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Direitos Humanos

e Cidadania
Os Direitos Humanos

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª M.ª Marize Oliveira dos Reis

Revisão Textual:
Caique Oliveira dos Santos
Os Direitos Humanos

• Introdução;
• Definição de Direitos Humanos;
• Direitos Humanos e Direitos Fundamentais;
• Características dos Direitos Humanos;
• Classificação dos Direitos Humanos.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Conhecer a definição dos direitos humanos;
• Desenvolver intimidade com a leitura e a interpretação de textos;
• Assumir interesse pelo conhecimento do tema.
UNIDADE Os Direitos Humanos

Introdução
Constantemente nos deparamos com defesas efusivas de proteção a bens denomina­
dos como direitos naturais, direitos individuais, liberdades públicas, direitos do homem,
direitos da pessoa humana, liberdades fundamentais, direitos fundamentais, ou, ainda,
direitos humanos.

Figura 1 – Os direitos humanos


Fonte: Getty Images

Tais expressões, claramente, têm o objetivo de determinar que o objeto abordado


possui grande importância aos indivíduos, independentemente de suas singularidades,
sendo amplamente empregadas em protestos políticos e na sociedade civil com o intuito
de reivindicar direitos.

Nas próximas linhas, aprenderemos um pouco a respeito do tema e da sua acla­


mada relevância.

Definição de Direitos Humanos


A compreensão da verdadeira definição da expressão “direitos humanos” passa pela
investigação dos diversos sentidos atribuídos aos direitos da pessoa humana.
Enquanto alguns adotam o vocábulo “direitos humanos”, outros preferem “direitos
do homem” e, ainda, há aqueles que preferem o vocábulo “direitos fundamentais”. De
acordo com Pérez (2011, p. 19), “el término derechos humanos resulta problemático
al menos por dos motivos: porque tiene diversas significaciones y porque además
existen distintas palabras que quieren expresar su concepto”.
A carência de um conceito unânime a respeito do tema nos leva à necessidade de
uma análise dos muitos vocábulos utilizados e seus significados e suas abrangências.

Alguns estudiosos do tema entendem como inadequada a utilização dos vocábulos como
sinônimos, por entenderem que estes possuem tão somente a liberdade como foco comum.
Segundo Torres (1999, p. 254), “As expressões Direitos do Homem, Direitos Fundamentais
e Liberdades Públicas têm sido, equivocadamente, usadas indistintamente como sinônimos.
Em verdade, guardam, entre si, de rigor, apenas um núcleo comum, a liberdade”.

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Os vocábulos “direitos individuais”, “liberdades públicas” e “direitos humanos” são,
costumeiramente, empregados para indicar as prerrogativas dos indivíduos diante do
Estado. Dessa forma, estariam relacionados com os direitos positivados pelo Estado,
resguardados e protegidos em suas normas jurídicas.

Direitos Humanos e Direitos Fundamentais


O termo “direitos humanos” é utilizado para identificar o conjunto de faculdades e
instituições que se servem à concretização da dignidade, da igualdade humana e da liber­
dade. Reporta-se àqueles direitos que, embora não tenham sido positivados no ordena­
mento de determinado país, são descritos em declarações e convenções internacionais.

Os chamados direitos humanos possuem, notadamente:


• Caráter prescritivo: alcançam as necessidades humanas que devem ser positiva­
das e abordadas em normas jurídicas, ainda que não o tenham sido;
• Caráter descritivo: são liberdades e direitos reconhecidos em convenções e decla­
rações internacionais.

Entende-se como direitos humanos o rol de direitos e liberdades do indivíduo cons­


tante de documentos internacionais adotados na estrutura normativa do sistema global
das Nações Unidas e nos vários sistemas regionais de proteção aos direitos humanos.

O vocábulo “direitos fundamentais” advém de um longo desenvolvimento de conteú­


do cultural e político, com surgimento no século XVIII, na França, conduzindo à Decla­
ração dos Direitos do Homem e do Cidadão, em 1789.

Figura 2 – Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão


Fonte: Wikimedia Commons

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Os direitos fundamentais são aqueles positivados no conjunto de normas jurídicas


de certo Estado. Nesse sentido, são aqueles que um Estado reconhece em sua ordem
jurídica constitucional.

