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DIREITO CONSTITUCIONAL
RESUMO DE PONTOS PARA A PROVA ORAL DA DPE-RS 2015
SUMÁRIO
É possível afirmar que um dos objetos do Direito Constitucional Comparado é o estudo das
normas jurídicas positivadas nos textos das Constituições de um mesmo Estado, em diferentes
momentos histórico-temporais? SIM.
3 – Direito Constitucional Geral: Teoria geral do Direito Constitucional, que tem por objeto a
identificação e sistematização, numa perspectiva unitária, dos princípios, conceitos e instituições
comuns a diversos ordenamentos constitucionais e que se acham presentes em várias constituições
de Estados diferentes, que revelam características equivalentes ou similares.
Lei Triunfou.
Costume Somente Inglaterra.
Os costumes podem vir a completar, integrar ou desenvolver as normas escritas da Constituição. Na
Constituição formal, o exame dos costumes não se situa no momento de sua elaboração originária,
mas quando da criação superveniente das normas constitucionais, como o processo de revisão,
emenda ou reforma da Constituição.
Costumes secundum legem: É fonte. Respeita as práticas anteriores à CRFB.
Praeter legem: Caráter supletivo. Possui papel interpretativo e integrativo.
Contra legem: Seria inconstitucional essa modalidade de costume.
Jurisprudência
B) Leis Constitucionais: tudo mais que está na Constituição que não decorre de uma decisão
política fundamental.
A ideia de Konrad Hesse pode ser resumida da seguinte forma: Ainda que seja inegável que muitas
vezes uma Constituição Jurídica possa sucumbir a realidade, deve-se atribuir a essa Constituição
uma força normativa capaz de modificar esta mesma realidade. Para isso, é necessário que exista
uma “vontade de Constituição” e não apenas uma “vontade de Poder”.
Se a Constituição não possuir uma força normativa, a Constituição, ao invés de modificar a
realidade, apenas descreverá o que acontece na prática. A força normativa pode modificar a
realidade.
1.4. O que significa dizer que a Constituição é um sistema de normas que possui unidade
normativa?
Um ordenamento jurídico só pode ser concebido com um conjunto de normas, pois é condição de
sua existência. Além disso, o ordenamento constitui uma UNIDADE, quer porque as normas
nascem da mesma fonte (ordenamento simples), quer porque suas normas, ainda que nascidas de
fontes distintas, têm o mesmo fundamento de validade (ordenamento complexo).
Toda Constituição deve ser compreendida como uma unidade e como um sistema que privilegia
determinados valores. Essa unidade normativa pressupõe inexistência de hierarquia normativa ou
formal entre as normas constitucionais.
A Constituição é formada por regras e princípios de diferentes graus de densidade normativa.
Postulados Normativos são normas que estabelecem um dever de segundo grau consistente em
estabelecer a estrutura de aplicação, prescrever modos de raciocínio em relação a outras normas.
Um dever de segundo grau significa que não se aplica o postulado para resolver o caso concreto,
mas sim para interpretar outra norma (como um princípio ou uma norma será aplicado). Vou
resolver um caso concreto com base na liberdade de expressão do pensamento (norma de 1° grau),
mas utilizarei o postulado normativo para explicar/aplicar essa norma.
A proporcionalidade é postulado normativo porque utilizaremos para definir como outros
princípios serão aplicados (segundo a teoria de Humberto Ávila).
FINS DO ESTADO:
Jellinek foi o grande sistematizador das teorias dos fins do Estado, que assim os classificou:
a) fins objetivos: nesta teoria, o fim o Estado surge da própria natureza das coisas; não é a vontade
política que determina o fim do Estado. A natureza da ordem política é que dá objetivamente o fim
do Estado, o qual surge de uma ordem natural, sendo, portanto, transcendente e independente da
vontade humana. Investiga-se aqui o fim que cabe ao Estado em geral, abstrato e universal, e não a
cada um em particular.
Pode-se falar também na existência de fins particulares objetivos. Para os autores que defendem
esta teoria, cada Estado tem seus fins particulares, que resultam das circunstâncias em que eles
surgiram e se desenvolveram e que são condicionantes de sua história. Confundem-se nesta teoria
os fins do Estado com os interesses dos Estados e até de seus governos.
b) fins subjetivos: o fim do Estado não é um dado natural de ordem política, mas independe de
toda objetividade. Não há, assim, nenhum dado, mas um artifício. Os indivíduos que vivem em
comunidade política se propõem a um fim próprio, independente de toda objetividade.
c) fins particulares: são os que cabem a um Estado em um momento determinado, para os homens
que o constituem. Com os fins particulares, os Estados se vocações históricas a cumprir no mundo.
d) fins absolutos: consideram-se absolutos os fins do Estado que são determinados por uma
valoração axiológica. O Estado não pode, de nenhum modo, desviar-se do seu fim, que é ideal e
válido para todos os tempos e lugares.
e) fins relativos: esta teoria considera que o fim do Estado é limitado pela própria natureza. O
peculiar e próprio do Estado são as manifestações sistemáticas da vida solidária do homem. As três
grandes categorias a que se reduz a vida do Estado são: conservação, ordenação e ajuda.
g) fins universais: são os que correspondem ao Estado em abstrato, a qualquer Estado em todos os
tempos.
f) fins exclusivos e concorrentes: os fins exclusivos são aqueles privativos do Estado (segurança
externa e interna) e os concorrentes admitem participação ou colaboração de outras sociedades, com
as quais se identificam.
SÍNTESE: Pode-se dizer que o Estado, como sociedade política, existe para realizar a segurança, a
justiça e o bem-estar econômico e social, os quais constituem os seus fins.
A segurança, como fim do Estado, pode ser individual e coletiva.
A justiça possibilita que, nas relações entre os homens, seja substituído o arbítrio da violência
individual por um complexo de regras capazes de satisfazer o instinto natural da própria justiça.
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FUNÇÕES DO ESTADO
Pode-se definir a função do Estado como a atividade desenvolvida, no todo ou em parte, por um
ou vários órgãos do poder político, de modo duradouro, independentemente de outras atividades,
em particular na sua forma, e que visa à prossecução dos fins do Estado.
A determinação das funções do Estado resulta de três critérios: material, formal e orgânico.
a) Material: parte da análise do conteúdo dos diversos tipos de atos ou dos resultados em se traduz
a atividade do Estado, para chegar ao conceito de função.
b) Formal: atende às circunstâncias exteriores das atividades do Estado, distinguindo as funções
segundo a forma externa revestida para o exercício de cada uma delas.
c) Orgânico: relaciona intimamente as funções do Estado com os órgãos que as exercitam, e das
diversas características desses órgãos ou da sua posição na estrutura do poder político infere a
especialidade de suas atividades.
As funções jurídicas são as de criação e execução do Direito e compreendem a função legislativa,
cujo objeto direto e imediato é o de estatuir normas de caráter geral e impessoal inovadoras da
ordem jurídica, e a executiva, exercitável por meio do processo jurisdicional, caracterizado pela
imparcialidade e passividade, e pelo processo administrativo, com as características de
parcialidade e iniciativa.
Já as funções não jurídicas compreendem:
a) a função política, cuja característica é a liberdade de opção entre várias soluções possíveis, com
vistas à conservação da sociedade política e a definição e prossecução do interesse geral, por meio
da livre escolha de rumos e soluções consideradas preferíveis;
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b) a função técnica, cujo objeto direto e imediato consiste na produção de bens ou na prestação de
serviços destinados à satisfação das necessidades coletivas de caráter material ou cultural, de
harmonia com preceitos práticos tendentes a obter a máxima eficiência dos meios empregados.
O fim jurídico do Estado refere-se à criação e execução do Direito.
O fim cultural do Estado corresponde ao desenvolvimento das condições materiais para a vida dos
cidadãos, consoante a ideologia do Estado considerado.
Para atingir tais fins, o Estado atuaria através de dois tipos de meios: a criação de normas jurídicas
gerais e abstratas e a realização de atos concretos.
No primeiro caso, a função do Estado seria legislativa, e no segundo, a função seria administrativa
quando visasse a um fim cultural, ou jurisdicional, quando objetivasse um fim jurídico.
O ato jurídico, considerado como manifestação de vontade dirigida a modificação da ordem
jurídica, presente ou próxima futura, toma uma das seguintes formas:
a) ato-regra, o que é realizado com a intenção de modificar as normas jurídicas abstratas
constitutivas do direito objetivo;
b) ato-condição, o que torna aplicáveis a um sujeito determinadas regras abstratas, que, antes de
sua prática, lhe eram inaplicáveis;
c) ato-subjetivo, o que cria para alguém uma obrigação especial, concreta, individual e
momentânea, que nenhuma regra abstrata lhe impunha.
Às funções clássicas do Estado, quais sejam, legislativa, executiva e jurisdicional, deve-se acrescer
outras necessárias para a garantia do processo democrático, e que são:
a) função de fiscalização ou de controle, a cargo do Ministério Público e dos Tribunais de Contas;
b) função legislativa constitucional de emendar e revisar a Constituição;
c) função simbólica, típica do chefe de Estado, voltada para a representação do Estado e dos
valores nacionais.
2 - República
O Princípio Republicano define a forma de Governo, ou seja, a forma como os governantes
ascendem ao Governo e como se dá a relação entre governantes e governados. É uma forma de
governo, fundada na igualdade formal entre as pessoas, na qual os detentores do poder político
exercem-no em caráter eletivo, de regra representativo, temporário e com responsabilidade.
Elementos:
a) É uma forma de Governo, que se contrapõe à Monarquia;
b) Fundada na igualdade formal entre as partes;
c) Em que os detentores do poder político exercem-no em caráter eletivo;
d) É Governo em regra representativo;
e) É Governo temporário;
f) É Governo exercido com responsabilidade;
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4 - Soberania Popular
Art. 1º. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
Soberania: Estado supremo (em relação aos indivíduos e grupos que formam a população do
Estado) e independente (relativamente ao poder de outros Estados).
Aspecto interno: É o poder mais elevado do Estado.
Aspecto externo: nas relações recíprocas entre os Estados, não há subordinação nem dependência
entre eles, mas sim igualdade.
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Cidadania: Não é apenas gozo de direitos políticos. Visa qualificar todas as pessoas como titulares
de direitos frente ao Estado, reconhecendo o indivíduo como parte integrante e indissociável da
sociedade.
Dignidade da pessoa humana: É uma qualidade intrínseca e distintiva de cada ser humano que o
faz merecedor do mesmo respeito e consideração por parte do Estado e da comunidade, implicando,
neste sentido, um complexo de direitos e deveres fundamentais que assegurem a pessoa tanto contra
todo e qualquer ato de cunho degradante e desumano, como venham a lhe garantir as condições
existenciais mínimas para uma vida saudável, além de propiciar e promover sua participação ativa e
co-responsável nos destinos da própria existência e da vida em comunhão com os demais seres
humanos.
Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: Também é fundamento da ordem econômica.
Visa a assegurar a importância do trabalho humano, como valor social, e a liberdade de iniciativa
econômica, como valor de produção e desenvolvimento.
Pluralismo político: Fundamento que assegura a realização dos postulados democráticos,
garantindo a multiplicidade de opiniões, de crenças, de convicções e ideias, que se manifestam
normalmente por instituições como as associações, as entidades sindicais e, em especial, os partidos
políticos.
Não intervenção: rejeita qualquer intenção de o Estado brasileiro interferir nos negócios atinentes e
particulares de outro Estado, sem a permissão deste.
Igualdade entre os Estados: em razão do respeito recíproca que a noção de soberania impõe.
Defesa da Paz
Solução pacífica dos conflitos: Conexo com o princípio anterior. Destina-se a garantir o prévio
exaurimento das vias diplomáticas na tentativa de compor os conflitos internacionais sem o recurso
à guerra.
Repúdio ao terrorismo e ao racismo
Cooperação entre os povos para o progresso da humanidade
Concessão de asilo político: Proteção oferecida pelo Estado a estrangeiro perseguido por crime
político no país em que se encontra.
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Hierarquia apenas formal entre normas Hierarquia não apenas formal, mas
constitucionais e normas também axiológica (de valor) entre
infraconstitucionais, pois o modelo normas constitucionais e normas
normativo é o descritivo (ou infraconstitucionais, pois o modelo
deontológico) normativo é o axiológico (constituição
como valor em si).
2.2. Para Luís Roberto Barroso, quais os marcos que levaram ao “novo direito constitucional”
ou “neoconstitucionalismo”?
São 3 os marcos: histórico, filosófico e teórico.
2.3. Quais são as possíveis concepções (ou sentidos) a serem tomadas para conceituar o termo
“Constituição”?
a) Sentido Sociológico – Ferdinand Lassale: para esta acepção, a constituição somente é legítima se
representar o efetivo poder social. Do contrário, a constituição é ilegítima, caracterizando-se como
uma simples “folha de papel”. A constituição é, portanto, “a somatória dos fatores reais do poder
dentro de uma sociedade”.
d) Sentido Jurídico – Hans Kelsen: Kelsen afasta totalmente a constituição do “ser”, alocando-a
totalmente no mundo do “dever ser”. Isso porque a constituição é fruto da vontade RACIONAL do
homem, e NÃO das leis naturais.
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Assim, estando fora do mundo do “ser”, a constituição NÃO tem pretensão de fundamentação
sociológica, política ou filosófica, pois é fruto da RAZÃO, sendo “puro dever ser”, “norma pura”.
A constituição, para Kelsen, tem 2 sentidos:
(i) sentido “lógico-jurídico” – a constituição tem o seu fundamento de validade na norma hipotética
fundamental, a qual se situa no plano lógico (não no jurídico) e é o fundamento de validade de todo
o sistema. A NHF é uma norma “suposta”, pois não é uma norma posta.
(ii) sentido “jurídico-positivo” – a constituição é o fundamento de validade de todo o sistema
infraconstitucional. Há, portanto, um escalonamento de normas em verticalidade hierárquica. A
norma de hierarquia inferior busca sua validade na superior, até chegar na constituição que é o
fundamento de validade de todo o sistema infraconstitucional.
f) Constituição Aberta – J. J. Gomes Canotilho: a ideia da constituição aberta serve para que a
constituição possa permanecer dentro de seu tempo, evitando-se o desmoronamento da sua FORÇA
NORMATIVA.
b) Releitura de Guilherme Peña de Moraes: para o autor, a CF/88 “pretende ser normativa”.
c) Releitura de Marcelo Neves: para o autor, a CF/88 “é nominalista”. Ele denomina a “semântica”
de “instrumentalista”.
Obs.: Então, a CF de 1988 é: promulgada; escrita (instrumental); analítica; formal (tende à mista);
dogmática; rígida (para Alexandre de Moraes é super-rígida); reduzida (unitária); eclética
(compromissária); pretende ser normativa; principiológica; definitiva; garantia e dirigente; social;
expansiva.
2.10. Quais foram as constituições brasileiras, e quais os seus respectivos traços marcantes?
a) Constituição de 1824:
O “Conselho de Estado” elaborou o projeto desta constituição, que foi outorgada, pois vigorava o
absolutismo, que se revelou no quarto poder: o poder moderador.
A forma de governo era a monarquia hereditária; o território era unitário, com as províncias
subordinadas ao poder central; a religião oficial era a católica apostólica romana (outras religiões
eram permitidas, desde que dentro de seus respectivos templos); a capital do Império Brasileiro era
o Rio de Janeiro.
Poder executivo: exercido pelo imperador; poder legislativo: exercido pela “Assembleia Geral”,
(com a sanção do Imperador), composta pela Câmara dos Deputados e pelo Senado, com eleições
indiretas e voto censitário; poder judiciário: composto por juízes (aplicavam a lei) e por jurados
(apreciavam os fatos), tinha como órgão de cúpula o “Supremo Tribunal de Justiça”; poder
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moderador: criado por Benjamin Constant, era a chave de toda a organização política, e permitia ao
Imperador controlar, de certa forma, os outros 3 poderes.
Era semirrígida, continha rol de direitos Civis e Políticos (por influência da americana de 1776 e da
Francesa de 1789), mas manteve a escravidão até 1888.
Não tinha habeas corpus (que surgiu com o Código Criminal de 1830), mas tutelava, de certa forma,
a locomoção.
b) Constituição de 1981:
Foi a primeira constituição da República do Brasil. Foi promulgada e teve por relator o senador Rui
Barbosa.
Seus traços marcantes eram: presidencialismo; república (dos Estados Unidos do Brasil); federação,
sendo vedada a secessão; 3 poderes (fim do poder moderador); estado laico SEM a invocação de
Deus no preâmbulo e SEM religião oficial; prevê a construção da futura Capital Federal no planalto
central da república, mas a capital continua sendo o Rio de Janeiro.
Era rígida (com cláusulas pétreas); previu expressamente o habeas corpus; aboliu as penas de galés,
de banimento e de morte (salvo militar).
Obs.: em 1932, Getúlio Vargas decretou o Código Eleitoral, que instituiu a Justiça Eleitoral, e
passou a garantir o direito de sufrágio universal, direto e secreto, bem como o direito ao voto
feminino.
c) Constituição de 1934:
Sob a influência da constituição de Weimar, da Alemanha/1919, previu os Direitos Humanos de 2º
geração (estado social).
Seus traços marcantes eram: república; federação; 3 poderes; presidencialismo; os ministros
passaram a ter responsabilidade pessoal e solidária com o presidente; o estado é laico, mas COM a
previsão de Deus no preâmbulo, facultado o ensino religioso nas escolas e o casamento religioso
passou a gerar efeitos civis.
O legislativo deixa de ser bicamerado rígido (ou paritário) e passa a apresentar um “bicameralismo
desigual” ou “unicameralismo imperfeito”, pois o senado é colaborador da câmara.
Era “rígida” e previu expressamente o Mandado de Segurança e a Ação Popular.
d) Constituição de 1937:
A constituição “Polaca”, como ficou conhecida pela influência da constituição Polonesa fascista de
1953, foi elaborada por Francisco Campos e deveria ter sido submetida a um plebiscito, mas nunca
o foi.
O parlamento foi fechado e o legislativo, na prática, nunca chegou a se instalar; o executivo cabia
ao presidente da república, que era a “autoridade suprema do Estado”, eleito indiretamente; o
judiciário foi “esvaziado”, pois o presidente da república podia exercer seu juízo de valor sobre
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certas decisões judiciais que, se decidido pelo parlamento, ficariam sem efeito. Além disso, a justiça
eleitoral foi extinta, bem como os partidos políticos.
Não foi previsto o mandado de segurança, nem a ação popular; foi ampliada a pena de morte,
podendo ser aplicada para crimes políticos, bem como em casos de homicídio praticado por motivo
fútil com extremos de perversidade. Ademais, foi proibida a greve e o lock-out.
Esta foi uma constituição “semântica”, pois não desempenhou papel algum.
e) Constituição de 1946:
Foi um texto promulgado por Assembleia Constituinte, que representou a redemocratização do
Brasil.
Foi restabelecido o mandado de segurança, a ação popular e o direito de greve. Além disso, foram
vedadas as penas de morte, banimento, confisco e perpétua.
Em 1960 foi transferida para Brasília a Capital Federal; em 1961 o congresso aprova o
parlamentarismo, após a renúncia de Jânio Quadros; em 1963, volta o presidencialismo, por
intermédio de referendo popular; em 1964, a constituição foi suplantada pelo golpe militar.
f) Constituição de 1967:
Na mesma linha da constituição de 1937, o poder foi concentrado no âmbito federal, esvaziando
estados e municípios, o que aproximou o estado do conceito de unitário (golpe no federalismo).
Teoricamente, permaneceu a tripartição de poderes, mas, na realidade, o executivo detinha todo o
poder.
Embora tenha trazido maior eficácia aos direitos dos trabalhadores, previa exageradas
possibilidades de suspensão dos direitos políticos por 10 anos, em seu art. 151.
Em 1968, com o AI-5, o habeas corpus foi suspenso para crimes políticos OU contra a segurança
nacional, ordem econômica e social e economia popular. Além disso, foi excluída da apreciação
judicial aquilo que estivesse de acordo com o AI-5, e o Congresso Nacional foi fechado por 10
meses.
1969: uma emenda constitucional constitucionalizou o AI-5. Época de milagre econômico (Médice)
que se sucedeu por inflação e crise (Geisel). Após, veio a “Lei Falcão”, que reduziu a propaganda
política, prejudicando a oposição, e o “Pacote de Abril de 1977”, quando Geisel dissolveu o
Congresso Nacional.
Foi flexibilizada a rigidez constitucional para aprovação de Emendas Constitucionais e estabelecida
a “avocatória”, que podia suspender os efeitos de decisões de quaisquer tribunais, pela avocação
pelo PGR, em causas relativas à ordem, saúde, segurança e finanças públicas. Além disso, um terço
dos senadores passou a ser eleito pelas Assembleias Legislativas (“Senadores Biônicos”).
“Pacote de Junho de 1978”: revogado o AI-5. Consequentemente, veio a Lei da Anistia
(6.683/1979) e o pluripartidarismo.
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Apesar da pressão popular com as “Diretas já”, a PEC Dante de Oliveira foi rejeitada e a eleição de
Tancredo Neves foi indireta. Com a morte de Tancredo, assumiu Sarney que instituiu a “Comissão
Afonso Arinos”, que elaborou um anteprojeto de constituição, o qual foi rejeitado, dentre outros
motivos, por prever o parlamentarismo (o que diminuiria os poderes do presidente). Por esta razão,
foi convocada a Assembleia Nacional Constituinte, presidida por Ulysses Guimarães.
g) Constituição de 1988:
A “constituição cidadã” criou o STJ (órgão de convergência da justiça comum), o mandado de
injunção, a ADI por omissão, o mandado de segurança coletivo e o habeas data. Pela primeira vez
aparece um capítulo dedicado ao Meio Ambiente e a Defensoria Pública é alçada à condição de
função essencial à justiça.
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3.1. Que razões são apontadas para justificar a tese da especialidade da interpretação
constitucional?
As razões estão ligadas às seguintes características peculiares da constituição: superioridade no
âmbito da hierarquia normativa; fortíssima carga (e relevância) política de seus preceitos; caráter
programático (baixa ou baixíssima densidade normativa de muitos dispositivos constitucionais).
H) Princípio do efeito integrador - primazia dos critérios que favoreçam a integração política e
social e o reforcem a unidade política;
I) Princípio da interpretação conforme - diante de uma norma infraconstitucional que seja
plurissignificativa, deve-se privilegiar o sentido que mais se aproxima da constituição.
3.7. Quais são as formas mais adotadas pela doutrina para classificar as constituições?
Quanto ao conteúdo – divide as constituições em (i) materiais e (ii) formais:
A constituição material é concebida em sentido amplo e em sentido estrito. No primeiro, identifica-
se com a organização total do Estado, com regime político. No segundo, designa as normas
constitucionais escritas e costumeiras que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus
órgãos e os direitos fundamentais.
A constituição formal é o documento solenemente estabelecido pelo poder constituinte e somente
modificado por processos e formalidades previamente estabelecidos.
Quanto à forma – (i) constituição escrita, quando codificada e sistematizada num texto único,
elaborado por um órgão constituinte, encerrando todas as normas tidas como fundamentais sobre a
estrutura do Estado; (ii) não escrita, quando as normas não constam em um documento único e
solene, mas que se baseia essencialmente nos costumes, na jurisprudência e em convenções e em
textos constitucionais esparsos.
