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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS


Faculdade de Direito do Recife

DISCIPLINA: Direito Empresarial 4 – Recuperação de Empresas e Falência

Professor: Ivanildo de Figueiredo A. Oliveira Filho


Avaliação 2º Exercício - DATA: 14/05/2022
Turma: N7 D7 2021.2 - 7º Período

ALUNO: CLÁUDIO ROBERTO DE SOUZA TURMA N7

Responda, com clareza e objetividade, as questões abaixo. Sempre que precisar transcrever o
enunciado de uma norma, indique a sua fonte ou origem.
Enviar o arquivo de resposta em formato Word ou PDF, e postar no espaço de Atividades das
turmas N7 e D7 no Google Meet: Códigos das Turmas: N7: 242djae - D7: xglt3x7.
Por segurança, enviar o arquivo também para o e-mail do Professor: ivanildo.figueiredo@ufpe.br
ou ivanildo.figueiredo@gmail.com, até as 23:59 horas do dia 23/05/2022 (segunda-feira).
Cada resposta deverá ter, no mínimo 10 (dez) e no máximo, 20 (vinte) linhas, fonte Arial, Calibri
ou Times New Roman 12, espaço 1,00.
Nome dos arquivos: Os arquivos deverão ser nomeados e identificados com o nome abreviado
do(a) aluno(a), a disciplina, turma e semestre, para facilitar a ordenação segundo a lista da turma.
Exemplo: Carlos Lacerda.Empresarial 4.N7.20212.2exercicio.pdf.
Arquivos enviados sem a identificação contendo o nome do(a) aluno(a) serão devolvidos para
correção e a nota não será lançada no Siga, até que sejam reenviados com a identificação
correta.

Analise os problemas e decisões judiciais abaixo e responda às questões formuladas:


1) Segundo Fábio Ulhoa Coelho, “até a entrada em vigor da Lei de Recuperação e Falências (Lei
11.101/2005), o direito brasileiro não estimulava soluções de mercado para a recuperação das
empresas em estado crítico. Isto porque sancionava como ato de falência qualquer iniciativa do
devedor no sentido de reunir seus credores para uma renegociação global das dívidas (...). Com a
nova lei, muda-se substancialmente o quadro. Ao prever e disciplinar o procedimento da
recuperação extrajudicial, ela cria as condições para a atuação da lógica do mercado na
superação de crises financeiras e patrimoniais nas empresas” (COELHO, Fábio
Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e de Recuperação de Empresas, São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2016, p.525-526).
Diante dessa afirmação, indaga-se:

a) Demonstra-se correto esse entendimento, de que somente a partir da Lei 11.101/2005 passou a
ser permitido às empresas e empresários devedores renegociar suas dívidas perante credores?

b) O antigo instituto da concordata, regulado pelo Decreto-Lei 7.661/1945, já permitia a concessão


de moratória para pagamento de dívidas mediante prévio acordo entre o devedor e seus
credores?

c) Qual o dispositivo da Lei 11.101/2005 que melhor expressa a possibilidade legal que assegura
a livre renegociação de dívidas entre devedor e credores, sem que tal ato represente ou
caracterize confissão de falência?
Resposta:

a) Desde a república, a legislação vetava a negociação entre credores e devedores que se


encontravam em situação de crise, sob o pressuposto de que haveria uma intenção de fraude,
de causar prejuízo ou à fazenda pública ou a demais credores. Havia ainda um argumento de
que toda renegociação de dívidas seria causa de enriquecimento ilícito, seja do devedor ou de
algum dos credores, que poderia estar em conluio com o devedor. Essa possibilidade de
negociação era assim considerada como um tipo de ato de falência. Um credor que tivesse
notícia de uma renegociação em privado do devedor com algum de seus credores poderia pedir
a falência da empresa. Ao revogar o art. 2º, Inciso III, do Decreto Lei 7661, a lei 11.101/05
passou a lastrear uma nova compreensão sobre tais possibilidades de renegociação, afastando
a compreensão de que tal situação configuraria ato de falência.

