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Direito Constitucional I

06/10/2020

- O que é uma CONSTITUIÇÃO?


A resposta é dada pela "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” (França,
século XVIII):
“Só tem Constituição o país onde existem direitos fundamentais (direitos
reconhecidos por força da dignidade da pessoa humana; direitos que as pessoas
têm face aos poderes públicos, que deixam de dispor deles livremente) e
separação de poderes

Os poderes encontram-se divididos por


3 Poderes: legislativo diferentes orgãos, com competências
claramente definidas pela Constituição.
executivo Esta separação de poderes existe para evitar
judicial abusos de poder e para garantir os direitos
fundamentais

Podemos falar em Constituição em dois sentidos: em sentido formal e em sentido


material.

A Constituição está no topo da hierarquia jurídica, não podendo ser


contrariada/posta em causa por outras normas (se assim for, as normas são
inconstitucionais).

Tipo histórico de Estado -> “a diferente concretização ou manifestação que a


forma de poder político que se designa como Estado vem assumindo ao longo da
história”
Há vários tipos históricos de Estado e estes diferenciam-se e analisam-se a partir
de vários fatores: os fins do Estado
a natureza da relação Estado-indivíduo.
Os tipos históricos de Estado que vamos estudar estão todos dentro do Estado
moderno, Estado que se desenvolve na Europa a seguir à época medieval;
diferente de tudo o que está antes, o Estado Moderno tem como características:
laicidade (separação Igreja e Estado)
nacionalidade (cada Nação tem o seu Estado)
soberania

Tipos históricos de Estado:


1. Estado Absoluto - patrimonial
- de polícia
2. Estado de Direito - liberal
- social e democrático
3. Estado Autocrático dos séculos XX e XXI

Estado de Direito: falamos neste tipo histórico de Estado desde as revoluções


liberais francesa e americana (ocorridas no século XVIII).
As revoluções liberais foram revoluções contra o Estado de polícia, uma forma do
Estado Absoluto

No Estado Absoluto o poder estava centralizado numa figura/entidade, sendo as


pessoas súbditas e não sujeitos do próprio destino.
Estado Absoluto divide-se em:
1ª fase: Estado Patrimonial (o monarca, que legitima o poder através da escolha
divina, gere o Estado como se fosse o “senhor” de um grande feudo)
2ª fase: Estado De polícia (despotismo iluminado: o monarca como um ser
“iluminado”, mas não escolhido por Deus, que tem a obrigação de esclarecer os
seus súbitos e de controlar todas as áreas da vida).

O Estado Absoluto era imprevisível (o monarca, visto como um ser


superior/“iluminado” agia conforme a sua vontade). Assim, era um Estado que
não dava garantias de segurança, de desenvolvimento e de propriedade às
pessoas, o que revoltou os cidadãos, nomeadamente a burguesia -> O Estado de
Direito nasce numa época caracterizada social, económica e politicamente pela
afirmação da burguesia como classe dominante e, no plano ideológico, marcada
pela hegemonia doutrinária do liberalismo.

2 elementos para o ESTADO DE DIREITO: direitos fundamentais (Estado de Direito


como “Estado organizado e limitado juridicamente com vista à promoção e
garantia dos direitos fundamentais dos cidadãos sob sua jurisdição”) e separação
de poderes.

Os príncipios base do Estado de Direito (direitos fundamentais e separação dos


poderes) mantêm-se há muitos anos, desde os primórdios deste tipo histórico de
Estado, mas o seu conteúdo normativo alterou-se: os direitos fundamentais
existem desde o início do Estado de Direito, mas a sua conceção mudou bastante
até aos dias de hoje, acontecendo o mesmo com a separação de poderes.
- exemplo: No Estado de direito liberal consagrava-se o princípio de igualdade;
não obstante, era permitida a discriminação racial. Hoje em dia, entende-se o
princípio da igualdade de uma forma muito distinta, repudiando-se a
discriminação racial. Da mesma forma, antes, no âmbito da separação de
poderes, vigorava o princípio do império da lei, princípio que agora já não vigora.

NOTAS: 1) o Estado de Direito é DIFERENTE de República, forma de governo que


se distingue da monarquia em função da via de sucessão e do carácter vitalício ou
temporário do cargo do Chefe de Estado; 2) Podemos ter um Estado de Direito
sem termos uma democracia e podemos ter uma democracia sem termos um
Estado de Direito (num país islâmico, os cidadãos elegem um partido cujo
programa não respeita a liberdade e a igualdade entre o homem a mulher -
democracia sem Estado de Direito, visto que os direitos fundamentais não são
respeitados)
Várias fases do Estados de Direito:

1º FASE - Estado de Direito Liberal


—> Há uma relação estreita entre o Estado de Direito e as revoluções liberais
francesa e americana - é na sequência do êxito destas revoluções que nasce o
Estado de Direito liberal
Os direitos fundamentais são vistos à luz do Liberalismo, estando condicionados
pelos valores supremos da iniciativa privada e da segurança da propriedade.
O direito fundamental do Estado de Direito Liberal é o direito de propriedade.

O Direito negativo está associado à ideia da abstenção do Estado, ideia em que


assenta o Estado de Direito Liberal -> nesta fase do Estado de Direito, o Estado
não intervém na vida económica e social dos cidadãos (não invade a esfera da
vida privada), sendo a sua atividade reduzida ao mínimo exigido (assegurar a
liberdade, a segurança e a propriedade dos cidadãos sob sua jurisdição).

Assim, o Estado de Direito Liberal assenta na ideia de uma separação ideal entre
o Estado e a Sociedade, separação que é particularmente visível no domínio da
economia: o Estado deve limitar-se a garantir o básico (a segurança, a liberdade e
a propriedade dos cidadãos), deixando a vida económica entregue à sua própria
dinâmica de auto-regulação através das leis do mercado livre (ideia da mão
invisível, mão que regula a economia).

O Estado deve atuar de forma previsível, sem ultrapassar os seus fins garantistas
e sem invadir as esferas da vida privada-> para atuar de forma previsível, o
Estado encontra-se submetido ao Direito (é sujeito titular de direitos e deveres,
relacionando-se com as outras pessoas jurídicas - nomeadamente com os
particulares - através de vínculos regulados pelo Direito)
No Estado de Direito Liberal, há uma conceção liberal da divisão de poderes:

Os representantes dos cidadãos (no grupo dos cidadãos não temos mulheres,
negros e não-proprietários) têm o poder predominante: o poder legislativo.

Predominância do poder legislativo: “Rule of law” (a lei está acima de tudo, pois é
vista como equivalente a justiça e a garantia de direitos).

Princípio da legalidade da administração - os representantes do povo fazem a


Lei (poder legislativo) e os funcionários limitam-se a aplicar a lei (poder
executivo), sendo como que “vigiados” pelos tribunais.
Os tribunais eram a mera “boca da lei” (o juiz limitava-se a aplicar a lei, tendo um
trabalho quase que mecânico; os tribunais não garantiam a legalidade da lei,
limitando-se a garantir a legalidade da Administração)

2º FASE - Estado social e democrático de Direito

A 1ª Guerra Mundial expôs as fragilidades do Estado de Direito Liberal (o Estado


de Direito Liberal cumpriu o seu papel no passado, mas deixa de responder às
necessidades e às aspirações das pessoas; o modelo Liberal funciona bem em
épocas de crescimento económico, mas falha em tempos de crise, em que o
Estado deve intervir e não apenas assistir).

Com a falência do modelo liberal, que considera a separação entre o Estado e a


sociedade algo ideal e desejável, novas experiências políticas surgem: é a época
da revolução russa, do fascismo italiano, do nacional-socialismo germânico…
Enquanto as novas experiências políticas referidas destroem a subsistência do
Estado de Direito, desenvolve-se, na mesma época, uma "alternativa que procura
reatar ou prosseguir o ideal de Estado de Direito nas novas condições do século
XX” ————— ESTADO SOCIAL E DEMOCRÁTICO DE DIREITO
O Estado social e democrático de Direito apresenta uma dinâmica bidirecional:
-> estadualização da sociedade: Estado “mete-se” em vários assuntos da
sociedade: política económica intervencionista, presta bens e serviços e
empenha-se na criação de infraestruturas requeridas pelo crescimento económico
-> (recíproca) socialização do Estado: a sociedade tende a “apoderar-se” do
Estado através da representação política, e da ação dos grupos de interesse e das
organizações sociais;

Nesta fase, o que muda em relação ao Estado Liberal são os fins do Estado e a
relação Estado-indivíduos (“Significa isto que o Estado assume novos fins,
desenvolve uma intervenção social e económica quantitativa e
qualitativamente distinta da (não)intervenção do Estado liberal, mas continua
a fazê-lo no mesmo quadro de limitação jurídica e de respeito pelos direitos
e liberdades individuais pressupostos na existência de qualquer Estado de
Direito”).

No Estado de Direito Democrático e Social, empenhado na “criação das condições


materiais que permitam a cada um o livre desenvolvimento da sua personalidade
e uma existência condigna”, a conceção dos direitos fundamentais muda:
- Os direitos deixam de ser apenas negativos (no Estado Liberal, todos os direitos
assentam na abstenção do Estado) e passam a ter uma dimensão
simultaneamente positiva (intervenção do Estado) e negativa;
- O direito de propriedade perde o seu carácter absoluto (no Estado de Direito
Liberal, o direito de propriedade era a medida de todos os outros direitos)
- Alargamento dos direitos políticos (enquanto que no Estado Liberal só uma
camada minoritária da população tem acesso ao poder político, no Estado Social
todos devem participar na vida política);
- Surgem como direitos fundamentais os direitos sociais, que incluem direitos
económicos, sociais e culturais (o cidadão do século XIX, do Estado Liberal, era o
cidadão-burguês, proprietário, branco e homem, que não necessitava do auxílio
do Estado para ter acesso a bens como a saúde e a habitação, pois tinha recursos
abundantes; com o alargamento da cidadania a mais camadas da população, tão
importante como o direito de propriedade é o direito ao trabalho, à saúde, à
habitação…. ESTES DIREITOS PASSAM A SER CONSIDERADOS FUNDAMENTAIS E,
PORTANTO, PASSAM A ESTAR SALVAGUARDADOS NA CONSTITUIÇÃO)
- Os direitos fundamentais podem ser exercidos coletivamente, deixando ter uma
dimensão meramente individual —> direito à greve

Os direitos sociais requerem, não a abstenção do Estado (abstenção que vemos


no modelo liberal; no E. Direito liberal, as liberdades e os direitos implicavam a
não-intervenção do Estado), mas a intervenção positiva do mesmo -> o Estado
tem uma função reguladora e passa a intervir mais, uma vez o seu leque de
deveres aumenta exponencialmente.
- Estado deixa de ser abstencionista e ganha uma função reguladora, passando a
intervir no sentido de garantir direitos fundamentais e evitar crises!

