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APONTAMENTOS DE DIREITO CONSTITUCIONAL II

Aula prática 20/02/2017

As Formas de Governo

(importante para orais de melhoria: separação de poderes, da perspectiva teórica)

São três as principais formas de governo:

- Parlamentar

- Presidencial

- Semipresidencial

Uma forma de Governo exprime o modo como se relacionam, à luz da Constituição, os órgãos
constitucionais de soberania que exercem o poder político.

→ O modo como se relacionam os órgãos de soberania tem a ver com as relações de


interdependência que se estabelecem entre os órgãos de soberania.

Exemplos: Saber se o Presidente pode demitir o Governo; Saber se o Governo responde


perante o Parlamento; Saber quem elege o Presidente da República.

→ Quais são os órgãos constitucionais de soberania?

- Presidente da República;

- Assembleia da República;

- Governo;

- Tribunais.

Constante no artigo 110º/1 da CRP.

→ O que são órgãos constitucionais de soberania? Aquele órgão cujo estatuto e cujas
competências decorrem imediatamente da Constituição.

Todos os órgãos de soberania são órgãos constitucionais (o seu estatuto e competências estão
na Constituição), mas nem todos os órgãos constitucionais são órgãos de soberania.

Exemplos de órgãos constitucionais que não são órgãos de soberania:

- Provedor de Justiça;

- Conselho de Estado;

- Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas;


Este raciocínio tem uma falha (temos referenda ministerial - artigo 140º da CRP -, mas o nosso
chefe de estado não é meramente decorativo).

Uma coisa é a forma de governo (e aí não há duvida de que no Reino Unido, é parlamentar),
outra coisa é o sistema político, o qual depende, sobretudo, do sistema eleitoral. No Reino
Unido, o sistema eleitoral é um sistema maioritário, o qual favorece um partido com maioria
absoluta no Parlamento ( que, neste caso, é o Partido dos Conservadores). Se o sistema
eleitoral é maioritário, quem manda é o Governo/Gabinete, pois tendo maioria absoluta,
forma governo e manda na política.

Forma de Governo Presidencial

A forma de governo presidencial nasceu nos Estados Unidos da América. Não só nasceu nos
EUA, como só funciona verdadeiramente bem nos EUA.

O presidencialismo fora dos EUA tem, tendencialmente, funcionado mal, terminando em


ditadura ou caos.

→ Primeiro, a legi midade democrá ca direta do Presidente da República. Significa que o


Presidente é eleito directamente pelo povo.

No caso americano, a eleição presidencial é indirecta e pressupõe a intervenção de um colégio


eleitoral composto por 538 delegados que elegem o Presidente da República para um
mandato de quatro anos.

Lúcia Amaral explica que, nos EUA, apesar de a eleição ser formalmente indirecta, a
legitimidade é substancialmente direta. Antes da eleição presidencial, há as primárias, nas
quais os cidadãos escolhem vinculativamente o candidato de cada partido.

→ A segunda característica é que o PR é simultaneamente chefe de Estado e chefe do


Executivo/Governo. O governo não existe enquanto órgão constitucional autónomo.

→ Os tribunais têm muito poder, podendo exercer a judicial review, a qual equilibra o sistema.

→ A úl ma e importante caraterística trata-se da separação rígida dos poderes baseia-se no


facto de que nem o PR pode dissolver o Congresso, nem o Congresso pode demitir o
Presidente. Isto significa, por outras palavras, que, entrando, não se estabelece, entre eles,
uma relação de confiança.

O Congresso, nos EUA, é composto por duas câmaras: a câmara dos Representantes e o
Senado norte-americano. A separação rígida das duas é moderada pelo mecanismo de “Checks
and Balances”.

Exemplos de mecanismos de “Checks and Balances”/”Pesos e Contrapesos”:

- O Congresso pode afastar o Presidente usando o instituto do Impeachment. Isto só pode


ocorrer quando o Presidente pratique ilícitos civis e criminais.

- Em segundo lugar, é o facto de a nomeação de embaixadores, secretários de Estado e juízes


do Supreme Court, carecer do consentimento do Senado.
doutrina fale, a propósito do poder executivo, num executivo com duas cabeças, ou um
executivo diárquico/bicéfalo.