b) A concordata diferia substancialmente da renegociação que ocorria no âmbito da


recuperação extrajudicial, posto que era decorrente do favor legal, concedida pelo juiz em modo
unilateral, no bojo da antiga lei de falência e atendidos os requisitos da boa fé e honestidade.
Deste modo, nos termos desta questão, a concordata como “acordo prévio” não era um instituto
previsto pela antiga lei de falências, inclusive porque como visto na questão anterior, as
tratativas privadas entre devedor e credores no sentido de renegociação de dívidas eram
condenadas pela própria legislação e consideradas como atos de falência. A concordata
moratória, compreendida como a negociação de um alargamento de prazos concedido ao
devedor pelo credor, se dava no bojo de uma decisão jurisdicional.

c) Os artigos 161 a 167 da lei 11.101/05 regulam e disciplinam os procedimentos necessários à


recuperação extrajudicial, quando há a possibilidade do devedor pactuar com seus devedores
condições mais favoráveis para o pagamento de suas dívidas, caracterizando um negócio
jurídico com prevalência das vontades privadas. É um modo pelo qual pode se encontrar uma
solução para uma crise momentânea pela qual a empresa esteja passando e que cujo acordo
de recuperação extrajudicial permita a sobrevivência da mesma, preservando a atividade
econômica. O acordo é, então, celebrado e, para ganhar validade, homologado judicialmente.

2) Analise o seguinte acórdão, relativo a caso de Recuperação Extrajudicial:


“Apelação. Pedido de Recuperação Extrajudicial. Sentença que homologou o plano de
recuperação extrajudicial do grupo devedor. Inconformismo do credor. Inexistência de fraude ou
simulação perpetrada pelo grupo devedor em conluio com os Fundos credores para aprovação do
Plano de Recuperação Extrajudicial. Aquisição de créditos por meio de válido contrato de cessão
de créditos celebrado junto às Instituições Financeiras. Possibilidade de renúncia de parte do valor
devido. Direito disponível. Circunstâncias que indicam a razoabilidade do negócio quando
considerado como um todo. Desnecessidade de intervenção do Ministério Público no feito.
Ausência de previsão legal. Precedente do Superior Tribunal de Justiça. Impossibilidade de
redução dos créditos detidos pelos fundos de investimento para os patamares fixados pelos
acordos firmados com as devedoras em sede de Ação de Execução. Inadimplemento das
obrigações contratuais que competiam às recuperandas. Escorreito vencimento antecipado da
dívida. Presença dos documentos elencados no art. 163 da Lei nº 11.101/05. Legalidade das
cláusulas do plano que se submetem à apreciação judicial. Inteligência do Enunciado 44 da
Jornada de Direito Comercial. Viabilidade econômica do plano que, todavia, não pode ser aferida
pelo juízo, devendo-se respeitar a decisão soberana da assembleia de credores. Inexistência de
ilegalidades quanto às demais cláusulas impugnadas. Violação ao par conditio creditorum em
decorrência da previsão de benefícios aos credores fornecedores parceiros. Não configuração.
Aferição com base em critérios objetivos dispostos no próprio plano de recuperação extrajudicial.
Impossibilidade de julgamento das impugnações de crédito formuladas pelos credores nesta sede
processual. Inteligência do art. 164, §3º, da Lei nº 11.101/05. Precedentes deste E. Tribunal de
Justiça. Decisão Mantida. Recurso Desprovido” (TJSP. 1ª Câmara Reservada de Direito
Empresarial; Apelação Cível 1058350-23.2021.8.26.0100; Relator Desembargador Azuma Nishi;
DJe 12/05/2022).
Em face do conteúdo e das conclusões dessa decisão, responder:
a) Na recuperação extrajudicial o contrato ou acordo de renegociação de dívida entre a empresa
devedora e seus credores deve ser, necessariamente, submetido à aprovação em assembleia
geral de credores?
b) Qual o quórum de aprovação do plano de recuperação extrajudicial por cada classe de
credores?
c) Compete ao juiz, no ato de homologação do acordo na recuperação extrajudicial, decidir sobre
a legalidade de cláusulas do contrato, considerando que o art. 164 da Lei 11.101/2005 determina
que a competência do magistrado estaria restrita ao ato de homologar o que foi livremente
estipulado entre a empresa devedora e seus credores?

