogismo feito de antemão para tomar o contraditório
da conclusão com uma das proposições; esta supõe somente que foi
negada alguma proposição verdadeira, cuja contraditória se toma com
alguma proposição manifestamente verdadeira.
F A sexta é a de raciocinar a partir de opostos, o que acontece quando,
430 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

contrariis, aut contradictoriis, concludimus enunciationem in qua idem


de se ipso negetur, ut si dicas,

Omnis homo est animal,


Et nullus homo est animal,
Igitur nullus homo est homo.

Nullus lapis est sensus particeps,


Quidam lapis est sensus particeps,
Igitur quidam lapis non est lapis.

Est autem hoc ratiocinandi genus accommodatissimum ad revincendos


eos, qui per proterviam oppositas propositiones admittunt. Hac de
syllogismis simplicibus, seu categoricis videntur satis, nunc de coniunctis
aliquid dicamus.

De syllogismis coniunctis sive hypotheticis


Ca pV T 32

[Haec] ex Cicero in Syllogismus coniunctus, seu hypotheticus, is esse definitur, qui ex A


top. et Boet, in lib una principali propositione coniuncta, et altera quadam sive coniuncta,
de syl. hypo. [et li. 5 sive simplici minus principali conclusionem colligit: ut,
in Topic. Cic.] et
D. Tho. opus. 48.
cap. 16. et sequen­ Si Socrates est virtute prteditus, est laude dignus,
tibus, et Aver. 1. pri. Si autem est iustus, est virtute pnxditus,
ad ca. 32. Igitur si est iustus, est laude dignus.

Si sol lucet, dies est,


Sol autem lucet,
Dies igitur est.

Si sol lucet, dies est,


Non est autem dies,
Igitur sol non lucet.

Maior proposiüo. Principalis propositio dicitur apud Boetium et maior, et propositio, ei B


Minor. sumptum: minus principalis, tum minor, tum assumptio. Quanquam vero
minor, et conclusio, tum categórica, tum hypothetica esse possint, nos
De quibus syllog.
hypothe. agendum.
tamen in prasentia de iis tantum hypotheticis syllogismis disseremus,
qui ex minore, ac conclusione categoricis conficiuntur. Sunt enim sim­
pliciores. Qua de causa illos etiam omittemus, in quibus maior propositio
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 431

de duas contrárias ou contraditórias, concluímos uma enunciação na


qual se nega o mesmo de si mesmo, como se se disser:

Todo o homem é animal,


E nenhum homem é animal,
Logo, nenhum homem é homem.

Nenhuma pedra é dotada de sentidos,


Alguma pedra é dotada de sentidos,
Logo, alguma pedra não é pedra.

Este género de raciocínios é muito apropriado para refutar aqueles


que, por audácia, admitem proposições opostas.
Isto parece ser o suficiente acerca dos silogismos simples ou cate­
góricos; digamos agora alguma coisa acerca dos compostos.

Capítulo 32

Dos silogismos compostos ou hipotéticos


A Silogismo composto ou hipotético define-se aquele que, de uma
proposição principal composta e de uma outra composta ou simples Esta doutrina tirá­
menos principal, infere uma conclusão, como: mo-la de Cícero, nos
Tópicos, e de Boécio,
no livro dos Silo­
Se Sócrates é dotado de virtude, é digno de louvor, gismos hipotéticos e
Se é justo, é dotado de virtude, no livro V dos Tópi­
Logo, se é justo, é digno de louvor. cos de Cícero; e de
S. Tomás, Opús­
Se o sol brilha, é dia, culo 48, capítulo 16
Ora o sol brilha, e seguintes, e Aver-
róis, Primeiros Ana­
Logo é dia.
líticos, 1, cap. 32.

Se o sol brilha é dia,


Ora não é dia,
Logo, o sol não brilha.
Proposição maior.
B A proposição principal, em Boécio, chama-se não só maior, mas tam­ Menor.
bém proposição e sumptum; a menos principal chama-se quer menor,
quer assumptio. Embora, de facto, a menor e a conclusão possam ser De que silogismos
hipotéticos se vai tra­
quer categóricas, quer hipotéticas, todavia, por agora, trataremos apenas tar.
dos silogismos hipotéticos que constam de uma menor e de uma con­
clusão categóricas. São mais simples. Por esse motivo, omitiremos
432 INST1TVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

constat pluribus, quam duabus categoricis. Triplex est igitur syllogismus


Triplex syllog. hypot. coniunctus: conditionalis, copulativus, et disiunctivus: ratione videlicet
seu coniunctus.
maioris propositionis, quce triplex esse potest conditionalis, copulativa,
a Lib. 3. [c. 14. et et disiunctiva, de quibus supra a dictum est.
cset.]
Conditionalium syl­
Conditionalium duplex figura esse dicitur. Prior est, cum ponitur
log. duplex figura. antecedens propositionis, ut ponatur consequens. Posterior, cum tollitur
In singulis figuris sunt consequens, ut tollatur antecedens. Utriusque sunt paulo ante allata
quatuor modi.
exempla. Modi singularum sunt quatuor. Aut enim tam antecedens,
quam consequens affirmat, ut,

Si sol lucet, dies est,


At sol lucet,
Ergo dies est.

Aut utrumque negat, ut,

Si sol non lucet, non est dies,


At sol non lucet,
Igitur non est dies.

Aut antecedens affirmat, consequens negat, ut,

Si sol lucet, non est nox,


At sol lucet,
Ergo non est nox.

Aut antecedens negat, et consequens affirmat, ut,

Si sol non lucet, nox est,


At sol non lucet,
Nox igitur est.

Atque hi sunt primee figurae. Secundae autem sunt huius modi,

Si sol lucet, dies est,


Non est autem dies,
Igitur sol non lucet.

Si sol non lucet, non est dies,


At est dies,
Ergo sol lucet.

C5 — quam consequens affirmant, ut...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 433

ainda aqueles em que a proposição maior consta de mais que duas


categóricas.
Há, portanto, três espécies de silogismo composto: condicional, Três espécies de silo-
copulativo e disjuntivo, em razão, evidentemente, da proposição maior, gismo hipotético ou
que pode ser condicional, copulativa e disjuntiva, como acima® se disse. C°^líwoIII ca 14
E dupla a figura dos condicionais. Uma verifica-se quando se e restantes
põe o antecedente da proposição para se pôr o consequente; a outra, Dupla figura dos si­
quando se tira o consequente para se tirar o antecedente. De ambas logismos condicio­
foram dados exemplos um pouco atrás. nais.
ca
Os modos de cada figura são quatro, Na verdade, ou tanto o Et® da figura há
antecedente como o consequente afirmam, rnrno. quatro modos.

Se o sol brilha, é dia,


Ora o sol brilha,
Logo, é dia;

ou ambos negam, como:

Se o sol não brilha, não é dia,


Ora o sol não brilha,
Logo, não é dia;

ou o antecedente afirma e o consequente nega, como:

Se o sol brilha, não é noite,


Ora o sol brilha,
Logo, não é noite;

ou o antecedente nega e o consequente afirma, como:

Se o sol não brilha, é noite,


Ora o sol não brilha,
Logo, é noite.

