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BANCA EXAMINADORA
Professor Avaliador
Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo
Professor Avaliador
Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo
Agradeço à minha mãe, Renata, e ao meu pai, André. Mamãe e papai, quando
pensei em desistir, vocês me relembraram da capacidade, força e potencial que tenho para
ir até o fim, foi por vocês. Obrigada pelo amor, apoio, paciência e motivação que me
deram.
Tia Ju, tio Zé, vovó Sueli e tia Duda, agradeço por serem minha família. Vocês
me acolheram numa fase difícil, mas tornaram tudo mais fácil, como qualquer dia de
domingo com macarronada.
Agradeço à Estela, Sofia e Luna, que deixam tudo mais leve e divertido, pretendo
ser uma irmã e prima exemplo. Agradeço a todos da família que me apoiaram durante
esse processo, amo vocês e me sinto amada todos os dias.
Lucas Medeiros, cujas palavras traduzem os sentimentos mais profundos dos que
amam o mundo clássico, obrigada por despertar meu amor e encanto por Roma.
Ao melhor platônico que já conheci, Thiago Alberione, você me recorda do quão
lúdica e doce pode ser a Filosofia, num ambiente acadêmico tão rígido e cinza.
Rafael Resende, agradeço por reacender minha esperança em finalizar essa tese,
não só pela oraculação, mas por contribuir com seu admirável talento na escrita.
Nunca esquecerei de sua gentileza, Jonathan Esteves, que se dispôs a revisar
apenas pelo valor de nossa amizade. E ao veterano, Leonardo Tesser, cuja impecável
monografia, no meu primeiro ano de faculdade, inspirou-me a escrever meus ideais.
Lucca Zimerer e Malthus Longoni, o que o Dharma uniu, nem a Morte separa
– estarei azucrinando meus irmãos de alma por muitos kalpas, agradeço por me
proporcionarem o que há de mais belo na vida: A pura amizade.
Com jeito solar, Juan Lunardelli, reviveu meu brilho mercurial: agradeço por
valorizar os meus conhecimentos mais incomuns. Você refez os lados positivos de minha
jornada, és incomparável.
Prof. Dr. Hélcio Maciel França Madeira, suas aulas de Direito Romano me
cativaram a continuar o curso. Obrigada por escolher o meu projeto, é uma honra ser
orientada pelo senhor.
E por fim, seja bem-vindo(a)! Agradeço imensamente pelo interesse em meu
trabalho. Horas de sono foram dedicadas para cada detalhe aqui escrito, espero muito que
goste, assim como me apaixonei por ele. Nos vemos na introdução, leitor(a).
"O homem que, afavelmente, mostra o caminho ao errante
Faz como que se lhe acendesse o lume com o seu:
Em nada brilha menos para ele depois que acendeu o do
outro."
The present work aims to defend Roman Law and its historical example of granting
citizenship, such as the Edict 212 of Caracalla and other aspects of relations with peoples,
such as the application of the ius gentium, the Roman interpretatio and, mainly, the essence
of Humanitas formulated by Cicero and its values based on the Greek paideia (aequitas,
benevolentia, fides, hospitalitas, pietas). Not only observing the problems inherent in the
current unworthy treatment of/with foreigners, prohibitions and bureaucracy in the process
of granting citizenship, but also the extremes of immigration processes that can lead to
sociocultural depersonalization of both those who immigrate and the local people who
receive them.
INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 9
1. ROMA: HISTÓRIA, RELIGIÃO E CIDADANIA .................................. 11
1.1. Ius Gentium e a Cidadania Universal ....................................................... 15
1.2. Roma Universalis e a constituição da comunidade internacional ............ 19
2. HUMANITAS, PRESERVAÇÃO DOS POVOS E IMIGRAÇÃO .......... 22
2.1. Tradicionalismo ou tradição romana? ...................................................... 24
2.2. Cícero e o conceito de Humanitas ............................................................. 27
2.3. Globalismo, tradição local e herança imigrante ....................................... 30
2.4. Humanitas como solução para a preservação dos povos .......................... 34
3. DIREITO INTERNACIONAL ROMANO: UMA ALTERNATIVA
PARA OS PROCESSOS IMIGRATÓRIOS ....................................................... 36
3.1. O estrangeiro no século XXI ...................................................................... 40
3.2. Burocracia ou despreparo nos processos jurídicos imigratórios? ........... 42
3.3. Nova Ius Gentium: O espírito romano universal e a Nova Roma ............ 45
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................... 49
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................ 50
9
INTRODUÇÃO
discutido, mas deve ser solucionado por vias lógicas: O ser humano sempre imigrou, o
Brasil foi constituído principalmente por imigrantes, os velhos habitantes da Europa estão
se aposentando e sendo substituídos por imigrantes economicamente ativos. O ius solis e
o ius sanguinis não são mais critérios suficientes, desde a invenção das naus e aeronaves
o cidadão do futuro não está mais restrito a sua polis e seus ancestrais; ele carrega o solo
e os pais em seu sangue, mas se tornou um hierofante de suas tradições para o mundo. E
se o homem se tornou um cosmopolita, não há mais somente sangue e solo, mas o
surgimento de um espírito universal. A possibilidade de uma Ius Universalis ou melhor,
Humanitatis, uma concessão de cidadania baseada na Humanitas de Cícero. Todo homem
é cidadão de uma pólis, mas o homem no ideal ciceroniano é um cidadão universal, pois
ganhou a possibilidade de ser um habitante do mundo pela sua virtude, pertencer a outra
pólis pela sua escolha e após atender aos critérios da cidadania.
É a criação de um novo modelo de ius gentium que pretende minimizar os
problemas advindos da imigração, já que uma sociedade absolutamente aberta e que
aceite qualquer um como um membro se dissolve e perde qualquer resquício de identidade
ou tradição – como mencionado, é uma universalidade sem critérios. Porém, uma
sociedade que não permite nenhum tipo de imigração tende a se esgotar, são os dois
extremos do dilúvio bíblico e da torre de Babel, a dissolução da identidade, e a tentativa
de afirmação absoluta da única identidade. O passado nunca foi isolado e o futuro não
poderia ser diferente, é necessário tratar o fenômeno da imigração como ele é: o futuro
da realidade global. Retomarei nossa conversa nas considerações finais, boa leitura!
11
Ó Roma, ninguém, enquanto viver, poderá te esquecer... Você reuniu diferentes povos em
uma única pátria, sua conquista beneficiou aqueles que viviam sem leis. Ao oferecer aos
vencidos o legado de sua civilização, de todo o mundo dividido você fez uma única cidade.
