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Cidadania ou Nacionalidade
Simbioticamente ligado ao conceito (jurídico-constitucional) de povo está o de cidadania, no
qual o indivíduo é encarado na qualidade de cidadão. A cidadania consubstancia-se no vínculo
jurídico-político que traduz a pertença de um indivíduo a um Estado e o investe num conjunto
de direitos e obrigações. Por conseguinte, Nacionalidade, como o próprio nome indica, traduz
a situação de pertença do indivíduo à Nação (e não necessariamente ao Estado). A cidadania é
hoje elevada a qualidade de direito fundamental; assim o postula o artigo 26º da CRP (“a todos
são reconhecidos os direitos ... à cidadania...), não podendo ninguém ser dela privado por
motivos políticos (nº 4), só podendo essa privação efetuar- se nos termos previstos na lei (a lei
fundamental relega para o legislador ordinário o regime de perda da cidadania).
Encontramos, outrossim, em diplomas internacionais, que entram diretamente no nosso
ordenamento jurídico, alguns preceitos concernentes à cidadania. Veja-se o artigo 15º/1/2 da
Declaração Universal dos Direitos do Homem, que estatui que todo o indivíduo tem direito a
uma nacionalidade e que ninguém pode ser arbitrariamente privado da sua nacionalidade nem
do direito de mudar de nacionalidade. Atente-se que o povo português é constituído pelo
conjunto de cidadãos portugueses, encontrem-se ou não em território nacional.
O estabelecimento do regime de aquisição de cidadania é uma tarefa exclusiva dos Estados
(não obstante o caráter não despiciendo que isso tem para o direito internacional,
essencialmente no âmbito do exercício de direitos nessa esfera). A apatrídia (situação de
desintegração de um indivíduo em qualquer Estado) deve ser a todo o custo evitada. A
cidadania pode ser originária ou derivada. É originária quando é atribuída ao indivíduo pelo
nascimento. É derivada, se a sua aquisição se fizer em momento ulterior (v.g. naturalização).
Dentro da aquisição originária, há dois critérios que determinam a sua atribuição: o critério do
ius sanguinis, que atende à nacionalidade dos progenitores (tem que ver com os laços de
sangue estabelecidos entre o concebido e seus progenitores, cidadãos de determinado
Estado), e o critério do ius soli, que concerne ao local do nascimento (é o local de nascimento
que determina a nacionalidade). A título de exemplo, se um indivíduo nascer em França, mas
se os seus pais forem portugueses, o indivíduo pode vir a ter nacionalidade portuguesa ou
francesa, consoante o critério de atribuição da cidadania seja o do ius sanguinis ou o do ius
soli. A aquisição derivada ocorre, na maior parte das vezes, por uma manifestação de vontade
do indivíduo, contanto que certos requisitos estejam preenchidos casamento de um
estrangeiro com um nacional pode permitir ao estrangeiro adquirir a nacionalidade do seu
cônjuge). Na mesma medida em que é adquirida, a cidadania portuguesa pode perder-se. Essa
perda pode realizar-se através da renúncia (expressa manifestação da vontade do indivíduo
nesse sentido) e pela privação (ato, através do qual o Estado retira a cidadania a um nacional
seu v.g. por este ter cometido atos gravemente lesivos de valores fundamentais da sociedade).
Em que medida o que é legal pode ser ilegítimo e o que é legitimo pode ser ilegal? A
legalidade revela apenas se é compatível, ou não, com a lei. Aquilo que viola a lei
denominamos como ilegal. A legitimidade serve para avaliar se uma determinada ação está de
acordo com as normas e vontades da sociedade. Uma ação pode ser legal mas ir contra as
normas ou vontades de determinada sociedade, da mesma forma que para uma sociedade
determinada acao pode valer, mesmo indo contra a lei.