Ainda no âmbito dos direitos fundamentais: os direitos fundamentais passam a


ser vistos não só como direitos de defesa contra os abusos e violações praticadas
pela autoridade pública, mas também como direitos que devem ser protegidos de
eventuais agressões por parte de particulares e entidades privadas;

Do Estado de Direito Liberal para o Estado de Direito Social e Democrático, o


princípio da separação de poderes sofre transformações:

1) Atribuição ao poder judicial do controlo da verificação da conformidade


constitucional dos atos legislativos e de alguns atos políticos (no Estado de
Direito liberal, a função legislativa estava isenta de qualquer controlo, pois
vigorava o Império da Lei - a lei era vista como sinónimo de justiça e não havia
qualquer controlo, podendo ser aplicadas leis racistas)

Assim, para além de controlarem a legalidade da Administração, os tribunais,


independentes, passam a ter a competência do controlo da constitucionalidade
das leis (verificar se leis ordinárias não vão contra normas constitucionais,
situadas numa posição hierárquica superior). É neste sentido, de verificação da
constitucionalidade das leis por parte do poder judicial, que surgem tribunais
constitucionais.

2) Diluição de fronteiras entre o poder legislativo e o executivo


- Aumento da atividade legislativa dos Governos:
-> crescente participação na iniciativa das leis que o Parlamento aprova
-> institucionalização de uma competência legislativa governamental
própria (o Governo passa a ter competência para legislar sobre certos assuntos)
- Parlamentos invadem a área tradicionalmente reservada aos governos;
-> As leis aprovadas pelo Parlamento perdem o seu carácter abstrato e
passam a ser mais concretas, a atender às necessidades quotidianas e de
categorias individuais de cidadãos

3) Novos mecanismos de limitação efetiva do poder (reconhecimento e


encorajamento do pluralismo, dos direitos da oposição e das minorias e do direito
de alternância política; regionalização e descentralização política e administrativa,
etc…)

Estado autocrático

Após a 1ª guerra mundial, surgiram inúmeras alternativas ao Estado de Direito


Liberal, que entrou numa profunda crise (a crise generalizada, provocada pela
guerra, gerou uma enorme desconfiança na ideologia liberal, incapaz de fazer
face às dificuldades sentidas).

Uma das alternativas que surgiu é o Estado social e democrático de Direito,


alternativa que mantém as duas características estruturantes do Estado de direito
liberal (direitos fundamentais e princípio da separação de poderes, a essência de
qualquer Estado de Direito).
Perante a falência do modelo liberal, surgem também alternativas que violam os
princípios basilares do Estado de Direito. Estas alternativas podem ser agrupadas
num novo tipo histórico de Estado: o Estado autocrático

Estado soviético (matriz revolucionária anticapitalista)


Surge na Rússia
Estado fascista e nacional socialista
(matriz reacionária e conservadora)
Surge na Itália e Alemanha

No último quartel do século XX, surge uma nova modalidade de Estado


autocrático: ao estado de matriz revolucionária anticapitalista e ao estado de
matriz reacionária, junta-se o Estado fundamentalista Islâmico.

PONTOS EM COMUM entre as três modalidades de Estado autocrático:


Desvalorização da Constituição e dos direitos fundamentais dos cidadãos
enquanto limites do Poder - deixa de haver uma verdadeira limitação do poder e
uma garantia dos direitos fundamentais através da divisão de poderes.

a) Estado autocrático de matriz revolucionária anticapitalista

Estado Soviético

A revolução russa de 1917 foi impulsionada pela teoria elaborada por Karl Marx e
Engels no século XIX, teoria que constitui uma forte crítica ao sistema capitalista.
A revolução era o início de um programa de transformação revolucionária da
sociedade.
Projeto doutrinário (teoria de Marx e de Engels):
-> Acabar com o modelo de sociedade vigente (modelo identificado com os
interesses da burguesia, uma minoria ligada à repressão e à exploração da grande
massa da população).
-> Instaurar uma sociedade comunista, uma sociedade sem classes e sem
Estado.
Para alcançar uma sociedade comunista, é necessário instaurar um Estado
transitório de ditadura revolucionária do proletariado (a ditadura do proletariado,
fase em que o proletariado está no poder político e em que ocorre a socialização
dos meios de produção, como parte do processo para chegar ao comunismo)

Impossibilidade de concretização do projeto doutrinário, pois o proletariado


apresenta-se como uma classe débil (a Rússia é um país rural) e o Partido
Bolchevique tem pouco apoio, obtendo apenas 25% dos votos para a Assembleia
Constituinte.
Perante o resultado das eleições (Bolcheviques com apenas 25% dos votos):
Lenine decide conservar o poder a todo o custo (dissolve a Assembleia
Constituinte) e desvia-se da elaboração marxista originária, acabando por criar
um novo modelo de Estado

- Ao invés de enfraquecer e de começar a desaparecer, o Estado cresce bastante


e reforça o seu poder;
- “Socialização dos meios de produção” -> “estatização dos meios de produção”:
(os meios de produção pertencem ao aparelho do Estado e não, como na teoria
original, ao conjunto de trabalhadores);
- Recusa do pluralismo partidário e institucionalização de um partido único: o
Partido Comunista. Para além de controlar todas as organizações sociais, e
sindicais, o PC tem controlo sobre toda a vida política, pois controla o aparelho
do Estado (identificação Estado/Partido, duas hierarquias paralelas);
- A ideia dos direitos fundamentais dos cidadãos como direitos contra o Estado é
excluída (o Estado Soviético proclama ser o Estado dos Trabalhadores, dirigido
e controlado por estes, pelo que a existência de direitos fundamentais dos
cidadãos contra o Estado não faz sentido);
Nova conceção de direitos fundamentais: estes não são direitos individuais contra
o Estado, pelo que só são reconhecidos na condição de não serem exercidos
contra o poder instituído (ex: liberdade de imprensa é reconhecida na condição de
não ir contra o partido único);

Com a queda do Muro de Berlim, este modelo entra em falência.

- De matriz reacionária e conservadora

Alternativa ao Estado de Direito Liberal que nasce na Itália e na Alemanha, para


travar a expansão do comunismo -> alternativa antiliberal, antidemocrática,
anti-socialista e anticomunista;

Antiliberal e antidemocrático, o Estado de matriz reacionária e conservadora:


-> assenta no culto dos valores conservadores: autoridade, superioridade
nacional (“Tudo pela nação, nada contra a Nação”; nação>indivíduo) ou rácica
(Alemanha nazi), e expansionismo territorial;
-> recusa do multipartidarismo (vigora o regime de partido único) e das eleições
democráticas (o poder não é entregue aos indivíduos, mas a um indivíduo
“iluminado” e predestinado a incarnar o “espírito da nação”)

———-> Estado FORTE e TOTALITÁRIO

Recusam-se aos indivíduos direitos e liberdades contra o Poder (recusa direitos


fundamentais), e o Estado , com um carácter dogmático, intervém ativamente em
todas as esferas da vida social.

Este modelo de Estado entra em falência com a derrota dos fascismos na 2ª


guerra mundial.
Estado fundamentalista islâmico

Surge nos anos 80 com a revolução iraniana.

Laicidade
Três ideias contestadas pelo Estado
Soberania
fundamentalista islâmico
Nacionalidade

Ao contrário do Estado de Direito, onde há uma nítida separação entre a política e


a religião, o Estado fundamentalista islâmico tem uma religião oficial, com a qual
se identifica: definição confessional do Estado (natureza teorética do Estado)
-> Islamismo como religião oficial;
-> Valores islâmicos são valores constitucionais;
-> Soberania divina é a única soberania reconhecida no Estado;
-> Shari’a como lei vigente
Recusa do princípio da separação entre religião e política -> no plano do Direto,
não há uma distinção entre a norma jurídica e a norma religiosa

Ainda que reconhecida, a soberania popular é condicionada pela única e


verdadeira soberania: a soberania divina (Deus é o verdadeiro soberano)
A vontade de Deus é interpretada pelos clérigos, que, por isso, têm a decisiva
autoridade estatal (recusa do princípio da separação de poderes).

A natureza confessional do Estado não permite o pleno respeito dos direitos


fundamentais.

A ideia de Nação não é relevante: o importante é a comunidade de fiéis (há uma


grande distinção entre o crente e o infiel, tratados de forma diferente).

20-10-2020

Vários Estados assumem-se como Estados de Direito, por ser uma designação
que dá uma boa imagem a nível internacional. Contudo, e ainda que tenham leis e
Constituição, nem todos os Estados são de Direito, pois nem todos têm como
objetivo garantir os direitos fundamentais dos cidadãos.

Estado de Direito, Estado onde a limitação jurídica visa garantir os direitos


fundamentais, é diferente da democracia: vemos isto no Estado islâmico, onde
pode haver democracia (pode haver eleição de um partido por maioria), mas não
há Estado de Direito pois os direitos fundamentais são completamente
desrespeitados.

Hoje, o Parlamento, que engloba os representantes do povo, é o principal orgão


legislativo. Não obstante, o Governo tem também competência legislativa.
As Assembleias Municipais dos Açores e da Madeira também aprovam atos
legislativos.

EUROPA vs AMÉRICA

Europa
Na Europa, depois das revoluções liberais, são aprovadas Constituições, que
consagram os direitos fundamentais e o princípio da separação de poderes.
Estas Constituições não eram vistas como norma jurídica (não eram vistas como
norma aplicável, como as leis, aplicadas pelos tribunais, mas como documentos
fundadores). Depois da 2ª Guerra Mundial, há uma mudança radical no domínio
constitucional.