(Rutilius Claudius Namatianus, “De reditu suo”)1
Assim como Coulanges, inicio a tese enfatizando que, para entender um povo,
suas instituições, leis e costumes, é preciso conhecer suas crenças. 2 Na fundação
mitológica, Rômulo obedece aos auspícios para definir o território de Roma, matando
Remo quando os limites são violados. Eis a importância das fronteiras para os antigos,
pois suas muralhas eram consideradas sagradas, a pátria mantinha os cultos, os lares, os
sepulcros, os deuses e até a existência de um indivíduo. Quando Tito Lívio diz: "Temos
uma cidade fundada de acordo com os auspícios e os augúrios. Nela não há um só recanto
que não esteja consagrado pelo culto dos deuses.”3 significa que Roma e suas cidades
foram fundadas em cultos, já que a cidade era a associação religiosa e política das famílias
e das tribos, as divindades eram compartilhadas entre as gens4. Logo, o cidadão
participava do pacto cívico-cúltico de uma cidade e o se estendia aos lares, reservado
apenas à família ou tribo que habitava a casa, havendo a proibição de um convidado
assistir ou estar nos locais de culto doméstico. O lar, visto como o microcosmo, refletia
no macrocosmo da cidade e vice-versa. Se não pertencer à família acarretava em exclusão
do culto doméstico daquela casa, não pertencer à cidade, ou seja, ser um estrangeiro, te
repelia do culto local; a tradição de Rômulo permanecia na questão fronteiriça, a entrada
de um estrangeiro era como a violação de Remo ao sulco sagrado.
1
Tradução minha, I, 52, 63-66.
2
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. p. 24
3
LÍVIO. Ab urbe condita libri.
4
“A palavra gens (...) significa principalmente um agregado de indivíduos que formam uma união política
e surgiram de uma fonte comum. É assim aplicado ao todo ou a parte de uma comunidade, em ambos os
casos com referência especial à descendência comum. Nacionalidade é definida por Cícero (de Off. 1.17,
53) como consistindo em comunidade de gens, natio, lingua; e neste sentido de origem comum,
característica mais marcante de uma nacionalidade distinta, é constantemente aplicada a povos inteiros,
como nas expressões gens Numidarum, gens Aegyptiorum, e na fórmula jurídica do jus gentium.”
(MURRAY, John. A Dictionary of Greek and Roman Antiquities, London, 1875)
5
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. p. 310.
12
O culto dos deuses municipais exigia que o contato fosse somente de seus
cidadãos6, os estrangeiros não estavam sob o pacto ritualístico e precisam ser assimilados
pela iniciação. Os deuses, em sua expressão máxima, ainda que representantes de forças
universais, são capazes de se adaptar aos povos em suas expressões locais e, para os
romanos, são diferenciados através de seu culto. Essa diferença se explica pelo fato de
que a religião integral é composta de religiosidades distintas e particulares. Um bom
sacerdote é capaz de conciliar essas diversas particularidades, que são sujeitas à
problemas de assimilação e convivência, principalmente na urbe, o santuário de
associação das famílias e tribos. Preserva-se um espírito municipal fechado que não
conflitue com o espírito universal aberto. A abertura deve ser lenta para que não haja
rompimentos numa estrutura interior pré-existente.
6
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga. p. 310.
7
EURÍPIDES, Troianas, 25-28. — Às vezes o vencedor levava os deuses consigo. Outras vezes, quando
se estabelecia na terra conquistada, arrogava-se o direito de continuar o culto aos deuses ou aos heróis do
país. Tito Lívio conta que os romanos, senhores de Lanúvio “lhes restituíram seus cultos”, prova de que,
pelo simples fato da conquista, os romanos lho haviam tirado; e puseram apenas esta condição: que teriam
o direito de entrar no templo de Juno Lanuvina (Tito Lívio, VIII, 14).
8
LÍVIO. Ab urbe condita libri.
9
Ibidem.
13
Embora se denote uma hostilidade ao estrangeiro, ele não estava excluído das
relações com Roma, o “asilo no Capitólio”, indicado por Lívio 15, foi criado por Rômulo
para a concessão da cidadania à pessoas estrangeiras, em geral banidas ou fugidas das
cidades vizinhas, e visava aumentar população de Roma. Podemos atribuir aos períodos
de guerra envolvendo Roma o rompimento com a abertura ao estrangeiro, em que a
figura do estrangeiro como inimigo ganha a flexibilidade retorna com a expansão do
domínio romano pelo Mediterrâneo, Roma passa a conceder sua cidadania de forma mais
aberta, ainda que lenta, o anexo das cidades-estados italianas e outras províncias
conquistadas culminou na adoção do Direito Romano, em que os cidadãos passavam a
possuir alguns dos mesmos direitos de um cidadão romano. Essa concessão durou
séculos e não era dada livremente. A Respublica (república, em latim) contabilizava
novecentos mil cidadãos do sexo masculino e, durante o principado de Augusto, o
número já estava em quatro milhões de cidadãos, incluindo mulheres e crianças.16
10
Symposium, 202 d.
11
“...Nevertheless, eros remains always, for Plato, an egocentric love: it tends toward conquering and
possessing the object that represents a value for man. To love the good signifies to desire to possess it
forever. Love is therefore always a desire for immortality. (Tradução minha: “...No entanto, Eros
permanece sempre, para Platão, um amor egocêntrico: tende a conquistar e possuir o objeto que representa
um valor para o homem. Amar o bem significa desejar possuí-lo para sempre. O amor é, portanto, sempre
um desejo de imortalidade”.” (Pope John Paul II, Man and Woman He Created Them: a theology of the
body, translated by Michael Waldstein, p.315)
12
Do latim: Paz dos Deuses, harmonia entre o divino e a humanidade para garantir proteção à Roma e seus
civis.
13
LÍVIO. Ab urbe condita libri, XXII, 1.
14
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga.
15
LÍVIO. Ab urbe condita libri. I, 8, 4.
16
“Patriciorum numerum auxi consul quintum iussu populi et senatus. Senatum ter legi, et in consulatu
14
Roma aumentava sua população pelas guerras, unia a si tudo o que vencia,
transformava os habitantes das cidades vencidas em romanos. Sua política, elogiada por
Montesquieu, buscava propagar a superioridade romana: Não era uma supremacia
étnica, mas cultural. Roma, antes incompreendida pelos helenos, tornava-se símbolo,
enquanto império, técnica, espírito e até uma Deusa, divindade louvada fortemente pelos
seus vizinhos. Retomando o assunto de cidadania, sua aquisição se dava por nascimento,
adoção, alforria ou por concessão através de magistrados ou pelo próprio imperador. Os
cidadãos romanos que não morassem em Roma eram registrados nas cidades-estados ou
províncias, não havia uma cidadania imperial, já que ela era obtida por registro na cidade
de origem, assim havia o privilégio de uma dupla cidadania. Caso um desses cidadãos
estivesse transitando em Roma, o sistema permitia que não estivesse legalmente ausente
de seu domicílio de origem. A dupla cidadania possibilitava uma circulação mais livre
dentro de suas fronteiras, nunca um regime político foi tão generoso em concessões
como o império, até mesmo para os que nasceram em Roma, muitos deles passaram a
residir em outros lugares. Mesmo que estivessem sob um poder central, Roma deu
autonomia para as cidades-estados que conservaram a sua soberania, o seu direito,
tinham as próprias instituições funcionando normalmente. As cidades cresciam e se
desenvolviam, mas estavam submetidas à política de Roma, restando igualdade na esfera
religiosa17: “Porque era costume em Roma — diz um antigo — dar entrada às religiões
das cidades vencidas, ora repartindo-as entre suas gentes, ora dando-lhes lugar em sua
religião nacional. (...) Roma conquistava os deuses vencidos, e não abria mão dos seus.
