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TJRJ 202300808804 11/10/2023 11:15:00 FAGN - PETIÇÃO ELETRÔNICA Assinada por BRUNO CALFAT
EXMA. SRA. DESEMBARGADORA RELATORA DO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Nº 0076004-73.2023.8.19.0000 – EGRÉGIA 17ª CÂMARA DE DIREITO PRIVADO DO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

BTG PACTUAL WM GESTÃO DE RECURSOS LTDA., nos autos do

agravo de instrumento em epígrafe, em que figura como agravado, sendo agravantes

WANDERSON PINHEIRO DA SILVA e OUTRA, vem, por seus advogados abaixo

assinados, em cumprimento ao r. despacho de fls. 58, tempestivamente, apresentar as suas

contrarrazões ao recurso de fls. 02/52, mediante as inclusas razões, cuja juntada requer.

Nestes termos,
P.deferimento.
Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2023.

Bruno Calfat João Alberto Romeiro


OAB/RJ 105.258 OAB/RJ 84.487
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Contrarrazões da agravada,

BTG PACTUAL WM GESTÃO DE RECURSOS LTDA.

Eminente Desembargadora Relatora,


Egrégia 17ª Câmara de Direito Privado,

DECISÃO IRRETOCÁVEL

O ACERTO DO MM. JUÍZO A QUO

1. Em 26.01.2021, os agravantes deram início à fase de cumprimento de sentença

contra os executados, ROSSI RESIDENCIAL S.A. e DRANCI EMPREENDIMENTOS

IMOBILIÁRIOS LTDA., para a cobrança dos valores fixados no correspondente título

executivo judicial, formado nos autos de ação de rescisão de compromisso de compra e

venda de imóvel.

2. Em decorrência de resultado infrutífero de penhora online, os exequentes, sem

realizar qualquer outra pesquisa de bens, como INFOJUD ou RENAJUD, e sob a justificativa

de que a satisfação do crédito teria sido frustrada/dificultada pela personalidade jurídica

dos executados, adotaram, como primeira medida, a instauração do incidente de

desconsideração da personalidade jurídica de origem, requerendo, como medida liminar,

que fosse imediatamente bloqueado nas contas dos réus o montante de R$ 463.002,26.

3. Diante dessas — infundadas – alegações, o MM. Juízo a quo deferiu o pedido

através de decisão assim fundamentada:

“No caso em exame, encontra-se presente a probabilidade do direito


consubstanciado no título judicial em que o autor é detentor, prolatada nos autos
principais de nº 0000382-84.2021.8.19.0023, bem como na existência do efetivo
prejuízo, conforme preceitua o art. 28, §5º, do CDC.

O periculum in mora revela-se na possibilidade dos réus esconderem patrimônio


com o objetivo de frustrar a execução, o que para ser o caso, considerando que
mesmo com elevada movimentação financeira (fl. 7) não foram encontrados
recursos suficientes para adimplir a obrigação.

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Assim, DEFIRO, a antecipação da tutela de urgência, para determinar o bloqueio


cautelar de valores nas contas dos réus no valor de R$ 463.002,26 (quatrocentos e
sessenta e três mil e dois reais e vinte seis centavos).” (Fls. 1.813-1.814 na origem –
destacou-se.)

4. Sequer tendo sido citada ou intimada, contra a r. decisão, a BTG PACTUAL

WM interpôs o agravo de instrumento de nº 0048993-06.2022.8.19.0000, no qual sobreveio a

judiciosa decisão que deferiu o efeito suspensivo postulado pela ora agravada, destacando

“que não foram esgotadas todas as tentativas de satisfação do crédito exequendo, não

tendo sido realizadas consultas nos sistemas Renajud e Infojud a fim de verificar a

existência de bens em nome dos executados que pudessem assegurar o pagamento da dívida,

razão pela qual se conclui, que em um juízo de cognição sumária, não resta comprovada a

insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações a autorizar a

desconsideração da personalidade jurídica” (fls. 33 dos autos nº 0048993-06.2022.8.19.0000

– grifou-se e destacou-se). Por boa-fé e lealdade processual, informa que a r. decisão

monocrática foi reformada por meio de acórdão proferido por essa e. 17ª Câmara de Direito

Privado.

