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AUTOS: 0005764-45.2018.8.16.

0056
RECLAMANTE: MARCOS VINICIUS FRACARO
RECLAMADOS: BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A.

PROJETO DE SENTENÇA

I. RELATÓRIO
Dispensado nos termos do artigo 38 da Lei 9.099/95.

II. FUNDAMENTAÇÃO
Aplicação do Código de Defesa do Consumidor
Aplica-se, in casu, o contido no Código de Defesa do Consumidor, haja
vista que se trata de relação de consumo. Deve-se considerar que o CDC traz normas de
ordem pública e interesse social (artigo 1º), em atenção ao mandamento constitucional
exposto no artigo 5º, XXXII, CF, direito fundamental do cidadão. Por tal razão, a
incidência da legislação consumerista pode ser analisada de ofício e a qualquer tempo
pelo Magistrado.
Analisando detidamente os autos, conclui-se que as partes qualificam-se
como consumidor e fornecedor, formando uma relação de consumo. Não há mais
qualquer discussão de que os bancos e instituições financeiras são fornecedores,
principalmente após decisão da ADI 2591 e do Enunciado 297 da Súmula do STJ. Além
da redação do artigo 3º, §2º do CDC, sabe-se que os serviços bancários são
remunerados, prestados de forma ampla e geral e, principalmente, os tomadores destes
serviços (os consumidores) são considerados a parte mais fraca e vulnerável da relação.
A parte reclamante é destinatária final e usuária do serviço prestado pelo
reclamado, amoldando-se, por certo, ao conceito de consumidor exposto no artigo 2º do
mesmo diploma legal. Sendo assim, reconheço a relação de consumo entre as partes.
Julgamento antecipado
Inicialmente, cabe ressaltar que o presente feito comporta julgamento
antecipado, nos termos do art. 355, I, do Código de Processo Civil de 2015, porquanto
as provas trazidas aos autos são suficientes para o julgamento da lide. Ademais, o
magistrado como destinatário da prova, tem o dever de indeferir as diligências inúteis
ou protelatórias (art. 370, parágrafo único, do CPC), garantindo, assim a razoável
duração do processo (arts. 5°, LXXVIII, da CF e 4° e 6° do CPC).
MÉRITO
Trata-se de ação de declaratória de inexistência de debito c/c reparação civil
por dano moral com pedido de tutela antecipada de MARCOS VINICIUS FRACARO
em face de BANCO SANTANDER (BRASIL) S.A.
O ponto controvertido nos autos reside na suposta inscrição indevida do
nome do autor nos órgãos de proteção ao crédito.
O reclamante alega que após requerer o encerramento da sua conta corrente
em 28/12/2017 foi-lhe cobrado o valor de R$59,90. Ainda, que em março de 2018 foi
surpreendido com uma cobrança no valor de 58,83 referente ao cartão de crédito.
Alega que realizou todos os pagamentos, mas que em maio de 2018 foi
novamente surpreendido, porém dessa vez com a negativação do seu nome.
Em síntese, a ré alega que a cobrança se refere ao mês de janeiro e ao item
DEBITO AUT. FAT.CARTAO MASTER CARD. Alega também que tal valor se refere
a utilização do cheque especial.
Analisados os autos verifico que a pretensão do autor deve prosperar.
Considerando a inversão do ônus da prova, bem como o disposto no art.
373, II do CPC, deveria a ré proceder com a produção de provas suficientes a fim de
ensejar a improcedência da demanda.
Compulsando os autos verifico que o autor devidamente comprovou que
requereu o encerramento da sua conta (seq. 1.4).
Ainda, comprovou que foi cobrado pela anuidade do cartão de crédito (seq.
1.5).
A ré não logrou êxito em comprovar que a conta corrente e o cartão de
crédito são desvinculados, de forma que tenho que o encerramento da conta corrente
deveria encerrar automaticamente o cartão de crédito.
Portanto, após o autor pagar o valor remanescente de R$59,90 a conta,
juntamente com o cartão de crédito, deveriam ter sido encerrados.
Dessa forma qualquer cobrança à título de taxas e tarifas após tal data foi
indevida.
Considerando que a as cobranças foram indevidas, resta concluir que a
inscrição decorrente dessas cobranças também foi.

Conforme precedentes do Superior Tribuna de Justiça, a inscrição indevida


do consumidor em serviço de proteção ao crédito é causa de dano moral in re ipsa, não
sendo necessária a demonstração do dano sofrido. Nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO.


PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL.
INSCRIÇÃO INDEVIDA EM CADASTRO DE
INADIMPLENTES. ATO ILÍCITO. DEVER DE INDENIZAR.
REEXAME DE PROVAS. DANO MORAL 'IN RE IPSA'.
OCORRÊNCIA. VALOR. REVISÃO. IMPOSSIBILIDADE.
FIXAÇÃO COM BASE NO CRITÉRIO DA RAZOABILIDADE.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. REVISÃO. DESCABIMENTO.
SUMULA 07/STJ. INCIDÊNCIA. 1. A modificação das conclusões a
que chegaram as instâncias ordinárias, relativas à presença dos
requisitos ensejadores do deve de indenizar da instituição financeira,
nos moldes em que pretendido, encontra óbice no enunciado sumular
nº 7 desta Corte, por demandar o vedado revolvimento de matéria
fático-probatória. 2. Nos casos de protesto indevido de título ou
inscrição irregular em cadastros de inadimplentes, o dano moral
configura-se 'in re ipsa', prescindindo de prova. 3. O valor da
indenização por danos morais deve ser fixado com moderação,
considerando a realidade de cada caso, sendo cabível a intervenção da
Corte quando exagerado ou ínfimo, fugindo de qualquer parâmetro
razoável, o que não ocorre neste feito. 4. O valor fixado pelas
instâncias ordinárias, a título de honorários advocatícios, somente
pode ser alterado se for excessivo ou irrisório, sob pena de incidência
da Súmula 7/STJ. 5. Decisão agravada mantida pelos seus próprios
fundamentos. 6. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. (STJ -
Ag 1387520 SC - Rel.: Ministro PAULO DE TARSO
SANSEVERINO - J.13.03.2012 - Terceira Turma)

