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AO JÚIZO DA 18ª VARA CÍVEL E AMBIENTAL DA COMARCA DE GOIÂNIA/GO

Processo n°:
Requerente:
Requeridos:

xxxxxxx, já devidamente qualificada, vêm perante Vossa Excelência, por


intermédio de seus advogados, não se conformando com a sentença proferida
no evento n° 51, interpor o presente

RECURSO DE APELAÇÃO

Com base nos arts. 1.009 a 1.014, ambos do CPC, requerendo, na


oportunidade, que o recorrido seja intimado para, querendo, ofereça as
contrarrazões e, ato contínuo, sejam os autos, com as razões anexas, remetidos
ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de Goiás para os fins de mister.
Por fim, deixa de juntar preparo por ter os benefícios da gratuidade da
justiça.

Termos em que,

Pede o deferimento.

Goiânia, 13 de junho de 2023.


RAZÕES RECURSAIS

Apelante:
Apelada:
Origem:

EGRÉGIO TRIBUNAL,

COLENDA CÂMARA.

Eméritos Desembargadores,

1. BREVE SÍNTESE DO PROCESSO

Trata-se de ação de obrigação de fazer c/c com danos morais


e pedido de liminar, cuja as partes qualificadas acima celebraram, no dia
29/12/2020, contrato de compra e venda de veículo automotor, qual seja,
modelo xxxxxxxxxxxxxxxxxxx no valor de R$34.000,00 (trinta e quatro mil reais)
– doc. 05 da inicial.
Ocorre que, no momento da compra, a informação passada
para a Apelante foi a de que o veículo nunca havia sofrido qualquer sinistro,
entretanto, quando a Autora foi efetuar a contratação de seguro para o
automóvel, ao realizar vistoria no carro, constatou-se a verdade: o veículo estava
sinistrado – doc.06 da inicial.
Ao saber da verdade, a Autora entrou em contato, no dia
12/01/2021, com a Requerida, através de seu preposto, que foi com quem
realizou a compra do carro, o senhor xxxxxxx, que reconheceu o ocorrido, e
comprometeu-se a realizar a substituição do veículo por um similar, sem sinistro
e sem custos adicionais para a Requerente -doc. 07:

A Autora tentou, por diversas vezes, resolver a questão, como


juntado na inicial, porém a Ré sempre dizia que estava procurando ainda por um
veículo para fazer a substituição, mas se manteve inerte por mais de um ano e
não conseguiram nenhum automóvel similar.
Necessário frisar a conduta de má-fé da Apelada que vendeu,
ardilosamente, um carro sinistrado para a Requerente e, quando esta descobriu
a verdade, aquela se comprometeu formalmente a realizar a troca, o que não
ocorreu.
Essa situação já perdura há quase 1 (um) ano! Totalmente
inadmissível a postura da Requerida com a Requerente. Ora, um veículo não é
algo supérfluo ou barato para as condições de um cidadão brasileiro e somente
com muito esforço a Requerente conseguiu adquirir um.
Tanto que assim foi determinado em sentença do juiz a quo:
Isto posto, julgo parcialmente procedentes os pedidos iniciais, resolvendo o
mérito da lide nos termos do art. 487, inciso I do CPC, e condeno a requerida na
obrigação de substituir o veículo da autora (Hyundai HB20 1.6 Flex,
fabricação/modelo 2012/2013), por outro da mesma espécie, em perfeitas
condições de uso e sem sinistro. Condeno a ré ao pagamento de indenização
por danos morais no valor de R$ 3.000,00 (três mil reais), corrigidos
monetariamente pelo INPC a partir da fixação, e acrescido de juros de mora de
1% (um por cento) ao mês desde a citação. Diante da sucumbência mínima da
autora, condeno a parte ré ao pagamento das custas processuais e dos
honorários advocatícios de sucumbência, estes fixados em 10% (dez por cento)
do valor da causa, nos termos do art. 85, § 2º do CPC.

Frise-se: Foram mais de 12 (doze) meses de espera, de dias


tentando resolver a questão com a Apelada, além da insegurança de transitar
com um veículo sem seguro ou sem estar regularizado no seu nome. Como dito
na respeitável sentença, não é mero dissabor e deve ser a Recorrente indenizada
pelos transtornos causados pela Recorrida.
Por essa razão a Recorrente requer que a respeitável
sentença seja reformada, haja vista que foram vários meses para resolver a
questão e o valor de indenização por danos morais fixado na sentença não
coaduna com a jurisprudência, além de não cumprir com seu caráter
pedagógico.

2. DO MÉRITO

Como narrado acima, a respeitável sentença julgou


procedentes os entabulados na inicial e condenou a Recorrida ao pagamento de
R$3.000,00 (três mil reais) por danos morais. Entretanto esse valor não é
razoável, haja vista o tempo ao qual a Recorrente foi submetida aos transtornos
causados pela prestadora de serviços (várias ligações e conversas com a
Recorrida, além da insegurança causada).
O Tribunal de Justiça do Estado de Goiás tem condenações,
em casos semelhantes, no valor mínimo de R$8.000,00 (oito mil reais), senão
vejamos:

APELAÇÃO CÍVEL E RECURSO ADESIVO. CONSUMIDOR.


