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TEORIA GERAL DOS DIREITOS HUMANOS

A matéria Direitos Humanos pode ser conceituada como o conjunto de direitos inerentes à dignidade da
pessoa humana, por meio da limitação do arbítrio do Estado e do estabelecimento da igualdade como o
aspecto central das relações sociais.

Base dos Direitos Humanos  Dignidade da Pessoa Humana

Direitos Humanos  direitos universalmente aceitos na ordem internacional;


Direitos Fundamentais  direitos positivados na ordem interna de um Estado.
Direitos do Homem  direitos naturais, não escritos, aptos à proteção do homem e válidos a qualquer
tempo.

TEORIA DOS STATUS DE JELLINEK:


1. Status Subjectionis (sujeição): pessoa se encontra em estado de sujeição em relação ao Estado;
2. Status Libertatis (defesa): prerrogativa de exigir uma abstenção do Estado;
3. Status Civitatis (prestacional): prerrogativa de exigir uma ação, uma prestação do Estado;
4. Status Activus (participativo): prerrogativa de poder participar da formação da vontade do Estado.

ESTRUTURA DOS DIREITOS HUMANOS:


1. Direito-Pretensão: confere-se ao titular o direito a ter alguma coisa que é devido pelo Estado ou
até mesmo por outro particular;
2. Direito-Liberdade: impõe a abstenção a terceiros ou ao Estado;
3. Direito-Poder: possibilita à pessoa exigir a sujeição do Estado ou de outra pessoa para que esses
direitos sejam observados;
4. Direito-Imunidade: impede que uma pessoa ou o Estado haja no sentido de interferir nesse direito.

FUNDAMENTO DOS DIREITOS HUMANOS


Corrente Negativista  nega a possibilidade de ser definido um fundamento para os DH.
Fundamento Jusnaturalista  o fundamento dos Direitos Humanos está em normas anteriores e
superiores ao direito estatal posto, decorrente de um conjunto de ideias, de origem divina ou fruto da
natureza humana. Assim, para essa corrente de pensamento, os Direitos Humanos seriam equivalentes
aos direitos naturais, consequência da afirmação dos ideais jusnaturalistas.
Fundamento Racional  Aquilo que o homem, por intermédio de uma reflexão racional, procura
estabelecer como inerente à condição humana constituirá o fundamento para os direitos humanos.
Fundamento Positivista  se opõe fortemente ao fundamento jusnaturalista. Nega-se a pré-existência de
direitos humanos, pois todos seriam decorrentes das normas estatais. Se os Direitos Humanos estiverem
escritos em textos legais (e principalmente, constitucionais) são considerados Direitos Humanos. Antes
de serem positivados, são considerados apenas valores e juízos morais.
Fundamento Moral  os direitos humanos podem ser considerados direitos morais que não aferem sua
validade por normas positivadas, mas extraem validade diretamente de valores morais da coletividade
humana.
Fundamento da Dignidade  O fundamento dos direitos humanos é a dignidade da pessoa humana. É
a teoria atualmente adotada.

“O resultado dessa reflexão levou à constatação de que é necessário refletir os direitos humanos a partir
da dignidade, seja ela encarada como um princípio ou como um valor supremo. A dignidade se
apresenta como o resultado dessas várias razões e, por isso, constitui o fundamento dos direitos
humanos.”

Direitos Humanos possuem força normativa aberta, por ser sofrerem maior incidência de princípios do
que de regras.

PÓS-POSITIVISMO
No âmbito jurídico, passou-se a criticar fortemente a concepção positivista, que distanciava o direito de
qualquer posição moral ou valores. Afinal de contas, um direito desprendido de valores ou aspectos éticos
e morais, viola a própria finalidade do direito, que é tutelar e proteger a pessoa, que é garantir o bom
convívio social, com respeito aos direitos mais básicos. Busca-se, assim, uma reaproximação do direito
em relação à moral. A esse movimento denomina-se de pós-positivismo.
É importante compreender, ainda, que o movimento pós-positivista não implica no abandono do
positivismo. Do mesmo modo, não constitui um retorno à visão jusnaturalista do direito. Temos, na
realidade, a necessidade de considerar o direito a partir de um tripé: fatos, valores e normas. É
justamente essa a compreensão de Miguel Reale, que adotou a teoria tridimensional do Direito.
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS

SUPERIORIDADE NORMATIVA (NORMA JUS COGENS)


No direito internacional, os Direitos Humanos são considerados como norma imperativa em sentido
estrito (jus cogens), que significa que os Direitos Humanos contêm um conjunto de valores considerados
essenciais para a comunidade, de maneira que possuem superioridade normativa em relação às demais
normas internacionais.
Por conta disso, a norma cogente de direitos humanos não pode ser alterada pela vontade de um Estado e
a revogação de norma imperativa somente é possível por intermédio de norma de igual hierarquia, ou seja,
somente por outra norma jus cogens, elaborada pelas mesmas partes.

HISTORICIDADE
Os Direitos Humanos decorrem de um processo de formação histórica, de modo que, com o tempo, os
direitos humanos surgem e se solidificam em razão das lutas da sociedade em defesa da dignidade da
pessoa.
Não se confundem com os Direitos Naturais. Os direitos naturais são inatos, cabendo a cada Estado, por
meio de suas normas, declará-los. Essa ideia não se aplica aos Direitos Humanos, que surgiram com o
lento evoluir da sociedade, como se percebe ao estudar a pater histórica da matéria (afirmação histórica
dos direitos humanos).
Assim, os Direitos Humanos decorrem de formação histórica, surgem e se solidificam conforme a evolução
da sociedade (conceito).

UNIVERSALIDADE
Há duas linhas de pensamento acerca da universalidade dos Direitos Humanos, sendo estas a doutrina
universalista e a doutrina relativista.

A Doutrina Universalista aponta que os Direitos Humanos destinam-se a todas as pessoas,


independentemente de suas características pessoais, culturais, sociais ou econômicas. Não há que
se falar em qualquer forma de discriminação para saber se são, ou não, aplicáveis os Direitos Humanos.
Abrangem todos os territórios, todos os países, todas as sociedades. Podemos afirmar que os Direitos
Humanos possuem validade em qualquer local deste planeta, não havendo limitações territoriais.

A Doutrina Relativista aponta que apesar de ser possível compartilhar valores, não há como justificar
superioridade de um valor ou de uma cultura em relação às outras, pois todas merecem igual
consideração. Aponta que não há julgamentos morais justificáveis fora de contextos culturais específicos.
Assim, para os defensores do relativismo cultural, os direitos humanos devem ser analisados em um
contexto histórico, político, econômico, moral e, por óbvio, cultural, isto é, os direitos humanos devem ser
concebidos de acordo com os valores existentes em determinado Estado e não podem ser definidos em
escala global.
Atualmente, a compreensão mais correta de universalidade dos direitos humanos remete à ideia de que
devem ser levadas em consideração as particularidades locais, bem como os contextos históricos,
culturais e religiosos de cada povo. Compete, contudo, a todos os Estados, sem exceção,
independentemente de seu sistema político, econômico ou cultural, o respeito aos direitos humanos.
Prevalece, portanto, a teoria universalista sobre a relativista.

RELATIVIDADE
Os Direitos Humanos podem sofrer limitações para adequá-los a outros valores coexistentes na ordem
jurídica.
Entretanto, alguns Doutrinadores indicam a existência de dois direitos absolutos, os quais não podem ser
relativizados em situação alguma: vedação à tortura; vedação à escravidão.

IRRENUNCIABILIDADE
A dignidade humana deverá ser observada e respeitada pela simples condição humana. Se é humano,
deverá ter dignidade! Logo, pela característica da irrenunciabilidade, devemos entender que a pessoa não
pode dispor sobre a proteção à sua dignidade. Assim, eventual renúncia a direito humano é nula, não
possuindo qualquer validade jurídica.

INALIENABILIDADE E IMPRESCRITIBILIDADE
A inalienabilidade indica que os Direitos Humanos não podem ser alienados, não podem ser
comercializados por seu titular.
Já a imprescritibilidade aponta que as normas de Direitos Humanos não se esgotam, nem se consomem
com o passar do tempo.
Necessário lembrar que a imprescritibilidade dos Direitos Humanos não se estende à reparação civil de
eventuais lesões a esses direitos. Ou seja, caso um determinado direito seja lesado, a pessoa terá um
prazo, em regra, limitado para exigir a sua reparação.

INTERDEPENDÊNCIA E CARÁTER ERGA OMNES


Entende-se por interdependência a mútua relação entre os Direitos Humanos protegidos pelos diversos
diplomas internacionais. Essa característica relaciona-se com a indivisibilidade dos direitos humanos.
Em relação à característica de erga omnes, diz-se que os direitos humanos são oponíveis contra todos,
abrangendo as demais pessoas, os Estados e os organismos internacionais. Ninguém poderá se afirmar
superior aos direitos humanos visando não observar as normas de proteção.

ABERTURA E EFEITO CLIQUET


A abertura remete ao processo de alargamento do rol de direitos humanos, de forma que, segundo os
doutrinadores, o rol de direitos não é taxativo (não exaustivo). Vale dizer, sempre será possível, a
depender dos influxos da sociedade, o reconhecimento de novos direitos humanos, pois eles possuem
estrutura aberta.
O parâmetro para se considerar determinado direito como humano é o princípio da dignidade, de forma
que, se determinado direito remeter ou repercutir na dignidade da pessoa, poderá ser considerado um
direito humano.
Não obstante, em razão da historicidade dos Direitos Humanos, entende-se que a proteção aos direitos da
dignidade da pessoa é expansiva, ou seja, está sempre em progresso.
O Efeito Cliquet, também chamado de vedação ao retrocesso, indica que devemos compreender a
proibição à supressão de direitos já reconhecidos em detrimento das conquistas históricas da
humanidade.
Deve-se atentar ao fato de que não é possível aniquilar o direito alcançado, porém, por vezes, permite-se
mudanças dos critérios de aplicação desses direitos, como exemplo, podemos citar o julgamento da ADI
3.104 que tratava da reforma da previdência, o STF entendeu que apenas haveria o retrocesso caso a
aposentadoria fosse abolida e por isso julgou improcedente a ação que pugnava pela inconstitucionalidade
da reforma.
Ou seja, a mera alteração de critérios, sem que seja suprimido o núcleo essencial ou o direito em si,
não fere o princípio da vedação ao retrocesso (efeito cliquet).

