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JUÍZO DE DIREITO DA 7ª VARA JUDICIAL CIVIL DA COMARCA DE BAURU

- SP

Processo 1001292-81.2023.8.26.0071

DERALDINO CARDOSO DOS SANTOS, já qualificado nos autos do


processo supra, devidamente representado por seu advogado que subscreve, endereço
eletrônico giraldiadvogados@hotmail.com, vem respeitosamente na presença de Vossa
Excelência, tendo em vista ato ordinatório retro, apresentar RÉPLICA com relação a
contestação de fls. 35/47, conforme abaixo descrito:

SÍNTESE DA CONTESTAÇÃO

Em uma breve síntese da contestação, alega o réu:

• No mérito:
- Regularidade do contrato de cartão de crédito consignado – contratação
eletrônica;
- Ausência de vício de consentimento;
- Impossibilidade de alteração da modalidade contratada ou conversão do cartão
em empréstimo;

Razão nenhuma assiste ao réu, motivo pelo qual, passamos a replicar todos
os argumentos lançados em sede de contestação conforme abaixo exposto.
RÉPLICA – MÉRITO PROCESSUAL:

NO MÉRITO a presente ação merece ser julgada totalmente procedente pelos


motivos e fatos já trazidos na exordial, vejamos:

CONTRATO REALIZADO DE MANEIRA IRREGULAR - ONEROSIDADE


EXCESSIVA E OFENSA DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR:

Fica desde já impugnado o contrato de cartão de crédito consignado encartado em


fls. 57/124, requerendo desde já, seja este convolado pelo Juízo em contrato de
empréstimo consignado segundo as taxas médias praticadas na época da disponibilização
do crédito, uma vez que, corrobora plenamente com as alegações lançadas pelo autor em
sede inicial.

Ora, de acordo com o contrato encartado, fica evidente que o réu efetivou
empréstimo consignado mediante saque TOTAL do limite do cartão, e cobrança do valor
TOTAL em uma única parcela no mês subsequente, em nítido abuso e desproporcional à
capacidade de pagamento do requerente.

Ressalte-se ainda que nunca foi entregue ao autor nenhuma fatura referente ao
contrato impugnado, não havendo nos autos nenhuma comprovação de que este utilizou
o cartão de crédito consignado para a realização de saques e compras.

Além do mais, o contrato é omisso quanto às informações vitais para o


mínimo de entendimento da avença por parte do consumidor, pois, não há indicação
clara do número de parcelas, data de início e término das prestações. Há apenas a
indicação do valor mínimo da fatura.
Seguindo, como é indiscutível, deve o fornecedor do serviço proceder nas relações
de consumo de modo a respeitar e observar de forma estrita todos os direitos básicos do
consumidor, na espécie, em particular a prestação de informação adequada e clara sobre
o produto ou o serviço ofertado, com especificação de todos os detalhes envolvidos no
negócio, tal como dispõe o Código de Defesa do Consumidor.

O autor, neste caso, claramente é hipossuficiente, não detendo conhecimentos


sobre sistemáticas financeiras e de concessão de crédito, bem ao contrário do apelado,
que é instituição financeira e justamente em razão de sua expertise tinha o ônus de ter, no
momento da contratação, prestado os esclarecimentos todos a respeito das consequências
do ato praticado pelo requerente.

Fica evidente, por conseguinte, que a consumidora não obteve as informações


imprescindíveis para a regular celebração do contrato. Há, portanto, ofensa direta ao
art. 6º, III do Código de Defesa do Consumidor, senão vejamos:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:

(...)

III - a informação adequada e clara sobre os diferentes


produtos e serviços, com especificação correta de
quantidade, características, composição, qualidade,
tributos incidentes e preço, bem como sobre os riscos
que apresentem;

Ora, a instituição financeira tem pleno conhecimento do rendimento do autor, uma


vez que, trata direto com aposentados, não podendo alegar desconhecimento com relação
a esse ponto. Além do mais, da maneira como formalizado o contrato, fica plenamente
caracterizada a onerosidade excessiva, o desequilíbrio contratual, o
superendividamento do autor, bem como a má-fé declarada do réu. Neste sentido a
14ª Câmara de Direito Privado do TJ SP assim decidiu:
“APELAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE
NULIDADE DE CLÁUSULA CONTRATUAL COM
PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - SENTENÇA
DE IMPROCEDÊNCIA - RECURSO - RELAÇÃO DE
CONSUMO - HIPOSSUFICIÊNCIA - LESIVIDADE -
RMC - FALTA DE CLAREZA - OPERAÇÃO
DISFARÇADA VISANDO BURLAR O LIMITE DE
30% PARA CONSIGNAÇÃO DE EMPRÉSTIMO -
AUSENTE BOA-FÉ OBJETIVA DA CASA BANCÁRIA -
EQUILÍBRIO CONTRATUAL VIOLADO -
SUPERENDIVIDAMENTO - AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº
0010064-91.2015.8.10.0001 DO TJMA - DE RIGOR, O
RECÁLCULO DA OBRIGAÇÃO COM A TAXA DE
JUROS DO CONTRATO FIRMADO, DESPREZANDO-
SE MORA E DEMAIS ENCARGOS RELATIVOS AO
CARTÃO E DESCONTANDO-SE O MONTANTE JÁ
PAGO A TÍTULO DE AMORTIZAÇÃO - SENTENÇA
REFORMADA - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. (TJ-SP - AC: 10025464220198260326 SP
1002546-42.2019.8.26.0326, Relator: Carlos Abrão,
Data de Julgamento: 01/06/2020, 14ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 01/06/2020).”