Resposta:

a) No processo de recuperação extrajudicial há um procedimento no qual os credores


manifestam o aceite da proposta de recuperação extrajudicial através de carta na qual consta
os termos do acordo que está em celebração e dirigida aos credores sujeitos ao plano. Neste
momento podem ocorrer impugnações em virtude de descumprimentos das exigências legais
ou arguição de prática de atos de falência, após o que o devedor se manifesta e segue-se a
sentença que torna o acordo em título judicial.

b)
Os credores trabalhistas (classe 1) votam pelo total de seu crédito, independente do valor
(voto por cabeça); Os credores com garantia real (classe 2) votam com a classe respectiva
até o limite do valor do bem gravado e com a classe dos quirografários pelo restante do valor do
crédito. Os credores quirografários (classe 3) votam de acordo com o valor do crédito; Os
credores das micro e pequenas empresas (classe 4) votam pela totalidade do crédito,
independente do valor (voto por cabeça) (LC 147/2014).

c) A decisão judicial acerca do plano de recuperação extrajudicial pode ser homologatória no


caso de concordância com os termos do plano, mas o juiz pode negar a homologação se são
encontrados elementos que demonstrem a consecução de atos de prejuízo aos credores, vício
de representação, simulação de créditos ou a violação de preceitos legais.

3) O seguinte acórdão do STJ apreciou e decidiu sobre a caracterização do pedido de falência


com base na mera e simples impontualidade do devedor:
“Direito Empresarial. Falência. Impontualidade injustificada. Art. 94, inciso i, da Lei nº 11.101/2005.
Insolvência econômica. Demonstração. Desnecessidade. Parâmetro: insolvência jurídica.
Depósito elisivo. Extinção do feito. Descabimento. Atalhamento das vias ordinárias pelo processo
de falência. Não ocorrência. 1. Os dois sistemas de execução por concurso universal existentes
no direito pátrio - Insolvência civil e falência -, entre outras diferenças, distanciam-se um do outro
no tocante à concepção do que seja estado de insolvência, necessário em ambos. O sistema
falimentar, ao contrário da insolvência civil (art. 748 do CPC), não tem alicerce na insolvência
econômica. 2. O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica,
que é caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico. No
caso do direito brasileiro, caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 94 da Lei n.
11.101/2005, a impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de
atos de falência (inciso III). 3. Com efeito, para o propósito buscado no presente recurso - que é a
extinção do feito sem resolução de mérito -, é de todo irrelevante a argumentação da recorrente,
no sentido de ser uma das maiores empresas do ramo e de ter notória solidez financeira. Há uma
presunção legal de insolvência que beneficia o credor, cabendo ao devedor elidir tal presunção no
curso da ação, e não ao devedor fazer prova do estado de insolvência, que é caracterizado ex
lege. 4. O depósito elisivo da falência (art. 98, parágrafo único, da Lei n.11.101/2005), por óbvio,
não é fato que autoriza o fim do processo. Elide-se o estado de insolvência presumida, de modo
que a decretação da falência fica afastada, mas o processo converte-se em verdadeiro rito de
cobrança, pois remanescem as questões alusivas à existência e exigibilidade da dívida cobrada.
5. No sistema inaugurado pela Lei n. 11.101/2005, os pedidos de falência por impontualidade de
dívidas aquém do piso de 40 (quarenta) salários mínimos são legalmente considerados abusivos,
e a própria lei encarrega-se de embaraçar o atalhamento processual, pois elevou tal requisito à
condição de procedibilidade da falência (art. 94, inciso I). Porém, superando-se esse valor, a
ponderação legal já foi realizada segundo a ótica e prudência do legislador. 6. Assim, tendo o
pedido de falência sido aparelhado em impontualidade injustificada de títulos que superam o piso
previsto na lei (art. 94, I, Lei n. 11.101/2005), por absoluta presunção legal, fica afastada a
alegação de atalhamento do processo de execução/cobrança pela via falimentar. Não cabe ao
Judiciário, nesses casos, obstar pedidos de falência que observaram os critérios estabelecidos
pela lei, a partir dos quais o legislador separou as situações já de longa data conhecidas, de uso
controlado e abusivo da via falimentar. 7. Recurso especial não provido” (STJ. 4ª Turma. RESP
1.433.652-RJ. Relator Ministro Luis Felipe Salomão. DJe 29/10/2014).

