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EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA DO

JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE ITAGUAÍ - RJ

PROCESSO Nº 0804491-71.2022.8.19.0024

TOMISLAV STARCEVIC e outros, já qualificada nos autos em epígrafe, por sua


advogada que esta subscreve, nos autos em tela que move contra BANCO DO
BRASIL AS, vem, respeitosamente a presença de Vossa Excelência oferecer

CONTRARRAZÕES AO RECURSO INOMINADO

interposto, na forma dos artigos. 42, § 2º da Lei nº 9.099/95, requerendo a


remessa dos autos para a superior instância para a manutenção da respeitável
sentençOS RECORRIDOS.

Termos em que
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 14 de julho de 2023.

Luciana da Silva Siqueira de Almeida


OAB/RJ 171372
CONTRARRAZÕES DO RECURSO INOMINADO

Processo nº 0804491-71.2022.8.19.0024

Recorrente: Banco do Brasil SA

Recorridos: TOMISLAV STARCEVIC e outros

EGRÉGIO COLÉGIO RECURSAL


COLENDA TURMA
ÍNCLITOS JULGADORES

Merece ser mantida integralmente a respeitável sentençOS RECORRIDOS, em


razão da correta apreciação das questões de fato e de direito, conforme restará
demonstrado ao final.

DA TEMPESTIVIDADE
De acordo com o disposto no art. 42, § 2º, da Lei nº 9.099/95, o Recurso
Inominado deverá ser respondido no prazo de 10 dias a contar da intimação do
recorrido.

Considerando o teor do art. 12-A da Lei nº 9.099/95, acrescido pela Lei nº 13.728,
de 2018, estabeleceu-se a contagem de prazo em dias úteis para os Juizados
Especiais, assim, verifica-se que o prazo legal de 10 (dez) dias finda-se em
14/07/2023, deste modo, as presentes contrarrazões são tempestivas.

DOS FATOS

OS RECORRIDOS propuseram o presente feito em face da RECORRENTE


asseverando, em apertada síntese, que contrataram um seguro, não tiverma o
serviço na hora que precisaram e ainda foram cobrados por mensalidades de um
serviço posteriormente cancelado.
O empresário, que presta serviços para empresas internacionais, precisou viajar
para esses países quando precisou de um seguro no Irã.
Em 22 de abril, uma das empresas com as quais a Primeira Autora prestou
serviços solicitou comprovante de seguro vigente para pagar pelos serviços
prestados apresentando o seguro.
Como não recebeu a referida apólice de renovação, mas constatou o gasto na
extrato do segundo autor, em valor foi superior ao valor do contrato.
Após muitas reclamações e esclarecimentos ao recorrente, este recebeu o
documento em 10/05/2022, mas o documento contém claramente a data de
emissão de 07/03/2022 e a data de vigência atual.
Após vários contatos, após anotar o motivo do cancelamento, tentaram
novamente convencê-lo a prosseguir com o seguro, mas sem sucesso.
Contestou a inicial, em id 45094600.

Acertadamente, a respeitável sentença recorrida JULGOU PROCEDENTE O


PEDIDO, nos seguintes termos:
“...Diante do exposto, JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTES os pedidos com resolução
de mérito na forma do artigo 487, inciso I, do CPC, para: 1-
CONDENAR as rés, solidariamente, a pagar aos autores a
quantia única de R$ 5.454,35, na forma simples, a título de
indenização por danos materiais, com correção monetária
desde o desembolso e juros de 1% ao mês a partir da citação;
2 – CONDENAR a parte ré ao pagamento da quantia de R$
5.000,00, sendo R$ 2.500,00 para cada autor a título de
indenização por danos morais, corrigida monetariamente a
partir da publicação da sentença e com juros de mora de 1%
a/m (um por cento ao mês) desde a citação. JULGO EXTINTO
SEM RESOLUÇÃO DO MÉRITO o pedido de resolução do
contrato de seguro de vida em nome do primeiro autor, uma
vez que esta já aconteceu em sede administrativa. Sem custas
e honorários de sucumbência, nos termos do art. 55 da Lei
9.099/95...”

“A ação é PROCEDENTE.