Guardava para si seus protetores, e até trabalhava para aumentar seu número. Esforçava-
se para possuir mais cultos e deuses tutelares que nenhuma outra cidade.”18. Roma era
conquistadora no sentido puro da palavra, já que para ser um conquistador19 é preciso
amar ou cobiçar o objeto de conquista. Roma não abominava ou segregava, mas tomava
posse como faz o amante que deseja possuir a consorte de outro homem. Dessa forma,
unia a metrópole à comunidade religiosa, enviava colonos para as cidades conquistadas
e aumentava seu exército, Roma se difundia por toda parte, lentamente se tornando
universal.
sexto censum populi conlega M. Agrippa egi. Lustrum post annum alterum et quadragensimum feci, quo
lustro civium Romanorum censa sunt capita quadragiens centum millia et sexaginta tria millia. Tum iterum
consulari cum imperio lustrum solus feci C. Censonno et C. Asinio cos., quo lustro censa sunt civium
Romanorum capita quadragiens centum millia et ducenta triginta tria millia.Et tertium consulari cum
imperio lustrum conlega Tib. Caesare filio meo feci Sex. Pompeio et Sex. Appuleio cos., quo lustro censa
sunt civium Romanorum capitum quadragiens centum millia et nongenta triginta et septem
millia.”(AUGUSTUS, Res Gestae. VIII.)
17
GROSSO, Giuseppe. Lezioni di Storia del diritto romano, p. 238.
18
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga.
19
Empregando, mais uma vez, o Eros platônico.
15
20
MILANO, Miguel, 1962.
16
21
Flavius Josephus, Antiquitates Iudaicae.
22
“Nefas est nocere patriae; ergo ciui quoque, nam hic pars patriae est — sanctae partes sunt, si uniuersum
uenerabile est; ergo et homini, nam hic in maiore tibi urbe ciuis est. (IRA, 2,31,7)
23
ULPIANUS, Digestus, 1,5,17.
24
“A antiga denominação pátrio poder ou patria potestas era utilizada para indicar a autoridade quem
detinha o poder dentro do ambiente familiar. Era ele também quem exercia os poderes das funções sagradas,
17
era considerado o chefe do culto religioso. O pai era visto como o chefe da casa. Exercia o poder de decidir
sobre a vida de seus filhos e sobre a vida de sua esposa. Entre os direitos do pai estava o poder de vender
seu filho, pois esse era visto como sua propriedade. O filho não possuía bens, todo fruto do seu trabalho, os
lucros adquiridos com o seu esforço, e tudo que conquistava era considerado do pai. O pátrio poder
englobava o interesse exclusivo do chefe de família, atribuía aos pais mais direitos do que deveres, detinham
o poder de decisão sobre a vida do filho, esse não podia manifestar vontades, pois era tido como um bem
que o chefe de família possuía” (Nayane Valente de Souza. Poder familiar: os limites no castigo dos filhos,
Brasília, 2011)
25
NAMATIANUS, Claudius Rutilius, De reditu suo, 1,63-66.
26
Como chamavam os antigos romanos, quirites de deus Quirino: a versão deificada de Rômulo.
18
se conceituava por meio dos costumes e pela cultura. Cícero, uma das personalidades
romanas mais célebres, como preceitua o Doutor Juiz Carlos Alexandre Böttcher:
“ressalta a necessidade de respeito não apenas aos cidadãos, mas também aos
estrangeiros, sob pena de ser destruída a sociedade comum do gênero humano”.27 O
desenvolvimento de Cícero da noção de um interesse humano comum28 privilegia sua
teoria filosófica para a contribuição na presente tese. Antes mesmo da discussão na
filosofia, os romanos traduziram sua universalidade para o direito:
Todos os povos que são regidos por leis ou por costumes se utilizam
em parte do seu próprio direito, em parte do direito comum a todos
os homens. Pois o direito que cada povo por si mesmo a si constitui
este é próprio desta mesma civitas e se chama ius civile, como que
um direito próprio desta mesma civitas. Mas aquele que a razão
natural constituiu entre todos os homens, o qual entre todos
igualmente é protegido, chama-se direito das gentes, como que o
direito do qual todos os povos se utilizam. 29
27
BÖTTCHER, 2013, p. 163
28
CICERO, Marcus Tullius. De Officiis, III, 26.
29
GAIUS, Institutas, D.1.1.9
30
CICERO, Marcus Tullius. De Officiis, III, 69. (Tradução, introdução, notas, índice e glossário de
Carlos Humberto Gomes. Lisboa, Edições 70, 2000.)
19
“[Catão] Costumava dizer que nossa superioridade política tinha como causa o fato de que
os outros Estados nunca tiveram, senão isolados, seus grandes homens, que davam leis à
sua pátria de acordo com seus princípios particulares;(...).
Nossa República, pelo contrário, gloriosa de uma longa sucessão de cidadãos ilustres, teve
para assegurar e afiançar seu poderio, não a vida de um só legislador, mas muitas gerações
e séculos de sucessão constante. Nunca, acrescentava, se encontrou espírito tão vasto que
tenha abarcado tudo, e a reunião dos mais brilhantes gênios seria insuficiente para abraçar
tudo com um só olhar, sem o auxílio da experiência e do tempo."
(Marcus Tullius Cicero, “De Re Publica”)31
31
Tradução de Lucas Medeiros, II, 1.
32
FUSINATO, 1884, p. 78
33
CICERO, Marcus Tullius. De Officiis, I. XI, 34-36
34
LÍVIO. Ab urbe condita libri, VII.29, p.114
35
Ibidem, VII, 115
20
com Campânia.36 O Senado, porém, ainda que considerasse Campânia digna de sua
proteção, relembrou os embaixadores da sacralidade e lealdade envolvida na aliança mais
antiga, um acordo já firmado com os samnitas, e como essa violação se equiparava a um
ato de ofensa contra os Deuses. Os campânios, que já esperavam a recusa do Senado,
foram instruídos a render seu povo e sua cidade ao domínio de Roma.37
Trago novamente Cícero: “Em verdade, minha opinião é que se deve aconselhar
sempre a paz e mantê-la sem traições. Nesse ponto os nossos antepassados cultivaram de
36
Ibidem. VII, 116
37
Ibidem. VII, 117
38
Ibidem. VII, 118
21
tal forma a justiça que os vitoriosos a quem cidades ou nações se confiavam tomavam-se
seus patronos. Com efeito, a equidade na guerra foi prescrita em termos sacramentais pelo
direito fecial do povo romano. Segundo ele, a guerra só é justa quando levada a efeito por
reclamação ou mediante anúncio e declaração prévia.”39 Sendo a guerra um assunto de
religião, o direito dos sacerdotes feciais é crucial em sua atenção, embora visto como
apenas um ius sagrado ou religioso, desenvolveu princípios e institutos coexistentes,
utilizados e até emprestados do ius gentium40, que regulou desde sempre as relações com
outros povos.
