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Direitos Humanos, de

Inclusão e do Idoso
Faculdade Pitágoras
Professor: Marcelo Velame
Objeto de estudo da disciplina
● Teoria Geral dos Direitos Humanos ● Direitos Humanos e Dispositivos de
○ Conceito Inclusão
○ Evolução histórica e dimensões ○ Direito como mecanismo de inclusão
○ DH e a Constituição Federal de 1998 social.
○ Interpretação e conflitos entre ○ Direitos Humanos e políticas públicas
direitos humanos ○ Órgãos de defesa dos direitos humanos
○ Direitos Humanos e Justiça
● Sistemas de Proteção Internacional
● Direitos Humanos e o Estatuto do Idoso
de Direitos Humanos ○ Estatuto do Idoso.
○ Tratados internacionais. ○ Direitos Fundamentais.
○ ONU, Liga das Nações, OEA. ○ Medidas de proteção.
○ Direito à proteção social e à proteção
na velhice.
Sugestões de livros
● Valerio de Oliveira Mazzuoli – Curso de Direitos Humanos
● Flávia Piovesan – Temas de Direitos Humanos
● André de Carvalho Ramos – Curso de Direitos Humanos
● Sidney Guerra – Curso de Direitos Humanos
1. A importância do estudo dos
Direitos Humanos
O que vamos 2. Conceito
3. Características
tratar hoje 4. Interpretação conforme os
direitos humanos
5. Evolução Histórica
6. Gerações (dimensões) dos
Direitos Humanos
A importância do
estudo dos Direitos
Humanos
● Direitos Humanos são direitos básicos de qualquer ser humano, tutelando
sua relação com o Estado e outros seres humanos, indo desde o direito a uma
vida digna, passando por liberdade de expressão, igualdade e direito à
propriedade, até direito à cultura e cidadania.
● É o que dá base para a efetivação de direitos que serão objeto das carreiras
jurídicas.
● Os principais concursos que cobram Direitos Humanos são os das carreiras
policiais, sendo cobrados também em concursos como magistratura,
procuradoria, Defensoria Pública, Ministério Público e Advocacia Geral da
União.
● É dever de toda a advocacia e da OAB lutar pela defesa dos direitos
humanos, conforme determina o Estatuto da OAB.
Conceito
● Os direitos humanos são direitos protegidos pela ordem internacional contra
as violações e arbitrariedades que um Estado possa cometer às pessoas
sujeitas à sua jurisdição.
● São direitos indispensáveis a uma vida digna e que, por isso, estabelecem
um nível protetivo mínimo que todos os Estados devem respeitar, sob pena
de responsabilidade internacional.
● Os direitos humanos são um conjunto de direitos que protege a possibilidade
de toda pessoa viver com dignidade.
● A proteção da dignidade humana, elemento central no conceito de direitos
humanos, visa a garantir que todos os indivíduos tenham uma vida livre de
arbitrariedade e violência, com condições para se desenvolver de modo
pleno e participar da vida política, social e cultural de sua comunidade.
● A concretização da dignidade humana depende da realização do espectro
completo dos direitos humanos, incluindo tanto o direito à vida, à liberdade e
outros direitos civis, como também a possibilidade de participar da
determinação dos rumos da sociedade (direitos políticos), condições justas de
trabalho e subsistência (direitos econômicos), o acesso à educação, à saúde e
a outras formas de apoio e proteção social (direitos sociais), assim como o
acesso à cultura e o desfrute de um meio ambiente saudável.
● O tema direitos humanos compõe um dos capítulos mais significativos do
direito internacional público, sendo, por isso, objeto próprio de sua
regulamentação e sendo uma disciplina autônoma.
Direito humano x direito fundamental

Imagem: Curso de Direitos Humanos, de Valério de Oliveira Mazzuoli.


Direito humano x direito fundamental
● Quando a ordem jurídica interna (Estatal) protege os direitos de um cidadão,
está-se diante da proteção de um direito fundamental da pessoa;
● Quando a ordem jurídica externa (sociedade internacional) protege esse
mesmo direito, está-se perante a proteção de um direito humano.
Direito humano x direito fundamental
● Direitos humanos dizem respeito a direitos que são garantidos por normas de
índole internacional, isto é, por declarações ou tratados celebrados entre
Estados com o propósito específico de proteger os direitos das pessoas
sujeitas à sua jurisdição.
● Em termos técnicos deve-se empregar a expressão “direitos humanos”
apenas quando se está diante da proteção de índole internacional a direitos
de sujeitos em face de um determinado Estado.
Amplitude dos direitos humanos

Imagem: Curso de Direitos Humanos, de Valério de Oliveira Mazzuoli.