PORTABILIDADE. BLOQUEIO DE LINHA DE TELEFONIA. DANOS
MATERIAIS E MORAIS CONFIGURADOS. QUANTUM MANTIDO. JUROS
DE MORA. INCIDÊNCIA A PARTIR DA CITAÇÃO (RELAÇÃO
CONTRATUAL). BENEFÍCIO DA JUSTIÇA GRATUITA RESTABELECIDO.
CONCEDIDOS. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. 1. A falha na
prestação de serviços de telefonia celular (atraso na efetivação da
portabilidade), configura abuso de direito indenizável, e não mero
transtorno ou dissabor. In casu, restaram comprovados o dano material
e moral indenizáveis, especialmente porque o autor, corretor de
imóveis, solicitou a portabilidade da linha telefônica móvel de outra
operadora (CLARO) para a ré (OI). Entretanto, por falha na prestação
do serviço ficou impossibilitado de receber ligações de seus clientes, e
sendo ele corretor de imóveis, evidenciado ficou o prejuízo. 2. Para a
fixação do valor da indenização por dano moral, as balizas são a
razoabilidade e a proporcionalidade, considerando-se aí as posições
sociais do ofensor e do ofendido, a intensidade do ânimo de ofender, a
gravidade da ofensa e, por fim, a sua repercussão. 3. No caso, o valor
de R$ 8.000,00 (oito mil reais) é irretocável, pois objetiva, não
apenas a compensação do prejuízo subjetivo experimentado pelo
autor/apelado, mas, também, evitar que a apelante reitere condutas
dessa natureza, ressaindo daí o caráter preventivo e educativo da
medida. 4. Os juros moratórios incidem a partir da data da citação
(art. 405 do CC), quando a relação for contratual. 5. Ficam
restabelecidos os benefícios da justiça gratuita ao autor, uma vez que a
sua situação financeira não se modificou ao longo da demanda. 6.
Mantém-se os honorários de sucumbência no mesmo percentual
fixado na sentença, uma vez que foram mínimas as alterações
provocadas pelos recursos interpostos e, tratando-se de parcial
provimento, não cabe majoração por sucumbência recursal. Apelação
cível e recurso adesivo parcialmente providos. 1

AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO. ART. 557, CAPUT, DO CPC.


INCIDÊNCIA. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO.
DANOS MORAIS. SERVIÇO DE TELEFONIA. PORTABILIDADE. FALHA NA
SUA PRESTAÇÃO. RESPONSABILIDADE OBJETIVA. LEI CONSUMERISTA.

1
TJGO, APELACAO 0241073-11.2015.8.09.0100, Rel. ZACARIAS NEVES COELHO, 2ª Câmara Cível, julgado
em 18/03/2019, DJe de 18/03/2019.
ART. 14. DANOS MORAIS CONFIGURADOS. APELO AO QUAL SE NEGA
SEGUIMENTO. AUSÊNCIA DE FATOS NOVOS. MANUTENÇÃO DO
DECISUM. RECURSO INFUNDADO E PROTELATÓRIO. MULTA. ART. 557, §
2º DO CPC. I - É autorizado ao relator julgar monocraticamente o
recurso, nos termos do art. 557, caput, do CPC, quando for
manifestamente improcedente e contrário a jurisprudência do STJ e
TJGO. II - A operadora de telefonia é responsável pelos danos causados
ao consumidor independentemente da verifi-cação de culpa, pois a
sua responsabilidade é objetiva, nos termos do art. 14, caput, da Lei
Consumerista. III - Restando comprovada a má prestação de serviço
da concessionária de telefonia ao consumidor, precisamente na
interrupção indevida do serviço, ou seja, ante de se concluir o
procedimento afeto a portabilidade, em total infringência aos
ditames a Resolução 460/07 da ANATEL, impõe- se a
responsabilização pelo ilícito perpetrado, nos lindes da
responsabilidade civil, justificando, desta forma, a compensação
moral no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais). IV - Diante da
inexistência de motivo plausível para a reforma, vez que ausentes
novos elementos capazes de modificar a convicção inicial do relator,
visando o re-curso, apenas, o reexame de matéria já decida, deve ser
mantido o decisum combatido. V - Tratando-se de recurso
manifestamente infundado/protelatório, impõe-se a aplicação da
multa prevista no art. 557, § 2º do Código de Processo Civil. AGRAVO
REGIMENTAL DESPROVIDO.2