Os estudiosos defendem que os direitos humanos são inseparáveis da condição de ser


humano e, dessa forma, universais, mas também devem ser analisados sob o enfoque
espacial, em determinado Estado, e temporal, em determinado momento.

Assim, costumeiramente, direitos humanos designam os direitos e as liberdades hu­


manas no plano internacional ou universal, relacionando-se com direitos supranacionais
ou suprapositivados, enquanto direitos fundamentais dizem respeito às afirmações dos
direitos e das liberdades humanas no plano interno ou estatal, com alcance restrito aos
domínios de um Estado.

Você Sabia?
São direitos supranacionais aqueles normatizados por meio de um acordo de vontade
expressamente manifestado por nações soberanas, que submetem sua liberdade de to-
mada de decisões sobre determinados temas de interesse internacional a um sistema de
instituições de interesse comum.

Destacados autores brasileiros, como José Afonso da Silva e Alexandre de Moraes,


defenderam a conjugação das duas expressões estudadas e adotaram nomenclaturas
como direitos fundamentais do homem ou direitos humanos fundamentais. Entre­
tanto, a maioria optou pela utilização preferencial do termo “direitos humanos”, não dis­
pensando o termo “direitos fundamentais”, especialmente ao abordar aqueles elencados
na Constituição da República Federativa do Brasil.

Características dos Direitos Humanos


Para uma melhor compreensão dos direitos humanos e da sua concepção contem­
porânea, a doutrina traça atributos essenciais e comuns ao conteúdo. No entanto, não
existe uma uniformidade, entre os estudiosos, a respeito deles. Assim, traçamos a seguir
os que mais se destacam, sendo eles:
• Universalidade: reconhece que todo indivíduo possui dignidade e capacidade para
o exercício de direitos humanos, sem qualquer tipo de distinção, discriminação ou
limitação em razão de sexo, religião, origem, raça, etnia ou qualquer outra condição
de diferenciação.
Esse atributo é uma exigência fundamental para a verificação dos direitos inerentes
a todos os indivíduos, excluída qualquer discriminação ou restrição.
No título e no conteúdo da Declaração Universal dos Direitos Humanos, é facilmen­
te identificada a consagração da universalidade do seu alcance sem restrição, o que
pode ser observado já em seus primeiros artigos, a seguir transcritos:

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Art. 1º. Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e
em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com
os outros em espírito de fraternidade.
Art. 2º. Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liber­
dades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, no­
meadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião
política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento
ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distin­
ção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do
território da naturalidade da pessoa, seja esse país ou território indepen­
dente, sob tutela, autônomo ou sujeito a alguma limitação de soberania.
Art. 3º. Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

• Historicidade: passa pela averiguação dos direitos humanos como resultado de um


prolongado processo de progresso e retrocesso em sua proteção e seu reconhecimento.
Pouco a pouco, novos direitos são incorporados ao rol dos direitos humanos, como
resultado de lutas de movimentos e transformações políticas, econômicas e sociais
dos indivíduos;

[...] os direitos do homem, por mais fundamentais que sejam, são direitos
históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias, caracterizadas por
lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes, e nascidos
de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas.
(BOBBIO, 1992, p. 5)

• Inalienabilidade: determina ser qualquer direito humano impossibilitado de uti­


lização econômica, não sendo permitida sua comercialização ou transação. São
chamados de bens indisponíveis e inegociáveis. Conforme Bulos (2018, p. 534.),
“os seus titulares não podem vendê-los, aliená-los, comercializá-los, pois não têm
conteúdo econômico”;
• Irrenunciabilidade: determina que, mesmo que um direito humano deixe de ser
exercido, ele nunca poderá ser recusado ou rejeitado, de forma que qualquer ma­
nifestação de um indivíduo no sentido de abdicá-lo será considerada nula, não pro­
duzindo efeitos jurídicos;
• Imprescritibilidade: o não exercício de um direito humano, ainda que ocorra por
um grande decurso de tempo, não provoca sua prescrição;
Dessa maneira, mesmo que um indivíduo nunca tenha exercido determinado direito
humano, a qualquer tempo poderá exigi-lo;

Você Sabia?
Prescrição é um instituto jurídico que determina a impossibilidade de acionar o Poder
Judiciário devido à inércia por determinado decurso de tempo.

