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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DE DIREITO DA 2ª

VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAIOSES/MA.

“É dever de todos prevenir a ameaça ou violação aos direitos do idoso” (Art.4º, § 1º, da
Lei 10.741/2003 – ESTATUTO DO IDOSO).

PROCESSO Nº: 0800425-25.2023.8.10.0069

FRANCISCA DAS CHAGAS PEREIRA, já qualificada(o) nos autos do processo


em epígrafe, proposto em desfavor de BANCO PAN S/A, vem, mui respeitosamente, à
presença do Meritíssimo(a), inconformado com a r. sentença, interpor sua APELAÇÃO, nos
termos das disposições correlatas do CPC, pelos fundamentos expostos, esperando, após
exercido o juízo de admissibilidade, sejam os autos remetidos ao Egrégio Tribunal de Justiça.

Termos em que,

Espera deferimento.

Araioses – MA, 23 de agosto de 2023.

KLAYTON OLIVEIRA DA MATA

OAB – MA 24841-A
RAZÕES DO RECURSO

ORIGEM: 2ª VARA CÍVEL DA COMARCA DE ARAIOSES - MA

RECORRENTE: FRANCISCA DAS CHAGAS PEREIRA

RECORRIDO: BANCO PAN S/A

PROCESSO Nº: 0800425-25.2023.8.10.0069

EGRÉGIA TURMA, EMÉRITOS JULGADORES.

Em que pese a cultura jurídica do MM. Juiz prolator da sentença de primeiro grau, a
demandante, ora recorrente, não pode se conformar com os termos da decisão recorrida, vez
que, não foi acertada como comumente ocorre, porquanto não houve a fixação do DANO
MORAL, data vênia, considerando as peculiaridades do caso em tela, deixando de
atingir suas finalidades: PUNITIVA, COMPENSATÓRIA e PEDAGÓGICA, ainda
mais em se tratando de VERBA ALIMENTAR DE PESSOA IDOSA; GRAVIDADE DO
ILICITO PERPETRADO; CONDIÇÃO SOCIAL DA VÍTIMA; PATRIMÔNIO
ECONÔMICO DO DEMANDADO E REITERAÇÃO DE ILÍCITOS DESSA
NATUREZA, DE MODO QUE A CONTUMÁCIA NÃO TORNEM ENDÊMICAS AS
FRAUDES DESSA NATUREZA EM NOSSO PAÍS, GERANDO UMA VERDADEIRA
INVERSÃO DA ORDEM, FATO ESTE QUE VEM SENDO COMBATIDO PELO STJ
COM FIRMEZA, assim sendo, esta merece ser reformada TOTALMENTE, pelos motivos
de fato e de direito que o recorrente passa a aduzir:

I-DOS PRESSUPOSTOS DE ADMISSIBILIDADE RECURSAL

O presente apelo deve ser conhecido, uma vez que é adequado, interposto pela
parte legítima, processualmente interessada e regularmente representada. O Recurso é
tempestivo, uma vez que fora interposto no prazo legal, previsto pelo CPC.

No que pertine ao preparo este não deve será levado a rigor, uma vez que o(a)
demandante, ora recorrente é pobre nos termos da Lei 1.060/50, conforme consta na própria
exordial, precisamente trata-se de um(a) aposentada(o), pelo que requer os benefícios da
Justiça Gratuita.

Neste contexto, impõe-se o conhecimento do presente recurso inominado, por


restarem comprovados todos os pressupostos de admissibilidade recursal.
II- DA SINTESE DA LIDE

