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Estados Unidos
Docentes: Professor Doutor Dário Moura Vicente e Professor Doutor Miguel da Câmara
Machado
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Declaração de originalidade e autoria do trabalho
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1. Introdução
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O Presidente da República português, no exercício de suas competências, é
caracterizado como moderador, árbitro e garante da Constituição. Por ser eleito
directamente pelo povo, o Presidente tem poderes relevantes e efectivos, podendo exercê-
los ao abrigo de sua legitimidade democrática. Suas competências podem ser vinculadas,
condicionadas ou livres, mas neste trabalho iremos destacar aquelas cujo exercício possui
um impacto maior e mais importante no cenário político.
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Outra competência que vale a pena destacar é o poder de demissão do Governo,
previsto no art. 133º/al. G da CRP. Ao contrário do que acontece com o poder de
dissolução da Assembleia, esta competência está fortemente limitada e condicionada
pelos pressupostos do art. 195º/2, tornando seu exercício extremamente difícil. Conforme
o referido artigo, o regular funcionamento das instituições democráticas deve estar
gravemente comprometido e a demissão do Governo deve constituir a única efetiva
possibilidade de solucionar esta crítica situação. Além disso, antes de exercer este poder,
o Presidente deve ouvir o Conselho de Estado. Entretanto, apesar de existirem muitos
limites, é o Presidente quem deverá ponderar se todos os pressupostos foram ou não
preenchidos.
A exposição feita não esgota o elenco dos poderes presidenciais. O Presidente tem
ainda funções como presidir o Conselho de Estado (art. 133º/al. A), nomear o Primeiro-
Ministro (art. 133º/al. F), exercer as funções de Comandante Supremo das Forças
Armadas (art. 134º/al. A), requerer a fiscalização sucessiva abstracta e por omissão (art.
134º/al. H), ratificar tratados internacionais (art. 135º/al. B), entre outras. Dessa forma,
feito este enquadramento geral, cabe acrescentar que os Presidentes portugueses, ao longo
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da história, têm escolhido atuar verdadeiramente como garantes do texto constitucional
em vez de agirem ativamente no poder Executivo.
Dentre os limites determinados pelo art. 19º estão o dever de respeito dos direitos
previstos no nº 6 desse artigo, dever de respeito ao princípio da proporcionalidade;
necessidade de fundamentar a declaração e de nela especificar os direitos que foram
suspensos (nº5), etc. Todavia, uma das maiores limitações consiste na impossibilidade do
Presidente utilizar seu poder de dissolução da Assembleia durante a vigência de um estado
de emergência (art. 172º/1). Esta proibição existe devido a gravidade do cenário
emergencial. Tendo em conta que são restringidos direitos fundamentais, é necessário o
controle desta situação pela Assembleia, de forma a impedir também a centralização do
poder no Presidente e no Governo.
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2.2. O Presidente português pode ser responsabilizado criminalmente?
Uma vez aprovada a acusação, o caso será julgado pelo Supremo Tribunal de
Justiça (art. 130º/1). De acordo com os professores Jorge Miranda e Rui Medeiros²,
durante este período o Presidente fica impedido temporariamente de exercer suas funções
como garante da Constituição, devendo ser substituído pelo Presidente interino (art.
132º/1). No julgamento, o Presidente, assim como qualquer outro cidadão, está protegido
pelas garantias do processo criminal previstas no art. 32º da CRP. Se o Supremo Tribunal
de Justiça absolver o Presidente, este retomará o exercício de suas funções. Porém, se for
condenado, será destituído do cargo e ficará impossibilitado de se reeleger, consoante o
art. 130º/3. É possível ainda estabelecer uma pena de prisão, mas quanto a esta o
Presidente só poderá cumprir após o Tribunal Constitucional verificar a perda do cargo
(art. 223º/2 al. B).
______________
² MIRANDA, Jorge e MEDEIROS Rui. Constituição Portuguesa Anotada. Vol. II. Pg. 366-367.
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é possível afirmar que, durante seu mandato, o Presidente não pode ser preso em flagrante
ou preventivamente, de forma a preservar a dignidade de sua posição. O Presidente
também não pode promulgar, quanto aos crimes que é acusado, leis de anistia,
descriminalização ou de redução de penas. Aqui, o Presidente também será protegido por
todas as garantias que um cidadão comum obtém e caso seja condenado, não sofrerá
sanções políticas.
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na possibilidade de o Presidente e outros funcionários do poder Executivo, quando haja
uma legítima justificação, impedirem que certas informações cheguem ao conhecimento
do Congresso, dos tribunais e público. Este poder não está expressamente previsto na
Constituição, tendo seu fundamento na separação de poderes prevista no artigo II e sendo
interpretado como um limite da influência do Congresso no executivo.
De acordo com essa lei, o Presidente tem competência para declarar o estado de
emergência (título II da lei de 1976), mas deve o fazer através de uma declaração formal
onde estejam especificados as justificações e os poderes que serão utilizados durante esta
situação emergencial (título III). No título IV dessa lei, vem especificado que a cada seis
meses o Presidente deve informar ao Congresso sobre todas as despesas realizadas com
o estado de emergência. Se não houver renovação, o estado de emergência caduca após
um ano.