Quando o PR não tem o apoio do parlamento, trata-se de uma situação de coabitação. Quando
isto acontece, geralmente o PR, ou demite-se, ou dissolve o parlamento.

Quanto à nossa forma de Governo, para o curso, a nossa forma de governo é mista
parlamentar presidencial. Para outros segmentos da doutrina, a nossa forma de governo é
semipresidencial. Não estamos sozinhos, há outros que concordam com o curso, mas a maioria
não concorda, por exemplo, Jorge Miranda, Reis Novais, o actual Presidente Rebelo de Sousa,
entre outros.

Quanto à posição de Jorge Miranda (a qual não tem importância), a forma de governo é
semipresidencial porque, entre nós, o PR tem poderes que um PR, numa forma de governo
parlamentar, não tem. Isto não está em causa. No entanto, o curso prefere uma outra
designação.

Aula Prática 27/02/2017

Forma de governo semipresidencial:


Teve origem na França.
A designação semipresidencialismo é da autoria de um autor francês-
Duverger- que usou a designação para caracterizar a república de Weimar
(1919) na sequência do fum da 1ª Guerra Mundial, que durou até 1933, e
também para caracterizar a forma de governo da V República Francesa a
partir da revisão constitucional de 1962. Esta revisão constitucional ao
introduzir a eleição direta do presidente da república converteu a forma
de governo francesa de parlamentar em semi-presidencial.

Características:
 Legitimidade democrática direta do Presidente da República;
 Dupla responsabilidade política do governo: o governo responde
tanto perante o parlamento como perante o presidente da
república. Significa que ambos podem demitir o governo;
 Dissolução do parlamento por decisão autónoma e de iniciativa do
presidente da república. Esta caraterística distingue o
semipresidencialismo da forma de governo parlamentar e da forma
de governo presidencial. Da 1ª porque no parlamentarismo o
2º argumento:
-Quando os cidadãos votam nas eleições presidenciais eles não estão a
escolher o órgão responsável pela condução da política geral do Estado
mas sim a escolher o supervisor do sistema político- quarto poder neutro
e independente aos partidos políticos.

Origens e influências
*A forma de governo de 1976 foi influenciada pela história constitucional
portuguesa (memória interna).
De que maneira?
Em 1º lugar porque a nossa forma de governo tentou recuperar a
centralidade do parlamento e dos partidos políticos que estivera apagada
durante a época do Estado Novo. Em 2º lugar quis-se recuperar também a
eleição direta do presidente da república que curiosamente existia na
versão originária da constituição de 1933 mas que foi eliminada na revisão
constitucional de 1959.
*A forma de governo também foi influenciada por experências
constitucionais estrangeiras (memória externa). Uma das influências foi o
semipresidencialismo francês. A segunda foi o parlamentarismo
racionalizado à alemã. Surgiu com a república de Weimar em 1919 e é
uma forma de governo em que o governo responde politicamente
perante o parlamento mas em que se prevê mecanismos de moderação*
destinados a dar estabilidade ao executivo daí que se fale e
parlamentarismo secularizado.

*mecanismos de moderação:
1º- existência de um presidente da república dotado de um poder político;
2º- cláusulas-barreira;
3º- estabelecimento de limites jurídicos à dissolução do parlamento;
4ª- moção de censura construtiva (é uma figura em que o parlamento só
pode votar moções de censura ao governo se conseguir simultaneamente
por maioria absoluta eleger o 1º ministro)

Quais destes mecanismos existem entre nós?


1º - sim.
2º - não.
constitucionalidade e a fiscalização da inconstitucionalidade por omissão
(arts.278.º,n.º 1,281.º,n.º 2 e 283.º);
• Convocar o referendo (artigo 115.º/1);
O presidente da república goza também de poderes secundários sobre
outros órgãos de soberania porque pode condicionar/controlar a atuação
política desses órgãos.
Exs:
-O presidente da república tem o poder de veto político e de
promulgação das leis/decretos-lei;
-O presidente da república tem o poder de requerer ao tribunal
constitucional a fiscalização da constitucionalidade das leis e dos decretos-
lei;
A 3ª fonte de influência da nossa forma de governo é o dualismo
monárquico.
O dualismo monárquico foi uma forma de governo vigente durante o séc.
XIX em que o rei era titular de uma série de poderes, entre elas o poder de
dissolução discricionária do parlamento.