Pois bem, os recorridos celebraram contrato, visando a obter segurança caso


perdesse precisassem.

Falhou a ré, portanto, no dever de informação.


Ademais, não protegeu a legítima expectativa depositada pelos consumidores e
agiram em venire contra factum proprium ao aceitar a celebração do contrato, ser
remunerada por isso, mas não pagar a dívida contraída pela requerente.

Desta maneira, como consectário da boa-fé contratual e da proteção da


confiança, deverá custear os prejuízos havidos.

No tocante ao dano moral, observo que a autora, ora consumidora, tentou ver
compostos os seus prejuízos, dirigiu-se ao da ré, e nada foi resolvido.
Experimentou a ineficácia dos serviços de atendimento ao consumidor, composto
por funcionários destreinados. Gastou seu tempo para nada. Teve ainda de
buscar a via judicial. Logo, em vez de mero aborrecimento, de simples
descumprimento contratual, a situação se subsume ao âmbito dos transtornos
consideráveis, com aptidão a conduzir aos danos morais, pelo tempo
desperdiçado.

A perda de tempo da vida do consumidor em razão do mau atendimento de um


fornecedor não é mero aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro impacto
negativo em sua vida, que é obrigado a perder tempo de trabalho, tempo com sua
família, tempo de lazer, em razão de problemas gerados pelas empresas.

Neste sentido, o advogado Marcos Dessaune desenvolveu a tese do desvio


produtivo do consumidor, que se evidencia quando o consumidor, diante de uma
situação de mau atendimento (lato sensu), precisa desperdiçar o seu tempo e
desviar as suas competências - de uma atividade necessária ou por ele preferida -
para tentar resolver um problema criado pelo fornecedor, a um custo de
oportunidade indesejado, de natureza irrecuperável. Em outra perspectiva, o
desvio produtivo evidencia-se quando o fornecedor, ao descumprir sua missão e
praticar ato ilícito, independentemente de culpa, impõe ao consumidor um
relevante ônus produtivo indesejado pelo último ou, em outras palavras, onera
indevidamente os recursos produtivos dele (consumidor).

(...)

Ademais, a autora precisou ajuizar ação para fazer valer um direito inequívoco,
que deveria de plano ter sido atendido pela ré. É patente a violação a boa-fé
objetiva pela demandada.
Da lógica dos fatos e da prova existente, é notório que a situação fática
vivenciada pela autora violou a dignidade da pessoa humana, gerando perda de
tempo irrecuperável, dor e sofrimento que extrapolam a esfera contratual, sendo
manifesta a configuração do dano moral.

Caracterizado o ato ilícito praticado pela ré, cabível a condenação por danos
morais, cujo valor deve ser arbitrado levando-se em conta a intensidade do dano
e o caráter dúplice da reparação, bem como atendendo aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade.

Passa-se à análise do valor de indenização por danos morais.

A matéria referente à fixação do quantum indenizatório pelos danos morais


sofridos, no Direito Brasileiro, é delicada, e fica sujeita à ponderação do
magistrado, fazendo-se necessário, para encontrar a solução mais adequada, que
se observe o princípio da razoabilidade e proporcionalidade, tal como já decidido
pelo Egrégio Superior Tribunal de Justiça, não havendo critérios determinados e
fixos para a quantificação do dano moral, sendo, portanto, recomendável que o
arbitramento seja feito com moderação e atendendo às peculiaridades do caso
concreto (RESP435119; Relator Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira; DJ
29/10/2002).

Considerando ter havido abalos maiores nos direitos de personalidade da autora,


já que ficou negativada nos serviços de proteção ao crédito, fixo a indenização
por dano moral em R$ 9.000,00 (nove mil reais), quantia que atende aos
princípios norteadores da reparação por dano extrapatrimonial.

Inconformada, a RECORRENTE interpôs RECURSO INOMINADO, indicando de


forma genérica e abrangente os motivos que justificariam a reforma da r.
sentença, que em síntese alegou:

- OS RECORRIDOS tinha conhecimento do contrato e seus riscos;

- Não houve má prestação do serviço por parte da Seguradora / RECORRENTE;

- A RECORRENTE não vislumbra abalos psicológicos ou emocionais causados


por ela.
Enfim, em suma, são os termos gerais da presente ação.