5. Nos autos de primeiro grau, a BTG PACTUAL WM apresentou contestação,

por meio da qual demonstrou (i) que nem mesmo é sócia ou acionista das empresas

executadas, mas mera gestora de fundos de investimento que possuem posição minoritária

na ROSSI; (ii) que a ROSSI e a DRANCI, devedoras originárias, peticionaram nos autos do

cumprimento de sentença indicando bens à penhora com vistas a garantir a execução (fls.

866/871 dos autos do proc. nº 0000382-84.2021.8.19.0023), fato que comprova que a alegação

de que os executados estariam esvaziando o seu patrimônio é completamente descabida; e

(iii) que não haviam sido exauridas as medidas para o êxito da execução.

6. Na sequência, diante da comunicação do deferimento do pedido de

processamento da recuperação judicial ajuizada pela ROSSI RESIDENCIAL S.A. e 313

sociedades integrantes de seu grupo econômico, a requerida LAGRO DO BRASIL

PARTICIPAÇÕES LTDA., em suas manifestações de fls. 2.631-2.632 e 2.708/2.712 na origem,

requereu a suspensão da execução que deu origem à demanda de origem, bem como do

próprio incidente de desconsideração em questão.

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7. Atento às peculiaridades do caso, como não poderia deixar de ser, o MM.

Juízo a quo proferiu a r. decisão de fls. 4.004/4.015 na origem, na qual concluiu, “em sede de

cognição exauriente e não mais sumária, que não restaram suficientemente demonstrados pelos

Requerentes os requisitos legais autorizativos da excepcional medida postulada”, in verbis:

“A desconsideração da personalidade jurídica é medida de caráter excepcional que


somente pode ser decretada após a análise, no caso concreto, da existência de vícios
que configurem abuso de direito, caracterizado por desvio de finalidade ou
confusão patrimonial.

Consigne-se, por relevante, que a frustração de localização de bens em nome da


Sociedade Empresária Devedora, tampouco o deferimento de sua recuperação
judicial, ou mesmo a decretação de sua falência, são circunstâncias não respaldam
a desconsideração da personalidade jurídica, sendo exigível, como ônus da prova
a cargo do Credor-Requerente, a cabal demonstração da confusão patrimonial e a
utilização abusiva da personalidade jurídica da Sociedade para ocultar ou desviar
bens pessoais.

Na hipótese vertente, a ROSSI e suas subsidiárias, no mês de setembro de 2022,


tiveram pedido de recuperação deferido pelo Juízo da 1ª Vara de Falências e
Recuperações Judiciais do Foro Central Cível da Comarca de São Paulo, nos autos
do Proc. 1101129-56.2022.8.26.0100, o qual determinou, na forma do artigo 52, III,
da Lei 11.101/2005, a suspensão das ações e execuções em face da empresa em
recuperação judicial.

O conhecido ‘stay period’ é consequência do deferimento do processamento da


recuperação judicial e busca permitir a estruturação do plano de recuperação ser
submetido à Assembleia de Credores, visando ao soerguimento da pessoa jurídica.

In casu, as Requeridas suscitaram, em defesa, o não atendimento pelos


Requerentes dos requisitos legais para a desconsideração da personalidade
jurídica da Devedora, bem como a impossibilidade de fazê-lo por ser ela uma
Sociedade Anônima de capital aberto e também pela condição de Recuperanda, e,
ainda, a não condição de sócio ou acionista.

Com efeito, há margem para debate jurídico quanto ao cabimento, em tese, da


desconsideração de personalidade jurídica em face de Sociedade Anônima e
atingimento do patrimônio dos acionistas à luz do que estabelece a Lei 6.404-1976
frente a uma conduta do acionista que cause danos à própria sociedade e a
terceiros, em comunhão ao que reza o artigo 50 do Código Civil.

De igual modo, há corrente doutrinária e jurisprudencial que não vislumbra óbice,


em tese, à desconsideração da personalidade jurídica de Sociedade empresária em
recuperação judicial ou falida.

Contudo, em toda e qualquer hipótese de que se trate, não se descortina o véu da


pessoa jurídica para atingimento do patrimônio do Sócio ou acionista (dada a

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excepcionalidade da medida) caso não robustamente demonstrada pelo


Interessado a ocorrência de fraude, confusão patrimonial, da utilização da pessoa
jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de
qualquer natureza, requisitos expressamente previstos pela Lei Civil (art. 50, CC).

Nesse particular, repita-se, a frustração de ordens de bloqueio de ativos via


SISBAJUD ou mesmo dificuldades na localização de bens em nome da Sociedade
Empresária Devedora são fatos insuficientes a respaldar, na forma da Lei, a
desconsideração da personalidade jurídica.