• Vedação ao retrocesso: é instrumento importante com a finalidade de impedir


que interesses econômicos e políticos transitórios flexibilizem ou mesmo retirem a
proteção aos direitos reconhecidos.

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O objetivo de tal característica é evitar que a proteção aos direitos culturais, econômi­
cos e sociais não diminua seus níveis de acolhimento.

O princípio da proibição do retrocesso social pode formular-se assim: o


núcleo essencial dos direitos sociais já realizado e efetivado através de
medidas legislativas deve considerar-se constitucionalmente garantido,
sendo inconstitucionais quaisquer medidas que, sem a criação de esque­
mas alternativos ou compensatórios, se traduzam na prática em uma anu­
lação, revogação ou aniquilação pura e simples desse núcleo essencial.
A liberdade do legislador tem como limite o núcleo essencial já realizado.
(GOMES CANOTILHO, 2003, p. 339)

Universalidade Irrenunciabilidade

Historicidade
Direitos Imprescritibilidade
Humanos

Inalienabilidade Vedação ao Retrocesso

Figura 3 – Características dos direitos humanos

Classificação dos Direitos Humanos


A classificação dos direitos humanos mais conhecida é aquela que os classifica, tendo
em vista uma evolução histórica, por meio de uma teoria das gerações de direitos.

A doutrina utiliza algumas terminologias para abordar a classificação dos direitos


humanos em etapas evolutivas, sendo elas famílias, gerações ou dimensões de direitos.

Atualmente, muitos estudiosos têm preferido a utilização do termo dimensões de


direitos, em substituição a gerações de direitos, sob a justificativa de que os direitos
humanos formam, de início, gerações, mas, com o decorrer do tempo, passam a com­
por dimensões, sendo uma evolução. Entretanto, outros tantos defendem o emprego do
termo geração, sustentando uma conexão de uma geração à outra, de forma que uma
geração não exclui a outra. Nessa corrente, a palavra “dimensão” é preterida por esti­
mar uma noção de nível ou escalonamento entre os direitos humanos, algo inadmissível.

Assim, utilizaremos o vocábulo gerações na classificação a seguir:

Primeira geração
Abrange direitos marcados pela defesa das liberdades, surgindo nas declarações libe­
rais que limitaram a atuação do Estado no campo dos direitos individuais.

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Os direitos humanos de primeira geração são chamados de direitos de defesa, cons­
tituídos por direitos civis e políticos.

Direitos civis referem-se ao direito à vida, à liberdade, à propriedade privada, à igual­


dade formal e, posteriormente, a outras liberdades específicas, como a de pensamento,
expressão, reunião, associação etc.

Por sua vez, direitos políticos são aqueles que proporcionam a possibilidade de par­
ticipação nas decisões políticas, especialmente mediante o direito de votar e ser votado.

Segunda geração
Trata-se de direitos marcados pela defesa de igualdade de condição de vida e traba­
lho, resultado dos movimentos sociais ocorridos em meados do século XIX e das trans­
formações sociopolíticas ocorridas nas primeiras décadas do século XX.

Os direitos humanos de segunda geração são aqueles que impõem ao Estado a rea­
lização de atividades para a sua efetivação, inclusive com investimentos financeiros. Tal
necessidade de concretização por parte do Estado alcança uma obrigação positiva, uma
obrigação de fazer, uma prestação positiva estatal.

Compreendem os direitos econômicos, sociais e culturais. Os direitos econômicos


referem-se às relações trabalhistas, à filiação sindical e às condições justas de trabalho. Já
os direitos sociais ligam-se à educação, à saúde e à moradia. Por fim, os direitos cultu-
rais relacionam-se à identidade e à memória da comunidade, ao direito às fontes culturais.

Terceira geração
Diz respeito aos direitos destinados à proteção de grupos humanos (povo, nação e
toda a humanidade), como direitos de titularidade coletiva ou difusa.

Abarca os chamados direitos de solidariedade, fraternidade, também denominados


direitos dos povos, como o direito ao meio ambiente, o direito à paz, à autodeterminação
dos povos, ao desenvolvimento sustentável.

Quarta geração
Não existe, entre os estudiosos, um consenso quanto aos direitos alcançados por essa
geração ou dimensão. Alguns argumentam que, aqui, encontraríamos o direito à demo­
cracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Outros, por sua vez, defendem
que a quarta geração de direitos humanos alcança aqueles relacionados à bioética, à
engenharia genética e às tecnologias de informação.

