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TRABALHO DE CONSTITUCIONAL:

PARLAMENTARISMO X PRESIDENCIALISMO - DIFERENÇAS E


ASPECTOS IMPORTANTES.

FELIPE DE PAULA DIAS – 0014/21


PROFESSORA: FERNANDA BUTARELLO
DIREITO UNIFAI
O presidencialismo é um sistema de governo nascido a partir da experiência
norte-americana (Constituição da Filadélfia, 1787). Caracteriza-se, primordialmente,
pelo fato da chefia de governo e de Estado estarem centradas em uma única
autoridade – o Presidente da República – e ainda na forma diferenciada como se
estabelecem as relações entre os Poderes Executivo e Legislativo. O Poder Executivo
e o governo, de forma geral, exercem as suas funções sem depender da manifestação
de confiança do Poder Legislativo. Para que isso seja possível, ao contrário do que
ocorre o Primeiro-Ministro no parlamentarismo (onde o chefe de governo é escolhido
pelo Poder Legislativo e exerce suas funções enquanto perdurar a confiança), o
Presidente da República possui fonte de legitimação autônoma em face do Parlamento,
exercendo mandato (governo por um prazo fixo) e só podendo ser derrubado em
situações excepcionais que configurem crime de responsabilidade (mediante processo
de impeachment).

O Brasil nem sempre adotou o sistema presidencialista de governo, sendo


certo que o parlamentarismo foi praticado durante o período do Brasil Império – no
Segundo Reinado entre 1840 e 188910 –, e, durante a república, entre 1961 e 1963.
Apesar dessas experiências o país possui uma forte tradição presidencialista. O
presidencialismo se afirmou como sistema de governo desde a primeira constituição
republicana e, sempre que foi colocado sob teste popular, triunfou. Em 1963 a
realização de plebiscito garantiu ampla vitória deste sistema de governo [9.457.448 de
votos] em detrimento do parlamentarista [que recebeu 2.073.582 votos].

A Constituição de 1988 previu a realização de plebiscito após cinco anos de


experiência constitucional para que o povo pudesse mais uma vez deliberar sobre
sistema de governo e forma de governo. Nesta oportunidade o presidencialismo
recebeu 69,2% dos votos válidos contra 30,8% do parlamentarista.
Na Constituição de 1988 o tema dedicado ao Poder Executivo e ao sistema de
governo está disciplinado em capítulo próprio, no título da separação dos poderes
(título IV), entre os arts. 76 e 91. De acordo com o sistema brasileiro o presidente da
república é o chefe do Poder Executivo e exerce a sua função auxiliado pelos
Ministros de Estado e pelo Vice-Presidente. O mandato do Presidente da República é
de 4 anos, admitindo-se a recondução para o mandato imediatamente subsequente
uma única vez. A eleição é direta, exigindo-se maioria absoluta que, se não for obtida
em primeiro turno de votação, determina a realização de um segundo turno com os
dois candidatos mais votados no primeiro turno. O Vice-Presidente é eleito junto com
o Presidente sendo necessariamente o registrado por este último.

A Constituição de 1988 prevê o procedimento de impeachment para os casos


de prática de crime de responsabilidade, considerando-se como tais aqueles que
atentem contra (i) a existência da União, (ii) o livre exercício do Poder Legislativo, do
Poder Judiciário, do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da
federação, (iii) o exercício dos direitos políticos, individuais e sociais, (iv) a
segurança do país, (v) a probidade na administração, (vi) a lei orçamentária e (vii) o
cumprimento das leis e das decisões judiciais. O processo demanda autorização da
Câmara dos Deputados pela maioria qualificada de 2/3 (342 votos de um universo de
513) e julgamento perante o Senado Federal em caso de crime de responsabilidade ou
perante o Supremo Tribunal Federal em caso de crime comum. No que diz respeito
com as funções o presidencialismo brasileiro se enquadra no modelo do que se
designa como presidencialismo imperial, ou hiper-presidencialismo, tendo em vista o
grande acúmulo de poderes concentrados no Poder Executivo. Com efeito o
presidente da república possui ampla atribuição de iniciativa, o que lhe confere grande
poder agenda. Quase todas as matérias relevantes em termos de definição de políticas
públicas, definição de prioridades orçamentárias e alocação de recursos é de iniciativa
privativa do presidente da república, assim como quase toda matéria que diz respeito à
organização administrativa.