Na espécie, os Requerentes são titulares de crédito concursal, eis que com fato
gerador ocorrido antes do deferimento da recuperação judicial da ROSSI, com ação
de conhecimento iniciado em 2016, havendo condenação líquida alvo da fase de
cumprimento de título judicial, iniciada em 2021 (Proc. nº 0000382-
84.2021.8.19.0023- autos em apenso).

Tratando-se de crédito sujeito ao concurso de credores da Recuperação Judicial


(CRÉDITO CONCURSAL), nos termos do que determina o artigo 49 da Lei
11.101/2005, em atenção ao Princípio da isonomia entre os Credores - par conditio
creditorum, por força da Lei Especial aplicável, será ele pago cf. os termos do Plano
de Recuperação e deverá ser oportunamente habilitado junto ao Juízo da 1a Vara
de Falências e Recuperações Judiciais da Comarca de São Paulo.
(...)
No cenário delineado, conclui este Juízo, em sede de cognição exauriente e não
mais sumária, que não restaram suficientemente demonstrados pelos Requerentes
os requisitos legais autorizativos da excepcional medida postulada. Como
corolário direto e imediato de tal conclusão, REJEITA-SE o presente Incidente,
ficando as custas a ele referentes a cargo dos Requerentes, respeitada a GJ de que
são beneficiários (art. 98, parágrafo 3º, do CPC).” (Fls. 4.004/4.015 na origem
– grifou-se e destacou-se.)

8. Inconformados, os requerentes, ora agravantes, opuseram os embargos de

declaração de fls. 4.260/4.273 na origem, que, corretamente, foram rejeitados pela r. decisão

de fls. 4.527/4.528 na origem.

9. Diante disso, reiterando os mesmos argumentos e sem infirmar os

fundamentos da r. decisão agravada, interpuseram o recurso de fls. 2/52, aqui respondido.

SEM DIREITO NEM RAZÃO

ILEGITIMIDADE MANIFESTA

10. Da leitura do recurso, percebe-se que os agravantes pretendem fazer crer que

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o MM. Juízo a quo teria se baseado em premissa equivocada referente à legitimidade da BTG

PACTUAL WM no incidente de origem. Nada mais descabido.

11. Isso porque, a uma, esclareça-se que a BTG PACTUAL WM sequer é sócia ou

acionista das empresas executadas, mas simples gestora de fundos de investimento que

possuem posição minoritária na ROSSI.

12. Tal fato é facilmente demonstrado pelo teor do Anexo I do Comunicado ao

Mercado de 04.01.20211, no qual se informa que a BTG PACTUAL WM, na qualidade de

gestora, recebeu a transferência de fundos que detinham participação na ROSSI RESIDENCIAL,

os quais, em conjunto com os fundos geridos anteriormente por terceiros, adquiriram

exposição de aproximadamente 14,72% do total de ações emitidas pela Companhia.

13. Na sequência do referido Anexo, ressalta-se que “[o] investidor informa

também que esta operação reflete a transferência de gestão de determinados Fundos

anteriormente geridos por terceiros, e que (i) não objetiva alterara a composição do

controle ou a estrutura administrativa da Companhia; e (ii) não tem o objetivo de atingir

qualquer participação acionária em particular” (grifou-se e destacou-se).

14. Resta bem claro pelo teor do referido Comunicado que a suplicante figura

como mera gestora de determinados fundos detentores de posição minoritária na ROSSI,

sendo certo que a BTG PACTUAL WM não é acionista da executada, nem figura nos livros

societários da Companhia, mas desempenha tão somente a função de prestadora de

serviços aos fundos acima mencionados.

1 https://api.mziq.com/mzfilemanager/v2/d/52c5b4c2-56d1-439b-98f3-0fe16b8f13ce/6ef259b2-946a-456d-
af44-a3c67b9152d8?origin=1

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15. Assim sendo, na qualidade de gestora, a agravada não se confunde com os

fundos que estão sob sua gestão, tampouco o seu patrimônio responde pelas obrigações

assumidas por tais fundos. Entendimento diverso seria o mesmo que fazer letra morta do

artigo 1.368-E do Código Civil, incluído pela Lei da Liberdade Econômica:

“Art. 1.368-E. Os fundos de investimentos respondem diretamente pelas


obrigações legais e contratuais por eles assumidas, e os prestadores de serviço não
respondem por essas obrigações, mas respondem pelos prejuízos que causarem
quando procederem com dolo ou má-fé.” (Incluído pela Lei nº 13.874/2019 –
destacou-se.)