Tendo em vista os fundamentos legais para o requerimento da falência de empresa comercial por
mera impontualidade no pagamento de título de crédito, responder:

a) O processo falimentar pode ser manejado pelo credor como procedimento destinado,
exclusivamente, a constranger ou coagir o devedor a pagar uma dívida líquida, certa e exigível,
sob pena de decretação de falência?

b) Nesta hipótese, qual o procedimento a ser adotado pelo empresário devedor como razões de
defesa contra o uso abusivo ou desvirtuado do pedido de falência como substitutivo da ação de
cobrança? Fundamentar com base na legislação e indicar e transcrever, ao menos, duas decisões
de Tribunais sobre essa questão;

c) Qual a diferença entre insolvência jurídica e insolvência econômica? Apontar os dispositivos da


Lei de Falências que trata dessa distinção.

Resposta:

a) A utilização da falência como um instrumento de cobrança é uma possibilidade que se faz


concreta, representando por óbvio uma medida extrema por parte do credor no sentido de
constranger o devedor a honrar com os seus compromissos. Embora este não seja um dos
objetivos da legislação, na prática ela pode ser manejada com tais objetivos, pois que o devedor
se vê compelido a honrar o compromisso. A lei 11.101 estipulou um mecanismo para inibir o uso
da falência como instrumento de coação a fins de cobrança, fixando o valor mínimo de 40
salários mínimos. Assim, conforme o art. 94, “será decretada a falência do devedor que:sem
relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título
ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na
data do pedido de falência”.

b) O art. 96 da lei 11.101/05 estipula uma série de hipóteses que podem elidir a decretação da
falência, constituindo pois os meios de defesa possíveis para tal caso. Temos então que para
evitar a decretação da falência, o devedor poderá alegar e demonstrar uma das seguintes
situações, quais sejam, a falsidade do título, a prescrição, o pagamento da obrigação (que
poderá ser feito em juízo, a partir do que poderá se questionar outros aspectos que afastem a
falência), vício no protesto ou no instrumento, apresentação do pedido de recuperação judicial
no prazo da contestação ou comprovar que a atividade empresarial havia cessado no prazo de
dois anos anteriores à falência. Nesse sentido, temos a decisão do TJ-GO (TJ-GO -
02204262020118090137, Relator: GERSON SANTANA CINTRA, Data de Julgamento:
10/05/2017, Rio Verde - 2ª Vara Cível, Data de Publicação: DJ de 10/05/2017) e, ainda, a
decisão do TJPE PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE FALÊNCIA. UTILIZAÇÃO COMO
SUCEDÂNEO DE AÇÃO DE COBRANÇA. IMPOSSIBILIDADE. INTIMAÇÃO PESSOAL DO
PROTESTO. AUSÊNCIA. SENTENÇA MANTIDA. 1.Revela-se que o protesto levado a efeito
pelo apelante não atendeu a forma prevista no art. 10, § 1º da lei falimentar por nele não ser
identificado o representante da devedora, nem mesmo havendo certeza de que ele tenha sido
pessoalmente dele intimado. Precedente do STJ. 2.A ação falimentar não pode ser utilizada
como sucedâneo de ação de cobrança, como acertadamente decidiu o magistrado singular.
3.Apelo a que se nega provimento. (TJ-PE - APL: XX PE XX-0, Relator: Fernando Ferreira, Data
de Julgamento: 11/04/2012, 1ª Câmara Cível, Data de Publicação: 79/2012).