Quanto ao modo de elaboração – (i) constituição dogmática, escrita, é a elaborada por um órgão
constituinte, e sistematiza os dogmas ou ideias fundamentais da teoria política e do Direito
dominantes no momento. (ii) constituição histórica ou costumeira, não escrita, é resultante de lenta
transformação histórica, do lento evoluir das tradições, dos fatos sócio-políticos, que se cristalizam
como normas fundamentais de organização de determinado Estado.
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Quanto à origem: (i) constituições populares, ou democráticas, são aquelas que se originam de um
órgão constituinte composto por representantes do povo, eleitos para o fim de elaborar a
constituição. (ii) outorgadas, são aquelas elaboradas e estabelecidas sem a participação do povo, ou
seja, impostas unilateralmente pelo governante. (iii) constituição cesarista é aquela formada por
plebiscito popular sobre um projeto elaborado pelo governador ou por um ditador. A participação
popular, nesses casos, não é democrática, pois visa apenas ratificar a vontade daquele de detém o
poder.
Quanto à estabilidade: (i) constituições rígidas somente são alteradas por processos formais
especiais e mais difíceis que os de formação das leis ordinárias e complementares. (ii) a constituição
flexível permite ser livremente modificada pelo legislador pelo mesmo processo de criação das leis
ordinárias. (iii) semi-rígida é a constituição que contém uma parte rígida e outra flexível.
Quanto à extensão: (i) sintética, aquele que veicula apenas os princípios fundamentais e estruturais
do Estado; (ii) analítica é aquela que aborda todos os assuntos que os constituintes entenderem por
fundamentais.
3.9. Como as normas constitucionais podem ser classificadas em relação à sua eficácia e
aplicabilidade?
Segundo José Afonso da Silva, as normas constitucionais podem ser divididas, quanto a sua
capacidade de produzir efeitos jurídicos, em três categorias:
Normas constitucionais de eficácia plena são aquelas cuja aplicabilidade é direta, imediata e
integral, não dependendo de norma infraconstitucional.
Normas de eficácia contida possuem aplicabilidade direta e imediata, podendo, todavia, ter sua
abrangência restringida por norma infraconstitucional. Enquanto não editada a lei restritiva, a norma
constitucional de eficácia contida produzirá todos os seus efeitos.
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Normas de eficácia limitada têm aplicação mediata e diferida. Necessitam de norma integrativa
infraconstitucional para produzir efeitos.
As normas de eficácia limitada ainda se dividem em:
(i) normas de princípio institutivo ou organizativo: traçam esquemas de estruturação de órgãos,
instituições ou entidades;
(ii) normas de princípios programáticos: estabelecem princípios e metas a serem cumpridos pelo
Estado.
3.23. (Oral AGU 2009) Definir interpretavismo e não-interpretativismo; qual dos dois acima
"seria mais útil" para o ativismo judicial.
São correntes do direito americano.
Interpretativismo: a interpretação tem que seguir legislador constitucional originário, pois isso
respeita a vontade popular. Está mais ligado ao positivismo e Constitucionalismo liberal ou
clássico. Há um respeito absoluto ao texto da CF. Segue a vontade original de quem elaborou a CF.
Não interpretativismo: O Judiciário tem o dever de evoluir o texto constitucional (ativismo judicial),
cada geração interpreta a CF de uma forma, não pode ficar preso ao constituinte originário. Vai
além do que está expresso no texto.
Ativismo judicial: postura mais ativa do Judiciário na concretização dos direitos. Ex: greve dos
servidores públicos.
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3.25. O que se entende por eficácia vertical e eficácia horizontal dos direitos fundamentais?
A distinção diz respeito aos sujeitos que figuram nas relações jurídicas envolvendo direitos
fundamentais.
Assim, por eficácia vertical, entende-se o tipo de produção de efeitos da clássica relação entre
Estado e pessoas, em geral com o primeiro no pólo passivo.
Por eficácia horizontal temos a aplicação dos direitos fundamentais nas relações privadas, entre
particulares. Esta, por sua vez, subdivide-se em:
(i) eficácia horizontal mediata ou indireta, que abrange as situações em que os direitos
fundamentais se aplicam às relações privadas por meio de lei infraconstitucional. (Ex:
Código Civil, Código Penal, Consolidação das Leis Trabalhistas); e
(ii) eficácia horizontal imediata ou direta, pertinente às relações em que os direitos se aplicam
imediatamente nas relações privadas sem a necessidade lei infraconstitucional. Ex:
entendimento do STF de que para se excluir um associado de uma associação, deve-se
respeitar o contraditório e a ampla defesa (considerando assim princípios tipicamente de
relação vertical com o Estado em relações horizontais).
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3.27. Qual a definição de lacuna constitucional e como estas podem ser sistematizadas?
Na definição elementar de Jorge Miranda, uma lacuna constitucional ocorre quando há uma
situação constitucionalmente relevante não prevista. A definição requer algumas observações.
Conforme Gilmar Mendes e Paulo Branco, primeiro, há que se discernir se não houve omissão
proposital, se o constituinte não deixou de disciplinar a matéria intencionalmente para que o fosse
em movimento oportuno, sem a rigidez constitucional. Gilmar Mendes denomina tais situações
como de “silêncio eloquente” do constituinte. Seria o exemplo da não menção a leis e atos
normativos municipais no artigo 102, I, a, da CFB.
Na hipótese em que há apenas um lapso do constintuinte, uma omissão não pretendida, tem-se uma
lacuna de formulação. Um exemplo seria a omissão do Governador do DF como legitimado a a
propor ADIN perante o STF até a EC 45/2004, muito embora o Governador de Estado tivesse essa
prerrogativa desde o início. A analogia é um método integrativo de grande valia nessas casos.
Pode ocorrer ainda que o constituinte não tenha se atentado à necessidade de disposição transitória,
de período de adaptação no plano da realidade, para que a norma que redigiu produza os fins
desejados. Assim, o intérprete entende pertinente que sejam incluídos, suprimidos ou modificados
alguns elementos estruturais da norma constitucional de modo que o caso concreto seja
pertinentemente regulado. Este tipo de lacuna recebe a designação de lacuna axiológica.
Note-se, que no caso da lacuna axiológica, há o pressuposto de um legislador racional e um
ordenamento ótimo, ambos ideais e coerentes, que servem ao menos de ponto de partida
hermenêutico. Desta premissa empodera-se o intérprete para lançar mão de recursos como a
descoberta de lacunas axiológicas para manter a integridade e unidade do sistema jurídico.
J. J. Gomes Canotilho aborda o assunto partindo da afirmação de que uma lacuna normativo-
constitucional só existe quando se verifica uma incompletude contrária à ordenação constitucional.
Assim, tem-se uma lacuna constitucional autônoma quando, a despeito da ausência de disciplina
jurídica no complexo normativo-constitucional, a solução par ao caso pode ser extraída a partir do
plano regulativo da constituição, bem como da teleologia da regulamentação constitucional. Esta
espécie de lacuna se diferencia, assim, das lacunas constitucionais heterônomas, que advém do não
cumprimento de ordens de legislar e das imposições constitucionais constitucionalmente expressas;
e das integrações corretivas, que se fundamentam na ideia de que a normatização constitucional, sob
o ponto de vista político, é incompleta, errada ou necessita de aprimoramento (à semelhança na
definição de lacuna axiológica de Gilmar Mendes e Paulo Branco).
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Diante desta interrupção de continuidade, vários fenômenos poderão surgir, dentre os quais: a)
convocação da Assembleia Nacional Constituinte e elaboração de nova Constituição; b) mutação
constitucional; c) reforma constitucional; d) hiato autoritário (ilegítima outorga constitucional).
4.22. O que acontece com as normas infraconstitucionais editadas antes da nova Constituição?
Se compatíveis com a nova Constituição, serão recepcionadas. Caso contrário, serão revogadas por
ausência de recepção.
Ao fazer a análise da recepção, o Poder Judiciário deverá verificar a compatibilidade material da
norma anterior com a nova Constituição, podendo, inclusive, atribuir-lhe nova roupagem do ponto
de vista formal (como exemplo, cita-se o CTN – Código Tributário Nacional, que foi elaborado
conforme o procedimento de lei ordinária, mas foi recepcionado como lei complementar, diante de
nova exigência constitucional. Dessa forma, futuras alterações deverão respeitar quorum
qualificado).
Deverá, ainda, analisar se a lei era compatível formal e materialmente com a Constituição sob cuja
regência foi editada. Isso porque prevalece o entendimento de que a inconstitucionalidade gera
nulidade do ato normativo, que é, portanto, natimorto. Logo, se já era inconstitucional, não poderá
ser recepcionado.
4.25. É possível modulação dos efeitos da decisão que entende pela revogação ou recepção?
Embora existam decisões em sentido contrário (RE 353.508-AgRg), entendimento mais recente
admitiu a modulação de efeitos de decisão não recepção, proferida em controle difuso (RE
600.885).
Embora ainda não esteja sedimentado no STF, este posicionamento pode ser aplicado, também, em
sede de ADPF (a ADPF é a única ação do controle concentrado que admite como objeto normas
anteriores à CRFB/88).
48
4.26. Na análise entre a ordem jurídica anterior e a nova constituição poderá ocorrer
repristinação?
Entende-se por repristinação o restabelecimento da norma revogada em razão da revogação da
norma revogadora. Nos termos da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, este
fenômeno, como regra, NÃO acontece, salvo se a nova norma assim se pronunciar. Este regramento
se aplica ao direito constitucional intertemporal.
4.29. O que ocorre com a norma produzida por um ente da Federação no regime
constitucional anterior em caso de transferência da competência, pela nova ordem, a ente
distinto?
Trata-se de uma incompatibilidade formal. Segundo Gilmar Mendes, a manutenção da norma só
seria possível em se tratando de lei federal no caso de alteração da competência para Estados ou
Municípios, admitindo, portanto, que a lei fosse estadualizada ou municipalizada. Não admite, por
outro lado, uma federalização de normas estaduais ou municipais, inclusive em razão da
impossibilidade prática de se federalizar simultaneamente tantas leis acaso não coincidentes.
49
- concorrência e cumulatividade – os direitos fundamentais são direitos que podem ser exercidos
ao mesmo tempo. Exemplo: âncora de jornal quando dá uma informação e logo após dá a sua
opinião, está exercendo os seus direitos fundamentais: informação, opinião.
- universalidade – os direitos fundamentais são universais, independentemente de as nações terem
assinado a declaração, devem ser reconhecidos em todo o planeta, não importando a cultura,
política e sociedade.
Essa característica é polêmica, porque existem os relativistas culturais que afirmam que os direitos
fundamentais não podem ser universais porque devem ser reconhecidos na medida da cultura de
cada sociedade.
- proibição de retrocesso – não se pode retroceder nos avanços históricos conquistados. Segundo
Canotilho, o núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de medidas
legislativas deve considerar-se constitucionalmente garantido, sendo inconstitucionais quaisquer
medidas que, sem a criação de outros esquemas alternativos e compensatórios, se traduzam na
prática numa “anulação”, “revogação” pura e simples.
Não tem aceitação universal na doutrina. Acentua-se que mesmo os que acolhem a tese da proibição
do retrocesso entendem que o princípio da proporcionalidade pode inspirar uma nova regulação do
direito fundamental que não destrua totalmente, sem alternativas, o direito antes positivado.
- constitucionalização – a locução direitos fundamentais é reservada aos direitos consagrados em
diplomas normativos de cada Estado, enquanto a expressão direitos humanos é empregada para
designar pretensões de respeito à pessoa humana, inseridas em documentos de direito internacional.
- Vinculação dos poderes públicos – o fato de os direitos fundamentais estarem previstos na
Constituição torna-os parâmetro de organização e de limitação dos poderes constituídos.
- Vinculação do Legislativo – Não somente a atividade legiferante deve guardar coerência com o
sistema de direitos fundamentais, como a vinculação aos direitos fundamentais pode assumir
conteúdo positivo, tornando imperiosa a edição de normas que dêem regulamentação aos direitos
fundamentais dependentes de concretização normativa.
- Vinculação do Executivo – a atividade discricionária da Administração não pode deixar de
respeitar os limites que lhe acenam os direitos fundamentais. Canotilho propõe que a Administração
se recuse a cumprir lei inconstitucional quando o direito fundamental agredido puser em risco a
vida ou integridade pessoal de alguém, resultando no cometimento de um delito.
- Vinculação do Poder Judiciário – Os Tribunais detêm a prerrogativa de controlar os atos dos
demais poderes, conferindo a tais direitos a máxima efetividade possível.
Observação: Os direitos fundamentais não são absolutos, pois podem sofrer limitações, quando
enfrentam outros valores de ordem constitucional, inclusive outros direitos fundamentais.
53
5.7. O que constituiu a eficácia horizontal dos direitos fundamentais? Quais as teorias que os
estruturam?
De acordo com a doutrina liberal clássica, os direitos fundamentais limitar-se-iam à regência das
relações públicas, que tinham o Estado como um dos seus pólos (eficácia vertical dos direitos
fundamentais).
O indivíduo diversamente do Estado é titular de direitos fundamentais, por isso surgiu a celeuma
sobre a eficácia horizontal dos direitos fundamentais. O indivíduo não pode simplesmente substituir
o Estado nas relações jurídicas, mas por outro lado é preciso dar maior efetividade aos direitos
fundamentais até mesmo na esfera privada.
A teoria de eficácia exclusivamente vertical, quando fundamenta que não cabe a eficácia horizontal,
praticamente desapareceu, no Brasil não é aplicada.
Cabimento da eficácia horizontal:
a) Teoria Negativista - rejeita a possibilidade de aplicação dos direitos fundamentais às relações
privadas em face da concepção liberal prevalecente neste regime jurídico.
b) Teoria da “State Action” - Para a doutrina estadunidense, o papel da Constituição seria o de
apenas oferecer direitos fundamentais de proteção aos indivíduos contra as interferências arbitrárias
do Estado, afastando a possibilidade de eficácia horizontal dos direitos fundamentais, salvo se o
particular estiver no desempenho de uma função ou atividade estatal.
c) Teoria da Eficácia Indireta ou Mediata dos Direitos Fundamentais (Konrad Hesse) – é uma
corrente intermediária entre aqueles que NEGAM a aplicação dos direitos fundamentais aos
particulares e os permitem.
Cabe ao legislador privado a tarefa de mediar a aplicação dos direitos fundamentais sobre os
particulares, estabelecendo uma disciplina das relações privadas que se revele compatível com os
valores constitucionais. Ao Judiciário sobraria o papel de preencher as cláusulas indeterminadas
criadas pelo Legislador, bem como o de rejeitar, por inconstitucionalidade, a aplicação das normas
privadas incompatíveis com tais direitos.
54
Apenas em casos excepcionais de lacuna na ordem privada, e diante da total ausência de cláusulas
gerais, é que o juiz poderia aplicar diretamente o direito fundamental.
d) Teoria da Eficácia Direta ou Imediata dos Direitos Fundamentais a Terceiros (Alexy) – doutrina
alemã minoritária. Quando os direitos não forem suficientemente protegidos pelo legislador na
esfera privada, as normas constitucionais que os consagram produzirão efeito direto de
obrigatoriedade nas relações entre particulares, mas, ela não prega a desconsideração da liberdade
individual no tráfico jurídico-privado. É a teoria aplicada no Brasil.
A CF/88 é voltada para a promoção da igualdade substantiva (apesar de alguns discordarem), que
transmite a idéia de uma vinculação passiva universal dos direitos fundamentais. Só existe
efetivamente autonomia privada quando o agente desfrutar de mínimas condições materiais de
liberdade.
Não se pode falar em insegurança jurídica, principalmente, depois da JURISPRUDÊNCIA DOS
CONCEITOS (emprego de conceitos jurídicos indeterminados e de cláusulas gerais, que também
apresentam reduzido grau de determinação semântica). Muito importante é o estabelecimento de
STANDARDS para a aplicação de cada direito fundamental nas relações privadas, com a
identificação dos casos em que sua incidência deve prevalecer sobre a autonomia privada dos
particulares.
Há uma vinculação dos particulares aos direitos fundamentais, independentemente de uma
desigualdade entre as partes. A questão da desigualdade material torna-se relevante apenas no
momento em que se tiver de ponderar o direito em questão com a autonomia privada. Na
jurisprudência brasileira não são tão escassas as decisões judiciais utilizando diretamente os direitos
fundamentais para dirimir conflitos de caráter privado, mas raramente são precedidos de
fundamentos teóricos sobre a aplicação da teoria.
A aplicação dessa teoria é compatível com o chamado EFEITO DE IRRADIAÇÃO (eficácia
objetiva) dos direitos fundamentais. Daniel Sarmento defende a Eficácia Imediata, mas, para evitar
um “fundamentalismo dos direitos fundamentais”, propõe a utilização da técnica da ponderação de
interesses, baseada no princípio da proporcionalidade, além de outros parâmetros específicos de
ponderação: grau de desigualdade entre as partes (quanto maior, mais peso tem o direito
fundamental), a natureza da liberdade individual em jogo, o fomento ao pluralismo e o
fortalecimento da dignidade humana.
No Brasil, há a aplicação da Teoria da Eficácia Horizontal dos Direitos Fundamentais. Exemplos:
artigo 205, CF; artigo 3o., IV. Todos os indivíduos são credores e devedores.
O STF reconheceu a aplicação direta de direitos fundamentais às relações privadas, mantendo
ordem judicial prolatada para determinar uma associação privada a reintegração de um associado
que havia sido excluído de seus quadros, por violação ao direito de defesa.
55
5.9. Em que consiste a Reserva do Possível e quais os principais critérios para aplicação na
jurisprudência brasileira?
Na doutrina de Sustein e Holmes, todos os direitos, desde os que dependem de atuação positiva até
aqueles negativos ou de defesa, implicam custos para o Estado.
Resp 1.185.474: A tese da reserva do possível (Der Vorbehalt des Möglichen) assenta-se na idéia
romana de que a obrigação impossível não pode ser exigida (impossibilium nulla obligatio est). Por
tal motivo, não se considera a insuficiência de recursos orçamentários como mera falácia.
Essa escassez, muitas vezes, é resultado de escolha, de decisão: quando não há recursos suficientes,
a decisão do administrador de investir em determinada área implica escassez de outra que não foi
contemplada.
56
Por esse motivo, em um primeiro momento, a reserva do possível não pode ser oposta à efetivação
dos direitos fundamentais, já que não cabe ao administrador público preteri-la, visto que não é
opção do governante, não é resultado de juízo discricionário, nem pode ser encarada como tema que
depende unicamente da vontade política.
Nem mesmo a vontade da maioria pode tratar tais direitos como secundários. Isso porque a
democracia é, além dessa vontade, a realização dos direitos fundamentais. Portanto, aqueles direitos
que estão intimamente ligados à dignidade humana não podem ser limitados em razão da escassez,
quando ela é fruto das escolhas do administrador. Não é por outra razão que se afirma não ser a
reserva do possível oponível à realização do mínimo existencial.
Sendo assim, não fica difícil perceber que, entre os direitos considerados prioritários, encontra-se o
direito à educação. No espaço público, local em que são travadas as relações comerciais,
profissionais e trabalhistas, além de exercida a cidadania, a ausência de educação, de conhecimento,
em regra, relega o indivíduo a posições subalternas, torna-o dependente das forças físicas para
continuar a sobreviver, ainda assim, em condições precárias. Eis a razão pela qual os arts. 227 da
CF/1988 e 4º da Lei n. 8.069/1990 dispõem que a educação deve ser tratada pelo Estado com
absoluta prioridade.
Porém é preciso ressalvar a hipótese de que, mesmo com a alocação dos recursos no atendimento do
mínimo existencial, persista a carência orçamentária para atender a todas as demandas. Nesse caso,
a escassez não seria fruto da escolha de atividades não prioritárias, mas sim da real insuficiência
orçamentária. Em situações limítrofes como essa, não há como o Poder Judiciário imiscuir-se nos
planos governamentais, pois eles, dentro do que é possível, estão de acordo com a CF/1988, não
havendo omissão injustificável. Todavia, a real insuficiência de recursos deve ser demonstrada pelo
Poder Público, não sendo admitido que a tese seja utilizada como uma desculpa genérica para a
omissão estatal no campo da efetivação dos direitos fundamentais.
INDIVIDUAIS
CLASSIFICAÇÃO FORMAL DA
COLETIVOS
CF/88
Há também outros espalhados pela SOCIAIS
CF. NACIONALIDADE
POLÍTICOS
Essa é a regra geral (normas de eficácia plena ou contida), pois há direitos fundamentais que
demandam a atuação do legislador ordinário (normas de eficácia limitada). Dessa forma, em regra,
a tutela dos direitos fundamentais será feita por MS, porque em regra não se demanda a atuação do
legislador infra-constitucional, ou seja, fica afastado o mandando de injunção (regra).
Mas há direitos fundamentais que estão submetidos à atuação do legislador ordinário. O § 1o traz
uma presunção de que os direitos fundamentais serão normas de eficácia plena ou contida, mas na
tentativa de dar maior aplicabilidade a esse dispositivo, não se pode fugir do razoável, assim, há
casos em que os direitos fundamentais terão eficácia limitada.
5.15. Qual o instrumento jurídico adequado para a proteção dos direitos fundamentais?
Se as NORMAS DEFINIDORAS DE DIREITO FUNDAMENTAL não dependem de atuação do
legislador infraconstitucional para terem eficácia (NORMAS DE EFICÁCIA PLENA OU DE
EFICÁCIA CONTIDA) seria caso de DIREITO LÍQUIDO E CERTO: INSTRUMENTO =
MANDADO DE SEGURANÇA.
O art. 5°, §1°, da CF/88 estatui uma PRESUNÇÃO RELATIVA DE APLICABILIDADE
IMEDIATA E PLENA EFICÁCIA para as NORMAS DEFINIDORAS DE DIREITOS E
GARANTIAS FUNDAMENTAIS e sempre que possível as normas de direitos fundamentais serão
de EFICÁCIA PLENA ou de EFICÁCIA CONTIDA. EXCEPCIONALMENTE uma NORMA DE
DIREITO FUNDAMENTAL pode ter NATUREZA PROGRAMÁTICA. Assim, o instrumento a
ser utilizado em caso de violação de NORMA DE DIREITOS FUNDAMENTAIS
PROGRAMÁTICA = MANDADO DE INJUNÇÃO.
5.16. Como o STF se posiciona acerca dos direitos humanos inseridos na legislação brasileira
via tratados e o art. 5º, § 3º, da CF?
Pela posição tradicional, equivalem à lei ordinário federal – art. 5º, § 2º, CF – não estaria tratando
de estatuto normativo, mas apenas pretendia completar o rol.
SEPULVEDA PERTENCE: a corrente tradicional nega vigência ao art. 5º, § 2º, CF, mas a corrente
Flávia Piovesan nega vigência ao art. 102, III, b, CF. O estatuto seria supralegal. Mesmo após a EC
45 os tratados podem ser aprovados por maioria simples, mas não terão nível constitucional
(considerar como lei ordinária federal).
Flávia Piovesan – EC 45 não pode ser interpretada isoladamente, deve ser interpretada em conjunto
com o § 2º.
Posicionamentos existentes sobre o status dos tratados internacionais de direitos humanos:
a) SUPRACONSTITUCIONAL;
b) CONSTITUCIONAL;
c) INFRACONSTITUCIONAL, MAS SUPRALEGAL;
d) INFRACONSTITUCIONAL, COM MESMO STATUS DE LEI FEDERAL.