16. Como se não bastasse, ainda que, hipoteticamente, fosse acionista da

sociedade anônima de capital aberto ROSSI RESIDENCIAL S.A., o seu patrimônio só poderia

ser atingido se ficasse demonstrado que possui poderes de gestão ou administração na

sociedade, tendo em vista que “a desconsideração da personalidade jurídica da empresa executada

deve atingir apenas os sócios dirigentes integrantes da sociedade, que passarão a integrar o polo

passivo da lide. Impossibilidade de se incluir no polo passivo os demais sócios da sociedade anônima”

(TJ/RJ, Agravo de Instrumento nº 0012892-53.2011.8.19.0000, 18ª Câmara Cível,

Rel. Desembargador JORGE LUIZ HABIB, j. 18.10.2011, DJ 20.10.2011).

17. Sobre o tema, leciona a doutrina especializada que, tratando-se de medida

excepcional, apenas mediante prova robusta do abuso de personalidade, caracterizado pelo

desvio de finalidade ou pela confusão patrimonial, é que se pode requerer a

desconsideração da personalidade da sociedade:

“Para efetivamente coibir a prática de certos ilícitos, escudada na personalidade da


sociedade, foi que nasceu a doutrina da desconsideração ou superação da
personalidade jurídica, que tem por escopo, como acentua Rubens Requião
(primeiro jurista a tratar do assunto no Brasil), ‘em certos casos desconsiderar os
efeitos da personificação, para atingir a personalidade dos sócios’. (...) A ‘disregard
doctrine’ representa uma salvaguarda dos interesses de terceiros contra fraudes e
ilícitos praticados por via da utilização indevida da autonomia de personalidade
de sociedade em relação à de seus sócios. (...) Somente se verificando a prova cabal
e incontroversa da fraude ou do abuso de direito, perpetrado pelo desvio de
finalidade da pessoa jurídica é que se admite sua aplicação, como forma de
reprimir o uso indevido e abusivo da entidade jurídica.” (SÉRGIO CAMPINHO,
O direito de empresa à luz do novo Código Civil, Renovar, Rio, 2002, pp. 64-73 –
grifou-se e destacou-se.)

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18. Assim também proclama o e. Superior Tribunal de Justiça:

“AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. AGRAVO DE


INSTRUMENTO. 1. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA.
SOCIEDADE ANÔNIMA. POSSIBILIDADE. CONCLUSÃO DO ACÓRDÃO PELO
PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS. SÚMULAS 7 E 83/STF. 2. LITIGÂNCIA
DE MÁ-FÉ. SÚMULA 7/STJ. 3. AGRAVO INTERNO NÃO PROVIDO. 1. Com
efeito, ‘nos termos do art. 50 do CC, o decreto de desconsideração da
personalidade jurídica de uma sociedade somente pode atingir o patrimônio dos
sócios e administradores que dela se utilizaram indevidamente, por meio de
desvio de finalidade ou confusão patrimonial’ ( REsp 1.412.997/SP, Rel. Ministro
Luis Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 8/9/2015, DJe 26/10/2015).1.1. Além
disso, esta Corte Superior também possui entendimento no sentido de que ‘uma
vez constatado nas instâncias ordinárias que os requisitos da desconsideração
próprios às relações de consumo estão preenchidos, não há obstáculos para que
as pessoas que detém efetivo controle sobre a gestão de uma sociedade anônima
sejam atingidas na satisfação de crédito. O tipo societário das sociedades
anônimas não é obstáculo para a desconsideração na forma do art. 28, § 5º, do CDC’
( AgInt no AgInt no AREsp n. 1.811.324/DF, relator Ministro Luis Felipe Salomão,
Quarta Turma, julgado em 9/8/2022, DJe de 19/8/2022).1.2. Na hipótese, para
infirmar as conclusões a que chegou o acórdão recorrido, (a fim de acolher a
pretensão recursal, referente à ausência de preenchimento dos requisitos para a
desconsideração da personalidade jurídica, bem como do envio de ofício à CVM
para apuração de eventual irregularidades) seria imprescindível o revolvimento do
conjunto fático-probatório dos autos, o que é vedado nesta instância especial,
conforme dispõe a Súmula 7/STJ.2. No que se refere à litigância de má-fé, o Tribunal
estadual aplicou a referida sanção em virtude de peculiaridades do caso concreto,
de modo que, infirmar o entendimento da Corte local, a fim de afastar a sua
condenação, assim como da não ocorrência da preclusão ou coisa julgada,
demandaria revolvimento de fatos e provas, o que é inviável nessa seara ante o
óbice da Súmula 7/STJ.3. Agravo interno não provido.” (AgInt no AREsp
nº 2.215.370/RJ, Terceira Turma, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
j. 17.04.2023, DJe 19.04.2023 – grifou-se e destacou-se.)