Ainda, segundo entendimento da Turma Recursal do Paraná:

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR


DANOS MORAIS. TELEFONIA. INSCRIÇÃO NOS ÓRGÃOS DE
PROTEÇÃO AO CRÉDITO. FALHA NA PRESTAÇÃO DOS
SERVIÇOS. REGRA DO ARTIGO 14 DO CDC. DANO MORAL
CONFIGURADO. QUANTUM INDENIZATÓRIO MANTIDO
(R$10.000,00). SENTENÇA MANTIDA. Recurso conhecido e
desprovido. 1. Tratam os autos de ação declaratória de inexistência de
débitos c/c de indenização por danos morais, onde a autora alega que
foi inscrita indevidamente. 2. A sentença (item 31) julgou procedente
o pedido inicial formulado pela promovente JUREMA CORREIA DA
MAIA para condenar a promovida OI S/A no pagamento da
indenização no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais) a título de danos
morais. 3. Inconformada, a parte reclamada interpôs o presente
recurso inominado (item 39), para o fim de minorar o valor da
condenação, sob os argumentos de que o valor da condenação não
pode ser utilizada como forma de enriquecimento pelo agente passivo
da demanda. 4. Não existindo preliminares, passo a análise de mérito.
5. No presente caso temos que houve inscrição do nome do autor nos
órgãos de proteção ao crédito, mesmo tendo esse efetuado os
pagamentos dos serviços mediante débito em conta, portanto devendo
ser aplicado por analogia o entendimento de que a pessoa que não
celebrou contrato com a empresa de telefonia não pode ser reputada
devedora, nem penalizada com a inscrição de seu nome em órgãos de
restrição ao crédito, em razão da vulnerabilidade do sistema. Ante o
exposto, esta Turma Recursal resolve, por unanimidade de votos,
CONHECER e NEGAR PROVIMENTO ao recurso interposto, nos
exatos termos deste voto. (TJPR - 1ª Turma Recursal - 0003187-
70.2014.8.16.0174/0 - União da Vitória - Rel.: Camila Scheraiber
Polli - Rel.Desig. p/ o Acórdão: FERNANDA DE QUADROS
JORGENSEN GERONASSO - J. 26.10.2015)
Ainda, o enunciado nº12.15 das Turmas Recursais do Paraná vai no mesmo
sentido:

Enunciado N.º 12.15- Dano moral - inscrição e/ou manutenção


indevida: É presumida a existência de dano moral, nos casos de
inscrição e/ou manutenção em órgão de restrição ao crédito, quando
indevida. (Res. nº 0002/2010, publicado em 29/12/200, DJ nº 539)
(g.n.)

Promover a inscrição de uma pessoa inadimplente é um direito da empresa


credora, entretanto, quando essa inscrição ou manutenção ocorre de forma indevida, há
o abuso de direito. Sobre o abuso de direito o Código Civil em seu art. 187 estabeleceu
que a responsabilidade se dá de forma objetiva.

Ainda, o Código de Defesa do Consumidor estabelece em seu art. 6º, VI que


é direito básico do consumidor a reparação dos danos morais e patrimoniais. No caso
em tela, como já foi demonstrado a ilegalidade da inscrição, notadamente ocorreu dano
moral.

Existe, portanto, o direito a reparação do dano moral sofrido.

Do quantum indenizatório

A indenização pelos danos morais deve proporcionar ao lesado uma


vantagem de caráter patrimonial, que servirá de lenitivo, atenuando as consequências do
dano, bem como considerando as circunstâncias em que os fatos ocorreram.

O valor da indenização deve ser arbitrado em quantia moderada, atentando-


se para a capacidade econômica das partes, em valor suficiente apenas a compor os
danos sofridos, evitando indenização simbólica ou que represente enriquecimento
injusto da vítima.

Ante ao exposto, tudo bem ponderado, arbitro em R$ 8.000,00 (oito mil


reais), a indenização a ser paga pela reclamada, a título de indenização por danos
morais, quantia que julgo justa e adequada a compor os danos sofridos pela parte
reclamante em decorrência do dano moral suportado.

III. DISPOSITIVO

Por todo o exposto e pelo que consta nos autos, com fulcro nos artigos 5º e
6º da Lei 9.099/95, bem como no art. 487, I do CPC, no mérito, JULGO
PROCEDENTE o pedido para:

1. Declarar como indevida a inscrição com contrato de número


DE03079010759652, data de inclusão 09/05/2018 no valor de R$
120,99.
2. Declarar como inexistente o débito de R$120,99 que originou a
inscrição supramencionada.
3. Condenar a reclamada ao pagamento de R$8.000,00 (oito mil reais) à
título de indenização por danos morais, corrigido monetariamente pelo
INPC a contar a partir da presente data e acrescidos de juros de mora de
1% ao mês a partir da citação (Enunciado das Turmas Recursais Nº12.13
A e B).
4. Oficie-se os órgãos de proteção ao crédito a fim de darem baixa
definitiva no nome do autor no que tange a inscrição supramencionada.

Sem custas nem honorários nesta fase (artigo 55 da Lei 9.099/95).

Nos termos do artigo 40 da Lei 9.099/95, submeta-se a decisão à apreciação


da juíza togada para homologação.

Cambé, datado e assinado digitalmente.

Gregory Tonin Maldonado

Juiz Leigo

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