60
própria constituição. Ex: liberdade de reunir-se, sem armas (XVI), liberdade de locomoção em
tempo de paz (XV).
Ainda quanto aos limites dos direitos fundamentais, vigem as teorias interna e externa para
justificar a possibilidade de limites e restrições.
a) Teoria externa: considera que as restrições a direitos fundamentais são externas ao conceito
desses mesmos direitos. Ex: existe direito de liberdade, que pode sofre restrições (externas) em
casos concretos. Gilmar Mendes, Dworkin, Alexy.
b) Teoria interna: o conteúdo de um direito só pode ser definido após ser confrontado com os
demais: não existem restrições a um direito, mas definições de até onde vai esse direito. Eros Grau,
Habermas.
Assim, as normas que preveem direitos subjetivos é outorgada função autônoma, que transcende a
perspectiva subjetiva, implicando, além disso, o reconhecimento de conteúdo normativos e,
portanto, de funções distintas aos direitos fundamentais. Trata-se de um reforço de juridicidade das
normas de direitos fundamentais. Passaram a integrar a assim denominada perspectiva objetiva da
dignidade humana.
Como um dos mais importantes desdobramentos, fala-se da eficácia irradiante ou efeito de
irradiação dos direitos fundamentais, no sentido de que estes, na sua condição de direito objetivo,
fornecem impulsos e diretrizes para a aplicação e interpretação do direito infraconstitucional,
implicando em uma interpretação conforme os direitos fundamentais de todo o ordenamento
jurídico.
Outra função que tem sido reconduzida à dimensão objetiva está vinculada ao reconhecimento de
que os direitos fundamentais implicam deveres de proteção do Estado, impondo aos órgãos estatais
a obrigação permanente de zelar pelos direitos fundamentais dos indivíduos, não somente contra os
poderes públicos, mas também contra agressões por parte dos particulares e até mesmo por parte de
outros Estados.
Por força dos deveres de proteção, aos órgãos estatais incumbe assegurar níveis eficientes de
proteção para os diversos bens fundamentais, o que implica não apenas a vedação de omissões, mas
também a proibição de uma proteção manifestamente insuficiente, tudo sujeito a controle por parte
dos órgãos estatais, inclusive por parte do poder judiciário.
Uma terceira função é a função organizatória e procedimental. A partir do conteúdo das normas de
direitos fundamentais é possível se extrair uma formatação do direito organizacional e
procedimental que auxilie na efetivação da proteção aos direitos fundamentais, evitando-se os riscos
de uma redução do seu significado e conteúdo material.
De qualquer modo, as funções vinculadas à dimensão objetiva influenciam a dimensão subjetiva,
isto é, a noção de direitos fundamentais como direitos subjetivos, contribuindo para o seu
alargamento e implicando em maior ou menor medida a possibilidade de invocar seus efeitos
jurídicos perante o poder judiciário.
Por outro lado, quando um indivíduo for o responsável pelo pela perturbação que protege o
exercício da liberdade protegida titulada por outro indivíduo, para o Estado surge, como
conseqüência do dever de proteção, o dever de prestar positivamente algo ao titular do direito
perturbado.
Por isso, Alexy define os direitos a prestações como sendo todos os direitos fundamentais a um ato
positivo, uma ação do Estado, identificando-os como contrapartida exara ao conceito de direitos de
defesa.
Segundo Canotilho, os direitos sociais prestacionais, no plano jurídico-dogmático, promovem uma
inversão relativamente ao objeto do direito subjetivo, na exata medida em que postulam uma
proibição de omissão estatal, impondo aos poderes públicos uma intervenção ativa traduzida no
dever de fornecimento de prestações positivas, embora o façam por intermédio de imposições
constitucionais que, em razão da vagueza e indeterminação, dependem sempre a interposição do
legislador ordinário e demais órgãos aptos à concretização da norma jusfundamental.
Dentre tais direitos, incluem-se o direito à saúde, à educação, à aposentadoria, à participação dos
partidos políticos nos recursos do fundo partidário, ao acesso à Justiça e à assistência judiciária
gratuita. Ressalte-se que entre o art. 5º da CF não se encontram somente direitos a prestações
negativas como também direitos a prestações positivas, tais como o mencionado direito à
assistência judiciária gratuita, o direito à informações de interesse particular, direito à obtenção de
certidões, direito das presas de amamentação de seus filhos, direito do preso à identificação dos
responsáveis por sua prisão, direito à indenização pelo erro judiciário, direito ao registro civil de
nascimento e certidão de óbito aos reconhecidamente pobres, direito à gratuidade de HC e HD, e
direito à razoável duração do processo.
Também se encaixam os direitos sociais, os quais o constituinte alinhou direitos tipicamente de
defesa; entretanto, não podem ser entendidas como sinônimos de dimensão prestacional positiva.
67
6.1.2. Quais são as consequências jurídicas do viés objetivo dos direitos fundamentais?
1) A compreensão objetiva dos direitos fundamentais tem como principais consequências: a
eficácia irradiante dos direitos fundamentais, na condição de que estes, como direitos objetivos,
fornecem impulsos e diretrizes para a aplicação e interpretação do direito infraconstitucional,
implicando uma interpretação conforme aos direitos fundamentais de todo o ordenamento jurídico.
2) Além disso, a perspectiva objetiva dos direitos fundamentais, aliada ao reconhecimento da
supremacia normativa da constituição e ao controle de constitucionalidade das leis, redunda no
fenômeno da Constitucionalização do Direito, incluindo a questão da eficácia dos direitos
fundamentais na esfera particular.
3) Outrossim, são oriundos da perspectiva objetiva dos direitos fundamentais os deveres de
proteção do Estado, impondo aos órgãos estatais a obrigação permanente de, inclusive
preventivamente, zelar pela proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos, não somente contra
os poderes públicos, mas também contra agressões por parte de particulares e até mesmo por parte
de outros Estados. Por força dos deveres de proteção, aos órgãos estatais incumbe assegurar níveis
eficientes de proteção para os diversos bens fundamentais, o que implica não apenas a vedação de
omissões, mas também a proibição de uma proteção manifestamente insuficiente.
4) Por fim, vinculada à dimensão objetiva, surge também a designada função organizatória
procedimental, no sentido de que a partir das normas de direitos fundamentais extraem-se
consequências para a aplicação e a interpretação das normas procedimentais, e também para a
formatação do direito organizacional e procedimental, a bem de auxiliar na efetivação e na proteção
dos direitos fundamentais.
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6.4.1. O que significa o âmbito de proteção de um direito fundamental? Ele está sujeito a
intervenções?
Todo direito fundamental possui um âmbito de proteção, que nada mais é do que um campo de
incidência normativa ou suporte fático, e todo direito fundamental está sim sujeito a intervenções
neste âmbito de proteção.
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6.4.2. Sabendo-se que não existem direitos fundamentais absolutos, sendo estes, portanto,
limitados, explique a distinção entre a teoria interna e a teoria externa dos limites aos direitos
fundamentais.
Segundo a Teoria Interna, um direito fundamental existe desde sempre com seu conteúdo
determinado, afirmando-se mesmo que o direito já “nasce” com o seus limites.
Neste sentido, fala-se na existência de “limites imanentes”, que consistem em fronteiras implícitas,
de natureza apriorísticas. Assim, correta a afirmação de que para a teoria interna o processo de
definição dos limites do direito é algo interno a ele. A teoria interna não admite restrições a direitos
fundamentais, pois eles já possuem restrições por eles próprios definidas.
A teoria externa considera que o direito fundamental é, inicialmente, ilimitado. Mediante eventuais
restrições, ele se converte num direito limitado. Tal construção parte do pressuposto de que existe
uma distinção entre posição prima facie e posição definitiva, a primeira correspondendo ao direito
antes de sua limitação, a segunda equivalente ao direito já limitado.
Segundo Ingo Sarlet, a teoria externa acaba sendo mais apta a proporcionar a reconstrução
argumentativa das colisões de direitos fundamentais, tendo em conta a necessidade de imposição de
limites a tais direitos.
6.4.5. Qual é a distinção conceitual entre reservas legais simples e reservas legais qualificadas?
As reservas legais simples autorizam o legislador a intervir no âmbito de proteção de um direito
fundamental sem estabelecer pressupostos ou objetivos específicos a serem observados, implicando,
portanto, a atribuição de uma competência mais ampla de restrição.
As reservas legais qualificadas têm como traço distintivo o fato de estabelecerem pressupostos e/ou
objetivos a serem atendidos pelo legislador ordinário para limitar os direitos fundamentais.
6.4.6. No tema das reservas legais, o que significa o conceito de “reserva geral imanente de
ponderação”?
O conceito é apresentado por Jorge Reis Novais para explicar o fenômeno de direitos fundamentais
que não possuem limitações previstas no texto constitucional, mas que, eventualmente, em razão de
colisão com outros direitos fundamentais, poderão casuisticamente ser restringidos, sem que tal
restrição afigura-se abusiva.
Como salienta Ingo, a solução amplamente preconizada afirma a necessidade de se respeitar a
proteção constitucional dos diferentes direitos no quadro da unidade da constituição, buscando
harmonizar preceitos que apontam para resultados diferentes, muitas vezes contraditórios.
No Brasil, o desbravamento do princípio sob estudo é atribuído a José Afonso da Silva, para quem
as normas constitucionais definidoras de direitos sociais seriam normas de eficácia limitada e
ligadas ao princípio programático, que, inobstante tenham caráter vinculativo e imperativo, exigem
a intervenção legislativa infraconstitucional para a sua concretização, vinculam os órgãos estatais e
demandam uma proibição de retroceder na concretização desses direitos. Logo, o autor reconhece
indiretamente a existência do princípio da proibição de retrocesso social.
O STF lançou o primeiro pronunciamento sobre a matéria por meio do acórdão prolatado na ADI nº
2.065-0-DF, na qual se debatia a extinção do Conselho Nacional de Seguridade Social e dos
Conselhos Estaduais e Municipais de Previdência Social. Não obstante o STF não tenha conhecido
da ação, por maioria, por entender ter havido apenas ofensa reflexa à Constituição, destaca-se o
voto do relator originário, Ministro Sepúlveda Pertence, que admitia a inconstitucionalidade de lei
que simplesmente revogava lei anterior necessária à eficácia plena de norma constitucional e
reconhecia uma vedação genérica ao retrocesso social.
O princípio tem sede material na Constituição brasileira de 1988, decorrendo dos princípios do
Estado social e democrático de direito, da dignidade da pessoa humana, da máxima eficácia e
efetividade das normas definidoras de direitos fundamentais, da segurança jurídica e da proteção da
confiança, do valor social do trabalho e da valorização do trabalho humano.
Além disso, o princípio decorre da imposição constitucional de ampliação dos direitos fundamentais
sociais, da redução das desigualdades sociais e da construção de uma sociedade marcada pela
solidariedade e pela justiça social. Levam-se em consideração, ainda, a tendência do direito
internacional de progressiva implementação efetiva da proteção social por parte dos Estados e o
argumento de que a negação do princípio significaria que o legislador dispõe do poder de
livremente tomar decisões, ainda que em flagrante desrespeito à vontade expressa do legislador
constituinte.
(Resposta elaborada com base no livro do Ingo e no artigo http://jus.com.br/artigos/12359/o-
principio-da-proibicao-de-retrocesso-social).
Em tempo, é importante mencionar que o Supremo Tribunal Federal em inúmeros julgados utiliza a
proibição do retrocesso constitucional como um fundamento jurídico bastante forte em suas
decisões. Colaciono a decisão a seguir, a título de exemplo:
DEFENSORIA PÚBLICA – DIREITO DAS PESSOAS NECESSITADAS AO ATENDIMENTO
INTEGRAL, NA COMARCA EM QUE RESIDEM, PELA DEFENSORIA PÚBLICA –
PRERROGATIVA FUNDAMENTAL COMPROMETIDA POR RAZÕES ADMINISTRATIVAS
QUE IMPÕEM, ÀS PESSOAS CARENTES, NO CASO, A NECESSIDADE DE CUSTOSO
DESLOCAMENTO PARA COMARCA PRÓXIMA ONDE A DEFENSORIA PÚBLICA SE
ACHA MAIS BEM ESTRUTURADA – ÔNUS FINANCEIRO, RESULTANTE DESSE
DESLOCAMENTO, QUE NÃO PODE, NEM DEVE, SER SUPORTADO PELA POPULAÇÃO
DESASSISTIDA – IMPRESCINDIBILIDADE DE O ESTADO PROVER A DEFENSORIA
PÚBLICA LOCAL COM MELHOR ESTRUTURA ADMINISTRATIVA – MEDIDA QUE SE
IMPÕE PARA CONFERIR EFETIVIDADE À CLÁUSULA CONSTITUCIONAL INSCRITA NO
ART. 5º, INCISO LXXIV, DA LEI FUNDAMENTAL DA REPÚBLICA – OMISSÃO ESTATAL
QUE COMPROMETE E FRUSTRA DIREITOS FUNDAMENTAIS DE PESSOAS
NECESSITADAS – SITUAÇÃO CONSTITUCIONALMENTE INTOLERÁVEL – O
72
As cláusulas pétreas encontram previsão constitucional no art. 60, com a seguinte redação:
§ 4º - Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
Observem que o próprio Artigo 60, §4º é considerado, indiretamente, também uma cláusula pétrea e
não pode ser suprimido. Ou seja, ele não pode ser objeto de uma proposta de emenda constitucional,
o que seria considerado uma burla ao sistema constitucional, através do que a doutrina chama de
"dupla revisão".
Defende-se a existência de cláusulas pétreas implícitas, como o Princípio Republicano. Vejamos:
As limitações materiais permitem que o núcleo essencial do Estado, previsto na Constituição, seja
resguardado de toda e qualquer emenda pleiteadora de modificação, de modo a preservar a
identidade do texto constitucional. Assim, as cláusulas pétreas, previstas expressamente no artigo
60, parágrafo 4º da CF/88, constituem matérias intocáveis.
Nesse contexto, merece destaque a forma de governo Republicana como limitação material
implícita que, embora não se localize diretamente no texto da Magna Carta, traz conteúdos
fundamentais, que se relacionam direta e indiretamente com as cláusulas pétreas e os princípios
constitucionais.
Se as cláusulas pétreas têm como função proporcionar a estabilidade do ordenamento jurídico, a
República também tem esse mesmo escopo. A sua inobservância como limitação material implícita
ao poder reformador resultar-se-á em violação à cláusula pétrea explícita, qual seja, o voto
periódico, conquanto a existência deste torna-se incompatível com os princípios mantenedores da
monarquia: a hereditariedade e a vitaliciedade.
Outrossim, transgredir-se-á o Princípio da Soberania Popular, visto que uma vez manifestada a
vontade popular favoravelmente à implantação do regime Republicano, por meio do plebiscito,
ocorrido em 21 de abril de 1993 (artigo 2º do Atos das Disposições Constitucionais Transitórias), há
que se respeitar tal decisão - fruto do poder emanado diretamente pelo povo.
Por fim, a natureza constitucional da República - princípio norteador de todo o sistema jurídico
brasileiro-, embora não prevista como cláusula pétrea, deve ser efetivamente reconhecida como uma
limitação material implícita ao poder de reforma, haja vista sua imprescindibilidade à estrutura
político-governamental atual do país.
74
7.4. O HC é medida idônea para impugnar decisão judicial que autoriza a quebra de sigilos
fiscal e bancário em procedimento criminal?
Sim, haja vista a possibilidade de a quebra desses sigilos resultar em constrangimento à liberdade
do investigado. (STF. AI 573623 QO/RJ, julgado em 2006 e relatado pelo Ministro Gilmar
Mendes).
7.6. Cite algumas hipóteses existentes na jurisprudência do STF em que não cabe HC.
Quando já extinta a pena privativa de liberdade (súmula 695, STF); contra a imposição da pena de
exclusão de militar ou de perda de patente ou de função pública (súmula 694, STF); contra decisão
condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena
pecuniária seja a única cominada (súmula 693, STF).
7.8. O habeas data se confunde com o direito de obter certidões (artigo 5º, XXXIV, b, CRFB)
ou informações de interesse particular, coletivo ou geral (artigo 5º, XXXIII, CRFB)?
Não. Havendo recusa no fornecimento de certidões (para a defesa de direitos ou esclarecimentos de
situações de interesse pessoal, próprio ou de terceiros) ou informações de terceiros, o remédio
próprio é o mandado de segurança, e não o habeas data. Se o pedido for para assegurar o
conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, o remédio será o habeas data.
O habeas data não pode ser confundido com o direito à obtenção de certidões em repartições
públicas. Ao pleitear a certidão, o solicitante deve demonstrar que o faz para defesa de direitos e
esclarecimentos de situações de interesse pessoal. No habeas data, basta o simples desejo de
conhecer as informações relativas à sua pessoa, independentemente da demonstração de que elas se
prestarão à defesa de direitos.
76
Já a legitimidade ativa para o MS coletivo vem prevista no artigo 5º, LXX da CRFB: partido
político com representação no Congresso Nacional; organização sindical, entidade de classe ou
associação.
No caso apenas da associação, segundo entendimento do STF (RE 198.919-DF, Rel. Min. Ilmar
Galvão, 15.06.1999, Inf. 154/STF), há o requisito de estarem em funcionamento há pelo menos um
ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados. (Vide súmulas 629 e 630 do STF,
bem como o artigo 21 da lei 12.016/2009).
Ao se referir à defesa dos interesses dos membros ou associados, a Constituição estabeleceu a
necessária existência de pertinência temática do objeto da ação coletiva com os objetivos
institucionais do sindicato, entidade de classe ou associação. Trata-se de verdadeira substituição
processual (legitimação extraordinária) das entidades representando direitos alheios de seus
associados.
7.17. Os partidos políticos poderão representar somente seus filiados e na defesa de, apenas,
direitos políticos?
Há controvérsia. Pedro Lenza entende que não, podendo defender qualquer direito inerente à
sociedade, pela própria natureza do direito de representação previsto no artigo 21, parágrafo único
da lei 12.016/2009. Para ele, entendimento contrário seria restritivo do previsto na CF, burlando o
objetivo maior de defesa da sociedade, já que o constituinte originário não colocou qualquer
limitação à atuação dos partidos políticos, a não ser a representação no Congresso Nacional.
Entretanto, essa não é a posição adotada pelo STJ (MS 197/DF, 20.08.1990, RSTJ, 12/215:
“Quando a Constituição autoriza um partido político a impetrar mandado de segurança coletivo,
só pode ser no sentido de defender os seus filiados e em questões políticas, ainda assim, quando
autorizado por lei ou pelo estatuto. Impossibilidade de dar a um partido político legitimidade para
vir a Juízo defender 50 milhões de aposentados, que não são, em sua totalidade, filiados ao partido
e que não autorizaram o mesmo a impetrar mandado de segurança em nome deles”.
7.18. Se um partido político ajuizar mandado de segurança coletivo, esta ação induzirá
litispendência caso algum cidadão ajuíze individualmente uma ação sobre o mesmo fato?
Não, de acordo com o artigo 22, §1º da lei 12.016/2009, mas os efeitos da coisa julgada não
beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado de
segurança no prazo de trinta dias, a contar da ciência comprovada da impetração da segurança
coletiva.
7.19. Para que uma entidade de classe possa ajuizar MS coletivo, a pretensão veiculada deve
ser de interesse da totalidade da respectiva categoria? E esse ajuizamento dependerá da
autorização dos associados?
Em relação à primeira questão, não, segundo a súmula 630 do STF: “A entidade de classe tem
legitimação para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a
uma parte da respectiva categoria”.
79
A resposta da segunda pergunta também é negativa, nos termos da súmula 629 do STF: “A
impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados
independe da autorização destes”.
7.22. O artigo 5º, XXXIV, b, da CRFB prevê o direito de obtenção de certidões em repartições
públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situações de interesse pessoal. Há algum
prazo legal para a expedição dessas certidões?
Sim. O artigo 1º da Lei 9.051/95 dispõe que “as certidões para a defesa de direitos e
esclarecimentos de situações, requeridas aos órgãos da administração centralizada ou autárquica, às
empresas públicas, às sociedades de economia mista e às fundações públicas da União, dos Estados,
do DF e dos Municípios, deverão ser expedidas no prazo improrrogável de quinze dias, contado do
registro do pedido no órgão expedidor”.
7.24. Qual é o remédio cabível em não sendo atendido o pedido de certidão, de forma ilegal ou
por abuso de poder?
Mandado de segurança, e não habeas data. Trata-se de direito líquido e certo de obter certidões
expedidas pelas repartições públicas seja para a defesa de direitos, seja para esclarecimentos de
situações de interesse pessoal, próprio ou de terceiros. Como exemplo, o direito de o funcionário
público obter certidão perante a autoridade administrativa para requerer a sua aposentadoria.
7.26. Quais são os dois requisitos constitucionais para o mandado de injunção (artigo 5º,
LXXI, CRFB)?
O primeiro é a norma constitucional de eficácia limitada, prescrevendo direitos, liberdades
constitucionais e prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. O segundo é a
falta de norma regulamentadora, tornando inviável o exercício dos direitos, liberdades e
prerrogativas acima mencionados (omissão do Poder Público).
Dessa forma, assim como a ADO – ação direta de inconstitucionalidade por omissão, o mandado de
injunção serve para curar uma doença denominada síndrome de inefetividade das normas
constitucionais de aplicabilidade mediata e reduzida, dividindo-se em dois grandes grupos:
a) Normas de eficácia limitada, declaratórias de princípios institutivos ou organizativos:
normalmente criam órgãos (artigos 91, 125, §3º, 131, etc.);
b) Normas declaratórias de princípios programáticos: veiculam programas a serem
implementados pelo Estado (artigos 196, 215, 218, caput, etc.).
A posição não concretista, por muito tempo, foi a dominante no STF (MI 107-DF). Esse
posicionamento sofreu diversas críticas, na medida em que se tornaria inviável o exercício de
direitos fundamentais na persistência da inércia legislativa. A providência jurisdicional, nesses
termos, mostra-se inócua.
Avançando, o STF adotou em alguns casos a posição concretista individual intermediária. (MI 232-
1-RJ, RDA 188/155).
Ocorre que, dependendo da situação, se passado período de tempo desarrazoado para que o
Legislativo suprisse o silêncio, o STF poderia, mesmo sem conceder prazo, de imediato
regulamentar o direito violado. (MI 721/DF).
Por fim, o STF, no julgamento dos MIs 670, 708 e 712, em importante decisão, por unanimidade,
declarou a omissão legislativa e, por maioria, determinou a aplicação, no que couber, da lei de greve
vigente no setor privado, Lei 7.783/89. A aplicação da lei não se restringiu aos impetrantes, mas a
todo o funcionalismo público. Assim, pode-se afirmar que o STF consagrou, em referido
julgamento, a teoria concretista geral.
Assim, excluem-se do polo ativo os estrangeiros, os apátridas, as pessoas jurídicas (vide súmula 365
do STF) e mesmo os brasileiros que estiverem com os seus direitos políticos suspensos ou perdidos
(artigo 15 da CRFB).
Aquele entre 16 e 18 anos, que tem título de eleitor, pode ajuizar a ação popular sem a necessidade
de assistência, porém, sempre por advogado (capacidade postulatória). Nesse sentido: AO 1.531-
AgR, voto da Min. Cármen Lúcia, DJE de 01º.07.2009).