-.-.-

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E


MATERIAIS. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA. HERDEIRA. SÓCIO MINORITÁRIO. PODERES
DE GERÊNCIA OU ADMINISTRAÇÃO. ATOS FRAUDULENTOS.
CONTRIBUIÇÃO. AUSÊNCIA. RESPONSABILIDADE. EXCLUSÃO. 1. Recurso
especial interposto contra acórdão publicado na vigência do Código de Processo
Civil de 1973 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2. Cuida-se, na origem, de
ação de indenização por danos morais e materiais na fase de cumprimento de
sentença. 3. A questão central a ser dirimida no presente recurso consiste em saber
se a herdeira do sócio minoritário que não teve participação na prática dos atos de
abuso ou fraude deve ser incluída no polo passivo da execução. 4. A desconsideração
da personalidade jurídica, em regra, deve atingir somente os sócios
administradores ou que comprovadamente contribuíram para a prática dos atos

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caracterizadores do abuso da personalidade jurídica. 5. No caso dos autos, deve ser


afastada a responsabilidade da herdeira do sócio minoritário, sem poderes de
administração, que não contribuiu para a prática dos atos fraudulentos. 6. Recurso
especial não provido.” (REsp nº 1.861.306/SP, Terceira Turma, Rel. Ministro
RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, j. 02.02.2021, DJe 08.02.2021 – grifou-se e
destacou-se.)

-.-.-

“RECURSO ESPECIAL. DIREITO CIVIL E PROCESSO CIVIL. CUMPRIMENTO


DE SENTENÇA. VEDAÇÃO À DECISÃO SURPRESA. AUSÊNCIA DE
PREQUESTIONAMENTO. PRÉVIA LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA. NULIDADE.
FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO RECORRIDO NÃO IMPUGNADOS. SÚMULA
283/STF. ASSOCIAÇÃO CIVIL. DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. POSSIBILIDADE. ALCANCE. PATRIMÔNIO DE DIRIGENTES E
ASSOCIADOS COM PODERES DE GESTÃO. REQUISITOS VERIFICADOS
PELO ACÓRDÃO RECORRIDO. REEXAME DE PROVAS. IMPOSSIBILIDADE.
SÚMULA 7/STJ. FIXAÇÃO DE VERBA HONORÁRIA. INADMISSIBILIDADE.
RECURSO ESPECIAL PARCIALMENTE CONHECIDO E, NESSA EXTENSÃO,
DESPROVIDO. 1. A suposta nulidade do acórdão recorrido, decorrente da ofensa
ao princípio do contraditório, não foi objeto de debate pelas instâncias ordinárias.
O prequestionamento é exigência inafastável contida na própria previsão
constitucional, impondo-se como um dos principais pressupostos ao conhecimento
do recurso especial, a atrair, por consequência, o óbice das Súmulas n. 282 e 356 do
Supremo Tribunal Federal. 2. Ao enfrentar a questão referente à nulidade
decorrente da ausência de liquidação, o aresto recorrido destacou que a matéria
está preclusa para a associação executada, pois ela foi intimada para se manifestar
sobre o cumprimento de sentença, mas permaneceu inerte por mais de 2 (dois)
anos, sendo inviável que somente agora venha a ser aduzida tal tese. Contudo, o
referido fundamento do acórdão recorrido não foi objeto de impugnação específica
nas razões do recurso especial. Assim, a manutenção de algum argumento que, por
si só, sustenta o acórdão recorrido torna inviável o conhecimento do apelo especial,
atraindo a aplicação do enunciado n. 283 da Súmula do Supremo Tribunal Federal.
3. Há diferença estrutural e funcional entre as sociedades e associações, na medida
em que, ao se desconsiderar a personalidade jurídica de determinada sociedade,
alcança-se um contrato societário, o qual vincula seus sócios no plano obrigacional,
destacando-se o seu elemento pessoal. De outro lado, as associações são marcadas
por um negócio jurídico firmado entre elas e seus associados, mas sem nenhum
vínculo obrigacional, conforme comando do parágrafo único do art. 53 do CC, de
modo que o elemento pessoal não lhe é inerente. 4. É admissível a desconsideração
da personalidade jurídica de associação civil, contudo a responsabilidade
patrimonial deve ser limitada apenas aos associados que estão em posições de
poder na condução da entidade, pois seria irrazoável estender a responsabilidade
patrimonial a um enorme número de associados que pouco influenciaram na
prática dos atos associativos ilícitos. 5. No caso dos autos, a desconsideração da
personalidade jurídica da associação está atingindo apenas o patrimônio
daqueles associados que exerceram algum cargo diretivo e com poder de decisão
dentro da entidade, bem como se reconheceu o abuso da personalidade jurídica,
porquanto o regime jurídico próprio das formas associativas sofreu distorções e
desvirtuamento de seu propósito. Infirmar tais conclusões demandaria o reexame