Assim sendo, considerando o dever de proteger o consumidor, parte mais


vulnerável e frágil da relação de consumo, justa e equânime foi a decisão do
magistrado de primeiro grau, uma vez que se pode perceber que houve a correta
apreciação das questões de fato e de direito.

DO DIREITO
Merece ser mantida em todos os seus termos a respeitável sentença uma vez que
o RECORRENTE ofendeu norma preexistente; causou dano à RECORRIDA; e
assim existindo o nexo de casualidade entre um e outro como evidenciado a
seguir.

1. DA EXPECTATIVA DE DIREITO – DA VEDAÇÃO DO COMPORTAMENTO


CONTRADITÓRIO NA RELAÇÃO JURÍDICA E EXERCÍCIO ABUSIVO DE
POSIÇÃO JURÍDICA.
É nítido o dever de indenizar do RECORRENTE uma vez que comercializou o
serviço (seguro) que prometia obter segurança, caso perdesse sua fonte de
renda, e passa a negar cobertura quando acionada, justificando que OS
RECORRIDOS não possui o ‘perfil’ para usufruir do serviço adquirido.

A vedação ao comportamento contraditório (venire contra factum proprium) visa


garantir que as condições estabelecidas no início da relação jurídica sejam
mantidas quando da entrega do bem contratado.

De forma contraditória à sua conduta inicial, a RECORRENTE indica que OS


RECORRIDOS não possui o ‘perfil’ para receber o benefício contratado, pois é
trabalhadora autônoma.

Ademais, configura abuso de posição jurídica quando evidenciado a


hipossuficiência técnica dOS RECORRIDOS para entender a diferença entre
emprego e trabalho autônomo, prosseguiu com a comercialização do seguro e
recebeu por isso.

Deixando de informar detalhes essenciais para o uso regular do serviço, caso


fosse acionado.
Configurando claro abuso da boa-fé do consumidor, omitindo-se informações
essenciais do negócio, com a única intenção clara de vender o produto e os
serviços acessórios.

Este tribunal já decidiu sobre o assunto, conforme ementa abaixo:

INDENIZATÓRIA – Seguro prestamista – Doença grave – Afastamento do


emprego – Recusa à cobertura, aplicável apenas a trabalhadores autônomos e
profissionais liberais, segundo apólice – Inadmissibilidade – Condição omitida ao
consumidor – Apólice não entregue – Dano moral configurado – Arbitramento de
valor razoável – Sucumbência das rés – Recurso provido. (TJ-SP - APL:
40269775620138260114 SP 4026977-56.2013.8.26.0114, Relator: Vicentini
Barroso, Data de Julgamento: 09/06/2015, 15ª Câmara de Direito Privado, Data
de Publicação: 12/06/2015). (grifos nossos).

Declara ainda, que não houve má prestação do serviço ou abalos psicológicos ou


emocionais causados pela seguradora, ignorando – claramente - todo o
transtorno causado OS RECORRIDOS que ao acionar o seguro e descobre que
não seria amparada pelo serviço contratado, os protocolos realizados atestam
isso, não só, mas a negativação do nome e a impossibilidade de locar veículo
para exercer sua atividade autônoma (motorista de aplicativo), agravou suas
condições financeiras, criando assim um verdadeiro efeito “BOLA DE NEVE”.

Nobres Julgadores, a situação acima descrita configura clara má prestação de


serviço com consequente danos morais à RECORRIDA.

3. SOBRE O DANO CAUSADO – BOA-FÉ CONTRATUAL E PROTEÇÃO DA


CONFIANÇA – DA VULNERABILIDADE E HIPOSSUFICIÊNCIA DO
CONSUMIDOR
Evidencia-se o dano quando o RECORRENTE aceita que uma autônoma compre
um serviço protetivo para garantir o pagamento da fatura do cartão e, quando
acionado o seguro, este não pode ser utilizado, pois aplica-se exclusivamente
para as pessoas com registro profissional.

A prática mercantil abusiva descrita gera total insatisfação OS RECORRIDOS que


pagou por um serviço que ao final foi mal prestado.
Assim sendo é de extrema importância a manutenção da sentença do juiz de
primeiro grau, para que sirva de óbice a novos casos de condutas lesivas ao
consumidor.