Importante destacar que, embora apenas o cidadão tenha legitimidade para o ajuizamento da ação
popular, o Ministério Público pode, na hipótese de desistência da ação por parte do autor, promover
o respectivo prosseguimento do feito, nos termos do artigo 9º da lei.
No polo passivo, de acordo com o artigo 6º da lei, figurarão o agente que praticou o ato, a entidade
lesada e os beneficiários do ato ou contrato lesivo ao patrimônio público.
7.40. É correto afirmar que a ACP somente poderá ter por objeto a condenação em dinheiro
ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer?
Não. Diante do princípio da inafastabilidade da jurisdição (artigo 5º, XXXV, CRFB), o Estado se
obriga a prestar a tutela jurisdicional de forma célere e efetiva.
Sendo assim, quando se trata da defesa em juízo de direitos coletivos, não se permite que a
legislação infraconstitucional limite a priori e abstratamente quais as espécies de provimentos
jurisdicionais cabíveis para determinado direito difuso ou coletivo. Devem ser considerados
possíveis todos aqueles que se apresentem mais eficazes no caso concreto.
Destarte, diante de tal princípio, deve-se interpretar o artigo 3º da lei da ACP no sentido de que as
tutelas de fazer, não fazer e pecuniárias nele previstas não são excludentes, podendo ser
concomitantes diante da necessidade do caso concreto. Nesse sentido: Resp 592.693/MT, Rel.
Min.Teori Zavascki, DJ 27/08/2007).
7.42. O artigo 5º da lei da ACP traz o rol dos legitimados para a propositura da ação principal
e da cautelar. Todos eles possuem legitimidade para firmar compromisso de ajustamento de
conduta? Qual é a natureza jurídica do TAC celebrado?
Não. Segundo dispõe o §6º do artigo 5º, somente os órgãos públicos legitimados para a propositura
da ação principal e da cautelar poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de
conduta às exigências legais, mediante cominações, o qual terá eficácia de título executivo
extrajudicial.
8.2. No Direito comparado, quais são os diplomas que marcaram a positivação constitucional
dos direitos sociais? E no Brasil?
Em tema de Direitos Sociais, os diplomas apontados pela doutrina como marcos da positivação
constitucional são: Constituição Mexicana de 1917; Constituição Alemã de 1919 (Weimar). No
Brasil, o marco é a Constituição de 1934.
8.5. Em que consiste o princípio da vedação do retrocesso social? Tal postulado foi
incorporado pela Constituição Federal?
Sustenta-se através do princípio da vedação do retrocesso social (evolução reacionária ou effet
cliquet) que não se poderia desconstituir o grau de concretização de direitos sociais já atingido pela
sociedade. Com isso, o legislador não poderia pura e simplesmente retroceder em relação aos
direitos sociais já regulamentados e consagrados.
Assim, o aludido princípio traz dimensão negativa aos direitos sociais, já que o Estado não apenas
estaria obrigado a prestá-los (dimensão positiva), como não estaria obrigado a não mais aboli-los
(dimensão negativa).
O postulado não consta expressamente do texto da CF, sendo apontado por alguns autores (não há
unanimidade) como um princípio constitucional implícito.
Uma exceção apontada pela doutrina à proibição do retrocesso social seria a adoção de medidas
compensatórias. Assim, poderia o legislador retroagir em algum direito social, desde que
compensasse com a ampliação de outro.
Por fim, resta mencionar que alguns juristas também entendem que a vedação do retrocesso social
não apenas seria de observância obrigatória ao legislador infraconstitucional, mas também ao
constituinte derivado, que não poderia emendar a Constituição para retroceder em matéria de direito
social.
88
8.6. Sobre o direito à educação, é permitido que as universidades públicas cobrem taxa de
matrícula aos estudantes?
Tal prática era recorrente entre as universidades públicas, sobretudo em razão dos inúmeros
problemas orçamentários que sofriam (e ainda sofrem). Assim, as universidades costumavam cobrar
tais taxas para fazer frente a gastos de pequena monta, como compra de materiais, pagamento de
energia elétrica etc.
Todavia, apesar da destinação pública que era dada ao dinheiro, a Constituição Federal, no art. 206,
IV, traz como um dos princípios da educação a sua gratuidade quando em instituições oficiais.
Assim, com base nesse dispositivo, o STF editou a súmula vinculante 12 deixando claro que a
cobrança da aludida taxa viola a Constituição Federal.
8.8. Qual a distinção entre seguridade social e as três figuras saúde, assistência e previdência
social? (Resposta elaborada pelos candidatos da prova oral do XIV concurso para juiz federal do
TRF1)
A seguridade social é um dos capítulos da ordem social. Enquanto gênero, a seguridade social
compreende três espécies: a saúde (não contributiva), a previdência social (contributiva) e a
assistência social (não contributiva).
A saúde volta-se para todos, indistintamente. A previdência, por sua vez, volta-se aos trabalhadores.
A assistência social, por fim, volta-se as desamparados (CF, art. 6º), donde se extrai que a
Constituição reconhece, na distinção entre previdência e assistência, a miserabilidade como critério
norteador desta.
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8.10. Quanto ao direito social ao desporto, há alguma peculiaridade trazida pela Constituição
Federal acerca do acesso ao Poder Judiciário?
Sim. Sabe-se que o artigo 5º, XXXV da CF traz o acesso à Justiça como direito fundamental,
impondo ao próprio legislador que não produza leis que excluam lesões ou ameaças a direitos da
apreciação do Poder Judiciário. Todavia, em matéria desportiva, há uma ressalva trazida pela
própria Carta Maior.
Trata-se da previsão do art. 217, §1º, segundo a qual o Poder Judiciário só admitirá ações relativas à
disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da própria justiça
desportiva. Entretanto, importante observar que a Constituição também estabelece o prazo máximo
de 60 dias para que a justiça desportiva profira decisão final sobre o caso.
Por fim, vale destacar que a chamada “Justiça Desportiva” não integra o Poder Judiciário, sendo
apenas um órgão de índole administrativa.
8.17. Quais são as diferenças entre brasileiros natos e brasileiros naturalizados previstas no
texto constitucional?
1) Há alguns cargos privativos de brasileiros natos (como de Presidente e Vice-Presidente da
República, Presidente da Câmara e do Senado, Ministros do STF etc)
2) Há vagas no Conselho da República que foram reservadas para brasileiros natos (art. 89, VII);
3) Apenas o brasileiro naturalizado pode vir a ser extraditado, o que pode ocorrer em caso de prática
de crime comum, antes da naturalização, ou em caso de comprovado envolvimento com tráfico
ilícito de drogas (art. 5º, LI).
4) O brasileiro naturalizado há menos de 10 anos não pode ser proprietário de empresa jornalística e
de radiodifusão sonora e imagens, tampouco pode ser sócio com mais de 30% do capital total e do
capital votante dessas empresas (art. 222).
8.18. O que significa a figura da “quase-nacionalidade”, conceito por vezes trazido pela
doutrina?
Quase-nacionalidade é um termo cunhado pela doutrina para se referir a situação de equiparação de
direitos entre brasileiros e portugueses, conforme art. 12, §1º da CF.
De imediato, deve-se destacar que não se trata de hipótese de naturalização. Se um nacional
Português quiser se naturalizar brasileiro, ele deverá se submeter aos requisitos da naturalização
para as pessoas originárias de países de língua portuguesa (residência por um ano ininterrupto e
idoneidade moral).
Porém, caso o português que tenha residência no Brasil queira continuar com a nacionalidade
portuguesa, há uma hipótese constitucional de equiparação de direitos com os brasileiros.
Para tanto, exige-se, além da residência permanente do português no Brasil, que haja reciprocidade
em favor dos brasileiros em Portugal. O tema é melhor elucidado no “Tratado de Amizade”,
celebrado entre Brasil e Portugal (Decreto 3927/2001).
Todavia, é relevante ressaltar que a CF concede ao Português equiparado todos os direitos inerentes
aos brasileiros, “salvo nos casos previstos nesta Constituição”. Com isso, entende-se que a
equiparação feita é aos brasileiros naturalizados, e não aos natos. Logo, o Português não poderá
ocupar os cargos privativos de brasileiros natos, por exemplo.
92
9.2. Qual o regime democrático adotado pelo Brasil? De que forma se instrumentaliza a
soberania popular?
A CF 88 assimilou a democracia participativa ou semidireta, a qual consiste num sistema híbrido,
isto é, uma democracia representativa com peculiaridades e atributos da democracia direta.
Dessa forma, o exercício da soberania popular se instrumentaliza por meio do voto, plebiscito,
referendo, iniciativa popular, bem como pelo ajuizamento de ação popular e, até mesmo, pelo
exercício da função de jurado no Tribunal do Júri. Vale lembrar que os atos necessários ao exercício
da cidadania são gratuitos.
9.7. Discorra sobre os direitos políticos positivos, indicando as espécies em que eles se dividem
e suas características básicas:
Os direitos políticos positivos, que consistem no conjunto de normas que asseguram o direito
subjetivo de participação no processo político e nos órgãos governamentais, estão ligados à
capacidade eleitoral ativa (direito de votar, de se alistar como eleitor) e passiva (direito de ser
votado, de candidatar-se, ser elegível), além do exercício de outros direitos de participação popular.
A capacidade eleitoral ativa pressupõe, portanto, o alistamento eleitoral (obrigatório para os maiores
de 18 anos; facultativo para analfabetos, maiores de 70 anos e entre 16-18 anos), a nacionalidade
brasileira, não ser conscrito (militar durante o serviço obrigatório), bem como a idade mínima de 16
anos. Cumpre destacar que o voto é direto, secreto, universal, periódico (cláusulas pétreas), livre,
personalíssimo e com valor igual para todos. De outra banda, a capacidade eleitoral passiva,
consistente na possibilidade de concorrer a um mandato eletivo, pressupõe o preenchimento das
condições de elegibilidade, quais sejam: nacionalidade brasileira, pleno exercício dos direitos
políticos, alistamento eleitoral, domicílio eleitoral na circunscrição, filiação partidária e idade
mínima de acordo com o cargo.
94
9.8. Conceitue direitos políticos negativos, indique as espécies em que eles se dividem e
discorra sobre suas características básicas. (Prova Oral – Defensoria DF- Cespe)
Direitos políticos negativos são formulações constitucionais restritivas e impeditivas das atividades
político-partidárias, privando o cidadão do exercício de seus direitos políticos (capacidade eleitoral
ativa e passiva). São espécies as inelegibilidades (segundo Pedro Lenza), bem como as hipóteses de
perda e suspensão de direitos políticos (direitos políticos negativos em essência).
As inelegibilidades são as circunstâncias constitucionais ou legais (previstas na Lei Complementar
n. 64/90) que impedem o cidadão do exercício total ou parcial da capacidade eleitoral passiva (de
eleger-se). Elas buscam proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do
mandato, considerada a vida pregressa.
Subdividem-se em absolutas e relativas. Assim, de acordo com o art. 14, §4º, da CF 88, são
absolutamente inelegíveis (em relação a qualquer cargo eletivo) o inalistável (Ex.: estrangeiros,
conscritos, menores de 16 anos) e o analfabeto (pode votar, mas não pode ser votado).
Vale lembrar que a Lei Complementar n. 64/90, recentemente modificada pela LC nº 135/2010
(conhecida como Lei da Ficha Limpa), estabelece diversos casos de inelegibilidade (os quais,
considerando o perfil do edital – que não compreende direito eleitoral - e a extensão do resumo, não
serão abordados aqui).
Já a inelegibilidade relativa (impossibilidade de eleger-se apenas para alguns cargos) surge em
decorrência da função exercida, do parentesco ou do fato do candidato ser militar , e pode ser
ampliada por lei complementar (LC 64/90).
Nesse contexto, cumpre destacar a impossibilidade de reeleição para um terceiro mandato
sucessivo, nos casos de Presidentes, Governadores e Prefeitos. O vice somente quando sucede o
titular é que passa a exercer o seu primeiro mandato como titular do cargo, podendo, após,
concorrer a reeleição (STF).
Igualmente relevante ressaltar, no campo das inelegibilidades relativas, a necessidade de
desincompatibilização: para concorrerem a outros cargos (não para reeleição), o Presidente da
República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos
respectivos mandatos até seis meses antes do pleito (art. 14, §6º, CF).
Por fim, de suma relevância a inelegibilidade relativa em razão do parentesco, evitando-se a
perpetuidade de familiares no poder. Nestes termos: “São inelegíveis, no território de jurisdição do
titular, o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou
de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato
eletivo e candidato à reeleição (art. 14, §6º, CF)”.
Aliás, sobre o tema, o STF já decidiu que parentes podem concorrer nas eleições, desde que o titular
do cargo tenha o direito à reeleição. A propósito, segue o teor da Súmula Vinculante n. 18: “A
dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade
prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal”.
No que tange à perda dos direitos políticos, são hipóteses excepcionais e que não admitem
interpretação extensiva nem ampliação: cancelamento da naturalização por sentença transitada em
julgado; recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa (divergência
95
9.9. O voto no Brasil pode deixar de ser obrigatório através de Emenda Constitucional?
Sim. Pela atual redação da Constituição, o direito de votar configura um poder-dever, ou seja, um
dever político-social, obrigatório (obrigação de comparecer para votação) a todos os cidadãos, com
exceção daqueles para os quais o alistamento é facultativo. Entretanto, a obrigatoriedade do voto
não está elencada no rol de cláusulas pétreas, apenas o voto direto, secreto, universal e periódico.
Possível, portanto, a reforma por meio de Emenda Constitucional.
Por fim, cumpre destacar que os partidos políticos com representação no Congresso Nacional são
legitimados, consoante previsto na CF, a impetrar mandado de segurança coletivo e a propor a ação
direta de inconstitucionalidade e a ação declaratória de constitucionalidade, dentre outras diversas
atribuições.
Não. O STF declarou que as normas que condicionam o funcionamento, a participação no Fundo
Partidário e o direito de acesso gratuito aos meios de comunicação ao desempenho eleitoral dos
partidos políticos (determinado percentual de votos) violam os princípios constitucionais do Estado
Democrático de Direito, como o pluripartidarismo.
Trata-se de preservar os direitos e liberdades fundamentais da minoria, tais como a liberdade de se
expressar, de se organizar, denunciar e de se fazer representar nas decisões que influem nos destinos
da sociedade como um todo.
97
*Neste ponto é importante a leitura dos artigos da Constituição Federal que tratam da organização
do estado (artigos 18 a 33), pois muitas questões são apenas sua literalidade.
10.7. Entre os entes federativos o que se entende por competência concorrente cumulativa a
não cumulativa?
A doutrina classifica essa legislação concorrente de duas formas. Cumulativa, quando inexistir
limites prévios para o exercício da competência por parte de um ente, seja União, seja o Estado-
membro.
Não cumulativa, quando se reserva um nível superior ao ente federativo União, que se incumbe de
fixar os princípios e normas gerais, deixando-se ao Estado-membro a complementação.
A Constituição brasileira adotou a competência não cumulativa, também chamada de repartição
vertical, ou ainda, competência suplementar, como se vê em seu texto legal quando dita regras a
serem observadas para dirimir alguns conflitos:
1º) no âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas
gerais (artigo 24, § 1º, CF);
2º) a competência de normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados;
3º) inexistindo lei federal sobre a matéria de legislação concorrente, os Estados exercerão a
legislação suplementar para atender suas peculiaridades (artigo 24, § 3º, CF);
4º) surgindo lei federal superveniente que regule matéria desta competência, tornará ineficaz lei
estadual em seus aspectos conflitantes.
10.8. Uma lei estadual que obrigue empresas concessionárias de transporte coletivo
intermunicipal a promoverem adaptações em seus veículos, com o propósito de facilitar o
acesso e a permanência de pessoas com deficiência física, ofende a competência privativa da
União para legislar sobre trânsito e transporte? Resposta objetivamente fundamentada.
A lei estadual não ofende a competência privativa da União para legislar sobre trânsito e transporte
prevista no art. 22, XI, da CF, na medida em que, apesar dessa previsão, como já decidiu o Supremo
Tribunal Federal, a lei questionada trata também sobre o direito à acessibilidade física das pessoas
com deficiência, que é de competência concorrente entre União, os Estados e o Distrito Federal, nos
termos do art. 24, XIV, da CF/88, razão pela a lei estadual é constitucional.
Cabe acrescentar que caso seja editada lei federal que trate do tema, a norma estadual embora
permaneça constitucional perderá a eficácia normativa naquilo que esteja em desconformidade com
a legislação geral de regência do tema.
100
É INCONSTITUCIONAL lei estadual que crie, como requisito de ADI 4161/AL – outubro de 2014
admissibilidade para a interposição de recurso inominado no (viola a competência privativa
âmbito dos juizados especiais, o depósito prévio de 100% do valor da União para legislar sobre
da condenação. direito processual, além de
vulnerar os princípios do acesso
à jurisdição, do contraditório e
da ampla defesa).
É inconstitucional lei estadual que proíbe que o TCE, quando ADI 2361/CE – setembro de
estiver fazendo inspeções ou auditorias, tenha acesso a 2014
determinados documentos inerentes à Administração Pública.
É constitucional lei estadual, de iniciativa parlamentar, que obriga ADI 2444/RS – novembro de
o Poder Executivo do referido Estado-membro a divulgar, na 2014
imprensa oficial e na internet, a relação completa de obras
atinentes a rodovias, portos e aeroportos.
101
11.2. Qual foi o grande avanço trazido por Montesquieu para a teoria da “tripartição de
Poderes”?
O grande avanço trazido por Montesquieu, na obra “O espírito das leis”, foi a ideia de que as três
funções estariam intimamente conectadas a três órgãos distintos, autônomos e independentes entre
si. Cada função corresponderia a um órgão, não mais se concentrando nas mãos únicas do soberano.
Essa teoria surge em contraposição ao absolutismo, servindo de base estrutural para o
desenvolvimento de diversos movimentos como as revoluções americana e francesa. Por meio dessa
teoria, cada Poder exercia uma função típica, inerente à sua natureza, atuando independente e
autonomamente.
Assim, cada órgão exercia somente a função que fosse típica, não mais sendo permitido a um único
órgão legislar, aplicar a lei e julgar, de modo unilateral, como se percebia no absolutismo.
Tais atividades passam a ser realizadas, independentemente, por cada órgão, surgindo, assim, o que
se denominou teoria dos freios e contrapesos, segundo a qual um poder controla a atuação do outro,
balizada pelo STF nos seguintes termos:
“Separação e independência dos Poderes: freios e contrapesos: parâmetros federais impostos ao
Estado -Membro. Os mecanismos de controle recíproco entre os Poderes, os ‘freios e contrapesos’
admissíveis na estruturação das unidades federadas, sobre constituírem matéria constitucional local,
102
A função constitui, pois, um modo particular e caracterizado de o Estado manifestar a sua vontade.
Os órgãos são, em consequência, os instrumentos de que se vale o Estado para exercitar suas
funções.
Assim, todos os atos praticados pelo Estado decorrem de um só Poder, uno e indivisível. Esses atos
adquirem diversas formas, dependendo das funções exercidas pelos diferentes órgãos.
Desse modo, o órgão legislativo exerce uma função típica, inerente à sua natureza, além de funções
atípicas, conforme vimos no quadro anterior, ocorrendo o mesmo com os órgãos executivo e
jurisdicional.
11.8. A organização da Defensoria Pública nos estados deverá ser feita por meio de qual
espécie de lei? É permitido o exercício da advocacia, pelos membros da Defensoria Pública?
Conforme o art. 134, §1º, da CF/88, lei complementar prescreverá normas gerais para a organização
da Defensoria Pública nos Estados.
104
Trata-se da Lei Complementar 80/94. No âmbito dos próprios estados, em decorrência do princípio
da simetria, lei complementar deve trazer as normas de regência da Defensoria.
A organização se dá em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público
de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício
da advocacia fora das atribuições institucionais.
11.10. A quem a Defensoria Pública deve enviar seu projeto de lei orçamentária? Pode haver
o envio direto ao Legislativo?
A Constituição não assegura à Instituição a possibilidade de envio direto ao Legislativo. O que a
CF/88 prevê é que a Defensoria Pública irá aprovar a sua proposta orçamentária e encaminhá-la ao
chefe do Poder Executivo.
Este irá consolidar, ou seja, reunir em um único projeto de Lei Orçamentária, as propostas
orçamentárias do Executivo, do Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria, encaminhando o
projeto para ser apreciado pelo Poder Legislativo.
Nesse sentido, o STF julgou procedente a ADPF 307, proposta pela ANADEP, para determinar que
a proposta orçamentária da Defensoria Pública do Estado da Paraíba seja submetida à Assembleia
Legislativa na forma como foi aprovada pela Instituição, ou seja, sem as alterações promovidas pelo
Governador do Estado.
11.13. Sabe-se que a Defensoria Pública conta com insuficiente número de membros, na
grande maioria dos estados brasileiros, fato que traz enormes prejuízos ao direito de acesso à
justiça de muitas pessoas. A fim de solucionar tal impasse, qual foi a norma posta pela EC
80/2014?
A EC 80/2014 incluiu no ADCT o art. 98, que dispõe que o número de defensores públicos, na
unidade jurisdicional, será proporcional à efetiva demanda e à respectiva população.
106
Nos termos do §1º do referido artigo, a União, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com
defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, no prazo de oito anos.
E segundo o disposto no §2º, durante o decurso do prazo de oito anos, a lotação dos defensores
públicos deverá ocorrer, prioritariamente, nas regiões com maiores índices de exclusão social e
adensamento populacional.
11.14. A Defensoria Pública é uma instituição que conta com imenso volume de trabalho e que
ainda não está devidamente estruturada. A fim de garantir uma efetiva atuação processual
dos Defensores Públicos, com respeito aos princípios constitucionais do processo, foram
asseguradas prerrogativas aos membros da carreira. Discorra brevemente sobre elas.
Com o objetivo de assegurar o devido processo legal, contraditório, ampla defesa e, até mesmo, um
efetivo acesso à Justiça, os membros da Defensoria Pública contam com prerrogativas processuais.
No caso dos membros das Defensorias Públicas dos Estados, tais prerrogativas estão dispostas no
art. 128, da LC 80/94. Dentre estas, destacam-se as prerrogativas da intimação pessoal e da
contagem em dobro de todos os prazos processuais, no processo civil, penal, ou mesmo
administrativo.
A violação das prerrogativas autoriza que sejam utilizados os mais variados remédios processuais,
no intuito de corrigi-las, como o habeas corpus e o mandado de segurança.
Tais prerrogativas são válidas para qualquer processo e grau de jurisdição. Há entendimento
jurisprudencial majoritário em relação aos Juizados Especiais, no sentido de que o rito peculiar dos
juizados é incompatível com a intimação pessoal e contagem em dobro dos prazos, para a
Defensoria.
Outro argumento que reforça tal entendimento é o fato de a Lei dos Juizados Especiais ser especial
para esse rito, devendo prevalecer. No entanto, muito mais adequado é o entendimento minoritário,
de que tais prerrogativas são aplicáveis no âmbito dos Juizados.
Ora, deve ser considerada a especialidade da função da Defensoria, e não a especialidade da Lei.
Ademais, a Lei que prevê as prerrogativas é complementar, não podendo, portanto, ser derrogada
por lei ordinária, como a que rege os Juizados Especiais.
107
Os Vereadores são invioláveis por suas opiniões, palavras e votos no exercício do mandato e na
circunscrição do Município (art. 29, VIII).