Amplitude dos direitos humanos
● No que tange à proteção dos direitos das pessoas, tem-se que os “direitos
humanos” (internacionais) são mais amplos que os chamados “direitos
fundamentais” (internos).
● Os direitos fundamentais são positivados nos ordenamentos jurídicos internos,
não tendo um campo de aplicação tão extenso quanto o dos direitos
humanos.
Amplitude dos direitos humanos
● Nem todos os direitos fundamentais previstos nos textos constitucionais
modernos são exercitáveis por todas as pessoas, indistintamente. Ex.:
Direito ao voto.
● Os direitos humanos podem ser vindicados indistintamente por todos os
cidadãos do planeta e em quaisquer condições, bastando ocorrer a violação
de um direito seu reconhecido em norma internacional aceita pelo Estado em
cuja jurisdição se encontre
Características
a) Historicidade
● Os direitos humanos são históricos, isto é, são direitos que se vão
construindo com o decorrer do tempo.
● A historicidade dos direitos humanos permite compreendê-los sempre
conjugadamente, dado que não há uma “sucessão” de direitos que se
substituem a outros, mas uma emergência de normas elaboradas de
tempos em tempos à medida de sua necessidade.
● Nas palavras de Norberto Bobbio, os direitos humanos não nasceram de uma
vez, nem de uma vez por todas.
b) Universalidade
● São titulares dos direitos humanos todas as pessoas, bastando a condição de
ser pessoa humana para se poder invocar a proteção desses direitos, tanto
no plano interno como no plano internacional, independentemente de sexo,
raça, credo religioso, afinidade política, status social, econômico, cultural etc.
● Não se requer outra condição para a sua efetivação além da de ser pessoa
humana.
● Todas as pessoas do mundo têm direitos humanos e que esses direitos devem
ser protegidos e resguardados pelos Estados
c) Essencialidade
● Os direitos humanos são essenciais por natureza, tendo por conteúdo a
prevalência da dignidade humana.
● Revelam-se essenciais, também, pela sua especial posição normativa,
permitindo-se a revelação de outros direitos fundamentais fora do rol de
direitos expresso nos textos constitucionais.
d) Irrenunciabilidade
● Os direitos humanos têm como característica básica a irrenunciabilidade, que
se traduz na ideia de que a autorização de seu titular não justifica ou
convalida qualquer violação do seu conteúdo.
● Em outras palavras, não há liberdade que justifique a renúncia a um direito
humano ou em nome da qual se possa autorizar qualquer violação sua.
● A indisponibilidade dos direitos humanos não significa, porém, que todos os
direitos humanos sejam absolutos. É possível estabelecer limitações ao
exercício de alguns direitos, especialmente quando estes estejam em
situação de conflito com outros direitos humanos.
e) Inalienabilidade
● Os direitos humanos são inalienáveis, na medida em que não podem ser
transferidos ou cedidos (onerosa ou gratuitamente) a outrem, ainda que com
o consentimento do agente, sendo, portanto, indisponíveis e inegociáveis.

f) Inexauribilidade
● Os direitos humanos não se axaurem, no sentido de que têm a possibilidade
de expansão, a eles podendo ser sempre acrescidos novos direitos, a
qualquer tempo.
● Podem ser complementados tanto por direitos decorrentes do regime e dos
princípios adotados pelo Estado, como por direitos advindos dos tratados
internacionais (de direitos humanos) em que o Brasil seja parte.