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Muitas das regras impostas pela Lei Nacional de Emergência não foram
cumpridas. Desde sua aprovação, o Congresso nunca se reuniu para votar o fim de um
estado de emergência e várias renovações desta situação ocorreram sem suficiente
justificação, de tal forma que hoje, nos Estados Unidos, vigoram trinta estados de
emergência diferentes. Consequentemente, o Presidente pode utilizar os 123 poderes
previstos em leis ordinárias para serem utilizados em cenários emergenciais. A lei que foi
criada para limitar o abuso de poder nesses períodos difíceis, acabou por permitir que o
Presidente tivesse competências quase ilimitadas.
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início ao processo ao acusar o Presidente de ter praticado um dos crimes acima descritos.
Após a acusação, o Comitê Judiciário da Câmara deverá elaborar os artigos do
impeachment com a justificação da abertura do processo e, posteriormente, enviar ao
plenário da Câmara a resolução.
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dos incisos VI (“dispor, mediante decreto, sobre organização e funcionamento da
Administração Federal, quando não implicar aumento de despesa”), XII (“conceder
indulto e comutar penas”) e XXV (“prover e extinguir os cargos públicos federais”).
Apesar de extensa, a enumeração não é taxativa, pois o inciso XXVII remete a outras
atribuições previstas na Constituição Federal.
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No entanto, com o surgimento da pandemia da Covid-19, o Governo Federal
implantou diversas medidas típicas de estados de excepção, com o objetivo de enfrentar
a emergência de saúde pública de importância internacional. Inicialmente, em fevereiro
de 2020, o estado de emergência foi decretado pelo Presidente da República, remetendo
ao Congresso Nacional projeto de lei que resultou na aprovação da Lei 13.979/2020. Em
seguida, em março de 2020, com o avanço do número de casos confirmados de
contaminação com a Covid-19, inclusive de vítimas fatais, o Congresso Nacional
reconheceu o estado de calamidade pública, a pedido do Presidente da Repúb1ica, por
meio de Decreto Legislativo nº 06/2020.
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benefício denominado auxílio emergencial à população de baixa renda, incremento dos
recursos para a saúde pública, compra de vacinas etc.
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tenha direito a voto. Após a instauração do processo no Senado Federal, o Presidente da
República fica suspenso de suas funções pelo prazo máximo de cento e oitenta dias. Se
este prazo vencer, ele retoma as funções, sem prejuízo da sequência do processo. O
Senado Federal só pode condenar o Presidente da República se for por dois terços dos
seus membros, sendo sua decisão absolutamente definitiva. As penas podem ser a perda
do cargo e a inabilitação por oito anos para o exercício de funções públicas.
5. Síntese Comparativa
Em síntese, com o que neste trabalho foi exposto, é possível perceber que ao
mesmo tempo que os ordenamentos jurídicos apresentam algumas semelhanças quanto
ao tema, há também grandes diferenças. As similitudes se devem ao facto da influência
que cada ordenamento jurídico tem sobre o outro. O Direito Brasileiro tem elementos
inspirados tanto no ordenamento jurídico dos Estados Unidos como no de Portugal, mas
também influenciou o direito português. Quanto as diferenças, estas podem ser atribuídas
ao facto dos países pertencerem a sistemas de governo distintos, como já foi mencionado
acima, mas elas decorrem principalmente do facto de estarem em causa diferentes
famílias jurídicas.
Portugal e Brasil fazem parte da família romano-germânica, a qual tem a lei como
principal fonte do direito. Aqui a jurisprudência tem um papel menor e existe um grande
esforço para criar leis gerais e abstractas, sendo a codificação um movimento presente
nesse sistema. Por esse motivo, nos ordenamentos jurídicos português e brasileiro, tanto
a figura do estado de emergência como as consequências da prática de crimes de
responsabilidade, estão meticulosamente regulados nas leis. Acrescenta-se, porém, que
apesar de pertencerem à mesma família, o direito desses países ainda apresenta
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características significativamente diferentes. Isto ocorre, em parte, pelo facto de o direito
brasileiro ser influenciado também pelo direito norte-americano, como já foi supracitado.
Em relação aos Estados Unidos, este pertence à família do Common Law. Nesta
família, a jurisprudência é a fonte de direito central e essencial. As leis possuem um papel
subsidiário e, quando existem, servem para regular situações específicas, não possuindo
as características de abstracção e generalidade. Isto explica o facto de a Constituição
norte-americana ser breve e não muito específica quanto a vários assuntos, incluindo o
processo de impeachment e os poderes do Presidente quanto a declaração de estado de
emergência.
6. Grelha Comparativa
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Bibliografia
NOVAIS, Jorge Reis. Teoria das Formas Políticas e dos Sistemas de Governo. AAFDL
Editora, 2017;
TAVARES, André Ramos. Curso de Direito Constitucional. 18ª edição. São Paulo:
Saraiva Educação, 2020;
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de Teoria Geral do Estado. 30ª edição. São
Paulo: Saraiva, 2011;
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GRIFFIN, Stephen M. Executive Power in the U.S. Constitution: An Overview. 2015.
https://www.researchgate.net/publication/267269129_EXECUTIVE_POWER_IN_THE
_US_CONSTITUTION_AN_OVERVIEW ;
HIGA, Marília Beatriz Leal Salvador Conti. Os Poderes do Chefe de Estado nas Ordens
Jurídicas Brasileira e Norte-Americana: Uma Análise do Ponto de Vista do Direito
Comparado;
CARVALHO, Josilaine Dias Virmieiro de. Direito Público Comparado: Os Poderes dos
Chefes de Estado de Portugal e do Brasil;
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