Estes são os da primeira figura. Os da segunda, porém, são do mesmo


género:
Se o sol brilha, é dia,
Ora não é dia,
Logo, o sol não brilha.

Se o sol não brilha, não é dia,


Ora é dia,
Logo, o sol brilha.
434 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Si sol lucet, non est nox,


At est nox,
Igitur sol non lucet.

Si sol non lucet, nox est,


Non est autem nox,
Igitur sol lucet.

De conditionalibus negativis, in quibus nimirum conditionalis particula


negatur, nihil in praesentia dicemus, quia fere non sunt in usu.
Copulativi syllog. af­ Copulativi autem affirmativi, hoc est, in quibus copulativa coniunctio D
firmativi nulli sunt. non negatur, nulli sunt. Si enim ita dicas, Socrates est philosophus, et
Adverte. est bonus vir, igitur est philosophus, vel, igitur est bonus vir, non feceris
syllogismos, sed enthymemata quaedam conditionalium syllogismorum, in
quibus videntur deesse hae maiores propositiones, Si Socrates est philoso­
phus, et est bonus vir, est philosophus: Si Socrates est philosophus et est
bonus vir, est bonus vir.
Copulativorum ne­ Jn negativis autem una tantum figura esse videtur, in qua nimirum E
gantium una est figu­
altera pars propositionis ponitur, ut altera tollatur. Exemplum,
ra, modi vero tres.
Una sublata parte,
non statim ponitur Non et dies est, et nox est,
altera. Est autem dies,
Nox igitur non est,
Vel,
Est autem nox,
Non est igitur dies.

Nam qui alteram tollit, ut alteram ponat non recte concludit, ut si dicas,

Non et Socrates deambulat, et sedet:


Non deambulat autem
Igitur sedet.
Vel,
Non sedet autem,
Igitur deambulat.

Potest enim cubare. Huius generis tres sunt modi. Aut enim utraque
pars propositionis affirmat, ut in proposito exemplo cernis, aut utraque
negat, ut si dicas,

Non et Socrates non dormit, et non vigilat,


Non dormit autem,
Ergo vigilat.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 435

Se o sol brilha, não é noite,


Ora é noite,
Logo, o sol não brilha.

Se o sol não brilha, é noite,


Ora não é noite,
Logo, o sol brilha.

Nada diremos, por agora, dos condicionais negativos, em que


a partícula condicional é negada, pois já quase se não usam.
D Copulativos afirmativos, isto é, aqueles em que se não nega a con­
junção copulativa, não existem nenhuns. Realmente, se se disser assim: Não existem nenhuns
silogismos copulati­
Sócrates é filósofo e é bom homem; logo, é filósofo, ou logo, é bom vos afirmativos.
homem — não se farão silogismos, mas uma espécie de entimemas de Advertência.
silogismos condicionais, em que parecem faltar estas proposições
maiores: se Sócrates é filósofo e é bom homem, é filósofo; se Sócrates
é filósofo e é bom homem, é bom homem.
Há apenas urna fi­
E Nos negativos, porém, parece existir apenas urna figura, na qual, gura dos copulativos
como è óbvio, se põe uma parte da proposição para tirar a outra. negativos; mas os
modos são três.
Exemplo: Excluída uma parte,
Não é [simultáneamente] dia e noite, não se põe imediata­
Ora é dia, mente a outra.
Logo, não é noite,
ou:
Ora é noite,
Logo, não é dia.

Efectivamente, quem tira urna para pôr outra não conclui recta­
mente, como se se disser:

Sócrates não caminha e está sentado [ao mesmo tempo],


Ora não caminha,
Logo, está sentado,
ou:
Ora não está sentado,
Logo, caminha.

Pode, na verdade, estar deitado. São três os modos deste género.


Com efeito, ou ambas as partes da proposição afirmam, como se vê
no exemplo apresentado; ou ambas negam, como se se disser:

Sócrates não dorme e [simultaneamente] não está acordado,


Ora não dorme,
Logo, está acordado,
436 1NSTITVTIONVM DlALECT1CARVM LIBER VI

Vel,
Non vigilat autem,
Ergo dormit.

Aut altera pars affirmat, altera negat, ut si dicas,

Non et Socrates deambulat, et non movetur.


Deambulat autem,
Ergo movetur.
Ve1
Non movetur autem,
Ergo non deambulat.

Idem modus erit, si prior pars propositionis neget, posterior affirmet,


ut si diceres.
Non ct Socrates non movetur, et deambulat,
Non movetur autem,
Ergo non deambulat:
Vel,
Deambulai autem,
Ergo movetur.

In his omnibus, ut dixi posita una parte statim tollitur altera.


In disiunctivis denique affirmativis, hoc est, in quibus disiunctiva
particula non negatur (<reliquum etenim genus, ut minus usurpatum omitti­
Disiunctivorum syl- mus) duplex est figura, si modo disiunctio sit ex repugnantibus, quo pacto
logi. duplex figura
apud veteres: modi veteres de disiunctione locuti sunt. Prior ponit alteram partem, ut alte­
cuiusque tres. ram tollat, posterior tollit alteram, ut alteram ponat. Modi singularum
tres sunt, aut enim utraque pars propositionis affirmat, ut si dicas,

Aut dies est, aut nox est,


est autem dies,
Ergo non est nox,
Vel
Est autem nox,
Ergo non est dies.

Aut utraque negat, ut si dicas,

Aut dies non est, aut nox non est,


Non est autem dies,
Ergo nox est,

E 40 — ut dixi sublata una pars...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 437

ou:
Ora não está acordado,
Logo, dorme,

ou uma parte afirma e outra nega, como se se disser:

Nem Sócrates anda e [simultáneamente] não se move,


Ora anda,
Logo, move-se,
ou:
Ora não se move,
Logo, não anda.

Será o mesmo modo, se a primeira parte da proposição negar e a segunda


afirmar, como se se disser:

Nem Sócrates [simultáneamente] se não move e anda,


Ora não se move,
Logo, não anda,
ou:
Ora anda,
Logo, move-se.

Em todos estes, como disse, posta uma parte, imediatamente se tira


a outra.
Finalmente, nos disjuntivos afirmativos, isto é, naqueles em que
a partícula disjuntiva não é negativa (omitimos, com efeito, o outro
género, porque menos usado), há uma dupla figura, se, de facto, a dis­ Dupla figura, para os
antigos, dos silogis­
junção é de coisas repugnantes, como os antigos a entendiam. A pri­ mos disjuntivos e seus
meira põe uma parte para excluir outra. A segunda exclui uma para três modos.
pôr outra. Os modos de cada uma são três. Com efeito, ou ambas
as partes da proposição afirmam, como se se disser:

Ou é dia ou é noite,
Ora é dia,
Logo, não é noite,
ou:
Ora é noite,
Logo, não é dia,

ou ambas negam, como se se disser:

Ou não é dia ou não é noite,


Ora não é dia,
Logo, é noite,
438 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

Vel,
Non est autem nox,
Ergo dies.

Aut altera pars affirmat, altera negat: ut,

Aut dies est, aut sol non lucet,


Dies autem est,
Ergo sol lucet, et caetera.