->Antes, o lema era “Direitos fundamentais à medida da lei” (o conteúdo dos


direitos fundamentais era à medida do que a lei dissesse, uma vez que a lei era a
expressão da maioria e era considerada sinónimo de justiça);
-> A chamada “revolução constitucional” da segunda metade do século XX altera
este lema para “Lei à medida dos Direitos Fundamentais” (lei não pode contrariar
direitos fundamentais, consagrados na Constituição, que passa a ser vista como
norma jurídica superior à lei; surgem os Tribunais constitucionais, com a função
de garantir a constitucionalidade das leis).
América
A Constituição Americana, a mesma há mais de 200 anos, consagra também os
direitos fundamentais e o princípio de separação de poderes.
No início do século XIX, um caso que chega ao Supremo Tribunal Americano mete
o juíz num dilema: ou segue a lei ordinária ou a norma da Constituição (estas
contradizem-se).
Ainda que a Constituição não o defina, o juíz optou pela norma
constitucional -> a partir deste momento, o Supremo Tribunal arroga-se da
função de verificar a constitucionalidade das leis

Quando se fizeram as revoluções liberais na Europa, os juízes eram ainda


pessoas que tinham sido nomeados pelo rei. A ligação dos juízes ao rei, à
monarquia, fazia com que estes fossem alvo de desconfiança. Esta desconfiança
levou a que os juízes fossem apenas a “boca da lei”,

27-10-2020

REGIMES POLÍTICOS

Regimes políticos: “diferentes modalidades de exercício do poder político no


Estado constitucional, considerando o relacionamento institucional que se
estabelece entre governantes e governados e tendo especialmente em conta a
titularidade e o exercício efetivo do poder constituinte, a existência, natureza e
peso de instituições representativas e os graus e formas de participação dos
governados no exercício do poder”.

Diferenciamos regimes políticos através dos seguintes fatores:


- As relações estabelecidas entre os governantes e os governados;
- A participação dos governados no exercício do poder (a existência e o peso de
instituições representativas, a existência do pluralismo, o reconhecimento ou
não do direito de oposição…)
-> Regime político é diferente de forma de governo

Distinguimos as formas de governo através de:


- forma de sucessão no orgão de chefia do Estado (sucessão hereditária ->
monarquia; sucessão não hereditária -> república)
- carácter do exercício desse mesmo cargo (carácter vitalício -> monarquia; um
mandato temporariamente limitado -> república).

Para a qualificação do regime político, é indiferente a forma de governo - “a


diferença na forma de governo (república ou monarquia) não condiciona a
natureza e o grau de participação dos cidadãos no exercício do poder político e,
logo, não condiciona o respetivo regime político”;

Portugal e Espanha têm ambos regimes de democracia representativa; no entanto,


Portugal é uma república e, por sua vez, Espanha é uma monarquia (como vemos,
temos duas formas de governo para um mesmo regime político).

Distinção importante:

- Regimes políticos de Estado autocrático (Estado Absoluto e Estado autocrático


dos séculos XX e XXI) - Monarquia absoluta
- Ditadura
- Regimes políticos de Estado de Direito
- Monarquia constitucional (3 modalidades: monarquia limitada, monarquia
orleanista e monarquia parlamentar)
- Governo representativo
- Democracia representativa

Regimes políticos dos Estados autocráticos:

Monarquia absoluta ——— o regime político do Estado absoluto


- Assenta na legitimidade monárquica (a origem e o fundamento do poder
residem no rei) // a legitimidade monárquica pode ser de fundamento divino
(estado absoluto patrimonial) ou de fundamento racional (estado absoluto de
polícia)
- A autoridade pública exerce em nome do rei, que concentra todos os poderes
do Estado na sua pessoa —> não há separação de poderes;
- Não há instituições representativas, pelo que os indivíduos (vistos como meros
súbditos do rei) não têm qualquer participação no exercício do poder político;

Ditadura ———— o regime político do Estado autocrático dos séculos XX e XXI


- O Povo não é, como acontece na democracia, “o conjunto de todos os
cidadãos”. O conceito de “Povo” é corrompido pela ditadura -> o “Povo”
identifica-se com um conjunto específico de pessoas (conjunto definido em
função da raça/grupo social/comunidade religiosa)
- Não existe verdadeira representação política (“As instituições representativas,
bem como as eleições, ou pura e simplesmente não existem ou são artifícios
formais utilizados para fins de mera propaganda”);
- Há uma completa rejeição do pluralismo político, das liberdades democráticas,
da alternância do poder e da livre escolha
- Vemos a concentração do poder nas mãos de um grupo restrito ("ditadura
militar - poder concentrado nos militares) ou numa única pessoa

Monarquia constitucional

“Na monarquia constitucional compatibiliza-se uma forma de governo


monárquica com a vigência de uma Constituição normativa”
-> todos os regimes políticos de monarquia constitucional (monarquia limitada/
orleanista/ parlamentar) têm um ponto em comum: existência da separação de
poderes, assim como de instituições representativas e de participação dos
governados no exercício do poder político;

——- Monarquia limitada ———-

- Regime ainda fundado na legitimidade monárquica - o rei é ainda a origem e o


fundamento do poder político;

- Existe uma Constituição normativa que é aprovada pelo Rei. Apesar de ser
aprovada pelo monarca (que procura não perder muitos dos seus poderes), a
Constituição - ou melhor dizendo, a Carta Constitucional - limita o poder do Rei
ao consagrar a existência de uma divisão de poderes e a existência de instituições
representativas;
“O Rei é ainda considerado a origem e o fundamento do poder, mas aceita
autolimitar-se através da outorga ao Povo de uma Constituição”
- O Rei dá ao Povo a Carta Constitucional -> é consagrada a existência de
instituições representativas dos cidadãos -> verifica-se uma dualidade de
poder entre o Rei e as instituições representativas: o Rei continua a ter o poder
executivo, mas o poder legislativo passa a ser do Parlamento (orgão que
representa os cidadãos e que está dividido em duas câmaras);

Perante a dualidade de poder, o Rei, com o intuito de conservar uma posição


central no regime, recorre ao poder moderador (poder moderador: poder que
equilibra todos os outros, permitindo ao seu detentor uma intervenção decisiva
no controlo do aparelho do Estado).
O poder moderador inclui competências que permitem ao rei influenciar o poder
legislativo e judicial -> nomear membros da câmara alta do Parlamento
exercer direito de veto
dissolver a câmara baixa do Parlamento
nomear e destituir juízes
“Para além de deter o poder executivo por direito próprio, o monarca tem uma
influência significativa nos restantes poderes”
Dentro da monarquia constitucional, onde se compatibiliza uma forma de governo monárquica com a
vigência de uma Constituição normativa, existem vários regimes políticos, sendo a monarquia limitada um
deles.
A monarquia limitada é um regime ainda fundado na legitimidade monárquica. Não obstante o facto de o rei
ser a origem e fundamento do poder político, este aceita autolimitar-se através de uma Constituição, mais
precisamente de uma Carta Constitucional, pois estamos a referirmo-nos a um documento aprovado e dado
pelo rei ao Povo.
A Carta Constitucional consagra a existência de instituições representativas e de uma certa divisão de
poderes. Consequentemente, verifica-se uma dualidade de poder entre o Rei e as instituições representativas
dos cidadãos: o poder executivo continua a pertencer ao monarca, mas o legislativo é transferido para um
Parlamento bicameral (a estrutura bipartida do Parlamento reflete a legitimidade monárquica do regime:
existe uma Câmara alta, cujos membros são nomeados pelo rei (e, portanto, dele dependentes) e uma
Câmara baixa, constituída por indivíduos eleitos pelo povo.
Para manter um lugar central na vida política, o Rei recorre ao quarto poder, mais conhecido por poder
moderador. De facto, este poder reforça o papel determinante do monarca, pois inclui competências que lhe
permitem estender a sua influencia ao poder legislativo e ao poder judicial

———— Monarquia orleanista ———-

- A Constituição resulta de um compromisso celebrado entre a legitimidade


democrática (representantes do povo, reunidos em Assembleia) e a legitimidade
monárquica (rei) -> “a Constituição é aprovada por uma Assembleia constituinte
popular, mas só entra em vigor se obtiver simultaneamente a aquiescência efetiva
do monarca”
O compromisso existente no momento constituinte leva a uma estrutura
compromissória dos poderes.
Assim, no domínio do exercício do poder político, vê-se também como que um
“pacto” entre o rei e os representantes do povo, havendo um maior equilíbrio em
termos de funções/competências:

—> REI: perde o poder moderador, poder que lhe fazia ter uma grande influência
no aparelho de Estado;
—> INSTITUIÇÕES REPRESENTATIVAS: as suas funções são reforçadas com divisão
mais eficaz dos poderes; “o Governo politicamente responsável não apenas
perante o Rei, mas já também perante um Parlamento (…)”

Na monarquia orleanista, um dos regimes políticos da monarquia constitucional, há um


compromisso entre a legitimidade monárquica e a legitimidade democrática.
Este compromisso é, desde logo, visível no próprio momento constituinte: a Constituição é
aprovada por uma Assembleia constituinte popular, mas só entra em vigor com o consentimento
efetivo do monarca.
A dualidade visível no momento constituinte conduz a uma estruturação compromissória dos
poderes, verificando-se, em comparação com a monarquia limitada, um maior equilíbrio entre os
poderes do Rei e os das instituições representativas. De facto, existe um maior equilíbrio: o Rei
perde o poder moderador e as instituições representativas surgem reforçadas, sendo o Governo
responsável não apenas perante o monarca, mas também perante um Parlamento, onde o peso da
câmara baixa tende a ser superior.

——— Monarquia parlamentar ———

Contrariamente ao que vemos na monarquia limitada e na monarquia orleanista, o


regime assenta exclusivamente na legitimidade democrática
—> Assim, não obstante a existência de um rei, a Constituição é exclusivamente
feita pelos representantes do Povo reunidos em Assembleia Constituinte.

Após a elaboração da Constituição em Assembleia Constituinte, o Rei concede-lhe


uma promulgação/um assentimento de carácter meramente formal.
A promulgação por parte do monarca não traduz uma partilha do poder
constituinte -> o poder constituinte pertence apenas aos representantes do Povo,
sendo a promulgação do rei apenas um reconhecimento da soberania popular por
parte do mesmo.

Na monarquia parlamentar, a legitimidade não é exclusivamente monárquica (como acontece na


monarquia limitada), nem existe um compromisso entre a legitimidade monárquica e a
legitimidade democrática, como existe na monarquia orleanista. Ao invés, a monarquia
parlamentar assenta exclusivamente na legitimidade democrática.
Assim, a Constituição é exclusivamente aprovada por uma Assembleia Constituinte, formada por
representantes do Povo. Ainda que o rei venha a conceder à Constituição uma promulgação, esta
tem um mero carácter formal, não traduzindo qualquer partilha do poder constituinte.

——— Governo representativo liberal ——-

- É o regime típico do Estado Liberal do Século XIX, podendo existir quer sob
forma de governo monárquica quer sob forma de governo republicana.
- O regime assenta na legitimidade democrática -> consequentemente, a
Constituição é exclusivamente aprovada por uma Assembleia Constituinte, que,
eleita pelo Povo, o representa.