c) A insolvência civil é o instrumento previsto no artigo 748 do CC para é utilizada para declarar
a situação em que o devedor, pessoa física ou pessoa jurídica não empresarial, possui mais
dívidas do que bens ou capacidade de pagamento. Há a previsão de insolvência real (quando
as dívidas excedem os bens, art. 748) e presumida ou ficta (artigo 750). O sistema falimentar se
diferencia da insolvência civil, pois não está ancorado na insolvência econômica, mas é
caracterizado a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico. No caso
do direito brasileiro, caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 94 da Lei n.
11.101/2005, a impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática
de atos de falência (inciso III).

4) Analise o caso adiante, que se refere a incidentes no processo falimentar:

“Recursos Especiais. Processual Civil. Execução de título extrajudicial. Sucessão empresarial.


Redirecionamento. Negativa de prestação jurisdicional. Não ocorrência. Devedor originário.
Falência. Vis attractiva. Efeitos limitados. Patrimônio da massa falida. Constrição. Inexistência.
Juízo falimentar. Incompetência. Legitimidade passiva. Sucessão por incorporação.
Reconhecimento. Preclusão. Novos embargos à execução. Impossibilidade. Memória de cálculo.
Atualização. Impugnação. Possibilidade. 1. Recurso especial interposto contra acórdão publicado
na vigência do Código de Processo Civil de 2015 (Enunciados Administrativos nºs 2 e 3/STJ). 2.
Não há falar em negativa de prestação jurisdicional se o tribunal de origem motiva
adequadamente sua decisão, solucionando a controvérsia com a aplicação do direito que entende
cabível à hipótese, apenas não no sentido pretendido pela parte. 3. A previsão de competência
absoluta do juízo falimentar resulta da necessidade de se preservar o patrimônio da massa falida
com vistas à satisfação dos interesses dos credores, observada a ordem legalmente prevista, e a
garantir a par conditio creditorum. 4. O redirecionamento da execução contra os sucessores da
devedora originária, que não são insolventes, somado à absoluta inexistência de atos que possam
comprometer o patrimônio da massa falida, é suficiente para afastar a competência do juízo
falimentar. 5. Hipótese em que a inclusão de JBS S.A. no polo passivo da execução foi
determinada por duplo fundamento: a) sucessão empresarial, por incorporação, e b) presença dos
requisitos para a desconsideração da personalidade jurídica (desvio de finalidade e confusão
patrimonial), sobre os quais já se operou a preclusão, seja porque a empresa não se insurgiu, no
momento apropriado, contra o reconhecimento da incorporação empresarial, seja porque já não
cabe mais recurso contra o acórdão que, ao negar provimento a agravo de instrumento, entendeu
ser desnecessária a instauração do incidente de desconsideração da personalidade jurídica. 6.
Não é facultado às partes rediscutir questões decididas acerca das quais já se tenha operado a
preclusão, nos termos dos arts. 505 e 507 do Código de Processo Civil de 2015. 7. As questões
de ordem pública, a exemplo da legitimidade de parte para figurar em um dos polos da relação
processual, não estão sujeitas à preclusão e podem ser apreciadas a qualquer tempo, inclusive de
ofício, desde que não tenham sido decididas anteriormente. 8. Nos termos do art. 109, § 3º, do
Código de Processo Civil 2015 (art. 41, § 3º, do Código de Processo Civil 1973), estendem-se os
efeitos da sentença proferida entre as partes originárias ao adquirente ou cessionário, de modo
que, ao sucessor são estendidos os efeitos da sentença proferida nos embargos à execução
opostos pelo sucedido. Precedente. 9. De acordo com a pacífica jurisprudência desta Corte
Superior, a apresentação de memória atualizada de cálculo não exige nova citação, tampouco
autoriza a oposição de novos embargos à execução, sendo admitida, contudo, a abertura de
prazo para impugnação com vistas à correção de eventuais erros materiais. 10. Recursos
especiais de JBS S.A. e de Arnaldo José Frizzo Filho não providos. Recurso especial de BASF
S.A. parcialmente provido” (STJ. 3ª Turma. REsp 1.973.783/SP. Relator Ricardo Villas Boas
Cueva. DJe 08/04/2022).
Considerando os fatos relatados e o conteúdo dessa decisão do STJ, responder:
a) O que se entende e qual o alcance da competência do juízo universal da falência? Explicar e
indicar as normas incidentes;
b) Em que situações ocorre, na falência, a sucessão do adquirente da empresa ou de seus ativos
nas dívidas da empresa devedora ou da massa falida?
c) O juízo universal da falência será também o único competente para as ações da massa falida
contra terceiros, em especial quando tenha por objetivo a apuração da responsabilidade dos
sócios e administradores da empresa devedora e a desconsideração da personalidade jurídica?
Fundamentar.