APLICABILIDADE IMEDIATA
A aplicabilidade imediata dos direitos humanos consiste no reconhecimento formal de que os direitos
humanos são completos e, por serem dotados de eficácia plena, podem, desde logo, ser aplicados.
Regras e princípios que disciplinam os direitos humanos possuem aplicabilidade imediata e direta, não
precisam de outras normas que venham especificar como será a aplicação desses direitos.
A própria CF indica, em seu artigo 5°, que as normas definidoras de direitos fundamentais detêm aplicação
imediata.

DIMENSÃO OBJETIVA E SUBJETIVA


Pela dimensão subjetiva, diz-se que os direitos humanos constituem um conjunto de proposições jurídicas
conferida às pessoas, visando a sua proteção. Devemos perceber que essa dimensão se refere ao
indivíduo enquanto sujeito protegido pelos direitos humanos.
Segundo a dimensão objetiva, entende-se que os direitos humanos são capazes de impor uma atuação
estatal voltada para a proteção de tais direitos. Nesse caso, não há preocupação com a proteção de um ou
de outro indivíduo que tenha seu direito humano violado. Preocupa-se com a criação de mecanismos para
a promoção dos direitos humanos em toda a sociedade, por meio da criação de procedimentos e de entes
capazes de assegurá-los.

EFICÁCIA VERTICAL, HORIZONTAL E DIAGONAL


Por eficácia horizontal dos direitos humanos compreende-se a aplicação obrigatória e direta dos direitos
humanos nas relações entre pessoas e entes privados.
Eficácia vertical, em sentido oposto, é a aplicação de Direitos Humanos na relação entre Estado e
indivíduos, pois o Estado assume posição hierarquicamente superior e privilegiada em relação aos
governados.
Por fim, eficácia diagonal é a que determina a aplicação dos direitos humanos nas relações assimétrica
como a relação entre empregado e
empregador.
DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS

Há discussão na doutrina se o mais correto é falar em gerações ou em dimensões dos Direitos Humanos.
Ambos querem dizer a mesma coisa, contudo, prevalece o termo “dimensões”, uma vez que geração
pressupõe a superação de determinada fase e construção de um novo modelo.
Na realidade, a cada fase de evolução dos Direitos Humanos foram agregados outros direitos que vieram
a somar com os direitos já assegurados, de maneira que não houve superação da geração anterior, mas
uma ampliação da proteção à dignidade da pessoa.

1ª DIMENSÃO DOS DIREITOS HUMANOS


A primeira dimensão dos Direitos Humanos compreende os direitos da liberdade, que são os direitos
civis e políticos, decorrentes das revoluções liberais e da transição do Estado Absolutista para o Estado de
Direito.
Caracterizam-se esses direitos por imporem uma abstenção estatal, por limitarem a atuação do Estado
em defesa dos direitos das pessoas. Em razão disso, se diz que essa dimensão representa direitos às
prestações negativas. Essa

Marcos Históricos:
 Revolução Gloriosa (Inglaterra, 1688);
 Independência do EUA (1776);
 Revolução Francesa (1789).

Marcos Jurídicos:
 Constituição do EUA (1787);
 Declaração do Homem e do Cidadão (1789);

2ª DIMENSÃO DOS DIREITOS HUMANOS


Essa geração compreende os direitos relacionados à igualdade, abrangendo os direitos sociais, direitos
econômicos e os direitos culturais, em razão da evolução do Estado Liberal para o Estado Social.
Ao contrário da dimensão anterior, os direitos de segunda dimensão são notadamente prestacionais. Vale
dizer, os Estados passaram a ser obrigados a atuar positivamente para assegurar os direitos sociais,
econômicos e culturais.

Marcos Históricos:
 Revolução Mexicana (1910);
 Revolução de Russa (1917).

Marcos Jurídicos:
 Constituição Mexicana (1917);
 Constituição de Weimar (1919).
3ª DIMENSÃO DOS DIREITOS HUMANOS
A terceira dimensão dos Direitos Humanos envolve os direitos de solidariedade ou fraternidade,
abrangendo os direitos difusos e coletivos. Constituem, na realidade, os direitos assegurados às
pessoas em geral.
Ao final da 2ª Guerra Mundial, as discussões acerca da própria compreensão do ser humano se
modificaram. A sociedade passou a compreender a necessidade de se assegurar ao máximo a proteção
da dignidade da pessoa.

Marco Histórico:
 2ª Guerra Mundial;
 Criação da Organização das Nações Unidas (1945);

Marco Jurídico: Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) (1948).

4 e 5ª DIMENSÃO DOS DIREITOS HUMANOS


Paulo Bonavides compreende que a quarta dimensão dos Direitos Humanos envolve a tutela da
democracia, do direito à informação e o pluralismo político.
Enuncia que existe, ainda, a quinta dimensão dos Direitos Humanos, responsável pelo direito à paz.
AFIRMAÇÃO HISTÓRICA DOS DIREITOS HUMANOS

Apesar de existirem alguns fatos minimamente relevantes no período axial e no período ateniense/romano,
as provas costumam cobrar somente do período compreendido pela baixa idade média, em diante.

BAIXA IDADE MÉDIA


A partir do século XI, houve o início de um movimento de retomada, no qual grupos dominantes passaram
a pretender o controle político da sociedade medieval.
Documentos marcantes:
 Declaração das Cortes de Leão (1188);
 Magna Carta (1215).
 Trouxe um catálogo de direitos individuais contra o poder Estatal do Monarca;
 Visava proteger a Burguesia contra os atos do Monarca João sem Terra;
Esses diplomas, em síntese, foram capazes de assegurar, no surgimento dos direitos humanos, o valor
liberdade. Essa liberdade, contudo, era específica e em favor de determinados estamentos da sociedade.
Em suma, nesse período despontou a liberdade como manifestação inicial dos direitos humanos.

SÉCULO XVII
Ao lado das revoluções científicas da época, houve o renascimento dos ideais republicanos e
democráticos, intensificando-se o sentimento de liberdade e de resistência ao poder absolutista. Por conta
disso, esse período é marcado pelo estatuto das liberdades pessoais.
Documentos marcantes:
 Habeas Corpus Act;
 Bill of Rights (1689).
 Reduz os poderes autocráticos do Monarca, tornando ilegal a suspensão de uma lei pelo
Rei, sem que haja autorização do parlamento;
 Os membros do parlamento devem ser eleitos de forma livre e gozar da liberdade de
expressão.

Obs.: Não confundir a Magna Carta com a Bill of Rights! Na Magna Carta busca-se a proteção da
Burguesia face os autoritarismos do Monarca. Já na Bill of Rights há a “libertação” do Parlamento.
Portanto, se falar em Parlamento, trata-se da Bill of Rights.

INDEPENDÊNCIA AMERICANA E REVOLUÇÃO FRANCESA


Esse período é denominado como a “certidão de nascimento dos Direitos Humanos”, tendo em vista
que houve o reconhecimento solene de que todos os homens são iguais, com mesmos direitos perante a
sociedade.
Documentos marcantes:
 Declaração de Independência do EUA (1776);
 Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)
PRIMEIRA FASE DE INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
Essa fase remonta o início do século XIX e perdura até o final da 2ª Guerra Mundial.
Destaques:
 Direito Humanitário: conjunto de leis para evitar o sofrimento de soldados prisioneiros, doentes e
feridos, bem como da população atingida pelos conflitos bélicos. Destaca-se como documentos
referentes a esse Direito a Convenção de Genebra;
 Ato Geral da Conferência de Bruxelas: representou um marco na luta contra a escravidão;
 Criação da OIT (1919).

EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS A PARTIR DE 1945


Esse período que se inicia ao emergir a 2º Guerra Mundial e perdura até os dias atuais. O período
caracteriza-se pela preocupação da humanidade com o valor da vida, em especial após atrocidades e
barbáries das guerras mundiais. Afirma a doutrina que há preocupação com o valor supremo da dignidade.
A partir desse período, houve o aprofundamento e a definitiva internacionalização dos Direitos Humanos,
envolvendo não apenas os direitos individuais, mas também os direitos de natureza civil e política, direitos
de conteúdo econômico e social.
Em suma: esse período denota o reconhecimento da dignidade como valor supremo.
Destaques:
 Criação da ONU;
 Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH).
PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS

PRECEDENTES HISTÓRICOS E INTERNACIONALIZAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

O direito humanitário refere-se ao conjunto de normas e de medidas que objetivam proteger os direitos
humanos nos períodos de guerra em especial, prisioneiros, militares fora de combate e civis envolvidos.
Limita a atuação estatal mesmo havendo conflito armado.
A Liga das Nações, por sua vez, criada em 1920, após a 1ª Guerra Mundial, teve por finalidade promover
a cooperação, a paz e a segurança internacional. Segundo os doutrinadores, embora não tenha
conseguido implementar seus objetivos tendo em vista a deflagração da 2ª Guerra Mundial anos mais
tarde, a Liga das Nações constitui o “embrião da ONU”. Trazia visão genérica dos direitos humanos
voltada para as minorias e direito do trabalho, havia previsão de sanções econômicas e militares.
A Organização Mundial do Trabalho (OIT), criada em 1919, com objetivo de instituir e de promover
normas internacionais de condições mínimas e dignas de trabalho. A OIT, hoje um dos principais órgãos da
ONU, surgiu antes mesmo da Organização das Nações Unidas.

Além disso, o Tribunal de Nuremberg deu considerável contribuição para a disseminação da proteção
internacional dos Direitos Humanos. Embora fosse um órgão de exceção, cuja legitimidade era discutível,
demonstrou a preocupação da comunidade internacional em punir atos violadores dos direitos humanos,
em especial aqueles perpetrados pelos regimes nazifascistas.