- A legitimidade do exercício do poder é a legitimidade democrática, pelo que se


considera que o poder reside originariamente no Povo e deve ser exercido pelos
seus representantes.
Ainda que exista legitimidade democrática, “esta não é levada até às suas últimas
consequências” —> o Povo que elege tanto a Assembleia constituinte, como o
Parlamento, não inclui todos os cidadãos, pois existe um sufrágio muito restrito
(certas pessoas satisfazem determinado critério, podendo votar, enquanto outras
não têm direito ao voto)
-> A conceção de “Povo” é muito redutora

- Enquanto instituição representativa nacional, o Parlamento, orgão onde se


manifesta a vontade geral, é o centro do poder político.
- o Chefe de Estado (rei, caso o regime se desenvolva numa forma de
governo monárquica, ou Presidente da República, caso se desenvolva numa
república) não é um orgão politicamente ativo: tem mais um carácter simbólico,
sendo os seus poderes muito reduzidos.
- o Governo, detentor do poder executivo, é um orgão cada vez mais sob
dependência política da Parlamento e perante ele exclusivamente responsável.

No Parlamento os deputados têm um mandato nacional e representativo.


Assim, “cada deputado se considera representante de toda a coletividade nacional
e não apenas dos eleitores do círculo eleitoral por onde foi eleito”
Como referido, há legitimidade democrática mas, por força do sufrágio restrito,
os eleitores não correspondem a todos os cidadãos, mas antes a um conjunto
específico de pessoas -> dentro deste conjunto de pessoas, temos
principalmente os proprietários.

Como vemos, os eleitores são, quase sempre, indivíduos da mesma classe/


estatuto, pelo que não existem entre eles grandes diferenças em termos de
ideais, interesses económicos e formas de organização social. Isto condiciona as
eleições:
- Nas eleições, os eleitores não fazem uma escolha entre projetos ou
programas muito diferentes, uma vez que não existem grandes diferenças
ideológicas. A inexistência de grandes diferenças faz com que os partidos
políticos não tenham um papel relevante.
- “A eleição tem o carácter de uma designação dos indivíduos que, de
entre as classes proprietárias, se consideram mais capazes de as representar”.

Democracia representativa

À semelhança do regime de governo representativo, a democracia representativa


assenta na legitimidade democrática e pode-se desenvolver em qualquer forma
de governo (monarquia ou república).
No entanto, existem diferenças significativas entre o governo representativo e a
democracia representativa:

-> No governo representativo, só uma minoria vota, uma vez que vigora o
sufrágio censitário. Na democracia representativa, o sufrágio censitário dá lugar
ao sufrágio universal, que faz com que todos os indivíduos adultos tenham o
direito ao voto (“só agora o Povo é considerado como povo de todos os cidadãos,
de todas as pessoas sob jurisdição do Estado, sem qualquer discriminação”).

-> No governo representativo, as pessoas que votam têm conceções e interesses


muito semelhantes, pelo que a eleição representa a escolha das pessoas que
fisicamente vão exercer o mandato, e não a escolha entre vários programas
diferentes. Neste contexto de homogeneidade de ideais e interesses, os partidos
políticos não têm grande importância.
Com o alargamento do sufrágio a todos os cidadãos, o corpo eleitoral passa a ser
atravessado por diferentes ideologias e perspetivas. A heterogeneidade do
conjunto de eleitores faz com que os partidos políticos, que se distinguem em
função de diferentes programas e interesses, assumam um papel decisivo no
exercício do poder político —> existem “diferentes projetos de organização
económica e social, a que correspondem diferentes programas políticos que,
assumidos pelos diferentes partidos, são apresentados concorrencialmente ao
eleitorado”

Na democracia representativa:

Os partidos políticos, detentores de programas de governo muito diferentes, têm,


de forma quase exclusiva, a competência para apresentar candidaturas.
Consequentemente, são eles que têm a quase exclusividade da representação
política.

Sem a liberdade de formação de partidos políticos, não existe um verdadeiro


pluralismo político, assim como qualquer garantia da liberdade de escolha e da
existência de alternativas. Para além disso, a existência de partidos torna possível
que os cidadãos utilizem, de forma retributiva, o seu direito de voto, isto é, se
estiver descontente com o governo atual, e pretender substitui-lo por outro, o
cidadão penaliza o partido do governo e vota noutro -> cidadão tem peso
eleitoral porque existem partidos

O sistema eleitoral é uma questão decisiva no regime de democracia


representativa

Sistema eleitoral em sentido lato: normas sobre a delimitação, o número e a


magnitude dos círculos eleitorais, sobre a capacidade eleitoral ativa e passiva,
sobre a apresentação de candidaturas, sobre a contagem de votos e método
eleitoral
Sistema eleitoral em sentido restrito: método eleitoral (método de transformação
do número de votos obtidos por cada candidatura em mandatos parlamentares)

Temos dois grandes métodos eleitorais:


O método maioritário: em cada círculo eleitoral, os mandatos são atribuídos à
candidatura que obtiver o maior número de votos (podemos falar de maioria
relativa, normalmente associada a eleições de uma volta, ou de maioria absoluta,
muito associada a eleições com duas voltas).
O método proporcional: em cada círculo eleitoral, os mandatos são atribuídos a
cada uma das candidaturas, de forma proporcional aos votos por elas obtidas.

Círculo uninominal (eleição de uma pessoa): o método maioritário é aquele que é,


necessariamente, adotado.
Círculo plurinominal: podem ser adotados qualquer um dos dois métodos.

No século XIX começou-se por recorrer ao método maioritário - é bastante mais


simples e adequa-se ao facto do corpo eleitoral ser um “corpo homogéneo” (as
pessoas escolhiam entre pessoas e não entre programas políticos, visto que
tinham as mesmas ideologias políticas e os mesmos interesses)

Passagem do governo representativo liberal para democracia representativa: nas


eleições, a escolha já não é entre pessoas que vão exercer fisicamente o mandato,
mas entre diferentes programas políticos!
A discussão sobre os sistemas eleitorais adquire importância na democracia
representativa: com o progressivo alargamento do sufrágio, novas ideologias,
novos interesses e novas visões do mundo chegam à vida política, tornando-se
importante a questão de uma representação plural nas assembleias
parlamentares.

Método maioritário
CONSEQUÊNCIAS
- Sub-representação dos partidos mais pequenos: um partido político mais
pequeno raramente “chega à frente” (tem mais votos) num círculo eleitoral.
—> por raramente se chegarem à frente em cada círculo eleitoral, os partidos
mais pequenos ou não têm representação no parlamento, ou são sub-
representados, sendo mais fortes na sociedade do que no parlamento.
- Polarização do voto nos partidos maiores:
Se perceberem que, com o método maioritário, o seu voto não está a conseguir
eleger deputados, tendencialmente, vários eleitores vão começar a votar nos
partidos que, ainda que não traduzam exatamente os seus ideais, tenham maior
possibilidade de eleger deputados (ex nos EUA, em que o método eleitoral é o
método maioritário, os partidos mais pequenos não têm representatividade; há
uma polarização nos maiores partidos - o Democrata e Republicano é que têm
representatividade)
Principal inconveniente -> não permite uma representação das várias correntes.
Vantagem -> governabilidade (com este método, normalmente os governos são
estáveis, apoiados por uma maioria absoluta - quem tem maioria absoluta no
Parlamento, forma governo);

Método proporcional
CONSEQUÊNCIAS
- Para terem representação parlamentar, os partidos não têm de ter o maior
número de votos num círculo eleitoral —> isto fomenta o aparecimento e a
representação de novos partidos, assim como o seu eventual desenvolvimento a
partir do momento em que têm representação no parlamento.
- A maior representatividade no parlamento (maior nº de partidos no parlamento)
faz com que seja mais difícil obter uma maioria absoluta, o que faz com que
exista menos estabilidade governativa;
Vantagem: pluripartidarismo parlamentar (o pluralismo na sociedade existe
sempre, mas saber se no parlamento há muita representatividade ou não depende
muito dos sistemas);
Desvantagem: não é tão fácil proporcionar governos estáveis, apoiados numa
maioria

No sistema proporcional não votamos numa pessoa individualmente considerada;


votamos no programa de um partido -> menor responsabilidade do deputado
No sistema maioritário votamos numa pessoa, o que aumenta a responsabilização
do deputado.

O sistema proporcional é mais integrador, mais aberto, o que fomenta o


aparecimento de novos partidos e a regeneração partidária.
Contudo, este sistema pode fazer com que partidos extremistas tenham
representação e ascendam (ex: sem o sistema proporcional, o partido Chega não
teria representação parlamentar)

Sistemas maioritários
-> Maioria relativa
-> Maioria absoluta (eleição do PR em Portugal)
Se na eleição nenhum candidato tiver maioria absoluta, realiza-se uma segunda
volta entre os dois candidatos mais votados (em que, necessariamente, um obtêm
maioria absoluta)

Sistema proporcional
-> Método de Hondt (técnica para determinar quem são os deputados eleitos
num círculo eleitoral)

Progressivamente, alguns países foram adotando um sistema misto (conciliar as


vantagens dos sistemas maioritário e proporcional, e reduzir os seus
inconvenientes) ——-> sistema proporcional personalizado

- Sistema proporcional personalizado (o sistema alemão)

A Alemanha está dividida em círculos plurinominais correspondentes aos Estados


Federados e em círculos uninominais (cada círculo elege um deputado; dentro do
Estado Federado, que é um círculo plurinominal, temos vários círculos
uninominais).
Na Alemanha o eleitor tem dois votos: com um, escolhe o partido da sua
preferência (círculo plurinominal); com o segundo voto, vai escolher a pessoa que
prefere dentro do seu círculo uninominal (a pessoa pertence a um partido político)
No Estado da Baviera, que forma um círculo plurinominal, o Partido A tem 10%
dos votos. Considerando todos os círculos plurinominais, o Partido A tem direito a
ter, pelo método proporcional, 23 deputados no Parlamento.
Nos círculos uninominais, o Partido A elege 18 deputados.
Aos 18 deputados (eleitos em círculos uninominais) juntam-se 5 deputados do
Partido, pois A tem direito a ter 23 deputados no parlamento.
(os 5 deputados que se juntam são escolhidos a partir de uma lista efetuada pela
direção do partido A):
- Sistema proporcional com voto de preferência (o sistema brasileiro)
O cidadão brasileiro pode votar num partido político (legenda) ou numa pessoa
individualmente considerada —> geralmente, os brasileiros votam numa pessoa,
num indivíduo que é candidato, e não na legenda.
Quando votam numa pessoa, por detrás da mesma está um partido político.
Os votos da pessoa são transferidos para o partido a que esta está vinculada,
partido que muitas vezes os cidadãos desconhecem (sabem que votam numa
pessoa, mas não sabem em quem).
Para obterem mais votos, os partidos políticos tendem a escolher pessoas
famosas/populares, prescindindo muitas vezes daquelas que, efetivamente, têm
mais qualificações -> eleição pode ser equipada a um “concurso de popularidade

Dentro dos sistemas eleitorais mistos, temos os sistemas proporcionais com voto
preferencial, de que é exemplo o sistema eleitoral brasileiro.
O eleitor brasileiro pode votar no partido político (“legenda”) ou num indivíduo que é
apresentado como candidato. Geralmente, os cidadãos brasileiros votam no indivíduo e
não no partido.
Cada candidato é apresentado por um partido político, mas faz campanha autónoma, o
que frequentemente leva o cidadão a ter a errada sensação de a eleição se destinar a
escolher entre diferentes candidatos individuais, quando, na verdade, se destina a
escolher entre diferentes partidos políticos (os candidatos estão vinculados ao partido
que os apresenta, sendo os seus votos transferidos para os partidos).
Como forma de angariarem mais votos, os partidos tendem a apresentar candidatos
famosos, prescindindo, muitas vezes, de pessoas verdadeiramente competentes.