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de provas, o que é vedado nesta instância extraordinária, sob pena de incidência


do óbice da Súmula 7/STJ. 6. Consoante a jurisprudência desta Corte Superior, não
é cabível a fixação de honorários sucumbenciais em incidente processual diante da
ausência de previsão legal, ressalvadas hipóteses excepcionais em que comprovada
a extinção ou alteração substancial do processo principal. 7. Recurso especial
parcialmente conhecido para, nessa extensão, negar-lhe provimento.” (REsp
nº 1.812.929/DF, Terceira Turma, Rel. Ministro MARCO AURÉLIO BELLIZZE,
j. 12.09.2023, DJe 28.09.2023 – grifou-se e destacou-se.)

19. Além disso, de acordo com o posicionamento pacífico desse e. Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro, mesmo que a agravada fosse uma acionista

administradora, não se poderia responsabilizá-la sem a prova de gestão fraudulenta em

relação ao patrimônio social da empresa ou do abuso da personalidade jurídica:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL.


DECISÃO QUE INDEFERIU O PLEITO DE INCLUSÃO NO POLO PASSIVO DE
PESSOAS JURÍDICAS, BEM COMO A CONCESSÃO DA TUTELA DE URGÊNCIA
CONSISTENTE NO ARRESTO DE BENS EM NOME DAS EMPRESAS.
ALEGAÇÃO DE FORMAÇÃO DE GRUPO ECONÔMICO E AUSÊNCIA DE
RECURSOS SUFICIENTES PARA SUPORTAR O PAGAMENTO DO CRÉDITO
EXEQUENDO. IRRESIGNAÇÃO QUE NÃO MERECE ACOLHIMENTO.
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA QUE PRESSUPÕE O
PREENCHIMENTO DE REQUISITOS MATERIAIS E PROCESSUAIS.
PREVISÃO DO ARTIGO 50 DO CÓDIGO CIVIL. APLICAÇÃO DA TEORIA
MAIOR. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DOS ÍNDICIOS DE CONFUSÃO
PATRIMONIAL OU DESVIO DE FINALIDADE DA PERSONALIDADE
JURÍDICA. IDENTIDADE DE SÓCIOS ENTRE AS EMPRESAS QUE NÃO
IMPLICA, POR SI SÓ, NO RECONHECIMENTO DA CONFUSÃO OU DESVIO
PATRIMONIAL/FINALIDADE. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS QUE
EVIDENCIEM A PROBABILIDADE DO DIREITO E O PERIGO DE DANO OU O
RISCO AO RESULTADO ÚTIL DO PROCESSO A JUSTIFICAR A CAUTELAR DE
ARRESTO. A FALTA DE PAGAMENTO DO TÍTULO, BEM COMO O RECEIO DO
CREDOR DE DILAPIDAÇÃO DO PATRIMÔNIO PELO DEVEDOR, SEM
QUALQUER ELEMENTO DE PROVA, NÃO SÃO SUFICIENTES PARA
ASSEGURAR A TUTELA ANTECIPATÓRIA. ADEMAIS, O ARRESTO
EXECUTIVO PREVISTO NO ART. 830, DO CPC, DEMANDA TENTATIVA DE
CITAÇÃO. PLEITO FORMULADO ANTES MESMO DO COMANDO
CITATÓRIO. RECURSO DESPROVIDO.” (Agravo de Instrumento nº 0080895-
74.2022.8.19.0000, 14ª Câmara Cível — atual 12ª Câmara de Direito Privado —,
Rel. Desembargadora NADIA MARIA DE SOUZA FREIJANES, j. 09.03.2023,
DJe 10.03.2023 – grifou-se e destacou-se.)