Constituição Federal de 1988 Art. 5º § 2º Os direitos e garantias


expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do
regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados
internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte.
g) Imprescritibilidade
● São os direitos humanos imprescritíveis, não se esgotando com o passar do
tempo e podendo ser a qualquer tempo vindicados, não se justificando a
perda do seu exercício pelo advento da prescrição.
● Os direitos humanos não se perdem ou divagam no tempo, salvo as
limitações expressamente impostas por tratados internacionais que
preveem procedimentos perante cortes ou instâncias internacionais.
h) Vedação ao retrocesso
● Os direitos humanos devem sempre agregar algo de novo e melhor ao ser
humano, não podendo o Estado proteger menos do que já protegia
anteriormente.
● Os Estados estão proibidos de retroceder em matéria de proteção dos direitos
humanos.
● Se uma norma posterior revoga ou nulifica uma norma anterior mais
benéfica, essa norma posterior é inválida por violar o princípio internacional
da vedação do retrocesso.
Interpretação
conforme os
direitos humanos
● Todas as normas (internas e internacionais) presentes em um determinado
Estado e que atingem, de uma ou outra maneira, os indivíduos sujeitos à sua
jurisdição, devem ser interpretadas em conformidade com as normas
internacionais de proteção dos direitos humanos ali em vigor.
● Quer seja a Constituição do Estado (norma interna) ou um tratado internacional
de comércio (norma internacional) em vigor nesse mesmo Estado, ambas as
normas devem ser interpretadas “conforme” as diretrizes dos direitos
humanos contemporâneos previstas em tratados ou em costumes
internacionais, a fim de encontrar a melhor solução para o direito da pessoa
em um dado caso concreto.
Princípio pro homine ou pro persona
● A interpretação conforme os direitos humanos impede, por igual, que seja
aplicada norma menos benéfica ao ser humano em detrimento de norma a
ele mais favorável, eis que o princípio básico presente em todos os tratados
de direitos humanos,
● Em casos de omissão, conflito normativo ou dúvida interpretativa, deve-se
adotar a interpretação mais abrangente do direito estabelecido, ou seja,
aquela que oferece a maior proteção ao titular de direito.
Princípio pro homine ou pro persona
● No costume internacional relativo a esses direitos, é o princípio pro homine
ou pro persona, por meio do qual o intérprete, num dado caso concreto, deve
sempre aplicar a norma mais favorável à pessoa, independentemente de tal
norma ser a internacional ou a interna.
● O princípio pro persona é especialmente relevante para situações nas quais
há diferenças entre as normas nacionais e internacionais de direitos humanos.
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - MEDIDA CAUTELAR INOMINADA - EXCLUSÃO DO NOME DE
CADASTRO DE INADIMPLENTES - INTERESSE PROCESSUAL - PRESENÇA.
1 - O acesso à justiça não somente é um direito fundamental, insculpido no art. 5º, XXXV, da
Constituição da República, como também é elevado à categoria de direito humano, previsto no
art. 8º, nº 1, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos da qual o Brasil é signatário.
2 - É regra de hermenêutica, quando se trata de direitos humanos, que a norma deve ser
interpretada segundo o princípio pro persona.
3 - Deve-se evitar a ampliação das restrições de ingresso em juízo, limitando o direito de ação,
especialmente na ausência de dispositivo legal expresso nesse sentido.
4 - Há interesse de agir no ajuizamento de ação cautelar inominada para exclusão de nome dos
cadastros restritivos de crédito. (TJMG - Apelação Cível 1.0707.15.025737-6/001, Relator(a):
Des.(a) Claret de Moraes , 15ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 16/02/2017, publicação da súmula
em 24/02/2017)
Gerações
(dimensões) dos
direitos humanos
● Costuma-se normalmente dividir os direitos humanos em “gerações” ou
“dimensões”, com fundamento no percurso histórico que inspirou a sua
criação.
● No decorrer dos tempos, os direitos humanos foram alterando suas
características e atingindo cada vez mais pessoas ou grupos de pessoas que
em momento anterior não eram destinatários de direitos.
● Houve, assim, mutação na proteção dos direitos humanos com o passar do
tempo, levando à teorização das chamadas “gerações” ou “categorias” de
direitos.
● A proposta de triangulação dos direitos humanos em “gerações” é atribuída a
Karel Vasak, que a apresentou em conferência ministrada no Instituto
Internacional de Direitos Humanos em 1979, inspirado no lema da Revolução
Francesa: Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
● Assim, os direitos de liberdade seriam os da primeira geração; os da
igualdade, os de segunda geração; e os da fraternidade, os de terceira
geração.
● A classificação de Vasak é incompleta para os dias atuais e não chegou a se
referir às demais gerações de direitos humanos hoje conhecidas, que
ganharam destaque posteriormente.