- Sistema proporcional de compensação/de bónus


Quando não há maioria absoluta em sistema proporcional, atribui-se um bónus
(mais deputados) ao partido que fica mais próxima da maioria absoluta.
A atribuição de um bónus, de mais deputados, a um partido implica que sejam
“roubados” deputados a outros partidos -> garante-se a governabilidade, mas a
custo de se perder a proporcionalidade (pois os resultados são distorcidos)

Há outros métodos de compensação:


Açores têm uma variação particular dentro do sistema eleitoral proporcional:
-> Cada ilha constitui um circulo eleitoral, e nas ilhas mais pequenas são eleitos
menos deputados (ex: a Ilha do Corvo só elege dois deputados e, obviamente, são
os partidos maiores que elegem esses dois deputados).
Os partidos mais pequenos têm votos, mas em muitos círculos não conseguem
eleger deputados —> juntam-se os votos dos partidos mais pequenos (votos
“desperdiçados”) num círculo de compensação e, em função do número de votos
no círculo, algum destes partidos pode conseguir eleger deputados.

Sistema eleitoral americano

Antes: o Presidente não é escolhido por todos os cidadãos dos EUA, mas por um
colégio eleitoral que, por sua vez, é escolhido pelos Congressos dos vários
Estados.
Atualmente: são os cidadãos americanos (e não os Congressos dos vários
Estados) que escolhem as pessoas para o colégio eleitoral; as pessoas do colégio
eleitoral ou são afetas ao partido democrata, ou ao partido republicano, os dois
grandes partidos políticos (estes dois partidos são aqueles que, efetivamente, têm
possibilidade de ter candidatos, pois há uma bipolarização dos votos nestes dois
partidos).

Eleições primárias presidenciais -> eleições onde se escolhe quem vai ser o
candidato de cada um dos grandes partidos (em vez disso ser decidido por um
processo burocrático, isto é, pela direção do partido, são os cidadãos americanos
que decidem a “cara” dos partidos).

Depois das primárias presidenciais, num Congresso Partidário, são oficialmente


anunciados os candidatos de cada um dos partidos.
Nas eleições presidenciais, os cidadãos votam num dos candidatos (no candidato
democrata ou republicano), e o voto determina não quem é o Presidente, mas a
composição do colégio eleitoral (os membros do colégio eleitoral são chamados
“grandes eleitores”).
FORMAS DE ESTADO

2 formas de Estado: Estado unitário


Estado federal
Temos também o Estado unitário regional.

A distinção entre as formas de estado prende-se com a estruturação vertical do


poder do Estado. A diferenciação pode ser feita a partir das seguintes questões:
- Existe uma única Constituição ou mais do que uma?
- Existe só um governo ou, dentro do mesmo Estado, temos vários governos?
- Existe uma única ordem jurídica ou várias ordens jurídicas?

Estado unitário: 1 governo, 1 Constituição, 1 ordenamento jurídico

Contudo:
Os próprios Estados unitários também têm formas de descentralização do poder:
-> nem todas as decisões são tomadas pelo Estado e pelos seus orgãos; o Estado
delega algumas das suas competências, de natureza administrativa, noutras
instituições e pessoas coletivas, que se encarregam também da realização de fins
públicos - falamos de descentralização administrativa, que engloba duas
modalidades:
(1) descentralização institucional - quando funções administrativas
originariamente estatais são delegadas a instituições que não fazem parte do
Estado (ex: o Estado “entrega” a regulação do exercício da profissão de
advogado à Ordem dos Advogados - uma função que originariamente era do
Estado passa para uma entidade exterior ao Estado).
(2) descentralização territorial - quando o Estado atribui funções administrativas a
instituições representativas dos cidadãos de base territorial e social - autarquias
(ex: várias funções que o Estado teria na região de Lisboa são desempenhadas
pela câmara municipal e pelas várias juntas de freguesia, que visam satisfazer os
interesses das populações respetivas)
Alguns Estados unitários descentralizam não só funções administrativas, como
também funções políticas -> falamos de Estados com uma descentralização
político-administrativa ——— Estado com Regiões Autónomas

Para além da descentralização (institucional ou territorial)…

Há também uma desconcentração de funções -> as funções permanecem no


aparelho de Estado, mas os orgãos de topo delegam as suas funções em outros
orgãos que fazem parte do Estado (“o exercício das competências não está
concentrado apenas nos orgãos de topo; os orgãos hierarquicamente superiores
podem delegar noutros orgãos o exercício de competências que lhes estavam
originariamente atribuídas”)
- a título de exemplo, verifica-se também desconcentração quando um chefe de
uma repartição de finanças delega as suas funções num diretor de um
departamento; aqui, as funções permanecem na “pessoa coletiva”, mas mudam
para outra pessoa, hierarquicamente inferior.

Como nasce o Estado federal? Vários Estados unitários agregam-se para constituir
uma nova entidade estatal (no entanto, o Estado federal pode também ter origem
na desagregação jurídica de um Estado anteriormente unitário -> caso do Brasil)

Quando constituem um novo Estado, os Estados fazem-no através da aprovação


de uma Constituição - a Constituição Federal

Num estado federal temos o Estado Federal e os Estados Federados.

O exemplo dos Estados Unidos da América:


- Vários Estados que se formaram após a descolonização (ex-colónias britânicas)
consideraram que era vantajoso associarem-se entre si e constituirem um novo
Estado, pois cada um individualmente não conseguia ter relevância no plano
internacional.
- A formação de um novo Estado (a partir da junção de vários Estados mais
pequenos) implicou a aprovação de uma Constituição, a Constituição Federal
-> a Constituição dos EUA
- Com a formação do novo Estado, houve como que uma “duplicação”: os vários
Estados não desapareceram, mas passou a existir um Estado maior que
incorpora todos e que tem algumas funções exclusivas (os Estados aceitaram
perder parte da sua soberania a favor do Estado Federal, a nova entidade
estadual).

Em 1º lugar -> Constituição/ordem jurídica/governo do novo Estado


Constituição dos EUA está neste plano, assim como o poder político Federal, a
que o cidadão de qualquer dos Estados federados está sujeito

Em 2º plano -> Constituições, os governos e as ordens jurídicas das outras


entidades estatais (ex: Constituição da Flórida está neste plano, e subordina-se à
Constituição Federal, pelo que a autonomia constitucional dos Estados Federados
nunca é plena, “só existe com respeito das condições negativas e positivas
estabelecidas pela Constituição federal; para além de participar na vida política
dos EUA, o cidadão que vive na Flórida também participa na vida política deste
Estado)

“O cidadão do Estado Federal fica sempre sujeito a dois ordenamentos jurídicos,


integrados, mas sobrepostos: o ordenamento jurídico e o poder político federais e
o ordenamento e poder do Estado federado em que o cidadão se encontre”.

- A Constituição Federal procede à repartição de competências entre os orgãos


federais e os orgãos federados.
- O Estado federal tem o direito e o dever de fiscalizar os Estados federados, a
fim de garantir que estes cumprem a Constituição e as leis federais.
- Estados federados participam de forma institucionalizada na vontade política do
Estado federal —> EUA: o Senado é composto por representantes dos vários
Estados federados
ESTADO UNITÁRIO REGIONAL vs ESTADO FEDERAL

Esta distinção é fácil nos casos em que apenas parte do território forma regiões
autónomas (conseguimos facilmente distinguir Portugal, onde apenas parte do
território está dividido em regiões autónomas - Açores e Madeira - dos EUA, onde
todo o território está dividido e se organiza em Estados federados).
Esta distinção não é tão fácil nos casos em que todo o território (do Estado
unitário regional) está dividido em Regiões Autónomas (Espanha está dividida em
regiões autónomas, podendo ser difícil saber o que distingue Espanha da
Alemanha, um Estado Federal).