Com efeito, trata-se de um contrato desproporcional e abusivo porque, da forma


como foi estipulado, praticamente nunca será quitado, uma vez que o valor do
débito consignado não é suficiente para cobrir os encargos financeiros mensais.
Ressalte-se que o art. 51, IV, do Código de Defesa do Consumidor estabelece que:

“São nulas de pleno direito, entre outras, as


cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de
produtos e serviços que:
(...)
IV Estabeleçam obrigações consideradas iníquas,
abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis
com a boa-fé ou a equidade”.

Portanto, não se pode admitir a manutenção dos débitos na forma realizada diante
da violação ao direito do consumidor de obter a correta informação das circunstancias
que envolvem a tomada de empréstimo pela via de cartão de crédito (art. 39, IV e V, do
CDC), aproveitando-se da falta de conhecimento da autora, gerando a ele uma obrigação
extremamente onerosa e desproporcional a boa-fé contratual.

NECESSIDADE DA INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO – RELAÇÃO


CONSUMERISTA:

Demonstrada a relação de consumo, resta consubstanciada a


configuração da necessária inversão do ônus da prova, conforme disposição expressa do
Código de Defesa do Consumidor:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor: (...)


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com
a inversão do ônus da prova, a seu favor, no processo civil,
quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação ou
quando for ele hipossuficiente, segundo as regras
ordinárias de experiências (...)

A inversão do ônus da prova é consubstanciada na impossibilidade ou


grande dificuldade na obtenção de prova indispensável por parte da autora, sendo
amparada pelo princípio da distribuição dinâmica do ônus da prova implementada pelo
Código de Processo Civil:

Art. 373. O ônus da prova incumbe:


I - ao autor, quanto ao fato constitutivo de seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo,
modificativo ou extintivo do direito do autor.
§ 1º Nos casos previstos em lei ou diante de peculiaridades
da causa relacionadas à impossibilidade ou à excessiva
dificuldade de cumprir o encargo nos termos do caput ou
à maior facilidade de obtenção da prova do fato contrário,
poderá o juiz atribuir o ônus da prova de modo diverso,
desde que o faça por decisão fundamentada, caso em que
deverá dar à parte a oportunidade de se desincumbir do
ônus que lhe foi atribuído.

Trata-se da efetiva aplicação do Princípio da Isonomia, segundo o qual,


todos devem ser tratados de forma igual perante a lei, observados os limites de sua
desigualdade. Nesse sentido, a jurisprudência orienta a inversão do ônus da prova para
viabilizar o acesso à justiça:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL. DISTRIBUIÇÃO


DINÂMICA DO ÔNUS DA PROVA. PARTE COM
MAIOR CONDIÇÃO DE PRODUÇÃO. (..) DECISÃO
FUNDAMENTADA. POSSIBILIDADE. I O § 1º do art. 373
do CPC consagrou a teoria da distribuição dinâmica do
ônus da prova ao permitir que o juiz altere a distribuição
do encargo se verificar, diante da peculiaridade do caso
ou acaso previsto em lei, a impossibilidade ou excessiva
dificuldade de produção pela parte, desde que o faça por
decisão fundamentada, concedendo à parte contrária a
oportunidade do seu cumprimento. II Negou-se provimento
ao recurso. (TJ-DF 07000112620178070000 0700011-
26.2017.8.07.0000, Relator: JOSÉ DIVINO DE
OLIVEIRA, Publicado no PJe: 02/05/2017)

Portanto, diante da inequívoca relação consumerista e presumida


hipossuficiência, uma vez que disputa a lide com uma empresa de grande porte,
indisponível concessão do direito à inversão do ônus da prova, que desde já requer.

PEDIDO FINAL:

No mais, requer a TOTAL PROCEDÊNCIA desta ação para que seja


realizada a convolação do contrato de cartão de crédito consignado (RMC) em
empréstimo consignado segundo as taxas médias praticadas na época da disponibilização
do crédito para essa modalidade de operação, com abatimento dos valores cobrados pelo
pagamento mínimo do cartão de crédito em relação ao valor emprestado, bem como a
devolução de eventual crédito em favor do autor com aplicação da correção monetária e
juros de mora de 1% a partir da citação ou; de forma ALTERNATIVA, com fulcro no
artigo 325 CPC, requer seja determinado o cancelamento do cartão de crédito nos termos
do art. 17-A, §§1º e 2ºda Instrução Normativa INSS/PRES nº 28/2008 (com redação dada
pela Instrução Normativa INSS/PRES nº 39/2009).

Nesses Termos,
Pede e Espera Deferimento.
Bauru, 25 de maio de 2023.

DIEGO CARNEIRO GIRALDI


OAB/SP 258.105

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