Isto posto, em observância ao princípio da vulnerabilidade, aquele que estabelece


que o consumidor merece, antes de tudo, ser considerado como a parte mais
frágil da relação jurídica material. Ou seja, trata-se de um “sujeito concreto
vulnerável”. A Lei nº 8.078/90, flagrantemente, visa proteger o consumidor. Desta
forma, havendo essa proteção direcionada a este, o princípio da isonomia deve
ser observado, uma vez que outrora o RECORRENTE encontra-se numa posição
de superioridade frente OS RECORRIDOS.

Observar-se-á ainda o princípio da hipossuficiência, que considera como


hipossuficiente o consumidor que possui uma fragilidade debilidade processual,
ou seja, aquele que encontra dificuldade em comprovar seus direitos.

Assim, OS RECORRIDOS além de já ser vulnerável, também é hipossuficiente


frente ao RECORRENTE. Devendo a este comprovar que não casou dano à
RECORRIDA.

Sobre o assunto retro mencionado é o entendimento jurisprudencial, abaixo


colacionado:

Apelação – Seguro de vida e acidentes pessoais. Há de se consignar que o


contrato de seguro configura relação de consumo, pois o autor é destinatário final
de uma atividade fornecida, por meio de remuneração, ao mercado de consumo,
nos termos do que preceituam as normas constantes dos artigos 2º, caput, e 3º, §
2º, do Código de Defesa do Consumidor, estando, por isso, favorecido pela
inversão do ônus da prova, diante da verossimilhança de suas alegações e de
sua hipossuficiência, conforme preceitua a regra exposta no artigo 6º, VIII, do
mesmo diploma legal - É direito básico do consumidor receber "a informação
adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação
correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço" ( CDC, art.
6º, III)– Todo o transtorno causado, além da frustração imposta ao consumidor,
são situações passíveis de indenização por dano moral, cuja quantificação deve
pautar-se pela razoabilidade. Recurso provido. (TJ-SP - AC:
10054970220178260157 SP 1005497-02.2017.8.26.0157, Relator: Lino Machado,
Data de Julgamento: 13/03/2019, 30ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 15/03/2019)
Depreende-se então do referido julgado que o entendimento jurisprudencial é que
cabe ao RECORRENTE comprovar que não casou dano à RECORRIDA.

Sobre a aplicação da Teoria do Desvio Produtivo do Consumidor, o ministro


Marco Aurélio Bellize, relator do AREsp 1.260.458/SP na 3ª Turma, disse:

“Para evitar maiores prejuízos, o consumidor se vê então compelido a desperdiçar


o seu valioso tempo e a desviar as suas custosas competências – de atividades
como o trabalho, o estudo, o descanso, o lazer – para tentar resolver esses
problemas de consumo, que o fornecedor tem o dever de não causar. (...)

“Especialmente no Brasil é notório que incontáveis profissionais, empresas e o


próprio Estado, em vez de atender ao cidadão consumidor em observância à sua
missão, acabam fornecendo-lhe cotidianamente produtos e serviços defeituosos,
ou exercendo práticas abusivas no mercado, contrariando a lei", diz o ministro
Marco Aurélio Bellizze.” (...)

Assim sendo, mais uma vez, fica claro que é direito dOS RECORRIDOS à
manutenção da respeitável sentença em todos os seus termos, para medida de
inteira justiça e caráter educativo.

DO PEDIDO
Diante de todo o exposto, requer que essa Egrégia Turma Recursal negue
provimento ao recurso inominado interposto pelo RECORRENTE e que seja
mantida a respeitável sentença do juiz de primeiro grau em todos os seus termos,
como forma de inteira justiça, caráter educativo e inibitório deste tipo de conduta
lesiva.

Requer ainda, nos termos do art. 55 da Lei 9.099/95, a condenação do


RECORRENTE ao pagamento das custas e honorários advocatícios fixados nos
termos do referido artigo.

Termos em que,
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 14 de julho de 2023.


Luciana da Silva Siqueira de Almeida
OAB/RJ 171372

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