20. Ademais, a duas, ficou devidamente demonstrado que os motivos

apresentados pelos ora agravantes para a propositura do IDPJ não se sustentam. Nessa

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perspectiva, relembre-se que a única medida constritiva levada a efeito nos autos do

cumprimento de sentença deu-se através do BACENJUD, deferida na ocasião do

julgamento dos embargos de declaração opostos pelos exequentes contra a decisão que

havia concedido a devolução de prazo para que os executados apresentassem impugnação

ao cumprimento de sentença, da qual eles sequer chegaram a ser intimados.

21. Ora, não há que se falar em execução frustrada se não houve uma efetiva

pesquisa de bens em nome dos executados. Tratando-se de empresas do ramo imobiliário,

haveria de se supor, no mínimo, que são proprietárias de imóveis e, por conseguinte, os

exequentes deveriam ter realizado uma pesquisa de bens nos registros de imóveis onde

estão instaladas as suas sedes e filiais, sendo certo que nada disso foi feito.

22. Conforme bem pontuado pela judiciosa decisão agravada, “[c]ontudo, em toda

e qualquer hipótese de que se trate, não se descortina o véu da pessoa jurídica para atingimento do

patrimônio do Sócio ou acionista (dada a excepcionalidade da medida) caso não robustamente

demonstrada pelo Interessado a ocorrência de fraude, confusão patrimonial, da utilização da pessoa

jurídica com o propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza,

requisitos expressamente previstos pela Lei Civil (art. 50, CC)”.

23. Sobre o tema, cite-se, mais uma vez, a uníssona jurisprudência desse e. TJ/RJ:

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO


INDENIZATÓRIA. FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. DECISÃO
QUE INDEFERIU A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
SOB O ARGUMENTO DE QUE NÃO RESTARAM COMPROVADAS AS
CONDIÇÕES PREVISTAS NO ART. 50 DO CC. INCONFORMISMO DOS
AUTORES QUE SUSTENTAM QUE BASTA A COMPROVAÇÃO DO EFETIVO
OBSTÁCULO AO RESSARCIMENTO DE PREJUÍZOS SOFRIDOS PELO
CONSUMIDOR, NOS TERMOS DA TEORIA MENOR, PARA O
DEFERIMENTO DA DESCONSIDERAÇÃO. PRETENSÃO RECURSAL QUE
NÃO MERECE PROSPERAR. RELAÇÃO JURÍDICA MATERIAL ENTRE AS
PARTES QUE É DE NATUREZA CONSUMERISTA. AINDA QUE SE ADOTE A
TEORIA MENOR, A DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
É MEDIDA EXTREMA, SENDO NECESSÁRIO, PARA O AGRAVANTE SE
SOCORRER DO PATRIMÔNIO DE SEUS SÓCIOS E/OU

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ADMINISTRADORES, QUE SEJAM ESGOTADAS AS VIAS DE


LOCALIZAÇÃO DE BENS PENHORÁVEIS DA PESSOA JURÍDICA, BEM
COMO COMPROVADA QUE A RESPECTIVA PERSONALIDADE É
OBSTÁCULO AO RECEBIMENTO DO CRÉDITO. INEXISTÊNCIA DE
COMPROVAÇÃO NOS AUTOS DE ENCERRAMENTO DA ATIVIDADE
EMPRESARIAL DA AGRAVADA E DE ELEMENTOS DE PROVA QUE
DEMONSTREM QUE FORAM ESGOTADAS AS TENTATIVAS DE
SATISFAÇÃO DO CRÉDITO EXEQUENDO. EVENTUAL DISSOLUÇÃO
IRREGULAR QUE TAMBÉM NÃO É SUFICIENTE PARA A
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA, EIS QUE
NECESSÁRIA A DEMONSTRAÇÃO DA INTENÇÃO DE FRAUDAR, O QUE
NÃO RESTOU CONSTATADO NOS AUTOS. DECISÃO QUE DEVE SER
MANTIDA. DESPROVIMENTO DO RECURSO.” (Agravo de Instrumento
nº 0029551-88.2021.8.19.0000, 12ª Câmara Cível, Rel. Desembargador ALVARO
HENRIQUE TEIXEIRA DE ALMEIDA, j. 18.11.2021, DJe 23.11.2021 – grifou-se e
destacou-se.)