● No Brasil, a teoria é desenvolvida por Paulo Bonavides.
● É falsa ideia de que uma categoria de direitos substitui a outra que lhe é
anterior.
● O que ocorre é a junção de uma nova dimensão de direitos humanos que se
une à outra já existente, e assim por diante.
● Os direitos humanos têm conteúdo indivisível. Mesmo diante de divisão
doutrinária em gerações ou dimensões, não há a existência de um sem o
outro.
● A indivisibilidade enfatiza que a afirmação da dignidade humana demanda a
proteção de todos os direitos.
● Quando se fala em direitos humanos a ideia é a de que esses direitos se
complementam e não se dividem em “gerações” ou “dimensões”, por serem
indivisíveis.
a) Primeira Geração (liberdade)
● Os direitos da primeira geração são os direitos de liberdade lato sensu.
● São os primeiros a constarem dos textos normativos constitucionais, a saber,
os direitos civis e políticos.
● Trata-se dos direitos que têm por titular o indivíduo, sendo, portanto,
oponíveis ao Estado (são direitos de resistência ou de oposição perante o
Estado).
● Como exemplos, podem ser citados os direitos à vida, à liberdade (de
locomoção, reunião, associação, de consciência, crença etc.), à igualdade, à
propriedade, ao nome, à nacionalidade, dentre tantos outros.
a) Primeira Geração (liberdade)
● Foi no contexto de propagação desses ideais que ocorreram as revoluções
liberais dos séculos XVII e XVIII.
● As Revoluções Inglesa, Americana e Francesa geraram sistemas de governos
que visavam restringir os poderes do Estado e, ao mesmo tempo,
salvaguardar os direitos individuais contra ameaças futuras.
● A Bill of Rights (adotada na Inglaterra em 1689), a Declaração de Direitos do
Homem e do Cidadão (adotada na França em 1789) e as dez primeiras
emendas da Constituição dos Estados Unidos da América (ratificadas em
1791) estabeleceram listas de direitos que protegiam as liberdades do
indivíduo contra o Estado.
b) Segunda Geração (igualdade)
● Nasceram a partir do início do século XX e compõem-se dos direitos da
igualdade lato sensu, a saber, os direitos econômicos, sociais e culturais,
bem como os direitos coletivos ou de coletividades.
● São introduzidos no constitucionalismo do Estado social, depois que
germinaram por obra da ideologia e da reflexão antiliberal do século XX.
● Tais direitos foram remetidos à esfera dos chamados direitos programáticos,
em virtude de não conterem para a sua concretização a necessidade de
atuação do legislador para criar norma que garanta efetividade ao direito.
b) Segunda Geração (igualdade)
● Em outras circunstâncias, a luta por melhores condições levou a reformas do
Estado, agregando as demandas da classe trabalhadora aos sistemas políticos
e jurídicos existentes.
● Nessa perspectiva, os direitos humanos deixaram de ser entendidos apenas
como garantias da liberdade privada individual, visto que a proteção da
dignidade de todos demanda também atuação estatal para regular as
relações de trabalho, assim como para prover saúde, educação e
assistência social.
● Marcos desse processo incluem a Constituição Mexicana de 1917 (que
estabeleceu o direito ao trabalho e à previdência social) e a Constituição de
Weimar, na Alemanha (que protegeu direitos sociais).
c) Terceira Geração (fraternidade)
● Os direitos de terceira geração são os que se assentam no princípio da
fraternidade.
● Fazem parte, entre outros, o direito ao desenvolvimento, ao meio ambiente,
à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade.
● Segundo pensamos, tais direitos foram fortemente influenciados pela temática
ambiental, nascida no mundo a partir da década de 1960, estendendo-se,
depois, para outras áreas.
c) Terceira Geração (fraternidade)
● Durante o século XX e início do século XXI, os contínuos efeitos da
degradação ambiental provocaram a proclamação do direito a um meio
ambiente saudável.
● Ocorreram transformações sociais buscando a afirmação de direitos dos
povos, como o direito coletivo à propriedade de terras indígenas, bem como à
elaboração da ideia de direito ao desenvolvimento, de titularidade coletiva.
d) Quarta geração (solidariedade)
● A quarta geração de direitos humanos resulta da globalização dos direitos
fundamentais, de sua expansão e de sua abertura além-fronteiras.
● Seriam exemplos dos direitos de quarta geração o direito à democracia (no
caso, a democracia direta), o direito à informação e o direito do pluralismo.
● Tais relações se podem dizer solidárias por guardarem a característica de
ultrapassar fronteiras para a globalização dos direitos fundamentais.
e) Quinta Geração (esperança)
● Por fim, atualmente já se fala numa quinta geração de direitos humanos,
fundada na concepção da paz no âmbito da normatividade jurídica.
● A ideia a ser seguida seria trasladar a paz das regiões da metafísica, da
utopia e dos sonhos para a esfera da positividade jurídica.
Imagem: Curso de Direitos Humanos, de Valério de Oliveira Mazzuoli.
Até a próxima
aula!

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