O contato de Roma com outros Estados era norteado por princípios comuns,
mesmo que outros povos já haviam constituído seu próprio “direito externo”, a relação
acordava religiosamente ou através de direitos que toda a Antiguidade seguia41, que ganha
relevância com a expansão romana e a formação do Imperium Romanum. É possível falar
que o ius fetiale se desenvolvia como um direito internacional público – caráter jurídico
de um direito público externo – enquanto complexo de ritos que fazia parte do ius belli
ac pacis Romanorum42. Não afirrmo que o ius fetiale é identificável com o conceito
moderno de “direito internacional” e de ius gentium, sendo um período histórico ausente
de Estados, a concepção de “nação” e um acordo voluntário entre elas, mas sua
assimilação universável é inegável. O direito dos feciais foi estudado durante os períodos
seguintes como ponto de referência, a fim de ser uma das fontes das relações externas
entre diferentes comunidades.43
39
CICERO, Marcus Tullius. De Officiis, I. XI, 34-36
40
VOIGT, 1852, p. 8 e 12
41
FUSINATO, 1884, p. 19
42
BAVIERA, 1898, p. 67
43
ILARI, 1981, p. 21
44
MURRAY, John. A Dictionary of Greek and Roman Antiquities, London, 1875.
22
“Humanitas não significa o que dela geralmente se pensa, mas os bons falantes
empregaram-na com exatidão."
(Aulus Gellius, “Noctes Atticae”)45
45
XVII: “Humanitatem" non significare id, quod volgus putat, sed eo vocabulo, qui sinceriter locuti sunt,
magis proprie esse usos.” (Tradução de Cleuza Cecato, livro XIII).
46
GAROFALO, Luigi. L’humanitas tra diritto romano e totalitarismo hitleriano, in Teoria e Storia del
Diritto Privato, VIII, 2015 p. 5 (http://www.teoriaestoriadeldirittoprivato.com).
47
Do latim: “Todos somos membros de um grande corpo” (tradução minha).
48
“O homem é a medida de todas as coisas, das coisas que são, enquanto são, das coisas que não são,
enquanto não são.” (Teeteto, 151d-152e)
23
49
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e
do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a
dignidade da pessoa humana.” Disponível em:
(https://www.revistahistoriador.com.br/index.php/principal/article/view/205) Acesso em: 05 dez. 2022
50
MAGLIO, Rosario. Humanitas e Diritto: La centralità dell’uomo rispetto alla legge, 2021.
24
51
PEREIRA, M. H. Rocha, 1993, p. 31-44.
52
HITLER, p. 309. (Tradução por Vasco Gil Mantas, Universidade de Coimbra)
53
“Porque havemos de chamar a atenção de todo o mundo para o facto de que não temos passado? É já
suficientemente mau que os Romanos erigissem grandes edifícios enquanto os nossos antepassados ainda
viviam em cabanas de lama; agora Himmler começa a escavar essas aldeias de cabanas de lama e
entusiasma-se com cada caco de cerâmica ou machado de pedra que encontra. Tudo o que provamos assim
é que ainda lançávamos machados de pedra e nos acocorávamos à volta de fogueiras quando a Grécia e
Roma já tinham atingido o mais elevado grau de cultura. Deveríamos fazer o nosso melhor para manter
sossegado este passado. Ao contrário, Himmler faz um grande espalhafato à volta de tudo isto. Os Romanos
de hoje devem rir-se destas revelações.”(Crítica de Hitler relatada por Albert Speer, “Inside the Third
Reich”, Nova Iorque, 1970, p. 94-95. Tradução por Vasco Gil Mantas, Universidade de Coimbra.)
25
romanos (o Mos Maiorum) estaria a glória de Roma, 54 “os antepassados deviam ser
imitados”55 por sua excelência política, padrão de conduta e os feitos históricos
responsáveis pela construção de Roma. Tamanha era a importância dos costumes que
Catão, o Velho, durante sua época de magistrado, dedicou-se a preservar a identidade
romana, afastando os elementos estrangeiros que poderiam adulterá-la. Entretanto, o Mos
Maiorum foi essencial para defender o culto de Cibele, uma deusa estrangeira, mas que
fazia parte da religiosidade dos antepassados romanos – um veículo de integração
internacional. Para Cícero e Catão, o cidadão romano deveria se inspirar e seguir o
exemplo de Cipião, o Africano, considerado um dos maiores generais da história de
Roma, que apresentava tanto as virtudes guerreiras quanto integridade cívica e política.
Não houve, de fato, nenhuma tentativa moderna em resgatar esses valores nos regimes
citados, questiono ainda: Como acusar Roma de imoralidade quando havia um esforço
para manter os bons costumes e louvar as figuras de prestígio?
54
CICERO, Marcus Tullius. De Re Publica, V, 1.
55
CICERO, Marcus Tullius. De Officiis, I, 33, 121.
56
PLUTARCO, Vida de Cipião, o Africano" em As Vidas dos Homens Ilustres. Trad. Padre Vicente
Pedroso. São Paulo: Editora as Américas S.A. - Edameris, 1963, p. 73-167.
57
PICKER, Henry, 1976, p. 96.
26
58
SCHEID, John, 2016.
59
COULANGES, Fustel. A Cidade Antiga.
60
DAL RI, Luciene; DAL RI JR, 2013.
27
(Terentius, “Heautontimoroumenos”)61
Cícero também apresenta sua ideia com elementos da matriz grega, como o
universalismo estoico, a philanthropia e a paideia. O homem é dotado de uma razão
natural, proveniente de sua natureza que reúne os homens e é a fonte de sua moralidade.64
Essa fonte é extrahumana e divina, um impulso chamado de hormé65, que dirige os
homens para a prática virtuosa e para criação de uma comunidade. Não porque as leis
determinam, mas porque há um sentimento de fraternidade entre integrantes da mesma
espécie, que compartilham os mesmos anseios espirituais, advindas dessa natureza em
comum.66 Desse impulso, desenvolve-se a oikeiósis, outro conceito estóico que explica
que, por meio da consciência de si, o homem se autoconserva e conserva seus
semelhantes, apropriando-se do que é seu e cuidando daquilo que lhe pertence.67 O
homem quando está em estado racional, preza pela ordem e harmonia num movimento
de autoconservação, procuram aquilo que é mais adequado, assim se cumpre o princípio
da justiça, entregar para cada homem o que lhe convém.68 A justiça é o que consolida o
61
“Homo sum: humani nihil a me alienum puto”. TERÊNCIO. Heautontimorumenos 77. Cf. Comedias.
Trad. José Román Bravo.Madrid: Cátedra, 2001, p. 334-335.
62
CHAUÍ, Marilena, 2010. p. 223
63
Merriam-Webster's Encyclopedia Of Literature. 1995. p. 244.
64
CICERO. Da natureza dos deuses. Introdução, tradução e notas de Pedro Braga Falcão. Lisboa. Nova
Veja, 2004.p.77.
65
CICERO. De Finibus Bonorum et Malorum.III, 23.