Atque hcec exempla ad priorem figuram pertinent. Posterioris hcec sunt,

Aut dies est, aut nox est,


Non est autem dies,
Ergo nox est,
Vel,
Non est autem nox,
Ergo dies.

Aut dies non est, aut nox non est,


Est autem dies,
Ergo non est nox:
Vel,
Est autem nox,
Ergo non est dies.

et sic in certeris. Cum autem disiunctio non est ex repugnantibus, ut,


Aut Miloni insidias fecit Clodius, aut Clodio Milo, sola posterior figura
apta est. Nam si disiunctio ex duabus partibus (de hac enim loquimur)
est vera, altera autem pars est falsa, dubium non est, quin altera
sit vera: alioqui tota, propositio esset falsa. Non tamen si altera pars
verce disiunctionis vera est, statim altera falsa erit, cum utraque vera esse
b Lib. 3. c. 17. possit, ut ex iis, quee supra diximus b, perspicuum est. Hcec de syllogismis
hypotheticis satis esse videntur. Reliqua enim fere, quee in hac re dici
possunt, spinosa admodum sunt, et parum frugifera: quorum apud Boe­
[e In li. de syllo­ tium c latissimus patet campus. Reliquum est igitur ut quoniam de syllo­
gismo hypoth. et lib.
5. in Topica Cic.]
gismo iam diximus, coetera tria argumentationum genera persequamur.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 439

ou:
Ora não é noite,
Logo, é dia,

ou uma parte afirma e outra nega, como:

Ou é dia, ou o sol não brilha,


Ora, é dia,
Logo, o sol brilha, etc.

Pertencem estes exemplos à primeira figura. Da segunda são os


seguintes:
Ou é dia ou é noite,
Ora não é dia,
Logo, é noite,
ou:
Ora não é noite,
Logo, é dia:

Ou não é dia, ou não é noite,


Ora é dia,
Logo, não é noite.
ou:
Ora é noite,
Logo, não é dia.

E assim nos restantes. Quando, porém, a disjunção não é de repugnan­


tes, como: ou Clódio armou insídias a Milão, ou Milão a Clódio — só a
segunda figura é apta. Com efeito, se a disjunção de duas partes
(é desta, com efeito, que falamos) é verdadeira, mas uma parte é falsa,
não há dúvida de que a outra é verdadeira; de contrário, toda a pro­
posição é falsa. Porém, se uma parte duma disjunção verdadeira for
verdadeira, não se segue imediatamente que a outra seja falsa, uma
vez que ambas podem ser verdadeiras, como é evidente pelo que atrás b b Livro ΙΙΓ, cap. 17.
dissemos.
Isto parece ser o suficiente a respeito dos silogismos hipotéticos.
Efectivamente, o mais que possa dizer-se sobre este assunto é sobre­
maneira espinhoso e de poucos frutos; acerca disso, um vastíssimo
campo se oferece em Boécioc. c No livro Do Si­
logismo hipotético,
Uma vez que já falámos do silogismo, resta-nos agora prosseguir e no livro V dos
nos outros três géneros de argumentação. Tópicos de Cícero.
440 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

De Enthymemate
Ca p V T 33

Enthymema dicitur apud Aristotelem a syllogismus imperfectus, non A


a 2. prio. 27. ea quidem significatione, qua omnes, qui non sunt per se noti, ac evidentes,
dicuntur imperfecti (quo pacto de imperfectis syllogismis superius loquuti
sumus) sed quia in eo altera sumptio prcetermittitur. Exempla.

Virtus est, qua nemo male uti potest,


b D. Aug. lib. 2.
de lib. arbit. cap. 19.
Jgitur virtus est simpliciter bona.
D. Tho. II, q. 55,
Item.
a. 4.
Id quo nemo male uti potest, est simpliciter bonum,
Igitur virtus est simpliciter bona.

b 2. de differ. Top. In priori deest propositio, in posteriori assumptio. Unde Boetius b B


explicans quo pacto enthymema dicatur imperfectus syllogismus, Enthy­
mema, inquit, est oratio, in qua non omnibus antea propositionibus cons­
c Loco citato.
titutis, infertur festinata conclusio. Quod vero Aristoteles c adiungit,
enthymema esse ex verisimilibus, aut signis, ita accipiendum est, quasi
frequentius ita accidat. Quia enim saepius oratores, quam Dialectici,
et philosophi enthymematis utuntur, efficitur, ut fere enthymemata ex
d In Top. verisimilibus, aut signis, quce oratoribus sunt familiaria, concludantur.
De sententia
e Cap. 21. Quia vero omnis sententia, teste Cicerone enthymema vocatur, dicam C
quo pacto id intelligendum sit. Aristoteles secundo ad Theodecten libro e
ait, sententiam esse enunciationem de re aliqua universali, quce amplectenda
sit, aut vitanda: atque hanc esse partem enthymematis, nunc quidem inte­
grantem, veluti si dicas, Non est hominibus fovenda ira immortalis: nunc
vero sublectam, quce vere est enthymema, ut si dicas, Non est mortalibus
fovenda ira immortalis. Quod enim dicitur, Mortalibus, obiter innuit
antecedens, [quasi dictum sit, Homines sunt mortales, non est igitur illis
fovenda ira immortalis]. Itaque sententiae, in quibus ratio obiter inseritur,
sunt enthymemata: cceterce, vel conclusiones, vel antecedentia tantum
enthymematum dicendce sunt. Sed ut Homerus propter excellentiam
commune poetarum nomen effecit apud Graecos suum, sic, cum omnis

A 4 — sumus) Sed alterius sumptionis puetermissione. Exempla.


C 7-C 8—obiter inculcat antecedens...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 441

Capítulo 3 3

Do entimema
A Do entimema diz Aristótelesa que é um silogismo imperfeito,
não com a significação que se atribui a todos os que não são conhecidos
por si e evidentes (neste sentido, falámos atrás de silogismos imperfeitos),
a Primeiros Ana­
mas em virtude da omissão de uma proposição. Exemplos: líticos, II, 27.

Virtude é aquela coisa de que ninguém pode usar mal b,


Logo, a virtude é simplesmente boa.
b Santo Agosti­
nho, Do Livre Arbí­
Do mesmo modo: trio, Livro II, cap. 19;
S. Tomás, II, ques­
Aquilo de que ninguém pode usar mal é simplesmente bom. tão 55, artigo 4.
Logo, a virtude c simplesmente boa.

B Na primeira, falta a maior; na segunda, a menor. Daí que Boécio b, b Das Diferenças
dos Tópicos, II.
explicando a razão por que o entimema se chama silogismo imperfeito,
diz; o entimema é a oração na qual, não postas antes todas as proposições,
se tira uma conclusão apressada. c No lugar citado.