Em resumo, podemos concluir que a classificação dos direitos humanos, levando em


conta as três primeiras gerações ou dimensões, sobre as quais existe uma prevalência na
doutrina, pode ser demonstrada da seguinte forma:

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Direito à vida, à liberdade, à propriedade


privada, à igualdade formal, à liberdade de
Primeira Geração Liberdade pensamento, de expressão, de reunião, de
associação, de votar e ser votado.

Direito à educação, à saúde, à moradia,


direitos trabalhistas, de filiação sincial, de
Segunda Geração Igualdade condições justas de trabalho, direito à
identidade cultural e direito às fontes autorais.

Direito ao meio ambiente, direito à paz,


à autodeterminação dos povos, à proteção
Terceira Geração Fraternidade e à conservação do patrimônio comum
da humanidade.

Figura 4 – Classificação dos direitos humanos em gerações

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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Filmes
A vida é bela
Capturado e enviado com seu filho a um campo de concentração em Berlim, um
judeu, dono de uma pequena livraria na Itália fascista, usa sua inteligência e espi­
rituosidade para que a criança acredite que ambos estão em um jogo, afastando-a,
assim, dos horrores do nazismo.
https://youtu.be/cyyrrXvsdws
O pianista
Inspirado nas memórias do pianista, esse filme mostra o surgimento do Gueto de
Varsóvia, quando os alemães construíram muros para enclausurar os judeus em
algumas áreas, e acompanha a perseguição que levou à captura e ao envio de sua
família para os campos de concentração.
https://youtu.be/BFwGqLa_oAo
Ex-pajé
Depois do contato com brancos que julgam sua religião como demoníaca, um im­
portante pajé passa a questionar suas crenças. Quando a morte passa a rondar
a aldeia e a sensibilidade do índio em relação aos espíritos da floresta mostra-se
indispensável, a missão evangelizadora é questionada.
https://youtu.be/guKfz2x8g_U
12 anos de escravidão
Conta a história de um escravo liberto, que vive em paz ao lado da esposa e filhos.
Um dia, após aceitar um trabalho que o leva a outra cidade, ele é sequestrado e acor­
rentado. Vendido como se fosse um escravo, ele passa por dois senhores que explo­
ram seus serviços e precisa superar humilhações físicas e emocionais para sobreviver.
https://youtu.be/xSL_sCHDsHc

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Referências
BOBBIO, N. A era dos direitos. Rio de Janeiro: Campus, 1992.
BULOS, U. L. Curso de direito constitucional. 11. ed. São Paulo: Saraiva, 2018. (e-book)
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COMPARATO, F. K. A afirmação histórica dos direitos humanos. 12. ed. São Paulo­:
Saraiva Educação, 2019. (e-book)
DALLARI, D. de A. Direitos humanos e cidadania. 2. impressão. São Paulo:
Moderna, 1998.

GOMES CANOTILHO, J. J. Direito constitucional e teoria da Constituição. 7. ed.


Coimbra: Almedina, 2003.
GUERRA, S. Direitos humanos: curso elementar. 5. ed. São Paulo: Saraiva: 2017. (e-book)
LEITE, C. H. B. Manual de direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2014. (e-book).
MALHEIRO, E. Curso de direitos humanos. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2016. (e-book)
MAZZUOLI, V. de O. Curso de direitos humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense,
2019. (e-book)

MORAES, A. Direitos humanos fundamentais: teoria geral. 9. ed. São Paulo:


Atlas, 2011.
OLIVEIRA, F. M. G. de. Direitos humanos. Rio de Janeiro: Forense, 2016. (e-book)

PÉREZ, J. L. R. El discurso de los derechos: una introducción a los derechos humanos.


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PIOVESAN, F. Temas de direitos humanos. 11. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2018. (e-book)
_______. Direitos humanos e justiça internacional: um estudo comparativo dos siste­
mas regionais europeu, interamericano e africano. 9. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2019. (e-book)
RAMOS, A. de C. Curso de direitos humanos. 7. ed. São Paulo: Saraiva Educação,
2020. E-book.

SILVA, José Afonso da Silva. Curso de direito constitucional positivo. 33. ed. São
Paulo: Malheiros, 2010.

TORRES, R. L. Teoria dos direitos fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 1999.

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