66
CICERO. Ad Quintum fratrem I, 1, 27, p. 76-77:
67
CHAUÍ, Marilena, 2010. p. 350
68
CICERO. De Finibus Bonorum et Malorum. III, 23
28
Direito como principal ferramenta para uma execução ideal da Humanitas. Apesar da
clara influência estóica em Cícero, o homem ciceroniano não é o sábio eremita que deve
seguir uma rigorosa lista de condutas, mas um simples homem entre os homens, um
cidadão útil para a República. 69 A sua virtude vem do constante aprimoramento, da
dedicação concreta e dinâmica, é uma ética para a praticabilidade, não para especulações
filósoficas. Nada mais romano do que o pragmatismo, enquanto os helenos buscavam a
beleza, os romanos buscavam o que era útil. 70 Agir para ser útil é agir com a virtude, a
favor de sua própria natureza, o que, para Cicero, ferrenho defensor da República71,
significa agir conforme os costumes da civitas. A Humanitas, primeiramente, traz o dever
moral e social de civilidade, solidariedade e hospitalidade, como ministra no “De officiis,
I, 11-12” e em sua carta I, 172 a seu irmão Quinto, Cícero elenca o exercício de clemência,
evitar a crueldade (nihil crudele), ser cortês e agir com doçura e humanidade (omnia plena
clemen-tiae, mansuetudinis, humanitatis). O homem comum sente necessidade de atingir
a perfeição que reflete o verdadeiro bem, eis a noção de philanthropia, amar a
humanidade73 não por sua perfeição, mas pela potência em aperfeiçoar na medida de suas
capacidades e limitações.
69
CICERO, Marcus Tullius. De Re Publica, I, 1-14.
70
COUTO, Célia Pinto, 2015.
71
CICERO, Marcus Tullius. XXV, 39.
72
CÍCERO. Ad Quintum fratrem I, 1, 25, p. 74-75
73
CICERO, Marcus Tullius. De officiis, I, 54.
74
CICERO, Marcus Tullius. De officiis, I, 11-12.
75
CICERO, Marcus Tullius. I, 50-51.
76
CICERO, Marcus Tullius.De Finibus Bonorum et Malorum. III, 29.
77
ARISTOTE, 1982, I, 2, 1253 a, 7-12.
78
Filósofos seguidores de Aristóteles.
79
“Depois de teres seguido, durante um ano, os ensinamentos dados por Crátipo, tendo um mestre de tão
grande autoridade e numa cidade tão rica de exemplos, deves, meu querido filho Marco, ter absorvido
grande número de preceitos e doutrinas. Eu, que cultivo a filosofia e a arte oratória. tanto em latim como
em grego, penso que deves, também, esforçar-te por dominar fluentemente as duas línguas.”
29
sua ancestralidade – propondo uma divisão elitista entre patrícios e plebeus –, mas por
seu caráter e refinamento cultural. 80 A qualidade de sua alma está em seus valores e
práticas, resultantes de sua formação e educação, o que se entende por paideia. Um
homem em condição de servus poderia educar crianças ou aconselhar em questões
políticas, militares ou intelectuais. A escravidão, para Cícero, não anulava a humanidade
de um escravo e não justificava um tratamento indigno ou punição cruel.81 A oposição da
Humanitas ao que Cícero identifica como Barbaritas, o inhumanus82 (equivalente de
barbarus) é a negação de todos os princípios humanos. Quando um homem rejeita a sua
humanidade, age de forma egoísta, sucumbe à vícios e comete crimes. 83 Torna-se um
bárbaro, distante do ideal ciceroniano, a Barbaritas não é exclusiva a um só povo, etnia,
classe social e até gênero. Um homem romano patrício poderia agir como um bárbaro, a
Humanitas se estende a todos da espécie humana que estão em conformidade com a
tradição, como o Mos Maiorum, a ética e as virtudes morais e sociais.
80
CÍCERO.De officiis II, 26-27. Cf, p. 86-87
81
CÍCERO. De officiis I, 41. Cf. Dos deveres. p. 30
82
CÍCERO. Pro Sestio 92. Cf. Discursos IV. Trad. José Miguel Baños Baños. Madrid:Gredos, 1994, p.
346-347; De re publica I, 58. Cf. Trad. Álvaro D’Ors. Madrid: Gredos, 1991, p. 73-74.
83
CÍCERO. De officiis I, 62. Cf. Dos deveres. Trad. Carlos Humberto Gomes. Lisboa: 2000, p. 37-38.
84
CICERO, Marcus Tullius De Legibus, I, 56.
30
85
SUTCLIFFE, 1998
86
DAVIS, vol. 60, no. 5, pp. 429-437, 1955.
87
ONU, 2015.
88
Ibidem.
89
LUBE, 2019.
31
ajudar as pessoas necessitadas. Os imigrantes são vistos pela ala direitista como uma
ameaça “étnica”, cultural ou simbólica ao “modo de vida” local, induzindo uma reação
negativa entre os cidadãos do grupo majoritário. No entanto, o medo gerado pelo número
de imigrantes pode ter sido criado exatamente pelo grupo minoritário, em países como na
Alemanha, onde muitos refugiados pediram asilo, um estudo90 polêmico percebeu o
aumento de crimes por parte dos jovens imigrantes. O despreparo instituticional para
receber esse grupo minoritário causa um aumento do sentimento anti-imigração entre os
partidos de direita e seus eleitores, já que as políticas de imigração e os debates políticos
são organizados nacionalmente. Não há um apoio internacional apropriado para a
integração dos recém-chegados – que podem ser abordado por meio de uma ação
conjunta – exigindo esforço e comprometimento de longo prazo.
90
Pfeiffer, Christian & Baier, Dirk & Kliem, Sören. Zur Entwicklung der Gewalt in Deutschland.
Schwerpunkte: Jugendliche und Flüchtlinge als Täter und Opfer, 2018.
91
MOYA, J. 2018. v. 35, n. 3, p. 89-104.
32
92
MOYA, J. 2009.
93
WAGNER, 1991.
94
GONZÁLEZ, 1992.
95
ROBERTS, 2000.
33
96
“Somos pessoas, não códigos, e vamos defender nossa identidade. Eu sou Giorgia: sou mulher, sou mãe,
sou italiana, sou cristã (…). Tenho vergonha de um Estado que nada faz pelas famílias italianas. Tenho
vergonha de um Estado que defende os direitos dos homossexuais (…).” POLIZZI, Mariana. Giorgia
Meloni, la donna forte de la política italiana. Disponível em:
(https://www.elpaisdigital.com.ar/contenido/giorgia-meloni-la-donna-forte-de-la-poltica-italiana/28956)
em italiano, 2020. Acesso em: 12 dez. 2022
97
Meloni, serve legalità, difenderemo i confini - Ultima Ora. Agenzia ANSA Disponível em:
(https://www.ansa.it/sito/notizie/topnews/2022/11/08/meloni-serve-legalita-difenderemo-
iconfini_dd649d45-46a5-4953-86d2-75bb6d23277e.html) em italiano, 2022. Acesso em: 12 dez. 2022
98
Drogo, Giovanni. Giorgia Meloni contro il terribile Piano Kalergi. nextQuotidiano Disponível em:
(https://www.nextquotidiano.it/giorgia-meloni-contro-il-piano-kalergi/) em italiano, 2016. Acesso em: 14
dez. 2022.