Após os eventos históricos e, em razão dos motivos acima


mencionados, a expansão dos Direitos Humanos ocorreu
no planeta todo em planos diferentes. No plano
internacional geral, a criação da ONU deu origem ao
sistema global de Direitos Humanos. Já no plano
internacional local, países geograficamente próximos e com
características sociais, econômicas e culturais semelhantes
uniram-se na defesa dos Direitos Humanos, dando origem
aos denominados sistemas regionais de Direitos Humanos.
Assim, temos, atualmente, um Sistema Global de Direitos
Humanos, capitaneado pela ONU, e sistemas regionais,
que se formam no âmbito dos continentes americano,
europeu e africano.
No que atine à relação entre o sistema nacional e internacional devemos observar previamente a regra de
que o sistema internacional é subsidiário, atuando apenas na omissão das normas de direito interno.
Além disso, é possível que esses sistemas prevejam as mesmas regras de direitos humanos. Embora haja
certa redundância, entende a doutrina que a proteção por vários planos é positiva para a máxima
efetividade da proteção.
Máxima efetividade exige a interpretação que traga maior proveito ao titular do direito e com o
menor sacrifício imposto aos titulares dos direitos em colisão.
Podem surgir conflitos entre esses sistemas, hipótese na qual o impasse será definido de acordo com a
norma mais benéfica à pessoa humana é o que se chama de interpretação pro homine ou pro
persona a superioridade das normas de direitos humanos deve ser reconhecida e no caso concreto
escolhe-se a norma e a interpretação mais favorável ao indivíduo.

AS TRÊS VERTENTES DE PROTEÇÃO INTERNACIONAL

1) DIREITOS HUMANOS (STRICTU SENSU)


Os direitos humanos, enquanto vertente de proteção internacional, ganham relevo na comunidade
internacional após o término da 2ª Guerra Mundial.
Nessa vertente de proteção os Estados decidem, por livre e espontânea vontade (no exercício da
soberania), firmar tratados internacionais para a proteção dos Direitos Humanos. Esses tratados
internacionais, por sua vez, preveem as hipóteses de violação, a forma de apuração e as consequências
decorrentes da violação aos Direitos Humanos.
A principal característica dessa vertente de proteção reside na possibilidade de um signatário do tratado
internacional firmado possuir legitimidade ativa para denunciar violação a direitos humanos, bem como a
possibilidade de que o indivíduo, que teve seu direito violado, recorra às organizações internacionais para
ver resguardado seu direito humano.
Destacam-se os Organismos e Documentos:
 Organizações das Nações Unidas (ONU) e a Carta das Nações Unidas;
 Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Convenção Americana de Direitos Humanos.
2) DIREITO HUMANITÁRIO
A proteção internacional humanitária objetiva criar condições de paz e de segurança às pessoas que se
encontram em condições de vulnerabilidade em razão de conflitos militares e bélicos.
Na vertente do Direito Humanitário são criados mecanismos jurídicos internacionais de proteção das
pessoas inseridas em zonas de conflitos militares e de guerras.
Não compreende exclusivamente a responsabilidade do Estado soberano, mas pode abranger também
violações decorrentes de grupos armados, de milícias, de grupos racistas etc. Em termos gerais, o Direito
Humanitário faz a regulamentação jurídica da violência no âmbito internacional e do modo com que é
empregada nos períodos de guerra e de combates armados.
Ao contrário da vertente anterior, no direito humanitário não é possível o recurso individual.
Destacam-se os Organismos e Documentos:
 Movimento Internacional da Cruz Vermelha;
 Tribunal Penal Internacional;
 Direito de Genebra (Convenção de Genebra);
 Direitos de Haia (Convenção de Haia);
 Direito de Nova York (Convenção de Nova York).

3) DIREITO DOS REFUGIADOS


O Direito dos Refugiados relaciona-se com a proteção aos direitos civis, em decorrência de discriminação
(cultural, racial), de limitações às liberdades de expressão e de opinião política.
Dois princípios informam essa vertente:
 Princípio do in dubio pro refugiado – trata-se de presunção relativa que obriga, desde logo, a
conferir proteção ao refugiado para ulterior averiguação da situação da pessoa. Cria-se a
presunção de que, se a pessoa pede asilo, é porque ela sofreu violação dos seus direitos;
 Princípio da não devolução (non-refoulement) – nenhum dos Estados deve expulsar pessoa para
território em que a sua vida ou liberdade se encontrem ameaçada em decorrência de etnia, de
religião, de nacionalidade, de grupo social ou de opiniões políticas.
Destaca-se, como Documento, o Estatuto dos Refugiados (1951) e como marco histórico o próprio pós 2ª
Guerra Mundial.

NATUREZA OBJETIVA DA PROTEÇÃO INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS


Por natureza objetiva da proteção internacional de Direitos Humanos, entende-se que o Estado, ao firmar
um tratado internacional, não assume direitos e obrigações recíprocas, mas apenas a obrigação
perante a comunidade internacional e perante os indivíduos desse Estado, de respeitar os direitos
humanos.
Não há previsão de obrigações de um Estado para com outro Estado que porventura também venha a
ratificar determinado Tratado, mas apenas obrigações em âmbito internacional/nacional para assegurar os
direitos humanos.
Os tratados de direitos humanos preveem somente obrigações aos Estados de forma geral, em especial
considerando o caráter erga omnes de referidos direitos.
ESGOTAMENTO DOS RECURSOS INTERNOS
Os órgãos internacionais somente devem atuar de forma subsidiária, quando os órgãos internos
demonstrarem-se ineficientes para promover a tutela dos direitos humanos.
Antes de provocação do órgão internacional para apuração de violação aos direitos humanos, é preciso
provocar os órgãos internos. Assim, a atuação dos órgãos internacionais é subsidiária e complementar à
atuação interna do Estado.
Prevalece na doutrina o entendimento de que o esgotamento dos recursos internos é requisito
processual para o acionamento internacional.
É possível haver a dispensa deste requisito de admissibilidade quando não há recursos internos
suficientes para resolver a questão ou eles são insuficientes ou há demora excessiva na solução
interna.

LIMITES DOS DIREITOS HUMANOS NA ORDEM INTERNACIONAL


Em razão da atual aplicação e entendimento acerca dos Direitos Humanos em âmbito internacional,
impõe-se um reestudo do conceito originário de soberania do ente estatal, uma vez que os Estados
atualmente encontram limites a esse poder, dito supremo, na comunidade internacional, qual seja, a
proteção aos direitos humanos.
Na verdade, a soberania é exercida em sua plenitude no momento em que o país decide firmar um pacto
internacional. A partir desse momento, ao menos, o signatário abre mão de sua parcela de soberania em
prol do bem comum.
Contudo, a soberania não deve ser encarada apenas como mitigável quando se trata de países
signatários. Isso porque existem hoje normas imperativas de direitos humanos (normas jus cogens), que
são aplicadas a todos, independentemente de terem participado do processo de elaboração do tratado
internacional.
Contudo, o que devemos levar para a prova é que as atuais relações internacionais não aceitam o
tradicional conceito de soberania e pretendem afastá-lo, com a finalidade de tornar mais viável a relação
entre os Estados, conferindo direitos, porém, exigindo uma série de deveres.
Portanto, um conceito atual de soberania pressupõe a inserção do país numa comunidade internacional,
com fundamentos no texto constitucional de garantia e de defesa dos direitos humanos.
MECANISMOS DE IMPLEMENTAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

Os mecanismos convencionais são aqueles que resultam de Tratados de Direitos Humanos.


Os mecanismos não convencionais representam medidas afirmativas de Direitos Humanos tomadas nos
casos de violações sistemáticas, com a peculiaridade de que são aplicáveis a todos os Estados.
As convenções gerais são aquelas que se destinam ao ser humano em geral, aplicando-se a toda e
qualquer pessoa. Já as convenções especiais objetivam determinada classe de ser humano, partindo de
uma constatação fática que justifique o tratamento especial.
Menciona-se que as convenções especiais não criam direitos novos, mas apenas conferem maior
ênfase a determinados destinatários marginalizados perante a sociedade (ex. crianças, idosos, portadores
de necessidades especiais, mulheres).

FISCALIZAÇÃO DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS

1) ÓRGÃOS EXECUTIVOS
São os denominados Comitês ou Comissões, cuja finalidade precípua é atuar na fiscalização do
cumprimento dos tratados internacionais. Esses órgãos recebem relatórios, comunicações interestatais
e petições individuais que devem ser investigados. Busca, em um primeiro momento, a solução amigável
para o impasse.
É possível, também, a esses órgãos executivos, a realização de investigações no Estado acusado, que
tem o dever de cooperar com as atividades desenvolvidas para a elucidação da situação.

2) TRIBUNAIS INTERNACIONAIS
Os tribunais possuem competência para julgar as acusações formuladas. Os tribunais internacionais, em
regra, possuem duas naturezas: criminal ou não criminal. As violações de Direitos Humanos, por sua vez,
são consideradas não criminais e podem ser julgadas por tribunais internacionais.
Para além da função julgadora, esses tribunais exercem a função consultiva e contenciosa, por meio da
qual respondem a consultas formuladas pelos sujeitos internacionais a respeito da aplicabilidade e da
interpretação das normas internacionais.
Cumpre mencionar a impossibilidade de os tribunais serem provocados por pessoas. A regra é que a
provocação dos tribunais internacionais ocorra sempre por um sujeito internacional, como organismos
internacionais e Estados. Contudo, há exceção, qual seja a Corte Europeia (no Sistema Europeu de
Proteção aos Direitos Humanos).