“A autonomia das Regiões Autónomas, mesmo que no plano prático até possa ser
maior e mais substancial que a dos Estados Federados (Estado unitário reconhece
às regiões Autónomas autonomia político-administrativa), no plano jurídico é
ainda assim, distinta da natureza que os Estados federados dispõem numa
Federação”

Diferenças:
——> ESTADO FEDERAL: Estados Federados têm Constituições próprias (ainda que
obrigatoriamente subordinadas à Constituição Federal)
——> ESTADO UNITÁRIO REGIONAL: Regiões Autónomas não têm poder
constituinte - têm “Estatutos de Autonomia”, que são estabelecidos ou aprovados
pelo poder central e que só entram em vigor através de lei aprovada por orgão de
soberania

—->ESTADO FEDERAL: os Estados federados têm os seus próprios representantes


no parlamento federal (Senado);
——> ESTADO UNITÁRIO REGIONAL_ as Regiões Autónomas não estão
representadas no parlamento nacional;
—-> ESTADO FEDERAL: Estado federado intervêm na reforma/revisão
constitucional (pode intervir no processo de modificar a Constituição do Estado
federal)
——> ESTADO UNITÁRIO REGIONAL: Regiões Autónomas não participam na
revisão constitucional

A história do Constitucionalismo Português

Análise das Constituições Portuguesas de acordo com o tipo histórico de Estado:

ATÉ 1820: Estado Absoluto


(1820: Revolução liberal)
Constituição de 1822
de 1826 Constituições de Estado de Direito Liberal
de 1838
de 1911
Constituição de 1933 - Constituição de Estado Autocrático e conservador
(Estado Novo)
Constituição de 1976 - Constituição de Estado social e democrático de Direito

Constitucionalismo português em 2 fases:

->1ª FASE (1822 a 1842): período de grande instabilidade constitucional


- A grande instabilidade constitucional (vigência precária das Constituições)
reflete o período de luta entre liberais e absolutistas, vintistas (adeptos da
Constituição de 1822) e cartistas (adeptos da Carta Constitucional);
- Neste período, vemos os vários regimes políticos da monarquia constitucional;
-> 2ª FASE (1842 até hoje): período de estabilidade constitucional
- Este período inicia-se com a 3ª vigência da Carta Constitucional e nele vemos
duas formas de governo (monarquia e república) e vários tipos históricos de
Estado;
CONSTITUIÇÃO DE 1822
Representa a vitória do movimento constitucional sobre o regime absoluto, sendo
uma Constituição de Estado de Direito Liberal - divisão de poderes, proclamação
das liberdades e garantias individuais
- A Constituição de 1822, bastante radical para a época, instaura uma monarquia
parlamentar:
-> legitimidade exclusivamente democrática: a soberania reside no Povo que,
através da eleição de deputados para uma Assembleia, está incumbido de
elaborar uma Constituição
-> Rei é uma figura sem intervenção política e constituinte - “a forma de governo
monárquica não reflete qualquer posição relevante do rei em termos de exercício
efetivo do poder político”
-> Parlamento unicameral (inovador para a época) e eleito por sufrágio direto e
censitário
- A Constituição de 22 é a única Constituição Portuguesa que não consagra um
Estado unitário -> "Reino Unido de Portugal e Brasil”

CARTA CONSTITUCIONAL DE 1826


- A Carta Constitucional acaba com o regime de monarquia parlamentar,
consagrado pela Constituição de 1822, e institui uma monarquia limitada:
-> legitimidade exclusivamente monárquica: já não é uma Assembleia que detém
o poder constituinte - é o rei (neste caso, D. Pedro IV) que, por sua própria
vontade, decide autolimitar-se através da outorga de uma Carta Constitucional
-> não há uma verdadeira limitação de podes do rei - através do poder
moderador (que se junta ao executivo), o monarca tem competências que lhe
permitem controlar e intervir de forma decisiva em toda a vida política
-> Parlamento bicameral (2 câmaras: Câmara dos Pares, cuja composição é
determinada pelo rei, e Câmara dos Representantes, eleito por sufrágio indireto e
censitário).

CONSTITUIÇÃO DE 1838 - um “meio termo” entre a Constituição de 1822 e a


Carta de 1826
- A Constituição de 1838 institui uma monarquia orleanista:
-> compromisso entre legitimidade monárquica e legitimidade democrática
no momento de elaborar e aprovar uma Constituição (os representantes do Povo
elaboram e aprovam a Constituição, que necessita mesmo de ter o consentimento
monárquico)
como no exercício do poder político (o rei perde o poder moderador, deixando
de controlar e intervir em todo o exercício do poder político; Parlamento é
bicameral, mas a composição das duas câmaras é determinada por eleição, e o
sufrágio é direto e censitário)

Constituição de 1911
-> Mudança de forma de governo: da monarquia passa-se para a república
-> Não vigora ainda um regime de democracia representativa, mas o regime de
governo representativo liberal (essencialmente o grupo dos eleitores é muito
restrito)
-> Presidente da República tem um papel muito pouco relevante, contrariamente
ao Congresso bicameral que, eleito por sufrágio direto, “é o verdadeiro centro de
toda a vida política”——> Presidente, detentor do executivo, está completamente
dependente do Parlamento, do Congresso (logo pelo facto de ser nomeado e de
poder ser destituído por este)

Constituição de 1933
-> Constituição de Estado autocrático conservador, com forte inspiração do
fascismo italiano
-> A elaboração e aprovação da Constituição revelam logo o seu caracter
não-democrático: a Constituição é elaborada não por uma Assembleia, mas por
um grupo restrito encabeçado por Salazar, e é sujeita a plebiscito nacional (a
ditadura faz com que o plebiscito não tenha carácter de decisão popular)
-> Grande importância dada às corporações, que permitem que os indivíduos
participem na vida da Nação, faz surgir a Câmara corporativa (câmara onde estão
representados os vários organismos corporativos);
-> Poder político: grande importância dada ao chefe de Estado (Salazar), detentor
de um grande leque de poderes; desvalorização da “Assembleia Nacional”,
assembleia representativa dos cidadãos;

Sistemas de governo

O conceito de sistema de governo não se refere ao relacionamento institucional


entre governantes e governados, como acontece com o regime político. Ao invés,
refere-se às diferentes formas de relacionamento jurídico-institucional entre os
orgãos que, num dado país, exercem o poder político estatal.
Considerando os poderes destes orgãos, a forma como são designados os seus
titulares, as modalidades de relacionamento e de interdependência entre eles e a
responsabilidade política, temos, dentro dos sistema de governo:
o sistema presidencial
o sistema parlamentar
o sistema semipresidencial
Apesar da classificação dos sistemas de governo acima apresentada (sistema
presidencial/parlamentar/semipresidencial) não ser uma opinião unânime, é uma
opinião que reúne acordo significativo

Até 1970 ——> Direito Constitucional só reconhecia dois sistemas de governo: o


sistema parlamentar (nas democracias europeias) e o sistema presidencial
(adotado pelos EUA) — sistemas de governo eram uma forma política muito
simples

Numa ditadura não faz sentido falar em sistemas de governo, pois não há
separação de poderes - poder está concentrado num indivíduo ou num conjunto
muito restrito de indivíduos.
É inútil estudar o relacionamento institucional entre orgãos de poder político
quando todo o poder se encontra concentrado numa pessoa, num partido, numa
casta religiosa ou militar…
Numa democracia representativa já faz sentido falar em sistemas de governo,
visto que existe separação de poderes e existem relações institucionais entre os
diversos orgãos de poder político.

“O sistema de governo é, fundamentalmente, um problema jurídico, a perceber a


partir da leitura e conhecimento das normas constitucionais, ou é uma questão de
ordem prática, a analisar a partir da perceção da realidade política?”
Um constitucionalismo diz que o Presidente Francês não pode demitir o Governo
porque a Constituição Francesa não lhe dá esse poder // a partir da observação
de práticas políticas ao longo de décadas, uma politólogo diz que o Presidente
Francês pode demitir livremente o Primeiro-Ministro

Numa democracia representativa de Estado Constitucional, a Constituição


estabelece quais os orgãos de poder político, como são designados os seus
titulares, quais as suas competências e quais as relações que se podem
estabelecer entre si
—> Assim, a classificação de um sistema de governo tem de ser feita com base na
Constituição (ainda que, na prática, o sistema funcione de forma diferente
daquela que foi imaginada pela Constituição)

Seguindo a proposta de Duverger, existem dois fatores que nos permitem


distinguir os vários sistemas de governo no plano constitucional.
Estes dois fatores são os seguintes: -> a posição que o Chefe de Estado ocupa no
plano do exercício de poderes políticos -> a responsabilidade política do Governo
perante o Parlamento

Sistema parlamentar
- O chefe de Estado é uma figura politicamente apagada, sem poderes políticos
significativos, com funções meramente simbólicas e de representação nacional.
- O Governo, detentor do poder executivo, é politicamente responsável perante o
Parlamento (a formação e a substituição do Governo dependem da confiança
política do Parlamento; a subsistência do Governo depende da vontade do
Parlamento)
- Relação de equilíbrio entre o Governo e o Parlamento - o Parlamento pode
destituir o Governo e, simultaneamente, o Governo pode forçar a dissolução do
Parlamento -> equilíbrio por integração
Assim, a classificação de um sistema de governo como sistema parlamentar tem
por base os critérios acima apresentados e não o maior ou menor peso do
Parlamento

O Governo dispõe, durante o seu mandato, de um apoio parlamentar sólido e


maioritário?

PARLAMENTARISMO MAIORITÁRIO (SISTEMA PARLAMENTAR DE GABINETE)


- Quando o Governo tem apoio de uma maioria absoluta no Parlamento (mais de
50% dos deputados apoiam o Governo)
Como consequência de ter o apoio de uma maioria absoluta, O GOVERNO É
FORTE E ESTÁVEL (não vai ser destituído; as suas propostas de leis são aprovadas;
o primeiro-ministro tem total margem de ação). Neste contexto, o Governo e o
seu Primeiro-Ministro são o orgão e a figura central da vida política (“o centro de
poder fáctico como que se desloca do Parlamento para o governo”).
Geralmente, no Reino Unido, país que constitui o modelo de sistema parlamentar,
o governo (o “gabinete”) tem o apoio de uma maioria absoluta no Parlamento,
sendo bastante forte e estável. Assim, podemos dizer que no Reino Unido tem
funcionado um sistema parlamentar de gabinete.