99
Giorgia Meloni: C'è un piano per destrutturare la nostra società attraverso i migranti. Disponível em:
(https://www.fanpage.it/politica/giorgia-meloni-ce-un-piano-per-destrutturare-la-nostra-societaattraverso-
i-migranti/) em italiano, 2019. Acesso em: 13 dez. 2022
34
100
“Simultaneamente, podemoschamar de tolerância a posição ativa que os romanos também adotavam, já
no período da República, e da qual Cícero será um dos principais expoentes, de conscientemente
assimilarem elementos culturaisque consideravam benéficos para si mesmos, porque reconheciamcomo
superiores, desenvolvidos. Por vezes era um ato de afirmaçãoda própria grandeza: como se sentiam
superiores, ao reconheceremalgum povo com conhecimentos e habilidades mais avançadas, nãopodiam
ficar para trás. Deveriam logo aprender com eles, para logo ossuperarem, provando-se como destinados a
serem os maiores.” (SANTOS, Igor Moraes. A humanitas de Cícero: ensaio sobre cultura, formação
humana e tolerância na República romana.)
35
De acordo com Isadora Bernardo: “O sábio para Cícero é o que ensina as virtudes
como justiça, confiança, equidade, pudor, continência, honra, honestidade, fortitude,
religião e direito das gentes por meio das disciplinas. Algumas destas virtudes serão
confirmadas pelos costumes e outras sancionadas pelas leis. Assim, o concidadão sábio é
aquele que defende os interesses públicos, é um homem sábio e político. É dever do
concidadão sábio e político engrandecer as obras do gênero humano por meio de seu
discernimento e trabalho; e isso ocorre por estímulo da própria natureza, uma vez que
essa é uma razão ordenadora.”103 Preserva-se os povos quando se engrandece as obras do
gênero humano, assim como Roma não destruiu as obras dos povos conquistados, mas
concedeu seus costumes, o direito e a cidadania. Todos queriam se tornar cidadãos
romanos, um desejo que ainda se idealiza aos dias atuais, mas não é possível sem reviver
a humanidade proposta pelos antigos em nossas atitudes sociais e políticas. Se a
Humanitas prática se expressa em leis, podemos pensar num Direito Internacional
Romano. Em que, para seu universalismo, basta agir de acordo com seu direito. Se o
espírito romano realmente se faz eterno e ultrapassou suas fronteiras, habitamos a Cidade
Eterna em espírito. Assim como Sócrates, também seremos cidadãos do mundo.
101
BERNARDO, Isadora Previde. O De Re Publica, de Cícero: natureza, política e história. 2012. p.17
102
CICERO, Marcus Tullius. Tusculanae Disputationes . V
103
BERNARDO, 2012. p. 36
36
Voltando para a história de Roma, sabemos que a sociedade romana era marcada
por desigualdades e xenofobia.. Todavia, paradoxalmente, era surpreendentemente aberta
levando em conta os padrões atuais. Em 48 d.C., ocorreu uma discussão no Senado
romano sobre a admissão de membros da aristocracia gaulesa no corpo venerável.
Segundo o senador e historiador romano Tácito, houve oposição à mudança; alguns
senadores diziam que a Itália era perfeitamente capaz de fornecer seus próprios membros,
e que bastava que os italianos do norte fossem admitidos sem ter que recorrer a
estrangeiros que haviam sido, até recentemente, seus inimigos na guerra. Mas, como
Tácito relata, o então imperador Cláudio defendeu a mudança:
104
TACITUS, Anais. XI, 24.
37
dessas concessões, o Império deve ser estudado como lugar de forte “cosmopolitização”,
na medida em que se impôs uma concepção cumulativa de identidade, a cidadania romana
era a mais visível e a única puramente jurídica, de modo que as diferenças se tornaram
cada vez mais invisíveis ao longo das gerações. A hegemonia e a influência romana se
estendiam para além das "fronteiras" militares ou administrativas, não apenas pelas zonas
de influência, nos limites das províncias, mas porque consideravam os Estados “clientes”
ou aliados como pertencentes à sua esfera de direito. Falar do Rio Danúbio, ou do Rio
Reno, como mais uma das fronteiras naturais é desconsiderar que foram relevantes rotas
de transporte e comunicação, sendo esse o significado predominante de limes (limites).
105
JUSTINIANO. Digesto de Justiniano, liber primus: introdução ao direito romano. Tradução de Hélcio
Maciel França Madeira. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais: Centro Universitário FIEO-UNIFIEO,
2002.
106
BRAVO, 1998.
38
vez, 12.000 dácios pediram asilo; o governador Júlio lhes deu terras. Há de se citar
também os 300.000 sármatas, expulsos de seu país, "homens e mulheres de todas as
idades", que Constantino instalou em 334 em Trácia, Cítia, Macedônia e Itália, ou os
godos cristianizados que seus companheiros pagãos expulsaram e que Constâncio II
concordou em receber em 348; ou mesmo aqueles godos tervíngeos que fugiram dos
hunos e que o imperador Valente aceitou acolher em 376. 107 Não diremos que havia uma
doutrina romana de mobilidade.
Os limites de Roma eram sagrados, tudo o que entrasse, ainda que estrangeiro,
deveria ser polido aos moldes da excelência, a unidade da razão humana. Através dessa
unidade, o romano buscava uma universalidade que caminha para a perfeição108, unidade
que se perdeu ainda em sua história tardia – com a censura Agostiniana ao conhecimento
e valores “pagãos”. Os romanos não criaram um Direito Internacional, se minha tese
precisa ser útil para como manda o pragmatismo, é necessário trazê-la para a atualidade:
a possibilidade de criação de um Direito Internacional Romano. Estamos menos
xenofóbicos, porém mais restritivos. Desunidos, porque não nos sentimos parte de uma
unidade. Tal unidade que é mantida pelo Direito, como preceituava Cícero: “a lei
verdadeira é a reta razão, conforme à natureza, – difusa entre todos, constante, eterna –
que chama ao dever ordenando e afasta do mal vetando. (...) Na verdade, não podemos
107
Ibidem.
108
RADFORD. Cicero: A study in the origins of republican philosophy. p.2. Cf De Finibus, II, 20, IV,
25-26; De Legibus, 1, 36, De Finibus, IM, 62, De Officiis, 1, 12-13; De Finibus, UI, 62, IV, 5; De Offciis,
1, 73
39
ser isentos da obediência a essa lei nem pelo senado nem pelo povo, nem devemos
procurar outro comentador ou intérprete dela; nem haverá uma lei em Roma, outra em
Atenas, outra aqui, outra depois, mas em todas as gentes e em todos os tempos uma lei
eterna e imutável.” Se um único Direito mantém a sociedade humana unida, temos a
existência de uma comunidade humana universal. O ius gentium já refletia a noção de um
interesse humano em comum, apesar da fundamentação teológica das inclinações naturais
humanas, o universalismo não é imutável e permite uma contínua adequação das leis.109
Nesse sentido, a posição adotada é que o ius gentium e o ius fetiale constituem um
direito internacional primitivo e seus elementos desenvolveram a base para o
contemporâneo. Não estamos falando de um direito morto 112, alguns autores,
influenciados por Savigny, consideram que o Direito Romano ainda está vigente na
atualidade, uma das razões estaria entre as bases do direito brasileiro ser romana, um
direito vigente que traz a possibilidade de seu uso para as questões imigratórias,
baseando-se na unidade entre o gênero humano. A proposta de um Direito Internacional
Romano é continuar os frutos de Roma. Chamá-la de “senhora do Mundo” é reconhecer
que Roma hoje está além de seus limites historicamente geográficos, ocupando um
pedaço, ainda que mínimo, do imaginário de cada homem.