3) RELATÓRIOS
Os relatórios consistem na obrigação que todos os Estados signatários dos tratados internacionais
possuem de enviar periodicamente, e sempre que forem solicitados pelos órgãos executivos, um
documento relatando as medidas adotadas quanto ao cumprimento das obrigações assumidas no
pacto internacional.
De acordo com a doutrina, esses relatórios estão presentes em todos os tratados internacionais e
possuem natureza obrigatória. Esse dever decorre do princípio da cooperação internacional aplicável ao
caso

4) COMUNICAÇÕES INTERESTATAIS
As comunicações interestatais constituem comunicações feitas por um Estado alegando que outro
Estado está descumprindo os termos acordados no tratado internacional. Em razão dessa
comunicação, surge o dever do Estado comunicado de prestar explicações e esclarecimentos ao emissor.
Não solucionado o impasse, poderão os órgãos executivos atuar no sentido de dirimir o conflito. Essa
faculdade dos órgãos executivos depende, ainda, de requisitos de procedibilidade, quais sejam:
 Esgotamento dos recursos internos (justificável também pela demora injustificada para reparação
às violações);
 Ausência de apreciação em andamento por outra instância internacional.
As comunicações interestatais não estão previstas em todas as espécies de tratados de direitos
humanos. Segundo a doutrina, em regra, esse mecanismo não está previsto em pactos internacionais de
direitos sociais, econômicos e culturais.
Ainda, possuem natureza facultativa, sendo que os Estados envolvidos precisam reconhecer a
competência do órgão fiscalizador.

5) PETIÇÕES INDIVIDUAIS
Pelos mecanismos das petições individuais possibilita-se às pessoas ou ao grupo de pessoas
denunciarem aos organismos internacionais violações de direitos humanos.
O uso das petições individuais depende de menção no tratado internacional, que preverá os requisitos e
as formas de acionamento. De toda forma, segundo a doutrina três requisitos gerais podem ser
apresentados:
 Petições devem ser identificadas e assinadas;
 Não pode existir outro procedimento simultâneo em outra instância internacional;
 Devem ser esgotados os recursos internos.

6) INVESTIGAÇÕES PRÓPRIAS (MOTU PRÓPRIO)


Ao órgão executivo, constituídos pelos tratados junto às organizações, é assegurada a prerrogativa de
instaurar, de ofício, procedimento investigativo para apurar notícia de violação de direitos humanos. Essas
investigações realizadas pelos organismos internacionais constituem a última espécie de mecanismos
fiscalizatórios.

DIREITOS HUMANOS E RESPONSABILIZAÇÃO ESTATAL


Por responsabilidade internacional entende-se o instituto jurídico de direito internacional mediante o qual
se imputa, ao Estado, a prática de ato ilícito internacional, gerando o dever de reparação.
Para configuração do ato ilícito é necessário que a ação ou a omissão do Estado contrarie norma
internacional, independentemente de o Estado violador considerar a conduta ilícita internamente.
Excepcionalmente poderá haver responsabilização desproporcional ao prejuízo causado, com intuito
educativo, quando se tratar de normas de jus cogens.
A responsabilização, em regra, é reparatória, ou seja, busca retornar ao status anterior à violação. Se isso
não for possível, é comum a comunidade recorrer à indenização financeira como forma compensatória.
A responsabilização por atos ilícitos de direitos humanos é objetiva. Vale dizer, o Estado será
responsabilizado pela simples violação da norma internacional, independentemente da demonstração de
intenção ou de culpa.

São considerados passíveis de responsabilização todos aqueles que são obrigados pelos Direitos
Humanos Internacionais. A regra é a responsabilização do Estado, em razão de atos ou de omissões
que impliquem violações a direitos humanos praticados pelos órgãos e agentes estatais.
Da mesma maneira, de acordo com a doutrina, atos cometidos por pessoas privadas, que receberam
delegação para a realização de tarefas públicas, por parte dos Estados, implicam a responsabilização
do agente delegante, ou seja, do Estado.
Questiona-se, nesse contexto, se a violação de direito humano de um indivíduo ou grupo de
indivíduos poderia implicar a responsabilização do Estado. A resposta é SIM. Diante de uma violação
de direitos de um nacional, surge o dever do Estado em agir para reparar essa violação. Se não o fizer
terá sido omisso, implicando a responsabilização internacional pela omissão estatal.
Os sujeitos passivos são as pessoas, as comunidades ou os grupos que sofram a violação de direitos
humanos.

RESPONSABILIDADE DE NORMAS JUS COGENS


As normas jus cogens são responsáveis pelas matérias mais importantes e imprescindíveis, em termos
de Direitos Humanos, cuja violação representa risco à preservação do Estado e dos valores humanos
básicos. De acordo com a doutrina, a violação à norma jus cogens implica, num primeiro plano, o dever de
cooperação mútuo da sociedade para por fim ao estado de violação.
Qualquer Estado poderá acionar ou ser acionado (não apenas aqueles que fazem parte de
determinado Tratado ou Convenção) para cessarem as violações às normas de jus cogens, bem como
para prestarem auxílio e assistência para a superação das graves violações de direitos humanos.
A reparação do dano quando se trata de violação de norma jus cogens é diferenciada, de modo a se falar
em regime agravado de responsabilidade. A comunidade internacional tem aceitado a aplicação de
sanções com caráter punitivo e educativo, além da reparação do dano em si.
DIREITOS HUMANOS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL

INCORPORAÇÃO DE UM TRATADO À ORDEM JURÍDICA

Em um primeiro momento, o Presidente da República celebra o tratado, assinando-o em âmbito


internacional. Após assinatura pelo Presidente, o tratado fica sujeito à aprovação (referendo) do
Congresso Nacional.

Há, na sequência, a fase de ratificação e de depósito do tratado. A aprovação do Congresso Nacional


consiste numa autorização para que o Estado se obrigue internacionalmente. De posse dessa autorização,
é feito o depósito do tratado internacional assinado pelo Presidente da República, que será anexado ao
tratado firmado, junto ao órgão responsável. Diz a doutrina que o ato de ratificação e depósito é a “certidão
de nascimento jurídico do tratado internacional”.
A partir da ratificação e do depósito, o tratado internacional passa a vincular o Estado no cenário
internacional. Contudo, internamente, é necessária uma última fase: a promulgação do tratado
internacional na ordem interna. A promulgação do tratado internacional internamente consiste na
transformação do tratado internacional em lei interna do país, mediante decreto.

A respeito da fase de promulgação, os doutrinadores desenvolveram duas teses: a monista e dualista.

 Pela tese monista, a partir da ratificação e do depósito do tratado no órgão internacional o Estado
já estaria vinculado internacional e internamente, sendo desnecessária a promulgação do tratado
internacional na ordem interna. Há uma ordem jurídica única, uma vez válida internacionalmente,
aplica-se internamento o tratado internacional. Esse é o entendimento de parte importante da
doutrina, a exemplo de Flávia Piovesan.
 Pela tese dualista, somente com a promulgação do tratado internacional na ordem interna seria
possível falar em vinculação interna. Para os dualistas há dissociação entre o ordenamento jurídico
internacional e interno. Desse modo, para que o tratado internacional possa valer internamente
deverá ser internalizado, deverá ser transformado em lei interna.

No Brasil não adotamos nem a tese monista, nem a tese dualista. No Brasil os tratados precisam ser
publicados na ordem interna (o que afasta o monismo), mas não são transformados em lei interna (o que
afasta o dualismo).
No Brasil, há a promulgação de um decreto executivo autorizando a execução do tratado na ordem
interna. Não há transformação em lei desse tratado internacional, mas apenas autorização por decreto
para que seja executado no Brasil, conforme entendimento perfilhado pelo STF

Obs.: Existem documentos internacionais que, para obrigar o Brasil internacionalmente, não exigem a
manifestação (referendo) do Congresso Nacional. São aqueles que não geram dispêndio financeiro ao
Brasil.

HIERARQUIA DOS TRATADOS DE DIREITOS HUMANOS


Há diversas teorias e posições aplicáveis, tanto internacionalmente, quanto no Brasil. As principais são:
 Natureza Supraconstitucional: os tratados internacionais de Direitos Humanos valem mais que a
própria CF. Posição predominante na Doutrina Internacional.
 Natureza Constitucional: os tratados internacionais de Direitos Humanos valem tanto quanto a
CF, possuindo a mesma hierarquia. Posição predominante na Doutrina Nacional.
 Natureza Supralegal: os tratados internacionais de Direitos Humanos valem menos que a CF, mas
são superiores à legislação infraconstitucional.
Desde a promulgação da Constituição, o STF sempre entendeu que os tratados internacionais de Direitos
Humanos possuíam natureza jurídica de normas infraconstitucionais, assim como as leis. Os tratados
internacionais, portanto, estariam subordinados à Constituição e no mesmo patamar hierárquico das
normas infraconstitucionais.
Contudo, a Emenda Constitucional nº 45/2004 intensificou as discussões a respeito da posição
hierárquica dos tratados internacionais de direitos humanos ao prever, no art. 5ª, §3º, da CRFB, que: § 3º
Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada
Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
Em razão dessa emenda constitucional, o STF, reconhecendo a importância que o legislador conferiu aos
tratados internacionais de direitos humanos, decidiu diferençar definitivamente os tratados internacionais
de direitos humanos dos demais tratados internacionais.
Nesse contexto, o STF proferiu decisão indicando uma mudança na jurisprudência, para reconhecer
a supralegalidade dos tratados internacionais de Direitos Humanos, quando internalizados pelo
quórum ordinário. Não houve afirmação de que todos os tratados internacionais de Direitos
Humanos possuem natureza constitucional, mas tão somente aqueles tratados de Direitos
Humanos aprovados com o quórum de Emenda Constitucional.

Desta forma, considerando que os tratados internacionais podem ser internalizados com o quórum de
emenda constitucional ou com o quórum de lei ordinária, conforme atual posicionamento do STF, podemos
concluir:
 Tratados internacionais de Direitos Humanos aprovados com quórum de emenda
constitucional: possuem status de emenda constitucional;

 Tratados internacionais de Direitos Humanos aprovados com quórum de norma


infraconstitucionais: possuem status de norma supralegal, em ponto intermediário, acima das
leis, abaixo da Constituição Federal;

 Demais tratados internacionais, independentemente do quórum de aprovação: possuem status de


norma infraconstitucional.