O que adotámos do dualismo monárquico?

1º- Dupla responsabilidade do governo (art. 190º)- o governo responde


politicamente perante a assembleia da república e responde também
perante o presidente da república. Enquanto a assembleia pode demitir o
governo por razões de mera discordância política o presidente da
república só pode demitir o governo quando isso seja necessário para
regular o funcionamento das instituições democráticas. O presidente da
república só o pode fazer em situações extremas.
Ex: Situações de ingovernabilidade em que o presidente da república não
pode dissolver o parlamento. Situação em que fique provado que o
governo mentei ao presidente da república ou omitiu o que não devia.
2º- Poder de dissolução do parlamento pelo presidente da república (art.
133º e) e 172º). O nosso poder de dissolução não se confunde com a
dissolução ministerial típica da forma de governo parlamentar -> porquê?
-> porque entre nós a decisão de dissolver o parlamento/assembleia da
república é uma decisão autónoma do presidente da república.
A nossa dissolução não se confunde totalmente com a chamada
Atos normativos constitucionalmente relevantes:
• Leis
• Decretos-leis
• Decretos legislativos regionais
(Atos legislativos aprovados pelas assembleias legislativas das regiões
autónomas)
• Regulamentos administrativos
• Regimentos das Assembleias (art. 175.º/a)
• Resoluções da Assembleia da República (art. 166.º/5)
• Convenções internacionais
• Deliberações de organizações internacionais de que Portugal faça parte
(art. 8.º/3)
• Convenções coletivas de trabalho
• Decreto Presidencial de declaração do estado de sítio ou do estado de
emergência (art. 138.º e 161.º/l)

 Princípios gerais em matéria de identificação das fontes normativas


Princípio da tipicidade dos atos legislativos (artigo 112.º, n.º1)
-Só são atos legislativos (só têm valor/força de lei) os atos que a
constituição determine. (leis, decretos-lei e decretos legislativos
regionais).

Os atos normativos articulam-se entre si de acordo com o princípio da


hierarquia.
Princípio da hierarquia:
Os atos normativos estabelecem entre si relações de paridade ou relações
de supra-infra-ordenação.

O princípio da hierarquia desdobra-se em 3 outros princípios:


Podemos solucionar este caso através do princípio da hierarquia e,
concretamente, dentro do princípio da superioridade/preeminência dos atos
legislativos sobre os regulamentos administrativos –o qual significa que nenhum
regulamento administrativo pode contrariar, alterar ou revogar uma lei. Este
decreto regulamentar alterou a lei, revogou-a e disse que o limite máximo era
7500. Isto não é possível porque o regulamento administrativo/ decreto
regulamentar tinha de obedecer à lei. É, portanto, inconstitucional e ilegal.

2. A sua resposta seria diferente se o Governo tivesse aprovado um decreto-lei?

Um decreto-lei é um ato legislativo (112º/1). De acordo com o princípio da


hierarquia vale um princípio de tendencial paridade entre leis e decretos-leis (art.
112º/2, primeira parte). Por outro lado, o princípio da competência diz nos que
cada órgão só tem as competências normativas q a constituição que dá: há 3 –
matérias reservadas à AR, matérias reservadas ao Governo e matérias de
competência concorrente. Qual deles funciona primeiro, a hierarquia ou a
competência?
Temos de recorrer, em primeiro lugar, ao princípio da competência, para
determinar se esta é uma matéria em que o Governo pode legislar. Que matéria é
que está em causa? A criação de novas contraordenações. Temos de recorrer aos
artigos 164 e 165º, concentrando-nos logo no 165º. A criação do regime geral das
contraordenações é uma matéria de competência exclusiva da AR (art.165ª/1/d)).
A criação de cada uma das contraordenações é uma matéria de competência
concorrente., logo, o Governo tem competência para criar e alterar
contraordenações.
Precisamos do princípio da hierarquia para nos dizer que leis e decretos-leis
podem alterar-se, contrariar-se, interpretar-se, suspender-se e revogar-se
mutuamente. Por isso, este nosso decreto-lei não é inconstitucional.
(Não há normas constitucionais. O que há, são normas não-inconstitucionais).