109
LOBO, Abelardo Saraiva da Cunha. Curso de direito romano. Brasília: Senado Federal, 2006. Cf
S. SCHIPANI, Armonizzazione e unificazione del diritto comune in materia di obbligazioni e contratti in
America Latina, cit., pp. 37-38
110
DAL RI, 2010.
111
DAL RI, Luciene; DAL RI JR, v. 18, n. 2, p. 312, 2013.
112
ORESTANO, R. Introduzione allo studio storico del diritto romano. Torino: Giappichelli, 1963. p.
514-
40
(Emil Cioran)113
O mundo não está apenas se adaptando aos imigrantes e refugiados, mas também
lida com novos conflitos, crises políticas, economônicas e de saúde, como a pandemia da
COVID-19. A junção desses desafios globais traz também o grande obstáculo da
imigração irregular ou ilegal. Milhões de pessoas com baixíssimas chances de migrar
legalmente para outros países, arriscam suas vidas para se estabelecerem em regiões mais
desenvolvidas. Uma das principais razões subjacentes à migração irregular é que a
procura de migrantes nos países de acolhimento de imigrantes é muito inferior à oferta de
potenciais migrantes que desejam se estabelecer no estrangeiro.114 Muitas vezes,
estreitamente ligados à migração irregular estão o contrabando e o tráfico de seres
humanos. Devido às demandas por mão de obra barata e compatível na exploração sexual,
grupos criminosos estão cada vez mais envolvidos, em praticamente todas as regiões do
mundo.115 Um número crescente de homens, mulheres e crianças está sendo vítima de
engano e maus-tratos, como servidão por dívida, tortura, confinamento ilegal, abuso
sexual e estupro, além de ameaças e violência contra eles, suas famílias e amigos. Nos
últimos anos, os fluxos de migração internacional, especialmente ilegal, desafiaram as
capacidades das autoridades governamentais e organizações intergovernamentais, bem
como as atitudes do público em relação aos imigrantes.
113
CIORAN, E. 2015
114
Cadernos de Debates: Refúgio, Migrações e Cidadania, v.10, n.10 (2015). Brasília: Instituto Migrações
e Direitos Humanos. Disponível em: (https://www.acnur.org/portugues/wp-
content/uploads/2018/02/Caderno-de-Debates-10_Refúgio-Migrações-e-Cidadania.pdf) Acesso em: 22
dez. 2022
115
Brasil. Secretaria Nacional de Justiça. Tráfico de pessoas : uma abordagem para os direitos humanos /
Secretaria Nacional de Justiça, Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação; organização
de Fernanda Alves dos Anjos...[et al.]. – 1.ed. Brasília: Ministério da Justiça, 2013. Disponível em:
(https://www.justica.pr.gov.br/sites/default/arquivos_restritos/files/documento/2019-
08/cartilha_traficodepessoas_uma_abordadem_direitos_humanos.pdf) Acesso em: 22 dez. 2022
41
endossados pela grande maioria dos Estados membros da ONU em dezembro de 2018, o
Pacto Global para Migração116 Até o final de 2019, os instrumentos destinados a proteger
os refugiados ou a combater o contrabando de migrantes e o tráfico de pessoas foram
ratificados por mais de três quartos de todos os Estados membros da ONU. Níveis
razoáveis futuros de imigração legal serão insuficientes para absorver até mesmo uma
fração daqueles que desejam emigrar. Consequentemente, a migração irregular
provavelmente aumentará no futuro, refugiados sírios na Europa e refugiados centro-
americanos na fronteira com os Estados Unidos são fortes lembretes de que as pessoas
farão jornadas árduas e perigosas na esperança de uma vida melhor. Com os avanços da
tecnologia moderna, a natureza do trabalho continua a evoluir, com alguns empregos
perdidos e outros criados, como ficou bem evidenciado no passado recente. Espera-se que
a automação, a robótica e a inteligência artificial façam uma mudança tão significativa
quanto a mecanização na manufatura e na agricultura. Alguns observaram preocupações
sobre um possível futuro distópico, caracterizado pela perda maciça de empregos devido
à automação, robótica e inteligência artificial, e delinearam padrões éticos para orientar o
futuro do trabalho. Enquanto outros consideraram a questão de robôs humanóides ou
andróides como solução para populações em declínio e envelhecimento, principalmente
para os países que desejam evitar a imigração para lidar com a redução da força de
trabalho e a crise previdenciária.
116
Disponível em: (https://news.un.org/pt/story/2018/12/1650601) Acesso em: 21 dez. 2022.
42
117
Disponível em:
(https://www.acnur.org/portugues/convencao-de
1951/#:~:text=A%20Conven%C3%A7%C3%A3o%20das%20Na%C3%A7%C3%B5es%20Unidas,ap%
C3%B3s%20a%20Segunda%20Guerra%20Mundial) Acesso em: 20 dez. 2022.
43
Além disso, é claro que os migrantes são pressionados a deixar seu país por razões
econômicas, como falta de emprego ou remuneração inadequada. A migração é, portanto,
econômica por natureza. As categorias de migrantes evoluíram, pois, devem corresponder
às políticas de emprego dos países europeus. No início do século XX, a migração
econômica temporária e a migração econômica permanente constituíam dois conceitos
distintos e, no final mesmo século, surgiram novas divisões.
118
DE GENOVA, Nicholas P. vol. 31, 2002, pp. 419–47. Disponível em:
(http://www.jstor.org/stable/4132887)
44
“Somos hoje um povo só, a Nova Roma. Unido pela língua, pela cultura e pela
destinação [...] Somos nós que representaremos a tradição romana no concerto dos
próximos séculos e milênios.”
(Darcy Ribeiro)119
119
D. RIBEIRO, Messaggio in occasione della assegnazione del Premio Roma-Brasilia, em Roma e
America, 1997, III, pp. 337 e ss.
120
CATALANO, Pierangelo, “Princípios jurídicos e esperança de uma futura ‘autoridade pública
universal”, na Revista de Informação Legislativa, Brasília, ano 41, nº. 162, abr./jun., 2004, p. 333.
121
Em latim: direito dos latinos.
122
“Importa pois, que os que devem influir nas classes menos instruídas venham fazer estudos e firmar o
espírito do nosso systema na Roma Americana No discurso de 27 de agosto de 1823 na Assembléia Geral
Constituinte e Legislativa doImpério do Brasil, concernente à instituição de cursos jurídicos, o futuro”;
tratava-se da instituição dos cursos jurídicos.”