O presidente da república, nesta seara, consegue manter um elevado grau de


dominância das matérias discutidas no Congresso Federal. A agenda política é
primordialmente definida pelo presidente. Ademais, em todas as matérias de sua
iniciativa chefe do Poder Executivo ainda possui a prerrogativa de solicitar urgência,
obrigando com que os temas por ele proposto sejam obrigatoriamente enfrentados em
prazo relativamente curto de até 90 dias. E nesta hipótese, caso as matérias
encaminhadas pelo presidente não sejam apreciadas, ocorre o bloqueio da pauta. Se a
matéria ainda não for aprovada de acordo com a definição ou na forma proposta do
presidente cabe-lhe o exercício do veto, que devolve a matéria ao Congresso Nacional
e só pode ser derrubado com a manifestação da maioria absoluta. Exceto em relação
às Emendas Constitucionais e algumas matérias de competência de privativa da
Câmara e do Senado e matérias de competência exclusiva do Congresso Nacional, o
veto sempre é admitido. Se isso já não fosse suficiente para reconhecer a força do
chefe do Poder Executivo, o presidente ainda possui competências legislativas seja
através da possibilidade de edição de medidas provisórias ou através da edição de leis
delegadas, além de ampla competência regulamentar no campo administrativo. Ele
também é responsável por indicar e nomear uma expressiva gama de cargos, tais
como Ministros do Supremo Tribunal Federal, Ministros dos Tribunais Superiores,
Procurador-Geral da República, presidente e diretores do Banco Central, Ministros do
Tribunal de Contas da União, dentre outros, além de obviamente nomear e demitir ad
nutum os Ministros de Estado. É de sua competência privativa decretar a intervenção
federal e o estado de sítio. E a isso somam-se as funções inerentes à chefia de estado
(representação do país, assinatura de tratados, declarar guerra e celebrar a paz etc.).

Apenas para dar uma ideia do que este quadro representa considere-se que
desde a promulgação da Constituição de 1988 a taxa média de dominância do
Presidente da República no Congresso Nacional oscila entre 75 e 90%, tendo uma
média de 76,6%. A taxa de sucesso18 do Presidente da República no Congresso
Nacional gira em torno de 80%. E, nas matérias em que foi derrotado e o conteúdo de
suas propostas foi alterado durante a votação no Congresso Nacional, o Presidente
tem exercido sistematicamente o poder de veto. Em tais casos, embora o veto possa
ser derrubado, na prática ele tem prevalecido - ao menos informalmente. Isto porque o
prazo constitucional de 30 dias para a apreciação do veto presidencial pelo Congresso
Nacional não é respeitado. Assim existem cerca de 4.000 vetos apostos pelo
Presidente da República aguardando deliberação. Enquanto isso a vontade do
Presidente predomina. Trata-se, portanto, de um modelo de presidencialismo em que,
efetivamente, o presidente possui poderes imperiais. Ele tem capacidade de dominar a
agenda política, retirar temas da pauta, vetar, produzir atos normativos
independentemente de autorização legislativa e ainda, conforme será demonstrado
adiante, consegue direcionar e aprovar a maioria de suas propostas no parlamento.

No entanto, no parlamentarismo, o regime constitucional de repúblicas ou


monarquias, o Poder Executivo é exercido pelo primeiro-ministro, que é quem
governa com o apoio do Parlamento, da Câmara. Assim, quando o Parlamento retira
seu voto de confiança, o gabinete de ministros automaticamente apresenta sua
renúncia. O poder maior é, portanto, do Parlamento, do qual depende a permanência
ou não do primeiro-ministro no governo.