Teoria do Duplo Estatuto: Consagrou-se


no STF a teoria do duplo estatuto dos
tratados de direitos humanos: supralegal
para os que não foram aprovados pelo rito
especial do artigo 5°, §3°, quer sejam
anteriores ou posteriores à Emenda
Constitucional n. 45/2004 e constitucional
para os aprovados de acordo com o rito
especial.

Obs.: Todos os tratados de direitos


humanos anteriores à Emenda
Constitucional são tidos também como
normas supralegais. Os posteriores, segue
a regra acima exposta.
Frisa-se que os tratados internacionais de Direitos Humanos aprovados com o quórum qualificado previsto
no art. 5º, §3º, da Constituição Federal, não são emendas constitucionais, mas possuem status de
emendas constitucionais. Há doutrinador que diferencia um do outro. Para fins de prova objetiva,
devemos nos basear no texto de lei e a posição do STF. Ambos informam a equiparação desses tratados
às emendas, não os qualificando como emendas constitucionais propriamente ditas.

Tratados de Direitos Humanos incorporados como Emendas Constitucionais:


 Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo;
 Tratado de Marraqueche (facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas);
 Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e Formas Correlatas de
Intolerância.

Em que pese seja a posição do STF, há doutrinadores de renome, a exemplo de Flávia Piovesan, que
entendem que os tratados internacionais de Direitos Humanos possuem status constitucional a partir do
próprio texto constitucional. Não seria necessário, portanto, a aprovação do tratado pelo quórum
qualificado das emendas para possuírem status constitucional. A mera aprovação com o quórum ordinário,
em decorrência do que prevê dispositivo acima, seria suficiente para garantir ao tratado internacional o
status de emenda constitucional.

Em caso de confrontos normativos envolvendo os Tratados de Direitos Humanos incorporados:


1) Tratados de Direitos Humanos x Legislação Interna: prevalece o texto do tratado internacional, seja
ela aprovado com quórum ordinário ou qualificado das emendas.

2) Tratados de Direitos Humanos internalizados pelo rito ordinário x CF: prevalece a CF, em razão da
hierarquia superior.

3) Tratados de Direitos Humanos internalizados pelo rito das EC x CF: deve prevalecer a norma
que melhor proteja os direitos humanos, que confira maior efetividade.
SISTEMA GLOBAL – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Primeiramente, necessário esclarecer que, no que tange ao Sistema Global, antes do surgimento da ONU,
após a primeira Guerra Mundial criou-se a Liga das Nações, porém esta não foi efetiva, apesar de ser o
embrião do que se conhece hoje como sistema global “onusiano”.

A Organização das Nações Unidas (ONU) é a entidade internacional responsável pela coordenação do
sistema global (ou universal) de Direitos Humanos. Criada em 1945, meses após o término da Segunda
Guerra Mundial, com a assinatura da Carta das Nações Unidas, objetivou a defesa dos Direitos Humanos,
o respeito à autodeterminação dos povos e a solidariedade nacional.
Originariamente, contava com 51 países (inclusive o Brasil), atualmente é composta por 193 (quase todos
do mundo).
São considerados órgãos e entes internos da ONU, voltados para a proteção dos direitos humanos:
 Conselho de Direitos Humanos: promove e fiscaliza a observância da proteção aos direitos
humanos. Atualmente, gere o sistema da “Revisão Periódica Universal (peer review)”, a qual
consiste em um monitoramento de todos os Estados a cada 04 anos;

 Relatorias Especiais de Direitos Humanos: órgãos de averiguação;

 Alto Comissariado de Direitos Humanos: realiza tarefas ligadas aos direitos humanos fazendo
recomendações para aperfeiçoar a promoção e proteção destes direitos. Coordena programas no
campo dos Direitos Humanos.

São considerados órgãos e entes externos da ONU, voltados para a proteção dos direitos humanos:
 Comitês criados por Tratados Internacionais: instituídos em cada convenção específica;

 Tribunal Penal Internacional: possui competência para julgar pessoas acusadas de praticar graves
crimes em detrimento dos direitos humanos e não Estados.

É importante registrar que a Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) é considerada o
documento central da matéria, em razão do momento histórico em que foi redigida e aprovada, momento
este em que a sociedade internacional se encontrava fortemente sensibilizada com as atrocidades e
barbáries decorrentes das Guerras Mundiais.
Em razão disso, podemos afirmar que a Declaração Universal de Direitos do Homem é documento que
irradia e influencia demais tratados internacionais de Direitos Humanos.
Fora esse aspecto histórico, não existe hierarquia entre as normas do sistema normativo, lembrando
que, em caso de colisão entre suas disposições, deve-se dar primazia à norma que melhor proteger a
dignidade da pessoa (pro homine).

CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS


A Carta das Nações Unidas foi assinada na cidade de São Francisco, nos EUA, em 26 de junho de 1945,
razão pela qual é conhecida também como “Carta de São Francisco”.
O art. 3º disciplina quem são os membros da ONU. São 51 membros originais, entre eles o Brasil.
Atualmente, o organismo conta com 193 Estados-membros. Praticamente todos os países do mundo são
membros da ONU. Apenas alguns poucos e pequenas nações não integram a ONU.
Para a admissão de um novo membro, é necessária decisão favorável da Assembleia Geral da ONU, após
recomendação do Conselho de Segurança.
ÓRGÃOS GERAIS E ESPECÍFICOS DA ONU

1) ASSEMBLEIA GERAL DA ONU


A Assembleia Geral é o principal órgão deliberativo da ONU. Detém competência para discutir e fazer
recomendações relativamente a qualquer matéria tratada na Carta das Nações Unidas, inclusive sobre
direitos humanos. Essas recomendações podem ser encaminhadas aos membros das Nações Unidas ou
ao Conselho de Segurança.
A regra é que a Assembleia Geral da ONU possa discutir quaisquer assuntos relativos às finalidades,
atribuições e funções estabelecidos na Carta, EXCETO se o assunto estiver em discussão no
Conselho de Segurança.
Portanto, a única situação na qual a Assembleia não poderá exarar sua recomendação é quando o
assunto já estiver sendo tratado no Conselho de Segurança! O Conselho, nesse caso, poderá solicitar a
opinião da Assembleia.

Podem levar o assunto a debate na Assembleia:


 Qualquer membro;
 Conselho de Segurança da ONU;
 Estado que não seja membro, desde que aceite previamente a obrigação de solução pacífica
acerca da controvérsia apresentada.

Composto por todos os membros da ONU, sendo que cada Estado pode indicar até 05 representantes.
Mesmo o Estado que escolha ser representado por 05 membros terá direito a voto único.
As deliberações, em regra, serão tomadas por maioria relativa, salvo aquelas matérias consideradas
importantes, como eleição de membros do Conselho de Segurança, suspensão e expulsão de membros,
recomendações acerca da manutenção da paz, as quais terão quórum de 2/3.

Obs.: Se o Estado atrasar o pagamento de suas contribuições para com a ONU pelo período de 02 anos,
será impedido de votar, salvo se a ausência de pagamento se der em razão de força maior.

2) CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU


O órgão é composto por 05 membros permanentes (China, França, Rússia, Inglaterra e Estados
Unidos) e por 10 membros não permanentes, que são eleitos pela Assembleia Geral para mandados
de dois anos, tendo em vista “contribuição dos Membros das Nações Unidas para a manutenção da paz e
da segurança internacionais e para os outros propósitos da Organização e a distribuição geográfica
equitativa”. Cada membro do Conselho de Segurança terá um representante.
Cada membro integrante do Conselho de Segurança possui direito a um voto, sendo que as deliberações
processuais serão tomadas pelo voto de 9 dos 15 membros, ao passo que as questões materiais, em que
pese sejam necessários 9 votos, todos os integrantes do bloco permanente devem se manifestar
favoravelmente.

Qualquer membro das Nações Unidas poderá participar da discussão das questões submetidas ao
Conselho de Segurança, ainda que não seja membro do Conselho. Nesse caso, não possuirá direito a
voto.
Também não terá direito a voto o Estado que, embora não seja membro das Nações Unidas, seja parte na
controvérsia submetida à discussão no Conselho. Nesse caso, assegura-se o direito de participação da
sessão tão somente.

Se constada qualquer ameaça à paz, o Conselho de Segurança fará recomendações ou adotará uma
dentre a série de medidas previstas. Entre as medidas que podem ser tomadas pelo Conselho de
Segurança destacam-se a interrupção das relações econômicas, dos meios de comunicação
(ferroviário, marítimo, aéreo, postal, telegráfico) e das relações diplomáticas.
Se as três medidas acima forem inadequadas será possível, ainda, a tomada de ações mais
drásticas, com utilização das forças aéreas, navais ou terrestres para o fim de restabelecer a paz e
a segurança internacionais.
Portanto, primeiramente se busca utilizar medidas não beligerantes e, caso restem ineficazes, o Conselho
tomará medidas mais drásticas, com o uso de força naval, aérea ou terrestre.
3) CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL
O Conselho Econômico e Social é composto por 54 membros, eleitos em grupos de 18 membros todos
os anos para mandatos de três anos. Desse modo, a cada ano temos a substituição de 18 membros.
O Conselho tem por finalidade promover a cooperação com questões de ordem econômica, social ou
cultural.

Destaca-se, ainda, a possibilidade de criação de Comissões. Dentre as várias comissões criadas destaca-
se a Comissão de Direitos Humanos, atualmente, denominada de Conselho de Direitos Humanos,
criada em 2006.