PARLAMENTARISMO MINORITÁRIO (SISTEMA PARLAMENTAR DE ASSEMBLEIA)


- Quando o Governo não tem o apoio de uma maioria absoluta no Parlamento
Existem duas hipóteses:
-> formação de um governo minoritário (Parlamentarismo minoritário)
Por não ter o apoio de uma maioria absoluta no Parlamento, um governo
minoritário não é um governo forte e eficaz : - as medidas que propõe e as leis
que quer fazer aprovar correm sempre o risco de serem inviabilizadas, de serem
alteradas ou de verem a sua aprovação recusada pelo Parlamento - o Parlamento
pode aprovar medidas com as quais o Governo não concorde, ou pode impor-lhe
limites/objetivos contrários ao seu programa - o Parlamento pode ameaçar
demitir o Governo, caso este não cumpra as suas orientações
SE GOVERNO É MINORITÁRIO - O PARLAMENTO DOMINA, É O ORGÃO CENTRAL DA
VIDA POLÍTICA
-> formação de um governo apoiado por uma coligação parlamentar constituída
entre vários partidos (com a criação da coligação, constrói-se artificialmente uma
maioria; a predominância do Governo depende da solidez da aliança)
Geralmente, em Itália o governo não tem o apoio de uma maioria absoluta, sendo
bastante frágil. Em Itália tem funcionado um sistema parlamentar de
assembleia

Sistema parlamentar clássico


DIFERENTE DE
Sistema parlamentar racionalizado: o país introduz na sua Constituição
mecanismos de racionalização do sistema parlamentar

Racionalização do sistema parlamentar (se o sistema parlamentar for “deixado”


sem regras, tal pode gerar uma grande instabilidade; são criados mecanismos,
que se introduzem na Constituição, para garantir alguma estabilidade governativa
em sistema parlamentar)

Entre os mecanismos que existem, podemos destacar:


- Moção de censura construtiva
Quando o partido apresenta uma moção de censura ao Governo, apresenta nessa
moção a proposta de um novo primeiro-ministro.
Assim, quando os restante partidos votam na moção de censura (a favor ou
contra), estão não apenas a votar na censura ao Governo, mas também num nome
para primeiro-ministro —> os vários partidos podem facilmente votar contra o
Governo em funções, mas muito dificilmente chegam a acordo sobre um
Primeiro-ministro (ex: PCP apresenta uma moção de censura contra o PS, o atual
governo -> facilmente o CDS, o PSD, o BE e outros partidos censuram o governo,
isto é, aprovam a moção; com a aprovação da moção por maria, o governo do PS
cai; se na moção de censura, o PCP também apresentasse uma proposta de
primeiro-ministro, a situação seria diferente -> dificilmente o CDS, o PSD, o BE e
outros partidos concordariam com o nome apresentado para primeiro-ministro
(haveria uma tensão clara entre os partidos de direita e de esquerda quanto ao
nome apresentado), pelo que dificilmente a moção seria aprovada e,
consequentemente, dificilmente o governo seria derrubado)
- Fixação de barreiras eleitorais: exigência de obtenção de uma percentagem
eleitoral mínima a nível nacional para se poder obter representação parlamentar
Quando funciona livremente, sem regras ou mecanismos, o sistema parlamentar pode
gerar uma grande instabilidade governativa. Contudo, esta situação pode ser combatida
através da racionalização do sistema parlamentar, que consiste na adoção de
mecanismos jurídico-constitucionais tendencialmente geradores de maior estabilidade
governativa.
Entre estes mecanismos, adotados em sistemas parlamentares como Espanha ou Itália,
podemos destacar os seguintes: a moção de censura positiva, a atribuição de prémios de
maioria à lista mais votada, a diminuição da magnitude dos círculos eleitorais e a fixação
de barreiras eleitorais.
Com a adoção da moção de censura positiva, o partido que apresenta uma moção de
censura ao Governo tem de propor um novo primeiro-ministro,
Para o Governo em funções cair, o Parlamento tem de aprovar a moção de censura ao
governo e, simultaneamente, o novo primeiro-ministro proposto. Esta exigência torna
mais difícil o processo de derrubar o Governo: facilmente, os vários partidos votam
contra o governo alvo da moção, sendo já bastante difícil que estes cheguem a acordo
quanto ao novo primeiro-ministro proposto. Este mecanismo faz com que a simples
aprovação de uma moção de censura negativa não seja suficiente para destituir um
Governo, ainda que este seja minoritário.

-> Sistema presidencial ———- modelo clássico: EUA


- O chefe de Estado - o Presidente - exerce poder político significativo: é chefe
de Estado e chefia o Executivo (não é um orgão colegial autónomo; é
unicamente constituído pelo Presidente e os seus colaboradores, auxiliados
pelos chefes de vários departamentos da Administração)
- O Presidente (executivo) não responde politicamente perante o Congresso,
designação do Parlamento -> o Executivo tem garantidos os quatro anos do
mandato, pois o Congresso não o pode destituir!
(O Executivo e o Congresso devem o mandato a eleições independentes -
contrariamente ao que acontece no sistema parlamentar, a composição do
Executivo não depende da composição do Parlamento; as eleições presidenciais
determinam o Executivo e as eleições parlamentares determinam a composição
do Congresso)

- Há também uma relação de equilíbrio: o Congresso não pode destituir o


Presidente e este, por sua vez, não pode dissolver o Congresso —> equilíbrio
por separação (e não por integração, como vemos no sistema parlamentar)

Apesar da nítida separação entre o executivo (o Presidente) e o legislativo (o


Congresso) - orgãos que não se podem demitir um ao outro - existem
possibilidades de interferência recíproca:

- O Presidente pode interferir na atividade do Congresso,


-> através de: iniciativas legislativas; ordens executivas; possibilidade de vetar
leis (dificilmente o Congresso ultrapassa um veto presidencial; a aprovação de leis
depende muito da vontade do Presidente)

- O Congresso pode interferir na atividade do Presidente


Para desenvolver uma certa política - seja ela militar, de saúde, de educação - o
Presidente necessita que essa política seja sustentada no Orçamento. O
Congresso tem a função de aprovar o Orçamento.
Assim, através da aprovação do Orçamento, o Congresso pode influenciar
bastante as políticas desenvolvidas pelo Presidente.

A possibilidade de interferência recíproca entre o Congresso e o Executivo pode


levar a oposições sistemáticas e a bloqueios que inviabilizem a normal atividade
de ambos
A possibilidade de bloqueios colocaria em causa a estabilidade do sistema - no
entanto, normalmente não existem bloqueios duradouros nos Estados Unidos
PORQUÊ?
- Partidos norte-americanos têm uma natureza diferente da dos partidos
europeus: não há uma diferença muito significativa entre a ideologia de um dos
partidos e a ideologia do outro; não há uma disciplina partidária fora dos
períodos eleitorais (fora dos períodos eleitorais, os partidos como que
“adormecem” - os orgãos de poder política funcionam, mas sem haver uma
orientação partidária a marcar o seu funcionamento).
Muito dificilmente num país europeu, onde os partidos políticos têm uma
disciplina rígida e ideologias muito fortes, o sistema presidencial funcionaria -> a
probabilidade de ocorrência de bloqueios seria enorme

Os EUA são um país que exerce uma grande influência no continente americano.
Ao verem o sistema dos EUA, a tendência dos outros países americanos foi a de
adotar o sistema presidencial
- Temos presidencialismo em inúmeros países da América Latina (exemplo: Brasil)
NO ENTANTO -> a forma como o sistema presencial funciona nestes países é
muito diferente da forma como funciona nos EUA; Nestes países o sistema
presidencial funciona de forma extremamente imperfeita, visto que
frequentemente gera situações de um reforço absoluto do poder do Presidente ou
situações de bloqueio

Como é que estas situações se resolvem? Golpes militares, revoluções…

Sistema presidencial clássico-> EUA


Sistema presidencial adaptado -> outros países americanos
Últimos anos do século XX (a partir da década) e do século XXI têm sido anos de
alguma estabilidade democrática nestes países-> a tendência para golpes
militares e ditaduras reduziu bastante
Há um mecanismo que os países da América do Sul têm utilizado para superar
eventuais bloqueios, eventuais desacordos entre o Presidente e o Congresso - o
mecanismo é o Impeachment

IMPEACHMENT
O instituto do Impeachment nasceu em Inglaterra no último quartel do século XIV
e, ainda que com interregnos prolongados, subsistiu até finais do século XVIII,
altura em que chegou às Constituições das ex-colónias britânicas e,
posteriormente, à Constituição dos Estados Unidos da América

Em Inglaterra, o Impeachment não tinha como alvo preferencial o Rei, na medida


em que este gozava de um estatuto de irresponsabilidade política (“The King can
do no wrong”).
Ao invés, o impeachment tinha como alvo preferencial funcionários considerados
corruptos, designadamente os conselheiros do rei e os juízes. Assim, este
consistia na possibilidade de o Parlamento acusar e julgar estes funcionários pela
prática de infrações graves, sendo que a sua efetiva condenação implicava não
apenas uma pena, mas também a cessação da vigência das suas funções.
A acusação era elaborada e aprovada pela Câmara dos Comuns e o julgamento
era feito pela Câmara dos Lordes

Em Inglaterra este instituto foi progressivamente caindo em desuso, acabando por


ser substituído pelo mecanismo da responsabilidade política: responsabilidade
política do executivo e dos seus membros perante o Parlamento

Como já referido, o instituto do Impeachment caiu em desuso na Inglaterra, tendo


sido adotado pelos EUA no momento da independência. PORQUÊ?
O sistema presidencial dá um grande poder ao Presidente dos EUA -> enquanto
chefe de Estado e chefe do governo, o Presidente tem uma enorme possibilidade
de ação
—> Os norte-americanos receavam o uso arbitrário do poder por parte do
Presidente, com todas as consequências daí decorrentes!!!
O raciocínio dos norte-americanos:
E se o Presidente abusa do seu poder, cometendo atos de grande gravidade?
O Presidente não pode ser demitido no exercício do seu mandato (o Congresso
não tem competência de o demitir), pelo que se este praticar atos muito graves,
continua no cargo até às próximas eleições?

Com base neste raciocínio, os EUA “importam” o instituto do Impeachment, que


deve ser utilizado quando os atos praticados pelo Presidente revelem uma falha
de adequação e de integridade que torne evidente a inaptidão para o exercício do
cargo e para o exercício de funções públicas

-> a formalização da ação cabe à Câmara dos Representantes (ponto comum com
impeachment na Inglaterra) e o Senado funciona como tribunal, devendo a
condenação do acusado ser aprovada por 2/3 dos senadores; com a aprovação
por 2/3 dos senadores, o Presidente é removido do cargo e não pode voltar a
candidatar-se a cargos políticos

A aprovação por parte de 2/3 dos senadores é bastante difícil, pois tem de haver
um compromisso interpartidário, isto é, a convergência entre senadores de ambos
os partidos: o partido democrata e o partido republicano

NOTAS IMPORTANTES:
- a possibilidade de Impeachment não é dirigida apenas contra o Presidente, mas
também contra funcionários públicos, como os juízes. No entanto, no domínio
do sistema de governo, a possibilidade de impeachment contra o Presidente é
mais relevante (uma vez que a possibilidade, ainda que excecional, do
Congresso destituir o Presidente contraria a lógica de separação e de
interdependência entre os dois orgãos, visível no sistema presidencial).
- a mecanismo de impeachment é um mecanismo político e não de carácter
judicial (apesar de não ser uma moção de censura, a decisão de impeachment
cabe ao poder político e não ao poder judicial - tanto a acusação como o
julgamento são da competência de orgãos políticos, que vão decidir no
exercício de funções políticas; processo assenta numa avaliação essencialmente
política: não tem como objetivo apurar se o Presidente praticou determinados
atos, mas apurar se, confirmando-se que praticou tais atos, tal facto deve ser
impeditivo da sua continuidade em funções
- o Impeachment não implica que o Presidente tenha tido um ato inconstitucional,
que viola o disposto na Constituição —> falamos apenas de uma conduta que
pela sua gravidade não permite que este continue a exercer funções