AGRAVO REGIMENTAL EM APELAÇÃO CÍVEL. FALHA NA PRESTAÇÃO DE


SERVIÇO DE TELEFONIA MÓVEL. CANCELAMENTO INDEVIDO DE LINHA
TELEFÔNICA. DEVER DE INDENIZAR. REPARAÇÃO FIXADA EM R$
8.000,00. RAZOABILIDADE. JUROS DE MORA EM SINTONIA COM A
SÚMULA DE Nº 54 DO STJ. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS.
AUSÊNCIA DE FATO NOVO. REPRODUÇÃO DE TESES.
IMPROVIMENTO DO RECURSO. I- Caracterizada a falha na prestação
do serviço de telefonia móvel, consubstanciado no cancelamento
indevido de linha telefônica, é de rigor a condenação da operadora
no pagamento de indenização pelos danos morais suportados pelo
consumidor/agravado, cujo valor reparatório deve se adequar às
peculiaridades do caso concreto, atendendo, desta forma, à dupla
finalidade: satisfativa para a vítima e dissuasório para o ofensor.
Assim, mostrando-se justo e razoável o valor de R$8.000,00 fixados
na sentença, impõe-se que sejam confirmados. II - Nos termos do
enunciado sumular de nº 54 do Superior Tribunal de Justiça, a

2
TJGO, APELACAO CIVEL 80697-08.2013.8.09.0137, Rel. DES. LUIZ EDUARDO DE SOUSA, 1A CAMARA
CIVEL, julgado em 28/04/2015, DJe 1779 de 07/05/2015
incidência dos juros moratórios, na hipótese de responsabilidade
extracontratual, caso dos autos, tem como marco inicial o evento
danoso. III - Não prospera o desiderato de redução dos honorários
advocatícios fixados em percentual de 15% (quinze por cento) sobre o
valor da condenação, eis que compatível com a previsão do artigo 20,
§ 3º, do CPC. IV- Tendo em vista que as razões arguidas nesta
oportunidade limitam- se em reproduzir as mesmas teses alegadas no
recurso de apelação, sem a demonstração de fato novo capaz de
conduzir o julgador a nova convicção, nega-se provimento ao Agravo
Regimental AGRAVO REGIMENTAL CONHECIDO E IMPROVIDO
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.3

Obviamente a situação enfrentada pela Autora não pode ser


considera como “eventual divergências do cotidiano normal dos seres humanos
em suas relações de consumo” sic.

Pelo contrário, a situação enfrentada pela Autora foge da


razoabilidade! Não é normal alguém comprar um veículo e quando o seguro
automotivo realiza a vistoria descobrir que o carro foi sinistrado, não é normal a
empresa que se comprometeu a realizar a troca do veículo, se manter inerte.
Não é normal a Autora ter que recorrer ao judiciário para assim ter seu direito
cumprido, pois se assim não fizesse, a Ré nada faria!

O dissabor que a Ré se refere como “cotidiano normal” não


pode ser considerado aceitável nas relações de consumo, aliás, se assim for,
poder-se rasgar o Código de Defesa do Consumidor, haja vista que tudo que as
empresas fizeram/fazem com o consumidor poderia ser considerado normal de
acordo com a Requerida.

Se tais ações lotam o judiciário, isso não é culpa do


consumidor, e sim das empresas que não prestam seus serviços dentro do
mínimo aceitável e a estes só cabe recorrer ao judiciário para assim terem seus
direitos assegurados! É uma vergonha o posicionamento da Ré!

Em que pese a Ré afirmar que os eventos ocorridos com a


Autora não configuraram abalo psicológico, sabe-se que não se trata de simples
desconfortos a que qualquer pessoa espera ao comprar um veículo.

3
TJGO, APELACAO CIVEL 387806-14.2010.8.09.0134, Rel. DES. LUIZ EDUARDO DE SOUSA, 1A CAMARA
CIVEL, julgado em 23/07/2013, DJe 1359 de 07/08/2013
Ao contrário, pelo que se vê, desde o início da relação
contratual, a Ré demonstrou descaso e má prestação dos seus serviços, o que
revela que vários dissabores ultrapassaram os limites do mero aborrecimento
do cotidiano.

Desta forma, a majoração do valor de indenização por danos


morais é plenamente devida, razão pela qual, requer a reforma da r. sentença
para condenar a Recorrida a indenizar a Recorrente por danos morais nos
moldes requeridos na exordial.

3. DOS PEDIDOS

ISTO POSTO, requer:

a) A manutenção dos benefícios da justiça gratuita;


b) Que seja recebido o presente Recurso de Apelação para, reformar a
decisão determinando a indenização por danos morais nos moldes
requeridos na exordial;
c) Diante do exposto, contando com a sabedoria deste douto Colegiado,
a Recorrente pugna pelo CONHECIMENTO do recurso e, no mérito,
DAR-LHE PROVIMENTO para majorar a condenação da Recorrida no
pagamento de INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL, refletindo os
recentes julgados do Tribunal de Justiça de Goiás, além de atender aos
anseios compensatório, pedagógico e punitivo inerentes ao instituto
em espeque;
d) A condenação da Recorrida ao pagamento das despesas processuais
e sucumbência no importe de 20% (vinte por cento).

Pede Deferimento.

Goiânia, 13 de junho de 2023.

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