-.-.-

“AGRAVO DE INSTRUMENTO. FASE DE EXECUÇÃO. RECURSO CONTRA


DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE DESCONSIDERAÇÃO DA
PERSONALIDADE JURÍDICA DA SOCIEDADE AGRAVADA.
MANUTENÇÃO DO DECISUM. MEDIDA DE EXCEÇÃO NÃO JUSTIFICADA
NA HIPÓTESE SOB ANÁLISE, AINDA QUE ADOTADA A TEORIA MENOR
PREVISTA NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. NÃO
DEMONSTRAÇÃO DE EFETIVO OBSTÁCULO AO RESSARCIMENTO DOS
PREJUÍZOS CAUSADOS AO CONSUMIDOR. MUDANÇA DE ENDEREÇO
DA DEVEDORA NÃO IMPORTANDO, NECESSARIAMENTE, EM SUA
DISSOLUÇÃO IRREGULAR, BEM COMO NO ENCERRAMENTO DE SUAS
ATIVIDADES. EXEQUENTE QUE NÃO REQUEREU A EXPEDIÇÃO DE
OFÍCIOS ÀS CONCESSIONÁRIAS DE SERVIÇOS PÚBLICOS, BEM COMO À
JUCERJA E SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL, A FIM DE LOCALIZAR
OUTRO ENDEREÇO ATUAL DA EXECUTADA, LIMITANDO-SE A ALEGAR,
DE FORMA GENÉRICA, DIFICULDADES NA SATISFAÇÃO DO CRÉDITO
EXEQUENDO. NEGADO PROVIMENTO AO RECURSO.” (Agravo de
Instrumento nº 0065961- 53.2018.8.19.0000, 13ª Câmara Cível, Rel. Desembargador
MAURO PEREIRA MARTINS, j. 13.03.2019, DJe 15.03.2019 – grifou-se e destacou-
se).

24. Por fim, a três, conforme já exposto, em 04.07.2022, a ROSSI e a DRANCI

peticionaram nos autos do cumprimento de sentença indicando bens à penhora para

garantir a execução, o que comprova que a alegação de que os executados estariam

esvaziando seu patrimônio é completamente descabida, não havendo justificativa plausível

para a instauração do incidente de origem.

12
79

25. Ora, como bem colocado pela r. decisão agravada, para afirmar que os

executados estariam agindo em fraude à execução ou contra credores, deveriam ao menos

ter apresentado indícios de que eles se tornaram insolventes após a transferência de

determinado bem em determinada data. Não basta a mera alegação de que deveriam ter

dinheiro disponível em conta bancária ou de que um dos imóveis objeto de lançamento

imobiliário se encontraria em nome de outra empresa.

26. Realmente, de forma açodada, por meio de meras conjecturas e sem trazer a

mais mínima prova de que a executada ROSSI — renomada empresa do ramo imobiliário e

atuante há mais de 40 anos no mercado — não deteria patrimônio suficiente para honrar a

execução de origem, foi que os agravantes formularam o gravoso pedido contra a agravada.

A bem da verdade, o que tentam fazer os exequentes, ora agravantes, é buscar um atalho e

fazer crer que foi correta a precipitada instauração do incidente de desconsideração da

personalidade jurídica.

27. Como se verifica, não se encontram presentes os requisitos legais para se

atingir o patrimônio de terceiros, estranhos à relação contratual estabelecida entre os

exequentes e os executados, que possuem bens mais do que suficientes para fazer frente à

execução forçada instaurada perante o MM. Juízo de origem.

28. Desse modo, por qualquer ângulo que se examine a questão, não prosperam

as alegações dos agravantes, sendo certo que a rejeição do incidente é medida impositiva,

razão pela qual confia-se em que será desprovido o agravo de instrumento ora respondido.

* * *

13
80

29. Diante de todo o exposto, a BTG PACTUAL WM confia em que será negado

provimento ao agravo aqui respondido, mantendo-se integralmente a r. decisão recorrida.

Rio de Janeiro, 11 de outubro de 2023.

Bruno Calfat João Alberto Romeiro


OAB/RJ 105.258 OAB/RJ 84.487

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