O facto de Aristóteles c ajuntar que o entimema provém de coisas


verosímeis ou de imagens, deve tomar-se como se assim sucedesse
muito frequentemente. Visto que os oradores usam de entimemas
muito mais vezes que os dialécticos e os filósofos, acontece que, a maior d Nos Tópicos.
parte das vezes, os entimemas são concluídos de coisas verosímeis ou de Da sentença.
C imagens que são familiares aos oradores. Porque, segundo o testemunho e Cap. 21.

de Cicero d, toda a sentença se chama entimema, explicarei o modo


como isto deve entender-se. Aristóteles, no segundo livro a Teodo-
reto e, diz que a sentença é a enunciação acerca de alguma realidade
universal que deve ser seguida ou evitada; e que esta é parte do enti­
mema, ora de certo integrante, como se se disser: os homens não devem
alimentar uma ira imortal; ora dependente, que é o verdadeiro entimema,
como se se disser: os mortais não devem alimentar uma ira imortal.
Na verdade, pelo facto de se dizer «mortais», indica-se de passagem o
antecedente, como se se tivesse dito: os homens são mortais; não lhes
é lícito, portanto, alimentar uma ira imortal. São, portanto, entimemas
as sentenças em que a razão se toca de passagem; as restantes devem
chamar-se conclusões ou apenas antecedentes de entimemas. Mas,
assim como, entre os Gregos, o nome Homero, pela sua excelência,
se tornou comum a muitos poetas, assim também, quando qualquer
442 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

sententia (in qua ratio inseritur) enthymema dicatur, quia videtur ea, quce
ex repugnantibus conficitur acutissima, sola hcec proprie nomen commune
possidet i; ut, Quem quis non accusat, damnati Verum si ratio voca­
buli habeatur, non modo omnis sententia, sed etiam quacumque mentis
conceptio enthymema, appellari potest. Dicitur enim enthymema, Quin- D
tiliano interprete §, commentum, et commentatio: Boetio vero h, animi
/ Cicero [ibi.] conceptio. Quo nomine videtur hoc argumentationis genus appellatum,
ut ab exemplo, quod est alterum genus popularis argumentationis, distin­
g Lib. 5. c. 10. gueretur. Exemplum enim ex re singulari sensui subiecta contendit
h Lib. 5. in topic.
aliquid efficere: enthymema vero ex ratione communi, quam animus apud
Cic.
Cur hoc argumenta­ se excogitat. Id quod Aristoteles docet l. Per exempla, inquit, et fabulas E
tionis genus dictum
sit enthimema.
facilius discitur. Sunt etenim quaj explorata habeantur, et particularia
i In proble. secti. sint. Enthymemata vero demonstrationes sunt ex universalibus, quce
18. q. 3.
minus quam particularia novimus, et ccetera. Quo minus mihi fit verisi­
Alia ratio minus veri­mile, propterea hanc argumentationis formulam enthymema fuisse nomi­
similis. natam, quod h Ονμω, hoc est, in animo maneat illa sumptio, quce prce-
termittitur, ut quidam volunt.

De inductione
C a p VT 3 4
a 1. Top. 10.

Inductio est a singularibus ad universalia progressio 'd: ut omne animal A


nutritur, et omnis planta nutritur, igitur omne vivens nutritur: item, Nec
Croeso aurum, nec vires Achilli, nec Demostheni eloquentia, nec Alexandro
gloria faelicitatem afferre potuerunt, et sic res habet in cceteris rebus
Quas sit prestantior caducis, nemo igitur est, qui in rebus cum tempore labentibus foelix esse
inductio. unquam possit. Fit itaque inductio tum affirmando, tum negando. Fit
etiam non modo cum ex singularibus ad universalia progredimur; sed
etiam cum ex quocunque genere partium totum concludimus ut si totum
b 1. meta. 6. et corpus morbo laborare ex singularum partium cegrotatione colligas. Verum B
13. meta. 4.
quce a singularibus ad universalia progreditur, prcecipua est inductio,
modo nomine singularium non tantum intelligas ea, quce vere singularia
sunt, sed etiam quce minus universalia. Hoc inductionis genus ea de
causa Socrati, ut primo autor i tribuit Aristoteles b quia Socrates primus
qucesivit, ac definivit universalia, quce quidem ex singularibus inductione

A 8-B 1 — concludimus ut exemplis facile perspicies. Verum...


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 443

sentença (na qual se inclui a sua razão) se chama estimema, é porque


se parece com aquela que se forma de repugnantes, sumamente enge­
nhosa, a única que possui/propriamente o nome comum, como: quem
não acusa alguém, condena-o?
Mas, se se atender à etimologia da palavra, pode chamar-se enti-
merna não só a toda a sentença, mas ainda a qualquer conceito mental.
D Entimema, com efeito, quer dizer, segundo interpreta Quintiliano £,
/ Cícero, no mes­
invenção e reflexão; para Boécio^, conceito mental. mo lugar.
Parece que tal género de argumentação se designa com este nome
para se distinguir do exemplo, que é outro género de argumentação
g Livro V, Cap. 10.
popular. O exemplo, na verdade, pretende fazer alguma coisa a partir h Livro V. Nos
de algo singular, sujeito aos sentidos; o entimema, a partir de Tópicos de Cícero.
Porque se chama en­
uma razão comum, que o espírito em si próprio descobre. Isto, timema a este gé­
nero de argumenta­
E o que Aristótelesi ensina. Aprende-se, diz, mais fácilmente através ção.
de exemplos e de fábulas. Com efeito, são coisas que se observam e
i Nos Problemas,
que são particulares. Os entimemas, porém, são demonstrações a partir secção 18, questão 3.
de coisas universais, que conhecemos menos que as particulares, etc.
Por isto tenho por menos verosímil que esta fórmula de argumentação
Outra razão menos
se chame, como querem alguns, entimema, porque permanece εν Θνμω, verosímil.
isto é, no espírito, a proposição que se omite.

Capítulo 34

Da indução
a Tópicos, I, 10.
A Indução é o processo que vai de coisas singulares para universais
como a: todo o animal se alimenta, e toda a planta se alimenta; logo,
todo o ser vivo sc alimenta; do mesmo modo: nem o ouro a Creso,
nem a força a Aquiles, nem a eloquência a Demóstenes, nem a glória
a Alexandre, lhes puderam trazer felicidade, e assim se passa com as
restantes realidades caducas; não há, pois, ninguém que possa alguma Qual a indução mais
vez ser feliz com as coisas que passam com o tempo. A indução faz-se, importante,
portanto, quer afirmando, quer negando. Faz-se ainda não só quando,
b Metafísica, I, 6;
B de coisas singulares, avançamos até às universais, mas também quando, e Metafísica, XIII, 4.
de qualquer gênero de partes, concluímos para o todo. A que avança
de coisas singulares para coisas universais é a indução principal, desde
que pelo nome de singulares se não entenda apenas aquilo que realmente
é singular, mas ainda o que é menos universal. Aristótelesb atribui
este género de indução a Sócrates, como seu primeiro autor, pois foi
444 1NSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

colligebat. Quam autem vim habeat inductio alio loco dicemus, certe
populari sensui est valde accommodata c. In ea tamen diligenter curan- C
dum est, ne qua pars preetermittatur. Aut igitur omnes numerandae
sunt, aut si tam multa existant, ut vel numerari omnino, vel facile, ac sine
c 1. top. 10. fastidio non possint, paucis quibusdam recensitis addenda sunt heee verba,
Praeceptum dividendi.
Et ita in reliquis, aut similia.
Si vero huiusmodi verba addideris, antecedensque et consequens eisdem D
praecise terminis constiterint, tum demum inductio erit consequentia for­
malis: ut si dicas, Hic ignis urit, et ille ignis urit, et ita reliqui ignes, igitur