Colendo Tribunal, o(a) autor(a)/recorrente alegou fraude em seu benefício


previdenciário de um desconto ilícito, decorrente de empréstimo, e em sua contestação o
banco sustentou que a contratação foi legítima e regular e que os descontos foram
devidos, PORÉM NÃO APRESENTOU OS CONTRATOS Nº 333488999; 333489115;
335675882; 335675984; 338352425 E 345901191 EM NOME DA AUTORA, BEM
COMO COM SUA ASSINATURA/DIGITAL OU CONTRATO VIRTUAL,
CONSIDERADOS VÁLIDOS E LEGÍTIMOS DAS SUPOSTAS
CONTRATAÇÕES. NO ENTANTO O PRESENTE RECURSO VEM DEMONSTRAR
E REQUERER A REFORMA DA DECISÃO INICIAL, DEVIDO A PARTE
RECORRIDA NÃO TER APRESENTADO OS CONTRATOS CITADOS. SENDO
ASSIM, O BANCO RÉU NÃO APRESENTOU OS CONTRATOS QUE
COMPROVEM A EXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA ENTRE AS
PARTES. OUTROSSIM, O JUIZ DE 1ª INSTÂNCIA JULGOU IMPROCEDENTE A
AÇÃO, PELO QUE EXTINGUIU O PROCESSO COM RESOLUÇÃO DO
MÉRITO. Dessa forma, fica demonstrada a total ilegalidade da parte recorrida no negócio
jurídico realizado entre as partes, pois a recorrente jamais realizou o empréstimo em questão e
nunca recebeu o valor que mensalmente fora descontado em seu benefício, à luz das
disposições correlatas do CDC e do NCC.

Com efeito, o juízo a quo julgou IMPROCEDENTE o feito, extinguindo o


processo com resolução do mérito, com fundamento no art. 487, I, do CPC.

III- DAS RAZÕES DO RECURSO INOMINADO

DA INEXISTÊNCIA DE RELAÇÃO JURÍDICA – CONTRATO NÃO JUNTADO /


FRAUDADO / EM NOME DE TERCEIROS

A r. sentença ora impugnada, que julgou improcedente a pretensão jurisdicional


preiteada pelo Recorrente em sua exordial, deve ser reformada, na medida em que a mesma
desconsiderou fatos importantes para o deslinde da presente lide, especialmente no que diz
respeito a não juntada de contratos supostamente formalizados entre as partes, BEM
COMO DEIXOU DE ANALISAR SE OS REFERIDOS CONTRATOS ESTAVAM EM
NOME DA PARTE AUTORA.
A magistrada de 1ª Instância levou em consideração apenas o fato de a parte autora
não ter juntado aos autos extratos de sua conta bancária, bem como da juntada, bem como na
juntada dos supostos contratos, conforme trechos da r. sentença:

“Deixou de anexar à exordial extrato bancário de sua conta do período em que


supostamente teria sido realizado o empréstimo para comprovar que os valores
não caíram em sua conta (não se trata de prova negativa, trata-se de prova que a
parte autora pode naturalmente trazer aos autos, pois é de seu livre e total acesso o
extrato de sua conta).

Também não há nos autos relato de furto e/ou roubo dos documentos pessoais do
requerente o que poderia ensejar a utilização desses documentos por terceiros,
caracterizando assim fraude.

Nesse contexto, a parte autora deixou de apresentar provas capazes de corroborar com
sua alegações, motivo pelo qual não se desincumbiu de seu ônus probatório imposto
no inciso I do artigo 373 do CPC2015.

Ao revés, a parte demandada comprovou a realização do contrato com o requerido


em (fato impeditivo do alegado direito da parte autora), pois juntou contrato em
ID 90523084 - Pág. 1 a 14, ID 90523085 - Pág. 1 a 14, ID 90523086 - Pág. 1 a 14,
ID 90523087 - Pág. 3 a 16, ID 90523088 - Pág. 1 a 14, ID 90523089 - Pág. 1 a 14,
ID 90523090 - Pág. 1 a 13, ID 90523091 - Pág. 1 a 13, ID 90523092 - Pág. 1 a 13,
ID 90523093 - Pág. 1 a 13, ID 90523094 - Pág. 1 a 14, ID 90523095 - Pág. 1 a 14,
ID 90523096 - Pág. 1 a 12, ID 90523097 - Pág. 1 a 12, ID 90523098 - Pág. 1 a 10,
ID 90523099 - Pág. 1 a 9, ID 90523100 - Pág. 1 a 28, ID 90523101 - Pág. 1 a 13.”