O subsídio deles será fixado pelas respectivas Câmaras Municipais, em cada legislatura para a
subsequente, ou seja, fica vedada a fixação de subsídios numa mesma legislatura vigente. O STF já
decidiu que a fixação de subsídios na mesma legislatura caracteriza “ato lesivo não só ao
patrimônio material do poder público, como à moralidade administrativa, patrimônio moral da
sociedade” (STF, RE 172.212 -6/ SP, Rel. Min. Maurício Corrêa, 2.ª Turma, DJ 1, de 27.03.1998, p.
19)
Destaque-se que o limite máximo dos subsídios dos Vereadores é de 75% do subsídio dos
Deputados Estaduais, porém, variável de acordo com o número de habitantes de cada município,
não podendo o total da despesa com a remuneração dos Vereadores ultrapassar o montante de 5%
da receita do município e, ainda, os gastos da Câmara Municipal com folha de pagamentos,
incluídos os subsídios dos Vereadores, não pode ultrapassar a 70% de sua receita.
Além disso, deve ser observado que nos municípios nenhum subsídio pode ser superior ao do
Prefeito.
Os senadores são eleitos pelo povo segundo o princípio majoritário, ou seja, não se trata mais de
estabelecer um número proporcional à população, mas, sim, de eleger ao Senado aquele candidato
que obtiver o maior número de votos.
Cada estado e o distrito federal elegerão o número fixo de 3 senadores e cada um deles será eleito
com 2 suplentes.
O mandato de cada senador é de 8 anos, portanto, duas legislaturas. A renovação, dos senadores
eleitos acontecerá de quatro em quatro anos, na proporção de 1/3 e 2/3, alternadamente.
12.8. Por meio de qual espécie normativa as competências privativas dos deputados federais
materializam-se? E as competências privativas dos senadores?
As matérias de competência privativa dos deputados federais estão previstas no art. 51, da CF/88, as
dos senadores estão previstas no art. 52, da CF/88 e ambas não dependerão de sanção presidencial,
nos termos do art. 48, caput. Tais competências materializam-se por meio de resolução.
12.12. Quais são as funções das Mesas diretoras de cada Casa Legislativa?
As Mesas diretoras de cada Casa exercem funções administrativas (de polícia, execução e
administração), devendo, no tocante à sua constituição, ser assegurada, tanto quanto possível, a
representação proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares que participam da respectiva
Casa, nos termos da Constituição.
Temos, então, a Mesa da Câmara dos Deputados, do Senado Federal e a Mesa do Congresso
Nacional, sendo a esta última, de acordo com o art. 57, § 5º, CF/88 conta com algumas regras: a
presidência da Mesa do Congresso Nacional será exercida pelo Presidente do Senado Federal; os
demais cargos da Mesa do Congresso Nacional serão exercidos, alternadamente, pelos ocupantes de
cargos equivalentes na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Dessa forma, se a presidência é
ocupada por um membro do Senado Federal (no caso o Presidente do Senado Federal), a 1.ª Vice -
presidência será ocupada por um membro da Câmara; o 2.º Vice -presidente do Senado; o 1.º
Secretário por um membro da Câmara e assim por diante.
12.13. Discorra sobre as funções, poderes e forma de criação das Comissões Parlamentares de
Inquérito (CPIs).
As CPIs são comissões temporárias, destinadas a investigar fato certo e determinado. Esse papel de
fiscalização e controle da Administração é verdadeira função típica do Poder Legislativo, conforme
se entende pela leitura do art. 70, caput, CF/88.
111
Ainda, a função fiscalizadora exercida pelo Poder Legislativo consagra a perspectiva dos freios e
contrapesos, muito bem delimitada na Constituição de 1988.
O STF entende que as CPIs constituem-se verdadeiro direito público subjetivo das minorias. Após
ter sido efetivamente instalada a CPI do Apagão Aéreo, criada para investigar as causas, as
consequências e os responsáveis pela crise ocorrida no setor aéreo brasileiro, observados os
requisitos do art. 58, §3º, CF/88, o Plenário da Câmara dos Deputados desconstituiu o ato de criação
da CPI. Contra esse ato da Mesa e do presidente da Câmara dos Deputados, foi impetrado mandado
de segurança. O STF, seguindo o voto do Min. Celso de Mello, determinou a instauração da CPI,
sob pena de violação do direito público subjetivo das minorias, mesmo contra a vontade da maioria
da Casa.
De acordo com o art. 58, §3º, CF/88, as CPIs serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de 1/3 de seus membros.
Desse modo, para criação das CPIs, três requisitos são necessários: requerimento subscrito por, no
mínimo, 1/3 de Parlamentares; indicação, com precisão, de fato determinado a ser apurado na
investigação parlamentar; estabelecimento de prazo certo para o desenvolvimento dos trabalhos.
Em relação aos poderes, as CPIs terão poderes de investigação, próprios das autoridades judiciais,
além de outros previstos nos regimentos internos das Casas. A comissão parlamentar de inquérito
realiza, assim, verdadeira investigação, materializada no inquérito parlamentar. Em razão dos
poderes instrutórios que lhe foram conferidos, poderão as CPIs determinar as diligências que
reportarem necessárias e requerer a convocação de Ministros de Estado, tomar o depoimento de
quaisquer autoridades federais, estaduais ou municipais, ouvir os indiciados, inquirir testemunhas
sob compromisso, requisitar de repartições públicas e autárquicas informações e documentos e
transportar -se aos lugares onde se fizer mister a sua presença. O STF já decidiu que a CPI pode,
sem a necessidade de qualquer intervenção judicial, sempre por decisão fundamentada e motivada,
determinar: quebra do sigilo fiscal; quebra do sigilo bancário; quebra do sigilo de dados.
Cumpre destacar que ante o postulado de reserva constitucional de jurisdição, o que a CPI não tem
competência é para quebra do sigilo da comunicação telefônica (interceptação telefônica). No
entanto, pode a CPI requerer a quebra de registros telefônicos pretéritos, ou seja, com quem o
investigado falou durante determinado período pretérito.
12.14. Nas CPIs, em quais situações a testemunha pode fazer uso do direito ao silêncio?
Em regra, as testemunhas prestarão compromisso de dizer a verdade, sob pena de falso testemunho.
No entanto, resta assegurado o direito ao silêncio quando deva guardar o sigilo, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, salvo se, desobrigadas pela parte interessada, quiserem dar o seu
testemunho (arts. 207 do CPP e 406, II, do CPC).
Outra hipótese é a da testemunha também investigada ou indiciada, que poderá deixar de responder
às perguntas que possam incriminá -la (HC 80.584 -PA, Rel. Min. Néri da Silveira, 08.03.2001).
Para se ter um exemplo, destacamos o voto da Ministra Ellen Gracie, que concedeu habeas corpus
preventivo ao publicitário Marcos Valério para depor na CPMI dos Correios, na Câmara dos
Deputados, na condição de investigado.
112
12.15. Toda CPI pode quebrar sigilo bancário independentemente de autorização judicial?
Não. O entendimento que prevalece é de que CPIs federais e estaduais podem quebrar sigilo
bancário, independentemente de autorização judicial, por terem poderes de investigação próprios de
autoridade judicial. As CPIs municipais, contudo, dependem de autorização judicial para que
possam quebrar sigilo bancário.
E não há problema em diferenciar os Legislativos de nossa Federação, já que, no Brasil, vigora
aquilo que a doutrina denominou federalismo assimétrico, no qual o Município ocupa uma posição
bastante particular.
Assim, apesar de ser um ente federativo, e isso não se discute (arts. 1.º e 18, caput), a posição dos
Municípios não se confunde com a dos Estados e a do Distrito Federal. Os Municípios não elegem
Senador e, assim, não têm uma representação direta na Federação.
Ainda, o Município, dentro da ideia de autogoverno, não tem Judiciário próprio, apesar de existir,
naturalmente, a prestação jurisdicional nas comarcas e sessões judiciárias.
Ademais, a quebra de sigilo bancário é medida que restringe o direito fundamental à intimidade e
deve ser realizada apenas excepcionalmente.
Logo, ante tais peculiaridades, o tratamento dispensado à CPI municipal, no tocante à quebra de
sigilo bancário, pode e deve ser diferenciado.
Já as opiniões, palavras e votos proferidos fora do Plenário devem ter conexão com o exercício da
função parlamentar. Manifestações estranhas a sua condição de parlamentar podem ensejar
responsabilidade civil.
De acordo com o STF, a imunidade material tem natureza jurídica de causa excludente de
tipicidade.
A imunidade formal refere-se tanto à prisão do Parlamentar, quanto ao processo.
Nos termos da Constituição, o Parlamentar não poderá ser preso desde a diplomação, salvo na
hipótese de flagrante delito de crime inafiançável (art. 53, §2º, CF/88). Uma vez efetuada a prisão,
deve haver a comunicação à respectiva Casa para que, pelo voto da maioria absoluta, decida sobre a
prisão. Se a Casa entender que a prisão é arbitrária, poderá deliberar que seja relaxada.
Segundo o STF, este dispositivo trata apenas da prisão cautelar e não impede a prisão decorrente de
decisão penal definitiva.
Em relação à prisão decorrente do inadimplemento da obrigação alimentar, o STF ainda não se
manifestou, mas a doutrina entende pela possibilidade dessa prisão.
Até a EC 32/01 os Deputados e Senadores só poderiam ser processados com a autorização da
respectiva casa. Atualmente, a autorização não é mais necessária. Caso o parlamentar pratique um
crime após a diplomação, a denúncia será enviada ao STF, que irá dar ciência à Casa respectiva do
parlamentar.
Pode ocorrer de um partido político que tenha representação na respectiva Casa, tomar iniciativa de
solicitar a suspensão do processo. Nesta situação, a Casa terá quarenta e cinco dias para deliberar.
Se a maioria absoluta dos membros da Casa decidir pela suspensão, antes do fim do processo, ele
será suspenso.
Observa-se que com a Suspensão do processo, suspende-se também a prescrição.
12.17. O veículo de comunicação que transmite denúncia feita por parlamentar protegido por
imunidade material pode ser responsabilizado?
O fato coberto pela inviolabilidade e divulgado pela imprensa não pode servir de causa para
responsabilização civil, administrativa ou criminal dos meios de comunicação, sob pena de se
esvaziar o instituto da imunidade material.
12.18. Diante de uma agressão verbal de parlamentar, aquele que revida, dentro ou fora do
Parlamento, mas em atividade ligada ao exercício do seu mandato, será responsabilizado?
O entendimento adotado pelo STF é no sentido de que a resposta imediata à injúria perpetrada por
parlamentar, coberta pela imunidade, também deve ficar imune.
114
12.20. Qual foi a alteração realizada pela EC 76/2013? Pode-se dizer que todas as votações da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal são, agora, abertas?
A EC 76/2013 acabou com o voto secreto em duas hipóteses: na votação para decidir sobre a perda
do mandato do parlamentar; e na apreciação de veto do Presidente da República.
Ainda existem situações em que há votação secreta. Algumas delas estão previstas na CF/88, por
exemplo no caso da escolha, pelo Senado, de alguns ocupantes de cargos públicos, como o
Procurador Geral da República, Ministros do STF, entre outros. A sessão em que os indicados são
arguidos também será secreta.
12.22. Em que consiste a prerrogativa de foro? A partir de que momento ela é aplicável? Até
quando ela existe?
A prerrogativa de foro consiste no fato de os parlamentares, em caso de prática de crime comum,
serem julgados por órgão jurisdicional distinto do ordinário.
Segundo o Supremo Tribunal Federal, a expressão “crimes comuns” abrange os dolosos contra a
vida, os delitos eleitorais e as contravenções penais.
Novelino faz uma distinção entre imunidade formal e prerrogativa de foro. No entanto, muitos
autores tratam as expressões como sinônimas, entendendo que a prerrogativa de foro é uma espécie
de imunidade formal.
A prerrogativa de foro começa com a diplomação, nos termos do art. 53, §1º, CF/88, que estabelece
a competência do STF para julgar Deputados Federais e Senadores, a partir da expedição do
diploma.
115
12.23. Qual o órgão jurisdicional competente para julgar exceção da verdade oposta contra
Deputados Federais ou Senadores?
Em regra, quando é oposta a exceção da verdade, ela é admitida, processada e julgada pelo mesmo
juiz que julga a ação. Todavia, esta regra geral não vale quando oposta contra Deputado ou
Senador. O STF adota o entendimento que no caso de exceção da verdade, quando oposta contra
autoridade com prerrogativa de foro no STF, tal exceção deve ser julgada pelo STF. Todavia, sua
admissibilidade e processamento serão de competência das instâncias ordinárias.
12.24. O processo do corréu, em regra, será atraído ao foro por prerrogativa de função de um
dos denunciados?
Quando for possível o desmembramento, o corréu, que não tem prerrogativa de foro, deverá ser
processado pelas instâncias ordinárias. Embora a decisão proferida no caso do “mensalão” tenha
determinado o julgamento de todos os corréus em um mesmo processo (Inq. 2245), a regra que o
STF vem adotando é: havendo prerrogativa de foro de um dos envolvidos, há o desmembramento
do processo, com base na conveniência da instrução e na racionalização dos trabalhos.
Entretanto, se houver conexão ou continência, entende-se que o deslocamento não viola quaisquer
garantias dos réus, conforme o disposto na S. 704, STF (Não viola as garantias do juiz natural, da
ampla defesa e do devido processo legal a atração por continência ou conexão do processo do
corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados).
12.25. No caso da prática de crime doloso contra a vida por Deputado Estadual, ele terá foro
por prerrogativa de função? E no caso da prática, por Deputado Estadual, de um crime
contra bens, interesses e serviços da União, Empresa Pública ou Autarquia Federal, haverá o
foro por prerrogativa de função?
De acordo com o entendimento adotado pelo STF (Rcl. 72936), a prerrogativa de foro dos
Deputados Estaduais está consagrada também na Constituição Federal (Art. 27, §1º), razão pela
qual não se aplica a estes parlamentares a súmula 721 do STF, em cujos termos a competência
116
constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido
exclusivamente pela Constituição Estadual.
No caso dos crimes dolosos contra a vida, cometidos pelos Deputados Estaduais, o julgamento será
realizado pelo Tribunal de Justiça.
Em relação aos crimes praticados por Deputado Estadual contra bens, interesses e serviços da
União, Empresa Pública ou Autarquia Federal, competência será do Tribunal Regional Federal. Se
praticado crime eleitoral, a competência será do Tribunal Regional Eleitoral.
12.28. Caso haja uma medida provisória e um processo sumário trancando a pauta da
Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, qual deve ser apreciado primeiro?
O art. 61, §2º, CF/88 dispõe que se a Câmara e o Senado não se manifestarem sobre o processo
legislativo sumário, sucessivamente, em até quarenta e cinco dias, haverá o trancamento da pauta,
com exceção das deliberações legislativas que tenham prazo constitucional determinado.
A medida provisória enquadra-se na exceção. Ou seja, possui prazo constitucional fixado para
votação, conforme o art. 62, §6º, CF/88. Assim, ela é que será apreciada em primeiro lugar.
117
12.29. Sabe-se que o processo legislativo possui três fases: iniciativa, constitutiva e
complementar. Há diferentes hipóteses de iniciativa. Como são classificadas essas hipóteses?
A iniciativa é classificada em: geral, concorrente, privativa, popular, conjunta, do art. 67 e a
parlamentar ou extraparlamentar.
A iniciativa geral é aquela disciplina no art. 61, caput, CF/88, que atribui competência, de maneira
ampla, a várias pessoas, para iniciar o processo legislativo: qualquer Deputado Federal ou Senador,
comissão da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do Congresso Nacional, Presidente da
República, Supremo Tribunal Federal, Tribunais Superiores, Procurador Geral da República,
cidadãos.
A iniciativa concorrente refere -se à competência atribuída pela Constituição a mais de uma pessoa
ou órgão para deflagrar o processo legislativo. Isso acontece, por exemplo, no caso da iniciativa
para elaborar leis complementares e ordinárias, concedida a qualquer membro ou Comissão da
Câmara, Senado ou Congresso, ao Presidente da República e aos cidadãos.
A iniciativa privativa é aquela que compete exclusiva e expressamente a determinadas pessoas, só
podendo o processo legislativo ser deflagrado por elas, sob pena de se configurar vício formal de
iniciativa, caracterizador da inconstitucionalidade do referido ato normativo.
A iniciativa popular é a possibilidade de o eleitorado nacional deflagrar processo legislativo de lei
complementar ou ordinária, mediante proposta de, no mínimo, 1% de todo o eleitorado nacional,
distribuído por pelo menos cinco Estados e, em cada um deles com não menos do que 0,3% dos
seus eleitores. Trata-se de importante instrumento de exercício direto do poder pelo povo, de forma
a implementar a soberania popular.
A iniciativa conjunta acontece quando a Constituição estabelece a competência de diversas pessoas
para, conjuntamente, darem início ao processo legislativo.
A iniciativa do art. 67, da CF/88 é aquela que compete à maioria da absoluta dos membros de
qualquer das Casas do Congresso Nacional, quando a matéria constante de projeto de lei rejeitado
for posta em votação, na mesma sessão legislativa.
A iniciativa parlamentar é a prerrogativa que a Constituição confere a todos os membros do
Congresso Nacional de apresentação de projetos de lei. Por outro lado, a iniciativa extraparlamentar
é aquela conferida ao Chefe do Poder Executivo, aos Tribunais Superiores, ao Ministério Público e
aos cidadãos.
12.35. Pode uma lei complementar tratar de matéria reservada a lei ordinária e vice-versa?
É possível que uma lei complementar trate de matéria de lei ordinária, que é uma matéria residual,
por uma questão de economia legislativa. Neste caso, a lei será formalmente complementar, mas
materialmente ordinária, ou seja, ela poderá futuramente ser revogada por uma lei ordinária.
Não se admite, entretanto, que lei ordinária trate de matéria de lei complementar em nenhuma
hipótese, pois além de o quórum para aprovação ser maior no caso das leis complementares, a
matéria de que elas tratam é expressamente reservada a elas pela Constituição.
119
O art. 68, §1º, II, CF/88 veda a edição de leis delegadas sobre nacionalidade, direitos políticos e
direitos individuais. Desse modo, a lei delegada não pode regular tais direitos, que são
fundamentais. No entanto, é possível edição de lei delegada para regular direitos coletivos e direitos
sociais, que também são fundamentais.
12.39. Publicada uma medida provisória sobre matéria vedada, proposta ADI, e sendo
convertida em lei antes do julgamento, a ADI perde seu objeto?
Quando uma medida provisória objeto de uma ação direta de inconstitucionalidade é convertida em
lei antes do julgamento da ação, esta não perde o seu objeto. É necessário apenas que o requerente
emende a inicial.
121
13.9. O sistema presidencialista foi o único sistema de governo adotado no Brasil desde
proclamação da República?
O sistema de governo presidencialista é tradição do direito constitucional pátrio, vivenciado durante
toda a República, com exceção do período de 1961 a 1963.
A Emenda Constitucional n. 4, de 02.09.1961, à Constituição de 1946, instituiu o parlamentarismo,
sendo revogada pela Emenda n. 6, de 23.01.1963, restauradora do regime presidencialista, tendo em
vista o resultado do referendo realizado em 06 de janeiro de 1963.
13.11. Com base na classificação acima, qual é o modelo de Poder Executivo adotado pela
CR/88?
O artigo 76 da CF/88 consagra o EXECUTIVO MONOCRÁTICO, na medida em que é exercido
por um só indivíduo, o Presidente da República.
13.18. Os substitutos eventuais ou legais (art. 80 da CR/88) assumem o cargo por quanto
tempo?
A assunção do cargo é sempre temporária.
No caso de impedimento, tanto do Presidente como do Vice-Presidente da República, os substitutos
eventuais assumem a Presidência temporariamente, até o motivo do impedimento cessar.
No caso de vacância de ambos os cargos, definitiva, há duas situações:
a) vacância nos 2 primeiros anos do mandato: de acordo com o artigo 81, caput, far-se-á eleição 90
dias depois de aberta a última vaga. Trata-se de ELEIÇÃO DIRETA, pelo sufrágio universal e pelo
voto direto e secreto, com valor igual para todos.
b) vacância nos últimos 2 anos do mandato: eleição para ambos os cargos feita 30 dias depois da
última vaga, pelo Congresso Nacional, na forma da lei (art. 81, §1º, da CR/88). Ou seja, ELEIÇÃO
INDIRETA.
13.21. Quais atos praticados pelo Presidente da República serão considerados crimes de
responsabilidade?
O artigo 85 da CR/88 exemplifica os atos do Presidente da República que atentam contra a
Constituição que serão considerados crimes de responsabilidade.
Atos contra: a) a existência da União; b) o livre-exercício do Poder Legislativo, do Poder Judiciário,
do Ministério Público e dos Poderes constitucionais das unidades da Federação; c) o exercício dos
direitos políticos, individuais e sociais; d) a segurança interna do País; e) a probidade na
administração; f) a lei orçamentária; g) o cumprimento das leis e das decisões judiciais.
126
13.27. A autorização da Câmara dos Deputados obriga o Senado Federal a dar início ao
julgamento do processo de impeachment?
Sim. Contudo, não significa que deverá condenar.
13.29. A decisão do Senado (condenação ou absolvição) pode ser desafiada por mandado de
segurança?
Sim. A decisão do Senado pode ser desafiada por mandado de segurança perante o Supremo
Tribunal Federal.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal não pode se imiscuir no mérito da questão, uma vez que o
Senado Federal realiza julgamento de natureza política, levando em consideração critérios de
conveniência e oportunidade, sob pena, de se violar o princípio da separação dos poderes. Assim, o
controle judicial restringe-se a análise à violação de princípios constitucionais, como a ampla defesa
(precedentes MS. 20.941-DF e MS 21.564).
O Poder Judiciário tem por função típica (inerente à sua natureza) a jurisdicional. Exerce, ainda,
funções atípicas, de natureza executivo administrativa (organização de suas secretarias – art. 96, I,
b; concessão de licença e férias a seus membros – art. 96, I, f), bem como de natureza legislativa
(elaboração do regimento interno – art. 96, I, a da CR/88). Assim, jurisdição é uma das funções do
Estado, mediante a qual este se substitui aos titulares dos interesses em conflito para,
imparcialmente, buscar a pacificação do conflito que os envolve.
13.42. A convocação de juízes de primeiro grau para compor órgão julgador de Tribunal viola
o princípio do juiz natural?
Parte da doutrina entende que sim, uma vez que, a regra do art. 93, III, da CR/88 determina que o
acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e merecimento, alternadamente,
apurados na última ou única entrância, bem como, o art. 98, da CR/88, ao tratar dos juizados
especiais, admite a composição das Turmas Recursais por juízes de 1º grau.
131
Portanto, a atuação dos juízes de 1º grau seria constitucionalmente admitidas apenas nos Juizados,
não havendo previsão para os Tribunais.
Contudo, o STF (RE 597.133/RS) entende que a convocação de juízes de primeiro grau neste caso
não constitui violação ao princípio do juiz natural, com base na ideia de efetividade e celeridade
processual (art. 5º, LXXVIII, CR/88), ademais, a previsão do art. 96, I, a, da CR/88 permite aos
Tribunais disporem sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e
administrativos, além da regra, contida no art. 118 da LC 35/79 (LOMAN).