Quae inductiones sint


omnis ignis urit. Hoc enim pacto antecedens et consequens erunt duce
consequentias forma­ emmeiationes cequipollentes, ut patet ex supradictis a quarum altera
les.
d Lib. 3. ca. 7. ad alteram est formalis consequentia, ut etiam ex dictis e perspicuum est:
e Hoc lib. c. 3.
Sed, ut verum fatear, huiusmodi inductiones non sunt argumentationes,
ut ex hoc eodem libro f colliges. Earum tamen inter argumentationes
/ Cap. 1. et 6.

mentionem fecimus, quia propter similitudinem, quam habent cum iis


inductionibus, ejuee argumentationes sunt, et definiri simul, et argumenta­
tiones vocari consueverunt.

De exemplo

Exemplum quid.
CapVT35
a 2. Rhe. ad The.
20.
Exemplum rei gestae.
Parabole, seu col­ Exemplum est oratio, in qua singulare aliquid ex uno, aut perpaucis A
latio.
similibus confirmari contenditur. Hoc vero duplex est a. Alterum rei
gestee autoritate, alterum fictce, et ut gestee commemoratione nititur.
Posterioris rursus duo sunt genera. Alterum dicitur Parabole, id est,
collatio: alterum, Apologus. Exempla primi generis. Darius capta B
/Egypto statim in Greeciam traiecit, ergo rex Persarum nisi arceatur
AEgypto in Greeciam traiiciet: Florentini civili dissidio reipublicee adminis-
trationem amiserunt, itemque Senenses, ac Pisani, ergo et Venetorum
Respublica collabetur, si cives cum civibus depugnaverint. Exemplum

C 1-C 2 — a. prio. 1.. 7. prio. 10. (cota marginal).


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 445

Sócrates o primeiro que procurou e definiu coisas universais, que, por


indução, deduzia de coisas singulares.
Qual o valor da indução, expô-lo-emos noutro lugar, mas é, com
certeza, muito apropriadac ao gosto do povo.
C Deve, todavia, velar-se diligentemente por que nela não se omita
alguma parte. Portanto, ou devem enumerar-se todas ou, se forem
tantas que seja impossível contá-las ou pelo menos muito difícil e fas­ c Tópicos, I, 10.

tidioso, depois de enumeradas umas tantas , devem juntar-se estas ou


Regra de divisão.
semelhantes palavras: «e assim nas restantes».
D Se se juntarem tais palavras, e o antecedente e o consequente
constarem precisamente dos mesmos termos, então a indução será
finalmente uma consequência formal, como se se disser: este fogo
queima, e aquele fogo queima, e assim os outros fogos; portanto, todo Quais as induções
o fogo queima. que são consequên­
cias formais.
Na verdade, assim o antecedente e o consequente serão duas enun­
ciações equipolentes, como é evidente pelo que atrásd se disse, e deduz-se
d Livro III, cap. 7.
de uma para a outra uma consequência formal, como é claro ainda
pelo que foi dito Mas, para dizer a verdade, tais induções não são e Neste livro,
argumentações, como se pode inferir deste mesmo livro/. Contudo, cap. 3.
/ Caps. 1 e 6.
fazemos menção delas entre as argumentações, porque é costume
definirem-se na mesma altura, e chamarem-se argumentações em virtude
da semelhança que têm com estas induções que são argumentações.

Capítulo 35

Do exemplo Que é o exemplo.


a Retórica a Teo-
doreto, II, 20.
A Exemplo é a oração na qual se pretende confirmar alguma coisa Exemplo de coisa
feita.
por uma ou por muito poucas coisas semelhantesa. É duplo: um Parábola ou com­
apoia-se na autoridade de um facto real; outro, na recordação de uma paração.
coisa fictícia e dada como tendo sucedido. No segundo, existem ainda
dois géneros: um chama-se parábola, isto é, comparação, e o outro,
apólogo.
B Exemplos do primeiro género: Dano, depois de ter tomado o
Egipto, passou imediatamente à Grécia; logo, o rei dos Persas, se
não for contido no Egipto, passará à Grécia. Os Florentinos, depois
da guerra civil, perderam o governo da sua república e o mesmo sucedeu
aos habitantes de Sena e de Pisa; logo, a república dos Venezianos será
lançada por terra, se os cidadãos combaterem uns contra os outros.
446 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

secundi generis. Non sibi consulerent vectores, qui gubernatores forte C


deligerent, ergo non sibi consulet Respublica quce sorte creaverit magis­
tratus.
Tertii generis exemplumb. Equus olim pascua solus obtinebat: D
invasit eam possessionem cervus, ut pasceret, depopularetur que. Incen­
sus dolore equus, cogitabat incommodum suum ulcisci: adit hominem,
[b Apud Arist. ut consulat: eum implorat ut secum rationem aliquam ineat iniurice vindi­
Ibidem.] canda. At homo inveni, inquit, illam. Patere addi frcenum in os tibi,
Apologus, seu fabula.
ego hasta desumpta dorsum inscendam: ita incurremus, et conficiemus
improbissimum animal. Approbavit consilium equus, infrenatus est,
equitem recepit in sedem. Ita loco supplicii de cervo sumendi abactus
est ipse in servitutem. Ergo Imerei vereor ne dum conamini vestras
iniurias ulcisci, idem vobis eveniat. At frenum quidem iam iniecistis
vobis creato imperatore Phalaride. Quod si custodes etiam salutis adhi­
bendos ei censetis, ac dorso recipitis, non video cur hoc non sit servire
Phalaridi. Ac primum quidem genus, quoniam res praeteritas narrat,
Exempla primi gene­ ex singularibus conficitur, itemque tertium, quia ex iis struitur, quce fin­
ris proprie dicuntur
exempla. guntur prceteriisse: at secundum genus scepe ex rebus universalibus univer­
salia concludit. Itaque exempla primi generis proprie dicuntur exempla,
reliqua improprie.

Comparantur inter se quatuor argumentationum genera

CapVT36

Cum igitur argumentationum quatuor sint genera, syllogismus, enthy- A


mema, inductio, et exemplum: prima quidem cluo ex toto confirmant par­
tes, ut, quod omnis iustitia sit amplectenda, ex eo, quod omnis virtus est
amplectenda. Tertium vero (hoc est, inductio) e contrario ex partibus con­
[a 1-Icec ex] Arist. firmat totum, ut, quod omnis iustitia sit amplectenda, eo quod omnis virtus,
2. prio. 24. [et 2.
Rhet. ad Theo. 2] et qua cequabiliter res distribuuntur, omnisque ea, qua sine iniuria cuiusquam
Alex. 1. priorum. 4.
fiunt rerum commutationes, amplectendce sunt. Quartum denique, quod
est exemplum, ex parte confirmat partem a, ut, quod Catilina a Cicerone
interfici debeat, cum Gracchus a Scipione interfectus sit. Atque prima B
duo genera plus virium habent, suntque apud eos, qui res diligentius perse-

B 1-B 2 — 1. top. 10. 2 Reth. ad Theod. 2. (cota marginal).


INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 447

Exemplo do segundo género: não se importariam consigo mesmos


os embarcados que escolhessem ao acaso os pilotos; logo, também não
se importará consigo mesma a república que crie magistrados ao acaso.
Exemplo do terceiro género0: grangcara outrora um cavalo uns
pastios só para si. Invadiu-lhe a possessão um veado para nela pastar
e devastar, inflamado pela dor, o cavalo pensou vingar-se do dano. b Aristóteles, no
mesmo lugar.
Vai ter com o homem a pedir-lhe um conselho sobre o meio de vin­ Apólogo ou fábula.
gar a afronta. Mas o homem disse-lhe então: Encontrei-o: consente
que te ponha um freio na boca e que eu, de lança em punho, te suba
para o dorso; assim, arrancaremos contra tão perverso animal e dare­
mos cabo dele. O cavalo aprovou o conselho, foi enfreado e dei­
xou-se montar pelo cavaleiro. Assim, em lugar de submeter o veado
ao suplício, foi ele mesmo reduzido à escravidão. Portanto, temo
que, quando tentardes vingar as vossas injúrias, vos aconteça o mesmo.
Mas já vos pusestes um freio, elegendo Fálaris para vosso imperador.
Se julgais que devem ainda juntar-se-lhe guardas para sua defesa e os
recebeis no dorso, não vejo como é que isso não seja servir a Fálaris.
O primeiro, na verdade, visto narrar factos passados, forma-se
Os exemplos do pri­
a partir de coisas singulares e, do mesmo modo, o terceiro, pois se meiro género dizem-
constrói a partir daquilo que se finge ter passado; mas o segundo género -se exemplos própria-
mente ditos.
conclui, muitas vezes, coisas universais de coisas universais. Portanto,
os exemplos do primeiro género são exemplos propriamente ditos; os
outros, impropriamente ditos.

Capítulo 36

Comparam-se entre si os quatro géneros de argumentação

Portanto, são quatro os géneros de argumentação: silogismo,


entimema, indução e exemplo. Os dois primeiros confirmam as partes
pelo todo, como: toda a justiça se deve abraçar, uma vez que toda a
virtude se deve abraçar. Porém, o terceiro (isto é, a indução) confirma,
ao contrário, o todo pelas partes, como: toda a justiça se deve abra.çar,
uma vez que toda a virtude pela qual todas as coisas são igualmente
distribuídas, e toda aquela pela qual se fazem as trocas das coisas sem
a Estas doutrinas
detrimento para ninguém, devem ser abraçadas. Finalmente, a quarta, são tiradas de Aristó­
que é o exemplo, confirma a parte pela parte a, como: Catilina deve ser teles, Primeiros Ana­
morto por Cícero, como Graco foi morto por Cipião. líticos, II, 24; e Retó­
rica a Teodoreto, II,
Mas os dois primeiros géneros têm mais força, e usam-nos aqueles 2; e de Alexandre,
que diligentemente se dedicam a coisas de maior profundidade; os Primeiros Analíticos,
I, 4.
448 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

quuntur, maioris ponderis: duo posteriora communi hominum sensui magis


accommodantur b. Procter ea ut enthymema est imperfectus syllogismus c,
sic exemplum est inductio imperfecta d. Denique ut syllogismus, et
d Non tamen eo­
inductio frequentius usurpantur a dialecticis, sic enthymema et exemplum
m modo, quia
emplum non col­ ab oratoribus. Unde fit ut enthymemata oratorii syllogismi, exempla
b top. 10.
it conclusionem
1.
oratoria inductiones ab Aristotele e dicantur. [Nam etsi Aristoteles nomine
[c 2. priorum. 2.]
uctionis, ut enthy­ enthymematum, quibus Oratores utuntur, non solum imperfectos, et mutilos
ma [colligit con­ syllogismos, sed etiam perfectos, sive integros intelligit, ut ex multis
sionem] syllogismi.
locis f patet: tamen praecipue intelligit imperfectos sive non integros, quia
e 1 Rhet. ad
eo. 2. familiare sit Oratoribus, ut eas sumptiones, quae perspicua sunt, praeter­
[/ Ibidem, et lib. 2. mittant, ut ipse, idem adiungit S. Unde factum videtur, ut enthymema
p. 22.] oratorium definitum sit apud illum h, Syllogismus imperfectus ex verisimi­
libus, aut signis]. Quanquam vero tria posteriora genera ex primo, hoc C
[ g Eisdem locis.] est, ex syllogismo vires accipiant ad ipsumque ut ad caput omnis pro­
[ h 2. pri. ca. 27.]
i Boet. 2. de dif­
bationis redigantur, nos tamen de huiusmodi revocatione nihil hoc loco
fer. top. dicemus, quandoquidem nec de syllogismi coniuncti ad simplicem reductione
diximus, ne longior, quam instituimus, fieret hac tractatio. Quoniam
igitur iudicandi normas, quibus argumentationum forma prascribuntur,
hactenus pro ratione instituti nostri late persequuti sumus, reliquum est,
quod ad hanc partem attinet, ut generalem inveniendorum argumentorum
viam aperiamus.

De generali via et ratione medii argumentive inveniendi


CapVT37

Primum igitur ponenda sunt ob oculos pradicamenta, in quibus disse- A


rendi prima elementa disposita sunt. Mox rerum, qua sunt in quastione
a [Haec pene
Arist.] 1 prio 28. definitiones consideranda. Tum proprietates, qua naturas earundem
Consequentia. indissolubili societate commitantur, annotanda. Denique, ut paucis multa
Antecedentia. complectar, consequentia, et antecedentia, eiusmodi rerum, et ea qua
illis repugnant spectanda a. Consequentium nomine intelligimus hoc loco B
ea, qua de rebus, quarum sunt consequentia universe affirmantur, sive
necessario, ut virtus de iustitia, sive probabiliter, ut diligere natos de
parentibus. Antecedentium autem vocabulo intelligimus ea, de quibus C

B 10-B 11 (cap. 36) — 2. ad The. 2. (cota marginal).


C 5-C 7 — tractatio. Qua propter cum hactenus iudicandi normas, quibus argu­
mentationum forma praescribuntur, pro ratione instituti nostri late persequuti simus,
reliquum est...
A 5-B 1 — rerum, et repugnantia spectanda.
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 449

outros dois acomodam-se melhor ao comum sentir dos homens*.