123
“Os Portugueses e todos os Espanhóis se podem e devem entender debaixo do nome de Romanos, no
sentido desta profecia, porque Espanha e Portugal foram colónias dos Romanos, e parte não só do Império,
senão do Povo Romano, e verdadeiros cidadãos romanos; ao que não obstava serem de diferente nação,
como se vê em São Paulo, que sendo hebreu, apelou para o César alegando que era cidadão romano e que
só no Tribunal de César podia ser julgado. Além de que muitos Portugueses eram filhos e netos de Romanos
como muitos Romanos de Portugueses, pela união e comércio destas duas nações, assim em Portugal, onde
viviam os presídios romanos, como nas guerras dos mesmos Romanos, onde os Portugueses iam servir e
merecer debaixo de suas bandeiras.”
46
três elementos que confirmam a existência dos laços que unem Roma e Brasília: as
migrações dos homens, a continuidade do direito e concepção da urbs e da civitas que
foram rediscutidos no Seminário de 1986. No Direito Brasileiro, encontramos discussões
sobre o universalismo do “Direito Romano atual”, as legislações dos povos latino-
americanos e uma visão unitária do Direito Romano124, desde sua formação até o Direito
Ibero-Americano. Em 1987, Darcy Ribeiro, antropólogo e sociólogo nacionalmente
aclamado, escreve125 que a lusitanidade, acompanhada do sangue índio e negro, construiu
nas Américas uma latinidade única que somou os talentos de várias raças. Nossa matriz
romana nos leva a sentir que somos parte de um corporis magni, destinados a continuar
o legado que se perdeu na cisão do Império e o desprezo aos costumes ancestrais. Podendo
ser atribuído antes de Constantino, Justiniano e Teodósio, pelos excessos de Nero que
romperam com o costume ancestral de respeitar o local de cultos dos povos estrangeiros.
O histórico de rebeliões judaicas que conflituaram com o imperador Vespasiano
se traduz na complexidade em aplicar a universalidade, principalmente a um povo de
religião étnica, com forte natureza identitária e fechada. Não se expressava um princípio
de tradutibilidade que advogasse com a integração do Império, sem abertura a um
sincretismo ou revolução cultural. Apesar do Império ser uma estrutura universal, nem
todos estavam dispostos a participar dessa estrutura. Se Roma encontrou dificuldades com
o universalismo, no tocante ao reconhecimento de autoridade, mesmo buscando abarcar
outros povos – ao reconhecer suas singularidades, incluindo os cultos dos deuses
estrangeiros – seria arrogância supor que não encontraríamos obstáculos hoje. É um
trabalho de tolerância ciceroniana, até mesmo com aqueles não se sentem inclusos numa
comunidade “gentia”, pelas contínuas opressões que acompanham o povo judeu,
adotando o isolamento como uma medida de preservação. Reconhecer o limite que traz
as particularidades de um povo é não forçar uma integração que corrompa suas
subjetividades, a universalidade também consiste em respeitar essas escolhas. Passando
para as questões jurídicas, verifica-se que a herança romana se estendeu à matéria
obrigacional pelo bona fides (boa-fé) e favor debitoris126 que são amplamente usados. O
que nos impediria de aplicar os princípios romanos para o Direito atual contemporâneo?
A criação de uma Ius Universalis ou melhor, Humanitatis, em que a concessão atenderia
124
LOBO, Abelardo Saraiva da Cunha. Curso de direito romano. Brasília: Senado Federal, 2006.
125
Siamo noi i neo-romani “Roma, incarnata in ‘lusitanità’, nelle Americhe si vestì di carne india e di carne
negra per costruire questa enorme latinità, formata oggi da quattrocento milioni di latino-americani e che
nell’anno duemila conterà seicento milioni. Si tratta di un blocco paragonabile solo a quello slavo, a quello
cinese, al neo-britannico. Direi che questo blocco è migliore degli altri, perché è formato da gente di più
razze, che sommano i talenti più profondi dell’umanità, oltre che i difetti” (Tradução minha).
126
SCHIPANI,Sandro.La codificazione. p. 185.
47
“...Eu sou o que vem de volta. Saí de Roma há 2000 anos, nos ofícios
de soldado e de romanizador da Europa. Por 1500 anos acampei na
Ibéria, latinizando a gente bárbara de lá. Foi tarefa dura. Tanto fazê-
los entender e falar latim, com suas bocas estranhas que o deformaram
bastante, como, e sobretudo, mantê-los latinizados. Sucessivas
invasões lá foram ter, querendo ali assentar-se permanentemente.
Principalmente as árabes, que tomaram e mantiveram o poder por um
milênio, tido fazendo para desfazer nossa obra de latinização.
Resistimos.Vencemos.
Há 500 anos atravessei o mar grosso nas naus lusitanas e vim ter aqui
nas terras selvagens do Brasil. O desafio se repetiu, maior ainda.
Agora se tratava de latinizar os índios bravos da floresta, tantíssimos,
os negros, milhões deles que trouxemos da África, outros europeus e
gentes orientais de fala truncada, que tivemos também que
domesticar. (...) Nós o faremos simultaneamente com a tarefa maior
de nos modernizarmos, de dominarmos as mais avançadas ciências e
técnicas para realizar, em grandeza, nosso destino de futura
civilização latina, morena e tropical. Orgulhosa de ser a Nova Roma,
uma Roma melhor, porque lavada em sangue negro e sangue índio”. 128
127
CÍCERO. Pro Caelio, 54.
128
Carta para o Prêmio “Roma-Brasília” em 17 de dezembro de 1996. (D. Ribeiro, “Saudações às
autoridades de Roma e a Pierangelo Catalano”, carta agora publicada em Roma e America. Diritto
Romano Comune. Rivista di diritto dell’integrazione e unificazione del diritto in Europa e in America
Latina, 3/1997, pp. 337 s.)
48
129
“Audentes fortuna juvat” – Alexandre, o Grande. (VERGILIUS, Eneida. X, 284. Eneida . 29–19 a.C.).
130
VEYNE, P.1989, p. 9
49
CONSIDERAÇÕES FINAIS
131
“It was a phrase he much used, and that was very familiar to him, that a philosopher should watch over
the salvation of not only a city, nor over the national customs of a few people, but that he should be the
hierophant of the whole world in common.” MARINUS, The Life of Proclus or Concerning Happiness
(1925) pp.15-55. Disponível em: (https://www.tertullian.org/fathers/marinus_01_life_of_proclus.ht)
Acesso em: 19 dez. 2022.
50
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FUSINATO, G. Dei feziale e del diritto feziale. Contributo alla storia del
diritto pubblico di Roma. In: Memorie (Accademia nazionale dei Lincei,
Classe di scienze morali, storiche e filologiche), Roma, 1884.
PEDROSO, Padre Vicente. As Vidas dos Homens Ilustres. São Paulo: Editora
53
SCHEID, John: The Gods, the State, and the Individual: Reflections on Civic
Religion in Rome. Philadelphia, PA: University of Pennsylvania Press, 2016.