Resposta:

a) De acordo com Fábio Ulhôa Coelho, “O juízo da falência é universal. Isso significa que todas
as ações referentes aos bens, interesses e negócios da massa falida serão processadas e
julgadas pelo juízo perante o qual tramita o processo de execução concursal por falência. É a
chamada aptidão atrativa do juízo falimentar, ao qual conferiu a lei a competência para
conhecer e julgar todas as medidas judiciais de conteúdo patrimonial referentes ao falido ou à
massa falida”. A universalidade do juízo falimentar consta da disposição legal vertida nos arts.
3º e 76, ambos da Lei nº 11.101/2005.

b) O artigo 141 preceitua que o adquirente de ativos da massa falida está liberado das dívidas
de natureza trabalhista e tributária do empresário devedor. Tratando sobre a realização dos
ativos, o referido texto legal afirma que todos os credores sub-rogam-se na realização dos
ativos; que o objeto da alienação está livre de ônus e o arrematante não sucede as obrigações
do devedor, inclusive as tributárias, trabalhistas e de acidente de trabalho. Entretanto, há
exceções previstas nos incisivos do § único do art. 141, que é a situação na qual o adquirente
seja sócio da sociedade falida ou controlada pelo falido; parente em linha reta ou colateral até o
4º grau, consanguíneo ou afim; e se o adquirente for identificado como agente do falido, a fim
de promover fraude. Nestes casos, o adquirente sucede as dívidas da empresa devedora ou
massa falida.

c) O juízo universal da falência é aquele que, de acordo com o art. 76 da lei 11.101/05 conhece
todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, considerando, porém, que a própria
lei estipula exceções, quais sejam, para as questões trabalhistas, fiscais e aquelas em que a
massa falida for a autora. O artigo 82, por sua feita, preconiza que nos casos nos quais a massa
falida pretenda a apuração da responsabilidade dos sócios ou a desconsideração da pessoa
jurídica, o juízo da falência persiste sendo o competente para o conhecimento de tais
demandas, conforme o enunciado do referido artigo “a responsabilidade pessoal dos sócios de
responsabilidade limitada, dos controladores e dos administradores da sociedade falida,
estabelecida nas respectivas leis, será apurada no próprio juízo da falência, independentemente
da realização do ativo e da prova da sua insuficiência para cobrir o passivo, observado o
procedimento ordinário previsto no Código de Processo Civil.

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