Além disso, o entimema é um silogismo imperfeito c, assim como o exemplo
é uma indução imperfeita d. Depois, assim como o silogismo e a indu­
ção são empregados mais frequentemente pelos dialécticos, assim
também o entimema e o exemplo o são mais pelos oradores. É por b Tópicos, I, 10.
c Primeiros Ana­
isso que Aristóteles e chama aos entimemas os silogismos da oratória e líticos, II, 2.
aos exemplos, as induções da oratória. Embora Aristóteles, sob o nome d De modo dife­
rente, no entanto,
de entimemas, usados pelos oradores, compreenda não só os silogismos porque o exemplo
imperfeitos e mutilados, mas também os perfeitos ou inteiros, como se não infere a conclu­
são da indução, en­
vê em muitos lugares / compreende, contudo, principalmente os imper­ quanto o entimema
feitos ou não inteiros, que são familiares aos oradores, pois omitem as infere a conclusão do
silogismo.
premissas menores, que são evidentes; é assim que ele próprio os aduz£\ e Retórica a Tco-
Daqui o facto de parecer que ele * define assim o entimema dos oradores: doreto, I, 2.
/ No mesmo lu­
silogismo imperfeito [argumentando] de coisas prováveis e de sinais. gar e no livro II,
C Embora os três géneros posteriores recebam força do primeiro, isto cap. 22.
g Nos mesmos lu­
é, do silogismoz, e a ele, como cabeça de toda a argumentação, se redu­ gares.
zam, nada dizemos acerca desta redução, visto que não falámos da redu­ h Primeiros Ana­
líticos, II, cap. 27.
ção do silogismo composto ao simples, para não alongarmos este tratado i Boécio, Das Di­
mais do que determinámos. Portanto, uma vez que, por determinação ferenças dos Tópi­
cos, II.
nossa, seguimos largamente até agora as normas de julgar pelas quais
se ordenam as formas de argumentação, resta-nos, no respeitante a
esta parte, encontrar o caminho geral para descobrir os argumentos.

Capítulo 37

Do caminho geral e do método para encontrar


o termo médio ou argumento

A Devemos, portanto, atender, em primeiro lugar, aos predica­


mentos, onde se encontram dispostos os primeiros elementos para dis­
correr. Depois, devem considerar-se as definições das coisas em ques­
a Afirmação quase
tão. Anotam-se então as propriedades que acompanham necessariamente
idêntica cm Aristóte­
as respectivas naturezas. Finalmente, para resumir muito em poucas les, Primeiros Analí­
ticos, I, 28.
palavras, deve atender-se também aos antecedentes e aos consequentes
Consequentes.
B das coisas e àquilo que lhes repugna a. Por consequentes, entendemos Antecedentes.
aqui aquelas coisas que se afirmam universalmente acerca das coisas
de que são consequência, ou necessàriamente, como virtude acerca de
C justiça, ou provavelmente, como amar os filhos, falando dos pais. Por
antecedentes, entendemos aquelas coisas acerca das quais se afirmam
29
450 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

universe affirmantur res, quarum [illa\ dicuntur antecedentia, sive id


necessario fiat, sive verisimiliter: cuiusmodi sunt iustitia respectu virtutis,
et parentes respectu diligentium natos. Repugnantia denique dicimus D
hoc loco, quce de rebus, quarum [respectu] dicuntur repugnantia, affir­
mari, aut nullo modo, aut raro possunt, ut malum de iustitia, et odisse
natos de parentibus. His positis, cum quatuor sint genera quaestionum,
Repugnantia. quce proponi possunt, universe affirmantes, in parte affirmantes, universe
negantes, et in parte negantes, quatuor documentis complecti possumus b
generalem inveniendi medii, argumentive rationem.
Primum documentum. Ut quoestio universalis affirmativa confir- E
b [Hecc ex Ari.]
1 prio. 29.
metur, quaerendum est aliquid, quod idem sit antecedens prcedicati, et
Universalis affirma­ consequens subiecti. Exempli causa, si proposita sit quaestio. Omnisne
tiva quo argumento
confirmari debeat. iustitia sit laudanda, an non, cuius partem affirmativam velis probare
accipe virtutem ,de qua universe affirmatur Laudandum, quceque universe
affirmatur de iustitia, et confirmabis institutum in Barbara hoc modo,

Omnis virtus est laudanda,


Omnis iustitia est virtus,
Igitur omnis iustitia est laudanda.

Particularis affirma­
tiva, quo. Secundum. Ut quaestio particularis affirmativa confirmetur, quceren- F
dum est medium, quod idem sit antecedens prcedicati, et subiecti, aut
consequens prcedicati, et antecedens subiecti. Hac arte probabis, quan-
dam substantiam esse viventem, vel sumpto animali pro argumento, ut
propositum concludas in tertia figura, veluti hoc modo,

Omne animal est vivens,


Omne animal est substantia,
Ergo quaedam substantia est vivens.

Vel sumpto corpore pro medio, ut concludas indirecte in prima figura


hoc modo,
Universalis negativa
quo ar. conf. Omne corpus est substantia,
Omne vivens est corpus,
Igitur quaedam substantia est vivens.

Tertium. Ut quaestio universalis negativa confirmetur, quaerendum G


est medium, quod idem sit consequens subiecti, et repugnans praedicato,

DI — respectu dilectionis natorum. Repugnantia...


D 3-D 4 — ut malum esse, respectu iustitia, et odisse natos, comparatione
parentum. His positis...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 451

universalmente as coisas de que aquelas são antecedentes, quer porque


isso aconteça necessariamente, quer porque com verosimilhança; assim
está a justiça em relação à virtude e os pais em relação ao amor dos
D filhos. Finalmente, chamamos repugnantes àquelas coisas que nunca
ou raramente se podem afirmar acerca das coisas em relação às quais
se chamam repugnantes: como o mal, acerca da justiça, ou odiar os
filhos, acerca dos pais. Posto isto, e visto que são quatro os géneros Repugnantes.
de questões que podem ser propostas — afirmar universalmente, afir­
mar em parte, negar universalmente e negar em parte — podemos
resumir em quatro regras b o método geral para encontrar o termo
médio ou argumento.
E Primeira regra: Para se confirmar uma universal afirmativa, deve b Aristóteles, Pri­
procurar-se aquilo que é, ao mesmo tempo, antecedente do predicado meiros Analíticos,
I, 29.
e consequente do sujeito. Por exemplo, se for proposta esta questão: Com que argumento
toda a justiça deve ou não ser louvada?, cuja parte afirmativa se quer se deve confirmar a
universal afirmativa.
provar, toma-se virtude acerca da qual afirmam universalmente que
deve ser louvada e que se afirma universalmente de justiça, e confirma-se
então em Barbara o proposto, deste modo:

Toda a virtude deve ser louvada,


Toda a justiça é virtude,
Logo toda a justiça deve ser louvada.

Com que argumento


F Segunda: Para se confirmar uma particular afirmativa deve pro­ se deve confirmar a
curar-se um termo médio que seja ao mesmo tempo antecedente do pre­ particular afirmativa.
dicado e do sujeito ou consequente do predicado e antecedente do sujeito.
Provar-se-á por este processo que alguma substância é ser vivo, ou
tomando animal por argumento, para concluir-se assim na terceira
figura:
Todo o animal é um ser vivo,
Todo o animal é substância,
Logo, uma certa substância é um ser vivo;

ou, tomando corpo por termo médio, para concluir-se indirectamente


na primeira figura, assim:

Todo o corpo é substância,


Com que argumento
Todo o corpo é ser vivo, se deve confirmar a
Logo, alguma substância é ser vivo. universal negativa.