13.44. Quais são os objetivos das garantias do Poder Judiciário no cenário da tripartição dos
poderes?
As garantias atribuídas ao Poder Judiciário asseguram a independência desse órgão, que poderá
decidir livremente, sem se abalar com qualquer tipo de pressão que venha dos outros poderes.
Prevista no art. 95, III, da CR/88, segundo a garantia da irredutibilidade o subsídio dos magistrados
não poderá ser reduzido, garantindo-se, assim, o livre-exercício das atribuições jurisdicionais.
Trata-se de garantia nominal, e não real.
O segundo grupo da garantia funcional abarca as garantias da imparcialidade dos órgãos judiciários,
conforme vedações previstas no art. 95, parágrafo único da CR/88.
Essa garantia é materializada através das vedações (rol taxativo), delimitadas no parágrafo único do
artigo 95 da CR/88: a) exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de
magistério; b) receber a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; c) dedicar-
se à atividade político-partidária; d) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílio ou contribuições
de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei; e)
exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do
afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração (quarentena de saída).
13.49. Em que momento advogado ou membro do Ministério Público que ingressa na carreira
da Magistratura através da regra do quinto constitucional (art.94 da CR/88) adquire
vitaliciedade?
Adquirirá a vitaliciedade no exato momento da posse não tendo de passar por qualquer estágio
probatório.
13.53. Juízes substitutos gozam da garantia da inamovibilidade, ou, em razão de sua natureza
(de substituir), poderão ser removidos de acordo com as necessidades discricionárias
apontadas pelos Tribunais?
Conforme decidiu o STF, MS 27.958, a inamovibilidade é, nos termos do art. 95, II, da CR/88,
garantia de toda a magistratura, alcançando não apenas o juiz titular como também o substituto.
A Constituição não fez nenhuma exigência em relação à garantia da inamovibilidade, exigindo o
prazo de 2 anos apenas para a vitaliciedade.
Assim, desde a posse, o juiz substituto deve ter a garantia de não ser removido para fora da unidade
judiciária em que está formalmente lotado. Dessa forma, o juiz substituto deverá exercer a sua
função dentro da sua circunscrição judiciária.
13.59. Quais são os legitimados para propor edição, revisão ou cancelamento de súmula
vinculante?
O art. 103-A, §2º da CR/88 afirma (rol exemplificativo) que os legitimados para promover a ação
direta de inconstitucionalidade poderão propor processo de edição, revisão e cancelamento de
súmula vinculante.
O dispositivo constitucional foi regulado pelo artigo 3º Lei nº 11.417 de 2006, segundo o qual são
legitimados: a) o Presidente da República; b) a Mesa do Senado Federal; c) a Mesa da Câmara dos
Deputados; d) o Procurador-geral da República; e) o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do
Brasil; f) o Defensor Público-Geral da União; g) partido político com representação no Congresso
Nacional; h) confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; i) a Mesa de
Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; j) o Governador de Estado ou
do Distrito Federal; k) os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito
Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os
Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares.
136
13.64. Qual é o instrumento adequado contra decisão judicial ou ato administrativo que
contrariar enunciado de súmula vinculante?
Contra a decisão judicial ou ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante,
negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá RECLAMAÇÃO ao Supremo Tribunal
Federal.
Em se tratando de omissão ou ato da Administração, o uso da reclamação só será admitido após o
esgotamento da via administrativa. Essa regra não viola o princípio do livre acesso ao Judiciário, na
medida em que o que se veda é somente o ajuizamento da reclamação e não de qualquer outra
medida cabível, como mandado de segurança, ação ordinária.
Julgando procedente a reclamação, o STF anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial
impugnada, determinando que outra seja proferida com ou sem aplicação da súmula, dependendo
do caso concreto.
138
14.1. Explique supremacia constitucional de acordo com as suas dimensões material e formal.
A ideia da supremacia constitucional surgiu com as revoluções liberais que trouxeram à tona a
noção de Constituição escrita, formal e rígida. A rigidez de uma Constituição tem como principal
consequência o princípio da supremacia, do qual decorre o princípio da compatibilidade vertical das
normas do ordenamento jurídico.
A SUPREMACIA MATERIAL é corolário do objeto clássico das Constituições, que trazem em
si os fundamentos do Estado de Direito. A Constituição possui conteúdo superior ao das demais
leis. Toda a Constituição é dotada de supremacia material.
A SUPREMACIA FORMAL é atributo específico das Constituições rígidas e se manifesta na
superioridade hierárquica das normas constitucionais em relação às demais normas produzidas
no ordenamento jurídico.
14.3. Em relação à inconstitucionalidade das leis, quais as diferenças entre o sistema austríaco
(teoria da anulabilidade) e o sistema norte-americano (teoria da nulidade)? Qual predomina
no Brasil?
Sistema AUSTRIACO (Kelsen) Sistema NORTE-AMERICANO (Marshall)
Decisão tem eficácia CONSTITUTIVA Decisão tem eficácia DECLARATÓRIA de
(constitutiva-negativa) situação preexistente
Em regra, o vício é aferido no plano da Em regra, o vício é aferido no plano da
EFICÁCIA VALIDADE
Em regra efeitos EX NUNC Em regra efeitos EX TUNC
A lei inconstitucional é ato ANULÁVEL A lei inconstitucional é ato NULO
Lei provisoriamente válida Invalidação AB INITIO
O reconhecimento da ineficácia da lei produz A lei nasce morta, nunca chegando a produzir
efeitos a partir da decisão (ex nunc) e erga efeitos, apesar de existir, não chegou ao plano da
omnes, respeitados os efeitos da lei eficácia
produzidos até a decisão
O STF tem adotado o entendimento de que, neste caso, não se trata de inconstitucionalidade, mas de
hipótese de não recepção. Esta concepção se aplica tanto à hipóteses de surgimento de uma nova
Constituição quanto de uma emenda constitucional.
14.10. É possível que o STF, ao julgar mandado de segurança impetrado por parlamentar,
exerça controle preventivo de constitucionalidade de projeto que tramita no Congresso
Nacional e o declare inconstitucional, determinando seu arquivamento? Qual a consequência
diante da perda superveniente do mandato parlamentar?
Em regra, o Judiciário só exerce o controle de constitucionalidade repressivo. Contudo, existem
duas exceções nas quais o STF pode determinar o arquivamento da propositura:
a) Proposta de EMENDA constitucional que viole cláusula pétrea;
b) Proposta de EMENDA constitucional ou PROJETO DE LEI cuja tramitação esteja ocorrendo
com violação às regras constitucionais sobre o processo legislativo.
O controle prévio ou preventivo de constitucionalidade a ser realizado pelo Poder Judiciário sobre
PEC ou projeto de lei em trâmite na Casa Legislativa busca garantir ao parlamentar o respeito ao
devido processo legislativo, vedando a sua participação em procedimento desconforme com as
regras da Constituição. Trata-se de controle exercido de modo incidental.
A legitimação para a impetração do MS é exclusiva do parlamentar, na medida em que o direito
público subjetivo de participar de um processo legislativo hígido (devido processo legislativo)
pertence somente aos membros do Poder Legislativo.
Segundo o STF, configurada a ausência de tal condição, em virtude da perda superveniente do
mandato parlamentar no Congresso Nacional, impõe-se a declaração de extinção do processo de
mandado de segurança, porque ausente a legitimidade ativa ad causam do impetrante. Outro
entendimento acarretaria a conversão do mandado de segurança, que não pode ser utilizado para a
impugnação de normas em tese, em ADI, situação essa não admitida em nosso ordenamento
jurídico.
14.12. Qual a relação entre o caso Marbury v. Madison (1803) e o controle difuso de
constitucionalidade?
A noção e ideia de controle difuso de constitucionalidade, historicamente, deve-se ao famoso caso
julgado pelo Juiz John Marshall da Suprema Corte norte-americana, que, apreciando o caso
Marbury v. Madison, em 1803, decidiu que, havendo conflito entre a aplicação de uma lei em um
caso concreto e a Constituição, deve prevalecer a Constituição, por ser hierarquicamente superior.
Referido caso tem origem na nomeação de William Marbury para Juiz de Paz pelo Presidente John
Adams e na recusa do secretário de justiça do Presidente Thomas Jefferson, James Madison, a
entregar-lhe o diploma. Marbury apresentou um writ of mandamus perante a Suprema Corte Norte-
Americana exigindo a entrega do diploma.
O processo foi relatado pelo Presidente da Suprema Corte, Juiz John Marshall, que concluiu,
segundo interpretação própria, que a lei federal que dava competência à Suprema Corte para emitir
mandamus contrariava a Constituição Federal. Como a lei que dava competência a Suprema Corte
era inconstitucional, não cabia à Suprema Corte decidir o pedido do mandamus.
14.13. O que é a cláusula de reserva de plenário e qual sua natureza jurídica? Em que
hipóteses essa regra é mitigada?
Trata-se de regra prevista no art. 97 da CF/88, que estabelece que somente pelo voto da MAIORIA
ABSOLUTA de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os
TRIBUNAIS declarar a INCONSTITUCIONALIDADE de lei ou ato normativo do Poder Público.
Possui a natureza jurídica de CONDIÇÃO DE EFICÁCIA JURÍDICA da própria declaração de
inconstitucionalidade dos atos do Poder Público.
A mitigação da cláusula de reserva de plenário ocorre nas seguintes hipóteses (não há a necessidade
de se observar a regra do art. 97):
Quando já houver pronunciamentos do Tribunal ou do plenário do STF sobre a questão (art.
481, CPC);
Se o Tribunal mantiver a constitucionalidade do ato normativo, ou seja, não afastar a sua
presunção de validade (o art. 97 determina a observância do full bench para declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público);
Nos casos de normas pré-constitucionais, porque a análise do direito editado no ordenamento
jurídico anterior em relação à nova Constituição não se funda na teoria da inconstitucionalidade,
mas em sua recepção ou revogação;
Quando o Tribunal utilizar a técnica da interpretação conforme a Constituição, pois não haverá
declaração de inconstitucionalidade;
Nas hipóteses de decisão em sede de medida cautelar, já que não se trata de decisão definitiva.
144
14.16. Quais são os fundamentos da teoria da abstrativização do controle difuso? Essa tese é
adotada pelo STF?
Respeitável parte da doutrina (Gilmar Mendes) e alguns julgados do STF ("Mira Estrela" e
"progressividade do regime de cumprimento de pena nos crimes hediondos") e do STJ rumam para
uma nova interpretação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade no controle difuso pelo
STF.
A teoria da abstrativização do controle difuso preconiza que, se o Plenário do STF decidir a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, ainda que em controle
difuso, essa decisão terá os mesmos efeitos do controle concentrado, ou seja, eficácia erga omnes e
vinculante. Para essa corrente, o art. 52, X, da CF/88 sofreu uma mutação constitucional, devendo
ser reinterpretado, no sentido de que o papel do Senado, atualmente, seria apenas o de dar
publicidade à decisão do STF. Em outras palavras, a decisão do STF, mesmo em controle difuso, já
é dotada de efeitos erga omnes e o Senado apenas confere publicidade a isso.
Os principais argumentos a justificar esse novo posicionamento podem ser assim resumidos:
Força normativa da Constituição;
Princípio da supremacia da Constituição e a sua aplicação uniforme a todos os destinatários;
O STF enquanto guardião da Constituição e seu intérprete máximo;
Dimensão política das decisões do STF.
Não se trata de um tema pacífico, mas prevalece que o STF não adota a teoria da abstrativização do
controle difuso (STF. Plenário. Rcl 4335/AC, rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 20/3/2014).
Para a maioria dos Ministros não houve mutação constitucional do art. 52, X, da CF/88 e a
resolução do Senado continua conferindo eficácia erga omnes à declaração de inconstitucionalidade
prolatada no controle concreto. As decisões do Plenário do STF proferidas em controle difuso de
constitucionalidade possuem FORÇA EXPANSIVA (nas palavras do Min. Teori Zavascki), mas
não se pode afirmar que possuam, em regra, eficácia erga omnes.
Pedro Lenza não se filia à teoria da abstrativização e sustenta a possibilidade de se conseguir o
objetivo pretendido mediante a edição de súmula vinculante, o que seria muito mais legítimo e
eficaz, além de respeitar a segurança jurídica, evitando o casuísmo.
14.17. É possível o controle difuso de constitucionalidade em sede de ação civil pública? Quais
os efeitos de eventual decisão de inconstitucionalidade?
Só será cabível o controle difuso em sede de ação civil pública se a controvérsia constitucional,
longe de identificar-se como objeto único da demanda, qualifique-se como simples questão
prejudicial, indispensável à resolução do litígio principal.
A ação civil pública não pode ser ajuizada como sucedâneo de ação direta de inconstitucionalidade,
pois, em caso de produção de efeitos erga omnes, estaria provocando verdadeiro controle
concentrado de constitucionalidade, usurpando competência do STF.
Assim, a declaração de inconstitucionalidade ocorrerá de modo incidental e restringindo-se os
efeitos inter partes.
146
15.1. Em que consiste a Ação Direta de Inconstitucionalidade? Qual seu objetivo? Quem são
os legitimados em propô-la? É necessária alguma condição específica, por parte dos
legitimados, para a proposição da ADI?
A ação direta de inconstitucionalidade, prevista no art. 102, I, “a”, da CF, é a modalidade de
controle concentrado de constitucionalidade de ato normativo em tese abstrato, marcado pela
generalidade, impessoalidade e abstração. Somente o STF e os TJs possuem competência para
julgá-la, podendo este somente fazê-lo em confronto com a Constituição Estadual.
Podem ser alvos de ADI: leis, atos normativos que possuam indiscutível caráter normativo,
emendas constitucionais, medidas provisórias (excepcionalmente, inclusive os requisitos
constitucionais de relevância e urgência, conforme a ADI-MC 4029), decretos com conteúdo
normativo (quando se tratar de atos não revestidos de autonomia jurídica, trata-se de controle de
legalidade), tratados internacionais.
Afasta-se do controle: súmulas, normas constitucionais originárias, normas anteriores à
constituição, atos exauridos ou revogados.
Os legitimados para sua proposição estão previstos no art. 103 da CF e no art. 2º da Lei nº 9.868/99,
sendo os mesmos para a ADI, ADC, ADO e ADPF.
15.3. Em relação aos partidos políticos, quais as particularidades a serem observadas quando
da propositura da ADI?
Segundo o STF, a representação do partido político é preenchida com a existência de apenas um
parlamentar, em qualquer das Casas Legislativas.
148
Ademais, a representação do partido político na ação dar-se-á pelo Diretório Nacional ou pela
Executiva do Partido, de acordo com a sua constituição, não se admitindo a legitimidade ativa ao
Diretório Regional ou Executiva Regional, na medida em que não podem agir nacionalmente.
Por sua vez, o novo entendimento do STF é no sentido de que a perda de representação política do
partido no Congresso Nacional posterior ao ajuizamento da ação - esse sim momento em que o
partido político deva estar devidamente representado - não mais extingue a sua legitimidade ativa,
não sendo, destarte, óbice ao prosseguimento da ação.
Há de se observar, ainda, que é exigida a representação de advogado (assim como às confederações
sindicais) para a propositura da ADI, ao contrário dos demais legitimados, que possuem capacidade
postulatória deferida pela CF e podem, em razão de seus próprios cargos, propor a ação – o
Governador do Estado pode propor, não podendo a PGE, por exemplo, se manifestar na ação em
nome do Governador.
15.7. Em que consiste a transcendência dos motivos determinantes? Adota-se tal teoria no
controle concentrado brasileiro?
Também é denominada de efeitos irradiantes ou transbordantes.
O STF vinha atribuindo efeito vinculante, produzido para fora do processo em que se foi decidido,
não só ao dispositivo da sentença, mas também aos fundamentos determinantes que deram suporte à
decisão, em alguns casos julgados pela Corte Suprema (aqui importa diferenciar ratio decidendi de
obter dictum, posto que esta significa “coisa dita de passagem”, quais sejam, comentários literais
que não influenciam na decisão, enquanto aquela seria a fundamentação essencial que ensejou
determinado resultado da ação). Isso implicaria a possibilidade de a razão da decisão influenciar
outros julgamentos.
Por exemplo, se o STF entender pela inconstitucionalidade da Lei/SC, há efeito vinculante em
relação à Lei/RS (idêntica)?
Gilmar Mendes explica, na RCL 4987 MC/PE, que tal controvérsia reside não na concessão de
efeito vinculante aos motivos determinantes das decisões em controle abstrato de
constitucionalidade, mas na possibilidade de se analisar, em sede de reclamação, a
constitucionalidade de lei de teor idêntico ou semelhante à lei que já foi objeto da fiscalização
abstrata de constitucionalidade perante o STF.
Ainda que não se empreste eficácia transcendente (efeito vinculante dos fundamentos
determinantes) à decisão, o Tribunal, em sede de reclamação contra aplicação de lei idêntica àquela
declarada inconstitucional, poderá declarar, incidentalmente, a inconstitucionalidade da lei ainda
não atingida pelo juízo de inconstitucionalidade.
150
Ressalte-se, mais uma vez, que não se está a falar, nesta hipótese, de aplicação da teoria da
“transcendência dos motivos determinantes” da decisão tomada no controle abstrato. Trata-se, isso
sim, de um poder ínsito à própria competência do Tribunal de fiscalizar incidentalmente a
constitucionalidade das leis e dos atos normativos. E esse poder é realçado quando a Corte se
depara com leis de teor idêntico àquelas já submetidas ao seu crivo no âmbito do controle abstrato
de constitucionalidade.
Assim, a partir de um ato concreto que aplica uma Lei Y, cujo teor é idêntico ao de uma lei X, já
declarada inconstitucional, pode ser analisado, em sede de reclamação, pelo STF, em controle
incidental.
IMPORTANTE: STF AFASTOU a teoria da transcendência na reclamação 10.604 de 2010: “no
julgamento da Rcl 4.219, esta nossa Corte retomou a discussão quanto à aplicabilidade dessa
mesma teoria da “transcendência dos motivos determinantes”, oportunidade em que deixei
registrado que tal aplicabilidade implica prestígio máximo ao órgão de cúpula do Poder Judiciário e
desprestígio igualmente superlativo aos órgãos da judicatura de base, o que se contrapõe à essência
mesma do regime democrático, que segue lógica inversa: a lógica da desconcentração do poder
decisório. Sabido que democracia é movimento ascendente do poder estatal, na medida em que
opera de baixo para cima, e nunca de cima para baixo.
No mesmo sentido, cinco ministros da Casa esposaram entendimento rechaçante da adoção do
transbordamento operacional da reclamação, ora pretendido. Sem falar que o Plenário deste
Supremo Tribunal Federal já rejeitou, em diversas oportunidades, a tese da eficácia vinculante dos
motivos determinantes das suas decisões (cf. Rcl 2.475-AgR, da relatoria do ministro Carlos
Velloso; Rcl 2.990-AgR, da relatoria do ministro Sepúlveda Pertence; Rcl 4.448-AgR, da relatoria
do ministro Ricardo Lewandowski; Rcl 3.014, de minha própria relatoria)”.
15.9. Qual a posição do STF acerca das leis ainda constitucionais ou da inconstitucionalidade
progressiva?
Também denominada declaração de constitucionalidade de norma em trânsito para a
inconstitucionalidade, considera-se que uma lei, em virtude das circunstâncias de fato, pode vir a
ser inconstitucional, não o sendo, porém, enquanto essas circunstâncias de fato não se apresentarem
com a intensidade necessária para que se tornem inconstitucionais.
Ex.: artigo 68 do CPP (ação civil ex delicto) e prazo em dobro para defensoria no processo penal:
leis ainda constitucionais e que estão, em trânsito, progressivamente, para a inconstitucionalidade, à
medida que as Defensorias Públicas forem sendo efetiva e eficazmente instaladas. Na verdade, o
caso do referido artigo 68 seria de recepção ou não pela Constituição de 1988 e, por conseguinte, de
sua revogação ou vigência, e não de inconstitucionalidade.
LEGITIMIDADE - AÇÃO "EX DELICTO" - MINISTÉRIO PÚBLICO - DEFENSORIA
PÚBLICA - ARTIGO 68 DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL - CARTA DA REPÚBLICA
DE 1988. A teor do disposto no artigo 134 da Constituição Federal, cabe à Defensoria
Pública, instituição essencial à função jurisdicional do Estado, a orientação e a defesa, em
todos os graus, dos necessitados, na forma do artigo 5º, LXXIV, da Carta, estando restrita a
atuação do Ministério Público, no campo dos interesses sociais e individuais, àqueles
indisponíveis (parte final do artigo 127 da Constituição Federal).
INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA - VIABILIZAÇÃO DO EXERCÍCIO DE
DIREITO ASSEGURADO CONSTITUCIONALMENTE - ASSISTÊNCIA JURÍDICA E
JUDICIÁRIA DOS NECESSITADOS - SUBSISTÊNCIA TEMPORÁRIA DA
LEGITIMAÇÃO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. Ao Estado, no que assegurado
constitucionalmente certo direito, cumpre viabilizar o respectivo exercício. Enquanto não
criada por lei, organizada - e, portanto, preenchidos os cargos próprios, na unidade da
Federação - a Defensoria Pública, permanece em vigor o artigo 68 do Código de Processo
Penal, estando o Ministério Público legitimado para a ação de ressarcimento nele prevista.
Irrelevância de a assistência vir sendo prestada por órgão da Procuradoria Geral do Estado,
em face de não lhe competir, constitucionalmente, a defesa daqueles que não possam
demandar, contratando diretamente profissional da advocacia, sem prejuízo do próprio
152
sustento. (RE 135328, Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO, Tribunal Pleno, julgado em
29/06/1994, DJ 20-04-2001 PP-00137 EMENT VOL-02027-06 PP-01164 RTJ VOL-00177-
02 PP-00879)
Segundo o STF, não são cabíveis os recursos interpostos por terceiros estranhos à relação
processual nos processos objetivos de controle de ‘constitucionalidade (CASO DOS ESTADOS NA
ADI DOS GOVERNADORES) – só caberiam ED’s de sua não admissão, nesses incluídos os que
ingressam no feito na qualidade de amicus curiae.
Ressalte-se que a interposição por estranho não é cabível ainda que este seja um dos legitimados
para a ação: “Recurso interposto por terceiro prejudicado. Não cabimento. Precedentes. Embargos
de declaração opostos pela OAB. Legitimidade. Questão de ordem resolvida no sentido de que é
incabível a interposição de qualquer espécie de recurso por quem, embora legitimado para a
propositura da ação direta, nela não figure como requerente ou requerido.” (ADI 1.105-MC-ED-
QO).
Segundo a doutrina, admite-se a figura em todas as hipóteses de controle concentrado de
constitucionalidade, ainda que não expressamente previstos ou tendo sido vetados dispositivos que
tratavam do assunto.
O caráter vinculante da decisão cautelar será aferida pelo STF na análise do caso. Gilmar Mednes
defende a existência do efeito vinculante na Cautelar em ADI, eis que opera no plano da vigência da
lei atacada. Ademais, a concessão da medida cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso
existente, EFEITO REPRISTINATORIO TÁCITO NA CAUTELAR salvo expressa
manifestação em sentido contrário. Artigo 11, §§ 1º e 2º, da Lei nº 9.868/99 (efeito repristinatório).
Impende salientar que, neste caso, como uma lei municipal pode ser atacada via ADI em face da
CE, poder-se-á levar a questão ao STF, através da utilização de um recurso típico do controle
difuso, pela via incidental, no controle concentrado e abstrato estadual.