O sistema parlamentarista implantado no Brasil durante o governo pessoal de


D. Pedro II inspirou-se no modelo inglês. No entanto, o modelo brasileiro era a
inversão do inglês, ficando, por isso, conhecido como parlamentarismo às avessas,
porque o Poder Legislativo não nomeava o Executivo, mas subordinava-se a ele. Na
Inglaterra, realizavam-se primeiramente as eleições para a Câmara. O partido que
possuísse maioria escolhia o primeiro-ministro, que formava o gabinete de ministros,
passando a exercer o Poder Executivo. No Brasil, ao contrário, era o Poder Moderador,
exercido por D. Pedro II, que escolhia o presidente do Conselho de Ministros. Por sua
vez, o primeiro-ministro indicava os demais ministros para formar o Ministério, que
deveria ser submetido à aprovação da Câmara. Em caso de discordância entre o
Ministério e a Câmara, cabia ao imperador decidir se demitia o Ministério ou
dissolvia a Câmara. Com base no Poder Moderador, podia, após ouvir o Conselho de
Estado, dissolver a Câmara e convocar novas eleições. Da mesma maneira, poderia
demitir o primeiro-ministro e todos os outros ministros.
Em 1987, o Brasil passou por uma situação em que foi colocado qual seria o
melhor modo de governo. Naquele tempo estava instalada a chamada Assembleia
Nacional Constituinte, órgão responsável pela elaboração do texto da nova
Constituição Federal. Ali, vários parlamentares constituintes expuseram sua
preferência pelo parlamentarismo como Mário Covas, Roberto Freire e Fernando
Henrique Cardoso. Todavia, houve quem se posicionasse contra, por exemplo, o então
deputado constituinte Luís Inácio Lula da Silva – favorável ao presidencialismo. Após
muita deliberação acerca de qual seria o sistema de governo a ser adotado na nova
Constituição brasileira venceu o parlamentarismo na comissão de sistematização. No
entanto, ao ser levado o tema ao Plenário venceu o Presidencialismo. No final das
contas, o sistema de governo aprovado no plenário da constituinte foi o
Presidencialismo, mas toda a formatação política da nova Constituição foi preparada e
construída para um regime parlamentarista.

Em resumo, apesar do Brasil ter o modo de governo presidencialista, grande


parte da constituição representa uma visão bem forte de parlamentarismo, mas de
certa forma, o presidencialismo acaba funcionando para o Brasil, uma vez que, apesar
do parlamentarismo ter suas vantagens, ele acaba abrindo brechas maiores e que não
possibilitam que haja uma verdadeira democracia, pois no caso do sistema
parlamentarista, o mesmo partido pode acabar sendo re-eleito por diversas vezes, se
mantiver o voto superior no senado, enquanto no sistema presidencial, há de certa
forma um sistema de contra-pesos para que não haja esse excesso do líder.

Referências Bibliográficas

- PRESIDENCIALISMO. [S. l.], 2017. Disponível em:


https://enciclopediajuridica.pucsp.br/verbete/38/edicao-1/presidencialismo. Acesso
em: 18 maio 2023.

- O PARLAMENTARISMO. [S. l.], 2023. Disponível em:


https://multirio.rio.rj.gov.br/index.php/historia-do-brasil/brasil-monarquico/8957-o-
parlamentarismo#:~:text=No%20parlamentarismo%2C%20regime%20constitucional
%20de,ministros%20automaticamente%20apresenta%20sua%20renúncia. Acesso em:
18 maio 2023.

- AFINAL, o Brasil é Presidencialista ou Parlamentarista?. [S. l.], 2019. Disponível


em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/afinal-o-brasil-e-presidencialista-ou-
parlamentarista/770121560. Acesso em: 18 maio 2023.

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