Até aos dias de hoje, nos EUA, só por uma vez o impeachment foi usado com
sucesso para demitir um presidente: falamos de Richard Nixon

Em países americanos (que não os EUA) verificamos que, nos últimos anos, o
Impeachment está a ser utilizado cada vez com mais frequência, quase como
mecanismo de responsabilidade política

CONTRASTE COM OS EUA: Desde a vigência da Constituição do Brasil (a


Constituição é do ano de 1998; é muito mais recente que a dos EUA), o
Impeachment já levou à destituição de dois presidentes - Fernando Collor e Dilma
Rousseff

A ideia que devia estar por de trás de um impeachment devia ser a seguinte:
“Um presidente deve ser destituído naquelas circunstâncias tão graves, tão
desprestigiastes, que não se deve sequer esperar pelas próximas eleições; deve-
se retirar de imediato o presidente do cargo”

Como é que se justifica que na América Latina, mais concretamente no Brasil, o


impeachment seja tão utilizado?
O impeachment está a ser utilizado como um mecanismo de responsabilização
política - no Congresso, forma-se uma maioria de 2/3 contra o Presidente, sendo
o Presidente demitido não por ter cometido atos verdadeiramente censuráveis,
mas por razões de discordância política (apesar de a corrupção ser frequente na
vida política)

Nos EUA, onde o sistema eleitoral é o maioritário, só 2 partidos têm


representação no Congresso, sendo muito difícil os dois partidos concordarem
quanto à demissão de um Presidente (que é de um dos partidos). No BRASIL, por
força do sistema eleitoral proporcional, encontramos no Congresso dezenas de
partidos políticos, o que significa que a possibilidade de se chegar a acordo
quanto à destituição de um Presidente é bastante maior

Há países em que, para além do impeachment, há outro mecanismo:


Declaração de incapacidade do Presidente - o Parlamento declara que o
Presidente está incapaz de desempenhar o mandato (a incapacidade pode não ser
apenas física, pode também ser moral)

O principal “inconveniente ” do Impeachment é o facto de este poder ser utilizado


como uma moção de censura sem o ser -> situação que, como já foi referido, se
verifica nos sistemas presidenciais existentes na América do Sul.

Outros inconvenientes:
- Enfraquecimento da figura do presidente: com o Impeachment, há um risco de
o Presidente “cair” durante o mandato, sendo que o sistema presidencial se
formou para evitar esta situação (assim, podemos falar numa "destruição da
lógica do sistema presidencial”)
- Desequilibra o sistema a favor da instituição parlamentar: o Presidente não pode
desenvolver, no cargo que foi eleito, exercer a sua política de uma forma
totalmente livre.

Para alguns autores, o Impeachment tem “benefícios” que superam os


inconvenientes:

➔ Impeachment pode impedir (ou desincentivar) a cessação de mandatos


presidenciais através de golpes militares.
Sistema semipresidencial

Começa-se a falar de "sistema semipresidencial” na chamada V República


Francesa.
Depois da 2ª Guerra Mundial, França adotou uma nova Constituição - a
Constituição de 1958, que, nas sua linhas, estabelece que o sistema francês seria
um sistema parlamentar.

A Constituição Francesa de 1958 integra-se na tendência/esforço de


racionalização do sistema parlamentar, uma vez que introduziu alguns
mecanismos de racionalização:
- atribuição de poderes regulamentares independentes ao Governo, liderado por
um primeiro-ministro
- adota-se um sistema de eleição do Presidente por um colégio de notáveis,
bastante mais amplo que um círculo partidário parlamentar, onde participavam
também autarcas/dirigentes dos departamentos república francesa;
-atribuição da presidência do Conselho de Ministros ao Presidente da República

O Presidente da República que ocupava o cargo depois da 2ª guerra mundial era


uma figura popular e prestigiada França, tendo um apoio e prestígio popular
enorme. Este Presidente gostava da intervenção política e da tomada de decisões,
tendo uma uma certa apetência por uma carreira política (apesar de ser militar).

Em 1962, há uma alteração significativa relativamente ao Presidente:


Até aqui, este era eleito por um colégio -> com a reforma eleitoral de 1962,
passa a ser eleito diretamente pelo povo
—> HÁ UM DADO NOVO NO SISTEMA PARLAMENTAR:
Presidente eleito pelo povo - isto dá-lhe tanta legitimidade democrática e tanta
força política como o parlamento (ambos são eleitos pelo povo)

Nos sistemas parlamentares, os presidentes têm uma função representativa ou


simbólica e não uma função política, uma intervenção política ativa.
Porém, em França, o Presidente, para além de eleito pelo povo, gostava de
intervir, fazendo-o regularmente
———> Estava-se a criar um novo tipo de sistema de governo.
Raíz parlamentar: o governo saía do parlamento (havia eleições para o
parlamento e formava-se o governo em função dos resultados eleitorais); o
governo respondia perante o parlamento, podendo ser demitido por este.

PORÉM, há raíz parlamentar há algo novo a acrescentar: passando a ter uma


legitimidade democrática, o Presidente da República passar a poder desempenhar
efetivamente os poderes que a constituição lhe atribui (deixa de ser meramente
simbólico e intervém ativamente)

NASCE ASSIM O SEMIPRESIDENCIALISMO

Em Portugal:

Em 1976, com a aprovação da Constituição, Portugal adota este sistema -> o


Presidente eleito - o General Ramalho Eanes - não é meramente simbólico,
participa ativamente na vida política.

Duas características principais deste sistema semipresidencial:


- Presidentes eleitos diretamente pelo povo;
- Governos responsáveis perante os Parlamentos.

Numa democracia - para exercer poder político, é necessário ter legitimidade


democrática.
A legitimidade democrática é um aspeto fundamental!!!

No semipresidencialismo -> o Presidente é eleito diretamente pelo povo (tem,


portanto, legitimidade democrática e é essa legitimidade que lhe permite exercer
os seus poderes na Constituição - pode optar por não exercer os seus poderes e
tudo funcionará normalmente; pode também optar por ter uma intervenção muito
ativa -> é por isso que há grandes variações entre sistemas semipresidenciais!

No sistema parlamentar: o PR não é eleito pelo povo (não tem legitimidade


democrática e, portanto, não é uma figura significativa, tem mais um carácter
simbólico
Sistema semipresidencial
Poderes do Presidente: conjunto de poderes que permitem ao Presidente ter uma
intervenção ativa (podem variar de Constituição para Constituição)
- Declaração do estado de sítio ou de emergência
- Marcar a data das eleições
- Exerce poder de veto sobre leis

Muitas vezes, em sistema semipresidencial, o Presidente tem o poder de


dissolver o Parlamento
-> em comparação com os outros poderes, de natureza pontual, este poder é
aquele que é verdadeiramente importante - quando o Presidente dissolve a
Assembleia da República (tomando as “rédeas” do poder político), dão-se novas
eleições e, nessas eleições, cabe ao eleitorado decidir (e pode haver uma mudança
radical na composição da Assembleia).
NOTA: o Preside não pode dissolver o Parlamento de forma indiscriminada,
porque arrisca a sua própria credibilidade!!!

DEMITIR É DIFERENTE DE DISSOLVER A ASSEMBLEIA


O poder de demissão do Parlamento é um poder menos significativo.
Quando o Presidente demite o governo, não são convocadas

Em Portugal, os poderes do Presidente diminuem pelo facto de haver uma maioria


absoluta na Assembleia da República, mas isto não é sempre assim -> em França,
uma maioria absoluta no Parlamento não diminui os poderes do Presidente,
porque este é que dirige o Parlamento!

Há uma estrutura jurídico-constitucional que é bastante semelhante (ex: no


domínio da estrutura jurído-constitucional, a Constituição Portuguesa é
extremamente parecida com a Constituição Francesa).
Apesar desta estrutura jurídico-constitucional parecida, existem variações,
existem várias matrizes de semipresidencialismo - matriz francesa, matriz
portuguesa, matriz austríaca, matriz dos países de leste

MATRIZ FRANCESA VS MATRIZ PORTUGUESA


Matriz francesa: o Executivo é bicéfalo (o poder executivo é exercido, em primeira
linha, pelo Presidente da República e, em segunda linha, pelo primeiro-ministro).
A BICEFALIA NÃO É UMA CARACTERÍSTICA QUE VEMOS EM TODOS OS SISTEMAS
SEMIPRESIDENCIAIS -> na matriz portuguesa, não há uma bicefalia do Executivo
(o Executivo português é liderado pelo primeiro-ministro, que, tal como acontece
responde em França, responde perante o Parlamento)

Matriz francesa: o Presidente é politicamente militante, tem ligações partidárias;


lidera o Parlamento e tem um programa partidário.
Matriz portuguesa: o Presidente da República tem um papel suprapartidário,
arbitrário e moderador, pelo que orienta e modera o jogo político sem estar
vinculado a um partido político
Na prática, a matriz austríaca funciona nos mesmos moldes que um sistema
parlamentar!

Matriz dos países de leste


-> nos países de Leste, raramente o Presidente tem o poder de dissolver o
parlamento (o que tira ao Presidente grande parte da sua capacidade moderadora)
-> repartição de poderes executivos entre o Presidente e o primeiro-ministro -
frequentemente há confronto entre as duas figuras
-> no Parlamento, raramente há maiorias absolutas!

MATÉRIA DA FREQUÊNCIA
-> matéria das aulas teóricas
-> só perguntas teóricas
Dentro dos sistemas de governo, temos o sistema presidencial, que tem como
modelo os Estados Unidos da América (o presidencialismo clássico).
O sistema presidencial, que se opõe ao sistema parlamentar, tem duas
características essenciais: o Presidente, eleito pelo povo, tem poderes políticos
significativos (é Chefe de Estado e chefe do Executivo) e o Executivo não responde
politicamente perante o Congresso, designação dada ao Parlamento. De facto, nos
Estados Unidos, o Presidente tem uma vasta gama de poderes, sendo o centro de
toda a vida política, e o Executivo (formado pelo Presidente e pelos seus
colaboradores, e não por membros do Congresso) não responde politicamente
perante o Congresso, não podendo ser por ele destituído.
Em sistema presidencial, a relação entre o Presidente/Congresso é uma relação de
equilíbrio por separação

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