Neste caso, o recurso extraordinário será um mecanismo de se levar ao STF a análise da matéria, de
modo que a decisão neste caso produzirá os mesmos efeitos da ADI – ou seja, em regra, erga
omnes, ex tunc e vinculante, podendo, inclusive, nos termos do art. 27 da Lei nº 9.868/99, serem
modulados os efeitos da decisão. Desta maneira, neste caso, não se aplicará a regra do art. 52, X, da
CF, não tendo o Senado Federal qualquer participação.
Frederico Marques); há aqueles que a tratam como medida processual de caráter excepcional; e há
também os que a vislumbram (STF) como instrumento de extração constitucional (de caráter
constitucional), com dupla finalidade: preservar a competência e garantir a autoridade das decisões;
Para Ada Pelegrini, trata-se de simples direito de petição (5º, XXXIV) - o Supremo adotou esse
entendimento ao permitir a reclamação no âmbito estadual (TJ)
Obs: como observa Fredie Didier Jr. essa linha de pensamento tem diversas implicações, entre elas:
em sendo direito de petição os Estados podem estabelecer em suas constituições a reclamação para
seus tribunais (não seria matéria de direito processual, competência privativa da União); os
TRFs/TJs poderiam receber reclamações ainda que não exista previsão na CF; não se pode exigir
custas e honorários (STJ, Rcl 2017); a decisão proferida não faz coisa julgada (entendimento
contrário ao do STF na Rcl 532); não se deve exigir capacidade postulatória para ajuizamento da
reclamação.
15.24. O que é a ação direta de constitucionalidade e quais são suas principais características?
É possível a ADC em âmbito estadual?
A ADC foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela EC 03/93, a qual alterou a redação
dos arts. 102 e 103 da CF, sendo regulamentada pela Lei nº 9.868/99. Sua finalidade é declarar a
constitucionalidade de lei ou ato normativo federal (apenas federal), transformando uma presunção
relativa (iuris tantum) em absoluta (iure et iure) e, por conseguinte, afastando o quadro de incerteza
sobre a validade ou aplicação da aludida lei.
Muito embora o procedimento seja praticamente o mesmo seguido na ação direta de
inconstitucionalidade, possui algumas peculiaridades:
* A petição inicial deverá indicar: a) o dispositivo da lei ou do ato normativo questionado e
os fundamentos jurídicos do pedido; b) o pedido, com suas especificações; e c) a existência de
controvérsia judicial relevante sobre a aplicação da disposição objeto da ação declaratória. E ainda
deverá conter cópias do ato normativo questionado e dos documentos necessários para comprovar a
procedência do pedido de declaração de constitucionalidade(art. 14 da Lei nº 9.868/99).
* O AGU não será citado, uma vez que não há ato ou texto impugnado a ser defendido.
Pedro Lenza entende que o AGU deve ser citado, pois a ADC é uma ADI com sinal trocado, logo a
improcedência acarreta no reconhecimento da inconstitucionalidade da lei.
* Em caso de necessidade de esclarecimento de matéria ou circunstância de fato ou de
notória insuficiência das informações existentes nos autos, pode o relator requisitar informações
adicionais, inclusive, aos Tribunais Superiores, aos Tribunais federais e aos Tribunais estaduais
acerca da aplicação da norma questionada no âmbito de sua jurisdição, designar perito ou comissão
de peritos para que emita parecer sobre a questão ou fixar data para, em audiência pública, ouvir
depoimentos de pessoas com experiência e autoridade na matéria, a serem realizadas no prazo de 30
dias a contar da solicitação do relator (§§ 1º a 3º do art. 20 da Lei nº 9.868/99).
* A medida cautelar, em ADC, consistirá na determinação de que os juízes e os Tribunais
suspendam o julgamento dos processos que envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto
da ação até o seu julgamento definitivo (art. 21 da Lei nº 9.868/99). Essa suspensão perdurará
apenas por 180 dias, contados da publicação da parte dispositiva de decisão no DOU, sendo esse
159
prazo definido pela lei para que o Tribunal julgue a ação declaratória. Para Gilmar Mendes e Ives
Gandra, a despeito da lei não prever a prorrogação do prazo da cautelar, se a questão não tiver sido
decidida no prazo prefixado, poderá o STF autorizar a prorrogação do prazo.
A doutrina entende possível a Constituição Estadual instituir ADC no tocante às leis estaduais em
face da respectiva Constituição Estadual. Contudo, seria necessário observar o modelo da CF, isto é
somente caberia em face de lei estadual, não de lei municipal (já que a ADC no âmbito federal só
abrange lei federal, e não estadual). Tal entendimento se mostra coerente com a noção de que ADI e
ADC são ações ambivalentes.
15.25. É possível a proposição de ADI, mesmo com a precedência de uma ADC julgada
procedente?
Sim. Em decorrência das mudanças de fatos (ADC/1, Min. Carlos Veloso), lei pode ser
constitucional no presente e no futuro pode ser inconstitucional.
Nesse sentido ocorreu a revisão do entendimento sobre o critério de miserabilidade contido na Lei
8742/93: “Aduziu-se ser possível que o STF, via julgamento da presente reclamação, pudesse
revisar o que decidido na ADI 1232/DF e exercer nova compreensão sobre a constitucionalidade do
§ 3º do art. 20 da Lei 8.742/93. Obtemperou-se que, hodiernamente, o STF disporia de técnicas
diversificadas de decisão para enfrentar problemas de omissão inconstitucional. Se fosse julgada
hoje, a norma questionada na ADI 1232/DF poderia ter interpretação diversa, sem necessidade de se
adotar posturas de autocontenção por parte da Corte, como ocorrera naquele caso. Frisou-se que, no
atual contexto de significativas mudanças econômico-sociais, as legislações em matéria de
benefícios previdenciários e assistenciais teriam trazido critérios econômicos mais generosos, com
consequente aumento do valor padrão da renda familiar per capita. Consignou-se a
inconstitucionalidade superveniente do próprio critério definido pelo § 3º do art. 20 da Loas. Tratar-
se-ia de inconstitucionalidade resultante de processo de inconstitucionalização em face de notórias
mudanças fáticas (políticas, econômicas e sociais) e jurídicas (sucessivas modificações legislativas
dos patamares econômicos utilizados como critérios de concessão de outros benefícios assistenciais
por parte do Estado)” .Rcl 4374, INFORMATIVO 702.
15.27. O que é a ação direta de inconstitucionalidade por omissão e quais as suas principais
características? Quais as principais diferenças da ADO e do MI? É possível a fungibilidade
entre as duas figuras?
A ADI por omissão tem por finalidade tornar efetiva norma constitucional de eficácia limitada, não
regulamentada por omissão do Poder Público ou órgão administrativo. Essa omissão pode ser total,
quando não houver o cumprimento constitucional do dever de legislar (Ex.: Art. 37, inciso VII, da
CF); ou parcial, quando houver lei infraconstitucional integrativa, porém, regulamentando de forma
insuficiente.
A omissão parcial propriamente dita ocorre quando a lei existe, mas regula de forma deficiente o
texto (Ex.: Art. 7º, inciso IV, da CF); a omissão parcial relativa restará configurada quando a lei
existe, outorgando determinado benefício a uma certa categoria, porém deixando de conceder a
outra que deveria também ter sido contemplada (Ex.: Súmula nº 339 do STF) (chamada exclusão
de benefício incompatível com o princípio da igualdade - advém do direito alemão).
A ADO assemelha-se ao MI (Mandado de Injunção) porque também combate a síndrome de
inefetividade das normas constitucionais de eficácia limitada. Mas o controle é difuso. Não há
fungibilidade – diversidade de pedidos. O STF (MI 395 – QO) decidiu pela impossibilidade de
aplicação do princípio da fungibilidade entre a ADO e o MI, em razão de se tratarem de pedidos
diversos.
15.28. O que se entende por inercia deliberandi apta a ensejar o reconhecimento da omissão do
Poder responsável pela edição de norma inexistente?
A regra é que, desencadeado o processo legislativo, não há que se cogitar de omissão
inconstitucional do legislador. Contudo, essa orientação deve ser adotada com temperamentos. A
inercia deliberandi das Casas Legislativas pode ser objeto da ADI por omissão, sendo que o STF
reconhece a mora do legislador em deliberar sobre a questão, declarando, assim, a
inconstitucionalidade por omissão.
Em 2007, o STF, por unanimidade, julgou procedente a ADI 3682, ajuizada pela Assembléia
Legislativa do Estado do Mato Grosso contra o Congresso em razão da mora na elaboração da LC
federal a que se refere o § 4º do art. 18 da CR, na redação da EC n. 15/96 Asseverou-se, entretanto,
que não se poderia afirmar uma total inércia legislativa, haja vista os vários projetos de lei
complementar apresentados e discutidos no âmbito das Casas Legislativas.
Não obstante, entendeu-se que a inertia deliberandi (discussão e votação) também poderia
configurar omissão passível de vir a ser reputada morosa, no caso de os órgãos legislativos não
deliberarem dentro de um prazo razoável sobre o projeto de lei em tramitação.
161
Aduziu-se que, na espécie, apesar dos diversos projetos de lei apresentados restaria configurada a
omissão inconstitucional quanto à efetiva deliberação da lei complementar em questão, sobretudo,
tendo em conta a pletora de Municípios criados mesmo depois do advento da EC 15/96, com base
em requisitos definidos em antigas legislações estaduais, alguns declarados inconstitucionais pelo
Supremo, ou seja, uma realidade quase que imposta por um modelo que, adotado pela aludida
emenda constitucional, ainda não teria sido implementado em toda sua plenitude em razão da falta
da lei complementar a que alude o mencionado dispositivo constitucional (info 466).
A lei não atende aos ditames da CF. Então é nula? Vamos fazer efeito repristinatório das leis
anteriores? Até chegar num salário mínimo negativo? Note-se que a técnica da nulidade não é
adequada para resolver o problema, pois não se trata de um excesso de poder, e sim de uma
proteção insuficiente.
Não há muito consenso sobre as técnicas de controle de normas em caso de omissão. Mas isso vem
melhorando. Com o surgimento da modulação de efeitos (art. 27 da Lei nº 9.868/99), pode ser feita
a declaração de inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade. Além disso, há a possibilidade da
sentença de perfil aditivo. Em 2009, a Lei nº 9.868 foi alterada para permitir um novo tratamento da
matéria.
15.31. Em que consiste a ADPF? Quais suas espécies? Quais suas características principais?
Há alguma espécie de fungibilidade entre ADPF e ADI?
A Arguição de descumprimento de preceito fundamental encontra previsão no § 1º do art. 102 da
CF, com redação dada pela EC 03/93, regulamentado pela Lei nº 9.882/99, sendo, antes da
regulamentação legal, entendido pelo STF que o art. 102, § 1º, da CF encerrava norma
constitucional de eficácia limitada.
É um mecanismo de controle de constitucionalidade que necessita de uma controvérsia
constitucional relevante, emanada de lei ou ato do poder público (F, E, M), inclusive anteriores à CF
por expressa disposição legal.
São duas as espécies de ADPF: na hipótese de argüição autônoma, prevista no art. 1º, caput, da Lei
nº 9.882/99, tem-se por objeto evitar (preventivo) ou reparar (repressivo) lesão a preceito
fundamental, resultante de ato do Poder Público, qualquer que seja esse ato administrativo.
Já na hipótese de argüição INCIDENTAL, por equivalência ou equiparação, disciplinada pelo
parágrafo único do art. 1º da Lei nº 9.882/99, tem-se por objeto a existência de controvérsia
(divergência jurisprudencial) constitucional, com fundamento relevante, sobre lei ou ato normativo
federal, estadual, municipal e distrital, incluídos os anteriores à Constituição de 1988, violadores de
preceito fundamental.
163
Em relação à segunda espécie, a previsão se deu por lei – competência originária do STF – há quem
diga que seria inconstitucional. (Para Gilmar Mendes, decorre da jurisdição constitucional).
Convém advertir ainda que, por ora, não cabe ADPF incidental (cisão funcional vertical), em
relação a controvérsias constitucionais concretamente já postas em juízo, salvo se vier a ser editada
emenda constitucional com previsão expressa a esse respeito.
Hoje, porém, se admite a impugnação de decisões judiciais por meio da ADPF, antes mesmo de
estarem maduras para um RE. Leva-se uma questão constitucional presente no debate de 1ª
instância para abreviá-lo. Nesse ponto, há uma certa semelhança com o incidente de
inconstitucionalidade do controle concreto europeu. Ex: importação de pneus usados. Admite-se
também o controle de leis revogadas e pré-constitucionais, analisando-se o fenômeno da recepção.
A argüição de descumprimento de preceito fundamental, ainda, possui caráter residual, sendo-lhe
aplicável, destarte, o princípio da subsidiariedade, segundo o qual somente será ela admitida quando
não houver qualquer outro meio eficaz capaz de sanar a lesividade indicada, compreendido no
contexto da ordem constitucional global, como aquele apto a solver a controvérsia constitucional
relevante de forma ampla, geral e imediata. Art. 4º, § 1º, da Lei nº 9.882/99.
Por subsidiariedade, deve-se entender que não pode haver outro meio de controle em processo
objetivo. Entretanto, se couber MS, RE, pode caber a ADPF mesmo assim, pois ela gera eficácia
geral, ao passo que os outros têm, em princípio, eficácia inter partes. Ex: ADPF 33 – piso salarial de
servidores – lei pré-constitucional revogada – decidiu-se que o princípio da subsidiariedade
legitimava a apreciação da ADPF, pois a existência de pendências judiciais não é bastante para
resolver o caso na amplitude da ADPF.
Há de se atentar, ainda, que, muito embora seja prevista a medida liminar em ADPF, a mesma, em
caso de recesso do STF, será apreciada pelo relator, e não pelo Presidente do STF (art. 5º, § 1º, da
Lei nº 9.882/99).
Os efeitos da ADPF são os mesmos da ADI/ADC. Ainda, entende-se que, conhecida a ocorrência de
outra espécie de controle de constitucionalidade concentrado, o STF poderá admitir o
processamento da ADPF como ADI/ADC, aplicando-se o princípio da fungibilidade.
15.32. Quais os legitimados à ADPF? Há alguma diferença em relação aos demais meios de
controle concentrado?
São os mesmos legitimados para a propositura da ação direta de inconstitucionalidade - havia um
dispositivo no projeto de lei que legitimava qualquer pessoa pudesse levar a ADPF ao STF (vetado
pelo PR).
Assim, qualquer interessado, entendido esse como sendo qualquer pessoa lesada ou ameaçada por
ato do poder público (inciso II vetado do art. 2º da Lei nº 9.882/99), mediante representação,
solicitando a propositura da ação ao Procurador-Geral da República, que, examinando os
fundamentos jurídicos do pedido, decidirá acerca do cabimento de seu ingresso em juízo. (a
legitimada, na realidade, é a PGR).
164
15.37. Quais as medidas que poderão ser tomadas em caso de descumprimento de súmula
vinculante?
Da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-
lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente, caberá reclamação ao STF, sem prejuízo de outros recursos
ou meios de impugnação. A reclamação, entretanto, não será admitida caso a decisão judicial ou
administrativa for anterior à edição da súmula vinculante, tendo em vista que a vinculação somente
ocorrerá a partir da publicação da súmula na Imprensa Oficial.
Porém, em se tratando de ato Administrativo, a reclamação apenas será cabível quando do
esgotamento das vias administrativas – ainda, acolhida a reclamação, dar-se-á ciência à autoridade
administrativa para adequação das futuras decisões ao enunciado sumular, sob pena de
responsabilidade civil, criminal e administrativa (art. 64-B da Lei nº 9.784/99).Conforme o art. 103-
A, § 3º, da CF, “do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a
procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que
outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso”.
166
16.3. Discorra acerca das medidas excepcionais previstas para defesa do Estado e das
instituições democráticas quanto às suas hipóteses de decretação e o respectivo procedimento.
O estado de defesa (modalidade mais branda) pode ser decretado, nos termos do art. 136 da CF/88,
para preservação ou restabelecimento da ordem pública ou paz social, em locais restritos e
determinados, que estejam ameaçados por grave e iminente instabilidade institucional ou que
tenham sido atingidos por calamidades de grandes proporções na natureza.
167
Por outro lado, o estado de sítio (pressupõe situação de maior gravidade) pode ser decretado nos
casos de comoção grave de repercussão nacional, ou em razão de fatos que comprovem a ineficácia
de medida adotada no estado de defesa (art. 137, I, da CF/88). Há, ainda, previsão constitucional
para o estado de sítio nos casos de declaração de estado de guerra ou resposta a agressão armada
estrangeira.
Em ambos os casos, a decretação caberá ao Presidente da República, no uso de sua
discricionariedade política, após serem ouvidos o Conselho da República e o Conselho de Defesa
Nacional, cujos pareceres não serão vinculativos.
Não obstante, no estado de sítio, diferente do que ocorre no estado de defesa, o Presidente da
República deve solicitar previamente autorização do Congresso Nacional, que então se manifestará
pela maioria absoluta de seus membros.
Cabe, também, distinguir as medidas quanto ao prazo de duração: o estado de defesa não terá
duração superior a 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado, uma vez, por igual período (art. 136,
§2°, CF/88), enquanto que o estado de sítio não poderá ser decretado por mais de 30 dias, nem
prorrogado, de cada vez, por prazo superior, sendo certo que em caso de declaração de estado de
guerra ou de resposta à agressão armada estrangeira, poderá ser decretado por todo o tempo que
estes perdurarem (art. 138, §1°, CF/88).
16.4. Em linhas gerais, qual será o conteúdo do decreto que instituir o estado de defesa? E o
estado de sítio?
No estado de defesa, a Constituição prevê que o decreto irá determinar o tempo de duração, as áreas
a serem abrangidas e, nos termos e limites da lei, as medidas coercitivas a vigorarem (art. 136, §1°,
CF/88).
Por outro lado, o art. 138, caput, da CF/88, dispõe que o decreto do estado de sítio além de indicar,
tal como no estado de defesa, o tempo de duração da medida, também especificará as normas
necessárias à sua execução, as garantias constitucionais que ficarão suspensas, e após a publicação,
o Presidente da República irá designar as áreas abrangidas bem como o executor das medidas
específicas.
16.5. No estado de defesa existe previsão constitucional para, através das medidas coercitivas
estabelecidas, supressão de direitos fundamentais?
Não. Com efeito, o art. 136, §1°, I, da CF/88, afirma que o decreto instituidor do estado de defesa
indicará medidas coercitivas que implicarão em restrições de direitos (e não em supressão destes).
O aludido dispositivo constitucional estabelece que poderão ser estabelecidas restrições ao direito
de reunião, ao sigilo de correspondência e ao sigilo de comunicação telegráfica e telefônica.
Acrescente-se, ainda, a possibilidade de restrição à garantia inserida no art. 5°, LXI, da CF/88, na
medida em que a prisão poderá ser determinada pelo executor da medida, e não pela autoridade
judicial competente (art. 136, §3°, CF/88).
Não obstante, o juiz competente deverá ser comunicado de forma imediata (deve acompanhar a
referida comunicação a declaração do estado físico e metal do detido por ocasião da autuação),
168
podendo relaxá-la, se não for legal, facultando-se ao preso requerer à autoridade policial a
realização de exame de corpo de delito.
Quanto ao tempo de duração, a prisão não poderá ser superior a 10 dias, salvo quando autorizada
pelo Judiciário, vedando-se, ademais, a incomunicabilidade do preso.
Por fim, cabe registrar a previsão constitucional para ocupação e uso temporário de bens e serviços
públicos durante o estado de defesa, no caso de calamidade pública, respondendo a União pelos
danos e custos decorrentes.
16.6. Em relação às hipóteses que viabilizam a decretação do estado de sítio, existe distinção
entre as medidas coercitivas possíveis de serem decretadas?
Sim. Em se tratando das hipóteses previstas no art.137, I, da CF/88, as medidas se encontram
taxativamente previstas no art. 139, I a VII, da Constituição Federal.
Por outro lado, na hipótese de declaração de estado de guerra ou resposta à agressão armada
estrangeira, a doutrina aduz que qualquer garantia constitucional poderá, em tese, ser suspensa,
desde que observados os princípios da necessidade e temporariedade; que tenha sido obtida prévia
autorização do Congresso Nacional, e que o decreto instituidor expressamente tenha indicado o
tempo de duração, as normas necessárias a sua execução e as garantias constitucionais que ficarão
suspensas.
No entanto, cabe ressaltar que, a despeito de não previsto expressamente na CF/88, pode-se aplicar,
em tese, na hipótese de decretação de estado de sítio, sobretudo por motivo de guerra ou resposta a
agressão armada estrangeira, as garantias previstas no Pacto de Direitos Civis e Políticos (art. 4, 1),
e na Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica - art. 27, 1 e 2),
visto que o §2º do art. 5º da CF prevê que os direitos e garantias expressos na Constituição “não
excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte”.
Com efeito, tais garantias encontram-se previstas nos referidos instrumentos, aos quais o Brasil
aderiu, e se referem a hipóteses como as do inciso II do art. 137, CF/88. Neste sentido, dispõe o
Pacto de Direitos Civis e Políticos e a Convenção Americana de Direitos Humanos,
respectivamente:
ARTIGO 4
Quando situações excepcionais ameacem a existência da nação e sejam proclamadas
oficialmente, os Estados Partes do presente Pacto podem adotar, na estrita medida
exigida pela situação, medidas que suspendam as obrigações decorrentes do presente
Pacto, desde que tais medidas não sejam incompatíveis com as demais obrigações que
lhes sejam impostas pelo Direito Internacional e não acarretem discriminação alguma
apenas por motivo de raça, cor, sexo, língua, religião ou origem social.
Por sua vez, dispõe o art. 27, I, 1 e 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos:
Artigo 27 - Suspensão de garantias
1. Em caso de guerra, de perigo público, ou de outra emergência que ameace a
independência ou segurança do Estado-parte, este poderá adotar as disposições que, na
169
16.7. Quais são as formas de controle relativas à decretação do estado de defesa e de sítio? Em
que momento esse controle será exercido?
No estado de defesa o controle será político e jurisdicional. O controle político será exercido: de
forma imediata, submetendo-se o decreto à apreciação do Congresso Nacional, que decidirá pela
maioria absoluta de seus membros, sendo certo que se rejeitar o decreto, o estado de defesa cessará
imediatamente (art. 136, §§ 4° ao 7°); concomitantemente, com a designação de comissão de
parlamentares para acompanhar e fiscalizar a execução das medidas (art. 140); posteriormente
(controle sucessivo), com o término dos efeitos do estado de defesa, as medidas aplicadas em sua
vigência serão relatadas pelo Presidente da República em mensagem ao Congresso, com
especificação e justificação dessas providências.
Se o Congresso recusá-las, poderá restar configurado algum crime de responsabilidade do
Presidente, especialmente o atentado a direitos individuais. No controle jurisdicional, o Poder
Judiciário realizará de forma concomitante à execução do decreto o controle das prisões realizadas
pelo executor da medida, sem prejuízo também da apreciação de qualquer outra lesão ou ameaça a
direito, podendo coibir os abusos e ilegalidades perpetrados durante a crise constitucional,
atentando-se, porém, aos limites constitucionalmente permitidos para as restrições impostas
(controle via HC, MS etc).