G Terceira: Para se confirmar uma universal negativa, deve procurar-se


um termo médio que seja ao mesmo tempo consequente do sujeito e
repugne ao predicado, ou, ao contrário, seja consequente do predicado
452 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

aut contra, consequens prcedicati, et repugnans subiecto. Hoc documento


probabis nullum hominem esse lapidem, vel sumpto animali pro argumento,
ut concludas in Celarent, aut Cesare hoc modo,

Nullum animal esi lapis,


Omnis homo est animal,
Igitur nullus homo est lapis.

Nullus lapis est animal,


Omni homo est animal,
Igitur nullus homo est lapis.
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V ' ■J Vel sumpto sensus experte pro medio, ut concludas in Celantes, aut Cames-
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' tres hoc modo,


Nullum sensus expers est homo,
Omnis lapis est sensus expers,
Igitur nullus homo est lapis.

Omnis lapis est sensus expers,


Nullus homo est sensus expers,
Igitur nullus homo est lapis.

Particularis negativa Quartum. Ut queestio particularis negativa confirmetur, queerendum


quo argum. conf. £St medium, quod idem sit antecedens subiecti, et repugnans prcedicato.
Hoc pacto probabis, quandam substantiam non esse viventem, sumpto
lapide pro argumento, concludendo que in prima figura hoc modo,

Nullus lapis est vivens,


Quasdam substantia est lapis,
Igitur quaedam substantia non est vivens.

secunda hoc modo,

Nullum vivens est lapis,


Quaedam substantia est lapis,
Igitur quaedam substantia non est vivens.

tertia hoc modo,

Nullus lapis est vivens,


Omnis lapis est substantia,
Igitur quaedam substantia non est vivens.

Hcec de generali argumentorum inveniendorum ratione videntur satis.

G 2-G 3 — repugnans prcedicati, aut contra, consequens prcedicati, et repugnans


subiecti. Hoc...
Η 2-H 3 — repugnans prcedicati. Hoc pacto...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 453

e repugne ao sujeito. Provar-se-á com esta regra que nenhum homem


é pedra; tomando animal por argumento, concluir-se-á assim em
Celarent ou em Cesare:

Nenhum animal é pedra,


Todo o homem é animal,
Logo, nenhum homem é pedra;

Nenhuma pedra é animal,


Todo o homem é animal,
Logo, nenhum homem é pedra;

ou, tomando por termo médio o que é desprovido de sentidos, con­


clui-se em Celantes ou em Camestres, deste modo:

Nada desprovido de sentidos é homem,


Toda a pedra é desprovida de sentidos,
Logo, nenhum homem é pedra.

Toda a pedra é desprovida de sentidos,


Nenhum homem é desprovido de sentidos,
Logo, nenhum homem é pedra.

Quarta: Para se confirmar uma particular negativa, deve procurar-se Com que argumento
se deve confirmar a
um termo médio que, ao mesmo tempo, seja antecedente do sujeito particular negativa.
e repugne ao predicado. Por isto provar-se-á que alguma substância
não é viva, tomando pedra por argumento, e concluindo na primeira
figura deste modo:
Nenhuma pedra é viva,
Uma certa substância é pedra,
Logo, uma certa substância não é viva.

Na segunda figura, deste modo:

Nenhum ser vivo é pedra,


Uma certa substância é pedra,
Logo, uma certa substância não é ser vivo.

Na terceira figura, desta maneira:

Nenhuma pedra é ser vivo.


Toda a pedra é substância,
Logo, uma certa substância não é ser vivo.

Quanto ao método geral de procurar os argumentos, estas coisas


parece serem suficientes.
452 INSTITVTIONVM DIALECTICARVM LIBER VI

aut contra, consequens prcedicati, ef repugnans subiecto. Hoc documento


probabis nullum hominem esse lapidem, vel sumpto animali pro argumento,
ut concludas in Celarent, awí Cesare hoc modo,

Nullum animal est lapis,


Omnis homo est animal,
Igitur nullus homo est lapis.

Nullus lapis est animal,


Omni homo est animal,
Igitur nullus homo est lapis.

Vel sumpto sensus experte pro medio, ut concludas in Celantes, aut Cames-
tres hoc modo,
Nullum sensus expers est homo,
Omnis lapis est sensus expers,
Igitur nullus homo est lapis.

Omnis lapis est sensus expers,


Nullus homo est sensus expers,
Igitur nullus homo est Iapis.

Particularis negativa Quartum. Ut queestio particularis negativa confirmetur, queerendum H


quo argum. conf.
est medium, quod idem sit antecedens subiecti, et repugnans prcedicato.
Hoc pacto probabis, quandam substantiam non esse viventem, sumpto
lapide pro argumento, concludendoque in prima figura hoc modo,

Nullus lapis est vivens,


Quaedam substantia est lapis,
Igitur quaedam substantia non est vivens.

secunda hoc modo,

Nullum vivens est lapis,


Quaedam substantia est lapis,
Igitur quaedam substantia non est vivens.

tertia hoc modo,

Nullus lapis est vivens,


Omnis lapis est substantia,
Igitur qufedam substantia non est vivens.

Hac de generali argumentorum inveniendorum ratione videntur satis.

G 2-G 3 — repugnans prcedicati, aut contra, consequens prcedicati, et repugnans


subiecti. Hoc...
Η 2-H 3 — repugnans prcedicati. Hoc pacto...
INSTITUIÇÕES DIALÉCTICAS — LIVRO VI 453

e repugne ao sujeito. Provar-se-á com esta regra que nenhum homem


é pedra; tomando animal por argumento, concluir-se-á assim em
Celarent ou em Cesare:

Nenhum animal é pedra,


Todo o homem é animal,
Logo, nenhum homem é pedra;

Nenhuma pedra é animal,


Todo o homem é animal,
Logo, nenhum homem é pedra;

ou, tomando por termo médio o que é desprovido de sentidos, con­


clui-se em Celantes ou em Camestres, deste modo:

Nada desprovido de sentidos é homem,


Toda a pedra é desprovida de sentidos,
Logo, nenhum homem é pedra.

Toda a pedra é desprovida de sentidos,


Nenhum homem é desprovido de sentidos,
Logo, nenhum homem é pedra.

Quarta: Para se confirmar uma particular negativa, deve procurar-se Com que argumento
um termo médio que, ao mesmo tempo, seja antecedente do sujeito se deve confirmar a
particular negativa.
e repugne ao predicado. Por isto provar-se-á que alguma substância
não é viva, tomando pedra por argumento, e concluindo na primeira
figura deste modo:
Nenhuma pedra é viva,
Uma certa substância é pedra,
Logo, uma certa substância não é viva.

Na segunda figura, deste modo:

Nenhum ser vivo é pedra,


Uma certa substância é pedra,
Logo, uma certa substância não é ser vivo.

Na terceira figura, desta maneira:

Nenhuma pedra é ser vivo.


Toda a pedra é substância,
Logo, uma certa substância não é ser vivo.

Quanto ao método geral de procurar os argumentos, estas coisas


parece serem suficientes.

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