Não obstante, com a devida vênia, a r. sentença ora impugnada, deve ser reformada na
medida em que não foram consideradas a ausência de comprovação pelo banco Réu, ora
recorrido, da regularidade da suposta contratação, momento em que o mesmo deixou
de apresentar contratos nº 333488999; 333489115; 335675882; 335675984;
338352425 E 345901191 EM NOME DA AUTORA, BEM COMO COM SUA
ASSINATURA/DIGITAL OU CONTRATO VIRTUAL. Ressalte, ínclitos
julgadores, que o banco recorrido apresentou os referidos contratos que
supostamente teriam sido formalizados com a parte autora, no entanto, os
mesmos ENCONTRAM-SE EM NOME DE FRANCISCA DAS CHAGAS
NAZÁRIO SANTOS (pessoa alheia ao processo), configurando os CASOS
CLÁSSICOS DE FABRICAÇÃO DE CONTRATOS FRAUDULENTOS pelo
banco recorrido. Observe-se ainda que utilizam todos os dados pessoais da
recorrente para fraudar os referidos contratos. Comprova-se tal alegação, que o
recorrido, através de seus causídicos, SEQUER MENCIONARAM A RESPEITO
DE TAIS CONTRATOS EM MATÉRIA DE DEFESA.
Importante destacar ainda que o banco recorrido SEQUER JUNTOU AOS AUTOS
QUALQUER COMPROVANTE de repasse dos valores discutidos nos referidos contratos à
parte recorrente.

Nesse ínterim, mais um plausível motivo para a reforma da sentença atacada,


tendo em vista que a MM Juíza não levou em consideração a regularidade da
contratação, bem como da comprovação do pagamento dos valores supostamente
contratados.

Outrossim, a r. sentença atacada não levou em consideração ainda o estado de


vulnerabilidade e hipossuficiência da parte autora, que vem sofrendo reiteradamente
descontos em seu benefício previdenciário de empréstimo que não contratou e nem autorizou
ninguém a fazê-lo em seu nome, momento em que está sendo violentamente prejudicado por
atos supostamente fraudulentos praticados pelo recorrido.

Dessa forma, é pacífico o entendimento dos Tribunais, em específico deste Egrégio


Tribunal de Justiça do Estado do Maranhão, em que nos autos do IRDR no 53983/2016,
fixou tese em matéria de empréstimo consignado, relativo a não juntada de contrato, bem
como da não obrigatoriedade de juntada de extratos bancários, pela parte autora, verbis:

1ª TESE (POR MAIORIA, APRESENTADA PELO SENHOR


DESEMBARGADOR PAULO SÉRGIO VELTEN PEREIRA, COM O
ACRÉSCIMO SUGERIDO PELO SENHOR DESEMBARGADOR
ANTONIO GUERREIRO JÚNIOR): "Independentemente da inversão do
ônus da prova - que deve ser decretada apenas nas hipóteses autorizadas
pelo art. 6º VIII do CDC, segundo avaliação do magistrado no caso
concreto -, cabe à instituição financeira/ré, enquanto fato impeditivo e
modificativo do direito do consumidor/autor (CPC, art. 373, II), o ônus de
provar que houve a contratação do empréstimo consignado, mediante a
juntada do contrato ou de outro documento capaz de revelar a
manifestação de vontade do consumidor no sentido de firmar o negócio
jurídico, permanecendo com o consumidor/autor, quando alegar que não
recebeu o valor do empréstimo, o dever de colaborar com a Justiça (CPC,
art. 6º) e fazer a juntada do seu extrato bancário, embora este não deva ser
considerado, pelo juiz, como documento essencial para a propositura da
ação. Nas hipóteses em que o consumidor/autor impugnar a autenticidade da
assinatura constante do contrato juntado ao processo, cabe à instituição
financeira/ré o ônus de provar essa autenticidade (CPC, art. 429 II), por meio
de perícia grafotécnica ou mediante os meios de prova legais ou moralmente
legítimos (CPC, art. 369)."

DO DANO MORAL
A MM. Juíza de 1º Grau, não concedeu o pedido de indenização por danos morais pois
argumenta que não houve ato ilícito, e sim exercício regular de direito. Todavia, o banco não
juntou nenhum documento que comprove suas alegações.

A parte autora é idosa, aposentada com 1 salário mínimo, e jamais solicitou o


empréstimo ora questionado. Tal situação é agravada ainda mais, na medida em que a autora
depende de seu benefício previdenciário para sobreviver.

Os atos realizados pela recorrida além de acarretarem prejuízo de ordem material,


acarretam abalo moral para a Autora, pois o valor em que a Re locupletou-se e vem se
locupletando indevidamente pode não representar grande cifra para a mesma, pois
acostumada a trabalhar com cifras milionárias, a referida importância apenas representa um
lucro fácil e indevido.