4) CONSELHO DE TUTELA
O Sistema Internacional de Tutela tem por finalidade fomentar o processo de descolonização e de
autodeterminação dos povos, viabilizando que esses povos, progressivamente, constituam um governo
próprio. Tem por objetivo, ainda, favorecer a paz e segurança internacionais, estimular o respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais e assegurar a igualdade de tratamento.
O sistema de tutela não será aplicado a territórios que se tenham tornado membros das nações unidas,
cujas relações mútuas deverão basear-se no respeito ao princípio da igualdade soberana.
5) CORTE INTERNACIONAL DE JUSTIÇA
A Corte Internacional de Justiça é o órgão judicial das Nações Unidas, composto por 15 juízes, de
natureza civil, que julga Estados que descumprem suas obrigações internacionais. Possui competência
contenciosa e consultiva.
A competência contenciosa refere-se à prerrogativa de julgar ações de responsabilidade internacional. A
competência consultiva refere-se à prerrogativa atribuída à Corte de unificar a interpretação das normas
do sistema global de direitos humanos (posicionamento oficial a respeito de determinada matéria).
Obs.: Por fim, a atuação da Corte Internacional de Justiça restringe-se às causas cíveis, pois os
julgamentos de crimes são feitos pelo Tribunal Penal Internacional. A Corte é responsável pelo julgamento
de acusados de descumprirem as obrigações internacionais, não atuando no julgamento de pessoas.

Além disso, a Corte Internacional de Justiça possui competência facultativa ou voluntarista, na medida
em que ela somente poderá atuar quando o Estado reconhecer a competência da Corte.
Frisa-se que o fato do Estado fazer da ONU, não quer dizer que ele reconhece a competência da Corte
Internacional de Justiça. O Brasil, por exemplo, até o presente momento, não aderiu à cláusula e
jurisdição obrigatória não reconhecendo a competência da Corte.

6) SECRETARIADO
O Secretariado é chefiado pelo Secretário-Geral, considerado o principal funcionário administrativo da
ONU, que é escolhido pela Assembleia Geral, a partir de recomendação do Conselho de Segurança.

O Secretário atuará em todas as reuniões da Assembleia Geral, do Conselho de Segurança, do Conselho


Econômico e Social e do Conselho de Tutela e fará um relatório anual de todos os trabalhos da
Organização para a Assembleia Geral.
EMENDAS
O procedimento para alteração da Carta da ONU é complexo e adota um quórum peculiar. Para que sejam
adotadas as emendas são necessários 2/3 dos votos dos membros da Assembleia Geral da ONU e
posteriormente ratificada por 2/3 dos membros das Nações Unidas e de todos os membros permanentes
do Conselho de Segurança.

ÓRGÃOS ESPECÍFICOS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS

1) CONSELHO DE DIREITOS HUMANOS


O Conselho de Direitos Humanos é composto por 47 Estados Membros e está vinculado à Assembleia
Geral da ONU. Criado em 2006, pela Resolução 60/251, para ser membro exige-se o comprometimento
com a proteção dos direitos humanos, aceitando se submeter à revisão periódica.
Ademais, está previsto que se o Estado membro praticar alguma violação grave ou sistemática de Direitos
Humanos poderá ser suspenso, desde que seja o entendimento de 2/3 da Assembleia Geral da ONU.

2) RELATORES ESPECIAIS DE DIREITOS HUMANOS


Os relatores especiais de Direitos Humanos são escolhidos pelo próprio Conselho em razão das
qualidades pessoais no trato e entendimento dos Direitos Humanos. Isso significa que o relator não será
escolhido pelos Estados membros, não estando, portanto vinculados ao país da nacionalidade.
O trabalho dos relatores consiste na realização de visitas aos países para coletar informações, bem
como, para, se necessário, solicitar ao Estado violador de direitos humanos que dê atenção à situação no
sentido de evita-la e repará-la. Após a visita, os relatores subscrevem um relatório que recomenda a
tomada de providências e o encaminha ao Conselho de Direitos Humanos e à Assembleia Geral da ONU.

3) ALTO COMISSARIADO DE DIREITOS HUMANOS


Constitui um órgão com sede na cidade de Genebra, tem por finalidade oferecer suporte administrativo
e técnico aos procedimentos especiais do Conselho de Direitos Humanos.

Além desses órgãos, que possuem natureza cível, também é considerado fundamental na proteção dos
direitos humanos, o Tribunal Penal Internacional (TPI). Esse órgão, embora não tenha sido criado de
forma específica para tutelar direitos humanos e não esteja regrado no bojo da Carta das Nações Unidas
tem papel fundamental para dar resposta às violações de direitos humanos por condutas ilícitas graves.
SISTEMA GLOBAL - DECLARAÇÃO UNIVERSAL DE DIREITOS
HUMANOS (DUDH)

A Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH), adotada pela Assembleia Geral da ONU em 1948, é
o principal instrumento do Sistema Global e a principal contribuição para a universalização da proteção
ao ser humano. A partir do seu texto, extrai-se que a proteção à dignidade da pessoa decorre da simples
condição humana.
Durante sua elaboração houve consenso da comunidade internacional quanto à necessidade de
prescrever direitos de primeira dimensão, os seja, os direitos de liberdade, abrangendo os direitos civis e
políticos. Contudo, no que diz respeito aos direitos sociais, econômicos e culturais – direitos de segunda
dimensão – houve grande embate político à época.
Embora tenha havido resistência à previsão expressa de direitos de segunda dimensão acabou
prevalecendo a ideia de que os direitos de liberdade (de primeira dimensão) e os direitos de igualdade (de
segunda dimensão) possuem igual valor e devem ser assegurados com a maior efetividade possível,
constando da DUDH direitos como segurança social, trabalho, livre escolha da profissão e educação entre
outros.
A DUDH não desenvolve os direitos de terceira dimensão, não trata deles de forma especificada, o que
somente ocorrerá na década de 1950. Há, tão somente, um dispositivo da DUDH que se ocupa em
“alertar” para a existência de tais direitos.
Em razão disso, acredita-se como correta a conclusão de que a DUDH é marco teórico para o
desenvolvimento dos direitos de solidariedade e de fraternidade, embora não explicite tais direitos, como o
faz em relação aos direitos de primeira e segunda dimensão.

NATUREZA JURÍDICA
A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi adotada sob a forma de resolução, o que levou muitos
estudiosos a afirmarem que o documento constituía mera carta de recomendações. Contudo, outra
corrente de pensamento, majoritária no Brasil e, hoje, de maior expressão na comunidade internacional,
compreende que A DECLARAÇÃO POSSUI CARÁTER JURÍDICO.
A Declaração Universal de 1948, ainda que não assuma a forma de tratado internacional, apresenta força
jurídica obrigatória e vinculante, na medida em que constitui a interpretação autorizada da expressão
‘direitos humanos’.
Ao contrário de tratados e convenções de direitos humanos, a DUDH não contém dentro do seu texto,
normas de fiscalização de implementação. A DUDH trata de declarar direitos. A DUDH somente indica a
necessidade de promover a educação em direitos humanos e a adoção de medidas internas e
internacionais para a promoção desses direitos. Após a DUDH surgem vários tratados e convenções que
criaram mecanismos de implementação, para além dos mecanismos internos que se desenvolveram.
SISTEMA GLOBAL – PACTOS INTERNACIONAIS
No ano de 1966 foram editados dois tratados internacionais, um sobre direitos liberais, conhecido como o
Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, e outro sobre direitos sociais, denominado de Pacto
Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais. A diferença entre os diplomas reside no fato de
que o primeiro tem aplicação imediata, ao passo que o segundo deve ser aplicado progressivamente de
acordo com as possibilidades de cada nação.

A DUDH, o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais, constituem os três mais importantes documentos do sistema global de Direitos
Humanos, que se denomina de “Declaração Internacional de Direitos” ou International Bill of Rights:

A Declaração Internacional de Direitos (International Bill of Rights), que compreende a Declaração de


Direitos Humanos e ambos os Pactos, integra o sistema global comum de proteção aos Direitos
Humanos, uma vez que disciplina várias matérias e se destina a todos os seres humanos.
Paralelamente, temos convenções específicas como a Convenção Internacional sobre a Eliminação de
todas as Formas de Discriminação Racial. Esses documentos internacionais conferem proteção especial a
determinados grupos e pessoas que se encontram em situação de desvantagem. Sendo assim, esses
documentos específicos compõem o que a doutrina denomina de sistema especial de proteção aos
Direitos Humanos.
SISTEMA GLOBAL – PACTOS INTERNACIONAL DE DIREITOS CIVIS
E POLÍTICOS
O Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos (PIDCP) foi firmado em dezembro de 1966 e
depositado pelo Brasil somente no ano de 1992.
Ao Pacto foram somados dois protocolos facultativos:

 Primeiro Protocolo Facultativo: teve a função de trazer alguns avanços na proteção dos direitos
civis e políticos ao prever o mecanismo de peticionamento individual à Comissão de Direitos
Humanos em caso de violação às normas do PIDCP.
 Segundo Protocolo Facultativo: teve por função reduzir a aplicação da pena de morte como
espécie de sanção penal no âmbito do PIDCP.

O PIDCP cria um COMITÊ de Direitos Humanos, sendo este seu órgão de monitoramento, responsável
por assegurar os direitos nele prescritos.
Obs.: Não confundir o Comitê do PIDCP com a Corte/Comissão da Convenção Interamericana (Pacto de
San José).
 O quórum para deliberação dentro do Comitê será de 12 membros (dos 18), sendo necessária maioria
dos presentes para aprovações.

Como mecanismo de fiscalização, o PIDCP traz:

 Relatórios anuais;
 Comunicações Interestatais – somente cabível quando o Estado aceitar se submeter a este
mecanismo;
 Petições individuais – acrescentadas pelo Primeiro Protocolo Facultativo.

Quanto às petições individuais de acordo com o Protocolo, alguns pressupostos são necessários para que
o Comitê possa receber e examinar tais comunicações:
1. Reconhecimento pelo Estado-parte da competência do Comitê para tal atuação;
2. Esgotamento dos recursos internos disponíveis;
3. A questão não pode estar sendo analisada por outra instância internacional;
Além disso, são consideradas inadmissíveis as petições individuais anônimas, de modo que devem ser
identificadas e assinadas. Além disso, não serão admitidas petições que constituam abuso de direito ou
sejam incompatíveis com as disposições do Pacto.