3. Se a lei da Assembleia da República tivesse estabelecido um crime em matéria de


segurança no trabalho, e não uma contraordenção, poderia o Governo ter
aprovado um decreto-lei alternado os respectivos elementos?
Temos de nos servir do principio da competência p determinar se a
criação/alteração de novos crimes é uma matéria reservada da AR ou se é uma
matéria de competência concorrente (art.164º e 165º - se estiver nestes é de
competência reservada, se não estiver num nem noutro, é de competência
concorrente).
De acordo com o art.165º/1/c), a criação e alteração de crimes é uma matéria de
competência reservada da AR. Portanto, é uma matéria em que , à partida, o
Governo não tem competência para legislar.
Precisamos do princípio da hierarquia? Já temos a nossa resposta: o decreto-lei é
inconstitucional e, mais do que isso, está ferido/padece de um vício de
competência, também conhecido por vício orgânico, gerador de uma
inconstitucionalidade orgânica.
outras, daí a parametricidade ser específica). Há uma categoria de leis que prevalece
sobre outra.
• Leis da autorização são leis com valor reforçado porque são pressuposto e
parâmetro dos decretos-leis autorizados.
• As leis de bases, por seu turno, são pressuposto e parâmetro dos decretos-leis
de desenvolvimentos (esta terminologia é essencial).
• As leis-quadro ou leis de enquadramento são, por exemplo, a lei de
enquadramento orçamental – esta é pressuposto e parâmetro da lei do orçamento
do Estado.
• A última categoria de leis com valor reforçado são as leis que, por força da
Constituição, por outras devam ser respeitadas. A esta está subjacente o critério
da parametricidade geral, a qual existe quando uma categoria de atos legislativos
prevalece sobre as outras, como é o caso das leis estatutárias – as leis estatutárias
são as leis que aprovam os estatutos político-administrativos das regiões
autónomas.

O procedimento legislativo parlamentar


O procedimento legislativo parlamentar tem a ver com o conjunto de atos através do quais é
elaborada uma lei no Parlamento.

O que vamos falar agora vale apenas e só para as leis, não vamos tratar de como é feito um
decreto-lei.

Como é elaborada uma lei da Assembleia da República? Concultar, não só a CRP, como o
Regimento da Assembleia da República, ato feito pelo próprio parlamento e que contém um
conunto de regras sobre a sua própria organização.

O procedimento parlamentar desdobra-se em 5 fases: iniciativa, instrução, deliberativa, de


controlo e integrativa.

→ Fase da Iniciativa (artigo 167º): A iniciativa de lei é o poder de desencadear o


procedimento legislativo.
Há também iniciativa de lei de um outro conceito, o conceito de competência
legislativa. Há órgãos com iniciativa de lei em matérias que não são da sua
competência. O artigo-chave nesta matéria é o artigo 167º.
Quem é que tem iniciativa de lei? Em primeiro lugar, deputados e grupos
parlamentares (artigo 167º, remissão, no caso dos grupos parmanetares, para o
art. 156º/b) e, no caso dos deputados, para o artigo 180º(2/b.
A iniciativa dos deputados e dos grupos parlamentares é um projecto de lei.
Em segundo lugar, tem iniciativa de lei o Governo, através do Conselho de
Ministros artigo 200º/c).
Os grupos de cidadãos eleitores, com um mínimo de 35.000 assinaturas – lei de
iniciativa legislativa dos cidadãos.
Finalmente, as Assembleias Legislativas das Regiões Autónomas, mas apenas nas
matérias que lhes digam respeito.
efectividade de funções (artigo 136º/2 da CRP). Se o decreto vetado for
objecto de confirmação, o Presidente da República está obrigado a promulga-
lo no prazo de oito dias e este é um dos casos de promulgação obrigatória
previstos na Constituição;
2. 2. Promulgar o decreto;
3. Requerer ao Tribunal Constitucional a fiscalização abstracta preventiva da
constitucionalidade do decreto (artigo 278º/1);
• Referenda ministerial (artigo 140º)

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