Posteriormente, o controle também será exercido pelo Judiciário, ao final do estado de defesa, em
relação à eventual responsabilidade dos executores e agentes pelos ilícitos cometidos no período
(art. 141, CF/88).
No estado de sítio, o controle também será político e jurisdicional. Em relação ao controle político,
este será exercido de forma prévia, visto que será necessária prévia autorização do Congresso
Nacional para sua decretação, sendo exercido também de forma concomitante e posterior, tal como
no estado de defesa.
170
Acerca do controle jurisdicional, este também será exercido de forma concomitante à execução da
medida, levando-se ao Judiciário (através de HC, MS etc) lesão ou ameaça a direito, abuso ou
excesso de poder (atentando-se, contudo, aos limites da legalidade extraordinária); e também de
forma posterior (sucessiva), nos termos do art. 141, caput, CF/88.
FORÇAS ARMADAS
* Este item não se encontra expressamente previsto no Edital, mas na bibliografia consultada
insere-se no tópico “Defesa do Estado e das instituições democráticas”.
16.10. As punições disciplinares aplicadas aos militares podem ser atacadas via Habeas
Corpus?
O parágrafo segundo do art. 142 da CF/88 estabelece vedação expressa da garantia constitucional
do habeas corpus em relação a punições disciplinares militares.
A despeito disso, o STF tem interpretado o dispositivo reconhecendo a possibilidade de impetração
do writ para análise dos pressupostos de legalidade, excluindo-se, neste sentido, as questões
atinentes ao mérito administrativo da sanção.
171
Passado este ponto, relacionar as hipóteses interventivas às respectivas espécies significa agrupar o
elenco constitucional taxativo das possibilidades de intervenção segundo o procedimento que lhes
será comum.
Assim, as hipóteses de intervenção federal previstas no art. 34 da CF/88 (por questões didáticas,
cabe aqui a transcrição do aludido artigo) são:
Art. 34. A União não intervirá nos Estados nem no Distrito Federal, exceto para:
I - manter a integridade nacional;
II - repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra;
III - pôr termo a grave comprometimento da ordem pública;
IV - garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação;
V - reorganizar as finanças da unidade da Federação que:
a) suspender o pagamento da dívida fundada por mais de dois anos consecutivos, salvo
motivo de força maior;
b) deixar de entregar aos Municípios receitas tributárias fixadas nesta Constituição,
dentro dos prazos estabelecidos em lei;
VI - prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial;
VII - assegurar a observância dos seguintes princípios constitucionais:
a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático;
b) direitos da pessoa humana;
c) autonomia municipal;
d) prestação de contas da administração pública, direta e indireta.
e) aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais,
compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do
ensino e nas ações e serviços públicos de saúde. (Redação dada pela Emenda
Constitucional nº 29, de 2000).
Nas hipóteses dos incisos I, II, III e V, a intervenção se dará de forma espontânea, agindo o
Presidente da República de ofício. Nas demais hipóteses, a intervenção será provocada, cumprindo
diferenciá-las, contudo.
Quando o objetivo for garantir o livre exercício dos Poderes Executivo e Legislativo na unidade da
federação (art. 34, IV, c/c art. 36, I, primeira parte), a intervenção será provocada por solicitação
daquele Poder coacto ou impedido.
Caso a coação esteja sendo exercida contra o Poder Judiciário daquela unidade federativa, a
intervenção será provocada por requisição do STF (art. 34, IV, c/c art. 36, segunda parte), sendo
certo que no caso do art. 34, VI, quando a intervenção se se der por desobediência de ordem ou
decisão judicial, a decretação também necessitará de requisição do STF, STJ ou TSE (art. 36, II).
173
Por outro lado, em se tratando de ofensa aos princípios constitucionais sensíveis apontados nas
alíneas do inciso VII, a intervenção terá como condição para sua decretação o provimento pelo STF
de representação do PGR, através do manejo de ADI interventiva, sendo então provocada,
dependendo do provimento de representação, consignando-se que a aludida representação será
também necessária nos casos em que houver recusa à execução de lei federal (ação de
executoriedade de lei federal).
16.15. O ato do Presidente da República que decreta a intervenção terá sempre natureza
discricionária?
Não. Na hipótese de requisição do Judiciário, o ato será vinculado, devendo ser decretada a
intervenção.
Por fim, cabe aduzir que, especificamente no caso do Estado do Rio Grande do Sul, os princípios
cuja inobservância poderá ensejar a intervenção encontram-se elencados no art. 15, IV, da
Constituição Estadual, e são: a) forma republicana, sistema representativo e regime democrático; b)
direitos da pessoa humana; e c) probidade administrativa.
16.18. Acerca do entendimento do STF, o não pagamento de precatório pelo Estado viabiliza a
decretação da intervenção federal?
Dado o caráter de medida extrema da intervenção, o Supremo Tribunal Federal entende que a
ausência de pagamento de valores requisitados em precatórios enseja a intervenção quando
demonstrada a atuação estatal voluntária e dolosa com objetivo de descumprir decisão judicial
transitada em julgado, erigindo-se esta em pressuposto indispensável ao acolhimento de pleito de
intervenção federal (neste sentido, ver IF 5101/RS, noticiado no INFO 660).
A despeito desse entendimento, em sede de julgamento de questão de ordem (ADI 4425/DF QO e
ADI 4357/DF QO), o relator, ministro Luiz Fux, sinalizou a necessidade de revisão do aludido
posicionamento, ponderando que a prova do dolo inviabilizaria qualquer pedido de intervenção.
(INFO 725).
No mesmo sentido: IF 4.979-AgR, Rel. Min. Presidente Ellen Gracie, julgamento em 6-3-2008,
Plenário, DJE de 25-4-2008.)
Precatórios judiciais. Não configuração de atuação dolosa e deliberada do Estado de São Paulo com
finalidade de não pagamento. Estado sujeito a quadro de múltiplas obrigações de idêntica
hierarquia. Necessidade de garantir eficácia a outras normas constitucionais, como, por exemplo, a
continuidade de prestação de serviços públicos. A intervenção, como medida extrema, deve atender
à máxima da proporcionalidade. Adoção da chamada relação de precedência condicionada entre
princípios constitucionais concorrentes.” (IF 298, Rel. p/ o ac. Min. Gilmar Mendes, julgamento em
3-2-2003, Plenário, DJ de 27-2-2004.) No mesmo sentido: IF 5.101, IF 5.105, IF 5.106, IF 5.114,
rel. min. Cezar Peluso, julgamento em 28-3-2012, Plenário, DJE de 6-9-2012.
17.5. Nos Municípios em que o Departamento de Polícia Civil não contar com servidor de
carreira para o desempenho das funções de delegado de polícia de carreira, o atendimento nas
delegacias de polícia poderá ser realizado por subtenente ou sargento da polícia militar?
O STF entendeu que a polícia de investigação só pode ser exercida pela polícia civil, e não pela PM,
sob pena de se caracterizar desvio de função e ofensa ao artigo 144, caput, IV e V e §§ 4º e 5º da
CRFB. (ADI 3.614)
17.7. Cite quatro exemplos de limitações constitucionais ao poder de tributar da União, dos
Estados, do DF e dos Municípios.
Há no artigo 150 da CRFB diversas limitações, dentre elas: a vedação à exigência ou ao aumento de
tributo sem lei que o estabeleça; a vedação à instituição de tratamento desigual entre contribuintes
que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação
profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos
rendimentos, títulos ou direitos; a vedação à cobrança de tributos em relação a fatos geradores
178
ocorridos antes do início da vigência da lei que os houver instituído ou aumentado; a vedação à
utilização do tributo com efeito de confisco.
17.9. Cite dois impostos de competência para a instituição de cada ente federativo.
Além de outros previstos no artigo 153 da CRFB, compete à União instituir impostos sobre: renda e
proventos de qualquer natureza e propriedade territorial rural.
Segundo o artigo 155, compete aos Estados e ao DF instituir impostos sobre a transmissão causa
mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos, e propriedade de veículos automotores.
Por sua vez, o artigo 156 estabelece que compete aos Municípios instituir impostos sobre
propriedade predial e territorial urbana e transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso,
de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de
garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição.
17.12. Pode o STF, em sede de controle normativo abstrato, examinar se determinado tributo
ofende o princípio constitucional da não confiscatoriedade?
A jurisprudência do STF entende cabível, em sede de controle normativo abstrato, a possibilidade
de a Corte examinar se determinado tributo ofende ou não o princípio constitucional da não
confiscatoriedade, consagrado no artigo 150, IV, da CRFB. Precedente: ADI 2.010-MC/DF, Relator
Min. Celso de Mello.
179
17.13. Discorra a respeito da tributação como meio de efetivação dos direitos fundamentais.
A tributação é um importantíssimo instrumento de viabilização de políticas públicas. Isso porque o
tributo é a principal fonte de financiamento do Estado, mormente para a implementação de políticas
públicas, que visam ao atendimento dos direitos fundamentais de liberdade e sociais, no que tange
ao mínimo existencial.
Indubitavelmente, há uma vinculação entre a atividade tributária e os direitos fundamentais, na qual
a proteção desses direitos é fator essencial para a solidificação de um Estado verdadeiramente
democrático. Nesta visão contemporânea, a tributação existe como forma de realização de justiça
social, com o propósito de se alcançar uma vida digna para todos.
Para a efetivação dos direitos fundamentais, torna-se absolutamente relevante a observância de que,
para que haja uma sociedade de livres e iguais, um determinado nível de direitos fundamentais,
sejam os clássicos direitos e liberdades, sejam os mais modernos direitos sociais, não podem deixar
de ter custos compatíveis com essa liberdade. Assim, o dever de pagar tributos é correspectivo à
liberdade e aos direitos fundamentais.
Nesse sentido, o plano diretor, aprovado pela Câmara Municipal, obrigatório para cidades com mais
de vinte mil habitantes, é o instrumento básico da política de desenvolvimento e de expansão
urbana.
17.19. Quando a propriedade urbana cumpre sua função social? Quais são as consequências
do seu não atendimento?
A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de
ordenação da cidade expressas no plano diretor.
Dessa forma, estabelece a CRFB, no §4º, do artigo 182 que é facultado ao Poder Público municipal,
mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do
proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado
aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de:
I – parcelamento ou edificação compulsórios,
II – imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo,
III – desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente
aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e
sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais.
17.21. Discorra acerca da desapropriação por interesse social para fins de reforma agrária.
Segundo o artigo 184 da CRFB, compete à União referida desapropriação, de imóvel rural que não
esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida
agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir
do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei.
182
17.26. Quais são e em que consistem os princípios informadores do direito internacional dos
direitos humanos?
a) Princípio da interpretação pro homine ou pro persona: impõe a necessidade de que a
interpretação normativa seja feita sempre em prol da proteção dada aos indivíduos.
b) Princípio da máxima efetividade (effet utile): assegura às disposições convencionais seus
efeitos próprios, evitando-se que sejam consideradas meramente programáticas:
b.1) Princípio da interpretação autônoma: preconiza a possibilidade de que os conceitos
e termos inseridos nos tratados de direitos humanos possuam sentidos próprios, distintos
dos sentidos a eles atribuídos pelo direito interno, para dotar de maior efetividade os
textos internacionais de direitos humanos e
b.2) Princípio da interpretação evolutiva dos tratados de direitos humanos: reconhece
que o instrumento internacional de direitos humanos deve ser interpretado de acordo
com o sistema jurídico do momento de sua aplicação.
c) Princípio da primazia da norma mais favorável ao indivíduo: assevera que nenhuma norma
de direitos humanos pode ser invocada para limitar, de qualquer modo, o exercício de
qualquer direito ou liberdade já reconhecida por outra norma internacional ou nacional.
17.27. Disserte sobre a “teoria da margem de apreciação”, abordando se a sua acolhida pela
Corte Interamericana contribuiria para o fortalecimento ou o enfraquecimento dos direitos
humanos.
Esta teoria é utilizada na Corte europeia, quando ela se autolimita de seu poder jurisdicional no
campo dos direitos humanos, deixando certas questões para o próprio Estado resolver.
Referida teoria é um verdadeiro disfarce teórico para o relativismo no campo dos direitos humanos.
Tendo em vista que a teoria contribui para o enfraquecimento dos direitos humanos, deve-se rebatê-
la e afastar a sua aplicação na Corte Interamericana.
17.34. Acerca dos procedimentos cabíveis em caso de violação de direitos humanos no sistema
interamericano, responda:
A. Qual a legitimidade ativa e passiva para submissão de violações de direitos?
Qualquer pessoa ou grupo de pessoas, ou entidade não governamental legalmente reconhecida em
um ou mais Estados-membros da OEA, ou mesmo um Estado-parte (comunicação interestatal)
possuem legitimidade ativa para apresentar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos
petições que contenham denúncias ou queixas de violação à Convenção Americana de Direitos
Humanos por um Estado-parte.
Logo, a Defensoria Pública não possui legitimidade ativa, mas o defensor público pode atuar, na
representação da vítima, a qual possui a legitimidade ativa.
Já a legitimidade passiva é do Estado-parte da OEA (ex: Brasil), e nunca do ente federativo (União,
Estados, DF e Municípios, pois estes não têm personalidade jurídica externa, apenas interna).
17.35. Discorra sobre os papeis dos órgãos competentes para conhecer dos assuntos
relacionados com o cumprimento dos compromissos assumidos pelos Estados-Partes na
Convenção Americana de DH.
O Sistema Regional Interamericano de Direitos Humanos tem como documento jurídico mais
importante a Convenção Americana de Direitos Humanos (também conhecida como Pacto de San
José da Costa Rica). Esse tratado elenca os direitos humanos a serem protegidos pelo sistema e os
órgãos (Comissão e Corte Interamericanas de Direitos Humanos) competentes para monitorar e
assegurar a implementação desses direitos.
Cabe ressaltar que os direitos arrolados na Convenção têm caráter de direitos civis e políticos, tais
como o direito à personalidade jurídica, à vida, de não ser submetido à escravidão, à liberdade,
direitos processuais em geral, etc.
Quanto aos direitos culturais, sociais e econômicos, há apenas a determinação para que os estados
membros alcancem progressivamente a plena realização desses direitos. Naturalmente, o consenso a
respeito da garantia de direitos de prestação é mais difícil de se conseguir.
A comissão interamericana é composta por sete membros de “alta autoridade moral e reconhecido
saber em matéria de direitos humanos” e sua competência alcança todos os Estados signatários da
Convenção com relação aos direitos nela elencados. À comissão compete promover a observância e
a proteção dos direitos humanos na América.
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No exercício dessa competência, a comissão pode fazer recomendações aos estados signatários,
indicar medidas a serem adotadas na proteção desses direitos, preparar relatórios, solicitar aos
governos informações e submeter um relatório anual à Assembleia Geral da OEA.
Já a Corte Interamericana, órgão consultivo e jurisdicional do sistema, é composta por sete juízes
nacionais dos estados membros da OEA, eleitos pelos países que fazem parte da Convenção. Sobre
a competência jurisdicional da Corte Interamericana de Justiça, Piovesan assevera: “a decisão da
Corte tem força vinculante e obrigatória, cabendo ao Estado seu imediato cumprimento. Se a Corte
fixar uma compensação à vítima, a decisão valerá como título executivo, em conformidade com os
procedimentos internos relativos à execução de sentença desfavorável ao Estado”.
Porém, tanto a Comissão quanto a Corte só exercerão plenamente os seus misteres perante os
Estados-parte da Convenção, se estes aderirem à cláusula facultativa de reconhecimento e aceitação
da competência desses órgãos do sistema, o que é duramente criticado pela doutrina.
17.37. A respeito das violações de direitos humanos ocorridas no período da ditadura militar
no Brasil, disserte acerca da Lei de Anistia brasileira, mencionando o entendimento da Corte
Interamericana de Direitos Humanos sobre as leis de anistia, bem como o entendimento do
Supremo Tribunal Federal sobre o tema. Ao responder, cite precedente julgado pela Corte
Interamericana de Direitos Humanos que enfrentou o assunto.
Anistia é o esquecimento de determinado crime, o que acarreta a extinção da punibilidade em
relação ao fato criminoso. É um fenômeno objetivo, que incide sobre os fatos e não sobre pessoas.
A Lei federal nº 6.683/79 concedeu, de maneira ampla e objetiva, anistia política a todos aqueles
que cometeram crimes políticos e conexos a eles no Brasil entre 02 de setembro de 1961 e 15 de
agosto de 1979.
Em virtude dessa lei, o Estado brasileiro não investigou, processou ou sancionou penalmente os
responsáveis pelas violações de direitos humanos cometidas durante o regime militar, inclusive as
situações denunciadas no caso GOMES LUND, analisado pela Corte Interamericana de DH.
Na ADPF 153, o STF, analisando a lei da anistia à luz da CF/88, considerou-a válida. Importante
salientar que não houve qualquer discussão acerca do direito à verdade histórica e à reparação civil,
tendo sido uma análise estritamente penal, não repercutindo no plano civil.
Ademais, os Ministros que votaram a favor da lei da anistia deixaram claro que não eram a favor da
tortura, sequestro, homicídios e outros abusos cometidos durante o período militar; apenas
analisaram o objeto da ADPF.
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A despeito do entendimento do STF, a Corte IDH, no julgamento do Caso Gomes Lund (Guerrilha
do Araguaia), certamente o caso mais importante envolvendo o Brasil, responsabilizou o Estado
brasileiro pela não apuração da violação de direitos humanos decorrente de detenção arbitrária,
tortura e desaparecimento forçado de 70 pessoas resultantes de operações do Exército Brasileiro
empreendidas entre 1972 e 1975 com o objetivo de erradicar a Guerrilha do Araguaia.
Em linhas gerais, a sentença da Corte estabeleceu que:
a) As disposições da Lei da Anistia brasileira que impedem a investigação de graves violações de
direitos humanos são incompatíveis com a Convenção Americana;
b) O Estado brasileiro é responsável pelo desaparecimento forçado e, portanto, pela violação dos
direitos ao reconhecimento da personalidade jurídica, à vida, à integridade pessoal e à liberdade
individual;
c) O Estado brasileiro deve realizar todos os esforços para determinar o paradeiro das vítimas
desaparecidas e, se for o caso, identificar e entregar os restos mortais a seus familiares;
d) O Estado deve adotar, em um prazo razoável, as medidas que sejam necessárias para tipificar o
delito de desaparecimento forçado de pessoas;
e) O Estado deve indenizar as famílias das vítimas;
f) O Estado deve oferecer o tratamento médico e psicológico ou psiquiátrico para as vítimas que
requeiram, dentre outras.
17.38. Rodrigo Uprimny, perito, afirmou durante a audiência do caso Gomes Lund x Brasil,
na Corte IDH, que “o Brasil é uma democracia, mas ainda não é um Estado de Direito (...) No
Brasil foi realizada transição sem justiça transicional”. Nesse contexto, em que consiste a
Justiça transicional?
A justiça de transição consiste no conjunto de esforços, abordagens, mecanismos (judiciais e
extrajudiciais) e estratégias adotado pelas sociedades que saem de ditaduras ou guerras, para:
enfrentar o legado de violência em massa ocorrido no passado, atribuir responsabilidades, exigir a
efetividade do direito à memória e à verdade, fortalecer as instituições com os valores democráticos,
garantir a não repetição das atrocidades e reparar os direitos das vítimas das graves violações de
direitos humanos.
A justiça de transição pode ser efetivada pelos Estados por variadas formas, sendo as mais
aplicadas: adoção de medidas para prevenção de violação a direitos humanos, mecanismos e
instrumentos para elucidação de casos de violência a direitos humanos, aparato legal para punição
dos agentes violadores e garantia de reparação material e simbólica às vítimas de violência.
Como resposta brasileira a decisões da Corte Interamericana que efetivavam o direito à memória e à
informação, foi instituída a Comissão da Verdade, por meio da Lei 12.528/11, e ainda aprovada a
Lei 12.527/11, que garante o direito à informação, sendo a publicidade a regra e o sigilo a exceção.
Esses passos demonstram o avanço e o fortalecimento da democracia e dos direitos humanos no
Brasil.
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Por fim, a eficácia negativa tem como função invalidar normas ou atos normativos contrários à
dignidade da pessoa humana. Isso fundamenta o controle de constitucionalidade e serve como
baliza à discricionariedade do executor e do legislador, que não podem criar espécies normativas
em descompasso com o ordenamento constitucional e o postulado aqui exposto.
17.46. Discorra a respeito do Direito Internacional dos direitos humanos, citando Tratados
Internacionais voltados à proteção de direitos humanos ratificados pelo Brasil.
A partir da aprovação da Declaração Universal de Direitos Humanos, em 1948, e da concepção
contemporânea de direitos humanos por ela introduzida, começa a se desenvolver o Direito
Internacional dos Direitos Humanos, mediante a adoção de inúmeros tratados internacionais
voltados à proteção de direitos fundamentais. Os instrumentos internacionais de proteção refletem,
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17.48. É possível a declaração de inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo com base
do preâmbulo?
Como consequência da divergência em relação à natureza jurídica do preâmbulo, há duas correntes.
a) Não (posição majoritária), tendo em vista que ele possui natureza meramente informativa,
consultiva, sendo a sua eficácia política, e não normativa.
b) Sim, considerando a sua força normativa.
17.52. O artigo 19, I, da CRFB dispõe que “é vedado á União, aos Estados, ao DF e aos
Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o
funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança,
ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público”. Cite exemplo dessa
colaboração de interesse público.
A decretação de ponto facultativo para os servidores municipais de São Paulo, quando, em 11 de
Maio de 2007, o Papa Bento XVI esteve em São Paulo para celebrar a missa de canonização de Frei
Galvão.
Por sua vez, Barroso, identificando espécies distintas de disposições transitórias, estabeleceu três
categorias distintas:
a) Disposições transitórias propriamente ditas: são as disposições típicas que regulam de modo
transitório determinadas relações, estando sujeitas à condição resolutiva ou termo. Como
exemplo: artigo 10, §1º e o artigo 23, caput.
b) Disposições de efeitos instantâneos e definitivos: essas disposições não aguardam uma
condição ou termo, operando imediatamente ou no prazo estabelecido. Nesse sentido,
podemos lembrar o artigo 13, caput do ADCT, que criou o Estado de Tocantins, ou o artigo
15, que extinguiu o Território Federal de Fernando de Noronha, reincorporando a sua área
ao Estado de Pernambuco.
c) Disposições de efeitos diferidos: são aquelas que “sustam a operatividade da norma
constitucional por prazo determinado ou até a ocorrência de um determinado evento.” Como
exemplo, o autor lembra o artigo 5º, caput, do ADCT, que determinou a não aplicação do
disposto no artigo 16 e das regras do artigo 77 do corpo da Constituição às eleições previstas
para 15.11.1988.
17.57. Sobre o que dispõe o artigo 98 do ADCT, incluído pela Emenda Constitucional 80 de
2014?
Art. 98. O número de defensores públicos na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva
demanda pelo serviço da Defensoria Pública e à respectiva população.
§ 1º No prazo de 8 (oito) anos, a União, os Estados e o Distrito Federal deverão contar com
defensores públicos em todas as unidades jurisdicionais, observado o disposto no caput deste
artigo.
§ 2º Durante o decurso do prazo previsto no § 1º deste artigo, a lotação dos defensores públicos
ocorrerá, prioritariamente, atendendo as regiões com maiores índices de exclusão social e
adensamento populacional.