Se uma questão submetida ao Comitê, nos termos do artigo 41, não estiver dirimida satisfatoriamente para
os Estados Partes interessados, o Comitê poderá, com o consentimento prévio dos Estados Partes
interessados, constituir uma COMISSÃO “ad hoc” (doravante denominada "a Comissão"). A Comissão
colocará seus bons ofícios à disposição dos Estados Partes interessados no intuito de se alcançar uma
solução amistosa para a questão baseada no respeito ao presente Pacto. Referida Comissão será
composta por 05 membros, os quais não podem ser do Estado interessado no litígio.
Portanto, no PIDCP também há uma Comissão, porém, esta será criada pelo Comitê e para tratar de
temas específicos, sendo encerrada após a resolução.
SISTEMA GLOBAL – PACTOS INTERNACIONAL DOS DIREITOS
SOCIAIS, ECONÔMICOS E CULTURAIS

O Pacto Internacional dos Direitos Sociais, Econômicos e Culturais (PIDSEC) foi editado pela ONU em
1966, incorporado ao nosso ordenamento pelo Decreto nº 591/1992.
Adicionalmente ao referido Pacto, foi firmado o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional dos Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Esse Protocolo Facultativo, criado em 2008, não foi nem sequer
assinado pelo Brasil até o presente momento.
O PIDSEC impõe aos signatários a obrigação de garantir o exercício de direitos de segunda dimensão,
sem quaisquer formas de discriminação. Os direitos indicados neste Pacto deverão ser implementados de
forma progressiva, de acordo com as possibilidades de cada Estado.

Ao contrário do pacto anteriormente estudado, no Pacto de Direitos Sociais não houve constituição de
comitê, sendo previsto inicialmente apenas o mecanismo de relatórios, em decorrência da natureza
programática do PIDSEC.
Em dezembro de 2008 foi assinado o Protocolo Facultativo ao Pacto Internacional de Direitos Sociais,
Econômicos e Culturais, de modo que foram introduzidos os mecanismos das petições individuais,
das medidas de urgência, das comunicações interestatais e das investigações in loco em caso de
graves e sistemáticas violações aos seus direitos e obrigações.
O referido Protocolo Facultativo criou o Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, que é
responsável pelo recebimento e pela análise das petições individuais ou no interesse de indivíduos ou
grupos de indivíduos, que forem vítimas de violação dos direitos consubstanciados no Pacto.
Além disso, poderá o referido Comitê requisitar, ao Estado que assinou o Pacto, a adoção de medidas de
urgência para evitar danos irreparáveis às vítimas de violação de direitos humanos.
Da mesma forma como vimos no Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos, o sistema de
comunicações interestatais foi implementado no âmbito dos direitos sociais, econômicos e culturais. Por
esse mecanismo um Estado notifica outro visando à superação da violação a Direitos Humanos.
Por fim, foi estabelecida a possibilidade de o Comitê realizar investigações “in loco”, na hipótese de
graves e sistemáticas violações de um direito assegurado do Pacto por um Estado.
CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS
AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO RACIAL

Discriminação racial: significará qualquer distinção, exclusão restrição ou preferência baseadas em raça,
cor, descendência ou origem nacional ou étnica que tem por objetivo ou efeito anular ou restringir o
reconhecimento, gozo ou exercício num mesmo plano,( em igualdade de condição), de direitos humanos e
liberdades fundamentais no domínio político econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de
vida pública.
Racismo institucional é a prática de uma organização, seja empresa, grupo, associação ou instituição
pública, em não prover um serviço para uma determinada pessoa devido à sua cor, cultura ou origem
étnica. Ele também pode se manifestar por meio de normas, práticas e comportamentos discriminatórios
adotados no cotidiano do trabalho, como resultado de preconceitos.
Racismo recreativo: Trata-se de uma prática de racismo disfarçada de “humor” e, por isso,
pretensamente acobertada e muito difundida na sociedade. É um projeto de dominação social
característico da sociedade brasileira que encobre a hostilidade racial por meio do humor.
Racismo ambiental é um termo utilizado para se referir ao processo de discriminação que populações
periferizadas ou compostas de minorias étnicas sofrem através da degradação ambiental. A expressão
denuncia que a distribuição dos impactos ambientais não se dá de forma igual entre a população, sendo a
parcela marginalizada e historicamente invisibilizada a mais afetada pela poluição e degradação
ambiental.

Estabelece um COMITÊ para a Eliminação da Discriminação Racial (doravante denominado “o Comitê”)


composto de 18 peritos conhecidos para sua alta moralidade e conhecida imparcialidade, que serão
eleitos pelos Estados Membros dentre seus nacionais e que atuarão a título individual, pelo período de 04
anos.
São três os mecanismos adotados: relatórios, comunicações interestatais e petições individuais.
Os relatórios são enviados a cada 02 anos.
As petições individuais, ou seja, por qualquer pessoa poderão ser apresentadas, desde que: 1) Além do
Estado aderir à presente Convenção, deve ter ratificado a sua disposição e concordância perante às
petições individuais; 2) Esgotamento dos mecanismos internos.
CONVENÇÃO INTERNACIONAL SOBRE A ELIMINAÇÃO DE TODAS
AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO CONTRA A MULHER

Já foi cobrada essa Convenção em prova da FUMARC, questionando se ela trata acerca da violência à
mulher. Resposta: NÃO TRATA! A CEDAW não dispõe sobre o tema violência contra a mulher. Esse tema
vem com a Convenção de Belém do Pará (Convenção Interamericana sobre a Mulher).

A Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher (denominada


internacionalmente de CEDAW) foi assinada em 1979, sendo promulgada, no Brasil, primeiramente pelo
Decreto nº 89.460/1984 e, mais recentemente, novamente promulgada retirando-se parte das reservas
opostas, por intermédio do Decreto nº 4.377/2002.
Adicionalmente, foi editado o Protocolo Facultativo à Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas
de Discriminação contra a Mulher, assinado no ano de 1999. O Brasil, signatário do Presente Protocolo,
aprovou internamente seu texto por meio do Decreto Legislativo nº 107/2002.

Discriminação contra a mulher significará toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que
tenha por objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem e da mulher, dos direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer
outro campo.

A Convenção prevê, no artigo 17, o Comitê sobre a Eliminação da Discriminação contra a Mulher, que
será composto por 23 peritos, indicados e eleitos em votação secreta pelos Estados-parte, para um
mandato de 04 anos. Ademais, de acordo com o texto da convenção, os peritos exercerão suas funções a
título pessoal.

O único mecanismo de fiscalização da Convenção de Discriminação da Mulher são os relatórios, não há,
a princípio, comunicações interestaduais ou petições individuais. Os relatórios devem ser enviados a cada
QUATRO anos. Não confundir com DUDH e PACTOS, que são ANUALMENTE, nem com Convenção do
Racismo, que é a cada DOIS ANOS.

Aumentando as formas de fiscalização, o Protocolo Facultativo à Convenção da Discriminação da


Mulher trouxe outras duas formas:
1) Petições individuais, que são as comunicações feitas diretamente por vítimas. Elas não podem ser
anônimas e, para que o Comite a analise, devem ser esgotados os recursos internos.
2) Fiscalização in loco: quando ocorrerem graves e sistemáticas violações aos direitos protegidos na
Convenção. Para esse caso, o Estado devem concordar com a fiscalização, a qual será realizada por
agente enviado pelo Comitê.
CONVENÇÃO CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU
PENAS CRUÉIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES
A Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes –
primeiro documento internacional do Sistema Global Específico – é um dos principais diplomas de
proteção aos Direitos Humanos. Adotada pela Resolução nº 1984, pela Assembleia da ONU, foi ratificada
pelo Brasil em 1989.
Diferentemente da Lei da Tortura brasileira, na qual qualquer pessoa pode ser agente ativo da tortura, a
Convenção contra a Tortura delimita o agente ativo como sendo apenas a pessoa que detenha
vínculo direto ou indireto com o Estado. Nesse sentido, o particular sem vínculo com o Estado não
poderia ser o causador de tortura (pela Lei Brasileira pode).
Já foi cobrado em prova de Direitos Humanos: a Convenção contra a Tortura não elenca a tortura
CULPOSA (negligência), mas elenca a tortura por OMISSÃO!

No que tange aos mecanismos de fiscalização, a Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou
Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes cria o Comitê contra Tortura, que será composto por 10
peritos, que atuarão em nome próprio e serão eleitos, em votação secreta, para um mandato de 4 anos.

Os mecanismos de fiscalização são:

 Relatórios – a cada 04 anos.


 Investigações in loco;
 Comunicações interestatais;
 Petições individuais.
Obs.: A investigação in loco, aqui chamada de investigação de ofício, poderá ser realizada de forma
espontânea pelo Comitê, quando receber informações de violações sistemáticas em algum dos Estados
parte. Nesse caso, pedirá informações ao Estado parte. Não sendo suficientes as informações fornecidas,
poderá iniciar um INQUÉRITO CONFIDENCIAL, por meio do qual poderá visitar o Estado para melhor
verificação. Mesmo a investigação, bem como o Inquérito Oficial, sendo iniciado de ofício e sem precisar
de autorização, o Comitê somente poderá enviar representante ao Estado caso esse assim concorde!

Já cobrado pela FUMARC, em 2021, perguntando o que previa o Protocolo Adicional à Convenção
contra a Tortura! "Tem por objetivo estabelecer um sistema de visitas regulares de órgãos nacionais e
internacionais independentes a lugares onde as pessoas são privadas de liberdade, com o intuito de
prevenir a tortura e outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes."
ESTATUTO DE ROMA

Internacionalmente, o documento passou a vigorar em 2002, após a ratificação por 60 países. Em 2003, o
Tribunal Penal Internacional iniciou formalmente suas atividades. O tratado não permite reservas. No
âmbito do direito interno, o Estatuto de Roma restou internalizado com a aprovação do Decreto nº
4.388/2002. Trata-se de documento internacional que busca tornar efetivo o cumprimento das normas de
direitos humanos.

O Tribunal Penal Internacional é fruto de um tratado internacional (Estatuto de Roma) internalizado como
norma supralegal perante o nosso ordenamento jurídico, o que elide a possibilidade de edição de normas
internas capazes de derrogar as regras do Estatuto.