Soma-se a isso, o fato de o desconto ter se estendido por longo período em benefício
de caráter alimentar. Desse modo, o dano moral no presente caso mostra-se “in re ipsa”,
tendo em vista que ocasionados por débitos contraídos mediante fraude.

Dessa forma, a indenização pecuniária em razão de dano moral e à imagem, apresenta-


se como um lenitivo que atenua, em parte, as consequências do prejuízo sofrido, superando o
déficit acarretado pelo dano.

DO DANO MATERIAL E REPETIÇÃO INDÉBITA

O banco não juntou nenhum documento que comprove sua alegação. Outro ponto que
deve ser observado é a informação repassada pelo banco de que repassou um valor bem
menor do que o supostamente contratado.

A Segunda Seção do Colendo Superior Tribunal de Justiça publicou recente súmula


(479) com os seguintes dizeres: “As instituições financeiras respondem objetivamente pelos
danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no
âmbito de operações bancárias”.
Os bancos foram inseridos no círculo da responsabilidade objetiva e diversas razões
conspiram para aceitabilidade do entendimento. Primeiro, o disposto no art. 14 da lei 8.078/90
(CDC) que dispensa a prova da culpa para proteger o consumidor vítima das operações
bancárias e, depois, pela própria gestão administrativa das agências, pois mirando atender
bem para conquistar ou manter a clientela, finaliza providências planejadas com esse
desiderato sem executá-las com o cuidado exigido para a segurança dos envolvidos, direta ou
indiretamente.

Desse modo, não tendo o banco réu se cercado dos cuidados necessários, agindo com
negligência, imperícia e imprudência, causando também danos materiais a autora, deve o
banco ser condenado ao pagamento em dobro pelas quantias descontadas de seu
benefício de forma indevida, não havendo que se falar em compensação, por se tratar de
contrato fraudulento.

Nesse sentido:

3ª TESE (POR UNANIMIDADE, APRESENTADA PELO


DESEMBARGADOR RELATOR): "Nos casos de empréstimos
consignados, quando restar configurada a inexistência ou invalidade do
contrato celebrado entre a instituição financeira e a parte autora, bem
como demonstrada a má-fé da instituição bancária, será cabível a
repetição de indébito em dobro, resguardadas as hipóteses de enganos
justificáveis". (redação após o julgamento de Embargos de Declarações).

IV – DOS PEDIDOS

Por tudo considerado, será, além de um ato de justiça, um relevante serviço à


cidadania e à defesa do consumidor, já que qualquer um que pratique qualquer ato do qual
resulte prejuízo a outrem, deve suportar as conseqüências de sua conduta. É regra elementar
do equilíbrio social. A justa reparação é obrigação que a lei impõe a quem causa algum dano a
outrem.

Por todo o exposto, requer a recorrente:


1) seja conhecido e provido o presente recurso, a fim de que seja reformada a
sentença a quo, totalmente, que julgará totalmente procedente os pedidos do(a) recorrente,
visto que a ora recorrida não juntou os contratos nº 333488999; 333489115;
335675882; 335675984; 338352425 E 345901191 EM NOME DA
AUTORA, BEM COMO COM SUA ASSINATURA/DIGITAL OU
CONTRATO VIRTUAL, documentos comprobatórios do negócio realizado entre as
partes, de modo que este COLENDO TRIBUNAL ARBITRE O DANO
MORAL, PELOS SEUS PRÓPRIOS CRITÉRIOS ANALÍTICIOS E JURÍDICOS,
CONSIDERANDO A JURISPRUDÊNCIA PACÍFICA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA
DO MARANHÃO, E AINDA CONDENE O RECORRIDO A DEVOLVER EM
DOBRO À RECORRENTE OS VALORES DESCONTADOS DE SEU BENEFÍCIO,
VEZ QUE OCORRERAM DESCONTOS ILICITOS NA VERBA ALIMENTAR DO
RECORRENTE.

2) sendo julgado procedente o recurso de apelação ora interposto pelo(a) recorrente,


seja fixada a condenação nos ônus da sucumbência, no percentual de 20%, nos termos
legais.

3) Requer, ainda lhe seja deferida a assistência judiciária, nos termos do art. 4º, da
Lei 1.060/50, por não ter condições, no momento, de arcar com as custas do preparo e
eventual sucumbência;

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Araioses – MA, 23 de agosto de 2023.

KLAYTON OLIVEIRA DA MATA

OAB – MA 24841-A

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