O TPI se caracteriza por constituir um órgão independente de gerências externas. Além disso, é importante
destacar, nessa análise inicial, que a jurisdição do TPI é automática, vale dizer, o órgão não depende,
para o seu pleno funcionamento, de qualquer aceite do Estado da sua competência jurisdicional, operando
automaticamente desde a data de entrada em vigor.

Em síntese, o TPI atuará sobre qualquer pessoa que tenha completado 18 anos, sem distinções. Ou seja,
menores de 18 anos não podem ser julgados pelo TPI.
Ainda, as imunidades e distinções internas, existentes para chefes de estado, parlamentares e afins, não
serão levadas em consideração e nem serão opostas ao TPI, que os julgará como qualquer outra pessoa,
sem privilégios.
O TPI somente poderá julgar crimes posteriores à criação do órgão. Porém, em seu corpo há uma regra
relevante que prevê a possibilidade de os Estados declararem expressamente que o TPI não se aplicaria
nos 7 anos seguintes à criação, a contar da entrada em vigor do Estatuto.

Os crimes de competência do TPI são imprescritíveis.

Princípio da Complementariedade: o TPI não exercerá sua jurisdição quando o Estado, onde ocorreu o
delito, estiver atuando com a investigação ou processando os acusados. Portanto, a atuação do Tribunal é
complementar! Existem exceções:

 Se o Estado, que detém a responsabilidade primária de apurar os fatos, for incapaz, já tiver
exercido ou não tiver a intenção de exercer a jurisdição interna;
 Se o caso for julgado e a decisão tenha sido no sentido de subtrair a responsabilidade criminal ou
se o processo não for conduzido de forma independente ou imparcial.
 Se o caso não for considerado grave o suficiente pelas instituições jurídicas internas.
A atuação do TPI não retira o dever primário do Estado de apurar os fatos. Assim, entende-se que o
Estado poderá atuar sempre que entender necessário, independentemente de existir ou não procedimento
instaurado internacionalmente.
SISTEMA AMERICANO DE DIREITOS HUMANOS
A Organização dos Estados Americanos (OEA) é o órgão central do sistema interamericano de Direitos
Humanos, que foi estabelecido pela Carta da OEA, em 1948, a qual determina seus propósitos e
princípios. Atualmente, a OEA abrange todos os países das Américas e do Caribe.
A Carta da OEA, ao longo do seu texto, abrange tanto os direitos de primeira dimensão (direitos civis e
políticos) como os direitos de segunda dimensão (os direitos sociais, econômicos e culturais).

CONVENÇÃO INTERAMERICANA CONTRA O RACISMO, A


DISCRIMINAÇÃO RACIAL E A INTOLERÂNCIA
A Convenção Interamericana contra o Racismo, a Discriminação Racial e a Intolerância é tratado
internacional que foi elaborado em 2013 no âmbito da Organização dos Estados Americanos – OEA. O
Brasil participou das tratativas de elaboração do Tratado. O Tratado foi aprovado pelo Congresso Nacional
em fevereiro de 2021 e foi ratificado pelo Presidente da República em maio de 2021.

Discriminação racial é qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência, em qualquer área da vida
pública ou privada, cujo propósito ou efeito seja anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício,
em condições de igualdade, de um ou mais direitos humanos e liberdades fundamentais consagrados em
instrumentos internacionais.

Discriminação indireta é aquela que ocorre quando um dispositivo, prática ou critério aparentemente
neutro tem a capacidade de acarretar uma desvantagem particular para pessoas pertencentes a um grupo
específico ou as coloca em desvantagem, a menos que esse dispositivo, prática ou critério tenha um
objetivo ou justificativa razoável e legítima à luz do Direito Internacional dos Direitos Humanos. Quer dizer,
a discriminação indireta ocorre quando há uma regra genérica, aplicável a todas as pessoas,
mas que é desfavorável a um certo grupo.

Discriminação múltipla ou agravada é qualquer preferência, distinção, exclusão ou restrição baseada, de


modo concomitante, em dois ou mais critérios discriminatórios. No caso de discriminação múltipla, temos
uma intersecção de diversos fatores excludentes, ocasionando uma discriminação reforçada à pessoa.

Intolerância: ato ou conjunto de atos ou manifestações que denotam desrespeito, rejeição ou desprezo à
dignidade, características, convicções ou opiniões de pessoas por serem diferentes ou contrárias. A
intolerância ocorre por meio da marginalização ou exclusão de grupos vulneráveis da participação na
esfera pública ou privada, conduta que ocorre como forma de violência contra esses grupos.

Mecanismos de Proteção:

 Denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos: Qualquer pessoa ou entidade não


governamental da Organização dos Estados Americanos pode apresentar à Comissão petição com
denúncia ou queixa a respeito de violação da Convenção. As petições apresentadas por outro
Estado membro da Convenção só são aceitas se o Estado denunciado ratificar expressamente
essa competência da Comissão
 Consulta à Comissão.
CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS HUMANOS
(PACTO DE SAN JOSÉ DA COSTA RICA)
O Pacto de San José da Costa Rica é o principal instrumento para a implementação dos Direitos Humanos
no âmbito da OEA. Editado em 1969, foi ratificado e promulgado pelo Brasil somente em 1992.
O decreto que promulgou internamente o Pacto de San José da Costa Rica estabeleceu uma reserva
quanto às visitas e às investigações in loco pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos, que
somente poderá ocorrer em caso de anuência expressa do Estado brasileiro.

Os direitos sociais, econômicos e culturais somente foram disciplinados no denominado Protocolo


Adicional à Convenção Americana sobre Direitos, conhecido como Protocolo de San Salvador.

No âmbito do
Pacto de San José da Costa Rica, existem dois órgãos competentes para a implementação dos direitos
assegurados: a Comissão Interamericana de Direitos Humanos – órgão de natureza executiva – e a
Corte Interamericana de Direitos Humanos – órgão de natureza jurisdicional.

A COMISSÃO é o principal responsável pela fiscalização do cumprimento das regras do Pacto, sendo
responsável pelo recebimento e pelo processamento dos relatórios, das comunicações interestatais
e das petições individuais.

Em relação ao mecanismo de petições individuais, o Pacto de San José da Costa Rica o estabeleceu de
forma compulsória. Se o Estado-parte aderir ao seu texto, se submeterá ao mecanismo de petições
individuais automaticamente.

Para o uso das comunicações interestatais, ao contrário, será necessária a declaração expressa do
Estado parte reconhecendo a competência da Comissão para recebimento e exame de tais comunicações,
quando um Estado alega que outro violou as disposições constantes do Pacto.
COMISSÃO INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos constitui o órgão executivo, no âmbito da OEA,
responsável pela promoção, pela observância e pela defesa dos direitos humanos no Sistema Americano.
Logo, sua principal tarefa é a responsabilização dos Estados em caso de descumprimento dos direitos
civis e políticos expressos na Carta e na Declaração Americana.
Composta por 7 membros, de alta autoridade moral e de reconhecido saber em matéria de direitos
humanos. Eleitos a título pessoal entre candidatos indicados pelos governos dos Estados-membros. Terão
mandato de 4 anos podendo ser reeleitos 1 vez. Não pode fazer parte da Comissão mais de um nacional
de um mesmo Estado.
A Comissão tem por finalidade estimular a observância dos Direitos Humanos pelos Estados, bem como
efetuar recomendações, preparar estudos e relatórios, solicitar informações dos Estados, responder às
consultas formuladas por eles e atuar no recebimento e no processamento das petições individuais e das
comunicações interestatais.

Deste modo, à Comissão é conferido o direito de receber denúncias de violação às regras prescritas na
Convenção, a partir das quais desenvolverá trabalho de exame e de investigação.
Ressalta-se que a provocação da Corte se dá tão somente pela Comissão ou pelos Estados Partes,
vedando-se à pessoa litigar diretamente na Corte Internacional.

CORTE INTERAMERICANA DE DIREITOS HUMANOS


A Corte representa o órgão jurisdicional do sistema interamericano de direitos humanos e constitui
excelente alternativa para a reparação da violação de direitos humanos.
A Corte é composta por 7 juízes nacionais dos Estados que compõem a OEA, não sendo possível que
haja dois juízes de mesma nacionalidade. Os julgadores são eleitos por meio de Assembleia-Geral da
OEA, pelo voto da maioria absoluta dos membros, entre pessoas de alta autoridade moral e reconhecida
competência em matéria de Direitos Humanos, para mandato de 6 anos, admitindo-se uma reeleição.
Somente os Estados-partes e a Comissão Interamericana poderão submeter um caso à decisão da Corte.
Não se confere, portanto, legitimidade às pessoas, aos grupos ou às entidades.
A Corte possui competência para resolver os litígios que lhes são submetidos (competência
contenciosa), bem como para responder questionamentos sobre a interpretação de determinada regra do
Sistema Interamericano e sobre a compatibilidade das leis internas com o Pacto de San José da Costa
Rica (competência consultiva). Essas consultas poderão ser realizadas pelos membros da OEA, bem
como pelos demais órgãos que compõem a estrutura da Organização.
Para a atuação da Corte Interamericana faz-se necessária declaração expressa do Estado-parte
reconhecendo a competência desse órgão como obrigatória para os casos envolvendo a aplicação do
sistema interamericano. Essa declaração poderá ser feita para situações específicas ou por prazo
indeterminado.
As decisões da Corte podem ser finais ou liminares. As decisões liminares, denominadas de “medidas
provisórias”, em decorrência de situações urgentes a pedido da vítima de violação aos Direitos Humanos
(quando a questão estiver submetida à Corte) ou a pedido da Comissão (ainda que a questão não esteja
submetida à Corte).
As decisões finais, por sua vez, decidirão a respeito do direito protegido, determinando que ele seja
assegurado caso reste configurada a violação a direito humano, bem como a reparação indenizatória à
vítima. Dessas decisões da Corte, NÃO é cabível recurso algum.
Contudo, das referidas decisões finais é cabível um pedido de esclarecimento à Corte no prazo de 90
dias a contar da notificação da decisão, caso a parte interessada tenha dúvidas quanto à extensão do que
fora determinado pela Corte.

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